o trabalho metodolÓgico aplicado a um conteÚdo … · este artigo apresenta uma pesquisa sobre...

26
O TRABALHO METODOLÓGICO APLICADO A UM CONTEÚDO BÁSICO DE BIOLOGIA PELA ABORDAGEM DO MOVIMENTO CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE. Maria de Fátima Domingues Frederico * José Ricardo Penteado Falco RESUMO Este artigo apresenta uma pesquisa sobre células-tronco e elege, paralelo a pedagogia histórico-crítica, o enfoque do movimento Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) como encaminhamento metodológico para o trabalho deste conteúdo com alunos do ensino médio da rede pública estadual. A tecnologia é hoje parte inerente ao ser humano e de algum modo condiciona a sociedade. Segundo alguns autores, referenciados neste trabalho, não se trata de prescindir da tecnologia ou enxergá-la de forma negativa, mas sim preparar-se para investigar e compreender a sua validade, entender a não neutralidade da tecnociência e o impacto da mesma na sociedade. Entendemos que o enfoque CTS auxiliará na superação de metodologias que privilegiam a passividade dos alunos por metodologias que dinamizam o processo ensino-aprendizagem e situam fatos historicamente, oportunizando dessa forma, uma aprendizagem mais significativa e vinculadas aos acontecimentos do mundo. Temos claro que, por falta de informação e conhecimento, a população se exclui do processo reflexão e interferência acerca dos avanços tecnológicos na sociedade. Desejamos buscar a participação consciente e responsável dos alunos do Ensino Médio aspirando um cidadão que argumente e faça parte do processo de tomada de decisões com relação aos problemas levantados na sociedade. PALAVRAS-CHAVE Células-tronco, Ciência, Tecnologia, Sociedade * Professora de Biologia da Rede Publica do Estado do Paraná, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional-PDE, orientada pelo professor José Ricardo Penteado Falco, do Departamento de Biologia Celular e Genética da Universidade Estadual de Maringá

Upload: dangbao

Post on 21-Jan-2019

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

O TRABALHO METODOLÓGICO APLICADO A UM CONTEÚDO BÁSICO DE BIOLOGIA PELA ABORDAGEM DO MOVIMENTO CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE.

Maria de Fátima Domingues Frederico *

José Ricardo Penteado Falco

RESUMO

Este artigo apresenta uma pesquisa sobre células-tronco e elege, paralelo a

pedagogia histórico-crítica, o enfoque do movimento Ciência, Tecnologia e

Sociedade (CTS) como encaminhamento metodológico para o trabalho deste

conteúdo com alunos do ensino médio da rede pública estadual. A tecnologia é

hoje parte inerente ao ser humano e de algum modo condiciona a sociedade.

Segundo alguns autores, referenciados neste trabalho, não se trata de

prescindir da tecnologia ou enxergá-la de forma negativa, mas sim preparar-se

para investigar e compreender a sua validade, entender a não neutralidade da

tecnociência e o impacto da mesma na sociedade. Entendemos que o enfoque

CTS auxiliará na superação de metodologias que privilegiam a passividade dos

alunos por metodologias que dinamizam o processo ensino-aprendizagem e

situam fatos historicamente, oportunizando dessa forma, uma aprendizagem

mais significativa e vinculadas aos acontecimentos do mundo. Temos claro

que, por falta de informação e conhecimento, a população se exclui do

processo reflexão e interferência acerca dos avanços tecnológicos na

sociedade. Desejamos buscar a participação consciente e responsável dos

alunos do Ensino Médio aspirando um cidadão que argumente e faça parte do

processo de tomada de decisões com relação aos problemas levantados na

sociedade.

PALAVRAS-CHAVECélulas-tronco, Ciência, Tecnologia, Sociedade

* Professora de Biologia da Rede Publica do Estado do Paraná, participante do Programa de Desenvolvimento

Educacional-PDE, orientada pelo professor José Ricardo Penteado Falco, do Departamento de Biologia Celular e

Genética da Universidade Estadual de Maringá

SUMMARYThis article presents a research on stem cells and elect a parallel in the pedagogy historical-critical approach to the movement Science /Technology /Society (STS) as routing methodology for the work of this content with high school students in state public. The technology is now part of the human being and somehow affects the society. According to some authors, referenced in this work, it is not about dispense with the technology or see it negatively, but prepare to investigate and understand its validity to understand the non-neutrality of science and technology and its impact on society. We understand that the STS will assist in overcoming methodologies that emphasize the passivity of students through methodologies that streamline the teaching-learning process and historically situated events, thus giving opportunities for a more significant learning and linked to world events. We are clear that, for lack of information and knowledge the population is excluded from the process and interference reflection about technological advances in society. We seek the participation of the conscious and responsible high school students aspiring to a citizen who argue and be part of decision with respect to the problems in society.

KEYWORDS

Stem cells, Science, Technology, Society

INTRODUÇÃO

Com a intenção de estimular o interesse dos alunos em fazer relações

da ciência, suas aplicações tecnológicas e os fenômenos da vida cotidiana,

este artigo procura mostrar a implementação em uma escola da rede pública

estadual, de uma pesquisa desenvolvida a partir do Plano de Desenvolvimento

Educacional – PDE, direcionada a alunos do 3° ano do Ensino Médio, com o

objetivo de que eles compreendam a natureza da ciência e do trabalho

cientifico em meio a sua problemática associada a sua produção e às suas

implicações éticas e sociais.

O ensino das disciplinas científicas nas escolas, e mais especificamente

da biologia, tem acontecido, na maioria das vezes, de forma memorística,

isolado e isento de relações com as tecnologias e com os problemas sociais

vivenciados pelos alunos. Esta proposta de trabalho efetiva um

encaminhamento metodológico orientado pelo Movimento Ciência, Tecnologia

e Sociedade (CTS) de forma que a temática Células –tronco seja trabalhada

não só com o intuito de sistematizar conceitos e classificações mas de ampliar

esse conteúdo, alcançando diferentes discussões que evidenciem como a

produção do conhecimento científico acontece na sociedade e como as

tecnologias advindas desse conhecimento influenciam a vida em uma

sociedade em constante mudança.

Apresentamos inicialmente um recorte teórico sobre a temática Células-

tronco inserida no Conteúdo Estruturante: Implicações dos Avanços Biológicos

no Fenômeno Vida, conforme as Diretrizes Curriculares Estaduais de Biologia,

2008; em seguida algumas considerações sobre o Movimento Ciência,

Tecnologia e Sociedade e finalmente sobre a implementação do trabalho com

os alunos.

