folhetim obá 3 digital

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67 3043 1318 Rua 13 de Maio, 2942 Teatro Imaginário Maracangalha está na Rua Poemadilhos são poemas trocadi- lhados, poesia visual, concreta, cômica e irreverente, inspirada na hermenêutica, ou seja, na interpre- tação subliminar das palavras entre si e por si só. Um verdadeiro jogo de palavras. Nascida em Salvador-BA, Jamille Fortunato usa a Arte Urbana, através de técnicas de lambe- lambe e estêncil para expressar sua verve literária como designer de poemas. Depois de algumas instalações pela Bahia, o Sarobá será sua porta de entrada no Estado de Mato Grosso do Sul, com a exposição no Varal Literário do Sarobá, com os poemas da série Poemadilhos. Os Poemadilhos de Jamille Fortunato Paulo Paes* is fossem amplamente freqüentadas Os cidadãos excluídos da convivên- usuários de drogas, o Serviço de Mirando as praças de Campo Grande por bêbados, mendigos e abandona- cia nas ruas e praças públicas são os Abordagem de Rua, Consultório de tem-se a sensação de que vivemos dos de toda sorte. Com o advento do que foram anteriormente abandona- Rua do CAPSad, pesquisas com imersos num filme de ficção. Os mercantilismo esses cidadãos das dos pelos seus familiares e pela populações de rua, grupos de arte na mendigos, migrantes, usuários de ruas passam a ser enjaulados em própria sociedade. São eles que mais rua e muitos outros. O que esses drogas, loucos e bêbados foram instituições, para não comprometer o precisam de cuidados e o que programas propõem não é esconder perversamente expulsos do único novo sentido histórico comercial das recebem são grades e violência os cidadãos marginalizados, mas vê- lugar público o que lhes pertencia. cidades. institucional que os marginaliza los, atendê-los, orientá-los e orientar Tirar-lhes o direito de ir e vir, garantido a sociedade para recebê-los. na Constituição, é uma crueldade As praças e as ruas poderiam ser um exercida pelas grades da Praça Ary importante lugar para a humanização Coelho, pela polícia e pelo olhar de desses seres marginalizados, se a parte da população assustada. No sociedade não lhes tolhesse a sentido oposto, o historiador Celso liberdade com grades e polícia. Higa tem estudado a vida de mendi- Nosso povo da rua não precisa de gos que viveram na cidade, demons- polícia, mas de professores, médi- trando a importância histórica e cos, advogados, psicólogos, artistas. A estética do sujo, do visualmente radicalmente. estética dessa população. Precisa do grito sensível inerente a desagradável, do inesperado não Na contramão dessa desumanização A Bíblia já nos ensina a respeitar e arte para amansar os corações dos cabe mais na concepção contempo- existem políticas públicas, progra- ajudar os moradores de rua desde o seres coisificados. rânea de cidade. A mercadoria, feita mas e atitudes que vão ao encontro antigo testamento até as palavras do Sarobá é a estética do prazer advindo “bela” pela propaganda, passa a ser o desses cidadãos criando com eles próprio Jesus. Homero concebeu um da promiscuidade entre artistas e único sentido estético do social. O vínculos de confiança e orientando- Odisseu que volta 20 anos depois estudiosos da cultura e o povo das cidadão sendo o proprietário ou a os para suas demandas pessoais de para sua cidade, Ítaca, escondendo ruas. Cenas que Lobivar Matos mão de obra que produz e consome saúde, educação, trabalho, cultura, nas vestes de mendigo o rei que pintava em seus poemas décadas as coisas, transforma-se na própria ajudando na reconstrução dos verdadeiramente era e, mesmo atrás. Já não se pode saber quanto o mercadoria, que não pode estar vínculos familiares e comunitários assim, foi bem recebido. Toda a artista se torna cidadão da rua e esteticamente fora dos padrões perdidos. São os programas de opressão inquisidora da Idade Média, quando o cidadão da rua se torna coisificados. redução de danos que trabalham com não impediu que as cidades medieva- artista. SAROBÁ!! Praça: espaço aberto ou fechado? A estética viva das praças e das ruas: liberdade ou repressão? “Sarobá é a estética do prazer advindo da promiscuidade entre artistas e estudiosos da cultura e o povo das ruas. Cenas que Lobivar Matos pintava em seus poemas décadas atrás. Já não se pode saber quanto o artista se torna cidadão da rua e quando o cidadão da rua se torna artista”. Seminário Arena Aberta (67) 3026 4830 FRUTOS DO MATO (67) 3346-8914 ATENDEMOS ENCOMENDAS Folhetim do