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O TEATRO COMO FORMA DE INTERVENÇÃO SOCIAL:A SAGA DE ENTRA E SAÍ NO REINO DOS SOBRADOS E O“BOM HUMOR POLÍTICO-SOCIAL”

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARA UVA

    PR-REITORIA DE EDUCAO CONTINUADA PROED

    ESPECIALIZAO EM ENSINO DE HISTRIA DO CEAR

    O TEATRO COMO FORMA DE INTERVENO SOCIAL:

    A SAGA DE ENTRA E SA NO REINO DOS SOBRADOS E O

    BOM HUMOR POLTICO-SOCIAL

    EDILBERTO FLORNCIO DOS SANTOS

    SOBRAL-CE

    2013

  • EDILBERTO FLORNCIO DOS SANTOS

    O TEATRO COMO FORMA DE INTERVENO SOCIAL:

    A SAGA DE ENTRA E SA NO REINO DOS SOBRADOS E O

    BOM HUMOR POLTICO-SOCIAL

    Artigo apresentado Pr-Reitoria de Educao Continuada

    PROED da Universidade Estadual Vale do Acara UVA,

    como requisito parcial para a obteno do ttulo de Especialista

    em Ensino de Histria do Cear.

    Orientador: Prof. Msc. Francisco Dnis Melo.

    SOBRAL-CE

    2013

  • FICHA CATALOGRFICA

    SANTOS, Edilberto Florncio.

    O Teatro como forma de Interveno Social: A Saga de Entra e Sa no

    Reino dos Sobrados e o Bom Humor Poltico-Social / Edilberto

    Florncio dos Santos. Sobral, 2013. Artigo de Especializao: Universidade Estadual Vale do Acara UVA.

    29p. Il. Inclui bibliografia.

    1. Fazer Teatral. 2. Cultura. 3. Interveno Social. 4. Sobral-CE.

  • EDILBERTO FLORNCIO DOS SANTOS

    O TEATRO COMO FORMA DE INTERVENO SOCIAL:

    A SAGA DE ENTRA E SA NO REINO DOS SOBRADOS E O

    BOM HUMOR POLTICO-SOCIAL

    Artigo apresentado Pr-Reitoria de Educao Continuada PROED, como requisito

    parcial para a obteno do ttulo de Especialista em Ensino de Histria do Cear,

    outorgado pela Universidade Estadual Vale do Acara UVA.

    Aprovao em: ________ de ________________ de 2013.

    BANCA EXAMINADORA

    ___________________________________________

    Prof. Dr. Francisco Dnis Melo

    (Orientador)

    ____________________________________________

    Prof. Dra. Edvanir Maia da Silveira

    (Convidada)

    ___________________________________________

    Prof. Msc. Igor Alves Moreira

    (Convidado)

  • O TEATRO COMO FORMA DE INTERVENO SOCIAL: A SAGA DE

    ENTRA E SA NO REINO DOS SOBRADOS E O BOM HUMOR POLTICO-

    SOCIAL 1

    Edilberto Florncio dos Santos 2

    Orientador: Francisco Dnis Melo 3

    Resumo: O presente trabalho tem como intento a apropriao do fazer teatro enquanto

    fonte para a discusso e compreenso das questes de seu tempo, por meio do

    movimento de teatro amador desenvolvido na cidade de Sobral nas ltimas dcadas do

    sculo XX, tomando como ponto central desta discusso o espetculo A Saga de Entre e

    Sai no Reino dos Sobrados, montagem realizada pelo Grupo de Teatro da UVA no ano

    1995, que ao levar aos palcos a situao poltica da cidade de Sobral no perodo, pode

    ser entendido enquanto uma interveno social no fazer-se da histria de seu lugar.

    Palavras-chaves: Fazer Teatral. Cultura. Interveno Social. Sobral-CE.

    1 - Introduo

    Quando no conseguimos entender um provrbio, uma piada, um ritual ou um poema, temos a certeza que encontramos algo.

    Analisando o documento onde ele mais opaco, talvez se consiga

    descobrir um sistema de significados estranho. O fio pode at

    conduzir a uma pitoresca e maravilhosa viso de mundo. 4

    A histria comumente conceituada como a cincia do homem no tempo

    (BLOCH, 2002), contudo, podemos afirmar que esse tempo fundamentalmente o

    presente, posto que a histria seja feita e escrita no presente. com o olhar de nossa

    poca, que realizamos nossas aes, emprestamos sentido as coisas e a vida, por meio

    de signos e representaes do nosso tempo; do mesmo modo, com as inquietaes e

    questes contemporneas que o historiador se debrua sobre esse presente j passado,

    distante no tempo, em um dilogo entre o presente do pesquisador e o presente da

    temtica pesquisada.

    1 Artigo de concluso do Curso de Especializao em Ensino de Histria do Cear pela Universidade

    Estadual Vale do Acara UVA. 2 Graduado em Histria pela Universidade Estadual Vale do Acara UVA. E-mail:

    [email protected] 3 Doutorando em Histria UFPE. Professor do Curso de Histria da Universidade Estadual Vale do

    Acara- UVA. E-mail: [email protected] 4 DARNTON, Robert. Apresentao. In: O grande massacre dos gatos. Rio de Janeiro: Graal, 1986.

    pp. 14-15.

  • 2

    Assim sendo, cabe pensar de que forma nos possvel a partir de nosso presente

    ir ao encontro de questes de outros tempos, alguns desses visivelmente ausentes na

    historiografia, onde, conforme afirma Darnton talvez se possa descobrir um sistema de

    significados estranho, que parece nos encarar tal a esfinge da antiguidade a nos

    desafiar: decifra-me ou te devoro.

    A historiografia do sculo XIX, em seu mpeto de afirmar a histria enquanto

    cincia creditou somente ao documento em seu carter oficial, o postulado de nica

    forma de acessar o passado, que por sua vez j se encontrava disposto nas fontes,

    cabendo ao pesquisador apenas traz-lo ao presente. Somente com o alargamento dos

    horizontes da produo do saber histrico e da compreenso da histria enquanto

    elemento intrnseco aos processos sociais, expresso na pluralidade das prticas culturais

    humanas; desencadeado com as proposies tericas e metodolgicas das Escolas dos

    Annales no Sculo XX, que ocorreu um movimento em direo a novas fontes que

    pudessem dar conta do no documentado oficialmente e da pluralidade de vozes que

    se estendiam para alm do poltico e do econmico, temas j consagrados pela

    historiografia, trazendo o universo da arte e da cultura para o debate.

    Esse processo ganha novas perspectivas e contornos mais bem definidos a partir

    da estruturao da Histria Cultural, e o direcionamento a temas, objetos e abordagens

    que privilegiando os aspectos do denso universo cultural em suas diversas formas de

    expresso, permitiam a discusso e problematizao da historicidade de outros aspectos

    da vida e das sociabilidades humanas.

    Assim, a arte em suas formas de produo e expresso paulatinamente foi se

    adensando dentro da produo historiogrfica, embasada na crescente compreenso do

    fazer artstico e dos objetos culturais enquanto obras humanas no tempo, que agregam

    em si os sentidos e sentimentos de seu tempo medida que tambm geradora de

    sentidos, que extravasam a seara do artstico, entranhando-se no social, pois em grande

    parte provem dele e a ele se destina.

    inerente aos homens a necessidade de elaborar representaes a respeito da

    realidade que o cerca, imprimindo e deixando como legado suas impresses e

    interpretaes sobre os fatos e o meio em que desenvolve sua existncia, atravs da

    elaborao de objetos culturais, que podem ser desde obras artsticas ou como nos

    lembra Darnton, citado na epgrafe deste texto, um provrbio, uma piada, um ritual ou

    um poema.

  • 3

    O trato com estes objetos culturais tem exigido dos historiadores um constante

    repensar de seus paradigmas e metodologias de trabalho, visando buscar nessas

    expresses, elementos suscetveis discusso e problematizao no campo da histria.

    Ou seja, o trabalho de historicizar as fontes culturais, traando um dilogo entre histria

    e arte, se insere em um campo de pesquisa que requer certa ateno s nuanas e

    modelos particulares relativos a cada linguagem, assim como as quebras desses

    paradigmas, as tintas da subjetividade e teor criativo que fomentam tais produes.

    Deste modo, poderamos entender a tentativa de se apropriar das fontes e objetos

    artstico-culturais, buscando historicizar seus processos de produes e sua insero e

    repercusso na realidade social de um dado perodo, com um dilogo de subjetividades.

    Travado entre a subjetividade do pesquisador que recorta um tema e se lana a ele

    imbudo das questes do presente, que pessoalmente e academicamente o inquietam, e a

    subjetividade e o senso artstico que moveu determinados sujeitos a se expressarem por

    meio da produo de objetos culturais.

    Da mesma maneira que a realidade social no pode ser compreendida como um

    dado pronto e acabado, as representaes sobre ela tambm deve ser entendida como

    fruto de um processo de construo, que mistura individualidade e coletividade, imersas

    nas tramas da subjetividade dos sujeitos, mas ligadas a leituras de mundo e de presente,

    que permitem ao historiador, em alguns casos, adentrar certos aspectos do passado, que

    no seriam possveis no campo da oficialidade dos documentos consagrados pela

    historiografia do sculo XIX.

