o sonho de algemir brunetto, o criador do instituto do câncer … · 2020. 8. 18. · criação de...

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ENTREVISTA EXCLUSIVA O sonho de Algemir Brunetto, o criador do Instituto do Câncer Infantil Tributário: ICMS apurado sem critério razoável ou fundamentação não tem valor jurídico - Pág. 10 Propriedade intelectual: registro de nome comum no INPI só protege empresário em seu próprio nicho de mercado - Pág. 11 Cível: comparar preço do concorrente de forma depreciativa dá causa a pagamento de indenização por dano moral - Pág. 16 BOLETIM DE INFORMAÇÕES E TENDÊNCIAS DA CESAR PERES ADVOCACIA EMPRESARIAL EDIÇÃO 18 - SEGUNDO TRIMESTRE DE 2018 O destino mostrou que Algemir Brunetto não veio ao mundo para se tornar apenas mais um oncologista – médico especializado no combate ao câncer. O seu sonho, acalentado já na época da residência médica, era minimizar o sofrimento de crianças carentes acometidas pelo câncer em todo o Rio Grande do Sul. E por um motivo que choca a sociedade: embora raro, o câncer infantil se constitui na principal causa de óbito de crianças. No Estado, são registrados de 500 a 600 casos por ano. O sonho começa a virar realidade em dezembro de 1991, quando Brunetto e um número crescente de pessoas de nossa comunidade fundam o Instituto do Câncer Infantil (ICI), instalado provisoriamente numa ala do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). A partir de então, ao lado do trabalho de assistência e tratamento da doença, a equipe de voluntários deu início a uma campanha de mobilização da sociedade, com a ajuda de vários empresários e da imprensa, para viabilizar um projeto em prol de crianças e adolescentes com câncer e suas famílias. Deu certo. Em setembro de 2016, a três meses de completar 25 anos, sobrevém a grande conquista: o ICI inaugura a sua sede própria, localizada na Rua São Manoel, 850, Bairro Rio Branco, na Capital. ‘‘É emocionante saber que esta instituição, que nasceu de um sonho, que conta com mais de 500 voluntários, numa estrutura de 3.000 metros quadrados, atende não só os pacientes, mas presta assistência integral a seus familiares’’, lembra o pioneiro. O prédio custou R$ 8 milhões e abriga o setor administrativo, a pesquisa científica, o Núcleo de Apoio ao Paciente (NAP), o brechó, a central de doações, o núcleo de voluntariado, a recreação, a parte de atividades festivas e os serviços de assistência. Tudo custeado por doações. Hoje, o ‘‘sonho sonhado com a sociedade gaúcha’’, como diz o empreendedor visionário, com modéstia e gratidão, produziu grandes frutos: o índice de cura dos pacientes atendidos, que em 1991 andava na casa dos 40%, subiu para 75%. ‘‘E pode melhorar, se mais pessoas e empresas apoiarem nossas ações solidárias e se engajarem no voluntariado’’, convoca Brunetto. PÁGINA 3 Foto: Banco de Imagens ICI/Mônica Dias

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Page 1: O sonho de Algemir Brunetto, o criador do Instituto do Câncer … · 2020. 8. 18. · criação de um centro de excelência que hoje é uma das principais referências na Europa

ENTREVISTA EXCLUSIVA

O sonho de Algemir Brunetto, o criador do Instituto do Câncer Infantil

Tributário: ICMS apurado sem critério razoável ou fundamentação não tem valor jurídico - Pág. 10

Propriedade intelectual: registro de nome comum no INPI só protege empresário em seu próprio nicho de mercado - Pág. 11

Cível: comparar preço do concorrente de forma depreciativa dá causa a pagamento de indenização por dano moral - Pág. 16

BOLETIM DE INFORMAÇÕES E TENDÊNCIAS DA CESAR PERES ADVOCACIA EMPRESARIAL

EDIÇÃO 18 - SEGUNDO TRIMESTRE DE 2018

O destino mostrou que Algemir Brunetto não veio ao mundo para se tornar apenas mais um oncologista – médico especializado no combate ao câncer. O seu sonho, acalentado já na época da residência médica, era minimizar o sofrimento de crianças carentes acometidas pelo câncer em todo o Rio Grande do Sul. E por um motivo que choca a sociedade: embora raro, o câncer infantil se constitui na principal causa de óbito de crianças. No Estado, são registrados de 500 a 600 casos por ano.

O sonho começa a virar realidade em dezembro de 1991, quando Brunetto e um número crescente de pessoas de nossa comunidade fundam o Instituto do Câncer Infantil (ICI), instalado provisoriamente numa ala do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). A partir de então, ao lado do trabalho de assistência e tratamento da doença, a equipe de voluntários deu início a uma campanha de mobilização da sociedade, com a ajuda de vários empresários e da imprensa, para viabilizar um projeto em prol de crianças e adolescentes com câncer e suas famílias. Deu certo.

Em setembro de 2016, a três meses de completar 25 anos, sobrevém a grande conquista: o ICI inaugura a sua sede própria, localizada na Rua São Manoel, 850, Bairro Rio Branco, na Capital. ‘‘É emocionante saber que esta instituição, que nasceu de um sonho, que conta com mais de 500 voluntários, numa estrutura de 3.000 metros quadrados, atende não só os pacientes, mas presta assistência integral a seus familiares’’, lembra o pioneiro. O prédio custou R$ 8 milhões e abriga o setor administrativo, a pesquisa científica, o Núcleo de Apoio ao Paciente (NAP), o brechó, a central de doações, o núcleo de voluntariado, a recreação, a parte de atividades festivas e os serviços de assistência. Tudo custeado por doações.

Hoje, o ‘‘sonho sonhado com a sociedade gaúcha’’, como diz o empreendedor visionário, com modéstia e gratidão, produziu grandes frutos: o índice de cura dos pacientes atendidos, que em 1991 andava na casa dos 40%, subiu para 75%. ‘‘E pode melhorar, se mais pessoas e empresas apoiarem nossas ações solidárias e se engajarem no voluntariado’’, convoca Brunetto.

PÁGINA 3

Foto: Banco de Imagens ICI/Mônica Dias

Page 2: O sonho de Algemir Brunetto, o criador do Instituto do Câncer … · 2020. 8. 18. · criação de um centro de excelência que hoje é uma das principais referências na Europa

Index Boletim - Segundo trimestre de 2018Pág. 3

Em 15 de abril, comemoramos 23 anos de atuação no segmento do Direito Empresarial. É um momento de festa, de orgulho, pelos desafios vencidos, mas também de grande responsabilidade diante de nossos clientes, a razão de existir da Cesar Peres Advocacia Empresarial (CPAE).

Nas mais de duas décadas, enfrentamos – e estamos nos deparando – com crises políticas e econômicas. E não arrefecemos. Pelo contrário, acreditamos no nosso taco e avançamos. Com alta carga de resiliência, a Equipe CPAE provou que consegue adaptar-se às mudanças, vencer os obstáculos e resistir a pressões, encontrando soluções estratégicas para superar as adversidades. É um time de valor.

Obramos com a missão de oferecer soluções jurídicas personalizadas, comprometidas com sólidos padrões éticos e elevada qualidade técnica, a fim de atender, de maneira eficiente, segura e efetiva, os interesses de nossos clientes. E tem dado certo. Tanto que a carteira de clientes cresceu e o reconhecimento apareceu – a edição conta um pouco desta história.

Como se percebe, não é questão apenas de ‘‘suor e sorte’’, mas, sobretudo, fruto de valores que vimos acalentando ao longo do tempo e que norteiam o dia a dia de trabalho e nossa conduta: ética, profissionalis-mo, atuação em equipe, inovação e comprometimento.

A partir desta edição, estamos motivando o staff a agregar mais um valor no seu dia a dia – a solidarie-dade social. A inspiração vem do exemplo de sucesso de um dos maiores empreendedores sociais do Estado, o médico Algemir Brunetto, idealizador e fundador do Instituto do Câncer Infantil. A ação solidária de amor ao próximo deste oncologista é contada com detalhes na seção de Entrevista.

Como estamos em clima de festa, a redação reforçou o estoque de matérias jurídicas. No Direito Adminis-trativo, apresentamos o caso de uma transportadora que conseguiu derrubar o auto-de-infração porque a Agência Nacional de Transportes Terrestres não fundamentou a autuação. No Cível, mostramos por que um anúncio malfeito provocou dano moral no con-

corrente. Na Propriedade Intelectual, destaque para a briga de uma rede de restaurantes paulista com um hotel gaúcho pelo registro de nome de uso comum. Na Recuperação de Crédito, o desabafo de um desembar-gador ante à falta de cálculos num recurso que pede a atualização de dívidas bancárias. Na Recuperação Judicial, duas abordagens interessantes: a que prevê a extinção das execuções no caso da Justiça decretar a falência da empresa recuperanda; e a possibilidade do juiz aprovar o plano de recuperação empresarial mesmo sem alguns requisitos legais. No Tributário, ex-plicamos por que o ICMS apurado sem critério razoável não tem valor jurídico.