Sarobá Ano I - nº 03 Campo Grande, MS -Maio/Junho de 2013 Desenho: Edson José de Moraes Texto: Edson Silva O Teatro Imaginário Maracangalha (TIM) há sete anos com vocação para receber eventos artísticos e de ocupa espaços abertos públicos, calçadas, praças e lazer, mas vivem ociosos, sem programações e sem ruas. Nesses espaços realiza diversas ações, dentre vida. Isso se configura de várias formas, como é algumas: teatro de rua, cortejos, Sarobá – ocupação percebido no Parque das Nações Indígenas, praças artística com interação de linguagem –, a Temporada dos bairros de periferia abandonadas, praça do Belmar do Chapéu (uma mostra de teatro de rua) e o carnaval. Fidalgo elitizada, Praça Ari Coelho gradeada e outras Sendo o espaço público aberto composto por ruas, praças que vêm sendo privatizadas pela Câmara de praças, largos, calçadões, onde é histórica e legalmen- Vereadores e Prefeitura Municipal. te assegurado o direito pleno de ir e vir e de manifesta- O TIM, ao ocupar e discutir os espaços públicos ções artísticas, culturais e políticas, abertos, endossa junto com vários grupos de percebemos, pelo constante uso da teatro de rua do Brasil um dos princípios e praça como local de apresentações, proposições da Rede Brasileira de Teatro de que esses espaços públicos estão Rua: sendo gradeados, privatizados, “Lutar pelo livre uso e acesso aos espaços burocratizados, e até mesmo abando- públicos, garantindo a prática artística e nados, não só em Campo Grande, mas respeitando as especificidades dos diversos no país inteiro. segmentos das artes públicas, em acordo Isso torna evidente a ausência de com o artigo 5° da Constituição Brasileira, políticas públicas, violência, elitização e que no IX inciso diz: "é livre a expressão da descaso com a sociedade, não haven- atividade intelectual, artística, científica e de do o reconhecimento da praça como comunicação, independentemente de patrimônio material e imaterial e censura ou licença" (Carta de Taguatinga – equipamento cultural, compreendendo cultura como Rede Brasileira de Teatro de Rua, 2013). toda manifestação popular, política e de convívio. Como disse Rui Barbosa ,“a praça é do povo como o A falta de políticas públicas leva à privatização e ao céu é do condor”. Evoé! gradeamento das praças, numa ação violenta contra o (*) Este texto foi produzido, de forma colaborativa, por direito de ir e vir, refletindo a segregação social e a integrantes do Teatro Imaginário Maracangalha: Fran privatização afetiva. Corona, Fernando Cruz, Kássia Rosa, Moreno Em Campo Grande temos vários espaços de convívio Mourão, Pietro Falcão Willianm Hennenze. Av. dos Estados, 351 - Jardim dos Estados CEP 79002-523 - Campo Grande - MS - (67) 3382 4241 www.cidadeambiente.com.br Mobilidade Urbana Saneamento Ambiental Patrimônio Cultural e Natural Analise Urbana Legislação Urbanística e Ambiental Habitação e Convivência projetos responsáveis “A falta de políticas públicas leva à privatização e ao gradeamento das praças, numa ação violenta contra o direito de ir e vir, refletindo a segregação social e a privatização afetiva.” Ambiente urbano que mais transitável. Lugar de que vão desde as práticas identifica a nossa cidade com manifestação. A praça é do comerciais como mercados e outras ao redor do mundo é a povo! feiras até como lugar de praça, que carrega na sua Da Ágora, praça central que expressão da vida social, origem a marca do coletivo. A constituía a pólis na Grécia cultural e política. É, portanto, praça traz consigo a arché, ou Antiga até a nossa humilde considerada um símbolo da seja, a essência do que é Praça Cuiabá, cenário onde democracia direta. A exemplo público. Portanto, redundante se instalará o Sarobá de da Ágora grega as nossas dizer praça pública. Discutir todas as Bandeiras, no praças deveriam cumprir se a praça deve ser fechada próximo dia 18 de maio, tal o seu papel histórico, ou aberta não apenas soa espaço tem um sentido delimitando a esfera como ironia, mas é a própria comunitário e vínculo pública urbana, sendo ironia para chamar a atenção determinante com a compreendida como ao sentido histórico-cultural liberdade. um espaço de do espaço que é de todos. Assim, desde a sua origem, debate de ideias Por natureza, a praça é as praças são espaços de entre os cidadãos. aberta, livre, democrática, manifestações de toda ordem A luso-brasileira Noêmia Marques Moradora do entorno da Praça Cuiabá exibe, com orgulho, as bandeiras do Brasil e de Portugal Pág. 3

