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OLODU IFÁ OS PRIMEIROS DEZESSEIS ODUS DE IFÁ PARA INICIANTES NO ESTUDO DA ADIVINHAÇÃO DE IFÁ PELO AWO OLOWASINA KUTI EGBE IFÁ OGUN TI ODE REMO Traduzido por: Graça de Oxaguian – 16-07-2001

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OLODU IFÁ

 

 

 

 

OS PRIMEIROS DEZESSEIS ODUS DE IFÁ

PARA INICIANTES NO ESTUDO DA

ADIVINHAÇÃO DE IFÁ

 

 

 

 

PELO AWO OLOWASINA KUTI

EGBE IFÁ OGUN TI ODE REMO

 

 

Traduzido por:

Graça de Oxaguian – 16-07-2001

 

 

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Introdução

 

Em 1989 viajei para Ode Remo e fui abençoado com a iniciação na sociedade dos tradicionais adivinhadores, chamada Ifá. Na altura da minha primeira viagem a África, eu considerava-me algo como uma autoridade em Ifá porque eu lia todos os livros que conseguia encontrar sobre este assunto em inglês. Como sou um produto da educação americana, eu falsamente assumia que como tinha lido muito numa área de conhecimento em particular, eu tinha muito conhecimento sobre o assunto. Fiquei chocado e humilhado no meu primeiro dia em Ode Remo. Depressa verifiquei que as crianças da vila sabiam mais sobre Ifá do que o que vinha em todos os livros que eu já havia lido. Isto para mim significa que a idéia dos mais velhos foi a de testar a minha capacidade de avaliação e entendimento por mim próprio.

Alguns americanos vão a África, são iniciados, voltam para os Estados Unidos e assumem que a sua experiência ritual os torna “experts”, sábios sobre o assunto. É claro para mim que a primeira função da Iniciação em Ifá é para receber a autorização para um estudo sério e conscencioso do ritual Yoruba tradicional. Estes estudos envolvem os mecanismos do sistema e o receber diretrizes dos meus professores para o desenvolvimento do bom carácter.

Ifá é uma tradição oral. Para mim é claro que o método de ensino usado numa tradição oral é para as crianças de 6 anos ensinarem as de quatro e as de oito ensinarem as de seis e assim por diante. Aprender Ifá numa família tradicional Yoruba começa normalmente na idade de 7 anos. Apesar de na altura ter quarenta anos, compreendi que a única maneira de começar a estudar seriamente Ifá era começar a apreender com as crianças. Na minha primeira viagem a Ode Remo a maior parte da minha instrução veio de um jovem Awo (adivinhador) chamado Wasu. Ele ensinou-me o protocolo apropriado, ele ensinou-me as cantigas e as rezas. Ele giou-me através do processo de desenvolvimento de um Yawô (noviço) e proporcionou-me o conhecimento de parte significativa da minha iniciação. Nessa altura Wasu tinha nove anos de idade.

Na minha segunda viagem a África eu estava apto a convencer os adolescentes, aqueles que estavam agora a entrar na fase adulta de suas vidas, que eu era um estudante sério e dedicado. Eles arranjaram tempo para escrever alguma da informação elementar que os anciões exigem que os estudantes adultos memorizem. Este material tornou-se a base dos meus estudos quando eu estava longe dos meus professores, em minha casa nos Estados Unidos. A maior parte da informação que recebi dizia respeito ao estudo das rezas e invocações.

Na minha terceira viagem, Awo Sina Kuti escreveu-me os primeiros dezasseis versos do Odu Ifá, texto usado na adivinhação. Os textos completos envolvem duzentos e cinquenta e seis versos de escrita sagrada que são a base para a próxima etapa que é a memorização dos

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mesmos e a sua transmissão oral. Baba Kuti foi generoso o suficiente para escrever os versos para que assim eu pudesse continuar os meus estudos quando voltasse para casa.

Baba Kuti pediu-me para tornar este material acessível para os estudantes sérios de Ifá aqui nos Estados Unidos. Alguns reclamaram de que este material era “secreto” e que não devia ser mostrado para aqueles que não são iniciados. Em Ode Remo as histórias, provérbios e a história sagrada encontrada em Odu Ifá é um conhecimento comum de toda a população, tal como as histórias da Bíblia são conhecidas na maior parte das comunidades no mundo. O que é segredo é a maneira como estas histórias são usadas num ritual. A utilização destas histórias como parte de um ritual é limitada aqueles que sabem fazer um ritual, como resultado da sua iniciação em Ifá.

Eu disponibilizo o material que me foi entregue pelo Baba Kuti aos estudantes sérios de Ifá que não têm acesso a professores em África, para que possam começar o processo de memorização, contemplação e análise dos Odu como uma fonte de inspiração e guia. Este material é geralmente aprendido com a idade de 14 anos. Segue-se um período de 10-15 anos para aprender e memorizar os restantes 240 versos. Incluí os nomes dos versos restantes na sequência em que eles são aprendidos em Ode Remo. Também incluí (entre parêntesis) o nome dos Odu tal como eles são chamados no dialecto de Ijebu, falado em Ode Remo.

Tenho esperança que este material seja usado, estudado, reproduzido e discutido como base para um maior entendimento e apreciação de uma verdadeira maneira de ver a vida. Porque esta maneira de viver, esta filosofia de vida tem milhares de anos, é claramente do domínio público. Isto quer dizer que ninguém pode reclamar direitos sobre este material , tendo em vista que se o fizesse, atentaria contra a lei e estaria a tentar confiscar uma forma de vida tradicional e a cultura que nos ensina a partilhar o conhecimento do Espírito do Mundo. É minha esperança que os futuros estudantes de Ifá não caiam no erro que eu cometi, acreditando que a vasta cultura de Ifá pode ser capturada pelos escritos e que comecem pelo verdadeiro processo de aprendizagem que só vem com o desenvolvimento de uma disciplina oral.

Toda a vez que falei com um adivinhador (Awo) na Nigéria e fiz uma pergunta, a resposta à pergunta vinha sempre antecedida por uma citação da sabedoria de Ifá, dos ancestrais. Este é o elemento chave no processo de trazer a eterna verdade para o momento presente.

A sessão dos comentários serve para a interpretação dos versos. Não é uma parte do material que tradicionalmente seja memorizado. O material sugerido para fazer as oferendas pode ser modificado, dependendo das circunstâncias específicas da adivinhação. A chave para efetivamente fazer adivinhação, é a habilidade para ver claramente o objetivo e procurar soluções para alcançar o objetivo em todos os recursos disponíveis do adivinhador.

Ase o.

Awo Fa’lokun Fatunmbi

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I I

I I

I I

I I

 

 ÈJIOGBÈ

 

Não-há-lugar-na-Terra-onde-não-possa-encontrar-a-felicidade, jogou Ifá para Òdùnkún (Batata Doce) no dia em que ele partia para a Terra de Isu (inhame) e Agbàdó (cereal). Ifá aconselhou Òdùnkún a fazer ebo para a sua vida ser tão doce quanto Isu e Agbàdó. Isu e Agbàdó foram saboreados pela gente da Terra e eles não são tão doces quanto Òdùnkún. Foi nesse dia que Òdùnkún dançou e cantou dizendo que podia fazer o ebo novamente e repetir vezes sem conta. Ifá avisou: “Não há valor em repetir o ebo. Òdùnkún cantou e dançou em honra do Awo, enquanto o Awo louvava Ifá e enquanto Ifá louvava Olodunmaré. Quando Òdùnkún começou a cantar, Èsú colocou-lhe uma canção na sua boca e Òdùnkún começou a cantar:

 

Ayé Sènrén ti dun, o dun ju oyin lo.

Ayé Sènrén ti dun, o dun ju oyin lo.

Òrísà je aye mi o dun, Aláyun Gbáláyun.

Òrísà je aye mi o dun, Aláyun Gbáláyun.

 

A vida da Batata Doce é tão doce quanto o mel

A vida da Batata Doce é tão doce quanto o mel

Imortais, deixem a minha vida ser doce, o Aláyun Gbáláyun

Imortais, deixem a minha vida ser doce, o Aláyun Gbáláyun

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Comentário:

Ifá diz que a pessoa está prestes a iniciar uma viagem. Ifá diz que há a benção de uma longa vida, abundância e descendência. Ifá diz que a estrela da pessoa brilhará sobre todos os que encontrar na sua caminhada. Ifá diz que a pessoa deve comer batatas doces como medicina para a boa sorte.

 

Etutu (Oferenda) : 4 eiyelé (pombos), 4 akuko (galos), 1 epo (garrafa de dendê), 1 prato branco, 4 eko (acaçás), áàdùn (farofa de azeite), e muitas coisas doces (mel, açúcar, doces) e 25 nira (moedas), oferecendo tudo a Obàtálá e Ògún.

 

*

 

Akogi–l’apa–amarrando–ele–próprio–com–corda lançou Ifá para o Difamador em casa, o Difamador na rua e Òrúnmilà no dia em que todos disseram para fazer ebo dentro de casa e fora de casa, na rua. O Difamador dentro de casa e o Difamador na rua recusaram-se a fazer o ebo. Òrúnmilà fez o ebo e saiu vitorioso sobre os seus inimigos dentro de sua casa e sobre os inimigos fora de casa. Òrùnmilà ficou muito feliz e começou a cantar e a dançar em louvor ao Awo, enquanto o Awo louvava Ifá, enquanto Ifá louvava Olodumare. Quando Òrùnmilà começou a cantar, Èsú colocou-lhe uma canção na boca. Òrùnmilà cantou:

 

Elénìní Ilé, Elénìní òde o.

Elénìní Ilé, Elénìní òde o.

Kini mo ra lowo yin.

Elénìní Ilé, Elénìní òde o.

 

Difamador em casa, Difamador na rua.

Difamador em casa, Difamador na rua.

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O que eu comprei de vocês?

Difamador em casa, Difamador na rua.

 

Comentário:

Ifá diz que os Imortais insistem na justiça. Ifá diz que esta pessoa irá receber a benção da abundância. Ifá diz que há muita gente a difamar esta pessoa, tanto em casa como no trabalho. Ifá diz que esta pessoa ascenderá sobre seus inimigos. Ifá diz que esta pessoa deverá dedicar-se a Ifá.

 

Etutu (Oferenda): 3 eiyelé (pombos), 1 epo (garrafa de dendê), 3 eko (acaçás), 16 nira (moedas), e oferecer tudo a Obàtálá e Ogun.

 

Éèwò (tabu, Interdições) : nozes moídas, cogumelos e roupas pretas.

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II II

II II

II II

II II

 

 

ÒYEKÚ MÉJÌ

 

Alegria-recebida-em-casa-não-é-tão-forte-quanto-alegria-recebida-na-quinta, jogou Ifá para Onikabidun no dia em que Onikabidum queria aumentar a sua alegria. Ifá aconselhou Onikabidun para receber 5 enxadas tratadas com medicina de Ifá. Onikabidun levou as enxadas para sua casa. As pessoas da casa levaram as enxadas para a quinta, e as pessoas da quinta levaram as suas enxadas para a sua casa. Ambos os grupos se encontraram na estrada entre a casa e a quinta. As pessoas da quinta disseram que as suas enxadas foram usadas para escavar riquezas. As pessoas da casa disseram que as suas enxadas foram usadas para sepultar tristezas. Onikabidun estava muito feliz, ele começou a cantar e a dançar em honra do Awo, enquanto o Awo louvava Ifá, enquanto Ifá louvava Olodunmare. Quando Onikabidun começou a cantar, Èsú colocou-lhe palavras na boca. Assim canta Onikabidun:

 

Ìyòyò ke wa yo fun mi o.

Ìyòyò ke wa yo fun mi o.

A mi yò nilé, a mi yo lájò.

Ìyòyò Aye e, Ìyòyò.

 

Júbilo, deixe as pessoas virem até mim com alegria.

Júbilo, deixe as pessoas virem até mim com alegria.

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Alegria em casa, alegria na quinta.

Júbilo, deixe as pessoas virem até mim com alegria.

 

Comentário:

Ifá diz que a pessoa receberá a benção da alegria. Ifá diz que qualquer que seja a alegria na vida desta pessoa, ela será redobrada. Ifá diz que a benção da alegria inclui abundância e crianças. Ifá diz que as coisas não correrão bem na vida desta pessoa enquanto não fizer ebo. Ifá diz que a vida desta pessoa anda em zig zag entre a boa e a má sorte. Ifá diz que esta pessoa tem problemas em aceitar a alegria na sua vida e a sua atitude deve mudar.

 

Etutu (Oferenda): 4 eiyelè (pombos), 4 abo adìe (galinhas), 1 eku (rato), 1 Eja aro (peixe-gato preto), 1 epo (óleo de dendê), 1 prato branco, dinheiro (tal como for determinado pelo Awo), e oferecer tudo aos Ibeji. O Awo deverá marcar este odu com iyerosun em 5 enxadas para serem guardadas dentro de casa e noutras 5 para serem mantidas fora de casa.

 

*

 

Minha-mão-direita-Oye-minha-mão-esquerda-Oye-dois-Oyes-tornam-se-verdade-em-frente-da-tina jogou Ifá para Ape com Cabeça-de-dendê e Alagoro Opero no dia em que Ape não queria perder tudo o que possuía. Ifá aconselhou Ape a fazer ebo. Ape fez ebo no dia em que ele guardou as coisas que lhe pertenciam. Desde esse dia, quando Ape volteia junto às árvores com o filho ao colo, a criança não cai. Ape está muito feliz, ele começou a cantar e a dançar em louvor do Awo, enquanto o Awo louvava Ifá, enquanto Ifá louvava Olodumaré. Quando Ape começou a cantar, Èsú colocou-lhe palavras na boca. Ape cantou:

 

Mo ru iyán, mo ru iyán o.

Ilè edun pa pòjù. Ilè edun pa pòjù

Mo ru iyán, mo ru iyán o.

Ilè edun pa pòjù.

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Eu ofereci arráteis de inhame.

A casa não tem infortúnio.

Eu ofereci arráteis de inhame.

A casa não tem infortúnio.

 

Comentário :

Ifá diz que a pessoa deve fazer ebo para assegurar que não perderá o que ganhou até agora. Ifá diz que oferendas de adimu (comida) com úm arrátel de inhame devem ser dadas ao seu Òrisà. Ifá diz que a pessoa deve “vestir” o assentamento do seu Òrisá pessoal. Ifá diz que orações devem ser ofertadas para afastar uma inesperada morte ou infortúnio. Ifá diz que a pessoa tem lutado muito e que receberá a benção da paz.

 

Etutu (Oferenda): 5 eiyelè (pombos), 4 abo adìe (galinhas), 1 prato branco, 1 epo (óleo de palma), iyan (inhame pilado), dinheiro (em quantidade estabelecida pelo Awo), e oferecer aos Ibeji.

 

Éèwò (tabu, Interdições) : ratos cinzentos, não cobrir a cabeça com folhas quando chove.

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II II

I I

I I

II II

 

 

ÌWÒRI MÉJÌ

 

O-almofariz-que-usamos-para-pilar-inhame-não-é-usado-para-esburacar-o-velho-e-usado-vaso-tapado-durante-meses jogou Ifá para Olu no dia em que ele queria ir para Ilé Olókun (casa do Deus do Oceano) e a Ilé Olosa (casa da Deusa da Lagoa). Ifá aconselhou a fazer ebo para a viagem ser abençoada pelos Deuses. Olu fez o ebo. Chegou à casa de Olókun e ganhou 3 vezes no jogo ayo (jogo de azar). Olókun tinha prometido que daria metade da sua fortuna a quem o vencesse a jogar ayo. Olu foi a casa de Olosa e ganhou-lhe 3 vezes ao jogo ayo. Olosa tinha prometido que daria metade da sua riqueza a quem a ganhasse a jogar ayo. Isto foi no dia em que Olu recebeu a benção da abundância. Olu cantou e dançou em honra do Awo, enquanto o Awo louvava Ifá, enquanto Ifá louvava Olodunmare. Quando Olu começou a cantar, Èsú pôs-lhe na boca uma canção. Olu cantou:

 

Mo bolu t’ayo mo kan re o.

Mo bolu t’ayo mo kan re o.

Mo bolu t’ayo lóyìnbó o.

Mo bolu t’ayo mo kan re o, o, o, o.

 

Eu joguei ayo com Olu, eu recebi a benção.

Eu joguei ayo com Olu, eu recebi a benção.

Eu joguei ayo com Olu na casa do estrangeiro.

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Eu joguei ayo com Olu, recebi a benção.

 

Comentário:

Ifá diz que a pessoa deve fazer ebo a pedir a benção que necessita. Ifá diz que a pessoa deve ter prática em jogos de azar. Ifá diz que a pessoa deve oferecer um carneiro ao seu Eleda. Ifá diz que a pessoa encontrará a boa sorte pela mão de um estranho.

 

Etutu (Oferenda): 1 eiyelè (pombo), 1 abo adìe (galinhas), 1 prato branco, eko (acaçás) e dinheiro (em quantidade a ser determinada pelo Awo), e oferecer tudo a Obàtálá.

 

*

 

O-que-tu-gostas-eu-não-gosto-qual-ficará-entre-nós jogou Ifá para Onimuti Iwori, filhos daqueles que montam cavalos com arrogância em frente de Olu no dia em que iam começar a ser tratadas como se estivessem mortas. Ifá aconselhou as crianças a fazerem ebo. As crianças fizeram o ebo. O adivinho disse que a imagem da pessoa morta nunca foi sepultada. A partir desse dia as crianças souberam que estavam entre os vivos.

 

Comentário :

Ifá diz que a pessoa deve fazer ebo para precaver-se da morte e da doença. Ifá diz que esta pessoa deve fazer ebo de modo a que o mundo não o trate como se estivesse morto ou moribundo. Ifá diz que a pessoa deve receber 2 imagens de Ibeji, uma imagem feminina e outra masculina, para colocar no seu oratório pessoal. Ifá diz que os Ìbeji dar-lhe-ão protecção contra os inimigos, morte e doença.

 

Etutu (Oferenda): 4 eiyelè (pombos), 4 abo adìe (galinhas), 1 prato branco, eko (acaçás), eku (pequeno rato), 1 epo (óleo de dendê) e 50 nira (moedas) e oferecer tudo a Ìbeji e Obàtálá.

 

Éèwò (tabu, Interdições) : cão e òri (fruta).

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I I

II II

II II

I I

 

 

IDÍ MÉJÌ

 

Os-dois-apoios-que-uso-para-me-sentar-são-confortáveis jogou Ifá para Onibode Ejiejiemogun no dia em que Onibode Ejiemogun queria ser agraciado com a boa sorte várias vezes ao dia. Ifá aconselhou Onibode Ejiejiemogun a fazer um ebo para que a boa sorte não passasse a seu lado. Onibode Ejiejiemogun fez o ebo. A partir desse dia a boa sorte passou a visitar Onibode Ejiejiemogun várias vezes ao dia.

