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AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,Luís Filipe Santos, Margarida Duarte, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

04 - Editorial: Paulo Rocha06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14- Opinião.. D. José Cordeiro16 - A semana de... Lígia Silveira18 - Entrevista António Catana28- Dossier 25 de Abril40 - Opinião Margarida Corsino

42 - Internacional48 - Cinema50 - Multimédia52 - Estante54 - Vaticano II56- Agenda58 - Por estes dias60 - Programação Religiosa61 - Minuto YouCat62 - Liturgia64 - Fundação AIS66 - Luso Fonias68 - Cáritas Portuguesa70 - Opinião: Francisco Senra Coelho

Foto da capa: D.R.Foto da contracapa: Agência Ecclesia

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Opinião

Tradições daSemana Santa eTempo Pascal[ver+]

A Liturgia dasHoras emportuguês nasplataformasmóveis[ver+]

Papa reforçapolítica contraabusos sexuais[ver+] Paulo Rocha | José Cordeiro |CésarCosta |Jorge Coutinho | Miguel Neto |Margarida Corsino da SilvaFrancisco Senra Coelho

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A maior manchete

Paulo Rocha, AgênciaECCLESIA

“Ressuscitou, não está aqui – a maior manchetede todos os tempos!”Ano após ano, estas palavas antecedem osvotos de “Páscoa Feliz” que chegam por sms. Ecriam sempre surpresas, impactos causados peloolhar a notícia da ressurreição como a maisrelevante de todos os tempos, única ecompletamente nova na História da Humanidade.Em cada ano, a notícia é dada de novo. Tem eterá sempre a mesma novidade. E é tambémcelebrada de forma criativa.A manchete, que chega no domingo de Páscoa,é precedida de muitas notícias nos 40 diasanteriores. Elas partem não apenas do interiorde ambientes litúrgicos, mas de contextossurpreendentes que reservam energias ecriatividade para recriar, na atualidade, osúltimos momentos da vida de Jesus. Autarquias,associações ou grupos informais, muitas vezesdistantes de rotinas relacionadas com arealização da experiência crente na continuidadede um ciclo anual, revelam proximidade a estesdias e representam com paixão osacontecimentos do caminho do Calvário. E maisdo que a teatralidade desse itinerário, é averdade de Jesus, o realismo do Seu sofrimentoe o alcance da Sua salvação que nunca deixaindiferentes promotores, participantes ouespetadores das estações da Via-Sacra.

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Noutras épocas do ano, com amesma raiz religiosa, o comércio eas luzes invadem espaços públicose ocupações pessoais. No caso daQuaresma, Semana Santa ePáscoa, é a força dosacontecimentos da paixão, morte eressurreição de Cristo quepreenche momentos de reflexão ouoportunidades de contemplação.Nestes dias não há

"amêndoas" que escondam nem queseja um dos capítulos da História deSalvação que marcoudefinitivamente a Humanidade. Elasó pode ser deixada de lado quandoa decisão passa por fazer férias…Porque férias na Semana Santa éfazer férias de Deus. E não apenasna Semana Santa como naseguinte.Com frequências de procuram diasde descanso após o acontecimentoda ressurreição. E fecham-se portasde templos quando seria óbvio quese preenchessem do anúncio domaior acontecimento cristão.Há dois mil anos, os discípulosdeixaram Jesus sozinho Jardim dasOliveiras. Sabia que O esperavauma condenação e os Seus maispróximos abandonaram-No. Hojerecriamos esses momentos compaixão, esquecendo depois oressuscitado.A Páscoa tem de ser umaprovocação para o anúncio dessagrande notícia que, em cada ano, ésempre manchete: “ressuscitou, nãoestá aqui”.

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“Não sacudo do meu capotenenhuma responsabilidade, masestamos a cumprir o programa, nãoestou a pedir um segundo resgatepara Portugal e, felizmente, aperspetiva para os próximos anos émelhor para os portugueses”.Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro de Portugal em entrevista àSIC, 15/04/2014

“É óbvio que a troika fará tudopara que José Seguro quandochegar ao Governo sejafacilmente embolsável, aquestão fundamental é perceberque o Partido Socialista tem queser o garante do bem estar doseu povo. Se Seguro é ocoveiro, por má preparação, porhesitação não deixará de sercoveiro, embora com a melhordas intenções.”João Cravinho, responsável pelomanifesto dos 74, programa ‘Terçaà Noite’ da Rádio Renascença,15/04/2014

Navio de passageiros sul-coreano ‘Sewol’ naufragou ao largo da costaSudoeste da Coreia do Sul © Crédito: Reuters

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“O que se passa hoje representaum perigo para a Europa e UniãoEuropeia. Está claro que os nossosvizinhos russos decidiram construirum novo muro de Berlim e querem oregresso à guerra fria”.Primeiro-ministro da Ucrânia, ArseniIatseniuk, no início do Conselho deMinistros na Ucrânia, 16/04/2014

“Vamos olhar para a dor deJesus e pensar ‘isto foi paramim, ainda que fosse a únicapessoa no mundo ele fez issopor mim’, vamos beijar ocrucifixo e dizer obrigadoJesus”.Papa Francisco, Audiência Geral,Vaticano, 16/04/2014

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iBreviary em portuguêscom Liturgia das HorasA aplicação iBreviary, criada em2008 na Itália, conta agora com umaversão portuguesa constituída portextos aprovados pela ConferênciaEpiscopal Portuguesa e cedidospelo Secretariado Nacional daLiturgia.O iBreviary é uma “aplicaçãocatólica que permite ter notelemóvel e no tablet a Liturgia dasHoras, todos os textos da liturgiadiária, os rituais de todos ossacramentos e todas as principaisorações católicas”, explica uma notaenviada

à Agência ECCLESIA.“Assim como o breviário impresso éum instrumento portátil, que podeacompanhar a jornada dossacerdotes e leigos, do mesmomodo, com a modernidade, abrimo-nos ao suporte para telemóveis:mudam as modalidades de uso, masnão a lógica subjacente, que é a depode aceder à oração de modoprático a qualquer momento do dia”,sintetiza o autor da aplicação, osacerdote italiano Paolo Padrini

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Novos Bispos em Portugal

José Augusto Traquina Maria Francisco José Senra Coelho O Papa Francisco nomeou estaquinta-feira o cónego José AugustoTraquina como bispo auxiliar deLisboa e o cónego Francisco JoséSenra Coelho como bispo auxiliar daArquidiocese de Braga.D. José Augusto Traquina Marianasceu a 21 de janeiro de 1954 emÉvora de Alcobaça, (Patriarcado deLisboa), e foi ordenado padre a 30de junho de 1985. Mestre emTeologia Pastoral, o novo bispoauxiliar de Lisboa era atualmenteresponsável pela paróquia de NossaSenhora do Amparo, em Benfica,diretor espiritual do Seminário Maiorde Cristo Rei do Olivais ecoordenador do ConselhoPresbiteral de Lisboa.O cónego Francisco José Villas-Boas Senra de Faria Coelho

nasceu a 12 de março de 1961 emMaputo, Moçambique, sendo os paisnaturais de Adães, concelho deBarcelos na Arquidiocese de Braga.Após o curso de Teologia noSeminário Maior de Évora, foiordenado sacerdote a 29 de junhode 1986. Atualmente o novo bispoauxiliar de Braga era pároco emÉvora, assistente do Movimento dosCursos de Cristandade, entre outrasresponsabilidade. A nívelacadémico, D. Francisco José SenraCoelho é doutorado em História pelaUniversidade Internacional dePhoenix tendo como tema da tese avida do Arcebispo de Évora, D.Augusto Eduardo Nunes, nocontexto da Primeira República emPortugal.

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500 anos do nascimento do BeatoBartolomeu dos MártiresO Município e a Diocese de Vianado Castelo vão comemorar o 500ºAniversário do nascimento do BeatoBartolomeu dos Mártires entre 3 demaio de 2014 a 18 julho 2015, deforma a promover a causa dacanonização.“O objetivo principal é divulgar a suavida e obra, promover a devoção epromover a causa da canonização econsequente declaração de Doutorda Igreja”, explica uma notapublicado no portal da CâmaraMunicipal de Viana do Castelo.Já no dia em que o programa foiapresentado oficialmente, no finalde março, o bispo da diocese, D.Anacleto Oliveira confidenciou aesperança de que “o santo do povo”seja “reconhecido como santo portoda a Igreja”.“Aqui já é santo, aliás desde que elemorreu que lhe chamavam santoarcebispo de Braga e ao povoninguém lhe tira isso. Se a Igrejaouvisse a voz do povo, se calhar, jáo teria canonizado”, disse D.Anacleto Oliveira

segundo o jornal Diário do Minho.O programa das celebrações inicia-se a 3 de maio com um concerto demúsica sacra, seguindo-se no diaseguinte “a sessão solene deabertura a ter lugar no Auditório doInstituto Politécnico de Viana doCastelo, com uma conferência acargo do professor José Marques”.Todo o programa das celebraçõesdos 500 anos de São Bartolomeudos Mártires (1514-2014) estádisponível no portal da CâmaraMunicipal de Viana do Castelo.

