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1 OBSOLESCÊNCIA PROJETADA + CONSUMISMO EXAGERADO % RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL = UM DESAFIO PARA O HOMEM E PARA A INDÚSTRIA. Sandra Regina de Oliveira Carvalho 1 Solange Aparecida Delfina da Rocha 2 Deolindo Francisquetti 3 Alcione Adame 4 RESUMO: Este texto apresenta uma apreciação sobre a obsolescência planejada, que incita a desatualização e o descarte de tudo, num olhar critico de responsabilidade social e consumismo excessivo, resultando numa preocupação ambiental. A organização parca classifica a natureza, na sua literal essência, como um dispositivo inferior, e tem no mercado econômico a saída para os problemas sociais, através da propagação do capital, motivado na demanda de produção e consumo desenfreados e inacabáveis. São muitas as evidências que apontam que esse protótipo não é visto com bons olhos no contexto socioambiental do planeta. A explicação visou buscar evidências, na peculiar, participação da mídia através do marketing, na indução do consumismo, sem esclarecimentos das consequências ambientais que implicam essas condutas. Inovações e envelhecidas percepções, de distintos ramos da informação, amparam essa observação. Mais a frente, o texto é composto da explicação desses tópicos em diversos setores e expectativas, colhidos mediante pesquisas nos meios de comunicação, e nas publicações disponíveis atualmente; vez que, a discussão apresentada neste artigo, é assunto novo no âmbito doutrinário. Assim, como qualquer tema pertinente à demanda ambiental, esse texto tem a pretensão de recomendar especial zelo, às discussões e atuações que permitam novos trajetos para um mundo melhor, amparado no tripé do Direito Ambiental: ecologicamente correto, socialmente justo, e economicamente viável. PALAVRAS-CHAVE: Obsolescência. Marketing. Consumo. Responsabilidade Ambiental. ABSTRACT: This paper presents an assessment of planned obsolescence, urging outdated and disposal of all, a critical eye for social responsibility and excessive consumerism, resulting in environmental concern. The organization classifies meager nature in its literal essence, as a device below, and have market economic output to social problems, through the spread of capital, demand driven production and consumption and rampant uncompletable. There are many evidences that indicate that this prototype is not viewed favorably in the context of environmental planet. The explanation aimed to find evidence, in particular, media participation through marketing, to induce consumerism, clarification of the environmental consequences involving these behaviors. Innovations and aged perceptions of different branches of information, bolster this observation. Later on, the text consists of the explanation of these topics in various industries and expectations, collected through surveys in the media, and publications currently available, since the discussion presented in this article is new subject within doctrinal. As with any topic relevant to the environmental demand, this text intend to recommend special zeal, discussions and performances that allow new paths to a better world, supported on tripod Environmental Law: ecologically sound, socially just, and economically viable. 1 CARVALHO, Sandra Regina de Oliveira. Bacharelando em direito, 8º semestre pela AJES Faculdade do Vale do Juruena. [email protected] 2 ROCHA, Solange Aparecida Delfina da. Bacharelando em direito, 8º semestre pela AJES Faculdade do Vale do Juruena. [email protected] 3 FRANCISQUETTI, Deolindo. Bacharelando em direito, 8º semestre pela AJES Faculdade do Vale do Juruena. [email protected] 4 ADAME, Alcione. Graduada em Turismo e Direito pela PUC - Minas, especialista e, processo pela PUC Minas, Mestre em Direito Ambiental pela Unisinos e doutoranda em Direito Público pela Universidade de Coimbra Coordenadora do Curso da AJES.

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1

OBSOLESCÊNCIA PROJETADA + CONSUMISMO EXAGERADO %

RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL = UM DESAFIO PARA O HOMEM E

PARA A INDÚSTRIA.

Sandra Regina de Oliveira Carvalho1

Solange Aparecida Delfina da Rocha2

Deolindo Francisquetti3

Alcione Adame4

RESUMO: Este texto apresenta uma apreciação sobre a obsolescência planejada, que incita a desatualização e o

descarte de tudo, num olhar critico de responsabilidade social e consumismo excessivo, resultando numa

preocupação ambiental. A organização parca classifica a natureza, na sua literal essência, como um dispositivo

inferior, e tem no mercado econômico a saída para os problemas sociais, através da propagação do capital,

motivado na demanda de produção e consumo desenfreados e inacabáveis. São muitas as evidências que

apontam que esse protótipo não é visto com bons olhos no contexto socioambiental do planeta. A explicação

visou buscar evidências, na peculiar, participação da mídia através do marketing, na indução do consumismo,

sem esclarecimentos das consequências ambientais que implicam essas condutas. Inovações e envelhecidas

percepções, de distintos ramos da informação, amparam essa observação. Mais a frente, o texto é composto da

explicação desses tópicos em diversos setores e expectativas, colhidos mediante pesquisas nos meios de

comunicação, e nas publicações disponíveis atualmente; vez que, a discussão apresentada neste artigo, é assunto

novo no âmbito doutrinário. Assim, como qualquer tema pertinente à demanda ambiental, esse texto tem a pretensão de recomendar especial zelo, às discussões e atuações que permitam novos trajetos para um mundo

melhor, amparado no tripé do Direito Ambiental: ecologicamente correto, socialmente justo, e economicamente

viável.

PALAVRAS-CHAVE: Obsolescência. Marketing. Consumo. Responsabilidade Ambiental.

