ocontato inicial do processo avaliativo: uma contribuicao para...
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA
o CONTATO INICIAL DO PROCESSO AVALIATIVO:UMA CONTRIBUICAO PARA A PSICOPEDAGOGIA
CURITIBA2003
MARIA ELIZABETH SCHEFFER
oCONTATO INICIAL DO PROCESSO AVALIATIVO:UMA CONTRIBUICAO PARA A PSICOPEDAGOGIA
Monografia apresentada ao Curso deP6s-Graduac;ao em Psicopedagogia,Universidade T uiuti do Parana.Orienta dora: Maria Letizia Machese.
CURITIBA
"Desconfiar do mais trivial; na aparffmciasingela< E examinar, sobretudo, 0 que parecehabituaL Suplicamos expressamente: nao aceiteo que e de habito como coisa natural, pOis emtempo de desordem organizada, dearbitrariedade consciente, de humanidadedesumanizada, nada deve parecer natural, nadadeve parecer impossivel de mudar"<
Vygotsky
AGRADECIMENTOS
A todos os educadores que tern como meta de trabalho, a luta e a busca
constante de aperfei90amento.
iii
SUMARIO
RESUMO ....
1INTRODUCAO ....
2CONCEITO .....
2.1 IDENTIFICACAO
2.2 ESPECIFICIDADE DO DIAGN6STlco .....
2.3 0 DIAGN6STICO SOB ENFOQUE DE ALGUNS AUTORES ..
..... vi
3.3.1 Periodo Sensorio-motor (zero a dois anos) .
3.3.2 Periodo Pre-Operacional (dois a sete anos) .
. 1
. 3
........3
. 3
. ..4
6
. 7
. 7
.....8
......8
.....8
..10
2.4 METODOS DE DIAGN6STICOS
3 A TEORIA PSICOPEDAG6GICA ...
3.1 COMO SE APRENDE. ...
3.2 DESENVOLVIMENTO INFANTIL..
3.3 OS ESTAGIOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DE PIAGET..
3.3.3 Periodo de Opera90es Concretas (sete a doze anos).. . 10
3.3.4 Periodo das Opera95es Formais (doze anos a idade adulta).. ...11
3.4 FASE DA PRE-ADOLESCENCIA.. .. . 12
4 CARACTERIZACAO DO PROCESSO DA AVALIACAO DIAGN6STICA. .15
4.1 INCLUsAo DA FAMILIA NO DIAGN6STICO ...
4.2 MOTIVO DACONSULTA. ....
4.2.1 Significado do Sintoma na Familia ...
4.2.2 Significado do Sintoma para a Familia ...
4.3ANAMNESE ...
4.3.1 Historia Vital..
...... 15
..16
. 17
. 21
... .23
. .23
iv
4.3.2 Aspectos Organicos .
4.3.3 Aspectos Cognitivos .
4.3.4 Aspectos Sociais ..
4.3.5 Aspectos Pedag6gicos ..
4.3.6 Doengas ..
4.3.7 Desenvolvimento ....
4.3.7.1 DesenvolvimentoMolor. ..
4.3.7.2 Desenvolvimento da Linguagem ..
4.3.7.3 Desenvolvimento de Habitos.
4.4 FUNCAO DA INSTITUICAO EDUCATIVA ...
4.4.1 Aprendizagem ....
4.4.1.1 Modalidade do Processo Assimilativo-Acomodativo ....
4.4.1.2 Situag6es Dolorosas ....
4.4.1.3 Informagao ..
4.4.1.4 Escolaridade ..
4.5 Hora do Jogo ....
5 PROVAS E TESTES ..
CONCLUsAo ..
REFERENCIAS ..
v
.......... 24
. 25
. 26
............ 27
..27
. 28
...29
. 29
. 29
. 31
............ 32
. 33
........... 36
. 37
. 38
. 39
. .41
. .44
. 45
RESUMO
Podem ser muitas as razoes que determinam 0 sucesso au 0 fracasso de urnacrianga, como: fatores fisiologicos, fatores pSicol6gicos, mais precisamente demobiliza980, condi(:iies pedagogicas e principalmente 0 meio socio-cultural emque viva a crianc;a. Esta pesquisa tern como objetivo subsidiar aDs que estaoenvolvidos no processo de aprendizagem, na percep9ilo de dificuldades(diagnostico), na interferencia no planejamento das institui""es e no trabalho dereeduca9ilo (terapia psicopedag6gica). A presente pesquisa tambem visa deixarclaro que todo diagnostico psicopedagogico e, em si, uma investiga9ilo, e umapesquisa do que nao vai bern com 0 sujeilo em rela9ilo a uma condula esperada.Eo esclarecimento de uma queixa, do proprio sujeilo, da familia e na maioria dasvezes, da escola. Nessa investigagao, na~ se deve pretender classificar 0paciante em categorias, mas sim obtef urna compreensao global de sua forma deaprender e dos desvios que estao ocorrendo nesse processo.
vi
1 INTRODUCAO
Estrategias para introduzir conteudos e desenvolve-Ios tem sido
preocupayao de todos os que se ocupam com 0 ensino eficaz em qualquer nivel,
com qualquer tipo de aluno.Quando se fala de alunos que se encontram num desenvolvimento em
torno do que se e esperado para a sua idade, pensa-se em estrategias que levem
em conta todas as caracteristicas cognitivas socio-afetivas, enfim, padr6es
compativeis aquela fase.
Pocemquando se \rata de alunos com percursos escolares caracterizados
por desencontros e fracassos, que por dificuldades pessoais ou pedagogicas,
pensar nestas estrategias tern multo maior relevancia, porque, sem isto, atransmissao dos conteudos dificilmente ocorreria. Trata-se de viabilizar 0
processo de aprendizagem, e nao apenas torna-Io melhor.
Os problemas apresentados por essas crian""s mostram muitas vezes que
as dificuldades de aprendizagem, as sociais e as emocionais, nao podem ser
generalizadas, mas precisam ser diagnosticadas e atendidas de modo singular na
sua individualidade. Cada caso e um caso, e 0 diagnostico e 0 atendimento deve
ser dentro de seu contexto particular.
Esta analise procura estudar 0 conhecimento disponivel sobre as bases
que fundamentam a Avaliayao DiagnOstica procurando, sobretudo, equilibrar
ideias, discutir suposigoes e criar espa90s para novas reflex5es.Para efetivar a reterido processo, fez-se necessiirto a identificayao de
recursos e procedlmentos tecnicos e te6ricos e investigar as causas emodificag6es que ocorrem nos processos envolvidos na relayao do individuo com
o mundo (cognitivo, emocional, afetivo, etc.) analisando os seus mecanismo.
basicos, que interagem com outras ciancias tais como Medicina, Genetica,Sociologia, Pedagogia, Psicologia.
Diagnosticar 0 naD aprender como sintoma consiste em encontrar sua
funcionalidade, isto e sua articulayao na situayao integrada pelo paciente e
terapeuta, tomando possivel a existencia de uma estrutura equilibrada na qual
sua propria existencia toma-se passivel.
Finalmente convem assinalar 0 alcance da psicopedagogia com relayao 11
2
intervengiio pedagogica e.pecifica como !amica da condugiio do processo de
transforma,.oos efe!ivas, na dinilmica da !ransmisseo socializadora, cujo fim eincorporar aspectos que ajudem a dar conta dos problemas de aprendizagem.
3
2CONCEITO
A palavra diagnostico provem de dia (atraves de) e gnoses (conhecimento)<
Segundo FERNANDEZ (1996, p<37), deter-se a origem etimologica e nao ao uso
comum (que pode significar rotular, definir, etiquetar) pode-se talar de diagnostico
como "um olhar - conhecer atraves de", que relaciona-se como um processo, com
um transcorrer, com um ir olhando atraves de algum envolvido mesmo como
observador atraves da tecnica ulilizadR
2< 1 IDENTIFICACAo
Em todas as sociedades desde os tempos mais remotos, sempre existiu e
continuara a existir, a presen<;a de "diferen<;as" entre as pessoas 0 que se
caracteriza como algo natural e inerente ao ser humano, tanto do ponto de vista
individual, quanto sociaL
As pessoas que apresentam diferen<;as,nao devem ser estigmatizadas, e
sim como referencia para urn atendimento eficiente, de acordo com suaspossibilidades e oportunidades que 0 meio oferece<
A idenlificayao precoce das diferen<;as e muito importante, pois delas
decorrem os procedimentos a serem adotados, objetivando proporcionar 0
desenvolvimento maximo de suas potencialidades<
22 ESPECIFICIDADE DO DIAGN6STICO PSICOPEDAG6GICO
Olhar atraves da lente do aprender segundo FERNANDES (1996, p.37),
para poder chegar acerca da existencia ou nao de patologias estruturadas no
aprender (sintoma - inibiyao, transtomos de aprendizagem reativo), esta visao
orienlar-se-a par meio da relayao do sujeito com 0 conhecimento. 0 diagnostico
psicopedagogico de uma crian<;aou adolescente deve responder a interrogagiies
particulares tais como:
•Com que recursos conta para aprender?
4
• 0 que significa 0 conhecimento e 0 aprender imaginario do sujeito e sua
familia?•0 papal Ihe foi designado por seus pais em rela,.ao ao aprender?
•Qual e sua modalidade de aprendizagem?•Que fun,.ao tem 0 nao aprender para ele e para seu grupo familiar?
•Como aprende e como nao aprende?
• 0 nao aprender responde a um sintoma ou e uma resposta reativa ao
meio s6cio-economico?
Diante de questiio: "Por que nao aprende?" nao existe nem uma unica
causa, nem situagaes determinantes do problema de aprendizagem, 0 que tem
que se tentar encontrar e a rela,.ao particular do sujeito com 0 conhecimento e 0
significado de aprender.
o desejo de saber faz um par dialetico com 0 desejo de nao saber. a jogo
do saber-na~-saber; conhecer - desconhecer e suas articulagaes e mobilidades
pr6prias de todo ser humane au seus particulares n6s e travas presentes no
sintoma, e 0 que se procura decifrar no diagnostico.
2,30 DIAGN6STICO SOB ENFOQUE DE ALGUNS AUTORES
De acordo com GESELL & AMATRUDA (1987, p. 9), a diagnostico consiste
na observa,.ao discriminativa dos padriies comportamentais e em sua
avalia,.ao par meio da compara,.ao com padroes normais. Um padrao de
maturidade que fai definido por estudos sistematicos da evolu,.ao sadia mooia do
desenvolvimento comportamental. a diagnostico do desenvolvimento traduz a
comportamento, comparado aos padroes normais, em valores etarios
equivalentes. Consiste em descobrir e especificar os desequilibrios no repertorio
comportamental da crian9'.
Para WEISS (1997, p. 28-29), 0 diagnostico e um processo continuo e
sistematico de avalia,.ao que utiliza metodas, tecnicas e recursos validas,
objetivando investigar, interpretar, orientar e preyer situag6es, disturbios e
5
dificuldades, determinando suas causas para que possam ser devidamente
prevenidas, corrigidas e/ou controladas.Destaca ainda as fun¢es de: localizar, analisar, identificar e, alam de
prescrever, encaminhar, atender e orientar. Entretanto deve ter como principal
objetivo, nao 56 0 atendimento de dificuldades especificas, diretamente
relacionadas aos disturbiospresentes, mas principalmente,a preven980 depossiveis e similares ocorrencias no futuro, acompanhando e controlando 0
atendimento. Para WAZZOTTO (1982, p. 47), 0 diagnostico educacional consiste
na utiliza~o de recursos, meios e tecnicas para analisar e avaliar as situagOes
educacionais, os problemas e as dificuldades dos alunos, bem como determinar
causas, para preveni-Ias e corrigHas.
