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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE – UNIVALE FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS – FHS CURSO DE PSICOLOGIA Cínthia Karla Garcia Pereira Cínthia Sinarah Gomes de Oliveira Nayara Aparecida da Silva Samille Schmid O VÍNCULO MATERNO-INFANTIL DURANTE A HOSPITALIZAÇÃO DA CRIANÇA E O PAPEL DO PSICÓLOGO COMO MEDIADOR DESTA RELAÇÃO Governador Valadares Junho de 2010

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Page 1: O VÍNCULO MATERNO-INFANTIL DURANTE A HOSPITALIZAÇÃO DA ... · principalmente na teoria de Donald Woods Winnicott ... partir do nosso interesse de unir psicanálise, ... adoecimento

UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE – UNIVALE

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS – FHS

CURSO DE PSICOLOGIA

Cínthia Karla Garcia Pereira

Cínthia Sinarah Gomes de Oliveira

Nayara Aparecida da Silva

Samille Schmid

O VÍNCULO MATERNO-INFANTIL DURANTE A

HOSPITALIZAÇÃO DA CRIANÇA E O PAPEL DO

PSICÓLOGO COMO MEDIADOR DESTA RELAÇÃO

Governador Valadares

Junho de 2010

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CÍNTHIA KARLA GARCIA PEREIRA

CÍNTHIA SINARAH GOMES DE OLIVEIRA

NAYARA APARECIDA DA SILVA

SAMILLE SCHMID

O VÍNCULO MATERNO-INFANTIL DURANTE A

HOSPITALIZAÇÃO DA CRIANÇA E O PAPEL DO

PSICÓLOGO COMO MEDIADOR DESTA RELAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC apresentado

ao curso de Psicologia da Faculdade de Ciências

Humanas e Sociais da Universidade Vale do Rio

Doce, como requisito parcial à obtenção de título de

Graduado em Psicologia.

ORIENTADORA: Maria Luíza Camargos Torres.

Governador Valadares

Junho de 2010

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CÍNTHIA KARLA GARCIA PEREIRA

CÍNTHIA SINARAH GOMES DE OLIVEIRA

NAYARA APARECIDA DA SILVA

SAMILLE SCHMID

O VÍNCULO MATERNO-INFANTIL DURANTE A HOSPITALIZAÇÃO DA CRIANÇA E O PAPEL DO PSICÓLOGO COMO MEDIADOR DESTA RELAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC apresentado

ao curso de Psicologia da Faculdade de Ciências

Humanas e Sociais da Universidade Vale do Rio

Doce, como requisito parcial à obtenção de título de

Graduado em Psicologia.

ORIENTADORA: Maria Luíza Camargos Torres.

Governador Valadares, ___ de ____________ de _______.

Banca Examinadora:

_________________________________________ Maria Luíza Camargos Torres – Orientadora Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE

_________________________________________

Profª. Solange Nunes Leite Batista Coelho Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE

_________________________________________

Prof. Walter William Barreto Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE

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Dedicamos este trabalho a nossos pais, que não

mediram esforços para que chegássemos até aqui.

Pelo reconhecimento de que nossos estudos são um

presente de vocês para nós, nada mais justo do que

presenteá-los também, com esta nossa produção.

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente aos nossos pais, pelo apoio, incentivo e amor constantes. Responsáveis pelo fim dessa importante etapa e por cada conquista nossa.

À nossa orientadora Maria Luiza pela paciência, compreensão e instrução oferecida. Indispensável para a conclusão deste trabalho.

A todos que de alguma forma nos auxiliaram nesta realização, tornando possível o que antes era apenas uma idéia, esperando para ser desenvolvida. Muito Obrigada!!!

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“(...) mesmo nos casos em que está em jogo um fator orgânico, a criança não tem só que fazer face a uma dificuldade inata, mas ainda à maneira como a mãe traduz este defeito num mundo fantasmático que acaba por ser comum aos dois.”

Mannoni

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RESUMO

O presente estudo é sobre a importância da relação mãe-filho e como isso pode contribuir para a vivência de internação da criança. Essa pesquisa é baseada principalmente na teoria de Donald Woods Winnicott, Françoise Dolto, Valdemar Augusto Angerami-Camon entre outros. Através desse referencial pretendemos responder a seguinte questão: qual a importância do relacionamento mãe e filho durante a hospitalização da criança? Para tanto, buscamos a compreensão de como se dá o vínculo materno-infantil; o entendimento das especificidades da hospitalização infantil e suas implicações tanto para a própria criança adoecida quanto para a sua família, em especial a mãe. Pesquisamos também sobre o papel e desempenho do psicólogo hospitalar, no sentido de auxiliar a criança e sua mãe no enfrentamento, compreensão, aceitação e tratamento da doença. Este trabalho tem como objetivos: analisar o referencial teórico a respeito do tema escolhido; averiguar a relação existente entre a presença da mãe e resposta ao tratamento; e constatar sobre as possibilidades de atuação do psicólogo visando amenizar o sofrimento experimentado durante a hospitalização da criança. Através do estudo realizado, podemos concluir que o vínculo materno, quando bem estabelecido, se apresenta como fator diferencial no tratamento da criança hospitalizada, transmitindo confiança, segurança e apoio necessários para que se viva o momento de adoecimento da melhor maneira possível. Nesse sentido, o profissional da psicologia se mostra também como facilitador desse processo, desenvolvendo atividades que visem o fortalecimento do vínculo entre mãe-filho e criando condições para elaborações psicológicas que promovam a recuperação da criança.

Palavras-chave: Vínculo materno-infantil. Hospitalização. Criança.

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ABSTRACT

This study is about the importance of mother-child relationship and how it can contribute to the internment experience of the child. This research is based mainly on the theory of Donald Woods Winnicott, Françoise Dolto, Waldemar Augusto Angerami Camon, among others. Through this reference intend to answer the following question: how important the relationship between mother and child during the child's hospitalization? To this end, we seek to understand how the two mother-child bond, the understanding of the specificities of childhood hospitalization and its implications both for the child as diseased for your family, especially her mother. We also analyze the role and performance of the hospital psychologist, to help the child and his mother in coping with, understanding, acceptance and treatment of disease. This work aims to: examine the theoretical framework on the topic chosen; investigate the relationship between the mother's presence and response to treatment and see the possibilities of the psychologist in order to alleviate the suffering experienced during hospitalization of the child. Through the study, we conclude that the maternal bond, when well established, is presented as a differential factor in the treatment of hospitalized children, transmitting confidence, security and support necessary for people to live the time of illness the best way possible. In this sense, the professional psychology is also shown as a facilitator of this process, developing activities aimed at strengthening the bond between mother and child and creating conditions for psychological elaborations that promote the child's recovery.

Keywords: Maternal-infant bonding. Hospitalization. Child.

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SUMÁRIO

1 APRESENTAÇÃO 9

2 O VÍNCULO MATERNO-INFANTIL 12

3 O ADOECIMENTO E HOSPITALIZAÇÃO DA CRIANÇA 23

4 O PSICÓLOGO, A CRIANÇA HOSPITALIZADA E SUA MÃE 32

5 CONCLUSÃO 42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 44

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1 APRESENTAÇÃO

A escolha do tema se deu devido a nossa curiosidade pela área hospitalar,

apesar de não termos acesso a esse conteúdo durante a graduação, pudemos

através de livros, artigos científicos, revistas especializadas e cursos conhecer um

pouco mais dessa possibilidade de campo para atuação do psicólogo. Durante a

nossa formação acadêmica apresentamos também interesse pela área infantil e

afinidade com a abordagem psicanalítica, acreditando que a mesma é uma

ferramenta eficaz na busca de uma melhor compreensão sobre a vida do indivíduo.

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica elaborada a

partir do nosso interesse de unir psicanálise, crianças e a área hospitalar, através de

um projeto realizado com base na teoria de autores como D.W. Winnicott, Françoise

Dolto, René A. Spitz, Marisa Decat de Moura entre outros.

É nosso interesse conhecer melhor a função do psicólogo no ambiente

hospitalar, esta afinidade do grupo foi nosso primeiro motivo para a definição da

tema. Acreditamos que há muito a ser feito pelo psicólogo dentro dos hospitais,

dessa forma, vemos em nosso trabalho de conclusão de curso a oportunidade de

conhecer nosso papel nesta área de atuação.

Este trabalho promoverá uma maior conscientização a respeito da

importância do relacionamento entre mãe e filho, sendo este vínculo não apenas

sinônimo de carinho e afeto, mas também um fator relevante para a construção da

personalidade da criança, e no momento da internação se constitui como um

instrumento facilitador ou não da compreensão, aceitação e tratamento da doença.

Acreditamos que o projeto auxiliará no estudo da influência dos

relacionamentos familiares no processo de adoecimento, tratamento e recuperação

da criança, acrescentando informação à teoria já existente, tendo assim relevância

científica, uma vez que se constitui como construção de conhecimento.

O presente estudo possui também relevância profissional, uma vez que nos

apresenta um lugar de atuação para o profissional da psicologia dentro do hospital.

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No que diz respeito às crianças hospitalizadas, esse papel é ainda mais nítido, pois

são muitos os fatores a serem trabalhados e observados pelo psicólogo, objetivando

uma melhor elaboração daquele momento de sofrimento experimentado por ela.

Através desse trabalho poderemos vislumbrar uma forma de se trabalhar com o

adoecimento infantil, voltando a nossa atenção não apenas para o aspecto físico da

criança, mas também para os seus fatores emocionais e familiares que podem

contribuir para a evolução desse quadro.

A pesquisa se torna condescendente por abordar a necessidade de ver o

adoecimento da criança sob uma ótica que não esteja restrito ao físico, mostrando

assim que o vínculo materno deve ser observado como um fator importante no

processo de tratamento da doença. A relação da criança com seus familiares pode

influenciar a recuperação de várias formas. Psicanalistas há muito tempo já

defendem o pensamento de que a relação mãe e filho na infância é determinante na

construção da personalidade do indivíduo.

A questão que vai nortear a presente pesquisa é: Qual a importância do

relacionamento mãe e filho durante a hospitalização da criança e as possibilidades

de atuação do psicólogo neste contexto?

Muitos autores falaram a respeito da importância do relacionamento

estabelecido entre mãe e filho desde o nascimento até o decorrer da infância, pois

ele é determinante na construção da personalidade e na visão de mundo do

indivíduo.

