o uso de filmes no ensino de histÓria surgiu nos encontros de professores da área, nos grupos de...

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O USO DE FILMES NO ENSINO DE HISTÓRIA * SANTOS, Maria Lucia Lopes * RESUMO O artigo problematiza o uso do filme em sala de aula como uma fonte/documento para a produção do conhecimento histórico. Analisa como o material vem sendo empregado nas aulas de História pelos professores das escolas públicas estaduais do município de Capitão Leônidas Marques, seus objetivos, dificuldades e possibilidades de uso desse recurso. Assim como analisa a relação dos alunos desse município com as imagens filmíticas. Apresentou-se neste texto, o filme como uma possibilidade de fonte de estudo e pesquisa na intervenção pedagógica com os alunos 1º Ano do Ensino Médio na analise dos filmes “Oliver Twister” e “Daens – um grito de justiça”, já que os filmes são dotados de linguagem própria e precisamos compreendê-las. Palavras-Chave: Filmes. Ensino de História. Educação. ABSTRACT The main purpuse of this article is to analyze the use of movies in class as an efficient teaching method. To demonstrate how teachers, from public schools in Capitão Leônidas Marques city take advantage when using this tool as source/document to teach historical facts. We present the results, obstacles and for this matter the interaction between the junior high students and historical movies they had been watching as an educational method. The teachers shoed in class movies such as “Oliver Twister” and “Daens – a shout for justice” to start a research among the kids. Keywords: Movies. History Teaching. Education. INTRODUÇÃO Este artigo é resultado de um projeto de trabalho sistematizado e desenvolvido ao longo do processo de formação continuada do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional do Governo do Estado do Paraná aos professores da Artigo produzido como requisito parcial para conclusão do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, Secretaria de Estado da Educação, Governo do Estado do Paraná, sob a orientação do Prof. Vagner José Moreira, docente e orientador do PDE e do Curso de Graduação em História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. * Professora da Rede Estadual de Educação Básica do Estado do Paraná, licenciado em História, especializada em Didática e Metodologia de Ensino, docente do Colégio Antonio de Castro Alves. 1

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Page 1: O USO DE FILMES NO ENSINO DE HISTÓRIA surgiu nos encontros de professores da área, nos grupos de estudo, desenvolvidos no município de Capitão Leônidas Marques, Estado do Paraná

O USO DE FILMES NO ENSINO DE HISTÓRIA∗

SANTOS, Maria Lucia Lopes∗

RESUMO

O artigo problematiza o uso do filme em sala de aula como uma fonte/documento para a produção do conhecimento histórico. Analisa como o material vem sendo empregado nas aulas de História pelos professores das escolas públicas estaduais do município de Capitão Leônidas Marques, seus objetivos, dificuldades e possibilidades de uso desse recurso. Assim como analisa a relação dos alunos desse município com as imagens filmíticas. Apresentou-se neste texto, o filme como uma possibilidade de fonte de estudo e pesquisa na intervenção pedagógica com os alunos 1º Ano do Ensino Médio na analise dos filmes “Oliver Twister” e “Daens – um grito de justiça”, já que os filmes são dotados de linguagem própria e precisamos compreendê-las.

Palavras-Chave: Filmes. Ensino de História. Educação.

ABSTRACT

The main purpuse of this article is to analyze the use of movies in class as an efficient teaching method. To demonstrate how teachers, from public schools in Capitão Leônidas Marques city take advantage when using this tool as source/document to teach historical facts. We present the results, obstacles and for this matter the interaction between the junior high students and historical movies they had been watching as an educational method. The teachers shoed in class movies such as “Oliver Twister” and “Daens – a shout for justice” to start a research among the kids.

Keywords: Movies. History Teaching. Education.

INTRODUÇÃO

Este artigo é resultado de um projeto de trabalho sistematizado e

desenvolvido ao longo do processo de formação continuada do PDE – Programa de

Desenvolvimento Educacional do Governo do Estado do Paraná aos professores da

Artigo produzido como requisito parcial para conclusão do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, Secretaria de Estado da Educação, Governo do Estado do Paraná, sob a orientação do Prof. Vagner José Moreira, docente e orientador do PDE e do Curso de Graduação em História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE.∗ Professora da Rede Estadual de Educação Básica do Estado do Paraná, licenciado em História, especializada em Didática e Metodologia de Ensino, docente do Colégio Antonio de Castro Alves.

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rede, entre os anos de 2008-2009. Definiu-se como problema da pesquisa: o uso de

filmes1 nas aulas de História.

Esse tema gerou reflexões, estudos e pesquisas. O interesse por essa

pesquisa surgiu nos encontros de professores da área, nos grupos de estudo,

desenvolvidos no município de Capitão Leônidas Marques, Estado do Paraná. Neles

continuamente se levantava as dificuldades no ensino de História, frente aos alunos

que acham a disciplina enfadonha. Vislumbrar metodologias que dessem novos

significados e motivassem os alunos a se apropriar do conhecimento histórico

passou a ser o assunto de todos os encontros. Relatos seguidos de sugestões de

filmes era assunto corriqueiro, no sentido de buscar alternativas para o problema do

“desinteresse”, motivando o aluno para o conteúdo abordado na aula de História.

Neste sentido, o filme passou a ser usado na sala de aula com frequência como uma

possibilidade de recurso2 didático, com o objetivo de construir propostas de ensino

identificadas com as expectativas e a cultura do aluno. Porém, sem compreender o

significado e a natureza da nova linguagem que estava sendo incorporada a prática

pedagógica. Mas, como sabemos, não adianta diversificar as metodologias

aplicadas ao ensino de História se o professor não tiver o entendimento e

compreensão dos fundamentos teórico-metodológicos que orientam o seu trabalho.

As críticas que ecoam pelos corredores escolares com relação ao uso desses

recursos, como “passatempo”, “enrolação”, “momento de lazer”, entre outros, foi

outro motivo para a presente pesquisa. Contanto, fundamentar teoricamente essa

prática como recurso didático e as possibilidades de análises filmíticas usadas e

sugeridas no ambiente a sala de aula, assim como entender a condução dessas

práticas e a formação dos professores, com base na presença da cultura industrial e

tecnológica na escola, foi fundamental para a elaboração desse artigo.

A investigação teve como base a observação da ação promovida pelos

professores e a organização didática em relação aos alunos que vivenciam tais

experiências na escola. Dentro desta perspectiva, a investigação se limitou às cinco

escolas públicas estaduais do município de Capitão Leônidas Marques. Esse

processo ocorreu em três momentos: aplicação de questionário a alunos e

professores; entrevista com professores; e a prática educativa em que se foi

problematizado as propriedades específicas da linguagem cinematográfica, que se

revelam e se escondem nas narrativas de cada filme, direcionados aos alunos do 1º

1 Aqui trataremos como filme, as produções cinematográficas. 2 Segundo Schimidt (2005 p. 59), “Recursos são os materiais de que se dispõe para a ação didática”.

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ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Antonio de Castro Alves. Para

desenvolver a atividade pedagógica selecionou-se dois filmes: “Oliver Twist”3 e

“Daens – um grito de justiça”4, que abordam a temática/problemática Trabalho

Infantil. A escolha desse tema justifica-se por fazer parte do rol de conteúdos desta

série e também a relevância dessa realidade tão latente no Brasil. Tema esse

também já desenvolvido no material didático, Objeto de Aprendizagem Colaborativa

(OAC).5

Cinema e o ensino de História

As transformações da sociedade contemporânea, bem como as novas

perspectivas historiográficas, como as relações entre história e memória, têm

estimulado o debate sobre a necessidade de novos métodos de ensino de História.

Um dos problemas a serem superados, discutidos na revisão desse ensino é a

possibilidade de incluir nas aulas de História, o próprio aluno. Esse desafio é

interessante na construção de uma prática de ensino reflexivo e dinâmico, podendo-

se afirmar que ensinar História é levar o aluno compreender e explicar,

historicamente, a realidade em que vive. É importante destacar que, do ponto de

vista didático-pedagógico, só é relevante a aprendizagem que seja significativa para

o próprio aluno, que se identifique como sujeito da história e da produção do

conhecimento histórico. Conforme Schmidt (2005, p. 57) “Ensinar História passa a

ser, então, dar condições para que o aluno possa participar do processo de fazer, do

construir a História”. Portando, o espaço escolar não é onde apenas se transmitem

informações, mas o espaço onde se estabelecem relações entre interlocutores que

constroem significados e sentidos.

