o uso da violência contra o estado ilegal - vladimir safatle

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  • 8/2/2019 O uso da violncia contra o Estado ilegal - Vladimir Safatle

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    do capital ". 0 resto, que e simplesmente tudo, e gestae pu . .nitiva e social-compensat6ria de uma sociedade de mercado condenada pelodesassalariamenro sisremico a emitir sinais alarmantes de convulsao possivel;o quanto basta para acionar poderes economicos de emergenda, fechando-seo cfrculo vicioso do controle", 0 golpe abr iu e fechou essecfrculo, que hojecontinua a radar.

    capiralisras contra 0 pIeno emprego, exceruando-se 0 Esrado de excecao, Por isso,como assinalou Leda Paulani, a normalizacao em ambiencia rentisra exige 0Estadode emergencia economica, assegurador da renda minima do capital por meio dacriacao de uma divida publica de alta renrabilidade.

    55 Alern do art igo citado, "AConstiruicao dirigente invertida", ver ainda a tese ine-dita de Luis Fernando Massonerto, 0 d i r ei t o j il 1a l1c e ir o 110 cap i ta l ismo con t empord -

    (Tese de Doutorado, Sao Paulo, Depto. de Direi to Economico-Flnanceiro daJ.'''l.wuaut: de Direito, USp, 2006).

    < '56 Cf Paoli, "0,mundo do indistinto: sobre gestae, violencia e polirica",Oliveira e Cibele Rizek (orgs.), A erada indeterminaaio (Sao Paulo,

    DO usa D A V IO LE NC IA C ON TR A 0 E ST AD O IL EG ALVladimir Safatle

    A meu paiEle expulsou a cena da memoria.

    Era uma lembranca falsa.G eo rg e O r we ll , 1 9 84

    Os fascistas f izeram de Auschwitz 0 paradigma da catas trofe social.Contra ele, 0 seculo XX cunhou 0 imperativo "fazer com que Auschwitznunca mais ocorra", Mas talvez nao seja superfluo perguntar, mais uma vez:o que exa tamente aconteceu em Auschwi tz que se la este nome com 0 selodo que nunca mais pode retornar? E verdade que, diante da monstruosida-de do acontecimento, colocar novamente uma questao desta natureza podeparecer alga absolutamente desnecessario, Pois, afinal, sabemos bern 0 queaconteceu em Auschwitz, acontecimento que sela este nome com a marcado nunca vis to . Todos conhecem a resposta padrao. Auschwitz e 0 nome dogenoddio industrial, pragramado como seprograma uma meta empresarialquantitativa. Ele e 0nome do desejo de eliminar 0 inumeravel de um povocom a racionalidade ins trumental de um adminis trador de empresas.

    Mas, se devemos recolocar mais uma vez esta questao e para insist ir naexistencia de um aspecto menos Iembrado da logica em operacao nos cam-pos de concentracao. Ate porque, infel izmenre, a his toria conhece a recor-rencia macabra de genoddios. Corneco com este ponto apenas para dizerque e bern provavel que a dimensao realmente nova deAuschwitz esteja emoutro Iugar . Talvez ela nao esteja apenas no desejo de eliminacao, mas naarticulacao entre esse desejo de elimina

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    0 que res ta da diraduraaquele que nao deixa cadaveres e oftor cadaver e 0 sofrim~o qlle. exige~. Valeria trazer, a este respei to, urna frase preci sa de Jacques Derrida:"0 que a ordem da representacao tentou exterminar nao foi somente rni-lhoes de vidas hurnanas, mas tambem urna exigencia de jus tiya, e tarnbemnomes: e, primeiramente, a poss ibil idade de dar , de inscrever , de chamar ede lembrar 0 nome'".