CÉLULAS-TRONCO E MOVIMENTO CTS

A definição de células-tronco (CT) se expressa de diversas formas, mas

se unifica na compreensão de diferentes pesquisadores.

Para MAYANA ZATZ (2004), “CT são células com capacidade de auto-

replicação, isto é, com capacidade de gerar uma cópia idêntica a si mesma e

com potencial de diferenciar-se em vários tecidos”.

A diferenciação em células especializadas nos diferentes tecidos,

segundo CARVALHO (2001), “é regulada, em cada caso, pela expressão de

genes específicos na célula-tronco, mas ainda não se sabe em detalhes como

isso ocorre e que outros fatores estão envolvidos”. A compreensão e a

capacidade de direcionar esse processo de diferenciação é o desafio das

pesquisas relacionadas ao estudo das CT.

De acordo com ALBERTS (2006), as CT são definidas por três

propriedades inerentes a elas: a capacidade de se dividirem por tempo

indefinido, ou ao menos, durante toda a vida de um animal; não estar

diferenciada definitivamente; e quando se divide, pode conservar-se como CT

ou sofrer diferenciação definitiva.

As CT podem ser chamadas de CT adultas (CTA) e CT embrionárias

(CTE), conforme suas origens. As CTA mais facilmente disponíveis e

comumente utilizadas nas clínicas de fertilização são as CT hematopoiéticas,

cujas principais fontes são a medula óssea e o sangue do cordão umbilical

(PRANKE, 2004).

Há muito já se conhece que as CTA se dividem indefinidamente em

tecidos que geram necessidade de reposição celular constante, por lesão ou

por apoptose, como no caso das células intestinais, epidérmicas e sanguíneas.

Recentemente constatou-se que, além das células acima citadas, outros

tecidos e órgãos humanos como fígado, pâncreas, tecido nervoso, tecido

adiposo e músculos esqueléticos também têm um estoque de CTA com

capacidade de regenerar, após lesões, as células dos tecidos e órgãos onde

estão situadas. A princípio estas células eram classificadas como multipotentes

por serem capazes de gerar as células específicas dos tecidos ou órgãos onde

estavam situadas; hoje se diz que essas células são pluripotentes, isto é,

podem gerar células de outros órgãos ou tecidos (CARVALHO, 2001).

ALBERTS (2006) nos mostra, por exemplo, que as células epidérmicas

são renovadas continuamente por CTA presentes na camada basal da

epiderme, devido a apoptose que ocorre nesse tecido, num ciclo em torno de

30 dias, e que esse processo ocorre através de sinais moleculares,

processados por substâncias sinalizadoras específicas, produzidas a partir de

informações genéticas presentes no gene e atuam ativando ou inibindo a

divisão da CT em células que herdam os fatores que a forçam entrar em

diferenciação ou formar células filhas que permanecem como CT. O autor

ressalta ainda que a produção de diferentes tipos de células sanguíneas pelas

CT hematopoiéticas (CTH) é um processo que ocorre individualmente e

também é controlado por moléculas sinalizadoras.

As células hematopoiéticas podem sobreviver, proliferar e diferenciar

em cultivo se, e somente se, elas estiverem providas com proteínas-

sinal específicas ou acompanhadas por células que produzem estas

proteínas. Se privadas de tais proteínas, as células morrem. Para

manutenção a longo prazo, também parece ser necessário o contato

com as células de suporte apropriadas: a hematopoiese pode

continuar funcionando in vitro por meses ou por anos, por meio do

cultivo de células hematopoiéticas de medula óssea distribuídas

sobre a superfície de uma camada de células do estroma da medula

óssea, que imitam o ambiente da medula óssea intacta.

Tais culturas podem originar todos os tipos de células mielóides, e

sua continuação por longo prazo implica que as células-tronco e a

progênie diferenciada estejam sendo produzidas continuamente.

Deve haver algum mecanismo nessas culturas, assim como in vivo,

para garantir que algumas células da progênie de células-tronco

comprometam-se com a diferenciação enquanto outras permaneçam

como células-tronco. O destino celular escolhido parece ser

controlado, pelo menos em parte, por sinais específicos produzidos

nos contatos com as células do estroma. As células-tronco

hematopoiéticas parecem necessitar destes sinais para manterem-se

em seu estado não comprometido, assim como sinais dos contatos

com a lâmina basal são necessários para manter as células- tronco

da epiderme. Em ambos os sistemas, normalmente, as células-

tronco são confinadas a um nicho especial, e quando perdem

contato com este nicho, elas tendem a perder seu potencial de

célula-tronco.

A natureza dos sinais críticos das células do estroma ainda é incerta,

embora vários mecanismos estejam implicados, envolvendo tantos

fatores secretados, como ligados à superfície celular...” (ALBERTS,

2006, p.1291).

Diversas pesquisas com CTA têm sido realizadas recentemente, muitas

das quais com resultados promissores na regeneração de alguns tecidos, mas

é preciso entender que o uso de células-tronco autólogas, assim chamadas

quando são do próprio indivíduo, não curam por não remover as causas das

doenças, apenas podem regenerar os órgãos afetados. É possível ainda o uso

de células-tronco heterólogas, provenientes de indivíduos diferentes do

receptor, mas ainda se discute as questões de rejeição com estas células

(CARVALHO, 2004).

A CTE tem a sua definição legal na Lei no 11.105/05, LEI DE

BIOSSEGURANÇA, em seu artigo 3º que considera como definição de células-

tronco embrionária: “Células do embrião que apresentam a capacidade de se

transformar em células de qualquer tecido de um organismo” (BRASIL, 2005, p.

2). Para melhor entender essa definição recorremos a MAYANA ZATZ:

Logo após a fecundação, ela começa a se dividir: uma célula em

duas, duas em quatro, quatro em oito e assim por diante. Pelo

menos até a fase de oito células, cada uma delas é capaz de se

desenvolver em um ser humano completo. São chamadas de

totipotentes. Na fase de 8 a 16 células, as células do embrião se

diferenciam em dois grupos: um grupo de células externas que vão

originar a placenta e os anexos embrionários, e uma massa de

células internas que vai originar o embrião propriamente dito. Após

72 horas, este embrião agora com cerca de 100 células é chamado

de blastocisto. É nesta fase que ocorre a implantação do embrião na

cavidade uterina. As células internas do blastocisto vão originar as

centenas de tecidos que compõem o corpo humano. São chamadas

de células-tronco embrionárias pluripotentes (ZATZ, 2004).

