obrigado por fumar a luz da teoria de roberto porto...

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Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul S. Cruz do Sul - RS 30/05 a 01/06/2013 1 Análise do filme Obrigado por fumara luz da teoria de Roberto Porto Simões 1 Rayan MAGALHÃES 2 Victor Silva THEODORO 3 Paulo Cesar STECANELLA 4 Juliana SALBEGO 5 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA - UNIPAMPA RESUMO O presente artigo visa criar uma relação entre o filme Obrigado por Fumar (2007) com a teoria de Roberto Porto Simões, exposto no livro Relações Públicas: Função Política (2011). Para tal análise, distinguem-se os conceitos e as funções do profissional de Relações Públicas e Lobby, e as definições de Comunicação Persuasiva. Em seguida, diferenciam-se os conceitos de ação ética e deslize ético, criado pelo autor, e quais seriam suas ligações com os diálogos de Nick Naylor, lobista da “Academia de estudos do tabaco”, que utiliza a comunicação com a intenção de persuadir o governo e o público, e com a finalidade de concretizar e ampliar a imagem institucional. PALAVRAS-CHAVE: Ação ética; Comunicação; Deslize ético; Lobby; Persuasão; Relações Públicas. 1. INTRODUÇÃO Comunicação, ferramenta essencial para o desenvolvimento global. Persuasão, ato de convencer o receptor sobre um determinado ponto de vista. Comunicação 1 Trabalho apresentado no DT 2 Publicidade e Propaganda do XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul, realizado de 30 de maio a 01 de junho de 2013. 2 Autor do trabalho. Acadêmico do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Pampa campus São Borja, e-mail: [email protected] 3 Coautor do trabalho. Acadêmico do curso de Relações Públicas ênfase em Produção Cultural da Universidade Federal do Pampa campus São Borja, e-mail: [email protected] 4 Coautor do trabalho. Acadêmico do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Pampa campus São Borja, e-mail: [email protected] 5 Orientadora do trabalho. Professora Mestre do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Pampa campus São Borja, e-mail:

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    Anlise do filme Obrigado por fumar a luz da teoria de Roberto Porto Simes1

    Rayan MAGALHES 2

    Victor Silva THEODORO 3

    Paulo Cesar STECANELLA4

    Juliana SALBEGO5

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA - UNIPAMPA

    RESUMO

    O presente artigo visa criar uma relao entre o filme Obrigado por Fumar (2007) com a

    teoria de Roberto Porto Simes, exposto no livro Relaes Pblicas: Funo Poltica

    (2011). Para tal anlise, distinguem-se os conceitos e as funes do profissional de

    Relaes Pblicas e Lobby, e as definies de Comunicao Persuasiva. Em seguida,

    diferenciam-se os conceitos de ao tica e deslize tico, criado pelo autor, e quais

    seriam suas ligaes com os dilogos de Nick Naylor, lobista da Academia de estudos

    do tabaco, que utiliza a comunicao com a inteno de persuadir o governo e o

    pblico, e com a finalidade de concretizar e ampliar a imagem institucional.

    PALAVRAS-CHAVE: Ao tica; Comunicao; Deslize tico; Lobby; Persuaso;

    Relaes Pblicas.

    1. INTRODUO

    Comunicao, ferramenta essencial para o desenvolvimento global. Persuaso,

    ato de convencer o receptor sobre um determinado ponto de vista. Comunicao

    1 Trabalho apresentado no DT 2 Publicidade e Propaganda do XIV Congresso de Cincias da

    Comunicao na Regio Sul, realizado de 30 de maio a 01 de junho de 2013.