 

Comentário :

Ifá diz que a pessoa receberá benções se o ebo for feito. Ifá diz que esta pessoa acredita que a boa sorte lhe passou ao lado. Ifá diz que quando, no passado, a boa sorte veio até esta pessoa, escapou-se-lhe entre os dedos. Ifá diz que esta pessoa continua optimista sobre o futuro e que deve oferecer orações ao Òrisà pedindo que o ajude a alcançar os seus sonhos. Ifá diz que as constantes orações transformarão os sonhos desta pessoa em realidade.

 

Etutu (Oferenda): 4 eiyelè (pombos), todas as comidas (oferenda de comidas secas), 4 eko (acaçás), 1 epo (óleo de dendê), 1 prato branco e 40 nira (moedas) e oferecer tudo a Èsú.

 

*

 

Eetalewa-com-gbagdegbagada-olhos jogou Ifá para Òrunmilá no dia em que Òrunmilá carregava o peso dos seus problemas até aos três lugares de reunião da morte. Ele era o

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pato a quem chamamos sojiji e o peso dos seus problemas estava sendo carregado para os três lugares de reunião da morte. Ifá aconselhou Òrunmilá a fazer ebo para a morte, doença e toneladas de problemas não o cumprimentassem nos três lugares de reunião da morte. Òrunmilá fez o ebo e passou sem problemas nos três lugares de reunião da morte com os seus problemas. Ambos fizeram a viagem desarmados. Òrunmilá começou a cantar e a dançar em elogio ao Awo, enquanto o Awo louvava Ifá, enquanto Ifá louvava Olodumare.

 

Comentário :

Ifá diz que a pessoa deve fazer ebo para que as pedras jogadas pela morte e doença não o alcancem.

 

Etutu (Oferenda): 3 Ako okuta (pedras duras), 3 eiyelè (pombos), 1 eko (acaçá), 1 àgbo (carneira), 1 prato branco e dinheiro em quantia determinada pelo Awo, oferecendo tudo a Èsú.

 

Éèwò (tabu, Interdições) : Se um inhame se partir quando for removido do seu recipiente, não deve ser comido. Não escavar buracos perto da entrada da cidade.

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I I

I I

II II

II II

 

 

ÌROSÙN MÉJÌ

 

Sua-boca-sua-boca jogou Ifá para Apeni no dia em que ele foi ameaçado pelas bocas do mundo. Ifá aconselhou Apeni a fazer ebo para evitar a morte e a destruição provocadas pelas bocas do mundo. Apeni fez o ebo. Apeni foi protegido da morte e da destruição causadas pelas bocas do mundo. Apeni cantava e dançava e louvava o Awo, enquanto o Awo louvava Ifá, enquanto Ifá louvava Olodumare. Quando Apeni começou a cantar, Èsú pôs uma canção em sua boca. Apeni cantou:

 

Enu won, enu won è le pa Àpéni.

Enu won, enu won è le pa Àpéni.

 

Sua boca, sua boca não pode matar Apeni.

Sua boca, sua boca, não pode matar Apeni.

 

Comentário:

Ifá diz que esta pessoa deve fazer ebo para ser protegido dos seus inimigos. Ifá diz que as oferendas devem ser feitas à família Egungun.

 

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Etutu (oferenda): 4 eiyelé (pombos), 4 abo adie (galinhas), 1 epo (óleo de dendê), akara (acarajés), moin-moin (bolas de farinha) e 16 nira (moedas), e oferecer tudo a Ori e Egungun.

 

*

 

Porogun-de-Igbodu-com-a-base-de-madeira jogou Ifá para Okansusu Irosu no dia em que Okansusu Irosu fez a viagem de casa dos ancestrais para a casa das gentes da terra. Ifá aconselhou Okansusu Irosu a fazer ebo e que quando Okansusu Irosu moesse inhame ele veria a criança a comê-lo, quando Okansusu Irosu preparasse sopa, ele veria a criança a comê-la. Okansusu Irosu fez o ebo e viu a criança a comer tudo o que ele cozinhava. Okansusu Irosu começou a cantar e dançar em honra do Awo, enquanto o Awo louvava Ifá, enquanto Ifá louvava Olodunmaré. Assim que Okansusu Irosu começou a cantar, Èsú colocou uma canção na sua boca. Okansusu Irosu cantou assim:

 

Baba ma je nikan jé, iyán ti mo gún.

Baba ma je nikan jé, Obè ti mo se.

Baba ma je nikan jé.

 

Pai, não me deixes comer sozinho, os inhames que eu preparei.

Pai, não me deixes comer sozinho, a sopa que eu preparei.

Pai, não me deixes comer soxinho.

 

Comentário:

Ifá diz que a pessoa ou alguém perto dela procura engravidar. Ifá diz que fazendo o ebo ele trará a benção de filhos.

 

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Etutu (Oferenda): iyan (inhame pilado), eba (sopa), coisas doces, 1 eiyelé (pombo), 1 abo adie (galinha), 1 prato branco, 1 epo (óleode dendê) e 35 nira (moedas). Oferecer a Ori e a Egungun.

 

Éèwò (tabu, Interdições) : Cobra, roupa vermelha.

 

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II II

II II

I I

I I

 

 

ÒWÓNRÍN MÉJÌ (OHENREN MÉJÌ)

 

Ladrão-mas-não-o-ladrão-que-fez-o-awo-levar-nossas-coisas-na-nossa-presença jogou Ifá para a Folhagem Owon no dia em que ela queria ter o poder de um chefe do mar. ifá aconselhou a Folhagem Owon a fazer um ebo para assim poder receber a benção da fama. A Folhagem Owon fez o ebo e tornou-se um chefe. A Folhagem Owon começou a cantar e a dançar em honra do Awo, enquanto o Awo louvava Ifá, enquanto Ifá louvava Olodunmaré. Quando a Folhagem Owon começou a cantar, Èsú colocou-lhe uma canção na boca. Folhagem Owon cantou assim:

 

Owon mì jó, Owon mì yò.

Owon ti mú ota oye b’odò.

Owon mì jó, Owon mì yò.

 

Owon dança de dia, Owon canta de dia.

Owon ficou com o poder de um chefe do mar.

Owon dança de dia, Owon canta de dia.

 

Comentário:

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Ifá diz que a pessoa deve fazer ebo para que possa receber um importante título ou posição. Ifá diz que a pessoa tem a cabeça de um líder. Ifá diz que a pessoa deve assumir a posição de responsabilidade dentro da sua família. Ifá diz que a pessoa pode ajudar um familiar a resolver um problema.

 

Etutu (Oferenda): 6 eiyelé (pombos), 6 abo adie (galinhas), 6 eku (ratos pequenos), 6 eja aro (peixe-gato preto), 1 prato branco e 25 nira (moedas), e oferecer a Obàtálá e Èsú.

 

*

 

É-a-grande-árvore-que-tem-um-sino-de-latão-escuro-que-debaixo-da-pequena-palmeira-soltou-insultos-dizendo-que-ninguém-devia-puxar-a-cabaça-gradualmente-para-além-deles quem jogou Ifá para Ologbo Jigolo (gato preguiçoso), no dia em que Ologbo Jigolo se encontrou atacado por aqueles que atiram pedras. Ifá aconselhou Ologbo Jigolo a fazer ebo. Ologbo Jigolo fez o ebo. A partir desse dia Ologbo Jigolo viajou sem preocupações. Ologbo Jigolo começou a dançar e a cantar em honra do Awo, enquanto o Awo louvava Ifá, enquanto Ifá louvava Olodunmaré. Quando Ologbo Jigolo começou a cantar, Èsú colocou-lhe uma canção na boca. Ologbo Jigolo cantou:

 

Òlógbò dúdú esse, gòòlò ma se lo, gòòlò ma se bo.

 

Gato preto, preguiçoso eu irei, preguiçoso eu voltarei.

 

Comentário:

Ifá diz que se esta pessoa está planeando viajar ela deverá fazer ebo para se prevenir contra as pedradas, os problemas. Ifá diz que depois de fazer o ebo esta pessoa deverá usar ervas Eyonu pata atrair coisas boas enquanto viajar.

 

Etutu (Oferenda): 10 okete (ratazanas), 1 epo (óleo de dendê), 1 prato branco e 50 nira (moedas), oferecer a Obàtálá e a Èsú.

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I I

II II

II II

II II

 

 

ÒBÀRÀ MÉJÌ

 

Lavando-a-mão-direita-com-a-mão-esquerda-e-lavando-a-mão-esquerda-com-a-mão-direita jogou Ifá para Awun (madeira branca) no dia em que ele queria ter a sua cabeça limpa. Ifá aconselhou Awun a fazer ebo. Awun fez o ebo. Isto foi no dia em que Awun recebeu uma cabeça boa. Awun cantou e dançou em honra do Awo, enquanto o Awo louvava Ifá, enquanto Ifá louvava Olodunmaré. Quando Awun começou a cantar, Èsú colocou-lhe uma cançao na sua boca. Awun cantou:

 

Awún de na, Awún dèrò. Orí ire l’Awún nwe.

Awún de na, Awún dèrò. Orí ire l’Awún nwe.

 

Awun chegou, Awun desembaraçou-se. É a boa sorte que Awun usa no banho.

Awun chegou, Awun desembaraçou-se. É a boa sorte que Awun usa no banho.

 

Comentário:

Ifá diz que a pessoa deve ter a sua cabeça limpa para que a mão do Awo possa livrá-la da carga. Ifá diz que a pessoa deve adorar Ifá para que a sua carga possa continuar aliviada.

 

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Etutu (Oferenda): 4 eiyelé (pombos), 4 abo adie (galinhas), 1 epo (óleo de dendê), 6 iyan funfun (inhame branco), 6 eko (acaçás) e 50 nira (moedas), e oferecer a Èsú.

 

*

 

Abarere Awo Odán jogou Ifá para Odán no dia em que ele se preparava para se reestabelecer. Ifá aconselhou Odán a fazer ebo para que a área tivesse sombra. Odán fez o ebo. A área começou a ter sombra. Odán começou a cantar e a dançar em honra do Awo, enquanto o Awo louvava Ifá, enquanto Ifá louvava Olodunmaré. Quando Odán começou a cantar, Èsú colocou-lhe uma canção na boca. Odán cantou:

 

Odán nbi, Odán ti múlè Ibùdó o.

Odán nbi, Odán ti múlè Ibùdó o.

Odán nasceu, Odán sobreviveu, Odán estabeleceu-se.

Odán nasceu, Odán sobreviveu, Odán estabeleceu-se.

 

Comentário:

Ifá diz que é uma boa altura para esta pessoa começar um novo projecto. Ifá diz que esta pessoa quer movimentar-se na altura certa. Ifá diz que esta pessoa está prestes a entrar numa relação e que esta relação será boa. Ifá diz que esta pessoa receberá a benção da abundância e a benção de um bom relacionamento.

 

Eturu (Oferenda): 4 eiyelé (pombos), 4 abo adie (galinhas), 1 epo (óleo de dendÊ), 1 prato branco, 4 eko (acaçás) e 100 nira (moedas), e oferecer a Èsú.

 

Éèwò (tabu, Interdições) : Caçar pássaros pequenos.

 

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II II

II II

II II

I I

 

 

ÒKÀNRÀN MÉJÌ

 

A-madeira-dura-da-floresta-usada-para-fazer-Osunsun-não-dá-sumo-enquanto-a-árvore-usada-para-fazer-Atori-faz-desenhos-de-sangue jogou Ifá para Sakoto no dia em que ele viajava para a cidade de Owa. Ifá aconselhou Sakoto a fazer ebo. Sakoto fez o ebo. Quando Sakoto viajava a caminho de Owa encontrou Èsú e deu-lhe um acaçá. Èsú agarrou no acaçá e transformou-se numa mulher. Èsú transformado numa mulher perguntou a Sakoto o que lhe poderia dar. Sakoto deu à mulher um acaçá. Èsú agarrou no acaçá e transformou-se numa criança pequena. Èsú transformado numa criança pequena perguntou a Sakoto o que é que ele lhe daria. Sakoto deu-lhe um acaçá. Na viagem Sakoto deu 3 acaçás. Èsú perguntou a Sakoto para onde ele ia. Sakoto disse que estava viajando para Owa. Èsú disse a Sakoto que as gentes de Owa sofriam há muito tempo de uma longa seca. Èsú apontou um caminho para o ado (pequena cabaça usada para transportar medicamentos) e disse a Sakoto para ir até lá. Èsú disse que alguém no ado lhe diria: “arranca-me” e os outros ficariam em silêncio. Sakoto foi instruído a apanhar um dos ado enquanto o resto ficaria em silêncio e que devia cortá-lo por cima. Èsú disse a Sakoto que quando se aproximasse da entrada de Owa ele deveria colocar o ado em cima da cabeça e anunciar que trazia chuva. Sakoto fez tal como lhe tinham dito e entrou na cidade dizendo: “Povo de Owa, eu trago chuva.” Imediatamente começou a chover. No dia seguinte o Oba de Owa mandou o mensageiro dozer ao seu povo que queria encontrar-se com o estrangeiro que tinha dito que trazia a chuva. Sakoto foi levado à presença do Oba e o Oba dividiu toda a sua riqueza e pertences, dando metade a Sakoto. Foi no dia em que Sakoto recebeu as bençãos que tinha pedido. Sakoto começou a cantar e dançar em honra do Awo, enquanto o Awo louvava Ifá, enquanto Ifá louvava Olodunmaré. Quando Sakoto começou a cantar, Èsú colocou-lhe uma canção na boca. Sakoto cantou:

 

Sàkòtò mo léwà, awo ire dun bo n’ife.

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Sàkòtò mo léwà, awo ire dun bo n’ife.

 

Sakoto é belo, boa adivinhação é doce de louvar.

Sakoto é belo, boa adivinhação é doce de louvar.

 

Comentário:

Ifá diz que a pessoa vai partir em viagem. Ifá diz que a pessoa deve fazer ebo para que a viagem lhe traga fama e abundância. Ifá diz que quando a pessoa chegar ao seu destino será capaz de resolver um problema, o que lhe trará boa sorte. Ifá diz que a pessoa deve oferecer acaçás a Èsú antes de viajar. Ifá diz que quando esta pessoa chegar ao seu destino receberá muitos benefícios.

 

Etutu (Oferenda) : 4 eiyelé (pombos), 4 adie (galos), 1 epo (óleo de dendê), 1 prato branco, 4 eko (acaçás) e 20 nira (moedas), e oferecer a Ògún e Èsú.

 

*

 

Há-vários-caminhos-para-encontrar-a-terra-dos-ancestrais jogou Ifá para Igbegbe (rato) no dia em que iam vender ratos no mercado. Ifá aconselhou Igbegbe a fazer ebo para poder ver as coisas claramente. Igbegbe fez o ebo e ficou com uma visão clara.

 

Comentário:

Ifá diz que esta pessoa não está vendo as coisas claramente. Ifá diz que esta pessoa deve fazer ebo para se afastar da confusão.

 

Etutu (Oferenda) : 2 4 eiyelé (pombos), 3 adie (galos), 1 epo (óleo de dendê), mariwo (pó de folhas de palmeira), 1 prato branco e 25 nira (moedas), e oferecer a Ògún e Èsú.

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I I

I I

I I

II II

 

 

ÒGÚNDÁ MÉJÌ

 

Pó-de-folhas-de-palmeira jogou Ifá para o Tigre no dia em que o Tigre ia caçar. Ifá aconselhou o Tigre a fazer ebo para ele recolher os frutos dos seus esforços. O Tigre estava relutante em fazer o ebo. O Tigre foi à caça e capturou um veado que colocou debaixo de uma palmeira. Quando estava prestes a comer o veado, pó das folhas de palmeira caíram da árvore e tornaram o veado sagrado. O Tigre continuou a caçada e capturou um antílope que colocou perto de um formigueiro. Quando ele ia comer o antílope, ficou coberto de formigas. O Tigre voltou ao Awo e perguntou o que deveria ser feito para recolher os frutos dos seus esforços. Ifá aconselhou o Tigre a fazer ebo. O Tigre fez o ebo. A partir desse dia, o Tigre come toda a presa que captura na sua caçada.

 

Comentário:

Ifá diz que esta pessoa deve fazer ebo para recolher os frutos do seu trabalho.

 

Etutu (Oferenda) : 4 eiyelé (pombos), 4 adie (galos), 1 pedaço de couro, 1 epo (óleo de dendê), 1 prato branco, e 55 nira (moedas), e oferecer a Ògún e Ifá.

 

*

 

Eluku-não-tem-Oro-e-não-tem-sino-de-metal jogou Ifá para o povo de Idena-Magbon no dia em que toda a cidade foi suplicar por boa sorte. Ifá aconselhou o povo de Idena-Magbon a fazer ebo para que eles pudessem obter boa sorte e assim colocar um fim ao

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seu desespero. O povo de Idena-Magbon fez o ebo. Isto foi no dia em que o povo de Idena-Magbon recebeu a benção da boa sorte.

 

Comentário:

Ifá diz que a pessoa deve fazer ebo para se assegurar que a boa sorte vem aos seus caminhos. Ifá diz que muitas bençãos estão próximas mas há o risco de serem perdidas se o ebo não for feito.

 

Etutu (Oferenda) : 2 agogo (sinos de metal), 2 eiyelé (pombos), 2 adie (galos), 2 Osunsun (varetas usadas para tocar os agogos) e dinheiro na quantia determinada pelo Awo. Os agogo serão marcados com iyerosun. Um agogo é para o awo e o outro é para a pessoa que recebeu este Odu.

 

Éèwò (tabu, Interdições) : Carregar dinheiro numa bolsa ou carteira abençoada para protecção.

 

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II II

I I

I I

I I

 

 

ÒSÁ MÉJÌ

 

A-roda-dianteira-carrega-o-dinheiro-enquanto-a-roda-traseira-carrega-grãos-enquanto-Ògèdègédé-se-mantiver-a-brilhar-no-alto-do-rio jogou Ifá para Òrúnmilà no dia em que ele se preparava para ir para lugares longínquos. Ifá aconselhou Òrúnmilà a fazer ebo antes de começar a viagem. Òrúnmilà fez o ebo. Òrúnmilà ofereceu cachaça a todos os que viajavam com ele. Quando terminaram de beber, olharam-se uns aos outrose disseram que o homem a quem quiseram prejudicar lhes tinha oferecido bebida. Disseram todos que já não queriam prejudicar Òrúnmilà. Desde esse dia Òrúnmilà nunca mais foi prejudicado.