ABSTRACT: This paper presents an assessment of planned obsolescence, urging outdated and disposal of all, a

critical eye for social responsibility and excessive consumerism, resulting in environmental concern. The

organization classifies meager nature in its literal essence, as a device below, and have market economic output

to social problems, through the spread of capital, demand driven production and consumption and rampant

uncompletable. There are many evidences that indicate that this prototype is not viewed favorably in the context

of environmental planet. The explanation aimed to find evidence, in particular, media participation through

marketing, to induce consumerism, clarification of the environmental consequences involving these behaviors. Innovations and aged perceptions of different branches of information, bolster this observation. Later on, the text

consists of the explanation of these topics in various industries and expectations, collected through surveys in the

media, and publications currently available, since the discussion presented in this article is new subject within

doctrinal. As with any topic relevant to the environmental demand, this text intend to recommend special zeal,

discussions and performances that allow new paths to a better world, supported on tripod Environmental Law:

ecologically sound, socially just, and economically viable.

1 CARVALHO, Sandra Regina de Oliveira. Bacharelando em direito, 8º semestre pela AJES – Faculdade do Vale do Juruena. [email protected] 2 ROCHA, Solange Aparecida Delfina da. Bacharelando em direito, 8º semestre pela AJES – Faculdade do Vale

do Juruena. [email protected] 3 FRANCISQUETTI, Deolindo. Bacharelando em direito, 8º semestre pela AJES – Faculdade do Vale do

Juruena. [email protected] 4 ADAME, Alcione. Graduada em Turismo e Direito pela PUC - Minas, especialista e, processo pela PUC –

Minas, Mestre em Direito Ambiental pela Unisinos e doutoranda em Direito Público pela Universidade de

Coimbra – Coordenadora do Curso da AJES.

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KEYWORDS: obsolescence, marketing, consumption, environmental responsibility.

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Obsolescência Planejada: Crítica espelhada na influência do gasto supérfluo. 3.

Produção ávida e consumo e sem fim: lesões ao meio ambiente e ao planeta. 4. Obsolescência planejada: tática

prejudicial no conjunto socioambiental. 5. Considerações finais. 6. Referências.

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo teve como fonte inspiradora as preocupações visualizadas num

documentário de 20 minutos denominado: “A História das Coisas”, de autoria da norte-

americana Annie Leonnard. Embora, tenha sido o referido vídeo a alavanca propulsora para a

construção deste trabalho, os elementos estatísticos nele mencionados, não foram usados

como parâmetro para a presente discussão, vez que, o enfoque foi estruturado num outro País,

em outra realidade, que diverge da nossa; aproveitando-se apenas o que faz referencia a

preocupação com o meio ambiente, que nesse entendimento deve ser a nível mundial. No

vídeo a autora enfoca e chama a atenção sobre o sistema de produção atual, desde a extração e

produção até o consumo derradeiro e seu descarte. Neste exato ponto, inicia-se o interesse

deste trabalho. A questão do sistema de produção e sua logística, tratado no documentário

nada mais é do que a lógica de um capitalismo global moldado no consumismo sem limites.

Segundo Annie, há uma afinidade entre os problemas ambientais e os sociais.5

Os quais serão discutidos a diante, amparados em algumas das colocações da autora,

mas, sem delongas, para não ser extensa e cansativa na apreciação deste trabalho.

Antes, porém, devemos nos reportar ao início do século XX, quando se se estabeleceu

no Brasil a titularizada sociedade de consumo, concepção que é distinguida pelo integral

ingresso ao gasto e uma escassez de dados para que se possa gastar com eficácia, abono,

segurança e garantia. A perspicácia desta forma social é muito clara no campo da difusão de

massa, das missivas publicitárias, do estímulo à obtenção ou contrato de mercadorias ou

serviços.6

Nos últimos tempos, a discussão ambiental auferiu extremo ânimo, dado aos

inflamados impactos suscitados pela atuação humana, o que tem assentado o meio ambiente

no cume da agenda social do mundo. A responsabilidade social tem sido nascente de

entusiasmo nos estudos em diferentes ciências do saber, tais como administração, marketing,

direito, psicologia, engenharias, entre outras.

5 http://www.webartigos.com/artigos/resenha-critica-do-documentario-a-historia-das-coisas/81831/ Heráclito

Ney Suiter –O conflito entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental. site visitado em 09/09/2013. 6 Obsolescência programada: breves notas, Laís Gomes Bergstein - advogada do Escritório Professor René Dotti

.http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI173165,81042-Obsolescencia+programada+breves+notas

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A responsabilidade pela concepção de uma consciência ambiental vai além dos

limites dos formadores de opinião; na nova visão ecológica é compromisso de todo cidadão

consciente, prestar esclarecimentos, sempre que possível a aqueles que ainda não ampliaram

tal consciência. O princípio de responsabilidade funda-se no desinteresse das afinidades entre

os seres humanos, consigo mesmo e com a natureza.

Nessa integração não prevaleceria os direitos e deveres de uma norma moral onde o

universo deva ser avaliado somente de acordo com sua relação com o homem, mas, com o

natural anseio de colaborar com a vida feliz das gerações vindouras. É uma responsabilidade

solidária, fraternal, de valores espontâneos e coerentes, e não exclusivamente de importâncias

individuais.

Desta maneira, a relação do homem com o meio ambiente se restitui diante da busca

imprescindível e eminente de sustentabilidade ambiental, uma vez que, a área econômica e

tecnológica, atreladas ao teor capitalista globalizado, tem apressado a largos passos, os

desequilíbrios, as injustiças, as contendas, e ameaçado gravemente, o seguimento da vida no

planeta.

