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8/18/2019 Olhos de Leão http://slidepdf.com/reader/full/olhos-de-leao 1/132  Curitiba 2015 1ª Edição  Willians J. Silva Olhos do Le  Batalha de Santo Ângelo 

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Curitiba 2015 1ª Edição

  Willians J. Silva

Olhos do Le o  

Batalha de Santo Ângelo 

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Olhos do Leão

1

 _____________________________________________________Silva, Willians José da

Olhos de leão / Willians José da Silva. Curitiba: s.c.p., 2015.128p.

ISBN 978-85-69448-34-1

1. 

Religião. I. Título.

15/001 CDD200

 _____________________________________________________Índices para catálogo sistemático:

1. Religião 200

(ficha catalográfica elaborada por LVMattos  –   bibliotecária  –  CRB 8/583)

Revisão: Taiane Mariele Schroder

Este livro é uma obra de ficção. Os personagens e os diálogosforam criados pela imaginação do autor, e não são baseados em fatosreais. Qualquer semelhança com acontecimentos ou pessoas reais, émera coincidência.

[email protected]

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 Agradecimentos

 Agradeço a Deus pelo dom da vida e a capacidade de evoluir com oserros. Agradeço a minha esposa, Vânia Oliveira, por seu Amor e dedicaçãodurante a nossa caminhada. À ela agradeço o apoio recebido em momentosdifíceis.

 Agradeço ao meu amado filho, Arthur França, pelo seu sorriso quealimenta a minha alma. O desafio de ser pai me permitiu entender os esforços dosmeus pais.

 Agradeço a meu pai, Wellington José, e minha mãe, Ilda França, porserem canais de Deus para minha existência. Agradeço a minha irmã, IldelandiaFrança, por sempre acreditar em minha capacidade.

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É  fim de tarde de um dia frio e nublado. Lentamente surge um jovem em uma estrada entre as neblinas. Com agasalho de couro e

luvas nas mãos, que se entrelaçam, ele se conduz com passos firmesem direção ao destino que o mesmo desconhece. A imagem da longaestrada com o solitário reflete a alma daquele jovem que chora umador que não se justifica no corpo físico. Após andar alguns metros elelevanta o rosto, olha para o céu nublado e escurecido e percebe queaquela imagem aumenta, ainda mais, o seu estado depressivo. Lucasestá decidido a morrer e exterminar de uma vez toda a sua angústia edesespero, não era a primeira vez que ele pensava em suicídio.

Lucas chega a um ponto da estrada e para. Ele olha para oslados e vê apenas alguns carros e caminhões que passam em altavelocidade, pular debaixo de um carro seria fatal e sem chance parasobrevivência, tudo que ele mais deseja naquele momento. Ele olha

 para o relógio, são dezoito horas, as lágrimas nos olhos embaçam avisão ao olhar os faróis dos automóveis. Lucas já sente o vento frioem seu rosto gerado pela velocidade e aproximação em que os carros

 passam do seu corpo. Embriagado pela desilusão, Lucas olha para olado esquerdo e vê uma carreta a duzentos metros vindo em suadireção. O jovem se prepara para se jogar na pista na passagem doautomóvel. As suas pernas ficam trêmulas, o choro se torna maisintenso. O garoto já está a poucos metros da morte e olha mais umavez para o lado, percebendo os faróis mais altos e incandescentes emsua direção. Ele escuta a buzina o alertando do perigo e se prepara

 para pular, por alguns instantes ele abre os olhos e vê um outdoor dooutro lado da rua com a seguinte descrição: “Ainda há uma

esperança”. Naquele súbito momento Lucas pula, mas para trás,

deixando a carreta passar a centímetros do seu corpo. Deitado no chãoele sente o cheiro do combustível e o calor da engrenagem erapidamente se levanta. Depois lê mais uma vez a frase exposta emsua frente e percebe que se trata de uma mensagem religiosa. Sozinhona estrada ele ridiculariza a placa demonstrando irritação por ser uma

 propaganda de uma igreja.

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Lucas repudia qualquer tipo de religião, aos doze anos ele foilevado pela mãe a um guia espiritual para fazer a iniciação com o

objetivo de aguçar os dons espirituais, porém para Lucas a experiênciafoi traumática e a ideia da religião lhes soava mal. O jovem limpa oseu agasalho e segue andando sem direção. Por alguns momentos eleesquece o que veio fazer naquele local. Depois de alguns metros,ainda sem saber o que iria fazer da vida, ele dobra em uma rua sem aocerto saber aonde iria. Já está escuro e Lucas pensa em voltar paracasa.

Depois de andar algumas quadras ele percebe um vento frio e

forte. Alguns pingos de chuva que começam molhar a sua jaqueta oimpulsiona a correr procurando um abrigo para se livrar da chuva queaumentava gradativamente. Após algumas quadras sem encontrarnada que o protegesse ele vê uma casa bonita e muito grande ondeestavam algumas pessoas se protegendo da chuva. Ele sobe as escadasda grande casa, pede licença e se acomoda no meio daquelas pessoasdesconhecidas. A chuva aumenta e com a ajuda do forte vento molhao corpo do jovem, ele se comprime entre as pessoas e a paredetentando evitar a chuva. Depois de alguns minutos alguém sai dedentro da casa, se aproxima de Lucas e fala:

 —   Amigo, seria melhor você entrar, aqui dentro você estarátotalmente protegido da chuva. O homem estava bem vestido com um

 paletó preto e aparentava uma cordialidade que impressionava o jovem.

Lucas diante da situação não teve dúvida e aceitou o convite dodesconhecido. Ele entra na casa tentando enxugar a calça que estátotalmente encharcada.

 —   Obrigado, assim que diminuir a chuva irei embora  —   falaLucas.

 —  Não amigo, fique bem à vontade e assista o culto até o fim! —  Responde o homem colocando mão no ombro de Lucas.

 Nesse momento Lucas olha o ambiente e nota que está em umaigreja cristã. Ele olha para fora, pensa em sair, mas lembra da chuva efica. Durante toda a sua vida ele nunca tinha entrado em uma igreja e

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agora se sente obrigado a ficar. Lucas lentamente senta, tira as luvas eobserva com curiosidade e admiração tudo o que acontece naquele

recinto. A igreja é enorme e está lotada, as pessoas que estão em pérecepcionam aqueles que chegam procurando um lugar para acomodá-los. As músicas são bem executadas e todos cantam com grandeentusiasmo e emoção. Lucas fica um pouco emocionado, masdisfarça. As suas emoções estão fragilizadas. No auge de suadistração alguém que estava sentado atrás de sua cadeira toca em seuombro o chamando atenção. Lucas olha para trás um pouco assustadoe reconhece o indivíduo:

 —   João! Quanto tempo cara, o que estás fazendo aqui?  —   falaLucas demonstrando satisfação ao rever o amigo. —  Congrego nesta igreja a três anos cara, depois que vim pra cá

muita coisa mudou em minha vida —  fala João com sorrisos no rosto. —  Você está me dizendo que faz parte de uma igreja evangélica?!

 —  questiona Lucas. —  Sim cara, foi uma das melhores coisas que fiz. —  É inacreditável, um louco como você se tornar um religioso,

só estou acreditando porque estou escutando de você!  —   fala Lucasdemonstrando estar surpreso com o que escutava.

Lucas e Pedro dão uma pausa na conversa ao notar que odiálogo estava chamando a atenção das pessoas que estão à volta.Lucas sorri sem graça e volta a olhar para frente tentando seconcentrar no culto.

Após algumas apresentações musicais sobe no púlpito um senhorde cabelos grisalhos com um livro de capa preta nas mãos esubitamente todos fazem silêncio. Ele coloca o livro no púlpito e

adequa a altura do microfone a sua estatura. —  Que a paz do Senhor esteja com todos nesse momento! —  fala

aquele senhor, aparentando serenidade e autoridade. —  Amém! —  todos respondemLucas acha engraçado tamanha reverência e submissão, mas se

contem.

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 —   Nesta noite tem alguém nos visitando? Nós gostaríamos deconhecer —  fala o homem do púlpito.

 Nesse instante Lucas escorrega um pouco pela cadeira e baixa acabeça para não ser notado, tarde demais, o seu colega levanta e grita: —   Aqui! Esse rapaz é meu amigo e veio pela primeira vez em

nossa igreja! —  grita João.Lucas quase paralisa de vergonha, todas as pessoas que lotam as

dependências do templo olham para o rapaz, que é sucumbido pelatimidez. Ele vira-se para o amigo com ar de decepção:

 —  Você não precisava fazer isso comigo! —  fala Lucas

João acha graça na reação do amigo: —  Relaxa Lucas, aqui todos são amigos, ou melhor, irmãos.O senhor de cabelos grisalhos pede para que todos naquele

recinto aplaudam a presença do visitante e todos aplaudem de formacalorosa. Algumas pessoas se aproximam e apertam a mão de Lucas,que ainda está envergonhado com a situação. Outros ainda maisaudaciosos o abraçam, demonstrando carinho e prazer com a sua

 presença. Após uma recepção calorosa Lucas já se sente bem mais àvontade. O Senhor de cabelos grisalhos é o Pastor da igreja, agoradistribui simpatia quebrando as primeiras impressões que tinhadeixado ao subir no púlpito.

Ele abre o grande livro de capa preta, pede para que todos leiame acompanhem o texto e prontamente a grande maioria da igrejaacompanha a leitura. Após a leitura o pastor faz um sermão.

Lucas presta bastante atenção em todas palavras do pastor, as palavras são carregadas de sabedoria e entendimento da vida. Naqueles poucos minutos Lucas começa a ver a vida de uma forma

que ele nunca tinha visto, o homem aparenta uma sabedoria e linha deraciocínio que o impressiona.

Quando o sermão do Pastor está para se encerrar Lucas sentearrepios e uma tontura, ele passa as mãos nos olhos e tenta seconcentrar no sermão.

O Pastor pede para que todos fiquem de pé para fazer uma oração. Neste momento Lucas percebe coisas estranhas dentro da igreja. A luz

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ambiente fica com um brilho mais forte que o natural. O jovem fechaos olhos com força e sente dificuldade ao abrir. O brilho e claridade

continuam intensos, mas a luz forte não era a única imagem que ele percebe. Por trás de algumas pessoas ele vê vários vultos em forma decorpo humano saindo em direção a porta da igreja, ele não conseguedecifrar a imagem, parecem fumaças humanas que passam pelocorredor e saem pela porta desaparecendo em seguida. Lucas ficaincomodado com aquelas imagens. Ele olha para as pessoas e todosestão de cabeça baixa e olhos fechados. Ainda em pé ele interrompe aoração e concentração de um rapaz que está ao seu lado.

 —  Amigo, você está vendo?O jovem olha para o recinto e volta a atenção para Lucas: —   Vendo o que?  —   fala o rapaz percebendo a inquietação do

visitante. —  Eu nunca imaginei que aqui tinha isso...  —  fala Lucas com a

voz trêmula.Lucas tenta voltar a sua atenção para o pastor, mas outros

sintomas estranhos começam a surgir. Uma voz que aumentagradativamente soa em sua mente. Lucas coloca as mãos nos ouvidos,mas a voz continua a falar algo que ele não consegue compreender.Ele senta e se comprime na cadeira chamando a atenção de todos,depois cai no chão por não suportar a dor e o barulho que apenas eleescutava. O jovem sente o corpo queimando como tocha e grita de

 pavor, todos param a oração e procuram o autor do grito. Ao percebero jovem no chão todos se aproximam dele. Lucas percebe alguém

 pegando em seu braço tentando o levantar, ele abre os olhos e ergue acabeça e percebe que a luz do ambiente estava muito incandescente e

volta a fechar os olhos. No chão Lucas sente seu corpo ferver, comouma panela de pressão. Com os olhos fechados ele escuta em meio asua agonia alguém chamando o seu nome, ele tenta abrir os olhos e vêum ser estranho e esquelético segurando o seu braço. Ele levantadesesperado e sai da igreja correndo e gritando sem perceber que eraJoão que estava tentando o levantar. As pessoas ficam atônitas semsaber o que está acontecendo. João pede licença às pessoas que estão

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ao seu lado e sai da igreja atrás do amigo. Fora da igreja João percebeLucas dobrando a rua correndo em alta velocidade. Pedro inicia uma

 perseguição atrás do amigo que perdura por algumas ruas e becos atéLucas cair no chão em uma viela escura e vazia. João quase semfôlego diminui os passos e se aproxima do colega. Lucas estáajoelhado com as duas mãos no calçamento molhado, João para decorrer e anda tentando controlar a respiração, depois tenta falar com oamigo.

 —  Lucas, você está bem? O que está acontecendo com você? Porque saiu correndo da igreja? —  questiona João com dificuldades.

Lucas não responde, está cansado. João olha para os lados e nãovê ninguém, respira um pouco e volta a sua atenção a Lucas. —  Amigo, você quer que eu te leve ao médico?Lucas balança a cabeça negando a ajuda.

 —  Estou bem, o que aconteceu comigo não é um médico que vairesolver, preciso ir pra casa —  fala Lucas tentando levantar.

 —   Tá bem, vou te levar em casa, acho que você não está bem para ir sozinho.

João com alguma dificuldade ergue o amigo. —   Tudo bem eu vou, desculpa te fazer sair da igreja correndo

atrás de mim —  fala Lucas ainda atordoado. —   Não tem que se desculpar, amigo é pra ajudar um ao outro,

vamos lá... Onde é a sua casa? —  pergunta João. —   Eu moro um pouco distante e vou ter que pegar um ônibus,

não precisa me levar até em casa, vamos até o ponto de ônibus  —  falaLucas demonstrando lucidez.

 —  Já que você prefere assim, vamos —  concorda João.

Os dois caminham alguns metros em silêncio até chegar ao pontode ônibus, Lucas não falava nada, um silêncio misterioso queincomodava o amigo.

João percebe a preocupação do companheiro com uma das mãos. —  O que aconteceu com sua mão? —  pergunta João.

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 —   Acho que machuquei quando caí agora pouco, mas não se preocupe, vou cuidar disso quando chegar em casa —  responde Lucas

tentando disfarçar a dor. —  Lucas, me fala o que aconteceu na igreja? Não finge para mim

que tudo aquilo foi normal, você estava totalmente fora de controle —  fala João tentando quebrar o gelo.

Lucas olha para o amigo, respira um pouco e volta o seu olhar para o chão e não fala nada.

 —  Sei que faz muito tempo que não nos vemos, mas você podecontar comigo, eu sempre fui seu amigo e sempre serei!  —  fala João

tentando minar o amigo.Lucas permanece em silêncio, mas demonstrando um início deinquietação com as palavras do amigo.

 —  Você está usando drogas? —  continua João. —  Não adianta eu te falar nada, você agirá da mesma forma que

todos, então faz um favor, deixa-me em paz!  —  fala Lucas de formasúbita e explosiva.

Mais uma vez João fica chocado com a atitude do amigo, mas nãodesiste.

 —  Calma, eu não sou qualquer um... saímos da escola há quasecinco, depois passamos todo esse tempo sem nos encontrarmos, massempre fui seu amigo, eu só quero entender o que está acontecendocom você!

Lucas demonstrando irritação cruza os braços e fica de costas para o amigo, João sacode os braços e balança a cabeça de formanegativa.

 —   Tudo bem cara, você tem todo o direito de ficar assim, nós

homens temos a tendência de esconder os nossos sentimentos, masvocê parece que está enterrando a sua alma. Não sei ao certo o queestá acontecendo com você, mas independentemente de qualquer coisaeu sei quem ama você e traz a cura a um coração que chora.

Após as palavras João percebe que Lucas estava aos poucosvoltando a sua atenção para o amigo, quando Lucas vira o rosto Joãonota que ele estava chorando. Os dois se abraçam.

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 —  Desculpa cara, estou precisando de ajuda, tento me acostumarcom as coisas que acontecem comigo, mas... Não consigo  —   fala

Lucas tentando controlar o choro. —  Tudo bem, não tenha pressa, estou te escutando e seja o que

estiver acontecendo estarei do seu lado  —   fala João expressandocompreensão e confiança.

Os dois sentam no banco do ponto do ônibus e Lucas aos poucosconta o que estava acontecendo.

 —  Antes de entrar naquela igreja eu tinha tentado me matar, mascomo você percebe não consegui.

 —   Mas por que você tomou essa decisão tão radical?  —  questiona João. —  Minha vida nunca foi tranquila, mas de uns dias desses pra cá

tem se tornado pior ainda, sexta passada me demitiram e hoje...  —  Lucas dá uma pausa balançando a cabeça negativamente.  —  Sempresenti falta de um pai, como você sabe eu nunca soube quem era omeu...na escola nos dias dos pais era horrível ver todos os alunos como seu e eu nem saber como era o rosto do meu  —   continua Lucasemocionado. —  Hoje, ao acordar, minha mãe me chamou para termosuma conversa e para minha surpresa era sobre este assunto... Ela mefalou como tudo aconteceu.

 —  O que ela falou para você amigo? —  pergunta João. —   Hoje ela me contou como se separaram e isso foi muito

doloroso para mim... ela estava grávida quando ele a deixou e foimorar com outra mulher. Depois de alguns meses ele apareceu

 pedindo para ela abortar, pois ele não queria criar a criança que estava para nascer, mas minha mãe não aceitou a proposta e disse que iria

criar a criança sozinha. Revoltado ele tentou me matar dando fortessocos na barriga, apenas parando quando percebeu que ela estavadesacordada... Cara você saber que não teve pai já é bem doloroso,mas saber que o seu pai te odeia ao ponto de querer te matar édemais... —  fala Lucas.

 —  Mas, Lucas... Eu entendo a sua dor e decepção com tudo isso,mas você sobreviveu, você nasceu mesmo contra a vontade e tentativa

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do seu pai, isso mostra que você é um vencedor. Eu só não aceito é

você depois de quase vinte anos saber disso e querer se matar, é comose você quisesse realizar o desejo do seu pai! —  fala João aparentandorelativa preocupação com o amigo.

Lucas silencia e analisa o que João acabara de falar. —   É verdade, eu não tinha pensado dessa forma  —   concorda

Lucas —  Mas não é apenas isso que me tira o desejo de viver, o que irei

falar agora irá te conduzir as mesmas opiniões que todos têm da

minha pessoa. —  Que opinião? —  fala João demonstrando curiosidade. —   Que sou louco! Todos acham que sou louco. O pior nessa

história é que muitas vezes também eu acredito, porque quem énormal não passa pelo que eu passo, não vê o que vejo e nem fala comquem eu falo —  fala Lucas.

 Neste momento João fica pasmo e mudo demonstrandoassombração com o que o amigo tinha falado e curioso no que ele

 poderia falar.Lucas continua —   Na minha infância eu sempre fui atormentado com pessoas

que falavam comigo e depois desapareciam, muitas vezes eramimagens e visões assustadoras e quando eu falava para a minha mãeela não acreditava. O tempo foi passando e eu me acostumei comaquelas coisas, mas a minha família e amigos me achavam loucoquando eu contava alguma história...quando completei quinze anos

minha mãe me levou a um psicólogo e o mesmo falou que o meu casoera psiquiátrico. O psicólogo teve várias conversas comigo e nos falouque as minhas visões poderiam ser ocasionadas pela frustraçãocausada pela ausência do meu pai. Ele encaminhou o meu caso paraum psiquiatra, mas nunca fui.

 —   Como não? Você deveria continuar seu tratamento!  —   falaJoão

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 —  Eu sabia que você também iria concordar que eu sou louco! —  

fala Lucas demonstrando muita irritação. —  Eu não quis dizer isso —  tenta explicar João

A discórdia é interrompida pelo barulho do motor de um carro,Lucas percebe que é o seu ônibus, ele coloca uma das mãos em frenteaos olhos para diminuir a intensidade da luz e com a outra faz sinal

 para o motorista parar. —  João foi bom te ver, mas eu vou ter que ir, espero te encontrar

outra vez —  fala Lucas. —  Cara, me passa o número do teu celular? —  fala JoãoEnquanto estende a mão sinalizando para o ônibus Lucas fala o

número, João rapidamente anota e se despede. —  Beleza Lucas, eu te ligo! - fala João em voz alta

Lucas entra no ônibus, paga a passagem, vai até as últimascadeiras e senta. É quase meia noite de um domingo longo e frio. Eleolha para as poucas pessoas que estão no coletivo e rapidamente voltaa sua visão para a janela, transparecendo a sua timidez. Depois dealgum tempo ele começa a relembrar tudo o que aconteceu durante odia e percebe que estava bem melhor depois da curta conversa queteve com o seu velho amigo. Subitamente Lucas dá uma pausa naslembranças e percebe que o ônibus se aproximava de sua casa,levanta, pede parada e desce.

Ao descer do coletivo ele fica um pouco ansioso, pois saiumuito cedo e não falou para onde iria. Ele anda até o portão de suacasa, depois lembra que saiu decidido a nunca mais voltar. Antes de

abrir ele olha as ruas vazias, as casas da vizinhança e fica emocionado,depois respira fundo e abre o portão. O cachorro de estimação late aosentir a presença de Lucas e vem correndo recepcioná-lo, o pequenocão pula em suas pernas, demonstrando satisfação e felicidade ao vero dono outra vez. Lucas faz um carinho e depois se afasta do animal.Ele anda em direção a porta e percebe que alguém tinha ligado a luzda sala. Antes que o jovem tocasse na porta uma mulher de cabelos

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claros e um vestido escuro abre a porta tentando se proteger do frio e

Lucas entra, fechando a porta em seguida. —  Meu filho onde você estava?  —  questiona a mulher enquanto

observava o seu estado físico.Lucas permanece em silêncio enquanto tira a jaqueta molhada.

 —  Você saiu cedo, não falou para onde iria, não atendeu o celulare chega agora... O que houve com a sua mão?

Lucas olha para a mão e lembra que machucou quando fugia deJoão.

 —  Nada, foi uma queda, mas logo melhora  —  responde o jovemtentando esconder a mão machucada. —   Filho, me perdoe pelo que falei pra você hoje pela manhã,

 percebi o quanto você ficou abalado  —   fala a mulher com olhar piedoso.

 —   Não é você que me deve pedir perdão mãe, só não entendi porque só agora você vem me contar essa história, mas tudo bem, euvou dormir e tentar passar por cima de tudo isso  —   responde Lucasum pouco alterado.

Depois disso Lucas se cala, deixa sua mãe na sala e vai para o seuquarto.

Lucas sabe que no outro dia iria acordar e não daria prosseguimento a sua rotina semanal, pois tinha sido demitido semnenhuma justificativa pelo seu patrão. Ele começou a trabalhar naempresa aos dezessete anos como estagiário na área de informática ededicou três anos de sua vida pensando em fazer um plano de carreira

e agora todo o seu planejamento tinha sido frustrado.

 No outro dia Lucas aproveita para refletir na vida e pôr as ideiasem ordem, o jovem permanece no quarto até a noite.

 No início da noite João liga para Lucas preocupado com o seuestado. Eles passam um bom tempo conversando e trocando ideias até

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que João o convida para uma reunião em sua casa e Lucas aceita.

Depois disso Lucas finalmente sai do quarto. — Mãe, lembra do João? Aquele amigão da Escola Alfredo

Santos? —  Sim, lembro filho! —  Eu o encontrei em uma igreja ontem e agora ele me ligou... —  O que ele fazia na igreja? Ele agora é religioso? —  pergunta a

mulher. —   Sim, é engraçado, mas essa também foi a minha reação

quando o vi lá. Ele está bem mudado e acabou de me fazer um convite para ir a uma reunião na casa dele, acho que é uma dessas reuniõesreligiosas que ele faz com os amigos.

 —  Vai Lucas, vai ser bom pra você, porque você sai mais de casae faz mais amizades? —  ela disse gerando expectativa no filho.

 —  Verdade, depois de tudo que vem acontecendo comigo, bonsares vão fazer bem para mim... —  concorda o rapaz.

Lucas era muito tímido e reservado, a senhora Olindina sabia aimportância de novos relacionamentos para a melhoria da qualidadede vida do seu filho.

Após a janta Lucas troca de roupa e vai ao local da reunião. Nãoestava certo do que poderia acontecer, mas dar continuidade a umaamizade que parecia esquecida pelo tempo poderia ser beminteressante. Lucas era tímido e caseiro e isso o impedia de fazeramizades. Por ter poucos amigos a vida parecia pesada e sem muitagraça.

O jovem chega ao endereço, uma casa de muro alto e brancoque esconde a beleza daquela residência. Ele aperta a campainha domuro duas vezes e espera, depois de alguns segundos ele escutaalguém abrindo a porta da casa e se aproximando do portão.

 —  Quem é? —  fala alguém, que parecia ser o João. —  É o Lucas, vim para uma reunião! —  fala o jovem em voz altaO portão abre e João aparece.

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 —  Você veio? Que legal cara... —  João abraça o amigo de forma

calorosa, fecha o portão e entram na casa com o braço no ombro doamigo.Eles caminham até a sala onde já tinham três rapazes sentados no

sofá. —  Lucas, fique bem à vontade, esses são os meus irmãos de fé

que participam dessa reunião semanalmente, esse é o Daniel, Pedro eesse é o Alfredo.

Lucas aperta a mão de todos e procura se acomodar em um dos

acentos.A descontração dá lugar a reverência quando João pede para quetodos fechem os olhos para uma breve oração. Lucas acompanha osnovos colegas e fecha os olhos, no meio da oração ele lentamentelevanta a cabeça e certifica-se se todos no recinto estavamacompanhando a oração que João fazia, ao perceber que todosestavam orando de forma fervorosa ele ri discretamente, balança acabeça e volta a fechar os olhos. Ele estava decepcionado mesmotendo se preparado para uma possível reunião religiosa naquela noite,mas o esforço era válido por se aproximar do velho amigo.

Após a oração, todos se acomodam nos acentos enquanto Joãoabre um livro de capa preta e começa a ler um texto. Todosacompanham atentamente cada palavra em silêncio. Após a leitura elefaz uma análise do texto e um pequeno debate sobre o assunto seinicia entre os integrantes da reunião. Lucas fica um poucoincomodado com a situação, pois não entendia muito do assunto, masde alguma forma achou interessante. As palavras e ideias mencionadas

naquele recinto traziam paz ao seu coração, fazendo-o esquecer os problemas e angústias vividas nos últimos dias.

Depois de alguns minutos de reunião e debate Alfredo, um dosamigos de João, olha fixamente para Lucas.

 —   Lucas, você até agora não falou nada, tem alguma opiniãosobre o assunto? Você concorda ou discorda de alguma coisa?  —  

 pergunta Alfredo tentando incluir o jovem na reunião.

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Lucas fica um pouco assustado com a súbita pergunta de Alfredo,

mas tenta disfarçar com um sorriso sem graça. —  Cara, pra falar a verdade, eu não entendo muito desse negócios

de Deus, estou achando bastante interessante esse debate mas...nãotenho como opinar —  responde o jovem.

 —   Seus pais fazem parte de alguma religião?  —   continuaAlfredo.

 —  Não, a minha mãe fala que é espiritualista, mas acredita emtudo, até demais! —  responde Lucas rindo em seguida.

Todos riem com a resposta do visitante o deixando mais àvontade. —  E seu pai, ele também é espiritualista? —  insiste Alfredo. Nesse momento Lucas respira fundo, olha para João, pensando o

que falar para Alfredo. João nota o clima não muito agradável erapidamente retoma o rumo da reunião.

 —  Bom gente, acho que já está na hora de encerrarmos, vamosficar em pé para agradecermos a Deus por mais esse encontro. Todoslevantam e mais uma vez fecham os olhos e oram. Após a oraçãotodos se abraçam se despedindo. Lucas sai com o grupo, mas João

 pede para ele ficar mais um pouco. —  Quero te mostrar a minha casa, se ficar tarde eu te levo —  fala

João ao fechar o portão.João faz questão de mostrar o tamanho de sua residência ao

amigo. Lucas fica bastante impressionado, ela era enorme, tinhavários quartos e um jardim imenso. A intenção de João ao pedir

 permanência em sua casa iria mais além do que o simples desejo de

mostrar as dependências da sua residência. —  Gostou da reunião Lucas? —  pergunta João.

 —   Sim, muito agradável... eu apenas sou um pouco leigo noassunto, mas deu pra entender — responde Lucas.

 —  Mas você gostaria de conhecer mais sobre Jesus?  —  perguntaJoão.

Lucas para, abre um sorriso sem graça:

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 —  Vai me custar alguma coisa?

Os dois amigos dão gargalhadas deixando o ambiente maisdescontraído. —  Não, apenas um pouco de atenção —  fala João ainda em tom

de brincadeira. —  Vou fazer o seguinte, me espere um pouco que vou pegar algo para você.

