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CARLOS HENRIQUE LOPES DA SILVA
PRODUÇÃO, CERTIFICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DA AGRICULTURA
ORGÂNICA EM LONDRINA-PR
Londrina 2019
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CARLOS HENRIQUE LOPES DA SILVA
PRODUÇÃO, CERTIFICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DA AGRICULTURA
ORGÂNICA EM LONDRINA-PR
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Geografia.
Orientadora: Profa. Dra. Margarida de Cássia Campos
Londrina 2019
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CARLOS HENRIQUE LOPES DA SILVA
PRODUÇÃO, CERTIFICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DA AGRICULTURA
ORGÂNICA EM LONDRINA-PR
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Geografia.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Orientadora: Prof. Dr. Margarida de Cássia Campos
Universidade Estadual de Londrina
__________________________________________
Prof. Dr. Rozália Brandão Torres
Universidade Estadual de Londrina
__________________________________________
Prof. Dr. Fernando Veronezzi
Universidade Estadual de Londrina
Londrina, ___de________________de_____.
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Dedico este trabalho à fabulosa Banda B.
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SILVA, Carlos Henrique Lopes. Produção, certificação e comercialização da agricultura orgânica em Londrina-PR. 2019. 51 fls. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Geografia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2019.
RESUMO
O trabalho teve como objetivo geral compreender quem são os produtores orgânicos no município de Londrina, bem como os processos de produção, de certificação, e comercialização de seus produtos. O pressuposto é de que transformações ocorridas no campo brasileiro têm modificado significativamente as formas de organização dos agricultores orgânicos, situação não diferente em Londrina. A metodologia adotada foi a da pesquisa qualitativa, na medida em que, visando um maior aprofundamento e compreensão do grupo social estudado, buscou-se entender e explicar as relações e processos que envolvem a produção e comercialização de produtos orgânicos no município. Por isso, o estudo foi subsidiado por contextualização bibliográfica do tema, e por um roteiro de entrevista aplicado à 7 produtores orgânicos (sendo 6 com propriedade em Londrina e um no município de Sabaúdia, com comercialização em Londrina) entre os anos de 2016 e 2017. Os dados e as informações passaram por transcrição, análise e representação com uso de produtos gráficos e cartográficos. Os resultados sugerem que agricultura orgânica em Londrina integra o elenco de técnicas de cultivo classificadas como alternativas, e também que a produção de alimentos orgânicos é uma boa alternativa para pequenos produtores familiares, podendo garantir melhor rentabilidade e qualidade de vida, além de fomentar o crescimento econômico regional para além da agricultura convencional. Palavras-chave: meio rural; agricultura orgânica; Londrina.
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SILVA, Carlos Henrique Lopes.Production, certification and commercialization of organic agriculture in Londrina-PR. 2019. 51 fls.Completion of course thesis. Bachelor of Geography. State University of Londrina, Londrina, 2019.
ABSTRACT
The objective was to understand who the organic producers in Londrina’s municipality, and their processes of production, certification, and marketing of organic products. The assumption is that transformations in the Brazilian rural area have significantly modified the organization of organic farmers. This scenario shows a great importance in Londrina in particular, and in national and global states. The methodology adopted was that of the qualitative research, in order to understand and explain the relationships and processes that involve the production and commercialization of organic products and understanding the social group. Therefore, the study was subsidized by bibliographical contextualization, interview script applied to 7 organic producers (6 being owned in Londrina and one in the municipality of Sabaúdia, commercialized in Londrina) between 2016 and 2017. Data and information were transcribed, analyzed and represented using of graphic and cartographic products. The results suggest that in Londrina the organic agriculture integrates the list of cultivation techniques classified as alternatives. Organic producers are made up of small family farmers, lives and work on the property, someone had access to formal education, including higher education, and most of them can be referred to as neo-rural (people of urban origin, who had no rural tradition but who migrated to the countryside in recent years). The certification was pointed out as a necessary element to guarantee the organic production, however the farmers reported to have bureaucratic problems and difficulties in transition from conventional to organic agriculture. The research suggests that the production of organic food is a good alternative for small family farmers, which can guarantee better profitability and quality of life, besides promoting regional development. Keywords: rural world; organic agriculture; Londrina
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Exemplos de selos de certificação pelo sistema participativo e certificação
por auditoria. ......................................................................................................................... 267
Figura 2: Esquema de credibilidade Rede Ecovida ...................................................... 322
Figura 3: Representação sistêmica das relações na produção-consumo de
orgânicos. .............................................................................................................................. 444
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Tamanho das propriedades dos entrevistas em hectares ........................ 178
Gráfico 2: Periodicidade semanal e formas de comercialização dos produtores
entrevistados ........................................................................................................................ 345
LISTA DE MAPAS
Mapa 1: Pontos de Venda Direta de produtos orgânicos no município de Londrina-
PR ......................................................................................................................................... 3939
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Número de propriedades certificadas e porcentagem em relação ao total
do Brasil ................................................................................................................................. 244
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
AFO Agricultura Familiar Orgânica
APOL Associação dos Produtores Orgânicos de Londrina
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CPRA Centro Paranaense de Referência em Agroecologia
EMATER Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural
IAPAR Instituto Agronômico do Paraná
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
NEAGRO-UEL Núcleo de Estudos de Agroecologia da Universidade Estadual de
Londrina
OAC Organismo da Avaliação da Conformidade Orgânica
OCS Organização de Controle Social
PAA Programa de Aquisição de Alimentos
PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar
PPCPO Programa Paranaense de Certificação de Produtores Orgânicos
SETI Secretaria Estadual da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
SISORG Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica
SPG Sistema Participativo de Garantia
TECPAR Instituto de Tecnologia do Paraná
UEL Universidade Estadual de Londrina
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9
1. AGRICULTURAS ALTERNATIVAS, AGRICULTURA ORGÂNICA E
CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS SOCIAIS ENTREVISTADOS ....................... 11
1.1 Agriculturas Alternativas ao modelo de produção convencional: breves
considerações ........................................................................................................ 11
1.2 Agricultura orgânica: discussões pertinentes ................................................... 14
1.3 Caracterização dos agricultores orgânicos do município de Londrina-PR ....... 16
2. CERTIFICAÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS NO MUNICÍPIO DE LONDRINA-
PR ............................................................................................................................. 22
3 - FORMAS DE COMERCIALIZAÇÃO DOS PRODUTOS ORGÂNICOS NO
MUNICÍPIO DE LONDRINA-PR ................................................................................ 33
Considerações finais ................................................................................................. 46
APÊNDICES .............................................................................................................. 50
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INTRODUÇÃO
As transformações que tem passado o campo brasileiro nas últimas décadas
têm gerado uma modificação significativa nas formas de organização dos agricultores
orgânicos.
Esse trabalho torna-se oportuno num cenário em que são crescentes a
produção, a comercialização e o consumo de produtos orgânicos tanto no município
de Londrina como nos estados nacionais e no âmbito mundial. A expansão não reflete
uma situação conjuntural, mas um quadro com características estruturais, na medida
em que se intensifica o interesse por mais qualidade de vida, tanto para os seres
humanos como para o meio ambiente, buscando na produção e consumo de
alimentos considerados como "limpos e saudáveis".
Essa busca vem se intensificando ao longo do tempo, e decorre das críticas e
de diferentes segmentos da sociedade com relação ao tipo e ao ritmo de crescimento
econômico adotado pelas sociedades na atualidade. Dentre as principais
consequências deste crescimento econômico aparecem a degradação intensa e
acelerada dos recursos naturais, as rápidas transformações técnicas e sociais nos
sistemas produtivos, a ocupação e aglomeração desordenada e precária nas cidades,
bem como um conjunto de problemas no meio rural.
Neste sentido o presente trabalho teve como objetivo geral compreender quem
são os produtores, os processos de produção, certificação, e comercialização de
produtos orgânicos no município de Londrina. Para tanto foi realizado um roteiro de
entrevista (apêndice 1) com 6 produtores orgânicos localizados no município de
Londrina, e 1 no município de Sabáudia, porém com comercialização de seus
produtos em Londrina, entre os anos de 2016 e 2017. Além de uma pesquisa
bibliográfica acerca da temática proposta.
Após as entrevistas realizou-se a transcrição das mesmas, organização dos
dados em gráficos e tabelas e a produção de um mapa das feiras de comercialização
de orgânicos em Londrina, redação preliminar, correção da orientadora e a redação
final.
Cabe informar que de acordo com o Cadastro Nacional de Produtores
Orgânicos, o município de Londrina possui atualmente 11 produtores certificados
cadastrados (MAPA, 2018). Portanto, o universo de 7 entrevistados representa parte
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significativa de produtores (63,6%), podendo se obter uma ideia muito próxima da
realidade viven
ciada por esses pequenos produtores no município no que diz respeito a
produção, certificação e comercialização.
Vale destacar também a existência da Associação dos Produtores Orgânicos
de Londrina (APOL), com sede em Uraí, na Região Metropolitana de Londrina. A
escolha da realização da pesquisa em Londrina se justifica por ela ser a cidade polo
da região e de maior população e importância econômica.
A metodologia adotada foi a pesquisa qualitativa, visando um maior
aprofundamento e compreensão do grupo social estudado, buscando entender e
explicar as relações e processos que envolvem a produção, certificação e
comercialização de produtos orgânicos no município de Londrina. Nesse sentido, o
presente estudo prioriza o entendimento da realidade apontada pelos próprios
produtores entrevistados.