Diante dessas considerações, configuram-se as necessidades da utilização

de diversas metodologias, fontes e linguagens para a construção de um ensino de

História que ganhe vida em nossas escolas e em nossos alunos, dando-lhes a

oportunidade de construir conhecimento histórico e apropriar-se de problemáticas de

forma significativa. O filme constitui uma linguagem, entre outras que podem ser

aplicadas no estudo da História. Esta proposta de trabalho vem ao encontro também

com o proposto no texto das Diretrizes Curriculares de História para a Educação 3 Oliver Twist. Roman Polanski (dir), EUA: Sony Pictures, 2005.1 filme (130 min).4 Daens, um grito de justice. Stijn Coninx (dir), Favourite Films, Films Dérives, 1992, 1 filme (138 min).5 As produções didáticas pedagógicas (Objeto de Aprendizagem Colaborativa e Folhas) dos

professores do Estado do Paraná podem ser acessadas no Portal Dia a Dia Educação - <www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/educadores>.

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Básica, do Estado do Paraná, nas quais se afirma: “as imagens, livros, jornais,

histórias em quadrinhos, fotografias, pinturas, gravuras, museus, filmes, músicas são

documentos que podem ser transformados em materiais didáticos de grande valia

na constituição do conhecimento histórico” (PARANÁ, 2006, p.52).

É inegável a necessidade de integrar diferentes linguagens nas aulas de

História em todos os níveis de ensino. Neste contexto, os filmes são recursos que

mais facilmente são incorporados à rotina escolar e por esse motivo passou a ser

um grande aliado do docente, uma vez que se pode extrair deles informações e

reflexões.

Ver filmes compreende olhares diferenciados num processo integrado que

parte da perspectiva de que é tão importante sua apreciação quanto sua leitura. Tal

apreciação e leitura, entretanto requer um mínimo de informações acerca de

aspectos variados sobre os elementos constitutivos da linguagem cinematográfica:

enquadramento (planos, angulação, movimento de câmara), a fotografia (iluminação,

textura, cor, profundidade de campo), o som (a música, os ruídos e os diálogos), os

efeitos visuais (produção de imagens não reais), arte (figurino, cenografias,

maquiagem) e a montagem (organização e colagem de fragmentos filmíticos).

Realizar uma leitura filmítica denota desconstruí-lo para reorganizá-lo

posteriormente dando-lhe significados antes não percebidos. Portanto, educar para

essa leitura significa sensibilizar-se e saber sensibilizar, formar o sujeito por meio da

experimentação e envolvê-lo em todo processo de ensino-aprendizagem.

Marc Ferro, talvez a maior referência dentro da história quando se trata do

uso do cinema como fonte, em sua obra Cinema e História, não analisa o cinema

por uma perspectiva artística, mas como um objeto de estudo. Ele vê o cinema como

uma construção, como uma montagem. Ele entende que oculto na construção de um

filme existe “uma zona de realidade não-visível, que por trás do conteúdo aparente

existe um conteúdo latente, o qual pode revelar algo sobre uma dada realidade”

(FERRO, 1992, p. 88). Portanto, reconhece a película como um material histórico e

está ciente das intervenções, dos recortes e aponta para o que está explícito e

implícito, revelando aspectos da realidade que ultrapassam os objetivos do

realizador. Privilegiando, desta forma, o momento da produção dos filmes, torna-se

significativo reafirmar a análise dos mesmos não se restringe ao seu conteúdo,

àquilo que retratam nas telas, mas também que transmitem valores e expectativas

daqueles que os produzem (diretor, roteirista, produtor, atores, entre outros), além da

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própria sociedade que os recebem (espectadores, críticos, acadêmicos, entre

outros).

Afirma Ferro (1992, p. 28) que “um filme, seja ele qual for, sempre vai além de

seu conteúdo”. Ferro considera que não há linguagem cinematográfica que seja

inocente. Há sempre uma intencionalidade – mesmo que inconsciente – que informa

as aspirações e as condições de produção da obra cinematográfica. Isso demonstra

que, para analisarmos um filme pelo viés historiográfico, as relações exteriores e

interiores a ele são imprescindíveis, pois há intenções inerentes à obra

cinematográfica que deve sempre ser levada em consideração. Conclui-se, assim,

que os filmes “falam” muito mais do presente em que foi produzido do que sobre o

passado narrado.

Desde que a produção cinematográfica passou a ser encarada como um

material histórico para a compreensão da realidade, como projetos políticos em

disputas na sociedade, dos costumes e de projetos políticos em disputa de cada

grupo, que a produziram, pode-se ver um filme tanto como documento historiográfico

quanto narrativas sobre a história. Neste sentido, na relação cinema e História há,

pelo menos, dois eixos fundamentais de questionamento: a leitura histórica do filme

(analisar a luz do período em que foi produzido) e a leitura cinematográfica da

história (a leitura lida pelo cinema). Sendo que esta última coloca o

professor/historiador uma questão: a sua própria leitura do passado. Dentro desta

perspectiva é que se deve encarar o filme como um documento valioso para o

professor/historiador identificar essa “realidade não visível” presente na maioria dos

filmes.

A indústria cultural produz cinema (e também televisão) com fim

mercadológico, mas interferindo nas relações sociais, transformando relações,

criando símbolos; influencia e sofre influência, fazendo uso de linguagens próprias.

É necessário considerar com Williams (1979, p. 15-59), “o que temos é, antes, uma

compreensão dessa realidade através da linguagem que, como consciência prática,

está saturada por toda atividade social e a satura, inclusive a atividade produtiva”.

Neste sentido a linguagem é a articulação dessa experiência ativa e em

transformação, uma presença social e dinâmica de mundo.

Ao considerar a linguagem um elemento do social, Willians (1979, p. 21-25)

também considera que a “cultura produz a realidade”. Ela na condição de força

produtiva constitui o mundo real quando, interagindo com ele se vale de meios

materiais tais como: a língua, as tecnologias específicas de escrita, formas de

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escrever, sistemas de comunicação, entre outros. O produto cultural é, em

determinados momentos, um desdobramento das relações sociais que alteram a

consciência prática que a produz. Assim “(...) decorre a necessidade de saber lidar

com as ambiguidades das fontes, focalizando mais os processos históricos

constitutivos da linguagem por meio da qual determinada fonte se expressa (...)”

(CRUZ, PEIXOTO, KHOURY, 2006, p. 20).

Neste prisma, o uso do filme em aulas de História torna-se material histórico

fundamental para a problematização, contextualização e construção histórica de

temas propostos pelo professor, como também uma possibilidade prazerosa de

análise posterior dos alunos. Como conclui Napolitano (2008, p. 11-12): “trabalhar

com o cinema em sala de aula é ajudar a escola a reencontrar a cultura ao mesmo

tempo cotidiana e elevada, pois o cinema é o campo no qual a estética, o lazer, a

ideologia e os valores sociais mais amplos são sintetizados numa mesma obra de

arte”. Neste sentido, todos os filmes têm uma possibilidade de trabalho escolar.

Trabalhar com o cinema na sala de aula exige muito mais que escolher um

bom filme relacionado a um determinado tema. Exige uma nova postura do

professor em sala de aula com mudanças no seu comportamento didático, adotando

uma visão crítica, problematizando o filme, como se problematiza qualquer

documento, já que estes não são criações com finalidade didática. O professor deve

assumir o papel de orientador na condução dos alunos para a investigação e

análise. O uso do filme para provocar situações de ensino sobre a vida cotidiana e

da cultura comum:

O cinema não é uma matéria para a fruição e a inteligência das emoções; ele é também matéria para a inteligência do conhecimento e para a educação, não como recurso para a explicação, demonstração e afirmação de idéias, ou negação destas, mas como produto da cultura que pode ser visto, interpretado em seus múltiplos significados, criticado diferente de muitos outros objetos culturais, igual a qualquer produto no mercado da cultura massiva (ALMEIDA, 2004, p. 32).

O filme possui uma estrutura em sua produção que deve ser levada em

consideração enquanto material para a produção do conhecimento histórico. Os

meios de comunicação de massa não podem ser ignorados pela escola, pois

exercem influência significativa na vida das pessoas. Assim, a escola deve buscar

respostas para as novas necessidades que surgem e desvelar as linguagens no

cotidiano escolar, uma vez que as imagens em movimento chamam a atenção dos

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alunos e podem contribuir significativamente para o processo de ensino-

aprendizagem.

A relação dos alunos com os filmes

No mundo contemporâneo estamos imersos em imagens (paradas ou em

movimento) que nos trazem não apenas informações visuais, mas significam a

realidade. Neste universo em que o imagético é hegemônico, é necessário que as

imagens venham fazer parte do contexto escolar, assim como é do cotidiano do

aluno, com o fito de problematizá-las e decodificá-las.

