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04 - Editorial: Octávio Carmo06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Opinião: D. Ilídio Leandro16 - A semana de... Henrique Matos18 -Entrevista: Adriano Moreira26 - Dossier Paulo VI

40 - Internacional46 - Multimédia48 - Estante50 - Vaticano II52 - Agenda54 - Por estes dias56 - Programação Religiosa57 - Minuto Youcat 58 - Pastoral da Saúde60 - Liturgia62 - Fundação AIS64 - Lusofonias

Foto da capa: Paulo VI em FátimaFoto da contracapa: Agência ECCLESIA

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,.Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

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Opinião

Sínodoextraordinário nareta final[ver+]

13 de outubro sobo signo da família[ver+]

Paulo VI: Umnome novo para aPaz [ver+]

Octávio Carmo | D. Ilídio LeandroFernando Cassola Marques |ManuelBarbosa |Paulo Aido | Tony Neves

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Serenidade

Octávio CarmoAgência ECCLESIA

Os trabalhos do Sínodo dos Bispos sobre afamília têm provocado muita agitação, dentro efora da Igreja, até porque para lá de eventuaispropostas - este é um organismo consultivo, sempoder decisório -, estão problemáticas reais, depessoas concretas com que muitos se podemidentificar.Do ponto de vista mediático, ficou evidente quehouve avanços e recuos na forma errática comoalguns temas foram apresentados, deixandoinfelizmente a impressão de que estaria em cursouma verdadeira batalha pelo poder entre façõesopostas. A culpa não pode ser sempre dosjornalistas e em assuntos tão sérios éfundamental diminuir o risco de interpretaçõesincorretas ou de extrapolações, em particular porparte de quem não está tão familiarizado comestas temáticas.Se o debate correu, como têm dito tantosparticipantes, de forma aberta e produtiva,esperasse agora que, acima de qualquermudança sobre a linguagem da pastoral familiarou da moral sexual católicas, as conclusõessejam apresentadas ao Papa e a toda a Igrejacomo ponto de partida sereno para o novoSínodo de 2015, que vai concluir este percurso,sem vencedores nem vencidos.A Igreja beneficiou deste tempo de debate e vaicontinuar a crescer com a discussão rumo àassembleia geral ordinária sobre a família. Não énada de novo na sua história: bastaria recordarque menos de 20 anos depois da morte deJesus, a primeira comunidade cristã teve detomar uma

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decisão absolutamente histórica quelhe permitiu chegar, ao longo dosséculos, a todo o mundo, depois deno Concílio de Jerusalém terdecidido ultrapassar o âmbitoespecífico da tradição judaica.Como se chega de 12 a 1200milhões é um mistério, mas ésobretudo uma lição.Sim, a Igreja fala a todo o mundo equer mesmo que a sua mensagemchegue a todos,independentemente da suacondição. Isso trouxe sempredesafios e sofrimentos, dúvidas

e receios, mas também alegrias erealizações que ajudaram aconstruir um mundo melhor.O Sínodo dos Bispos tem sido ummomento de grande entusiasmo evibração, mas tudo o que vier aacontecer tem de ser recebido comserenidade. No fundo, a missão quea Igreja tem pela frente é a mesmade sempre e já se percebeu quesabe melhor do que ninguém o quetem a fazer.

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A ministra de Estado e das Finanças, Maria Luís Albuquerque entrega aproposta do Orçamento do Estado para 2015 à Presidente da Assembleia daRepública, Assunção Esteves, na Assembleia da República, em Lisboa, 15de outubro de 2014. @Lusa

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“Com este diploma, honramos todosos compromissos, com a Europa ecom os portugueses”Maria Luís Albuquerque, ministra doEstado e das Finanças, naconferência de imprensa deapresentação do OE 2015,15.10.2014 “Aquilo que a FNE registou foi umacontinuação da quebra na despesarelativamente ao ensino básico esecundário e um ligeiro acréscimo,quase impercetível, na área daciência, mas há um corte brutal de700 milhões para os ensinos básicoe secundário que ainda está porentender de que forma, e em queáreas, vai ser distribuído”João Dias da Silva, secretário-geralda Federação Nacional deEducação, 15.10.2014

"Estamos, portanto, a trabalhar paraconseguir realizar esse objetivo queé: enquanto o Estado tem deencolher as suas despesas, aeconomia pode crescer, não por viado investimento público, mas por viado investimento privado. Isso jáaconteceu no passado, não hárazão para não acontecer agora”Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro, 15.10.2014 "A proposta apresenta enormesfragilidades porque se baseia numcenário macroeconómicoexcessivamente otimista,infelizmente para os portugueses.Apresenta sérias reservas do pontode vista da sua credibilidade econtém um risco sério deestagnação económica e fragiliza oEstado social”Vieira da Silva, vice-presidente dabancada socialista, 15.10.2014 “Neste momento as medidas sãosuficientes. Foi o risco de saúdepública existente que determinou aadoção das medidas”Francisco George, diretor-geral dasaúde, sobre medidas de combateao Ébola em Portugal, 15.10.2014

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13 de outubro sob o signo da Família

O arcebispo de Goa e Damão(Índia) presidiu à peregrinaçãointernacional de outubro em Fátima,na qual lembrou a missão da famíliano “compromisso da fé” dosbatizados e a sua importância natransmissão de valores nasociedade. “É na família que ocompromisso da fé é energizado eencorajado porque é a base dasociedade e o lugar onde aspessoas aprendem, pela primeiravez, os valores que as guiamdurante toda vida”, disse D. FilipeNeri Ferrão, na homilia da Missaconclusiva das celebrações anuaisdo 13 de outubro.O patriarca das Índias Orientais,primaz da Índia, alertou para as“rápidas e profundastransformações” na sociedade queprovocam “um certoenfraquecimento ou mesmoabandono da fé na santidade domatrimónio” e colocam “em causa” opróprio conceito de família.

Na última peregrinação aniversáriado ano, com o lema ‘Arrependei-vosporque Deus está perto’, oarcebispo destacou que a Igrejaestá “ativamente envolvida napromoção dos valores perenes defamília” e apresenta como exemplo oSínodo dos Bispos, que está adecorrer no Vaticano, “sinaleloquente deste profundo interesse”.D. Filipe Neri Ferrão deixou umabreve reflexão, de três tópicos,sobre a missão da família cristã nomundo de hoje: “Viver, revelar ecomunicar o Amor de Deus”. “Ocasal cristão coopera na missãodivina de dar e de proteger a vida eassim promove uma cultura da vida,colocando-se na contracorrente dasatuais culturas da morte”, começoupor revelar o arcebispo, destacandoque a sua tarefa principal é a de“viver em comunhão, numconstante

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empenho por fazer crescer o amor”entre todos os seus membros.No segundo ponto, assinalou acolaboração e contributo da famíliacristã na construção do mundo,“transmitindo valores e virtudes quelhe são tão próprios”. “Os cidadãossaem da família e nela encontram aprimeira escola daquelas virtudeshumanas e sociais que irão definir

o seu contributo para odesenvolvimento da mesmasociedade”, desenvolveu o prelado.O bispo da Diocese de Leiria-Fátimaencerrou a peregrinação e destacoua mensagem do presidente dacelebração dedicada às famílias"para que não falte a graça e a festado amor”.

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União das Misericórdias é parceirano combate ao desperdícioA União Portuguesa dasMisericórdias (UMP), em conjuntocom representantes de outrasinstituições sociais, do governo, dasautarquias e dos produtoresagrícolas, assinou hoje em Lisboaum compromisso para reforçar ocombate ao desperdício alimentar.Em declarações à AgênciaECCLESIA, Susana Branco, da UMP,destaca a importância que ainiciativa pode ter para“desburocratizar e facilitar a entregados excedentes de produção àsinstituições solidárias”, para serem“entregues às pessoas que maisnecessitam”. Segundo estaresponsável, as Misericórdiasservem atualmente “300 milrefeições por dia”, mas muitas maispessoas poderiam ser atendidas senão se perdessem tantos alimentosna cadeia atual entre os produtorese os consumidores.Os últimos dados divulgados peloCentro de Estudos da UniversidadeNova de Lisboa, na área daSustentabilidade, revelam queatualmente Portugal está adesperdiçar cerca de um milhão

de toneladas de alimentos por ano,ou seja 17 por cento de todos osbens produzidos.Para Susana Branco, mudar esteparadigma depende também dasensibilização de todas as pessoaspara a importância de evitarem odesperdício e de adotarem “boaspráticas” de consumo. Projetoscomo “os das hortas pedagógicas,onde se ensinam as crianças e sedão talhões às famílias que sãoacompanhadas ao nível dasmedidas de apoio social”,exemplifica.

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Semear o direito à AlimentaçãoA Fundação Fé e Cooperação(FEC) apresentou hoje a CampanhaSEMEAR com o objetivo de“consciencializar” os portuguesespara a “importância do Direito àAlimentação” através “docruzamento das realidadesportuguesa e angolana”.“A Campanha SEMEAR, deconsciencialização nas redessociais, a decorrer entre outubro de2014 e dezembro de 2015, temcomo objetivo comprometer oscidadãos com estilos de vidasaudáveis e sustentáveis,promovendo o direito universal auma alimentação adequada,enraizada em modelos dedesenvolvimento sustentáveis ejustos”, explica a fundação católica,em comunicado enviado à AgênciaECCLESIA.