De acordo com D. W. Winnicott é especialmente no início que as mães são

vitalmente importantes, e de fato é tarefa da mãe proteger o seu bebê de

complicações que ele não pode entender dando-lhe continuamente aquele

pedacinho simplificado do mundo que ele, através dela passa a conhecer.

Sendo assim, podemos entender que desde o começo da vida a criança

percebe o mundo através dos olhos de sua mãe e é nossa intenção entender a

maneira como o momento da doença é vivido pela criança a partir do que a mãe

passa para ela.

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A hospitalização por si só já representa um fator gerador de tensões, que

não somente envolve o paciente, como a todos que estão inseridos no processo de

saúde/doença. Para a criança hospitalizada a situação é ainda mais difícil do que

para o adulto, pois a doença é um ataque à criança como um todo, afetando-a em

sua integridade física, emocional e social.

Levando em consideração o momento da hospitalização e a teoria já

existente, o grupo pretende compreender a maneira como mãe e filho vivem esta

situação atípica, e se ajudam ou atrapalham no enfrentamento da doença, podendo

trazer conseqüências positivas ou negativas para a cura da criança.

A teoria winnicottiana nos apresenta dois tipos de mãe: a mãe

suficientemente boa que se identifica estreitamente com o filho e adapta-se

perfeitamente às suas necessidades; e a mãe insuficientemente boa que não tem a

capacidade de se identificar com as necessidades da criança. Podemos formular as

seguintes hipóteses:

• O relacionamento com a mãe pode funcionar como um membro

facilitador na dinâmica do processo da cura ou recuperação da

criança.

• O psicólogo hospitalar poderá, através de seu trabalho, proporcionar

situações que podem fortalecer esse vínculo existente entre mãe e

filho, para que o mesmo seja benéfico ao momento experimentado

pela criança.

Este trabalho tem como objetivo principal verificar como a relação mãe e

filho interfere no momento da internação da criança e como o psicólogo pode

trabalhar no sentido de fortalecer este vínculo.

Sendo os objetivos específicos: a) analisar o referencial teórico a respeito

do tema escolhido; b) averiguar a relação existente entre a presença da mãe e

resposta ao tratamento; c) e constatar sobre as possibilidades de atuação do

psicólogo visando amenizar o sofrimento experimentado durante a hospitalização da

criança.

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2 O VÍNCULO MATERNO-INFANTIL

Para Winnicott (1975), o bebê depende inteiramente do mundo que lhe é

oferecido pela mãe, porém o mais importante é o desconhecimento de seu estado

de dependência por parte do mesmo. Em sua mente ele e o meio são uma coisa só.

Nesta etapa, o filho vive o inconsciente da mãe, está ligado à mãe física e

psicologicamente, dependendo dela para tudo.

Neumann citado por Portillo (2001) afirma que na relação inicial de mãe e

filho, que ele chama de “relação primal mãe-filho”, a criança vive e experimenta o

corpo da mãe como sendo dela mesma. Não possui consciência capaz de

discernimento, percepção e controle do seu próprio corpo.

O bebê quando nasce é um ser indefeso e incapaz de sobreviver por meios de seus próprios recursos, portanto o que lhe falta deve ser suprido por um adulto cuidador. Muito mais do que alimentação e higiene, o bebê necessita de contato afetivo continuo advindo de uma figura constante, com a qual estabelece relações de apego e que assegura e favorece o seu desenvolvimento biopsiquico. (Mello, 2008 p. 127)

Desde os primeiros meses de vida a criança precisa de uma única pessoa

que lhe sirva de relacionamento eletivo, para que ela consiga se centrar em seu

próprio interior. Essa pessoa “escolhida” (na maioria das vezes a mãe ou substituta)

é também a mediadora de todas as outras, pois o indivíduo precisa da relação com o

outro para se fundamentar. Ele sente-se completo com a presença e a fala da mãe,

e é através disso que ele constitui a sua identidade.

Segundo Ledoux (1995) ao se introduzir na obra de Françoise Dolto, a mãe

é tranqüilizadora por carregar a criança, pelas carícias, pelas brincadeiras corpo-a-

corpo, e é humanizante pelo efeito da fala. Ela é mediadora das percepções, ela

confere, graças à fala, um valor significante às sensações. Sem a fala do outro as

percepções da criança só se cruzam com seu próprio corpo.

Ao ouvir, o bebê conhece a si próprio através de quem fala com ele. A troca

de olhares dentro das relações cria uma intimidade e proporciona descobertas e o

reconhecimento dos afetos que rodeia e aproxima duas pessoas. Um bebê, ao

nascer, necessita de diferentes cuidados. A interação inicial com a mãe é

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fundamental para todo o processo de desenvolvimento da criança. É a partir dela

que são construídas as interações afetivas e sociais com o ambiente. Assim, o papel

da mãe é essencial para o desenvolvimento não apenas orgânico, mas também

psíquico do filho.

Logo após o nascimento a criança se torna um objeto parcial da mãe,

durante o aleitamento e os cuidados corporais ela se sente como parte do ser

materno, ao mesmo tempo em que a enxerga como um objeto parcial dele mesmo.

Entretanto, apesar dessa etapa ser ausente de consciência, é possível o

acontecimento de experiências. São experiências vivenciadas sem a percepção

sujeito-objeto, mundo interno–externo, tal como ocorre com o adulto, mas são

experiências vivenciadas através da união mãe e filho, já que o filho está

indiferenciado tanto do corpo como da psique da mãe, assim como aparece a fome

e instala-se o desconforto, aparece o seio nutridor que restabelece o conforto; os

dois sentimentos, para o bebê surgem da mesma fonte.

Neumann apud Portillo (2001) afirma que para a criança nessa fase, a

mãe não está nem dentro nem fora; para o bebê os seios não fazem parte de uma

realidade separada de si e externa; seu próprio corpo não é experimentado como

seu. Mãe e filho continuam tão interligados como na fase uterina, como se

formassem uma unidade; só que a unidade que formam é dual.

Na interação mãe e filho, o bebê não é apenas receptor das influências do

ambiente, mas é também ativo, pois gera importantes modificações no seu meio,

cabendo à mãe interpretar as suas necessidades físicas e psíquicas, e contribuir no

sentido de atendê-las. Portanto a interação se dá neste ambiente familiar, no qual

um influencia o outro em um processo contínuo de desenvolvimento.

Esse processo pode facilmente ser visto quando as ações do bebê agradam

à mãe e são facilitadas por ela, influenciando diretamente o desenvolvimento de seu

filho. “Se sua atitude é maternal e carinhosa, ela aprecia praticamente todas as

atividades do filho. Seus afetos, seu prazer, suas próprias ações, conscientes ou

inconscientes, facilitam inúmeras e várias ações do filho” (Spitz, 1998 p. 125)

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A convivência deste novo indivíduo com a realidade deve ser de forma

gradativa, de acordo com os níveis de experiências alcançados através da relação

da mãe com o bebê. A mãe é a principal pessoa capaz de apresentar o mundo ao

bebê de forma adequada e que lhe faça sentido.

Pouco a pouco a criança identifica-se, pois, com a sua mãe, segundo um primeiro modo de relação, que subsistirá, aliás, a vida toda, mesmo depois de aparecerem outros modos: se ela sorri, o filho sorri; se ela fala, o filho palra; e a criança desenvolve-se armazenando passivamente as palavras, os sons, as imagens, as sensações. (Dolto, 1988 p. 30.)

Nessa relação dual, através do afeto o bebê confere a mãe à sua

identidade, todos os afetos, dos mais agradáveis ao menos, o bebê necessita ser

narcisado através do seu olhar, do toque, da caricia, ele é embalado pelo som da

sua voz, pelas palavras; acalmado pela presença olfativa. Segundo Morizot (2007)

ao citar Lebovici o corpo é a matéria-prima desta fase inicial e é através do corpo da

mãe que ele se reconhece.

Monteiro (2003) ao fazer referência a Winnicott afirma que para o bebê o

rosto da mãe é o protótipo do espelho, no rosto dela, o bebê vê a si mesmo. A mãe

é um elemento fundamental para o bebê, onde ele busca conhecer-se, identificar-se

e é através desse fator corpo a corpo que ele consegue se perceber no mundo. O

contato físico na díade é um fator essencial para o desenvolvimento afetivo,

cognitivo e social. Os cuidados corporais provocam estimulações involuntárias, que

desencadeia conhecimentos significativos pela qualidade emocional que ocorre nos

atos de amamentar, carregar, dar banho, acariciar e gera efeitos corporais que são

propulsores do diferencial prazer/desprazer.

Klein (1953) também falou a respeito dessa diferenciação entre prazer e

desprazer no início da vida e a maneira que o bebê compreende a realidade à sua

volta. Ela afirma que:

ao reportar o desenvolvimento de impulsos, fantasias e ansiedades à sua origem, isto é, em direção ao seio da mãe, verifiquei que as relações de objeto começam quase no nascimento e surgem com a primeira experiência de amamentação (Klein, 1953 p. 46)

Ao tratar do “bebê kleniano”, Oliveira e Amaral escrevem:

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Inicialmente esse se encontra imerso em fantasias inconscientes, que são associadas a todas as experiências por ele vivenciadas, ou seja, permeiam a relação da criança com os objetos que a rodeia. Isto significa dizer que ocorrem experiências de gratificação e sofrimento, responsáveis pela introjeção de um seio bom – objeto de amor e fonte de desejo incorporação - e um seio mau - objeto persecutório causador de sofrimento, o qual a criança deseja destruir. Neste estágio, então, não há a percepção de realidade; o bebê possui a dimensão de existir um seio provedor de satisfação e gratificação e ao mesmo tempo de um outro seio, causador de fome e sofrimento - não há a percepção de um objeto inteiro e sim objetos parciais, separados. (Oliveira e Amaral, 2009 p.3)

E ainda:

Posteriormente, no segundo semestre de vida do bebê, este começa a perceber que o objeto que o gratifica é o mesmo objeto que propicia frustração. (...) O bebê consegue não só perceber que a fonte de prazer e desprazer é a mesma, mas também que esta fonte está integrada a um outro objeto, à mãe. Assim, instaura-se um conflito de ambivalência de sentimentos, pois a mãe que a criança odeia e a quem direcionou seus impulsos destrutivos é a mesma a quem direciona amor, é quem teme perder. Tal ambivalência gera grande ansiedade e sentimento de culpa, e a criança anseia reparar todo o mau que causou à mãe. (Oliveira e Amaral, 2009 p.3)

Klein apud Maciel e Rosemburg (2006 p. 99) diz:

as relações entre o bebê e sua mãe, construídas principalmente no primeiro ano de vida, período de extrema plasticidade do recém-nascido, acabam estabelecendo desde muito cedo o modelo básico de como ele se relacionará consigo mesmo e com os outros, durante a sua vida.

