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    Universidade de Aveiro2012Departamento de Comunicao e ArteTIAGO EMANUELCASSOLA MARQUES

    PROJECTO EDUCATIVOLEO BROUWER CONTRIBUTOS PARA APEDAGOGIA GUITARRSTICA

    Universidade de Aveiro2012Departamento de Comunicao e ArteTIAGO EMANUELCASSOLA MARQUES

    PROJECTO EDUCATIVOLEO BROUWER CONTRIBUTOS PARA APEDAGOGIA GUITARRSTICA

    Dissertao apresentada Universidade de Aveiro para cumprimento dosrequisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Ensino da Msica,realizada sob a orientao cientfica do Professor Doutor Jos Paulo TorresVaz de Carvalho, Professor Auxiliar do Departamento de Comunicao e Arteda Universidade de Aveiro.

    Dedico este trabalho Pia, fonte inesgotvel de amor.

    o jri

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    presidente Professor Doutor Paulo Maria Ferreira Rodrigues da SilvaProfessor Auxiliar da Universidade de Aveiro

    vogais Professor Doutor Ricardo Ivn Barcel AbeijnProfessor Auxiliar da Universidade do Minho

    Professor Doutor Jos Paulo Torres Vaz de CarvalhoProfessor Auxiliar da Universidade de Aveiro

    agradecimentos

    No final deste trajecto acadmico, gostaria de agradecer a quem nunca seafastou, mesmo quando os dias ao p de mim se punham de cor cinzenta.Sem eles, no teria chegado sequer a ver a meta.

    Ao Prof. Dr. Paulo Vaz de Carvalho pela orientao cientfica, pelosconhecimentos partilhados, pelas doces e amigas cerejas. Ao Prof. Mrio

    Carreira, pela incondicional contribuio no captulo sobre Giuliani e ao Prof.Paulo Peres pela infinita compreenso, e a ambos pela amizade. Ao Prof.Dejan Ivanovic, pela sua grande capacidade analtica. Ao Prof. Dr. ArturCaldeira, pela disponibilizao do seu trabalho sobre a vida e obra de LeoBrouwer, o melhor ponto de partida. Prof. Dr. Filipa L pelosesclarecimentos. Ao Prof. Rui Brito, virtuoso do Sibelius7. Ao Prof. R

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    icardoAbreu pela disponibilizao de materiais inditos de valor incalculvel e pelsua amizade. Ao Eduardo Baltar pelas amigas digresses artsticas. Ao primoJoo Pedro, pela pacincia tipogrfica.

    A todos os colegas e amigos que colaboraram nos inquritos e me oferecerampalavras importantes sobre o maestro cubano: Dr. Antnio Vale, Prof. Dr. ArturCaldeira, Prof. Eduardo Soares, Prof. Dr. Jos Mesquita Lopes, Prof. PaulaMarques, Prof. Dr. Ricardo Barcel, Prof. Rui Gama. Ao Prof. scar Flechapela gentil colaborao respeitante aos cursos. A todos os meus alunos, fontesinesgotveis de aprendizagem. A todos os meus amigos sem excepo. Atodos colegas do Conservatrio de Msica do Porto e da Escola Profissionalde Msica de Espinho.

    A todos o meu agradecimento e gratido.

    Endereo um agradecimento fraterno ao Eduardo e Maria, Gabi, Fernando,Nuno, Afonso e Vasco.

    Pia por me ensinar que cinzento tambm uma cor.

    palavras-chave

    Leo Brouwer, Guitarra, Pedagogia, Didctica da Msica, Estilo, Inovao,Estudios Sencillos, Terico, Master-classe, Giuliani.resumo

    O presente trabalho prope-se apresentar a figura de Leo Brouwer enquantopedagogo no mbito da pedagogia guitarrstica, para alm de abordar a sua

    relevncia como guitarrista, maestro e compositor, em particular a sua escritapara guitarra.Ser feita uma recenso analtica dos antecedentes histricos da guitarra,partindo de Giuliani at Leo Brouwer, e obtidas concluses acerca da pesquisae anlise da sua obra didctica, das suas reflexes tericas e da sua prtde ensino em contexto de master-classes.

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    keywords

    Leo Brouwer, Guitar, Pedagogy, Music Didactic, Style, Innovation, EstudiosSencillos, Theoretical, Master-class, Giuliani.

    .abstract

    This work intends to present the pedagogical path of Leo Brouwer within theguitar pedagogy, as well as reporting his important role as a guitarist, adirector, and a composer, especially the importance of his guitar works.An analytical literature review of the guitar idiomatic technique between Giulianiand Brouwer will be done, as well as some research and analysis of his guitarSimple Studies, on his theoretical thoughts and his master-class teaching

    methods.

    ndice

    Introduo 11. Apontamentos biogrficos: compositor, guitarrista e pedagogo - as indissociveisvertentes de Leo Brouwer42. Antecedentes histricos 122.1. O paradigma de Mauro Giuliani (1781 1829) 132.1.1. Acerca do seu estilo compositivo e dos seus contributos 13

    2.2. De 1850 a 1950 Luzes e sombras 173. Leo Brouwer Estilo, linguagem e inovao na escrita guitarrstica 214. Leo Brouwer A vertente didctica 294.1. Estudios Sencillos 29

    4.1.1. Estudios 1 10 314.1.2. Estudios 11 20 33

    4.1.3. Principais contributos didcticos dos Estudios Sencillos -

    sntese39

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    4.2. Nuevos Estudios Sencillos 404.2.1. Grelha analtica dos Nuevos Estudios Sencillos 43

    4.2.2. Principais contributos didcticos dos Nuevos Estudios Sencillos sntese454.3. Estudos metdicos na ausncia de um mtodo 455. Leo Brouwer A vertente terica 485.1. Temas da reflexo pedaggica de Leo Brouwer 495.1.1. Metacognio Consciencializao, compreenso, aco 535.1.2. Cultura do som 545.1.3. Resoluo de problemas tcnico-interpretativos 555.1.4. Chaves para a interpretao 575.1.5. Rigor histrico 585.1.6. Performance 59

    5.2. A produo terica de Leo Brouwer 616. Leo Brouwer O encontro entre a aula e a escrita 656.1. Anlise do vdeo de acordo com os temas da reflexo pedaggica 656.1.1. Rigor histrico 67

    i. Ornamentao 67ii. Articulao barroca 69iii. Dinmicas 71

    6.1.2. Resoluo de problemas tcnico-interpretativos 72i. Ineficcia do estudo de forma mecnica 72ii. Focalizao num s problema 74

    iii. Interpretao dos blocos sonoros 756.1.3. Chaves para a interpretao 77i. Compreenso da obra 77

    ii. Respirao, direco, articulao 806.1.4. Cultura do som 826.2. Caractersticas do professor Leo Brouwer 847. Inquritos avaliaes em primeira pessoa 89

    7.1. Resultados da anlise dos dados 908. Leo Brouwer Perfil pedaggico 97Consideraes finais 100Bibliografia 103Anexos 109

    ndice de Figuras

    Fig. 1 Mauro Giuliani, Op. 1, arpejos 1-4 (excerto) 14Fig. 2 Mauro Giuliani, Op. 1, arpejos 117-120 (excerto) 15Fig. 3 Mauro Giuliani, Op. 89 Preludio n2 (excerto) 15Fig. 4 Mauro Giuliani, Op. 119, Rossiniana n 1 (excerto) 15Fig. 5 Frontispcio da revista The Giulianiad vol. 1 - 1833 17Fig. 6 Leo Brouwer Estudo V (excerto) 24Fig. 7 Leo Brouwer Estudo VI (excerto) 24Fig. 8 Leo Brouwer Estudo XI (excerto) 24Fig. 9 Leo Brouwer Estudo XVIII (excerto) 24Fig. 10 Leo Brouwer Canticum (excerto) 24Fig. 11 Leo Brouwer El Decamern Negro, El Arpa del Guerrero (excerto) 25

    Fig. 12 Leo Brouwer El Decamern Negro, La Huda de los amantes [](excerto)25Fig. 13 Leo Brouwer El Decamern Negro, La Balada de la doncellaenamorada25Fig. 14 Emlio Pujol, Barcarolle (excerto) 26Fig. 15 Leo Brouwer, Hika (excerto) 26Fig. 16 Leo Brouwer, Variaes sobre um tema de Django Reinhardt (excerto) 26Fig. 17 Leo Brouwer, Hika (excerto) 27

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    Fig. 18 Leo Brouwer, Espiral Eterna (excerto) 27Fig. 19 Leo Brouwer, Paisaje Cubano con Campanas (excerto) 27Fig. 20 Dusan Bogdanovic, 5 miniatures printanires (excerto) 28Fig. 21 Carlo Domeniconi, Koyumbaba (excerto) 28Fig. 22 Leo Brouwer, Estudo XVIII (excerto) 34Fig. 23 Leo Brouwer, Concierto Elegiaco (excerto) 34Fig. 24 Leo Brouwer, Apontamentos sobre Estudios Sencillos (p.1) 34Fig. 25 Leo Brouwer, Scale per Chitarra (excerto) 56Fig. 26 Vise, Menuett II, c. 8 68Fig. 27 Vise, Menuett II, c. 8, com ornamentao de Brouwer L. 68Fig. 28 Weiss, Allemande, cc. 10 e 11 68Fig. 29 Weiss, Allemande, cc. 10 e 11, com ornamentao 68Fig. 30 Vise, Menuett II, c. 11, sem ornamentaes 69Fig. 31 a) Vise, Menuett II, c. 11, com ornamentao 69Fig. 32 b) Vise, Menuett II, c. 11, com ornamentao 69Fig. 33 c) Vise, Menuett II, c. 11, com ornamentao 69Fig. 34 Vise, Bourre, c. 1 70Fig. 35 Vise, Bourre, cc. 12 e 13 incorrecto com ligaduras 70Fig. 36 Vise, Bourre, cc. 12 e 13 correcto sem ligaduras 70Fig. 37 Vise, Gavotte, cc. 1-4 71Fig. 38 Vise, Gavotte, cc. 1-4, correcta 71Fig. 39 a) Vise, Gigue, cc. 1-4 71Fig. 40 b) Vise, Gigue, cc. 1-4 71Fig. 41 c) Vise, Gigue, cc. 1-4 71

    Fig. 42 d)Vise, Gigue, cc. 1-4 72Fig. 43 Walton, Bagatelle 3, cc. 36-37 72Fig. 44 Walton, Bagatelle 3, cc. 36-37 (s melodia) 73Fig. 45 Walton, Bagatelle 3, cc. 36-37 (s ritmo) 73Fig. 46 Walton, Bagatelle 3, cc. 36-37 73Fig. 47 Ginastera, Finale, cc. 65-67 (digitao usada pelo aluno) 74Fig. 48 Ginastera, Finale, cc. 65-67 (digitao sugerida por Brouwer) 74Fig. 49 Walton, Bagatella 2, c. 32-33 74Fig. 50 Ginastera, Sonata, c. 37 76Fig. 51 Ginastera, Sonata, c. 75 76Fig. 52 Torroba, Sonatina, c. 17 76Fig. 53 Torroba, Sonatina, c. 28 77Fig. 54 Weiss, Gigue cc. 29-33 77

    Fig. 55 Bach, Preludio, c. 4 78Fig. 56 Bach, Preludio, c. 20 78Fig. 57 Bach, Preludio, c. 7-8 79Fig. 58 Bach, Preludio, c. 7-8 79Fig. 59 Walton, Bagatella 2, cc. 17-18 80Fig. 60 Torroba, Sonatina c. 16 80Fig. 61 Walton, Bagatella 3 cc. 29-30 81Fig. 62 Bach, Preludio, c. 4 (transcrio do exemplo de Brouwer a cantar) 81Fig. 63 Ginastera, Sonata c. 114 81Fig. 64 Bach, Preludio, c. 9 (com articulao) 82Fig. 65 Walton, Bagatella II, cc. 40 e 59-53 83Fig. 66 Ginastera, Sonata, cc.120-130 83Fig. 67 Ginastera, Sonata, c. 76 84

    Fig. 68 Ginastera, Finaleda Sonata, cc. 24-27 85Fig. 69 Ginastera, Sonata, Finale, c. 28 85Fig. 70 Ginastera, Sonata, Finale, c. 38 86

    1

    Introduo

    O presente Documento de Apoio ao Projecto Educativo insere-se no mbitodo

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    Mestrado em Ensino da Msica, do Departamento de Comunicao e Arte, daUniversidade de Aveiro.Este documento chega na concluso de um ano dedicado Prtica de EnsinoSupervisionada, no Conservatrio de Msica do Porto, onde j desempenhava funesdocentes como professor de guitarra.A par disso, a criao do presente trabalho sob o tema LEO BROUWER Contributos para a pedagogia guitarrstica pretende ser uma abordagem aprofundadaeuma reflexo monogrfica sobre uma das figuras mais relevantes no panoramaguitarrstico contemporneo, incidindo de modo especial nos vrios aspectos didcticose terico-prticos da sua vertente pedaggica.A ideia surgiu sob a orientao do Professor Doutor Paulo Vaz de Carvalho, quecom a sua impagvel experincia soube guiar-me na tarefa de recolher uma amostra doque tem vido a ser o contributo de Leo Brouwer para a pedagogia, ainda hoje nocodificada em termos acadmicos.Ao longo destes anos, enquanto aluno, concertista e actualmente tambm comoprofessor, tenho podido apreciar e comprovar a importncia da obra do compositorcubano na minha formao, bem como na escolha do repertrio segundo critrio

    estticos. A abordagem aos seus estudos durante todo o meu percurso bsico esecundrio, bem como a presena das suas obras nos meus recitais definem apenas emparte o meu interesse em avanar com este projecto.