O Direito do Trabalho, dado o volume de ações, foi contemplado com três notícias de decisões tomadas no segundo grau trabalhista. Na primeira, o Tribunal Regional do Trabalho da Bahia decidiu que o atraso de salários gera dano moral presumido. Na segunda, o TRT gaúcho condenou um empregador a pagar o aviso-prévio a seu ex-empregado, independentemen-te deste ter conseguido novo emprego dias após a dispensa. E, na terceira, uma abordagem que interessa a todas as indústrias: o TRT-RS firmou entendimento de que o empregador só deve pagar insalubridade aos pintores se não disponibilizar os equipamentos de pro-teção individual. Ou seja, se fornecer EPI, pintura deixa de ser atividade insalubre, dispensando o empregador de pagar o adicional.

A edição traz, também, uma resenha da entrevista da advogada Renata Terra ao programa Espaço Jurídico, da Rádio Bandeirantes de Porto Alegre; e a matéria alusiva aos 23 anos da Cesar Peres, como já referido.

Por fim, encerrando com chave de ouro, a produção intelectual dos nossos advogados. São sete articulistas, um recorde no Index: Christian Charles do Carmo de Ávila (Trabalhista), Fabrício Martins Brandt (Cível), Geovane Machado Alves (Tributário), Marisângela de Mello (Societário), Renata de Alcântara e Silva Terra (Recuperação de Crédito e Ativos), Vanessa Pereira Oliveira Soares (Propriedade Intelectual) e Wagner Luís Machado (Recuperação Judicial).

Boa leitura e até a próxima edição!

Resiliência e valores cultivados há 23 anos garantem o sucesso da nossa atuação jurídicaIndex Boletim é uma

publicação da Cesar Peres Advocacia

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EXPEDIENTE

MANAGER

EDITORIAL

César Peres

Index Boletim - Segundo trimestre de 2018Pág. 2

Como se deu a fundação do Instituto do Câncer Infantil, em 1991, e qual o seu pa-pel nesta história?

ALGEMIR BRUNETTO – Primeiramente, não acho justa a ideia de que eu tive papel mais relevante em relação àqueles que, de uma maneira ou de outra, com sacrifício pessoal, colocaram cada tijolinho para construir o ICI. Pessoalmente, como médico especializado em câncer infantil, senti que tinha o compromisso de compartilhar com a comunidade o entendi-

mento de que alguma coisa poderíamos fazer, se nos déssemos as mãos, em prol das crianças com câncer e de suas famílias. Felizmente, uni-dos num propósito de solidariedade, de amor ao próximo, conseguimos transformar o ICI numa instituição-referência na assistência a crianças e adolescentes com câncer, com todo o auxílio necessário para o tratamento. Para se ter uma ideia, só em 2017, na nova sede, que abriga o Centro Integrado de Apoio, foram feitos mais de 9.500 atendimentos, somando todas as áreas em que prestamos assistência.

Aqui, na nova sede, também é feito o trata-mento pós-alta hospitalar, porque o nosso pro-jeto é acompanhar o paciente até os 90 anos de idade.

Todo o tipo de apoio? Para pacientes e fa-miliares?

ALGEMIR BRUNETTO – Sim. Crianças e adoles-centes contam com amplo apoio pedagógico, psicológico, nutricional, odontológico, medica-mentos e exames especiais. Suas famílias tam-bém recebem apoio assistencial, com auxílios

‘‘Precisamos da sociedade para cumprir a nossa missão, que é aumentar os índices de cura’’Nascido em Paim Filho, em 1950, Algemir Lunardi Brunetto chegou a Porto Alegre em 1966, com 16 anos de idade, para completar os estudos. Em 1976, formou-se em Medicina pela UFRGS, optando pela residência médica em Pediatria, no Hospital Ernesto Dornelles. Depois, seguiu para a Inglaterra, para se aperfeiçoar. Em 1985, concluiu o mestrado em Saúde Infantil pela Universidade de Londres e, em 1990, obteve o doutorado em Oncologia Pediátrica pela Universidade de NewCastle upon Tyne. Depois da fundação do Instituto do Câncer Infantil, em dezembro de 1991, passou a dividir seu tempo como professor da Faculdade de Medicina da UFRGS, presidente da instituição, no trabalho voluntário, com outras funções e responsabilidades exigidas pela carreira. Hoje, atua como membro do corpo docente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica e do Conselho Científico do Instituto Ronald McDonald. É também o coordenador do Protocolo Sul-Americano para Tratamento do Sarcoma de Ewing, tumor ósseo maligno que atinge, principalmente, crianças e adolescentes. Acompanhe, nesta entrevista, um pouco da história de Brunetto e da fundação do ICI, um dos maiores cases de voluntariado do Brasil e já reconhecido no mundo todo.

ENTREVISTAFoto: Banco de Imagens ICI/Mônica Dias

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de vestuário, calçados e alimentos. Além dis-so, o Instituto também desenvolve projetos de pesquisas científicas, dedicados ao avanço de novos tratamentos para o câncer infanto-juve-nil. Com o apoio da sociedade gaúcha, desen-volvemos ações que alertam e conscientizam a população para o diagnóstico precoce da doença. O Instituto, por meio de seus eventos, como a tradicional ‘‘Corrida pela Vida’’, mobi-liza a comunidade e reúne milhares de pessoas em prol da causa.

Mas, a ideia, propriamente, de criar um instituto, veio de onde?

ALGEMIR BRUNETTO – Na Inglaterra, conheci um projeto chamado Yellow Brick Road, institui-ção que teve origem na ação de um empresário chamado Colin Gregg. Ele e o irmão eram do-nos da maior cadeia de padarias da Inglaterra, chamada Greggs´ Bakery. Colin conheceu uma criança com câncer, ficou muito sensibilizado, deixou a empresa com o irmão e se dedicou à causa. Criou a Children’s Cancer Foundation, na década de 80. A instituição cresceu muito, com apoio principalmente da comunidade do norte da Inglaterra. E esse esforço resultou na criação de um centro de excelência que hoje é uma das principais referências na Europa no diagnóstico do tratamento do câncer infantil. Eu tive a oportunidade de conhecer Mr. Collin Gregg e seu projeto. Aliás, o sonho dele é que se fizesse, na América Latina e na África, um projeto semelhante. Então, fruto dessa oportu-nidade, não se precisou reinventar a roda. Era só colocar em prática este conceito do ‘‘envol-vimento da comunidade’’.

Na prática, como as coisas aconteceram?

ALGEMIR BRUNETTO – Bem, quando voltei da

Inglaterra, em 1990, eu já era professor da Faculdade de Medicina da UFRGS, no Depar-tamento de Pediatria. Na ocasião, recebi apoio para me dedicar ao atendimento de crianças e adolescentes com câncer, com a destinação de três leitos para Oncologia Pediátrica no Hospi-tal de Clínicas. Logo em seguida, esta estrutura mostrou-se insuficiente para atender a gran-de demanda de casos de câncer. Começou a haver acúmulo de pacientes que não tinham acesso à internação e ao tratamento pela fal-ta de leitos. Isso já foi percebido logo no pri-meiro ano, desde que iniciei as atividades no hospital. Com o que tinha visto na Inglaterra e ajustando a nossa realidade, procurei um gru-po de pessoas para compartilhar o desejo de fazer uma mudança. A mudança era criar um centro de excelência para atender as crianças com câncer.

A recepção foi positiva?

ALGEMIR BRUNETTO – Não foi fácil. Inicialmen-te, pedi socorro a três colegas médicos, famo-sos, que já tinham feito história na Medicina. Para eles, à época, era um desafio com pouca chance de sucesso. Na primeira reunião de tra-balho, estávamos em quatro. Na segunda, veio só um. Na terceira, eu estava sozinho. Penso que eles tinham seus próprios compromissos e responsabilidades. “Fair enough” [nada mais justo], pensei. A partir desse momento, pen-sei em pedir ajuda a pessoas que tinham um histórico de compromisso com a comunidade, que fossem reconhecidamente sensíveis a cau-sas sociais e tivessem boa reputação em nosso meio social. Com a ajuda do então auditor do Hospital de Clinicas, Armando Gass, fizemos uma lista com 16 pessoas que, entendíamos, tinham este perfil. Ao longo de 1990, compar-tilhamos este sonho com elas, convidando-as para uma reunião em dezembro daquele mes-mo ano, para apresentação do nosso desafio. Dos 16 convidados, 15 compareceram. Nascia ali o Instituto do Câncer Infantil.