Salienta ainda que 0 diagnostico tem duas fun¢es basicas:
• Localizar e analisar as causas das dificuldades des alunos em todas as
areas das suas atividades;
• Identificar e avaliar as areas de aprendizagem e ajustamento, tanto as
negativas quanto as positivas.
Segundo CANZIANI (1985, p. 101-102), a identifica9ao da dificuldade do
aluno devera ser feita 0 mais cedo possivel, desde os niveis pre-escolares; 0
diagn6stico diferencial dos alunos tera um carater multidisciplinar (exames
medicos, pedagogicos, social, psicologico), adequado as varias situa90es, a partir
de observa¢es feilas no meio familiar e escolar a Jim de chegar-se ao
diagn6stico prescritivo ou educacional.
Para oferecer programas e/ou servi9Qs adequados aos diferentes nlveis outipos de deficiencias a indispensavel lembrar a evoluyao do conceito de
diagnostico: 0 diagn6stico toma a forma de diagnostico multidisciplinar, nao sendo
mais admitido 0 enfoque de um so profissional, mas de uma equipe
multidisciplinar que tem, dentre as suas fun¢es comuns, a formulayao de
hipoteses diagnoslicas; elaborayao de sintese diagnostica; seguimentos e
avaliayao de casas; adoyao de medidas e programas profilaticos, educacionais e
outros.
6
2.4 METODOS DE DIAGN6STICOS
•Diagnostico CHnico- originario da pratica mooica, investiga por meio de
sintomas e sinais e com emprego de recursos tecnicos, localizar as causas, paraministrar tratamentos necessarios aos quadros identificados; diagnosticar,
prescrever e tratar seria a sequencia logica. Conceitua a deficiencia mental pela
etiologia e por quadros cHnicos pre-determinados. Caracteriza 0 diagnostico pelas
rela<;6esentre causa fisica e sintomatologia cHnica.
Sua utiliza9i!o no meio educacional podera ter como consequencia
negativa a atribui9i!o de um rotulo as pessoas examinadas, conduzindo a
estrutura9i!o de estigmas (do grego = marcel. Ressalta os aspectos negativos da
pessoa em detrimento dos positivos.
• Diagnostico Comportamental - busca uma descri9i!o da conduta, seu
distanciamento dos padr6es normais do desenvolvimento e sua
operacionaliz8gao.As deficiencias sao definidas em fun9aOdo comportamento atual, em sua
forma globalizada sem dar enfase aos fatores causais. Envolve maior
complexidade, pois toma-se necessaria uma especifiC891!o precisa de seus
componentes, do grau de funcionalidade e de Sua conformidade com as
caracterlsticas normais do desenvolvimento.
• Diagnostico Prescritivo - e uma avalia9i!o abrangente e cuidadosa, que
permite a a9ilo direta sobre os problemas apresentados.
Envolve a participa9ao de diversos pronssionais de varias areas, bem
como pais e educadores, para que por meio da troca de rela<;6ese de dados,
busquem a estrutura9i!o de estrategias e metas.
7
3A TEORIA PSICOPEDAG6GICA
A Teona Psicopedag6gica segundo FERNANDEZ (1991, p.47), esta
baseada em que para aprender, necessitam-se dois personagens (ensinante e
aprendente), alguem que ensina 6 alguem que aprende, e urn vinculo que se
estabelece entre ambos.Este vinculo pode ser considerado de fundamental imporlancia no
relacionamento ensinante e aprendente, pOis 0 ensinante poders perceber as
diferenges entre os aprendentes e que cada um tern seu ntmo, seu processo de
aprendizagem bem distinto do outro. E 0 ensinante se sentirs valorizado com 0
interesse demonstrado.
3.1 COMO SE APRENDE
Segundo FERNANDEZ (1991, p. 60), 0 ser humano para aprender deve
por emjogo:
•seu corpo constnufdoespetacularmente;
•sua inteligencia autoconstrufda interacionalmente e;
•a arquitetura do desejo, desejo que e sempre desejo do desejo do outro.
o aprender transcorre no seio de um vinculo humano cuja matriz toma
forma nos primeiros vfnculos mae-pai-filho-irmao, pois a prematuridade humana
imp6e a outro semelhante adulto para que a criange, aprendendo e crescendo,
possa viver.A aprendizagem e urn processo cuja matriz e vincular a brincadeira a sua
raiz corporal; seu desdobramento criativo poe-se em jogo par meio da arlicula~o
inteligencia-desejo e do equilibria assimila~o-acomode~o.
Somente observando como aprende, como joga a criange, e em
seguida qual e a onginalidade de seu fracasso (a partir do qual S6 diferencia
como sujeito), e que se esta no caminho de elucidar por
aprende.
8
3.2 DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Para CUNHA (1988, p. 32), "0 desenvolvimento infantil segue principios
basicos que devem ser conhecidos pelos educadores que planejarao e
realizarao atividades com crianc;as no seu processo educacional. Estes
principios sao universais e ocorrem em crianc;asde todas as faixas economicas e
culturais".Se 0 individuo que for trabalhar com crianc;as nao conhecer as
peculiaridades do comportamento infantil, com certeza encontrara diflculdades em
auxilia-Ias e nao sabera usar metodos e tecnicas adequadas para 0 estagio em
que elas se encontram.
3.3 OS ESTAGIOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DE
PIAGET
3.3.1 Perfodo Sensorio-Motor (zero a dois anos)
• Estagio 1 (do nascimento ate um mes): 0 comportamento do recem-
nascido caracteriza-se por reflexos inatos (por exemplo, buscar com labios, sugar,
agarrar), que se tomam mais eficientes e combinam-se mutuamente na forma9!io
de esquemas primitiv~s, tais como buscar e sugar. 0 bebe esta "trancaftado no
egocentrismd', sem qualquer consci€mciado self como tal ou da distin9!io entre 0
self e 0 mundo externo.
•Estagio 2 (um a quatro meses): 0 bebe comega a dennir os limites de seu
proprio corpo por meio de descobertas acidentais que se mostram interessantes.
Repete seus movimentos para prolongar essas expariencias, combinando, por
exemplo, 0 olhar e 0 agarrar, formando assim uma organiza9!io mais complexa
do seu comportamento.
• Estagio 3 (quatro a otto meses): 0 bebe aprende a adaptar os
esquemas familiares a novas situa¢es, empregando-as para "prolongar os
espetaculos interessantes". Seu interesse se focaliza menos no proprio
9
corpo e mais no mundo a seu redor. Procura alcan~ar os objetos, desde
que possa vB-los, porem 0 que esta fora da visao esta fora da mente.
Emprega as esquemas habituais de maneira ~magjca",como se considerasse
suas ayaes capazes de determinar a ocorrencia de eventos externos nao
relacionados.
• Estagio 4 (oito a doze meses): observa-se 0 surgimento do
comportamento intencional, a medida que 0 bebe afasta os obstaculos do
caminhoou usa a maode umdos pais para alcan~r os objetos desejados. Pode
procurar as brinquedos parcialmenteocultos ou escondidos bem diante de seus
olhos. Emprega os esquemas conhecidos de novas maneiras, COmbinando-ose
coordenando-os para adequil-Ios a novas situayaes (esquemas moveis). Seu
comportamento antecipatOrio e sua imita~o de sons e ayaes revelam os
primordiosda memoriae da representa~o.
• Estagio 5 (doze a dezoito meses): a crian~ come~ agora a
experimentar sistematicamente, variando seus esquemas em um "tateamento
orientado". Emprega novos meios, tais como bast6es e correntes, para
atingir os objetivos desejados, ou enconlra novos usos para objetos ja
conhecidos. Pode acompanhar OS deslocamentos visiveis de um objeto
sendo escondido e encontra-Io ande 0 viu pela ultima vez, mas nao
infere os resultados dos deslocamentos nao vistos. Reconhece fotografias de
pessoas ou objetos conhecidos e pode acompanhar instru~5es verbais
simples.
• Estagio 6 (dezoito a vinte e quatro meses): este estagio assinala a
transi~o de atividade sensorio-motora para a da representa~o. A crianga
inventa novosmeiosalraves da dedu~o mental,0 "tateamento"por ensaio e erro
ja nao e fisicamente executado,mas sim simbolica e mentalmente.A crianga se
mostra capaz de deduzir os deslocamentos invisiveis de um objeto escondido;
sabe claramente que este continua a existir, mesmo quando nao 0 va
(permanencia do objeto). Come~ a usar simbolos na linguagem e nas
brincadeirasde faz-de-conta, recorda-sede acontecimentospassados e os imita
em ocasiao posterior. Demonstraorientagao, intencionalidadee os primordiosdo
10
raciocinio dedutivo, juntamente com uma compreensao primitiva do espa9Q, do
tempo e da causalidade. A crianya esta entrando no perfodo da represen~o
simbOlica.
3.3.2 Periodo Pre-Operacional (dois a sete anos)
• Estagio Pre-conceitual (dois a quatro anos): a crianya opera a nivel de
representac;aosimbOlica,0 que se evidencia na imitac;aoe na memoria, exibidas
nos desenhos, nos sonhos, na linguagem e na atividade do faz-de-conta. Surgem
as primeiras tentativas supergeneralizadoras de conceituac;ao, nas quais os
representantes de uma classe nao sao distinguidos da propria classe (por
exemplo, todes as lesmas sao "a lesma").
Embora a crianya atue de modo bastante realista no mundo fisico, seu
pensamento ainda e egocentriCOe dominado por um sentimento de onipotencia
magica. Presume que todos os objetos naturais estejam naturais, estejam
vivos e sejam dolados de sentimentos e inten¢"s, perque isso e 0 que se da
com ela, Raciocina que as eventos que ocorrem coincidentemente tem entre si
uma relac;ao de causa e efeito. Presume que 0 mundo seja como se afigura a
seus olhos, nao consegue conceber mentalmenle 0 ponto de vista de outra
pessea.
• Estagio Pre-Iogico ou Intuitivo (quatro a sete anos): surge 0 raciocfnio
pre-Iogico, baseado em aparencias perceptuais (por exemplo, meia xicara de leite
que encha completamente um cope pequeno e mais do que meia xicara que nao
encha um cope grande). 0 ensaio e erro pode levar a uma descoberta intuitiva
das rela<;6escorretas, mas a crianya e incapaz de considerar mais um atributo de
cada vez (por exemplo, as contas azuis nao podem, ao mesmo tempo, ser contas
de madeira). A linguagem e usada de maneira egocentrica, reflelindo a
experiencia limitada das crian<;as.
11
3.3.3 Periodo de Opera~5es Concretas (sete a doze anos)
Durante a primeira e segunda series he uma transigao gradual para 0
periodo de operac;6es concretas, que se prolonga ate a idade de 11 ou 12
anos. Neste estagio, a crian~ pense logicamente sobre as coisas que
experimentou e as manipula simbolicamente, como nas opera<;lies aritmeticas.