Embora conhecidas desde o século XIX as pesquisa com CTE

começaram a pouco mais de duas décadas, quando foram isoladas pela

primeira vez a partir da massa interna do blastocisto e cultivadas in vitro (ZAGO

& COVAS, 2004).

Estas células retiradas do blastocisto de camundongos são

pluripotentes, podem se proliferar in vitro, indefinidamente sem se diferenciar,

mas também podem se diferenciar se modificadas as condições de cultivo.

Desvendar essas condições foi um triunfo para os pesquisadores (CARVALHO,

2004).

Devido à sua grande plasticidade, isto é, a capacidade da célula em

originar diferentes tipos de células, as CTE têm sido vista como as que têm

maior potencial terapêutico, e já têm sido usadas na regeneração do tecido

cardíaco em pacientes que sofreram infarto do miocárdio.

Muitos experimentos têm sido realizados com animais usando essas

células para doenças de origem neurológica, como Alzheimer e Parkinson. São

também esperança no tratamento de diabetes, na reconstituição óssea e

dentária, na regeneração do tecido renal e hepático e na recuperação de

pacientes que sofreram lesão na medula espinhal (PRANKE, 2004).

Apesar de grande potencial terapêutico, o uso pela medicina deve

vencer algumas barreiras como o fato de que todos os métodos de

diferenciação usados até o momento não produzem populações com 100% de

pureza em termos de maturação, e isso impede o uso terapêutico dessas

células, pois sabe-se que células indiferenciadas ou comprometidas com mais

de uma linhagem celular podem provocar a formação de teratomas (ZAGO &

COVAS, 2004).

As primeiras CT de embriões humanos foram isoladas em 1998 pela

equipe do biólogo James Thomson, na Universidade de Wisconsin (E.U.A.).

Neste mesmo ano, o embriologista John Geahart, da Universidade Johns

Hopkins (E.U.A.) isolou células embrionárias germinativas humanas (EG),

derivada das células reprodutivas primordiais do feto; estas células, como as

CTE, também são pluripotentes. Ainda segundo (CARVALHO, 2004): “A

disponibilidade de CTE e EG humanas abriu horizontes impensáveis para a

medicina, mas também trouxe complexos problemas éticos-religiosos.”

Esses problemas originam-se do fato do embrião ser sacrificado com a

retirada de suas CT e, portanto, é a problemática central do debate e limita-se

apenas às pesquisas com CTE.

Antes de discutir essa problemática, vamos relembrar que em maio de

2005 foi aprovada no Brasil a Lei de Biossegurança, que dispõe de diretrizes

ligados ao avanço científico na área de biotecnologia e biossegurança,

procurando observar a proteção à vida, à saúde humana, animal e vegetal e a

precaução ao uso do meio-ambiente (BRASIL, 2005, p.1).

Os assuntos de que trata essa lei são polêmicos e mobilizam cientistas e

não-cientistas para grandes discussões, como foi o caso de organismos

geneticamente modificados, clonagem e neste momento, as células-tronco.

No caso das CTE, com a aprovação da Lei de Biossegurança, ficou

permitida as pesquisas com CT derivadas de embriões congelados há pelo

menos três anos, resultantes da fertilização in vitro, desde que haja

consentimento dos genitores (BRASIL, 2005, p.2).

Logo em seguida, o então Procurador-Geral da República – Cláudio

Fonteles – entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contra o uso

de CTE, alegando que a prática viola dois princípios na Constituição: o que

garante a dignidade da pessoa e o que define que vida é inviolável (ZATZ,

revista VEJA, 2007).

A partir daí, instala-se o debate e pesquisadores contra e a favor de

pesquisas utilizando CTE expõem suas idéias mobilizando toda a população

leiga para discussão.

A princípio, fortemente influenciada pela religião, essa discussão passa

pela concepção do momento inicial da vida, isto é, quando a vida começa?

“A polêmica sugere também a preocupação de que a utilização dessas

técnicas possa levar, progressivamente a uma ‘desumanização’, com dano

irreparável ao respeito à vida, vigente em nossa cultura” (SEGRE, 2004).

A questão sobre o início da vida desencadeia uma fervorosa discussão

na sociedade mostrando a pluralidade de idéias existentes entre religiosos,

cientistas, políticos e o povo em geral, alcançado pela mídia. Durante os três

anos de embate, a disputa entre ciência e fé foi notória, e não se chegou a um

consenso visto que, nem a própria ciência tem uma palavra final sobre o

assunto (VEJA, junho 2008).

Os pesquisadores que defendem as pesquisas com CT provenientes do

embrião, dentre outras, enfatizam: a sua potencialidade em formar todos os

tipos celulares; a esperança no tratamento de doenças como Parkinson,

Alzheimer, diabetes, infarto do miocárdio e lesão na medula espinhal; a

possibilidade futura na produção de tecidos e órgãos para transplantes (ZATZ,

2004; CARVALHO, 2004; ZAGO & COVAS, 2004; PANKRE, 2004).

Pesquisadores contrários às pesquisas, por entenderem que os

embriões são considerados seres humanos, afirmam que a vida se inicia no

momento da concepção, que não existem resultados que comprovem maior

eficiência das CTE em relação a CTA, e que as pesquisas com CTA podem ser

promissoras tanto quanto com CTE (FERREIRA, 2007; EÇA, 2007;

PRAXEDES, 2007; RAMOS, 2007).

Nesse contexto, em maio de 2008, as pesquisas científicas com CT

utilizando embriões humanos foram liberadas pelo STF, e o Brasil é agora mais

um dos países que permitem legalmente a pesquisa com células-tronco

embrionárias humana (VEJA, junho 2008).

Os impactos trazidos pelas novas tecnologias demonstram e reforçam o

limite e a liberdade do fazer ciência, mostram a quebra e a construção de

novos conceitos e os interesses de diferentes grupos da sociedade na

pesquisa científica. Interesses políticos, religiosos, científicos e econômicos se

articulam e tornam evidente de que “a ciência não é neutra, nem objetiva, e que

as decisões em torno de suas aplicações e rumos certamente não poderão ser

puramente científicas” (KANASHIRO, 2004).

Na área de biologia, nos últimos anos, além da polêmica causada pela

permissão legal das pesquisas com CTE, outros temas vêm e prometem

continuar provocando discussões calorosas na sociedade, principalmente os

relacionados aos estudos do DNA, que contribuem para o avanço da

bioengenharia (PADUAN, 2008).

