objetivos - avm.edu.br luiz da fonseca almeida.pdf · no início da década de 90, uruguai e...

55
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES – UCAM PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE MERCOSUL Um mercado comum na América Latina. OBJETIVOS: Neste trabalho procurou-se obter uma visão abrangente dos estágios de evolução do Mercosul, envolvendo o Brasil, a Argentina, o Paraguai e o Uruguai, possibilitando um aumento do mercado consumidor, além de maiores chances de participação na economia mundial. Por: Manoel Luiz da Fonseca Almeida ORIENTADOR: Marco Antonio Larosa RIO DE JANEIRO, JULHO, 2004.

Upload: trinhquynh

Post on 10-Feb-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES – UCAM

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

MERCOSUL

Um mercado comum na América Latina.

OBJETIVOS:

Neste trabalho procurou-se obter uma visão abrangente dos

estágios de evolução do Mercosul, envolvendo o Brasil, a

Argentina, o Paraguai e o Uruguai, possibilitando um

aumento do mercado consumidor, além de maiores chances

de participação na economia mundial.

Por: Manoel Luiz da Fonseca Almeida

ORIENTADOR: Marco Antonio Larosa

RIO DE JANEIRO, JULHO, 2004.

Page 2: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

2

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a: Saul Pereira de Almeida, Maria Preciosa da Fonseca Almeida,

Otônio Holanda Rego, Maria Francisca Costa.

Page 3: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Maria Rosângela, Daninha, Pepeu, Att e Overcolátero.

Page 4: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

4

Lista de Siglas ALADI - Associação Latino-Americana de Integração

ALACL – Associação Latino-Americana de livre Comércio

ALCA – Área Livre de Comércio das Américas

BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento

CEPAL - Comissão Econômica para América Latina

GATT – Acordo Geral de Tarifas e Comércio

MERCOSUL – Mercado Comum do Cone Sul

NAFTA – Acordo de Livre Comércio da América do Norte

OEA – Organização dos Estados Americanos

OMC – Organização Mundial do Comércio

PIB – Produto Interno Bruto

PICE – Programa de Integração e Cooperação Econômica

TEC – Tarifa externa Comum

UE – União Européia

Page 5: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

5

Lista de Ilustrações Tabela nº 1 - Intercâmbio Comercial Brasileiro – Totais Gerais....................................46 Tabela nº 2 - Intercâmbio Comercial Brasileiro – (1) Mercado Comum do Cone Sul...47 Tabela nº 3 - Intercâmbio Comercial Brasileiro – Mercado Comum do Cone Sul Argentina.........................................................................................................................48 Tabela nº 4 - Intercâmbio Comercial Brasileiro – Mercado Comum do Cone Sul Paraguai...........................................................................................................................49 Tabela nº 5 - Intercâmbio Comercial Brasileiro – Mercado Comum do Cone Sul Uruguai............................................................................................................................50 _____________________________________________________________________ 1 - Mercado Comum do Cone Sul, conforme NOVÍSSIMO DICIONÁRIO DE ECONOMIA de Paulo Sandroni. Ed. Best Seller

Page 6: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

6

Epígrafe

“... o caminho da integração é irreversível. Chegou a hora da verdadeira integração da América Latina”. (Janeiro de 1995, Presidentes dos países membros do Mercosul).

Page 7: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

7

RESUMO Neste trabalho procurou-se obter uma visão abrangente dos estágios de evolução

do Mercosul, visto que consolidou uma integração na América latina, envolvendo o

Brasil, a Argentina, o Paraguai e o Uruguai, que possibilitou um aumento do mercado

consumidor, além de maiores chances de participação na economia mundial.

Dentro do desenvolvimento mostram-se as inúmeras vantagens do processo de

integração econômica com o Mercosul. Além da ampliação do comércio exterior dos

quatro países-membros, pela facilidade com que circulam as mercadorias livremente

entre eles, o Mercado Comum eleva os níveis de produção da indústria através do maior

aproveitamento das economias de escala e dinamiza as atividades do setor comercial

pela ampliação dos negócios de bens e serviços. Ao mesmo tempo, mudanças positivas

se processam na eficiência econômica, na qualidade e quantidade dos fatores de

produção e comercialização, na absorção de tecnologia e na geração de empregos.

Isto permite que as economias dos quatro países possam se inserir mais

competitivamente no mercado internacional onde tecnologias mais avançadas e altos

padrões de qualidade se tornam cada vez mais exigentes.

Conclui-se o trabalho mostrando que para o Brasil, particularmente, além das

vantagens comuns aos demais parceiros, o Mercosul vem proporcionando a abertura de

sua economia.

Palavras-chave: Integração, América Latina, exportação, comércio internacional,

tarifa externa comum

Page 8: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

8

SUMÁRIO

MERCOSUL, O DESENVOLVIMENTO DE UM MERCADO COMUM NA

AMÉRICA LATINA.

INTRODUÇÃO .....................................................................................................10

CAPÍTULO I – A INTEGRAÇÃO DO MERCOSUL E SEUS INTERESSES..........11

1.1 Mercosul – um longo caminho ..........................................................................11

1.2 Com a integração Argentino-Brasileiro surge o Mercosul..................................13

1.3 Paraguai e Uruguai no Bloco...............................................................................14

1.4 Nasce o Mercosul................................................................................................15

CAPÍTULO II – A TRANSIÇÃO................................................................................17

2.1 Principais aspectos do Tratado de Assunção .............. .............. .......................17

2.2 As dificuldades para estabelecer a tarifa externa comum ( TEC).......................20

CAPÍTULO III – MERCOSUL: O DESENVOLVIMENTO NA SUA INTEGRAÇÃO

3.1 Panorama econômico dos países do Mercosul....................................................23

3.1.1 Argentina...........................................................................................................24

3.1.1.a Estrutura Econômica........................................................................................25

3.1.1.b Comércio Exterior...........................................................................................26

3.1.1.c Tendências Econômicas...................................................................................26

3.1.2 Brasil................................................................................................................27

3.1.2.a Estrutura Econômica........................................................................................28

3.1.2.b Comércio Exterior............................................................................................29

3.1.2.c Tendências Econômicas...................................................................................29

3.1.3 Paraguai............................................................................................................30

3.1.3.a Estrutura Econômica.........................................................................................31

3.1.3.b Comércio Exterior...........................................................................................31

3.1.3.c Tendências Econômicas..................................................................................32

3.1.4 Uruguai............................................................................................................33

Page 9: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

9

3.1.4.a Estrutura Econômica....................................................................................34

3.1.4.b Comércio Exterior........................................................................................34

3.1.4.c Tendências Econômicas........................................................................ ......35

3..2 Alca – A integração hemisférica...................................................................35

3.2.1 Divergências.................................................................................................40

CONCLUSÃO......................................................................................................... 45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................... 51

Page 10: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

10

INTRODUÇÃO

A formação de blocos econômicos é um dos principais fenômenos da Segunda

metade do século XX. A iniciativa coube aos países da Europa Ocidental, arruinados

pela 2ª Guerra Mundial, que viam na integração de seus mercados nacionais o elemento

dinâmico para o desenvolvimento econômico. À experiência pioneira e bem sucedida do

Mercado Comum Europeu segue-se a formação de blocos econômicos em praticamente

todos os continentes: ALADI, Grupo Andino, NAFTA, ASEAN, APEC, etc.

Surge, nesse contexto, o MERCOSUL. Seus membros – Brasil, Argentina,

Paraguai e Uruguai – diante da conjuntura desfavorável de negociarem isoladamente

com fortes blocos econômicos, decidiram se reunir. O incremento do comércio no Cone

Sul, além de fortalecer a posição externa do bloco, proporcionou a ampliação das

escalas nacionais de produção graças aos progressos em direção à unificação dos

mercados consumidores.

O MERCOSUL beneficia tantos os países com industrialização recente – Brasil

e Argentina – como países que têm na exportação de produtos primários as suas

principais fontes de receita – Uruguai e Paraguai – que enfrentam dificuldades na

colocação de seus produtos nos mercados norte-americano e europeu, devido ao alto

protecionismo praticado por estes.

Às dificuldades com as contas externas enfrentadas pelos países membros, bem

como a dependência de investimentos externos – altamente voláteis – para a

continuidade do crescimento e do emprego – opção de política econômica adotada,

indicam que ainda existem problemas a serem superados.

Contudo, fortalecer o bloco é condição indispensável para que a futura

integração à ALCA não signifique total submissão à economia norte-americana.

Page 11: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

11

CAPÍTULO I

1 A INTEGRAÇÃO DO MERCOSUL E SEUS INTERESSES.

Um longo caminho foi percorrido para se chegar ao atual estágio de integração

econômica. A idéia de integração da América Latina é um velho sonho. Foi o ideal

propugnado, e não realizado, de Simon Bolívar, no século passado, para a América

Hispânica. O mesmo anseio de unificação ou de confederação estava no espírito de San

Martin. Somente no fim da década de 50, a Comissão Econômica para a América Latina

(CEPAL), da ONU, sediada em Santiago do Chile, conseguia o apoio de todos os

governos para a criação da Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC).

As linhas básicas da entidade tinham grande influência do Tratado de Roma, de 1957,

origem da Comunidade Econômica Européia.

1.1 Mercosul – Um longo caminho

A ALALC, embrião da integração latino-americana e de seus mercados comuns,

começou a funcionar em 1960. Tentou liberalizar o comércio regional, por meio de

negociações abrangentes e reduções tarifárias progressivas. Vinte anos mais tarde, foi

transformada em Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), com objetivo

de incentivar e aprimorar o processo de integração econômica entre os países da

América Latina, através de acordos parciais de liberalização, negociados de forma

bilateral.

A experiência Alalc/Aladi foi relativamente modesta, porém válida. O

enfraquecimento ocorreu, porque seus membros preferiram manter o intercâmbio

comercial, principalmente com os E.U.A. e a Europa, em vez de elevar o comércio

intra-regional.

Page 12: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

12

A viabilidade do sistema foi reduzida, devido à heterogeneidade de desenvolvimento

industrial e econômico, a dificuldades de transporte e de comunicação entre o sul e o

norte da América Latina e à contrastante superioridade tecnológica ou financeira de

alguns países em relação a outros. O México entrou na órbita de influência econômica

dos E.U.A. com adesão ao NAFTA (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) e

houve a formação de um subsistema denominado Pacto Andino.

