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1 Oficinas do Arquivo. O(s) uso(s) de documentos de arquivo na sala de aula: proposta de Sequência Didática. Curso 1º semestre - 2013 Carlos Antonio Rodrigues. Tema: Renascimento e Contemporaneidade. Título: História e Imagem: A leitura da história através dos mapas. Justificativa: Partindo da análise de alguns mapas produzidos durante o período Medieval, Renascentista e o mundo contemporâneo é possível propor aos alunos uma reflexão sobre o real e a sua representação, aquilo que se expõe no lugar do outro. Como linguagens e artefatos, histórica e culturalmente criados e incorporados pelos homens às imagens, são expressões de olhares, de maneiras de ver, intenções, tradições, estratégias e nelas incluímos os mapas. Em uma época em que a vida social é dominada pelas imagens, em que referencias visuais são constantes na vida cotidiana, faz se necessário que as ciências sociais se dediquem a inquirir e avaliar os significados culturais engendrados por elas. Através deste tema quero que os alunos não percebam apenas os avanços tecnológicos dos mapas estudados em cada tempo histórico, mas que compreendam a transformação da mentalidade ao longo dos tempos e como essa contribuiu para o homem observar o mundo de forma diferente. Objetivos: Analisar os mapas e observar as evidências históricas da necessidade humana de controlar o mundo; Promover a leitura e a interpretação de textos escritos e imagens; Compreender como a cartografia classificou, normatizou e organizou o espaço; Promover uma discussão sobre a percepção das representações dos espaços;

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Oficinas do Arquivo.

O(s) uso(s) de documentos de arquivo na sala de aula: proposta de

Sequência Didática.

Curso

1º semestre - 2013

Carlos Antonio Rodrigues.

Tema: Renascimento e Contemporaneidade.

Título: História e Imagem: A leitura da história através dos mapas.

Justificativa: Partindo da análise de alguns mapas produzidos durante o período

Medieval, Renascentista e o mundo contemporâneo é possível propor aos alunos uma

reflexão sobre o real e a sua representação, aquilo que se expõe no lugar do outro. Como

linguagens e artefatos, histórica e culturalmente criados e incorporados pelos homens às

imagens, são expressões de olhares, de maneiras de ver, intenções, tradições, estratégias

e nelas incluímos os mapas.

Em uma época em que a vida social é dominada pelas imagens, em que referencias

visuais são constantes na vida cotidiana, faz se necessário que as ciências sociais se

dediquem a inquirir e avaliar os significados culturais engendrados por elas.

Através deste tema quero que os alunos não percebam apenas os avanços tecnológicos

dos mapas estudados em cada tempo histórico, mas que compreendam a transformação

da mentalidade ao longo dos tempos e como essa contribuiu para o homem observar o

mundo de forma diferente.

Objetivos:

• Analisar os mapas e observar as evidências históricas da necessidade humana de

controlar o mundo;

• Promover a leitura e a interpretação de textos escritos e imagens;

• Compreender como a cartografia classificou, normatizou e organizou o espaço;

• Promover uma discussão sobre a percepção das representações dos espaços;

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• Analisar a evolução tecnológica;

Componente Curricular: Tempo histórico, Trabalho com fontes, Modelos de

representação de mundo, Tecnologia e Renascimento.

Série: 2º ano do Ensino Médio.

Quantidade de aulas: 4 aulas – 2 aulas por semana.

Bibliografia

FOUCAULT, Michel. Arqueologia do saber. 3º ed. Rio de Janeiro: Forense –

Universitária, 1987.

HARLEY, J.B. Text and Context in the interpretation of early maps. In :

BUISSERET,David ( Ed).From Sea charts to Satellite images: interpreting North

American history through maps. Chicago: The University of Chicago Press, 1990.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: Editora da Unicamp, 1994. p. 107.

MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao Terceiro Milênio/ Myriam Becho

Mota, Patrícia Ramos Braick – 2.ed. – São Paulo: moderna, 2002.p. 115.

PESAVENTO, Sandra J. História & História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica,2004.

p 42.

SCHAMA, Simon. Paisagem e Memória. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 20

-21.

TURCHI, Peter. Maps of the Imagination: the writer as a catographer. San Antonio:

Trinity University Press, 2004.

Atividades

Aula I:

Os alunos serão divididos em grupos, sendo que cada grupo apresentará cerca de 4

alunos. A divisão será necessária para que os alunos possam ler um texto em conjunto

sobre as características do período medieval. Além do texto fornecerei aos alunos o

Mapa – múndi T – O de Isidoro de Sevilha, produzido no século VII, impresso em

sulfite no formato A4.