Atingiu 0 conceito de conservagao e reconhece que uma xicara de leite tem 0
mesmo volume, quer seja vista em um copo alto e estreito, quer em um baixo e
largo. Uma conquista extremamente importante e 0 fato de ser agora capaz de
raciocinar retrospectiva e prospectivamente no tempo. A isso Piaget
denomina de reversibilidade. Essa caracteristica acelera imensamente 0
raciocinio logico e toma possiveis dedu<;lies do tipo: "se 2 + 2 = 4, entao 4 - 2
deve ser igual a 2".Va-se aqui 0 espiral ascendente do desenvolvimento intelectual,
evoluindo desde 0 conhecimento elaborado a partir de experiencias
concretas do periodo sensorie-motor ate a capacidade de representar
simbolicamente essas experiencias e, p~r fim, de pensar nelas de modo
abstrato. A crian~ na escola primaria pede dispor as coisas em series, classifica-
las em grupos e executar nelas outras opera<;lies logicas. Se alguem Ihe
mostrar um bastao "A" mais longo do que um bastao "6" e depois um bastao "C"
mais curto do que 0 bastao "6", ela deduzira que "A" deve ser logicamente mais
longo do que "C", sem preciser va-los ou compera-Ios em um nivel sens6rio-
motor.
3.3.4 Periodo das Opera95es Formals (doze anos a idade adulta)
Em algum ponto em torno dos 11 ou 12 anos, a crian~ se torna capaz de
raciocinar logicamente sobre proposi<;lies, coisas ou propriededes abstratas que
jamais experimentou diretamente. Esse capacidade de hipotetizar caracteriza a
periodo das operac;6es formais, 0 ultimo e mais elevado periodo no modelo do
desenvolvimento de Piaget. 0 estudante e capaz de urn raciocinio indutivo e
dedutivo, baseado na fonne de uma proposiyllo dada. Seu conhecimento do
12
problema pode ser puramente hipotetico, mas, a despeito disso, e capaz de
elabora-Io ate a sua conclusao 16gica.
Os exemplos desse tipo de raciocinio incluem problemas de matematica ou
quimica, au experimentos que manipulam diversas variaveis de modo sistematico,levando em conta todas as permuta90es e combina95es possiveis. Nem todos os
adultos atingem completamente esse ultimo e mais elevado estagio do
desenvolvimento intelectual.
3.4 FASE DA PRE-ADOLESCENCIA
De acordo com VISCA (1991, p. 52), "0 pre-adolescente que tenha
elaborado adequadamente sua personalidade nas esferas intelectual, cognitive e
afetiva, passui caracteristicas muito distintas das caracteristicas da crian9B e/au
da etapa evolutiva anterior".
Uma visao de conjunto de inteligencia, da afetividade e da aprendizagem
do pre-adolescente requer 0 estudo dos fatores que intervenham em seu
desenvolvimento e das intimas interayOes desses elementos entre si.Os fatores gerais do desenvolvimento sao:
• 0 crescimento organico e a maturayao dos sistemas nervoso e endocrin~,
que desempenham um importante papel durante todo 0 crescimento
mental;
• 0 exercfcio e a experiencia adquirida com objetos, 0 que permite a
experi€mcia fisica e a abstragao empfrica que consiste no conhecimento
das propriedades dOs objetos e a experiencia 16gico-matematica, e a
abstra9ao reflexiva que consiste em reconhecer a coordena9iio das a90es
do sujeito sobre objetos;
• as intera~ e transmissOes sociais, que colaboram para que as
opera90es se transformem em co-opera95es;
• 0 equilibrio ou a auto-regula9iio, que da lugar as compansa95es ativas do
sujeito como resposta aos desequilibrios.
13
Apesar de todos estes fatores serem indispensaveis ao longo do
desenvolvimento e de nenhum deles, isoladamente, oonseguir expHcar 0
desenvolvimento, as intera9Ciessociais assumem um papel fundamental para a
constituigao da pre-adolescencia, dado que as operag6es formais sao geradas,
entre outros fatores, mediante a oooperagao oom os demais. E preeisamente este
"operar oom outros" que faeilita a descentraHzagaodo pensamento, 0 que permite
ao individuo eolocar-se segundo os pontos de vista dos outros, 0 que 'Implieaem
admitir suposi9Cies- fator essencial do pensamento formal ou hipotetioo -
dedutivo do pre-adolescente.
E importante sublinhar que a oooperagao leva oonsigo,
imprescindivelmente, a interagao da afetividade, a qual possui para essa idade
uma capacidade especial para retardar ou acelerar a transigao do nivel operatorio
concreto ao formal. Alguns estudos, masma que sem referenda especial a esse
periodo, justificam a involugao das estruturas oognitivas por razOesafetivas.
Segundo PIAGET (1975, p. 76), a caracteristica principal desta etapa - a
que oonstitui uma unidade de oonduta - geralmente se oonstroi entre 11-12 anos
e 14-15 anos. Durante este intervalo, opera-se um gradual distanciamento, ou
independencia do ooncreto e imediato, que permite aceitar verdades passiveis e
raciocinar, au deduzir, a partir de premissas hipoteticas, au seja, nas quais 0
jovem ainda nao cre. Esta particularidade e que permite dizer que 0 pensamento
formal e hipotetioo-dedutivo.
Como resultado da passibilidade de distanciar-se do ooncreto nO plano
socio-afetivo, da-se um duplo movimento: da descentralizagao do proprio ponto
de vista; e seu oomplementar, de centralizagao. Enquanto 0 primeiro provoca °contato oom pais e adultos, 0 segundo implica em um dobra-se sobre si mesmo.
Assim ooorrem as fric96es oom os adultos, oom que 0 pre-adolescente se choca
em uma inocente busca de hipoteses que Ihe permitam interpretar os fatos da
vida, hip6teses essas que se opeem as suas proprias e a outras alheias. Com
freqOencia, pode-se observar oomo a oposigao do pre-adolescente e do
adolescente tem um duplo significado: chocar-se, apoiar-se, em virtude do qual
ele tenta encontrar 0 seu proprio equilibrio e posigao.
Segundo FARIA (1986, p. 112), da capacidade geral do adolescente se
14
deriva urna grande quantidade de capacidades, tais como: admitir suposi<;oes e
elaborar um sistema de hip6teses; formular leis e construir sistemas imaginarios;
compreender a proporcionalidade ou a correlal'ilo. Tais caracterfsticas permitem
ao pre-adolescente interessar-se pela ficl'ilo cfentffica, buscar solu¢es
alternativas com passos au procedimentos intercambiaveis, dirigir sua propriaatenyao a teorias filos6ficas, religiosas, esteticas, cientfficas e tentar muda-Ias e
abordar problemas matematicos, fisicos e 16gi005 que requeiram demonstra<;ao,
experimental'ilo ou dedul'ilo rigorosas.
15
4 CARACTERIZACAO DO PROCESSO OA AVALIACAO
DlAGN6STlCA
4.1 INClUsAo DAFAMILIANODIAGN6STICO
No diagn6stico tradicional, ainda que S6 incluam as pais, 0 centro €I a
crianga padente, e e ela que se estuda. Os pais participam somente como
informantes e os irmaos ficam Ii margem. Com este enquadre, come9a-se
aceitando e confirmando a suposi9iio de que 0 problema esta somente na
crianga.
Segundo FERNANDES apud WEISS (1997, p. 143),
com 0 DIFAJ (Diagnostico Interdisciplinar FamlHar de Aprendizagem em urna 56 Jornada),se quer desde ja 0 enquadre da situaQ8.o, calecar como protagonista a famflia. 0diagnostico tradicional favarece a localiz8g80 dos pais em urn falsa lugar de saber. Elesvern falar do tilho, geralmente com queixas e explicayOes do tipo: ~nao tern mem6ria~,"teve urna base rna com a professora", "tude comeyou desde que nasceu a irma", ~temalgo podre na cabeya", etc. Oiferentes consideraye6s da problematica do filho. Tomandocomo protagonista a familia, pretende-s6 desde j8 a convocag8o, ter uma intervengaooperativa em relac;ao a mobilidade desse lugar do saber dos pais. Todos tem algo a dizer,e todos sao escutados, questionados, da-se um espa9Q dividido e um espago porsubgrupos. E a crianc;a~paciente, a!em disso, urn espayo individual para que possaestruturar sua fala mais livremente.
Deve-se tambem devolver a familia a possibilidade de pensar, de fazer
perguntas, de questionar e refletir.
Proporcionar aos pais um espa90 para sentir e pensar, em que possam
ver-se a si mesmos indivldualmente, como casal e como grupo familiar. Nao S8
deve centrar no que outros (professor, medico, etc.) opinam e eles repetem sobre
seu filho.
Trata-se de devolver-Ihes a possibilidade de encontrarem-se com seus
aspectos sadios, para que dali eles mesmos possam descobrir os caminhos para
mudar.
A origem do problema de aprendizagem nao se encontra na estrutura
individual. 0 sintoma se ancora em uma rede particular de vinculos familiares,
que se entrecruzam com uma tambem particular estrutura individual. A crianga
suporta a dificuldade, poram, necessaria e dialeticamente. os outros dao 0
sentido.
16
Para compreender urna crianC;:8, e preciso reCOfrer pelo menos a terceiragera,.ao de antecessores. Os pais estao, por sua vez, incluidos em uma estrutura
edipica que abrange seus pr6prios pais.
Chama-se analise es!rutural aquela que !rata a estrutura interna do
paciente. E dinamica aquela que se detem na rede de vinculos da estrutura
familiar.
Pretende-se a partir da c1inica analiser e intervir no ponto de articula,.ao
entre 0 estrutural e 0 dinamico. Nilo se propoe, entretanto (por impossivel), fazer
um somat6rio entre estas duas abordagens.
Segundo WEISS (1997, p. 121), "'; por isso que se imagina 0 DIFAJ como
um modelo diagn6stico que permita analisar as dificuldades de aprendizagem, na
articulagao entre 0 estrutural e 0 dinamico".Para diagnosticar e intervir na dinamica, necessita-se a presem;:ada familia
real, enquanto se opera tamb"m sobre a familia simb61iea,a partir do trabalho
com as representagiies inconscientes de cada urne do grupo.
4.2 MOTIVO DA CONSUL TA
Toma-se em primeiro lugar 0 caso mais geral, no qual a demanda de
atendimento psicopadag6gico esm motivada por urn problema de aprendizagem
infantil ou adolescente; neste caso vincula-se com 0 paciente, entendido como
situa9ao familiar que solicita ajuda.
Ainda antes da entrevista propriamente dita, considera-se a via atraves da
qual 0 paciente chegou a consulta, enquanto individuo ou instituiyao; pode ter
side encaminhado pala professora, pelo medico, por outra passoa com um
problema pareeido ao seu, au entao movido par algum tipo de publicidade. Isto
sera util para esclarecer de saida, a tipo de vinculo que 0 paciente pretende
estabelecer ao colocar 0 problema como proprio au como impasto de fora; nao e
a mesma coisa dizer "eu vim consult,Ho porque meu filho tern urn problema
escolar" do que dizer ~vim porque a professora mandou" au "venho a partir do de
fulano", revelando assim 0 grau de independencia com que 0 paciente assume
seu problema.
17
Outro aspecto que define 0 vinculo e a ansiedade demonstrada pelo
solicitante com rela~o as condi96es de horarios e honorarios, a pretensao de
expor seu problema por telefone, as diversas queixas e obje96es, que dao 0 tipo
de resistimcia e a urgemcia que a demanda carrega.Tambem e importante saber, antes da primeira entrevista, qual e 0 objetivo
explicito da demanda: se trata-se apenas de uma consulta, a misseo sera
estabelecer 0 diagnostico do deficit na aprendizagem e informar sobre os fatores
positivos e negativos que, em cada case, podem facilitar ou detenorar os
processos cognitivos.
