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OFICINA DE ORALIDADE: MÉTODOS E TÉCNICAS A PARTIR DA HISTÓRIA ORAL Profº.Alessandro Euzébio [email protected]

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Oficina de história oral

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Page 1: Oficina de história oral

OFICINA DE ORALIDADE: MÉTODOS E TÉCNICAS A PARTIR

DA HISTÓRIA ORAL

Profº.Alessandro Euzé[email protected]

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ORALIDADE: MÉTODOS E TÉCNICAS

OFICINA

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Definição A história oral é uma metodologia de pesquisa

que consiste em registrar, através de entrevistas, testemunhos sobre acontecimentos, conjunturas, instituições, modos de vida ou outros aspectos da história contemporânea..

Seria uma prática de pesquisa para a apreensão de narrativas feita com meios eletrônicos (gravadores, filmadoras) e destinada à elaboração de documentos.

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É um procedimento metodológico que busca registrar, através de narrativas induzidas e estimuladas, testemunhos, versões e interpretações sobre a História em diversos aspectos: de vida, social, cultural e outros.

Privilegia a realização de entrevistas e depoimentos com pessoas que participaram de processos históricos ou testemunharam acontecimentos.

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EVOLUÇÃO DE UMA PRÁTICA

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Primórdios: tradição oral de sociedades africanas e grupos ágrafos.

A História se constituiu cientificamente a partir da crítica da tradição oral e do testemunho.

Século XIX criação da profissão acadêmica de historiador: Leopold von Ranke, Langlois e Seignobos: primazia do documento escrito.

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Os testemunhos orais no século XX receberam novos sentidos com o surgimento dos meios eletrônicos de gravação.

Os primeiros estudos de história oral ocorreram nos E.U.A, os precursores. As pesquisas eram da área de Ciência Política e concentravam-se na memória dos ex-combatentes da 2ª Guerra e de pessoas notáveis. Tais estudos não se distanciavam de uma história positivista dos heróis.

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Paralelamente, desenvolveram-se estudos ligados à Antropologia, contemplando grupos sociais negligenciados pela outra tendência.No México, desde 1956, os arquivos sonoros do Departamento de Antropologia registravam as recordações dos chefes da Revolução Mexicana.Na Itália, sociólogos e antropólogos utilizaram a pesquisa oral para reconstituir a cultura popular.

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Anos 60 - desenvolve-se uma concepção associada à perspectiva da história vista de baixo, que dá voz às minorias e grupos marginalizados

Anos 70 - a história oral passa a ser considerada uma nova metodologia para a pesquisa histórica. Surgem associações, revistas, projetos e institutos dedicados a história oral em vários países.

Anos 80 – período que promoveu reflexões epistemológicas e metodológicas. Na França e na Itália se tornou um meio eficiente para motivar os alunos de história.

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Anos 90 - Muitos estudos passaram a privilegiar a questão da subjetividade dos sujeitos. O Fim da Guerra Fria propiciou à pesquisa oral as condições de liberdade necessárias e novos campos de estudos.

As câmeras filmadoras permitiram a

multiplicação dos videogramas, que complementaram ou mesmo substituíram os fonogramas.

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Da influência da Escola francesa dos Annales

Do restabelecimento /desenvolvimento da democracia

Não se pode separar o progresso da história oral

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ORALIDADE NO BRASIL

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Em 1975 criou-se na Fundação Getúlio Vargas o primeiro programa de história oral destinado a colher depoimentos de líderes políticos. Criação do CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contem_ porânea do Brasil.Influência da Ciência Política – intenção de criar um arquivo de documentos orais sobre a história política brasileira.

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Maior emprego da História Oral no início dos anos 80, período da abertura política brasileira, o que marca a História Oral com um caráter democrático.

São produzidos estudos a partir de entrevistas de exilados que retornavam ao país após a Anistia.

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A partir dos anos 1990, o movimento em torno da história oral cresceu muito. Em 1994, foi criada a Associação Brasileira de História Oral, que congrega membros de todas as regiões do país, reúne-se periodicamente em encontros regionais e nacionais, e edita revistas e boletins.

Em 1996, foi criada a Associação Internacioal de História, que realiza congressos bianuais.

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Relação: HISTÓRIA LOCAL E HISTÓRIA ORAL

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Especificidades, contribuições, limites.

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EspecificidadesA fonte oral é singular e não se presta a generalizações.Contribui para relativizar conceitos e pressupostos que tendem a universalizar e a generalizar as experiências humanas.São visões particulares dos processos coletivos. As narrativas possuem dimensões individuais e coletivas.

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Duas temporalidades: época do acontecido e da narração sobre o acontecido.

