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Operação e controlo de redes em ilha Parte I Avaliação da maturidade das tecnologias existentes João Luís de Brito Medeiros Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores Júri Presidente: Prof. Doutor Paulo José da Costa Branco Orientador: Prof. Doutor Pedro Manuel Santos de Carvalho Co-orientador: Profª. Doutora Célia Maria Santos Cardoso de Jesus Vogal: Profª. Doutora Sónia Maria Nunes dos Santos Paulo Ferreira Pinto Novembro de 2010

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Operação e controlo de redes em ilha

Parte I – Avaliação da maturidade das tecnologias existentes

João Luís de Brito Medeiros

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Electrotécnica e de Computadores

Júri

Presidente: Prof. Doutor Paulo José da Costa Branco

Orientador: Prof. Doutor Pedro Manuel Santos de Carvalho

Co-orientador: Profª. Doutora Célia Maria Santos Cardoso de Jesus

Vogal: Profª. Doutora Sónia Maria Nunes dos Santos Paulo Ferreira Pinto

Novembro de 2010

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I

Agradecimentos

Em primeiro lugar devo prestar o meu agradecimento ao Professor Pedro Carvalho e à

Professora Célia de Jesus, respectivamente orientador e co-orientadora da minha dissertação de

mestrado, pela sua disponibilidade, simpatia e pelas sugestões que sempre me foram transmitindo,

sem as quais tudo teria sido mais difícil.

Agradeço igualmente ao Professor Gil Marques que gentilmente prestou contributo, com o

seu conhecimento transversal nas várias temáticas abordadas neste trabalho.

Devo também destacar a boa colaboração que tive com o Paulo Ferreira na definição e

elaboração dos pontos em comum entre as duas dissertações, com quem sempre existiu um espírito

de cooperação que saúdo.

Por último deixo um particular obrigado aos meus pais por me terem despertado o interesse

pelo conhecimento e realização profissional, assim como à minha família, que sempre esteve

presente e me apoiou. Incentivos fundamentais à concretização deste objectivo.

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II

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III

Abstract

During almost a century there were no concerns about pollution of centralized production.

However, further policies related to reduction of greenhouse gas emissions from burning of fossil fuels

led to an increase of distributed generation, which brought grid integration issues and new system

operator concerns.

This work presents the microgrids as a local alternative to the present electrical power system,

allowing for the massification of the distributed generation in a controlled way, with no decrease in the

quality of the service rendered. It even aims at improving it, by implementing energy storage devices

which, apart from its main task of mitigating the consequences of the intermittent generation based on

renewable, plays an important role on the stability of the electrical grid.

More specifically, after a previous description, one assesses the present state of maturity of

the main technologies referring to generation and storage devices, such as photovoltaic panels, wind

turbines, Flywheels, batteries and supercapacitors, as well as some of its subsystems.

A modelling of each of these techniques is carried out, which provides a basis for studying its

behaviour and which allows for a posterior use in the second part of this set of dissertations, under the

topic operation and control of microgrids.

Dissertation ends with a discussion of technologies maturity, taking into account the technical

characteristics, reaching conclusions about its development level and applicability, integrating a

microgrid as well as the conventional electrical grid.

Keywords

Microgrids, distributed generation, microgeneration, energy storage systems, electrical models.

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IV

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V

Resumo

A rede eléctrica quando projectada, pretendia fornecer energia aos clientes através de um

pequeno número de centrais com centenas de . Contudo, posteriores preocupações respeitantes

à redução das emissões de gases poluentes levaram ao constante aumento da geração distribuída, o

que trouxe novos desafios à sua correcta integração na rede e ao operador do sistema.

Este trabalho sugere a rede em ilha como uma alternativa local ao actual sistema de energia

eléctrica, permitindo a massificação da geração distribuída de uma forma controlada e sem diminuir a

qualidade do serviço prestado. Pretendendo até melhorá-lo, implementando sistemas de

armazenamento de energia, que para além da sua principal tarefa de atenuar as consequências da

geração intermitente, baseada em renováveis, tem um papel importante na estabilidade das

grandezas eléctricas da rede.

Concretamente, após uma descrição prévia, é avaliado o actual estado de maturidade das

principais tecnologias referentes à geração e armazenamento de energia, como são os painéis

fotovoltaicos, aerogeradores, Flywheels, baterias e supercondensadores, passando por alguns dos

seus subsistemas.

É efectuada uma modelação de cada uma destas técnicas, o que faculta uma base de estudo

do seu comportamento e que permite uma posterior utilização na segunda parte deste conjunto de

dissertações com o tema operação e controlo de redes em ilha.

Termina-se com uma discussão crítica relativa ao actual panorama destas tecnologias tendo

em conta as características técnicas abordadas, sendo retiradas conclusões acerca do seu actual

estado de desenvolvimento e da sua aplicabilidade, integradas numa rede em ilha assim como numa

rede em geral.

Palavras-chave

Rede em ilha, geração distribuída, microgeração, sistemas de armazenamento de energia, modelos

eléctricos.

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VI

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VII

Índice

1. Introdução ........................................................................................................................................ 1

1.1. Contextualização ..................................................................................................................... 1

1.2. Motivação ................................................................................................................................ 2

1.3. Estrutura da Dissertação ......................................................................................................... 3

2. Redes em Ilha.................................................................................................................................. 4

2.1. O Conceito ............................................................................................................................... 4

2.2. Integração da Rede em Ilha .................................................................................................... 5

2.3. Arquitecturas de Controlo ........................................................................................................ 6

2.3.1. Controlo Central............................................................................................................... 6

2.3.2. Controlo Local .................................................................................................................. 8

3. Geração Distribuída ....................................................................................................................... 10

3.1. Tecnologias de Geração Distribuída ..................................................................................... 10

3.2. Painéis Fotovoltaicos ............................................................................................................. 14

3.2.1. Células Fotovoltaicas .................................................................................................... 14

3.2.2. Tecnologias Associadas à Melhoria do Desempenho .................................................. 16

3.2.3. Modelo Matemático ....................................................................................................... 18

3.2.4. Módulos Fotovoltaicos ................................................................................................... 21

3.2.5. Díodo Bypass ................................................................................................................ 22

3.2.6. Conversor Electrónico ................................................................................................... 24

3.2.7. Simulação ...................................................................................................................... 27

3.3. Aerogeradores ....................................................................................................................... 32

3.3.1. Descrição ....................................................................................................................... 32

3.3.2. Conversor Electromecânico .......................................................................................... 34

3.3.3. Modelo da Turbina ......................................................................................................... 35

3.3.4. Ponto de Potência Máxima ............................................................................................ 36

3.3.5. Simulação ...................................................................................................................... 37

4. Armazenamento de Energia .......................................................................................................... 41

4.1. Flywheels ............................................................................................................................... 44

4.1.1. Descrição ....................................................................................................................... 44

4.1.2. Máquina Eléctrica .......................................................................................................... 45

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VIII

4.1.3. Conversor Electrónico ................................................................................................... 47

4.1.4. Modelo ........................................................................................................................... 47

4.1.5. Simulação ...................................................................................................................... 49

4.2. Baterias .................................................................................................................................. 52

4.2.1. Descrição ....................................................................................................................... 52

4.2.2. Reacções químicas e Termodinâmica .......................................................................... 53

4.2.3. Factores que influenciam o desempenho ..................................................................... 54

4.2.4. Estado de arte ............................................................................................................... 56

4.2.5. Conversor Electrónico ................................................................................................... 58

4.2.6. Modelo ........................................................................................................................... 59

4.2.7. Simulação ...................................................................................................................... 61

4.3. Supercondensadores ............................................................................................................ 65

4.3.1. Descrição ....................................................................................................................... 65

4.3.2. Supercondensadores e Baterias ................................................................................... 67

4.3.3. Balanço de Carga .......................................................................................................... 68

4.3.4. Modelo ........................................................................................................................... 69

4.3.5. Simulação ...................................................................................................................... 71

5. Discussão Crítica ........................................................................................................................... 74

5.1. Geração Distribuída ............................................................................................................... 74

5.2. Armazenamento de Energia .................................................................................................. 78

6. Conclusão ...................................................................................................................................... 81

Bibliografia ............................................................................................................................................. 83

Anexo A ................................................................................................................................................. 86

A.1. Painéis Fotovoltaicos ............................................................................................................. 86

A.2. Aerogeradores ....................................................................................................................... 89

A.3. Flywheels ............................................................................................................................... 91

A.4. Baterias .................................................................................................................................. 92

A.5. Supercondensadores ............................................................................................................ 95

Anexo B ................................................................................................................................................. 96

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IX

Lista de Figuras

Figura 2.1. Esquema ilustrativo de um controlo centralizado numa rede em ilha [1] ............................. 6

Figura 2.2. Fluxo de informação da rede de comunicação de dados [2] ................................................ 7

Figura 3.1. Conversão radiação solar em electricidade ........................................................................ 14

Figura 3.2. Células Fotovoltaicas: (a) Monocristalinas, (b) Policristalinas e (c) Amorfos ..................... 15

Figura 3.3. (a) Painel fotovoltaico com seguidor e concentrador, (b) Energia produzida com e sem

estas tecnologias ................................................................................................................................... 17

Figura 3.4. Superfície com textura de pirâmides invertidas do silício [33] ............................................ 18

Figura 3.5. Circuito eléctrico equivalente de uma célula fotovoltaica ................................................... 18

Figura 3.6. Característica I(V) de uma célula fotovoltaica .................................................................... 20

Figura 3.7. Influência da radiação incidente e da temperatura da celúla em I(V) ................................. 21

Figura 3.8. Ramo com célula que limita a corrente ............................................................................... 22

Figura 3.9. Característica I(V) de uma célula, para tensões negativas ................................................ 22

Figura 3.10. Ligação do Díodo Bypass em paralelo com as células [33] ............................................. 23

Figura 3.11. Díodo de bloqueio à saída do módulo .............................................................................. 23

Figura 3.12. Interligação de um módulo fotovoltaico à rede ................................................................. 24

Figura 3.13. Fluxograma da técnica perturbação observação [6] ......................................................... 25

Figura 3.14. Fluxograma da técnica condutância incremental modificada [6] ...................................... 26

Figura 3.15. Diagrama de blocos do sistema fotovoltaico .................................................................... 27

Figura 3.16. Comportamento da potência de saída para uma variação de 25°C da temperatura das

células .................................................................................................................................................... 28

Figura 3.17. Comportamento da potência de saída para uma variação da radiação incidente de 1000

W/m2 ..................................................................................................................................................... 29

Figura 3.18. Potência de saída das técnicas de controlo de potência máxima, com destaque para a

ondulação produzida por cada uma ...................................................................................................... 29

Figura 3.19. Potência de saída, corrente e tensão, para a variação da radiação incidente ................. 30

Figura 3.20. Esquema de uma turbina eólica típica [10] ....................................................................... 32

Figura 3.21. Diagrama de blocos do aerogerador ................................................................................ 38

Figura 3.22. Perfil da velocidade do vento verificada e da velocidade teórica na turbina .................... 39

Figura 3.23. Coeficiente Cp e potência de saída registada, para a a variação da velocidade do vento

teórica .................................................................................................................................................... 40

Figura 4.1. Densidade de Energia e Potência [18] ............................................................................... 42

Figura 4.2. Flywheel em corte [38] ........................................................................................................ 44

Figura 4.3. Esquema ilustrativo das ligações entre o Conversor, a Máquina Eléctrica e a Flywheel ... 47

Figura 4.4. Massa de Inércia ................................................................................................................. 47

Figura 4.5. Diagrama de Blocos da Flywheel........................................................................................ 49

Figura 4.6. Potência de referência e Potência de saída da Flywheel, com destaque para o tempo de

resposta ................................................................................................................................................. 50

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X

Figura 4.7. Evolução da Energia Armazenada e Velocidade Angular .............................................. 51

Figura 4.8. Tensão de saída em função da corrente interna ................................................................ 54

Figura 4.9. Avaliação do ciclo de vida de diferentes famílias de baterias [24] ..................................... 56

Figura 4.10. Esquema ilustrativo do Conversor utilizado para a interface entre a bateria e a rede ..... 58

Figura 4.11. Modelos eléctricos da bateria: (a) Thevenin, (b) Impedância, (c) Execução [22] ............. 59

Figura 4.12. Modelo escolhido [22] ....................................................................................................... 60

Figura 4.13. Diagrama de blocos do modelo da bateria ....................................................................... 62

Figura 4.14. Potência de referência e potência de saída da bateria .................................................... 62

Figura 4.15. Corrente interna da bateria ............................................................................................... 63

Figura 4.16. Tensão aos terminais do módulo e percentagem do estado de carrega ......................... 63

Figura 4.17. Ilustra o interior de um supercondensador double-layer .................................................. 65

Figura 4.18. Esquemas de balanço de carga: (a)Resistência Passiva, (b)Resistência com Interruptor,

(c)Conversor DC-DC e (d)Diodo Zener [29] .......................................................................................... 68

Figura 4.19. Modelo de um condensador .............................................................................................. 69

Figura 4.20. Modelo considerado para o supercondensador ................................................................ 70

Figura 4.21. Diagrama de blocos do modelo de supercondensadores ................................................ 72

Figura 4.22. Potência de referência e potência de saída do sistema de supercondensadores ........... 72

Figura 4.23. Evolução da tensão e da corrente do sistema ao longo do tempo de simulação ............ 73

Figura A.1. Bloco PV [8] ........................................................................................................................ 86

Figura A.2. Bloco Controlo Pmax - P&O [6] .......................................................................................... 87

Figura A.3. Bloco Controlo Pmax - IncCond Mod. [6] ........................................................................... 88

Figura A.4. Bloco Limite Velocidade ..................................................................................................... 89

Figura A.5. Bloco Pm ............................................................................................................................. 90

Figura A.6. Bloco Cp ............................................................................................................................. 90

Figura A.7. Bloco Limite E ..................................................................................................................... 91

Figura A.8. Bloco Rendimento .............................................................................................................. 91

Figura A.9. Bloco T(P) ........................................................................................................................... 92

Figura A.10. Limite P e I ........................................................................................................................ 92

Figura A.11. Bloco Bateria [21] ............................................................................................................. 93

Figura A.12. (a) Bloco RC, (b) Bloco Rserie, (c) Bloco RC Curto ou RC Longo ................................... 94

Figura A.13. Bloco Limite P e I .............................................................................................................. 95

Figura A.14. Bloco Supercondensador ................................................................................................. 95

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XI

Lista de Tabelas

Tabela 3.1. Características importantes das tecnologias de geração distribuída [32] ......................... 12

Tabela 3.2. Características técnicas do painel fotovoltaico KC200GT [35] .......................................... 27

Tabela 3.3. Características técnicas da turbina eólica Nordex S77 [36] .............................................. 37

Tabela 4.1. Comparativo entre características de tecnologias de armazenamento de energia [24] .... 42

Tabela 4.2. Vantagens e desvantagens das máquinas mais utilizadas [15] ........................................ 46

Tabela 4.3. Flywheel PowerStore 500 do fabricante Powercorp, 500 kW [37] ..................................... 49

Tabela 4.4. Propriedades relevantes do ânodo e do cátodo [21] ......................................................... 52

Tabela 4.5. Vantagens e desvantagens de tipos de baterias com aplicação no SEE .......................... 57

Tabela 4.6. Propriedades de uma célula de bateria. Modelo: PL-383562 [39] ..................................... 61

Tabela 4.7. Especificações técnicas dos supercondensadores Maxwell BCAP3000 P270 e ESMA EC

353 ......................................................................................................................................................... 67

Tabela 4.8. Vantagens e desvantagens dos supercondensadores em comparação com as baterias 68

Tabela 4.9. Especificações técnicas do supercondensador Maxwell BCAP3000 P270 [40] ................ 71

Tabela 5.1. Espectro de aplicações das tecnologias de armazenamento de energia .......................... 78

Tabela B.1. Dados Cp(u), fornecidos pelo fabricante da turbina S77 da Nordex [36] .......................... 96

Tabela B.2. Exemplo de alguns sistemas de armazenamento de energia com Flywheels [37] e [38] . 97

Tabela B.3. Exemplo de sistemas de armazenamento de energia em baterias [25]............................ 98

Tabela B.4. Alguns exemplares de condensadores que já se encontram no mercado ........................ 99

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XII

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XIII

Lista de Acrónimos

AC Alternating Current

CHP Combined Heat and Power

DC Direct Current

DG Distributed Generation

DMS Distribution Management System

DNO Distribution Network Operator

DVR Dynamic Voltage Restorer

GTO Gate Turn-off Thyristor

IGBT Insulated Gate Bipolar Transistor

LC Load Controller

MC Microsource Controller

MGCC Microgrid Central Controller

MIDA Máquina de Indução Duplamente Alimentada

MIRG Máquina de Indução com Rotor em Gaiola

MO Market Operator

MPP Maximum Power Point

MPPT Maximum Power Point Tracker

MSVV Máquina Síncrona de Velocidade Variável

PMSM Permanent Magnet Synchronous Motor

PWM Pulse Width Modulation

QEE Qualidade da Energia Eléctrica

SEE Sistemas de Energia Eléctrica

SOC State of Charge

UPS Uninterruptible Power Supply

VSI Voltage Source Inverter

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XIV

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1

1. Introdução

1.1. Contextualização

Nos finais do século XIX, Thomas Edison inventou a lâmpada incandescente, o que deu

origem mais tarde à construção da primeira central eléctrica. Estava dado o primeiro passo para uma

dependência energética que rapidamente se espalhou pelos países mais desenvolvidos, marcando

assim o inicio da era da electricidade.

Ao longo dos últimos cem anos, foi notório o ganho em qualidade de vida, que proporcionou

desenvolvimento a uma escala sem precedentes. O homem deixou de se valer apenas da energia

própria para alcançar as suas necessidades e objectivos, vivendo muito acima das possibilidades

humanas, tendo-se chegado actualmente a um ponto em que seria completamente incomportável

viver sem electricidade. Entrámos assim num caminho sem retrocesso, o qual necessita ser discutido

e muito bem planeado.

Nos últimos anos tem havido uma grande revolução nos mercados de energia e foram

estipuladas metas nas emissões de CO2 devido às preocupações com as alterações climáticas, o que

fomentou a introdução na rede eléctrica de fontes de energia renovável. Embora ainda em pequena

escala, é um primeiro passo na preservação do ambiente tal qual nós o conhecemos. É também

evidente a volatilidade do preço do crude, influenciado pelo incremento da procura, resultante do

constante aumento da percentagem de população mundial desenvolvida, da centralidade das

grandes extracções de petróleo e das reservas cada vez mais limitadas deste combustível fóssil.

É demais evidente a necessidade de alcançar um equilíbrio sustentável entre a Natureza e a

actividade humana, que possa fazer com que a era da electricidade prospere por muitos e bons anos.

Este é um percurso que começou a ser traçado na Europa no inicio dos anos 90, quando se iniciou a

liberalização no sector energético por parte dos vários estados membros. Formaram-se mercados de

energia, quebrando os antigos monopólios alicerçados na queima de combustíveis fósseis, criando

concorrência e alternativas na oferta de energia. Acabou por ser um impulso na diversificação e

descentralização de fontes de energia, em especial apostando em tecnologias renováveis, baseadas

em elementos naturais, como são a energia solar, a eólica e a hídrica. O conceito de

descentralização da geração tem como objectivo, para além dos ganhos a um nível económico geral,

alcançar a independência energética nacional, acrescendo a isso, a melhoria da qualidade de serviço,

maior eficiência energética e redução das perdas de transporte de energia.

A actual rede eléctrica nacional, assim como acontece em todo o mundo, é a mesma há mais

de 50 anos, acima de tudo pela sua simplicidade aliada a um baixo risco de falha. Contudo, a

introdução de um grande número de tecnologias de geração distribuída na rede, destaca as suas

limitações relativas à sobrecarga em determinadas linhas de distribuição e a influência na

estabilidade da tensão, assim como um acréscimo de complexidade na elaboração do despacho

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2

energético, dada na maioria dos casos a imprevisibilidade dos seus recursos naturais. Factos que

abrem uma janela a novas soluções que possam complementar e melhorar o actual sistema eléctrico.

Nesse sentido, a rede em ilha apresenta-se como um potencial candidato a ser parte integrante da

rede e facilitar a integração de novas tecnologias de geração, apoiadas pela electrónica de potência

que permanece até hoje algo arredada das redes de energia. Para isso, esta alternativa precisa ainda

de investigação e de garantir fiabilidade à rede, aos clientes e aos produtores de energia eléctrica, de

forma a serem maximizados os benefícios e acautelados os riscos.

O conceito de rede em ilha ou micro-rede destaca-se pela possibilidade de se isolar da

restante rede a montante, caso isso seja vantajoso para os clientes, em termos económicos e da

qualidade do serviço.

1.2. Motivação

Actualmente existe bastante investigação na área das micro-redes, e têm sido apresentadas

variadas arquitecturas de controlo que ambicionam superar a robustez do actual sistema de energia

eléctrica. Esta tarefa é demais necessária para atrair atenções que possam levar à concretização da

rede em ilha. A avaliação dos alegados benefícios deve contudo ser feita rigorosamente e para isso é

crucial ter a máxima informação dos dispositivos intervenientes. Nesse campo é importante reforçar o

conhecimento das tecnologias de geração e armazenamento de energia existentes que podem vir a

integrar estas micro-redes, por serem os principais actores deste sistema em ilha, em conjunto com

os consumidores. Dessa forma elaboram-se modelos mais exactos que possibilitem um estudo prévio

consistente, aproximando os conceitos teorizados da realidade tecnológica actual e identificando

possíveis limitações técnicas que possam surgir no conjunto das unidades integrantes da rede em

ilha.

O estudo desta nova alternativa ao actual sistema de energia eléctrica vem enriquecer o

leque de opções para uma nova geração das redes eléctricas, possibilitando a abertura de novos

mercados em torno da energia, sendo fonte de emprego e de mais-valias para todos, uma vez que dá

a possibilidade a cada consumidor de ser também produtor de uma forma economicamente viável.

Conseguir-se-ia revolucionar a economia energética, terminando com a dependência do petróleo e

implantando uma economia verde, baseada em energias renováveis que podem servir até como

alavanca para um novo paradigma mundial.

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3

1.3. Estrutura da Dissertação

Esta é a primeira parte de um conjunto de duas dissertações relacionadas com o tema

operação e controlo de redes em ilha. É aqui avaliado o estado de maturidade dos elementos

fundamentais a uma rede em ilha, dando particular atenção aos dispositivos de geração e

armazenamento temporário de energia. Também se pretendem conhecer as exigências a que podem

ser submetidos, bem como as limitações técnicas de cada um dos equipamentos.

A dissertação está estruturada em seis capítulos e dois anexos.

No primeiro capítulo é introduzido e contextualizado o tema da dissertação, é fundamentada a

motivação e a relevância deste trabalho no âmbito do desenvolvimento das redes em ilha.