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Padres não são «funcionários dosagrado», afirma bispo de AngraO bispo de Angra, D. António deSousa Braga afirmou esta terça-feira que a “diminuição” do númerode sacerdotes não pode transformá-los em “meros funcionários dosagrado.D. António de Sousa Braga presidiuà Missa Crismal esta terça-feira, naCatedral de Angra , dirigindopalavras de incentivo aossacerdotes para estes promovamuma verdadeira cultura do encontro.“Com a diminuição dos efetivos nãopodemos deixar-nos transformar emmeros funcionários do sagrado. Épreciso ter tempo para acolher edialogar com as pessoas. Trata-sede ter tempo seja para a confissãoindividual, como para a direçãoespiritual”, sublinhou D. António deSousa Braga na homilia da MissaCrismal desta terça-feira.Durante a Missa Crismal, em queforam abençoados os óleos doscatecúmenos e dos enfermos para acelebração dos sacramentos nasvárias comunidades paroquiais

da Diocese de Angra, D. António deSousa Braga convidou todo o cleroda Terceira, a renovar as suaspromessas sacerdotais.“É preciso pregar ao povo comouma mãe fala aos filhos”, disse D.António de Sousa Braga pedindopor isso aos sacerdotes que “nãofiquem comodamente à espera daspessoas” mas que “procurem ir aoseu encontro”.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

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14.04.2014 - «Cristo dos Gascões» na matriz de Grândola

Entrevista a Lisandra Rodrigues, Presidente da JOC

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Um coração de Misericórdia

José Manuel Cordeiro

A Igreja exulta de alegria e louva a Deus pelasmaravilhas operadas em dois Papas: João XXIII eJoão Paulo II. A canonização da sua santidaderenova-nos no serviço alegre do Evangelho daEsperança.Lembrei-me de ir revisitar a homilia que JoãoPaulo II proferiu aquando da beatificação de JoãoXXIII, a 3 de Setembro do ano jubilar de 2000.Referiu-se assim um santo acerca de outrosanto: «o Papa que conquistou o mundo pelaafabilidade dos seus modos, dos quaistransparecia a singular bondade de ânimo. (…)Do Papa João permanece na memória de todosa imagem de um rosto sorridente e de doisbraços abertos num abraço ao mundo inteiro.Quantas pessoas foram conquistadas pelasimplicidade do seu ânimo, conjugada com umaampla experiência de homens e decoisas! A rajada de novidade dada por ele não sereferia decerto à doutrina, mas ao modo de aexpor; era novo o estilo de falar e de agir, eranova a carga de simpatia com que se dirigia àspessoas comuns e aos poderosos da terra. Foicom este espírito que proclamou o ConcílioVaticano II, com o qual iniciou uma nova páginana história da Igreja: os cristãos sentiram-sechamados a anunciar o Evangelho com renovadacoragem e com uma atenção mais vigilante aos"sinais" dos tempos. O Concílio foi deveras umaintuição profética deste idoso Pontífice queinaugurou, no meio de não poucas dificuldades,uma nova era de esperança para os cristãos epara a humanidade».Igualmente, revisitei a homilia de Bento XVI

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na beatificação de João Paulo II, a 1de maio de 2011: «Karol Wojty?asubiu ao sólio de Pedro trazendo consigo a sua reflexãoprofunda sobre a confrontaçãoentre o marxismo e o cristianismo,centrada no homem. A suamensagem foi esta: o homem é ocaminho da Igreja, e Cristo é ocaminho do homem. Com estamensagem, que é a grande herançado Concílio Vaticano II e do seu«timoneiro» – o Servo deDeus Papa Paulo VI –, João PauloII foi o guia do Povo de Deus aocruzar o limiar do Terceiro Milénio,que ele pôde, justamente graças aCristo, chamar «limiar daesperança». Na verdade, através dolongo caminho de preparação parao Grande Jubileu, ele conferiu aocristianismo uma renovadaorientação para o futuro, o futuro deDeus, que é transcendenterelativamente à história, mas incidena história. Aquela carga deesperança que de certo modo foracedida ao marxismo e à ideologia doprogresso, João Paulo

II legitimamente reivindicou-a para ocristianismo, restituindo-lhe afisionomia autêntica da esperança,que se deve viver na história comum espírito de «advento», numaexistência pessoal e comunitáriaorientada para Cristo, plenitude dohomem e realização das suasexpectativas de justiça e de paz».A celebração solene doreconhecimento da santidadedestes dois homens de Deus e daIgreja ocorre no segundo domingode Páscoa, que São João PauloII quis intitular Domingo da DivinaMisericórdia. Certamente, por isso, oPapa Francisco escolheu esta data.Foi também nessa data que JoãoPaulo II, por um desígnioprovidencial, entregou o seu espíritoa Deus ao anoitecer da vigília de talocorrência.Estes dois santos da Misericórdia eda Bondade servem-nos de ajuda enos abençoem enquanto aindaperegrinamos no tempo e noespaço.

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«As voltas que a vida dá»

Lígia SilveiraAgência ECCLESIA

Fechei as páginas de um livro baseado emhistórias verídicas. A psicoterapeuta MargaridaCordo cruza, em «As Voltas que a Vida dá»,relatos de pessoas que acompanha, semidentificar quem a consulta, colocando-nos, apartir daí, perante o ser humano.Não há vidas fáceis - embrenhadas nacomplexidade dos dias, das emoções, das falhas,dos anseios, das expetativas que cada pessoacarrega. Também do que as doenças e o própriocalendário de vida provocam. As vidas que aautora decide expor – e também ela se expõecomo profissional e como pessoa – sãolugares de afetos.Eles surgem, nem sempre, nas melhorescircunstâncias – por isso mesmo as pessoasentram no seu gabinete. Emergem depois dadiscórdia, da negação ou anulação de si mesmo.Aparecem em alturas de doença, deincompreensão da vida e dos outros. Até quandoas prioridades dos dias, que durante anosparecem certas, se revelam afinal distorcidas.Mas estão lá, no caminho dos pacientes equando, a partir dos olhos de Margarida Cordo,podemos entender esses problemas comoensinamentos para todos. E é aí que o espelhosobre a humanidade acontece.«Nada do que é humano me é estranho»: a frasedo poeta e dramaturgo romano Terêncio é aquibem aplicada.

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Penso que são os afetos queordenam a narrativa que cada umdeixará. Quando a memória nostransporta geográfica etemporalmente para o lugar doscheiros, dos olhares, dos sabores,da luz do sol ou da sombra dachuva, quando as recordaçõesimpactam – aí estão pessoasligadas por afetos.O que me faz olhar para este livro?A profunda crença no ser humanoque a autora não se cansa desublinhar. Uma crença humana,também cristã, sabendo que cadapessoa que abre a porta da suavida não é apenas produto do seupassado mas

agente do seu futuro.Em todos os relatos ali colocadosem perspetiva lê-se a gratidão pelosencontros, pela reflexãoproporcionada, pelos gestosgratuitos que fazem o bem, pelacrença de que a última página aindanão foi virada. Lê-se também que avida é reciprocidade e, por isso,quem analisa, confirma a gratuidadedos afetos.Nestas páginas de histórias queoutros ousaram contar, lê-se a vida,tal como ela é: mesmo que o mundonos peça fortaleza, destreza efrivolidade, há parágrafos desilêncio, emoção e partilha. E porisso, sou grata.

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Mistérios da Páscoa em Idanha-a-Nova O ciclo pascal no Concelho de Idanha-a-Nova é rico em vivências etradições religiosas que se fazem sentir ao longo da Quaresma e nariqueza ritual das celebrações pascais. As aldeias do conselhopartilham uma riqueza etnográfica e religiosa que é única no país.António Catana tem dedicado parte da vida ao estudo destaidentidade religiosa que, no seu entender, forma uma unidade ímparno nosso país.

É quase como uma ilha encantadaque nós encontramos no nossoconcelho. Estas tradições foramcomuns em grande parte de Portugalmas que, com o tempo foramdesaparecendo. A forte presençatemplária nesta região, onde possuiuoito castelos, contribuiu para apreservação de uma identidade queperdura até hoje. A valorização deMaria Madalena nos ritos pascais temuma ligação a esta ordem militar.Importante também a presença denove Irmandades da Misericórdia que,no seu compromisso, assumem emgrande medida estas tradições daPáscoa.

António Catana

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Agência Ecclesia - Estas tradiçõesnão se restringem à Semana Santa,ao longo da Quaresma existemmanifestações da religiosidadepopular no sentido de valorizarestes dias de preparação para aPáscoa...António Catana - Durante as cincosemanas da Quaresma, o Ladoeirotem a procissão dos homens que,em cada sexta-feira junta muitaspessoas. Os jovens aderem tambéma esta tradição, embora por motivosdemográficos eles sejam cada vezmenos nesta zona do país.Em S. Miguel de d'Acha existe oterço dos homens em cada sextafeira da Quaresma, temos aencomendação das almas emdiversas paróquias.Sabendo que grande parte destasmanifestações religiosas sãoasseguradas por pessoas idosas,sublinho a liderança de alguns quese assumem como verdadeirosguardiães da tradição e que avivem, não de forma teatral ou comomera representação, mas com umaprofunda convicção e fé. Recordoum dos solistas da

encomendação das almas quefaleceu recentemente, que dizia:Quando estou a cantar aencomendação das almas estou aver os meus familiares jádesaparecidos e tenho-ospresentes. AE - A Igreja tem acompanhadoestas tradições como algo que brotado íntimo do sentimento popular eprocura preservar estes ritos que seapresentam muito diferentes do quea liturgia sugere como forma decelebrar os Mistérios da Páscoa.AC - Sabendo que após o Concíliode Trento a Igreja foi pondo de ladoestas manifestações populares, masconsidero que os párocos que forampassando pelo nosso conselho,tiveram sempre a sensibilidade derespeitar o sentimento popular. Douo exemplo da procissão dos passose as procissões corridas deAlcafozes em que o pároco se limitaa incorporar numa manifestação defé que é conduzida pelo povo. Tudodecorre segundo a tradição popularque entoa cânticos onde o latim semistura com o português.

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AE - Entre os momentoscelebrativos, a bênção dos Ramosadquire um colorido especial nodomingo que antecede a SemanaSanta...AC - Esta celebração adquire umadimensão especial na aldeia deMonsanto. Todos os homens levamo seu ramo composto quehabitualmente é preparado pelamulher. São ramos grandes deoliveira enfeitados com flores quelevam à Igreja para serem benzidos.Depois, e segundo os lugares, osramos são guardados. EmMonsanto há quem guarde esteramo durante um ano até quartafeira de cinzas em que é queimado,servindo as cinzas para assinalaresse dia que inicia a Quaresma.Outros, guardam o ramo junto apequenos oratórios onde fazem assuas orações ao longo do ano. AE - Na Quinta-feira Santa, omomento celebrativo centra-se noLava-pés e numa realização a quese chama a Ceia dos Doze.AC - Em Alcafozes e Segura, o lava-pés é assumido pelo provedor daMisericórdia. Como é habitual opároco preside à celebração daEucaristia da Ceia do Senhor masnão participa no rito do Lava-pésque é protagonizado pelo provedorda Misericórdia. Eu

penso que isto deriva do período doliberalismo em que foram extintas asordens religiosas e o clero eraperseguido, então houve anecessidade de outras figurascolmatarem a ausência dosministros sagrados assumindoalgumas das suas tarefas. No finaldeste período de perseguição, oclero ao ver como o povo tinhaassumido a celebração da sua fé,acabou por permitir que alguns ritosassim permanecessem. Nosprimeiros tempos da Repúblicaverificou-se algo idêntico, nessaaltura algumas procissõesrealizavam-se no interior do templopor proibição de saírem à rua. Istosem esquecer que o Provedor daMisericórdia assume uma missão deserviço aos mais pobres. AE - A Ceia dos Doze é umarecriação da última ceia?AC - Há cerca de trinta anos estaceia realizava-se em casa doProvedor. A sua esposa preparava arefeição no final da Procissão doEncontro que em muitas localidadesse faz na Quinta feira Santa, e haviao hábito de todas as mulheressaírem de casa para que fosse umarepresentação da última ceia deCristo com os apóstolos, e por issose chama a Ceia dos Doze.