Para entender melhor todas essas transformações o presente trabalho está
estruturado em três partes. Na primeira parte apresenta as agriculturas alternativas e
a agricultura orgânica e seu dinamismo, além da caracterização dos sujeitos sociais
entrevistados no município de Londrina.
Na segunda parte, estuda a certificação de produtos orgânicos e como
acontece no município de Londrina no estado do Paraná. E por fim na terceira parte
aborda-se as formas de comercialização dos produtos orgânicos em Londrina.
Espera-se com esse trabalho aproximar-se da realidade vivenciada pelos
pequenos produtores orgânicos do município de Londrina, buscando apresentar um
panorama geral de como é produzir, certificar e comercializar orgânicos em Londrina.
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1. AGRICULTURAS ALTERNATIVAS, AGRICULTURA ORGÂNICA E
CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS SOCIAIS ENTREVISTADOS
1.1 Agriculturas Alternativas ao modelo de produção convencional: breves
considerações
No Brasil, uma pesquisa do Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e
Sustentável entre o período de março a abril de 2017, demonstrou o crescimento do
consumo dos alimentos orgânicos no país, sendo de 15%. A Região Sul, onde se
encontra o Estado do Paraná, é a região com maior incidência de consumo dos
produtos orgânicos, sendo de 34% no período (ORGANIS, 2017).
No entanto, a agricultura orgânica é apenas um dos tipos de atividades
agrícolas praticadas no planeta, assim como a convencional, a transgênica,
biodinâmica, natural, agroecológica, biológica, permacultura dentre outras miríades de
denominações, sendo essas cinco últimas compreendidas como agricultura
alternativa.
Com o intuito de defender o nicho de mercado, cada tipo de agricultura possui
suas características e conceitos que incluem desde a ideologia até o insumo e o modo
de plantios utilizados (EHLERS, 2009).
De acordo com Machado (2014, p. 35) a agroecologia pode ser entendida:
[...] como forma de agricultura e como a entendemos, retoma as concepções agronômicas de produção pré-revolução verde. Apropria-se dos imensos progressos da ciência e da tecnologia dos últimos 50 anos que se conformam em técnicas produtivas com a incorporação das questões sociais, políticas, culturais, ambientais, energéticas e ética.
Campanhola e Valarini (2001, p. 71) ainda colocam que a:
[...] agricultura ecológica ou agroecologia vai além das outras correntes, pois considera que as lavouras são ecossistemas nos quais os processos ecológicos encontrados em outros tipos de vegetação – ciclos de nutrientes, interações predador/presa, competição, comensalismo e sucessões ecológicas – também ocorrem. Ou seja, a agroecologia enfoca as relações ecológicas no campo e o seu objetivo é entender a forma, a dinâmica e a função das relações existentes no meio biótico, no meio abiótico, e entre eles. Além disso, considera a interação com o homem, cujas ações estão pautadas na sua cultura,
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hábitos e tradições. Está implícita também a ideia de que por meio da compreensão desses processos e relações, os agroecossistemas podem ser manipulados para produzir melhor, com menos insumos externos, menos impactos negativos ambientais e sociais e mais sustentabilidade [...]. Portanto, a agricultura ecológica incorpora à produção agropecuária, a conservação ambiental, o compromisso social da agricultura em relação aos produtores e consumidores, bem como a sustentabilidade ecológica dos sistemas de produção. Por isso, é a que representa maior potencial para atingir a tão almejada sustentabilidade na agricultura.
Observa-se que os saberes tradicionais da agricultura, desprezados por muitos
produtores após a Revolução Verde são retomados com o plantio agroecológico, além
da incorporação e uso das novas tecnologias, em especial as tecnologias limpas, que
são negadas na denominada produção convencional. Sendo assim, a agroecologia:
[...] dispõe dos conhecimentos para superar a monocultura e a quebra da biodiversidade, consequências inexoráveis do agronegócio. Assim como se pode, através dela, resgatar a cidadania dos pequenos pode-se, também produzir alimentos limpos na escala que a humanidade demanda, naturalmente, com outros métodos. (MACHADO, 2014, p. 37)
A agricultura orgânica, por sua vez teve como um dos principais expoentes o
inglês Albert Howard, em viagens do pesquisador para a Índia em 1920, o mesmo
analisou as práticas de compostagem e adubação. Dessa análise surgiu o livro "Um
testamento agrícola" de 1940 (BNDES, 2002, p. 8).
Aproximadamente na mesma época, Claude Aubert na França difundiu o
conceito da agricultura biológica que se baseia no uso do adubo verde, rotação de
culturas, controle natural das pragas, não utilização de fertilizantes, defensivos
sintéticos, dentre outros aspectos. Para o cuidado dos animais, era defendido a
fitoterapia, a homeopatia e a acupuntura (BNDES, 2002 p. 8).
Em 1924, Rudolf Steiner, na Alemanha, iniciou as pesquisas sobre a agricultura
biodinâmica, que de modo geral, defende a harmonia e o equilíbrio da unidade
produtiva, ou seja, do humano com a terra, as plantas e os animais. A salvaguarda
era que "[...] para se estabelecer o elo entre as formas de matéria e de energia
presentes no ambiente natural, somente devem ser utilizados os elementos orgânicos
produzidos na propriedade agrícola, já que esta é considerada um organismo, um ser
indivisível" (BNDES, 2002, p. 8).
No Japão, em 1935 foi definido o conceito de agricultura natural por Mokiti
Okada para tal corrente, existe sentimento e espírito em todos os seres vivos, inclusive
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nas plantas. Desse modo, esse tipo de agricultura tem o intuito de produzir sistemas
agrícolas que se assemelham as condições originais dos ecossistemas (EHLERS,
2009)
Somente em 1971, na Austrália, é que foi difundido o conceito de permacultura
por Bill Mollison, que também é uma atividade agrícola integrada com o ambiente
sendo denominada de agricultura permanente. O diferencial, é que nesse tipo de
agricultura há o uso de informações técnicas relacionadas a direção dos ventos, raio
solar e distribuição espacial das plantas, dentre outros aspectos (EHLERS, 2009).
Tais movimentos em favor dos sistemas orgânicos só foram validados de fato
a partir da década de 1970, na Europa e nos EUA, “[...] pois inicialmente não havia
padrões, regulamentos ou interesse em questões ambientais e de segurança
alimentar” (BNDES, 2002, p. 9).
Os sistemas orgânicos passam a ter destaque nos anos de 1970 por serem
uma resposta ao próprio padrão moderno de agricultura (Revolução Verde) que se
espalhou pelo mundo depois da Segunda Guerra Mundial:
No Brasil, apesar de agressões à natureza relacionadas ao desmatamento e a problemas de conservação dos solos provocadas pelo sistema monocultural de produção serem observadas desde o período colonial, foi a modernização da agricultura iniciada na década de 1960, e intensificada na de 1970 no bojo da "Revolução Verde", que provocou, conforme coloca Graziano Neto (1982), o surgimento de problemas ecológicos que até então, ou não tinham grande importância ou não tinham sido percebidos em toda sua extensão. Nos marcos dessa concepção, a pesquisa e o desenvolvimento dos modernos sistemas de produção foram orientados para a incorporação de pacotes tecnológicos, tidos como de aplicação universal, destinados a maximizar o rendimento dos cultivos em situações ecológicas profundamente distintas (ASSIS; ROMEIRO 2002, p. 70).
Esse padrão moderno de produção pode ser denominado como agricultura
convencional, sendo predominante o uso intensivo de tecnologias, tratores, adubos e
fertilizantes químicos, sementes geneticamente melhoradas, agrotóxicos, dentre
outros (EHLERS, 2009).
O emprego de tais inovações na agricultura convencional aumentou a produção
de alimentos no mundo e também as preocupações relacionadas aos problemas
sociais, econômicos e ambientais provocadas por esse padrão produtivo, o que
causou um movimento contrário tendo como embasamento os sistemas livres de
agroquímicos:
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Esse movimento rebelde ficou conhecido como agricultura alternativa. Os adeptos daquelas ideias conseguiram chamar a atenção da opinião pública para os efeitos danosos do padrão moderno, como a erosão dos solos, a poluição das águas e a contaminação dos alimentos por resíduos de agroquímicos (EHLERS, 2009, p. 6).
Deste modo, nas décadas de 1970 e 1980 o movimento por uma agricultura
alternativa se solidificou, na Europa enquanto Comunidade Econômica Europeia,
dando origem em 1991 ao documento Council Regulation que definiu as normas e os
padrões da produção, processamento, comercialização e importação de produtos
orgânicos de origem vegetal e animal nos Estados (ROEL, 2002).
A partir da ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, e dos debates em torno do
desenvolvimento atrelado ao meio ambiente e da segurança alimentar, os produtos
orgânicos passaram a adentrar nos supermercados e houve um aumento das
cooperativas e associações de produtores orgânicos e da comercialização direta entre
produtor e consumidor.
O ano de 1962 é um momento-chave na história da agricultura mundial, pois foi o ano em que Raquel Carson publicou seu livro Primavera Silenciosa, marco reflexivo com inúmeras denúncias sobre contaminações ambientais e sobre a elevada mortalidade de animais silvestres causada por agrotóxicos. Contudo, somente na década de 1990 a sociedade, de maneira geral, tomou consciência do real problema ambiental, das suas causas e perigosas conseqüências. A Conferência Mundial das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, a ECO-92, foi um marco histórico da luta do homem em defesa da vida (ROEL, 2002, p. 58).
É, portanto, possível atribuir o debate em torno da agricultura alternativa ao
despertar da consciência ecológica que passou a ocupar o debate da opinião pública
mundial a partir das conferências ambientais.