O bebê também tem uma importante função nessa relação. Ao nascer o

bebê faz de sua mãe uma mãe ao investi-la mesmo antes de percebê-la. (Morizot,

2007). A simples presença do bebê, também desencadeia comportamentos na mãe,

é uma relação cíclica. É claro que a mãe possui a função de se conectar ao filho e

auxiliá-lo em seu desenvolvimento, porém, hoje podemos dizer que ao bebê também

cabe esta tarefa.

De acordo com Brum e Schermann (2001 p. 459) “essa relação segue um

modelo bidirecional, ou seja, não apenas o comportamento do bebê é moldado pela

mãe, mas também o da mãe o é pelo comportamento do bebê.”

Nesta sintonia, a atitude do filho brota do comportamento da mãe, mas

também ele é o desencadeador das ações da mãe, que por sua vez se transforma

em função do que recebeu, num ciclo sucessivo. Capacidade de um e do outro

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adentram num modelo de ressonância, numa interação comportamental e afetiva,

instituindo um reforço múltiplo.

Coutinho apud Monteiro (2003 p. 24) diz que “um bebê não pode ser

pensado sem a presença de alguém que lhe exerça a função de mãe e sem um

ambiente, por essa ultima criada, onde possa evoluir e desenvolver seu potencial de

crescimento e amadurecimento.”

Os bebês vem a ser de modos diferentes conforme as condições sejam favoráveis ou desfavoráveis. Com o cuidado recebido da mãe a continuidade da linha da vida do bebê se mantém e ele experiencia uma “continuidade do ser”. (Winnicott apud Monteiro, 2003 p. 25).

Todo indivíduo ao nascer traz consigo uma tendência inata para

amadurecer, para se integrar; no entanto, o fato de essa potência ser inata não

garante que ela realmente vá se desenvolver, isto dependerá de um ambiente que

facilite e que forneça cuidados que a criança precisa, sendo que, no início, esse

ambiente é representado pela mãe.

É importante destacar que esses cuidados dependem da necessidade de

cada criança, pois cada pessoa responderá ao ambiente de forma singular.

Entretanto, o bebê não tem condições de lidar com as demandas do ambiente

interno e externo, devido a sua fragilidade psicobiologica inicial, necessitando assim

do intermédio da mãe, ou seja, é indispensável que as condições ambientais sejam

apropriadas para que a mãe consiga suprir as necessidades básicas do seu filho.

Com referências às necessidades básicas do bebê, Winnicott apud

Arcangioli (1995) fala sobre a mãe suficientemente boa, aquela mãe que assim que

o bebê nasce ela se identifica estritamente com suas necessidades, ela consegue

ser boa o suficiente para que a criança consiga conviver com ela sem prejuízo para

sua saúde psíquica.

Winnicott (1975) relata que a técnica carinhosa que a mãe utiliza com o

bebê é altamente pessoal e é procurada e reconhecida pela criança, tal como sua

boca, seus olhos, sua cor e aroma. Repetidas vezes, a mãe luta com seus humores,

suas angústias e emoções em sua própria vida privada, reservando para o bebê o

que pertence ao bebê.

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Essa mãe representa o ambiente bom, cuja importância é vital para a saúde psíquica do ser humano em devir. A mãe suficientemente boa permite a criança pequena desenvolver uma vida psíquica e física fundamentada em suas tendências inatas. (Winnicott apud Arcangioli, 1995 p 186)

Do ponto de vista da criança, ela é o meio e encontra-se em absoluta

dependência do que acontece ao seu redor. O bebê depende inteiramente do

mundo da mãe, e o mais importante, desconhece esse estado de dependência.

este estado materno revela um tipo de apego sincero justamente porque a mãe que o exerce identifica-se com as necessidades básicas do bebê, colocando-se na posição de se dedicar a ele por saber da total dependência que o filho tem em relação a ela, e de sua inconsciência sobre esse fato. (Kahtuni, 2004 p. 198)

É tarefa da mãe suficientemente boa proteger o bebê da tomada de

consciência dessa dependência absoluta, num momento em que ele está

extremamente imaturo para integrá-la como experiência. Por isso, a mãe oferece o

cuidado físico, correspondendo a sua necessidade e respondendo ao seu gesto

espontâneo, não permitindo que o bebê entre em contato com a realidade externa,

antes que ele esteja pronto para descobri-la.

Arcangioli (1995) descreve também o que Winnicott chamou de mãe

insuficientemente boa, aquela que não tem a capacidade de se identificar com as

necessidades do bebê, em vez de responder aos gestos espontâneos e as

necessidades do bebê, ela os substitui pelos seus.

Winnicott (1988) afirma que certamente existem muitas mulheres que são

boas mães sob todos os outros aspectos e que são capazes de manter uma vida

rica e proveitosa, mas que não conseguem atingir uma característica que as

possibilite adaptar-se delicada e sensivelmente às necessidades do bebê.

A criança depara então com uma mãe dividida em pedaços e tem a experiência da complexidade dos cuidados que lhes são prestados, e não da simplicidade que seria desejável. (Winnicott apud Arcangioli, 1995, p 187)

Pode-se entender que a mãe insuficientemente boa, não é uma pessoa, e

sim a insuficiência de uma função exercida através de um olhar, de uma ausência,

da não decodificação das reais necessidades da criança.

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Pode acontecer, no futuro, que essa mãe tente compensar o que ficou

perdido, e desenvolva um comportamento de super-proteção. Ela terá que investir

um grande período de tempo tentando se adaptar as crescentes necessidades da

criança, na tentativa de corrigir as falhas iniciais.

Todo bebê precisa da presença de uma mãe-ambiente confiável, que se

adapte às suas necessidades de um jeito completo, tanto os cuidados corporais

quanto os psíquicos. Nem a realização automática das tarefas físicas ligadas ao

lidar com o bebê, e nem o retorno imediato às suas demandas pulsionais

provocam a satisfação total de suas necessidades.

No entanto, a maneira como o bebê é cuidado, segurado e manipulado

nas atividades de rotina e de interação, o toque, o contato visual, a expressão de

afeto, a atenção e a sensibilidade aos sinais da criança são estruturantes para a

saúde mental deste ser.

Winnicott (1975), fala da existência três funções maternas, sendo a

primeira, a apresentação do objeto. A mãe é a pessoa responsável por apresentar o

mundo ao bebê. A mãe se mostra disponível a corresponder às necessidades do

filho, no momento em que as mesmas surgem, o que nessa fase de dependência

absoluta permite que ele adquira condições de assumir relações com as coisas e

pessoas.

Durante a primeira refeição, a mãe apresenta o seio ou a mamadeira no momento em que o bebê está pronto para imaginá-lo, e, portanto, para encontrá-lo. Ao oferecer o seio mais ou menos no momento certo, ela dá ao bebê a ilusão de que ele mesmo criou o objeto (...). Ao lhe dar a ilusão dessa criação, a mãe permite que o bebê tenha uma experiência de onipotência. (Arcangiolli, 1995 p. 185)

A segunda função materna é o holding, ou seja, a sustentação, diz que

quando a mãe coloca o bebê no colo, o protege dos perigos físicos, leva em conta

sua sensibilidade cutânea, auditiva e visual, sua sensibilidade às quedas e sua

ignorância a realidade externa. É ao mesmo tempo uma vivência simbólica, que

significa a firmeza com que ele é amado e desejado como filho. Com a repetição

desses cuidados, a mãe pode auxiliar na capacidade da criança em sentir-se real.

Em termos psicológicos, a função do holding é fornecer apoio egóico.

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Na fase do holding a criança se encontra na fase da dependência absoluta,

Winnicott distingue três momentos na primeira infância, que são: dependência

absoluta, dependência relativa, rumo à independência.

Winnicott (1975) afirma que logo nos primeiros dias, é o padrão e as

técnicas do cuidado materno que o bebê percebe. Muito cedo o lactente tem uma

idéia simples de uma espécie de totalidade da mãe, contudo o que pode ser

percebido é que o bebê precisa que a mãe esteja constantemente presente como

uma pessoa total.

Winnicott apud Arcangiolli (1995) afirma que essa fase de dependência

absoluta instaura geralmente nos seis primeiros meses de vida, onde a criança

desconhece seu estado e depende inteiramente do mundo que lhe é oferecido pela

mãe ou substituta. O lactente não consegue perceber o que é bem ou mal feito, ele

está na condição de tirar proveito de tudo que a mãe lhe dá.

Portanto, dependência absoluta é a fase em que a criança está

completamente à mercê de cuidados físicos da mãe, tanto na fase uterina, no

processo em que a gravidez avança e após o primeiro dia do nascimento. A mãe

identifica-se com o bebê a fim de conhecer suas necessidades biológicas e

psicológicas, constituindo-se em um ambiente sustentador a partir de sua devoção e

cuidados suficientemente bons.

A dependência relativa acontece geralmente a partir dos seis meses até

dois anos de idade. Onde a criança dá início a uma dependência relativa da mãe e

dos parentes mais próximos, que a partir dessa etapa começam a interferir no seu

ambiente de forma mais assídua.

Nessa fase, a criança já consegue reconhecer a mãe e os objetos como

realidades externas a ela.

Percebe a mãe como separada dela e realiza uma união entre sua vida psíquica e seu corpo. Sua capacidade de se situar no tempo e no espaço também se desenvolveu, sobretudo sua capacidade de antecipar aos acontecimentos. (Winnicott apud Arcangiolli, 1995 p. 191).

Winnicott (1975) relata que depois dessa fase de unificação com a mãe,

depois de uma etapa em que teve a ilusão de ser onipotente, de criar os objetos de

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suas necessidades, de ser uma só com a mãe, a criança descobre pouco a pouco

que ela e sua mãe são separadas, que a fantasia não corresponde a sua realidade,

essa fase é chamada de dependência relativa.

