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04 - Editorial: Paulo Rocha06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Internacional22 - Opinião: D. José Cordeiro24 - Opinião: LOC/MTC26 - Opinião: Rita Figueiras28 - Opinião: João Armando Gonçalves30 - Semana de.. Carlos Borges32 - Dossier Bom Jesus, Braga e o mundo

54 - Multimédia56 - Estante58 - Vaticano II60 - Agenda62 - Por estes dias64 - Por outras palavras65 - YouCat66 - Programação Religiosa67 - Minuto Positivo68 - Liturgia70 - Família72 - Ano da Vida Consagrada76 - Fundação AIS78 - Lusofonias80 - 40º aniversário da morte de S.Josemaria

Foto da capa: Agência ECCLESIAFoto da contracapa: Agência ECCLESIA

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,.Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

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Opinião

«Laudato si», umolhar português[ver+]

A caminho doSínodo 2015[ver+]

Bom Jesus, novabasílica dePortugal[ver+]

D. Jorge Ortiga | D. José Cordeiro |Paulo Rocha | Manuel Barbosa |Paulo Aido | Tony Neves | LOC/MTC |Rita Figueiras | Varico Pereira | JoãoArmando Gonçalves | AntónioGerardo Esteves | Eduardo Cordeiro

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Educação sem tempo para férias

Paulo Rocha Agência ECCLESIA

O fim do tempo letivo, em cada ano escolar, fazcom que muitas famílias se deparem com aincapacidade de dar continuidade a um itinerárioformativo, feito não só dos resultados que afrequência escolar gera como também da relaçãocom um grupo de amigos, da participaçãocomunitária e do diálogo familiar.Terminar aulas e principiar um período de fériascorresponde, em muitos casos, a começar dozero, a procurar novos laços de amizade, novosgrupos e projetos formativos que estejam emsintonia com os que reuniram criatividade e forçaao longo dos meses anteriores. Noutros casos,felizmente, o contexto familiar permite não só apermanência de linhas de conduta como asolidificação de laços que estruturam um novoano, de trabalho ou estudo, após o tempo dedescanso.Nos meses de pausa, muitas iniciativas levamadolescentes e jovens até à ocupação de temposlivres, a férias missionárias, a campos detrabalho ou de lazer, a acampamentos, aencontros de desporto, regatas de competiçãoou projetos de voluntariado, dentro de portas oualém-fronteiras. Na origem e na história destesprojetos estão muitas instituições que colocamem lugar cimeiro do seu ideário o contributo paraa educação dos que neles participam, semqualquer outro proveito! Entre elas, muitas têmligação à Igreja Católica, através de paróquias,congregações religiosas, grupos ou movimentos.Como no setor das respostas sociais, o relevo deorganizações religiosas está a ceder espaço

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a outras que perseguem nãoapenas objetivos pedagógicos.Autarquias, associações,academias, cooperativas,corporações e mesmo empresasconquistam espaço na promoção deiniciativas que atraem alunos semaulas, adolescentes e jovens sem apossibilidade de permanência nocontexto familiar quando a escoladeixa de fazer parte da rotina diária,muitas vezes apenas por aíencontrarem uma possibilidade denegócio.A crescente necessidade desubstituir o espaço da rua porabrigos

organizados que proporcionemtempos de lazer às novas geraçõesé um desafio crescente paraorganizações com prioridadespedagógicas nos seus propósitos,uma vez que a frequência e osucesso de tempos letivos podedepender de apostas em períodosde lazer. De facto, a permanênciados que iniciam um itinerárioformativo apenas se consegue comuma oferta pedagógica criativa econstante. A abundância de ofertasdesafia famílias e instituições aperseguir uma educação sem tempopara férias.

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David Cameron sugeriu que se expanda a vedação em torno do porto de Calais, como forma de impedir que os ilegais abrigados nessa cidade

do norte de França cheguem ao Reino Unido.

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“Precisamente porque o Estadoé laico, deve cumprir o seudever e, em liberdade, potenciaros canais, espaços, instituiçõese instrumentos que valorizam afé dos cidadãos que oelegeram”. D. Jorge Ortiga,Arcebispo de Braga, 24-06-2015

“Considerar a encíclica comotomada de posição entre escolas depolítica e sistemas sociais ou comocrítica geral à vida económica édisparate. O próprio faz questão deexplicar: "Repito uma vez mais que aIgreja não pretende definir asquestões científicas nem substituir-se à política, mas convido a umdebate honesto e transparente,para que as necessidadesparticulares ou as ideologias nãolesem o bem comum.” João Césardas Neves, Diário de Notícias, 24-06-2015 “O excesso de privatizaçõesatingiu tal proporção que aspróximas eleições legislativasmais do que determinar quem éo futuro primeiro-ministro dePortugal servirão paraconhecermos o agenteimobiliário que passará (oucontinuará) a defender osnossos interesses.” João PintoCosta, Sábado, 24-06-2015 “A festa de São João na cidade doPorto foi-se esvaziando do ladoreligioso e transformaram o santonum ídolo.A festa esvaziou a personalidade deSão João Baptista. É o São João nacascata e nas canções, mas a Igrejatem deixado um pouco para trás afigura de São João no início do NovoTestamento.” Padre Jardim Moreira,Agência Ecclesia

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Igreja em Portugal acolhe desafiosda nova encíclicaA Igreja Católica em Portugal temvindo a promover um conjunto deiniciativas e comentários sobre anova encíclica do Papa Francisco,‘Laudato si’, que segundo o cardeal-patriarca de Lisboa reforça o“caráter humano da ecologia”,procurando ultrapassar o“contrassenso” que é deixar apessoa fora destas preocupações.“O ser humano não pode ficar fora”,defendeu D. Manuel Clemente,numa conferência de imprensa paraapresentação do novo documentopontifício, na igreja de São João deDeus (Praça de Londres, Lisboa).Segundo o presidente daConferência Episcopal Portuguesa,a encíclica insere-se na DoutrinaSocial da Igreja, tendo comonovidade a sua “globalidade” e oseu “caráter integral” num tema quediz respeito a crentes e não crentes.D. Manuel Clemente sublinhou a“legitimidade” do Papa empronunciar-se sobre estes temas,tirando “consequênciassociopolíticas do Evangelho”.Já o bispo de Beja, na sua notasemanal, sublinha que o Papaaborda “temas difíceis”. “[Aencíclica] convida os cristãos etodos os homens

de boa vontade a cuidar da casacomum, que não é apenas anatureza, mas todas as relações dapessoa humana consigo, com osoutros e com Deus, o Criador detudo e de todos”, assinala D.António Vitalino.O bispo de Angra considera a‘Laudato Si’ como uma “intervençãohistórica assinalável” que vai deixarmarcas “não só no seu pontificadomas também no mundo”. “Quando oPapa disse que a terra tem recursossuficientes para não ter pobres e noentanto não os potencia, já estava adar indicações sobre estanecessidade de, a par de umaecologia ambiental, os políticos sepreocuparem com uma dimensãohumana”, disse D. António de SousaBraga.D. Virgílio Antunes, bispo deCoimbra, sustentou que a novaencíclica deve ter consequênciaspara “a realidade política”internacional e portuguesa parauma “mudança de cultura e dementalidade”, superando o“imediatismo”. Nesse sentido, pedeum compromisso aos responsáveispolíticos em temas de fundo, “quenão sejam questões deconveniência nem de interessesimediatos, simplesmente

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de conquista de voto, mas que hajaefetivamente programasadequados, medidas, propostasque sejam consequentes”.O bispo da Guarda, D. ManuelFelício, afirmou que o documentolança um “forte convite” à“responsabilidade” com ahumanidade. “Esta encíclica é umforte convite ao exercício da nossaresponsabilidade sobre os benscriados, a começar pelo bemfundamental que a própria naturezahumana é em si mesma”, escreve oprelado.O bispo e os membros do clero daDiocese de Setúbal elogiaram a“atualidade e profundidade” danova encíclica de Francisco,pedindo que a mesma ajude apromover um novo

estilo de vida. “Apelamos à práticade uma vida sóbria, na utilização daenergia, dos alimentos, da água, e àdescoberta de formas de distribuiçãopor todos do bem do trabalho, demodo a tirar os pobres da valeta davida e a sentá-los à mesa comum”,assinala uma nota publicada napágina da Diocese de Setúbal.

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Clérigos vestem-se para o verãoA Irmandade dos Clérigos apostana oferta cultural diversificada paraatrair visitantes e esta segunda-feira vai disponibilizar o arquivo,com “mais de 200 anos”, einaugurar no seu museu a coleção‘Christus’, com 400 peças de artesacra. “Retrata a história da vida deCristo e como é que as civilizaçõestambém retratavam Cristocrucificado através de peças emmarfim, madeira desde o século XIIaté aos séculos XVIII-XIX”, revelouAntónio Tavares, gestor de projetoda Irmandade dos Clérigos.À Agência ECCLESIA, oresponsável explicou que o museuda Torre dos Clérigos tem três salastemáticas onde vai estar exposta acoleção ‘Christus’ que apresenta“Cristos crucificados com braçosabertos em diferentes posições”,fruto da doação de um particular.Este espaço de exposição foi criadodurante as obras de renovaçãorealizadas em 2014.Também na segunda-feira, dia deSão Pedro, vão ser apresentadosos resultados do projeto deorganização, digitalização,descrição e divulgação online doArquivo da Irmandade dos Clérigosdo Porto. A sessão tem iníciomarcado para as 18h00, na igrejados Clérigos.

Ainda nesse dia, a Torre dosClérigos abre ao público, de formagratuita, mediante inscrição prévia,“sujeita a confirmação edisponibilidade”, através doendereço deemail [email protected].‘Verão Fora de Horas’ é outranovidade que os responsáveisprepararam para a programaçãodestas semanas, com duasmodalidades, o ‘Pôr-do-Sol’ e o ‘ByNight’.