 

Comentário:

Ifá diz que esta pessoa vai trabalhar para o estrangeiro e que deve ir em frente e aceitar o trabalho. Ifá diz que esta pessoa deve viajar até à lagoa onde haverá uma brisa (isto é uma referência a um tipo de rompimento numa iniciação). Ifá diz que esta pessoa tem muitos inimigos. Ifá diz que se esta pessoa fizer ebo os seus inimigos dar-lhe-ão uma chance no seu coração. Ifá diz que esta pessoa deve oferecer 2 garrafas de cachaça, uma deve ser dada aos seus inimigos e a outra deve ser dada ao Awo. Ifá diz que antes de dar o cachaça aos seus inimigos, esta pessoa deve tomar uma bebida da garrafa na presença deles.

 

Etutu (Oferenda) : 4 eiyelé (pombos), 4 adie (galos), 1 epo (óleo de dendÊ), 4 sacos de farofa, 1 prato branco, 2 oti (garrafas de cachaça ou aguardente) e 100 nira (moedas), oferecer tudo a Iyáàmi.

 

*

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Enquanto-fazemos-tudo-bem-ninguém-diz-nada-quando-nos-enganamos-as-más-pessoas-começam-logo-a-falar foi quem jogou Ifá para Ejipabileseigi no dia em que ele procurava fama e fortuna. Ifá aconselhou Ejipabileseigi a fazer ebo. Ejipabileseigi fez o ebo. A partir desse dia Ejipabileseigi foi conhecido como um grande homem.

 

Comentário:

Ifá diz que a pessoa deve fazer um ebo em nome dos ancestrais. Ifá diz que se a pessoa fizer o ebo não perderá o que já tem. Ifá diz que esta pessoa ajudou muitas outras e que algumas não apreciaram a ajuda. Ifá diz que a pessoa deve ignorar aqueles que não apreciam o seu trabalho e continuar a fazer boas coisas no mundo. Ifá diz que o bom trabalho em breve lhe trará boa fortuna.

 

Etutu (Oferenda) : 4 eiyelé (pombos), 4 adie (galos), obi (noz de kola), orogbo (kola amarga), 1 prato branco, 1 epo (óleo de dendê) e 25 nira (moedas).

 

Éèwò (tabu, Interdições) : Comer sopa directamente da panela.

 

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II II

I I

II II

II II

 

ÌKÁ MÉJÌ

 

O-pássaro-voa-no-céu-enquanto-o-desconhecido-viaja-no-mar-enquanto-o-cão-vem-buscar-seu-nome foi quem jogou Ifá para Erelu do Mar, o filho do barco do mar, o santuário no alto do mar, no dia em que ele procurava por abundância. Ifá aconselhou Erelu do Mar a fazer ebo. Erelu do Mar fez o ebo. A partir desse dia Erelu do Mar recebeu todas as bençãos que pediu. Erelu do Mar começou a cantar e a dançar em honra do Awo, enquanto o Awo louvava Ifá, enquanto Ifá louvava Olodunmaré. Quando Erelu do Mar começou a cantar, Èsú colocou-lhe uma canção na boca. Erelu do Mar cantou assim:

 

Okò mi sí, okò mi gbò. Okò mi sí, okò mi gbò.

Èbuté ire 1 oko mi lo. Èbuté ire 1 oko mi lo.

 

O barco do mar vem, barco do mar agitado. O barco do mar vem, barco do mar agitado.

É um mar bom onde o barco navega. É um mar bom onde o barco navega.

 

Comentário:

Ifá diz que a pessoa deve fazer ebo se vai partir numa viagem. Ifá diz que a pessoa deve fazer ebo se ela ganha a vida com um barco. Ifá diz que a pessoa ficará rica se trabalha com um estranho.

 

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Etutu (Oferenda) : 1 prato branco, 1 pequeno barco de madeira (para colocar no prato branco), ògedè wéère (banana), eyin (ovo), 1 epo (óleo de dendê), 1 adie (galo) e dinheiro a ser determinado pelo Awo. Oferecer a Èsú.

 

*

 

Tu-és-mau-eu-sou-mau jogou Ifá para Agbadu (cobra) que era maciona barriga, no dia em que Agbadu ia ser coroado chefe. Ifá aconselhou Agbadu a fazer ebo. Agbadu recusou-se a fazer o ebo. A partir desse dia, sempre que alguém vê Agbadu, foge.

 

Comentário:

Ifá diz que a pessoa passa por um período difícil no seu relacionamento. Ifá diz que se a pessoa é casada, está a ter problemas no seu casamento. Ifá diz que esta pessoa está demasiado ansiosa e que isso proporciona as condições para que os seus problemas aumentem. Ifá diz que há pessoas que a querem ajudar mas que ela as afasta do seu caminho. Ifá diz que a pessoa precisa de coragem.

 

Etutu (Oferenda) : 1 ori agbadu (cabeça de cobra), 1 eiyelé (pombo), 1 adie (galo), 1 epo (óleo de dendê) e dinheiro em quantia a ser determinada pelo Awo. Oferecer a Èsú.

 

Éèwò (tabu, Interdições) : Macacos cinzentos.

 

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II II

II II

I I

II II

 

 

ÒTÚRÚPÒN MÉJÌ

 

Cabeça-macia-de-palmeira foi quem jogou Ifá para Ikusigbade (morte esquece-me) no dia em que a morte olhava para ela. Ifá aconselhou Ikusigbade a fazer ebo. Ikusigbade fez o ebo e recebeu a benção de uma longa vida.

 

Comentário:

Ifá diz que se esta pessoa está grávida deve fazer ebo para prevenir abiku. Ifá diz que o bébé prometeu aos outros espíritos que voltaria em breve para a terra dos ancestrais. Ifá diz que o ebo deve ser feito para que o bébé mude a sua promessa de voltar para junto dos ancestrais antes de crescer.

 

Etutu (Oferenda) : Mariwo (folhas de palmeira), 1 eiyelé (pombo), 1 adie (galo), 1 epo (óleo de dendê), 1 prato branco e 50 nira (moedas), e oferecer aos Ibeji.

 

*

 

Dilui-o-couro-que-cobriu-a-cara-do-Egungun foi quem jogou Ifá para Yaya e Yàyá no dia em que ambos queriam construir uma casa. ifá aconselhou Yaya e Yàyá a fazer um ebo. Yaya recusou-se a fazer o ebo. Yàyá fez o ebo. A casa construída por Yaya ruiu. A casa feita por Yàyá permaneceu de pé o resto da sua vida e ele lá viveu confortavelmente a partir desse dia.

 

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Comentário:

Ifá diz que esta pessoa está procurando um novo lugar para viver. Ifá diz que esta pessoa deve fazer um ebo para encontrar um lugar confortável para viver.

 

Etutu (Oferenda) : adimu aos ancestrais, oferecendo a Egungun e Ibeji.

 

Éèwò (tabu, Interdições) : Obi com 3 lados.

 

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I I

II II

I I

I I

 

ÒTÙRÁ MÉJÌ

 

Como-a-água-flui-sobre-o-caminho-o-caminho-flui-sobre-o-rio-Eri foi quem jogou Ifá para Muslim das longas vestes no dia em que Muslim das longas vestes tentava seguir o caminho dos ancestrais. Ifá aconselhou Muslim das longas vestes a fazer ebo. Muslim das longas vestes fez o ebo. A partir desse dia as coisas correram suavemente na vida de Muslim das longas vestes.

 

Comentário:

Ifá diz que a pessoa deve levar uma vida devota para receber bençãos.

 

Etutu (Oferenda) : 4 eiyelé (pombos), 4 adie (galos), 2 terços de grãos, 1 epo (óleo de dendê), 1 prato branco e dinheiro em quantia a ser determinada pelo Awo. Oferecer a Obàtálá.

 

*

 

É-o-ovo-que-rejeitou-o-espírito-da-criança-é-o-esperma-que-rejeitou-o-espírito-da-criança quem jogou Ifá para Terra e os poderes destrutivos que vivem na terra, no dia em que a Terra queria ir vender no mercado. Ifá aconselhou a Terra a fazer ebo para que a Terra não fosse prejudicada pelos poderes destrutivos que vivem na terra. A Terra fez o ebo. A partir desse dia, o lucro permaneceu com a Terra.

 

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Comentário:

Ifá diz que esta pessoa deve fazer um ebo para que os ancestrais destrutivos da sua família não lhe roubem a abundância. Ifá diz que esta pessoa deve fazer uma oferenda ou agrado aos seus companheiros para que eles não se tornem ciumentos, invejosos e destruidores.

 

Etutu (Oferenda) : 1 eiyelé (pombo), 1 adie (galo), 1 prato branco, 1 epo (óleo de dendê) e 100 nira (moedas) e oferecer a Obàtálá.

 

Éèwò (tabu, Interdições) : Óleo cru.

 

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I I

I I

II II

I I

 

 

ÌRETÈ MÉJÌ

 

Àmukíkùtù jogou Ifá para o povo de Ipere Amuyo no dia em que eles iam usar aguardente para adormecer as suas crianças. iFá aconselhou o povo de Ipere Amuyo a fazer ebo. O povo de Ipere Amuyo fez o ebo. A partir desse dia, as crianças de Ipere Amuyo desenvolveram bom carácter.

 

Comentário:

Ifá diz que esta pessoa terá muitos filhos. Ifá diz que esta pessoa deve fazer ebo para que eles tenham abundância e bom carácter.

 

Etutu (Oferenda) : 1 adie (galo), 1 eiyelé (pombo), 1 garrafa de óleo de dendÊ, 1 prato branco, eko (acaçás) e 40 nira (moedas). Oferecer a Osun e a Ifá.

 

*

 

O-grão-inferior-da-esquerda-e-o-grão-inferior-da-direita-nunca-discutiram-entre-si foi quem jogou Ifá para Imò Omi no dia em que ela ia abortar. Ifá aconselhou Imò Omi a fazer ebo. Imò Omi fez o ebo. Imò Omi recebeu a benção de ter filhos. Imò Omi cantou e dançou em honra do Awo, enquanto o Awo louvava Ifá, enquanto Ifá louvava Olodunmaré. Quando Imò Omi começou a cantar, Èsú colocou-lhe uma canção na boca. Imò Omi cantou:

 

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Ko de si omo láte, omo wun ju ileke.

Ko de si omo láte, omo wun ju ileke.

 

Não há crianças à venda. Eu amo crianças mais do que amo os grãos.

Não há crianças à venda. Eu amo crianças mais do que amo os grãos.

 

Comentário:

Ifá diz que a mulher que quer ter filhos deve fazer um ebo com as suas jóias e pedir aos ancestrais a benção de ter crianças.

 

Etutu (Oferenda) : 1 eiyelé (pombo), 1 adie (galo), grãos, eko (acaçás), 1 epo (óleo de dendê), 1 prato branco e 45 nira (moedas), e oferecer a Osun e a Ifá.

 

Éèwò (tabu, Interdições) : Galo, espinafres.

 

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I I

II II

I I

II II

 

 

ÒSÉ MÉJÌ

 

Pòròmìsolè jogou Ifá para Òtú no dia em que Òtú viajava para Ijebu. Ifá aconselhou Òtú a fazer ebo. Òtú fez o ebo. A partir desse dia Òtú foi uma pessoa importante.

 

Comentário:

Ifá diz que esta pessoa deve fazer ebo para ser olhada como uma pessoa importante.

 

Etutu (Oferenda) : 1 eiyelé (pombo), 1 adie (galo), acarajés, 1 epo (óleo de dendê), eko (acaçás) e 40 nira (moedas), oferecendo tudo ao Orí.

 

*

 

Quando-a-noite-cai-as-folhas-da-floresta-transformam-se-enquanto-as-folhas-do-Gbòdògi-se-transformam-em-pessoa, foi quem jogou Ifá para Túwase Ihuloko no dia em que Túwase Ihuloko queria que as coisas boas do Orun viessem ter com ele à terra. Ifá aconselhou Túwase Ihuloko a fazer ebo. Túwase Ihuloko fez o ebo. A partir desse dia, as coisas boas do Orun viajaram para a terra.

 

Comentário:

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Ifá diz que a boa sorte desta pessoa está dividida entre a parte espiritual e a parte humana. Ifá diz que esta pessoa deve fazer ebo para receber as bençãos dos Espíritos da Terra.

 

Etutu (Oferenda) : 4 eiyelé (pombos), 4 adie (galos), 1 epo (óleo de dendê), 1 prato branco e 30 nira (moedas), oferecidos a Orí.

 

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II II

I I

II II

I I

 

 

ÒFÙN MÉJÌ (ORAGUN MÉJÌ)

 

Ogbe-o-estrangeiro foi quem jogou Ifá para Òrisànlá no dia em que Òrisànlá procurava por abundância. Ifá aconselhou Òrisànlá a fazer ebo. Òrisànlá fez o ebo. A partir desse dia Òrisànlá teve todas as bençãos que precisava.

 

Kiki ire (reza para a boa sorte):

 

Ogbe funfun kenewen o difa fun Òrisànlá won ni ko rúbo,

Pe gbogbo nkan to n’to ko ni wó, o rúbó ojo ti gbogbo nkan to

N’to ko wo mó niyen. Ase.

 

Ogbe o estrangeiro jogou Ifá para Òrisànlá a quem disse para fazer

ebo para que tudo o que ele fizesse corresse bem, ele fez o

ebo e todos os dias recebe as bençãos que necessita.

Possa assim ser.

 

Comentário:

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Ifá diz que esta pessoa deve adorar Obàtálá. Ifá diz que esta pessoa é um adorador de Obàtálá e que deve fazer ebo de Obàtálá para pedir abundância. Ifá diz que a oferenda deve ser feita com a recitação deste Odu.

 

Etutu (Oferenda) : adimu de Obàtálá.

 

*

 

Todas-as-coisas-aparecem-como-os-espinhos-que-ferem-os-pés foi quem jogou Ifá para Eléjìòràngún no dia em que ele estava no meio dos seus inimigos. Ifá aconselhou Eléjìòràngún a fazer ebo. Eléjìòràngún fez o ebo. A partir daquele dia Eléjìòràngún derrotou os seus inimigos.

 

Comentário :

Ifá diz que esta pessoa deve fazer ebo para Oro. Ifá diz que Oro ajudará esta pessoa nos seus esforços para derrotar os seus inimigos.

 

Eturu (Oferenda): 4 eiyelé (pombos), 4 adi e (galos ou galinhas), 1 epo (azeite de dendê), 1 prato branco, eko (acaçás) e dinheiro, determinados pelo adivinho e oferecer tudo a Oro.

 

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ORDEM DE MAIORIDADE DOS OMO ODU

 

(COM OS NOMES DE INVOCAÇÃO)

 

 

OGBE

 

17.                Ogbe – Oyeku (Ogbe’Yeku)

18.                Oyeku – Ogbe (Oyeku l’Ogbe)

19.                Ogbe – Iwori (Ogbewehin)

20.                Iwori – Ogbe (Woribogbe)

21.                Ogbe – Odi (Ogbe’di)

22.                Odi – Ogbe (Idigbe)

23.                Ogbe – Irosun (Ogbe’rosu)

24.                Irosun – Ogbe (Irosu Ogbe)

25.                Ogbe – Oworin (Ogbeworin)

26.                Oworin – Ogbe (Oworinsogbe)

27.                Ogbe – Obara (Ogbe Bara)

28.                Obara – Ogbe (Obarabogbe)

29.                Ogbe – Okanran (Ogbekoran)

30.                Okanran – Ogbe (Okanransode)

31.                Ogbe – Ogunda (Ogbedunga)

32.                Ogunda – Ogbe (Odundabede)

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33.                Ogbe – Osa (Ogbesa)

34.                Osa – Ogbe (Osagbe)

35.                Ogbe – Ika (Ogbe ka)

36.                Ika – Ogbe (Ikagbe)

37.                Ogbe – Oturupon (Ogbe Turupon)

38.                Oturupon – Ogbe (Oturupon’gbe)

39.                Ogbe – Otura (Ogbetura)

40.                Otura – Ogbe (Otura Oriko)

41.                Ogbe – Irete (Ogbe ate)

42.                Irete – Ogbe (Irete – agbe)

43.                Ogbe – Ose (Ogbe’se)

44.                Ose – Ogbe (Osomina)

45.                Ogbe – Ofun (Ogbe’fun)

46.                Ofun – Ogbe (Pfun’gbe)

 

 

OYEKU

 

47.                Oyeku – Iwori (Oyeku Wori)

48.                Iwori – Oyeku (Iwori’yeku)

49.                Oyeku – Odi (Oyeku’di)

50.                Odi – Oyeku (Idi’yeku)

51.                Oyeku – Irosun (Oyeku’rousu)

52.                Irosun – Oyeku (Irosu’yeku)

53.                Oyeku – Oworin (Oyeku Wonrin)

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54.                Oworin – Oyeku (Oworin’yeku)

55.                Oyeku – Obara (Oyeku Bara)

56.                Obara – Oyeku (Obara’yeku)

57.                Oyeku – Okanran (Oyeku lekan)

58.                Okanran – Oyeku (Okonron’yeku)

59.                Oyeku – Ogunda (Oyeku Eguntan)

60.                Ogunda – Oyeku (Ogunda’aiku)

61.                Oyeku – Osa (Oyeku Gasa)

62.                Osa – Oyeku (Osa’yeku)

63.                Oyeku – Ika (Oyekubeka)

64.                Ika – Oyeku (Ika’yeku)

65.                Oyeku – Oturupon (Oyekubatutu)

66.                Oturupon – Oyeku (Oturupon’yeku)

67.                Oyeku – Otura (Oyekubatuye)

68.                Otura – Oyeku (Otura – aiku)

69.                Oyeku – Irete (Oyeku’rete)

70.                Irete – Oyeku (Irete’yeku)

71.                Oyeku – Ose (Oyekuse)

72.                Ose – Oyeku (Osesaiku)

73.                Oyeku – Ofun (Oyeku’fun)

74.                Ofun – Oyeku (Ofun’yeku)

 

 

IWORI

 

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75.                Iwori – Odi (Iwori’di)