A criança depois de um processo de ilusão vivenciado na dependência

absoluta, ela enfrenta na fase de dependência relativa o artifício de desilução, e para

se sustentar nessa experiência dificil e geradora de tantas angústias a criança

desenvolve uma necessidade, que pode ser chamada de objetos transicionais.

Os objetos transicionais exercem a indispensável função de amparo, por

substituírem a mãe que se desadapta e desilude o bebê. A transicionalidade marca

o início da desmistura, da quebra da unidade mãe-bebê. Um exemplo claro de

objeto transional é o paninho, fralda ou lenço que a criança carrega por onde quer

que vá. Esse objeto representa para o bebê toda a relação que ele tinha com a mãe,

e que na fase atual de desilusão precisa para se amparar.

É nesse período de dependência relativa que o bebê vive estados de

integração e não integração, forma conceitos de eu e não – eu, mundo externo e

interno, possibilitando então dar sequencia em seu amadurecimento, no que

Winnicott denomina independência relativa ou rumo à independência.

Monteiro (2003) afirma, assim como Winnicott que a partir dos dois anos,

onde a criança está rumo à independencia ela cria meios para poder suprir o

cuidado da mãe. Isto é alcançado mediante a acumulação de memórias de

maternagem, da importância das necessidades individuais e da introjeção dos

detalhes do cuidado maternal, com o desenvolvimento da confiança no ambiente.

No entanto, pode-se dizer que a independência nunca é absoluta, pois a

pessoa saudável não se torna independente, mas mantém uma relação com o meio

de tal maneira que os dois se tornam interdependentes.

A terceira função materna é o handling, isto é, a manipulação do bebê enquanto ele é cuidado. A mãe troca a roupa do bebê, dá-lhe banho, embala-o, o faz dormir, etc. Essa terceira função é necessária para o bem estar físico do bebê, que aos poucos se experiência vivendo dentro de um corpo, e com isso, realiza uma união entre sua vida psíquica e o seu corpo. (Winnicott apud Arcangiolli, 1995 p. 185).

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Winnicott (1999) afirma que manipular bem uma criança facilita os

processos de maturação, e segurá-la mal significa uma incessante interrupção

desses processos, devido as reações do bebê às quebras de adaptação. Ou seja,

facilitação significa a existencia de adaptação às necessidades básicas. A maioria

dos bebês tem a sorte de serem bem segurados e manipulados na maior parte do

tempo. A partir daí, eles adquirem confiança em um mundo amigável, mas, o que é

ainda mais importante, por terem sido segurados suficientemente bem, tornam-se

capazes de atravessar bem todas as fases de seu desenvolvimento emocional muito

rápido.

A base da personalidade estará sendo bem assentada se o bebê for segurado de uma forma satisfatória. Os bebês não se recordam de que as pessoas o seguravam bem, no entanto, lembram-se da experiencia traumatizante de não terem sido segurados de forma adequada. (Winnicott, 1999 p. 54)

A maneira insatisfatória em que o bebê é segurado ou manipulado,

contribuem para um sentimento geral de insegurança, retarda o processo de

desenvolvimento pelos maus-tratos, que fragmentam a linha contínua que é a

criança, pois, é o ato físico de manipular e segurar a estrutura do bebê que vai

resultar em circunstâncias favoráveis ou desfavoráveis em termos psicológicos.

Voltando a falar da primeira função, que Winnicott chama de primeira

refeição, que na vida real representa a soma das experiências precoces de muitas

refeições. Entregar ao bebê o objeto desejado no momento em que ele o necessita,

faz com que ele “crie” o objeto, não se dando conta que já aí se encontrava. Daí se

desenvolve uma convicção de que o mundo pode conter o que é querido e preciso,

resultando na esperança do bebê em que existe uma relação viva entre a realidade

interior e a exterior, entre a capacidade criadora, inata e primária, e o mundo em

geral, que é compartilhado por todos.

O bebê, finalmente, forma a ilusão de que esse seio real é exatamente a coisa que foi criada pela necessidade, pela voracidade e pelos primeiros impulsos de amor primitivo. A visão, o olfato e o paladar registram-se algures e, passado algum tempo, o bebê poderá estar criando algo semelhante ao próprio seio que a mãe tem para oferecer. (Winnicott, 1975, p 101)

Um nutrimento infantil bem sucedido é um elemento essencial na

educação do bebê, o desenvolvimento emocional da criança, no início, só pode ser

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bem consolidado na base das relações com uma pessoa que, idealmente, deveria

ser a mãe. Essa experiência ilusória mantém uma importância dual, pois avigora a

onipotência da criança, e faz com que ela confie que o mundo tem o que ele precisa

e deseja. Mais que isso, porém, a construção e evolução dessa área de ilusão são

essenciais para a posterior formação de sentimentos.

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3 O ADOECIMENTO E HOSPITALIZAÇÃO DA CRIANÇA

Franchin et al (2006) diz que a hospitalização infantil é marcada por

sofrimentos e angústias decorrentes do adoecer e da ruptura com o cotidiano. De

acordo com Oliveira e Angelo (2000 p. 203), “a interpretação da doença depende

das percepções, do suporte disponível e das habilidades de que a família dispõe no

momento.”

A hospitalização é um momento difícil na vida de qualquer pessoa, sobretudo

na vida de uma criança. A internação instala uma crise ao tirar a criança do seu

cotidiano e colocá-la em um mundo desconhecido e às vezes assustador, com suas

rotinas, equipamentos, medicamentos, pessoas, limitação física e passividade,

cheiros, procedimentos, dores, falta de privacidade, isolamento, mudança na

vivência corporal, corpo manipulado de forma invasiva e dolorosa, etc.

Segundo Crepaldi, Rabuske e Gabarra, citado por Delvan (2009 p. 81), “o

confinamento em instituições hospitalares provoca nas crianças conflitos emocionais

conseqüentes da cisão entre o relacionamento mãe-filho e da carência por vínculos

de afeto.”

O ambiente do hospital para a criança é um local de proibições, lá não se

pode falar alto, correr pelos corredores, é em geral um lugar assustador, pois não há

nada nele que possa identificar com suas experiências anteriores, e somado a isso,

o fato de sua debilitação física e emocional estarem presentes na situação, tornam a

experiência ainda mais agravante. Ela se vê afastada de seus brinquedos, de seus

familiares, do seu ritmo de vida. Na maior parte do tempo a criança fica restringida

ao leito, cercadas de pessoas estranhas e que, para ela, trazem mais dor e

sofrimento.

Oliveira, Dantas e Fonseca (2005) afirmam que para Carvalho, quando um

adulto estranho se aproxima, tenta manter um contato direto com a criança, esta

desvia o olhar, chora, grita, ou tenta de alguma maneira evitar esse encontro,

entretanto quando está em companhia da mãe ou responsável esta reação é

abrandada.

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Segundo Moura (1999) a hospitalização leva a criança a se confrontar com

um estado de desamparo, ao perceber sua fragilidade corporal que resultou no

adoecimento, originando reações adversas tais como regressões, estados

depressivos, fobias, medos, inseguranças, raiva, ansiedades, angústias diversas,

sensação de punição e culpa, distúrbios reativos de conduta (na linguagem, sono e

alimentação) e outras.

A dor de estar internada pode tomar maior dimensão se esta criança não

puder falar de seu sofrimento. Considerar banais suas interrogações pode ser uma

tentativa de tamponar essa dificuldade por parte do adulto, talvez por não dar conta

de escutar que a criança sofre e, principalmente, que a criança também questiona.

Fazer a oferta dessa escuta poderá ajudar a criança na elaboração do processo de

“interna-ação”, a partir da expressão dos sentimentos ligados à internação,

possibilitando a construção de um saber, o seu saber sobre a doença.

Falando de sua enfermidade, a criança doente nos conta da força e poder do saber médico como instrumento de destituição da subjetividade e de anulação da experiência do adoecer na reclusão hospitalar. Violência física dos procedimentos médicos, violência psicológica das relações inter-humanas, o espaço do hospital mostra-se como marca indelével de ruptura em todos os níveis de vida da criança. Rupturas inevitáveis, algumas; outras, criadas pela própria lógica de pensar a saúde e a doença e por esforços institucionais quase inaudíveis de reconstituir e religar a continuidade perdida. (Oliveira, 1993 p. 327)

Oliveira (1993) dizia também que ao falar da enfermidade a criança nos

informa também sobre a forma de organização familiar da qual faz parte. Contando

sobre o pai, a mãe, os irmãos, a maneira como são atribuídos e vividos os papéis

sociais em relação a ela, principalmente por homens e mulheres enquanto pais e

mães. A mãe geralmente é o familiar mais próximo, é quem interpreta os sintomas

como sendo doença. De acordo com esta autora, a criança vai construir uma

significação para o que a acomete e para si mesma a partir das palavras veiculadas

por seus familiares, de acordo com a importância que é dada à doença.

Para Mannoni (1988), mesmo diante de um fator orgânico não é apenas a

doença que interfere e modifica a situação, mas também a maneira como a mãe

transmite esse fato para a criança, pois elas vivem uma realidade comum aos dois.

A psicanálise não desconsidera a doença, mas busca também entender como a

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mesma é vivida pela criança e sua família. O valor simbólico que a criança atribui a

esta é influenciado pela história familiar a as verbalizações da situação dolorosa.

Para Sousa et al, as reações de uma criança ao adoecimento, internação e

tratamento dependem de uma série de fatores como: relacionamento prévio com a

mãe (ou substituta), suas vivências anteriores assim como as de sua família,

estrutura de personalidade, idade da criança, atitudes da equipe de saúde, natureza

da doença e tipo de intervenção, tempo de tratamento, rotina hospitalar, etc.