João deixa o amigo no jardim e entra em sua casa.A deixa do amigo suscita uma expectativa, mas Lucas aproveita o

momento para observar a vegetação do jardim da grande casa onde

João morava. Após alguns minutos João volta. —  Desculpa pela demora, eu estava procurando isso... é pra você —  fala João enquanto estende as mãos com um livro.

Lucas tem um susto, se recompõe e observa atentamente para amão do amigo.

 —  Mas o que é isso João? —   É uma Bíblia! Você nunca teve uma?  —   pergunta João

estendendo o livro para o amigo. —  Não, vi vocês lendo, mas nunca tive um livro tão grande, deve

ser muito valioso  —   disse Lucas admirando o grande livro de capa preta.

 —   Isso mesmo Lucas, ele é muito valioso, pois nele estãocontidos os segredos da vida e da morte —  fala João.

 —  Sério?! Mas vai custar quanto? —   Nada, é um presente  —   responde João demonstrando

satisfação na boa ação que estava praticando. —   Obrigado amigão, você está sendo muito gentil, reconheço

que mudou muito, chega a ser estranho  —  fala Lucas com o livro nasmãos.

 —  Estranho?! —  indaga João —   Sim, você era muito baderneiro, irreverente e muitas vezes

desagradável, mas agora... —  Lucas dá uma pausa enquanto João ri eesfrega as mãos.

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 —   Lucas, quando Jesus entra na vida do homem há uma

mudança interior completa, o que você falou é verdade, eu era bemdiferente do que sou hoje, mas da mesma forma que Deus mudou aminha vida pode mudar a sua também —  fala João.

 —  O que eu preciso fazer pra que haja essa mudança em minhavida? —  pergunta Lucas.

 —  Você só precisa reconhecer o sacrifício de Cristo em sua vida,esse livro vai te ajudar bastante, começa lendo o livro de Mateus edepois segue todo o novo testamento  —   João desfolha a Bíblia

mostrando os livros interessantes para facilitar a leitura do amigo. —  Está bem, eu vou pensar em tudo que escutei hoje, aproveitar eler um pouco esse livro enorme, agora eu vou embora, está muitotarde.

 No caminho da casa de Lucas os jovens conversam bastantelembrando do tempo de escola. Foram cinco anos estudando juntos emuitas aventuras para serem relembradas. Chegando à frente daresidência de sua casa Lucas desce do carro e se despede do amigo.Ele sai do automóvel se protegendo do frio e fica abraçado com a

 bíblia observando João dar saída com o carro. João sai em altavelocidade até desaparecer na estrada. Lucas rapidamente entra efecha a porta.

Ao entrar na casa Lucas percebe a ausência de sua mãe na sala, pois já estava dormindo. Ele aproveita o silêncio da noite e corre parao seu quarto com o objetivo de mergulhar nos mistérios que aquelelivro de capa preta aparentava ter. Ele entra no quarto e fecha a porta,senta na cama e abre o livro percorrendo as páginas da Bíblia. Ele

 procura o livro de Mateus, mas para nas páginas iniciais do evangelhode João que dizia:

“A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevalecem contra ela.Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João. Este veio comotestemunha, a fim de dar testemunho da luz, para que todos cressem por meiodele. Ele não era a luz, mas veio dar testemunho da luz...”  

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Lucas acha interessante o texto e continua lendo as passagens

seguintes. Após alguns minutos de leitura ele percebe um barulho deum vento muito forte nas árvores. Lucas insiste na leitura, mas logo para quando percebe que uma tempestade se aproximava. Ele deixa olivro aberto em sua cama e vai até a janela, que estava fechada. Lucasafasta a cortina branca com uma das mãos e através da vidraçaobserva um pouco assustado aquele súbito fenômeno da natureza. Avidraça da janela trêmula com o vento impetuoso. É muito tarde danoite e não há ninguém nas ruas. Os fios de energia se tocam

causando faíscas de fogo. As árvores parecem não suportar atempestade, enquanto alguns papéis voavam em alta velocidade e semdireção Lucas fecha a cortina e retorna a sua cama. Ao retornar elenota que o livro estava no chão e acha muito estranho, pois tinhadeixado a bíblia sobre a sua cama. Lucas pega o livro, senta e quandose prepara para voltar a leitura a luz apaga. Ele fica bastante irritadocom a situação.

 —   A energia foi afetada por esta maldita tempestade!  —   falaLucas bastante aborrecido.

Ele apalpa alguns móveis até a janela do seu quarto e observamais uma vez o movimento fora da casa.

 —   Droga, só faltou energia aqui!  —   Lucas mais uma vez ficasem entender o que estava acontecendo.

Um pouco frustrado Lucas retorna para cama e decide dormir.O jovem desanimado por não dar continuidade a sua leitura deita aosom do forte vento. Após alguns minutos Lucas sente seus olhos

 pesarem e a mente adormecer, ele procura uma posição e tenta dormir.

Lentamente Lucas percebe que está em uma pequena ilha ondenão há vegetação ou casas. O vento forte bate em seu rosto e as ondasdo mar quebram com violência na areia, resultado de uma terríveltempestade que se aproxima. Ele levanta a cabeça e vê as nuvensescuras que se movem rapidamente sobre o local. Ele observa oambiente ao seu redor e percebe que a pequena ilha estava ameaçada.A água do mar é escura, violenta e com pouco tempo cobrirá toda a

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ilha. Lucas fica apavorado com a situação e procura uma forma de sair

daquele local. Ao perceber que não há saída ele cai no chão.Ajoelhado e em prantos ora pela primeira vez. —  Senhor, estou perecendo, me mostra uma saída!Depois dessas palavras ele de olhos fechados põe o rosto no chão

sentindo o pó da areia tocar a sua face. Após alguns segundos elelevanta a cabeça e vê uma luz dourada no meio das águas.Impulsivamente ele levanta e passa um tempo observando aquelaimagem. Lucas esfrega os olhos com força e volta a abri-los, mas a

imagem continua imponente sobre as águas. Depois ele sente umimpulso e caminha em direção àquela estranha luz. Os pés do jovemdeixam a areia da ilha e tocam nas águas revoltas do mar, porém eleandava pairando sobre a superfície das águas.

O barulho das ondas não consegue tirar a concentração do jovemque caminha com o olhar fixo na luz. Ao andar alguns metros sobre aságuas do mar ele nota que no meio daquela luz tinha um objeto demadeira. Ele tenta parar de caminhar, mas aquela imagem tem umaatração muito forte e ele continua andando sobre as águas. Por algunsinstantes Lucas olha para o lado e para trás e sente medo. Ele treme de

 pavor ao perceber que estava em um lugar de águas profundas e correem direção a cruz. A intensidade da luz dourada aumenta a cada passodado por Lucas. Os raios da luz dourada são como fogo que queimamsem agredir a pele. Quando faltavam alguns metros da Cruz elesubitamente é surpreendido por uma mão que sai das águas. A mão éasquerosa e tem unhas enormes. Lucas tenta se esquivar, mas a mão osegura pelas pernas e o suga para baixo. Percebendo que está sendo

 puxado para o fundo das águas, Lucas tenta nadar, mas o seu esforço éinválido e aos pouco o jovem é levado para o fundo do mar. No augedo seu desespero ele escuta uma voz rouca e poderosa como umtrovão estremecer o mar.

 —   Eu não quero você no caminho da cruz!  —   ecoa a estranhavoz.

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O Jovem pula e se desequilibra e cai da cama, depois levanta

estonteado. Seu coração bate depressa e a sua respiração era instável.O sonho foi tão real que ele sente o cheiro do mar em seu quarto, mas para o seu alívio tudo não passava de um pesadelo.

 Na manhã seguinte o jovem acorda sentindo dores pelo corpo.Depois de muito esforço ele levanta da cama, sai do quarto e vai ao

 banheiro lavar o rosto. Antes de entrar no banheiro ele vê a sua mãena frente do fogão fazendo o café da manhã.

 —  Bom dia mãe —  fala Lucas virando o rosto para a porta.

 —  Bom dia meu filho —  responde a mãe do garoto após o sustocom a súbita presença de Lucas. —  Ainda estou preocupada com você meu filho, você ainda está

chateado comigo? —  pergunta Olindina. —  Não mãe, este assunto acabou, não quero falar mais nisso!A Sra. Olindina se aproxima do filho e o abraça antes que o

mesmo entrasse no banheiro. Um abraço foi a melhor forma que amulher encontrou para expressar o seu sentimento momentâneo. Eletenta ser recíproco ao carinho da mãe, mas o abraço não é tão intensoe caloroso. Lentamente os dois se afastam. O jovem tenta não olhar

 para o rosto da mãe e logo vira para o banheiro abrindo a porta emseguida. Neste momento a senhora Olindina percebe algo estranho emLucas.

 —   Meu filho, espere um pouco  —   a mulher lentamente seaproxima do filho com os olhos fixos em sua perna.

 —  O que foi mãe? Você está me assustando!A mãe de Lucas se agacha perante o filho e fica admirada.

 —  O que fizeram com você Lucas? O que significa isso em sua perna?! —  pergunta a mulher com evidente espanto.

O jovem um pouco assustado olha para a sua perna direita e vêque estava bastante machucada e apresentava alguns arranhões até ocalcanhar. Lucas desiste de entrar no banheiro e senta no sofá.

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 —   Mãe, eu não estou entendendo nada, ontem eu estava bem,

durante o dia não brinquei com nenhum animal e a noite estava tudo bem! — Meu filho isso parece arranhões de unhas de onça  —   fala

Olindina enquanto examina a perna do filho.Lucas para um pouco e lembra-se do sonho enigmático que teve

durante a noite, mas logo tenta esquecer antes de chegar a conclusõesequivocadas. Depois de algum tempo analisando os arranhões o

 jovem decide tomar banho e depois fazer um curativo.

Passam dois meses, tempo suficiente para diárias e longas leiturasda Bíblia. Lucas aproveitava o tempo ocioso para desvendar ossegredos que o livro de capa preta guardava. O jovem quando estavacom algumas dúvidas procurava o amigo e João estava sempredisposto a responder as perguntas e ensinar tudo o que sabia. Lucasnão faltava às reuniões na casa de João e já tinha certa intimidade como grupo de amigos que se reuniam semanalmente. Por causa dessaaproximação, Lucas perdeu um pouco o preconceito que tinha emrelação a religião. Sempre era convidado pelo grupo para participardos cultos na igreja, mas nunca aceitava, para ele conhecer e estudar aBíblia já era o suficiente, porém participar da religião era algo que ele

 buscava repelir de suas ideias.Tarde de domingo. Não há nuvens no céu azul de Santo

Ângelo, mas o sol imponente não é capaz de aquecer o vento frio que paira na cidade. Lucas está cortando a grama do jardim de sua casa e percebe a presença de um homem em frente ao muro.

 —  Boa tarde, é aqui que mora Lucas? —  fala o homem.

 —  Sim, eu sou o Lucas  —  o jovem fixa os olhos no senhor decabelos grisalhos deixando cair no chão a máquina de cortar grama.

Rapidamente Lucas reconhece o homem, tenta disfarçar, mas nãoé capaz de esconder o seu nervosismo.

 —  Meu filho, eu vim até aqui para te convidar pessoalmente parair a nossa reunião nesta noite na Igreja central de Santo Ângelo. Seique para você parece estranho o pastor de uma grande igreja vir

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 pessoalmente convidar uma pessoa, mas eu creio que esse não é um

chamado comum, mas divino —  fala o homem. —   Tudo bem, mas como sabia que eu moro aqui?  —   pergunta

Lucas. —   Acredite nos seus sonhos, eles nunca mentem!  —   fala o

homem com um breve sorriso.Depois de passar a mensagem o homem vai embora com passos

lentos e semblante sério, deixando Lucas paralisado e com váriasinterrogações em sua mente. Após alguns segundos ele volta o olhar

 para a grama que estava cortando, balança a cabeça e dá prosseguimento ao trabalho. Mesmo achando loucura a súbita presença do pastor em sua casa ele analisa com cuidado o convite quetinha recebido naquela tarde. O convite vindo de uma autoridadereligiosa soava como uma intimação.

A solicitação de presença feita pelo próprio pastor teve um pesode desequilíbrio na decisão de Lucas. Às dezenove horas o jovemchega a uma decisão. Ele troca de roupa para ir à igreja. As reuniõesna Igreja de Santo Ângelo começavam as dezenove e trinta horas eLucas estava atrasado, teria que sair depressa para chegar ao início dareunião. Rapidamente ele sai de casa e mal se despede da mãe. Aotentar abrir o portão ele vê o ônibus se aproximando. Lucas saicorrendo para dar tempo de chegar antes que ônibus no ponto. Lucascorre em alta velocidade olhando para trás conferindo a distância doveículo. Quando volta o seu olhar para frente esbarra em um homem.Além da forte pancada em seu rosto ele sente um cheiro forte de

 bebida alcoólica. Lucas cai no chão com a mão no rosto tentando

amenizar a sensação de dor. Ao abrir os olhos ele vê um homem barbudo e maltrapilho. O estranho homem estava com sinais deembriagues e falava com certa dificuldade. A primeira emoçãoidentificada foi a raiva, mesmo assim ele disfarça e levanta limpando aareia da sua jaqueta. Ao levantar a cabeça Lucas escuta o barulho doônibus indo embora, ele fica bastante chateado ao perceber que tinha

 perdido a chance de chegar na hora do culto.

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 —  Eu perdi o ônibus por sua culpa! —  grita Lucas.

O homem embriagado tenta levantar segurando em uma árvore,com muita dificuldade ele se equilibra, levanta e fixa os olhos no jovem.

 —  Eles queriam que você pegasse esse veículo, mas eu não... eutenho outros planos pra você!  —   depois de falar isso o homem saicambaleando e rindo, deixando Lucas ainda mais revoltado.

Lucas se recupera da pancada e do susto e vai para o ponto deônibus. Ele sabia que o próximo coletivo passaria após trinta minutos,

mas decidido a ir à igreja permanece esperando o próximo ônibus.Enquanto espera, as lembranças o fazem voltar nas palavras dohomem embriagado. Elas não faziam sentido algum, principalmentevindas de um bêbado, mas ficaram gravadas na mente do jovem esoavam a todo instante. Sentado no ponto de ônibus e distraído com osseus pensamentos Lucas não percebe a aproximação de uma moto.

 —   Lucas, vai para onde?  —   Lucas fica um pouco assustado edepois se recompõe ao perceber que era Alfredo, o amigo de João queele conheceu nas reuniões.

 —  Que susto cara, nem te reconheci... Eu vou à igreja, mas acabeide perder o ônibus por causa de um bêbado, acho que vou chegaratrasado.

 —   Eu também estou indo para lá, te dou uma carona, sobe namoto e coloca esse capacete — fala Alfredo.

Prontamente Lucas sobe e coloca o capacete, Alfredo acelera amoto e juntos saem em direção à igreja.

Após alguns minutos de estrada eles avistam um pequeno

congestionamento próximo de uma pequena ponte, ao aproximar-sedo congestionamento eles percebem que tinha ocorrido um acidentede proporção alarmante, porém ainda não dava para saber o que era.Eles escutam sons de sirenes de ambulâncias e carros de bombeiros,

 pessoas curiosas correm em direção ao acidente. Alfredodemonstrando habilidade em sua moto passa no meio de alguns carros

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e se aproxima da ponte, faltando alguns metros Lucas pede para

Alfredo parar a motocicleta. —   Onde você vai cara?  —   questiona Alfredo surpreso com a

atitude de Lucas. —   Calma Alfredo, eu vou ver o que está acontecendo, volto

rápido! —  responde Lucas com o olhar fito na ponte.Alfredo para enquanto Lucas desce da moto e sai correndo entre

os carros que estavam quase parados. Ao se desvencilhar de algunsautomóveis ele passa a andar na calçada. Depois de alguns passos

rápidos ele chega ao amontoado de pessoas curiosas que estavamobservando na ponte. Lucas pede licença e penetra no meio damultidão. Ao chegar num ponto estratégico ele para e fica abismadocom o que vê: o ônibus que ele perdeu tinha caído da ponte e estavatotalmente destruído, ele olha para o lado e vê um senhor de chapéude couro.

 —  O que levou o motorista a perder a direção ao ponto de cair da ponte? —  pergunta Lucas.

 —   Ninguém sabe, apenas sei que todos que estavam no ônibusmorreram —  reponde o velho.

 —   Meu Deus!  —   o jovem fica assustado e põe as mãos nacabeça.  — Eu iria pegar esse ônibus, só não peguei por causa de um

 bêbado que esbarrou em mim —  fala Lucas impressionado.O homem tira o chapéu e fixa os olhos em Lucas —   Se isso aconteceu mesmo, saiba que foi um livramento de

Deus na sua vida garoto, quanto ao bêbado creia, ele é um anjo deDeus.

Após as palavras do homem Lucas deixa o local do acidente pensativo. Havia algo muito estranho acontecendo e ele, até então, nãotinha decifrado o segredo. O jovem lembra as palavras do bêbado elogo surgem algumas perguntas em sua mente. Quando estavacaminhando pelo meio do povo ele percebe a aproximação de Alfredo.

 —   Desculpa pela demora Alfredo, eu sou muito curioso  —   sedesculpa disfarçando o seu estado conflituoso.

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 —  Vamos embora, deixei a moto no acostamento para procurar

você...estamos bem atrasados para o culto  —  fala Alfredo um poucoaborrecido.Os dois saem do meio das pessoas que olhavam o acidente, logo

Alfredo pega a moto, sobe e liga enquanto Lucas fica parado ainda pensativo.

 —  O que está acontecendo? Você ficou chocado com o acidente? —  questiona Alfredo.

Lucas toma um breve susto e volta a atenção ao colega.

 —  Não, apenas um pouco...você sabia que eu deveria estar nesteônibus se não fosse aquele bêbado maltrapilho?  —   fala Lucasenquanto sobe na moto.

 —  Sério?! Isso é uma prova que Deus tem um plano em sua vida —  fala Alfredo enquanto passava o capacete para Lucas.

Lucas sobe na moto e continuam a viagem, agora bem maistranquila. Com poucos minutos eles chegam à igreja de Santo Ângelo.Ao descer da moto Lucas aproveita o momento para observar osdetalhes da igreja, o templo era enorme e parecia mais uma casagrande e branca com várias janelas estilo gótica nas laterais e uma

 porta enorme na entrada principal. A beleza e grandeza da igreja faziacontraste com a simplicidade das casas daquela cidade. Apesar deatrasado Lucas percebe a chegada de muita gente, mesmo já tendocomeçado o culto. O fato de não ser o último o deixou aliviado.Enquanto Alfredo estaciona a moto Lucas aproveita o fluxo de

 pessoas e entra na igreja. Ele lembra a última vez que esteve ali, aslembranças não eram as melhores, mas ele acha o lugar bem

agradável.Desta vez ele faz questão de sentar em um local que o deixasse

mais próximo do pregador, Lucas queria que o pastor notasse a sua presença no meio daquela multidão.

O jovem um pouco tímido caminha pelo corredor central da igrejaenquanto escuta o coral cantar, ele passa por várias fileiras de cadeira

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até achar um local vazio e adequado. Demonstrando toda a sua

timidez o jovem senta.Lucas assiste atentamente cada parte do culto, prestando atençãoem tudo e em todos, porém o seu desejo maior era escutar amensagem. Após várias apresentações surge o pastor com um paletó

 preto e a Bíblia nas mãos, o jovem aproveita para corrigir a sua postura na cadeira e voltar toda atenção para as palavras do pastor. O pastor sobe no altar, saúda os fiéis e começa o sermão, a pregação do pastor dura quase uma hora, mas Lucas parecia insaciável, a palavra

do pastor por várias vezes toca os sentimentos de Lucas e ele chora. Jáno final da pregação Lucas, sentado, toma a iniciativa de fechar osolhos e curvar a cabeça próximo aos seus joelhos e ora com bastanteintensidade.

 —   Senhor, eu não te conheço muito bem, mas creio que vocêexiste e que está aqui neste lugar... eu reconheço que preciso dosenhor na minha vida, só você pode tirar o vazio que há em meucoração, por isso eu te peço, me liberta agora de tudo que me afasta deti...

As pessoas que estão sentadas ao lado de Lucas dividem a suaatenção com o pastor e a oração chocante do jovem desesperado. Umasenhora levanta de seu acento e se ajoelha próximo à Lucas.

 —   Meu jovem, você quer aceitar Jesus em sua vida?  —   comentusiasmo fala a mulher.

 —   Sim  —   fala Lucas enxugando as lágrimas.  —   O que eu preciso fazer? —  continua Lucas.

 — Apenas crer que ele é o seu salvador e seguir os seusmandamentos  —   depois de falar isso a mulher levanta, olha para o

 púlpito e segura nas mãos do jovem. —  Levante, nós vamos fazer umaoração por você! —  fala a mulher para Lucas.

Ao levantar, Lucas percebe que toda igreja estava olhando em suadireção, inclusive o pastor, ele fica um pouco envergonhado, mas o

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desejo de aceitar a Cristo parece ser maior que a sua timidez. O pastor

 pede para que todos fiquem em pé. —  Meu jovem, você está tomando a maior decisão de sua vida e

de sua morte também —  fala o pastor bem-humorado.As pessoas dão risadas das palavras do pastor enquanto Lucas

fica sem graça. O pastor da uma pausa e fecha a Bíblia que estava no púlpito, olha mais uma vez para Lucas e passa alguns segundos emsilêncio, Lucas baixa a cabeça e a igreja fica em silêncio.

 —  Deus está me falando que você é mais especial do que parece

e que ele tem uma obra muito grande na sua vida, ele vai te usar deuma forma sobrenatural  —   fala o pastor com muita seriedade.  — Todos me conhecem, sabem que eu não sou sensacionalista oumístico, mas estou sentindo algo que nunca mais senti... Faz tempoque não escuto a voz de Deus tão nítida em minha mente, tem algo demuito especial acontecendo nesta igreja neste momento  —  conclui o

 pastor.Após as palavras do pastor as pessoas se alegram. Alguns

expressam a alegria através de palmas, outros glorificam e outrosgritam. O pastor faz uma oração fervorosa e entrega a vida de Lucas aDeus. Uma alegria sem uma razão palpável contagia a alma de Lucas.

A igreja de Santo Ângelo é bastante organizada e se preocupacom a manutenção do novo convertido. Após a conversão o novomembro é acompanhado por uma ou mais pessoas, que fazem visitasdurante um mês para enraizá-lo na fé.

Após algumas semanas de consolidação, feita por um grupo detrês pessoas de confiança do pastor, Lucas se sente bem fortalecido.

Todas as semanas ele comparece nas reuniões dos amigos e participados cultos na igreja de Santo Ângelo. Lucas se torna mais sociável,

 porém não perde a timidez.Após uma das reuniões, João convida o amigo para ficar mais

um tempo em sua casa para jantar e Lucas aceita o convite. Os outroscomponentes do grupo já tinham saído e ambos ficam à vontade paraconversar.

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 — Lucas, estou bastante feliz com a sua conversão e crescimento

 —  fala João enquanto abre a geladeira.Lucas puxa uma das cadeiras de madeira que fica na cozinha esenta.

 —  Que bom que você está feliz, eu estou bem melhor com tudoque está acontecendo comigo e você foi o cara que me ajudou a abriros olhos em meio a escuridão.

João abre um refrigerante, enche dois copos e dá um ao amigo. —  João essa igreja existe há muito tempo?  —  indaga Lucas após

tomar um gole de refrigerante. —   Tem dez anos, dez anos que fizeram diferença neste local.Tudo começou com o pastor e a sua esposa e mais três missionáriosvindos de São Paulo.

 —  Que tipo de diferença? —  questiona Lucas. —   Você conhece essa cidade... sabe a fama que ela sempre

carregou, mas graças a Deus muitos viciados se converteram atravésdas pregações do pastor, muitas famílias foram restauradas e atétraficantes entregaram suas vidas a Jesus  —   João dá uma pausa econtinua.  —  Mas, nos últimos anos todos tem notado uma queda nocrescimento da igreja, antes de você se converter fazia quase um anoque não se convertia ninguém e o pior, muitas pessoas da igreja sedesviaram.

 —  Isso é muito preocupante? —  pergunta Lucas. —   É frustrante  —   responde João, depois faz silêncio enquanto

segura o copo. —  Mas João, tem algum motivo para essa queda de rendimento

na igreja? — Lucas insistiu. —   Não sei, acho que essa pergunta também é feita entre os

líderes da igreja, mas assim como eu, ninguém tem uma respostaconvincente... Lucas, a mudança que essa igreja realizou no bairro foitão forte que até a prefeitura de Santo Ângelo fez uma homenagem aoPastor César por ter realizado o que a polícia não conseguiu, mas

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depois de algum tempo as coisas estão voltando ao caos  —   conclui

João.Depois de algumas horas de conversa Lucas se despede do amigoe vai embora. São quase onze horas da noite e a mãe de Lucas nãodormia enquanto o filho estivesse na rua. Por esse motivo Lucas saiquase correndo da casa do amigo para pegar o ônibus.

Lucas chega a sua casa, abre o portão observando o movimentonas ruas e percebe que mesmo tarde da noite há alguns caras naesquina, provavelmente usuários de drogas. Ele rapidamente fecha o

 portão e entra na casa. A mãe de Lucas percebe a sua chegada e orecepciona na sala. —   Meu filho você está chegando muito tarde, sabe como esta

cidade está perigosa! —  disse em tom grave. —  Desculpa mãe, eu estava na casa de João e nem percebi a hora

 passar, mas eu vou ter mais cuidado, agora pode dormir... está tudo bem.

Ambos se abraçam e depois seguem para seus respectivosquartos.

Lucas fecha a porta, troca de roupa e antes de desligar a luzdobra os joelhos perante a cama e faz uma oração. No meio da oraçãoele sente a presença de uma pessoa ao seu lado, mas não consegueabrir os olhos. Lucas está receoso, mas logo substitui o medo por umasensação de bem-estar. Cada palavra pronunciada atrai uma alegrianunca sentida. Ele continua falando com Deus de forma mais intensa.Mesmo com os olhos fechados ele sente seu rosto em brasas e umafelicidade bastante intensa. Naquele estranho momento Lucas não se

contém, levanta e começa a andar no quarto enquanto ora e glorifica aDeus. Algo fala claramente em seu coração, ele contém as emoções emesmo com o corpo trêmulo, faz silêncio.

O jovem em lágrimas sente um líquido escorrendo sobre suacabeça se espalhando pelo rosto. Lucas continua a oração sementender o que ele mesmo fala. Palavras com grande entusiasmo e emum idioma que nunca tinha escutado. Ele tenta se controlar para não

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acordar a sua mãe e lentamente abre os olhos. Nesse momento o

 jovem percebe um ser com mais de dois metros de altura em suafrente. Não dava para descrever a sua aparência, pois era dourada e brilhava como a luz do sol. Lucas fica pasmo diante daquela imagemincandescente.

 —  Não temas, eu fui enviado para te guiar em sua missão nestelugar —  aquela voz suave preenche todo o ambiente.

Lucas fica em silêncio e vê aquele homem tocar lentamente emseus olhos. Uma descarga elétrica é liberada sobre o seu corpo e Lucas

 perde os sentidos e fica desacordado. No outro dia Lucas acorda sentindo seu corpo cansado, porémgozando de uma satisfação e felicidade que nunca tinha sentido antes.O jovem sai do quarto cantando e antes de entrar no banheiro percebeque sua mãe ainda estava dormindo. O mesmo vai a cozinha e preparao café da manhã com muito carinho e depois leva para a sua mãe noquarto.

 —  Mãe é hora de acordar, mas não precisa levantar, eu fiz o seucafé e resolvi trazer na sua cama  — fala Lucas sorridente segurandouma bandeja com biscoitos, pão, café e leite.

A senhora Olindina, sentada, fica surpresa com a atitude do filho. —  Lucas, o que aconteceu com você? Você nunca fez isso! —   Não importa o que fiz, ou o que deixei de fazer, o meu

 passado não importa... o que vale é o presente, não precisa levantar —  Lucas entrega a bandeja à mãe e observa ela comer.

Depois de algumas degustações na refeição preparada pelo filho aSenhora Olindina quebra o silêncio.

 —  Meu filho ontem eu ouvi você falando no celular com alguém,mas era muito tarde da noite, quem era?

 —  Ninguém — responde o jovem sem olhar para a mãe. —  Como não, e você estava um pouco eufórico, tem certeza que

não era ninguém? —  Não mãe, acho que foi alguém lá fora.

