o uso da Água de chuva em postos de serviÇos automotivos no espaÇo urbano de ponta grossa, pr
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Os riscos de escassez de água, com qualidade e em quantidades suficientes paraatender às necessidades da população, estão sendo amplamente divulgados. PontaGrossa apresenta crescente demanda de água. A deficiência de saneamento diminua disponibilidade de água com qualidade. O sítio urbano localiza-se no alto deespigões radiais que dificultam o aproveitamento da água de rios. Por outro lado, acidade situa-se numa região chuvosa o ano todo. Buscando alternativas de usoracional da água, as coberturas dos postos podem funcionar como coletores paracapturar água das chuvas. Esta pode ser armazenada e destinada para fins nãopotáveis, sobretudo, na lavagem de veículos. O estudo teve como objetivo analisar apossibilidade técnica e a viabilidade econômica de aproveitamento de água dechuva para usos não potáveis em postos de serviços automotivos da área urbana dePonta Grossa. Por meio de investigações exploratórias foram visitados egeorreferenciados 42 postos, nas principais vias da cidade, nos quais, se identificoua oferta de lavagem e as fontes de águas que abastecem os postos para umamelhor compreensão de como ocorrem as práticas de uso da água nestes empreendimentos. Em seguida, foram selecionados os postos que aproveitam aágua de chuva para verificação do funcionamento dos sistemas instalados,estimativa das demandas por águas não potáveis e análise da viabilidadeeconômica do sistema. Pode-se concluir que o aproveitamento de água de chuva é tecnicamente e economicamente viável nos postos da cidade.TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA SETOR DE CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS
DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS
RICARDO LETENSKI
O USO DA ÁGUA DE CHUVA EM POSTOS DE SERVIÇOS AUTOMOTIVOS NO ESPAÇO URBANO DE PONTA GROSSA, PR
PONTA GROSSA
2009
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA SETOR DE CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS
DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS
RICARDO LETENSKI
O USO DA ÁGUA DE CHUVA EM POSTOS DE SERVIÇOS AUTOMOTIVOS NO ESPAÇO URBANO DE PONTA GROSSA, PR
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de graduado na Universidade Estadual de Ponta Grossa, Área de Geografia. Orientador: Prof. Dr. Mário Sérgio de Melo
PONTA GROSSA
2009
RICARDO LETENSKI
O USO DA ÁGUA DE CHUVA EM POSTOS DE SERVIÇOS AUTOMOTIVOS NO
ESPAÇO URBANO DE PONTA GROSSA, PR
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de graduado na Universidade Estadual de Ponta Grossa, Área de Geografia.
Ponta Grossa,______de_____________________________de 2009.
Prof. Dr. Mário Sérgio de Melo Pós-Doutor em Sedimentologia
Universidade Estadual de Ponta Grossa
Profa. Dra. Maria Lígia Cassol Pinto
Doutora em Geografia Universidade Estadual de Ponta Grossa
Prof. Dr. Alceu Gomes de Andrade Filho
Doutor em Engenharia Hidráulica e Saneamento Universidade Estadual de Ponta Grossa
Prof. Luís André Sartori Universidade Estadual de Ponta Grossa
Dedico aos autores dos meus dias Teodósio e Edecléia (in memorian), que me ensinaram a perseguir meus ideais.
AGRADECIMENTOS
A minha Mãe Divina Espiritual e ao Pai Celeste.
Ao Professor Orientador Dr. Mário Sérgio de Melo pela contribuição com seus preciosos conhecimentos e sugestões na orientação deste trabalho.
Aos funcionários dos Postos de Serviços Automotivos pela recepção, fornecimento de informações e pela possibilidade acesso aos empreendimentos.
Aos funcionários da Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR) pela disponibilização de dados, na pessoa de Fabiano Icker Oroski, Coordenador Industrial da Unidade Regional Ponta Grossa.
Ao Núcleo de Estudos em Meio Ambiente (NUCLEAM) pela atenção e disponibilização de materiais, nas pessoas da Professora Maria Aparecida Hinsching e do Professor Fernando Pilatti.
Aos colegas de graduação pelo apoio e incentivo para realização deste trabalho.
A Tatiana Constantino pelo companheirismo, pela compreensão e dedicação.
A família e aos amigos pelo amor e generosidade.
A todos que de alguma maneira contribuíram com a conclusão dessa pesquisa.
Às vezes, uma gota de chuva morre de medo ao cair no oceano. O mar é gigantesco e ela sabe que ele ira engoli-la. Todavia, segundos após cair sobre o mar a gota de chuva percebe que deixou de ser uma gota e passou a ser o próprio oceano...
(Adriano Hungaro)
RESUMO
Os riscos de escassez de água, com qualidade e em quantidades suficientes para atender às necessidades da população, estão sendo amplamente divulgados. Ponta Grossa apresenta crescente demanda de água. A deficiência de saneamento diminui a disponibilidade de água com qualidade. O sítio urbano localiza-se no alto de espigões radiais que dificultam o aproveitamento da água de rios. Por outro lado, a cidade situa-se numa região chuvosa o ano todo. Buscando alternativas de uso racional da água, as coberturas dos postos podem funcionar como coletores para capturar água das chuvas. Esta pode ser armazenada e destinada para fins não potáveis, sobretudo, na lavagem de veículos. O estudo teve como objetivo analisar a possibilidade técnica e a viabilidade econômica de aproveitamento de água de chuva para usos não potáveis em postos de serviços automotivos da área urbana de Ponta Grossa. Por meio de investigações exploratórias foram visitados e georreferenciados 42 postos, nas principais vias da cidade, nos quais, se identificou a oferta de lavagem e as fontes de águas que abastecem os postos para uma melhor compreensão de como ocorrem as práticas de uso da água nestes empreendimentos. Em seguida, foram selecionados os postos que aproveitam a água de chuva para verificação do funcionamento dos sistemas instalados, estimativa das demandas por águas não potáveis e análise da viabilidade econômica do sistema. Pode-se concluir que o aproveitamento de água de chuva é tecnicamente e economicamente viável nos postos da cidade. Palavras-chave: Uso da água, Água de chuva, Postos de serviços automotivos.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 – Quadro com os principais problemas decorrentes da urbanização que afetam a quantidade e a qualidade das águas.............................................................................................
12
FIGURA 2 – Ciclo hidrológico............................................................................ 18 FIGURA 3 – Chuvas convectivas...................................................................... 19 FIGURA 4 – Chuvas frontais............................................................................. 20 FIGURA 5 – Chuvas orográficas....................................................................... 21 FIGURA 6 – Gráfico do volume total de água no mundo e volume total de
água doce no mundo.................................................................... 24
FIGURA 7 – Quadro com as principais vantagens e desvantagens do aproveitamento de água de chuva...............................................
34
FIGURA 8 – Vestígios de cisternas escavadas na rocha no deserto do Negev...........................................................................................
36
FIGURA 9 – Fortaleza Massada e cisterna escavada na rocha, Deserto de Judá...............................................................................................
37
FIGURA 10 – Visão panorâmica da Fortaleza de Ratones................................. 39 FIGURA 11 – Ryogoku Kokugikan, ginásio de sumô, Sumida no
Japão............................................................................................. 40
FIGURA 12 – Vasos para armazenar água de chuva na Tailândia..................... 42 FIGURA 13 – Modelo de captação de chuva no Programa 1-2-1....................... 43 FIGURA 14 – Cisterna de placas........................................................................ 46 FIGURA 15 – Construção de uma cisterna de tela com arame.......................... 47 FIGURA 16 – Construção de uma cisterna com tela-cimento............................. 47 FIGURA 17 – Cisternas superiores e lavagem de veículo em máquina
abastecida com água de chuva.................................................... 49
FIGURA 18 – Projeção da área de coleta do telhado......................................... 51 FIGURA 19 – Quadro dos coeficientes de runoff das superfícies
coletoras....................................................................................... 52
FIGURA 20 – Modelo de calha com tela para contenção de sujeiras................ 53 FIGURA 21 – Modelo esquemático de funcionamento de um tanque de
sedimentação................................................................................ 55
FIGURA 22 – Dispositivo de descarte das primeiras chuvas proposto pelo senhor Tokunaga no Japão..........................................................
56
FIGURA 23 – Representação esquemática dos componentes do “kit chuva”............................................................................................
57
FIGURA 24 – Quadro com vantagens e desvantagens entre tanques e cisternas.......................................................................................
59
FIGURA 25 FIGURA 26 FIGURA 27 FIGURA 28
– – – –
Localização e abrangência da área de estudos............................ Quadro síntese do abastecimento de água em Ponta Grossa, dados históricos e previsões, 2003-2024...................................... Gráfico do volume necessário para suprir a demanda da cidade a capacidade real de abastecimento de água em Ponta Grossa, 2003-2024..................................................................................... Localização dos 42 postos de serviços automotivos visitados em Ponta Grossa..........................................................................
64 67 68 69
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 29 – Localização dos postos de serviços automotivos visitados em Ponta Grossa que oferecem serviço de lavagem de veículos........................................................................................
70
FIGURA 30 – Quadro síntese do uso de água nos postos de serviços de serviços automotivos pesquisados..............................................
70
FIGURA 31 – Gráfico do uso da água nos postos de serviços automotivos do espaço urbano de Ponta Grossa que oferecem serviço de lavagem (33 postos)....................................................................
72
FIGURA 32 – Localização dos postos de serviços automotivos do espaço urbano de Ponta Grossa que aproveitam água pluvial...........................................................................................
73
FIGURA 33 – Posto Tio Mucufa......................................................................... 76 FIGURA 34 – Posto Real................................................................................... 78 FIGURA 35 – Athenas Auto Posto..................................................................... 81 FIGURA 36 – Posto Cinco Primos..................................................................... 83 FIGURA 37 – Posto Gamper.............................................................................. 85 FIGURA 38 – Posto Pinheiro.............................................................................. 88 FIGURA 39 – Posto São Sebastião................................................................... 90 FIGURA 40 – Posto Flex.................................................................................... 92 FIGURA 41 – Posto Pianowski.......................................................................... 95 FIGURA 42 – Quadro dos volumes médios mensais de água de chuva
aproveitável por metro quadrado na região de Ponta Grossa.........................................................................................
96
FIGURA 43 – Quadro de volumes potenciais médios aproveitáveis de água de chuva para AC= 527 m2......................................................
97
FIGURA 44 – Quadro síntese dos dados de área de captação e consumo de água nos postos de serviços automotivos que utilizam água de chuva no espaço urbano de Ponta Grossa.........................................................................................
97
FIGURA 45 – Gráfico de relação entre a demanda por águas não potáveis e o volume médio de água de chuva aproveitável no espaço urbano de Ponta Grossa..............................................................
98
LISTA DE SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ANA Agência Nacional de Águas ANP Agência Nacional do Petróleo ASA Articulação no Semi-Árido Brasileiro EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural ETA Estação de Tratamento de Água GPS Sistema de Posicionamento Global IAPAR Instituto Agronômico do Paraná INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome NBR ONG
Norma Brasileira Organização Não Governamental
ONU Organização das Nações Unidas P1+2 Programa Uma Terra e Duas Águas P1MC Programa 1 Milhão de Cisternas PECMAC Programa Estadual de Captação e Manejo da Água de Chuva PNRH Plano Nacional de Recursos Hídricos PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PROSAB Programa de Pesquisas em Saneamento Básico PVC Cloreto de Polivinila SAB Semi-Árido Brasileiro SABESP Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo SANEPAR Companhia de Saneamento do Paraná UNEP United Nations Environment Programme UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura VPL Valor Presente Líquido WWF Fundação Mundial para Conservação da Vida Silvestre
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO................................................................................... 11 2. OBJETIVOS....................................................................................... 16 3. A ÁGUA............................................................................................. 17 3.1 DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA NO MUNDO E NO BRASIL................... 24 3.1.1 Gerenciamento racional e sustentável dos recursos hídricos........... 26 3.1.2 Legislação e Recursos Hídricos........................................................ 29 3.2 O APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA: HISTÓRICO E
PRÁTICAS RECENTES.....................................................................
32 3.2.1 Composição do Sistema de Aproveitamento de Água de Chuva...... 49 4. DESCRIÇÃO DO ESTUDO............................................................... 62 4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDOS................................. 63 4.2 O ABASTECIMENTO DE ÁGUA EM PONTA GROSSA................... 65 4.3 OS POSTOS DE SERVIÇOS AUTOMOTIVOS................................. 68 4.3.1 Aproveitamento de água de chuva nos postos de serviços
automotivos........................................................................................
72 4.3.1.1 Considerações sobre o uso de água de chuva nos postos de
serviços automotivos.........................................................................
95 5. VIABILIDADE ECONÔMICA DO SISTEMA DE
APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA....................................
99 6. CONSIDERAÇÃOES FINAIS E RECOMENDAÇÕES...................... 103 REFERÊNCIAS.................................................................................................. 105 APÊNDICES.......................................................................................................
115
ANEXOS............................................................................................................ 131
1. INTRODUÇÃO
De acordo com o relatório da Organização das Nações Unidas (2009)
intitulado “Revisão das Projeções da População Mundial”, a população do planeta,
atualmente com cerca de 6,5 bilhões de seres humanos, deverá ultrapassar 9
bilhões até meados do século XXI.
Para Alves (2007) durante o século XX, o impacto do crescimento
populacional e econômico sobre o ambiente natural foi enorme, provocando
alterações significativas no clima e nas condições de vida do planeta. A humanidade
tem um desafio muito grande pela frente, pois, por um lado, precisa crescer
racionalmente para reduzir a pobreza e a desigualdade e, por outro, precisa
conservar e preservar o meio ambiente, e as condições naturais que fornecem o
substrato da vida na Terra.
Entre os elementos que propiciam a vida na Terra, a água desempenha um
papel fundamental, sua simples ausência exterminaria qualquer uma das formas de
vida que conhecemos até hoje. Considerando que este recurso possui limites
bastante definidos e que uma parcela extremamente pequena está disponível às
necessidades humanas, à medida em que a população aumenta a quantidade de
água disponível por pessoa diminui e não pode ser substituída por nenhuma
substância alternativa.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e a
Cultura (2007), no mesmo ano, 3,3 bilhões de pessoas, mais de metade da
população mundial, viviam em cidades. Este total pode alcançar os 60% por volta de
2030.
Dessa maneira as cidades podem ser consideradas uma expressão do século
XXI. A concentração progressiva da população nas cidades acelera a expansão
urbana, impulsionando uma cadeia de problemas ambientais e urbanos.
Nas áreas urbanizadas, as construções, as grossas camadas de concreto das
calçadas e o asfalto das longas pavimentações são erguidos sobre a devastação da
vegetação. Com isso, a quantidade de água que normalmente deveria infiltrar
lentamente no subsolo é reduzida, significativamente, aumentando o volume e a
intensidade do escoamento superficial, que acelera os processos erosivos,
responsáveis por perdas de solo, agravando a situação de áreas de risco,
assoreando rios, e tornando mais constantes e sérias as enchentes urbanas. Os
principais problemas decorrentes da urbanização que afetam a quantidade e a
qualidade das águas podem ser observados na figura 1.
FIGURA 1 – Quadro com os principais problemas decorrentes da urbanização que afetam a quantidade e a qualidade das águas Fonte: TUCCI apud TUNDISI, J.G. (2005).
URBANIZAÇÃO
Aumento da densidade populacional
Aumento da densidade de construções e da cobertura asfáltica
Aumenta o volume de
água residual
Aumenta a demanda de
água
Deterioram-se Os rios a
jusante da área urbana e deteriora-se a
água de escoamento superficial
Reduz a quantidade de
água disponível (escassez potencial)
Deteriora-se a qualidade da água dos
rios e represas urbanos, receptores de
águas residuais
Diminui a recarga de água
subterrânea
Aumentam os problemas de controle da poluição e das enchentes
Aumenta as enchentes e os picos de cheias na área urbana
Aumenta a área
impermeabilizada
Alterações no sistema de drenagem
Alterações do clima urbano
Aumenta o escoament
o superficial
direto
Aumenta a velocidade
de escoament
o
Com o aumento da população será necessário produzir maior quantidade de
alimentos e gerar mais energia, aumentando o consumo doméstico e industrial de
água. Sendo assim, a contaminação dos mananciais também deverá ser acentuada,
devido a maior produção de efluentes.
Atualmente, mais de 1 bilhão de pessoas não tem acesso
à água limpa em quantidade suficiente para garantir a saúde e o desenvolvimento
social e econômico; e 2,4 bilhões não têm acesso a saneamento básico (TUNDISI,
2005).
Com tantos agravantes será difícil assegurar o abastecimento de água às
populações, tanto em quantidade como em qualidade. Nessas circunstâncias,
mesmo regiões, atualmente, com relativa abundância de água não estão isentas de
enfrentar algum problema com recursos hídricos e nas regiões que já convivem com
a escassez o caso pode tornar-se ainda mais grave.
Adicionalmente, as mudanças climáticas podem agravar significativamente a
situação pela maior frequência e intensidade de eventos extremos como chuvas
mais intensas em determinadas regiões e secas mais prolongadas em áreas já
castigadas pela escassez hídrica. A ocorrência de chuvas mais intensas tem como
consequência a elevação do nível dos rios e o alagamento das várzeas,
potencializando as situações de inundação bem como de deslizamentos de
encostas. Estiagens mais prolongadas poderão provocar situações de risco de
colapso no abastecimento de água em várias regiões urbanas adensadas, inclusive
nas principais metrópoles (AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DOS DIREITOS DA INFÂNCIA,
2009).
Diante de tudo isso, uma competição mais acirrada em regiões com
quantidades limitadas de recursos hídricos pode resultar em situações geradoras de
conflitos, fazendo crescer o risco de guerras pela água.
No entanto, esse futuro sombrio pode ser evitado. De Acordo com Llamas
(1991) problemas de escassez são praticamente inexistentes na maioria dos países
do mundo, sendo, em contrapartida, quase universais e graves os problemas de seu
mau uso e má gestão.
Existem diversas formas de melhorar o uso da água, como por exemplo,
aumentar o volume pela captação de mais água; gastar menos água diminuindo a
demanda; também é possível usar a mesma quantidade de água com mais
eficiência (CLARKE; KING, 2005). Além disso, podemos tornar o uso da água mais
racional compatibilizando a qualidade da água com o seu uso, pois desperdiçamos
diariamente água potável para regar plantas, lavar calçadas, roupas, carros e para
dar descarga em banheiros.
Entre as várias alternativas tecnológicas para melhorar o uso da água, o
aproveitamento de água de chuva é uma técnica bastante simples, eficiente,
relativamente barata e ambientalmente correta. É muito utilizada por populações
que dispõem de poucas alternativas para conseguir água, como as que convivem
com os regimes de secas das regiões áridas e semi-áridas. Nas áreas urbanas a sua
utilização, principalmente, para fins não potáveis vem ganhando força como uma
fonte complementar ao sistema público de abastecimento, pois possibilita reduzir a
demanda de água potável destinando-a para finalidades mais nobres como o
consumo humano e a ampliação de seu acesso para a população. Oferecendo
também economia significativa de recursos financeiros e energéticos com tratamento
e uso de água, protegendo ainda as águas subterrâneas. Além disso, utilizar água
da chuva significa contribuir para reverter os impactos negativos da urbanização
minimizando o desencadeamento de erosões, o agravamento e/ou o surgimento de
novas de áreas de risco e o assoreamento de corpos d‟água, evitando que águas
aproveitáveis se percam na poluição dos rios e provoquem enchentes urbanas.
Na área urbana diversas construções possibilitam o aproveitamento da água
da chuva como: edificações residenciais, comerciais, industriais e instituições
públicas e privadas.
A coleta de água de chuva pode ser efetuada em diferentes níveis conforme a
área dos coletores, a precipitação e a demanda do local a que será destinada. Os
coletores já estão prontos, estes, são os telhados das edificações, bastando a
instalação de calhas condutoras e um reservatório para onde a água deverá ser
escoada e armazenada para utilização em diversos fins, nos quais a água não
precisa ser potável, como para lavagem de automóveis, calçadas e para dar
descarga em banheiros.
A demanda por águas não potáveis pode variar bastante de acordo com a
função que o estabelecimento exerce no espaço urbano. Os postos de serviços
automotivos, que oferecem serviços de lavagem de automóveis, consomem um
volume elevado de água para fins não potáveis, além de oferecer a possibilidade de
instalação, com custo relativamente baixo, devido às suas grandes coberturas e à
economia que podem promover. No entanto, geralmente, servem-se de águas
tratadas ou de águas subterrâneas, que deveriam ser conservadas para fins
potáveis.
Ponta Grossa apresenta progressivo aumento da população, principalmente
urbana, que tem elevado a demanda de água. O sítio urbano localizado no alto de
espigões radiais dificulta o aproveitamento da água de rios, devido, entre outros
fatores, à topografia acidentada. A deficiência de saneamento e o descaso com a
preservação de arroios e rios no município diminuem a quantidade de água
disponível com qualidade. Se essa tendência se mantiver e a situação não for
solucionada, em breve, o município poderá ter que enfrentar problemas de
abastecimento de água. Que apresentará como sintoma, principal: aumento do custo
da água, devido à maior dificuldade em conseguí-la ou como medida visando
diminuir o consumo. Por outro lado, a cidade está situada numa região chuvosa que
possibilita o aproveitamento da água de chuva durante todos os meses do ano.
Embora o aproveitamento de água de chuva represente uma alternativa
interessante, principalmente do ponto de vista ambiental, a instalação de um sistema
de captação e aproveitamento de água pluvial depende de diversos fatores, dentre
eles a possibilidade técnica, a viabilidade econômica e a aceitação social. O
assunto abordado neste trabalho será a possibilidade técnica e a viabilidade
econômica do aproveitamento de água de chuva nos postos de serviços automotivos
da área urbana de Ponta Grossa, PR.
2. OBJETIVOS
Objetivo Geral:
Analisar a possibilidade técnica e a viabilidade econômica de aproveitamento
de água de chuva para usos não potáveis em postos de serviços automotivos da
área urbana de Ponta Grossa.
Objetivos específicos:
Investigar como ocorrem as práticas de uso da água nos postos de
serviços automotivos da área urbana de Ponta Grossa;
Inferir sobre a utilização de água de chuva nesses empreendimentos.
Espera-se que o estudo permita concluir sobre a de viabilidade técnica e
econômica de aproveitamento da água de chuva como uma alternativa saudável e
benéfica. Os resultados deverão apoiar a sua utilização para consumo não potável,
contribuindo para melhorar a relação humana com os recursos hídricos e para
enfrentar a tendência de crise no abastecimento de água.
3. A ÁGUA
A água como fonte de vida é mencionada em quase todas as teorias
filosófico-religiosas, considerada pelos gregos da antiguidade um dos quatro
elementos que sustentam a natureza, entre os quais ela seria o princípio de todas as
coisas.
Para a ciência contemporânea a água surgiu no planeta há cerca de 4,3
bilhões de anos, devido ao resfriamento da atmosfera, originando um oceano
primitivo, onde surgiram às primeiras formas simples de vida (bactérias), há
aproximadamente 3,8 bilhões de anos (SUGUIO; SUZUKI, 2003).
