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JORNAL DE CONTABILIDADE N.º 379 • OUTUBRO 2008 317 Ano XXXII ~ N.º 379 Outubro 2008 Publicação Mensal ~ ISSN 0870-8789 (Distribuição Gratuita aos Associados) Preço Avulso - 4,50 (I.V.A. Incluído) AP APOI IOS OS O Processo de Bolonha e o TOC O “Técnico de Contas” do Código de Contribuição Industrial A Auditoria e a Manipulação dos Resultados Contabilísticos O IRS – uma nota Representantes Fiscais de Não Residentes CITEFORMA e APOTEC celebram Protocolo Notas sobre a Conferência “Política Fiscal – Tendências e Desafios”

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JORNAL DE CONTABILIDADE N.º 379 • OUTUBRO 2008 317

Ano XXXII ~ N.º 379Outubro 2008

Publicação Mensal ~ ISSN 0870-8789

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APAPOIIOSOS

O Processo de Bolonha e o TOC

O “Técnico de Contas” do Código de Contribuição Industrial

A Auditoria e a Manipulação dos ResultadosContabilísticos

O IRS – uma nota

Representantes Fiscais de Não Residentes

CITEFORMA e APOTEC celebram Protocolo

Notas sobre a Conferência “Política Fiscal –Tendências e Desafios”

JORNAL DE CONTABILIDADE N.º 379 • OUTUBRO 2008318

Ficha Técnica: Director: Severo Praxedes Soares • Directora-Adjunta: Maria Teresa O. Dias Neto • Coordenação: Isabel Maria Cipriano • Colaboração:Cristina Moura Mendes • Mensário Técnico, fundado por Martim Noel Monteiro • Propriedade e Edição da Associação Portuguesa de Técnicos de Con-tabilidade – APOTEC (Instituição de Utilidade Pública) • NIF: 500910847 • Redacção e Administração: Rua Rodrigues Sampaio, 50, 3.º - Esq. – 1169-029 LISBOA• Telefone: 213552900 • Telefax: 213552909 • http://www.apotec.pt • [email protected] • Tiragem: 8 200 exs. • Depósito Legal: 53873/92 •Registo n.º 105076 ICS • Assessores: Económico: Rogério Fernandes Ferreira – Contabilístico: Brito Nascimento; António José Neves Casaca – Fiscal: FernandaCurado Ribeiro; José de Oliveira Sales Pires – Jurídico: Isabel Amado; Graça Lopes – Jurídico-Fiscal: João Filipe Gonçalves Pinto • Composição e impressão:PENTAEDRO – Tel. 21 844 43 40 – 1700-249 Lisboa • Os originais recebidos para publicação são aceites na condição de que nem eles, nem qualquertradução deles, tenham sido "adquiridos" ou publicados, e que não tenham sido apresentados para publicação em qualquer parte e que, será autorizadaa sua livre publicação na nossa revista. • Os artigos publicados são da responsabilidade dos seus autores e não vinculam a APOTEC.

Índice318 A então figura do “técnico

de contas”

320 IVA insustentável?

321 A Profissão de TécnicoOficial de Contas – Reflexosdo Processo de Bolonha

326 A Associação entre aManipulação dosResultados Contabilísticos ea Opinião dos Auditores

337 O IRS e seus reembolsos:uma nota

338 Representantes Fiscais deNão Residentes –Prespectiva de Alteraçãodo Regime em Vigor

339 “Mudam-se os tempos,mudam-se as vontades...”

340 Síntese Económica

341 Consultório

344 Bibliografia

345 Noticiário

Separatas:

Centro de Estudos de História daContabilidade

FormaçãoPortoCoimbraLisboaLeiriaBraga

Índice

EditorialEditorial

Vem isto a propósito da recente conferência fiscal que ocorreu em Portugal, umainiciativa da APOTEC a que se associou o ISEG, e que trouxe à mesa redonda, quatrofiscalistas, todos eles ex-Secretários de Estado dos Assuntos Fiscais, estimadosamigos desta Associação, que aceitaram o repto de, sob a moderação do Prof. DoutorEduardo Paz Ferreira, discutirem a política fiscal, tendências e desafios.

Para além da honra, a APOTEC orgulhou-se de não deixar passar em claro os 45anos do Código da Contribuição Industrial, em vigor em 1963, que introduziu afigura do “técnico de contas” após um longo vazio legal sobre esta profissão.

Não se poderia, obviamente, evocar esta reforma fiscal sem referir a única figuraque está entre nós, um dos autores do Código da Contribuição Industrial, o ProfessorDoutor Camilo Cimourdain de Oliveira.

Recordar estes 45 anos é um exercício interessante onde a memória reedita asreformas levadas a efeito, quer elas sejam contabilísticas, fiscais e até profissionais.

Desde a sua constituição que a APOTEC tem pugnado pela competência dos seusassociados, proporcionando formação e actualização de conhecimentos.

Tem vindo sempre empenhando-se e apresentando ideias para discussão, criandoainda parcerias com várias entidades nas quais pontuam as Escolas e InstitutosSuperiores de Contabilidade e Fiscalidade.

Participou activamente na defesa dos profissionais. Recorda-se também que, aotempo, os técnicos de contas podiam ser suspensos da actividade profissional semculpa formada. Facto este que levou a APOTEC a recorrer ao Tribunal Constitu-cional, que veio a considerar a inconstitucionalidade dos referidos artigos do Códigoda Contribuição Industrial e do Código do Imposto de Transacções.

Como membro de pleno direito da Comissão de Normalização Contabilística, aAPOTEC tem colaborado nas diversas reformulações introduzidas ao POC, e maisrecentemente cooperando na elaboração do novo Sistema de NormalizaçãoContabilística.

Entende-se que a contabilidade não é, nem pode ser considerada propriedadeexclusiva de alguém. A Contabilidade atende a diversos interessados.

E deve ser normalizada por um organismo independente, profissionalizado eonde os diversos interesses estejam representados.

Fantasia seria dizer-se que quem executa e trata da Contabilidade deverianormalizá-la, como se de um só interesse se tratasse e não de um vasto conjunto deprofissionais e de variantes tão ou mais diversas.

A então figura do“técnico de contas”

Manuel PatuleiaPresidente da Direcção da APOTEC

“Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada,a palavra pronunciada e a oportunidade perdida.”

Provérbio Chinês

JORNAL DE CONTABILIDADE N.º 379 • OUTUBRO 2008 319

EditorialEditorial

(continuação da página 320)

Nestes termos, sendo o IVA um imposto sobre consumo, eo consumo se gerou, ao Estado teria de pertencer imposto, noseu todo (fraccionadamente apurado e entregue ao Estado nassucessivas transacções das empresas até ao consumidor final,conforme os mecanismos legais do Código do IVA).

A nosso ver e contrariamente ao que geralmente se aponta,não assume, do ponto de vista do direito a constituir, sentidológico que o Estado devolva o imposto, conforme se consignano Código do IVA. Se houve despesa (consumo), deve haverimposto: quem celebra negócios, quem exerce actividades deprodução, comércio ou prestação de serviços, deve correr osinerentes riscos, pois também será quem, por norma, aufere oslucros (e os prejuízos).

Eis, pois, porque se considera excessivo e inexacto referirque “um contribuinte não deve ser responsabilizado pela nãoliquidação do IVA para com a Administração Fiscal, quando oterceiro não tenha entregue o mesmo ao contribuinte”. Aafirmação mostra, de certo modo, algum desconhecimento darealidade factual que atrás se refere, ou seja, que o vendedorde bens tem de liquidar nas suas facturas o respectivo IVA,independentemente de as facturas terem sido logo pagas, oque, aliás, é talvez pouco comum, salvo em vendas ao balcão,a dinheiro (lojas de retalho e hipermercados). Muitas outrasvendas são a prazo, porventura até longo. Considera-se, assim,

Preocupa-nos a excessiva responsabilidade que os profis-sionais são forçados a assumir. Acontecimentos há, em que seconfunde quem tem a responsabilidade da entrega das de-monstrações financeiras e fiscais.

E porque falar-se dos profissionais a isso nos impele, aAPOTEC apresentou na altura devida, um projecto de regula-mentação para a profissão.

Naturalmente que divergimos em algumas posições quehoje estão consignadas no actual estatuto dos TOC, masporque a nossa missão continua a ser a defesa dos interessesdos associados, quer os que presentemente se inscrevem, e sãoem elevado número, quer aqueles que já o são há mais de 30anos, e como tal dizemos uma vez mais: Presente, e marcamosa Diferença.

Defendemos com regras a livre concorrência, e porqueestamos convictos de que os profissionais devem escolherlivremente as entidades que lhes possam ministrar formação(art.º 43.º da Constituição da República Portuguesa), tomámosa iniciativa de apresentar junto da Autoridade da Concorrên-

algo peregrinas as alusões dos críticos ao actual processamentogeral do IVA. A opção que sugerem conduziria a obrigar ossujeitos passivos a desfiar suas vendas, verificando quais aspagas até à entrega periódica do IVA a elas respeitante e as nãopagas, porque, neste caso, o vendedor não disporia ainda dosfundos respectivos. Era um trabalho adicional, algo exaustivo,de pormenor, solução de evitar, pois já são demais as comple-xidades e os formalismos existentes.

Aliás, a posição de que se discorda, a adoptar-se, obrigariaa apuramentos e registos diferenciados que o Código do IVAnão previu nem deverá prever. Os custos e os proveitos não seapuram quando se processam os pagamentos e recebimentos,mas, antes, quando se processam as compras e vendas que,como se disse, são, não raramente, a crédito. E, sendo acrédito, não se deve concluir, daí, que o vendedor deva sercompensado pelo não recebimento do valor em dívida. Atente--se que as concessões de mais prazos conduzem o fornece-dor a praticar preços mais elevados ou a adicionar encar-gos sobre os compradores a prazo. Claro que o compradorpode não pagar, mas essa realidade até está ressalvada oucompensada no artigo 78.º do CIVA, opção a que atrás sealudiu, algo desfavoravelmente.

(*) Dever-se-ia referir “recebimento”, pelo menos para perfeita simetria,embora a expressão “liquidação” na linguagem corrente signifique tam-bém “pagamento”.

cia, um documento que solicita uma intervenção urgentecontra o regulamento (monopólio) da intitulada “formação”promovida pela entidade de inscrição obrigatória dos Técni-cos Oficiais de Contas.

Somos uma Associação responsável e de Utilidade Públi-ca, de inscrição livre que publicamente oferece os seus servi-ços para colaborar no sentido de evitar uma tão grandeconcentração de membros (TOC) num único organismo.

Tal como no passado, hoje e aqui nos colocamos à dispo-sição da tutela (Ministério das Finanças) para o progredir doEstatuto dos TOC, adequando-o às necessidades actuais, a parcom a mobilidade que faz parte do desempenho profissio-nal no espaço económico internacional, onde existe mais doque uma entidade reguladora, cabendo a cada profissional aescolha da que mais lhe convir.

Continuamos e continuaremos a preocupar-nos com orumo da profissão.

Desengane-se quem pensar o contrário.

NAS TRANSFERÊNCIAS BANCÁRIAS,

INDIQUE SEMPRE NOME E N.º DE SÓCIO(A)

* * *

COLABORE COM A APOTEC, TORNANDO-A MAIS EFICIENTE

JORNAL DE CONTABILIDADE N.º 379 • OUTUBRO 2008320

Na Vida Económica de 18 de Julho, aparece, destacado,que “o actual IVA é insustentável, que não é um impostoneutro, que funciona como um imposto para o vendedor e umbenefício para o incumpridor”. E no Diário Económico, de 22de Julho, igualmente outro articulista veio acentuar que “osistema de IVA existente em Portugal é um sistema injusto epenalizador da actividade económica”, acrescentando tam-bém que “é injusto, por um lado, porque a taxa é muitoelevada, o que gera uma desvantagem competitiva em relaçãoa Espanha”.

Sobre estes destaques, julgo dever acentuar que o IVA quese cobra em Portugal sobre bens e serviços comercializadosque venham de Espanha é, exactamente, o que se cobra sobreartigos produzidos (e vendidos) em Portugal. Assim, quanto anós, não são de acolher tout court as posições atrás referidas.E, acrescenta-se, também nas vendas em Espanha, quer o aíproduzido, quer o importado de Portugal e vendido em Espanha,tudo, estará sujeito, exactamente, ao mesmo IVA (o de Espanha).

Claro que produtos vindos de Espanha, clandestinamente,e para venda cá também clandestinamente, terão pago a taxade IVA em Espanha, que é mais baixa. Por outro lado,actividades clandestinas de Portugal para Espanha ficam maisdificultadas, porque o IVA em Portugal é mais elevado. Poderátambém estar a pensar-se em transacções na zona fronteiriça.Nestes casos, pode dizer-se que há muita gente de Portugal afazer compras em Espanha, uns por eventuais passagens porEspanha, outros porque vão lá, sistematicamente, comprar,por morarem perto (e cada vez mais perto, com as novas viasviárias). Claro que estes eventos são prejudiciais, a Portugal,e prejudicam quem exerce actividades empresariais em Portu-gal. Pensa-se que conviria tentar alguma concertação, nosentido de evitar as citadas distorções.

Devemos assinalar, por seu lado, que reputamos contro-versa a bondade atribuída a um recente Acórdão do STA, emque se alude a que “uma empresa não pode ser sujeita a coimapor não entrega de IVA ao Estado quando não recebido dosseus devedores”.

Com todo o respeito, várias proclamações do dito Acórdãomerecem reparos. Por exemplo, que “o IVA que os operadoreseconómicos devem entregar ao Estado é o resultante dadiferença entre o que liquidaram(*) nas vendas e o que pagaramnas compras”. Com base nessa asserção, temos deparado comrelatos que revelam ser necessária maior clareza na matériasob exame.

Uma primeira questão é que, perante o Código do IVA, osujeito passivo (contribuinte de direito) não é o cliente, ocomprador, e sim a entidade que vende. Esta (sujeito passivo),nos termos do Código do IVA, processa o seu IVA liquidadoe o seu IVA dedutível, periodicamente, com a inerente entrega

Rogério Fernandes FerreiraSócio Honorário e Presidente do Centro de Estudos

de História da Contabilidade da APOTEC

IVA insustentável ?

da diferença a favor do Estado, nos termos suficientementetratados na lei e explicados por profissionais da matéria eautoridades na matéria. Se a diferença entre o liquidado e odedutível for a favor do contribuinte, será este quem terádireito ao reembolso e pode solicitá-lo quando o entender, masdentro dos parâmetros consignados na lei.

A questão a destacar é que os processamentos referidos deIVA dedutível e IVA liquidado não têm a ver com recebimen-tos e pagamentos, mas sim, com processamentos sobre o queé transaccionado, ou seja, impõe as contabilizações das ven-das e das compras, independentemente de ter havido ou nãorecebimentos e pagamentos.

As compras/vendas dão lugar a processamentos do com-prado/vendido nas respectivas contas. Os pagamentos e rece-bimentos darão origem a subsequentes movimentos. Claroque havendo simultaneidade de compras e pagamentos e devendas e recebimentos poderá, por vezes, não se processarpassagem por contas de clientes e fornecedores.

Em conformidade com o exposto, dir-se-á que, existindooperações a crédito, quer de compra, quer de venda, a diferen-ça entre IVA liquidado e IVA dedutível não será apurada entreIVA cobrado e IVA pago no período considerado. Na verdade,um sujeito passivo de IVA, quando faz vendas debita o clientepelo IVA que ele, vendedor, processará a favor do Estado,independentemente de ter recebido ou não o montante davenda. Só recebe de imediato em vendas a dinheiro e nãoquando vende a crédito.

Sintetizando: o sujeito passivo entregará o valor do IVAnos prazos previstos na lei, independentemente de o cliente terjá pago, ou de vir a pagar até ao fim do vencimento da vendaa prazo ou até em caso de nunca mais pagar. Acrescenta-seque, caso o cliente não venha a pagar, o Código do IVA prevêjá que o sujeito passivo, vendedor, se possa ressarcir do IVA.Essa permissão legislativa constituiu, a nosso ver, manifesta-ção de um espírito bem compreensivo do Estado-legislador,na medida em que até se pode considerar tal atitude comoexcessiva.

O Código do IVA veio, de facto, a consignar a recuperaçãodo IVA sobre certos créditos em dadas condições (cf. seu art.º78.º, n.os 7 e segs.). É uma solução legislativa radicada nomodo como muitos olham o fenómeno tributário: aceitam queum credor suporte a generalidade dos prejuízos derivados daincobrabilidade de uma dívida, mas não a parcela correspon-dente ao IVA. Acentuamos que o devedor correspondente nãoterá deixado de dar destino, ou utilização, aos bens ou serviçosque lhe foram facturados, consumindo-os (ou cedendo-os, porseu turno, a seus clientes).

(continua na página 319)

JORNAL DE CONTABILIDADE N.º 379 • OUTUBRO 2008 321

A ProfissãoA Profissão

A Profissão de Técnico Oficial deContasReflexos do Processo de Bolonha

A. J. Cardão MachadoMembro do Conselho Científico da APOTEC

“Como grande parte dos empresários e dirigentes de entidades não possui conhecimento suficiente para entender a linguagem dosbalanços e demonstrações contabilísticas, necessita sempre de quem os analise, explique e interprete. Mesmo dirigentes de culturarefinada preferem entregar a especialistas a opinião sobre o comportamento do património que regem”.(1)

António Lopes de Sá

1. NOTA DE ENQUADRAMENTO

1.1 De acordo com o actual estatuto da CTOC, para seexercer a profissão de Técnico Oficial de Contas é exigido quea duração mínima dos estudos superiores seja de três anoslectivos, o que, antes da aderência ao Processo de Bolonha,equivalia à obtenção do bacharelato.

Com efeito, o art. 16.º do referido Estatuto mencionaconcretamente o seguinte: “Os candidatos a TOC devempossuir, como habilitações académicas, licenciatura,bacharelato ou curso superior equivalente, com duraçãomínima de três anos …”.

De notar também que, no projecto de alteração do estatutoque se encontra presentemente em discussão, aquela redacçãopermanece inalterada.

1.2 Com a entrada em vigor da reforma de Bolonha, oprimeiro ciclo do ensino superior deixou de ser o bacharelato,tendo passado a designar-se por licenciatura, a qual, ficou,assim, reduzida a três anos de estudo.

Numa primeira análise, as consequências para a profissãode TOC poderão considerar-se irrelevantes, dado que se man-tém a duração mínima de três anos de ensino superior, mudan-do apenas a designação de bacharelato para licenciatura.

Considerando, porém, os novos desafios que se estão a pôrà profissão (adopção de recentes e mais sofisticadas normascontabilísticas, extensão da actividade à Administração Públi-ca e necessidade premente de assumir funções mais exigentes,designadamente, como consultor contabilístico), conjunta-mente com o estado em que se encontra o ensino pré-univer-sitário e o modo como está a decorrer a implantação doProcesso de Bolonha, convirá analisar a questão de formamais ponderada.

Refira-se, a propósito, que algumas Ordens Profissionais,incluindo as dos Economistas, Advogados e Engenheiros, jáanunciaram só aceitar candidatos ao exercício das respectivasfunções se os mesmos detiverem um mínimo de quatro anosde ensino superior.

Nos pontos seguintes, vamos, pois, aprofundar o tema emquestão, salientando as competências específicas que exige aprofissão de TOC e a sua provável evolução no próximo futuro.

2. COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS AO EXERCÍCIODA PROFISSÃO

2.1 Competências nucleares

O TOC deve possuir uma formação básica nas disciplinasde Contabilidade, Economia, Organização e Gestão, Direito eAuditoria, visando a formação de um portfolio alargado decompetências transversais que lhe permitam adaptar-se comeficiência à mudança cada vez mais rápida e incisiva daenvolvente dos negócios (derivada, inclusive, da internaciona-lização dos mercados) e às crescentes exigências que a mesmaimpõe à profissão. Com efeito, “o futuro não se constrói pelaprevisão, mas pela aptidão à mudança”.(2)

Dessas competências nucleares de especialização, há trêsáreas que se podem salientar como críticas: Contabilidade,Auditoria e Organização e Gestão.