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Olindina olha fixamente para o filho, balança a cabeça com ar de

reprovação e levanta com a bandeja nas mãos. —  Sinceramente, espero que esta história de ser crente não venha

afetar a sua cabeça —  ela protesta.Lucas faz um ar de riso e abraça a sua mãe. —  Minha querida mãe você sabia que eu te Amo?  —  fala Lucas

enquanto aperta a senhora Olindina entre os braços. —  Que lindo Lucas, faz tempo que você não se declara para mim

 —  ela fala com brilhos nos olhos.

Durante todo o dia a mãe observava o comportamento do filho,notando que algo de estranho estava acontecendo com Lucas, mas dealguma forma ele estava bem melhor.

A igreja e os novos amigos tinham o deixado mais extrovertido esociável e isso era bastante satisfatório para a Senhora Olindina.

O domingo chegou e Lucas não se contém de tamanhaansiedade para ir ao culto dominical. Logo cedo levanta, troca deroupa, pega a Bíblia e se despede da mãe. O culto começava às novehoras da manhã, mas Lucas faz questão de chegar mais cedo e orar

 pelo culto antes do início. Ao chegar no templo ele sobe as escadas eobserva a movimentação percebendo que era o primeiro a chegar naigreja. Lentamente o jovem entra no templo e escuta um som de umamúsica que era cantada nos corredores laterais. Lucas vai até as

 primeiras cadeiras e dobra os joelhos. Após alguns minutos as pessoascomeçam a adentrar procurando um lugar nas dependências dotemplo. É a hora de começar o culto. Lucas levanta e senta na cadeira,tinha um número considerável de pessoas, mas não preenchia nem a

metade da igreja. Lucas lembra da última conversa que teve com Joãoe fica um pouco frustrado.

O evento começa com o coral da igreja cantando algumasmúsicas. No meio das apresentações e louvores Pedro, um dos colegasde reunião, se aproxima e senta ao lado de Lucas.

 —  E aí cara como estás? Posso sentar aqui? —  fala Pedro.

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 —  Claro, fica bem à vontade, só não tira a minha atenção na hora

da pregação. —   Lucas falou isso porque Pedro era um garoto do tipo

imperativo. O mais novo do grupo de reuniões tinha a igreja como um ponto de encontro.

Após as apresentações o pastor César vai ao púlpito e saúda aigreja.

 —  Meus irmãos, nesta manhã não irei ministrar a palavra, mas omeu querido irmão Walter, que também é um dos nossos líderes nessa

igreja, um homem que Deus tem usado poderosamente... eu convido oirmão Walter para assumir a direção desse culto.O pastor pega a sua Bíblia e se retira enquanto um homem alto

de cabelos castanhos e rosto comprido sobe as escadas do altar.Enquanto sobe os degraus do altar da igreja ele sinaliza com a cabeça

 para o pastor em agradecimento e afirmação. Antes de pegar omicrofone ele arruma o belo paletó marrom, logo após saúda a igreja ecomeça o sermão. Como de costume todos prestam atenção nas

 palavras do pregador. A atenção de Lucas aumenta quando ele vêuma bela mulher subir no altar, onde estava sendo ministrada a

 palavra. A mulher usa um vestido longo e vermelho com um decoteque exibe parte dos seios. O jovem estranha a presença da mulher aolado do pregador. Ela se aproxima do irmão Walter e fica o rodeandoenquanto ele ministra. Lucas está inquieto em sua cadeira, enquanto a

 pregação continua. —   O que foi Lucas? - questiona Pedro ao notar a súbita

inquietação do amigo.

 —   Pedro, quem é aquela mulher que está ao lado do irmãoWalter? —  pergunta Lucas.

Pedro observa o ambiente ao redor do pregador. —  Não tem ninguém ao lado do irmão Walter, só estou vendo

ele. —  A mulher de vermelho no altar...que estranho...  —  fala Lucas

um pouco confuso.

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 —  Meu amigo você está tirando a minha atenção da palavra  —  

fala Pedro em tom de ironia.O tempo passa e após trinta minutos de sermão o irmão Walterinicia uma breve oração. Quando o pregador começa a orar a mulherque perdurou no altar durante o tempo da palavra começa gargalhar ese retira do púlpito. Lucas fica inconformado com a ação irreverentedaquela mulher.

 No término do culto Lucas levanta e decide falar com o pastor. —  Lucas vamos embora? —  fala Pedro.

 —  Não cara, eu vou tentar falar com o pastor, acho que deve termais respeito dentro da igreja. A pessoa vem pra dentro da igreja comuma roupa inadequada e ainda fica dando gargalhadas na hora daoração! —  fala Lucas bastante irritado.

 —  Onde você viu isso cara? Você está louco!  —  Pedro protestasurpreso com as palavras do colega.

Lucas fica um pouco irritado com a passividade do garoto e saisem se despedir do amigo. Lucas anda pelo templo a procura do

 pastor. Ao passar pelo meio de um aglomerado de pessoas que saiamda igreja ele vê o pastor próximo a porta central. O jovem se aproximae pede licença as outras pessoas quase as tirando da frente do pastor.

 —  Senhor César, gostaria de falar com o senhor —  fala o jovemcom sinais de nervosismo.

 —  Tudo bem, pode falar, está acontecendo alguma coisa?  —  falao pastor fixando os olhos no apavorado garoto.

Lucas respira, olha para as pessoas que estavam ao redor e volta aatenção para o pastor.

 —  Pastor, poderia ser em particular? —  Claro, só marcar um gabinete na secretaria  —  responde com

serenidade o pastor.Bastante irritado e quase gritando Lucas fala: —   Não, é urgente. Vocês não podem ver aquilo no púlpito e

fingir que nada aconteceu, temos que respeitar a palavra de Deus!

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A forma que Lucas fala com o pastor chama a atenção de todos

que estavam a sua volta. —  O que foi que você viu de tão abominável no altar garoto?  —  

 pergunta o pastor demonstrando constrangimento. —  A Mulher que estava ao lado do pregador durante a pregação.As pessoas que escutaram as palavras do jovem desesperado

cochicham e dão risadas. Lucas percebe o ar de hostilidade e osolhares perplexos do povo.

 —   Pastor, o que está acontecendo aqui?  —   questiona num

sussurro.O pastor coloca as mãos sobre os ombros do garoto. —   Meu querido, não tinha nenhuma mulher de vermelho no

 púlpito e muito menos dando gargalhada.Lucas se afasta do pastor e desce as escadarias correndo

enquanto olhares discriminatórios acompanham o rapaz. Uma misturade dúvida e vergonha se apodera da mente de Lucas, ele sai da igrejade cabeça baixa e vai embora.

À noite chega e Lucas resolve não ir à igreja. O fato ocorridoera muito recente e ele achou mais conveniente ficar em casa. Ele vaiao seu aposento, mas não consegue dormir. Preocupado ele anda peloquarto com as mãos para trás. A sua atitude descontrolada na igrejanão tinha gerado uma boa imagem, porém ele se achava mais vítimado que vilão. Logo Lucas cansa de andar pelo aposento e senta-se nacama. O tempo passa e ele sente seu raciocínio mais lento. Sua mentesinaliza que o sono chegou. Antes de dormir ele ora pedindo que Deus

revelasse o que estava acontecendo com ele. O fato de ninguém ter percebido a presença da mulher no púlpito era muito estranho. Após aoração o jovem adormece. Lucas levanta e percebe que estava em péem uma sala totalmente branca. O piso era branco e as paredes

 brancas, sem nenhum detalhe em outra cor. Depois de algunssegundos ele escuta uma voz suave.

 —  Lucas seja bem-vindo.

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O jovem fica um pouco assustado e vira-se de supetão, logo

 percebe a presença de um homem bastante alto e com uma roupadourada. Ele tenta reconhecer, mas não dava para ver o rosto, pois era bastante luminoso.

 —  É você de novo? —  fala Lucas com a voz trêmula. —  Sim, meu nome é Jofiel e gostaria de mostrar algo a você.O homem anda com Lucas na sala e logo as paredes se abrem

formando um corredor de paredes brancas e frias. —  Lucas, entenda uma coisa, o que você vê ninguém pode ver

 porque você tem um dom especial e Deus quer te usar na guerra deSanto Ângelo. —   Dom Especial? Guerra de Santo Ângelo? Eu não estou

entendendo nada do que você está me dizendo... eu moro naquelacidade a bastante tempo e nunca ouvi falar nesta guerra! — Lucas paradiante o estranho homem e continua:  —  Isso tem alguma coisa a vercom a estranha mulher no púlpito?

 —  Sim, tem tudo a ver. Aquilo era uma visão do reino espirituale por isso ninguém viu, apenas você. As pessoas não vão acreditar emvocê, ninguém vai acreditar em você, apenas uma pessoa precisaacreditar em você...

 —  Quem? —  questiona demonstrando ansiedade. —  O anjo da igreja, o pastor César. Tudo o que você aprender de

mim e tudo que você vê terá que passar para o Pastor César. —  Mas, e se ele não acreditar?

 —  Ele não vai acreditar —  responde com serenidade e mansidãoJofiel.

Depois da resposta o homem continua andando deixando Lucas parado e pensativo. Distraído o jovem percebe que Jofiel tinha andadoalguns passos e corre para acompanhá-lo.

 — Você falou de uma Guerra. Que Guerra é essa?  —  questionaLucas.

Jofiel para e volta a sua atenção para Lucas.

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 — Tudo começou a quase seiscentos anos atrás quando essa

cidade era uma aldeia chamada Amana. Era povoada por uma triboque vivia da agricultura e da pesca. Um temporal muito forte devastoua aldeia, causando destruição e morte. Esse evento gerou um grandetemor entre os nativos. Todos acreditavam que isso era resultado daira dos deuses. O shaman da aldeia fez um pesado ritual entregando acidade nas mãos de uma entidade protetora chamada Juruparí. Esseespírito teve total liberdade para agir na aldeia durante muito tempo.

 Na chegada dos Jesuítas a aldeia cresceu e se tornou uma cidade,

sendo batizada pelo nome que conhecemos hoje. Com a chegada dosJesuítas e do evangelho de Cristo na cidade esse espírito perdeu força,sendo obrigado a pedir reforços no reino das trevas para serestabelecer na cidade. Só há um império estabelecido quando há totaldomínio sobre o lugar, por esse motivo o Juruparí solicitou ao seusuperior mais três entidades para o auxiliar no controle da cidade. Oseu superior enviou para esse lugar Anhangá, para comandar os víciosmantendo os jovens nas drogas. Bast, terrível entidade na área sexuale Abadon responsável pelas mortes.

 —  Meu Deus! Quer dizer que há muita coisa além do mundo quevivemos? —  perplexo questiona Lucas.

 —  Sim, na verdade no mundo em que você vive há muita coisaque só se enxerga através da fé, é por isso que as pessoas são presasfáceis do mal, porque não conseguem enxergá-lo  —  continua Jofiel.

 —  O soldado que não vê o inimigo vira presa fácil.Subitamente Jofiel faz silêncio e entra em uma sala no fim do

corredor, Lucas o acompanha. É uma sala enorme com várias macas.

Sobre as macas há corpos humanos cobertos por um lençol branco.Lucas fica amedrontado e pensa em sair da sala, mas Jofiel não

 permite. —  Lucas, o meu maior objetivo em te trazer aqui é justamente

mostrar isso. Quero que você tente descobrir quem são essas pessoasmortas nas macas.

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Lucas ainda assustado levanta o lençol, um a um. Tem muitos

corpos, porém nenhum deles é reconhecido por Lucas, até que restouo último. Ele aspirando se livrar daquela sinistra situação se aproximarapidamente da última maca e levanta o lençol.

 —   Meu Deus...é o irmão Walter ...e ele está morto!  —   com osusto Lucas se afasta quase caindo, depois olha para Jofiel, quecontinua parado e em silêncio. Lucas se recompõe e se reaproxima docorpo. Na sua segunda aproximação ele é surpreendido. O homemabre os olhos e segura a sua mão, Lucas paralisa de medo ao perceber

que a mão do irmão Walter estava gelada e seus olhos estavam semvida. —  Irmão Walter, o que você faz aqui? O que você faz entre os

mortos? —  questiona Lucas em voz alta Naquele momento o homem coloca o dedo indicador em frente a

 boca sinalizando silêncio. Lucas acorda gritando.Ele para de gritar quando percebe que está sentado em sua cama

totalmente molhado de suor. O coração bate forte e a respiração éinstável. Ao tentar controlar a respiração ele escuta sua mãe batendona porta do seu quarto.

 —  Lucas, o que está acontecendo? Você está bem? —  pergunta amulher.

 —  Sim mãe, estou bem, foi apenas um pesadelo.Lucas abre aporta e vai ao banheiro tentar se recuperar do

estranho sonho enquanto sua mãe entra verificando o seu quarto. No outro dia Lucas acorda e logo vai à igreja. É quarta-feira, dia

em que o pastor recebe os fiéis no gabinete. Ao chegar à igreja Lucas

 procura a secretaria que ficava nos fundos do templo. Ao chegar emfrente a sala ele vê pela janela da sala uma senhora de cabeloscastanhos e olhos azuis. Lucas ajusta a gola da camisa e tentaorganizar o cabelo antes de abrir a porta. Ao entrar na sala ele percebeque não havia ninguém além da secretária.

 —  Bom dia, eu quero ter um gabinete pastoral —  fala Lucas

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 —   Pra quando? - pergunta a secretária enquanto pega a sua

agenda. —  Agora, eu quero pra hoje de manhã! —  fala o jovem ansioso. —  Você marcou antecipadamente essa visita? —  fala a secretária

da igreja enquanto olha fixamente para o jovem.Lucas sorri ironicamente e coloca as mãos no rosto.

 —  Minha irmã, é caso sério, eu preciso falar com o pastor agora,na semana passada eu não sabia que estaria necessitado para falar como pastor hoje —  fala em tom grave.

A mulher fecha a agenda, tira os óculos: —  Meu querido irmão, lamento, mas hoje você não vai falar como pastor, só na próxima semana... se você quiser e se estivernecessitando! —  disse em tom ameaçador.

 —  É preciso tamanha burocracia para falar com um pastor? —  ele protestou.

 No meio do desentendimento o pastor chega na secretaria. Comuma pasta nas mãos e um sobretudo preto, ele para na porta esurpreende a todos.

 —  O que está acontecendo? - pergunta o pastor.Os dois param e se recompõe. —  Paz pastor, eu preciso falar com o senhor, mas a secretária me

falou que eu teria que agendar essa visita, mas eu quero falar algoimportante.

 —  Meu jovem, aqui é um lugar de ordem e tem regras a seremobedecidas, mas já que não tem ninguém para atender eu vou abriruma exceção pra você.

 —  Tudo bem pastor, eu agradeço. —  Me acompanhe.Em silêncio o Pastor caminha em direção a uma sala no final do

corredor, logo Lucas acompanha os passos do Pastor.Ao chegar na sala o Pastor ainda em silêncio tira o sobretudo

enquanto Lucas senta na cadeira enfrente a mesa. Antes de sentar o pastor arruma os livros que ficam em uma grande estante de madeira

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escura, deixando o jovem ainda mais ansioso. O pastor senta ainda

verificando se tinha algo fora do lugar. —   Pode falar meu querido irmão, o que te deixa tão aflito e

incomodado? —  pergunta o pastor enquanto esfrega as mãos.Lucas respira um pouco. —  Pastor, o senhor acredita que Deus pode revelar segredos do

Reino espiritual aos seus filhos? —  Sim, a própria Bíblia é a revelação desse Reino —  responde o

 pastor surpreso com a pergunta do jovem.

 —  Mas além da Bíblia o senhor crê que Deus pode trazer outrasrevelações?O pastor olha para Lucas e passa alguns segundos pensando antes

de responder. —  Sim, mas aonde você quer chegar? —  questiona o pastor. —  Acho que o irmão Walter está correndo algum tipo de risco,

não sei o que ele está passando ou o que vai acontecer com ele, masalém daquela estranha mulher que vi no púlpito naquele dia, ontemsonhei com ele...e ele estava morto numa sala de necrotério.

O pastor dá um soco na mesa e levanta em uma atitude quecontrastava com seu habitual comportamento.

 —  O que você quer dizer? Que o nosso querido irmão está mortoem delitos e em pecados? É isso? —  fala o pastor irritado.

 —   Não, não é isso, só acho que pode acontecer alguma coisacom ele —  fala o jovem constrangido com a reação do pastor.

 —   Meu querido Lucas, vou te dar um conselho; pare de acharque as suas paranoias são revelações divinas...e outra coisa, nunca fale

mal do irmão Walter, ele é um homem de Deus que tem contribuído bastante no crescimento dessa obra —  disse ameaçador.

 —  Sim senhor, desculpa ter falado isso do irmão Walter. —  Agora levante e pode ir embora, eu tenho assuntos bem mais

importantes para resolver.

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Desconsertado pela reação do Pastor, Lucas levanta da cadeira

e abre a porta da sala. Antes de deixar o recinto o pastor chama a suaatenção mais uma vez. —  Lucas!O jovem olha para o pastor que estava com o dedo indicador em

frente aos lábios. —  Sabe o que significa isso? Silêncio, tudo o que falamos nesse

gabinete morreu aqui, agora vá na paz. —  Sim Pastor —  o rapaz responde apressado.

Lucas sai do gabinete de cabeça baixa, envergonhado e pensativo.Correndo ele desce as escadarias e sai da igreja. As intenções do jovem são boas, mas ele não contava com a reação do pastor.

Após o constrangimento passado por Lucas na igreja ele decide passar alguns dias sem ir aos cultos, tempo suficiente para as pessoasesquecerem o que aconteceu e ele obter coragem para encarar o

 pastor. Mesmo com muita saudade das reuniões Lucas mantém a suadecisão e passa duas semanas sem voltar na igreja de Santo Ângelo.

O tempo passa e Lucas não consegue esquecer a formagrosseira que foi tratado pelo pastor.

É uma manhã de sol, inicio de verão. Lucas decide podar as plantas do jardim. Cuidar das plantas e da grama de sua casa era umaarte que ele adorava praticar. Ele aproveita o belo dia e começa acuidar da vegetação que se espalhava pela cerca de sua casa. Nametade de seu trabalho o jovem recebe uma visita inesperada, era oseu amigo João.

 —  Meu querido amigo, cadê você na igreja e nas reuniões? Fiquei

 preocupado!  —  fala João enquanto abre o portão. — Verdade amigo, eu me afastei um pouco, mas não de Deus,

estou dando uma folga nos cultos para dar uma atenção maior a minhamãe —  fala Lucas enquanto tira as luvas das mãos.

João ri com as palavras de Lucas, demonstrando não acreditar na justificativa do amigo.

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 —  Dando um tempo para cuidar de sua mãe, como se ela fosse

uma idosa ou deficiente? Eu imagino o porquê você deixou de ir àigreja, mas isso não importa agora, o que importa é que você vai nessedomingo —  ordenou.

 —   Por que eu estou sendo obrigado?  —   questiona Lucasenquanto aperta a mão do amigo.

 —  Não é questão de obrigação e sim de necessidade. É necessárioque um cristão, principalmente novos convertidos, congreguem eaprendam a palavra junto com os mais antigos na fé, até se firmarem.

 —  Está bem, entendi —  fala Lucas com um sorriso sem graça norosto.Os dois sentam no jardim próximo a uma árvore, sentindo o vento

da manhã em seus rostos. —  Novidades? - pergunta Lucas. —  Sim, não muito boas —  responde João enquanto risca o chão

com uma pedra. —  O que houve? —  questiona com curiosidade Lucas.

 —   Lembra do irmão Walter? Um homem alto que era um dosescudeiros do pastor?

 —  Sei, lembro sim... —  Pois é... ele saiu da igreja e se separou da mulher. Deixou a

esposa com dois filhos —  fala João em tom de tristeza. —  Mas por que ele fez isso? —  questiona Lucas. —   Falam que ele estava em adultério e a mulher descobriu. A

separação foi bem traumática, quase ocorre morte. O pastor está muitoabalado com a situação e muita gente decepcionada com a atitude do

irmão Walter.Lucas sente seu coração palpitar, logo as lembranças do sonho

e da conversa que teve com o pastor vêm a sua memória. Tudo pareciaenigmático e estranho, mas fazia algum sentido e Lucas estava nomeio desse quebra-cabeça.

Após a saída de João, Lucas entra em sua casa, vai ao seu quartoe chora.

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O sonho que ele teve não era uma bobagem, como ele chegou a

imaginar. Naquele momento Lucas ora arrependido. Ele clama porsabedoria para enfrentar aquela situação.Ao levantar de sua oração ele é surpreendido pela presença de

Jofiel. —  Está melhor agora Lucas? —   Sim, a oração sempre me faz bem, fico fortalecido  —   fala

Lucas enxugando as lágrimas.  —   Quem era a mulher no altar daigreja? —  pergunta Lucas

Jofiel olha atentamente para o rapaz. —   Você lembra dos espíritos auxiliares enviados para essacidade?

 —  Sim, você falou três nomes que ajudam a entidade dominadorade Santo Ângelo —  responde Lucas.

 —   Aquela mulher é a personificação de Bast, espírito quedeturpa o sexo e destrói casamentos —  fala Jofiel.

Lucas senta na cama e coloca as mãos na boca perplexo com arevelação do anjo.

 —  Mas o irmão Walter é um homem de Deus e ajudava o Pastor,como isso pôde acontecer? —  pergunta Lucas com evidente espanto.

 —  Os espíritos perniciosos agem de forma direta com os homense em alguns casos podem até possuí-los, mas com os selados peloespírito Santo eles criam situações. Todos temos uma área defraqueza, os espíritos sabem. Se um cristão não estiver fortalecido elecai, independentemente de sua posição  —   continua Jofiel.  —  O malnão o toca, mas influencia e utiliza fatores externos até a queda e

destruição. —  Mas, isso é muito sério —  comenta Lucas. —  Agora que você começou a entender o que está acontecendo,

vou explicar a situação de Santo Ângelo e os planos do mal paraabater a igreja —  fala Jofiel.

Antes de sentar Lucas verifica se a sua mãe estava por perto,depois fecha a porta.

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O lhos do Leão43

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 —  Agora pode falar  —  fala Lucas enquanto volta a sentar-se na

cama. —  Como eu te falei anteriormente, esta cidade foi possuída por

uma entidade espiritual e ela está disposta a manter o seu poder sobreesse território a qualquer custo. No momento a igreja é a únicaoposição a essa entidade, por isso Juruparí já começou um grandeataque sobre a igreja. O principal objetivo é destruir o Pastor. Elesnão têm poder sobre a vida do Pastor porque ele é muito integro e

 precavido com a obra do Senhor...

 —  Verdade, todos falam isso - complementa Lucas.Continua Jofiel: —   Por esse motivo Juruparí e seus anjos estão atacando os

 pontos importantes da igreja, para desmotivar e minar as forças do pastor. A batalha com o pastor será psicológica, o desmotivando.Acabando com a força do Pastor o fim da igreja é eminente.

 —  Eles pretendem destruir a igreja? —  questiona Lucas. —   Não é necessário acabar com a igreja, apenas esfriá-la.

Existem muitas igrejas que estão situadas em bairros devastados edominados pelo pecado e não conseguem fazer diferença, porque sãofrias. A igreja de Santo Ângelo é uma igreja que incomoda as trevas

 porque evangeliza e resgata as pessoas pela palavra da cruz —  concluiJofiel.

 — Você falou que isso é uma guerra... Quais as armas que o pastor César deve usar? —  pergunta Lucas.

 — Todos devem usar a oração e santidade como armas  —  responde Jofiel enquanto fica de costa e some.

Lucas rapidamente levanta procurando o anjo. Atônito ele olhaos quatro lados do quarto, depois abre a porta e vai até a sala. Asenhora Olindina estava na sala assistindo televisão e fica observandoa reação do filho.

 —  Mãe, você viu alguém passar por aqui? —   Não, mas tinha alguém dentro de casa?  —   questiona a

Senhora Olindina um pouco assustada com a reação do filho.

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Lucas para em frente a porta da sala observando o jardim da

casa, depois fecha a porta e volta para o quarto. A mãe de Lucaslevanta e vai até a porta e não vê ninguém. Ela fecha a porta e vai atéo quarto do jovem.

 —  Meu filho, o que foi que você viu? O que está acontecendo? —  fala a mãe de Lucas em voz alta.

Lucas fica um pouco assustado e tenta desviar dos olhares damãe.

 —  Não foi nada, nem ninguém —  responde o garoto.

A mãe do jovem fecha o quarto lentamente e fica encostada na parede. Algo estava errado com o filho, ele estava retomando asmesmas reações que tinha quando era adolescente. Pensativa elarespira fundo e vai à cozinha tomar água.

A manhã chegou brilhante e ensolarada. César olha através da janela de seu quarto e percebe que sua visão estava incomodada com aclaridade dos raios do sol. O Pastor César volta a fechar as cortinas da

 janela e senta na cama um pouco pensativo. Pela brecha da janela deseu quarto ele percebe um dia belo de sol, mas o clima lá foracontrastava com o tempo nublado e conturbado em seu ministério. Oslíderes da igreja já não tinham a ousadia de outrora, já não haviaconversões e muitos membros se desviavam. Logo ele vai ao

 banheiro lavar o rosto. Ao molhar a face ele olha para o espelho e percebe que as rugas do seu rosto começavam a chamar mais atençãodo que os seus olhos azuis. Os poucos cabelos já não eram tãoescuros. O tempo e os problemas já estavam vencendo o seu corpomortal. Ele sai do banheiro e vai a sala e vê a mesa ocupada por um

farto café da manhã preparado por sua esposa.Adriana era uma bela mulher de rosto angelical, cabelos loiros

e compridos. A diferença de idade entre o casal era perceptível. Apóso casamento da filha a grande casa do pastor ficou maior e silenciosa,

 porém naquela semana o silêncio tinha tomado conta do ambiente e daalma do casal. César puxa uma das cadeiras e senta diante da mesafarta. Pega alguns petiscos e começa a degustar sem olhar para

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Adriana. A esposa do pastor para de comer e respira fundo, talvez para

chamar a atenção do marido, mas ele continua concentrado no café damanhã. —  César, será que eu não mereço nem um bom dia?!  —  estoura

Adriana.O Pastor não fala nada e continua de cabeça baixa. — Você acha que agindo dessa forma comigo os problemas da

igreja irão acabar?  —  continua Adriana.  —  Não percebe que a cadadia você está mais frio comigo? Você passa o dia todo fora cuidando

de sua igreja, chega e mal olha na minha cara!  —  desabafa Adrianasegurando o choro.O pastor César para de comer e enquanto passa o guardanapo nos

lábios contempla o rosto rubro de sua bela esposa. —  Bom dia querida —  friamente fala César. —  Bom dia, pra você já é o suficiente? —  questiona a mulher —  Desculpa meu amor, estou assim porque quero manter você

longe dos problemas da igreja —  responde César. —   Já não conversamos, nunca mais saímos... você parece mais

um hóspede nesta casa que vem apenas pra dormir...olha, eu já estoucheia dessa situação!  —   fala Adriana enquanto se retira da mesa deforma brusca.

O Pastor franzi a testa e respira fundo com evidente irritação,depois levanta, pega a suas coisas e sai de casa batendo a porta dasala.

Eles tinham comemorado trinta anos de casamento ondetiveram uma filha. O pastor estava com sessenta anos e a diferença de

quinze anos de idade entre o casal não era a única coisa que osseparava. Adriana não se adequou a rotina de liderança na igreja e acinco anos começou a exercer a sua profissão, dentista.

Ela gostava de ter uma vida social ativa, passear, viajar, curtirum cinema. Após a vinda do casal para Santo Ângelo a rotina mudoue isso causou uma profunda frustração em Adriana. O pastor sabia quea sua esposa precisava de mais atenção, mas a preocupação com a

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administração da igreja tomava o seu tempo e gradativamente os seus

 pensamentos.O pastor César chega à igreja de Santo Ângelo. Ao entrar nocorredor do templo ele contempla algumas pessoas na secretaria a suaespera e antes de entrar na sala ele saúda a todos.

 —  Alguma novidade boa? - pergunta em tom baixo o pastor. —  Novidades sim, boas eu não sei —  responde a secretária. —  O que é dessa vez? - questiona o pastor. —   Joaz ligou avisando que está saindo da igreja. Recebeu uma

 proposta para trabalhar em uma congregação com uma boaremuneração, ele não teve dúvidas e foi embora... ele tambémagradeceu a oportunidade que recebeu para liderar o ministériodurante dois anos —  relata a mulher.