No cotidiano escolar, para qualificar a presente pesquisa, aplicou-se um

questionário com questões objetivas que teve como foco a relação dos alunos com

os filmes6 e vídeos7. O questionário foi aplicado aos alunos das cinco escolas

públicas estaduais do município de Capitão Leônidas Marques. Como o objetivo da

pesquisa era atingir todas as cinco escolas públicas estaduais do município e alunos

de diferentes idades e níveis de ensino, tínhamos deste modo um número

considerável de alunos para pesquisar. Optou-se então por fazer a pesquisa por

amostragem, escolhendo, aleatoriamente, três alunos por turma e séries, oriundos

do Ensino Fundamental e Médio. Totalizaram setenta turmas e duzentos e dez

alunos.

Pelo fato dos filmes serem lúdicos e interressantes, num primeiro momento

teve-se a intenção de levantar o quanto esses alunos se interessavam pelas

imagens em movimento fora do espaço escolar.

6 No cotidiano de nossos alunos e professores a noção “filme” está relacionado ao cinema.7 Trataremos aqui como “vídeos” os filmes que podem ser utilizados na sala de aula como material histórico para a produção do conhecimento.

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Você assiste a filmes e vídeos constantemente em casa?

Às vezes36%

Não4%

Sim60%

Sim Não Às vezes

Gráfico 01: Assiste a filmes e vídeos em casa.

Por este questionamento ficou evidente que as imagens fazem parte do

cotidiano de nossos alunos, pois uma maioria significativa aprecia no todo ou em

parte, assistir a filmes em casa. Esse resultado nos faz levantar algumas situações

que podem contribuir para tal resultado. A cidade de Capitão Leônidas Marques não

oferece atrativos culturais aos jovens e possui poucos espaços de lazer. Também

fazemos parte de uma sociedade eminentemente visual e sendo esta uma cidade

interiorana, o acesso às produções cinematográficas e a outros tipos de produções

filmíticas são obtidas pelos canais de comunicação abertos, compra e locação de

DVDs. O cinema e as produções televisivas são atrativos que, muitas vezes, falam

de nossas vidas, amores e desamores, amizades e inimizades, aventuras e

desventuras, triunfos e fracassos, dores, alegrias e realizações. Por eles muitas

vezes nos assistimos, nos percebemos, nos idealizamos e assim acabam atraindo

legiões de espectadores e são estas, muitas vezes, as únicas opções de cultura e

lazer para nossos alunos.

Com a finalidade de observarmos o interesse e a relação dos alunos com os

recursos filmíticos, usados pelos professores nas aulas de história, realizamos três

aferições:

8

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Nas aulas quando o professor utiliza filmes e vídeos

6%

7%

87%

Você gosta desse recurso Acho cansativo durante as aulas

Não gosto de assistr a filmes e vídeos

Gráfico 02: Quando o professor utiliza filmes e vídeos nas aulas.

Como você percebe a utilização dos filmes e vídeos em sala de aula

7%

83%

10%

Um momento de lazer Como uma aula devo levar a sério Como passatempo

Gráfico 03: Como percebe a utilização dos filmes e vídeos em sala de aula.

9

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Você conclui que os filmes e vídeo usados em sala de aula

6%

27%

3%

64%

Ajudam na aprendizagem dos conteúdos, pois tudo que vejo e ouço aprendo melhor

Não contribuem para aprendizagem dos conteúdosDepende do gênero do filme ou vídeo apresentado

Não gosto de filmes e vídeos durante as aulas

Gráfico 04: Os filmes e vídeos usados em sala de aula.

Verificou-se que o filme representa um bom material pedagógico, haja vista a

considerável percentagem de alunos que manifestaram interesse por esse recurso

nas aulas de História. Ao analisar os resultados dos dois primeiros questionamentos

em relação ao terceiro, percebe-se que o interesse pelo recurso não se dá com a

mesma intensidade dos que vêem o filme como um instrumento de aprendizagem.

Queda considerável em torno de 20%, isso nos mostra que há falhas. E de certa

forma é preocupante e vale algumas reflexões: Como esses recursos estão sendo

utilizados pelo professor? O que o professor tem considerado sobre o filme que

apresenta aos alunos? Que contextualização e problematização se estão fazendo

em relação ao documento usado na aula?

Como se constatou, o aluno tem o interesse pelo recurso filmítico. Cabe então

ao professor não exibir o filme ou o vídeo na sala de aula como uma atividade

isolada. Como propõe Ferro (1989, p. 92) “Estes devem ser tratados não como

lúdicos”, mas como fonte do processo de ensino/aprendizagem em que o professor

deve partir das imagens e não buscar somente ilustração, confirmação ou o

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desmentido de outro saber que é o da tradição escrita. Fomentar o interesse e uma

postura crítica nos alunos constitui premissas para o professor de História. Tanto faz

o gênero, da comédia ao drama, sempre haverá uma análise a ser feita. Um objetivo

a ser alcançado pelo professor deve ter “(...) sempre em mente um conjunto de

objetivos de análise histórica e filmítica” (NAPOLITANO, 2008, p. 79). Por esses

fundamentos notadamente a sala de aula constitui-se um espaço educativo e deve

ser concebido como espaço em construção de saberes vivos e dinâmicos que façam

sentido para quem ensina e para quem aprende.

Os filmes e a prática escolar

Com a intenção de visualizar como essa prática acontece na sala de aula,

pesquisamos professores de História do município de Capitão Leônidas Marques. A

pesquisa aconteceu em dois momentos: primeiro foi inquirido um questionário aos

15 professores da disciplina de História na ativa deste município. Posteriormente,

realizou-se uma entrevista, então restrita a cinco professores da área. Selecionou-se

um professor por escola. O critério da seleção para a entrevista foi aquele que mais

usasse o recurso do filme nas suas aulas.

Na transposição das informações coletadas optamos por mesclar as duas

fontes de pesquisa num mesmo espaço de reflexões. Ao transcrever as narrativas

das entrevistas conservou a oralidade da linguagem e optou-se por não expor nome

de professor e escola. Vamos então nos reportar ao professor da escola: A, B, C, D

ou E, como se definiu os entrevistados.

Ao inferir a pesquisa para levantar dados quantitativos na relação do

professor no uso do recurso filmítico na sala de aula, obtive-se a seguinte

informação:

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Você utiliza filmes e vídeos nas suas aulas?

27%

73%

Constantemente Esporadicamente

Gráfico 05: Utiliza filmes e vídeos nas suas aulas?

É notório que os professores desse município têm habitualmente usado o

filme como ferramenta de trabalho. Pelos resultados constatou-se que todos fazem

usos desses recursos, com intensidades diferentes. A maioria considerável faz uso

constantemente e a minoria esporadicamente. Isso se deve ao fato de todas as

escolas públicas desse município terem sido equipadas com TVs, aparelhos de

videocassetes e DVDs e ainda com laboratório de informática conectados a internet.

O acesso de uso livre a todas as ferramentas presentes na escola, não tem só

motivado o professor a mesclar suas aulas expositivas com as imagens, como ele é

“cobrado” pelos alunos para usar as mídias. Essa cobrança é vista como natural já

que estamos diante de mudanças sociais contemporâneas, entre elas o aumento do

consumo de imagens em todas as esferas da vida social, principalmente na infância

e adolescência.

Por outro lado, percebeu-se que o professor sempre esteve preocupado com

o ensino/aprendizagem, e assim busca novos meios que possibilitem a elevação do

rendimento escolar. Não queremos aqui dizer que usar o filme ou outras linguagens

e ferramentas serviriam para sanar as deficiências do ensino de História. Pois não

adianta o uso do recurso se no método empregado não propor leitura reflexiva

desses meios em um determinado contexto, extrapolando o papel passivo da

recepção da imagem. Mas também é inegável a necessidade de integrar diferentes

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linguagens nas aulas, isso tem contribuído para melhorar não somente o ensino de

História como das demais disciplinas.

Professores e os objetivos no uso do filme

A análise cuidadosa das entrevistas realizadas com os professores de História

das cinco escolas públicas estaduais do município de Capitão Leônidas Marques

evidenciou que os objetivos mais recorrentes para o uso dos filmes e vídeos em sala

de aula são basicamente dois: complementação das aulas (reforço, fixação) e

ilustração de temas históricos.

O primeiro objetivo direcionou-se para a discussão e complementação do que

foi desenvolvido em sala de aula; o filme a ser usado aparece como apoio, um

reforço da aula expositiva, conforme se pode analisar no quadro a seguir sobre as

narrativas dos professores das Escolas pesquisadas.

Narrativas dos Professores das Escolas Pesquisadas

Escola A O objetivo é sempre para ampliar o conhecimento do conteúdo pelos alunos. Sempre que eu trabalho procuro mostrar, tentar ver e identificar nos filmes: os personagens, roupas a cultura, a forma de vida que eles levavam relacionando com o conteúdo. Isso relacionando com o livro e outros documentos históricos.