    De todo modo, o trabalho com tais fontes demanda um olhar de certo modo

    acurado, para apreender os elementos em jogo durante a tessitura de determinado objeto

    artstico, compreendido enquanto ponto de interseco entre realidade e as

    possibilidades de leitura e interpretao desta por meio de signos e convenes

    artsticas. Pois, conforme afirma Giselle Venncio (2006, p. 12):

    ... as percepes do social no so discursos neutros, mas, ao contrrio,

    espaos de lutas de representao. (...) As estruturas do mundo social no so

    assim, um dado objetivo previamente estabelecido, mas sim, historicamente

    construdas num espao de lutas de representao entre os grupos sociais.

    O teatro ao longo de sua histria tem sido empregado por seus artfices como

    instrumento e linguagem para as discusses e reflexes sobre os problemas e questes

    sociais de seu tempo, buscando levar aos palcos, arenas, ruas e praas, e ao pblico a

    oportunidade de pensar a prpria condio humana e suas demandas polticas, sociais e

  • 4

    culturais, por meio dos enredos e personagens que tomam vida na cena, mas tem seu

    substrato na realidade vivida e compartilhada por artistas e plateia, em um jogo de

    alteridade.

    No Brasil, as pesquisas sobre a Histria do Teatro tem-se estruturado na busca

    por entender o dilogo entre as obras artsticas e suas interseces e inseres na

    realidade social, seja por meio da histria dos artistas e companhias, pela linguagem

    cnica adotada ou pelo contedo poltico e social dos textos e montagens realizadas.

    Desta maneira, segundo Rosngela Patriota essa historiografia do teatro brasileiro est

    marcada por uma concepo de arte capaz de intervir no processo histrico. (2005,

    p.81)

    Nesse sentido se tornaram referncias as experincias teatrais desenvolvidas

    durante as dcadas de 1960 e 1970, como expresses de um perodo em que se forjou

    um teatro com ideais polticos, atravs de uma cena militante, de forte engajamento com

    a realidade daquele momento. Marcado pela instaurao e consolidao de um regime

    ditatorial civil-militar no Brasil, e que, se por um lado restringia as liberdades, vigiando

    e censurando as manifestaes artsticas, por outro fez brotar uma atividade cnica

    insurgente, que ansiavam por mudanas e tinha na expresso artstica uma forma de

    levar esse discurso a pblico, discutindo a realidade, muitas vezes atravs de metforas

    e jogos de linguagem resignificados, com o intuito de burlar os censores, sem, no

    entanto, perder a comunicao com suas plateias.5

    Contudo, de que forma pensar o dilogo entre a abordagem dada a estas

    montagens teatrais consagradas pela historiografia do teatro brasileiro e a produo do

    espetculo A Saga de Entra e Sai no Reino dos Sobrados, montada pelo Grupo de

    Teatro da UVA no ano de 1995 na cidade de Sobral; compreendendo que a experincia

    cnica abordada neste trabalho foi perpetrada fora do eixo temporal, dcadas de 1960 e

    1970, e geogrfico, marcado por companhias de So Paulo, Rio de Janeiro e Minas

    Gerais; por um grupo de artistas amadores, ausentes na memria social da cidade?

    Entendemos que discutir o teatro sobralense, e mais especificamente o

    espetculo A Saga de Entra e Sai no Reino dos Sobrados, pensar a pluralizao da

    escrita sobre a histria do Teatro no Brasil, evidenciando a importncia desse tipo de

    5 Ver: PARANHOS, Ktia Rodrigues. Arte e engajamento no Brasil ps-1964: dramaturgos e grupos de

    teatro trafegando na contramo. Anais do XX Encontro Regional de Histria. ANPUH/SP, 2010.

    SOUSA, Dolores Puga A. de. O Brasil do Teatro Engajado: a Trajetria de Vianinha, Paulo Pontes e

    Chico Buarque. Fnix Revista de Histria e Estudos Culturais. Janeiro/ Fevereiro/ Maro de 2007 Vol. 4. Ano IV n 1.

  • 5

    fonte para a discusso das possibilidades de escrita e interpretao da histria cultural

    da cidade de Sobral. Do mesmo modo, acreditamos na necessidade de dilatar as

    fronteiras temporais e de localizao das discusses sobre as atividades cnicas, nos

    debruando sobre a experincia local, e seus dilogos e peculiaridades com outras

    produes, provocando descentramentos.

    Assim, compreendo a aguda insero da Saga de Entra e Sa, seja enquanto

    texto ou como encenao que intervm junto ao seu pblico, nos problemas sociais e

    polticos em voga na cidade de Sobral em meados da dcada de 1990, nossa concepo

    a de pens-la, no somente como objeto cultural, mas, sobretudo como uma forma de

    interveno social estabelecida por meio de uma prtica cultural. (COSTA, 2005. p.

    03).

    Mesmo fora dos recortes consagrados pela historiografia do teatro brasileiro, ou

    mesmo da histria oficial da cidade de Sobral, o espetculo do Grupo de Teatro da UVA

    se insurge como um ato de resistncia, de engajamento, de crtica e de denncia dos

    problemas locais, Propondo a populao uma condio em que mais que se identificar

    ela possa se espantar, se vendo como uma personagem do enredo que est para alm

    do palco e que transborda em questes do cotidiano da cidade e de seus moradores,

    provocando-os a refletir e agir sobre a realidade enquanto sujeitos de sua prpria

    histria.

    2- Um Entra e Sa de Cena: o Movimento Teatral Sobralense e o Grupo de

    Teatro da UVA

    Antes de adentrarmos nas questes sobre a idealizao e montagem dA Saga de

    Entra e Sa, e aps uma breve, porm importante, discusso sobre a escrita da histria

    do teatro no Brasil enquanto campo de pesquisa; acreditamos ser necessrio perceber de

    que forma se construiu a experincia teatral sobralense ao longo de sua histria, e onde

    a experincia do Grupo de Teatro da UVA se insere nesse processo. Buscando

    compreender a conjuntura social e poltica sobre as quais esses artistas produziram seus

    experimentos cnicos, bem como o cenrio cultural e artstico pelo qual passava a

    cidade de Sobral, problematizando inclusive, a relativa ausncia de referncias s

    produes teatrais dessa gerao de atores.

    A histria do teatro sobralense, enquanto narrativa sobre os sujeitos que se

    dedicaram em diferentes tempos e de diferentes formas a tal arte, se insurge no enredo

  • 6

    da historiografia de Sobral como o indcio de uma falta,6 que negligenciou a dimenso

    de sua presena e importncia enquanto elemento constituinte da cultura e da sociedade

    local, e que se fez na cidade, medida que construiu com seus atos e cenas a histria

    deste lugar.

    Esta falta aparentemente preenchida pela monumentalidade do centenrio

    Theatro So Joo,7 que se apresenta na cena da histria local, como smbolo dos tempos

    ureos, e do que seria o elevado grau de civilizao dos sobralenses. Fruto da iniciativa

    de um grupo de jovens intelectuais do perodo Antnio Joaquim Rodrigues Jr.

    (conselheiro Joaquim Rodrigues), Jos Jlio de Albuquerque Barros (Baro de Sobral),

    Joo Adolfo Ribeiro da Silva e o Domingos Olmpio, autor do romance Luzia-Homem

    que fundaram em Sobral a associao cultural Unio Sobralense, o Theatro So Joo

    tm sua pedra fundamental lanada em 3 de novembro de 1875, sendo inaugurado

    aps cinco anos de construo, entremeados por um perodo de grande seca no dia 26

    de setembro de 1880; constituindo-se como o segundo theatro mais antigo do Cear.

    (ARAJO, 2005) 8

    A monumentalidade expressa pelo Theatro So Joo em sua imponncia quase

    sacra no tecido citadino levando alguns moradores desavisados a se benzer ao

    passar em frente ao imvel assim, como sua construo, anterior 25 anos a construo

    do Theatro Jos de Alencar na capital cearense, questo sempre citada quando das

    enunciaes sobre o Theatro; personificam a presena de um discurso fundante da

    identidade local ideal, que tem como um de seus elementos essenciais um suposto

    requinte e apreo pelas artes, tido como elemento que busca rememorar e reafirmar os

    grandes feitos e os grandes fatos, relacionados a figuras ilustres sobralenses, como no

    caso dos responsveis pela construo da casa de espetculos.

    Tal questo pode ser observada, quando, somos recebidos no hall do Theatro

    So Joo pela figura do escritor Domingos Olmpio, por meio de um busto presente em

    um nicho frente da porta de entrada do edifcio, evidenciando sua centralidade no

    6 Esta proposio foi desenvolvida por ns no trabalho de concluso de curso. Ver: SANTOS, Edilberto

    Florncio dos. Existir - fazendo, atuando: o movimento teatral na cena sobralense (1983- 1996). 2012.

    Monografia. (Licenciatura em Histria). Universidade Estadual Vale do Acara, Sobral, 2012. 7 Aps a ltima reinaugurao do Theatro So Joo, no ano de 2004, buscou-se oficializar a grafia do seu

    nome com th (Theatro), como costumam manter as casas de espetculos mais antigas. Neste trabalho, a grafia do termo teatro com th, serve tambm para diferenciar o fazer artstico (teatro) e o edifcio teatral (Theatro). 8 O So Joo cronologicamente o segundo teatro mais antigo do estado, inaugurado em 1880. Fazendo

    parte da trade dos teatros antigos cearenses, antecedido pelo Teatro da Ribeira dos Ics, na cidade de Ic,

    datado de 1860, e seguido pelo Theatro Jos de Alencar na capital, de 1910.