Mesmo sendo veiculado através dos meios de comunicação que

disseminam as situações preocupantes e/ou promissoras do desenvolvimento

científico-tecnológico, as pessoas, na sua maioria, têm dificuldade de

compreender o porquê de tais assuntos estarem sendo polemizados e em quê

eles poderiam causar problemas para a sociedade. Mais ainda, têm dificuldade

de perceber que atrás das boas perspectivas colocadas para a tecnologia em

questão, pode esconder-se ganhos e vantagens de grupos pertencentes à

classe dominante (PINHEIROS e colaboradores, 2007).

De acordo com COLOMBO E BAZZO (2007), a tecnologia hoje é parte

inerente ao ser humano, e de algum modo ela condiciona a sociedade. Se o

seu acesso não alcança a sociedade de forma geral, ela como instrumento de

poder e controle, pode promover a distinção e a exclusão social. Os autores

ressaltam que não se trata de prescindir da tecnologia ou vê-la só de forma

negativa, mas sim estar preparado para compreender e investigar a sua

validade e entender a não-neutralidade da tecnociência. A população por falta

de informação/conhecimento, exclui-se do processo de reflexão e interferências

acerca dos avanços tecnológicos na sociedade.

Emerge então a necessidade da participação consciente e responsável

para argumentar e fazer parte do processo de tomada de decisões com relação

aos problemas levantados na sociedade. A formação desse sujeito atuante

passa, em parte, pela discussão dos trabalhos escolares, mais especificamente

do Ensino Médio.

A LDB, em seu artigo 36, ressalta que o Ensino Médio:

“...destacará a educação tecnológica, a compreensão do significado

da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de

transformação da sociedade, e da cultura; a língua portuguesa como

instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício

da cidadania” (BRASIL, 1996).

E as Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do

Estado do Paraná de Biologia enfatizam:

“...propiciar a análise sobre as implicações dos avanços biológicos

para o desenvolvimento da sociedade. Uma possibilidade a ser

adotada é o princípio da provocação e mobilização do aluno na

busca por conhecimentos necessários para resolver problemas.

Estes problemas relacionam os conteúdos da biologia ao cotidiano

do aluno para que ele busque compreender e atuar na sociedade de

forma crítica” (PARANÁ, DCE Biologia, p. 41, 2006).

Embora as orientações acima sejam parte do Projeto Político-

Pedagógico das escolas, o ensino das disciplinas científicas “está

rigorosamente marcado pelo conteudismo, excessiva exigência de

memorização de algoritmos e terminologias, descontextualização e ausência

de articulação com as demais disciplinas do currículo” (TEIXEIRA,p. 178).

KRASILCHIK contempla essa questão com a análise de que isso

contribui “para reforçar o ensino teórico, enciclopédico que estimula a

passividade, o exame vestibular que exige conhecimentos fragmentários e

irrelevantes” (KRASILCHIK, 2008, p16).

É necessário mudar o rumo da ciência que é ensinada em nossas

escolas:

“No grupo de teorias educacionais que poderiam apoiar nossa

procura, encontramos a pedagogia histórico-crítica e o Movimento

Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). A nosso ver, essas

correntes teóricas são excelentes instrumentos de reflexão para

apoiar a mudança de foco da educação científica abandonando

progressivamente o ensino canônico de ciências que hoje vem

sendo veiculado em nossas escolas, para constituir um projeto de

educação científica comprometido efetivamente com a

instrumentalização para a cidadania” (TEIXEIRA, 2003 p. 179).

O movimento CTS teve sua origem na década de 70 quando

movimentos populares prestam mais atenção ao desenvolvimento da ciência e

tecnologia (C&T) e percebem que não está articulado ao desenvolvimento do

bem-estar social, além de estar vinculado à degradação ambiental e à guerra

(bombas atômicas). Um olhar mais crítico orientou para a necessidade das

C&T ser objeto de debate político, éticos e culturais (AULER & BAZZO, 2001).

TEIXEIRA (2003), ainda ressaltando os pontos de convergência

visualizados entre a pedagogia histórico-crítica e o movimento CTS, destaca

essas convergências nos objetivos educacionais, na prática social, no

conteúdo, no papel dos professores e na metodologia.

Com relação aos dois últimos itens, o papel dos professores se firma no

propósito de buscar um novo perfil de docente mais politizado e com uma visão

mais ampla sobre o papel da escola na sociedade e com propostas definidas,

voltadas para construção de uma sociedade mais justa, mais humana e

democrática (PINHEIRO e colaboradores, 2007).

Para isso, sugere-se a superação de metodologias arcaicas que

privilegiam a passividade dos alunos por metodologias que situam fatos

historicamente e dinamizam o processo ensino- aprendizagem, de forma a

permitir uma aprendizagem significativa e vinculada aos acontecimentos do

mundo (TEIXEIRA, 2003).

Em vista do exposto até aqui, elegemos paralelo à pedagogia histórico-

crítica proposta na DCE de biologia, o movimento CTS como encaminhamento

metodológico para trabalhar o tema células-tronco que está inserido no

Conteúdo Estruturante: Implicações dos Avanços Biológicos no Fenômeno

Vida. Acreditamos que o enfoque CTS possa ser o começo de mudanças

estratégicas em busca de uma aprendizagem mais comprometida com a

formação do cidadão.

IMPLEMENTAÇÃO COM ALUNOS

Esta etapa foi desenvolvida utilizando-se de alguns materiais previamente

produzidos e organizados durante o primeiro ano do programa de

desenvolvimento educacional. Este material é composto de um questionário

inicial para levantamento dos conhecimentos prévios, uma reportagem

selecionada para introduzir o assunto e provocar a motivação dos alunos e

quatro textos que fundamentam o tema e compõem a Unidade Didática -

Células tronco, produzida durante o PDE para este fim. O trabalho foi

desenvolvido com alunos do 3º ano do ensino médio e envolveu pesquisa,

leituras, discussões em grupo, debate e uma pequena mostra.

Iniciamos a implementação socializando com os alunos a temática a ser

trabalhada, sua importância, os objetivos pretendidos, as estratégias a serem

utilizadas e em seguida solicitamos que respondessem o questionário (Anexo 1)

que apresentou resultados conforme descrito abaixo.