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Page 1: Folhetim obá 3 digital

67 3043 1318Rua 13 de Maio, 2942

Teatro Imaginário Maracangalha está na Rua

Poemadilhos são poemas trocadi-lhados, poesia visual, concreta, cômica e irreverente, inspirada na hermenêutica, ou seja, na interpre-tação subliminar das palavras entre si e por si só. Um verdadeiro jogo de palavras. Nascida em Salvador-BA, Jamille Fortunato usa a Arte Urbana, através de técnicas de lambe-lambe e estêncil para expressar sua verve literária como designer de poemas. Depois de algumas instalações pela Bahia, o Sarobá será sua porta de entrada no Estado de Mato Grosso do Sul, com a exposição no Varal Literário do Sarobá, com os poemas da série Poemadilhos.

Os Poemadilhos de

Jamille Fortunato

Paulo Paes* is fossem amplamente freqüentadas Os cidadãos excluídos da convivên- usuários de drogas, o Serviço de Mirando as praças de Campo Grande por bêbados, mendigos e abandona- cia nas ruas e praças públicas são os Abordagem de Rua, Consultório de tem-se a sensação de que vivemos dos de toda sorte. Com o advento do que foram anteriormente abandona- Rua do CAPSad, pesquisas com imersos num filme de ficção. Os mercantilismo esses cidadãos das dos pelos seus familiares e pela populações de rua, grupos de arte na mendigos, migrantes, usuários de ruas passam a ser enjaulados em própria sociedade. São eles que mais rua e muitos outros. O que esses drogas, loucos e bêbados foram instituições, para não comprometer o precisam de cuidados e o que programas propõem não é esconder perversamente expulsos do único novo sentido histórico comercial das recebem são grades e violência os cidadãos marginalizados, mas vê-lugar público o que lhes pertencia. cidades. institucional que os marginaliza los, atendê-los, orientá-los e orientar Tirar-lhes o direito de ir e vir, garantido a sociedade para recebê-los.na Constituição, é uma crueldade As praças e as ruas poderiam ser um exercida pelas grades da Praça Ary importante lugar para a humanização Coelho, pela polícia e pelo olhar de desses seres marginalizados, se a parte da população assustada. No sociedade não lhes tolhesse a sentido oposto, o historiador Celso liberdade com grades e polícia. Higa tem estudado a vida de mendi- Nosso povo da rua não precisa de gos que viveram na cidade, demons- polícia, mas de professores, médi-trando a importância histórica e cos, advogados, psicólogos, artistas.