O segundo capítulo ocupa-se da descrição do conceito de rede em ilha, passando a avaliar o

impacto da integração deste tipo de sistemas de energia eléctrica na rede, acabando por apresentar

possíveis arquitecturas de controlo e enumerando os pontos fortes e fracos de cada uma delas.

O terceiro capítulo é destinado às tecnologias de geração distribuída. Após uma identificação

das tecnologias que mais se destacam no panorama actual, onde é dada especial importância

àquelas que recorrem a fontes de energia renováveis, seguindo-se uma mais aprofundada análise

das técnicas, fotovoltaica e eólica. Começa-se por fazer a descrição dos elementos constituintes,

posteriormente uma abordagem do estado da arte, passando pela apresentação de um modelo

matemático e terminando com a realização de um diagrama de blocos em Simulink que modela o seu

comportamento a médio e longo prazo. Dá-se especial atenção à potência transferida destas

tecnologias para a electrónica de potência que por sua vez faz a interface com a rede eléctrica.

No quarto capítulo aborda-se o armazenamento de energia, focando inicialmente as

alternativas existentes para a função, e destas são desenvolvidas logo de seguida três que se

destacam no presente, e em perspectiva no futuro, como é o caso das Flywheels, das baterias e dos

supercondensadores. Neste capítulo procede-se a uma análise em geral idêntica à que já foi

detalhada para as tecnologias de geração distribuída.

Já no quinto capítulo é feita uma discussão crítica, onde são comparadas cada uma das

tecnologias de geração distribuída e de armazenamento de energia, sendo retiradas de seguida,

conclusões em relação ao seu potencial e às situações em que umas devem ser utilizadas em

detrimento das outras.

Posteriormente são apresentadas as conclusões retiradas desta dissertação, no sexto

capítulo.

Nos anexos são apresentados elementos adicionais que completam os pontos abordados ao

longo da dissertação, dos quais o anexo A é respeitante à ilustração e descrição dos subsistemas dos

modelos de cada tecnologia modelada e no anexo B são tabelados dados que elucidam o actual

panorama do armazenamento de energia.

Por último é destacada na bibliografia a documentação seguida, na qual está fundamentada a

informação assumida.

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2. Redes em Ilha

2.1. O Conceito

Uma rede em ilha é constituída por um conjunto de geração distribuída e clientes finais de

energia eléctrica, interligados por uma pequena rede eléctrica de média ou baixa tensão,

dimensionada com o intuito de possuir recursos suficientes para abastecer os clientes que a ela estão

ligados, sendo vista pela rede eléctrica a montante como um único cliente.

As fontes de geração distribuída, são genericamente de pequena dimensão com poucas

centenas de , embora em alguns casos se possam superar os , no caso de redes em média

tensão. Tipicamente são utilizadas fontes de energia renovável, como são os painéis solares, mini-

-hídricas e aerogeradores. Mas também se recorre a produtores de energia eléctrica com base em

fontes de energia chamadas não renováveis, como é o caso das micro-turbinas a gás com e sem

sistema de cogeração, que eleva o grau de eficiência energética, ou até mesmo os bem conhecidos

Geradores a Diesel poluentes e menos eficientes.

Uma vez que as tecnologias de geração distribuída (DG) utilizadas não têm por base

conversores rotativos com grandes inércias e grande parte das DG é de natureza renovável, com

baixo nível de controlo da potência de saída, para garantir estabilidade na frequência da rede são

necessárias soluções de armazenamento de energia. Neste campo destacam-se a Flywheel como a

mais apropriada para a função, podendo optar-se também por baterias. O armazenamento de energia

é fundamental, uma vez que pode fornecer ou receber energia que esteja em falta ou disponível na

rede, respectivamente com um tempo de resposta de poucos , garantindo que as necessidades

energéticas a cada instante sejam satisfeitas.

A rede em ilha tem a particularidade de poder desligar-se da restante rede territorial,

operando autonomamente sempre que necessário, o que acaba por se tornar numa mais-valia em

termos económicos e de qualidade da energia eléctrica para os clientes afectos à rede. No entanto,

acarreta um cuidado adicional nestas manobras, por causarem desequilíbrios entre a geração e a

carga. Imprevistos que podem implicar a introdução de tecnologia adicional que evitem que os

transitórios possam prejudicar o cliente final.

A operação e controlo da micro-rede, quando isolada, faz-se sem recurso a despacho

económico, contrariamente a qualquer rede eléctrica mundial e é uma das áreas, no que diz respeito

a este conceito, onde existem mais obstáculos à implementação. Com recurso à electrónica de

potência, existem em desenvolvimento algumas arquitecturas de controlo de frequência e tensão,

centralizadas e não centralizadas, que podem afirmar-se dentro em breve.

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2.2. Integração da Rede em Ilha

O actual panorama das redes eléctricas mundiais está baseado na centralização da produção

de energia eléctrica, em centrais eléctricas com vários grupos, somando potências na ordem das

centenas de ou até alguns , assentes na queima de combustíveis fósseis. Durante grande

parte do último século, centrais a carvão e a petróleo foram as mais frequentes, no entanto, devido às

preocupações com as emissões de CO2 têm vindo a ser preteridas em relação às centrais a gás

natural, por estas serem menos poluentes e importantes para cumprir as metas de emissões de

gases de estufa estabelecidas com o protocolo de Quioto.

No entanto, a produção centralizada enfrenta a necessária entrega da energia ao cliente final,

um processo que implica a existência de linhas de transporte, de distribuição e consequentes perdas

associadas. Perdas que poderiam ser minimizadas com a implementação de redes em ilha que dão

prioridade à geração local. Contudo, não é o objectivo principal, muito menos um imediato, fraccionar

a totalidade da rede eléctrica em pequenas redes. Cabe para já a intenção de poder operar ligado ou

desligado da rede principal, consoante seja mais vantajoso para os clientes da micro-rede. Estas

vantagens podem provir em termos económicos, permitindo o consumo de energia da rede a

montante, quando esta está mais barata comparativamente à produzida por DG no interior da micro-

rede, ou vendendo excessos de energia produzida quando possível. Os clientes também podem

usufruir de uma melhor qualidade de serviço, já que é possível a rede em ilha isolar-se em

circunstâncias de perturbações externas ou curto-circuitos na rede a montante. Esta é aliás uma das

questões que se pretende corrigir com a introdução da rede em ilha, incluindo dispositivos que

melhorem a qualidade da energia eléctrica, o que acontece apenas muito pontualmente nas redes

actuais.

Este sistema facilita a integração e interligação na micro-rede de produtores individuais,

atendendo ao maior conhecimento oriundo de um estudo prévio da topologia de cada rede em ilha,

contribuindo para um acréscimo significativo da produção descentralizada e da consequente

liberalização do sector. A integração de DG provenientes de diferentes fontes renováveis na rede é

sem dúvida um impulso para a promoção da independência energética, uma vez que diminui na

factura energética nacional a percentagem de energia procedente da queima de combustíveis fósseis

importados.

Para este salto qualitativo no sistema de energia eléctrica, é necessária inovação tecnológica,

sendo importante a coabitação do modelo da micro-rede com projectos que salientem o interesse

pela renovação da rede e pela sua operacionalização, preparando-a para novos desafios futuros,

como é o caso do projecto InovGrid da EDP Distribuição. Desta forma contribui-se para uma rede

“mais inteligente”, onde tanto o consumidor, como os produtores ou os microprodutores, possam

minimizar os seus custos e maximizar os lucros.

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2.3. Arquitecturas de Controlo

A introdução de um sistema de controlo na rede em ilha, independentemente do seu formato,

tem vários objectivos. Em primeiro lugar e o mais importante é garantir a estabilidade das grandezas

eléctricas a partir do controlo da potência activa e reactiva entregue pelos dispositivos de produção e

armazenamento de energia. Pode também permitir o deslastre de carga e a entrada de produtores

individuais no mercado da energia.

Uma vez que as redes em ilha podem operar ligadas ou isoladas da rede, é crucial

compatibilizar estas arquitecturas com ambas as situações.

Os próximos dois pontos apresentam duas técnicas de controlo, cada uma com argumentos

bem diferente da outra, como se pode imediatamente constatar.

2.3.1. Controlo Central

Esta primeira estratégia de controlo baseia-se num comando centralizado. Existem diferentes

abordagens a este controlo central, que diferem em alguns aspectos mas que têm o mesmo conceito

global intrínseco, sendo aqui apresentado um deles, Figura 2.1.

Figura 2.1. Esquema ilustrativo de um controlo centralizado numa rede em ilha [1]

Na ilustração da Figura 2.1, é notória a presença de três níveis de controlo, que são a base

de uma arquitectura hierarquizada [2]:

Primeiro nível - A jusante, o controlo de MC e de LC;

Segundo nível – O MGCC, controlo central da rede em ilha;

Terceiro nível – A montante, o DMS, sistema de controlo da distribuição que pode

conter DNO, operador de distribuição da rede e MO, operador do mercado.

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MGCC

DMS

MC e LC

Geração

Armazenamento

Carga

O DNO é responsável pela distribuição em média ou baixa tensão para as redes em ilha que

tem a seu cargo, enquanto o MO fornece as condições de mercado das micro-redes. Embora estas

duas entidades não pertençam às redes em ilha, são agentes da rede principal que condicionam o

seu funcionamento comunicando com cada MGCC existente à entrada das micro-redes.

Já o MGCC fornece os set-points de potência e tensão aos MC, assegurando o seguimento

da demanda em cada instante, de acordo com os requisitos operacionais de cada unidade,

maximizando a eficiência do conjunto das fontes de energia.

Para que se possa obter uma rede em ilha com um funcionamento óptimo, em termos

económicos e de qualidade de serviço, o controlo central deve estar equipado com tecnologias de

previsão da carga a curto prazo, assim como das condições atmosféricas que possam influenciar a

geração distribuída. Deve também possuir informação que diferencie os clientes sensíveis às falhas

de energia como um hospital, dos menos sensíveis como é um sistema de aquecimento, para poder

comandar os LC adequadamente, caso seja necessário deslastre de carga para resolver grandes

desequilíbrios entre a geração e a carga.

O nível de controlo mais baixo, por seu lado, também deve apresentar alguma inteligência

que possibilite tomada de decisões apenas possíveis de ser efectuadas localmente, como é o caso

do controlo de tensão.

A Figura 2.2 apresenta o trânsito de informação passível de ser inserida no sistema de

comunicação de dados.

- Set-point de potência

activa e reactiva

- Set-point para a carga

- Preço do mercado

- Oferta de geração

- Licitação por parte da carga

Figura 2.2. Fluxo de informação da rede de comunicação de dados [2]

Para interligar estes componentes é necessária uma via que se apresente rápida, pelo facto

das constantes de tempo eléctricas serem muito baixas. Por essa razão, as tecnologias de

telecomunicações susceptíveis de serem utilizadas são power line communications e wireless

networks, pela sua largura de banda até , e pelo atraso em alguns casos bastante inferior a

. A utilização de um sistema de telecomunicações traz a vantagem de se poder fazer um

controlo mais avançado, em tempo real, possibilitando o envio de set-points do MGCC, actuando

directamente no local da rede desejado, podendo porventura regular os trânsitos de potência que na

rede isolada com DG não são unidireccionais.

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Com esta arquitectura também se torna possível trocar informações respeitantes a custos de

produção de energia eléctrica nas várias unidades de geração distribuída existentes, como indicado

na Figura 2.2, o que favorece a criação de novos mercados para cada micro-rede. Minimercados que

potenciem a optimização dos custos de operação da rede em ilha podem surgir numa vertente de

minimização dos custos da energia produzida, ou de maximização do valor das micro-redes

maximizando os ganhos retirados da troca de potência com a rede principal.

Merece ser destacada a possibilidade de alargar ao cliente final a rede de telecomunicações

desta arquitectura de controlo, possibilitando a sua intervenção no processo, sendo esta uma

evidente aproximação ao conceito de SmartGrids, presente no projecto InovGrid, que deve ser

desenvolvido de forma a reunir as mais-valias de cada um.

2.3.2. Controlo Local

Com esta arquitectura de controlo deixa de haver um comando central obrigatório que dite os

set-points de potência para todas as unidades espalhadas pela micro-rede, passando a existir um

único nível de controlo junto à geração e ao armazenamento, um controlador local MC, responsável

por manter a frequência e tensão da rede o mais próximo possível do limiar de equilíbrio. Este

controlo reduz os custos com equipamentos de telecomunicação, mas por outro lado aumenta a

complexidade do controlo local, para manter os mesmos padrões de qualidade do serviço.

Em [3] é descrita uma abordagem a este propósito, sendo que o controlo primário é baseado

na relação directa entre a potência reactiva e a tensão, e entre a potência activa e a frequência. De

seguida são indicados os métodos de controlo utilizados junto das diferentes tecnologias, de acordo

com a tarefa de que cada elemento é responsável na rede no que respeita a um controlo local.

Controlo PQ

O controlo PQ força os inversores a injectar toda a potência disponível na rede, sendo que a

potência reactiva pode ser definida por uma relação directa entre a potência activa e reactiva

proposta em [4] pelo Prof. P. Carvalho, e que garante a estabilidade da tensão, não estando esta

dependente do nível de geração. Este método evita a dependência de uma supervisão que envie os

set-points com os valores de reactiva adequados.

Aplica-se a tecnologias de geração distribuída como o fotovoltaico, os aerogeradores, e

outras DG dependentes de um recurso não armazenável ou incerto.

Controlo VSI

Quando a micro-rede está ligada à rede a montante, este VSI tem uma referência de tensão e

frequência impostas externamente. Pelo contrário, em ilha o controlador actua como se o VSI fosse

uma fonte de tensão com amplitude e frequência de acordo com os valores à sua saída. Este controlo

possibilita ao inversor reagir a perturbações na rede eléctrica, como por exemplo mudanças de

geração e de carga, de acordo com a informação que dispõe no local da rede onde está conectado.

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O VSI é aplicado a Flywheels, a baterias ou mesmo a outras formas de armazenamento de

energia.

Pelo facto de se perder a referência de tensão quando a rede é isolada e no sentido de

eliminar o erro do controlo primário, são apresentadas de seguida duas estratégias possíveis para a

micro-rede, onde é aplicado um controlo secundário que garante um eficaz controlo de frequência.

Single Master

Nesta estratégia os equipamentos de geração estão ligados à rede através de inversores PQ,

e é apenas introduzido um único dispositivo de armazenamento com recurso a um inversor VSI, que

fornece a tensão de referência. O VSI age como uma resposta rápida ao seguimento da carga.

Já os inversores PQ para não necessitarem de referências centrais têm de adoptar uma

estratégia que passa por um lado, por entregar a máxima potência disponível, no caso do fotovoltaico

e do eólico, e por outro lado, em DG com base em recursos sempre disponíveis como é a micro-

-turbina, adoptar um controlo PI ou controlo secundário de frequência, que defina o seu regime de

operação.

Multi Master

Aqui recorre-se a dois ou mais inversores a operar como VSI, portanto corresponde a um

cenário em que os sistemas de armazenamento de energia se encontram dispersos pela rede,

operando com controlo primário de frequência e de tensão, não obstando a que hajam também vários

DG com controlo PQ e com controlo secundário de frequência.

Mesmo sem recorrer a um controlo central é possível neste controlo incluir deslastre selectivo

de carga, utilizando técnicas de identificação da variação da frequência que desligam um aglomerado

de cargas, caso se verifiquem quebras momentâneas da frequência acima de um determinado valor.

Estas arquitecturas de controlo central e local são apreciadas com mais detalhe na segunda

parte desta dissertação, onde são estudadas estratégias de operação e controlo de redes em ilha.

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3. Geração Distribuída

O termo geração distribuída refere-se às tecnologias de produção de energia eléctrica

integrada na rede de distribuição em média ou baixa tensão. Estas são elementos de um sistema

energético no qual se encontram distribuídas tipicamente próximo dos consumidores, fornecendo

uma ampla gama de potências dependente em certa medida do tipo de fonte utilizada, podendo ser

alcançadas até algumas dezenas de . As recentes inovações na indústria dos equipamentos de

energia estão a impulsionar cada vez mais a generalização e diversificação destas tecnologias na

rede eléctrica, e primam em grande parte dos casos, pela utilização de fontes de energia renovável,

ambientalmente limpas.

Desta forma, a produção distribuída de energia eléctrica contrasta em grande medida com o

conceito tradicional de produção centralizada, dependente de centrais com elevada potência e

emissões de carbono. Apresenta-se assim como uma alternativa ou mesmo uma mudança de

paradigma à actual e principal geração de energia, oferecendo novas oportunidades para melhorar o

actual sistema de energia eléctrica. A existência de uma cada vez mais vasta gama de tecnologias de

geração distribuída é também o principal fundamento ao aparecimento do conceito de rede em ilha,

onde, com o apoio de técnicas de armazenamento de energia localizadas na micro-rede se atenuaria

o efeito da produção eléctrica inconstante, provocada pela imprevisibilidade das fontes renováveis.

3.1. Tecnologias de Geração Distribuída

Estas tecnologias estão maioritariamente associadas à geração de energia eléctrica a partir

de recursos naturais renováveis, como a água, a luz solar, ou o vento. Cada uma destas tecnologias

encontra-se em diferente fase de desenvolvimento, havendo algumas já inseridas no mercado e

outras que necessitam investigação para alcançar soluções viáveis.

Dentro das soluções possíveis, destacam-se:

Aerogeradores;

Energia solar;

Mini-hídricas;

Energia das ondas.

Tanto os aerogeradores como os painéis fotovoltaicos são abordados com detalhe nos pontos

3.2. e 3.3.

Fica aqui uma breve descrição de outras tecnologias, em alguns dos casos com relevância no

âmbito da geração distribuída.

É importante salientar que o aproveitamento da energia solar para a produção de energia

eléctrica não se resume apenas ao efeito fotoeléctrico, existe também a possibilidade de utilizar o sol

como fonte de calor aquecendo um fluido, que posteriormente sob pressão é turbinado, gerando

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energia eléctrica. Existem duas tipologias que aplicam este conceito, a primeira denominada de

Central Tower, concentra num só ponto no topo de uma torre, a radiação solar reflectida por inúmeros

espelhos localizados ao seu redor. A outra técnica a que se dá o nome Parabolic Trough, passa pela

disposição parabólica de espelhos que concentram a radiação solar num tubo, onde circula um fluido

que ao longo do trajecto aumenta consideravelmente a sua temperatura. As Parabolic Trough têm

uma eficiência global de 15%, aproximada à dos painéis fotovoltaicos, enquanto no caso das Central

Towers a eficiência da conversão se situa abaixo de 20%.

A designação mini-hídrica é aplicada a centrais hídricas de potência inferior a que

utilizam a água armazenada como recurso renovável, o que torna a geração de potência previsível a

curto prazo e controlável em contraposição com o que sucede nas anteriores tecnologias baseadas

nos recursos sol e vento. Tem uma elevada eficiência, acima de 70%, e um elevado factor de

capacidade , de aproximadamente 50%, muito além dos 10% do solar e 30% do eólico.

A energia das ondas, acaba por estar ainda em fase de investigação, existindo pequenas

aplicações com diferentes tipologias que procuram optimizar o processo de conversão de energia,

mas têm enfrentado dificuldades relacionadas com os equipamentos utilizados e adversidades

ambientais marítimas. No entanto, este recurso marítimo apresenta um grande potencial energético a

explorar, que não deve ser descartado.

Para além das anteriormente indicadas, é sabido que também existem DG que emitem gases

de estufa no seu processo de produção de energia eléctrica. Aqui é tratado apenas um conjunto de

dispositivos que resulta num menor impacto ambiental. De onde se evidenciam:

Combustão de Biomassa;

Micro-turbinas a Gás, com e sem Cogeração;

Pilhas de combustível.

Na queima de biomassa são utilizados diversos resíduos que por terem origem orgânica

também são considerados recursos naturais renováveis, uma vez que as emissões de CO2

produzidas podem ser compensadas rapidamente com uma nova plantação, o que torna o ciclo do

CO2 muito mais curto do que no caso dos combustíveis fósseis. É portanto uma tecnologia a ser

considerada no panorama das renováveis, embora a sua utilização deva ser comedida, impedindo a

sobreposição das economias energética com a alimentar.

Embora sendo um combustível fóssil, a escolha do gás natural para alimentar micro-turbinas

deve-se ao seu bom poder calorífico, combinado com uma menor emissão de CO2 em comparação

com outros recursos não renováveis. Abundante e com uma vasta cadeia de abastecimento mundial,

o gás natural posiciona-se como uma opção válida para alimentar uma tecnologia que se impõe aos

tradicionais motores de combustão interna. A micro-turbina é caracterizada também por uma

manutenção mínima, por ser um sistema compacto com possibilidade de instalar vários módulos em

paralelo e por ter um rendimento satisfatório, aproximadamente 40%. Mas principalmente pela

possibilidade de integrar sistemas de cogeração de alta eficiência, com os quais se pode atingir

rendimentos acima de 80%. A cogeração utiliza o calor dos gases resultantes da câmara de

combustão da micro-turbina para produzir tanto, energia eléctrica através de um alternador, como

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outras necessidades mecânicas ou térmicas do processo. Igualmente, a energia térmica também

pode ser aproveitada para fornecer aquecimento a uma infra-estrutura externa ao equipamento.

Por fim a pilha de combustível, um dispositivo electroquímico que utiliza o oxigénio e o

hidrogénio como reagentes, numa tecnologia recente e completamente diferente das anteriores, por

não possuir movimento de peças, o que diminui as perdas e melhora significativamente o rendimento

da conversão que supera os 40%. Contudo, é ainda uma tecnologia limitada pelo rápido desgaste das

membranas, e pela necessidade de hidrogénio, elemento químico que não está acessível na natureza

na sua forma elementar, o que impõe gastos de energia, tanto na produção como no transporte que

reduz drasticamente a eficiência total do processo.

Importa agora avaliar o custo das tecnologias de geração distribuída mais significativas. Na

Tabela 3.1 são apresentados os valores médios para cada uma delas, sendo também dadas a

conhecer algumas características que podem ser consideradas importantes para uma correcta

comparação das técnicas, como é o caso da sua disponibilidade no mercado, tempo de vida útil e

impacto ambiental.