    2 Autor do trabalho. Acadmico do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Pampa

    campus So Borja, e-mail: [email protected]

    3 Coautor do trabalho. Acadmico do curso de Relaes Pblicas nfase em Produo Cultural da

    Universidade Federal do Pampa campus So Borja, e-mail: [email protected]

    4 Coautor do trabalho. Acadmico do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do

    Pampa campus So Borja, e-mail: [email protected]

    5 Orientadora do trabalho. Professora Mestre do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade

    Federal do Pampa campus So Borja, e-mail:

    mailto:[email protected]:[email protected]

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    Persuasiva, a unio de palavras que visam perpassar ideias, sejam os mesmos de carter

    econmico, poltico, cultural ou social.

    O filme, Obrigado por fumar, expe as atividades desenvolvidas pelo lobista -

    caracterizando-o pelo uso excessivo da comunicao persuasiva, com o intuito de

    modificar ou manipular as ideias ou ideais de seu pblico - e gera dvidas em relao a

    sua tica de trabalho, pois o mesmo engloba o universo organizacional, na qual diversas

    instituies - seja do mesmo ramo, ou no tendem a ruir a imagem institucional uma

    das outras.

    Primeiramente, contextualiza-se o ambiente na qual o artigo esta inserido

    Resenha do Filme Obrigado por Fumar em um segundo momento definiremos os

    conceitos de retrica e persuaso. Em seguida, descreve-se o surgimento da profisso de

    Relaes Pblicas (EUA), e o trabalho do lobista, juntamente com suas diferenas e

    afinidades. E por fim, utiliza-se como base o livro Relaes Pblicas: Funo Poltica,

    do autor Roberto Porto Simes, para analisar, utilizando os conceitos de Ao tica e

    Deslize tico, determinados dilogos existentes no decorrer do filme.

    2. DESCRIO DO FILME OBRIGADO POR FUMAR

    Um filme estadunidense de 2005, mesclando os gneros comdia/drama, escrito

    e dirigido por Jason Reitman e estrelado por Aaron Eckhart. A produo uma stira

    sobre a indstria do cigarro e o tabaco, baseado no romance homnimo de Christopher

    Buckley, lembrando que o titulo em si, Obrigado por Fumar, j demonstra uma

    provocao, sendo, obviamente, uma stira.

    A histria gira em torno de Nick Naylor (Aaron Eckhart), o principal porta-voz

    da Academia de Estudos do Tabaco. Enquanto anncios e manifestantes divulgam que

    fumar causa inmeros malefcios, o seu trabalho convencer as pessoas de que os males

    provocados pelo fumo no so to prejudiciais sade. O protagonista conhece os

    efeitos negativos dos cigarros: danos fsicos, o vcio e que estes podem levar morte,

    mas usa de suas habilidades argumentativas para ganhar debates a favor das empresas

    tabagistas. Considerado um personagem com argumentos indiscutveis, ele transmite

    calma em seus discursos, demonstrando um pouco de seu legado at para seu filho Joey

    http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A1tirahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cigarrohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Tabacohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Thank_You_for_Smokinghttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Christopher_Buckley&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Christopher_Buckley&action=edit&redlink=1

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    (Cameron Bright), citando para este: "A beleza de um argumento que, se voc

    argumentar corretamente, voc nunca est errado.

    A stira intensificada no filme pela associao informal do protagonista com

    lobistas de outras indstrias que esto sujeitos a difamao de rotina nos meios de

    comunicao, por exemplo, Bobby Jay Bliss (David Koechner), que representa a

    indstria de armas de fogo e Polly Bailey (Maria Bello), uma lobista da indstria de

    bebidas alcolicas, no caso, estes personagens, coletivamente, constituem o que

    conhecido como "MOD" que significa "Mercadores da Morte".

    Enquanto sua moral pode ser questionvel, o seu talento para persuadir pessoas a

    seu favor, deixaria qualquer time de debate premiado com vergonha. O protagonista

    possui uma retrica intocvel e uma capacidade de convencimento que fascinante,

    sendo ntido o seu poder de persuaso. No momento em que o senador de Vermont

    pretende rotular maos de cigarros com smbolos indicando que so venenosos, Naylor

    em contra partida, cria estratgias comunicacionais e se encontra com um agente de

    Hollywood para colocar os cigarros de volta as telas de cinema.

