oficina de texto 1 e 2 anos

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QUERIDO (A) ALUNO (A): O presente material compõe uma etapa do nosso trabalho de aprofundamento nas técnicas de escrita. O objetivo deste é fornecer uma metodologia, baseada nos mais recentes estudos sobre a produção de texto escolar. Entretanto, para escrever um bom texto não basta dominar a norma culta da língua ou saber estruturar um parágrafo, é necessário conteúdo, ou seja, leitura. É sempre importante estarmos atentos para a realidade mundial e em especial a brasileira, temos de ler e assistir jornais, ler revistas, etc. em síntese, estar em sintonia com as notícias. Os vestibulares atuais exploram com certo peso essas atualidades, incorporando o aspecto do dia-a-dia. As provas de hoje estão todas intertextualizadas, com a integração de conteúdos comuns à prova de gramática, literatura e interpretação de texto, no qual o senso crítico e de compreensão do vestibulando farão a diferença. Também é necessário compreendermos a produção de um texto como um PROCESSO. Isso implica abandonarmos a concepção, segundo a qual, um texto está pronto na primeira escrita. Os escritores e jornalistas mais experientes afirmam que a arte de escrever está ligada a, no mínimo, três etapas: a pré-escrita, a organização do texto e a reescrita. Assim, é muito importante a sua própria postura crítica em buscar sempre melhorar os aspectos do seu texto. Isso é o que vai lhe garantir a apropriação das ideias e das técnicas de expressão escritas. PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO TEXTO A pré-escrita Organização do texto Reescrita - Leitura atenta da proposta e dos textos de apoio; - Seleção das ideias mais relevantes para a construção do texto; - Observação e revisão da fluência do texto; - Revisão dos aspectos 1

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Page 1: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

QUERIDO (A) ALUNO (A):

O presente material compõe uma etapa do nosso

trabalho de aprofundamento nas técnicas de escrita.

O objetivo deste é fornecer uma metodologia,

baseada nos mais recentes estudos sobre a

produção de texto escolar. Entretanto, para

escrever um bom texto não basta dominar a norma

culta da língua ou saber estruturar um parágrafo, é

necessário conteúdo, ou seja, leitura.

É sempre importante estarmos atentos para a

realidade mundial e em especial a brasileira, temos de ler e assistir jornais, ler revistas, etc. em

síntese, estar em sintonia com as notícias. Os vestibulares atuais exploram com certo peso essas

atualidades, incorporando o aspecto do dia-a-dia.

As provas de hoje estão todas intertextualizadas, com a integração de conteúdos comuns

à prova de gramática, literatura e interpretação de texto, no qual o senso crítico e de compreensão

do vestibulando farão a diferença.

Também é necessário compreendermos a produção de um texto como um PROCESSO.

Isso implica abandonarmos a concepção, segundo a qual, um texto está pronto na primeira

escrita. Os escritores e jornalistas mais experientes afirmam que a arte de escrever está ligada a,

no mínimo, três etapas: a pré-escrita, a organização do texto e a reescrita. Assim, é muito

importante a sua própria postura crítica em buscar sempre melhorar os aspectos do seu texto.

Isso é o que vai lhe garantir a apropriação das ideias e das técnicas de expressão escritas.

PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO TEXTO

A pré-escrita Organização do texto Reescrita

- Leitura atenta da proposta e

dos textos de apoio;

- Delimitação dos objetivos do

texto;

- Levantamento e registro das

ideias principais sem

preocupação com a

organização gramatical;

- Levantamento dos aspectos

intertextuais;

- Delimitação do tema.

- Seleção das ideias mais

relevantes para a construção

do texto;

- Distribuição das ideias no

texto;

- Escritura do texto e

amarração das partes;

- Revisão constante das

partes já escritas para a

continuidade.

- Observação e revisão da

fluência do texto;

- Revisão dos aspectos

gramaticais;

- Observação da adequação

do texto ao gênero escolhido.

Um bom texto não é fruto de mera inspiração, mas sim de muito trabalho, esforço e

dedicação. Por isso, mãos à obra e vamos começar!

Profª. MsC. Alessandra Valério

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Page 2: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

OS GÊNEROS TEXTUAIS

As palavras fazem parte das mais diferentes situações que vivemos. Com elas informamos

o que pensamos e sentimos, contamos fatos, externamos nossos desejos, brincamos, criamos

arte, aprendemos, fazemos declarações de amor... Com as palavras agimos e interagimos com as

pessoas, com o mundo.

Nessas situações de comunicação, entretanto, as palavras não são empregadas soltas ou

combinadas aleatoriamente. Elas se unem, constituindo textos orais ou escritos. Estes, por sua

vez, organizam-se de modo diferente uns dos outros, dependendo de quem produz, do

interlocutor, do assunto e da intenção com que são produzidos.

Assim, se desejamos, por exemplo, contar um fato vivido na infância, fazemos uso do

relato; se queremos contar uma história de ficção, como uma fábula, construímos um texto

narrativo, se pretendemos ensinar alguém a fazer um bolo de chocolate, produzimos um texto

instrucional, a receita, indicando os ingredientes e orientando os modos como fazer; se temos em

vista transmitir um conhecimento científico, optamos por um texto expositivo; se queremos

expressar nossa opinião sobre determinado assunto, recorremos a texto argumentativo.

Assim, para cada esfera da atividade humana existe um gênero textual específico,

encarregado de transmitir valores, opiniões, sentimentos, emoções, informar, convencer, alertar

etc. Observe.

TEXTO I

- É tudo que tem a me dizer? – perguntou ele.

- É – respondeu ela.

- Você disse tão pouco.

- Disse o que tinha pra dizer.

- Sempre se pode dizer mais alguma coisa.

- Que coisa?

- Sei lá. Alguma coisa.

- Você queira que eu repetisse?

- Não. Queria outra coisa.

- Que coisa é outra coisa?

- Não sei. Você que devia saber.

- Por que eu deveria saber o que você não sabe?

- Qualquer pessoa sabe mais alguma coisa que outra não sabe.

- Eu só sei o que eu sei.

- Então não vai mesmo me dizer mais nada?

- Mais nada.

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Page 3: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

- Se você quisesse...

- Quisesse o quê?

- Dizer o que você não tem pra me dizer. Dizer o que não sabe, o que eu queria ouvir de

você. Em amor é o que há de mais importante: o que a gente não sabe.

- Mas tudo acabou entre nós.

- Pois isso é o mais importante de tudo: o que acabou. Você não me diz mais nada sobre o

que acabou? Seria uma forma de continuarmos.

(Carlos Drummond de Andrade, Contos plausíveis. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1985. p. 70

TEXTO II

a.mor: sm 1. afeição acentuada de uma pessoa por outra; 2. objeto de afeição; 3. [...]

pessoa amada; 4. zelo, cuidado.

(Soares Amora. Minidicionário. 18 ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 38.)

TEXTO III

Amor aos pedaços

Ingredientes

250 g de manteiga

250 g de açúcar

4 ovos

250 g de farinha de trigo

1 xícara de leite

1 colher (sopa) de fermento em pó

raspas de limão

Preparo

Na batedeira, bata bem a manteiga junto com o açúcar. Adicione as gemas e acrescente

alternadamente a farinha de trigo, o leite, o fermento e as raspas de limão. Por último,

acrescente as claras em neve e mexa com uma colher. Leve a mistura ao forno pré-aquecido

por aproximadamente vinte minutos.

Para a cobertura, misture o suco de uma laranja, o suco de um limão e, aos poucos, uma

xícara de açúcar, até formar uma calda grossa, que deverá ser despejada sobre o bolo assim

que ele for retirado do forno.

TEXTO IVTalento Intense

Intenso como as coisas do coração.

Talento Intense é um chocolate nobre e especial feito par a mulheres como você: modernas, atualizadas e com bom gosto. Além da nobreza das amêndoas, ele traz também detalhes importantes para seu bem- estar: 55% de cacau e

antioxidantes naturais. Experimente. Você merece.

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Page 4: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

Apesar de todos os textos abordarem o tema amoroso, eles constituem gêneros diferentes,

pois apresentam várias características específicas, como estrutura, linguagem, finalidade, tipo de

situação de produção, suporte etc.

Cada gênero apresenta suas características e estrutura próprias. Para que possamos nos

comunicar com eficiência por meio dos gêneros, é necessário conhecer as regras que regem seus

funcionamentos.

As diferenças observadas entre os textos dizem respeito à situação de produção dos

gêneros, incluindo a finalidade:

I – Se o locutor quer instruir seu interlocutor, ele indica passo a passo o que deve ser feito para a

obtenção de um bom resultado – texto III (receita) “Amor aos pedaços”;

II – Se quer persuadir alguém a consumir um produto, ele argumenta, como faz o anúncio de

chocolate – texto V;

III – Se quer contar uma história ficcional, ele pode produzir um texto como “Diálogo final” –

texto I;

IV – Se quer transmitir conhecimentos, ele deve construir um texto que exponha os saberes de

forma eficiente, como se verifica em um verbete de dicionário – texto II.

COMO SE DÁ A ESCOLHA DO GÊNERO TEXTUAL?

Numa situação de interação verbal, a escolha do gênero textual é feita de acordo com os

diferentes elementos que participam do contexto, tais como:

I – quem está produzindo o texto;

II – para quem;

III – com que finalidade;

IV – em que momento histórico, etc.

Os gêneros discursivos geralmente estão ligados a esferas de circulação. Assim, na

esfera jornalística, por exemplo, são comuns gêneros como notícias, reportagens, editoriais,

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prova

Autor - emissor

Assunto Gênero

Suporte

Leitor -Receptor

Page 5: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

entrevistas; na esfera de divulgação científica, são comuns gêneros como verbete de dicionário ou

de enciclopédia, artigo ou ensaio científico, seminário, conferência.

Desse modo, os gêneros textuais que circulam na sociedade podem ser organizados em

cinco grupos: gêneros do narrar, do relatar, do argumentar, do expor e do instruir.

EXERCITANDO

Complete a tabela a seguir com as informações relevantes sobre os gêneros citados.

SEQUÊNCIAS TEXTUAIS

Todo texto é formado de sequências, esquemas

linguísticos básicos que entram na constituição de

diversos gêneros e variam menos em função das

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Page 6: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

diversas circunstancias sociais. Cabe ao produtor escolher, dentre as sequências disponíveis -

descritivas, argumentativas, explicativas, injuntivas – a que lhe parecer mais adequada, tendo em

vista as condições de produção de seu texto.

Por isso é importante trabalhar com a noção de sequência textual, já que os textos podem

ser elaborados com sequências de mais de um tipo textual, embora um deles prevaleça.

EXERCITANDO

Leia os textos a seguir e procure identificar as características do gênero ao qual pertencem e as

sequências textuais que utilizam.

TEXTO I

Em 2008, Nicholas Carr assinou, na revista The Atlantic, o polêmico artigo "Estará o

Google nos tornando estúpidos?" O texto ganhou a capa da revista e, desde sua publicação,

encontra-se entre os mais lidos de seu website. O autor nos brinda agora com The Shallows:

What the internet is doing with our brains, um livro instrutivo e provocativo, que dosa

linguagem fluida com a melhor tradição dos livros de disseminação científica.

Novas tecnologias costumam provocar incerteza e medo. As reações mais estridentes

nem sempre têm fundamentos científicos. Curiosamente, no caso da internet, os verdadeiros

fundamentos científicos deveriam, sim, provocar reações muito estridentes. Carr mergulha em

dezenas de estudos científicos sobre o funcionamento do cérebro humano. Conclui que a internet

está provocando danos em partes do cérebro que constituem a base do que entendemos como

inteligência, além de nos tornar menos sensíveis a sentimentos como compaixão e piedade.

O frenesi hipertextual da internet, com seus múltiplos e incessantes estímulos, adestra

nossa habilidade de tomar pequenas decisões. Saltamos textos e imagens, traçando um caminho

errático pelas páginas eletrônicas. No entanto, esse ganho se dá à custa da perda da capacidade

de alimentar nossa memória de longa duração e estabelecer raciocínios mais sofisticados. Carr

menciona a dificuldade que muitos de nós, depois de anos de exposição à internet, agora

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Page 7: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

experimentam diante de textos mais longos e elaborados: as sensações de impaciência e de

sonolência, com base em estudos científicos sobre o impacto da internet no cérebro humano.

Segundo o autor, quando navegamos na rede, "entramos em um ambiente que promove uma

leitura apressada, rasa e distraída, e um aprendizado superficial."

A internet converteu-se em uma ferramenta poderosa para a transformação do nosso

cérebro e, quanto mais a utilizamos, estimulados pela carga gigantesca de informações, imersos

no mundo virtual, mais nossas mentes são afetadas. E não se trata apenas de pequenas

alterações, mas de mudanças substanciais físicas e funcionais. Essa dispersão da atenção vem à

custa da capacidade de concentração e de reflexão.

(Thomaz Wood Jr. Carta capital, 27 de outubro de 2010, p. 72, com adaptações)

1 - Em relação à estrutura textual, está correta a afirmativa:

(A) Os quatro parágrafos do texto são independentes, tendo em vista que cada um deles trata,

isoladamente, de uma situação diferente sobre a internet.

(B) O 1o parágrafo, especialmente, está isolado dos demais, por conter uma informação,

dispensável no contexto, a respeito das publicações de um especialista.

(C) Identifica-se uma incoerência no desenvolvimento do texto, comprometendo a afirmativa de

que as novas tecnologias provocam incerteza e medo, embora os sites sejam os mais lidos.

(D) No 3o parágrafo há comprometimento da clareza quanto aos reais prejuízos causados ao

funcionamento do cérebro pelo uso intensivo da internet.

(E) A sequência de parágrafos é feita com coerência, por haver progressão articulada do assunto

que vem sendo desenvolvido.

2. A qual gênero pertence o texto I? Justifique.

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TEXTO II

CIDADE MARAVILHOSA?

Os camelôs são pais de famílias bem pobres, e, então, merecem nossa simpatia e nosso carinho; logo eles

se multiplicam por 1000. Aqui em frente à minha casa, na Praça General Osório, existe há muito tempo a feira hippie.

Artistas e artesãos expõem ali aos domingos e vendem suas coisas. Uma feira um tanto organizada demais: sempre os

mesmos artistas mostrando coisas quase sempre sem interesse. Sempre achei que deveria haver um canto em que

qualquer artista pudesse vender um quadro; qualquer artista ou mesmo qualquer pessoa, sem alvarás nem licenças.

Enfim, o fato é que a feira funcionava, muita gente comprava coisas – tudo bem. Pois de repente, de um lado e outro,

na Rua Visconde de Pirajá, apareceram barracas atravancando as calçadas, vendendo de tudo - roupas, louças, frutas,

miudezas, brinquedos, objetos usados, ampolas de óleo de bronzear, passarinhos, pipocas, aspirinas, sorvetes,

canivetes. E as praias foram invadidas por 1000 vendedores. Na rua e na areia, uma orgia de cães. Nunca vi tantos

cães no Rio, e presumo que muita gente anda com eles para se defender de assaltantes. O resultado é uma sujeira

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Page 8: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

múltipla, que exige cuidado do pedestre para não pisar naquelas coisas. E aquelas coisas secam, viram poeira, unem-

se a cascas de frutas podres e dejetos de toda ordem, e restos de peixes da feira das terças, e folhas, e cusparadas, e

jornais velhos; uma poeira dos três reinos da natureza e de todas as servidões humanas.