  • 7

    discurso sobre a histria do Theatro. Enquanto outro homenageado, o ator e diretor

    Clotrio Aguiar, natural de Corea e radicado em Sobral, que desenvolveu suas

    atividades teatrais no grupo amador Teatro Escola Sobralense, entre as dcadas de 1950

    a 1970; empresta seu nome ao foyer do Theatro desde a reforma feita em 1989, sem que

    hoje, possa se encontrar qualquer referncia a Clotrio, fazendo com que tal

    homenagem se perca no tempo e seja completamente desconhecida aos frequentadores

    da casa de espetculos.

    Deste modo, impulsionados pelo exemplo de Clotrio Aguiar, cabe reflexo:

    onde esto os sujeitos que atuaram nesta cidade, que subiram no tablado e sob os sois

    postios do palco deram vida a personagens e enredos, que fizeram inmeras vezes as

    plateias se emocionar, divertir, indignar e refletir sobre diversas questes de seu tempo e

    sobre a prpria condio humana? Onde podemos ver as pessoas que nas noites de

    espetculo sentaram-se nas frisas, camarotes e gerais do Theatro,9 para ver as

    companhias locais, outras nacionais e at internacionais subirem a cena? Onde se

    encontram os tcnicos, funcionrios, os vendedores que serviam os frequentadores do

    So Joo, e at mesmo os seus moradores? 10

    Mesmo consciente que tais questionamentos extrapolam as dimenses de um

    artigo, permanece a inquietao quanto ausncia de outros sujeitos na histria do

    teatro sobralense, para alm dos responsveis pela construo de seu edifcio,

    consagrados na historiografia tradicional; ou seja, a presena dos homens e mulheres

    que construram a histria do teatro em Sobral e que no esto presentes na histria da

    cidade e do seu Theatro.

    Cabe ressaltar que as incurses da juventude sobralense no campo das artes

    dramticas j estavam presentes antes mesmo da construo do So Joo, haja vista a

    existia de um outro espao dedicado as artes cnicas na cidade, o Theatro Apolo,

    localizado na antiga Rua da Gangorra, hoje Rua Deputado Joo Adeodato, abrigando as

    atividades do Clube Melpmene entre os anos de 1866 a 1910, permanecendo ativo

    inclusive contemporaneamente ao So Joo.

    9 As frisas correspondem a um compartimento instalado a cada lado do proscnio um nvel acima da

    plateia, permitindo, assim como nos camarotes, uma melhor visualizao dos espetculos,

    correspondendo aos ingressos mais caros. J a geral ou galeria, diz respeito parte da sala mais alta e

    mais distante do palco, com entradas de menor custo. 10

    Na dcada de 1980, um pequeno grupo de moradores desabrigados durante uma das cheias do Rio

    Acara passa a residir no poro do Theatro a mando da prefeitura, em uma ao inicialmente provisria, e

    que na verdade se estende nas gestes municipais subsequentes, entrando na dcada seguinte.

  • 8

    Entre o Clube Melpmene e a atuao contempornea das companhias de teatro

    em Sobral, a cena teatral da cidade se manifestou de diversas e formas e em diferentes

    vertentes estticas da arte dramtica ao longo do tempo. De todo modo, os atores,

    atrizes, diretores e dramaturgos, que vo levar a cabo a experincia desenvolvida na

    Saga de Entra e Sa junto ao Grupo de Teatro da UVA, so personagens de outro

    momento da histria do teatro na cidade. Tais artistas fazem parte de uma gerao que

    toma a cena sobralense no perodo do final da ditadura, fazendo brotar diversos grupos e

    montagens que vo se apresentar em Sobral e na regio, inaugurando um momento de

    bastante efervescncia na cultura local.

    Nos anos de 1980 consolida-se um movimento de chegada de novos atores e

    atrizes, advindos de bairros perifricos que penetram no centro da cidade a partir do

    teatro, comeando a discutir a realidade poltica e social de seu tempo, trazendo para

    cena teatral e para a histria sobralense, sujeitos e questes no contempladas pelo fazer

    teatral precedente. Assim, as comdias de costumes e os romances burgueses encenados

    nas dcadas anteriores nos palcos sobralenses, seus temas, enredos e personagens, vo

    dar espao a figuras como camponeses, agricultores, retirantes, negros, prostitutas,

    indigentes e toda uma classe de desfavorecidos, a partir da discusso de temas como

    liberdade, explorao, misria, reforma agrria, migrao, sade, moradia, educao,

    preconceito, corrupo, e diversas outras questes que estavam na ordem do dia para

    estes jovens que passam a se manifestar e militar atravs do teatro.

    recorrente entre aqueles que vivenciaram a agitao do teatro sobralense

    desse momento, a afirmao do engajamento religioso e da militncia poltica, como

    elementos essenciais na formao de uma nova atuao no campo da produo teatral

    desenvolvida no perodo. Pois, se os espetculos levavam aos palcos as discusses em

    torno de questes sociais do perodo, isso se d, grosso modo, devido insero destes

    sujeitos em uma conjuntura que extrapola a linguagem teatral, ou seja, as lutas por

    demandas sociais, na qual estavam inseridos e que os levaram a discutir tais temticas

    no campo da arte.

    Os fatores e organizaes referenciados pelas falas dos atores e atrizes enquanto

    elementos que influram no surgimento deste processo de consolidao de uma nova

    vertente cnica, dizem respeito ao junto aos movimentos jovens de carter religioso,

    mais diretamente a atuao leiga nos movimentos catlicos organizados a partir de

    grupos como as Comunidades Eclesiais de Base (CEB's) e a Pastoral da Juventude do

    Meio Popular (PJMP), oriundos de um processo de mudana no posicionamento da

  • 9

    Igreja Catlica, por meio das propostas de atuao social experienciadas na conjuntura

    das dcadas de 1960 e 1970. Associada a relao da juventude com o engajamento

    poltico-militante nos partidos de esquerda, no presente caso, relacionados aos quadros

    do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) na cidade

    de Sobral, que recm-sados da clandestinidade, ganhavam a adeso da juventude local,

    ora disputando ora misturando-se aos quadros da Igreja, contribuindo para o processo de

    politizao desta gerao.

    nesta conjuntura que se do as primeiras experincias com teatro de muitos

    dos sujeitos que iro atuar na produo teatral dos anos seguintes. E a tambm onde

    ocorre a criao do Grupo Teatral Reluz no ano de 1983, fundado pela unio entre

    alguns seminaristas diocesanos, entre eles Carlos Rodrigues e Rognio Martins, que

    contriburam intensamente nessa gerao de artistas; e alguns membros do grupo de

    jovens chamado Shalom, buscando levar a pblico as crticas s desigualdades e

    injustias sociais discutidas nas reunies e leituras do movimento pastoral por meio do

    fazer teatral.

    Aps a montagem de diversas esquetes e pequenos espetculos, no ano de 1986

    um novo momento se inicia na histria do teatro na cidade, neste ano o movimento

    teatral de Sobral se filia a Federao Estadual de Teatro Amador do Cear (FESTA),

    pondo o teatro sobralense em relao direta com os diversos grupos e artistas de todo o

    estado, atravs da participao em oficinas, intercmbio artsticos e das mostras de

    teatro amador, levando o Grupo Reluz a participar da IX Mostra de Teatro Amador, na

    cidade de Fortaleza.

    No ano seguinte Sobral se torna uma das cidades cearenses a receber um dos

    ncleos do Centro de Ativao Cultura (CAC's), projeto do governo do estado que

    objetivava mobilizar as expresses culturais locais, englobando diversas reas do fazer

    artstico, com acentuado destaque s manifestaes da cultura regional. Tendo como

    sede as dependncias do Theatro So Joo, o CAC inaugura um novo momento de

    fomento s expresses artsticas na cidade, de ocupao do centenrio prdio, e de

    efervescncia cultural no campo das artes.

    Fruto dos intercmbios e da relao do movimento teatral sobralense com a

    Federao Estadual de Teatro Amador do Cear, Sobral sedia no ano de 1987, a X

    Mostra de Teatro de Amador, compreendido pelos artistas como um momento

    primordial para o estabelecimento de uma nova postura diante da produo cnica local,

    tanto por parte dos artistas como da sociedade sobralense, ao menos no perodo

  • 10

    imediatamente posterior ao evento. A Mostra, segundo as memrias dos artistas

    envolvidos, parece afirmar uma espcie de reconhecimento, que vindo de fora, gesta

    uma nova forma de ver a produo teatral local, onde mesmo no havendo grandes

    investimentos ou apoio aos grupos, passa a reconhecer sua existncia e atuao.

    Com a desarticulao do CAC no ano de 1989, e a ausncia da gesto municipal

    nas questes concernentes a cena artstica na cidade, o movimento teatral sobralense, na

    virada para a dcada de 1990, buscar estreitar relao com outras entidades, no intuito

    de fomentar as atividades culturais na regio, consolidando parcerias, com o Servio

    Social do Comrcio (SESC) e a Universidade Estadual Vale do Acara (UVA).

    Foi por meio deste intercmbio com a Universidade que nasceu o Grupo de

    Teatro da UVA, enquanto ao de extenso que movimentaria sobremaneira a vida

    cultura da instituio, da cidade e da regio norte do estado, em um processo de

    aproximao entre o ambiente acadmico e a comunidade por meio da arte.