    No curso do filme, o protagonista suborna Lorne Lutch (ator das propagandas

    do cigarro Mallboro, conhecido como Cowboy da Marlboro) para manter sigilo total

    sobre o seu cncer de pulmo. O senador Ortolan K. Finisterre (William H. Macy), um

    dos crticos mais veementes de Naylor, o promotor de um projeto de lei para adicionar

    uma caveira, ossos cruzados e um aviso de veneno para embalagens de cigarro. Durante

    um debate na TV com o senador, o protagonista recebe uma ameaa de morte de um

    telespectador. Apesar da ameaa, o protagonista ainda planeja comparecer perante um

    comit do senado dos EUA para combater a lei do senador Finisterre. O protagonista

    sequestrado e coberto por adesivos de nicotina.

    Ao despertar no hospital, ele descobre que o nvel de tolerncia muito alta

    nicotina resultante de seu hbito de fumar o salvou de um envenenamento que poderia

    causar sua morte, aps o incidente, seu organismo perde parte da tolerncia a nicotina e

    por ordens mdicas, o lobista proibido de fumar. Ele ento conhece Heather Holloway

    (Katie Holmes), uma reprter sedutora de um jornal de Washington. Ela cria uma

    imagem negativa dele, usando informaes obtidas em encontros, o que obviamente

    acaba comprometendo-o. Seu reinado de notoriedade termina quando ela publica um

    http://pt.wikipedia.org/wiki/David_Koechnerhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Bellohttp://pt.wikipedia.org/wiki/William_H._Macyhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Katie_Holmes

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    artigo expondo o suborno de Lorne Lutch (Sam Elliott), o esquema de colocao de

    produtos em Hollywood, e sobre o esquadro "MOD". No sendo o suficiente, o

    protagonista encontra-se em um dilema, sendo acusado pela jornalista de estar

    treinando seu prprio filho a seguir seu exemplo imoral, isso acaba com a simpatia

    que o pblico sentia por ele. Ele ento demitido pela Academia de Estudos do Tabaco.

    O protagonista entra em depresso, at que seu filho o ajuda a recuperar a

    integridade em seu trabalho, no caso, Naylor comea a defender corporaes que quase

    ningum se sente a vontade em defender. Reestruturado, o protagonista diz a imprensa

    sobre seu caso com Holloway e promete limpar os nomes de todos mencionados em seu

    artigo, declara tambm que vai comparecer perante a comisso do senado. Na audincia,

    o antigo lobista dos cigarros admite os perigos de fumar, mas argumenta que a

    conscincia pblica j alta o suficiente sem avisos extras.

    Depois de ter sido impressionado pelo discurso do antigo lobista dos cigarros, o

    que resulta em um voto contra projeto de lei do senador Finisterre, a Academia de

    Estudos do Tabaco oferece a Naylor o seu emprego, mas este, publicamente recusa a

    oferta. Heather Holloway, humilhada publicamente pelo protagonista, reduzida a

    trabalhar como garota do tempo local. Logo depois, a Academia de Estudos do Tabaco

    fechada, e o senador Finisterre comea a trabalhar para ter os cigarros removidos

    digitalmente dos filmes clssicos. Os "Mercadores da Morte ainda se renem

    semanalmente, agora com a adio de lobistas de resduos perigosos, fast food e do

    petrleo.

    Seguindo os passos e as lies que seu pai lhe ensinou, Joey ganha um debate

    escolar. Naylor, por sua vez, abre uma empresa, em que podemos v-lo continuando no

    mesmo caminho, defendendo agora, uma indstria de celulares, preocupado com as

    alegaes de que celulares causam cncer no crebro. O filme termina com o

    protagonista dizendo: "Todo mundo tem um talento, Michael Jordan joga basquete,

    Charles Manson mata pessoas, eu falo.".

