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III Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo arquitetura, cidade e projeto: uma construção coletiva São Paulo, 2014 1 EIXO TEMÁTICO: ( ) Ambiente e Sustentabilidade (X) Crítica, Documentação e Reflexão ( ) Espaço Público e Cidadania ( ) Habitação e Direito à Cidade ( ) Infraestrutura e Mobilidade ( ) Novos processos e novas tecnologias ( ) Patrimônio, Cultura e Identidade Movimentos de institucionalização de região metropolitana em cidades capitais de porte médio: Niterói (RJ) e Vitória (ES) Movements of metropolitan’s institutionalization in mid-sized cities’ capital: Niterói (RJ) and Vitória (ES) Movimientos de institucionalización metropolitana en las ciudades capitales de tamaño medio: Niterói (RJ) y Vitória (ES) AZEVEDO, Marlice Nazareth Soares de (1); MENDONÇA, Eneida Maria Souza (2) (1) Professora Doutora da UFF – PPGAU. Brasil, [email protected] (2) Professora Doutora da UFES – PPGAU e PPGG. Brasil, [email protected]

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III Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

arquitetura, cidade e projeto: uma construção coletiva

São Paulo, 2014

1

EIXO TEMÁTICO: ( ) Ambiente e Sustentabilidade (X) Crítica, Documentação e Reflexão ( ) Espaço Público e Cidadania ( ) Habitação e Direito à Cidade ( ) Infraestrutura e Mobilidade ( ) Novos processos e novas tecnologias ( ) Patrimônio, Cultura e Identidade

Movimentos de institucionalização de região metropolitana em cidades capitais de porte médio: Niterói (RJ) e Vitória (ES)

Movements of metropolitan’s institutionalization in mid-sized cities’ capital: Niterói (RJ) and Vitória (ES)

Movimientos de institucionalización metropolitana en las ciudades capitales de tamaño medio: Niterói (RJ) y Vitória (ES)

AZEVEDO, Marlice Nazareth Soares de (1);

MENDONÇA, Eneida Maria Souza (2)

(1) Professora Doutora da UFF – PPGAU. Brasil, [email protected] (2) Professora Doutora da UFES – PPGAU e PPGG. Brasil, [email protected]

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Movimentos de institucionalização de região metropolitana em cidades capitais de porte médio: Niterói (RJ) e Vitória (ES)

Movements of metropolitan’s institutionalization in mid-sized capital cities: Niterói (RJ) and Vitória (ES)

Movimientos de institucionalización metropolitana en las ciudades capitales de tamaño medio: Niterói (RJ) y Vitória (ES)

RESUMO O artigo trata de estudo sobre iniciativas de estruturação de organismos de planejamento em metrópoles de médio porte na década de 1960. As iniciativas aqui tratadas envolvem as cidades de Niterói e Vitória, respectivamente, capitais dos Estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Tais experiências foram contemporâneas de estudos de regionalização realizados pelo IBGE e antecederam a institucionalização das regiões metropolitanas no Brasil, regulamentadas pela Lei Complementar n. 14 de 8 de junho de 1973. Trata-se de movimentos aparentemente desarticulados entre si, mas com ações similares e simultâneas. Constatou-se que a despeito dos esforços locais desenvolvidos na época, nenhuma das duas capitais foi incluída na determinação federal de institucionalização das Regiões Metropolitanas no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: metropolização, planejamento regional, cidades capitais

ABSTRACT The paper deals with a study on initiatives for structuring planning agencies in midsize metropolis in the 1960s. Initiatives treated here involve the cities of Niterói and Victoria, respectively, capital of the states of Rio de Janeiro and Espírito Santo. Such experiences were contemporary studies of regionalization conducted by IBGE and preceded the institutionalization of metropolitan regions in Brazil, regulated by Complementary Law n. 14 June 8, 1973. This is apparently disjointed movements together, but with similar and simultaneous actions. It was found that despite local efforts at the time, neither was included in the federal determination institutionalization of metropolitan areas in Brazil.