    Em relao ao estado da arte, a figura de Leo Brouwer tem suscitado nos dias dehoje um crescente interesse nas reas editoriais e acadmicas, vindo luznos ltimosanos alguns livros e trabalhos monogrficos, bem como sucessivos artigos, publicaode entrevistas e dissertaes de investigao musicolgica acerca da vasta obdocompositor cubano em vrias revistas da especialidade e nas Universidades

    . Soparticularmente relevantes os dois livros Leo Brouwer, caminos de la creacin (2009),das co-autoras Marta Rodrguez Cuervo e Victoria Eli Rodrguez, e Gajes del Oficio(2004), de Leo Brouwer, uma compilao elaborada apenas com artigos de sua autoriaescritos ao longo das ltimas quatro dcadas, abarcando temas to dspares cmo2

    Msica,folklore, contemporaneidad y postmodernismo,Laimprovisacin aleatoriaou Reflexiones, este ltimo um compndio de pensamentos sobre msica, e qu

    termina com uma importante contributo intitulado Sobre a tcnica guitarrstica.Quanto aos artigos relacionados com Leo Brouwer, o nmero supera as duas dezenas.Destacam-se alguns, pela relevncia e actualidade: El mtodo brouweriano (202),por Gloria Ariza Adame, da Revista cientfica digital Independiente Sexto Orden, umaanlise de algumas conferncias e dos trinta estudos de Leo Brouwer, como chave para

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    uma abordagem metodolgica sua msica de concerto. Tambm nos servimos doartigo LeoBrouwer y su influencia en la literatura guitarrstica de vanguardia(2010),de Carolina Queipo, um texto sobre as fases e aspectos mais marcantes da sua vidacriativa, em jeito de resumo; ainda o artigo Reappraisalof etudes simples(2010), deClive Kronenberg, ressaltando a qualidade e a beleza dos seus estudos, bem comoincluindo referncias ao legado guitarrstico de Brouwer.Importa referir igualmente que no abundam em lngua portuguesa trabalhosacerca deste compositor. Apenas tomei conhecimento e pude debruar-me sobre arecente tese de mestrado de Artur Caldeira, Leo Brouwer Figura incontornvel daguitarra (2011), um importante contributo monogrfico sobre a sua vida e obra, almdeum captulo dedicado anlise composicional dos seus estudos, bem como de algumasdas suas obras de concerto.Sendo praticamente impossvel descobrir e/ou ter acesso a todos os textos queabordam Leo Brouwer, com esta amostra apercebemo-nos do crescente interesse naabordagem musicolgica desta figura. Ainda assim, por no serem exaustivos

    osestudos sobre este compositor, e em particular ao no existirem bases tericas acerca dasua vertente como pedagogo leva-me a querer contribuir neste captulo de investigaosobre Leo Brouwer, consolidando um projecto educativo sobre esta figura e ao mesmotempo colmatando esta lacuna.O presente trabalho pretende focalizar um aspecto particular de um msico(Contributos para a pedagogia guitarrstica), apresentando uma abordagem da suabiografia, dos materiais didcticos, do seu perfil terico e de docncia, bem como uma

    abordagem perspectiva do aluno. Para tal, foi imperativo o recurso a dois modelos deinvestigao que consistem na base metodolgica do meu trabalho: pesquisadocumental e pesquisa observacional. Com o primeiro modelo procurou-se sistematizara informao biogrfica, contextualizar a obra, compilar os materiais didctics,3

    tericos e documentais, procedendo-se ao estudo analtico com base na reviso daliteratura recolhida (partituras, livros, artigos, entrevistas e um videograma). Por outro

    lado, com a pesquisa observacional pretendeu-se ir mais alm, no apenas de um pontode vista documental, mas ter a perspectiva do aluno no processo de aprendizageme nosmtodos de ensino e de interpretao, atravs da realizao de inquritos e da respectianlise desses depoimentos.Desta forma, a dissertao vai ser estruturada em oito captulos principais: O 1 captulo trata das indissociveis vertentes artsticas na vida e obrdeLeo Brouwer, enquanto guitarrista, compositor, maestro e pedagogo,

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    procurando enquadrar a sua obra pedaggica nesse trajecto biogrfico. No 2 captulo far-se- uma perspectiva crtica e comparada aos guitarristas-compositores que antecederam Leo Brouwer, viajando at Mauro Giuliani. No 3 captulo sero analisados o estilo e a linguagem de Leo Brouwer,osseus contributos para uma inovao tcnica e os motivos para serconsiderado uma figura de ruptura com o seu directo legado. No 4 captulo ser abordada a sua obra didctica, em particular os seus0Estudos Sencillos e os 10 Nuevos Estudios Sencillos, e quais os contributospedaggicos. O 5 captulo aborda a vertente terica atravs da anlise dos textos tericosde cunho pedaggico (em particular sobre a pedagogia da guitarra) deixadospor Leo Brouwer em entrevistas, artigos ou publicaes, sistematizando-osnuma lista de temas de reflexo pedaggica. O 6 captulo trata do papel de Leo Brouwer como professor, atravs daanlise de um videograma de uma master-class realizada em Portugal em1995, relacionando a vertente terica do captulo anterior com o contexto deaula. No 7 captulo ser exposta a anlise e os resultados de um inquritoelaborado junto de quem trabalhou com o maestro cubano nessas mesmasaulas magistrais. Finalmente, no 8 e ltimo captulo ser traado o perfil pedaggico geral de

    Leo Brouwer.No final do trabalho ser feito um sumrio das principais ideias veiculadas edefendidas neste trabalho, bem como as consideraes finais respeitantes ao tema.4

    1. Apontamentos biogrficos: compositor, guitarrista e pedagogo - asindissociveis vertentes de Leo Brouwer

    LeoBrouwer algo nico, vital, monoltico e indistinto, msico, um enormemsico.(Cuervo e Rodrguez 2009: 10) desta forma que o compositor espanholToms Marco (Madrid, 1942) tenta definir o indefinvel, admitindo a impossibilidade

    defechar num nome o gnio inventivo do seu colega cubano e do constantemovimentocriativo desta importante personalidade da msica contempornea. Leo Brouwer msicomultifacetado: grande guitarrista, grande compositor, grande maestro, grande pedagogo.Leo Brouwer polidrico: homem social, cultural, poltico. Brouwer vida e obra tm asua correspondncia dialctica e funcional.(Cuervo e Rodrguez, 2009: 13)Abordaremos neste captulo a vida e obra de Leo Brouwer. No nossoobjectivo fazer um trabalho de musicologia sobre a biografia, descrevendo a sua obra,as fases compositivas, a sua carreira, influncias ou xitos. Contudo, cre

    mos serimportante reservar este primeiro captulo para um enquadramento biogrfico, social eesttico nas fases e perodos volta dos quais comps a sua obra didcticrelacionando-os assim com o tema e propsito deste trabalho. Para tal,os textos dereferncia escolhidos so principalmente Leo Brouwer Caminos de la creacin(Cuervo e Rodrguez, 2009) e Leo Brouwer Figura incontornvel da guitarra(Caldeira, 2011), por nos parecerem aqueles que realam de forma mais e

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    xaustiva,correlacionada e detalhada a vida e obra de compositor cubano.Estas duas vertentes so de tal forma interligadas, que tornam quase impossveluma simples cronologia que no tenha em conta uma e outra face. Mesmoassim, paracoerncia com o propsito deste trabalho escolhemos focalizar os acontecimentos e asobras que se referem quilo que pode ter influenciado o seu carcter de pedagogo. Issoimplica os estudos que realizou (formao acadmica e no acadmica), as suarazessociais e culturais, e os acontecimentos profissionais que o tero levado a compor asobras que actualmente formam parte do currculo de estudos de tantos guitarristas anvel mundial e a tornar-se o ponto de referncia de uma pedagogia inovadora porquanto esteja extremamente ligada sua pessoa, e nunca at hoje codificados atravs deum mtodo.Apresentaremos esta biografia seguindo uma invisvel linha horizontal e vertical.Horizontal de um ponto de vista cronolgico e vertical no sentido de ter uma viso5

    panormica dos vrios factos que foram ocorrendo na sua vida profissionale no seumeio sociocultural envolvente, e que influenciaram o Brouwer msico e pedagogo.Desta perspectiva resulta a vizinhana de informao de natureza concertsticacomposicional, social e cultural.

    Uma autntica lenda viva, Juan Leovigildo Brouwer Mezquida nasce no dia 1 deMaro de 1939 em Havana, Cuba, no seio de uma famlia amante da msica e comantecedentes musicais. O seu tio-av, Ernesto Lecuona (1895-1963), um re

    putadocompositor cubano, e a sua tia deu-lhe as primeiras lies de solfejo e piano.O seu pai, guitarrista amador, iniciou-o no contacto com obras de famososcompositores como as Danas de Granados, os Chros de Villa-Lobos, as peas deFrancisco Trrega ou Isaac Albniz (McKenna, 1988). Ao no serem suficientes osensinamentos recebidos, comea a estudar na capital cubana com Isaac Nicola.Aluno do pedagogo Emlio Pujol (por sua vez, um aluno dilecto de FranciscoTrrega) durante os seus estudos em Paris, Isaac Nicola viria a ser responsvel pela

    solidificao da escola guitarrstica em Havana, aps as bases lanadas pela a meClara Romero, fundadora do ensino oficial de guitarra em Cuba. Durante esses anos,Brouwer aprofundou um estudo metdico e disciplinado do instrumento, umadecisoque tomou depois de ter ouvido o seu professor a interpretar as obras de Gaspar Sanz,Luys de Miln, John Dowland, Fernando Sor, Francisco Trrega e outros nomes do

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    repertrio (Cuervo e Rodrguez, 2009: 16), marcando-o profundamente:

    [Isaac Nicola] Toc para mi Renacimiento espaol, Barroco, Siglo XIX, msicadel SigloXX Homenaje a Debussy, de Falla y desde que toc el renacimiento espaolmedi un golpetazo, me traumatiz radicalmente, y todo aquello que era intuicin seconvirti en una vivencia cultural de las ms poderosas. [] Eso fue el gran eco. Escomo el nacimiento de un feto, que se convierte en ser humano cortando el cordnumbilical.(McKenna, 1988).