1.2 Agricultura orgânica: discussões pertinentes
A agricultura orgânica é abarcada pelo conceito da agricultura alternativa que
envolve outras correntes agrícolas, como a agricultura natural, biodinâmica, biológica,
ecológica e a permacultura, tal qual demonstram os autores Campanhola e Valarini
(2001, p. 69)
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Todas essas correntes adotam princípios semelhantes que podem ser resumidos nas seguintes práticas: a) reciclagem dos recursos naturais presentes na propriedade agrícola, em que o solo se torna mais fértil pela ação benéfica dos microrganismos (bactérias, actinomicetos e fungos) que decompõem a matéria orgânica e liberam nutrientes para as plantas; b) compostagem e transformação de resíduos vegetais em húmus no solo; c) preferência ao uso de rochas moídas, semi-solubilizadas ou tratadas termicamente, com baixa concentração de nutrientes prontamente hidrossolúveis, sendo permitida a correção da acidez do solo com calcário calcítico ou dolomítico; d) cobertura vegetal morta e viva do solo; e) diversificação e integração de explorações vegetais (incluindo as florestas) e animais; f) uso de esterco animal; g) uso de biofertilizantes; h) rotação e consorciação de culturas; i) adubação verde; j) controle biológico de pragas e fitopatógenos, com exclusão do uso de agrotóxicos; k) uso de caldas tradicionais (bordalesa, viçosa e sulfocálcica) no controle de fitopatógenos; l) uso de métodos mecânicos, físicos e vegetativos e de extratos de plantas no controle de pragas e fitopatógenos, apoiando-se nos princípios do manejo integrado; m) eliminação do uso de reguladores de crescimento e aditivos sintéticos na nutrição animal; n) opção por germoplasmas vegetais e animais adequados a cada realidade ecológica; e o) uso de quebra-ventos.
Cabe observar que os princípios da agricultura orgânica, conforme se
pode ler no excerto acima, são antagônicos à agricultura convencional, cujo expoente
mais representativo é o denominado agronegócio.
No Brasil, o artigo primeiro da Lei nº 10. 831/2003 define a agricultura orgânica
do seguinte modo:
Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não-renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente (BRASIL, 2003).
Azevedo (2004) apud Azevedo, Schimidt e Karam (2018) ressaltam ainda que
os aspectos subjetivos e objetivos que aparecem nas discussões sobre qualidade de
vida também estão presentes nos estudos sobre a Agricultura Familiar Orgânica.
Os autores mostram que a Agricultura Orgânica, ao se apresentar como um
sistema produtivo que objetiva a auto-sustentação da propriedade agrícola no tempo
e no espaço, a maximização dos benefícios sociais para o agricultor, a minimização
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da dependência de energias não renováveis na produção, a oferta de produtos
saudáveis e de elevado valor nutricional, isentos de qualquer tipo de contaminantes
que colocam em risco a saúde do consumidor, do agricultor e do meio ambiente, o
respeito à integridade cultural dos agricultores e a preservação da saúde ambiental e
humana questiona as repercussões negativas do sistema agroalimentar moderno e
promove a saúde e a qualidade de vida. (AZEVEDO, SCHIMIDT, KARAM, 2018.)
Assumindo essa definição, a Agricultura Familiar Orgânica (AFO) torna-se
uma ferramenta de promoção de valores sociais e de qualidade de vida no meio rural,
com repercussões igualmente importantes sobre a qualidade de vida no meio urbano.
1.3 Caracterização dos agricultores orgânicos do município de Londrina-PR
Para caracterizar os agricultores orgânicos do município de Londrina-PR,
foram realizadas entrevistas com 7 produtores orgânicos (sendo 6 com propriedade
em Londrina e um no município de Sabaúdia, com comercialização em Londrina) no
período entre 2016 e 2017. Vale ressaltar que Londrina possui em sua totalidade 11
produtores orgânicos no município segundo o Cadastro Nacional de Produtores
Orgânicos (MAPA, 2018).
As entrevistas foram concedidas nas feiras de produtos orgânicos ou nas
propriedades dos entrevistados. Das 7 entrevistas realizadas, 2 delas foram feitas com
casais, ou seja, o homem e a mulher juntos, e as outras 5 com produtores do sexo
masculino.
Desse universo de 7 entrevistados, 6 residem na zona rural e comercializam
na área urbana do município de Londrina-PR, sendo que 5 desses produtores estão
concentrados na área do Limoeiro (região leste do município), 1 produtor no Distrito
de Guaravera. Já um dos entrevistados está com produção na zona rural do município
de Sabaúdia-PR e com comercialização em Londrina.
As entrevistas realizadas na pesquisa demonstraram que todos os
entrevistados são pequenos agricultores familiares, no geral o trabalho existente na
propriedade e nas demais relações (gestão, comercialização) são executados por
membros da família, e as propriedades possuem tamanho reduzido, conforme
demonstra o gráfico 1 referente ao tamanho das propriedades:
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Gráfico 1: Tamanho das propriedades dos entrevistados em hectares
Fonte: Dados coletados na pesquisa.
Segundo FAO (1992) apud Tsukamoto e Asari, (2003) a agricultura familiar
define-se com trabalho e gestão intimamente relacionados: a direção do processo
produtivo é realizada diretamente pelos proprietários; dá-se ênfase na diversificação
da produção; busca-se a durabilidade dos recursos naturais e melhoria da qualidade
de vida; há o trabalho assalariado para complementar os rendimentos; as decisões
são tomadas de forma imediata, adequando-se ao alto grau de imprevisibilidade do
processo produtivo; a tomada de decisões é realizada “ïn loco”, em função das
especificidades do processo produtivo; dá-se ênfase ao uso de insumos internos.
O entrevistado 2 (2016) explica como se dá as divisões de trabalho no âmbito
da propriedade: “Na verdade, na horta quem mexe é mais eu, a minha esposa toma
conta de vendas e financeiro [...] a gente vai cuidando junto né, mas ela que chega
com as coisas pra gente conversar e discutir”. O entrevistado 5 (2017) ao ser
questionado sobre quem trabalha na propriedade, diz: “Trabalha só eu e minha
companheira”
Já o entrevistado 4 (2016) menciona que trabalhos considerados mais
pesados são mais tarefas do homem:
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[...] Tem coisa mais pesada acaba sendo comigo, roçada, fazer canteiro, subir canteiro, estercar, adubar. Poda de morango fica mais com as mulheres, embalagem é todo mundo, basicamente quase todo mundo faz de tudo (...) Nós somos família, tenho filhos pra criar, uma vida para levar.
Além disso o governo possui desde 2006 a definição de alguns critérios que
determinam o pertencimento, ou não, de uma produção agrícola em um contexto
familiar. De acordo com a Lei nº 11.326/2006, para ser considerado como agricultor
familiar é preciso que a propriedade tenha, no máximo, quatro módulos fiscais (que
varia conforme o município e a proximidade maior ou menor com as zonas urbana e
rural), onde seja utilizada predominantemente mão de obra da própria família, assim
como a base de sustentação da renda familiar tenha origem nas atividades
econômicas vinculadas ao próprio empreendimento (EMBRAPA, 2018).
Outro conceito de agricultura familiar é aquele em que remete a uma categoria
genérica que a define como “aquela em que a família, ao mesmo tempo em que é
proprietária dos meios de produção, assume o trabalho no estabelecimento produtivo”
(WANDERLEY, 1999, p.25).
No Brasil a agricultura familiar assume quase que a totalidade da produção
de alimentos. Azevedo, Schmidt e Karam (2018) demonstram a partir dos dados do
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que a Agricultura Familiar, com
apenas 24,3% da área agrícola, é responsável pela produção de quase 80% dos
alimentos consumidos no país. Mesmo produzindo quase toda a alimentação da
população brasileira, a agricultura familiar conta com menos recursos públicos como
suporte de suas atividades: recebeu mediante as políticas públicas cerca de 24
bilhões de reais em 2017, em relação aos mais de 80 bilhões obtidos pelo
agronegócio.
Atualmente pesquisas indicam que parte dos agricultores orgânicos são os
denominados “neo-rurais”, que sinalizam para uma expressão singular de migração.
Segundo Giuliani (1990) apud Vargas (2002) os neo-rurais fazem reviver valores
próprios do mundo rural, transformando-os em uma força crítica das formas em que a
sociedade inteira se desenvolve, é uma livre escolha bem precisa e particular, isto é,
quando as pessoas decidem não mais morar na cidade e não mais trabalhar só em
profissões urbanas, resolvendo mudar para o campo e trabalhar na agricultura ou na
criação de pequenos animais.
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No Brasil, esta forma de buscar qualidade de vida no campo, base do neo-
ruralismo, tem dimensões desconhecidas, embora se possa identificar em muitas
regiões um expressivo número desses atores sociais (VARGAS, 2002).
Na presente pesquisa foi possível observar que parte dos agricultores
entrevistados são conhecidos como neo-rurais e cultivam orgânicos por concepção
ideológica e/ou melhores condições de vida. Segundo o entrevistado 5 (2017):
Eu acho que é essencial para fugir dessa lógica de dependência excessiva, extrema de insumos externos, qualidade de vida ali no campo e eu vejo que é uma forma de manter os filhos no campo, quando a pessoa se apropria do que tá fazendo, não segue receitinha igual é a agricultura convencional, quando o cara se apropria daquilo que ele tá fazendo, entende a dinâmica do funcionamento, aquilo é muito gratificante de fazer, então eu vejo isso como estratégico para ter continuidade dentro da agricultura, barrar esse êxodo rural que até hoje tem bastante, a gente vê que tá tendo bastante, principalmente os jovens com essa preocupação de estar voltando para a terra, fazer a agricultura de uma forma diferente [...] já tem até teóricos estudando isso, os neo-rurais, já é uma categoria que a galera já vem estudando, é um movimento contrário que tá acontecendo voltando para o campo, justamente porque a vida na cidade tá meio que insustentável, o custo de vida muito alto, sendo que no campo você consegue produzir maior parte do que você vai comer, você sabe o que você tá comendo né?