Ah, se venta um pouco o noroeste, logo ela vai-se elevar, essa poeira, girando no ar, entrar em nosso pulmão

numa lufada de ar quente. Antigamente a gente fugia para a praia, para o mar. Agora há gente demais, a praia está

excessivamente cheia. Está bem, está bem, o mar, o mar é do povo, como a praça é do condor – mas podia haver

menos cães e bolas e pranchas e barcos e camelôs e ratos de praia e assaltantes que trabalham até dentro d’água,

com um canivete na barriga alheia, e sujeitos que carregam caixas de isopor e anunciam sorvetes e quando o inocente

cidadão pede picolé de manga, eis que ele abre a caixa e de lá puxa a arma. Cada dia inventam um golpe novo: a

juventude é muito criativa, e os assaltantes são quase sempre muito jovens.

Rubem Braga

3 - Em vários momentos do texto, Rubem Braga utiliza longas enumerações cujos termos

aparecem ligados pela conjunção E. Esse recurso tem a seguinte finalidade textual:

(A) trazer a ideia de riqueza da cidade, em sua ampla variedade;

(B) mostrar desagrado do autor diante da confusão reinante;

(C) indicar o motivo de a cidade ser ainda considerada “maravilhosa”;

(D) demonstrar simpatia pelo comércio popular;

(E) procurar dar maior dinamismo e vivacidade ao texto.

4. Quais sequências textuais aparecem neste texto? Quais predominam?

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Texto III

A Carta de Pero Vaz de Caminha

De ponta a ponta é toda praia rasa, muito plana e bem formosa. Pelo sertão, pareceu nos do

mar muito grande, porque a estender a vista não podíamos ver senão terra e arvoredos,

parecendo-nos terra muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro nem prata,

nem nenhuma coisa de metal, nem de ferro; nem as vimos. Mas, a terra em si é muito boa de

ares, tão frios e temperados, como os de Entre-Douro e Minho, porque, neste tempo de agora,

assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas e infindas. De tal maneira é graciosa que,

querendo aproveitá-la dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem.

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Page 9: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

(In: Cronistas e viajantes. São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 12-23. Literatura Comentada. Com

adaptações)

5 - A respeito do trecho da Carta de Caminha e de suas características textuais, é correto afirmar

que:

A) No texto, predominam características argumentativas e descritivas.

B) O principal objetivo do texto é ilustrar experiências vividas através de uma narrativa fictícia.

C) O relato das experiências vividas é feito com aspectos descritivos.

D) A intenção principal do autor é fazer oposição aos fatos mencionados.

E) O texto procura despertar a atenção do leitor para a mensagem através do uso predominante

de uma linguagem figurada.

TEXTO III

Painel do leitor (Carta do leitor)

Resgate no Chile

Assisti ao maior espetáculo da Terra numa operação de salvamento de vidas, após 69 dias

de permanência no fundo de uma mina de cobre e ouro no Chile.

Um a um os mineiros soterrados foram içados com sucesso, mostrando muita calma, saúde,

sorrindo e cumprimentando seus companheiros de trabalho. Não se pode esquecer a ajuda

técnica e material que os Estados Unidos, Canadá e China ofereceram à equipe chilena de

salvamento, num gesto humanitário que só enobrece esses países. E, também, dos dois médicos

e dois “socorristas” que, demonstrando coragem e desprendimento, desceram na mina para

ajudar no salvamento.

(Douglas Jorge; São  Paulo, SP; www.folha.com.br – painel do leitor – 17/10/2010)

5 - Considerando o tipo textual apresentado, algumas expressões demonstram o posicionamento

pessoal do leitor diante do fato por ele narrado. Tais marcas textuais podem ser encontradas nos

trechos a seguir, EXCETO:

A) “Assisti ao maior espetáculo da Terra...”

B) “... após 69 dias de permanência no fundo de uma mina de cobre e ouro no Chile.”

C) “Não se pode esquecer a ajuda técnica e material...”

D) “... gesto humanitário que só enobrece esses países.”

E) “... demonstrando coragem e desprendimento, desceram na mina...”

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Page 10: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

TEXTO IV

Os dicionários de meu pai

Pouco antes de morrer, meu pai me chamou ao escritório e me entregou um livro de capa

preta que eu nunca havia visto. Era o dicionário analógico de Francisco Ferreira dos Santos

Azevedo. Ficava quase escondido, perto dos cinco grandes volumes do dicionário Caldas Aulete,

entre outros livros de consulta que papai mantinha ao alcance da mão numa estante giratória. Isso

pode te servir, foi mais ou menos o que ele então me disse, no seu falar meio grunhido. Era como

se ele,cansado, me passasse um bastão que de alguma forma eu deveria levar adiante. E por um

tempo aquele livro me ajudou no acabamento de romances e letras de canções, sem falar das

horas em que eu o folheava à toa; o amor aos dicionários, para o sérvio Milorad Pavic, autor de

romances-enciclopédias, é um traço infantil de caráter de um homem adulto.

Palavra puxa palavra, e escarafunchar o dicionário analógico foi virando para mim um

passatempo. O resultado é que o livro, herdado já em estado precário, começou a se esfarelar

nos meus dedos. Encostei-o na estante das relíquias ao descobrir, num sebo atrás da sala Cecília

Meireles, o mesmo dicionário em encadernação de percalina. Por dentro estava em boas

condições, apesar de algumas manchas amareladas, e de trazer na folha de rosto a palavra

anauê, escrita a caneta-tinteiro.

Com esse livro escrevi novas canções e romances, decifrei enigmas, fechei muitas

palavras cruzadas. E ao vê-lo dar sinais de fadiga, saí de sebo em sebo pelo Rio de Janeiro para

me garantir um dicionário analógico de reserva. Encontrei dois, mas não me dei por satisfeito,

fiquei viciado no negócio. Dei de vasculhar livrarias país afora, só em São Paulo adquiri meia

dúzia de exemplares, e ainda arrematei o último à venda a Amazom.com antes que algum

aventureiro o fizesse. Eu já imaginava deter o monopólio (açambarcamento, exclusividade,

hegemonia, senhorio, império) de dicionários analógicos da língua portuguesa, não fosse pelo

senhor João Ubaldo Ribeiro, que ao que me consta também tem um quiçá carcomido pelas traças

(brocas, carunchos, gusanos, cupins, térmitas, cáries, lagartas-rosadas, gafanhotos, bichos-

carpinteiros).

A horas mortas eu corria os olhos pela minha prateleira repleta de livros gêmeos,

escolhia um a esmo e o abria a bel-prazer. Então anotava num Moleskine as palavras mais

preciosas, a fim de esmerar o vocabulário com que embasbacaria as moças e esmagaria meus

rivais.

Hoje sou surpreendido pelo anúncio desta nova edição do dicionário analógico de

Francisco Ferreira dos Santos Azevedo. Sinto como se invadissem minha propriedade, revirassem

meus baús, espalhassem ao vento meu tesouro. Trata-se para mim de uma terrível (funesta,

nefasta, macabra, atroz, abominável, dilacerante, miseranda) notícia.

(Francisco Buarque de Hollanda, Revista Piauí, junho de 2010)

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Page 11: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

6 - O modo predominante de organização textual é:

A) descritivo

B) narrativo

C) argumentativo

D) dissertativo

E) injuntivo

TEXTO V

Olhar o vizinho é o primeiro passo

Não é preciso ser filósofo na atualidade, para perceber que o “bom” e o “bem” não

prevalecem tanto quanto desejamos. Sob a égide de uma moral individualista, o consumo e a

concentração de renda despontam como metas pessoais e fazem muitos de nós nos

esquecermos do outro, do irmão, do próximo. Passamos muito tempo olhando para nossos

próprios umbigos ou mergulhados em nossas crises existenciais e não reparamos nos pedidos de

ajuda de quem está ao nosso lado. É difícil tirar os óculos escuros da indiferença e estender a

mão, não para dar uma esmola à criança que faz malabarismo no sinal, para ganhar um trocado

simpático, mas para tentar mudar uma situação adversa, fazer a diferença. O que as pessoas que

ajudam outras nos mostram é que basta querer, para mudar o mundo. Não é preciso ser

milionário, para fazer uma doação. Se não há dinheiro, o trabalho também é bem-vindo. Doar um

pouco de conhecimento ou expertise, para fazer o bem a outros que não têm acesso a esses

serviços, é mais que caridade: é senso de responsabilidade. Basta ter disposição e sentimento e

fazer um trabalho de formiguinha, pois, como diz o ditado, é a união que faz a força! Graças a

esses filósofos da prática, ainda podemos colocar fé na humanidade. Eles nos mostram que fazer

o bem é bom e seguem esse caminho por puro amor, vocação e humanismo.

(Diário do Nordeste. 28 abr. 2008)

7 – Com relação ao gênero, o texto

A) é uma dissertação

B) mistura descrição com narração, com predomínio da descrição.

C) mistura descrição com narração, com predomínio da narração.

D) mistura descrição, narração e dissertação, com predomínio da narração e da dissertação.

E) mistura descrição, narração e dissertação, com predomínio da descrição e da dissertação

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Page 12: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

ESCREVENDO...

TEMA: A DITADURA DA ESTÉTICA

A peça publicitária de uma adolescente,

magérrima, vendo-se ao espelho como se tivesse um

biotipo fora dos padrões estéticos atuais não chama à

atenção apenas pelo apelo contra a anorexia, mal que

vitima várias jovens em todo o mundo. A propaganda

também choca pela crueza, pela intensidade, com que

trata o tema.

TRANSTORNOS ALIMENTARES

Ninguém se assusta quando ouve uma

adolescente magricela recusar uma mordida no sanduíche

da amiga dizendo estar de regime. O uso indiscriminado

de inibidores de apetite tampouco gera reprimendas mais

intensas.

Esses comportamentos, porém, podem ser um

sinal de alerta para um problema mundial que atinge 1%

da população feminina entre 18 e 40 anos e pode levar à morte. Mas que só agora começa a receber a

atenção devida no Brasil. 

Os Transtornos Alimentares constituem uma verdadeira "epidemia" que assola sociedades

industrializadas e desenvolvidas acometendo, sobretudo, adolescentes e adultos jovens. Quais serão os

sintomas dessa epidemia emocional?De um modo geral, o pensamento falho e doentio das pessoas

portadoras dessas patologias se caracteriza por uma obsessão pela perfeição do corpo. Na realidade, trata-

se de uma "epidemia de culto ao corpo".Essa "epidemia" se multiplica numa população patologicamente

preocupada com a perfeição do corpo e que está sendo afetada por alterações psíquicas caracterizadas por

distúrbios na representação pessoal do esquema corporal. Os Transtornos Alimentares vêem aumentando

sua incidência perigosamente e já começa a alarmar especialistas médicos, sociólogos, autoridades

sanitárias.Essa busca obsessiva da perfeição do corpo tem várias formas de se manifestar e, algumas

delas, diferem notavelmente entre si. Existem os Transtornos Alimentares mais tradicionais, que são a

Anorexia e Bulimia nervosas mas, não obstante, existem outros que se estimulam e desenvolvem na

denominada "cultura do esbelto". (Jornal do Brasil, 14 de outubro de 2001). 

Que são os Transtornos Alimentares?

Os Transtornos Alimentares são definidos como desvios do comportamento alimentar que podem

levar ao emagrecimento extremo (caquexia) ou à obesidade, entre outros problemas físicos e

incapacidades. Os principais tipos de Transtornos Alimentares são a Anorexia Nervosa e a Bulimia Nervosa.

Essas duas patologias são intimamente relacionadas por apresentarem alguns sintomas em comum: uma

ideia prevalente envolvendo a preocupação excessiva com o peso, uma representação alterada da forma

corporal e um medo patológico de engordar. Em ambos os quadros os pacientes estabelecem um

12

Page 13: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

julgamento de si mesmos indevidamente baseado na forma física, a qual frequentemente percebem de

forma distorcida.

O impacto que os Transtornos Alimentares exercem sobre as mulheres é mais prevalente, ainda

que a incidência masculina esteja aumentando assustadoramente. A Vigorexia, por exemplo, tem sido

predominante nos homens, mas já se estão detectando casos de mulheres obcecadas pelo músculo. Já os

Transtornos Dismórficos acometem igualmente ambos sexos.

Os Transtornos Alimentares são todos aqueles que se caracterizam por apresentar alterações

graves na conduta alimentar e os mais frequentes são Anorexia e Bulimia nervosas.

ANOREXIA NERVOSA BULIMIA NERVOSA

A Anorexia nervosa é um transtorno emocional

que consiste numa perda de peso derivada e num

intenso temor da obesidade. Esses sentimentos têm

como consequência uma serie de condutas anômalas. A

Anorexia Nervosa acomete preferentemente a mulheres

jovens entre 14 e 18 anos.

Os sintomas mais frequentes são:

- medo intenso a ganhar peso, mantendo-o abaixo do

valor mínimo normal.

- pouca ingestão de alimentos ou dietas severas

imagem corporal distorcida

- sensação de estar gorda quando se está magra

grande perda de peso (frequentemente em um período

breve de tempo)

- sentimento de culpa ou depreciação por ter comido

- hiperatividade e exercício físico excessivo

- perda da menstruação

- excessiva sensibilidade ao frio

- mudanças no caráter (irritabilidade, tristeza, insônia,

etc.)

A Bulimia Nervosa é um transtorno mental que

se caracteriza por episódios repetidos de ingestão

excessiva de alimentos num curto espaço de tempo (as

crises bulímicas), seguido por uma preocupação

exagerada sobre o controle do peso corporal,

preocupação esta que leva a pessoa a adotar condutas

inadequadas e perigosas para sua saúde. A Bulimia

Nervosa também acomete preferentemente a mulheres

jovens ainda que algo maiores que em Anorexia.

Os sintomas mais frequentes são:

- Comer compulsivamente em forma ataques de fome e

a escondidas,

- Preocupação constante em torno da comida e do peso,

- Condutas inapropiadas para compensar a ingestão

excessiva com o fim de não ganhar peso, tais como o

uso excessivo de fármacos, laxantes, diuréticos e

vômitos auto-provocados.

- Manutenção do peso pode ser normal ou mesmo

elevado,

- Erosão do esmalte dentário, podendo levar à perda dos

dentes,

- Mudanças no estado emocional, tais como depressão,

tristeza, sentimentos de culpa e ódio para si mesma.

Fonte: http://gballone.sites.uol.com.br/temas/alimen_inde.html

PROPOSTAS

1- Imagine-se no lugar da garota da foto que abre este tema. Escreva um depoimento, para ser

publicado em uma revista de adolescentes, contando, detalhadamente, de que forma desenvolveu

o transtorno alimentar, quais foram os motivos principais que a levaram a desenvolver a doença.

2. Escreva um texto informativo, explicando aos pais dos adolescentes o que são os transtornos

alimentares, quais são as origens, sintomas e consequências deles. O texto será publicado em uma

revista sobre educação.Os textos deverão ter no mínimo 15 e no máximo 30 linhas.

13

Page 14: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

NÍVEIS DE LINGUAGEM

Os diferentes níveis de linguagem

Você já deve ter observado que a língua portuguesa não é falada do mesmo modo em

todas as regiões do país, não é falada do mesmo modo por todas as classes sociais e, além

disso, passou por muitas alterações no decorrer do tempo. Ou seja, o português, como qualquer

outra língua, não é estático e imutável. Assim sendo, podemos dizer que uma língua não é uma

unidade homogênea e uniforme. Ela poderia ser definida como um conjunto de variedades.

Essa diversidade na utilização do idioma, que implicou o surgimento de diversos níveis de

linguagem, é consequência de inúmeros fatores, como o nível sociocultural. Pessoas que não

frequentaram sequer a escola primária utilizam o idioma de modo diferente daquelas que tiveram

um contato maior com a escola e com a leitura. Ainda no plano social, é importante observarmos

as diferenças na utilização da língua em função da situação de uso. Falamos de um modo mais

informal quando estamos entre amigos, por exemplo, e de um modo mais formal quando estamos

no ambiente de trabalho. Assim, as condições sociais são determinantes no modo de falar das

pessoas, gerando o que podemos chamar de variações socioculturais.