A água pura (H2O)n é um líquido formado por moléculas de hidrogênio e
oxigênio. Na natureza, ela é misturada ainda com gases como, dióxido de carbono e
nitrogênio; com sais, como nitratos, cloretos e carbonatos; e elementos sólidos como
poeira e areia que podem ser carregados em suspensão (AGUASTORE, 2008).
Á água é insubstituível, não se conhecendo outra substância com suas
propriedades, das quais se pode destacar: a ausência de cor, cheiro e sabor,
características que possibilitam sua presença como o principal componente da
maioria dos alimentos e bebidas; a transparência que a deixa ser atravessada pela
luz torna possível a vida de seres dependentes da luminosidade embaixo d‟água; a
capacidade térmica que permite a utilização da água nos três estados físicos: sólido,
líquido e gasoso; e por último a sua notável capacidade de dissolução lhe atribui a
figura de solvente universal.
Considerando que a quantidade total de água em nosso planeta varia muito
pouco, pode-se dizer que a dinâmica da água compõe um sistema fechado,
denominado de ciclo hidrológico (Figura 2), caracterizado pelo contínuo movimento
entre os estados sólido, líquido e gasoso, devido à maior ou menor quantidade de
energia que irradia do Sol até a Terra. De forma simplificada, podemos dizer que a
água dos lagos, rios, oceanos, vegetação, animais e solo evapora-se. O vapor de
água se move na atmosfera, podendo vir a se concentrar na forma de nuvem e se
precipitar retornando aos oceanos, rios, e ao solo ou permanecer na atmosfera
(MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2005). Tal ciclo possibilita a recarga das águas
subterrâneas e superficiais, a absorção pelas plantas e animais, sendo um dos
responsáveis pela manutenção da vida.
FIGURA 2 – Ciclo hidrológico Fonte: (PREFEITURA MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS, 2009)
Dessa maneira a água é um bem renovável, ou seja, possui a capacidade de
se reciclar através do ciclo hidrológico, porém na atualidade se reconhece a
vulnerabilidade desse recurso com capacidade limitada de autodepuração, sensível
às alterações no ambiente.
Para os seres humanos a água é um elemento fundamental, representando
cerca de 70% de sua constituição, o acesso à água potável é uma questão
importante relacionada diretamente à qualidade da saúde pública. A água é também
um insumo indispensável à produção e um recurso estratégico para o
desenvolvimento econômico. Todas as atividades humanas dependem da água, a
navegação, a indústria, o turismo, a agricultura e a geração de energia elétrica são
alguns exemplos de seu uso econômico (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2005).
Entre as fases que compõem o ciclo hidrológico, a precipitação tem uma
importância fundamental. Sendo uma forma indispensável de ocorrência de água na
natureza é responsável pela recarga de rios, aquiferos, pela manutenção e
desenvolvimento da vida, e por regular parte do equilíbrio da radiação terrestre.
A precipitação pode ocorrer sob a forma de orvalho, chuvisco, chuva, granizo,
saraiva ou neve, a partir da liberação do vapor d‟água presente na atmosfera sobre
a superfície da terra (VILLIERS apud MAY, 2004).
Segundo Ayoade (2004), somente a chuva e a neve contribuem
significativamente para os totais de precipitação, porém como nas regiões tropicais a
neve praticamente inexiste o termo precipitação pluvial, ou seja, chuva é sinônimo
de precipitação.
Convencionalmente existem três tipos principais de chuvas que se
diferenciam pela maneira como o ar se eleva originando-a. Conforme a Rede
Ciência Tecnologia e Sociedade (2009), os tipos são:
Chuvas convectivas ou de convecção - chuva que resulta do
aquecimento da superfície terrestre, originando a ascensão de massas
de ar quente, carregadas de vapor d‟ água. A elevação do ar provoca
seu resfriamento, condensando o vapor d‟água e, consequentemente,
ocasionando a precipitação. Esta chuva manifesta-se de forma intensa
e é de curta duração. São típicas da região intertropical, e de Verão no
interior dos continentes, devido às altas temperaturas. A figura 3
representa o comportamento das chuvas convectivas.
FIGURA 3 – Chuvas convectivas
Lete
nski, 2
009
Chuvas ciclônicas ou frontais - chuva que resulta do encontro de
duas massas de ar com características diferentes de temperatura e
umidade. Desse encontro, a massa de ar quente sobe, o ar resfria,
aproximando-se do ponto de saturação, dando origem à formação de
nuvens e, consequentemente, ocasionando a precipitação. São do tipo
chuvisco à passagem de uma frente quente ou do tipo aguaceiro, à
passagem da frente fria. São chuvas características das zonas de
convergência, isto é, das zonas de baixas pressões e, por isso, é este
tipo de chuvas que predominam nas regiões temperadas,
principalmente no inverno. A figura 4 representa o comportamento das
chuvas frontais.
FIGURA 4 – Chuvas frontais Fonte: (REDE CIÊNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE, 2009).
Chuvas orográficas ou de relevo - chuva que resulta de uma subida
forçada do ar quando, no seu trajeto, apresenta-se uma barreira
natural. O ar ao subir resfria e condensa-se formando nuvens
saturadas que dão origem à precipitação. São chuvas localizadas,
intermitentes e possuem intensidade bastante elevada. Ocorrem nas
áreas de relevo acidentado ao longo das vertentes na encosta de onde
sopram ventos úmidos. A figura 5 representa o comportamento das
chuvas orográficas.
FIGURA 5 – Chuvas orográficas Fonte: (REDE CIÊNCIA TECNOLOGIA E SOCIEDADE, 2009).
A chuva é uma ótima fonte alternativa de água que pode ser conseguida,
facilmente quando a quantidade de precipitação é suficiente.
A qualidade da água de chuva depende de sua localização e das condições
atmosféricas, variando conforme os gases e materiais em suspensão no ar durante a
precipitação. De acordo com o GROUP RAINDROPS (2002), a água da chuva que
cai no início da tempestade se chama “chuva inicial”, e é bastante suja. Então, se a
“chuva inicial” for eliminada e o restante da chuva for coletado pelo processo de
sedimentação1, sua qualidade aproxima-se da água encanada. Quando água
precipitada é armazenada em grandes quantidades e destinada para fins não
potáveis, a “chuva inicial” é diluída, e as substâncias nocivas coletadas do ar tornam-
se insignificantes partículas em relação ao volume total de água.
No entanto, procedimentos comuns para descartar a água dos primeiros
minutos de chuva, de modo a lavar a superfície coletora e limpar a atmosfera
carregada de poeira, sempre são adotados como medida de precaução (INSTITUTO
DE ESTUDIOS DEL HAMBRE, 2009).
1 “Decantação ou sedimentação: É o processo no qual a força da gravidade é utilizada para separar
as partículas de densidade maior que a da água, depositando-as em uma superfície ou zona de armazenamento (BIBLIOTECA DIDÁTICA DE TECNOLOGIAS AMBIENTAIS, 2009)”.
Conforme Andrade apud Giacchini (2003) os requisitos de qualidade e
segurança sanitária da água de chuva estão diretamente relacionados ao fim para o
qual se pretende destiná-las. Sendo assim, devem atender aos padrões de
potabilidade se o seu uso for doméstico e para fins não potáveis precisam ser
compatíveis com o seu uso.
De acordo com Agência Nacional de Águas e a Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo (2005) as exigências mínimas para o uso da água não potável
em função das diferentes atividades a serem realizadas nas edificações, são as
seguintes:
Água para irrigação, rega de jardim, lavagem de pisos:
não deve apresentar mau-cheiro;
não deve conter componentes que agridam as plantas ou que
estimulem o crescimento de pragas;
não deve ser abrasiva;
não deve manchar superfícies;
não deve propiciar infecções ou a contaminação por vírus ou bactérias
prejudiciais à saúde humana.
Água para descarga em bacias sanitárias:
não deve apresentar mau-cheiro;
não deve ser abrasiva;
não deve manchar superfícies;
não deve deteriorar os metais sanitários;
não deve propiciar infecções ou a contaminação por vírus ou bactérias
prejudiciais à saúde humana.
Água para refrigeração e sistema de ar condicionado:
não deve apresentar mau-cheiro;
não deve ser abrasiva;
não deve manchar superfícies;
não deve deteriorar máquinas;
não deve formar incrustações.
Água para lavagem de veículos:
não deve apresentar mau-cheiro;
não deve ser abrasiva;
não deve manchar superfícies;
não deve conter sais ou substâncias remanescentes após secagem;
não deve propiciar infecções ou a contaminação por vírus ou bactérias
prejudiciais à saúde humana.
Água para lavagem de roupa:
deve ser incolor;
não deve ser turva;
não deve apresentar mau-cheiro;
deve ser livre de algas;
deve ser livre de partículas sólidas;
deve ser livre de metais;
não deve deteriorar os metais sanitários e equipamentos;
não deve propiciar infecções ou a contaminação por vírus ou bactérias
prejudiciais à saúde humana.
Água para uso ornamental:
deve ser incolor;
não deve ser turva;
não deve apresentar mau-cheiro;
não deve deteriorar os metais sanitários e equipamentos;
não deve propiciar infecções ou a contaminação por vírus ou bactérias
prejudiciais à saúde humana.
Água para uso em construção civil: na preparação de argamassas,
concreto, controle de poeira e compactação de solo:
não deve apresentar mau-cheiro;
não deve alterar as características de resistência dos materiais;
não deve favorecer o aparecimento de eflorescências de sais;
não deve propiciar infecções ou a contaminação por vírus ou bactérias
prejudiciais à saúde humana.
3.1 DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA NO MUNDO E NO BRASIL
Sabe-se que cerca de 70% superfície terrestre é composta de água,
perfazendo um total de cerca de 1.386 milhões de km³. Essa quantidade não se
altera significativamente, embora possa mudar de estado físico, variando entre
sólido, líquido e gasoso. A água do planeta se encontra espalhada em mares, rios,
lagos, geleiras, aquíferos, no ar atmosférico, incorporada nos seres vivos e nos
objetos (CLARKE; KING, 2005).
A maior parte dessa água, aproximadamente, 97,5% é salgada. Menos de
2,5% é doce e está distribuída entre as calotas polares (68,9%), os aqüíferos
(29,9%), rios e lagos (0,3%), e outros reservatórios (0,9%). Desta forma, apenas 1%
da água doce é um recurso aproveitável pela humanidade, o que representa 0,
007% de toda a água do planeta (HIRATA, 2008). A figura 6 mostra os volumes de
água no mundo.
FIGURA 6 – Gráfico do volume total de água no mundo e volume total de água doce no mundo Fonte: (HIRATA, 2008).
Essa parcela de água doce acessível à humanidade no estágio tecnológico
atual e a custos compatíveis com seus diversos usos é o que se denomina “recursos
hídricos” (PEREIRA JÚNIOR, 2004). Conforme define a Organização das Nações
Unidas para a Educação Ciência e a Cultura (2008), são os recursos disponíveis ou
potencialmente disponíveis para satisfazer, em quantidade e em qualidade, uma
dada procura num local e período de tempo determinados.
O Brasil é um país privilegiado, dispondo da maior quantidade de recursos
hídricos do planeta Terra. Estima-se que a vazão dos recursos hídricos de superfície
brasileiros corresponda a cerca de 12% do total mundial (PEREIRA JÚNIOR, 2004).
Embora essa representação em nível planetário seja muito animadora, ela encobre
as enormes disparidades regionais que ocorrem internamente no país.
Cerca de 89% da potencialidade das águas superficiais do Brasil está
concentrada nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde vivem apenas 14,5% dos
brasileiros. Restando apenas 11% da potencialidade hídrica para as demais regiões
(Nordeste, Sul e Sudeste), onde estão localizados 85,5% da população e 90,8% da
demanda de água do Brasil (GEOBRASIL, 2002).
Embora o Brasil concentre o maior potencial hídrico mundial, algumas regiões
em seu território têm enfrentado escassez de água potável. Seja devido à sua
localização, ao seu regime hidrológico, às elevadas demandas ou à extrema
poluição.
Nas regiões Sul e Sudeste o elevado grau de urbanização, a densidade
populacional e os múltiplos usos da água estão levando à escassez em alguns
pontos, porque a conseqüente poluição compromete a disponibilidade de água e
encarece os custos do seu tratamento (CLARKE; KING, 2005).
Na região Nordeste, devido às longas secas, há escassez de águas
superficiais, o que é agravado por problemas como falta de saneamento básico e
contaminação por transmissores de doenças tropicais, tornando a situação da região
alarmante e bloqueando seu desenvolvimento (CLARKE; KING, 2005).
A situação dos recursos hídricos no Brasil abrange muitas outras questões
além dos problemas da má distribuição. A vasta extensão territorial do país dificulta
o gerenciamento das águas, que estão sofrendo constante pressão antrópica devido
à exploração excessiva, uso diverso indiscriminado, desmatamento, despejo de
esgotos e substâncias tóxicas reduzindo a quantidade de água com qualidade e
comprometendo o acesso de água à população.
3.1.1 Gerenciamento racional e sustentável dos recursos hídricos
Os impactos ambientais causados pela crescente industrialização iniciada
ainda no século XVIII, e que considerava os recursos naturais como inesgotáveis,
teve repercussão, em 1972, na cidade sueca de Estocolmo, quando a Organização
das Nações Unidas (ONU) chamou pela primeira vez a atenção das nações,
alertando para a degradação que as ações humanas estavam causando ao meio
ambiente, comprometendo gravemente o bem estar e a própria sobrevivência da
humanidade. Para tal realizou-se a I Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente, onde os líderes das nações debateram questões sobre o meio ambiente e
o desenvolvimento. Daí resultou a Declaração sobre o Meio Ambiente Humano
(1972), um documento sobre princípios de comportamento e responsabilidade que
deveriam direcionar as decisões relacionadas as questões ambientais, bem como na
cooperação dos países membros da ONU para a busca de soluções dos problemas
ambientais.
A necessidade de avaliação de como as nações haviam promovido a
conservação da natureza, levou à realização da II Conferência das Nações Unidas
Sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, sediada na cidade do Rio de Janeiro,
em 1992. Vislumbrando a necessidade de mudança no comportamento em direção
ao desenvolvimento global sustentável, que teve seus princípios básicos
estabelecidos na Agenda 21, principal produto do encontro. Esta consiste numa
agenda que prevê ações concretas a serem realizadas pelos governos e a
sociedade civil para se alcançar o desenvolvimento sustentável.
“O desenvolvimento sustentável pode ser definido como o desenvolvimento
capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade
de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não
esgota os recursos para o futuro” (WWF. BRASIL, 2008).
Os princípios essenciais do desenvolvimento sustentável têm sido muito
difundidos pelo mundo: crescimento econômico, equidade social e integridade
ecológica que de forma integrada permitiriam a distribuição socialmente equitativa
dos custos e benefícios das intervenções humanas no meio ambiente (MAGALHÃES
JUNIOR, 2007).
O capítulo 18 da Agenda 21 discute a proteção da qualidade e abastecimento
dos recursos hídricos, cujo objetivo geral é:
Assegurar que se mantenha uma oferta adequada de água de boa
qualidade para toda a população do planeta, ao mesmo tempo em
que se preserve as funções hidrológicas, biológicas e químicas dos
ecossistemas, adaptando as atividades humanas aos limites da
capacidade da natureza e combatendo vetores de moléstias
relacionadas com a água. Tecnologias inovadoras, inclusive o
aperfeiçoamento de tecnologias nativas, são necessárias para
aproveitar plenamente os recursos hídricos limitados e protegê-los da
poluição.
O aproveitamento inteligente dos recursos naturais, como a água, é uma
preocupação que deve atingir todas as esferas da sociedade para se obter
resultados verdadeiramente consistentes, assegurando à atual e às gerações futuras
disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos seus usos. No
âmbito federal, cabe ao Ministério do Meio Ambiente (Secretária Nacional de
Recursos Hídricos) ordenar as ações em relação aos recursos hídricos. Nesse
sentido foi vital a criação de um Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), em
2002. Este é essencialmente um instrumento de planejamento estratégico, visando
basicamente definir ações a serem desenvolvidas pelas entidades competentes, não
cabendo ao mesmo definir os procedimentos de sua execução. Baseado numa
gestão descentralizada, respeitando o espaço de decisão, amparada por Lei, aos
Estados e as próprias comunidades usuárias da água. Diante dessa concepção a
Lei de Águas 9.993/97 prevê a cobrança pelo uso da água, levando a iniciativa
privada e o poder público a adotar medidas de racionalização e reuso da água.
Um critério importante que deve apoiar o uso racional dos recursos hídricos é
a categorização simples da água, pois ela permite compatibilizar a qualidade da
água com o seu uso. De acordo com o GROUP RAINDROPS (2002) a água é
classificada geralmente em três categorias: água potável, água não potável e água
poluída. As Águas nobres, ou seja, as águas potáveis destinadas ao consumo
humano devem cumprir padrões estabelecidos pelos órgãos sanitários. As
atividades que não estão relacionadas ao consumo humano, podem utilizar águas
não potáveis. As águas poluídas e/ou contaminadas até o momento não podem ser
utilizadas, mas devem passar por um processo de redução de resíduos por
decantação, uma vez que despejadas sem cuidados antecipados na natureza,
contaminam uma grande quantidade de água limpa.
Diante disso, existem diversas maneiras de tornar o uso da água mais
eficiente. Uma delas é gastar menos água, outra é reciclar a água que já foi utilizada
em alguma atividade. O reuso da água diminui significativamente a quantidade de
efluentes que seriam despejados contaminando águas superfícies e subterrâneas,
além de diminuir a quantidade água retirada dos mananciais. As técnicas de reuso
têm encontrado uma resposta muito positiva na indústria, embora necessite de
equipamentos especiais para o tratamento antes da reutilização, requerendo alguns
investimentos. Porém as medidas governamentais que prevêem a cobrança tanto
pelo uso da água, como pelo lançamento de efluentes na natureza (princípio do
poluidor-pagador) têm estimulado o reuso da água.
Outra forma de melhorar o uso da água é aumentar sua captação buscando
fontes alternativas de água. Uma boa maneira nesse sentido consiste em coletar,
armazenar e utilizar a água da chuva. Em regiões de seca o uso da água da chuva
faz parte da tradição local. Na atualidade, com a necessidade de harmonização
entre a chuva e o ambiente urbano, o aproveitamento da água da chuva se
evidencia como uma alternativa promissora para mitigar os impactos da
urbanização.
Uma outra alternativa que tem aumentado bastante no Brasil é a exploração
da água subterrânea, uma vez que geralmente possibilita destiná-la para fins nobres
com qualidade elevada, por vezes superior a da água tratada e à baixos custos.
Porém conforme o Ministério do Meio Ambiente (2005) os recursos hídricos
subterrâneos brasileiros estão sujeitos a uma série de riscos, dos quais é importante
citar:
exploração excessiva, que pode provocar o esgotamento dos
aquíferos;
a contaminação das águas subterrâneas por efluentes sanitários e
industriais, agrotóxicos, fertilizantes, substâncias tóxicas provenientes
de vazamentos. A gravidade da contaminação está diretamente
relacionada à toxicidade, persistência, quantidade e concentração das
substâncias que alcançam os mananciais subterrâneos.
Para garantir a sustentabilidade na utilização das águas subterrâneas deve-se
ter por base a sua capacidade de recarga, a disponibilidade do aquífero e a criação
de critérios e instrumentos legais para restringir a sua utilização de forma racional
adequada à realidade local.
3.1.2 Legislação e Recursos Hídricos
As legislações que tratam dos recursos hídricos no Brasil surgem no contexto
da grande crise nas primeiras décadas do século XX, com o Decreto Presidencial
24.643, em 10/7/34 que aprovou o Código de Águas. Focando a água como um dos
elementos básicos do desenvolvimento nacional, buscou-se a valorização do
potencial hidráulico brasileiro na irrigação da agricultura e, principalmente, na
geração de energia elétrica para atender o ramo urbano-industrial surgente no país.
Esse dispositivo reconheceu o valor econômico das águas e definiu a sua
propriedade como pública.
O marco na proteção das águas brasileiras foi a aprovação da Lei Federal n°
9.433/97, a chamada “Lei das Águas”, que de acordo com Almeida (2002)
reconheceu a necessidade de se proteger as águas dentro da estrutura global
ambiental, a partir da gestão integrada dos recursos hídricos e do meio ambiente,
visando o desenvolvimento sustentável e à manutenção do meio ambiente
ecologicamente equilibrado, conforme recomenda a atual constituição.
A referendada lei instituiu a Política Nacional dos Recursos Hídricos
estabelecendo em seu artigo 1° os seguintes fundamentos básicos:
a adoção da Bacia Hidrográfica como uma unidade de planejamento;
os múltiplos usos que podem ser atribuídos a água;
reconhecimento da água como um bem finito e vulnerável;
reconhecimento do valor econômico da água;
a gestão integrada participativa.
Em seu artigo 2°, a “Lei das Águas” estabelece os seguintes objetivos da
Política Nacional dos Recursos Hídricos:
assegurar à atual e às gerações futuras a necessária disponibilidade de
água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos;
a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, com vistas ao
desenvolvimento sustentável;
a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem
natural ou decorrentes do uso inadequados dos recursos naturais.
Em 2000 criou-se a Agência Nacional de Águas (ANA), que tem como missão
básica implementar os instrumentos de gestão previstos na Lei 9.433/97 e fiscalizar
o uso dos recursos hídricos. Dessa maneira a água passa a ser um bem dotado de
valor econômico controlado por meio da utilização de instrumentos regulatórios e
econômicos, como a concessão de outorgas, instrumento pelo qual o Poder Público
autoriza o usuário a utilizar as águas de seu domínio, por tempo determinado e com
condições preestabelecidas e a cobrança pelo seu uso. Visando, principalmente,
induzir a redução do desperdício pelo uso racional da água e promover a justiça
ambiental realizando a cobrança para aqueles que usam e poluem as águas.
A Lei n° 12.726 /99 em seu artigo 1° institui a Política Estadual de Recursos
Hídricos e cria o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos, como
parte integrante dos Recursos Naturais do Estado do Paraná, nos termos da
Constituição Estadual (1989) e na forma da legislação federal aplicável. Os seus
fundamentos básicos e objetivos são comuns aos da “Lei de Águas”. De acordo com
Almeida, 2002:
Os maiores problemas que afligem a proteção ambiental dos
nossos recursos naturais são: a grande pressão demográfica; a
falta de planejamento adequado do uso do solo e dos recursos
naturais; a carência de serviços públicos básicos; e a
urbanização descontrolada. Possuímos um dos mais
avançados sistema de proteção jurídica do meio ambiente,
porém inoperante.
Temos boas leis que destacam a importância de se preservar os recursos
hídricos, fazendo uso racional da água na busca de garantir a sua sustentabilidade.