Naquele momento, então, a missão do projeto já estava estabelecida?

ALGEMIR BRUNETTO – Nossa missão, desde o início, foi a de aumentar os índices de cura e melhorar a qualidade de vida dos pacientes e suas famílias, porque o câncer não afeta só o indivíduo doente, mas impacta a todos no seu entorno. Desde aquela época, já entendíamos que não seria possível realizar um projeto des-ta magnitude sem a participação da sociedade, pois na área da saúde os recursos são sempre limitados. Na prática, o que fizemos foi convi-dar pessoas com sensibilidade e compromisso social para construir uma história de solidarie-dade, de amor ao próximo.

Depois disso, veio o trabalho de corpo a corpo, em busca dos recursos?

ALGEMIR BRUNETTO – Lógico, e aqui quero registrar a fantástica colaboração do jornalis-ta Lauro Quadros, que acreditou neste sonho desde o início. Lembro, depois de formado o grupo inicial, de quando buscamos apoio de empresas de nosso Estado para construir a unidade de atendimento no Hospital de Clíni-cas, área de internação hospitalar, orçada em

US$ 1 milhão em 1991. Listamos 100 das principais empresas gaúchas. Lauro, Armando, nossa gerente e eu procuramos cada uma delas para partilhar o nosso sonho e pedir ajuda. Para cada uma, pedimos US$ 10 mil. Não tínhamos ainda um projeto definitivo, mas tínhamos a vi-são do ICI em nossa mente, exatamente como de fato ele é hoje, e a convicção de que ele se tornaria realidade. Das 100 empresas visita-das, 96 doaram. Esta resposta extraordinária aconteceu porque a causa era importante, e os empresários visitados eram sensíveis e tinham compromisso com a responsabilidade social.

A partir daí, a máquina engrenou?

ALGEMIR BRUNETTO – Exato. Os 15 que com-pareceram à reunião inicial se tornaram só-cios-fundadores e foram sugerindo e trazendo para a causa pessoas de suas relações. Sur-giram novas oportunidades de diferentes for-mas de contribuições e aportes de recursos e doações. A nossa visão era criar um centro de excelência que aumentasse os índices de cura, com capacidade de assistir com qualidade a todos os pacientes que tivessem a doença. Isso teria mais chance de sucesso se fosse constru-ído em parceria com um grande hospital. E o Hospital de Clínicas nos pareceu ser o parceiro óbvio.

É verdade que até o próprio presidente do Clínicas, Carlos Albuquerque, que viria a ser o ministro da Saúde no primeiro man-dato de Fernando Henrique Cardoso, não levava muita fé no projeto?

ALGEMIR BRUNETTO – Quando procuramos o professor Albuquerque, ele acenou com apoio, como sempre fazia com aqueles que o pro-curavam. Deixou claro, entretanto, que havia limitações orçamentárias. Naquele dia que o procuramos, após a nossa saída, ele comentou com sua secretária que havia atendido ‘‘mais um sonhador que não vai a lugar nenhum’’. Este diálogo foi admitido, espontaneamente, pelo próprio Albuquerque durante entrevista coletiva de imprensa na sede da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), quando já então ministro da Saúde, em que eu me encontrava presente. Na verdade, apesar dos percalços, ele e outros

‘‘É muito importante a criança ou o

adolescente ser tratado em um

centro especializado assim que receber o diagnóstico. Com isso, aumentam as chances de cura.’’

‘‘A credibilidade do ICI é seu maior

patrimônio.’’

ENTREVISTA

tantos contribuíram muito para que este sonho se transformasse em realidade.

Qual é a realidade do câncer infantil no Brasil? E no RS?

ALGEMIR BRUNETTO – No Brasil, são regis-trados em torno de 12 mil casos por ano em pacientes com até 19 anos de idade; no RS, em torno de 500 a 600 casos por ano. O curioso é que, embora seja raro, o câncer infantil é a principal doença que leva a óbito. Por ter uma alta taxa de mortalidade, é muito importante buscar o aumento dos índices de cura. Um dado mostra bem o sucesso do trabalho do ICI: em 1991, o índice de cura oscilava em torno dos 40% dos pacientes atendidos; fruto do tra-balho de uma equipe de profissionais dedica-dos, dos mais de dois mil pacientes atendidos, mais de 75% deles concluíram com sucesso o tratamento.

Ao longo dos anos, o ICI fez parceria com outros hospitais, além do Clínicas?

ALGEMIR BRUNETTO – A partir de 2015, o modelo de parceria com o Clínicas foi sendo gradualmente expandido para outros hospi-tais que atendem crianças e adolescentes com câncer. Já fazem parte dessa rede de parceiros o Hospital Nossa Senhora da Conceição e o Hospital da PUC, em Porto Alegre; o Centro de Oncologia Pediátrica do Hospital Geral de Caxias do Sul; e o Hospital São Vicente de Pau-lo, de Passo Fundo. Só em 2017, recebemos desses diversos centros em torno de 100 pa-cientes. O objetivo é criar uma rede assisten-cial constituída por centros habilitados, tendo como meta oferecer assistência de qualidade de forma integral a um maior número de pa-cientes.

Qual o perfil socioeconômico dos pacien-tes atendidos?

ALGEMIR BRUNETTO – A renda familiar média é de R$ 1.350, correspondendo a uma renda per capita familiar de R$ 450 mensais. Embo-ra a maioria das famílias apresente limitações econômicas, os programas assistenciais são estruturados para oferecer a melhor chance de cura, dentro de uma visão de cuidado e acolhi-mento. O Núcleo de Apoio ao Paciente (NAP), em 2017, registrou mais de 500 pacientes e famílias atendidas, pelos mais diversos pro-fissionais. Distribuiu mais de 28 mil quilos de alimentos e 30 mil peças de vestuário.

O projeto que vem sendo aperfeiçoado pelo ICI ao longo desses anos também conseguiu encurtar o tempo de atendi-mento nas diversas fases da doença?

ALGEMIR BRUNETTO – Houve significativa re-dução de tempo entre o diagnóstico realizado pelo médico de origem e o tempo que esse paciente chega ao hospital para tratamento. Antes deste projeto, nós tínhamos um tempo excessivamente longo, além de falta de leitos hospitalares, demora nos processos de enca-minhamento e referência dos pacientes com diagnóstico ou suspeita de câncer. Há que se reconhecer que esta mudança foi facilitada pelo entendimento e contribuição dos gestores

de saúde pública, em especial das Secretarias Estadual e Municipais de Saúde, e de agentes do Ministério Público e do Tribunal de Contas do Estado.

As doações ainda formam a essência dos recursos para viabilizar o projeto ou exis-tem outras opções mais eficientes para captação?

ALGEMIR BRUNETTO – As doações feitas dire-tamente por empresas representam apenas 3% da receita anual do Instituto. Hoje, as principais receitas advindas de pessoas jurídicas provêm do Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (Pronon) e do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Porto Alegre (Funcriança), que permitem abatimento no Imposto de Renda tanto de pessoas físicas quanto jurídicas. Estas duas modalidades re-presentam no presente em torno de 30% das receitas. Uma parte expressiva é arrecadada através de eventos que promovemos, como a ‘‘Corrida pela Vida’’ e ‘‘McDia Feliz’’. Mui-tas pessoas estão nos ajudando, também, via acesso à Central de Doações. O próprio terre-no onde foi construída a nova sede foi desti-nado ao ICI como herança de uma família. Foi desenvolvida uma plataforma de engajamento pela qual é possível, para cada doador, esco-lher qual a forma e o destino de sua doação.

Apoiar a causa pode ser rentável para uma empresa?

ALGEMIR BRUNETTO – As empresas que têm a visão de empreendedorismo social enten-dem que é importante devolver parte de seus lucros para a comunidade onde estão inseri-das. O nosso compromisso com as empresas doadoras é de competência e transparência no destino dos recursos recebidos. Assim, se cria um ciclo virtuoso de parcerias, que tendem a não ser pontuais, mas de apoio sustentável aos programas assistenciais e de pesquisa científi-ca que são propostos pelo ICI. Pesquisa recente feita pelo ICI mostra que 84% dos consumido-res estão dispostos a escolher um produto que traga o selo do Instituto, porque preferem em-presas que mostram que têm responsabilidade social.

Bom, e quem quiser colaborar e não tiver dinheiro? Pode ser de outra forma?

