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OPERADORES DE CHECKOUT: UM ESTUDO DO
CASO NA CIDADE DE BETIM/MG
Joao Victor Giani (PUC)
Barbara Karen Siqueira (PUC)
Marcia Colamarco Ferreira Resende (PUC)
Diante da necessidade de uma análise constante dos riscos ergonômicos
presentes na atividade dos operadores de checkout, esse estudo teve como
objetivos verificar a adequação dos postos de trabalho desses trabalhadores
em um supermercado do município de Betim/MG e propor melhorias ao
local. Nessa pesquisa utilizou-se a Análise Ergonômica do Trabalho (AET),
sendo realizadas as seguintes etapas: análise da demanda; análise da tarefa;
análise das atividades, diagnóstico e recomendações. Para a descrição da
condição de saúde dos trabalhadores, foi utilizado o Questionário para Dor
McGill. Foi encontrada uma grande preferência por parte das trabalhadoras
por permanecer na posição sentada, uma inadequação do posto de trabalho
e a presença de sintomas nos membros inferiores. Foi proposto ao
supermercado adequação das cadeiras e a aquisição de apoios de pés.
Apesar de esses dois itens terem sido os únicos que não atenderam aos
parâmetros estabelecidos pela NR 17, eles apresentam uma forte relação
com os sintomas dos membros inferiores relatados pelas funcionárias.
Palavras-chave: Ergonomia, saúde ocupacional, operador de checkout
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
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1.Introdução
A Associação Brasileira de Ergonomia – ABERGO define ergonomia como “uma disciplina
científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros
elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim
de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema” (ABERGO, 2017). A
partir disso, pode-se afirmar que a ergonomia se aplica ao projeto de máquinas, equipamentos,
sistemas e tarefas, com o objetivo de melhorar a segurança, saúde, conforto e eficiência no
trabalho (IIDA, 2005).
Dessa forma, diversas profissões e ocupações vêm sendo estudadas no intuito de identificar
riscos e condicionantes ergonômicos decorrentes da relação estabelecida pelas exigências da
tarefa e as condições reais de trabalho e do trabalhador. Dentro desse universo, chama atenção
o operador de checkout, que segundo a Classificação Brasileira de Ocupações - CBO (MTE,
2016) é definida como aqueles que “recebem valores de vendas de produtos e serviços;
controlam numerários e valores; atendem o público em agência postal na recepção e entregam
objetos postais”.
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) lançou em março de 2007, o Anexo I da Norma
Regulamentadora-17 (Portaria n.º 8, 30/05/2007), que trata especificamente das condições
ergonômicas de trabalho dos operadores de checkout. Ela objetiva estabelecer parâmetros e
diretrizes mínimas para o posto de trabalho, a manipulação de mercadorias, a organização do
trabalho, aspectos psicossociais do trabalho, informação e formação dos trabalhadores. Mas,
apesar de essa norma já ter 10 anos de publicação, as condições ergonômicas dessa função
parecem ainda ser um desafio bastante real.
Diante da necessidade de uma análise constante desses trabalhadores e da sua condição de
trabalho, esse estudo teve como objetivo verificar a adequação dos postos de trabalho das
operadoras de checkout de um supermercado do município de Betim/MG perante NR 17 e
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propor melhorias para o local em estudo.
2. Metodologia
O curso de Engenharia de Produção da PUC Minas Betim tem como uma de suas diretrizes a
formação integral do aluno, sempre respeitando os princípios éticos e humanos. Para
contribuir para essa formação, a disciplina de “Ergonomia aplicada a sistemas de produção”
desenvolve uma prática de extensão durante todo o semestre. Essa prática consiste de um
trabalho de campo com o objetivo de identificar possíveis riscos ergonômicos em uma
empresa e propor melhorias. A partir dessa prática de extensão, foi realizada uma pesquisa de
caráter descritivo e qualitativo. Este estudo foi realizado em uma das nove lojas de uma rede
de supermercado da cidade de Betim/MG.