GESSEL & AMATRUDA (1987, p. 206) dizem que 0 peciente espera 0
tratamento integral do problema, a preocupa,.ao centrar-se-a na cria,.ao das
condi¢es adequadas para que 0 padente assuma 0 tratamento, participe e
coopere na solU9ao do problema: e faz-se questao de dizer "co-opere" ou opere
junto com 0 psicopedagogo desde 0 diagnostico, que e onde com998 0 processo
de reconhecimento de si mesmo.
Com estes elementos 0 psicopedagogo chama ambos os pais para uma
primeira entrevista, a qual tem inicio com a instru980 de que expressem "quais
sao os motivos pelos quais consultam". Insistir na presen9Sdo casal colocara em
relevo 0 fato fundamental de que todo 0 nucleo familiar esta comprometido na
situa9aOda crian9S, fato que nao deixara de destacar-se, especialmente quando
um dos pais nao comparece. Durante a entrevista "de motivo" 0 psicopedagoga
participa e favorece 0 dialogo, favorece a expressaa e cria um clima afetuoso e
compreensivo; sua missao e que 0 casal saia confortado, menas ansiose do que
entrou e com urna imagem suficientemente clara da proxima tarafa.Os dados a serem extraidos da entrevista na qual os pais expressam 0
motivD de consulta - que nem sempre coincide com sua principal
preocupa,.aa - sao, a grosse modo, os seguintes: significado do sintoma na
familia e Significadodo sintoma para a familia.
4.2.1 Significado do Sintoma na Familia
Comumente se evidencia que 0 problema da cnan9S e emergente do
18
problema do grupo primario ao qual pertence. Nao pode-se conceber a crianca
como uma parte de urn todo, que tern sentido por esse todo que seria a familia; se
trata de urn sistema incluido em outro sistema de acordo com certas articula90es
que conformam uma legalidade muito diferente daquela que rege os campos
morfologicos. Na rela9ao parte-todo, falar de emergente e referir-se a uma parte
que, destacada por leis intemas de configura9!io, converteu-se em sinal; por isto,
alguns autores consideram 0 paciente como emergente (sadio) de uma situa9!io
morbida. Entretanta, se ao inves de falar-se em rela9!io, fala-se de articula9!io
instancia-estrutura, coloca-se a enfase na emergencia sintomatica que, em sua
peculiar maneira de lidar ou comprometer mutuamente as atores, encontra sua
fun9aOno drama. Se 0 emergente e sinal, 0 sintoma e significado.
Segundo JERUSALINSKY (1968, p. 198), a versao da problematica, que
se obtem por intermedio dos pais, pode dar algumas chaves para que se
aproxime do significado que 0 nao-aprendente tem na familia. to importante
prestar aten9!io para alguns significantes da linguagem que os pais utilizam, isto
e, os rodeios que expressam, especialmente de maneira figurada, urn conteudo
latente. Muitas maes dizem, por exemplo, "meu filho nao aprende nada", °que ao
mesmo tempo denuncia um "filho que nao aprende para mim" (nao repara em
mim), "meu filho me ignora" (como mae, como mulher), e "minha filha na~ se
parece comigo", "nao esta se tomando mulher como eu", frases que sao, todas,
queixa e suplica, simultaneamente.
Outras expressoes comuns na descri9!io dos problemas de aprendizagem
se relacionam com 0 fato de receber (alimentar-se, assimilar, deixar-se penetrar)
no coloquial "nao entra nada na cabega dessa crianca"; como ° fato de conservar
(reter, memorizar, engordar) na giria, "nao fica nada na cabe9a dessa crianca"
que transparece urn sentimento de continua perda; com 0 fata de devolver
(expelir, dar, criar) na giria, "nao sai nada dessa cachola" ou "nao da"; com 0 fato
de funcionar como, em girla, "nao anda", "nao vai pra frente", que indicam certa
deten9!io ou paralisia das possibilidades de conhecer. Sem duvida, cada uma
dessas expressoes adquire significado na sequencia do contexto: nao e a mesma
coisa continuar a frase "meu filho nao aprende" com "...mas ele e esperto que 56
vendo" do que acrescentar "...0 problema sao os temas"; no primeiro caso, a mae
discrimina entre a sua rela9!io com a crianca e a crian9a como sujeito
19
independente;no segundo caso, a crianr;ae um objeto de dever para uma mae
que nac cumpre 0 seu.
Ao considerar-se a aprendizagemcomo uma fun~o que, especialmente
oa infancia e na adolescencia, garante a conservayaoe expansao dasestruturasdo sujeito, bem como sua adapta~ a transforma~o continua que Ihe
jmpoe 0 crescimento considera-se 0 nao-aprender como urna disfun~o ou
inibi~. Entretanto, 0 crescimento da crianr;a, sua passagem a fase adulta,
transforma continuamentesua posi~o com rela~o ao pai e a mae, produzindo
desequilibrios que algumas vezes sao compensados adequadamente e
outras vezes nao 0 sao. As perturbac;iies na aprendizagem, normais ou
patologicas, tendem a evitar aquelas mObilizac;iiesque 0 grupo nao pode
suportar, em fungao do seu particular contrato de sobrevivencia. Atraves da
primeira entrevista tem-se a oportunidadede aproxima~o das ciausulas desse
contrato que dara a real signiftcagao da perda de uma fun~o por parte da
crianr;a.
Em alguns cases 0 tabu do conhecimento esm incorporado em
forma de 'segredo". 0 fato da menina ter sido adotada, ou ter nascido fora
do vinculo matrimonial, ou ter side concebida depois de um aborto provacado
au apesar dele, e narrado pelos paiS de maneira intimamente vinculada com 0
motivo da consulta. 0 roubo, a fraude, 0 crime, sao aquila que a revela~o
de tais "segredos', fomeceria ao filho, que entao, com tal poder poder;,
chantagear seus pais. Assim se expressa urna mae de uma menina adotada:
"Se eu contasse a ela, ela ja na~ me obedeceria, e pensaria que talvez a
sua mae verdadeira a obrigasse a obedecer e eu nao poderia
defender-me'.
Em outros casas a falta de conhecimento investe a objeto de amor.
o pai mostra-se indulgente com uma mulher burra que confunde feminilidade
com ignorancia. A menina se identifica com tal modelo para conseguir 0
mesmo favor, que Ihe e concedido durante a entrevista junto com a seguinte
afirma~o: "Afinal e uma menina,se nao da para as estudos, fica do lado da mae;
se fosse por ela e mais feliz na cozinha do que nos cademos". 0 outro caso no
qual a identifica~o e denunciada por si mesma: ". .E...ele...voce sabe.. nao
termina... isto... deixa as coisas... de modo que...'; a professora apresenta a
mesma crianga expressandoque "suas redac;iiessao incompreensiveis, porque
20
deixa todas as ideias truncadas parece como se tivesse lacunas em seuspensamentos". 0 pai, unico e grande fracassado de uma familia de triunfadores,
que no entanto 0 protege, estabelece com a crian98 uma relagiio de
cumplicidade, ate 0 extremo de patrocinar as "matayaes de aula" da crian98. As
reticencias que caracterizam todo 0 comportamento do pai e da crian98 sao
compensados com uma atuagiio sedutora que transforma 0 pensamento emsuperfluo.
Segundo ACKERMAN (1986, p. 201), tem-sa apontado a superprotegiio
como causa de deficit na aprendizagem. A crian98 se defende contra ela e
reivindica seu direito a independencia. Mas quando se trata de uma
superprotey80 sem ateto, dirigida a um objeto cujo valor se esgota em
possuido, pode ocorrer que a perspectiva de perder toda a protegiio e ficar
sem nada (especialmente se 0 outro progenitor e indiferente) iniba a crian98 na
sua conquista do mundo. Um pai descrevia assim a situagiio: "e que esm
muito mimada, deixa que fagam tudo com ela", para salientar 0 fato de
que a menina deixava que a vestisse e que fizessem seus deveres, Knao danada de si". Claro que quando colocava "nada de si" era desqualificada
impunemente.
o mesmo ocorre nos casas que tem-se chamado "de tudo ou nada", isto e,
a aquisigiio de um comportamente mais independente por parte da crian98
tem comO conseqOencia que os pais deixem de prestar-Ihe assistancia neste
sentido.
Isto nao ocorre apenas quanto ao conhecimento, pode-se imaginar com
facilidade cena na qual a crian98 se nega a comer pure, e a mae reage dizendo
que nunca mais Ihe fara pure, como se 0 fato de uma vez nao ter esse apetite a
inibisse definitivamente para senti-Io no futuro. Tal irracionalidade leva a crian98 a
aceitar tudo e nao aprender nada, pois 0 absolutismo parental lransforma 0
transitono em definitivo aparecendo ainda como retaliaflvo. Oesta forma 0 exito se
transforma em fracasso. A verbalizagiio de tal atitude e bastante familiar; os
"nunca", os "jamais", os "sempre", os cortantes e orgulhosos "por que logo nos",
abundam no discurso que os acompanha.
21
4.2.2 Significado do Sintoma para a Familia
A medida que fica estabelecido que a particularidade dos vinculos toma
possivel enlender uma perturbagao na adapta98o, e uma vez que 0 sintoma se
toma evidente, a familia deve assumi-Io, isto e, tomar consciencia do deficit e das
implica90es que ele acarreta. A relagao familiar diante do fracasso escolar, ou do
nao cumprimento das regras gerais do crescimento, depende dos valores que
denominam a classe e 0 grupo social aos quais pertence a familia. 0 fracasso
escolar nilo e tao grave num nucieo com escassa expectativa de promogao social,
como naquelas classes que conquistaram 0 poder atraves da profissionaliza9ilo.
Neste caso produz-se a frustrao;aodas possibilidades vitais e 0 grupo devolve a
familia uma imagem muito desvalorizada de si mesma. Na familia operaria a
dificuldade da crian9Be vista como urn "estar em falta", nilo cumprir com 0 dever,
nilo estar a altura de uma instituigao prestigiosa e alheia, 0 que expressam
dizendo que "a crian9B nao serve para a escola" (quando na realidade faz-<le
necessario esclarecer que a escola nilo serve para a crian9B).
Ao considerar-se que 0 sinal de fracasso vai ser determinado pelas
expectativas da familia em fungao de sua ideologia, 0 psicopedagogo ver-se-a
obrigado a interpretar tambern de maneira diferente os comportamentos
provocados peio fracasso. Pode-se dizer que uma mile burguesa, identificada
com seu filho, desloca os problemas dele sobre a professora, quando diz: "a
professora nile sabe nada, e uma grossa, eslli louca", mas nao se pode dizer 0
mesmo de uma mile operana que talvez perceba e fique revoltada diante do
abismo que se abre entre 0 que a professora exige e 0 que seu filho pode e
precisa saber. A submissao e a identifica9ao da mae com a professora,
duplicando a exigencia para com a crian9B, representa neste caso a participagao
de urn poder exercido sobre ele.
Segundo ACKERMAN (1986, p. 201), desta forma, os pais podem ateibuir0
problema as institui¢es, podem atribuir a crian9B propriamente dita 0 maior peso
nas dificuldades, como por exemplo quando dizem que "e distraido, a cab89B nao
ajuda" ou "va-se que nao quer nada como nada, nao tern for9a de vontade", ou
entao se responsabilizam palo que ocorre afirmando que "talvez eu seja urn
pouco nervosa", "nao tenho paciancia".