Legislar é um passo imprescindível para estabelecer a ordem das coisas, porém
precisamos fazer valer tal normatização, a partir de esforços individuais e conjuntos
para a melhoria de gestão dos recursos hídricos. Individualmente podemos cuidar
da água com atitudes cotidianas simples como: fechar as torneiras enquanto não
estiver utilizando, diminuir o tempo do banho, e reutilizar águas já utilizadas em
alguma atividade, para lavar calçadas, por exemplo.
Segundo Menezes (2006) a utilização de equipamentos economizadores de
água2, reduz significativamente o consumo e as contas de água possibilitando
também aos usuários dessas tecnologias uma participação mais efetiva na
preservação ambiental. Entre estes produtos estão o arejador de torneira e o registro
regulador, que tem como função limitar a vazão de água nos pontos de consumo
independente da pressão na rede ou do nível de abertura; a bacia sanitária com
volume de descarga reduzido; as torneiras com fechamento automático; e medição
individual em edifícios residenciais multifamiliares com o objetivo de estabelecer o
rateio da contas de água geral. Coletivamente recomenda-se à comunidade
acadêmica a se engajar nessa luta em defesa da água investigando a situação real
dos recursos hídricos, levando esclarecimento e educação à população sobre o
combate ao desperdício em conjunto com associações públicas e privadas, escolas
e empresas de saneamento buscando facilitar o trabalho dos órgãos públicos
responsáveis e também realizar as devidas cobranças de cumprimento da
legislação, acionando as autoridades competentes em caso de irregularidade.
Com relação a água de chuva, embora algumas regiões brasileiras,
tradicionalmente, utilizem essa fonte alternativa de água a anos, até o momento não
existe na legislação nacional nenhuma lei que regulamente seu uso.
May (2004) aponta que um dos motivos de não haver uma normatização para
implantação adequada do sistema de aproveitamento de água da chuva é a falta de
dados tais como: qualidade da água e coeficiente de runoff3.
2 No site da Sabesp (www.sabesp.com.br) encontra-se disponível uma listagem de produtos e fornecedores com está finalidade. 3 O coeficiente de runoff é a razão entre o volume de precipitação e o volume de escoamento
superficial que pode ser melhor compreendido no item 3.2.1, sobre a composição do sistema de aproveitamento de água de chuva.
Buscando diminuir as potencialidades de enchentes urbanas e diante do
iminente risco de escassez de água, diversas cidades têm aprovado leis municipais
que obrigam o uso da água da chuva nas grandes cidades como Rio de Janeiro,
São Paulo e Curitiba. A cidade do Rio de Janeiro aprovou o Decreto-Lei em 2004,
que obriga todos os edifícios com mais 500 m² de área impermeabilizada, prédios
residenciais com mais de 50 apartamentos e novas construções a implantarem um
sistema para captação da água das chuvas. Na capital do Paraná foi instituída, a
Lei n° 10.785 em setembro de 2003, que cria Programa de Conservação e Uso
Racional da Água nas Edificações. Tendo como objetivo estabelecer medidas que
estimulem a conservação, o uso racional e a utilização de fontes alternativas para
captação de água nas novas edificações. Diversas outras cidades do país vêm
aderindo a essa tendência, porém essas leis não têm sido estruturadas de uma
forma sistemática ampla e não apresentam nem um respaldo técnico sobre a
utilização dessas técnicas alternativas.
A Lei Nº 7070 de 12 de dezembro de 2002, que altera a seção 11ª referente
as "Águas Pluviais", do Código de Obras do Município de Ponta Grossa, Lei nº
6.327, de 02 de dezembro 1999 diz o seguinte:
Art. 523 - As instalações de águas pluviais devem ser projetadas e
executadas observando as normas do órgão municipal competente.
Art. 525 - Será admitido outro tipo de ligação desde que tecnicamente
justificado, a critério do órgão municipal competente.
Atualmente a norma brasileira NBR 15527/2007 da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT) sobre aproveitamento de água da chuva para fins não
potáveis estabelece os requisitos para um sistema completo de aproveitamento de
água de chuva em coberturas nas áreas urbanas para fins não potáveis.
3.2 O APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA: HISTÓRICO E PRÁTICAS
RECENTES
O aproveitamento de água de chuva é uma técnica relativamente simples e
econômica que consiste em coletar a precipitação por meio de superfícies
impermeáveis e conduzi-la para um reservatório onde será armazenada para os
mais diversos usos, tanto em áreas urbanas quanto rurais.
Existe uma grande variedade de técnicas para aproveitar a água de chuva e
a tecnologia envolvida pode ser extremamente simples ou complexa dependendo de
especificidades locais, das particularidades da construção e do uso pretendido.
De uma maneira geral podemos inferir que em áreas extremamente
urbanizadas e industrializadas as técnicas se complicam devido à grande
quantidade de poluentes presentes no ar atmosférico, nos telhados e pisos
normalmente utilizados para coletar a chuva, requerendo um cuidado maior em
relação à qualidade da água e ao seu uso que deve ser destinado para fins não
potáveis, do que em regiões rurais, afastadas de áreas urbanas e industriais, onde a
emissão de poluentes atmosféricos é significativamente menor e a água pode
inclusive ser utilizada para beber após uma desinfecção simples.
Conforme Worm e Hattum (2006), a tecnologia utilizada é flexível e adaptável
a uma ampla diversidade de circunstâncias. Sendo utilizada desde as sociedades
mais desenvolvidas até as mais carentes, assim como entre as regiões mais úmidas
ou mais secas do planeta.
Embora o correto armazenamento de água de chuva represente um valioso
suprimento de água produzindo inúmeros benefícios sociais, econômicos e
ambientais, ele também oferece algumas desvantagens. É importante avaliar essas
questões para poder traçar um comparativo referente às possibilidades de instalação
de outras opções disponíveis. A figura 7 apresenta algumas vantagens e
desvantagens referentes ao aproveitamento de água de chuva de uma maneira
geral.
A coleta de água de chuva para aproveitamento em múltiplos usos não
potáveis pode ser realizada em uma infinidade de estabelecimentos: residenciais,
comerciais, industriais e rurais. Segundo Machado & Cordeiro (2004) a água
proveniente das chuvas se destinará:
Para usos residenciais em:
descarga do vaso sanitário
lavagem de pisos e de veículos automotores
irrigação de jardins
lavagem de roupas
Para usos comerciais e industriais em:
resfriar equipamentos e máquinas
para serviços de limpeza
descargas nos sanitários
reservatório contra incêndios
irrigação das áreas verdes
áreas de contenção diminuindo/evitando alagamentos
lavagem roupas - hotel e lavanderias
lavagem veículos e outros
Para usos rurais:
Além dos usos residenciais, também se utiliza água de chuva para a
irrigação de agricultura.
(continua)
Aspecto Vantagens Desvantagens
Econômico
Redução do gasto mensal com água e esgoto.
Dependendo da tecnologia empregada, pode ter alto custo inicial.
Garantia da qualidade de vida pela certeza da não falta de água e seus inconvenientes.
Pode aumentar o gasto com energia elétrica
Aumento da renda mensal, após retorno do investimento inicial.
Flexibilidade e adaptabilidade dos sistemas para satisfazer as circunstâncias e orçamentos locais, o que inclui o aumento da disponibilidade de tanques de baixo custo (por exemplo, feitos de ferro-cimento, plástico ou de pedra/ tijolos).
Social
Melhora da imagem perante a sociedade, órgãos ambientais, etc.
Pode haver dificuldade de aceitação social por falta de esclarecimentos básicos sobre o sistema.
FIGURA 7 – Quadro com as principais vantagens e desvantagens do aproveitamento de água de chuva
(continuação)
FIGURA 7 – Quadro com as principais vantagens e desvantagens do aproveitamento de água de chuva (Adaptado de KOBIYAMA; MOTA; CORCEUIL, 2008 e WORM; HATTUM, 2006).
O aproveitamento da água de chuva não é algo que foi idealizado
recentemente, essa técnica já vem sendo utilizada a milhares de anos. Registros
históricos revelam que diversos povos da antiguidade conseguiram desenvolver
grandes civilizações em regiões semi-áridas, tendo com único recurso para todas as
suas atividades, quantidades irregulares de água proveniente dos poucos meses de
chuva.
No deserto de Negev, localizado no Oriente Médio, por exemplo, existem
vestígios desse sistema com reservatórios escavados na rocha, de idade próxima de
4000 anos4 (Figura 8).
4 Ver UNESCO World Heritage Site, disponível em:
http://www.parks.org.il/BuildaGate5/general2/company_search_tree.php?Cat=383~Card12~~~~&ru=&SiteName=parks&Clt=&Bur=162179697
Aspecto Vantagens Desvantagens
Ambiental
Preservação dos recursos hídricos, principalmente dos mananciais superficiais e subterrâneos.
O abastecimento é sensível à seca. A ocorrência de estações secas prolongadas e de secas pode causar problemas quanto ao abastecimento de água.
Contribui na contenção de enxurradas que provocam alagamentos e enchentes
Outros
Manutenção: a operação e manutenção do sistema são controladas pelo proprietário do tanque. Desse modo, constitui uma boa alternativa à debilidade de manutenção e monitoramento de um sistema centralizado de água canalizada.
Manutenção: uma operação correta e uma manutenção regular são um fator muito importante que, muitas vezes, é negligenciado. Inspeção e limpeza regulares e reparações ocasionais são essenciais para o sucesso do sistema.
Água de qualidade relativamente boa: a água da chuva é melhor que outras fontes tradicionais disponíveis (a água subterrânea talvez não possa ser usada devido ao flúor, salinidade ou arsênico).
A qualidade da água é vulnerável: a qualidade da água da chuva pode ser afetada pela poluição do ar, excrementos de animais e de pássaros, insetos, sujeira ou matéria orgânica.
FIGURA 8 – Vestígios de cisternas escavadas na rocha no deserto do Negev, Oriente Médio. A- Acesso subterrâneo à cisterna; B- Orifício para entrada de água na cisterna. Fonte: (BIBLETOURIST, 2009).
Thomaz apud May (2004) menciona a Pedra Moabita, uma inscrição do rei
Mesha de Moabe, encontrada no Oriente Médio. Nela o rei sugeria, por volta de 850
a.C, a construção de uma cisterna para aproveitamento da água de chuva em cada
casa.
O trecho a seguir é uma transcrição das palavras do rei Mesha do hebraico
para o português da Pedra Moabita.
[...] “fiz os seus reservatórios para água, dentro da cidade. E não havia
cisterna dentro da cidade de Qarhoh, por isso disse ao povo: Que cada um de vós
faça uma cisterna para si mesmo, na sua casa” [...] (SÁLVIO, 2008).
Durante o Império Romano, foi construído um complexo sistema de uso da
água que incluía a utilização de aquedutos e cisternas.
Na época de Cristo, na Fortaleza Massada, localizada a leste do deserto de
Judá, em Israel. O rei Herodes construiu um complexo sistema com 12 imensas
cisternas (Figura 9), com capacidade de cerca de 40.000 m³ cada, escavadas e
ligadas por túneis capazes de abastecer diversos cantos da cidadela, inclusive as
piscinas das casas de banho. Mesmo sendo uma região muito seca esse sistema de
abastecimento conseguia captar a água dos temporais de inverno bastando apenas
algumas horas para encher as cisternas. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
PARA A EDUCAÇÃO A CIÊNCIA E A CULTURA, 2001; ARAÚJO & SILVA NETO,
2009).
FIGURA 9 – Fortaleza Massada e cisterna escavada na rocha, Deserto de Judá Fonte: (UNITED NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION, 2009).
De acordo com HowStuffWorks (2007) o uso de poços e de cisternas que
recolhiam a água da chuva que escorria do telhado eram fundamentais para a
sobrevivência dos castelos na idade média. Alguns castelos tinham um
encanamento rudimentar que canalizava a água das cisternas para as pias.
Ruskin (2001a) refere-se a um trabalho publicado, em 1863, pelo J. Franklin
Institute na Practical Mechanica5, onde de acordo com o autor a cidade de Veneza
coletou a precipitação das chuvas e a armazenou em cisternas por um período
superior a 1.300 anos. A água coletada em 177 cisternas públicas e 1.900 cisternas
privadas era a principal fonte de água fresca para Veneza até aproximadamente o
século XVI.
No continente sulamericano os Incas construíram canais que transportavam
água para que fosse armazenada em cisternas, ou mesmo em diferentes níveis de
terraços, nos terrenos íngremes da região, que permitiram um melhor
aproveitamento da terra para a agricultura sem desperdícios.
No Brasil relatos sobre o armazenamento de água de chuva em cisternas
remontam à época do descobrimento do país, ainda que em alguns casos como uma
alternativa momentânea para atender às necessidades de viajantes.
5 J. Franklin Institute, “The water cisterns in Venice,” Practical Mechanica J., 3rd ser. 70 (1860): 372-
73, 1863.
Por volta de 1555, o Almirante francês Villegaignon, buscando asilo nas terras
de além-mar para os huguenotes que eram perseguidos religiosos na Europa,
estabeleceram-se temporariamente, na ilha de Sergipe, que hoje leva o nome do
Almirante, na baia de Guanabara. A ilha tinha um posicionamento estratégico tanto
para ataque quanto para defesa de tropas inimigas, mas um dos grandes
inconvenientes era a falta de água potável. Para amenizar essa situação abriu-se
uma cisterna que podia armazenar água por 6 meses (FERREIRA, 2000).
Diversos fortes criados pela coroa portuguesa na orla marítima, para garantir
a defesa de posse das terras recém descobertas, utilizavam cisternas como parte
importante do suprimento de água. Entre eles destacam-se:
O Forte dos Reis Magos, construído em 1598, numa união da coroa
portuguesa e espanhola para expulsar o francês da região do Rio Grande do
Norte. A construção do forte que representa um dos mais expressivos marcos
históricos do Brasil deu início à cidade de Natal. Na fortificação encontram-se
a Casa de Comando, os Quartéis e os Depósitos, além da Capela, a Casa de
Pólvora e uma cisterna para armazenar a água da chuva (TEIXEIRA, 2006;
GUIA DA SEMANA, 2006) e;
A Fortaleza de Ratones (Figura 10), que foi construída em 1744, em Santa
Catarina. O aqueduto, que une a casa do comandante aos aquartelamentos,
fazia parte do sistema de captação das águas pluviais, provenientes dos
telhados dos edifícios principais, e que complementava o suprimento
proveniente da fonte de água para ser consumida pelas tropas do Império
Português (TEIXEIRA, 2008).
Atualmente os fortes pertencem ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN) e funcionam como atrativo de visitação turística, a Fortaleza de
Ratones utiliza a energia de painéis solares instalados próximos à fortaleza
(TEIXEIRA, 2008).
FIGURA 10 – Visão panorâmica da Fortaleza de Ratones, SC. 1- Fonte d‟ água; 2 e 3- painéis solares. Fonte: (TEIXEIRA, 2008).
Nos engenhos de açúcar do Brasil colonial não faltavam cacimbas, cisternas
ou grandes potes para guardar água (GUILLEN & COUCEIRO, 2001).
Nos quilombos o uso de cisternas também era frequente e ficava localizado
no centro das vilas juntamente com outras instalações públicas como o conselho, o
mercado e a forja (MAESTRI, 1997).
Como observado, as técnicas de utilização de água de chuva tem sido
desenvolvidas há milhares de anos por diversos povos.
Com o passar do tempo em diversas sociedades a utilização de água de
chuva foi gradativamente reduzida e abandonada ao esquecimento, principalmente
devido aos avanços tecnológicos que facilitaram o acesso a água.
Na atualidade o aumento constante da demanda de água, a concentração da
população nos grandes centros urbanos e a poluição dos mananciais tem gerado
grandes problemas de abastecimento de água e outros relacionados como doenças
de vinculação hídrica e enchentes urbanas.
O enfrentamento desses problemas tem levado diversos países a retomar o
aproveitamento de água de chuva como uma fonte alternativa de água.
Para o Japão coletar, armazenar, utilizar a água da chuva e infiltrar seu
excedente no solo é uma sabedoria adquirida recentemente para mitigar escassez
de água, controlar as inundações, e garantir água para emergências que Tóquio
aprendeu depois de uma dura lição ao rejeitar completamente a chuva e esvaziar
toda essa água em esgotos (GROUP RAINDROPS, 2002).
Em 1994, Tóquio realizou a 1° Conferência Internacional sobre
aproveitamento de água da chuva, abordando o seguinte tema: “O aproveitamento
da água da chuva salva a terra e cria uma amizade entre os pingos de chuva e as
cidades”, iniciando uma rede global de troca de informações sobre o aproveitamento
de água de chuva.
De acordo com GROUP RAINDROPS (2002), em 1985, na cidade de Sumida,
no Japão, juntamente com a construção do ginásio de sumô Ryogoku Kokugikan
(Figura 11) foi instalado um sistema de aproveitamento de água de chuva. Buscando
aproveitar seu grande telhado com 8400 m² de área. O ginásio foi equipado com um
reservatório de 1000 m³ instalado no subsolo para abastecer os vasos sanitários, o
sistema de refrigeração, é utilizado para regar plantas, lavar pátios e como
suprimento de água emergencial local.
No país a coleta e utilização de água de chuva são promovidas e continuam
florescentes, tanto a nível público e privado.
FIGURA 11 – Ryogoku Kokugikan, ginásio de sumo, Sumida, no Japão Fonte: (UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME, 2002).
Em Singapura, 86% da população vive em arranha-céus. Por ser um país
pequeno conta com limitados recursos naturais e uma crescente demanda de água.
A busca por fontes alternativas e métodos inovadores para obtenção de água, tem
levado seus moradores a coletar a água de chuva através de coberturas leves nos
edifícios. A água coletada é armazenada em reservatórios distintos para usos não
potáveis, estudos já constataram uma economia efetiva de 4% de água consumida,
que não precisa ser bombeada para o alto dos edifícios a partir do piso térreo. No
aeroporto do país a água de chuva coletada nas suas vias e nas áreas verdes é
armazenada em reservatórios dimensionados para trabalhar com excesso de água
para reserva. A água coletada é usada para fins não potáveis, como combate a
incêndios e descargas de banheiros, permitindo ao aeroporto reduzir em cerca de
30% o consumo de água tratada obtendo um retorno financeiro considerável, visto
que o custo da água é alto no país (UNITED NATIONS ENVIRONMENT
PROGRAMME, 2002).
Na Tailândia o método utilizado é um dos mais simples, barato, apropriado e
obtém água potável de alta qualidade. A água dos telhados escorre para grandes
vasos, com capacidade de 100 a 3000 litros que são, simplesmente, equipados com
torneiras, tampas e ralos que garantem a proteção da água contra a contaminação a
partir de lixo e infestação de mosquitos. O modelo mais popular de 2000 litros
consegue suprir as necessidades de uma família com 6 pessoas durante a estação
seca que tem duração de 6 meses. Além disso, devido ao grande êxito obtido com
esse sistema o governo tailandês promoveu uma campanha nacional para utilização
da água da chuva, gerando empregos na construção dos vasos e apoiando aqueles
que não podem comprá-lo (UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME,
2002). A figura 12 mostra os grandes vasos usados como reservatórios de água na
Tailândia.
FIGURA 12 – Vasos para armazenar água de chuva na Tailândia Fonte: (UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME, 2002).
Nas Ilhas Virgens dos Estados Unidos, as cisternas têm sido utilizadas desde
que estas ilhas foram colonizadas. Atualmente, as cisternas ainda suprem as
demandas de água de muitos residentes das ilhas do Pacífico e Caribe, sem
mencionar as regiões costeiras, tropicais e outras da América Latina. Na realidade,
as cisternas das Ilhas Virgens podem ser encontradas abastecendo não apenas as
necessidades de água de residências particulares, como também de escolas,
restaurantes, projetos públicos de moradias, hotéis e casas de hóspedes (RUSKIN,
2001a).
Na China, um dos países mais populosos do mundo, onde 70% da população
vive na zona rural, a milenar prática de aproveitamento de água de chuva vem
sendo reincentivada nos últimos 20 anos, principalmente para agricultura. Nas áreas
do semi-árido chinês o Programa “Providenciando água para uso humano e para
animais, desenvolvendo a economia, agricultura e melhorando o meio ambiente
através do uso de água de chuva”, denominado “Programa 1-2-1”: a proposta
consiste na construção de uma (1) área de captação de 100 m2, duas (2) cisternas
subterrâneas de concreto para armazenamento de água, uma cisterna para água de
beber e outra para irrigação (entre 20 e 50 m3), e uma (1) área de pelo menos 700
m2 com irrigação suplementar, destinada à produção de culturas comercializáveis
(Figura 13). As famílias contribuíram com a mão-de-obra e até o final de 2004,
2.500.000 tanques de água foram construídos somente no estado de Gansu
(GNADLINGER, 2004).
FIGURA 13 – Modelo de captação de chuva no Programa 1-2-1 Fonte: (GNADLINGER, 2004).
Na Tasmânia, onde o ar é tido como o mais limpo do mundo, devido à
circulação de nuvens da Antártida em direção ao país, a chuva resultante é limpa
também. Dúvidas sobre a qualidade da água foram esclarecidas através da melhoria
tecnológica e de gestão, hoje metade da população e cerca de 77% das crianças
bebem água de chuva que é comercializada em caixinhas de 1 litro (GROUP
RAINDROPS, 2002; UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME, 2004;
GNADLINGER, 2007; TASMANIAN RAIN, 2009).
Sob iniciativa da United Nations Environment Programme (UNEP), ou na sua
versão portuguesa, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA),
em outubro de 2004, na cidade de Haia, nos Países Baixos, foi criada a “Rainwater
Partnership” ou “Parceria da Água de Chuva” para promover e integrar o
aproveitamento de água de chuva em escalas locais, nacionais e globais,
principalmente no continente africano dado que cerca de 300 milhões de pessoas, o
correspondente a um terço da população do continente, são pessoas que vivem em
circunstâncias de "escassez de água", uma ação urgente é necessária para reduzir a
falta de água que aflige o continente.
A iniciativa reconhece a importante contribuição da utilização de água de
chuva na consecução dos objetivos da Agenda 21, do Plano de Implementação de
Johanesburgo e dos objetivos de Desenvolvimento do Milênio que têm como meta
reduzir pela metade a proporção de pessoas sem acesso a água potável e
saneamento e os que vivem em situação de pobreza no mundo até 2015.
Em muitos outros países o aproveitamento de água de chuva vem sendo
desenvolvido com sucesso como: na Alemanha, a Daimler Chrysler como parte de
um complexo conceito interdisciplinar ecológico; nas zonas rurais do Quênia, para
dar um novo papel social e econômico para as mulheres que transformaram uma
região seca e poeirenta em um ambiente verde e produtivo; na Zâmbia, a fim de
aumentar os rendimentos das culturas utilizando a conservação da agricultura; na
Índia, como resultado das iniciativas da sociedade civil e de defesa, os governos
federal e estaduais têm trazido, para a realização de mudanças na política do país, à
coleta da chuva como um componente essencial de todos os programas da água no
meio urbano e rural (UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME, 2004).