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Valorizar quem passou dos 40O Movimento Schoenstatt propõeum projeto de voluntariadointernacional para pessoas commais de 40 anos que têm ou játiveram o desejo de ajudar noutropaís e de anunciar a fé católica. “Amissão +40 é acima de tudo umaproposta, um desafio para umageração que está muito focada nafamília, nos outros, em atividadesmuito repetidas e que temdificuldade em sair de todo esseparadigma, olhar um bocadinhopara si e para aquilo que vai alémdo seu universo”, diz Vera Lopes,uma das responsáveis desteprojeto.À Agência ECCLESIA, revela que osvoluntários são desafiados a partirpara “territórios de algumainstabilidade”, onde pretendemtambém que exista “convívio emgrupo” porque a missão “não éisolada mas em equipa”. Por isso, oMovimento Schoenstatt apostou nadiversificação dos territórios para,de alguma forma, “aumentar odesafio” que é “pessoal comosocial” e têm previsto três paísesem África – “Cabo Verde; GuinéBissau e Moçambique” - e duashipóteses na Ásia – “Filipinas eCalcutá (Índia) ”.Vera Lopes acrescenta que existeum período de preparação de ummês

antes da viagem que “é suposto teruma duração mais curta” do queoutras experiências de missãoporque a geração +40 “muitas vezesnão está preparada para largar tudopor muito tempo”. “É quase umapequena experiência que pode darlugar a grandes experiências”,considera a responsável.A primeira reunião da Missão +40está marcada para o dia 3 de julho,às 21h30, no Restelo, Lisboa.De regresso a Portugal depois dequatro anos na Guiné-Bissau,Rossana Silva também é gestoradeste projeto e destaca que “todasas áreas” de saber/intervenção epessoas são “bem-vindas”. “Amissão está aberta a todas aspessoas que já sonharam em fazermissão e não puderam, essa é aprimeira seleção”, contextualiza aentrevistada.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosemwww.agencia.ecclesia.pt

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Paquistão: Minoria cristã recusa ser silenciada, diz presidente daConferência Episcopal

Publicação do GPS do Peregrino

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Sínodo 2015 já tem roteiroA próxima assembleia do Sínododos Bispos, marcada para outubro,no Vaticano, vai sublinhar aimportância das famílias nasociedade e na Igreja, com umaabordagem de “misericórdia” pelasque vivem maiores dificuldades. Aspropostas e questões centrais dareunião consultiva de episcopadoscatólicos estão presentes nodocumento de trabalho(instrumentum laboris) apresentadoesta terça-feira, após nova consultaaos católicos de todo o mundo nasequência da assembleiaextraordinária de 2014.O documento procura superar aaparente divisão entre “doutrina” e“misericórdia” que marcou algunsdos debates, afirmando que “amisericórdia é verdade revelada”.“Para a Igreja, trata-se de partir dassituações concretas das famílias dehoje, todas necessitadas demisericórdia, a começar pelas quemais sofrem”, assinala o texto.Em relação aos católicos quecontraíram um segundo casamento,civil, refere-se que há váriaspropostas de “via penitencial”, facea situações de “convivênciairreversível”, mas sublinha que issonão implica uma

possibilidade automática de acessoà Comunhão eucarística.As propostas de “reconciliação” e avalorização de quem permanece “fielao vínculo”, não se casando depoisda separação, são outros temaspresentes.Após uma recolha de respostasjunto das conferências episcopais eoutras instituições, o ‘instrumentumlaboris’ assinala um “amploconsenso” sobre a necessidade detornar mais “rápidos e ágeis” osprocedimentos para oreconhecimento dos casos denulidade matrimonial,preferencialmente “gratuitos”.Da mesma forma, as dioceses sãoconvidadas a oferecer serviços de“informação, aconselhamento emediação” na pastoral familiar.A Igreja, atendendo à “fragilidade demuitos dos seus filhos”, convida areconhecer os valores presentesnas uniões civis e pré-matrimoniais,procurando que estas pessoascheguem ao Matrimónio cristão“após um período de discernimento”.O documento de trabalho divide-seem três partes, num total de 147números, partindo dos desafios quese colocam face aodesconhecimento

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do ensinamento católico sobre afamília e das dificuldades colocadaspela separação entre “sexualidade eprocriação”.O texto lamenta a confusão sobre a“especificidade social” dos váriostipos de união, rejeitando o‘casamento’ entre pessoas domesmo sexo, pedindo respeito pela“dignidade” de todas as pessoas,“independentemente da suatendência sexual”.No documento, alerta-se para asdificuldades que colocam as famíliasem risco, desde as guerras e

migrações à crise económica,falando em “órfãos sociais”.O documento de trabalho realça aimportância do compromisso“sociopolítico” dos católicos emfavor da família e da defesa da vida,recordando a “obrigação moral” daobjeção de consciência em matériasrelacionadas com a prática doaborto.O “Evangelho da Família, que incluia defesa da “indissolubilidade” doMatrimónio, é proposto como um“ideal de vida”, apesar de todas asdificuldades sociais e culturais, paracomunicar "a esperança".

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Francisco fala às famílias feridasO Papa Francisco alertou noVaticano para as consequênciasdas discussões dos pais sobre osfilhos e condenou a violênciadoméstica, admitindo que aseparação pode ser “inevitável”para defender as vítimas. “Há casosem que a separação é inevitável.Por vezes, pode tornar-se mesmomoralmente necessária, quando setrata precisamente de poupar ocônjuge mais fraco ou os filhospequenos às feridas mais gravescausadas pela prepotência e aviolência, a humilhação e aexploração, a alienação e aindiferença”, declarou, na audiênciapública semanal que reuniu dezenasde milhares de pessoas na Praça deSão Pedro.Francisco sublinhou que o“esvaziamento do amor conjugal”gera “ressentimento nas relações” e“desemboca em laceraçõesprofundas que dividem marido emulher”, com “palavras, ações eomissões que, em vez de exprimiramor, o corroem e, pior ainda,mortificam-no”. “Não faltam, graçasa Deus, os que, apoiados pela fé eo amor pelos filhos, testemunham asua fidelidade a um vínculo no qualacreditaram, pormuito que pareça impossível fazê-lorenascer”, constatou.

Segundo o Papa, no entanto, nemtodos os separados sentem esta“vocação”. “À nossa voltaencontramos diversas famílias emsituações chamadas irregulares. Eunão gosto desta palavra. Ecolocamo-nos muitas perguntas:como ajudá-las? Como acompanhá-las? Como acompanhá-las para queas crianças não se tornem reféns dopai ou da mãe?”, prosseguiu.Francisco sublinhou que quando osmembros do casal “pensamobsessivamente nas suas própriasexigências de liberdade egratificação”, essa “distorção fereprofundamente o coração e a vidados filhos”. Nesse sentido, o Paparecordou aos casais a “graveresponsabilidade” de salvaguardar o“vínculo conjugal” que dá início àfamília humana.

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Turim viveu dias de festacom o Papa da terraO Papa encerrou esta segunda-feira a sua visita de dois dias aTurim, norte da Itália, após teragradecido aos organizadores e àComissão da Ostensão (exposiçãopública) do Santo Sudário,encontrando-se ainda com umgrupo de refugiados.A viagem incluiu um momento deoração silenciosa diante doSudário, na catedral da cidadeitaliana, este domingo. Franciscodisse que este é um “ícone” doamor de Jesus, que continua aatrair “muitas pessoas” para ali ovenerarem, remetendo para “orosto e o corpo martirizado” deCristo.O Papa apresentou-se como “neto”da “terra abençoada” do Piemonte,de onde eram originários os seusavós e pais que imigraram para aArgentina. Francisco almoçou emprivado com seis primos e suasfamílias, num total de 30 pessoas,neste “regresso a casa” em quevisitou, de surpresa, a igreja deSanta Teresa, na qual se casaramos seus avós paternos, GiovanniBergoglio e Rosa Vassallo, em1907, e onde foi batizado o seu paiMario, no ano seguinte.A visita a Turim decorreu nocentenário do nascimento de SãoJoão Bosco (1815-1888),

fundador da Sociedade de SãoFrancisco de Sales, os Salesianos,família religiosa vocacionada para aeducação de jovens órfãos enecessitados.Numa cidade marcada pela crise, oPapa renovou as suas críticas a umaeconomia centrada no mercado econvidou ao respeito pelosimigrantes, vítimas da falta deequidade de um sistema que“descarta” e das guerras.“No sistema económico mundial nãoestão o homem e a mulher nocentro, como Deus quer, mas anteso deus dinheiro. E tudo se faz pordinheiro”, alertou mais tarde, numencontro com cerca de 90 miljovens.O programa oficial da visita concluiu-se na Igreja Valdense em Turim,onde Francisco se tornou o primeiropontífice a entrar num templo destadenominação cristã nascida noséculo XII.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt

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Sudário, «ícone» do amor de Jesus

Audiência Geral de 24 de junho

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Fortaleza

D. José Cordeiro Bispo de Bragança Miranda

No seguimento da prudência e da justiça, aterceira das virtudes cardeais é a fortaleza. Estasvirtudes principais são os eixos fundamentais davida boa. A fortaleza é um dom sobrenatural, qualdom do Espírito Santo. Mas é também umavirtude natural. Como a aplicamos? É umaatitude humana que devemos gerir.O que é? Uma energia ou uma força que nosleva a não desistir de conseguir um bem, mesmoque esteja em perigo a vida. O perigo irascívelacontece, ou seja, o enervar-se é natural. A iratem um uso recto. A coragem é o recto uso daira. Uma pessoa irada é como alguém que partena condução de um carro sempre em 6ºvelocidade. A fortaleza é, com efeito, a energiabem canalizada para conseguir o fim que é oBem pessoal e o Bem comum.A virtude da fortaleza é a virtude humana queguia o nosso procedimento segundo a razão e afé. Assim o relembra o Catecismo da IgrejaCatólica: «A fortaleza é a virtude moral que, nomeio das dificuldades, assegura a firmeza e aconstância na prossecução do bem. Torna firmea decisão de resistir às tentações e de superaros obstáculos na vida moral. A virtude dafortaleza dá capacidade para vencer o medo,mesmo da morte, e enfrentar a provação e asperseguições. Dispõe a ir até à renúncia e aosacrifício da própria vida, na defesa duma causajusta. “O Senhor é a minha fortaleza e a minhaglória” (Sl 118, 14). “No mundo haveis de sofrertribulações: mas tende coragem! Eu venci omundo!” (Jo 16, 33)» (nº 1808).

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Há uma oração que a Liturgia rezano Tempo Comum e que expressabem o sentido da fortaleza: «Deusmisericordioso, fortaleza dos queesperam em Vós, atendei propícioas nossas súplicas; e, como semVós nada pode a fraqueza humana,concedei-nos sempre o auxílio davossa graça, para que as nossasvontades e acções Vos sejamagradáveis no cumprimento fiel dosvossos mandamentos».Hoje exalta-se muito a força física.

Contudo, na realidade, cadapessoa apercebe-seconstantemente da sua fragilidade,particularmente na dimensãoespiritual e moral, cedendo a muitastentações. Com efeito, para perdoare resistir às múltiplas provocações énecessária a virtude da fortaleza.A fortaleza empurra sempre para oBem e protege o coração nocaminho da vida. Quem não temcoragem e confiança, perdeu ocoração.

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Desafios do teletrabalho

LOC/MTC

Hoje o conceito de trabalho eletrónico abrangenão apenas o teletrabalho, uma novidade nosanos 90 do século XX, mas também outrasatividades que envolvam a utilização deferramentas de trabalho eletrónicas. Estão assimabrangidos todos os trabalhadores que, emdeterminado momento, utilizam as tecnologias deinformação e comunicação para desenvolver asua atividade.Por diversas razões em Portugal o teletrabalhonão tem assumido a mesma expansão que emoutros países, nomeadamente em paísesnórdicos. Talvez existam em Portugal entre 100 a200 mil teletrabalhadores, embora uma partesignificativa destes seja independente e nãosubordinada ou um misto das duas.Quando se fala em teletrabalho existe, por vezes,uma ideia sedutora de trabalhar à solta ou emcasa, sem os constrangimentos dos transportese horários. Mas nem tudo são rosas e é precisoestar muito atento para que, através de umaproposta de teletrabalho, não se caia numaarmadilha que nos conduza á precariedade, aoisolamento, sem relação com os colegas, à perdade eventuais regalias sociais, a conflitosfamiliares e à perda da proteção de um contratocoletivo de trabalho.Embora não exista em Portugal aquilo a que sepoderia chamar um estatuto do teletrabalhador, oCódigo do Trabalho atual nos artigos 165º a 171ºdefine de algum modo o quadro de proteção doteletrabalhador subordinado, ou seja aquele quetrabalha para um patrão, nomeadamente a formae conteúdo do contrato de trabalho, os

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instrumentos de trabalho, aprivacidade, as condições desegurança e saúde no trabalho ehorários.Neste quadro o teletrabalhador temos mesmos direitos e deveres dosoutros trabalhadores,nomeadamente no que respeita áformação e carreira profissional,limites do período normal detrabalho e seguro de acidentes detrabalho.Por outro lado, o patrão deve evitaro isolamento do trabalhador atravésde contatos regulares com aempresa e com os colegas, forneceros instrumentos de trabalho e pagaros custos inerentes à produção.Segundo a lei o teletrabalhador emregime de teletrabalho integra onúmero de trabalhadores daempresa para os efeitos derepresentação

coletiva, podendo eleger e ser eleitopara as estruturas sindicais, comissão de trabalhadores ououtras. Pode inclusive utilizar astecnologias colocadas à suasdisposição para contactar asorganizações de trabalhadores.Os trabalhadores anteriormentevinculados ao patrão usufruem deum regime especial de teletrabalho.Neste caso a duração inicial docontrato de teletrabalho não podeultrapassar os 3 anos e pode serdenunciado nos primeiros 30 diaspor qualquer das partes. Cessandoo contrato de teletrabalho otrabalhador volta ao seu lugar naempresa.Antes de aceitar um contrato destesconvém falar com o sindicato e verbem as condições propostas.