Um outro fator determinante na utilização do idioma é a localização geográfica. Nas

diversas regiões do Brasil, observamos diferenças no modo de pronunciar as palavras, ou seja, há

diferentes sotaques: o sotaque mineiro, o gaúcho, o nordestino etc. Também no vocabulário

observam-se diferenças entre regiões e também na fala de quem mora na capital e de quem vive

na zona rural.

Além desses fatores, é importante destacar também as variações que a língua sofre no

decorrer do tempo, ou seja, a variação histórica. Por exemplo, o vocabulário muda: muitas

palavras usadas frequentemente no século XIX caíram em desuso nos séculos XX e XXI. Por

outro lado, novas palavras e expressões surgiram no século em decorrência de diversos fatores,

como o desenvolvimento tecnológico. Palavras como avião, satélite espacial, computador e

televisão certamente não faziam parte da conversa das pessoas no século XIX.

Esses diversos níveis de linguagem também podem ser observados no texto escrito. Ao

abrirmos um jornal ou uma revista podemos perceber uma diversidade de linguagens nos diversos

textos existentes: a crônica esportiva, o horóscopo, a página policial, - a de política e a de

economia; todos apresentam termos e "jargões" específicos da área que está sendo tratada.

Essas diferenças se relacionam diretamente à intenção de quem produz o texto, ao assunto e

também ao destinatário, ou seja, a quem o texto se dirige.

Certo, errado ou adequado?

Tendo em vista que existem vários níveis de linguagem, é natural que se pergunte o que

é,considerado "certo" e o que é "errado" em um determinado idioma. Na verdade, devemos

pensar a língua em termos de "adequação". A fim de que o processo de comunicação seja

eficiente, devemos sempre ter em vista o que vamos dizer (a mensagem), a quem se destina (o

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Page 15: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

destinatário), onde (local em que acontece o processo de informação) e como será transmitida a

mensagem.

Levando em consideração esses fatores, escolheremos uma forma adequada de

estabelecer a comunicação. Por exemplo, uma propaganda de um determinado produto dirigido

ao público infantil deverá ser veiculada em um tipo de linguagem diferente daquela dirigida a

adultos. O meio de comunicação - rádio, TV ou revista - também deverá ser levado em conta. Ou

seja, não se trata de estar "certo" ou "errado", e sim de estar adequado, a fim de ser eficiente. Se

pensarmos em termos de roupa, o raciocínio é o mesmo: terno e gravata é muito elegante, mas.

se vamos à praia tomar sol...

Acontece que, normalmente, a escola nos diz que "certo" é tudo aquilo que está de acordo

com a gramática normativa. O problema é que, a partir dessa afirmação, somos levados a utilizar

a norma gramatical em todas as situações. E, em muitos casos, a linguagem pode soar um tanto

quanto "afetada", sem naturalidade. Uma frase como "Havia muitas pessoas na festa promovida

pelos alunos do curso de Odontologia" está, seguramente, de acordo com a gramática normativa

ensinada nas escolas; em uma situação de comunicação informal, porém, soará muito mais

natural dizer "Tinha muita gente na festa da Odonto", embora a gramática tradicional não aprove o

uso do verbo ter como sinônimo de haver quando este significa existir.

Não devemos concluir, entretanto, que a norma gramatical que aprendemos na escola é

inútil. Ao contrário. Desde que usada no momento adequado, ela se revela extremamente útil. De

novo o critério da adequação: ao responder por escrito a questões de uma prova, por exemplo, ou

em trabalhos acadêmicos, como resumos de livros, relatórios, resenhas e monografias, a norma

gramatical é fundamental. Não devemos escrever do modo como falamos. A língua escrita é uma

outra realidade.

De fato, falamos de um modo e escrevemos de outro, pois língua escrita e língua falada

são duas modalidades diferentes de comunicação, tendo cada uma delas suas características

próprias. Quando falamos, além das palavras utilizamos outros elementos como os gestos, os

olhares, a expressão do rosto e, principalmente, algo chamado entoação da frase. Pela entoação,

distinguimos uma frase afirmativa de uma interrogativa, uma frase dita com seriedade de outra

dita com ironia, por exemplo. Quando escrevemos, entretanto, não há mais gestos, nem olhares,

nem entoação. Sobram apenas as palavras. É por isso que, ao redigirmos relatórios, documentos,

resenhas ou quaisquer outros tipos de texto escrito, devemos ter cuidado especial com a

pontuação, a ortografia, a concordância e a colocação das palavras. Além disso, é fundamental

pensar também em aspectos relacionados à estrutura do texto, como o assunto (tema), a divisão

em parágrafos e a coesão. Do contrário, corremos o risco de não sermos devidamente

interpretados; nosso texto ficará confuso, comprometendo, assim, a comunicação.

É importante ressaltar que a língua escrita não é nem mais nem menos importante que a

língua falada. Não existe "superioridade" de uma ou outra. São apenas modalidades diferentes

que se realizam em contextos diferentes.

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Page 16: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

EXERCITANDO

1. Considere as situações de comunicação apresentadas abaixo e selecione a opção que

apresenta o texto mais adequado:

1.1. Um anúncio que pretende atingir um grupo social jovem urbano:

a) O Guia do estudante é uma verdadeira luz pra você. Com ele você vai poder acertar na escolha

da profissão que mais faz sua cabeça.

b) O Guia do estudante é muito importante para você escolher a profissão que mais vem ao

encontro de sua vocação.

c) O Guia do estudante é uma publicação seríssima que tem como intuito precípuo permitir que

você seja feliz na escolha da profissão que mais lhe apraz.

1.2. O Presidente da República em pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão:

a) Estou aqui para explanar os motivos da crise energética que a todos aflige - neste momento.

b) Estou aqui para explicar a todos as razões da crise de energia que o país está enfrentando.

c) Venha à presença de todos os senhores com o intuito de explicitar as causas do colapso

energético por que passa o país.

1.3. Um médico em conversa com seu paciente em um posto do INSS:

a) As cefaléias têm etiolagia desconhecida.

b) Ainda não são bem conhecidas as origens das cefalalgias.

c) Nós ainda não sabemos muito bem por que as pessoas têm dor de cabeça.

1.4. Trecho de um trabalho escolar escrito por um estudante universitário:

a) Ao término dessa guerra, vencida pelos Estados Unidos, o México foi obrigado a ceder metade

de seu antigo território.

b) Quando essa guerra acabou, os Estados Unidos ganhou e o México teve que dar metade do

território velho que era seu antes.

c) No fim da guerra, os gringos venceram ela e o México tendo que dar metade das terras deles

pros gringos.

02. Leia os textos abaixo. Considere o assunto, o vocabulário e a redação dada, o destinatário (a

quem o texto se dirige), a intenção de cada um deles e responda:

a) Quais textos poderiam aparecer em um livro didático para o ensino médio?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

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Page 17: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

b) Quais textos seriam adequados a publicações especializadas?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

c) O texto 2 seria adequado à primeira página de um jornal? Por quê?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

d) Quais textos poderiam aparecer na primeira página de um jornal?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

TEXTO 1 - Os índices de desigualdade de renda crescem ao longo do período. A inflação e os

sistemas de indexação foram uma alavanca de transferência de renda a favor dos estratos

superiores da distribuição. A instabilidade e a perda de produtividade da economia brasileira

também corroboram essa transferência, pois, durante o período, verifica-se expressivo

crescimento de ocupados em atividades de baixa produtividade e baixos salários, muitos dos

quais contratados sem registro em carteira de trabalho ou exercendo o seu trabalho por conta

própria. As restrições de ordem política e financeira do Estado limitaram a implementação de

políticas sociais redistributivas em praticamente todas as áreas, especialmente educação, saúde e

habitação e impediram um enfrentamento mais direto com os elementos estruturais da

concentração da renda no país, como a estrutura fundiária, programas de combate à pobreza,

massificação do ensino fundamental, acesso ao crédito e à tecnologia para as empresas de

menor porte, entre outros.

TEXTO 2 - A ideia subjacente à abordagem equivalente à certeza é a de separar a duração dos

fluxos de caixa de seu risco. Os fluxos de caixa são convertidos em fluxos de caixa sem risco

(certos), que são descontados, então, pela taxa livre de risco. Geralmente, a taxa paga pela letra

do Tesouro dos Estados Unidos é aceita e usada como taxa livre de risco.

TEXTO 3 - Os shoppings centers vão abrir uma hora mais tarde a partir de sexta-feira para

economizar energia. O horário de abertura passará das 10h. para as 11h.. A associação do setor

está orientando os shoppings a adotar outras medidas, como reduzir o uso de ar condicionado e

escadas rolantes.

TEXTO 4 - Testes de suscetibilidade de rotina não são indicados quando o organismo causador

pertence a uma espécie com suscetibilidade previsível a uma droga específica. Este é o caso do

Streptococcus pyogenes e da Neisseria meningitidis, que, até agora, são geralmente suscetíveis à

penicilina.

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Page 18: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

03. O jornal Folha de S.Paulo introduziu, com o seguinte comentário, uma entrevista com o

professor Paulo Freire: " 'A gente cheguemos' não será uma construção errada na gestão do

Partido dos Trabalhadores em São Paulo".

Os trechos da entrevista nos quais a Folha de S. Paulo se baseou para fazer tal comentário foram

os seguintes:

"A criança terá uma escola na qual a sua linguagem seja respeitada (...), uma escola em que a

criança aprenda a sintaxe dominante, mas sem desprezo pela sua (...).

Esses oito milhões de meninos vêm da periferia do Brasil (...) Precisamos respeitar a (sua) sintaxe

mostrando que sua linguagem é bonita e gostosa, às vezes é mais bonita que a minha. E,

mostrando tudo isso, dizer a ele: 'Mas para a tua própria vida tu precisas dizer 'a gente chegou'

em vez de 'a gente cheguemos'. Isso é diferente, a abordagem é diferente. É assim que queremos

trabalhar, com abertura, mas dizendo a verdade "'.

Responda de forma sucinta:

a) Qual a posição defendida pelo professor Paulo Freire com relação à correção dos erros

gramaticais na escola?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

b) O comentário do jornal faz justiça ao pensamento do educador? Justifique a sua resposta.

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______________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

4. Reelabore o diálogo abaixo, usando o nível formal:

- O meu, vê se não me deixa numa furada. Essa de pagar mico toda hora já tá me azucrinando

todo e mais, no arrasta-pé das minas lá no morro, não vai aprontar pra cima de mim.

- Podes crer, irmão! Não vou deixar a peteca cair e nem dar mancada. O lance é o seguinte: a

amizade aqui vai sacar uma mina que é um estouro e você vai ficar babando!

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Page 19: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

5. Casamento de classe média.

Noivos: Suzana e Nestor.

Espaço: igreja repleta de convidados.

Cena: Encaminhamento normal da cerimônia até a hora do “sim”. Nestor diz sim. Todavia, quando

chega a vez de Suzana, esta se levanta, encara as pessoas e diz: “Gente, eu pensei e não vai

dar. Não quero me casar.”

Pânico geral. Burburinhos, gestos descontrolados. Os convidados se agitam. A mãe do noivo

desmaia...

Considerando o nível de linguagem, escreva o comentário que provavelmente elas fizeram.

padre__________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

amiga fofoqueira________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

jornalista - feminista radical_______________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

casal de namorados adolescentes__________________________________________________

______________________________________________________________________________

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avô de Nestor - de moral intransigente_______________________________________________

______________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Marli, sobrinha de Suzana - 10 anos________________________________________________

______________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Marcos, padrinho do noivo – político________________________________________________

______________________________________________________________________________

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Dr. Pimentel, padrinho da noiva – advogado__________________________________________

______________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

OS DIFERENTES ESTILOS DE ESCRITA

Parodiando Raymond Queneau, que utiliza um livro inteiro para descrever de todos os

modos possíveis um episódio corriqueiro, acontecido em um ônibus de Paris, narra-se aqui, em

diversas modalidades de estilo, um fato comum da vida carioca, a saber: o corpo de um homem

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Page 20: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

de quarenta anos presumíveis é encontrado de madrugada pelo vigia de uma construção, à

margem da Lagoa Rodrigo de Freitas, não existindo sinais de morte violenta.

Estilo interjetivo - Um cadáver! Encontrado em plena madrugada! Em pleno bairro de Ipanema!

Um homem desconhecido! Coitado! Menos de quarenta anos! Um que morreu quando a cidade

acordava! Que pena!

Estilo colorido - Na hora cor-de-rosa da aurora, à margem da cinzenta Lagoa Rodrigo de Freitas,

um vigia de' cor preta encontrou o cadáver de um homem branco, cabelos louros, olhos azuis,

trajando calça amarela, casaco pardo, sapato marrom, gravata branca com bolinhas azuis. Para

este o destino foi negro.

Estilo antimunicipalista - Quando mais um dia de sofrimentos e desmandos nasceu para esta

cidade tão mal governada, nas margens imundas, esburacadas e fétidas da Lagoa Rodrigo de

Freitas, e em cujos arredores falta água há vários meses, sem falar nas frequentes mortandades

de peixes já famosas, o vigia de uma construção (já permitiram, por debaixo do pano, a

ignominiosa elevação de gabarito em Ipanema) encontrou o cadáver de um desgraçado morador

desta cidade sem policiamento. Como não podia deixar de ser, o corpo ficou ali entregue às

moscas que pululam naquele perigoso foco de epidemias. Até quando?

Estilo reacionário - Os moradores da Lagoa Rodrigo de Freitas tiveram na manhã de hoje o

profundo desagrado de deparar com o cadáver de um vagabundo que foi logo escolher para

morrer (de bêbado) um dos bairros mais elegantes desta cidade, como se já não bastasse para

enfear aquele local uma sórdida favela que nos envergonha aos olhos dos americanos que nos

visitam ou que nos dão a honra de residir no Rio.

Estilo então - Então o vigia de uma construção em Ipanema, não tendo sono, saiu então para

passeio de madrugada. Encontrou então o cadáver de um homem. Resolveu então procurar um

guarda. Então o guarda veio e tomou então as providências necessárias. Aí então eu resolvi te

contar isso.

Estilo preciosista - No crepúsculo matutino de hoje, quando fulgia solitária e longínqua a estrela-

d'Alva, o atalaia de uma construção civil, que perambulava insone pela orla sinuosa e murmurante

de uma lagoa serena, deparou com a atra e lúrida visão de um ignoto e gélido ser humano, já

eternamente sem o hausto que vivifica.

Estilo Nelson Rodrigues - Usava gravata de bolinhas azuis e morreu!

Estilo sem jeito - Eu queria ter o dom da palavra, o gênio de um Rui ou o estro de um Castro

Alves, para descrever o que se passou na manhã de hoje. Mas não sei escrever, porque nem

todas as pessoas que têm sentimentos são capazes de expressar esse sentimento. Mas eu

gostaria de deixar, ainda que sem brilho literário, tudo aquilo que senti. Não sei se cabe aqui a

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Page 21: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

palavra sensibilidade. Talvez não caiba. Talvez seja uma tragédia. Não sei escrever, mas o leitor

poderá perfeitamente imaginar o que foi isso. Triste, muito triste. Ah, se eu soubesse escrever.

Estilo feminino - Imagine você, Tutsi, que ontem eu fui ao Sacha's, legalíssimo, e dormi tarde.

Com o Tony. Pois logo hoje, minha filha, que eu estava exausta e tinha hora marcada no

cabeleireiro, e estava também querendo dar uma passada na costureira, acho mesmo que vou

fazer aquele plissadinho, como o da Teresa, o Roberto resolveu me telefonar quando eu estava

no melhor do sono. Mas o que era mesmo que eu queria te contar? Ah, menina, quando eu olhei

da janela, vi uma coisa horrível, um homem morto lá na beira da Lagoa. Estou tão nervosa! Logo

eu que tenho horror de gente morta!