    3- O Grupo de Teatro da UVA e a empreitada de existir-fazendo, participando,

    atuando

    A relao do movimento amador de teatro com a academia, j se havia iniciado

    antes mesmo da dcada de 1990, com a realizao de algumas apresentaes dos grupos

    sobralenses para o pblico universitrio, bem como na participao comum, de

    professores, estudantes e artistas nas aes do movimento estudantil, partidos de

    esquerda, e na constante presena de manifestaes teatrais em momentos de encontro e

    luta destes movimentos em Sobral e regio.

    No entanto, somente nos anos de 1990, a partir de uma proposta de extenso

    cultural consolidada pela Pr-Reitoria de Extenso, na pessoa do seu Pr-Reitor o

    professor Benedito Gensio Ferreira, consolidou-se um projeto mais efetivo de fomento

    a atividades artstico-culturais que rompiam os muros da universidade e ganhavam as

    ruas e praas. Surgiram ncleos artsticos de atuao nas reas da dana, xilogravura,

    poesia e teatro, que movimentavam o cotidiano da universidade atravs de oficinas e

    vivncias com diversos artistas de destaque no cenrio estadual, como a bailarina Silvia

    Moura, o bonequeiro Omar Rocha do Circo Tupiniquim, e a atriz Graa Freitas, do

    Grupo Independente de Teatro Amador (GRITA) de Fortaleza, entre outros.

    No segmento do teatro as movimentaes em torno da consolidao de um

    ncleo de produo cnica surgiram em outubro de 1992, atravs da criao do Grupo

  • 11

    de Teatro da UVA, com a contratao da atriz e diretora fortalezense Aida Marsipe para

    assumir a direo da companhia, ministrando oficinas e produzindo algumas montagens

    com os alunos da universidade, aos quais se somaram os artistas j em atividade na

    cidade, alguns deles na condio de discentes da universidade.

    Inicialmente vinculada ao SESC Sobral, depois indo assumir o ncleo de teatro

    da UVA a convite do Projeto de Extenso Cultural, a atuao de Aida Marsipe enquanto

    diretora do grupo e articuladora cultural na cidade fomentou, com o apoio da

    Universidade, uma leva de intercmbio e de produo teatral bastante fecunda para a

    cena teatral sobralense, a exemplo do que ocorria na dcada anterior pela presena do

    CAC na cidade, possibilitando um grande nmero de oficinas com artistas do estado,

    bem como a circulao dos espetculos produzidos pela companhia da UVA em

    diversas cidades da regio.

    Sobre a proposta que fundamentava a atuao do Grupo de Teatro da UVA,

    podemos ver no folder de divulgao das apresentaes natalinas do ano de 1994, a

    diretora da companhia, apresentando uma reflexo sobre a realidade enfrentada no

    cotidiano dos que insistiram e persistiram no sonho de fazer teatro a partir da realidade

    social, cultural, poltica e econmica de Sobral e regio:

    Desde outubro de 1992 estamos uma p de gente e eu nesta empreitada de formar o Grupo de Teatro da UVA. Formar no sentido de existir-fazendo,

    participando, atuando. O nosso objetivo, ainda, est distante, embora, j

    vislumbremos a linha do horizonte. [...] Os que sabem o preo de se fazer

    teatro no Brasil, no Nordeste, no Cear, em Sobral e na UVA percebem o

    feito. Os demais, oxal, cheguem a esse conhecimento e sobretudo a

    conscincia necessria sobre o sentido do fazer artstico.11

    Existir-fazendo, participando, atuando, esse era o sentido da produo do

    Grupo de Teatro da UVA, e porque no dizer do movimento teatral de Sobral como um

    todo. As palavras de Aida evidenciam os desafios da produo artstica local,

    personificados no empenho, na perseverana e no carter de resistncia imbricado

    nesta empreitada, ante os rgidos estratos da sociedade sobralense.

    Ao longo do seu perodo de atividades, o grupo responsvel por montagens

    como: Cristovo Colombo culpado ou inocente?, A Roupa Nova do Rei; os

    espetculos natalinos A Viglia da Noite Eterna e O Boi e Burro no Caminho de Belm,

    assim como a realizao da primeira atividade de leitura dramtica com o texto PT

    11

    Folder de apresentao dos Espetculos Natalinos do Grupo de Teatro da UVA, Sobral-CE, 1994.

    Arquivo Rognio Martins.

  • 12

    Saudaes. Com esse repertrio o grupo realiza diversas apresentaes em diversas

    cidades da regio norte do Cear como Camocim, Bela Cruz, Granja, Santa Quitria,

    Hidrolndia, Gijoca, Senador S; levando a proposta cnica s reas de abrangncia do

    pblico discente da UVA, basicamente composto por alunos de cidades da regio,

    propagando a ideia do teatro nos locais onde passava com seus espetculos.

    Com o espetculo A Roupa Nova do Rei, no ano de 1993, o Grupo de Teatro da

    UVA leva o nome de Sobral a primeira edio do Festival Nordestino de Teatro de

    Guaramiranga, hoje um dos mais conceituados festivais teatrais do pas, inserido no

    circuito dos principais grupos cnicos do Nordeste, bem como companhias de renome

    nacional. Com a montagem de A Viglia da Noite Eterna do dramaturgo cearense B. de

    Paiva, e O Boi e Burro no Caminho de Belm de Maria Clara Machado, a trupe teatral

    consolida a proposta de descentralizao do acesso arte, realizando diversas

    apresentaes em frente a Igrejas, em praas e associaes de diversos locais da

    periferia do municpio.

    No ano de 1995, mesmo com a sada da diretora Aida Marsipe, a companhia

    realiza sua ltima grande montagem com o irnico e sugestivo ttulo de A Saga de Entre

    e Sai no Reino de Sobrados, lembrado pelos atores da poca como um dos mais

    importantes espetculos produzidos em Sobral, pela gerao de atores e atrizes advindos

    das atividades cnicas desenvolvidas a partir da dcada de 1980.

    4- Nossa realidade de cidade em crise: O teatro olha a realidade... e se espanta!

    Tomando como base as formulaes de Roland Barthes nos propomos a discutir

    a encenao da Saga de Entra e Sa no Reino dos Sobrados, entendendo seu texto como

    uma significncia, ou seja, que no se encontra acabada, fechada em si mesmo, mas

    dialogando com outros textos (intertextualidade), articulada assim com a sociedade,

    com a Histria, no segundo vias deterministas, mas sim citacionais. (BARTHES,

    2001, p. 304) Desta maneira, pensamos as significncias do fazer teatral presente na

    montagem do Grupo de Teatro da UVA, enquanto objeto artstico inserido no embate

    entre Arte e Sociedade, mais precisamente aquele que explica o enfrentamento com as

    questes de seu tempo. (PATRIOTA, 2004, p. 235)

  • 13

    No caso da Saga, esse enfrentamento encontra no fazer teatral, enquanto objeto

    cultural, no s uma forma de gerar reflexo, mas de intervir socialmente.12

    Essa

    preocupao est expressa no prprio folder do espetculo, onde a companhia manifesta

    a concepo que ... o fazer teatral, aliado realidade, opera conscientemente a

    simbiose entre a Arte enquanto veculo de consagrao humana, e a realidade, enquanto

    instrumento do nosso dia-a-dia. 13

    Assim, a anlise do texto do espetculo, hoje presente no arquivo pessoal de

    alguns dos atores que participaram da montagem, para ns se caracteriza como forma de

    acessar certos elementos da historicidade dos processos que a cidade de Sobral

    vivenciava nos primeiros anos da dcada de 1990, ou, como afirmar Darnton, um fio

    que pode at conduzir a uma pitoresca e maravilhosa viso de mundo.

    Mergulhando, durante o processo de pesquisa, nas pginas datilografadas e

    amareladas da pea e percebendo sua proposta cnica, ficam evidentes as relaes entre

    o texto e o lugar de onde fala seu autor, o poeta, dramaturgo e historiador Denis Melo.

    Ou seja, na Saga de Entra e Sai no Reino dos Sobrados fica latente, a insero do olhar

    do historiador que atravs da dramaturgia e do poder crtico da arte, congrega as duas

    artes, Histria e Teatro, refletindo sobre o seu tempo e a sociedade em que est inserido,

    e para qual se destina seu texto.

    Tal relao evidente no texto de apresentao presente no folder da montagem,

    que repleto de terminologias tpicas das Cincias Humanas e da Histria, parece

    introduzir o pblico do espetculo a compreenso de que a cena que ir se produzir se

    constitua a partir dos instrumentos e das discusses da seara fecunda da Histria,

    aproximando duas das filhas de Zeus e Mnemosine, Clio, musa da histria e

    Melpmene, musa da tragdia. O escrito, muito embora no explicite o autor, atravs do

    linguajar e da constncia dos jarges da rea, facilmente se credita a algum com o

    olhar e a sensibilidade forjada pelo conhecimento histrico, atenta aos enredos do

    cotidiano. Se no vejamos:

    Todos ns, dentro de nosso contexto e de nossas perspectivas, somos agentes

    da histria... O sculo XX, batizado de O Sculo das Iluses Perdidas, nos oferece, continuamente, espetculos aos olhos... Mas necessrio ter olhos

    clnicos para ver que a Realidade tem facetas, mscaras e personas...

    12

    A discusso sobre as prticas culturais como intervenes sociais foi inspirada no trabalho: COSTA,

    Rodrigo de Freitas. Apropriaes e Historicidade de Tambores Na Noite no Brasil de 1972. Fnix Revista de Histria e Estudos Culturais Janeiro/ Fevereiro/ Maro de 2005 Vol. 2. Ano II n 1 13

    Fragmento retirado do folder de apresentao do espetculo A Saga de Entra e Sai no Reino dos Sobrados, Grupo de Teatro da UVA. Sobral, 1995.