A estética do sujo, do visualmente radicalmente. estética dessa população. Precisa do grito sensível inerente a desagradável, do inesperado não Na contramão dessa desumanização A Bíblia já nos ensina a respeitar e arte para amansar os corações dos cabe mais na concepção contempo- existem políticas públicas, progra-ajudar os moradores de rua desde o seres coisificados.rânea de cidade. A mercadoria, feita mas e atitudes que vão ao encontro antigo testamento até as palavras do Sarobá é a estética do prazer advindo “bela” pela propaganda, passa a ser o desses cidadãos criando com eles próprio Jesus. Homero concebeu um da promiscuidade entre artistas e único sentido estético do social. O vínculos de confiança e orientando-Odisseu que volta 20 anos depois estudiosos da cultura e o povo das cidadão sendo o proprietário ou a os para suas demandas pessoais de para sua cidade, Ítaca, escondendo ruas. Cenas que Lobivar Matos mão de obra que produz e consome saúde, educação, trabalho, cultura, nas vestes de mendigo o rei que pintava em seus poemas décadas as coisas, transforma-se na própria ajudando na reconstrução dos verdadeiramente era e, mesmo atrás. Já não se pode saber quanto o mercadoria, que não pode estar vínculos familiares e comunitários assim, foi bem recebido. Toda a artista se torna cidadão da rua e esteticamente fora dos padrões perdidos. São os programas de opressão inquisidora da Idade Média, quando o cidadão da rua se torna coisificados. redução de danos que trabalham com não impediu que as cidades medieva- artista. SAROBÁ!!

Praça: espaço aberto ou fechado?

A estética viva das praças e das ruas: liberdade ou repressão?

“Sarobá é a estética do prazer advindo da promiscuidade entre artistas

e estudiosos da cultura e o povo das ruas. Cenas que Lobivar Matos

pintava em seus poemas décadas atrás. Já não se pode saber quanto o

artista se torna cidadão da rua e quando o

cidadão da rua se torna artista”.

Seminário Arena Aberta

(67) 3026 4830

FRUTOS DO MATO(67)

3346-8914

ATENDEMOS ENCOMENDAS

Folhetim do Sarobá

Ano I - nº 03

Campo Grande, MS -Maio/Junho de 2013

Desenho: Edson José de MoraesTexto: Edson Silva

O Teatro Imaginário Maracangalha (TIM) há sete anos com vocação para receber eventos artísticos e de ocupa espaços abertos públicos, calçadas, praças e lazer, mas vivem ociosos, sem programações e sem ruas. Nesses espaços realiza diversas ações, dentre vida. Isso se configura de várias formas, como é algumas: teatro de rua, cortejos, Sarobá – ocupação percebido no Parque das Nações Indígenas, praças artística com interação de linguagem –, a Temporada dos bairros de periferia abandonadas, praça do Belmar do Chapéu (uma mostra de teatro de rua) e o carnaval. Fidalgo elitizada, Praça Ari Coelho gradeada e outras Sendo o espaço público aberto composto por ruas, praças que vêm sendo privatizadas pela Câmara de praças, largos, calçadões, onde é histórica e legalmen- Vereadores e Prefeitura Municipal.te assegurado o direito pleno de ir e vir e de manifesta- O TIM, ao ocupar e discutir os espaços públicos ções artísticas, culturais e políticas, abertos, endossa junto com vários grupos de percebemos, pelo constante uso da teatro de rua do Brasil um dos princípios e praça como local de apresentações, proposições da Rede Brasileira de Teatro de que esses espaços públicos estão Rua:sendo gradeados, privatizados, “Lutar pelo livre uso e acesso aos espaços burocratizados, e até mesmo abando- públicos, garantindo a prática artística e nados, não só em Campo Grande, mas respeitando as especificidades dos diversos no país inteiro. segmentos das artes públicas, em acordo Isso torna evidente a ausência de com o artigo 5° da Constituição Brasileira, políticas públicas, violência, elitização e que no IX inciso diz: "é livre a expressão da descaso com a sociedade, não haven- atividade intelectual, artística, científica e de do o reconhecimento da praça como comunicação, independentemente de patrimônio material e imaterial e censura ou licença" (Carta de Taguatinga – equipamento cultural, compreendendo cultura como Rede Brasileira de Teatro de Rua, 2013).toda manifestação popular, política e de convívio. Como disse Rui Barbosa ,“a praça é do povo como o A falta de políticas públicas leva à privatização e ao céu é do condor”. Evoé!gradeamento das praças, numa ação violenta contra o (*) Este texto foi produzido, de forma colaborativa, por direito de ir e vir, refletindo a segregação social e a integrantes do Teatro Imaginário Maracangalha: Fran privatização afetiva. Corona, Fernando Cruz, Kássia Rosa, Moreno Em Campo Grande temos vários espaços de convívio Mourão, Pietro Falcão Willianm Hennenze.