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AE - A celebração da Páscoa noConselho de Idanha-a-Nova éenvolve várias dimensões, até umagastronomia própria que sesintoniza com os mistérios evocadospela fé...AC - Em Segura, um dos pratos daceia é um esparregado de ervasazedas que acompanha peixe do riofrito. É um prato delicioso em que aservas azedas estabelecem umaligação com o Êxodo e o facto dosjudeus comerem ervas amargas nanoite que antecedeu a sualibertação do Egito. A este elementogastronómico também não éestranho o facto de esta região dopaís contar outrora com umaimportante comunidade judaica. AE - A Sexta-feira Santa é um dosdias em que a tradição e osmomentos celebrativos da Paixão deCristo adquirem, no concelho deIdanha-a-Nova, uma dimensãoespecial.AC - Em todos os lugares realiza-seo Enterro do Senhor e em Monsantoé de realçar a cerimónia doDescimento da Cruz. Num silênciosepulcral é de uma belezaextraordinária assistirmos aodescimento do corpo de Cristo queestá crucificado e que é retirado dacruz sendo depositado no esquife.São retirados os pregos que oprendem à cruz, pelos irmãos daMisericórdia, e

depois envolvem-no nuns panosbrancos de linho, de forma muitocompassada, até o deitarem noesquife para prosseguir a procissão.Trata-se de uma imagem de Cristoarticulada que permite estedescimento e confere um maiorrealismo ao momento.Temos também um momento muitomarcante que é o canto daVerónica, pela tradição a mulher quelimpou o rosto de Cristo e que o viuimpresso no pano que usou. Àmedida que se entoa este canto vai-se desdobrando o pano que no finalrevela o rosto de Cristo. AE - Se estes momentos sãomarcados pelo silêncio e dominadospor semblantes pesados, aressurreição é o oposto. A alegria ea expressão ruidosa marca atradição...AC - Estes elementos fazem partedo encanto de quem vai a Idanha-a-Nova no sábado de Aleluia e assistea uma multidão que leva os seusapitos ou chocalhos e manifesta asua alegria de forma ruidosa. Étambém uma reação de rutura comum longo período em que apenas seentoavam cantos religiosos e queneste momento, são substituídospelo ruído e pelos gritos de alegria.É neste clima que todos acorrem àcasa do pároco que, da janela,lança 70 quilos de amêndoas paratodos.

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Lugares da paixão em Jerusalém

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Via-Sacra de Dornes

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Via-Sacra no Coliseu de Roma

Aquele madeiro da cruz pesa,porque nele Jesus leva os pecadosde todos nós. Cambaleia sob aquelepeso, grande demais para umhomem só (Jo 19, 17).Nele está também o peso de todasas injustiças que produziram a criseeconómica, com as suas gravesconsequências sociais:precariedade, desemprego,demissões, dinheiro que governaem vez de servir, especulaçãofinanceira, suicídios de empresários,corrupção e usura, juntamente comempresas que deixam os países.Esta é a cruz pesada do mundo dotrabalho, a injustiça colocada sobreos ombros dos trabalhadores. Jesustoma-a sobre os seus ombros eensina-nos a viver, não mais nainjustiça, mas capazes, com suaajuda,

de criar pontes de solidariedade eesperança, para não sermosovelhas errantes nem extraviadasnesta crise.Portanto voltemos para Cristo,Pastor e Guarda das nossas almas.Lutemos juntos pelo trabalho nareciprocidade, vencendo o medo e oisolamento, recuperando a estimapela política e procurando juntos asaída para os problemas. A condenação apressada deJesus reúne assim as acusaçõesfáceis, os juízos superficiaisentre o povo, as insinuações eos preconceitos que fechamo coração e se tornam culturaracista, de exclusão e dedescarte, juntamente com ascartas anónimas e as calúniashorríveis.

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Nas lágrimas d’Ela, reúnem-se todasas lágrimas de cada mãe pelos seusfilhos distantes, pelos jovenscondenados à morte, trucidados ouenviados para a guerra,especialmente as crianças-soldado.Aqui ouvimos o lamento desoladordas mães pelos seus filhos, quemorrem por causa dos tumoresproduzidos pela incineração dosresíduos tóxicos.Lágrimas amarguíssimas! Partilhasolidária da angústia dos filhos!

Choremos por aqueles homens quedescarregam sobre as mulheres aviolência que têm dentro. Choremospelas mulheres escravizadas pelomedo e a exploração. Mas, nãobasta bater no peito e sentircomiseração. Jesus é mais exigente.As mulheres devemser tranquilizadas como Ele fez,devem ser amadas como um dominviolável para toda a humanidade.Para o crescimento dos nossosfilhos, em dignidade e esperança. (Das meditações de D. GiancarloBregantini, arcebispo deCampobasso-Boiano, Itália)

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Passionistas, espiritualidade esemana santa em santa maria dafeiraA Paixão de Cristo, que a Igrejauniversal celebra e recorda de umaforma mais intensa nestes dias daSemana Santa, é para osMissionários Passionistas, acentralidade do seu carisma. ComoPassionistas, procuramos, animadospelo exemplo de S. Paulo da Cruz,fundador da nossa Congregação,“promover, com a palavra e com asobras, a memória da Paixão deCristo, para aprofundarmos aconsciência do seu significado e doseu valor para cada homem e paraa vida do mundo” (Constituições, 6).É comprometidos com o nossocarisma e com esta mesmaconsciência que os Passionistaspretendem viver de uma forma maisintensa estes dias, procurandoassim acompanhar Jesus Cristo,“mais de perto”, tornando-nostestemunhas da sua Paixão.Um pouco por todo o mundo aCongregação da Paixão(Passionistas) procura, no contextodas culturas e do seu apostolado,fazer destes dias ponte para a Vidaque brota de Cristo, estradas quenos

conduzem com Ele a Deus,caminhos que nos levam adescobrir “o poder da Cruz,sabedoria de Deus” (Const., 3).Neste descobrir que “a Paixão deCristo é a maior e mais bela obra doamor de Deus” (S. Paulo da Cruz)procuramos celebrar estes dias commaior intensidade, envolvendo osleigos e, mais concretamente, aFamília Passionista laical, na qual seinsere o Grupo Gólgota, “expressãocultural e social da espiritualidadepassionista”. Este Grupo, que temcomo bilhete de identidade a Paixãode Cristo, procura envolver todosquantos participam e assistem aSemana Santa em Santa Maria daFeira, recriando e expressando osúltimos dias da vida de Jesus, damesma forma que o Grupo S. Pauloda Cruz em Viana do Castelo.Envolvendo a ComunidadePassionista e a paróquia da Feira eainda vários organismos civis, esteGrupo, animado pelo espírito quemove a Congregação, recria eencena a “Entrada Triunfal de Jesusem Jerusalém – na ‘cidade humana’”,

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no Domingo de Ramos, comoexpressão pública de fé e comoperegrinação acompanhando Jesus;a “Última Ceia, Getsémani eSinédrio”, na quarta-feira santa, quenos abeira mais ao amor de Cristoque quer ficar connosco; e a “ViaSacra”, em sexta-feira santa, quenos volta a fazer, e nos fazcontinuamente, peregrinos comJesus, em direção ao Calvário,

onde Ele dá a sua Vida por amor enos torna participantes da sua Vida.Todas estas recriações eencenações são mais do que meroteatro, mas, acima de tudo, vivênciaprofunda que nos aproxima e nosrevela toda “a largura, ocomprimento, a altura e aprofundidade” (Ef. 3,18) doperegrinar de Cristo.

P. César Costa, cp

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Semana Santa de BragaA Semana Santa de Braga é, entreas muitas que se celebram emPortugal, sem dúvida a que goza demaior fama, que no plano nacionalquer no internacional.Nela se conjugamharmoniosamente, por um lado, ascelebrações litúrgicas e areligiosidade popular, e por outro, areligião e a cultura. Tem constituído,desde há mitos anos, com notávelcrescimento nos últimos tempos, umevento que atrai milhares deturistas, de Portugal e doestrangeiro. Não admira que oTurismo de Portugal , em 2011, atenha declarado “De Interesse parao Turismo”.Embora não esteja feita a suahistória, presume-se que estaremonte aos longínquos anos 80 doséculo IV, desde que uma mulhernascida na Gallaecia, eprovavelmente na cidade capitaldesta província romana, BracaraAugusta, hoje cidade de Braga,depois de uma viagem à TerraSanta, escreveu uma espécie dediário (o Itinerarium ou Peregrinatioad Loca Sancta), onde faz adescrição das comemoraçõespopulares que então se faziam emJerusalém.

Na actualidade – após umapreparação e ambientaçãoquaresmal, com celebrações,procissões de penitência, concertos,exposições e espectáculos –, ospontos altos da Semana Santa emBraga são, no plano litúrgico, asgrandes celebrações do TríduoPascal (quinta e sexta-feira santas,Vigília Pascal e Missa do Domingodo Páscoa). Todas elas enchem ovasto espaço da Catedral de fieisatentos e devotos. No plano dareligiosidade popular, devemdestacar-se: as procissões “deNossa Senhora da burrinha”(Cortejo bíblico “Vós sereis o meupovo”), na quarta-feira; a procissãodo Senhor “Ecce Homo” ou dosfogaréus, na quinta-feira; e a doEnterro do Senhor, na sexta-feira.Muito comovente é, no interior daliturgia bracarense da Morte doSenhor, a Procissão Teofórica.Nesta impressionante procissão, oSantíssimo Sacramento (Cristo vivo,portanto, segundo a fé cristã),encerrado num esquife coberto deum manto preto (sugerindo o Cristomorto), é trazido do «Horto» onde

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estivera e levado pelas naves daCatedral e deposto em lugar própriopara a veneração dos fiéis. Emcontraponto, no final da VigíliaPascal, organiza-se a Procissão daRessurreição, própria do RitoBracarense, igualmente pelas navesda Catedral mas em sentido inverso.O Santíssimo Sacramento, queestivera encerrado na urna com um

manto negro mas apresenta-seagora como o Cristo ressuscitado evivo, é colocado na custódia etrazido para o altar-mor, seguindodepois em cortejo triunfal sob ocanto de vitória da multidão,abençoando, por fim, todos ospresentes.