A organização não-governamentalpretende alertar para a “simetria dedesperdício, os métodos deprodução industrial na Europa” e osprojetos de “agricultura sustentávelem Angola” através daconsciencialização para “asinterdependências, a complexidade,os desafios e desequilíbrios”. Nessesentido, com o exemplo e diálogo darealidade portuguesa e angolana,esta campanha tem dois focos, paraalém de “realçar” as desigualdades,desequilíbrios e interdependênciasexistentes quer também “encontrarcaminhos alternativos e propostasconcretas de redução dasdisparidades”.“Criando uma ponte entre o sul e onorte e ligando as pessoas de formaigualitária, reforçando a importânciade um esforço organizado pelamudança social – ‘Vamos Juntos’”, éo apelo da FEC.Para a campanha Semear, aFundação Fé e Cooperação crioutambém um blogue, ativo atédezembro de 2015, onde pretendeestimular a discussão e o debatesobre Direito Universal a umaAlimentação Adequada “enraizadoem modelos de desenvolvimentosustentáveis e justos”.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt

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Arcebispo indiano «deslumbrado» com mar de velas

A Mística do Instante

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Sínodo Extraordinário da Família

D. Ilídio LeandroBispo de Viseu

Está a decorrer o Sínodo Extraordinário sobre aFamília. Vários são os problemas que estão“pendentes” de decisões pastorais inovadoras e,sobretudo, pastoralmente inclusivas, acolhedorase construtivas.Quais serão as decisões do Sínodo? Não assabemos por previsão antecipada. Acreditamosque não serão, somente nem sobretudo, leis,tradições e lógicas mas, muito mais, propostasque brotarão da escuta do Espírito Santo. Estaescuta inspirará as orientações segundo avontade de Deus, a contar, sobretudo, com osméritos salvadores de Jesus Cristo Redentor.Virão muitas e grandes alterações pastorais?Sim. É necessário que sejam grandes eprofundas. Não tanto nem somente e nemsobretudo na legislação positiva que origine novoEvangelho ou novo Código de Direito Canónico.Não era possível nem desejável. Sim e muito nacaridade pastoral da Igreja – de pastores, dereligiosos e de leigos. Ninguém está fora dasalvação – é o primeiro e fundamental princípioque deve dar orientação para toda a atividadepastoral da Igreja. Deus a todos chama, nãoexcluindo ninguém. A todos a Igreja procura,através dos “meios” que Jesus Cristo lhe confiou.Estes são inspiradores dos dinamismos quedevem orientar a missão da mesma Igreja.Para começar, é importante que tenhamos emconta algumas questões atuais que estão emreflexão e que são muito importantes na pastoraldos “casos difíceis”:- Batismo das crianças. Nunca deve estar emcausa

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quando, como em todos os casosde Batismo, alguém assume acatequese e a ajuda na formaçãodas mesmas.- Participação na Eucaristia e navida da Igreja. Não somente sepermite, mas pede-se e estimula-sea que, como cristãos, todos sejamcoerentes e construtores da Igrejade Jesus Cristo, na consciência deque será sempre santa e pecadora,no seu caminho para o Reino. Jesusnão instituiu a Eucaristia comoprémio mas como vida, alimento,companhia, presença e ajudapróxima no caminho.- Comungantes na Eucaristia.

A comunhão é sinal eaprofundamento da comunhão. Temuma condição – estar e querer acomunhão; tem uma exigência –significar, alimentar e aumentar acomunhão; tem uma consequência –traduzir e construir a comunhão comatitudes, gestos e compromissosconcretos.- Exclusão temporária oupermanente da comunhãoeucarística. Quando a visibilidadeda comunhão não é sentida ou nãoé visível, de forma temporária oupermanente, pode e deveestabelecer-se a comunhão possívele enquanto não viver as condiçõesrequeridas.

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Neste entretanto, o cristão échamado a “comungar no desejo”que traduz a vontade de comunhãoe a necessidade de a construirpelos meios “possíveis”. Estespodem ser o Sacramento daReconciliação ou, então, a contriçãopermanente,

por haver um obstáculo eclesial que,nas circunstâncias concretas, nãoestá nas possibilidades humanas eimediatas ultrapassar.- Exclusão da comunhão eucarísticanão é igual a estar em pecado. Estaé uma afirmação absolutamenteverdadeira. O pecado é uma ação(pode ser, também, decisão,

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pensamento ou desejo) concreta,voluntária, livremente aceite equerida, que viola frontalmente aPalavra, a Vontade e o Amor deDeus. O pecado pode ser, também,inação de algo que era essencial eque se deixou, voluntária elivremente, de fazer. Pode ter-secometido (ou não ter agido) e estararrependido. Jesus deixou, entregueà Igreja, o caminho do reencontro.Porém, por situações positivas econcretas, pode ter-se saído dacomunhão com a Igreja e não estarem condições de procuraro sacramento do perdão, através damediação positiva da Igreja. Existe,porém, a ação extraordinária,jubilar

e paterna de Deus que, para casosespecíficos, tem semprerespostas, atitudes e gestosextraordinários e o Evangelho estácheio deles. Tantas vezes, Jesusacolhia, perdoava, curava, resolvia(…) situações que os Apóstolos nãopodiam ou não sabiam resolver. A Igreja não é, mesmo, a últimasituação nem a única oferta nem atotal possibilidade de salvação doPai. Graças a Deus! Essa é JesusCristo Ressuscitado que, morrendopor nós, venceu todo o pecado etodas as suas consequências elimites.O Sínodo sobre a Família é umagraça da Igreja mas, também, doDeus Família que, para além daIgreja, tem o Seu coração, semprecapaz de Se compadecer, de Seabrir e de nele acolher todas assituações humanas. Deste Sínodo,esperamos um espelho para vermelhor a ‘grandeza, a altura e aprofundidade’ do coração acolhedore misericordioso do Pai.

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Um Vírus no sapatinho?

Henrique MatosAgência ECCLESIA

Não era novidade esse protagonismo periódicodeste vírus que, de tempos a tempos, revelava oseu potencial mortífero. Os telejornaismostravam-nos aldeias distantes e pobres e osprotagonistas do drama eram invariavelmente osdo costume, aqueles que já carregavam o pesodo subdesenvolvimento e da fome.Porém, desta vez as reportagens instalaram-sena agenda informativa e continuam a encabeçaros alinhamentos da informação. O facto de Áfricaser o cenário da desgraça também não teráajudado. O mundo parece não ter sentidourgência em se mobilizar no apoio e a opiniãopública dos países ricos nunca pressionou ospoderes pelo seu alheamento às condições devida do continente negro.Ocupado nessa cavalgada económica daglobalização, o mundo rico começa a entenderagora que ela também serve para democratizar oque se pensava ser um exclusivo dos pobres. Odrama deles chega agora, de avião, ao confortodos ricos. As imagens das aldeias remotas foramatualizadas e mostram-nos Madrid, Leipzig,Frankfurt, Dallas... as autoridades sanitárias dãoconta de medidas apertadíssimas de controlomas, pouco depois, assumem quebras nosprotocolos de segurança que significamcontágios. Percebemos que um vírus nãodistingue ricos ou pobres e nem é sensível àriqueza das nações. Não respeita ratings nem severga a poderes económicos. Mostra-nos um"contágio" bem mais sério do que o das dívidassoberanas ou o descalabro de bancos.Em dezembro, poderão surgir 10 mil novos

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casos por semana. O alerta chegada Organização Mundial de Saúde(OMS). Caso não haja uma respostacabal da comunidade internacional,este é o cenário. Serão registadosentre cinco e dez mil novos casosde Ébola por semana na Libéria,Guiné-Conacri e Serra Leoa.Entretanto, a taxa de mortalidadeque antes se situava nos 50%,estacionou nos 70%.A situação põe a nu a fragilidade danossa condição, abala aautossuficiência arrogante dos quepensavam estar imunes a riscos eameaças. Porém, sendo isto certo, ahora não é para apregoar cenáriosde apocalipse mas antes, e apesardo cenário de contágio, umaoportunidade para aproximar

povos e nações numempreendimento comum em que oesforço e a entrega terá que ser detodos. O dividendo da crise nãoserá para esta ou aquela empresa,para glória de governos ouinstituições, o dividendo será asobrevivência da espécie, asalvação de milhares de vidas.Há dias, François Hollande e BarackObama, falaram ao telefone, esublinharam a necessidade de “umamobilização da comunidadeinternacional e da União Europeia,em estreita colaboração com asNações Unidas, a OMS e os paísesafetados” esperemos que sejaapenas o começo da grande vagacontra um vírus que ninguém querno sapatinho.

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Um nome novo para a Paz Adriano Moreira, professor universitário e antigo líder do CDS, recorda oPapa Paulo VI, que vai ser beatificado este domingo, a sua passagem porPortugal e a relação com o poder político, a declaração do “grande princípioque o ‘desenvolvimento sustentado’ é o novo nome da paz” e assemelhanças do atual bispo de Roma e da sua mensagem. Agência ECCLESIA (AE) – O PapaPaulo VI vai ser beatificado estedomingo, na Eucaristia conclusivado Sínodo dos Bispos sobre afamília. É uma figura que nãoadquiriu o mediatismo de Papascomo João XXIII, João Paulo II ouagora o Papa Francisco…Adriano Moreira (AM) –É evidenteque ele foi a figura dominante doconcílio, João XXIII teve a inspiraçãomas morreu e, na altura, uma dasconclusões do concílio é que adoutrina podia aproveitar a qualquerestado. Isto tem que ver com aDeclaração Universal dos Direitosdo Homem, um documento laico,inclui na sua carta de direitos egarantias dos cidadãos a liberdadede todas as religiões, de modo quesão os césares reunidos quegarantem a liberdade de todas asreligiões e acontece que, naRevolução Francesa tambémaconteceu isso, a Igreja Católica écertamente das mais estruturadaspara exercer essa liberdade.

E, por isso mesmo, recordo-me quenessa altura era presidente do CDS(partido Centro Democrático eSocial) e disse ‘Doutrina Social daIgreja, o privilégio dos pobres’ e elefoi às Nações Unidas e fez umdiscurso histórico, segundo o qual, odesenvolvimento sustentado é onovo nome da paz.Esta afirmação que ele fez, secomparar com a que o PapaFrancisco tem repetido, que “estaeconomia mata”, mostra como eleestava a enunciar uma obrigaçãofundamental independentementedas religiões, das culturas e dasituação até conflituosa dos povos.Neste aspeto, a intervenção dele écuriosa, importante e que aproveitaa definição que vem dos césares.