ALGEMIR BRUNETTO – Com certeza. Nós rece-bemos, no Centro Integrado de Apoio, roupas, alimentos, material de limpeza, remédios etc. O interessado na nossa missão também pode prestar serviço voluntário, ‘‘doando’’ algumas horas do seu dia para nos ajudar em várias tarefas administrativas ou de atendimento. Muitos voluntários doam sua expertise atuan-do como consultores do ICI nas mais diversas atividades profissionais. Hoje, mais de 500 pessoas prestam trabalho voluntário, sendo que, em 2017, mais de 100 novos voluntários se juntaram as nossas atividades. Todos os apoios são bem-vindos. Um recente projeto, por exemplo, foi feito com o Cartão Visa, to-talmente sem custos para o portador do car-tão. Basta o interessado se cadastrar no site do cartão Visa e indicar o ICI para o ‘‘Causas Visa’’ – uma das 16 instituições a participar em

todo o país. A cada compra realizada, o Visa direciona um centavo para o Instituto.

Para encerrar: de que modo os operado-res do Direito podem se inserir neste es-forço, além das doações materiais?

ALGEMIR BRUNETTO – Os advogados podem oferecer seu precioso trabalho jurídico, pro bono, para nos orientar em determinadas de-mandas, judiciais ou extrajudiciais. Os promo-tores e procuradores de Justiça podem sugerir o direcionamento de multas penais ou cíveis em favor do Instituto na solução de litígios ju-diciais. Já houve casos de juízes que identifica-ram o ICI como destino de multas pecuniárias, transformando a pena por um ato delituoso em ajuda para projetos em benefício de crianças com câncer.

‘‘Cada pessoa que se dispõe a colaborar de forma solidária se torna um agente

de mudança. Até que se chegue, um

dia, ao objetivo mais importante, que é a cura de 100% dos

pacientes.’’

Foto: Banco de Imagens ICI/Mônica Dias

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CPAE chega aos 23 anos com foco redobrado no cliente e na qualificação de seus advogados

ANIVERSÁRIO

O ponto de partida do escritório, que se dedicou desde o início ao segmento empre-sarial, foi em abril de 1995, em uma sala comercial, no Bairro Teresópolis, em Porto Alegre. Quatro anos depois, com a neces-sidade de ampliação da equipe, a banca seguiu para uma cobertura comercial com três salas e uma recepção no Bairro Menino Deus. Foi nesse endereço que a Cesar Peres Advocacia Empresarial (CPAE) começou a atuar em liquidações extrajudiciais junto ao Banco Central.

Em 2005, nova mudança, desta vez para uma casa com 350 metros quadrados de área construída, no elegante Bairro Higie-nópolis. ‘‘Ao nos mudarmos para a sede da Dom Pedro II, 882, crescemos quase quatro vezes de tamanho físico. A carteira de clientes ficou mais robusta, e o número de advogados também cresceu proporcionalmente. Na época, embalados pelo bom momento da economia, abrimos filiais no Rio de Janeiro, no Paraná e na cidade de São Paulo. Isso perdurou até 2012, quando passamos a priorizar nossa presença física no RS e em SP’’, historia César Augusto da Silva Peres, o empreendedor pioneiro e manager da banca.

MUDANÇA SOCIETÁRIA

Em 2012, os sócios César Peres, Luciano Be-cker de Souza Soares e Rogério Lopes Soares alteraram a natureza jurídica da sociedade, convidando os advogados da equipe para se tornarem sócios do escritório. César recorda

que a casa estava se tornando pequena para alocar a expansão das assessorias empre-sarial, do agronegócio e estratégica. Daí, a necessidade de um novo local. Em março de 2015, é inaugurada a nova sede, com 1.050 metros quadrados de área construída, na mesma Avenida Dom Pedro II, agora no nú-mero 568. O espaço interno triplicou.

Nas novas instalações, trabalham 25 sócios e 20 colaboradores, que atendem pessoas jurí-dicas de pequeno, médio e grande portes, dos setores do comércio, da indústria, de serviços e do agronegócio. “A nossa atuação é bastan-te equilibrada nas especificidades do Direito Empresarial. Eu destacaria uma demanda maior na Recuperação Judicial e Reestrutu-ração de Empresas, no Direito Societário, no Direito Trabalhista, na Recuperação de Crédi-to, no Direito Tributário (especialmente diante do aumento no número de autuações fiscais por parte das Fazendas federal, estadual e municipal) e nas demandas cíveis empresa-riais (Contencioso Cível). Também temos um desempenho marcante junto aos tribunais, patrocinando causas de colegas do interior e de outros estados”, destaca o dirigente. A CPAE ainda formou parcerias com uma gama de profissionais que enriquece o escritório com seu expertise multidisciplinar: juristas, administradores, consultores de empresas e de finanças, economistas e contadores.

EVENTOS INTERNOS E EXTERNOS

Sem perder de vista o objetivo de aprimorar

seus serviços jurídicos, de modo a consolidar o crescimento integral do escritório no Rio Gran-de do Sul, a equipe CPAE aproveitou o confor-tável, funcional e amplo espaço de trabalho para promover eventos internos e externos. Neste último ano, os advogados da casa reu-niram especialistas e convidados para discutir temas de grande relevância jurídica para o Di-reito Empresarial, como ‘‘A Reforma Trabalhis-ta’’, ‘‘A Caracterização do Grupo Econômico e a Responsabilidade Tributária dos Sócios’’, ‘‘O Agronegócio e a Recuperação Judicial’’, entre outros seminários, encontros e treinamentos. A ideia, conforme César, é reunir informação e inteligência para subsidiar o trabalho inte-lectual dos advogados, ‘‘além de orientar me-lhor nossos clientes e colaboradores diretos’’.

A novíssima sede, em seu espaço interno, ofe-rece 60 posições de trabalho. Conta com uma sala de reuniões para 16 pessoas, outra para 12, além da biblioteca, que também pode ser-vir como sala de reuniões para quatro pesso-as. O auditório acomoda 25 pessoas. Na par-te externa, há 30 vagas de estacionamento.

O PAPEL DO INDEX

Para manter o cliente bem-informado, o es-critório criou o Index, boletim de informações e tendências, que traz, desde 2013, a palavra de um especialista como grande destaque. Nas suas 18 edições, abrilhantaram as pági-nas da newsletter, na condição de Entrevistado Especial: Henrique Dornelles, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do

Desde abril de 1995, quando a Cesar Peres Advocacia Empresarial (CPAE) abriu suas portas, entender o que o cliente busca tem sido o grande desafio. O compromisso se fortalece ainda mais na comemoração destes 23 anos de caminhada, principalmente porque o escritório já é referência no Direito Empresarial

Rio Grande do Sul (Federarroz); Thierry Rios, diretor comercial do Terminal de Contêineres (Tecon) do Porto de Rio Grande (RS); Adriano Rossi, consultor jurídico, e Adalberto Cheiran, coordenador de Propriedade Intelectual, am-bos da Secretaria de Desenvolvimento Tec-nológico (Sedetec) da UFRGS; Saulo Armos, professor de Ciências Contábeis da PUC-RS e consultor de empresas; Silmar Müller, jorna-lista da TV Bandeirantes, especialista em mer-cados agrícolas e consultor de comunicação para o agronegócio; Cássio Cavalli, professor do Direito da Empresa na Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ); Gerson Fischmann, jurista, professor, escritor e especialista no Código de Processo Civil (CPC); Ricardo Hingel, econo-mista,diretor-financeiro do Banrisul; Francisco Rossal de Araújo, desembargador do Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul; João Carlos Miranda, contador, professor e consultor da Mirar Gestão Empresarial; Eduar-do Lima Porto, diretor da consultoria Custodo-

Agro; Márcio Antônio Rocha, desembargador do Tribunal Regional Federal da 4ª. Região e membro da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (Enccla); Daniel Carnio Costa, juiz titular da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Comar-ca de São Paulo; Alexandre Schuh Lunardi, juiz da 2ª. Vara do Trabalho de Novo Hamburgo; Ney Wiedemann Neto, desembargador da 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul; Marcelo Peruchin, advogado especializado no ramo penal-empresarial e professor da PUC-RS; e, nesta edição, o mé-dico oncologista Algemir Brunetto, idealizador do Instituto do Câncer Infantil (ICI).

O Index também reproduziu uma entrevista feita pela Knowledge@ Wharton – periódico de análise de negócios on-line da Wharton School, da Universidade da Pensilvânia (EUA) – com os pesquisadores Witold Henisz, profes-sor de Administração da Wharton, e Sinziana

Dorobantu, professora da Universidade de Nova York. O tema: a importância dos stake-holders para lidar com crise de imagem em épocas de turbulência.

“Com a opinião destes profissionais, o conte-údo dos artigos produzidos pelos nossos ad-vogados e as notícias sobre decisões judiciais, procuramos nos manter próximos aos clientes, além de oferecer um atendimento persona-lizado e pessoalizado no dia a dia”, comple-menta o fundador do escritório.

