orçamento gestores o sobem nota do - ipp-jcs.org · melhorias no lado empresarial verificam-se...

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Alberto Castro > Professor da Católica do Porto Américo Amorim > Presidente do Grupo Amorim António Afonso > Professor do ISEG António Raposo Lima > Presidente da IBM Portugal João Ferreira do Amaral > Professor do ISEG Belmiro de Azevedo > Presidente do conselho de administração da Sonae Jorge Santos > Professor do ISEG Francisco Pinto Balsemão > Presidente do conselho de administração da Impresa José da Silva Costa > Professor da FEP (Porto) João Martins Serrenho > Presidente do conselho de administração da CIN José da Silva Lopes > Economista Mário Barbosa > Diretor-geral da McDonald’s Portugal Linda Veiga > Professora da Universidade do Minho Mário Vaz > Presidente da Vodafone Gestores sobem nota do OE-2014 Textos João Silvestre O Orçamento de Maria Luís Albuquerque passou no exame da Assembleia da Repú- blica, até porque teve o apoio dos partidos da maioria, mas não passou no crivo do Budget Watch, reali- zado pela Deloitte e pelo ISEG com a participação de académicos e empresá- rios e gestores. A ministra das Finan- ças teve notas negativas nas avaliações dos académicos (índice ISEG) e dos ges- tores (índice Deloitte). Nisso não teve grande novidade face aos seus anteces- sores Vítor Gaspar e Teixeira dos San- tos. Aliás, em cinco anos de avaliação, nunca houve uma nota positiva em ne- nhum dos índices. Este ano, Maria Luís Albuquerque te- ve 37,7 no índice ISEG — que pontua questões como a transparência dos nú- meros, a capacidade de controlo da des- pesa ou a existência ou não de desorça- mentação — e 42,9 no índice Deloitte Pro Business, em que os gestores ava- liam o rigor e a qualidade da informa- ção prestada, bem como as medidas de promoção do crescimento económico. No fundo, o ISEG olha para questões de processo orçamental e Finanças Pú- blicas, enquanto a Deloitte se preocupa mais em perceber se o documento é bu- siness-friendly. A grande novidade é o salto na avalia- ção dos empresários. Ainda que a nota continue a ser insuficiente, registou-se uma melhoria considerável de 34,8 pa- ra 42,9. Trata-se, aliás, da melhor con- seguida até agora nestes cinco anos. São os gestores de empresas estrangei- ras que dão as melhores notas. Melhorias no lado empresarial Verificam-se melhorias bastante signifi- cativas, entre outras, na área da estabili- dade macroeconómica, na questão da estabilidade, simplicidade e carga fiscal ou nas políticas para crescimento da fle- xibilidade produtiva. Os empresários de empresas nacionais destacam, como melhor medida, as políticas viradas pa- ra a concorrência através de processos de privatização, enquanto os estrangei- ros sublinham a transferência da provi- são de bens e serviços públicos para re- gimes mais concorrenciais. As más notas vão para a “informação sobre sucesso e falhas associadas ao abandono ou manutenção de investi- mento público”, no caso das empresas nacionais, e “informação sobre os cus- tos dos programas passados e propos- tos relacionados com o emprego versus resultados obtidos”, nas empresas es- trangeiras. os académicos destacam, como pontos positivos, o facto de o documen- to ter dados fiáveis sobre a execução orçamental e o défice de 2013 e tam- bém a quantificação do impacto dos be- nefícios fiscais. Pelo contrário, apon- tam críticas a questões como não haver uma distinção clara entre despesas dis- cricionárias e não discricionárias ou não haver informação adequada “sobre o impacto orçamental futuro de gran- des projetos de investimento público já contratualizados ou a contratualizar”. Participaram nesta avaliação dois pai- néis constituídos, respetivamente, por 10 académicos e 13 empresários ou ges- tores (ver nomes no topo e no final des- tas páginas). O Orçamento de 2014 é o último do programa da troika e, tal como os ante- riores, foi elaborado dentro das restri- ções impostas pelas instituições inter- nacionais. Foi aprovado no Parlamento e aguarda promulgação (ou pedido de fiscalização) de Cavaco Silva. Está tam- bém dependente da avaliação de consti- tucionalidade da convergência de pen- sões que seguiu em diploma separado. jsilvestre@expresso.impresa.pt BUDGET WATCH OS EMPRESÁRIOS E GESTORES Orçamento O índice Pro-Business que resulta da avaliação dos empresários continua negativo mas subiu este ano. Índice dos economistas caiu OS ECONOMISTAS E ACADÉMICOS 20 ECONOMIA Expresso, 7 de dezembro de 2013