    Foi nes te sentido que Auschwitz teve 0 t riste des tino de expor como 0micleo duro de todo total itar ismo setransforma em acao ordinar ia . Pois 0totalitarismo nao e apenas 0 aparato polit ico fundado na operacao de urnaviolenc ia estat al que visa a e liminacao de todo e qualquer setor da popu-lacio que quest iona a legal idade do poder , violencia que visa criminalizarsistematicamente todo discurso de quest ionamento. Na verdade, 0 total i-ta rismo e fundado nesta violenc ia muito mais brutal do que a e liminacaoHsica: a violencia da eliminacao s imbolica. Neste sentido, ele e a violenciadaj_mposicao do desaRarecimento do n0Il!-~~'No cerne de rodo total itar is -mo, havera sempre a operacao sistematica de ret irar 0 nome daquele que amim se opoe, de transforma-lo em urn inorninavel cuja voz , cuja deman-da encarnada em sua voz nao sera mais objeto de re ferenda a lgurna . Esteinominave l pode , inclusive, receber, nao urn nome, mas urna espec ie de"designacao impronunciavel" que visa isola-lo em urn isolamento sem re-torno. "Subversivo", "terrorista". A partir desta designacao aceita, nada maisfalaremos do des ignado, pois s implesmente nao ser ia possfvel falar comele, porque ele, no fundo, nada falar ia , haver ia muito "fanat ismo" nes tessimulacros de sons e a rgurnentos que ele chama de "fa la", haveri a mui to"ressentimenro" em suas intencoes, haveria muito "niilismo" em suas acoes.Ou seja , haveri a mui to "nada". Claro esta que este inominavel nada te rn aver com ases traregias ( tao presentes na polft ica do seculo XX) de recusar 0nome atual, 0 regime atual de nomeacao, isto a fim de abrir e spac;:oa urnnome por vir '. Antes, ele e a reducao daquele colocado na exter ioridade acondicao de urn inominavel sem recuperacao ou retorno",

    Jacques Derrida, F a rc a d e l ei (SaoPaulo, Martins Fontes, 2007), p. 140.Para esta discussao, ver Alain Badiou, E t h iqu e : e s sa i s u r fa con sc ien cedu ma l (Paris,Nous, 2003).Selevarmosa serioa centralidade desraoperacao de desaparecimento do nome em todorotalitarismo, sera necessario urn cerro complememo it critica de Giorgio Agamben itdesagregayiio normativa propria ao lugar de excecao do poder soberano. Agambendernonstra como a definicao de Carl Schmitt sobre a soberania ("E soberano quem

    Do uso da violencia contra 0Estado ilegal 239Que a violencia s imbolica do desaparecimento do nome, da anulacao

    completa dos traces seja 0 sintoma mais brutal do totali tari smo, e is algoque explica porque, no momento em que a exper iencia da democracia ate-niense cornecava a chegar ao f im, 0 esplr ito do povo produziu urna das maisbelas ref lexoes a respeito dos l imites do poder . Ela e 0 verdadeiro micleo doque podemos encontra r nesta tragedia que nao cessa de nos assombrar, asaber, Antigona',

    Muito ja se foi diro a respeito des ta tragedia, em especial seu pretensoconflito entre as leis da famil ia e as da polis. No entanto, va le a pena lem-brar como no seu seio pulsa a seguinte ideia: 0Estado deixa de ter qualquerlegitirnidade guando mata pela segunda vez aqueles gue foram monos!i~~-?ITLe~f1!;'-Oue fica claro na imposicao do interdito legal de todo e qualquercidadao enterrar Polinices , de todo e qualquer cidadao reconhece-lo comosujeito apesar de seus crimes. Pois nao enterra-lo so p-odesig_nificarnao aco-lher sua memoria atraves dos riruais fiinebres, anular os trac;:osde sua exi;_5enciaj reUrar _ .~.!:L!!Q~. Uma sociedad~;~~!!lla t~~~~~2~~politica de Estado, como dizia Sofocles, prepara sua propria ruina, elirninas~a sub~tin~i~~or '; I Nao tern mais 0 direi to de exist ir enquanto Estado. E eisto que acontece aTebas: ela selaseu fim no momento eIIlq~~

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    o que resta da diradurapos que desaparecem, mas osgri tos de dor que tern a forca de cortar 0 conti-I f"nuo da his t6ria. "Nao havera por tadores do seu sofrimento, ninguem dele selembrara ..Nada aconteceu", sao as palavras que as ditaduras sul-americanasL-nao cansaram de repetir aqueles que elas procuraram exterminar.