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A Barca do Inferno e o Clube doCebolinha

Rita Figueiras Universidade Católica Portuguesa

A saída em direto de Manuela Moura Guedes doprograma ‘Barca do Inferno’ teve uma granderepercussão nas redes sociais, virando contra oprograma o que mais lhe foi elogiado quando aBarca se estreou na primeira semana de Outubrode 2014 na RTP Informação. O novo programade debate contava com um painel exclusivamentecomposto por mulheres (Isabel Moreira, política;Raquel Varela, académica; Manuela MouraGuedes, jornalista e apresentadora; MartaGautier, psicóloga e comediante, substituída logono segundo programa pela jurista Sofia ValaRosa) e conduzido pelo comediante-apresentador Nilton. Foi precisamente pelo factodo comentário ser feito exclusivamente pormulheres que o programa reuniu críticaspositivas.A diversidade de assuntos, a pluralidade decorrentes de opinião e a paridade entre génerossão indicadores importantes de democraticidadedo espaço público em qualquer sociedade, peloque a presença de mais mulheres nos espaçosde debate e comentário em Portugal éfundamental. Este argumento, no entanto,ofuscou a pergunta óbvia: Porquê um painelexclusivamente composto por elementos do sexofeminino? É verdade que os media noticiosostendem a efetuar uma aniquilação simbólica daspoucas mulheres que se movem nos espaços depoder, votando-as à invisibilidade, ao mesmotempo que reforçam imagens estereotipadas quesedimentam

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representações sexistas nasociedade. Mas se a motivação doprograma assentou numa estratégiade discriminação positiva, ela nãoestaria livre de ser entendida(injustamente?) como uma decisãoassente na lógica mediática – numadeterminada imagem, dramaticidadee perfil –, que poderia reforçarainda mais as referidasrepresentações. Contudo – e não negando abondade

da iniciativa –, incluir mulheres emformatos de debate que excluem eisolam o género numa espécie declube de Cebolinha ao contrário,onde menino não entra, em vez dequebrar o preconceito pode antester contribuído para a reproduçãode velhas lógicas e estereótipos.‘Guetificar’ pode ter feito pouco maisdo que gerar um efeito dedesigualdade de géneros desegunda ordem no comentário emPortugal.

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“Laudato Si”

João Armando Gonçalves Presidente do ComitéMundial do Escutismo

A encíclica “Laudato Si'” recentemente emitidapelo Papa Francisco merece do meu ponto devista três destaques essenciais:O primeiro aspeto a merecer ser sublinhado é asua ATUALIDADE. Quando a Igreja é tantasvezes associada a ideias conservadoras ouanacrónicas, o Papa Francisco dá um sinal clarode como a Igreja está (ou deve estar) atenta aosproblemas que afetam as pessoas comuns e aHumanidade em geral, nos dias de hoje. Aimportância da Natureza enquanto dádiva quenos é confiada está longe de ser um novo temano Cristianismo e só por desconhecimento sepode estranhar que ela seja objeto de umaencíclica papal. Para o Escutismo,nomeadamente o Escutismo Católico, o Ambientee a Natureza desempenham um papel central nasua proposta educativa já que representa ocenário privilegiado, não apenas para o“confronto” com desafios pessoais que fazemcrescer os jovens, como para a descoberta dopróprio Deus revelado nas maravilhas queencerra.Um segundo aspeto que impressiona é o daFRONTALIDADE do Santo Padre ao não hesitarem questionar os modelos sociais e económicosem que vivemos e alguns dos seus protagonistasmaiores. Francisco sai, uma vez mais, em defesadaqueles que vivem em condições maisdesfavoráveis e em zonas do globo maisafetadas pelas consequências nefastas dummodelo económico que tende a esgotar osrecursos naturais. E não hesita em questionaros

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comportamentos das nações maisricas, chamando-as àresponsabilidade de utilizaçãoracional dos recursos. O Escutismotem, nos últimos 20 anos,aumentado significativamente o seuenfoque nos assuntos ambientais,quer nos conteúdos da suaatividade educativa, quer através deprojetos concretos em que milharesde jovens têm trazido mudança àssuas comunidades: plantandoárvores, preservando cursos deágua, participando em limpeza depraias, prevenindo incêndios emflorestas, promovendo campanhasde sensibilização para o lixo urbano,etc. Mas também respondendo àsnecessidades de comunidadesafetadas por severos desastres

naturais como tufões, terramotos,cheias, deslizamentos de terras,secas prolongadas e outras.Por último, destaca-se na encíclica oapelo à MOBILIZAÇÂO. Francisconão se limita a elencar problemas(apoiando-se no sólidoconhecimento científico entretantoproduzido) mas exorta todos a umamudança de atitude e decomportamento. O apelo começa nacomunidade internacional masextende-se a cada um, a cada serhumano, pois acredita que aresponsabilidade é de todos e decada um. A importància dada ao quecada um pode fazer em cada local(lar, rua, comunidade) convergetotalmente com a abordagem doEscutismo ao acreditar que “cadaum pode fazer a diferença”.

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#somostodospessoas

Carlos Borges Agência ECCLESIA

“O que te fez sair da tua terra natal, à qualobviamente pertences, para viajar distânciasindescritíveis para ser um imigrante pobrenuma sociedade refinada e culta que poderiater continuado sem você?- A guerra.- Diga outra vez?- O meu pai foi assassinado e o resto daminha família executada por um pelotão. Anossa vila foi transformada em cinzas e ossobreviventes obrigado a fugir. Eu saí porcausa da guerra.- Entendo. Então, você é mais um refugiado?- Correto. […](Diálogo entre Gustave H, o concierge, e ZeroMoustafa, o jovem paquete, no filme‘O Grande Budapeste Hotel’, de WesAnderson.)

Partilho este diálogo, que me prendeu a atençãoquando vi o filme e esta semana apareceu-meoutra vez à frente, como complemento ao que játinha começado a escrever.A 20 de junho assinalou-se o Dia Mundial doRefugiado, antes o Comissariado das NaçõesUnidas para os Refugiados (ACNUR) publicou orelatório Global Trends (Tendências Globais)onde alerta para um “claro crescimento depessoas forçadas a deixar suas casas”, umnúmero que atingiu o nível recorde de “59,5milhões de pessoas no final de 2014”.O ACNUR revelou que as deslocações globais depopulação provocadas por guerras, conflitos eperseguições “atingiu um nível recorde”.

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Em Portugal, o Serviço deEstrangeiros e Fronteiras informouque até maio de 2015 foramapresentados 387 pedidos deproteção internacional,correspondendo a 37nacionalidades diferentes; 19pedidos de asilo são de menoresnão acompanhados.Depois, noutros países da Europadestacam-se, por exemplo, osemigrantes que se amontoam nafronteira de Inglaterra e o Governohúngaro que suspendeuunilateralmente a lei de asilo porqueo “barco está cheio” – 54.000emigrantes desde janeiro - eanunciou a construção de um murocom quatro metros de altura e 175quilómetros ao longo da fronteiracom a Sérvia.Voltando a Portugal, o ServiçoJesuíta aos Refugiados e CâmaraMunicipal de Lisboa assinaram umprotocolo

de parceria esta semana.Acolhimento, integração ecapacitação são prioridadesaquando a reinstalação derefugiados que vão ter uma novaoportunidade de vida.A este propósito deste temacontabilizei agora que a minhafotografia de perfil, na rede socialFacebook, (igual a esta aqui aolado) teve ou só teve 62 “gostos”,por sua vez a imagem de capa contacom três gostos e uma partilha.Estão online desde o 26 de abrilaquando o lançamento da iniciativa#somostodospessoas onde váriasorganizações ligadas à IgrejaCatólica em Portugal manifestaramsentimentos de “consternação eindignação” e pediam solidariedadea crentes e não crentes pelosmigrantes.Um apelo, alerta e iniciativa cadavez mais atual num mundo.

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O Santuário do Bom Jesus vai ser elevado à categoria de “basílicamenor”, no próximo dia 5 de julho, um passo significativo quereforça a sua candidatura a Património Mundial da UNESCO. OSemanário ECCLESIA apresenta nesta edição um dossier dedicado aeste símbolo do Minho, com depoimentos de responsáveis eclesiaise outros especialistas sobre o valor religioso, cultural e turísticodeste monumento.O título de basílica é concedido pela Santa Sé a algumas igrejas pelasua antiguidade ou por serem centros de devoção e deperegrinações.O conjunto arquitetónico do Bom Jesus do Monte é considerado um‘ex-líbris’ da cidade de Braga; em 1373 já existia uma ermidadedicada à Santa Cruz. O atual templo que remata o escadório, comas Capelas e Passos da Paixão, foi concluído em setembro de 1811,substituindo um antigo templo barroco que vinha do tempo de D.Rodrigo de Moura Teles (1704-1728). O Bom Jesus viria atransformar-se num destino de romagens, no Minho e também noresto do país.

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A bondade de Jesuse o respeito pela naturezaA Arquidiocese de Braga teve, esteano, a imensa alegria de lhe serconcedida a elevação de dois dosseus santuários a basílicasmenores. O primeiro santuário,agora basílica, foi o de S. Bento daPorta Aberta. A razão que nosmotivou a este pedido foi simples:estamos em pleno ano jubilar ecomemoramos 400 anos do templodedicado a S. Bento. É sabido que,logo após o Santuário de Fátima, S.Bento é o centro de espiritualidademais visitado em Portugal.Agora, razões semelhantes, levarama Arquidiocese de Braga a formularo pedido de elevação do santuáriodo Bom Jesus do Monte a basílicamenor, título já concedido a 19 deAbril deste ano. A carta queacompanha o Decreto sublinha umamaior ligação ao Santo Padre e a“exemplaridade” do santuário como“centro de acção litúrgica e pastoralna Diocese”. É a esta razão. Fazerda futura basílica do Bom Jesus umexemplo da acção litúrgica, daespiritualidade e do acolhimento aomilhão de peregrinos queanualmente acorrem a estaestância.