O entrevistado 2 (2016) comenta o que o motivou a se tornar um produtor
orgânico:
[...] O que motivou foi mais a espiritualidade, a gente vive em um sistema tão fechado que quase que obriga a gente a pensar só na gente. O orgânico não tem dessa, você vai levar um alimento de qualidade pra outras pessoas, eu achei mais gratificante, o trabalho.
Já o entrevistado 4 (2016) comenta que a questão ideológica também foi
fundamental para se tornar produtor orgânico.
[...] Com certeza, porque já entramos com essa ideia de produzir orgânico já sabendo como a agricultura convencional é prejudicial para a população, para o planeta em geral, entramos com esse foco firme de produzir orgânico, a gente se alimentar bem, com um corpo mais são.
Grande parte dos agricultores entrevistados possuem curso superior ou
alguma qualificação profissional, ou seja, são agricultores que se diferenciam do
agricultor convencional porque produzem a partir de uma concepção com consciência
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e responsabilidade ambiental e melhoria da saúde como é possível ler na fala do
entrevistado 6, que além de pequeno produtor, é Engenheiro Agrônomo:
eu recomendo por questão de saúde dos trabalhadores do campo, a gente tem que tentar tirar mesmo o agricultor do trabalho com muita máquina, muito defensivo, muito adubo. Quanto mais ele puder trabalhar com a energia dele, sem ter que trazer coisas de fora. Hoje com esse consumo que eu acho que tende a crescer, ele tem essa opção de renda melhor do que ele ficar sujeito, de repente trabalhar em uma integração ou trabalhar em uma pequena lavoura, pequena lavoura não tem como trabalhar com cultura de grão, é caro. A gente vê aqui uns caras plantando 2 alqueires de soja, não rende nada, ele tem que pagar para alguém vir plantar, tem que pagar para alguém vir pulverizar, rende pouco. (Entrevistado 6, 2017)
Para o entrevistado 5 (2017) o que mais motivou foi a questão ambiental.
E aí o que me motivou a ser agricultor orgânico na verdade foi essa paixão que a gente acaba tendo com a relação com a natureza, vendo a dinâmica de funcionamento do sistema tropical e é uma militância mesmo, alimentação, a gente vê o tanto de agrotóxico, tanta coisa tóxica que contamina o alimento, o agricultor, o meio ambiente e a gente começou a pensar dessa maneira, mas já veio da graduação isso.
Além disso, a maioria dos produtores possuem muita diversidade de cultivo,
diferenciando-se da monocultura, buscando favorecer o desenvolvimento da
biodiversidade local.
Quando eu entrei na agronomia e comecei a ver as contradições do modelo vigente da agricultura convencional que não se adequa ao nosso sistema natural, do monocultivo sendo que o ponto forte da gente é a biodiversidade e o sistema convencional não segue isso, é um modelo importado de outras regiões que precisam dessa tecnologia, mas para gente é uma tecnologia que não se adequa. (Entrevistado 5, 2017)
Em busca de preços justos, os agricultores buscam a inovação e descartam
os atravessadores, sendo que todos têm a plena consciência que a venda direta é
mais vantajosa, além de estabelecer a confiança entre produtor e consumidor.
[...] a gente até vendeu pra sacolão mas a gente parou agora faz uns 2 meses que parou de vender pra sacolão, a gente vendia para sacolão, para restaurante, você vendia muito barato, metade do preço não rola. (Entrevistado 1, 2016).
Outro aspecto positivo observado nas entrevistas foi que a produção orgânica
proporciona a sociabilidade com os vizinhos, que na maioria praticam agricultura
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convencional, a mediação ao que indica vem sendo realizada sem grandes conflitos:
“O meu vizinho do fundo cultiva o convencional. A relação é boa, tranquilo, os plantios
de milhos são combinados para não dar polinização cruzada (...) E a barreira é muito
bem fechada”. (Entrevistado 2, 2016)
Desta forma, observou-se nas entrevistas que o perfil dos produtores
orgânicos atuantes no município de Londrina-PR são, no geral, de pequenos
agricultores familiares que buscam uma produção diversificada e equilíbrio nas
relações ambientais e sociais. Nota-se ainda que muitos possuem boa qualificação
profissional, inclusive com curso superior, alguns migraram das cidades para o campo,
podendo ser caracterizados como parte de um movimento denominado neo-rurais, ou
seja, os novos agricultores.
Outra observação importante é relativa à questão do papel das mulheres na
produção e comercialização. Na parte de produção notou-se que os serviços
considerados mais pesados (como roçagem e capina) são realizados mais pelos
homens, e serviços considerados mais leves (como embalar e planejar) são feitos
mais pelas mulheres. Na parte de comercialização e aproximação com consumidores
percebe-se um papel mais ativo das mulheres que geralmente são quem coordenam
toda a movimentação do pedido de cestas (feitas via whatsapp), e executam vendas
nas feiras.
Por fim cabe destacar o poder de decisão das mulheres, os entrevistados
relataram que discutem e tomam decisões sempre juntos, em conjunto. Nesse
sentido, acredita-se que as mulheres possuem poder de decisão sobre os rumos da
propriedade, entre outras decisões importantes.
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2. CERTIFICAÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS NO MUNICÍPIO DE LONDRINA-
PR
Em defesa da agricultura alternativa, a França foi o primeiro país a criar um
certificado oficial dos produtos orgânicos, em 1997, e um plano de ação até 2010 para
fortalecer o país enquanto fornecedor dos orgânicos para a Europa (BNDES, 2002).
Os certificados legais dos produtos orgânicos foram e são fundamentais para a
produção e comercialização dos mesmos, tendo em vista que a certificação “[...] visa
conquistar maior credibilidade dos consumidores e conferir maior transparência às
práticas e aos princípios utilizados na produção orgânica” (CAMPANHOLA e
VALARINI, 2001, p. 77).
Cada país tem seu conjunto de regras para determinar a qualidade dos
produtos orgânicos comercializados em seu território. No Brasil, as atividades são
definidas pela Lei Federal no 10.831 de 23 de dezembro de 2003 (BRASIL, 2003) e
pelo decreto no 6.323 de dezembro de 2007 (BRASIL, 2007).
A legislação, juntamente com o decreto, regulamenta os produtos orgânicos
por meio da garantia da produção, do armazenamento, da rotulagem, do transporte,
da certificação, da comercialização e da fiscalização dos produtos, assim como
regulamenta o funcionamento de todo o sistema de produção orgânica, desde a
propriedade rural até o ponto de venda.
O decreto ainda cria o Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade
Orgânica (SISORG) que é um sistema “[...] integrado por órgãos e entidades da
administração pública federal e pelos organismos de avaliação da conformidade
credenciados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento” (MAPA,
2018), que mediante convênios entre os Estados, visa melhorar a garantia da
produção, da comercialização e da fiscalização dos produtos orgânicos (BRASIL,
2007).
De acordo com o Ministério da Agricultura (MAPA, 2018), para comercializar os
produtos no Brasil como "Orgânicos", os produtores devem se regularizar a partir de
uma das formas a seguir:
• Obter certificação por um Organismo da Avaliação da Conformidade Orgânica
(OAC) credenciado junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento - MAPA;
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• Organizar-se em grupo e cadastrar-se junto ao MAPA para realizar a venda
direta sem certificação.
Sendo assim, um produto orgânico apenas pode ser qualificado nas
conformidades da legislação brasileira por meio de algumas garantias que são
regulamentadas pela certificação da produção dos alimentos. A certificação é
outorgada por diferentes instituições no país, as quais possuem normas específicas
para a concessão do seu selo de garantia.
Para que um produto seja classificado como orgânico é necessário seguir
regras e critérios. A garantia que essa produção cumpriu tais regras se faz pela
certificação, que é emitida por uma certificadora. De acordo com Darolt e Neto (2002)
é necessária a certificação, pois é a única forma de comprovar a procedência orgânica
do produto.
Segundo as normas brasileiras, para que um produto receba a denominação de orgânico, deverá ser proveniente de um sistema onde tenham sido aplicados os princípios estabelecidos pelas normas orgânicas por um período variável de acordo com a utilização anterior da unidade de produção e a situação ecológica atual, mediante as análises e avaliações das respectivas instituições certificadoras (DAROLT e NETO, 2002, p.1).
A certificação é o elo na relação entre o produtor e o consumidor de que o
produto é livre dos agrotóxicos e de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs).
Nesse sentido, a certificação deve promover uma relação de confiança e proximidade
entre quem produz e quem consome, como demonstra o entrevistado 7 (2017):
Eu acho que é fundamental, para mim é princípio, então minha prioridade vai ser essa, meu foco principal, do grosso aqui tudo a ideia é venda direta e em um canal de comercialização que eu mesmo administro nessas parcerias, portanto não pretendo entrar em uma rede convencional de mercado.
Também com relação a certificação e proximidade com consumidor, o
entrevistado 6 (2017) considera que:
Isso é importantíssimo, tem que ter, eu acho que é muito bom para gente que tá produzindo ter um retorno do que tá fazendo, como também é bom para gente divulgar nosso trabalho e é bom para eles conhecerem de onde vem a produção [...] depois que você consegue essa confiança talvez até nem precisasse de certificação né [...] tem muitos lugares que já não tem essa necessidade de ter produtos certificados, mais a confiança mesmo.