    No entanto , na maior ia dos casos, esse desejo de desaparecimento naoteve forca para perdurar, NaArgentina, por exemplo, amplos setores da so-ciedade civil foram capazes de forcar 0 governo de Nestor Kirchner a anularo aparato legal que impedia a punicao de tor turadores da ditadura mil itar ,A just ica nao teve medo de novamente abrir os processos conrra mil ita -res e de rnostrar que era POSSIvelrenomear os desaparecidos, reinscreversuas hi stori as no inte rior da historia do pai s. Da mesma forma, no Chile ,grac;:asa mobil izacao mundial produzida pela prisao de Augus to Pinochetem Londres, carrascos como Manuel Contrera foram condenados a prisaoperperua, 0Exerciro foi obr igado a emitir nota oficial em que reconheceunao se solidar izar mais com seu passado. Em urna decisao de for te s ignifi-cado s imb6lico, ate mesmo 0 soldado que assass inou 0 cantor Victor Jarano Estadio de Chile tambem sera processado. Neste sentido, 0 unico paisque realizou de maneira bem-sucedida aspalavras dos carrascos nazistas foio Brasi l: 0 pais que real izou a profecia mais monstruosa e espur ia de todas ,A p r of e ci a da u i ol en c ia s em t rauma .

    Toda violencia se equivale?Levando em conta tais quest6es, tra ta-se neste artigo de discuti r a se -

    guinte tese, tao presente nos t il timos meses nos principais meios de cornu-nicacao deste pais: ~uecimento dos "excessos:~,42J)

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    242 0 que resta da d itaduratortura e assassinato, mas estavamos em urna guerra contra ' terroristas' [co-

    \

    . mo disse, por exemplo, 0 sr. Tercio Sampaio Ferraz, nao em 1970, no augeda Guerra fria, mas em 20086] que queriam transformar 0 pais em urna su-cursal do comunismo internac ional ". "0 out ro lado nao era composto de

    Lsantos", cosruma-se dizer.Ao uti lizar tal a rgumento, tra ra-se princ ipalmente de tentar ~3.

    ideia de que toda violencia seequivale, q~: nao hidifereIl

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    244 0 que resta da diradura Do uso da violencia contra 0Estado i lega l 245tar crimes contra a hurnanidade, como 0 te rro rismo de Estado, a tortura ea ocultacao de cadaveres, 0 iinico pais onde as Forcas Armadas nao fizeramurn mea-culpa sobre 0 regime militar, onde os corpos de desaparecidos ain-da nao foram identificados porque 0Exercito teima em nao dar tais infer-rnacoes, descobrimos que, caso a anistia contra tais carrascos seja suspensa,I minis tros do STF estar iam dispostos a condenar tambem militantes da lurat _ armada contra 0 regime militar por assassinato e tortura.

    Duas perguntas devem ser postas aqui a respe ito do argumento de que"os dois lados tern crimes contra a hurnanidade". A primeira e: qual 0 casode tor tura fei to por "terrorisras"? Como simplesmente nao hi (e mesmo sehouvesse, vale a pena lembrar que a Lei de Anist ia nao prescreveu os ditoscrimes de sangue, tanto foi ass im que guerr ilheiros que assal taram bancos epar ticiparam de atentados continuaram na prisao apos 1979) , criou-se urnargumento de circuns tancia que consiste em dizer que os seques tros tam-

    ,.._.ern eram crimes cont ra a hurnanidade . Como nao adianta lembra r que! crimes contra a hurnanidade sao crimes perpet rados pelo Estado cont raI

    i seus cidadaos e=~ao.a

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    246 0 que resra da ditadura

    que urn governo so e legit imo quando se funda sobre a vontade soberanade urn povo livre para fazer valer a multiplicidade de interpreracoes a respei-to da propr ia nocao de "Iiberdade" . Urn governo marcado por eliminacaode partidos, atemorizacao sistematica de setores organizados da sociedadecivil, censura, eleicoes de fachada marcadas por casuismos infiniros, alem deassassinato e exilio de adversaries como politica de Estado certarnente naocabe neste caso (diga-se de passagem, isto vale tanto para ditaduras de direi-ta quanto para revolucoes populares ern estado de degenerescencia, regimestotalitarios burocraticos ou despotismo oriental travestido de esquerda).

