folhetim (frente)

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Folhetim Memórias da Ditadura - 1ª edição

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Page 1: Folhetim (frente)

Charge faz alusão a música Cálice escrita por Chico Buarque e Gilberto Gil.

Relatos do Regime de 64Você já pensou em como era a vida dos jovens durante

a ditadura de 1964? O que ouviam? O que conversavam? O que pensavam? O que os movia? Memórias da Ditadura buscou o relato de alguém que vivenciou esse período.Ronaldo Rizental Junior, 55, mora em Ponta Grossa,

Paraná, e passou os anos de sua juventude no auge do regime. A seguir, confira seu depoimento: “Na“Na época, não se tinha a velocidade da informação

que temos nos dias atuais. A música era um instrumento de protesto valioso, pois as letras manifestavam o pensa-mento contrário ao regime.O ícone foi Chico Buarque, que conseguia driblar a

censura com letras subliminares, sendo que os seus ouvin-tes sabia perfeitamente o que ele queria dizer. Nas rádios

não tocava. Os jornais eram censurados, trazendo poesias e, às vezes, até receita de bolo ao invés de noticiarem as atrocidades que ocorriam. A divulgação das músicas era através da compra de Compact Disc e gravação em fita cassete, tudo pirateado passando de um para outro.Ao tocar, nas festinhas, essas canções todos curtiam, mas sempre ficavam apreensivos com a che-

gada da Polícia. Usava-se a estratégia de tocar Black Sabbat, Yes, Rolling Stones e daí, lá no meio, largava uma do Chico Buarque, do Geraldo Vandré, Gilberto Gil. Intercalavam o rock internacional com a música brasileira de protesto.Os mais velhos ficavam com medo e transmitiam isso a seus descendentes. Instaurou-se o medo,

também, nos jovens: seus pais/avós controlavam qualquer assunto que versav sobre política, inclusive dentro da própria casa, na tentativa de protegê-los. A Polícia smepre tentava prender os jovens mais exaltados e eles depredavam os seus “carros pretos” com pedras, murchavam pneus, urinavam neles,

Ronaldo Rizental Junior. Foto de acervo pessoal.

etc. Tudo isso acontecendo numa cidade média, do inte-rior do Paraná. Imagine nos grandes centros brasilei-ros o que ocorria...Não se tinha muita liberdade. Os pais controlavam tudo para, na verdade, proteger os filhos das barbáries da Ditadura, isto valia para meus pais, tios, avós....MeuMeu avô tinha um armazém de secos e molhados e

era muito próspero, sempre foi muito certinho com deveres tributários, pagando religiosamente seus impostos. Só que o armazém era frequentado por pessoas contrárias à ditadura, então, discutia-se polí-tica naquele lugar e esse fato, com certeza, vazou para as autoridades da época. De repente, surgiu umauma multa astronômica que quase faliu meu avô, sem motivo legal nenhum.”

Ano 2015 Nº 1 Curitiba, 18 de junho de 2015 Edição: Músicas no Regime