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AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio Carmo

Redação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira, LuísFilipe Santos, Margarida Duarte, Sónia Neves, Carlos Borges,

Catarina PereiraGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana Gomes

Propriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar Campos

Pessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D - 1885-076

MOSCAVIDE. Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

04 - Editorial: Paulo Rocha06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional12 - Opinião D.Pio Alves14 - A semana de... Octávio Carmo16- Entrevista António Correia Saraiva24- Dossier Frederico Ozanam

40- Internacional44- Cinema46 - Multimédia48 - Estante50 - Vaticano II52 - Agenda54 - Liturgia56 - Programação Religiosa57 - Por estes dias58 - Fundação AIS60 - LusoFonias62 - Apostolado da Oração

Tema do dossier da próxima edição:Semana dos Seminários

Foto da capa: D.R

Foto da contracapa: Agência Ecclesia

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Opinião

Pelocumprimento dasempresas[ver+]

Papa convocaconsistório[ver+]

Vicentinosajudam todos[ver+] D. Pio Alves | Paulo Rocha | PadreTony Neves | Elias Couto

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Um Papa para o quotidiano

Francisco é um Papa dos gestos eda palavra. Da proximidade e daprofundidade. Do estar e do ser!Não será fácil deslocar-se a Roma eparticipar numa celebração ouencontro presidido por Francisco. Eenquanto não visita Portugal, omelhor mesmo é tentar acompanharo Papa num dos muitos momentosem que se encontra com multidões,no Vaticano, nas celebrações ou emdiversos encontros.Aparentemente, Francisco podeparecer um “ator” em contacto commultidões, a provocar reações nemsempre previsíveis por parte dosque o vêm por perto. Engano puro!Ao contrário de qualquer estrelahollywoodesca, o Papa Franciscointeressa-se pela felicidade dos quese cruzam com ele. Egoísmos ouegocentrismos não se adequam aoperfil do Papa nem transparecem napopularidade que ultrapassou todasas expectativas.Para além dos momentos de festa,Papa Francisco surpreende semprenas ocasiões em que a sua palavratoma conta do ambiente onde se

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reúnem milhares ou milhões depessoas. É assim na Praça de SãoPedro, foi assim na Jornada Mundialda Juventude, será assim nos locaispor onde caminhar Francisco. Esempre para ser autêntico,provocante, profundo...Acompanhar, pela televisão ou pelainternet, uma celebração presididapelo Papa é uma experiênciacativante pelas imagens sugestivase sobretudo pela possibilidade deouvir Francisco. Habitualmente, sãoapenas excertos, pequenas frasesas que se escutam do Papa. Mas ésempre estimulante ouvir Franciscodurante minutos seguidos porque amensagem é dita tendo em conta arealidade de cada pessoa e as suascircunstâncias na atualidade. Esugere pistas concretas para a vidade cada pessoa. Seja naconcretização da experiência crente,na atualidade, seja no seu contextopessoal, familiar ou profissional.

O Papa é, assim, para levar muito asério. Porque são sérios, concretose personalizados os desafios quesugere.Para não ficar só na teoria, fixo umdeles. O que o Papa Franciscodirigiu às famílias encontradas noVaticano em peregrinaçãointernacional, no último domingo.Para levar por diante uma família, énecessário usar três palavras: comlicença, obrigado, desculpa. Trêspalavras-chave! Peçamos licençapara não ser invasivos em família.«Posso fazer isto? Gostas que façaisto?» Com a linguagem de quempede licença. Digamos obrigado,obrigado pelo amor! Mas diz-me:Quantas vezes ao dia dizesobrigado à tua esposa, e tu ao teumarido? Quantos dias passam semeu dizer esta palavra: obrigado! E aúltima: desculpa. Todos erramos eàs vezes alguém fica ofendido nafamília e no casal, e algumas vezes– digo eu – voam os pratos, dizem-se palavras duras… Mas ouvi esteconselho: Não acabeis o dia semfazer a paz.De facto, um desafio para levar asério!

Paulo Rocha

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«Este ano, o caminho vazio das visitas ao último domicílio»

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“Obrigado Joseph Blatter, estoureconhecido por ter dado a umportuguês a possibilidade deresponder a um estrangeiro comelegância e superioridade”(Pedro Guerreiro, diretor doNegócios, in: Record, 31 outubro de2013) “O guião para uma alegada reformado Estado é uma novela política aoestilo de qualquer enredofolhetinesco de má qualidade”(Paulo Guinote, in: Público, 31outubro de 2013)

“A juventude de um Papaseptuagenário também se avaliapelo modo como cuida, na galáxiadigital, da cultura da comunicação”(Rui Osório, in: Voz Portucalense,30 de outubro de 2013) “A propósito, está a gostar do PapaFrancisco? É bom de mais para serverdade…”(Carlos do Carmo, in: Jornal deLetras, 30 de outubro de 2013)

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Incumprimento das empresas temuma consequência socialdevastadoraA Associação Cristã de Empresáriose Gestores apresentou hoje, emLisboa, a iniciativa “Pagar a horas:Fazer Portugal crescer”, baseadanum estudo sobre o incumprimentonos prazos de pagamentos dasempresas.“O problema é demasiado grave edemasiado persistente para irmos lácom “falinhas mansas”, tem umaconsequência social devastadoraem termos de emprego, colocamilhares de pessoas nodesemprego e por isso é precisoparar com esta cadeia de destruiçãopor causa dos efeitos humanitáriosque ela tem”, afirmou o presidenteda ACEGE, António Pinto Leite emdeclarações à agência ECCLESIA.“A distribuição de emprego queresulta do facto das empresas nãopagarem a horas umas às outras éfrágil, um estudo do professorAugusto Mateus conclui que 14 milpostos de trabalho são perdidos porano devido a isso” avançou opresidente da ACEGE.A iniciativa “Pagar a horas: Fazer

Portugal crescer” que a ACEGEpromove em parceria com aConfederação Empresarial dePortugal e o Instituto de Apoio àsPequenas e Médias Empresas e àInovação, pretende chamar aatenção das empresas portuguesaspara a importância de cumprir osprazos de pagamento, dado queestas “ganharam o péssimo hábito,inspirados pelo Estado se calhar, denão pagar a horas entre si, nóstemos de pagar a 30 dias, nomáximo a 60 dias”, refere AntónioPinto Leite.Cumprir estes prazos torna-se aindamais imperativo em tempos de crise,cabe aos empresários ter umaresponsabilidade social e ter“consciência de que há pessoas asofrer do outro lado da rua e temosde estar atentos a elas”, defendeu.O despedimento de efetivosempresariais é a grandepreocupação da ACEGE que nestemomento estima que estejam “800mil pessoas desempregadas nosetor privado”, uma situação

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que para ser revertida é necessárioque o “despedimento seja utilizadocomo último recurso, mesmo queisso implique alguma margem deineficiência ou perda deoportunidade”, alerta António PintoLeite.As pequenas e médias empresassão das que mais sofrem com osatrasos nos pagamentos, “cerca demetade das pequenas e médiasempresas têm dificuldades detesouraria, não contratam novoscolaboradores e têm adiado novosinvestimentos, sendo que 20 porcento diz mesmo ter sido necessárioo

despedimento de efetivos para fazerface à falta de entrada de capitalproveniente desses pagamentos ematraso”, explicou aos jornalistasAugusto Mateus, autor do estudo “Acrise e a sustentabilidade dasPME´s”.“Um problema gravíssimo que temraízes profundas na sociedadeportuguesa, é uma cultura de nãopagamento a tempo e horas quetem um impato grave quer a nível doPIB, quer a nível do emprego e istoé um ciclo vicioso” alerta opresidente do IAPMEI , Luís FilipeCostas, em declarações à agênciaECCLESIA à margem daapresentação da iniciativa “Pagar ahoras: Fazer crescer Portugal”.

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Rezar é para militares

D. António Couto, bispo de Lamego,disse este domingo na eucaristiaque assinalou o Dia do Exército que“rezar é um ato de verdade ecoragem” e “para militares”.“Rezar não é para beatos e beatasde trazer por casa. Rezar é paramilitares e militantes. Rezar é umacto de verdade e de coragem, queimplica o máximo risco”, afirmou obispo de LamegoD. António Couto comentou o textodo Evangelho lido na missa dedomingo, que contava a parábolado fariseu e do publicano [Lucas18,9-14].Para o bispo de Lamego, nopublicano “sempre ao fundo dacena”, vê-se um verdadeiro eassumido pecador algo raro porqueencara a “situação-limite que érezar” de dizer toda a verdade emesmo sendo um “traidor à pátriajudaica”, pelas funções quedesempenha, tem coração e “pedea Deus a esmola do perdão”.O publicano “desceu justificado parasua casa”, explica Jesus naparábola e o D. António Couto

assinalou aos militares que “justificarsignifica transformar um pecador emjusto” e que este ato é igual a “Criarou Recriar um homem novo”, umaação que só “Deus é sujeito em todaa Escritura”.O bispo da diocese de Lamegopresidiu à missa do Dia do Exércitoporque o novo bispo da Diocese dasForças Armadas e de Segurança, D.Manuel Linda, nomeado a 10 deoutubro, ainda não tomou posse docargo.

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Santuário mostra manuscritoda terceira parte do Segredo deFátimaA exposição temporária «Ser, osegredo do Coração», na zona dareconciliação da Basílica daSantíssima Trindade, encerra estaquinta-feira e a 30 de novembroserá exposto o manuscrito daTerceira Parte do Segredo deFátima.“Considerando ser uma das peçasfundamentais para o discursomuseológico da exposição quetratará as três partes do Segredo deFátima, o Santuário pediu à SantaSé que ponderasse o seuempréstimo. O pedido, feito por D.António Marto, foi autorizado peloPapa Francisco em 10 de junho de2013”, explica Marco Daniel, diretordo Museu do Santuário de Fátima ecomissário da exposição, numcomunicado enviado à AgênciaECCLESIA.“O manuscrito nunca antes expostoao público pertence ao ArquivoSecreto da Congregação para aDoutrina da Fé, onde deu entradaem 4 de abril de 1957”, acrescentao Gabinete de Informação eComunicação (GIC) da Diocese deLeiria-Fátima.Segundo Marco Daniel o

documento saiu duas vezes doarquivo, “a pedido do Papa JoãoPaulo II, na sequência do atentado a13 de maio de 1981, e no ano 2000quando o prefeito da Congregação,como emissário do Papa, veio aCoimbra junto de Lúcia parareconhecimento do manuscrito”.