O sistema econômico classifica a natureza como um sistema subordinado a economia,

e tem no comércio a solução para todos os problemas sociais, alegando que desenvolvimento

se deve à multiplicação do capital fundamentada no processo de fabricação e gastos contínuos

e intermináveis.

Slater 7

refere que a idéia de necessidade insaciável está intimamente ligada às noções de

modernização cultural, e o consumo ávido pode ser visto como um grande avanço da

civilização, quanto o começo do fim.

O universo capitalista é composto de muitos interesses, por vezes obscuros, um

conjunto complicado e inquietante. As questões, tanto nas ações quanto nos projetos, surgem

nas discussões dos órgãos governamentais, empresariais, ONG‟s, e Corpo Acadêmico. O

consumo excessivo de bens materiais compromete diretamente a efetiva formação sustentável,

e por consequência atingem todos os seres do planeta, e o resultado obtido com a degradação

do meio ambiente, é sentido gradativamente na saúde e na qualidade de vida da população do

mundo inteiro.

Este trabalho tem o firme propósito de expor uma crítica ponderada, baseado na

apreciação das explanações obtidas junto aos estudiosos dos conhecimentos sobre

7 SLATER, D. Cultura do consumo & modernidade. São Paulo: Nobel, 2002.

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obsolescência planejada. E, almeja ir de encontro nas expressões e experimentos brotados nos

discursos acadêmicos, nas discussões resultantes da somatória das forças propulsoras

vertentes do mundo capitalista, as quais reduzem programadamente, o período de vida útil dos

produtos e serviços, acrescidos da falta implícita, da responsabilidade socioambiental, por

parte de consumidores induzidos por uma camuflagem belíssima das propagandas que criam a

vasta ilusão de necessidade de comprar, comprar e comprar, camuflando os impactos

possíveis ao meio ambiente, em decorrência da degradação, pelo uso de matéria prima, e dos

descartes de produtos sem utilidade, ou que são tornados inúteis, pelo surgimento de outros

com atraentes novidades. Tais ações resultam em consequências graves ao planeta. Novos e

velhos entendimentos de distintas especialidades da ciência esteiam essas observações.

Numa breve exposição a seguir, há real intenção na somatória de informações, com

foco reflexivo, para que não se estanque o assunto ora em discussão, deixando margem para

novos estudos, com anseios pretenciosos de colaborar com o surgimento de maiores interesses

voltado na preocupação, cada vez mais latente, de cooperação nas discussões na esfera meio

ambiente.

2. OBSOLESCÊNCIA PLANEJADA: Crítica Espelhada Na Influência DO GASTO

SUPÉRFLUO

Tanto a obsolescência planejada como a obsolescência percebida trazida no

documentário “A História das Coisas” é a dinâmica do atual sistema produtivo de bens,

especialmente dos chamados „bens duráveis‟ como uma tática de redução da vida útil do

produto produzido, ampliando assim o consumo dessa classe de produtos. Claro que a

velocidade nas inovações tecnológicas da contemporaneidade também acaba por ser acusada

por esse fenômeno. 8

No que diz respeito à publicidade e outras ferramentas de marketing, eles meramente

ficam a mercê do mercado, e se o regime em vigência está amparado no „ter em vez de ser‟,

fica claro que movimentos para prática de costumes de „consumir o máximo para ser o

máximo‟ seja a cartilha dos profissionais da área das comunicações9.

8 SUITER, Heráclito Ney. O conflito entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental;

Disponibilizado no: http://www.webartigos.com/artigos/resenha-critica-do-documentario-a-historia-das-

coisas/81831/ site visitado em 09/09/2013. 9 SUITER, Heráclito Ney. O conflito entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental;

Disponibilizado no: http://www.webartigos.com/artigos/resenha-critica-do-documentario-a-historia-das-

coisas/81831/site visitado em 09/09/2013.

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Ultimamente, o tema ambiental auferiu imenso entusiasmo. A humanidade desperta

para uma nova consciência de que a aglomeração de nossas ações, sem reservas, tem algum

efeito, direto ou indireto. Houve muitas discussões, alarmes e analises, sobre como estamos

inteirando com o nosso planeta. Isso provocou indagações, estando algumas delas indicadas

no vídeo “a história das coisas”.10

Para o filósofo e sociólogo Gilles Lipovetsky11

, vivemos atualmente uma segunda

modernidade, desregulamentada, globalizada, marcada pela preeminência do aqui-agora e

que se alicerça em três premissas: o mercado, a eficiência técnica e o indivíduo. Observa-se

na sociedade moderna a celeridade do compasso das intervenções parcimoniosas e uma

arrebento das grandezas de capital que contornam o mundo, além das mudanças velozes e

estrondosas da tecnologia.12

Novas preleções são imprescindíveis, pois esses possibilitam aprendizados sociais,

econômicos, políticos e culturais, e por meio das apreciações conexas às elocuções permitidas

que componham normas de um jogo e jazem alastradas nas várias áreas de debate

BOURDIEU13

.