22
de maneira que um argumento desqualifica 0 precedente pela temar, a agressao,
e a culpa que desencadeia. No caso de uma crian\'8 trazida para consulta por ma
aquisiyao da linguagem, a mae disse "meu filho esta verdadeiramente apaixonado
pela professora'"e acrescentou sem pausa: "me parece que os ciumes 0
corroem .. porque 0 pequininho fica em casa"; certamente ela se referia a seus
proprias ciumes, pois sem dize-Io proclamava que a crian\'8 astaria malhor em
casa, j8 que no jardim nao melhorava sua linguagem.E formidavel a relayao que se estabelece entre a articulayao do sintoma e
a reayao que provoca. Quando 0 fator psicogeno e predaminante, os pais
evidenciam certa ansiedade por demonstrar a "realidade" do problema. Muitos
for\'8m a crian9a a repelir uma serie, pois "mesmo tendo condi9iies de passar,
conforme a professora, eu naD queria que tivesse pouca base". Qutros provocamum fracasso enviando as crian9as a escola antes da idade correspondents e sem
um exame de maturidade.
Resumindo, segundo VISCA (1991, p. 91), a enlrevista que se denomina
"motivo de consulta", e uma ocasiao para estabelecer hipotese sobre os seguintes
aspectos importantes para 0 diagnostico do problema de aprendizagem:
• significayao do sintoma na familia OU, com maior precisao, articula980
funcional do problema de aprendizagem;
• significayao do sintoma para a familia, ista e, as rea9iies
comportamentais de seus membros ao assumir a presen\'8 do problema;
• fantasias de enfermidade e cura expectativas acerca de sua intervenyao
no processo diagnostico e de tratamento;
•modalidades de comunicayao do casal e funyao do terceiro.
Se 0 esclarecimento destes pontos e chave para a compreensao
diagnostica do sintoma, eta se revela em tada sua importancia no processo que
segue e que se denomina, a falta de vocabulo feliz, "momenta de devoluyao", cujo
objetivo e que as pais assumam a problema em sua dimensao real. Para isto nao
basta apresentar-Ihes as conclusaes do caso, e necessario corrigir ou modificar
suas explica9iies a partir do assinalamento dos aspectos latentes, ocultas no
discurso.
Tal tarefa junto aos pais e a crian\'8 e na realidade 0 come9Qdo tratamento
23
psicopedagogico. Por enquanto ha necessidade de se compreender outros dados
da realidade da crian"", para se compreender como intervem os diferentes
fatores relacionados com a aprendizagem, nessa conjuntura individual chamada
sujeito.
4.3 ANAMNESE
4.3.1 Hist6ria Vital
Uma segunda entrevista com a mae estara dedicada a reconstrugiio da
historia da crian"". Eo conveniente realiza-Ia depois de conhecar urn pouco 0
paciente, atraves da hora do jogo e algumas provas psicometricas, a tim de
orientar 0 interrogat6rio para aquelas areas mais relevantes e nao abrir
oportunidade a emergencia de ansiedades e deslocamentos. Perguntar-se-a,
portanto, sobre os possiveis antecadentes geneticos quando houver suspeita de
alguma participagiio deste fator, ou insistir-se-a nas modalidades para educagiio
do controle dos esfincteres quando apare""m perturbagiles na acomodagiio, de
modo a nao desesperar a mae com urn emaranhado de "causas" possiveis, umasque a acusam e Qutras que a redimem.
A "historia vital" provera uma serie de dados relativamente objetivos
vinculados as condigiles atuais do problema, permitindo, simultaneamente,
detectar 0 grau de individualizagiio que a crian"" tern com relagiio a mae e a
conservagiio de sua hist6ria nela. Eo interessante notar a estreita relagiio dos
problemas de aprendizagem, definidos muitas vezes como "de memoria", com a
impossibilidade da mae para rememorar fatos e anedotas sobre a crian"", que so
pode recuperar perte de sua vida atraves dela.
Apesar de que nesta entrevista necassita-se de uma sarie de dados bern
estabelecidos, devera ser tao livre como for possivel, dando-Ihe a mae como
instru9ao 0 tema geral, deixando que as especificagiles surjam da
espontaneidade do dialogo. Ao fazer a pergunta procura-se inciuir 0 nome do
padente para definir melhor 0 objetivo, como por exemplo, "0 que voca pode me
dizer sobre 0 nascimento de Alberto?". Caso a mae se mostre lac6nica, confusa
ou reticente, fecham-se urn pouco as perguntas ou entao inclui-se afetuosamente
24
a mae no relata, interessando-se palas suas pr6prias experiencias nos mementos
em que deseje revive-las; por exemplo, "Voce tinha em quem confiar?, quem a
ajudava?"; muitas vezes a mae entende em tal frase um convite para corrigir
certas experiencias e recuperar dalas niveis de satisfayao sepultadas pelo rancor
da carencia, neste momento em que se Ihe oferece a garantia da compreensao.
Noutro extrema pode-se encontrar uma mae verborreica em circunstancias e
anedotas, tecendo uma cortina de confusao que nao permite aproxima9i\o do
sujeito em estudo. As vezes as maes respeitam os limites de um questionario
mais fechado, mas quase sempre obrigam ao psicopedagogo denunciar que algo
esta oculto. Por exemplo, certa oportunidade uma mae, interrogada sobre a idade
que a crian98 tinha quando comeyou a caminhar, respondeu que, como eram
muitos em casa, sempre estava no colo, etc..., sem concretizar 0 fato preciso. 0
psicopedagogo assinalou que ao inves de responder, dava um pretexto que
levava a suspeitar que a crianga caminhara tarde, sem que pudesse afirmar-se
islo com certeza, nem 0 grau de atraso que pudesse ter havido. A mulher olhou
para 0 psicopedagogo, suspirou e concluiu: "Mais de dezoito meses, doutora, este
e 0 meu destino".No caso de um paciente que consulta por problemas de aprendizagem,
serao as seguintes aspectos de indagagao predominantes:
Segundo WEISS (1997, p. 23-26), os aspectos relacionados sao
necessarios levar em considera9i\o, pOis envolvem alguns aspectos ligados as
tres perspectivas de abordagem do fracasso escolar a integra9i\o desses
aspectos citados a seguir, ajudara a construir uma visao global do sujeito em suas
multiplas facetas. Esses aspectos sao os organicos, cognitivos, social,
pedag6gicos.
4.3.2 Aspectos organicos
Relacionados a constnugilo bifisiol6gica do sujeito que aprende. A1tera¢es
nos 6rgaos sensoriais impedirao au dificultarao 0 acesso aos sinais do
conhecimento. A constru9i\o das estnuturas cognitivas se processa num ritmo
25
diferente entre indivfduos normais e as portadores de deficiencia sensoriais, pois
existirao diferenyas nas experiencias tisicas e sociais vividas.
Diferentes problemas do sistema nervoso central acarretarao alteragiies,
como, por exemplo, dislasias e alasias que comprometem a linguagem e poderao
ou neo causar problemas de leitura e escrita.
Na realidade, crianyas portadoras de alteragiies organicas recebem, na
maioria das vezes, uma educa~ao diferenciada por parte da familia, 0 que pode
levar il forma~o de problemas emocionais em diversos niveis, gerando
dificuldades na aprendizagem escolar.
4.3.3 Aspectos Cognitivos
Estariam ligados basicamente ao desenvolvimento " funcionamento das
estruturas cognitivas em seus diferentes dominios. Incluir nessa grande area
tambi>m aspectos ligados il memoria, aten~o, antecipa~o, etc., anteriormente
agrupados nos chamados fatores intelectuais.
Numa viseD piagetiana, 0 desenvolvimento cognitivo e urn processo de
constru~o que se dil na "intera~o entre 0 organismo e 0 meio". Se esse
organismo apresenta problemas desde 0 nascimento, 0 processo de
constru~o do sujeito solrera alteragiies no seu ritmo. Por exemplo, a crianya
com grande baixa visual tera seu processo de constru~o do espa~o
complicado. pois suas experiencias com 0 mundo ffsico ficam diferentes das
crianyas com viseo normal. Depoimentos de crianyas que somente na classe de
allabetiza~o (6-7 anos) tiveram a altera~o visual parcebida palos professores e
a familia passou a providenciar a corre~o com 6culos de "grossas lentes". Essas
crianyas contaram que as coisas em tome eram diferentes antes do usa do
6culos.A crianya deficiente mental caminha na sua constru~o cognitiva
lentamenle, mas ate urn certo ponto. Ela tern limites, mas nao necessariamente
problemas na aprendizagem que ocorra denlro dos seus limites.
Aspectos emocionais eslariam ligados ao desenvolvimento afetivo e sua
relagao com a constru~o do conhecimento e a expresseo deste atraves da
26
Produ980escolar. Remete aos aspectos inconscientes envolvidos no ate de
aprender.o nao aprender pode, por exemplo,expressar uma dificuldadena rela980
da crianya com a sua familia; sera 0 sintoma de que alga vai mal nessa dinamica.Na pratica, pode se exprimir por uma rejei980 ao conhecimento escolar, em
trocas, omissoese distor90esna leitura ou oa eScrita,nao conseguircalcular em
geral, naoconseguirfazer umadivisao,etc.
4.3.4 Aspectos Sociais
Estao ligados a perspectiva da sociedade em que estao inseridas a
familia e a escola. Inclui, alam da questao das oportunidades, 0 que
js foi comentado, 0 da forma980 da ideologia em diferentes classes
sociais. A busca do conhecimentoeseelar, recorte do acervo de uma cultura,
servira para que? Permitira uma definigao de classe? Permitira uma ascensaosocial? Sera urn meio para melhoria de condi¢es economicas? Responde a
uma expectativa de classa? Essas e outras quest5es necessitam ser
pensadasdurante 0 diagn6stico.Por examplo,quandoa familia tern possibilidade
de escolher a escola para seu filho ela 0 faz visando a manuten980 de sua
ideologia.
E outro exemplo a falsa democratiza980 de algumas eseelas que
sa da a mistura de crian9as de classe media com ampla base cultural com
crian9Qs de camadas menos favorecidas da popula980, sendo essas
ultimas expelidas da escola por duas reprova¢es. Essa escola que "flnge"
aceitar a diversidade cultural constr6i nessas crian9Qs a baixa auto-estima,
o sentimento de inferioridade que carregam para outras escolas ditas mais
fiiceis. Isto acontece porque, na realidade, nao fazem dentro da escola
modiflca¢es curriculares e pedag6gicas que auxiliem a crian9Q menos
favorecida a ter uma ascensao no conhecimento e se igualar com as do
1°grupo.
27
4.3.5 Aspectos Pedagogicos
Contribuem muitas vezes para a aparecimento de uma "forma reativa"
aos objetos de aprendizagem escolar. Tal quadro confunde-se, as vezes,
com as dificuldades de aprendizagem originadas na historia pessoal e familiar do
aluno.Nesse conjunto de fatores, estao inclufdas as quest6es ligadas a
metodologia do ensino, a avalia9iio, a dosagem de informac;6es, aestrutura9iio de turmas, a arganiza9iia geral, etc., que, influindo na qualidade do
ensina, interterem no processo ensino-aprendizagem. Ficam diminufdas, assim,as condiyB8sexternas de acesso do alune ao conhecimentovia escola.VYGOTSKY (1989, p. 56) enfatiza que 0 Dnico bom ensino e 0 que adianta ao
desenvolvimento.