Frustados ante a impossibilidade de atingir ou reformular os objetivos propostos

nos modelos tradicionais de integração econômica, alguns países da América Latina

procuraram novos modelos, para enfrentar os desafios da economia competitiva

globalizada do final de milênio. Enfrentaram, também, a consolidação de poderosos

blocos regionais e o acirramento da concorrência internacional.

Os projetos de integração, passaram por uma profunda reformulação,

principalmente os da Comunidade do Caribe, do Mercado Comum Centro-Americano e

do Pacto Andino. O fortalecimento das relações bilaterais, por meio de novos acordos

de complementação econômica e de livre comércio, foi a saída encontrada por diversos

países.

Entre os novos espaços planejados de comércio e integração surgiu o

MERCOSUL, que tem como membros Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, cujos

estatutos vigoram desde o primeiro dia de 1995.

Em 1985, na inauguração da ponte que liga as cidades brasileira de Foz do

Iguaçu e argentina de Puerto Iguazú, os presidentes dos dois países firmaram o acordo

de integração denominado “Declaração de Iguaçu”, embrião do MERCOSUL, que

contaria, mais tarde, com a adesão do Paraguai e Uruguai. Foi um dos projetos

integracionistas mais importantes da América Latina, em dimensão e alcance. O modelo

foi considerado um marco na história dos esforços regionais de integração comercial e

econômica.

Page 13: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

13

A consolidação desse mercado não ficou imune a dificuldades e problemas, e

sofreu, algumas vezes, ameaças de interrupção. No entanto, a vontade política dos

quatros governos e a flexibilidade das equipes de negociadores permitiram superar os

obstáculos.

Um dos fatos que demonstra habilidade e harmonia para superar problemas

aconteceu na reunião realizada em Buenos Aires, em agosto de 1994. No encontro, os

presidentes dos quatro países chegaram a um acordo em torno do intrincado assunto da

Taxa Externa Comum (TEC). Transposto o obstáculo, o MERCOSUL começou a

funcionar em 1995.

1.2 Com a integração Argentino-Brasileira surge o Mercosul

Os conflitos e a histórica rivalidade entre Argentina e Brasil foram, aos poucos,

sendo esquecidos, dando lugar à cooperação e ligações econômicas, devido à ascensão

de governos civis e democráticos, que se instalaram depois de um período de regime

militar. Para combater a inflação, renegociar a dívida externa e diminuir o déficit fiscal,

foram aplicados programas heterodoxos de ajustes econômicos na Argentina, em 1985,

e no Brasil, em 1986.

O programa argentino, denominado Plano Austral, constava de uma alentada

redução do déficit governamental e de uma reforma monetária radical, mediante a

criação de nova moeda e o congelamento de preços e salários. O Plano Cruzado,

brasileiro, controlava a emissão monetária e o câmbio, previa o congelamento de preços

e a obediência a uma rigorosa política fiscal.

A relativa estabilidade proporcionada pelos planos econômicos argentino e

brasileiro permitiu rápida expansão no comércio bilateral e estreitamento das relações

diplomáticas. No âmbito comercial, a Argentina deu ênfase às tradicionais exportações

agrícolas para o Brasil e, no refluxo, os argentinos recebiam manufaturados brasileiros.

Page 14: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

14

A semelhança dos programas econômicos nacionais, o incremento do

intercâmbio comercial e a estabilidade política propiciaram uma promissora fase de

cooperação econômica, que se traduziu, em julho de l986, na assinatura do Programa de

Integração e Cooperação Econômica (PICE). O programa baseava-se em protocolos de

cooperação e assistência binacional em diversas áreas produtivas, financeiras, culturais,

tecnológicas e cientificas. Foi o ponto de partida para uma ampla complementação

econômica que conduziria à criação de um mercado comum.

1.3 Paraguai e Uruguai no Bloco

O menor desenvolvimento econômico relativo e a localização geográfica fazem

com que o Uruguai e o Paraguai dependam, economicamente e em grau variado, de seus

vizinhos Brasil e Argentina.

No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto

de 30% do total das exportações para o Brasil. Nos últimos anos, o comércio exterior

uruguaio dependia do Convênio Argentino-Uruguaio de Cooperação Econômica e do

Protocolo de Expansão com o Brasil, que vigoram desde meados dos anos 70. Os dois

acordos privilegiavam as importações de determinadas classes de manufaturados, feitas

pelo Uruguai em relação a terceiros países.

Quando Uruguai e Paraguai perceberam que suas exportações para os mercados

brasileiro e argentino estavam ameaçadas pelo PICE – Programa de Integração e

Cooperação Econômica, eles solicitaram a inclusão no novo bloco regional. Assim,

poderiam evitar a perda de mercado para seus produtos e desfrutar de melhores

perspectivas no mercado internacional. A semelhança das políticas macroeconômicas

dos quatros países favoreceu o projeto MERCOSUL. Em 1990, o governo uruguaio

iniciou um amplo programa de ajuste econômico de controle da inflação, de contenção

do déficit público e de saneamento das finanças públicas, bem com o processo de

liberalização comercial.

Page 15: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

15

Em fevereiro de l989, após a derrubada de uma ditadura de mais de três décadas,

o Paraguai instaurou um austero programa de reestruturação econômica, com intuito de

estimular o desenvolvimento industrial, com reforma fiscal e privatização de empresas

públicas. As diretrizes constam do Programa de Reativação Econômica e Estabilização

Monetária lançado em maio de l990.

1.4 Nasce o Mercosul

A integração na América Latina no âmbito histórico tem-se demonstrado muito

atraente no plano político, mas com as dificuldades quase sempre não se converteram

em uma realidade prática, várias tentativas foram realizadas.

O que se pode observar nos últimos anos foram profundas transformações que

ocorreram e que estão ocorrendo pelo mundo, com isso há um avanço em todos os

mecanismos de integração já conhecidos.

Durante décadas, boa parte do crescimento da maioria dos países da América

Latina teve uma influência do modelo da Comissão Econômica para a América Latina e

o Caribe, e tinha como base a substituição das importações, com a ajuda de um Estado

Centralizador e indutor do processo de industrialização e de produção.

Mas no início da década de 80, em meio aos problemas da dívida externa e do impacto

crescente da globalização dos mercados, além da importância de novas tecnologias, este

modelo deixou de ser hegemônico.

Com o processo de redemocratização de vários países do continente, fez com

que antigas rivalidades não existissem mais ou quase todas, levando várias nações como

a Argentina e o Brasil a defender literalmente a integração da América do Sul, levando-

se em conta a proximidade geográfica e as afinidades culturais.

__________________________________________________________________ 3 - Comércio Exterior – Informe BB – edição nº 15

Page 16: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

16

A década de 90 iniciou-se com uma clara tendência para a segmentação da

economia mundial em blocos regionais, tirando as tradicionais negociações multilaterais

entre os países, pelo agrupamento de países menos industrializados ao redor de um ou

mais países industrializados (centrais).. É importante citar que na América Latina, esta

integração intra-regional e acelerou-se e foi acompanhada por uma abertura e

liberalização comercial diante das demais regiões do mundo.

Este processo teve um grande apoio do governo norte-americano, que formulou

“Iniciativa para as Américas”, assim sendo, as relações econômicas entre os Estados

Unidos e a América Latina foram feitas em três áreas: Investimentos, Comércio

e Reestruturação e Redução das dívidas externas. Algumas dessas transformações

ocorreram num momento em que os países reavaliavam suas relações internacionais,

mediante planos de integração regionais e sub-regionais.

Outro fato importante desta década é que a América Latina recebeu grande parte

dos investimentos estrangeiros realizados em países em desenvolvimento: 80% em 1990

que totalizaram em 1991, trinta e seis bilhões de dólares. Depositando uma

confiabilidade no sistema financeiro internacional na região.

Os blocos regionais de comércio tornaram-se verdadeira moda - ou, talvez, uma

epidemia econômica nestes tempos de reestruturação econômica. Assim, temos a

Comunidade Econômica Européia, que gravita em torno de três países-chaves:

Alemanha, França e Reino Unido; a América do Norte, em torno dos Estados Unidos da

América, e o Extremo Oriente, em torno do Japão.

Um dos objetivos principais da consolidação desses blocos é substituir a

concorrência entre nações pela concorrência entre regiões, mas há toda uma estratégia

de defesa para a formação de outros blocos de mercado, garantindo a sobrevivência dos

que já existem.

Page 17: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

17

Em virtude disso nas Américas, também há tentativas de obter a formação de

alguns blocos regionais como o acordo entre os Estados Unidos, México e Canadá – o

NAFTA; O tratado de Assunção que define o Mercosul, o acordo “quatro mais um”

entre os países integrantes ao Mercosul e os Estados Unidos, além de no futuro alguns

países do Pacto Andino também integrarem o Mercosul no futuro.

O Mercosul - Mercado Comum do Cone Sul - é mais uma tentativa

integracionista que se faz na América Latina, envolvendo o Brasil, a Argentina, o

Paraguai e o Uruguai, possibilitando, em caso positivo, aumento do mercado

consumidor, além de maiores chances de participação na economia mundial.

Devido a sua proximidade cultural e de formação do Estado e da nacionalidade,

o Mercosul, caso se superem as dificuldades econômicas, políticas e jurídicas peculiares

a países em desenvolvimento, que buscam sua adaptação aos tempos modernos, poderá

vir a ser um projeto comunitário dotado de grande vitalidade social e cultural.

CAPÍTULO II

Page 18: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

18

A TRANSIÇÃO

O Tratado do Mercosul foi firmado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai,

na cidade de Assunção, em 26 de março de 1991, e em seguida aprovado pelos

parlamentos nacionais . Após o depósito dos instrumentos que validavam tal ideal, o

Tratado entrou formalmente em vigor no dia 29-11-91.