Av. dos Estados, 351 - Jardim dos Estados CEP 79002-523 - Campo Grande - MS - (67) 3382 4241

www.cidadeambiente.com.br

Mobilidade UrbanaSaneamento Ambiental

Patrimônio Cultural e Natural

Analise UrbanaLegislação Urbanística e Ambiental

Habitação e Convivência

p r o j e t o s r e s p o n s á v e i s

“A falta de políticas públicas leva à privatização e ao gradeamento das praças, numa ação violenta contra o direito de ir e vir, refletindo a segregação social e a privatização afetiva.”

Ambiente urbano que mais transitável. Lugar de que vão desde as práticas identifica a nossa cidade com manifestação. A praça é do comerciais como mercados e outras ao redor do mundo é a povo! feiras até como lugar de praça, que carrega na sua Da Ágora, praça central que expressão da vida social, origem a marca do coletivo. A constituía a pólis na Grécia cultural e política. É, portanto, praça traz consigo a arché, ou Antiga até a nossa humilde considerada um símbolo da seja, a essência do que é Praça Cuiabá, cenário onde democracia direta. A exemplo público. Portanto, redundante se instalará o Sarobá de da Ágora grega as nossas dizer praça pública. Discutir todas as Bandeiras, no praças deveriam cumprir se a praça deve ser fechada próximo dia 18 de maio, tal o seu papel histórico, ou aberta não apenas soa espaço tem um sentido delimitando a esfera como ironia, mas é a própria comunitário e vínculo pública urbana, sendo ironia para chamar a atenção determinante com a compreendida como ao sentido histórico-cultural liberdade. um espaço de do espaço que é de todos. Assim, desde a sua origem, debate de ideias Por natureza, a praça é as praças são espaços de entre os cidadãos. aberta, livre, democrática, manifestações de toda ordem

A luso-brasileiraNoêmia Marques

Moradora do

entorno da

Praça Cuiabá

exibe, com orgulho,

as bandeiras do

Brasil e de Portugal

Pág. 3

Page 2: Folhetim obá 3 digital

Impressão: Jornal O Estado de Mato Obá - Folhetim Sarobá – Grosso do Sul Órgão de divulgação das ações Conselho Editorial: Bia Marques, culturais do Coletivo Sarobá – Ano I, Carol Alencar , Edson José de No. 3 – Maio/Junho-2013. Campo Moraes, Edson Silva, Fernando Grande-MS.Cruz, Luiz Katsuren, Norberto Editor responsável: Edson Silva Soares, Rogéria Castro Costa, (MTb 091) / Diagramação: Edson Werther Fioravante.José de Moraes, Luiz Katsuren, Fale com o Obá: Rua Júlio Dittmar, Norberto Soares / Repórter 26-A, Bairro São Francisco – Campo fotográfico: Edson Ribeiro / Revisão: Grande-MS – CEP: 79.077-006. Ana Cláudia Salomão, Bia Marques / Te le fones : (67 ) 3356 .7682 / Produção e publicidade: Rogéria 8187.5609. Costa, Kássia Rosa / Distribuição: Renderson Valentim / Assessoria de E-mail: [email protected]: Brasa Comunicação /