Ferro (2007) afirma que para Baldini e Krebs, as reações da criança frente

à doença e a hospitalização dependem principalmente do nível de desenvolvimento

psíquico na ocasião, do grau de apoio familiar, do tipo de doença e das atitudes do

médico. Quando a internação ocorre dos 4 meses aos 2 anos, a separação da mãe

estimula protesto, aflição e desespero; dos 2 aos 5 anos as preocupações acerca do

afastamento da genitora ainda são muito importantes, mas aumenta o medo ao dano

corporal, havendo uma sensibilidade maior em especial a dor, feridas, sangue, aos

procedimentos médicos e de enfermagem; a presença do pensamento mágico, de

uma vida de fantasia florida e de pesadelos tornam essenciais a informação e a

preparação diante dos procedimentos a serem executados. Dos 5 aos 7 anos são

evidentes as preocupações com a morte, desaparecimento, pessoas que não

voltam, ou temor de se perder para sempre; desenvolve-se uma atenção especial

por seu destino, de seus entes queridos e de outros pacientes; dos 7 aos 9 anos há

preocupação em perder seu lugar na enfermaria, em ficar inválido para sempre,

longe de casa, escola, amigos e medo de ser abandonado. Dos 9 aos 11 anos

preocupa-se com a própria idade escolar acerca da capacidade intelectual, social e

física. Dos 11 aos 13 anos apresenta preocupação pré-puberal acerca das funções

corporais, dos produtos orgânicos, da exposição do corpo frente ao pessoal da

equipe de saúde e aos demais pacientes.

A hospitalização é uma experiência traumática na vida da criança, o seu

emocional fica abalado, muitas das vezes ela não é informada a respeito do seu

adoecimento, é submetida à série de exames, não é preparada para esses

procedimentos, o que causa angústia, medo, um medo desconhecido que resulta

numa exacerbação da fantasia. Na medida em que ela é informada do que vai

ocorrer, consegue gradativamente elaborar o medo e muita das vezes colaborar na

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realização dos procedimentos necessários e assim aprende a lidar com os

estressores inevitáveis da hospitalização que contribuirá para o seu crescimento e

recuperação. A informação bem conduzida pode melhorar a qualidade de interação,

que propicia sentimentos de segurança e menor ansiedade na criança, se sentindo

mais tranqüila ao perceber que compreende o que está acontecendo com ela e

podendo expressar seus medos e angústias.

Soares (2010) afirma que para Löhr, não existe um momento considerado

correto para informar a criança sobre sua doença, cabendo à família avaliar a

ocasião mais adequada, levando em conta algumas condições. Diante dessa

situação, a criança é capaz de perceber que alguma coisa séria está ocorrendo. A

expressão de angústia dos pais diante de consultas e resultados de exames pode

contribuir para isso. Sugere-se, assim, que quanto mais cedo o paciente for

informado, maior a probabilidade de diminuir seu sofrimento em relação ao

diagnóstico.

Ferro (2007) diz que a dor faz parte da história de toda criança desde seu

nascimento. É uma experiência pessoal e subjetiva que só conhecemos a partir da

comunicação daquele que sofre. A sensação dolorosa é influenciada por fatores

etários, sensoriais, componentes afetivos, cognitivos, comportamentais e

fisiológicos, que se expressam diante à estimulação ou disfunção do sistema

nociceptivo. A dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada

a um dano real ou potencial dos tecidos, ou descritos em termo de tais lesões. Sua

classificação é dividida em aguda, crônica e recorrente.

A dor aguda tem duração de minutos a algumas semanas e indica lesão

ou doença. É um sinal para o indivíduo buscar auxílio; sendo por isso considerada

positiva. As dores decorrentes de injeções, arranhões, pós-operatórios, trabalho de

parto, traumatismo e cefaléia são exemplos de dores agudas. A alteração do humor

mais marcante nesta condição é a ansiedade. Essa emoção potencializa a dor,

reduz a tolerância e a resistência ao estímulo.

A dor crônica tem duração de meses a anos. É persistente além do tempo

médio para a cura da lesão causal ou é conseqüência de doença crônica que a

tornam contínua ou recorrente. Também pode ocorrer sem a existência de estímulos

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neuropáticos e/ou nociceptivos atuais ou pregressos. Não tem a função biológica de

alerta da dor aguda e gera estresse físico, emocional e social para o doente e

familiares. A dor do membro fantasma e da artrite reumatóide são exemplos de dor

crônica.

A dor recorrente é uma “dor aguda” por que acontece em episódios de

curta duração, mas tem uma característica crônica que é a repetição de episódios

por muito tempo. A enxaqueca é um exemplo de dor recorrente, pois o paciente

sofre de forte dor de cabeça intercalada por períodos livres de qualquer sensação

dolorosa.

Ferro (2007) ainda acrescenta que o choro, o grito, as verbalizações de

medo, a tensão muscular e os movimentos corporais amplos são respostas de

estresse usualmente utilizadas em decorrência dos procedimentos invasivos. A

criança refere-se aos procedimentos dolorosos como uma experiência aversiva e

uma das mais difíceis de sua doença. As respostas emocionais ao evento doloroso,

tais como raiva, depressão e frustração, podem afetar a habilidade da criança para

compreender o que está ocorrendo e diminuir seus comportamentos de

enfrentamento, o que contribui para o aumento do grau de estresse e intensifica sua

dor. Ou seja, a dor traz medo, insegurança e desconforto na vida da criança, pois ela

é desagradável, produz um estado de desprazer, sua vivência é desestruturante e

desorganiza o aparelho psíquico da criança.

Franchin et al (2006) afirma que é de grande relevância considerar a forma

com que o adulto se relaciona com a criança, uma vez que seu acompanhante pode

ajudá-la no enfrentamento do estar doente e do estar hospitalizada. Segundo

Oliveira, Dantas e Fonseca (2005), a inserção de um acompanhante e seu

envolvimento no processo terapêutico é de extrema importância, quando exigem

uma atenção maior dos cuidadores. Também Marques (2001 p. 24) diz que:

A ausência da mãe ou da figura que a substitua, e a falta de cuidados afetivos, provocam quadros mórbidos que se exteriorizam de diferentes maneiras, embora as crianças recebam o que de melhor exista em cuidados higiênicos e alimentares. (p. 24)

Lindquist apud Oliveira (2005), acredita que a ausência de familiares junto à

criança aumenta sua sensação de que a hospitalização é para ela um castigo, uma

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agressão, ou abandono por parte dos familiares. Chiattone apud por Cardoso (2007

p. 34), acrescenta ainda que “a privação materna é a pior experiência que a criança

pode passar durante uma internação hospitalar, principalmente quando não recebe o

cuidado e o carinho adequados dos membros da equipe a fim de minimizar a

ausência da figura materna.”

Novaes e Mitre apud Oliveira, Dantas e Fonseca (2005), acreditam que

quando os pais não puderem estar junto à criança, eles devem deixar artigos

domiciliares, como por exemplo, brinquedo, cobertor, mamadeira, para que a criança

através desses objetos sinta mais segura no ambiente estranho.

A presença dos familiares, especialmente da mãe no ambiente hospitalar

junto à criança é de muita importância, pois o filho sente-se protegido, a dor, as

distintas explorações médicas podem ser melhor toleradas, a mãe lhe dá

tranqüilidade, confiança, sua presença reduz a ansiedade. Por isso acreditamos na

importância de um vínculo forte entre mãe e filho como forma de auxílio na

recuperação da criança.

Machado (2002) afirma que para Bowlby e Chiattone a hospitalização é uma

situação que pode provocar uma grande sensação de abandono na criança.

Encontra-se em um ambiente estranho, percebido como hostil, ela deixa sua casa,

muitas vezes são retirados seus pertences, brinquedos, chupeta, mamadeira. Essa

situação quando ocorre na ausência da mãe ou outro familiar, pode agravar ainda

mais a sensação de abandono, que aparece de forma mais intensa e com maior

freqüência em crianças de zero a três anos. Bowlby ainda afirma que as crianças

reagem de diferentes maneiras a situação de abandono. Aos três anos podem

expressar verbalmente com mais facilidade esse conflito e às vezes elegem algum

membro da equipe como substituto de sua mãe. A partir dos três anos até os 12

anos, as crianças tem maiores condições de enfrentar e compreender a situação de

hospitalização, quando apoiadas tanto pela equipe de saúde, como pela sua família,

tornando a situação de sofrimento menos assustadora.

Segundo Ferro (2007) buscando o apoio da figura materna sempre que

precisa de alguma coisa, a criança solicita verbalmente procurando contato físico

com ela, chorando e choramingando frente a algum desconforto ou quando está

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amedrontada. A presença da mãe acarreta em redução do tempo de hospitalização,

menor risco de infecção e de complicações pós-operatórias, melhor adaptação ao

ambiente hospitalar, melhora de comportamento após a alta, facilidade na coleta de

material para exames, aumento do senso de segurança (por não haver a ansiedade

de separação) e melhor interação social com os adultos.

Ferro (2007) afirma que quando um de seus membros adoece e é

hospitalizado, especialmente quando se trata de uma criança, há uma

desestruturação do sistema familiar, levando a necessidade de modificação em sua

rotina para adaptar-se a nova situação estressora criada pela doença. A criança

passa a ser o centro das atenções da família e o lugar onde são depositadas

fantasias, projetos, frustrações e expectativas de seus integrantes. Diante a doença

e hospitalização do ser infantil, a família se depara com duas tarefas: cuidar da

pessoa que se encontra doente e lidar com as emoções que emergem e que

passam a transformar as relações entre seus membros. As reações da família a

esses eventos dependerão principalmente de seu estado emocional frente à

situação, do meio em que está ocorrendo o acontecimento, de suas vivências e

ligação afetiva com a criança doente, determinando assim a participação ou fuga na

situação emergente.

Percebe-se que quando uma criança adoece, a família adoece junto, as

rotinas são mudadas, tendo que conviver com a dor e incapacidade sentida pelo

indivíduo que se encontra doente. A família também pode sentir ansiedade frente à

doença e internação da criança. As fontes mais freqüentes de ansiedade são: a

inesperada instalação da doença; incerteza sobre o prognóstico; medo de que a

criança sinta dor; sensação de não estar sendo devidamente informada; falta de

privacidade; ambiente desconhecido e medo da morte.

Chiattone apud Ferro (2007) afirma que geralmente a família sente-se

culpada pelo aparecimento da doença e hospitalização da criança. Essa família tem

fantasias de que desejaram ou que causaram a doença de seu parente. As reações

de culpa vêm acompanhadas da sensação de que exigiram demais do ser infantil.

Com isso, pode ocorrer o aparecimento da doença em outros membros da família,

sendo uma tentativa de minimizar a culpa e restabelecer o equilíbrio.