Nessa pesquisa utilizou-se a Análise Ergonômica do Trabalho (AET), que segundo Wisner
(1994), é feita por meio da observação participativa de forma sistemática das situações de
trabalho, em que se procura entender como o trabalho é efetivamente realizado. Para tal,
foram realizadas as seguintes etapas: análise da demanda; análise da tarefa; análise das
atividades, diagnóstico e recomendações.
Análise da Demanda: os postos de trabalho dos operadores de checkout apresentam
inadequações ergonômicas e repercussões na saúde dos trabalhadores que executam
essa função;
Análise da Tarefa: Foram coletados dados referentes às condições e recursos do posto
de trabalho;
Análise da Atividade Real: por meio de observações, entrevistas, questionários e
registros de imagens, foram levantados problemas e hipóteses de soluções
relacionadas ao trabalho e condições ambientais; biomecânica (posturas, movimentos,
sobrecargas); riscos; organização e métodos de trabalho. A NR17 (2007) foi utilizada
como referência e parâmetro para a checagem dessas informações. Para a descrição
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da condição de saúde dos trabalhadores, foi utilizado o Questionário para Dor McGill.
Segundo Pimenta e Teixeira (1996), esse é o instrumento mais utilizado para se avaliar
outras características da dor, além da intensidade. Foi elaborado para fornecer medidas
quantitativas da dor, que pudessem ser tratadas estatisticamente e que permitisse a
comunicação das qualidades sensoriais, afetivas e avaliativas dos fenômenos
dolorosos;
Diagnóstico: foi feita a avaliação geral dos problemas e das causas visando estabelecer
os respectivos requisitos da situação da proposta de trabalho;
Recomendações: foram elaboradas propostas de melhoria para o posto de trabalho de
checkout. Essas propostas foram discutidas, validadas e, somente depois, foram
entregues para empresa.
3. Resultados
O operador de caixa é responsável pelo atendimento ao cliente por meio de recebimento de
valores, pela passagem de produtos pelos leitores de códigos de barras, atuam na abertura e
fechamento do caixa, transportam os valores de forma aleatória e com grande repetitividade.
No momento do estudo, o supermercado avaliado possuía uma população de 27 trabalhadores
nos postos de checkout, com faixa etária entre 18 e 60 anos, com predomínio da faixa etária
entre 25 e 35 anos, onde 100% eram do sexo feminino e cerca de 70% tinham mais de 02 anos
nessa função.
As operadoras podiam escolher a posição de trabalho livremente, conforme previsto pela
NR17, alínea 17.3.2. Essa escolha era mediada pela exigência do uso de força que era
necessária para registrar o produto durante a compra e/ou pelo aparecimento de sintoma de
desconforto nos membros inferiores da operadora. Quando perguntadas sobre a posição de
maior conforto durante a realização do trabalho, 65% delas afirmaram que preferiam trabalhar
mais sentadas do que de pé (Gráfico 01).
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Gráfico 01 - Posição em que as operadoras de checkout de um supermercado do município de Betim/MG
preferem trabalhar
Fonte: Dados da pesquisa
Quando perguntadas, por meio da aplicação do questionário de dor Mc Gill, sobre a presença
de dor musculoesquelética, formigamento e dormência nos últimos 12 meses, 75% afirmaram
ter sentido algum desses sintomas, sendo que dessas, metade considerou a dor como “leve” e
somente uma considerou a dor “lacerante”. A parte do corpo com maior queixa de sintomas
foi a região lombar (18%), seguido de quadril/coxas (16%) (Gráfico 02).
Gráfico 02 - Parte do corpo com presença de dor musculoesquelética, formigamento e dormência, em operadoras
de checkout de um supermercado do município de Betim, nos últimos 12 meses.