    Os traos caractersticos de Leo Brouwer manifestam-se desde a sua juventudeat aos dias de hoje. A par dos estudos da guitarra, pouco a pouco vai incorporandonovas vivncias culturais plurais. Define-se como uma personalidade criativa incapaz dese confinar aprendizagem de um s instrumento (tambm aprendeu violoncelo, flauta,6

    percusso e piano) ou a uma s rea do saber; possui uma curiosidade insacivel, uma

    enorme capacidade de trabalho e uma busca incessante de informao e perfeccionismo,a absoro de tcnicas e mtodos de composio (muitas vezes como autodidacteuma paixo pelas restantes artes, tais como a literatura, pintura, dana e em particular ocinema cubano, com o qual colaborar a partir de 1960.A fulgurante e aclamada carreira concertstica que Brouwer inicia a partir definais dos anos 50 (e que perduraria mais de duas dcadas), com centenas de concertos etournes pelos diversos continentes e variados registos discogrficos (Caldeira, 2011)

    com repertrio do barroco ao contemporneo, conviveu com a composio dasprimeiras obras para guitarra a partir de 1954; a ttulo de exemplo citamos: Suite n 2(1955), Preludio e Pieza sin ttulo n1 (1956), Danza Caracterstica (1957), Fuga(1957), os Temas e Aires populares cubanos (1957) e Cinco Micropiezas (HomenajeaMilhaud) (1957) para duas guitarras, Tres apuntes (1959) so apenas alguns dos seusprimeiros ttulos, que integravam ainda outras tantas composies para diversasformaes de cmara: Msica para guitarra, cuerdas y timpani (1955); Homenajea

    Manuel de Falla (fl, ob, cl, guit, 1958); Ritual (1958); Dos canciones (voz, guit,1958);Tres danzas concertantes (guit e orq,1958), s para mencionar algumas.O estilo de composio do jovem e irreverente Brouwer deixa transparecer umapreo pelas formas clssicas (fuga, preludio, suite), a influncia da msica folclricpopular cubana, pela msica de cena (escrita para o Teatro Guiol, em Havana) e deconcerto (para o seu duo de guitarras com Jess Ortega), e uma ampla e precoce cultura

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    erudita. O seu ritmo de produo deve-se em primeiro lugar, segundo as suas prpriaspalavras, a uma lacuna no repertrio moderno que o ambicioso Brouwer na alturasentia:We didn't have a Brahms quintet for the guitar, we didn't have the L'Histoire du Soldat byStravinsky, we didn't have the chamber music by Hindemith, we didn't have any sonatasby Bartk. So, as I was young and ambitious and crazy, I told myselfthat if Bartkdidn't write any sonatas, maybe I could do it.(McKenna, 1988).

    Ao obter uma bolsa de estudo do governo cubano em 1959 para complementaros estudos de Composio na Juilliard School (Nova Iorque) e em Hartford(Connecticut), abre-se um novo captulo de experincias que se revelaramfundamentais. Trabalhou com Vincent Persichetti e Stephen Wolpe (composio),7

    Bennet (direco coral), Jean Morel (direco de orquestra), Joseph Iadone (mcaantiga), alm de desfrutar de um rico ambiente cultural e de experincias

    directas compersonalidades como Paul Hindemith, Leonard Bernstein, Aaron Copland, etc. (Cuervoe Rodrguez, 2011). Durante a sua permanncia nos Estados Unidos (1959-1960)escreve Trio para instrumentos de arco, Rond para dois clarinetes e violoncelo,Sonata para violoncelo solo (rev. 1994), Fuga Cervantina para piano edestaca-se oincio da sua vertente didctica, com a composio do primeiro caderno dos studiosSencillos (1-5) para guitarra.Ao regressar a Cuba funda o Grupo de Experimentao Sonora e integra o

    Instituto Cubano de Arte e Indstria Cinematogrfica (ICAIC), dando origem criaode um vnculo que se ir manter por mais de vinte anos e que deu origem criao demsica para dezenas de filmes e documentrios. Nomeado professor de Harmonia,Contraponto e Composio em 1961 no Conservatrio Amadeo Roldn (Havana),participa no V Festival de Msica Contempornea de Varsvia Outono Varsovianacedendo pela primeira vez em directo msica da vanguarda europeia de compositorescomo Berio, Stockhausen, Boulez, Bussotti, Penderecki e outros, experincia estticaimpactante que se iria manifestar progressivamente at ao seu apogeu nos anos 70.

    Entretanto, prossegue com o seu ritmo irreversvel de composio com o segundocaderno dos Estudios Sencillos (6-10), material didctico usado com todaaprobabilidade ainda antes da sua edio em 1972 pela casa parisiense MaxEschig.Ainda nesse ano, e aproveitando o material do Trio para instrumentos de arco, compeo Quarteto de cordas n 1 (Homenagem a Bla Bartk), Dois bocetos para piano,

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    Sonata para flauta, Sonata para viola e Son Mercedes para coro.Apesar de no ter escrito nenhum apontamento explicitamente didctico duranteas duas dcadas seguintes, nos anos 60 Leo Brouwer afirmou-se no plano internacionalcomo guitarrista (actuando pelos mais importantes palcos de festivais e temporadasinternacionais, e com gravaes para as etiquetas Erato, RCA, Deutsche Grammophon),e como compositor, trazendo algumas peas-chave do seu catlogo: Elogio de la danza(1964) e Canticum (1968), peas onde so exploradas o timbre e a dinmica, aressonncia e a direccionalidade da frase ou ainda as notas pedais. Membro fundador doGrupo de Experimentao Sonora, escreve uma obra plena de simbolismo, e que augurao caminho esttico dos anos seguintes: La tradicin se rompe pero cuestatrabajo8

    (1967-69), uma pea de encontros, partilhas e desconstrues sonoras do passado edesse presente.A Espiral eterna nos incios da dcada de 70 o assumir dessa vanguardamusical de Boulez e Stockhausen, intensa, seca e matemtica, reflexo doseu novocaminho, marcando uma fase completamente nova, serial e aleatria. Um au

    tnticotour-de-force do repertrio guitarrstico que explora ao mximo as capacidadestmbricas e dinmicas da guitarra, a pea baseada em estruturas da naturea:desenvolvida em forma de espiral, desde organismos mnimos at estruturasdecomplexidade superior, com fenmenos contnuos de expanso e contraco, e seceslivres, com espao improvisao, bravura e inspirao do intrprete. Esta iuainda serem criadas Es el amor quien ve (S, fl, vl, vlc, pn, guit,perc, 1972), Parbola(1973) e Tarantos (1974), uma fase onde estuda, experimenta e acolhe

    vriosprocedimentos tcnicos e expressivos vanguardistas.Brouwer, cuja vida social e cultural activa, e a composio e a carreiraconcertstica intensas se confundem e se entrelaam, comea nesta dcada a srpresena assdua na vida cultural cubana, seja como colaborador da Rdio eTelevisoCubana, ou ainda como orador em conferncias graas ao seu poder comunicativo,e aser reconhecido tambm pelos seus dotes de narrativa analtica em artigosde revistasculturais: La Musica, lo cubano y la innovacin (1970), La vanguardia cub

    na(1970), Laimprovisacin aleatoria(1971), Composicinmodular(fins dos anos 70)so alguns desses artigos, compilados e trazidos a lume no livro Gajesdel Oficio(Brouwer, 2006), e onde podemos apreciar a incidncia temtica do Maestro,comprovando o seu fascnio esttico vanguardista desses anos.Porm, como o prprio afirma:

    a un cierto punto, este lenguaje se atomiz y se rompi. Se volvi cada

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    ez ms abstracto yhermtico. No comunicaba y como esto es para mi fundamental, dulcifiqu un poco miestilo, quiz insiriendo simplicidad, y fue como volver a casa [].(Kerstens, 1987).

    O Brouwer ps-moderno e neo-vanguardista retorna simplicidade, s suasrazes afro-cubanas, ao modalismo, a uma reaproximao da tonalidade. DenominadaNueva simplicidade, ou Hiper-Romantismo Nacional (em detrimento de9

    Minimalismo que Leo Brouwer rejeita), este vai ser o trilho que ir percorrer at aosdias de hoje:

    La simplicidad condujo a una profunda reflexin sobre los modos de emplear la materiasonora. No solo Brouwer lograba optimizar los recursos de expresin del lenguaje sinotambin una actitud distinta ante la obra y sus formas de hacerla conocida. Todos losaspectos relacionados con la psicologa de la audicin en el destinatarioque escuchaganaron una importancia que aos atrs haban perdido terreno. (Cuervo e Rodrgu

    2009: p. 67)

    Em 1979 compe La Ciudad de las mil cuerdas, para grande ensemble deguitarras, encomendada pela IV Bienal de guitarra na Hungria, e em 1980 o concertopara guitarra e orquestra Quasi una fantasia (Concerto de Lige). O ano de 1981 particularmente frtil em obras de enorme sucesso internacional: compe etermina oscadernos III e IV dos Estudos Sencillos e deixa-se seduzir pela riqueza literria daslendas africanas na construo de El Decamern Negro, uma grande obra de c

    oncertocom trs andamentos, inspirada no livro homnimo do antroplogo alemo LeoFrobenius (Berlim, 1873-1938). Tambm os Preldios Epigramticos, peas muitoconcisas na estrutura e nos elementos musicais, buscam a sua inspirao nos poemas deMiguel Hernndez (1910-1942). A partir do conto de Edgar Allan Poe, Brouwercompe Manuscrito antguo encontrado en una botella (pn, vl, vlc, 1983), e inspira-seem personalidades fortes da cultura para escrever Retratos Catalanes (guit e orq,1983),em homenagem a Mompou e a Gaudi; Cancin de gesta (para orquestra decmara1983), a partir do poemrio homnimo de Pablo Neruda; e Variaes sobre um

    tema de Django Reinhardt (1984). Ainda nos anos 80 escreveu Paisaje cubano comlluvia (1984), uma das suas peas para orquestra de guitarras que retoma a tcnica daproporo (serie Fibonacci); uma pea baseada sobre uma clula inicial que germina e qual se acrescentam outras notas, outros sons, outros efeitos voltadessa semente,numa arquitectura minimalista.Brouwer, no obstante o afastamento dos palcos por problemas derivados de

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    uma possvel leso muscular, por esta altura sinnimo de reconhecimento efamainternacional, atestado pela presena constante da sua obra nos programas de concertode outros concertistas de renome, pelos convites a ministrar master-class na Europa,10

    dirigir orquestras, fazer palestras, ocupar cargos poltico-culturais importantes, receberprmios e galardes que vai somando, sendo o prmio atribudo pela UNESCO e1987 apenas o lado mais meditico deste percurso. Contribuem para estereconhecimento a estreia e o xito de algumas novas obras: Concerto Elegaco (1986)dedicado ao grande Maestro britnico Sir Julian Bream, e o Concerto diToronto(1987), dedicado ao outro grande virtuoso John Williams, para alm dascentenas degravaes (a gravao de obras suas supera actualmente os 650 registos discorficos)(Cuervo e Rodrguez, 2009).No incio dos anos 90, Brouwer compe a Sonata (1990) para guitarra. Tambmnestes anos assume a direco da Orquestra de Crdoba (1992-2001), e apresenta-se em

    Portugal como maestro e pedagogo nos de Santo Tirso (1994, 1995, 1997) e de Cursosde Fafe (1999). Inicia igualmente a composio de uma srie de concertos para guitarrae orquestra dedicados a importantes concertistas: Concerto de Helsinki (n5) (1991-2), aTimo Korhonen; Concerto de Volos (n6) (1997), a Costas Cotsiolis; Concerto de LaHabana (n7) (1998), a Joaqun Clerch; Concerto-cantata di Perugia (n8) (1999), aLeonardo de Angelis; Concierto de Benicassim (n9) (2002), a Gabriel Estarellas.Em 2000 compe Cuadros de otra exposicin (vl, trp/vlc, pn), onde cadaandamento um tributo a um pintor: desde o cubano W. Lam, aos mais consagrados A.

    Modigliani, H. Bosh, E. Delacroix, F. Goya e R. Rauschenberg. no seguimento destalinha que em 2001 apresenta nova obra didctica, os dez Nuevos Estudios Sencillos,prestando tambm em cada deles uma singela homenagem a um compositor diverso(Debussy, Mangor, Caturla, Prokofief, Trrega, Sor, Piazzolla, Villa-Lobos,Szymanowski e Stravinsky), e nos quais evoca e cita obras anteriores,tais como osegundo andamento do El Decamern Negro, ou do Concerto de Lige, ou ainda ouniverso sonoro de Astor Piazzolla.