Jorge CoutinhoPresidente de Comissão da

Quaresma e Solenidades daSemana Santa

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Páscoa no Algarve: tradição marca aquadraHoje, como noutros tempos, oAlgarve vive a Semana Santarecordando, em eventos cheios dehistória e significado, os últimosmomentos da vida de Jesus.Localidades como Tavira, Silves,Monchique, Estoi, Alcantarilha,Lagoa, entre outras, preparam afesta maior dos cristãos aindadurante a Quaresma, realizandomonumentais procissões em honrado Senhor Jesus dos Paços.Ao longo de toda a Semana Santaas paróquias algarvias programamvárias iniciativas, mais ou menos“comuns”, já que acontecem,também, por todo o país e por todaa cristandade: os lava-pés, aseucaristias de Quinta-feira Santa, ascelebrações da Paixão e Morte doSenhor, as Vigílias Pascais, asMissas de Páscoa (ver horários dascelebrações de toda a Diocese emhttp://www.diocese-algarve.pt.)O que será “menos comum” é aimportância que se dá, por exemplo,às procissões de Sexta-Feira Santa.Em algumas povoações acontece aProcissão do Enterro, tambémconhecida como Procissão doSenhor Morto.

Nela predominam o silêncio, a luzdas tochas e das velas, os trajosdas confrarias. O Senhor seguenum pequeno tombinho, ou numaimagem que o representa acabadode descer da cruz. Silves, Tavira,Portimão, Monchique, Faro entreoutras localidades organizamimpressionantes procissões, quepara além de relevarem a devoçãodos cristãos, marcam umaidentidade e uma cultura muitocaracterísticas do Algarve.As celebrações do Domingo dePáscoa assumem, igualmente,particular relevância, pois nestaregião tem lugar uma procissãoúnica no país: a Procissão dasTochas Floridas (S. Brás deAlportel), ou Procissão Real (Silves),ou Procissão das Flores (Silves), ouProcissão das Campainhas (S.Clemente, Loulé), ou Procissão doTriunfo, ou Procissão daRessurreição de Cristo, ou, ainda,Procissão do SantíssimoSacramento (Lagoa). Esta procissãoassinala sempre a vitória de Cristosobre a morte e a Sua realeza.No Domingo de Páscoa, Louléacolhe a Festa Pequena

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em honra da Mãe Soberana, amanifestação religiosa maisimportante da região, quemovimenta milhares de peregrinosnacionais e estrangeiros e queculmina 15 dias depois, com a FestaGrande, durante a qual a imagemde N. Senhora é transportada empasso de corrida até ao topo deuma colina sobranceira à cidade,onde se situa o seu santuário.Paróquias e autarquias colaboramnestas iniciativas,

partilhando em muitos casos alogística que as mesmas implicam,reconhecendo que estes eventostocam os cristãos de formaparticular, mas são motivo deinteresse para os muitos visitantesque, nesta época, procuram aregião para descansar.

Pe Miguel NetoResponsável pela Pastoral do

Turismo da Diocese do Algarve

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Procissão da Ordem Terceira emÓbidosA Procissão Penitencial da OrdemTerceira marcou o início dascelebrações pascais na vila deÓbidos, desafiando centenas decristãos durante a “procissão daesperança” a mudarem de vida, como desejo de preparar o tempo daQuaresma numa atitude fraterna deamor ao próximo, de especialatenção pelos que mais sofrem.“Nesta imensa multidão de santosfranciscanos, muitos deles tiveramum passado cheio de erros e depecados, no entanto, aoreconhecerem o Amor gratuito deDeus, converteram-se pela Suagraça, hoje são modelo desantidade e sinal de esperança parao mundo, e percorrem as ruas destavila”, manifestou o Frei NicolásAlmeida do Convento de SantoAntónio do Varatojo em TorresVedras no sermão da procissão,presidida pelo pároco PauloGerardo, lembrando o gesto doPapa Francisco ao adoptar S.Francisco de Assis como ideal doseu pontificado. Segundo o responsável, só com “aluz da fé” os cristãos

conseguem compreender o mistérioque liga a “ação de Deus” à“liberdade humana”.O que marca profundamente a vidafranciscana é a ideia “de que o malnunca poderá ser combatido com omal, mas apenas com o bem”; como“Cristo na Cruz, no meio dosmaiores sofrimentos soube perdoaraos seus inimigos”. Os gestosmanifestados pelo Frei Nicoláschamaram à atenção dos crentespara “a responsabilidade dasantidade de cada pessoa comquem vivemos”.A Procissão da Ordem Terceirarealiza-se em Óbidos desde dotempo em que a vila pertencia àCasa das Rainhas. A celebraçãoreligiosa com raízes culturais ehumanas, muito rara no País,percorre as ruas tortuosas da vila,transportando imagens construídasem Braga no ano de 1849. Acomunidade secular foi criada noséculo XIII por São Francisco deAssis e só se instalou na Capela deNossa Senhora de Monserrate noséculo XVIII.

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Atualmente, este evento religiosoconta com a organização dasParóquias de Santa Maria e S.Pedro de Óbidos, Santa Casa daMisericórdia da vila de Óbidos,Comissão da Semana Santa

e conta com o apoio do Municípiode Óbidos, através da empresamunicipal Óbidos Criativa. João Polónia

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Mensagem da Comissão NacionalJustiçae Paz para a Quaresma

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A espiritualidade da música deQuaresmaO musicólogo Rui Vieira Nery fala de música, a arte que acompanha ascerimónias de todos os tempos na Igreja e que por estes dias também ganhadestaque. Rádio "Esta ideia de interiorizar a dor de Cristo, que se pretendeneste tempo de quaresma, é mais eficaz através de umamensagem musical do que propriamente numa mensagem porpalavras. Através da múscia sentimos essa tal melancolia quenos convida à partilha da dor de Cristo." "A dor de Cristo é o caminho da nossa libertação."

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Acompanhando-nos, em silêncio,há dois mil anos

Margarida Corsino daSilva

“Onde queres que preparemos a Eucaristia?” – acada dia, a pergunta repete-se e Jesus diz-nos –como disse então: “Ide à cidade.” É aqui, noslugares que habitamos, que O Senhor Se quer fazerpresente. No nosso quotidiano. Naqueles com quemnos cruzamos diariamente. No pequenino pedaço depão. É aqui, bem no meio da nossa vida, que Jesusquer que preparemos a Eucaristia. Que façamosmemória agradecida do Seu amor por cada um denós contado em cada detalhe da nossa história e detudo quanto esse amor nos possibilita.Não precisamos de fazer um grande exercício deimaginação para contemplar Jesus no meio de todasas personagens que povoam os espaços da nossacidade ou que estão nas nossas igrejas. O mendigode mão estendida. Os que estão doentes. A mulhercurvada. Os que criticam. Os que rezam no meio detodos ou discretamente. Os idosos como Simeão eAna. As crianças. E até a viúva que deixa as duasmoedas. E, ao contemplá-Lo assim, outra das Suasquestões ecoa: “Compreendeis o que vos fiz? Fazei-o vós também.” O convite de Jesus é muito claro.Temos que sair pelo mundo a dizer, com a nossavida, que Ele está vivo. Entregando a nossa vida. Aestes que reconhecemos da história da relação deDeus com os homens em Jesus. Mas, também, àvizinha que nos aborrece, pois fala sempre domesmo. Ao senhor simpático que nos vende ojornal. Às crianças.

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Aos jovens. Àqueles que jáperderam a esperança. Aos queestão sós. Aos que foramabandonados. Àqueles que nuncaouviram falar de Jesus ou que,entretanto, se esqueceram dEle.Temos que sair das nossas casas epormo-nos a caminho ao encontrodos outros, dizendo, com alegria,que Jesus vive. Vivendo comoalguém que Deus encheu de bem.Gratuitamente. Alguém feliz(fecundo!). Agradecido. Sendo, até,uma provocação para o mundo.Como pessoa amada por Deus.Mas, para vivermos assim, teremosque ir à fonte – a Eucaristia. NaEucaristia, centramo-nos em Cristo,para nos descentrarmos de nós epartirmos em direção às periferias.Continuamente. Com Ele.Jesus toma a forma de pão: para sedar inteiro tem que se partir. ComJesus, queremos ser um povo quecome o pão com as mãos, que oabençoa, o parte e o partilha.Queremos viver na pobreza em quenos sabemos donos de nada,recebendo tudo do Pai. Tudoagradecendo e tudo entregando.Como filhos. Olhando as nossasmãos, necessitadas epecadoras, que se estendem,humildes e abertas, para receber,com fé, o próprio Jesus. Assim, aEucaristia reenvia-nos e faz-nos

cair da segurança posta em nós eeleva o que em nós era pequeno. Asnossas palavras, os nossos gestosvêm do silêncio. O dar tem o seuberço no receber. “Não fomos nósque amámos primeiro, foi DeusQuem nos amou!” Na Eucaristia,somos modelados para a atençãoao outro. A ouvir e a responder. Euma vida atenta é uma vida que sefaz atenciosa.A memória da entrega de Jesus porcada um de nós remete-nos àmemória do primeiro encontro comEle – a memória do primeiro amor. Amemória de Deus em Quem somosmergulhados em crianças e no qualvivemos, nos movemos e existimos.Neste Deus que não Se fez carnepara nós apenas há muitos anos,num país muito distante, mas queSe torna alimento e bebida paranós, em cada Eucaristia,precisamente onde nos reunirmos.Porque Deus, O Senhor, quer fazer-Se próximo de mim. De nós. E tudoisto é tão simples. Tão vulgar. Tãoóbvio. E, contudo, tão diferente!E neste gesto, simultaneamente omais humano e o mais divino quepossamos imaginar que é aEucaristia, Deus acompanha-nos,em silêncio, há dois mil anos. Nanossa própria realidade. Seja elaqual for.

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Papa reforça política contraabusos sexuais cometidos pelo clero O Papa Francisco recebeu nasexta-feira no Vaticano umadelegação do DepartamentoCatólico Internacional da Infância(BICE), perante a qual pediu“perdão” pelos casos de abusossexuais sobre menores envolvendomembros do clero.A intervenção aludiu a “todo o malque alguns sacerdotes – bastantesem número, não em comparaçãocom o total” e pediu “perdão pelodano que os abusos sexuais dascrianças provocaram”.“A Igreja está consciente deste mal,que é um dano pessoal, moral,deles [padres], mas homens daIgreja, e não vamos dar um passoatrás no que se refere aotratamento destes problemas e àssanções que se devem aplicar, pelocontrário, acredito que temos de sermuito fortes: com as crianças não sebrinca”, declarou.O BICE foi criado por Pio XII, emdefesa das crianças, após o fim da IIGuerra Mundial (1939-1945),colaborando com as representaçõesda Santa Sé junto das NaçõesUnidas.