No Brasil a água da chuva tem ganhado destaque, principalmente, como uma
alternativa para enfrentar a escassez no semi-árido nordestino e como uma potencial
fonte de água suplementar nas mega-cidades, visando reduzir o consumo de águas
potáveis e minimizar a ocorrência de enchentes urbanas.
No Rio Grande do Sul, em 2005, foi iniciado o Programa Estadual de
Captação e Manejo da Água de Chuva (PECMAC) para combater a estiagem na
zona rural que prevê a construção de cisternas com capacidade de 30 m³, devendo
envolver a mão-de-obra local; e microbarragens que devem ser dimensionadas por
técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER). É
possível aos proprietários rurais requerêrem financiamento para a execução dessas
obras. A água armazenada poderá servir para a irrigação de hortas, pequenos
pomares, lavagem de estábulos e pocilgas e outras atividades que não necessitem
de água potável. O projeto inclui ainda a infiltração de água de chuva nas
propriedades, cuja orientação do sistema é: “as águas das chuvas deverão ser
mantidas onde elas caem”, buscando redirecionar as águas de chuva que
prejudicam a conservação das estradas. O programa também contempla a
construção de cisternas para fins não potáveis nas áreas urbanas.
Em Corumbá, no Mato Grosso do Sul, foram construídas 738 cisternas, cada
uma com capacidade para armazenar 20 m³ de água de chuva. A medida foi
adotada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) para
solucionar a dificuldade de abastecimento de água enfrentada nos assentamentos
da região (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO, 2008).
No Semi-Árido Brasileiro (SAB) a adoção de métodos para armazenamento e
manejo de água de chuva significa muito mais do que uma maneira de se conseguir
água; é antes de tudo uma questão de criar mecanismos de adaptação para
conviver dignamente com o clima e a seca.
De acordo com Schistek (2009) uma das características mais marcantes do
Semi-Árido Brasileiro é a quase total falta de cursos de água permanentes. A
precipitação é irregular em demasia, tanto temporalmente quanto espacialmente, de
tal maneira que dificilmente se encontram dois anos com distribuição de chuva
semelhante. Além disso, a evaporação é muito alta, enquanto a precipitação média é
de 500 mm por ano, potencialmente poderiam evaporar 3.000 mm por ano. Não é
somente a precipitação e a evaporação que condicionam a disponibilidade ou a falta
de água. A maior parte do Semi-Árido Brasileiro, aproximadamente 80 %, possui
rochas do embasamento cristalino que dificultam muito a existência de águas
subterrâneas em quantidade e qualidade. Mesmo assim a existência de uma
deficiência hídrica pode ser considerada relativa. Com conhecimentos básicos sobre
meio ambiente, sobre algumas tecnologias simples e os recursos materiais
necessários disponíveis, a água precipitada nos meses de fartura pode ser
armazenada para os meses de seca.
No Semi-árido Brasileiro, existem muitos exemplos bem sucedidos na
captação e manejo de água de chuva para uso humano, para criação de animais e
produção de alimentos, que na sua maioria foram desenvolvidas por agricultores
familiares (GNADLINGER, 2005).
A partir da iniciativa da ASA (Articulação no Semi-Árido Brasileiro) entidade
que reúne mais de 700 ONGs atuantes no Semi-Árido Brasileiro. Foi iniciado, em
2003 o Programa 1 Milhão de Cisternas (P1MC), que deve construir o equivalente a
1 milhão de cisternas nos próximos anos com recursos financeiros do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e da iniciativa privada. O P1MC
deve beneficiar cerca de 5 milhões de pessoas em toda região semi-árida do país,
com água potável para beber e cozinhar coletada dos telhados das casas e
armazenadas em cisternas. Das 259.500 cisternas construídas até junho de 2009
no âmbito do programa, grande parte é cisterna de placas de cimento. Cada cisterna
tem capacidade de armazenar 16 m³ de chuva, que se for utilizada de forma
adequada é capaz de suprir a necessidade de uma família de cinco pessoas por um
período de seca de 8 meses, tempo suficiente para suportar uma seca bastante
prolongada fornecendo 14 litros de água potável por pessoa por dia (REDE DE
TECNOLOGIA SOCIAL, 2007; MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E
COMBATE A FOME, 2009; ARTICULAÇÃO NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO, 2009).
A tecnologia empregada para utilização de água de chuva, na região, consiste
em: uma área de coleta que é o telhado das casas, um sistema de distribuição
formado por calhas e canos e um reservatório, entre os quais, de acordo com
Gnadlinger (2005), se destacam:
As cisternas de placas que são reservatórios cilíndricos de água de
chuva, construídos com placas pré-moldadas de cimento, ficam
enterradas no chão até mais ou menos dois terços da sua altura,
mantendo a água sempre fresca. A figura 14 apresenta a cisterna de
placas construída no SAB;
FIGURA 14 – Cisterna de placas Fonte: (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE A FOME, 2009).
As Cisternas de concreto com tela de arame (que utiliza uma forma
durante a primeira fase de construção), que raramente apresenta
vazamento, e, se isso acontecer, poderá ser facilmente consertada,
apresentada na figura 15;
FIGURA 15 – Construção de uma cisterna de tela com arame Fonte: (CAVALCANTE, 2007).
E a cisterna de tela-cimento, aperfeiçoada, em 2005, com a utilização de tela de material galvanizado, que fica em pé e dispensa a forma, apresentada na figura 16.
FIGURA 16 – Construção de uma cisterna com tela-cimento Fonte: (SCHISTEK, 2005).
Diversos autores concordam que para resolver o problema de abastecimento
de água para o uso familiar em regiões semi-áridas, é necessário dispor de
tecnologias que reúnam baixo custo, alta resistência e simplicidade na construção.
As técnicas de ferro-cimento, o formato cilíndrico e a argamassa de cimento
têm garantido a alta resistência das cisternas e segurança contra vazamento,
representando uma alternativa tecnológica adaptada à região e à realidade dos
pequenos agricultores, pois sua tecnologia é acessível aos pedreiros do meio rural e
o custo é baixo. Ao longo dos anos, essa técnica é constantemente aperfeiçoada,
tendo como principais agentes do processo os próprios agricultores-pedreiros que
trabalham com a tecnologia (MATIAS, 2001; SCHISTEK, 2005; SANTOS et al,
2007).
Complementando o P1MC com vistas ao desenvolvimento sustentável da
região, está sendo proposto o P1+2 (Programa Uma Terra e Duas Águas) cujo
pressuposto básico é o de dotar cada família do SAB de uma parcela de terra: (1)
com tamanho suficiente para produzir alimentos e viver de maneira sustentável; (2)
duas águas significam uma para o consumo humano, já considerada no P1MC, e
outra para produção de alimentos e/ou criação de animais. O P1+2 fornece
subsídios para uma reforma agrária apropriada, e o aumento da eficiência do uso da
água.
Na área urbana um exemplo bem sucedido é a lavanderia industrial
“Lavanderia da Paz” em São Paulo, que há 30 anos capta, filtra e então utiliza a
água de chuva nos seus processos de lavagem (SICKERMANN, 2003).
Outro caso de destaque em São Paulo, é o do Shopping Aricanduva, que com
uma cobertura de 62 mil m² de telhado, chega a captar 7 mil m³ de água, numa única
chuva forte (SINDICONET, 2009).
No bairro Santa Mônica, região Leste de Uberlândia, motivado pela filosofia
de que: “quanto mais se economizar água potável, melhores serão as condições de
vida na Terra para as gerações futuras”, um posto de combustível reformado
recentemente instalou uma cisterna com capacidade para 10 m³ de água (CORREIO
DE UBERLÂNDIA, 2009). O sistema é simples. As calhas ao redor do telhado dos
postos coletam a água e um condutor que antes descartava para a rede pluvial foi
aumentado alguns metros conectando aos reservatórios. O armazenamento é
realizado em uma caixa instalada sobre uma pequena torre, e cerca de duas horas
de chuva são suficientes para transbordar água.
Em Curitiba, o condomínio Quintas do Cabral, com 400 moradores instalou,
em 2002, um sistema que armazena a água de chuva em um cisterna com 9 m³. A
água é utilizada para lavar a garagem, a calçada e molhar as áreas verdes. Embora
o condomínio garanta uma economia de R$ 100,00 por mês, o que motivou sua
instalação foi a economia de água tratada encarada com um bem precioso pelos
idealizadores do projeto (REDE PARANAENSE DE COMUNICAÇÃO, 2009).
Em Ponta Grossa, no Paraná, o aproveitamento da água de chuva nas
edificações urbanas vem despertando o interesse de indústrias e empresas que
utilizam um volume elevado de água. Em 2003, a Viação Campos Gerais S. A
(empresa responsável pelo transporte coletivo da cidade), implantou um sistema
para coletar a água de chuva que cai num telhado, com 5000 m² da edificação
usada como garagem dos veículos de transporte coletivo. Por meio de calhas a água
captada é conduzida para uma cisterna, com capacidade de 180 m³, onde é
armazenada para a sedimentação das partículas e a retenção de folhas e
excrementos existentes na água. Em seguida a água da cisterna é bombeada para
dois reservatórios superiores, com capacidade de 25 m³ cada um, que abastecem o
lavador de veículos (Figura 17). Com esse sistema são lavados em média 130
veículos por dia, aproximadamente 3.900 por mês (GIACCHINI, 2003).
FIGURA 17 – Cisternas superiores e lavagem de veículo em máquina abastecida com água de chuva Fonte: (GIACCHINI, 2003).
Também, em Ponta Grossa, segundo um estudo realizado na Indústria
Fundição Hubner, que constatou a existência da viabilidade de utilização da água de
chuva para fins não potáveis no empreendimento. A adoção do sistema, como
suprimento complementar de água, poderá reduzir em cerca de 50% o consumo de
água potável na empresa (GIACCHINI, 2003).
3.2.1 Composição do Sistema de Aproveitamento de Água de Chuva
Os sistemas de aproveitamento de água de chuva para fins não potáveis em
edificações urbanas são bastante acessíveis do ponto de vista técnico, uma vez que
utilizam os mesmos equipamentos destinados a drenagem da água das chuvas para
as galerias pluviais. Com a diferença que ao invés de descartá-las, rapidamente,
como um incomodo, são armazenadas e valorizadas, recebendo uma importante
função de suprimento complementar de água.
Aproveitar água de chuva em edificações é uma operação relativamente
simples e pode ser sintetizada nas seguintes etapas: coleta da água de chuva por
meio de uma superfície impermeável; condução para um reservatório, através de um
sistema de distribuição; tratamento da água coletada; armazenamento em um
reservatório; e utilização.
Embora os sistemas de aproveitamento de água de chuva apresentem
algumas técnicas básicas, que serão detalhadas, a seguir, um modelo ótimo desse
sistema, adequado à realidade, é projetado de acordo com os objetivos do usuário e
adaptado as peculiaridades das construções. Não existe nenhum modelo genérico
que sirva em todas as situações, cada caso deve ser considerado único.
Para coletar a água que cai nas chuvas são utilizadas superfícies
impermeáveis como telhados, marquises, toldos, pisos e calçadas. Algumas áreas
de coleta possam ser bastante criativas como coberturas retráteis improvisadas para
esta finalidade e abertas somente durante a chuva, ou como paredes
impermeabilizadas em edifícios com um toldo no andar térreo que permite a
captação da água que escorre pela parede.
Normalmente, a coleta da água de chuva é realizada nos telhados onde se
supõe haver menor contaminação da água coletada. Outra vantagem em coletar a
água dos telhados é a cota mais elevada que permite que o reservatório de
armazenamento fique mais alto que os locais de consumo, resultando em redução
no custo de instalação, de equipamentos necessários e de operação (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2000). Além disso, não será necessário
dispender nenhum recurso financeiro com uma área de coleta.
A área de coleta ou de captação de água de chuva é a área projetada do
plano horizontal da superfície impermeável, em metros quadrados, conforme a figura
18, a seguir:
FIGURA 18 – Projeção da área de coleta do telhado Fonte: (WORM; HATTUM, 2006).
Nas residências unifamiliares a área de coleta é mais que suficiente em
relação ao número de habitantes para suprir as diversas atividades que não
necessitam de água potável, por outro lado seu custo pode ser relativamente
elevado se comparado ao custo inicial do imóvel, principalmente, se for instalado
após a construção da edificação. De acordo com Sickermann (2002) é importante
levar em conta o benefício-custo do sistema, pois ele será determinante no volume
de água estocado em residências unifamiliares.
Nos condomínios verticais a área de coleta pode ser pequena em relação ao
número de moradores, não sendo suficiente para suprir a demanda por águas não
potáveis. Seu custo é baixo, porém a economia de água é relativamente menor. De
acordo com GROUP RAINDROPS (2002), o uso da água de chuva nesse tipo de
edificação também é limitado, principalmente se o prédio não estava projetado para
esta finalidade antes da sua construção, pois é complicado realizar reformas para
adaptar cada apartamento ao sistema de aproveitamento de água de chuva. Nesse
caso, deve se destinar a água de chuva para propósitos comuns como: regar jardins,
lavar carros e para limpeza dos locais comunitários.
Nas edificações urbanas maiores, como indústrias, shoppings, escolas,
mercados, postos de combustível e similares, a área de coleta é bastante grande. O
custo de implantação de um sistema de aproveitamento de água de chuva nessas
edificações é baixo se comparado ao custo total da obra, principalmente quando já
possuem alguma forma de retenção de água pluvial, necessitando somente ser
adaptado para utilização. Se houver demanda suficiente a economia de água pode
ser muito expressiva, pois o volume de captação é grande. Nos postos de
combustível, que oferecem serviço de lavagem de automóveis, o consumo de água
para fins não potáveis é elevado e o retorno é bastante aceitável.
Não é somente o tamanho da área de coleta que determina o volume de
água da chuva que chega ao reservatório. O tipo de material utilizado nas coberturas
pode provocar maior ou menor evaporação, assim como maior ou menor retenção
da água precipitada. Desta forma, o volume de água captado pelo sistema não é o
mesmo que o volume de água precipitado (WERNECK, 2006).
A razão entre o volume de escoamento superficial e o volume de precipitação
que cai na superfície de captação é denominada coeficiente de escoamento
superficial ou coeficiente de runoff, que varia entre 0 a 1 (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2000; WORM & HATTUM, 2006).
Em outras palavras um coeficiente de runoff igual a 0.8 indica que 80% da
precipitação que cai num telhado é coletada (Figura 19). Ou seja, quanto maior for o
coeficiente de runoff, maior será a quantidade de água de chuva coletada.
Superfície de Coleta de Águas Pluviais
Coeficiente de Escoamento Superficial C
Telhas cerâmicas 0,80 a 0,90
Telhas, lajotas e ladrilhos vitrificados 0,90 a 0,95
Telhas de cimento-amianto 0,70 a 0,85
Telhas metálicas corrugadas 0,80 a 0,95
Lajotas e blocos de concreto 0,70 a 0,80
Lajotas e blocos de granito 0,90 a 0,95
Pavimentos de concreto 0,80 a 0,95
Pavimentos asfálticos 0,70 a 0,90
FIGURA 19 – Quadro dos coeficientes de runoff das superfícies coletoras Fonte: (FENDRICH, 2002).
O sistema de distribuição da água de chuva é formado por captadores e,
condutores verticais e horizontais que são respectivamente calhas e tubos de
encanamento convencionais com a função de canalizar a água de chuva que escoa
nos telhados para um reservatório de armazenamento.
Existem calhas e condutores de diversas formas, tamanhos e materiais. Para
escolha do material Ruskin (2001b) propõe as seguintes características: resistência
à corrosão; longa durabilidade; não deve ser afetado por mudanças de temperatura;
deve ser liso; leve; e rígido.
O sistema de distribuição de água de chuva deve ser projetado e
dimensionado de acordo com as recomendações da norma ABNT – NBR 10844
sobre instalações prediais de águas pluviais.
De acordo com Ruskin (2001b), os materiais mais utilizados nas calhas e
condutores são: chapas de aço galvanizado e outras ligas metálicas; plásticos e
cloreto de polivinila (plástico tipo PVC).
Para evitar que detritos como folhas, galhos e outras sujeiras cheguem até as
cisternas é recomendando a utilização de barreiras que impeçam sua passagem
através da calhas e condutores.
Um método utilizado para solucionar esse problema é a colocação de telas ao
longo das calhas (Figura 20). Porém, deve-se atentar para realização periódica de
limpeza das telas para evitar o bloqueio da entrada de água devido à acumulação de
detritos (MACOMBER, 2001).
FIGURA 20 – Modelo de calha com tela para contenção de sujeiras Fonte: (MACOMBER, 2001).
Segundo Ruskin (2002) para evitar que folhas cheguem até as cisternas pode
se cobrir as calhas com uma tela num ângulo de inclinação semelhante ao do
telhado, fazendo com que sejam levadas para o chão. É aconselhável cobrir com
tela todas as outras áreas de acesso à cisterna evitando a entrada de pequenos
animais e insetos. Além disso, recomenda-se a poda de árvores próximas da área
de captação. Regularmente deve-se inspecionar as calhas, para assegurar-se de
que estão em boas condições e, se necessário, lavar qualquer poeira, sujeira ou
pedaços de folha acumulados que passaram pela tela.
May (2004) alerta que para evitar o uso indevido de água de chuva sua
tubulação deverá ser de outra cor, diferente daquela potável, e próximo à torneira
deverá existir uma placa de aviso “Água não potável”. Além disso, as redes de água
de chuva e de água potável deverão possuir sistema de distribuição independentes.
O tratamento da água de chuva coletada é uma etapa importante em um
sistema de aproveitamento de água de chuva e não deve ser negligenciada se
queremos garantir o seu bom funcionamento.
Para fins não potáveis, um tratamento físico simples para remoção da sujeira
através da sedimentação já é suficiente. Um tratamento muito complicado somente
resultaria em maiores custos e manutenção incômoda (GROUP RAINDROPS,
2002).
Um tanque de sedimentação é normalmente utilizado para remoção de
partículas sólidas da água como terra e areia que se depositam ao fundo, então a
água flui para outro tanque onde são depositadas as partículas restantes em
suspensão na água pela ação da gravidade, finalmente a água livre de impurezas
sólidas visíveis é armazenada. O fundo dos tanques deve ser inclinado ou
descansado de modo a acumular os sedimentos com facilidade (Figura 21). Deve
haver acesso para verificação interna e remoção de sedimentos. A instalação de
uma válvula de dreno é conveniente para escoar os sedimentos, proporcionando
agilidade na limpeza dos tanques. A bomba deve ficar suspensa para evitar o
espalhamento dos sedimentos decantados no fundo do tanque de armazenamento
(GROUP RAINDROPS, 2002).
As técnicas de descarte das primeiras chuvas podem ser denominadas como
sistemas de lavagem do telhado, pois conforme Macomber (2001) consistem num
dispositivo que desvia as primeiras águas de chuva do reservatório de
armazenamento, lavando dos telhados grande quantidade de poluentes. Uma vez
que testes demonstraram serem os primeiros fluxos de água os maiores
responsáveis pela contaminação da água de chuva armazenada, a utilização de
sistemas de lavagem do telhado é imprescindível para aumentar a qualidade da
água de chuva coletada e armazenada
FIGURA 21 – Modelo esquemático de funcionamento de um tanque de sedimentação (modificado de GROUP RAINDROPS, 2002).
Para promover a limpeza do telhado e descartar a água contaminada May
(2004) refere-se a um reservatório de auto-limpeza com torneira bóia. Seu
funcionamento é bastante simples. A água de chuva coleta pelo telhado é
conduzida até um reservatório de auto-limpeza instalado sobre o reservatório de
armazenamento da água de chuva. Na entrada de água no reservatório de auto-
limpeza existe uma bóia de nível. À medida que este reservatório se enche de água
a bóia sobe, até atingir uma posição limite quando a entrada de água é impedida
automaticamente, então a água começa a escoar para o reservatório de água de
chuva. Cessada a chuva deve-se esvaziar o reservatório de auto-limpeza abrindo
uma torneira de limpeza para que o sistema volte a operar normalmente. O
dimensionamento do reservatório de auto-limpeza é calculado através da área do
telhado e a quantidade de água por metro quadrado para efetuar a limpeza.
Segundo (Techne, 2008), conforme pesquisas realizadas pelo Programa de
Pesquisas em Saneamento Básico (PROSAB) 6, o volume de descarte corresponde
ao escoamento do primeiro milímetro de precipitação, ou seja, 1 litro para cada
metro quadrado de cobertura.
Um dispositivo de descarte bastante prático semelhante ao anterior foi
proposto pelo senhor Nobuo Tokunaga, no Japão (Figura 22). É feita a instalação de
um pequeno tanque entre a área de coleta e o tanque de armazenamento para
receber a primeira chuva, quando este fica cheio uma bola flutuante interrompe a
entrada de água no tanque, fazendo a água de chuva mais limpa fluir para o tanque
principal, ver a figura 18. Também é necessário esvaziar este tanque de limpeza
antes da próxima chuva, que pode ser infiltrado no solo (GROUP RAINDROPS,
2002).
FIGURA 22 – Dispositivo de descarte das primeiras chuvas proposto pelo senhor Tokunaga no Japão (modificado de GROUP RAINDROPS, 2002).
6 Para saber mais detalhes sobre o Programa de Pesquisas em Saneamento Básico, disponível em:
http://www.finep.gov.br/prosab/index.html
Com a aprovação de leis municipais que obrigam o uso da água de chuva em
diversas cidades brasileiras, tem surgido no mercado empresas que comercializam
aparelhos para aproveitamento da água de chuva, denominados “kit chuva”. Estes
kits visam melhorar a qualidade da água captada das chuvas (Figura 23). São
compostos por um filtro que substitui a tela da calha cuja função é a de eliminar
galhos folhas, entre outros detritos que poderiam adentrar à cisterna; um
amortecedor ou freio d‟ água para evitar a entrada de água com pressão no interior
da cisterna, o que poderia revolver os sedimentos depositados no fundo da mesma,
causando turbidez na água armazenada; um sifão-ladrão para limpar o espelho
d‟água e evitar a entrada de pequenos animais e odores vindos de fora; e um
conjunto de sucção flutuante formado por uma mangueira flexível com conexão para
bomba e uma bóia adaptada para retirar a água próximo da superfície que é,
geralmente, a mais limpa (SICKERMANN, 2002).
FIGURA 23 – Representação esquemática dos componentes do “kit chuva”. 1- filtro; 2- amortecedor (freio d‟água); 3- sifão-ladrão; 4- conjunto de sucção flutuante. (Adaptado de ACQUA SAVE, 2009).
O armazenamento de água de chuva consiste em reservar a água pluvial para
a sua posterior utilização. A armazenagem de água representa a etapa mais
importante em um sistema de aproveitamento de água de chuva, no qual o coletor é
o telhado, pois o reservatório, normalmente, é o seu componente mais dispendioso.
Por isso, a escolha e o dimensionamento do reservatório devem ser cuidadosos,
buscando minimizar os custos, para não inviabilizar o sistema.