Predomínio da subjetividade: entendida como o espaço íntimo do individuo com o qual ele se relaciona com o mundo social, resultando tanto em marcas singulares na sua formação quanto na construção de crenças e valores compartilhados na dimensão cultural que vão constituir a experiência histórica e coletiva dos grupos. A subjetividade é o mundo interno do ser humano. Este mundo interno é composto por emoções, sentimentos e pensamentos.

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Importância do registro subjetivo

O modo como as pessoas olham para a sua vida. O modo como falam dela, a ordenação que lhe dão, aquilo que enfatizam, aquilo de que não falam, as palavras que escolhem, são importantes na compreensão de qualquer entrevista.

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As potencialidades metodológicas e cognitivas da fonte oral

Recuperar memórias locais, comunitárias, étnicas, de gênero, entre outras, sob diferentes óticas e versões.Recuperar informações sobre acontecimentos e processos que não se encontram registrados em outros tipos de documentos.

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Contemplar o registro de visões de personagens ou testemunhas da história, invisibilizados pela história oficial.

Apresentar revisões através de novas versões e interpretações sobre determinado assunto ou tema.

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Limites da História Oral Aplicabilidade do método somente às épocas contemporâneas, à história do tempo presente;Predomínio da subjetividade;Possível influência, mesmo que involuntária, do transcritor da entrevista;Influência da conjuntura sobre o documento produzido.

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Tipos de entrevista História oral de vida – relatos dos sujeitos acerca da

própria existência, pelos quais se pode conhecer suas relações com seu grupo, profissão, classe e sociedade em que vivem. Caracteriza-se por depoimentos prolongados, orientados por roteiros mais abertos, que objetivam reconstituir a trajetória de vida de determinado sujeito.

São 3 tipos: Depoimento biográfico único, Pesquisa biográfica múltipla, Pesquisa biográfica complementar.

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Entrevistas temáticas São entrevistas que se referem a experiências ou

processos específicos vividos ou testemunhados pelos entrevistados. São conduzidas a partir de um tema específico produzindo informações e dados mais delimitados.

Ex: O imaginário sobre Getúlio Vargas; Memórias sobre a repressão política; O Holocausto; A explosão da bomba atômica em Hiroshima; A participação dos pracinhas na Segunda Guerra, etc.

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Oralidade Etapas e Procedimentos

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Preparar um projeto/pesquisa

Escolher um tema / definir objeto de estudo.

Contato com entrevistas já feitas.

Decidir quem será entrevistado (estipular critérios).

Estabelecer contatos preliminares com os entrevistados para explicar a intenção do projeto.

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Conseguir equipamento para gravação, aprender a manuseá-lo;

Preparar roteiro de perguntas;

Conhecer o assunto pesquisado para o bom andamento da entrevista. História oral e pesquisa documental caminham juntas.

Levar material de apoio para auxiliar o entrevistado a rememorar.

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No momento da entrevista Registrar, no início da entrevista, para o gravador, os seguintes dados: data, nome do entrevistador, nome do depoente, local, tema, tipo do gravador.

Manter-se neutro, evitar demonstrações de espanto, discordância, etc.

Ser flexível para rever roteiros.

Respeitar as idiossincrasias e as características da personalidade dos sujeitos.

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Considerar os imaginários, os limites, as identidades, as diferenças que caracterizam aquele sujeito ou grupo social.

Não interromper o entrevistado e respeitar os momentos de emoção, silêncio e esquecimento;

Evitar perguntas longas e indiretas, formular perguntas que provoquem respostas.

Produzir imagens do encontro.

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Recomenda-se que as entrevistas sejam realizadas por 2 pesquisadores:

O primeiro conduzirá o depoimento, formulando questões

O segundo ficará responsável pelas atividades de apoio, tais como controle do gravador, registro de informações significativas no caderno de campo.

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Caderno de campo Necessário para anotações

complementares: afirmações não-gravadas mais significativas ou de foro confidencial, bem como os gestos e as expressões, os silêncios e as hesitações, as insistências e as repetições, o tom peremptório ou evasivo.

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Carta de Cessão Ao término de uma entrevista é necessário

apresentar ao entrevistado, para sua anuência, uma carta de cessão, que deve ser clara e fazer referência às diferentes possibilidades de utilização e socialização da entrevista. É um documento imprescindível para a divulgação e uso da entrevista.

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As tarefas podem ser divididas de acordo com as aptidões de cada um:

Tirar fotos,Fazer gravaçõesElaborar questõesEntrevistarEscrever no caderno de campoTranscrição / Tratamento do material gravado

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Processamento e análise das entrevistas

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Transcrição

Transposição: código oral escrito

Versão escrita dos depoimentos, buscando reproduzir com fidelidade, tudo o que foi dito, sem cortes nem acréscimos.

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Passagens pouco claras: colchetes [ ] Dúvidas, silêncios e hesitações: reticências (...) Risos: identificados em parênteses (risos)Negrito: para palavras e frases com forte entonação;Atenção com a pontuação (.,;!?), procurando não alterar o sentido das palavras ou frases.