  • 14

    necessrio saber ver, j dizia Sartre. A Saga o resultado de nossa viso, de

    nossos olhos clnicos... O Grupo de Teatro da UVA, inserido dentro de uma

    realidade histrica cotidiana, se debrua sobre as facetas de nossa realidade

    de cidade em crise e se espanta! [grifo nosso] 14

    por meio dos olhos clnicos, e da conscincia de que todos so agentes de sua

    realidade histrica cotidiana, que o espetculo se inseriu sobre a realidade de uma

    cidade em crise, perfazendo-se em um espantalho com o intuito de gerar espanto no

    Reino dos Sobrados, para que deste espanto sejam fecundadas as aes que vo se

    insurgir sobre a vida cotidiana, modificando-a.

    Figura 01 Cartaz da pea A Saga de Entra e Sa no Reino dos Sobrados Fonte: (Apud: SILVERA, 2013)

    Mas que realidade era essa que Sobral vivenciava e que a tornava uma cidade

    em crise aos olhos clnicos do Grupo de Teatro da UVA? Quem eram as personas, as

    facetas e mscaras que inquietavam a populao sobralense? Como essas questes

    repercutiram no Reino dos Sobrados at ganhar corpo e expresso no palco atravs do

    espetculo?

    A historiadora Edvanir Maia da Silveira, em seu trabalho sobre a poltica

    municipal em Sobral no perodo entre o Regime Militar e a Nova Repblica, define a

    situao poltica sobralense no incio da dcada de 1990, como um momento de

    transio e de busca por mudanas, em decorrncia ao que j se desencadeava a nvel

    estadual e nacional, e que desestruturava os alicerces e as alianas da poltica local.

    14

    Folder de apresentao do espetculo A Saga de Entra e Sai no Reino dos Sobrados Grupo de Teatro da UVA, Sobral-CE, 1996. Arquivo Rognio Martins.

  • 15

    Quase dez anos aps o fim do regime militar e do poder dos coronis no

    Cear, a sobrevivncia dessas, que foram as principais agremiaes polticas

    sobralenses por trs dcadas, parecia j ter ido longe demais. A dcada de

    noventa consumava a crise dos velhos chefes e afirmava a ascenso dos

    novos. (SILVEIRA, 2013. p. 183)

    Esse momento de transio que afetou a sociedade sobralense interferiu em

    questes j consolidadas no tecido social da cidade h bastante tempo. Tais questes

    tambm foram sentidas no campo da cultura, e no caso do teatro a questo envolvia

    entre outras demandas, as disputas entre a classe artstica e a administrao pblica pelo

    uso do Theatro So Joo, que a muito j havia passado da gerencia privada, como havia

    sido em sua construo pela Unio Sobralense, para gerncia municipal.

    Os embates se iniciam ainda em 1989, neste ano Jos Parente Prado era eleito

    prefeito de Sobral, realizando como de praxe modificaes no quadro do secretariado

    municipal. Dentre as mudanas, estava a alterao do responsvel pela Secretaria de

    Cultura, que desencadeou um processo de reforma no edifcio do Theatro So Joo,

    retirando o Centro de Ativao Cultural (CAC) do prdio e desarticulando a

    movimentao gerada a partir das atividades deste ncleo.

    A desarticulao do CAC, e o processo de reforma do Teatro So Joo que

    entre outras questes alterava a pintura do edifcio entre a sua cor tradicional rosa para

    azul, cor partidria do prefeito; acabaram gerando protestos da classe artstica

    sobralense. O movimento artstico local organizou uma manifestao de repdio as

    aes do recm-empossado prefeito, na qual os artistas saram em procisso pelas ruas

    da cidade, levando um caixo azul, a nova cor do Teatro, com os dizeres Deu prego na

    Cultura!, em referncia ao novo secretrio de Cultura, conhecido popularmente como

    Z Preguim. Segundo o ator e diretor Rognio Martins:

    Quando , mais ou menos em 89, o prefeito o Z Prado, e a ele no quer

    mais o Centro de Ativao Cultural de Sobral, porque se envolvia muita

    gente. Ento, ele fez com que o movimento se desarticulasse, na realidade se

    desarticulasse, o CAC. [...] Quer dizer, o movimento acabou, na realidade,

    porque at ele chegou a pintar o Teatro de azul. [...] Ele colocou outro

    secretrio, ele tirou o Marcelo Barreto e coloca seu Joaquim. E o Seu

    Joaquim tinha um apelido que era prego. E de repente quando a gente [...] coloca o caixo, coloca o nome no caixo com uma faixa. A, a gente sa da

    Santa Casa at o bairro Dom Expedito nessa procisso, nessa caminhada, via

    sacra. Na realidade, dizendo que deu prego na cultura!. Porque alm de ter acabado com o CAC, a gente tinha basicamente... Porque a gente j tinha

    discutido a questo do patrimnio histrico, n, e ele tinha tirado a cor do

    Teatro, e colocado o azul. E ento at na hora, a gente veio tambm com um

  • 16

    caixo de anjo, por que o Teatro ali passou a ser um caixo de anjo, por conta

    da cor. Mas foi uma manifestao que se deu. 15

    Os embates so apaziguados com convite da gesto municipal aos atores e

    atrizes sobralenses para realizarem o espetculo de reinaugurao do Theatro So Joo,

    citados pelos artistas como uma tentativa de acalmar os nimos. Originando a

    montagem do espetculo o Auto do Lampio do Alm, tido como a primeira grande

    montagem dessa gerao de artista, tanto pelo suporte financeiro dado pela gesto

    municipal para a realizao do espetculo, como pela aceitao do pblico.

    O texto, uma adaptao feita pelo dramaturgo piauiense Gomes Campos de um

    enredo proveniente da literatura de cordel, narra a histria da chegada de Lampio e

    seus cangaceiros ao inferno, e seu embate com Lcifer pelo trono de soberano das

    profundezas. O enredo tem como foco a crtica bem-humorada aos conflitos de

    poder, representados na luta entre os personagens principais da histria, evidenciando os

    mecanismos de dominao dos poderosos, como a compra de votos, a sobreposio

    de interesses pessoais ao bem coletivo, os jogos de interesses, as alianas polticas entre

    os detentores do poder. Ironicamente, essas questes soariam quase como um pressgio

    ao que a cidade iria vivenciar nos anos seguintes.

    No ano de 1992, saem vitoriosos das eleies municipais Francisco Ricardo

    Barreto e Aldenor Faanha Jnior, apoiados pela tradicional famlia Barreto que desde

    anos anteriores mantinha relaes diretas com a poltica local. Contudo, de acordo com

    Silveira, os novos arranjos no cenrio poltico, a falta de apoio do governo estadual, e o

    reduzido nmero de vereadores aliados no legislativo, acabaram por desestabilizar o

    perodo deste mandato administrativo. (SILVEIRA, 2013. p. 184)

    Na rea da cultura, o incio da administrao de Ricardo Barreto acabou

    trazendo esperanas de um novo momento na gesto cultural na cidade, pois a partir de

    um grupo de artistas de diversas reas, apoiados pela UVA e SESC, o movimento

    artstico conseguiu pleitear junto ao prefeito eleito indicao do secretrio de cultura.

    Contudo, tais expectativas no se concretizaram, pois o perodo de mandato de Ricardo

    Barreto configurou-se como um dos mais conturbados momentos da vida poltica de

    Sobral, caracterizado pelas consecutivas trocas entre ele e seu vice Aldenor Faanha,

    atravs de cassao e mandatos de segurana que ora concedia o cargo ao prefeito

    eleito, ora ao vice.

    15

    Francisco Rognio Martins do Nascimento. Entrevista realizada no dia 11 de fevereiro de 2011. Sobral-

    CE. Arquivo do autor.

  • 17

    Os noventa primeiros dias da administrao j eram alvos de crticas tanto na

    cmara dos vereadores como nos jornais e rdios da cidade, onde a falta de

    apresentao de um plano de desenvolvimento para a cidade, demisses irregulares,

    contratao de funcionrios fantasmas, baixos salrios foram algumas das denncias

    mais frequentes. 16

    As denncias acabaram por desencadear um processo de investigao sobre o

    executivo municipal por parte do Tribunal de Contas dos Municpios e at mesmo a

    proposio de uma Comisso Parlamentar de Inqurito (CPI) em Sobral. No final de

    1993 podemos encontrar no jornal, uma reportagem que divulgava o parecer final da

    CPI montada na Cmara dos Vereadores de Sobral, inocentado, aps 120 dias de

    investigao, o prefeito eleito Ricardo Barreto das acusaes no episdio das notas

    fiscais frias emitidas por empresas fantasmas, assegurando-o o cargo de chefe do

    executivo municipal. Ao final da matria, referindo-se as colocaes do prefeito depois

    de caracterizada sua inocncia, o peridico pondera:

    ... chegaram concluso de que o Prefeito de Sobral, realmente, o homem a

    quem o povo sobralense deve continuar confiando at o final de seu mandato.