César vira-se, passando as mãos pela cabeça num gesto defrustração. Ele murmurou alguma coisa incompreensível. O pastorcaminhou até a porta e parou, passando os dedos no pescoço.

 —   Mas porque ele não me ligou ou ao menos marcou umgabinete comigo? —  questiona o pastor desapontado.

 —  Isso eu não sei —  responde a secretária.O Pastor em silêncio entra no gabinete fechando a porta em

seguida.Joaz era um líder com muito conhecimento musical e de grande

influência na igreja. Durante dois anos liderou o ministério de música.A saída do jovem deixará uma lacuna muito grande e trará umadecepção ao pastor e à todos os membros daquela comunidade.

É noite de quarta-feira e Lucas vai à reunião na casa de João.

Ao chegar à casa do amigo ele percebe que todos os componentes jáestavam reunidos, menos Pedro.

 —   João, Pedro não vem para a reunião? - questiona Lucas ao perceber a ausência do garoto.

 —   Você ainda não sabe? Pedro se desviou  —   responde Joãoenquanto senta no sofá.

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 —  Meu Deus! Por que ele fez isso? - pergunta Lucas um pouco

desolado. — Ele se envolveu com uns caras...usuários de drogas, até que

começou a usar —  responde Alfredo. — E nós não vamos fazer nada? —  pergunta Lucas. —  Nós vamos fazer o que? Isso foi uma escolha dele, não temos

nada com isso, ele sabia da verdade!  —   Alfredo responde sem seimportar com o amigo.

Lucas levanta do sofá bastante irritado com a resposta do colega.

 —   Meus amigos, não podemos agir assim, isso é uma batalhaespiritual e cada membro da nossa igreja que se desvia é um soldadoabatido pelas trevas —  fala Lucas em voz alta.

Todos os componentes do grupo se assustam com as palavras doamigo, mas depois começam a rir de forma debochada do jovem.

 —  Meu amigo, tenha calma, você está assistindo muito filme deguerra e fica com a imaginação muito fértil  —   fala João enquantotenta controlar o riso.

 — Tudo bem, estou entendendo, mas eu vou fazer a minha parte —  fala Lucas constrangido com a reação dos amigos.

Após aquele momento descontraído para uns e constrangedor para Lucas a reunião começa. Lucas não aceita a ausência do amigo e passa toda a reunião com a mente ocupada com questionamentos. Aofinal da reunião todos vão embora, menos Lucas.

 —  João, estou precisando de sua ajuda! —  fala Lucas. —  Para quê? —  Eu vou à casa de Pedro e preciso que você vá comigo  —  fala

Lucas. —   Você é louco, uma hora dessas...é muito perigoso!  —   fala

João. —  Confie em mim, vai dar tudo certo!Mesmo sem concordar João pega o carro do pai e juntos seguem

em direção a casa do amigo. Após alguns minutos eles chegam a umlocal de ruas escuras e vazias. A apreensão se torna evidente entre os

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dois jovens. As pichações nos muros e a pouca luminosidade eram

alguns sinais do tráfico e delinquência no local. João diminui avelocidade do automóvel e para. —  Por que você parou? —  questiona Lucas. —   A casa de Pedro é em frente, mas você está vendo aqueles

caras debaixo daquela árvore? —  Sim, estou. — Pedro está lá.A presença dos jovens é camuflada pela sombra da árvore. São

quatro jovens sentados. —  Legal, vamos lá — fala Lucas tentando abrir o carro —  Não! Você é louco? Os caras são barra pesada, devem estar

drogados e armados —  fala João assustado.Porém Lucas insiste em abrir a porta do carro e não consegue. —   Destrava essa porta João!  —   fala Lucas ao perceber que a

 porta do automóvel não abre. — Ela não está travada - responde João.Ambos tentam abrir sem êxito. João fica nervoso a cada

tentativa, mas depois de algum tempo ele tenta ligar o carro e o motornão responde. Neste momento Lucas lembra das palavras de Jofiel erelaxa.

 —  O que foi Lucas, o que você está pensando? —  pergunta João bastante nervoso.

Lucas baixa a cabeça, respira fundo e começa a orarfervorosamente.

 —  Senhor sei que essa guerra não se vence na força, por isso eu

te peço, quebra as travas espirituais desse carro para que eu faça a tuavontade em nome de Jesus.

Após a rápida oração Lucas abre a porta e sai do carro, espantadoJoão também acompanha o amigo.

 —  Cara aonde você vai? Vamos voltar para o carro! —  fala Joãotentando convencer o amigo.

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Lucas continua com os passos firmes em direção ao grupo que

estava próximo a árvore. Além de Pedro haviam mais três rapazes,ambos de boné e moletons bastantes longos. Ao perceberem a chegadados dois jovens eles ficam um pouco apreensivos e um deles coloca amão na cintura por baixo do moletom.

 —  Quem são vocês? —  um deles pergunta. —  São meus amigos da igreja —  se adianta Pedro. — Amigos da igreja? E querem alguma pedra ou baseado?  —  

com risos ameaçadores questiona o que estava com a mão na cintura.

 —  Não, nós só viemos trocar umas ideias com o nosso amigo —  responde Lucas. Naquele instante os três rapazes se aproximam de Lucas

enquanto João se afasta se preparando para correr. Lucas olhaatentamente para o rosto de cada componente do grupo e percebe queos olhos de ambos estavam como tochas de fogo. Um deles tira umrevólver e aponta para a cabeça de Lucas

 —  Esse é meu e ninguém leva, vá embora porque esse território émeu! — fala o rapaz.

João foge em alta velocidade enquanto Lucas permanece firmediante dos homens. Lucas fecha os olhos e levanta as duas mãos parao alto. Os homens começam a ranger os dentes como cachorrosraivosos. Pedro fica assustado com o clima estranho e ameaçador.

 —  Espírito que aprisiona esses homens eu te repreendo agora emnome daquele que derramou o sangue na cruz! - fala Lucas com

 bastante autoridade.Os homens começam a gritar e como se estivessem ardendo em

chamas caem no chão. Lucas estende a mão sobre eles. —  Sai dessas vidas agora! —  grita Lucas. Naquele instante os homens ficam desacordados enquanto Pedro

assustado abraça o amigo. Ambos saem andando até o carro onde Joãoestava. Pedro e Lucas entram no carro e João sai com o carro em altavelocidade.

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O som do motor é a única coisa que ameniza o silêncio entre

os rapazes dentro do veículo. Todos viram a mesma coisa, porém cadaum tirava a sua própria conclusão. Ninguém tem a iniciativa de fazeralgum comentário. Depois de algum tempo eles chegam na frente dacasa de Pedro. Pedro abre a porta do carro e Lucas aproveita e sai paraacompanhar o amigo até o portão da casa dele.

 —  Meu amigo, porque você se afastou dos caminhos do Senhor?- pergunta Lucas.

 —  Depois que me envolvi com uma galera nova eu não consigo

mais... - responde Pedro de cabeça baixa. — Você viu que aqueles homens estavam presos? Não só pelosvícios, mas havia um espírito maligno manipulando aquelas vidas  —  fala Lucas enquanto segura os ombros de Pedro.

 —  Sim percebi, muito sinistro aquilo... —  Esses espíritos também querem te viciar e depois te aprisionar

espiritualmente, por isso volte para as reuniões e para igreja antes queseja tarde demais  —   fala Lucas olhando fixamente para os olhos dePedro.

 — Tudo bem cara eu vou voltar, pode confiar e obrigado por tudo —  fala Pedro com os olhos lacrimejando.

Ambos se abraçam e se despedem. Lucas entra no carro eenquanto fecha a porta do veículo, João liga o automóvel.

 —   Que história é essa de espírito que aprisiona quem estáviciado? - pergunta João enquanto dá a partida.

 —  Se você estiver predisposto a não acreditar não vai adiantar eufalar nada... Mas se quiser entender eu falo —  responde Lucas.

João pensa um pouco, respira fundo. —  Beleza cara, fala aí —  se rende João. —  Os céus de Santo Ângelo estão escuros de entidades malignas

que aprisionam homens e mulheres no pecado causando morte,destruição nos lares e a desordem social... quanto menos se falar a

 palavra de Deus neste lugar melhor para o espírito dominador.

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 —   De onde você tirou essa ideia Lucas?  —   questiona João

frigindo a testa. —   Isso não é fruto da minha imaginação, isso é uma realidade,

você mesmo falou que após a inauguração da igreja as coisasmudaram em Santo Ângelo. O tráfico perdeu força, muitos laresforam restaurados, até houve um reconhecimento da prefeitura sobre acontribuição que esta igreja estava dando no combate à criminalidade.

 Nesta época a palavra de Deus tinha força e onde há luz as trevas seescondem...

 —   Mas você acha que hoje não existe luz em Santo Ângelo?Você acha que a igreja não tem mais força como antigamente?  —  indaga um pouco confuso João.

 —   A igreja é o alvo principal dessas forçasmalignas...infelizmente tem se abatido com os ataques do mal, hojenão tem a mesma força de antes —  responde Lucas.

 —  E aqueles caras que você orou por eles, eram demônios?  —   pergunta João.

 —  Não, eles são pessoas que os espíritos do mal tomaram posse efazem deles o que quiserem, igual a eles existem milhares nessacidade.

 —  Que loucura! —  fala João enquanto balança a cabeça.Após essa conversa os dois fazem silêncio em todo o trajeto até

chegar na casa de Lucas. Ambos se despedem.Lucas chega em sua casa muito tarde da noite, não há ninguém na

rua. Antes de entrar na casa ele percebe que há um silêncio incrívelnas ruas e nas residências. O jovem fecha o portão e logo entra em sua

casa. Ele olha para um relógio de parede que ficava na sala e certifica-se da hora. É meia noite, logo ele vai ao banheiro tomar um banho.

Ao chegar ao banheiro ele fecha a porta e antes de tirar a roupaolha para o espelho. O mesmo fica alguns segundos distraído, olhandofixamente para algumas manchas pequenas em seu rosto. Coloca umadas mãos próximo aos olhos e se aproxima do espelho para verificarmelhor a sua face. Depois ele passa a mão no cabelo e percebe algo

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estranho. A sua imagem refletida no espelho não tinha acompanhado o

seu último movimento e continuava olhando para ele como se fosseoutra pessoa. Lucas se desespera e tenta sair do banheiro, mas a portanão abre.

 —  Lucas? —  fala a sua imagem no espelho. —  Quem é você? —  fala Lucas enquanto escorrega suas costas na

 parede. —  Eu quero que você se aproxime do espelho, vou te mostrar a

Geena, sala de reunião das trevas, onde os líderes de batalha se

reúnem para montar estratégias para tomar posse da cidade  — fala avoz que saía do espelho.Lucas, ainda trêmulo se equilibra. Ele levanta se aproximando

da pia onde estava o espelho, logo a sua imagem desaparece.O espelho fica escuro e ele começa a escutar vozes de várias

tonalidades. Lucas segura no balcão da pia e percebe algumas imagensque surgiam no espelho. A sala é uma grande caverna poucoiluminada. No centro da sala há uma grande mesa de bronze e no meioda mesa uma vela de dois metros de altura com chamas vermelhas. Aschamas da grande vela iluminam o ambiente em sua volta. Ao redorda grande mesa há seis poltronas de bronze, cinco delas estavamocupadas por seres estranhos e asquerosos.

Após alguns segundos todos escutam passos muito fortes, tãofortes que treme todo o ambiente. Aproxima-se da mesa uma criaturamuito alta com calda de dragão, pés com garras de águia e um

 pequeno par de chifre em sua cabeça. Em reverência todos fazemsilêncio e se curvam diante aquela entidade.

O novo componente da mesa parece ser o líder da reunião, por causa do respeito dos demais.

 —   Juruparí, seja breve e rápido com o seu relatório  —   fala olíder da reunião com uma voz de trovão.

Um dos componentes da mesa levanta e abre um rolo de papel com alguma coisa escrita. Juruparí era de cor escura, de cabelos

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 pretos e o que chamava mais atenção em sua aparência eram os

caninos e as unhas grandes. —   Meu grande Asmodai, estamos tendo êxito em nossas

investidas. Nos últimos meses conseguimos levar a cidade de SantoÂngelo ao posto de cidade mais violenta do Sul do país. Aqui está o

 jornal que levantou os dados e mais embaixo tem os gráficos e osnúmeros  —   fala o Juruparí enquanto passa o jornal para as mãos doAsmodai, líder da reunião.

Asmodai verifica os dados enquanto todos fazem silêncio.

 —  Que estratégia você está usando para chegar neste resultado? —  questiona Asmodai. —   Na verdade o responsável por essa área é o meu fiel

companheiro Abadon, mas trabalhamos em conjunto... Colocamos pessoas para governar esta cidade e através de leis governamentaishumanas estamos, gradativamente, desconstruindo valores familiares,essa é a porta para desmontar a sociedade de Santo Ângelo. O trabalhode Anhangá e Bast facilita a atividade de Abadon. A maioria dasmortes são causadas por drogas e brigas nos lares, mas é bom salientarque através de nossos representantes na política tiramos a autoridadeda polícia. Hoje, essa cidade é presa fácil para o tráfico e a desordem.

Juruparí dá uma pausa e respira fundo enquanto abre outrorolo de papel.

 —   Um trabalho muito importante é feito por nossa escudeiraBast. Fazem muitos anos que ela trabalha em várias famílias,separando casais, causando situações para abusos sexuais, violênciacontra mulher e traições. A geração atual é resultado de anos de

trabalho —  fala Juruparí demonstrando satisfação nos resultados. —  Bast me explique melhor esse trabalho a longo prazo! —  pede

Asmodai.Uma estranha mulher de pele vermelha e com seios bastante

fartos levanta. —  Meu Senhor, para acabar com a sociedade é imprescindível a

destruição da família. É no ambiente familiar que se vive e aprende,

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 para toda a vida, os valores fundamentais. É neste relacionamento que

se baseia a conduta de cada um dos cidadãos. Para construir pessoasdesajustadas é primordial acabar com a harmonia nos lares. Paradestruir uma família é muito fácil...Eu posso fazer isso em umasemana, mas destruir uma geração é questão de anos de trabalho. Meusenhor, vou te dar um exemplo: quando há uma separação de um casaleu não só consigo abater os dois, mas atinjo os filhos e osnetos...Vejamos, na separação há revolta e ressentimentos e os filhosgeralmente perdem a referência. No futuro esses filhos irão casar e

não terão forças para vencer os problemas conjugais porque nuncativeram um exemplo a seguir. O resultado, os filhos irão se separar, osnetos irão se separar e isso se tornará um ciclo vicioso  —  Bast respirafundo e continua.  —   Claro, nem todos os casais se separam, masexistem muitas famílias que moram juntos, porém vivem como seestivessem separados. Solidão entre os casais, irreverência einsubmissão dos filhos e negligência na educação dos pais sãoevidências de um lar destruído.

Após a sua participação a estranha mulher senta e baixa a cabeça. —   Meu mestre eu tenho um probleminha que ainda está nos

incomodando —  fala Juruparí sem fixar os olhos no superior. —  O que foi agora? - questiona Asmodai. —  É aquela igreja do pastor Cesar, ela perdeu muita força, mas

ainda está incomodando. Nesse instante o Asmodai dá um soco na mesa e levanta furioso.

O ambiente treme. —  Eu pensei que essa igreja estava destruída, e você ainda vem

me falar que ela está incomodando?  —   grita Asmodai com muitafúria.

 —   Mestre, mas é questão de tempo  —   fala Juruparí quase se prostrando.

 —  Quanto tempo? Você quase perdeu o reinado dessa cidade porcausa desse pastor, você ainda fala em tempo?  —   grita Asmodaiesmurrando a grande mesa.

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 —  Mestre eu tenho uma ideia —  fala Anhangá.

Todos da mesa olham para Anhangá que lentamente levanta. Eleé alto e bastante magro e tinha uma pele esverdeada, sua face éenvelhecida e não tem cabelos.

 —  Que ideia? —  questiona Asmodai. —   O cristianismo já foi atacado, com violência, perseguição e

extermínios, mas sobreviveu. Nós não podemos bater de frente comeles, a fé dessa gente é muito forte, precisamos nos introduzir e nosaliar...

 Naquele momento todos se agitam na mesa e Asmodai fita osolhos em Anhangá. —   Como assim? Não podemos se aliar com a luz!  —   fala

Asmodai. —   Meu mestre, não vamos nos unir, mas se introduzir. Eu

visito outras províncias e vejo muitas potestades usando essa mesmafórmula para vencer as igrejas. É uma estratégia moderna, maseficiente para tirar a força da igreja. Nós temos que ter um especialistaem mentiras e heresias para manipular as mensagens e pregações. Amensagem da maldita cruz é que faz o povo se converter e alimenta afé no homem de cima. Qualquer pregação que afaste o povo da cruz éválida! —  fala o asqueroso Anhangá.

 —  Estou entendendo, parece algo bastante interessante. Confiareinessa estratégia. Vou tentar a liberação do duque Chax do palácio dastrevas, ele é a entidade mais adequada para esse tipo de trabalho  —  conclui Asmodai.

 Neste momento, Lucas escuta alguém batendo na porta do

 banheiro. É a sua mãe. —  Lucas, você está aí? —  fala Olindina. —  Sim, estou... Vou tomar banho... —  nervoso responde Lucas.Depois de responder a mãe Lucas volta a sua atenção para o

espelho e percebe que estava normal. Ele se aproxima do espelho, semeche e não vê nada estranho. Lucas respira um pouco, lentamente

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senta na bacia do banheiro e passa alguns minutos processando as

informações obtidas na visão.

Passam duas semanas. Lucas está voltando de umaentrevista de emprego e percebe um homem em frente ao portão dasua casa. O estranho está conversando com a sua mãe. Lucaslentamente se aproxima tentando identificar o indivíduo e escutar oque estavam dialogando. O homem é alto, branco e tem cabelos pretose lisos e está usando uma jaqueta jeans. Com o portão fechado sua

mãe conversava como moço, o mesmo segura o portão enquanto falacom Olindina. Ela aparenta um palpável nervosismo enquanto eletenta explicar alguma coisa. Faltando alguns metros do casal a suamãe percebe a sua presença.

 —  Vá embora! —  fala a mulher para o homem bastante nervosa.O homem olha para trás e logo percebe a presença do jovem.

 —  Quem é esse homem? —  pergunta Lucas. —  Não, não é ninguém —  fala Olindina tentando disfarçar o seu

nervosismo. —   Como assim, todo mundo é alguém? Quem é você?  —   fala

Lucas voltando-se para o estranho.O homem sem graça se despede de Olindina e rapidamente sai

do local sem falar com Lucas. Lucas acompanha o homem com oolhar até o mesmo se encobrir na rua, logo volta-se para a mãe.Olindina já tinha entrado na casa, rapidamente Lucas entra para pedirsatisfações.

 —   Mãe, onde você está? Quem é aquele homem e o que

conversavam?A mãe de Lucas tenta negligenciar os questionamentos do filho,

mas logo se rende: —  Meu filho, esse homem é o seu pai!Lucas surpreso com o que a mãe fala senta no sofá enquanto

respira fundo tentando processar a informação. Chocado ele passaalguns segundos em silêncio com o olhar fixo no nada.

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Incomodada com a quietação do filho Olindina tenta amenizar

a situação. —  Lucas, alguém bateu palma no portão e eu fui ver quem era,

 pra minha surpresa era ele... eu não tive como evitar o contato. —  O que ele queria com a senhora, mãe? —  pergunta Lucas. —   Ele está doente e acha que não tem muito tempo de vida e

queria te conhecer, quando falei que você era revoltado com asituação...ele chorou bastante —  fala Olindina.

Lucas não disfarça a sua confusão emocional. Ele levanta, coloca

as duas mãos na cabeça e respira fundo. —  Ele mora perto? —  pergunta Lucas. —  Não... ele viajou de muito longe para te ver, mas quando eu

falei dos seus sentimentos ele perdeu a coragem para falar com você. —   Coragem para tentar me matar ele teve!  —   fala Lucas um

 pouco nervoso.A senhora Olindina fica calada enquanto Lucas vai até a cozinha

tomar água. Depois ela levanta e se aproxima do filho. —  Lucas, queria que você fosse sincero comigo, você ainda tinha

esperança de falar com o seu pai? —  questiona Olindina. —  Eu nunca tive pai...você é minha mãe e meu pai —  fala Lucas

enquanto fecha a geladeira.Logo ele deixa sua mãe e segue para o quarto.

Lucas passa duas horas trancado no seu quarto enquantoOlindina rói as unhas e dá várias voltas pela sala. A ansiedade damulher chega ao ápice quando ela escuta a porta do quarto abrir,Lucas sai do quarto com os olhos vermelhos, provavelmente resultado

de um longo tempo de choro. A mãe de Lucas corre e o abraçatentando consolá-lo. Ele aproveita o abraço da mãe e chora com maisintensidade.

 —  Mãe eu nunca irei conseguir encará-lo de frente, eu sou muitorevoltado com tudo que ele nos fez  —  fala Lucas enquanto abraça amãe.

 —  Eu sei meu filho, eu entendo —  em lágrimas, fala Olindina.

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 —   Mãe, eu vou sair um pouco e caminhar, andando eu penso

melhor na vida...depois volto —  fala Lucas.Lucas sai de casa, fecha o portão enquanto Olindina fica na porta observando o filho.

Lucas anda algumas quadras pensativo, depois sobe umaladeira até chegar ao topo de uma barreira. Ele para e contempla o

 precipício em sua frente e a paisagem de uma floresta ao lado. O jovem senta na grama e fica esperando o pôr-do-sol.

Enquanto a sua pele era bronzeada pelos raios da tarde ele

 pensa no homem, que possivelmente era o seu pai. O jovem misturaum sentimento de ódio e o anseio de conhecê-lo. Nesta guerra interioro orgulho não permite que as suas vontades, mais nobres, vençam orepúdio pelo pai. Lucas, sentado, fecha os olhos sentindo a brisa dofim de tarde tocar em seu rosto. Ao abrir os olhos ele sente a presençade uma pessoa ao seu lado. Com o susto ele se desequilibra e segurana grama.

 —  Olá Lucas! —  fala Jofiel. —   Meu Deus, você quase me matou de susto!  —   fala Lucas

enquanto limpa as mãos. — Vejo que você está um pouco confuso. O passado bateu em

sua porta? —  questiona Jofiel. — Sim, estou e não consigo aceitar que aquele assassino seja o

meu pai! —  fala Lucas enquanto dá socos no chão. —  Calma Lucas, você ainda não percebeu que isso foi fruto de

um trabalho manipulador de Bast? Você não está lembrado da sala dereuniões? —  questiona Jofiel.

Lucas respira fundo enquanto tenta lembrar das visões noespelho. Depois de alguns segundos ele levanta e volta a sua atenção

 para o Anjo. — Todo esse sofrimento e revolta foi causado por um demônio?

 —  pergunta Lucas. —   Sim, mas eles se aproveitam do pecado, fraquezas e do

orgulho do homem, que são brechas essenciais para que eles

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manipulem os pensamentos e situações. Seu pai é o culpado nessa

história, mas você tem que ter uma visão espiritual das situações, casocontrário você nunca perdoará seu pai  —  continua Jofiel.  — Você jáorou o pai-nosso?

 —  Sim —  responde o jovem. —  Nesta oração falamos para Deus perdoar os nossos pecados

assim como nós perdoamos os nossos devedores, mas se você nãoconsegue perdoar seu pai como vai desejar o perdão de Deus?

Lucas fica sem graça e pensativo e demora a responder, o anjo

Jofiel percebendo o seu desconforto continua. — Você tem uma função muito importante nessa cidade, mesmoque muitos não acreditem. Você só terá forças e autoridade paraenfrentar as trevas quando vencer essa barreira. A vinda do seu pai atéa sua casa é uma oportunidade que Deus está te dando para você ter

 paz na consciência e autoridade espiritual. Lembre-se de uma coisa,no Reino espiritual só tem poder e autoridade quando há santidade e

 boa consciência.Após falar essas palavras o anjo some deixando Lucas com

vários questionamentos em sua mente.As palavras do Anjo foram fortes e colidiram com o ego do

garoto. Um pouco confuso ele deixa o local após o pôr-do-sol. Lucasdesce a ladeira sentindo que a raiva e revolta estavam sendosubstituídas pelo desejo de mudança.

Passaram duas semanas, tempo suficiente para Lucas ingerir asituação e se posicionar diante dela. O pai de Lucas estava internado

 por causa de um câncer pulmonar. O estado de saúde era grave, pois

estava num estágio avançado da doença. Nas últimas semanas Lucasconsegue o endereço do hospital e se prepara psicologicamente paravisitar o pai.

É quarta-feira, dia de visita. Lucas vai com a senhora Olindina para o hospital que fica em Cerro Largo, cidade vizinha de SantoÂngelo. Ao chegar à cidade eles procuram o hospital. Lucas tentadisfarçar o seu estado emocional, mas a sua mãe percebe que ele

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estava muito tenso. Os dois entram no hospital e vão direto para a

recepção. —   Boa tarde, nós viemos visitar o senhor Lourenço  —   fala

Olindina para uma recepcionista.Prontamente a mulher abre um caderno grande onde tinha alguns

nomes. —  Qual o sobrenome do senhor Lourenço? —  questiona a mulher

de branco. —  Lourenço Friedman —  responde a mãe de Lucas.

Subitamente Lucas olha para a sua mãe surpreso com a suaresposta. —  Friedman? Mas é o meu sobrenome? —  fala Lucas. —  Mas ele é seu pai! —  respondeu com muita firmeza Olindina. —  Antes de nós entrarmos na sala, vai ter mais alguma coisa que

a senhora me escondeu durante esse tempo?  —  questiona Lucas um pouco desapontado.

 —  Não meu filho  —   fala a mãe de Lucas enquanto volta a suaatenção para a recepcionista.

A funcionária do hospital chama uma colega de trabalho emostra a lista de pacientes, baixo elas conversam e discutem algumacoisa. O clima entre as duas chama a atenção de Lucas e Olindina, queficam apreensivos.

 —  Desculpem, mas podemos entrar para visitar o paciente?  —  questiona Lucas.

As funcionárias do Hospital se olham tentando esconderalguma situação.

 —   Não, agora o paciente não tem condições de recebervisitas...Nós vamos na sala onde o paciente está e traremos maioresinformações  —   fala uma das recepcionistas antes de entrar nocorredor da enfermaria.

Os dois ficam confusos, mas logo se acomodam na recepçãodo hospital esperando algum retorno dos funcionários. Passam algunsminutos até que uma enfermeira aparece na recepção.

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 —   Quem são as pessoas que vieram visitar o senhor Lourenço

Friedman? —  pergunta em voz alta a mulher.Prontamente Lucas levanta do sofá da recepção e vai ao encontroda enfermeira.

 —  Eu sou o filho dele  —  se apresenta Lucas para a funcionáriado hospital.

 —  Me acompanhe, eu vou levá-lo na sala onde ele se encontra —  fala a mulher.

Lucas observa a mulher caminhar alguns passos no corredor

enquanto respira fundo, tomando coragem para acompanhá-la. Elecomeça a andar e logo pensamentos e recordações de sua vidacomeçam a passar em sua mente. A cada passo dado inúmerasemoções se digladiavam dentro de si. A mulher abre a porta de umasala e pede para que ele entre. Lucas entra na sala e rapidamente amulher sai. Lucas observa a sala branca e se depara com uma cama emum dos cantos da parede. Lentamente ele anda em direção a cama, queestava ocupada por uma pessoa coberta com um lençol branco. Aochegar próximo a cama ele constata, é o homem que estava no portãode sua casa. Lucas percebe que ele estava de olhos fechados, mas nãosabia se ele estava dormindo ou em coma. Depois de alguns segundosLucas faz força para pronunciar alguma palavra, mas não conseguefalar nada. Lucas passa a mão no rosto e percebe que ele estavatranspirando mais do que o normal, logo ele vira-se e vai para perto deuma janela, que ficava de frente para um jardim.

Passa alguns segundos respirando, tentando raciocinar. Osilêncio é interrompido por uma voz trêmula no quarto:

 —  Lucas!Assustado o jovem vira-se de supetão, era o homem na cama.

Lucas fica um pouco perturbado quando percebe que ele estavatotalmente debilitado. O homem tosse bastante após chamar o garoto.Lucas rapidamente se aproxima da cama e tenta acalmar o homem.

 —  Não se mecha, não precisa falar nada  —  fala Lucas enquantocobre o homem com o lençol branco.

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O homem tenta falar alguma coisa, mas continua tossindo. A

inquietação do homem piora o seu estado clínico. Preocupado com asaúde dele, Lucas tem trabalho, mas o convence a ficar sossegado. —  Eu só quero ter certeza de uma coisa, não precisa falar, apenas

afirme ou negue com a cabeça... Você é o senhor Lourenço Friedman? —  fala Lucas.