2.1.1 No que respeita à Contabilidade, verifica-se umapremente necessidade de dar uma maior ênfase à Contabilida-de de Gestão, para que exista uma informação oportuna edevidamente trabalhada sobre o andamento dos negócios, porforma a que os respectivos Gestores possam tomar decisõesconscientes.

E quando se fala em informação trabalhada, tal significaque a mesma deve ser interpretada e explicada para que osresponsáveis empresariais a entendam rapidamente e, emconsequência, definam o melhor rumo a seguir.

De facto, como refere Lopes de Sá, “pouco adianta orecurso de justificadas organizações, complicadas demons-trações, se não existe quem possa explicar e interpretar osfactos ocorridos com a riqueza e qual o destino a estareservado”.(3)

JORNAL DE CONTABILIDADE N.º 379 • OUTUBRO 2008322

A ProfissãoA Profissão

Torna-se, assim, cada vez mais importante que os TOC’sassumam esta função de Consultor Contabilístico, não seconfinando à mera escrituração e apresentação simples dedados, visando, em muitos casos, essencialmente a observân-cia dos requisitos fiscais.

E este novo posicionamento profissional, sendo generica-mente importante, é imprescindível no caso das pequenas emédias empresas, base fundamental da economia portuguesa.

Ainda no âmbito da Contabilidade, considerando a imi-nente obrigatoriedade de as Autarquias Locais passarem a terTécnicos Oficiais de Contas nos seus quadros, é importanteque aqueles aprofundem os seus conhecimentos na Contabili-dade Patrimonial Pública (que é feita de acordo com Planos deContas e Princípios Contabilísticos algo diferentes dos doPOC ou dos que se encontram previstos no Projecto do SNC)e, especialmente, estudem a Contabilidade e Gestão OrçamentalPública que muito difere do que se pratica nas empresas.

2.1.2 Relativamente à Auditoria, convém ter em conta asua filosofia actual centrada no alcance dos objectivos desegurança e melhoria das operações das instituições, porforma a acrescentar valor ao desenvolvimento das suas activi-dades, avaliando sistematicamente a eficácia dos processos eda gestão de riscos, controlo e governação.

Efectivamente, cada vez se torna mais importante gerir osriscos do negócio, definindo as estratégias que devem seradoptadas de acordo com as avaliações feitas dos mesmos,bem como o sistema de controlo mais adequado a cada umadas situações.

É, assim, importante que os TOC’s entendam devidamenteo que é o processo de Controlo Interno, quais são os seusobjectivos, bem como os mecanismos e controlos básicos quedevem ser observados para que as instituições tenham umagarantia razoável de que a sua estratégia vai ser materializada,o que torna imprescindível a preservação da integridade dainformação financeira.

Um outro aspecto relevante é, como já atrás se referiu, afutura carreira dos TOC’s na Administração Pública, o quelhes vai exigir mais formação, não só em termos contabilísticos,mas também no âmbito da Auditoria das Instituições Públicas,tornando-se necessário conhecer o Sistema Nacional de Con-trolo Financeiro.

Esta é, em consequência, uma área em que se tornafundamental investir, para que o desempenho da função deTOC na Administração Pública possa atingir adequados níveisde eficiência e de eficácia.

2.1.3 Quanto à Organização e Gestão, dois temas mere-cem, em nosso entender, destaque. São eles o Controlo deGestão e a Ética e Comportamento Organizacional.

No primeiro caso, torna-se crucial dominar o ControloOrçamental (interpretando os respectivos desvios, entendendo assuas causas e tomando apropriadas medidas de ajuste) e saberutilizar os quadros de comando, designadamente o “Tableau deBord” e o “Balanced Scorecard”, que abrangem também aspec-tos não financeiros, e que são essenciais para se interpretar aevolução dos negócios e os seus eventuais pontos críticos.

A harmonização da estrutura da Contabilidade Analíticacom a destes três instrumentos de pilotagem é essencial e oTOC tem aqui um papel importante a desempenhar.

No que respeita à Ética e Comportamento Organizacional,importa ter em atenção que, entre o final do século XX e oinício do século XXI, surgiram dois grandes factores demudança: a grande revolução da informação (criação da socie-dade do conhecimento) e a renovação da ética empresarial,tendo passado a ser “geralmente aceite a noção de “corporatecitizenship”, o que significa que as empresas são titulares dedireitos e obrigações para com a comunidade, para além dodever de acrescentar valor para os investidores”.(4)

Esta nova filosofia de gestão deve, naturalmente, influen-ciar as práticas profissionais dos TOC’s, sendo essencial aadopção de um posicionamento ético, de acordo com o queestabelece o respectivo Código Deontológico.

2.2 Competências Genéricas Instrumentais – Áreas Críti-cas

2.2.1 Capacidade de Análise e de Síntese

É fundamental para a interpretação e explicação das peçascontabilísticas, facultando aos gestores uma informação rele-vante e abreviada que lhes permita tomar decisões adequadasem tempo oportuno.

Trata-se de uma área à qual, como já salientámos atrás, osTOC’s têm de dar mais atenção.

2.2.2 Capacidade de Comunicação Oral e Escrita

Está intimamente relacionada com a questão anterior. Éimportante que exista, em qualquer instituição, uma comuni-cação ampla e contínua e que flua em diversas direcções,tornando mais ágeis as acções a empreender nos vários níveisda Gestão.

Com esse objectivo, os relatórios emanados da Contabili-dade, para além de serem emitidos tempestivamente, devemser entendíveis e convincentes.

2.3 Competências Genéricas Interpessoais – Áreas Críti-cas

2.3.1 Capacidade de Trabalho em Contexto Internacio-nal

Com a abolição das fronteiras e, mais genericamente, coma globalização, a distância morreu(5), tendo a comunicaçãopassado a ser instantânea e os acontecimentos internacionaisa influenciar as condições económicas locais.

A adopção, nos diversos Estados-Membros da UniãoEuropeia, das normas contabilísticas emanadas do IASB é umdos exemplos dessa tendência, sendo previsível uma aproxi-mação cada vez maior entre os profissionais da Contabilidadedos vários países.

Neste contexto, o domínio da língua inglesa é fundamentalpara o desenvolvimento da carreira dos TOC’s.

2.3.2 Assunção de um Compromisso Ético no Trabalho

Como foi mencionado em ponto anterior, a ética empresa-rial ganha terreno desde o final do século passado e o exercícioda profissão de TOC deve contribuir para que a mesma tenhaêxito.

JORNAL DE CONTABILIDADE N.º 379 • OUTUBRO 2008 323

A ProfissãoA Profissão

A chamada contabilidade criativa(6) deve ser totalmenteabolida e o Estatuto da CTOC, bem como o CódigoDeontológico dos TOC’s, não podem ser ignorados ouminimizados.

2.4 Competências Genéricas Sistémicas – Áreas Críticas

2.4.1 Capacidade de Adaptação a Novas Situações

Como já antes foi salientado, a mudança é contínua e cadavez mais rápida não só em termos genéricos, mas também noque se refere à forma de exercer a profissão, inclusive quantoao seu regime contratual.

O novo Sistema de Normalização Contabilística (SNC) éum exemplo recente dessa mudança, que vem reforçar aimportância das competências transversais que os TOC’sdevem deter para fazer face às constantes mutações do meioenvolvente.

2.4.2 Capacidade de Iniciativa e Espírito de Criatividade

Estimular um espírito empreendedor em vez de metódicoe conformado é uma das novas características da Gestão doPessoal das empresas para enfrentar um ambiente progressi-vamente agressivo.

Neste contexto, o TOC não deve evidenciar uma atitudedefensiva e burocrática assente numa obsessão do controlo(nomeadamente, em matérias fiscais), evidenciando, contra-riamente, um espírito aberto à inovação e criatividade, semque esse comportamento resvale para a adopção de procedi-mentos menos éticos, dos quais a existência de uma Contabi-lidade Criativa é um exemplo paradigmático.

2.4.3 Motivação para Procurar a Melhoria Constanteda Qualidade

Deve existir esta motivação de perfeição, em linha com afilosofia da gestão da qualidade total, sem que tal iniba atomada de riscos com vista à concretização da inovação ecriatividade, como salientado no ponto anterior.

E essa motivação deve ser evidenciada não apenas nodesempenho técnico tradicional da profissão de TOC, mastambém no apoio à condução do negócio da empresa, traba-lhando em conjunto com a Gestão na resolução de problemase na antecipação de futuros desafios.

2.4.4 Revelação de Sensibilidade Social

Sublinhando o que já atrás foi referido relativamente àética, o TOC deve evidenciar um comportamento responsávelperante as pessoas (inclusive, perante os colegas e colabora-dores) e centrado em valores, tais como a honestidade e aintegridade.

A observância do Estatuto da CTOC e do CódigoDeontológico é, em consequência, imprescindível.

3. O ESTADO ACTUAL DO ENSINO E O PROCESSODE BOLONHA

3.1 Nas Universidades, para além de se verificar umelevado grau de absentismo às aulas e de indisciplina dos

discentes, são evidentes as deficiências básicas que os mes-mos trazem do Ensino Básico e Secundário – e que vêmaumentando de ano para ano –, denotando a ausência de umaefectiva cultura de exigência que, no mínimo, crie hábitos detrabalho.

Com efeito, verifica-se uma grande dificuldade, por partedos alunos, em redigir e em interpretar textos, ao mesmotempo que se constata, em qualquer documento escrito pelosmesmos, a existência de um enorme número de erros ortográ-ficos dos mais elementares.

Também, no domínio da Matemática, é incontestável aincapacidade de compreensão das operações mais simples.

É uma situação muito séria que se arrasta já há longosanos(7) e que tem vindo a ser praticamente ignorada ou, piorainda, a motivar uma facilitação dos testes para que as estatís-ticas melhorem, o que, naturalmente, baixa drasticamente acapacidade intelectual dos alunos e se está a repercutir noEnsino Universitário, não deixando, certamente, de vir a tergraves consequências na empregabilidade dos futuros profis-sionais.

Assim, como refere Bagão Félix na sequência da suaanálise aos enunciados dos exames mais recentes do EnsinoBásico e Secundário, “ninguém se admire que o país não vápara a frente, que se chegue à universidade sem saber redigir,cometendo erros que há anos envergonhariam um alunorazoável da 4ª classe, que não saibam fazer as mais simplescontas de aritmética ou ter a mínima ginástica matemáticasem o auxílio de uma calculadora”.(8)

Em idêntica linha de pensamento, Mário Ceitil, analisandoas consequências da massificação do ensino nos últimos anos,assinala a “chegada ao ensino superior de massas de alunosmal preparados, científica e pedagogicamente, e, muitas ve-zes, sem sequer serem possuidores de algumas competênciasbásicas, indispensáveis para se conseguir prosseguir os estu-dos com um mínimo de rentabilidade”.(9)

3.2 Neste contexto, surgiu recentemente o Processo deBolonha propondo técnicas de equivalência curricular e deuniformização da avaliação, com a finalidade de facilitar amovimentação de pessoas e conhecimentos entre os diversossistemas de ensino superior da União Europeia, de forma ahomogeneizar a oferta de pessoal qualificado no espaço euro-peu.

Com esta reforma do ensino, como já antes foi salientado,o grau de licenciatura passou a ser atribuído ao fim de apenastrês anos, o que pode conduzir a uma desvalorização deconhecimentos e à redução da qualidade técnica e científicaimprescindível às várias profissões. Nesse sentido se têmpronunciado várias Ordens profissionais, como também já semencionou no início deste texto.

Admitem ainda alguns especialistas que, com este achata-mento da duração do ensino da licenciatura, se conseguirácriar uma mão-de-obra de facto homogénea, mas simultanea-mente pouco qualificada e fracamente especializada, queconstituirá, assim, uma força de trabalho polivalente, barata ede utilização precária (e, perversamente, mais empregável),com todos os inconvenientes que tal situação virá a acarretarpara os profissionais em causa.

3.3 Independentemente deste tipo de análises algo políti-cas, o que na realidade se passa é que as Universidades,

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recebendo uma “matéria-prima” de baixa qualidade, têm de,num espaço de tempo mais curto (menos um ano), preparar osformandos para uma carreira profissional, atribuindo-lhes acategoria de licenciados.

E, aqui, só há uma de duas soluções a encarar: ou se reduza quantidade de matéria que vinha sendo dada nas licenciatu-ras de quatro anos, deixando a parte sobrante para o 2.º ciclo(mestrado), ou se mantém a mesma, compactando-a. Emqualquer das situações, há uma desvalorização de conheci-mentos relativamente ao sistema de ensino anterior.

A reforma de Bolonha apresenta ainda outra particularida-de que é a da “passagem de um ensino centrado no professorpara um ensino centrado no estudante”(10), de acordo com aqual as dinâmicas de aprendizagem prevalecem relativamenteàs formais dissertações académicas.

Este novo paradigma implica que os alunos tenham, emconsequência, um papel mais activo na aquisição de conheci-mentos (servindo o professor fundamentalmente de orientador),realizando investigações, com a apresentação subsequente detrabalhos.

Esta nova filosofia de ensino pode fazer, em situaçõesideais (ou, talvez, normais), todo o sentido, mas, na realidadeque enfrentamos presentemente, ela revela-se profundamenteirrealista.

Com efeito, como é possível exigir a um aluno que, – exa-gerando um pouco para fazer passar melhor a ideia – mal sabeler e escrever e que não tem hábitos de trabalho, faça investi-gação? Como se pode crer que os trabalhos que apresen-ta – normalmente, de excelente qualidade – sejam feitos porele? Porque se desvalorizam os exames, considerando-os umaforma ultrapassada de avaliação?

Neste ambiente de falso vanguardismo do ensino, corre-mos o risco de estarmos perante a “escola dos grandesnúmeros … que produz ignorantes diplomados …”.(11)

Esta situação, sendo genérica, aplica-se, naturalmente,também aos Cursos de Contabilidade – de notar que muitosalunos matriculam-se nos cursos universitários de Contabili-dade sem nunca terem frequentado antes a disciplina –,antevendo-se praticamente inevitável que se venha a dar umadesvalorização das competências nos novos licenciados, numafase em que era essencial que sucedesse precisamente ocontrário, tendo em conta a sofisticação cada vez mais eviden-te da respectiva profissão e da sua futura evolução.

Atentemos, a este respeito, novamente nas palavras doProf. Lopes de Sá: “Não são os cursos de aperfeiçoamento,mestrados ou doutoramentos os que por si só habilitam umconsultor, mas sim a “metodologia” que adoptam para acompetente formação”.(12)

A metodologia está, de facto, errada e esta é uma matériarelativamente à qual a CTOC deve manter-se bastante atenta.

4. A LIGAÇÃO UNIVERSIDADES / EMPRESAS

4.1 Existe, no nosso país, uma necessidade premente depromover a integração entre o tecido económico e a investiga-ção.

De facto, num estudo efectuado há não muito tempo13,conclui-se que 60% das empresas portuguesas não têm qual-quer interesse em contactar as Universidades para desenvol-ver os seus negócios.

Por sua vez, outros quase 40% só admitem um interessemoderado em contactar com as Universidades se a iniciativapartir destas.

De acordo com o mesmo estudo, apenas cerca de 1% dasempresas vê, de facto, nos centros de investigação um parcei-ro importante em termos de investigação.

Ao invés, as companhias multinacionais estabelecem, porregra, protocolos regulares com as Universidades de maiorprestígio para captar os seus melhores alunos, integrando-os,de seguida, nas empresas como “trainees”, onde começam porcumprir um programa de formação / estágio bem estruturadoe abrangente, até serem devidamente colocados nos quadrosda organização.

4.2 Um outro aspecto perverso da insuficiente ligaçãoentre as Universidades e as Empresas tem a ver com aexistência de professores sem currículo empresarial relevante,dando-se preferência, cada vez mais acentuada, a títulos eformação académica e não à competência real.

É uma política que devia ser seriamente repensada, pois,como disse Rui Vilar, “para mandar fazer” (neste caso, maispropriamente, ensinar), “é preciso saber fazer aquilo que semanda fazer”.(14)

As consequências para a profissão de TOC deste afasta-mento entre as Universidades e as empresas são as de quemuitos dos licenciados em Contabilidade, no início da suaactividade, se mostram, por exemplo, incapazes de analisar asDemonstrações Financeiras de uma empresa, não sabem se-quer fazer uma reconciliação bancária, classificar correcta-mente um documento, conferir uma conta ou até arquivardevidamente documentação.

Esta situação reforça a necessidade de ser exigido umestágio rigoroso e bem organizado para os candidatos à profis-são – a exemplo, aliás, do que sucede com outros ofícios –, demodo a que os mesmos passem a constituir uma verdadeiramais-valia para os empregadores.

No essencial, esse estágio deve cingir-se à indispensávelformação prática do exercício da profissão, à transmissãoinequívoca de conhecimentos e experiências e ao cuidado zelona preservação da ética e deontologia profissionais.

4.3 Em suma, impõe-se uma aproximação rápida e efectivaentre o tecido empresarial e as Universidades, sendo “nacooperação entre empresas, Universidades e demais centrosde saber que se joga o futuro da nossa economia, umaeconomia mais permeável ao empreendorismo, inovadora ecompetitiva”. (15)

Dentro do mesmo espírito, o fomento de mais investigação edesenvolvimento científico da Contabilidade, igualmente emparceria com as Universidades e os Institutos Politécnicos, deve-rá constituir também uma das próximas prioridades da CTOC.

5. LINHAS DE FORÇA PARA O FUTURO DA PROFIS-SÃO

5.1 Objectivo e Âmbito da Função

O desenvolvimento tecnológico, o crescimento das empre-sas (derivado, por exemplo, das fusões e aquisições) e a

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complexidade cada vez mais acentuada do ambiente económi-co, devido, fundamentalmente, a uma maior e mais agressivaconcorrência, têm vindo, entre outras causas, a dificultar agestão dos negócios.

Estas alterações verificadas no meio envolvente das em-presas nos anos mais recentes vêm-nas obrigando a alterar asua estratégia e organização, a seguir novas políticas de gestãodo pessoal e, por vezes, a reformular a própria missão.

Neste ambiente de quase constante instabilidade, é pre-mente a necessidade de existirem informações fiáveis e opor-tunas que auxiliem os empresários / gestores nas suas tomadasde decisão.

A Contabilidade deve, assim, reforçar-se como ferramentade gestão, não se confinando apenas à sua tradicional condi-ção de banco de dados.

“O registo contabilístico, tendo nascido apenas para guar-dar memória dos acontecimentos, cedeu, entretanto, lugar àpremente necessidade de conhecimento do que representa omesmo”.(16)

Com efeito, não basta possuir os dados – matérias-primasda informação -, sendo necessário que os mesmos sejamtratados para gerarem informações úteis e constituírem verda-deiros instrumentos de gestão no processo decisório das em-presas e outras instituições.

As demonstrações financeiras legais tornaram-se, em mui-tos casos, difíceis de entender por parte dos responsáveis dasempresas, apresentando, assim, uma utilidade reduzida paraos mesmos, o que dá à Contabilidade a imagem de um serviçoque pretende atender quase em exclusivo aos requisitos fis-cais, relegando para 2.º plano a gestão dos negócios.

Torna-se, em consequência, imprescindível reverter a situa-ção, transformando a Contabilidade num instrumento ágil,flexível, actualizado (a Contabilidade não pode andar atrasadaou por conferir vários meses) e direccionado para a tomada dedecisões, não se podendo ignorar que “as empresas existempara fazer dinheiro, maximizar o valor do accionista, ou, nocaso de instituições sem fins lucrativos, maximizar o valordado ao cliente”.(17)

Deste modo, importa compreender que quem utiliza aContabilidade não são só os Investidores, a AdministraçãoFiscal, os Bancos, os Fornecedores e outros “stakeholders”.Na realidade, os executivos de todos os segmentos das empre-sas e outras instituições devem constituir o grupo dos seusprincipais destinatários (com especial ênfase para a Contabi-lidade de Gestão / Orçamental), variando, entre eles, o modode apresentação e o grau de refinação da informação.

Assim, especialmente no caso da alta e média gestão, estadeve receber uma informação tempestiva, devidamente traba-lhada e apresentada de forma resumida e objectiva, eviden-ciando os grandes números e eventos que conduzam à práticade uma gestão por excepção.