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O estresse psicológico é definido por Lazarus, citado por Ferro (2007) como

uma relação particular entre a pessoa (ou grupo) e o meio que é avaliado por ela,

como ultrapassando seus recursos e ameaçando seu bem-estar.

Segundo Angelo e Silveira apud Ferro (2007) a forma como a equipe de

saúde interage com a família, é um fator importante que influencia as reações de

seus membros ao evento doloroso. A família que se sente acolhida pelos

profissionais de saúde tem mais facilidade em interagir com eles, engajando-se em

um movimento participativo, pois percebe que as qualidades pessoais e profissionais

daqueles que encontram no decorrer de sua vivência, atingem suas perspectivas e

proporcionam o estabelecimento de uma relação que lhe permita sentir-se segura

para agir na situação.

Ferro (2007) afirma que para Abreu, Álvares e Campos muitas famílias

podem iniciar um processo de negação após o choque inicial da constatação da

doença em um de seus membros. Com isso, tentam mudar de médico, procuram

outros diagnósticos e deixam passar um tempo que pode ser precioso no combate a

doença. Quando acabam os procedimentos de negar o fato, muitas vezes passa a

isolar-se, “fechando-se para qualquer intervenção”, buscando resoluções na religião

ou em “tratamentos mágicos”. Este comportamento pode ocorrer

independentemente da classe social da família, aparecendo também nas classes

mais favorecidas financeiramente e com maior grau de escolaridade.

Sendo assim, acreditamos na importância do relacionamento familiar com

a equipe de saúde, para que a família tenha uma participação no processo de

adoecimento da criança contribuindo assim para o restabelecimento da criança

enferma. Muitos dos familiares ficam estressados, ansiosos diante a hospitalização,

uns não aceitam a doença da criança. A internação ainda pode gerar uma crise na

família em decorrência do desequilíbrio provocado frente à situação inesperada. É

importante que o profissional da área de saúde esteja “aberto” a questionamentos e

disposto a esclarecer as dúvidas dos familiares, aproximando-se dele pedindo ajuda,

fazendo perguntas e desabafando. Um bom relacionamento entre equipe de saúde e

a família, ajuda a criança a aceitar os procedimentos realizados pelos profissionais,

porque é mais fácil para ela aceitar os cuidados de uma pessoa que mantém um

bom relacionamento com sua mãe.

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A hospitalização é uma experiência estressante que envolve profunda

adaptação da criança a várias mudanças que acontecem no seu dia a dia. A família

precisa estar junto da criança, necessita se reorganizar e se adaptar também a essa

nova rotina, pois a criança precisa de cuidados e com a presença de seus familiares,

ela passa a sentir mais segurança no momento da internação. A doença passa a ser

vivida de maneira coletiva, pelo grupo familiar, pois quando um membro adoece toda

a sua rede de relações se altera. A participação ativa da família, especialmente da

mãe transmite tranqüilidade para criança, atenuando vivências desagradáveis

durante a hospitalização.

Durante esse período de adoecimento a criança precisa de apoio e amor

materno, a ausência da mãe ou da família leva a criança a sentir-se abandonada,

trazendo conseqüências como ansiedade, agressividade, depressão, regressão, etc.

A presença da figura materna é indispensável no processo de

adoecimento da criança, a mãe é tida como suporte emocional e psíquico da criança

e no enfrentamento de situações difíceis que ela possa passar no ambiente

hospitalar.

A mãe em contato com um filho que tem demandas de cuidado diferentes das apresentadas no ambiente domiciliar, pode não conseguir suprir as necessidades da criança em novas circunstâncias. A modificação do esquema corporal da criança, em função da imobilização parcial do membro por uma tala, pode gerar na mãe a dúvida de como pegá-la no colo, alimentá-la ou higienizá-la. Provavelmente, exigirá da mãe uma mudança no seu esquema corporal para que essa possa acolher o filho e também ser reconhecida por ele, como a pessoa capaz de reconhecer e atender suas necessidades. (Pinto, 2007 p.154)

Todo o processo da hospitalização infantil é extremamente desagradável e

causador de muito sofrimento para criança. Além da criança se ver afastada de

seus familiares, de seu ambiente habitual, se submete a procedimentos de muito

incômodo. Assim, a participação dos familiares principalmente da mãe nos cuidados

à criança amenizam o sofrimento e os efeitos desagradáveis da doença e da

hospitalização. A família também sofre diante do adoecimento da criança, o apoio e

intervenções por parte da equipe de saúde é muito importante. As intervenções

devem ser constituídas de maneira mais ampla e humanizadas, construídas de

maneira compartilhada entre criança hospitalizada, familiares e profissionais, para

que toda meta de melhoria seja efetivamente alcançada.

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4 O PSICÓLOGO, A CRIANÇA HOSPITALIZADA E SUA MÃE

De acordo com Cardoso (2007), o trabalho do psicólogo com o paciente

hospitalizado tem como objetivo principal, através das palavras e das mais diversas

formas de comunicação (olhares, gestos, entre outros), fazer com que o paciente

expresse suas emoções, fale de seus medos e angústias, coloque-se como sujeito

ativo e participante do seu processo de adoecimento e com isso possa simbolizar e

elaborar da melhor forma possível a experiência do adoecer. O psicólogo hospitalar

tem três focos de intervenção: a criança, a família e a equipe de saúde. Em nosso

trabalho focalizamos apenas a criança e família, em especial a mãe.

Cardoso (2007) ainda diz que com a criança, as intervenções podem ser

realizadas no próprio leito ou em grupo, através da elaboração de atividades com

outras crianças, que visem a uma interação social e o compartilhamento de

experiências e sentimentos que podem também ajudar para um melhor

enfrentamento e elaboração da doença e da hospitalização. A criança deve, além de

receber informações, ser ouvida, seja através de suas palavras, gestos ou até

mesmo do brincar, que foi a principal técnica de intervenção encontrada em nossa

pesquisa.

A respeito do brincar, Junqueira (2003 p. 194) afirma que este, “por se

configurar como um espaço potencial onde questões podem ser revividas e

elaboradas apresenta-se como o espaço e o momento privilegiados para o exercício

da escuta, em uma perspectiva de atenção integral à criança.” Franchin et al (2006

p. 2) ressalta:

durante a hospitalização é importante o trabalho lúdico junto às crianças internadas, possibilitando às mesmas elaborarem sofrimentos e frustrações, permitindo que sejam expressos seus sentimentos, medos e fantasias com relação ao momento particular que estão vivendo (...) promovendo um efeito integrativo que possibilite que conteúdos emocionais e existenciais relevantes possam emergir em curto espaço de tempo, bem como considerar o vínculo entre a criança e o seu acompanhante, que geralmente é a mãe.

Sabemos que o brincar é essencial para a criança independente do momento

pelo qual esteja passando, Neto (2001) afirma que “o brincar é essencial às crianças

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e nos revela de diversas formas que tem poder terapêutico natural, além de

constituir auxílio na boa formação infantil, nas esferas emocional, intelectiva, social,

volitiva e física. Esquecer-se do brincar é também esquecer de viver com qualidade

de vida”.

No hospital, a criança sai de sua rotina diária, é privada do contato com seus

familiares, amigos, deixa de ir à escola e realizar as atividades que antes eram

comuns e também prazerosas. Apesar da presença de um acompanhante, que

geralmente é a mãe, o ambiente hospitalar torna até mesmo esse convívio diferente.

Muitas das vezes a única atividade que se repete é o brincar, dessa forma este se

apresenta como um fragmento da realidade daquela criança, uma forma de mostrar

também que a vida dela continua. “Falando da enfermidade, a criança doente nos

ensina – e devemos aprender: brincar é uma forma de viver.” (Oliveira, 1993 p.330)

Ferro (2007) diz que o brinquedo também é um mecanismo de defesa

adaptativo para a criança no enfrentamento da doença, através do brincar ela

poderá expressar seus sentimentos, medo, angústias, alegrias, afetos. O uso do

lúdico pode transmitir informações, esclarecer dúvidas e fantasias, melhorando a

qualidade de vida da criança durante a hospitalização.

O brincar é uma forma de se conhecer a criança, através de sua postura,

do que ela fala enquanto brinca e do tipo de brincadeira, podemos perceber a

maneira como lida com as situações que enfrenta em sua vida, na situação

específica de hospitalização, podemos conhecer o que ela sabe a respeito da

própria doença, como os familiares têm reagido, o que ela sente e pensa a respeito

do “estar hospitalizada”. Muitas vezes a criança não tem condições de verbalizar,

mas ao brincar ela nos mostra características significativas de quem ela é.

A criança traz para dentro dessa área da brincadeira objetos ou fenômenos oriundos da realidade externa, usando-os a serviço de alguma amostra derivada da realidade interna ou pessoal. Sem alucinar, a criança põe para fora uma amostra do potencial onírico, e vive com essa amostra num ambiente escolhido de fragmentos oriundos da realidade externa. (Winnicott, 1975 p.76)

Angerami-Camon (1996), diz que naturalmente, o brincar é a forma de

autoterapia da criança e esta atividade pode se transformar em excelente

instrumento preventivo, diagnóstico, prognóstico e terapêutico às crianças em

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situação de morte, pois experenciando, tomando consciência ou descobrindo

através do brinquedo, a criança terminal pode formular e assimilar o que experencia

facilitando a internalização, amadurecimento e elaboração do processo de luto. O

que reforça a teoria de Winnicott (1975 p. 74 e 75) que afirma que “é bom recordar

que o brincar é por si mesmo uma terapia. Conseguir que as crianças possam

brincar é em si mesmo uma psicoterapia que possui aplicação imediata e universal e

inclui o estabelecimento de uma atitude social e positiva com respeito ao brincar.”

A importância do brincar e seu potencial terapêutico estão presentes

também na obra de Melanie Klein (1953), para ela a análise do brinquedo mostrou

que “o simbolismo habilitava a criança transferir não só interesses mas também

fantasias, ansiedades e culpa para outros objetos, além das pessoas. Assim, ela

sente um grande alívio ao brincar, e isso é um dos fatores que o tornam tão

essencial para a criança” (Klein, 1953 p. 45)

O brincar é essencial porque nele o paciente manifesta sua criatividade. (...) É no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self). (Winnicott, 1975 p. 80)

O psicólogo deve utilizar o brincar de maneira a proporcionar um ambiente

favorável em meio ao momento difícil pelo qual a criança está passando,

procurando, através das fantasias, compreender o seu funcionamento psíquico e

auxiliar no entendimento, tratamento e aceitação da doença. Para isso, o

profissional pode dispor de materiais compatíveis com a enfermidade da criança,

variando de lápis para desenhos, tintas, fantoches, brinquedos, livros de histórias,

etc. Dependendo do grau de necessidade e circunstâncias de mobilidade da criança.