    Leo Brouwer procede com mltiplas actividades, continuando a produzir obrasde grande flego (La ciudad de las columnas, 2004; Sonata del Caminante, 2007),dirigindo a Orquestra Sinfnica Nacional de Cuba durante mais de vinte anos at 2003,ou dando ateliers de guitarra e de composio (Crdoba, 2010; Itlia, 2012).Actualmente presidente da OficinaLeo Brouwer,sediada em Havana. Possuimais de 200 distines, prmios e galardes internacionais, com homenagensconstantes, que servem de atestado de mrito e da projeco universal desta

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    singular ecarismtica personagem: para alm da distino da UNESCO, destacam-se o Prmi11

    Manuel de Falla (1998) em Espanha, Honoris Causa em Havana e Santiago do Chile(1999), Prmio do MIDEM de Msica Clssica em Cannes, pelo seu Concerto deHelsinki, Ordem Pablo Neruda (Chile, 2007), Prmio Goffredo Petrassi (Itlia, 2008),Prmio Nacional do Cinema (Cuba, 2009).12

    2. Antecedentes histricos

    Neste captulo faz-se uma resenha histrica acerca dos antecedentes de LeoBrouwer na pedagogia da guitarra, esboando uma anlise comparativa com uma outrafigura de referncia no estudo da guitarra clssica, o compositor-guitarrista italiano doSc. XIX, Mauro Giuliani.Desde que a guitarra adoptou o modelo de seis cordas simples nos finais do Sc.XVIII

    1, a escola tcnica e esttica italiana contribuiu significativamente (Radole, 1986:143) para o seu rpido desenvolvimento e consolidao em breves anos, no obstante oinstrumento ser conhecido ento como guitarra francesa ou viola francesa. Arelevncia deste instrumento na pennsula itlica confirmada em certa medid peloaparecimento de vrios mtodos (Radole, 1986: 164), destacando-se os primeiros,ambos pelo guitarrista italiano Federico Moretti (Napoli, 1769-1839), Principi perchitarra de 5 cordas simples em 1792 em Npoles, e Metodo /per chitarra a sei corde

    /con gli elementi generali della musica /terza edizione /acresciuta di/...arpeggi aquattro dita (Napoli, 1804)2, bem como pelo crescimento verificado de diletantes eautodidactas. Naturalmente, os guitarristas-compositores so a face mais visvel destefenmeno de popularidade, destacando-se pela sua importncia artstica, performativa edidctica Ferdinando Carulli (Napoli, 1770 Paris, 1841), Antonio Nava (Milano, 1775 1826), Francesco Molino (Ivrea, 1768 Paris, 1847), Filippo Gragnani (Livorno,

    1767 Paris, 1812), quase todos, porm, recebendo no estrangeiro o reconhecimentoartstico e econmico, com Paris e Viena como destinos mais comuns.Contudo, no curto arco de uma gerao na figura de Mauro Giuliani (Bisceglie,1781 Napoli,1829) que reside o verdadeiro apogeu desta escola italiana, embora tantos

    1A guitarra de 5 cordas simples mais antiga que se tem conhecimento at data de 1774, da autoria

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    de Ferdinandus Gagliano Filius Nicolai, Npoles, 1774 (Heck, 1975: 64-71). At h pouco tempo, a de 6cordas simples mais antiga era da autoria de Giovanni Battista Fabricatore (Napoli, fecit Anno 1791),mas entretanto sabemos pela mo do musiclogo americano recentemente desaparecido James Tyler,da existncia de dois instrumentos italianos ambos datados de 1785 porAntonio Vinaccia e GiovanniBattista Fabricatore (Tyler e Sparks, 2002: 219). Em todo o caso, 1780 continua a ser uma boa data detransio para servir de referncia, mas continua por desvendar se foi em Frana ou em tlia que se deua transformao de cordas duplas para simples.2A este respeito Moretti muito claro:Aunqueyo uso de la Guitarra de siete rdenes Sencillos, me ha parecido mas oportuno acomodar estosPrincipios para la de seis rdenes, por ser la que se toca generalmente en Espaa: esta misma razn meoblig imprimirlos en italiano en el ao de 1792 adaptados a la Guitarra de cinco rdenes; pues enaquel tiempo ni aun la de seis se conoca en Italia.(Fernandez, 2009: 109-134).13

    outros nomes lhe sucedam no xito, a comear pelos prprios filhos Michelee EmiliaGiuliani, Luigi Legnani (Ferrara, 1790 Ravenna, 1877), Matteo Carcassi(Firenze,1792 Paris, 1853), Luigi Castellacci (Pisa, 1797 Paris, 1845), Marc'AurelioZani deFerranti (Bologna 1800 Pisa, 1878), ou Giulio Regondi (Genve, ca. 1822 London,1872).

    2.1. O paradigma de Mauro Giuliani (1781 1829): Acerca do seu estilocompositivo e dos seus contributos

    Compositor profcuo, concertista virtuoso e professor, foi em Viena que Giuliani

    conseguiu estabelecer a sua reputao e fama, desenvolvendo na capital austraca o seutalento, fruto de um ambiente musical propcio e onde havia um forte interesse pelaguitarra, verificado nas imensas edies de obras de reputados compositores-guitarristascomo Anton Diabelli (1781 1858), Leonhard De Call (1779 1815), WenzeslausMatiegka (1773 1830), Simon Molitor (1766 1848), Johann Kaspar Mertz(1806 1856), ou o j referido Legnani. Com quase 200 obras3, de Mauro Giuliani destacam-se

    mais de cinco cadernos de Estudos, obras de concerto virtuossticas, tais como a GrandeOuverture Op. 61, a Sonata Eroica Op. 150, as seis Rossinianas Op. 119-124, ou muitasoutras obras escritas na forma de Pot-Pourri ou Tema e Variaes, das quais sedestacam pela sua fama as Variaes sobre um tema de Haendel Op. 107 e as Variaessobre as Folias de Espanha Op. 45. Foi, alm disso, o primeiro compositor a escreverum Concerto per chitarra e orchestra Op. 30.

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    2.1.1. Acerca do seu estilo compositivo e dos seus contributos

    Se considerarmos duas as texturas4 principais na escrita para a recm-chegadaguitarra de seis cordas (textura horizontal, quando nos referimos a escalas ou passagensmeldicas e/ou monofnicas; textura vertical, quando nos referimos passagemharmnica, em particular o arpeggio enquanto tcnica de dedilhar as cordas com a mo

    3Mauro Giuliani deixou-nos 150 nmeros de opus, e mais de 40 obras sem estarem catalogadas. (Heck,1970).4Cf. Heck, 1995: 190, onde explana e exemplifica a terminologia aqui sugerida.

    14

    direita, enquanto a mo esquerda fixa o acorde), a destreza e maestria dos compositoresresidia no grau de engenho na combinao destes dois elementos.

    A este respeito, para Thomas Heck, investigador e bigrafo de refernciadeMauro Giuliani, o msico italiano:

    [] was truly a genius. His ability to make the guitar speak with its own accent the musicallanguage of his era has left posterity with a wealth of very resourceful, effective, andcharming guitar music, that is, music which could hardly be conceivedapart from aguitar.(Heck,1995: 191).

    Na opinio do musiclogo americano, seriam precisos muitos anos de

    experincia prtica para obter bons resultados nessa fuso de texturas acima referidas.Apelidando essa tcnica de guitarrismo(Heck,1995: 190), podemos tambm associareste conceito noo de idiomatismo, uma vez que se trata da adaptabilidade de umatcnica musical s caractersticas especficas (fsicas e acsticas) do instru,obtendo assim o mximo resultado musical, com o menor esforo tcnico, e cuja msicadificilmente poderia ser concebida com o mesmo resultado noutro instrumento.Heck afirma que as texturas guitarrsticas na obra para guitarra de MauroGiuliani so constantes. Atravs da sua obra imensa, Mauro Giuliani desenvolveu uma

    tcnica que residia, para alm das escalas, num forte domnio da mo direitperfeitamente adaptada s caractersticas da guitarra, expressado atravs demltiplasfrmulas de arpejos com melodia acompanhada. A importncia de possuir umaboamecnica na mo direita desde o incio dos estudos fulcral para o guitarrista italiao,de tal modo que no seu Metodo per chitarra Opus 1 inclui 120 arpejosnas mais

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    variadas e possveis combinaes de dedilhao.Exemplos:

    Fig.1 Mauro Giuliani, Op. 1, arpejos 1-4 (excerto)15

    Fig.2 Mauro Giuliani, Op. 1, arpejos 117-120 (excerto)

    Fig.3 Mauro Giuliani, Op. 89 Preludio n2 (excerto)

    Fig.4 Mauro Giuliani, Op. 119, Rossiniana n 1 (excerto)

    Ao se fazer referncia a Giuliani como o paradigma da primeira grande vaga deguitarristas do perodo clssico, no se pretende tirar importncia ou mrito outrosgrandes compositores-guitarristas, com especial relevo para os que desenvolverama suaactividade em Paris, o outro grande centro de culto da guitarra alm de Viena (e poucomais tarde Londres). Duas dessas figuras de relevo foram Dionisio Aguado e FernandoSor. Aguado (Madrid, 1784 1849), guitarrista virtuoso e compositor apr

    eciado emParis, ficou igualmente conhecido pelo considervel volume didctico: Escuela deguitarra (Madrid 1825), Mthode complte pour la Guitare (Paris 1826), NouvelleMthode de Guitare Op. 6 (Paris 1836); La guitare enseigne par un Mthode Simple16

    (Paris 1837), Nuevo Mtodo para Guitarra (Madrid, 1849). De igual modo a obra paraguitarra de Fernando Sor (Barcelona 1778 Paris 1839) e em particular o seu Mthode

    (Paris 1830) apresenta uma abordagem didctica bem mais profunda e completa do queo Opus 1 de Mauro Giuliani, onde podemos encontrar em sntese muitos temasimportantes para um grande guitarrista (construo do instrumento, cordas, produo desom, posio das mos, digitao, transcrio), sobre os quais no nos poderemos aquidebruar com detalhe.Porm, pelos motivos anteriormente apontados e nos exemplos atrs referid

    os,pela presena do factor guitarrismo j apontado neste trabalho, reside no itadoguitarrista italiano o estabelecimento de um paradigma na forma de tocar5

    , bem como naforma de compor para guitarra ao escrever peas de msica num estilo nunca antesconhecido (Heck, 1995: 108), e servindo de modelo ou base de critrio para aavaliao de obras para guitarra de outros compositores (Heck, 1995: 52).O motivopelo qual se evoca Mauro Giuliani neste trabalho deve-se exactamente a essa evoluoque a ainda jovem guitarra clssico-romntica deu atravs do contributo dest

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    e famosoconcertista, transformando a sua guitarra num instrumento que imita a harpa eenternece os coraes.6A sua importncia e fama como concertista e compositor foram reconheci

    dascom notcias, artigos e menes elogiosas entre a imprensa europeia da altura, sendooguitarrista do Sc. XIX com mais referncias. Depois do seu desaparecimento, nasce emLondres uma revista de msica e de estudos guitarrsticos com o sugestivo nome TheGiulianiad (1833-1835).