Francisco apelou aodesenvolvimento de projetos contrao “trabalho escravo” e orecrutamento de crianças-soldadoou “qualquer tipo de violência sobreos menores”.“É preciso reafirmar o direito dascrianças de crescer numa família,com um pai e uma mãe capazes decriar um ambiente adequado para oseu desenvolvimento e maturidadeafetiva”, acrescentou.Neste contexto, o Papa destacou aimportância da “masculinidade efeminilidade” de um pai e de umamãe no crescimento das crianças.“Isto implica, ao mesmo tempo,apoiar o direito dos pais à educaçãomoral e religiosa dos seus filhos:neste ponto, gostaria deexperiências educativas com ascrianças, com as crianças e osjovens não se fazem experiências,não são cobaias de laboratório”,advertiu.Francisco evocou os “horrores” damanipulação educativo das“ditaduras genocidas” do século XXque, apesar de terem desaparecido,“mantém a sua atualidade sobroupagens

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e propostas diferentes que, sob apretensão de modernidade, forçamas crianças e jovens a seguir pelocaminho ditatorial do pensamentoúnico”.Para trabalhar pelos DireitosHumanos, prosseguiu, é necessário“manter sempre viva a formaçãoantropológica” e responder aosdesafios colocados pelas “culturascontemporâneas e a mentalidadedifundida pelos meios decomunicação social”.

O Papa concluiu com uma evocaçãoda sua experiência na comissão deproteção de menores em BuenosAires, cujo logotipo apresentava a“Sagrada Família em cima de umburro a fugir para o Egito”.“Por vezes, para defender há quefugir; por vezes, há que ficar eproteger; por vezes há que lutar.Sempre, no entanto, é preciso terternura”, acentuou.

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Papa apela a examede consciência na Páscoa

O Papa iniciou no domingo ascelebrações da Semana Santa, coma Missa dos Ramos no Vaticano, equestionou os católicos sobre a suaatitude perante Jesus.“É bom que nos façamos umapergunta: quem sou eu diante deJesus que entra em festa emJerusalém? Sou capaz de exprimir aminha alegria, de o louvar, ouponho-me à distância? Quem soueu diante de Jesus que sofre?”,perguntou, na homilia da celebraçãoque decorreu na Praça de SãoPedro, perante dezenas de milharesde pessoas.Após a leitura da Paixão segundo oEvangelho de São Mateus,Francisco evocou os “muitosnomes” presentes no relato daentrada triunfal de Jesus emJerusalém.O Papa recordou a figura de Judas,o “traidor”, que vendeu Jesus por 30moedas e “finge” amá-lo para oentregar, Pilatos

que “lava as mãos” para nãoassumir a sua responsabilidade, amultidão que “não sabia se estavanuma reunião religiosa, numjulgamento ou num circo”, as“mulheres corajosas”, queacompanharam sempre Cristo, eJosé, o “discípulo escondido” quelevou o seu corpo para a sepultura.“Onde está o meu coração? A qualdestas pessoas me pareço? Queesta pergunta nos acompanhedurante toda a semana”, concluiu.

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Via-Sacra do Papa centrada nas«injustiças» da crise social eeconómicaO Departamento das CelebraçõesLitúrgicas do Papa divulgou ostextos das meditações das estaçõesda Via-Sacra que o Papa Franciscovai presidir esta sexta-feira noColiseu de Roma.D. Giancarlo Bregantini, arcebispode Campobasso-Boiano (Itália), é oautor dos das reflexões e enumera,nas 14 estações, as chagas sociaisda atualidade.O texto revela que no madeiro daCruz levado por Jesus até aocalvário estão “o peso de todas asinjustiças que produziram a criseeconómica, com as suas gravesconsequências sociais:precariedade, desemprego,demissões, dinheiro que governaem vez de servir, especulaçãofinanceira, suicídios de empresários,corrupção e usura, juntamente comempresas que deixam os países”.D. Giancarlo Bregantini refere-setambém ao sofrimento das mulherese pede para que se chore “pelasmulheres escravizadas pelo medo ea exploração”, afirmando que

“não basta bater no peito e sentircomiseração”.As mulheres devem “sertranquilizadas como Ele fez, devemser amadas como um dom inviolávelpara toda a humanidade”, acentua oarcebispo italiano.Na Via-Sacra, presidida pelo PapaFrancisco, o texto tem como tema«Rosto de Cristo, Rosto do Homem»

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

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Cruz feita com madeira de barcos naufragados em Lampedusa vai percorrera Itália

Papa condena assassinato de jesuíta holandês na Síria

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Por aqueles em perigoAaron nunca se sentiugenuinamente integrado nacomunidade em que nasceu ecresceu. Na remota aldeia piscatóriado norte da Escócia, a sua naturezae a sua forma de se relacionar nãocorrespondem aos padrões damaioria dos seus vizinhos.A situação agrava-se quando Aaroné o único sobrevivente de umacidente ocorrido no mar onde,entre outros, o seu próprio irmãodesapareceu. Vítima da maldisfarçada indignação edesconfiança dos próximos que oralamentam a perda de vidas maisvaliosas do que a sua aparenta serora lançam suspeitas sobre a formacomo ocorreu o desastre, vítima doseu próprio sentimento de culpa edo enorme desgosto que a morte doirmão lhe provoca, os dias de Aarontornam-se cada vez mais pesados.Condenado a um naufrágio afetivoporventura mais doloroso do que osofrido no marIncapaz de recuperar a memória dosucedido e incapaz de aceitar amorte do irmão, Aaron decideenfrentar de novo o mar e peranteeste, a sós, reclamar o que

brutalmente lhe retirou.É o início de uma viagem e de umdiálogo, visual e íntimo, em buscade uma identidade perdida.De origem escocesa e evocandosempre algo de biográfico nos seusfilmes, Paul Wright, na sua aindacurta carreira de realizador eargumentista, tem manifestadoparticular interesse por temas querondam a busca do sentido da vida,mesmo em registos diferentes comreferências peculiares à existênciade um deus peculiar e marcante nasua filmografia. Na curta metragem‘Until the River Runs Red’ (Até que oRio corra Vermelho), de 2010, Chloeé uma adolescente em viagem, filhaúnica de God, que atravessa asbelas paisagens escocesas na ânsiade encontrar o mítico ‘rio vermelho’;uma caminhada que pouco a poucoexpõe uma terrível verdadeescondida. ‘Believe’ (Crê),

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mergulha no processo de luto de umhomem que procura lidar com oprofundo desgosto causado pelamorte da mulher.Com cada uma das suas aindapoucas obras têm sidoreconhecidas quer em festivais querpor prémios do cinema, como osprestigiados BAFTA,

da Academia Britânica de Cinema,Locarno, Berlim ou Miami, Wrightestreia nos ecrãs nacionais, emdistribuição moderada, com ‘PorAqueles em Perigo’.Uma viagem de luto, reconciliação edescoberta, ‘o filme explorarazoavelmente as potencialidadesdo cinema, quer pela envolvênciavisual que nos oferece quer pelaintimidade conseguida entreprotagonista e espetador.Embora notória a algumaimaturidade na construção narrativa,particularmente revelada na formacomo gere a densidade de algunsplanos, sequências e personagens,para início de carreira Wrightmostra-se promissor. Um profissionale criador a quem se pode desejarque não sucumba à tentação defazer da existência, que tanto opreocupa e interessa, mais umcaminho que um ofício.

Margarida Ataíde

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Lugar Sagrado Onlinewww.lugarsagrado.com Em plena semana maior, sugerimosum espaço virtual que nos convida aalimentar a fé com uma escuta maisatenta e prolongada da Palavra deDeus levando-nos a umaparticipação efetiva nosSacramentos e a crescer nacaridade - amor a Deus e aopróximo. Assim, como forma deentrarmos neste tempo precioso dereavivar a fé, esta semanaapresentamos um sítio de oraçãodiária pensado para quem, comotantos de nós, passa grande partedo tempo em frente ao computadore naturalmente tem dificuldade emarranjar um tempo para rezar.O Sacred Space (Lugar Sagrado) éum projecto lançado pelos jesuítasirlandeses na quaresma de 1997sempre com actualizações diárias ecom as leituras adequadas ao dia,encontrando-se já traduzido em 17idiomas. Apesar de estar anecessitar de uma actualização aonível do ambiente gráfico e umamelhor otimização para osdispositivos móveis (smartphones,tablets,

etc.), os conteúdos e objetivos aque se propõe estão bastanteactualizados.O que é pedido a cada visitante éque tire 10 minutos do seu dia paradedicar à oração e aorelacionamento mais profundo epróximo com Deus. Desta forma,conseguimos ter consciência da Suapresença na nossa vida, através dapersecução de sete etapas (OraçãoIntrodutória, Presença de Deus,Liberdade, Tomada de consciência,A palavra de Deus, Diálogo eConclusão), pelas quais somosguiados com um simples clique dorato. Temos ainda disponível umguia nas etapas de maior dificuldadede reflexão que nos orienta e ajudapara uma oração mais conseguida eprofunda.Apesar de existirem actualmenteoutras propostas de oração virtual,que já foram alvo de análise nesteespaço, fica aqui a sugestão quebem poderá ser continuada paraalém deste forte tempo litúrgico,podendo certamente tornar-se um“vício” diário. Pois sendo verdadeque nos preparamos para a festa

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da ressurreição de Cristo, a Igrejaatravés da liturgia e oração, desejaprincipalmente que nosprepararemos para o encontrodefinitivo com Ele.Como sabemos Deus está em todoo lado e o nosso escritório,

o espaço onde na nossa casatemos o computador, ou mesmo onosso dispositivo móvel podemtambém ser espaços adequadospara conversarmos com o nossoPai.