    e> Neste sentido, podemos estabelecer, como principio, que alegalidade de) todo e qua lquer Estado esta l igada a sua capacidade de criar estruturas ins-!Utucionais que realizem a exper iencia social da l iberdade. Ele deve, ainda,levar ern conta que a propria de terrninacao do sentido do conceito de "Ii-berdade" e 0 ob je t opor ex ce l en c ia do ernbate politico. "Liberdade" e 0nomedo que expoe a,na~ CO_l!iliI)d~_daoc~ Nao estarnos de acordo arespeito-~ s ignifica "I iberdade", ja que, para ela , convergem aspiracoesadvindas de tradicoes polfticas distintas. Podemos afirmar que liberdade eindissociavel do "igualirarismo radical" e do "combate a exploracao socioe-conornica". Ou podemos insistir que a liberdade e indissociavel do "direitopropr iedade". No entanto , bloquear a possibi lidade polit ica de combateern torno de processos e valores e, corn isto, ignorar a natureza conflitual dovinculo social, e sempre a primeira acao de urn Estado ilegal".

    Por isso, podemos dizer que 0segundo principio que constitui a tradicaode modernizacao politica da qual fazemos parte afirrna que 0 direito funda-mental de todo cidadao e 0 direito a rebeliao, Quando 0Estadose'cransro~:~maerr:t-Est:ado- il~gal, a resIst~;;:ci;:p~~~;d;~ os meios e urn direito. Nestesentido, eliminar 0 direito a violencia contra urna situacao ilegal gerida peloEstado significa retirar 0 fundarnento subs tant ivo da democracia' ", Que a

    Por i sso , 5 6pod emos e srar d e ac ordo com u rn a d ef in ic ao prec is a d e C laude Lefor t: "0Esrado democcitico excede os l imites rradicionalmente a tr ibufdos ao Estado de d ireiro .Experimente d ireiros que a inda nao !he estao incorporados, e 0 teatro de urna contesta-c ;:aocujo objero nao se reduz a conse rvacao de urn pacro rac itamenre estabelec ido masque se forma a par ti r de f ocos que 0pod er n ao pod e domina r int ei rarne nre" . C la ud eLefort, A i nu en cd o d em o cr dt ic a (Sao Paulo, Brasiliense, 1983), p. 56; ou seja, a verda -deira democracia conhece a d is sociab il idade entre polit ica e ordenamento jurid ico.

    11 Em urn ar o de prof unda ma- fe, alguns procur am aproximar as acoes armadas queocor reram no Bras il d urant e a di ra du ra rni li tar e 0que ocorreu na Europa, a mesmaepoca , po r meio d as rnao s d e g rupos c omo Brigad as Verme lh as, Baad er -Meinhof

    II

    Do uso d a viol en ci a cont ra 0Est ado i legal 247

    democracia deva, a par ti r des te problema, confrontar-se corn "0 problema-do significado juridico de urna esfera de acao ern si extrajurfdica", ou ainda,corn a "exis rencia de urna esfera da acao hurnana que escapa totalmente aodireito"! ', que ela deva se confrontar corn urna esfera extrajuridica, mas nempor isso ilegal, nem por isso equivalente a excecao propria ao poder sobera-no, eis urn dos elementos maiores a exigir nossa criatividade polftica.

    Nao creio se r necessa rio aqui faze r a genese da consciencia da indi s-sociabi lidade entre defesa do Estado livre e direi to a violencia contra urnEstado ilegal. No que diz respe ito ao Ocidente, e bern provavel que suaconsc ienc ia nasca da reforma protest ante corn a nocao de que os valoresmaiores presentes na vida social podem ser objeto de problernatizacao e crf-t ica. Ela esta presente, por sua vez, no art igo 27 da Declaracao dos Direi tosdo Homem e do Cidadao de 1793, docurnento fundador da modernidadepolitica. Arrigo que afirrna "que rodo individuo que usurpe a soberania sejaassassinado imediaramente pelos homens l iv r es " !" . Ainda hoje, ela aparece