Tabela 3.1. Características importantes das tecnologias de geração distribuída [32]

Tecnologia

Custo

Investimento

Inicial (€/kW)

Custo

Manutenção

(€/kWh)

Disponibilidade

Comercial

Tempo de

Vida Útil

Impacto

Ambiental

Fotovoltaico 5500 - 6000 0,005 Alta 20 - 25

anos

Moderado, devido

à grande energia

despendida no

fabrico

Aerogerador 1000 - 1350 0,019 Média 20

anos

Reduzido, devido

ao ruído e impacto

visual

Mini-eólica 2800 0,005 Média 20

anos

Reduzido, devido

ao ruído e à

pegada visual

Mini-hídrica < 1000 0,002 - 0,003 Média 30

anos

Moderado,

condiciona o

ecossistema fluvial

Micro-turbina

a Gás 440 - 660 0,004 Moderada

30

anos

Baixo nível de

Ruído e Emissões

Micro-turbina

a Gás com

Cogeração

600 - 900 0,004 - 0,012 Moderada 40.000

horas

Baixo Nível de

Ruído e Emissões

Pilhas de

Combustível 800 - 1300 0,0015 - 0,003 Muito Reduzida

40.000

horas

Reduzido

(sem considerar

produção de

hidrogénio)

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Da Tabela 3.1 é importante salientar a grande diferença de custos de implementação por

entre a instalação de painéis fotovoltaicos e as que recorrem à energia do vento e da água, a favor

destes últimos que chegam a ser aproximadamente cinco vezes mais baratos no caso dos

aerogeradores e mini-hídricas e metade do preço no caso das mini-eólicas. Já as micro-turbinas

sofrem um sobrecusto de aproximadamente 50% no caso de se decidir incluir o sistema de

cogeração. Por último as pilhas de combustível, que anunciam um investimento inicial elevado para

além dos custos posteriores com a produção de hidrogénio, o que se justifica por esta tecnologia

estar ainda em investigação. Em todos eles o custo em manutenção é consideravelmente mais baixo

do que o investimento inicial, assim como o tempo de vida útil, que ronda os 25 anos em todas elas.

Como seria de esperar, estas técnicas de geração apresentam uma pegada ambiental baixa ou

moderada, o que promove a implementação destes dispositivos com a finalidade de reduzir as

emissões de gases com efeito de estufa.

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3.2. Painéis Fotovoltaicos

“Solar energy’s potential is off the chart. The energy in sunlight striking the earth for 40

minutes is equivalent to global energy consumption for a year.” (KEN ZWEIBEL, 2007).

Portugal, assim como outros países mediterrânicos destacam-se da restante Europa pelo seu

potencial solar. O número médio anual de horas de sol português varia entre 2200 e 3000, muito

acima das 1500 horas médias alemãs, este é um facto que não deixará de dissociar Portugal da

aposta na energia solar, o que implica uma atenção e interesse redobrados nesta tecnologia.

3.2.1. Células Fotovoltaicas

Em termos microscópicos, as células fotovoltaicas são dispositivos capazes de transformar

energia solar em energia eléctrica, através do efeito fotoeléctrico. A sua concepção tem por base o

silício, elemento com uma estrutura cristalina formada por quatro ligações covalentes que interligam

cada átomo com quatro átomos vizinhos. Em cada uma das ligações covalente os átomos ligados

partilham dois electrões de valência, obtendo-se assim em cada átomo, uma banda de valência

completa com oito electrões que torna o átomo estável.

Para libertar electrões desta camada exterior, tem de ser fornecida energia suficiente através

de fotões que atingindo os electrões os fazem transitar para a banda de condução. Isto é conseguido

nas células fotovoltaicas com recurso à radiação electromagnética solar incidente. A passagem de

electrões para a banda de condução dá lugar a buracos, para que não haja recombinação é

constituído um campo eléctrico interno de forma a gerar uma corrente que alimenta o circuito eléctrico

exterior. Na Figura 3.1 é visível a circulação de cargas imposta pela incidência luminosa.

Figura 3.1. Conversão radiação solar em electricidade

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Como é apresentado na Figura 3.1, o campo eléctrico interno é provocado pela diferença de

potencial existente na junção - , constituída por uma camada dopada com excesso de cargas

positivas e uma n com excesso de cargas negativas. Para dopar a região do tipo é normalmente

usado boro, para a região do tipo escolhe-se o fósforo.

Os electrões que passam para a banda de condução são acelerados para o terminal

negativo, enquanto os buracos em contraposição são transferidos para o terminal positivo.

Macroscopicamente, as células fotovoltaicas tomam tipicamente os formatos visíveis na

Figura 3.2, sendo compostas por uma camada do tipo exposta à luz com de espessura

e uma camada de do tipo . Existe ainda uma grelha de contactos frontais e traseiros em

cobre e uma película anti-reflexo.

Figura 3.2. Células Fotovoltaicas: (a) Monocristalinas, (b) Policristalinas e (c) Amorfos

As células fotovoltaicas existentes no mercado são na sua grande maioria fabricadas a partir

de silício, podendo ser constituídas por cristais monocristalinos, policristalinos ou silício amorfo. De

seguida são descritas as características de cada um destes tipos de células.

Silício Monocristalino

Este é historicamente o mais usado como conversor directo de energia solar em energia

eléctrica. O seu fabrico é um processo complexo, mas já muito bem conhecido, no entanto é

necessária uma grande quantidade de energia na purificação do material, o que torna esta tecnologia

cara. Começa-se com a extracção de cristais de dióxido de silício, passado por fornos a alta

temperatura onde são desoxidados. Posteriormente o composto é purificado e solidificado, atingindo-

-se um grau de pureza de 99%. Não obstante, é necessário um grau de pureza tipicamente acima de

99.9999%, pelo que se recorre ao processo de Czochralski1, após esta etapa são adicionados os

dopantes e .

Das células fotovoltaicas, esta é a que apresenta maior eficiência como produto acabado,

atingindo actualmente os 15% em condições normais de funcionamento.

1 Método de crescimento de cristais, utilizado para obter um único cristal semicondutor.

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Silício Policristalino

A produção destas células de silício policristalino tem custos menores do que as de silício

monocristalino, por exigirem um processo de fabrico menos rigoroso, onde não é alcançado um tão

alto nível de pureza do cristal. No entanto, a sua eficiência alcança entre 11% e 13%, apresentando

níveis de eficiência comparáveis ao tipo de células anterior.

Silício Amorfo

Este é um tipo de células que difere dos dois anteriores, é caracterizado por um alto grau de

desordem nas estruturas atómicas. O seu fabrico requer processos relativamente simples,

possibilitando o fabrico de células com grandes áreas a um baixo custo, o que torna estas células as

mais baratas das três apresentadas. Trata-se de uma tecnologia em filme fino e flexível, com enorme

potencial a nível arquitectónico. No entanto, tem duas desvantagens importantes, em primeiro lugar

uma baixa eficiência de conversão, entre 8% e 10%, e em segundo lugar é afectada por um processo

de degradação que reduz ainda prematuramente a sua eficiência, limitando-a para o resto da sua

vida útil.

Actualmente, as grandes fábricas de células fotovoltaicas começam a virar atenções para a

utilização de novos materiais potencialmente mais baratos e eficientes que possam destronar o silício

como principal matéria-prima. O Telúridio de Cadmium, embora menos promissor é bastante fácil de

utilizar e tem menores problemas associados. Neste sentido também é considerado o Disselénio de

Cobre e Índio, que tem uma eficiência equiparável à do Silício Amorfo. Outras apostas interessantes

prendem-se à utilização de películas finas de depósito de vapor químico de plasma, células orgânicas

pigmentadas, polímeros condutores ou ainda a utilização de antenas solares2. O objectivo futuro é

alcançar eficiências próximas de 30% e uma redução de custo de fabrico que viabilize a massificação

desta tecnologia.

3.2.2. Tecnologias Associadas à Melhoria do Desempenho

A energia solar é um recurso que varia ao longo do dia, do ano e da latitude, de acordo com o

ângulo de incidência solar, que está directamente relacionado com a radiação solar incidente numa

determinada área geográfica. Cabe então à tecnologia tirar o máximo proveito das células

fotovoltaicas, aumentando a eficiência da conversão e minimizando tanto quanto for possível a

variação do recurso natural sol.

Um dos dispositivos utilizados para esse efeito é o seguidor solar, mecanismo que gira o

painel solar de forma a obter uma constante perpendicularidade entre a radiação incidente e a

superfície do painel, maximizando a captação energética. Com este mecanismo é possível seguir

2 As antenas solares têm apenas alguns microns, convertem a radiação solar directamente em energia eléctrica,

absorvendo uma larga gama de radiação electromagnética (300 a 1.000 nm), que cria um campo eléctrico alternado que, acoplado a um rectificador óptico, cria uma corrente contínua.

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automaticamente o sol durante o dia e também ajustar o painel à inclinação solar ao longo do ano,

aumentando a radiação diária incidente em aproximadamente 25%.

Para aumentar a radiação incidente nas células fotovoltaicas a cada instante são utilizados

em algumas aplicações concentradores solares. Estes elementos são chapas reflectoras, dispostas

lateralmente em relação ao painel, que concentram neste a radiação solar incidente numa área maior.

Alguns fabricantes anunciam um aumento de 80% na produção de energia eléctrica à latitude

europeia, num sistema fotovoltaico que integre tanto o seguidor como concentrador solar. No entanto,

deve ser considerado o possível aumento da temperatura das células fotovoltaicas em alturas de

maior intensidade solar, que pode diminuir a eficiência da conversão. Na Figura 3.3(a) é visível um

destes sistemas e na Figura 3.3(b) é apresentado um gráfico que compara a energia produzida por

um painel solar fixo colocado na horizontal, com o mesmo painel incluído num sistema seguidor

concentrador.

Figura 3.3. (a) Painel fotovoltaico com seguidor e concentrador, (b) Energia produzida com e sem estas

tecnologias

Para além destas melhorias a nível das estruturas macroscópicas, microscopicamente

também se pode aumentar o desempenho de uma célula fotovoltaica, reduzindo a componente

reflectida da luz incidente. Nesta área as atenções recaem sobre o formato da película anti-reflexo e

da superfície do silício. Além destas, também é possível reduzir a reflexão utilizando grelhas frontais

menos espessas, existe actualmente tecnologia em desenvolvimento acelerado que dispensa grelhas

frontais.

Sem a utilização de película anti-reflexo, um terço da radiação incidente é reflectida, pelo que

é indispensável à viabilidade destes dispositivos. Uma película de baixo rendimento diminui a reflexão

até 5%, mas é possível reduzir este valor ainda mais, até 2%, com métodos avançados bem

conhecidos da indústria óptica conjuntamente com texturas de silício muito particulares. Estes índices

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de reflexão óptimos são obtidos para um determinado comprimento de onda da luz, pelo que são

superiores para diferentes valores de energia da radiação incidente.

Actualmente é possível tecnicamente obter uma superfície de silício com forma piramidal

invertida, ver Figura 3.4, que obriga a radiação a incidir no silício mais do que uma vez, de forma a

aumentar o número de fotões absorvidos.

Figura 3.4. Superfície com textura de pirâmides invertidas do silício [33]

Uma célula ideal deve ser responsável não apenas pela absorção de toda a luz, mas também

deve dificultar a saída dos fotões, obrigando-os a percorrer várias vezes a espessura da célula antes

de sair. A este efeito dá-se o nome de Light Trapping, evitando-se assim que os fotões que

produziram cargas que se recombinaram, saiam rapidamente da célula sem a possibilidade de voltar

a produzir cargas. Para produzir o efeito de Light Trapping, volta a ser decisivo o recurso a métodos

ópticos que evitem a transmissão dos fotões para o exterior, conjuntamente é também inserido um

reflector traseiro na célula, recorrendo novamente a texturas piramidais.

3.2.3. Modelo Matemático

Uma célula fotovoltaica pode ser descrita matematicamente pelo circuito equivalente da

Figura 3.5, contendo a fonte de corrente , o díodo percorrido pela corrente e as resistências e

.

Figura 3.5. Circuito eléctrico equivalente de uma célula fotovoltaica

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No interior da célula é observada uma queda de tensão aqui representada por , da mesma

forma também se verificam correntes de fuga que são descritas por .

A fonte de corrente representa a corrente proveniente do efeito fotoeléctrico, esta é

unidireccional e depende da radiação incidente e temperatura T. é calculado a partir de (3.1),

onde é a corrente de efeito fotoeléctrico em condições nominais, é o coeficiente de

temperatura, a radiação nominal e .

(3.1)

A corrente que se fecha pelo díodo resulta da corrente que atravessa a junção p-n e é

dada por (3.2).

(3.2)

Onde,

– Corrente inversa de saturação do díodo;

– Tensão aplicada à junção p-n;

– Factor de idealidade do díodo;

– Potencial térmico

Com, – Temperatura em K, e ;

A corrente de saturação do díodo e a sua dependência da temperatura é expressa pela

equação (3.3), que é dependente de dados fornecidos pelos fabricantes destas tecnologias como são

, , e . Os índices indicam que são valores obtidos a condições de referência,

tipicamente e (25°C).

(3.3)

– Corrente de curto-circuito de referência;

– Tensão de circuito aberto de referência;

– Coeficiente de temperatura de ;

– Coeficiente de temperatura de ;

Aplicando a lei de Kirchhoff ao circuito da Figura 3.5, obtém-se a corrente de saída para uma

célula (3.4).

(3.4)

Tendo em conta (3.4), pode-se encontrar a característica da Figura 3.6, que relaciona a

variação da tensão positiva aplicada, com a corrente gerada por uma radiação solar específica,

a uma temperatura de funcionamento da célula constante. Como uma célula fotovoltaica funciona

como uma carga para tensões negativas, é fundamental evitar esta zona de funcionamento. É aqui

apresentado apenas o seu comportamento para positivo.

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20

Figura 3.6. Característica I(V) de uma célula fotovoltaica

Na Figura 3.6 podem ser identificados alguns parâmetros característicos de cada tipo de

célula, como são os três pontos com maior relevância para o comportamento da célula. O ponto de

corrente refere-se ao funcionamento desta tecnologia para um curto-circuito externo, sem

qualquer tipo de carga, provocando uma corrente de curto-circuito , desprezando e . O

ponto diz respeito ao funcionamento de uma célula em vazio, ou seja com uma corrente de saída

, e se for desprezado é caracterizado pela tensão circuito aberto de (3.5).

(3.5)

Já é o ponto de funcionamento da célula à potência máxima de operação, conseguido

com um equilíbrio entre a tensão imposta e corrente de saída. Este ponto de equilíbrio obtém-se para

com técnicas de controlo actuantes na electrónica de potência à saída do painel

fotovoltaico. No ponto 3.2.6. são apresentadas técnicas de controlo possíveis de serem

implementadas. Ao conhecer-se o ponto de potência máxima, pode determinar-se a eficiência

máxima do processo fotoeléctrico por (3.6), para uma área da célula e radiação incidente .

(3.6)

O factor de forma é outro parâmetro que se pode retirar da característica , e é dado pela

razão entre a potência máxima de saída e o produto de com , como mostra a equação (3.7).

O seu valor é superior a para boas células.

(3.7)

Como já foi referido anteriormente, a corrente de saída varia com a radiação incidente e

temperatura interna, pelo que a característica também se modifica. Na Figura 3.7(a) é visível o

aumento da corrente de curto-circuito e da tensão de circuito aberto com o incremento da radiação

incidente. apresenta um andamento logaritmico em relação a , enquanto varia linearmente

com . Na Figura 3.7(b) constata-se uma redução linear da tensão de circuito aberto com o

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incremento da temperatura da célula, provocada pela diminuição da eficiência da célula. Já a corrente

de curto-circuito apresenta um aumento reduzido do seu valor com a temperatura.

Figura 3.7. Influência da radiação incidente e da temperatura da celúla em I(V)

Por sua vez a localização do ponto de potência máxima sofre evidentes alterações, o que

demonstra a manifesta influência dos condicionamentos ambientais na potência de saída desta

tecnologia.

3.2.4. Módulos Fotovoltaicos

A potência de uma única célula é muito baixa, não excede os , correspondendo

aproximadamente a uma tensão de e correntes de , pelo que é necessário agrupar várias

células e constituir módulos. Um módulo é estruturado com ramos ligados em paralelo, cada um

formado com células em série. Os valores de e são determinados pela potência máxima

requerida e pelos níveis de tensão e corrente pretendidos. Desta forma pode chegar-se à equação

(3.8), baseada na equação (3.4) do modelo matemático de uma célula, que representa o equivalente

de um módulo.

(3.8)

Um módulo fotovoltaico pode ser usado isoladamente em pequenas aplicações como é o

caso de certas soluções de iluminação pública, ou alimentando circuitos eléctricos de

telecomunicações em zona remota. Esta é até uma das grandes mais-valias desta tecnologia pelo

facto de dispensar a ligação destes dispositivos à rede eléctrica, que em determinadas situações

poderia requerer grandes distâncias de linha com elevados custos associados, exclusivamente para

uma aplicação.

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Já na geração distribuída como é o caso da microgeração ou em grandes parques

fotovoltaicos, são associados vários módulos em série e paralelo, perfazendo uma potência instalada

que pode chegar aos , como é o caso da central instalada em Moura, Portugal.

3.2.5. Díodo Bypass

A integração de várias células num só módulo traz associado o problema da limitação que

pode ocorrer no conjunto, provocada pelo comportamento de apenas uma célula. Na Figura 3.8 é

ilustrado um ramo de células fotovoltaicas onde uma delas está a limitar a corrente que passa no

ramo, diminuindo em grande medida a potência de saída do módulo.

Figura 3.8. Ramo com célula que limita a corrente

Este problema pode dever-se à utilização de células com características de fabrico diferentes,

à existência de zonas de sombra no módulo, ou em casos mais graves, a defeitos nos elementos.

Além da limitação de potência está associado um aumento da temperatura local, causado pelo

acréscimo de tensão das restantes células que pode provocar sobretensões capazes de inverter a

polaridade na célula defeituosa. Basicamente esta célula passa a funcionar como uma carga,

dissipando a energia produzida pelas restantes células, criando um hot-spot que por sua vez leva à

destruição do módulo, quer seja pela quebra do vidro, derretimento da solda dos conectores ou

degradação dos elementos. Na Figura 3.9 é observável a característica , estando identificada a

área correspondente à potência dissipada na célula à sombra, para tensões negativas. Também é

visível a alteração produzida por esta situação na característica do módulo.

Figura 3.9. Característica I(V) de uma célula, para tensões negativas

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Para impedir que isto aconteça é utilizado um díodo com polarização inversa em paralelo com

as células. Em situação normal de operação, o díodo está ao corte, não influenciando o

comportamento do módulo, no entanto, caso haja uma deficiência em alguma das células que

implique um desencontro na corrente de funcionamento do ramo, o díodo bypass passa à condução,

actuando como um caminho alternativo à passagem da corrente.

Geralmente nesta tecnologia, para diminuir os custos adicionais de protecção, aplicam-se os

díodos bypass em paralelo com um determinado número de células em série, como é ilustrado na

Figura 3.10, reduzindo-se assim a quantidade de semicondutores necessários.

Figura 3.10. Ligação do Díodo Bypass em paralelo com as células [33]

Os módulos são protegidos também à saída com um díodo de bloqueio em série, Figura 3.11,

evitando correntes negativas que fariam o painel fotovoltaico funcionar indesejavelmente como carga,

Figura 3.9. Como é evidente a existência destes semicondutores implica a adição de perdas e

consecutivamente a diminuição do rendimento do processo de conversão de energia solar em

energia eléctrica.

Figura 3.11. Díodo de bloqueio à saída do módulo

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3.2.6. Conversor Electrónico

No caso dos módulos fotovoltaicos com ligação à rede eléctrica, a tecnologia actualmente

existente permite entregar à rede a potência máxima a cada instante. As topologias de conversores

electrónicos existentes variam entre a utilização de um ou dois andares de conversão e a utilização

ou não de transformador à saída. Na Figura 3.12 está representado um esquema ilustrativo da

interface entre o módulo fotovoltaico e a rede eléctrica através de dois andares de conversão, onde o

primeiro é do tipo DC-DC e o segundo um DC-AC. O andar DC-DC permite incorporar técnicas que

possibilitam um constante seguimento do ponto de potência máxima, a que se dá o nome de MPPT.

O conversor DC-AC adequa as características da tensão e corrente às da rede eléctrica.

Conjuntamente poderia ser utilizado um transformador à saída do DC-AC, caso este não ajuste o

nível de tensão à saída com o da rede.

Figura 3.12. Interligação de um módulo fotovoltaico à rede

MPPT

As condições ambientais, designadamente a radiação e temperatura, variam constantemente

ao longo do dia, pelo que não é possível enviar uma potência constante para a rede eléctrica, no

entanto é desejável obter a potência máxima para cada condição de operação. Com recurso a

electrónica de potência é possível regular a tensão à saída dos painéis fotovoltaicos, provocando uma

corrente que retira a potência máxima para cada e .

Para tal, recorre-se às chamadas técnicas de seguimento de potência máxima, as quais

variam na sua complexidade, velocidade de convergência, custo e eficiência. As técnicas usadas

mais frequentemente são a da Perturbação e Observação e a da Condutância Incremental

Modificado, as quais, por serem consideradas no modelo do painel fotovoltaico desenvolvido, são

abordadas já de seguida.

Perturbação Observação

Esta é uma técnica de fácil implementação, que resulta tal como o nome indica na leitura do

comportamento da potência , para uma perturbação de tensão aplicada ao sistema. Caso a

potência aumente, a perturbação de tensão mantém-se, se pelo contrário for observada uma

diminuição da potência altera-se o sentido da perturbação. Desta forma, é compreensível que o ponto

de potência máxima nunca seja exactamente atingido e mantido, verificando-se na prática a presença

de erro em regime permanente que pode ser minimizado, diminuindo o valor da perturbação . No

entanto, ao diminuir a perturbação está-se a tornar a técnica mais lenta para variações do MPP. Para

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25

além disso, existe um limite mínimo imposto pela oscilação da tensão observada, que pode provir do

ruído das medições como do comportamento não linear do conversor. Este facto obriga a que a

ordem de grandeza de seja superior à das oscilações de tensão, diminuindo assim a sua

influência. Também é definido o tempo de amostragem , que corresponde ao intervalo de tempo

entre amostragem de tensão e corrente. A utilização de um pequeno, permite uma rápida reacção

às variações de e , contribuindo para um mais eficaz seguimento do MPP. Existe porém uma

limitação técnica para imposta pelo conversor electrónico a ser usado.

Na Figura 3.13 está presente um fluxograma representativo do funcionamento desta técnica.

Figura 3.13. Fluxograma da técnica perturbação observação [6]

Condutância Incremental Modificado

Com esta técnica e a partir da curva é possível identificar o lado da curva onde o

sistema se encontra, e actuar em conformidade para identificar o ponto de funcionamento do MPP.

Esta técnica baseia-se nos valores da condutância instantânea e incremental do arranjo fotovoltaico,

obtidas a partir da leitura dos valores da corrente e tensão do arranjo.

É possível exprimir a derivada em duas componentes com unidades de condutância,

como é apresentado em (3.9).

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(3.9)

Dividindo ambos os membros de (3.9) por , obtém-se (3.10).

(3.10)

Como é sempre positivo, o sinal de é o mesmo do segundo membro da equação

(3.10), de onde se destacam, a condutância instantânea e a condutância incremental .

Caso o sinal seja positivo, o sistema encontra-se à esquerda do MPP, pelo contrário se o sinal for

negativo, o sistema está à direita, sendo que para está-se a operar no MPP. Na

prática, devido a ruído nas medições e erros de quantificação é introduzida uma banda de tolerância

em torno de zero. Aqui como na técnica analisada anteriormente, é necessário um cuidado

dimensionamento de , e do tempo de amostragem , atendendo às limitações impostas pela

tecnologia para que se assista a um exacto e rápido seguimento do MPP. Para uma melhor

compreensão do funcionamento deste método de MPPT, na Figura 3.14 é apresentado um

fluxograma representativo.