Fernando Cassola Marques

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“Jesus, Subimos a Jerusalém”“Jesus, Subimos a Jerusalém” é oterceiro título da trilogia quecomeçou com “Paulo, de Jerusaléma Roma” e a que se seguiu “Maria,Mãe de Jesus” da autoria de D.Teodoro Faria, bispo emérito doFunchal.Lançado pela Paulinas Editora, estelivro que aborda o tema “O sudárioe a paixão de Cristo” associa-setambém aos 500 anos da Diocesedo Funchal que se assinalam esteano.As viagens de peregrinação à TerraSanta efetuadas por D. Teodoro deFaria, bispo emérito do Funchal,para além “dos aspetos decompensação reconfortante deordem espiritual”, têm tambémconstituído pretexto deenriquecimento de memórias sobre“os lugares e de experiênciasintensas ali colhidas, quer de ordempessoal quer comunitária, pois,normalmente, são feitas de formaintegrada com grupos peregrinos”,revela a sinopse do livro. O imenso espólio dessas viagens deD. Teodoro de Faria é constituídode muito material

imagético mas também de muitostextos, resultantes de momentosespeciais de reflexão e de oração,sendo que dessas memórias muitastêm sido partilhadas, “através dasua organização temática e dando-oà estampa”, como é o caso destelivro “Jesus, Subimos a Jerusalém”.“Durante a minha estadia em Roma,como vice-reitor do PontifícioColégio Português,

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fui convidado por monsenhorGiovanni Ricci, da Congregaçãopara os Bispos, para participar nocurso de sindonogia em Roma.Entrei sem grande entusiasmo masem breve fui contagiado pelo tema”,começa por contar o autor naintrodução.Quanto ao Sudário ou Sínode este“envolveu o Senhor Jesus notúmulo, foi testemunha dotemporâneo estado de morte deCristo e do seu retorno à vida ouressurreição”, escreve D. Teodorode Faria.“A investigação científica considerapossível que o homem do Síndoneseja de facto Jesus Cristo, que foienvolvido no lençol, segundo aforma própria de sepultar do povojudeu e a reflexão teológica mostraque o Síndone faz uma ponte entrenós e a manhã da ressurreição, eleé um testemunho que resta doprodígio da manhã da Páscoa”,acrescenta.D. Teodoro de Faria foi ordenadopadre, na Diocese do Funchal a 22de setembro de 1956, vindo depoisa ser ordenado bispo da

mesma no ano de 1982, entrandoao serviço da diocese a 16 demaio desse mesmo ano, cargo queocupou até 2007.

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II Concílio do Vaticano:Entre as expectativas criadase as mudanças ocorridas

O II Concílio do Vaticano inaugurou uma nova formade estar em Igreja, na qual a intervenção do laicadose torna muito mais ativa e decisiva. Esteacontecimento convocado pelo Papa João XXIII econtinuado pelo Papa Paulo VI teve uma importânciaextrema no catolicismo contemporâneo nas áreas dosocial, político e cultural.A cooperativa «Pragma» que foi fundada por umgrupo de católicos a 11 de abril de 1964, um anodepois da publicação da encíclica de João XXIII,«Pacem in Terris» é um exemplo desse impacto. Nolivro «Entre as Brumas da Memória – Os católicos e aditadura» da autoria de Joana Lopes (uma dasassociadas da cooperativa), na sua recensão JoséPedro Castanheira (Jornal «Expresso»; de 03 demarço de 2007) escreve que a obra começa com o IIConcílio Vaticano e a encíclica «Pacem in Terris».Mas para Joana Lopes, o concílio foi “um dosgrandes motores de tudo” quanto se relata.Datada de 1963, a encíclica de João XXIII encorajouum grupo de «católicos progressistas» (como ficaramconhecidos) a passar à ação na sociedade em queviviam. Assim nasceu o boletim clandestino «Direito àInformação» e a cooperativa «Pragma», “ambosliderados por Nuno Teotónio Pereira – um nomepresente em quase todo o livro, juntamente com o deJoão Bénard da Costa e José Manuel Galvão Teles.Tendo sido anunciado no final da década de

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50 e decorrido, com algumasinterrupções, entre 1962 e 1965 –convocado e liderado por João XXIIIe depois por Paulo VI – o concílioconstituiu uma “marcante novidade,pela sua raridade na história docatolicismo e pela sua pertinênciapara um campo católico que seconfrontava com a rápida mutaçãodas sociedades ocidentais”. (In:Jorge Revez “«Os vencidos doCatolicismo» - Militância e AtitudesCríticas (1958-1974)”; Lisboa;Centro de Estudos de HistóriaReligiosa).Do Vaticano vinham “gestosanunciadores duma profundamudança na mentalidadeeclesiológica”. Entre estes,avultavam os relacionados com aproblemática da “pobreza da Igreja,na linha das Bem-Aventuranças” e a“viagem de Paulo VI a Jerusalém”(In: Nuno Estêvão; «O Tempo e oModo. Revista de Pensamento eAção (1963-1967)»; Separata deLusitânia Sacra, 2ª série (6),1964). O II Concílio do Vaticanorepresentou, para alguns setores

católicos, “a esperança de umrejuvenescimento, de umaforma quase urgente de diálogoentre a Igreja e o mundo, agoraentendido, na sua formulaçãomoderna, com expectativas demudança e de uma clara procura daadaptação das velhas estruturasreligiosas, nas quais a IgrejaCatólica, no Ocidente, poderia serapresentada como exemplo maisnítido”. (In: Jorge Revez “«Osvencidos do Catolicismo» - Militânciae Atitudes Críticas (1958-1974)”;Lisboa; Centro de Estudos deHistória Religiosa).A receção do concílio, que aindahoje se apresenta como um amploespaço de debate eproblematização histórica, “foimarcada por uma certa desilusão,um desajuste sentido por alguns,entre as expectativas criadas e asmudanças ocorridas”, lê-se na obrade Jorge Revez. E acrescenta. “Nãopelo discurso conciliar em si, (…)mas sobretudo pelas consequênciasreais do desejado aggiornamento daIgreja”.

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Abril 2014Dia 17* Lisboa - Celebração dos 25 anosda Comunidade Vida e Paz.* Vaticano - Basílica de São Pedro - Missa Crismal. * Vaticano - O Papa preside à Missada tarde de Quinta-feira Santa, como tradicional lava-pés, num centrode reabilitação para pessoas comdeficiência e idosos, em Roma.* Lançamento do livro «Francisco.Vida e Revolução» da jornalista evaticanista Elisabetta Piqué e com achancela da «Esfera dos Livros».* Lisboa - Sé (19h00m) - O ritual dolava-pés na celebração vespertinade Quinta-Feira Santa contar com apresença de utentes emrecuperação, colaboradores evoluntários da Comunidade Vida ePaz.* Aveiro - Sé - Missa Crismalpresidida por D. Jacinto Botelho,bispo emérito de Lamego.* Portalegre - Sardoal (21h30m) - Procissão dos Fogaréus. * Aveiro - Oliveira do Bairro (Igrejada Palhaça) - Celebraçãodramatizada da cerimónia do lava-pés.* Lisboa - Convento de SãoDomingos (22h00m) - A Oração deJesus no horto lida por actores.

* Porto - Santa Maria da Feira(21h30m) - Procissão do «Triunfodas Endoenças ou Ecce Homo» numpercurso que une a igreja daMisericórdia e a matriz. * Algarve - Albufeira (21h00m) - Procissão dos Painéis, perdida hámais de 40 anos, e agora retomadapela Irmandade da Santa Casa daMisericórdia de Albufeira.* Lamego - Igrejas das Chagas(21h30m) - Procissão das «SeteBandeiras - Sete Tribunais» * Lisboa - Convento de SãoDomingos - Comunidade dominicanaabre as portas na celebração doTríduo Pascal. (17 a 20)* Coimbra - Pedrogão Grande - Celebrações da Semana Santa. (17a 20)Dia 18* Dia Internacional dos Monumentose Sitíos.* Açores - Angra do Heroísmo (Sé) - Exposição da nova representaçãoda via-sacra de Cristo.* Portalegre - Idanha - A CâmaraMunicipal de Idanha-a-Novapromove o primeiro curso livre dereligiosidade popular.* Lisboa - Óbidos (Praça de SantaMaria) - Encenação da crucificaçãoe morte de Jesus na Cruz.

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* Vaticano - Basílica de São Pedro - Celebração da «Paixão do Senhor»presidida pelo Papa Francisco.* Itália - Roma (Coliseu de Roma) - Via Sacra presidida pelo PapaFrancisco. * Coimbra - Sé Velha (21h30m) - Concerto do II Ciclo de Requiem. * Porto - Igreja da Lapa - Concertoda Páscoa pelo Coro da Sé doPorto com apresentação da obra «ACriação» de Joseph Haydn. * Funchal - Via Sacra entre a Igrejado Monte e o Terreiro da Lutapromovida pelos SalesianosCooperadores.* Lisboa - Basílica dos Mártires(12h00m) - Concerto «As SeteÚltimas Palavras de Cristo» peloQuarteto Atlântico com reflexões ecomentários de Frei BentoDomingues.* Porto - Espinho (Largo da CâmaraMunicipal e Igreja Matriz de Espinho)(21h00m) - Encenação da ViaSacra.* Lisboa - Via Sacra na cidade deLisboa (da Igreja de São João deDeus à Igreja de São João deBrito). * Porto - Santa Maria da Feira - Via-sacra distribuídas entre o Palácio daJustiça e o castelo de Santa Mariada Feira.

Dia 19* Vaticano - Basílica de São Pedro - Vigília Pascal presidida pelo PapaFrancisco. * Braga - Torre Medieval ou NossaSenhora da Torre do Museu Pio XII - Encerramento (início a 11 de abril)da exposição «As Vozes dasCrianças» promovida pela Cáritasde Braga. * Braga - Visita guiada a Igrejasdecoradas com azulejos. * Porto - Santa Maria da Feira(Igreja Matriz) - Concerto onde éinterpretada a obra “Stabat Mater”,de Pergolesi, com os solistas IriaPerestrelo e Márcio da Rosa, e a Art’Orchestra Ensemble, dirigidos porHélder Tavares. Dia 20* Páscoa. Dossier: Páscoa. * Vaticano - Praça de São Pedro - Celebração do Domingo de Páscoapresidida pelo Papa Francisco. * Braga - Salão nobre do Museu PioXII - Encerramento (inicio a 07 demarço) da exposição «Via Crucis -Via Lucis».* Lisboa - Monte Abraão - Início doprojeto digital de evangelizaçãoespecialmente dedicado aos jovens,chamado «iVangelho».