    5 Corroborado em certa medida pelas inmeras menes elogiosas por parte dacrtica vienense naaltura. A ttulo exemplificativo, aquela que foi a primeira crtica publicada no Allgemeine MusikalischeZeitung, a 4 de Novembro de 1807, onde se pode ler: Entre os muitosguitarristas presentes nestacidade, um tal de Giuliani est a ter muito sucesso, inclusivamente a

    causar enorme sensao, no spelas suas composies como tambm pela sua forma de tocar. Ele verdadeiramente usa aguitarra comgraa, capacidade e poder fora do comum. (traduo livre do autor: Unteren hiesiegen, sehrzahlreichen Guitarrespielern macht ein gewisser Giuliani, ja sogar grosses Aufsehen. Wirklich behandelter die Guitarre mit einer seltenen Anmuth, Fertigkeit und Kraft.)(Heck, 1995: 238).6 Traduo livre do prprio da citao:[...] Mauro Giuliani, famoso suonator chitarra, che sitrasformava [a guitarra] nelle sue mani in uno strumento emulo dell'arpa

    , dolcemente molcendo icuori.(Heck, 1995: 256)17

    Fig. 5 frontispcio da revista The Giulianiad vol. 1 - 1833

    2.2. De 1850 a 1950

    Entre uma e outra figura (Mauro Giuliani e Leo Brouwer), sucederam-se nomesimportantes na evoluo da guitarra, comeando pela prpria evoluo organolg7

    atravs dos contributos do virtuoso Julian Arcas (1832-1882) junto do construtorespanhol Antonio Torres. Destaca-se, particularmente ao nvel da composio e da suatcnica, o espanhol Francisco Trrega (Villareal 1852 Barcelona 1909) e dos seusdiscpulos, Daniel Fortea (Catalunha 1878 1953), Miguel Llobet (Barcelona 1878 1938), ou Emlio Pujol (Llrida 1886 1980), bem como de Agustn Barrios Mangor(Paraguai, 1885-1944).

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    A linha de interpretao e de composio de Trrega baseada numavalorizao da linha meldica, no volume e homogeneidade do som em todas as cordas,legato e expresso, valores estticos prprios de uma paixo tardia pela msica de sal(mazurkas, minuetes, valsas, polkas, preldios), expressando uma linguagem

    7Antonio de Torres (Almera, 1817 - 1892) em 1856 constri a famosa guitarra Leona,cjo modelo deconstruo tem sido imitado desde ento com adaptaes ou modificaes pontuais, e que asede todos os modelos dos grandes luthiers do Sc. XX. (Grondona, 2001: 58-61).18

    romntica (atestada pelas transcries e reelaboraes de obras de Chopin, Scann,Beethoven, Mendelssohn).Miguel Llobet, aluno dilecto de Trrega, e com uma tcnica mais desenvolta quese nota em algumas das suas composies (Scherzo-Vals ou Variaes sobre umtemade Sor) atrado igualmente pela corrente impressionista, harmonizando neste estiloalgumas canes populares da Catalunha. Emlio Pujol (Llrida 1886 1980), tambmaluno de Trrega, codificou e aperfeioou o seu ensino, publicando a Escuela Razonada

    de la Guitarra (em 4 volumes) e, ainda no campo didctico, compondo muitos estudos.Compositor de algumas obras relevantes, sobretudo influenciadas pelo folclorismo,tambm relevante foi o seu trabalho de execuo, transcrio, e edio de coleces demsica antiga. Foi ainda professor em imensos cursos em Paris, em Lisboa, etc., cujolabor pedaggico foi responsvel pela divulgao da guitarra em muitos pases.Ainda sobre os guitarristas-compositores, de realar tambm o papelimportante da obra pedaggica do argentino Julio Sagreras (1879 1942),cujos novevolumes de Las lecciones de guitarra (1922) so ainda hoje uma ferramenta didctica

    importante dentro da tcnica tradicional. Tambm John William Duarte (1919 2004)apresentou publicaes didcticas, fruto de uma longa experincia na matria, de nomeFoundation Studies in Classical Guitar Technique. Merece igualmente destaque AbelCarlevaro (Montevideu 1918-2001): foi um compositor, concertista, investigador eprofessor profundamente dedicado, cujo livro Exposicin de la teora instrumental eosquatro Cuadernos de tcnica vieram de certa maneira teorizar extensamente algumasquestes relacionadas com a postura e sonoridade, bem como a mecnica deambas as

    mos atravs de exerccios de tcnica pura: para a independncia dos dedos moesquerda, para o deslocamento da mo esquerda saltos de posio, arpejos mmltiplas frmulas, etc. Escreveu ainda 20 Microestudios, Preludios americanos, entreoutras peas, relacionadas tecnicamente com os seus princpios, e esteticamenteprximas de um contraponto de melodias e ritmos de inspirao sul-americana.Estes nomes que aqui citmos so, entre outros, de reconhecidos pedagogos,

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    cujos mtodos tm ainda hoje criado escolas de tcnica guitarrstica, com nmenosfamosos discpulos. Por exemplo, nas inmeras master-class de Carlevaro formaram-seimportantes concertistas do panorama actual, tais como lvaro Pierri, Roberto Aussel,ou Eduardo Fernndez. Emlio Pujol foi professor de Jos Toms, Alberto Ponc, ou19

    Isaac Nicola (entre tantos outros seguidores dos seus cursos em Portugal, Madrid ouParis).Nos estudos de musicologia, de esttica e de estilo, porm sabido que nfiguram os compositores de guitarra como modelos at ao Sc. XX, como sucede comBach, Mozart, Beethoven ou Chopin. A exploso da guitarra clssica nos ltimos 60-70anos deve-se essencialmente ao contributo do repertrio de qualidade quefoi escrito,especialmente por compositores que no eram guitarristas e que colaboraramintimamente com os guitarristas competentes, sendo referncia cimeira osnomes deAndrs Segvia e Julian Bream, que transmitiam aos criadores das obras o idiomatismo

    e conhecimento instrumental.A lista de compositores e composies de reconhecido mrito que vieram luzneste contexto extensa. A ttulo de exemplo, o insigne compositor brasileiro HeitorVilla-Lobos (1887-1959) dedicou guitarra Douze Etudes (verso manuscrita de 1928),a pedido de Andrs Segovia, tratando-se de uma obra fulcral de aproximao msicamoderna, com tcnicas e texturas complexas, riqueza de expresso, etc.: frmulascomplexas de arpejos de mo direita (Estudo 1), arpejos, barras e ligados de moesquerda (Estudos 2, 3, 10), blocos de acordes repetidos (Estudos 4,

    6, 12), etc., commuitas passagens de escritura guitarrstica, ou "harmonia idiomtica.8 Emboradenominados estudos, o nvel de dificuldade de execuo muito elevado pois no s muito exigente tecnicamente, como do ponto de vista musical apela a um conhecimentoavanado da forma, frase, harmonia, etc., parecendo tratar-se mais de estudos decomposio.Tambm sob encomenda do guitarrista espanhol sucederam-se ainda MarioCastelnuovo-Tedesco (1895-1968), Apunti Op. 210 (uma recolha pstuma do seu

    contributo pedaggico), Sonata a Boccherini Op. 77, Tarantella, Concerto en Re M Op.99, Escarramn Op. 177, 24 Caprichos de Goya Op. 195, etc.; de JoaqunTurina,Fandaguillo Op. 36; de Federico Moreno Torroba, Castillos de Espaa, Sonatina, etc.;Alexander Tansman comps Cavatina e Variations sur un thme de Scriabin;ManuelMaria Ponce escreveu Sonata Romntica, Sonata III, Sonata Clsica, Sonata Mexicana,Sonatina Meridional, e Variaciones sobre la Folia.

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    8A este propsito Paulo Torres Vaz de Carvalho explicita: harmoniaidiomtica para aquela que resultada multiplicao de movimentos manuais estereotipados, ou da transposio de osturas ao longo ouatravs do diapaso da guitarra.(Vaz de Carvalho, 2004: 342)20

    Partindo de Julian Bream surgiram os trabalhos de Benjamin Britten, Nocturnal;Malcolm Arnold, Fantasy Op. 107 e Serenade; de Sir William Walton, Five Bagatellese Anon in Love; Sir Reginald Smith Brindle deu um notvel contributo didctico com ostrs volumes de Guitarcosmos, etc.. Francis Poulenc escreveu Sarabande para avirtuosa Ida Presti; Manuel de Falla por fim dedicou guitarra Homagepour letombeau de Debussy, a pedido de Miguel Llobet; Joaqun Rodrigo escreveuConciertode Aranjuez para o guitarrista Regino Sainz de la Maza, dedicando a Andrs Segovia aFantasa para un gentilhombre, Tres Piezas Espaolas, e a Alirio Diaz a Invocacin yDanza. A Sonata Op. 47, de Alberto Ginastera, a pedido de Carlos Barbosa-Lima, o

    u aSegoviana de Darius Milhaud so apenas algumas peas dessa lista imensa de obrasescritas por compositores no guitarristas, que dedicaram o seu talentoa esteinstrumento.

    21

    3. Leo Brouwer Estilo, linguagem e inovao na escrita guitarrstica

    Partindo de Giuliani, neste captulo sero abordados o estilo e a linguag

    em deLeo Brouwer, e os seus contributos para uma inovao tcnica instrumental, bem comoos motivos pelos quais considerado uma figura de destaque com o seu legado directo.

    Giuliani e Brouwer partilham algumas caractersticas comuns: ambosguitarristas, compositores e pedagogos (enquanto criadores de obra didctica),utilizaram igualmente a guitarra no contexto orquestral enquanto solista (cf. quatroconcertos para guitarra/terz-guitarre e orquestra de Giuliani (Heck, 1995:194), e dozeconcertos de Brouwer at presente data (Caldeira 2011: anexo I, 4), ou

    integrada emagrupaes instrumentais mais reduzidas (cf. Serenade Op. 19 do compositoritaliano,para guit, vl e vlc; Es el amor quien v de Brouwer, para S, fl, vl, vlc, pn, guit, perc).Alm disso, estilisticamente ambos privilegiam as caractersticas tmbricas easressonncias da guitarra, bem como a escrita idiomtica (isto , msica nascda dosprprios gestos das mos, sem forar movimentos), e ambos compem segundo o estilo

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    moderno seu contemporneo.Apesar de todas estas caractersticas, o paralelismo entre os dois no tanto deum ponto de vista de aproximao composicional, ou de linhagem tcnica ou esttica. Oponto de contacto est exactamente na ruptura, no novo captulo na histria doinstrumento criado aps Giuliani e aps Brouwer.Tal como Giuliani, tambm Leo Brouwer apresenta uma escrita com qualidadena sua msica para guitarra. Desde o compositor italiano que no se assistia criao uma linguagem nova, moderna e profundamente idiomtica, pese a msica de excelentequalidade composicional de criadores como Rodrigo, Tansman, Britten ou Villa-Lobos.Os recursos tcnicos inditos em algumas obras de Regondi, Trrega, ou Villa-Lobos,no so comparveis em termos de volume com a escrita profcua de GiulianiouBrouwer que dessa forma criaram um estilo. Leo Brouwer sinnimo de inovao, derevoluo. Como veremos nas pginas seguintes, o seu nome enquanto compositor demsica para guitarra destaca-se ao absorver a cultura do seu pas e da tradio musicaleuropeia, criando uma linguagem nova e nica at ento, trazendo a lume texturasnovas, ritmos afro-cubanos, harmonias que reflectiam a vanguarda desseperodo de

    22composio, timbres que exploravam a guitarra, com grande conhecimento dassuascaractersticas e limitaes. O paradigma da msica para guitarra foi alterado.Como foi j antes referido, Leo Brouwer aparece em meados do Sc. XX comocriador de um novo estilo, uma nova forma de escrever para guitarra,conhecendo oinstrumento com detalhe, com pragmatismo e fundado numa aturada experincia comoconcertista, profundo conhecedor das potencialidades, caractersticas e limites doinstrumento, e para o qual tambm contribuiu certamente a qualidade deprojeco e

    ressonncia acstica dos novos instrumentos9:

    Pujol sschool was the last of the gut-stringed instrument. The contemporary guitar - the Fletaand Gilbert - with nylon strings and a huge sound, is like the Steinway or Bsendorferpianos. Technique should change for these instruments.(McKenna, 1988)

    No seu estilo composicional no encontramos uma linhagem esttica vinda dosseus directos antecessores compositores-guitarristas. As influncias derivam

    do seugosto e dos seus estudos da msica pr-clssica, desde os vihuelistas do Siglo de Oroespanhol, com a sua tcnica de contraponto e de explorao das ressonncias no uso dascampanelas, at gravidade e opulncia da msica barroca (manifestado em alguns dosttulos das suas primeiras obras, tais como a Suite Antigua n 1 (1954), Suite n 2 (1955),Preludio (1956), Fuga (1957), ou ainda nos estudos Estudo XV a XVIII, com refernciascontnuas ao barroco nas ornamentaes e nas indicaes de carcter assinalad