KEY-WORDS: metropolization, regional planning, capital cities

RESUMEN:

El artículo trata de un estudio sobre las iniciativas de estructuración de los organismos de planificación de metrópolis de porte medio en la década de 1960. Las iniciativas aquí tratadas incluyen las ciudades de Niterói y Victoria, respectivamente, la capital de las províncias de Río de Janeiro y Espírito Santo. Estas experiencias fueron contemporáneas de estudios de regionalización hechos por IBGE y precederón la institucionalización de las regiones metropolitanas de Brasil, reguladas por la Lei Complementar n. 14, de 8 junio de 1973. Se habla de movimientos desarticulados entre si, pero con acciones similares y simultáneas. Se observó que aunque esfuerzos locales se desarrollarón en el momento, no se incluyó ninguna de las dos capitales en la determinación federal de institucionalización de las regiones metropolitanas de Brasil. PALABRAS CLAVE: metrópolis, planificación regional, ciudades capitales

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1. INTRODUÇÃO

Os anos de 1960 representam uma quebra de paradigmas passando a configurar um quadro renovado do pensamento intelectual, acadêmico e político da América Latina, expressando-se por meio de diversas teorias sociais e econômicas, que trouxeram como um dos seus focos a escala do planejamento regional. Este artigo aborda iniciativas precursoras de criação de instituições de planejamento metropolitano em cidades capitais de porte médio iniciadas na década de 1960, aparentemente, sem expresso respaldo do poder político, na época, centralizado na escala federal, pelo governo militar. As cidades em questão correspondem a Niterói, então capital do Estado do Rio de Janeiro e Vitória, capital capixaba. O estudo se desenvolveu com base na história dos percursos políticos e socioeconômicos determinantes na estruturação urbana e nas ações de planejamento dessas aglomerações conurbadas. As fontes utilizadas constituem-se de documentos oficiais, como estudos, planos e regulamentações elaborados principalmente durante o período compreendido entre meados das décadas de 1960 e 1970. O período delimitado inicia com o governo ditatorial militar, em 1964 e termina com a fusão dos Estados do Rio de Janeiro e da Guanabara e a criação da região metropolitana do Rio de Janeiro determinada pela Lei Complementar nº 20 de 1 de julho de 1974, a última a ser institucionalizada pelo governo federal.

Antes de abordar aspectos gerais sobre as características de urbanização da área de estudo, cabe tecer breves comentários sobre o quadro nacional e o contexto do planejamento regional no Brasil.

O país, nesta década de 1960, por meio dos estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE –, passou de uma perspectiva de regiões naturais para uma nova configuração espacial em que o processo de regionalização constituiu-se em uma ferramenta de planejamento. O contexto dessa discussão girou entre os conceitos de regiões homogêneas (definidas pela combinação de aspectos naturais, sociais e econômicos) e regiões polarizadas, e desaguou nos primeiros estudos de regionalização do Brasil, rebatendo-se em estados, como Rio de Janeiro e Espírito Santo. Essas duas linhas de estudos serviram de referência para as regionalizações estaduais, conforme o interesse político/administrativo de cada unidade da federação. No contexto fluminense os trabalhos desenvolvidos foram importantes para a conformação espacial da Região do Rio de Janeiro principalmente no que se referia às relações entre a cidade do Rio de Janeiro e seu território de influência imediato – de um lado a Baixada Fluminense e do outro lado a então capital Niterói e sua área de influência1. No caso capixaba, os estudos de regionalização fundamentaram a classificação da capital e seu entorno, como região hegemônica, de mais elevada hierarquia urbana no Espírito Santo.

No que concerne à experiência brasileira pós 1964, a criação do Banco Nacional de Habitação – BNH – e do Serviço Federal de Habitação e Urbanismo – SERFHAU –, como agente técnico do Sistema Federal de Habitação, com a função de organizar as cidades para receber o espaço habitacional, apresentou proposições que sobrepujavam as relacionadas ao desenvolvimento urbano, pois traziam no seu cerne a dicotomia cidade /habitação, que veio a perturbar todo esse período de estudo.

O SERFHAU foi regulamentado em 1966 e passou a ter função de elaborar e coordenar a política nacional de planejamento local integrado estabelecida dentro das diretrizes da política

1 No contexto fluminense os trabalhos de Nilo Bernardes (1949), Lysia Bernardes (1964), Pedro Geiger (1954, 1956a,

1956b, 1960, 1962), foram fundamentais para a compreensão da sua conformação espacial.

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de desenvolvimento regional (BRASIL, 1966). O Planejamento Local Integrado (PLI) era exercido, na prática, como planejamento a nível municipal, através da elaboração de planos e projetos, compatibilizando aspectos econômicos, sociais, físicos e institucionais, com a perspectiva interdisciplinar dos problemas locais, mas com ênfase nas questões físico-urbanísticas. De fato, não havia critério de seleção dos municípios, ainda que tenha havido mais ênfase sobre os de mais de 50.000 habitantes. Em 1969 foi criado o Plano de Ação Concentrada – PAC –, pelo Ministério do Interior, que fixou algumas condições tendo por base as microrregiões homogêneas estabelecidas pelo IBGE e 455 municípios foram incluídos, o Distrito Federal e o antigo Estado da Guanabara. Na verdade, havia um conflito de poderes, pois se de um lado era enfatizado o poder local, de outro, as políticas habitacional e de saneamento, financiadas pelo BNH se articulavam ao poder estadual através das Companhias Estaduais responsáveis por essas intervenções nas sedes municipais.