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Portugal assinala no dia 25 de abril os 40 anos daconquista da liberdade. Inclui-se nesse aniversário odebate promovido pela Fundação CalousteGulbenkian “A Ditadura Portuguesa | porque durou,porque acabou”, no dia 23 de abril. Igreja Católica vai marcar presença na 11ª ediçãodo Festival de Cinema IndieLisboa, que decorrede 24 de abril a 4 de maio, e associa-se este anoao Indiejúnior. O IndieLisboa “comemora uma dassuas mais bem-sucedidas secções, o Indiejúnior”e o Prémio Árvore da Vida promovido pela IgrejaCatólica associa-se a estes festejos“contemplando também os filmes para os maisnovos, com júri próprio constituído por quatroalunos do Colégio São João de Brito, em Lisboa”,revela em artigo publicado hoje no SemanárioECCLESIA Margarida Ataíde, membro do júri doPrémio ‘Árvore da Vida’, onde representa oSecretariado Nacional das Comunicações Sociais(SNCS). A canonização de João XXIII e de João Paulo II é no dia27 de abril. Mas multiplicam-se as iniciativas quepreparam essa celebração. O Vaticano recorreu àsnovas tecnologias para lançar o site “2papisanti” (doisPapas santos) e divulgar por esse meio as muitasformas de bem viver o dia da canonização.

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa 12h15 - Oitavo Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h22Domingo, dia 20 - Da morte àvida: perspetivas doneurocirurgião João LoboAntunes. RTP2, 15h30Segunda-feira, dia 21 -Entrevista a José FrazãoCorreia, provincial daCompanhia de Jesus;Terça-feira, dia 22 -Informação e entrevista aocónego António Janela,sobre a canonização do PapaJoão XXIII e João PauloII;Quarta-feira, dia 23 - Informação e entrevista a EmíliaNadal sobre a canonização do Papa João XXIII e JoãoPauloII;Quinta-feira, dia 24 - Informação e entrevista a AntónioMarujo sobre os católicos e o 25 de abril;Sexta-feira, dia 25 - Os católicos e o 25 de abril.Análise de Maria Conceição Moite e Jorge Wemans. Antena 1Domingo, dia 20 de abril, 06h00 - Ressurreição e Vidano olhar do neurocirurgião João Lobo Antunes.Comentário à atualidade com a Irmã Irene Guia. Segunda a sexta-feira, 22h45 - 21- Padre AntónioTeixeira e João Paulo II; 22 - Manuela Silva fala deJoão XXIII; 23 - O musical Wojtyla recordou João PauloII; 24 - Historiador Matos Ferreira enquadra opontificado de João XXIII; 25 - Conceição Moita conta asua história de libertação.

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Por que motivo foi condenado àmorte de cruz um homem de pazcomo Jesus?

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Ano A - Domingo de Páscoada Ressurreição do Senhor Testemunhasde Cristoressuscitado

Vivemos hoje a mais importante celebração da nossafé, a Páscoa da Ressurreição do Senhor. Celebramose recebemos Cristo, Palavra e Pão, para alimentar asnossas fomes quotidianas. Páscoa é todos os dias,mas este é o Dia por excelência.Como escutamos a Palavra de Deus neste dia?A primeira leitura apresenta uma das mais belascaracterizações de Jesus Cristo: “passou fazendo obem”. Uma passagem de bem pelo mundo, que implicamorte e ressurreição, doação total de si mesmo, queexige que os discípulos entrem nesta nova dinâmica eanunciem o mesmo caminho de bem a todas aspessoas e em todos os lugares.A segunda leitura convida os cristãos, revestidos deCristo pelo batismo, a continuarem a sua caminhadade vida nova até à transformação plena. Aspirar eafeiçoar-se às coisas do alto significa dar sentido aoque somos e fazemos à luz da presença do Senhorque está vivo nas nossas vidas.O Evangelho coloca-nos diante de duas atitudes faceà ressurreição: a do discípulo obstinado, que serecusa a aceitá-la porque, na sua lógica, o amor totale a doação da vida nunca podem ser geradores devida nova; e a do discípulo ideal, que ama Jesus eque, por isso, entende o seu caminho e a suaproposta; a esse não o escandaliza nem o espantaque da cruz tenha nascido a vida plena, a vidaverdadeira.Somos discípulos de Jesus, tal como se revela naPalavra, não à nossa maneira. Ser discípulo de

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Jesus Cristo Ressuscitado implicaser testemunha da ressurreição.Nós não vimos o sepulcro vazio;mas fazemos, todos os dias, aexperiência do Senhor ressuscitado,que anda connosco nos caminhosda história. Mas o nossotestemunho será oco e vazio se nãofor comprovado pelo amor e peladoação, as marcas da vida nova deJesus. São estas as marcas quedevemos mostrar, pois testemunharé mostrar, com entusiasmo ecoragem, com convicção e paixão.Celebremos a Páscoa! Mergulhadano coração da nossa fé!Mergulhada nas fontes do nossoBatismo! Hoje, a Ressurreição deCristo não pode ser para nós umaespécie

de vago sentimento. ARessurreição de Cristo deve ser odínamo das nossas vidas debatizados, a energia que nos enviaa testemunhar: “Cristo está vivo!Nós encontrámo-l’O!”Somos chamados a viver apresença do Ressuscitado, diantede tantas situações em sentidocontrário. Somos levados a anunciarCristo vivo em atitudes e gestossolidários, plenos de esperança ede doação. Assim seja o nossotempo pascal, vivido e celebrado nacontinuidade do tempo quaresmal.Sempre conduzidos e orientadospela Palavra de Deus!

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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Paquistão: a história esquecida das criançasescravizadas

O preço de uma mercadoriaTodos os anos cerca de milcrianças cristãs desaparecem noPaquistão. São raptadas eacabam, quase sempre, nasmalhas de redes de tráfico deseres humanos. Para estasredes mafiosas, estas criançassão apenas um negócio. As crianças cristãs no Paquistãosão vítimas, vezes demais, de umaviolência impensável. Raptadas,violentadas, forçadas aconverterem-se ao islão, acabamquase sempre por cair nas malhasdo tráfico de seres humanos. Todosos anos haverá cerca de mil casosde crianças cristãs paquistanesasvítimas destas redes. Estas criançassão como mercadoria. Têm umpreço. Samir tem 12 anos e gostade brincar à porta da catedral com oseu papagaio de papel. Foi assim a23 de Outubro de 2011 quando umhomem o levou dali à força. Ascâmaras de vigilância não permitemouvir os gritos de ajuda do pequenoSamir, mas atestam bem comotentou libertar-se. Em vão. Quandosouberam da notícia, os pais deSamir ficaram desesperados. Era asegunda

vez que a tragédia lhes batia àporta. Num atentado, a irmã maisnova de Samir perdera a vida.Agora, o rapaz tinha sido levado. Vidas raptadasSempre se contaram histórias decrianças que desapareceram. E opior é que nenhuma regressou.Fala-se em crianças raptadas queforam levadas para o Afeganistãopara se converterem em bombistassuicidas, ou de meninas vendidas afamílias muçulmanas ricas, ou aquem lhes cortam uma mão ou umaperna para integrarem os exércitosdos pedintes explorados por máfias.Os pais de Samir, na sua infinitapobreza, agarraram-se à sua fé. SóDeus lhes poderia valer. O padrelocal, Andrew Nisari, sabia que erapreciso agir depressa. Contactou asautoridades e mostrou-lhes a fotodo menino. Com isso, conseguiuque a TV mostrasse a sua imagem.Foi o que valeu. Quando já ia acaminho do Afeganistão, junto a umrio, o raptor atirou Samir à água,para o afogar. Já tinha visto a suafoto

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na televisão e teve medo de serdenunciado. Samir não morreu.Agarrou-se a umas canas de bambue conseguiu chegar à margem.Cheio de medo pôs-se a correr atéque, em Peshawar, viu um cartaz deNossa Senhora de Mariamabad, umsantuário paquistanês, e pediu queo levassem até lá. Nessa noite,

consegue telefonar para casa. EmLahore, todos dizem que a históriade Samir é um milagre. Um milagreque não esconde o drama demilhares de rapazes e de raparigasraptados, vendidos, escravizados.Reduzidos a quase nada, apenaspor serem cristãos.

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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Astros que brilham

Tony Neves

João XXIII e J. Paulo II são construtores de‘Pontes’. João XXIII abriu as janelas da Igreja aostempos presentes e futuros para evitar mortespor asfixia. Quis que entrasse uma lufada de arfresco na Igreja. Convocou o Concílio Vaticano IIque pôs a Igreja a conversar com o mundo deque ela também é parte integrante. Pôs de lado olatim que ninguém falava e entendia e convidouos povos a louvar a Deus nas suas própriaslínguas, transformando o Babel daincompreensão no Pentecostes da partilha entreirmãos que falam uma linguagem que todosentendem e abraçam: a Palavra do Evangelho.João XXIII, homem bom e feliz, semeou alegria àsua volta, acreditando a Igreja em contextosonde era já considerada peça de museu. Deus ochamou com o Concílio ainda a balbuciar asprimeiras palavras da conversão que propunha,mas Paulo VI deu continuidade e conclusão áobra começada há 50 anos.J. Paulo II construiu uma ponte entre a Europado silêncio (esmagada e oprimida do outro ladoda cortina de ferro) e a Europa ocidental(abafada nas suas convicções ancestrais peloindiferentismo religioso). Deu um empurrão eajudou a deitar abaixo o Muro de Berlim e, comele, acabou a guerra fria que opunha ocapitalismo ao socialismo, impondo ao mundo oequilíbrio do terror, assente na corrida aosarmamentos. Com J. Paulo II, o mundo respiroude alívio, mas o capitalismo

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liberal, gerador de enormesdesigualdades sociais, impôs-secomo sistema único. O Papa que‘veio de longe’ lançou-se naaventura de percorrer os caminhosdo mundo para falar de Cristo,apostando forte nas ‘Viagensapostólicas’. Criou as ‘JornadasMundiais da Juventude’ quecongregam milhões de jovens,reforçando a sua missão. Promoveuem Assis o Encontro dos líderesReligiosos de todo o mundo pararezar pela Paz, ideia reforçada porBento XVI e Francisco.São dois Papas que marcaram o fimdo segundo milénio. A canonizaçãoconjunta mostra

á Igreja e ao mundo a riqueza dapluralidade. São dois estiloscompletamente diferentes mas comalgo de essencial em comum: oamor à Igreja, a fidelidade aoEvangelho e a abertura comatenção aos sinais dos tempos.Se tivesse que eleger uma ‘obra’ decada um deles, dirá que memarcaram a ‘Pacem in Terris’ deJoão XXIII e a ‘Redemptoris Missio’de J. Paulo II. Duas encíclicas emque a Missão, num sentido muitoalargado do termo, joga um papeldecisivo na vida da Igreja, na suarelação com o mundo.Próximos no tempo, estes Santossão modelos a seguir.