Existia a necessidade de se adaptar a estrutura institucional do Mercosul às

mudanças ocorridas, e da implementação da união aduaneira. Sendo assim, em 17 de

dezembro de 1994, os Estados-partes assinaram em Ouro Preto, Brasil, o PROTOCOLO

ADICIONAL AO TRATADO DE ASSUNÇÃO SOBRE A ESTRUTURA

INSTITUCIONAL DO MERCOSUL, também denominado PROTOCOLO DE OURO

PRETO, que se incorporou ao Tratado Original de Assunção, dando-lhe uma

configuração definitiva.

2.1 Principais aspectos do Tratado de Assunção

Resumidamente, os objetivos do Tratado de Assunção (4) são os seguintes:

- a inserção competitiva dos quatro países num mundo caracterizado pela consolidação

de blocos regionais de comércio e no qual a capacitação tecnológica é cada vez mais

importante para o progresso econômico e social;

- a viabilização de economias de produção, permitindo a cada um dos países

membros ganhos de produtividade;

- a ampliação dos fluxos de comércio e de investimento com o resto do mundo, bem

como a promoção da abertura econômica regional, favorecendo o livre comércio;

4 – Comércio Exterior – Informe Banco do Brasil – Ano V, Edição nº 16 – 1997

- a melhoria das condições de vida dos habitantes da região.

Page 19: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

19

Deste modo, é necessário que se entenda melhor o significado de um mercado de

livre comércio. Para o Mercosul livre comércio significava:

a) a livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos em países;

b) o estabelecimento de tarifa alfandegária externa comum;

c) a coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os países participantes,

em termos de comércio exterior e políticas agropecuária, industrial, fiscal, monetária,

cambial, de capitais, de serviços, aduaneira (união alfandegária), de transporte e de

comunicações;

d) a harmonização das legislações respectivas;

e) a adoção de política comercial unificada com : e/ou blocos comerciais.

De acordo com suas principais características, o Tratado de Assunção enquadra-

se claramente como um tratado de integração econômica. Observe-se, todavia, que o

Mercosul não se esgota num projeto econômico, pois é concebido tendo em vista a

necessidade de uma "maior justiça social", procurando "o mais eficaz aproveitamento

dos recursos disponíveis", "a preservação do meio ambiente" e "o melhoramento das

interconexões físicas".

Isto demonstra que os processos de integração nascem em redor dos temas

econômicos, para em seguida preocupar-se com outras áreas, como exemplo, a proteção

dos direitos humanos, ainda que predomine a matéria econômica. É possível que o

mesmo processo ocorra com o Mercosul.

O Tratado de Assunção é considerado dentro de uma classificação de tratados

como um tratado misto, pois a adesão de novos membros encontra-se vinculada à

manifestação favorável dos Estados-partes. Entre os objetivos podemos mencionar a

ampliação dos mercados através da integração como condição fundamental para se

acelerar o desenvolvimento econômico com justiça social; adequada inserção

internacional; integração da América Latina; ampliação da oferta e qualidade dos bens e

serviços; e a melhoria das condições de vida dos habitantes da região.

Page 20: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

20

Os princípios presentes no Tratado são a gradualidade, a flexibilidade, o

equilíbrio e a reciprocidade de direitos e obrigações entre os Estados-partes. O princípio

da gradualidade significa que o Mercado Comum se firmará através de sucessivas

etapas, evitando a adoção de medidas que provoquem distorções econômicas graves em

quaisquer dos Estados-partes.

O princípio da flexibilidade é o oposto da rigidez, implicando reconhecer a

impossibilidade de prever todas as situações que a realidade pode apresentar e a

necessidade de adaptar-se a elas. O princípio do equilíbrio importa distribuir tanto o

custo social e econômico como os benefícios da integração. O Tratado de Assunção leva

em conta, ainda, o princípio do tratamento diferenciado, pois reconhece, claramente, as

diferenças econômicas em relação ao Paraguai e Uruguai. A estratégia que se deve

adotar para se alcançar o nível de “Mercado Comum”, seguindo o exemplo da própria

União Européia, implica seguir uma seqüência de zona de livre comércio; união

aduaneira e mercado comum.

Na união aduaneira, aplica-se a tarifa externa comum para os produtos das

demais zonas (5), ou seja, de outros blocos ou países que não fazem parte do tratado. O

mercado comum reúne a livre circulação dos fatores de produção, isto é, o trabalho e o

capital. Sua base é a livre circulação de mercadorias, de pessoas, de capitais e de

serviços. A comunidade econômica implica, numa harmonização das políticas fiscal e

monetária nos países que a integram, ou seja, na coordenação de política

macroeconômica, inclusive com a adoção de uma moeda comum. Isto demonstra que os

Estados-partes do Tratado de Assunção propõem-se a criar um território econômico

comum, no qual haja a livre circulação de bens, serviços, capitais e pessoa, eliminando

qualquer obstáculo entre produtos e produtores nacionais., promovendo o bem-estar

econômico e social de seus povos.

5 – Comércio Exterior – Informe Banco do Brasil Ano V Edição nº 15 – 1997

Page 21: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

21

2.2 As Dificuldades Para Estabelecer A Tarifa Externa Comum (TEC)

As dificuldades para definir a TEC - instrumento adotado pelos países -

membros do MERCOSUL, a ser aplicada às importações de terceiros países - foram

enormes. Através deste instrumento, o MERCOSUL submete-se à competitividade

externa e evita que a indústria de um país seja mais protegida que a de outros. Os

maiores entraves giraram em torno da definição da estrutura básica da TEC e da

elaboração da lista de exceções.

Após muitas negociações, na reunião de cúpula de dezembro de 1992, realizada

em Montevidéu, os presidentes chegaram a um acordo sobre a TEC, que se estruturou

em 11 níveis (de zero a 20%), incidentes sobre a importação. Prosseguiram, também, as

negociações para elaboração de uma “reduzida lista de exceções”, referente a produtos

com tarifas de até 35%.

Em maio de l993, perto de 85% dos 9.000 itens que compoem a nomenclatura

comum de mercadorias haviam sido negociados (6). Nas nomenclaturas tarifárias, que

variam entre zero e 20%, somente três dos 71 Capítulos examinados eram de difícil

harmonização e referiam-se a lácteos, ovos, mel natural, carne, produtos alimentícios,

bebida alcóolicas e tabaco. O capítulo conflitante abrangia a área de combustíveis,

minerais e óleos.

Os capítulos considerados sensíveis, na reunião, tiveram a negociação

postergada e abarcavam eletrônicos, informática, telecomunicações, bens de capital e

petroquímica.

__________________________________________________________________

6. Mercado Comum do Sul – Foro Consultivo Econômico-Social, Confederação Nacional do Comércio, Abril 2000.

Page 22: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

22

As divergências entre os quatro países impediram a aprovação da TEC nas

reuniões presidenciais de Assunção, em 1993, e Colônia de Sacramento, em l994.

Coerente com seus planos de desenvolvimento, o Brasil pronunciou-se pela tarifa

máxima de 35% nos setores que considerava estratégicos: informática, bens de capital e

telecomunicações, entre outros. O posicionamento brasileiro encontrou forte oposição

dos sócios, em particular da Argentina e do Paraguai, que esperavam

maiorliberalização.

A Argentina não aceitava uma TEC elevada, porque contradizia um dos

postulados do Plano de Convertibilidade em que uma profunda reforma tarifária

eliminava todos os impostos às importações de insumos e alimentos que não são

produzidos no país e reduzia as tarifas máximas dos produtos finais e intermediários

para 22 e 11%, respectivamente.

A pretensão brasileira tinha, também, oposição do Uruguai, que assumiu, nas

negociações, uma postura mais rígida, quanto à vigência dos convênios com Brasil e

Argentina. Nenhum país parecia disposto a ceder. O impasse pôs em xeque a vontade e

a capacidade política dos governos e ameaçou adiar, por tempo indeterminado, o

funcionamento do MERCOSUL.

Na reunião de julho de l994, em Buenos Aires, os Ministros da Economia e das

Relações Exteriores dos quatro países aplainaram as diferenças. Um acordo a respeito

da TEC tornou possível o funcionamento do MERCOSUL.

Subscrita, em 5 de agosto de 1994, pelos presidentes da Argentina (Carlos

Menem), Brasil (Itamar Franco), Paraguai (Juan Carlos Wasmosy) e Uruguai (Luís

Alberto Lacalle), a Ata de Buenos Aires tratava das resoluções finais para o

funcionamento do MERCOSUL, a partir de primeiro de janeiro de 1995, cujo conteúdo

é o seguinte:

Page 23: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

23

1) Entrada em vigor da TEC do MERCOSUL com 11 níveis diferentes, de zero a

20%. Os computadores e equipamentos de telecomunicações têm uma tarifa de

16%, com um período de convergência até o ano 2006. As tarifas sobre bens de

capital terão um gravame de 14% e devem ficar no mesmo nível até o ano 2001.

2) Argentina, Brasil e Uruguai têm, cada um, 300 produtos e o Paraguai 399 itens

isentos na lista de exceções da TEC. As tarifas vão coincidir com a TEC até

janeiro de 2001, por meio de aumento ou redução anuais. O Paraguai fará o

mesmo até 2006.

3) Estabelecimento de critérios definitivos para regras de origem a serem aplicadas

aos produtos que gozarão de tratamento tarifário preferencial. Os produtos

originários das zonas francas da Argentina, Brasil e Uruguai (Paraguai não

possui) tendem a pagar a TEC para ingressar no MERCOSUL.

5) Os acordos comerciais bilaterais e sub-regionais dos países do MERCOSUL

vigerão até o ano 2001.

Aprovada no Brasil, em 28.12.94, a TEC estabeleceu as alíquotas do Imposto de

Importação que prevaleceram para o comércio com terceiros países. O imposto incide

sobre mercadorias estrangeiras e tem como fato gerador a entrada delas em território

aduaneiro.

Com a eliminação dos últimos obstáculos para o funcionamento do novo

mercado em janeiro de 1995, os presidentes, eufóricos, divulgaram declaração conjunta,

na qual afirmaram que (8) “... o caminho da integração é irreversível. Chegou a hora da

verdadeira integração da América Latina”.