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AlbertoCastro> Professor

da Católica do Porto

AméricoAmorim> Presidente

do Grupo Amorim

AntónioAfonso> Professor

do ISEG

AntónioRaposo Lima> Presidente

da IBM Portugal

João Ferreirado Amaral> Professor

do ISEG

Belmirode Azevedo> Presidente do conselho

de administraçãoda Sonae

JorgeSantos> Professor

do ISEG

FranciscoPinto Balsemão> Presidente do conselho

de administraçãoda Impresa

Joséda Silva Costa> Professor

da FEP (Porto)

João MartinsSerrenho> Presidente do conselho

de administraçãoda CIN

Joséda Silva Lopes> Economista

MárioBarbosa> Diretor-geral

da McDonald’sPortugal

LindaVeiga> Professora

da Universidadedo Minho

MárioVaz> Presidente

da Vodafone

Gestoressobemnota doOE-2014

Textos João Silvestre

OOrçamento de MariaLuís Albuquerquepassou no exame daAssembleia da Repú-blica, até porque teveo apoio dos partidosda maioria, mas nãopassou no crivo doBudget Watch, reali-

zado pela Deloitte e pelo ISEG com aparticipação de académicos e empresá-rios e gestores. A ministra das Finan-ças teve notas negativas nas avaliaçõesdos académicos (índice ISEG) e dos ges-tores (índice Deloitte). Nisso não tevegrande novidade face aos seus anteces-sores Vítor Gaspar e Teixeira dos San-tos. Aliás, em cinco anos de avaliação,nunca houve uma nota positiva em ne-nhum dos índices.

Este ano, Maria Luís Albuquerque te-ve 37,7 no índice ISEG — que pontuaquestões como a transparência dos nú-meros, a capacidade de controlo da des-pesa ou a existência ou não de desorça-mentação — e 42,9 no índice DeloittePro Business, em que os gestores ava-liam o rigor e a qualidade da informa-ção prestada, bem como as medidas depromoção do crescimento económico.No fundo, o ISEG olha para questõesde processo orçamental e Finanças Pú-blicas, enquanto a Deloitte se preocupamais em perceber se o documento é bu-siness-friendly.

A grande novidade é o salto na avalia-ção dos empresários. Ainda que a notacontinue a ser insuficiente, registou-seuma melhoria considerável de 34,8 pa-ra 42,9. Trata-se, aliás, da melhor con-seguida até agora nestes cinco anos.São os gestores de empresas estrangei-ras que dão as melhores notas.

Melhorias no lado empresarial

Verificam-se melhorias bastante signifi-cativas, entre outras, na área da estabili-dade macroeconómica, na questão daestabilidade, simplicidade e carga fiscalou nas políticas para crescimento da fle-xibilidade produtiva. Os empresáriosde empresas nacionais destacam, comomelhor medida, as políticas viradas pa-ra a concorrência através de processosde privatização, enquanto os estrangei-ros sublinham a transferência da provi-são de bens e serviços públicos para re-gimes mais concorrenciais.

As más notas vão para a “informaçãosobre sucesso e falhas associadas aoabandono ou manutenção de investi-mento público”, no caso das empresas

nacionais, e “informação sobre os cus-tos dos programas passados e propos-tos relacionados com o emprego versusresultados obtidos”, nas empresas es-trangeiras.

Já os académicos destacam, comopontos positivos, o facto de o documen-to ter dados fiáveis sobre a execuçãoorçamental e o défice de 2013 e tam-bém a quantificação do impacto dos be-nefícios fiscais. Pelo contrário, apon-tam críticas a questões como não haveruma distinção clara entre despesas dis-cricionárias e não discricionárias ounão haver informação adequada “sobreo impacto orçamental futuro de gran-des projetos de investimento público já

contratualizados ou a contratualizar”.Participaram nesta avaliação dois pai-

néis constituídos, respetivamente, por10 académicos e 13 empresários ou ges-tores (ver nomes no topo e no final des-tas páginas).

O Orçamento de 2014 é o último doprograma da troika e, tal como os ante-riores, foi elaborado dentro das restri-ções impostas pelas instituições inter-nacionais. Foi aprovado no Parlamentoe aguarda promulgação (ou pedido defiscalização) de Cavaco Silva. Está tam-bém dependente da avaliação de consti-tucionalidade da convergência de pen-sões que seguiu em diploma separado.

