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Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa Ministério da Educação Secretaria de Educação Básica Diretoria de Apoio à Gestão Educacional UNIDADE 4 | ANO 2 Brasília 2012 O TRABALHO COM GÊNEROS TEXTUAIS NA SALA DE AULA

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  • Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa

    Ministrio da EducaoSecretaria de Educao Bsica

    Diretoria de Apoio Gesto Educacional

    UNIDADE 4 | ANO 2

    Braslia 2012

    O TRABALHO COM GNEROS TEXTUAIS NA SALA DE AULA

  • MINISTRIO DA EDUCAOSecretaria da Educao Bsica SEBDiretoria de Apoio Gesto Educacional

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Centro de Informao e Biblioteca em Educao (CIBEC)

    Tiragem 125.616 exemplares

    MINISTRIO DA EDUCAOSECRETARIA DA EDUCAO BSICA Esplanada dos Ministrios, Bloco L, Sala 500CEP: 70047-900Tel: (61)20228318 - 20228320

    Sumrio

    O TRABALHO COM GNEROS TEXTUAIS NA SALA DE AULA

    Iniciando a conversa 05

    Aprofundando o tema 06Por que ensinar gneros textuais na escola? 06

    Registro e anlise da prtica no 2 ano do Ensino Fundamental: os textos na sala de aula 11

    Os gneros textuais na sala de aula e a apropriao de conhecimentos 30

    Compartilhando 34Direitos de aprendizagem no ciclo de alfabetizao Cincias 34

    Direitos de aprendizagem no ciclo de alfabetizao Geografia 38

    Hbitos alimentares e sade bucal 39

    Aprendendo mais 43Sugestes de leitura 43

    Sugestes de atividades para os encontros em grupo 45

  • Iniciando a conversa

    Na unidade 5 refletiremos sobre a importncia da leitura e da produo de textos na alfabetizao. Neste caderno, direcionado para o 2 ano do ensino fundamental, destaca-mos que na escola precisamos trabalhar com textos de diferentes gneros, mediando as situaes em que as crianas tenham que ler e produzir textos para atender a diferentes propsitos, alm de refletir sobre as finalidades, formas composicionais e recursos esti-lsticos caractersticos dos gneros trabalhados.

    Com os contedos deste caderno esperamos proporcionar ricos momentos de socia-lizao voltados para o ensino de leitura e produo de textos de variados gneros nas salas de aula.

    Os objetivos da unidade so:

    entender a concepo de alfabetizao na perspectiva do letramento, com aprofundamento de estudos utilizando, sobretudo, as obras pedaggicas do PNBE do Professor e outros textos publicados pelo MEC;

    analisar e planejar projetos didticos para turmas de alfabetizao, integrando diferentes componentes curriculares, e atividades voltadas para o desenvolvimento da oralidade, leitura e escrita;

    conhecer os recursos didticos distribudos pelo Ministrio da Educao e planejar situaes didticas em que tais materiais sejam usados.

    O TRABALHO COM GNEROS TEXTUAIS NA SALA DE AULAUNIDADE 5 | ANO 2

    Autoras dos textos da seo Aprofundando o tema: Ana Beatriz Gomes Carvalho, Francimar Martins Teixeira, Leila Nascimento da Silva, Maria Helena Santos Dubeux

    Autora dos relatos de experincia e depoimentos:Rielda Karyna Albuquerque

    Leitores crticos e apoio pedaggico:Adelma Barros-Mendes, Adriana M. P. da Silva, Alfredina Nery, Amanda Kelly Ferreira, Ana Mrcia Luna Monteiro, Clia Maria Pessoa Guimares, Erika Souza Vieira, Evani da Silva Vieira, Ivane Maria Pedrosa de Souza, Juliana de Melo Lima, Lourival Pereira Pinto Lygia de Assis Silva, Magda Polyana Nbrega Tavares, Patrcia Ramos, Rielda Karyna Albuquerque, Rochelane Vieira de Santana, Severina rika Guerra, Severino Rafael da Silva, Silvia de Sousa Azevedo Arago, Telma Ferraz Leal, Vera Lcia MartiniakYarla Suellen Nascimento lvares

    Produo dos quadros de direitos de aprendizagem:Francimar Martins Teixeira e Ana Beatriz Gomes Carvalho

    Revisor:Adriano Dias de Andrade

    Projeto grfico e diagramao:Ana Carla Silva, Luciana Salgado, Susane Batista e Yvana Alencastro.

    Ilustraes: Airton Santos.

    Capa:Anderson Lopes, Leon Rodrigues, Rian Andrade e Tlio Couceiro.

  • unidade 05 07

    Aprofundando o tema

    Em uma perspectiva sociointeracionis-ta, os eixos centrais do ensino da lngua materna so a compreenso e a produo de textos. Nessas atividades, convergem de forma indissocivel fatores lingusticos, sociais e culturais. Nelas, os interlocu-tores so participantes de um processo de interao, e, para isso, precisam ter domnio da mesma lngua e comparti-lharem as situaes e as formas como os discursos se organizam, considerando seus propsitos de usos e os diversos contextos sociais e culturais em que esto inseridos. (SANTOS, MENDONA E CAVALCANTE, 2006).