    3. PERSUASO E RETRICA

    Desde os primrdios da humanidade o homem encontra a necessidade de se

    relacionar com os demais, e isso se d por meio da comunicao. Seja ela verbal ou no

    http://en.wikipedia.org/wiki/Sam_Elliott

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    verbal. E a partir do momento em que algum se comunica com um interlocutor, j h

    inteno de persuadi-lo. Logo comunicao e persuaso so conceitos indissociveis. E

    at mesmo o mais leigo sobre esse assunto usa de persuaso em seu discurso, mesmo

    sem ter conhecimento disso.

    No livro Retrica, Aristteles discorre sobre a persuaso e sobre a retrica,

    estabelecendo uma linha tnue entre esses dois conceitos que at hoje so confundidos e

    misturados no meio acadmico. Para o autor a retrica tem um mbito mais cientfico,

    ou seja, um corpus com determinado objeto e um mtodo verificativo dos passos

    seguidos para se persuadir. Assim sendo, no caberia retrica assumir uma atitude

    tica, pois seu objetivo no comprovar a veracidade dos fatos, mas sim verificar quais

    os mecanismos usados para se fazer algo ganhar a dimenso de verdade. Ou como

    afirma Aristteles:

    Assentemos que a Retrica a faculdade de ver teoricamente o que,

    em cada caso, pode ser capaz de gerar persuaso. Nenhuma outra arte

    possui esta funo, porque as demais artes tm, sobre o objeto que

    lhes prprio, a possibilidade de instruir e de persuadir; por exemplo,

    a medicina, sobre o que interessa sade e doena; a geometria,

    sobre as variaes das grandezas; a aritmtica, sobre o nmero, e o

    mesmo acontece com as outras artes e cincias. Mas a retrica parece

    ser capaz de, por assim dizer, no concernente a uma dada questo,

    descobrir o que prprio para persuadir. Por isso, dizemos que ela no

    aplica suas regras a um gnero prprio e determinado. (p. 34, 2007)

    Portanto, o autor deixa bem claro a diferena entre retrica e persuaso ao

    demonstrar que retrica uma espcie de cdigo dos cdigos que est acima do

    processo persuasivo, pois abarca todas as formas discursivas. E essa era a inteno de

    Aristteles, sintetizar as vises que se acumulam em torno dos estudos retricos para

    elucidar possveis dvidas sobre como se produzir um texto persuasivo.

    Devidamente desvinculados os dois termos, apresentamos uma breve definio

    do conceito de persuaso por Adair Peruzzolo:

    Persuadir induzir a uma deciso ou adoo de uma ideia pelo

    reconhecimento subjetivo pessoal dos valores da mensagem proposta,

    segundo os critrios pessoais do reconhecedor ( p.6, 2007)

    Peruzzolo salienta que uma mensagem persuasiva eficaz aquela na qual a

    subjetividade de cada indivduo levada em conta, ou seja, mesmo estando inseridos

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    em um pblico alvo muito bem definido, cada interlocutor tem a sua viso particular de

    determinado produto ou assunto, que gerada por toda a bagagem sociocultural que ele

    adquire ao longo da vida. O segredo das mensagens persuasivas de sucesso justamente

    este, conseguir tocar na subjetividade de cada um, gerando uma identificao quase que

    imediata com a ideia em questo. Alm da elaborao subjetiva das mensagens h

    outros itens apontados por Aristteles que so indispensveis na elaborao de uma

    mensagem persuasiva eficaz.