    [...] Afirma o prefeito Ricardo Barreto que este episdio mais de ordem

    poltica, quando se sabe que os seus adversrios jamais o perdoaro pelo

    privilgio da vontade do povo com respaldo das urnas nas eleies do dia 3

    de outubro passado.17

    Aps diversos conflitos no legislativo, com direito a declarao de ameaas

    sofridas por parte de vereadores oposicionista, e notcias de que alguns edis estavam

    comparecendo as sesses da cmara armados,18

    no dia 12 de Abril de 1994, em votao

    que contou onze votos a favor e oito contra, o prefeito Ricardo Barreto afastado por

    noventa dias do cargo, sendo criada ento uma Comisso Processante responsvel

    pela elaborao do parecer.

    A partir da comeam as primeiras referncias ao troca-troca de prefeito em

    Sobral, que podem ser acompanhadas nas consecutivas edies dos jornais sobralenses.

    No exemplar do dia 07 de maio daquele ano, o jornal Correio da Semana anuncia o

    16

    CMARA MUNICIPAL DE SOBRAL. Ata da 3 sesso ordinria. Sobral, 08 de fevereiro de 1993;

    Ata da 4 Sesso Ordinria. Sobral, 09 de fevereiro de 1993, entre outras. Apud. SILVEIRA, Edvanir

    Maia da. Trs dcadas de Prado e Barreto (1963-96): a poltica municipal em Sobral-CE, do golpe

    militar Nova Repblica. Tese de doutorado. Programa de Ps-Graduao em Histria da Universidade

    do Estado do Rio de Janeiro UERJ. 2013. p. 184 17

    Jornal Correio da Semana. Sobral, 13 de novembro de 1993. N33. Ano 75. CPI da Cmara inocenta prefeito de Sobral. pag. 01 18

    CMARA MUNICIPAL DE SOBRAL. Ata da 58 Sesso Ordinria. Sobral, 26 de outubro de 1993;

    Ata da 59 Sesso Ordinria. Sobral, 08 de novembro de 1993. Apud. SILVEIRA. Op. Cit. p. 187.

  • 18

    incio dos trabalhos do vice-prefeito em exerccio Aldenor Faanha Jnior, que sob o

    slogan Resgate Cidadania pretendia junto com seu novo secretariado realizar em

    90 dias, tudo o que o prefeito Ricardo Barreto no foi capaz de fazer em um ano de

    administrao. 19

    No incio do ms de julho de 1994, o peridico noticia o retorno de Ricardo

    Barreto ao cargo, depois do arquivamento do processo junto Presidncia do Tribunal

    de Justia do Estado, e o indicativo de sua inocncia pela Cmara. No entanto, a matria

    j alertava para a atmosfera de incertezas reinante na poltica local:

    Os adversrios do prefeito, trabalham, agora, no sentido de eliminar a deciso

    da Cmara. [...] A situao difcil: Sobral est numa encruzilhada. Se correr

    o bicho pega. Se ficar o bicho come, referindo-se a pratica de corrupo em

    Sobral, e dos tristes episdios, que envolvem a cidade, h vrios meses.20

    Pronto, estava posto o cenrio de entra e sai, que iria inspirar uns dos mais

    importantes espetculos do Grupo de Teatro da UVA ao longo de seus anos de atuao

    no teatro sobralense. O espetculo leva a cena o questionamento e a crtica sobre a

    conjuntura poltica vivenciada durante este momento da dcada de 1990 no Reino dos

    Sobrados, na alternncia no pao municipal entre Ricardo Barreto e Aldenor Jnior.

    5- A Saga de Entra e Sa e o bom humor poltico-social.

    Apresentado dentro da Universidade, no Theatro So Joo e em vrios locais da

    cidade, o espetculo reuniu em seu elenco, vrios dos artistas sobralenses em atividade

    nos idos da dcada de 1990, muitos destes oriundos das atividades teatrais

    desenvolvidas na cidade na dcada anterior, como apresentado anteriormente.

    Em sua estreia o elenco do espetculo era composto por: Ana Nery, Alberto

    Lima, Antnio Brasil, Dnis Melo, Frank Terranova, Erandir Rocha, Iara Rgia,

    Jaqueline Menezes, Rogria Nogueira, Edil Nogueira, Telma Mendes, Valdelice Costa,

    Srgio Presley e Rognio Martins, que tambm assinava a direo do espetculo,

    contando ainda com Valcides Pio na cenografia, Gleudson Vieira na sonoplastia e Drio

    de Oliveira na Iluminao. O espetculo tambm foi apresentado nas comemoraes do

    Dia Mundial do Teatro no ano de 1996, ocasio em que Dnis Melo e Rognio Martins, 19

    Jornal Correio da Semana. Sobral, 07 de maio de 1994. N 57. Ano 76. Aldenor Faanha inicia trabalhos na cidade de Sobral. p. 01. 20

    Jornal Correio da Semana. Sobral, 09 de julho de 1994. Ano 76. Ricardo Barreto reassume, prometendo no mudar secretariado. p. 08.

  • 19

    consecutivamente autor e diretor do espetculo, juntamente com outros artistas

    sobralenses de outros seguimentos foram agraciados com a Placa Cultural Domingos

    Olmpio.21

    O enredo divido em trs atos, se inicia no leito onde repousa moribundo o

    Monarca do Reino dos Sobrados, ao seu lado esto seus filhos, o Prncipe Entra e

    seu irmo Prncipe Sai, que aguardam em companhia do Magistrado inferior o

    pronunciamento do convalescente Monarca sobre quem ser o herdeiro do trono.

    Todavia, para surpresa das testemunhas, o Monarca morre antes de conseguir anunciar o

    nome de seu sucessor, o que d incio as disputas dos prncipes Entra e Sai pelo

    direito soberano de ocupar o trono e comandar o Reino dos Sobrados.

    Fig. 02 - Foto de A Saga de Entra e Sai no Reino dos Sobrados - Grupo de Teatro da UVA.

    Fonte: Arquivo Rognio Martins

    por meio das muitas sucesses entre Entra e Sai que o espetculo vai, de

    forma bem humorada, descortinando a realidade poltica vigente no perodo, levando o

    pblico a uma postura crtica diante da realidade vexatria por que passava a cidade de

    Sobral. No enredo, cada troca de monarca acompanhada pelo estampido de fogos de

    artifcio anunciando e festejando a chegada ao poder de um dos herdeiros, na medida

    em que ocorre a queima das contas pblicas do reino por parte do prncipe deposto. A

    cena seguida pelo encontro entre os cortejos dos dois prncipes e seus respectivos

    squitos cruzando o palco, de um lado o monarca que deixa o poder e do outro o que

    assume o trono; e assim, sucedem-se os cortejos, os fogos e as fogueiras das contas do

    reino.

    21

    Jornal Correio da Semana. Sobral, 30 de maro de 1996. Cultura Recebe Homenagens. p. 05.

  • 20

    A cada chegada ao trono, d-se incio o processo de contratao de familiares e

    funcionrios fantasmas do novo rei, corte nos recursos de reas como educao, sade e

    saneamento, demisso de professores, mdicos, dentistas e trabalhadores, desvio dos

    recursos pblicos, e uma srie de fraudes e crimes, plenamente justificveis dentro do

    Reino dos Sobrados, pois como afirma um dos nobres herdeiros na pea: nenhum

    dinheiro pblico para quem despreza o pblico.

    Algumas situaes colocadas na cena permitem traar relao com a conjuntura

    social e as inquietaes presentes neste momento da histria da cidade e compartilhadas

    pela plateia e encenadores. No texto jamais fica explicitado que motivos foram levados

    em considerao pelos magistrados do reino, nos pareceres que ora davam o poder a

    um ora a outro prncipe. No espetculo, a nica vez que o posicionamento das

    autoridades que legislam sobre o caso (Conselho Ministerial dos Ociosos do Dia) fica

    aparente ao pblico, na ocasio em que a deciso do Magistrado Superior,

    responsvel por decidir a peleja, se mostra favorvel causa do senhor advogado

    Estrogildo Amoroso do Amor Primeiro, defensor do Prncipe Entra, pelo simples fato

    deste ter-lhe tratado por senhor Magistrado, o que no foi feito pelo advogado do

    Prncipe Sa. Tal cena apresenta a crtica vigente s razes por traz das resolues das

    estncias responsveis por deliberar sobre o conturbado momento poltico vivenciado

    em Sobral, que tramitava longe do conhecimento do povo e pretensamente movido por

    vaidades.

    A stira situao poltico-social sobralense d o tom de toda a encenao. A

    cada troca de monarca, o novo rei e seu bobo conselheiro definem as prioridades de seu

    reinado, que se limita quase que exclusivamente a contratar todos os demitidos e

    demitir todos os contratados, satirizando as diversas apresentaes dos planos de

    governo e de seu novo secretariado enunciadas frequentemente nas pginas dos jornais.

    As consecutivas trocas da equipe de governo parecem ter sido uma situao

    recorrente durante esse perodo, afetando a populao e comprometendo ainda mais as

    atividades da gesto municipal. No entanto, em dado momento desta acirrada transio,

    podemos encontrar no Jornal Correio da Semana, uma matria com o seguinte ttulo:

    Ricardo Barreto reassume, prometendo no mudar secretariado. 22 Tal postura parece

    ter sido uma forma de amenizar os efeitos de transio junto populao e aos

    22

    Jornal Correio da Semana. Sobral, 09 de julho de 1994. Ano 76. Ricardo Barreto reassume, prometendo no mudar secretariado. p. 08.

  • 21

    funcionrios da municipalidade, que no tinha uma referncia fixa em seus quadros,

    devido ao catico entra e sai.