4.3.6 Doenyas
Em primeiro lugar interessam as doen98s e os traumatismos ligados
diretamente a atividade nervosa superior. Os estados que denotam perda de
consciencia, sonambulismo, espasmos ou convulsoes, terrores noturnos,distra90es descritas como "lacunas", podem supor epilepsia em todas as suas
variantes, enquanto que os estados nas quais houve rigidez, com ou sem sequela
de estrabismo e transtomos na locomoyao, podem atribuir -S8 a processos
encefalopaticos.
Estes antecedentes, unidos aos dados fornecidos pela psicometria,
especialmente no nivel de adequa9iio visomotora servem de guia para consultar
com a pediatra e a neurologista, pais quadros aparentemente muito graves nao
deixam seqOelas, enquanto que em outros de lesao evidente, e mais dificil
rastrear 0 momento de sua apari9iio. De todas as formas, deve ser a especialista
quem confirme ou despreze a hipotese do comprometimento organico e avalie
sua importBncia no caso.
Dentre as demais doen98s e Dtil deatacar 0 tempo de reclusao a
que a crian98 foi obrigada, au quae doloroso foi 0
28
as olites repetidas na laclancia, e se houve algum membra imobilizado
pelo gesso, A lesao ou inibi~o de um orgao, especialmente num
periodo de exercicio funcional do mesmo, fica ligada frequentemente a sua
utiliza~o, perturbando a aprendizagem que deve realizar-se por seu
intermedio.Em terceiro lugar interessamos processosabertamentepsicossomaticos,
sejam ales certos eczemas e bronquite asmatica, vomitos, diarreias e cefah§ias,
como tambema disponibilidadedo organismopara recuperar-se,seja a rapidez
de restabelecimento,a facilidadede apari~o de complicagiies,a cronicidadeas
afecg6es,
Ainda que nao seja frequente que 0 problema de aprendizagem se
apresente em crian98s que somatizem, e comum encontrar sintomaspsicossomaticos entre seus antecedentes, e resulta muito importante
estabelecer 0 momento e as condigiies de deslocamento do
sintoma.Por ultimo destaca-se a disponibilidade ffsica, isto e, a destreza, a
habilidade manual, a disposigao para os esportes, 0 peso e a estatura em
rela~o com a idade, a fatigabilidade e todas as possibilidades e limitagiies
relacionadas com 0 corporal, espedalmente as associadas aos orgaos dos
sentidos,
4,3,7 Desenvolvimento
Interessa estabelecer se as aquisigiies foram feitas pela criange no
momentoesperado ou se, pelo contrario, estas foram precoces ou retardadas.
Isto nos permiteestabelecerum quocienteaproximadode desenvolvimento,que
se comparara com 0 atu81, para determinar 0 deterioramento ou incremento noprocessode evolu~o,
Os aspectosemquea memoriados paise maisfadl sao as seguintes:
29
4.3.7.1 Desenvolvimento motor
Em que idade a crian9a ceme9Cu caminhar independentemente e as
circunstancias que cercaram este fato (engatinhamento previo, precau¢es para
que nao se arriscasse, disponibilidade de espa9C).
Quando manter a cabe9a ereta. Movimenta9iio em rela9iio aos membras
supenores e inferiores. Se cafa cem freqOencia. Se acempanhava objetos cem a
vista.
4.3.7.2 Desenvolvimento da linguagem
Com que idade a crian98 ceme9QU a falar, isto e, a designar um
objeto ausente cemo, por exemplo, pedir agua. TambBm interessa saber
ate quando censervou 0 "tatibitate" e que palavras pronunciava cem
dificuldade.
Quando cemB9Cu a sorrir socialmente, palavras cem significa9iio.
senten98s simples cempletas. Sua habilidade pare contar fatos, cempreender
ordens.
Sua linguagem e somente entendida pelos que a rodeiam. Usar gestos e
mimicas para se expressar.
4.3.7.3 Desenvolvimento de habitos
Com que idade a crian9a ceme9Cu a pedir para solucionar sua
necessidade de evacua9ao e a partir de que idade desenvolveu-se sozinha neste
aspecto. Tambem interessam outros aspectos de sua independencia:
alimenta9Bo, sono e sua vida na rua; aspectos que nao se pode avaliar a nao sercensiderando a norma que rege 0 grupo de pertinencia da crian98.
Nao se pode deixar de perguntar se a existencia de um problema de
aprendizagem sintamatizada par urn membra da familia autoriza-se a falar de
30
"familia-problema de aprendizagem". De todos as modos, ainda nao se resolve
esta questao, como diz PAIN (1991, p. 47):
se uma equipe de h6quei requer nossa intervenyao porque seu zagueiro esquerdatern baixos desempenhos, nac se pensaria somente em chamar a zagueiro aoconsultorio, redigir urna historia cHnica e ministrar~lhe um Rorschach. Nao enecessaria partir-se de que a equipe e a causa do mau desempenho de todojogador para exigir a observaC;80 do zagueiro esquerdo em sua equipe. Pade-setalvez, chegar a essa conclusao em particular, mas nao a partir dela. 0 que einegavel e que se nao se conhece as regras do jogo e a tipo de jogadas, nada sepodeobservar.
Antes de patologizar, e necessario conhecer a verdadeira historia escolar,
discriminar 0 que e falha de ensino e falla de oportunidade escolar das
dificuldades reais do processa de aprendizagem. Em outros termas: tentar
distinguir efeitos doentios da escola, de problematica nascida da dinamica
familiar.
Em algumas situag6es de anamnese, pede-se para ver os chamados
albuns de bebe (anota~ees seqOenciaisdo desenvolvimento), albuns de retratos,
relatorios de creche e pre-escola. Podem ocorrer contradi¢es entre a fala dos
pais e 0 que se verificava nos retratos e relatorios. E interessante assinalar que,
embora nos casas de paciente provenientes da popula~o de baixa renda, esse
material praticamente inexiste, por razees economicas, em familias de melhor
nivel social e econ6mico por vezes tambam inexiste esse registra, fato que devera
ser apurado em maior profundidade.
Ha necessidade de se registrarem as dados essenciais da anamnese,
algumas falas dos pais, sua postura e a dinamica da sessao. Para iSso, a
psicopedagogo poden, conlar com gravag6es, desde que autorizadas pelos peis
au com a registro atraves de suas proprias anota¢es. No trabalha em equipe,
pode haver um observadar que ficara encarregado desse registro. A refiexao
sobre os dados colhidos nas entrevistas de anamnese possibilitara contextualizar
o paciente no ambiente familiar e escolar e tra~r as hip6teses que ligam fatoscomo:
• Histona Familiar: mudan~ de cidade, mudan~ de casa, nascimento de
urn irmao, problemas emocionais matemos au paternos .• Historia Escolar: alfabetiza~o em 3 escolas diferentes (3 metodas).
31
• Hist6ria Clinica: crises de bronquite asmatica.
Conforme cita WEISS (1997, p. 69-70), "a entrevista de anamnese pode
remeter 0 psicopedagogo a outros proflSsionais que ja atuaram ou atuam junto ao
paciente. E importante a possivel compara9iio entre 0 que e dito pelos pais e
demais profissionais: psicopedagogo, psicanalista, fonoaudi610ga, professor
particular, etc., e 0 momenta presente do paciente".
Quaisquer que sejam as participantes au a dinamica vivenciada, aanamnese constitui um momento de mobiliza9iio que, de algum modo, deve
possibilitar a familia continuar a busca da cura, movimento que se prolonga por
todo 0 diagnostico e fica mais reforyado na devolu9iio.
Compreendida a vida do paciente e sua familia, e importante integrar esses
dados aos obtidos no DIFAJ para continuar-se no processo de levantamento de
hipoteses e de defini9iio de instrumentos.
4.4 FUN<;:Ao DA INSTITUI<;:AO EDUCATIVA
Saba-se que para aprender e necessario um ensinante e um aprendente
que entrem em rela9iio. Isto e alga discutivel quando se fala de metodos de
ensino e de processos de aprendizagem normal; nao obstante, costuma-se
esquece..lo quando se trata de fracasso de aprendizagem. Aqui pareceria, enta~,
que sOentra em jogo 0 aprendente que fracassa. Como se nao se pudesse falar
de ensinantes ou de vinculos que fracassam ou produzem sintomas. Por
ensinantes entende-se tanto 0 docente au a institui9iio educativa, como 0 pai, a
mae, 0 amigo ou quem seja investido pelo aprendente e/ou pela cultura, para
ensinar.Necessariamente, nas dificuldades de aprendizagem que apresenta um
sujeito, esta envolvido tambem 0 ensinante. Portanto, 0 problema de
aprendizagem deve Ser diagnosticado, prevenido e curado, a partir dos dois
personagens e no vinculo.Levando em conta 0 exposto, cria-se um modelo diagnostico que deixa um
espa90 para inclusao da institui9iio educativa, que podera ser instrumentado de
32
diferentes maneiras. Participando os assistentes sociais, os orientadoreseducacionais e os docentes nos momentos de reflexao do DIFAJ, poderao ser
utilizadas suas observa~6es como elementos para 0 diagn6stico, assim como
pode"'; levar-se em conta seu discursc, para determinar um diagnostico da escola
a que partencem e, alem do mais, preparar-se-a sua participa~o para
implementar uma estrategia conjunta.
Observa-se em alguns casos que a presen~ dos membros da institui~ao
educativa nos momentos de reflexao do DIFAJ, e 0 pontape inicial de um frutifero
dialogo interinstitucional (escola-clinica), com resultados positiv~s, para (iniciar)
tarefas de preven~o dirigidas ao conjunto dos alunos da escola e seus pais.
Tambem 0 docente pode ser vitima de um sistema que 0 usa como algoz.
Dar a palavra ao docente, escuta-Io, pode as veres possibilitar a abertura de um
espa~ e uma atividade que podera ser adiante mais facilmente levada ao vinculo
professor-aluno.
PAIN (1991, p. 66), diz que a "escola, depois da familia, converte-se no
lugar escolhido para fabricar neuroses, que se tratam depois em escolas
paralelas" ou consult6rios psicopedagogicos, nao se pode colocar no mesmo saco
o professor e a institui~o educativa.
o convite a alguns membros da escola para participar da reflexao sobre a
problematica da crian~ que fracasse, facilita uma aproxima~o a possibilidade de
admitir que a institui~ao educativa pode ser parte ativa, seja na etiologia ou na
manuten~o da dificuldade da crian~.
4.4.1 Aprendizagem
o importante neste caso e saber se a crianga, urna vez que adquiriu urn
padrao de conduta, e autonoma para realize-Io ou se ela se movimenta em fun~o
do controle materna que cada manh;; programa: "te veste, te lava, toma leite, te
penleia, nao Ie esqueces de nada? 0 cachecol, cuidado, etc."
Em se tratando do diagnoslico dos problemas de aprendizagem, deve-se
privilegiar na hisloria vital aqueles aspectos que constituem antecedentes da
constru~o dessa fun~o. Sao as seguintes:
33
4.4.1.1 Modalidade do processo assimilativo-acomodativo
o processo de adapta9iio conforme PIAGET (1975, p. 97), cumpre-se
gragas a um duplo movimento complementar de assimila9iio e acomodayao.