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No cenário atual, o mercado de produtos orgânicos apresenta nítido
crescimento na produção. O Estado do Paraná é o maior produtor de orgânico do país,
como aponta a Agência de Notícias do Paraná, cujo título traz a seguinte manchete:
“Programa consolida o Paraná como maior produtor de orgânicos” (PARANÁ, 2016).
A matéria demonstra ainda, que “o Paraná tem uma produção de 130 mil
toneladas de alimentos por ano”, segundo o Instituto Paranaense de Assistência
Técnica e Extensão Rural (EMATER) e já se apresentava em 2017 como:
[...] o segundo Estado brasileiro com o maior número de propriedades certificadas para a produção de orgânicos, são 2.119 propriedades, de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, atrás apenas de Santa Catarina (EMATER, 2018).
No Quadro 1 é possível observar os estados que tem maior quantidade de
propriedades certificadas. Nota-se que os estados da Região Sul figuram entre os
primeiros colocados, sendo o Paraná o segundo maior.
Quadro 1: Número de propriedades certificadas e porcentagem em relação ao total do Brasil
Fonte: EMATER, 2018
Em suma, denomina-se como tendência para o futuro um crescimento do
mercado de produtos orgânicos, buscando atingir consumidores que desejam uma
alimentação mais saudável e cuja cadeia de produção se concretize de maneira
harmoniosa com o ambiente. Neste sentido, os agricultores entrevistados demonstram
otimismo quanto o futuro da produção orgânica, além das vantagens de uma produção
livre de agroquímicos, conforme se pode ler nas palavras do entrevistado 7 (2017):
Sem dúvida nenhuma, primeiro por várias razões, primeiro porque o agricultor familiar típico ele já é, se não exclusivamente, ele é
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majoritariamente um cara de produção agroecológica, porque ele não tá baseado na monocultura, ele tem diversificação, como ele normalmente mora na propriedade, vive da propriedade, ele produz o próprio alimento, portanto ele não segrega, ele usa menos veneno naturalmente por conta da biodiversidade. E porque de fato hoje você tem comprovadamente a quebra do mito de que não dá para produzir organicamente ou agroecologicamente, é viável, é possível, tem retorno econômico e uma grande parte dos agricultores familiares ainda não descobriram essa possibilidade da certificação por desinformação, mas o acesso a rede por exemplo é um facilitador enorme. No nosso grupo mesmo tem gente que vinha do veneno, entrou no processo, já tá no processo avançado de conversão e sem dificuldade. Então eu recomendo por questão ambiental, questão de saúde e questão de rentabilidade. A rentabilidade de uma estrutura produtiva agroecológica ou orgânica ela dá mais sustentabilidade para esse produtor do que um produtor convencional com monocultura, como técnico eu recomendaria que ele fosse para essa linha.
Vale destacar aqui a ênfase que o entrevistado dá sobre a questão da
viabilidade e rentabilidade em ser produtor orgânico. Ele menciona que a partir de uma
concepção orgânica de produção o pequeno produtor, desde que bem informado e
organizado, pode superar todas as dificuldades do cultivo, obtendo melhores
resultados na questão financeira, ambiental e de saúde. Em resumo, ele defende e
recomenda o cultivo de orgânicos como a melhor forma de se produzir em pequenas
propriedades rurais familiares, sendo bem mais vantajoso do que pelo modelo
convencional.
A diferença entre o produtor com certificação e aquele que somente é
cadastrado no MAPA em relação a venda direta, é que o primeiro pode ter mais locais
para comercializar, como nas feiras, restaurantes, indústrias, mercados, dentre outros.
É importante salientar também que o produtor sem certificação pode
comercializar seus produtos orgânicos nas feiras, como uma relação direta entre
consumidor e produtor ou para programas do governo (MAPA, 2018).
As certificações são classificadas em: Organização de Controle Social (OCS);
Sistema Participativo de Garantia (SPG); e Certificação por Auditoria. Nos dois últimos
procedimentos a certificação apresenta-se sob a forma de um selo (Figura 1) afixado
ou impresso no rótulo ou na embalagem do produto.
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Figura 1: Exemplos de selos de certificação pelo sistema participativo e certificação por auditoria.
Fonte: (REDE ECOVIDA, 2018, MAPA, 2018)
Já para a primeira certificação este selo não é obrigatório, porém é necessário
que o produtor esteja cadastrado em um banco de dados do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2018).
A OCS é uma certificação regulamentada pelo decreto nº 6.323/07, e é definida
como:
Grupo, associação, cooperativa ou consórcio a que está vinculado o agricultor familiar em venda direta, previamente cadastrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, com processo organizado de geração de credibilidade a partir da interação de pessoas ou organizações, sustentado na participação, comprometimento, transparência e confiança, reconhecido pela sociedade (BRASIL, 2007).
A certificação por Controle Social pode ser aplicada apenas para venda direta
ou institucional de produtos in natura - ou seja, não pode usar essa via para
comercializar ingredientes de produtos processados. É permitida também a venda
direta à merenda escolar por meio de dois programas, Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) (MAPA,
2018).
O Sistema Participativo de Garantia (SPG) é um sistema de rede certificado por
um Organismo Participativo da Avaliação da Conformidade (OPAC) sendo uma forma
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de organização entre os produtores orgânicos de fiscalizarem e garantirem a produção
orgânica (MAPA, 2018).
Nesse sistema de rede o produtor deve participar ativamente do grupo ou
núcleo a que estiver ligado, comparecendo as reuniões periódicas. Cada propriedade
recebe visitas dos próprios produtores frequentemente para garantir a produção
orgânica e promover auxílio para corrigir algum problema, expandir a produção, dentre
outros.
Sobre as visitas regulares entre os produtores e a trocas de experiências que
promovem o processo de certificação via sistema de rede, é salutar recorrer a fala do
entrevistado 7 (2017):
[...] como no participativo, onde todo mundo tá se visitando toda hora e vivendo um processo que se sabe que se um do grupo pular fora, fizer uma bobagem qualquer ele compromete o grupo inteiro, então ninguém nem faz bobagem e também ajuda os outros a não cometerem bobagem [...] não encontro dificuldade, o que eu acho é que tem um processo de maturação que a gente ta cumprindo, ta pelo menos 6 meses frequentando ativamente as atividades do grupo, isso até já cumpri, já tô com isso resolvido, fazer as adequações, se tudo confirmar em julho nós já vamos fazer uma primeira reunião aqui, junho agora tem uma reunião do grupo, depois nós vamos marcar a próxima, então eu tô pleiteando que em julho seja aqui, então naquele momento a gente faz uma reunião aqui e o pessoal roda tudo, e aí já dá as dicas "ó, aqui faz isso, faz aqui, aqui não tá bom isso, tá bom aqui e tal" [...] é uma troca de experiências, informação muito rica. Objetivamente eu não vejo dificuldade.
Sobre essa questão da certificação pelo sistema de rede, vale salientar a
importância de uma rede bem constituída e consolidada. No Município de Londrina-
PR e em toda Região Sul, a rede em atuação é a Rede de Agroecologia Ecovida, o
agricultor abaixo comenta porque decidiu fazer o processo de certificação pela rede:
[...] eu vou fazer pela Rede pelo seguinte, a rede é uma organização de agricultores, além de fazer parte de uma rede com quase 5 mil associados é algo que só depende do agricultor, não depende de nenhuma esfera pública, então é um negócio que tem continuidade enquanto existir os agricultores organizados, a rede existe (Entrevistado 5, 2017)
As questões burocráticas para certificação por auditoria das propriedades são
apontadas como uma das principais dificuldades pelos entrevistados, que muitas
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vezes veem o sistema de rede como uma solução mais vantajosa no enfrentamento
ao processo de certificação, isso fica evidente na fala do Entrevistado 2 (2016).
O processo de certificação é complicado às vezes a burocracia, para a gente que é novo tem 3º grau completo é fácil você pegar e montar um cronograma que você vai quantificar sua produção, ter seu caderno de campo atualizado, que que você fez, com data, com dosagem, tudo bem marcado. Agora como é que ele vai transitar um produtor de 40, 45 anos que viveu do convencional para o sistema orgânico onde as certificadoras já exigem tudo isso, aí o cara pega e fala "ah, vou ficar no convencional mesmo", eu acho que o mais foda da certificação é isso né, da auditada, que vai o auditor a cada 6 meses na sua propriedade, bate a geral, fala "ó, tá errado isso e isso, daqui 6 meses eu volto e você tem que arrumar" e você se vira, ele dá as costas e vai embora. A rede Ecovida não, todo mundo que participa tem que ter 70% de presença nos encontros, então 1 mês tem reunião, no mês seguinte tem oficina, no outro mês tem reunião... e as reuniões tem que ter frequência quase máxima, então nessa reunião a gente já dá uma volta na horta, aí o fulano fala (...) "ó, Guilherme, ta parado ali sua barreira ta com uma falha, mas se você jogar um napier (capim) ali, em 3 meses já tá fechado", entendeu? Então rola essa troca de informações (...) então tem toda essa riqueza aí
Dessa forma o próprio grupo garante a qualidade orgânica de seus produtos
sendo que todos tomam conta de todos e respondem juntos como coletivo se houver
fraude ou qualquer irregularidade. Se o produtor não corrigir uma determinada
irregularidade, o grupo deve excluí-lo, cancelar o certificado e informar ao MAPA.