O homem com certa dificuldade sinaliza positivamente com acabeça.

 — Você é o pai que nunca me desejou como filho? —  fala Lucas.

O Homem volta a abrir os olhos e tenta falar alguma coisa, porém Lucas coloca a mão em seu peito e tenta acalmá-lo. O homemvolta a fechar os olhos e se acalma.

 —  Não se preocupe, eu não estou aqui para te acusar, mas estouaqui com outro objetivo, quero me reconciliar... Eu passei a vidamuito revoltado com o senhor, sempre senti a falta de um pai e atéhoje sofro com a sua ausência. Já que estou tendo a oportunidade deme encontrar com você, não quero perder meu tempo com brigas eacusações —  fala Lucas um pouco emocionado.

Ao falar isso Lucas baixa a cabeça e passa algum tempo pensando nas próximas palavras. Estava sendo muito difícil para o jovem ter que extrair palavras de reconciliação e deixar de lado todo osentimento que sempre o envolveu. Lucas volta a olhar para o pai e

 percebe que ele estava chorando, Lucas sem ação contempla a cena,logo o senhor Lourenço vira-se em direção ao filho.

 —  Lucas...me perdoe...eu errei com você, mas me conceda o seu perdão, pelo amor de Deus! —  fala o homem com muito esforço.

Após falar isso o homem se descontrola e mistura o chorocom uma tosse crônica. Logo Lucas se inclina e abraça o pai deitandoa cabeça sobre o seu peito. Ambos choram. Nenhuma palavra ousermão falaria mais do que aquele momento. As lágrimas e abraçoslavavam anos de sentimentos destrutivos e negativos. Após algunsminutos Lucas nota que o seu pai diminui a intensidade de seu abraço,lentamente ele levanta a cabeça evitando uma pressão maior no tórax

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do pai. Lucas acomoda o senhor Lourenço na cama e aproveita para

enxugar o seu rosto que estava molhado de lágrimas. —   Pai, sinta-se perdoado, eu quero aproveitar o maior tempo

 possível com o senhor  —   fala Lucas enquanto passa as mãos nosolhos.

Porém ele não percebe nenhuma reciprocidade do pai, logo elevolta a olhar para o senhor Lourenço que estava com os braços abertose olhos fechados.

 —  Pai, você está bem?  —  pergunta Lucas enquanto passa a mão

no peito do seu Lourenço. Nenhuma resposta ou reação, Lucas gradativamente vai sedesesperando ao notar que o pai estava pálido. Rapidamente ele sai dasala pedindo ajuda. O jovem corre desesperadamente pelos corredoresdo hospital gritando e chamando atenção de todos. Logo aparecemalgumas enfermeiras e médicos. Lucas solicita ajuda urgente e ummédico rapidamente vai à sala onde seu Lourenço estava.

Lucas é proibido de retornar a sala pelas enfermeiras e ficaaguardando ansiosamente o atendimento médico no corredor. Depoisde algum tempo Lucas é convidado a esperar na recepção onde a suamãe estava. Inconformado o jovem sai do corredor e vai pararecepção.

 —   Meu filho, o que está acontecendo? Por que você estáchorando? —  questiona a senhora Olindina na chegada do filho.

Lucas senta, segura a mão da mãe e encosta a cabeça em seusombros.

 —  Não sei mãe, os médicos estão na sala —  responde o jovem.

Lucas evita falar enquanto sente um conjunto de emoções e pensamentos acelerados em sua mente. A ansiedade aumenta a cada pessoa que abre a porta do corredor do hospital. O tempo passa, as pessoas passam, mas ninguém traz uma notícia. Lucas levanta e vai àrecepção perguntar pelo paciente, mas a recepcionista pede para eleaguardar um pouco mais. Após duas horas de espera um médico com

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uma prancheta nas mãos abre a porta do corredor, não havia ninguém

na sala além de Olindina e Lucas. —  Vocês são responsáveis pelo paciente Lourenço Friedman?  —  

questiona o médico. —  Sim, somos —  responde Olindina enquanto levanta do sofá.O médico respira fundo e se aproxima. Ao parar na frente do

casal ele coloca o óculos e depois volta a ler a prancheta. —  Quem é você?  —  pergunta o médico olhando fixamente para

Lucas.

 —  Sou o filho dele —  responde o rapaz. — Muito bem, eu quero que vocês entendam que nós fizemos oque foi preciso, mas o caso dele era irremediável e infelizmente ele

 partiu —  fala o médico.Lucas abraça a mãe e tenta ser forte, mas não consegue controlar

o choro. O médico pede licença e sai da recepção deixando o casalenlutado.

O tempo passou e com ele a dor de ter perdido o pai no dia emque o conheceu. Foram vinte e três anos de ausência e poucas palavrasantes da morte, porém essas palavras foram de uma importância vital

 para Lucas e para a história de Santo Ângelo.A escuridão espiritual tomou conta da cidade, as delegacias já

não comportam tantos casos de assassinatos, estupros e roubos. Asdrogas são comercializadas livremente nas ruas e a polícia já não temcomo evitar o comércio ilegal. Em um ano a cidade tinha entrado emuma decadência terrível e as autoridades não tinham uma respostaconvincente para aquele fenômeno social.

Lucas se ausentou da igreja no período de um mês. A saudadee a vontade de escutar a palavra ministrada pelo pastor aumentava acada dia. Por esse motivo Lucas estava bastante eufórico, pois eradomingo, dia de culto em Santo Ângelo.

 No fim da tarde ele troca de roupa e se prepara para ir à igreja.A mãe de Lucas gostava da ida do filho para os cultos, mas estavacom um certo receio devido à violência que tomava conta da cidade.

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 —  Meu filho, tome cuidado, o centro de Santo Ângelo está um

caos, nem a polícia consegue deter a ação dos marginais  —   falaOlindina enquanto contempla o filho sair pela porta.Logo Lucas retorna em direção a sua mãe. —   Minha querida, os anjos do senhor estão ao meu redor e

nenhuma arma contra mim irá ter êxito  —   fala Lucas bastanteconvicto do que falava.

Sem esperar a resposta do filho, a senhora Olindina coloca umdas mãos sobre os lábios.

 —  De onde você tirou essa ideia? Você está achando que depoisque se converteu virou o super-homem? —  questiona a mulher.Lucas abre um sorriso que contrastava com as palavras sérias que

tinha falado anteriormente depois fica sério e sai. A mudança dehumor repentino de Lucas deixou a sua mãe um pouco assustada.

Lucas chega à cidade de Santo Ângelo. As ruas estão pichadase poucas pessoas transitam por lá. O jovem segue em direção aotemplo e percebe que poucas pessoas tem a mesma direção. Nocaminho ele encontra uma jovem que ele sempre via na igreja.

 —   Oi Lucas, tudo bem?  —   saúda a garota ao ver o jovem.  — Tudo bem...Você está indo para igreja? —  pergunta Lucas.

 —   Não, eu vou para um baile raive com umas colegas  —  responde um pouco desconfiada a garota.

 —  Sério? Mas hoje é dia de culto? —  questiona Lucas um poucodesalinhado.

 — Sei, mas eu não sinto atração pela igreja. Antes o louvor eramelhor e a palavra do pastor edificava, mas agora, o pastor só fala de

dinheiro e coisas sem sentido. Desculpa Lucas, estou um poucoatrasada, depois conversamos.

Lucas observa a saída da garota e fica um pouco confuso. Umadas coisas que sempre atraia as pessoas para a igreja de Santo Ângeloera a palavra do pastor e segundo o relato da jovem os sermões tinhammudado. Lucas sente uma desmotivação para ir à igreja, mesmo assimcontinua.

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É fim de tarde os raios de sol contornam as serras que rodeiam

Santo Ângelo. O tom alaranjado dava um colorido especial nos céusda cidade. Lucas continua andando e contemplando aquela imagemextraordinária. Ao se aproximar da igreja ele percebe que sobre otemplo se formava uma nuvem muito escura, parecia fumaças de

 pneus que vinham de lugares diferentes e se agrupavam sobre otemplo. Gradativamente a nuvem girava e crescia de formaassustadora, Lucas paralisado com a imagem acompanha ocrescimento da nuvem. Mesmo achando muito estranho aquele

fenômeno da natureza ele decide correr para dentro do templotemendo uma chuva repentina.Ainda assustado ele sobe as escadas e entra na igreja. O

 jovem para e olha o interior do templo. Tinha um homem próximo a porta que provavelmente era o recepcionista da igreja e Lucas vai emsua direção.

 —  Meu amigo, haverá culto hoje? —  pergunta Lucas. —   Sim, começou há muito tempo, já estamos no sermão  —  

responde o homem com um sorriso no rosto.Lucas volta a olhar para dentro do templo e nota que ele era

enorme com a ausência dos fiéis. A igreja estava silenciosa e com poucas pessoas, ele entra, senta nas últimas cadeiras da igreja e escutao sermão do pastor. Depois de alguns minutos o pastor encerra osermão alegando que iria ter uma reunião com a liderança da igreja.Rapidamente ele ora e encerra o culto mais rápido que Lucas tinha

 participado. Os poucos fiéis que estavam no templo saem, mas Lucas permanece sentado.

De longe ele vê os líderes e o Pastor se dirigindo a secretariada igreja. Lucas levanta e entre as colunas do templo anda lentamenteem direção a secretaria. Ele chega a certo lugar próximo à secretaria ese acomoda. Quando o jovem estava despercebido tentando escutaralguma coisa pela parede da secretaria uma mão segura seu braço,rapidamente Lucas reage e tenta se desvencilhar, com o coraçãodisparado e mãos trêmulas se vira e vê um homem.

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 —  O que está fazendo aqui rapaz?  —  pergunta um funcionário

da igreja. —  Nada...Estou esperando o pastor César...  —  fala Lucas ainda

assustado. —  Por que não espera lá fora? —  continua o homem. —   Achei que aqui eu teria maior chance de encontrá-lo  —  

responde Lucas. No meio do interrogatório a porta da secretaria se abre e sai o

 pastor César.

 —  O que está acontecendo aqui fora? —  pergunta o Pastor. —  Esse jovem estava aqui, acho que espionava a reunião, porémme alegou que estava lhe esperando pastor —  fala o homem sorrindo.

Os dois dão altas gargalhadas deixando Lucas envergonhado. —  Tudo bem, eu já conheço a peça, pode deixar que depois eu

falo com ele —  fala o pastor fechando a porta em seguida.Sem como se defender Lucas fica olhando para porta enquanto o

funcionário da igreja sai o deixando só. Passa alguns minutos e Lucasdecide ir embora. É tarde e ele não sabe que horas irá terminar areunião. Quando Lucas decide ir embora a porta abre outra vez.

 —  Lucas?! —  alguém o chama.Logo Lucas se vira e vê um jovem de paletó em frente à porta da

secretaria. Lucas se aproxima e percebe que o jovem era o seu amigoJoão.

 —  João o que você está fazendo aqui na reunião de liderança?  —   pergunta Lucas.

 —   Eu fui convidado pelo pastor César para fazer parte da

liderança da igreja, agora entra, o pastor está te chamando —  fala Joãoum pouco apressado.

Um pouco sem graça e transparecendo a sua timidez, Lucas entrana sala onde haviam mais três participantes e o pastor. João fecha a

 porta e todos se acomodam. —  Por que me chamou pastor? —  pergunta o desconfiado Lucas.

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 —  Não queria que você ficasse lá fora me esperando, pode ficar

aí escutando a reunião, só escutando —  fala o Pastor.Lucas senta em uma cadeira que não fazia parte da mesa e queestava mais recuada, dando demonstração que estava ali, apenas, paraesperar o pastor. A reunião recomeça e Lucas percebe que o pastorestava tentando convencer os outros participantes da mesa de algumacoisa. Porém ele tenta vagar nos pensamentos e deixar de lado areunião, mas algumas palavras do pastor chamam a atenção do garoto.

 —  Vocês tem que entender que as coisas mudam, e nós temos

que mudar também...É por isso que estou trazendo novas mensagens...Aprendi muito nesse último congresso que fui em Anápolis  —  fala o pastor César.

 —   Mas pastor, desculpe, mas ultimamente as pregações estãosempre relacionadas a dinheiro e prosperidade material, acho que essalinha de pregação foge do perfil da igreja!  —   reclama um dos

 participantes da reunião. —  Meus irmãos, isso se chama tradicionalismo, essas pregações

antigas não fazem mais efeito temos que falar o que o povo gosta...Prosperidade! —  responde o pastor em tom alto e convincente.

Após as palavras do pastor todos silenciam, mesmo nãoconvencidos. O pastor fecha uma caderneta, enquanto todos da mesa,de cabeças baixas tentam ingerir as palavras do pastor.

 —   Meus amigos, desculpe a intromissão  —   fala Lucasquebrando o silêncio  — , mas foi essa palavra tradicional eultrapassada que mudou a minha vida, foi a palavra da cruz que metransformou e hoje eu tenho a certeza da salvação.

Todos da mesa olham para Lucas e ficam atentos as suas palavras.

 —  Pastor enquanto o senhor fala sobre bens materiais no púlpitoda igreja, há muitas pessoas perecendo no pecado em Santo Ângelo...E todos nós sabemos o que pode salvar essa geração... E não é essa

 pregação moderna! —  fala Lucas.

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Após as palavras do garoto todos voltam a olhar para o pastor,

aguardando uma réplica. César levanta de sua mesa, coloca as mãos para trás e dá alguns passos em direção a Lucas. O Jovem notando aaproximação do pastor fica um pouco tenso e tenta manter a postura.

 —   Meu jovem, quanto tempo você tem de evangelho?  —   pergunta o pastor tentando demonstrar serenidade.

 —  Não muito, acho que seis meses —  responde Lucas. —  Seis meses... —  fala o pastor repetindo a afirmativa enquanto

vira-se para a mesa.  —   Eu tenho seis anos só de pastorado, curso

teológico, viagens missionárias e experiência suficiente para saber quevocê é um menino na fé. —  Sou um menino e não tenho tanta experiência no evangelho,

mas consigo enxergar que a igreja de Santo Ângelo perdeu a suaidentidade e tem um pastor céptico que não consegue enxergar os

 planos diabólicos para destruir o seu ministério! —  responde Lucas. —  Como se atreve falar assim comigo?!  —  reage o Pastor César

um pouco irritado. —   O senhor pode ficar aborrecido comigo, mas um dia vai

entender tudo o que estou falando... O Senhor está sendo manipulado por uma entidade diabólica que quer destruir essa igreja e tomar possedesse lugar. O Senhor é o único que pode destruir esse demônio!  —  fala Lucas levantando o tom de voz.

 —  Pra mim já basta, eu não vou transformar essa reunião em umdebate místico e sem sentido, pode sair da sala!  —   fala o Césarenquanto abre a porta para Lucas.

Todos levantam da mesa e ficam pasmos com a discussão, Lucas

sai lentamente da sala e antes de sair da secretaria ele olha para o pastor.

 —  Meu querido pastor, eu estarei orando para que o senhor abraos olhos espirituais e enxergue apenas um pouco da situação em que aigreja e a cidade se encontram.

O jovem se retira e vai embora, deixando a reunião sem clima.

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 No fim da reunião que não mudou a opinião do pastor, João se

dirige a César. —   Pastor, lamento pelo que aconteceu na reunião, eu conheço

Lucas a bastante tempo...É um cara legal, mas algumas vezes ele temessas ideias malucas —  fala João.

 —  Não é a primeira vez que ele me fala bobagem, acho que elenão está bem e precisa de um acompanhamento médico  —   fala oPastor César.

Os dois caminham pelo pátio da igreja.

 —   Realmente César, uma vez ele me falou que a mãe dele olevou para um psiquiatra para um tratamento psicológico e ele não deucontinuidade —  fala Lucas.

 —  Eu sabia que não era normal, uma pessoa saudável não temuma imaginação tão fértil, ele está precisando de ajuda e estoudisposto a ajudá-lo —  conclui o Pastor.

A conversa é interrompida com um repentino trovãoacompanhado de uma forte chuva.

 —  Que estranho, a previsão do tempo não era pra chuva, muitomenos com essa intensidade —  fala João enquanto tentam se esconderda chuva.

Depois de algum tempo João vai embora enquanto o pastorfica na igreja esperando a chuva passar. Depois de quase uma hora o

 pastor decide ir embora mesmo com a tempestade. Ele veste umsobretudo preto, pega a sua pasta e desce as escadarias da igreja emdireção ao seu carro. Ao sentir os pingos fortes de chuva o pastorcorre em direção ao automóvel. Chegando ao carro ele abre a porta,

entra e coloca a pasta no banco traseiro. Ao tentar ligar o automóvelele escuta e vê alguém na frente do seu carro.

 —  Pastor, Pastor eu preciso falar com o senhor!  —  fala Lucas nafrente do carro.

O pastor fica assustado com o aparecimento repentino do jovem.César baixa o vidro e convida Lucas para entrar no veículo, Lucas

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abre a porta e mesmo bastante molhado entra.

 —  O que você faz nesta chuva? —  pergunta César ainda assustado. —   Esperando o Senhor... Preciso te contar algo  —   fala Lucas

olhando fixamente nos olhos do pastor.César desliga o motor do carro e vira-se para Lucas.

 —  O que foi garoto? O que está acontecendo com você?  —  fala o pastor.

 —   O senhor está sendo alvo de uma conspiração, não sãohumanos, mas espíritos, entidades diabólicas...

 —   Mas por que eu seria alvo desses espíritos?  —   pergunta oPastor. —  Porque o senhor é o anjo dessa igreja, o canal principal de

Deus, eliminando o senhor a igreja perde toda a força...Todos os pastores são diretamente ou indiretamente contra-atacados, mas osenhor sofrerá um ataque ainda maior porque essa igreja é umaameaça ao principado deste local. Pastor vigie mais porque eles nãoestão brincando...

 —   Tudo bem Lucas eu já entendi o seu recado, agora eu vouembora —  fala o Pastor.

Lucas sai do carro tentando se proteger da chuva e vaiesperar o ônibus enquanto o pastor sai em alta velocidade.Lucas pega o ônibus a caminho de sua casa, no ponto certo ele desse.

Um temporal assola o bairro. Ele corre e fica debaixo dacobertura do ponto do ônibus, mas não adianta, o vento forte e ogrande fluxo de água o molha por completo. A rua está totalmenteescura, o temporal tinha atingido a energia do bairro. Lucas percebe

que está solitário na rua escura. Após perceber que a chuva não iria parar ele decide ir para casa mesmo debaixo do temporal.

Ele coloca a bíblia por baixo do agasalho, cruza os braços para protegê-la da chuva e sai caminhando pela calçada. Depois dealguns metros ele escuta uma voz feminina e suave o chamando,Lucas para, olha pra os lados e para trás e não vê ninguém. Intrigado e

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inseguro ele volta a caminhar. Mais dois passos e ele sente alguém

tocando nos seus ombros. Assombrado ele tropeça e cai. —   Meu Deus o que é isso?  —   fala Lucas ao ver uma pessoa

coberta com uma capa escura.Logo a pessoa tira a cobertura que protege a face e Lucas percebe

uma bela mulher em sua frente. Com o olhar fixo na mulher Lucas seapoia no chão e levanta.

 —  Quem é você? —  pergunta Lucas bastante nervoso. —  Lucas, o que você faz nesse temporal? Eu tenho um guarda-

chuva e vou te levar em sua casa  —   fala a mulher sem responder a pergunta.Mesmo com um ponto de interrogação em sua cabeça Lucas

aceita a ajuda da mulher, pega o guarda-chuva e abre. A mulher seaproxima de jovem e ambos caminham debaixo do guarda-chuva.Lucas sente uma sensação estranha e não consegue falar uma palavradurante o percurso até a sua casa. Os dois caminham juntos até as

 proximidades da residência de Lucas. —  Aqui já está bom... —  fala Lucas.

 —  Eu, sei disso —  responde a estranha mulher. —   Você me conhece de onde?  —   questiona Lucas um pouco

encabulado.A mulher tira a cobertura por completo e Lucas percebe que a

 pele pálida e os olhos sem brilhos davam uma conotação mórbida alinda mulher.

 —   Nós te conhecemos, também sabemos o que é melhor pravocê. Para o seu bem deixe-nos trabalhar e nós o deixaremos viver —  

fala a mulher.Surpreso com a resposta da mulher Lucas anda passos para

trás e vê-la sumir como fumaça. Espantado e confuso ele entracorrendo em sua casa. Todo molhado Lucas entra na sala esgazeado, amãe do rapaz fica assustada e logo fecha a porta que ficou aberta coma entrada do filho. Lucas senta no sofá e tenta controlar a respiração

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enquanto a sua mãe faz uma sequência de questionamentos. Lucas

tenta explicar o que havia ocorrido, mas a sua mãe não acredita. —  Meu filho, só me responda uma coisa com sinceridade, você

está usando drogas?  —   pergunta Olindina enquanto olha fixamentenos olhos do filho.

 —  Não, eu nunca usei e não seria agora que eu iria usar... mãe porque a senhora nunca acredita em mim? —  fala Lucas.

Diante da situação e a resposta do filho ela sai da sala chorando evai para o quarto. Lucas um pouco confuso bate na porta do quarto

tentando falar com Olindina, mas ela não abre. O jovem compreendiaa incredulidade da mãe diante de sua história, mas não entendia ochoro da mãe após a sua resposta.

No outro dia Lucas sai de casa cedo e vai caminhar. Elecaminhava como terapia ocupacional, enquanto caminhava ele faziauma avaliação de sua vida. Na metade do caminho Lucas percebe queestá sendo seguido por dois meliantes. Um era negro, magro, alto etinha uma jaqueta preta; o outro era mais baixo e estava com ummoletom colorido e um boné que cobria parte do seu rosto. Lucas

 percebendo a aproximação anda mais rápido, porém é alcançado pelosrapazes.

 —  Para aí e vai passando a carteira —  fala um dos jovens.Lucas para e vira lentamente, os rapazes aparentavam uma leve

embriagues. O rapaz mais baixo tira uma faca da cintura e aponta paraLucas, porém ele não esboça nenhuma reação. Os jovens ficam aindamais furiosos ao perceber que Lucas estava tranquilo diante dasameaças.

 —  Vamos, você está esperando o que para passar a carteira? Nãoestou brincando! —  questiona o que estava com a faca.

Lentamente Lucas tira a carteira e antes de dar aos assaltantes ele pega um folheto e entrega aos rapazes. Eles olham para o papel eficam furiosos ao perceber que era um folheto religioso.

 —  Pra mim já chega, vou te matar! —  fala o mais alto.

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Lucas dá um passo para trás e levanta as duas mãos em direção

aos rapazes, eles param. —  Espíritos que dominam essas vidas eu os repreendo agora em

nome de Jesus —  fala Lucas. Nesse instante os dois assaltantes são arremessados no chão por

uma força invisível, ambos estão atordoados com o impacto. Aindaem pé Lucas estende as mãos e ajuda os jovens a levantarem. Ao

 perceber que ambos estavam recuperados Lucas aproveita o momento para falar de Cristo e os dois se convertem chorando.

 —  Preciso de uma ajuda de vocês —  fala Lucas. —  O que você precisar faremos! —  fala um dos jovens. —  Eu preciso conhecer o cara que fornece as drogas no bairro,

eu quero falar com o chefe do tráfico —  fala Lucas.Os dois rapazes se olham apreensivos. —  O que você quer com ele? —  o questionam.

 —  Eu quero apresentar a ele o Deus que pode mudar a vida dequalquer ser humano.

 —  Mano desculpa, mas eu não posso fazer isso, o cara é muitoviolento... Se ele não for com a sua cara você morre!  —  fala o jovemmais baixo.

Lucas insiste até que ambos são convencidos a levá-lo na casa dotraficante.

Eles andam algumas quadras e chegam a uma rua onde há doishomens na esquina. Os jovens param ao reconhecer que eram osseguranças do chefe do tráfico. Eles pensam em voltar, mas Lucas fazquestão de seguir. Convencidos que não era uma boa ideia ir até a casa

do traficante eles desistem de levar Lucas, mas apontam a casa. Ao seaproximar da casa os homens, que eram seguranças do traficante,abordam o jovem.

 —  Onde pensa que vai rapaz? —  falam os seguranças.Ambos tinham um agasalho preto de couro, óculos escuros e

fizeram questão de mostrar a coronha das armas que tinham nacintura. Ao perceber que os homens estavam armados Lucas para.

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 —  Meus amigos, eu quero falar com Malone...

 —   Para negociar algum produto você deve procurar osrevendedores...você tá maluco falar com Malone assim?  —   fala umdos caras gesticulando bastante.

 —  Eu não vim comprar nada... —  fala Lucas. —  Então desaparece! —  o expulsam

Lucas recua e sai. Quando já estava voltando de sua tentativafrustrada escuta uma pessoa o chamando. Ele olha para a casa e

 percebe a presença de outro homem ao lado dos seguranças. O homem

chama Lucas mais uma vez e ele volta. O rapaz é careca e a camisetaregata que veste facilita a visão de tatuagens enormes em seus braços.Ele mantém um olhar minucioso sobre Lucas deixando o jovemdesconsertado.

 —  Malone, eu vim bater um papo contigo...posso? —  fala Lucas. —  Claro, entra aí.

Malone abre um portão e entra na casa, Lucas o acompanhasendo perseguido pelos olhares ameaçadores dos dois seguranças. Elesentram na casa de Malone. O jovem senta no sofá enquanto otraficante pega uma garrafa de uísque. A casa é enorme e bonita, nas

 paredes há uns quadros enormes e móveis modernos. Malone senta emsilêncio, coloca a garrafa no chão e acende um cigarro. Lucas se senteincomodado com o silêncio e pensa em uma forma de quebrar o gelo,mas a sua mente está travada. O homem oferece um copo de uísque,mas Lucas rejeita.

 —  Você sabe por que permiti a sua entrada em minha casa?  —   pergunta Malone.

 —  Não! —  responde Lucas enquanto entrelaça as mãos. —  Ontem eu tive um sonho muito esquisito, era como se minha

casa estivesse em chamas e eu estava próximo da morte... Quandoestava no auge do meu desespero alguém surgiu em meio as chamas eme cobriu com um manto branco que estava molhado de sangue.Aquele manto me cobriu por inteiro e o cara me conduziu em

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segurança entre as chamas para fora da casa... Esse cara que me

salvou no sonho era você.Lucas fica surpreso com o relato de Malone e logo se sentemais aliviado, de alguma forma o homem não parecia tão ameaçadorcomo imaginava.

 —  Por que me procurou? —  pergunta Malone. —  Malone nada é por acaso, acredito que tudo que acontece é a

vontade ou permissão de Deus... Se estou aqui é porque Deus quer tesalvar —  fala Lucas.

Malone fixa os olhos no jovem e depois dá um breve sorriso,Lucas fica preocupado com a reação do traficante, mas continua. —   Quando nascemos a nossa alma é como uma massa de

modelar, sem forma. O tempo vai passando e nossas experiências eensinamentos vão nos moldando e hoje somos resultado de uma vidainteira. A maldade que o homem pratica hoje é fruto de experiências

 plantadas no passado... Malone, independente do que escreveram edecretaram em sua alma, saiba, Deus tem a capacidade de apagar tudoe te refazer.

Malone levanta, anda alguns passos e traga o seu cigarro. —  Meu caro, você sabe que tenho um comércio ilegal, já matei e

mandei matar... Meu trabalho é esse, isso é minha vida e meu destino —  fala Malone.

 —  Foi um dos destinos que a vida te ofereceu, mas você teve o poder de escolha. As experiências e frustrações do passado te levarama pensar que este seria o melhor caminho, mas Deus quer mudar osseus pensamentos, escrever e decretar uma nova história em sua vida.

Malone coloca o cigarro no cinzeiro, toma um gole de uísque erapidamente volta a atenção para Lucas.

 —   Valeu por ter te conhecido e pelas palavras, mas eu tenhotrabalhos a fazer. Tenho um comercio lucrativo e que cresce a cadadia —  fala o traficante em tom de despedida.

Lucas percebe a intenção de Malone e se despede. Lucas volta para a sua residência com a sensação de dever cumprido. Ele tinha

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semeado palavras de libertação no coração do maior traficante de

Santo Ângelo. Agora é só esperar que a semente germine. Depois desair da casa do traficante ele percebe o perigo que correu e olivramento que teve. No caminho de volta para casa o jovem se sentemais forte e a felicidade bombardeia o seu peito.