Texto para leitura ( anexo V)

Em seguida cada grupo responderá as seguintes questões:

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1- Em que contexto o documento (mapa) foi produzido?

2- Quais são as informações contidas nele?

3- Que relação existe entre o documento, os nomes escritos em Latim e as

características do período medieval encontradas no texto?

Mapa T-O de Isidoro de Sevilha, século VII. fonte. historiacivilização.blog.com.br

Aula II

Os alunos retomarão a formação em grupo para uma análise relacional entre o mapa de

Isidoro de Sevilha, século VII e o mapa de Hereford produzido no final do século XIII.

“O objetivo desse exercício é possibilitar aos alunos identificarem as diferentes

representações de mundo e as mentalidades que influenciaram essa maneira de ver o

mundo”.

Um texto de referência será entregue a cada grupo para leitura. O fragmento de texto do

livro: ”História das Cavernas ao Terceiro Milenio” pg. 115

A partir de meados do século XIII, com o aparecimento de banqueiros, cambistas e

usuários das mais variadas origens, ocorreu uma expansão de crédito, o que veio

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favorecer as atividades comercial e manufatureira, nitidamente urbanas. Desenvolveram

– se também o comércio marítimo e o terrestre, realizados a curta ou longa distância. O

comércio marítimo de cabotagem ou navegação costeira pode ser caracterizado como de

curta distância, pois, na época, os oceanos permaneciam praticamente desconhecidos

dos navegadores. O comércio terrestre se realizava ora em mercados locais (comércio

de curta distância), ora em feiras periódicas ou fixas, as quais atraiam caravanas de

mercadores de toda a Europa.

Após a leitura os alunos responderão as seguintes questões:

1- Como as mudanças ocorridas no século XIII, serviram de referencia para a

construção do mapa de Hereford?

Mapa de Hereford, século XIII. fonte.www.herefordcathedral.org

2- Quais são as permanências e as rupturas que podemos identificar em relação ao

mapa de Isidoro de Sevilha do século VII?

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Aula III – utilização do data show mostrando contexto histórico e algumas figuras

do período Renascentista.

Tela - Aula – RENASCIMENTO CULTURAL E CIENTÍFICO.

Movimento – científico cultural ocorrido na Europa durante a transição entre as Idades

Média e Moderna e que representou as aspirações da burguesia.

FATORES:

→ A expansão marítima e o renascimento comercial;

→ Influência da civilização bizantina;

→ A retomada dos estudos das civilizações clássicas (greco-romanas), graças à

preservação dos mosteiros medievais;

→ A ascensão sócio – econômica da burguesia;

→ A invenção da imprensa;

Figuras – anexos I, II, III, IV. (serão analisadas pelo professor durante a aula

dialogando com alunos, sobre as mentalidades e uso da tecnologia na construção de

cada documento presente nas figuras, e o quê eles poderiam supor)

Metodologia

Aula expositiva sobre o Renascimento Cultural e Urbano, tirando dúvidas sobre a

transição do pensamento medieval para o pensamento renascentista humanista e os

conceitos de racionalismo e antropocentrismo.

A partir dos esclarecimentos faremos uma discussão na sala, sobre a importância do

racionalismo e do antropocentrismo na forma como os homens passam a ver o

mundo, levantando hipóteses e os alunos anotando-as no caderno.

Aula IV

Os alunos, após terem levantado as hipóteses na aula anterior, formarão novamente

os seus grupos para analisarem “A mudança na visão de mundo” derivada das novas

mentalidades impulsionadas pelo Renascimento: o racionalismo, avanços

tecnológico, o individualismo, a superação da natureza, o heroísmo e o

cientificismo.

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Vale ressaltar que tais mudanças continuam em vigor, e a partir de um olhar

questionador, crítico e mimético utilizarei documentos mais próximos da realidade

dos alunos, impulsionando - os a pensarem historicamente, analisando o contexto

social brasileiro no século XIX. Sendo assim, aproximando o Renascimento do

mundo contemporâneo, já que, está é a proposta da Sequência Didática.

Cada grupo receberá em papel sulfite A4:

A cópia do mapa da Província de São Paulo, 1886. Fig.1;

A Carta da Província da São Paulo, 1887. Fig.2

Um texto de referência para as questões. CAVALCANTE, José Luiz. A Lei de Terras de 1850 e a reafirmação do poder básico do Estado sobre a terra. Histórica. Revista Eletrônica do Arquivo Público do Estado de São Paulo, nº 2, de junho de 2005. Disponível em: <http://www.arquivoestado.sp.gov.br

Fig.1- fonte.Centro de Acervo Iconográfico e Cartográfico – Arquivo Público do

Estado de São Paulo.