Os reservatórios podem ser construídos com uma infinidade de matérias,
mais comumente tijolos com argamassa impermeabilizada, concreto, pré-fabricados
em PVC, fibra de vidro, entre outros materiais capazes de resistir às condições de
uso (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2000).
O formato do reservatório não possui nenhuma geometria especial, a maioria
deles é circular ou retangular, porém sua forma pode ser a mais diversa, inclusive
com algum apelo temático para torná-lo esteticamente mais agradável. Cabe
ressaltar que diversos autores (MATIAS, 2001; SCHISTEK, 2005; SANTOS et.al,
2007; WORM & HATTUM, 2006) consideram os reservatórios com formato
cilíndrico, em geral, mais fortes se comparados aos com formato quadrilátero que
costumam apresentar problemas de vazamento nos vértices. Além disso, a forma
redonda requer menos material em relação à capacidade de armazenamento dos
reservatórios com quatro lados.
De uma maneira genérica os reservatórios de água de chuva recebem a
denominação de cisternas, que de acordo com a definição do Dicionário Aurélio
(2009) „„ são reservatórios para receber e conservar as águas pluviais‟‟.
Por outro lado, Worm & Hattum (2006) dividem os reservatórios em duas
categorias conforme a sua posição: tanques para aqueles posicionados na
superfície ou acima dela; e cisternas para aqueles posicionados em subsuperfície.
Ainda, conforme os mesmos autores as vantagens e desvantagens dessas
categorias podem ser observadas na figura 24.
O tamanho do reservatório depende do índice pluviométrico local, da área de
coleta e da demanda.
O índice pluviométrico local deve ser conseguido por meio da instituição
responsável, no caso de Ponta Grossa o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) foi
quem realizou os melhores estudos no âmbito municipal.
Van
tag
en
s
Tanque (superfície) Cisterna (subsuperfície)
Facilita a inspeção de rachaduras e vazamentos
Geralmente é mais barato
Variedade de modelos disponíveis
A existência de solo ao redor das paredes permite que elas sejam mais finas
É encontrado na maioria das lojas desse segmento
Necessita de menos ou nenhum espaço acima do solo
Pode ser construído com uma grande variedade de materiais
Não bloqueia o caminho/ mais agradável visualmente
É facilmente construído com materiais tradicionais
Pode usar a força da gravidade para retirar a água
Pode ser elevado para aumentar a pressão da água
Desvan
tag
en
s
Necessita de espaço A retirada de água e a manutenção são mais problemáticas
Em geral é mais caro É mais difícil de ser inspecionada
Danifica-se com mais facilidade
Pode ter problemas com a subida do nível freático
Sujeito às intempéries do clima
Pode ser danificada por raízes
Um mau funcionamento pode levar a situações de perigo
Pode representar um perigo para crianças e pequenos animais
Pode causar poluição visual Pode ser deformada pela pressão externa quando vazia
A trepidação ocasionada por veículos pode danificá-la
FIGURA 24 – Quadro com vantagens e desvantagens entre tanques e cisternas Fonte: (WORM; HATTUM, 2006).
A área de coleta, já esclarecida anteriormente, corresponde à área de
captação de água.
A demanda é calculada de acordo com os usos pré-determinados a partir de
estudos realizados num local específico ou tomando-se por base os valores
sugeridos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (2000), intitulada
“Captação e uso local de águas pluviais”.
Embora existam vários métodos de dimensionamento do reservatório, será
adotado neste trabalho o método mais comum que corresponde à seguinte equação:
V= Ac. P. C
Onde, V representa o volume do reservatório (m³), Ac a área de coleta de
água de chuva (m²), P a precipitação média (mm) e C o coeficiente de runoff.
O projeto do reservatório deve considerar a existência de cobertura;
extravasores, caso a precipitação ultrapasse a capacidade de armazenagem do
reservatório; medidores de nível; dispositivos de esgotamento, inspeção e ventilação
dotados de elementos que impeçam a entrada de animais em seu interior
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2007).
Para escolher que tipo de reservatório se vai utilizar é importante levar em
consideração a sua finalidade. Além disso, o material utilizado deve proteger a água
armazenada contra a insolação, não deve conter nenhuma substância que possa
contaminá-la e deve ser de fácil aquisição. O espaço disponível e as características
do local onde será instalado também precisam ser considerados.
Depois de devidamente projetado, o sistema de aproveitamento de água de
chuva deve receber o acompanhamento de pelo menos um profissional capacitado
para orientar a execução da obra, de preferência alguém da comunidade, buscando,
assim, incentivar a sustentabilidade e a disseminação do sistema a nível local.
A operação de um sistema de aproveitamento de água de chuva é simples,
porém requer alguns cuidados básicos para manter um funcionamento efetivo. De
acordo com Téchne (2009) após a instalação completa dos equipamentos, é
importante efetuar uma limpeza geral da tubulação e dos reservatórios de água.
Além disso, nos primeiros meses de funcionamento o sistema deverá receber
vistorias diárias e semanais, até que o sistema esteja em pleno funcionamento.
A manutenção é uma etapa importante para garantir a continuidade de
funcionamento do sistema, não devendo ser negligenciada. O Group Raindrops
(2002) sugere que as pessoas envolvidas elaborem um planejamento anual de
responsabilidades para a manutenção.
Worm & Hattum (2006) fornecem um parâmetro para a elaboração de um
calendário das tarefas de operação e manutenção, dividindo-as em:
Tarefas regulares
Manter as superfícies dos telhados e as calhas limpas de excrementos de
pássaros. Deve-se limpar, regularmente, as folhas e outras sujeiras dos filtros
de entrada da água.
Durante a estação das chuvas deve-se controlar regularmente as redes no
tubo de descarga do excedente do reservatório e as mesmas devem ser
renovadas, caso necessário.
A menos que se conte com meios automáticos de desviar do tanque a
primeira chuva, deve-se desligar do tanque o tubo de entrada da água,
durante os períodos secos, para realizar a limpeza do sistema. Então, o tubo
pode ser ligado de novo, de modo que a água possa correr para o tanque.
Uma vez por semana deve-se medir o nível da água no tanque utilizando uma
estaca graduada. Durante os períodos secos, o abaixamento do nível de água
deve corresponder ao consumo de água. Se este não for o caso, pode haver
alguma fuga.
Tarefas esporádicas ou anuais
No final da estação seca, quando o tanque está vazio, deve-se reparar
quaisquer fugas que tenham sido detectadas.
É necessário controlar e reparar, eventualmente, a superfície do telhado, as
calhas, os ganchos de suporte/apoio e os tubos de entrada de água.
Caso se incorpore um filtro de areia, o filtro deve ser lavado com água limpa
ou substituído. Os outros tipos de filtros devem ser controlados.
É necessário remover periodicamente os depósitos do fundo do tanque, tarefa
que deve ser feita de preferência uma vez por ano.
Depois de realizados os reparos no interior do tanque e de se proceder à
limpeza dos reservatórios, seu interior deve passar por uma desinfecção com
cloro.
Além disso, regularmente deve-se prestar atenção à qualidade da água.
Testes simples podem ser realizados pelo próprio operador do sistema, utilizando
kits de teste da qualidade da água.
4. DESCRIÇÃO DO ESTUDO
Tendo como objetivo geral deste estudo analisar a possibilidade técnica e a
viabilidade econômica de aproveitamento de água de chuva para usos não potáveis
em postos de serviços automotivos da área urbana de Ponta Grossa, e demonstrar a
existência de viabilidade técnica e econômica de aproveitamento da água de chuva
como uma alternativa viável para o município, a metodologia adotada para
realização do trabalho envolveu 4 etapas, descritas, a seguir:
Levantamento bibliográfico e leituras referentes ao tema: após o
levantamento bibliográfico referente aos temas: “Água”, “Recursos Hídricos” e
“Aproveitamento de Água de Chuva” foi realizada a leitura dos principais trabalhos
relacionados aos temas. As leituras seguiram até a fase final de conclusão do
trabalho.
Investigação exploratória: essa etapa do trabalho buscou localizar os
postos de serviços automotivos existentes na área urbana, através de levantamento
de informações dos postos cadastrados junto a ANP (Agência Nacional do Petróleo)
e investigação de campo, percorrendo as principais vias de circulação, incluindo as
rodovias na margem da área urbana que conectam o município ao restante do
Estado. Durante as investigações de campo buscou–se reconhecer as fontes de
água utilizadas nos postos de serviços automotivos e a presença ou não de oferta
de serviço de lavagem automotiva, com determinação de seu posicionamento
auxiliada de um receptor GPS GARMIN, modelo GPS II PLUS. Ver a ficha de
investigação exploratória no Apêndice A.
Espacialização dos postos de abastecimento de combustível: para essa
etapa está utilizou-se a base de dados georreferenciada da Prefeitura Municipal de
Ponta Grossa e o programa Arcview 3.2 para tratamento das informações e criação
de um banco de dados.
Aprofundamento investigativo nos postos que aproveitam água pluvial:
esta etapa buscou identificar as quantidades médias de água utilizadas
mensalmente, identificar as atividades e a demanda por águas não potáveis, bem
como analisar a possibilidade técnica, a viabilidade econômica e inferir sobre a
utilização de água de chuva em postos de serviços automotivos da área urbana de
Ponta Grossa. Ver roteiro de entrevista no Apêndice B.
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDOS
A área delimitada para a pesquisa (Figura 25) corresponde ao perímetro
urbano do município de Ponta Grossa, o qual está inserido no Segundo Planalto
Paranaense, na região natural dos Campos Gerais (Maack, 1981), Mesorregião
Centro-Oriental do Estado do Paraná (INSTITUTO PARANAENSE DE
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL, 2004). Com seu centro geográfico
estabelecido pelas coordenadas geográficas médias de 25º 09‟ latitude Sul e 50º 16‟
longitude Oeste Greenwich, com altitude média de 975 metros acima do nível do mar
(PMPG, 2009b). Limita-se ao Norte com o município de Castro e Carambeí, ao Sul
com os municípios de Palmeira e Teixeira Soares, à Leste com o município de
Campo Largo e a Oeste com os municípios de Tibagi e Ipiranga (PREFEITURA
MUNICIPAL DE PONTA GROSSA, 2009a).
De acordo com o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e
Social (2009) estima-se que Ponta Grossa possua uma população de
aproximadamente 314.681 habitantes, dos quais cerca de 306.719 habitantes
(97,47% da população) vivem no perímetro urbano, numa área de 917,2 Km², que
representa menos da metade do município (47,4% de sua área total). O restante da
população do município cerca de 7.962 habitantes (menos de 3% da população)
está distribuída no perímetro rural, numa área de 1.195,4 km² (52,6% do município).
Ao todo o município de Ponta Grossa ocupa uma superfície de 2.112,6 km²
(PREFEITURA MUNICIPAL DE PONTA GROSSA, 20009b).
O município apresenta uma ampla rede hidrográfica, formada por arroios
tributários dos rios Tibagi, Verde e Pitangui que conferem ao seu sítio urbano uma
topografia peculiar, formada por espigões radiais. Os principais arroios urbanos são:
Cara-Cará, Olarias, do Padre, da Ronda e Gertrudes que drenam as águas da
porção sudoeste, sul e sudeste da área urbana para o Rio Tibagi; o Lajeado Grande,
Pilão de Pedra e Arroio Grande que drenam as águas da porção noroeste, norte e
nordeste da área urbana para os rios Verde e Pitangui (MEDEIROS & MELO, 2001).
FIGURA 25 – Localização e abrangência da área de estudos (adaptado do INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2006 e da PREFEITURA MUNICIPAL DE PONTA GROSSA, 2009c).
Devido sua localização geográfica e características físicas, o município faz
parte de uma zona de clima quente-temperado subtropical (MAACK, 1981). A
proximidade da Escarpa Devoniana funciona como um bloqueio orográfico aos
ventos marítimos úmidos de SE, NE, E que se precipitam ao vencerem o degrau
formado pela escarpa (CRUZ, 2006). Dessa maneira, Ponta Grossa registra os
maiores valores médios de precipitação da região dos Campos Gerais. Segundo
Caramori (2002) a média dos índices pluviométricos mensais em Ponta Grossa,
entre 1954 e 2001, é de 1554 mm, bem distribuídos durante todos os meses,
indicando precipitação média máxima de 186 mm para o mês de janeiro e média
mínima de 79 mm para o mês de agosto. Quando adaptadas para o Sistema
Internacional de Classificação de Climas de Köppen, as características de Ponta
Grossa indicam o clima de tipo Cfb, isto é, clima subtropical úmido mesotérmico. O
mês mais quente não apresenta temperatura média superior a 22° C, e a
temperatura média do mês mais frio é inferior a 18° C, com mais de 5 geadas por
ano. A temperatura média anual de Ponta grossa varia de 17 a 18°C, com chuvas
bem distribuídas e verões quentes (INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ,
2007).
4.2 O ABASTECIMENTO DE ÁGUA EM PONTA GROSSA
No Estado do Paraná, a concessão de uso dos recursos hídricos pertence à
Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR), responsável pelo
abastecimento urbano.
Em Ponta Grossa, a água que abastece a cidade é captada nos mananciais
da Represa Alagados e do Rio Pitangui.
A Represa Alagados é uma barragem inundada, principalmente, pelos rios
Pitangui e Jotuba. Construída, inicialmente, para permitir o aproveitamento de
energia elétrica, é também responsável por cerca de 40 % do abastecimento d‟água
da cidade.
De acordo com Pilatti (2002) e o Núcleo de Estudos em Meio Ambiente
(2008), está represa vem sendo degradada por inúmeras atividades incompatíveis
com áreas de manancial, realizadas na represa e no seu entorno, tais como:
utilização de suas águas para atividades de lazer e recreação; intensas atividades
agrícolas e pecuárias; presença de florestamento com espécies exóticas; presença
de áreas com exploração minerária; e presença de residências de finais de semana.
Estas geram diversos problemas ambientais no manancial, entre eles, contaminação
das águas e proliferação de cianobactérias (algas azuis) pela eutrofização das
águas7, devastação da vegetação ripária e contaminação biológica da vegetação
original, geração de processos erosivos acentuados resultando em assoreamento
dos rios e da represa. Todos estes problemas tornam os sistemas de tratamento de
7 A eutrofização é um processo natural de aumento dos nutrientes em um corpo d‟água, quando esse
processo é acelerado por atividades humanas resulta na retirada de oxigênio da água matando peixes e outras formas de vida (VERGES & MILLEO, 2004).
água cada vez mais onerosos e com menor qualidade, sobretudo por exigirem
maiores quantidades de produtos químicos para realizar o tratamento d‟água.
O manancial do Rio Pitangui é responsável por cerca de 60 % do
abastecimento d‟água da cidade. Instalado no Rio Pitangui, um importante afluente
da margem direita do Rio Tibagi, devido a sua localização, a jusante da Represa
Alagados o manancial também sofre com seus problemas que afetam ao sistema de
tratamento de água da cidade como um todo (NÚCLEO DE ESTUDOS
AMBIENTAIS, 2008).
Recentemente a SANEPAR realizou um grande investimento (mais de R$ 9
milhões) na Estação de Tratamento de Água (ETA) do manancial do Rio Pitangui
para melhorar as condições de tratamento de água durante os períodos de floração
de algas. Para isto está sendo utilizada uma tecnologia capaz de baixar a vazão
para 700 litros por segundo, o suficiente para manter os padrões de potabilidade.
Além disso, com a readequação, a produção de água tratada aumentará de 800
litros por segundo para 1.150 litros por segundo nos períodos sem floração de algas
(AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DO ESTADO DO PARANÁ, 2009).
O sistema de abastecimento público de água é constituído pelas seguintes
fases: captação de água bruta no manancial; pré-sedimentação para reduzir a
turbidez (presença de partículas sólidas em suspensão na água) e melhorar a
qualidade da água bruta; adução (transporte da água do manancial para estação de
tratamento); pré-cloração para reduzir a presença de bactérias; coagulação (adição
de produtos químicos para separar as impurezas); floculação para agrupar as
partículas em suspensão; decantação das partículas floculadas; flotação (adição de
ar dissolvido para que as partículas fiquem mais leves e subam dentro dos tanques
de tratamento), filtração para eliminar as impurezas; desinfecção para eliminação de
bactérias, normalmente utilizando cloro; fluoretação (adição de flúor) para prevenção
de cáries dentárias; reservação (armazenamento) e distribuição para a cidade
(COMPANHIA DE SANEAMENTO DO PARANÁ, 2008).
A ampla rede hidrográfica da cidade oferece uma falsa sensação de conforto
em relação à detenção de recursos hídricos superficiais. A topografia da cidade
condicionada por espigões radiais, interfere no seu desenvolvimento urbano e na
sua infra-estrutura, principalmente com relação ao saneamento básico que
representa um grande problema nas áreas de ocupações irregulares, geralmente,
localizadas nos fundos de vale, áreas de preservação permanente, que deveriam
funcionar como unidades de conservação. Estas áreas não recebem infra-estrutura,
pois não deveriam ser ocupadas e seus ocupantes devem ser realocados. A
topografia acidentada da área urbana também inviabiliza o aproveitamento de água
dos rios urbanos, em boa parte bastante degradados. Estes, embora sejam
relativamente extensos, percorrendo cerca de 170 km distribuídos pela área urbana,
ficam em áreas muito baixas da cidade, com desníveis de até mais de 200 m,
encarecendo muito o sistema de distribuição de água que não poderia utilizar a
energia da gravidade para levar a água até as residências.
Além disso, com base em dados cedidos pela SANEPAR (Figura 26), o
progressivo crescimento da população e sua concentração no perímetro urbano têm
elevado o consumo de água. Nos últimos 6 anos o aumento da população urbana
ultrapassou 22 mil pessoas, o que resultou num acréscimo de mais 5.200 m³ de
água consumidos diariamente. Se essa tendência de crescimento da população
urbana e acréscimo na demanda de água se mantiverem, em menos de 15 anos a
produção necessária para abastecer a cidade deve ultrapassar a capacidade real de
produção, ou seja, os mananciais atualmente disponíveis serão incapazes de suprir
a demanda necessária para abastecer a cidade de Ponta Grossa por volta de 2024
(Figura 27).
FIGURA 26 – Quadro síntese do abastecimento de água em Ponta Grossa, dados históricos e previsões, 2003-2024 (modificado de dados cedidos pela SANEPAR em setembro de 2008). * dados não disponíveis.
Histórico Previsões
Ano 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2024
População urbana
284.412 282.888 285.780 291.470 294.699 300.593 306.604 420.264
Demanda média
(m³/dia) 48.875 53.310 54.075 53.666 54.097 53.727 54.112 *
Produção necessária
(m³/dia) 52.045 67.534 62.973 56.761 67.749 57.646 58.317 101.699
Capacidade real de
produção (m³/dia)
73.440 73.440 73.440 73.440 73.440 73.440 99.360 99.360
0
20
40
60
80
100
120
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2024
Produção necessária (m³/dia)
Capacidade real de produção (m³/dia)
FIGURA 27 – Gráfico do volume necessário para suprir a demanda da cidade e a capacidade real de abastecimento de água em Ponta Grossa, 2003 – 2024 (modificado de dados cedidos pela SANEPAR em setembro de 2008).
4.3 OS POSTOS DE SERVIÇOS AUTOMOTIVOS
Os popularmente denominados “postos de gasolina” são oficialmente
classificados pela a Agência Nacional do Petróleo (ANP) como “Postos
Revendedores Varejistas de Combustíveis Automotivos”, pois têm como objetivo
exercer a atividade de revenda varejista de combustíveis líquidos derivados de
petróleo, álcool combustível e outros combustíveis automotivos, dispondo de
equipamentos e sistemas para armazenamento de combustíveis automotivos e
equipamentos medidores (INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ, 2004). Porém,
entendendo que na atualidade os postos de combustíveis, além de desenvolverem
as atividades de seu objetivo, vêm agregando outras funções como: serviços de
manutenção dos veículos que incluem lubrificação, troca de óleo, lavagem e reparos
mecânicos, entre outros; loja de conveniência e até mesmo local de encontro para
os usuários de automóvel, o qual tem sido o centro de inúmeras discussões,
principalmente, com relação à venda de bebidas alcoólicas. Preferiu-se adotar, neste
estudo, para tais estabelecimentos a denominação de “Postos de Serviços
Automotivos”, julgando-a mais adequada com base na exposição anterior.
Dos 63 postos de serviços automotivos cadastrados na ANP em Ponta
Grossa (Anexo A), foram reconhecidos durante as investigações de campo,
percorrendo-se as principais vias de circulação da cidade (Avenida Monteiro Lobato,
Ernesto Vilela, Dom Pedro II, Vicente Machado, Balduíno Taques, Carlos Cavalcanti,
Visconde de Mauá, Souza Naves, Presidente Kennedy, Senador Flávio Carvalho
Guimarães, parte da Dom Geraldo Pellanda e a Rua Comendador Ayrton Playsant,
devido ao conhecimento da existência de aproveitamento de água de chuva no
Posto Flex) 42 postos, dos quais 2 estão fora dos limites da área de estudos ( Posto
Contorno II e Posto Contorno V), porém serão considerados na análise dos dados,
por terem sido visitados (Figura 28).
FIGURA 28 – Localização dos 42 postos de serviços automotivos visitados em Ponta Grossa. 1- postos automotivos; 2- principais vias de circulação da área urbana de Ponta Grossa; 3- limite dos bairros e da área urbana; 4- arruamento. Base: (PREFEITURA MUNICIPAL DE PONTA GROSSA, 2001).
Dos 42 postos visitados 33 (cerca de 79%) oferecem serviço de lavagem de
veículos (Figura 29, Apêndice C e D). Desses, 20 utilizam água tratada associada a
outras fontes, provavelmente reservando-as para os usos mais nobres, como para
beber. Porém, 7 postos utilizam somente água tratada em todas as tarefas, tendo
que fazer cobrança para oferecer a lavagem, pois devem pagar pelo tratamento e
distribuição de toda água que consomem (Figura 30).
FIGURA 29 – Localização dos postos de serviços automotivos visitados em Ponta Grossa que oferecem serviço de lavagem de veículos. 1- postos automotivos; 2- principais vias de circulação da área urbana de Ponta Grossa; 3- limite dos bairros e da área urbana; 4- arruamento; 5- postos automotivos que oferecem serviço de lavagem. Base: (PREFEITURA MUNICIPAL DE PONTA GROSSA, 2001).
Fontes de água N° de postos % (1) % (2)
Pluvial, tratada e subterrânea 7 17 21
Pluvial e tratada 1 2 3
Pluvial e subterrânea 1 24 3
Tratada e subterrânea 10 5 31
Tratada e arroio 2 17 6
Tratada 7 21 21
Tratada (não possuem lavagem) 9 12 ---
Subterrânea 5 12 15
TOTAL 42 100 100
Figura 30 – Quadro síntese do uso da água nos postos de serviços automotivos pesquisados Notas: % (1) = porcentagem entre todos os 42 postos estudados. % (2) = porcentagem os 33 postos que oferecem serviço de lavagem.