    Nesse sentido, a lngua se configura como uma forma de ao social, situada num contexto histrico, representando algo do mundo real. O texto, portanto, no uma

    construo fixa e abstrata, mas, sim, palco de negociaes e produes de mltiplos sentidos. Os textos so produzidos em si-tuaes marcadas pela cultura e assumem formas e estilos prprios, tambm histo-ricamente marcados. Diferentes textos assemelham-se, como diz Bakhtin (1997), porque se configuram segundo caracters-ticas dos gneros textuais que esto dispo-nveis nas interaes sociais. Desse modo, pode-se dizer que a comunicao verbal s possvel por meio de algum gnero que se materializa em textos que assumem formas variadas para atender a propsitos diver-sos. Para melhor entendermos essa dis-cusso, importante enfocar as diferenas entre gneros textuais e tipos textuais.

    Para compreendermos essas relaes entre tipos textuais e gneros, passamos a

    definir essas noes fundamentais para se trabalhar leitura e produo textual na sala de aula, contedo central da unidade 5.

    Referimo-nos a tipos textuais para tratar-mos de sequncias teoricamente definidas pela natureza lingustica da sua composi-o: narrao, exposio, argumentao, descrio, injuno. No so textos com funes sociais definidas. So categorias tericas determinadas pela organizao dos elementos lexicais, sintticos e rela-es lgicas presentes nos contedos a serem falados ou escritos, distinguindo-se capacidades de linguagem requeridas para a produo de diferentes gneros textuais. (MARCUSCHI, 2005; MENDONA 2005; SANTOS, MENDONA E CAVALCANTE, 2006).

    Os gneros textuais, segundo Schneuwly e Dolz (2004), so instrumentos culturais disponveis nas interaes sociais. So historicamente mutveis e, consequente-mente, relativamente estveis. Emergem em diferentes domnios discursivos e se concretizam em textos, que so singulares.

    Assim, para que a interao entre falantes acontea, cada sociedade traz consigo um legado de gneros, por meio dos quais so partilhados conhecimentos comuns. Em consequncia das mudanas sociais, os gneros se alteram, desaparecem, se trans-formam em outros gneros. Desse modo, novos gneros textuais vo se constituindo, em um processo permanente, em funo

    de novas atividades sociais. Se isso no ocorresse, a comunicao seria quase im-possvel, pois cada demanda comunicativa exigiria a construo de um texto configu-rado de modo completamente novo, que por sua vez precisaria ser compreendido pelos envolvidos na atividade para que a interao acontecesse. Segundo Bakhtin, (1997, p. 302):

    Aprendemos a moldar nossa fala s formas do gnero e, ao ouvir a fala do outro, sabemos de imediato, bem nas primei-ras palavras, pressentir-lhe o gnero, adivinhar-lhe o volume (a extenso aproximada do todo discursivo), a dada estrutura composicional, prever-lhe o fim. () Se no existissem os gneros do discurso e se no os dominssemos, se tivssemos de construir cada um de nos-sos enunciados, a comunicao verbal seria quase impossvel.

    Observamos que para Bakhtin (1997), os gneros exercem certo efeito normativo. Por funcionarem como modeladores dos discursos em qualquer situao de intera-o verbal, os falantes recorrem a eles. Por possurem aspectos relativamente estveis/comuns, os gneros servem como modelos, de modo que textos diferentes so aponta-

    Por que ensinar gneros textuais na escola?Maria Helena Santos DubeuxLeila Nascimento da Silva

  • unidade 05 09unidade 0508

    dos como pertencentes ao mesmo gnero na medida em que possuem, por exemplo, contedos, construes composicionais e estilos semelhantes entre si.

    Nesse sentido, como foi dito, ao discutir o papel social dos gneros nos atos inter-locutivos, Schneuwly (2004) apresenta a noo de gnero como instrumento, utilizado/tomado pelo sujeito para agir linguisticamente. Nesse sentido, o autor, baseando-se no conceito de instrumento psicolgico vygotskyano ressalta que, na perspectiva do interacionismo social, a atividade necessariamente concebida como tripolar: a ao mediada por obje-tos especficos, socialmente elaborados, frutos das experincias das geraes pre-cedentes, atravs dos quais se transmitem e se alargam as experincias possveis. (SCHNEUWLY, 2004, p. 21). Portanto, os objetos especficos se constituem nos ins-trumentos que segundo Schneuwly (2004, p. 21) [...] encontram-se entre o indiv-duo que age e o objeto sobre o qual ou a situao na qual ele age: eles determinam seu comportamento, guiam-no, afinam e diferenciam sua percepo da situao na qual ele levado a agir [...].

    A partir dessas citaes, percebemos a relao que Schneuwly (2004) estabelece entre o conceito de instrumento e o papel dos gneros como mediadores das ativi-dades de interao verbal das pessoas na sociedade. O autor explica:

    H visivelmente um sujeito, o locutor-enunciador, que age discursivamente (falar/escre-ver), numa situao definida por uma srie de parmetros, com a ajuda de um instru-mento que aqui um gnero, um instrumento semitico complexo, isto , uma for-ma de linguagem prescritiva, que permite, a um s tempo, a produo e a compreenso de textos (SCHNEUWLY, 2004, p. 23-24).

    Por meio dos gneros, a ao discursiva , ao menos parcialmente, prefigurada para cumprir os objetivos definidos para certas atividades. As experincias prvias de inte-raes permitem aos participantes da situa-o de comunicao especfica chegar a um grupo de gneros que possivelmente podem ser utilizados nas situaes de interao.

    Koch e Elias (2009) destacam que os gne-ros textuais so diversos e sofrem variaes na sua constituio em funo do