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Todos os Santos

+Pio AlvesPresidente da ComissãoEpiscopal da Cultura,Bens Culturais eComunicações Sociais

Celebra-se nesta sexta-feira, ainda que semferiado, a solenidade de Todos os Santos. A ideiaoriginal e o seu núcleo base remontam aosprimeiros séculos da vida da Igreja. A suaamplitude foi-se alargando ao longo dos tempos.Na roda do ano, a liturgia da Igreja Católicafesteja, nominalmente, muitos daqueles edaquelas que, pelo exemplo da sua fidelidadeheroica, são referência para os cristãos. Noslimitados e contingentes critérios humanos, essessão os mais importantes e notórios santos daIgreja. Mas como a heroicidade da fidelidade nãoé materialmente mensurável, na sombra dassuas dobras fica, com toda a certeza, um númeroincontável de vidas que se gastaram por Amor. EDeus viu-as. E Deus vê-as.Que grato é poder pensar, com fundamento, que,no verdadeiro Livro da Vida e da Santidade,constam os nomes de pais, de irmãos, deamigos, de colegas! Pessoas como nós, decarne e osso, que percorreram os nossoscaminhos, que tiveram as nossas mesmascanseiras, que fizeram os mesmos trabalhos, queriram e se divertiram connosco!Sem saudosismos vazios de conteúdo, essainefável memória é uma lição de vida. É aafirmação de que a vida não é apenas um sonho.É a afirmação de que a vida, construída na Fé ena Esperança, gera um Amor que nos envolve ecujo gozo não termina nunca.

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Por tudo isto, devo confessar que,pessoalmente, não me incomodaque o nosso povo, na simplicidadedas suas intuições, não viva, muitasvezes, o rigor do calendário litúrgicoe sobreponha a Solenidade deTodos os Santos à Comemoraçãodos Fiéis Defuntos. Para além dasrazões funcionais resultantes, atéagora, do feriado, por esses dias,visitam a memória dos seus maispróximos: a quem, em muitos casos,consideram, com razão, os santosde casa.E se é festa há flores. Não odesperdício ostentoso que celebraprimeiro a vaidade dos vivos e,depois, acaso, a memória dosmortos. Mas o gesto simbólico doamor e da gratidão que, em vida,está presente na flor mais simplesou no ramo mais elaborado.

E, nesses dias e sempre,celebramos e reafirmamos “a vidaque não acaba, apenas setransforma”.As celebrações nas igrejas somam-se às celebrações e gestos dememória nos cemitérios. Mal andariaa Igreja se esquecesse os seussantos, todos os seus santos; malandaria uma Família, umaSociedade, um Povo queesquecesse os seus mortos.A memória recupera o passado,consolida o presente, abre o futuro.Mesmo sem feriado, a Solenidadede Todos os Santos e aComemoração dos Fiéis Defuntosnão são um convite ao desalento eà tristeza: são a afirmação de que,entre todos, somos capazes decontinuar a construir um futuro feliz,o verdadeiro Futuro.

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Uma semana na Terra Santa

Octávio CarmoAgência ECCLESIA

A última semana de trabalho foi especial, porquepassada em reportagem na Terra Santa, comvisitas aos locais considerados mais sagradospelos cristãos, como o do nascimento de Jesus,em Belém, ou o da sua morte, sepultura eressurreição, em Jerusalém. A ‘Geografia daSalvação’.É certo que a Terra Santa como é descrita pelaBíblia não é a mesma, nem podia ser, 2000 anosdepois, mas esta continua a ser a terra do ‘hic’(aqui, em latim), na qual os crentes se podemconfrontar com a palpabilidade dos relatosevangélicos sobre a vida e morte de Cristo,ficando a conhecer melhor os seus caminhos, assuas palavras e os seus gestos.A monumentalização destes locais deixouvincada a história de tensões e conflitos, numadinâmica de construção-destruição-reconquista-reconstrução que se vai repetindo, para oscristãos.As memórias das Cruzadas são ainda hojevisíveis e mesmo publicitadas, como no caso deAcre, porto setentrional que foi a capital do reinolatino do Oriente, após a queda de Jerusalém: éum cruzado que aparece nos cartazes dalocalidade.

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As referências bíblicas nãopassam despercebidas aos várioscomerciantes locais, dependentesda disponibilidade financeira dosperegrinos, a quem propõem, porexemplo, o ‘vinho das bodas deCaná’, entre outras recordações,falando a língua que for necessáriopara se fazerem entender.Num território em que fiéis dasvárias religiões seguem oitocalendários distintos, no entanto, énotório que a convivência temsempre de enfrentar váriosobstáculos.A preservação da memória doschamados Lugares Santos, queestá confiada à Custódiafranciscana, passa, ainda assim,não tanto pela preservação dosvários monumentos que assinalam aligação dos espaços

a Jesus e os apóstolos, mas pelamemória viva que as atuaiscomunidades cristãs representam –uma minoria entre muçulmanos ejudeus. A ajuda chega, para alémdos peregrinos no local, através dedonativos recolhidos pelascomunidades católicas de outrospaíses, incluindo Portugal, presentena cidade de Belém através de umbairro dedicado aos Pastorinhos deFátima.Em termos jornalísticos, mais do quea profusão de muros, arame farpadoe postos de controlo, o que mais meimpressionou foi o silêncio: osilêncio dos cristãos que, apesar derevoltados e empurrados para aemigração, se recusamdelicadamente a falar do seu drama,com medo de represálias parafamiliares e amigos…

P.S. Esta crónica não podia acabar sem uma palavra de reconhecimentopelo trabalho de João Farinha, que registou em vídeo as imagens maisimportantes destes locais, superando as dores de uma queda logo no inícioda viagem. Um agradecimento que se estende a todo o grupo de peregrinosno qual estivemos inseridos, nomeadamente ao Comissariado da TerraSanta em Portugal, na pessoa do Frei Miguel de Castro Loureiro, quetornou possível estes dias de reportagem.

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Vicentinos ajudamtodos(sobretudo quando orçamento de Estado nãoajuda)António Correia Saraiva é o presidente nacional da Sociedade SãoVicente de Paulo desde Abril de 2010. Natural de uma aldeia doconcelho de Penamacor, no distrito de Castelo Branco, AntónioCorreia Saraiva faz parte da família vicentina há mais de 40 anos.Em entrevista à Agência ECCLESIA fala sobre o passado e os desafiospara o futuro com que a Sociedade São Vicente de Paulo se deparana atualidade. Uma conversa que teve lugar no dia em quevicentinos de todo o país se reuniram em Lisboa para celebrar o Diada Sociedade de São Vicente de Paulo, criada em Portugal há 154anos. Agência ECCLESIA - 2013 é umano em que a Sociedade SãoVicente de Paulo tem vários motivospara celebrar. Que efemérides seassinalam?António Correia Saraiva - Dia 31de Outubro celebra-se o dia que aSociedade São Vicente de Paulochegou a Portugal, faz portanto 154anos que a Sociedade São Vicentede Paulo foi aqui criada. Este dia é,por isso, muito especial para osvicentinos portugueses e para os detodo o mundo porque estamostambém a encerrar ascomemorações dos 200 anos donascimento do beato FredericoOzanam, que foi o nosso fundador.2013 também é importante porque

faz 180 anos que foi criada aprimeira conferência vicentina emParis e, não obstante isso,assinalam-se 160 anos da morreuFrederico Ozanam.Há ainda outra data importante, foihá 120 anos que foi criado oprimeiro Conselho Central emPortugal, mais precisamente noPorto.Por tudo isto, 2013 é um anoimportantíssimo para os vicentinos,é um ano extraordinariamente ricopara a Sociedade São Vicente dePaulo e por isso reunimo-nos parafestejar e, acima de tudo, para dareco, união e força ao espíritovicentino que todas essas datas nostrazem.

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AE – Este ano continua a estarmarcado por uma crise profunda.Enquanto instituição desolidariedade social de que formatem lidado a Sociedade São Vicentede Paulo com a crise e o aumentodos pedidos de ajuda?ACS – A Sociedade São Vicente dePaulo dedica-se a ajudar o próximonão só em alturas de crise mas emtodas as alturas. Tentamos estarjunto dos mais necessitados, dosmais pobres e fazê-lo tanto navertente espiritual como na vertentematerial. Atualmente, de fato avertente material é a que está maispresente e nós estamos a auxiliarcada vez mais famílias que vêm aténós, outras que vamos nós aoencontro delas porque sabemosque algo se passa e precisam deajuda. Umas estão desempregadose muitas têm carências de todas asordens porque, nalguns casos,deixaram de ter subsídio dedesemprego. AE– E de que forma têm dadoresposta a este crescente númerode pedidos de ajuda?ACS - Com a nossa palavra amiga!Muitas vezes nem os podemos

ajudar muito a nível material, mastentamos apoiar com a nossapresença, falando com eles,acompanhando o seu dia-a-dia edando-lhes ânimo. Esta vertente épara nós muito importante porquetemos como lema a visitadomiciliária, ir á casa do pobre, falare estar com ele sentindo assim asdificuldades com que ele se depara.Na atualidade em que vivemosmantemos essa proximidade edeparamo-nos com muitos, muitospedidos de bens materiais. E porvezes já temos algumas dificuldadesem acudir a todos… AE – Que bens materiais são maissolicitados?ACS – Algumas pessoas vivem comcarência extrema, pedem de tudo,como bens alimentares, dinheiropara pagar as faturas da água, luz egás, pedem roupa para as criançaspoderem ir á escola. Pedem-nostudo isso e muito mais, todos osdias, nas Sociedades de SãoVicente de Paulo que estãoespalhadas pelo país…

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AE – De que forma se gere essaincapacidade que vão tendo ematender todos quantos chegam atévós com pedidos de ajuda?ACS – Gere-se de uma maneiramuito aflitiva. Às vezes é muitoangustiante para nós… Passamosnoites e dias muito angustiadosporque não conseguimos ajudar eestamos a ver que a pessoa está adegradar-se humanamente. Masnós nunca deixamos chegar a esseponto! Quando não

conseguimos ajudar, fazemos tudopara encaminhar a pessoa paraoutra conferência vicentina ou paraoutra instituição de caridade comopor exemplo a Cáritas ou outraqualquer que nos ajude a apoiaressa pessoa. Arranjamos sempresolução! Mas vivemos, de fato, comuma preocupação constante porcausa dessas pessoas que chegamaté nós desesperadas por ajuda.

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AE – Um novo orçamento está emdiscussão, novos cortes foramanunciados. Acha que falta aospolíticos conhecerem a realidadeque os vicentinos conhecem, noterreno?ACS – Eu estou atento à política etenho de dizer que este orçamentoe todas estas medidas que estão aser tomadas são medidas depessoas que de fato não conhecema realidade, que não estão a viverno mesmo país onde há pessoas asofrer tanto!