Figura 3.14. Fluxograma da técnica condutância incremental modificada [6]

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27

3.2.7. Simulação

Para realizar a simulação recorreu-se aos dados do módulo fotovoltaico de silício

policristalino, KC200GT Solar. Na Tabela 3.2 são apresentadas as suas características técnicas mais

relevantes.

Para a execução do modelo foi escolhida a plataforma Simulink, fornecida pelo MatLab.

Tabela 3.2. Características técnicas do painel fotovoltaico KC200GT [35]

Imax (A) Vmax (V) Pmax (W) ISC (A) VOC (V) KV (V/K) KI (A/K) Ns

7.61 26.3 200.143 8.21 32.9 -0.1230 0.0032 54

De acordo com o modelo matemático apresentado, é considerado o factor de idealidade do

díodo , enquanto os valores das resistências série e paralela são considerados fixos e iguais

aos valores experimentalmente obtidos para o ponto de funcionamento a potência máxima, com

e (25°C), ficando e [7]. É sabido que as

resistências assumidas constantes variam com a radiação solar e com a temperatura, no entanto é

considerado mais realista a sua incorporação no modelo, do que estas serem negligenciadas.

O rendimento do conversor electrónico considerado é de 90%, este é o valor normalmente

adoptado para o caso de não se ter acesso à curva de variação do rendimento com a potência de

entrada no conversor.

O arranjo de módulos fotovoltaicos modelado simula o comportamento de 15 módulos

fotovoltaicos em série e 2 em paralelo, sendo que cada módulo inclui 54 células fotovoltaicas em

série.

Figura 3.15. Diagrama de blocos do sistema fotovoltaico

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Na Figura 3.15 é apresentada a cadeia de controlo de potência máxima, onde estão

presentes dois blocos, o IncCond Mod e o P&O, que podem ser simuladas em separado e são duas

formas diferentes de determinar a cada instante o incremente ou decremento da tensão de trabalho

que maximiza a potência. Estas duas estratégias de controlo são na prática incorporadas na

modelação por PWM dos conversores DC-DC existentes à saída dos painéis fotovoltaicos. Cada um

destes dois blocos, assim como o bloco PV que modela o comportamento do arranjo fotovoltaico, são

abordados com mais detalhe no Anexo A.1.

De seguida, é efectuada uma observação do comportamento do modelo para diferentes

situações de funcionamento, sendo os resultados comparados com o que foi assumido previamente.

Para uma variação da temperatura das células de 298.15K (25°C) a 323.15 (50°C), com o

índice de radiação incidente constante e igual a , na Figura 3.16 é notória uma diminuição

da potência de saída com o aumento da temperatura, de tal forma que a 25°C a potência disponível é

de , enquanto que para uma temperatura de 50°C, a potência é reduzida para . Uma vez

que o sistema parte inicialmente de uma tensão aos terminais nula, é visível igualmente a resposta da

potência de saída à radiação de referência que é aproximadamente de .

Figura 3.16. Comportamento da potência de saída para uma variação de 25°C da temperatura das células

Na Figura 3.17 é apresentada a dependência entre a potência de saída e a radiação

incidente, que por ser a base do efeito fotoeléctrico é naturalmente o factor mais influente à potência

de saída que segue a sua evolução, registando-se uma potência máxima de para uma

radiação incidente de .

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

300

310

320

Tempo [s]

Tem

pera

tura

[K

]

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 100

2

4

6

Tempo [s]

Pote

ncia

[kW

]

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Figura 3.17. Comportamento da potência de saída para uma variação da radiação incidente de 1000 W/m2

Nestas duas situações anteriores registam-se os comportamentos apontados na análise da

Figura 3.7.

Para obter uma comparação das duas estratégias de MPPT, na Figura 3.18 são sobrepostos

os sinais de potência adquiridos para cada uma.

Figura 3.18. Potência de saída das técnicas de controlo de potência máxima, com destaque para a

ondulação produzida por cada uma

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 100

500

1000

Tempo [s]

Radia

cao [

W/m

2]

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

0

2

4

6

Tempo [s]

Pote

ncia

[kW

]

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É visível a cada instante que o método por condutância incremental modificado é o que

origina uma maior potência de saída. Isto já era espectável uma vez que este método quando atinge

uma potência próxima do valor máximo mantém a tensão a menos de uma , ao contrário da

técnica Perturbação Observação que constantemente oscila a potência em torno do valor máximo, o

que a impede de obter em cada instante uma potência maior.

A potência máxima atingida na resposta a um escalão da radiação incidente de a

é aproximadamente com uma oscilação de para o IncCond Mod e de para o

P&O.

Figura 3.19. Potência de saída, corrente e tensão, para a variação da radiação incidente

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 100

500

1000

Tempo [s]

Radia

cao [

W/m

2]

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 100

2

4

6

Tempo [s]

Pote

ncia

[kW

]

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 100

10

20

Tempo [s]

Corr

ente

[A

]

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 100

200

400

600

Tempo [s]

Tensao [

V]

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31

A Figura 3.19 apresenta a evolução das grandezas internas do sistema para a variação

gradual da radiação incidente, com uma temperatura de operação de 25°C e o controlo MPPT

Condutância Incremental Modificado. Nestas circunstâncias, a corrente acompanha a evolução da

radiação, dependendo também da tensão aos terminais do arranjo fotovoltaico, como pode ser

observado durante o primeiro segundo, quando a tensão de funcionamento a MPP ainda não foi

atingida. O que está de acordo com (3.8).

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3.3. Aerogeradores

Como grande parte das variantes energéticas à face da Terra, a energia eólica provém da

energia solar, pois 2% desta energia procedente do sol é convertida em deslocamento de massas de

ar na atmosfera terrestre, valor suficiente para suportar em larga margem o consumo eléctrico

mundial. Em adição a este facto a energia eólica é hoje em dia considerada uma das mais

promissoras fontes de energia renovável, baseada numa tecnologia madura e com enorme

proliferação mundial. O recurso eólico está mais presente nas regiões do norte da Europa, no entanto

Portugal como um país mediterrânico apresenta algumas zonas com potencial eólico a ser explorado,

principalmente no litoral e em locais elevados. Além da instalação em terra, existe também a

possibilidade de recorrer a localizações off-shore, com vento mais intenso e constante, e onde se

descarta o, por vezes questionado, impacto visual das estruturas.

As tipologias das turbinas eólicas utilizadas variam entre as de eixo horizontal e vertical. A

primeira revela um desenvolvimento já de várias décadas e é a mais utilizada mundialmente,

enquanto a segunda tem merecido menos interesse por parte da indústria. Esta tecnologia tem

aplicabilidade a diferentes níveis de potência, desde as mini-eólicas de utilização doméstica a partir

de , até às grandes turbinas utilizadas em parques eólicos que podem alcançar os .

3.3.1. Descrição

A turbina eólica horizontal é composta por três componentes principais, o rotor, a cabine e a

torre. A Figura 3.20 ilustra estes três componentes e os seus elementos, de seguida são descritas as

suas funções.

Figura 3.20. Esquema de uma turbina eólica típica [10]

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Rotor

O rotor é a componente mais importante da turbina por ser onde ser encontram as pás,

elementos essenciais à óptima condução da energia do vento para o veio da máquina. Os materiais

utilizados no seu fabrico começaram por ser a madeira em pequenas aplicações, contudo

actualmente recorre-se a compostos sintéticos, devido à sua solidez e durabilidade.

O conhecimento tecnológico utilizado na concepção do formato das pás é retirado da

indústria aeronáutica, uma vez que o comportamento da pá perante a coluna de ar que a atravessa é

semelhante à das asas de um avião. Numa fase prévia à concretização de um projecto, é necessário

avaliar a potencialidade eólica do local, esta é um momento chave para recolher dados determinantes

para o dimensionamento das pás da turbina. Com base na curva de frequência de ocorrência da

velocidade do vento obtida, é possível definir a velocidade nominal da turbina, que não é

necessariamente a velocidade máxima observada, por não ser compensado economicamente um

sobredimensionamento do equipamento que apenas signifique um pequeno aumento no número de

horas de utilização.

Isto leva a que a turbina tenha de estar preparada para controlar a potência mecânica

exercida pelo vento, para valores acima da velocidade nominal. Para alcançar este objectivo pode

recorrer-se a duas estratégias de controlo de potência, a stall e a pitch. Na primeira têm-se as pás

fixas, pelo que é mantido o seu ângulo de passo, que é o ângulo entre a linha de corda e o plano de

rotação da pá. Por esse motivo é necessário recorrer ao efeito de perda, fenómeno que diminui o

binário das pás do rotor acima de uma determinada velocidade do vento mantendo a potência à saída

aproximadamente constante. A segunda é portadora de um mecanismo nas pás que possibilita a

regulação do ângulo de passo, permitindo controlar com maior exactidão a potência na zona de

potência constante. Para velocidades do vento inferiores, o ângulo de passo é mantido a , seria de

supor que este sistema possibilitasse o controlo da velocidade angular do rotor, que maximiza o

aproveitamento da energia do vento, no entanto verifica-se que o atraso na resposta do sistema de

controlo do passo das pás do rotor é demasiado elevado, comparado com a rápida variação da

velocidade do vento.

Cabina

É aqui que se situam a maior parte dos elementos, como são a caixa de velocidade, o

gerador, o veio principal, o travão e os mecanismos de orientação. Em algumas montagens a caixa

de velocidade não é utilizada, nesses casos a velocidade de rotação do rotor é a mesma do gerador.

O travão é um equipamento de segurança utilizado em situações de emergência, assim como para

parar o rotor quando a velocidade do vento não se encontra dentro dos limites de operação. Já os

mecanismos de orientação, onde se incluem o anemómetro e o sensor de direcção, garantem um

correcto posicionamento da turbina que possibilita a máxima extracção da energia eólica.

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Torre

A torre é responsável pelo suporte de toda a estrutura, serve também para elevar a turbina a

uma cota na qual a velocidade do vento seja maior e com menor perturbação, chegando a atingir os

setenta metros de altura. É construída em betão, em metal em configurações tubulares, ou ligas

metálicas entrelaçadas.

3.3.2. Conversor Electromecânico

Para transformar a energia mecânica proveniente do rotor da turbina em energia eléctrica

recorre-se ao gerador eléctrico. A escolha deste elemento do sistema está directamente relacionada

com a turbina utilizada e com a existência ou não de caixa de velocidade, variando para cada uma

das opções a forma como é controlada a potência mecânica.

As soluções vulgarmente oferecidas pelos fabricantes são equipadas com Máquina de

Indução de Rotor em Gaiola (MIRG), Máquina Síncrona de Velocidade Variável (MSVV) ou Máquina

de Indução Duplamente Alimentada (MIDA). De seguida, são descritos os princípios de

funcionamento destes três geradores [11].

MIRG

Este gerador eólico é caracterizado pela velocidade praticamente constante a que opera e

pelo recurso a uma caixa de velocidades com uma relação que transforma as típicas das pás

do rotor para as de uma máquina de indução de 2 pares de pólos.

A máquina de indução tem a possibilidade técnica de funcionar como gerador ou como motor,

para que se mantenha no modo de funcionamento gerador é necessário que o escorregamento seja

negativo, ou seja, a velocidade angular do rotor superior à do campo girante. A utilização de uma

máquina de indução acarreta a desvantagem de ser necessária potência reactiva para criar um

campo electromagnético a partir do estator, uma vez que contrariamente à máquina síncrona, o rotor

não é alimentado directamente. Com o intuito de corrigir a influência da componente reactiva da

potência no factor de potência, são utilizadas baterias de condensadores que aproximam o factor de

potência para o valor unitário.

Nesta opção, o controlo de potência acima da velocidade nominal do vento pode ser

conseguido tanto com recurso a turbinas do tipo stall como do tipo pitch.

MSVV

Já nesta solução é utilizada uma máquina síncrona e é dispensada a caixa de velocidades,

compensando-se a diferença entre a velocidade angular mecânica e eléctrica da máquina pela

utilização de geradores com vários pólos. Em algumas instalações podem ser encontradas

montagens com 32 pares de pólos.

Dada a variação de velocidade do gerador, à saída deste é incorporado um conversor

electrónico AC-DC-AC, adaptando assim a frequência deste à frequência da rede. Esta montagem

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possibilita também um controlo adicional da velocidade angular do grupo turbina eólica e gerador,

com a imposição de um binário resistente, proveniente do controlo da potência activa no conversor

DC-AC. Neste caso é usual recorrer-se apenas a turbinas do tipo pitch.

MIDA

Neste equipamento como no MIRG é utilizada uma caixa de velocidades e as turbinas são do

tipo pitch. Diferenciam-se no entanto pelo facto de na MIDA ser utilizado um rotor bobinado que

permite variar a sua resistência, possibilitando um controlo da sua velocidade.

Em vez de utilizar uma resistência para controlar a velocidade pode recorrer-se a um

conversor electrónico AC-DC-AC, tornando esta montagem duplamente alimentada, uma vez que

aproveita a energia do escorregamento para extrair potência activa do rotor, controlando com isso a

velocidade da máquina. Esta funcionalidade permite adicionar um novo modo de funcionamento à

máquina e passa a ser possível operar como gerador para escorregamentos positivos, bastando

fornecer potência activa ao rotor.

Mas a principal vantagem da montagem MIDA como da MSVV em relação à MIRG, é a sua

possibilidade de operação a velocidade variável, que permite um ganho evidente na potência

mecânica convertida, tanto para velocidades próximas da velocidade de arranque da turbina, como

para velocidades próximas e acima da velocidade nominal.

A interligação do gerador à rede, ou do gerador ao transformador elevador do lado da rede,

pode ser feita com recurso a um conversor AC-DC-AC, que entre inúmeras vantagens dispensa a

utilização de baterias de condensadores correctoras do factor de potência, uma vez que a modelação

PWM assegura factor de potência 0.9.

3.3.3. Modelo da Turbina

A energia que é disponibilizada a uma turbina eólica é a energia cinética associada a uma

coluna de ar com velocidade , da qual o aerogerador consegue retirar maior rentabilidade quão mais

uniforme e constante esta for. A massa de ar da coluna por segundo resulta do produto da velocidade

com a área abrangida pelas pás, e a massa específica do ar . A partir daí é

possível determinar a potência disponível numa coluna de ar , que é então dada por (3.11), onde se

constata uma dependência cúbica em relação à velocidade do vento.

(3.11)

O coeficiente de potência (3.12) resulta no quociente entre a potência mecânica no

veio e a potência associada à coluna de ar .

(3.12)

Este valor advém da impossibilidade física de converter a totalidade da energia proveniente

da coluna de ar, em energia mecânica de rotação do veio da turbina. Existe um valor máximo teórico

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de conhecido por Limite de Betz. Os aerogeradores actuais apresentam um rendimento

do sistema aerodinâmico que varia entre 50 a 70% do Limite de Betz, o que corresponde na prática

num rendimento de 30 a 42%.

A energia mecânica obtida é então convertida em energia eléctrica, similarmente resulta num

coeficiente entre a potência eléctrica e a potência mecânica . Os valores da eficiência desta

conversão mecânica-eléctrica variam entre os 90 e os 95%. Podendo escrever-se a equação (3.13)

do rendimento global do processo de conversão da na , tipicamente entre os 27 a 40%.

(3.13)

A velocidade específica da pá, (3.14), é dada pela relação entre a velocidade angular da

pá de raio com a velocidade do vento .

(3.14)

A equação (3.15) é a expressão analítica de Slootweg [13], uma das mais reportadas na

literatura e que descrevem o comportamento das grandezas relevantes nos aerogeradores, para o

caso de uma turbina eólica do tipo pitch, onde representa o ângulo de passo.

(3.15)

Com,

.

Recorrendo a (3.11), (3.13) e (3.15), obtém-se uma nova dependência para a potência

eléctrica.

(3.16)

O binário electromagnético é dado por (3.17), onde é a velocidade angular do gerador,

que é dada pelo produto entre a velocidade da turbina e a relação da caixa de velocidades .

(3.17)

3.3.4. Ponto de Potência Máxima

A potência eléctrica gerada por um aerogerador tem uma forte dependência da velocidade do

vento, no entanto também é dependente da velocidade angular da turbina. Portanto, no caso das

turbinas eólicas com equipamento que permite a variação da velocidade, o sistema de controlo da

velocidade angular do rotor deve determinar o óptimo para cada valor de velocidade da coluna de

ar. Desta forma, consegue-se obter a potência máxima adaptando o funcionamento do sistema às

condições ambientais através de um MPPT [14].

Para obter , deriva-se (3.16) em função da velocidade angular, como em (3.18).

Uma vez que fora da zona de potência constante o efeito de pitch não é utilizado, na

determinação do MPPT o ângulo de passo considerado é .

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(3.18)

Obtendo-se (3.19) correspondente ao máximo de potência.

(3.19)

Aplicando, (3.17) chega-se ao valor de binário de referência, (3.20).

(3.20)

Simplificando a equação (3.20) fica-se com (3.21).

(3.21)

A velocidade angular das turbinas varia tipicamente para velocidades do vento entre e

, intervalo no qual é adaptado o que maximiza a energia produzida. Abaixo deste

intervalo de velocidade do vento a energia eléctrica produzida não supera os desgastes de utilização

do equipamento, pelo que a turbina se encontra parada. Acima do intervalo recorre-se a efeitos

aerodinâmicos para impedir um aumento da velocidade de rotação da turbina, mantendo-se a

potência de saída aproximadamente no seu valor nominal, enquanto que para velocidades do vento

tipicamente acima de , se evita a destruição da turbina, accionados os travões em conjunto

com uma regulação do ângulo de passo das pás que as faça abrandar.

3.3.5. Simulação

Para proceder à concretização do modelo, foram utilizados os dados técnicos do aerogerador

S77, comercializado pela Nordex. Dos equipamentos utilizados destacam-se a máquina de indução

duplamente alimentada, uma caixa de velocidades e uma turbina do tipo pitch. A Tabela 3.3

apresenta as características técnicas do aerogerador.

Tabela 3.3. Características técnicas da turbina eólica Nordex S77 [36]

P (MW)

Diâmetro

do rotor

(m)

Velocidade

mínima

(m/s)

Velocidade

máxima

(m/s)

Relação

Caixa

Velocidades

Factor de

Potência

conversor

(%)

1.5 77 3 25 1:104 0.9 ind.

0.95 cap. 98

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A turbina eólica pela sua inércia, inerente ao raio de giração das pás do rotor, tem um tempo

de reacção às mudanças de velocidade do vento considerável, pelo que é assumido um , da

mesma maneira que para o controlo de potência é considerado .

A Figura 3.21 apresenta o modelo em diagrama de blocos, onde pode ser identificado o bloco

limite de velocidade, que tem como objectivo limitar as velocidades do vento admitidas para esta

turbina, incluindo a cut-in3 e a cut-out

4. O condicionamento do recurso natural efectuado no modelo é

uma forma indirecta de representar o controlo da velocidade de rotação das pás nos seus limites de

operação.

Surge igualmente o bloco Pm, onde é calculado o valor de potência mecânica disponível

tendo em conta a velocidade do vento recebida pelas pás da turbina, com base em (3.11). Também é

visível o ramo onde é determinado o coeficiente , fundamentado pelos valores de em função

da velocidade do vento fornecidos pelo fabricante deste modelo de turbinas, Tabela B.1. Juntamente

com e é multiplicado o rendimento do conversor electrónico de energia que se assume

constante para esta turbina eólica, não sendo assim considerada a variação da eficiência do processo

de conversão para diferentes potências de saída. Todos estes subsistemas são alvo de uma

apreciação mais profunda no Anexo A.2.

Figura 3.21. Diagrama de blocos do aerogerador

Dos resultados da simulação podem-se observar primeiramente na Figura 3.22 duas

representações da velocidade do vento. A primeira é a velocidade instantânea do vento, é o sinal de

referência do modelo e determina a potência disponível. A segunda advém da primeira, mas diz

respeito à velocidade do vento disponível que efectivamente produz movimento nas pás da turbina

eólica, facto que está dependente da inércia dos elementos móveis deste equipamento, expresso no

modelo através de . A velocidade tem como objectivo fornecer ao sistema de controlo do

aerogerador uma referência da velocidade do vento recebida pela turbina até ao instante, não sendo

por isso afectada pelas interrupções de funcionamento da turbina.

3 Velocidade mínima de operação da turbina, considerada .

4 Velocidade máxima de operação da turbina, considerada .

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Da Figura 3.22 destaca-se ainda a pouca influência das pequenas perturbações do vento e o

atraso verificado na resposta a grandes perturbações de .

Figura 3.22. Perfil da velocidade do vento verificada e da velocidade teórica na turbina

Tendo também como referência a velocidade do vento da Figura 3.22, na Figura 3.23 é

apresentada a consequente evolução da potência gerada pelo aerogerador, de acordo com o

coeficiente característico da turbina modelada.

Regista-se a dependência da potência de saída em relação à velocidade do vento para

valores de abaixo de , velocidade a partir da qual a potência de saída é mantida

constante, próxima dos , valor que não chega a ser atingido por ser considerado o rendimento

do conversor electrónico AC-DC-AC.

Nesta simulação está bem presente a forte dependência da potência disponível em relação à

velocidade do vento, expressa na equação (3.11), constatando-se uma redução em da potência

gerada para uma diminuição de da velocidade do vento abaixo da velocidade nominal, o que

acentua o papel de um bom dimensionamento das turbinas, de acordo com a sua localização.

São igualmente observáveis os momentos em que se atingem os limites de operação cut-out

e cut-in, aos e respectivamente, nos quais como anteriormente descrito, o potencial

eólico é anulado. Devem ser ainda destacados os instantes e , em que o aerogerador

volta a operar após ter atingido o cut-out e cut-in, e onde podem ser verificadas as velocidades

teóricas do vento de e , que correspondem no primeiro caso a abaixo do cut-out e

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

10

20

30

Tempo [s]

u [

m/s

]

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 20000

10

20

Tempo [s]

ute

orico [

m/s

]

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40

no segundo caso a acima do cut-in. Na prática é o resultado do método de controlo adoptado

para o modelo do aerogerador, bloco Limite Velocidade apresentado no Anexo A.2.

Para as operações indicadas terem lugar recorre-se ao controlo de potência e ao controlo do

ângulo de pitch das pás, para os quais é considerada a constante de tempo , o seu efeito pode ser

visualizado no suavizar da potência de saída, por exemplo nos momentos de desligação e ligação da

turbina.

Figura 3.23. Coeficiente Cp e potência de saída registada, para a a variação da velocidade do vento

teórica

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 20000

10

20

Tempo [s]

ute

orico [

m/s

]

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 20000

0.5

Tempo [s]

Cp

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 20000

1

Tempo [s]

Pote

ncia

[M

W]

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41

4. Armazenamento de Energia

Num sistema de energia eléctrica, tem de haver um equilíbrio a cada instante entre a energia

gerada e consumida, isto porque uma rede eléctrica não tem por si só a capacidade de armazenar

energia. No entanto, em redes territoriais existe energia nas massas girantes das grandes centrais

eléctricas pronta a ser entregue à rede, com a contrapartida da redução da sua velocidade e

consequentemente da frequência da rede.