Mas o Bom Jesus representa aindaalgo mais profundo. A nova basílicaé, e deverá tornar-se ainda mais,um verdadeiro livro aberto,inteligível por todos bracarenses eturistas, sobre a bondade de Jesus,o Bom Jesus. O ritmo frenético dodia-a-dia faz com que, amiúde, aspessoas não tenham tempo parapensar e, por vezes, tomem opçõeserradas. Outras vezes, nãoconseguem assimilar e discernir asua vida com os olhos de Deus. Eentão, como consequência, criam-seimagens equivocadas de Deus. Eleestá longe, não atende aos pedidos,Ele é severo... ouvimos tantas vezesda boca das pessoas.É por isso que Jesus deve entrar navida das pessoas, ser o norte e osentido das suas escolhas pessoais.Trata-se, como não poderia deixarde ser, de uma profunda mudançade mentalidade: passar de um Deuslongínquo, castigador, a exigirsacrifícios, para uma proclamaçãoda Sua beleza num ambienteigualmente belo, como é o sacromonte do Bom Jesus.O Bom Jesus possui um

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valorosíssimo património artístico eambiental, permitam-me sublinhareste aspecto. O património émemorável e encantador. A basílica,as 19 capelas, o escadório e asfontes da purificação dos sentidossão um museu ao livre, para quemvisita numa óptica de turismoreligioso. Mas sabemos, ao mesmotempo, que a beleza, quandodespida de vaidades, faz-seevangelização. Outra coisa não nosmove senão o anúncio do

Evangelho pela via da beleza, daespiritualidade e do cumprimentodas obras de misericórdia.A património é rico, assim como todoo ambiente que o rodeia. O PapaFrancisco acaba de publicar aencíclica Laudato si’, sobre ocuidado da casa comum. Creio queo Bom Jesus poderá ser, tambémneste âmbito, um espaço dereferência, uma casa a ser cuidadae valorizada. Queremos cuidar damata do Bom

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Jesus, do lago e ainda criarum jardim bíblico. Queremos que anatureza fale da bondade de Cristo.Tudo isto são razões que nos levama acreditar que, no futuro, o BomJesus do Monte será consideradoPatrimónio Mundial pela UNESCO.Os antigos diziam que honor trazconsigo honnus. A honra implica umónus. O nosso encargo é, antes demais, honrar a memória dos nossosantepassados e permitir que aspessoas façam a experiência dabondade de Deus. Se conseguirmosisso... então o nosso ónus terá sidoleve em comparação com os ganhosobtidos para o Reino de Deus.

D. Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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Do Santuário à VeligiaturaA estância do Bom Jesus do Monte(Braga)Um lugar de cultoe simbólicoO Bom Jesus do Monte (BJM)inscreve-se numa área de 26,5hectares que se consubstancia numSantuário, numa envolventehoteleira e num centro decongressos, tudo enquadrado numfrondoso parque arborizado, comacessibilidades viáriascomplementadas por uma rede decaminhos, bem como num conjuntode lagos, grutas e jardins. As origens do Santuário recuam aoséculo XIV, embora a suaimportância só se acentua já empleno século XVII, por altura doaparecimento da Confraria do BJM(1629). Mas a monumentalidade dasedificações religiosas apenas seconsolidou nos finais do século XVIIIe inícios do século XIX, quando asestruturas edificadas foramrematadas pelo grandioso templo doarquiteto bracarense CarlosAmarante.Congénere de uma série de montessacros europeus, especialmentedos “protótipos” italianos como é ocaso de Varese ou dos Sacri Montide Piemonte e Lombardia, o Bom

Jesus foi um local de rituais e demanifestações de cultoenquadradas nos “hábitosdevocionais das Jerusaléns”, bemcomo nas práticas de devoçãoda via-crucis e dos calvários, nascerimónias quaresmais e em todauma simbólica e mentalidadereligiosa de um tempo que era oseu.Comummente aceite a sua influêncianoutros santuários, nomeadamenteem Portugal, Espanha ou Brasil, ovalor deste sítio Santuário é agoraalvo de um processo de candidaturaa inscrição na “Lista de PatrimónioMundial” que se consubstancia emargumentação que pretendedemonstrar o inequívoco “valorexcecional” do sítio que responde aalguns dos principais critérios para aavaliação da sua excecionalidade.Demais, este processo incidiu aindano sublinhar da “integridade eautenticidade do bem”, pela suaforma e conceção que apesar danatural diversidade estética de cadatempo é apresentado como uma“peça harmónica”. Assinalada a suaestrutura formal, quer o seumonumental escadório barroco,quer a sua nova igreja, a que sejunta

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Entrevista a Varico Pereira sobre a requalificação do Bom Jesus do Monte

uma densa narrativa religiosa, oprocesso não deixa de sublinhar aexistência de um qualificado e bemenquadrado parque hoteleiro e umsecular elevador de montanha. Do santuário à vilegiaturaDurante séculos o BJM foi ponto deconfluência de peregrinações eenquadrado pelo culto de relíquias,representando um dos maissignificativos Santuárioscristológicos portugueses. Em regrafora das localidades, estes locaistornaram-se polos de intenso fervorreligioso,

nomeadamente por altura dascelebrações da Paixão que, no casodo BJM, se refletiu num intensonúmero de visitantes.Ao longo do século XIX, o santuáriopassou a cruzar a valência de localde peregrinação com uma função delazer e de vilegiatura. O Monte foirepresentando o desejo sazonal depurificação no sentido deafastamento da rotina urbana eassumido enquanto espaço deentretenimento. Prefigurando amatriz de estância, o BJM tem vindoa afirmar o seu potencial turístico ehoteleiro.

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O Santuário do BJM tem hoje cercade um milhão de visitantes/ano,transformando-se num íconeturístico não só da cidade de Braga,mas de toda a região Norte emesmo do País. Local de relevânciamundial no âmbito da arquiteturabarroca, é promovido não apenascomo cartaz turístico, mas tambémcomo espaço com conteúdo artísticoque aprofunda

o conhecimento sobre esteimportante valor patrimonial. Aimagem do BJM com os seusescadórios é, talvez, a principalimagem de marca de Braga, poisaparece reproduzida num semnúmero de publicações, podendomesmo servir de capa em livros deedições internacionais, como

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o livro The grand tour. Volta aomundo pelos olhos de umarquitecto, de Harry Seidler.O BJM surge como um dos locaismais referidos na programaçãoturística para o Norte de Portugal.Aliás, a análise da programação deOperadores Turísticos e dadeslocação de turistas individuais,demonstra que é usual incluir o BJMnos principais itinerários turísticosque percorrem Portugal e Espanha,nomeadamente os que ligam Fátimaa Santiago de

Compostela, integrando os grandescircuitos turísticos-culturaiseuropeus.

Eduardo Cordeiro Gonçalves(ISMAI)

Varico da Costa Pereira (CBJM)

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Bom Jesus do Monte:um sermão eloquenteNa leitura da arte cristã facilmentese percebe a força do valor daprimeira componente, a importânciado caráter da segunda, não sendopossível descurar a mensagemsimbólica e iconográfica da terceira.Ao abordar o Bom Jesus do Monteteremos sempre de refletir na suaimplantação e incrustação namontanha. Contemplar o seuenquadramento panorâmico eharmonioso, a sua integraçãopaisagística, como uma pérola queremata a montanha, numalinguagem de granito diluída nanatureza, em estreito diálogo. OBom Jesus de Braga é a cidade dalinguagem codificada de Deus, dossinais e dos símbolos, legívelapenas para quem beber doEvangelho.O Bom Jesus é uma cidade dentrode outra cidade. Até há três séculosatrás tínhamos duas cidades: aBracara Augusta e a NovaJerusalém. A primeira no vale,amuralhada, circunscrita e protegidapelas montanhas - a profana cidadedos homens. A segunda namontanha, lugar privilegiado para amanifestação de Deus, semcircunscrição e aberta

a todos. É lugar de peregrinação, derecolhimento, de contemplação, detransfiguração – é a sagrada cidadede Deus, o santuário eucarístico.Ao introduzir o simbólico, gostaria depegar numa frase de Jesus, muitosignificativa, que chegou a té nóspelo Evangelho de S. João e que faza síntese de toda a catequese deCristo: “Eu sou a Porta. Se alguémentrar por mim, será salvo”, Jo 10,9.A Porta, ao longo dos séculos,sempre teve uma importânciadeterminante, como elemento queencerra um espaço, que criafronteiras entre o espaço interior eexterior, entre o espaço privado epúblico, entre o espaço profano esagrado. Existe a porta da muralhada cidade, a porta do castelo, aporta de casa de cada um de nós; aporta do sacrário, a porta da NovaJerusalém, cidade de Deus, cujoPórtico deste Santuário testemunha.Ou ainda, resume em si osignificado da Porta que somoscada um de nós, na medida daabertura e fecho com que vivemos enos damos uns aos outros.Assim, como “os olhos são para ver”podemos concluir que o Pórtico

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do Santuário, imagem adotada parao congresso, não tem portas. Nuncaas teve e, assume-se,essencialmente, como umamarcação e sinal de entrada,estando encimado pela cruz deCristo, anfitrião da Nova Jerusalém.De que forma é, então, Jesus aPorta? Como encontramos essaPorta misteriosa do Bom Jesus doMonte se ela nunca existiu,fisicamente, pelo menos no Pórtico?

Começa aí a componente simbólicado Bom Jesus do Monte. O pórticodo Santuário é a mudança, apassagem para uma vida dearrependimento, de entrega edespojamento. A Porta aí existente éa doutrina de Cristo, aberto erecetivo a todos. Não está dentro demuralhas, apenas para lá de umpórtico, através de um percursoascético, alimentado por uma

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linguagem de sinais, símbolos e deum caminho estabelecido entre eles,ao longo da subida exigente damontanha, para atingir o supremoplano onde está Deus.Tanquerey, escritor do nosso tempo,no seu Compêndio de TeologiaAscética e Mística, aponta as TrêsVias Ascéticas, muito experienciadaspelos Jesuítas alguns séculos atrás.São explicadas como “três estádiosdiversos ao longo da mesma via”,ou por outros termos, três grausprincipais da vida espiritual,percorridos pelas almas quecorrespondem generosamente àgraça divina.” Trata-se de três grausde perfeição, conforme a almacomeça, progride ou chega enfim aotermo da vida espiritual nestemundo”, (Tanquerey, pág. 353).Assim, o primeiro estádio como “Apurificação da alma ou a viapurgativa”; no segundo, “a viailuminativa ou o estado das almasem progresso”; no terceiro grau “avia unitiva”.O que me parece é que no BomJesus nada é feito ao acaso. Teráhavido

uma ideia, um plano, um suporte ouorientações para a materializaçãotão perfeita da doutrina de Deus.Caso contrário, poderíamosperguntar-nos: Porquê um percursoziguezagueante? Porque não umpercurso direto, em escada de tiroou a solução igual ao escadório doscinco sentidos? Certamente nãoserá apenas por uma questãomorfológica e topográfica doterreno, mas antes uma filosofiateológica, proposta como percursode meditação e purificação, para aascensão da montanha, assim aoplano transcendental.De facto, ao longo do percursosagrado que o Santuário do BomJesus nos propõe, encontramosdistintos momentos e vivências: oEscadório do Pórtico, o Escadóriodos Cinco Sentidos e das TrêsVirtudes, o Templo e o Escadório doTerreiro dos Evangelistas.Segundo Tanquerey, “o quecaracteriza a via purgativa, ouestado dos principiantes é apurificação da alma, no intuito de sechegar à união íntima com Deus”. Éa fase em que a alma frágil vacila,como um pêndulo,

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confusa, demora-se entre o Bem e oMal, com as tentações da vida,vivendo numa certa escuridão oupenumbra, procurando odiscernimento. Podemos sentir eviver este recolhimento no“Escadório do Pórtico”, após apassagem deste. Um percurso emzigue-zague, de longos esuavizados patamares, intercaladospor degraus que nos vão elevandogradualmente. No percurso operegrino é convidado a refletir,meditar, convidado a fazer umaintrospeção para avaliação da suaconduta de vida.