Atravas do primeiro 0 sujeito transforma a realidade para integra-Ia as suas
possibilidades de agao e, atravss do segundo, transforma e coordena seus
propnos esquemas ativos para adequa-Ios as exigencias da realidade.
No periodo sensono-motor, durante 0 qual a inteligencia do bebe se
desdobra na a9iio que exerce sobre 0 mundo, a assimila9iio dos objetos aos
esquemas e a modificagiio destes por acomodagiio a resistencia da
realidade, venficam-se plasticamente atravas de uma regula9iio dialatica. No
perfedo representativo-intuitivQ encontram-se atividades preponderantemente
assimilativas e outras predominantemente acomodativas, como a imita9iio que
possibilita a intemaliza9iiodeimagens.Nalinguagem ambos se conjugam em
dois niveis que nao se integram ata 0 periodo operatono logico concreto, e de
articulagao, que obedece as nonmasda sintaxe e do c6digo e 0 da significagiio,
que a egocentrico e simbOlico.
Os problemas de aprendizagem estao freqGentemente ligados a
perturbagoes precoces que detenminaram a inibigiio dos processos ou 0
predominio de um dos momentos sobre 0 outro, impadindo a integragiio que
possibilita a aprendizagem.
E bam lembrar que a primeiro esquema de a9iio que a bebe exercita a a da
sucgiio, segundo PiAGET (1975, p. 54), nao apenas para alimentar-se, mas
tambam para conhecer; todo objeto que chega a sua boca a investigado atrav6s
da sucgiio e discriminado como duro, mole, momo, seco, de morder, etc.; mesmo
assim a fungiio no vazio detenminara a ausencia do objeto. 0 espa90 bucal vai
progressivamente se enriquecendo com novos objetos que 0 bebe nao atribui
aqueles que va, enquanto nac coordena as esquemas orais casuais e tateis-
motores num unico complexo. Entretanto pode ocorrer que a crianga seja proibida
de levar os objetos a boca no preciso instante de sua vida em que a capaz de
integrar 0 conhecimento oral e 0 visual e entao tal conhecimento fica desintegrado
do objeto, irrecuperavel para a expanencia do sujeito.
Esse "tira a mao da boca" vai acompanhado meses mais tarde de um "nao
34
toea nissa" que inibe a criang8 de tacar no que come. Desta forma 0conhecimento oral e 0 tate se dissociam definitivamente, dando lugar a uma sene
de objetos que aparecem duplicados em dois espa90s diferentes e
acompanhados, alam do mais, de sentimentos de nojo que garantem a ciseo.
Lembrando a ilustradora anedota de PIAGET (1975, p. 56) e sua filha, na
qual se relata que a pequena so conseguiu situar em si prOpriaa orelha que seu
pai assinalava nele proprio, quando teve a oportunidade de tocar a de seu pai, so
neste momento reconheceu em si mesma a parte que correspondia il orelha do
pai. Nota-se ai a limitagao que os pais impoem ao conhecimento da crianga, pelo
simples fato de nao se deixar toear, apesar de ser tato, alem do espelho, a unica
via atraves da qual a crianya tem possibilidades de investigar as partes do corpo
que naD Ihe sao vislveis.Este tipo de controle sobre os canais ligados il provisao dos esquemas de
ayiio por vias da educagao, sere certamente a acelerayiio na apariyiio dos
processos simbolicos, pOis os esquemas intemalizados tem maior possibilidade
de coordenar-se.
Entretanto, no caso de ser muito precoce, a crianya deixa muitas
experiencias para tras, que ao nao ser integradas no esquema do objeto
total nao podem incluir-se nos sistemas cada vez mais equilibrados,
empobrecendo, p~r perdas e falta de disponibilidade, 0 conteudo do
pensamento inteligente. A fim de indagar a modalidade particular em que
ocorrem os processos assimilativosno sujeito, pede-se escolher situa¢esexemplares como 0 aleitamento, a passagem para a comida semi-solida, 0
manejo da colher, etc., cuja anamnese provoca comentarios como osseguintes: "cinco minutos em cada seio e pra caminha"; "apenas era levantada
para trocar as fraldas", e "nao queria saber nada de pure, tinha arcadas" (note-se
a utilizayiio do verbo "saber") ou, finalmente, "eu a alimentava com a colher, para
que nao se sujasse; eu Ihe segurava as maozinhas, caso contrario era urna
lambuzera".
Para indagar, respectivamente os aspectos ligados il acomodayiio,
escolhe-se a situayiio de controle de esfincteres, islo e, interroga-se a mae
sobre os recursos adotados para conseguir que a crianya demande atenyiio
sobre suas necessidades de evacuayiio na vida diuma. Este fato supoe que a
crianya reconhece atraves de certos sinais, sua necessidade; que pode protela-Ia
35
ate que as condigoes para seu cumprimento se deem, e que e capaz de
desenvolver certa atividade (demanda) que mediatiza a efetivayao de tais
condig6es. Eo possivel, entretanto, que diante de ameagas de castigo ou de
assiduidade no uso do urinol, a cnanga iniba sua necessidade ou simplesmente
nao chegue a senti-la, adequando-se desta forma a exigencia materna, par
simples domesticayao. Este controle precoce evita, do panto de vista cognitiv~,
um rapido reconhecimento do sinal; dai a possibilidade de adiar, que a crianga
internaliza - num sOesquema - necessidade e condig6es de realizag6es; e por
ultimo, 0 arbitno de meios que antecipam essas condig6es. 0 interrogat6rio sobre
este tema ira permitir a conclusiio sobre as oportunidades que a crianga teve para
fazer uma boa adaptagao inteligente.
A inibigao precoce de atividades assimilativo-acomodativas da lugar a
modalidade nos processos representativos cujos extremos podem-se caracterizar
da seguinte maneira.• Hipoassimilagao: os esquemas de objeto permanecem empobrecidos,
bem como a eapacidade de coordena-Ios. Isto resulta num deficit ludico, e
na disfungao do pepel antecipat6no da imaginagao cnadora.
• Hiperassimilagao: pode dar-se uma internalizagao prematura dos
esquemas, com urn predominio ludicD, que ao inves de permitir aantecipagao de transformag6es passiveis, desrealiza negativamente 0
pensamento da cnanga.
• Hipoacomodagao: que aparece quando 0 rilmo da crianga nao foi
respeitado, nem sua necessidade de repetir muitas vezes a mesma
experienCia. Sabe-se que a modalidade da atividade do bebe e a
circularidade, mas esta nao pode ser exercitada no caso de perder-se 0
objeto sobre 0 qual se apliea; isto por sua vez atrasa a imitagao adiada e,
portanto, a internalizagao das imagens. Assim, podem aparecer
problemas na aquisigao da linguagem, quando os estimulos sao confusos
efugazes.
• Hiperacomodagao: Acontece quando existe superestimagao da imitagao.
A crianga pode cumprir as instrug6es atuais mas nao dispoe de suas
expectativas nem de sua experiencia previa com facilidade. Esta crianga e
descrita como "nao e mau aluno, mas nao tern iniciativa, nao e criativo;falha em redayao".
36
Resumindo, 0 que interessa chegar a compreender neste ponto e a
oportunidade que a crian,.a tem para investigar (aplicar seus esquemas precoces)
e para modificar-se (por transforma<;ijo de seus esquemas), com as implicagiies
posteriores dessas atividades no jogo e na imita<;ijo,0 que leva a constitui<;ijo de
simbolos e imagens.
4.4.1.2 Situa¢es dolorosas
Dentre os antecedentes que podem vincular-se diretamente ao problema
de aprendizagem merecem aten<;ijoespecial os acontecimentos que representam
uma mudan,.a consideravel para a crian,.a e para a familia, que quase sempre
sao ligados a uma perda. Podem citar-se, entre os mais comuns, 0 nascimento de
irmaos, mudan,.as de casa, morte au afastamento de familiares e pessoas que
conviveram com a crian,.a, mudan,.as de escola, etc. E preciso anotar as
condi¢es nas quais estes acontecimentos se deram, a participa<;ijoda crian,.a e
a rea<;ijoposterior com rela<;ijoao fato. Ainda no plano descritivo, parece logico,
considerar que os lutos deterioram a aprendizagem, pois tornam improdutivos
todos os esfor90s empregados para dominar a situa<;ilo anterior. Quando uma
crian,.a muda de casa, sente que um monte de saberes, como por exemplo, a
distribui<;ilo das dependencias da casa, 0 nome do dono do armazem do bairro,
etc., se perdem irreperavelmente. Entretanto a crian,.a sente que cada coisa nova
que aprende substitui urna que esquece, e que acaitar "0 que e agora" e renunciarao que "era antes".
Conforme cita ANDRADOS (1985, p. 88), duas variaveis sao importantes
para que uma situa<;ilo dolorosa nao venha transformar-se no desencadeante de
um problema de aprendizagem: em primeiro lugar, que a crian,.a tenha a
oportunidade de elaborar corretamente a perda, por integra<;ijo do passado no
presente, atraves de uma participa9aOaliva na mudan,.a ocomda, seja no ato
mesmo da mudan,.a, ou pela possibilidade de compartilhar a necessaria dor que a
marte provoca, ou ainda em rememorar urna e outra vez momentos passados noslugares e com aquelas pessoas que nao voltarao a ver-se, especialmente
relacionadas com a existencia presente. Isto ajudara a preservar a lembran,.a e
37
evitara transformar 0 esquecimento numa sequela necessaria da aprendizagem
daquilo que e novo. Em segundo lugar, certamente, esta perda nao deverS
representar 0 castigo prometido, e casualmente realizado, da vontade de
conhecer, nem deverS relacionar-se com alguma outra mudanga (0 nascimento
de urn irmaozinho, por exemplo) que desperta a curiosidade da crianya e, nao
sendo satisfeita, a impulsiona a interromper"o instinto do saber".
Na realidade, este aspecto da hist6ria vital permitira ver a oportunidade que
a crianga tern, atraves das transformay6es e do tempo, de recuperar suas
experiencias, tanto atraves dos relatos familiares que falam de seu nascimento,
de suas primeiras gracinhas, e de tudo aquila que sa relaciona com a memoria
familiar, como pela informayao adequada, que Ihe permita viver plenamente cada
experiencia, integrando-a desta forma a sua identidade. A crianga com problemas
de aprendizagem dificilmente recebeu, per defeito pr6prio do grupo, os beneficios
da mem6ria e da antecipayao.
4.4.1.3 Informac;ao
Neste aspecto, reunem-se dados sobre a informayao que e fomecida acrianga na comunicayao direta, sobre os assuntos que sao falados com ela, quais
slio os inleresses comuns que a ligam aos diferentes membros de sua familia e
que recepyao encontra para seu discurso.
Interessa saber especialmente como ficou sabendo dos temas sexuais,
nao apenas quanta ao nascimento, mas tambem quanta ao seudesenvolvimento, a masturbayao, 11proslituiyao, segundo a idade do paciente.
Quanto 11morte, procura-se determinar 0 que a familia quer que a crianga
pense, js que, de certa forma, e nisso que essa familia deseja continuar
acreditando.
Para maior aproximayao da ideologia do grupo e conveniente
determinar com que tipo de estimulayao cultural ela conta: televisao, revistas,
livros, etc., e se a crianga participa ou nao desse material. Tambem e util
determinar que tipo de atividades extra-escolares realiza, tais como esportes,
aprendizagem de linguas, musica, etc., e seu desempenho encontra.
