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“Oliver Twist” (1838) de Charles Dickens (1812-1870)

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“Oliver Twist” (1838)

de Charles Dickens (1812-1870)

Testemunho literário da criança órfã Ao retratar as condições da exploração e da miséria no país pioneiro da industrialização – a Inglaterra pós-Revolução Industrial de meados do século XVIII – e ao apresentar o estado de tantos cidadãos privados da real cidadania, enquanto alguns privilegiados reservam para si os ganhos da nova expansão econômica, o autor inglês Charles Dickens dá voz a uma denúncia na obra literária onde o protagonista é uma criança.

Na obra “Oliver Twist” – nome do protagonista –, há um interesse de desvelar as condições de miséria, numa obra em folhetins que visa além das vicissitudes* do pobre menino órfão. Evidencia-se o desejo de retratar a realidade da desigualdade social após a Revolução Industrial de meados do século XVIII, na Inglaterra e na França. Os pobres são seres excluídos das benesses** do novo mundo comercial – e apenas podem recorrer ao paternalismo das instituições públicas. *infortúnios, reveses; situações desfavoráveis; acaso; alternativas ** benefícios, privilégios, vantagens

Ao mostrar em forma literária estes lados sombrios da industrialização, Dickens se projeta enquanto escritor além da própria época, pois é notado enquanto testemunho, não apenas para os contemporâneos, mas até para os historiadores. Como foi a época dita Vitoriana na Inglaterra? Como se expandia o Império Britânico? Como as condições sociais se apresentavam nas distintas classes em relação aos ganhos e perdas do industrialismo?

O autor Dickens é testemunha de uma época de mudanças, com a França napoleônica derrotada, com o reacionarismo na Europa central – com os governos austríaco e russo firmes no poder centralizador –, com o atraso econômico das futuras Itália e Alemanha, ainda em processo de unificação, somente completado no ano da morte do escritor inglês. No sentido de autor-testemunha temos outros 'Dickens'. Assim, o Charles Dickens da França seria Victor Hugo, enquanto o da Rússia seria Dostoiévski: são autores que não hesitam em mostrar os lados pouco gloriosos de suas sociedades.

Especificamente, o tema de “Oliver Twist” é o da orfandade, o do desamparo de uma criança em meio a um sistema injusto. Se o mundo já é cruel para os adultos, então imagine para as crianças! Não faltam outros órfãos na literatura da Era vitoriana, vide o caso de David Copperfield, protagonista de romance do mesmo Dickens, e de Jane Eyre da escritora Charlotte Brontë do romance homônimo publicado em 1847. Na França temos o Gavroche, no romance “Les Misérables” de Victor Hugo. A questão dos 'meninos de rua' (na Inglaterra, 'street child'; na França, 'gamin';) já era visível no século XIX. No século XX, a triste condição das crianças abandonadas se fez visível no Brasil – basta lermos “Capitães da Areia”, 1935, de Jorge Amado.

No formato folhetim – em publicação seriada, descontínua, não em livro, mas jornal –, a narrativa ajuda a criar um clima de suspense, pois o narrador interrompe a ação muitas vezes em meio a um ápice, em um aparente “beco-sem-saída”, onde o protagonista está nas mãos do(s) antagonista(s). Assim o leitor é 'fisgado' para acompanhar o desenrolar do enredo no próximo capítulo – na próxima edição do jornal.

Exemplo de folhetim

Assim, cada capítulo apresenta uma súmula dos acontecimentos, para excitar a curiosidade dos leitores.

O narrador de Oliver Twist simpatiza evidentemente com o protagonista, o pobre órfão Oliver, e não hesita em caricaturas ao ironizar os antagonistas – os gentlemen, um tanto quanto obesos, que fazem caridade; os protetores de órfãos. (Protetores? Como assim? Parecem mais carcereiros...) As contradições do sistema social são todas desmascaradas. A presença da riqueza (sugada das colônias ao redor do mundo) ao lado da miséria mais vergonhosa. Contradições. A bondade precisa da miséria? É preciso haver pobres para que os ricos possam exercer a piedosa caridade?