A micro-rede depara-se com um problema semelhante, embora mais pequena do que uma

rede territorial, o grau de incerteza da carga é maior, o que exige um constante ajuste da geração.

Geração esta que se baseia em energias renováveis, imprevisíveis e intermitentes, sem capacidade

de suprir oscilações da frequência, dada a sua baixa inércia e por estarem ligados à rede através de

inversores. Outra situação que merece igual destaque, é o momento em que, por qualquer razão, a

rede em ilha passa a funcionar autonomamente, podendo acontecer desequilíbrios consideráveis

entre carga e geração.

É notória a necessidade de recorrer a uma tecnologia que possa garantir um adequado ajuste

fino de potência, acautelando a qualidade do serviço e diminuindo os custos de picos de produção de

energia eléctrica nos DG. É aqui que aparece o armazenamento de energia, que pode ser feito em

alturas de menos carga com custos mais baixos, podendo fornecer essa energia em situações

críticas, destacando-se como um equipamento fundamental à afirmação da rede em ilha.

Neste campo, sobressaem as Flywheels como principal tecnologia, sendo a energia

armazenada na forma de energia cinética num denso volante de inércia. Existem também as baterias,

um dispositivo de armazenamento de energia química, actualmente alvo de grande interesse, por

serem um componente determinante na afirmação do carro eléctrico, facto que pode impulsionar o

seu desenvolvimento. Os supercondensadores com densidades de potência bastante elevadas

requerem investigação, mas começam a posicionar-se como uma boa alternativa futura.

Estes são as tecnologias abordadas neste capítulo, no entanto vale a pena salientar outras

alternativas de armazenamento de energia como é a hidro-bombagem, normalmente associada a

barragens, e consiste na bombagem de água de um nível inferior para um patamar de reserva,

possibilitando posteriormente a produção de electricidade através de uma turbina hidroeléctrica.

Também se pode recorrer ao ar comprimido, utilizando compressores de alta eficiência que permitem

a sua expansão para a pressão atmosférica a partir de turbinas ligadas à rede eléctrica, no entanto

estão dependentes da existência de estruturas de armazenamento de grande volume, que podem ser

encontradas em minas ou em cavernas naturais. Por fim a bobine supercondutora, na qual se recorre

ao campo magnético desta para armazenar energia. Contudo, o actual estado da tecnologia não

permite ainda a sua utilização prática, uma vez que é necessária alta refrigeração que anula a sua

eficiência.

Na Tabela 4.1, são apresentadas algumas características importantes a considerar para a

utilização destas tecnologias em sistemas de energia eléctrica (SEE).

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Tabela 4.1. Comparativo entre características de tecnologias de armazenamento de energia [24]

Tecnologia de

Armazenamento

Custo

(€/kWh)

Custo

(€/kW)

Tempo de

Resposta a

Potência

Eficiência

de um Ciclo

Tempo de

Vida Útil

(anos)

Flywheel 150 - 2000 150 - 250 5 ms 93 % 20

Baterias 200 - 2000 300 - 3000 30 ms 70 % - 85 % 2 – 10

Supercondensadores 8000 – 10k 100 - 400 5 ms 95% 40

Ar comprimido 50 - 80 400 - 1200 100 ms 80 % 30

Hidro-bombagem 70 - 150 600 - 1500 30 ms 87 % 40

SMES 600 – 82k 300 5 ms 95% 40

Na mesma se pode verificar a diferença entre os custos em potência e energia de cada um,

destacando-se a Flywheel e os supercondensadores por terem um custo de potência mais baixo, ao

contrário das baterias e das outra tecnologias. Já os custos de energia são mais favoráveis a técnicas

como o ar comprimido e hidro-bombagem, seguindo-se as baterias a par com a Flywheel. É a energia

a característica que reduz o potencial dos supercondensadores por apresentar custos bastante

superiores às outras. O tempo de resposta à potência destas tecnologias é muito inferior às DG,

sendo o ar comprimido o mais lento, com . É de destacar também a eficiência por ciclo da

Flywheel e dos supercondensadores, ao contrário da bateria que em algumas circunstâncias é de

70%, enquanto o tempo de vida útil é equiparável em todas, excepto no caso das baterias que

apresentam uma longevidade reduzida.

Outras especificações relevantes e que estão directamente ligadas aos custos destes

dispositivos são as densidades de energia e potência. Na Figura 4.1 podem ser observados os

posicionamentos relativos de cada uma das tecnologias.

Figura 4.1. Densidade de Energia e Potência [18]

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43

Como pode ser verificado, as tecnologias associadas aos supercondensadores encontram-se

ao longo de uma linha que se estende aproximadamente para a mesma densidade de energia,

enquanto as baterias surgem gradualmente a cada nova família a subir a sua densidade de energia e

potência. A Flywheel acaba por se posicionar a um nível intermédio entre as duas, sendo que tem um

maior compromisso entre as densidades de potência e energia.

É importante salientar a constante mutação que se verifica em cada uma destas tecnologias,

uma vez que são esperados nos próximos anos acréscimos significativos nas densidades de potência

e de energia, por se apresentarem em alguns casos ainda como um factor limitativo ao

desenvolvimento tecnológico em outras áreas, sendo por isso alvo de permanente investimento.

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44

4.1. Flywheels

4.1.1. Descrição

As Flywheels são utilizadas em diferentes aplicações, como uma reserva de energia rápida

para automóveis, também em equipamentos aeroespaciais, assim como armazenamento de energia

no controlo da frequência de pequenas redes.

Os principais atributos que tornam esta tecnologia útil em diferentes cenários são:

o Densidade de potência elevada;

o Densidade de energia elevada;

o Longo período de vida útil, independentes do número de ciclos de cargas e

descargas;

o Potência disponível independente do nível de energia armazenada;

o Fácil determinação do nível de energia acumulada, associada à velocidade de

rotação;

o Necessita de pouca manutenção;

o Recarga rápida;

o Sem impacto ambiental;

A Figura 4.2 apresenta um módulo típico de Flywheel.

Figura 4.2. Flywheel em corte [38]

O elemento rotativo do sistema é o rotor, constituído por um veio e uma massa de inércia.

Inicialmente as massas de inércia eram concebidas em aço, no entanto, nos últimos anos com o

desenvolvimento tecnológico na área dos materiais, passaram a ser concebidas em material

compósito de fibra de carbono. Mais leves, mais robustas e baratas, permitem velocidades

substancialmente superiores na ordem das dezenas de milhar de rpm e uma redução da estrutura de

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custos desta tecnologia. Associada a uma velocidade angular mais alta, existe também a vantagem

de se obter uma densidade de energia muito maior, uma vez que a energia depende linearmente da

inércia e quadraticamente em relação à velocidade, como pode ser verificado na equação (4.6).

As perdas energéticas no sistema são um factor com enorme relevância, para isso nos apoios

do veio do rotor são utilizados rolamentos magnéticos, diminuindo a fricção, assim como os gastos

com manutenção. Com o mesmo objectivo, alguns fabricantes injectam hélio pressurizado na

atmosfera que envolve o rotor, outros preferem reduzir tanto quanto possível a pressão atmosférica

da câmara, para diminuir a fricção entre o rotor e as partículas de ar que o envolvem.

A segurança é muito importante neste tipo de tecnologias, uma vez que comportam imensa

energia. Primeiramente é necessário garantir um elevado grau de fiabilidade dos inversores, do seu

controlo e da máquina eléctrica, assim como robustez estrutural das peças móveis. Para além disso,

importa garantir uma blindagem suficiente para o caso de rotura mecânica. Pela mesma razão, na

instalação as Flywheels são parcialmente enterradas no solo.

Esta tecnologia está projectada para funcionar durante 20 anos, período durante o qual os

benefícios económicos e de qualidade do serviço, pela integração deste componente da micro-rede,

devem superar o investimento inicialmente efectuado.

Para se ter uma melhor percepção do actual estado da implementação destes equipamentos

em aplicações relacionadas com o armazenamento de energia eléctrica, são apresentados na Tabela

B.2 alguns exemplos de Flywheels instaladas na última década.

4.1.2. Máquina Eléctrica

Baseado no princípio da conservação de energia, a Flywheel troca energia eléctrica com a

rede e transforma-a em energia cinética de rotação. Para isso é necessário um conversor

electromecânico que relaciona duas grandezas, a velocidade ω do induzido com a potência

disponível nos terminais da armadura, permitindo um funcionamento como motor, quando recebe

energia eléctrica da rede que excita os enrolamentos do estator, convertendo-a em energia mecânica

e acelerando a Flywheel, ou como gerador, servindo-se da velocidade do rotor pelo processo inverso,

fornecendo energia eléctrica à rede.

Nesta aplicação, a maior parte dos projectistas de Flywheels recorrem a máquinas AC de

velocidade variável, uma vez que a desaceleração progressiva do seu rotor quando o sistema está a

fornecer energia à rede, requer um conversor electromecânico apropriado. Para esse efeito são

utilizadas maioritariamente máquinas síncronas de magnetos permanentes (PMSM) do tipo fluxo

radial ou axial e máquinas de indução. Menos comum, a máquina síncrona de relutância, também é

uma possibilidade.

Estas tecnologias têm sofrido um grande desenvolvimento, potenciado pelo aumento da

capacidade computacional, que possibilitou a utilização de ferramentas de design com as quais, se

pode visualizar a distribuição do campo magnético no rotor e no estator, permitindo melhorias no

processo de indução da máquina.

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Com o intuito de aumentar a eficiência eléctrica de novas máquinas, diminuindo as correntes

que circulam nos enrolamentos, têm vindo a ser desenvolvidos também equipamentos que suportem

tensão na ordem dos . No entanto, ainda não existe tecnologia que consiga atingir a alta tensão

( ) sem a utilização de transformadores que introduzam perdas no sistema.

A Tabela 4.2 compara as vantagens e desvantagens dos três tipos de máquinas mais

presentes nesta tecnologia.

Tabela 4.2. Vantagens e desvantagens das máquinas mais utilizadas [15]

PMSM de Alta Tensão PMSM Indução

Vantagens

- Grande capacidade de

sobrecarga;

- Campo magnético

produzido sem perdas de

excitação;

- Rotor de fabrico simples;

- É possível atingir alta

eficiência;

- Campo magnético

produzido sem perdas de

excitação;

- Rotor de fabrico simples;

- Possível de atingir alta

eficiência.

- Não há o risco de

desmagnetização;

- Sem campo de

excitação para binário

zero, reduzindo as

perdas;

- Pode ser produzida

com materiais de

baixo custo.

Desvantagens

- Risco de

desmagnetização, redução

da coercividade e aumenta

temperatura;

- Máquina com ferro no

estator, implicando perdas

a binário nulo;

- Baixa capacidade

tensora dos magnetos

permanentes,

necessitando suporte

estrutural;

- Risco de desmagnetização,

redução da coercividade e

aumenta temperatura;

- Máquina com ferro no

estator, implicando perdas a

binário nulo;

- Baixa capacidade tensora

dos magnetos permanentes,

necessitando suporte

estrutural;

- Rotor com estrutura

complexa e existência

de escovas;

- Baixa capacidade de

sobrecarga, limitada

pelas correntes do

estator.

O número de pólos é essencial para um perfeito aproveitamento da energia armazenada.

Máquinas eléctricas com dois pólos são mais frequentes quando as Flywheels têm massas de inércia

de baixa densidade e alta velocidade, 104 rpm, para os restantes casos são utilizados mais do que

um par de pólos. De acordo com a configuração, a distribuição dos pares de pólos pode influenciar a

existência de forças radiais e axiais, o que pode vir a aumentar as perdas nos apoios do veio, sendo

necessária uma atenção especial neste detalhe.

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47

J

4.1.3. Conversor Electrónico

Tanto no caso de se optar por uma máquina PMSM como na generalidade das restantes

opções utilizam-se máquinas CA, o conversor responsável pela interface com a rede é tipicamente

um AC-DC-AC, como é apresentado na Figura 4.3.

Figura 4.3. Esquema ilustrativo das ligações entre o Conversor, a Máquina Eléctrica e a Flywheel

Este conversor permite a interligação de grandezas eléctricas alternadas de frequência fixa

com grandezas de frequência variável, possibilitando à máquina operar solidária com a Flywheel a

diferentes velocidades, independentemente da frequência da rede. Para isso é fundamental manter

no andar intermédio a tensão num valor fixo, sem flutuações, assegurando-se assim que os

conversores possam cumprir as suas funções.

4.1.4. Modelo

Neste ponto é desenvolvido um modelo matemático de uma Flywheel no que respeita à sua

dinâmica rotativa [16], e que suporta o modelo em diagrama de bloco, apresentado logo de seguida.

Na Figura 4.4 é apresentado o sentido de rotação da Flywheel, o produto da velocidade

angular com o coeficiente de atrito viscoso que resulta no binário de atrito e a soma dos

binários aplicados ao sistema . Estas são as componentes mais influentes na dinâmica da

Flywheel.

T(t)

θ(t)

- βω(t)

Figura 4.4. Massa de Inércia

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48

A lei de Newton-Euler exprime-se:

(4.1)

Adicionando o binário de atrito, que se opõe ao movimento, fica:

(4.2)

Com

, onde é o deslocamento angular:

(4.3)

A equação (4.3) diferencial linear de 1ª ordem, representa matematicamente o sistema no

domínio do tempo. Aplicando a transformada de Laplace unilateral, para condições iniciais nulas

obtém-se (4.4).

(4.4)

Chegando-se à função de transferência

, representativa do sistema no domínio da

frequência.

(4.5)

Cabe agora dimensionar e . Começa-se por apresentar as relações físicas presentes na

Flywheel.

A energia cinética de uma massa rotativa é dada pela equação, onde é o momento de

inércia e ω é a velocidade angular.

(4.6)

O momento de inércia depende da forma como a massa está distribuída em torno do eixo de

rotação, este pode ser encontrado com a equação (4.7), sendo a distância entre o eixo de rotação e

a fracção de massa x.

(4.7)

Considerando que a massa de inércia da Flywheel tem um raio , o momento de inércia

passa a ser dado por:

(4.8)

Conjugando as equações (4.6) e (4.8), obtém-se:

(4.9)

A seguinte equação relaciona a Potência com Binário .

(4.10)

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49

4.1.5. Simulação

Para modelar a Flywheel utilizaram-se as características técnicas do equipamento

PowerStore 500 da Powercorp, de velocidade baixa, que assegura uma potência máxima de

durante a carga e descarga. Na Tabela 4.3 são apresentados os dados mais relevantes e que

possibilitam o cálculo dos parâmetros do modelo.

Tabela 4.3. Flywheel PowerStore 500 do fabricante Powercorp, 500 kW [37]

Energia

Armazenada

a 3600rpm

Tempo de

Carga/Descarg

a a P=100kW

Tempo de

Carga/Descarg

a a P=500kW

Velocidade ω de

Operação

PPerdas a

1800rpm

PPerdas a

3600rpm

Rendimento

18 MJ ≈ 150 s ≈ 30 s 1800–3600 rpm

188.5–377 rad/s 12 kW 15 kW > 90%

A partir dos dados e , aplicando a equação (4.6),

chega-se a um valor de inércia .

Por outro lado, já que se conhece a potência de perdas para duas velocidades do

equipamento, em vez de se calcular o factor , opta-se por aproximar a variação das perdas em

função da velocidade por uma recta e introduz-se o bloco Perdas no modelo, que contém uma

interpolação linear com base nos dados do fabricante.

Na Figura 4.5 é apresentado o modelo final, com o qual é possível simular o processo de

carga/descarga para qualquer valor e variação da potência de funcionamento.

Figura 4.5. Diagrama de Blocos da Flywheel

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50

Para simular o andamento da potência de saída do sistema a cada valor da demanda de

potência pretendida, criou-se um loop que recria o processo de armazenamento de energia com base

na inércia , sendo integrada a velocidade angular com base nos binários provenientes da potência

de entrada e da velocidade instantânea da Flywheel. Potência esta, à qual é somada uma

componente dependente de , relativa às perdas cinéticas da massa girante como já foi referido, e

que surge como uma potência que permanentemente diminui a energia armazenada.

Isto, tendo em atenção os limites de velocidade da massa girante apresentados na Tabela 4.3

e a consequente energia armazenada, que indica o intervalo de funcionamento.

É assumido que no estado inicial o sistema encontra-se à velocidade angular

.

É considerado que o tempo de resposta à procura de potência desta tecnologia é de

aproximadamente , valor de acordo com o que é indicado pela generalidade dos fabricantes.

Também é tido em conta o rendimento de todo o processo de carga ou descarga. No Anexo A.3,

pode ser encontrada a forma como é efectuado o limite de funcionamento através do bloco Limite E,

e o bloco Rendimento.

São apresentados na Figura 4.6, os resultados obtidos da simulação consecutiva dos

processos de carga e descarga, tomando como referencia uma potência fornecida à Flywheel de

durante , e posteriormente uma demanda de potência para o exterior de durante

.

Figura 4.6. Potência de referência e Potência de saída da Flywheel, com destaque para o tempo de

resposta

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51

É notório o período de carga e descarga, limitado pela energia existente no sistema de

armazenamento de energia. Uma vez que o importante nesta análise é o comportamento a médio e

longo prazo, não é dada especial relevância ao comportamento dos transitórios do equipamento,

sendo assumido unicamente o atraso à resposta, que é destacado.

Já a Figura 4.7 ilustra a evolução da energia e da velocidade angular, para as mesmas

referências de potência indicadas anteriormente.

Figura 4.7. Evolução da Energia Armazenada e Velocidade Angular

É visível a relação directa existente entre a energia armazenada e a velocidade , sendo o

declive em cada ponto da recta da energia correspondente à potência instantânea de saída.

Da Figura 4.6 e da Figura 4.7, é possível retirar o tempo de carga e descarga para cada

potência de referência, sendo que a são necessários aproximadamente para atingir a

velocidade de rotação máxima, enquanto que a é preciso um período aproximado de

para voltar ao estado inicial . Comparando a diferença entre os tempos de carga e de descarga, e

considerando as potências a que se referem, conclui-se que neste modelo o período de descarga é

mais curto. Isto deve-se ao efeito do rendimento, que afecta por um lado a quantidade de potência

que é convertida em movimento e por outro lado o binário que se converte em energia eléctrica, o

que se reflecte na duração do intervalo de tempo de carga e descarga. O intervalo de tempo de

carregamento é prolongado por necessitar de mais energia, uma vez que a potência é reduzida,

enquanto que o período do modo de descarga é encurtado, dado o maior binário necessário para

igualar a potência requerida.

Existe outro factor que aumenta a diferença entre os tempos de funcionamento destes dois

modos, que é a influência das perdas internas de rotação da massa girante. Na situação exposta o

seu efeito aumenta aproximadamente ao modo de carga e diminui ao de descarga, o que

suscita especial atenção em utilizações mais prolongadas.

0 10 20 30 40 50 60 70 800

1

2x 10

7

Energ

ia [

kJ]

Tempo [s]

0 10 20 30 40 50 60 70 800

200

400

w [

rad/s

]

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52

4.2. Baterias

Já decorridos mais de dois séculos após a sua invenção e usadas em inúmeras aplicações,

as baterias têm sido alvo nos últimos anos de investimento por parte do sector automóvel, por se

apresentarem ainda como um elemento limitativo na afirmação do carro eléctrico. Factor que pode

impulsionar o seu desenvolvimento num futuro próximo e generalizar a sua utilização associadas às

redes de energia.

4.2.1. Descrição

As baterias são dispositivos conversores de energia, que armazenam energia química e a

tornam disponível na forma de energia eléctrica. São constituídas por um grande número de

pequenas células, ligadas em série ou em paralelo, de forma a perfazerem a tensão e corrente

pretendida à saída. Cada célula é formada por dois eléctrodos, o ânodo e o cátodo, e por um meio

envolvente, o electrólito. Consoante os tipos de materiais constituintes, assim se dá o nome da família

da bateria, procurando-se sempre uma maior densidade de energia e potência, que as torne menos

volumosas.

A Tabela 4.4 enumera as propriedades que devem ser tidas em conta na selecção do ânodo

e do cátodo.

Tabela 4.4. Propriedades relevantes do ânodo e do cátodo [21]

Ânodo Cátodo

Agente redutor eficiente

Boa condutividade

Estabilidade

Baixo custo

Facilidade de fabrico

Agente oxidante eficiente

Estabilidade

Baixo custo

Facilidade de fabrico

O material que tem vindo a ser escolhido para ânodo é o zinco, no entanto o lítio começa a

ganhar grande destaque, devido ao seu potencial electroquímico e pelo facto de ser o metal mais leve

da tabela periódica. Contudo, o custo final das baterias baseadas em lítio ainda é elevado,

comparando com as outras opções. Para o cátodo são escolhidos metais óxidos.

Apesar de se precisar de um electrólito bom condutor iónico, este não pode ser condutor

eléctrico, pelo que é necessário isolar electricamente os eléctrodos.

A aptidão energética de uma bateria é imposta pela sua capacidade, expressa em ou em

.

A potência máxima a que as baterias podem fornecer energia é ditada pela sua capacidade

, pelo tempo de operação e pelo rendimento do inversor , de acordo com a equação (4.11).

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53

(4.11)

No entanto, deve ser tida em conta a corrente de descarga máxima indicada pelo fabricante,

que depende da tecnologia utilizada e pode limitar , para potências acima de um determinado

patamar.

4.2.2. Reacções químicas e Termodinâmica

De seguida, é apresentada a reacção química genérica, presente no processo [19],

começando pela reacção de redução que acontece no cátodo, sendo o número de moléculas do

tipo dando origem a moléculas do tipo .

(4.12)

No ânodo, acontece reacções de oxidação.

(4.13)

Sendo a reacção global expressa na forma:

(4.14)

A energia eléctrica proveniente da energia química é limitada pela transformação de energia

livre no sistema .

(4.15)

Onde,

– Energia de Gibbs normalizada a uma dada pressão e temperatura ;

– Número de electrões envolvidos na reacção;

– Constante de Faraday ;

– Força electromotriz normalizada à pressão e temperatura .

Para condições fora do estado normal, a tensão na célula é obtida pela equação de Nernst,

(4.16)

Onde,

– Peso da actividade da espécie i;

– Constante dos gases ;

– Temperatura absoluta .

Com todas as potências referidas a

.

Infelizmente nem toda a energia química é transformada em eléctrica, uma vez que existem

perdas no processo, que se devem a reacções de polarização e à impedância interna da bateria.

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54

Pode expressar-se a tensão na célula quando ligado a uma carga por:

(4.17)

Com,

– Força electromotriz ou tensão de circuito aberto [V];

– Polarização devido à activação ou sobretensão devido à transferência de

carga no ânodo e no cátodo [V];

– Polarização devido à concentração no ânodo e no cátodo [V];

– Intensidade de corrente na carga [A];

– Resistência interna da célula [ ].