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    apartitura sarabande, grave ou atravs do estudo da ornamentao em cursnaHolanda com Franz Brggen e Gustav Leonhardt).Mas a msica de Leo Brouwer tambm aquela do seu tempo, cuja estudos deharmonia e composio nos Estados Unidos com Vincent Persichetti e a convivnciacom a msica erudita contempornea nos cursos de Varsvia ou Darmstadt (ondeconvivia com estreias de obras para guitarra de H. W. Henze, S. Bussotti, C. Halffter,etc.) lhe trouxeram os ecos da modernidade e do vanguardismo europeu nos anos60 e70 (Aleatorismo e Serialismo), e da Nueva Simplicidad a partir dos anos 80 do sculoXX. Porm, a gentica musical de Brouwer est fundada nas razes da msica bana,daquela nativa mais exuberante, e que se reflecte em todo o seu catlogo como pano

    9A nvel de construo, a linhagem ps-Torres trouxe instrumentos notveis atravs de lus comoJos Ramirez, Igncio Fleta, Herman Hauser, Jos Romanillos, Robert Bouchet, etc., que

    contriburampara uma alterao da esttica do som, e consequentemente, da msica escrita para o insrumento.23

    de fundo, do pulsar rtmico ao meldico, desde o seu incio em finais dos anos 50 ataos nossos dias (Brouwer, 2006: 96).Embora verificado nos Estudos 1-10 (1960-61) de forma embrionria, nosEstudos 11-20 (1981) que Leo Brouwer desenvolve de forma mais explcitaum estilode composio da msica para guitarra que viria a solidificar-se a partirdas

    composies dos anos 80, nomeadamente nos Preludios Epigramticos (1981) e noDecamern Negro (1981), mas tambm j presentes na Danza Caracterstica (196),Elogio de la Danza (1964) ou no Canticum (1968).

    Cuandoescribe para la guitarra piensa en los recursos habituales y experimentales que puedenajustarse ms a las potencialidades propias del instrumento []; esa caractersticapresente en su catlogo es el rompimiento de estructuras fijas a partir de esencias alfinal transformadas en nuevas frmulas.(Cuervo e Rodrguez, 2009: 56)

    A sua linguagem ser pois inevitavelmente muito idiomtica, deixando perceberuma relao quase sempre osmtica entre a composio e o instrumento, na medida emque as suas obras demonstram que escreve sempre a pensar nas caractersticas tcnicas,tmbricas e expressivas da guitarra.Seguramente fruto desses seus conhecimentos e estudos aprofundados da msicaantiga, aliado a um esprito crtico, curioso e de reflexo pouco comuns, e ainda desdesempre consciente das enormes potencialidades que as caractersticas acstic

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    as doinstrumento moderno lhe proporcionavam, Leo Brouwer percebe que a essncia daguitarra reside no arpejo, o reflexo da sua Maior qualidade a par de riqueza tmbrica.Deste modo, opta na sua arte por no desenvolver linhas meldicas longas, mas somenteclulas meldicas curtas, epigramticas.O prprio afirma numa entrevista:

    Idon'tfavour it. Melody has another value. Melodies are tied to the voice. Instruments whichare not melodic, like the guitar which can be wonderful and magical, but not melodic,should travel another path. They should go more toward texture, through thedevelopment of patterns, figures flowing ideas.(Dausend, 1990: 9-14)

    Isso significa que a articulao "legato" herdada de Pujol e Trrega, antes usadacom a mo direita, passou a ter mais uma vertente: aquilo a que poderemos chamar de"campanelas organizadas", aproveitando as notas presentes nas cordas soltas de um24

    ponto de vista no puramente tcnico (que proporciona a oportunidade de fazer saltosdeposio), mas sobretudo musical.Aproveitando esse idiomatismo instrumental, as suas peas so, pois, baseadasno uso de arpejos de mo direita, explorando ao mximo os recursos dasfrmulas dearpejos de sentido interno (tais como m, i ou a, m, i). Essa tcnicade mo direita viabilizada por uma tcnica de mo esquerda primordialmente posicional, amadurecidae desenvolvida, com infinitos pontos de apoio (dedos pivot) em mudanasde posio,ou com aproveitamento frequente de cordas soltas para facilitar esses

    saltos, obtendodessa maneira um grande incremento da velocidade ou da ocorrncia de notas.

    Exemplos:

    Fig. 6 Leo Brouwer Estudo V (excerto)

    Fig. 7 Leo Brouwer Estudo VI (excerto)

    Fig. 8 Leo Brouwer Estudo XI (excerto)

    Fig. 9 Leo Brouwer Estudo XVIII (excerto)

    Fig. 10 Leo Brouwer Canticum (excerto)25

    Fig. 11 Leo Brouwer El Decameron Negro, El Arpa del Guerrero (excerto)

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    Fig. 12 Leo Brouwer El Decameron Negro, La Huda de los amantes (excerto)

    Fig. 13 Leo Brouwer El Decameron Negro, La Balada de la doncella enamorada (excerto)

    Leo Brouwer consegue desta forma obter uma boa ou muito boa qualidadecomposicional, acompanhada da facilidade, e os seus estudos so o pontoideal departida para esta nova abordagem tcnica. Uma vez percebido o mecanismo e o sistematcnico, escutamos passagens que aparentemente parecem complexas, mas que so frutode um conhecimento tcnico que permite uma comodidade na execuo instrumental.H que ressalvar justamente a obra Barcarolle, de E. Pujol, numa passagem(ponte) entre a seco B e o regresso ao tema A, onde faz uso das campanelas comoforma de criar ressonncias propcias ao ambiente impressionista da pea, mas cujadimenso e no reiterao no corpus da obra de Pujol faz com que estes compassos nopassem de um mero apontamento casustico.26

    Fig. 14 Emlio Pujol, Barcarolle (excerto)

    Por isso mesmo, podemos afirmar que nenhum outro compositor depois deGiuliani tinha conseguido algo parecido (unir as duas vertentes), nessa base da tcnicada mo direita aliada mo esquerda que compreende o sistema de guitarra baseado nosarpejos, obtendo vantagens do ponto de vista musical e tcnico.Estes efeitos tcnicos fazem com que o instrumento obtenha Maior ressonnciade harmnicos, dando a aparncia de que soa com mais volume, e mais legato, e

    precisamente com Leo Brouwer que a ocorrncia desta tcnica se transformaemcaracterstica estilstica, adaptada s mais variadas escalas e modos, desdea escala detons completos, pentatnica ou o modo ldio.

    Fig. 15 Leo Brouwer, Hika (excerto)

    Fig. 16 Leo Brouwer, Variaes sobre um tema de Django Reinhardt (excerto)

    Existem ainda outras contribuies tcnicas inovadoras, tais como algumasscordature invulgares (cf. Hika), percusso com ambas as mos (Espiral Ete

    rna),27

    tapping (Paisaje cubano com campanas), uso do arco na guitarra (Metfora de amor,para guitarra e fita magntica 1974), etc., mas consideramos a j descrita tcnica decampanelas organizadas como o grande contributo tcnico-estilstico do compositorcubano pela sua constncia na obra.

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    Fig. 17 Leo Brouwer, Hika (excerto)

    Fig. 18 Leo Brouwer, Espiral Eterna (excerto)

    Fig. 19 Leo Brouwer, Paisaje Cubano con Campanas (excerto)

    O legado de Leo Brouwer projecta-se tambm muito para alm das suaspartituras e da presena frequente nos programas de recitais de imensosguitarristas. Asua importncia revela-se igualmente na influncia que neste momento exerce sobre asnovas geraes de guitarristas-compositores. So muitos os compositores maisnovosque esto a seguir o mesmo caminho de escrita idiomtica tais como Nuccio D'Angelo,28

    Dusan Bogdanovic, Carlo Domeniconi, Nikita Koshkin, Simon Iannarelli, StephenGoss, Atanas Ourkouzounov, Konstantin Vassiliev, Roland Dyens, para cita

    r apenasalguns, comprovando a inovao e influncia dessa nova forma de escrita. Em todosestes casos, Brouwer seguramente o pioneiro.

    Fig. 20 Dusan Bogdanovic, 5 miniatures printanires (excerto)

    Fig. 21 Carlo Domeniconi, Koyumbaba (excerto)

    Dentro desta faceta de compositor-pedagogo, criador de uma nova escolademsica para guitarra (e consequentemente escola instrumental de guitarra,

    que irpermitir a execuo da sua obra), necessrio dividir em trs principais campos: Obra didctica Professor-pedagogo Terico (Reflexes sobre a pedagogia da guitarra)29

    4. Leo Brouwer A vertente didctica

    Ao longo da sua carreira como compositor, Leo Brouwer tem dedicado parte dasua criatividade, inspirao e talento composio de obras com objectivos didcticos.Comps at presente data 30 estudos para guitarra divididos da seguinte forma:

    1 Srie de Estudos Simples (Estudios Sencillos): Caderno I: 1-5 2 Srie de Estudos Simples (Estudios Sencillos): Caderno II: 6-10 3 Srie de Estudos Simples (Estudios Sencillos): Caderno III: 11-15 4 Srie de Estudos Simples (Estudios Sencillos): Caderno IV: 16-20 Novos Estudos Simples (Nuevos Estudios Sencillos): 1-10

    Entre 1960 e 1961, ento com 22-23 anos, comps as duas primeiras sriesdeestudos (Cadernos I e II)

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    10, editados em 1972 pela Max Eschig; em 1981 comps econclui as terceiras e quartas sries (Cadernos III e IV), editados em 1983 tambm pelamesma editora parisiense11; em 2001 escreve os Nuevos Estudios Sencillos, editados nomesmo ano pela londrina Chester Music. Repara-se nas datas um hiato de 20 anos entrecada um dos trs blocos de estudos, o que poder deixar entrever um perodo dereflexo e amadurecimento de questes tcnicas e musicais. Assim, de uma sre paraoutra os Estudos Simples so de dificuldade progressiva. O mesmo acontece com osNovos Estudos Simples, cuja dificuldade aumenta progressivamente de estudo emestudo.

    4.1. Estudios Sencillos

    Apesar de ser impossvel de generalizar, os Estudos Simples so uma presenaconstante nos planos de estudo de muitos conservatrios e academias de msica no s

    em Portugal como em todos os restantes pases onde a guitarra clssica apreciada.Fazendo parte de um processo evolutivo do estudante de guitarra, podemos constatar

    10Losprimeros Estudios Sencillos, del 1 al 10, los compuse entre 1960-1961.(Brouwer, 1990: registosonoro).11Todos os estudos foram revistos e reeditados em 2006 pela mesma editora.30

    hoje em dia o seu xito e popularidade at nos canais de difuso mais mediticos, taiscomo o Youtube, com o colocar em rede de centenas de verses e outros tantos milharesde visualizaes.Sucedem-se tambm actualmente os trabalhos dedicados a Leo Brouwer e anlise destas miniaturas musicais, tais como partes da tese de mestrado de ArturCaldeira, Leo Brouwer Figura incontornvel da guitarra (2010), pp. 30-41; o artigode Gloria Ariza Adame, El mtodo Brouweriano:los estdios como preparacin desus obras (2012); Clive Kronenberg, Reapprisal of Etudes Simples; Marie-Madeleine

    Bobet-Doherty, Leo Brouwer, son uvre pour guitare seule et son utilisationpdagogique, etc.A razo para tal s poder ser sem dvida a intrnseca qualidade e importdestas pequenas obras, que se tornaram num curto espao de tempo obras didcticas dereferncia, tratando de aspectos tcnicos e expressivos que o aluno de guitarrahabitualmente enfrenta durante o seu percurso de formao. Naturalmente, tambm os

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    estudos clssicos dos seus antecessores Mauro Giuliani, Matteo Carcassi, FernandoSorentre outros, esto destinados a um pblico juvenil com limitaes tcnicas e musicais,fornecendo uma progressiva e slida formao instrumental.