Ao se aproximar de sua casa ele vê o carro do pastor estacionadona frente de sua residência. Seu coração palpita, pontos deinterrogação surgem em sua mente. Lucas abre o portão e quandoestava subindo o batente de sua casa a porta abre. Ele levanta o rosto e

lá estava o pastor César. Lucas respira fundo e percebe um olhardesconfiado do pastor. Logo surge a sua mãe com um semblante tristee olhos avermelhados.

 —  Mãe, estava chorando? O que aconteceu?  —  questiona Lucasum pouco confuso.

Olindina enxuga as lágrimas tentando disfarçar enquanto o pastor passa por Lucas em silêncio.

 —  Pastor, o que está acontecendo? —  questiona Lucas. —   Nada jovem, nós só queremos o seu bem, apenas isso!  —  

responde o pastor César.César entra no seu automóvel e vai embora.Lucas entra em sua casa e fecha a porta. O jovem contempla a sua

mãe sentada no sofá com o olhar fixo no nada. Lucas se aproxima,senta ao lado da mãe e a abraça. Ao sentir o abraço do filho a mulhervolta a chorar profundamente deixando Lucas ainda mais apreensivo.

 —   Meu Deus... O que está acontecendo mãe? Por que estáchorando desse jeito?  —   Lucas pergunta bastante confuso com o

estado emocional da mãe.Apesar da preocupação do filho, Olindina não fala nada e

continua chorando. Lucas um pouco impaciente, levanta e pega umcopo com água para ela.

 —  Mãe, por que César estava aqui?  —  mais uma vez questionaLucas enquanto passa o copo de água para a mãe.

Olindina bebe a água, controla o seu choro e respira fundo.

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 —  Meu filho, estamos preocupados com a sua saúde e queremos

retornar o seu tratamento... —   Mãe, a senhora acha que realmente eu estou louco? Eu sou

saudável! —  fala Lucas bastante nervoso.Olindina segura o copo com força, levanta e se dirige a cozinha e

Lucas a acompanha. —  Então o pastor veio aqui para falar sobre isso com a senhora?

 —  questiona o jovem. —  Sim, ele notou que você estava precisando de ajuda e ofereceu

uma clínica para o seu tratamento.Lucas se afasta da mãe e correndo entra no quarto. O jovem deitana cama e chora amargamente. Olindina pensa em bater na porta paraconsolar o filho, mas desiste.

 No outro dia, logo cedo Lucas é acordado por fortes batidas na porta do seu quarto. Ele acorda assustado e com a visão um poucoembaçada caminha até a porta. Ao abrir ele vê a sua mãe e percebeque havia a presença de outra pessoa na sala.

 —   Meu filho, troque de roupa logo, nós vamos na clínica,esqueci de falar pra você ontem  —   fala Olindina. Lucas volta paraquarto e mesmo sem a mínima vontade ele troca de roupa.

 Na sala estão o pastor e a senhora Olindina. Eles conversavam baixinho para que Lucas não escutasse. César olha para o relógiovárias vezes, demonstrando certa impaciência por esperar o jovem.Lucas sai do quarto e de cabeça baixa passa pelo pastor sem ocumprimentar e vai para fora da casa. Todos deixam a residência,entram no carro e seguem viagem em direção à clínica psiquiátrica.

 Na clínica ambos se dirigem a recepção, o pastor se afasta deLucas e de Olindina e conversa com uma recepcionista. Depoisretorna e ambos sentam no sofá da recepção aguardando o chamado.Depois de alguns minutos surge um senhor de roupa branca narecepção, o pastor César levanta e vai o cumprimentar. Os doisconversam e de longe o médico olha para Lucas, depois abraça o

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 pastor e entra em uma sala. César volta para onde estavam sentados o

 jovem e sua mãe. —  Lucas, o doutor André o aguarda, pode entrar na sala —  fala o

 pastor.Lucas abraça a sua mãe, respira fundo e segue em direção a sala.

Antes de entrar na sala ele bate na porta e entra. —  Bom dia —  saúda Lucas. —  Bom dia —  responde o médicoLucas senta enquanto o médico verifica alguns papéis. O jovem

cruza os braços e fica observando o médico. Depois de algunssegundos o médico guarda toda a papelada dentro da gaveta, nestemomento Lucas sente a porta da sala abrir, automaticamente olha paratrás e vê uma linda mulher entrar na sala. Após a entrada da mulherele volta a atenção para o médico e se recompõe.

 —  Lucas, tudo bem? —  pergunta o doutor. —   Tudo bem...  —   fala Lucas enquanto olha a mulher que se

 posiciona ao lado do médico.O doutor André observa o jovem com um olhar clínico e frio,

Lucas tenta se concentrar no médico, mas a mulher ao lado do doutortirava a sua atenção.

 —  É sua assistente? —  pergunta Lucas.O médico olha para o lado e volta o olhar para o jovem —  O que você está vendo? —  pergunta o doutor. —   Estou vendo que a sua assistente é muito simpática  —  

responde Lucas um pouco sorridente.O doutor André baixa a cabeça e anota alguma coisa em sua

caderneta enquanto a mulher que estava ao lado do médico sorri emagradecimento ao elogio. Logo depois o médico levanta e pede paraque Lucas o espere na sala enquanto ele sai. Lucas fica sentadoenquanto a mulher fica em pé em sua frente.

 —   Você não quer sentar?  —   pergunta Lucas um pouco semgraça.

A mulher começa a rir constrangendo ainda mais o jovem.

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 —   Bom, não há um exame que diagnostique precisamente o

 problema do seu filho. O diagnóstico é feito pelo conjunto desintomas que o paciente apresenta e a história que vocês me passaram... Pelo pouco que observei do paciente, notei um distúrbiosemelhante a esquizofrenia e como ele está sem capacidade de conterseus impulsos e sem controle de conduta, teremos que interná-lo paraque ele fique em um período de observação. Após esse períodoteremos um diagnóstico mais completo —  fala o médico.

 —   Mas ele vai melhorar doutor?  —   preocupada pergunta

Olindina.O médico muda o semblante e volta a olhar para os papéis queestavam em sua mão. A mãe de Lucas entende, pela reação domédico, que o caso não seria tão fácil assim. O Pastor César agradecea atenção do médico e se despedem.

Lucas está solitário. Deitado em uma sala branca, aos poucos o jovem vai despertando. Sonolento ele lentamente abre osolhos e percebe a sua visão embaçada. Lucas volta a fechar os olhos,mas quando tenta se mover sente seu corpo pressionado e preso.Tenta levantar, mas não consegue, está totalmente enclausurado emuma camisa de força. Após várias tentativa frustradas ele percebe quenão há condições de se livrar das amarras e se entrega. Sem forças odesespero toma conta do jovem. O choro silencioso toma conta de suaalma que se rende aquela terrível situação. Sentindo-se impotente eletenta relembrar o que aconteceu antes de ser dopado e lentamente aslembranças vão se revelando. Ele olha para os lados e não vê nada eninguém. No ambiente há apenas a sua cama e uma cadeira. Não há

 janelas, apenas no centro da porta um vidro, onde serve deobservatório para os médicos e enfermeiros. Lucas grita por ajuda,mas ninguém responde. Ele continua a gritar, mas a sua voz ecoandono corredor é a única coisa que interage com ele. Ele não sabe seainda é dia ou noite, não há relógio na parede. Talvez o tempo

 passasse lá fora, mas naquela sala o tempo tinha parado. Solidão é umsentimento muito abstrato, até aquele momento, mas depois de

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algumas horas preso naquele local ele percebe que esse sentimento era

frio, duro e tinha endereço.Ao buscar explicação para tudo que havia ocorrido osentimento de raiva e desprezo ao pastor Cesar tomou conta do jovem.Ele percebe que tudo foi um plano do pastor para que ele não oincomodasse. Depois de viajar nos pensamentos conflituosos o jovemdorme.

Dia de culto em Santo Ângelo. O pastor César chega em frente

à igreja e estaciona o carro, pega a sua pasta e desce do automóvel. Naquele momento ele percebe a aproximação de um dos líderes de suaigreja. O homem está apavorado e corre em direção ao pastor.

 —  Pastor, não entre agora na igreja...Não vai ser uma boa ideia! —  fala o homem um pouco assustado.

 —  O que aconteceu, por que você está tão eufórico? —  questionao Pastor.

 —  Tem uns caras no pátio da igreja esperando pelo senhor, é oMalone e seus comparsas.

 —  Quem é Malone? —  questiona o Pastor. —  É o maior traficante da cidade... Eles também procuram por

Lucas...César fecha a porta do carro e pensa um pouco. A dúvida e

insegurança toma conta do pastor, mas ele decide encontrar com ogrupo de traficantes. Ele deixa a pasta com o rapaz e sobe as escadasda igreja. Ao subir a escadaria do templo ele percebe a presença deuns oito rapazes. César para em frente do grupo.

 —  Boa tarde, vocês querem falar comigo? —  pergunta o Pastor.Os rapazes, que estavam um pouco dispersos, voltam as atenções

 para César. Um deles se destaca do grupo e se apresenta ao pastor. —  Boa tarde Pastor, meu nome é Malone. Estamos a procura de

um jovem chamado Lucas, mas me falaram que ele foi internado  —  fala Malone após apertar a mão do Pastor.

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 —  Mas... O que vocês querem com Lucas? O que ele aprontou?

 —  pergunta o pastor ainda inseguro. —  Não, nada de mau, ele apenas falou de Jesus pra mim há um

tempo e depois disso eu não consigo parar de pensar no que ele falou.Esses dois aqui já se converteram através das palavras de Lucas.

O pastor respira fundo aliviado. De alguma forma a presençados jovens era curiosa, mas pacífica. César os convida para entrar e

 participar do culto e todos aceitam o convite. Os rapazes sentam nas primeiras cadeiras, em frente ao altar e acompanham as apresentações

musicais e a mensagem do pastor. No término do culto Malone deixaos seus comparsas o esperando e vai ao encontro do pastor Cesar. —  Pastor, eu quero só um momento de sua atenção. —  Pode falar Malone? —  responde o pastor. —  Pastor, eu preciso falar com Lucas. Nunca ouvi alguém falar

de Deus de forma tão simples e extraordinária... Onde está internado?Como faço para falar com ele? —  fala Malone.

César muda o semblante e fica sem graça. —  Meu amigo, estou disposto a te ajudar, mas acho que não vai

dar para você falar com Lucas... —  O que aconteceu? Ele morreu? —  pergunta Malone. —  Não, é que ele foi internado em uma clínica psiquiátrica  —  

fala o pastor Cesar. —  Não, isso não pode ter acontecido, Lucas não é louco... Ele é

um cara muito inteligente e de uma espiritualidade notável  —   falaMalone um pouco confuso.

 —  Eu não posso fazer muita coisa —  fala o Pastor.

Depois disso ele se despede de Malone e vai embora. Maloneainda confuso se encontra com os amigos e saem da igreja. Ainda semacreditar no que o pastor tinha falado Malone decide ir à casa deLucas. Um dos amigos de Malone sabia onde o jovem morava e

 passou as coordenadas para o traficante.A mãe de Lucas está em casa pensativa. Já tinha passado uma

semana que Lucas tinha sido internado. Durante esse tempo ela

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 percebeu que a presença do jovem era primordial para manter a

alegria na casa. Depressiva e solitária ela se alimenta mal. Apósalgumas tentativas frustradas de tentar comer alguma coisa ela decidedormir. No caminho do quarto ela escuta alguém chamando na frenteda casa, logo ela desiste de entrar no quarto e vai até a sala. Olindinaolha pela janela da sala e vê um homem forte em frente ao portão. Elatenta reconhecer o homem que batia palmas, mas devido à poucaluminosidade ela não reconhece. A mulher abre a porta e vai conferirquem era.

 —  Boa noite! —  saúda Olindina. —  Boa noite, meu nome é Malone... você é a mãe do Lucas?  —  fala o jovem.

Olindina fica um pouco assustada ao ver que o jovem era todotatuado.

 —  Sou a mãe de Lucas, por quê? —  fala Olindina sem disfarçaro seu receio.

 —   Tudo bem, fiquei sabendo que ele está internado e estou bastante frustrado por saber que ele foi para uma clínica psiquiátrica —  fala o rapaz.

 —  Isso tudo é verdade, mas como você o conheceu? —  perguntaa mulher.

 —  Ele foi à minha casa enviado por Deus e me falou coisas queeu não consegui tirar da cabeça. Ele é muito sábio. Não consigoacreditar que ele tem problemas mentais e gostaria de falar com ele —  fala Malone.

 —  Meu jovem, eu também achava que ele era normal, levei ele

no médico apenas para uma avaliação, mas ele teve um surto dentroda sala do psiquiatra e o internaram... Espero que ele receba alta em

 breve, mas ele está na clínica São Judas, fica no Centro de SantoÂngelo —  fala Olindina um pouco emocionada.

Malone agradece as informações e vai embora enquanto a mulherfica em frente ao portão pensando nas palavras do jovem. Olindinadesconfia que Lucas não mereça um final tão radical e triste como o

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internamento, mesmo achando que algumas atitudes do filho eram

insanas e sem sentido.Lucas estava deitado na cama quando é surpreendido pelo barulho da fechadura da porta. Alguém abre a porta e Lucas se enchede esperança. Um enfermeiro entra com uma bandeja de alumínioenquanto outro fica em pé o esperando. Ele coloca a bandeja nacadeira e vira-se para o jovem, logo segura o tronco de Lucas e o virade bruços. Com a ajuda de outro enfermeiro eles tiram a camisa deforça de Lucas. A retirada daquele colete fez Lucas respirar aliviado.

Em silêncio eles oferecem a bandeja com torradas e leite, Lucas nãotem dúvidas e segura a bandeja. —  Que dia é hoje? —  pergunta Lucas. —  Quinta-feira, quinze de Março  —   reponde friamente um dos

enfermeiros.Lucas sentado na cama e com a bandeja nas mãos fica surpreso.

Completou uma semana que ele estava ali. Ele sabia que não temnenhum problema mental, mas tinha convicção que mais um mêsnaquele ambiente, sendo tratado como um animal na jaula ele iriaenlouquecer. Lucas pensava em agir o mais normal possível para quetodos vissem que havia ocorrido um equívoco em sua internação.Rapidamente ele come as torradas e bebe o leite, devolve a bandejaaos enfermeiros e agradece, os homens pegam a bandeja e saem.

A retirada da camisa de força era um sinal de uma evolução notratamento, porém o médico só tinha feito uma visita na sala duranteuma semana e apenas poucas perguntas. A angústia volta a tomarconta do jovem que era mantido longe de tudo e de todos.

O Pastor chega em casa se sentindo cansado, ultimamente afadiga tinha tomado posse do seu corpo. Ele sai do carro, pega a sua

 pasta e entra na casa. O silêncio toma conta do seu lar, logo eleimagina que Adriana estava no quarto e vai até lá, não há ninguém.Ele vai ao banheiro e o encontra vazio. Ao retornar para a sala ele vêuma carta sobre a estante, rapidamente ele pega a carta e lê.

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“ Cesar, estou indo embora de Santo Ângelo, não suportei tamanha solidão

e desprezo vindo de sua pessoa. Antes de virmos morar nesta cidade nossa vidaera linda, vivemos muita coisa boa, mas faz dois anos que não temos uma vidanormal. Todo o tempo é dedicado à sua igreja e aos seus membros. Agora você pode ficar bem à vontade para cuidar de suas ovelhas, depois eu volto paraacertarmos o divórcio.”  

Ao ler esse trecho da carta César senta sem forças no sofá echora amargamente. Uma mistura de culpa e solidão toma conta doseu peito. Depois de alguns minutos ele levanta e vai ao quarto, abre oguarda roupa e certifica-se da ausência das roupas de Adriana. Eletenta ligar para a sua esposa, mas o celular está desligado. Agora agrande casa onde morava parecia sufocá-lo. César desiste de comeralguma coisa e vai direto para a cama, o pastor tenta orar, mas nãosaem palavras, apenas gemidos que expressam a angústia e a dor. A fécomeça a ser substituída por pensamentos de dúvidas e desilusões.Diante desse quadro tenebroso o pastor adormece.

 No outro dia o pastor acorda com os raios do sol que vinhamdas brechas da janela, logo ele olha para o relógio que fica na parede

do quarto e se assusta com a hora. São dez horas e ele está atrasado.Ao levantar, as lembranças do dia anterior se apresentam o fazendodeitar novamente. Na cama, a saudade era como uma lança cravada no

 peito extraindo a vontade de viver. Mesmo desmotivado ele levanta evai ao banheiro, lava o rosto e tenta orar. Já nas primeiras palavras aangústia explode no peito e ele chora.

 Na clínica, Lucas evita orar, para que alguém não o vissefalando só e interpretasse como um sintoma de doença mental. Lucas

anda de um lado para outro e tenta pensar. O pensamento é a únicaforma de tirá-lo daquele local, pelo menos por alguns instantes.Cansado de não fazer nada ele deita na cama e dorme.

Depois de adormecer Lucas se vê em um jardim enormeformado de lírios e rosas, o vento suave que paira no local conduz o

 perfume da vegetação. Lucas olha para o jardim e fica admirado coma beleza e paz que o ambiente proporcionava. Logo ele vê alguém

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vestido de um manto branco vindo em sua direção, o homem era alto,

tinha o semblante sério e os seus olhos eram tão azuis queincomodavam. —  Paz Lucas, você está bem? —  fala o homem. —  Jofiel, é você?! —  fala Lucas surpreso.Era a primeira vez que Lucas via o rosto do anjo com nitidez. —   Sim, sou eu, resolvi aparecer apenas em sonho para não

 prejudicar o andamento da estratégia. —   Estratégia?! Quer dizer que ficar preso em uma clínica de

louco faz parte da estratégia?! —  fala Lucas chateado. —   Tem coisas que o homem não pode saber, mas o que fornecessário você saberá no tempo certo  —   fala o anjo sem aparentaremoções.

Após falar isso o anjo anda pelo jardim e Lucas o acompanha.Várias dúvidas pairam na mente de Lucas.

 —   Jofiel, o que devo fazer? Estou me sentindo uma marionete.As coisas vão acontecendo e eu vou sendo levado para o fundo do

 poço... Estou me sentindo impotente... —  Apenas não perca a fé, a sua missão é fazer com que o pastor

veja o reino espiritual, quando estiver se sentindo no fundo do poço,lembre-se disso.

Quando Lucas se prepara para fazer outra pergunta o anjodesaparece. Lucas fica olhando para a paisagem esperando vê-lo outravez.

 —  Lucas, Lucas! —  alguém fala chacoalhando o seu braço.Lucas acorda e com dificuldade enxerga o doutor André.

 —  Oi, pode falar doutor —  responde Lucas. —  Vá tomar um banho e depois siga para o pátio. Você precisa

tomar um banho de sol —  fala o médico.Prontamente Lucas levanta e pela primeira vez sai da sala.

Depois de tomar banho ele segue pelo corredor junto comoutros pacientes para o pátio que fica no meio do hospital. Lucas saido corredor e vê o pátio, é enorme. Há um jardim ao redor do pátio e

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no centro uma estátua. O jovem caminha pelo jardim e respira o ar

fresco enquanto sente os raios do sol bater em sua pele. Ele para, sentaem um banco do jardim e fica aproveitando o máximo possível da paisagem. Alguma coisa chama a atenção de Lucas, logo ele levanta ecaminha em direção à estátua. É um monumento de três metros dealtura. O jovem observa os detalhes da estátua e percebe que ela

 parecia alguém que ele já tinha visto. Há um funcionário cortandograma e Lucas se aproxima do mesmo.

 —  Bom dia —  saúda Lucas.

 —  Bom dia —  responde um pouco desconfiado o funcionário. —  Meu amigo, por que fizeram uma estátua de um índio no meiodo pátio do hospital? Que ligação essa estátua tem com esse recinto?

 —  questiona Lucas, apontando para o monumento.O homem para o que estava fazendo e olha para a estátua. —   Essa estátua não foi colocada aqui, ela já existia antes do

hospital, porém construíram esse estabelecimento próximo da estátua,com o passar do tempo tiveram que ampliar a clínica, mas decidiramconservá-la e aproveitaram para deixá-la e construir o pátio ao redordela —  fala o homem.

 —  Mas, porque não a tiraram daqui? Por que tanta veneração poruma imagem tão envelhecida? —  questiona Lucas.

 —   Eu não conheço bem a história, mas me contaram que essaimagem representa os ancestrais indígenas que moravam nestacidade... é como um memorial aos verdadeiros fundadores de SantoÂngelo...eu só acho estranho é a aparência dela com os caninos e asunhas grandes — conclui o homem.

Depois disso Lucas se afasta do homem e observa comatenção todos os detalhes da estátua. A imagem foi esculpida em uma

 pedra enorme, eram imagens bem trabalhadas, mas devido ao tempo eas corrosões as imagens não estão tão nítidas. No pedestal da estátuahá quatro figuras tocando flauta ao redor da imagem maior. A estátuaé forte, tem dois caninos acentuados e as unhas dos pés e das mãos sãograndes.

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 No ápice da distração Lucas percebe a presença do doutor

André na porta do pátio. Ele convida todos os pacientes para retornaraos aposentos. Lucas volta para a sala onde estava hospedado, mas aimagem da estátua não sai da cabeça.

O tempo passa em Santo Ângelo levando com ele a esperançade dias melhores. A violência domina a cidade. A população não temconfiança para sair das casas e as autoridades esgotaram todas asestratégias para combater a criminalidade.

Passaram dois meses de internamento. Lucas fez bastante

esforço para não se tornar um hóspede permanente daquela clínica, as pessoas que ele tinha contato eram doentes mentais ou pessoas queachavam que ele era louco. Diante de um quadro totalmente insano,Lucas tinha receio de acreditar que tinha algum problema.

Lucas está sentado em sua cama se sentindo cansado de tudoo que passava naquele estabelecimento. O jovem é surpreendido pelo

 barulho da fechadura. Uma enfermeira abre a porta. —  Lucas, vá trocar de roupa, você vai receber alta. Segure essas

roupas que sua mãe trouxe. —  fala a mulher enquanto passa as roupas para o jovem.

Lucas em estado de graça pega as roupas e se arruma enquanto aenfermeira sai da sala. Agora sem os trajes de paciente ele sai da salae caminha até a recepção. Lá ele vê de longe a sua mãe, o pastor e odoutor André. Na recepção ele assina uns papeis e é liberado. Osorriso estampado no rosto do jovem é a imagem da liberdade. Ele seaproxima e abraça a mãe.

 —  Mãe que saudade! —  fala Lucas chorando.

Olindina o abraça com força e ficam abraçados por algunssegundos. Depois Lucas agradece o doutor André e saúda o pastor.

 —  César, o senhor está mais magro, o que aconteceu?  —  Lucasquestiona com espanto.

 —   Problemas garoto, problemas... Pensei que a vida de um pastor fosse mais fácil —  fala César um pouco abatido.

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Ambos se despedem do médico e saem da clínica. No carro, no

caminho de casa, Lucas olha a paisagem pela janela e as pessoas quetransitam na rua. A felicidade é nítida no semblante do jovem.Ao chegar em casa Lucas desce do carro e abre os braços em

direção a sua morada. —   Meu Deus, obrigado por me trazer de volta!  —   fala Lucas

sorrindo.Enquanto Olindina acha graça na atitude do filho, Cesar entra no

carro desconfiado e de cabeça baixa vai embora.

 —  Mãe, porque o pastor está tão estranho? —  pergunta Lucas. —  Meu filho, nos últimos dias o pastor tem sofrido bastante... Aesposa o deixou, roubaram a igreja e levaram os instrumentosmusicais e poucas pessoas estão comparecendo nos cultos e reuniões.

Lucas fica admirado com as notícias passada pela mãe, logo entrae vai tomar um banho.

É  um dia de culto, mas o pastor decide ficar em casa. Oabatimento ocasionado pela separação e os incidentes na igreja tinhamtirado toda força e vitalidade de Cesar. O pastor queria ficar longe detudo e de todos para reavaliar a sua vida. Enquanto tenta buscarexplicações para tudo que estava acontecendo ele escuta alguém baterem sua porta. O pastor levanta do sofá e abre.

 —  Lucas, o que faz aqui?  —   pergunta o pastor surpreso com a presença do jovem.

 —   Eu vim fazer uma visita, posso?  —   fala Lucas em tom deironia.

O pastor dá um sorriso sem graça e o convida para entrar. Lucas

entra e senta. O pastor deixa Lucas na sala e vai à cozinha, pega duasxícaras com chá e oferece uma para Lucas, prontamente Lucas aceita.

 —   Pastor, quero agradecer pela sua preocupação com a minhasaúde...

 —  Mas, você está melhor? —  interrompe o Pastor. —   Eu nunca estive doente, mesmo assim sou grato por tudo,

Deus está no controle da situação —  fala Lucas.

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 —  Tudo bem garoto, mas espero que você tenha melhorado  —  

fala César. —  Mas eu vim aqui preocupado com o senhor, fiquei sabendo o

que aconteceu no seu casamento... —   Verdade, estou bastante abatido, nunca pensei que a minha

vida iria terminar desta forma. Cada dia que passa as coisas pioram...Já pensei em desistir de tudo!  —   fala Cesar com a tristezaestampada no rosto.

 —  Pastor, não desista do seu ministério. Se o senhor entregar a

igreja dessa forma vai se sentir um desertor e nunca mais terá forças para vencer outros desafios que a vida lhe oferecer. Se você sair agoraessa igreja se acabará de vez! —  fala Lucas.

O pastor levanta do sofá com a xícara de chá nas mãos, dá alguns passos até a janela, fica olhando a paisagem enquanto pensa nas palavras do jovem. Nunca tinha pensado dessa forma, porém os seussentimentos falam mais altos que a razão.

 —  Lucas, entendo completamente o que você falou, mas quandonão se tem motivação...Não adianta, as coisas não andam  —   fala o

 pastor olhando para a janela.Lucas levanta, se aproxima de Cesar e coloca a mão no seu

ombro. —  Meu pastor, o senhor está deixando o coração falar mais alto.

Um dia o senhor ministrou no altar que o coração é enganoso, asemoções são enganosas. Volte a orar com fé e peça as respostas doalto, Deus te dará uma solução. Manter um ministério na zona deconforto é muito bom, mas são nas dificuldades que amadurecemos.

Tenho certeza de um coisa, após essa fase negra em sua vidaministerial o Senhor terá um preparo muito maior para propagação doevangelho.

Lucas termina de tomar o chá, despede-se do pastor e vaiembora. Após a saída de Lucas Cesar sente coragem. Cesar senta nosofá e passa um bom tempo refletindo na sua vida e nas palavras deLucas, de alguma forma ele estava surpreso com a visão do jovem.

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Sair da igreja naquele momento seria abandoná-la em um campo

minado. Não havia ninguém preparado para tomar conta daqueleministério, mas o que fazer quando não há mais motivação? A vidaministerial de Cesar parecia uma longa escada. No início parecia fácil,mas depois de muitos degraus as foças parecem evadir de seu corpo.Quando Cesar chegou a Santo Ângelo, o vigor era assombroso. Acoragem de enfrentar um novo desafio parecia o motivar, com seismeses de ministério ele tinha congregado mais de cem membros emsua igreja. Suas pregações rasgavam corações. Cesar criou um grupo

de pessoas que pregavam em frente às boates e casas de shows,resgatando pessoas do pecado e da morte. Com mais de um ano deministério Cesar conseguiu congregar mais de novecentos membrosem sua igreja, porém a sua fama começou a se propagar quando o

 principal jornal da cidade o destacou na primeira página como osalvador de Santo Ângelo. A matéria do jornal publicava relatos defamílias que foram restauradas. Muitos traficantes e viciados saíramdo crime por causa dos sermões do pastor Cesar. A igreja cresceu e

 por alguns anos Santo Ângelo teve paz. Agora o salvador de SantoÂngelo era um homem falido, sem família e sem forças para conduziro seu ministério.

Após refletir, Cesar decide ir para o quarto e dormir, antes dedeitar na cama ele fecha os olhos e fala com Deus.

 —   Meu Senhor, reconheço que só você pode mudar a minhahistória neste momento, mostra-me o que devo fazer!

Após a breve oração Cesar deita na cama, porém os pensamentos acelerados não o deixam dormir. Ele levanta várias

vezes, anda pela casa até que a vontade de dormir pesa mais que odesejo de pensar, logo ele volta para cama. Com pouco tempo elefecha os olhos. Quando estava quase adormecendo ele vê a porta doquarto abrir. Cesar vê um homem alto de paletó preto com uma pastade couro nas mãos se aproximar.