Perguntado se haviam acompanhado o desenrolar dos trabalhos sobre a

liberação dos estudos com CTE, apenas 42.5% responderam que

acompanharam; 53.7% não acompanharam e 3.7% não responderam a

questão. Na segunda questão, foi perguntado se eles sabiam o que era CT e

51.8% responderam que sim, 37.2% não e 11.1% não responderam; na questão

seguinte que solicitava para escrever ou exemplificar sobre CTA e CTE, apenas

3.7% tinham idéia correta sobre CT adulta e embrionária; 61.1% não souberam

e 35.5% não responderam. Na sequência, 59.2% não responderam; 37% não

souberam e apenas 1.8% responderam corretamente sobre qual a questão

central da discussão que desencadeou toda a polêmica nas discussões para

liberação das pesquisas com CTE, mas em contrapartida 74.4% sabiam que as

células alvo de discussão eram as CTE e não as CTA. A questão sobre estar a

favor ou contra a liberação das pesquisas com CTE pontuou 69.9% a favor;

12.9% contra e 24.1% não responderam e finalmente, a última questão que

perguntava sobre, como ficou a lei após a aprovação das pesquisas com CTE,

90% dos alunos não responderam e 10% sabiam que foi aprovada, mas não

sabiam como ficou a lei.

Analisando esses dados, apesar do um número expressivo de alunos que

afirmaram acompanhar o desenrolar dos trabalhos da liberação dos estudos

com CTE, poucos tinham idéia correta sobre CT adulta e embrionária e também

viam as células do cordão umbilical e da placenta como CTE. Ainda, os alunos

não tinham conhecimento de como ficou a lei após a liberação dos estudos com

CTE.

Diante disso, percebemos que esse acompanhamento pela imprensa

escrita e falada foi muito superficial, não deixando assegurado um conhecimento

ou informação mais concreta. Vimos aqui a importância de se trabalhar em sala

de aula o que está sendo discutido na mídia e que tem relação com temas

curriculares estimulando os alunos a acompanhar, relacionar conteúdos e se

interessar um pouco mais por assuntos polêmicos que se desenvolvem na

sociedade.

Conversando sobre dados levantados através do questionário, os alunos

justificaram que nem sempre lêem ou ouvem noticiários completos e que só

acompanham o desenrolar de fatos se eles chamarem muito à atenção. A

maioria dos alunos afirmou que não gosta muito de ler, só de vez em quando ou

se for necessário para fazer um trabalho, por exemplo. Isso mostra a dificuldade

que encontramos ao trabalhar com nossos alunos e que de certa forma nos

cobra estratégias e mecanismos mais eficientes para vencermos esse

desinteresse.

Após ter idéia dos conhecimentos prévios dos alunos, procuramos

problematizar o assunto através da reportagem da Agência Brasil- “Liberação da

pesquisa com células-tronco reforça esperança de menino que quer pilotar

avião”, que compõe a unidade didática. Foi feita a leitura e na sequência, a

discussão sobre a temática apresentada na reportagem, estimuladas por alguns

questionamentos previamente planejados (Anexo 2).

Essa reportagem apresenta uma problemática sobre distrofia muscular e

isto desenvolveu uma discussão interessante pois, em uma das salas do

terceiro ano temos uma aluna cadeirante que sofre de distrofia muscular. A

aluna foi bastante solícita e fez comentários aos colegas sobre sua doença,

tratamentos já realizados durante sua vida, progressos feitos e esperanças nos

futuros tratamentos incluindo aí os que poderão acontecer pelos estudos com

CTE. Esse fato deixou os alunos bastante interessados, fizeram perguntas e

participaram das discussões que encaminhamos sobre a reportagem.

Quando questionados sobre a esperança de cura futura a partir dos

estudos com CTE, citadas na reportagem, e sobre a posição do repórter em

incentivar essa esperança, os alunos discutiram com empenho, alguns

defendendo a idéia de que a esperança é necessária e válida, outros achando

que não, pois os estudos podem ser demorados e o acesso a tratamentos

advindos das pesquisas com CTE inicialmente não atenderá todos os doentes

que precisam e portanto, as esperanças podem ser para um futuro muito

distante.

Discutiu-se sobre a intenção do repórter ao escrever a reportagem e

ampliaram a discussão sobre repórteres, sentindo a importância destes ao

informar com responsabilidade fundamentando o cidadão para participar de

situações que exigem participação pública. Discutiu-se também a questão da

imprensa, que através de alguns profissionais, fazem uso da mesma em favor

de grupos com interesses particulares que não atendem o coletivo, tomam

partido, defendem situações que não são de interesse público não defendendo

dessa forma, o bem estar social, a informação e a formação do cidadão. Foi

uma discussão calorosa e quase todos os alunos quiseram opinar.

Foi um trabalho rico pois, não ficou apenas no óbvio exposto na

reportagem. A discussão foi para além do texto, discutiu-se sentimentos,

esperança na produção de conhecimentos, acessibilidade às tecnologias

produzidas, à imprensa, profissionais da imprensa e outros.

Na sequência, cientes da importância da aprendizagem do conhecimento

científico, nesta abordagem pedagógica, foi encaminhada a leitura do primeiro

texto da unidade didática: “Das células-tronco à fecundação”e em seguida, foi

feito a exibição de slides e a exposição pelo professor dos acontecimentos

sobre o desenvolvimento embrionário de animais e humano, necessário para a

compreensão de CT. Terminado esse passo solicitamos que individualmente

respondessem a questão proposta na unidade para reflexão: “Revendo os

acontecimentos do desenvolvimento embrionário humano em que momento

você entende o início da vida?”

Foi muito interessante observar, nos grupos, as diferentes formas de

pensar sobre quando se inicia a vida. Tiveram alunos seguros de suas

respostas e alguns alunos inseguros, pois embora fosse uma questão individual,

alguns queriam saber a minha opinião e de outros colegas para dar a sua

resposta. Outros alunos não responderam, pois disseram que não sabiam o que

responder ainda. Demos tempo para estar refletindo, podendo cada um mudar

sua resposta no decorrer dos estudos e deixamos a discussão da questão para

o debate proposto no final da unidade.

Demos continuidade orientando a leitura e discussão em pequenos

grupos, dos próximos textos:“Células-tronco embrionárias”e “Células-tronco

adultas”. Os dois texto informam sobre CTA e CTE, diferenciando uma e outra,

conhecendo sobre a origem e potencialidade das mesmas e sobre experiências

realizadas com estas células por diferentes cientistas e em diferentes

momentos. Evidenciamos que o objetivo deste trabalho foi alcançado, pois

durante as discussões nos grupos, percebia-se que os alunos tinham claro os

conceitos e origem de CTA e CTE. Nestes textos os alunos também tinham

algumas reflexões a fazer por escrito, no caderno:

• Imagine-se trabalhando com CTE e reflita como deve ser a vida

de um cientista elencando alguns adjetivos que certamente ajudam a qualificar

para você , esse profissional.