    PAC, Ac;:i ioDire ta e tc . ' Irara-se de urn amalgama profundamente desones ro e d is to r-cido. As a co es que ocor re ram no Bras il foram d ir ig id as cont ra urn Esrado i le ga l. E st en ao e ra 0 caso da Alemanha, da Franca e da It al ia nos anos 1970, 0 que dernonstrao car ater profundamente imper doavel, repugnante e m edonho do que fi zeram tai sg ru po s. U rn Est ado i le gal na o se c on funde , em abso lu ro , com urna semidel ll oc ra ci aou com ur na democracia com imperf ei coes. Ha urna di scussao mulro insr rutiva deMichel Foucault a este r espeir o em 0 n a sc im e nt o d a b io p o li ti ca (Sao Paulo, MartinsFomes, 2009). Tentar confundir os dois e urn argumento que acaba apenas porreforca r a ren ta ti va de s erores c on serva do res d e di ss olve r 0 cararer excepcional denos sa d ir adura rni li ta r, Por ou tro l ado , ne nhurn g rupo a rmado b ra si le iro s equ es crouavi oes, impl ement ou pol iti ca de at emor izacao sistemat ica de populacao civil ouab surdo s do g en era. Poi s a fi rrna r qu e to da a fa o c on tr a 1 1m E s ta do ile ga l e l im a a fa olegal signi fi ca e xat amente aqui lo qu e a a fi rmac ;: ao que r di ze r, o u se ja , q ue se t rat a d ea co es cont ra a es trurura do Es ta do e, em h ip6tes e a lg uma, concra populac oe s.

    13 Ibidem, p. 24 .14 A sua maneira, 0 r exto dos revoluc io nar lo s f ra nce se s rec up era urna d as idei as fun -

    d amen ta is d a Decl arac ao da Ind ep end en ci a dos E st ados Unido s: "Con side ramo sessas verdades como evidences por si mesmas, que rodos os homens foram criadosi guai s, f or am dotados pelo Criador de certos di reitos inal ienavei s, que entre est esest ao a vi da, a li ber dade e a busca da feli ci dade. Que a fim de assegurar estes direi-tos , governos sao ins tiru idos entre os hornens , derivando seus jus tos poderessentimento dos gover nados; que, sempr e que qual quer formades crut iv a d e t ai s f in s, ca be a o povo 0 d ir ei to de al te rd -l a ounovo governo, baseando- o em t ai s pr indpios e or gani zando-l he osforma que !he p are~a mai s conv enien te p ara real iz ar -l he a "::~:W111~4Marco Mondaini, Dire i tos httmanos (Sao Paulo, Contexto,

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    248 0 que resta da d itadurano art igo 20, paragrafo V da Constituicao alerna como "direi to a resisten-cia" ( Re ch t z um W i de rs ta nd ). Encontramos urn direito similar enunciadoem varias const iruicoes de esrados nor te-americanos (New Hampshire,Kenrucky.Tennesse, Carolina do Norte, entre outros)

    No enranto, nao devemos compreender a ideia fundamental deste di-reito a resistencia simplesmente como 0 rnicleo de defesa contra a dissolu-

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    Do uso da violencia contra 0Esrado ilegal 25150 0que resra da ditadurade expedientes fora da lei), demincias sucessivas de "mar de lama" desd~ aprimeira eleicao presidencial e,por fun, 0 fato aberrante de urna Constiruicaoque, vinte anos depois de ser promulgada, possui urn conjunto inurneravelde art igos de lei que s implesmenre nao vigorarn, alern de ter recebido maisde sessenta emendas - como se Fossequestiio de continuarnente flexibilizaras lei s a pa rtir das conveniencias do momento. Vivemos em urn pais cujoprimeiro presidente pos-diradura sofreu urn impeachment,,"?~~~~n,~?;;~i-~~n,:~,:!:i:?~~I1.lp=,ou sua. r::l:i~~!?~HlJQImWc:lQ.deputadQs-~cuJQP;Qcura-d_

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    o querestada ditaduraPor f im, vale a pena terminar ins is tindo em uma resposta "es trutural"

    aos a rautos do Partido da Amnesia. E la consi st e em lembrar que nenhumpais conseguiu consolidar sua substancia normativa sem acertar COntascomos crimes de seu passado. Seha algo que dever iamos apreender de uma vezpor todas e: nao ha esquecimento quando sujei tos sentern-se violados porpraricas sistematicas de violencia estatal e de bloqueio da liberdade social-mente reconhecida. Se ha algo que a his t6ria nos ens ina e: osmonosse calam. Aqueles 0 procurou semprecom a irredutfvel dos espectros. Pois, como dizia Lacan~~5!_q1l~ eexpulso do universo s imb6lico, retornano re