O ‘‘Anuário Análise da Advocacia 500’’, um dos veículos de maior alcance e credibilidade no setor jurídico, vem reconhecendo todo este trabalho. Desde 2010, a CPAE figura na lista dos escritórios full service mais admirados do Rio Grande do Sul. E César Augusto da Silva Peres como um dos advogados mais admi-rados, segundo pesquisa realizada junto às maiores empresas do Brasil.

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Pintura não é atividade insalubre se pintor usar corretamente EPIs, decide TRT-RS

TRABALHISTA

O caso chegou à Justiça do Trabalho por meio de uma Ação Civil Pública que reivindi-cou o pagamento do adicional a empregados de uma empresa que prestou serviços de pintura nas estruturas metálicas e tubulações da plataforma de petróleo P-55, da Petrobras, durante a sua construção no Polo Naval de Rio Grande.

Na visão do sindicato, os empregados da seção de pintura trabalhavam expostos a agentes insalubres e perigosos, como ruído, agentes químicos, calor e poeiras. Segundo a peça inicial da ação, o trabalho era execu-tado em espaço confinado e em alturas, em caráter habitual e permanente.

Baseando-se no laudo da perícia, a 4ª Vara do Trabalho de Rio Grande negou o pedido de pagamento dos adicionais de insalubrida-de e periculosidade. Segundo a sentença, o perito observou que, nas fichas de EPI, estava consignado o fornecimento de máscaras com filtros, de múltiplos filtros, de macacão impermeável, de luvas de látex e vaquetas e de uniformes. Também foram fornecidos ócu-los, capacete com jugular, protetor auricular, calçado, avental e filtro solar.

‘‘Existem ainda nas fichas as declarações

de treinamento para correto uso, guarda e conservação dos EPIs’’, destacou o juiz do Trabalho Elson Rodrigues da Silva Junior.

O sindicato apelou ao TRT-4, sustentando que a conclusão do perito se baseou em documentos produzidos unilateralmente pela parte ré. Assim, reafirmou o pedido para que a empresa fosse condenada a pagar adicionais em graus médio e/ou máximo, nos termos dos Anexos 1, 11 e 13 da Norma Re-gulamentadora 15 do Ministério do Trabalho e Emprego (norma sobre atividades insalu-bres), em parcelas vencidas e vincendas, com reflexos nas demais verbas trabalhistas.

RISCOS POTENCIAIS

O relator do recurso na corte, desembargador Raul Zoratto Sanvicente, observou que o pe-rito designado na origem, em entrevista com as partes ré e autora, fez o levantamento dos riscos potenciais da atividade de pintura no local da obra. Nessa coleta de informações, discorreu o relator, o perito concluiu que os pintores não foram expostos a ruído de im-pacto, calor, radiações ionizantes, radiações não-ionizantes, pressões hiperbáricas, vibra-ções, frio, poeira mineral, riscos biológicos,

iluminação nem umidade.

‘‘Quanto aos agentes químicos hidrocar-bonetos, presentes nas tintas utilizadas, o experto considerou que os trabalhadores receberam os equipamentos de proteção ne-cessários (...), os quais eram trocados sempre que havia necessidade, de acordo com as fichas juntadas, restando garantida a plena proteção para o corpo, para o sistema respi-ratório e para os olhos, com a troca periódica do filtro e o fornecimento de proteções espe-cíficas’’, escreveu.

Sanvicente ressaltou que o empregador ane-xou aos autos as fichas de fornecimento de EPIs, como previsto no Programa de Proteção aos Riscos Ambientais, o que é suficiente para afastar os riscos aos quais os trabalha-dores estavam expostos.

Para ele, ‘‘as informações presentes nos lau-dos periciais elaborados em ações individu-ais, no quadro de reconhecimento ambiental, no laudo técnico de condições ambientais, no Programa de Prevenção de Riscos Ambien-tais, não trazem outras provas a afastar a conclusão do laudo produzido nestes autos e acolhida na sentença’’. O voto foi seguido por unanimidade.

Fornecer equipamento de proteção individual (EPI), fiscalizando se é usado corretamente pelo empregado que executa serviços de pintura, elimina os riscos nocivos da profissão. Consequentemente, o empregador se desobriga a pagar adicional de insalubridade.

A conclusão é dos desembargadores da 6ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (RS), ao rejeitarem pedido de pagamento de insalubridade feito por ex-empregados de uma empresa de construção e reparos navais, representados na ação pelo sindicato regional de trabalhadores nesta atividade.

Foto: Shutterstock

Com esse entendimento, a 1ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (BA) condenou uma companhia de engenharia a indenizar dois pedreiros em R$ 10 mil (R$ 5 mil para cada).

Eles ficaram sem receber entre janeiro e abril de 2016 e disseram que o atraso os impediu de pagar contas e os forçou a contrair mais dívidas. O juízo de primeiro grau havia rejeitado o pedido, mas a sentença foi reformada pela desembargadora Ivana Magaldi.

A relatora do caso concluiu que a empresa não comprovou os repasses dos salários. Assim, é presumível que causou aos empregados vexames, sofrimentos e angústias, pois os salários são suas fontes de sustento.

Ivana sustentou ainda que uma companhia não pode atrasar a remune-ração de seus funcionários com base em quedas no número de vendas ou de produção, porque cabe aos empregadores assumirem exclusiva-mente os riscos por seus negócios.

A Vara do Trabalho de Santana do Livramento declarou a rescisão indi-reta, porque a empresa deixou de pagar verbas rescisórias e o salário referente ao mês de novembro de 2014.

Para a juíza Déborah Costa Lunardi, ‘‘não faz jus o demandante ao pagamento do aviso prévio, na medida em que iniciou prestar serviços a outra empresa no dia 18/12/2014, conforme demonstra o registro do Contrato de Trabalho na CTPS do demandante’’.

Já o relator no TRT-4, desembargador Marcos Fagundes Salomão,

entendeu que o fato de o autor do processo ter sido admitido por outra empresa poucos dias após a saída não afasta o direito de receber o aviso prévio.

O amparo fático do direito é o desligamento por iniciativa e/ou culpa da empregadora, e não a ausência de obtenção de novo emprego, afirmou. Assim, ele votou por obrigar a antiga empregadora a pagar pelo aviso prévio proporcional ao tempo de serviço. O relator foi seguido de forma unânime.

Atrasar salário de empregados gera dano moral presumido, diz TRT baiano

Empregador tem de pagar aviso mesmo se ex-empregado consegue emprego dias após a dispensa

O salário constitui fonte de subsistência dos trabalhadores e de suas famílias. Por isso, é possível presumir dano moral quando o pagamento atrasa, mesmo sem prova do constrangimento.

Empregado demitido que consegue trabalhar em outra empresa dias após o desligamen-to não perde o direito de receber o valor referente ao aviso prévio. O fundamento fez a 11ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (RS) reformar sentença que havia negado o pagamento da verba rescisória a um operário.

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O colegiado, ao contrário do juízo de origem, se convenceu de que o lançamento para apurar o valor do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) se deu por ‘‘estimativa’’, sem critério razoável ou funda-mentação.

No caso concreto, a empresa, que atua origi-nalmente no ramo de mudanças, foi autuada pelo Fisco quando devolvia uma carga de chocolates ao fabricante, composta de 2,5 mil quilos de ovos e kits de chocolate, com valor unitário de R$ 30. Como transportava sem nota fiscal, teve lavrada contra si um auto-de-in-fração no valor total de R$ 28.050 (R$ 12.750 de ICMS e R$ 15.300 de multa). O índice da multa chegou a 120% do valor atribuído às mercadorias.

Sem conseguir derrubar o auto-de-infração na via administrativa, a transportadora alegou na Justiça que a pesagem não levou em conta que o caminhão carregava materiais utilizados para a mudança. A diferença do peso, no momento da abordagem, era de 1.500kg.

A autora da ação pediu novo cálculo dos valores devidos e a redução da multa para o percentual de 100% do valor do crédito. O Fisco respondeu que a multa foi aplicada em percentual correto, que o ato administrativo infracional tem presunção de fé pública e que a análise individual da carga é impossível.

Para a defesa, a empresa arcou com o ônus de ver a base de cálculo arbitrada pela fiscalização ao deixar de transitar com o documento fiscal.

PARCIAL PROCEDÊNCIA

A juíza Carmen Constante Barghouti, da 1ª Vara Cível de Lajeado, decidiu reduzir o per-centual da multa, que caiu de 120% para 100% do crédito tributário. Isso porque o Supremo Tribunal Federal já considerou confiscatórias as multas fiscais superiores a 100% (RE 657.372).