Há pessoas à porta deles ou ao ladoda casa dos familiares deles queestão a passar fome, que estão semágua e sem luz, que queremcozinhar e não têm gás paracozinhar e esta realidade eles nãoconhecem e como não conhecemfazem todas estas leis que de fatohumilham as pessoas cada vezmais.

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AE – O trabalho das instituições desolidariedade, como a Sociedade deSão Vicente de Paulo e outrasligadas à Igreja Católica, tem sidoessenciais para manter os níveis desubsistência de algumas pessoas?ACS – Absolutamente. O trabalhodas instituições de solidariedade daIgreja tem sido determinante. Oscentros de dia, os lares da 3ª idade,a Sociedade de São Vicente dePaulo, a Cáritas, a Liga OperáriaCatólica/Movimento deTrabalhadores Cristãos (LOC/MTC),a Juventude Operária Católica(JOC), etc. Todas têmsido essenciais e determinantes naajuda aos mais necessitados

e aos mais pobres nestes temposdifíceis que Portugal atravessa. AE – Numa altura em que celebramos 154 anos da criação daSociedade São Vicente de Paulo emPortugal que balanço faz dotrabalho da instituição nas últimasdécadas?ACS – Nós temos estado a crescerconstantemente. Estamos comconferências vicentinas em todo opaís. Neste momento somos já 900conferências a nível nacional commais de 1500 vicentinos a trabalharativamente no terreno para apoiarespiritualmente e materialmente osmais necessitados.

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AE – E no futuro que projetos têmem mãos? ACS – Queremos continuar acrescer, criando cada vez maisconferências vicentinas. Queremoschamar a nós cada vez mais jovense por isso temos criadoconferências vicentinas maisvocacionadas para os jovens, paraestes terem desde novos a noçãode que é importante ajudar opróximo, estar junto dos maisdesfavorecidos. No geral, é umtrabalho que carece de muitapaciência, tem de ser muitopreparado, contínuo para quechegue de fato a bom porto.AE – As visitas domiciliáriascontinuarão a ser a aposta centralna vossa forma de intervir?ACS – Sim é a nossa apostaprincipal, sempre! O sentir aspessoas na sua casa, no seu meio eforma de viver é a nossa maneira deagir e estar junto dos pobres deforma presente e real. AE – É também a forma de mantero legado de Frederico Ozanamatual e vivo?ACS – O legado de Ozanam é anossa principal inspiração.

Frederico Ozanam praticava acaridade inspirado em São Vicentede Paulo, tanto que foi depois eleitocomo patrono das conferências porisso mesmo. “Bebeu” de onde todosnós “bebemos”, d’Aquele que é osentido da nossa vida: Cristo.Frederico Ozanam delegou-nos estavontade que é estar ao serviço domais pobre porque estando aoserviço do mais pobre estamos aoserviço de Cristo. E tudo o que eledizia e fazia na altura está aindahoje absolutamente atual, atéporque ele também viveu numaaltura de crise em França, no pós-guerra, na revolução industrial umaaltura em que também houve muitodesemprego. AE – Para si, enquanto presidenteda Sociedade São Vicente de Paulocomo vê o futuro do país e daspessoas?ACS – O país vai ter a força, comosempre tivemos até hoje, paraultrapassar o momento que estamosa viver. Temos que ser sempreotimistas!

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Em Cascais não há só ricosMaria Manuela Salgado é, há 6anos, a presidente do conselho dezona da Sociedade de São Vicentede Paulo de Cascais e Oeiras, “umtrabalho de gestão exigente queinterliga as 18 conferênciasvicentinas que ao todo apoiamcerca de 1500 famílias no concelhode Cascais”, explica Maria ManuelaSalgado.Apesar de ser um trabalho que lheconsome muito tempo diariamente,Maria Manuela Salgado estátambém “no terreno como vicentina,numa conferência que teve início há3 anos, a conferência de NossaSenhora da Paz na Adroana, emCascais”.Uma conferência que é um poucodiferente das habituais porque nãoestá ligada a uma paróquia.“Foi umgrupo de vicentinos que foi emmissão dentro de Portugal para umbairro social maioritariamentehabitado por imigrantes guineensese cabo-verdianos e tem sido umaexperiência muita positiva, tenhoaprendido imenso”, conta MariaManuela Salgado.“Toda a gente julga que em Cascaissó há gente rica e isso é um erro,porque Cascais está dividida entre a Costa do Sol e a

Costa da Sombra, e aí há imensosbairros sociais com problemas dedroga, alcoolismo e pobreza quelevam inevitavelmente à exclusãosocial”, lamenta Maria ManuelaSalgado.A crise profunda que se vive no paísatualmente chega também aalgumas famílias de classe média,que se dirigem à Sociedade de SãoVicente de Paulo em Cascais parapedirem também elas ajuda.“Às vezes à noite vamos dar-lhesbens alimentares fora do local ondeo fazemos diariamente para que apessoa não se sinta envergonhada”,explica a presidente do conselho dezona da Sociedade de São Vicentede Paulo em Cascais e Oeiras.“Só queremos criar uma rede deamor como Frederico Ozanam,nosso fundador, preconizou”enaltece Maria Manuela Salgado.

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Jovens de hojetêm medo de se comprometerOrlando Mendes é professor deEducação Moral e Religiosa Católicae frequenta a paróquia de SagradaFamília de Calhariz de Benfica, emLisboa, onde é responsável há cercade um ano por uma conferênciavicentina de jovens.Desde então Orlando procura jovensque se juntem a ele com o interessede ajudar o próximo, tarefa que setem revelado difícil.“Os jovens de hoje têm medo dapalavra compromisso, assustam-secom essa palavra, porque os jovensque abordei até gostam de ajudarmas livremente. Quando a conversaé comprometerem-se a estarquinzenalmente reunidos naconferência vicentina já nãoquerem”, lamenta o professor deEMRC, Orlando Mendes.Apesar das dificuldades em reuniruma equipa de trabalho, OrlandoMendes não esmorece e tentaconvencer os jovens da paróquia,partindo de uma estratégia diferenteque aposta numa “proximidademaior, incentivando-os a participar ea inovar, criando projetos como porexemplo a caixa do correio dosvicentinos, onde as pessoas que têmuma pobreza

envergonhada deixam os seusdados discretamente” para umaposterior visita domiciliária, revela oprofessor de Educação Moral eReligiosa Católica.Orlando Mendes tenta assim,diariamente, chamar a atenção dosjovens para a importância de ajudaros mais necessitados,personificando na prática aqueleque é o objetivo principal daSociedade de São Vicente de Paulo.“Quando me surgiu estaoportunidade de abraçar esteprojeto dos vicentinos, conhecer apreocupação de Frederico Ozanamcom a caridade e a justiça agradou-me muito porque é uma das áreasque eu gosto, gosto de estar pertodos outros”, conclui OrlandoMendes.

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Antoine Frédéric OzanamO homem - o cristão - o intelectual

Fernando Reis,Presidente honorário daSociedade de SãoVicente de Paulo

No âmbito das palavras que vou proferir, apenascabem alguns traços biográficos da vida deAntoine Frédéric Ozanam (conhecido porFrederico Ozanam), pois a grandeza da suacurta caminhada terrena e a riqueza da sua vidanão poderiam ser traduzidas nesta modestaexposição.A família Ozanam foi logo marcada peloexpressivo sinal de fé no século VII.A fugir a uma perseguição da Rainha Brunhildis,o Arcebispo de Viena - St. Didier-sur-Chalaronne- do início do séc. VII, encontrou refúgio na casade um rico judeu, Samuel Hosannam, apesar dasdiferenças religiosas. As palavras e o exemplo doBispo impressionaram a tal ponto a grandefamília Hosannam, que esta se converteu à IgrejaCatólica, mesmo em face da morte.O Arcebispo é, pouco tempo depois, martirizado.Este regresso, este encontro com Deus, estareconciliação da família Ozanam, veio despertar12 séculos depois em Frederico Ozanam umaespecial expressão de fé. Para Deus não hátempo!Ozanam pouco nos informou sobre os seusascendentes, como também acerca dos seusoutros parentes. Eram judeus, como se tempretendido e negado ao mesmo tempo?Em 1835, escrevia a um judeu convertido:

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“Também nós (fala de si e do seuirmão Carlos) julgamos a nossafamília israelita ... Ahl meu amigo,quando se tem a felicidade de setornar cristão, é uma grande honraser israelita, sentir-se filho dospatriarcas e dos profetas."Frederico Ozanam nasceu a 23 deabril de 1813, em Milão (ltália). Filhode Jean-Antoine, médicoprestigioso, cuja fama profissionalnão o impedia de assistir doentesindigentes, com o mesmo cuidado eafabilidade reservados aospacientes da alta condição social, ede Marie Ozanam, também dedicadaà assistência dos pobres eenfermos. Frederico respira desde onascimento o profundo espírito decaridade compartilhado pelos seuspais.Depois de uma infância muitoprotegida em Lyon, Frederico entrano colégio em 1822 para começaros estudos secundários. Estudantebrilhante e leitor insaciável, aos 17anos conhece várias línguas: grego,latim, italiano e alemão, e inicia umcurso de hebraico e sânscrito. Deespírito sensível e preocupado, éapaixonado pelo estudo daFilosofia, consumindo-se comfrequência numa investigação

existencial e espiritual, que jamaisabandonará.”De temperamento e formação bemdiversos de S. Vicente de Paulo,Frederico Ozanam tinha a sua almapermanentemente magoada pelacisão existente entre a França e aIgreja e entre a juventude e areligião, entre a Ciência e a Fé.Vindo de Lyon para Paris, em 1831,a fim de cursar direito, retórica efilosofia, não se conformava comaquelas cisões.Em Paris, viveu em casa de André-Marie Ampere (professor,matemático, físico e químicofrancês), de quem se tornou grandeamigo. É nesta atmosfera que vive o jovemOzanam que reflete na verdadeiracausa destas cisões: "Era umaquestão de pessoas, não defórmulas políticas, uma questãosacial”, di-lo numa das suas cartas.Marca mesmo, numa delas, o seuprograma de autêntica reconciliaçãoentre os homens, reconciliação pelacaridade: "creio na autoridade comomeio, na liberdade como meio, nacaridade como fim".Liam-se então, em França,Chateaubriand e Lamartine,iniciadores do romantismoindividualista. Apareceram

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Lamarck, com a sua doutrina dageração espontânea etransformismo. Procuravam-sesoluções metafísicas com ausênciade intenção divina. Vivia-se sob odomínio do sarcasmo de Voltaire,das novas ideias nascidas daRevolução e das Reformas Sociaisde Rousseau que pareciam nãopoder conciliar-se com a Fé. NaSorbonne e no College de France, apreocupação excessiva da liberdadede ensino tornava os professoresverdadeiros mestres de impiedadedisfarçada de liberdade.No College de France, M. Letrõne,professor de Arqueologia, geógrafoe egiptólogo ilustre, tenta provarque "a história sagrada é umalenda" e que “o papado é umainstituição passageira, nascida notempo de Carlos Magno e hojemoribunda”.Estas afirmações levantam o ânimode Ozanam que, em conjunto comFrançois Lallier, subscreve umenérgico protesto endereçado aoprofessor.Por uma carta dirigida ao seu amigoErnest Falconnet, a 10 de fevereirode 1832, vemos qual foi o resultadoda sua intervenção:

"os nossos protestos - escreve -lidos publicamente na aula,produziram o melhor efeito. Opróprio professor esboçou umaretratação".Ozanam, na Sorbonne despertatambém os ânimos dos estudantes.A presença de Ozanam é apresença da palavra de Deus,agitada por um dos seus maiszelosos servidores.Era preciso reconciliar a juventudecom Deus porque, como afirmavaOzanam, “o que há de mais útil émostrar à sociedade académica quese pode ser católico e ter-se sensocomum, que podemos amar areligião e ao mesmo tempo aliberdade, é, enfim, tirar essamocidade da indiferença religiosa ehabituá-la a graves e sériasdiscussões".Era preciso reconciliar também aCiência e a Fé. No dizer do próprio"era preciso santificar a Ciência,torná-la irmã da Fé “.Ozanam sofria amargamente porquea sua fé forte em crença e em culto,não se traduzia devidamente emamor e ação. Incansável,inconformado, desdobrava-se emartigos e estudos defendendo aIgreja e o Papa.