5.2 Criação de uma Nova Imagem da Profissão de TOC

Decorre do que expôs no ponto anterior, que o TOC, paratornar mais útil a sua função e incrementar a respectivacredibilidade, deve estabelecer um processo contínuo deinformação destinado aos seus principais utilizadores – os

gestores –, tentando perceber e responder aos seus anseios enecessidades, fazendo, assim, da Contabilidade um instru-mento eficaz de gestão.

O TOC surge, deste modo, como consultor / assessor doempresário / gestor, dando opinião sobre a forma como estãoa ser encaminhados e geridos os negócios e recomendandotambém a tomada das medidas que considere mais adequadaspara o êxito da empresa.

Para desempenhar este papel, necessário se torna ter umacultura científica, tecnológica, ética e geral, o que implicatambém que exista um apoio inequívoco de instituições espe-cíficas – designadamente, da CTOC –, zelando pela imagemda classe e pela valorização permanente do grau de conheci-mento (a formação contínua é indispensável) e de credibilidadedos seus membros.

Considerando as características do tecido empresarial por-tuguês – assente, fundamentalmente, em médias e pequenasempresas – e o perfil padrão dos seus responsáveis, não seantevê fácil este novo posicionamento da profissão, mas sãoprecisamente aquelas entidades que mais poderão beneficiarcom este salto qualitativo, beneficiando, em consequência, aeconomia do país.

Neste momento, em que a reforma de Bolonha está a daros seus primeiros passos, a CTOC poderá aproveitar a oportu-nidade para relançar a profissão, atribuindo-lhe um estatuto demaior exigência técnico – científica e reforçando, desse modo,a sua utilidade e credibilidade.

(1) António Lopes de Sá, Motivo da Carência de Consultores Contabilísticos,Semanário Económico, 10/10/2007.

(2) Emílio Rui Vilar, É Preciso Boa Governança como Exercício não Hipó-crita, Jornal de Negócios, 4/7/2007.

(3) António Lopes de Sá, Motivos da Carência de Consultores Contabilísticos,Semanário Económico, 10/10/2007.

(4) Emílio Rui Vilar, 40 Anos de Gestão, Revista Exame, Agosto de 2007.(5) Tom Peters, O Círculo da Inovação, Bertrand Editora, 1998, pág. 1 e

seguintes.(6) De acordo com Oriol Amat, Contabilidad Creativa, Gestión 2000, 2002,

pág.11, a Contabilidade Criativa é o processo mediante o qual os contabi-listas utilizam o seu conhecimento das normas de Contabilidade paramanipular as verbas incluídas nas contas das empresas (tradução livre).

(7) Diga-se, a propósito, que a dificuldade em redigir e os erros ortográficosjá afectam alguns professores.

(8) Bagão Félix, O Logro dos Exames, Semanário Económico, 27/6/2008.(9) Mário Ceitil, A Terceira Vaga da Massificação do Ensino, Semanário

Económico, 27/4/2007.(10) Pedro Lourtie, Dúvidas de Bolonha não se resolvem por Decreto, Jornal

de Negócios, 9/7/2007.(11) Manuel Gonçalves da Silva, A Fascinante Tese do Ensino da Ignorância,

Diário Económico, 14/1/2008.(12) António Lopes de Sá, Motivos da Carência de Consultores Contabilísticos,

Semanário Económico, 10/10/2007.(13) Publicado no Diário de Notícias de 22/3/2006.(14) Emílio Rui Vilar, É Preciso Boa Governança como Exercício não Hipó-

crita, Jornal de Negócios, 4/7/2007.(15) Rocha de Matos, Presidente da Associação Industrial Portuguesa, Diário

de Notícias, 22/3/2006.(16) António Lopes de Sá, Motivos da Carência de Consultores Contabilísticos,

Semanário Económico, 19/10/2007.(17) Jorge Vasconcellos e Sá, Lembrando o Óbvio, Diário Económico, 2/1/

/2006.

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Contabilidade FinanceiraContabilidade Financeira

RESUMO

Investigação empírica prévia realizada em países da Euro-pa Continental não permite concluir quanto à eficácia daauditoria na contenção da manipulação de resultados contabi-lísticos, facto que tem sido atribuído à concentração da proprie-dade accionista e ao menor risco de litígio dos auditores.

Baseados nestes resultados, verificámos, numa amostra deempresas ibéricas, no período de 2002-2004, se os auditoressão eficazes na detecção e reporte da manipulação de resul-tados nos relatórios de auditoria, mediante a metodologia dosaccruals discricionários.

Os resultados obtidos indicam existir uma associaçãoestatística significativa entre os accruals discricionários e aopinião de auditoria, induzindo a eficácia dos auditores. Esteresultado é corroborado pela relação estatística significativaque também se observa entre os accruals discricionários ealguns tipos de reservas de auditoria.

Palavras-chave: Manipulação de resultados, Accruals dis-cricionários, Opinião de auditoria, Qualidade de auditoria

THE ASSOCIATION BETWEEN THE EARNINGSMANAGEMENT AND THE AUDIT OPINIONS

ABSTRACT

Empirical research performed in countries in WesternEurope is not able to conclude on the effectiveness of an auditon restraining the manipulation of accountancy data, which asbeen endorsed to the concentration of equity ownership and tothe low risk of auditors litigation.

Based on these results, we have checked that in a sampleof iberian companies, regarding the period 2002-2004, weatherthe auditors are effective or not on detecting and reporting themanipulation of results on the audit reports, by means of thediscretionary accruals methodology.

The results obtained indicate that there is a significantstatistical association between the discretionary accruals andthe audit opinion, inducing the effectiveness of the auditors.

A Associação entre a Manipulaçãodos Resultados Contabilísticos e aOpinião dos Auditores

João BorralhoDepartamento de Economia e Gestão da Universidade

Lusófona de Humanidades e Tecnologia (ULHT)[email protected]

This result is corroborated by the significant statisticalassociation that is also observed between the discretionaryaccruals and some types of audit reserves.

Key-words: Earnings management, Discretionary accruals,Audit opinion, Audit quality

1. INTRODUÇÃO

Após o crescimento da economia americana da década de90 do século passado, impulsionada pela nova economia,globalização, novos instrumentos financeiros e alimentadapelos mercados bolsistas, com fortes exigências dos investi-dores em termos de rendibilidade, o início do presente séculofoi marcado a nível mundial por uma recessão económica,com o emergir da falência fraudulenta de um conjunto deempresas como a Enron, à cabeça, mas também a Adelphia,Xerox e a WorldCom, nos Estados Unidos (Stiglitz(1), 2005),e na Europa Ahold e Parmalat (Alberto, 2005).

A falência da Enron arrastou consigo uma das empresasinternacionais de auditoria de elevado prestígio, a ArthurAndersen, sendo uma chamada de atenção para os problemasdecorrentes da manipulação de resultados. Com a queda daEnron e o conhecimento das práticas fraudulentas seguidas anível contabilístico surgiu a desconfiança no funcionamentodo mercado de capitais e a necessidade de maior transparênciana informação financeira (Stiglitz, 2005).

Os escândalos financeiros vieram questionar o papel doauditor externo, enquanto órgão independente da governaçãoque emite parecer sobre os documentos de prestação de contase no qual os utilizadores confiam para a tomada de decisões.

A qualidade da auditoria é fundamental para a confiançados intervenientes no mercado de capitais e para o desenvol-vimento económico dos países. Os auditores têm por funçãodar credibilidade à informação financeira, com vista à tomadade decisão pelos utentes dessa informação.

Tendo em vista estas preocupações, as normas internacio-nais de auditoria da IFAC(2) foram objecto de actualização nosanos mais recentes. No domínio da manipulação de resulta-dos, a ISA(3) 240 – A Responsabilidade do Auditor ao Consi-

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Contabilidade FinanceiraContabilidade Financeira

derar a Fraude e o Erro na Auditoria de DemonstraçõesFinanceiras (2002), na revisão de 2004, exige aos auditoresprocedimentos para identificar os riscos de distorção materialna informação financeira devidos a fraude (Carassus et al.,2003a).

A União Europeia tem mostrado elevada preocupaçãoquanto à harmonização e qualidade da informação financeirae ao papel da auditoria. O Regulamento n.º 1606/2002, de 19de Julho, tornou obrigatória a aplicação das normas internaci-onais de contabilidade do IASB(4), para as empresas comvalores admitidos a cotação, desde 1 de Janeiro de 2005. Noâmbito da auditoria foi emitido o Livro Verde da CE(5) (1996),sobre o papel, estatuto e responsabilidade dos auditores naUnião Europeia, tendo dado lugar à Directiva 2006/43/CE, doParlamento Europeu e do Conselho (8.ª Directiva), de 17 deMaio de 2006, sobre o controlo legal das contas dos Estados--membros.

É neste contexto que realizámos a presente investigaçãopara verificar se existe e qual a natureza da associação entrea manipulação dos resultados contabilísticos (earningsmanagement) e a opinião dos auditores, transmitida pelosrelatórios de auditoria, para um conjunto de empresas ibéri-cas. Este estudo tem por objectivo verificar, na amostra deempresas seleccionadas, se o processo de auditoria é eficaz nadetecção de eventuais manipulações de resultados praticadaspelos gestores das empresas, de modo a transmitir confiançaaos utilizadores da informação financeira.

A medição da manipulação dos resultados é um aspectofulcral do estudo. Seguindo a metodologia amplamente utili-zada na literatura (Butler et al., 2004 e Piot et al., 2004), amedida que utilizámos foi baseada nos designados accrualsdiscricionários(6).

Porém, conscientes das limitações desta medição, seleccio-námos ainda um conjunto de variáveis de controlo que aliteratura identifica como susceptíveis de explicar a manipu-lação de resultados, nomeadamente, a rendibilidade operacionaldos activos e dos capitais próprios, endividamento, cresci-mento e tipo de auditor (Martinez, 2001; Bartov et al., 2001;Burgahler et al., 2003; Butler et al., 2004; Gallén et al., 2005e Moreira, 2006). Optámos ainda por utilizar um modelolargamente testado e aceite em estudos anteriores na mediçãodos accruals discricionários, o modelo de Jones modificado(1995).

Os resultados obtidos indicam que existe associação esta-tística significativa entre a manipulação dos resultados(7) e aopinião de auditoria, decorrente de motivações dos gestoresque visam aumentar ou diminuir os resultados, sugerindo aeficácia dos auditores. No entanto, encontramos divergênciasquanto ao nível de exigência dos auditores, resultante doeventual risco de litígio, também discutido na literatura (Beckeret al., 1998; Francis et al., 1999; Segura, 2001 e Piot et al.,2004).

O artigo encontra-se estruturado do seguinte modo: noponto 1 refere-se a introdução e o objectivo, no ponto 2 arevisão da literatura relativamente à manipulação dos resulta-dos contabilísticos e à qualidade da auditoria, no ponto 3 ametodologia utilizada, no ponto 4 a amostra e as medidas deestatística descritiva e nos pontos 5 e 6 evidenciam-se osresultados obtidos e a análise adicional. O ponto 7 refere asconclusões e o ponto 8 as principais limitações.

2. INVESTIGAÇÃO PRÉVIA: MANIPULAÇÃO DERESULTADOS E QUALIDADE DE AUDITORIA

A teoria da agência explica os conflitos de interessesexistentes entre os gestores e os accionistas, com implicaçõesnas motivações para a manipulação dos resultados, uma vezque os primeiros poderão privilegiar os seus interesses emdetrimento do património dos accionistas. Estes conflitos deinteresses são também identificados nas relações de agênciaestabelecidas com outros stakehorders, na perspectiva dainexistência de contratos perfeitos para regulação das partes.

A investigação empírica prévia tem identificado diversosincentivos para a manipulação de resultados, nomeadamentedecorrentes da existência de planos de remuneração dos gestoresindexados aos resultados contabilísticos, elevado nível deendividamento das empresas, baixa rendibilidade ou abaixodas expectativas, custos políticos e redução do pagamento deimpostos (Scott et al., 2003).

Healy (1985), Balsam (1998) e Gul et al. (2003), estuda-ram a associação entre os accruals discricionários, enquantomedida próxima para a manipulação de resultados e as remu-nerações dos gestores, concluído pela existência de umarelação estatística positiva entre estas variáveis.

No domínio do endividamento, DeFond et al. (1994) eMoreira (2006), encontraram uma associação positiva com amanipulação dos resultados, no argumento que as empresasendividadas poderão estar mais perto de não cumprir determi-nadas cláusulas contratuais. No entanto, outros autores (Garciaet al., 2004; Piot et al., 2004; Bauwhede et al., 2003 e Butleret al., 2004) encontraram resultados contrários, na perspectivade que as empresas endividadas adoptam atitudes prudentes,como forma de obter credibilidade junto dos financiadores.

A rendibilidade é também geradora de motivações para aprática de manipulação dos resultados contabilísticos. Martinez(2001), Gallén et al. (2005), Burgstahler (2003) e Moreira(2006), mostram que as empresas com pequenos lucros apre-sentam maior evidência de terem manipulado os resultadoscontabilísticos. Martinez (2001) e Butler et al. (2004) verifi-caram, adicionalmente, que as empresas manipulam os resul-tados em alta com o objectivo de manterem as expectativasdos investidores. No entanto, as empresas de maior dimensãoque enfrentam elevada visibilidade pública poderão sentirmotivações para baixar os resultados contabilísticos, paraevitar a intervenção das autoridades reguladoras ou a reivin-dicação de maiores níveis salariais ou de dividendos (Jones,1991 e Cahan, 1992). Alguns estudos empíricos tambémindicam que as empresas alteram o resultado contabilísticocom a finalidade de reduzir o pagamento de impostos (Boyntonet al., 1992, Wang, 1994 e Pellicer et al., 2004).

Considerando o papel da auditoria, esta encontra a sualegitimidade técnica na redução dos conflitos de interessesentre os responsáveis pela prestação de contas e os utilizadoresda informação financeira, onde se inserem as práticas demanipulação de resultados. DeAngelo (1981) define qualida-de de auditoria, como a probabilidade conjunta de que oauditor detecte deficiências na informação financeira e asrelate no relatório de auditoria.

A qualidade da auditoria tem sido equacionada na perspec-tiva que o rigor e independência do exame são característicasque poderão ser observadas pela dimensão da empresa de

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auditoria, com incentivos a manter um número elevado declientes ou pela sua reputação, vista na óptica da manutençãodo seu capital de imagem e credibilidade.

Alguns estudos empíricos realizados em empresas ameri-canas mostram existir uma relação estatística significativaentre os accruals discricionários e o tipo de auditor, concluin-do que as empresas auditadas por gabinetes de auditoria demaior dimensão apresentam níveis inferiores de manipulaçãode resultados (Becker et al., 1998; Francis et al., 1999 e Kimet al., 2003).

No entanto, a replicação deste tipo de estudos em empresasde países da Europa Continental, como França, Bélgica eEspanha, não têm encontrado evidência estatística entre osaccruals discricionários e a dimensão e reputação do auditor(Piot et al., 2004; Garcia et al., 2004 e Bauwhede et al., 2003).As justificações apresentadas para estes resultados, segundoos autores, estão associadas ao menor risco de litígio dosauditores nestes países e à estrutura de propriedade dominadapor grupos de accionistas maioritários.

Piot et al. (2004) também observaram em empresas fran-cesas que a contratação de uma empresa de auditoria de maiorreputação não é influenciada pela estrutura de propriedadeaccionista, mas sim por outras variáveis, designadamente adimensão, dispersão geográfica e a complexidade da audi-toria.

Outra corrente de investigação tem procurado associar amanipulação dos resultados às reservas de auditoria, na se-quência de outros estudos que têm observado que os auditoressão sensíveis à manipulação dos resultados contabilísticos, ouseja que os auditores devem intensificar as análises de audito-ria quando existem indícios de manipulação de resultados(Hirst, 1994 e Henninger, 2000).

Palenzuela et al. (2000), a partir de uma amostra queintegra empresas que receberam reservas de auditoria porincumprimento dos princípios contabilísticos (PCGA), encon-trou uma associação estatística positiva entre os accrualsdiscricionários e este tipo de reservas. Bartov et al. (2001)partindo do pressuposto que as reservas por desacordo e asinconsistências na aplicação das normas contabilísticas esta-rão associadas à manipulação de resultados, encontrou tam-bém uma associação estatística entre os accruals discricioná-rios e o tipo de opinião de auditoria. Contudo, Butler et al.(2004) considera que estes resultados são contraditórios comas práticas de manipulação de resultados por estas se relacio-narem com a flexibilidade das normas contabilísticas. Nesteestudo (Butler et al., 2004), a associação negativa encontradaentre os accruals discricionários e as reservas de auditoria éatribuída pelos autores às empresas em que os auditoresobservaram incertezas quanto à continuidade, devido à maiorprobabilidade de ocorrência de accruals discricionários nega-tivos. As dificuldades financeiras enfrentadas por estas em-presas geram retenção de passivos que os modelos dos accrualscaptam indevidamente como accruals discricionários, sendoesta a razão para aquela associação.

Nesta sequência, a investigação empírica prévia não éconclusiva quanto à eficácia dos auditores na detecção damanipulação dos resultados, apesar das preocupações vigen-tes a nível da regulamentação legal e da profissão parapreservar a competência e independência dos auditores.

3. METODOLOGIA

3.1. Modelo de análise da associação entre os accrualsdiscricionários e a opinião de auditoria

No estudo utilizámos o modelo do logit. Este modelopermite estimar a probabilidade [P(Y)] de uma empresa rece-ber uma opinião qualificada dos auditores [P(Y) = 1].

A equação genérica do modelo é dada pela seguinte fórmu-la:

P(Y it ) = 1 (1)1+e–(α+β1X1+β2X2+β3X3+...+βnXn)

A variável dependente é uma variável binária que assumeos valores “1” e “0”, consoante a opinião dos auditores sejaqualificada ou não.

Como variáveis independentes utilizámos os accruals dis-cricionários (AD) e um conjunto de variáveis de controlorelativas à rendibilidade, endividamento, crescimento e tipode auditor.

Testamos a hipótese de investigação da probabilidade deuma empresa receber uma opinião qualificada de auditoriaaumentar para níveis de manipulação de resultados maiselevados.

Na selecção das variáveis de controlo partimos da premis-sa que as empresas identificadas pela pesquisa em contabili-dade, com motivações para a prática de manipulação deresultados serão também as que apresentam maior probabili-dade de receber opinião qualificada de auditoria. Assim, autilização das variáveis de controlo tem por objectivo aferiracerca destas práticas utilizadas pelos gestores.

Para a rendibilidade, seleccionámos as variáveis rendibi-lidade operacional dos activos e dos capitais próprios. Espe-ramos que as empresas com baixa rendibilidade ou mesmonegativa apresentem maior probabilidade de manipulação deresultados e por conseguinte esperamos uma associação nega-tiva com a opinião de auditoria. Porém, considerando que asempresas poderão manipular os resultados para evitar prejuí-zos admitimos a possibilidade que a variável rendibilidadedos capitais próprios apresente uma relação positiva com aopinião de auditoria. Para o endividamento, considerámos oendividamento total e não perspectivamos por prudência qual-quer sinal para a variável, atentas as divergências nos resulta-dos obtidos pela pesquisa prévia (Garcia et al., 2004; Piot etal., 2004 e Moreira, 2006). Para o crescimento, considerámosas variáveis evolução do volume de negócios e o rácio market--to-book. Esperamos que a primeira variável esteja associadaa empresas de baixa rendibilidade e por conseguinte com umcomportamento próximo da rendibilidade operacional. A variá-vel market-to-book, tem por objectivo verificar o efeito dasexpectativas de crescimento da empresa por parte dos inves-tidores. Nas situações em que possa existir manipulação deresultados por parte dos gestores para manter estas expectati-vas esperamos encontrar uma relação positiva com as obser-vações/reservas de auditoria.