Escola C Com o objetivo de esclarecer melhor o conteúdo. [Como assim, esclarecer?] Como eles estão representando um tema da história, ajudam os alunos ver como era naquela época. Bom... assim, por exemplo, o filme “O gladiador” representa a Roma Antiga..

Escola D Meu objetivo é mais para enriquecer a aula. Porque eu dou o conteúdo todo e uso também como reforço. Até às vezes eu uso o vídeo como uma recuperação com outros trabalhos feitos em casa.

A pretensão neste caso é que o filme venha fixar aquilo que o professor

explicou na sala de aula conforme constatamos nas três narrativas. Os professores

reconhecem no filme um aliado na compreensão do processo histórico. Aquilo que o

aluno não aprendeu durante a exposição do conteúdo na aula, irá compreender e

aprender durante a exibição do filme. Parece-nos neste caso, que na compreensão

destes professores, os filmes são compostos de verdades incontestáveis da história

real, sem ficção. Isso é preocupante, pois o papel do professor é de justamente

alertar os alunos que o filme não é um túnel do tempo, onde se mergulha e conhece

a história. Mas que o filme é um produto de valores, de tensões do momento em que

foi produzido e que constrói a realidade. O papel do professor é de justamente

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alertar e problematizar os aspectos ambíguos e contraditórios da representação

cinematográfica. Nas palavras de Saliba (1993, p. 94),

[...] todo o esforço do professor de humanidades, ao utilizar-se do filme no processo de ensino, deve ser, portanto no sentido de mostrar ao máximo que, à maneira do conhecimento histórico, o filme também é produzido, também ele erradia um processo de pluralização de sentidos, ou de verdades e, da mesma forma como na História, é uma construção imaginativa que necessita ser pensada e trabalhada interminavelmente.

Na verdade, o professor deve refletir sobre como a imagem foi formada e qual

a relação que há com a sua significação.

A segunda tendência na análise dos objetivos é a ilustrativa, que se revela em

duas das narrativas.

Narrativas dos Professores das Escolas Pesquisadas

Escola B O objetivo é para melhorar as minhas aulas, dando um colorido especial... pois não podemos desvincular as nossas práticas das imagens, que para a disciplina de história é muito interessante. [Em que sentido é interessante?] Os alunos gostam de ao mesmo tempo de ouvir ver imagens que representam a época histórica que o fato aconteceu.

Escola EÉ... o objetivo é de mudar a forma de dar aula para não ficar aquela coisa padrão, para que o aluno tenha mais interesse pelo conteúdo, fazer uma forma diferente de apresentação de aula, para não ficar só aquela coisa oral, só usando o quadro. Usar recursos, que possa levar o aluno a ter uma aula mais dinâmica. Com imagens, sons e ação. Os vídeos ajudam as aulas a não ficar só na oralidade.

Nessas narrativas ficou evidente que os filmes são usados como elementos

motivadores de “oxigenação” da aula de história, já que é uma linguagem que os

alunos apreciam e sentem-se confortáveis ao ver a história. Sem preocupação

sistemática, formativa e reflexiva, o universo imagético do aluno é apenas do

entretenimento.

Ambos os casos implicam na falta de formação do professor, falta de um

preparo no sentido de trabalhar com a linguagem filmítica e sobre as suas

possibilidades metodológicas no processo de construção de um saber escolar. Essa

constatação se formaliza quando questionamos:

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Você já leu algum artigo, livro ou realizou algum curso sobre a utilização desses recursos (filmes e vídeos) em sala de aula?

60%40%

Sim Não

Gráfico 06: Já leu algum artigo, livro ou realizou curso sobre a utilização desses recursos em sala de

aula?

Verificou-se que apesar da totalidade dos professores informaram trabalhar

com filmes, a maioria não tem o conhecimento da fundamentação metodológica

sobre o uso desse recurso nas aulas de História. Essa fundamentação é o suporte

para o desenvolvimento do trabalho com mídias na sala de aula, desde que essa

fundamentação venha modificar os seus procedimentos didáticos frente ao uso

desses recursos.

É sabido que os professores, pelas pressões do mundo contemporâneo, têm

excessivas horas e sobrecarga de trabalho, lhe restando pouco tempo para

formação profissional. Cabe então, no momento em que as escolas estaduais, neste

caso do Estado do Paraná, se encontram aparelhadas, a formação dos professores

não somente no sentido de manusear os aparelhos como tem acontecido, mas

cursos que dêem o suporte metodológico na utilização das novas linguagens no

cotidiano escolar. Vale ressaltar também que os futuros profissionais da educação

devem receber a formação teórico-prática nas academias, já que na maioria das

instituições deixam a desejar nesta prerrogativa.

Critérios estabelecidos pelos professores para o uso de filmes e vídeos

Ao aplicar o filme em suas aulas o professor deve estar atento a várias

orientações básicas que servem de suporte para o bom aproveitamento da turma

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para alcançar os resultados esperados. Muitos autores destacam a importância do

planejamento das aulas na utilização desses recursos. Ao analisarmos os critérios,

analisaremos alguns pontos comuns entre as narrativas e as orientações dos

autores por ora estudados.

a - Tempo de duração da película:

Narrativas dos Professores das Escolas Pesquisadas

Escola C As dificuldades são poucas aulas, e os filmes são longos levam de 3 a 4 aulas. Essa parada para continuar outro dia é ruim, pois sempre tem que ficar relembrando eles sobre o filme. O ideal seria iniciar e acabar no mesmo dia. Às vezes a gente pede aulas de outros professores mas nem sempre dá certo.

Escola D (...) inclusive observo o tempo da duração, porque 120 min. 150 min, são longos. Os filmes estão vindos todos assim, e a gente acaba perdendo tempo porque tem poucas aulas e acaba ficando é... mais no filme.

Pela grade curricular, a disciplina de História contempla duas ou três aulas

semanais. Perante tal situação projetar um filme “longa metragem” em apenas um

dia, mesmo com aulas geminadas (juntas) é impossível. E como expõe a professora

da escola A, “acaba-se ficando mais no filme”, pela falta de tempo para desenvolver

mais atividades de reflexão articuladas com o conteúdo. Uma das situações que

conduz o professor “correr” com as atividades de sistematização pedagógica está

relacionada à cobrança do setor pedagógico da escola no cumprimento do currículo.

Esse problema abre a possibilidade de o professor buscar soluções,

organizando sua aula empregando o filme de forma interdisciplinar com outras

disciplinas, usar a aula “geminada” em pelo menos dois dias de aula e também tem

a possibilidade técnica de selecionar cenas através dos recortes. Técnica que a

maiorias dos professores não dominam e não têm o equipamento necessário para

fazê-lo. Neste caso vale refletir:

(...) quando se utiliza uma metodologia de modo impreciso – sem ter claros os objetivos educacionais – acaba perdendo a credibilidade, caindo no descrédito. (...) Que filmes utilizo? Que cenas? Essa pergunta é quase uma “questão íntima”, pois, afinal, as cenas, filmes, diálogos que funcionam para o aluno, são aqueles que funcionam antes para o professor. O que me atinge e me faz pensar, o que evoca sentimentos e emoções, o que pede reflexão e ser compartilhado, é o que posso levar, com sinceridade e transparência até os meus alunos (BLASCO, 2006, p.64-5).

Neste caso conhecer os limites e as possibilidades técnicas antes de planejar

as atividades didático-pedagógicas com o cinema é relevante. Os problemas podem

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ser solucionados com planejamento. O importante é ter coerência entre a forma de

exibição/assistência e os objetivos da atividade planejada.

b - Faixa etária:

Como o cinema é produzido com finalidade comercial, cenas indevidas e não

apropriadas podem aparecer a qualquer momento. Sobre esse critério o professor

da escola B relata:

Narrativas dos Professores das Escolas Pesquisadas

Escola B Observo se o filme ou o vídeo está de acordo com o tema trabalhado, se é para a idade indicada, assisto sempre ele antes de passar para os alunos.

Assistir ao filme antes da exibição é pontual, evita-se constrangimento do

professor e alunos. Pois as cenas de nudez, violência e palavras de baixo calão,

podem ser as mais lembradas pelos alunos. A regra é selecionar o que será

trabalhado, preparar o público e adequar filmes a espectadores que tenham o

discernimento e maturidade adequada aos mesmos.

c - Articulação com o conteúdo

Três entrevistados levantam essa preocupação em articular a película com o

conteúdo trabalhado.

Narrativas dos Professores das Escolas Pesquisadas

Escola B Observo se o filme ou o vídeo está de acordo com o tema trabalhado (...)