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Tenta, para além da mais variadaargumentação, a reconciliação coma Igreja através das ConferênciasApologéticas e das Conferências deHistória de Nôtre-Dame. Estastornam-se meios de formação e adefesa da fé constituía o seugrande objetivo.Mas, apesar de tudo, eram precisasprovas diretas e concretas parasensibilizar a opinião pública.Citando Areal Andrade: "Ozonamquer promover uma espécie decruzada caritativa com o fim dealiviar as misérias individuais, masque também contribua para oprogresso social. Para estemovimento necessário e importanteele convida os ricos, osrepresentantes do povo, os padres,porque o progresso social é umatareia que compete a todos”.

Essa "cruzada caritativa" só poderásurgir pela evidência da presençade Cristo entre os homens, nospróprios homens. Era preciso umtestemunho de Fé vivo, umtestemunho flagrante, alertante,humano. Num momento deiluminação, Ozanam encontrou aresposta: “VAMOS AOS POBRES".A Caridade é aqui tomada nosentido teológico de amor a Deus eao próximo. Ozanam acrescenta queela não pode existir no coração demuitos sem se manifestarexternamente: - é um fogo que seextingue por falta de alimento e oalimento da Caridade são as boasobras.Noutra altura, Ozanam exprime aosseus companheiros o seupensamento sobre a ação adesenvolver dizendo: "somosdemasiado novos para intervir naluta social. Mas, havemos de

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ficar inertes no meio do mundo quesofre e geme? Abre-se-nos umcaminho preparatório. Antes defazer o bem público, podemos tentarfazer bem a alguns: - Antes deregenerar a França, podemos aliviarum punhado dos seus pobres. Porisso eu queria que os jovens comcabeça e com coração se reunissemnuma obra caritativa e formassempor todo o país uma vastaassociação generosa para amparodas classes populares".Pretendendo traduzir o cristianismoem ações, organizaram asConferências da Caridade.A 23 de abril de 1833, pelas 20horas na Rue du Petit-Bourbon deSaint Sulpice, 18 em Paris, realiza-se a primeira reunião daConferência de Caridade. Foramsete os seus primeiros membros:Antoine Frédéric Ozanam, AugusteLe Taillandier, Paul Lamache,François Lallier, Felix Clavé (estescinco estudantes de Direito), JulesDevaux (estudante de Medicina) eEmmanuel Joseph Bailly (professorde Filosofia e Jornalista da TribunaCatólica). Ozanam convida Baillypara Presidente da Conferência. Nodia 14 de fevereiro de 1834, Jean-Léon

Le Prevost propôs o Patrocínio deSão Vicente de Paulo à entãoConferência de Caridade. Será esse humilde "Snr. Vicente” oinspirador desta vocação decaridade descoberta por Ozanam,vocação de serviço direto aospobres."Refleti maduramente nesta decisão,recomenda Ozanam, pois um SantoPatrono não é uma tabuleta banalpara uma sociedade... Não é, domesmo modo, um nome com o qualpossamos fazer boa figura diante domundo católico. É um modelo que épreciso viver, tal como ele viveu omodelo divino de Jesus Cristo”.E aqui aparece, ao lado de Ozaname de seus companheiros, aadmirável Irmã Rosalie Rendu,grande alma apostólica, que passoua constituir, na realidade, a mestrados noviços, dos novos missionáriosda caridade.A Irmã Rosalie, uma Filha dacaridade, teve a alegria de verreunirem-se, às vezes na sua casa,os primeiros membros daConferência de S. Vicente de Pauloe de presenciar que o belo foco decaridade se avivava e propagava.Ela indicou-lhes as famílias a visitare as suas necessidades

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e, com conselhos práticos econcretos, a maneira de começar ealgum dinheiro a conceder.Pondo em execução o planeamentoelaborado nas Conferências deCaridade, estabeleceu-se apresença cristã no lar dos maiscarenciados, servindo todos oshomens que sofrem sem distinçãode qualquer ordem, em espírito dejustiça e caridade, por um contactopessoal através de todas as formasde ajuda, no sentido de promoçãoda dignidade e da integridade dohomem. Não se procurará apenasaliviar a miséria, mas tambémdescobrir e solucionar as suascausas.Lembrando Ozanam quando um dialevou à casa dos pobres a acha delenha para o fogão, num frio invernoparisiense, somos levados aconcluir que essa acha foi oprincípio do braseiro que incendiouo mundo em chamas de amor. O Prof. Marcello Caetano emconferência pronunciada em 30 deabril de 1963, por ocasião do 150.ºaniversário do nascimento deOzanam, disse então:"Em Ozanam não tinha acolhimentoa mesquinhez dos

sentimentos, nem mediocridade dasideias, nem o desleixo das formas. Asua sede de grandeza e de belezasó se saciava no infinito, só emDeus encontrava satisfação. (...)Maior do que a sua obra literária,mais eloquente do que o seumagistério universitário, com maioreco nos espíritos do que as suasconclusões de filosofia da Históriafoi, afinal, aquela iniciativa modestade reunir sete rapazes, sob opatrocínio de S. Vicente de Paulo,para avigorar o fé, alimentar aesperança e praticar a caridadecristã. Foi esse gesto simples deamor a Deus e ao próximo que lheconquistou a imortalidade na Terra,como porventura a eternidade doCéu. E essa é afinal a maior liçãodeste universitário sábio e ilustre: ade que a glória de saber se esvai eo poder da razão se aniquilaperante o ato de humildade ecaridade pelo qual o homem sepresta a ser o instrumento davontade divina!"Em 1836 dizia Ozanam, numa cartaao seu amigo Emanuelle Baily: "adesordem profunda que lavra nomeio em que vivemos, cada vez émais visível. As questões politicas

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substitui-se a questão social, a lutaentre a pobreza e a riqueza, entre oegoísmo que quer tirar e o egoísmoque quer guardar. Entre estes doisegoísmos o choque será terrível.Entre os pobres que têm a força donúmero e os ricos que têm a forçado dinheiro”E mais adiante: “a questão quedivide os homens dos nossos dias jánão é uma questão política, é umaquestão social/:é saber quem levaráa melhor - o espírito de egoísmo ouo espírito de sacrifício - se asociedade não será senão umagrande exploração para benefíciodos mais fortes ou a consagraçãode cada um ao serviço de todos.Há muitos homens que têm demaise que querem ter ainda mais; hámuitos outros que nada têm e quetomarão pela força aquilo que nãose lhes conceder. Entre estas duasclasses de homens uma luta seprepara e esta luta ameaça serterrível: de um lado o poder do oiro,do outro o poder do desespero”.Acentua Ozanam, também em 1836,que “o nosso dever, é fazer com quea igualdade surja entre os homens eque a caridade faça aquilo que ajustiça, só por si,

nunca seria capaz de atingir.Mais tarde, na cadeira de DireitoComercial, em Lyon, sobre otrabalho humano: encaravadiretamente as relações entrepatrões e operários, reivindicavaassociações de trabalhadores,reclamava um justo salário emrelação às necessidades da famíliae que pudesse assegurar aeducação dos filhos, insistia nodireito do povo ao trabalho e àinstrução. Foi um autênticoprecursor dos Papas Leão XIII naEncíclica "Rerum Novarum", Pio XIna Encíclica “Quadragésimo anno" eaté João Paulo II na Encíclica“Centesimus Annus”.Ozanam propõe que o operário sejatratado como homem e seja para opatrão um colaborador humano.Sendo assim, diz ele, “o salário devepagar os três elementos que ooperário põe ao serviço da indústria:a boa vontade corajosa, algunsconhecimentos, a força. A sua boavontade dá-lhe direito às despesasde existência, ao necessário paranão lhe permitir morrer de fome; osseus conhecimentos formam umcapital de que merece cobrar juros eamortização. O seu salário deve

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permitir-lhe prover aos gastos com aeducação/instrução dos filhos; a suaforça ativa é um capital que um diase vai esgotar. Virão a invalidez e avelhice. O operário tem direito àreforma sem a qual, teria colocado asua vida em fundo perdido".Quanta atualidade neste texto! O Papa Leão XIII, 50 anos maistarde, completou e atualizou esteproblema das relações entreoperário e patrão.A personalidade forte de Ozanam,grande figura do laicado católico doséculo XIX, mostra-o, não só como ointelectual, o homem de ação, ocristão consciente, o vicentinoconvicto, o chefe de famíliaexemplar, mas também comoprecursor do catolicismo

social, da democracia cristã, doapostolado laical do século XX.“Não, Ozonam não foi apenas omocinho pálido, ingénuo, piedoso ebenfazejo, que por vezes parecesermos levados a divisar por entreas brumas de uma tradiçãocertamente bem-intencionada masem absoluto desfasada darealidade. Ele não tem - nunca teve- lugar num museu de figuras decera. A sua caridade nunca foi a docopo de leite, muito menos a docopo de água.Ozanam foi um paladino da Fé e umpraticante iluminado da Caridade naplena aceção da palavra. Foi umintelectual esclarecido e um homemde ação coerente e vigorosa. Nalinguagem de hoje, diríamos que foium