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AE - Curiosamente, em Portugal opontificado gerou algum mal-estar,nomeadamente no CongressoEucarístico em Bombaim…AM - Em relação a Portugalprecisamos de pensar em váriosaspetos. Ainda estávamos numaépoca em que a sociedadeportuguesa sabia muito mais dahistória de Portugal do que darealidade que se estava a passarnos territórios.Primeiro lugar, a história de Goa émal contada porque em primeirolugar o patriarca das Índias, que foibispode Macau também, foi o gestorda última parcela do acordomissionário e como patriarcatinha precedência sobre reuniõesepiscopais. Quando foi nomeadoo cardeal Valerian Gracias paraBombaim, D. José da CostaNunes saiu de Goa e foi nomeadovice-camerlengo da Santa Sé.Ele foi criado cardeal eaqui fizemos

um esforço para ele ter a dignidadenecessária, a reforma de patriarcadas Índias, as vestimentasnecessárias, a residência no colégiode Santo António, mas essa atitudefoi do ponto de vista da história quemagoou os portugueses.

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AM - O Papa Paulo VI veio aPortugal, ao Santuário de Fátima,mas não fez uma visita de Estado,não quis vir como chefe de Estado epor isso não quis descer em Lisboamas no aeroporto de Monte Real. Eé curioso ver as imagens datelevisão dessa época porque odoutor Salazar foi lá e a sua atitudeé do fiel perante o seu Papa. A dePaulo VI é distante, realmente, elemostrava que não apoiava a políticaque o Salazar estava a seguir e issoé muito curioso, que exige outrasaveriguações e meditações.A minha impressão pessoal é que oSalazar na minha opinião era umcatólico sério, mas também eraanticlerical, porque não admitia quea Igreja se metesse nas questõesdo Estado. As pessoas do Nortepercebem bem esta atitude, porquelá é vulgar. E é curioso que ele aquifoi sempre tão intransigente nascoisas que diziam respeito aosmovimentos e separa isso da suaatitude perante o seu pastor.Independentemente do que dizrespeito a Portugal, eu acho que aintervenção de Paulo VI nas NaçõesUnidas faz uma leitura, para ele, daDeclaração de Direitos do que oscésares tinham estabelecido, a

liberdade para todas as religiões, eele comparece no exercício do seudireito reconhecido pelos césarespara explicar que o desenvolvimentosustentável é o novo nome da paz. AE – Nessa altura Paulo VI tambémse apresenta como perito emhumanidade e coloca a Igreja nadisposição de colaborar com asinstâncias internacionais?AM – É quando a Igreja se definecomo fonte em que todos osEstados podem encontrarinspiração, é assim que é definida.Perfeitamente de acordo com adeclaração que os césares fizeramna Declaração dos Direitos doHomem.AE – É um Papa que numdocumentos reconhece aparticipação dos cristãos na cenapolítica.AM - Há aí um problema quetambém interessa a Portugal e bastarecordar que quem fez a UniãoEuropeia foram as democraciascristãs e, portanto, quando euassumi este partido político (CDS),tenho que assumir o privilégio dospobres porque vinha do Concílio.Quando ele diz isso, nessemomento, está numa fase em que aconstrução europeia assenta numaespécie de santidade que tiveram oslíderes europeus que foramenvolvidos

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numa guerra pavorosa. 50 milhõesde mortos, tudo destruído.Lembro-me de um jornal francêsdessa época, “Le Combat”, que nodia da paz a parangona que traziaera “Esta alegria coberta delágrimas”. Esses homens em vez deterem uma atitude de retaliaçãoultrapassaram isso e quiseram umaUnião Europeia para que nuncamais aconteça. Para homens tinhamuma espécie de voz encantatóriaque desapareceu da

Europa. Hoje não há vozesencantatórias na Europa. Todos elesaceitavam a Doutrina Social daIgreja, foi extremamente importantee que em muitos aspetos,principalmente naquilo que dizrespeito ao Estado Social, coincidiacom a atitude o socialismodemocrático.De maneira que foi uma época quecomeça com uma alegria cheia delágrimas mas com muita esperança,com princípios.

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AE – O Papa Paulo VI declara SãoBento patrono da Europarecuperando esse valores?AM – Também. E este Papa devodizer que quando ouvi que iachamar-se Francisco senti umaalegria enorme. Ele vem encontrarum mundo completamente diferentede João Paulo II, vem com umaexperiência que não é coincidentecom a que teve João Paulo II,enfrentou a teologia da libertaçãode uma maneira muito mais abertado que o próprio João

Paulo II. Ele tem uma experiência domundo pobre que os outrosprovavelmente não tiveram tanto.Por isso se o Paulo VI declarouaquele grande princípio que o“desenvolvimento sustentado” é onovo nome da paz, Francisco está achamar a atenção que seesqueceram disso e diz que “estaeconomia mata”. Eu julgo que é bomlidar com o pensamento dos dois, ascircunstâncias que mudaram e oreforço da intervenção da Igreja.

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Giovanni Battista Enrico Antonio Maria Montini nasceu a 26 de setembro de1897 na Lombardia, Itália, e foi ordenado padre em 1920, tendo entrado aoserviço diplomático da Santa Sé. Nomeado arcebispo de Milão em 1953, foicriado cardeal em dezembro de 1958, por João XXIII, a quem viria a suceder,cinco anos depois, já com o Concílio Vaticano II (1962-1965) em andamento,tendo-lhe dado continuidade.Entre 1964 e 1970, Paulo VI fez nove viagens internacionais, as primeiras deum Papa moderno, incluindo a passagem por Fátima a 13 de maio de 1967.O Papa italiano escreveu sete encíclicas, entre as quais a ‘Humanae vitae’(1968), sobre a regulação da natalidade, e a ‘Populorum progressio’ (1967),sobre o desenvolvimento dos povos; assinou ainda a exortação apostólica‘Evangelii nuntiandi’ (1975), sobre a evangelização no mundocontemporâneo, e discursou na sede da Organização das Nações Unidas,em Nova Iorque, a 4 de outubro de 1965.Paulo VI morreu no dia 6 de agosto de 1978.

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Bispo de Angra foi ordenadosacerdotepelo Papa Paulo VIO bispo da Diocese de Angra,Açores, foi ordenado sacerdote porPaulo VI e a Santa Sé convidou-o,nessa condição, para participar naEucaristia de beatificação do Papaitaliano, este domingo. “É umahonra que traduz uma graçarecebida há 44 anos. Foi uma graçae, ao mesmo tempo, um momentode desbloqueio da minhacaminhada, sem dúvida que PauloVI, sem o saber, deu um`empurrãozinho´ enorme na minhadecisão”, disse D. António de SousaBraga, ao sítio de informação IgrejaAçores.Para a Eucaristia da beatificação, obispo de Angra revela que pedirampara levar “a estola que o Papaofereceu no dia da ordenação”.“Não sei quantos seremos dos 278que fomos ordenados”, acrescenta.O prelado, que na época eraestudante de Teologia, naUniversidade Gregoriana, em Roma,e devia sido ordenado sacerdote nofinal do ano de 1969, tinha “dúvidase algumas inquietações” queadiaram a ordenação“providencialmente”. D. António deSousa Braga explica que ainstabilidade dentro da Igreja, as

reformas conciliares e os problemasque daí decorriam “faziam pensarmuito” e revela que havia uma “claradivergência entre ocidentais e aAmérica do Norte e todos os outrose isso provocava dificuldades”.Depois, na primavera de 1970espalhou-se a informação, peloscolégios internacionais, de que oPapa Paulo VI (1897-1978) iaordenar diáconos estrangeiros e dealgumas dioceses italianas, porocasião das suas bodas de ourosacerdotais, que aconteceu a 17 demaio de 1970, dia de Pentecostes.“Nunca tenham medo nem duvidemdo vosso ministério; usem-no parafazer chegar às pessoas a graçaporque quem dá a cruz dará acoragem e a força para acarregarem”, disse Paulo VI, recordao bispo de Angra, sobre o ‘seu’Papa: “Não só porque me ordenoumas porque é o Papa do Concílio”.Para D. António de Sousa Braga, adecisão do Papa Francisco tem“imenso significado” porque foi oPapa João XXIII que teve “a ousadiade marcar o Concílio”, mas quem oterminou e teve “a coragem” de opôr em prática “numa situaçãobastante

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difícil dentro da Igreja foi Paulo VI”.Nesse sentido, o prelado destaca opioneirismo do Papa que vai serbeatificado este domingo: “Foi oprimeiro a andar de avião, a visitaros cinco continentes, a falar naONU, a promover o ecumenismo, avisitar a Terra Santa, a abraçar oschefes das igrejas Ortodoxa eAnglicana, a visitar Fátima”.O bispo de Angra compara o PapaFrancisco a Paulo VI sobretudo na“necessidade de uma verdadeira

conversão da igreja e auma progressiva humanização” eassinala que as diferenças seacentuam na comunicação. “PauloVI não era um bom comunicador, aocontrário do Papa Francisco, nemtinha a sua frescura. Quandorecebeu os padres portuguesesantes de vir a Fátima, via-se que eraum homem desgastado, cansado,mas ainda assim com forças pararezar pela paz no mundo”,desenvolve.

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Paulo VI em FátimaNo dia 27 de junho de 1963, D. JoãoVenâncio, segundo bispo dadiocese restaurada de Leiria, foirecebido em audiência por Paulo VI,que tinha sido eleito papa, no dia21. Sabe-se que falaram sobre aterceira parte do segredo de Fátimae provavelmente também docinquentenário das aparições, quese aproximava. Na homilia da suacoroação, no dia 30, o novo Papa,dirigindo-se aos peregrinos delíngua portuguesa, referiu-se aPortugal como “Terra de SantaMaria, onde a Mãe de Deus erguerao altar de Fátima”. Na terceirasessão do Concílio Vaticano II (21de novembro de 1964), Paulo VIrenovou a consagração do mundoao Imaculado Coração de Maria,feita por Pio XII, a 31 de outubro de1942 (em ele próprio esteve, aolado do papa), referiu-se aoSantuário de Fátima, “cada vez maisquerido não só do povo da nobrenação portuguesa – sempre nossodileto, mas hoje particularmente –mas igualmente conhecido evenerado pelos fiéis de todo omundo católico”, e anunciou que iaconceder-lhe Rosa de Ouro, o queveio a acontecer, a 13

de Maio de 1965, pelo cardealFernando Cento, legado pontifício. A 11 de fevereiro de 1967,iniciaram-se, em Roma, ascomemorações do cinquentenáriodas Aparições de Fátima, e opróprio Papa presidiu àperegrinação de 13 de maio. AExortação Apostólica “SignumMagnum” sobre o culto de NossaSenhora é datada desse dia. Na suahomilia, logo no início, o Paparesumiu o significado pastoral dasua peregrinação: “Tão grande é oNosso desejo de honrar aSantíssima Virgem Maria, Mãe deCristo e, por isso, Mãe de Deus eMãe nossa, tão grande é a Nossaconfiança na sua benevolência paracom a santa Igreja e para com aNossa missão apostólica, tão grandeé a Nossa necessidade da suaintercessão junto de Cristo, seudivino Filho, que viemos, peregrinohumilde e confiante, a esteSantuário bendito, onde se celebrahoje o cinquentenário das apariçõesde Fátima e onde se comemora hojeo vigésimo quinto aniversário daconsagração do mundo ao CoraçãoImaculado de Maria”.