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ouem www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC –Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

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Como pode a EU liderar o combate àfomeA Cáritas Europa apresentou nopassado dia 15, no ParlamentoEuropeu, o último relatório sobresegurança alimentar: “De que formapode a União Europeia liderar abatalha contra a fome mundial”. ACáritas defende, neste relatório,que a “União Europeia deve assumira erradicação da fome no mundocomo uma prioridade na agendapós 2015, e defender uma definiçãoclara do objetivo “Pobreza Zero”tendo em conta as raízes dascausas da fome, em particularaquelas que são resultado demedidas politicas defendidas pelaprópria União Europeia”.A missão da Cáritas tem no seucoração a defesa da dignidade doser humano. A fome é a mais cruamanifestação da pobreza e a queataca de forma mais severa osdireitos Humanos, por isso, aCáritas não pode ficar indiferente.Principalmente porque acreditamosque é possível, até ao anos de2025, a fome, má nutrição einsegurança alimentar podem edevem ser erradicadas.A União Europeia, com os seus

28 estados membros, é um dos maisimportantes guardiães dodesenvolvimento humano. Asmedidas defendidas pela EU têm umimpacto crucial na segurançaalimentar e na sustentabilidade doscaminhos para o desenvolvimento.Por isso, a EU tem um papelfundamental quando se fala nocombate à fome. A Cáritas nesterelatório que agora se apresentadesafia, portanto, os estadosmembros a serem coerentes e areforçarem entre si a importância deassegurarem nos seus países odireito à alimentação e à segurançaalimentar.O relatório, feito com base nostestemunhos recolhidos pelasdiferentes Cáritas nacionais quecompõem a Cáritas Europa, defendecomo “não negociáveis” osseguintes aspetos:- Direito à alimentação: O direito àalimentação deve ser avaliado eassumido como uma prioridade emtodos os países da EUparticularmente quando o seuimpacto se manifestam naagricultura e na segurançaalimentar;

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- Objetivo “Erradicação daFome”: Os países da EU deverãoassumir a erradicação da fomecomo um objetivo, na moldura dosobjetivos pós 2015; - Agricultura de pequenaescala: A EU e os seus estadosmembros devem apoiar a agriculturatendo como foco principal aagricultura de pequena escala e desubsistência;- Organizações da SociedadeCivil: Estas são as principaisparceiras da EU e Estados-Membrosno combate á fome. Escutar a suaexperiência e trabalho local, compessoas em situação de pobreza,fome e má nutrição, é fundamentalpara que se tomem decisões quepossam

ir ao encontro das necessidadesreais. À ONG deve ser dado acessoao financiamento e espaço deintervenção;- Coerência politica: A regulaçãode temáticas relacionadas com aagricultura, comercio e energias,deve ser analisada sob um ponto devista global tendo em conta todas asconsequências e riscos acrescidosque elas terão nos países em viasde desenvolvimento e nascomunidades mais pobres.O relatório poderá ser lidoem: http://www.caritas.org/what-we-do/advocacy

Márcia CarvalhoCáritas Portuguesa

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40 anos do 25 de Abril

Os Católicos no Estado Novoe na Construção da Democracia

Padre Senra Coelho

A breves dias de se comemorarem 40 anossobre a “revolução dos cravos”, completaram-seno passado Domingo, dia 13 de abril, 25 anossobre a morte do bispo do Porto (1952-1982), D.António Ferreira Gomes, falecido a 13 de abril de1989. O bispo que enfrentou Salazar, soubedizer-lhe com frontalidade e coragem o quepensava, sofrendo por isso o exílio político de1959 a 1969. O seu regresso a Portugal só foipossível no contexto da dita “primaveramarcelista”.No muito que se tem escrito e dito, continua-se aconstatar a crítica à Igreja Portuguesa, atravésda insinuação, ou mesmo acusação, que estaesteve sempre ligada ao regime do Estado Novoe que apoiava as suas ações, no mínimo atravésda inércia das suas omissões e dos seussilêncios, tornando-se por isso cúmplice com asua ideologia corporativista com acenostotalitaristas filogermânicos e filofascistas.Silêncio contrário ao magistério pontifício de PioXI (1922-1939) que na Encíclica Mit brennenderSorge (14.03.1937) condenara todo o tipo detotalitarismo. Compreendendo por estaexpressão, qualquer manipulação estatal sobreos cidadãos, incluindo o controlo das suasconsciências e do direito à educação dos filhospor parte dos pais, segundo

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os seus valores morais ecompreensão da vida e da família.Sem esquecermos os reflexos datraumática experiência sofrida peloscatólicos na Primeira Republica,sobretudo nas questões referentesao arrolamento de todos os benseclesiais, moveis e imoveis; àsquestões referentes às“Associações Culturais” quedeveriam administrar os bensarrolados, sob indigitação enomeação estatal; dos padrespensionistas, hierarquicamentedependentes da Direção Geral dosAssuntos Eclesiásticos, do Ministérioda Justiça, pagos pelo estado daRepublica e por isso funcionáriospúblicos; das questões relacionadascom o encerramento dos Semináriose depois da sua redução a Braga,Porto, Coimbra, Lisboa e Évora;todas as questões radicalizadas ereferentes à Lei da Separação doEstado e das Igrejas (1911) efinalmente, os complexos assuntosrelacionados com a extinção eexpulsão das Ordens Religiosas;somos obrigados a revisitar aHistória e a interrogarmo-nos se aIgreja terá

sido em absoluto uma aliadaincondicional do Estado Novo, comoalguns continuam a afirmar?Em Novembro de 2011, foi publicadoo 3.º volume da obra A QuestãoReligiosa no Parlamento, vol. III,1935-1974, da autoria de PaulaBorges Santos. A autora publicouanteriormente Igreja Católica,Estudo e Sociedade (1968-1975) epara além da relação com aFaculdade de Ciências Sociais eHumanas da Universidade Nova deLisboa é investigadora do Centro deEstudos de História Religiosa daUniversidade Católica Portuguesa(UCP) e do Instituto de HistóriaReligiosa. Estamos perante umainvestigação histórica isenta erigorosa, integrada na ColeçãoParlamento N.º 32.Este 3.º Volume, coloca umaquestão decisiva sobre a relaçãoentre a Igreja e o Estado Novo:«Houve, ou não, uma “questãoreligiosa” no Estado Novo? (…).Sim, se isso significar as atuaçõesdo Estado, por um lado, e da IgrejaCatólica, por outro, na disputa pelasrespetivas autonomia e liberdade,no quadro do regime de separaçãoque regulava,

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desde Abril de 1911, orelacionamento entre o poder civil eaquela instituição religiosa».Verifica-se que ao longo dasdécadas do Estado Novo, surgiramna hierarquia da Igreja figurasproféticas, que pelas suas posturase intervenções preocuparam oregime. Nomes como D. ManuelMendes da Conceição Santos(1876-1955) (Arcebispo de Évora,1928-1955), Padre Abel Varzim(1902-1964), D. Sebastião deResende (1906-1967) (Bispo daBeira, Moçambique 1943-1967), D.Altino Santana Ribeiro (1915-1973)(Bispo de Sá da Bandeira, Angola(1955-1972) e Bispo da Beira,Moçambique (1972-1973)), D.Eurico Dias Nogueira (Bispo de VilaCabral, Moçambique (1964-1972) eBispo de Sá da Bandeira, atualLubango (1972-1977)), D. ManuelVieira Pinto (Bispo/Arcebispo deNampula, Moçambique, 1984-2000)e D. António Ferreira Gomes emuitos outros, comprovam alargueza de horizontes e a formaçãopolítica existente em muitos clérigos,vários dos quais formados emprestigiadas universidadeseuropeias e por isso figurasincontornáveis

na vida eclesial e socioculturalportuguesa.Coincidente com esta análisehistórica, também Paulo Fontes,investigador no Centro de Estudosde História Religiosa-UCP, explicaque o envolvimento, ou aconivência, da Igreja com o EstadoNovo foi-se esbatendo ao longo dosanos em que o regime esteve agovernar Portugal, e que muitoantes do 25 de abril eram já notóriasas clivagens entre o governo e oclero. Segundo ele, «A posição daIgreja variou desde uma adesãomuito significativa nos anos 30 atéum afastamento que se inicia depoisda Segunda Guerra Mundial, com aconsciência clara de que estávamosperante um regime de tipo ditatorial,com mecanismos de repressãoefetivos, e relativamente aos quais ocatolicismo tinha dificuldade emdesenvolver a sua ação religiosa,social e, por extensão, política». Oinvestigador, assinala a substituiçãodo Cardeal Cerejeira, que vivia umasituação mais «ambivalente», por D.António Ribeiro, como simbólicadesse afastamento, «Do ponto devista da Igreja mais institucional,

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a vinda de D. António Ribeiro paraLisboa foi o sinal que marca umavontade de mudança noposicionamento da Igreja e do seuepiscopado em relação à situaçãopolítica» (Cf. Família Cristã, Abril,2014).Não é historicamente correto,identificar os grandes sinais deabertura e atualização da Igreja emPortugal como consequência do 25de Abril, que «até democratizou aigreja e a aproximou do povo». Semignorar a importância do contextopolítico e sociocultural em que seinsere e vive a Igreja, não podemosignorar a especificidade da vidaeclesial, que em Portugal, como emtodo

o mundo, viveu intensamente aaplicação e o aprofundamento doConcílio Vaticano II, de quecelebramos os seus 50 anos.Sem dúvida que a implementaçãodas reformas conciliares emPortugal e a províncias ultramarinas,na segunda metade da década dosanos 60 e nos primeiros anos de 70,muito contribuíram para a perceçãodos aspetos obsoletos e arcaicos doregime e ajudaram a abrir horizontesde liberdade e fraternidade.A aplicação do Concílio em Portugalabriu janelas e portas aos aresfrescos vindos da Europa Ocidentallivre e democrática.

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Irmãos e irmãs: seguimento, comunhão e partilha.Oremos a fim de que a participação na Eucaristia

nos estimule sempre: a seguir o Senhor cada dia, aser instrumentos de comunhão, a partilhar com Ele

e com o nosso próximo aquilo que nós somos.Assim, a nossa existência será verdadeiramente

fecunda. Amém! (Papa Francisco, 30 de Maio de 2013)

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