Tanquerey refere, posteriormente,que “Purificada a alma das faltaspassadas por meio de longa elaboriosa penitência, proporcionadaao seu número e gravidade;confirmada na virtude pelo exercícioda meditação, mortificação eresistência às inclinações más e àstentações, tempo é de entrar na viailuminativa, assim chamada porconsistir principalmente em imitar aNosso Senhor Jesus Cristo pelaprática positiva das virtudes cristãs;ora Jesus é a luz do mundo e quemO segue não anda nas trevas”.

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Ao chegar à praceta circularterminamos o Escadório do Pórtico.Aí se tocam os dois mundos quepodemos contemplar: o mundo doshomens com vista sobre a cidade eo de Deus, com o esmagadorEscadório dos Cinco Sentidos e dasTrês Virtudes - íngreme,imensamente luminoso, acolhendoquem vem de Poente e transpondo-nos para Nascente. Neste escadóriopenetra a luz solar que tudo revelapelas formas e movimentos, pelossinais e símbolos que ao longo dopercurso encontramos. Aí,encontramos a chave da luz – ocálice, o mais significativo símboloeucarístico, sendo a síntese de todoo acontecimento dramático eglorioso de Deus: a Porta daSalvação, exposta pela revelaçãoda redenção, cujos sentidos, peloefeito perspético e somatório daspartes, constroem o todo.Na Paixão de Cristo são as suaschagas o registo mais importante ea resolução da sua morte. Nesteescadório, a primeira fonte querepresenta as chagas de Cristo,define a base desse Cálice barrocoe esbelto que nos legaram. Oslanços seguintes representam oscinco sentidos, definindo sucessivosnós na haste ou fuste do mesmocálice, numa

repetição cadenciada. O percurso éduro e exigente, como se um nótivesse de ser desatado para corrigircada sentido por onde entra opecado, no conhecimento domundo. Não é por acaso que a visãoé o primeiro dos sentidos, pois, decerto modo, a primeira a pecar.Assim, a passagem na viailuminativa ainda implica algunsaspetos a purgar: os sentidos.E, calcorreado o “Escadório dosCinco Sentidos”, representativodo antigo testamento, encontramosde seguida no “Escadório dasVirtudes”, representativo do novotestamento. Diz a Bíblia - “Se nãotiver caridade de nada meaproveita”.Aparecem, então, as Virtudes, porordem ascendente de grandeza eimportância: Fé, Esperança eCaridade. Ou seja, para chegar eme unir a Deus, posso ter Fé eEsperança mas se não tiverCaridade, nada sou para tocar aDeus. Por esta ordem surgem noescadório as Virtudes: o lanço da Fé - porque sem a Fé a nenhum ladoirei. É preciso acreditar que existeum Deus. O segundo lanço é oda Esperança - confiança nummundo e vida além deste. Porúltimo, o patamar da Caridade –esta a última condição para alcançara Deus. E, é assim que se forma acopa do cálice de que

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temos falado.A copa do cálice resulta dos alçadoslaboriosos de cada patamar que,progressivamente evoluem numagradação crescente, até fechar aodesenho do cálice que sensível ecoerentemente terminaram osantigos, podendo ser observado dapraceta circular. Cumprida oualcançada esta meta estamosperante o “Terreiro do Pelicano”,assim chamado por aí existir a“Fonte do Pelicano” – Deus e acaridade revelados no Pelicano,sabendo que este vive nos pontosaltos e, podendo ser observadoapenas de longe. Assim, quando opelicano dá de comer às suas crias,parece picar o próprio peito para asalimentar - o mesmo que dar carneda sua própria carne. Mas, narealidade, o que faz a ave érecolher, deglutindo a comida paraas suas crias e, naquele momento,regurgitar o alimento para lhes dar.Do mesmo modo aconteceu comJesus, quando se entregou à cruzpor nós, dando o seu próprio corpo– a sua carne fez-se pão para nós.E, assim se fixaram as palavras deS. Tomás de Aquino, considerandoCristo o Divino Pelicano.

O passo seguinte dá-se com aentrada no templo depois de passaro adro, teatralizado com aspersonagens ligadas à paixão deCristo, em estreito diálogo com aigreja. No templo vivemos a uniãomáxima com Deus através da liturgiada palavra e liturgia eucarística.Vivemos assim, “a via unitiva” quesegundo o mesmo autor, agora,saídos da “viailuminativa”, “purificada a alma,adornada pelo exercício positivo dasvirtudes, está madura para a uniãohabitual e íntima com Deus".Poderemos por último perguntar oque significa a escada?A escada é o elemento gradativo deascensão e purificação até Deus: Acomunicação do vale à montanha.Na Teologia Ascética e orientaçãoespiritual trata-se dos diferentesdegraus ou patamares deaperfeiçoamento individual, para seatingir Deus. Do sonho de Jacobsabemos que uma escada ligava océu e a terra e por ela viu subir edescer anjos. Santa Teresa D’Ávilaescalonou em quatro degraus aperfeição. Poderiamos dizer que sea Igreja, o templo, é por excelência oespaço litúrgico e, a escada é oevangelho ilustrado.

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A escada é a evidente afirmação daverticalidade e orientação ao Alto.No século XIX, ao longo de todo oescadório, ainda existiram ciprestesseculares. Estas árvores esbeltas,crescendo também para o alto,levantam-nos os olhos ao céu,sublinhando a verticalidade de todoo edificado e a ascensão damontanha, recortada pelo céu, lugarda transfiguração de Deus.A fachada principal do Santuário é oseu belíssimo escadório, voltado

para a cidade, estendido ao sabordo Monte Espinho como um poemade amor, onde mais do que da mortese fala de vida. Da vida que o BomJesus do Monte celebra e procuradespertar em cada um de nós.

António Gerardo Monteiro Esteves,arquiteto

(O presente artigo é a síntese deuma conferência proferida no âmbito

do Congresso Luso-Brasileiro doBarroco, realizado em Braga, em

outubro de 2011)

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A complexidade do Santuáriodo Bom Jesus do MonteO Santuário do Bom Jesus do Monteé o “mais complexo” porque se“encontra de tudo”, desde “algunsreminiscentes” do fim da idademédia até umas escadarias “maisincríveis e impressionantes” dobarroco.Para o investigador Eduardo PiresOliveira, este santuário, que vai seelevado a basílica no próximo dia 05de julho, tem obras do “grandemestre do rococó português”, AndréSoares. Em declarações à AgênciaECCLESIA, este bracarense realça

também que o santuário do BomJesus tem o “segundo elevador,funicular, da Europa”.“Não se pode ser redutor” e afirmarque o Bom Jesus é o santuáriobarroco por excelência porque o“Bom Jesus é isso tudo e maisalguma coisa”.Neste contexto, o Santuário do BomJesus é “fruto do sangue” daspessoas que foram lá rezar e deramos “cêntimos e reis” que ajudaram aconstruir esta obra emblemática,afirma este elemento da ARTIS da

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Faculdade de Letras de Lisboa.Para além da arquitetura, estesantuário que é uma autênticatribuna para a cidade de Braga étambém a “natureza que o envolve eo sangue dos minhotos”.Este santuário é “muito mais” doque o local que “tapa o nascente aBraga”. Ele saiu do minho e está naGaliza (Espanha), Congonhas(Brasil), Lamego. “O Bom Jesus estáem todo o lado”, reforça EduardoPires de Oliveira.Com uma “enorme” escadaria, oSantuário do Bom Jesus do Monte éum local onde afluem muitosperegrinos e turistas. Um espaçoideal para o “turismo de lazer” e“religioso”, sem esquecer que acerca de 3 quilómetros “existe osegundo santuário do país:Sameiro”.O Bom Jesus é um “lugar de prazer”porque esta “natureza tão rica” nãopede ascese. O verde que domina apaisagem e a água que corre nestamontanha são símbolos propíciospara a contemplação.

Carlos Amarante e André Soaressão dois nomes incontornáveisneste santuário minhoto. Para alémdestas duas personagens do mundoda arte, muitos outros deram o seucontributo na construção da novabasílica e dos espaços envolventes.“O Bom Jesus é a mutaçãocontínua. É ele próprio que seregenera”, explicou Eduardo Piresde Oliveira.Na década de 50 do séculopassado, um dos responsáveis doMuseu do Louvre (França) disseque o Bom Jesus do Monte é o«sacro-monte» “mais complexo dahumanidade”.Este santuário caminha a passoslargos para ser património dahumanidade. “Mais vale tarde doque nunca”, no entanto reconheceque o processo é “complicado”.Todavia, realça que “este sacro-monte espera há muitos anos paraser património da humanidade”porque “ele está em todo o lado”.

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O que diz a história sobre oSantuáriodo Bom Jesus do Monte?Durante muito tempo a fundação doBom Jesus do Monte era remetidapara os princípios do século XVI ouentão fins do século XVI. Estesdados cronológicos – segundo ohistoriador Aurélio Oliveira – nãosão exatos e o santuário “teve o seuinício na primeira metade do séculoXIV”, apesar dos poucos vestígiosque restam.O professor da Faculdade de Letrasdo Porto defende que, “muitoprovavelmente”, do tempo de D.Gonçalo Pereira que esteve

na Batalha do Salado. Uma dasmaneiras de comemorar estabatalha foi a construção de umaermida naquele local. “Foi umaforma de agradecer à «Santa Cruz»(D. Gonçalo e seu filho conduziramas suas hostes sob o pendão daSanta Cruz) o milagre da Batalha doSalado”, esclareceu Aurélio Oliveira.O monumento “começou,precisamente, com uma capelinha”,mesmo modesta, “entre os anos1341/42 porque a batalha foi em1340 e D. Gonçalo morreu 1348”,

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reforça o investigador. Em relaçãoaos vestígios, Aurélio Oliveirasublinha que o “mais importante” é ofacto da batalha do Salado “passara estar incluída no rito bracarense apartir daqui”.Nos finais do século XIV existia umaconfraria em Braga que, “pelosestatutos que então se conheceram,referem que há mais de trinta aquarenta anos se fazia romagens auma ermida”, defende o historiador.Ora, estes dados remetem para ostempos de D. Gonçalo Pereira.A raiz do santuário “teve início numaermida dedicada à Santa Cruz” naprimeira metade do século XIV. “Issoparece que não restam dúvidas”,acrescenta. Um património

secular “não apenas em Portugal,mas também peninsular e europeu”.A construção da pequena ermidaacabou por “ser refundada com ocardeal Alpedrinha” e “depois com oD. João da Guarda”. Ainda existem“lápides dessa construção, queafinal era uma reconstrução”. Adevoção a «Santa Cruz» deve terdado, logo no início, a umaromagem porque a confraria daTrindade diz: “Todos os anos, no diade São João da porta latina (06 demaio) se organizava uma procissão”a o local da «Santa Cruz».Do ponto de vista etnográfico,antropológico e religioso existe “umalongevidade muito grande eafastada no tempo”.