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E, no fim, fez um veemente apeloaos homens de todo o mundo, afavor da paz: “A nossa oração,depois de se ter dirigido ao céu,dirige-se aos homens de todo omundo: Homens, dizemos nestemomento singular, procurai serdignos do dom divino da paz.Homens, sede homens. Homens,sede bons, sede cordatos, abri-vosà consideração do bem total domundo. Homens, sede magnânimos.Homens, procurai ver o vossoprestígio e o vosso interesse nãocomo contrários ao prestígio e aointeresse dos outros, mas comosolidários com eles. Homens, nãopenseis em projectos de destruiçãoe de morte, de revolução e deviolência; pensai em projectos deconforto comum e de colaboraçãosolidária.

Homens, pensai na gravidade e nagrandeza desta hora, que pode serdecisiva para a história da geraçãopresente e futura; e recomeçai aaproximar-vos uns dos outros comintenções de construir um mundonovo; sim, um mundo de homensverdadeiros, o qual é impossível deconseguir se não tem o sol de Deusno seu horizonte. Homens, escutai,através da Nossa humilde e trémulavoz, o eco vigoroso da Palavra deCristo: Bem-aventurados osmansos, porque possuirão a terra,bem-aventurados os pacíficos,porque serão chamados filhos deDeus”.

Padre Luciano CristinoDiretor do Serviço de Estudos eDifusão do Santuário de Fátima

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Paulo VI, Papa tímido da palavra edo gestoO cónego António Janela, doPatriarcado de Lisboa, recordaPaulo VI como o seu Papa por“razões de dimensão cronológica” eporque é “uma referência pastoral”na sua vida, afinal foi ordenadosacerdote em 1965. “Era tímido maspela palavra e pelo gesto eraconvincente e sofreu muito mascertamente no processo debeatificação as virtudes heroicasestão bem documentadas”, revela osacerdote”.Dos vários gestos do Papa, ocónego António Janela destacouquando Paulo VI “entregou umatiara ao povo mais rico do mundo”, aAmérica, “para que tenhampresente os povos mais pobres”. Oabraço ao patriarca Atenágoras, deConstantinopla”, que o PapaFrancisco repetiu simbolicamenteeste ano, pelos 50 anos desteencontro, é outro gesto destacado.À Agência ECCLESIA, o sacerdoteportuguês explica que a“diplomacia” fazia parte do ADN deum “homem tímido de inteligênciabrilhante” que fez a iniciaçãoacadémica na Companhia de Jesus,“tem também influência dosoratorianos”, e aos 23 anos éordenado presbítero.

Enquanto padre, Paulo VI foi,durante nove anos, assistente daFUCI e acompanhou osuniversitários onde teve uma“repercussão muito grande naformação de intelectuais que vãodestacar-se na política”, como opolítico Ado Moro, que foi primeiroministro da Itália.O assassinato deste político amigodo Papa, pelas Brigadas Vermelhas,foi “uma das páginas mais tristes edramáticas da sua vida”, observa osacerdote.O então padre Giovanni Montini foinomeado cardeal pelo Papa JoãoXXIII, em 1958, e “tem papelrelevante na primeira sessão” doConcílio Vaticano II (CVII),acrescenta o entrevistado queexplica que são os cardeais“reformadores” que contribuemposteriormente para a sua eleição.“Fidelidade à tradição mas tambémfidelidade aos sinais dos tempos,com o pós-concilio que são sempretempos difíceis e teve de gerir isso”,observa o interlocutor que assinalaque “Paulo VI concretizou o que oCVII abria”, com a “promoção doaparecimento das conferênciasepiscopais dos vários países, areforma da cúria romana e a criaçãodo sínodo dos Bispos.

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Para o cónego António Janela o seuPapa também deu uma “dimensãomundial à Igreja”, sendo o primeiro aviajar para fora de Itália visitouvários países como Índia, Portugal,Estados Unidos da América, AméricaLatina e Austrália.Destas viagens, o padre doPatriarcado de Lisboa recorda o“discurso importantíssimo” de PauloVI na Organização das NaçõesUnidas quando disse “não mais aguerra, nunca mais a guerra”.A produção literária do Papatambém “marcou o recém-ordenado” padre António Janela(1953), que em 1969 viajou paraRoma.À Agência ECCLESIA, destaca aindaque a Exortação Apostólica «AAlegria do Evangelho», do PapaFrancisco,

“bebe muito” da «Ecclesiam Suam»,do Papa Paulo VI (1964), “quandoconvida à Igreja em saída, a gentesde diálogo”, relação que se pode lernas “inúmeras vezes que a cita” nasnotas de rodapé.“A encíclica ‘Ecclesiam Suam’ é umabelíssima reflexão sobre o diálogoda Igreja com o mundo. Abrehorizontes de uma Igreja fechada”,contextualiza.A “Populorum progressio”, de 1967,é outro documento que o cónegoAntónio Janela destaca pela“atenção muito grande à década desessenta” e pelos apelos a umprogresso económico que “tem deser visto com dimensão mais ampla,um progresso social, um progressoespiritual”.

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Um homem sensível aos assuntospolíticosO presidente da Comissão NacionalJustiça e Paz considera que PauloVI, o primeiro Papa que visitouFátima num período de animosidadedo Governo português, era “homemde uma invulgar cultura e de umainvulgar inteligência”.“O Papa veio a Fátima o Governoesteve lá, o próprio Salazar. Oscumprimentos foram de umasolenidade e simpatia que ninguémdiria que pouco tempo antes tinhahavido aquele episódio”, revela oprofessor Bruto da Costa sobre avisita de Paulo VI a Portugal que foiprecedida pela participação noCongresso Eucarístico de Bombaim,região que era uma colóniaportuguesa e tinha sido invadidapela União Indiana.À Agência ECCLESIA, explica queesta visita à Índia do Papa “foimesmo muito mal acolhida” peloGoverno português da época:“Recordo perfeitamente a reação doMinistro dos Negócios Estrangeirosque fez um comunicado com termosmuito duros”.Para o presidente da ComissãoNacional Justiça e Paz (CNJP),Paulo VI era “um homem de umainvulgar cultura e de uma invulgar

inteligência”, por isso, “não terá sidonada difícil” suceder ao Papa JoãoXXIII à frente da Igreja Católica e doConcílio Vaticano II que estava adecorrer.“Alguém que teve que rematar todoo dinamismo que foi suscitado peloconcílio quer internamente quer àescala mundial e ele fê-lo com umasabedoria e competênciaextremamente grande”, desenvolve.O Papa que instituiu o Dia Mundialda Paz, criou o Sínodo dos Bispos evai ser beatificado este domingo, naEucaristia conclusiva da terceiraassembleia extraordinária sinodal, érecordado também como um “umhomem extremamente sensível aosassuntos políticos”.Segundo o professor Bruto da Costa“foi um homem de intervenção” edestaca que durante o seupontificado, Paulo VI, falou naAssembleia Geral das NaçõesUnidas, com “um belíssimodiscurso”, e também recebeu osrepresentantes dos “chamadosmovimentos terroristas, na altura,que eram pela independência dascolónias africanas portuguesas”.“Sabe-se que ele era muito amigoAldo Moro [democrata cristão, eleito

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cinco vezes primeiro-ministro daItália]. Paulo VI era um homemdaquela geração e possivelmentedaquele grupo de intelectuaisitalianos que eram homensverdadeiramente empenhados navida política e ao nível que deixoumarcas muito importantes”,desenvolve.O presidente da CNJP destacaainda a Encíclica “PopulorumProgressio”, de 26 de março 1967,onde o Papa escreve sobredesenvolvimento dos povos e daluta contra a pobreza com “algumasexpressões muito fortes como odesenvolvimento é um novo nomeda paz”.Naquela altura, explica oentrevistado, era “muito claro” quepaz mundial estava “muito

dependente do desenvolvimentodos povos” e de relações de “justiçae solidariedade entre os povos dochamado primeiro e terceiro mundo”.Para Bruto da Costa, nestedocumento Paulo VI escreve umadas “melhores definições dedesenvolvimento” que encontrou atéhoje: “É uma perspetiva ética mas étão abrangente e de uma forçahumana tão grande das melhoresdefinições”.Da “Populorum Progressio” e da suaatualidade, o responsável assinalaainda que esta tem “conceitos” queestavam adquiridos a nível derelações individuais como “a noçãoda justiça” que é aplicada às“transações internacionais, entreempresas e entre países”.