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ativista ardoroso, um militanteempenhado na Causa de Deus e daIgreja. Verdadeiro «Soldado deCristo», depois da virtude teologalda Caridade, é talvez a virtudecardeal da Fortaleza que melhor odefine e caracterizo.Fortaleza de que deupermanentemente testemunhodurante uma vida tão curta comopreenchida de fértil protagonismo,insuflado por um fervor apostólicoincomparável. Esta a sua poderosae autêntica imagem.”4 (citei PaivaBrandão).Dele pôde dizer Eugène Outhoit(1869-1944), professor daFaculdade de Direito daUniversidade Católica de Lille:"Ninguém foi mais qualificado parainiciar, na história religiosa do século dezanove, opapel ativo dos leigos;acrescentemos que o fez emcondições aceitáveis pela hierarquiaeclesiástica e sempre por elaaprovadas",Mais de dois séculos separam asdatas de nascimento de Vicente dePaulo e de António FredericoOzanam, mas foi o mesmo

espírito que presidiu à vida destesdois homens, que deixaram o seunome gravado a letras de oiro nahistória da humanidade e da Igreja ena vida da Sociedade de S. Vicentede Paulo, como seus patrono efundador.Não foi caminhada fácil o decorrerdo processo de beatificação donosso fundador.A eventualidade de uma Introduçãoda Causa começou a ser pensadaseriamente em 1913, por ocasião docentenário do seu nascimento.A 1.ª Guerra Mundial, ocorrida de1914-1918, retardou a abertura doprocesso.O processo ordinário debeatificação foi introduzido a 15 demarço de 1925, na festa de SantaLuzia de Marillac, só terminando a 8de junho de 1928.Inicialmente, um erro do postulador,de que poderia ser evitado oprocesso histórico¬ erro que maistarde foi ultrapassado - originoumais uma considerável perda detempo.Depois, sucessivas mudanças

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de postuladores estiveram na basedos continuados atrasos que seforam verificando.Com a eclosão da 2.ª GuerraMundial, que assolou o mundo de1939-1945, foi interrompido maisuma vez, o curso normal doprocesso.O decreto da Introdução da Causado Servo de Deus, Antoine FrédéricOzanam, foi assinado pelo Papa PioXII, a 12 de janeiro do Ano Marianode 1954, mas s6 em 1955 se abriu oprocesso apostólico.Em 19561 os bispos portuguesesautorizaram a afixação da cópia doDecreto da Sagrada Congregaçãodos Ritos sobre esta abertura, emtodas as paróquias de Portugal.Também, o desenrolar do ConcílioEcuménico Vaticano II retardouainda mais o avanço da causa.Na Assembleia Internacional denovembro de 1979, em Paris, ogrupo de trabalho sobre a Causa deBeatificação, no qual participei,decidiu pôr em movimento uma"Comissão incumbida da promoçãoda Causa de Beatificação deFrederico Ozonam”. E, destadecisão, surgiu o grande impulso hámuito necessário. Após um longoperíodo de estagnação novoentusiasmo foi dado ao processo.Na sequência desta resolução,

na 8ª Reunião Plenária doConselho Nacional de Portugal, emmaio de 1980, fui designado parapresidir à Comissão a nível nacional.Em 1987, o Conselho Nacional dePortugal fez uma exposição aoPresidente da ConferênciaEpiscopal Portuguesa, por ocasiãodo Sínodo dos Bispos, para apoiar oprocesso em curso, com vista à suaconclusão.A 6 de junho de 1993, Ozanam foiproclamado "Venerável",Este longo processo terminou no dia25 de junho de 1996, às doze horas,quando na Sala do Consistório doVaticano, o Papa João Paulo IIassinou o decreto reconhecendo omilagre obtido por intercessão deFrederico Ozanam, a 2 de fevereirode 1926 _ Festa de Purificação daVirgem Maria - em favor deFernando Luíz Benedito Ottoni, umjovem brasileiro de 18 meses, quesofria de uma difteria maligna e cujafamília residia em Niteroy, Diocesede Nova Friburgo, Estado do Rio deJaneiro, Brasil.O culminar desta caminhada, repletade orações dos vicentinos de todo omundo, teve lugar na Catedral deNôtre-Dame, em Paris, no dia 22 deagosto de 1997, pelas 9 horas,repleta de vicentinos de todo omundo, entre os quais FernandoLuíz Benedito Ottoni,

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miraculado por intercessão deOzanam, então com 69 anos deidade, engenheiro e fervorosovicentino (morreu em 2004).Na homilia da Beatificação deFrederico Ozanam, o Papa JoãoPaulo II, referindo-se à primeira emaior lei divina, a lei do Amor deDeus e do próximo, disse:“Fiel a este mandamento do Senhor,Frederico Ozonam, acreditou noamor que Deus tem por todos oshomens.Ele mesmo se sentiu chamado aamar, dando exemplo de um grandeamor a Deus e aos outros. Ia aoencontro de todos os que tinhammais necessidade de ser amados,daqueles a quem Deus-Amor nãopodia ser efetivamente revelado,senão pelo amor de uma outrapessoa. Ozonam descobriu nisto aSua vocação, viu o caminho paroqual Cristo o chamava. Encontrounisto o seu caminho rumo àSantidade. E, percorreu-o comdeterminação”.E, termino, referindo Ozanam comohomem de ontem e de hoje, modelopara os Leigos do nosso tempo;pelo seu empenhamento cristão naIgreja e no mundo,

antecedendo providencialmente oConcílio Vaticano II, com oreconhecimento da ação dos Leigosna Igreja e da suacorresponsabilidade na construçãodo Reino.Frederico Ozanam, principalfundador da Sociedade de S.Vicente de Paulo, que a Igrejabeatificou, tem de ser divulgadoatravés de todos os meios ao nossodispor para que os homens de hojeconheçam uma das figuras maismarcantes do catolicismo do século XIX, pela sua estatura imparnas vertentes intelectual ehumanista, mas acima de tudo umverdadeiro apóstolo da caridade.Ele afirmou um dia que “ gostaria deenvolver o mundo inteiro numa redede caridade". Este seu desejo é hojeuma realidade com a existência daSSVP a servir em 149 países domundo.Ozanam teve uma vida curta, poiscom 40 anos de idade partiu parajunto de Deus, a quem serviu comfidelidade e entusiasmo e;parafraseando Luís de Camões,"mais servira, se não fora, para tãolongo amor, tão curta a vida".

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Papa convoca Consistório

O diretor da Sala de Imprensa daSanta Sé anunciou hoje no Vaticanoque o papa Francisco vai convocarum consistório para a criação decardeais no dia 22 de fevereiro.“Por ocasião da reunião doConselho dos Cardeais nosprimeiros dias de outubro (1 a 3outubro) e na sequência da reuniãodo Conselho do Sínodo (7 e 8 deoutubro), o Papa informou osparticipantes da sua intenção deconvocar um consistório para acriação de novos cardeais porocasião da festa da Cátedra de S.Pedro, 22 de fevereiro”, lê-se nadeclaração do padre FedericoLombardi divulgada pela Sala deImprensa da Santa Sé.D. Manuel Clemente, patriarca deLisboa, não deverá ser designadocardeal neste Consistório uma vezque D. José Policarpo ainda nãoatingiu 80 anos de idade,integrando por isso o número deeleitores num possível conclave.“É provável que a Santa Sé siga amesma práxis”, disse o padre

Saturino Gomes à AgênciaECCLESIA, mantendo a mesmatradição que tem seguido emrelação a outras dioceses, comoaconteceu com o patriarca deVeneza, no último consistório.“No último consistório, convocadopelo Papa emérito Bento XVI, opatriarca de Veneza não foinomeado cardeal porque o seuantecessor não tinha atingido os 80anos”, disse o professor de DireitoCanónico na Faculdade de Teologiada Universidade CatólicaPortuguesa.O padre Saturino Gomes recordaque “não há nada escrito, não hánenhuma norma”, apenas umatradição que os Papas têm seguidoe que “não se sabe” se o PapaFrancisco manterá no consistórioagora anunciado.O padre Federico Lombardi informatambém nesta declaração que é de“prever” que o Papa tenha a“intenção de fazer preceder oconsistório da reunião do ColégioCardinalício”, como vem sendohábito, encontro

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que deverá ter lugar nos dias 17 e18 de fevereiro.No mês de fevereiro, outrasreuniões entre cardeais devemacontecer no Vaticano: antes doencontro do Colégio Cardinalício, aterceira reunião do Conselho deCardeais (designada “Dos oitocardeais”); a reunião do Conselhodo Sínodo, nos dias 24 e 25; eConselho dos Cardeais para osassuntos económicos eorganizativos da Santa Sé(designada “Conselho dos 15”).

O Colégio Cardinalício é atualmentecomposto por 201 membros (92 dosquais com mais de 80 anos),incluindo três portugueses: D. JoséSaraiva Martins, D. José Policarpo eD. Manuel Monteiro de Castro.No próximo consistório, no dia 22 defevereiro de 2014, número deeleitores deverá ser de 106 depoisde três dos atuais cardeais terematingido os 80 anos, sendo por issoprovável que o Papa nomeie 14novos cardeais.

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Jornada da Família no Vaticano

O Papa Francisco recebeu noVaticano dezenas de milhares defamílias de 70 países, incluindoPortugal, para uma jornada mundialno Ano da Fé.“Mão na mão, sempre e para toda avida! Não liguem a esta cultura doprovisório, que corta a vida embocados. Com esta confiança nafidelidade de Deus enfrenta-se tudosem medo, com responsabilidade”,disse aos casais presentes.Depois de uma tarde preenchidacom música e testemunhos defamílias católicas, o Papa presidiu auma celebração, na qual apelou àoração pelos casais, porque “têmnecessidade da ajuda de Jesus”para se acolherem e perdoaremreciprocamente.Carrinhos de bebé, crianças devárias idades, pais e avósmisturaram-se na Praça de SãoPedro para ouvir Francisco e parauma profissão de Fé: o Papachegou ao local de mãos dadas

com 10 crianças, que transportavambalões.“Aquilo que mais pesa na vida é afalta de amor”, disse, recordando opeso dos “silêncios, também nafamília, entre marido e mulher, entrepais e filhos”.No domingo, dia 27 de outubro, oPapa presidiu à missa deencerramento da Peregrinação dasFamílias ao Vaticano, desafiando-asa viver na alegria e na harmonia que“apenas Deus sabe criar”.