É de pensar que nunca antes ciência e poesia, comprovando guarda-chuvas e marquises, a um Sarobá teve um tema tão que na rua, na praça, todos os praça tomada, o povo curtiu, oportuno. Águas de março saberes e artes se encontram, dançou e riu madrugada afora caíram sem piedade. multiplicam-se. A criançada (que os repressores da alegria Segurando uma das barracas também nadou de braçada com estavam todos sob o edredom), pra que não voasse entre as cantigas e encantos da até porque, com chuva, sol, rajadas de água e vento, ela Caravana Tecnobrincante. vento, calor ou frio, a coisa pensa que, ao invés de dança, a E o temporal não parava. Ao sempre acontece, reúne, canta apresentação seria de nado telefone pessoas perguntavam e dança, faz batuque e cantile-s i nc ron i zado . Lembrava quando seria o Sarobá Águas na, marca na memória, entra encharcada que o seminário de Março remix, ao que respon- pra história. mais uma vez uniu vertentes díamos que isso não acontece- (Bia Marques)bem distintas, nesse caso ria. E foi bem assim, sob

Praça Cuiabá ou Cabeça de Boi

17/05/2013 TGB Seminário Arena Aberta: Bamba Beat Praça - espaço aberto ou Banda Santo Chico fechado? Dança Convidados: Haroldo Garay / Grupo Afro ilê omõ aiyê diretor teatral - Espaço "Cela Grupo T'iKay: dança de criação" – (BA) e Paulo folclórica da Bolívia Paes/arte educador (MS) Artes Visuais Exposição “Janelas Urbanas” Instalação: "Orixá Irôko - o - Darwin Longo tempo da Gameleira " - Local: Rua Júlio Dittmar, 26 A Haroldo Garay (sede do Teatro Imaginário Esculturas: Marcos MourãoMaracangalha ) - Bairro São Artes CênicasFrancisco Cortejo MaracangalhaHorário: 19h Varal Lobivar Matos

Jamile Fortunato18/05/2013 Infantil: Caravana Festa Sarau Tecnobrincante : Projeto Local: Praça Cuiabá (rua Dom Memórias do Futuro - Espaço Aquino com a avenida Duque Imaginário e Pontão de Caxias, perto da Praça Guaicurus das Araras) Escambinho: troca de Horário: 16h brinquedos, DVDs, CDs, Música livros, gibis, objetos e afins... Banda Municipal de Campo é só levar um pano esticar no Grande chão e começa o troca trocaBaldinir Bezerra da Silva Bolicho LobivarMaria Claudia e Marcos Feira de ArtesanatoMendes Casa da Ciência – Jonas Feliz Observatório de SaturnoDumatu MC

P r o g r a m a ç ã o

Fotos: Brasa comunicação

Foto

Elis

Regin

a

Tanto que choveu

Escambinho, escambau...livros diferentes, descobriram Mais do que troca de n o v o s c o n h e c i m e n t o s , brinquedos, livros e gibis, exercitaram a valorização da o Escambinho foi além, cultura e do desapego. O mais proporcionando a troca de importante de toda essa amizadesexperiência foi a troca de

Foi realizado no Sarobá Águas amizades. Cá pra nós, amiza-de Março (23) o primeiro des novas sempre são bem-Escambinho, uma proposta vindas, especialmente quando especialmente desenvolvida estimulam em nossas crianças para o público infantil, com conversas, brincadeiras, um a p o i o d a C a r a v a n a sorriso largo e a satisfação de Tecnobrincante. As crianças sair com um pouquinho do levaram brinquedos que outro... Viva o cultivo da estavam esquecidos, gibis e cultura! Vivam as trocas! Viva a livros lidos e relidos para conquista das novas amiza-trocarem entre si. Foi fantásti- des! Viva o Escambinho!co! Saíram com brinquedos e (Marjorie Saldanha)