Fonte: texto adaptado de CAMPOS, Paulo Mendes. Os diferentes estilos. In: BRAGA, Rubem et al. Para gostar de ler. 9. ed. São Paulo: Ática, 1998. v. 4.

EXERCITANDO...

1. Utilizando um dicionário, dê o significado das seguintes palavras, consideradas no

contexto em que apareceram.

a) pululam_______________________________________________________________

b) sórdida_______________________________________________________________

c) crepúsculo_____________________________________________________________

d) fulgia________________________________________________________________

e) perambulava__________________________________________________________

f) insone________________________________________________________________

g) orla_________________________________________________________________

h) sinuosa_______________________________________________________________

i) atra__________________________________________________________________

j) lúrida_________________________________________________________________

1) ignoto_______________________________________________________________

m) hausto_______________________________________________________________

n) estro________________________________________________________________

2. Associe as duas colunas:Coluna A 1 Estilo interjetivo 2 Estilo antimunicipalista3 Estilo colorido4 Estilo reacionário5 Estilo preciosista6 Estilo feminino

Coluna B( ) Caracteriza-se pelo uso de palavras e expressões afetadas e antigas ao narrar o fato.( ) Opção pelo uso de adjetivos para caracterizar os elementos do fato narrado.( ) Caracteriza-se por uma postura conservadora e elitista em relação ao fato

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Page 22: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

narrado.( ) Texto no qual a crítica à administração municipal se sobressai ao fato em si.( ) Caracteriza-se pela falta de objetividade e pelo exagero nas expressões utilizadas.( ) Texto muito recortado, com muitas exclamações e comentários subjetivos.

3. No estilo preciosista, quais são as expressões que o autor utiliza para designar:

a) a madrugada__________________________________________________________

b) o vigia_______________________________________________________________

c) a margem da Lagoa Rodrigo de Freitas______________________________________

d) Reescreva o texto do estilo preciosista, dando a ele uma redação atualizada.

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

______________________________________________________________________

ESCREVENDO...

TEMA: O INTERNETÊS

A “skrita” na internet

O internetês é conhecido como o português digitado na internet, caracterizado por simplificações de

palavras que levariam em consideração,

principalmente, uma suposta interferência da fala

na escrita. O vocábulo aponta ainda para a prática

de escrita tomada como registro divergente da

norma culta padrão.

Os avessos a essa prática de escrita

consideram que os adeptos do internetês são

“assassinos da língua portuguesa”. Nesse

contexto, perguntas como “Há um processo de

transformação da escrita com o uso da internet?”

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Page 23: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

ou “Há degradação da escrita com a introdução da internet na vida das pessoas?” são cada vez mais

frequentes.

É, pois, com base nesse critério de pureza projetada como ideal da escrita que muitos indivíduos

fazem a crítica ao internetês, tomando-o como “a não-língua portuguesa”. A imagem de degradação da

escrita (e, por extensão, da língua) pelo uso da tecnologia digital é resultado da ideia de que há uma

modalidade de escrita pura, associada seja à norma culta padrão, seja à gramática, seja à imagem de seu

uso por autores literários consagrados. Haveria, assim, um tipo de escrita sem “interferências da fala”, que

deveria ser seguido por todos, em quaisquer circunstâncias.

As ideias correntes de pureza da escrita e de empobrecimento do português podem ser encontradas

em inúmeros materiais que circulam na sociedade, incluídos comentários dos próprios usuários da internet.

Na rede de relacionamentos Orkut, há quase uma centena de comunidades com títulos como “Odeiu gnti ki

ixcrevi axim!!!”, em referência às práticas de escrita na internet. Para os que participam dessas

comunidades, a escrita na internet seria uma forma rude de comunicação, algo parecido com os grunhidos

que o ser humano fazia nos tempos da caverna.

Assim concebida, a escrita da/na internet é vista como empobrecimento do idioma. Esse mesmo

conceito é o que, muitas vezes, se atribui aos usos que fazem os indivíduos não dotados da tecnologia da

escrita alfabética, ditos analfabetos ou não letrados.

Extraído de: KOMESU, Fabiana C. A “skrita” na internet. Discutindo Língua Portuguesa [especial]:

ano 1, n. 1, p. 56-57, 2008.

Linguagem de internet e celular

Um estudo realizado no ano passado por um professor universitário na Austrália revelou que os

jovens, se têm facilidade para escrever mensagens de maneira abreviada, podem não ter tanta habilidade

assim para lê-las. Quase metade dos 55 estudantes envolvidos demorou duas vezes mais para ler do que

para escrever mensagens do tipo “Vc q tc?”. Por que então a linguagem simplificada virou praxe entre quem

usa a internet e costuma mandar mensagens de texto pelo telefone celular? A professora Maria Teresa de

Assunção Freitas, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), sugere algumas possibilidades. Ela é

autora do livro Leitura e Escrita de Adolescentes na Internet e na Escola.

1. . Por que as pessoas abreviam a linguagem na web?

Para a professora Maria Teresa de Assunção Freitas, são dois os principais motivos da abreviação de

palavras: o primeiro, a facilidade de se escrever de modo simplificado, e o segundo, a pressa. Esta, por sua

vez, está ligada a outras duas razões: a economia (mandar uma mensagem maior pelo celular pode custar

mais) e o desejo de reproduzir virtualmente o ritmo de uma conversa oral. “É para acelerar o bate-papo, que

na internet, em chats e programas de mensagem instantânea, acontece em tempo real”, explica a

especialista. “No celular, há o agravante do teclado, que é menor, e do preço, que é maior.” Uma terceira

causa seria o desejo do adolescente de pertencer a um grupo: ele pode adaptar a sua escrita à linguagem

da comunidade de que quer fazer parte - com o uso dos termos adaptados, ele adere aos códigos do grupo.

2. Onde e por quem essa linguagem abreviada é mais usada?

Os principais autores da escrita simplificada são os jovens e, entre eles, os adolescentes. Eles fazem uso

desse tipo de linguagem no celular e na internet, especialmente em canais de relacionamento, como o Orkut

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Page 24: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

e o MSN. “Mas essa linguagem teve início nos chats”, afirma a professora Maria Teresa, que já realizou

uma pesquisa na área, também começando pelas salas de bate-papo virtuais. Nos e-mails, segundo ela, a

escrita abreviada tem menos lugar porque se trata de um meio de comunicação assíncrono, ou seja, a

informação é enviada em intervalos irregulares: uma pessoa envia uma mensagem para outra, mas não

sabe quanto terá uma resposta. É um ritmo parecido com o da tradicional troca de cartas. No celular, a

linguagem abreviada fica restrita aos torpedos, que são escritos.

3. Isso já acontecia antes em outros meios?

Sim, mas de modo diferente. O telegrama é um meio de comunicação que faz uso da linguagem abreviada,

mas segue um código mais formal, mais atento às regras ortográficas cultas. Não é usual, por exemplo,

trocar “assim” por “axim” ou “endosso” por “endoço”. O telégrafo, aliás, chegou a fazer uso do Código

Morse, que, com pontos e traços, facilitava a transmissão da mensagem. O texto era transmitido de forma

codificada pelo telegrafista, que se colocava como intermediário entre emissor e receptor. Depois, a

mensagem era transportada por navio, trem ou avião (mais tarde). Nas conversas pela internet ou pelo

celular, essa figura não está presente, o que permite uma maior intimidade entre as partes envolvidas no

diálogo. Além disso, a escrita da internet está contaminada pelos ares de sua época: ela é uma forma

própria ao suporte em que se deita. “O contexto gera formas novas de utilizar a linguagem”, afirma a

professora Maria Teresa.

4. A escrita abreviada e simplificada prejudica a compreensão?

Quando duas pessoas dominam o mesmo código, não costuma haver dificuldade na troca de

mensagens. Mas uma pessoa que nunca empregou uma linguagem como a que os adolescentes usam na

internet pode achá-la uma loucura à primeira leitura. “Pais e mães podem pensar que é uma escrita errada,

quando não é: é uma escrita feita para um suporte próprio, adaptada para uma determinada situação. Não

há erro de ortografia, embora essa linguagem desobedeça à regra culta”, defende Maria Teresa. Dentro

daquele sistema, explica a professora, a substituição de “ss” por “ç” faz sentido e não representa um erro. É

claro também que, como demonstrou a experiência realizada na Austrália, pode haver maior dificuldade em

ler a mensagem em voz alta do que escrever de maneira reduzida - especialmente se quem lê em voz alta

não domina bem o código que está lendo.

7. Essa escrita vicia?

Muitos adolescentes ouvidos por Maria Teresa, em sua pesquisa, demonstraram saber separar as coisas.

“Eles sabem que na escola não podem escrever da mesma forma que na internet”, diz ela. “Essa linguagem

é um gênero novo de discurso, e os usuários sabem disso, sabem que é algo diferente do que está no livro

ou em outro lugar.” Para a professora, uma prova de que os adolescentes sabem separar as coisas é que,

quando o canal de filmes pago Telecine criou a sessão Cyber Vídeo, com legendas que se apropriavam do

internetês, houve uma forte reação dos próprios adolescentes contra o método. “Eles diziam que não era

linguagem própria para o cinema, que era linguagem de internet.” Dirigida ao público teen, a experiência do

Telecine não foi mesmo para frente: estreou em 2005 e já no ano seguinte saiu do ar.

8. Essa linguagem pode modificar a língua que falamos?

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Page 25: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

É possível que essa linguagem venha, no futuro, a modificar a língua que falamos. Já começamos a

incorporar, no português do Brasil, os termos da informática e da internet, como "deletar", "caps lock",

"control+c", "control+v", "control+z". Há muita gente rindo em voz alta como na web: “eheheh”. “A língua é

uma coisa viva, porque falada. Só a língua morta, como é o caso do latim, permanece estática. Há palavras

do português que sumiram, enquanto outras foram incorporadas. A língua é dinâmica, se transforma

sempre”, diz Maria Teresa.

Fonte: Microsoft (fabricante do MSN Messenger) e Maria Teresa de Assunção Freitas, professora da

Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e autora do livro Leitura e Escrita de Adolescentes na Internet

e na Escola

PROPOSTAS

01. Escreva um artigo de opinião,para ser publicado

em um jornal, posicionando –se sobre o uso do

internetês pelos jovens. Avalie riscos e benefícios

dessa prática.

02. Utilizando o próprio internetês, escreva uma

mensagem aos seus amigos, a ser publicada no

facebook, solicitando que todos participem de uma

campanha pela melhora da escrita na internet. Use

a criatividade para

chamar a atenção à sua mensagem.

INTERTEXTUALIDADE: O DIÁLOGO ENTRE OS GÊNEROS E OS TEXTOS

A intertextualidade é “um fenômeno constitutivo da produção do sentido e pode-se dar

entre textos expressos por diferentes linguagens”. (Silva, 2002). Todo texto é o resultado de

outros textos. Isso significa dizer que não são “puros”, pois a palavra é dialógica. Quando se diz

algo num texto, é dito em resposta a outro algo que já foi dito em outros textos. Dessa

forma, um texto é sempre oriundo de outros textos orais ou escritos. Observe estes exemplos:

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Page 26: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

Meus oito anos

Oh! Que saudade que tenhoDa aurora da minha vida,Da minha infância querida

Que os anos não trazem maisQue amor, que sonhos, que flores

Naquelas tardes fagueirasÀ sombra das bananeiras

Debaixo dos laranjas!

Casimiro de Abreu

Meus oito anos

Oh! Que saudade que tenhoDa aurora da minha vida,Da minha infância querida

Que os anos não trazem maisNaquele quintal de terra

Da rua São AntônioDebaixo da bananeiraSem nenhum laranjais!

Oswald Andrade

Casimiro de Abreu “Meus oito anos” e Oswald de Andrade “Meus oito anos”. Aquele foi

escrito no século XIX e este foi escrito no século XX. Portanto, o 2º texto cita o 1º, estabelecendo

com ele uma relação intertextual.

“A intertextualidade ocorre cada vez que o personagem de uma novela cita a fala de um

personagem de Romance; num Romance aparecem trechos da mitologia grega, da Bíblia ou do

Alcorão; um orador faz referências a pensadores famosos; um poeta cita versos inteiros de outro

poeta; um texto científico cita passagens inteiras da teoria de outro cientista e assim por diante”

SAVIOLLI, 2002, p.23).

Exemplo.

Paródia e paráfrase

Paródia é um tipo de relação intertextual em que um texto cita outro geralmente com o

objetivo de fazer-lhe uma crítica ou inverter ou distorcer suas ideias.

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Museu do Louvre, Paris

L.H.O.O.Q/Marcel Duchamp, 1919

Page 27: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

Um dos anúncios do Bom Bril em que o ator se veste e se posiciona como se fosse a

Mona Lisa de Da Vinci e cujo enunciado-slogan é “Mon Bijou deixa sua roupa uma perfeita

obra-prima”. Esse enunciado sugere ao leitor que o produto anunciado deixa a roupa bem macia

e perfumada, ou seja, uma verdadeira obra-prima (referindo-se ao quadro de Da Vinci).

Para definir paráfrase, de forma simples e prática, podemos lançar mão do velho jogo

entre forma e conteúdo para melhor definir esses conceitos. O prefixo grego “para” significa “ao

lado de”, sentido que verificamos, por exemplo, na palavra “paralelo”, que significa “que corre ao

lado de”.Desta forma, paráfrase seria “uma frase ao lado de outra”, que transmita a mesma

mensagem, que contenha o mesmo conteúdo, de forma diferente.

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Museu do Louvre, Paris

PICASSO, Pablo. As meninas segundo Velásquez. 1957. VELÁZQUES, Diego. As meninas.1656.

Page 28: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

EXERCITANDO...

Leia o texto.

Vide BulaO Brasil está doente. Êta frasezinha batida! Todo mundo está cansado de saber disso. O

diabo é: qual remédio? Muito se tem tentado com drogas tradicionais, ou novidades, porém até

agora nenhuma teve o tão almejado efeito de curar este pobre enfermo.

Há bem pouco tempo foi tentada uma droga novíssima, quase não testada, mas que

prometia sucesso total, a "Collorcaína", que, infelizmente, na prática de nada serviu, seus efeitos

colaterais extremamente deletérios (como a liberação da "Pecelidona") quase acaba com o

doente.Porém, para o ano que vem, novos medicamentos poderão ser usados. Enquanto isso não

acontece, o doente consegue se manter com doses de "Itamarina" que é uma espécie de

emplastro que, se não cura, também não mata.

Mas, voltando ao ano que vem, se é que podemos voltar ao futuro, vamos estudar os

possíveis medicamentos que teremos à disposição do moribundo. A primeira droga a ser discutida

já é uma antiga que estava em desuso e voltou com nova embalagem e novas indicações,

podendo ser eficaz no momento. Trata-se da "Paumalufina", extraída do pau-brasil com a

propriedade de promover perda das gorduras, principalmente estatais, acentuando a livre

iniciativa. Tem como efeito colateral a crise aguda de autoritarismo e também perdularísmo, sendo

contra-indicada para as democracias.

A segunda droga, também já testada, é derivada da "Pemedebona", a "Orestequercina",

que atua em praticamente todos os órgãos, que passam a funcionar somente às custas da

“Desoxidopropinainterferase”, que promove um desempenho muito mais fisiológico.

Esta droga tem como efeito colateral uma grande depleção das reservas, depleção esta que

pode ser fatal ao organismo. Mais recentemente foi criada a “L. A. Fleurizina”. Derivada da

“Orestequercina”, age de maneira muito semelhante à mesma, sendo, entretanto, muito mais

contudente e agressiva. É formalmente contra-indicada para Carandirus e professores.

Luiz Fernando Elias é cardiologista e, nas horas vagas, cronista.

1. O que chama a atenção no texto?

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2. Quais conhecimentos são necessários para que o leitor consiga compreender este texto?