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Bispos portugueses«congratulam-se» com beatificaçãoA Conferência EpiscopalPortuguesa manifestou a suasatisfação pela beatificação doPapa Paulo VI, que vai ter lugar estedomingo em Roma. No final daúltima reunião do ConselhoPermanente da CEP, o porta-vozdos bispos portugueses classificoua cerimónia como um“acontecimento, uma graça e umgrande dom para a Igreja e para omundo”.“Os bispos portuguesescongratulam-se com estabeatificação do Papa Paulo VI e,além do patriarca de Lisboa, D.Manuel Clemente, outros bisposcertamente estarão presentes nacelebração no Vaticano”, disse opadre Manuel Barbosa aosjornalistas.Um dos membros do episcopadoportuguês que já tem presençaconfirmada em Roma é D. Antóniode Sousa Braga, bispo de Angra,nos Açores.O Santuário de Fátima tambémmanifestou “grande alegria” pelabeatificação de Paulo VI (1897-1978), o primeiro Papa a visitar aCova da Iria, a 13 de maio de 1967,no cinquentenário das aparições. “Anotícia da beatificação do PapaPaulo

VI é motivo de grandecontentamento para toda a Igreja,pois Paulo VI vem enriquecer onúmero daqueles cristãos queviveram de forma exemplar o seuseguimento de Cristo”, refere oreitor do Santuário, padre CarlosCabecinhas, em comunicadoenviado pela instituição à AgênciaECCLESIA.“Paulo VI foi o grande artífice dacontinuação dos trabalhos doConcílio Vaticano II e o grandeobreiro da aplicação da obraconciliar à vida da Igreja”, sublinha opadre Carlos Cabecinhas.Segundo o reitor do Santuário, oPapa italiano “manifestou um grandeamor e desvelo por Fátima”,recordando que “foi Paulo VI queofereceu ao Santuário a suaprimeira rosa de ouro”.A rosa de ouro foi concedida porPaulo VI na sessão de 21 denovembro de 1964 do ConcílioVaticano II e foi entregue aoSantuário pelo cardeal FernandoCento, legado pontifício, em 13 demaio de 1965."É de todos conhecida a grandedevoção mariana deste Papa,

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mas também as muitas vezes, noseu magistério pontifício, que sereferiu a Fátima ou se dirigiu aosdevotos de Nossa Senhora deFátima”, conclui o padre CarlosCabecinhas.A etapa da beatificação é openúltimo passo antes dadeclaração de santidade(canonização), através da qual aIgreja Católica confirma que um fielcatólico é digno de culto público

universal e de ser apresentado aosfiéis como intercessor e modelo devida.Entre os nove Papas que a IgrejaCatólica teve no século XX há, nestemomento, três santos: Pio X, JoãoXXIII e João Paulo II; os dois últimosforam canonizados por Francisco noúltimo dia 27 de abril.

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Amor a Cristo, amor à Igrejae o amor ao homemSeriam muitas as coisas quegostaria de dizer e recordar arespeito deste grande Pontífice.Pensando nele, limitar-me-ei a trêsaspetos fundamentais, que ele nostestemunhou e ensinou, deixandoque os mesmos sejam explicadosmediante as suas próprias palavrasapaixonadas: o amor a Cristo, oamor à Igreja e o amor ao homem.Estas três palavras são atitudesfundamentais, mas também cheiasde paixão de Paulo VI.Paulo VI soube testemunhar, numaépoca difícil, a fé em Jesus Cristo.Ainda ressoa, mais viva do quenunca, a sua invocação: «Vós soisnecessário para nós, ó Cristo!».Sim, Jesus é mais necessário doque nunca para o homemcontemporâneo, para o mundo dehoje, porque nos «desertos» dacidade secular Ele nos fala de Deus,revelando-nos o seu rosto. O amortotal a Cristo sobressai na vidainteira de Montini, e também naescolha do nome de Papa, por elemotivada com estas palavras: é oApóstolo «que amou Cristo de modosupremo, que ao máximo grau

desejou e se esforçou por levar oEvangelho de Cristo a todos ospovos, e que por amor a Cristoofereceu a sua própria vida»(Homilia [30 de junho de 1963]: AAS55 [1963], 619). (…)Um amor profundo a Cristo não parao possuir, mas para o anunciar.Evoquemos as suas palavrasapaixonadas em Manila: «Cristo!Sim, sinto a necessidade de oanunciar, não o posso silenciar! ...Ele é o Revelador de Deus invisível,é o primogénito de toda a criatura,constitui o fundamento de todas ascoisas; Ele é o Mestre dahumanidade, é o Redentor... Elerepresenta o centro da história e domundo; é Aquele que nos conhece eque nos ama; é o Companheiro e oAmigo da nossa vida; é o Homem dosofrimento e da esperança; é Aqueleque há de vir, e que um dia será onosso Juiz e, assim esperamos, aplenitude eterna da nossaexistência, a nossa felicidade»(Homilia [27 de novembro de 1970]:AAS 63 [1971], 32). Estas palavrasapaixonadas são expressõesgrandiosas.Quanto a mim, confio-vos algo:

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este discurso pronunciado emManila, mas também aqueleproferido em Nazaré, constituírampara mim uma força espiritual,fizeram muito bem à minha vida. Evolto a este discurso, volto eregresso de novo, porque me fazbem ouvir estas palavras de PauloPaulo VI hoje. E nós, temos estemesmo amor a Cristo? É Ele ocentro da nossa vida? Damostestemunho dele nos gestos decada dia? O segundo ponto: o amor à Igreja,um amor apaixonado, o amor davida inteira, jubiloso e sofrido,expresso

desde a sua primeira Encíclica,Ecclesiam suam. Paulo VIviveu plenamente a dificuldade daIgreja depois do Concílio Vaticano II,as luzes, as esperanças e astensões. Amou a Igreja edespendeu-se por ela de modoincondicional. No seu Pensamentosobre a morte ele escrevia:«Gostaria de a abraçar, saudar eamar em cada ser que a compõe,em cada Bispo e Sacerdote que aassiste e guia, em cada alma que avive e ilustra». E no Testamento,dirigia-se a ela com as seguintespalavras: «Recebe com a minha

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saudação de bênção o meusupremo gesto de amor!»(Insegnamenti XVI [1978], 592). Esteé o coração de um Pastorverdadeiro, de um cristão autêntico,de um homem capaz de amar! PauloVI tinha uma visão muito clara deque a Igreja é uma Mãe que trazCristo e leva a Cristo. Na Exortaçãoapostólica Evangelii nuntiandi —para mim, o maior documentopastoral jamais escrito até hoje —formulava esta pergunta: «Após oConcílio e graças ao Concílio, quefoi para ela uma hora de Deus nesteperíodo da história, encontrar-se-áa Igreja mais apta para anunciar oEvangelho e para o inserir nocoração dos homens, comconvicção, liberdade de espírito eeficácia?» (8 de dezembro de 1975,n. 4: AAS 68 [1976], 7). Econtinuava: «Acha-se ela [a Igreja]radicada no meio do mundo e, nãoobstante, livre e independente parainterpelar o mesmo mundo?Testemunha ela solidariedade paracom os homens e, ao mesmo tempo,o absoluto de Deus? É ela hoje maisfervorosa quanto à contemplação eà adoração, e mais zelosa quanto àobra missionária, caritativa elibertadora? Acha-se ela cada vezmais aplicada nos esforços porprocurar a recomposição daunidade plena entre

os cristãos, que torna mais eficaz otestemunho comum, “a fim de que omundo creia”?» (Ibid., n. 76: AAS 68[1976], 67). Trata-se deinterrogações dirigidas também ànossa Igreja contemporânea, atodos nós, pois todos nós somosresponsáveis pelas respostas edeveríamos questionar-nos: somosverdadeiramente uma Igreja unida aCristo, para sair e para o anunciar atodos, inclusive e sobretudo àquelasque eu defino como as «periferiasexistenciais», ou vivemos fechadosem nós mesmos, nos nossos grupose nas nossas pequenas igrejas? Ouamamos a Igreja grande, a Igreja-mãe, a Igreja que nos envia emmissão e que nos faz sair de nósmesmos? E o terceiro elemento: o amor aohomem. Também este está ligado aCristo: é a própria paixão de Deusque nos impele a encontrar ohomem, a respeitá-lo, a reconhecê-lo e a servi-lo. Na última sessão doConcílio Vaticano II, Paulo VIpronunciou um discurso queimpressiona cada vez que o lemos.Em particular, onde fala da atençãodo Concílio ao homemcontemporâneo. E disse assim: «Ohumanismo laico e profanoapareceu, finalmente, em toda a suaterrível estatura, e por assim dizer

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desafiou o Concílio para a luta. Areligião, que é o culto de Deus quequis ser homem, e a religião —porque o é — que é o culto dohomem que quer ser Deus,encontraram-se. Que aconteceu?Combate, luta, anátema? Tudo istopoderia ter-se dado, mas com efeitonão se deu. Aquela antiga históriado bom samaritano foi exemplo enorma segundo os quais se orientouo nosso Concílio. Com efeito, umimenso amor para com os homenspenetrou totalmente o Concílio. Adescoberta e a consideraçãorenovada das necessidadeshumanas... Vós, humanistas donosso tempo, que negais asverdades transcendentes, dai aoConcílio pelo menos este louvor ereconhecei este nosso humanismonovo: também nós — e nós maisdo que ninguém — somos

cultores do homem» (Homilia [7 dedezembro de 1965]: AAS 58 [1966,55-56). (…)Isto ilumina-nos ainda hoje, nestemundo onde se nega o homem,onde se prefere trilhar o caminho dognosticismo, a vereda dopelagianismo, ou da «ausência dacarne» — um Deus que não se fezcarne — ou ainda da «ausência deDeus» — o homem prometeico quepode ir em frente. Neste tempo, nóspodemos repetir aquilo que opróprio Paulo VI disse: a Igreja é aserva do homem, a Igreja crê emCristo que veio na carne e por issoserve o homem, ama o homem,acredita no homem. Esta é ainspiração do grande Paulo VI.