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@Pontifex_pt atingiu10 milhões de seguidores

A conta do Papa Francisco na redesocial Twitter chegou hoje a mais de10 milhões de seguidores, nas novelínguas disponíveis, incluindo maisde 840 mil em português."Queridos Seguidores, soube que jásois mais de 10 milhões! Agradeço-vos do fundo do coração e peçoque continueis a rezar por mim”,refere a mais recente mensagempapal, publicada esta manhã.O texto disponibilizado em‘@Pontifex_pt’ foi o 178.º emportuguês, desde o início dopontificado, a 13 de março,resumindo catequeses, homilias eoutras intervenções públicas doPapa argentino.Francisco usou a ashtag (marcador)‘#prayforpeace’ aquando da jornadade oração e jejum pela paz na Síria,que convocou em setembro.As mensagens são publicadas novelínguas para mais de 9 milhões e935 mil seguidores: português,inglês (mais de 3

milhões), espanhol (cerca de 4milhões), italiano, francês, alemão,polaco, árabe e latim.Segundo o arcebispo Claudio MariaCelli, presidente do ConselhoPontifício das ComunicaçõesSociais, do Vaticano, os mais de 9milhões de seguidores do Papa e oimpacto dos seus ‘tweets’, quechegam a 60 milhões de pessoas,representam um sucesso mediáticoque “poucos outros líderes a nívelmundial podem atingir”.

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Nunca desistasNa cidade de Pittsburgh, estado daPensilvânia, EUA, Jamie é uma mãesolteira a braços com a ineficiênciado acompanhamento pedagógicoque a sua filha, disléxica, precisariapara garantir o sucesso escolar.Apesar das tentativas, asensibilização que tenta junto dadireção da escola e em particular daprincipal professora da filha nãosurtem qualquer efeito.Desesperada, conhece Nona, umaprofessora que vive igualmentesozinha com um filho problemático eque passa por um períodoparticularmente difícil após aseparação do marido. Outrora umaprofessora combativa, empenhada ecarismática para os seus alunos,Nona parece ter sucumbido aosentraves de um sistema educativodemasiado distante da realidadeespecífica da sua escola, limitando-se hoje a fazer o essencial parapermitir aos alunos completarem aescolaridade obrigatória.As preocupações e afinidades entreambas aproximam-nas e uma leivigente no sistema,

segundo a qual é permitido aospais assumirem maior controlo daescola, desperta em Jamie o ímpetode fazer desta uma instituiçãomelhor para a sua filha e osrestantes alunos. O espírito afoitode Jamie faz desepertar em Nona osentido de dignidade profissional epessoal e sobretudo a esperançaque há muito perdera.Juntas, encetam uma luta pelaqualidade educativa que as levará atravar várias batalhas junto do corpodocente, da direção e até mesmo deoutros pais. Mas não desistem.‘Nunca Desistas’ é a terceira longametragem de Daniel Barnz e aterceira vez que o realizador norteamericano exprime a suapreocupação com a questão dainclusão/exclusão numa sociedadeque teima em promover padrões denormalidade próximos de umaperfeição superficial, utópica edesumanizante.Fê-lo pela primeira vez em 2008,com ‘No País das Maravilhas’- atocante história de Phoebe, umacriança dominada pela imaginaçãocuja necessidade

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de contrariar o mundoexcessivamente regulado dosadultos os preocupa, acabando porencontrar na expressão dramáticaum caminho de conciliação entre oseu mundo imaginário e o real. Epela segunda vez em ‘Beastly – oFeitiço do Amor’, uma modestaadaptação moderna de um outroconto, ‘A Bela e o Monstro’, em queum jovem aprende a linguagem doamor, do respeito mútuo e dahumildade ao perder a beleza física,o poder e arrogância por feitiço.Aqui, numa história de luta por umsistema educativo mais justo queconta com mais um notáveldesempenho de Viola Davis (‘AsServiçais’ e ‘Dúvida), Barnz focacom razoável interesse um casoque, embora baseado numarealidade circunscrita a um

estado norteamericano (uma lei quepermite aos encarregados deeducação participação ativa eefetiva na gestão da escola)desperta o interesse além fronteiras:é o caso de Portugal, onde aresposta à inclusão de crianças comdificuldades de aprendizagem,abrangendo um vastíssimo espectrode obstáculos ao sucesso escolar epessoal dos alunos, está longe deencontrar resposta na escolaridadeobrigatória.Não obstante o registo algocaricatural do corpo docente ealgum populismo nas asserções doargumento, ‘Nunca Desistas’ tem omérito de nos pôr a pensar sobre aescola e a família comoprotagonistas, por excelência, daesperança numa sociedade maishumana.

Margarida Ataíde

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Família Cristã Onlinehttp://www.familiacrista.com Decorreu no passado fim-de-semana a peregrinaçãointernacional das Famílias ondedurante dois dias, no Vaticano,estiveram reunidas mais de 100 milpessoas.Assim, esta semana, sugerimos umavisita atenta ao sítio da revista daPaulus, “Família Cristã”. Com oobjetivo de “ser um espaçomultimédia que ajudará os leitores aestarem informados e formadossobre o que de mais importanteacontece na sociedade que nosrodeia”, segundo José CarlosNunes, diretor desta revista, o sítio“não pretende ser uma reproduçãoda revista impressa, mas umcomplemento da mesma, uma outraforma de chegar a todas as famíliascristãs, especialmente as geraçõesmais novas, que ao longo de maisde 50 anos têm nesta publicaçãouma referência de confiança ecredibilidade”.Ao entrarmos na página principalencontramos um conjunto enormede funcionalidades, das quaispodemos indicar, artigos de

atualidade, a capa da última ediçãoe ainda um conjunto de artigos, quevão desde a Igreja, à família,passando pela sociedade, semprecom atualizações constantes. Existeainda o espaço de opinião, ondetodas as semanas, pessoasdiferentes deixam a sua forma dever o mundo em textos bastanteinteressantes. Temos também umícone intitulado “fale connosco”,onde, ao enviarmos as nossasdúvidas, sugestões e pedidos,podemos ver esse tema impressonas páginas da revista, num próximonúmero.No espaço “quem somos”, podemosconhecer um pouco dos quase 60anos de história desta revista, queinicialmente se denominava somente“Família”.No item “notícias”, encontramostodos os artigos que forampublicadas, ordenados de umaforma cronológica.Caso pretenda descobrir um poucomais sobre as publicações que, poreste mundo fora, possuem osmesmos objetivos que estapublicação nacional basta clicar em“família cristã no mundo”.

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Naturalmente que a função destesítio se sustenta na revista emformato de papel e portanto, faztodo o sentido a existência de umespaço que informe os visitantes,das possibilidades e formas dereceber esta publicação em casa,para tal aceda ao item “assinaturas”.Aqui fica a sugestão paraque aceda regularmente a estesítio, bem como à sua presença nasdiversas redes sociais e assim iracompanhando um espaço que estátodo ele virado para as famílias.

Fernando Cassola Marques

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Santa Beatriz da Silva:Estrela para Novos RumosO livro «Santa Beatriz da Silva:Estrela para Novos Rumos»apresenta as atas do CongressoInternacional (CI) que assinalou os500 anos da Ordem da ImaculadaConceição (OIC), realizado de 14 a16 de outubro de 2011.Este congresso foi uma homenagemà vida e à obra de Santa Beatriz daSilva e deu a conhecer o dinamismoe vitalidade das irmãsconcepcionistas, há 500 anos aúnica ordem contemplativaportuguesa.A obra agora editada foicoordenada por José EduardoFranco e D. José Alves foiorganizada pela CLEPUL, emparceria com diversas instituições, econta com 641 páginas.No prefácio de D. José SanchesAlves, arcebispo de Évora epresidente da comissãoorganizadora do CI, explica que a“semente de vida” de Beatriz daSilva continua a “produzir frutos” e oseu carisma está presente nas 3000monjas em 150 mosteiros

espalhados pelo mundo.“A Santa Sé não poderia ficarindiferente a uma fundadoraextraordinária que afrontou amentalidade misógina do seu tempoe que iniciou uma ordem femininapeculiar e valorizadora da vida cristãno feminino pelos começos da idademoderna”, considera José EduardoFranco, presidente da comissãocientífica do CI, na introdução destelivro.Santa Beatriz da Silva faleceu em1942 e foi canonizada pelo PapaPaulo VI a 3 de outubro de 1976.

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Sementes de Evangelho

A Diocese de Bragança-Miranda emparceria com o SecretariadoNacional de Liturgia publicou o livro«Sementes de Evangelho».Este compêndio recolheu textos queapresentaram e refletiram osEvangelhos do ciclo litúrgico do anoA, “percorridos na companhia deMateus, o cobrador de impostos quese deixou fascinar e conquistar peloMestre de Nazaré”, explica D. JoséCordeiro na apresentação da obra.Os textos agora compilados foramuma resposta à frase do Papaemérito Bento XVI – “a sua Palavraenvolve-nos não só comodestinatários da revelação divina,mas também como seus arautos” -na exortação apostólica pós-sinodalVerbum Domini (VD) no

número 90 e foram escritos na ‘Página de União’, no jornaldiocesano, o ‘Mensageiro deBragança’.“Através do ano litúrgico, a Igrejaproporciona à nossa vida, marcadapor ritmos temporais, ser visitada efecundada pela vida de Deus”,acrescenta o bispo de Bragança-Miranda.Aos organizadores desta edição, opadre José Fernando CaldasEsteves, reitor do Pontifício ColégioPortuguês em Roma e as IrmãsMaria José Diegues e ConceiçãoBorges, das Servas FranciscanasReparadoras, a diocese agradece“a inteira dedicação edisponibilidade da colaboração”.