Com relação aos parâmetros de pesagem e precificação das mercadorias, objetos cen-trais dos embargos, a juíza observou que a presunção de legitimidade fica a favor do Fisco: caberia à parte embargante afastar esta presunção por meio de provas robustas – o que não foi feito nos autos do processo, segundo a magistrada.

‘‘Assinalo que também não existe subsídio con-creto, como uma prova pericial, por exemplo, para que o juízo considere um peso aproxima-do dos materiais que o embargante carregava naquele dia para desempenho da atividade de mudanças, assim como da quantidade de com-bustível que havia no tanque. E apenas com base em mera presunção não é possível que se determine a redução do peso encontrado na via administrativa’’, escreveu na sentença.

FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO

Já o relator da Apelação no TJ-RS, desembar-gador Marcelo Bandeira Pereira, disse que a presunção de legalidade do ato administrativo, para ser válida, deve ostentar os seguintes re-quisitos: agente competente, finalidade, forma, motivo e objeto.

No caso dos autos, o auto-de-infração não apresentou ‘‘fundamentação idônea’’ por falha do elemento ‘‘forma’’, o que dá causa à sua nulidade. A autora, para o desembarga-dor, produziu prova apta a afastar a presunção de veracidade do ato administrativo.

Bandeira não viu qualquer justificativa para o agente fiscal ter feito a pesagem do veículo, a fim de aferir a quantidade de mercadoria. Tal seria razoável se o produto fosse calculável apenas pelo seu peso, como nos casos de grãos ou líquidos. Tratando-se de ovos de chocolate, acondicionados em caixas, seria muito mais eficaz que contasse o número destas e multiplicasse pela quantidade de ovos que nelas cabiam.

‘‘O fisco utilizou método desprovido de qual-quer razoabilidade para efetuar o lançamento tributário, sequer justificando o motivo de ter feito a pesagem do caminhão inteiro ao invés de pesar somente os chocolates, ou contar o número de caixas transportadas’’, criticou o relator.

Para o julgador, a ausência de fundamentação se estendeu à precificação das mercadorias autuadas, pois o Fisco não explicou qual base de cálculo considerou o valor provável da ven-da ao consumidor final. Ou seja, não informou nem demonstrou como chegou ao valor do preço final ao consumidor. Provavelmente, de-duziu, o agente público calculou com base em estimativa, sem dar chance de o executado se defender na via administrativa, para contestar o valor arbitrado.

TRIBUTÁRIO

ICMS apurado sem critério razoável não tem valor jurídico, decide TJ-RSÉ nulo o lançamento tributário baseado em medição de peso de mercadorias feita de forma não razoável, sem se prestar à presunção de legalidade e veracidade dos atos administrativos. Assim, a 21ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul acolheu Embargos à Execução Fiscal apresentados por uma transportadora contra o Fisco estadual.

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PROPRIEDADE INTELECTUAL

Foi o que decidiu a 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul ao aceitar Apelação de um hotel, condenado em pro-cesso movido por uma rede de restaurantes de Campinas (SP) por se utilizar da expressão ‘‘Al -Manara’’ na identificação comercial de seu estabelecimento. Segundo os autos, ambos os estabelecimentos coe-xistem lado a lado, no Centro da cidade de São Borja. A expressão ‘‘al manara’’ vem do árabe, significa ‘‘lugar iluminado’’ e é conhecida desde o ano 328 antes de Cristo.

Para o relator da Apelação, juiz convocado Alex Gonzalez Custódio, a rede de restau-rantes não tem direito ao uso exclusivo desta expressão, embora tenha feito o registro no Inpi. Assim, não pode impedir que outro empresário a utilize para identificar o seu ne-gócio. Afinal, todas as demais atividades que levam o nome ‘‘almanara’’, não sendo res-taurantes e afins, não con-correm com a rede paulista.

Segundo o relator, o TJ-RS já se manifestou sobre a miti-gação da proteção da pro-priedade industrial em rela-ção a marcas que constituam expressão de uso comum. O mesmo caminho seguiu o Su-perior Tribunal de Justiça, no REsp 1.315.621.

‘‘A parte autora atua com excesso e abuso de direito no exercício do direi-to de uso da expressão de uso comum de todo povo de origem árabe, sendo, por isso, inapropriável com exclusividade, ainda que re-gistrada como marca’’, escreveu, no voto, o relator. A decisão que derrubou a sentença foi seguida por unanimidade no colegiado.

SENTENÇA PROCEDENTE

Em primeira instância, o juiz Frederico Menegaz Conrado, da 3ª Vara Cível da Comarca de São Borja, determinou a abstenção do uso da marca ‘‘Almanara’’ de forma empresarial, como nome fantasia, razão

social, título de estabelecimento ou outra forma, inclusive em mate-rial impresso, propaganda, documentos etc. Em caso de desobedi-ência, determinou a aplicação de multa diária no valor de R$ 1 mil.

Nos fundamentos da sentença, citou as disposições do artigo 129 da Lei 9.279/96, que diz: ‘‘A propriedade da marca adquire-se pelo registro validamente expedido, conforme as disposições desta

Lei, sendo assegurado ao seu titular uso exclusivo em todo o território nacional’’. Portanto, os direitos

de propriedade e de uso exclusivo de marca decorrem de seu registro válido no Inpi.

E, no caso concreto, a parte autora provou, por documentos, que pos-

sui propriedade e uso exclusivo da marca ‘‘Almanara’’ desde 1976.

Conforme o julgador, mesmo que a ré afirme que atua so-mente no ramo hoteleiro, é de conhecimento notório da população de São Borja que, ao lado do hotel re-querido, há um restaurante de mesmo nome comercial, cuja publicidade ocorre de forma conjunta. Isso faz crer, aos olhos do consumidor lo-

cal, que trata-se de um único empreendimento, o que não

é verdade. Assim, fica evidente que há a utilização do nome “Al-

manara” também no mesmo ramo da empresa autora.

‘‘Portanto, a conclusão é que a requerida está utilizando indevidamente a marca ‘Alma-

nara’, em desatento à exclusividade da parte auto-ra conforme demonstrado pelo registro no Inpi. Frise-se

que, apesar da distância e da improbabilidade de confusão entre os consumidores, quer pelo tipo de serviço prestado, quer pelo próprio logotipo das empresas, quem efetivamente detém a pro-priedade da marca ‘Almanara’ é a autora. Nesse sentido, a autora deverá ter o seu direito resguardado, principalmente tendo em vista que apresenta pretensões de expansão, com possibilidades de abertura de franquias em outros estados do Brasil’’, finalizou a sentença.

Registro de nome de uso comum só protege empresário em seu nicho de mercadoExpressão comum, nos dias atuais, não pode ser registrada como marca no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), diz o inciso VI do artigo 124 da Lei da Propriedade Industrial (9.279/1996). Mas se o registro foi feito antes da sanção da Lei, ele vale apenas para o nicho de mercado do registrante.

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RECUPERAÇÃO JUDICIAL

A certeza quanto à irreversibilidade da decisão que decretou a falência de uma empresa devedora permite que as ações de execução movidas contra ela, suspensas em razão do processo de recuperação judicial, sejam extintas.

Dessa forma, a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça manteve decisão do juízo de origem que extinguiu ações movidas pela Petrobras Distribuidora contra um posto de combustível de Araguari (MG) e que estavam suspensas em razão da recuperação.

No recurso rejeitado pelo STJ, a Petrobras Distribuidora alegou que os artigos 6º e 99 da Lei de Falência e Recuperação (11.101/2005) preconizam a suspensão dessas demandas, e não a extinção, como foi determinado pelo juízo competente.

Para a ministra Nancy Andrighi, relatora do Recurso Especial, a suspensão das execuções é determinação expressa em lei, mas, apesar desse fato, a extinção, nos limites propostos no voto, não se revela incompatível com o ordenamento jurídico.

“Não se está propondo que tais processos devam ser extintos ab initio [desde o início], ao invés de serem suspensos. O que se defende é que, após a formação de juízo de certeza acerca da irreversibilidade da decisão que decretou a quebra, não há sentido prático em manter as execuções individuais suspensas, ante a impossibilidade de seu sucesso”, fundamentou a relatora.

De acordo com a ministra, a eventual retomada das execuções individuais suspensas se traduz em medida inócua, por serem pretensões carentes de possibilidades reais de êxito.

“Na hipótese de ter havido o pagamento integral dos créditos, a pretensão executiva individual estaria satisfeita, o que ensejaria sua extinção. Já na segunda hipótese, a insuficiência do produto do ativo realizado conduziria, inexoravelmente, à inviabilidade prática do prosseguimento das execuções suspensas, à vista do exaurimento dos recursos aptos a satisfazer as obriga-ções respectivas”, disse a relatora.