A Figura 4.8 mostra a forma como é influenciada a tensão de saída da bateria com o aumento

da corrente interna, podendo ser observado o contributo de cada parcela anteriormente identificada

na equação (4.17).

Figura 4.8. Tensão de saída em função da corrente interna

Para além destes factores principais, existem outros que afectam o funcionamento interno da

bateria, no entanto não cabe aqui fazer um levantamento exaustivo de todos eles.

4.2.3. Factores que influenciam o desempenho

Como já foi abordado anteriormente, a característica operacional da bateria está longe de ser

ideal, sendo vários os factores internos e externos que influenciam o seu desempenho. De seguida

são descritos os mais influentes.

Tensão

A tensão de operação da bateria não se mantém constante no valor ideal ao longo da

descarga, sofrendo o decréscimo acentuado à medida que a carga da bateria se aproxima do seu

valor mínimo, isto deve-se à resistência interna e às reacções de polarização.

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55

Corrente

O efeito de Joule e a polarização também afectam a corrente de descarga à medida que

aumenta a sua intensidade. Intensidades de corrente elevadas provocam uma diminuição do ciclo de

vida da bateria.

Modo de descarga

Existem três modos básicos de operação das baterias, a resistência constante, corrente

constante ou potência constante. A sua escolha tem um papel importante na performance da bateria.

No caso de a bateria servir de reserva de energia em redes eléctricas, deve utilizar-se o modo de

descarga a potência constante, permitindo fornecer uma potência fixa independentemente das

variações da sua corrente e tensão.

Temperatura

A temperatura da bateria influência o tempo de descarga e a sua tensão de saída. Cada tipo

de bateria tem o seu intervalo de temperaturas óptimas de funcionamento, no qual se observa um

tempo de descarga óptimo. Fora desse intervalo a capacidade é reduzida e pode mesmo acontecer

degradação do equipamento.

Ciclo de vida

É sabido que o grande entrave na escolha da bateria como tecnologia de armazenamento de

energia para uma micro-rede, é o seu tempo útil de vida, curto em comparação com outras

tecnologias como a Flywheel, de aproximadamente 20 anos.

Na bateria, o ciclo de vida reflecte as condições a que esta foi exposta ao longo do tempo.

Factores como a temperatura e a intensidade de corrente são determinantes e limitam a sua

utilização num meio dinâmico agressivo como uma rede eléctrica, com padrões elevados de

qualidade da energia eléctrica (QEE) a assegurar. Para aumentar este ciclo de vida da bateria,

devem ser prevenidos ciclos de carga e descarga curtos e sucessivos, e a sua potência de entrega

máxima deve ser reduzida. Desta forma pode-se viabilizar a sua utilização como complemento a um

armazenamento de energia com base noutra tecnologia.

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56

4.2.4. Estado de arte

No armazenamento de energia, não se está em geral preocupado com o peso das baterias na

sua instalação, uma vez que vão permanecer no mesmo sítio durante toda a sua vida útil. Contudo,

este um dos factores mais determinantes na avaliação do seu potencial relativo. A Figura 4.9

apresenta a actual eficiência de cada família de baterias, após 80% do seu ciclo de vida. Onde as que

utilizam iões de lítio surgem com uma considerável vantagem em relação às restantes com a

eficiência próxima do máximo após 8000 ciclos. De destacar ainda as baterias de sódio-enxofre e de

fluxo regenerativo com eficiência entre os 75% e 90% ao fim de 3000 ciclos.

Figura 4.9. Avaliação do ciclo de vida de diferentes famílias de baterias [24]

Actualmente existem alguns tipos de baterias com aplicação na área dos sistemas de

armazenamento de energia, cada uma com vantagens em condições específicas, sendo importante

perceber as capacidades e limitações de cada uma delas. Na Tabela 4.5 podem ser comparadas as

vantagens e desvantagens de algumas baterias com aplicabilidade em SEE, enquanto na Tabela B.3

são apresentados alguns projectos já implementados na rede eléctrica.

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57

Tabela 4.5. Vantagens e desvantagens de tipos de baterias com aplicação no SEE

Vantagens Desvantagens

Ácido

-

Chumbo

- Baixo custo

- Usada para melhorar QEE

- Conhecimento adquirido em algumas

aplicações de larga escala

- Ciclo de vida curto

- A potência máxima depende do estado de

descarga da bateria

Lítio

- Elevada energia e potência específica

- Elevada tensão

- Boa retenção de carga

- Baixa taxa de auto-descarga

- Baixo ciclo de vida

- Grande taxa de funcionamento pobre

- Capacidade de fadiga

- Problemas de segurança

Iões de

Lítio

- Células seladas, sem manutenção

- Longo ciclo de vida

- Ampla gama temperatura operação

- Baixa taxa de descarga

- Capacidade recarga rápida

- Descarga de grandes potências

- Grande eficiência energética

- Elevada energia e potência específica

- Sem efeito de memória

- Custo inicial ainda elevado

- Degrada-se com temperaturas elevadas

- Necessita de circuito de protecção

- Sobrecargas podem induzir perdas

- Quando danificada pode sofrer aumento da

temperatura

Sódio

Enxofre

- Matéria-prima de baixo custo

- Insensível às condições ambientais

- Alta energia e potência específica

- Ciclo de vida comparável à bateria de

iões de lítio

- Temperatura de 300ºC

- Contém elementos corrosivos, requer

selagem eficiente

Metal

-

Ar

- Compactas

- Apresentam o custo mais baixo

- Sem impacto ambiental

- Existe com packs de recarga

- Tecnologia de recarga ainda em

desenvolvimento

- A recarga é difícil e ineficiente

- Ambicionam apenas centenas de ciclo de

carga com eficiência de 50%

Zinco

Brómio

- Boa energia e potência específica

- Baixo impacto ambiental

- Ópera à temperatura ambiente

- Capacidade de carga rápida

- Descarga a 100%

- Requer arrefecimento e controlo de

temperatura

- Necessita desenvolvimento na moderação

da potência entregue

Vanadium

Redox

- Em grande crescimento

- Baixo custo

- Possível recarrega mecanicamente em

minutos

- Baixo impacto ambiental

- Ciclo de vida comparável à bateria de

iões de lítio

- Descarga a 100%

- Complexidade do sistema de controlo em

comparação com baterias convencionais

- Menor volume energético do que bateria de

iões de lítio

- Custos de manutenção acrescidos

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58

Na Tabela 4.5 são referidos três tipos de baterias não convencionais. Tanto a Zinco-Brómio

como a Vanadium Redox são baterias de fluxo regenerativo, pertencentes a um subgrupo das células

de combustível com capacidade de se recarregarem a partir da rede. Nestas, os eléctrodos positivo e

negativo, são líquidos e fluem por uma célula electroquímica, onde é convertida a energia química em

eléctrica. Já a bateria Metal-Ar contém vários orifícios, dos quais recebe oxigénio do ar ambiente que

por sua vez reage com o metal com que são constituídas, tipicamente zinco. Funciona à semelhança

de outras baterias em que o oxigénio é fornecido internamente, como é o exemplo das da família do

dióxido de manganês.

Estas características justificam a escolha das baterias de Ácido-Chumbo para aplicação com

poucos , por apresentarem um compromisso entre desempenho e custo, superior, em detrimento

das de Lítio que embora tenham um melhor desempenho, o seu custo impede a utilização em larga

escala. Para sistemas com algumas centenas de a escolha continua a recair em Ácido-

-Chumbo, contudo as baterias de fluxo regenerativo também se mostram competitivas, embora

tenham custos de manutenção acrescidos. Para aplicações de maior escala, podem utilizar-se

baterias de fluxo, no entanto as baterias deixam de ser vantajosas em comparação com outras

tecnologias, como são o Ar comprimido e a Hidro-bombagem.

4.2.5. Conversor Electrónico

Para interligar um sistema de armazenamento baseado em baterias à rede è necessário um

conversor electrónico DC-DC-AC que adeqúe a potência que transita entre as duas partes, Figura

4.10. Este conversor pode dividir-se em dois circuitos com funções distintas.

O andar DC-DC é responsável pela regulação da corrente de carga ou descarga da bateria,

através de um sistema de controlo que reage à demanda momentânea, enquanto o módulo DC-AC

se encarrega do controlo da potência trocada com a rede. Para o bom funcionamento do conversor é

necessário um nivelamento da tensão DC no andar intermédio, o que é conseguido com o auxílio do

condensador .

Figura 4.10. Esquema ilustrativo do Conversor utilizado para a interface entre a bateria e a rede

Esta montagem DC-DC-AC é similarmente utilizada para a ligação à rede de

supercondensadores, uma vez que se trata também de uma tecnologia de armazenamento de

energia, onde o controlo de carga e descarga é feito através da regulação da corrente que atravessa

os supercondensadores.

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59

É de referir que tanto esta montagem como as restantes apresentadas para as outras

tecnologias são feitas à base de semicondutores com topologias GTO ou IGBT. Inicialmente

começaram por ser usados os GTO, capazes de suportar tensões de e correntes de ,

com frequência de comutação até aos . Nos últimos anos têm-se destacado os IGBT com

tensões até , correntes de e mais do que tudo, alta frequência de comutação superior a

. De acordo com as tensões e correntes presentes nos dois andares de conversão, pode ser

necessário mais do que um semicondutor em série ou em paralelo, para serem cobertos os níveis de

tensão e corrente máximos, respectivamente. Já a técnica de modelação utilizada é tipicamente a

modelação por largura de impulso, PWM, na qual se pretende ter uma frequência de comutação tão

alta quanto possível.

4.2.6. Modelo

Para se poder prever o desempenho e optimizar o funcionamento de uma bateria, deve-se

partir de um modelo matemático que simule correctamente este equipamento [22].

O modelo eléctrico é idealizado com o objectivo de simular as perdas por efeito de joule e

contabilizar também as perdas de polarização. O efeito de joule é considerado linear, já as perdas de

polarização são não lineares e têm um maior peso global.

Figura 4.11. Modelos eléctricos da bateria: (a) Thevenin, (b) Impedância, (c) Execução [22]

Na Figura 4.11 são apresentados três modelos matemáticos genéricos para as baterias.

Nenhum dos modelos é perfeito, pelo que, por vezes têm que ser usados conjuntamente para se

obterem resultados mais aproximados à realidade.

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60

A escolha do modelo a ser utilizado depende da aplicação, se é dada mais relevância à

resposta AC, DC ou aos parâmetros da bateria em tempo real. Para um sistema de armazenamento

de energia, o que mais interessa é ser conhecido o ciclo de carga e descarga da bateria, para assim

ser determinada a duração e a potência a que se realiza o mesmo. Nesse sentido, e de acordo com

[22], chega-se a um circuito que é obtido a partir dos anteriores, Figura 4.12.

Figura 4.12. Modelo escolhido [22]

O modelo escolhido prevê o comportamento transitório a curto e longo prazo e está dividido

em dois circuitos principais. O da esquerda, diz respeito à determinação do processo de carga e

descarga, onde o representa a capacidade da bateria de acordo com (4.18):

(4.18)

Como está bem presente em (4.18) pode ser incluído nesta capacidade a sua dependência

em relação ao número de ciclos de carga e à temperatura. No entanto, não é considerada a sua

dependência em relação à temperatura e como nas baterias de Li-ion não é tão presente o efeito de

memória, acabou por se simplificar o modelo considerando, e . Também é

considerada nulo, dado que a auto-descarga é inferior a .

A fonte de corrente é comandada pela , influenciando a tensão aos terminais do

condensador. A componente da direita da Figura 4.12 simula o comportamento da característica ,

da Figura 4.8, enquanto no circuito da direita estão identificadas as componentes que assumem o

papel das perdas internas , do comportamento a curto termo , e o

comportamento a longo termo , . Já a fonte de tensão é comandada pela

tensão do circuito da esquerda.

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61

4.2.7. Simulação

Este modelo é baseado em dados reais de uma célula de bateria de Polímeros Iões de Lítio,

modelo PL-383562. Os dados mais relevantes fornecidos pelo fabricante são apresentados na Tabela

4.6.

Tabela 4.6. Propriedades de uma célula de bateria. Modelo: PL-383562 [39]

Capacidade Vmax Vmin Vmédio Icarga

Max.

Idescarga

Max.

Tempo de

carga

(850mA)

Peso

880 mAh 4.2 V 3 V 3.7 V 1.275 A 1.700 A 2.5 h 18 g

Cabe agora obter o comportamento não linear em função do estado de carga da tensão

, , , , e ,

presente no modelo eléctrico da Figura 4.12. Uma vez que são necessários procedimentos

experimentais para a sua obtenção recorreu-se a [22], de onde foram retiradas por interpolação,

(4.19), (4.20), (4.21), (4.22), (4.23) e (4.24):

(4.19)

(4.20)

(4.21)

(4.22)

(4.23)

(4.24)

É assumido um sistema de armazenamento de energia com e

, composto por 500 células em série e 40 em paralelo.

A partir do circuito eléctrico da Figura 4.12 anteriormente escolhido, construiu-se um modelo

em Simulink, sempre com a intenção de obter uma resposta em potência deste sistema à demanda

pretendida. É admitido um tempo de resposta à potência para todo o sistema da bateria de , de

acordo com o que é indicado pelos fabricantes destes dispositivos.

A Figura 4.13 apresenta o circuito de controlo da bateria, que assegura uma potência de

saída constante, enquanto a carga estiver dentro dos seus limites. Isto é conseguido a partir do

adequado nivelamento da corrente de operação, de acordo com a evolução da tensão de saída.

É admitido um rendimento para todo o sistema de 85%.

Já os blocos Bateria e Limite P e I, que modelam o funcionamento de uma célula e os limites

dos processos de carga e descarga, são descritos com mais detalhe no Anexo A.4.

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62

Figura 4.13. Diagrama de blocos do modelo da bateria

A Figura 4.14 ilustra o comportamento completo da dinâmica da bateria modelada, durante

um ciclo de descarga e carga, sendo que a descarga é feita para uma potência de referência de

, enquanto que para carregar este sistema de armazenamento é escolhida uma potência de

. Dos resultados obtidos destaca-se que a potência de saída transita para zero, logo que são

atingidos os limites de armazenamento, assim como é visível a redução da potência de descarga

próximo do segundo 1750, que deixa de ser a pretendida pela referência, limitada pelo valor da

corrente.

Figura 4.14. Potência de referência e potência de saída da bateria

A Figura 4.15 expõe a corrente verificada para a situação em análise, sendo registada uma

corrente máxima de descarga de que corresponde ao limite de corrente de descarga para 40

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000

-100

-50

0

50

100

Tempo [s]

Pote

ncia

[kW

]

Pref

Pout

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63

células em paralelo, onde o limite de cada uma é . É este facto que leva à redução da potência

da Figura 4.14, conferida anteriormente. Já no modo de carga observa-se uma corrente de ,

abaixo do limite, portanto sem qualquer efeito na potência de saída. De acordo com os pressupostos

do controlo utilizado, as variações na corrente durante cada processo resultam do comportamento da

tensão, de forma a equilibrar a potência tanto quanto possível com a referência.

Figura 4.15. Corrente interna da bateria

Por último fica o andamento da tensão, que acompanha o estado da carga, de acordo com a

Figura 4.16. A tensão aos terminais da bateria varia entre os e próximo de , o que

equivale como era de esperar a 500 células em série, cada uma com uma tensão de operação que

varia entre os e os .

Figura 4.16. Tensão aos terminais do módulo e percentagem do estado de carrega

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000

-40

-20

0

20

40

60

Tempo [s]

Corr

ente

[A

]

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000

1600

1800

2000

Tempo [s]

Tensao [

V]

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000

0

0.5

1

SO

C [

%]

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64

Como no caso da Flywheel, também se regista uma diferença de tempo entre o modo de

carga e de descarga, sendo que, aqui essa diferença é maior porque o rendimento dos processos é

menor, o que aumenta o tempo de carga e reduz o tempo de descarga da bateria.

A existência da resistência em série no modelo causa um degrau de tensão para cada

instante em que a corrente interna se anula, o que influencia o valor mínimo e máximo da tensão aos

terminais do sistema.

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65

4.3. Supercondensadores

Durante muitos anos os condensadores integraram apenas aplicações electrónicas, passando

ao lado de uma utilização em sistemas de armazenamento de energia, devido às suas limitações

técnicas. Nos entanto na última década, têm surgido sucessivos avanços nesta tecnologia,

resultantes de intensa pesquisa da engenharia dos materiais, que vêm viabilizar a integração dos

supercondensadores em equipamentos de reserva temporária de energia. Isto é conseguido após

melhorias na densidade de energia, assim como nos custos associados aos processos de fabrico.

Existem várias combinações de materiais utilizados na concepção destes dispositivos,

contudo é possível organizá-las em apenas duas famílias diferentes de supercondensadores

electroquímicos, os double-layer e os pseudocondensadores.

Os supercondensadores apresentam-se neste momento como um complemento para

sistemas de armazenamento de energia baseados também noutras tecnologias, que passam a

beneficiar de uma maior densidade de potência e de uma redução de sobrecargas.

4.3.1. Descrição

Double-Layer

O supercondensador double-layer é um condensador electroquímico com uma tecnologia

aproximada à da bateria, mas onde apenas existem fenómenos electrostáticos. A grande diferença

entre a bateria e os condensadores é a sua grande densidade de potência, justificada pela

inexistência de reacções químicas no processo de carga e descarga, o que diminui a constante de

tempo de carga e descarga, sendo o seu ciclo de vida aumentado.

Como é visível na Figura 4.17, os double-layer são constituídos por dois eléctrodos imersos

num electrólito e uma membrana dieléctrica.

Figura 4.17. Ilustra o interior de um supercondensador double-layer

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Nesta tecnologia a energia é armazenada a partir da transferência de cargas eléctricas nas

limitações entre o electrólito e o eléctrodo, e é dada por (4.25), sendo a capacidade e a tensão

entre as placas do condensador. A tensão de disrupção do material dieléctrico determina a tensão

máxima admissível, que é tipicamente inferior a . Este é um factor limitativo para a energia

armazenável nestes condensadores, havendo a necessidade de obter uma capacidade que

contraponha esta restrição.

(4.25)

O cálculo da capacidade de um supercondensador é complexo pela sua dependência de

fenómenos localizados nos microporos dos eléctrodos. Na equação (4.26) é apresentada uma

aproximação do cálculo de dependente da constante dieléctrica , da sua espessura e da área .

(4.26)

A membrana visível na Figura 4.17 dá o nome ao condensador e é crucial ao seu

desempenho, uma vez que com ela se consegue uma espessura molecular para , proporcionando

um aumento da capacidade de acordo com (4.26). Com a introdução da membrana mantém-se o

necessário isolamento entre os dois eléctrodos, embora permitindo o trânsito de iões.

Outra característica que permitiu um acréscimo substancial de nestes condensadores foi a

utilização de eléctrodos fabricados em material poroso, com poros de nanometros de diâmetro que

proporcionam uma grande área superficial, tipicamente entre e . É nessa superfície

limite dos eléctrodos que se concentram as cargas durante o processo de carregamento, obtendo-se

uma proporcionalidade entre esta área e a capacidade do condensador. Os materiais usados para

este fim possibilitam capacidades até , como é o caso do carbono activo, nanotubos de

carbono, o feltro, o aerogel ou cerâmicos.

Pseudocondensadores

Um outro tipo de supercondensadores é o pseudocondensador. Este surge da alteração do

eléctrodo positivo do condensador por um eléctrodo no qual ocorrem reacções químicas reversíveis

similares às das baterias, mantendo-se contudo o eléctrodo negativo onde ocorrem apenas

fenómenos electrostáticos [30]. Desta forma obtém-se uma tecnologia assimétrica com propriedades

aproximadas às de uma bateria, mas não deixando de ser um supercondensador.

As opções para ânodo recaem normalmente no metal óxido ou em polímeros condutores,

capazes de oferecer reacções de redução e oxidação de alta reversibilidade. Já o electrólito é

constituído a partir de uma solução orgânica ou aquosa, sendo mais uma vez a sua escolha decisiva

na determinação da tensão máxima suportada pelo condensador.

Este tipo de supercondensadores posiciona-se entre os double-layer e as baterias, ocupando

uma posição intermédia no que diz respeito às características de densidade de energia e potência

Figura 4.1, custo por unidade de energia e tempo médio de vida útil, apresentando as vantagens de

cada uma das soluções. Na Tabela 4.7 é feito um comparativo de algumas características fornecidas

pelos fabricantes destes dois tipos de supercondensadores.

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67

Tabela 4.7. Especificações técnicas dos supercondensadores Maxwell BCAP3000 P270 e ESMA EC 353

Fabricante Capacidade

(F)

Densidade

Energia

(Wh/kg)

Densidade

Potência

(W/kg)

Vmax

(V)

Pmax

(W)

Ciclo

de Vida

(Ciclos)

Peso

(g)

Maxwell

Double-layer 3000 5.96 5900 2.7 3020 10

6 510

ESMA

Pseudocond. 80000 13.33 580 1.7 1400 10

4 2400

Da Tabela 4.7 constata-se que o pseudocondensador tem uma maior densidade de energia

em detrimento da densidade de potência, comparativamente com o double-layer.

Estas duas tecnologias fazem parte da Tabela B.4, que apresenta alguns exemplares

actualmente disponíveis no mercado, incluindo condensadores isolados e módulos destes

equipamentos, ilustrando o estado da arte destes tipos de condensadores.

4.3.2. Supercondensadores e Baterias

Numa rede em ilha, um sistema de armazenamento de energia a ser utilizado no âmbito da

recuperação de uma situação de desequilíbrio de geração e carga, necessita um dimensionamento

cuidado. É necessário ter em conta a grandeza da potência que transita entre a micro-rede e rede a

montante, para dessa forma determinar a potência que os dispositivos de armazenamento têm que

garantir. Já foi discutido anteriormente, a impossibilidade da bateria por si só garantir potências

elevadas, pelo que deve ser combinada com outra tecnologia de armazenamento.

Comparando as duas tecnologias com os dados da Figura 4.1, regista-se que a densidade de

energia de uma bateria pode alcançar os , que é 20 vezes mais do que aquilo que os

actuais supercondensadores podem oferecer. Por outro lado, a densidade de potência de uma bateria

é 20 vezes menor do que os de um supercondensador, conseguindo este valor devido à

sua muito baixa resistência interna.

Para além disso, a bateria como já foi abordado anteriormente, revela algumas fragilidades

que diminuem a sua performance. A origem desse decréscimo provém das necessidades

imprevisíveis da rede eléctrica, que podem forçar descargas rápidas e impor oscilações na

temperatura de funcionamento, o que provoca uma diminuição do já reduzido número máximo de

ciclos de funcionamento útil, da ordem de 103 ciclos e do aparecimento do efeito de memória. Pelo

contrário, os supercondensadores apresentam uma vida útil longa, aproximadamente 106

ciclos e

conseguem ser carregados em segundos. No entanto, muito embora a evolução da densidade de

energia verificada, ainda não é suficiente para poder por si só atingir os requisitos de energia. Têm-se

portanto duas tecnologias com um posicionamento complementar [30].