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Conhecer no Centro Virtual Camõeshttp://cvc.instituto-

camoes.pt/area-conhecer Conforme prometido na passadasemana, iremos analisar o espaço“conhecer” do sítio do Centro VirtualCamões (CVC). Nesta área poderáficar a compreender mais sobre aLíngua e a Cultura portuguesas,explorando para isso os recursosque estão disponíveis à distância deum click.Na opção Biblioteca Digital Camões,encontramos “um conjunto deobras, teses, artigos ecomunicações sobre a culturaportuguesa, somando, nestemomento, cerca de 1200 títulos,organizadas tematicamente e porautor”.Sobre a cultura Portuguesa, foicriada uma secção intitulada “basestemáticas”, onde sãodisponibilizados “um conjunto demateriais de referência quepermitem ao utilizador, de formasimples e intuitiva, aceder ainformação sobre os mais variadostemas (Ciência em Portugal, CinemaPortuguês, Figuras da CulturaPortuguesa, Filosofia Portuguesa,História da Língua Portuguesa,Literatura Portuguesa,

Música Portuguesa dos Sécs. XIX,XX e XXI, Navegações Portuguesas).Em "Exposições Virtuais", podemosver ou rever as exposiçõesrealizadas pelo Instituto Camões aolongo dos últimos anos, em formatodigital.Como seria evidente, a produçãocientífica sobre língua e culturaportuguesa, não poderia estarafastada do Instituto Camões, assimno espaço “Investigação decátedras”, podemos encontrarartigos de cinco distintasuniversidades (Bolonha, Salamanca,Paris Ouest Nanterre La Défense,Pontifícia do Rio de Janeiro e atambém francesa Blaise Pascal).Caso pretenda propostas deroteiros pelas belas cidades e vilasde Portugal, com referências aosprincipais pontos de interesse, bastaclicar em Passeios virtuais.Por último, um espaço que por si sómerecia um artigo completo, é aopção “Mapa Etno-Musical”, poiseste é um “projecto que mostra adistribuição pelo território da músicae dos instrumentos musicaiscaracterísticos de cada região dePortugal, permitindo ainda ler apropósito textos explicativos e ouvirpeças ilustrativas. O mapa é

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da autoria de Júlio Pereira, com acolaboração de João Luís Oliva ecom o grafismo de Sara Nobre”.Para a semana continuaremos a

explorar o fantástico Centro VirtualCamões.

Fernando Cassola [email protected]

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«Saudades de Deus», uma procuraao longo da existência humanaO padre franciscano JoaquimCarreira das Neves procura com oseu novo livro ‘Saudades deDeus’apresentar a “imagem doDeus Criador” do monoteísmo,baseado na Bíblia.“Ao falarmos de saudade,exprimimos um certo tipo de solidão:saudade do amado que está longeou que já faleceu – marido, mulher,filho, amigo, da juventude, da saúdeque já lá vai […] Saudade corporizapsicologicamente a falta de umbem”, escreve o teólogo português.Ao longo de 172 páginas, osacerdote franciscano revela umaimagem de Deus que “passa pormilhares de anos” de História ondese encontram culturas à procura do“verdadeiro Deus”.“Há, portanto, um Deus misterioso,invisível revisitado continuamentepela cultura judaica de um povo emprocesso de identificação”, conclui oteólogo que explica a “grandediferença” no Antigo e no NovoTestamento.O padre Joaquim Carreira dasNeves que apresenta também doiscasos “paradigmáticos” de novas

espiritualidades – o “autor chinêsFrançois Cheng” e Eckhart Tolle -que já se “encontram nas culturasmais primitivas dos povos”, e dedica40 páginas do livro ao PapaFrancisco.“Procura redescobrir, nos nossosdias, a face mais fiel da pessoa deJesus como resposta aos grandesproblemas da humanidade”, destacasobre o Papa argentino.O autor na introdução consideraque se vivem “tempos de glória e deaparente derrota”. Para o padreJoaquim Carreira das Neves vive-sea glória das “conquista científicas dafísica, química biologia ematemática”; as conquistas da“liberdade de pensamento político,religioso” que conduzem a escolhaslivres no “campo dos estudos, amor,política e religião”Por outro lado, segundo o autor,existe também a “aparente derrotados malefícios” desta mesmatecnologia aplicada “às guerras; àecologia” e a liberdade, observa,“pode ser usada para o bem comopara o mal”.Contudo, a ciência “não resolve porsi só a ansiedade do mundo atual”

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por isso, ao longo dos sucessivosmilhões de anos da criação doplaneta “surgiram o homem e amulher a questionarem” a razão dasua existência, da sua vida e da suamorte.

A Editorial Presença assinala quetodos os leitores “interessados emquestões teológicas” são o público-alvo desta obra.

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II Concílio do Vaticano: Respostaao «mundo grávido» de desejos

Quando o II Concílio do Vaticano começou “a mexercom a vida da Igreja e a impressionar o mundo”, obispo de emérito de Portalegre-Castelo Branco, D.Augusto César, andava por terras de missão, emMoçambique. Segundo se ouvia da ComunicaçãoSocial, a iniciativa era devida, para uns, “à teimosia”do Papa João XXIII e, para outros, “à sua intuição defé”.Numa conferência, na Semana de Estudos sobre aVida Consagrada e intitulada «A Igreja à luz doConcílio. Olhar retrospetivo», D. Augusto César disseaos participantes que pela “continuidade do que veioa acontecer”, não se duvida que “foi mesmo pela suaintuição de fé”.Como a fé “tem outro modo de pensar”, o preladoreferiu que o II Concílio do Vaticano ganhava “alento edava sinais dum discernimento amplo e bemponderado”. Segundo o orador, a Igreja pôs-se aolhar para “sim mesma e para a missão que lhe foraconfiada” e também para o mundo “que se mostravagrávido de desejos incontidos, de promessasambiciosas e de outras aventuras”.A respiração do Concílio deu azo “a excessos e asonhos descontrolados”, à semelhança de quem viajanas “auto-estradas, com ânsia de chegar depressa elonge… deixando no esquecimento as pessoas quemoram ao lado ou para além das bermas protegidas”,acentuou e exemplifica: “celebrações improvisadas oumesmo desprovidas de verdadeira unção espiritual;uma certa empatia em relação à moda; algumdesafeto pelo sagrado e, ainda, alguma sedução pelaautonomia laica, contagiando o interior da família e acomunidade”.

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Apesar dos excessos, D. AugustoCésar frisa também que esteacontecimento despertou umentusiasmo “fecundo pela Palavrade Deus e pela Doutrina Social daIgreja.Este bispo que foi tambémmissionário em África revelou que,naquele continente, desenvolveram-se três aspectos “achados maisimportantes: o catecumenatoassumido e praticado comresponsabilidade, em muitasmissões; a formação de catequistasfeita em centros apropriados e oconselho pastoral dos anciãos queestimulava

a vivência comunitária e a boaprática dos sacramentos”.Em relação à Europa, D. AugustoCésar – nascido em Celorico deBasto (Braga), em 1932 - apontatambém algumas áreas onde asdiretivas do II Concílio do Vaticanoforam notórias: catequese dainfância (só agora se vairecuperando a catequese dosadultos); ministérios laicais eordenado (nestes, valorizando odiaconado permanente), a liturgiamais participada e atraente (à contada música sacra bem cuidada) e,ainda, uma certa ação social atentaàs pessoas mais necessitadas dasparóquias.

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Junho 2015

Dia 26 junho* Fátima - Assembleia geral daAssociação Portuguesa das EscolasCatólicas * Aveiro - Albergaria-a-Velha -Conselho Presbiteral da Diocese deAveiro * Guarda - Seminário da Guarda -Conselho Presbiteral da Diocese daGuarda * Lisboa – ISEG - Conferência sobre«Liderança à luz da Doutrina Socialda Igreja» por D. Nuno Brás. * Santarém - Tomar (BibliotecaMunicipal) - Conferência sobre«Festas do Espírito Santo nadinâmica da esperança cristã» porD. Manuel Clemente e integrada nociclo sobre «O Espírito Santo» * Aveiro - Igreja da Vera Cruz -Apresentação da obra «Peloscanais. Vou ao encontro, vivo aalegria» da autoria do padre ManuelJoaquim Rocha.

* Braga - Conferência internacional«Bom Jesus: Vozes e contributos àcandidatura a património mundial»(26 e 27) * Coimbra - Castanheira de Pêra -Acampamento da PastoralUniversitária da Diocese de Coimbra(26 a 28) * Açores - Ilha de São Miguel - Encontro sobre a espiritualidade deSanta Teresa de Jesus (26 a 28) Dia 27 junho* Fátima - Hotel Cinquentenário -Seminário sobre «As instituições e odesenvolvimento local» promovidopela CNIS * Lamego - Santuário de NossaSenhora dos Remédios - Dia dafamília diocesana * Vaticano - O PapaFrancisco preside ao consistório(reunião de cardeais) ordinário paravotar as causas de canonização dospais de Santa Teresinha do MeninoJesus.

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* Guarda - Centro Pastoral -Conselho Pastoral da Diocese daGuarda * Leiria - Filarmónica de São Tiagodos Marrazes - Lançamento da obra«Estórias de um missionário» daautoria de João José Pereira daSilva Antunes com prefácio de D.Serafim Ferreira e Silva eapresentação do padre espiritanoNuno Miguel Silva Rodrigues. Dia 28 de junho* Fátima - Jornada nacional daFamília Capuchinha * Lisboa - Convento dos Cardaes -Jantar e fados no Convento dosCardaes * Lisboa - Igreja de Santa Isabel -CáritasPortuguesa presta homenagem aobeato Óscar Romero comcelebração presidida por D. ManuelClemente. * Coimbra - Sé Nova - Ordenaçõesdiaconais em ordem ao presbiteradode Jorge Germano Dias de Brito,Nuno Filipe Martins Fachada Filenoe Pedro Jorge Silva Simões.

* Lisboa - Mosteiro dos Jerónimos -Ordenações presbiterais * Algarve - Loulé (Santuário da MãeSoberana) - Ordenação presbiteralde Nelson Rodrigues * Vila Real - Imagem peregrina deFátima visita a Diocese de Vila Real(28 a 12 de julho) Dia 29 de junho* Porto - Igreja dos Clérigos -Inauguração do espaço com 400Cristos na Igreja dos Clérigos * Porto - Igreja dos Clérigos -Apresentação do resultado dotrabalho de digitalização e descriçãodocumental do arquivo digital daIrmandade dos Clérigos pelo CEHRda Universidade CatólicaPortuguesa. * Aveiro - Igreja de São Francisco -Apresentação da encíclica «LaudatoSi» presidida por D. António MoiteiroRamos

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A Imagem peregrina da Nossa Senhora de Fátimachega à diocese de Vila Real neste domingo, 28 dejulho, e ali irá permanecer até dia 12 julho commomentos propícios a “evangelizar, educar na fé eapostar no respeito da dignidade humana e dos maisfracos, exortando a família a ser berço, meta einstituição ao serviço do futuro da sociedade e daIgreja”, como convida o bispo local, D. Amândio Tomás. Ainda neste domingo vão haver ordenaçõessacerdotais em Coimbra (três), Lisboa (quatro) eAlgarve (um), momentos de festa e união entre ascomunidades. A Obra Nacional da Pastoral do Turismo (ONPT), daIgreja Católica, e o Turismo de Portugal vão assinarum protocolo para reforçar a “colaboração” entre asduas entidades no próximo dia 1 de julho, no Mosteirode São Vicente de Fora, em Lisboa. O Papa Francisco vai presidir este sábado aoconsistório (reunião de cardeais) ordinário para votaras causas de canonização dos pais de SantaTeresinha do Menino Jesus. O Papa e os cardeais vãoainda votar as causas do Beato Vincenzo Grossi,padre diocesano, fundador do Instituto das Filhas doOratório, e da Beata Maria da Imaculada Conceição,religiosa da Congregação das Irmãs da Companhia daCruz.