• Você acha que as pesquisas com células-tronco poderiam ser

realizadas só com CTA, sem prejuízos na produção de conhecimentos que

podem encaminhar procedimentos médicos capazes de salvar vidas?

• Se você fosse um dos votantes no congresso na liberação das

pesquisas com CTE, qual seria a justificativa para seu voto?

Após esse trabalho, os alunos passaram a discutir em grupos o texto 4 da

unidade didática:“Entendendo a polêmica sobre células-tronco” e aconteceram

aqui discussões interessantes. Este texto discorre a cerca das polêmicas que

surgiram diante do impasse da liberação dos estudos com CTE e mostra a

opinião de cientistas, estudiosos, juristas, religiosos e outros. Os alunos

conheceram as diferentes idéias sobre esse assunto e foi muito importante

observarem que os diferentes profissionais defendem suas idéias, mostrando

que a compreensão de cada um sobre quando acontece o inicio da vida leva a

posições diferentes, que o conhecimento é passível de diferentes

compreensões, que pode ser revisto, mudado, e até mesmo rejeitado por grupos

que defendem outras idéias. Foi interessante sentir a discussão nos grupos e

perceber como a religião e a ética influenciam em decisões como esta.

Paralelo a este trabalho, a sala foi organizada em grupos para

desenvolver uma pesquisa e produzir materiais capazes de mostrar e informar

este tema aos demais alunos e profissionais da escola, em data a ser

confirmada posteriormente.

Após o desenvolvimento das leituras, reflexões e fundamentação do

conhecimento cientifico, promovemos o debate que estava planejado e que foi

orientado por questões (Anexo 3) que inicialmente encaminham para uma

retomada do conteúdo, relacionando-o a temas paralelos como:

desenvolvimento embrionário, gametas, reprodução, fertilização in vitro,

fecundação e criopreservação que incentivam maior compreensão dos temas

relacionados. Essas questões orientaram também a discussão para outros

temas, como as tecnologias e o acesso das mesmas pela sociedade, audiências

públicas e sua importância para decisões políticas e administrativas, impactos

causados na sociedade pela implementação de algumas biotecnologias, a

produção da ciência, dos conceitos científicos e outros.

Como os primeiros questionamentos eram sobre o início da vida, muitos

alunos participaram segundo a reflexão que tinham feito no primeiro texto e

observa-se aqui que grande parte dos alunos defende sua posição inicial

reforçada pela religião. Muitos alunos defenderam o início da vida no momento

da fecundação, poucos defenderam o inicio da vida no momento da formação

do encéfalo e dois, no momento da nidação, alguns com muita segurança outros

não muito seguros.

Esses questionamentos foram muito ricos para mostrar o quanto a ciência

pode ser questionada, repensada e mudada além de mostrar que em alguns

assuntos não se chega a uma compreensão comum. Foi muito interessante

essa discussão pois foi um momento de evidenciar como se dá a construção do

conhecimento pelo homem, que nem sempre a ciência consegue explicar as

situações a que se propõe e que muitos conhecimentos já postulados, por muito

tempo indiscutíveis, podem voltar a ser questionados em um novo contexto, com

outros interesses que não o da sua produção e sobre o ponto de vista da

religião, ética e moral do momento histórico em que ocorre a sua retomada.

Desta forma encaminhamos também discussões sobre a intencionalidade da

produção cientifica com o objetivo de desmistificar a neutralidade da ciência.

Vejo o debate uma estratégia muito rica porque, além de reforçar

aprendizagens ele extrapola o tema e informa outros assuntos relacionados. A

participação do aluno falando, defendendo ou criticando idéias, dinamiza e

enriquece o trabalho. Podemos pensar que debater um assunto já estudado,

lido e discutido é perder tempo mas, o crescimento do aluno vai além de

aprender apenas o tema inicial e a aprendizagem é mais significativa. Os

alunos fizeram uma avaliação positiva do debate, afirmaram que foi muito bom

para compreensão de muitas situações ali contextualizadas e que deveria ser

organizado mais debates cobrindo outros temas da biologia e também de

outras disciplinas.

Como ponto negativo do debate, ressalto a dificuldade de alguns alunos

participarem contribuindo com suas idéias. Mesmo assim vejo que para eles o

debate foi importante por participarem, mesmo como ouvintes da socialização

de várias idéias sobre assuntos interessantes e contemporâneos oportunizando

para todos as discussões, reforçando e enriquecendo a aprendizagem com

diferentes formas de enxergar um mesmo tema.

Após o debate, na semana seguinte, foi realizada uma pequena mostra

da pesquisa sobre CT para socialização da pesquisa com os demais alunos e

profissionais da escola. Esta é uma estratégia comum, normalmente usada por

professores no trabalho com alguns temas da disciplina. As duas turmas,

fazendo uso de diferentes materiais como slides, transparências, vídeos,

cartazes, murais e outros, apresentaram sobre CTA e CTE, alguns

experimentos já realizados, e algumas polêmicas.

Os alunos estavam seguros ao explicar sobre o tema para colegas de

outras classes, falando com maior compreensão e menos inibidos. Os materiais

utilizados foram explicados espontaneamente sem leituras ou falas decoradas.

Para as turmas do ensino médio que visitaram a mostra foi pedido um

relatório que constasse de forma geral o assunto explicado pelos alunos

apresentadores e os recursos utilizados pelos mesmos. Esses relatórios

serviram de instrumento de avaliação para ver se a socialização do conteúdo

tinha atingido o objetivo. Esse procedimento é interessante porque organiza e

encaminha a atividade dos alunos visitantes para que não fiquem apenas na

observação descompromissada. Muitos alunos, através do relatório

apresentado, mostraram uma idéia inicial sobre células-tronco e se

posicionaram de forma consciente e responsável ao avaliarem os colegas e os

materiais utilizados pelos mesmos para explicarem o trabalho. Os professores

que acompanharam as turmas e os demais integrantes da escola que visitaram

a mostra também fizeram uma avaliação positiva do trabalho apresentado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A abordagem de determinadas temáticas pelo enfoque do movimento

CTS implica em contextualizar a mesma nos seus aspectos históricos, políticos

e sociais percebendo o que está em jogo nos discursos apresentados pela

diferentes mídias, discutir suas inter-relações, suas necessidades e os impactos

produzidos na sociedade na perspectiva de formar cidadãos comprometidos em

busca de decisões políticas que priorizem o interesse coletivo, primando pelo

desenvolvimento de valores que efetivem o respeito ao próximo, a solidariedade

e a fraternidade.