Os fatos também demostram uma desvinculação entre os Planos locais e as preocupações do planejamento econômico empreendido pelo Poder Central, questões estas bem absorvidas pelos governos estaduais. Estes se alinhavam ao governo federal por meio de suas Companhias e de seus órgãos recém-criados de desenvolvimento econômico e territorial, que também viram nas regiões supramunicipais uma possibilidade de atuação. Essas contingências podem ter contribuído como agente detonador das políticas regionais e metropolitanas que começaram a emergir nos estados da federação, como no caso dos Estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.

2. CARACTERÍSITCAS GERAIS DA URBANIZAÇÃO BRASILEIRA E DAS ÁREAS DE ESTUDO

O país estava atravessando um processo de urbanização intenso ultrapassando percentuais superiores a 50% (66% em 1960/1970 e 55% em 1970/1980), definindo um novo perfil urbano, no qual se distinguiam as regiões metropolitanas. Elas ultrapassavam os 9 milhões de habitantes em 1950, ainda que não institucionalizadas, e mais de 35 milhões em 1980, aumentando continuamente sua participação (18%, 22%, 25% e 29% entre 1950 e 1980). As regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro se distinguiam assim como a região sudeste onde estas cidades se localizavam, concentrando mais de 40% da população brasileira. O desequilíbrio desta urbanização intensa e desta ocupação territorial foi diagnosticado como um dos obstáculos ao desenvolvimento do país. Como se verificava, os desequilíbrios regionais deveriam ser minimizados e para tanto o planejamento territorial nesta escala constituía uma das principais metas que só poderiam ser alcançadas pela efetiva atuação dos estados da Federação.

As duas cidades em foco, Niterói, com 245. 400 habitantes e Vitória, com 85.242 habitantes em 1960, constituíam-se em capitais de porte médio, ambas em processo de urbanização marcado pela agregação de municípios vizinhos e pela capacidade de influência e articulação, em função de sua superioridade hierárquica.

No período, estudos técnicos elaborados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – propiciavam novas reflexões sobre a regionalização do país, em função de suas pesquisas para a definição de regiões homogêneas e polarizadas. Nos casos aqui tratados, estas regiões foram denominadas de Grande Niterói e Grande Vitória. A primeira agregava além de Niterói, os municípios de São Gonçalo, Itaboraí, Magé e Maricá. A Grande Vitória, além de Vitória, abarcava os municípios de Vila Velha, Serra, Cariacica e Viana.

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3. ASPECTOS INSTITUCIONAIS RELATIVOS À GRANDE NITERÓI

Os ricos debates que alimentaram o final da década de 1950 sobre a questão do planejamento regional e metropolitano, no caso do Estado do Rio de Janeiro, por conta da criação do Estado da Guanabara em 1960, após a mudança da capital para o planalto central, fizeram com que as funções metropolitanas fossem assumidas pelo poder central. A primeira iniciativa foi a criação da Coordenação de Habitação de Interesse Social da Área Metropolitana do Grande Rio – CHISAM –, através do Decreto Federal n° 62654 de 03 de maio de 1968, uma autarquia criada pelo Ministério do Interior, que juntamente com o BNH e órgãos do Estado da Guanabara, teria o papel de remover favelas do Rio de Janeiro para Conjuntos Habitacionais das Zonas Norte e Oeste da cidade.2 Essa instituição, apesar do alcance metropolitano, só atuou na cidade do Rio de Janeiro. Outra iniciativa ocorrida foi a formação do Grupo de Estudos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro – GERMET –, órgão subordinado à Secretaria Geral do mesmo Ministério, que tinha como Secretário Executivo o Arquiteto Paulo Tupper.