 —  Quem é você, o que faz no meu quarto?  —   pergunta Cesartotalmente assustado.

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 —  Pastor Cesar, eu sou o enviado dos céus para entregar a sua

recompensa por esses anos de trabalho em Santo Ângelo. Apósentregar a sua recompensa você estará liberado —  fala o homem. —  Mas por que Deus iria me liberar do ministério?  —  questiona

Cesar. —   Porque esse é o seu maior desejo neste momento, quando

você deseja algo com muita intensidade os céus lhe obedecem.Surpreso com as palavras do homem o pastor senta e fica ansioso

 para receber a sua recompensa. O homem se aproxima da cama abre a

 pasta e tira uma barra de ouro. Os olhos do pastor brilham com aquelaimagem, o sorriso reflete a felicidade e satisfação que Cesar sentianaquele momento.

 —   Essa barra de ouro pesa seiscentas gramas, um bom valor pelos seus anos de trabalho, porém essa barra foi formada por váriascaracterísticas e atitudes de sua pessoa durante o seu ministério. Sevocê quiser eu posso avaliar antes de te entregar —  fala o homem coma barra de ouro na mão.

 —  Claro, faço questão!  —   fala Cesar com o sorriso estampadono rosto.

Bastante sério o homem tira de dentro da pasta uma pequena balança e um martelo, logo ele bate o martelo na barra de ouro que sedivide em partes desiguais. O homem pesa as pedras e anota oresultado em um papel. Coloca a balança e o martelo na pasta eentrega nas mãos do pastor a barra reconstituída e o papel com oresultado da pesagem. Antes de conferir a anotação feita pelo homemele acompanha com o olhar e admiração a saída do moço. O homem

sai, fecha a porta e Cesar volta a atenção para a sua mão. Antes deapreciar a pedra valiosa ele confere o resultado das anotações. No

 papel estava escrito:“ Pastor Cesar, a sua recompensa está avaliada em seiscentas gramas de

ouro divididas em cinco partes. Duzentos e cinquenta gramas de ambição pessoal, duzentos gramas de orgulho, cento e cinquenta de indiferença, dez gramas de amor às pessoas e dez gramas de amor à Deus”. 

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 —  Ontem tive um sonho... Acho que foi um sonho, mas muito

real e perturbador, mesmo sabendo que foi um sonho —  fala o pastor,depois da uma pausa e degusta a limonada. —  Pode ter sido apenas um sonho, mas já imaginou que pode ter

sido uma revelação de Deus para a sua vida e o seu ministério?  —  questiona Lucas.

O pastor sorri ironicamente, depois muda de humor e fica sério. —   Se foi uma revelação divina...Deus não está muito satisfeito

comigo! —  fala Cesar olhando para a janela.

 —  Você não concorda com os valores que compõe o seu talento? —  fala Lucas.Cesar vira-se de supetão e deixa parte da limonada cair na mesa.

Confuso ele fixa os olhos em Lucas. —  O que você falou? O que sabe sobre o sonho?  —  fala Cesar

um pouco nervoso. —  Não, eu não falei nada de mais, apenas fiz uma pergunta!  —  

fala Lucas rindo com a reação do pastor. —   Mas, de onde tirou essa ideia de valores e talento?  —   fala

Cesar. —   Eu sei de muita coisa, mas não posso falar... para não ser

internado como louco! —  fala Lucas.O pastor pega um guardanapo e enxuga a mesa, depois volta a

atenção para o jovem. —   Tudo bem, eu me arrependi por ter sido radical com você.

Depois de te conhecer melhor eu percebi que você não é tão louco  —  fala Cesar em tom de brincadeira.

Ambos dão risadas e descontraem o ambiente. RepentinamenteLucas muda de humor e respira fundo. O pastor olha para ele e ficasem graça.

 —  O que foi? —  pergunta Cesar. —  Eu sei o que você sonhou, lamento pelas duzentas e cinquenta

gramas de ambição pessoal... —  fala Lucas.Cesar volta a tremer.

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 —   O que? Quem te falou sobre o meu sonho?!  —   fala Cesar

 bastante atordoado. —  O Deus que ninguém pode enganar e tudo vê  —   responde o

 jovem.Cesar surpreso com a resposta de Lucas abre a boca de

admiração e se acomoda na cadeira, Lucas continua: —   Meu pastor, o erro que você cometeu em seus anos de

ministério é comum entre os líderes religiosos, só não é normal. Naverdade a maioria olha o ministério como um trampolim para o

reconhecimento. Ser reconhecido pelas pessoas através dos seustalentos é atrativo. Depois vem a ambição por ter mais membros, maisfama e dinheiro —  continua Lucas. —  O que era para ser o motivador

 principal do ministério fica em último plano, que é o amor a Deus e as pessoas —  conclui Lucas.

Cesar balança a cabeça concordando com as palavras do jovem,depois toma parte da limonada e se acalma.

 —   Depois que tive esse sonho, ou revelação, a ficha caiu. Eu passei muito tempo falando de Deus para as pessoas, mas na verdadeeu queria que as pessoas admirassem o meu potencial e oratória. Oinício da minha decadência foi quando eu vi a minha foto no jornalcomo “O Salvador de Santo Ângelo”. Naquele momento achei quenão precisava mais de Deus, comecei a esquecer das pessoas e até daminha família, a fama me cegou  —   fala Cesar com os olhoslacrimejando.

 —  Mas, esse sonho é um sinal que Deus quer te dar uma chance para recomeçar de forma diferente. Cesar, a nossa igreja tem que fazer

diferença nessa cidade! —  fala Lucas segurando nas mãos do pastor.Cesar segura a mão de Lucas e chora emocionado. De alguma

forma ele sente suas forças sendo renovadas. As palavras de Lucas oatingiram em cheio.

 —  Depois de muito tempo de teologia e ministério descobri quenada sei —  fala Cesar.

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O pastor se recompõe, chama o garçom, paga a conta e saem

da lanchonete. Cesar leva o jovem a sua casa e antes de Lucas descerdo carro o pastor segura em seu braço. —  Lucas, você falou que existe uma entidade que quer dominar

essa cidade, o que devo fazer? —  pergunta o pastor.Lucas pensa um pouco e olha fixamente para o pastor.

 —   Apenas se preocupe com a sua vida espiritual e emocional,tape as brechas, que Deus enviará a sua resposta no tempo certo  —  fala Lucas.

Cesar se despede e vai embora. Lucas fica em pé em frenteao portão olhando o carro desaparecer na estrada. O sentimento dealegria e satisfação toma conta do jovem, pela primeira vez ele senteque o pastor estava aberto para escutar tudo aquilo que ele desejavafalar. Após a saída do pastor ele entra em sua casa e vai ao quarto,dobra os joelhos e ora. Durante a oração ele pede para que Deus reveleos próximos passos que ele deveria tomar.

Passou alguns dias e o pastor reuniu os principais líderes querestaram na igreja. Eram apenas quatro. O pastor os reúne em suacasa, era a primeira vez que ele fazia uma reunião em sua residência.Cesar sempre preservou a sua privacidade.

Sentados no sofá o pastor agradece a presença de todos e iniciaa reunião.

 —   Meus amigos e irmãos, eu marquei essa reunião não apenas para planejarmos um rumo para nossa igreja, mas principalmenteagradecer a todos vocês por me auxiliar durante todo esse tempo. Sem

vocês eu não seria um bom pastor... Também quero dividir com todosvocês as minhas conquistas obtidas durante esse período.

Cesar levanta e faz questão de abraçar todos individualmenteem forma de agradecimento. Todos ficam surpresos com a atitudenobre do pastor. Durante todo o ministério ele nunca tinha agradecidoou elogiado uma atitude de um membro. Logo após ele senta, enxugaas lágrimas e ora para que Deus tome conta da reunião, todos

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acompanham a oração. Após a oração ele respira fundo e começa a

reunião. —   Meus irmãos, é notável que a situação atual da igreja não é

muito boa, já tivemos momentos melhores.Todos concordam e César continua:

 —   Para mudar esse quadro temos uma estratégia simples, masque depende de muita disciplina. A estratégia é orar, apenas orar  —  fala César.

Todos os liderados de César se olham um pouco assustados

com a estratégia do pastor. —  Mas há alguma outra coisa a fazer nessa estratégia, além deorar? —  questiona um dos membros.

 —  Não, é por isso que vamos orar, para pedir que Deus envie asua estratégia!  —   continua o pastor.  —  Passei muito tempo do meuministério confiando na minha sabedoria, criatividade enegligenciando a voz de Deus, mas hoje estou convencido que os

 problemas espirituais devem ser vencidos espiritualmente e não pelaforça humana, e o problema dessa cidade é espiritual. Todos os diasaté a próxima reunião iremos orar para que Deus nos revele o quedevemos fazer! —  conclui o pastor.

Por alguns segundos há um falso silêncio na sala, onde osintegrantes da liderança se olham e cochicham entre si. O pastor

 percebe que a sua ideia não era unânime entre eles. —  Tudo bem, alguém tem alguma dúvida ou não concorda?  —  

questiona o Pastor. —   Eu me nego a ficar em uma reunião que não irá resolver

 problema nenhum. Já estou cheio de tanto equívoco na suaadministração! —  fala Albert, líder do ministério de música.

Logo após outro componente também levanta. —  César, eu também vou embora... O Senhor ajudou a internar

Lucas por problemas psiquiátricos, deveria passar um tempo namesma clínica.

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Os dois componentes saem da sala e deixam a casa do pastor.

César um pouco frustrado fecha a porta e volta para a reunião. Agorasó há dois componentes, João e o tesoureiro. O pastor senta e tentamanter a postura diante dos dois últimos liderados que restaram.

 —  Qual a opinião dos senhores? —  pergunta César. —  Estamos aqui porque confiamos no senhor —  responde João.Após a resposta de João o pastor fica mais aliviado, já não se

sentia totalmente só. —  Meus queridos, eu quero que vocês entendam que precisamos

de forças para vencer as entidades espirituais, e poder não vem noscursos teológicos ou posição social, mas na oração e santidade...Então, encarecidamente eu vos peço, orem e se santifiquem, evitem o

 pecado e pensamentos maliciosos, para ficarmos sensíveis a voz doEspírito Santo.

A reunião termina e os dois últimos liderados do pastor saem dareunião convencidos que a oração e a santificação era a melhor atitudeque deveriam ter nesses dias de turbulência.

O tempo passa em Santo Ângelo, as nuvens escuras pairamsobre a cidade encobrindo o azul do céu, na praça o vento frio derrubaas poucas folhas das árvores, deixando claro que o inverno tinhachegado, trazendo com ele um cenário cinza e preguiçoso.

 Nos últimos dias o pastor e sua liderança se reuniram todos osdias para orar na igreja de Santo Ângelo com apenas um propósito, alibertação da cidade do domínio das trevas. O pastor entendeu que amudança social de uma cidade não dependia apenas de governantes e

seus planos de governo, mas de fatores espirituais que são ocultos para a maioria da população. Depois de um tempo de consagração o pastor decide reunir toda a congregação.

Há apenas vinte pessoas no templo, as vozes das pessoas ecoam pelas paredes da igreja, todas estão dispersas. Sentado no púlpito o pastor olha para o relógio e levanta, aproxima do microfone econtempla a igreja em sua totalidade.

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 —  Que a paz do Senhor esteja com todos —  fala o Pastor.

Todos as pessoas que conversavam e estavam desconcentradasvoltam a atenção para o altar. —   Gostaria que todos vocês se aproximassem e sentassem nas

 primeiras cadeiras da igreja, perto do altar —  fala o pastor.Prontamente as poucas pessoas que estavam no templo se

aproximam e sentam juntas e próximas ao altar. Lucas e João jáestavam lá, juntamente com o tesoureiro da igreja. O pastor desce do

 púlpito e pede para que todos façam um círculo.

 —   Meus amados irmãos, hoje o culto vai ser diferente, vamosapenas orar e pedir para que Deus se revele neste lugar  —   fala oPastor.

Algumas pessoas se olham surpresas com a ação do pastor, outrasficam firmes e atentas aos comandos de Cesar.

 —   Eli, pegue o violão e vamos cantar louvores ao Senhor. Osdemais fiquem à vontade para adorar e orar... Aproveitem essemomento de intimidade com Deus e se entreguem sem reservas  —  termina o pastor.

Um jovem chamado Eli se aproxima do grupo com um violão,senta em uma das cadeiras e começa a tocar e cantar. Algumas

 pessoas fecham os olhos e logo começam a acompanhar o canto.Outro grupo, timidamente canta, tentando entender o que estavaacontecendo no local. Aquela atitude do pastor rasgava toda liturgiada igreja. Desta forma não há culto ou programação, apenas umareunião de pessoas.

Depois de duas músicas tocadas, todos entram no clima e se

lançam na adoração. Os cânticos são cada vez mais fervorosos emuitos ficam emocionados. Alguns já não cantam, mas adoram,outros de braços abertos choram e glorificam. O pastor está de joelhose começa a falar palavras em línguas estranhas. Todos ficam emêxtase. Eli, totalmente fora de si, para de tocar o violão, pois nãoconsegue colocar as notas musicais corretas. Agora não há cânticos,apenas barulho de vozes que clamam e glorificavam. Lucas está

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orando abraçado ao João e por alguns instantes abre os olhos para ver

o ambiente. A visão contemplada o deixa eufórico. Por trás do círculode pessoas que oram há centenas de anjos. As vestes dos seres são brancas e luminosas. Lucas perplexo se ajoelha. O jovem também percebe que sobre as pessoas há um raio de luz azul vindo do teto quecresce com a intensidade das orações. Repentinamente um anjo surgeentre os raios com um vazo nas mãos e derrama um líquido sobre as

 pessoas. Encharcadas pelo líquido oleoso as pessoas falam emdiferentes idiomas, nunca ouvidos pelo jovem. O barulho é intenso,

como o som de uma cachoeira. Lucas fecha os olhos e sente um fogoque não agride o seu corpo. As lágrimas são inevitáveis.Ciente que aquela linda visão era apenas vista por ele, Lucas

tenta observar apenas as reações das pessoas. O jovem está admirado porque os irmãos não enxergam o reino espiritual, mas reagem a presença dos anjos e o derramar do óleo em suas cabeças. Umasenhora que estava ajoelhada levanta de supetão e anda com passosfirmes em direção ao pastor.

 —   Homem, o teu clamor chegou aos céus e hoje esta igrejarecebe uma unção de ousadia e conquista, agora marcha sobre essacidade e toma com as garras de leão que te dei... Tu oras por resposta,hoje te darei a resposta que tu precisas  —  fala a mulher com bastanteautoridade, depois muda o semblante e volta para o seu lugar.

Cesar se ajoelha no chão e chora como uma criança. Aemoção preenche o ambiente com as palavras da mulher. Ummovimento igual nunca tinha ocorrido naquela igreja, este tipo decomportamento era contra o estatuto e princípios daquela

denominação.Depois de alguns minutos o pastor se recompõe e toma o

controle daquela reunião sobrenatural. —  Meus irmãos, eu gostaria que todos sentassem —  fala o Pastor

enxugando as lágrimas.

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Há algumas pessoas ajoelhadas, outras sentadas no chão, mas

 pouco a pouco vão retornando aos acentos e controlando o estado deeuforia. O pastor sobe no altar e pega o microfone no púlpito. —   Eu passei parte da minha vida estudando sobre Deus, mas

apenas hoje senti, verdadeiramente, a presença dele  —   fala o Pastorainda emocionado.

Algumas pessoas balançam a cabeça concordando e outrosaplaudem as palavras do pastor, Cesar continua.  —   Essa igreja foifundada nessa cidade com um objetivo, transformar as trevas em luz.

 No início conseguimos, mas depois perdemos a direção do espírito.Éramos como um leão, com garras, força e coragem, mas sem visãoespiritual... Nos tornamos presas fáceis do inimigo, mas agora Deuslevanta pessoas com a visão que esse leão precisa para resgatar essacidade das trevas —  fala o Pastor com muita ênfase.

 —   Nós vamos encerrar esse culto, mas eu peço que vocêsderramem essa unção em seus lares —  conclui Cesar.

A reunião encerra deixando uma sensação de uma virada de página na história da igreja. Cesar chega a sua casa e nem esperaabrir a porta e começa a orar em voz alta. Com dificuldade ele entra ese ajoelha no meio da sala orando e adorando ao senhor. Foram trêshoras de oração, um comportamento totalmente anormal do pastorCesar.

Sentindo o seu corpo um pouco cansado ele resolve tomar um banho e ir para os seus aposentos. Um pouco extenuado ele entra emseu aposento e sente um cheiro forte de jasmim. Deitado em sua camaele agradece pela experiência sobrenatural e dorme.

Passa algum tempo e Cesar percebe que estava perdido em umafloresta. Árvores enormes e uma neblina rasteira o impedem de teruma visão ampla do lugar. Aos poucos ele percebe que a neblinaestava se dissipando e um homem alto de vestes brancas se aproximadele.

 —  Cesar, venha comigo, vou te mostrar algo muito importante —  fala o homem.

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Cesar o acompanha. Cada passo que o homem dava a neblina

evaporava de sua frente, abrindo a visão para o caminho. Depois deandar alguns metros em silêncio eles escutam tambores e flautas. Ohomem para e depois encosta em uma árvore, Cesar se aproxima.

 —  O que é aquilo? —  pergunta Cesar. —   Um ritual feito há muitos anos, mas com um poder tão

destrutivo que perdura até os dias atuais —  fala o homem.Cesar se aproxima da árvore e contempla um ritual que está sendo

realizado há trinta metros de distância. O local está cercado de tochas

e vários homens pintados de tinta vermelha. Todos estão ajoelhadosdiante de uma estátua de pedra. A estátua tem uns três metros dealtura e parece a imagem de um homem. Um velho com saia de courode animal se aproxima da estátua conduzindo uma criança recémnascida nos braços. Ele para em frente à imagem e deita a criança emuma pedra, depois se prostra. Os homens que estavam ao redor daimagem começam a tocar tambores e flautas. O som ecoa por toda afloresta deixando Cesar apavorado e inseguro. Repentinamente umvento impetuoso toma conta da floresta trazendo uma nuvem escura etenebrosa sobre o local. As grandes árvores são jogadas de um lado

 para o outro. Trovões e raios cortam a floresta fazendo o pastordesejar para evadir do local.

 —   Vamos sair daqui, vamos ser atingidos...  —   fala Cesarapavorado.

 —  Não. É necessário que você veja até o fim  —  fala o homem,apresentando frieza e tranquilidade.

Cesar segura firme o tronco da árvore e volta a sua atenção para o

ritual. A imagem é surpreendente e inusitada. A nuvem negra tinha baixado como um redemoinho sobre a estátua e pairava sobre a cabeçada imagem. O velho levanta e puxa um punhal que estava escondidoem sua saia de couro. Fala algumas palavras e crava o punhal no peitoda criança. O sangue escorre no peito do garoto até molhar a pedra.Depois de sacrificar a criança o velho pega uma tocha de fogo e

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queima o corpo do recém-nascido. A fumaça sobe e se mistura com a

negra nuvem que rodeia a cabeça da estátua. —   Por favor, me tire desse lugar, eu não aguento mais!  —  

implora Cesar.O misterioso homem olha pra Cesar e coloca uma das mãos em

seu ombro. —   Pastor Cesar, não peça para sair desse local, pois Deus te

colocou aqui para desfazer esse ritual —  fala o homem. —  Que lugar é esse? —  pergunta Cesar.

 —   Você está em Santo Ângelo no ano de 1425  —   responde oanjo. —  O que preciso fazer? —  pergunta Cesar. —  Você precisa voltar a esse local e quebrar toda a maldição que

foi atraída com esse ritual. Você precisa destruir esse ponto de contatoEspiritual para que espíritos territoriais percam força e saiam de SantoÂngelo.

Extenuado César acorda. Molhado de suor ele senta na camatentando controlar a respiração, depois levanta e percebe que foi um

 pesadelo. Cesar vai ao banheiro, mas antes de tomar banho ele liga para João e o tesoureiro da igreja, os únicos que faziam parte daliderança, e marca uma reunião para o outro dia.

São nove horas da manhã quando o pastor escuta alguém ochamando em frente ao portão de sua casa. Ele tenta levantar da camae percebe que estar bastante cansado. Ainda sonolento olha para orelógio e lembra que marcou a reunião para aquele horário. César vaiaté o portão e recepciona João e o tesoureiro que estavam em frente à

sua residência. Os dois entram e ficam na sala, aguardando o pastor searrumar. Depois de alguns minutos Cesar entra na sala, agora bemmais apresentável.

 —  Me perdoem pela demora... —  se desculpa Cesar. —   Não tem problemas, mas o senhor parece que não dormiu

muito bem... —  fala João.

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 —   Verdade, foi um sonho muito esdrúxulo que tive essa noite,

 porém Deus me falou que eu teria a resposta ontem à noite. Acho queo sonho que tive foi a resposta que precisava —  fala Cesar.Os dois liderados de Cesar fixam os olhos do pastor.

 —  Cesar, o que foi que você sonhou? —  pergunta João. —  No momento isso não interessa, eu só preciso de uma ajuda...

 —  fala Cesar enquanto passa as mãos no rosto. —  O que pastor? —  pergunta João. —   Eu preciso que vocês pesquisem por toda a cidade e

descubram onde há uma estátua. Eu preciso saber sobre uma estátuade três metros de altura bastante antiga... Qualquer informação será bastante importante, porém façam isso o mais rápido possível.

Convencidos de sua missão e da importância dessa estátua osdois deixam a casa do pastor. João decide ir à prefeitura enquanto otesoureiro vai a um pequeno museu de Santo Ângelo. João chega à

 prefeitura e procura informações sobre todas as estátuas antigas queforam colocadas nas praças, mas em toda a cidade só havia três praçascom estátuas e a mais antiga tinha trinta anos de fundação. Mesmoachando que não era aquela estátua que o pastor procurava João anotao endereço da praça e leva para o pastor.

 No outro lado da cidade o tesoureiro chega a um museu, eramuito pequeno e logo ele percebe que não havia nenhuma estátua commais de dois metros de altura. O tesoureiro é abordado por umfuncionário do museu.

 —   Olá, posso ajudá-lo?  —   pergunta um senhor de barbasgrandes e brancas.

 —  Sim, na verdade eu estou procurando por uma estátua grandee antiga, ela deve ter mais de três metros de altura, feita de pedra.Você sabe onde encontro essa relíquia? —  fala o tesoureiro.

O homem pensa um pouco. —  Não, nunca tivemos algo parecido —  responde o velho.

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Um pouco frustrado o tesoureiro agradece e sai do museu, quando

o mesmo desce as escadarias do museu escuta o velho o chamar, elevolta. —  Meu filho, aqui em Santo Ângelo havia uma estátua de três

metros de altura feita de pedra em uma pequena praça, era a imagemde um homem com unhas grandes —  fala o velho.

 —  Mas onde fica essa praça! —  pergunta eufórico o jovem. —   Eu não sei ao certo... Acho que ela não existe mais ou foi

esquecida no tempo. Na época que eu vi essa estátua a praça já era

antiga —  fala o velho forçando a memória. —  Você ao menos sabe em que lado ela ficava?  —  questiona otesoureiro.

 —  Não lembro —  responde o velho.Mais uma vez o tesoureiro agradece e sai correndo do museu.

A informação era válida, mas muito vaga, Cleber precisava de algoconcreto e vai a uma biblioteca pública, lá ele solicita um mapa comtodos os pontos turísticos da cidade, incluindo as praças. Ele senta eobserva com cuidado os mapas e a história de cada praça e anota todaa história inclusive o desenho do mapa de Santo Ângelo. Após asanotações ele retorna a casa do pastor.

Ao voltar para a casa de César ele percebe a presença de João. —  João você conseguiu alguma coisa? —  pergunta o tesoureiro.As primeiras palavras do tesoureiro deixam César e João um

 pouco frustrados, pois ele era a esperança que sobrava diante dosresultados que obtiveram.

 —  Não, pelo jeito você também não conseguiu muita coisa, não

é? —  pergunta César. —   Também não, mas estou com o mapa da cidade e algumas

anotações —  fala o tesoureiro. —  Nós fomos a uma praça, mas a estátua que estava lá não era a

que o pastor procurava, ela era a mais antiga de Santo Ângelo segundoas informações obtidas —  fala João um pouco desanimado.

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 —  Olha gente, eu falei com um funcionário antigo do museu de

Santo Ângelo e ele me falou de uma estátua antiga que tinha em uma praça velha aqui na cidade... —  Ele falou como era a imagem? —  interrompe César. —   Sim... Era de um homem com unhas grandes, feita de uma

 pedra enorme... —   Meu Deus, é essa imagem que eu sonhei!  —   fala César

eufórico.César sem pensar em mais nada corre para o carro e junto com os

dois jovens seguem até o museu. Chegando ao estabelecimento elesencontram o senhor de barbas brancas. Cleber se afasta um pouco deCésar e João e se aproxima do homem.

 —   Meu Senhor, mais uma vez preciso de sua ajuda!  —   fala otesoureiro.

 —  Pois não, pode falar —  responde o Senhor. —  Preciso que você force um pouco a memória e tente lembrar

onde ficava a praça antiga que tinha uma imagem grande de pedra.O velho coloca a mão no queixo e respira um pouco.

 —  Lembrei! —  fala o homem. —  Ela ficava próximo ao hospitalde psiquiatria, mas depois que construíram o hospital acabaram com a

 praça... Hoje não existe essa praça.O pastor coloca as mãos na cabeça em sinal de desespero e

desilusão. Parado no centro do pátio do museu César sente as suasmomentâneas convicções ruírem como um castelo de areia. Os jovens

 percebem a importância daquele objeto para as pretensões do pastor esaem do museu frustrados. César tinha certeza que o sonho era uma

revelação divina, mas como não teve êxito na sua procura eledesconfia que tudo não passava de um pesadelo. A fé não combinacom a dúvida e naquele instante César sente a sua fé esfriar. Césaragradece o esforço dos seus liderados e volta para casa.

Passou algumas semanas, tempo suficiente para César seconvencer que tudo que passou foi apenas uma ilusão ou histeriacoletiva. A verdade veio à tona e com ela uma realidade desfavorável

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ao pastor César. Separado, sem dinheiro e com uma igreja beirando a

falência a autoimagem do Pastor é um quadro de derrotas. Sentindo-seabatido pelas circunstâncias César reúne um conjunto de justificativase toma uma decisão.

Ao cair da tarde João escuta alguém o chamando no portão,mesmo não reconhecendo a voz ele abre a porta da casa e vai até o

 portão. —  Pastor, que surpresa! Entre —  fala João ao abrir o portão.

César abraça o jovem em saudação depois entra. O semblante deCésar era pesaroso e enlutado. —  Prometo que serei rápido... —   Fique à vontade pastor, você tem o tempo que quiser!  —  

responde João. —   Eu não tenho muito tempo, preciso arrumar as malas. Irei

voltar para minha cidade e vou passar a direção da igreja para você —  fala César bastante convicto.

 —   Mas pastor porque você vai embora assim? E porque medeixar na liderança de uma igreja? —  questiona João.

 —  Meu amigo, eu não tenho condições psicológicas e espirituais para permanecer neste cargo e você é a pessoa mais capacitada paraexercer essa função —  explica o Pastor.

João percebendo que a decisão de César era irrevogável aceitao desafio, mas não sente paz. Algo está errado. O pastor abraça Joãoem tom de despedida e entra no carro, a visão do pastor saindo eacenando com as mãos entristece o jovem.

João um pouco confuso com a atitude do pastor vai visitarLucas e contar a novidade. Lucas estava em casa se preparando paradormir quando a sua mãe avisa que João estava o aguardando no

 portão. Pela janela ele vê o amigo agasalhado tentando se proteger dovento frio da noite. Rapidamente Lucas abre a porta da sala.

 —  Meu querido, entre e saia desse frio terrível!  —  Fala Lucas ao perceber a presença de João em frente ao portão.

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João entra e se acomoda no sofá.

 —  Lucas, você já sabe da novidade? —  fala João enquanto abre ozíper da jaqueta. —  Não, o que aconteceu? —  fala Lucas. —  Sou o novo pastor de Santo Ângelo  —   responde Lucas com

um semblante de preocupação.Lucas sorri de felicidade com a novidade, mas ao notar que o

amigo não era recíproco ele muda de humor. —  Mas qual o problema, não gostou de dividir a responsabilidade

com César? —  fala Lucas sem graça. —   O problema é que eu sou o único pastor de Santo Ângelo...César entregou tudo em minhas mãos e vai voltar para Santo André  —  responde João.