Papa Francisco22 de junho de 2013

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Sínodo extraordinário na reta finalOs trabalhos do Sínodo dos Bispossobre a família, que decorrem noVaticano, estão a centrar-se nadimensão positiva da mensagemcristã, procurando afastar adiscussão, também na opiniãopública, das situaçõesproblemáticas, como aconteceuapós a publicação do texto dorelatório intercalar apresentado estasegunda-feira.D. Rino Fisichella, presidente doConselho Pontifício para aPromoção da Nova Evangelização,observou que “a discussão é umelemento de crescimento, não dedivisão” e que os participantesnesta assembleia geralextraordinária estão agoraconcentrados em “fazer emergir abeleza da família cristã”.“Do ponto de vista cultural, não sóno Ocidente, está a instaurar-secada vez mais a prática de umaconvivência que não acolhe em si aalegria da beleza do matrimónio. Porisso, apontar para uma dimensãopositiva, para o testemunho dadopelas nossas famílias, é um pontosobre o qual o Sínodo se podeexprimir mais”, exemplificou.O cardeal austríaco D. ChristophSchönborn, arcebispo de Viena,disse hoje no Vaticano que o Sínodotem

procurado “acompanhar” a históriadas pessoas no momento atual,seguindo as indicações do PapaFrancisco. “Há palavras-chave doPapa muito importantes paracompreender o trabalho quefazemos: acompanhar, acompanhar.[Francisco] Já disse tantas vezes:‘não julgar, acompanhar’ a históriada família”, uma forma de pensarque não é “relativismo”, precisou oresponsável, em conferência deimprensa."O respeito por cada pessoahumana não significa respeito portodos os comportamentoshumanos", precisou.O cardeal falava aos jornalistas arespeito do final dos trabalhos doschamados 'círculos menores',grupos linguísticos (inglês, francês,italiano e espanhol) que concluírama revisão do relatório intercalar.Segundo D. Christoph Schönborn, oPapa não pediu para ver “tudo oque não funciona” na família, masquis “antes de tudo, mostrar abeleza e a necessidade vital dafamília”.“Por isso, convidou-nos a ter umolhar atento sobre a realidade”,acrescentou.Questionado sobre a eventualnecessidade de alterar o 'Catecismoda Igreja Católica' após esteSínodo,

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o cardeal austríaco disse que osnovos desafios se devem enfrentar"com os mesmos princípios". "Nãovejo necessidade de mudanças,mas há desenvolvimentos",observou.O porta-voz do Vaticano admitiu queo texto final dificilmente seráconhecido ou publicado no sábado.“Julgo improvável, atualmente, queno sábado à tarde seja possível darum texto limpo e publicável”,adiantou o padre FedericoLombardi.

O Sínodo dos Bispos pode serdefinido, em termos gerais, comouma assembleia consultiva derepresentantes dos episcopadoscatólicos de todo o mundo, a que sejuntam peritos e outros convidados,com a tarefa ajudar o Papa nogoverno da Igreja.

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Esperança cristã e a Igreja naeternidadeO Papa Francisco apresentou noVaticano uma catequese sobre ofuturo da Igreja e da humanidade,no fim dos tempos, afirmando que aesperança dos cristãos é mais doque um “otimismo humano”. “Aesperança cristã não ésimplesmente um desejo, um voto,não é otimismo: para um cristão, aesperança é espera, esperafervente, apaixonado pelocumprimento último e definitivo deum mistério, o mistério do amor deDeus”, declarou, perante dezenasde milhares de pessoas reunidas naPraça de São Pedro.Prosseguindo o ciclo de catequesessobre a Igreja, nas audiênciaspúblicas semanais, Franciscoprecisou que a espera dos cristãosé por “alguém que está parachegar”, Jesus, que os faz entrar“na plenitude da sua comunhão eda sua paz”.“A Igreja tem agora a missão manterbem acesa e bem visível a lâmpadada esperança, para que possacontinuar a brilhar como sinalseguro de salvação e possa iluminartoda a humanidade, no caminho queleva ao encontro com o rostomisericordioso de Deus”,acrescentou.O Papa projetou o “cenário

inaudito e maravilhoso” em que todaa humanidade será “uma só coisaem Cristo”.“Invoquemos a Virgem Maria, mãeda esperança e rainha do Céu, paraque nos mantenha sempre numaatitude de escuta e de espera, parapodermos ser já permeados peloamor de Cristo e ter parte um dia naalegria sem fim, na plena comunhãode Deus”, apelou.“E não vos esqueçais, nuncaesqueçais que assim estaremospara sempre com o Senhor.Repetimo-lo mais três vezes? Eassim estaremos para sempre com oSenhor!”, prosseguiu.

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Teresa de Jesus, a santa que nuncaparouO Papa assinalou a festa litúrgicade Santa Teresa de Jesus,associando-se ao Ano Jubilarcomemorativo do quinto centenáriodo seu nascimento com umamensagem enviada ao bispo D.Jesús García Burillo. “Na escola dasanta andarilha aprendemos a serperegrinos”, escreve Francisco, oqual observa que “a imagem docaminho pode sintetizar muito bem alição da sua vida e obra”.Segundo o Papa, a religiosacarmelita e doutora da Igreja“entendeu a sua vida como caminhode perfeição através do qual Deusconduz o homem, de morada emmorada, até Ele, e ao mesmotempo, o põe em marcha em direçãoaos homens”.Neste contexto, Francisco apontaquatro caminhos nesta marchateresiana, que todos poderemosimitar com proveito: o caminho daalegria, da oração, da fraternidadee do próprio tempo.“Teresa de Jesus convida as suasmonjas a ‘viverem alegres servindo’.A verdadeira santidade é alegriaporque ‘um santo triste é um tristesanto’. Antes de serem valentesheróis, os santos são fruto dagraça

de Deus aos homens”, escreveu.Teresa de Ávila nasceu em 1515 e,após ter entrado no conventocarmelita de Nossa Senhora daEncarnação, promoveu a renovaçãoda Ordem do Carmo, tendo fundadoo primeiro convento da nova famíliacarmelita descalça em 1562, dia emque mudou de hábito e começou achamar-se Teresa de Jesus.“A sua experiência mística não aseparou do mundo nem daspreocupações das pessoas”,recorda Francisco.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt

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Mão pesada contra indústria que financia «a violação dos direitos humanos»

Papa desafia católicos a superar indiferença face «escândalo» da fome

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Fundação Ajuda à Igreja que Sofrehttp://www.fundacao-ais.pt/

No passado dia 7 de outubro, festada Nossa Senhora do Rosário, aFundação Ajuda à Igreja que Sofre(AIS) convocou “os seus benfeitorese amigos, em sintonia com osdemais secretariados internacionais,para uma Jornada de Oração pelaPaz no Médio Oriente, em respostaaos cada vez mais insistentespedidos de ajuda que chegamdesses países perante o agravar dasituação e do avanço, no terreno,das forças jihadistas”.Como forma de acompanharmos aevolução do que se passa com osnossos irmãos na fé, que vivem emterras banhadas pelos rios Tigre eEufrates, convidamos, mais umavez, para uma visita ao sítio daFundação AIS.Ao entrarmos no respetivoendereço, encontramos um espaçoatrativo, denotando-se uma elevadaqualidade na estrutura e conteúdosaí apresentados.Na opção informar , temos apossibilidade de aceder aos boletinsperiódicos em formato electrónico,aos relatórios produzidos peloObservatório da LiberdadeReligiosa no Mundo e ainda, àcalendarização

dos acontecimentos que de algummodo encaixam nos objectivos destaentidade.No item orar , encontramos umconjunto variado de sugestões compistas de oração diária. Sejajuntando-nos, em correntes deoração, “a milhares de cristãos quetodos os dias rezam em comunhãocom a Igreja que sofre”, ou orandopela paz no Iraque ou pelo povoEgípcio, ou mesmo acompanhandoas intenções do Santo Padre paracada mês. É também neste espaçoque dispomos da possibilidade decolocar as nossas “intenções oupedidos especiais, para que todospossamos rezar”.Em partilhar , descobrimos asmúltiplas opções, para que dealguma maneira, integremos efaçamos parte deste enorme eriquíssimo projecto de ajuda aosoutros. Desde campanhas aprojectos de voluntariado edonativos, tudo possibilidades queestão ao nosso dispôr paraconhecermos e quem sabeaderirmos de corpo e alma àsmúltiplas plataformas de ajuda eencontro humano e cristão.Para finalizar, destacamos maisduas opções. A primeira, apoios,onde descobrimos as diversasmaneiras que a AIS tem para ajudara desenvolver,

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povos e pessoas com carênciasaos mais variados níveis. Asegunda, catálogo, onde acedemosà loja virtual com a venda deprodutos com a chancela da AIS,com o objetivo de angariar fundosque ajudem a minimizar os custosdas suas acções humanitárias.Fica lançado o repto para quevisitem

este espaço virtual.Conhecendo assim uma das maisprestigiadas e reconhecidasfundações católicas internacionais,que actua onde realmente énecessário, e que “está ao serviçoda Igreja que sofre em silêncio”.

Fernando Cassola [email protected]

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«Francisco. De Roma a Jerusalém»O jornalista português HenriqueCymerman lançou em Lisboa o livro‘Francisco. De Roma a Jerusalém’,no qual se assume como “judeubergogliano” que acredita nosvalores do atual Papa e nacapacidade em encontrar caminhosde Paz. Em declarações à AgênciaECCLESIA, Cymerman elogia avisão de “estadista” do PapaFrancisco, que este consegueconciliar com uma grandesimplicidade na sua forma de estare de comunicar, numa “funçãochave para o futuro da humanidade”.“Quem diz que é uma simplicidadede alguém que não percebecompletamente o seu papel,simplesmente não percebe nada ouestá preocupado porque não queras transformações que o PapaFrancisco está a fazer, fez e vaicontinuar a fazer. Além de ser umlíder espiritual, é um estadista, umestratega”, refere o jornalistaportuguês.“Ele conquista as pessoas e isso emIsrael, na Palestina, não é fácil”,acrescenta.A obra, editada pela Guerra e Paz,retrata a viagem pontifícia à TerraSanta, em maio deste ano, dando aconhecer fotos e textos inéditosdesta visita, bem como os detalhesdo

processo que levou à realização, a 8de junho, de uma invocação pelapaz inédita, que reuniu no Vaticanoos presidentes de Israel e daPalestina.Hernique Cymerman lembra que oencontro entre Shimon Peres eMahmoud Abbas foi a primeira vezem que muitos jovens judeus emuçulmanos viram pessoas dassuas religiões a rezarem juntos.