[email protected]

BUDGET WATCH

OS EMPRESÁRIOS E GESTORES

Orçamento O índice Pro-Business que resultada avaliação dos empresários continua negativomas subiu este ano. Índice dos economistas caiu

OS ECONOMISTAS E ACADÉMICOS

20 ECONOMIA Expresso, 7 de dezembro de 2013

MiguelSt. Aubyn> Professor

do ISEG

Pedro Soaresdos Santos> Administrador-

-delegadoda Jerónimo Martins

NunoGaroupa> Professor

da Universidade Nova

PeterVillax> Vice-presidente

da Hovione

PauloTrigo Pereira> Professor

do ISEG

RicardoSalgado> Presidente

do BES

PedroPita Barros> Professor

da UniversidadeNova

RodrigoPizarro> Diretor-geral

da L’OrealPortugal

RicardoCabral> Professor

da Universidadeda Madeira

SalvadorGuedes> Presidente

da Sogrape

RicardoReis> Professor

da Universidadede Columbia (EUA)

ManuelaArcanjo> Professora

do ISEG

PauloPereira da Silva> Presidente

da Renova

Carlos Loureiroe Jorge Marrão

Oíndice Deloitte Pro Busi-ness relativo ao OE 2014,uma iniciativa conjuntacom o jornal Expresso, ba-

seado na consulta a um painel quali-tativo de empresários nacionais eresponsáveis de empresas estran-geiras, teve a melhor avaliação des-de o seu lançamento em 2010 (de25,6, o valor mais baixo, para 42,9,numa escala de 100). A perceçãodos agentes económicos relativa-mente às políticas orçamentais —i.e., consolidar as finanças públicas,mas sem ameaçar significativamen-te a saúde da economia — é determi-nante para as suas decisões de inves-timento. O que mudou? Os indica-dores de reequilíbrio na economiaprivada, designadamente o aumen-to da taxa de poupança, conjugadoscom os notórios efeitos de melhoriana balança com o exterior, associa-dos ao estancamento da queda do

PIB e, nos últimos meses, a uma me-lhoria, ainda que tímida, e a umadistinta estrutura de consolidaçãoorçamental — maior tentativa decompressão via despesa, e maior es-tabilidade fiscal, acrescida das pro-postas ao nível da Reforma do IRC,favoráveis para a competitividadefiscal — podem estar na origem des-ta mudança positiva.

Por outro lado, observámos queos empresários _ que viram a suaatividade entrar num ciclo recessi-vo — melhoraram significativamen-te a avaliação das políticas públicasassociadas à mobilidade dos recur-sos humanos. Estas são determi-nantes para que possam adaptar os

seus recursos à procura interna eexterna, introduzindo-se desta for-ma um fator de sustentabilidadedas empresas. Paralelamente, pro-grediram, ainda que ligeiramente,na avaliação das medidas relaciona-das com a criação de emprego dura-douro que, no inquérito, se concen-travam na avaliação das propostasde melhoria das qualificações pro-fissionais e das dirigidas a grupospopulacionais com maior dificulda-de de obterem emprego.

A dimensão avaliada menos favo-ravelmente, aliás numa tendênciadecrescente, centra-se na comple-mentaridade entre as estratégiaspúblicas e privadas. Talvez, tam-bém por isso, a classificação globalse mantenha no eixo do ‘insuficien-te’. Haverá ainda espaço para umamaior conciliação entre os objeti-vos, que sabemos por vezes confli-tuantes a curto prazo, de ajusta-mento da economia empresarial eos da economia pública.

Sócios da Deloitte

Paulo Trigo Pereira

Este é já o quinto Orçamentodo Estado avaliado por umpainel de economistas. O Ín-dice Orçamental ISEG/IPP,

não avalia as opções políticas dequalquer governo, mas sim o rigor,a transparência e a responsabilida-de política associada a esse orçamen-to em dez dimensões diferentes. Pe-lo quinto ano consecutivo o orça-mento e o processo orçamental sãoconsiderados insatisfatórios. O nos-so objetivo não é avaliar, mas melho-rá-lo. Porque não melhora o orça-mento? Uma das razões, avaliadaspelo Budget Watch, são os recursoshumanos da Direção-Geral do Orça-mento. Cada vez menos, cada vezmais voláteis saindo quando podemou para aposentação ou para outrasinstituições com melhores condi-ções (UTAO, Conselho de FinançasPúblicas), tendo perdido o estatutode carreira especial. Nada disto con-tribui para melhorar o orçamento.