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Page 29: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

3. Vide Bula pertence a qual gênero textual? Por quê?

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4. O texto Vide Bula dialoga com outro gênero textual, buscando imitar-lhe a forma. Pode-se

afirmar que este texto é uma paródia ou uma paráfrase? Justifique.

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2. Identifique, nos textos abaixo, os mecanismos de intertextualidade.

a)

Fonte: Folha de São Paulo, 10 out. 2005

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b)

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Page 30: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

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____

Fonte: Folha de São Paulo, 30 de mar. 2005

c) ___________________________________________

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_________________

Fonte: Folha de São Paulo, 13 de mar. 2006

d)

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Page 31: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

Fonte: Folha de São Paulo, 12 de abr. 2010

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e) _______________________________________

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ESCREVENDO...

Como construir uma paródia?

Texto 1: Monte Castelo /Renato Russo Texto 2:  Amor é fogo que arde sem se ver Luis Vaz de Camões

É só o amor, é só o amor. Que conhece o que é verdade. O amor é bom, não quer o mal. Não sente inveja ou se envaidece.   O amor é o fogo que arde sem se ver. É ferida que dói e não se sente. É um contentamento descontente.  É dor que desatina sem doer. Ainda que eu falasse a língua dos homens. E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria. É um não querer mais que bem querer. É solitário andar por entre a gente. É um não contentar-se de contente. É cuidar que se ganha em se perder.   É um estar-se preso por vontade. É servir a quem vence, o vencedor; É um ter com quem nos mata a lealdade. Tão contrário a si é o mesmo amor.   Estou acordado e todos dormem, todos dormem, todos dormem. Agora vejo em parte. Mas então veremos face a

Amor é fogo que arde sem se ver.

É ferida que dói e não se sente.

É um contentamento descontente.

É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer.

É solitário andar por entre a gente.

É nunca contentar-se de contente.

É cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade.

É servir a quem vence, o vencedor.

É ter com quem nos mata lealdade.  

Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

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Page 32: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

face. É só o amor, é só o amor. Que conhece o que é verdade. Ainda que eu falasse a língua dos homens. E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.  

Texto 3 

I carta de São Paulo aos Coríntios 

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse Amor, nada disso me aproveitaria. O Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O Amor nunca falha. Havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos; mas quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o Amor.”

PROPOSTAS

1. Construa uma paródia do seguinte poema de Carlos Drummond de Andrade.

Quadrilha

Carlos Drummond de Andrade

João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

que não tinha entrado na história.

2. Escolha uma música de sua preferência e redija uma paródia. Lembre-se você deve manter

a forma (som, ritmo), mudando o conteúdo.

ESCREVENDO...

Produzindo paráfrase

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Page 33: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

Produza um texto narrativo em prosa (conto), reproduzindo fielmente o conteúdo da música a

seguir.

Eduardo e MônicaLegião Urbana

Quem um dia irá dizerQue existe razãoNas coisas feitas pelo coração?E quem irá dizerQue não existe razão?

Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantarFicou deitado e viu que horas eramEnquanto Mônica tomava um conhaqueNo outro canto da cidade, como eles disseram

Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem quererE conversaram muito mesmo pra tentar se conhecerUm carinha do cursinho do Eduardo que disse"Tem uma festa legal, e a gente quer se divertir"

Festa estranha, com gente esquisita"Eu não tô legal", não aguento mais birita"E a Mônica riu, e quis saber um pouco maisSobre o boyzinho que tentava impressionarE o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa"É quase duas, eu vou me ferrar"

Eduardo e Mônica trocaram telefoneDepois telefonaram e decidiram se encontrarO Eduardo sugeriu uma lanchoneteMas a Mônica queria ver o filme do Godard

Se encontraram então no parque da cidadeA Mônica de moto e o Eduardo de "camelo"O Eduardo achou estranho, e melhor não comentarMas a menina tinha tinta no cabelo

Eduardo e Mônica eram nada parecidosEla era de Leão e ele tinha dezesseisEla fazia Medicina e falava alemãoE ele ainda nas aulinhas de inglês

Ela gostava do Bandeira e do BauhausVan Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de

RimbaudE o Eduardo gostava de novelaE jogava futebol-de-botão com seu avô

Ela falava coisas sobre o Planalto CentralTambém magia e meditaçãoE o Eduardo ainda tava no esquemaEscola, cinema, clube, televisão

E mesmo com tudo diferente, veio mesmo, de repenteUma vontade de se verE os dois se encontravam todo diaE a vontade crescia, como tinha de ser

Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografiaTeatro, artesanato, e foram viajarA Mônica explicava pro EduardoCoisas sobre o céu, a terra, a água e o ar

Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescerE decidiu trabalhar (não!)E ela se formou no mesmo mêsQue ele passou no vestibular

E os dois comemoraram juntosE também brigaram juntos, muitas vezes depoisE todo mundo diz que ele completa elaE vice-versa, que nem feijão com arroz

Construíram uma casa há uns dois anos atrásMais ou menos quando os gêmeos vieramBatalharam grana, seguraram legalA barra mais pesada que tiveram

Eduardo e Mônica voltaram pra BrasíliaE a nossa amizade dá saudade no verãoSó que nessas férias, não vão viajarPorque o filhinho do Eduardo tá de recuperação

E quem um dia irá dizerQue existe razãoNas coisas feitas pelo coração?E quem irá dizerQue não existe razão?

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Page 34: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

Clichê

Clichê é o enunciado que se transformou em uma unidade linguística estereotipada por

ser muito proferido pelas pessoas. Num jornal sobre esportes foi criada uma charge com o

enunciado: “Por trás de todo grande time há um grande treinador”. Tal enunciado remete a outro

pertencente ao patrimônio social “Por trás de todo grande homem há uma grande mulher”. O

enunciado do jornal, na época, pretendia elogiar a conduta do treinador pelo fato do time Vasco

ter ganhado o campeonato.

Outro exemplo destacado foi o da publicidade do Sesi a respeito de um concurso de

empresas sobre a qualidade no trabalho. O slogan da publicidade era: “Se o trabalho dignifica o

homem, o trabalho em equipe o torna um vencedor”. Observa-se que a partir de um clichê “O

trabalho dignifica o homem”, utilizado numa estrutura com valor condicional “Se o trabalho...”,

ressalta-se em seguida a importância do trabalho em equipe “...o trabalho em equipe o torna um

vencedor”.

Os clichês podem ser: proverbiais, palavrões, bíblicos e literários.

Proverbial: é um enunciado popular que expressa de forma sucinta uma mensagem. O

título de uma reportagem sobre funcionários e ações trabalhistas: “Depois do suor, o desamparo”

que remete ao provérbio “Depois da tempestade vem a bonança”. Sendo que ao contrário

desse (depois dos fatos negativos vem o positivo), o título da reportagem sugere que depois de

todo esforço “suor”, os funcionários não obtiveram o que almejavam: o reconhecimento. Foram

vítimas do desemprego - “desamparo”.

Palavrão: é o enunciado que apresenta uma palavra grosseira ou obscena. O jornalista

Agamenon, responsável por uma matéria do Segundo Caderno do jornal O Dia, cuja característica

é o humor, nomeou uma de suas matérias de Cuba se Fidel. No mesmo, observa-se a alusão ao

palavrão “se foder” e um jogo entre este e o nome do presidente de Cuba, Fidel Castro, por causa

da semelhança fonética “Fidel e fodeu”.

Bíblico: quando o enunciado menciona uma passagem da Bíblia. O título de uma

reportagem sobre o turismo na Ilha Grande “A fé move turistas nas trilhas da Ilha Grande” se

referindo à passagem bíblica que diz: “A fé move montanha”.

Literário: quando o enunciado se refere a verso(s), a passagem (ns) ou a título (s) de

obra.

- Exemplo de título de obra: A publicidade da marca Ceramidas usa como slogan o

seguinte enunciado: “Dona flor e seus dois produtos”, que, por sua vez, se reporta a uma das

obras de Jorge Amado intitulada Dona flor e seus dois maridos. Observa-se assim que na

publicidade Dona Flor é representada pela marca Ceramidas e os dois produtos pelo xampu e

pelo condicionador.

- Uma matéria da revista Isto é intitulada: “E o vento levou” sobre produtos de cabelo é o

título de uma obra de Margaret Mitchell. Essa matéria mostra como os produtos mencionados

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Page 35: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

deixam os cabelos leves e soltos.

- Exemplo de verso: O título de uma reportagem: “Infinito, mas enquanto durou” se

referindo ao verso de Vinícius de Moraes “que seja infinito enquanto dure” que, por sua vez, faz

alusão ao pensamento de Sofocleto: “O amor é eterno enquanto dura”.

Releitura de provérbios e clichês

Uma das formas de usar criativamente o clichê e o provérbio é recriá-lo, configurando-o

para funcionar em um novo contexto. Observe.

Ditados da era da internet

A pressa é inimiga da conexão.Amigos, amigos, senhas à parte.

Antes só, do que em chats aborrecidos.A arquivo dado não se olha o formato.

Diga-me que chat frequentas e te direi quem és.Para bom provedor uma senha basta.

Não adianta chorar sobre arquivo deletado.Em briga de namorados virtuais não se mete o mouse.

Em terra off-line, quem tem um 486 é rei.1Hacker que ladra, não morde.

Mais vale um arquivo no HD do que dois baixando.HD sujo se limpa em casa.

Melhor prevenir do que reformatar.O barato sai caro. E lento.

Quando a esmola é demais, o santo desconfia que tem vírus anexado.Quando um não quer, dois não teclam.

Quem ama um 486, Pentium 5 lhe parece.Quem clica seus males multiplica.

Quem com vírus infecta, com vírus será infectado.Quem envia o que quer, recebe o que não quer.Quem não tem banda larga, caça com modem.Quem nunca errou, que aperte a primeira tecla.

Quem semeia e-mails, colhe spams.Quem tem dedo. vai a Roma.com.

Um é pouco, dois é bom, três é chat ou lista virtual.Vão-se os arquivos, ficam os backups.

Fonte: http://blogdojuca.com.br/proverbios-e-ditados/frases-da-web-ditados-na-era-da-internet/

EXERCITANDO...

1. Parafraseie as seguintes citações famosas.

a) "É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é tolo, do que falar e acabar

com a dúvida." (Abrahan Lincoln)

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b) "A melhor maneira de se esquecer do tempo é usá-lo." (Baudelaire)

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Page 36: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

c) "Para o triunfo do mal basta que os bons fiquem de braços cruzados." (Charles Chaplin)

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d) "Tempo difícil esse em que estamos, onde é mais fácil quebrar um átomo do que um

preconceito." (Albert Einstein)

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e) “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.” (Albert

Einstein)

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f) “O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.” (Albert Einstein)

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g) “A imaginação é mais importante que o conhecimento.” (Albert Einstein)

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h) “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a

morte o direito de você dizê-las.” (Voltaire)

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i) “Não tentes ser bem sucedido, tenta antes ser um homem de valor.” (Albert Einstein)

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j) “O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete.” (Aristóteles)

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2. Relacione as colunas. A primeira contém frases com as expressões idiomáticas e, na segunda,

podemos encontrar frases sinônimas sem o uso dessas expressões.

a) Aquele moço é um pé de cana.

b) Este senhor vestiu o paletó de madeira.

c) Princesa Diana foi para a terra dos pés juntos.

d) Minha vizinha vive fazendo tempestade em

copo d’água.

e) Santo de casa não faz milagre.

f) Macaco senta em cima do rabo e fica olhando

o rabo dos outros.

  (.. ) Ele não está se dedicando.

( ..) Ele está dando às pessoas mais do que

elas merecem.

(.. ) Ele adora beber pinga.

( ..) Ele se aproveitou de você.

( ..) Ela morreu.

( ..) Ele tolerou aquilo durante anos, mas

agora vai fazer o contrário do que fazia.

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Page 37: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

g) O chefe está dando pérolas aos porcos.

h) Aninha recebeu um presente de grego.

i) Meu avô já bateu as botas.

j) Durante anos, Pedro engoliu sapos, mas ele

não vê a hora de virar o jogo.

k) Seu ex-namorado te fez de gato e sapato.

l) Ele não gosta de estudar, só está empurrando

com a barriga até que a mãe permita que

abandone a escola para ser músico.

m) Joguei verde para colher maduro e consegui

descobrir o telefone da Matilde.

n) Clotilde rodou a baiana e queimou o filme do

marido perante seus colegas de trabalho.

o) Já que não consegui vender meu peixe,

chutei o balde e voltei para casa.

p) Vou fazer uma vaquinha para conseguirmos

comprar os remédios.

( ..) Ele morreu.

( ..) Ele vai pedir um pouco de dinheiro para

cada um.

( ..) Ela fez um escândalo e o desmoralizou.

( ..) Ele não conseguiu convencer ninguém

e desistiu.

( ..) Ele fingiu que já sabia o que na

verdade desejava saber.

( ..) Ele morreu.

( ..) Ela recebeu um presente que ninguém

gostaria de ganhar.

( ..) Ele só aponta os erros dos outros mas

esconde seus próprios erros.

( ..) Ele é professor de matemática mas não

consegue ensinar a filha quanto são 2 + 2.

(.. ) Ela se desespera com coisas simples.

3) 1. Leia a letra da música “Bom Conselho” de Chico Buarque de Holanda. Você perceberá que o

texto é feito com provérbios ou ditados populares, só que eles aparecem invertidos. Faça um

levantamento desses provérbios espalhados pelo texto e tente reconstruí-los em sua forma

original.

Bom Conselho

Ouça um bom conselho

Que lhe dou de graça

Inútil dormir

Que a dor não passa

Espere sentado

Ou você se cansa

Está provado

Quem espera nunca alcança

Ouça, meu amigo

Deixe esse regaço

Brinque com o meu fogo

Venha se queimar

Faça como eu digo

Faça como eu faço

Aja duas vezes antes de pensar

Corro atrás do tempo

Vim de não sei onde

Devagar é que

Não se vai longe

Eu semeio o vento

Na minha cidade

Vou pra rua e bebo a tempestade

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Page 38: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

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2. Ainda em relação ao texto anterior, busque refletir sobre o significado da utilização do

provérbio, que pode ser considerado uma espécie de “clichê ou chavão de pensamento”. Quem o

utiliza? Para que serve? Ou em que situação ele é empregado? O que representa a “sabedoria

proverbial”?

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3. Você consegue estabelecer alguma correspondência entre o provérbio e a estrutura social? De

modo geral, em que tipo de sociedade os provérbios são utilizados? Qual o sentido da inversão

dos ditados populares no texto de Chico Buarque de Holanda?

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ESCREVENDO...

Recriando clichês... relendo provérbios... driblando o senso comum

A maior pedra no sapato de qualquer escritor é o clichê, essa faca que de tão usada já não corta,

ainda que a língua esteja bem afiada. Um amante das letras trabalha com afinco para lançar nova luz sobre

uma passagem e quando se dá conta, lá está aquela frase feita, aquela ideia pronta. E aí não adianta

querer tapar o sol com uma peneira, porque a verdade salta aos olhos, e para um bom leitor, meio clichê

basta para estragar um texto.

Falar de clichê é chover no molhado, porque desde que o mundo é mundo que o ser humano opta

comodamente pela lei do menor esforço. Por isso, carrega sempre no bolso meia dúzia de ideias prontas e

frases feitas, que usa e abusa, a torto e a direito. Pensar é chato, cansativo, dá trabalho, e ser original exige

responsabilidade e um pouco de ousadia. Além do mais, a todo instante há a necessidade de uma

comunicação rápida e eficiente, e o clichê já possui um significado consolidado, ao alcance de todos os

viventes.

Por isso, é difícil abster-se de beber na fonte das ideias prontas e das imagens surradas, e pode

atirar a primeira pedra quem nunca lançou mão das sentenças do senso comum para dar o seu recado.