Escola D Eu vejo se tem relação com aquele conteúdo que está sendo ensinado, porque sempre a gente está buscando o reforço, mas não só o reforço naquilo que a gente já ensinou. Busca também do conhecimento, porque pra esse não tem idade

Escola E Não pegar um filme sem antes preparar sem ver se aquele conteúdo vai estar dentro do filme ou não

Pensar no emprego do filme dentro de um planejamento geral é relevante

para desenrolá-lo do processo pedagógico pretendido pelo professor. Como nos

propõe Napolitano (2008, p. 79) “Procure inserir o filme dentro do planejamento geral

do seu curso, articulando-o com os conteúdos e conceitos trabalhados, bem como

as habilidades e competências”. Novamente se reforça que o planejamento é o

suporte para o processo de ensino/aprendizagem.

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d- Dublagem

A professora da Escola C descreveu:

Narrativas dos Professores das Escolas Pesquisadas

Escola C Observo a qualidade da imagem e se é dublado, pois se é legendado o aluno não gosta. Ele não gosta de ler e então não acompanha, não entende sabe. Então tenho que cada pouco parar e explicar para eles

Parece insignificante a abordagem, mas um material audiovisual que não

atenda as expectativas dos alunos pode acabar com as pretensões do professor

numa aula. Se não houver a compreensão pela falta de leitura das legendas, logo a

turma começa perder o interesse e se dispersa. O foco de interesse passa a ser

outro, como brincadeiras e conversas entre os alunos. Neste selecionar um filme

para uso na sala de aula devemos, primeiramente, levar em conta a cultura geral e

audiovisual da classe que pode, sumariamente, contribuir para atingir os objetivos

que o professor propôs em seu planejamento.

Dificuldades no uso do recurso

Com o propósito de analisar mais proficuamente as experiências dos

professores, levantamos com eles as dificuldades enfrentadas no cotidiano escolar

no uso dos filmes e vídeos. Como as dificuldades apresentadas pelos professores

se repetem nas narrativas, vamos apresentar duas que se difere em algumas

situações.

O professor da escola A, faz o seguinte relato:

Narrativas dos Professores das Escolas Pesquisadas

Escola AAs dificuldades não são poucas não. Parece fácil trabalhar com filme e vídeos, porque não é uma aula para matar tempo, precisa preparar mais. Outro fator é a falta de aulas, como por exemplo, no ensino médio é só duas aulas por semana, falta de aula geminada (juntas), não dá para se fazer um trabalho direito, as aulas são mínimas. Outro problema é não saber fazer recorte de filmes, e não sei quem poderia fazer. Mas também tem custo não é? A falta de material. A escola tem pouco. A videolocadora também não tem e não sabemos aonde procurar. Tem citações na bibliografia, que você poderia usar, mas não tem. E também o aluno às vezes acha que depois de assistir um filme, acha que não deve fazer nenhum trabalho, não vê como aula. [Por que você acha que ele não vê como aula?] Porque tem colegas que só passa o filme por passar, para ocupar a sua aula. Bom matar tempo mesmo. O professor que quer explorar e trabalhar o filme se dana então. Até a supervisão quando falta professor ponha um filme para ocupar o tempo do aluno. Assim fica difícil pra gente.

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O ponto mais relevante desta narrativa é quando o professor cita que colegas

usam o filme para “matar tempo”. Percebemos neste caso que a falta de objetividade

no uso do recurso compromete o trabalho dos demais. Isso não se aplica somente

aos professores de História, abrange professores de outras disciplinas e, como narra

a professora, até a equipe pedagógica usa, equivocadamente, o recurso.

Como propõe a literatura, quando trazemos a película para a sala de aula,

devemos estar cientes das responsabilidades que esta atividade implica. Planejar a

aula deve ser a primeira atitude do professor engajado na aprendizagem de seus

alunos e preocupado com a capacidade analítica dos mesmos. O docente que não

planeja, não tem objetivo definido para o filme, torna a aula com esses recursos

enfadonha, limitada e repetitiva, transformando-a num mero momento de lazer.

Novamente surge o problema da falta de aula e de aula geminadas para usar

filmes. No entanto o relato do professor propõe uma solução a tal situação: o

recorte. Porém, essa solução implica em outros fatores: saber fazer e ter os

equipamentos (aparelhos) necessários para este fim. Como bem sabemos as

escolas e professores não dispõem de recursos ou estes são escassos e usados

para situações mais emergencias. Por este motivo, essa proposta do “recorte” fica

um pouco distante de ter solução.

O professor da escola D levanta outra questão interessante a falta de vídeos

de produção didática nas escolas:

Narrativas dos Professores das Escolas Pesquisadas

Escola DA dificuldade é que praticamente filme relacionado a parte didática quase não tem, agora tem alguns curtas no youtube, as TVs pen drive8 e os pen drive que o governo mandou, mas ainda não usei o meu, mas estou acessando a internet. Estou preparando agora um material que sei que vou enriquecer meu trabalho muito mais que os anos anteriores. A dificuldade de encontrar os vídeos e filmes também é uma dificuldade. No NRE tem uma lista de filmes e vídeos, mas você vai procurar e não tem. Então essa é a dificuldade. Agora com as televisões (pen drive), uma em cada sala, já está mais fácil, mas também tem a dificuldade de encontrar material [Então a sua maior dificuldade é de encontrar material e de preparar esse material?] É...é isso, agora veio uns DVDs na biblioteca do professor, mas tem alguns que são mais direcionados a nós professores... mais preparação para nós professores. Diretamente para o aluno é difícil de conseguir.

Percebe-se que há interesse dos professores pelos vídeos didáticos, mas

existe a dificuldade em consegui-lo devido à falta de recursos financeiros,

desinteresse na produção desses materiais pelas indústrias culturais, dificuldade de

acesso para compra, má qualidade de produção, entre outros. Os filmes didáticos,

8 São as TVs Multimídia.-TVs de 29 polegadas que tem entrada para cartão de memória, pen drive, DVD, VHS e saídas para caixa de som. Permite o congelamento das imagens sem distorções no caso dos slides. São aparelhos produzidos sob encomenda pelo governo do Estado do Paraná, para todas as salas de aula das escolas públicas estaduais.

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pelo fato de serem produções dirigidas aos conteúdos curriculares, facilitam o

trabalho do professor, mas não queremos dizer com isso, que o professor não deve

estar atento ao que está sendo apresentado. Não deve tomar tudo como “verdade”,

pois didático ou não, também é um produto de consumo e do tempo presente. É

notório que recorrer aos filmes comerciais é a primeira opção. Neste caso, são

produções sem responsabilidade e preocupações com a história nele apresentada,

pois a produção desse produto é somente voltada para o consumo. Tanto o filme

didático quanto o comercial, merecem atenção do professor, pois passam pelo

processo de produção.

Pode-se dizer que o professor tem procurado alternativas para a falta de

material. Como a Secretaria de Estado da Educação, a partir do ano de 2007,

aparelhou as escolas estaduais com TVs Multimídia, laboratório de informática com

conexão a internet e os professores com pen drive, proporcionou aos professores

buscar e produzir seu próprio material para o uso escolar nessas mídias. Quando o

professor relata que está buscando no sítio do Youtube preparar um material para

usar em suas aulas, percebe que essa ação demanda tempo e conhecimento das

ferramentas para tal procedimento. É sabido que “tempo” o professor tem pouco,

para aprender usar as novas mídias para então produzir seu próprio material. Mas

constata-se o interesse e o esforço dos profissionais em aliar a tecnologia com a

escola.

O recurso e a prática pedagógica dos professores entrevistados

Fazendo as reflexões nas narrativas dos professores em relação a sua prática

pedagógica quando usa o filme ou o vídeo didático se constata a falta de um

referencial teórico como suporte para esse trabalho. As atividades acontecem na

maioria das vezes com pouca reflexão e falta de outros documentos como apoio.

Conforme percebemos nas narrativas a seguir.

Narrativas dos Professores das Escolas Pesquisadas

Escola A Muitas vezes no preparo da aula, no planejamento dessa aula. Eu às vezes apresento o filme antes, depois eu faço a relação, quando, por exemplo, eu quero que eles observem a cultura com a história eu vou relacionando, vejam... Em determinadas situações eu passo o filme ou o vídeo depois para confirmar aquilo que eu falei... para ele ver que realmente era daquele maneira. [A finalização dos trabalhos como você os cobra?] A finalização é de diversas maneiras, às vezes com debate,. Primeiro trabalho todo o conteúdo, depois passo o filme depois analiso e em cima do filme com o conteúdo faço a relação entre os dois, faço: debate,

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relatório. Faço eles fazerem analise critica do filme analisando com o conteúdo apresentado no livro

Escola C Primeiro eu trabalho o conteúdo tal... Analiso o contexto todo do livro, quando eu uso o filme eu vou passando e vou explicando, relacionando e lembrando do que nós já tínhamos visto durante a aula expositiva do conteúdo. No final faço um debate com todos e um resumo escrito e tenho por costume cobrar na avaliação algumas questões relacionadas com o filme.