    [Em] Fernando Sor [] os estudos de arpejos apresentam posies de mo esqdaimpossveis para uma criana,diz Leo Brouwer (Dumond e Denis, 1988: 8)

    Observa-se nestas palavras como o compositor cubano, consciente do valor epapel desses estudos clssicos, e valendo-se de uma viso crtica construtiva, partiu datradio clssica para criar um conjunto de pequenas obras que corrigissemo queachava ser menos eficaz, tal como o facto de no isolarem as dificuldades tcnicas(colocando dificuldades em ambas as mos), que reflectissem as novas linguagensmusicais e algumas das correntes da composio do Sc. XX, sem cortar completamentecom o passado. Assim, os seus estudos, dentro da gramtica estilstica do compositorcubano, alcanam dois propsitos didcticos fundamentais para uma base musical slidae completa:

    a) Primrio/imediato, fornecendo ao aluno principiante solues para otratamento dos problemas tcnicos;31

    b) Secundrio, atravs da construo de uma conscincia musical, pela presenacontnua de elementos de expressividade musical (tais como dinmicas earticulaes) e da forma musical (A-B-A, canon, etc.), bem como pelapresena de elementos prprios da linguagem moderna (mtrica irregular,acordes complexos, minimalismo, etc.).De um ponto de vista curricular, os Estudos Simples de Leo Brouwerdestinam-se primordialmente ao nvel secundrio do 3 ao 8 grau).12

    4.1.1. Estudios Sencillos 1-10

    Aspectos tcnicos: segundo afirma o compositor, o principal objectivo didcticodos Estudos Simples tratar dos mltiplos problemas tcnicos que enfrentaumprincipiante, isolando-os e resolvendo-os separadamente, trabalhando um saspectotcnico de cada vez. Por exemplo, o Estudo 1 apresenta uma melodia na tessitura grave(cordas , e ), com a indicao cantando el bajo [cante-se o baixo] trabalhar o polegar da mo direita, simplificando os dedos indicador e mdio da mesma

    mo pulsando juntos e em cordas soltas, enquanto que a mo esquerda efectuamovimentos reduzidos, permitindo dessa forma ao aluno concentrar a atenonacompetncia a adquirir. O mesmo procedimento e conceito composicional deidentificao e focalizao num problema tcnico, aligeirando os restantescomponentes, vo ser usados em todos os restantes Estudos, do 1 ao 20.Usando as primeiras posies da escala da guitarra, vejamos quais os aspectostcnicos comuns da tcnica guitarrstica abordados: desenvolvimento e independ

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    ciado polegar (Estudo 1); acordes de trs sons (Estudo 2); introduo ao trmoo (Estudo3); meia-barra (Estudo 4); arpejos com ritmos complexos (Estudo 5); frmulas vriasdearpejos (Estudo 6); alternncia entre pulsao simples e apoiada, ligados simples comnfase no dbil dedo 4 (Estudo 7); movimentos simultneos na mo direita naindependncia de vozes e arpejos (Estudo 8); ligados e independncia dos dedos da moesquerda com dedos fixos (Estudo 9); independncia da mo esquerda e cruzamentos decordas na digitao da mo direita (Estudo 10).13

    12Sobre esta questo, prope-se de um ponto de vista didctico o uso da I e II sries noplanoscurriculares do 3 e 4 grau; as restantes III e IV sries do 5 ao 8 grau.13Para uma anlise mais detalhada dos 20 Estudos, consultar Caldeira, 2011: 30-41.32

    De um ponto de vista composicional, Brouwer usa um amplo leque de mtricas

    diferentes e irregulares (Ex. Estudo 4: 2/4 alternando com 3/4), ritmos e melodias afro-cubanos fortes (Ex.: Estudo 1: 4/4 que se transforma em 3+3+2/8 e 3+3+2/8; Ex.melodia do Estudo 5), ritmos acentuados e sincopados (Ex. Estudo 5), e ainda tempos,harmonias, texturas e dinmicas muito abrangentes, desde um canon a duas vozes sobreuma melodia bizantina (Ex. Estudo 8), ao estilo quase improvisado do Estudo 7, com oobjectivo de desenvolver a conscincia musical do aluno (Kronenberg, 2010: 3). Nestesentido, tambm frequente a presena de indicaes expressivas e interpretativas:

    a) aggicas (ritardando, rallentando, accelerando, pi mosso, poco rit.)b) dinmicas (crescendo molto e diminuendo; desde ff a pp sub.)c) articulao (marcato, >, stacc., secco, legato)d) sonoridade (sul ponticello, sul tasto)e) carcter (cantando el bajo, sonoro, morendo, sempre cantando)

    Outros dois aspectos importantes da anlise, so a dimenso e a forma. Destaca-se em primeiro lugar a brevidade, sendo que a Maior parte no ultrapassa os 30compassos.

    Estudo 1 Estudo 2 Estudo 3 Estudo 4 Estudo 5 Estudo 6 Estudo 7 Estudo 8Estudo 9 Estudo 10

    26 14 14 26 27 33 26 32 16 34

    Esta caracterstica poder ser entendida como sintetizao (Ariza, 2012: 31-34como vimos, segundo as suas prprias palavras a propsito dos seus Estudos Simples,asua teoria fundamental aquela de trabalhar um s aspecto tcnico de cadavez,simplificando os outros componentes(Brouwer, 1990: registo sonoro), de modo a nointerferirem no objectivo principal de cada estudo. igualmente interess

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    ante verificarcomo em peas to concisas, com to poucos compassos, o compositor alcana maperfeio de forma14. Recorrendo frequentemente forma A-B-A (excepto nos Estudos2, 6 e 9), apesar da brevidade Leo Brouwer consegue introduzir ainda estruturasformaismais desenvolvidas, tais como codas (ltimos compassos do Estudo 1, Estudo 7, Estudo9 e Estudo 10), pontes (Estudo 8, cc. 20 e 21), ou introdues (Estudo 10), muitas vezes

    14Recorda os pequenos poemas japoneses haiku.33

    com no mais do que um compasso, transmitindo a coeso e robustez destes pequenosestudos.

    4.1.2. Estudios Sencillos 11-20

    Estes estudos das sries III e IV propem-se a alunos mais evoludos. Noapenas so de Maior dimenso, como tambm tratam de aspectos tcnicos e mu

    aisnum plano formal mais desenvolvido(Brouwer, 1990: registo sonoro).Aspectos tcnicos Desde logo, a complexidade tcnica mais evidente:recurso a escalas e passagens rpidas (Estudo 11); acordes em legato (Estudo 12);ligados duplos (Estudos 13 e 14); acordes de trs sons com extenso namo direita(Estudo 15); ornamentos velozes com escalas e passagens breves e rpidas (Estudos16,17 e 18) e onde inclui no Estudo 16 um detalhe tcnico invulgar, ao fazer deslizar omesmo dedo da mo direita em duas cordas consecutivas ao estilo da harpa ; acordes

    de quatro sons e ligados (Estudo 19); finalmente no Estudo 20, mais do que um estudopara a mo esquerda e para os ligados rpidos, trata-se de um exerccio de introduo linguagem minimalista, tanto na escrita como na execuo de pequenas clulas s quaisse vo adicionando pequenas escalas ascendentes e descendentes em movimentosrpidos.Tal como nos Estudos de 1-10, h tambm nestes estudos uma profuso deindicaes de carcter, tempo, timbre e dinmica, proporcionando ao jovem intretemuitas pistas para uma reflexo interpretativa.Ornamentao: Da mesma maneira, a sua forte relao afectiva com o barroco no s evocada (indicao de Sarabande no Estudo 15), como tambm faz nos

    Estudos 16, 17 e 18 um verdadeiro caderno terico e prtico de exercciostcnicos eestilsticos sobre a ornamentao (presso, digitao, diferentes frmulas e simbologiaantigas, com a sua respectiva resoluo) naquele perodo pr-clssico.Na ltima srie (Estudos 16-20) predomina o lirismo, com pequenas melodiasque preparam de certo modo para a msica que Brouwer passar a escrever. Como notaGloria Ariza Adame (Ariza, 2012: 23), ouve-se no Estudo 18 (1981) a mesma melodiaque mais tarde ser citada no Concerto Elegiaco (n 3) para guitarra e orquestra (19

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    86).

    34

    Fig. 22 Leo Brouwer, Estudo XVIII (excerto)

    Fig. 23 Leo Brouwer, Concierto Elegiaco (excerto)

    Inclui-se neste trabalho o texto em forma de apontamentos do prpriocompositor sobre cada um dos seus estudos, que faz parte do bookletdo CD LeoBrouwer - 20 STUDI, gravado pelo guitarrista italiano Leonardo de Angelis15. Nestesapontamentos, Leo Brouwer revela aspectos importantes para a execuo dosseusestudos, bem como conceitos-chave que acompanharam de uma forma consciente omomento da sua composio, e que comprova um conhecimento precoce muitodesenvolvido acerca da tcnica e dos pontos importantes a ter em conta na composiodeste tipo de material didctico.

    Fig. 24 Leo Brouwer, apontamentos sobre Estudios Sencillos (p.1)

    15Brouwer Leo [registo sonoro] Leo Brouwer 20 Studi. Perugia: Quadrivium, 1990. -De Angelis,Leonardo.35

    Como veremos nos quadros mais adiante, so informaes basilares para aconstruo slida da interpretao destes estudos. Divididos em cinco alneas,Objectivos, Tempo, Tcnica, Carcter e O que no se deve fazer, Brouwer deixa-nosde uma forma muito clara e detalhada informaes e conselhos valiosos sobre cada um

    deles.Objectivos: No primeiro ponto, Brouwer explicita qual o objectivo principalde cada estudo. Por exemplo, o Estudo 1 visa o desenvolvimento do polegar da modireita, facilitando a mo esquerda. No Estudo 2 o objectivo o equilbrio dos acordes,no deixando sobressair nenhuma corda, etc.Tempo: No segundo ponto, o compositor esclarece qual o tempo que deve sertomado na interpretao de cada um dos seus estudos, seja de um modo explcitorecorrendo indicao metronmica (Estudo 5: Movido pero no demasiado. =

    88 100), ou menos explcito (Ex. Estudo 1: Rpido. El tempo cmodo).Tcnica: O terceiro ponto trata de conselhos sobre a tcnica a apurar para obteros resultados pretendidos.Carcter: O quarto ponto oferece sugestes de interpretao, proporcionando aoestudo um nvel de musicalidade mais aprofundado (Ex. Estudo 1: Rtmico. Sentir dosniveles orquestales;Estudo 4: Lirico (cantar la meloda del bajo mentalmente o conla voz).O que no se deve fazer: esta a quinta e ltima alnea, onde Brouwer s

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    preocupa com o que habitualmente no falado nos estudos, seus ou de outros, e quevem confirmar o lado pedaggico do prprio compositor, evitando que o estudanteprepare a pea de forma errnea.

    Estudio 11 PropsitoDesarrollo del pulgar (p) m. derecha. M. izq. Fcil cada dedo se articulasolo.2 Tempo Rpido. El tempo cmodo.3 Tcnica Concentrarse en la M. derecha (sin rigidez).4 Carcter Rtmico. Sentir dos niveles orquestales,el bajo en relieve.5 Que no debehacerseNo debe sobresalir el acompaamiento agudo(i,m)

    Estudio 21 Propsito Homogeneidad de los acordes. (Ninguna cuerda debe sobresalir).2 TempoLento manon troppoM. d = 44 a = 48 non solenne36

    3 Tcnica Estudiarlo con doble frmula de m. der: p.i.m. i.m.a.

    4 CarcterLa dinmica y el color se comportan de acuerdo a su tensin armnica.El acorde entensinse har: a) ms fuerte ( P) a) arpegiado b) otrocolor c) con ritenuto.5 Que no debehacerseNo se debe tocar tan lento que no sea legato (cantabile)

    Estudio 31 Propsito Preparacin para el trmolo2 TempoLigero, rpido ma legato = 76 /963 Tcnica Cantar la meloda de los agudos

    4 CarcterLa dinmica flexible enonda5 Que no debehacerseNo tocar con rigidez rtmica.

    Estudio 41 Propsito Estudio para la pequea cejilla, pulgar y mtrica variable (5/4)2 Tempo Moderato cantbile. Sempre legato.3 TcnicaComo ejercicio preparatorio estudiar los acordes conjuntoscon elpulgar.4 Carcter Lirico (cantar la meloda del bajo mentalmente o con la voz)

    5 Que no debehacerseCuidado no deformar la cejillaen posicin aviolinada(violinistica)

    Estudio 51 Propsito Arpegios con rtmica compleja. Basado en el folkclore afrocubano.2 TempoMovido pero no demasiado. = 88 100.3 Tcnica Todo debe resonare (quasi arpa) sin acentos, ni staccati.4 Carcter La ritmicidad no es la temtica central, sino la progresin armnica.