O governo fluminense manifestou-se pela primeira vez sobre a questão metropolitana com a criação da Secretaria Extraordinária de Planejamento em 1965. Nesta Secretaria foi desenvolvido o estudo de caracterização das regiões socioeconômicas do Estado, transformando-se posteriormente no Grupo de Planejamento do Governo do Estado do Rio de Janeiro. A questão metropolitana tomou contornos neste Grupo com a criação da Comissão de Planejamento da Grande Niterói – CPGRAN –. Paralelamente, um processo de estudos regionais se desenvolveu na Secretaria de Obras e Serviços Públicos cobrindo territorialmente o Estado de um e outro lado da Baía de Guanabara. Os municípios conurbados e polarizados pela cidade/estado do Rio de Janeiro (cidade do Rio de Janeiro/estado da Guanabara) localizados no estado do Rio de Janeiro foram objeto do texto “Baixada- área metropolitana- É necessária uma solução institucional?”. De fato, acredita-se que essas iniciativas resultaram de uma conjunção de medidas dos governos estadual e municipal, que foram impelidos a dar mais visibilidade ao Estado do Rio de Janeiro e sua capital (Niterói) em face à cidade/estado, Rio de Janeiro/Guanabara, numa conjuntura de enfrentamento político, que envolvia a União Democrática Nacional – UDN – versus o Partido Trabalhista Brasileiro – PTB –, partidos de acirrada oposição.

A Comissão de Planejamento da Grande Niterói – CPGRAN –, foi criada pelo Decreto- Lei estadual n° 41 de 16 de junho de 1969, com o objetivo de promover o Plano Estadual da cidade de Niterói e sua zona de influência e colocar em pauta o Sistema de Planejamento Integrado da Grande Niterói. Sua ação limitada à cidade poderia ser estendida aos municípios vizinhos de São Gonçalo, Itaboraí, Magé e Maricá por decreto do poder executivo estadual. Compreendia uma população de 613 504 habitantes (1960), em que 80% correspondiam aos municípios de Niterói e São Gonçalo, com número de habitantes equivalentes. A sua composição era de um Presidente, escolhido e indicado pelo Governador, três representantes indicados pelo poder executivo do Estado, e dois representantes propostos pela prefeitura de Niterói e nomeados pelo governador. A composição indicava ligações de fato e de direito do governo estadual e indiretamente uma intervenção no território municipal.

A nível microrregional, cinco pontos deveriam ser abordados:

. As relações entre a Grande Niterói e a região metropolitana do Grande Rio;

2 Durante 5 anos de atuação o órgão removeu 62 favelas para 35 517 unidades construídas em conjuntos

habitacionais.

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. A influência da construção da Ponte Rio- Niterói;

. A definição da Grande Niterói;

. A elaboração das estratégias de desenvolvimento para a Região;

. A fixação de objetivos de ação nos setores econômico-social, físico urbanístico e institucional para a região.

A ação da Comissão se manifestava em dois níveis: ao nível de planejamento pela realização do plano integrado da Grande Niterói, a ser objeto de uma licitação pública e a nível funcional, pela elaboração de um catálogo de projetos destinados especificamente à cidade de Niterói, nos setores viários e de saneamento, que se caracterizavam pelos elevados custos de investimentos exigidos.

A licitação foi realizada e doze propostas se apresentaram, entre empresas isoladas e consorciadas sendo vencedora o consórcio SOCIPLAN-CONSULTEC, que apresentou o melhor preço e o prazo mais curto para elaboração (240 dias)3. O resultado não foi homologado por conta da mudança do governador do Estado.

Os projetos viários eram justificados pela construção da Ponte e a retomada do projeto de metrô do Rio de Janeiro, que previa sua extensão até Niterói com a construção de um túnel submarino entre as duas cidades.

No que concerne às obras de saneamento, o projeto prioritário era o da construção de um interceptor oceânico, para o esgotamento das águas servidas, para despoluir a baía de Guanabara. A construção do túnel Charitas-Piratininga para a passagem do interceptor serviria igualmente de via de acesso às praias oceânicas.

A estrutura viária proposta tinha em conta a realização desses projetos, prevendo uma série de obras complementares, inclusive de desapropriação de imóveis e alargamento de vias, construção de viadutos, de túneis, aterrados no litoral, projetos estes que em sua maioria nunca saíram do papel.

Devido à supressão da Comissão, com a chegada do novo governador (1971), com base na reforma administrativa encaminhada pelo Executivo, a questão metropolitana retornou à esfera estadual, por meio da assessoria do Governo e do Conselho de Planejamento e Coordenação, que assumiu as funções da CPGRAN. Com a dispersão de seus componentes, muitos desses projetos ilustraram as orientações dos governos que se seguiram, apresentando novas justificativas, ou foram concretizados pelas necessidades viárias impostas pela inauguração da Ponte Rio-Niterói (1974).

Pesquisando-se em jornais da época, constatou-se que a Comissão teve grande visibilidade durante o ano de 1970, frequentando o noticiário do Jornal Correio da Manhã, o de maior expressão na imprensa carioca neste período, em que eram relatadas as etapas desses projetos e seus valores estimados. Chama a atenção especialmente uma notícia, que envolvia a reunião do presidente da CPGRAN, Marechal Raul Albuquerque, com o ministro do Interior.