A investigação prévia (Becker et al., 1998; Francis et al.,1999 e Kim et al., 2003) considera também que as maioresempresas internacionais de auditoria (Big 4)(8) têm níveis deexigência mais elevados quanto à manipulação de resultados,

Contabilidade FinanceiraContabilidade Financeira

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pelo que incluímos no modelo a variável tipo de auditor.Contudo, não perspectivamos qualquer relação estatística,considerando os resultados da pesquisa prévia realizada aonível dos países da Europa Continental.

Assim, o modelo utilizado no estudo apresenta as seguin-tes especificações:

Opinião de Auditoriait (1 – modificada; 0 – limpa) = α+β1ADit+β2 Tipo Auditorit+β3ROAit+β4RCPit+β5ENDit+β6MtoBit+β7ΔVENDit+εit (2)

Em que:• AD – Accruals discricionários;• Tipo de auditor – variável binária que assume o valor

“1”, se o auditor é uma Big 4 e “0”, em caso contrário;• Rendibilidade operacional dos activos (resultado

operacional / activo líquido) – ROA;• Rendibilidade dos capitais próprios (resultado líquido /

/ capitais próprios) – RCP;• Endividamento (passivo total / activo líquido) – END;• Evolução do volume de negócios (volume de negócios

de t / volume de negócios de t-1) – ΔVEND;• Market-to-book (capitalização bolsista / capital pró-

prio) – MtoB;• i, t – Índices para a empresa e ano, respectivamente(9).

3.2. Accruals discricionários

Para a determinação dos accruals discricionários segui-mos o modelo de Jones modificado (1995), secção transversal(cross-section), o qual se baseia na equação (3), seguinte.Bartov et al. (2001) consideram que esta versão do modelo deJones modificado encontra-se bem especificada para detectara manipulação de resultados.

ATit = α+β1(ΔVENDit–ΔCLIENTESit)+β2IMOBit+εit (3)

Em que:• AT – Accruals totais (resultado operacional – cash flows

operacionais), divididos pelo activo líquido;• ΔVEND – ΔCLIENTES – Variação do volume de negó-

cios (volume negócios t – volume negócios t-1), deduzidada variação das contas de clientes (clientes t – clientest-1), dividida pelo activo líquido;

• IMOB – Valor do mobilizado bruto (imobilizaçõescorpóreas e incorpóreas), dividido pelo activo líquido;

• α – Constante da regressão linear;• β1 – Coeficiente da variável (ΔVEND – ΔCLIENTES);• β 2 – Coeficiente da variável IMOB;• ε it – Resíduos da empresa i, no período t, que represen-

tam os accruals discricionários.

Os parâmetros para cálculo dos accruals não discricioná-rios foram estimados para cada sector de actividade e paratodos os anos da análise, em consonância com outros estudosque seguiram idêntico procedimento (Palenzuela et al., 2000e Gállen et al., 2005). Embora a maioria dos estudos empíricosque aplicaram a versão cross-section do modelo de Jonesmodificado (1995) determinem aqueles coeficientes para cada

sector e ano, estes apresentam geralmente amostras de elevadadimensão por recurso normalmente a bases de dados já cons-tituídas, comparativamente à amostra utilizada no presenteestudo.

Em face destas restrições da amostra, o risco deautocorrelação dos resíduos é mais elevado, pelo que contro-lámos os resultados obtidos através da estatística Durbin--Watson (DW), bem como de variáveis instrumentais para cadaum dos períodos em análise(10). Os resultados obtidos para umnível de significância de 0,05 são apresentados no Quadro 1.

Quadro 1 – Estimação do modelo de Jones modificado

ATit = α + β1(ΔVENDit–ΔCLIENTESit) + β2IMOBit + εit

Sectores N ααααα βββββ1 βββββ2 R2 R2 a Sig. DWIndustria 58 -0,008 0 -0,037* 36% 33% 0,000 1,760

Sig. teste t 0,302 0,982 0,000Const. O. Públicas 54 0,015 0,08 -0,038* 15% 11% 0,018 2,227

Sig. teste t 0,171 0,902 0,006Água, E. e Gás 26 -0,063* 0,026 -0,034* 30% 25% 0,011 2,180

Sig. teste t 0,000 0,493 0,004Com. e Serviços 72 -0,022*** 0,189* -0,032** 20% 18% 0,000 1,791

Sig. teste t 0,096 0,004 0,032

*p≤0,01; **p≤0,05; *** p≤0,1 (p = probabilidade)R2a – R2 ajustadoSig. – Estatística FN – Observações utilizadas após eliminação de outliersAT – Accruals totais divididos pelo activo líquido(ΔVEND – ΔCLIENTES) – Variação do volume de negócios deduzida

da variação de clientes, dividida pelo activo líquidoIMOB – Imobilizado bruto dividido pelo activo líquido.

No entanto, não obtivemos significância estatística paraas empresas do sector cimentos e materiais de construção.Assim, não tendo sido obtida evidência de manipulaçãode resultados para este sector, de acordo com a metodolo-gia seguida no estudo, eliminámos estas observações da aná-lise.

Para os restantes sectores obtivemos coeficientes signifi-cativos que permitiram rejeitar a hipótese nula, sendo os sinaisobtidos para as variáveis independentes consistentes com apesquisa prévia. O sinal positivo da variável relativa à varia-ção do volume de negócios indica que a evolução dos accrualsocorre no mesmo sentido desta variável. Quanto à associaçãonegativa entre os accruals e o imobilizado, tal efeito decorredos acréscimos/decréscimos das amortizações do exercícioem menores/maiores níveis de accruals.

O R2 obtido varia entre 15% e 36%, não sendo necessária,de acordo com Gallén et al. (2005), a obtenção de elevadosvalores do coeficiente de determinação, devido à alta variânciados resíduos.

4. AMOSTRA E MEDIDAS DE ESTATÍSTICA DESCRI-TIVA

4.1. Amostra e dados

A amostra utilizada na presente investigação é constituídapor 106 empresas com valores admitidos a cotação nas Bolsas

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de Valores de Portugal e Espanha (Quadro 2). Considerámosum período compreendido entre 2002 e 2004, abrangendoassim três exercícios contabilísticos com características está-veis ao nível da aplicação de normativos de contabilidade. Apartir de 2005, as empresas com valores admitidos a cotaçãona União Europeia passaram a estar obrigadas a aplicar asnormas do IASB, o que constitui uma limitação para incluir-mos este exercício no estudo.

Na selecção da amostra partimos de uma análise dasempresas portuguesas, com informação financeira disponívelno período objecto de estudo, excluindo as empresas abrangidaspelo Plano de Contas para o Sistema Bancário, face às especi-ficidades das regras contabilísticas relativamente ao POC.

Não incluímos na amostra as empresas do sector da distri-buição alimentar, uma vez que, regra geral, estas possuemnecessidades de fundo de maneio negativas, susceptíveis deconduzirem à obtenção de accruals negativos (Fuentes, 2001),o que poderia originar perturbação nos resultados.

Na amostra das empresas espanholas, incluímos todas asempresas do sector da construção, sector da água, energia egás e as do sector de cimentos e materiais de construção, cujainformação financeira para os três anos da análise se encontra-va disponível no site da Comissão Nacional do Mercado deValores de Espanha (CNMV). Relativamente ao sector daindustria transformadora e sector do comércio e serviços,devido ao número elevado de empresas espanholas nestessectores, o critério de selecção consistiu em encontrar empre-sas com actividades semelhantes(11) às empresas portuguesasincluídas na amostra.

Quadro 2 – AmostraEm Número

Sectores Portuguesas Espanholas TotalIndustria 7 23 30Construção e Obras Públicas 7 15 22Água, Energia, Gás e Petróleos 3 11 14Cimentos e Materiais de Construção 4 6 10Comércio e Serviços 16 14 30Total 37 69 106

4.2. Medidas de estatística descritiva

Na análise das medidas de estatística descritiva separámosa amostra entre as empresas com opinião qualificada e nãoqualificada e dividimos a variável accruals discricionáriosentre os valores negativos e positivos (Quadro 3).

A separação dos accruals discricionários é justificadapelas diferentes motivações para a manipulação dos resulta-dos e em consonância com a pesquisa prévia (Jeong et al.,2004 e Bauwhede et al., 2003). As empresas que estão acimado objectivo poderão apresentar incentivos para reduzir oresultado, com a finalidade de pagar menos impostos, dividen-dos e evitar custos políticos. Enquanto que as empresas queestão abaixo do objectivo têm motivações para aumentar oresultado, por via dos prémios dos gestores, contratos definanciamento ou permitir a ilusão de resultados crescentesjunto dos investidores.

Quadro 3 – Medidas de estatística descritiva por tipo de opiniãode auditoria

Descrição ADAT ROA RCP END ΔΔΔΔΔVEND MtoB

Vol. Neg.Neg. Posit. (*)

Painel A: Opinião QualificadaMédia -0,048 0,209 0,003 0,009 0,023 0,682 0,977 1,488 590Mediana -0,008 0,038 -0,043 0,022 0,036 0,695 0,994 0,957 97Desvio padrão 0,012 0,093 0,042 0,010 0,686 0,023 0,036 0,276 247Kurtose 41,59 20,92 45,328 50,947 12,043 0,690 29,763 11,879 103,194Skewness -5,82 4,56 6,198 -5,894 -0,257 0,044 -3,851 2,775 9,924Mínimo -1,066 0 -1,082 -0,92 -3,410 0,088 -2 -5,224 0,040Máximo 0 3,610 3,591 0,208 2,806 1,537 2,067 15,68 28.411N 62 48 117 117 117 117 117 93 117

Painel B: Opinião limpaMédia -0,02 0,077 -0,017 0,054 0,036 0,618 1,139 2,242 2.574Mediana 0 0,036 -0,028 0,054 0,117 0,646 1,049 1,770 359Desvio padrão 0,004 0,021 0,011 0,005 0,056 0,012 0,066 0,144 426Kurtose 46,12 38,38 57,082 9,953 162,497 0,321 161,523 11,285 19,163Skewness -5,858 5,919 6,250 -1,310 -12,209 -0,401 12,231 2,884 4,125Mínimo -0,488 0 -0,518 -0,394 -10,525 0,093 0,539 -0,777 3Máximo 0 1,53 1,507 0,285 0,802 1,134 13,72 13,434 40.585N 86 92 201 201 201 201 201 173 201

Em que:(*) Unidade – Em 103 milhares de eurosN – Número de observaçõesAD Neg. – Accruals discricionários negativosAD Posit. – Accruals discricionários positivosAT – Accruals totais divididos pelo activo líquidoRCP – Resultado líquido / capitais própriosROA – Resultado operacional / activo líquidoEND – Passivo total / activo líquidoΔVEND – Volume de negócios de t / volume de negócios de t-1MtoB (Market-to-book) – Capitalização bolsista / capital próprioVol. Neg. – Volume de negócios (vendas + prestações de serviços).

Os accruals discricionários das empresas com opiniãoqualificada de auditoria são em média superiores (-0,048 e0,209) aos das empresas com opinião limpa (-0,02 e 0,077). Aanálise da mediana conduz, essencialmente, à mesma conclu-são (opinião qualificada: –0,008 e 0,038; e opinião limpa: 0 e0,036).

Verificamos também que as empresas com opinião quali-ficada possuem baixos níveis de rendibilidade. A média e amediana do ROA são de respectivamente de 0,009 e 0,022, nasempresas com opinião qualificada, enquanto que nas empre-sas com opinião limpa estes dois indicadores apresentam ovalor de 0,054. Por outro lado, observamos que as empresascom opinião qualificada apresentam níveis de estagnação dovolume de negócios ou mesmo decréscimos acentuados. Amédia e a mediana desta variável (ΔVEND) apresentam valo-res de respectivamente 0,977 e 0,994 nas observações comopinião qualificada (ou seja decréscimos de 2,3% e de 0,6%),enquanto nas observações com opinião limpa os mesmosindicadores apresentam valores de 1,139 e 1,049 (ou sejaacréscimos de 13,9% e 4,9%).

As empresas com opinião qualificada apresentam menordimensão relativamente às restantes empresas da amostra,avaliada pela variável volume de negócios. A média e amediana desta variável nas empresas com opinião qualificadasão de respectivamente 590 e 97 103 milhares de euros,enquanto que nas empresas com opinião limpa estes indicado-res apresentam valores de 2.574 e de 359 103 milhares deeuros.

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No que respeita ao rácio market-to-book, verificamosque a média e a mediana das empresas com opinião quali-ficada (respectivamente de 1,488 e de 0,957) são inferioresà média e mediana das empresas com opinião limpa (respec-tivamente de 2,242 e 1,770). Tais resultados podem consti-tuir uma indicação da menor expectativa de crescimentoatribuída pelos investidores às empresas com opinião qualifi-cada.

Constatamos também diferenças nas medidas de estatísti-ca descritiva ao nível das empresas portuguesas e espanho-las(12). No período em análise, a rendibilidade das empresasportuguesas é inferior à das empresas espanholas (a média e amediana da rendibilidade operacional dos activos é de respec-tivamente 2,4% e 2,9% para as empresas portuguesas e de4,5% e 4,9% para as espanholas). As empresas portuguesasapresentam também maior endividamento (a média e a medi-ana deste indicador é de respectivamente, 72,1% e 74,0%,para as empresas portuguesas e 59,8% e 61,4% para asespanholas) e alguma estagnação no que respeita à evoluçãodo volume de negócios (média e mediana, respectivamente, de0% e de 1,8% para as empresas portuguesas e de 11,8% e 4,4%para as espanholas). No que respeita à dimensão aferida pelovolume de negócios, a média na amostra das empresas portu-guesas representa cerca de 26% da média na amostra dasempresas espanholas.

As variáveis binárias, opinião de auditoria, tipo de auditor,tipo de reservas e observações de auditoria, são apresentadase comentadas em separado (Quadro 4).

Quadro 4 – Distribuição na amostra das variáveis binárias

Empresas Opinião Tipo Auditor Tipo reservasQualif. Limpa Big 4 Outros Incertezas Desacordo Outras

Portuguesas 60 51 43 68 23 18 19% 51,2% 25,3% 19,2% 71,6% 48,9% 48,6% 59,4%

Espanholas 57 150 180 27 24 19 14% 48,8% 74,7% 80,8% 28,4% 51,1% 51,4% 40,6%

Total 117 201 223 95 47 37 33% 36,8% 63,2% 70,1% 29,9% 40,5% 31,9% 27,6%

Em que:Qualif. – Opinião qualificadaBig 4 – Principais empresas internacionais de auditoria

Do total das 318 observações/ano, 117 com a representa-tividade de 36,8% respeitam a demonstrações financeiras comobservações/reservas dos auditores, das quais 51,2%correspondem a empresas portuguesas e 48,8% a empresasespanholas. Os estudos empíricos realizados em Espanhaapresentam amostras semelhantes (Segura, 2001: 34% eBarbadillo, 2002: 32%).

Na amostra, a maioria das empresas com valores admiti-dos nas Bolsas de Valores de Espanha foram auditadas porBig 4, enquanto que nas empresas portuguesas isso não severifica.

No que respeita ao tipo de reservas, a maioria das observa-ções com reservas respeitam a incertezas (cerca de 40,5%) ea reservas por desacordo (cerca de 31,9%), sendo as restantes(27,6%) relativas a limitações de âmbito, faltas de consistên-cia e incertezas por continuidade.

5. RESULTADOS EMPÍRICOS

Os resultados obtidos, com separação da amostra entre asempresas portuguesas e espanholas, são apresentados no Qua-dro 5.

Quadro 5 – Estimação do modelo logit

Opinião de Auditoriait (1 – modificada; 0 – limpa) = α + β1ADit +β2AxADit + β3Tipo Auditorit+β4ROAit + β5RCPit + β6ENDit + β7MtoBit+ β8ΔVENDit + εit

Empresas Portuguesas Empresas EspanholasVariáveis/ Método Enter Mét. Forward LR Método Enter Mét. Forward LRParâmetros βββββ Sig. βββββ Sig. βββββ Sig. βββββ Sig.AD 10,123 0,262 1,28** 0,023 1,299** 0,019AxAD -46,934** 0,041 -43,889* 0,013 -7,041* 0,009 -6,229** 0,013Tipo Auditor -0,918*** 0,093 -1,084** 0,044 -970** 0,05 -0,988** 0,042ROA -29,923* 0,000 -31,993* 0,000 -5,489*** 0,104 -5,838** 0,05RCP 1,483* 0,001 1,474* 0,000 0,42 0,434END -1,409 0,411 0,083 0,927MtoB -0,169 0,257 -0,107 0,284ΔVEND -1,766 0,335 -1,528*** 0,055 -1,629** 0,044 α 4,234*** 0,095 1,399 0,156 1,476*** 0,086Qui2 36,126 38,182 37,847 35,089Sig. Qui2 0,000 0,000 0,000 0,000-2 Log likelihood 92,514 88,662 184,441 189,199R2 Nagelkerke 43% 45% 26% 25%% correcta 75% 79% 77% 76%N 96 96 189 189Outliers a) 3 a) 3 0 0

*p≤0,01; **p≤0,05;*** p≤0,1 (p = probabilidade)Sig. – Estatística de Wald(13)

N – Observações utilizadas após eliminação de outliersa) Observações de uma empresa com accruals discricionários eleva-

dos e sem reservas de auditoriaAD – Accruals discricionáriosAxAD – Variável dummy (binária) que assume o valor “1” se os

accruals discricionários forem negativos e “0” em caso contráriox os accruals discricionários

Tipo de auditor – Variável dummy (binária) que assume o valor “1”se o auditor for uma Big 4 e “0” em caso contrário

ROA – Rendibilidade operacional dos activos (resultado operacio-nal / activo líquido)

RCP – Rendibilidade dos capitais próprios (resultado líquido / capi-tais próprios)

END – Endividamento (passivo total / activo líquido)MtoB – Market-to-book (capitalização bolsista / capital próprio)ΔVEND – Evolução do volume de negócios (volume de negócios de

t / volume de negócios de t-1).

Considerando a provável influência dos accruals discri-cionários negativos na estimação do coeficiente da variávelaccruals discricionários, introduzimos no modelo uma variá-vel artificial com o valor daqueles, de modo a verificar o seuefeito na correspondente variável dos accruals discricioná-rios. Utilizámos adicionalmente o método Forward LR naestimação do modelo logit para verificar eventuais problemasde multicolinearidade entre as variáveis exógenas, de acordocom Pestana (2005). Os resultados obtidos para o métodoEnter, que considera todas as variáveis do modelo, e o métodoForward LR que exclui as variáveis que não apresentam poderexplicativo, são muito semelhantes, permitindo aferir a nãorelevância de distorções relativas a multicolinearidade.

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5.1. Empresas portuguesas

As variáveis significativas nas empresas portuguesas (96observações) são os accruals discricionários negativos (variá-vel AxAD), rendibilidade operacional dos activos, rendibilidadedos capitais próprios e tipo de auditor. A variável accrualsdiscricionários apesar de apresentar sinal positivo, coerentecom a pesquisa prévia, não se revelou estatisticamente signi-ficativa(14).

O efeito da variável AxAD (accruals discricionários nega-tivos) apresenta sinal negativo na associação com a opinião deauditoria. Este resultado indica que a probabilidade de umaempresa receber reservas de auditoria aumenta para níveis deaccruals discricionários de valor negativo elevado, os quaisestão associados à utilização pelas empresas de políticascontabilísticas conservadoras.

Verificamos que a associação das variáveis de controlorelativas à rendibilidade com a opinião de auditoria poderá serindicativa de práticas de manipulação positiva de resultados.A variável rendibilidade operacional dos activos, de sinalnegativo, indica que a probabilidade de uma opinião qualifi-cada de auditoria aumenta para níveis de rendibilidadeoperacional deprimidos, o que se revela coerente com as práti-cas para aumentar os resultados contabilísticos. Esta avaliaçãoé corroborada pela associação positiva que se verifica entre aopinião de auditoria e a variável rendibilidade dos capitaispróprios. Assim, o resultado obtido poderá decorrer do factodas empresas evitarem o reconhecimento e reporte de prejuí-zos contabilísticos, conforme é salientado por Gallén et al.(2005) e Moreira (2006).