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Fonte: Dados da pesquisa
A partir dessa demanda foi feita a análise da tarefa e da atividade perante as exigências da NR
17. Diversos itens da Norma estavam de acordo com o exigido, tais como: condições de
iluminação, ventilação e reflexos; a existência de um ensacador a cada 03 operadores; esteira
mecânica, balança nivelada com o checkout; pausas e rodízios previstos; treinamento de
capacitação. No entanto, no que se refere ao posto de trabalho do operador de checkout, as
operadoras necessitavam de um apoio para os pés estável e confortável, mas esse
equipamento não era fornecido pela empresa. Quando existente, era fixo na cadeira e gerava
muitas queixas, como, “sinto muitas dores na parte das coxas, as caixas de papelão ajudam
amenizar a dor e a dormência nas pernas” (Funcionária 01). Algumas funcionárias até mesmo
improvisam caixas de papelão para simular o apoio de pés (Imagem 01).
Imagem 01 - Cadeira das operadoras de checkout de um supermercado do município de Betim.
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Fonte: Dados da pesquisa
O apoio em anel existente na própria cadeira mostra-se, na maioria das vezes, inadequado,
pois comumente é fixo e seu posicionamento obriga o trabalhador a ficar com os joelhos
muito fletidos, comprimindo a fossa poplítea e dificultando a circulação nos membros
inferiores. O que explica as queixas de dormência e dor, das funcionárias. Além disso, o apoio
dos pés em barras ou em suportes muito estreitos é inadequado, pois quanto menor a área de
apoio para os pés, maior será a força exercida pelo peso corporal sobre uma pequena área.
Nestes casos, o recomendado é um apoio para os pés portátil, de altura regulável. Segundo o
site Mundo da Ergonomia, que está atuando a 20 anos no Brasil, o apoio de pé deve ser largo
o suficiente para acomodar os pés (30x40cm), a inclinação é opcional e se existir não deve ser
maior que 30 graus e sua superfície superior deve ser feita de material não derrapante.
A NR 17 estabelece parâmetros que permitem proporcionar o máximo de conforto, segurança
e desempenho, contudo nota-se que apesar da manipulação de mercadorias, a organização do
trabalho, os aspectos psicossociais do trabalho, informação e formação dos trabalhadores
estarem de acordo com o previsto na Norma, os itens “cadeira” e “apoio de pés” não foram
atendidos.
Perante a situação descrita nessa pesquisa, ou seja, uma grande preferência por permanecer na
posição sentada, uma inadequação do posto de trabalho e a presença de sintomas nos
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membros inferiores, foi proposto para o supermercado a adequação das cadeiras e a aquisição
de apoios de pés. Apesar de esses dois itens terem sido os únicos que não atenderam aos
parâmetros estabelecidos pela NR 17, eles apresentam uma forte relação com os sintomas dos
membros inferiores relatados pelas funcionárias. Já existem vários modelos de cadeira e apoio
para os pés disponíveis no mercado e que atendem as exigências ergonômicas. O que falta é
um estudo mais aprofundado sobre a relação do investimento na compra desses equipamentos
e o resultado sobre a produtividade e a satisfação dos trabalhadores.
4. Considerações finais
A partir do estudo realizado na prática de extensão da disciplina de “Ergonomia aplicada a
sistemas de produção”, do curso de Engenharia de Produção da PUC Minas Betim, pode-se
perceber que a NR 17 está sendo bastante atendida no supermercado avaliado. No entanto,
verificou-se também, que mesmo pequenas inadequações no posto de trabalho podem gerar
desconforto para os trabalhadores, sendo um risco para sua saúde.
A situação atual do mercado, necessitava de algumas adequações e utilização de padrões para
melhor funcionamento do supermercado, onde foi proposto melhorias como, adequação em
cadeiras e aquisição de apoio de pés, trazendo e garantindo melhor desenvoltura e eficácia
para os colaboradores. Desse modo, as implementações de mudanças foram propostas a
empresa a fim de visar melhorias em todos os aspectos, tanta organização do trabalho como
situação de trabalho.