Os dois professores usam as paradas na apresentação do filme no intuito de

contextualizar e relacionar com o “conteúdo”. Essa prática do professor colabora

para uma análise se ele não apresentar o filme como uma verdade. Assim cabe ao

professor alertar os alunos sobre as ocultações da película. O importante é não ficar

somente na ilustração, mas também usar as narrativas e representações do filme

como elementos propulsores de posterior pesquisa.

A metodologia dos professores em promover um debate após assistir ao filme

é positiva, desde que bem articulada com os problemas e questões surgidas durante

o filme. O debate permite o aprimoramento do olhar do aluno e o desenvolvimento

de seu senso crítico. Porém, nota-se que o filme foi usado como suporte para as

aulas expositivas quando narra que usa a película para “confirmar”, “relacionar” e

“lembrar”. Isso é problemático, pois o professor considera o filme como “reflexo” da

realidade e não que o filme atribui sentidos, significados a realidade, constrói a

realidade.

O professor do colégio B fornece aos alunos um roteiro. O roteiro é de

fundamental importância, pois ele estabelece alguns parâmetros de análise com

base nos objetivos que propõe a atividade com a obra filmítica.

Narrativas dos Professores das Escolas Pesquisadas

Escola B(...) eu faço o encaminhamento, através de uma ficha de apontamentos, para que eles observem esses pontos para posterior discussão. Às vezes faço questionário e dou a eles antes de assistir o filme, e às vezes ainda depois de assistir ao filme ao vídeo faço com eles uma resenha ou uma síntese ou um texto explicativo onde o aluno pode opinar e também faço histórias em quadrinhos.

Quando o professor fornece o roteiro, está traçando a direção do olhar dos

alunos em cenas e narrativas da película que o professor considera relevantes para

a observação e posterior análise e reflexões. Todavia percebe-se que a finalização

do trabalho desse professor com resenha, síntese ou história em quadrinho não usa

a reflexão e o filme ficou apenas na ilustração.

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A professora do colégio D expõe como realiza seu encaminhamento

metodológico aos alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental:

Narrativas dos Professores das Escolas Pesquisadas

Escola DDepois que o aluno assiste, eu começo pedindo para eles as cenas que acharam mais importantes, que chamaram atenção. Porque através daquela cena ele até ilustra no caderno, e o que tem na comunidade na família que se encaixaria naquilo... Naquela história, para o conhecimento do conteúdo o que ele entendeu de acordo com o filme. O que seria então a interpretação, passar da ficção para o real. Eu sempre quando vou assistir o filme, eu coloco o nome do filme e coloco qual o objetivo do que eu vou querer ali. É muito importante o aluno saber qual é o objetivo para não se perder.[ E o objetivo você coloca antes ou após assistir o filme?] Eu coloco antes de assistir qual vai ser o objetivo...qual vai ser a finalidade e depois que a gente assiste é que vai discutir numa mesa redonda9 e vai ver se foi atingido aquele objetivo. [Você não cobra alguma produção do aluno?] Não, não cobro nada por escrito. Quando eu faço avaliação eu coloco lá uma questão. Por exemplo: De acordo com o filme que você assistiu explique... tal... Eu também faço assembléia para discutir sobre o filme, onde os alunos vão debatendo, vão colocando suas idéias, depois de um questionamento.

Analisando os procedimentos do professor, vê-se que ele procura definir aos

alunos seus objetivos com relação ao filme ou o vídeo didático já que estes são

fontes centrais do seu trabalho. Percebe-se que o professor, apesar de não citar,

propõe no seu trabalho um diálogo do presente com o passado, possibilitando aos

seus alunos a reflexão sobre o presente pelo estudo do passado. Essa proposta é

interessante para alunos nessa faixa etária, pois dessa forma passam a perceber as

mudanças e permanências no contexto histórico.

O professor perde-se nos encaminhamentos metodológicos: “mesa redonda”,

“debate” e “assembléia”10. Usa termos diferentes para a mesma ação que é o debate.

Apesar de que construir problematizações em que os alunos possam levantar idéias,

argumentar, refletir e analisar sobre determinado tema contribui significativamente

para a construção do conhecimento histórico, percebe-se que o trabalho desse

professor esvai-se no momento em que os alunos não registram as reflexões e

considerações da turma. Perde-se um bom momento para o aluno sistematizar suas

reflexões.

Filmes: uma prática

9 Mesa redonda na compreensão do professor é a forma de organizar os alunos em circulo para debater o tema.10 Assembléia: o professor se refere ao fato dos alunos se alternarem em frente à classe para argumentar sobre o tema proposto.

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Considerando o peso da influência da linguagem do cinema em nossos

alunos que são levados, salvo raras exceções, a uma apreciação acrítica, a prática

ora apresentada buscou tratar a linguagem cinematográfica como fonte documental

e instrumento didático/pedagógico privilegiado para o ensino de História.

Para realizar esse trabalho foram escolhidas as turmas “A” e “B” do 1º ano do

Ensino Médio do Colégio Estadual Antônio de Castro Alves do Município de Capitão

Leônidas Marques. A temática selecionada para desenvolver essa prática foi

“Trabalho Infantil”, por fazer parte do rol de conteúdos da série, também pelo fato de

ser uma problemática latente, contemporâneo e muito presente no cotidiano dos

nossos alunos. Com essa mesma temática foi produzido o OAC – Objeto de

Aprendizagem Colaborativa, essa produção didática faz parte das atividades

exigidas pelo programa do PDE.

Para essa ação pedagógica foram escolhidos dois filmes: “Oliver Twist” e

“Daens – um grito de justiça”, justifica-se a escolha por ambos abordarem o trabalho

infantil no século XIX, por diferentes enfoques.

Esse trabalho foi antecedido por uma série de aulas referentes ao conteúdo

estruturante “Relações de Trabalho” e entre as leituras realizadas pelos alunos dos

trechos do livro “O capital” de Karl Marx e o item “IV. Infância”, do capítulo “Padrões

e experiências”, do livro “A formação da classe operária: a maldição de Adão”, de

Edward Thompson. Essas leituras foram fundamentais para a análise dos filmes e

sistematização do tema proposto.

Foram levantadas as dificuldades em trabalhar com o cinema na sala de aula.

Estes demandam de maior tempo que vai para além de duas a três aulas. Como no

segundo ano do programa os professores participantes do PDE têm apenas 25% de

sua carga horária para desenvolver o projeto, no horário que lhe convier. Dessa

forma, nos possibilitou propor aos alunos assistir aos filmes sem interrupção, sem

usar aulas extras ou ainda de outros professores. Neste caso os alunos teriam que

vir no período da tarde, já que a escola é privilegiada em dispor de uma sala

exclusiva para multimídias, equipada com DVD, vídeo cassete, computador e

projetor. Essa prática no momento apresentada não faz parte do cotidiano escolar, já

que os professores não dispõem de tempo extra para além da sua carga horária

semanal de trabalho. Para cada filme, optou-se por técnicas diferentes, para não

tornar-se repetitivo e assim buscar novas reflexões e análises.

Oliver Twist

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Este filme produzido e dirigido por Roman Polanski, baseado na obra literária

do inglês Charles Dickens. Retrata a história das aventuras de Oliver Twist (Barney

Clark) um órfão entre as centenas que sofrem com a fome e o trabalho escravo na

Inglaterra vitoriana. Vendido para um coveiro, ele sofre com a crueldade desta

família e acaba fugindo para Londres. Lá, ele é recolhido das ruas por Artful Dodger

(Harry Eden), um ladrão que o leva até Fagin (Ben Kingsley), um velho que

comanda um exército de pequenos marginais e adolescentes prostitutas.

Antes de assistir ao filme foi entregue uma ficha roteiro11 do filme para os

alunos com base no que trataria posteriormente a análise. As duas aulas que

seguiram após assistir ao filme foram usadas para a sistematização da análise do

filme.

Inicialmente, os alunos da classe foram divididos em cinco grupos. Para cada

grupo foram entregues as tarefas com as quais iriam trabalhar que consistia no

seguinte:

Ao primeiro grupo foi entregue um texto que traz informações sobre a

biografia do escritor britânico Charles Dickens. Este grupo analisou a relação

existente entre a vida de Dickens com a história de Oliver e as possibilidades que

tenha levado Dickens a escrever esta obra.