Referente às águas subterrâneas8, 18 postos utilizam esse recurso, associado
com outras fontes. Pode-se especular que quando esta fonte é utilizada em
associação com a fonte d‟água tratada, isto indique que ela não é adequada ao
consumo humano, pois se a sua qualidade atingisse os padrões de potabilidade,
provavelmente, não se optaria por utilizar água tratada já que essa tem um custo de
consumo. Em 5 postos a água subterrânea é a única fonte d‟água utilizada em todas
as atividades do posto, fato que reforça as considerações anteriores. Nesses locais
a lavagem pode ser oferecida como cortesia aos fregueses. Quanto ao uso da água
pluvial observou-se que apenas 9 postos possuem esse sistema. Em 3 locais
visitados o serviço de lavagem tem um espaço cedido pelo posto e administrado
como um empreendimento independente por pessoas que têm nessa atividade seu
sustento (Posto Paraná, Posto Contorno II e Posto Cinco Primos). Nos Postos
Paraná e Posto Contorno II constatou-se a utilização de águas bombeadas de arroio
para lavar veículos.
Entre as fontes de abastecimento de água utilizadas nos postos de serviços
automotivos estudados, no universo dos postos que não oferecem serviço de
lavagem, 100% utilizam água tratada. Já no universo dos postos que oferecem
serviço de lavagem (Figura 31) a maior parte (31%) utiliza fontes mistas servindo-se
de água tratada e subterrânea; seguidos de 21% que utilizam somente água tratada;
21% que utilizam fontes mistas servindo-se de água tratada, subterrânea e pluvial;
15% que utilizam somente água subterrânea; 6% que utilizam fontes mistas
servindo-se de água tratada e de arroio; 3% que utilizam fontes mistas servindo-se
de água pluvial e tratada e 3% que utilizam fontes mistas servindo-se de água pluvial
e subterrânea.
Os postos estudados correspondem a cerca de 66,5 % dos postos
cadastrados no município pela ANP. Os restantes 33,5% correspondem,
predominantemente, a postos situados nas várias rodovias que cortam o município,
muitas vezes localizados longe do espaço urbano. Sendo assim, confirmou-se como
já esperado, que a topografia da cidade influencia, em grande parte, na distribuição
espacial dos postos de serviços automotivos na área urbana. Pode-se perceber uma
forte tendência de localização dos postos ao longo dos espigões, visto que “A cidade
8 Considerou-se com água subterrânea tanto a água proveniente de poços profundos que exploram
aquíferos quanto a proveniente de cacimbas, que exploram o lençol freático superficial.
Pluvial, tratada e subterrânea
21%
Pluvial e tratada3%
Pluvial e subterrânea
3%
Tratada e subterrânea
31%
Tratada e arroio6%
Tratada21%
Subterrânea15%
expandiu-se inicialmente pelos divisores das bacias dos arroios, com os eixos
urbanos compondo geometria radial” (Medeiros & Melo, 2001, p. 114). É nesses
eixos urbanos que os postos de serviços automotivos vão se instalar, pois é neles
que circulam os veículos, público-alvo desses empreendimentos.
FIGURA 31 – Gráfico do uso da água nos postos de serviços automotivos do espaço urbano de Ponta Grossa que oferecem serviço de lavagem (33 postos)
4.3.1 Aproveitamento de água de chuva nos postos de serviços automotivos
Conforme já exposto anteriormente, dos 33 postos que oferecem serviço de
lavagem de veículos estudados, somente 9 (apenas 27%) coletam e aproveitam a
água de chuva, são eles: Posto Tio Mucufa, Posto Real, Athenas Auto Posto, Posto
Cinco Primos, Posto Gamper, Posto Pinheiro, Posto São Sebastião, Posto Flex,
Posto Pianowski. Nestes postos foram realizadas entrevistas como objetivo de se
reconhecer a real situação do uso da água.
FIGURA 32 – Localização dos postos de serviços automotivos do espaço urbano de Ponta Grossa
que aproveitam água pluvial. 1- postos automotivos que aproveitam água pluvial; 2- principais vias de
circulação da área urbana de Ponta Grossa; 3- limite dos bairros e da área urbana; 4- arruamento; A- Posto Tio Mucufa; B- Posto Real; C- Athenas Auto Posto; D- Posto Cinco Primos; E- Posto Gamper; F- Posto Pinheiro; G- Posto São Sebastião; H- Posto Flex; I – Posto Pianowski. Base: (PREFEITURA MUNICIPAL DE PONTA GROSSA, 2001).
1. Posto Tio Mucufa:
O Posto Tio Mucufa (M. PILATTI & CIA LTDA., Figura 33 A), foi fundado por
volta do final da década de 50, localizado na Avenida Monteiro Lobato, 1535, Jardim
Carvalho. O posto possui três áreas cobertas que podem ser utilizadas para coleta
de água pluvial: a cobertura principal sobre as bombas de abastecimento de
combustível com 322 m², um escritório com 110 m² e um pequeno depósito com 63
m² que totalizam 495 m² de área coberta.
As fontes de água que abastecem posto são: a rede de abastecimento público
da SANEPAR (água tratada), um poço cacimba (água subterrânea) e o
aproveitamento de água pluvial. Estima-se que são gastos, ao todo, 120 m³ de água
todo mês9. Destes em média 27 m³ são de água tratada que é destinada para usos
domésticos (para beber, higiene pessoal, descarga nos vasos e lavagem do pátio) e
para limpar pára-brisas. As águas provenientes do poço e das chuvas, usadas de
forma conjunta, são destinadas especificamente para lavagem de veículos, o que
demanda em média cerca 93 m³ de água, mensalmente. O poço cacimba com
capacidade aproximada de 140 m³ foi escavado na época de construção do posto,
sendo tão antigo quanto este. Possui cerca de 20 m de profundidade e 3 m de
diâmetro. A água de chuva começou a ser utilizada há cerca de pouco mais de um
ano para reabastecer o poço que secou. Atualmente o aproveitamento de água de
chuva é esporádico e precário, utilizado de maneira improvisada. A cobertura
principal do posto, com 322 m² possui calhas que dividem em duas partes a
drenagem de águas pluviais do telhado para a galeria de águas pluviais. Durante as
chuvas quando se pretende coletar a água pluvial para reabastecer o poço, um dos
tubos que corresponde à metade do escoamento da cobertura (Figura 33 B) é
desconectado da galeria pluvial e conectado a uma mangueira de bombeiro (Figura
33 D) pela qual a água chega até o poço localizado no subsolo do depósito.
A oferta do serviço de lavagem no posto ocorre há mais de 40 anos.
Atualmente a lavagem, oferecida como cortesia aos clientes, é realizada por um
lavador que atende em média 10 carros e 4 ônibus por dia, o equivalente a cerca de
9 Para estimar a quantidade de água usada na lavagem tomou-se por base o n° de veículos lavados
por mês. Adotou-se, conforme a ABNT (2000), 150 l de água para lavagem de carros e 400 l para a lavagem de ônibus com máquina de jato de água pressurizada.
420 veículos por mês. O processo de lavagem é do tipo lava-jato10 (manual, com
máquina de jato de água pressurizada). A água bombeada do poço vai para uma
cisterna com capacidade para 25,6 m³, em seguida vai para três galões (Figura 33
C) para que a máquina de jato de água pressurizada (Figura 33 E) possa realizar a
sucção da água para lavagem. A cisterna é esvaziada e limpa uma vez por ano. São
usados na lavagem: água, detergente Intercap (mistura de ácidos destinada à
limpeza, desengraxe e higienização mecânica de partes externas de veículos tais
como motor, chassis e carrocerias11) ou Sulopan (Figura 33 F) (detergente
desengraxante alcalino usado para limpeza de chassis, sujidade de motores,
limpeza pesada de pisos, pátios de manobras, etc.12), e cremes de limpeza. A água
servida, resultante da lavagem vai para uma caixa de separação com três
compartimentos e depois que as partículas sólidas são decantadas a água é
liberada na galeria de águas pluviais.
Durante a entrevista o posto estava passando por reformas. A pessoa
entrevistada foi o gerente do posto que demonstrou interesse em aproveitar a água
de chuva de uma maneira mais adequada apontando como principal vantagem a
economia de água. Embora não tenha apontado nenhuma desvantagem no uso
desse sistema, apontou como mais vantajosa a fonte d‟água subterrânea e como a
que mais traz desvantagens a fonte de água tratada, ambas por razões econômicas.
10 Tipos de lavagem: Túnel – o veículo segue pelo interior de um de túnel equipado para realizar lavagem,
enxágue, enceramento e secagem. Rollover – o veículo fica parado enquanto a máquina de lavagem passa por ele realizando a limpeza com escovas cilíndricas. Lava-jato: manual, com máquina de jato de água pressurizada (MORELLI, 2005). 11
Fonte: http://www.deiondetergentes.com.br/linha_automotiva.htm 12
Fonte: http://www.deiondetergentes.com.br/linha_automotiva.htm
FIGURA 33 – Posto Tio Mucufa. A- Visão geral do posto; B- tubo usado para conduzir a água pluvial; C- galões de água usados na máquina de lavagem; D- conector e mangueira condutora de água pluvial; E- máquina de lavagem; F- detergente automotivo Intercap.
2. Posto Real: O Posto Real (BARROS, DIAS & CIA LTDA., Figura 34 A), foi fundado em
fevereiro de 1952, localizado na Avenida Monteiro Lobato, 44, Jardim Carvalho. O
posto possui duas áreas cobertas que podem ser utilizadas para coleta de água
pluvial: a cobertura principal sobre as bombas de abastecimento de combustível com
339 m² e a loja de conveniência/escritório com 229 m² que totalizam 568 m² de área.
As fontes de água que abastecem posto são: a rede de abastecimento público
da SANEPAR (água tratada), um poço cacimba (água subterrânea) e o
aproveitamento de água pluvial. Estima-se que são gastos, ao todo, 155 m³ de água
todo mês. Destes em média 20 m³ são de água tratada que é destinada para usos
domésticos (para beber, higiene pessoal, dar descarga nos vasos e lavagem de
pátio) e para limpar pára-brisas. Ocasionalmente é utilizada para lavagem de
veículos em períodos de estiagem. As águas provenientes do poço e das chuvas
são destinadas especificamente para lavagem de veículos, que demandam em
média cerca 135 m³ de água, mensalmente. Estas são usadas de forma alternada,
de modo que a água de chuva é utilizada primeiramente, quando esta acaba então
se utiliza a água do poço. O poço cacimba, com capacidade aproximada de 56,5 m³,
foi escavado na época de construção do posto, sendo tão antigo quanto este, possui
cerca de 8 m de profundidade e 3 m de diâmetro. A água de chuva começou a ser
utilizada em 2001, durante a reforma que reconstruiu o posto. A área de coleta de
água pluvial utilizada possui 339 m² correspondentes à área da cobertura principal
sobre as bombas de combustível que foram construídas em “V” para que a água
proveniente das chuvas pudesse ser escoada por três tubos de PVC revestidos com
metal (Figura 34 B), responsáveis pela sustentação da cobertura e condução da
água até tubos de PVC subterrâneos de 100 m que levam a água até um tanque
com capacidade de 28 m³ (Figura 34 C e E).
A lavagem (figura 34 D) é cortesia para clientes, aos não clientes são
cobrados R$ 10,00 para lavar carros e R$ 20,00 caminhonetes e similares. O serviço
é realizado pelos frentistas que se revezam no atendimento às bombas e na
lavagem de veículos. São lavados em média 30 veículos por dia, o equivalente a
cerca de 900 veículos por mês. O processo de lavagem é do tipo lava-jato (manual,
com máquina de jato de água pressurizada), A água bombeada do tanque de água
de chuva ou do poço vai para um reservatório auxiliar (Figura 34 E) para que a
máquina de jato de água pressurizada possa realizar a sucção da água para
lavagem. São usados na lavagem água e detergente automotivo. A água residual,
dispensada da lavagem vai para uma caixa de separação com três compartimentos
e depois que as partículas sólidas são decantadas a água é liberada na galeria de
águas pluviais.
A pessoa entrevistada foi um dos sócios do posto que aponta como fonte de
água mais vantajosa a água de chuva, pois seu custo de implantação foi muito
barato visto que já existia a cisterna, além disso considera esta fonte d‟água uma
forma ecológica de utilizar água que seria despejada na rua. O entrevistado aponta
água tratada como a menos vantajosa para ser utilizada na lavagem, devido ao seu
custo e aos danos ao meio ambiente, como desperdício de água tratada.
FIGURA 34 – Posto Real. A- Visão geral do posto; B- tubos usados para conduzir a água pluvial; C- desenho esquemático da coleta de água pluvial; D- lava-car; E- à esquerda cisterna de água de chuva, à direita poço cacimba e ao fundo reservatório auxiliar para lavagem. Fonte: A- acervo do Posto Real.
3. Athenas Auto Posto:
O Athenas Auto Posto (Diogo Almeida Telegnani, Figura 35 A), foi fundado
em 1996, localizado na Avenida General Carlos Cavalcanti, 1225, Uvaranas. O posto
possui três áreas cobertas que podem ser utilizadas para coleta de água pluvial: a
cobertura principal sobre as bombas de abastecimento de combustível com 320 m²,
a loja de conveniência/escritório com 139 m² e o “Auto Center”, um espaço
reservado para serviços mecânicos, com borracharia; alinhamento; balanceamento;
manutenção de freios, suspensão e baterias, com 368 m² que totalizam 827 m² de
área.
As fontes de água que abastecem posto são: a rede de abastecimento público
da SANEPAR, um poço tubular e o aproveitamento de água pluvial. Estima-se que
são gastos, ao todo, 53,83 m³ de água todo mês13. O consumo mensal de água
tratada, não ultrapassa o mínimo do comércio (até 10 m³), que é destinada para
usos domésticos (para beber, higiene pessoal, descarga nos vasos sanitários). O
“Auto Center” possui 368 m² de coberturas onde é coletada a água de chuva que é
utilizada em conjunto com a água de poço, sendo atualmente destinada para a
lavagem de pátios (“Auto Center” – 368 m² + 320 m² – bombas de combustível) e
para uso no tanque da borracharia (50 l/d). Recentemente os administradores do
posto decidiram não ofertar mais serviços de lavagem para seus clientes,
considerando este com um incômodo desnecessário, explicam que comumente os
proprietários dos veículos contemplados com a cortesia da lavagem requisitavam
mais cuidados que a simples lavagem de aparência, como limpeza com produtos
que dão brilho aos pneus e outros detalhes do veículo. Sendo assim, o consumo de
água do posto, antes responsável também pela lavagem de cerca de 300 veículos
por mês que demandava, juntamente com os outros usos, pelo menos 98.83 m³ de
água mensalmente está reduzida a uma demanda de 53,83 m³.
De acordo como o entrevistado o poço tubular, que seca durante a época de
estiagem, possui 25 m de profundidade e não serve para consumo humano. Foi
perfurado durante a construção do posto sendo utilizado para encher os tanques
quando não se tem água da chuva. A água pluvial coletada do telhado do “Auto
13 Para estimar a demanda mensal de água se considerou além dos 10 m³ de água tratada, 2 l/m² de
pisos lavados diariamente (2 x 30 x 705,5 = 42,33 m³) e 1 tanque de 50 l usado diariamente na borracharia (50 x 30=1,5 m³).
Center” é conduzida por um tubo de PVC (Figura 35 B) para uma calha no piso de
onde vai para 4 tanques das antigas bombas de combustível (cisternas) com
capacidade de 15 m³ cada (Figura 35 C). Desses tanques uma motobomba (Figura
35 G) leva a água para pequenos tanques auxiliares (Figura 35 E), onde funcionava
a lavagem, para ser usada por uma máquina de jato de água pressurizada e
também até duas caixas de água de 1000l cada usadas na borracharia (Figura 35 D
e F).
A pessoa entrevistada foi o gerente do posto que apontou como a principal
vantagem em utilizar a água pluvial a economia de água e de recursos financeiros,
sendo esta a fonte que traz mais benefícios ao postos, criando, segundo o
entrevistado, uma independência em relação aos recursos hídricos. Não foi
apontada nenhuma desvantagem em relação ao uso de água de chuva, mas pode
se verificar que devido à falta de um cuidado mais criterioso com a água que
simplesmente é despejada em calhas de cimento responsáveis por conduzí-las para
os tanques, está contém partículas sólidas visíveis. A fonte d‟água considerada
menos vantajosa foi a de água tratada, devido à dependência que gera com o
sistema de abastecimento público e o custo. A única manutenção realizada no
sistema de aproveitamento de água de chuva e de água de poço são reparos de
avarias na bomba.
FIGURA 35 – Athenas Auto Posto. A- Visão geral do posto; B- tubo usado para conduzir a água; C-
calha que escoa a água pluvial e cisternas; D- caixas de água do “Auto Center”; E- tanques auxiliares; F- água de chuva utilizada no tanque da borracharia; G- motor-bomba que conduz a água da cisterna aos reservatórios.
4. Posto Cinco Primos :
O Posto Cinco Primos (AUTO POSTO CINCO PRIMOS LTDA., Figura 36 A),
foi fundado em março do ano 2000, localizado na Avenida Anita Garibaldi, S/N,
Órfãs. Utiliza como fontes de abastecimento de água: um poço tubular profundo e o
aproveitamento de água pluvial. O posto possui duas áreas cobertas que podem ser
utilizadas para coleta de água pluvial: a cobertura principal sobre as bombas de
abastecimento de combustível com 288 m² e a loja de conveniência/escritório com
185 m² que totalizam 473 m² de área.
As fontes de água que abastecem posto são: a rede de abastecimento público
da SANEPAR, um poço tubular profundo e o aproveitamento de água pluvial.
Estima-se que são gastos, ao todo, pelo menos 167,5 m³ de água todo mês. A água
proveniente do poço é utilizada na maior parte das atividades como usos domésticos
(inclusive para beber), para limpar pára-brisas14 e lavagem de automóveis que
demandam cerca de 157, 5 m³ mensalmente. O sistema de aproveitamento de água
pluvial instalado no posto, desde sua construção, é pouco utilizado para regar um
pequeno jardim com cerca de 10 m² e para lavar os pátios. Sendo a água do poço
utilizada em grande parte das suas atividades, inclusive para as citadas
anteriormente. O poço tubular profundo possui mais de 100 m de profundidade e
pode ser utilizado para consumo humano. A água do poço é bombeada para uma
torre d‟água (tanque) com capacidade aproximada de 10 m³ que abastece o posto
(Figura 36 B). A água de chuva é coletada de toda a área de cobertura (473,18 m²) e
conduzida das calhas por tubos subterrâneos até uma cisterna feita com um tanque
de combustível utilizado especificamente para está função com cerca de 10 m³ de
capacidade. A cisterna possui uma bomba e um tubo de fuga do excesso de água
para a galeria pluvial (Figura 36 C).
A oferta do serviço de lavagem no posto coincide com a idade de
funcionamento do posto. Atualmente a lavagem emprega 4 funcionários
terceirizados que cobram R$ 5,00 pela lavagem de aparência e R$ 10,00 pela
lavagem completa que inclui a limpeza do interior do veículo e produtos que dão
brilho aos pneus. São lavados em média 35 veículos por dia, o equivalente a cerca
de 1050 veículos por mês. O processo de lavagem é do tipo lava-jato, que utiliza
água e detergente automotivo (Figura 36 D). A água servida, resultante da lavagem
vai para uma caixa de separação com 5 compartimentos e depois que as partículas
sólidas são decantadas a água é liberada na galeria de águas pluviais (Figura 36 E).
A pessoa entrevistada foi o responsável pelo lava-car que apontou como a
fonte d‟água que mais traz desvantagens a água tratada, pois tem um custo, e sua
má utilização, como para lavagem de veículos e pátios, por exemplo, acarreta em
14 Tomando-se por base os demais postos considerou-se a demanda de 10 m³ mensais para essas
atividades.
prejuízos para toda a sociedade que perde água de qualidade. Porém, aponta como
mais vantajosa a água de poço, pois tem uma qualidade melhor que a água tratada.
E, no entanto, é usada para lavar veículos. A água proveniente da captação de
chuva foi apontada com uma fonte que pode trazer economia de recursos hídricos e
de recursos financeiros.
FIGURA 36 – Posto Cinco Primos. A- Visão geral do posto; B- torre d‟água; C- entrada da cisterna de água de chuva; D- lava-car; E- caixas separadoras da água residual da lavagem.
5. Posto Gamper:
O Posto Gamper (ADEMAR C. S. BARBOSA, Figura 37 A), foi fundado em
agosto de 1993, localizado na Avenida Ernesto Vilela, 1114, Nova Rússia. O posto
possui duas áreas cobertas que podem ser utilizadas para coleta de água pluvial: a
cobertura principal sobre as bombas de abastecimento de combustível com 352 m² e
a loja de conveniência/escritório com 234 m² que totalizam 586 m² de área.
As fontes de água que abastecem posto são: a rede de abastecimento público
da SANEPAR e o aproveitamento de água pluvial. Estima-se que são gastos, ao
todo, pelo menos 141,12 m³ de água todo mês. Destes em média 45 m³ são de água
tratada que é destinada para usos domésticos (para beber, higiene pessoal,
descarga nos vasos sanitários) e ocasionalmente para lavar o pátio. A água
proveniente das chuvas é destinada para a lavagem de veículos e do pátio onde
estão instaladas as bombas, que demandam em média cerca 96,12 m³ de água15,
mensalmente. O sistema de aproveitamento de água pluvial que é utilizado desde a
inauguração do posto, funciona de uma maneira simples, eficiente e oferece água
com boa qualidade visual. A água coletada da cobertura principal com 352 m²,
sobre as bombas de combustível, é conduzida por calhas para um tubo vertical de
PVC de 200 mm. E a água coleta na cobertura da loja de conveniência/escritório,
com 234 m² é conduzida por calhas para 2 tubos verticais de PVC de 100 mm cada
(Figura 37 C). Estes três tubos se encontram levando a água para uma caixa
separadora (Figura 37 B), onde as impurezas sólidas são decantadas, em seguida a
água é armazenada em uma cisterna com capacidade de 80 m³. Esta é bombeada
da cisterna por uma motobomba (Figura 37 E) para ser utilizada (Figura 37 D). A
lavagem oferecida como cortesia aos clientes é realizada por um funcionário
(lavador) que atende cerca de 500 veículos por mês. O processo de lavagem é do
tipo lava-jato. É utilizada na lavagem água e detergente automotivo biodegradável. A
água servida, resultante da lavagem vai para uma caixa de separação com 5
compartimentos e depois que as partículas sólidas são decantadas a água é
liberada na galeria de águas pluviais. A cada 10 anos um caminhão limpa-fossa
retira os sedimentos acumulados no fundo da cisterna que é lavada.
15 Para estimar a demanda mensal de água de chuva, foi calculada 2 l/m² de pisos lavados
diariamente (2 x 30 x 372 = 21,12 m³) e 500 veículos por mês (500 x 150 = 75 m³).