Para decidir sobre a construção de um metrô submarino ligando o Rio a Niterói, a Comissão de Planejamento da Grande Niterói – CPGRAN – estará reunida amanhã, na sede da FLUMITUR, sob a

3 Empresas participantes além da vencedora: ASPLAN S. A. ,MONTOR-CNPI-CEP, HIDROSERVICE, S.D. SERETE S.A.,

NEVES PAOLIELO-SOTEPLAN, BRASCONSULT-INTERCONSULT, M.M.ROBERTO-PLANORTE, NEW-PLAN, A.A. NORONHA Ltda., SERGIO BERNARDES IND. AST., TECNOMETAL EST. IND. S.A..

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presidência do ministro do Interior, Costa Cavalcanti. O plano prevê a construção de um “braço” do trecho do metrô carioca – que vai passar pelo Largo da Carioca – até a Praça XV, ligando-se daí por via submarina,

a Niterói 4.

As iniciativas da CPGRAN, a nível estadual tinham como interlocutora a Comissão de Planejamento e Desenvolvimento Urbano – CPDU –5, ligada à prefeitura municipal, responsável pelos debates das questões locais relacionadas à chegada da ponte e elaborando o Código de Planejamento Urbano e Obras, que foi aprovado pela Deliberação n° 2705 de 1 de julho de 1970.

O novo governo do estado, instalado em 1971, vislumbrando a possibilidade de intervir diretamente no espaço urbano deixou de lado a CPGRAN e criou uma sociedade de economia mista que permitia a intervenção direta no espaço urbano, denominada Companhia de Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro – DESURJ –, que voltou suas atenções para outra área, localizada no centro da cidade de Niterói, o ainda inconcluso aterrado Praia Grande.

No caso do Estado do Rio de Janeiro, a fusão com o Estado da Guanabara, que foi objeto da lei complementar n° 20 de 1 de julho de 1974, permitiu a simultânea criação da região metropolitana do Rio de Janeiro. O governo interventor do novo estado criou por meio do Decreto-Lei estadual n° 14 de 15 de março de 1975, o órgão metropolitano, a Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro – FUNDREM –, fundação que atuou durante 14 anos (Decreto de extinção n° 13.110 de 27de junho de 1989) em 13 municípios metropolitanos definidos para compor a área, cuja população somava pouco mais de 11.000.000 habitantes (1977). O órgão, a partir de 1980 deixou de assumir suas funções de planejamento regional para atender a interesses políticos imediatos, perdendo sua credibilidade. A partir de 1988, a nova Constituição valorizou as iniciativas locais e tirou o possível papel de Niterói como Município Polo em relação às cidades vizinhas, cuja influência se estendia à região centro – norte fluminense e a região serrana, capacidade herdada de sua condição de ex-capital (MIZUBUTI, 2001, p.15).

4. ASPECTOS INSTITUCIONAIS RELATIVOS À GRANDE VITÓRIA

Em se tratando da constituição da Grande Vitória, os primeiros documentos que mencionam a aglomeração são do Banco de Desenvolvimento do Estado do Espírito Santo – BANDES –, na segunda metade da década de 1960. Foi também nesta ocasião, em 1967, que se deu a instituição, pelo Governo do Estado, da Comissão de Planejamento Integrado da Grande Vitória – COPI –, reunindo representantes das municipalidades envolvidas e do estado, com o propósito de elaborar documentos referenciais preliminares de planejamento, visando orientar o desenvolvimento da capital capixaba, Vitória, e suas relações com os municípios do entorno, Serra, Vila Velha, Cariacica e Viana (MENDONÇA, 1991).

Os estudos realizados pela COPI se constituíram em base referencial para a contratação do

4 “…Entre as obras que a CEPGRAN vai executar está o alargamento da Praia do Saco de São Francisco e um túnel

ligando a praia de Charitas à de Piratininga. O alargamento do Saco vai custar 8 milhões de cruzeiros e o túnel Charitas- Piratininga cerca de 15 milhões. ”o alargamento é importante , sobretudo por causa do Interceptor Oceânico de Niterói”. Correio da Manhã, 23 de setembro de 1970. 5 A CPDU criada sob a influência do IPPUC de Curitiba reunia representantes de Associações Profissionais de

Engenheiros e Arquitetos (AFEA), Departamento local do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e Engenheiros e Arquitetos da municipalidade para elaborar a compilar a legislação urbana do município.