3. PRODUÇÃO ÁVIDA E CONSUMO E SEM FIM: LESÕES AO MEIO AMBIENTE

E AO PLANETA

Inicialmente, cabe apresentar a diferença entre as fases do capitalismo industrial e a do

pós-industrial (da acumulação flexível do capital). Harvey14

refere que na fase do capitalismo

industrial, o capital propiciou o surgimento de grandes fábricas e sustentou-se na prática do

controle das etapas da produção, assim como nas Idéias de qualidade e durabilidade produtos

do trabalho. Na fase do capitalismo pós-industrial, imperam: a supremacia do capital

financeiro, a alta rotatividade da mão-de-obra, a fragmentação e a dispersão da produção

econômica, os produtos descartáveis, a obsolescência vertiginosa das qualificações para o

trabalho, fruto do surgimento incessante de novas tecnologias, e o desemprego estrutural

10 http://www.webartigos.com/artigos/resenha-critica-do-documentario-a-historia-das-coisas/81831/ acessado em

09/09/2013. 11 LIPOVETSKY, Gilles. Os tempos hipermodernos. Tradução: Mário Vilela. São Paulo: Barcarolla, 2004.

Obsolescência programada: breves notas, Laís Gomes Bergstein site:

http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI173165,81042 Obsolescencia+programada+breves+notas acessado em 09 nov. 2013 12 BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e; MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Rosco e.

Manual de Direito do Consumidor. 3. ed. rev., atual. e amp. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 129 -

Obsolescência programada: breves notas, Laís Gomes

Bergsteinhttp://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI173165,81042 Obsolescencia+programada+breves+notas 13 BOURDIEU, P. A economia das trocas lingüísticas. São Paulo: EDUSP, 1996. 14

HARVEY, D. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 7ª ed. São Paulo:

Edições Loyola, 1992.

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resultante da automação e da rotatividade da mão-de-obra, causando exclusão social,

econômica e política.15

Então, podemos concluir que o capitalismo presente, diversamente de fases

precedentes, não busca expandir o campo do gastar em razão das necessidades humanas, mas

sim de desenvolver a demanda de propagação do capital em que gasto e estrago são

igualmente ligados.

Schumpeter16

entende o capitalismo como um processo evolutivo e continuado,

impulsionado pelo avanço tecnológico e que possibilita o surgimento de novos bens de

consumo, métodos de produção, mercados e formas de organização industrial. Segundo ele, a

concorrência leva a um constante processo de inovação que, por sua vez, provoca a

obsolescência de velhas estruturas. A concorrência centrada na inovação gera um processo de

“destruição criativa”.

A questão, mesmo sendo trágica e ameaçadora, é para muitos, algo que diz respeito ao

futuro, e na visão de hoje, na grande maioria, se precisa acelerar o desenvolvimento anual,

desenvolver a qualquer preço, pois, habitamos em tempos de ousadias e efeitos de curto

prazo, e carecemos de aceleração.

Mello e Tonelli17

, em um trabalho que analisa a construção social do tempo na

sociedade contemporânea, identificaram o discurso predominante em um dos periódicos que

mais difundem novas tendências para as organizações: “o tempo é mais importante que

dinheiro”. Tal construção tem íntima relação com as características que vários autores

atribuem à sociedade pós-moderna: efemeridade, fragmentação, fluidez, liquidez, presente

perpétuo, incertezas e instabilidades, ciberespaço.

É relevante considerar também, que a consolidação do processo, perpetuação do

sistema, depende dos esforços conjuntos de diferentes áreas funcionais, como por exemplo:

pesquisa e desenvolvimento, finanças, gestão de pessoas, produção e marketing. Dentre várias

interconexões, o marketing tem a função de dar sentido àquilo que a produção faz, elevando

as expectativas de consumo, criando e manipulando arrecadações.

15 HARVEY, D. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 7ª ed. São Paulo:

Edições Loyola, 1992. 16 SCHUMPETER, J. A. A teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre lucros, capital,

crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: Nova Cultural, 1988. 17 MELLO, H. D. A. & TONELLI, M. J. Tempo é dinheiro? A construção do tempo na administração

contemporânea. In: XXVI Encontro Nacional Dos Programas De Pós-Graduação Em Administração (2002:

Salvador). Anais... TEO. Salvador: ANPAD, 2002. em CD-ROM

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Slater18

menciona que como o significado cultural do bem do consumo não é

fornecido imediatamente pelas relações personalizadas, nas quais é produzido e trocado, ele

precisa ser produzido e distribuído em uma escala cada vez maior de forma impessoal e

generalizada: o design, a propaganda, o marketing, começam antes que a industrialização se

dissemine, pela necessidade de personalizar o impessoal, de especificar culturalmente o geral

e o abstrato.

Baudrillard19

, por sua vez, revela que não consumimos os objetos em si, por seu valor

de uso, mas sim pela manipulação simbólica que distinguem e diferenciam os indivíduos na

sociedade. As condutas distintivas são vividas como liberdade, aspiração e escolha, e não

como condicionamentos de diferenciação e de obediência a um código. Mas, é pela lógica

individual da diferenciação, e não pela lógica individual da satisfação, que o caráter ilimitado

do consumo pode ser explicado, pois a explicação desses, mediante uma teoria das

necessidades e da satisfação, depressa se atingiria o limiar de saturação.

SOUZA20

, nessa conexão expõe que o marketing pode ser esclarecido como via de

edificação do descontentamento do consumidor, como maneira de cultivar o constante e

infinito consumo. E arrazoa, Paralelamente, que se deve ser observado, que há

aproximadamente há 50 anos atrás, já havia preocupação de que o marketing deveria ir além

da simples ansiedade com o cliente, se dirigir a preocupações sociais mais extensas e

indispensáveis, ante os problemas socioambientais.