76.                Odi – Iwori (Idiwori)

77.                Iwori – Irosun (Iwori Wosu)

78.                Irosun – Iwori (Irosu Wori)

79.                Iwori – Owonrin (Iwori Wonrin)

80.                Owonrin – Iwori (Owonrin Wori)

81.                Iwori – Obara (Iwori Bara)

82.                Obara – Iwori (Obara Wori)

83.                Iwori – Okanran (Iwori Okanran)

84.                Okanran – Iwori (Okanran Wori)

85.                Iwori – Ogunda (Iworiwogunda)

86.                Ogunda – Iwori (Ogunda Wori)

87.                Iwori – Osa (Iworiwosa)

88.                Osa – Iwori (Osa Wori)

89.                Iwori – Ika (Iworiwoka)

90.                Ika – Iwori (Ika Wori)

91.                Iwori – Oturupon (Iwori’turupon)

92.                Oturupon – Iwori (Oturupon Wori)

93.                Iwori – Otura (Iworiwotura)

94.                Otura – Iwori (Otura Wori)

95.                Iwori – Irete (Iwori – ate)

96.                Irete – Iwori (Irete Wori)

97.                Iwori – Ose (Iworiwase)

98.                Ose – Iwori (Ose Wori)

99.                Iwori – Ofun (Iworiwofun)

Page 43: OLODU IFÁ(1).doc

100.             Ofun – Iwori (Ofun Wori)

 

 

ODI (IDI)

 

101.             Odi – Irosun (Idi osu)

102.             Irosun – Odi (Irosu’di)

103.             Odi – Owonrin (Ido Owonrin)

104.             Owonrin – Odi (Owonrin’di)

105.             Odi – Obara (Idi Obara)

106.             Obara – Odi (Obara’di)

107.             Odi – Okanran (Idi Okanran)

108.             Okanran – Odi (Okanran Di)

109.             Odi – Ogunda (Idi Ogunda)

110.             Ogunda – Odi (Ogunda’di)

111.             Odi – Osa (Idi’sa)

112.             Osa – Odi (Osa’di)

113.             Odi – Ika (Idika)

114.             Ika – Odi (Ika Di)

115.             Odi – Oturupon (Idi Turupon)

116.             Oturupon – Odi (Oturupon Di)

117.             Odi – Otura (Idi Otura)

118.             Otura – Odi (Otura Di)

119.             Odi – Irete (Idi Irete)

120.             Irete – Odi – (Irete Di)

Page 44: OLODU IFÁ(1).doc

121.             Odi – Ose (Idi Ose)

122.             Ose – Odi (Ose Di)

123.             Odi – Ofun (Idi Ofun)

124.             Ofun – Odi (Ofun Di)

 

IROSUN

 

125.             Irosun – Owonrin (Irosu Wonrin)

126.             Owonrin – Irosun (Owonrin’rosu)

127.             Irosun – Obara (Irosu Obara)

128.             Obara – Irosun (Obara’rosu)

129.             Irosun – Okanran (Irosu Okanran)

130.             Okanran – Irosun (Okanran’rosu)

131.             Irosun – Ogunda (Irosu Ogunda)

132.             Ogunda – Irosun (Ogunda Rosu)

133.             Irosun – Osa (Irosu Osa)

134.             Osa – Irosun (Osa Rosu)

135.             Irosun – Ika (Irosu Oka)

136.             Ika – Irosun (Ika’rosu)

137.             Irosun – Oturupon (Irosu Turupon)

138.             Oturupon – Irosun (Oturupon Rosu)

139.             Irosun – Otura (Irosu Tura)

140.             Otura – Irosun (Otura Rosu)

141.             Irosun – Irete (Irosu Rete)

142.             Irete – Irosun (Irete Rosu)

Page 45: OLODU IFÁ(1).doc

143.             Irosun – Ose (Irosu Ose)

144.             Ose – Irosun (Ose’rosu)

145.             Irosun – Ofun (Irosu Ofun)

146.             Ofun – Irosun (Ofun’rosu)

 

 

OWORIN

 

147.             Owonrin – Obara (Owonrin’bara)

148.             Obara – Owonrin (Obara wonrin)

149.             Owonrin – Okanran (Owonrinkanran)

150.             Okanran – Owonrin (Okanran Won)

151.             Owonrin – Ogunda (Owonringunda)

152.             Ogunda – Owonrin (Ogundawonrin)

153.             Owonrin – Osa (Owonrin’sa)

154.             Osa – Owonrin (Osa Wonrin)

155.             Owonrin – Ika (Owonrin’ka)

156.             Ika – Owonrin (Ika Wonrin)

157.             Owonrin – Oturupon (Owonrin Turupon)

158.             Oturupon – Owonrin (Turupon Wonrin)

159.             Owonrin – Otura (Owonrin Otura)

160.             Otura – Owonrin (Otura Wonrin)

161.             Owonrin – Irete (Owonrin’rete)

162.             Irete – Owonrin (Irete Wonrin)

163.             Owonrin – Ose (Owonrin’se)

Page 46: OLODU IFÁ(1).doc

164.             Ose – Owonrin (Ose wonrin)

165.             Owonrin – Ofun (Owonrin’fu)

166.             Ofun – Owonrin (Ofun wonrin)

 

 

OBARA

 

167.             Obara – Okanran (Obara Konran)

168.             Okanran – Obara (Okanran’bara)

169.             Obara – Ogunda (Obara Ogunda)

170.             Ogunda – Obara (Ogunda’bara)

171.             Obara – Osa (Obara’sa)

172.             Osa – Obara (Osa’bara)

173.             Obara – Ika (Obara’ka)

174.             Ika – Obara (Ika’bara)

175.             Obara – Oturupon (Obara Turupon)

176.             Oturupon – Obara (Oturupon’bara)

177.             Obara – Oura (Obara’tura)

178.             Otura – Obara (Otura’bara)

179.             Obara – Irete (Obara’rete)

180.             Irete – Obara (Irete Obara)

181.             Obara – Ose (Obara Ose)

182.             Ose – Obara (Ose – Obara)

183.             Obara – Ofun (Obara’fu)

184.             Ofun – Obara (Ofun’bara)

Page 47: OLODU IFÁ(1).doc

 

 

OKANRAN

 

185.             Okanran – Ogunda (Okanran’gunda)

186.             Ogunda – Okanran (Ogunda’kanran)

187.             Okanran – Osa (Okanran’sa)

188.             Osa – Okanran (Osa’karan)

189.             Okanran – Ika (Okanran’ka)

190.             Ika – Okanran (Ika’karan)

191.             Okanran – Oturupon (Okanran Turupon)

192.             Oturupon – Okanran (Oturupon’karan)

193.             Okanran – Otura (Okanran’tura)

194.             Otura – Okanran (Otura’kanran)

195.             Okanran – Irete (Okanran-ate)

196.             Irete – Okanran (Irete Okanran)

197.             Okanran – Ose (Okanran’se)

198.             Ose – Okanran (Ose’kanran)

199.             Okanran – Ofun (Okanran’fu)

200.             Ofun – Okanran (Ofun’kanran)

 

 

OGUNDA

 

201.             Ogunda – Osa (Ogunda’sa)

Page 48: OLODU IFÁ(1).doc

202.             Osa – Ogunda (Osa’gunda)

203.             Ogunda – Ika (Ogunda’ka)

204.             Ika – Ogunda (Ika’gunda)

205.             Ogunda – Oturupon

206.             Oturupon – Ogunda (Oturupon’gunda)

207.             Ogunda – Otura (Ogunda Tura)

208.             Otura – Ogunda (Oturagunda)

209.             Ogunda – Irete (Ogunda’rete)

210.             Irete – Ogunda (Irete’gunda)

211.             Ogunda – Ose (Ogundase)

212.             Ose – Ogunda (Ise-Eguntan)

213.             Ogunda – Ofun (Ogunda’fu)

214.             Ofun – Ogunda (Ofun – Eguntan)

 

 

OSA

 

215.             Osa – Ika (Osa’ka)

216.             Ika – Osa (Ika’sa)

217.             Osa- Oturupon (Osa’turupon)

218.             Oturupon – Osa (Oturupon’sa)

219.             Osa – Otura (Osa’tura)

220.             Otura – Osa (Otura’sa)

221.             Osa – Irete (Osa’rete)

222.             Irete – Osa (Irete’sa)

Page 49: OLODU IFÁ(1).doc

223.             Osa – Ose (Osa’se)

224.             Ose – Osa (Ose’sa)

225.             Osa – Ofun (Osa’fu)

226.             Ofun – Osa (Ofun’sa)

 

 

IKA

 

 

227.             Ika – Oturupon (Ika Turupon)

228.             Oturupon – Ika (Oturupon’ka)

229.             Ika – Otura (Ika Otura)

230.             Otura – Ika (Otura’ka)

231.             Ika – Irete (Ika’rete)

232.             Irete – Ika (Irete’ka)

233.             Ika – Ose (Ika Ose)

234.             Ose – Ika (Ose’ka)

235.             Ika – Ofun (Ika Ofun)

236.             Ofun – Ika (Ofun’ka)

 

 

OTURUPON

 

237.             Oturupon – Otura (Oturupon’tura)

238.             Otura – Oturupon (Otura Turupon)

Page 50: OLODU IFÁ(1).doc

239.             Oturupon – Irete (Oturupon’rete)

240.             Irete – Oturupon (Irete Turupon)

241.             Oturupon – Ose (Oturupon’se)

242.             Ose – Oturupon (Ose’turupon)

243.             Oturupon – Ofun (Oturupon’fun)

244.             Ofun – Oturupon (Ofun Turupon)

 

 

OTURA

 

245.             Otura – Irete (Otura’rete)

246.             Irete – Otura (Irete’tura)

247.             Otura – Ose (Otura’se)

248.             Ose – Otura (Ose’tura)

249.             Otura – Ofun (Otura’fu)

250.             Ofun – Otura (Ofun’tura)

 

 

IRETE

 

251.             Irete – Ose (Irete-se)

252.             Ose – Irete (Oseb’Irete)

253.             Irete – Ofun (Irete’fu)

254.             Ofun – Irete (Ofun’rete)

 

Page 51: OLODU IFÁ(1).doc

 

OSE

 

255.             Ose – Ofun (Ose’fu)

256.             Ofun – Ose (Ofun’se)

 

 

 

*

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ODUS 

IFÁ   KAURIS ABERTO

SORIXÁ 

 Okaran  Okanran  1 aberto  EXU

 Oturupon

 Eji Oko   2 abertos  OGUN

 Ogundá  Eta Ogundá  3 abertos  OBALUAIYÊ

 Irosun  Irosun  4 abertos  YEMANJÁ

 Ose    Oshe  5 abertos  OXUN

 Obara  Obara  6 abertos OXÓSSI e LOGUN-EDÉ

 Edi  Odi   7 abertos  OMULU e OXALÁ

 Obge  Eji Onilé   8 abertos  OXAGUIÃN

 Osa  Osa  9 abertos  YEMANJÁ

 Ofun  Ofun 10 abertos

 OXALUFÃN

 Owarin  Oworin 11 abertos

 OYÁ

 Iwori  Ejilaxeborá 12 abertos

 XANGÔ

 Oyeku  EJi Ologban 13 abertos

 NANÃ e OBALUAIYÊ

  Ika  Ika Ori 14 abertos

 OXUMARÉ e OSSAYN

 Irete Ogbe Ogundá

 15 abertos

 OBÁ e EWÁ

 Otura  Aláfia 16 abertos

 ORUNMILÁ e OXALÁS

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ODUS DIVERSOS

I

A luta entre Oyekú e Eyiogbe depois da criação do mundo

Quando a terra foi criada pela tríade divina Olodumare-Olofin-Eledá, não existia nada. Nesse tempo foi entregue o comando do mundo a Oyekú por ser o maior dos 16 reis de Ifá.

Durante o reinado de Oyekú tudo era silêncio e obscuridade, só deambulavam pelo mundo Ikú e os espíritos não evoluídos, o primeiro criado por Olodumare. Com o passar do tempo a terra já cansada de não evoluir devido à presença do nada e desses espíritos que não avançavam, decidiu fazer um ebó, com o qual conseguiu que Olorun (o sol) a escutasse e a atraísse para perto dele. Isto teve como consequência que aparecesse pela primeira vez sobre a terra a luz do sol, com a qual chegou Eyiogbe a nosso planeta, que era claridade e luz, tudo ao contrário de Oyekú.

Desta forma Oyekú foi destronado por Eyiogbe que se converteu no primeiro dos reis de Ifá passando Oyekú a ser o segundo. Tal foi a soberba de Oyekú que se dirigiu ao castelo de Olofin a queixar-se pelo sucedido e a informá-lo que Eyiogbe criava vida mas também a destruía rapidamente devido a que o sol aquecia a terra constantemente queimando tudo o que existisse e secando mares e rios.

Olofin vendo de que isto era verdade e mediando para que cessasse a disputa entre os dois reis, proclamou que metade do tempo fosse reinado por Eyiogbe e a outra metade por Oyekú, nascendo assim o dia e a noite.

II

Porque às vezes não se deve ver Ifá

Um homem estava na terra de Ifá e tinha muitos problemas, pelo que foi consultar-se com Orunmilá.

Este disse-lhe que a sua sorte estava noutra terra e que fizesse um ebó para conseguir chegar a ela.

O homem assim o fez e quando andava na rua o prenderam e o levaram para outro sítio, longe da terra de Ifá. Quando chegaram à outra terra, o lugar onde tinha nascido, a justiça deu-se conta de que não era aquele homem que estavam procurando e o deixaram livre.

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Imediatamente lhe disseram que o procuravam há muito tempo para entregar-lhe uma herança que lhe tinham deixado uns parentes, o que o tornou imensamente rico. Devido a isso, não regressou nunca mais à terra de Ifá.

III

Como Èsù se tornou Òsijè-Ebó

Essa história revela o nascimento do 17o. Odù, como e de onde nasceu Òsetùwá, em decorrência, veremos a analise através de como Èsù se tornou Èsù Òsijè-Ebó, o transportador e encarregado de encaminhar as oferendas entre a terra e o òrun.

Quem deveria consultar o porta-voz-principal-do-culto-de-Ifá; a nuvem esta pendurada por cima da terra...

Bábálàwó dos tempos imemoriais; Os "siris" estão no rio; a marca do dedo requer Yèréòsùn (pó sagrado de Ifá).

Estes foram os Bábálàwó que jogaram Ifá para os quatrocentos Irúnmolè, senhores do lado direito, e jogaram Ifá para os duzentos malè, senhores do lado esquerdo. E jogaram Ifá para Òsun, que tem uma coroa toda trabalhada de contas, no dia em que ele (Òsetùwá) veio a ser o décimo sétimo dos Irúnmolè que vieram ao mundo, quando Òlódumàrè enviou os òrìsà, os dezesseis, ao mundo, para que viessem criar e estabelecer a terra. E vieram verdadeiramente nessa época. As coisas que Òlódumàrè lhes ensinou nos espaços do òrun constituíram nos pilares de fundação que sustentam a terra para a existência de todos os seres humanos e de todos os ebora. Òlódumàrè lhes ensinou que quando alcançassem a terra, deveriam abrir uma clareira na floresta, consagrando-a de Orò, o Igbó Orò. Deveriam abrir uma clareira na floresta, consagrando-a a Eégún, o Igbó Eégún, que seria chamado Igbó Òpá. Disse que deveriam abrir uma clareira na floresta consagrando-a a Odù Ifá, o Igbó Odù, onde iriam consultar o oráculo a respeito das pessoas.

Disse ele que deveriam abrir um caminho para os Òrìsà e chamar esse lugar de Igbó Òrìsà, floresta para adorar os òrìsà. Òlódumàrè lhes ensinou a maneira como deveriam resolver os problemas de fundação (assentamento) e adoração dos ojóbo (lugares de adoração) e como fariam as oferendas para que não houvesse morte prematura, nem esterilidade, nem infecundidade, que não houvesse perda, nem vida paupérrima, não houvesse nada de tudo isso sobre a terra. Para que as doenças sem razão não lhes sobrevivessem, que nenhuma maldição caísse sobre eles, que a destruição e a desgraça não se abatessem sobre eles. Òlódumàrè ensinou aos dezesseis òrìsà o que eles deveriam realizar para evitar todas as coisas. Ele os delegou e enviou à terra, a fim de executarem tudo isso. Quando vieram ao òde àiyé, a terra, fundaram fielmente na floresta o lugar de adoração de Orò, o Igbá Orò. Fundaram na floresta o lugar de adoração de Eégún. Fundaram na floresta o lugar de adoração de Ifá que chamamos Igbódù. Também abriram um caminho para os òrìsà, que chamamos igbóòòsa.

Executaram todos esses programas visando a ordem.

Se alguém estava doente, ele ia consultar Ifá ao pé de Òrúnmìlá. Se acontecia que Eégún poderia salvá-lo, dir-lho-iam. Seria conduzido ao lugar de adoração na floresta de Eégún ao Igbó-Igbàlè, para que ele fizesse uma oferenda para Egúngún. Talvez que um de seus ancestrais devesse ser invocado como Eégún, para que o adorasse, a fim de que esse Eégún o protegesse. Se havia uma mulher estéril, Ifá seria consultado, a respeito dela, a fim de que Orúnmìlà pudesse indicar-lhe a decocção de Òsun, que ela deveria tomar. Se havia alguém que estava levando uma vida de miséria, Orúnmìlà consultaria Ifá, a respeito dele. Poderia ser que Orò estivesse associado à sua própria entidade criadora. Orúnmìlà diria a essa pessoa que é a Orò que ela devia adorar. E ela seria conduzida à floresta de Orò.

Eles seguiram essa prática durante muito tempo.

Enquanto realizavam as diversas oferendas, eles não chamavam Òsun. Cada vez que iam a floresta de Eégún, ou à floresta de Orò, ou à floresta de Ifá, ou à floresta de Òòsà, a seu retorno, os animais que eles

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tinham abatido, fossem cabras, fossem carneiros, fossem ovelhas, fossem aves, entregavam-nos a Òsun para que ela os cozinhasse. Preveniram-na que quando ela acabasse de preparar os alimentos, não devia comer nenhum pouco, porque deviam ser levados aos Malè, lá onde as oferendas são feitas.

Òsun começou a usar o poder das mães ancestrais - àse Iyá-mi - e a estender sobre tudo o que ela fazia esse poder de Iyá-mi-Àjé, que tornava tudo inútil.

Se se predissesse a alguém que ele ou ela não fosse morrer, essa pessoa não deixava de morrer. Se fosse proclamado que uma pessoa não sobreviveria, a pessoa sobreviveria. Se se previsse que uma pessoa daria à luz um filho, a pessoa tornava-se estéril. Um doente a quem se dissesse que ele ficaria curado não seria jamais aliviado de sua doença. Essas coisas ultrapassavam seu entendimento, porque o poder de Olódumàre jamais tinha falhado. Tudo que Olódumàre lhes havia ensinado eles o aplicava, mas nada dava resultado. Que era preciso fazer ?

Quando se congregaram numa reunião, Orúnmìlà sugeriu que, já que eles eram incapazes de compreender o que se estava passando por seus próprios conhecimentos, não havia outra solução senão consultar Ifá novamente.

