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ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO Oficinas do Arquivo O (s) Uso (s) de Documentos de Arquivo na Sala de Aula Tema Afrodiáspora Título A influência da cultura afrodiaspórica no Brasil. Verônica da Silva Souza 2º Período de História - 2013 Pontifícia Universidade Católica São Paulo 2013

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ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Oficinas do Arquivo

O (s) Uso (s) de Documentos de Arquivo na Sala de Aula

Tema

Afrodiáspora

Título

A influência da cultura afrodiaspórica no Brasil.

Verônica da Silva Souza

2º Período de História - 2013

Pontifícia Universidade Católica

São Paulo

2013

1. TEMA

Afrodiáspora.

2. JUSTIFICATIVA

O tema a ser trabalhado em sala de aula, afrodiáspora ou cultura negra, está incluso desde 2003 sob a Lei 10.639. A partir da sanção dessa lei, as instituições de ensino brasileiras passaram a ter de implementar o ensino da cultura africana, da luta do povo negro no país e de toda a história afro – brasileira nas áreas social, econômica e política.

O tema visa colaborar para a exposição, demonstração e a assimilação da cultura negra e como ela se engendra na história nacional do país, é como diz Kabengele Munanga, professor de Sociologia da USP e Vice – diretor do Centro de Estudos Africanos da Instituição, “Para qualquer pessoa se afirmar como ser humano ela tem de conhecer um pouco da sua identidade, das suas origens, da sua história”.

Através deste relato pode se observar se é passado ou não este conteúdo nas escolas e, como é retratado nos ensinos escolares. Já é possível perceber o quanto é escasso os conteúdos sobre cultura e história afro – brasileira de livros didáticos, alguns são bons, mas servem apenas como pontos de apoio, é preciso ter atividades que vão além do conteúdo dos livros.

Enfim, o intuito desta temática é contribuir para a superação dos preconceitos e atitudes discriminatórias por meio de práticas pedagógicas de qualidade, que incluam o estudo da influência e colaboração africana na cultura nacional.

3. OBJETIVOS

A partir da escolha da temática afrodiaspórica, o objetivo é mostrar aos alunos o quanto os nossos hábitos de hoje como: comer, passear, dançar, fazer música e arte tem a influência da diáspora negra. O intuito é mostrar não só o lado dos livros didáticos, mas mostrar o outro lado damoeda, outro lado da população africana, um lado que os alunos não estão acostumados a ver, ouvir e falar. E através disto, ler, interpretar e analisar criticamente diferentes documentos, ao mesmo tempo desenvolver uma análise crítica perante aquele documento sobre a observação do tratamento com a população africana, juntamente com a miscigenação.

Além disso, levantar questões e debates de que como o negro é passado e retratado nestes documentos e porque são tratados de modo diferente. Ao longo do tempo,observar a cultura negra como era hostilizada e hoje como vem ganhando espaço cada vez mais na sociedade, e perceber e se atentar como ela é vista em sua cultura expansiva e diversificada, isto é, pensar o africano como sujeito ativo no processo histórico. Além de inserir a questão da igualdaderacialno currículo e nos temas debatidos em sala de aula, transformar o espaço da escola é uma boa maneira de construir uma identidade que inclua os negros.

4. COMPONENTE CURRICULAR

Cultura negra na sociedade brasileira.

5. ANO (SÉRIE)

3º Ano do Ensino Médio.

6. TEMPO PREVISTO

Nove aulas.

7. DESENVOLVIMENTOECONTEÚDO DASATIVIDADES

1ª AULA

Nesta primeira aula, o objetivo é mostrar e mapear como será o percurso das aulas e perguntar aos próprios alunos quais são os seus costumes e hábitos e a partir disto destacar as questões étnicas e culturais que este tema afrodiaspórico cerca. Neste processo de aprendizado, vale pedir para os alunos trazerem suas dúvidas, as perguntas podem ser elaboradas com os pais, em casa e trazidas para a sala de aula depois.

Depois de mostrar e mapear o percurso das aulas, o professor irá traçar rapidamente a trajetória negra em sua dispersão, ou seja, em sua diáspora. Fazer um relato da vida do negro e o seu tratamento, através de documentos feitos por uma visão eurocêntrica, pois a visão europeia ainda predomina em muitas das escolas brasileiras. Prova disso é a quase inexistência de bonecas negras na Educação infantil ou quantidade limitada de livros infantis e infanto-juvenis que trazem negros comoprotagonistas. Ainda que a lei obrigue a escola a valorizar temáticas de origem africana, ela é solenemente ignorada na escola. Toda história sobre a África é feita com representações eurocêntricas, a partir de um viés europeu. Isso favorece preconceitos e a invisibilidade dos povos africanos. Neste primeiro momento, o intuito é passar um olhar ocidental e eurocêntrico para os alunos, para que eles mesmos possam debater e levantar críticas durante a explicação desta visão.

2ª e 3ª AULA:

A atividade que será proposta pelo professor é uma análise de documento em grupo de quatro pessoas, será uma atividade ainda embasada na ideia ocidental e eurocêntrica, para que eles, os alunos, possam refletir e criticar entre eles a questão do africano no Brasil. A atividade tem por objetivo o contato dos estudantes com o documento, assim poderão fazer

uma análise e responder questões elaboradas pelo professor. Em seguida, através das questões respondidas, que os alunos possam entre si fazer reflexões críticas, o que torna uma experiência única e rica, pois, além de ser uma grande experiência, tem a troca de ideias de suas próprias visões de mundo.