Esse hábito é tão antigo quando caminhar pra frente. Tanto é assim, que existem livros que tratam do

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Page 39: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

assunto. No âmbito nacional temos o Pai dos Burros – dicionário de lugares-comuns e frases feitas, de

Humberto Werneck, uma coleção de clichês pinçados em órgãos da imprensa. Mas a leitura mais deliciosa

nesse sentido é o Dicionário das Ideias Feitas, de Gustav Flaubert, um opúsculo cheio de ironias, em que o

grande romancista deita e rola em cima da boçalidade dos franceses oitocentistas. Flaubert dispensa

apresentações. Um renomado escritor que atingiu os píncaros da glória com uma obra literária muito

original, e saiu a campo, em altos brados, contra o currente calamo, que não é nada mais do que preguiça

mental disfarçada de sabedoria popular.

Agora, fiquei com uma pulga atrás da orelha. Por que será que esse assunto dá tanto pano pra

manga? É de bom alvitre que o escritor dê asas à imaginação na hora de traçar as suas linhas, mas se ele

não tiver bala na agulha fica à beira de um ataque de nervos diante de cada frase lançada no papel.

É bem verdade que muitos beletristas gostam de praticar seu ofício ao correr da pena, e não estão

nem aí para originalidade de estilo. Mas felizmente, há aqueles, como Flaubert, que se proclamam inimigo

público das simplificações retóricas e não medem esforços para dar uma injeção de vitalidade na

linguagem. Criadores que não se curvam ao peso do hábito e não se protegem com desculpas esfarrapadas

do tipo: “não existe mais nada original para ser dito”, ou: “a vida é cheia de clichês”. Mesmo que seja para

dar murro em ponta de faca, eles avançam a passos largos, de cabeça erguida, força hercúlea e idealismo

quixotesco. A esses, temos obrigação de tirar o chapéu e aplaudir em alto e bom som, pois são eles que

dão um passo à frente no progresso da arte literária. Uma história bem contada, novinha em folha, é tudo de

bom. Por outro lado, ler um texto cheio de clichês – vamos combinar – ninguém merece.

Ademir Furtado escreve no blog http://prosaredo.blogspot.com

PROPOSTAS

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Page 40: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

1. A tabela acima trouxe alguns provérbios e ditos populares. Redija um texto recriando esses

clichês, empregando-os em outros contextos e situações. Você pode também usá-los em sentido

literal ou modificar-lhes o sentido.

DICIONÁRIO ÀS AVESSAS

Abismado - sujeito que caiu de um

abismo

Armarinho - vento proveniente do mar

Aspirado - carta de baralho

completamente maluca

Assaltante - um "A" que salta

Barganhar - receber um botequim de

herança

Barracão - proíbe a entrada de caninos

Bimestre - mestre em duas artes marciais

Caçador - indivíduo que procura sentir

dor

Cerveja - é o sonho de toda revista

Cleptomaníaco - maníaco por Eric

Clapton

Coitado - agente passivo do coito

Contribuir - ir para algum lugar com vários

índios

Conversão - papo prolongado

Coordenada - que não tem cor

Democracia - sistema de governo do

inferno

Detergente - ato de prender seres

humanos

Determine - prender a namorada do

Mickey Mouse

Diabetes - as dançarinas do diabo

Edifício - antônimo de "é fácil"

Eficiência - estudo das propriedades da

letra F

Estouro - boi que sofreu operação de

mudança de sexo

Expedidor - mendigo que mudou de

classe social

Fluxograma - direção em que cresce o

capim

Halogênio - forma de cumprimentar

pessoas muito inteligentes

Homossexual - sabão em pó para lavar

as partes íntimas

Luz solar - sapato que emite luz por baixo

Ministério - aparelho de som de

dimensões muito reduzidas

Missão - culto religioso com mais de três

horas de duração

Padrão - padre muito alto

Pornográfico - o mesmo que colocar no

desenho

Presidiário - aquele que é preso

diariamente

Pressupor - colocar preço em alguma

coisa

Ratificar - tornar-se um rato

Regime Militar - rotina de dieta e

exercícios feitos pelo exército

Suburbano - habitante dos túneis do

metrô

Testículo - "testo" pequeno

Tripulante - especialista em salto triplo

Unção - erro de concordância verbal. O

certo seria "um é"

Volátil - o contrário de "Vem cá, sobrinho"

Fonte:

http://rafaela-palasio.blogspot.com/2011/06/dic

ionario-as-avessas.html

2.a) Produza um texto narrativo humorístico em que uma personagem viva um conflito decorrente

da confusão de interpretação de uma destas palavras definidas pelo dicionário às avessas.

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Page 41: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

b) Crie um pequeno dicionário, cujas palavras recebam sentidos diferentes do convencional. Mas

atenção: esses significados têm que estar de alguma forma relacionados aos vocábulos.

Sugestões: dicionário do adolescente, dicionário das mães, dicionário de políticos.

OBJETIVIDADE x SUBJETIVIDADE

Representação ou não-representação do autor no texto

A representação do locutor se faz, diretamente, com pronomes pessoais de 1a.

Pessoa (eu, nós) ou refletidos nelas, o locutor se dá a perceber em palavras como

pronomes possessivos (meu, nosso…) e terminações verbais (falo, falei, falamos…). A

escolha de se representar ou não no discurso por parte do autor implica efeitos de

sentidos diferentes no texto.Observe

1. Eu acho que a violência ultrapassou os limites do tolerável neste país.

2. Todos nós acreditamos que a violência ultrapassou os limites do tolerável neste país.

3. Considera-se que a violência ultrapassou os limites do tolerável neste país.

4. A violência ultrapassou os limites do tolerável neste país.

1. O locutor se apresenta claramente dentro do que fala, usando a 1a. Pessoa, avalia o que está

dizendo por meio do verbo achar. A afirmação é tomada como uma crença individual.

2. O locutor se identifica como parte de um grupo que compartilha uma mesma opinião.

3. Não permite a especificação do agente, encobre a posição do locutor a respeito do que diz,

desconhecemos em que medida ele compartilha esse ponto de vista.

4. Soa como um fato, o que era opinião, tornou-se, com a eliminação da representação do locutor,

uma verdade inquestionável.

Portanto, quanto mais informativo é um texto, menos devem aparecer nele as marcas do

autor. Para que o texto adquira um tom de verdade, é comum que o autor se impessoalize, ou

seja, se retire do texto e deixe os fatos falarem por si sós. Os textos jornalísticos e científicos são

exemplos de textos que buscam (nem sempre) parecer o mais impessoais possível.

+ INFORMATIVO + EFEITO DE VERDADE - MARCAS DO AUTOR

- INFORMATIVO - EFEITO DE VERDADE + PRESENÇA DO AUTOR

EXERCITANDO

1. Complete a tabela com as formas adequadas de representação do autor no texto.

41

Page 42: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

2. Reescreva o trecho abaixo, readaptando às necessidades de representação do autor de

cada gênero.

Como todo ser humano, tenho minhas dificuldades de manter uma alimentação

equilibrada, mas acho que temos que vencer as barreiras.

a) Dissertação

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

b) Notícia de Jornal

______________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

c) Propaganda

______________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

As fotografias, especialmente de pessoas, de paisagens distantes, de cidades longínquas,

de um passado irrecuperável, assim como uma lareira numa sala, são incitamentos ao

devaneio.

a)Relato pessoal

42

Page 43: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

______________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

b)Artigo de opinião

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

OS MODALIZADORES

A modalização diz respeito à expressão das intenções e pontos de vista do

enunciador. É por intermédio da modalização que o enunciador inscreve no enunciado

seus julgamentos e opiniões sobre o conteúdo do que diz/escreve, fornecendo ao

interlocutor pistas ou instruções de reconhecimento do efeito de sentido que pretende

produzir. Observe.

Para erradicar a pobreza, Brasil teria de gastar mais R$ 21,3 bi

(Folha de S. Paulo, 14 nov. 2010)

a) o que a manchete apresenta como tema?

b) como esse tema é apresentado, quais recursos linguísticos chamam a atenção?

c) qual o efeito de sentido, ou seja, o impacto causado pelas escolhas dos recursos mencionados

no item acima?

a) Tema: os gastos necessários para a erradicação da pobreza no Brasil.

b) Recursos utilizados:

- inversão da ordem direta;

- uso do futuro do pretérito - teria;

- uso do advérbio mais.

c) Efeitos de sentido:

- ao inverter a ordem direta e começar a frase com a finalidade da ação, o autor dá mais ênfase

ao objetivo (erradicar a pobreza) do que à ação necessária para alcançá-lo (gastar mais R$ 21,3

bi).

- o uso do futuro do pretérito lança dúvidas sobre a realização da ação.

- o uso do advérbio mais dá a ideia de que o que se gasta hoje não é suficiente e deixa claro que

é preciso colocar um valor extra para alcançar o objetivo.

Outros exemplos.

a) É possível que chova no Carnaval. (Suposição)

b) É necessário que chova no Carnaval. (Necessidade)

c) Vai chover no Carnaval. (Certeza)

Fonte: AZEREDO, José Carlos. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008

EXERCITANDO...

43

Page 44: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

1. Identifique, nos textos abaixo, as marcas de modalização que indicam que as informações

foram atenuadas.

Chove em grande parte do Brasil

As chuvas se espalham pelo país, atingindo faixa que vai de SC até AM. As pancadas são isoladas no

Nordeste. Já no Sudeste e no Centro-Oeste, há risco de temporais, sobretudo no sul de MG e RJ.

Folha de S. Paulo, 22 de nov de 2010, Caderno Cotidiano, C 2.

Áries (21 de mar. a 20 de abr.).

Lua em Gêmeos favorece estudos, comunicação e contatos sociais em geral. Sol em Sagitário traz

quatro semanas ótimas, para você desenvolver melhor sua espiritualidade, explorar com mais afinco

novas maneiras de viver.

Folha de S. Paulo, 22 de nov de 2010, Caderno Ilustrada, E11

a) Reescreva os dois textos de modo que o tom imperativo seja substituído pelo tom de

possibilidade ou dúvida.

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ESCREVENDO...

Brutalidade não pode ser reação à cantada

Jairo Bouer

INFELIZMENTE, em menos de um mês tenho que voltar ao tema da violência gratuita, face aos

incidentes que aconteceram em plena avenida Paulista, quando um grupo de quatro menores e um

garoto de 19, todos de classe média e teoricamente "educados", agrediram outros jovens.

A coluna está sendo escrita um dia após os agressores terem sido liberados pelas autoridades

responsáveis. Há indícios (segundo a própria polícia) de que a motivação para alguns dos ataques no

dia 14 tenha sido a homofobia.

44

Page 45: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

A defesa alega que não houve homofobia, mas uma simples briga de jovens, talvez motivada por

um suposto flerte de um dos garotos que foi agredido. Os agredidos e outras testemunhas negam que

houve qualquer tipo de contato anterior e dizem que os agressores já chegaram batendo.

Vamos supor que houve uma briga que nasceu de uma cantada. Desde quando a forma de se reagir

a qualquer tipo de cantada, vindo ela de homens ou de mulheres, é uma agressão brutal? Cinco garotos

atacando um jovem sozinho é uma simples briga? Na melhor das hipóteses, é pura covardia. Na pior, é

um ato preconceituoso e bárbaro.

Não dá para admitir tal comportamento como sendo natural, um rito de passagem, agressividade

normal de meninos, necessidade de afirmação frente ao grupo e falta de limites colocados pelos pais,

entre outras alegações. É uma selvageria inadmissível e, para isso, existe lei, julgamento e eventuais

responsabilizações.

Tendo a achar que a melhor maneira de aprender é trabalhar aquilo que é sensível. Assim, que tal

colocar alguém que não sabe lidar com sua própria agressividade em um trabalho comunitário com

vítimas de violência contra a mulher, de preconceito e de homofobia? Talvez, no contato com aquilo que

incomoda, a gente cresça e aprenda a ser um adulto melhor.

Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/folhatee/fm2211201012.htm.

1. Destaque, no texto, as expressões modalizadoras do autor e aquelas que expressam

os juízos de valor dele.

2. Transcreva, no quadro abaixo, os modalizadores usados pela defesa dos meninos para

minimizar a atitude deles e aqueles usados pelo autor para condenar a atitude dos

jovens.

MODALIZADORES DA DEFESA MODALIZADORES DO AUTOR

PROPOSTAS

1. Escreva uma carta argumentativa a Jairo Bauer, discordando da opinião dele,

mostrada no texto e defendendo os garotos. Você deverá usar as palavras é certo que,

felizmente, infelizmente, inadmissível, provavelmente e talvez.

2. Redija uma notícia jornalística, informando o leitor sobre o evento acontecido,

envolvendo os jovens.

O MUNDO COMENTADO E O MUNDO NARRADO

45

Page 46: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

Segundo Koch (2001), há dois tipos possíveis de atitude comunicativa de um

autor/escritor quando escreve ou organiza seu enunciado: ele pode se comprometer com o

que diz, avaliar a informação que repassa ou simplesmente não se comprometer. Se o

autor se comprometer com o que diz, ou seja, se aderir ao máximo ao que enuncia ,

criando uma tensão entre os interlocutores, temos o mundo comentado (textos

argumentativos). Agora, se o autor adotar uma postura mais relaxada, distanciando-se do

seu discurso, relatando os fatos sem se comprometer com eles, temos o mundo narrado

(textos narrativos).

Os tempos verbais e a macroestrutura do texto

Existe um interessante e útil correlação entre o texto narrativo, o texto

argumentativo e o uso dos tempos verbais. Os tempos mais usados nos textos

narrativos (mundo narrado) são os tempos do passado :pretérito perfeito (cantei),

imperfeito (cantava), mais-que-perfeito (cantara, tinha cantado) e futuro do pretérito

(cantaria).

Ex. Na segunda-feira passada, a estudante Kátia de Souza Rodrigues, de 15 anos,

saiu de casa à tarde para tentar conseguir seu primeiro emprego. No bairro paulista da

Lapa, onde ela iria tentar conseguir trabalho, seus planos tiveram um violento ponto final.

Atropelada por um Uno, cujo motorista ainda não foi identificado, Kátia entrou em coma e

morreu menos de 24 horas depois.

Agora observe o uso dos tempos verbais em um texto argumentativo (mundo

comentado).

São três nutrientes calóricos, isto é, fornecem energia para o corpo, ao liberarem calor na

combustão ou queima. Os carboidratos são os primeiros a serem queimados como fonte de

energia pelo corpo, pois sua combustão é fácil. Cada grama de açúcar ou de carboidrato tem

quatro calorias.

Podemos observar agora que o tempo predominante é o presente.

Metáfora Temporal – para causar efeitos

Muitas vezes, utilizamos, entretanto, tempos do mundo comentado no mundo

narrado, e tempos do mundo narrado no mundo comentado. Isso é o que caracteriza a

metáfora temporal.

Mas por que motivo fazemos uso dessas metáforas? Para manifestar, no texto,

avaliações, apreciações. No texto, ficam essas marcas. Vamos começar pelo texto

narrativo. A utilização dos tempos do mundo comentado no texto narrativo provoca uma

atitude de maior engajamento ou comprometimento do autor, cujo efeito é aumentar a

tensão da narrativa. Vamos ver como isso funciona. Observe.

No dia 12 de março de 1500, Pedro Álvares Cabral deixou o porto de Belém em

Lisboa, rumo às Indias. Quando se aproximou das costas da África, teve medo das

46

Page 47: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

calmarias. Desviou, então, sua frota de treze navios para longe da África. No dia 22 de

abril do mesmo ano, descobriu uma nova terra, que foi chamada mais tarde de Brasil.

Vamos ver agora uma outra versão desse texto com a utilização do recurso da

metáfora temporal, empregando tempos do presente no processo narrativo.