Assim, nas atividades, deve se encorajar ao máximo as fantasias utilizando-as como um instrumento terapêutico, pois através delas pode-se descobrir qual é o processo psicológico da criança, penetrar nos recantos mais íntimos do seu ser, trazer à luz de sua consciência o que está oculto ou que evita e, enfim, desvendar o que ela sente a partir de sua perspectiva. (...) Portanto, deve-se buscar nas atividades o fortalecimento de auto-estima e auto-conceito criando oportunidades para que a criança possa retomar seu equilíbrio psíquico pois ao recuperá-lo pode explorar e descobrir alternativas na situação de doença. (Angerami-Camon, 1996 p. 103)

Quando falamos do brincar, pensa-se que os benefícios dessa atividade são

exclusivos da criança, mas não é essa a realidade. Reflexos dessa prática são

percebidos por toda a família, e, de acordo com uma pesquisa feita por Junqueira

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(2003) a mãe é diretamente afetada pelos seguintes motivos: o brincar aparece

como sinal de saúde na perspectiva das mães. Dessa forma, ver os filhos brincando

permitiu às mães sentirem-se menos angustiadas podendo, inclusive, relacionarem-

se de maneira mais confiante com as crianças. O brincar se estabelece como uma

outra possibilidade de a mãe se comunicar e relacionar com seu filho, que não

somente a perspectiva da doença. O aspecto saudável evidenciado com o brincar

pareceu facilitar o resgate de uma relação não tão impregnada pela doença;

especificamente nos casos em que a criança é portadora de algum distúrbio

neurológico. O brincar assumia o papel de diluir qualquer tipo de diferença

acarretada pela patologia, permitindo à mãe perceber seu filho aceito, olhado e

respeitado como qualquer outra criança; para as mães, particularmente aquelas que

brincavam mesmo que separadamente dos filhos, o brincar funcionava como um

espaço de escoamento das ansiedades. Brincar, então, é uma forma de criar e

fortalecer vínculos, sendo fundamental para a mãe e seu filho.

A respeito do adoecimento infantil, Cardoso (2007) afirma:

o psicólogo deve estar consciente de que está lidando com crianças doentes e não com a doença, e que não é possível levar a cabo nenhum tipo de intervenção terapêutica direcionada a uma criança que não inclua sua família. (...) O psicólogo deve oferecer um suporte emocional a fim de que esta possa também enfrentar, da melhor forma possível a situação, já que ela também vivencia tudo com a criança, principalmente a mãe que geralmente é quem toma para si a responsabilidade pelo cuidado do filho doente. (p. 43)

E ainda:

Além de ser bom para cada membro da família ter a oportunidade de falar sobre seus medos, angústias e fantasias e assim ter seu nível de ansiedade reduzido, a criança também ganha com isso pois quanto mais tranqüilos os pais, mais tranqüilidade eles transmitirão à criança, pois eles são uma das formas de mediação entre esta e a doença, já que são eles, juntamente com o médico e todos os demais integrantes da equipe que vão dar significado e justificativa de tudo que se passará com a criança a partir do diagnóstico. (p.46)

Para Cardoso (2007) outros fatores devem ainda ser trabalhados com a

criança, eles são: a sensação de perda de controle sobre o próprio corpo, a criança

passa a ser manipulada por desconhecidos, de uma maneira que antes não o era.

Associada a essa “novidade” está o fato de que muitos desses procedimentos são

dolorosos e causam efeitos colaterais e a criança não tem o direito de recusar o

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tratamento; há também a sensação de perda da liberdade, ela fica presa em um

ambiente geralmente desconfortável, cheio de privações (impostas até mesmo pela

superproteção dos pais), longe daqueles a quem ama e impossibilitada de voltar à

sua rotina. É importante que a ajuda do psicólogo seja na direção de uma orientação

tanto para a criança quanto para sua mãe, para que ambos fiquem cientes que

apesar de dolorosos e exaustivos, estes procedimentos são necessários para a sua

recuperação. Para que a criança aceite esse fato, é necessária a formação de um

vínculo entre ela e o psicólogo e, nesse caso, a colaboração da mãe é de suma

importância pois a segurança transmitida por ela irá permitir que a criança se sinta

amparada também pela equipe de saúde.

Durante a hospitalização, muitas vezes a criança sofre algumas mudanças

corporais, que vão interferir na sua maneira de se enxergar e também em como

imagina ser enxergada pelos outros. O psicólogo que compreende esse processo de

raciocínio da criança pode auxiliá-la a enfrentar as demais alterações decorrentes da

doença. Cada criança atribui um significado diferente à sua aparência, é necessária

a realização de um trabalho diferenciado, de maneira que ela consiga expressar sua

insatisfação, mas ainda assim entender e aceitar que estas mudanças fazem parte

da situação que ela vive naquele momento.

A mãe acompanhante também precisa de cuidados. O psicólogo pode e deve

fazer intervanções em sua direção, pois em geral ela fica muito abalada

psiquicamente com a internação do filho. Siqueira (2002 p. 274) diz:

ela se vê como cuidadora insubstituível do filho hospitalizado. Cobra-se, constantemente, tanto o cuidado da criança hospitalizada, quanto as demais atividades domésticas. Percebe a necessidade de estar em dois lugares ao mesmo tempo, cumprindo seu papel, e isto não é possível.

Essa situação associada à preocupação com a doença do filho, gera

ansiedade e nervosismo que são percebidos pela criança, que acaba por se sentir

culpada pelo estado da mãe. De acordo com Oliveira (1993 p. 329), “é a mãe o

familiar mais próximo da criança doente, personificando o desenho do “amor

materno”, da forma como o conhecemos hoje. É ela quem codifica os sintomas

como sendo doença e, com a preocupação, o choro ou o desespero, comunica à

criança uma medida de agressividade.” É comum aos adultos não considerarem a

capacidade pensante da criança, não acreditando – ou não querendo acreditar – que

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ela percebe que tem algo acontecendo à sua volta. Seja por desejo de proteger, ou

pela sua própria falta de condições de aceitar a situação de perigo, as pessoas mais

próximas tendem a esconder a realidade dos fatos.

O psicólogo deve trabalhar no sentido de favorecer a palavra esclarecedora

para a criança na qual se contém a verdade sobre sua situação de adoecimento.

Falar a verdade com a criança hospitalizada se mostra como um importante fator no

tratamento e a mãe é a pessoa mais indicada para tanto, pois é principalmente nela

que a criança deposita sua confiança. Essa atitude oferece a ela a oportunidade de

elaborar melhor a situação vivida, por mais doloroso que seja e aparentemente difícil

para uma criança, o sofrimento causado pelo desconhecimento de sua realidade e

pela sensação de estar sendo enganada é ainda maior. A criança se sente

fisicamente enfraquecida, sua imagem muda, ela percebe e sente a preocupação e

sofrimento dos pais, mas, ainda assim, não sabe com clareza o que lhe acomete.

Ela imagina que os pais sabem de algo que não querem lhe contar, o que faz com

que ela fantasie a respeito, se sinta amedrontada, frustrada e sozinha no mundo,

pois aqueles em que confia estão mentindo para ela.

Ao conversar, francamente, com a criança sobre a situação, a mãe pode impedir que a criança fantasie sobre o acontecimento. Quando não é dito à criança, claramente, o que aconteceu ou acontecerá, ela percebe os sinais de que algo diferente está acorrendo, o que gera a expectativa de que algo ruim está por vir. (Pinto, 2007 p. 154)

Raimbault apud Angerami-Camon (1996 p. 82) diz que “se a criança não

encontra ninguém capaz de ir ter com ela, só se depara com o silêncio ou a mentira,

também ela se cala.” Não conversar com a criança e assim negar-lhe a realidade,

ocasiona também o seu silêncio, e já nos referimos à importância da fala da criança

no momento da hospitalização. Apesar do psicólogo dispor de recursos como o

brincar, para que a criança externe seus sentimentos e pensamentos, é ainda mais

difícil ganhar a sua confiança, uma vez que a mesma já foi abalada uma vez. É

nesse momento que a colaboração da mãe como mediadora criança-psicólogo pode

favorecer em muito o trabalho que ele tem que desenvolver. Para isso é necessário

que a mãe esteja em condições para tal.

Mannoni (1988) destaca a formação de um vínculo simbiótico entre mãe-filho

doente, que esta procura superproteger para compensar os impulsos destrutivos que

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vivencia. Em certos momentos, a criança doente e sua mãe formam um só corpo, e

o desejo dos dois se confunde de maneira que eles parecem viver uma única

história. Monteiro (2003) acredita que o estabelecimento do vínculo simbiótico tenha

sua origem na dificuldade da mãe em adaptar-se à doença do filho. Voltar a esse

estágio é uma situação patológica e interfere consideravelmente na maneira de se

ver e entender o adoecimento por parte da criança, que volta a perceber o mundo

através do olhar da mãe. Moura (1999 p. 59) diz:

a nível subjetivo sabemos que nem sempre há uma causalidade psíquica decorrente de fenômenos orgânicos, nem uma relação direta entre o lugar demarcado para essas crianças pelos pais e a maneira pela qual elas vão apreender seu lugar, sua posição no mundo, porém essa captação por parte da criança vai sendo construída de acordo com os fragmentos de realidade que em torno dela se presentificam.

Segundo Oliveira e Mattioli (1996 p. 3), “o adulto como ambiente acolhedor

pode oferecer-se em holding à criança integrando dois olhares para ela: o olhar

técnico (fazer) que consiste no manejo relativo aos cuidados físicos e o olhar

sensível (ser) que traz a possibilidade do próprio ser da criança.” A reação, forma de

ver o mundo e transmitir essa percepção para a criança a ajudará a elaborar a sua

própria compreensão do que se passa, e consequentemente, a sua reação à

doença.