_________________________________________________________________ 8 – Mercosul, Foro Consultivo Econômico Social – Confederação Nacional do Comércio, Abril-2000

Page 24: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

24

CAPÍTULO III

MERCOSUL : O DESENVOLVIMENTO NA SUA INTEGRAÇÃO

3.1 Panorama econômico dos países do Mercosul

A parte do continente americano conhecida por América Latina compreende

todos os países nos quais o idioma falado provém do latim, por terem sido colonizados

por espanhóis, franceses e portugueses. A região latino-americana agrupa países da

América do Sul, da América Central - à exceção dos países dominados pelos holandeses

e ingleses - e um país da América do Norte, o México. A partir da década de 90, a

política econômica implantada pelos países latino-americanos tem-se direcionado à

manutenção do equilíbrio macroeconômico, com vistas a minimizar a grave situação

Econômico-Social enfrentada pela região durante muitas décadas. As autoridades

governamentais entendem prioritária a política de reforma estrutural para garantir o

funcionamento, em novas bases, das respectivas economias. No entanto, a

reestruturação econômica vem-se efetivando em ritmo lento, embora avanços

importantes tenham sido obtidos por alguns países.

Em 1997, registrou-se taxa de crescimento econômico em torno de 3%,

resultante do compromisso do governo de cada país latino-americano com o livre

mercado, com a privatização de empresas e com a manutenção da inflação em níveis

baixos, que é, este último, a principal meta da maioria dos países. Paralelamente,

elevou-se o volume de investimentos estrangeiros na região e houve maior abertura

externa, mediante acordos regionais que visam eliminar barreiras tarifárias entre sócios

comerciais.

A liberação comercial do MERCOSUL proporcionou, nestes últimos anos, um ímpeto

sem precedentes no comércio intra-zona. O comércio regional entre membros do bloco

cresceu cerca de 312% entre 1991 e 1999, chegando, no final do ano passado, à casa dos

Page 25: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

25

20 bilhões de dólares. Resultado natural dessa nova dinâmica econômica, cresceu

enormemente o número de parcerias entre empresas da região. Apenas as joint ventures

entre empresas brasileiras e argentinas já totalizavam investimentos de cerca de 2

bilhões de dólares.

Nas principais economias, o consumo e os salários reais continuam em

descompasso com o crescimento macroeconômico. O latino-americano da classe média,

hoje, vive pior do que em 1982, quando houve a crise da dívida externa. Os orçamentos

cronicamente desequilibrados continuam a ser um dos maiores obstáculos ao

crescimento. Os déficits fiscais precisam ser controlados para reduzir as taxas de juros,

que, quando altas, tornam a economia e, em especial, o sistema bancário vulneráveis a

choques externos, notadamente, ao efeito causado pelo aumento da taxa de juro norte-

americana. A América Latina necessita de crescimento anual sustentado de cerca de 6%,

para reduzir sensivelmente o desemprego e a pobreza generalizada e, por conseguinte,

participar efetivamente da nova era da globalização comercial.

3.1.1 ARGENTINA

No século XVI, quando os espanhóis aportaram no Rio da Prata, a região da

Argentina era habitada por tribos dispersas de indígenas. No século seguinte, no

território que ainda pertencia ao Vice-Reinado do Peru, as missões jesuíticas

impulsionaram a produção agropecuária. Em 1776, o desenvolvimento produtivo e

comercial transformaram o porto de Buenos Aires, fundado em 1580, em capital do

Vice-Reinado do Prata. No início do século XIX, frustaram-se as tentativas inglesas de

ocupar a região do porto de Buenos Aires, depôs-se o vice-rei espanhol e proclamou-se,

em 1816, a independência da Argentina. De 1825 a 1828, ocorreu a luta entre as

Províncias Unidas do Rio Prata, atualmente Argentina, e o Brasil, pela posse do

território da Banda Oriental, atualmente Uruguai, que era denominado, à época, de

Província Cisplatina. A guerra culminou com a independência do Uruguai, que contou

com o apoio dos argentinos.

Page 26: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

26

Em relação ao MERCOSUL, ostenta a maior renda per capita, figura no segundo

lugar em extensão territorial e é o principal parceiro comercial do Brasil, 25

posição ocupada, também, em relação à América Latina. A capital, Buenos Aires,

abriga um terço da população e tem o principal porto na foz do Rio da Prata. Há áreas

pouco povoadas, tais como a Patagônia, no sul, e o Chaco, no norte. A Argentina é

tradicional produtora de carne e de cereais. Possui solo rico em minérios, dentre os

quais destaca-se o petróleo.

Por muitas décadas, os argentinos suportaram altas taxas de inflação. O

problema inflacionário agravou-se com a crise econômica de 1982, que provocou a

maxidesvalorização da moeda local e a retração do sistema financeiro argentino. Em

conseqüência, o crescimento econômico foi afetado pela especulação do capital. Foram

alocados recursos insuficientes na produção do país, o que gerou hiperinflação. Tornou-

se, portanto, imperioso estabilizar a economia para a retomada do crescimento. No

início da década de 90, o governo conseguiu vencer a hiperinflação e a economia

Argentina começou a apresentar sinais de estabilidade.

3.1.1.a Estrutura Econômica Após um período de desindustrialização e de prolongada estagnação econômica,

ocorrido entre as décadas de setenta e de oitenta, a indústria argentina passou a dar

sinais de recuperação, no início de 1990. A indústria é formada por conglomerados

nacionais e multinacionais; estes estão retornando ao país, motivados pelo crescimento

econômico argentino. Os investimentos têm sido aplicados, notadamente, no setor de

alimentação. A atividade econômica não é desenvolvida de modo uniforme pelo

território argentino. Em 25% da área que compreende a Capital Federal e as províncias

de Buenos Aires, Códoba, Santa Fé e Entre Rios, concentram-se 70% da população,

estão instaladas 76% das industrias do país e são desenvolvidos 43% da atividade

agrícola. Nas regiões Noroeste e Nordeste, a atividade econômica depende muito da

agricultura e a mão de obra, em grande parte, é absorvida pelo setor público.

Page 27: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

27

3.1.1.b Comércio Exterior

Muitas décadas com a economia relativamente fechada levaram o país à redução

do fluxo comercial com o Brasil, o Paraguai e o Uruguai. Com a criação o

MERCOSUL, em 1991, alargaram-se os horizontes de integração da Argentina com os

países vizinhos. A integração vem-se desenvolvendo de modo contínuo e progressivo,

para a consolidação do Bloco no comércio internacional. Nesta década, as exportações

argentinas cresceram e foram lideradas pelos produtos manufaturados, de origem

agrícola e industrial, e pelos derivados de petróleo. O Brasil se tornou o maior mercado

comprador de produtos argentinos. O estreitamento das relações comerciais com o

Brasil revela uma atuação ampla das indústrias da região do MERCOSUL. Para os

Estados Unidos e para a Europa, as exportações evoluíram moderadamente. Por outro

lado, houve aumento da importação de produtos dos mais variados setores industriais,

dentre os quais os de bens de capital, que foram adquiridos para modernizar a indústria

argentina. O crescimento das importações, que tem afetado o resultado da balança

comercial, decorre da liberalização comercial, da valorização da moeda argentina e do

rápido crescimento da demanda interna. A crise do México, também, interferiu na

economia argentina e obrigou as autoridades a um rigoroso ajuste nas contas.

4.1.1.c Tendências Econômicas

Para o período ano de 2004, as projeções indicam crescimento moderado da

economia, cerca de 3% ao ano, devido ao desequilíbrio fiscal e comercial. Continuarão

aumentando as importações e será maior o déficit nas contas correntes. A taxa de

desemprego terá de merecer, ainda, a atenção do governo argentino, que, com o apoio

do FMI, se mantém em observância ao plano de reforma fiscal e estrutural. O sistema

financeiro será fortalecido e a inflação, mantida em níveis baixos.

Page 28: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

28

O crescimento monetário estabilizou-se: porém, o resultado da movimentação

cambial, entre o dólar e peso argentino, tem sido de pouca monta. Há indicativo de que

a safra agrícola, para 2004, chegará a níveis recordes e, por conseqüência, o volume da

exportação de trigo para o Brasil será o dobro do último resultado. São boas as

perspectivas nos setores de mineração, de petróleo, de construção e de veículos.

3.1.2 Brasil

À época do descobrimento pelos portugueses, em 1500, a terra brasileira era

habitada por cerca de 1,5 milhão de índios, que falavam diferentes línguas e se

agrupavam, sob o regime patriarcal, em diferentes tribos. A fase colonial caracterizou-se

por três ciclos econômicos (9): do pau-brasil, da cana-de-açúcar - a principal atividade

da época - e do ouro, encontrado no final do século XVII, na região de Minas Gerais.

Na primeira metade do século XIX, apoiado pela elite rural, o herdeiro da coroa

portuguesa, D Pedro I, decretou o fim da fase colonial e tornou-se o primeiro imperador

da nação brasileira. Foi promulgada a primeira Constituição que estabeleceu os poderes

executivos - sob o regime monárquico - legislativo e judiciário. Na primeira metade do

século XIX, a história brasileira foi marcada por importantes fatos político-econômicos:

a abolição do comércio de escravos; o investimento no cultivo do café (o principal

produto de exportação), na pequena indústria e em infra-estrutura; a chegada de

imigrantes europeus, que desenvolveram o comércio e a indústria regionais; e a

consolidação do regime republicano, em 1889, que culminou com o banimento da

família imperial.

9 – Furtado, Celso – Formação Econômica do Brasil - 1995 25 edição - Companhia Editora Nacional

Page 29: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

29

No território brasileiro, há vários recursos naturais, tais como terras férteis,

minérios, florestas e potencial hídrico. A atividade econômica concentra-se nos estados

de São Paulo - o maior centro industrial -, Rio de Janeiro e Minas Gerais, os quais

participam em cerca de 60% do PIB brasileiro. O Rio de Janeiro vem dando mostras de

que atingirá taxas significativas de crescimento, cuja participação do PIB brasileiro é

maior do que o PIB chileno e equivalente ao PIB venezuelano. Outros estados

brasileiros têm sido beneficiados com projetos industriais: Bahia e Rio Grande do Sul

(complexo petroquímico), Minas Gerais (automóveis) e Espírito Santo (portos).