Segura (2001), num estudo realizado em Espanha com autilização do modelo logit, demonstrou que a existência deprejuízos é uma das principais variáveis significativas naexplicação das reservas de auditoria. Outros estudos encontra-ram uma associação negativa entre os accruals discricionáriose a rendibilidade operacional dos activos (Butler, 2004). Destemodo, a associação encontrada para as variáveis derendibilidade confirmam as nossas expectativas iniciais, estan-do associadas à manipulação de resultados com consequênciasna opinião de auditoria.

A significância estatística da variável tipo de auditor éindicativa de que a probabilidade de uma empresa receberreservas de auditoria diminui se esta for realizada por uma Big4. Este resultado, parece indicar que estas empresas poderãoestar associadas a menores níveis de manipulação de resulta-dos, em consonância com a pesquisa prévia (Becker et al.,1998; Francis et al., 1999 e Kim et al., 2003). No entanto talresultado carece de confirmação, o que se desenvolve noponto seguinte, mediante a realização de análises adicionais.

5.2. Empresas espanholas

Nas empresas espanholas (189 observações), as variáveissignificativas são os accruals discricionários, o tipo de audi-tor, a rendibilidade operacional dos activos e a evolução dovolume de negócios.

A associação positiva entre a variável accruals discricio-nários e a opinião de auditoria indica que a probabilidade deuma empresa receber reservas de auditoria aumenta para

níveis mais elevados de accruals discricionários. Este resulta-do sugere que as empresas que utilizam práticas de manipula-ção para aumentar os resultados contabilísticos apresentammaior probabilidade de receber reservas de auditoria. A variá-vel introduzida no modelo para medir o impacte dos accrualsdiscricionários negativos (AxAD), apresenta também signifi-cância estatística de sinal negativo, o que também indica queestes estão associados às reservas de auditoria, resultadotambém obtido para as empresas portuguesas.

A relação obtida encontra-se em consonância com osresultados verificados por Bartov et al. (2001) e Palenzuela etal. (2000), tendo sido observada nestes estudos associaçãoestatística positiva entre a variável accruals discricionários ea opinião de auditoria. Contudo, Butler et al. (2004) replica-ram o modelo utilizado por Bartov et al. (2001), tendo obtidouma associação negativa naquela relação, resultado que estesautores consideram poder estar associado às empresas comreservas de auditoria por incerteza quanto à continuidade,anteriormente referido. Apesar da relação obtida não confir-mar os resultados verificados por Butler et al. (2004), analisa-mos no ponto seguinte, o efeito da relação entre os accrualsdiscricionários e o tipo de reservas de auditoria.

As variáveis de controlo relativas à rendibilidadeoperacional dos activos e à evolução do volume de negóciosque apresentam relação estatística negativa com a opinião deauditoria estão em consonância com o resultado evidenciadoquanto à variável accruals discricionários. Observa-se queesta relação ocorre nas empresas de menor rendibilidade emenor evolução do volume de negócios, isto é, com incentivospara a manipulação positiva dos resultados. Para além dapesquisa prévia ter obtido conclusões similares no que respei-ta à rendibilidade (Segura, 2001 e Butler et al., 2004), Bartovet al. (2001) também verificaram uma relação negativa naassociação entre as reservas de auditoria e a evolução dasvendas.

A variável tipo de auditor é significativa de sinal negativo,em consonância com o resultado também obtido para asempresas portuguesas.

5.3. Avaliação do modelo

O modelo, de acordo com os resultados obtidos pelométodo Enter, posiciona correctamente cerca de 75% dasobservações nas empresas portuguesas. Nas empresas espa-nholas, com uma amostra mais alargada, obtivemos resultadosbastante semelhantes de 77%.

A qualidade do ajustamento do modelo, dada pelo R2 deNagelkerke, apresenta indicadores de 43% e 26%, respectiva-mente para as empresas portuguesas e espanholas, indicandoa variação da opinião de auditoria que é explicada pelomodelo.

A significância estatística do Qui2 (probabilidade=0), per-mite confirmar o poder explicativo do modelo.

6. ANÁLISE DE ROBUSTEZ ADICIONAL

Para verificar a associação entre a manipulação de resulta-dos, o tipo de auditor e tipo de reservas de auditoria, replicá-

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mos o modelo de Butler et al. (2004), através da aplicação daseguinte equação:

ADit = α + β1Tipo Auditorit + β2ROAit + β3RCPit + β4ENDit +β5MtoBit + β6ΔVENDit + β7 (DES+CONS)it + β8 (CONT+INCERT)it + εit (4)

Introduzimos neste modelo as variáveis tipo de reservas,como duas variáveis binárias. A primeira com a designação(DES+CONS), que assume o valor “1” quando existem reser-vas por desacordo ou falta de consistência e “0” em casocontrário. A segunda variável com a designação de(CONT+INCERT) a que se atribui também o valor “1” quandoexistem reservas por incerteza, incerteza por continuidade(15)

ou limitações de âmbito e “0” em caso contrário. A introduçãodestas variáveis no modelo, visa verificar os tipos de reservasque apresentam associação estatística com os accruals discri-cionários (Butler et al., 2004).

Bartov et al. (2001) são de entendimento que pelo menosas reservas por desacordo e as faltas de consistência naaplicação de políticas contabilísticas estarão associadas aosaccruals discricionários, enquanto que Butler et al. (2004)consideram que a associação é devida à influência das empre-sas que receberam observações de auditoria quanto a incerte-zas por continuidade. Assim, a definição daqueles dois gruposde reservas tem por objectivo considerar no primeiro grupo aperspectiva de Bartov et al. (2001) e no segundo os outrostipos de reservas.

As restantes variáveis são as utilizadas como variáveis decontrolo no modelo logit já desenvolvido. Os resultados obti-dos na estimação do modelo são apresentados no Quadro 6.

Quadro 6 – Accruals discricionários

ADit = α + β1 Tipo Auditorit + β2ROAit + β3RCPit + β4ENDit +β5MtoBit + β6 ΔVENDit + β7 (DES+CONS)it + β8 (CONT+INCERT)it+ εit

Variáveis/ AD Negativos AD Positivos/Parâmetros B Sig. VIF βββββ Sig. VIFTipo Auditor -0,043* 0,007 1,343 -0,014*** 0,062 1,109ROA 0,842* 0 1,348 0,132*** 0,073 2,047RCP -0,027* 0 1,491 -0,01 0,432 1,805END 0,055*** 0,095 1,085 -0,004 0,824 1,205MtoB -0,01* 0,005 1,216 0,003*** 0,078 1,49ΔVEND -0,013 0,591 1,156 -0,003 0,735 1,081(DES+CONS) -0,023 0,275 1,241 0,021** 0,019 1,107(CONT+INCERT) -0,041* 0,015 1,395 0,001 0,953 1,239α -0,042 0,262 0,041** 0,019 R2 58% 16%R2 Ajustado 55% 10%Sig. Estatística F 0 0,007Durbin-Watson 1,521 1,996N 148 129Outliers 0 a) 11

*p≤0,01; **p≤0,05;*** p≤0,1 (p = probabilidade)Sig. – Teste ta) Observações extremas e muito influentes com accruals discricio-

nários elevadosN – Observações utilizadas após eliminação de outliers(DES+CONS) – Variável binária que assume o valor “1”, se as

reservas de auditoria forem do tipo de desacordo ou ênfases

quanto à consistência na aplicação de políticas contabilísticas e“0” em caso contrário.

(CONT+INCERT) – Variável binária que assume o valor “1”, se asreservas ou ênfases de auditoria forem do tipo incertezas quantoà continuidade, incertezas fundamentais ou limitações de âmbitoe “0” em caso contrário.

As restantes variáveis são descritas no Quadro 5.

Porém, eliminámos 11 observações influentes e muitoextremas nas observações com accruals discricionários posi-tivos. Um primeiro grupo de 7 observações com valores deaccruals discricionários elevados e, essencialmente, sem re-servas de auditoria. Um segundo grupo de 4 observaçõesigualmente com accruals discricionários elevados, mas comreservas de auditoria que influenciam significativamente osresultados da variável tipo de auditor.

Os resultados obtidos permitem confirmar as hipótesesavançadas por Kim et al. (2003), quanto à variável tipo deauditor. Os accruals discricionários positivos são inferioresnas empresas auditadas pelas Big 4. No que respeita àsempresas com accruals discricionários negativos estes são devalor superior quando auditadas por estas empresas de audito-ria. Esta situação parece denotar que as Big 4 são maisexigentes para os seus clientes que manipulam os resultadospara cima e mais flexíveis na situação inversa. Este resultadoque consideramos poder estar associado ao risco de visibilida-de pública, perda de reputação e potenciais encargos resultan-tes de litígios, poderá levar a que as Big 4 concentrem esforçosem dissipar este risco, nas empresas que sobreavaliam osresultados.

Relativamente à associação entre os accruals discricioná-rios e o tipo de reservas, os resultados obtidos sugerem que asreservas por desacordo e as observações de auditoria quanto àfalta de consistência estão associadas estatisticamente aosaccruals discricionários positivos. As restantes reservas eobservações de auditoria (incertezas fundamentais, incertezapor continuidade e limitações de âmbito) apresentam maiorassociação com os accruals discricionários negativos.

Segundo a classificação das reservas de auditoria adoptadapela pesquisa prévia, face à gravidade dos procedimentosutilizados pelas empresas (Segura, 2001 e Barbadillo et al.,2002), observamos na mesma perspectiva de Becker et al.(1998), que os gestores utilizam políticas contabilísticas maisagressivas na sobreavaliação dos resultados relativamente àsusadas na inerente subavaliação.

Assim, os resultados obtidos indicam existir uma associa-ção estatística entre a opinião de auditoria e os accrualsdiscricionários, quer estes sejam positivos, quer negativos,constatação que é consistente com os resultados obtidos porBartov et al. (2001).

A relação estatística que também se observa entre osaccruals discricionários positivos e a variável market-to-booké indicativa que as empresas utilizam os accruals para man-terem as expectativas dos investidores. No entanto, tal efeitonão é observado relativamente à opinião de auditoria. Esteresultado poderá significar uma maior exigência dos auditoresrelativamente às empresas com níveis de rendibilidade maisbaixos, o que se revela consistente com a pesquisa prévia,conforme refere Segura (2001), ao constatar que a existênciade prejuízos é um dos principais factores para explicar aemissão de uma opinião qualificada pelos auditores.

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Considerando, ainda, a perspectiva que considera que osaccruals discricionários poderão não justificar a manipulaçãode resultados nas empresas ibéricas, devido à regulamentaçãodas taxas de amortização do imobilizado, replicámos o mode-lo logit utilizado, considerando apenas os accruals discricio-nários de curto prazo(16), bem como o efeito destes no modelode Butler (2004).

Conforme se pode verificar pelos resultados obtidos que seapresentam no Anexo 1 (Modelo 1), a associação estatísticaentre os accruals discricionários e a opinião de auditoriatambém se verifica quando se analisa apenas a componente decurto prazo.

Os resultados obtidos através da replicação do modelo deButler et al. (2004) (Modelo 2 do Anexo 1), permitem tambémconfirmar a associação estatística entre estes e as reservas deauditoria. No entanto, não foi obtida significância estatísticapara a variável tipo de auditor relativamente aos accrualsdiscricionários positivos de curto prazo, apesar do sinal nega-tivo da variável e da probabilidade ser já bastante baixa(0,131).

7. CONCLUSÕES

A presente investigação incidiu sobre a associação entre amanipulação dos resultados contabilísticos e a opinião deauditoria, num conjunto de empresas ibéricas, para o períodode 2002-2004. Extraímos como principal conclusão a existên-cia de uma relação estatística significativa entre a opinião deauditoria e a manipulação de resultados. Esta relação docu-menta que as empresas que seguem estas práticas para aumen-tarem ou reduzirem os resultados contabilísticos apresentammaior probabilidade de receberem uma opinião qualificada deauditoria. O resultado obtido sugere a eficácia dos auditoresna detecção da manipulação de resultados e que tal factoinfluencia a sua opinião de auditoria.

Da análise do tipo de reservas de auditoria verificamos queas reservas por desacordo e as faltas de consistência naaplicação dos PCGA, apresentam maior associação com amanipulação que visa aumentar os resultados contabilísticos.Para as restantes reservas e ênfases de auditoria (incertezasfundamentais, incertezas quanto à continuidade e limitaçõesde âmbito) verificamos uma maior associação com a manipu-lação para reduzir os resultados contabilísticos.

Considerámos outras variáveis susceptíveis de justificar amanipulação de resultados, nomeadamente, o nível derendibilidade, de endividamento e de crescimento.

Os resultados obtidos indicam que as empresas com meno-res níveis de rendibilidade e de crescimento são mais suscep-tíveis de receber uma opinião qualificada de auditoria. Estaconstatação sugere existir da parte dos auditores uma maioreficácia na detecção de práticas manipulativas quando exis-tem indicações de maior fragilidade económica e financeira daempresa.

Apesar deste resultado e em conformidade com a investi-gação empírica prévia, foi obtida evidência estatística de quealgumas empresas rentáveis e de valor de mercado elevadoapresentam também indícios de manipulação de resultados.

A rendibilidade operacional dos activos é a principalvariável associada à obtenção de reservas de auditoria, surgin-

do relacionada com as diminuições dos resultadoscontabilísticos. A rendibilidade dos capitais próprios é signi-ficativa apenas nas empresas portuguesas e somente associadaàs manipulações para aumentar os resultados. A variávelendividamento não apresenta relação estatística com as reser-vas de auditoria, tendo sido obtida evidência estatística que asempresas mais endividadas da amostra seguem políticascontabilísticas mais conservadoras.

O efeito da variável tipo de auditor (Big 4 ou não-Big 4),indica que as maiores empresas internacionais de auditoriaestão associadas a menor propensão para a emissão de reser-vas de auditoria. Pelo contraste desta variável com os accrualsdiscricionários, observa-se que as empresas com motivaçõespara aumentar os resultados, apresentam menores níveis demanipulação de resultados, quando auditadas por aquelasempresas de auditoria. Porém, relativamente às empresas comincentivos para baixar os resultados, verifica-se uma situaçãocontrária, querendo significar maior tolerância, por parte dasBig 4, perante a utilização de políticas contabilísticas maisconservadoras. Este resultado sendo contrário aos estudosrealizados em amostras que incidiram sobre empresas daEuropa Continental, encontra-se, porém, em consonância comoutros estudos realizados na América do Norte. A explicaçãoplausível para esta constatação é encontrada na visibilidadepública a que estas empresas de auditoria ficaram sujeitasapós os escândalos financeiros ocorridos no passado recentesugerindo uma alteração relativamente ao período anterior àfalência da Enron.

8. LIMITAÇÕES

As diferentes condições económicas constatadas entre asempresas portuguesas e espanholas são geradoras de limita-ções na medição dos accruals discricionários. O reduzidonúmero das empresas portuguesas cotadas impede a determi-nação do valor da variável ao nível de cada um dos países.Esta limitação pode potencialmente conduzir a valores abso-lutos mais altos de accruals discricionários, em face docrescimento das empresas espanholas relativamente às empre-sas portuguesas, no período da análise. Esta distorção, emnossa opinião, não é susceptível de interferir de forma signi-ficativa nos resultados obtidos, face à consistência com ainvestigação prévia e tendo ainda em conta o comportamentodas variáveis de controlo.

As diferenças existentes nas normas contabilísticasao nível das empresas portuguesas e espanholas são igualmen-te geradoras de limitações na determinação dos accrualsdiscricionários. Apesar dos ajustamentos efectuados paraefeitos desta análise, as demonstrações financeiras das empre-sas espanholas não apresentam a demonstração dos fluxosde caixa, no período em análise, o que gerou a necessidadede cálculo dos fluxos de caixa operacionais destas, pelométodo indirecto, conduzindo necessariamente também amaior perturbação nos dados. Esta questão encontra-seactualmente ultrapassada, com a aplicação das normas doIASB a partir de 2005, pelo que é deixada para futurasinvestigações.

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ANEXO 1Análise de robustez adicional

Modelo 1 – Opinião de Auditoriait (1–modificada; 0–limpa)= α + β1ADcpit + β2AxAdcpit + β3Tipo Auditorit + β4ROAit +β5RCPit + β6ENDit + β7MtoBit + β8ΔVENDit + εit

Modelo 2 – ADcpit = α + β1Tipo Auditorit + β2ROAit + β3RCPit+ β4ENDit + β5MtoBit + β6 ΔVENDit + β7 (DES+CONS)it + β8(CONT+INCERT)it + εit

Modelo 1 (Opinião de auditoria) Modelo 2 (Accruals Discr. cp)Variáveis/ Emp. Portuguesas Emp. Espanholas Negativos PositivosParâmetros βββββ Sig. βββββ Sig. βββββ Sig. βββββ Sig.ADcp 12,303** 0,049 4,629** 0,058 - - - -AxADcp -28,762** 0,021 -9,060*** 0,010 - - - -Tipo Auditor -0,429 0,393 -0,772 0,132 -0,029*** 0,061 -0,034 0,131ROA -16,409* 0,014 -5,977*** 0,082 0,854* 0,000 0,015 0,935RCP 0,690** 0,049 0,330 0,559 -0,020 0,127 -0,003 0,805END 2,701 0,134 0,193 0,829 0,030 0,360 -0,151* 0,007MtoB -0,264*** 0,076 -0,086 0,369 -0,009* 0,007 0,005 0,255ΔVEND 0,135 0,922 -1,271*** 0,083 -0,033 0,178 0,018 0,399(DES+CONS) - - -0,019 0,345 0,054** 0,022(CONT+INCERT) - - -0,031*** 0,083 0,026 0,386 α -1,481 0,478 0,914 0,334 -0,018 0,642 0,141* 0,003Qui2 26,973 30,382Sig. Qui2 0,001 0,000-2 Log likelihood 108,558 190,045R2 Nagelkerke 32% 22%% correcta 75% 77%R2 52% 14%R2 Ajustado 50% 8%Durbin-Watson 1,707 2,033N 99 186 165 117Outliers a) 0 3 0 6

*p≤0,01; **p≤0,05;*** p≤0,1 (p = probabilidade)Sig. – Estatística de WaldSig. t – Teste tN – Observações utilizadas após eliminação de outliersa) Observações com accruals discricionários de curto prazo mais

elevadosADcp – Accruals discricionários – curto prazoAxADcp – Variável dummy (binária) que assume o valor “1” se os

accruals discricionários de curto prazo forem negativos e “0” emcaso contrário x os accruals discricionários de curto prazo

Tipo de auditor – Variável dummy (binária) que assume o valor “1”se o auditor for uma Big 4 e “0” em caso contrário

ROA – Rendibilidade operacional dos activos (resultado operacio-nal / activo líquido)

RCP – Rendibilidade dos capitais próprios (resultado líquido / capi-tais próprios)

END – Endividamento (passivo total / activo líquido)MtoB – Market-to-book (capitalização bolsista / capital próprio).ΔVEND – Evolução do volume de negócios (volume de negócios de

t / volume de negócios de t-1).

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(1) Joseph Stiglitz foi prémio Nobel da Economia em 2001.(2) International Federation of Accountants.(3) International Standard on Auditing (da IFAC).(4) International Accounting Standards Board.(5) Comissão Europeia.(6) O termo accruals utilizado neste estudo corresponde à diferença entre o

resultado do período e os fluxos de caixa operacionais e consequentementetem um significado mais amplo do que o da conta 27 – Acréscimos ediferimentos prevista no POC.

(7) A manipulação de resultados considerada respeita à utilização pelosgestores da flexibilidade das normas contabilísticas e às derrogações dosPCGA, distinguindo-se da fraude por esta envolver informação financeiraextremamente enganosa.

(8) Actualmente, Pricewaterhousecoopers, KPMG Peat Marwick, DeloitteTouche e Ernst & Yong.

(9) Nas fórmulas seguintes do modelo não são indicados os índices i, t.(10) O resultado destas variáveis não revelou significância estatística.(11) Por exemplo, a inclusão na amostra da Portugal Telecom portuguesa

determinou a selecção da Telefónica espanhola.(12) Esta análise por uma questão de espaço não é evidenciada. Apesar da

amostra não incluir todas as empresas espanholas, importa referir queforam seleccionadas as que apresentam a mesma actividade das empresasportuguesas.