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POR OUTRAS PALAVRAS

XIII domingo do tempo comum –ano B

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Serão a pobreza e osubdesenvolvimento um destinoinevitável?

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa 12h15 - Oitavo Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h30Domingo, dia 28- «Escutar aCidade». RTP2, 15h30Segunda-feira, dia 29 -Entrevista ao cónego AntónioJanela sobre os 50 anos desacerdócio Terça- feira, dia 30 - informação e entrevista aMiguel Panão sobre aencíclica "Laudato si" Quarta-feira, dia 01 - Informação e entrevista a IrmãTeresa Antunes Ângelo Quinta-feira, dia 02 - Informação e entrevista aopadre José Agostinho, novo superior provincial dosdehonianos Sexta-feira, dia 03 - entrevista de análise às leiturasde domingo pela Irmã Luísa Almendra e cónegoAntónio Rego Antena 1Domingo, dia 28 de junho - 06h00 - Escutar aCidade: desafios de não crentes à Igreja noPatriarcado de Lisboa no âmbito do sínodo diocesano.Comentário à atualidade informativa com o padre JoséLuís Borga.

Segunda a sexta-feira, 29 de junho a 03 de julho - 22h45 - A solenidade de São Pedro (dia 29); Encíclica "Laudato Si", comentários por Octávio Carmo,Isabel Varanda, D. Jorge Ortiga e Miguel Panão

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Ano B - 13.º Domingo do TempoComum A fé quefaz viver

Deus ama a vida! “Deus criou o homem para serincorruptível e fê-lo à imagem da sua próprianatureza”, diz a primeira leitura. Pelo seu Filho, salva-nos da morte: eis porque Lhe damos graças em cadaEucaristia. Na sua vida terrena, Jesus sempredefendeu a vida. O Evangelho de hoje relata-nos doisepisódios que assinalam a defesa da vida: Ele cura,Ele levanta. Ele torna livres todas as pessoas, dá-lhestoda a dignidade e capacidade para viver plenamentena alegria e na fé.As duas mulheres que beneficiam das ações de Jesusno Evangelho de hoje têm isto em comum: a primeiraestava doente desde os 12 anos e a jovem filhamorreu aos 12 anos, a idade em que se devia tornarmulher. No povo de Israel, o percurso destas duasmulheres era sinal de fracasso. Uma estava atingidana sua fecundidade: perdia o seu sangue, princípio devida na mentalidade semítica. A outra perdia a vida,precisamente na idade em que se preparava para atransmitir, pois era tradição casar-se muito cedo.Cristo cura as duas mulheres e permite-lhes assimassumir a sua vocação maternal.Estas duas mulheres representam a Igreja, na suavocação maternal de dar e de alimentar a vida emCristo. As alusões aos santos mistérios da Igrejaorientam a compreensão do relato: Jairo pede a Jesuspara impor as mãos, para salvar e dar a vida à suafilha. Ora, toda a preparação para o Batismo estásinalizada pela imposição das mãos. Jesus levanta ajovem, tomando-a pela mão, como o diácono fazia sairda água o batizado, tomando-o pela mão, para quefosse desperto para a vida em Deus. Jesus pede, deseguida, que se dê de comer a esta jovemressuscitada da morte: é uma alusão à Eucaristia quese segue ao Batismo.

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Uma vida que é adesão na fé àPessoa de Jesus Cristo. Uma fé quefaz acolher a ação de Jesus e quetransforma a mulher; a jovemlevanta-se curada, as testemunhasficam abaladas; Jesus éreconhecido por aqueles queacreditam.No meio da multidão, Jesus estáatento às pessoas concretas,manifesta uma disponibilidadeextraordinária, está extremamenteatento à sua presença. Ninguém ficaanónimo aos olhos de Jesus. Estáhabitado pelo amor de Deus paracom os seus filhos. No Coração doPai, Jesus é capaz de uma

atenção extrema a cada serhumano, sem exceção.A atenção ao outro começa porfazer silêncio em mim para melhorescutar Jesus, a sua Palavra;continua por ter tempo para aoração interior, para aprofundar omeu silêncio interior, que escuta eama; continua ainda por cuidar dosoutros com o mesmo olhar e gestosde Cristo em quem acredito. Queassim seja ao longo desta semana.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.pt

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Filadélfia prepara-se para festadas famílias com o Papa FranciscoO Papa vai presidir às cerimóniasconclusivas do 8.º Encontro Mundialdas Famílias, a 26 e 27 desetembro, na cidade norte-americana de Filadélfia, peranteuma multidão estimada em 1,5milhões de pessoas.Os dados foram avançados hoje noVaticano em conferência deimprensa pelos responsáveis doConselho Pontifício da Família(CPF), da Santa Sé, e daArquidiocese de Filadélfia.O encontro mundial tem iníciomarcado para 22 de setembro, comum congresso temático que seprolonga até ao dia 25 desse mês,seguindo-se os dias de oração eencontro com Francisco, em voltado tema ‘O amor é a nossa missão:a família plenamente viva’.D. Vincenzo Paglia, presidente doCPF, disse que ninguém está“excluído” deste grande encontro defamílias, o qual acontece umasemana antes do início do Sínododos Bispos, sobre o tema ‘AVocação e a missão da família naIgreja e no mundo contemporâneo’.Simbolicamente, o Papa vai oferecer200 mil cópias do Evangelhosegundo São Lucas, assinadas porsi, para

as “famílias das periferias” de cinco“grandes cidades”, uma de cadacontinente: Havana (Cuba),Marselha (França), Hanói(Vietname), Sidney (Austrália) eKinshasa (Quénia).Filadélfia, “cidade-pátria daindependência americana”, vai ser a“capital da família”, não como“ideologia”, mas como “famílias”falando de si próprias, de forma“concreta”, sublinhou o arcebispoitaliano.Esta vai ser uma das maioresconcentrações de pessoas nahistória dos EUA.No congresso prévio, comparticipação prevista de 15 milpessoas de 150 países, vão serapresentadas investigações quesublinham o papel central dasfamílias na sociedade, como o seuprincipal “recurso” e um “bem dahumanidade”.D. Charles Joseph Chaput assinalouque os conferencistas convidadosincluem vários não católicos, comosinal de que a iniciativa está aberta“ao mundo”.O responsável adiantou que oencontro mundial tem um orçamentode 45 milhões de dólares, que

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chegam através de donativos, paragarantir a segurança dosparticipantes e a limpeza dosespaços, para além de oferecerbolsas a todas as dioceses doMéxico e a cada conferênciaepiscopal latino-americana, bemcomo às dioceses pobres dosEstados Unidos da América eCanadá.Na noite de 26 de setembro,sábado, o Encontro Mundial dasFamílias

vai celebrar um “festivalintercultural”, com a presençaconfirmada do cantor colombianoJuanes e do tenor italiano AndreaBocelli.A Pastoral da Família do Patriarcadode Lisboa, em colaboração com oDepartamento Nacional do setor,está a organizar a peregrinação dadelegação portuguesa aeste encontro.

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Religiosos e leigos celebram«carisma e missão» comum dosCapuchinhosO provincial dos Capuchinhos emPortugal explicou que a Jornada daFamília Capuchinha tem comoobjetivo celebrar e partilhar com osleigos o “mesmo espirito, ideal emissão” no dia 28 de junho, emFátima. “Pela primeira vez vamostentar reunir esta família numaperegrinação nacional. O motivo écelebrarmos o mesmo carisma, omesmo espírito, a mesma missãoum pouco na linha do que o PapaFrancisco lembrava na carta aosreligiosos, para o Ano da VidaConsagrada (AVC), que à volta decada família cada congregação háuma família mais alargadaconstituída sobretudo por leigos”,revela o frei Fernando AlbertoCabecinhas.À Agência ECCLESIA, oresponsável acrescenta que o Papapede também aos leigos que,durante o AVC, “estejam sensíveis ese juntem” a essa grande famíliapara celebrarem o “dom que é essecarisma e missão”.O provincial dos Frades MenoresCapuchinhos em Portugal assinaloutambém que se sentiram “muitomotivados” para organizar esta

jornada pela reflexão que a Igreja“está a fazer sobre a família e o seupapel na evangelização”, animadapelo “dinamismo renovador do PapaFrancisco”.Neste contexto surge a Jornada daFamília Capuchinha, intitulada‘Bíblia, Evangelho da Família’,integrada no Encontro Nacional deGrupos Bíblicos que “tem muitosanos” e juntou sempre “muita gentee esses são uma grande parte destafamília”.Por isso, para este grande encontroo frei Fernando Alberto Cabecinhastambém mobilizou e convidou osrestantes elementos que integramesta grande família como os “amigose benfeitores”; a OrdemFranciscana

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Secular (OFS); os Antigos «Alunos»Capuchinhos (AAC), e os leigos quefazem parte dassete comunidades/paróquias quesão dinamizadas por estes frades,nomeadamente em Pínzio (Guarda);Barcelos; Porto; Gondomar; Fátima;Lisboa (Calhariz) e Baixa daBanheira (Setúbal).

Este encontro vai ser aoportunidade de se assinalarem trêsefemérides: Os 60 anos da DifusoraBíblica e da Revista Bíblica e os 50anos da edição da primeira Bíbliapelos capuchinhos em Portugal, ummovimento “suscitado um fradecapuchinho espanhol”.

De estudante de gestão a sacerdote capuchinhoFrei Miguel Pinto Grilo foi ordenado sacerdote no último dia 13 de junho,em Pínzio, por D. Manuel Felício, bispo da Guarda. A cerimónia juntoualgumas centenas de pessoas que lotaram o Pavilhão Desportivo destalocalidade do concelho de Pinhel.Ler mais

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Francisco evocou em Turim os 200anosdo nascimento de São João BoscoO Papa Francisco reuniu-se estedomingo com os membros da famíliareligiosa salesiana, nos 200 anos donascimento de São João Bosco(185-1888), seu fundador, e pediuuma “educação à medida da crise”.“[Dom Bosco] arriscou e por issotantos falaram mal dele”, recordou,num discurso improvisado perantecentenas de consagrados econsagradas na Basílica de MariaAuxiliadora.Francisco evocou os 40% dosjovens da geração ‘nem-nem’, “nemestudam nem trabalham”, e pediuque os salesianos “tomem contadestes jovens” como o seufundador, que trabalhou com aspessoas que eram consideradas de“segunda classe”.A visita de dois dias a Turim decorreno bicentenário do nascimento deSão João Bosco (1815-1888),fundador da Sociedade de SãoFrancisco de Sales, os Salesianos,e (com Santa Maria Mazzarello) asFilhas de Maria Auxiliadora, umafamília religiosa vocacionada para aeducação de jovens órfãos enecessitados.