O segundo grupo recebeu alguns capítulos da obra literária de Charles

Dickens, “Oliver Twist”. Eles analisaram a obra relacionando com o filme,

observando a maneira que Roman Polanski retratou Oliver Twist em seu filme e se

foi fiel à obra original de Dickens.

O Terceiro grupo analisou o contexto do trabalho infantil na Inglaterra século

XIX (Era Vitoriana), confrontando as cenas do filme com o item “Infância” do livro de

Edward Thompson.

O quarto grupo recebeu duas reportagens atuais que abordam a exploração

de crianças em atividades criminosas no tráfico e a prostituição infantil, que já não

são exclusividade de grandes centros urbanos. Analisaram diferenças e

permanências sobre a vulnerabilidade das crianças frente aos problemas sociais,

que as tornam “presas” fáceis de exploradores.

O quinto grupo tratou da linguagem cinematográfica. Observando cenas

quanto à trilha sonora, o enquadramento e luminosidade e para qual público o filme

11 Ficha composta por duas partes: Primeira os dados técnicos do filme (nome, direção, nacionalidade, ano que foi produzido, nome dos atores, duração, gênero etc). A segunda parte é a de interpretação.

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foi produzido. Analisaram também as similitudes e representações do filme com a

obra com relação aos fatos históricos quanto ao enredo, cenário, figurino e

alimentação.

Os trabalhos no grupo foram monitorados pelo professor e por anotações de

todos, para posterior apresentação das considerações do grupo aos demais alunos

da classe. A finalização do trabalho foi seguida de um relatório escrito do grupo para

o professor.

Conclusões proferidas dos grupos:

Sobre Dickens os alunos concluíram que ele sofreu muito na infância, pelo

fato de ter ficado sem o pai muito cedo, devido à prisão. Isso o levou ao trabalho de

exploração nas fábricas inglesas e com as dificuldades por ele passadas na infância,

ganhou a sensibilidade para compor a história de sofrimento de Oliver. Outro ponto

que levantaram foi que a obra de Oliver Twist é uma espécie de crítica social, onde

descreve as condições subumanas da população inglesa, que sobrevivia nas ruas

sujas e lamacentas das cidades inglesas. Relataram que Roman Polanski não foi

totalmente fiel à obra de Dickens, pois não narra o nascimento de Oliver e os

primeiros anos de sua vida, fato que concluíram importante para desenrolá-lo da

história, assim como ele suprimiu alguns personagens. Compreenderam que o filme

não pode ser 100% fiel a obra, devido ao tempo de duração, mas que no filme

“Oliver Twist” como foi produzido, faltam algumas explicações. Mencionaram que as

produções cinematográficas nem sempre retratam a história como ela é, expressam

as intenções do diretor, roteirista e produtor. Quanto ao trabalho infantil no século

XIX inglês, concluíram que Polanski não exagerou quando, retratou crianças órfãs

trabalhando, sendo castigadas e entregues às pessoas, para ser trabalhadoras.

Perceberam que isso era uma atividade corriqueira e vista como natural conforme

confrontaram nos escritos de Thompson e Marx. No confronto das reportagens com

o filme, notaram que alguns problemas que acometiam as crianças no século XIX

permanecem na atualidade. As crianças e adolescentes são realmente “fáceis” de

serem aliciados, devido às situações de desamparo social em que vivem. Vêem

nessas atividades, trabalho, tráfico, prostituição e entre outros, o único meio de

sobrevivência. Portanto “Oliver Twist” de Polanski fala do presente, quando faz uma

alusão com a situação de muitas crianças na atualidade, que desde muito cedo se

inserem no mundo do crime, roubos, drogas, prostituição e outras, justamente pela

situação social que as circundam. Da linguagem cinematográfica, concluíram que a

escolha dos atores é fundamental para compor os personagens dos filmes. Citam

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como exemplo o menino “Oliver” (Barney Clark), personagem que exigia um ator

com aparência frágil e olhar triste, para transparecer aos espectadores o sofrimento

do menino, assim como o personagem vilão “Fagim” (Ben Kingsley) que também

deveria ser composto de uma aparência nada agradável, já que explora crianças e

passa a elas temor. Polanski usa uma luminosidade sombria no filme, as cores

usadas nos figurinos dos personagens são opacas em tons desbotados Esses tons

de sombra e cor empregadas era intencional, para dar idéia de melancolia, dor e

sofrimento ao telespectador. Assim, sofrer com o menino “Oliver” compõe as

intenções do diretor. Concluíram que o filme foi produzido para um público

infantil/jovem, já que é carregado de aventuras e a trilha sonora contribui para dar

movimento, medo e sobressaltos nas cenas, assim proporcionando mais emoção a

quem assiste.

Daens – um grito de justiça

Para este filme foi usada outra técnica, porém como no filme de “Oliver Twist”

antes de assistir ao filme também foi entregue aos alunos a ficha roteiro.

Como este filme é baseado na história real do padre belga Adolf Daens (Jan

Decleir), que foi um “pioneiro” na luta pelos direitos dos trabalhadores na virada do

século XIX para o século XX. Impressionado pela miséria que presenciava, passa a

lutar por direitos para os trabalhadores. Nessa época, as tecelagens do norte da

Bélgica decidem substituir os operários homens por mulheres e crianças, a quem

pagam salários menores, conseguindo assim, manter preços que permitiam

enfrentar a concorrência da indústria inglesa.

A técnica aqui aplicada foi o debate livre para estabelecer as diferenças de

leitura e análise. Os alunos foram dispostos em círculo, de forma a facilitar o diálogo

entre alunos e professor. O início do debate se restringiu na análise do nome do

filme “Daens – um grito de justiça”. Pelo diálogo interativo, os alunos chegaram à

conclusão que o Padre Daens, lutou quase solitário pela justiça social na cidade

Aalst. Baseou-se nos princípios evangélicos e na doutrina social da Igreja Católica,

através da Encíclica “Rerun Novarun” do Papa Leão X, contrariando a ideologia

liberal dos capitalistas e membros da própria Igreja, que se opunham as pregações

de Daens, como sendo estas fossem um discurso socialista. Perspectiva política

combatida pela Igreja e sociedade capitalista. Os trabalhadores não participavam

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dos movimentos trabalhistas, pois se sentiam acuados. Temiam perder a única fonte

de renda, apesar do ganho miserável.

Na segunda parte, para uma análise histórica, relembramos os trechos dos

livros de “O capital” de Karl Marx e o item “Infância” de Edward Thompson, já lidos

pelos alunos em outro momento, a fim de confrontar tais obras com o filme, quanto

às condições de vida e de trabalho dos operários, principalmente das crianças

trabalhadoras.

Nessa análise, os alunos pontuaram as situações comuns entre as obras

literárias e a filmítica, tais como: as excessivas horas de labor dos trabalhadores,

sejam eles homens, mulheres e crianças, as condições de trabalho, inexistência de

leis trabalhistas, salários miseráveis e as condições deploráveis de vida dos

trabalhadores.

No terceiro momento levantamos alguns questionamentos tais como: O voto é

importante para o trabalhador? Que garantias trabalhistas existem hoje no Brasil?

Que leis protegem as crianças? O trabalho infantil acabou?

Essas questões não tinham a intenção de obter resposta ajustadas, mas com

o objetivo de levá-los a pensar e refletir sobre situações do presente. Observamos

que os alunos aproveitaram bastante a oportunidade que tiveram de se manifestar,

apesar de que a intervenção do professor ser constante para a palavra não ser

monopolizada pelos alunos mais extrovertidos ou os mais “maduros”

intelectualmente. Contudo, o desenvolvimento do debate por questão de “tempo”

ficou limitado a uma aula de 50 minutos, o que dificultou avançar mais nas reflexões.

Por esse motivo deixamos de levantar questões interessantes para serem

problematizadas como: os movimentos sociais dos trabalhadores, a Teologia da

Libertação, as mediações da Igreja, ou de setores do clero, nas questões políticas e

sociais e nas lutas dos trabalhadores na contemporaneidade, entre outras

associadas ao presente, que podem ter interferido na produção do filme.

Sabemos que o filme carrega consigo uma carga de subjetividade, sendo este

produto de intencionalidades, conscientes ou não, do meio em que foi produzido,

assim como do contexto social, político, econômico e cultural do qual se originou. É

neste momento que, ao lidar com a imagem cinematográfica, que significam um

determinado período e acontecimento histórico, deve-se trazê-lo ao presente, ou

seja, pensá-lo enquanto objeto inserido em uma determinada temporalidade.