Outra, o cenário macroeconómico,que apesar de imprevisível não me-rece a concordância do painel. Anossa previsão para a variação realdo PIBpm 2014, assumindo que oOE será implementado como previs-to (consolidação sobretudo do ladoda despesa) está no intervalo de -0,5a +0,5. Resumidamente porque, aocontrário do Governo, não somostão otimistas quanto ao modestocrescimento do consumo privadonuma situação de cortes salariais ede pensões. Com um mais baixocrescimento do produto as receitasfiscais e contributivas serão meno-res pelo que o défice orçamental,sem medidas extraordinárias, será

mais elevado. Logo, a dinâmica dadívida pública será menos favorávelatingindo esta, sem receitas de priva-tizações, um valor máximo de130,4% do produto em 2015 e aindade 87,4% em 2030, mesmo cumprin-do com os critério do “tratado orça-mental” até lá. Ao contrário, o Go-verno estima que o máximo do pesoda dívida seja já em 2014. Finalmen-te, no que respeita ao controlo dadespesa, há motivo para preocupa-ções. No sector da saúde embora ha-ja um controlo formal da despesa,há dados que denotam que a dívidados hospitais às farmácias, reduzidano passado recente pelo uso de recei-tas extraordinárias, está novamentea crescer a um ritmo semelhante.No sector da segurança social, o pai-nel mostra-se preocupado com oagravamento da pressão sobre a sus-tentabilidade a médio prazo da segu-rança social (2020 a 2040).

Professor Catedrático do ISEG

e presidente do Instituto de Políticas

Públicas Thomas Jefferson-Correia da Serra

Um melhor Orçamento do Estado

Porque Não Melhora o orçamento?

Pelo quinto anoconsecutivo oorçamento e oprocesso orçamentalsão consideradosinsatisfatórios

Haverá ainda espaçopara maior conciliaçãoentre os objetivos deajustamento daeconomia empresariale da economia pública

Simulação do ISEG calculaque só na década de 40 Portugalvoltará a cumprir o limitedo Pacto de Estabilidade.E mesmo isso implica austeridade

Mesmo que o programa da troika aca-be sem sequer haver um programa cau-telar em junho de 2014, Portugal vaicontinuar sob forte austeridade duran-te muitos anos. Desde logo porque opacto orçamental europeu impõe re-gras apertadas para o défice orçamen-tal, designadamente um limite de 0,5%do PIB para o défice estrutural (corrigi-do do ciclo) e uma convergência gra-dual da dívida para 60% do PIB.

Há contas para todos os gostos, mas arealidade é que as conclusões vão todasno mesmo sentido. O Relatório BudgetWatch — Índice Orçamental ISEG OE--2014, coordenado por Paulo Trigo Pe-reira, faz as contas à sustentabilidadeda dívida a prazo e apresenta dois cená-rios nada animadores. O primeiro, aque chama cenário governamental,considera as previsões da troika (7ª ava-liação) até 2018 e admite que, a partirdaí, a situação se mantém. Ou seja, oEstado reduz o défice até 0,5% do PIB,o crescimento do PIB acelera até umataxa de 1,8% ao ano e a taxa de juroimplícita na dívida mantém-se constan-te. Neste cenário, a dívida só regressa a60% do PIB no ano 2041.

No cenário Budget Watch, em que aconsolidação orçamental é mais lenta ea recuperação da economia também, abarreira dos 60% definida no Pacto deEstabilidade e Crescimento só é nova-mente ultrapassada em 2044.

Este tipo de análise é semelhante àque a troika faz para analisar a susten-tabilidade da dívida pública, que é umacondição necessária para que as tran-ches do financiamento sejam liberta-das. A sustentabilidade da dívida de umpaís depende do défice orçamental(que resulta do saldo primário e dos ju-ros a pagar) e do ritmo de crescimentonominal da economia.

Num cenário em que o saldo primárioestá equilibrado, a dívida é sustentáveldesde que o crescimento nominal do

PIB (incluindo a inflação) seja pelo me-nos igual à taxa de juro implícita na dívi-da. Atualmente, a taxa implícita na dívi-da nacional ronda 4,3% e, de acordocom as estimativas da troika, manter--se-á em redor deste valor nos próxi-mos anos. Tendo em conta que a veloci-dade de cruzeiro para o crescimento no-minal do PIB calculada pela troika é de3,6%, significa que a dívida só não au-menta (ou diminui) se Portugal tiver ex-cedentes primários.

Este ano, o Estado deverá ter um ligei-ro excedente primário que continuaráa alargar-se até 3,1% do PIB em 2018.Só assim será possível reduzir o pesoda dívida no PIB e, mesmo assim, o ca-minho será lento e doloroso.

NÚMEROS

127,8%é o peso da dívida no PIB estimadopelo Governo para este ano. Deverácomeçar a descer a partir de 2014

4,3%é a taxa de juro implícita na dívidaque, pelas estimativas da troika,deverá manter-se praticamenteinalterada nos próximos anos

Dívida só regressaa 60% do PIB dentrode três décadas

Expresso, 7 de dezembro de 2013 ECONOMIA 21