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Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado – PDDI – da Aglomeração Urbana da Grande Vitória e alimentava o ideal de inserção de Vitória e seu aglomerado no rol das regiões metropolitanas brasileiras a serem estabelecidas no início da década de 1970 (MENDONÇA, 1991).

A contratação do PDDI cumpriu a estrutura institucional de planejamento estabelecida pelo governo federal, por meio do SERFHAU, demonstrando o esforço de inserção do Estado do Espírito Santo no contexto político nacional. Para a realização do plano foi contratado o escritório MMM Roberto arquitetos e Planorte, do Rio de Janeiro, externo, portanto à região e ao estado, procedimento comum à maioria de municípios brasileiros, na ocasião, considerando em geral, a exiguidade ou a ausência de serviço técnico qualificado nestas localidades (MENDONÇA, 1991).

O PDDI da Aglomeração Urbana da Grande Vitória foi elaborado entre 1971 e 1973, sendo apresentado em três volumes: o primeiro reproduzia o termo de referência e os outros dois, mais extensos, tratavam de diagnóstico e proposições para Vitória e sua aglomeração urbana. O diagnóstico abrangia aspectos sociais, além dos físico-territoriais, com destaque para o processo de êxodo rural em curso no estado em função da crise na cafeicultura, como responsável pelo aumento da população na região. As proposições abrangiam vários setores e escalas. Quanto aos setores, as propostas envolviam aspectos ambientais, do patrimônio histórico e arquitetônico, de transportes, econômicos e físico-territoriais. Quanto às escalas, o PDDI procurava estruturar a região diante do papel exercido como polarizadora de atividades do Espírito Santo e de parte dos estados da Bahia e de Minas Gerais. Além disso, apresentava uma série de medidas visando orientar cada município quanto aos diversos aspectos setoriais apontados e em determinados casos mencionava explicitamente destaques relacionados a edificações específicas, por exemplo, quanto à preservação (MMM ROBERTO arquitetos; PLANORTE, 1973).

Acompanhando-se as ações subsequentes relacionadas à institucionalização da Grande Vitória, constata-se que o PDDI, mesmo não seguido na íntegra, tornou-se a base para futuros planos para a aglomeração urbana e para seus municípios. Uma das medidas foi a elaboração de Programa de Reaparelhamento Estrutural – PRE – pelo Governo do Estado em 1974, que incorporou aspectos gerais do conteúdo do plano (MENDONÇA, 1991).

Embora não se tenha alcançado a criação oficial de região metropolitana no Espírito Santo neste período, o processo em curso, na ocasião, culminou em 1975, na criação da Secretaria de Estado de Planejamento e da Fundação Jones dos Santos Neves – FJSN –. Interessa realçar que esta fundação, mesmo abrangendo, em seus estudos e orientações técnico-administrativas, todos os municípios do estado, mantinha especial dedicação à problemática relacionada à Grande Vitória e aos seus municípios, aos moldes dos órgãos metropolitanos.

Em 1976 a Fundação elaborou o Plano de Estruturação do Espaço da Grande Vitória – PEE – que reproduziu e atualizou recomendações do PDDI e do PRE, como base fundamental para que a mesma Fundação elaborasse, nos anos seguintes, Planos diretores municipais e planos setoriais, relacionados especialmente, às áreas de transporte e meio ambiente (MENDONÇA, 1991; ESPÍRITO SANTO, 1985).

Registra-se ainda, que o Governo do Espírito Santo, inseriu em sua estrutura administrativa em 1977, o Conselho de Desenvolvimento Integrado da Grande Vitória – CODIVIT – à semelhança, do que era mantido em vigor nos estados que contavam com regiões metropolitanas. O Conselho era constituído de representantes do estado e dos municípios, que compunham a

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aglomeração.

Na década de 1980 a fundação tornou-se Instituto Jones dos Santos Neves – IJSN –, mantendo suas atribuições relacionadas ao estado e atenção específica à Grande Vitória.

A passagem institucional de aglomeração urbana para região metropolitana só se realizou com base nas prerrogativas constitucionais de 1988, a partir das quais foi atribuída ao estado esta determinação. Assim, a Região Metropolitana de Vitória – RMV – foi constituída pela Lei Complementar Estadual n° 58 de 21 de fevereiro de 1995, envolvendo os cinco municípios que faziam parte, desde a década de 1960, da Aglomeração Urbana da Grande Vitória. Em 1999 a RMV passou a incorporar o município de Guarapari, e em 2001 o de Fundão, respectivamente pela Lei Complementar n° 159 de 8 de julho de 1995 e pela Lei Complementar n° 204 de 21 de junho de 2001, configuração que mantém atualmente, com a denominação de Região Metropolitana da Grande Vitória – RMGV – (ESPÍRITO SANTO, 2005).