    Uma questo que Aristteles aponta a disposio correta dos argumentos em

    um texto. Devido a isso ele prope um mecanismo de organizao do texto em quatro

    instncias sequenciais e integradas. Primeiramente o mesmo destaca o comeo do

    discurso, denominado Exrdio. Esse pode ser a indicao do assunto, um comentrio ou

    uma introduo, com o objetivo de assegurar a ateno dos interlocutores. A Narrao

    o assunto ou andamento argumentativo, onde os fatos ocorrem, o ambiente em que se

    encontra inserido. Para o autor, necessrio ter cuidado neste ponto, principalmente

    para no errar na medida das informaes, pelo exagero ou pela falta delas. Devem-se

    levar em conta dois pontos as Provas, que seria a parte que exige a comprovao das

    informaes dadas no discurso, na qual a credibilidade do argumento depende da

    capacidade de comprovar tais informaes; e a Perorao, que o eplogo, a concluso.

    Pelo carter finalstico, se tratando de um texto persuasivo, aqui a ultima chance para

    se assegurar a fidelidade do interlocutor.

    Este roteiro para construir textos persuasivos usado desde o incio da

    comunicao na humanidade, desde a poca da pedra lascada, e ainda est implcito em

    nossa sociedade atual. Na escola aprendemos, mesmo que sem saber, essas tais regras

    que nos ajudam durante toda a vida a transmitir uma mensagem com xito.

    Dentro da retrica clssica, reconhecemos diversos raciocnios que atuam como

    mecanismo de construo do discurso persuasivo. Aristteles destaca a utilizao de

    alguns raciocnios, entre eles o Raciocnio Apodtico, o qual possui tom de verdade

    inquestionvel, argumentao coesa que no deixa transparecer ao receptor outra

    possibilidade se no a passada pelo emissor. Devido ao uso do tempo verbal imperativo

    torna-se indiscutvel o enunciado. O interlocutor fica impedido de esboar qualquer

    reao. uma argumentao to fechada que no abre margem para discusso.

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    Primeiramente importante salientar sobre o Raciocnio Dialtico o termo

    dialtico de Aristteles anterior ao de Hegel e Marx, portanto no h nenhuma

    ligao entre ambos. Com este primeiro ponto ressaltado, encontramos nessa linha de

    raciocnio uma tentativa de quebrar a inflexibilidade do raciocnio apodtico, apontando

    mais de uma concluso possvel, sendo que o modo de formular as hipteses acaba por

    indicar a uma concluso mais aceitvel. um jogo de sutilezas que induz o destinatrio

    a pensar que est livre para fazer a sua opo. Para isso faz uso de verbos no

    condicional com a inteno de passar a ideia de mltiplas escolhas.

    O Raciocnio Retrico possui certa semelhana entre o raciocnio dialtico,

    principalmente na busca de argumentos racionais, mas eles se diferem na busca pela

    emotividade contida no raciocnio retrico. Este capaz de atuar junto razo e

    emoo num eficiente mecanismo de envolvimento do interlocutor. Nesse caso no so

    usadas apenas proposies lgicas e racionais, apela-se para dados emocionais, e para o

    referencial material do receptor.

    4. RELAES PBLICAS E LOBBY AES E DIFERENCIAIS

    Primeiramente define-se e contextualiza-se a atividade de Relaes Pblicas. Os

    inventores dessa profisso foram os norte-americanos, no incio do sculo XX,

    quando a indstria comeou a ser atacada por lderes do governo e escritores de fama

    (CANFIELD, 1970, p.22). Ou como afirmaram Daniel Barquero e Mario Barquero,

    em face de uma estimulante necessidade econmica-empresarial,

    pois os empresrios se deram conta de que necessitavam da figura de

    um especialista que compreendesse tanto os seus pblicos internos

    quanto os externos para o bom funcionamento das organizaes

    (2001,p.129)

    O povo americano se deparava com uma economia voltada para a elite. A poca

    vivenciada era marcada pela busca frentica ao dlar, individualismo, o governo visava

    o interesse empresarial, opresso da classe mais baixa, e diante de tantos fatores

    negativos, a necessidade de um profissional qualificado para constituir e concretizar a

    imagem institucional.