(13) Semelhante ao teste t da regressão múltipla (Pestana, 2005, p. 291).(14) Quando se analisa a componente de curto prazo dos accruals discricioná-

rios, verifica-se existir uma relação estatística positiva com a opinião deauditoria, nas empresas portuguesas (cfr. Anexo 1).

(15) O número reduzido deste tipo de observações de auditoria é impeditivo deverificarmos o seu efeito de forma individual.

(16) Os accruals (AT) de curto prazo foram calculados do seguinte modo:[Δ(Activo Circulante – Disponibilidades) – Δ(Passivo Circulante – Finan-ciamentos Curto Prazo)], ou seja retirando o efeito das amortizações doexercício. No cálculo dos accruals discricionários utilizámos o seguintemodelo: ATit = α + β1 (ΔVENDit-ΔCLIENTESit)+εit.

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JORNAL DE CONTABILIDADE N.º 379 • OUTUBRO 2008 337

No Verão de cada ano muitas pessoas recebem do fisco oreembolso do IRS relativo à declaração do ano transacto.Trata-se, na maioria dos casos, de pessoas que têm rendimen-tos do trabalho dependente ou pensões e para as quais asretenções na fonte foram superiores ao imposto liquidado. Talsituação pode advir, por exemplo, de deduções à colecta comvalores significativos, do facto de o algoritmo de cálculo dapercentagem mensal de retenção na fonte estar ajustado paraproduzir uma retenção mensal por excesso, ou de forte desi-gualdade no rendimento dos membros de um casal.

O quadro 1 apresenta valores para 2005 e 2006 quemostram que o IRS liquidado foi inferior às retençõesna fonte. Donde se conclui que se os contribuintes não apre-sentassem qualquer declaração, e não se verificasse portantoo confronto entre imposto retido e imposto efectivamentedevido, o Estado arrecadaria um montante de imposto supe-rior.

Claro que tal solução não é defensável, pois o IRS develevar em conta as condições pessoais do contribuinte – comoimposto pessoal, e não real, que é –; mas os dados ilustrambem a diferença entre o que o algoritmo das retenções produze o imposto liquidado.

Quadro 1: IRS – TOTAL DAS DECLARAÇÕES MODELO 3.VALORES LIQUIDADOS

(Valores em milhões de Euros)

RUBRICA 2005 2006 Variação05/06

Rendimento bruto total 72.172 75.531 4,7%Dedução especifica total 21.781 22.541 3,5%Rendimento líquido total 50.275 52.887 5,2%Rendimentos isentos suj. englobamento 56 57 1,7%Rendimento desportistas 87 66 -24,1%Total rendimentos c/ benefícios fiscais 142 123 -14,0%Rendimento colectavel 50.123 52.736 5,2%Colecta 10.078 10.623 5,4%Deduções à colecta 2.647 2.951 11,5%IRS liquidado 7.431 7.671 3,2%Retenções na fonte 8.074 8.227 1,9%

Fonte: DGCI/DGITA

O encaixe dos reembolsos gera, em regra, satisfação emquem o recebe. Este fenómeno espanta sempre os economis-tas, sendo usualmente apresentado como um exemplo deirracionalidade. Trata-se, na verdade, do recebimento de um

O IRS e seus reembolsos: uma notaAntónio Martins

Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

empréstimo sem juros que o contribuinte fez ao Estado duran-te meses, e tal, segundo os princípios da racionalidade econó-mica, deveria ser acompanhado de desagrado, e não de satis-fação.

Porém, o estudo empírico recente das atitudes das pessoasface ao sistema fiscal e ao modo como este influencia os seushábitos financeiros veio fornecer uma justificação psicológicapara esta aparente falta de racionalidade da satisfação com orecebimento do reembolso do imposto. Há até quem, tendoperfeita consciência do empréstimo gratuito ao Estado que talconstitui, ainda assim preferia que lhe retenham imposto porexcesso.

Trata-se de pessoas que, tendo hábitos de gastar acima doseu rendimento, julgam que a retenção excessiva e posteriorreembolso é uma forma de poupança forçada, e de lhes imporuma disciplina financeira que, por si, não teriam. O Estado agepois como disciplinador involuntário, retendo verbas que oscontribuintes, de outro modo, gastariam.

Assim, ao recebê-las posteriormente, terão mais opçõessobre o que fazer com essas verbas: ou persistir no seugasto em consumo corrente, ou aplicá-las em outros usos,como por exemplo pagar uma dívida ou adquirir um bemduradouro.

Nos EUA, investigação empírica sobre esta matéria, coma inquirição de milhares de indivíduos, tem mostrado ser nasclasses de menores rendimentos que o mecanismo de retençãoexcessiva e reembolso futuro é particularmente aceite comoforma de disciplina financeira pessoal.

Tal como já se haviam detectado muitos comportamentosdos investidores que aparentemente violavam os cânones daracionalidade no mercado de capitais (demasiado apego aacções que se desvalorizam, insuficiente diversificação geo-gráfica, assimetria no tratamento mental de ganhos e perdas,etc.) também no domínio fiscal, nem sempre a racionalidadecomanda as opções dos agentes económicos; surgindo expli-cações de outra índole para fenómenos que assim mostramque o homo economicus nem sempre age como os seuscriadores suporiam.

Naturalmente que, face à carga fiscal que o contribuintecumpridor já enfrenta entre nós, não se quer com este textoobviamente sugerir que o acréscimo do empréstimo for-çado, através do aumento das taxas de retenção, seja mais umfactor a considerar! Apenas se quis referir que, por vezes, oque parece irracional no plano económico pode ter justifica-ções de outra natureza que ajudem a interpretar melhor certasatitudes.

FiscalidadeFiscalidade

JORNAL DE CONTABILIDADE N.º 379 • OUTUBRO 2008338

FiscalidadeFiscalidade

A Comissão Europeia (CE) pretende que Portugal deixe deexigir a nomeação de um representante fiscal aos contribuin-tes não residentes.

Para esse efeito, exige formalmente que Portugal altere assuas disposições fiscais segundo as quais os contribuintes nãoresidentes têm de designar um representante fiscal casoobtenham rendimentos tributáveis em Portugal.

Na prática, esta obrigação aplica-se a todas as situações emque um não residente pretenda obter um número de identifi-cação fiscal, como por exemplo para abrir uma conta bancáriaou para adquirir ou arrendar um imóvel, pois assume-se quepoderá ter rendimentos e, consequentemente, necessitará deum representante.

Por outro lado, o contribuinte residente em Portugal queassume tal representação, obriga-se a responder perante asautoridades fiscais pelas obrigações do seu representado,podendo no limite, ser chamado a pagar impostos ou outrosencargos fiscais, em seu nome.

A Comissão considera essa disposição incompatível com alivre circulação de pessoas e de capitais, consagrada no TratadoCE e no Acordo relativo ao Espaço Económico Europeu (EEE).

Esta exigência foi apresentada sob a forma de parecerfundamentado, ou seja, trata-se da segunda fase do processode infracção, prevista no Tratado CE.

Representantes Fiscais de Não Residentes Prespectiva de Alteração do Regime em Vigor

Se no prazo de dois meses, não houver uma respostasatisfatória a este parecer, a Comissão pode decidir remeter aquestão para o Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias.

De acordo com a lei portuguesa, os contribuintes nãoresidentes que obtenham rendimentos tributáveis em Portugaltêm de designar um representante fiscal para os representarjunto das administrações fiscais portuguesas e garantir ocumprimento dos seus deveres fiscais.

A Comissão compreende que o objectivo deste requisitoseja o de garantir o pagamento dos impostos e impedir a evasãofiscal. Contudo, considera que uma obrigação geral imposta aosnão residentes para que designem um representante fiscalultrapassa o necessário para assegurar estes objectivos, impe-dindo assim a livre circulação de pessoas e de capitais.

O parecer da Comissão baseia-se no Tratado CE tal comointerpretado pelo Tribunal de Justiça das ComunidadesEuropeias no seu Acórdão de 7 de Setembro de 2006, noprocesso C-470/04.

REFERÊNCIAS

Código do IRS, artigo 130.ºLei Geral Tributária, artigo 27.ºTratado CE

NOME _____________________________________________________________________________________N.º ASSOCIADO ____________________________________________________________________________CONTACTO ________________________________________________________________________________

APOTEC – Associação Portuguesa de Técnicos de ContabilidadeInstituição de Utilidade Pública - Fundada em 1977 • NIPC 500 910 847

Secção Regional de Coimbra • Apartado 10191 • 3030-601 COIMBRA [email protected] – Telef. 239 780 853 – Fax 239 780 854

JANTAR DEBATEDia 17 de Outubro de 2008 – 20h15m

- ÚLTIMAS ALTERAÇÕES FISCAIS DE 2008;- OPÇÕES DO PLANO PARA 2009.

ORADOR: LOCAL:DR. JÚLIO BAPTISTA RESTAURANTE PRAÇA DO MARISCOInspector Tributário Assessor/ Formador DGCI Rua João de Deus Ramos, 145 • 3030 – 328 COIMBRA

(em frente ao Centro Comercial Girassolum – Estádio de Coimbra)

INSCRIÇÕES PARA: SECÇÃO REGIONAL DE COIMBRA • Apartado 10191 • 3030-601 COIMBRA

Até dia 15 de Outubro • PREÇO P/PESSOA: 25,00 euros

JORNAL DE CONTABILIDADE N.º 379 • OUTUBRO 2008 339

TribunaTribuna

“Senhores passageiros endireitem as costas das vossas cadeiras eapertem os cintos, por favor. Dentro de momentos aterraremos noAeroporto de Lisboa.”

Passados poucos minutos o Airbus A320 tocou a pista, percorren-do-a até à aerogare. Junto ao local das “chegadas”, António nãoescondia o nervosismo, espreitando a porta por onde iam saindo ospassageiros de diversos voos, tentando identificar entre eles, o seuamigo João, que já não via há alguns anos.

***António e João eram amigos desde os bancos da escola. A

primeira separação deu-se quando tiveram que optar pelos cursos doensino superior. António decidiu tirar o Curso de Contabilidade eAdministração e João, o Curso de Medicina. O jeito e a maneira comoJoão encara a vida, sempre pronto a ajudar o próximo, disponível aabraçar grandes causas, levou-o a integrar uma ONG (OrganizaçãoNão Governamental). António estabeleceu-se por conta própria comum escritório de contabilidade.

Pouco antes de partir para mais uma missão em África, Joãodespediu-se do seu amigo de sempre, António, no escritório deste,com promessa que regressaria em breve.

***Mal cruzou a porta de saída, João esticou o pescoço olhando em

todas as direcções onde se aglomeravam pessoas à espera dospassageiros, quando os seus olhos deram com o sorriso emotivo mascontido de António, que correu para um longo e sentido abraço.

– Então pá?! Estás na mesma! A viagem? – Perguntava Antóniosem deixar respostas a João.

Dirigiram-se para o parque de estacionamento e partiram emdirecção ao centro de Lisboa.

– Puxa António, um homem ausenta-se algum tempo e tudomuda!

– Então?! – Pergunta António.– O aeroporto está diferente, o símbolo da TAP alterado!– É a evolução, meu amigo! O país e as empresas necessitam de

se modernizar, adaptando-se aos novos tempos, pois só assim podemcompetir neste mundo globalizado!

– Olha! – O emblema do Sporting Clube de Portugal estádiferente! – Exclama João, enquanto passam pelo Estádio AlvaladeXXI.

– Sim! Vês até o estádio está diferente! – Replicou António comuma sonora gargalhada.

– Bem! Sei que estás cansado, mas se não te importas terei aindaque passar pelo escritório, prometo que é rápido!

– Ok! Estou de férias, tenho todo o tempo do mundo!– Engraçado! Acabo por dar comigo a reparar nos símbolos,

afinal é isso que nos atrai para os produtos ou serviços que elesrepresentam! E esses parecem que mudaram enquanto estive fora!Repara ali naquele outdoor, a imagem da TMN está diferente, maisapelativa!

– Chegámos! António, queres subir?– Já agora, para esticar um pouco as pernas e rever os teus

funcionários. Ainda são os mesmos?

“Mudam-se os tempos, mudam-se asvontades...” Luís Vaz de Camões

Álvaro Jorge CostaPresidente da Direcção da Secção Regional de Coimbra da APOTEC

– São! – Responde com um sorriso – Já vestiram a “camisola” eenquanto se sentirem recompensados vão ficando!

António premiu o botão de chamada do elevador, este desceu e auto-maticamente a porta abriu-se. Entraram e subiram até ao 3.º andar.

João, embora aparentando o cansaço normal de quem fizeramuitas horas de voo, manteve o sorriso simpático, cumprimentandoe trocando algumas palavras com os funcionários, que curiosos oquestionavam sobre a sua actividade em África. Demorou um poucomais a falar com Rita. Tinha sido colega de ambos no secundário etirara o curso de contabilidade com António. Enquanto conversava,não deixou de olhar para o ecrã do computador e perguntou:

– Essa página da Internet é das Finanças? Mas mudaram tambémde imagem e logótipo?

– Sim! – Respondeu Rita – Houve uma reformulação do conceitode Finanças e dos seus serviços.

– Muito bem! Até para arrecadar o nosso dinheirinho eles modi-ficam a imagem! – Disse com um sorriso procurando os olhosesverdeados de Rita.

– Não te importas, vou ter com o António! Até já!Entrou no gabinete, dando um ligeiro toque na porta com os nós

dos dedos. António assinava e folheava um maço de papéis. Puxouuma cadeira e sentou-se. Olhou para cima da estante de livros queforra a parede lateral do gabinete e viu uma revista. Levantou-se epegou nela olhando a capa. “Jornal de Contabilidade”, leu para si.

– Ainda recebes esta revista? – Questionou interrompendo aconcentração de António.

– Recebo! Mantenho-me sócio da APOTEC, uma Associação queme permite manter actualizado, ministrando formação de qualidade.Sabes como é, temos que estar em formação permanente se quiser-mos responder profissionalmente.

– Mas lembro-me de folhear esta revista sempre que venho aquiao teu escritório e reparo que o símbolo da Associação se mantém. Nanossa deslocação até aqui, vi que quase todas as empresas e institui-ções mudaram os seus logótipos.

– João! João! Os símbolos, os emblemas, os logótipos sãomarcas, formas de comunicação e se as empresas e instituições, comodizes, mudaram é porque sentiram necessidade na modernização dasua imagem.

– E esta Associação não tem necessidade de modernizar a suaimagem? “ Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, já diziaCamões.

– Pois! – Disse António alinhando os papéis, batendo-os nasecretária. Isso diz respeito aos órgãos directivos da APOTEC. Se eupertencesse à Direcção propunha que se modernizasse o emblema,não perdendo a actual linguagem, tornando-o mais atractivo aosjovens, por um lado e por outro, transmitindo aos menos jovens quea Associação está viva e que se renova a cada dia.

– Hummm! Vês! Camões tinha razão! – Retorquiu João.– Bem… vamos? Vou levar-te a casa, para tomares um banho

retemperador! Depois vamos almoçar, quero que me contes todas astuas peripécias em terras africanas.

E partiram, embrenhando-se no trânsito caótico de uma Lisboamodernizada.

JORNAL DE CONTABILIDADE N.º 379 • OUTUBRO 2008340

Síntese EconómicaSíntese Económica(*)

(*) Elaborado por: Paulo Nogueira Filho (Jornalista)

Jardim Gonçalvesprocessa Joe Berardo

A gota de água foi a recente entrevista dada porJoe Berardo, no meio do Verão. “Passou todos oslimites”, pode ler-se no processo movido por Jar-dim Gonçalves contra o investidor. Frases como“foi mesmo aldrabice que andaram a fazer naquelainstituição bancária” e “Jardim Gonçalves faz-melembrar Salazar, que não soube sair pela portagrande e foi de cadeirinha de rodas” vieram juntar--se a outras que, ao longo dos últimos 15 meses,marcaram a guerra que estalou no BCP. Conflitoque, aliás, resultou na investigação a operaçõesdesenvolvidas pelo banco através de sociedadesoffshore (sedeadas em paraísos fiscais).

As inúmeras declarações feitas por Berardoforam analisadas à lupa pelos advogados do ex-presidente do BCP, e consideradas difamatórias.Através dessa acção, Jardim pretende que Berardose retracte publicamente. Caso contrário, será obri-gado a pagar 500 mil euros, devendo ainda serdeterminada a publicação da sentença, com grandedestaque, em jornal de grande circulação.

O empresário madeirense já disse que não vaipedir desculpas e que, por sua vez, vai entrar comum pedido de indemnização de 700 milhões deeuros – montante calculado pelo investidor, resul-tante da utilização das offshore.

Terceira fase de apoio aoarrendamento jovem

Arrancou em Setembro a terceira fase do pro-grama de apoio ao arrendamento jovem, chamadoPorta65. As novas regras permitiram quase triplicarna segunda fase o número de candidaturas apoia-das. Depois de críticas e protestos de toda a Opo-sição, o Governo acabou por aumentar os tectosmáximos das rendas a apoiar, que nalguns casossubiram mais de 80 por cento, e a taxa de esforço(peso da renda no rendimento mensal).

Na segunda fase, entre 23 de Abril e 23 deMaio, foram aprovadas 4156 candidaturas, quase otriplo das apoiadas na primeira fase (1549, queainda decorreram segundo as regras antigas). Maisde metade dos jovens (2206) apoiados na segundafase recebia anteriormente apoio através do Incen-tivo ao Arrendamento Jovem (IAJ), sistema subs-tituído no ano passado pelo programa Porta65.

Além desta, está previs-ta ainda mais uma fasede candidaturas em De-zembro.

O fisco e os casamentos

Era meio-dia e faltava apenas uma hora para osnoivos e os convidados chegarem à quinta onde seriao copo-de-água, conta o semanário “Expresso”. Aansiedade dos preparativos finais para a festa estavano auge quando, de surpresa, bateram à porta doisfiscais das Finanças. “Identificaram-se como inspec-tores, mas não explicaram bem o motivo da visita”,relata o proprietário da quinta, que pediu anonimato. E continua. “Decerto modo, foram intrusivos e trataram-nos sempre com agressividade,como se o nosso propósito fosse enganá-los.” Não pediram a contabilida-de e detiveram-se na recolha de informação para cruzamento de dados.Perguntaram se haveria um casamento naquele dia e qual o número deconvidados, se havia contrato de prestação de serviços, qual o preço e setinha sido dado um adiantamento, quem eram os fornecedores habituaisda comida, flores e pastelaria. Os músicos foram identificados, assimcomo todos os funcionários da quinta e os trabalhadores eventuais.

“A ideia que me deu é que o objectivo é cruzar os dados com asdeclarações de rendimentos de todas estas pessoas”, refere o empresário.Além de todos estes pedidos, os inspectores das Finanças levaramfotocópias da agenda anual com as marcações de eventos, bem como ocontacto dos noivos que tinham acabado de casar e de todos os outrosclientes da quinta. Mesmo lamentando a falta de uma “atitude pedagógi-ca” por parte dos fiscais, o proprietário da quinta comenta que lhe pareceu“uma acção muito bem planeada”.

Segundo o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impos-tos, Marcelo Castro, “é normal” os fiscais fazerem outro tipo de“prospecções aos sectores considerados de risco, como a organização deeventos”. Há recolha de informação através de fotografias, por exemplo,para posterior confronto das empresas.

A organização de eventos (em especial os casamentos, por movimen-tarem muito dinheiro e englobarem vários tipos de prestadores de servi-ços) é uma das actividades de risco de fraude e evasão fiscais sinalizadaspela DGCI. Assim como a restauração, a mediação imobiliária ou aconstrução. Segundo estimativas do sector, um casamento em Portugaltem um custo médio de 20 mil euros. O negócio, na sua totalidade,envolve cerca de 1000 milhões de euros.

Há cerca de três anos a DGCI começou a enviar questionários aosrecém-casados, onde são pedidos todos os pormenores relativos à boda.Por exemplo, é inquerido onde foi comprado o vestido da noiva e se houvea contratação de fotógrafo ou aluguer de automóvel. Também são solici-tadas cópias de documentos (de facturas a ementas) que façam prova doselementos declarados.