Ante a isso, e avaliando a embaraço total de qualquer matéria que envolva questão

ambiental, é preciso considerar as contribuições de autores como Guattari21

que confia uma

reunião ético-política, ou seja, na junção dos termos e sentidos de ecologia e filosofia: a

ecosofia, entre três apontamentos ecológicos: o do meio ambiente, o das relações sociais e a

da opinião do individuo que reflete sobre sua relação no mundo social (a convicção intima da

pessoa humana). Percebendo que devemos observar com especial atenção, a poluição da

subjetividade, fortemente desempenhada pela indústria cultural. E a contribuição de LEFF22

que defende a juntura dos conhecimentos, o entendimento das sabedorias, a

interdisciplinaridade (construção e desenvolvimento dentro das ciências e do ensino das

ciências), a repreensão social e política dos indivíduos, coletivamente falando.

18 SLATER, D. Cultura do consumo & modernidade. São Paulo: Nobel, 2002. 19 BAUDRILLARD, J. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 1995. 20 SOUZA, A. S. Sobre a construção da insatisfação: reflexões críticas sobre o discurso do marketing. Tese de

Doutorado. Apresentada ao Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção, UFSC, 2005. 21

GUATTARI, F. As três ecologias. 13ª ed. Campinas: Papirus, 1990. 22 LEFF, E. Epistemologia Ambiental. São Paulo: Cortez Editora, 2001.

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Evidentemente, que todas as empresas têm como objetivo o lucro. É por isso que a

todo o momento se criam coisas novas, lançam-se tendências, e vai se inserindo propagandas

atrás de propagandas, para levar o povo ao consumo desenfreado, associado a uma

consequente insensatez ambiental no descarte imprudente dos produtos de consumo e

serviços.

Sabe-se bem que no meio empresarial, sem sombra de dúvida, o intuito é vender, e

vender cada vez mais. Sob a fria alegação de questão de sobrevivência. Infelizmente, isso

também se aplica à mídia, que deveria ter como objetivo, não só esclarecer o produto ou

serviço em exposição, mas também, informar no que tange as preocupações com os possíveis

riscos, que o consumo excessivo e constante desses produtos e serviços, possam causar em

prejuízos, por vezes irreparáveis, a coletividade, ou seja, o outro lado da moeda.

Deve-se diferenciar, todavia, a estratégia da obsolescência programada da simples

disponibilização, no mercado, de novas versões dos produtos ofertados. Com efeito, o próprio

Código de Defesa do Consumidor estabelece que um produto não possa ser considerado

defeituoso caso outro de melhor qualidade seja disponibilizado no mercado (art. 12, §

2º, CDC). Em deferência disso, Rizzatto Nunes23

instrui que o intento do legislador ao

registrar tal dispositivo foi de proteger as mercadorias menos avançadas tecnologicamente:

estes não podem ser vistos como produtos com dano, apenas por seu desajuste tecnológico.24

Mas, tais considerações estão sendo consumidos por aquilo que direta ou

indiretamente, proporciona audiência e, por conseguinte extravagantes lucros. O governo,

infelizmente, tem pouca ação em conexão a isso, aprisionado ao feito de que não pode

facilmente desconhecer essas volumosas empresas, e se assim o praticar, há um temeridade

para o Estado, já que, economia do País está amarrada a rentabilidade dessas empresas.

Deste modo, na suposição de serem distribuídas novas variantes ou exemplares de

produtos, os fornecedores precisarão proporcionar mediadores para que aqueles já contraídos

pelos consumidores conservem-se executando de modo próprio suas funções, até que devam

ser substituídos em função de sua deterioração natural. Os processos aplicados para enganar

esta norma assinalar-se o exercício da obsolescência programada, pois abreviam a diminuição

23 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 6. ed. São Paulo: Saraiva,

2011. p. 258-259. Obsolescência programada: breves notas, Laís Gomes Bergstein - advogada do Escritório Professor

René Dotti. http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI173165,81042-Obsolescencia+programada+breves+notas 24

Obsolescência programada: breves notas, Laís Gomes Bergstein - advogada do Escritório Professor René

Dotti.http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI173165,81042-Obsolescencia+programada+breves+notas

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de proveito ou utilidade do produto em demonstrado abuso aos direitos dos consumidores,

cooperando com a ascensão do seu coeficiente de vulnerabilidade diante do mercado.25

Souza26

compreende que o decidido capitalismo impulsiona a ação de obsolescência

planejada que pode acatar necessidades de breve prazo dos empreendimentos, mas é um meio

de manejar e concepção de desagrado do consumidor, e é inadequada às situações do País,

não bastasse isso, ainda ameaça o futuro do planeta.

4. OBSOLESCÊNCIA PLANEJADA: TÁTICA PREJUDICIAL NO CONJUNTO

SOCIOAMBIENTAL

Com embasamento nas explanações supra, é aceitável proferir que a obsolescência

planejada tem reservada afinidade com o capitalismo pós-industrial, que arrebentou, conforme

Harvey27

com o conceito de resistência, qualidade, armazenamento, que antes era durável

passou a ser temporário, passageiro, veloz.