A certificação por Auditoria é feita por uma certificadora pública ou privada
credenciada no Ministério da Agricultura. Obedece a procedimentos e critérios
reconhecidos internacionalmente, além dos requisitos técnicos estabelecidos pela
legislação brasileira (MAPA, 2018).
Portanto, de uma forma geral, para que a certificação seja emitida os produtos
devem cumprir os pré-requisitos exigidos por leis ambientais, sociais, de qualidade,
dentre outras.
Uma outra dificuldade apontada pelos agricultores é a produção de orgânicos
dentro de um contexto voltado para a produção convencional, e isso reflete também
no processo de certificação. De acordo com o entrevistado 7 (2017), ele obteve até
privilégios quanto a isso, por estar numa condição de diferente de muitos de seus
colegas
Por estar privilegiado dentro de uma área em que não se usava agrotóxico, é um condomínio de chácaras de lazer então não se tem o cultivo de convencionais ao redor, então ali não se tem grande
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dificuldade, geralmente as dificuldades é onde você está inserido porque geralmente em volta é tudo convencional e a agricultura orgânica fica meio que ilhado, aí tem que fazer barreira e tudo mais. O que eu vejo mais do agricultor orgânico é o que eu te falei na pergunta anterior sobre a assessoria técnica, é bem dificultoso você ter profissionais que entendam desse tipo de agricultura, mas justamente fui buscando me blindar o mais possível.
Sobre o processo de certificação, bem como o processo de transição do modelo
convencional para o orgânico, salienta-se a importante atuação do Programa
Paranaense de Certificação de Produtos Orgânicos (PPCPO), iniciado no ano de
2009, que atualmente é denominado: Paraná mais orgânico. O Programa envolve a
Secretaria Estadual da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI), por meio das
Universidades Estaduais; o Centro Paranaense de Referência em Agroecologia
(CPRA), vinculado à Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento, e o
Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR), que é o órgão certificador. (PARANÁ,
2018)
Em suma, as Universidades através da criação dos núcleos de Agroecologia
realizam a orientação, assistência técnica e acompanhamento do processo de
transição do sistema convencional para o orgânico. Após essa preparação e
acompanhamento é realizada uma auditoria pelo Instituto TECPAR, estando tudo em
conformidade com a legislação, emite-se a documentação necessária para a
certificação. O Programa é financiado pela Secretaria Estadual da Ciência, Tecnologia
e Ensino Superior (SETI). (PARANÁ, 2018)
Nas entrevistas realizadas os agricultores ressaltam a importância do PPCPO1
e do Núcleo de Estudos de Agroecologia da Universidade Estadual de Londrina
NEAGRO (UEL):
Conforme o entrevistado 1 (2016):
Foi um dos únicos incentivos que a gente recebeu foi esse, para o produtor orgânico é muito bom, é uma forma dele se certificar sem ele gastar tanto inicialmente, vamos dizer assim o cara tá lá produzindo
1 Iniciado em 2009, o Paraná Mais Orgânico (Anteriormente chamado de PPCPO) é uma parceria entre a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI), o Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR), as instituições estaduais de ensino superior e o Centro Paranaense de Referência em Agroecologia (CPRA). Os objetivos são: - Contribuir para a consolidação do estado como o de maior número de produtores orgânicos do país. - Ofertar serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) que estimulem a adoção de inovações tecnológicas baseadas na agricultura orgânica; - Apoiar a organização dos agricultores familiares nos processos de comercialização da produção orgânica. (PARANÁ, 2018)
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pelo sistema convencional e vai mudar para o orgânico, ele consegue fazer essa mudança sem ter que investir tanto dinheiro.
O entrevistado 3 (2016) é enfático quanto ao apoio: “A gente não acessou
política pública nenhuma. O PPCPO é hoje o principal apoio”
Assim como o entrevistado 4 (2016):
[...]Aí o pessoal da UEL deu uma mão legal porque eles que viabilizaram gratuito o projeto deles e uma das dificuldades é você ter que pagar para você comprovar que você já produz ecologicamente. Hoje em dia é bem mais divulgado, você consegue (?) uma galera, a gente tira dúvida mas em 2010 era bem menor esse movimento ainda, cada ano tá melhorando, então essa coisa de pagar naquela época, agora graças a Jah o dinheiro ta melhorando, essa coisa de venda e economia, naquela época era mais complicado então você pagar já é difícil, então o pessoal da UEL vieram (...) eles ajudaram nessas adequações que a gente só produzia o orgânico, tinha a barreira, caderno de campo, aí eles auxiliaram a gente legal, também conseguiram gratuitamente com o projeto deles o certificado, já em 2012 ou 2013, por aí.
A leitura dos trechos destacados acima nas entrevistas revela que, para os
agricultores entrevistados, esse programa (PPCPO) deu mais incentivo à produção
pois tornou o processo de certificação viável e simples, sem muita burocracia.
Conforme indica a reportagem da Agência de Notícias do Paraná, intitulada
“Programa consolida o Paraná como maior produtor de orgânicos” o programa
encontra-se na fase 3, onde “Governo do Paraná já investiu no Programa R$ 5,5
milhões que, somados aos valores da fase 3 - que começou em 2016 e segue até
2018 -, totalizam R$ 8 milhões por meio do Fundo Paraná. Até o término da fase 3, a
meta é certificar cerca de 1.040 produtores” (PARANÁ, 2016).
A mesma reportagem traz ainda uma importante fala de Luiz Cézar Kawano,
coordenador da Unidade Gestora do Fundo Paraná, que diz
O programa é uma das únicas ações governamentais para o incentivo da produção orgânica no Brasil, fornecendo subsídio e acompanhamento técnico. Hoje o Paraná tem a maior produção de orgânicos do País, além disso, consegue fomentar a inovação tecnológica e a organização de pequenos agricultores para que eles possam melhorar a sua renda e levar à população um alimento de melhor qualidade. (PARANÁ, 2016)
Com relação a atuação de algumas instituições, cabe destacar a presença da
UEL, que possui um foco maior no apoio técnico, por meio do NEAGRO, que tem sido,
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segundo os entrevistados, de fundamental importância no apoio e desenvolvimento
da agroecologia, além disso algumas instituições oferecem apoio em pesquisa, como
IAPAR, e EMATER, por exemplo, desta forma, segundo o entrevistado 2: “Tem alguns
técnicos da EMATER que deram uma força também, o mais forte mesmo foi o pessoal
do Núcleo de Agroecologia”.
O entrevistado 7 (2017) também menciona a atuação de outras entidades que
podem auxiliar produtores orgânicos:
[...] A UEL tá através do programa dando um suporte, no meu ponto de vista excelente. O IAPAR tem um programa de agroecologia, eu tenho buscado até por ser filho da casa, muitas dessas espécies eu consigo lá no (?) do IAPAR [...] Então acho assim, para quem queira entrar no processo de conversão e produção orgânica, não faltará a esse agricultor apoio. Apoio da rede, apoio da UEL, apoio da EMATER. [...]
Por fim, é de suma importância voltar mencionar a importância da Rede
Ecovida na interação e trocas que ela promove entre produtores e consumidores. Os
entrevistados comentaram que o certificado pela Rede Ecovida é mais proveitoso do
que por auditoria, destacando vantagens
Sim, tira dúvida, faz mutirão, tudo, é um grupo, se um faz uma coisa errada sai todo mundo prejudicado, ta todo mundo cuidando de todo mundo ali Para o consumidor isso acaba sendo até mais seguro Muito mais seguro, inclusive na Ecovida a gente convida consumidores para fazer parte do grupo, enquanto reunião para acompanhar, a pessoa "eu gosto de verdura, roça, horta, sei lá, orgânico", uma hora vem na reunião, conhece a produção, já sabe mais de dentro como funciona e vai dar um (?) bem maior para a pessoa. Hoje em dia ta na moda o orgânico (Entrevistado 4, 2016)
O site institucional da Rede Ecovida traz um esquema de como funciona a
rede e sua credibilidade perante a sociedade (Figura 2) “a credibilidade é gerada a
partir da seriedade conferida à todo o processo, partindo da palavra da família
agricultora e se legitimando socialmente, de forma acumulativa, nas distintas
instâncias organizativas que esta família integra” (REDE ECOVIDA, 2018).
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Figura 2: Esquema de credibilidade Rede Ecovida
Fonte: REDE ECOVIDA, 2018.
Em suma, é possível notar que o sistema de certificação em rede gera uma
maior interação e cooperação entre os próprios produtores e também com os
consumidores, a relação se dá de forma direta, pois todos cuidam de todos, gerando
acima de tudo a garantia de que o processo produtivo acontece de acordo com as
concepções agroecológicas. Uma rede de credibilidade entre quem produz e quem
consomem os alimentos.
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3 - FORMAS DE COMERCIALIZAÇÃO DOS PRODUTOS ORGÂNICOS NO
MUNICÍPIO DE LONDRINA-PR
No presente capítulo abordaremos as formas de comercialização dos
produtos orgânicos dos produtores no município de Londrina.
Campanhola e Valarini (2001, p.81) definem como funciona a comercialização
dos produtos orgânicos no Brasil:
[...] a comercialização de produtos orgânicos é feita por diferentes mecanismos, dentre os quais distinguem-se dois grupos principais. No primeiro situam-se as vendas no varejo (venda de entrega em domicílios, venda direta em feiras livres e em pontos de venda especializados), feiras de produtores, lojas de produtos naturais, restaurantes, mercados, escolas para o preparo de merenda, enquanto, no segundo, estão as vendas no atacado, onde se destacam as distribuidoras e redes de supermercados de produtos orgânicos.