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Análise das entrevistas

Através dos depoimentos é possível:

Agrupar entrevistas com aproximação • temática.

Construir evidências

Estabelecer correlações, comparar versões

Analisar narrativas a partir dos temas • definidos anteriormente, fazendo a • interlocução com os materiais estudados.•

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Mediação

Nessa etapa final serão apresentados os resultados e a sistematização final, levantando os pontos em comum e as diferenças encontradas nas entrevistas.

O professor assumirá o papel de mediador, apontando o que achou interessante, perguntando o que os alunos consideraram relevante, discutindo com a turma o que se aprendeu, as dificuldades encontradas, etc.

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Finalização e devolução Promover a integração entre a escola e a

comunidade que gerou o trabalho por meio de um produto histórico – um folder, um texto, uma exposição, uma palestra, dando acesso público aos resultados do trabalho. A finalização do projeto pode acontecer em um seminário ou feira. Assim a história oral pode ser aliada na valorização das histórias e dos saberes locais.

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Resgata experiências individuais e coletivas, fazendo o aluno vê-las como constitutivas de uma realidade histórica mais ampla.

Facilita a percepção de continuidades, mudanças, conflitos e permanências;

Produz um conhecimento que contribui para a construção da consciência histórica.

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Gera atitudes investigativas. Alunos e professores deixam de ser reprodutores do conhecimento histórico para assumirem juntos o papel de pesquisadores.

Pode ser instrumento para construção de uma história mais plural, menos homogênea, que não silencie a multiplicidade de vozes dos diferentes sujeitos da História;

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A história oral pode estar presente nos estudos de outras disciplinas. Há possibilidades de trabalho com:

Ciências Sociais: análises sociais e antropológicas.

Arte: Registros fotográficos e desenhos.

Geografia: Estudo de espaços, mapas,

localidades;

Matemática:Tabulação de dados, cálculos, estatísticas.

Português: produção de textos, narrativas

Interdisciplinariedade

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ANÁLISE DE TRECHOS DE FILME:

Narradores de JavéDrama, Brasil, 2003, 100 min. Diretora: Eliane Caffé.

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Javé é uma localidade fictícia, no sertão nordestino, que está prestes a ser inundada pela construção de uma hidrelétrica. Para alterar a direção dos acontecimentos, seus poucos moradores resolvem escrever a história da cidade, com o objetivo de transformá-la em patrimônio histórico e preservá-la. Com a necessidade de escrever um documento "científico", Biá inicia suas entrevistas com alguns moradores antigos, tentando reescrever a história de Vale de Javé.

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O problema é que as histórias (são 5 versões diferentes) sobre os personagens se contradizem e o "escrevinhador" se vê diante da difícil tarefa de reunir, a partir das versões escutadas, uma única história e registrá-la na forma de “documento científico”. Ao longo de todo o filme, a diretora aborda a questão da história oficial e os excluídos dessa história, estabelecendo uma relação entre a oralidade e a escrita.

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Trecho 1 - Narradores de Javé - Escrita da história

Nesse trecho, Antonio Biá anota a história sobre o herói Indalécio e ao escrever o texto sugere ao narrador algumas adaptações ao fato. Fragmento relevante para identificar a distância entre a fala e a escrita na perspectiva da história oral.

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Trecho 2 - Narradores de Javé - Questão de gênero

Nesse trecho, o escrivão Biá escuta, sem muito interesse, a versão relatada por uma mulher do povoado. Nesta versão da história da fundação de Javé, a grande heroína é Maria Dina.

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Trecho 3 - Narradores de Javé - Oxum Na versão de um morador negro do povoado de Javé, o herói seria um líder africano chamado Indalêo e não Indaleu. Nesta história, surge a oralidade da memória como praticada por culturas milenares. O narrador canta a história em seu dialeto africano.

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Rompendo o silêncioSérie de 5 Documentários, EUA,

2001, 280 min. Produção: Steven Spielberg.

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Projeto de registro audiovisual de depoimentos da Shoah realizado por Steven Spielberg. Rompendo o silêncio retrata os horrores do Holocausto sob o ponto de vista de quem o vivenciou de perto.

O Holocausto é o tema da segunda guerra que

suscita cada vez mais pesquisas orais, não só gravadas mas filmadas.

Outras obras sobre o tema: Silêncio da memória – Nicole Lapider O universo dos campos de concentração – Michael

Pollack Shoah – Claude Lanzmann

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Vídeo - Programa do Globo Universidade:Pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas, no Rio,

estudam o movimento negro através dos relatos dos integrantes

História OralPrograma televisivo, Brasil, 2010, 24 min.

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Alessandro EuzébioMestrando em Educação pela UNINOVE

Especialista em Identidade, Cultura, Políticas Sociais e Serviço SocialEspecialista em Educação no Ensino Superior

[email protected]