A obsolescência planejada, segundo Churchill e Peper28

é quando a empresa

estabelece que produtos não devam durar, pelo menos não tanto quanto os consumidores

almejam. Schewe e Smith29

acrescem que essa estratégia é empregada pelos empresários para

obrigar um produto em sua linha a ficar antigo, para então, seguidamente, ampliar o mercado

de reposição. Esses autores acreditam que a obsolescência compõe-se de quatro naturezas: a

técnica (quando a empresa realiza avanços de tecnologia em um produto); a física (quando os

produtos são inventados para permanecer somente por um tempo restrito); a delongada

(quando a empresa tem meios de alcançar avanços tecnológicos, mas não concretiza tal

inclusão até que a demanda pelos produtos existentes não desvalorize, e os cúmulos não se

esvaziem); e a de estilo (quando a aspecto físico de um produto é transformado para que os

existentes toem como antigo).

Nessa direção, Campbell30

dispõe que nem todas as invenções inovadoras são

propostas a acatar as precisões existentes, mas sim em acolher novas indigências. O autor

também menciona que da mesma maneira que a idéia de necessidades significa um mistério, a

25 Obsolescência programada: breves notas, Laís Gomes Bergstein é advogada do Escritório Professor René Dotti http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI173165,81042-Obsolescencia+programada+breves+notas 26 SOUZA, A. S. Sobre a construção da insatisfação: reflexões críticas sobre o discurso do marketing. Tese de

Doutorado. Apresentada ao Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção, UFSC, 2005. 27 HARVEY, D. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 7ª ed. São Paulo:

Edições Loyola, 1992. 28 CHURCHILL, G. Jr. & PEPER, P. J. Marketing: criando valor para os clientes. São Paulo: Saraiva, 2000. 29

SCHEWE, C. D. & SMITH, R. M. Marketing: conceitos, casos e aplicações. São Paulo: Makron, 1982. 30 CAMPBELL, C. A ética romântica e o espírito do consumismo moderno. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.

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esgotamento sucessivo das necessidades é outro, pois a lógica natural de carecer

continuamente é a razão da elevada taxa de obsolescência do produto.

A corrente dominante de marketing, não tem essa visão, pois, entende como papel

social da satisfação das necessidades do consumidor, que o marketing não cria hábitos de

consumo, mas sim, convida a compra de produtos e serviços que satisfaçam a determinada

necessidade oculta (ENGEL, BLACKWELL e MINIARD).31

Para Schewe e Smith32

o alicerce para o emprego da obsolescência está no bel-prazer

basilar das pessoas de possuírem determinada coisa que é novidade, já que, para a maior parte

das pessoas, diversidade e transformação toam ser quase instintivas.

Com apoio nessas Idéias e recomendando a interconexão entre as colocações, é

admissível refletir que a obsolescência técnica necessita das demais formas de obsolescência

para que possa se concretiza. Vale salientar uma experiência encontrada no trabalho de

Souza33

onde explica essa posição. Um jovem acadêmico do curso de Engenharia Mecânica

relata que no inicio de seu estágio, lhe fora oportunizado a participação em uma reunião, com

a presença dos diretores, projetistas e engenheiros de produção de uma fábrica de

refrigeradores, onde fora proposto o desenvolvimento um refrigerador diferenciado, que

ficasse antiquado em cinco anos. O jovem, em seus pensamentos, entendeu a idéia como

lunática, e absolutamente capitalista, e seguidamente, refletiu em quantos anos tem o

refrigerador da casa de sua mãe, o da casa de sua avó. Porque ele acredita que esses

refrigeradores da família, estão lá há muito, muito tempo, certamente por mais de cinco anos.

Acredita até que o de sua avó tenha a idade dele.

É plausível entender nesse, e em muitos outros experimentos, a titulo de

esclarecimento, que a obsolescência programada, não coloca a situação ambiental como ponto

acessório dos projetos de produtos e serviços de consumo, o que então, consequentemente,

acarreta prejuízos à humanidade.

Ainda cabe evidenciar que não só a obsolescência, mas também, os direitos do

consumidor são desobedecidos e são impedidas as probabilidades de trabalho dos prestadores

de serviço, que em muitas situações, até possuem visão ambientalista, e por isso, não querem

colaborar com essa sistemática de produtos obsoletos; como é o caso dos técnicos autorizados

na área eletrônicas, que muitas vezes encontram problema em concretizar a manutenção de

31 ENGEL, J. F.; BLACKWELL, R. D.; MINIARD, P. W. Comportamento do consumidor. Rio de Janeiro: LTC,

2000. 8ª edição. 32 SCHEWE, C. D. & SMITH, R. M. Marketing: conceitos, casos e aplicações. São Paulo: Makron, 1982. 33

SOUZA, A. S. Sobre a construção da insatisfação: reflexões críticas sobre o discurso do marketing. Tese de

Doutorado. Apresentada ao Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção, UFSC, 2005.

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certos equipamentos, que ainda, estão com poucos anos de existência, mas, recebem

informação do fornecedor que não há mais peça em estoque, para aquele produto, e que esse

não é mais produzido.

As experimentações de outros profissionais que operam nos ramos da informática e

telefonia celular confirmam essas concepções e expõem a rapidez da questão de

obsolescência. As empresas lançam modelos incessantemente e, em um ano, o aparelho já é

considerado ultrapassado.

É percebível que debaixo do discurso da novidade, as empresas têm ajustado as táticas

de obsolescência técnica e física para acolher suas necessidades de pequeno prazo, em

detrimento das necessidades dos consumidores, da sociedade e do ambiente.