A ministra lembrou que a decretação da falência acarreta a extinção da pessoa jurídica da sociedade empresária, derivada de sua dissolução total, significando que, mesmo que fosse possível retomar a execução, “tais pretensões careceriam, em última instância, de pressuposto básico de admissibilidade apto a viabilizar a tutela jurisdicional, ante a inexistência do sujeito passivo contra o qual exigir o cumprimento da obrigação”.

Falência da empresa leva à extinção das execuções que se encontravam suspensas

ADMINISTRATIVO

Multar caminhão sem detalhar os motivos é ato nulo

O Judiciário pode controlar a legalidade de atos administrativos sem motivação, já informar o motivo de sanções e deveres é obrigação le-gal da Administração Pública. Com esse entendimento, a 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região declarou nulas 12 notificações de infrações emitidas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres

(ANTT) contra uma transportadora paranaense.

A transportadora foi autuada por ‘‘evadir, obstruir e dificultar a fisca-lização’’, infração prevista no inciso VII, do artigo 34, da Resolução 3.056/2009 da ANTT. Quem descumpre a norma, fica obrigado a

pagar multa de R$ 5 mil e pode ter cancelado o Registro Nacional dos Transportes Rodoviários de Carga (RNTRC), por dois anos.

A autora reclamou, porém, que as notificações foram emitidas com fa-lhas, pois nem todos os campos do documento estavam preenchidos, faltando informações essenciais. Esses vícios, apontou, invalidam os

atos administrativos e dificultam a sua defesa na esfera administrativa.

DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO

A 1ª Vara Federal de Curitiba julgou procedente a Ação Declaratória de Nulidade de Notificações e Multas de Trânsito, por entender que não houve detalhamento da descrição das infrações, imagens ou mesmo a identificação dos servidores responsáveis pela lavratura dos termos. Tais omissões não permitem elucidar de forma clara a

ocorrência dos fatos, diz a sentença.

O juiz federal Friedmann Anderson Wendpap considerou a descrição dos fatos como ‘‘ausente ou lacônica’’, já que as notificações não es-pecificam como ocorreu a evasão do motorista dos locais onde foram aplicadas as multas. Ele considerou esses requisitos imprescindíveis, pois só é possível se defender de fatos, e não de tipificações legais.

Para Wendpap, pensar diferente implica atribuir ao administrado o ônus de produzir prova negativa, sem sequer saber quais foram os motivos a partir dos quais a autoridade administrativa inferiu ser o

motorista o responsável pela infração.

De acordo com a sentença, o dever de fundamentar decorre tanto da necessidade de se assegurar a ampla defesa e o devido processo ao administrado como para atender ao princípio constitucional da publicidade — pelo qual a cidadania pode exercer o controle da

Administração Pública.

‘‘Em resumo: ato desprovido de motivação é ato insuscetível de compor objeto do controle analítico de legalidade exercido pelo Poder

Judiciário, nos termos do art. 53 da Lei 9.784/99, Súmula 473 do Supremo Tribunal Federal e art. 2º da Lei 4.717/65. Logo, se impõe

gravame ao administrado, deve ser anulado, sob pena de se criar um processo administrativo de nítido cunho inquisitório, na medida em que tolhe o interessado de expender, dialeticamente, os argumentos

necessários à pretensão anulatória’’, afirmou na sentença.

A relatora no TRF-4, desembargadora federal Vivian Pantaleão Caminha, afirmou que anular as infrações não significa ingerência jurisdicional sobre a atividade administrativa, e sim “condicionar a validade dos atos administrativos às garantias fundamentais dos

administrados”.

“Não basta, para sustentar a validade de auto-de-infração, o simples argumento, sem qualquer lastro probatório, de que os atos adminis-trativos gozam de presunção de veracidade e legitimidade”, declarou,

em voto seguido por unanimidade.

Foto: Shutterstock O entendimento foi fixado pela Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao manter acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) que confirmou a aprovação de um plano de recuperação judicial mesmo após este ter sido rejeitado por uma das três classes de credores.

Apesar da rejeição quantitativa (por cabeça, sem considerar o valor do crédito), o juiz da recuperação aprovou o plano com base na concordância de boa parte dos credores das demais classes e, mesmo no grupo que rejei-tou a recuperação, considerou que o credor que aprovou o plano representava mais de 97% do total de créditos da classe.

“De fato, a mantença de empresa ainda recuperável deve se sobrepor aos interesses de um ou poucos credores divergentes, ainda mais quando sem amparo de fundamento plausível, deixando a realidade se limitar à fria análise de um quórum alternativo, com critério complexo de funcionamento, em detrimento da efetiva possibilidade de recupe-ração da empresa e, pior, com prejuízos aos demais credores favoráveis ao plano”, afirmou o relator do Recurso Especial, ministro Luís Felipe Salomão.

De acordo com o artigo 45 da Lei de Recupe-ração Judicial, nas deliberações sobre o plano de recuperação, todas as classes de credores (titulares de créditos trabalhistas, titulares de créditos com garantia real e titulares de cré-ditos quirografários – sem garantia especial) devem aprovar a proposta.

Todavia, segundo o artigo 58, parágrafo pri-meiro, o juiz poderá conceder a recuperação judicial mesmo sem a aprovação da assem-

bleia, desde que tenham ocorrido, de forma cumulativa: o voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos os créditos (inciso I); a aprovação de duas das três classes de credores ou, no caso da existência de apenas duas classes, a concordância de pelo menos uma delas (inciso II); e o voto favorável, na classe que tenha rejeitado o plano, de mais de um terço dos credores (inciso III).

REQUISITOS LEGAIS

No caso em análise, dos três credores com garantia real, apenas um deles aprovou o plano de recuperação – um terço, portanto, e não “mais de um terço”, como exige o inciso III. No entanto, o plano de recuperação foi aprovado por dois dos três credores quirogra-fários presentes e pela totalidade dos credores trabalhistas que participaram da assembleia, cumprindo os outros dois requisitos para o cram down.

Apesar de não preenchido um dos requisitos legais, o magistrado aprovou o plano com base no fato de que o credor com garantia real que aprovou o plano representava mais de 97% do total de créditos da classe, além da possibilidade de preservação da empresa.

Por meio de Recurso Especial, o Banco do Brasil alegou que o pedido de recuperação não poderia sequer ter sido conhecido, em razão do não preenchimento dos requisitos legais para o cram down. Além disso, para o banco, o juízo não deveria ter considerado apenas o valor dos créditos em detrimento da quantidade de credores.

PRESERVAÇÃO DA EMPRESA

O ministro Luís Felipe Salomão destacou que a Lei 11.101/05 abarcou o princípio da preserva-ção da atividade empresarial. Segundo ele, a legislação serve como parâmetro de condução da operacionalidade da recuperação judi-cial, que tem o objetivo de sanear o colapso econômico-financeiro e patrimonial da unidade produtiva economicamente viável, evitando--se a configuração de grau de insolvência irreversível.

“Nessa ordem de ideias, a hermenêutica conferida à Lei 11.101/05, no tocante à recuperação judicial, deve sempre se manter fiel aos propósitos do diploma; isto é, nenhuma interpretação pode ser aceita se dela resultar circunstância que, além de não fomentar, na verdade, inviabilize a superação da crise empresarial”, explicou o ministro.

Em relação ao mecanismo de cram down previsto pela Lei, Salomão ressaltou que o intuito foi evitar o chamado “abuso da minoria” sobre o interesse da sociedade na superação do regime de crise empresarial, permitindo ao juízo a concessão da recuperação mesmo contra a deliberação da assembleia.

Com base nesses princípios de proteção à empresa, o relator lembrou que o TJ paulista, embora tenha reconhecido que não houve a aprovação quantitativa dos credores com garantia, manteve a aprovação do plano de recuperação com base na aprovação pelo credor que representava quase 100% do total de créditos na classe. Além disso, apontou Sa-lomão, a aprovação não estabeleceu tratamen-to diferenciado entre os credores da classe que o rejeitou, bem como considerou manifestação positiva de boa parte dos credores.

Justiça pode aprovar plano de recuperação mesmo sem todos os requisitos legaisPara preservar a empresa, manter os empregos e garantir os créditos, o juiz pode aprovar o plano de recuperação judicial em contexto de cram down – mecanismo que permite impor um plano que não teve a aprovação da assembleia –, ainda que não estejam preenchidos todos os requisitos do artigo 58, parágrafo único, da Lei de Recuperação Judicial (11.101/2005).