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    5 Que no debehacerseNo confundir el ritmo staccatoLatino como modelo.

    Estudio 61 Propsito Para usar todo tipo de frmulas arpegiadas (improvisarlas)2 Tempo = 112 152 aprox.3 Tcnica Concentrarse en mezclar o usar diversas frmulas de m. derecha.4 CarcterLa velocidad no es lo importante, sino articular todas las formas dearpegios con el mismo tempo.Usar cambios dinmicos.5 Que no debehacerseCuidar no sentir rigidez en la m. derecha.

    Estudio 71 Propsito Ligados de m. izquierda con nfasis en el dedo 4 (dedo dbil)2 Tempo= 168-1843 Tcnicaaccionar el ligado para ganar fuerza sin rigidez (relajandoinmediatamente la tensin de los dedos de las m. izq.)37

    4 Carcter Rtmico y ligero5 Que no debehacerseNo separar exageradamente los dedos (m. izq.)

    Estudio 81 PropsitoPolifonia a dos voces y pulgar cantando contra arpegios (seccincentral)2 Tempo Tranquilo e sempre legato3 Tcnica= 80 (seccin central: Pi mosso = 138 mn.)4 Carcter Homenaje a la Bicinia (canto medioeval a dos voces) bizantina.

    5 Que no debehacerse5 No tocar tan lento que no se oiga la imitacin contrapuntstica.

    Estudio 91 Propsito Para el ligado junto a posiciones fijas2 Tempo= 108 1303 Tcnica independencia de cada dedo de la m. izq.4 Carcter Rtmico5 Que no debehacerseNo subestimar la importancia de la pos. Fija atendiendo solo a la

    posicin del ligado.

    Estudio 101 Propsito Independencia de la mano izq. Cruce continuo de cuerdas M. der.2 Tempo= 100 1163 Tcnica Dificultad para la digitacin contnua de la m. der.4 Carcter 4 Rtmico / Enrgico (quasi Toccata).5 Que no debehacerse

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    5 Parece un estudio para la m. izq. cuando en realidad la dificultad esten la m. derecha

    Estudio 111 Propsito 1 Ligados de m. izq. y posiciones fijas para el legato.2 Tempo= 120 1323 TcnicaConcentrarse en los dedos en posiciones fijas (independencia de los otrosdedos)4 Carcter Rtmico pero sempre legato e cantbile.5 Que no debehacerseEvitar mucha velocidad

    Estudio 121 Propsito Para el legatissimo y los movimientos contrarios.2 TempoTranquilo. = 76.3 Tcnica Continuidad e igualdad de las 3 voces en el coral.4 Carcter Una sarabanda (homenaje a la danza renacentista) extraa.5 Que no debehacerseNo apagar la resonancia o vibracin de los acordes resultantes.

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    Estudio 131 Propsito Para los dobles ligados (El bajo cantando pulgar)2 Tempo Moderato o rtmico3 Tcnica m. izq: un dedo fijo y otros en movimiento (Independencia)4 Carcter El bajo en relieve. Las voces superiores en segundo plano (fondo)5 Que no debehacerseLos dobles ligados tienden a usar demasiada presin. Los dedos en pos.fija no deben descuidarse por los dobles ligados.

    Estudio 141 Propsito Para los ligados (m. izq.) en p cantbile.2 Tempo Movido. Ms lrico que rtmico.3 TcnicaNo deben de sonar mas las voces superiores que el bajo (ligarsuavemente)4 Carcter Lrico sin nfasis en el ritmo. Dinmica gradual.5 Que no debehacerseNo confundir la pulsacin continua con ritmo staccato.

    Estudio 151 Propsito Acordes de 3 notas en legato

    2 TempoSarabanda con variaciones. = 60 con flexibilidad en Pi Mosso.3 Tcnica Continuar con el mximo legato posible.4 Carcter Homenaje al ritmo de la Sarabanda preclsica. Rtmico.5 Que no debehacerseCuidar el mal hbito de hacer lo rtmico sin legato.

    Estudio 161 Propsito Para los acordes en estilo barroco (prepara la Overturafrancesa)

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    2 Tempo= 56 a 60.3 Tcnicamantener el grave/maestosocomo ostinato opuesto a la ligereza de losadornos.4 CarcterLa obertura francesa exagera el puntillo ( = colcheia con doblepunto) carcter severo. En la doubl (comps 12 al 15) moverflexiblemente los elementos repetidos.5 Que no debehacerseSe debe evitar, en esta seccin, la rigidez rtmica.

    Estudio 171 Propsito Para los adornos2 TempoTpo. I = 80. Tpo. II = 923 TcnicaDesarrolla la independencia de los dedos frgilesde la m. izq. conceja.4 Carcter legato. Homenaje al clisbarroco.5 Que no debehacerseNo apresurar el ornamento por el tempo general.

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    Estudio 181 Propsito Para los adornos dobles (compuestos).2 Tempo Sereno y legato. Ms bien lento y grave.3 Tcnica Desarrolla los ligados con articulaciones dobles (m. izq. 1.2.1.3.1. etc)4 Carcter El contraste en color e intensidad depende de su carcter dramtico.5 Que no debehacerseNo debe de apresurarse (Recordar: carcter grave con adornos rpidos)

    Estudio 191 Propsito Para la amplitud dinmica (acordes)2 Tempo Allegro, legato. Siempre estable.3 Tcnica Igualdad entre resonancia de los acordes y los ligados.4 Carcter Rtmico. Clarificar los acordes armnicamente complejos.5 Que no debehacerseNo arpegiar continuamente los acordes.

    Estudio 201 Propsito Para los ligados bien articulados.2 Tempo

    Veloce (seccin central = 120 144)3 Tcnica Desarrolla la velocidad y la articulacin.4 CarcterEstudio minimalista.Se repite ad libitum, acentuando el elementonuevo(aadido) la primera vez.5 Que no debehacerseCuidar las resonancias (cuerdas alaire).Obscurecen la claridad.

    4.1.3. Principais contributos didcticos dos Estudios Sencillos sntese

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    Composies que denotam uma consciencializao absoluta das principaisproblemticas pedaggicas no ensino instrumental perante um alunoprincipiante, criando uma ferramenta ajustada resoluo de aspectos tcnicosespecficos (cf. tabela, pontos 1 e 3: propsitoe tcnica); Preenchimento de uma lacuna de peas didcticas com cariz moderno (deconcepo esttica inovadora, isto , com texturas harmnicas e rtmicas poucocomuns nas obras didcticas para guitarra at 1960/61) para pequenos e jovensalunos, acessveis logo a partir dos primeiros anos de estudo; Sentido prtico: focalizao imediata dos aspectos tcnicos que se pretendetrabalhar, simplificando os outros componentes; Profuso de elementos expressivos (dinmicas, articulaes, timbres) desde aprimeiras obras, trabalhando-os em simultneo com os elementos tcnicos,40

    considerando estes elementos parte integrante da formao de um pequenoguitarrista e no necessariamente algo a ser estudado mais tarde; Aproximao sua tcnica e esttica musical, por forma a preparar o estudo dassuas obras (potencializao das ressonncias da guitarra atravs do estudo dacampanelas organizadas; ritmos irregulares; ligados simples e duplos ligados;passagens no estilo minimalista, com micro-melodias);

    Estudo e prtica da ornamentao barroca de forma sistematizada e organizada,invulgar nos currculos de guitarra nos anos 80.

    4.2. Nuevos Estudios Sencillos

    Vinte anos aps as suas duas ltimas sries de Estudos, Leo Brouwer compe eedita uma nova coleco de dez pequenos estudos para guitarra, ampliandoa sua obradidctica. Opta novamente por breves peas dirigidas a jovens estudantes, mas ao invsdos anteriores estudos, desta vez a coleco apresenta uma ordem de dificuldadecrescente de estudo em estudo.

    O carcter desta srie diverso das restantes, uma vez que, embora sendodidcticos, alguns parecem tratar-se aparentemente de pequenas peas incidentais oucaractersticas para guitarra. Cada um deles dedicado a um compositor do Sc. XX,embora nem sempre tenham citaes ou pretendam evocar o universo estilstico dessecompositor. Na verdade, como veremos mais adiante no quadro analtico, alguns destesestudos parecem ser a simplificao ou reelaborao de algumas das obras doprprioLeo Brouwer, citando mais do que uma vez obras anteriormente compostas pelo

    Maestro, e de certa maneira, assim se entende, preparando o aluno para a execuodessas suas obras de concerto, ou com o intuito de permitir o disfrutar das suaspeas deconcerto adaptadas ao sinttico e breve formato de estudo.Ao nvel da edio, no s se verifica uma mudana de casa editorial comotambm desta vez se faz apoiar a partitura das respectivas notas de interpretao paracada um dos estudos, que seguidamente se transcreve. Nelas podemos encontrar o

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    objectivo destes estudos, bem como algumas pistas ou sugestes sobre aabordagemtcnica e musical que dever ser tomada em conta. Ao contrrio dos apontamentos quehavia efectuado nas restantes sries, desta vez Brouwer no dedica atenes a todos os41

    campos (propsito; tempo; tcnica; carcter; que no debe hacerese), predomino,ao invs, os comentrios acerca dos objectivos e sobre a tcnica.

    Notas sobre a interpretao (presentes na partitura)Estudio no. 1 Omaggio a Debussy1 Propsito Pequeos arpegios (p, i, m) y facilidad de mano izquierda.2 Tempo El tempo es relativo. Semnima com ponto = 100-120.3 TcnicaPoner atencin en la dinmica ( ).4 Carcter Legato5 Que no debehacerseNo muy rpido.

    Estudio no. 2 Omaggio a Mangore1 Propsito Es un estudio sobre ritmos con pequeas disonancias.3 Tcnica

    El trabajo constante es sobre alternancia de p, m i. Solo por excepcinhay adelantostcnicos para el principiante al final con a m i yrasgueado.4 CarcterObservar el contraste de las secciones 1 (algo staccato) y 2 (legato ydolce)

    Estudio no. 3 Omaggio a Caturla1 Propsito Estudio sobre padrones afro-cubanos.3 TcnicaDinmicas de onda ( ) y pulgar de (mano derecha).

    Estudio no. 4 Omaggio a Prokofiev

    1 Propsito Estudio sobre el pulgar.3 Tcnica Mano izquierda en II posicin.4 Carcter Contrastes dinmicos (f marc. y p)5 Que no debehacerseImportante guardar las articulaciones de staccato, legato, y notas mslargas y cortas

    Estudio no. 5 Omaggio a Trrega1 Propsito Pequeo tremolo de 3 notas (preparatorio para 4 notas)3 Tcnica Atencin a igualdad de pulsacin rtmica ( = ).4 CarcterEstilo minimalista con extensiones temticas. Las pausas rtmicas son

    resonancias, no silentes.

    Estudio no. 6 Omaggio a Sor1 PropsitoEste estudio de arpegios rectos de 3 notas y el pulgar es sencillo, slo laseccin central compases 22 al 29 ofrece un cambio al registro agudo(cuerdas primas).3 TcnicaAtender las dinmicas de onda ( ) para hacerlasgradualmente.

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    La frmula del arpegio puede invertirse (p, m, i).

    La frmula del arpegio puede ampliarse a 4 notas (p, i, m, a) con cuerda(1).

    Estudio no. 7 Omaggio a Piazzolla1 Propsito Para las notas repetidas, acentos y ligados.3 TcnicaEl esquema de notas repetidas debe ser tocado de ligero a intenso (manoderecha).

    Acentos salen mejor tocando la nota despu