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O jornalista revela ainda quepensou gravar uma mensagem doPapa Francisco para ser transmitidana final do Campeonato do Mundodo Brasil, na presença de umadelegação de crianças de Israel eda Palestina, o que acabou por nãoser possível.“Ele disse-me: Henrique, isso eraexcelente, mas já não há tempo,vamos ser práticos e vamosconcentrar-nos em projetos quepossam fazer a diferença”, relata.O livro tem a coautoria de JorgeReis-Sá, escritor católico, queacompanhou a viagem e aentrevista que o Papa concedeu,após a oração de 8 de junho, aojornalista português. “Francisco estáa ir às raízes, colocar as coisascomo elas são, e isso

acrescenta muito a um conflito ondeas pessoas perderam a noção doque é importante”, refere à AgênciaECCLESIA.A experiência de diálogo entre osautores procura prolongar na obra aexperiência de paz como ‘caminho’,na recusa absoluta da violência comjustificações religiosas.“É preciso continuar a lutar, nãoperder a esperança, saber que vaihaver momentos muito difíceis - quenão devem impedir que se continueessa luta - e sobretudo unir aspessoas de bem, porque hápessoas de bem em todas asreligiões e nos principais países doMédio Oriente, contra as pessoasquerem o mal”, conclui Cymerman.

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II Concilio do Vaticano:Do santo João ao beato Paulo (II)

No próximo domingo, o Papa Paulo VI vai serbeatificado, numa cerimónia a realizar na Praça deSão Pedro, no Vaticano.Um autêntico laborioso na construção e realizaçãoconciliar e que soube dirigir os trabalhos damaratona que foi o II Concílio do Vaticano (1962-65).Um homem que intuiu as mudanças do mundo. Foicom Montini que se reuniu, em Roma, Itália, oprimeiro Congresso do Apostolado dos Leigos, naestação outonal de 1951. Através do seu olharestético fez nascer a Comissão Pontifícia para ocinema e o Comité Pontifício de Ciências Históricas.Em 1952, consta que recusou o cardinalato paraficar a trabalhar com o Papa Pio XII no cargo de pró-secretário de Estado para os Negócios EclesiásticosOrdinários. Em janeiro do ano seguinte, noconsistório secreto, o Papa Pio XII confidenciou: “Eranossa intenção fazer membros do vosso SacroColégio os dois prelados insignes que presidem aosserviços da Secretaria de Estado [Montini e Tardini].Os seus nomes estavam destinados a encimar a listajá preparada para a criação de novos cardeais.Dando uma notável prova de virtude, estes preladospediram insistentemente para que nós osdispensássemos de uma tão alta dignidade”.A 01 de novembro de 1954, o Papa Pio XII nomeou-oarcebispo de Milão, sendo ordenado a 12 dedezembro do mesmo ano pelo cardeal Tisserant, naBasílica de São Pedro. No dia 05 de janeiro de 1955,ao entrar no território milanês, “beijou a terramolhada”.Ficou célebre a sua frase quando tomou posse nacatedral milanesa:

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“Rezai, rezai comigo para que oruído das máquinas se converta emmúsica e em incenso o fumo daschaminés”. Era um verdadeiropastor. Tanto visitava doentes comooperários. Numa visita, a umafábrica disse aos trabalhadores:«Os primeiros a renegar a religiãonão foram os operários, mas sim osgrandes empresários e economistasdo século passado [XIX] quesonhavam construir um progresso,uma civilização e uma paz sem Deuse sem Cristo».Nas aldeias falava com linguagemsimples adaptada. O seu trabalhopastoral era reconhecido e a 15 dedezembro de 1958, o PapaJoão XXIII criou-o cardeal, com otítulo dos santos Silvestre eMartinho. O Papa Roncalli convocouo II Concílio do Vaticano, mas oPapa Montini foi um estratega. Tantoque o João XXIII reservou umapartamento

no Vaticano para o Cardeal Montini.Foi eleito Papa a 21 junho de 1963.A melhor garantia da continuaçãodo concílio. Não desesperava osconservadores, nem decepcionavaos progressistas. O Papa Paulo VIviveu o Verão de 1963 cheio delabor. Para além da preparação do IIConcílio do Vaticano chegou a fazerduas e três alocuções por dia.

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Outubro 2014Dia 17 de Outubro* Fátima - Reunião da Faculdade deTeologia da UCP * Bragança - Mirandela - CentroJuvenil Salesiano - Início (decorreaté 30 de janeiro de 2015) do cursode Doutrina Social da Igrejapromovido pelo Instituto Diocesanode Estudos Pastorais (IDEP)orientado pelo padre Lino Maia e opadre Sobrinho Alves. * Lisboa - Fundação São João deDeus - Caminhada solidária peloHospital de São João de Deus * Lisboa - Universidade Lusófona eRua Augusta - Apresentação doprojeto «Impossible – PassionateHappenings» e fórum social paraerradicar a pobreza. * Évora - Redondo (Centro Cultural)- V Edição do Dia do Património dasMisericórdias com a realização devárias conferência e o lançamentodo livro «100 anos de gratidão» quecontará com a presença de D. JoséAlves. Uma iniciativa organizadapela União das MisericórdiasPortuguesas.

* Lisboa - Biblioteca do Palácio Foz -Lançamento do livro «Do outro ladoda rua» da autoria de Marta Atalayapara comemorar os 25 anos daComunidade Vida e Paz comapresentação a cargo de RicardoAraújo Pereira. * Lisboa - Basílica dos Mártires -Celebração pelos sem-abrigofalecidos presidida por D. JoaquimMendes no contexto do DiaInternacional dos Sem-abrigo e daErradicação da Pobreza. * Porto - Ovar (Salão nobre daCâmara Municipal) - Debate sobre«Religião e Economia» com AugustoSantos Silva e João Duque * Braga: Famalicão (Centro Cívico eParoquial) - Concerto missionáriocom a «Banda Missio» integrado no«Outubro Missionário» * Setúbal - Montijo (CentroParoquial) - A Pastoral Familiar daDiocese de Setúbal promove umareflexão sobre «Os desafios doSínodo da Família» que tem comoorador o padre Duarte da Cunha,secretário da Federação dasConferências Episcopais Europeias.

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* Aveiro - Gafanha da Nazaré (SalãoParoquial) - Lançamento da obra «Émesmo uma Boa Nova: Escritos,Estudos e Vivências de um padre noBrasil» da autoria do padre PedroJosé Lopes Correia, da diocese deAveiro. * Setúbal - Almada - Convento dosCapuchos da Caparica - Jornadasde estudos sobre o Convento dosCapuchos (17 e 18) * Fátima - Casa de Retiros de NossaSenhora do Carmo - Curso sobre aMensagem de Fátima «O triunfo doamor nos dramas da História» (17 a19) * Fátima - Domus Carmeli -Congresso «A experiência místicacristã» para preparar o V centenáriodo nascimento de Santa Teresa deJesus. * Porto - Colóquio sobre «Um poderentre poderes. Nos 900 anos darestauração da Diocese do Porto eda construção do CabidoPortucalense». Dia 18 de Outubro* Guarda - Carmelo da Guarda -Bodas de ouro de vida religiosa damadre prioresa do Carmelopresididas por D. Manuel Felício einício das comemorações do VCentenário do Nascimento de SantaTeresa de Jesus, Fundadora dasCarmelitas Descalças e Doutora daIgreja.

* Bragança - Torre de Moncorvo -Igreja da Misericórdia - Dia Nacionaldos Bens Culturais da Igreja com otema «Comunicar Património». * Lamego - Conselho diocesano daAcção Católica Rural (ACR) * Açores - A Comissão dos BensCulturais da Igreja da Diocese deAngra promove a iniciativa«Comunicar o Património». * Beja – Aljustrel - JornadaMissionária Diocesana com o tema«Família, Dom e Missão» * Portalegre - Ponte de Sor -Jornadas missionárias dedicadas aotema «Missão: uma paixão por Jesuse por todos» * Fátima - Apresentação do novomódulo de formação do programa«+Próximo» que tem como temacentral os Grupos Paroquiais deAção Social. * Aveiro - Encontro de D. AntónioMoiteiro com os professores deEducação Moral e Religiosa Católica(EMRC)

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A Diocese de Portalegre-Castelo Branco vai promovereste sábado a sexta edição das suas jornadasmissionárias, dedicadas este ano ao tema “Missão:uma paixão por Jesus e por todos”. “A Igreja é, pornatureza, missionária. Como batizados, sintamo-nostodos participantes da Missão de Jesus Cristo”,salienta uma nota publicada no site da diocese. Para celebrar e assinalar nove séculos dehistória, a diocese do Porto vai realizar umcongresso internacional, de 17 a 19 de outubro,com o tema “Um poder entre poderes. Nos 900anos da restauração da Diocese do Porto e daconstrução do Cabido portucalense”. O bispo doPorto escreveu uma mensagem pelos 900 anosda restauração da diocese em que destaca aefeméride como momento que “ajuda acompreender o percurso histórico” de umaIgreja que deve ser “perita em humanidade”. As jornadas nacionais da Pastoral Familiar emPortugal vão decorrer entre 18 e 19 deste mês emFátima, com o tema «Família e Fecundidade daIgreja». Em comunicado enviado à Agência ECCLESIA,Fátima e Luís Reis, casal responsável peloDepartamento Nacional da Pastoral Familiar, destacama participação dos padres Juan Luís Larrú, decano doPontifício Instituto João Paulo II, em Espanha, e dopadre Duarte da Cunha, secretário da Confederaçãodas Conferências Episcopais da Europa (CCEE).

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa 12h15 - Oitavo Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h22Domingo, dia 19 de outubro:Paulo VI: Percursos desantidade RTP2, 15h30Segunda-feira, dia 20 -Entrevista ao padre IdalinoAscenço, superior geral daSociedade da Boa Nova";Terça-feira, dia 21 -Informação e entrevista a LuísNatário, professor de EMRC;Quarta-feira, dia 22 - Informação e entrevista ao padre Vitor Feytor Pintosobre a Pastoral da Saúde;Quinta-feira, dia 23 - Informação e entrevista a IsildaPegado sobre a Família;Sexta-feira, dia 24 - Apresentação da liturgia dedomingo pelos padres Robson Cruz e Vitor Gonçalves. Antena 1Domingo, dia 19 de outubro, 06h00 - No domingo emque a Igreja assinala o Dia Mundial das Missões aEcclesia conversa com o missionário da Sociedade daBoa Nova, o sacerdote Adelino Ascenso. 20 a 24 de outubro - Os cinco sentidos e aespiritualidade, através do livro "A mística do instante",do padre José Tolentino Mendonça

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Se Deus é amor, como pode haverInferno?