O Brasil efetua grande parte do comércio exterior do MERCOSUL. Em extensão

territorial e em PIB, figura entre os maiores do mundo e ocupa o primeiro lugar em

relação ao MERCOSUL e à América Latina. A economia do país tem convivido com

moeda estável - o real. Medidas governamentais promoveram a redução dos índices

inflacionários e estão sendo direcionadas para a redefinição das funções do Estado na

economia brasileira. Leis protecionistas e reservas de mercado vêm sendo eliminadas.

Por conseqüência, a indústria enfrenta a concorrência estrangeira no mercado interno e

ocorre aumento da taxa de desemprego. Apesar da baixa produtividade média, a

agricultura ainda é responsável por grande parte das exportações. No campo, a

existência de latifúndios improdutivos justifica as reivindicações dos trabalhadores

rurais e faz da reforma agrária uma da questões mais discutidas no país.

Page 30: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

30

3.1.2.a Estrutura Econômica

O setor industrial do Brasil, o maior da América latina, começou a desenvolver-

se no início da década de trinta. Durante a Segunda Guerra, a indústria brasileira foi

impulsionada pela maior participação do Estado na economia e pela necessidade de

fornecer bens de capital para fomentar a produção industrial. Na segunda metade da

década de 50, destacou-se o setor de bens de consumo durável, notadamente, o setor de

veículos automotivos. Na área agrícola, o Brasil é um dos maiores exportadores

mundiais, cujo desempenho tem sido favorecido pela estabilidade climática e pelo

aumento de recursos governamentais, destinados à formação de estoque regulador de

preços e à produção industrial. No entanto, a agricultura carece, ainda, de investimentos

oficiais para desenvolver-se plenamente por todo território. A mecanização em larga

escala, por exemplo, concentra-se, apenas, em duas regiões do país: nos estados do Sul e

em parte do Centro-Oeste, onde predomina o cultivo da soja por meios

tecnologicamente avançados.

Após o surpreendente crescimento no PIB, registrado entre os anos sessenta e

setenta, a década seguinte foi marcada pelo esforço de se manter o resultado da

produção em níveis economicamente suportáveis. No período de 1990 a 1992, houve

recessão, mas a economia deu mostras de recuperação em 1993. O crescimento

econômico foi liderado pela indústria de bens. A indústria automobilística quebrou o

recorde de vendas populares no mercado interno, em decorrência da redução de taxas

autorizada pelo governo.

Page 31: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

31

3.1.2.b Comércio Exterior

As exportações brasileiras são diversificadas, no tocante ao tipo de bens

produzidos e de mercados consumidores. A União Européia (UE), os Estados Unidos e

Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) são os maiores compradores de produtos

brasileiros. Nas vendas externas, cerca de um terço dos ganhos provém do comércio de

produtos primários. A taxa de crescimento das exportações brasileiras é fortemente

influenciada pela variação de preços internacionais, os quais, por sua vez, são afetados

pela capacidade de o Brasil suprir o mercado externo com determinados produtos. No

entanto, o Brasil depende, indiscutivelmente, de investimentos na infra-estrutura

industrial para produzir bens mais sofisticados. A implantação de programa de

privatização, ainda em curso, tem provocado impacto na base industrial brasileira, em

particular, nos subsetores metalúrgico e petroquímico.

De 1980 a 1990, o Brasil obteve excelentes resultados comerciais, que

mantiveram os serviços da dívida externa brasileira, haja vista que, no período, o

ingresso de capital estrangeiro era reduzido. De 1990 a 1992, houve recuperação do

fluxo de capital, reestruturação da dívida brasileira junto a banqueiros externos e

redução das importações. Nos dois anos seguintes, aumentaram as compras externas e

foi fortalecido o PIB. A partir de 1994, a balança comercial brasileira passou a registrar

resultados negativos. Para desaquecer a demanda por importações, o governo brasileiro

adotou, em 1995, medidas de restrição ao crédito - mediante elevação de juros - e à

importação de veículos e de outros bens de consumo durável - mediante sobretaxa de

tarifas.

Page 32: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

32

3.1.2.c Tendências Econômicas

Com aprovação da emenda constitucional que permitiu a reeleição presidencial e

com as privatizações de várias empresas estatais houve um ingresso substancial de

recursos para investimentos no Brasil a partir de 1997. O aumento no fluxo líquido

possibilitou ao governo financiar o déficit das contas correntes. Ao tempo que o

governo prossegue adotando medidas para reduzir o déficit fiscal e incrementar as

exportações , continua tentando obter, junto ao congresso, aprovação para as reformas

constitucionais. As taxas de juros deverão manter-se em patamares elevados para evitar

o aquecimento da economia e conter o déficit comercial, que se avolumou, de modo

rápido e acentuado, a partir do quarto trimestre de 1996. A inflação pode ter pequenas

elevações, resultante do crescimento da demanda por produtos. As industrias, inclusive

a de bens de capital, recuperaram o ritmo de produção, e o setor automobilístico

continua a se expandir. Foi concluída a privatização do setor petroquímico e vendida a

quase totalidade da rede ferroviária federal. As telecomunicações e bancos públicos, na

sua maioria, também foram privatizados. Projetar o desempenho da conta corrente a

médio e a longo prazo depende do volume e do tipo de capital que venha a ingressar no

País, do sucesso do programa de privatização e das alterações, que se pretende efetuar

na constituição brasileira.

3.1.3 Paraguai

Os índios guaranis, que até hoje marcam forte presença no Paraguai, viviam na

região quando os espanhóis começaram a colonizá-la em 1535. Após cerca de um

século, para proteger os guaranis da escravidão, os jesuítas construíram missões, que se

estendiam pelo sudeste do Paraguai, nordeste da Argentina e noroeste do Rio Grande do

Sul.

Page 33: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

33

Nas missões, estabeleceu-se uma sociedade organizada e auto-suficiente. Caçadores de

escravos, espanhóis e portugueses atacavam as missões e encontravam forte resistência

dos índios. Os jesuítas foram expulsos da América, em 1767, os índios, massacrados e

as missões, pilhadas e partilhadas pelos colonizadores.

O isolamento dos colonos e a falta de grandes riquezas na região permitiram o

desenvolvimento de uma estrutura social relativamente igualitária em relação aos

demais domínios espanhóis. Em 1811, o Paraguai torna-se independente da Espanha. O

ditador José Gaspar Rodríguez de Francia isola o país, no período de 1814 a 1840, ano

de sua morte. O isolamento é reduzido pelo sucessor, Carlos Antônio López, que adotou

política de desenvolvimento industrial autônomo e autorizou a construção da primeira

ferrovia sul-americana. Durante o governo de Francisco Solano Lopez, o país foi à

guerra contra Brasil, Argentina e Uruguai, sendo totalmente destruído.

O Paraguai é o menor país do MERCOSUL, em extensão territorial e em renda

per capita. Não tem saída para o mar e possui uma grande área alagada, o chamado

Chaco. O rio Paraguai corta o território e, graças à navegabilidade, serve de elo entre o

norte e o sul do país, além de ser a principal via para a exportação. As hidrelétricas

construídas em associação com Brasil (Itaipu) e Argentina (Yaciretá) dão ao Paraguai

energia abundante e barata. A população tem grande composição indígena e a maioria

dos paraguaios fala guarani. A base da economia é a agropecuária e o comércio de

produtos que são importados com isenção de taxas.

3.1.3.a Estrutura Econômica À exceção da região Chaco, as terras paraguaias são de boa qualidade. Cerca de

59% do território é destinada à agricultura, à pastagem, à extração de madeira e é

formada por florestas. A agricultura e a silvicultura, juntamente com o setor pesqueiro,

compõem a base da economia do país, totalizam cerca de 27% do PIB, representam

grande potencial das vendas externas e absorvem, aproximadamente, 40% da força de

trabalho.

Page 34: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

34

A produção industrial representa 22% do PIB paraguaio, depende, sobremaneira,

do setor agrícola e é composta, predominantemente, por indústrias de pequeno porte,

que produzem para o mercado interno. De 1988 a 1989, a produção industrial cresceu

6%, aproximadamente, sofreu queda drástica, em 1992, e voltou a se recuperar em 1993

e 1994, anos em que se registrou, respectivamente, aumento de 2% e 1,5%. Há dois

fatores que vêm influindo na área industrial: o compromisso do governo em privatizar

empresas estatais e a adesão do Paraguai ao MERCOSUL. O segundo fator está

forçando as empresas a se tornarem mais competitivas e, por conseguinte, produzem

mais para o mercado externo.

3.1.3.b Comércio Exterior

Após o déficit comercial que se prolongou pela década de oitenta, a alta do

preço da soja e do algodão influiu no superávit registrado em 1989. Entretanto, em

decorrência da liberalização das importações, a balança comercial paraguaia voltou a

registrar, a partir de 1990, déficit comercial crescente, que chegou, em 2003, a cerca de

32

US$ 1 milhão. Nos anos 80, a soja e o algodão foram substituídos por produtos

alimentícios e por madeira, que passaram a ter maior importância nos resultados das

vendas externas, a ponto de ocuparem, em 1990, a terceira posição entre os produtos

mais vendidos ao exterior. Em 2003, a soja suplantou o algodão e foi o principal

produto de exportação paraguaia. Nas importações, predominam maquinaria, veículos,

peças e acessórios, combustível, bebidas alcoólicas e fumo, muitos dos quais são

vendidos ao mercado externo.

Ao contrário do que ocorre com a maioria dos países latino-americanos, os

Estados Unidos não são o principal parceiro comercial do Paraguai. Em 1994, os

Estados Unidos ocuparam o quarto lugar em exportações e o terceiro em importações.

Page 35: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

35

A criação do MERCOSUL favoreceu o comércio do Paraguai com Argentina e

Brasil, que são os maiores mercados supridores do país. A Associação Latino-

Americana de Integração (Aladi) dispensa ao Paraguai tratamento especial, com vistas a

incrementar o comércio entre ele e os países latino-americanos, o que não tem surtido os

efeitos desejados. Vêm-se somando resultados comerciais negativos sucessivos, de

valor considerável, junto aos parceiros do MERCOSUL.