Algumas estratégias de ensino podem enriquecer o processo ensino

aprendizagem de forma a não limitar a apresentação dos conteúdos com um fim

em si mesmos, mas oportunizando reflexões e questionamentos que levem os

alunos a fazer relações do conhecimento científico e da tecnologia estudada em

um determinado momento, com as suas experiências do dia a dia.

As estratégias utilizadas nesta implementação propiciou momentos de

leitura, pesquisa, discussões em grupo, reflexões, confecção de materiais,

debate e socialização de conhecimentos de modo que o processo ensino-

aprendizagem se desenvolveu exigindo uma postura mais ativa dos alunos que

puderam expor, opinar e defender suas idéias interagindo com os demais alunos

da sala de aula e do colégio.

O debate foi uma das estratégias que estimulou e ampliou o processo

ensino aprendizagem promovendo um momento rico para perceber diferentes

posições sobre um tema específico, o impacto que uma tecnologia pode

promover na sociedade, de conhecer as diferentes idéias dos colegas, reforçar

suas compreensões sobre determinados assuntos ou retomar algumas teorias

mostrando a possível flexibilidade de conceitos pré concebidas.

Outra estratégia rica e produtiva foi a pequena mostra da pesquisa aos

demais componentes da escola. Esta estratégia, além de reforçar a

aprendizagem de conhecimentos específicos, orientou a pesquisa e promoveu

situações importantes para desenvolver efetivamente a oralidade no momento

em que os alunos socializaram conhecimentos científicos aos participantes da

mostra. Também provocou interesse por alguns conhecimentos dos visitantes

pelo tema, iniciando de alguma forma a alfabetização cientifica dos cidadãos,

uma necessidade do mundo contemporâneo.

REFERÊNCIAS

ALBERTS, B; Johnson, A.; Lewis, J.; Raff, M.; Roberts, K.; Walter, P. Biologia

molecular da célula. 4. ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 2006.

AULER, Décio; BAZZO, Walter Antonio. Reflexões para a Implementação do

Movimento CTS no Contexto Educacional Brasileiro. Santa Catarina.Ciência &

Educação, v.7, n.1-13, 2001. Disponível em:

http://www2.ufpa.br/ensinofts/artigo4/ctsbrasil.pdf. Acesso em: 1 jun. 2008.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n. 9.394, de 20 de

dezembro de 1996. 2 ed. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de

Publicações, 2001. Disponível em:

http//www.camara.gov.br/internet/infdoc/Publicações/html/arquivospdf/ldb.pdf.

Acesso em: 14 jun. 2008.

BRASIL. Lei de Biossegurança, n.11.105, de 24 de março de 2005. Brasília.

Diário oficial de 28 de março de 2005. Disponível em:

http//www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/lei/L11105.html. Acesso em:

6 jun 2008.

CARVALHO, Antonio Carlos Campos de. Células-tronco: A medicina do futuro.

Rio de Janeiro. Artigo publicado na Revista Ciência Hoje (SBPC), vol 29, nº

172, junho de 2001. Disponível em:

http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/biologia/bio10a.htm. Acesso

em: 15 jun.2008.

______. Célula-tronco é promessa para medicina do futuro. In Com Ciência. 10

fev. 2004. Disponível em:

<http://www.comciencia.br/reportagens/celulas/09.shtml> Acesso em: 15 maio.

2008.

COLOMBO, Ciliana R.:BAZZO,Walter A. Educação Tecnológica

Contextualizada, ferramenta essencial para o Desenvolvimento Social

Brasileiro. 2007. Santa Catarina. Disponível em:

http://www.eei.es/salactsi/colombo.htm. Acesso em: 12 abr. 2008.

EÇA, Lílian Piñero. Audiência Pública do STF sobre começo da vida: Embrião

humano dialoga com a mãe. Abr. 2007. Disponível em:

http//www.stf.gov.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?

idConteudo=69694&caixaBu...Acesso em: 8 jul. 2008.

FERREIRA, Alice Teixeira. Audiência Pública do STF sobre começo da vida:

Pesquisadora afirma existir alternativas à utilização de células-tronco

embrionárias para pesquisa científica. Abr. 2007. Disponível em:

http//www.stf.gov.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?

idConteudo=69694&caixaBu...Acesso em: 8 jul. 2008.

KANASHIRO,Marta. O contra fluxo da pesquisa com células-tronco. 2004.

Disponível em: http://www.comciencia.br/reportagens/celulas/60.shtml. Acesso

em 16 jun. 2008.

KRASILCHIK, Myrian. Prática de Ensino de Biologia. 4. ed. São Paulo, 2008.

PADUAN, Paula Jaqueline. As Implicações das Novas Tecnologias no Ensino

de Biologia na Escola Média. Disponível em:

http://www.unimep.br/phpg/mostraacademica/anais/4mostra/pdfs/413.pdf.

Acesso em: 6 jun. 2008.

PARANÁ, SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÀO, Diretizes Curriculares

da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná. Curitiba: SEED,

2006.

PINHEIRO, N. A. M.; SILVEIRA, R. M. C. F.; BAZZO, W. A. Ciência, tecnologia

e sociedade: a relevância do enfoque CTS para o contexto do ensino médio.

Ciência & Educação, v.13, n. 1, p.71-74, 2007. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/ciedu/vl1n1a5.pdf. Acesso em: 21 jun. 2008.

PRANKE, Patricia. A importância de discutir o uso de células-tronco

embrionárias para fins terapêuticos. Ciência e Cultura, jul./set. 2004, vol.56,

no.3, p.33-38.Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?

script=sci_arttext&pid=S0009-67252004000300017&lng=pt&nrm=iso. ISSN

0009-6725. Acesso em: 27 maio.2008.

PRAXEDES, Herbert. Audiência Pública do STF sobre o começo da vida: O

uso de células-tronco adultas como opção ética para pesquisa científica. Abr.

2007. Disponível em: http//www.stf.gov.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?

idConteudo=69694&caixaBu...Acesso em: 8 jul. 2008.

RAMOS, Dalton Luiz de Paula. Audiência Pública do STF: Células-tronco

adultas já oferecem os resultados que a sociedade precisa. Abr. 2007.