Por fim, a contribuição da ergonomia, mediante o estudo do trabalho no âmbito da engenharia
de produção, permite propor ainda ações afetas tanto à organização do trabalho quanto à
otimização dos sistemas produtivos. Nesse sentido, deve-se visar especialmente o
cumprimento das normas legais vigentes, que possibilitam benefícios tanto para os
trabalhadores – pela prevenção dos acometimentos decorrentes do trabalho –, quanto para a
empresa – na medida em que se pode oportunizar o aumento da produtividade, da eficiência e
da qualidade dos serviços.
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REFERÊNCIAS
ABERGO, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ERGONOMIA. O que é ergonomia?. Disponível em:
<http://www.abergo.org.br/internas.php?pg=o_que_e_ergonomia>. Acesso em: 03 fev. 2017.
CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE OCUPAÇÕES, CBO - MINISTÉRIO DO TRABALHO. Operador de
caixa. Disponível em: <http://www.ocupacoes.com.br/cbo-mte/421125-operador-de-caixa>. Acesso em: 07 fev.
2017.
GUIA TRABALHISTA. Nr 17 - norma regulamentadora 17. Disponível em:
<http://www.guiatrabalhista.com.br/legislacao/nr/nr17_anexoi.htm>. Acesso em: 03 fev. 2017.
IIDA, Itiro. Ergonomia: Projeto e produção. 2ª ed. São Paulo: Edgard Blucher LTDA, 2005.
LECTURAS, EDUCACIÓN FÍSICA Y DEPORTES, REVISTA DIGITAL. Qualidade de vida e distúrbios
osteomusculares em cuidadores de pessoas com necessidades especiais. Disponível em:
<http://www.efdeportes.com/efd159/disturbios-osteomusculares-em-cuidadores-de-pessoas.htm>. Acesso em:
03 fev. 2017.
MUNDO DA ERGONOMIA. Anexo I da NR 17 - operadores de checkout. Disponível em:
<http://www.mundoergonomia.com.br/website/artigo.asp?cod=1847&idi=1&moe=74&id=4469>. Acesso em:
07 fev. 2017.
NORMAS LEGAIS. Norma regulamentadora 17 - nr 17. Disponível em:
<http://www.normaslegais.com.br/legislacao/trabalhista/nr/nr17.htm>. Acesso em: 03 fev. 2017.
SCIELO. Fatores associados ao trabalho de operadores de checkout: investigação das queixas
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musculoesqueléticas. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0103-
65132009000300012>. Acesso em: 06 mar. 2017.
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO. Normas regulamentadoras. Disponível em:
<http://www.trtsp.jus.br/geral/tribunal2/legis/clt/nrs/nr_17.html>. Acesso em: 04 fev. 2017.
Anexo A
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11 Tempo de serviço:
⃝ 0 a 6 meses ⃝ 1 a 2 anos
⃝ 2 a 4 anos ⃝ 4 anos ou mais. Especifique o tempo:
Idade:
⃝ 18 a 25 anos ⃝ 25 a 35 anos
⃝ 35 a 45 anos ⃝ 45 a 60 anos
Em que posição você prefere trabalhar?
⃝ Sempre sentado ⃝ Sempre em pé
⃝ Mais sentado, menos em pé ⃝ Menos sentado, mais em pé
Quando muda de local de trabalho, você regula o assento?
⃝ Sim ⃝ Não
Qual o grau de dores durante o trabalho (marque um X na opção desejada):
Sente incômodos em algumas dessas partes do corpo? (Pode marcar mais de 1 opção)
⃝ Dores nas costas, pescoço e coluna ⃝ Dores nas pernas
⃝ Dores nos tendões ⃝ Incômodo na vista
⃝ Outro Quais? _______________________________________________________________
Sugestões para melhoria no ambiente de trabalho:
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