Finalizamos nosso trabalho com uma produção de texto, em que os alunos

compararam as duas obras filmíticas. O texto selecionado para referenciarmos neste

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artigo foi escolhido por apresentar a compreensão do aluno sobre a linguagem do

cinema, como também nos apontam falhas no planejamento da prática do recurso

do filme.

Narrativas do aluno L.P.12

Aluno Os trabalhos que fizemos em sala fizeram a gente pensar sobre o cinema. A gente assiste sempre, mas não pensa sobre ele. Nunca tinha prestado atenção na música que toca, nas roupas, na luz e outros detalhes. Tudo é feito com intenção. No filme do Oliver Twister percebi que nossa turma gostou mais. Ele foi mais fácil de entender. Agora eu vi que a gente não pode ver o filme como 100% verdadeiro por que como se diz, ele é baseado em uma obra. Também que num filme não dá para passar toda a história. Por isso o produtor põe no filme aquilo que ele acha mais interessante e ainda não é exatamente a história como está no livro. Como meus amigos falaram na apresentação do grupo. O produtor do Oliver não mostrou tudo o que estava no livro e às vezes colocou de forma diferente. Então vi que temos que buscar saber da verdade quando um filme conta sobre a História que estudamos na escola. Nem sempre é verdade.O filme Daens um grito de justiça, é bom, mas, não era dublado, então a gente se perdia, no ver as cenas e ler. O filme pra falar a verdade era chato, não tinha ação, demorou pra acabar e a gente cansou. Mas ele mostrou melhor sobre o que nós tínhamos estudado. A história dos trabalhadores que foi mostrada no filme também estava nos textos13 que lemos. Comparando os dois filmes, os dois falavam das crianças exploradas, mas, de maneira diferente. Como ainda acontece ainda hoje. No “Oliver Twister” os homens adultos se aproveitam dos meninos fazendo eles roubarem e as meninas se prostituir. No “Daens um grito de justiça”, as crianças tinham que trabalhar desde cedo para ajudar os pais. Senão não tinham o que comer. Na atualidade, sempre vejo pelo noticiário que ainda tem gente que usa as crianças, pra roubar, trabalhar como escravo, se prostituir, cuidar dos pontos de droga, vender doce nas esquinas etc.Essa situação de se aproveitarem das crianças e usarem elas, vem de muito tempo. Hoje tem leis que protegem as crianças, mas tem gente que ainda não respeita e não cumpre as leis. Então acho que isso só vai acabar no dia em que todos os pais tiverem trabalho e um salário que dê pra sustentar a família

No texto o aluno faz referência a alguns aspectos da linguagem

cinematográfica. Essa observação é interessante, já que é por meio dela que o

cinema se realiza como experiência estética e veículo de mensagem. Analisá-las

serve para aprimorar e refinar o olhar analítico sobre o filme. Porém, ficou evidente

mais uma vez que filmes longos sempre trazem percalços, principalmente os que

não são do “gênero” dos alunos.

O que nos chamou a atenção foi quando considerou o filme “Daens“ “chato”,

provavelmente por este fugir do seu padrão de consumo. Também fez referência à

dificuldade com a legenda. O adolescente entre as idades de 14 e 15 anos, ainda

prefere filmes dublados. Nesta faixa etária estão mais interessados nas cenas que

nas narrativas. Neste caso, se não tivéssemos aliado outros documentos (textos) ao

12 Na transcrição do texto do aluno, preservo-se a originalidade da linguagem por ele empregada.13 O aluno se refere aos trechos das obras de Karl Marx e Eduard P. Thompson.

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filme, não teríamos conseguido fazer as reflexões necessárias sobre o tema. Isso

nos aponta que o uso do cinema não pode ser uma atividade isolada em si mesma,

trabalhar com outros documentos não isola o filme.

A experiência evidenciou que os filmes podem tornar-se cansativos e não

prender a atenção dos alunos por todo o tempo de duração, assim, além da edição

do filme como possibilidade, exige-se do professor um trabalho de desconstrução da

indústria cultural do cinema, que homogeneíza e dissemina determinados padrões

culturais.

Compreendemos que o professor deve estar atento a linguagem do cinema já

que este não é apenas um “veículo de comunicação de massa”, mas constitui-se

numa prática social, tem potencial de influenciar e interferir sobre a realidade

presente e passada, disseminando valores e projetos de grupos hegemônicos.

Como nenhum filme é neutro, o professor ao propor o uso da linguagem

cinematográfica, tem como objetivo didático desenvolver nos seus alunos

competência de analisar, criticar e interpretar essas fontes como documento. A partir

do momento que reconhece o papel das diferentes linguagens e contextos

envolvidos na sua produção, proporciona maior autonomia dos alunos frente às

imagens.

CONCLUSÃO

O Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Estado da

Educação do Paraná possibilitou aos professores do Ensino Fundamental e Médio

da rede de ensino levantar problemas que circundam sua prática docente e buscar

subsídios historiográficos produzido na academia. O diálogo que se estabelece entre

os professores do Ensino Superior com os da Educação Básica é primordial para a

elaboração e execução do projeto de pesquisa.

As dificuldades para a execução do projeto surgiram no momento da

implementação (primeiro semestre de 2009) já que tínhamos um cronograma de

atividades para seguir. O projeto exigia constantemente novas leituras, elaboração

de atividades, aplicação dos questionários, entrevista e o grupo de GTR (Grupo de

Trabalho em Rede), ao mesmo tempo. Essas séries de atividades demandavam

tempo para além do destinado ao projeto pela Secretaria de Estado (25% da carga

horária de trabalho). Constatou-se que o tempo se tornou insuficiente, já que como

docentes temos jornadas exaustivas, com atividades para além da escola e sala de

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aula. Pensamos que os coordenadores do Programa, para melhor execução dos

próximos projetos de pesquisa, poderiam distribuir equilibradamente as atividades

do cronograma, para justamente ser mais bem realizado.

Esse estudo nos apontou para possibilidades de uso do filme na escola, bem

como analisou as práticas mais comuns de um grupo de professores de História.

Buscou-se entender as dificuldades e a prática didática que envolve os filmes

em sala de aula na disciplina de História. Percebeu-se que seu uso é uma prática

cotidiana nas escolas de nosso município. Possibilitada pela facilidade de acesso às

tecnologias, pelo fato de todas as salas de aula das escolas públicas estaduais do

Paraná se encontram aparelhadas com as TVs multimídias, e também pela tentativa

de aproximar os alunos dos temas estudados com os recursos filmíticos, já que

existe uma empatia dos educandos e dos docentes para com eles. Neste sentido, o

uso do filme é recorrente nas escolas.

Ficaram aparentes as dificuldades no uso desse recurso. Dificuldades que

parecem ampliadas considerando que as práticas deveriam orientar para a

emancipação, esclarecimento e formação plena dos alunos, o que não ocorre, pois

as atividades se reduzem à reprodução do filme, muitas vezes corroborando versões

tradicionais do processo histórico.

Alguns procuram usar estratégias mais críticas e formativas, entretanto na

maioria das vezes sem atingir a profundidade adequada para a formação ampla e o

estabelecimento de hábitos de observação mais apurada e técnica, na leitura da

produção cultural. É preciso compreender o filme como documento e todos os

desdobramentos do seu uso como linguagem.

Os professores se esforçam para superar as dificuldades que se apresentam

frente ao número insuficiente de aulas semanais na disciplina, falta de acervo de

filmes didáticos e não didáticos nas escolas e, principalmente, no como usar

adequadamente as imagens em movimento nas atividades didáticas.

Constatou-se a ausência de uma formação pedagógica sistemática para o

uso dos filmes, o que restringe a exploração e problematização da linguagem. Pois

os professores nem sempre estão preparados para enfrentar a complexidade das

relações que essa tecnologia exige. Portanto, como no letramento, uma

alfabetização também no audiovisual faz-se necessária.

É necessário propiciar uma capacitação sobre essa temática, mas que não

seja somente técnica no uso dos recursos filmíticos e que oriente os professores no

sentido de uma prática que venha possibilitar a emancipação e formação dos alunos

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na leitura dessa linguagem, já que as imagens em movimento fazem parte do

cotidiano escolar e presente nas diversas áreas do conhecimento.

Quanto às práticas desenvolvidas em sala de aula, com os filmes “Oliver

Twist” e “Daens – um grito de justiça” esperamos que possam contribuir com outras

propostas de trabalho, mas que não sirvam de “modelo”, pois são apenas alguns

apontamentos para a construção de discussões e encaminhamentos que podem

possibilitar ao professor e aluno o exercício da crítica histórica. Espera-se que as

considerações levantadas ao longo deste trabalho gerem referências para os

profissionais de educação, que buscam nos filmes novas possibilidades de

ensino/aprendizagem e procuram superar os desafios de sua prática docente.

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