3.1.3.c Tendências Econômicas

A recessão, que causou, em 1995, impacto no sistema bancário, continua

interferindo no crescimento da economia paraguaia. Para 2004 e 2005 respectivamente,

há perspectiva de crescimento do PIB em torno de 2,5% e de 3,0%, bem como de

aumento da inflação, que atingirá cerca de 12% e 13%. Continuará volumoso o déficit

comercial, que poderá ser coberto com os ganhos do comércio informal, uma das

atividades econômicas mais importantes do Paraguai. A recessão refletiu-se na receita

fiscal. As autoridades monetárias têm emitido títulos do tesouro para financiar o déficit

fiscal. A política econômica mantém-se direcionada para a privatização, embora venha

ocorrendo resistências de entidades, dentre elas o sindicato dos metalúrgicos. Evolui

pouco o processo de venda da Usina Hidrelétrica de Yaciretá, e a dívida da Itaipu

Binacional continua a crescer. Apesar do bom desempenho do setor de soja, a

agricultura contraiu-se em 1%, devido ao fraco resultado obtido com a produção

algodoeira.

3.1.4 URUGUAI

Antes do domínio europeu, a região do Uruguai era habitada por índios. Do

século XVII ao século XVIII, portugueses e espanhóis dominaram partes da região e

Page 36: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

36

fundaram colônias. Em 1726, os espanhóis expulsaram os portugueses do Uruguai e

transformaram a região em colônia espanhola, que, em 1776, passou a integrar o Vice-

Reinado do Prata em 1776. No início do século XIX, o país foi ocupado por forças luso-

brasileiras e, em 1821, anexado ao Brasil, sob a denominação de Província Cisplatina.

Quatro anos mais tarde, um grupo de patriotas, conhecido como os “33 orientais”,

proclamou a independência uruguaia e reuniu tropas que, com a ajuda da Argentina,

expulsaram os brasileiros em 1827. No ano seguinte, por intermédio do Tratado do Rio

de Janeiro, o Uruguai, apoiado pela Inglaterra, consolida-se como nação independente

do Brasil e da Argentina.

O Uruguai ocupa uma vasta planície às margens do Rio da Prata, no sudeste da

América Latina. É o menor país da América do Sul, depois de Suriname. Em relação ao

MERCOSUL, é a menor nação e uma das maiores rendas per capita. Até a década de

60, era conhecido com a “Suíça sul-americana”, pela prosperidade econômica, elevados

padrões sociais e estabilidade política. No entanto, a base econômica apoiada

tradicionalmente na agropecuária foi insuficiente para fomentar a industrialização. Além

disso, o país dispõe de poucos recursos minerais e energéticos. Na década de 70, o

declínio econômico somou-se ao repressivo regime militar e à atuação da guerrilha, o

que provocou emigração maciça dos jovens. Atualmente, o Uruguai visa desenvolver o

turismo e explorar as possibilidades abertas pelo MERCOSUL para superar as

dificuldades econômicas e sociais.

3.1.4.a Estrutura Econômica

O Uruguai é um país pequeno, cujas terras, em grande parte, são produtivas. O

setor agrícola representa cerca de 8,5% do PIB uruguaio. A importância da agricultura

reside no fato de fornecer à indústria matérias-primas e gerar receitas com as vendas ao

exterior. O principal produto agrícola de exportação é o arroz. A criação de gado para

o corte e para a produção de lã representa a base da economia do Uruguai, fato este que

Page 37: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

37

coloca o país entre os maiores produtores do mundo. Grande parte da produção de carne

é destinada ao consumo interno, sem prejuízo da exportação do produto.

Tradicionalmente, os produtos derivados da lã eqüivalem, aproximadamente, a 20% da

produção mundial.

Na área industrial, o Uruguai produz bens intermediários, tais como produtos

químicos e petróleo refinado. O setor madeireiro é de pequeno porte e supre a demanda

interna por móveis e papel. Os bens de consumo dominam a produção uruguaia,

notadamente, os setores de alimentos, de vestuário, têxtil, de calçados e couro, que têm

papel de relevo nas exportações. Desde o final dos anos 80, o setor industrial tem-se

empenhado para adaptar-se à competição provocada pelo aumento das importações, em

particular, as procedentes dos países do MERCOSUL. A maior queda na produção

industrial ocorreu em 1993. No ano seguinte, registrou-se desempenho significativo do

setor automobilístico e de petróleo refinado.

3.1.4.b Comércio Exterior

No período de 1987 a 2002, as vendas externas uruguaias cresceram à taxa anual

média de 7,3%. Contudo, os produtos tradicionais na exportação, tais como carne e lã,

vêm apresentando desempenho menos expressivo do que os não tradicionais, em

decorrência da variação do preço dos produtos e do volume da produção. Ainda assim,

os produtos tradicionais têm participação significativa no total das vendas ao exterior. O

volume de importações foi aumentado gradativamente e atingiu a culminância em 2002,

ano em que se registrou o dobro do valor obtido em 1990. O resultado decorreu do

déficit comercial de 1991, que cresceu, de modo acentuado, nos três anos seguintes.

35

As causas principais foram o aumento do consumo de produtos uruguaios por turistas

argentinos - motivados pelo fortalecimento da moeda argentina - e do consumo interno

de produtos duráveis - especialmente de automóveis - e de não duráveis, cujo volume

das importações, de 1992 a 1994, elevou-se a 4,8%, aproximadamente.

Page 38: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

38

3.1.4.c Tendências Econômicas

O crescimento de 10,7%, registrado no quarto trimestre de 1999, ultrapassou os

prognósticos oficiais e revelou, portanto, uma recuperação marcante da economia

uruguaia. As projeções indicam que o resultado se estenderá por 2004, apesar de uma

provável redução moderada do PIB. O ingresso de capital estrangeiro deverá se manter

em excelentes níveis e a recuperação econômica argentina trará reflexos positivos para a

exportação e o turismo uruguaios. As previsões econômicas para 2004 deverão

continuar no ano seguinte, o que levará o PIB a crescer a uma taxa próxima dos 3,8%. A

inflação vem-se mantendo em níveis mais baixos do que os registrados nos últimos

quinze anos e o índice de desemprego tem-se reduzido moderadamente. A inflação

anual, projetada para 2004, deverá atingir 14%. No entanto, vem crescendo o déficit do

setor público. O volume de importações superou o das exportações, embora tenha

havido, em 1999, desempenho significativo das vendas ao exterior. O ingresso de

capital estrangeiro contribuiu para o fechamento superavitário da balança de

pagamentos. Ainda que se mantenham em efetiva expansão as exportações, o volume

das importações deverá causar o aumento do déficit comercial.

3.2 Alca – a integração hemisférica

Em meados do século passado, foi inaugurado, nos Estados Unidos, um

escritório comercial para as Américas que evoluiu até a atual Organização dos Estados

Americanos (OEA). Apesar de inúmeras contribuições, não se transformou no principal

canal para processar o comércio hemisférico e ser o fórum privilegiado de exposição

das diferenças do continente.

Page 39: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

39

O processo afetivo de liberalização do comércio foi lançado a partir da chamada

“Cúpula das Américas” que, em dezembro de 1994, reuniu- se em Miami e,

posteriormente, lançou uma série de iniciativas negociadoras em duas reuniões

ministeriais: Denver, EUA, em junho de 1995, e Cartagena, Colômbia, em março de

1996. À exceção de comparecerem à Cúpula 34 chefes de Estado dos países do

hemisfério, para discutir as bases de um acordo de livre comércio, com data de

referência para o ano 2005.

A proposta de criação da Área de Livre Comércio das Américas - Alca, abrange

todo o continente americano, do Alasca à Terra do Fogo. Deliberou-se, desde o início,

que os ministros de comércio exterior dos países subscritores deveriam se reunir

anualmente. Em Miami, os presidentes emitiram uma Declaração de Princípios e

adotaram um Plano de Ação baseado em premissas de alto conteúdo político,

econômico e social, tais como:

- preservação das democracias;

- promoção da prosperidade mediante a integração econômica e o livre

comércio;

- erradicação da pobreza e da discriminação;

- garantia de desenvolvimento sustentável para as economias locais; e

- preservação do meio ambiente.

A Alca acompanha a tendência de liberalização comercial em todo mundo, onde

a integração dos países é uma condição de sobrevivência. Existem, na atualidade, 76

áreas de comércio, mais de 50% delas criadas a partir de 1990, reforçando a disposição

de se buscar consumidores além das fronteiras, pois, cada vez mais, é difícil sobreviver

apenas do comércio interno. Por sua vez, os resultados alcançados nos acordos sub-

regionais existentes revelam o potencial do processo integracionista no hemisfério.

O nome em inglês é Free Trade Area of the Americas (FTAA) e tem como um

dos objetivos eliminar as barreiras comerciais existentes entre os países da região, para

criar um mercado comum, mediante a suspensão da cobrança de tarifas aduaneiras.

Page 40: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

40

É um mega projeto que envolve uma população de quase 800 milhões de

pessoas em um PIB estimado em US$ 8,8 trilhões. Um mercado com potencial para

multiplicar negócios que representam cerca de 50% das correntes de comércio mundial.

As questões envolvidas são complexas, incluindo países social e

economicamente diferenciados, com capacidade produtiva e comercial distintas.

Os princípios previamente adotados pelas autoridades para construção da Alca

incluem:

X maximização da abertura dos mercados com bases nos acordos existentes no

hemisfério;

X a plena convergência com os dispositivos da OMC;

X a abrangência de todas as áreas contempladas no Plano de Ação, o que demonstra a

intenção de ampliar as áreas de que tratam os acordos negociados pelo GATT, na

Rodada Uruguai.

No Plano de Ação, ficou acertado que o comitê Especial de Comercial (CEC),

da OEA, realizaria a sistematização e a análise comparativa de todos os acordos

vigentes no hemisfério. Junto com ele, o Banco Interamericano de Desenvolvimento

(BID), organismo importante na conformação da Alca, foi escolhido para fornecer

subsídios às negociações. A integração não visa somente à área de comércio, e sim tudo

que a acompanha: investimentos, diálogo político e eliminação de desconfianças entre

os países.