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A saúde dói?São muito poucos os assuntos quepossuem uma espessurasemelhante à saúde. Talvez dessefacto derive as expressõespopulares: “o que se quer é saúde!”ou “juro pela minha saúde”. Sentir-se em saúde é entendido como umbem essencial ao ponto de, por seusufruir dela, se relativizar qualquercontratempo. Mesmo que a saúdedependa de muitos fatores(alimentação, educação, ambientede trabalho, habitação, condiçõesde higiene, salubridade da água,acesso às redes de cuidados desaúde, estilos de vida individuais,determinantes genéticas)paradoxalmente ela é sentida evalorizável sobretudo quando écolocada em perigo, em nóspróprios ou naqueles que nos sãopróximos. É no acidente, na doença,na rutura de um relacionamento quea saúde é lida como um altíssimovalor. É na noite sem dormir porcausa de uma dor (biopsicossocial eespiritual), na experiência da perdade controlo sobre as emoções, naincapacidade de lidar com a solidão,na receção de um diagnósticomédico violento, nos bancos deespera do Centro de Saúde ou deum hospital que se experimenta “asaúde”,

A Assistência espiritual ereligiosa é prestada aoutente a solicitação dopróprio ou dos seusfamiliares ou outros cujaproximidade ao utenteseja significativa, quandoeste não a possa solicitare se presuma ser essa asua vontade.

(Decreto Lei 253/2009, art. 4)

principalmente a desejada (porquerazão os doentes nosaconselham sempre a cuidar bemda saúde?). De resto, na prática, asaúde parece ser um silêncio, amanutenção de dezenas deequilíbrios de fatores internos eexternos e uma sensação mais oumenos abstrata de bem-estar emque nada dói: nem o corpo nem aalma. Precisamos que nos doa paraque valorizarmos a saúde?

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Assistência religiosa e cuidados de saúde:tema apresentado aqui semanalmente

e no programa Ecclesia, RTP2, em cada quarta-feira “Se tiver de ser internado(a), não esqueça, peça avisita do capelão aos enfermeiros logo no início dointernamento. Não fique à espera”. (Comissão Nacional da Pastoral da Saúde)

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Ano A – 29º domingo do TempoComum Olhar Deus,colaborar nobem comum

O Evangelho deste 29.º Domingo do Tempo Comumtermina com esta afirmação: «Então, dai a César oque é de César e a Deus o que é de Deus».Confrontado com a questão do pagamento do tributo,Jesus convidou os seus interlocutores a mostrar amoeda do imposto e a reconhecerem a imagemgravada na moeda, a imagem de César. Depois, Jesusconcluiu com esta afirmação.Provavelmente, Jesus quis sugerir que o homem nãopode nem deve alhear-se das suas obrigações paracom a comunidade em que está integrado. Emqualquer circunstância, ele deve ser um cidadãoexemplar e contribuir para o bem comum. A isso,chama-se “dar a César o que é de César”.No entanto, o que é mais importante é que o homemreconheça a Deus como o seu único senhor. Asmoedas romanas têm a imagem de César: que sejamdadas a César. Mas o homem não tem inscrita em sipróprio a imagem de César, mas sim a imagem deDeus. Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-oà imagem de Deus. Portanto, o homem pertencesomente a Deus, deve entregar-se a Deus ereconhecê-l’O como o seu único senhor.Jesus vai muito além da questão que Lhe puseram.Recusa-Se a entrar num debate de carácter político ecoloca a questão a um nível mais profundo e maisexigente. Na abordagem de Jesus, a questão deixa deser uma simples discussão acerca do pagamento oudo não pagamento de um imposto, para se tornar umapelo a que o homem reconheça Deus como o seusenhor e realize a sua vocação essencial de entrega aDeus.Jesus não está preocupado, sequer, em afirmar que ohomem deve repartir equitativamente as suas

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obrigações entre o poder político eo poder religioso; mas está,sobretudo, preocupado em deixarclaro que o homem só pertence aDeus e deve entregar toda a suaexistência nas mãos de Deus. Tudoo resto deve ser relativizado,inclusive a submissão ao poderpolítico.Portanto, para o cristão, dizer queDeus é a referência fundamental eestá sempre em primeiro lugar nãosignifica que ele viva à margem domundo e se demita das suasresponsabilidades na construção domundo. O cristão deve ser umcidadão exemplar, que cumpre assuas responsabilidades e quecolabora ativamente na construçãoda sociedade humana. Ele deve

respeitar as leis e cumprirpontualmente as suas obrigaçõestributárias, com coerência elealdade. Não deve fugir aosimpostos, nem aceitar esquemas decorrupção, nem infringir as regraslegalmente definidas.Viver de olhos postos em Deus écolaborar no bem comum, é lutarpor um mundo melhor e por umasociedade mais justa e maisfraterna. Sabemos bem quanto issoé urgente na situação em quevivemos. Que isso conste da nossaoração e ação, neste Dia Mundialdas Missões.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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Libéria: A luta inglória contra a epidemia do ébola

Heróis invisíveisNa Libéria, como em outrospaíses de África, luta-sedesesperadamente contra ovírus do ébola, extremamentemortal e para o qual não háainda uma vacina eficaz. A Igrejatem desempenhado um papelessencial no apoio àspopulações afectadas. Mesmoarriscando a própria vida. Chamava-se Miguel Pajares. Tinha75 anos, era médico e missionário.Morreu em Agosto, em Espanha, asua terra natal, mas foi na Libériaque contraiu o vírus do ébola.Desde Março, quando o surto deébola começou a espalhar-se a umavelocidade alarmante, já morrerammais de 4 mil pessoas. Serra Leoa,Guiné, Libéria, Nigéria e Senegal,são os países mais afectados. Masnão só. Com pelo menos um casodiagnosticado em Espanha, o ébolajá chegou à Europa.Responsáveis da OMS nãoescondem a preocupação perante amagnitude do problema, que poderápassar de epidemia a catástrofe. Háestimativas de que as infecçõespelo vírus ébola podem triplicar paracerca de

20 mil casos até Novembro,aumentando em milhares todas assemanas. Heróis invisíveisO ébola tem uma taxa demortalidade até cerca 90%, e nãohá vacina nem cura conhecida.Voltemos a Miguel, o médico esacerdote. Estava a dirigir o Hospitalde São José, em Monróvia, quandoadoeceu depois de ter assistido umdoente infectado com o vírus.Miguel, assim como os irmãosPatrick e George, que como elepertenciam à Ordem Hospitaleira deSão João de Deus, e a irmã Chantal,das Missionárias da ImaculadaConcepção não resistiram à forçado ébola. Como eles, váriosenfermeiros e assistentes sociais,ligados à diocese, perderam a vida.Agora que o vírus chegou à Europae se percebe a forma extremamentecautelosa com que os doentes sãotratados, compreende-se o carácterheróico dos que em África nãoolham a meios para tratar daspessoas infectadas. Neste momento,a Libéria está paralisada pelo medo.

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Pedido de ajudaMiroslaw Adamczyk, o NúncioApostólico para a Libéria, SerraLeoa e Gâmbia, mão tem mãos amedir. De todos os lados chovempedidos de ajuda. As estruturaslocais da igreja pouco podem fazer.As missas têm servido para ospadres explicarem como evitar ocontágio, mas o medo propagou-semais depressa do que o vírus.Como explica o Núncio, pedindoajuda à Fundação AIS para esta

situação de emergência, “qualquerpessoas que tenha uma ponta defebre ou dor de cabeça fica logo empânico”. Monsenhor Miroslaw pede-nos ajuda. “Precisamos das vossasorações. A nossa esperança ésempre a mesma: acreditamos emJesus Cristo que superou osofrimento e a morte. Temos acerteza que Ele não nos vaidesapontar.”

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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Dar pão a quem tem fome

Tony Neves

Cruzar as obras de Misericórdia com as bem-aventuranças assegura aos cristãos ocompromisso e a confiança num futuro de justiça.Assim, é importante ‘dar de comer a quem temfome’, cumprindo um dos mais elementaresdeveres de justiça social, saciando uma dasnecessidades básicas de qualquer ser humano.Ao olhar para o panorama do mundo (basta olharum pouco á nossa volta!), depressa concluímosque esta obra de misericórdia, este deverhumano, não é muito tomado a sério e, por isso,somos constantemente incomodados com asestatísticas que falam de fome e desnutrição,arrasando a consciência da humanidade. Há, porisso, um longo caminho a percorrer para que omundo seja mais justo e fraterno, dandooportunidades de dignificação a todos oshumanos, incentivando à justiça, à solidariedade,à partilha, ao sentido de fraternidade universal.Era para aqui que a humanidade devia caminhar…As Bem-Aventuranças apontam outros caminhosquando dizem ‘felizes os que têm fome porqueserão saciados’. Há uma promessa de Deus quetem de ser cumprida pelos humanos. Viversegundo o espírito das Bem-Aventurançasconstitui uma enorme responsabilidade paratodos. Os famintos só serão saciados se aspessoas forem fraternas e se derem as mãos.Dito de outra forma, se abrirem as mãos pararepartir o que têm e o que são, colocandotalentos e bens á disposição dos outros. É estacultura de fraternidade que é urgente trazer paraa praça pública da política

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e da sociedade em geral, para queninguém fique excluído do banqueteda criação. Sim, Deus criou omundo para todos e não só parameia dúzia de iluminados quetomaram conta das riquezas e sebanqueteiam com elas,considerando-as propriedade sua eintocável. A doutrina social da Igrejarecorda que a propriedade privadaestá sujeita á destinação universaldos bens. O que quer dizer queprimeiro está o benefício colectivo esó depois a propriedade privadatem lugar.

Deveria ser assim, mas não é… ODia Mundial da Alimentação mete odedo em muitas feridas, a começarpela da fome, chaga profunda e dedifícil cicatrização. Há que humanizara economia e a política para que asdecisões maiores ajudem acombater estes dramas queprovocam desigualdade social egeram injustiças gritantes. Que bomque seria sentir que o espírito dasBem-Aventuranças estavaassegurado com a prática dasObras de Misericórdia.

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ouem www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC –Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

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