A Tabela 4.8 dá conta das vantagens e desvantagens dos supercondensadores em

comparação com as baterias.

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Tabela 4.8. Vantagens e desvantagens dos supercondensadores em comparação com as baterias

Vantagens Desvantagens

- Maior período de vida útil (> 20 anos)

- Baixo custo por ciclo

- Resistência interna implica eficiência de 95%

por ciclo

- Densidade de potência bastante elevada

- Baixa resistência interna, proporcionando

potência de saída muito superior

- Carregamento em segundos

- Processo de carregamento simples

- Densidade de energia aproximadamente 10 vezes

menor

- Tensão diminui com a redução da carga e

necessita electrónica para compensar esse factor, o

que implica perdas adicionais

- Descarga linear da tensão impede a utilização de

todo o espectro energético

- Auto-descarga superior

- Células com baixo nível de tensão

Tendo em conta esta complementaridade é notória a possibilidade de recorrer a

supercondensadores, para reagir a picos de potência com uma curta duração e à bateria para

durante um período mais longo manter o sistema até se dar o equilíbrio da geração. Desta forma

concentram-se as vantagens das duas tecnologias, diminuindo as desvantagens de cada uma

isoladamente e baixa-se significativamente o custo do dispositivo de armazenamento.

4.3.3. Balanço de Carga

Num olhar pelos sistemas reais, observa-se a existência de circuitos de balanço de carga em

módulos com vários supercondensadores em série [29]. Isto deve-se à necessidade de repartir a

carga pelas várias unidades durante o processo de carregamento, de forma a não acontecerem

desigualdades de capacidade provocadas pelas tolerâncias de fabrico e diferentes auto-descargas.

Existem vários circuitos de balanço de carga na literatura, pelo que, de seguida são apresentados

quatro deles que diferem na complexidade e no seu custo, Figura 4.18.

Figura 4.18. Esquemas de balanço de carga: (a)Resistência Passiva, (b)Resistência com Interruptor,

(c)Conversor DC-DC e (d)Diodo Zener [29]

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Resistência Passiva

Esta é a solução mais simplista e reside na utilização de uma resistência colocada em

paralelo com cada supercondensador. Desta forma, reduzem-se as diferenças de tensão existentes

entre cada elemento durante as situações de repouso. Contudo, esta solução adiciona perdas suple-

mentares que reduzem a eficiência dos módulos, de acordo com o valor das resistências utilizadas.

Resistência com Interruptor

Outra hipótese passa por colocar em série com a mesma resistência um interruptor que se

fecha enquanto a tensão do condensador é superior ao pré-definido. Esta solução requer uma

monitorização adicional de cada elemento, o que introduz custos adicionais comparativamente com a

solução anterior.

Conversor DC-DC

Neste conceito recorre-se a conversores DC-DC ligados em série, sendo cada um deles é

conectado também entre dois supercondensadores contíguos. Assim, consegue-se um carregamento

idêntico de cada elemento, sem perdas adicionais significativas, e obtém-se alta eficiência

comparativamente com as alternativas já descritas. No entanto, a implementação desta técnica

necessita hardware e controlo adicional o que resulta numa solução muito dispendiosa.

Diodo Zener

Este último conceito assemelha-se aos dois primeiros, uma vez que o diodo zener se

comporta como um bypass para a corrente principal. Neste caso, é atingida a tensão limite de cada

supercondensador quando a tensão zener é atingida. Assim como os dois primeiros, este têm a

desvantagem de introduzir perdas significativas no sistema, para além disso a tensão zener é

dependente da temperatura o que diminui a potencialidade desta solução.

4.3.4. Modelo

O circuito equivalente do condensador convencional pode também ser utilizado na análise

dos supercondensadores. Na Figura 4.19 pode ser observado o modelo de um condensador comum

com quatro elementos ideais, a capacidade , uma resistência serie correspondente às perdas por

efeito de Joule, uma resistência paralela que representa as perdas de auto-descarga do

condensador e uma pequena indutância que resulta da construção deste componente.

Figura 4.19. Modelo de um condensador

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Pode-se negligenciar o comportamento de , uma vez que num sistema de armazenamento

de energia eléctrica as correntes de carga e descarga trocadas com o conversor electrónico são DC e

os ciclos de carga e descarga são muito inferiores a . A resistência embora provoque

correntes de auto-descarga com efeito a longo prazo, são consideravelmente maiores do que no caso

das baterias, o que a leva a incorporar o modelo. Assim como a resistência , ainda que na ordem

dos num sistema de vários condensadores acaba por ser relevante. Como resultado obtém-se o

circuito da Figura 4.20.

Figura 4.20. Modelo considerado para o supercondensador

No processo de modelação de um sistema de armazenamento, baseado em

supercondensadores, é necessário ter em conta a elevada quantidade de unidades com que é

formado e a sua disposição em série e paralelo. Existem alguns factores que determinam o número

de condensadores a utilizar e a forma como os associar, como é a potência máxima pretendida, a

tensão de funcionamento, a corrente interna e a duração do fornecimento de energia do dispositivo.

Como um supercondensador tem uma tensão de aproximadamente , para se obter uma

tensão aceitável de operação têm de ser colocados em série um determinado número de unidades

[40], que pode ser calculado a partir da equação (4.27). Onde é a tensão máxima admissível do

sistema e a tensão máxima de cada unidade.

(4.27)

De seguida, a partir da equação (4.25) assumindo o tempo de utilização do dispositivo de

armazenamento a uma potência constante máxima e considerando as tensões máxima e

mínima de funcionamento do sistema e , pode ser obtida a capacidade total pela equação

(4.28).

(4.28)

Após o cálculo da capacidade total e a partir da relação da equação (4.29) pode ser calculada

a capacidade individual dos supercondensadores em série.

(4.29)

No caso de ser obtida uma capacidade individual maior do que as existentes no mercado, é

necessário colocar unidades em paralelo até somarem a capacidade pretendida.

Há outros factores que devem ser tidos em conta, como a queda de tensão proveniente da

resistência interna, que embora sendo na ordem do pode obrigar a colocar mais condensadores

em série, caso reduza significativamente a tensão de operação do sistema. A temperatura de

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funcionamento também deve ser tida em conta, por afectar o valor da resistência interna além do

tempo de vida útil das unidades.

Uma outra abordagem no dimensionamento do número de condensadores em série, (4.30), é

baseada na reserva de energia pretendida, de acordo com a capacidade individual de cada

supercondensador, a sua tensão máxima e a percentagem de redução da tensão de

funcionamento .

(4.30)

4.3.5. Simulação

Como base para uma simulação tão realista quanto possível, foram utilizados dados retirados

do catálogo de um supercondensador double-layer Maxwell BCAP3000 P270 já apresentado

anteriormente. Na Tabela 4.9, são identificados os parâmetros mais relevantes na elaboração do

modelo Simulink.

Tabela 4.9. Especificações técnicas do supercondensador Maxwell BCAP3000 P270 [40]

Capacidade Vmax Resistência

Série (ESR) Inominal

Ipico

(Máx.1s) Iauto-descarga Peso

3000 F 2.7 V 0.29 m 142 A 2170 A 5.2 mA 510 g

O sistema modelado é composto unicamente por supercondensadores e é responsável por

entregar à rede uma potência de , durante aproximadamente , para isso são utilizadas 200

unidades em série.

Uma vez que neste modelo todos os supercondensadores utilizados são idênticos, não tendo

sido modelada a variação probabilística das propriedades destes componentes resultante do seu

fabrico, não foram considerados os sistemas de balanço de carga.

O modelo do sistema de controlo utilizado é similar ao da bateria, mantendo-se o controlo de

potência constante, no qual o valor da corrente interna está dependente da tensão aos terminais do

sistema, de forma a equilibrar a potência de saída para os valores da referência. No funcionamento

interno do condensador, apenas são consideradas e , uma vez que não existem reacções

químicas internas relevantes. No Anexo A.5 é dada um visão mais pormenorizada do subsistema

Supercondensador, assim como do Limite P e I.

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Figura 4.21. Diagrama de blocos do modelo de supercondensadores

A Figura 4.22 compara o sinal de referência de potência, com a potência de carga e descarga

que é de em ambos os casos. É visível o tempo de operação do sistema inferior à sua

referência, sendo assim possível observar por completo os dois modos de funcionamento, notando-se

neste sistema de supercondensadores em comparação com as outras técnicas de armazenamento

simuladas, uma menor diferença temporal entre os períodos de carga e descarga que fica a dever-se

a um rendimento assumido de 95%.

Figura 4.22. Potência de referência e potência de saída do sistema de supercondensadores

A tensão aos terminais do sistema varia entre e metade desse valor ou seja, ,

enquanto a corrente evolui compensando a redução do valor da tensão para garantir o valor

0 2 4 6 8 10 12 14 16

-300

-200

-100

0

100

200

Tempo [s]

Pote

ncia

[kW

]

Pref

Pout

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73

constante da potência de saída. Não são registadas correntes acima dos valores limite, o que justifica

a não existência de reduções da potência durante os processos de carga e descarga presentes na

Figura 4.23.

Figura 4.23. Evolução da tensão e da corrente do sistema ao longo do tempo de simulação

0 2 4 6 8 10 12 14 16

300

400

500

Tempo [s]

Tensao [

V]

0 2 4 6 8 10 12 14 16

-500

0

500

1000

Tempo [s]

Corr

ente

[A

]

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74

5. Discussão Crítica

Anteriormente foram abordadas as tecnologias de geração distribuída e de armazenamento

de energia, com maior relevância para um projecto de uma rede em ilha, sendo destacadas as

características das diferentes alternativas presentes em cada técnica. É agora feita uma discussão

das limitações e aplicações dos equipamentos de geração e armazenamento, tendo em conta a

informação recolhida para cada um e as exigências da rede em ilha, em termos de competitividade

económica, de estabilidade e de qualidade do serviço.

5.1. Geração Distribuída

Entre os vários equipamentos de geração distribuída, encontram-se tecnologias com

fundamento técnico diversificado, como já foi abordado no Capítulo 3. De seguida é feita uma

avaliação comparativa da viabilidade destes dispositivos, tendo como referência também a geração

de energia tradicional.

Partindo do princípio de que as centrais eléctricas de ciclo combinado a gás natural

apresentam rendimentos na ordem dos 55%, numa análise rápida seria de supor que tecnologias de

menores dimensões como é o caso das micro-turbinas a gás e das pilhas de combustível, por terem

rendimentos a rondar os 40%, estariam impedidas de oferecer um custo por produzido, inferior

ao das grandes centrais. Isto tem alguma lógica, por estar provado que um posto de geração de

dimensões superiores diminui as perdas do processo de conversão em energia eléctrica. Da mesma

forma, o custo de operação e manutenção por dos grupos existentes também é reduzido com o

aumento da sua potência instalada, podendo-se afirmar, considerando apenas estes dois factores

que existe uma leve economia de escala. Contudo, existe um número considerável de equipamentos

actualmente ao dispor da rede eléctrica que já foram instalados há 20 ou mesmo em alguns casos há

50 anos, tecnologias que queimam carvão, derivados do petróleo ou gás natural, em centrais

térmicas de ciclo convencional que apresentam rendimentos inferiores a 35%. Deste modo, focando a

micro-turbina a gás e comparando a sua eficiência com a da totalidade das centrais ligadas à rede,

pode-se considerar não existir à partida uma diferença significativa entre estas duas abordagens de

geração centralizada e distribuída.

Mas há que ter em conta também factores externos aos equipamentos, como é o caso do

reduzido risco do investimento presente na implementação de fontes de menor potência, o que lhes

confere flexibilidade na instalação. Esta é uma mais-valia das DG em comparação com as

tradicionais centrais que são projectadas para funcionar durante um longo período de tempo, com

recurso a um sobredimensionamento que aumenta o investimento inicial, baseado em previsões de

consumo que se podem não concretizar. Outro factor externo tem a ver com o transporte de energia.

Como é sabido no caso da descentralização, a distância que separa a produção e o consumo é

menor do que no caso tradicional, reduzindo a necessidade de longas linhas de transporte de

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energia, recorrendo-se maioritariamente às redes de distribuição. Assim, reduzem-se as perdas

associadas ao transporte, avaliadas em média em 7%, o que pode viabilizar economicamente uma

rede baseada em tecnologias de produção descentralizada e suplantar o actual panorama energético

nacional e internacional.

Outras tecnologias como painéis fotovoltaicos e aerogeradores, não recorrem a uma fonte de

energia que necessite de ser extraída e transportada até ao local de geração, uma vez que o seu

recurso está disperso na Natureza, o que lhes confere um papel distinto em comparação com as

técnicas anteriormente consideradas, sendo a localização e o posicionamento das infra-estruturas os

factores preponderantes para maximizar o seu potencial. Nestas, o custo de produção de energia

está em grande parte confinado ao investimento inicial e a uma pequena parcela de manutenção, o

que releva a importância do avultado financiamento inicial, dependente do custo da tecnologia por

. Nesse campo tem-se assistido ao longo das duas últimas décadas a uma diminuição do valor a

pagar pela potência instalada, de acordo com as evoluções de cada uma das tecnologias e o

crescimento da procura mundial. Em termos tecnológicos, os aerogeradores apresentam já níveis de

eficiência que atingem 70% do Limite de Betz, o que é significativo. Não obstante, países como a

China e a EUA continuam a investir na investigação e desenvolvimento desta área. Já os painéis

fotovoltaicos, dependendo do tipo de células, apresentam eficiências da conversão bastante mais

reduzidas na ordem dos 8 a 15%, o que influencia o preço a pagar por cada instalado. No

entanto, atendendo à prevista evolução das células fotovoltaicas existentes e ao aparecimento de

novos tipos de células, com a contribuição da engenharia dos materiais, considera-se espectável

atingir uma eficiência de 30%, assim como uma redução dos custos de fabrico e da matéria-prima

utilizada.

No que à produção de energia diz respeito, por se estar perante um recurso incerto e com um

baixo nível de regulação da potência produzida, toda a energia disponível é convertida em

electricidade, embora fosse possível no caso das eólicas a partir dos conversores electrónicos

controlar a potência entregue à rede. Isto faz com que num sistema de energia, ainda para mais

numa rede em ilha, dada a sua pequena dimensão, seja necessário introduzir outros equipamentos,

como é o caso de equipamentos de armazenamento temporário ou alimentados por combustíveis

fósseis.

É também interessante analisar as alturas do dia em que ocorrem os períodos de pico de

produção da energia solar e eólica, e comparar com o padrão típico das horas de cheia e de vazio da

demanda. Daí retira-se que no caso eólico o período mais ventoso é o nocturno, que corresponde à

altura de maior vazio do consumo. Em contrapartida, no caso solar, a altura de maior geração ocorre

durante o dia, a par com a actividade humana que é condicionada também pelo sol. Isto faz com que

neste particular o solar tenha vantagem, por mais facilmente haver consumo suficiente para a

geração disponível, o que pode não acontecer à noite com a geração eólica o que limita as suas

horas de operação. Este problema é mais provável manifestar-se numa rede pequena, por ter um

sobredimensionamento da componente renovável, necessário porque na maior parte do tempo as

renováveis operam a um nível bastante abaixo da sua potência instalada. Além disso, as horas de

cheia reflectem um custo superior da energia, pelo que é vantajoso ter renováveis a produzir.

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76

Outra circunstância que favorece o fotovoltaico no caso Português é a localização geográfica

do país, por beneficiar de uma exposição solar que se estende de norte a sul, ao contrário do eólico

que se encontra limitado pela instalação em zonas do país que garantam rentabilidade.

Todos estes factos contribuem para uma melhor compreensão da situação das renováveis,

sendo que se compararmos estas duas tecnologias, o prato da balança cai favoravelmente para o

lado da energia eólica, com grande peso para a diferença de custos destas duas energias, como

pode ser verificado na Tabela 3.1.

Existe ainda um terceiro recurso renovável que é a água, mais concretamente a de origem

fluvial que permite a instalação de mini-hídricas. Esta é uma forma de energia rentável, onde o custo

do empreendimento é claramente compensado para uma potência instalada acima de ,

verifica-se abaixo deste valor uma dificuldade em viabilizar o projecto, porém, com turbinas Banki-

-Mitchell poder-se-á obter algum retorno. No entanto, este recurso está dependente da proximidade a

um curso de água, onde exista uma altura de queda e caudal suficientes, o que limita a sua

aplicabilidade em redes de pequena dimensão onde se deseja ter a geração próxima das cargas.

Para a mini-hídrica, a eólica e especialmente a fotovoltaica serem economicamente viáveis,

dado o actual panorama, é obrigatória a existência de uma tarifa bonificada, motivada como não

podia deixar de ser pela redução das emissões de gases que provocam o efeito de estufa. Esta tarifa

é adequada a cada tipo de tecnologia, e acaba por ser um incentivo ao financiamento das renováveis

apontando ao seu desenvolvimento.

Desta forma a afirmação da geração distribuída está em parte dependente do papel da micro-

-turbina a gás, da combustão de biomassa, das células de combustível e sobretudo do aumento da

eficiência destes dispositivos, que pode ser conseguido com a ajuda de sistemas de cogeração

associados a algumas destas técnicas. Neste caso a descentralização e a proximidade em relação ao

cliente final é um factor preponderante, uma vez que ao contrário da produção centralizada em que

não é possível aproveitar todo o calor libertado para outras aplicações, na geração distribuída é

possível direccionar esta forma de energia para vários destinatários. Surge assim a produção de

energia térmica como uma fonte secundária, condicionada pela produção eléctrica que por sua vez

segue a demanda, ao contrário do que acontece em algumas outras aplicações, em que a cogeração

é utilizada maioritariamente para assegurar uma entrega de calor adequada às necessidades do

momento, muito embora, sejam estipulados limites para a produção eléctrica de acordo com o

consumo momentâneo de calor, para não reduzir drasticamente a eficiência total.

Em cada uma destas tecnologias, este sistema de cogeração consegue duplicar a energia

retirada do processo de conversão de energias, o que é um ganho bastante significativo, permitindo

de acordo com a quantidade de energia retirada do processo satisfazer as necessidades térmicas de

um determinado número de clientes, reduzindo o consumo equivalente de energia eléctrica ou de

outras fontes com o mesmo fim. Esta fonte de calor tem com certeza consumidores residenciais ou

industriais interessados que garantem a rentabilidade do investimento adicional que se efectua. A

cogeração iniciou-se em Portugal no inicio da década de 90, quando foi comprovada a sua viabilidade

técnica e económica, desde então tem vindo a difundir-se em diversos sectores, mas principalmente

no industrial.

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77

Diversas técnicas têm vindo a ser desenvolvidas, havendo actualmente vários fabricantes

deste dispositivo que asseguram uma vasta gama de potências, possibilitando assim uma adequada

integração da cogeração em tecnologias de geração compatíveis. Além do mais, são elementos de

elevada robustez e pequena dimensão que necessitam de pouca manutenção e anunciam um tempo

de vida útil compatível com os dispositivos a que se associam. Este é um sistema com imenso

potencial que pode arrastar consigo uma economia em torno da geração distribuída e cogeração,

bastando para isso uma aposta clara neste sector, o que pode acontecer com a concretização da

rede em ilha.

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78

5.2. Armazenamento de Energia

Cada um dos dispositivos abordados anteriormente no capítulo 4 apresenta características

próprias que lhes proporcionam aplicações distintas e que vão muito além da sua utilização em redes

de energia. De acordo com as necessidades da rede em armazenamento de energia, a Tabela 5.1

apresenta o espectro de aplicações onde podem ser utilizados estes equipamentos. As várias

tecnologias estão escalonadas de acordo com as suas capacidades típicas, assumidas de uma forma

realista, tendo em conta os custos por unidade de energia e potência, que as situam num

determinado intervalo de tempo de operação.

Tabela 5.1. Espectro de aplicações das tecnologias de armazenamento de energia

Tecnologia de

Armazenamento Tempo de Operação Aplicações

Supercondensadores De segundos

a poucos minutos

- Qualidade da energia eléctrica, pequena

duração;

- Manter tensão no andar DC do conversor em

aplicações renováveis de pequena dimensão;

- Aumentar a resposta a potência de outras

técnicas de armazenamento;

- UPS (pequena dimensão).

Flywheel De 1 minuto

a 10 minutos

- Qualidade da energia eléctrica, média

duração;

- Reagir à entrada/saída de ilha;

- Reacção às pequenas variações de carga;

- Gestão das energias renováveis;

- UPS.

Baterias Entre 1 e 10 horas

- Qualidade da energia eléctrica, grande

duração;

- Reagir à entrada/saída de ilha;

- Gestão das energias renováveis de maior

duração;

- Manter tensão no andar DC do conversor em

aplicações renováveis de média, grande

dimensão;

- UPS.

Ar comprimido De horas a dias

- Reserva suplementar de energia;

- Armazenar excedente para fornecer

posteriormente;

- Utilização directa em meio industrial.

Hidro-bombagem De horas a vários dias

- Reserva suplementar de energia;

- Armazenar excedente para fornecer

posteriormente;

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79

A actual rede eléctrica contém um número muito reduzido de dispositivos de reserva

instalados, e os que existem estão unicamente situados junto a consumidores especiais: industrias,

hospitais, sistemas de segurança e sistemas informáticos, resumindo-se praticamente a UPS. Em

contraponto, sendo a qualidade de energia uma marca do conceito de rede em ilha, é necessário uma

aposta em tecnologias que garantam uma qualidade da energia eléctrica superior, reduzindo

problemas como são: as cavas de tensão5, as sobretensões transitórias, os desequilíbrios de tensão,

as variações na frequência, as harmónicas, a tremulação e as interrupções6. Alguns dos quais

prioritários, porque podem resultar do normal funcionamento da rede em ilha, o que lhes confere um

especial destaque.

No caso da mitigação de cavas de tensão, como estas apresentam durações

maioritariamente inferiores a 1 segundo utilizam-se supercondensadores em DVR devido à sua

densidade de potência e eficiência de carga/descarga superiores a todas as outras técnicas,

contribuindo também com a sua performance comprovada em aplicações em média e baixa tensão.

Desta forma, a utilização dos supercondensadores neste campo está mais limitada pela duração das

cavas do que pela profundidade da variação da tensão, uma vez que existem outras tecnologias com

maior densidade de energia. Dispositivos como as Flywheels e as baterias estão integrados na

arquitectura de controlo da micro-rede, por terem densidades de energia que lhes permite assumir o

principal papel da mitigação dos desequilíbrios de tensão provocados pela desligação e ligação da

rede em ilha à rede a montante. A amplitude destes desequilíbrios depende da potência que esteja a

ser transferida no barramento de interligação, sendo até possível ocorrer uma interrupção transitória

num caso extremo de reduzida geração renovável na micro-rede no instante de entrada em ilha.