Em consequência, Orúnmìlà trouxe seu instrumento adivinhatório, depois consultou Ifá. Contemplou longamente a figura do Odù que apareceu e chamou esse Odù pelo nome de Òsetùwá.

Ele olhou em todos os sentidos. A partir do resultado definitivo de sua leitura, Orúnmìlà transmitiu a resposta a todos os outros Odù-àgbà. Estavam todos reunidos e concordaram que não havia outra solução para todos eles, os òrìsàs-irúnmàlè, senão encontrar um homem sábio e instruído que pudesse ser enviado a Olódumàre, para que mandasse a solução do problema e o tipo de trabalho que devia ser feito para o restabelecimento da ordem, a fim de que as coisas voltassem a normalizar-se, e nada mais interferisse em seus trabalhos.

Ele, Orúnmìlà, deveria ir até a Olódumàrè. Orúnmìlà ergueu-se. Serviu-se de seus conhecimentos para utilizar a pimenta, serviu-se de sua sabedoria para tomar nozes de obi, despregou seu òdùn (tecido de ráfia) e o prendeu no seu ombro, puxou seu cajado do solo, um forte redemoinho o levou, e ele partiu até os vastos espaços do outro mundo para encontrar Olódumàrè. Foi lá que Orúnmìlà reencontrou Èsù Òdàrà. Èsù já estava com Olódumàrè. Èsù fazia sua narração a Olódùmarè. Explicava que aquilo que estava estragando o trabalho deles na terra era o fato de eles não terem convidado a pessoa que constitui a décima sétima entre eles. Por essa razão, ela estragava tudo, Olódumàrè compreendeu.

Assim que Orúnmìlà chegou, apresentou seus agravos a Olódumàrè. Então Olódumàrè lhe disse que deveria ir e chamar a décima sétima pessoa entre eles e levá-la a participar de todos os sacrifícios a serem oferecidos. Porque, além disso, não havia nenhum outro conhecimento que Ele lhes pudesse ensinar senão as coisas que Ele já lhes havia dito.

Quando Orúnmìlà voltou à terra, reuniu todos os òrìsà e lhes transmitiu o resultado de sua viagem.

Chamaram Òsun e lhe disseram que ela deveria segui-los por todos os lugares onde deveriam oferecer sacrifícios. Mesmo na floresta de Eégún. Òsun recusou-se: ela jamais iria com eles. Começaram a suplicar a Òsun e ficaram prostrados um longo tempo. Todos começaram a homenageá-la e a reverênciá-la. Òsun os maltratava e abusava deles. Ela maltratava Òrìsànlá, maltratava Ògún, maltratava Orúnmìlà, maltratava Òsányín, maltratava Orànje, ela continuava a maltratar todo mundo. Era o sétimo dia, quando Òsun se apaziguou. Então eles disseram que viesse. Ela replicou que jamais iria, disse, entretanto, que era possível fazer uma outra coisa já que todos estavam fartos dessa história. Disse que se tratava da criança que levava no seu ventre. Somente se eles soubessem como fazer para que ela desse à luz uma criança do sexo masculino, isso significaria que ela permitiria então que ele a substituísse e fosse com eles. Se ela desse à luz uma criança do sexo feminino, podiam estar certos que esta questão não se apagaria em sua mente. Ficariam aí, pedaços, pedaços, pedaços. E eles deveriam saber com certeza que esta terra pereceria; deveriam criar uma nova.3 Mas se ela desse a luz a um filho-homem, isso queria dizer que, evidentemente, o próprio Olórun os tinha ajudado. Assim apelou-se para Òrìsànlá e para todos os outros òrìsà para saber o que deveriam fazer para que a criança fosse do sexo masculino. Disseram que não havia

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outra solução a não ser que todos utilizassem o poder - àse - que Olódumàrè tinha dado a cada um deles; cada dia repetidamente deveriam vir, para que a criança nascesse do sexo masculino, Todos os dias iam colocar seu àse - seu poder - sobre a cabeça de Òsun, dizendo o que segue. "Você Òsun ! Homem ele deverá nascer, a criança que você traz em si!" Todos respondiam "assim seja", dizendo "tó!" acima de sua cabeça... Assim fizeram todos os dias, até que chegou o dia do parto de Òsun. Ela lavou a criança. Disseram que ela deveria permitir-lhes vê-la. Ela respondeu "não antes de nove dias". Quando chegou o nono dia, ela os convocou a todos. Esse era o dia da cerimônia do nome, da qual se originaram todas as cerimônias de dar o nome. Mostrou-lhes a criança, e a pôs nas mãos de Òrìsà. Quando Òrìsànlá olhou atentamente a criança e viu que era um menino, gritou: "Músò"...! (hurra...!). Todos os outros repetiram "Músò".....! Cada um carregou a criança, depois o abençoaram. Disseram "somos gratos por esta criança ser um menino". Disseram "que tipo de nome lhe daremos". Òrìsà disse: "vocês todos sabem muito bem que cada dia abençoamos sua mãe com nosso poder para que ela pudesse dar à luz uma criança do sexo masculino, e essa criança deveria justamente chamar-se À-S-E-T-Ù-W-Á (o poder trouxe ela a nós)" Disseram: "acaso você não sabe que foi o poder do àse, que colocamos nela, que forçou essa criança a vir ao mundo, mesmo se antes ela não queria vir à terra sob a forma de uma criança do sexo masculino? Foi nosso poder que a trouxe à terra". Eis por que chamaram a criança de Àsetùwà. Quando chegou o tempo, Orúnmìlà consultou o oráculo Ifá acerca da criança, porque todos devem conhecer sua origem e destino, colheram o instrumento de Ifá para consultá-lo. Eles o manipularam e o adoraram. Era chegado o momento de consultar Ifá a respeito dele, para saberem qual era seu Odù, para que o pudessem iniciar no culto de Ifá. Levaram-no à floresta de Ifá, que chamamos Igbódù, onde Ifá revelaria que Òsè e Òtùá eram seu Odù. Este foi o resultado que ele deu a respeito da criança. Orúnmìlà disse: "a criança que Òsè e Òtùá fizeram nascer, que antes chamamos de Àsetùwá", disse, "chamemo-la de Òsètùá". Foi por isso que chamaram a criança com o nome do Odù de Ifá que lhe deu nascimento, Òsètùá. Àsetùá era o nome que ele trazia anteriormente. Assim, a criança participou do grupo dos outros Odù, ao ponto de ir com eles a todos os lugares onde se faziam oferendas na terra. Foi assim que todas as coisas que Olódùmàrè lhes tinha ensinado deixaram de ser corrompidas. Cada vez que proclamavam que as pessoas não morreriam, elas realmente sobreviviam e não morriam. Se diziam que as pessoas seriam ricas, elas tornavam-se realmente ricas. Se diziam que a mulher estéril conceberia, ela realmente dava à luz. A própria Òsun deu a essa criança um nome nesse dia. Disse ela: "Osó a gerou (significando que a criança era filho do poder mágico), porque ela mesma era uma ajé e a criança que ela gerou é um filho homem. Disse ela: "Akin Osò", (Akin Osò: poderoso mago; homem bravo dotado de um grande poder sobrenatural) eis o que a criança será ! É por isso que eles chamaram Òsetùá de Akin Osò, entre todos os Odù Ifá e entre os dezesseis òrìsà mais anciãos. Depois eles disseram que em qualquer lugar onde os maiores se reunissem, seria compulsório que a criança fosse um deles. Se não pudessem encontrar o décimo sétimo membro, não poderiam chegar a nenhuma decisão, e se dessem um conselho, não poderiam ratifica-lo. Finalmente, aconteceu! Sobreveio uma seca na terra. Tudo estava seco! Não havia nem orvalho! Fazia três anos que tinha chovido pela última vez. O mundo entrou em decadência. Foi então que eles voltaram a consultar Ifá, Ifà àjàlàiyé. (aquele que administra a terra) Quando Orúnmìlà consultou Ifá àjàlàiyé, disse que deveriam fazer uma oferenda, um sacrifício, e preparar a oferenda de maneira que chegasse a Olódùmàrè, para que Olódùmàrè pudesse ter piedade da terra, e assim não virasse as costas à terra e se ocupasse dela para eles. Porque Olódùmàrè não se ocupava mais da terra. Se isso continuasse, a destruição era inevitável, era iminente. Somente se pudessem fazer a oferenda, Olódumàrè teria sempre misericórdia deles. Ele se lembraria deles e zelaria pelo mundo. Foi assim que prepararam a oferenda. Eles colocaram, uma cabra, uma ovelha, um cachorro e uma galinha, um pombo, uma preá, um peixe, um ser humano e um touro selvagem, um pássaro da floresta, um pássaro da savana, um animal doméstico. Todas essas oferendas, e ainda dezesseis pequenas quartinhas cheias de azeite de dendê que eles juntaram nesse dia. E ovos de galinha, e dezesseis pedaços de pano branco puro. Prepararam as oferendas apropriadas usando folhas de Ifá, que toda oferenda deve conter. Fizeram um grande carrego com todas as coisas. Disseram então, que o próprio Èjì-Ogbè deveria levar essa oferenda a Olódumàrè. Ele levou a oferenda até as portas do òrun, mas não, lhe foram abertas. Èjì-Ogbè voltou à terra. No segundo dia Òyèkú-Méji a carregou, ele voltou. Não lhe abriram as portas. Ìwòrí-Méji levou a oferenda, assim fizeram Òdi-Méji; Ìrosùn-Méji; Òwórin-Méji; Òbàrà-Méji; Òkànràn-Méji; Ogúndá-Méji; Òsá-Méji; Ìká-Méji; Òtúrúpòn-Méji; Òtúá-Méji; Ìrètè-Méji; Òsè-Méji; Òfún-Méji. Mas não puderam passar, Olórun não abria as portas. Assim decidiram que o décimo sétimo entre eles deveria ir e experimentar o seu poder, antes que tivessem que reconhecer que não tinham mais nenhum poder.

Foi assim que Òsetùá foi visitar certos Babaláwo, para que eles consultassem o oráculo para ele. Esses Babaláwo traziam os nomes de Vendedor-de-azeite-de-dendê e Comprador-de-azeite-de-dendê. Ambos esfregaram seus dedos com pedaços de cabaça. Jogaram Ifá para Akin Osò, o filho de Enìnàre (aquela que foi colocada na senda do bem) no dia em que ele conseguiu levar a oferenda ao poderoso òrun. Disseram

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que ele deveria fazer uma oferenda; disseram, quando ele acabasse de fazer a oferenda, disseram, no lugar a respeito do qual ele estava consultando Ifá, disseram, ali, ele seria coberto de honras, disseram, sucederá que a posição que ele ali alcançasse, disseram, essa posição seria para sempre e não desapareceria jamais. Disseram, as honras que ele ali receberia, disseram, o respeito, seriam intermináveis. Disseram: "Você verá uma anciã no seu caminho", disseram, "faça-lhe o bem". Assim, quando Òsetùá acabou de preparar a oferenda, seis pombos, seis galinhas com seis centavos e quando estava em seu caminho, ele encontrou uma anciã. Ele carregava a oferenda no caminho que levaria a Èsù, quando encontrou essa anciã na sua rota. Essa anciã era da época em que a existência se originou. Disse: "Akin Osò! à casa de quem vai você hoje ?" Disse: "eu ouvi rumores a respeito de todos vocês na casa de Olófin, que os dezesseis Odù mais idosos levaram uma oferenda ao poderoso òrun sem sucesso".

Disse: "assim seja".

Disse: "é sua vez hoje?''

Disse: "é minha vez".

Disse: "tomou alimentos hoje?"

Respondeu ele: "eu tomei alimentos".

Disse ela "quando você chegar a seu sitio, diga-lhes que você não irá hoje".

Disse ela: "Esses seis centavos que você me deu", Disse: "há três dias não tinha dinheiro para comprar comida"

Disse: "diga-lhes que você não ira hoje".

Disse: "quando chegar amanhã, você não deve comer, você não deve beber antes de chegar ali".

Disse: "você deve levar a oferenda". Disse: "todos esses que ali foram, comeram da comida da terra, essa é a razão por que Olórun não lhes abriu a porta!"

Quando Òsetùá voltou a casa de Oba Àjàlàiyè, todos os Odù Ifá estavam reunidos lá. Disseram: "você deve estar pronto agora, é sua vez hoje de levar a oferenda ao òrun, talvez a porta seja aberta para você!" Disse ele que estaria pronto no dia seguinte, porque não tinha sido avisado na véspera. Quando chegou o dia seguinte, Òsetùá, foi encontrar Èsù e lhe perguntou o que deveria fazer.

Èsù respondeu: "Como! Jamais pensei que você viria me avisar antes de partir". Disse ele: "isso vai acabar hoje, eles lhe abrirão a porta !" Perguntou ele: "Tomou algum alimento?" Òsetùá lhe respondeu que uma anciã lhe tinha dito na véspera que ele não devia comer absolutamente nada. Então Òsetùá e Èsù puseram-se a caminho. Partiram em direção aos portões do òrun.

Quando chegaram lá, as portas já se encontravam abertas, encontraram as portas abertas. Quando levaram a oferenda a Olódùmarè e Ele examinou. Olòdumarè disse: "Haaa! Você viu qual foi o último dia que choveu na terra?! Eu me pergunto se o mundo não foi completamente destruído. Que pode ser encontrado lá?" Òsetùá não podia abrir a boca para dizer qualquer coisa. Olódùmarè lhe deu alguns "feixes" de chuva. Reuniu, como outrora, as coisas de valor do òrun, todas as coisas necessárias para a sobrevivência do mundo, e deu-lhas. Disse que ele, Òsetùá, deveria retornar. Quando deixaram a morada de Olódumarè, eis que Òsetùá perdeu um dos "feixes" de chuva. Então a chuva começou a cair sobre a terra. Choveu, choveu, choveu, choveu.... Quando Òsetùá voltou ao mundo, em primeiro lugar foi ver Quiabo. Quiabo tinha produzido vinte sementes. Quiabo que não tinha nem duas folhas, um outro não tinha mesmo nenhuma folha em seus ramos. Voltou-se em direção à casa do Quiabo escarlate, Ilá Ìròkò tinha produzido trinta sementes. Quando chegou a casa de Yáyáá, esse havia produzido cinquenta sementes. Foi então até à casa da palmeira de folhas exuberantes, que se encontrava na margem do rio Awónrin Mogún. A palmeira tinha dado nascimento a dezesseis rebentos. Depois que a palmeira deu nascimento a dezesseis rebentos ele voltou à casa de Oba Àjàlàiyé. Àse se expandia e se estendia sobre a terra. Sêmen

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convertia-se em filhos, homens em seu leito de sofrimento se levantavam, e todo o mundo tornou-se aprazível, tornou-se poderoso. As novas colheitas eram trazidas dos plantios. O inhame brotava, o milho amadurecia, a chuva continuava a cair, todos os rios transbordavam, todo mundo era feliz. Quando Òsetùá chegou, carregaram-no para montar num cavalo (signo de realeza: só os mais poderosos podem-se permitir a criar ou montar cavalos em País Yorùbá). Estavam mesmo a ponto de levantar o cavalo do chão para mostrar até que ponto as pessoas estavam ricas e felizes. Estavam de tal forma contentes com ele, que o cobriram de presentes, os que estavam em sua direita os que estavam em sua esquerda. Começaram a saudar Òsetùá: "Você é o único que conseguiu levar a oferenda ao òrun, a oferenda que você levou ao outro mundo era poderosa ! Disseram, "sem hesitação, rápido, aceite meu dinheiro e ajude-me a transportar minha oferenda ao òrun! Òsetùá! Aceite rápido! Òsetùá aceite minha oferenda!" Todos os presentes que Òsetùá recebeu, os deu todos a Èsù Òdàrà. Quando os deu a Èsù, Èsù disse: "Como!" Há tanto tempo ele entregava os sacrifícios, e não houve ninguém para retribuir-lhe a gentileza.

"Você Òsetùá! Todos os sacrifícios que eles fizerem sobre a terra, se não os entregarem primeiro a você, para que você possa trazer a mim, farei que as oferendas não sejam mais aceitáveis". Eis a razão pela qual sempre que os Babaláwo fazem sacrifícios, qualquer que seja o Odù Ifá que apareça e qualquer que seja a questão, devem invocar Òsetùá para que envie as oferendas a Èsù. Porque é só de sua mão que Èsù aceitará as oferendas para levá-las ao òrun. Porque quando Èsù mesmo recebia os sacrifícios das pessoas da terra e os entregava no lugar onde as oferendas são aceitas, eles não demonstravam nenhum reconhecimento pelo que ele fazia por todos até o dia em que Òsetùá teve de carregar o sacrifício e Èsù foi abrir o caminho apropriado para o òrun, para alcançar a morada de Olódumàrè. Quando se abriram as portas para ele. A qualidade de gentileza que Èsù recebeu de Òsetùá era realmente muito valiosa para ele (Èsù). Então ele e Òsetùá decidiram combinar um acordo pelo qual todas as oferendas que deveriam ser feitas deveriam ser-lhe enviadas por intermédio de Òsetùá. Foi assim que Òsetùá converteu-se no entregador de oferendas para Èsù. Èsù Òdàrà, foi assim que ele se converteu em O portador de oferendas para Olódumàrè, Èsù Òsijé-Ebó, no poderoso òrun. É assim como este Itan (verso) Ifá explica, a respeito de Èsù e Òsetùá.

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Ítons Diversos de Conhecimento

 

I

Os orixás protegem os desvalidos

Era uma vez um homem que tocava tambor na rua enquanto cantava e dizia que, enquanto o seu anjo guardião não vendesse não haveria Rei que pudesse fazer-lhe nada. Um seu inimigo ouviu-o um dia e foi contar ao Rei da cidade. Este mandou buscar o homem e lhe pediu que guardasse um colar de coral que era muito apreciado por ele. O homem que era cego, partiu para sua casa e o seu inimigo segui-o com a intenção de ver onde ele guardava o colar. Tão depressa como o cego guardou o colar num lugar que pensava ser seguro, seu inimigo o levou e jogou-o no mar.

Passados poucos dias o Rei foi ter com o cego e pediu-lhe que lhe entregasse o colar. O cego foi a sua casa e quando procurou o colar não o encontrou. Por isso foi visitar Orunmilá para que o ajudasse. Este lhe disse que tinha que fazer um ebó dando de comer à sua cabeça um peixe grande e que depois do pedido abrisse o peixe e o limpasse. O cego assim o fez e foi enorme a sua surpresa quando ao limpar o peixe depois do ebó apareceu dentro dele o colar que havia perdido, salvando-se assim da traição do Rei e do seu inimigo.