5. PERSPECTIVAS EM EVIDÊNCIA E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos realizados permitem estabelecer equivalências e distinções no contexto pré-institucional metropolitano de Niterói e Vitória, realçando a década de 1960 como o período em que, a despeito do ambiente político antidemocrático no país, os trabalhos científicos acerca da regionalização, sobretudo no campo da geografia, propiciaram o desenvolvimento de políticas públicas voltadas ao planejamento regional, em especial ao metropolitano. Neste campo estão os estudos que embasaram a adoção pelo IBGE da divisão do Brasil em regiões homogêneas e da classificação das sedes municipais segundo respectivas hierarquias, incluindo a identificação de polos regionais.

É nesta conjuntura que Niterói e Vitória, como capitais de estado, cidades de porte médio e polos regionais inseridos em áreas urbanas conurbadas, na década de 1960, se estruturaram técnica e politicamente para institucionalizar o planejamento de seus respectivos territórios conurbados.

Apontadas algumas semelhanças, cabe indicar diferenciações. Mesmo que ambas pudessem ser classificadas como cidades de porte médio, Niterói contava com o triplo da população de Vitória, além de gravitar em torno da cidade/estado Rio de Janeiro/Guanabara, constituindo-se em contexto urbano bem mais complexo do que a capital capixaba.

Por outro lado, Vitória, à cerca de 500 km das capitais mais próximas, Niterói, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, mesmo diante de posição hierárquica mais modesta que estas outras cidades, guardava o status de maior hierarquia urbana do estado, polarizando parte dos estados vizinhos, condição que ainda mantém. Esta situação específica e o fato da década de 1960, em função do êxodo rural, ter sido período de expressivo incremento populacional da região de Vitória contribuem para conferir destaque e complexidade à aglomeração urbana da capital do Espírito Santo.

No campo dos esforços técnicos e das ações institucionais estabelecidas as semelhanças constatadas ficam por conta da criação de comissões para estruturação de plano. Os governos estaduais criaram a CPGRAN em Niterói e a COPI em Vitória, para a realização de estudos

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visando a contratação de Planos Integrados envolvendo em cada caso, respectivamente a capital e os municípios que compunham sua área de influência imediata.

Os dados analisados mostraram que os estudos técnicos e os debates políticos na época, avançaram no reconhecimento e configuração das respectivas aglomerações urbanas, alcançando, no entanto, desdobramentos distintos. Para Niterói, não houve, no período estudado, a realização de Plano Integrado, mas registra-se sua inserção na Região Metropolitana do Rio de Janeiro em 1974. No caso de Vitória, constatou-se situação inversa, com a realização do PDDI entre 1971 e 1973, mas a ausência deste aglomerado no rol das regiões metropolitanas estabelecidas pelo Governo Federal. De todo o modo, observou-se que o Estado do Espírito Santo conferia à Grande Vitória tratamento de região metropolitana, ao criar fundação de planejamento estadual atenta especialmente a esta microrregião e ao instituir o CODEVIT para deliberar sobre interesses comuns aos municípios aglomerados.

A Constituição Federal de 1988, ao atribuir aos estados a competência de instituir Regiões Metropolitanas, possibilitou a criação da Região Metropolitana da Grande Vitória em 1995, cuja configuração teve como referência o processo construído a partir da década de 1960. Na sequência, registrou-se a ampliação desta Região com dois novos municípios em 1999 e 2001. A atual regulamentação administrativa da RMGV foi estabelecida pela Lei Complementar nº 318 de 17 de janeiro de 2005, que criou o Conselho Metropolitano de Desenvolvimento da Grande Vitória (COMDEVIT) e instituiu o Fundo Metropolitano de Desenvolvimento da Grande Vitória (FUMDEVIT), ambos regulamentados pelo Decreto nº 1511-R, de 14 de julho de 2005 (ESPÍRITO SANTO, 2005).

Quanto à antiga capital fluminense, verificam-se desde a nova constituição, desdobramentos que vêm culminando para a conformação da Região Leste-metropolitana do Estado do Rio de Janeiro.

Em junho de 2001 o IAB, Núcleo Regional do IAB-RJ (Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento Rio de Janeiro) organizou, com apoio da Universidade Federal Fluminense e outras instituições, o seminário Niterói-Eixo 21, que trouxe para a discussão a atuação dos setores públicos e privados na região. O Seminário, estruturado em quatro eixos, tratou de políticas sociais municipais, possibilidades de desenvolvimento econômico do Estado do Rio de Janeiro e em especial o eixo metropolitano de Niterói, o papel dos transportes urbanos na estruturação da cidade e reflexos na política de uso e ocupação do solo da cidade e de sua região e a implementação de instrumentos de urbanismo previstos na Constituição de 1988 e no Estatuto da Cidade. O evento transcorreu num momento especialmente favorável, uma vez que o Congresso tinha aprovado o Estatuto da Cidade, que seria sancionado pela Lei Federal n. 10257 de 10 de julho de 2001.