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    Diante desse contexto, surge Ivy Lee (1877-1934), jornalista e mais tarde

    publicitrio, fundou com Goerge Parker, a agncia Parker & Lee, com o propsito de

    prestar servio de imprensa. Marques de Melo retrata o momento da poca, ao afirmar

    que as empresas passaram a no visar apenas o lucro, mas sim as boas relaes externas

    e internas, Ao procurar harmonizar os benefcios do capital e do trabalho e ao

    patrocinar o dilogo entre o interesse pblico e os interesses privados, os novos

    profissionais da comunicao institucional ganham espao na sociedade moderna

    (2007, p.27).

    Lee consolida seu nome, em 1914, quando trabalha como consultor do magnata

    americano John RockFeller Jr, a fim de modificar a imagem do mesmo perante a

    sociedade da poca, a qual o detestava, por diversos fatores, entre eles a necessidade de

    poder e de capital, e a crueldade.

    Com o passar dos anos, esse profissional visa maior reconhecimento e ampliao

    do seu espao na rea mercadolgica e acadmica. De uma maneira bem superficial, o

    profissional de Relaes Pblicas tem a funo de estreitar laos entra a instituio e o

    seu pblico-alvo. Maria Aparecida Ferrari afirma,

    Dessa maneira, as relaes pblicas atuam para construir

    relacionamentos com pblicos, que so grupos de pessoas cujo

    comportamento pode afetar as organizaes ou ser por elas afetadas.

    Os pblicos so o objeto da atividade de relaes pblicas e para

    eles que desenvolvemos os relacionamentos, visando estabelecer o

    equilbrio de interesse. (2009,p.247)

    A autora continua: Se construirmos nossos relacionamentos com os pblicos

    estratgicos, pensando nas organizaes para os quais prestamos servios, mesmo que

    indiretamente, estaremos tambm beneficiando a sociedade. (2009,p.247) E Fabio

    Frana completa essa ideia, explicando a necessidade desse estreitamento de laos,

    [...] o principal objetivo do relacionamento organizao-pblicos

    sustenta-se por interesses institucionais, promocionais ou de

    desenvolvimento de negcios como sucede com os colaboradores,

    clientes, fornecedores, revendedores e de mais pblicos ligados s

    operaes produtivas e comerciais da organizao. (2004,p.100).

    O autor refere-se, por um lado, ao retorno mercadolgico e institucional

    almejado pelas organizaes e por outro, a busca por preos mais acessveis, produtos

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    de qualidades, entre outros pontos desejados pelos consumidores. A empresa no pode e

    no deve apenas se preocupar com os consumidores, diversos setores a rodeiam, entre

    eles os fornecedores, os quais abastecem as instituies com matrias-primas.

    Em sequncia, com o intuito de diferenciarmos as duas profisses Relaes

    Pblicas e Lobby- define-se o termo lobby. O mesmo possui diversos significados.

    Sad Farhat a intitula como toda atividade organizada, exercida dentro da lei e da tica,

    por um grupo de interesses definidos e legtimos, com o objetivo de ser ouvido pelo

    poder pblico para inform-lo e dele obter determinadas medidas, decises, atitudes.

    (2007, p. 50-51). O autor afirma que o lobista responsvel pela organizao dos

    processos comunicacionais, sempre atuando (ou no) dentro da lei, baseado em

    princpios operacionais e ticos (lobby lcito), na busca de interesses definidos e

    legtimos, utilizando a comunicao para obter xito.