Francisco, que esteve muito ligadoaos Salesianos na sua infância eadolescência, na Argentina, elogiouo trabalho feito através do“desporto” e em particular da“educação”. Nesse contexto, evocouas “pequenas escolas para ensinarprofissões”, de “artes e ofícios”,como exemplo da “educação deemergência”, com uma dimensão“prática” e em pouco tempo. “Acriatividade salesiana deve tomarem mãos este desafio de hoje,educar”, apelou.O Papa sugeriu a criação de cursosde “seis meses” para iniciar os maisnovos numa atividade profissionalcomo exemplo da “educação àmedida da crise” que defende paraos “meninos de rua”. “Demos-lhealguma coisa que seja fonte detrabalho”, apelou.Francisco deixou de lado o discurso“formal” que tinha preparado paraesta ocasião e lembrou a suadevoção a Maria Auxiliadora, ocontacto com os padres confessoressalesianos da Paróquia São Carlosem Buenos Aires e a frequência em1949, por um ano, num colégiosalesiano, devido

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à doença da mãe.O Papa lembrou também o trabalhodo padre Lorenzo Massa (1882-1949), salesiano argentino queesteve ligado à fundação em 1908de um clube de futebol, o SanLorenzo, do qual Francisco éadepto.A intervenção sublinhou a

“confiança em Deus” de São JoãoBosco, “sem cálculos”, e falou de umcarisma com “enorme atualidade”.“Agradeço-vos muito pelo que fazeisna Igreja e pela Igreja”, acrescentou.Francisco lamentou que hoje muitosreligiosos não “falem de NossaSenhora como Dom Bosco falava”.

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O desespero de uma família Síria refugiada no Líbano

As lágrimas amargas de FlodiaFugiram de casa quando já secombatia no seu bairro, emHoms, na Síria. Fugiram parasalvar a vida. Agora vivem todosnum minúsculo quarto noLíbano. Estão encurraladosentre o susto do passado e omedo do futuro. São apenas umafamília. Há quase 2 milhões derefugiados sírios no Líbano… George parece alheado de tudo. Amulher, Flodia, está deitada, cheiade dores. Os filhos estão atrabalhar. Eles são agora o sustentoda família. George não diz nada.Ela, porém, não se cala. As palavrassaem-lhe misturadas com lágrimas.A vida desta família desmoronou-seem 2012, quando a guerra civil naSíria se tornou mais sangrenta. Acidade de Homs, onde viviam,transformou-se num campo debatalha. Um dia, George, Flodia eos três filhos, todos rapazes, tiveramde fugir. Agora estão a viver numpequeno quarto que alugaram nacidade libanesa de Bekaa, perto dafronteira síria. “Tínhamos uma boacasa. Com o avanço dos rebeldes eos combates a intensificaram-se,tivemos de fugir.

Perdemos tudo”, lamenta-se,soluçando, Flodia. “Não temos ideiado que sucedeu à nossa casa.”O quarto, onde vivem, é minúsculomas serve para tudo: é ali quedormem, que cozinham, que lavam aroupa. O aluguer do quarto é umador de cabeça. Custa-lhes 260euros. “Uma fortuna”, exclamaFlodia. “Somos explorados. É umaexorbitância.” De novo as lágrimasmisturadas com a revolta daspalavras. Sem trabalhoDesde que chegaram ao Líbano,nem ela nem o marido conseguiramtrabalho. É com os biscates dos trêsfilhos, com 13, 16 e 17 anos, que afamília consegue pagar a renda doquarto e comprar a comida para odia-a-dia. “Às vezes, só de pensarse temos alguma coisa para comer,deixa-me de rastos. Alguém podeimaginar como se sente uma mãeque depende do trabalho dos filhos,quando eles deveriam era estar naescola a prepararem o seu futuro?Alguém imagina?” Flodia atira aspalavras como se fossem pedras,

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para se magoar. “Estou a destruir ofuturo dos meus filhos. Sinto-me tãoculpada…”O Arcebispo Issam Darwish, daarquidiocese de Zahle, tem sido umdos principais amparos dosrefugiados sírios que chegaram aoLíbano. Hoje, são mais de 700famílias que dependem da ajuda daarquidiocese. “Damos-lhesalimentos, roupa e artigos dehigiene. Sem o apoio da FundaçãoAIS – acrescenta o prelado – nãosei como faríamos.” O Líbano tem acudido milhares derefugiados mas já atingiu os seuslimites. Para onde irão agora osque

continuam a ser expulsos de suascasas? Flodia diz que não quervoltar para a Síria enquanto aguerra não acabar. Depois se verá.“Se ainda tiver casa…” Para ela,resta a fé. Está quase sempre amurmurar orações, a pedir aprotecção do Céu, a reclamar aintercessão de Maria. Flodia perdeutudo. Tem apenas esse tesouro, afé, que guarda dentro de si. As suaslágrimas são como que as contas doseu rosário. “Por que nos aconteceuisto?”

Paulo Aidowww.fundacao-ais.pt

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Moçambique plural

Tony Neves Espiritano

Moçambique, para mim, é uma espécie de arco-íris de povos e culturas. Ali, lado a lado,encontramos povos originários de muitas etniaslocais, gentes vindas da Europa, da Ásia ou deoutros países africanos. Falam línguas diferentese, em muitos casos, professam religiõesdiferentes. É conhecida, reconhecida e elogiadaa sã convivência que vem de longe entre cristãose muçulmanos um exemplo para boa parte dahumanidade. Também há muitas pessoas queainda seguem as religiões tradicionais e outras,vindas da Índia, que professam religiões deorigem mais oriental. Por mais que me tentemconvencer do contrário eu estou convicto de queesta é a maior riqueza de Moçambique que atédeveria ser ‘produto de exportação’, dado o valorenorme deste património imaterial.É grande em tamanho, esta língua estreita quevai de Cabo Delgado a Maputo. O Índico banhaeste país lusófono que se tornou independenteem 1975 e foi marcado por uma guerra civil muitocruel. Depois de um cessar fogo para o qualmuito trabalhou a Igreja, através da Comunidadede S. Egídio, o país tem progredido no que dizrespeito ao desenvolvimento económico, masdeixa ainda a desejar quanto à cimentação dademocracia e do pluralismo partidário. Há, porisso, que dar mais e melhor lugar ao diálogo queconcerte posições democráticas e ajude aperceber a pluralidade como uma riqueza e nãocomo factor de tensão e violência.Conheço um pouco melhor o norte macua deMoçambique. Ali os Espiritanos estão a

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trabalhar na Missão de Itoculo quepertence à Diocese de Nacala.Aterrar em Nampula e fazer aestrada na direção de Nacalamostra o Moçambique maisdesenvolvido. Entrar para Itoculo,vila do Milénio, é andar séculos paratrás, encontrando muitas povoaçõescom casas de pau a pique ecobertas de capim, com povo a viversem acesso a cuidados básicos desaúde, a uma escola de qualidade.Os caminhos são picadas, não háalfaias agrícolas motorizadas, as

malárias são mortíferas, as pessoasnão têm dinheiro, os índices depobreza são muito elevados. Ali aMissão católica, com Padres, Irmãse Leigos, tem investido muito nasáreas da Saúde e da Educação,trabalhando ainda em questõesdelicadas como as da justiça, paz edireitos humanos.Em Moçambique, o Evangelho éanunciado como é: libertador detodas as formas de opressão e esseé o maior contributo que o povopode esperar da Igreja.

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ouem www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC –Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

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Trabalhar por amorNo 40º aniversário de S. JosemariaA nova encíclica do Papa Franciscoestá interligada com as páginasiniciais das Escrituras: Deus formouo ser humano - homem e mulher - ecolocou-o no jardim do Éden paraque o cultivasse e guardasse(Génesis 2, 15). Em seguida, fezpassar todos os animais e levou-osao homem, para ver como ele oshavia de chamar (Génesis 2, 19).Era um ato de amor por parte deDeus, uma forma de expressar asua confiança em cada ser humano,a quem confiava a tarefa dedesenvolver as potencialidades queEle mesmo havia colocado nascriaturas.Cada um de nós é guardião evigilante da criação. Como nosrecorda o Papa, Deus colocou o serhumano neste jardim não só paracuidar o que existe, mas para queproduza frutos com a arte do cultivo,com o trabalho: "a intervençãohumana que favorece odesenvolvimento prudente dacriação - afirma Francisco - é aforma mais adequada de cuidardela, porque implica colocar-secomo instrumento de Deus paraajudar a fazer desabrochar aspotencialidades que Ele mesmoinseriu nas coisas ('Laudato si’,124)."

Se a humanidade se empenhar emproteger o desígnio da criação,qualquer tarefa humana nobre podeconverter-se em instrumento para oprogresso do mundo e para adignificação da pessoa.A chave é trabalhar perfeitamentebem, com o desejo de servir osoutros, por amor a Deus e aopróximo. Certamente intervêmoutras motivações, como anecessidade de sustentar-se esustentar a família, o desejogeneroso de ajudar pessoasnecessitadas, o desejo de adquirir aperfeição humana numa atividadeespecífica, etc.; mas o apelo doPapa recorda-nos que a meta éainda mais elevada: colaborar dealgum modo com Deus na redençãoda humanidade.No dia de hoje celebra-se o 40ºaniversário da morte de S.Josemaria, o sacerdote santo -fundador do Opus Dei - queproclamou no mundo o valorevangélico do trabalho realizado poramor. Sou testemunha de como S.Josemaria procurou viver a suapregação sobre o trabalho naprimeira pessoa, até ao fim do seucaminhar terreno.

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“O grande privilégio do homem époder amar, transcendendo assimo efémero e o transitório”,escreveu num livro intitulado Cristoque passa. Por isso – disse ainda -"o homem não pode limitar-se afazer coisas, a construir objetos. Otrabalho nasce do amor, manifestao amor, ordena-se ao amor.Reconhecemos Deus não só noespetáculo da Natureza, mastambém na experiência do nossopróprio trabalho, do nosso esforço.O trabalho é, assim, oração, açãode graças, porque nos sabemoscolocados por Deus na terra,amados por Ele, herdeiros dassuas promessas".O trabalho, conforme o sentido quelhe dermos, tem a capacidade dedestruir ou dar dignidade àspessoas, de cuidar ou deformar anatureza, de prestar ou omitir oserviço devido ao nosso próximo.Compreende bem o valor dadignidade do trabalho quem sofreo desemprego e experimenta aangústia da falta de rendimentoseconómicos. Por esse motivo, aspessoas que estãodesempregadas são uma intençãoconstante na oração e naspreocupações do cristão. Como dizo Papa, ajudar com dinheiro ospobres ou os desempregados"deve ser sempre um remédioprovisório para enfrentaremergências". O verdadeiroobjetivo, porém, “deveria sersempre permitir-lhes uma vidadigna através

do trabalho”. Do mesmo modo, aencíclica recorda-nos que " renunciara investir nas pessoas para se obtermaior receita imediata é um péssimonegócio para a sociedade” (id.).Bento XVI definiu o cristão como "umcoração que vê". No trabalho, aeficácia económica é um critério masnão pode ser o único critério: ocristão põe o coração no trabalho,porque assim o fez Cristo, e esforça-se para tornar essa dedicação umserviço aos outros, que é tambémlouvor ao Criador. Só o trabalhoentendido como serviço, o trabalhoque põe no centro o homem, otrabalho que se realiza por amor deDeus, é capaz de abrir horizontespara a felicidade terrena e eterna dasmulheres e dos homens do nossotempo.

Javier EchevarríaPrelado do Opus Dei

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«O meio ambiente é um bem coletivo,património de toda a humanidade

e responsabilidade de todos»(Laudato si, 95)

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