Arte e Ciência, aparentemente, enquanto, saboreie os frag- terrenos baldios, nos sinais, e não dialogam. Aparentemente! mentos que bem representam essa rua sempre foi minha Nas ruas, nas calçadas, nas as reflexões sobre poesia e biblioteca. E eu nunca parei praças, as duas caminham de ciência na rua. com isso.” mãos dadas, se abraçam, se Emmanuel Marinho: Sempre Hamilton Corrêa: “Quando a entrelaçam. Afinal, viemos das falo que minha biblioteca foi a gente fala que tem arte na rua, estrelas! Essa boa conversa rua. Ao lado da minha casa – que ciência está na rua, eu diria f i c o u d e m o n s t r a d a n o quando eu já estava com uns que toda ciência vem da rua. Na Seminár io Arena Aber ta nove, dez anos – tinha um bar. prática, tudo que é produto Poéticas na Rua, realizado em Então tinham aqueles bêbados científico vem de fora. Não 22 de março, que teve como que contavam histórias... Tinha nasce dentro. Existe um convidados o poeta Emmanuel um que era poeta e falava, diálogo com o fora, esse Marinho e o professor de Física viajava o mundo inteiro com a diálogo passa, necessariamen-da UFMS-Casa da Ciência poesia dele. E eu ficava todo te, também, pela rua. E não só Hamilton Corrêa. Enquanto o dia lá e pedia para ele contar com a rua convencional, de poeta revela que “a rua foi aquela poesia de novo. Eu já paralelepípedos ou asfalto, minha grande biblioteca”, o fazia meus versos. Eu tinha e passa também por outras ruas cientista admite que “toda fazia uns cirquinhos nos que, às vezes, a gente esque-ciência vem da rua”. Poéticas terrenos baldios, e isso era a ce: as trilhas que são uma na Rua foi documentado e será rua também, então, minha forma de rua. São as ruas objeto de publicação. Por poesia começou na rua, nos rurais”. ( Alê Moura e Fernando Cruz).

M e m ó r i a : S e m i n á r i o P o é t i c a s n a R u a

O diálogo possívelA Praça Cuiabá é está localizada na Cuiabá, já batizada pela população confluência da Avenida Duque de como Cabeça de Boi. O nome teria Caxias, ruas Dom Aquino Corrêa e sido derivado da iniciativa de um sargento Cecílio Yule que segue açougueiro em colocar na fachada depois com o nome de João Rosa de seu estabelecimento a carcaça da Pires. O bairro é o histórico cabeça de um boi. O nome, no Amambaí. Conhecida popularmente entanto, sugere, também, as práticas como Cabeça de Boi, localiza-se em comerciais que existiam na área na região de trânsito conturbado. primeira metade do século passado Contudo, inscreve-se como uma das como a compra e venda de rebanhos áreas mais importantes da história e bovinos. da cultura de Campo Grande. Em que pese a sua importância Ali está o único coreto campo- histórica e cultural, a praça grandense, construído em 1925, apresenta sinais de abandono: portanto ainda no início da cidade coreto com pintura precária, elevada a município em 1899. pichações, bancos quebrados, Somente em 1960, segundo as plantas mal cuidadas e sem varrição poucas informações registradas no regular. Freqüência praticamente Arquivo Histórico de Campo Grande zero por motivos óbvios.(Arca), foi construída a Praça