Automóveis vão “falar” entre si

Bruxelas deu luz verde a uma velha aspiração da indústria automóvel,ao anunciar a reserva de uma banda de frequência para os sistemas decomunicação sem fios entre veículos.

Trata-se de uma aplicação que será particularmente útil quando oautomóvel avaria e fica imobilizado numa curva sem visibilidade – sópara citar um dos muitos exemplos possíveis. Quando a tecnologia WAVE(Wireless Access for the Vehicular Environment)estiver a funcionar – e 2013 é a data prevista -, oscondutores serão avisados a tempo de evitar acolisão, através do alerta para a existência de umobstáculo.

JORNAL DE CONTABILIDADE N.º 379 • OUTUBRO 2008 341

LGT – REVERSÃO DA DÍVIDA FISCAL

Questão:

Poderá a A.T. fazer a reversão da dívidafiscal para o gerente sem apresentar a provaque o comportamento deste foi culposo epor sua culpa o devedor originário (empre-sa) não pagou a quantia exequenda e custas,conforme refere no artigo 24.º da LGT,fazendo-o sem se preocupar com que meiosdispõe o gerente para apresentar a sua defe-sa e evitar a penhora de bens?

Sócio n.º 3897

Resposta do Assessor Jurídico

Importa distinguir as duas seguintes si-tuações: 1.ª – Caso o facto constitutivo e adata do pagamento do mesmo ocorram napendência do exercício da gerência ou admi-nistração do respectivo gerente ou adminis-trador, incumbirá a este a obrigação de pro-var perante a A.T. que não teve culpa, isto é,que não lhe é imputável a falta de pagamen-to. 2.ª – Caso o facto constitutivo ocorra napendência do exercício de determinada ge-rência ou administração e a data para o seucumprimento se verifique após o termo des-se exercício, incumbirá à A.T. provar que,por culpa do referido gerente ou administra-dor, o património do contribuinte (pessoacolectiva ou equiparada) se tornou insufi-ciente para a sua satisfação. No que concerneao pagamento das custas e coimas, emqualquer uma das situações, e de acordocom o art.º 8.º do R.G.I.T., incumbe à A.T.invocar e provar a culpa do gerente/adminis-trador pelo respectivo incumprimento.Relativamente aos meios de defesa coloca-dos à disposição do gerente/administrador,importa considerar o estatuído no Código deProcedimento e Processo Tributário. Numprimeiro momento, e ainda antes da rever-são, este é notificado pela A.T. para exercero direito de audição prévia, nos termos doart.º 60.º daquele diploma legal. Posterior-mente, após a citação da execução podeo responsável subsidiário defender-semediante dedução de oposição à execuçãonos termos do art.º 203.º do C.P.P.T., nãooriginando esta oposição a suspensão daexecução. A mesma verifica-se com a pres-tação de garantia, facto impeditivo da pe-nhora dos bens do gerente, nos termos doart.º 169.º do mesmo diploma. No entanto aA.T. pode, a pedido do executado, isentá-loda prestação dessa garantia, se tal prestaçãolhe causar prejuízo irreparável, ou se o mes-

LEI DO MECENATO

Questão:

Poderá uma sociedade anónima com finslucrativos e participada em 99% por capitaisdo Estado, dedicando-se à exploração deeventos culturais, sociais e recreativos(cobrando entradas em tais eventos e liqui-dando o respectiva IVA) ser consideradamecena?

Sócio n.º 3897

IVA – SOCIEDADE BRASILEIRA

Questão:

Uma sociedade portuguesa, cujo objectosocial é a criação e implementação desoftware de gestão, subcontrata uma socie-dade Brasileira para desenvolver uma plata-forma por si desenhada (contrato de presta-ção de serviços). Em sede de IVA qual é aobrigatoriedade da Sociedade Portuguesa?E da Sociedade Brasileira, necessita de nú-mero de contribuinte?

Sócio n.º 18119

Resposta do Assessor Fiscal

A sociedade portuguesa é adquirente daprestação de serviços de informáticaefectuados pela sociedade brasileira. Nestascircunstâncias e atendendo ao facto doprestador do serviço não ter sede no territó-rio nacional, a aquisição de serviços presta-dos por via electrónica por adquirente naci-onal (alínea n) do n.º 8 do artigo 6.º doCIVA), transfere para este a qualidade desujeito passivo do imposto (alínea a) don.º 1, in fine, do artigo 2.º do CIVA). Com-pete assim ao adquirente nacional (socieda-de portuguesa) a liquidação do imposto àtaxa do direito interno português, com direi-to a dedução (alínea c) do n.º 1 do artigo 19.ºdo CIVA). A sociedade brasileira é alheia aoprocesso de liquidação do imposto.

S.P.2008-07-25

IVA – AQUISIÇAOINTRACOMUNITARIA

Questão:

Uma empresa que está isenta de IVA aoabrigo do Art.º 9 CIVA, efectua uma aquisi-ção intracomunitária. Aquando da suacontabilização como devo efectuar a mesmarelativamente ao IVA? Sendo um sujeitopassivo isento de IVA, terei de liquidar eentregá-lo ao Estado? Como é o tratamentofiscal a nível de IVA de uma aquisiçãointracomunitária numa empresa isenta deIVA?

Sócio n.º 18118

Resposta do Assessor Fiscal

As aquisições intracomunitárias de bensefectuadas por sujeito passivo totalmenteisento, desde que o respectivo valor global,líquido do imposto sobre o valor acrescenta-do, devido ou pago no Estado membro ondese inicia o transporte dos bens, não exceda omontante de 10 000€, não são sujeitas aimposto em território nacional (n.º 1 doartigo 5.º do RITI), ou seja, apenas as aqui-sições intracomunitárias efectuadas pelosreferidos sujeitos passivos em outros Esta-dos-membros, de valor superior àquele limi-te, são tributáveis. Para as aquisições debens abaixo do limite é aplicável a regra datributação no país de origem. Havendo lugara tributação, o imposto será de liquidar pelosujeito passivo adquirente e entregue aoEstado, sem direito a dedução. Os sujeitospassivos totalmente isentos que façam aqui-sições intracomunitários estão obrigados aentregar a declaração a que se refere o artigo

mo tiver manifesta falta de meios econó-micos, nos termos previstos no art.º 52º daL.G.T..

M.C.M.2008-07-18

Resposta do Assessor Fiscal

São «mecenas» todas as pessoas singu-lares ou colectivas, que efectuem a título deliberalidade «donativos» em dinheiro ou emespécie, às entidades públicas ou privadasprevistas nos artigos 62.º e 63.º do EBF, cujaactividade consista, predominantemente, narealização de iniciativas nas áreas sociais,cultural, ambiental, desportiva ou educacio-nal. Se a empresa que refere faz «donativos»nas referidas condições, então é considerada«mecenas» para efeitos fiscais.

S.P.2008-07-21

ConsultórioConsultório

JORNAL DE CONTABILIDADE N.º 379 • OUTUBRO 2008342

sociedade c/ contabilidade organizada. Comoproceder se essa entidade não quer que seefectue a referida retenção? Quais as conse-quências por não efectuarmos a retenção?

Sócio n.º 15799

Resposta do Assessor Fiscal

O IRC é objecto de retenção na fonterelativamente aos rendimentos prediais, talcomo são definidos para efeitos de IRS,quando o seu devedor seja sujeito passivo deIRC ou quando o mesmo constitua encargorelativo à actividade empresarial de sujeitopassivo de IRS que possua ou deva possuircontabilidade (artigo 88.º do CIRC). Nacircunstância refere-se que entre as partesfoi celebrado um contrato de cedência deexploração de estabelecimento. Se tal con-trato caracterizar juridicamente a cedênciade exploração de estabelecimento, como sediz, então, nesse caso, actualmente, as im-portâncias relativas à cessão temporária deexploração de estabelecimento, têm a natu-reza de um rendimento empresarial (rendi-

IES – RAPPEL – ANEXO O

Questão:

O rappel considerado como proveitoextraordinário do exercício (conta 7988) eauferido como bónus pela quantidade demercadorias vendidas, deverá ou não serincluído nas operações passivas registadascom o fornecedor que o concedeu para efei-tos do preenchimento do anexo O da IES?

Sócio n.º 3897

Resposta do Assessor Fiscal

No anexo O (mapa recapitulativo declientes) o valor a mencionar deve corres-

30.º do CIVA, ou, no caso de se encontra-rem registados, a declaração de alteraçõesprevista no artigo 31.º do CIVA: a) a partirdo último dia do mês seguinte àquele emque o limite de 10 000€ foi ultrapassado;b) antes de efectuada a aquisição intracomu-nitária de bens que exceda o referido limite;c) antes de efectuarem aquisições intraco-munitárias de bens, no caso de exercerem aopção a que se refere o n.º 3 do artigo 5.º doRITI (Artigo 25.º do RITI).

S.P.2008-07-21

Os interessados em participarem neste prémio instituído pelo Centro de Estudos de História da Contabilidade daAPOTEC poderão apresentar os seus trabalhos até ao dia 28/11/2008 na sede da APOTEC.Os trabalhos apresentados candidatam-se aos seguintes prémios:

• Prémio A........... € 1.000,00 • Prémio B........... € 500,00Para mais informações, os interessados poderão contactar a sede da APOTEC na Rua Rodrigues Sampaio, n.º 50 – 3.º Esq.1169-029 Lisboa – Telf. 21 355 29 00, pelo Fax 21 355 29 09 ou pelo e-mail: [email protected].

PATROCÍNIOS:

M a r t i m N o e l M o n t e i r oPRÉMIO História da

Contabilidade

2008 APOTEC

CENTRO DE ESTUDOSDE HISTÓRIA DACONTABILIDADE

APOIOS DE:

UNIVERSIDADE DO MINHOUNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIORUNIVERSIDADE DA MADEIRAINSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E ADMINISTRAÇÃO DE COIMBRAINSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E ADMINISTRAÇÃO DE LISBOAINSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E ADMINISTRAÇÃO DO PORTOINSTITUTO SUPERIOR DE ECONOMIA E GESTÃO

IRS – RETENÇÃO RENDIMENTOSCATEGORIA F

Questão:

Celebrámos um contrato de cedência deexploração a uma sociedade para exercer aactividade de restauração. O contrato preveum pagamento de um valor de 1.100,00€mais IVA e segundo o código do IRS talproveito está sujeito a retenção por ser rendi-mento categoria F e ou entidade ser uma

mento da categoria B) e não de renda (alíneae) do n.º 2 do artigo 3.º do CIRS), pelo que,nessas condições, não estão sujeitas a reten-ção na fonte (artigo 88.º do CIRC).

S.P.2008-07-21

ConsultórioConsultório

JORNAL DE CONTABILIDADE N.º 379 • OUTUBRO 2008 343

processos de execução, no acto da notifica-ção no qual se tem conhecimento dos mes-mos (pelo menos quase na sua totalidade) ouno acto do pagamento, que na prática poderánunca chegar a ocorrer se a empresa seencontra em situação económica difícil? Omesmo sucede em processos judiciais emcurso, deverão ser considerados os custosdos processos, honorários a solicitadores deexecução e custos inerentes? Tais custos sãoou não aceites para efeitos fiscais?

Sócio n.º 3897

Resposta do Assessor Fiscal

Nos termos do n.º 1 do artigo 18.º doCódigo do IRC é acolhido, para efeitos fis-cais – regra geral – o princípio contabilísticoda especialização dos exercícios para a im-putação dos proveitos, dos custos e de outrascomponentes positivas ou negativas do lu-cro tributável ao exercício a que digam res-peito. Portanto, se em termos contabilísticosfor respeitado este princípio, a imputação detodas estas componentes do lucro tributávelao exercício a que respeitam não será postaem causa pela Administração Fiscal. Outraquestão prende-se com a elegibilidade doscustos - contabilizados no exercício a querespeitam - para efeitos de determinação dolucro tributável. De acordo com a alínea d)do n.º 1 do artigo 42.º do Código do IRC,não são dedutíveis para efeitos de determi-nação do lucro tributável «As multas, coimase demais encargos pela prática de infrac-ções, de qualquer natureza, que não tenhamorigem contratual, incluindo os juros com-pensatórios». Este preceito abarca, para alémdas multas e coimas, que são claramenteencargos inerentes a infracções (fiscais enão fiscais), os demais encargos que a em-presa tenha de suportar quando for alvo deum processo por prática dessas infracções,como por exemplo, as custas, os honoráriosa solicitadores ou advogados, etc.. Ficamapenas afastados do âmbito do normativo osencargos que tenham origem contratual.Nestes termos: 1) As custas são fiscalmentededutíveis se respeitarem a processos quenão envolvam a prática de uma infracção(por exemplo, um processo de impugnaçãojudicial com fundamento em erro no quanti-tativo dos pagamentos por conta determina-do pela Administração Fiscal). Porém, se ascustas respeitarem a um processo (de execu-ção fiscal) destinado, por hipótese, à co-brança coerciva do IRC, do IVA liquidadoaos clientes ou do IRS retido na fonte aosempregados, já não são aceites como custo,

CAPITAL – RESERVAS LIVRE

Questão:

Na Assembleia Geral de aprovação decontas os sócios deliberaram transferir parareservas livres o valor dos resultados líqui-dos, quando habitualmente o faziam pararesultados transitados. Poderá a referida re-serva livre ser incorporada no aumento docapital social, sem que os sócios sejam tri-butados em IRS? O que aconteceria se adeliberação fosse na distribuição de lucrospelos sócios e estes com tais lucros subscre-vessem e realizassem o aumento do capitalsocial?

Sócio n.º 3897

Resposta do Assessor Fiscal

Ao aumento de capital por incorporaçãode reservas corresponderá o aumento daparticipação de cada sócio, proporcional-mente ao valor nominal dela, salvo se,estando convencionado um critério diversode atribuição de lucros, o contrato o mandaraplicar à incorporação de reservas ou paraesta estipular algum critério especial. Sendoassim, a incorporação de reservas disponí-veis no capital da sociedade, formadas pelatransferência de resultados, com o corres-pondente aumento da participação social decada sócio, traduz-se numa forma de distri-buição de lucros, sujeita a IRS.

S.P.2008-07-21

ponder à soma das facturas ou documentosequivalentes emitidos ao mesmo cliente lí-quidos de quaisquer descontos neles menci-onados e com IVA incluído. A esta somadeve ser abatido o valor constante de notasde crédito ou de qualquer documento quereduza o valor facturado emitidos ao mesmocliente e com IVA incluído, com data do anoa que se refere o anexo, respeitantes, nome-adamente, a devolução de mercadorias, des-contos de quantidade ou financeiros.

S.P.2008-07-21

porque derivam de uma infracção (contra--ordenação ou crime). 2) As multas e ascoimas, quer sejam ou não de natureza fis-cal, não são consideradas como custo, por-que resultam sempre da prática de uma in-fracção. 3) Quanto aos juros de mora relati-vos a impostos, lembramos que os últimosentendimentos da Administração Fiscal,corroborados pelo Supremo Tribunal Admi-nistrativo através do acórdão emitido em 3de Maio de 2000 (Processo n.º 24 627), sãono sentido de que estes juros se enquadramna alínea d) do n.º 1 do artigo 42.º do CIRCe, portanto, não são fiscalmente dedutíveis.4) Os custos que a empresa vai ter, provavel-mente, de suportar, na sequência dos proces-sos judiciais em curso devem ser objecto deprovisão no exercício respectivo, provisãoesta que, em termos fiscais, se mostra obri-gatória, por força do disposto na alínea c) don.º 1 do artigo 34.º do Código do IRC.Portanto, se a provisão não for constituídano exercício em que o deva ser, a Adminis-tração Fiscal pode não aceitar posteriormen-te os custos que deviam ter sido provisio-nados. Lembramos que nos termos da alíneac) do n.º 1 do referido artigo 34.º, do total daprovisão constituída só é considerada comocusto a parcela que corresponder aos encar-gos que são fiscalmente dedutíveis (porexemplo, é custo fiscal a parcela da provisãopara fazer face a custas e aos honorários doadvogado num processo de impugnação ju-dicial em que se discute a legalidade do actotributário, mas já não é custo fiscal a parcelada provisão que se destina a custas e coimasinerentes a um processo de execução fiscalpor falta da entrega do IRC).

P.F.C2008-09-14

Resposta do Assessor Contabilístico

De acordo com o princípio da especiali-zação dos exercícios ou do acréscimo, osproveitos e os custos são reconhecidos quan-to obtidos ou incorridos, independentementedo seu recebimento ou pagamento, devendoincluir-se nas demonstrações financeiras dosperíodos a que respeitam. Assim, os custosenunciados em epígrafe, desde que existarazoável probabilidade de que serão suporta-dos pela empresa, devem ser contabilizadosno momento em que a empresa deles temconhecimento. Quanto aos processos judici-ais devem ser considerados todos os custos aeles associados, desde as custas, os honorári-os dos profissionais envolvidos, os juros, etc..

B.N.2008-07-21

COIMAS – CONTABILIZAÇÃO

Questão:

Quando se deverão contabilizar os jurosde mora, as coimas e as custas inerentes a

ConsultórioConsultório

JORNAL DE CONTABILIDADE N.º 379 • OUTUBRO 2008344

A obra em título “CURSO ELEMENTAR DE DIREITOCOMERCIAL”, 2.ª edição é da autoria de Manuel AntónioPita, sendo editada pela Áreas Editora.

Esta edição mantém a estrutura da primeira edição, sendoo conteúdo actualizado à luz das modificações da lei entretan-to ocorridas, em especial no Código das Sociedades Comer-ciais, alargando-se o tratamento de alguns temas que estavamdemasiado sintéticos, como era o caso das obrigações dossócios.

A primeira parte desta edição corresponde, em linhasgerais, a um estudo introdutório do direito, passando pelodireito comercial e focando aspectos do direito do trabalho.

As restantes partes deste livro versam temas próprios dodireito comercial, como sendo, os operadores económicos,bens, actividade e direito da concorrência.

Manuel António Pita é licenciado em Direito e mestre emCiências Jurídicas pela Faculdade de Direito da Universidadede Lisboa. É doutor em Direito pela Universidade Nova deLisboa, na especialidade de Direito Privado, desde Julho de

A obra em título “REGIME GERAL DAS INFRAC-ÇÕES TRIBUTÁRIAS - ANOTADO”, 3.ª edição é da auto-ria de Jorge Lopes de Sousa e Manuel Simas Santos, sendoeditada pela Áreas Editora.

O Regime Geral das Infracções Tributárias, apesar deretomar disposições que constavam já no Regime Jurídico dasInfracções Fiscais Não Aduaneiras e do Regime Geral dasInfracções Aduaneiras, do Código de Processo Tributário e daLei Geral Tributária, constitui dada a integração que produziue as soluções que preconiza, um diploma novo, que temgerado dificuldades de interpretação, atenta a número apreciá-vel das suas disposições inovadoras.

São essas dificuldades que os autores procuraram anteci-par e resolver nas anteriores edições, esforço que se mantémagora com a actualização do texto, recolha da nova Doutrina,Legislação e Jurisprudência, com a alteração e adiantamento

BibliografiaBibliografia

Curso Elementar de Direito Comercial2003. Professor auxiliar do ISCTE, na secção autónoma deDireito, de que é presidente. No ISCTE coordena e lecciona asdisciplinas de direito comercial e de direito das sociedadescomerciais, sendo também coordenador científico e directordo mestrado em direito das empresas. Professor convidado daFaculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa ondetem leccionado as disciplinas da Teoria Geral do Direito Civil,Teria Geral do Direito Privado e Direito da Contabilidade.Pós-Graduado em Estudos Europeus (dominante jurídica)pelo Centro de Estudos Europeus da Universidade CatólicaPortuguesa. Autor de inúmeras obras e artigos.

Esta obra está também disponível a todos os interessados,para consulta, na Biblioteca da APOTEC.

Título: CURSO ELEMENTAR DE DIREITO COMERCIAL1VOL. 390 PÁG.

Autor: MANUEL ANTÓNIO PITA Edição: ÁREAS EDITORAEncomendas: [email protected]

Regime Geral das Infracções Tributárias – Anotadode novas anotações e comentários, tendo em conta não só asmodificações do próprio Regime Geral das Infracções Tribu-tárias como as resultantes das recentes alterações ao Códigode Processo Penal e ao Código Penal.