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Fig. 2 1- fonte.Centro de Acervo Iconográfico e Cartográfico – Arquivo Público do

Estado de São Paulo.

Para que identifiquem a narrativa da história que cada documento produziu na sua

construção.

Questões norteadoras:

1- Em que contexto os documentos (mapas) foram produzidos?

2- A qual grupo interessava os discursos produzidos pelos documentos e por quê?

Após os exercícios fecharemos com um debate sobre a importância de pesquisar nos

mapas uma narrativa da história das sociedades, no qual eles foram produzidos

contextualizando – os com as ideologias, a cultura, a economia, a religião e a

política. Perceber a articulação das classes dominantes influenciando a construção

dos documentos e compreender as suas relações com as temporalidades históricas

ali apresentadas. Não podemos esquecer que o Renascimento é algo presente e

contínuo, portanto, não é o fim da História. (grifo meu)

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Anexo I

Mapa do Mundo de Ptolomeu, versão impressa em Ulm, 1482 -86

fonte. www.greciantiga.org

Anexo II

Expansão Marítima / Grandes Navegações

fonte.www.professorsergioaugusto.com

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Anexo III

Mapa de Mercator, 1569.

fonte. www.portalgeograficodalara.blogspot.com

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Anexo IV

Ref.Google map – Contemporâneo.

Anexo V – texto de leitura da aula I

Introdução A Idade Média teve início na Europa com as invasões germânicas (bárbaras), no século V, sobre o Império Romano do Ocidente. Essa época estende-se até o século XV, com a retomada comercial e o renascimento urbano. A Idade Média caracteriza-se pela economia ruralizada, enfraquecimento comercial, supremacia da Igreja Católica, sistema de produção feudal e sociedade hierarquizada.

Política Prevaleceu na Idade Média as relações de vassalagem e suserania. O suserano era quem dava um lote de terra ao vassalo, sendo que este último deveria prestar fidelidade e ajuda ao seu suserano. O vassalo oferecia ao senhor, ou suserano, fidelidade e trabalho, em troca de proteção e um lugar no sistema de produção. As redes de vassalagem se estendiam por várias regiões, sendo o rei o suserano mais poderoso. Todo os poderes jurídico, econômico e político concentravam-se nas mãos dos senhores feudais, donos de lotes de terras (feudos). Sociedade A sociedade era estática (com pouca mobilidade social) e hierarquizada. A nobreza feudal (senhores feudais, cavaleiros, condes, duques, viscondes) era detentora de terras e arrecadava impostos dos camponeses. O clero (membros da Igreja Católica) tinha um grande poder, pois era responsável pela proteção espiritual da sociedade. Era isento de impostos e arrecadava o dízimo. A terceira camada da sociedade era formada pelos

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servos (camponeses) e pequenos artesãos. Os servos deviam pagar várias taxas e tributos aos senhores feudais, tais como: corvéia (trabalho de 3 a 4 dias nas terras do senhor feudal), talha (metade da produção), banalidades (taxas pagas pela utilização do moinho e forno do senhor feudal).

Religião Na Idade Média, a Igreja Católica dominava o cenário religioso. Detentora do poder espiritual, a Igreja influenciava o modo de pensar, a psicologia e as formas de comportamento na Idade Média. A igreja também tinha grande poder econômico, pois possuía terras em grande quantidade e até mesmo servos trabalhando. Os monges viviam em mosteiros e eram responsáveis pela proteção espiritual da sociedade. Passavam grande parte do tempo rezando e copiando livros e a Bíblia.

Educação. A educação era para poucos, pois só os filhos dos nobres estudavam. Esta era marcada pela influência da Igreja, ensinando o latim, doutrinas religiosas e táticas de guerras. Grande parte da população medieval era analfabeta e não tinha acesso aos livros. A arte medieval também era fortemente marcada pela religiosidade da época. As pinturas retratavam passagens da Bíblia e ensinamentos religiosos. As pinturas medievais e os vitrais das igrejas eram formas de ensinar à população um pouco mais sobre a religião.

Podemos dizer que, no geral, a cultura medieval foi fortemente influenciada pela religião. Na arquitetura destacou-se a construção de castelos, igrejas e catedrais.

No campo da Filosofia, podemos destacar a escolástica (linha filosófica de base cristã), representada pelo padre dominicano, teólogo e filósofo italiano São Tomás de Aquino.

Fonte:www.suapesquisa.com – acesso em 2013-06-05.