No dia 12 de março de 1500, Pedro Álvares Cabral deixou o porto de Belém em

Lisboa, rumo às Indias. Quando se aproxima das costas da África, tem medo das

calmarias. Desvia, então, sua frota de treze navios para longe da África. No dia 22 de abril

do mesmo ano, descobrirá uma nova terra, que será chamada mais tarde de Brasil.

Podemos notar que não há diferenças no conteúdo dos dois textos. A diferença que

existe é estilística.

Vamos ver agora o que acontece quando a metáfora temporal é empregada no

sentido contrário. Quando empregamos o mundo narrado no mundo comentado.

O governo tem por obrigação tomar providências imediatas para diminuir os gastos

públicos. Todos nós ficaremos satisfeitos se a diminuição de gastos fizer diminuir

também a inflação.

Modificando os tempos verbais temos:

O governo teria por obrigação tomar providências imediatas para diminuir os

gastos públicos. Todos ficaríamos satisfeitos se a diminuição destes gastos fizesse

diminuir também a inflação.

Enquanto o emprego dos tempos do presente em uma narrativa leva a um

comprometimento maior do emissor, o uso dos tempos do passado no comentário reduz

esse comprometimento, materializando aquilo que podemos chamar de modalização , uma

atitude de polidez, em que deixamos margem a um possível diálogo, sem impor

autoritariamente nosso ponto de vista.

EXERCITANDO...

1. Construa uma nova versão dos textos abaixo, utilizando o presente como metáfora

temporal.

a) Era como o corpo de uma gaivota, mas voava muito melhor do que antigo jamais voara.

Era maravilhoso, pensava ele, com metade do esforço conseguirei o dobro da velocidade,

o dobro da eficiência dos meus melhores dias na Terra.

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Page 48: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

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b) O Titanic era considerado um navio indestrutível, inafundável. Apesar disso, ainda na sua

viagem inaugural, o enorme monumento à engenharia naval inglesa bateu em um iceberg.

O navio somente tinha escaleres para o pessoal da primeira classe. E afundou rápido,

numa das maiores tragédias marítimas da história.

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2. Construa uma nova versão para os textos abaixo, utilizando os tempos do passado,

como metáfora temporal.

a) Uma outra e muito negligenciada característica da riqueza é o problema criado pelo seu

mais sensual uso e gozo. Os pobres e a gente de renda modesta acham que o principal

deleite dos ricos está no consumo sensual – comida, bebidas caríssimas. Quando

consegue algum dinheiro extra, o pobre, por instinto, logo se entrega à boas comidas e a

bebedeiras.

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b) É interessante que as confederações esportivas tomem atitudes concretas para coibir a

prática de dopping dos atletas em competições. Os casos comprovados dessa prática

serão julgados sumariamente, e o atleta em contravenção será expulso imediatamente da

entidade.

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A DIFERENÇA ENTRE FATO E JULGAMENTO DE FATO

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Page 49: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

É muito importante que saibamos diferenciar o que, em um texto, é fato daquilo que são as

avaliações que um autor realiza sobre os fatos.

O Fato é um acontecimento, um dado, ou um ato que pode ser observado,

verificado, de modo inquestionável. É a linguagem da ciência, como em "A água ferve a

100°", ou dos relatos: "O Brasil foi descoberto em 1500", "Houve um desastre no km 70 da

Via Dutra" etc.

O julgamento é uma opinião, expressão pessoal de aprovação ou reprovação, do

tipo: "Esta é a melhor cidade do país", "Ele é um ladrão", "O filme é péssimo" etc.

Note que na linguagem jornalística, que pretende ser sempre objetiva, nunca se diz:

"O deputado Fulano é um mentiroso, mentiu para a reportagem", mas coisas do tipo: "O

deputado Fulano negou ontem à nossa reportagem as afirmações feitas na terça-feira, 14,

publicadas na p. 8 da edição de ontem, e que haviam sido gravadas pelo repórter X".

Textos apoiados em um acúmulo de julgamentos tendem a ser vagos, e o seu

autor esgota suas ideias em um ou dois parágrafos.

Veja um exemplo de redação fictícia, montada com opiniões ouvidas aqui e ali,

muitas vezes lidas, sobre o tema jovens de ontem e de hoje:

Há grandes diferenças entre os jovens de ontem e de hoje. Antigamente os jovens

eram mais presos, hoje são mais livres. Os jovens de ontem eram também mais

responsáveis e mais estudiosos do que os de agora. Vestiam-se de uma maneira mais

discreta etc.

Note que são todos julgamentos, sem nenhuma comprovação. Há apenas uma

sugestão de um fato observável - a maneira de vestir-se - mas ainda assim discreto; é uma

opinião. O que é discreto para você pode não ser para mim. E o conceito de liberdade? Na

década de 70 foi muito divulgado um anúncio de jeans que afirmava que "liberdade é uma

calça velha, azul e desbotada"...

Ao redigir, procure comprovar adequadamente as suas opiniões através de fatos.

Para ajudá-lo, sugerimos algum treinamento.

Juízo de fato e de valor

Se dissermos: “Está chovendo”, estaremos enunciando um acontecimento constatado por

nós e o juízo proferido é um juízo de fato. Se, porém, falarmos: “A chuva é boa para as plantas” ou

“A chuva é bela”, estaremos interpretando e avaliando o acontecimento. Nesse caso, proferimos um

juízo de valor.

Juízos de fato são aqueles que dizem o que as coisas são, como são e por que são. Em

nossa vida cotidiana, mas também na metafísica e nas ciências, os juízos de fato estão presentes.

49

Page 50: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

Diferentemente deles, os juízos de valor – avaliações sobre coisas, pessoas e situações – são

proferidos na moral, nas artes, na política, na religião.

Juízos de valor avaliam coisas, pessoas, ações, experiências, acontecimentos, sentimentos,

estados de espírito, intenções e decisões como bons ou maus, desejáveis ou indesejáveis.

Os juízos éticos de valor são também normativos, isto é, enunciam normas que

determinam o dever ser de nossos sentimentos, nossos atos, nossos comportamentos. São juízos

que enunciam obrigações e avaliam intenções e ações segundo o critério do correto e do incorreto.

Os juízos éticos de valor nos dizem o que são o bem, o mal, a felicidade. Os juízos éticos

normativos nos dizem que sentimentos, intenções, atos e comportamentos devemos ter ou fazer

para alcançarmos o bem e a felicidade. Enunciam também que atos, sentimentos, intenções e

comportamentos são condenáveis ou incorretos do ponto de vista moral.

Como se pode observar, senso moral e consciência moral são inseparáveis da vida cultural,

uma vez que esta define para seus membros os valores positivos e negativos que devem respeitar

ou detestar.

Qual a origem da diferença entre os dois tipos de juízos? A diferença entre a Natureza e a

Cultura. A primeira, como vimos, é constituída por estruturas e processos necessários, que existem

em si e por si mesmos, independentemente de nós: a chuva é um fenômeno meteorológico cujas

causas e cujos efeitos necessários podemos constatar e explicar.

Por sua vez, a Cultura nasce da maneira como os seres humanos interpretam a si mesmos

e suas relações com a Natureza, acrescentando-lhe sentidos novos, intervindo nela, alterando-a

através do trabalho e da técnica, dando-lhe valores. Dizer que a chuva é boa para as plantas

pressupõe a relação cultural dos humanos com a Natureza, através da agricultura. Considerar a

chuva bela pressupõe uma relação valorativa dos humanos com a Natureza, percebida como objeto

de contemplação.

Frequentemente, não notamos a origem cultural dos valores éticos, do senso moral e da

consciência moral, porque somos educados (cultivados) para eles e neles, como se fossem naturais

ou fáticos, existentes em si e por si mesmos. Para garantir a manutenção dos padrões morais

através do tempo e sua continuidade de geração a geração, as sociedades tendem a naturalizá-los.

A naturalização da existência moral esconde, portanto, o mais importante da ética: o fato de ela ser

criação histórico-cultural.

Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. Ed. Ática: São Paulo, 2000.

EXERCITANDO...

1. São-lhe dadas 8 afirmações: Identifique (com JF) as que exprimem juízos de fato e (com JV)

as que exprimem juízos de valor

( )O céu, normalmente, é azul

( )O meu carro é velho

( )A minha namorada é linda

( )O Islamismo é a única religião verdadeira

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Page 51: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

( ) O desporto faz bem à saúde

( ) 90% dos portugueses acham que o Cristianismo é a única religião verdadeira

( ) Madrid é a capital de Portugal

( ) João é alto

2. Analise os exemplos seguintes, tirados da linguagem coloquial, destacando os fatos e os

julgamentos. Podem aparecer dois na mesma frase como neste modelo:

É impossível viver neste bairro: sofremos três enchentes nos últimos dez anos.

Análise: As enchentes constituem fatos verificáveis, a impossibilidade de viver no bairro é uma

avaliação.

a) Ele é um vagabundo.

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b) Ele é um desempregado sem domicílio fixo.

___________________________________________________________________________

c) A linguagem do presidente não inclui palavras de compreensão difícil.

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d) O presidente tem um estilo de oratória muito agradável.

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e) Ele estudou inglês durante seis anos: deve conhecer bem a língua.

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f) Comemoramos em 1987 o centenário de nascimento de Villa-Lobos.

___________________________________________________________________________

g) Villa-Lobos é o maior compositor brasileiro de todos os tempos.

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h) Faz dois meses que não chove nesta região. As colheitas da época serão grandemente

prejudicadas.

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3. Examine agora quatro textos de jornalistas brasileiros famosos. Responda o que se pede

para cada um deles:

a) Reescreva um fato e um julgamento correspondente:

A ameaça de calote fiscal formalizada por entidades empresariais do ABC é o fato político

mais grave na revoada contestatória dos empresários brasileiros. A rebelião dos contribuintes

- que vai marcar a turbulenta passagem do fim do século no mundo inteiro - contesta algo

mais que a taxa de juros do crédito ou a carga fiscal da economia. Ela questiona, no fundo, o

papel do Estado na sociedade. A instituição chamada governo tornou-se estruturalmente

obsoleta e socialmente injusta: ao invés de servir à sociedade, a pesada máquina burocrática

51

Page 52: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

serve-se dela, tomando como fim o que não passa de meio. (JOELMIR BETTING. Folha de S.

Paulo, 15/03/ 2007.)

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b) Aponte um julgamento que o autor contesta, e um fato utilizado para essa contestação:

O Sunday Times diz que a mulher no Brasil não tem como ser respeitada a não ser por um

belo corpo. Conheço muitas mulheres brasileiras. Vi a ascensão de Cecília Meireles e Elsie

Lesse e sei lá mais quantas. Não é absolutamente verdade que uma mulher que queira ser

alguma coisa no Brasil seja impedida pela sociedade. Comecei em jornal em 1957. Havia uma

mulher no Diário Carioca. Em 1967 metade das redações era composta de mulheres. Hoje, me diz

o diretor de O Globo, que elas são maioria (falo do Rio, mal conheço o resto do país). Sempre

(como editor) trabalhei com mulheres talentosas. É verdade que uma das razões (uma) que as

contratava era porque eram mais baratas que os homens. Hum... Mas com um tempo de redação

ficavam espertas e seguras de si próprias e cobravam seus direitos. Que papo é esse? O Sunday

Times diz que mulher brasileira é corpo. Não é. É quem quer.

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RESUMO

Como elaborar um resumo?

Para a compreensão de um texto, composto de palavras, frases, parágrafos, períodos e

orações, é necessário identificar as ideias acessórias, as ideias principais e as ideias centrais

de cada parágrafo (supondo-se que quem escreveu o texto também saiba escrever, de acordo

com a língua culta de seu país).

Acessórias são as ideias dispensáveis à compreensão do(s) enunciado(s).

Principais são as ideias indispensáveis à compreensão do(s) enunciado(s).

Centrais são a síntese das ideias principais.

 1 – Enumere sucessivamente todos os parágrafos, independente de títulos e subtítulos do

texto (1, 2, 3, 4, 5...).

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Page 53: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

2 – Extraia de cada parágrafo:

a) as ideias acessórias

b) as ideias principais

c) as ideias centrais

Exemplos:

A formiga, símbolo do trabalho, nutre-se, no inverno das provisões do verão; a cigarra,

símbolo da ociosidade, morre , então , de frio e de fome.

A formiga, símbolo do trabalho, nutre-se, no inverno, das provisões do verão; a

cigarra, símbolo da ociosidade, morre, então, de frio e de fome.

Às vezes, os jogos olímpicos são utilizados para manifestações de protesto político ou racial,

como ocorreu no México e em Munique. Tais atitudes, embora compreensíveis, são antes

de mais nada, anti-esportivas e, como tais, inoportunas, comprometendo, quase sempre, o

brilho das competições.

Às vezes, os jogos olímpicos são utilizados para manifestações de protesto político ou

racial, como ocorreu no México e em Munique. Tais atitudes, embora compreensíveis, são

antes de mais nada, anti-esportivas e, como tais, inoportunas, comprometendo, quase

sempre, o brilho das competições.

3 – Descarte as ideias acessórias.

A formiga sobrevive do trabalho do verão, a cigarra morre de fome.

O jogos olímpicos são utilizados para manifestações de protesto político ou racial, tais atitudes

são anti-esportivas e inoportunas e comprometem as competições.

53

Page 54: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

TEXTO

Vestido em trapos, amarrado com

força a uma estaca, o homem espera. Sua

língua está atravessada por um prego e

presa a uma estrutura de metal para evitar

que grite uma última ofensa à Santa

Igreja. Sob seus pés, a pilha de lenha

começa a arder. A cena terrível contrasta

com um lugar de nome poético – Praça das

Flores, no centro de Roma.

É o dia 17 de fevereiro de 1600, o homem

que agoniza se chama Giordano Bruno e tem 52

anos. O crime, tão horrível a ponto de merecer a

punição por “morte sem derramamento de

sangue”, ou seja, fogueira, foi ter ideias que

contrariavam as dos poderosos.

Avancemos agora 400 anos. Deixemos a

Roma seiscentista, capital da Igreja católica e do

mundo ocidental, e voemos para Washington, mês

de novembro 1999. Numa sala da Instituição

Carnegie, o astrônomo Paul Butler e seu colega

Geoff Marcy analisam imagens de centenas de

estrelas, em busca de pequenas perturbações no

seu brilho que indiquem a presença de planetas por

perto. Ali estão: mais seis deles. Jinto com os

catorze localizados anteriormente pela dupla e os

outros oito encontrados por grupos diversos, já são

28. Vinte e oito planetas circulando em volta de

outras estrelas que não são o Sol.

O que isso tem a ver com o filósofoˀ um

dos crimes que levaram Bruno à fogueira foi

imaginar um cosmos povoado de estrelas, cada

qual com seus planetas, e cada planeta com

seus habitantes. A ideia abalou a igreja porque

tirava a Terra de uma posição especial. Saímos do

centro para assumir um lugar qualquer entre os

infinitos mundos.

Passados quatro séculos, o Vaticano não

cogita reabilitar Giordano Bruno. “Ele não fpoi

condenando só pelas visões astronômicas”,

afirmou a Super o monsenhor Alejandro Cifres

Gimenez, direto do arquivo histórico do Santo

Oficio, em Roma, a instituição que julgou e

IDEIAS PRINCIPAIS

Em 1600, Giordano Bruno é condenado à morte pelas

ideias contrárias às da Igreja.

Em 1999, astrônomos descobrem planetas em outros

sistemas solares.

Giordano foi condenado por acreditar que havia outros

sistemas solares.

O Vaticano não reconhece falha na

condenação.Giordano Bruno é considerado herói

pelos cientistas atuais.