Por mais de três décadas, árvores e não trouxeram outras, Noêmia Marques vive defronte i n f e l i z m e n t e . ” U m a d a s da Praça Cuiabá, na famosa qualidades de que ela se “Cabeça de Boi”, que todo orgulha é a iluminação pública: campo-grandense conhece ou “Quando acordo de madrugada, já ouviu falar. Hoje, aos 83 anos, nem preciso acender as luzes, a a portuguesa radicada no Brasil praça ilumina minha casa, em há mais de 60 anos se lembra do todos os sentidos.” dia em que desembarcou de Na memória e na experiência da trem, na estação ferroviária, e senhorinha luso-brasileira, de pegou uma charrete para uma existência longeva que construir a nova vida, ao lado de começou na Europa e continua seu esposo, já falecido, e do aqui, no coração da Cidade filho, que na época tinha apenas Morena, uma queixa: apesar seis meses de vida. dos bons cuidados, poucos se Dos dois filhos, quatro netos, lembram da famosa Praça quatro bisnetos e do local onde Cuiabá, uma das primeiras da viveu, dona Noêmia tem muita capital. Quanto ao único coreto história guardada na memória. da nossa Campo Grande, dona “Construímos esta casa, eu e Noêmia se recorda: “Se vi uma meu marido; planejamos tudo e apresentação aí, durante toda a rodovia paulistana”, reclama Sobre a conservação, ela não criamos nossos filhos, nunca m i n h a v i d a , f o i m u i t o . dona Noêmia. tem do que reclamar, pois a pensei em sair: pretendo morrer Infelizmente, esta é uma praça A intensidade de tráfego na manutenção é fei ta pela aqui”, afirma. esquecida”. região deve-se à reforma que prefeitura. A única coisa de que Durante todo esse tempo, ela viu ( C a r o l A l e n c a r c o m a acompanhou a Orla Morena, do se ressente é que, depois de muita coisa colaboração de Ana Cláudia outro lado da reformado, o local ficou menos por ali, de Salomão).p r a ç a . arborizado. “Cortaram várias moradores “Depois que d e r u a e eles isolaram p e s s o a s a nossa rua, passeando q u e a n t e s por lazer, até seguia direto congestiona p a r a a m e n t o d e M a r e c h a l carros, que é o que mais a intriga Rondon e agora faz a curva para nos dias de hoje. “Sempre morei a Avenida Noroeste, a coisa aqui e me sinto feliz, nada me piorou, porque até meus incomodava, mas chega na hora vizinhos que vivem de comércio do pico e isso mais parece uma perderam clientela”, diz.

Memórias da Praça

Hamilton Corrêa, Paulo Carvalho e Emanuel Marinho

Emanuel Marinho faz espetáculo de poesia

O Obá, edição 3 apresenta conteúdo focado no papel reservado às praças, ambiente de manifestações humanas nas mais diversas culturas ao redor do mundo. Inscreve-se como espaço de cidadania e de democracia direta. O Sarobá traz na edição de 17 (seminário) e 18 (festa-sarau) de maio as temáticas Sarobá de todas as bandeiras e Praça, espaço aberto ou fechado? Dá seqüência, assim, às reflexões sobre o uso artístico-cultural dos espaços públicos. Nessa mesma linha foram abordados em janeiro e março de 2013, respectivamente, os temas Sambas, bambas e cateretês/Bloco na Rua e Águas de Março/Poéticas na Rua.Nesta edição do Obá, o leitor vai encontrar já na capa a arte de Edson José que representa a praça como lugar de todas as bandeiras. A página 2 ficou reservada à memória do Sarobá de Março, mostrando o sucesso do Escambinho que promoveu a troca, principalmente, de amizades entre crianças e adolescentes. A breve crônica Tanto que choveu enfoca a adequação do tempo ao tema: as águas de março caíram com vontade e encharcou a festa do dia 23. Diálogo possível oferece um aperitivo do que foi o rico diálogo entre ciência e arte nas reflexões sobre poéticas na rua.Na página 3, o leitor saberá em Memórias da Praça, um pouco da história de dona Noêmia, a portuguesa que adotou Campo Grande para morar e formar família. É a moradora mais antiga da Praça Cuiabá. Terá em detalhes, também, toda a programação desta edição do Sarobá.A página 4 oferece reflexões sobre o uso social da praça, bem como o relato das experiências de quem trabalha no espaço público como ruas, calçadas e praças.

“Sempre morei aqui e me sinto feliz, nada me incomodava, mas chega na hora do pico e isso mais parece uma rodovia paulistana”

SAROBÁ DE TODAS AS BANDEIRAS

“Se vi uma apresentação aí [no coreto], durante toda a minha vida, foi muito. Infelizmente, esta é uma praça esquecida”.

A portuguesa Noêmia Marques mora há 35 anos defronte a Cabeça de Boi e conta sobre as transformações da praça