A pessoa entrevistada foi o proprietário do posto que recomenda a utilização
de água de chuva já que seu custo de implantação é baixo e toda esta água seria
perdida, além disso, não aponta nenhuma desvantagem em utilizá-la. Apontou como
a fonte d‟água que traz mais desvantagens a de água tratada, pois essa tem um
custo. O entrevistado diz que a cisterna nunca secou e atende razoavelmente as
necessidades hídricas do posto.
FIGURA 37 – Posto Gamper. A- Visão geral do posto; B- entrada de água de chuva nas caixas separadoras; C- sistema de distribuição de água de chuva; D- veículo sendo lavado com água de chuva; E- motobomba do jato de água pressurizada.
6. Posto Pinheiro:
O Posto Pinheiro (SOCIEDADE INDUSTRIAL DE BEBIDAS LTDA, Figura 38
A), localizado na Avenida Ernesto Vilela, 1115, Nova Rússia. O posto possui duas
áreas cobertas que podem ser utilizadas para coleta de água pluvial: a cobertura
principal sobre as bombas de abastecimento de combustível e a loja de
conveniência/escritório que se comunicam formando uma grande cobertura com
971,5 m² de área.
As fontes de água que abastecem posto são: a rede de abastecimento público
da SANEPAR (água tratada), um poço cacimba (água subterrânea) e o
aproveitamento de água pluvial. Estima-se que são gastos, ao todo, pelo menos 176
m³ de água todo mês. Destes em média 41 m³ são de água tratada que é destinada
para usos domésticos (para beber, higiene pessoal, descarga nos vasos e lavagem
o pátio) e para limpar pára-brisas. A água proveniente do poço é destinada
especificamente para lavagem de veículos, que demanda em média cerca 135 m³ de
água, mensalmente. A água proveniente das chuvas abastece um reservatório de
emergência para combate a incêndio e também é utilizada, secundariamente, para
lavagem de veículos de forma alternada com água do poço, de modo que a água de
chuva é utilizada primeiramente, quando está acaba então se utiliza a água do poço.
O poço cacimba (Figura 38 B) com capacidade aproximada de 141 m³ foi escavado
na época de construção do posto, sendo tão antigo quanto este, possui cerca de 20
m de profundidade e 3 m de diâmetro, a água é bombeada do poço até a cisterna de
lavagem quando necessário. O sistema de aproveitamento de água pluvial é
simples e utiliza toda a cobertura do posto (971,5 m²), a água coleta das chuvas é
conduzida por calhas até 8 tubos verticais de PVC com 100 mm que despejam a
água num tanque com 44 m³ de capacidade (Figura 38 C) que é reservado para
casos de incêndio quando uma motobomba (Figura 38 D) é acionada. Somente,
depois que este sistema de incêndio é abastecido a água excedente abastece a
cisterna de lavagem (Figura 38 F) com capacidade de 36 m³. A água armazenada é
bombeada da cisterna por uma motobomba (Figura 38 E) para ser utilizada. A água
coletada da chuva tem uma boa qualidade visual, conforme a figura 28 G.
A oferta do serviço de lavagem ocorre no posto, provavelmente, desde sua
inauguração. Atualmente a lavagem, oferecida como cortesia aos clientes, é
realizada pelos frentistas que se revezam no atendimento as bombas e na lavagem
de veículos. São lavados em média 30 veículos por dia, o equivalente a cerca de
900 veículos por mês. O processo de lavagem é do tipo lava-jato (manual, com
máquina de jato de água pressurizada), a água é bobeada da cisterna abastecida
com água de chuva ou de poço pela motobomba diretamente para as mangueiras do
lava-car. É utilizada na lavagem água e detergente automotivo. A água servida,
resultante da lavagem vai para uma caixa de separação com cinco compartimentos
e depois que as partículas sólidas são decantadas a água é liberada na galeria
pluvial.
A pessoa entrevistada foi o gerente do posto que apontou a água de chuva
como a fonte d‟ água mais vantajosa, principalmente, devido a economia de água
que proporciona e por servir como reserva para o caso de incêndio. Para ele a
desvantagem deste tipo de água, está no fato, de que às vezes a cisterna seca. A
água do poço também é considerada uma fonte de água vantajosa, pois é utilizada
na falta água de chuva. A água tratada é considerada com a fonte de água que mais
traz desvantagens ao posto devido ao custo. A única manutenção realizada no
sistema de aproveitamento de água de chuva são reparos na motobomba, quando
esta apresenta algum problema.
FIGURA 38 – Posto Pinheiro. A- Visão geral do posto; B- poço cacimba e bomba; C- sistema de distribuição de água de chuva e cisterna de incêndio; D- motobomba de emergência para incêndio; E- motobomba elétrica da cisterna de lavagem; F- tubo de entrada de água de chuva na cisterna de lavagem e mangueira de água do poço; G- torneira com água de chuva.
7. Posto São Sebastião:
O Posto São Sebastião (AUTO POSTO EQUIPE FENIX LTDA, Figura 39 A,
por volta da década de 60, localizado na Avenida Ernesto Vilela, 361, Centro. O
posto possui duas áreas cobertas que podem ser utilizadas para coleta de água
pluvial: a cobertura principal sobre as bombas de abastecimento de combustível com
193 m² e a um pequeno depósito com 72 m² que totalizam 265 m² de área coberta.
As fontes de água que abastecem posto são: a rede de abastecimento público
da SANEPAR, um poço cacimba e o aproveitamento de água pluvial. Estima-se que
são gastos, ao todo, pelo menos 84 m³ de água todo mês. Destes em média 24 m³
são de água tratada que é destinada para usos domésticos (para beber, higiene
pessoal, descarga nos vasos e lavagem do pátio) e para limpar pára-brisas. As
águas provenientes do poço e das chuvas são destinadas especificamente para
lavagem de veículos, que demandam em média cerca 60 m³ de água, mensalmente.
Estas são usadas de forma alternada, de modo que a água pluvial é utilizada
primeiramente, quando está acaba então se utiliza a água de poço. O poço cacimba
(Figura 39 B) com capacidade aproximada de 98 m³ foi escavado na época de
construção do posto, sendo tão antigo quanto este, possui cerca de 20 m de
profundidade e 2,5 m de diâmetro, a água é bombeada do poço até a cisterna de
lavagem quando necessário. O sistema de aproveitamento de água pluvial é
simples e utiliza a cobertura do pequeno depósito (72 m²) bastante corroído pela
ação do tempo, a água coleta das chuvas é conduzida por calhas até 1 condutor
vertical de metal que despeja a água na cisterna de lavagem com capacidade de 80
m³ (Figura 39 C). Parte da água armazenada é bombeada da cisterna por uma
bomba elétrica (Figura 39 C) para um tanque auxiliar (caixa d‟água de fibra de vidro)
com 2 m³ de capacidade (Figura 39 D), para que a máquina de jato de água
pressurizada utilizada na lavagem consiga trabalhar, outra parte é bombeada
diretamente da cisterna por um motobomba (Figura 39 C) para ser utilizada por um
mangueira ou pela máquina de lavagem automática tipo rollover (Figura 39 F).
A oferta do serviço de lavagem ocorre no posto, provavelmente, desde sua
inauguração. Atualmente existem dois tipos de lavagem no posto: lavagem
automática do tipo rollover que custa R$ 3,00 e a lavagem manual de aparência ao
custo de R$ 5,00 e 10,00 a lavagem completa, o serviço é realizado por um lavador.
São lavados em média 10 veículos por dia, dos quais 8 são carros e 2 são
caminhões de porte médio e similares que totalizam o equivalente a cerca de 900
veículos por mês. São usados na lavagem água e detergente automotivo. A água
residual, dispensada da lavagem vai diretamente para a galeria de águas pluviais
sem tratamentos.
O entrevistado foi o gerente do posto que aponta como mais vantajosas para
a lavagem de veículos a água de chuva, seguida da água proveniente de poço, pois
ambas não tem custos, enquanto a água tratada tem um custo. Porém, a água
tratada é melhor para os usos domésticos, pois as outras fontes não apresentam
potabilidade.
FIGURA 39 – Posto São Sebastião. A- Visão geral do posto; B- poço cacimba; C- bomba d‟água à esquerda, motobomba à direita e cisterna; D- lava-car de veículos grandes e tanque auxiliar ao fundo; E- máquina de jato de água pressurizada; F- poço, área de captação do pequeno depósito, máquina rollover à frente e lava-car com máquina de jato de água pressurizada ao fundo.
8. Posto Flex:
O Posto Flex (AUTO POSTO FLEX LTDA, Figura 40 A) foi fundado a cerca de
50 anos, localizado na Rua Comendador Ayrton Playsant, 183, Centro. Os Telhados
das bombas de abastecimento, do escritório, da loja de conveniências e da troca de
óleo se comunicam formando uma cobertura com 400 m² de área.
As fontes de água que abastecem posto são: a rede de abastecimento
público da SANEPAR, um poço profundo e o aproveitamento de água pluvial.
Estima-se que são gastos, ao todo, 122,5 m³ de água todo mês. O consumo mensal
de água tratada não ultrapassa o mínimo do comércio (até 10 m³) que é destinada
para usos domésticos (para beber, higiene pessoal, descarga nos vasos e lavagem
do pátio) e para limpar pára-brisas. As águas provenientes do poço e das chuvas,
usadas de forma conjunta, são destinadas especificamente para lavagem de
veículos, que demanda 112,5 m³ de água mensalmente. O poço cacimba que foi
escavado na época de construção do posto, e que costuma secar nas épocas de
estiagem, possui capacidade aproximada de 78,5 m³, possui cerca de 25 m de
profundidade e 2 m de diâmetro. A água pluvial já é utilizada há 10 anos composta
por um sistema bastante simples que mistura água pluvial e água de poço (Figura 40
B). A água coletada das coberturas (400 m²) é desviada por tubos para um tanque
com capacidade de 8 m³ (Figura 40 C e E), quando esse tanque é completado a
água excedente vai para o poço, se o tanque estiver seco, então a água do poço
abastece o tanque. Quando as fontes destinadas a lavagem secam essa é
interrompida. A oferta do serviço de lavagem no posto é antiga, provavelmente,
coincidindo com a idade de funcionamento do posto ou poucos anos mais recente.
Atualmente a lavagem, oferecida como cortesia aos clientes, é realizada por um
rodízio entre 4 funcionários que se revezam no atendimento as bombas de
abastecimento de combustível e na lavagem de veículos. São lavados em média 25
carros por dia, o equivalente a cerca de 750 veículos por mês. O processo de
lavagem é do tipo lava-jato, a água é bombeada do tanque por uma bomba a uma
pequena cisterna próxima a máquina de lavagem (de jato de água pressurizada)
para que essa possa realizar a sucção da água (Figura 40 D). É utilizada na lavagem
água e detergente automotivo neutro. A água servida, resultante da lavagem vai
para uma caixa de separação com quatro compartimentos e depois que as partículas
sólidas são decantadas a água é liberada na galeria de água pluvial.
A pessoa entrevistada foi o gerente do posto, na época, que não acha que
exista desvantagem em nenhuma fonte utilizada, talvez pela existência de uma certa
precaução quanto ao uso de água tratada que dificilmente serve para a lavagem de
veículos, o posto não gasta mais que R$ 60,00 mensais com água. O entrevistado
aponta que o aproveitamento de água de chuva é benéfico, pois gera uma boa
economia na conta de água.
FIGURA 40 – Posto Flex. A- Visão geral do posto; B- poço cacimba com tubo para receber água pluvial; C- sistema de tubos condutores de água pluvial até o tanque reservatório; D- área de lavagem com pequena cisterna e máquina usada na lavagem; E- tanque reservatório com 8m³.
9. Posto Pianowski:
O Posto Pianowski (PIANOWSKI & CARVALHO LTDA., Figura 41 A) foi
fundado por volta de 1975, localizado Avenida Visconde de Mauá, 493, Oficinas. O
posto possui três áreas cobertas que podem ser utilizadas para coleta de água
pluvial: a cobertura principal sobre as bombas de abastecimento de combustível com
266 m², a loja de conveniência/escritório com 85 m² e as garagens do lava-car de
veículos grandes (caminhões de porte médio, vans e similares, Figura 41 B) com
162 m² que totalizam 513 m² de área coberta. O posto apresenta dois espaços que
são utilizados como lava-car: um espaço com três garagens utilizadas para lavagem
de veículos grandes e a máquina de lavagem tipo rollover (Figura 41 C).
As fontes de água que abastecem o posto são: a rede de abastecimento
público da SANEPAR, um poço tubular profundo e o aproveitamento de água pluvial.
Estima-se que são gastos, ao todo, pelo menos 92,5 m³ de água todo mês. Destes
em média 10 m³ são de água tratada que é destinada para usos domésticos (para
beber, higiene pessoal, descarga nos vasos e lavagem pisos). As águas
provenientes do poço e das chuvas, usadas de forma conjunta, são destinadas
especificamente para lavagem de veículos, que demandam em média cerca 82,5 m³
de água, mensalmente16. O poço tubular profundo possui mais de 100 m de
profundidade e a água prospectada não é boa para consumo humano. A água do
poço é bombeada para uma cisterna com capacidade aproximada de cerca 30 m³
que é mistura a água de chuva. A utilização de água de chuva é antiga, dado o
visível desgaste ocasionado pelo tempo em suas instalações. O sistema de
aproveitamento de água de chuva é bastante precário. A cobertura das garagens do
lava-car de veículos grandes possui calhas que dividem em duas partes a drenagem
de águas pluviais do telhado, metade da área total dessa cobertura (81 m²) é
conduzida por dois condutores verticais de metal, pelos quais a água chega até a
cisterna localizada no subsolo de um pequeno depósito. A outra metade de água
que escoa sobre estes telhados é despejada na rua. Devido a falta de manutenção
nas calhas de cimento e nos telhados que se encontram muito sujos (Figura 41 D),
16 Para estimar a quantidade de água usada na lavagem tomou-se por base o n° de veículos lavados
por mês. Adotou-se, conforme a ABNT (2000), 150 l de água para lavagem de carros e 400 l para a lavagem de ônibus com máquina de jato de água pressurizada.
além do piso sobre a cisterna que também possui muita sujeira como fuligem, terra e
óleo, a qualidade visual da água é baixa (Figura 41 F).
A oferta do serviço de lavagem ocorre no posto, provavelmente, desde sua
inauguração. Atualmente a lavagem, oferecida como cortesia aos clientes, é
realizada pelos frentistas que se revezam no atendimento as bombas e na lavagem
de veículos e pelos próprios clientes que podem lavar os veículos grandes no
espaço reservado para isso. São lavados em média 15 veículos por dia, dos quais
cerca de 13 são carros e 2 são veículos maiores como caminhões de médio porte e
similares o equivalente a cerca de 450 veículos por mês. O processo de lavagem é
do tipo rollover para os carros e do tipo lava-jato, para os veículos maiores, a água é
bombeada da cisterna abastecida com água de chuva e/ou de poço por uma bomba
para a máquina de lavagem tipo rollover e por uma motobomba (Figura 41 E) para
as mangueiras do lava-car de veículos grandes. São usados na lavagem água e
detergente automotivo. A água servida, resultante da lavagem vai para uma caixa de
separação com 3 compartimentos e depois que as partículas sólidas são decantadas
a água é liberada na galeria pluvial.
A pessoa entrevistada foi o gerente do posto que se mostrou indiferente as
vantagens e desvantagens percebidas entre as diferentes fontes d‟água.
Apontando, apenas que aproveitar água de chuva, no caso do posto, não custa
nada, pois a água simplesmente escorre dos telhados para o reservatório, enquanto
a água tratada tem um custo.
FIGURA 41 – Posto Pianowski. A- Visão geral do posto; B- lava-car de veículos grandes e a esquerda depósito com cisterna no subsolo; C- máquina de lavagem tipo rollover; D- condições precárias da calha; E- à direita bomba para cisterna do poço e à esquerda motobomba que leva a água para lavagem; F- água com baixa qualidade visual armazenada na cisterna.
4.3.1.1 Considerações sobre o uso de água de chuva nos postos de serviços automotivos
Para uma melhor compreensão do potencial de aproveitamento de água de
chuva nos postos de serviços automotivos no espaço urbano de Ponta Grossa para
fins não potáveis, verificou-se o volume mensal médio de água de chuva
aproveitável por metro quadrado (Figura 42), conforme estudo realizado por
(GIACCHINI, 2003). A fórmula utilizada para o cálculo foi a de dimensionamento do
reservatório já esclarecida no item 3.2.5.4 sobre armazenamento de água de chuva
17. Adotou-se C= 0.80, conforme sugerido pela ABNT (2000) e Ac= 1 m².
Mês Precipitação média
P(mm) Volume médio mensal de água de chuva
aproveitável (m³/m²)
Janeiro 186 0,149 Fevereiro 161 0,129 Março 138 0,110 Abril 101 0,080 Maio 116 0,093 Junho 118 0,094 Julho 96 0,077 Agosto 79 0,063 Setembro 136 0,109 Outubro 153 0,122 Novembro 119 0,095 Dezembro 151 0,121 Total anual 1554 1,243
FIGURA 42 – Quadro dos volumes médios mensais de água de chuva aproveitável por metro quadrado na região de Ponta Grossa Fonte: (GIACCHINI, 2003). Nota: Precipitação média, conforme Anexo B.
Com base no quadro anterior e de posse do tamanho da área de captação é
possível, ainda, determinar o volume potencial médio aproveitável de água de chuva
nos postos visitados (FIGURA 43). Para tal utilizou-se o tamanho médio das
coberturas dos postos que utilizam água de chuva, Ac= 527 m² (Figura 44).
17 “Embora existam vários métodos de dimensionamento do reservatório, será adotado neste trabalho o método mais comum que corresponde à seguinte equação: V= Ac. P. C. Onde, V representa o volume do reservatório (m³), Ac a área de coleta de água de chuva (m²), P a
precipitação média (mm) e C o coeficiente de runoff“.
FIGURA 43 – Quadro de volumes potenciais médios aproveitáveis de água de chuva para AC= 527 m²
FIGURA 44 – Quadro síntese dos dados de área de captação e consumo de água nos postos de serviços automotivos que utilizam água de chuva no espaço urbano de Ponta Grossa Notas: Vn= Valor médio normal Vm= Valor médio refinado
Considerado a demanda média mensal de água não potável nos postos de
serviços automotivos que utilizam água de chuva, a Figura 45 busca analisar a
relação entre a demanda de água não potável e o potencial médio de captação de
água de chuva nestes empreendimentos.
18 Para realização dos cálculos dos valores médios foram retirados os valores muito acima e os
valores muita abaixo da média geral dos postos. Para área das coberturas foram excluídos os valores dos postos Pinheiro e Tio Mucufa; Athenas e Flex. Para o consumo mensal de água não potável estimado foram retirados os valores dos postos Cinco Primos e São Sebastião.
Mês Volume médio mensal de água de chuva
aproveitável (m³/m²)
Volume médio mensal de água de chuva aproveitável
Vap (m³)
Janeiro 0,149 78,52 Fevereiro 0,129 67,98 Março 0,110 57,97 Abril 0,081 42,69 Maio 0,093 49,01 Junho 0,094 49,54 Julho 0,077 40,58 Agosto 0,063 33,20 Setembro 0,109 57,44 Outubro 0,122 64,29 Novembro 0,095 50,07 Dezembro 0,121 63,77 Total anual 1,243 655,06
Posto
Área das coberturas
(m²)
Consumo mensal de água
potável estimado (m³)
Consumo mensal de água não potável
estimado (m³)
Consumo mensal total
(m³)
Tio Mucufa 495 27 93 120 Real 568 20 135 155 Athenas 827 10 43,83 53,83 Cinco Primos 473 10 157,5 167,5 Gamper 586 45 96,12 141,12 Pinheiro 971,5 41 135 176 São Sebastião 265 24 60 84 Flex 400 10 112,5 122,5 Pianowski 513 10 82,5 92,5
Valor médio18
Vn 556,5 Vr 527
Vn 21,88 Vn 101,72 Vr 99,71
Vn 123,60
0
20
40
60
80
100
120
Vap (m³)
Demanda (m³)
FIGURA 45 – Gráfico de relação entre a demanda por águas não potáveis e o volume médio de água de chuva aproveitável no espaço urbano de Ponta Grossa
Com base no gráfico e nos dados aqui apresentados, no mês de menor
precipitação, ou seja, agosto estima-se que o aproveitamento de água de chuva
possa atender 33,3% da demanda de água não potável e no mês de maior
precipitação, ou seja, janeiro possa atender 78,52%. Em média, nas condições
descritas acima, o aproveitamento de água de chuva pode suprir 54,75% da
demanda anual de águas não potáveis, ou seja, 655,06 m³ anualmente em cada
posto. Dessa maneira, se os 7 postos que utilizam somente água tratada em todas
as atividades, inclusive para lavar automóveis, utilizassem água de chuva, nessa
atividade, a economia estimada de recursos hídricos provenientes da companhia de
abastecimento seria de 382,13 m³ mensais, o equivalente a cerca de 4.585,56 m³
por ano. Considerando os demais postos que oferecem serviço de lavagem e
utilizam outras fontes d‟água, descontando os 9 postos que aproveitam água de
chuva esse número chegaria a 1.310,16 m³ por mês, o equivalente a cerca de
15.721,92 m³ por ano de economia de água de diversas fontes.
5. VIABILIDADE ECONÔMICA DO SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA
Acreditando-se que já foram esclarecidas, nos capítulos anteriores, questões
relativas à capacidade técnica de aplicação do sistema de aproveitamento de água
de chuva e a sua relevância do ponto de vista ambiental. Pode-se dizer que o
aproveitamento de água de chuva tem sua importância mais facilmente reconhecida
em regiões, nas quais, o sistema de abastecimento público de água apresenta
deficiências para suprir as necessidades da população do que em regiões com
sistema de abastecimento relativamente suficiente, mesmo havendo neste uma forte
tendência de crise, num futuro não muito distante, como no caso da cidade de Ponta
Grossa. No entanto, nessas regiões pode-se conseguir uma melhor aceitação dessa
alternativa com estudos que demonstrem sua viabilidade econômica, dada a
necessidade de averiguação da relação de benefício/custo para que se possa
conceber a instalação desse sistema.
Considerando-se os elevados índices pluviométricos da região, as grandes
coberturas dos postos de serviços automotivos e a alta demanda por águas não
potáveis nesses empreendimentos. O objetivo principal deste trabalho, juntamente
com a investigação sobre a capacidade técnica de aproveitamento de água de
chuva, foi analisar a viabilidade econômica de implantação de um sistema de
aproveitamento de água de chuva para fins não potáveis, sobretudo, para utilização
nos serviços de lavagem de veículos, ofertados, em postos de serviços automotivos
do espaço urbano de Ponta Grossa. Na realização dessa análise tomou-se por base
os dados verificados no capítulo antecedente, onde, admite-se, para fins de estudo,
a área média de coleta com 527 m² e a demanda média mensal de água não potável
estimada em 99,71 m³. Para o dimensionamento da cisterna assumiu-se, conforme o
quadro 8, o máximo volume médio mensal de água de chuva aproveitável, ou seja,
78,29 m³. Sendo assim, é perceptível a necessidade de se construir uma cisterna
com dimensão suficiente para comportar esse volume, que foi arredondado para 80
m³.