Contudo, a micro-rede também se pode deparar com interrupções permanentes causadas por um

curto-circuito ao qual reajam as protecções da rede, nesta situação recorrem-se a UPS para prevenir

a falta de abastecimento a cargas críticas, uma vez que esta tecnologia está invariavelmente

associada às cargas. Para o armazenamento de energia na UPS podem ser escolhidos tanto os

supercondensadores, como as Flywheel, ou ainda as baterias, de acordo com o valor de potência

nominal da carga em causa.

Como já foi abordado no ponto 4.3.2. existe outra aplicação para os supercondensadores,

desta feita integrando módulos com baterias, o que permitiria reunir as vantagens de ambos: a maior

potência disponível de um e a maior reserva de energia do outro, obtendo-se um sistema de

armazenamento com um melhor desempenho e vida útil.

Dada a irregularidade da geração renovável é também inequívoco o potencial do

armazenamento a eliminar as flutuações de geração, permitindo uma gestão do recurso de acordo

com a capacidade das tecnologias utilizadas. As flutuações da geração de uma fonte renovável são

mais gravosas para a rede quanto maior for a sua potência instalada, no entanto estas flutuações

estão dependentes da inércia de cada fonte, sendo que no caso do fotovoltaico podem ocorrer

alterações da geração praticamente instantâneas, por não existir inércia, o que não acontece no caso

5 Diminuição brusca do valor eficaz da tensão para valores entre 90% a 1% do valor nominal, com durações

entre e . 6 Decrescimento do valor eficaz da tensão para menos de 1% do valor nominal declarado pelo menos numa

fase. Interrupções curtas para menos de 3 minutos e interrupções longas para mais de 3 minutos.

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dos aerogeradores, onde as pás da turbina acabam por introduzir algum atraso ao sistema. Desta

forma, de acordo com a aplicação, as necessidades de potência e energia variam, sendo possível

integrar diversas tecnologias como são as Flywheels, as baterias e ainda baterias com

supercondensadores. A sua interligação com a geração renovável é introduzida tipicamente em

paralelo no andar intermédio dos conversores electrónicos AC-DC-AC das tecnologias de geração já

abordadas, onde é usual encontrar um condensador que mantém a tensão tão próxima quanto

possível do seu valor de referência, permitindo ao andar DC-AC prolongar o fornecimento de energia

definido pelo seu controlo e esbatendo as oscilações de geração enquanto existir carga no dispositivo

utilizado. Nesta aplicação ao contrário de outras, o conversor electrónico utilizado à saída do

dispositivo de armazenamento é apenas o primeiro andar dos conversores já apresentados para cada

uma destas tecnologias no Capítulo 4, sendo que são controlados tendo em conta a tensão que se

encontra no andar DC, actuando para minimizar o seu desvio em relação à referência. Na fase de

projecto para se obter um correcto compromisso é importante um cuidado dimensionamento destas

tecnologias, de acordo com a potência nominal da geração, como também da variância do recurso

renovável.

Para último deixo duas técnicas que podem armazenar grandes quantidades de energia, a

hidro-bombagem e o ar comprimido. Estas são instalações que permitem alargar a gestão dos

recursos renováveis, aproveitando a energia excedentária em horas de vazio, associado ao seu baixo

custo e disponibilizando-a quando é mais necessária, isto suportado por perdas de armazenamento

bastante reduzidas. No caso da hidro-bombagem, a gestão da reserva é feita juntamente com uma

central hídrica ou mini-hídrica, estando por isso integrada no controlo do armazenamento mas

também da geração da rede em ilha. Não obstante, a utilização destas duas últimas técnicas está

fortemente condicionada pela localização geográfica, o que impede que sejam considerados em

grande parte das situações.

Tecnicamente é indiscutível que todos estes equipamentos de armazenamento trazem

benefícios à geração, por terem um tempo de resposta muito inferior, o que dispensa a geração de

estar constantemente a fazer mudanças do seu ponto de operação e possibilita o armazenamento de

energia produzida em horas de vazio, que de outra forma seria desaproveitada, estando disponível

posteriormente para quando for mais necessária. Trazem também benefícios ao consumidor, desde

já pelo facto de poderem ser utilizados como uma ressalva de energia para situações de instabilidade

da tensão e frequência, e mesmo para perdas totais de energia através de UPS, assim como

actuando localmente no restauro da dinâmica da tensão, garantindo ao cliente um maior nível de

qualidade do serviço de fornecimento de electricidade. Considero que seria útil um estudo técnico-

económico com base nas tecnologias de armazenamento aqui mencionadas, a fim de se concluir

para cada uma delas, o tempo necessário de operação que trouxesse mais-valias significativas e

rentabilizassem o investimento efectuado.

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6. Conclusão

Os objectivos desta dissertação recaíram sobre a identificação, avaliação da maturidade e

comparação das tecnologias mais relevantes e que sustentam o conceito da rede em ilha, no que à

geração distribuída e ao armazenamento de energia dizem respeito.

Inicialmente descreveram-se os fundamentos da rede em ilha, onde foram destacadas as

arquitecturas de controlo responsáveis por uma futura afirmação desta nova abordagem das redes de

energia, em particular um sistema de controlo central e outro local. Reconheceram-se vantagens em

ambos os sistemas de controlo, no primeiro pela conectividade entre os vários pontos da micro-rede,

o que permite um trânsito de informação que interliga a geração, o comando e a carga. Em inúmeras

aplicações relacionadas com a estabilização das grandezas da rede quando isolada, como é o caso

do fornecimento central de set-points, e a possibilidade de integrar minimercados de energia. Na

segunda arquitectura de controlo constata-se uma menor necessidade em infra-estruturas extra, cada

equipamento de geração ligado à rede responde adequadamente aos eventos de acordo com as

leituras de tensão e frequência realizadas no local em que estão conectados.

De seguida foram apresentadas as principais tecnologias de geração distribuída, dando

relevância àquelas que fornecem energia eléctrica a partir de recursos com um curto ciclo de

renovação, mas também a outros como a micro-turbina a gás que consome gás natural, menos

poluente que o petróleo e seus derivados, e ao qual pode ser acoplado um módulo de cogeração que

duplica o rendimento energético deste equipamento. Nesta temática das DG desenvolveram-se com

mais detalhe as técnicas de geração fotovoltaica e eólica.

Para a fotovoltaica, avaliou-se o potencial dos materiais actualmente existentes e

responsáveis pela conversão da radiação solar em electricidade dos quais se constatou uma ainda

reduzida eficiência do processo, inferior a 15%. Visto isto, indicaram-se algumas soluções futuras que

poderão, por um lado, diminuir os custos de fabrico desta tecnologia, tanto em termos do consumo

energético como da sua complexidade, e por outro, aumentar a eficiência máxima final dos painéis.

Foram ainda destacados alguns dispositivos utilizados que aumentam a energia captada e produzida,

dos quais se salientou o conversor DC-DC, que comanda o MPPT e duas possíveis técnicas de

seguimento da tensão, denominadas perturbação observação e condutância incremental modificado.

O algoritmo destas duas técnicas foi modelado e utilizado no controlo de um conjunto de painéis

fotovoltaicos modelados, onde se destacou o melhor desempenho do método de controlo condutância

incremental modificado. Isto tudo suportado por um modelo matemático da célula fotovoltaica, tendo

em conta a influência da radiação solar e da temperatura das células.

Para o caso das tecnologias que utilizam o recurso eólico foi dada particular atenção aos

aerogeradores com máquinas eléctricas do tipo MIRG, MSVV e MIDA, assim como alguns

dispositivos internos que permitem a correcta operação da estrutura. Destacou-se igualmente o

modelo matemático usado para modelar um sistema composto por um aerogerador MIDA, no qual se

recorreu a dados de um fabricante na obtenção de .

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82

Posteriormente, passou-se à caracterização dos sistemas de armazenamento de energia

existentes, dos quais se destacam as Flywheels, as baterias e o supercondensadores. Foi referida a

real mais-valia de poder armazenar energia na forma de energia potencial com sistemas de hidro-

-bombagem, assim como o recurso a cavidades naturais onde se possa comprimir ar no seu interior,

no entanto, estas são técnicas que dependem muito da geografia do local, o que limita a sua

aplicabilidade. No caso da Flywheel, começou-se por identificar as particularidades do sistema,

passando por vários subsistemas importantes entre os quais o conversor electromecânico, que se

constatou ser maioritariamente usado o PMSM, havendo a intenção de utilizar tensões tão altas

quanto possível para diminuir as correntes nos enrolamentos e as perdas associadas, não sendo

contudo, possível atingir a alta tensão. Obteve-se um modelo matemático que suportasse o modelo

construído e que dá especial relevância à dinâmica rotacional do equipamento nos seus processos de

carga e descarga, ao qual foi adicionado um subsistema que controla o seu funcionamento limite, de

acordo com as condições internas do sistema. Este subsistema também foi considerado nos modelos

das restantes tecnologias de armazenamento.

Nas baterias, o foco recaiu nas variadas tecnologias existentes, algumas com mais

potencialidade que outras, sendo que neste campo os custos por unidade de potência condicionam

em larga medida as opções, impedindo que dispositivos mais vanguardistas como os baseados no

lítio venham a ser escolhidos para aplicações que necessitam de um grande número de células,

como o SEE. Esta quantidade de energia requerida encarece o investimento inicial, dificultando o

usufruto das suas características, como são: uma maior densidade de potência, um mais longo ciclo

de vida sem perder qualidades iniciais, baixa taxa de descarga e maior pico de potência. Foi

apresentado um modelo matemático, com base na química intrínseca ao funcionamento da bateria

que valida o modelo obtido, onde está presente um sistema de controlo a potência constante capaz

de ajustar o valor da corrente interna, de acordo com os valores da tensão aos terminais do módulo

de baterias.

A última das tecnologias de armazenamento abordadas foi o supercondensador, que

genericamente se divide em duas tipologias, o double-layer e o pseudocondensador, cada uma com

características diferentes, logo aplicações distintas, sendo que o double-layer tem uma grande

densidade de potência enquanto o pseudocondensador é um meio-termo entre os

supercondensadores e as baterias. Este dispositivo foi considerado para aplicações de redes de

energia, pelo facto de poderem ser aplicados em conjunto com uma outra das técnicas já

apresentadas, suplantando as limitações com a potência máxima disponível por exemplo nas

baterias. Todavia, têm outras possíveis aplicações em sistemas de curta duração e altas potências

como são os DVR, ou mesmo em UPS de menor autonomia. Acarretam porém actualmente custos

por unidade de energia muito acima das restantes técnicas.

Por fim, realizou-se uma discussão crítica tendo em conta a informação recolhida, onde foram

comparadas as diferentes DG entre elas e com o sistema clássico, enquanto que para as tecnologias

de armazenamento de energia se optou por uma diferenciação das respectivas capacidades e

aplicações. Tudo isto a contar com a sua introdução na rede em ilha, mas sem esquecer a sua

possível utilização na rede eléctrica actual.

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Anexo A

Subsistemas dos modelos

Esta secção apresenta uma visão mais pormenorizada dos modelos das diferentes

tecnologias abordadas, sendo destacados os circuitos dos subsistemas mais relevantes.

A.1. Painéis Fotovoltaicos

Figura A.1. Bloco PV [8]

O bloco presente na Figura A.1 é responsável pela modelação em Simulink do modelo

matemático do módulo fotovoltaico já abordado anteriormente, sendo que as equações (3.1), (3.3)

aplicadas aos primeiros dois termos do segundo membro da equação (3.8) resultam na entrada da

fonte de corrente Ipv, que representa . A fonte Ipv é então dependente da tensão e corrente de

terminal, assim como da radiação incidente e da temperatura das células, enquanto o terceiro termo

do segundo membro de (3.8) é modelado aqui pelas resistências em série e paralelo. Como neste

modelo o valor das resistências é considerado invariante ao longo da simulação, são representadas

por simples resistências, às quais é multiplicado um factor , que corresponde ao número de

módulos em série e paralelo que criam o sistema fotovoltaico simulado.

A Figura A.2 e a Figura A.3 ilustram os algoritmos de controlo utilizados no MPPT,

apresentados nos fluxogramas da Figura 3.13 e Figura 3.14, baseados nas técnicas Perturbação e

Observação e Condutância Incremental Modificado, respectivamente. Nos quais deve ser relevada a

necessidade de modelar o comportamento do conversor DC-DC, de forma a aproximar da realidade a

variação da tensão de acordo com o e especificados.

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Figura A.2. Bloco Controlo Pmax - P&O [6]

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Figura A.3. Bloco Controlo Pmax - IncCond Mod. [6]

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O algoritmo modelado é semelhante em ambas as técnicas e baseia-se na amostragem dos

sinais e , a um ritmo idêntico ao do gerador de impulsos, de forma que seja comparado o valor

actual com o anterior de cada uma destas duas grandezas a cada nova amostragem, retirando-se do

diferencial a informação necessária para actuar em conformidade no sinal do .

A.2. Aerogeradores

Figura A.4. Bloco Limite Velocidade

Este sub-sistema é de especial importância para uma correcta operação do aerogerador, uma

vez que permite restringir as zonas de funcionamento da turbina, não a expondo aerodinamicamente

ao vento, acima de um determinado limite que a possa danificar, e impedindo o seu funcionamento

para velocidades reduzidas em que os custos de operação e manutenção sejam superiores aos

benefícios gerados.

Em linhas gerais, o bloco da Figura A.4 pretende limitar o funcionamento do aerogerador para

um intervalo de valores da velocidade do vento que não esteja compreendido entre e ,

partindo-se do principio de que quando o cut-in e o cut-out são atingidos as pás são travadas, logo o

potencial eólico aproveitado é equivalente a quando .

Para isso, tendo como referência a velocidade do vento instantânea é utilizado um filtro que

de acordo com TT, modela a velocidade do vento que efectivamente produz o movimento das pás e

que está condicionado pelos episódios de desligação da turbina. Este condicionamento é efectuado

por um filtro teórico pertencente ao controlo do aerogerador, que através de uma modelação da

variação do vento recebida pelas pás determina as supostas circunstâncias de operação, caso a

turbina se tivesse mantido sempre a funcionar, fornecendo informações relevantes para a escolha do

momento da nova ligação. No controlo do aerogerador é considerado que o equipamento pode voltar

a operar após o cut-in quando o vento atinge os , e depois de um cut-out assim que a

velocidade desce para os . Com isto impõe-se um período para a avaliação do estado do

vento após cada desligação.

Existem actualmente métodos de controlo do aerogerador muito mais robustos, baseados até

em previsões do vento a curto prazo, que dão maiores garantias de um máximo aproveitamento do

recurso eólico.

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O bloco do aerogerador da Figura A.5 introduz no modelo a equação (3.11), que determina a

potência disponibilizada ao aerogerador, de acordo com a velocidade do vento registada.

Figura A.5. Bloco Pm

O bloco Cp da Figura A.6 calcula o valor do coeficiente desta turbina de acordo com os

dados presentes na Tabela B.1, utilizados com auxílio de uma interpolação polinomial. Para

que esta origine um comportamento o mais próximo da realidade tanto quanto possível, foi ajustada a

ordem do polinómio, acabando por ser escolhido o polinómio de ordem 12.

A entrada lim_u_teorico garante ao modelo que não é convertida energia na altura em que a

turbina está desligada, após ter sido atingido o cut-in ou cut-out, de acordo com o que já fora

determinado pelo Bloco Limite Velocidade.

Figura A.6. Bloco Cp

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A.3. Flywheels

Figura A.7. Bloco Limite E

O bloco da Figura A.7 apresenta as condições que limitam a potência de entrada e saída a

partir da energia armazenada, tendo em conta os valores extremos de E_0 e E_lim, limite inferior e

superior, respectivamente. Sendo que, quando estes são ultrapassados a potência que atravessa o

sistema é anulada.

Figura A.8. Bloco Rendimento

No bloco da Figura A.8 é distinguido o papel do rendimento no processo de carga e descarga,

sendo que para um rendimento de 90%, no primeiro caso a potência que é aplicada à massa girante

é reduzida em 10%, e para o segundo caso a potência retirada da Flywheel é 10% superior. Este

bloco é utilizado igualmente nos modelos das restantes tecnologias de armazenamento.

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Figura A.9. Bloco T(P)

Na Figura A.9 é apresentado o bloco responsável pela conversão da potência em binário,

tendo como base a equação (4.10), sendo que é multiplicado por por estar em .

A.4. Baterias

Figura A.10. Limite P e I

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O subsistema da Figura A.10 tem duas funções, por um lado limitar o processo de

carga/descarga avaliando o estado de carga (SOC) que varia entre e e a tensão da bateria que

está compreendida entre e para cada célula. Por outro lado limita a corrente de carga e

descarga para os seus valores máximos. É a seguir ao sistema de controlo a corrente constante, que

é adicionado o atraso à resposta de potência, de . A partir dos valores de tensão e corrente é

retirada a potência de saída do sistema, dependendo o seu sinal do sentido da potência.

Figura A.11. Bloco Bateria [21]

A Figura A.11 apresenta o sistema de modelação de uma célula com base no modelo

escolhido, da Figura 4.12.

Pode-se destacar o elemento Cbat, que representa a capacidade da bateria, ou seja,

. Este recebe a corrente Ibat, através de uma fonte dependente de corrente

que equivale ao valor colocado à entrada do sistema.

Não é considerada a resistência paralela, uma vez que esta bateria apresenta um tempo de

autodescarga inferior a 10%/mês e os tempos de simulação rondam apenas algumas horas.

A tensão aos terminais do condensador Cbat é traduzida no índice SOC, representativo da

percentagem do estado de carga da bateria, parâmetro que permite ao subsistema Voc modelar a

tensão de circuito aberto, com base na equação (4.19) interpolada a partir de procedimentos

experimentais.

Na Figura A.12 encontram-se os subsistemas do bloco RC responsáveis pela modelação da

característica , nas suas componentes de curto, longo prazo e efeito da resistência série, de

acordo igualmente com dados experimentais que dão origem às equações (4.20), (4.21), (4.22),

(4.23) e (4.24). As três componentes são associadas em série de acordo com a Figura 4.12, sendo

que o bloco Rserie modela o funcionamento de uma resistência série, enquanto os blocos RC a curto

e longo prazo, contêm em paralelo uma resistência e um condensador, que se comportam de acordo

com as reacções químicas internas à bateria e influenciam o seu comportamento.

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Figura A.12. (a) Bloco RC, (b) Bloco Rserie, (c) Bloco RC Curto ou RC Longo

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A.5. Supercondensadores

Figura A.13. Bloco Limite P e I

Da mesma forma para o supercondensador como para a bateria, o bloco Limite P e I da

Figura A.13, condiciona o processo de carga e descarga de acordo com a tensão e corrente, tendo

em conta a potência de referência. Neste caso, o tempo de resposta à potência é de 30ms.

Figura A.14. Bloco Supercondensador

O bloco Supercondensador contém o modelo de 200 destes elementos ligados em série, em

cada um deles é considerada a resistência série e paralelo, de acordo com as características do

catálogo do fabricante escolhido.

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Anexo B

Informações Adicionais

Tabela B.1. Dados Cp(u), fornecidos pelo fabricante da turbina S77 da Nordex [36]

Velocidade do Vento (m/s) Cp

4 0.241

5 0.367

6 0.396

7 0.409

8 0.411

9 0.411

10 0.389

11 0.352

12 0.299

13 0.239

14 0.192

15 0.156

16 0.128

17 0.107

18 0.090

19 0.077

20 0.066

21 0.058

22 0.049

23 0.043

24 0.038

25 0.034

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Tabela B.2. Exemplo de alguns sistemas de armazenamento de energia com Flywheels [37] e [38]

Fabricante / Local Potência

Instalada Aplicação

Data

Instalação

Powercorp

Flores, Açores 500 kW Parque Eólico 2005

Powercorp

Graciosa, Açores 250 kW Parque Eólico 2006

Powercorp

Leinster 1 MW Parque Eólico 2006

Powercorp

Coral Bay 500 kW

Parque Eólico e

Geração a Diesel 2007

Beacon Power

San Ramon, California 100 kW Parque Eólico 2007

Powercorp

Kalbarri 600 kW Parque Eólico 2008

Beacon Power

Tehachapi, California - Parque Eólico 2010

Beacon Power

Stephentown 20 MW

Regulação de 10% das

variações de frequência

de New York

2010

Beacon Power

Chicago 20 MW

Regulação de

frequência Anunciado

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Tabela B.3. Exemplo de sistemas de armazenamento de energia em baterias [25]

Fabricante / Local Tipo de Bateria Especificações Data Instalação

Chino

California Ácido - Chumbo

10 MW

40 MWh 1988

Kashima - Kita Power

Station

Vanadium -

Redox

200 kW

800 kWh 1997

Kansai Power Station

Sumitomo Electric

Industries

Vanadium -

Redox

450 kW

1 MWh 1999

ZBB Energy Corporation Zinco – Brómio 25 kW

50 kWh 2002

King Island Wind Farm Vanadium -

Redox

200 kW

200 kWh 2003

Golden Valley Electrics

Association

Fairbanks, Alaska USA

Níquel - Cádmio 27 MW

7 MWh 2003

Sumitomo Electric

Industries

Japão

Vanadium -

Redox

500 kW

5 MWh -

AEP

Ohio USA Sódio - Enxofre

2 MW

12 MWh 2008

AES Corporation

Filadélfia USA Iões de Lítio

1 MW

250 kWh 2008

Ergon Energy

Austrália Zinco – Brómio

5 kW

20kWh 2008

Prudent Energy

Kenya

Vanadium -

Redox

5 kW

30 kWh 2008

Community Energy Storage Zinco – Brómio 5 kW

20 kWh 2009

Xcel Energy Sódio - Enxofre 1.2 MW

7.2 MWh 2010

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Tabela B.4. Alguns exemplares de condensadores que já se encontram no mercado

Fabricante Capacidade

(F)

Tensão

(V)

Densidade

Energia

(Wh/Kg)

Densidade

Potência

(kW/Kg)

Tipo

Maxwell

Unidade 4 – 3000 2,5 – 2,7

1.38 – 5.52 1,9 – 17.5 Double

Layer

Módulo 52 – 500 15 – 125

NIPPON

CHEMICON

Unidade 350 - 3200 2,3 – 2,5

1,5 – 4,5 1 Double

Layer

Módulo 58 – 500 13,8 – 210

APowerCap Unidade 4 – 550 2.7 5,5 – 5,8 4,4 – 5,7 Double

Layer

Nesscap Módulo 1,5 – 5000 2,3 – 340 1,67 – 8,75 5,2 Pseudocond

ensador

ELIT Módulo

UPS 0,23 – 2,86 0,8 - 200 0,556 – 2,778 0,9 – 1

Double

Layer

NEC Unidade 0,022 – 100 2,7 – 7 0,5 0,005 – 0,01 Double

Layer

Panasonic Unidade 800 – 2000 3 3,1 – 4,4 0,127 – 0,392 -

Evans Módulo 0,001 – 1,5 5,5 – 125 0,1 1,5 Pseudocond

ensador

ESMA Módulo 300 - 2620 16 – 52 1,7 – 7,3 0,434 – 1,83 Pseudocond

ensador