54

Page 55: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

4 - Agrupe as ideias centrais, retirando-as da apresentação em tópicos, e transforme-as num texto

único, de sentido completo. Este texto, formado com as ideias centrais (do autor do texto), é o

Resumo informativo ou analítico. Exemplo:

RESUMO PRONTO

Em 1600, Giordano Bruno é condenado e morre na fogueira por acreditar que nosso sistema

solar não era único. Em 1999, astrônomos descobrem outros sistemas solares. Giordano estava

certo. Mesmo assim, o Vaticano não reconhece a falha da condenação. Para a comunidade

cientifica, Giordano Bruno é considerado um herói.

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DE UM RESUMO

a) Nível regular : atende o requisito mínimo como resumo- textos que sejam de fato um

resumo, isto é, que se constituam em uma paráfrase, com redação própria- das principais

ideias contidas no texto-base.

b) Nível bom : Tomando como um texto médio o que atende ao enunciado no item anterior,

recebem avaliação crescente os textos que apresentarem maior refinamento vocabular e

de articulação entre os principais argumentos, densidade argumentativa, bem como

domínio formal da língua padrão e de formas de fazer referência ao texto original.

c) Nível insuficiente : ficam abaixo da avaliação média textos que não cumprirem com o

especificado, sejam porque não se enquadram no gênero solicitado – porque são

comentários, ponderações e não resumos, ou ainda, porque são colagens de trechos do

texto-base, seja em função da falta de domínio formal da língua padrão – escrita. Também

equívocos de leitura e autoria deslocam negativamente a escala de avaliação.

EXERCITANDO...

1. O texto a seguir refere-se ao depoimento à polícia de um velhinho que foi

testemunha de um assalto a um ônibus.

    “Os garotinhos entraram quando o ônibus parou no ponto da Avenida 2. Até desceu

uma mulher de cabelo comprido nesse ponto. Aí eles foram lá no cobrador. Eram quatro.

Dois altos, um de estatura média e um outro baixinho e gordo. Os maiores, um morenão e

o outro mais claro que usava um boné, tinham uma arma na mão. O cobrador nem tava

desconfiando que era um assalto. Já tava conversando com uma mocinha de brincos

grandes há uns três pontos, desde a hora que ela subiu. Ela tava contando para ele que

55

Page 56: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

tinha brigado com o namorado e estava se sentindo muito só. Os garotinhos, eu tô falando

assim porque eles tinham cara de ter menos de vinte anos, cercaram o cobrador e

mandaram ele entregar todo o dinheiro senão iam atirar. Aí que o homem se deu conta e

ficou até branco de tanto susto. Entregou o dinheiro com as mãos tremendo. Graças a

Deus, os garotos não tavam querendo confusão, eles tavam dizendo é que tavam com

muita fome. O senhor deve saber que a fome faz as pessoas ficarem nervosas e violentas.

Eles tavam muito nervosos, mas só pegaram o dinheiro e desceram no outro ponto. Teve

gente no ônibus que nem percebeu que teve assalto. Mas a mocinha que viu tudo não

conseguiu conversar mais com o cobrador. Ela só falava que nunca mais queria andar de

ônibus na vida, pois é muito perigoso.”

a) Se você fosse o policial e tivesse que escolher os três fatos mais importantes da fala do

velhinho para as investigações, quais escolheria?

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b) Há algum fato que não está diretamente relacionado com o caso, mas que pode ser

importante ao longo das investigações?

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c) Selecione os acontecimentos narrados pelo velhinho que não têm relevância e poderiam,

portanto, ser descartados.

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2. Leia atentamente os textos abaixo e responda as questões:

Comida

Arnaldo Antunes

Bebida é água

Comida é pasto

Você tem sede de quê?

Você tem fome de quê?

A gente não quer só comida

A gente quer comida, diversão e arte.

A gente não quer só comida

A gente quer saída para qualquer parte.

A gente não quer só comida

A gente quer bebida, diversão, balé.

A gente não quer só comida

A gente quer a vida como a vida quer.

Bebida é água

Comida é pasto

Você tem sede de quê?

Você tem fome de quê?

A gente não quer só comer,

a gente quer comer, quer fazer amor.

A gente não quer só comer,56

Page 57: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

a gente quer prazer pra aliviar a dor.

A gente não quer só dinheiro,

a gente quer dinheiro e felicidade.

A gente não quer só dinheiro,

a gente quer inteiro e não pela metade.

ALGUNS ARTIGOS DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Artigo XXIV - Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das

horas de trabalho e a férias periódicas remuneradas.

ArtigoXXV

1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde

e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços

sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez,

viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de

seu controle.

ArtigoXXVII

1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir

as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios.

O Bicho

Manuel Bandeira

Vi ontem um bicho

Na imundície do pátio

Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,

Não examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

a) Escreva, com poucas palavras, qual o contraste existente entre o poema de Manuel

Bandeira e a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

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b) Pode-se dizer que tanto a música “Comida” quanto a Declaração Universal têm uma mesma

concepção sobre as necessidades do homem. Descreva, resumidamente, qual é essa

concepção.

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Page 58: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

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3.Resuma os trechos de textos a seguir.

a)

“ O mundo da história está mudando com a guerra do Iraque e numa velocidade incompatível com

o tempo necessário para compreendermos e assimilarmos o verdadeiro significado dessa

mudança. Não somos seus meros espectadores. Essa guerra nos afeta pelo que ouvimos, lemos

e vemos a seu respeito. Ela parece nos nossos sonhos, contamina nosso humor, dirige

surdamente nossos planos. Não importa onde ocorra, uma guerra se espalha por toda parte como

uma nuvem negra, um peso difuso. O mal que se desprende na guerra é a prepotência do poder,

o ímpeto devastador e desmedido da força e da violência que, de propósito, são usadas para ferir

e matar os homens, para devastar o mundo por eles tão arduamente construído e, a reboque,

assolar a natureza.” Dulce Critelli, Folha de S. Paulo, 24 de abril de 2003.

Redija uma paráfrase do texto acima.

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b) Lei da mordaça

"As transformações das pessoas que alcançam o poder deveriam fazer parte de estudos no

sentido de desvendar e revelar o real e verdadeiro caráter de cada um. Um a ser analisado seria o

nosso presidente, tamanha a mudança de comportamento revelada em tão pouco tempo. Querer

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Page 59: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

amordaçar a imprensa é afrontar e desrespeitar o direito de todos os cidadãos. Pelo que se vê, o

poder não modifica as pessoas, apenas as revelam."

Ediney Taveira Queiroz, vice-prefeito de Paraguaçu Paulista (SP) (Paraguaçu Paulista, SP)

Painel do Leitor – Folha de São Paulo, 26/01/2006

Agora, redija uma paráfrase do texto acima

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c)

CRIME VISUAL

Além da agressão sexual, punida pela lei e pelos bons costumes sociais, além da agressão

moral, que é um conceito novo na legislação, uma vez que já existem os crimes de difamação,

injúria e calúnia, surge agora a agressão visual, mais profunda que a poluição visual.

A diferença parece semântica, mas não é. A poluição é um mau uso que deve ser combatido

pela sociedade e particularmente pelo cidadão que se sinta prejudicado em seu bom gosto

ecológico ou visual. Acredito que existem órgãos específicos para tratar desses casos. Não

chegam a ser crimes, mas hábitos que devem ser denunciados.

A agressão visual é mais ou menos recente e, o que é pior, autorizada por leis municipais

descabidas. São os imensos painéis que têm o requinte de serem iluminados à noite, com

publicidade de produtos, firmas e, em períodos eleitorais, com a cara dos candidatos prometendo

solução ou alívio para todos nós.

Tudo bem se a publicidade fosse feita em outdoors, para os quais já existe regulamentação

específica. Ou para as peças promocionais que não apenas os candidatos mas os produtos têm

direito.

Um arquiteto gasta noites nas pranchetas, aturando orçamentos e pressões dos

incorporadores das obras encomendadas, procuram fazer o melhor em termos de funcionalidade

e estética. Pronto o trabalho, vem o anúncio enorme mutilando as laterais e em alguns casos até

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Page 60: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

mesmo as fachadas duramente perseguidas e avaliadas pelos profissionais do setor. Um

estimulante e nutritivo sanduíche com fatias de frango, salada e batatas fritas, ou um não menos

estimulante bumbum de modelo em moda, um filme ou novela em cartaz, ocupam um terço ou

mesmo metade de uma obra que exige respeito ao direito autoral de quem a realizou.

Isso sem falar na monstruosa garrafa de refrigerante que vão botar no Posto Seis, em

Copacabana. Não será uma estátua da Liberdade, como em Nova Iorque. Será uma agressão ao

direito da natureza ser natural.

Carlos Heitor Cony, Folha de S. Paulo, 23/01/2006

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ESCREVENDO...

PRODUÇÃO 01:

Considere os seguintes trechos de entrevistas.

Entrevista com a escritora Susan Sontag.

Veja – Exposição demais à violência por meio de fotos e imagens de televisão pode levar as

pessoas à indiferença e à passividade?

Susan – Essa foi uma ideia que comecei a discutir nos anos 70, quando escrevi meu primeiro

ensaio sobre fotografia, e que senti a necessidade de retomar agora. Naquela época eu disse de

maneira um tanto forte que as imagens poderiam, sim, nos tornar passivos. Hoje eu acredito que

isso não é necessariamente verdade. As coisas só acontecem dessa maneira se a mensagem

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Page 61: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

que acompanha a imagem for a de que nada pode ser feito. Se a mensagem subliminar for "sim,

tudo é horrível, mas interferir está fora de nossas possibilidades", aí ela leva você à passividade.

E é preciso estar alerta também para a compaixão e a simpatia fácil que as imagens de sofrimento

nos provocam. (...) Esse tipo de surpresa é uma espécie de clamor de inocência, um álibi.

Precisamos sempre questionar o papel da compaixão quando vemos algo terrível que está

acontecendo longe de nós. Se não carregar consigo a ideia de que as coisas podem mudar, talvez

você se torne realmente passivo e comece a pensar na realidade como um espetáculo.

(Veja, ed. 1817, ago. 2003.)

Entrevista com o cineasta Steven Spielberg.

Veja – O que o senhor acha da tese de que a violência no cinema e na televisão estimula o

público a agir da mesma forma?

Spielberg – Acho correta. Assistir à violência no cinema ou em programas de TV estimula muito

mais os espectadores a imitar o que vêem do que assistir a ela ao vivo ou nos telejornais. No

cinema, a violência é filmada com iluminação perfeita, em cenas espetaculares, em câmera lenta,

tornando-se até romântica. Já no noticiário o público tem uma percepção muito melhor de como a

violência pode ser horrorosa e usada com finalidades que não existem no cinema.

(Veja, ed. 1821, set. 2003.)

Em um texto de até 10 linhas, compare os pontos de vista de Susan Sontag e Steven

Spielberg sobre os efeitos da exposição do público a imagens de violência.

PRODUÇÃO 02:

Elabore um resumo de até 10 linhas do texto abaixo.

É tudo mentira

Há três anos, quando decidiu escrever um livro

questionando os dados que sustentam as causas

ecológicas, o estatístico dinamarquês Bjørn

Lomborg mal poderia imaginar a fúria que seu

trabalho iria despertar entre os ambientalistas.

Best-seller na Europa e nos Estados Unidos, seu

livro O ambientalista cético (inédito no Brasil)

defende que, tanto do ponto de vista ambiental

***

“O que deve nortear as decisões que afetam o meio

ambiente são os direitos dos seres humanos, e não

dos animais. As pessoas debatem e participam dos

processos decisórios, enquanto pinguins e

pinheiros não. Logo, o nível de proteção que essas

espécies receberão vai depender das pessoas que

falam em nome delas. E como algumas pessoas

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Page 62: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

quanto do social, o planeta nunca esteve tão bem

– e que a tendência é só melhorar. Computando

análises estatísticas de governos, da ONU e de

outros institutos de pesquisa, Lomborg afirma que

a humanidade não precisa se alarmar com o efeito

estufa, os buracos na camada de ozônio, a chuva

ácida ou o desmatamento da Amazônia – para

citar apenas algumas das causas dos ecologistas.

Ele acredita que os governos e a iniciativa privada

já estão agindo para corrigir os estragos

cometidos contra a natureza e acusa de

apocalípticos e inconsistentes os que discordam

da sua análise. Eis algumas declarações

polêmicas de Lomborg:

“No caso de países emergentes, garantir as

necessidades básicas da população – produzir

bastante comida – pode ser mais importante do

que o meio ambiente. É verdade que o número de

famintos vem caindo no mundo, mas ainda

precisa cair mais. De acordo com a ONU, em

2010 ainda haverá 680 milhões de famintos no

planeta. E, além de tirar as pessoas da pobreza, é

preciso garantir saúde e educação. Apenas

quando você não tem que se preocupar em

conseguir sua próxima refeição é que pode

começar a se preocupar com o ambiente. Se

quisermos que uma floresta permaneça intocada,

essa será uma grande vantagem para muitos

animais, mas uma oportunidade perdida para

plantar comida.”

vão valorizar mais algumas plantas e animais,

esses não podem receber direitos especiais em

detrimento do direito de outros seres humanos. Isso

pode parecer egoísta da parte do homem, mas é

importante notar que essa visão antropocêntrica

não consiste automaticamente em negligenciar ou

eliminar outras formas de vida. Os homens são tão

dependentes de outros seres vivos que muitas

espécies terão o seu bem-estar garantido.”

***

“Se eu pudesse escolher o melhor ambiente para

viver, teria nascido agora mesmo ou um pouco mais

no futuro. As pessoas se imaginam vivendo num

ambiente intocável na pré-história, mas esquecem

que a média de vida por lá era de apenas 20 anos.

A luta por comida era dura e, muitas vezes, a

natureza era nossa inimiga. Somente hoje, quando

contamos com a tecnologia para viver, em média,

67 anos, podemos nos preocupar com a

preservação. Ao mesmo tempo, somos 6,2 bilhões

de pessoas no planeta marchando para 9 bilhões

em 2050, o que, certamente, causará problemas.

Contudo, acredito que a vida poderá ser melhor.”

(Adaptado de: Superinteressante, jul. 2002.)

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Page 63: Oficina de Texto 1 e 2 Anos

REFERÊNCIAS

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GARCEZ, Lucilia Helena do Carmo. Técnica de Redação. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

INFANTE, Ulisses. Curso de Gramática Aplicada aos Textos. São Paulo: Scipione, 2005.

MAINGUENEAU, Dominique. Análise de textos de comunicação. Tradução de Cecília P. de

Sousa-e-Silva & Décio Rocha. São Paulo: Cortez, 2001

MANDRYK, David & FARACO, C. Alberto. Prática de Redação para Estudantes Universitários.

Petrópolis: Vozes, 1995.

MARTINS, Eduardo. Manual de Redação e Estilo de O Estado de São Paulo. Ed. Moderna.

MEDEIROS, João Bosco. Português Instrumental. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

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MEDEIROS, João Bosco. Redação Empresarial. 5. ed. São Paulo: Altas, 2007.

SILVEIRA MARTINS, D.; ZILBERKNOP, L. SCLIAR. Português instrumental. São Paulo: Atlas,

2008.

PECORA. Problemas de Redação. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

ABREU, Antônio S. Curso de Redação. São Paulo: Ática, 2009.

BELLINE, Ana Helena Cizotto. A Dissertação. São Paulo: Ática, 1988.

CARNEIRO, Agostinho Dias, Redação em construção, São Paulo: Moderna, 1997.

CARNEIRO, Agostinho Dias, Texto em construção, São Paulo: Moderna, 1996.

SITES:

http://educacao.uol.com.br/bancoderedacoes/

http://www.universitariovestibulares.com.br/Arquivos/Editor/Album/200705071902260404.jpg

http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=orientacao/docs/comolertextos2

http://www.algosobre.com.br/redacao/nao-comece-pelo-comeco-a-redacao.html

 

 

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