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II Concílio do Vaticano: «DeEcclesia» esmaltada de imagensbíblicas da Igreja

Nos primeiros trinta dias da segunda etapa do IIConcílio do Vaticano (29 de setembro a 04 dedezembro de 1963), os padres conciliares dedicarama sua reflexão ao esquema sobre a Igreja («DeEcclesia»), documento elaborado pelo cardealOttaviani, presidente da comissão teológica.Depois de um breve comentário ao esquema, ocardeal Ottaviani acentuou que “o depósito da fédevia ser guardado, mas que convinha apresentá-loa todos”. No fundo expressa uma duplapreocupação: “doutrinal e pastoral” (Henri Fesquet;«O Diário do Concílio», volume I, Lisboa, PublicaçõesEuropa-América). De seguida, o arcebispo deColónia (Alemanha), cardeal Frings, falou em nomedos padres conciliares alemães e deu um parecerpositivo sobre o documento: “Valde placet” (Oesquema agrada-me inteiramente).Para o “exigente” cardeal alemão fazer este juízo devalor sobre o esquema («De Ecclesia») – “nãoexcluindo críticas de pormenor” – é preciso acreditarque o documento é realmente satisfatório. SegundoHenri Fesquet o texto redigido teve por base umprojeto belga (Lovaina) e foi trabalhado de novo comcolaborações “de várias subcomissões mistas,especialmente com membros da comissão doapostolado dos leigos”. Na mesma intervenção, o cardeal Frings

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congratulou-se pelo esquema evitar“o estilo apologético e jurídico” e porestar “esmaltado de imagensbíblicas da Igreja”. O cardealalemão exprimiu também o seureconhecimento a Paulo VI que, noseu discurso de abertura,“corajosamente, não por tática, masporque é verdade” reconheceu “oserros da Igreja Católica no drama daseparação das Igrejas e deles pediuhumildemente perdão” (HenriFesquet; «O Diário do Concílio»,volume I, Lisboa, PublicaçõesEuropa-América).Numa das congregações gerais,monsenhor Van den Hurk(Indonésia) referiu que o esquema«De Ecclesia» continha trinta vezesa expressão «primado de Pedro».“Insistência excessiva porque dá aimpressão de traduzir desconfiança,enquanto ninguém põe em dúvidaesta verdade fundamental”,sublinhou o padre conciliar.Depois de quinze dias de trabalhos,os padres conciliares viviam um bom“entendimento” relativamente “aospontos essenciais”. “Só um padre selevantou contra a

sacramentalidade do episcopado emuito poucos contestam acolegialidade. As divergências sãomais de modalidade que de fundo”(Henri Fesquet; «O Diário doConcílio», volume I, Lisboa,Publicações Europa-América). Deora em diante, relatou HenriFesquet pode-se afirmar que oconcílio “porá singularmente emrelevo os poderes dos bispos. Nãoforam precisas mais de dozesessões para se fazer luz sobre umassunto há pouco tempo aindaconsiderado dos mais espinhosos”.Nos trabalhos da segunda sessãodo grande acontecimentoconvocado pelo Papa João XXIII econtinuado pelo seu sucessor, PauloVI, os padres conciliaresexaminaram, para além do esquema«De Ecclesia», os documentos «DeEpiscopis et Dioecesium regimine» e«De Oecumenismo», tendo sido o«De Beata Maria Virgine» remetidopara ulterior consideração integradono «De Ecclesia», e apenasenunciado o do Apostolado dosLeigos. LFS

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outubro 2013Dia 01* Último dia para a recolha dasassinaturas da petição Europeia«Um de Nós». * Prazo limite para o envio dasrespostas do Vaticano à Comissãodas Nações Unidas para os Direitosda Criança, que pediu informaçõesdetalhadas sobre casos de abusossexuais cometidos por membros doclero e em instituições religiosas. * Guarda - Casa episcopal -Encontro de D. Manuel Felício comrepresentantes da FundaçãoCalouste Gulbenkian sobre oarquivo diocesano e tratamento dosarquivos paroquiais.* Açores - Ilha de São Miguel (PontaDelgada) (Igreja do Colégio) -Conferência sobre «Fé e Cultura»pelo padre Tolentino Mendonça epromovida pelo Museu CarlosMachado.

* Espanha - Ávila - III EncontroIbérico do Carmo Jovem. (01 a 03) Dia 02* Lisboa - Sé - Celebração dos FiéisDefuntos presidida por D. ManuelClemente em sufrágio dos patriarcasfalecidos. * Leiria - Seminário de Leiria - Apresentação das «Catequeses daFé» promovida pelo ServiçoDiocesano de Catequese de Leiria-Fátima. * Lisboa - UCP (Sala de Exposições)- Sessão sobre «Correntes deespiritualidade na épocacontemporânea» integrado noSeminário de História ReligiosaContemporânea e promovido peloCentro de Estudos de HistóriaReligiosa. * Vaticano - Encontro internacionalsobre «O tráfico de seres humanos:a escravidão moderna. As pessoasindigentes e a mensagem de JesusCristo». (02 e 03)* Algarve - Lausperene diocesanopara que surjam mais vocaçõesreligiosas. (02 a 15) Dia 03* Santarém - Assembleia diocesanada LOC/MTC.

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* Braga - Museu Pio XII - Encerramento (início a 13 desetembro) da exposição «Floreirasde Altar». Dia 04* Porto - Centro Reflexão e EncontroUniversitário (21h00m) -Sessão deapresentação e esclarecimento dos«Leigos para o Desenvolvimento»com o tema “Um mundo melhorprecisa de ti. Dá-te mais ao mundo -Torna-te voluntário para África».* Vaticano - Sala João Paulo II - Apresentação das conclusões doencontro internacional sobre «Otráfico de seres humanos: aescravidão moderna. As pessoasindigentes e a mensagem de JesusCristo». * Fátima - Museu de Arte Sacra eEtnologia - Sessão do ciclo«Missão» com o tema «Missão PPR– Plano Positivo na Reforma»orientado por Marta Gonçalves. (04a 06)* Itália - Trieste - Reunião doConselho de ConferênciasEpiscopais da Europa (CCEE). (04 a06)* Porto - Gondomar (Cripta dosCapuchinhos) - XIV Semana Bíblicade Gondomar. (04 a 08)

Dia 05* Vaticano - Sala João Paulo II - Conferência de imprensa sobre apreparação da III Assembleia geralextraordinária do Sínodo dos Bispossobre o tema «Os desafios pastoraisem torno da família no contexto daevangelização». * Porto - UCP (15h00m) - Prova dedoutoramento em Bioética por JoãoAlírio Xavier Bezerra sobre «Leiturado pensamento bioético de Paulo daCruz (séc. XVIII), no seu epistolário». * Aveiro - Segunda sessão do ciclo«Havíamos de falar disso...» com otema “Havíamos de falar de amor”com a presença de Sérgio Godinhoe Paulo Ribeiro Claro. * Porto - Centro Cultura Católica - Apresentação do documentáriosobre Jesus Cristo com comentáriode D. António Taipa, bispo auxiliardo Porto. * Leiria - salão paroquial de SantaCatarina da Serra - Ação deformação sobre «Poupar eempreender» promovida pelaCáritas de Leiria. * Coimbra - Centro Comercial DolceVita (Livraria Bertrand) (18h00m) -Lançamento do livro «Teologia doCorpo» sobre o amor humano deJoão Paulo II com apresentação D.Virgílio Antunes e do padre MiguelPereira.

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Ano C - 31.º Domingo do TempoComum Como andamos nossosolhares?

O Evangelho deste trigésimo primeiro domingo dotempo comum apresenta-nos o encontro de Jesus comZaqueu. A história de Zaqueu é uma história deolhares… Há o olhar de Zaqueu, que procurava verquem era Jesus; correu e subiu a um sicómoro paraver Jesus que devia passar por aí. Há o olhar de Jesusque, ao chegar a esse lugar, ergueu os olhos… Há,enfim, o olhar da multidão, que, ao ver tudo isso,recriminava Jesus por ir a casa de um pecador.Três olhares, tão diferentes uns dos outros! Todossabemos muito bem que o olhar é uma linguagem queestá para além das palavras. Os nossos olhares falammuito mais do que tantos discursos. As palavraspodem mentir, os olhares não.Em primeiro lugar, reparemos no olhar da multidão.Jesus tinha curado um mendigo cego; ao ver isso, amultidão celebrou os louvores de Deus. Ao ver omaravilhoso, a multidão maravilhou-se. Mas após aatitude de Jesus para com Zaqueu, a multidão mudade repente, olha Jesus com hostilidade. Versatilidadedas multidões, sem dúvida. Mas também versatilidadedos nossos próprios olhares. Basta uma coisita denada para que o meu olhar sobre aquele que estimavamude, quando percebo que ele não era “bem” aquiloque eu pensava!Em segundo lugar, reparemos no olhar de Zaqueu.Mais do que um olhar de simples curiosidade, é umolhar de desejo. Ele tinha ouvido dizer que este Jesusnão falava como os escribas e os fariseus. Além disso,Ele fazia milagres. Não viria Ele da

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parte de Deus? Zaqueu quer vereste rabino que não é como osoutros. Mas a sua procura continuatímida. Não ousa avançardemasiado. E eu? Qual é o meudesejo de ver Jesus, de Oconhecer? Não sou demasiadotímido quando se trata da minhaligação com Jesus e da minha fé?Finalmente, há o olhar de Jesus,que ergueu os olhos para Zaqueu.Que viu Ele? Um pecador à margemda Lei, banido por todos? Não,Jesus viu um homem rejeitado portodos, um homem habitado por umdesejo, talvez não muito explícito, deser acolhido pelo próprio Jesus. Viuum homem que não tinha ainda

compreendido que Deus o amava,apesar dos seus pecados, que Deuso olhava unicamente à luz do seuamor primeiro e gratuito. Jesuscolocou no seu olhar sobre Zaqueutodo este amor que transformou opublicano e o salvou.A nossa conversão só pode beberdo exemplo de Zaqueu e dos Santosque celebrámos há dois dias. Queos nossos olhares, às vezes tãodíspares e desfocados, sejamfocados no mesmo olhar de Jesus,um olhar de amor e ternura, deperdão e compaixão, que atinge onosso coração.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa 12h15 - Oitavo Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h22Domingo, dia 27 - O PapaFrancisco com as famílias detodo o mundo RTP2, 18h00Segunda-feira, dia 4 -Entrevista a José EduardoFranco sobre o congressodo Concílio de Trento.Terça-feira, dia 5 - Informaçãoe entrevista de apresentaçãodo congresso sobre os 90anos do escutismo emPortugal.Quarta-feira, dia 6 - Informação e entrevista deapresentação do congresso sobre os 90 anos doescutismo em Portugal.Quinta-feira, dia 7 - Informação e entrevista deapresentação do congresso sobre os 90 anos doescutismo em Portugal.Sexta-feira, dia 01 - Apresentação da liturgia dominicalpelos padres João Lourenço e Juan Ambrósio. Antena 1Domingo, dia 3 de novembro, 06h00 - 200 anos deFrederico Ozanam e o trabalho da Sociedade de SãoVicente de Paulo em Portugal. Segunda a sexta-feira, dias 4 de novembro a 08 denovembro - Temas apresentados na 4ª jornada deTeologia Prática sobre "Quando me sinto forte é quesou fraco - para uma Teologia de Vulnerabilidade".

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1 de novembro é o último dia para assinar a PetiçãoEuropeia ‘Um de Nós’, que requer a recusa dofinanciamento de ações que destruam embriõeshumanos ou que pressuponham a sua destruição, aFederação Portuguesa pela Vida é uma daspromotoras. No Vaticano, este sábado e domingo, realiza-se oEncontro internacional sobre «O tráfico de sereshumanos: a escravidão moderna. As pessoasindigentes e a mensagem de Jesus Cristo». De 4 a 8 de novembro, a cripta da igreja dosFranciscanos Capuchinhos em Gondomar recebe aXIV Semana Bíblica, com o tema «Palavra, Fé, Vida –da Palavra de Deus à Fé dos Homens». As sessõescomeçam às 21h15m. No dia 5 de novembro, a Cáritas de Leiria promove aação de formação «Poupar e empreender», no salãoparoquial de Santa Catarina da Serra. O Santuário do Bom Jesus, em Braga, acolhe oCongresso Internacional «Concílio de Trento –Restaurar ou Inovar, 450 anos de história» de 6 deNovembro a 8. A 7 de novembro, o Instituto Diocesano de FormaçãoCristão de Lisboa organiza uma apresentação/debatesobre o livro «Paciência com Deus - Oportunidadepara um encontro» de Tomás Halík, no auditório daIgreja de São João de Deus, às 21h30.