Campanhola e Valarini (2001, p.82) também destacam a importância da
venda direta no movimento da agricultura orgânica e caracterizam como cada uma
delas funciona, as
[...] características desses dois grupos de alternativas diferem bastante entre si. O movimento da agricultura orgânica sempre utilizou as diferentes possibilidades da venda direta para a comercialização dos produtos. Três delas são autônomas, pois é o próprio produtor quem distribui os seus produtos. Em uma, cestas de produtos orgânicos são entregues diretamente nas residências, periodicamente ou por encomenda. Neste caso, não há escolha por parte do consumidor: o produtor entrega os produtos da época, que consistem principalmente de hortaliças. Em outra, os produtos são entregues diretamente em lojas especializadas ou em restaurantes, lanchonetes, etc. A terceira forma de comercialização é a venda direta em feiras livres ou em espaços especializados, sendo que os produtores pagam uma taxa pelo uso do espaço, que, geralmente, está atrelada ao montante comercializado. Os produtores participam dessa última iniciativa de uma a três vezes por semana.
Nas entrevistas realizadas no presente trabalho, fica evidente que os
produtores atuantes no município de Londrina-PR preferem comercializar no primeiro
grupo (entrega de cestas em domicílio, feiras livres e pontos de vendas
especializados), pois de acordo com os produtores, essa venda direta ao consumidor
é mais vantajosa tanto para o produtor como para o consumidor. As formas de
comercialização e a quantidade de vezes na semana que os produtores realizam em
cada uma delas podem ser observadas no gráfico (Gráfico 2):
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Gráfico 2: Periodicidade semanal e formas de comercialização dos produtores entrevistados
Fonte: Dados coletados na pesquisa.
O entrevistado 1 (2016) aponta os motivos que o levam priorizar esse tipo de
comercialização:
[...] porque a gente ainda não tem produção suficiente para atender mercado e também por não compensar porque você vende pela metade do preço que você vende aqui na feira e o consumidor paga o dobro que ele paga aqui na feira, quem ganha é o mercado, não é a gente e nem o consumidor, então a gente procura evitar o mercado
O entrevistado 2 (2016) é ainda mais categórico em recusar a comercialização
com mercados e a priorização pela venda direta: “Por enquanto só a feira e as
entregas de cestas. Mercado não, de jeito nenhum. Acho que para nós é direto para
o consumidor”.
Observa-se que o entrevistado 2 (2016) também vende cestas à domicílio que
ele mesmo entrega, e explica como funciona:
Duas vezes, de terça e sexta-feira entrega de cesta e aos sábados feira. A gente manda a lista do que tem na semana na segunda-feira e na quinta-feira pelo WhatsApp. Se a pessoa não tem WhatsApp a gente liga segunda ou na quinta. [...] Na verdade a gente vende cesta fechada, tipo 3 itens, 5 itens, 8 itens. Daí a gente manda a lista, a
0
0,5
1
1,5
2
2,5
Periodicidade semanal e formas de comercializaçãodos produtores entrevistados
Entrevistado 1 Entrevistado 2 Entrevistado 3 Entrevistado 4
Entrevistado 5 Entrevistado 6 Entrevistado 7
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pessoa escolhe os itens [...] Às vezes rola alguma promoção, compra uma cebolinha e ganha uma alface.
Outros agricultores também realizam venda de cestas e se organizam de
maneira semelhante: “Fora isso, cestas, a gente publica a lista na segunda-feira e a
gente ainda não tem um dia de entrega, por enquanto tá deixando aberto para o
cliente” (Entrevistado 3, 2016)
É importante salientar essa forma de organização a partir das redes sociais,
ela configura um canal de aproximação entre produtores e consumidores, visando
facilitar a comunicação entre os envolvidos. Campanhola e Valarini não previram isso
no ano de 2001, isso se dá possivelmente pelo acelerado avanço das novas
tecnologias, em especial a internet, e a popularização do uso das redes sociais
ocorridas nos últimos anos.
Sobre a comercialização via internet, destaca-se abaixo a fala de um dos
produtores entrevistados que já realiza venda de mudas pelo Mercado Livre (site de
vendas online), ele aponta que esse é um segmento que deve crescer.
Uma coisa que eu não falei com você também é que um outro canal de comercialização vai ser internet, por exemplo, tudo que você ta vendo na cerca é ora pro nobis, então eu vendo estaquinha dela, você viu a muda dela no vaso, aquela muda é feita com uma estaquinha, um ramo daquele lá a hora que ele chega (?) você corta ele, parafina as pontas e pode enraizar ele que dá muda. Então eu já vendo estaca de ora pro nobis na internet, no Mercado Livre. Semente de urucum, essa planta aqui atrás é urucum, esses cachos vermelhos que é um floral, então eu também vendo sementes, que são essas coisas que eu tenho em abundância aqui mas não tem no mercado, acho que você ta entendendo um pouco que meu negócio não é ir para o lugar comum, não vou vender semente de milho, não faz menor sentido, agora semente de urucum quem tem? Então um pouco disso eu vou fazer, mas ainda to explorando essas coisas que eu posso fazer (Entrevistado 7, 2017)
Ainda sobre os canais de comercialização Campanhola e Valarini (2001, p.83)
falam sobres os motivos que dificultam a comercialização com supermercados e o
ônus para o produtor:
Os supermercados exigem garantia de entrega de produtos predeterminados, e em quantidades estipuladas, durante a vigência do contrato. A grande limitação é quanto à escala de produção, pois apenas grandes produtores conseguem firmar contrato de entrega com essas empresas. O ônus da incumbência de administração dos produtos que são colocados nas prateleiras/gôndolas é repassado
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pelos supermercados aos produtores, o que geralmente requer que o produtor contrate pessoas para realizarem essa função.
Sobre especificamente da comercialização com os mercados, embora quase
todos os agricultores entrevistados tenham na venda direta sua única forma de
comercialização dos produtos, um dos agricultores entrevistados dedica parte da sua
produção à uma distribuidora (Localizada no município de Curitiba-PR) que funciona
como uma atravessadora, pois redistribui os produtos para mercados.
A fala do entrevistado 6 (2017) explica como se dá essa relação e logística:
Rio de Una [...] de lá vai para muito lugar, lá eles distribuem não só em Curitiba mas eles mandam para São Paulo, até Brasília, Minas Gerais, vem para cá também, se você entrar no supermercado aqui provavelmente você tá comprando um produto que foi produzido aqui, foi para lá embalar e voltou, tem muito disso. Mas é o que compra volume, eu tô com um lote grande de quiabo lá embaixo que eu vendo um pouquinho aqui na feira mas o grosso mesmo vai para lá [para a distribuidora], o tomate também, as estufas ali quando tão produzindo tomate é caixas, então não consigo vender nas cidades (...) na feira, em cesta assim é difícil, se eu fosse vender em supermercado eu teria que ter uma produção constante, como eu não tenho isso, é muito sazonal, agora por exemplo eu to colhendo muito pouco tomate, é o que eu só vendo na feira, daqui uns dias deve colher mais aí, aí já não consigo vender tudo, tenho que mandar para fora, se eu fosse mandar para supermercado eles não iam querer essa inconstância, eles querem ter sempre, então por isso a gente acaba tendo que vender para esses atravessadores, intermediários e o supermercado também prefere comprar do intermediário porque uma hora ele vai ter o tomate daqui, outra hora ele vai pegar tomate lá do sul, ele sempre vai ter.
Na fala do entrevistado fica evidente como se dá a lógica do mercado, que
repassa todo ônus ao produtor. O mercado quer oferecer uma variedade de produtos
orgânicos aos consumidores e faz isso através da exploração de pequenos
produtores, a partir da imposição da oferta dessa diversidade, nem mesmo a
sazonalidade da produção é considerada, sendo assim o entrevistado 6 prioriza
muitas vezes vender os produtos para atravessadores que são os que conseguem
atender melhor às demandas estipuladas pelos mercados, pois esses atravessadores
compram os produtos de muitos agricultores, na maioria das vezes em um preço bem
abaixo do que os obtidos nas feiras livres.
A relação de comercialização nada justa estipulada pelos mercados e também
as formas de espoliação fica evidente na fala do entrevistado 4 (2016):
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[...] é problemático essas coisas, venda direta é melhor porque eles (mercado) querem mil coisas e você tem dez, daí o dia em que você tem mil eles querem dez, o dia em que você não tem eles endoidam. É totalmente prejudicial, explora o produtor, bota ali um falso valor mínimo, quando botam um valor mínimo pode saber que algum pequeno [produtor] tá se ferrando, sendo explorado por trás, é horrível. Mais caro, sem qualidade, vários dias de banca, parado na gôndola, (...) tudo errado. [...]
Em resumo, a fala dos entrevistados indicam que a comercialização com os
mercados só é vantajosa para o próprio mercado, que explora sobretudo produtores
e consumidores.
Wuerges e Simon (2007, p. 568), explicam como as redes varejistas de
supermercados oneram produtores e consumidores.
[...] As grandes redes varejistas impõem restrições e exigências (...) como: embalagens sofisticadas, repositores dos produtos, venda consignada, etc.; que acabam onerando o preço final aos consumidores. (...) os agricultores familiares, menos capitalizados e organizados, encontram dificuldades em atender estas exigências,
sendo frequentemente excluídos desse mercado.