38
Embora os problemas de aprendizagem dificilmenle sao problemas de
informa9iio, a presen99 de fantasias muito bizarras e inadequadas para a idade
da crian99, sugere que esla aceitou alguma cren99 muito prezada palo grupo
familiar, que denuncia uma denega9iio que pode ter rela9iio com a articula9iio do
sintoma.
4.4.1.4 Escolaridade
Nos problemas de aprendizagem e evidentemente muito importante
explicitar tudo aquilo que se refere as experiencias escolares pelas quais a
crian99 tenha passado, as mudan99s atribuiveis a institui9iio e as transforma¢es
ocorridas na crian~.
Faz-se necessario prestar aten9iio a experiencia ligada ao primeiro contato
do paciente com cada serie e, se for pertinente, pergunta-se sobre as causas de
desistencia, de ausencias ao jardim de inffincia, precocidade no ingresso na
escola primaria, caracteristica dos estabelecimentos de ensino (dupla
escolaridade, bilinguismo, religiosidade, etc.), para apreciar a modalidade
particular da rela9iio familia-escola.
A escola pode ser para a familia "0 segundo lar", "um deposito de
criang8s", 0 lugar onde "as colocam na linha", urna prisao, urn mal necessaria,um bem apreciado no sentido de sua utilidade para 0 dia de amanha, 0 lugar onde
se encontram com outras crian9as, onde aprendem a obedecer, onde aprendem adefender-se, etc.
Uma familia pode ver-se alterada porque uma professora e muito rigorosa
e outra porque a professora nao 0 e. suficientemente; para alguns a professora
presta um servi9Q;para outros exerce um comando. Concluindo, interessa saber
o que e a escola para esta familia em particular, que fun9iio cumpre dentro das
expectativas do grupo, qual e a representa9iio do mundo em que a escola adquire
sentido e, portanto, ate que ponto este sentido se ressente em fun9iio da
dificuldade da crian99.
Considerando a dificuldade especifica, interessa indicar 0 tipo de metodo a
ser empregado, as tentativas previas de corre9iio e aqueles aspectos nao
39
esclarecidos no "motivo da consulta". Estes dados, junto com a analise dos
cadernos da cnanga, e, se passivel, somados a informa9iio da escola, iran
permitir elucidar em alguns casos, se trata-se de um problema de aprendizagem
ou de um problema escolar, bem como verificar a mUtuacorrela9iio entre eles.
Com a objetivo de resumir aqueles aspectos mais intimamente ligados ao
problema da aprendizagem, enfatizam-se os seguintes pontos:
•Disponibilidade corporal (antecedentes natais e m6rbidos, disposi9iio
atual, psicossomatica);
• Ritmo e autonomia de desenvolvimento;
• Aprendizagem: esquemas assimilativo-acomodativos; exercfcio ludico e
imitativ~, hist6ria escolar e informa9iio;
•Aprendizagem e eseala na ideologia do grupa de pertencimento.
4.5 HORA DO JOGO
A respeito da forma de administra~ao da entrevista operativa centrada na
aprendizagem, VISCA (1991, p. 38), entende que "ela consiste em uma consignainicial e interveny(ies do entrevistador".
A consigna inicial - "eu gostaria que voce mostrasse 0 que aprendeu, 0
que Ihe ensinaram, e 0 que voce sabe fazer". Tem par finalidade delimitar 0
campo sem estrutura-Io a partir do entrevistador; a que se pretende e que seja a
entrevistado quem a faga.
As interveny(ies do entrevistador sao de tras classes:
•as que tendem a facilitar a transi~ao de uma atividade a outra;
•as que dirigem particularmente aos aspectos energeticos;
• as que consideram predominantemente os aspectos estruturais e
funcionais.
As interven9iies que tendem a facilitar a passagem de uma atividade a
outra possuem um denominador comum: nao prefixar a escolha do entrevistado.
Quanto as que se dirigem especialmente aos componentes energeticos, elas
buscam resolver situa¢es emocionais do sujeito consigo mesmo, com a atividade
40
e com 0 entrevistador. E em rela9ao as que se dirigem predominantemente aos
aspectos estruturais e funcionais, elas devem levar em conta a l6gica da leitura
dos objetos, situa¢es estrategicas requeridas para a aquisigao de
conhecimentos.
A hora do jogo e de fundamental importBncia para validar as informa90es
colhidas pela familia sobre a real problematica da crianga. E os jogos auxiliaram
muito nao 56 na integragao da crianga com 0 psicopedagogo como tamMm na
continuidade do processo, isto e, com metodos formais, provas e testes para
validar os pontos a serem trabalhados. E indispensavel haver um espa90 e tempo
para a crianya brincar e assim melhor sa comunicar.
41
5 PROVAS E TESTES
A utilizagao de tecnicas e/ou metodos experimentais padronizados -
psicometria ~ em institui¢es assistenciais e educacionais, na consulta
psicopedag6gica e tambem em investiga¢es que pretendem situar-se a margem
da pratica cHnica au eciucacional,costuma incorrer em erras e distoryOes
praticadas pela agao do atendente - iatrogenia - que motivam fundadas criticas
com diferentes enfoques.
Segundo LOMONICO (1992, p. 126), "assim sao validamente questionados
os pressupostos ideologicos e 0 marco teorico que em cada caso presidem a
construgao das diversas provas em uso". Esta critica nao pode isolar-se da
dirigida a implementagao dessas tecnicas quando derivam na "rotulagao dos
testados" e se suprimem assim a escuta ao sujeito, em atengao a suposta
"objetividade" e "infalibilidade" do dado quantitativo em que 0 teste, para esta
modalidade de usc, conclui.
Tais "objetividade" e "infalibilidade" sao inclusive ques\ionaveis desde os
fundamentos originals das provas psicometricas, levando-se em conta, parexemplo, que foram es~das para outro contexto sOcio-cultural e que em
muitos casos ate se utilizam para a quantificagao os parametros correspondentes
aquela populagao de origem. Alem do mais nao se deve desconhecer que, pelo
modo particular de tratamento estatistico, as diferentes escalas (de coeficiente
intelectual, percentilar...) apresentam em cada caso, diferente poder de
discrimina~o, seja para as contagens centrais QU para as extremos dadistribuigao. Mas isto nao invalida 0 instrumento, senao que apresenta a
necessidade de conhecer seus limites e avanger em seu ajuste teorico e pratico.
Por outro lado, tambem no campo do funcionamento cognitiv~, hi! uma
corrente que postula como principal a "escuta" ao sujeito - ao sujeito epistemico
neste caso - refere-se a psicologia genetica que surge com Jean Piaget e que
elaborou 0 metodo clinico-critico com tal objetivo.
Eo a partir de alguns destes questionamentos que muitos propoem a
exclusao das provas psicometricas da bagagem instrumental. Tal proposta ate
pareceria pertinente em uma primeira aproxima~ao quase de "senlidQ comum" .
Mas e precise ir urn pouco mais longe. A primeira contradigao e que certamente 0
42
prescindir destas provas nao evita arras iatrogenicos, que nao sao inerentes aesse instrumento, menos ainda exclusivos do mesmo. Prefere-se responder de
modo similar a MANONI apud VISCA (1991, p. 53) - de quem nilo se suspeitaria
que omite a escuta ao sujeito - quando afirma: 'considero os testes somente
como urn meio nao como urn f1m. Deve-se considerar as testes como ansaios
(com suas possibilidades de erros)".
Quanta ao sujeito epistemico, as provas psicometricas servireo, se
nesse dialogo clinico contribuem para que se possa situar a entrevistado em
relayeo ao nivel que alcan<;ou na estruturag1lo cognitiva e em relayao adisponibilidade efetiva das estrategias de conhecimento para as quais aquela
estruturayao a habilitaria nas diversas areas de comportamentos cognitivos
(figurativa, l6gico-matematica, experimental) segundo as pesquisas de Jean
Piagel.
Compara-se esse "mapa cognitivo" com a situayao escolar do entrevistado,
se este for a caso. Ante a presenya de determinada patologia, pergunta-se
quais sao as vias de compensayeo que 0 sujeito desenvolveu. Alcanyam-se
dados relevantes para a diagnostico diferencial entre oligofrenia e oligogemia. A
oligofrenia e a escassez de desenvolvimento mental. Ja a oligogemia e a
condi9ao do carater que e determinada par poucos genes.
Em uma abordagem clinica, este "mapa" sera iitil sa nao obstrui,
mas se abre a possibilidade de escutar a sujeito em sua singularidade, no que
esta mais alem - au mals aquem - do aspecto ilusorio de sua demanda a que
se aludi no principia: no lugar em que a erro, a fracasso e a sintoma falam do
sujeito.
o psicopedagogo deve entao situar a demanda de tal forma que se possa
pelo menos perceber au compreender seu aspecto ilus6rio.
Em sintese, prescindir das provas psicometricas, neo traz garantias contra
o risco de perder de vista a sujeito para converte-Io em objeto (de quantificayeo,
de rotulayeo, de manipulag1lo).
Segundo LOMONICO (1992, p. 131), "a escolha de um instrumento nunca
e ascet.ica, com respeito ao marco te6rico e ideol6gico e da habilidade e
adestramento de quem a emprega. Isto vale para qualquer recnica. Que
precauc;oessao necessarias?~
43
He tras indispens2veis: explicar 0 marco conceitual quando se recorre a
determinado instrumento; justificar 0 modo de emprego do mesmo pala coerencia
com aquele marcc e cem os objetivos a que servirr'; cenhecer a 'ferramenta
escelhida".
44
CONCLUSAO
No presente trabalho de analise buscou-se aprofundar os conhecimentos
na area da Avalia9i\o Diagnostica, bem como a importancia da mesma na
investiga9i\o dos problemas.A interpreta9i\O dos dados da Avalia9i\o Diagn6stica e a formula9i\o das
hipoteses explicativas dos resu~ados obtidos sao essenciais para determinar 0
perfil da crian96. Perfil que deve envolver um conceito plastico e nao fixe e,
portanto, cientificamente estruturado em areas de acordo com as necessidades
observadas e fomecidas pelo diagnostico em suas varianles que diferenciam
cada individuo de acordo com sua historia, sinlomas e capacidades.
A Avalia9i\o Diagnostica quando bem elaborada, revela 0 esludo em tome
das caracleristicas de uma crian96, permitindo deduzir desses dados quais os
melhores procedimenlos a serem empregados educacionalmente, pois so assim
serao conduzidos ao desenvolvimento de sentimentos mais positiv~s em rela9i\o
a si e as situagiies de vida na sociedade em que estao inseridos.
A ajuda pedagogica pode e deve lomar formas tao diferentes, que epraticamente impossivel, e ate certo ponto supertluo, inventaria-Ias de antemao. A
assistEmcia pedagogica e uma ajuda em dois sentidos: "ajuda" para 0 aluno,
verdadeiro artificie do processo de aprendizagem, de quem depende, em ultima
instancia, a construgao do conhecimento, e "ajuda" que usa todos os meios
disponiveis para favorecer e orientar esle processo, proporcionando informa9i\o
devidamenle organizada, oferecendo modelos de agao que podem ser imitados,
formulando indicagiies e sugest6es para abordar novas tarefas, possibilitando 0
confronto e corrigindo erros.
As propostas para organizar atividades ou sequencias do processo de
ensino-aprendizagem devem ser coerentes com a nossa concep9i\o teorica.
45
REFERENCIAS
ACKERMAN, N. W. Diagn6stico e tratamento das relacoes familiares. Porto
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