II

ITAN TI ORUGAN

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Orugan foi o primeiro Babalawo e sua mulher chamava-se Orixabi. Carregava os búzios na barriga para Orugan jogar. Diziam que Orugan tinha em sua casa um pé de obi. Exú pediu a Ifá para jogar. Ifá mandou que Exú trouxesse 10 nozes de cola para o jogo. Exú, então, foi à casa de Orugan pedir os frutos, pois sabia que só ele tinha um pé de obi em casa. Exú pediu os frutos à Orugan e este disse que só daria os frutos se ele aprendesse a jogar e depois lhe ensinasse. Exú concordou e prometeu que logo soubesse jogar voltaria para ensinar a Orugan.

Exú então, foi apanhar os frutos, os macacos que estavam no pé de obi iam tirando os frutos, descascando, partindo e jogando para Exú. Entretanto Orixabi, mulher de Orugan a tudo assistia, ia apanhando os frutos que os macacos jogavam e colocando em sua barriga.

Os Babalawo na África, por este motivo, quando vão jogar, levam a sua mulher para carregar o jogo, as quais são chamadas de Ìyápetebi. Se por um acaso o Babalawo não for casado ou for viúvo, ele leva sua mãe.

III

ITAN TI IKÚ

Quando Olorun procurava matéria apropriada para criar o ser humano (o homem), todos os ebora partiram em busca da tal matéria. Trouxeram diferentes coisas: mas nenhuma era adequada. Eles foram buscar lama, mas ela chorou e derramou lágrimas. Nenhum ebora quis tomar da menor parcela. Mas Ikú, Òjègbé-Aláxo-Òna, apareceu, apanhou um pouco de lama - eerúpé - e não teve misericórdia de seu pranto. Levou-o a Olodumare, que pediu a Orixalá e a Olúgama que o modelaram e foi Ele mesmo que insuflou seu hálito. Mas Olodumare determinou a Ikú que, por ter sido ele a apanhar a porção de lama, deveria recolocá-la em seu lugar a qualquer momento, e é por isso que Ikú sempre nos leva de volta para a lama.

IV

ITAN TI ÒBÀRISÀ, ODÙA ATI ÒGÚN

Três orixás, Odùa, Obarixá e Ogun vêm, do orun, instalar-se sobre a terra. Odùa é a única mulher e ela se queixa a Olorun por não ter nenhum poder. Este elege-a Mãe para a eternidade. Entrega-se axé sob a forma de uma cabaça contendo um pássaro e recomenda-lhe que se mostre prudente no que se refere ao uso do poder que ele lhe outorga.

Todos os lugares de adoração encontram-se em seu ika, no quintal onde Obarixá não pode penetrar. Este, vendo seu poder diminuído, consulta Ifá e é aconselhado a fazer uma oferenda constituída de ìgbín - caracóis - e um paxan, uma haste de àtòrì. Ifá adverte-o para que tenha muita paciência e astúcia para conquistar Ìyá-mi e sair vitorioso. Com efeito, Ìyá-mi esquece as recomendações de Olodumare e abusa de seu poder em relação a Orixalá, sempre prudente. Finalmente Ìyá-mi insiste para que vivam juntos em sua morada já que juntos vieram do orun e já que Ogun está ocupado com suas ferramentas e suas guerras. Obarixá concorda. Uma vez na vivenda, adora sua cabaça com os ìgbín e bebe sua água. Ele oferece a Odù

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que negligentemente aceita. A água parece-lhe deliciosa e ela também come, com Obatalá, a carne dos ìgbín.

Obatalá se queixa: ele lhe revela todos os seus segredos e ela continua a esconder-lhe os seus. Odùa o conduz ao ika, descobre para ele a vestimenta-símbolo de Egungun. Quando Odùa sai, ela apanha as vestimentas, as modifica, veste-as e, tomando do paxan na mão, saí a percorrer a cidade. Sabe falar como os ará-òrun. Todos reconhecem-no como o verdadeiro Egungun e o aclamam. Odùa reconhece "seus" panos e admite que Obarixá torna presente Egungun melhor do que ela. Ela ordena a seu pássaro de pousar no ombro de Egungun; com o axé de eleye, tudo o que Egungun prognostica e diz se realizará. Egungun está completo. Eleye e Egungun andarão juntos. Quando Obarixá regressa, Odùa entrega-lhe o poder de manejar Egungun e se retira para sempre de seu culto. Só eleye indicará seu poder e marcará a relação entre Egungun e a ìyá-mi.

V

LENDA DA SEPARAÇÃO DO ÒRUN E DO ÀIYÉ

No tempo em que o àiyé e o òrun era limítrofes, a esposa estéril de um casal de certa idade apresentou-se em várias ocasiões a Orixalá, divindade mestra da criação dos seres humanos, e lhe implorou que lhe desse a possibilidade de gerar um filho. Repetidamente Orixalá se tinha recusado a atendê-la. Enfim, movido pela grande insistência, aquiesce ao desejo da mulher, mas com a condição: a criança não poderia jamais ultrapassar os limites do àiyé. Por isso, desde que a criança deus seus primeiros passos, seus pais tomaram todas as precauções necessárias. Contudo, toda vez que o pai ia trabalhar no campo, o pequeno pedia para acompanhá-lo. Toda sorte de estratagemas eram feitas para evitar que a criança acompanhasse o pai. À medida que a criança ia crescendo, o desejo de acompanhar seu pai aumentava. Tendo atingido a puberdade, uma noite, ele decidiu fazer um buraquinho no saco que o pai levava todos os dias de madrugada e de pôr certa quantidade de cinza no fundo. Assim, guiado pela trilha de cinza, conseguiu localizar seu pai e o seguiu. Eles andaram muito tempo até chegar ao limite do àiyé onde o pai possuía suas terras. Neste exato momento, o pai apercebeu-se que estava sendo seguido por seu filho. Mas este não pôde mais deter-se, atravessou o campo e, apesar dos gritos do pai e dos outros lavradores, continuou a avançar. Ultrapassou os limites do àiyé sem prestar atenção às advertências do guarda e entrou no òrun. Lá, começou uma longa odisséia no decorrer da qual o rapaz gritava e desafiava o poder de Orixalá, faltando ao respeito a todos os que queriam impedi-lo de seguir seu caminho. Atravessou os vários espaços que compõem o òrun, lutando contra uns e outros, até chegar ao ante-espaço do lugar onde se encontrava o grande Orixalá a cujos ouvidos chegou seu desafio insólito. Apesar de ter sido chamado a atenção várias vezes, o rapaz insistiu até que Orixalá, irritado, lançou seu cajado ritual, o opaxoro, que atravessando todos espaços do òrun, veio cravar-se no àiyé separando-o para sempre do òrun, antes de retornar às mãos de Orixalá. Entre o àiyé e o òrun apareceu o sánmò que se estendera entre os dois.

O òfurufú, ar divino, é que separa os dois níveis de existência, o òrun da vida.

VI

LENDA DA CRIAÇÃO DO MUNDO

Quando Olorun decidiu criar a terra, chamou Obatalá, entregou-lhe o "saco da existência", àpò-ìwà, e deu-lhe as instruções necessárias para a realização da magna tarefa. Obatalá reuniu todos os orixás e preparou-se, sem perda de tempo. De saída, encontrou-se com Odùa que lhe disse que só acompanharia após realizar

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suas obrigações rituais. Já no òna-òrun, caminho, Obatalá passou diante de Exú. Este, o grande controlador e transportador de sacrifícios que domina os caminhos, perguntou-lhe se já tinha feito as oferendas propiciatórias. Sem se deter, Obatalá respondeu-lhe que não tinha feito nada e seguiu seu caminho sem dar mais importância à questão. E foi assim que Exú sentenciou que nada do que ele se propunha empreender seria realizado. Com efeito, enquanto Obatalá seguia seu caminho começou a ter sede. Passou perto de um rio, mas não parou. Passou por uma aldeia onde lhe ofereceram leite, mas ele não aceitou. Continuou andando. Sua sede aumentava e era insuportável. De repente, viu diante de si uma palmeira Igì-òpe e, sem se poder conter, plantou no tronco da árvore seu cajado ritual, o òpá-sóró, e bebeu a seiva (vinho de palmeira). Bebeu insaciavelmente até que suas forças o abandonaram, até perder os sentidos e ficou estendido no meio do caminho. Nesse meio tempo, Odùa, que foi consultar Ifá, fazia suas oferendas a Exú. Seguindo os conselhos dos Babalawo, ela trouxera cinco galinhas, das que têm cinco dedos em cada pata, cinco pombos, um camaleão, dois mil elos de cadeia e todos os outros elementos que acompanham o sacrifício. Exú apanhou estes últimos e uma pena da cabeça de cada ave e devolveu a Odùa a cadeia, as aves e o camaleão vivos. Odùa consultou outra vez os Babalawo que indicaram ser necessário, agora, efetuar um ebó, isto é, um sacrifício, aos pés de Olorun, de duzentos ìgbín, os caracóis que contêm "sangue branco", "a água que apazigua", omi-èrò.

Quando Odùa levou o cesto com ìgbín, Olorun aborreceu-se vendo que Odùa ainda não tinha partido com os outros. Odùa não perdeu sua calma e explicou que estava obedecendo as ordens de Ifá. Foi assim que Olorun decidiu aceitar a oferenda e ao abrir seu Àpére-odù - espécie de grande almofada onde geralmente Ele está sentado - para colocar a água dos ìgbín, viu com surpresa, que não havia colocado no àpò-Iwà - bolsa da existência - entregue a Obatalá, um pequeno saco contendo a terra. Ele entregou a terra nas mãos de Odùa para que ela, por sua vez, a remetesse a Obatalá. Odùa partiu para alcançar Obatalá. Ela o encontrou inanimado ao pé da palmeira, contornado por todos os orixás que não sabiam que fazer. Depois de tentar em vão acordá-lo, ela apanhou o àpò-iwà que estava no chão e voltou para entregá-lo a Olorun. Este decidiu, então, encarregar Odùa da criação da terra. Na volta de Odùa, Obatalá ainda dormi; ela reuniu todos os orixás e explicou-lhes que fora delegada por Olorun e eles dirigiram-se todos juntos para o Òrun Àkàsò por onde deviam passar para assim alcançar o lugar determinado por Olorun para a criação da terra. Exú, Ogun, Oxossi e Ìja conheciam o caminho que leva às águas onde iam caçar e pescar. Ogun ofereceu-se para mostrar o caminho e converteu-se no Asiwajú e no Olúlànà - aquele que está na vanguarda e aquele que desbrava os caminhos. Chegando diante do Òpó-òrun-oún-Àiyé, o pilar que une o òrun ao mundo, eles colocaram a cadeia ao longo da qual Odùa deslizou até o lugar indicado por cima das águas. Ela lançou a terra e enviou Eyelé, a pomba, para esparramá-la. Eyelé trabalhou muito tempo. Para apressar a tarefa, Odùa enviou as cinco galinhas de cinco dedos em cada pata. Estas removeram e espalharam a terra imediatamente em todas as direções, à direita, à esquerda e ao centro, a perder de vista. Elas continuaram durante algum tempo. Odùa quis saber se a terra estava firme. Enviou o camaleão que, com muita precaução, colocou primeiro uma pata, tateando, apoiando-se sobre esta para, colocou a outra e assim sucessivamente até que sentiu a terra sob suas patas.

Quando o camaleão pisou por todos os lados, Odùa tentou por sua vez. Odùa foi a primeira entidade a pisar na terra, marcando-a com sua primeira pegada. Essa marca é chamada esè ntaiyé Odùdúwà.

Atrás de Odùa vieram todos os outros orixás colocando-se sob sua autoridade. Começaram a instalar-se. Todos os dias Orunmilá - patrão do oráculo Ifá - consultava Ifá para Odùa. Nesse meio tempo Obatalá acordou e vendo-se só sem o àpó-iwà retornou a Olorun, lamentando-se de ter sido despojado do àpò. Olorun tentou apaziguá-lo e em compensação transmitiu-lhe o saber profundo e o poder

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que lhe permitia criar todos os tipos de seres profundo e o poder que lhe permitia criar todos os tipos de seres que iam povoar a terra.

VII

ITAN TI SETILU

Setilu foi uma criança que nasceu cega. Lamentando a sorte ficaram na dúvida em sacrificar ou poupar-lhe a vida a fim de diminuir a carga familiar. Os sentimentos paternos foram mais fortes e a criança foi poupada. Cresceu como uma criança extraordinária pêlos seus dotes de adivinhação. Aos cinco anos de idade já exercitava seus dotes, predizendo que lhe visitaria e com que objetivo. E sua capacidade foi crescendo com trabalhados de magia e cura. No começo de sua prática usou dezesseis pedrinhas para o ato da consulta, conquistando o respeito e admiração de todos. Alguns se tornam seus adeptos e seguidores, mesmo os sacerdotes mais afamados da região. Em razão disso, os maometanos resolveram expulsar Setilu da região. Assim, Setilu cruzou rio Níger e seguiu para Benin, permanecendo algum tempo na cidade de Òwò, daí para Àdó. Depois migrou para Ilé ifè, ficando aí permanentemente. Logo se tornou famoso. Impressionando a todos e adquirindo confiança quase que absoluta, procurou modificar certos costumes, entre eles o de abolir as marcas tribais - ilà - feitas na face das pessoas, uma vez que esse tipo de corte no rosto não era feito em Tápà, terra de Setilu.

Com o tempo, os coquinhos, as peças de ferro e as bolsas de marfim foram sucessivamente usadas, ao invés de pedrinhas. Atualmente, os coquinhos passaram a ser usados por serem considerados uma forma de conciliação, pois os outros métodos exigem custosos sacrifícios e até sangue humano.

Setilu iniciou vários seguidores nos mistérios do culto a Ifá, e ele se tornou gradativamente o oráculo de consulta de toda a nação yorubá. O sistema empregado para a prática da consulta ainda é o mesmo dos dias atuais, e será examinado mais adiante.

Um outro relato de oficialização do culto a Ifá foi feita pelo rei Ofiran, filho de Onígbógi.

Ónígbógi era um dos filhos do Aláàfin Olúàso com Arùgbá-Ifá, mulher oriunda da cidade de Òtá. Ela estava ausente quando Onígbógi ascendeu ao trono pela morte do pai, e voltou para assisti-lo no seu governo com seus conselhos. Sendo muito superticiosa e desejando que seu filho tivesse um reinado duradouro e próspero, ela o aconselhou a introduzir o culto a Ifá em Òyó, como uma divindade nacional. Inquirida sobre as oferendas necessárias para Ifá, ela respondeu que eram 16 òkété (espécie de roedor do tipo de rato), 16 bolsas de conchas (búzios), 16 peixes, 16 galinhas, 16 pedaços de tecido e 16 porcos. Diante disto, o conselho da cidade rejeitou a idéia, por não concordar em adorar coquinho. Arùgbá-Ifá retorna para Òtá acompanhada de seus adeptos, levando todas as peças utilizadas no culto: ajé, opón, ajere, òsùn e ìróké. Chegam à cidade chorando muito e se lamentando pela decisão. Indagados sobre a razão do choro, contam o que havia acontecido. O soberano da cidade de Àdó tomou conhecimento e convidou todos a morar com ele. E dessa convivência surgiu a curiosidade do conhecimento das coisas de Ifá. O soberano, Aládó, acabou sendo iniciado nos mistérios, com o que lhe foi conferido, igualmente, o direito de iniciar outras pessoas. Algum tempo depois, no reinado seguinte de Òyó, quando decidiram adotar o culto a Ifá, foi esse Aládó que foi à cidade fazer a iniciação das pessoas nos mistérios, ritos e cerimônias do culto a Ifá.

VIII

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ITAN TI OBÌ

Olófin, "O Senhor das Leis", um dos título de Olódùmarè, decidiu um dia visitar a terra e ver de perto como as coisas andavam. Em sua caminhada conheceu um homem que se chamava Obì, e que lhe impressionou muito por ser ele uma pessoa muito justa, sem orgulho e pretensões, e sem nenhuma vaidade.

Então Olófin decidiu que Obì deveria viver muito alto, vestido de branco por fora e por dentro, que sua alma seria imortal e que trabalharia para ele. Em seguida, Olófin lhe apresentou Exú, e entre ambos surgiu grande amizade, sendo que os amigos de um passaram a ser amigos do outro. O pobres, os ricos, os corretos, os desajustados, todos eram amigos de Exú.

Com o correr do tempo, Obì, do alto de sua branca posição, começou a se tornar vaidoso e cheio de si. O orgulho tomou conta dele, que passou a evitar as pessoas que lhe eram inferiores; até Exú ele evitava, devido as suas amizades que não agradavam Obì.

Desejando celebrar uma festa, Obì convidou Exú e pediu-lhe que evitasse convidar suas amizades. Exú, que havia notado a mudança de comportamento de Obì, convidou os poderosos e ricos, mas também os vagabundos e miseráveis da cidade. Quando Obì chegou em casa e viu aquela gente estranha, ficou irado e perguntou: "Quem convidou esta gente à minha casa?" Todos responderam: "Foi Exú".

Obì se enfureceu e expulsou a todos, dizendo que não admitia vagabundos em sua casa. Exú chegou no momento em que todos saíam, dizendo que Obì era vaidoso e ingrato. Em seguida, saiu acompanhando seus amigos.

Compreendendo o que havia feito, Obì tentou reconsiderar, dizendo que havia se equivocado ao tratar daquela forma os amigos pobres de Exú. Tratou de pedir perdão; Exú, porém, não lhe fez caso, seguindo o seu caminho.

Certo dia, Olófin convocou Exú à sua presença e pediu-lhe que levasse um recado para Obì, porém Exú se recusou, e, ao ser inquirido sobre a razão da recusa de ir à casa de seu amigo, respondeu-lhe que Obì havia mudado de comportamento, tornara-se muito vaidoso e se recusava a receber em sua casa os pobres e os humildes. Olófin escutou em silêncio o relato de Exú, e, quando este terminou-lhe disse: "Vou ensinar uma lição a Obì."

Usando de um disfarce, Olófin foi até a casa de Obì. Tocando a porta, foi recebido por Obì, que não lhe reconheceu, e foi dizendo para se afastar dali, que ele não dava esmolas a ninguém. Olófin, ao ouvir aquilo, firmou a voz e lhe disse: "Olhe para mim! Veja quem sou eu!"...

Obì, diante da presença de Olófin, tratou de corrigir-se alegando um engano. Olófin então falou: "Eu lhe acreditava um homem honesto, íntegro e bom, sem falso orgulho ou vaidade, por isso o fiz branco por todos os lados e com espírito imortal. Parece que de viver tão alto, sua cabeça chegou às nuvens. Mas vou corrigir tudo isso. Você, a partir de agora, viverá no alto, mas só que no alto das árvores, porém caíras e rolarás por terra, para que aprendas que por mais elevado que uma pessoa esteja, também poderá cair por terra. Você se vestirá de verde por fora e branco por dentro, mas algumas vezes será negro. Quando aprender a corrigir seus erros, eu o perdoarei. Até lá, você deverá servir a todos os orixás e ajudará a predizer o futuro a todos que desejarem saber, tanto os ricos como os pobres e necessitados, sem distinção social ou de cor".

