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O Tribunal de Justiça do estado de São Paulo realizará audiências de custódia em todos os casos de prisão em flagrante, em até 24 horas, registrados em duas seccionais da Polícia Civil da capital, a 1ª e a 2ª, que abrangem as regiões central e sul. A audiência consiste na apresentação do preso a um juiz, que deve avaliar a necessidade de manutenção da prisão ou de medidas alternativas ao cárcere. Audiências de custódia visam impedir a prisão arbitrária de suspeitos não-violentos, quando não estão presentes os requisitos para segregação cautelar. Sem mencionadas audiências, os presos permanecem submetidos à privação da liberdade mesmo sem que os requisitos estejam preenchidos. Muitas vezes, os presos passam meses em penitenciárias superlotadas, sob intensa pressão, e acabam ingressando em associações criminosas. As audiências imediatas são seguidas pelo direito internacional, mas raramente são realizadas no Brasil, onde muitos prisioneiros esperaram meses para irem à presença de um juiz. Em quase 50% dos casos no programa piloto, iniciado no estado do Maranhão, juízes descobriram que a prisão preventiva não se justificava e ordenou que os presos fossem libertados. Mais de 90 detentos foram mortos nas prisões maranhenses nos últimos dois anos, segundo dados do Conselho Nacional da Justiça. Durante a última década, duas agremiações criminosas foram formadas dentro Pedrinhas: o Primeiro Comando do Maranhão (PCM), cuja maioria dos membros são do interior do estado, e Bonde dos 40 (uma referência ao calibre .40), cuja maioria dos membros são da capital São Luís. Inicialmente criado por detentos que procuram proteger-se da violência dentro das prisões, as associações criminosas cresceram para controlar todo complexo penitenciário dentro de Pedrinhas. Eles também ampliaram suas atividades ilegais fora dos muros da prisão e agora dominam bairros inteiros de São Luís. Durante estes anos, o índice de crimes com violência ou grave ameaça à pessoa, aumentou vertiginosamente no Estado. A taxa de homicídios triplicou entre 2002 e 2012, de acordo com o Mapa da Violência 2014, um estudo acadêmico com base em dados do Ministério da Saúde. O crescimento das associações criminosas ocorreu em razão da falta de segurança dentro das prisões, o que foi agravado pela superlotação. A partir de outubro de 2014, mais de 6.500 pessoas

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Page 1: O Tribunal de Justiça Do Estado de São Paulo Realizará Audiências de Custódia Em Todos Os Casos de Prisão Em Flagrante

O Tribunal de Justiça do estado de São Paulo realizará audiências de custódia em todos os casos de prisão em flagrante, em até 24 horas, registrados em duas seccionais da Polícia Civil da capital, a 1ª e a 2ª, que abrangem as regiões central e sul. A audiência consiste na apresentação do preso a um juiz, que deve avaliar a necessidade de manutenção da prisão ou de medidas alternativas ao cárcere.

Audiências de custódia visam impedir a prisão arbitrária de suspeitos não-violentos, quando não estão presentes os requisitos para segregação cautelar. Sem mencionadas audiências, os presos permanecem submetidos à privação da liberdade mesmo sem que os requisitos estejam preenchidos. Muitas vezes, os presos passam meses em penitenciárias superlotadas, sob intensa pressão, e acabam ingressando em associações criminosas.

As audiências imediatas são seguidas pelo direito internacional, mas raramente são realizadas no Brasil, onde muitos prisioneiros esperaram meses para irem à presença de um juiz. Em quase 50% dos casos no programa piloto, iniciado no estado do Maranhão, juízes descobriram que a prisão preventiva não se justificava e ordenou que os presos fossem libertados.

Mais de 90 detentos foram mortos nas prisões maranhenses nos últimos dois anos, segundo dados do Conselho Nacional da Justiça.

Durante a última década, duas agremiações criminosas foram formadas dentro Pedrinhas: o Primeiro Comando do Maranhão (PCM), cuja maioria dos membros são do interior do estado, e Bonde dos 40 (uma referência ao calibre .40), cuja maioria dos membros são da capital São Luís. Inicialmente criado por detentos que procuram proteger-se da violência dentro das prisões, as associações criminosas cresceram para controlar todo complexo penitenciário dentro de Pedrinhas.