A gama de informações necessárias para viabilizar a área comum de comércio é

imensa. Exige padronização de assuntos tão diversos como normas estatísticas, critérios

comuns de contabilização de balanços de empresas e procedimentos burocráticos nas

liberações alfandegárias. O Brasil, por exemplo, adota uma série de exigências por

setores diversos, não compatíveis, muitas vezes, com os procedimentos de outros países.

A OEA e o BID criaram um banco de dados para agregar aspectos da legislação

aduaneira, normas e procedimentos, entre outros temas.

Page 41: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

41

Hoje, predominam no comércio as transnacionais. O mecanismo da integração é,

de fato, o interesse estratégico das grandes empresas exportadoras, pois é a formação de

zonas de livre comércio que move a união de países. As conversações na Alca estão

concentradas em questões relacionadas com a criação de um código comum de

valorização aduaneira e normas técnicas para facilitar negócios. A maior parte da

agenda refere-se ao marco regulador dos mercados domésticos, que envolve normas

38

sobre investimento, padrões de qualidade, propriedade intelectual, compras governa-

mentais, política de concorrência, dentre outros temas.

Na I Reunião Hemisférica de Ministros de Comércio, em Denver, foi aprovada a

criação dos sete Grupos de trabalho (Gts), que iniciaram negociações preliminares com

vistas à liberalização comercial nas Américas:

• acesso a mercados

• direitos aduaneiros e regras de origem

• investimentos

• normas e barreiras técnicas ao comércio

• medidas sanitárias e fitossanitátias

• subsídios e medidas anti-dumping e direitos compensatórios

• economias menores

Na Cúpula de Cartagena, foram criados grupos de trabalho adicionais em quatro

áreas: direitos de propriedade intelectual, serviços, aquisições governamentais e

políticas sobre competição.

Na 3ª Reunião Ministerial sobre Comércio, realizada em maio de 1997, em Belo

Horizonte (MG), acordou-se, ainda, a criação de um grupo de trabalho sobre solução de

controvérsias.

Page 42: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

42

Especificações dos Grupos de Trabalho:

Acesso a Mercados - Desenvolver um banco de dados sobre as políticas comerciais dos

países do continente, com informações sobre picos tarifários, tratamento específico,

barreiras não-tarifárias (modelo UNCTAD) e estatísticas de comércio exterior; e fazer o

acompanhamento dos demais Gts devido à grande área de confluência existente.

Dumping, Subsídios e Medidas Compensatórias - Compilação das legislações nacionais,

análise de como foi feita a regulamentação dos acordos da Rodada Uruguai e quais os

procedimentos de investigação adotados pelos países; e definição de disciplinas para a

concessão de subsídios na região.

Investimentos - Compilação e inventário dos acordos existentes na região; computaram-

se 32 acordos, sendo 29 de proteção de investimentos.

Barreiras técnicas - O documento de referência para a análise do GT foi feito pelo Brasil

(INMETRO/MICT).

Medidas Sanitárias e Fitossanitátias - Referem-se a produtos agropecuários e agro-

industriais, inventário das medidas e ajustamento das legislações à OMC, buscando-se a

transparência na troca de informações e notificações dos regulamentos técnicos, para

evitar a criação de barreiras ao comércio

Procedimentos Alfandegários e Regras de Origem - Foi preparado inventário sobre

procedimentos alfandegários e regras de origem. Com o apoio do BID, será publicado

um Guia de procedimentos Alfandegários do Hemisfério. Em relação às regras de

origem, também há análise comparativa do BID.

Economias Menores - Discussão sobre como classificar uma economia menor: de forma

geométrica (Ilhas do Caribe, por exemplo) ou econômica (PIB, renda per capita, etc.).

Page 43: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

43

Propriedade Intelectual, Política de Concorrência e Compras Governamentais - Os Gts

sobre o assunto, criados em Cartagena, apresentaram recomendações em Belo

Horizonte, mas não, ainda, recomendações negociadoras.

Serviços - Pretende-se que as negociações nesta área se limitem ao que foi acordado no

âmbito da OMC. No hemisfério, apenas os EUA e o Caribe, em função do segmento de

turismo, são superavitário na conta de serviços, enquanto os demais países são

deficitários. Além disso, o GT tratará da coleta de dados sobre comércio de serviços e

outros temas.

3.2.1 Divergências

Os governos americano e brasileiro lideram os dois processos regionais - Nafta e

MERCOSUL - que existem dentro da área de livre comércio no hemisfério. Na presente

década, o governo brasileiro abriu a economia, aboliu a reserva de mercado no setor de

informática e reformulou a Lei de Patentes, entre outras providências de interesse norte-

americano. No entanto, o protecionismo dos EUA continua afetando os segmentos

dinâmicos da pauta de exportações brasileiras.

O Brasil tem um território quase tão grande quanto o dos EUA, assim como

34,9% da população e 35,4% do PIB da América Latina. O interesse brasileiro é apoiar

a integração hemisférica, sem abandonar a prioridade atribuída à consolidação do

MERCOSUL. A estratégia é consolidar os ganhos obtidos com o bloco, com um

comércio que saltou de US$ 5 bilhões (1991) para US$ 15 bilhões (1995). A

metodologia pretendida para sua implementação é a de que a integração deverá ser

construída a partir da convergência gradual dos diversos esquemas sub-regionais

existentes (conceito de “building blocks”).

Page 44: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

44

Os EUA são o maior país da nova área, detêm mais de 70% do PIB da Alca e

têm pressa em abrir o mercado latino-americano, em especial o brasileiro. Para os EUA,

a Alça é fundamental. O comércio exterior é responsável por 30% do PIB do país -

praticamente o dobro dos 13% de 1970. Mas o crescimento futuro depende da conquista

de novos mercados internacionais e apostar na América Latina pode ser o mais certo,

pois acredita-se que, no ano 2010, os EUA terão a capacidade de importar mais do que o

Japão e a Europa juntos.

Os EUA desejam que se inicie o processo pela liberalização econômica,

enquanto que os países do MERCOSUL entendem que deve haver uma redução gradual

de tarifas com procedimentos alfandegários harmonizados e regras de origem clara e

previsíveis. A principal diferença entre as duas propostas é, pois, o ritmo das

negociações e as prioridades. Se o MERCOSUL teme abrir seu mercado para setores

novos, como serviços, os EUA têm um ponto sensível: seus subsídios à agricultura.

A posição do MERCOSUL é evitar uma exposição precoce das economias dos

quatro países a novo choque de abertura do comércio exterior, principalmente tendo em

vista o tamanho e a capacidade competitiva da economia norte-americana. Participa das

negociações de forma conjunta e esta atitude representa uma força política muito eficaz,

pois é o único a negociar sob a forma de bloco. O Nafta, por sua vez, não existe na

atualidade da Alca: seus membros decidiram atuar individualmente nas negociações.

Alca e Nafta têm em comum o fato de serem áreas de livre comércio. Isso

significa que não têm tarifas de importação ou política aduaneira unificadas: contam,

apenas, com acordos que facilitam o comércio na região. Já o MERCOSUL é uma união

aduaneira nos moldes da União Européia, o que significa que está em patamar mais

avançado na integração regional.

Page 45: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

45

Quanto a qualquer outro país pequeno da América Central, a situação é outra,

pois para eles recomenda-se tarifa zero. Além, disso, nenhuma diferença faz ter uma

cláusula mais exigente na área do meio ambiente ou da propriedade intelectual, porque

seu comércio externo é praticamente inexistente. Para a maioria dos países da América

Latina, como não são de forte base industrial, ganhariam mais do que perderiam com

uma desoneração tarifária.

A continuidade do processo implica o reconhecimento dos desafios inerentes a

uma negociação envolvendo 34 países, marcados por grandes diferenças quanto ao

tamanho, estrutura de suas economias, características sociais e culturais.

No ano de 2005, a Alca será o mais representativo grupo comercial e econômico da

planeta. Abrangerá uma área territorial imensa e praticamente toda ela contínua, com

vastos recursos humanos, naturais, tecnológicos e financeiros, congregando nações de

economias extraordinariamente avançadas, como Estados Unidos e Canadá, além de

outras, tais como Brasil, México, Argentina, Venezuela e Chile, cujo potencial de

desenvolvimento é incalculável.

Mais complexas que as questões tarifárias, que poderão ser deixadas para o final,

deverão ser as adequações nas listas de mercadorias exportadas, com milhares de itens.

Antes de baixarem-se tarifas, tem-se de fazer equalizações, facilitar negociações

setoriais, padronizar normas técnicas e pesos e medidas e analisar outros fatores como o

câmbio.

A convergência de propostas é condição considerada essencial para o início

formal das negociações em torno da criação da Alca, previsto para março de 1998, após

reunião de cúpula dos chefes de Estado, em Santiago, no Chile.

Page 46: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

46

Resoluções do III Encontro das Américas

Como previsto, realizou-se no início de maio de 1997, a terceira reunião entre os

ministros dos países das três Américas, dentro do cronograma de formação da Alca. O

evento ocorreu em Belo Horizonte e resultou nos seguintes pontos principais:

• as negociações para a formação da Alca foram lançadas na II Cúpula das

Américas, em março de 1998, em Santiago, no Chile e as diversas rodadas de

negociações deverão estar concluídas até o ano de 2005, prazo limite para o

início da implementação da Alca;

• o acordo sobre a Alca terá de ser aceito por consenso pelos 34 países;

• as regras da Alca serão consistentes com as normas da OMC;

• a Alca poderá coexistir com acordos bilaterais e sub-regionais existentes e com

os que vierem a ser criados no futuro;

• os países que fazem parte de blocos regionais poderão negociar a formação da

Alca em grupo ou individualmente;

• os vice-ministros continuarão a dirigir e coordenar as atividades dos grupos de

trabalho;

• será criado o 12º Grupo de Trabalho, para analisar as regras sobre a solução de

controvérsias; e

Há um obstáculo no documento final; trata-se do “fast track” (via rápida). Por

este mecanismo, o congresso norte-americano autoriza o executivo a negociar acordos

comerciais que, depois, o legislativo aprova ou rejeita em blocos, sem poder emendá-

los. Os países latino-americanos, MERCOSUL à frente, acham que, enquanto o

presidente norte-americano não dispuser do “fast track”, as negociações serão

inclonclusivas.