IX

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LENDA DO SURGIMENTO DOS ORIXÁS

Do consórcio de Obatalá, o céu, com Odùdúwà, a terra, nasceram dois filhos, Aganju, a terra firme, e Iyemoja, as águas. Desposando de Aganju, Iyemoja deu à luz Orugan, o ar, as alturas, o espaço entre a terra e o céu. Orugan concebe incestuoso amor por sua mãe e, aproveitando a ausência do pai, raptou-a e a violou. Aflita e entregue ao violento desespero, Iyemoja desprende-se dos braços do filho, foge alucinada, desprezando as infames propostas da continuação às ocultas daquele amor criminoso. Persegue-a Orugan, mas , prestes a deitar-lhe a mão, cai morta Iyemoja. Desmesuradamente cresce-lhe o corpo e dos seios monstruosos nascem dois rios que adiante se reúnem, constituindo uma lagoa. Do ventre enorme que se rompe, nascem:

Dadá, deusa ou orixá dos vegetais,

Xangô, deus do trovão,

Ogun, deus do ferro e da guerra,

Olókun, deus do mar,

Oloxá, deus dos lagos,

Oyá, deusa do rio Níger,

Oxun, deusa do rio Oxun,

Obà, deusa do rio Obà,

Okô, orixá da agricultura,

Oxossi, deus dos caçadores,

Okê, deus das montanhas,

Ajê-Xaluga, deusa da riqueza,

Xaponan, deus da varíola,

Orun, o sol,

Oxupá, a lua..

X

ITAN TI ÀBÍKÚ

Um caçador estava no local limite entre o òrun e o àiyé, e ali ouviu as promessas de três àbíkú ao Oníbodè quanto aos seus destinos e a época exata de suas mortes e consequente retorno ao òrun.

Um deles prometeu que deixaria o mundo assim que o fogo utilizado por sua mãe para preparar sua comida se apagasse por falta de lenha. O outro àbíkú disse que iria morrer quando o tecido usado por sua mãe para carregá-lo nas costa se

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rasgasse. Ela ia cair e morreria. A terceira, que era uma memina, morreria no dia em que seus pais lhe autorizassem a casar e ir morar com o marido.

O caçador saiu dali e foi visitar as três mães no momento em que elas estavam dando à luz os filhos àbíkú. Aconselhou à primeira que não deixasse a lenha queimar inteiramente sob o pote que cozinharia os legumes para seu filho; à segunda, que não deixaria rasgar o pano que ela usaria para carregar o filho nas costas, usando um reforço; à terceira, que não especificasse o dia e hora em que sua filha deveria ir viver na casa de seu futuro marido.

As três mães, então, foram consultar um Babalawo, que lhe recomendou que fizessem, respectivamente, as oferendas de um tronco de bananeira, de uma cabra e de um galo, que impediriam os três àbíkú de manter o compromisso de morrer nas datas em que haviam sido ditas ao Oníbodè. Com o tronco de bananeira cheio de seiva no fogo, o calor permaneceria, mas o fogo se apagaria, e o àbíkú, vendo o calor não se apagava, concluiria que o momento não seria aquele para a sua partida; a pele de cabra oferecida serviria para reforçar o tecido que não rasgaria e a criança não cairia no chão para morrer. Para a última criança, os pais não deveriam dizer nada com relação ao momento de viver com o marido, enviando-a para a casa dele sem nada anunciar.

Com isto, os três àbíkú não puderam mais manter a promessa porque as circunstâncias que deveriam anunciar suas partidas não se realizaram da forma como foi estabelecida. E assim seguiram um outro caminho em sua vida terrena.

XI

ITAN TI ALUKÓSÓ

Um certo Alukósó teve toda uma vida de miséria até os 40 amos de idade, quando decidiu se suicidar. Em sua tentativa, ele apenas desfaleceu e se viu diante de Oníbodè, o guardião da entrada entre o òrun e o àiyé, que lhe perguntou por que estava ali se não era aquela a sua hora? Alukósó, então, lhe fez um relato de sua vida. Quando terminou, Oníbodè lhe pediu que ficasse numa sala e o intruiu para ficar ouvindo as coisas que iam acontecer. Depois de algum tempo, ele ouviu vozes de pessoas que estavam no mundo e haviam chegado. Ouviu vários relatos de cada uma sobre seu destino, e como ele foi selado por Oníbodè. Quando todos haviam ido embora, Oníbodè cantou:

Alukósó - Àiyé Alukósó do mundo

Sé o ngbó o? Vocês estavam ouvindo?

Bi àiyé se nye mà rèé o É assim que se organiza

a vida no mundo

Dessa forma, Alukósó tomou conhecimento de que as coisas que lhe iam acontecer na Terra estavam de acordo com o seu destino. Depois, Oníbodè lhe mostrou um local em que havia grande quantidade de gado e bens terrestres, dizendo que tudo aquilo seria seu após os 40 anos de idade, de acordo com o que foi determinado pelo seu destino. Mas agora ele estava privado de todo o seu futuro devido à sua impaciência.

Alukósó caiu em prantos e pediu a Olódùmarè que lhe concedesse mais 10 anos de vida, nos quais poderiam usufruir da fortuna que lhe fora destinada...

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XII

LENDA DA FUNDAÇÃO DE OSOGBO

Três caçadores, Gbaemu, Balogun e Aramoro foram a um bosque perto da localidade de Ede para matar animais, eranko, quando em dado momento próximo ao rio escutaram um som sobrenatural que lhes dizia "Oso igbo... Oso igbo º.. o pele o rora o".

Os três caçadores assustados, correram para suas casas. Passados três dias resolveram voltar ao mesmo local e, tornaram a ouvir o mesmo som e as mesmas palavras.

Indignados resolveram consultar Ifá, para saber o porque do som e quem estava provocando aquele acontecimento, até então, fantasmagórico. Ifá respondeu-lhe que o som de Irunmale e de Oxun que ficassem perto dele, pois o mesmo iria ajuda-los.

Passado algum tempo, os três caçadores, conforme haviam prometido a Ifá, tranfeririam-se com suas familias para o local onde haviam ouvido o som e para consolidar a promessa, contruiram suas casas e ficaram morando no bosque com suas familias.

A liderança do grupo foi entregue a Balogun, por ter sido o primeiro dos caçadores a ouvir o som. Com a morte de Balogun, a liderança do grupo foi transferida à familia de gbaemu e, posteriormente, a familia de Aramoro.

O grupo cresceu e já se tornara um grande conglomerado de familias quando Ifá, consultado, determinou que o primeiro som ouvido pêlos caçadores, "Oso igbo o", seria o nome da localidade.

Por outro lado, Ifá determinou, também que a comunidade teria de professar o culto a Deusa Oxun.

XIII

A PENA DO EKODIDÉ

Existia numa aldeia uma sociedade só de mulheres virgens. Essas mulheres eram compradas por homens de posse só para casar com reis e príncipes, e elas passavam por ensinamento das anciãs. Existia, nesta aldeia, uma mocinha muito pobre e feia. Seu pai vivia muito triste e, um dia, disse:

- Eu sei que nunca vou achar um comprador para você, Por isso vou te levar eu mesmo para o ensinamento das anciãs.

A menina ficou muito triste, chorou e foi deitar. Então, chegou uma mulher muito bonita à sua cama, com uma cuia tampada na mão, e disse:

-Olhe, amanhã é dia dos compradores virem. Eles vêm trazendo um príncipe para ele mesmo escolher uma mulher. Tem aqui ossum, waji, obi e ekodidé. Você come o obi e o resto passa no corpo. A pena de ekodidé você coloca na testa como enfeite. Fique na janela, porém não diga nada a seu pai, pois ele vai para a roça e não deve saber.

A mulher entregou-lhe a cuia e a mocinha tornou a pegar no sono.

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De manhã, deixou o pai sair e fez tudo como a mulher mandou. Atou a pena na testa com uma iko, uma palha da costa. Neste momento, vinha passando uma caravana com o príncipe. Ele olhou para a janela e, vendo a mocinha, ficou encantado. -Que coisa linda! Será que é o que estou vendo?

Chegou perto da janela:

- Minha iyaô! Minha noiva! Todos ficaram boquiabertos e ajoelharam-se em frente à janela, admirados com tanta beleza e com a luz que emanava da bela donzela.

O pai da menina veio chegando e o príncipe fez a oferta de casamento. Até o pai ficou admirado com tanta beleza. O casamento foi no outro dia e, quando ela foi dormir, sonhou que outra vez chegava junto à sua cama a mulher, que lhe dizia:

- Olha, eu sou Oxum. Você é minha filha! – e sumiu.

E a menina tornou-se princesa.

XIV

A MULHER QUE SABIA DEMAIS

Existia uma mulher que achava que tudo quem mais sabia era ela. Uma amiga lhe disse:

- Mulher, tira essa mania de tudo você dizer que sabe mais do que os outros.

Os amigos e a vizinhança já andavam aborrecidos com ela e não queriam mais conversa, pois só ela sabia de tudo e sempre tinha razão. De certa feita, armaram uma cilada para desmascará- la.

- Olha, vai haver uma festa na cidade e todos nós fomos convidados. E você? – perguntaram à mulher.

- Ah!- ela logo gritou – Eu estou sabendo, pois até me chamaram para sair na frente da carroça – pois, naquele tempo, não havia carro.

Aí, alguém logo disse:

Mas será que você sabe que quem chegar primeiro à praça, e com o vestido mais engraçado, vai Ter um prêmio?

- Eu sei! E já tenho uma idéia – ela logo respondeu.

Então ela foi para a sua casa e começou a fazer a fantasia, a mais horrenda possível. E arrumou a sua carroça, mas ao mesmo tempo ficou matutando:

- Eu não vejo ninguém falar nada... Hum... Mas, como é competição, tá certo!

No dia da festa ela levantou cedo, se arrumou e foi para a praça, que já estava cheia. Ela começou a desconfiar de que tinha caído numa armadilha, e perguntou:

- Como é que é ? Não vai haver competição?

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E aí todos começaram a rir e a vaiá-la

- Ô mulher! Você não sabe tudo? Como você não sabia do que nós armamos para você? Pois tudo aquilo que nós lhe falamos, você diz logo "Eu já sei!" E não é assim! Ninguém sabe tudo. Às vezes, nós temos que recorrer aos nossos irmão, pois quem sabe tudo é Olorum. Tanto assim, que ele criou a nós e a você. Isto vai lhe servir de exemplo.

XV

O COLHEDOR DE FOLHAS

Antigamente, não existiam tantos médicos e era muito difícil para a pessoa pobre conseguir tratamento. O que se usava nos tratamentos eram folhas e as raízes. Graças a Olorum e Ossâim, este hábito milenar está voltando.

Nestes tempos, existia um homem que vivia de apanhar ervas para vender. Ele ia chegando, entrava no mato, não pedia licença e não tinha dono. Ele começou a sentir dificuldade de encontrar certas folhas de grande utilidade. Ele começou a ficar cabreiro e a achar que alguma coisa não ia bem.

Existia, perto dali, uma Tia africana, e ele foi se queixar a ela:

Olha Tia, eu sempre tirei folha para vender, mas agora eu entro no mato e não acho nada. Até parece que algo de ruim está para acontecer. Tropeço em cobra, marimbondo me morde, os mosquitos me pegam, a tiririca me corta. Até parece coisa mandada.

A velha estava calada, só escutando. Quando ele acabou de contar, ela disse:

- Você gostaria que alguém entrasse em sua casa, apanhasse o que é seu, chegasse em sua plantação, colhesse tudo e saísse sem lhe dar satisfação? Pois é isto aí! O dono dos matos não está gostando da sua ousadia. Entretanto na sua casa sem pedir licença e saindo sem dar satisfação!

- Veja! Mato Tem dono! – respondeu ele com uma risada.

- Não ria, pois o pior pode vir a lhe acontecer. Experimente entrar mais uma vez para colher folhas sem levar um agrado nem pedir licença – respondeu a africana.

Ele ficou com medo e disse:

- Ô Tia, me socorre, pois eu tenho filho para criar.

- Tá com medo?

- Eu estou. Se é assim como a senhora falou... – disse o homem.

A velha viu que ele estava falando a verdade e se levantou. Apanhou um cachimbo, uma garrafa de cachaça, um punhado de milho, um pedaço de fumo, um fósforo, uma vela, e um coité.

- Vai. Leva isso e ainda essa moeda, entra e pede agô a Ossâim. A partir desse dia o catador de folhas passou a pedi agô, licença a Ossâim, e toda vez que ele ia para o mato, levava uma oferenda. Assim, ele voltou a encontrar as folhas que ele buscava.

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XVI

IYÁ MI, A MÃE ANCESTRAL

Existia antigamente, uma mulher de uma idade já avançada que teve um menino e, no ato de partir, morreu indo para junto das mães ancestrais. Lá chegando, a mulher ficou muito triste pôr ter deixado o filho recém-nascido, precisando mamar. Contam muitos casos de Iyá Mi como má, mas em tudo existe o mal e o bem. Um tem cumplicidade com o outro e, ás vezes, o bem vence o mal. Foi o que aconteceu com Iyá Mi aquele dia. Ela chamou a mulher e disse: - Olha, nós aqui, quando saímos do mundo, chegamos aqui e temos de esquecer tudo. Mas como você está assim, triste com seu filho, eu vou lhe fazer virar uma coruja e você vai se assentar na cumeeira da casa que foi sua e ficar esperando. Quando não tiver ninguém no quarto, você se vira em uma mulher e amamenta seu filho. Isto acontecerá todos os dias até que ele fique forte e mais criado. Assim a mulher fez, até que o menino não quis mais pegar no peito. Todos diziam:

- Engraçado, esta coruja todo dia ela senta em cima desta casa. Parece até agouro.

Mas nunca desconfiaram de que ela era uma mãe ancestral. Assim ela de foi para o Orun, para o céu, para nunca mais voltar. Só em casos de grandes necessidades é que elas vêm aqui.

XVII

O CAROÇO DE DENDÉ

Quando o mundo foi criado, o caroço de dendezeiro teve uma grande responsabilidade dada pôr Olorum, a de guardar dentro dele todos os segredos do mundo. No mundo Iorubá, guardar dentro ele todos os segredos do mundo. No mundo Iorubá, guardar segredos é o maior Dom que Olorum pode dar a um ser humano. É pôr isso que todo caroço de dendê que tem quatro furinhos é o que tem todo o poder. Através de cada furo, ele vê os quatro cantos do mundo para ver como vão as coisas e comunicar a Olorum. E mais ninguém pode saber desses segredos, para não haver discórdia e desarmonia. É pôr meio dessa fórmula que o mundo tem seus momentos de paz. Existe também o caroço de dendê que tem três furos, mas a esse não foi dada a responsabilidade de guardar os segredos.

Existe uma lenda que diz que Exu, com raiva desta condição que Olorum deu ao coco dendezeiro de quatro furos, quis criar o mesmo poder de ver tudo à sua moda, com brigas e discórdias. Ele chamou o coco de dendê de três furos e disse.- Olhe, de hoje em diante, eu quero que você me conte tudo o que vê.

Aí o dendê lhe respondeu:

- Como? Se eu só tenho três olhos e não quatro, como meu irmão, a quem Olorum deu este poder?

- Ousas me desobedecer a dendê? – disse Exu aborrecido.

- Sim! Tu não és mais do que aquele que é responsável pela minha existência e a tua – respondeu o coco de dendê.

Dizendo isto, sumiu. E Exu, desta vez, não foi feliz na sua trama.

XVIII

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O HOMEM QUE SE CASOU E QUERIA TER FILHOS

Existia num lugarejo um homem que se casou e tinha uma vontade danada de que sua mulher parisse. Mas o deu lugar onde eles moravam era muito difícil encontrar uma aparadeira, uma parteira.

Quando a mulher dele engravidou, o povo começou a lhe dizer:

- Fulano, sua mulher já está muito velha para parir.

- Que nada. Eu tenho fé em Nanã que tudo vai dar certo – disse ele, pois era devoto de Nanã. :

Quando estavam chegando os nove meses, o homem sonhou que Nanã mandava sua mulher sentar na beira de uma Quarta- de- milho de farinha, que é uma caixa de madeira que no interior se usa para medir farinha, feijão, arroz, milho e cereais. Nanã mandava que , depois de sentar com as pernas abertas, a mulher forrasse o chão com bastante pano, e que ele desse uma garrafa a ela para assoprar. Ele, com um chapéu de palha na cabeça deveria dizer assim:

Na Quarta tu te senta, a garrafa vai assoprando,

Com chapéu eu te abano, e o filho tu vai botando,

Em nome de Nanã, que vai te ajudando.

Assim eles fizeram. Então a mulher pariu, e ele mediu três dedos e cortou o umbigo da criança. O homem enterrou a placenta com cuidado no quintal, com jeito para não botar emborcada. A criança se tornou um lindo menino, que ele deram a uma senhora que morava ali perto para batizar. Essa senhora não tinha filhos e era iniciada de Nanã. Até hoje, essa senhora é muito feliz, pôr Ter esse afilhado, e o pai satisfeito pôr Nanã ter ajudado a sua mulher a parir.

XIX

O MENINO QUE TINHA MUITO SABER

Um homem tinha um filho que era dotado de grande sabedoria. O menino era muito respeitado pôr todos, mas seu pai dizia:

- Menino, você pára, que eu não quero ver você envolvido nestas coisas de adivinhação.

Mas moleque cada vez mais adquiria poderes. Vinha gente de longe para ouvir suas palavras e seus ensinamentos. Um dia ele acordou e disse para seu pai, que era lenhador: - Pai, esta noite tive um sonho com um velho que me dizia que tinha visto através dos búzios que hoje é Quinta – feira, e que o senhor não deve cortar madeira, que algo muito ruim vai lhe acontecer.

O homem deu uns cocorotes no menino e foi para a mata trabalhar, sem se importar com o aviso. Lá chegando, foi cortar uma árvore. Perto desta árvore, quando ele começou a trabalhar, veio um vulto a espreitá-lo, e que fazia:

- Ôooi! Ôoi!

Ele ouvia isto toda vez que ele suspendia o machado para cortar a árvore.

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- Ah! Isso é ilusão. Eu estou com as maluquices daquele menino na cabeça. Vou continuar meu trabalho, pois não são essas maluquices que vão me dominar.