    Em muitos casos, diversos especialistas brasileiros, atribuem fatores negativos

    referentes a esta rea de atuao, pois os mesmos no atuam no mercado com a tica

    trabalhista necessria (lobby ilcito) Para tanto, o profissional, utiliza a comunicao

    como o grande instrumento necessrio para o xito dessa operao, sempre vinculada

    tica profissional. Essa ideia confirmada,

    Lobby no significa necessariamente ter amigos influentes, mas ter

    mensagens consistentes e lev-las, de forma constante e sistemtica,

    aos formadores de opinio. O principal objetivo do lobista vender

    credibilidade, (o que) requer sequncia e presena, mais que

    contribuies financeiras. (SETBAL, Laerte, apud Farhat, 2007,

    p. 54)

    Ainda segundo Farhat a destreza da comunicao necessria para a criao de

    novas aes voltadas para o trabalho do lobby, para atuar em harmonia, sincronizao

    e articulao com as atividades de lobby. Acrescenta o autor:

    No contexto dos pleitos controversos, a utilizao da comunicao

    social ser tanto mais recomendvel e necessria quanto os resultados

    esperados da ao dos lobistas mais possam intervir em formar,

    consolidar, melhorar ou, conforme o caso, mudar a imagem da

    empresa, corporao, produto, pessoa, servio, entidade, proposta,

    ideia, ideologia, ou quaisquer outros interesses divisveis

    econmicos, polticos, sociais, regionais no mbito de determinada

    sociedade. (2007, p. 117-118),

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    A comunicao, juntamente com o trabalho do lobista, diferencia-se de diversos

    trabalhos, pois uma forma eficaz de gerar relacionamentos duradouros com as diversas

    partes interessadas, sendo uma fonte de informaes para deixar claro os objetivos da

    empresa, seja para o pblico interno ou externo, defendendo assim os seus ideais, ou

    seja, seus valores, viso, misso, produtos, consolidando assim a sua imagem

    institucional.

    Diversos autores apresentam a diferena entre Relaes Pblicas e Lobby.

    Assim, Relaes Pblicas consiste em comunicar e informar os seus diversos pblicos,

    seja o interno ou externo, no atuando, na maior parte das vezes, diretamente com a

    relao existente entre a instituio e o governo; ao contrrio do lobista que atua

    diretamente na conservao de laos comunicacionais entre a instituio que representa

    e o governo, seja do estado ou nacional.

    5. RELAES PBLICAS: FUNO POLTICA

    Um dos pilares das Relaes Pblicas, de acordo com o autor Roberto Porto

    Simes, alm de tratar da relao de poder entre dois ou mais elementos, analisa e

    interfere na relao, de maneira especfica, com cada grupo de interesse; jamais atua,

    globalmente, tomando decises que afetem todos os grupos ao mesmo tempo. (2001, p.

    75)., ou seja, o mesmo tem a funo de analisar a micropoltica dos subsistemas de uma

    organizao, visando o estreitamento de laos internos ou externos, e auxiliando na

    tomada de decises, intermediando as relaes de poder.

    O autor adverte ainda que a atividade deste profissional envolve trs aspectos

    que se agregam: a essncia que est ligada administrao da funo poltica; a

    aparncia que est relacionada administrao da comunicao; e por fim a

    circunstncia voltada a administrar o conflito, mas enfatiza a funo poltica como a

    maior eficcia da atividade e, portanto, a que exige maior preocupao e interesse.

    Roberto Porto Simes afirma Persuadir outros atravs de argumentos lgicos

    para seus prprios pontos de vista ao tica e bsica da democracia, mesmo porque,

    como se expressa Arendt5

    , quando argumentos so usados, a autoridade deixada em

    suspenso. (2011, p.118), ou seja, a ao tica, termo definido pelo autor, se embasa

    atravs do uso de verdades concretas, tendo a tica como principal caracterstica. O

    personagem Nick Naylor a utiliza em diversos momentos do filme.

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    Diferenciando-se da ideia anterior, surge ento, o deslize tico. Para o autor,

    O deslize tico, nesta base, ocorre pela manipulao, quando o dizer

    contm mentiras ou verdades parciais, levando as pessoas a certos

    procedimentos, mas que, caso soubessem a verso completa ou

    correta, teriam outro posicionamento. Wrong6 manifesta-se sobre o

    assunto de forma radical: Manipulao apresenta-se como a forma

    mais desumanizada de poder, at mesmo mais que a fora fsica,

    donde pelo menos a vtima conhecedora e objeto de agresso de seu

    corpo por outros ou a frustrao de suas necessidades bsicas.