Page 47: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

47

A posição do MERCOSUL de que os presidentes deveriam estar preparados

para lançar as negociações da Alca em março de1998, no Chile, prevaleceu a declaração

assinada pelos ministros. Isso terá o efeito de adiar a abertura econômica propriamente

dita, para um momento menos conturbado para o bloco. Em contrapartida, o

MERCOSUL abriu mão de garantir na declaração que as negociações devem ser feitas

em três fases diferentes, mas mantém essa posição para as próximas reuniões. O

MERCOSUL também concordou com a transformação das reuniões futuras em Comitê

Preparatório para a Alca.

Na qualidade de União Aduaneira, os princípios do MERCOSUL são

compatíveis com o disposto no Artigo 24, do Acordo Geral de Tarifas e Comércio

(GATT) e com as disposições do Acordo de Marrakesch, que estabeleceu a Organização

Mundial do Comércio (OMC). Este fato tem-se demonstrado através das consultas ao

Grupo de Trabalho criado pela OMC especificamente para o MERCOSUL. Em todas as

sua decisões, o MERCOSUL segue as regras da organização referentes ao comércio

internacional, o que comprova o caráter transparente e não excludente da iniciativa de

integração.

O MERCOSUL tem defendido a manutenção do processo hemisférico dentro

dos limites dos acordos firmados no âmbito da Rodada Uruguai, do GATT, e, desse

modo, tem rejeitado a lógica denominada “GATT-plus”, defendida pelos EUA e com a

qual pretendem obter, mediante negociação da Alca, compromissos mais profundos do

que os alcançados na Rodada, sobretudo na área dos chamados “novos temas”, como

propriedade intelectual, investimentos e serviços.

O MERCOSUL surgiu ao amparo do sistema multilateral de comércio e

pretende manter-se sob suas regras, de que é exemplo a constituição, na estrutura

institucional sub-regional, de um foro específico com atribuição de assegurar a

conformidade de todos os atos firmados, pelos quatro parceiros de integração, com os

compromissos assumidos perante a OMC.

Page 48: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

48

Para ser aceito como entidade nas discussões sobre comércio mundial, o

MERCOSUL depende de aprovação da OMC. A integração já havia sido examinada

pelo GATT, que tem o poder de impor sanções, desde que haja descumprimento dos

acordos selados na Rodada.

Com a assinatura da Ata Final, em 15 de abril de 1994, que incorpora os

resultados das negociações comerciais multilaterais da Rodada Uruguai e o conseqüente

Acordo Constitutivo da OMC, a situação não se alterou. No documento, foi firmado o

Entendimento sobre a Interpretação do Artigo XXIV, do GATT 1994, que apenas

adapta as antigas disposições do GATT 1947, para controlar melhor a formação e a

atuação das uniões aduaneiras e áreas de livre comércio.

O MERCOSUL se posicionou de modo hierarquicamente inferior ao GATT e à OMC,

quando a Organização foi constituída em 1994. Assim, o bloco editou as decisões 15/91

e 8/94, do Conselho do Mercado Comum, bem como as Resoluções 75/93 e 20/95, do

Grupo Mercado Comum, em que se coloca obediente à OMC.

5. CONCLUSÃO

Page 49: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

49

A aproximação brasileira de seus vizinhos do Cone Sul originou-se na década de

1980, por razões econômicas e não econômicas. Entretanto, na década de 1990 esta

aproximação forjou-se em um contexto de liberalização comercial.

Desde janeiro de 1995, os países que formam o Mercosul, Argentina, Brasil,

Paraguai e Uruguai estão intercambiando, com algumas exceções, produtos com tarifas

zero e aplicando a Tarifa Externa Comum – TEC para importação de terceiros

mercados.

Pelo substancial crescimento dos negócios nos últimos anos, as perspectivas são

bastantes otimistas, pois caminha o Mercosul para ser a quinta economia do mundo,

depois dos Estados Unidos, da União européia, do Japão e da China.

Com o início da União Aduaneira e da Zona de Livre Comércio entre os quatro

países-membros do bloco constitui-se nova era na história do comércio exterior dos

quatro países.

TABELA Nº 1 - INTERCÂMBIO COMERCIAL BRASILEIRO

Page 50: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

50

US$ 1000 F.O.B - TOTAIS GERAIS

ANO EXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO SALDO

1990 31.413.756 20.661.362 10.752.394

1991 31.620.439 21.040.471 10.579.968

1992 35.792.986 20.554.091 15.238.895

1993 38.554.769 25.256.001 13.298.768

1994 43.545.149 33.078.690 10.466.459

1995 46.506.282 49.971.896 -3.465.614

1996 47.746.728 53.345.767 -5.599.039

1997 52.994.341 59.747.227 -6.752.886

1998 51.139.862 57.763.476 -6.623.614

1999 48.011.444 49.294.639 -1.1283.195

2000 55.085.595 55.838.590 -752.995

2001 58.222.642 55.572.176 2.650.466

2002 60.361.786 47.240.488 13.121.298

2003 73.084.140 48.259.592 24.824.548

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Secretaria de Comércio Exterior - SECEX

Sistema ALICE

TABELA Nº 2 - INTECÂMBIO COMRCIAL BRASILEIRO

MERCADO COMUM DO CONE SUL – MERCOSUL

Page 51: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

51

US$ F.O.B TOTAIS GERAIS

ANO EXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO SALDO

1990 1.320.244.279 2.311.826.777 -991.582.498

1991 2.309.352.601 2.242.704.519 66.648.082

1992 4.097.469.283 2.228.563.468 1.868.905.815

1993 5.386.909.641 3.378.254.340 2.008.655.301

1994 5.921.475.981 4.583.270.397 1.338.205.584

1995 6.153.768.222 6.843.923.909 -690.155.687

1996 7.305.281.948 8.301.547.326 -996.265.378

1997 9.046.603.318 9.426.133.443 -379.530.125

1998 8.878.233.843 9.416.203.081 -537.969.238

1999 6.777.871.670 6.719.417.521 58.454.149

2000 7.733.069.745 7.795.394.443 -62.324.698

2001 6.363.655.405 7.009.316.148 -645.660.743

2002 3.310.816.530 5.611.214.574 -2.300.398.044

2003 5.671.852.729 5.685.896.243 -14.043.514

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Secretaria de Comércio Exterior - SECEX

Sistema ALICE

TABELA Nº 3 - INTECÂMBIO COMRCIAL BRASILEIRO

Page 52: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

52

MERCADO COMUM DO CONE SUL – ARGENTINA

US$ 1000 F.O.B

ANO EXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO SALDO

1990 645.140 1.399.720 -754.580

1991 1.476.170 1.609.295 -133.125

1992 3.039.984 1.731.625 1.308.359

1993 3.658.779 2.717.266 941.513

1994 4.135.864 3.661.966 473.898

1995 4.041.136 5.591.393 -1.550.257

1996 5.170.032 6.805.467 -1.635.435

1997 6.769.941 7.941.276 -1.171.335

1998 6.748.204 8.023.468 -1.275.264

1999 5.363.954 5.812.384 -448.430

2000 6.232.746 6.842.421 -609.675

2001 5.002.489 6.206.180 -1.203.691

2002 2.341.867 4.743.279 -2.401.412

2003 4.561.146 4.673.238 -112.092

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Secretaria de Comércio Exterior - SECEX

Sistema ALICE

TABELA Nº 4 - INTECÂMBIO COMRCIAL BRASILEIRO

Page 53: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

53

MERCADO COMUM DO CONE SUL – PARAGUAI

US$ 1000 F.O.B

ANO EXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO SALDO

1990 380.484 331.513 48.971

1991 496.114 220.546 275.568

1992 543.320 194.998 348.322

1993 952.320 275.609 676.711

1994 1.053.623 352.455 701.168

1995 1.300.733 514.654 786.079

1996 1.324.582 552.239 772.343

1997 1.406.683 517.518 889.165

1998 1.249.436 350.622 898.814

1999 744.284 260.362 483.922

2000 831.785 351.351 480.434

2001 720.199 300.207 419.992

2002 558.455 383.088 175.367

2003 707.180 474.750 232.430

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Secretaria de Comércio Exterior - SECEX

Sistema ALICE

TABELA Nº 5 - INTECÂMBIO COMRCIAL BRASILEIRO

Page 54: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

54

MERCADO COMUM DO CONE SUL – URUGUAI

US$ 1000 F.O.B

ANO EXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO SALDO

1990 294.621 580.594 -285.973

1991 337.068 412.863 -75.795

1992 514.166 301.940 212.226

1993 775.811 385.379 390.432

1994 731.988 568.850 163.138

1995 811.899 737.877 74.022

1996 810.668 943.841 -133.173

1997 869.979 967.340 -97.361

1998 880.594 1.042.113 -161.519

1999 669.634 646.672 22.962

2000 668.539 601.622 66.917

2001 640.968 502.930 138.038

2002 410.495 484.847 -74.352

2003 403.527 537.908 -134.381

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Secretaria de Comércio Exterior - SECEX

Sistema ALICE

Page 55: OBJETIVOS - avm.edu.br LUIZ DA FONSECA ALMEIDA.pdf · No início da década de 90, Uruguai e Paraguai destinavam, cada um (2), perto de 30% do total das exportações para o Brasil

55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 Almanaque Abril. São Paulo, 1998.

2 Balança Comercial Brasileira – Mercosul – Ministério do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior, Secretaria de Comércio Exterior, Departamento de

Operações de Comércio Exterior, Gerência de Estatísticas e Sistemas de Comércio

Exterior. - 2003

2 Comércio Exterior – Informe Banco do Brasil – Edição , 2003

3 Curso sobre Mercosul – ESAF –

4 Exame, edição especial. São Paulo, 1996

6 Furtado, Celso. Formação Econômica do Brasil – 25 ed. São Paulo: Companhia

Editora Nacional.

7 Mercado Comum do Cone Sul, Foro Consultivo Econômico-Social – Confederação

Nacional do Comércio, Abril 2000.

8 Mercosul, textos básicos. Ministério das Relações Exteriores, Brasil - 2002