Bateu o machado e cortou a árvore. A mesma caiu sobre as suas pernas e o machucou bastante. O filho, que estava em casa, teve um pressentimento, pois não viu o pai chegar. Ele andou até a mata e o encontrou desmaiado com a árvore em cima das pernas. Chamou a vizinhança, que o levou para casa, mas o lenhador ficou paralítico. Isto é o preço pago pelas pessoas que, ás vezes, não ouvem um conselho, e pensam que elas são sábias. Todo ser aqui na terra habita tem a sua hora. As árvores também têm suas. Elas são responsáveis pelo progresso da mãe natureza e não devem se molestadas.

XX

OYÁ SEJU

Oyá Seju era uma negrinha muito sapeca que era criada por uma mulher muito severa. A mulher não deixava Oyá Seju parada, era Oyá Seju pra lá, Oyá Seju pra cá.

- Oyá Seju lava louça!

- Oyá Seju vai à feira!

- Oyá Seju passa roupa! - Oyá Seju apanha meu saco de costura!

Oyá Seju já vivia danada, e suas perninhas sempre finas. Eram tão finas que pareciam um graveto.

Um dia, a senhora virou e disse:

- Olha negrinha, eu vou te dar esse pote de mel você ir vender. Só me apareça quando vender tudo.

Lá se foi a sapeca negrinha com o pote na cabeça. Perto dali, morava um negrinho, capetinha como ela, e os dois quando se encontravam pintavam o sete. Neste corre para cá, corre para lá, quebraram o pote de mel. Aí, os dois se puseram a chorar. Então, veio de lá o gambá todo sujo de mel, com o corpo cheio de folhas, e viu os dois sentados na beira da estrada chorando. O gambá logo se condoeu e perguntou, pois, neste tempo os bichos falavam:

- O que houve com vocês que tanto choram?

- Eu querei o pote de mel que minha sinhá mandou vender, mas o culpado foi esse capeta, pois eu sou uma boa menina – disse Oyá Seju.

O gambá olhou assim para ela, desconfiado, e começou a rir dizendo:

- Eu sei. Pelos seus olhos e sua cara, já vi que você é um anjo! Só falta a asa. Mas eu estou com pena de vocês, e sei onde vocês podem arrumar mel. Só digo se você, negrita, falar a verdade. Vocês São irmãos?

A moleca logo gritou:

- Eu lá sou irmã deste moleque? Você veja, o nome dele é Idjebi. Que nome feio é este!

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O gambá lhe disse:

- Você sabe o que quer dizer o nome dele? Quer dizer "sem culpa", e ele é um menino bom. Até agora, eu só ouvi você condenar ele, e ele assumindo a culpa. E você aí com essa cara de santa! Olha, eu só digo onde tem o mel se você também assumir a culpa. Do contrário, eu deixo você apanhar.

A negrinha levantou e disse:

- Olha, seu gambá, fui eu que chamei ele para brincar. Aí derramamos o mel.

- Olha, a casa da comadre abelha é aqui perto. Ela é muito caridosa e trabalhadeira. Ela dá o mel a você. Num instante, ela faz outro. Mas não diz a ela que fui eu, pois eu não posso aparecer, porque toda noite eu vou lá roubar o seu mel – disse o gambá.

O gambá ensinou como chegar à casa da abelha, e lá se foram eles.

A abelha, que era muito boa, deu o mel, nem vendeu. A negrinha foi para o mercado, vendeu todo o pote de mel e levou o dinheiro para sua senhora.

Sabe, essa história coloca que a gente nunca deve tirar da nossa culpa e botar no nosso irmão. Logo, Oyá Seju estava errada e Ibjebi, por ser um bom menino, não a condenou em nenhum momento.

XXI

ARAMAÇÁ

Esta história eu dediquei a aramaçá, que é um peixe que tem a boca torta. Eu vou contar uma história sobre uma filha de Yemanjá muito teimosa.

Existe um peixe que tem a boca torta. Ele é chato, e é um dos maiores ewós de Yemanjá. Ewó quer dizer quizila. Um dia, o marido dessa filha de Yemanjá trouxe uma enfieira de aramaçá. Enfieira é uma vara fina que você enfia na guelra do peixe e vai botando um a um para ficar mais fácil para carregar. Quando ela viu o marido com a enfieira de aramaçá ficou contente, pois ela era louca por peixe.

-Ah! Graças a Deus! Graças a Olorum! Hoje eu vou comer peixe.

Ela Sabia que este peixe quem é de Yemanjá não come, mas, por teimosia, fez uma moqueca com bastante azeite-de-dendê e azeite-doce.

Ela fez a moqueca e deixou em cima do fogão para esfriar, e foi lavar a roupa enquanto o arroz e o feijão cozinhavam. Ela, então, comentou com a vizinha:

-Olha, eu não lhe disse que esse negócio de ewó é invenção, é ilusão? Eu fiz a moqueca... Limpei o peixe, temperei... Ta é cheirando. Você tá vendo o cheiro?

A vizinha disse:

-Tô. Ta me cativando. Eu acho que eu vou comer com você.

Quando ela acabou de lavar a roupa, que foi destampar a panela dos aramaçás para comer, os aramaçás estavam todos vivos, mexendo os olhos e a boca. Elas saíram correndo, tanto ela quanto à vizinha, e não comeram o peixe. Tudo isto pra

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você ver, cada qual no seu cada qual! Se a pessoa tem o seu orixá, tem que respeitar o ewó daquele orixá para não criar complicação para si mesmo.

XXII

COMO ORUNMILA ALIMENTOU OS PRIMEIROS SERES HUMANOS

Ìyá Sandra Medeiros Epega

Olodumare, o deus criador, olhou Ilu Aiye, o planeta Terra, e viu apenas a terra, a água, os montes e vales. Era um local vazio, e ele chamou Orunmila, também chamado Ibikeji Olodumare, a segunda pessoa após Olodumare. Disse a ele: Prepare seus instrumentos de adivinhação, consulte o oráculo Ifá. Quero que a Terra seja povoada de homens e mulheres, que terão muitos filhos.

Orunmila consultou os ikin e falou que os homens precisariam comer para sobreviver na Terra. Olodumare disse: "Beeni" (muito bem), e mandou que Orunmila perguntasse aos Orixá quem saberia o que seria dado aos homens. Exu disse que ele sabia qual a comida que os homens comiam. Os primeiros seres humanos chegaram a Ilu Aiye e Exu deu a eles madeira para comer. Em uma semana estavam todos de volta ao Orun. Quando Olodumare viu os homens de volta, disse: Mas já voltaram tão cedo? O que aconteceu?

Os homens responderam que Exu dera a eles madeira para comer, que suas barrigas tinham furado, e todos eles tinham morrido. Olodumare disse: "Beeni". Chamou novamente Orunmila e disse a ele que perguntasse aos Orixá quem saberia o que se dava de comer aos homens. Obatala, rei das roupas brancas, e Yemoja, rainha das águas rasas do mar, disseram que eles iriam cuidar disso. Homens e mulheres voltaram à Terra , e Obatala e Yemoja deram a eles água pura e fresca para beber. Em uma semana estavam todos de volta ao Orun. Quando Olodumare viu os homens novamente ali, perguntou: Mas já voltaram tão cedo? O que aconteceu desta vez?

Os homens responderam que Obatala e Yemoja deram a eles muita água fresca para beber. Seus corpos derreteram e eles voltaram ao Orun. Olodumare disse: "Beeni". Chamou Orunmila e disse a ele que consultasse novamente o oráculo Ifá, que desta vez os homens só viriam morar no Ilu Aiye quando houvesse certeza de que haveria para eles comida com fartura, para que só voltassem ao Orun na hora certa, depois de uma vida longa e proveitosa, plena de realização e alegria, deixando em Ilu Aiye filhos e netos.

Orunmila respondeu a Olodumare que havia no Orun um ser estranho, chamado Osanyin, que poderia resolver o problema. Osanyin foi chamado, e prontamente jogou para Ilu Aiye muitas cabaças cheias de sementes de grãos, de frutas, de favas, de todo o tipo de vegetação que hoje cobre o mundo. Jogou primeiro plantas de crescimento rápido, como"ewa", o feijão, "agbado", o milho, "ewe tete", o caruru, "yanrin", a verdura, para que os homens tivessem o que comer logo que chegassem à Terra. E nesse atirar de sementes, também Osanyin caiu na Terra, e lá brotou e ficou morando, um ser estranho como um tronco, um pé de pau, sem pai nem mãe, um ser da Terra, folha e tronco ele também.

Os homens vieram então em definitivo, e se alimentaram das comidas nascidas das sementes do Orun. Comeram o que os Orixá comem, compartilharam seu cardápio e seus gostos, muita pimenta, muito inhame, muito milho, frutas e verduras, cebolas e tomates. E beberam muita água fresca, emu (vinho de palma) e shekete (cerveja de milho).

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Olodumare ficou feliz e disse aos Orixá: Os homens morarão em Ilu Aiye, e nos adorarão. Terão muitos filhos e sua descendência povoará a Terra. Também para lá enviaremos animais, que os seres humanos sacrificarão para nós, durante os Ebo Etutu. A carne destes animais será cozida em uma boa sopa bem apimentada, que os homens nos oferecerão com muito ebá e iyan,e juntos compartilharemos este alimento pleno de Axé. E em alguns anos as árvores de obi darão frutos e comeremos juntos o obi semanal.

E, em terra yorubá, os pais contam aos filhos este Itan Ifá, e dizem a eles que quando um homem acorda (chega ao Ilu Aiye), primeiro ele pega um pedaço de madeira e esfrega nos dentes (madeira especial chamada Pako, com propriedades anti-inflamatórias e antisépticas, que substitui a escova de dentes), depois enxágua a boca com muita água fresca. Só então é que vai se alimentar, sempre chamando os Orixá para compartilhar sua comida, com a frase: "Wa ba wa jeun, Oluwa" (venha comer conosco, Deus).

AXÉ, AXÉ, AXÉ!

XXIII

ANANSI E A TARTARUGA

Um dia, Anansi, a aranha, colheu alguns inhames na sua horta. Ela os cozinhou com muito cuidado e eles ficaram cheirando deliciosamente. Ela não podia esperar para sentar e comê-los.

Nesse momento bateram à sua porta. Era  a Tartaruga, que tinha viajado o dia inteiro e estava muito cansada e faminta.

"Olá, Anansi", disse  a Tartaruga. Eu estou caminhando há muito tempo e senti o cheiro delicioso dos seus inhames. Você seria tão bondosa a ponto de dar-me um pouco?

Anansi não pode recusar, como era costume no seu país, dividir a sua comida com as visitas. Mas ela não ficou muito feliz pois queria comer todos aqueles deliciosos inhames sozinha.

Então Anansi bolou um plano.

- Por favor Tartaruga, entre. Eu ficarei honrada de tê-la como minha convidada esta noite. Sente-se e sirva-se você mesma.

A Tartaruga entrou e sentou-se. No momento em que ela ia se servir dos inhames, Anansi falou:

- Tartaruga, você não sabe que a gente não deve se sentar à mesa com as mãos sujas?

A Tartaruga olhou para suas mãos e viu que elas estavam bem sujas. Ela tinha estado a caminhar e não tinha tido a oportunidade de limpá-las.

A Tartaruga levantou-se e foi até ao rio para lavar as mãos. Ela caminhou de volta à casa e Anansi já tinha começado a comer. Anansi foi logo dizendo:

- Eu não quis que estes deliciosos inhames ficassem frios, então eu comecei a comer. Mas por favor junte-se a mim agora Tartaruga..

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A Tartaruga sentou-se de novo e já se ia servir de inhame, quando Anansi falou para ela:

- Tartaruga, você não ouviu o que eu te disse antes? Não é educado vir para a mesa com as mãos sujas!

A Tartaruga olhou e viu que as suas mãos tinham se sujado de novo, pois ela tinha caminhado sobre elas quando voltou para a casa de Anansi.

Então a Tartaruga foi mais uma vez ao rio para se lavar. E quando voltou, caminhou cuidadosamente pela grama para que suas mãos não se sujassem de novo.

Mas antes que se sentasse à mesa, Anansi já tinha acabado de comer o último pedaço dos deliciosos inhames, não sobrando uma migalha sequer.

A Tartaruga olhou para Anansi por um momento e disse:

- Obrigado por dividir a sua comida comigo. Quando você for pelos lados da minha casa, por favor deixe-me retribuir a gentileza.

Então a Tartaruga caminhou lentamente para a porta e seguiu o seu caminho.

Os dias se passaram e Anansi pensava sempre naquele convite da Tartaruga para comer na casa dela.

Anansi estava muito interessada num jantar grátis e finalmente não esperou mais, saiu em direção à casa da Tartaruga.

Ele encontrou a Tartaruga tomando sol na beira do rio, justamente perto da hora do jantar.

A Tartaruga o viu e disse:

- Alô, Anansi, você veio para jantar comigo?

- Oh, sim, sim! Disse Anansi, que estava faminta.

A Tartaruga mergulhou no rio e nadou por baixo d'água para sua casa, para por a mesa do jantar para os dois. Logo ela retornou à margem do rio e disse para Anansi:

- O seu lugar à mesa já está posto e o jantar está pronto. Por favor, Anansi, junte-se a mim.

Então ela nadou por baixo d'água até a sua casa, sentou-se na mesa e começou a comer sua comida lentamente.Anansi pulou na água, mas não conseguiu chegar ao fundo do rio. Ela tentou nadar, mas era tão leve que ficava boiando na superfície.

Ela tentou mergulhar. Ela tentou uma corrida para mergulhar, mas não conseguiu de jeito nenhum alcançar o fundo do rio.

Enquanto isso, a Tartaruga ia lentamente comendo a sua comida.

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Anansi não estava a fim de perder um jantar grátis. Ficou andando de um lado para o outro matutando o que fazer. Finalmente ela teve uma idéia! Pegou uma pedra de bom tamanho, agarrou-se nela e pulou no rio.

Agora ela foi capaz de mergulhar até o fundo e tomar o seu lugar na mesa.

Anansi então tirou as as mãos da pedra, para poder comer. Mas logo que soltou a pedra, boiou rapidamente para a superfície, indo parar na margem do rio.

Desconsolada, Anansi enfiou a cabeça na água e viu a Tartaruga tranquilamente comendo a sua deliciosa comida.

Moral da história:

Quando você tenta enganar alguém,

de repente  pode ser você o enganado.

XXIV

O Trovão e o Raio     O Trovão e o Raio (Nigéria)

 Há muito tempo atrás, o Trovão e o Raio viviam na terra entre as pessoas. Trovão era uma ovelha e Raio era um carneiro, filho dela.

Raio não era muito popular entre as pessoas, porque quando alguém o ofendia ele explodia em fúria e começava a queimar o que quer que encontrasse pela frente. Isto geralmente incluía cabanas e silos de milho, e até mesmo grandes árvores. Algumas vezes ele danificou colheitas nas fazendas com o seu fogo e ocasionalmente matou pessoas que cruzaram o seu caminho.Assim que Trovão sabia que Raio estava se comportando daquela maneira ela elevava a voz e gritava com ele o mais alto que podia, e isso era realmente muito alto.  Naturalmente os vizinho ficavam muito chateados. Primeiro o dano causado por Raio e depois o ruído insuportável produzido pela mãe dele, que sempre seguia as explosões dele.

Os aldeões reclamaram ao Obá em várias ocasiões, até que afinal o Obá os mandou viver na periferia da aldeia, dizendo que eles não deviam mais se misturar com as pessoas.

Contudo isto não surtiu efeito, pois Raio ainda podia ver as pessoas caminhando pelas ruas da aldeia e descobriu que ainda era muito fácil continuar a provocar brigas com elas.

Afinal o rei os chamou novamente. " Eu lhe dei muitas chances para viver uma vida melhor,  disse ele, mas eu posso ver que é inútil. De agora em diante, vocês têm que ir para longe da nossa aldeia e têm que viver na floresta.  Nós não queremos ver suas caras novamente por aqui".

Trovão e Raio tiveram que obedecer ao rei e concordar em cumprir a decisão dele; assim eles deixaram a aldeia, zangados com os seus habitantes. Mas ainda haviam bastantes problemas reservados  para os aldeãos, desde que Raio estava tão bravo com ser banido que ele ateou  fogo na mata  inteira, e como que era a estação seca isto foi extremamente danoso. As chamas se esparramaram para as pequenas

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fazendas das pessoas, e às vezes para as casas delas, de forma que elas ficaram novamente desesperadas.

Eles ouviam freqüentemente a voz poderosa da  mãe do carneiro, chamando o filho a atenção, mas, desde que isso sempre acontecia depois do fato, não fazia grande diferença.

O rei chamou todos seus conselheiros e lhes pediu que o aconselhassem, e depois de muito debate eles deram com um plano: por que não banir Trovão e Raio para bem  longe da terra, enviando os dois para morarem no céu?

E assim o rei proclamou. Trovão e Raio foram despachados para o céu onde as pessoas esperavam que eles não pudessem fazer mais mal algum.

Porém, as coisas não funcionaram bem assim, pois Raio ainda perde a paciência de vez em quando e não pode resistir a enviar fogo até a terra quando está bravo. Então você pode ouvir a sua mãe o reprovando, ralhando com ele em voz alta.

XXV

CIDADES DEBAIXO DE ÁGUA

Também havia uma bela mulher que aparecia plena de juventude e viçosidade. Chamava-se Haraké e o seu poder de atração era tal que não se sabia se era deusa ou se pertencia à espécie dos humanos mortais. A lenda afirmava que Haraké tinha os cabelos tão transparentes como as próprias águas que lhe serviam de morada. Ao entardecer, a bela tinha por costume descansar à beira do Níger, e esperar assim até que chegasse o seu amante. Assim que este se reunia com ela, ambos entravam nas profundidades daquelas águas encantadas e profundas; a jovem levava o escolhido no seu coração através de maravilhosos caminhos que conduziam a faustosas e desconhecidas cidades. Nos seus esplêndidos recintos, e entre o som do tam-tam e dos tambores, teria lugar a ostentosa cerimônia que uniria o feliz casal para toda a vida.

Todas as narrações da fábula exposta sublinham que foi Haraké quem conduziu o seu amante, e não vice-versa. Com isso se quer dar a entender que a mulher era muito respeitada entre certas tribos da África negra. Os seus privilégios provinham da sua consideração como mãe e esposa.

Embora, ao mesmo tempo, apareçam representações femininas em atitude submissa mas, se se reparar no seu rosto, observar-se-á certa classe de serenidade que, no dizer de investigadores e antropólogos, indicava a importância concedida a essa espécie de mundo anímico, ou vida interior, com que devia vestir-se a mulher negra, sob pena de pôr em questão a sua condição feminina.