Lucas levanta, baixa a cabeça e dá alguns passos na sala. —   Por que ele fez isso? Nos últimos cultos ele estava tão

animado com a nova esfera espiritual na igreja  —   fala Lucas um pouco frustrado.

 —  Ele falou que Deus tinha prometido uma resposta para SantoÂngelo, ele esperou e essa resposta nunca veio. Até achou que aresposta poderia estar em um sonho maluco que ele teve, mas...

 —  Que sonho? —  interrompe Lucas. —  Ele não falou como foi o sonho, mas disse que tinha que achar

uma estátua, nela estava o segredo de Santo Ângelo. Eu e Cleber procuramos a cidade inteira e não conseguimos essa estátua, depoisdisso ele ficou bastante triste —  conclui João.

 —  Que estátua é essa? —  pergunta Lucas.

 —  Uma estátua de pedra, três metros de altura e muito velha coma imagem de um homem. —  responde João.

 —  Que loucura, mas quando ele viaja? —  pergunta Lucas. —   Amanhã, sete da manhã ele pega um ônibus rumo a Santo

André. —  É uma pena, eu tenho certeza que Deus tinha um projeto muito

 poderoso na vida do pastor aqui na cidade, mas já que ele decidiu...

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Estou aqui para te ajudar no que for preciso  —   fala Lucas enquanto

 põe as mãos no ombro do amigo.Depois de compartilhar a novidade com o amigo, João vaiembora e Lucas passa a noite pensativo. Lucas tinha recebido umamissão, convencer e mostrar ao pastor a situação espiritual da cidade,

 por alguns momentos Lucas teve a sensação de dever cumprido, masaquela decisão precipitada do pastor deixou o jovem frustrado.

Pela manhã Lucas acorda cedo sentindo o coração apertado.Ele levanta, vai ao banheiro, passa alguns minutos olhando para o

espelho, pensando na vida. Depois de um tempo ele decide voltar parao calor da cama, mas no caminho do quarto Lucas se lembra de algo.Ele corre para o telefone. Lucas um pouco atrapalhado liga para João.

 —  João precisamos encontrar com o pastor urgente! —  fala Lucasao telefone.

 —   O que aconteceu? Por que você está tão apavorado?  —   falaJoão.

 —   Não há tempo para te explicar agora, passa aqui e vamos àrodoviária, no caminho eu te explico.

João não entende o que está acontecendo, mesmo assim troca deroupa rápido e corre para o carro. Enquanto isso Lucas se arruma e vai

 para frente de sua casa aguardar o amigo. Enfrente a sua casa de Lucasolha várias vezes para o relógio. Ao se aproximar da residência doamigo João percebe que Lucas já estava em frente ao portão. O carroainda estava em movimento, mas Lucas se precipita abrindo a portado veículo.

 —  Vamos logo cara, já são sete e cinquenta, falta pouco tempo

 para alcançar! —  fala Lucas ao se jogar dentro do carro. O automóvelnem chegou a parar e João acelera.

 —  Não sei por que estou tão apressado, mas se for besteira eu vouficar muito irritado com você!  —   fala João enquanto acelera oautomóvel.

 —  Será uma negligência nós deixarmos o pastor ir embora...  —  responde Lucas enquanto se apoia na porta.

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 —  O que é de tão importante? —  questiona João enquanto dirige.

 —   O pastor não estava errado, existe uma estátua como elesonhou e eu sei onde fica! —  fala Lucas com muito entusiasmo.Depois da resposta do amigo João acelera ainda mais.

Próximo à rodoviária há um grande congestionamento, deixando os jovens bastante ansiosos. Ciente que não tem muito tempo a perder,Lucas desce do carro e sai correndo entre os automóveis em direção arodoviária. O jovem chega na rodoviária e invade a área de embarque,chamando a atenção das pessoas que ali estão. Não adianta, já fazem

cinco minutos da partida do pastor. Lucas cansado e frustrado volta para se encontrar com o amigo que se aproximava da rodoviária. João percebe a aproximação de Lucas e estende o braço para abrir a porta.

 —  Conseguiu falar com o pastor? —  questiona João. —   Não, mas não vamos desistir, vamos atrás do ônibus,

 precisamos impedi-lo! —  fala Lucas. —   Você é louco! Nós vamos ter que correr bastante para o

alcançarmos na estrada —  fala João um pouco irritado. —  Confie em mim! —  fala Lucas.Convencido pelo amigo, João liga o carro e parte em direção a

uma estrada que faz parte da trajetória do ônibus.São alguns minutos de ultrapassagens ariscadas e alta

velocidade até avistarem o ônibus. João acelera, se aproxima doveículo e buzina. O condutor do ônibus acha estranho, mas prosseguea viagem.

 —   Meu Deus a gasolina vai acabar!  —   fala João um poucodesesperado.

 —  Precisamos parar esse ônibus de alguma forma!  —  fala Lucasnervoso.

 —  Já sei...João coloca o veículo ao lado do ônibus e acelera. Com muito

esforço ele ultrapassa o ônibus e fica a alguns metros à frente docoletivo. Depois desacelera, o ônibus é forçado a diminuir avelocidade até parar. Os dois jovens descem do veículo com as mãos

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 para o alto para tirar a impressão de um assalto. O motorista do ônibus

ainda assustado abre a porta. —  Desculpe pelo transtorno, mas precisamos falar com um dos

 passageiros, é muito importante... —   Vocês quase causaram um acidente para falar com uma

 pessoa... Vocês são uns idiotas?! —  fala o motorista bastante irritado. No meio do desentendimento desce um passageiro do ônibus. —  O que vocês estão fazendo aqui? —  fala Cesar. —   Pastor, que bom que nós o encontramos!  —   fala Lucas

correndo para abraçar o pastor. —  O que aconteceu? —  pergunta César. —  Pastor, eu sei onde está a estátua que você sonhou. Não pense

que o seu sonho foi fruto da imaginação, mas foi sim, a resposta deDeus para Santo Ângelo.

 —   Como assim? Nós pesquisamos e procuramos por todos oslugares dessa cidade e não encontramos... Como você pode dizer queessa imagem existe? —  pergunta César um pouco confuso.

 —   César, a praça não foi destruída, mas conservada... Ela estádentro de um pátio no meio do hospital onde fui internado...

O pastor César fica abismado com a informação passada porLucas e deixa a mala cair no chão.

 —   Meu Deus! Se você não estivesse entrado naquele hospitalnunca iríamos saber que dentro dele existe uma praça!  —   fala o

 pastor. —  As únicas pessoas que sabem da existência daquela estátua são

os funcionários e os pacientes. A minha internação naquele local foi

um plano de Deus —  fala Lucas em lágrimas. —  Os planos divinos geralmente não são compreendidos  —  fala

João emocionado.O motorista um pouco perdido com o diálogo entre o pastor e os

 jovens pede para que João tire o carro da frente do ônibus.Rapidamente o pastor pega a mala e entra no carro junto com Lucas eJoão e retornam para Santo Ângelo.

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Depois de abastecer o carro eles vão até o hospital

 psiquiátrico da cidade, lá eles procuram o doutor André. O Pastor eraamigo do médico. André atende o pastor enquanto Lucas e João ficamno carro.

 —   César tudo bem? O garoto voltou a dar problemas?  —   falaAndré.

 —  Não, Lucas tem reagido bem... Eu só queria um favor seu  —  fala César.

 —  Claro, o que você precisa? —  fala o médico.

 —  Eu posso conhecer o pátio do hospital para tirar uma dúvida?Vou ser rápido prometo! — fala César.O médico acha estranho, mas o conduz até o pátio. No

caminho até o local César está em silêncio. Sua ansiedade não permite pensar em outro assunto, além da imagem do sonho. André para nafrente de um grande portão de ferro e abre.

 —  Então César, é aqui que os pacientes tomam banho de sol, oespaço é grande e arejado. — fala André após abrir a praça do pátio.

César se afasta um pouco do médico e em silêncio anda pelo pátio, logo ele se aproxima da estátua que fica no centro da praça, o pastor olha todos os detalhes da imagem e chora.

 —   Tudo bem com você César?  —   pergunta o doutor André ao perceber o estado emocional do amigo.

César tenta disfarçar passando as mãos no rosto. —   Tudo bem, André você responde pela administração desse

recinto. Eu posso ter um último favor seu? —  pergunta César. —  Claro, quantos você precisar! —  responde André.

 —   Eu preciso fazer um pequeno culto de ações e graças nessa praça...

 —   Mas César tem tanta praça nessa cidade e você quer justamente essa!?  —   questiona André surpreso com o pedido doamigo.

 —   Por favor, não adianta explicar agora, eu só preciso de sualiberação! —  implora o Pastor.

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 —   Tudo bem fique à vontade, está liberada  —   responde André

com um sorriso no rosto.César o abraça e faz vários agradecimentos ao amigo.Quase correndo ele sai do hospital e reencontra os jovens no

carro. —  E aí César, era a imagem que o senhor sonhou?  —  pergunta

João. —  Sim, era. Deus é fiel! Marquei um culto de ação de graças na

 praça para desfazer todo o ritual satânico que destruiu essa cidade —  

fala César um pouco eufórico. —  O que temos que fazer agora? —  pergunta João. —  Preparar a igreja para a batalha! —  reponde o pastor.

Cesar sabia que remover a estátua, ou quebrá-la não afastariao mal da cidade, pois a maldição veio através de um ritual e a imagemera apenas um ponto de contato, símbolo da maldição.

 Naquele momento o pastor entendeu que ele era a única pessoaque poderia desfazer aquele ritual e expulsar as entidades espirituaisdaquele local. A estátua é um ponto de contato espiritual, pois diantedela foi feito um pacto com sangue. Apenas um novo pacto diante daestátua pode desfazer a aliança feita no passado.

O pastor César convoca todos os membros para a igreja deSanto Ângelo e explica toda a situação espiritual em que a cidadetinha se envolvido. A grande maioria acredita na palavra do pastor,mas apenas dez membros aceitaram participar do ato profético.Durante uma semana esses dez membros da igreja jejuaram e oraram

 pela libertação da cidade. O pastor juntamente com Lucas e João

ficaram confinados na igreja intercedendo e buscando a presença deDeus. Foram seis dias de jejum até a sexta-feira, dia do culto na praçado hospital.

Durante esses dias Lucas, João e César não saíram do templo para nada. A maioria do tempo eles ficavam dentro do gabinete pastoral orando e lendo a Bíblia. César, Lucas e João entendiam quenão era suficiente saber os planos do mal, mas para confrontar as

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entidades diabólicas era necessário ter santidade. Eles buscavam

constantemente purificar seus pensamentos e atitudes se livrando dasimpurezas carnais.É sexta-feira, dia do ato profético, Lucas acorda às seis da

manhã. Ele estava dormindo no próprio gabinete pastoral nacompanhia do pastor e João deitados sobre colchonetes improvisados.Lucas levanta sentindo dores em várias partes do corpo e pensa emcontinuar deitado, mas um desejo incontrolável o conduz ao banheirodo templo. Ele levanta, abre a porta com cuidado para não acordar os

companheiros e segue para o banheiro. Ao sair do gabinete ele senteum cheiro de jasmim. Após alguns passos pelo corredor ele escutauma voz ecoando no templo. Assustado o jovem para. Não háninguém na igreja além de César e João. Curioso Lucas volta e entrano salão do templo. O jovem anda alguns passos próximo ao altar eobserva toda a igreja. O enorme salão estava cheio de cadeiras vazias.O silêncio impulsiona a saída de Lucas do templo, mas quando ele sevira percebe alguém ao seu lado.

 —  Jofiel, que susto! —  fala Lucas pondo a mão no peito. —  Lucas, Asmodeu liberou mais uma entidade para intensificar a

guerra espiritual sobre a igreja, o nome desse espírito é Kruonos,espírito que ataca as igrejas que fazem batalhas espirituais. Vocêsdevem tomar muito cuidado e, por favor, não saiam da igreja até ahora do evento, nem procure saber de notícias da cidade porque asforças do mal estão usando de todos os artifícios para acabar com acidade e impedir o evento dessa noite —  fala o Anjo.

Lucas recebe a mensagem do anjo e rapidamente volta para o

gabinete.Ele abre a porta e acorda João com o barulho de sua chegada,

logo após o pastor levanta. Lucas aproveita e conta com detalhes oque o anjo falou. Todos passam um tempo analisando as informaçõesque Lucas tinha repassado. Subitamente o pastor levanta em direçãoao telefone e tenta ligar para as outras dez pessoas para convocá-las ao

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 —  Meu Deus, o que é isso? —  fala o Pastor jogando o objeto no

chão.  —   O rádio está funcionando sem pilhas!  —   grita o pastor deespanto.Todos ficam assustados, João quase instintivamente se aproxima

do pequeno rádio no chão e pisa forte até esmagar o objeto. Quando percebe que o rádio estava em pedaços o jovem para.

 —   Desculpa pastor, fiquei assustado, mas depois compro umrádio para o senhor  —  se explica o jovem desconfiado ao perceber oestrago que causou.

 —  Não se preocupe já estava velho  —  o pastor se ajoelha para pegar os pedaços do rádio e levanta atônito, o rádio ainda estavafuncionando na rádio de notícias. Todos ficam assustados eadmirados, aquilo não era comum ou normal.

 —  Estas coisas não se explicam no reino físico, estamos em umaguerra espiritual —  fala César se afastando dos pedaços do rádio.

Lucas pega o objeto que ainda estava sintonizado na rádio denotícias, sai da sala e joga o objeto do outro lado do muro da igreja. O

 jovem volta para o gabinete. O clima ainda era de pavor e suspense nasala, todos tentavam entender o que estava acontecendo.

 —  Pastor a cidade está em guerra e nós estamos aqui confinados,deveríamos sair para saber como estão as nossas famílias...Se aomenos o telefone estivesse funcionando!  —   reclama João enquantoanda na sala com as mãos na cabeça.

César para um pouco, reflete e volta a atenção para os jovens. —   João, tudo isso que está acontecendo são provas que nós

estamos certos, pare um pouco e veja com olhos espirituais!  —  fala o pastor tentando convencê-lo.

 —  É verdade João, não devemos retroceder um passo daquilo que planejamos... —  complementa Lucas.

 —   Mas vamos ficar aqui esperando o tempo passar?!  —  questiona João.

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 —  Não, vamos fazer o que estávamos fazendo, orar e interceder

 pela cidade, se Deus não puder proteger as nossas famílias quem vai proteger? Você? —  exorta o pastor. —  João, se nós sairmos vamos perder o foco e o objetivo desse

 jejum... O inimigo sabe disso! —  fala Lucas.João senta e fica um pouco mais calmo ao refletir nas palavras

dos companheiros. César volta a orar enquanto os jovens ficamsentados em silêncio.

As horas se passam e no final da tarde o tempo fecha em

Santo Ângelo. Nuvens escuras cobrem o céu, e trovões e raios seconcentram na pequena na cidade. Confinados no gabinete os jovens eo pastor param de orar ao escutarem os trovões e o vento forte. Atempestade era assustadora. Pela janela do gabinete eles contemplam aforça do vento chacoalhando as árvores. O vento derruba váriosobjetos na igreja e ao passar nos corredores do templo sonorizava umsom, como músicas melancólicas. O pastor olha para o relógio e

 percebe que o tempo o convidava para a batalha, está quase na hora deir para o hospital. Ele caminha até uma das gavetas e pega umrecipiente com óleo, coloca em um dos bolsos do agasalho e depoisrespira fundo enquanto olha para o nada. Agora o abstrato é mais realque o concreto; o invisível é mais evidente do que os olhos carnais

 podem contemplar. —   Pessoal, vamos ficar na frente da igreja e esperar os outros

irmãos, depois partimos para o hospital —  ordena César.Os jovens arrumam a sala, pegam as bíblias e juntos vão até a

frente do templo. Andando pela igreja eles percebem vasos e vidros

quebrados pela ferocidade do temporal. Na frente do templo elestentam se proteger da forte ventania. Encostados nas colunas elescontemplam as nuvens escuras enquanto esperam os irmãos que

 prometeram ir ao ato profético.Passam quase uma hora na frente da igreja, mas ninguém

aparece. O pastor olha várias vezes para o relógio transparecendo asua impaciência e ansiedade. Depois de muito tempo César decide

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 partir, por causa do horário combinado com André. Eles fecham a

grande porta do templo e juntos descem as escadas. Correndo elesdeixam a igreja e vão até o carro que estava no estacionamento.Está escuro e ainda chove bastante. João abre a porta do

veículo, senta e liga o carro enquanto João e o pastor Cesar entram,evitando a chuva. Quando João dá partida no veículo eles escutamalguém batendo na lataria do carro.

 —  Pastor, pastor espere por mim! —  era o tesoureiro Cleber.Rapidamente Lucas abre a porta e ele entra se acomodando no

 banco traseiro do veículo. —  Você está totalmente encharcado, onde estão os outros? —  falaLucas enquanto João da saída no veículo.

 —   Eu não sei... Mas acho difícil alguém vir ainda. Além dotemporal a cidade está totalmente tomada por policiais  —   fala otesoureiro enquanto tenta se enxugar.

 —   O que está acontecendo com a cidade?  —   pergunta Joãoenquanto dirige.

 —  Segunda-feira os traficantes da lagoinha invadiram a casa deMalone e o mataram para poder tomar o poder do tráfico, depois dissoos dois grupos de traficantes se enfrentam até agora... Já morreu muitagente, até pessoas que não tem nada com o tráfico... Essa cidade virouum inferno! —  fala o tesoureiro.

 —  Meus irmãos, não vamos perder o foco, vamos orar e pedir queDeus envie seus anjos para nos proteger —  fala o Pastor.

Todos fazem silêncio, começam a orar e seguem viagem. Asimagens que vão surgindo nas janelas do veículo deixam os jovens

impressionados, Santo Ângelo estava irreconhecível. No caminho atéo hospital eles olham fios e árvores no chão devido ao temporal. Lojas

 pichadas e quebradas por traficantes revoltados e muitas ambulânciase carros da polícia transitam nas ruas. Porém, as imagens assustadorasnão são capazes de abater o grupo que continua firme em seu

 propósito.

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Todos sabem que aquele clima gerado na cidade é resultado

de uma manipulação espiritual. As entidades dominadoras daqueleterritório sabem que o risco de perder o poder é palpável e isso forçaum jogo duro e assustador.

Depois de alguns minutos de viagem eles chegam ao hospital psiquiátrico, tudo está calmo e silencioso.

Todos descem do carro e entram na recepção. O pastor se dirigeao balcão e se aproxima de uma funcionária que estava um poucodistraída no balcão. A moça de cabelos escuros e vestidos brancos

estava sentada olhando as unhas e não percebe a presença de César junto ao balcão. —  Boa noite! —  saúda César.A moça fica assustada, mas logo abre um sorriso ao reconhecer o

 pastor. —  Boa noite pastor, você me assustou! —  responde a funcionária

do hospital com bom humor. —   Desculpa, não era a minha intenção... André deixou alguma

ordem para o evento da minha igreja? —  fala César. —   Sim, ele deixou, pode ir até o portão do pátio enquanto eu

 peço ao segurança para abrir para vocês —  responde a moça. —  Muito obrigado —  responde o pastor.

O pastor, Lucas, João e o tesoureiro são acompanhados por umsegurança até o portão do pátio. Os jovens caminham pelo corredoraparentando uma certa apreensão, enquanto o pastor ora em silêncio.O segurança percebe que havia algo de estranho no comportamento dogrupo, mas disfarça. Ao chegar em frente ao portão o segurança

coloca a chave na fechadura para abrir e tudo escurece. As luzes dohospital se apagam e tudo fica escuro. Mesmo com a ausência da luzele abre o portão.

 —   Vocês podem me aguardar aqui na praça ou na recepçãoenquanto eu vou ligar os geradores —  fala o segurança.

 —  Tudo bem, está escuro, mas nós preferimos aguardar aqui na praça enquanto você liga o gerador —  responde César.

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O segurança deixa o grupo abrigado em uma marquise no pátio

da praça e vai tentar reestabelecer a energia do local.O pátio e o jardim estão em trevas e o som da chuva sobre asfolhas das árvores quebravam o silêncio do local.

 —   Pastor, vamos para a recepção e retornar quando a energiavoltar —  pede João um pouco temeroso.

 —  Não, acho que a energia não vai voltar —  fala César. —  Por que o senhor tem tanta certeza? —  questiona o tesoureiro. —  Porque eles não vão deixar! —  responde César.

Todos ficaram curiosos e com vontade de perguntar, mas o medoda resposta os mantém calados.O vento gelado e a escuridão tenebrosa faz a espera se tornar

um castigo alongado. Passaram-se alguns minutos até que o Pastor perde a paciência e vai até a recepção, os jovens ficam no pátio oaguardando. Ao chegar na recepção ele vê a recepcionista um poucoiluminada por um pequeno lampião.

 —  Amiga, o segurança falou que iria ligar o gerador, fazem maisde vinte minutos e a energia não foi ligada, você sabe o que estáacontecendo? —  pergunta o pastor.

 —   É verdade, também estou no aguardo, mas ele ainda nãoretornou —  fala a moça.

 —   Você tem um lampião ou lanterna para nos emprestar?  —   pergunta o pastor.

 —   Sim!  —   responde, depois baixa e pega um lampião velhodebaixo do balcão.

 —  Pastor, o mais interessante é que só faltou energia no hospital

 —  fala a mulher enquanto entrega o lampião ao pastor.Antes de voltar para o pátio Cesar vira-se e confirma com os

 próprios olhos a informação passada pela recepcionista. Pela porta darecepção notava-se que a cidade estava totalmente iluminada.

 —  Pastor, o senhor não acha melhor fazer esse evento em outrodia, hoje está chovendo muito e não tem energia —  fala a moça.

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 —  Eu não sei, eles estão mais loucos do que o normal, eu nunca

vi isso em toda minha vida! —  fala a mulher. Naquele horário só havia um enfermeiro, o segurança e arecepcionista para controlar quase vinte pacientes totalmentedescontrolados. Eles se encontram no corredor e percebem agravidade da situação. Os pacientes gritavam e se jogavam nas portastentando abri-las.

 —  Pessoal eu preciso da ajuda de vocês  —  fala o enfermeiro. —  Enquanto eu abro a porta vocês seguram o paciente e eu aplico um

tranquilizante nele. Depois faremos isso com os outros...um de cadavez.João e Cleber ficam atentos enquanto o enfermeiro se

aproxima da porta. Ele tenta encontrar a chave em sua bata e ésurpreendido. O paciente derruba a porta e aos berros agarra oenfermeiro. O homem estava nu e com o rosto ensanguentado. João,Cleber e o segurança tentam tirar o homem descontrolado de cima doenfermeiro, mas não conseguem. O paciente tem uma forçadescomunal. Apavorada a recepcionista corre para a recepção e tentaligar para o doutor André, mas o telefone está mudo. Ela vai a outrotelefone, mas ele também não funciona. Desesperada ela volta paraajudar o grupo, mas quando abre a porta do corredor se surpreendecom o que vê.

Os outros pacientes tinham derrubado as portas e estavamagredindo os rapazes e os funcionários do hospital. Ela sente o corpotremer diante de um cenário tão violento. Eram vinte homens

 possuídos pela insanidade agredindo os jovens e os funcionários.

Um dos homens se aproxima devagar, ameaçador, como um predador que se prepara para dominar a presa, Cleber percebendo queum dos pacientes iria agredir a moça corre em direção ao homem e éatingido no rosto por uma violenta bofetada. O golpe derruba o jovemno chão e ele fica ali com os lábios sangrando. Sentindo-se ameaçadaela aproveita a distração do paciente e corre em direção a recepção, ohomem percebe a sua fuga e corre atrás dela. A moça entra no

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 banheiro e fica trancada enquanto o homem bate na porta tentando

derrubá-la.Repentinamente todos os pacientes param as suas agressões eseguem como zumbis para o pátio. Agora o alvo dos agressores pareceestar no jardim.

 —   Eles estão indo para o pátio onde está o pastor e Lucas!  —  sussurra João enquanto passa a mão no rosto.

O segurança estava no chão bastante machucado, mas quase semforça rasteja até o alarme e aciona a segurança móvel.

Para chegar ao pátio os pacientes tem que passar pelo portãode ferro, que está fechado. O portão é golpeado de socos e pontapés.O pastor está ajoelhado enquanto Lucas intercede. Eles

 percebem que aquela situação contrária é um sinal que eles estão nocaminho certo. Eles escutam vários socos no portão de acesso ao pátioe percebem que o cenário estava cada vez mais ameaçador. Lucas

 para de interceder e fica apreensivo, ele alterna o olhar entre o pastor eo portão a cada barulho.

 —  Lucas, vamos cantar louvores a Deus! —  fala o Pastor. —   Pastor, isso não é momento de cantar!  —   reclama Lucas

transparecendo desespero e incompreensão. —  Deus me mostra que foi através de música que eles atraíram a

entidade diabólica e é com louvores que nós iremos expulsá-los!  —  fala o Pastor.

Lucas pensa um pouco, olha para o portão, que ainda suportava asvioletas agressões dos pacientes, e se aproxima do pastor. Elescomeçam a cantar louvores a Deus. A chuva se intensifica, mas eles

seguem cantando com bastante entusiasmo e fé.O portão já está cedendo à pressão dos homens. O pastor sente o

momento e se ajoelha enquanto Lucas continua cantando. Depois dealguns segundos Lucas abre os olhos com dificuldades, devido à fortechuva e se surpreende. Sobre a estátua há uma nuvem branca que

 brilha como o sol, ele não suporta a beleza da imagem e se prostra. Naquele instante o pastor levanta com a bíblia em uma das mãos e

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com a outra ele estende para a imagem. O vento se torna mais

impetuoso, mas o pastor se equilibra e fica em frente à estátua. —   Espírito maligno enviado pelo inferno para dominar essa

cidade. Eu sou o anjo de Santo Ângelo e fui consagrado para tedestronar desse território. Eu ordeno debaixo da autoridade do sanguede Cristo que saia desse local e nunca retorne! —  brada César.

Com dificuldades ele tira um recipiente de vidro com óleoungido e joga na estátua, o vidro quebra e o líquido escorre sobre aimagem.

 —  Eu te repreendo em nome de Jesus! —  grita o Pastor. Naquele instante um raio corta o céu como um chicote de luz ecolide na estátua. Pedaços de pedras são arremessados para o altoenquanto o pastor e Lucas são arremessados no chão. Eles caemdesacordados.

“Primeiro eles te ignoram, depois riem de você, depois brigam, eentão você vence”. Mahatma Gandhi.

Aos poucos Lucas acorda ainda com a visão embaçada. Ele percebe que está deitado em uma maca, sendo conduzido por algumas pessoas pelo corredor de algum hospital. Lucas sente o seu corpofebril e machucado, mas prefere não se mexer. Rapidamente ele éconduzido até uma sala. Dois enfermeiros se aproximam e tiram olençol que o cobre, Lucas inclina a cabeça e vê vários cortes earranhões em seus braços. Em silêncio um médico se aproxima einjeta medicamentos em sua veia, depois de alguns minutos eleadormece.

O jovem acorda após algumas horas. Ainda sonolento ele

 percebe a presença de sua mãe junto a cama. —  Meu filho, você está bem?!  —  fala Olindina ao perceber que

Lucas estava acordado. —  Estou, mas não sei o que aconteceu comigo... —  fala Lucas em

voz baixa. —  Um raio caiu no hospital e vocês foram atingidos —  responde

Olindina.

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faltavam na igreja... Que Deus continue te abençoando rapaz!  —  fala

o Pastor emocionado.Antes de se aproximar do pastor para abraçá-lo Lucas percebe a presença de Adriana. O Jovem fica em êxtase quando vê o pastorsegurar a mão de sua esposa.

Todos comemoram, bebem e festejam a chegada de Lucas ea nova história que se inicia.

O tempo passa em Santo Ângelo trazendo boas novas. O pastor restaura o seu casamento e Adriana passa a acompanhar o seu

esposo nas atividades da igreja. João é consagrado oficialmente a pastor, enquanto Lucas passa a ser funcionário da igreja. A imagemque ficava no pátio do hospital psiquiátrico ficou totalmentedanificada após a queda do raio. O pastor percebendo os danoscausados no dia em que esteve no hospital doou uma imagem de umacruz, que substituiu a imagem antiga. Todos os meses era realizadoum culto em ações e graças no local.

Após um ano o número de membros cresce de tal forma que otemplo é ampliado. Os cultos de evangelização são feitos nas praças,onde há um grande número de conversões. O tráfico perde força porcausa da migração dos traficantes e usuários para a igreja. Asautoridades conseguem acabar com o tráfico e a violência na cidade.