Eles também ampliaram suas atividades ilegais fora dos muros da prisão e agora dominam bairros inteiros de São Luís. Durante estes anos, o índice de crimes com violência ou grave ameaça à pessoa, aumentou vertiginosamente no Estado. A taxa de homicídios triplicou entre 2002 e 2012, de acordo com o Mapa da Violência 2014, um estudo acadêmico com base em dados do Ministério da Saúde.

O crescimento das associações criminosas ocorreu em razão da falta de segurança dentro das prisões, o que foi agravado pela superlotação. A partir de outubro de 2014, mais de 6.500 pessoas foram encarceradas em instalações Maranhão, que foram construídas para manterem 3.605 detentos, de acordo com um relatório judiciário estadual.

Sessenta por cento desses detentos são presos provisórios, diz o relatório. Eles são rotineiramente alojados com criminosos condenados, em violação das normas internacionais.

O direito de um detido a ser levado perante um juiz, sem demora, é um direito fundamental do direito internacional, consagrado em tratados ratificados pelo Brasil, incluindo o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (PIDCP) e a Convenção Americana sobre Direitos Humanos. O direito aplica-se a todos os detidos sem exceção, e tem a intenção de trazer a detenção de uma pessoa em uma investigação criminal sob controle judicial.

Audiências de custódia também são fundamentais para coibir a tortura e os maus-tratos de detidos pela polícia. Segundo o juiz Fernando Mendonça, atuante no projeto, foram encontrados sinais de maus-tratos físicos em três casos durante as audiências de custódia no

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âmbito do programa-piloto. Tais sinais físicos de maus tratos seriam, provavelmente, ignorados se os detidos tivessem que esperar alguns meses para verem os juízes.

Um projeto de lei apresentado no Congresso do Brasil em 2011 exigiria audiências de custódia em todo o país, mas o Congresso não agiu. Em fevereiro de 2015, o estado de São Paulo começou seu próprio programa de audiências de custódia, em parceria com o Conselho Nacional de Justiça. Sendo que, o estado de São Paulo é responsável pela maior parte dos Habeas Corpus impetrados no STJ por falta de fundamentação para segregação cautelar.

Durante anos, a falta de audiências de custódia no Maranhão, resultou na prisão ilegal de pessoas acusadas de crimes sem violência ou grave ameaça, que não deveriam ter sido detidos em prisão preventiva ao abrigo da legislação brasileira.

Os presos preventivos são rotineiramente alojados com criminosos, uma outra violação do direito internacional que tem contribuído para o recrutamento de gangues.

Os presos que não pertenciam a uma agremiação criminosa antes de sua prisão, se sentem compelidos a aderirem a uma quando são presos.

As prisões do Maranhão, durante anos foi atormentado por superlotação, contribuindo para a ilegalidade e a ascensão de gangues dentro dos muros da prisão.

A partir de outubro de 2014, haviam 6.538 detentos em um sistema com uma capacidade de 3.605, de acordo com um relatório do judiciário estadual. Pedrinhas tinha 152 detentos em uma unidade para 96, e 252 presos em outra unidade para 104.

Esta superlotação faz com que seja muito difícil para os agentes manterem o controle e protegerem os detentos. Como resultado, os agentes em sua maioria ficam fora dos portões de ferro de blocos das unidades.

Em vários casos, os presos tomam medidas terríveis para encobrir assassinatos. Silva Rabelo, 32 anos, foi enviado para a prisão preventiva em setembro de 2012, sob a acusação de roubo. foi declarado faltoso em 01 de abril de 2013. Um dos seus companheiros de cela, disse à polícia que alguns dias antes, oito presos, entre eles membros da Anjos da Morte (ADM), uma pequena associação criminosa, entrou na cela e mataram-no. Os assassinos desmembraram e cozinharam partes da vítima para disfarçar o odor do corpo em decomposição. E descartaram os restos mortais no lixo. Outra testemunha, corroborou a história e disse que o preso foi morto porque antes de ter sido preso, ele havia ferido um homem que mais tarde foi detido na mesma unidade.

A polícia decidiu não abrir um inquérito criminal formal. Logo após, alguns detentos disseram que ouviram rumores de que a vítima teria pago R$ 40.000,00, para dois agentes penitenciários, para facilitarem sua fuga. No entanto, sua família disse não acreditar na fuga, vez que nunca mais foi encontrado.

Outro detento, Rafael Alberto Libório Gomes, 23, foi declarado faltoso em 2014, e seus restos desmembrados foram encontrados enterrados dentro do recinto da prisão, alguns dias mais tarde.