Análise de documento (Anexo 1): O Problema da Raça Negra na América Portuguesa – Dr. Nina Rodrigues.

ATIVIDADE

A) Por quem foi escrito o documento? B) Quando foi escrito? C) Quem era o Dr. Nina Rodrigues? D) Sublinhe as palavras de grafia diferente dos tempos de hoje. E) Qual a intenção do autor a produzir este documento? F) A que “personalidades” portuguesas que também colonizaram o Brasil o autor

critica. G) Que questões podem ser observadas no documento? H) “O problema da raça negra na América portuguesa”, o autor se refere a algo

positivo ou negativo?

Raimundo Nina Rodrigues (04/12/1862 – 17/07/1906) nasceu em Vargem Grande, ele era filho do coronel Francisco Solano Rodrigues e de dona Luísa Rosa Nina Rodrigues, cresceu em seu município natal, Maranhão, sob os cuidados da madrinha mulata, que auxiliava sua mãe nos afazeres com a prole.

Foi um legista, psiquiatra, professor, higienista e antropólogo brasileiro. Nina Rodrigues tinha a visão do negro como marginal, ele defendeu ideias racistas consideradas científicas e modernas.

4ª AULA

Continuação da aula da trajetória negra, mas com outra possiblidade para enriquecer o aprendizado. Por meio da inserção da cultura negra africana, revelar a África pela própria visão africana. Neste sentido, é possível explorar aspectos históricos, como a contribuição dos negros na alimentação do Brasil e sua influência nas palavras da nossa língua. Revelando aos alunos a riqueza da cultura africana para além dos estereótipos é possível combater preconceitos dos alunos brancos e reforçar a autoestima dos estudantes negros.

Além disso, o professor pode ler alguns trechos do capítulo “O escravo negro na vida sexual e de família do brasileiro”, do livro Casa Grande e Senzala de Gilberto Freyre, mostrando a grande influência e ao mesmo tempo o preconceito perante os africanos e mestiços.O professor pode apontar as questões sobre: a heterogenia na escola infantil do século XIX que não incluía negros e pardos, o corpo da mulher negra ligada ao sexo, um corpo do pecado, isto é, um corpo para libertinagem,o professor pode lucidar também a questão da música,que foi totalmente tomada, ou melhor, responsabilizada pelos negros,seja nos circos, nos coros das igrejas e nas casas – grandes e destacar também a vida doméstica, que predominantemente a cultura negra tomou conta e a diversificou. A atividade será entre todos, um levantamento de um debate sobre a postura do português, mestiço e o negro escravo.

5ª, 6ª, 7ª e 8ªAULA

Excursão para o Museu Afro – Brasileiro. A atividade proposta será a observação do museu e através disso fazer uma redação individual.

ATIVIDADE

Redação Individual: O que o aluno ganhou como experiência de conhecer a cultura africana e o que o deixou mais surpreso. Relatar se já conhecia ou escutou falar sobre alguns dos artistas em exposição. Qual meio que o aluno acha seja escola, família, mídia ou internet deve ser transmitida ou falada sobre a cultura negra? Qual a crítica ou questão levantada perante este assunto da transmissão da cultura africana?

9ª AULA

Entrega das redações e conclusão desta temática. O professor deve finalizar apontando que todos nós temos uma grande influência da cultura africana e que percorre até os dias de hoje, principalmente na música, religião, língua portuguesa e comida. E na atualidade ainda continua o colonialismo, mas com outras características e outras questões, isto é, um neocolonialismo, com questões homossexuais, indígenas, igualdade entre os sexos e a luta pela democracia racial.

A atividade proposta será a apresentação pelo próprio professor da revista Afrodiáspora de 1983, que tratam de questões democráticas, pela luta da igualdade racial,

respeito e assimilação da cultura negra que também produz conhecimento, o objetivo de mostrar e elucidar a revista é que tanto os jovens quantos os adultos negros têm voz ativa, embora pareça que tem vozes silenciosas, ainda que marginalizados pela sociedade, os negros continuam a lutar pela consolidação e democracia da raça, por direitos mais dignos e que foram e ainda são contribuidores da cultura brasileira, uma cultura que se recusa a desaparecer. Enfim, como diz Boaventura de Souza Santos e Maria Paula Meneses, “Lutar contra uma dominação cada vez mais polifacetada significa perversamente lutar contra a indefinição entre quem domina e quem é dominado, e, muitas vezes, lutar contra nós próprios”.

Apresentação do documento: Afrodiáspora: revista quadrimestral do mundo negro. IPEAFRO - Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros da PUC-SP. São Paulo, 1983.

8. BIBLIOGRAFIA

FREYRE, Gilberto.“O escravo negro na vida sexual e de família do brasileiro” in: Casa Grande e Senzala. 51ª edição. Editora Global, 2006.

KNAUSS, Paulo. Sobre a norma e o óbvio: a sala de aula como lugar de pesquisa. IN. NIKITIUK, Sonia L. Repensando o Ensino de História. São Paulo: Cortez, 1996.

NASCIMENTO, Abdias do. Afrodiáspora: revista quadrimestral do mundo negro. IPEAFRO - Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros da PUC-SP. São Paulo 1983.

SANTOS, Boaventura de Souza e MENESES, Maria Paula (ORG). Epistemologias do Sul. Editora Cortez, 2010.

WWW.MUSEUAFROBRASIL.ORG.BR

WWW.MUSEUAFROBRASIL.ORG.BR/FILES/OBRAS_RARAS/TB004636.PD

Anexo

1

http://www.museuafrobrasil.org.br/Files/Obras_Raras/tb004636.pdf