Disponível em: http//www.stf.gov.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?

idConteudo=69694&caixaBu...Acesso em: 8 jul. 2008.

SEGRE, Marco. A propósito da utilização de células-tronco. 2004. Disponível

em http://www.comciencia.br/reportagens/células/11.shtml. Acesso em: 6

jun.2008.

SOALHEIRO, Marco Antonio. Liberação de pesquisas com células-tronco

reforça esperança de menino que quer pilotar avião. Agência Brasil, 2008.

Disponível em http://www.cristovam.org.br/index.php?

option=com_content&task=view&id=1099&Itemid=1. Acesso em 03 out. 2008.

TEIXEIRA, Paulo Marcelo M. A Educação Científica sob a Perspectiva da

Pedagogia Histórico-Crítica e do Movimento CTS n Ensino de Ciências. Bahia

Ciência e Educação, v.9, n.2, p.177-190, 2003. Disponível em:

http://www2.ufpa.br/ensinofts/artigo4/ctsbrasil.pdf. Acesso em: 13 jun. 2008.

ZAGO, Marco A; COVAS, Dimas T. Pesquisas com Células-tronco: Aspectos

Científicos, Éticos e Sociais. São Paulo, 2004. Disponível em:

http://agata.ucg.br/formulários/ucg/docentes/bio/daniele/pdf/marcozago-%20c

%C3%A9lulas%20tronco.pdf. Acesso em: 6 jun. 2008.

ZATZ, Mayana. Células-tronco: Conceitos e Linguagem. Rio de janeiro.

Disponível em: http://www.ghente.org/temas/células-tronco/index.htm. Acesso

em: 15 jun. 2008.

__________ Esperança Renovada. Rio de Janeiro, Mar. 2004. Disponível em :

http://www.ghente.org/temas/células-tronco/index.htm. Acesso em: 2 jun. 2008.

__________ Clonagem e Células-tronco. 2004. Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-

0142004000200016&script=sci_arttex&tlng=em. Acesso em: 6 jun.2008.

___________ Células-tronco embrionárias. 2007. Disponível em:

http://vejaonline.abril.com.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.Navigation

Servilet?publicationCode=1&pa. Acesso em: 16 jun. 2008.

.

ANEXO 1

QUESTIONÁRIO

1-Você acompanhou as discussões sobre a liberação dos estudos com células-

tronco (CT)

( ) Sim ( ) Não

2- Você sabe o que são CT?

( ) Sim ( ) Não

3- Escreva ou exemplifique o que é para você:

CTadultas:..............................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

CTembrionárias:....................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

4- Quais células eram alvo da discussão para a liberação dos estudos com

CT?

( ) CT adultas ( ) CT embrionárias

5-Qual a questão central que foi alvo das discussões e desencadeou toda a

polêmica na liberação das pesquisas com CT?

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

......................................................................................................

6- Você era a favor ou contra a liberação das pesquisas com essas células?

( ) A favor ( ) Contra

7- E agora como ficou a lei com relação as pesquisas com CT?

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

ANEXO 2

QUESTIONAMENTOS SUGERIDOS PARA TRABALHAR A REPORTAGEM

1. Você já leu outras reportagens similares à reportagem apresentada?

2. Você já leu ou ouviu sobre o julgamento de que fala a reportagem?

3. Você conhece alguém que sofra de distrofia muscular? O que você sabe

sobre esta doença?

4. O que você sabe sobre células-tronco (CT)?

5. O julgamento citado na reportagem se referia a qual tipo de CT?

6. Você na época também torceu pela liberação das pesquisas com CTE ou

conheceu alguém que estava torcendo por isso?

7. Qual a sua opinião sobre a liberação das pesquisas com CTE?

8. O garoto da reportagem diz querer ser piloto de avião, caso os estudos lhe

permita a cura da doença degenerativa. O que o garoto quis dizer com isso?

9. Você acha válida a esperança do garoto?

10. Pedro Freire, o avô do menino, disse que os ministros tomaram uma

decisão favorável ao povo brasileiro. Você concorda com isso? Justifique.

11. Pela reportagem você acha que o autor era contra ou a favor da liberação

das pesquisas com CTE? Justifique.

12. Que intenção você acha que o repórter Marco Antônio Soalheiro teve ao

escrever essa reportagem?

13. Qual a sua posição frente a profissionais que usa a imprensa para outros

fins que não a informação?

14. Como você vê o papel da imprensa frente a assuntos polêmicos como

esse?

ANEXO 3

QUESTÕES SUGERIDAS PARA ORIENTAR O DEBATE FINAL

1. O blastocisto é um ser humano?

2. Qual o número de células que define um ser humano?

3. A partir de que momento se considera que o ser humano existe?

4. O sacrifício do embrião viola o direito à vida?

5. O óvulo fecundado in vitro é considerado como vida ou essa só ocorre com o

implante no útero?

6. O que diferencia o espermatozóide separado do óvulo e o óvulo fecundado?

7. Se o óvulo fecundado é inviolável, por que o óvulo e o espermatozóide

também não são?

8. Se considerarmos que o homem pode dispor de seu esperma e a mulher de

seu óvulo, por que ambos não podem dispor do zigoto que produziram?

9. Se podem impedir a concepção, por que não poderiam destruir o que foi

produzido?

10. O fato de produzir embriões excedentes em clínicas de fertilização mesmo

que criopreservados não seria anti-ético para nós?

11. Será que a resposta sobre o que seria a vida poderia ser simplesmente

decisão da maioria?

12. A vontade da maioria valeria para qualquer tipo de questão?

13. Bastaria a vontade da maioria para impor qualquer regra ao grupo?

14. Você acha que a ciência pode promover a discriminação social? Justifique.

15. Na nossa sociedade a ciência está a serviço de quem?

16. Todas as tecnologias oriundas de pesquisas científicas alcançam toda

população? Quais alcançam? Quais não alcançam?

17. Como você acha que deveria ser o acesso das tecnologias que promovem

a saúde e bem estar social a toda sociedade?

18. Você tem conhecimento de outras audiências públicas que aconteceram a

pedido do STF. Elas são importantes? Justifique.

19. Que outros conhecimentos e/ou técnicas tem levantado polêmicas

calorosas nos últimos anos, fruto do desenvolvimento da biotecnologia?

20. A ciência consegue responder a todas as questões levantadas pela

sociedade sobre um determinado assunto?

21. Por que conceitos na ciência podem mudar com o passar do tempo?

22. Listem alguns impactos causados à sociedade e ao meio ambiente

originados a partir biotecnologias recentes.