    (SIMES, 2011, p.118)

    Portanto o Deslize tico se embasa no uso de verdades parciais, ou at mesmo de

    mentiras, com a finalidade de manipular o receptor. Pois quando as utilizam, no

    proporcionam contedos integrais para uma possvel inverso de opinies. Entre

    diversos exemplos de deslize tico destaca-se a frase dita por Nick Naylor, logo no

    comeo do filme O que a rede de tabaco perderia com a morte desse jovem?, essa

    frase questiona de maneira irnica algo desnecessrio e totalmente perceptvel, pois o

    lobista tenta se defender, e cria aes imediatas, com a finalidade de postergar a imagem

    negativa para outra empresa, Os Roons Goodes deste mundo querem que os Robin

    Willigers morram.

    Mais adiante, Naylor afirma: A propsito, estamos para lanar uma campanha

    de 50 milhes de dlares direcionadas a persuadir jovens a no fumar, em primeira

    instncia, identifica-se o deslize tico, pois como afirmado anteriormente, o profissional

    cria aes imediatas para amenizar os danos. Aps algumas cenas, BR, chefe de Nick

    Naylor, indaga furioso: US$ 50 milhes, voc est louco? O combinado foi US$ 5

    milhes. Surge, ento, a passagem do deslize tico para a ao tica, na qual a empresa

    foi forada a investir 50 milhes em uma campanha antifumo, com a inteno de

    dissuadir jovens e crianas de consumir tabaco.

    Em grande parte dos dilogos existentes no filme, Nick Naylor, utiliza-se e

    apropria-se da persuaso para obter resultados mercadolgicos e institucionais para a

    empresa na qual trabalha, ou seja, em quaisquer que sejam as falas escolhidas para

    anlise, o conceito de ao tica e deslize tico podero ser introduzidos.

    5 Simes apud ARENDT, Hannah. Between Past and Future. Nova York: The Viking Press, 1961,p. 93.

    6 Simes apud WRONG, D. Power. Its Forms, Bases and Uses, cit., p.30.

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    6. CONCLUSO

    A partir da anlise e contextualizao feita sobre a teoria de Relaes Pblicas,

    de Roberto Porto Simes, e conceitos de retrica, observa-se diversas interaes

    comunicacionais de cunho persuasivo. A inteno do emissor, em grande parte, sempre

    implcita, pois o mesmo envia a mensagem com a finalidade de persuadir o receptor.

    So inmeras as estratgias de argumentao usadas para a mesma finalidade.

    O trabalho sintetiza brevemente a teoria de Aristteles sobre a Retrica, seus

    tipos de raciocnio e tambm o Esquema Aristotlico, que consiste na diviso dos

    argumentos de forma com que a ordem dos fatores ajude na elaborao do discurso

    persuasivo. O Lobby, atividade desenvolvida a luz da comunicao persuasiva, utiliza-

    se de inmeras estratgias em seu discurso para induzir o interlocutor aderncia de

    determinada ideia. A relao existente entre manipulao x persuaso est concernente

    relacionado ao padro de conduta, na qual a manipulao representa o mau uso de

    contrato fiducirio7 reflete confiana e lealdade - expondo-se a animosidade

    irreversvel.

    Enfim, nota-se que os termos persuaso e lobby esto interligados. Permitem

    interpretao pessoal sobre o que tico ou antitico. Assim, cada receptor julga as

    mensagens de acordo com seus preceitos, aderindo-as ou no. A anlise totalmente

    interpretativa e pessoal independente do tipo de mdia em que a mensagem persuasiva

    se encontra, ou seja, at um livro ou um filme, no qual o discurso estabelecido de

    forma clara e evidente, possibilitando diversas interpretaes por parte do receptor.

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