Terrazan e Valarini (2009) apontam que toda essa questão logística que o
mercado exige, configura o principal obstáculo para pequenos produtores
[...] o principal obstáculo na comercialização via grandes varejistas é a dificuldade do produtor em ofertar um mix de produtos de qualidade na quantidade e periodicidade demandadas por esses canais. O suprimento constante e o mix mínimo que deve ser garantido diariamente exigem planejamento de produção e do sistema logístico por parte dos comerciantes e agricultores. Tal capacidade de gestão dificilmente é desenvolvida em produtos isolados, principalmente em pequeno e médio porte, por isso a agregação de produtos em associações ou empresas que gerenciem e comercializem a produção pode viabilizar o atendimento a esses canais (...) (TERRAZAN; VALARINI, 2009, p.33)
Toda essa logística visando atender o mercado com um mix de produtos
resulta diretamente na exploração de pequenos produtores, que na prática vendem
seus produtos a preços bem inferiores aos praticados nas gôndolas dos mercados. As
empresas que gerenciam e comercializam a produção citada pelos autores Terrazan
e Valarini nada mais é que a figura do atravessador que se aproveita da lógica
estabelecida pelos mercados para espoliar pequenos agricultores.
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Como já mencionado anteriormente, a venda direta é priorizada entre os
produtores orgânicos no município de Londrina-PR, dentre as formas de venda direta,
a comercialização em feiras livres e em outros pontos de comercialização específicos
são segmentos que têm crescido na realidade local. As feiras livres e outros pontos
de comercialização são demonstrados no Mapa 1.
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Mapa 1: Pontos de Venda Direta de produtos orgânicos no município de Londrina-PR
Organização: SILVA, C. H. L.
No mapa, os pontos 1 e 2, localizados na região central de Londrina,
representam locais onde são organizadas feiras, nas quais tudo o que se comercializa
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é de origem orgânica. Os pontos de 3 a 6 (um localizado na região norte, dois na
região central e um na região sul da cidade), representam locais onde são organizadas
feiras convencionais, nas quais se pode encontrar ao menos uma barraca na qual se
comercializa produtos orgânicos. Por fim, o ponto 7 representa o local onde se pode
encontrar uma única barraca de comercialização de orgânicos que funciona uma vez
por semana.
Num contraponto à comercialização nos mercados, Dulley et al. (2000, p.19)
apontam que: “Comercializar na feira é bem menos complicado, pois o mix é coletivo
e a falta de determinado produto numa banca é compensada por sua presença na do
vizinho”. Nesse sentido, é possível observar que para o consumidor também é
vantajoso, pois ele possui acesso à uma maior quantidade e variedades de produtos,
e diretamente do produtor. Sobre as feiras livres o entrevistado 1 (2016) afirma ser a
melhor forma de comercialização, pois garante um produto e qualidade ao
consumidor: “A feira é a melhor forma, tanto para o consumidor quanto para o
produtor, colheu o produto ontem e tá trazendo hoje fresquinho, direto, bem mais em
conta”.
Assim como o entrevistado 5 (2017), que quando questionado sobre as
formas de comercialização mostrou-se mais satisfeito com a venda direta na feira:
“Com a feira sim, as cestas esse ano tá deixando um pouco a desejar”.
Já o entrevistado 4 (2016), que anteriormente comercializava com programas
governamentais como PAA e o PNAE2.No entanto ele estava insatisfeito com a forma
como o processo era conduzido pela cooperativa que era filiado, suspeitando de
corrupção ele preferiu se retirar, foi quando passou a se interessar mais pela
comercialização nas feiras e dedicar boa parte de sua produção para as feiras livres:
[...] 2010, 2011, por aí. PAA e PNAE, só que cooperativa, falcatrua, corrupção, não deu certo. Os caras querem dar uma coisa sem controle nenhum, às vezes o problema é figurinha marcada ali, panelinhas, aí não deu certo, mas foi até bom porque daí a gente começou a mexer com venda direta, feira, começamos com a feirinha da UEL que o pessoal conseguiu, daí hoje que eu falei na feira do produtor de domingo tamo lá, agora com essa daqui e quarta-feira a
2 De acordo com a EMATER (2018), PAA é o Programa de Aquisição de Alimentos do Governo Federal que tem por objetivo a aquisição de produtos da agricultura familiar com a finalidade de atender a demanda de alimentos de populações em condição de insegurança alimentar. PNAE é o Programa Nacional de Alimentação Escolar, do Governo Federal, que tem a finalidade oferecer alimentação saudável para milhões de estudantes das escolas públicas de todo o Brasil.
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gente monta cesta, então atendemos feira sábado e domingo e quarta-feira entrega de cesta
Nesse sentido, vale frisar a importância da criação e fortalecimento de feiras-
livres como um canal de comercialização direta entre produtores e consumidores
o estímulo à criação de feiras-livres agroecológicas junto aos espaços mais densamente povoados pode melhorar as condições de comercialização e a qualidade da relação entre produtores e consumidores de Frutas, Legumes e Verduras (FLV) orgânicos, levando em conta que parcela considerável da população urbana é originária do ambiente rural. (WUERGES E SIMOM, 2007, p. 568)
Em suma, é possível afirmar que a comercialização de produtos orgânicos por
meio das feiras tem se mostrado uma ótima alternativa aos pequenos produtores
orgânicos, demonstrando ser mais rentável e justa nas suas relações que as demais
formas de comercialização. Destaca-se também a comercialização realizadas via
redes sociais que é bastante utilizada pelos entrevistados.
Algo muito presente nessa comercialização, e já mencionado anteriormente é
a proximidade entre produtores e consumidores.
Na negociação direta entre consumidor e produtor (mesmo que através de cooperativas), o produtor garante a seu cliente que a mercadoria foi obtida por processos de manejo orgânico, e este aceita a garantia, por confiar na fonte de informação, influenciado pela proximidade ou pelo ambiente negocial (cooperativas). (BNDES, 2002, p.19)
É possível observar que a proximidade do produtor com o consumidor nessa
relação da venda direta é essencial para o bom andamento do processo, pois é onde
de fato há um contato direto entre quem produziu o alimento e quem vai consumi-lo,
resultando em uma relação de confiança que vai se estreitando com o tempo, tornando
a relação mais justa para ambos os lados.
Eu avalio como fundamental, é a parte mais interessante, ter essa proximidade, muitas vezes o cliente tem interesse e vai na propriedade conhecer sua forma de trabalhar, ele vê as dificuldades, aprende a dar mais valor para aquilo que ele ta comendo e entende qual é o tempo que demora para crescer um pé de alface, para dar um pé de mandioca, ele entende mais (...) outra coisa é que pouca gente sabe que que tá por trás do produto orgânico, muita gente acha que é somente parar de usar veneno e não é bem assim. Tem um aspecto social, ambiental, tem muita coisa envolvida por trás disso, tem gente
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que acha que parou usar agrotóxico mas usa um adubo solúvel e isso é orgânico, mas na verdade não, todos os insumos que é permitido usar na agricultura orgânica eles não podem passar por nenhum processo químico, não pode causar nenhuma agressão a natureza, então você vai fechando ali um ciclo e a pessoa vai entendendo que é muito mais do que não usar agrotóxico, tem todo um redesenho no sistema (Entrevistado 5, 2017).
A comercialização, quando feita por meio da venda direta, proporciona um
momento de encontro e interação entre quem produz e quem consome. Esse
momento pode ocasionar um diálogo no qual o consumidor fica ciente sobre as
questões relativas ao cultivo dos alimentos que irá consumir. Assim, a feira livre
constitui-se em um espaço de troca de saberes
O entrevistado 4 (2016) corrobora com a ideia de que a proximidade é
positiva:
É ótimo, até facilita na venda porque a pessoa já vê que você é íntegro na sua ideia, não vai ter nenhuma falcatrua e tira dúvida também porque hoje em dia teve esse distanciamento grande da terra, infelizmente tem gente que não sabe nem plantar um galho de uma muda de qualquer coisa (...) então tem que aproximar a galera para isso, tanto é que esse êxodo rural todo mundo sumiu, foi todo mundo para cidade que é uma coisa totalmente contra as regras de tudo.
A leitura do trecho acima revela a percepção que o produtor tem da relação
de comercialização direta, nas palavras do entrevistado 4 fica evidente a importância
atribuída à questão da transparência na relação com o consumidor que se traduz no
fornecimento de informações específicas sobre a produção dos alimentos.
A aproximação de produtores e consumidores poderá propiciar aos primeiros o recebimento de preços justos por sua produção, que lhes permita a observação das exigências sociais e ambientais próprias dessa atividade e aos segundos o acesso a produtos orgânicos de qualidade, mas pagando preços mais compatíveis com o poder aquisitivo da maioria da população. O resultado positivo dessa aproximação produtor/consumidor pode ser verificado pelos consumidores comparando, por exemplo, os preços das folhosas orgânicas (para as quais já há uma tecnologia competitiva) nas feiras, muito semelhantes aos produtos convencionais nas suas feiras e verificar como nas redes de supermercados os preços são muito mais elevados. (TERRAZAN; VALARINI, 2009, p.36)
Além da relação próxima entre produtor e consumidor que se desdobra em
partilha de saberes, a comercialização direta também é vantajosa para a realização
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de transações com preços justos, tanto para quem produz quanto para quem
consome.
Embora a venda direta se caracterize como a forma mais interessante de
comercialização dos produtos orgânicos, alguns produtores pontuaram algumas
dificuldades que encontram na comercialização.
O entrevistado 2 (2016) aponta a necessidade da existência de mais feiras e
de uma maior compreensão do consumidor sobre o que é o produto orgânico e de
todo o trabalho que é necessário para sua produção:
Talvez mais um espaço de feira, mas exclusivo de orgânico. Porque às vezes se a gente tenta vender para quem não tá muito consciente do que é o orgânico a pessoa desmerece um pouco, ele é trabalhoso. Mas a principal dificuldade na comercialização é que a pessoa às vezes c