    A participao dos jornais locais durante esse momento da histria da cidade

    tambm se faz presente na pea do Grupo de Teatro da UVA, pois no enredo a

    repercusso das transies na ocupao do trono do Reino dos Sobrados,

    acompanhada pelos monarcas recm-empossados atravs da leitura das pesquisas de

    opinio pblica e das manchetes do dia presente nas pginas dos peridicos do reino,

    onde de forma irnica esto estampados os dizeres: Extra! Extra! Troca de Monarca no

    Reino dos Sobrados! Entra Sai e sai Entra! e em outro momento: Entra e Sai no Reino

    dos Sobrados! Quem entra? Quem Sai? O Entra sai e o Sai entra...

    Outro fator extremamente significativo para o enredo da bem-humorada Saga

    pelo poder no Reino dos Sobrados so os nomes caricatos dados a personagens como

    Estrogildo Amoroso do Amor Primeiro, Dr. Alvio Imediato Terceiro, os ministros

    Z por Mim e Joo por Mim. Alm de outros que no aparecem na trama, mas so

    citados como o Senhor Afonso Sim, Baro Sanguessuga, Jos Rico Passabem,

    Conde Larpios IV e Desonesto I, todos funcionrios fantasmas ou beneficiados

    pela gesto personalista dos prncipes. Os nomes dos locais do reino tambm no

    escapam a criticidade cmica do dramaturgo, assim so citados no texto a Rua dos

    Esquecidos, local no qual construdo um chafariz mesmo no havendo gua

    encanada, ou o Morro das Cruzes onde erguido um porto, muito embora no haja

    mar no Reino dos Sobrados. Afora a figura da Princesa do Norte, alcunha pelo qual

    Sobral tambm conhecida; e que embora no descrita no texto, esteve segundo a

    narrativa do elenco dA Saga, personificada na cena por uma atriz carregada a esmo de

    um lado a outro do palco, em uma crtica aos rumos incertos da cidade e de seu povo.

    Personagens de bastante destaque na trama so os Bobos da Corte, constituindo-

    se como o exemplo mais bem acabado dramaturgicamente do carter de stira e crtica

    poltico-social do texto. Os Bobos, ao contrrio do que sugere o termo, se configuram

    nas figuras dramticas com o maior senso crtico do espetculo, assim ao invs de

    cumprirem o que seria sua funo clssica, proporcionar divertimento para seus

    senhores, passam a pea toda rindo e fazem o pblico rir dos prncipes Entra e Sai.

    Os Bobos aparecem na cena como que querendo insinuar que os sujeitos crticos

    deste Reino acabam por serem vistos por seus compatriotas como tolos, dos quais as

    aes, ideias e colocaes, no devem ser levadas em considerao, quando muito

    podendo ser motivo de riso. No entanto, o riso que o espetculo visa atingir, o riso

  • 22

    transformador, onde, conforme afirma Brecht, os atores no so como papagaios e

    macacos que representam por representar, indiferentes ao que esto representando,

    apenas para dizerem que sabem, tm, ao contrrio, propsitos de vida. 23

    Em dado momento da pea, cada um dos bufes reais convidado pelo seu

    respectivo candidato a monarca a contar-lhe uma histria. Munidos dessa misso, os

    Bobos, cada um deles a seu momento e de forma complementar, enredam uma fbula

    sobre o povo e sua condio de vida, era a histria de um povo que era camelo e que

    gostava de ser camelo pelo simples prazer de levar sobre as costas o monarca vencedor

    nas eleies rurais, e cuja culpa era somente a de ser povo.

    por meio da stira e da metfora deste povo camelo que a plateia levada a

    refletir sobre sua condio dentro da realidade posta, resignificada atravs da cena por

    atores e atrizes que comungavam com o pblico essa mesma realidade. Desta forma,

    essa fbula sobre o povo do Reino dos Sobrados, que se direciona ao povo de Sobral, se

    apresenta, na concepo expressa pela companhia no folder do espetculo, como uma

    histria espantalho, contada pelo Bobo do Prncipe Sai, nos seguintes termos:

    Esta a histria de um povo que vivia na misria, at o dia em que apareceu

    no Reino um homem que tinha na lngua o dom da palavra. E o povo, camelo

    de carga, levou nas costas o homem bom... E o povo ficou mais miservel

    ainda. Ele tinha a cultura, e o gato comeu... Tinha o queijo, e o rato roeu...

    Esta a estria de um povo que era camelo...

    Em sua arguta leitura sobre a sociedade sobralense, no intento de gerar o

    espanto em seu seio, nem mesmo a academia e o processo de produo do

    conhecimento histrica, elementos que embasam as algumas das discusses da

    companhia e do espetculo, escapam ao olhar clnico do Grupo de Teatro da UVA.

    Em certo momento do enredo entra em cena Maria Vai Com as Outras, a maior

    historiadora do Reino convidada para escrever a histria oficial do Reino dos

    Sobrados, como estratgia de perpetuar para a posteridade o nome do rei e de seus

    grandes feitos, mesmo que para isso tenha que fantasi-los. Contudo, tal memria, no

    se destinava ao povo do reino, pois como adverte o Prncipe Sai ao contratar os servios

    da historiadora: ... o povo no sabe ler mesmo... Isso para os de fora, entende?

    Maria Vai com as Outras tem seu trabalho dificultado devido as constantes

    transies entre os herdeiros ao trono, e as consecutivas mudanas que sua escrita deve

    tomar a partir deste fato, com o intuito de no desagradar aquele que estava no poder.

    23

    BRECHT, Bertolt. Teatro de Todos os Dias. Traduo Geir Campos.

  • 23

    Logo de incio a historiadora coagida a renunciar sua verso dos fatos vigentes no

    Reino, para escrever, segundo a orientao do Prncipe Entra, no a verdade

    verdadeira, e sim a nossa verdade. Para isso caberia historiadora somente utilizar

    de um estratagema: trocar o nome monarca pelo nome povo, bastando, conforme

    complementa o Bobo, escrever como se o povo fosse o monarca e no como se o

    monarca fosse o povo. Portanto, se ao monarca no falta nada no presente, por sua

    escrita a historiadora deixaria registrado para as geraes futuras, que no passado no

    faltava nada tambm ao povo.

    A personagem leva ao palco as reflexes e a crticas relativas tanto ao objetivo

    da histria e seu mtodo de construo, como a funo social do historiador e a insero

    de seu trabalho dentro da vida da sociedade, em uma espcie de autocrtica realizada

    pelo dramaturgo, e que se estende a ns que nos debruamos hoje sobre sua obra levada

    a cena. Pois, se o fazer teatral estava posto na Saga de Entra e Sai como instrumento

    para produzir estranhamentos, aliando realidade e arte com o intuito de intervir na

    sociedade, a Histria estava presente para alertar da necessidade de um posicionamento,

    enquanto sujeitos histricos perante a situao, entendendo como bem afirma um dos

    Bobos, que a realidade como uma boca desdentada: quando se mantm fechada

    ningum adivinha o que tem dentro.

    Com A Saga de Entra e Sa no Reino dos Sobrados o teatro estava posto como

    um espantalho diante do pblico e da sociedade sobralense, que compartilhou essa

    experincia cnica com os atores e atrizes do Grupo de Teatro da UVA, sendo a Histria

    a ferramenta usada para descerrar essa boca desdentada que a realidade,

    evidenciando alm da falta a podrido de alguns dentes; produzindo os estranhamentos

    e espantos necessrios a um posicionamento crtico e atuante no tempo presente.

    Dentro do painel social composto pelos personagens da encenao, os que

    melhor condensam o esprito crtico do espetculo, atravs de uma relao com a

    realidade da prpria classe artstica de Sobral, so os membros da Comisso Artstica

    do Reino, que aparecem prximos ao fim do espetculo, requerendo uma audincia

    com o monarca, na qual somente os palhaos so convidados presena real.

    Atravs de Maria Vai Com as Outras temos a representao da figura do

    historiador, e do prprio dramaturgo responsvel pelo texto, com os palhaos da

    Comisso Artstica, encontramos as representaes de toda a classe artstica local, mais

    especificamente dos atores e atrizes que levavam A Saga de Entra e Sai cena.

  • 24

    Por suas falas, so colocados ao pblico e a sociedade sobralense as

    reivindicaes e crticas da classe teatral da cidade, bem como, metaforicamente, a

    forma como se sentiam significados por esta sociedade. Assim, so postas no tablado do

    teatro e da cidade algumas questes mais gerais sobre a atuao artstica e teatral, a

    crtica ao apreo e credibilidade excessiva dada a televiso, bem como os

    questionamentos sobre a ocupao do espao da casa de espetculos reais, sobretudo

    pelo fato da indicao do Ferreiro Brutus para a direo da mesma, conforme

    podemos ver no texto:

    Palhao E a casa de espetculos reais, porque no funciona? Sai Quem foi que disse que no funciona? Ainda no ms passado tivemos duas convenes do Partido dos Cabeas Duras, uma festa de 15 anos da filha

    do nobre Irresponsvel Augusto... E voc ainda tem coragem de dizer que a

    casa de espetculos reais no funciona?

    Outro palhao Ns queremos dizer a vossa majestade que ns discordamos do nome do ferreiro Brutus para a direo da casa de espetculos... Ns

    achamos que o diretor da casa tem que ser algum mais ligado ao mundo da

    cultura...

    Sai Eu no conheo ningum que conhea melhor a arte da tortura do que o ferreiro Brutus... Portanto, a pessoa certa no lugar certo... E alm do mais

    eu j estou cansado... Falar sobre arte e cultura muito cansativo... Deixe-me

    s...