Jorge Lopes de Sousa é Juiz Conselheiro do SupremoTribunal Administrativo e Manuel Simas Santos é Juiz Conse-lheiro da Secção Criminal do Supremo Tribunal de Justiça.

Esta obra está também disponível a todos os interessados,para consulta, na Biblioteca da APOTEC.

Título: REGIME GERAL DAS INFRACÇÕES TRIBUTÁ-RIAS - ANOTADO – 1VOL. 958 PÁG.

Autores: JORGE LOPES DE SOUSAMANUEL SIMAS SANTOS

Edição: ÁREAS EDITORAEncomendas: [email protected]

IVA – REPÚDIO DE FACTURAS

Questão:

Um sujeito emitiu uma factura atravésdo programa informático no montante de€5000,00+IVA, mas esta foi repudiada peloadquirente alegando que estes trabalhos ain-da não estão executados. Para solucionaresta questão falou-se com o adquirente paraaceitar a factura e emitiamos uma nota de

crédito, mas o cliente não aceita, não quer afactura como é lógico nem a nota de crédito.Em termos informáticos tivemos que emitiruma nota de crédito juntando o original dafactura e carta do cliente a repudiar a factu-ra. Em termos fiscais como poderemos re-gularizar esta situação?

Sócio n.º 17635

Resposta do Assessor Fiscal

Se emitiu uma factura indevidamen-te, mas que produziu efeitos contabilísticos,a rectificação do IVA deve fazer-se deacordo com os n.os 1 a 5 do artigo 71.º doCIVA.

S.P.

2008-07-21

ConsultórioConsultório

JORNAL DE CONTABILIDADE N.º 379 • OUTUBRO 2008 345

Teve lugar no dia 9 de Setembro último, a celebração doAcordo de Colaboração entre o CITEFORMA (Centro deFormação Profissional dos Trabalhadores de Escritório, Co-mércio, Serviços e Novas Tecnologias) e a APOTEC, noâmbito da iniciativa NOVAS OPORTUNIDADES.

Este acordo surge do interesse em desenvolver uma actua-ção conjunta com o objectivo de promover a progressão dosníveis de qualificação dos associados.

Ao longo deste ano e no decorrer das Acções de Formaçãopromovidas pela APOTEC serão explicadas todas as envol-ventes aos processos de Reconhecimento, Validação eCertificação de Competências.

Para já, deixamos aqui um pequeno apontamento sobre asNovas Oportunidades e o RVCC:

O Centro de Novas OportunidadesO Centro Novas Oportunidades (CNO) do CITEFORMA

foi criado a 5 de Junho de 2006 por um Despacho Conjuntodo Ministério da Educação (ME) e do Ministério da Segu-rança Social e do Trabalho (MSTT) e conta com uma equipaconstituída por catorze elementos: um Director, uma Coor-denadora, duas Técnicas de Diagnóstico e Triagem, cincoProfissionais de RVCC, duas Técnicas Administrativas, doisTutores da vertente profissional e oito Formadores da vertenteescolar.

Citeforma e APOTEC celebram acordo de colaboração

O que é o PROCESSO DE RECONHECIMENTO,VALIDAÇÃO E CERTIFICAÇÃO DE COMPETÊN-CIAS (RVCC)?O processo de RVCC permite a cada adulto identificar,

validar e certificar as competências que foi adquirindo aolongo da vida com base na sua experiência (de vida, detrabalho e de formações não certificadas). Contempla duasvertentes: escolar e profissional.

Mais informações em www.apotec.pt.

(1) Profissional (Decisão do Conselho de 16 de Julho de 1985 - 85/368/CEE). Diz respeito a um trabalho técnico que pode ser executado de forma autónoma e/ou incluirresponsabilidades de enquadramento e de coordenação.

Destinatários

Situação noCITEFORMA

Áreas deReconhecimento

EscolarProfissional

Ensino Básico Ensino Secundário

Adultos (+ 18 anos) com conhecimen-tos adquiridos ao longo da vida e esco-laridade inferior ao 4.º, 6.º ou 9.º anode escolaridade

Em funcionamento desde Setembro de2006

• Linguagem e Comunicação (LC)• Cidadania e Empregabilidade (CE)• Matemática para a Vida (MV)• Tecnologias de Informação e Comu-

nicação (TIC)

Adultos com escolaridade inferior aoensino secundário, que tenham adquiri-do conhecimentos ao longo da vida eque tenham, pelo menos, 3 anos deexperiência profissional

Em funcionamento desde Novembrode 2007

• Cidadania e Profissionalidade (CP)• Sociedade, Tecnologia e Ciência

(STC)• Cultura, Língua e Comunicação

(CLC)

Adultos com experiência profissionalem determinada área, que pretendamver as suas competências reconhecidasnum Certificado de Formação Profissio-nal (nível III(1)).

Saída Profissional de Técnico de Con-tabilidade em funcionamento desdeAbril de 2007

Para Técnico de Contabilidade• Técnicas de Organização Adminis-

trativa• Organização Contabilística• Técnicas de Execução Contabilística• Gestão e Análise Contabilística

NoticiárioNoticiário

Uma vez mais, o Centro de Estudos de História daContabilidade da APOTEC, irá promover uma Jornada sobreHistória da Contabilidade.

Cumprindo com a sua missão de investigação e divulgaçãoda História, foram já convidadas várias personalidades, portu-guesas e estrangeiras, a apresentarem comunicações.

Este evento terá como Patrono, o Prof. Doutor RogérioFernandes Ferreira, padrão de referência na área do conhe-cimento e em particular da Contabilidade.

V Jornada de História da ContabilidadeEste evento terá lugar no Pequeno Auditório da

Culturgest, no próximo dia 29 de Novembro de 2008. Embreve será divulgado o Programa.

Investigadores Convidados:Ana Rita Faria; António Pires Caiado; Delfina GomesEsteban Hernandez Esteve; Hernani CarquejaManuel Benavente Rodrigues; Maria da Conceição MarquesMatilde Estevens; Olga Pacheco Silveira; Juan Lanero

JORNAL DE CONTABILIDADE N.º 379 • OUTUBRO 2008346

Numa parceria entre a APOTEC e o ISEG decorreu, no passadodia 24 de Setembro, no Auditório I deste Instituto de ensino superiora Conferência “A Evolução da Política Fiscal: Tendências e Desa-fios”, que esgotou a lotação da sala, que fora no passado uma antigacapela, agora brilhantemente transformada em auditório.

Este evento que serviu para comemorar os 45 anos do Código daContribuição Industrial, em vigor em 1963 e que com ele introduziua figura do Técnico de Contas, contou com a presença de ilustresprofissionais da área tributária, do ensino e da contabilidade, comespecial destaque para o Director-Geral dos Impostos, José AzevedoPereira.

Muitas foram também as entidades da Administração Fiscal queestiveram presentes, como por exemplo a Chefe de Gabinete doSecretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Dra. Clotilde Palma; aDGCI, através de vários Directores de Serviço e outros colaborado-res; a DGAIEC – Direcção-Geral das Alfândegas e dos ImpostosEspeciais sobre o Consumo e a CNC – Comissão de NormalizaçãoContabilística. Também estiverem presentes deputados da Assembleiada República.

Honraram ainda esta conferência com a sua presença, váriasassociações privadas da área da fiscalidade de que destacamos aAssociação Fiscal Portuguesa e a Associação Portuguesa de PeritosContabilistas.

Na Sessão de Abertura estiveram presentes: o Secretário deEstado dos Assuntos Fiscais, Carlos Lobo; o Presidente do ConselhoDirectivo do ISEG, António Mendonça; o Presidente da Direcção daAPOTEC, Manuel Patuleia; o Coordenador do Mestrado de Fiscalidadedo ISEG, Eduardo Couto e o Presidente do Conselho Científico daAPOTEC, João Duque.

Presidiu a esta sessão o Senhor Secretário de Estado dos AssuntosFiscais, enaltecendo a oportunidade desta iniciativa, partindo de umaassociação de profissionais que diariamente colaboram com a admi-nistração fiscal, sendo ainda de louvar a presença neste evento, dossenhores oradores, responsáveis pela política fiscal portuguesa dosúltimos 20 anos, que seguramente pela experiência adquirida iriamenriquecer a temática em discussão.

O Presidente do Conselho Directivo do ISEG realçou o interessedesta conferência, constituindo para o Instituto motivo de orgulhoassociar-se à APOTEC, que por força das relações protocolaresexistentes com a Associação bem como pela tradição curricular doISEG, se conjugam numa oportunidade única para o debate dapolítica fiscal.

Nas palavras de Eduardo Couto este evento constitui a oportuni-dade ideal para a apresentação e divulgação do curso de Mestrado emFiscalidade do ISEG, com vista à concretização de objectivos quepermitem a transmissão de competências científicas, pedagógicas ecomportamentais aos estudantes de 2.º ciclo que serão importantesem vários domínios da vida profissional, nomeadamente no que serefere à Fiscalidade.

O Presidente da APOTEC deu as boas vindas aos participantes ereferiu constituir para a Associação uma honra e um orgulho acomemoração dos 45 anos do Código da Contribuição Industrial e daprofunda reforma fiscal então encetada, sem deixar de evocar a figurado Professor Doutor Camilo Cimourdain de Oliveira, único autordeste Código ainda presente entre nós.

Lembrou ainda, que no âmbito da sua participação activa nadefesa dos Técnicos de Contas, o recurso da APOTEC, no passado,ao Tribunal Constitucional, que veio a dar razão à Associação e aconsiderar inconstitucionais os artigos do Código da ContribuiçãoIndustrial e do Código do Imposto de Transacções alusivos à possi-bilidade de suspensão da actividade profissional sem culpa formada.

Conferência “A Evolução da Política Fiscal: Tendências eDesafios”

Frisou que os propósitos da APOTEC se mantém inalteráveis e quea defesa, a formação e actualização de conhecimentos, a apresentaçãoconstante de ideias para discussão nas diversas frentes e entidades emque se faz representar, bem como a realização de novas parcerias comvariadíssimas instituições, têm como objectivo continuar na senda dadefesa dos interesses dos seus associados e finalizou afirmando nãobastar para tal estar presente, mas sim marcar a diferença.

O painel de Oradores desta conferência contou com os nomes jábem conhecidos dos associados da APOTEC, em particular, e dosprofissionais da contabilidade, em geral, como António Carlos San-tos, Vasco Valdez Matias, Rogério Manuel Fernandes Ferreira e JoãoAmaral Tomás.

A mesa dos Oradores, todos eles Ex-Secretários de Estado dosAssuntos Fiscais, foi moderada por Eduardo Paz Ferreira, Advogado,Professor Catedrático e ex-Presidente da Associação Fiscal Portu-guesa.

O primeiro Orador da tarde, António Carlos Santos, chamou aatenção para o facto de não se poder fazer política fiscal sem se terem conta a interdependência entre os Estados e instituições, como porexemplo a UE, a OCDE, a Organização Mundial de Comércio, etc..Há muitos constrangimentos, e cada vez mais fortes, advindos daprópria Integração Europeia ou do Pacto da Estabilidade. Segundodados do Eurostat, nos últimos 10 anos assistimos a um aumento dacarga fiscal global na UE a 27 Estados. Desta forma, a concorrênciafiscal não provocou uma diminuição da tributação na UE, e temoshoje em dia uma estrutura fiscal que não tendeu “para o fundo”, poisa carga fiscal está distribuída de uma forma muito desigual.

A pressão das taxas tributárias sobre o trabalho estabilizou, masas taxas de tributação sobre o consumo e sobre o capital sofreram umaumento. Tendo em conta estas três áreas de impostos, a tributaçãofiscal, apesar de tudo, é mais favorável que há alguns anos.

Verificou-se na tributação sobre o rendimento do trabalho umatendência para uma diminuição dos escalões e quebra da produtivi-dade. Assistiu-se ainda a uma contenção da descida da tributaçãosobre o capital e um maior peso na tributação do consumo emdetrimento da tributação do rendimento.

Concluiu, referindo que o grande desafio que se coloca, nestemomento, é saber como poderemos responder a esta competitividadee concorrência fiscal. E como Portugal conseguirá dar resposta a estedesafio de incerteza internacional, ultrapassando as dificuldadesresultantes da necessidade de uma gestão integrada da “máquinafiscal” a que ainda hoje não se assiste, com uma maior simplificaçãoe optimização dos recursos, a uma maior concentração física dosserviços da administração fiscal num mesmo espaço, para além deuma maior justiça tributária e ao mesmo tempo que permaneceerradamente a tendência para um constante “zigzag” das políticastributárias, sempre que se altera o Governo, sem esquecer a necessi-dade de continuar a cumprir o Pacto de Estabilidade e Crescimento.

O segundo Orador da tarde, Vasco Valdez Matias, referiu que osparadigmas existentes até agora podem estar a alterar-se substancial-mente, e pode estar a alterar-se a tendência no sentido de procurar umdesagravamento fiscal. Por outro lado, assistimos durante largos anosa uma tendência económica para a liberalização, assente no modelosubjacente que ainda hoje vigora – o capitalismo –, procura diminuira despesa e liderança do Estado e promove uma grande liberdade dosagentes económicos. Nos EUA, por ventura, este modelo poderáestar em causa e poderemos estar a assistir, nos últimos dias, a umamudança de paradigma, trazendo uma maior intervenção do Estadona economia. O mesmo poderá vir a suceder na Europa. Estamudança significativa poderá ter reflexos, nomeadamente, a nível dafiscalidade e a nível de alterações da carga fiscal.

NoticiárioNoticiário

JORNAL DE CONTABILIDADE N.º 379 • OUTUBRO 2008 347

Salientou ainda, que se deverá evitar a intervenção do Estado,como tem vindo a ser prática corrente, através de alterações sucessi-vas da legislação, bem como através de uma isenção em larga escalada tributação sobre as mais-valias, devendo de deixar de haverprivilégios de tributação das mais-valias bolsistas.

Por outro lado, afirmou, que dever-se-ia caminhar no sentido doalargamento das bases tributáveis, em sede de IRS e proceder àdiminuição das taxas, passando, eventualmente pela “limpeza” demuitos dos benefícios fiscais. Quanto ao IRC, defendeu uma maiortributação para as empresas que obtivessem uma remuneração maiselevada, ao invés de se dar continuidade à tendência generalizada quese tem assistido, no sentido da diminuição da tributação de todas asempresas. Defende assim, o desagravamento da tributação das PME’spara uma maior justiça tributária. Quanto à tributação do património,as linhas gerais têm sido mantidas, mas é necessário ter muita atençãoe cautela com as avaliações, pois são uma área muito sensível. Há acrescente necessidade de haver uma actualização dos parâmetrosconstante de avaliação e uma consequente monitorização intensa, sobpena que se possam gerar injustiças para “baixo ou para cima”.

Terminou salientando, que hoje, mais importante que criar maislegislação, é implementar uma melhoria da qualidade e simplificaçãodos textos legislativos, desenvolvendo esforços no sentido de estesserem produzidos por técnicos menos envolvidos com o “Fisco”, ouseja que deixem de ser elaborados por fiscalistas e passem a ser daresponsabilidade de juristas. Por outro lado, existe uma maior neces-sidade de protecção dos contribuintes, uma vez que se passam anossem que os tribunais tributários produzam uma única sentença,deixando os contribuintes completamente desprotegidos. Por último,deixou o repto, para que se forme um grupo de trabalho para estudare perceber porque estes tribunais tributários não funcionam, deixan-do esse trabalho a cargo não de juristas, mas sim de gestores.

O terceiro Orador da tarde, Rogério Manuel Fernandes Ferreirafez referência a algumas notas avulsas, que considerou importantese oportunas. Começou por chamar a atenção da necessidade, nopassado, da existência de reformas fiscais estruturais que dotassem osistema fiscal de uma estrutura semelhante aos demais parceirosinternacionais, mas que na verdade carece de simplificação e estabi-lidade normativa, permitindo um aumento significativo dacompetitividade nacional.

Sugere a necessidade de melhorar a relação entre a administraçãofiscal e o contribuinte, fazendo a compatibilização da aplicação dasregras do contencioso tributário, facilitando a vida ao contribuinte eà administração tributária. Neste âmbito, também a caducidade dasgarantias fiscais poderá ser um aspecto a rever, pois não se deveresponsabilizar a administração tributária por atrasos imputáveis aopoder judicial. Igualmente o regime das informações vinculativasdeverá ser revisto, tornando-se mais célere e com respostas maisacertadas.

Afirmou igualmente a necessidade de adaptar o Código deProcesso Tributário à maior rapidez que a informatização trouxe àadministração tributária, e reduzir as constantes alterações legislativas,que se traduzem na dificuldade que os juizes têm em aplicar a lei.Também aqui, sugeriu a criação de comissões arbitrais, paraminimizarem os efeitos da decisões tardias por parte dos tribunais.

Em matéria tributária, sugeriu a existência de uma taxa única deIVA e uma reavaliação global dos benefícios fiscais, tendo em contaa avaliação do seu custo-benefício. Defendeu também a existência deencargos fiscais ou cargas tributárias com incidência noutros tributose não apenas nos impostos e o aperfeiçoamento do regime das taxasque encontramos na relação com as Autarquias Locais, bem como asregras de caducidade e de prescrição.

Enalteceu o esforço no sentido de continuar a política de celebra-ção de protocolos entre outros órgãos policiais e a “máquina fiscal”na luta contra a fraude e evasão fiscal e o aperfeiçoamento dasmatérias relacionadas com o sigilo fiscal.

Terminou afirmando que a tendência futura deverá ser a diminui-ção da tributação de actividades “amigas” do ambiente, aumentandoa tributação a recair sobre actividades nocivas para o ambiente.

O último Orador da tarde, João Amaral Tomás, afirmou que aglobalização não tem afectado, até ao momento, os países da OCDEe da UE, uma vez que se tem verificado uma redução da taxa nominalde tributação do IRC, mas tem sido acompanhada por outros elemen-tos que compensam o efeito da redução, dos quais destacou oalargamento da base tributável e a melhoria significativa da eficiên-cia e eficácia das administrações fiscais, proporcionada pela informa-ção proveniente da aplicação das novas tecnologias e uma generali-zação da aplicação das cláusulas gerais das normas anti-abuso.

Salientou que não é adequado falar de política fiscal sem falar desistema fiscal, e destacou a sigilo fiscal como sendo um dos princi-pais problemas da actualidade, podendo ser enquadrado em quatrovertentes: a normativa ou legislativa; a económica; a organizacionalou administrativa; e os efeitos psicossociológicos, ou seja areceptividade do contribuinte a todas estas alterações que têm vindoa ser implementadas.

Referiu-se ainda às diversas experiências internacionais desen-volvidas, umas com sucesso, outras não, no que se refere à inserçãoda administração tributária na estrutura da administração central,nomeadamente nas diversas alternativas de inserção em variadosministérios, seja finanças, economia, etc., ou ainda à hipótese decriação de uma estrutura independente.

Congratulou-se por se ter vindo a assistir a uma melhoria signi-ficativa na aplicação de medidas que visam a maior eficácia da justiçatributária, mas frisou ser este um dos aspectos mais vulneráveis daadministração tributária. Ainda há muito a fazer no futuro, nomeada-mente para que possamos aproximarmo-nos mais do topo do rankinginternacional.

Outro aspecto que mereceu referência pela sua vulnerabilidade,é a informática tributária, que está sub-dimensionada para respondera todas as prioridades, pois existe um grande número de projectos quenão se conseguem implementar porque não há capacidade instalada,tendo que dar primazia a outras prioridades. Pese embora estasdificuldades, salientou a extraordinária melhoria de eficiência nautilização da informação tributária disponível, tendo possibilitadouma resposta bastante satisfatória ao nível da cobrança executiva,cujo mérito não é tanto o que tem cobrado, mas sim o cada vez menormontante que se tem deixado de cobrar, contribuindo para umaexecução orçamental a decorrer dentro do expectável, dada a conjun-tura internacional.

NoticiárioNoticiário

JORNAL DE CONTABILIDADE N.º 379 • OUTUBRO 2008348