Quando uma criança ansiosa é tratada de maneira compreensiva, o que geralmente significa uma observação inativa sem ansiedade por parte do médico, o retorno à saúde pode, em muitos casos, ser acelerado. (Winnicott, 1993, p. 93)

Falar da importância da presença de um adulto e do desempenho de suas

funções na situação específica de hospitalização, nos coloca também, diante de

uma situação possível e comum: alguns pais, por vários motivos, não acompanham

seus filhos. Freud (1925 p. 60) afirma que “a ansiedade [Angst] tem inegável relação

com a expectativa, é ansiedade por algo.” A criança em um momento atípico e

assustador como a hospitalização, espera o apoio de sua família, especialmente a

da mãe, que é naturalmente, aquela que sempre está ao seu lado. A criança quer a

mãe, deseja a mãe ao seu lado, mas nem sempre isso é possível. A ausência de um

cuidador acentua a situação de desamparo já experimentada pela criança adoecida.

Além do medo do que lhe acomete, a criança sente que está sozinha.

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Em relação à situação traumática, na qual o paciente está desamparado, convergem perigos externos e internos, perigos reais e exigências instintuais. Quer o ego esteja sofrendo de uma dor que não pára ou experimentando um acúmulo de necessidades instintuais que não podem obter satisfação, a situação econômica é a mesma, e o desamparo motor do ego encontra expressão no desamparo psíquico. (Freud, 1925 p. 163)

A ausência da mãe nos remete à experiência do “seio bom” e do “seio mau”

nomeada por Melanie Klein (1953), geralmente, no caso de uma internação a

criança pode reativar a vivência dolorosa onde prevalece o seio mau, transformando

em dor, “fome”, falta e carência. Essa sensação pode provocar agressividade na

criança, e como falamos anteriormente, esta dificulta o estabelecimento de um

relacionamento de confiança entre criança e equipe de saúde, e consequentemente,

resistência ao tratamento. O psicólogo deve entender e trabalhar essa ansiedade e

medo vividos pela criança “abandonada”, sendo o brincar um importante meio de se

alcançar esse entendimento e também de auxiliá-la na elaboração dessa expectativa

frustrada.

A ansiedade é a reação original ao desamparo no trauma, sendo reproduzida depois da situação de perigo como um sinal em busca de ajuda. (...) É certo que as crianças se comportam dessa maneira em toda impressão aflitiva que recebem, reproduzindo-a em suas brincadeiras. (Freud, 1925 p. 162)

Diante de uma situação de abandono, o psicólogo deve buscar a

compreensão da outra parte envolvida, até porque, agindo dessa forma a criança

também seria beneficiada. O psicólogo sabe que os pais também têm as suas

expectativas, que no momento foram frustradas: eles esperam que os filhos sejam

sempre saudáveis, que não precisem ficar internados, que não corram o risco de

morrer prematuramente, que não exijam cuidados tão dolorosos e invasivos quanto

os hospitalares, que suas mudanças físicas sejam apenas “crescer e ficar fortes” e

não emagrecer, perder os cabelos, ter a pele manchada e marcada por agulhadas. É

inegável o fato de que os pais também se encontram em uma situação

extremamente angustiante e muitos deles não consigam dar ao filho o apoio

necessário uma vez que estão ansiosos, fragilizados e comprometidos. Sem contar

o fato de que a vida além da hospitalização do filho continua e preocupações com

demais familiares, trabalho e a vida financeira permaneçam em seu cotidiano, é

normal que se sintam sobrecarregados.

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Nesse sentido, o psicólogo deve ouvir as famílias, pois é de extrema

importância que elaborem suas ansiedades e angústias provenientes da

hospitalização da criança que as atinge como um todo. Ao mesmo tempo em que o

psicólogo deve buscar entender o que se passa e lidar com seus medos, é

necessário também que os traga para a realidade, pois a doença do filho é um fato e

a criança precisa estar amparada; não há como viver como se o adoecimento não

existisse. Os pais devem viver sim toda a frustração decorrente desse adoecimento,

mas encontrarem forças para oferecer o apoio de que a criança carece.

Diante do momento delicado e da fragilidade dos pais, o trabalho do psicólogo

com as crianças é imprescindível, Angerami-Camon escreve:

É de suma importância a tarefa de ajudar as crianças doentes a se sentirem fortes dentro de si mesmas, plenas de que possuem escolhas mesmo na situação de doença e morte. A principal tarefa do profissional de saúde mental é apontar caminhos, oferecendo condições de forma direta, sem invadir – sendo leve e delicado sem ser passivo, aceitando a criança com respeito e consideração. (Angerami-Camon, 1996 p. 104)

Para Junqueira (2003), no espaço da internação hospitalar é preciso se

promover um aguçamento da escuta, e esta se faz necessária tanto em relação à

criança quanto em relação a sua mãe. A rotina da mãe também se modifica e o

sofrimento experimentado por ela não deve ser ignorado, até porque, sem apoio é

difícil que ela consiga oferecer um ambiente suficientemente bom para a criança. O

psicólogo não tem como tratar diretamente a doença, mas acompanhar e dar

suporte está ao seu alcance e esta é uma enorme contribuição a ser oferecida.

O poder do inconsciente sobre o corpo está apenas começando a ser avaliado, mas parece ser verdade que o metabolismo possa ser reduzido praticamente a zero, que os ferimentos possam ser impedidos de cicatrizar e que o cabelo possa cair, simplesmente como resultado de um desejo proveniente das camadas profundas. Parece também que, às vezes, machucados não saram simplesmente devido a uma falta geral de interesse, por parte da criança e dos tecidos em viver. (Winnicott,1993, p. 88).

Não queremos com isso dizer que a pessoa adoece exclusivamente por

fatores emocionais, mas sim que estes devem ser levados em consideração e, ainda

que não aja cura, ainda que a criança tenha pouco tempo de vida, é função do

psicólogo oferecer meios para que ela e sua família vivam esse momento da melhor

forma. Cardoso (2007) afirma:

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(...) O psicólogo deve oferecer uma escuta atenta e sensível às questões que emergem para os familiares devido ao momento difícil atravessado por seu parente e que gera implicações emocionais para todo o núcleo familiar. A oportunidade de poder falar e desta forma simbolizar todas as angústias sofridas proporciona não só um melhor enfrentamento da situação como também o estreitamento dos vínculos familiares, resultando assim em uma atitude mais cooperativa em relação ao tratamento do parente doente. (p. 41)

E ainda:

Todo o trabalho da Psicologia realizado com a criança (...), visa à elaboração dos efeitos traumáticos que essa experiência pode proporcionar e fazer dela uma vivência positiva, na medida em que possibilitará a aquisição de recursos saudáveis para lidar com situações difíceis. (p. 45)

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5 CONCLUSÃO

A mãe é o primeiro e mais profundo relacionamento do bebê, é ela quem lhe

apresenta o mundo e oferece sustentação, sendo a sua presença importante não

apenas para a saúde física da criança como também para o seu desenvolvimento

psíquico. Quando a criança adoece, uma crise se instaura em toda a família. A

rotina de todos é modificada, principalmente a da mãe, que é quem geralmente

acompanha o filho durante a internação. A criança experimenta muitas perdas e

ainda precisa conviver diariamente com a rotina hospitalar, com seus procedimentos

invasivos, dolorosos e muitas vezes assustadores para a criança.

Diante da situação de desamparo experimentada pela criança durante a

hospitalização, concluímos que a presença e apoio da mãe se tornam

indispensáveis, pelo vínculo estabelecido durante os primeiros meses de vida, a

mãe tem a capacidade de acalmar a criança, fazendo com que, apesar da situação

adversa, ela se sinta segura e protegida. É a maneira de ver o mundo da mãe, que

primeiramente vai possibilitar à criança criar seu próprio entendimento do que está

vivenciando para então construir sua própria interpretação do que a acomete. A

ausência da mãe, nesse sentido, irá potencializar a situação de desamparo da

criança, gerando angústia, ansiedade, agressividade, negação e resistência à

doença e seu tratamento.

Independente do que realmente esteja acontecendo ou está para acontecer

com a criança doente, ela sempre tenderá a acreditar naquilo que for passado pela

mãe. Essa interpretação vai influenciar a sua maneira de enxergar a doença, reagir

a ela, aceitar o tratamento e a intervenção dos profissionais de saúde. Se a mãe for

suficientemente boa, a resposta da criança será provavelmente positiva. Ela

demonstrará confiança, esperança e se sentirá forte, pois tem o suporte de que

necessita. No entanto, se a mãe é insuficientemente boa, instala-se a situação de

desamparo e, se a criança não pode confiar na própria mãe, torna-se praticamente

impossível a confiança naqueles em que os seus cuidados estão destinados,

gerando agressividade, angústia, raiva, medo e apatia.

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O psicólogo hospitalar tem na pediatria várias possibilidades de atuação. No

que diz respeito ao tratamento da criança hospitalizada, enxergamos no brincar uma

importante ferramenta de trabalho, se configurando como uma possibilidade da

criança externar seus sentimentos e elaborar o sofrimento proveniente do “estar

doente”. O psicólogo deve também oferecer suporte à mãe, através de uma escuta

diferenciada proporcionando a ela condições de superar a doença do filho e fornecer

a ele o suporte necessário ao enfrentamento da doença, podendo assim

corresponder às necessidades de seu filho. Nessa situação o psicólogo deverá

intervir no sentido de fortalecer o vínculo, tendo em vista que o mesmo se configura

como importante fator no tratamento da criança internada.

É papel do psicólogo buscar a compreensão da criança e da dinâmica familiar

existente, incentivar o exercício de se falar a verdade, trabalhar a ansiedade e

angústia decorrentes do adoecimento e hospitalização, a aceitação e entendimento

das mudanças físicas, emocionais e da rotina da criança e de seus familiares e

proporcionar a eles a possibilidade de um enfrentamento da doença e de se

experimentar essa situação da melhor forma possível.

Assim, constatamos que tanto a questão que norteou nossa pesquisa quanto

os objetivos foram alcançados e respondidos satisfatoriamente. Nossas hipóteses

estão confirmadas e isso nos leva a crer ainda mais na importância do vínculo

materno-infantil. E também na necessidade do psicólogo integrando sempre a

equipe de saúde, pois com sua escuta diferenciada e diferenciadora promove

situações para facilitar as condições psíquicas que contribuem para o

restabelecimento do bem estar físico e psíquico da criança.

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