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Fundação AIS denuncia agravamentoda perseguição aos Cristãos

Um inverno sem fimMilhões de refugiados, milharesde mortos, centenas de casas eIgrejas destruídas. Nos últimosanos, perante tantas vezes osilêncio cúmplice dacomunidade internacional, osCristãos têm sido vítimas decampanhas de terror, deviolência inimaginável, de medo. O Cristianismo é a religião maisperseguida no mundo. No maisrecente relatório sobre liberdadereligiosa no mundo, da FundaçãoAIS e divulgado há dias, conclui-seque, em dois terços dos 30 paísesonde a perseguição aos cristãos émais acentuada, “os problemas têmpiorado”, a tal ponto que,“especialmente no Médio Oriente, asobrevivência da Igreja está emcausa”.A chamada Primavera Árabe, quepara os cristãos se transformou num“inverno”, deu origem, a “um êxodoque está a atingir proporções quasebíblicas”, pode ler-se no documento.No Iraque, a comunidade cristãpassou de quase 1 milhão

e meio de pessoas para pouco maisde 300 mil. Na Síria, “houvepopulações inteiras de vilas ealdeias cristãs ao redor de Homsque fugiram no início de 2012 parasalvarem a vida”. Em Agosto, noEgipto, uma onda de violênciaextrema contra os Cristãos

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provocou a destruição de cerca de80 igrejas e outros centros Coptas,incluindo escolas, conventos,clínicas. O Bispo Kyrillos William deAssiut, num telefonema angustiadopara a Fundação AIS, disse que“muitos cristãos estão a sofrer” Eacrescentou: “de algumas vilaschegam-nos gritos de socorro depessoas pedindo ajuda porque nãopodem sair de suas casas”. Histórias de terror Março de 2013. Por causa daacusação de que um jovempaquistanês tinha blasfemado, umamultidão de mais de 3 mil pessoasincendiou e destruiu 178 casas eduas igrejas. As autoridades sóintervieram depois de tudo reduzidoa cinzas. Março de 2012. O GrandeMufti, Sheik Abdullah, a maiorautoridade religiosa da ArábiaSaudita, declarou que todas

as igrejas da Península Arábica devem ser destruídas. Fevereiro de2012. Um jovem cristão, integradonas Forças Armadas, foi preso porse ter recusado a abandonar areligião. Na cadeia, entre outrastorturas, é obrigado a contar grãosde areia debaixo de um solabrasador.Esta é uma tragédia enorme. Em 30países, os Cristãos são vítimas deintolerância e ódio religioso, sãominorias sem direitos, semprotecção das autoridades. JoãoPaulo II dizia que a liberdadereligiosa “é o teste decisivo pelorespeito de todos os outros direitoshumanos”. Os Cristãos são alvo deperseguição e obrigados ao êxodoem muitos países no mundo. OsCristãos são perseguidos, será quetambém estão a ser esquecidos?

Paulo Aido | Departamento de

Comunicação da Fundação AIS| www.fundacao-ais.pt

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LUSOFONIAS

‘Poupar’, um verbo com futuro

Tony Neves

‘Poupar’ deve ser o verbo mais falado nosúltimos anos na Europa. Talvez porque‘desperdiçar’ terá sido o verbo mais praticadonos últimos tempos e as consequências estão àvista.Ninguém na Europa aceita de bom grado que sediga que vivemos acima das nossaspossibilidades e gastamos mais do quepodíamos gastar. Este é um discurso colado ádireita e meio mundo diz que só se fala assimpara legitimar as políticas demolidoras dos cortese resgates.A verdade é que, em Portugal, a dívida externa éincomportável para as finanças do Estado e osjuros que nos pedem para pagar exigemsacrifícios impossíveis de suportar. Baixam ossalários, aumenta o desemprego e as pessoascomeçam a ficar deprimidas com a falta dehorizonte de futuro.Os chineses dizem que uma crise é uma espéciede moeda com duas faces: traz risco e desgraça,mas também abre oportunidades para areconstrução de um futuro assente noutrasbases. Seria otimo que esta crise abrisse novostempos, com mais justiça, paz e respeito pelosdireitos humanos. Não estou muito certo de queisso vá acontecer, mas há atitudes que podemoscultivar que aí podem conduzir.31 de Outubro é o dia mundial da Poupança eela vem muito a propósito. Hoje, em Portugal, aspessoas que estão a viver mais tranquilas são asque conseguiram e quiseram poupar ao longodos últimos anos. E quero mesmo

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precisar os verbos que utilizei: hápessoas que conseguiram poupar epouparam mesmo. Há pessoas que,certamente, nunca conseguirampoupar porque as receitas nuncaderam para cobrir despesas e tersobra. Mas também há pessoas queconseguiriam poupar, mas não oquiseram fazer e foram sempreusando a lógica do gastar tudoquanto ganharam. Carros, férias,compras de toda a espécie…levaram sempre de volta o dinheiro que se foi ganhando. Nahora do aperto, não hápossibilidade nenhuma de pagar osgastos fixos que todas as

famílias têm.‘Poupar’ é um verbo importante,porque prepara o futuro para osimprevistos. Quem tem o seu pé demeia é capaz de enfrentar algumtempo de desemprego ou algumadoença que trouxe gastosimprevistos. Dá para respirar commais alívio em tempo de crise e dápara partilhar com quem ficou sempossibilidades de assumir opagamento atempado das suascontas.Poupemos mais, poupemos melhor,enfrentemos com mais serenidadeas crises que vierem e sejamos maissolidários.

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ouem www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC –Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

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APOSTOLADO DE ORAÇÃO

De pé, na tempestade Para que os sacerdotes em dificuldades encontremconforto no seu sofrimento, sustento nas suas dúvidase confirmação na sua fidelidade. [Intenção do Papapara NOVEMBRO] 1. Não é difícil encontrar sacerdotesfelizes e realizados na opção feita,diante do Senhor Jesus, de serviçopermanente ao Povo de Deus,actualizando o mistério da salvação,na celebração dos sacramentos eno ministério da caridade. Importasalientar este facto, sobretudoporque o mundo gosta de vender aimagem do sacerdote amargurado,afectivamente desequilibrado,mercenário da religião. Só podevender esta imagem, é certo,porque há quem a dê. A outra,porém, também existe, e emabundância. Ainda há pouco tempo,o Papa Francisco exortava oscristãos a fazerem das casas ondevivem sacerdotes idosos lugares de«peregrinação», deixando-seedificar por estas vidas inteiramenteconsumidas no serviço ao Povo deDeus – e, diga-se de passagem, àhumanidade. 2. Sacerdotes felizes e realizados nasua vocação não é sinónimo desacerdotes que desconhecem as

dificuldades e os sofrimentos, asdúvidas e a tentação da infidelidade.Pelo contrário. A felicidadeverdadeira é, com muita frequência,aquela que foi posta à prova pelastempestades mais duras e, apesardisso, manteve-se firme. Quando talnão acontece, nunca se sabe senão passa da sombra de umailusão. Ora, a vocação do sacerdoteé terreno particularmente fértil parao desabrochar da tentação: atentação de pensar que, afinal, osseus anos de serviço esforçadonuma paróquia não servem paranada; a tentação de deixar Cristoum pouco de lado e apostar emcoisas mais «imediatas», queparecem mais eficazes; a tentação,sobretudo, contra a fé – semprepresente no coração do crente e,com frequência, ainda maispoderosa em quem vive uma maiorproximidade com Cristo. 3. Como se há-de sentir o sacerdotecom anos dedicados a umacomunidade cristã ao perceber que,no fundo,

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o modelo pagão de relaçõeshumanas continua a marcar o dia-a-dia dos cristãos? Ou aquele queleva anos evangelizando e cada anovê a sua comunidade ficar maispequena e envelhecida? Como sehá-de sentir o sacerdote queexperimenta a frieza daqueles aquem dedicou a vida, ou vê cristãosde «prática religiosa» regularagirem uns com os outros como sea fé não tivesse nada a ver com avida? Indo ainda mais fundo, comonão há-de sentir-se angustiado osacerdote que dedicou anos e anosao seu ministério, com alegria edisponibilidade, e de repente seencontra numa intensa crise de fé,na qual se sente desamparado ecom a sua vida toda posta emcausa? 4. O mundo não recompensa ossacerdotes que vivem a sério a suavocação, mas é generoso comaqueles que a transformam numserviço ao espírito do tempo. Aosprimeiros, olha-os como “coisarara”, própria de tempos passados.Trata-os como trata os cristãos, emgeral, mas de um modo maisrefinado. E as comunidades cristãs?Apesar de tudo, julgo não serousado afirmar que os cristãos dehoje, mesmo

quando criticam algum aspecto daacção do sacerdote, valorizam antesde mais a sua coerência de vida.Podem deixar-se deslumbrar pelanovidade de um ou outro padre mais“inovador” na acção pastoral. Mas écoisa passageira. No fim, o que ficana memória é a dedicação, acoerência, a vida de oração, acaridade... 5. Num contexto tão complexo, osacerdote precisa de ter a coragemdo profeta. Não pode descurar aurgência de falar aos homens docarinho de Deus por todos os seusfilhos e não pode ficar calado diantedas injustiças, sobretudo daquelasinjustiças legalizadas que se tornamverdadeiras estruturas de pecado.Se ousar ser profeta, serácertamente perseguido, encontrarádificuldades, experimentará adúvida, sentirá a tentação docompromisso e da infidelidade –nenhum verdadeiro profeta escapouou escapa a tais tentações. Assimtentado, não encontrará outro apoiosenão a fidelidade à própriavocação e a oração insistente, a suae a das comunidades cristãs a quemserve. E, na oração, Deus será asua força.

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«(…) a assistência honra quando acrescenta o pão quealimenta, a visita que consola, o conselho que esclarece, oaperto de mãos que levanta o ânimo abatido; quando trata opobre com respeito, não só como igual, mas como superior,visto que suporta o que nós não aguentaríamos e visto queestá entre nós como um enviado de Deus, para provar nossajustiça e caridade e salvar-nos por nossas obras».(Frederico Ozanam)

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