O método utilizado no presente estudo é o cálculo do valor presente líquido
(VPL), que permite comparar diferentes alternativas de projetos transformando todos
os benefícios e custos envolvidos em valores presentes. De acordo com Athayde
Junior; Dias & Gadelha (2008) a alternativa que apresentar o maior VPL será a mais
atrativa. A equação utilizada para a determinação do VPL é:
VPL= Benefícios – Investimentos – Custos
A avaliação econômica do VPL é obtida por: VPL > 0, o projeto é atrativo;
VPL = 0 o projeto é indiferente; e VPL < 0, o projeto não é atrativo.
Foram consideradas duas simulações diferentes de construção de cisternas
em comparação com as tarifas de água cobradas pela Sanepar.
Na primeira simulação considerou-se uma cisterna fabricada em ferro-
cimento, com base nos valores do projeto “cisternas ecopedagógicas” da Itaipu em
parceria com o município de Missal, no Paraná, e na outra considerou-se o valor de
mercado da região para cisternas pré-fabricada em fibra de vidro.
Para identificação dos custos e benefícios é necessário estabelecer o período
de vida útil do projeto que de acordo com Guilherme apud Fernandes; Medeiros
Neto & Mattos (2007) é de cerca de 20 anos para o sistema de aproveitamento de
água de chuva. Dessa maneira, os benefícios desse sistema podem ser obtidos
através do valor das tarifas de água cobradas durante um período de 20 anos.
Sabendo que a instalação de um sistema de aproveitamento de água de
chuva poderá atender cerca de 54,75% da demanda média por águas não potáveis
em postos de serviços automotivos anualmente, ou seja, o equivalente a cerca de
54,59 m³ por mês e que as tarifas de distribuição de água cobradas pela SANEPAR,
em novembro de 2009, são de R$ 29,40 para o consumo da cota básica de 10 m³
em estabelecimentos comerciais e mais R$ 3,31 para cada metro cúbico excedente.
Com base nestes dados pode-se determinar que o valor cobrado pela SANEPAR
pela distribuição de 54,59 m³ mensais seria o equivalente a R$ 176,99 por mês, ou
seja, R$ 2.123,88 anualmente.
No primeiro projeto que visa simular a construção de uma cisterna em ferro-
cimento com capacidade de reservação de 80 m³, o custo de investimento foi
estimado a partir de um sistema de aproveitamento de água de chuva instalado, em
março de 2009, numa escola municipal no município de Missal, no Paraná, que
construiu uma cisterna com capacidade para 75.660 litros de água investindo um
total de R$ 26.064,45 (PREFEITURA MUNICIPAL DE MISSAL, 2009). Considerando
que os postos já possuem sistema de calhas e condutores, através, dos quais, a
chuva que cai nos telhados é drenada para galeria de águas pluviais e que o projeto
implantando nas escolas inclui bomba, tubos e conexões suficientes para realizar a
ligação do sistema de captação dos postos com a cisterna. Para o dimensionamento
do reservatório de retenção das primeiras chuvas, utilizou-se o método proposto pela
PROSAB (Techne, 2008) de descarte do primeiro milímetro de chuva que cai sobre
o telhado, ou seja, 527 l para uma cobertura com 527 m², para reter as primeiras
chuvas será usada um caixa d‟ água de fibra de vidro com capacidade de 1000 l. O
custo total estimado do sistema de aproveitamento de água de chuva é de R$
27.797,72.
Os custos referem-se às despesas de operação do sistema, como: a
reposição de peças de instalação, reparos de possíveis avarias e gastos com
energia que de acordo Guilherme apud Fernandes; Medeiros Neto & Mattos (2007),
para efeitos de cálculos, requerem um custo anual de cerca de R$ 100,00.
Aplicando, neste primeiro, caso a fórmula de VPL, onde, os benefícios
calculados assumem um valor de R$ 42.477,60; os investimentos de R$ 27.797,72;
e os custos de R$ 2000,00 obtêm-se um VPL= R$ 12.679,88 o qual indica que
aproveitar água de chuva para fins não potáveis em postos de serviços automotivos
da cidade de Ponta Grossa é economicamente mais vantajoso do que adquirir água
por meio do sistema público de abastecimento.
O período de retorno, ou seja, o período de tempo que os benefícios levam
para cobrir os investimentos iniciais foi calculado sem levar em conta as taxas de
juros ou de inflação durante o período de avaliação do projeto. O período de retorno
para o projeto avaliado é de 13,09 anos, indicando que o projeto é economicamente
atrativo. Se o tempo de retorno dos investimentos iniciais fosse maior que a vida útil
do sistema de aproveitamento de água de chuva, ou seja, maiores que 20 anos,
então, o projeto não seria vantajoso do ponto de vista econômico.
No segundo projeto que visa simular a utilização de cisternas pré-fabricadas
em fibra de vidro considerou: três cisternas com capacidade de 25 m³, uma cisterna
com capacidade de 10 m³19, uma caixa d‟ água com capacidade de 1000 l para reter
as primeiras chuvas, tubos (50 m) e conexões de PVC. Considerando que os postos
já possuem sistema de calhas e condutores, através, dos quais, a chuva que cai nos
19 Ver orçamentos no Apêndice E.
telhados é drenada para galeria de águas pluviais e que já possuem lavagem em
funcionamento não foram consideradas bombas e máquinas de lavagem. O custo
total estimado de investimento no sistema de aproveitamento de água de chuva é de
R$ 19.751,08, incluindo 5% para mão-de-obra e instalação.
Aplicando, neste segundo, caso a fórmula de VPL, onde, os benefícios
calculados assumem um valor de R$ 42.477,60; os investimentos de R$ 19.751,08;
e os custos de R$ 2000,00 obtêm-se um VPL= R$ 20.726,51 o qual indica que
aproveitar água de chuva para fins não potáveis em postos de serviços automotivos
da cidade de Ponta Grossa é economicamente mais vantajoso do que adquirir água
por meio do sistema público de abastecimento.
O período de retorno para o projeto avaliado é de 9,30 anos, indicando que o projeto
é economicamente atrativo.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pensar o uso das águas para torná-lo mais eficiente e humano, já deixou de
ser uma questão de bom senso, sendo atualmente uma necessidade. O
aproveitamento de água d e chuva é um passo importante para otimizar o uso das
águas de forma a ter uma aplicação mais racional desse recurso.
Embora o abastecimento público de água em Ponta Grossa seja,
relativamente, suficiente, somente nos últimos 6 anos o aumento da população
urbana foi de cerca de 22 mil habitantes (7,17% da população urbana), o que
resultou num aumento de 5.200 m³ de água consumidos diariamente. Se essa
tendência permanecer em menos de 15 anos a capacidade de abastecimento
público de água será insuficiente para suprir as necessidades da população.
A cidade de Ponta Grossa localiza-se próxima à Escarpa Devoniana, a qual
funciona como uma barreira orográfica para os ventos vindos do mar que se
precipitam ao vencerem esse degrau topográfico. Isto faz com que a cidade registre
os maiores valores de precipitação média dos Campos Gerais e possibilita a
utilização de água de chuva em volumes consideráveis durante todos os meses do
ano.
Este estudo procurou demonstrar a existência de viabilidade técnica e
econômica de aproveitamento de água de chuva em postos de serviços automotivos
do espaço urbano de Ponta Grossa, passando pela investigação de como ocorre o
uso da água nestes empreendimentos.
Verificou-se que a maioria dos postos automotivos estudados oferece serviço
de lavagem de veículos, que somada à lavagem de pátios consome em média,
mensalmente, 99,71 m³ de águas que poderiam ser não potáveis. Pode-se dizer que
mesmo diante dos grandes índices pluviométricos da região, associados às grandes
coberturas construídas nestes empreendimentos, com tamanho médio de 527 m²,
capaz de atender, anualmente, cerca de 54,75% desta demanda, este potencial é
pouco utilizado (somente 27% dos postos aproveitam parcialmente a água
proveniente das chuvas), resultando num grande desperdício de água potável
devido à incompatibilidade de seu uso. A intensificação da utilização de água de
chuva nos postos de serviços automotivos na cidade de Ponta Grossa permitiria,
além de compatibilizar a qualidade da água com seu uso reservando a água tratada
para as finalidades mais nobres, como consumo humano, por exemplo, e proteger
as reservas de água subterrânea. Possibilita, ainda, economizar cerca de 1.300.000
l de água por mês, o equivalente a mais de 15.700.000 l por ano de economia de
água de outras fontes.
Aproveitar a água de chuva que cai na cobertura dos postos, pode, também,
resultar em benefícios financeiros para os adeptos desta técnica. Nos dois casos
analisados neste trabalho, comprovou-se que, para fins não potáveis, é mais
rentável investir em um sistema de aproveitamento de água de chuva do que
continuar adquirindo água fornecida pelo sistema público de abastecimento público.
Com base taxas atuais de fornecimento de água, os saldos positivos deste sistema
variam entre R$ 12.679,88 e R$ 20.726,51, com período de retorno variando de 9,30
a 13,09 anos. Tendo em vista que as tarifas de água tendem a aumentar no futuro,
por fatores vinculados a uma possível escassez desse recurso, o período de retorno
dos investimentos iniciais dispendidos com a instalação do sistema tendem a
diminuir e os saldos positivos aumentar. Tornando a implantação do sistema de
aproveitamento de água de chuva, ainda, mais atraente do ponto de vista
econômico.
Embora o sistema de aproveitamento de água de chuva seja tecnicamente
viável nos postos de serviços automotivos de Ponta Grossa, devido ao seu uso para
fins não potáveis, um modelo ótimo deste sistema, adequado à realidade, deve ser
projetado de acordo com os objetivos do usuário e adaptado as peculiaridades das
construções. Não existe nenhum modelo genérico que sirva em todas as situações,
cada caso deve ser considerado único.
Geograficamente o uso da água nos postos automotivos representa muito
mais do que a mera localização espacial destas atividades. Representa uma forma
de utilização do espaço e de recursos hídricos que direta ou indiretamente afetam a
sociedade regional. O reconhecimento, a espacialização, a investigação do uso da
água nos postos de serviços automotivos e o estudo de técnicas alternativas para
um melhor gerenciamento da água podem contribuir com o ordenamento do
território, sobretudo, na gestão dos recursos hídricos. Auxiliando as tomadas de
decisão relacionadas com a água nestes empreendimentos.
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APÊNDICES
APÊNDICE A – FICHA DE INVESTIGAÇÃO EXPLORATÓRIA
APÊNDICE A
FICHA DE INVESTIGAÇÃO EXPLORATÓRIA
Eixo20:_____________________________________________________________
N°__________
Nome do Posto: _____________________________________________________
___________________________________________________________________
Razão Social:_______________________________________________________
___________________________________________________________________
Endereço:__________________________________________________________
___________________________________________________________________
Coordenadas (UTM- J-22 S):
E:________________ N: ______________________ Altitude:______________
Fontes d’água:
( ) Água tratada ( ) Poço profundo ( ) Água pluvial
( ) Outros:_________________________________________________________
Lavagem:
( ) Sim ( ) Não
Tipo de lavagem:
( ) Manual ( ) Automática
Anotações:
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
20 Nome da avenida percorrida
APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTAS
APÊNDICE B
ROTEIRO DE ENTREVISTAS
INFORMAÇÕES GERAIS – CARACTERIZAÇÃO
Nome do Posto: ______________________________________________________ ___________________________________________________________________ Razão Social:________________________________________________________ Bandeira:___________________________________________________________ Endereço:___________________________________________________________ Telefone:______________ E-mail:_______________________________________ 1- Quando o Posto foi fundado? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 2- Quais são as fontes de água utilizadas pelo Posto? ( ) Água tratada ( ) Poço profundo ( ) Água pluvial ( ) Outros:___________________________________________________________ 4- Qual é a área total do Posto? ______________________________________________________________________________________________________________________________________ 5- Qual é a área construída? ______________________________________________________________________________________________________________________________________ 6- Qual é o tamanho das coberturas? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ LAVAGEM DE VEÍCULOS 8- O Posto oferece serviços de lavagem de veículos? ( )Sim ( ) Não 9- Quando foi implementada?
______________________________________________________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________________________________________________ 10- Como é a lavagem? ( ) Manual ( ) Automática 11- Como é a cobrança? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 12- Que tipo de veículos são lavados? ( ) Carro e caminhonetes ( ) Motos ( ) Caminhões ( ) Ônibus e micro-ônibus 13- Quantos veículos são lavados por mês? ______________________________________________________________________________________________________________________________________ 14- Quantos litros de água são gastos numa lavagem? ______________________________________________________________________________________________________________________________________ 15- Existem fontes de água destinadas especificamente a lavagem? Quais? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 16- Que produtos são usados na lavagem?
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 17- Quem é responsável pela lavagem? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 18- Quantos funcionários trabalham na lavagem?
______________________________________________________________________________________________________________________________________ 19- Como eles são pagos?
______________________________________________________________________________________________________________________________________ 20- Qual é o destino das águas utilizadas na lavagem?
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ÁGUAS 21- Qual é o volume total de água utilizada mensalmente pelo posto? ______________________________________________________________________________________________________________________________________ 22- Por que o uso de várias águas? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 23- As fontes de água consumida são separadas reservando cada fonte para
determinados usos? Quais? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ÁGUA TRATADA 24- Em que atividades o posto utiliza água tratada? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 25- Qual é o volume de água tratada consumida mensalmente pelo posto? ______________________________________________________________________________________________________________________________________ ÁGUA SUBTERRÂNEA 26- Quando a empresa perfurou o poço?
______________________________________________________________________________________________________________________________________ 27- Qual empresa perfurou o poço?
______________________________________________________________________________________________________________________________________ 28- Em que atividades o posto utiliza água subterrânea?
______________________________________________________________________________________________________________________________________
29- Qual é o volume de água subterrânea consumida mensalmente pelo posto?
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 30- Qual é o tamanho do reservatório?
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ÁGUA PLUVIAL 31- Quando foi instalado o sistema de aproveitamento de água da chuva? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 32- Quanto foi investido na instalação do sistema de aproveitamento da água da
chuva? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 33- Qual é o tamanho das coberturas utilizadas para captar água da chuva?
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 34- Qual é tamanho do reservatório? ______________________________________________________________________________________________________________________________________ 35- Quem instalou o sistema de aproveitamento de água da chuva?
______________________________________________________________________________________________________________________________________ 36- O sistema está incluído na planta hidráulica do posto?
______________________________________________________________________________________________________________________________________ 37- Como funciona o sistema de captação da água da chuva?
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
38- São utilizados bombas, filtros ou outros equipamentos no processo de captação
da água da chuva? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 39- Como é feita a manutenção do sistema? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 40- Com que freqüência a manutenção é feita?
______________________________________________________________________________________________________________________________________ 41- Qual é o seu custo estimado?
______________________________________________________________________________________________________________________________________ 42- Em que atividades o posto utiliza a água da chuva?
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 43- Quais as vantagens encontradas em utilizar a água da chuva? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 44- Quais as desvantagens encontradas em utilizar a água da chuva?
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 45- O reservatório já secou alguma vez? Quantas vezes e quando? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 46- Qual das fontes você acha que traz mais vantagens ao posto?
( ) Água tratada ( ) Poço profundo ( ) Água pluvial ( ) Outros:______________________________________________________________ Justifique:______________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________
47- Qual das fonte traz mais desvantagens ao posto?
( ) Água tratada ( ) Poço profundo ( ) Água pluvial ( ) Outros:_____________________________________________________________ Justifique:______________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________
APÊNDICE C – POSTOS AUTOMOTIVOS 42 VISITADOS EM
PONTA GROSSA: DADOS DA INVESTIGAÇÃO EXPLORATÓRIA
APÊNDICE C
POSTOS AUTOMOTIVOS 42 VISITADOS EM PONTA GROSSA: DADOS DA INVESTIGAÇÃO EXPLORATÓRIA
(continua)
POSTO TIPO DE
FONTE DE ÁGUA
TIPO DE LAVAGEM
ALTITUDE COORD. UTM (E)
COORD. UTM (N)
Posto Tio Mucufa
Pluvial, subterrânea e
tratada Manual 971m 585324 7226371
Posto Real Pluvial,
subterrânea e tratada
Manual 948m 584771 7225500
Posto São Sebastião
Pluvial, subterrânea e
tratada Automática 965m 583833 7225006
Auto Posto Athenas
Pluvial, subterrânea e
tratada Manual 947m 586787 7224727
Posto Pinheiro Pluvial,
subterrânea e tratada
Manual 960m 583182 7225388
Posto Pianowski (Oficinas)
Pluvial, subterrânea e
tratada Automática 896m 585070 7222364
Posto Flex Pluvial,
subterrânea e tratada
Manual 980m 584179 7224596
Posto Gamper Pluvial, tratada Manual 960m 583190 7225404
Posto Degraf Pluvial e
subterrânea Manual 962m 584043 7225978
Posto Pianowski (Centro)
Subterrânea e tratada
Manual 956m 585171 7224402
Posto Boa Vista (Uvaranas)
Subterrânea e tratada
Manual 930m 581901 7005761
Posto Santa Rita
Subterrânea e tratada
Manual 916m 588991 7224623
Posto BP Subterrânea e
tratada Automática 948m 584448 7224140
Posto Guri (Verde)
subterrânea e Tratada
Manual 910m 585230 7220334
Posto MZ Subterrânea e
tratada Manual 954m 584704 7223091
Posto Tigrão do Sabará
Subterrânea e tratada
Manual 950m 580680 7225995
Auto Posto Hilgemberg
Subterrânea e Tratada
Manual 888m 585206 7221613
Posto Trevo Subterrânea e
tratada Manual 879m 586365 7218226
(continuação)
Posto Café Subterrânea e
tratada Manual 950m 579516 7227005
Posto Independência Subterrânea Manual
955m 582527 7225493
Posto Pianowski (Uvaranas) Subterrânea
Manual 951m
Posto Grenal Subterrânea Manual 955m 580514 7225918
Posto Cavalleri Subterrânea Manual 930m
Posto Contorno Subterrânea Manual 871m 580892 7223644
Posto Paraná Tratada e arroio Manual 955m 580112 7226311
Posto Contorno II Tratada e arroio Manual
988m 573375 7230409
Posto Monteiro Lobato Tratada Manual
978m 585165 7226091
Posto Triângulo Tratada * 966m 584042 7224958
Posto Rodeio Tratada Manual 970m 581936 7226014
Posto Boa vista Tratada Manual 930m 581901 7225761
Posto Rio Branco Tratada *
943m 585612 7224782
Posto Lobatinho Tratada Manual 989m 584259 7224949
Posto Balduíno Tratada * 990m 584324 7224955
Posto Pitangui II
Tratada *
954m 584408 7224367
Posto Jardim América
Tratada Manual 939m 584499 7223409
Posto Lagoa Tratada Manual 923m 584736 7222798
Posto Visconde Tratada Manual 909m 585172 7221020
Posto Guri (Vermelho) Tratada *
914m 585379 7219803
Posto Estrela da Amizade I Tratada *
952m 576535 7230341
Posto Contorno IV Tratada *
951m 576162 7230526
Posto Tigrão da Chapada Tratada *
927m 578266 7228479
Posto Florense Tratada * 964m 582431 7226966
* Não possuem serviço de lavagem de veículos.
APÊNDICE D – LOCALIZAÇÃO DOS 42 POSTOS DE SERVIÇOS
AUTOMOTIVOS ESTUDADOS NO ESPAÇO URBANO
DE PONTA GROSSA
APÊNDICE E – ORÇAMENTOS
APÊNDICE E - ORÇAMENTOS
Orçamento Cisternas
B A L A R O T I - Fone(s): 3027.9000 03/11/2009 Orçamento: 731196 Pg: 01 ORCAMENTO DE VENDA Cliente: CONSUMIDOR FONE: 413372.9692 CGC./CPF.: 000.000.018.30 COD: 034645668 LOJA: 03 -------------------------------------------------------------------------------- Quantidade Cod. Descricao Marca Preco Total -------------------------------------------------------------------------------- 1,000 64376 CAIXA D"AGUA FIBRA 10000L C/TAMPA 01030 FORTLEV 2.335,20 1,000 64379 CAIXA D"AGUA FIBRA 25000L C/TAMPA 01030 FORTLEV 5.712,00 -------------------------------------------------------------------------------- 4890 LARISSA Total de Produtos 8.047,20 Total de Frete 15,00 -------------------------------------------------------------------------------- Total do Orcamento 8.062,20 Valor Entrada: 0,00 + 01 X 8.062,20 Endereco de entrega: CLIENTE RETIRA MERCADORIA NA LOJA Bairro: UBERABA Cidade: CURITIBA Proximidade: cascia OBSERVACOES: PRECOS VALIDOS PARA 03/11/2009, SUJEITO A ALTERACAO APOS ESTA DATA.
Orçamento: tubos, conexões e caixa d’água
Fonte: SISTEMA NACIONAL DE PESQUISA DE CUSTOS E INDICES DA CONSTRUÇAO CIVIL. Preço de Insumos. Disponível em: http://www1.caixa.gov.br/gov/gov_social/municipal/assistencia_tecnica/sinapi_index.asp Acesso em: 27/10/2009.
Descrição do Insumo Unidade
Preço
Mediano (R$)
Quantidade Valor final
(R$)
LUVA SIMPLES PVC P/ ESG PREDIAL DN 100MM
UN 3,04 10 30,40
CAIXA D'AGUA FIBRA DE VIDRO 1000L
UN 238,17 1 238,17
JOELHO PVC SOLD 90G PB P/ ESG PREDIAL DN 100MM
UN 3,75 10 37,50
TUBO PVC EB-644 P/ REDE COLET ESG JE DN 100MM
M 9,09 50 454,50
TOTAL --- 254,05 --- 760,57
ANEXOS
ANEXO A – QUADRO DE POSTOS REVENDEDORES VAREJISTAS NO
MUNÍCIPIO DE PONTA GROSSA
ANEXO B – QUADRO DE PRECIPITAÇÃO MÉDIA MENSAL CONSIDERADA PARA PONTA GROSSA, ENTRE OS ANOS DE 1954 E 2001, COM BASE NA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DE VILA VELHA
ANEXO B
QUADRO DE PRECIPITAÇÃO MÉDIA MENSAL CONSIDERADA PARA PONTA GROSSA, ENTRE OS ANOS DE 1954 E 2001, COM BASE NA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DE VILA VELHA
MÊS PRECIPITAÇÃO MÉDIA MENSAL
(mm)
Janeiro 186
Fevereiro 161
Março 138
Abril 101
Maio 116
Junho 118
Julho 96
Agosto 79
Setembro 136
Outubro 153
Novembro 119
Dezembro 151
Fonte: CARAMORI, 2002.