O tema cidade tornou-se mais visível e outras iniciativas no âmbito da Administração Municipal e de sua Câmara de Vereadores vieram sedimentar esse movimento de discutir Niterói como eixo polarizador da região leste fluminense. O momento era especialmente rico e deu lugar a uma série iniciativas a nível federal concretizadas com a criação do Ministério das Cidades em Janeiro de 2003. O Ministério e a criação do Conselho Nacional das Cidades fizeram parte de mobilização da sociedade em torno do Movimento Nacional da Reforma Urbana que defendia a participação do cidadão nos processos decisórios urbanos, o que foi incorporado pelo Estatuto e deu margem à organização das Conferências das cidades. Nesta conjuntura, já

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articulado nesta perspectiva regional, em 2003 o atendimento à chamada do Conselho Nacional para a 1ª Conferência das Cidades encontrou no Eixo Leste Metropolitano do Rio de Janeiro a organização necessária para este evento, o que se repetiu nas que se seguiram. O processo, em nível federal, se desenvolveu em passos cadenciados e a regulamentação do Conselho se deu pelo Decreto Federal nº 5.031, de 2 de abril de 2004 e Decreto nº 5.790, de 25 de maio de 2006 - que dispõe sobre a composição, estruturação, competências e funcionamento do Conselho das Cidades – ConCidades.

O Estado do Rio de Janeiro só em 2008 criou o Conselho Estadual das Cidades (Lei 5293). Porém, antes disso, já havia sido assinada em 2005 a lei dos Consórcios Públicos. Todo este arcabouço institucional deu sustentação à região leste metropolitana que se consolidou com o lançamento da pedra fundamental do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro – COMPERJ –, que se localizou num dos municípios dessa região – Itaboraí em 2006. Um decreto de 2007 institui o Fórum de Desenvolvimento da área de influência do COMPERJ (40 916 de 28/08/2007) e assim se estabelece o CONLESTE, consórcio originalmente de 11 municípios do leste metropolitano com cerca de 2 milhões e meio de habitantes. Como se verifica, só um projeto de desenvolvimento econômico de grande envergadura foi capaz de trazer de volta a reorganização regional ensaiada pela CEPGRAN há quase quatro décadas.

Neste ano de 2014, fim deste ciclo do governo estadual a SECRETARIA DE ESTADO DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL, ABASTECIMENTO E PESCA lança a CONCORRÊNCIA PÚBLICA Nº 01/2014/SEDRAP, cujo objeto é Contratação de serviços de Consultoria especializada para o desenvolvimento do Plano Diretor de Estruturação Territorial do Leste Fluminense (PET-Leste), incluindo os seguintes municípios: Itaboraí, São Gonçalo, Niterói, Maricá, Guapimirim, Cachoeiras de Macacu, Magé, Tanguá, Rio Bonito, Silva Jardim, Casimiro de Abreu, Teresópolis, Araruama, Saquarema e Nova Friburgo. Como se constata, as premissas lançadas no final da década de 1960 retorna num outro contexto institucional com novas bases sócio - econômicas.

Com base no exposto, registra-se, em ambos os casos estudados, a continuidade de ações empreendidas a partir da orientação de planejamento instituída pelo governo federal na década de 1960. Com relação ao caso fluminense, observou-se num primeiro momento o esforço de chancelar a cidade como polo regional através da CPGRAN e após a concretização e posterior desestruturação da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, a retomada da cidade de Niterói, como polo do leste metropolitano. A despeito da perda de sua função de capital, a questão de seu papel polarizador é então, retomada nos debates realizados sobre a região leste metropolitana do estado do Rio de Janeiro. Com relação ao caso capixaba, os princípios estabelecidos inicialmente pela COPI sobre a microrregião homogênea da Grande Vitória tiveram repercussão e detalhamento no PDDI, culminando, mesmo que tardiamente na instituição da RMGV. Além das especificidades e similaridades apontadas, este estudo sobre Niterói e Vitória contribui ainda, para a reflexão sobre a visibilidade que o planejamento regional alcançou na época marcada pela criação das regiões metropolitanas brasileiras em 1973 e 1974.

REFERÊNCIA

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