Obsolescência de estilo é possivelmente, a termo mais recriminado. Para Slater34

, que

entende a acessibilidade, facilitada pelo acesso rápido e sem limite de fronteira, aliada a

interatividade das comunicações ampara na vivencia cotidiana da cultura de consumo, vive

num inacabável ano zero de inovação, rodeia a autocriação continuada, que são exibidas como

novidade, última tendência, o surto ou febre do momento, sempre aperfeiçoada e

aperfeiçoadora.

Se obsolescências técnica, física e de estilo apressam as coisas, a prolongada demora.

Várias facetas explicam a aplicação ou não dessas práticas, como por exemplo:

competitividade, forças legais, reivindicações dos consumidores, e muitas outras. Exemplo

disso, a indústria automobilística que vende um modelo de automóvel que não possui airbag,

cinto de segurança com pré-tensionador e nem aviso sonoro ao motorista colocar o cinto, em

contrapartida, o mesmo modelo fabricado na mesma fabrica, e que é exportado pra Europa

tem tudo isso, e o pior o modelo brasileiro é mais caro.

Isso pode ser explicado em razão da legislação brasileira não determinar que os carros

estejam aprovisionados com esse resguardo, contudo é razoável expor que o trato aos

consumidores de uma coletividade da classe subdesenvolvida, não necessita ser o igual à

aquele proposto à uma sociedade avançada.

Schewe e Smith (1982)35

abarcam a concepção de que se a obsolescência induz à

aquisição de artigos dispensáveis, há de se imaginar então, que os empresários têm o poder de

determinar e definir as aquisições dos consumidores, e que esses seriam submissos, e não

34

SLATER, D. Cultura do consumo & modernidade. São Paulo: Nobel, 2002. 35 SCHEWE, C. D. & SMITH, R. M. Marketing: conceitos, casos e aplicações. São Paulo: Makron, 1982.

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possuiriam o livre-arbítrio para comprar. Assim como, a multiplicidade e a variação

apresentam acréscimos de contentamento.

Segundo Giglio36

, o espaçamento entre empresa e consumidor, faz com que se

conserve o empresário na alucinação dos métodos de produção, não sendo os produtos

lançados, reconhecidos no seu valor de uso, e sim, nos estimações de mercado. Nesse

conceito, a obsolescência planejada, não é só inaceitável ante a condição socioambiental, mas

também, pode ser definida como estratégia de difícil discernimento.

O assunto foi de modo recente examinado pelo Superior Tribunal de Justiça na

oportunidade de julgamento do Recurso Especial 984.10637

, realizado em 4/10/2012. No

acórdão, exposto pelo Ministro Luis Felipe Salomão, foram trazidos como exemplos desta

prática, a abreviada vida proveitosa de itens eletrônicos (como baterias de telefones celulares),

com o futuro e ardiloso, cobrança onerosa do preço da aludida peça, para que seja mais

lucrativo a compra, novamente do conjunto; a incompatibilidade entre itens velhos e os novos,

de modo a forçar o consumidor a modernizar completamente o produto (por exemplo,

softwares); o fabricante que distribui uma linha nova de produtos, fazendo sustar velozmente

a produção de insumos ou peças indispensáveis à antiga.

Todos esses conceitos nos conduzem a uma observação notadamente urgente: a

obrigação de se perpetrar o consumo consciente. Em decorrência, das sequelas da sociedade

de consumo ante ao grande número de pessoas que, de uma maneira comum, não assumem

nenhuma responsabilidade pela força que o consumo dos produtos trará ao meio ambiente

após seu uso e descarte.38

Desde a divulgação da Constituição de 1988, erguer-se a defesa ambiental a posição

de direito fundamental do indivíduo e da coletividade, instaurando-o como um alvo valioso

dentro do Estado Brasileiro.

Acontece que o meio ambiente ecologicamente equilibrado implica na conservação de

coeficientes igualados de saída e reposição dos recursos naturais. Expressa que a matéria

36 GIGLIO, E. O Comportamento do consumidor. 2ª ed. São Paulo: Pioneira,

2002. 37 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 984106. SC. Julg. 4/10/2012. Acesso em: 25 fev.

2013. Obsolescência programada: breves notas, Laís Gomes Bergstein é advogada do Escritório Professor René Dotti

http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI173165,81042-Obsolescencia+programada+breves+notas 38 EFING, Antônio Carlos; BERGSTEIN, Laís Gomes. A justa imposição legal de responsabilizar o consumidor

na realização da logística reversa visando à sustentabilidade. In: XX Congresso Nacional do CONPEDI, 2011,

Vitória/ES. Anais do XX Congresso Nacional do CONPEDI. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2011. p. 3686.

Obsolescência programada: breves notas, Laís Gomes Bergstein é advogada do Escritório Professor René Dotti

http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI173165,81042-Obsolescencia+programada+breves+notas

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prima removida do meio ambiente só pode ser restituída a ele, em estados parecidos aos

antecedentes, a fim de se afiançar a sua conservação igualmente para as vindouras39

.

A vasta exposição e a obtenção desmedidas de novos produtos, principalmente os

tecnológicos, seguido pelo descarte da versão anterior, colaboram com a extinção dos

recursos naturais, talvez, tanto quanto faz a pratica inconveniente de artifícios

de obsolescência programada o faz.