    A indicao do Ferreiro Brutus apresenta alegoricamente as improdutivas

    nomeaes de pessoas sem nenhuma relao com a vida cultural e artstica da cidade

    para assumir o comando do espao do Theatro municipal, durante as oscilaes da

    gesto. Do mesmo modo, da cena do encontro do monarca em exerccio com os

    palhaos, representantes da classe artstica do reino, desprendesse tambm a crtica do

    movimento teatral ausncia de disposio e ateno dos gestores pblicos para lidar

    com as demandas e reinvidicaes referentes cultura e a arte em Sobral, afinal falar

    sobre arte e cultura muito cansativo, e nunca teve a devida ateno no reino dos

    sobrados.

    As crticas recorrentes dentro do jornal Correio da Semana a ausncia de

    atividades no Theatro So Joo, a nica questo constante sobre o teatro nas pginas

    deste jornal, parecem ecoar neste fragmento de texto do espetculo, assim como na

    indicao por meio das narrativas dos atores entrevistados, da relao tnue existente na

    ocupao do palco da casa de espetculos reais da cidade, com momentos de intensa

    presena de artistas, como durante a atuao do CAC, em que o edifcio passa a ser a

    casa desses artistas; at intervalos em que o Theatro ficou com sua ocupao merc

  • 25

    dos interesses polticos da gesto no poder, sendo usados muitas vezes, para fins sem

    relao com o fazer artstico e cultural.

    Outra questo bastante relevante sobre as possveis relaes entre o espetculo e

    as questes do seu tempo procurar perceber sua reverberao no tecido social, de

    modo a compreender como se deu sua aceitao por parte do seu pblico. Portanto, na

    ausncia de uma crtica teatral consolidada, como nas cidades e capitais firmadas

    enquanto centros de produo artstica a nvel nacional, que infiram sobre a esttica dos

    espetculos e sua recepo junto ao pblico, bem como a dificuldade durante a pesquisa

    de entrevistar indivduos que a poca presenciaram as apresentaes da montagem,

    nosso olhar se direcionou na busca de possveis leituras sobre o espetculo nas pginas

    dos peridicos locais.

    Assim, dentro da pesquisa com aos arquivos jornalsticos, esse espetculo lana

    um dado bastante significativo na compreenso da histria do movimento teatral

    sobralense das ltimas dcadas, pois, foi somente com A Saga de Entra e Sai no Reino

    dos Sobrados, e mais precisamente em um espao para alm do Jornal Correio da

    Semana, que podemos encontrar uma espcie de crtica que tratasse sobre a produo

    teatral sobralense vinculada na mdia local, apresentando as caractersticas da pea e

    relacionando o teor do espetculo a discusso em torno da vida cultura da cidade.

    Tais referncias sobre a produo teatral foram encontradas no Jornal Nova

    Meta,24

    onde podemos perceber com mais intensidade a insero de referncias

    produo cultural e teatral dos grupos e companhias locais. Como exemplo, podemos

    citar o ms de abril do ano de 1996, no qual possvel perceber diversas notas a respeito

    da movimentao cultural sobralense, e nesse bojo as menes as apresentaes da Saga

    de Entra e Sai pelo Grupo de Teatro da UVA.

    Em uma dessas notas de autoria de Odsio Cunha Filho, intitulada Nossa

    Fnix, o colunista noticia a entrega do prmio Domingos Olmpio, sendo na ocasio

    apresentado o espetculo A Saga de Entra e Sa no Reino dos Sobrados, sobre o qual ele

    comenta:

    Apesar das deficincias fsicas e estruturais do teatro, da simplicidade do

    cenrio, da falta de boa acstica, de ar condicionado ou ventiladores, assim,

    com originalidade, criatividade e bom humor poltico-social sobre a situao

    24

    O peridico surge no ano 1996, sob a direo do jornalista Antnio Silveira Rocha, com uma linha

    editorial caracterizada por uma linguagem mais simples e direta, com humor e crtica social. Os

    exemplares acessados durante a pesquisa esto disponveis a pesquisa no Ncleo de Estudos e

    Documentao Histrica (NEDHIS) da Universidade Estadual Vale do Acara, e se estendem at meados

    do ano de 1997.

  • 26

    vexatria da administrao pblica municipal e da prpria indeciso judicial

    em resolver, rapidamente, a questo poltica sobralense. 25

    Tal nota nos parece como uma probabilidade de acessar a receptividade e a

    penetrao que a montagem teve na conjuntura em que foi apresentada, considerando

    tanto o texto do espetculo, presente na mensagem posta em cena pelo enredo

    interpretado pelo elenco, assim como o seu contexto, explicitado nas observaes

    referentes tanto a estrutura fsica do local da apresentao, como s nuances das

    possveis relaes entre o espetculo teatral e a cena artstica cultural que a cidade vivia,

    nos permitindo acessar por meio de suas impresses tanto a encenao em si como a

    forma que esta tocou o pblico presente.

    Desta forma, em relao ao que podemos apreender das colocaes presentes na

    nota do Jornal Correio da Semana, bem como na constncia do nmero de

    apresentaes do espetculo, podemos crer que o texto e a encenao de A Saga

    conseguiram afetar seu pblico, permitindo que atores e pblico atravs de um bom

    humor poltico-social se unissem por meio dos signos cnicos do jogo teatral, em uma

    experincia de estranhamento e reflexo crtica a respeito das problemticas

    concernentes a situao vexatria da administrao pblica municipal.

    Essa simbiose entre plateia e elenco, uma das questes caras ao processo de

    construo da experincia teatral local, e que de certo modo garantiu o sucesso e a

    repercusso desta montagem, foi percebida pelos atores e atrizes da companhia durante

    as apresentaes do espetculo, e dentro da histria do Grupo de Teatro da UVA. De

    acordo com Rognio Martins, responsvel pela direo da Saga de Entre e Sa:

    Foi um momento muito poltico. O teatro... Em cada apresentao que a

    gente fazia, o teatro estava lotado, e a pblico via nos personagens que

    estavam no palco... Eram eles, e ali havia uma sintonia, uma cumplicidade

    grande. E eu acho que foi um dos grandes momentos, foi esse. 26

    6- Concluso: Qual a sada mais prxima?

    Constru-se no campo da arte uma mxima que diz que uma obra de arte, seja ela

    uma pintura, obra literria, filme, msica, pea teatral e etc., pode ser mensurada por sua

    25

    Jornal Nova Meta. Sobral, 12 de abril de 1996. Nossa Fnix, Odsio Cunha Filho. N 22. pg. 05 26

    Francisco Rognio Martins do Nascimento. Entrevista realizada no ano de 2009. Sobral-CE. Arquivo

    Projeto Poro da Memria Secretaria de Cultura e Turismo de Sobral.

  • 27

    capacidade de sobreviver ao tempo, se perpetuando por geraes, sendo quase um ente

    atemporal, advindo da a adoo, um tanto dbia e discutvel, do conceito de clssico.

    Contudo, por mais que se concorde que as obras de arte e os objetos estticos tm um

    potencial de transpor as temporalidades, cabe salientar que exatamente a insero

    desta produo artstica em seu tempo que a torna representativa ao campo da Histria.

    Pois, quanto mais ela conta e deixa entrever, mesmo que por metforas, por um

    sistema de significados estranhos, ou at mesmo pela negao desta realidade; a

    experincia humana em determinada temporalidade, mais atraente ao historiador se

    apresenta, no intento de discutir as interelaes entre passado e presente, em suas

    inmeras relaes de continuidade e ruptura, permanecia e transformao.

    Nesse sentido, essa dramaturgia de olhos clnicos a querer-se espantalho do

    Grupo de Teatro da UVA, configura-se em uma ferramenta em potencial para discusso

    de um perodo conturbado da histria de Sobral, na medida em que problematiza a

    prpria vida do fazer artstico nessa cidade, tocando nos problemas polticos e sociais

    do momento.

    No texto original da montagem da Saga de Entre e Sai no Reino dos Sobrados,

    hoje em posse de alguns atores do elenco, na folha de capa, em letras datilografadas l-

    se o primeiro ttulo que a proposta de encenao teve: A Saga de Entra e Sai: Qual a

    sada mais prxima? Embora o ttulo da pea tenha sido modificado, do mesmo modo,

    que o texto escrito pelo dramaturgo foi transformado nas mos do elenco e direo,

    chegando aos olhos do pblico de uma forma que hoje no possamos mais acessar; a

    escolha desta denominao, sobretudo seu subttulo, a questionar, artistas e pblico, por

    uma sada, indicativa da preocupao do espetculo, em no somente levar essas

    discusses a pblico, mas, atravs disto propor a ao, a transformao dessa realidade.

    Qual a sada mais prxima? Essa era, tal qual a esfinge, o enigma que a

    concepo, montagem e apresentao do espetculo A Saga do Entra e Sa no Reino dos

    Sobrados pelo Grupo de Teatro da UVA, buscava propor a populao sobralense. Sua

    encenao, apesar de ausente na historiografia local guardada pelas memrias dos

    artistas e seus arquivos pessoais, evidenciando uma experincia cnica, na qual o teatro

    em dilogo fecundo com a histria, caracterizou-se no somente como objeto de fruio

    ou de experimentao esttica, mas, sobretudo, como uma forma de interveno social

    estabelecida por meio de uma prtica cultural.

  • 28

    7- Referncias Bibliogrficas

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