A execução da Obsolescência programada, em derradeira apreciação, inibe a

abrangência do ápice de sustentabilidade indicado na Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988, que anseia a consenso das apropriadas condições de vida com o meio

ambiente estável, como insinua Federico García Lorca em seu poema: "Verde que te quiero

verde. Verde viento. Verdes ramas. El barco sobre la mar y el caballo en la montaña"40

.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após apreciações do texto, com absoluta clareza, podemos concluir que a

obsolescência alista-se fortemente com a possessão da tradição empregada na fabricação e no

gasto insaturável e infinito. Esse posicionamento, acalcanhado no modo racional da economia

e tecnologia, incita o antiquado e a substituição de tudo: das vestes, dos bens instáveis, dos

aparelhos elétricos de uso caseiro, dos produtos eletrônicos, dos veículos, dos serviços

prestados, da Inspiração em algo, dos profissionais, entre outros. Podemos concluir ainda, que

temos inúmeros preceitos de afastamento e escassas conjeturas de adesão, por isso, não

necessitamos de procurar uma volumosa conjectura, mas instituir numa teoria de interpretação

reunindo áreas distintas, dando voz a diferentes grupos.

A primeira vista, parece que não há soluções, mas elas existem. Não deveríamos

jamais nos permitir ser entusiasmado por tudo o que descobrimos nos meios de comunicação

social. Precisamos ter uma sensatez crucial de tudo o que nos rodeia, para que façamos as

coisas de maneira conscienciosa. Para isso, necessitamos ter uma educação adequada e

coerente, igualmente em escolas, e em casa. Se esse passo for dado, o segundo fica mais

simples, serão apenas consequências.

Na linha do documentário “A História das Coisas” da ativista Annie Leonad, embora

um pouco extremo, e sem muita comprovação clara do que foi apresentado, é apropriado para

uma crítica ao que o homem vem praticando contra o planeta terra.

39 Ibid. Obsolescência programada: breves notas, Laís Gomes Bergstein é advogada do Escritório Professor René Dotti

http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI173165,81042-Obsolescencia+programada+breves+notas 40 LORCA, Frederico García. Romance sonámbulo. Sec. XX

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Em suma, espero que possamos começar a voltar-nos para uma atitude de

produção/consumo distinta da existente. Para que isso aconteça devem existir modificações

intensas na reflexão humana. Há a indagação do porque alterar tais pensamentos. A resposta é

simples, em razão de ser o alicerce para invalidar alguns padrões em nossos tempos que

provocam a atual degradação ambiental. São transformações densas, mas é imprescindível

dar início logo, antes que seja tarde demais.

Ações sobre direito à vida não precisam ser privilégios limitados somente à classe

humana, e a consideração, deve estar evidente em todas as ações do homem (capitalismo,

consumo exagerado e inconsequente). Constituímos tão-somente um membro, de um contexto

extenso e, enquanto se continuar pensando no homem como centro único e prioritário, de

todas as atenções, não obterão efeitos nas dificuldades emaranhadas como a afinidade entre as

discussões econômicas, sustentabilidade, elevação de lucros, bem-aventuranças e

autodestruição.

Na abordagem do vídeo de Annie Leonard, com analogia ao propósito „felicidade‟, é

uma posição respectiva, e para tal discussão, teríamos que estender este estudo a um âmbito

filosófico e psicológico aprofundado, uma vez que se trata de um assunto conexo e repleto de

minúcias que não calharia esmiuçarmos no atual trabalho.41

Finalmente, de tudo que foi apresentado, o mais crucial a ser destacado, é que a

ocasião atual demanda um nascer de novo: da sociedade (consumo), da estratégia política

(capitalismo), do modo de vida (indução/responsabilidades), das preferências e, sobretudo

(em resumido prazo), da avaliação de consumir, que se legitíma e adentra na consciência da

coletividade de uma população e embaraça-se com o anseio particular ou coletivo do livre-

arbítrio.

A celeridade da destruição do planeta não tolera que a educação ambiental seja

vinculada como único causador de modificação dessa conduta, pois, seu método ainda que

bom, é demasiadamente demorado. A luta por um consumo responsável e sustentável persiste.

Novas Ideias surgirão, elas não perecem, são bandeiras no exercício da JUSTIÇA!

REFERÊNCIAS

41

http://www.webartigos.com/artigos/resenha-critica-do-documentario-a-historia-das-coisas/81831/ Heráclito

Ney Suiter – Pós-graduado em Direito Ambiental e MBA em Gestão Ambiental pela Facimab – PA;

Environmental Auditing for the IEMA – UK; Pós-graduando em Comunicação em Crise de Instituições Públicas

e Privadas pelo Instituto AVM – BSB – DF; Autor do livro O conflito entre desenvolvimento econômico e

preservação ambiental; Acadêmico do 5º período do curso de Comunicação Social – Jornalismo do Centro

Universitário UnirG. site visitado em 09/09/2013.

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coisas/81831/ Heráclito Ney Suiter – Pós-graduado em Direito Ambiental e MBA em Gestão

Ambiental pela Facimab – PA; Environmental Auditing for the IEMA – UK; Pós-graduando

em Comunicação em Crise de Instituições Públicas e Privadas pelo Instituto AVM – BSB –

DF; Autor do livro O conflito entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental;

Acadêmico do 5º período do curso de Comunicação Social – Jornalismo do Centro

Universitário UnirG. site visitado em 09/09/2013.

Conforme se intitula na obra: BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e; MARQUES,

Claudia Lima; BESSA, Leonardo Rosco e. Manual de Direito do Consumidor. 3. ed. rev.,

atual. e amp. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 129 - Obsolescência programada: breves

notas, Laís Gomes Bergstein

http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI173165,81042Obsolescencia+programada+breves

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