Foto: Shutterstock

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A especialista também destacou o papel do advogado nas negociações extraju-diciais, antes de o débito ser cobrado na Justiça. ‘‘A renegociação extrajudicial é muito vantajosa, porque evita o processo judicial, oneroso tanto para o banco como para a empresa devedora. Nesta seara, o advogado pode fazer a inter-mediação de igual para igual com o credor, pelo conhecimento técnico que detém, abreviando esforços e economizando preciosos recursos.’’

Muitos consumidores se valem do Judiciário para discutir percentuais e índices de correção de dívidas e conseguem, por vezes, reduzir juros ou o valor da parcela a ser paga. Isso ocorre, na visão da advogada, porque a jurisprudência

do Tribunal de Justiça é muito paternalista em relação ao consumidor, em que pese este já ser considerado a parte fraca, vulnerável, em relação ao fornecedor de crédito, como sinaliza o CDC.

Como a lei da oferta e procura é implacável, e o mercado tende ao equilíbrio, o excesso de protecionismo acaba penalizando o consumidor – advertiu a espe-cialista de CPAE. Por isso, não se deve estranhar que, em resposta, o conceden-te trabalhe para aperfeiçoar seus ‘‘mecanismos de garantias’’, aumentando a exigência para a liberação de crédito e, por consequência, os custos da opera-ção. E isso acaba ‘‘respingando’’, infelizmente, até no bom pagador.

PAPEL DO ADVOGADO NA RENEGOCIAÇÃO

Renata Terra discorre sobre renegociação de dívidas no Espaço Jurídico da BAND

RECUPERAÇÃO DE CRÉDITO

A campanha contou com a adesão de grandes empresas do ramo do varejo, bancos, institui-ções de ensino e financeiras e teve o apoio do Procon estadual. Na ocasião, foram renegocia-das dívidas que oscilaram entre R$ 50 (em pres-tações atrasadas de carnês) e R$ 30 mil (com parcelas vencidas de cartões de crédito). No total, o Super Feirão contabilizou 40 empresas participantes e um ticket médio negociado de R$ 2.800 por cliente.

O tema ‘‘renegociação de dívidas’’ motivou o jornalista Gerson Anzzulin, apresentador do programa Espaço Jurídico, da Band AM e FM, a convidar a advogada Renata de Alcântara e Silva Terra, do staff da Cesar Peres Advocacia Empresarial, para um bate-papo. A entrevista foi ao ar no final de março.

Especialista em Recuperação de Crédito e Ativos e em Direito do Consumidor, Renata explicou, no programa, que cada empresa tem sua polí-tica de concessão de crédito. Essa política leva em conta a natureza da atividade empresarial, o nicho de mercado em que atua e as possibilida-des de lucratividade na venda de determinado serviço financeiro, especialmente a carteira de empréstimos. ‘‘Às vezes, pessoas ou empresas pretendentes de crédito têm cadastro negativo. Noutras, não têm um cadastro negativo, mas a movimentação financeira delas indica um perfil não muito adequado para a política de crédito daquele estabelecimento. E isso gera muita frustração e até processos judiciais.’’

A especialista disse que, aos olhos da legisla-

ção, empresas e bancos não têm obrigação de fornecer crédito. “O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendem que o fornecedor tem a faculdade de conceder o crédito, desde que o contratante demonstre que tem capacidade para cumprir a obrigação contratual – ou seja, pagar as parcelas do empréstimo.’’

O alerta é importante, segundo Renata, porque muitos consumidores com cadastro não aprova-do ajuízam ação de dano moral contra bancos e lojas, alegando constrangimento pela negativa de crédito. O Judiciário indefere o pedido porque o juiz não vê humilhação numa simples negativa de concessão de crédito. De regra, quando alguma ação é julgada procedente no primeiro grau, acaba reformada em sede de recurso, no Tribunal.

De maneira geral, apontou a advogada, os fornecedores dão ao consumidor a oportunida-de prévia de conhecer os produtos e serviços, permitindo que a relação consumerista se dê com a devida transparência. Aliás, o direito à informação está diretamente ligado ao princípio da transparência, expresso na ‘‘cabeça’’ do artigo 4º do Código de Defesa do Consumidor, o conhecido CDC (Lei 9.078/1990).

DÍVIDA COM O CONDOMÍNIO

Ao falar sobre quitação de dívidas, Renata fez questão de salientar a importância de o condômino se manter em dia com as obriga-

ções do condomínio, principalmente depois que passou a vigorar o novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015), em março de 2016. É que a partir do trigésimo dia de inadimplência o síndico já pode promover a cobrança, pois a dívida condominial passa a ser considerada um título extrajudicial, como prevê o inciso X do artigo 784. E, mais grave: o apartamento do devedor corre o risco de ser penhorado para pagar a dívida.

‘‘A mudança na legislação diminui o prazo de execução das cotas atrasadas, mas pode levar à perda do imóvel. Trata-se de um critério de justiça com os vizinhos, que mensalmente cumprem com aquela obrigação e que acabam pagando por aqueles que não têm o mesmo comprometimento”, ponderou.

Na hora de renegociar a dívida, a transpa-rência entre devedor e credor é importante – ressaltou a advogada –, principalmente em período de crise. É que, desta forma, o devedor consegue expor para o seu credor a situação real que enfrenta (desemprego, remunera-ção menor), conseguindo ajuda deste para equacionar a dívida e manter aberto o canal de crédito. “Afinal, além da função social de conceder um crédito e ajudar a pessoa no momento de dificuldade, o credor tem interesse em manter a sua carteira de clientes.” Em síntese, a inadimplência não interessa e não beneficia ninguém.

A crise econômica tem levado credores e devedores para os balcões de renegociação de dívidas em todo país, e no Rio Grande do Sul não é diferente. Um dos exemplos dessa iniciativa são as campanhas promovidas por diversas entidades, como o ‘‘Super Feirão Zero Dívida’’, realizado em novembro último no Centro de Atendimento ao Consumidor (Ceacon) da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL).

Foto: Shutterstock

Segundo a decisão, a instituição financeira não soube explicar por que deveria receber valor complementar de R$ 8 mil ao de uma dí-vida, já procedida em juízo, de R$ 235 mil. O valor apontado como ‘‘diferença’’ seria a correção monetária.

O juízo de primeira instância negou o pedido, por vislumbrar ‘‘má agir processual’’ por parte do credor, que apresentou planilha de atualização de débito contando desde dezembro de 2016. No máxi-mo, diz a decisão, poderia requerer a atualização dos valores de 17 de março de 2017 (quando havia sido feito o último cálculo) até 16 de maio de 2017 (data da expedição dos alvarás).

Descontente com a decisão, o banco recorreu à 20ª Câmara Cível do TJ-RS por meio de Agravo de Instrumento.

BUSCA POR VANTAGENS

Marchionatti, relator do recurso na corte, disse que o credor não demonstrou como chegou ao valor. Segundo ele, a petição recursal precisa demonstrar, de forma contábil e matemática, como se chega a tal valor. Como o credor não procedeu desta forma, ‘‘perdeu a oportunidade processual’’.

O desembargador criticou a postura do banco: ‘‘Digo com afeto e respeito. A dimensão a que chegou o processo civil brasileiro é inacreditável; discute-se agora o montante da liberação do dinheiro depois da liberação do dinheiro para aumentar o valor devido, que foi de valor significativamente expressivo. Em linguagem popular, não há o que chegue nem satisfaça; sempre há uma vantagem a mais para obter, certo ou errado’’.

Pedido de correção monetária sem cálculo compromete recurso

Os recursos judiciais que pedem novo cálculo para atualização de dívidas devem trazer explicações claras sobre o motivo para que sejam pagas as diferenças apontadas. Por isso, o desembargador Carlos Cini Marchionatti, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, ‘‘não conheceu’’ de Agravo de Instrumento interposto por um banco. Ou seja, não aceitou nem julgar o mérito do recurso.

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Index Boletim - Segundo trimestre de 2018Pág. 16 Index Boletim - Segundo trimestre de 2018Pág. 17

Justiça condena faculdade a pagar R$ 100 mil de danos morais a concorrente

por comparação de preços abusivaQuem cita o nome do concorrente em propaganda, diminuindo-o aos olhos do consumidor por comparação de preços, viola uma série de regras e comete ato ilícito. Com esse entendimento, a 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio

Grande do Sul condenou uma faculdade a indenizar em R$ 100 mil a instituição de ensino concorrente.

Nos dois graus de jurisdição, os julgadores consideraram ‘‘maliciosa, abusiva e ilíci-ta’’ a propaganda da ré veiculada num anúncio do Google, além de ‘‘deslealdade concorrencial’’. A chamada do anúncio: ‘‘Vestibular FTSG – Saia da FTEC e Venha

Pagar Menos’’.

A 6ª Câmara Cível reconheceu que a pessoa jurídica é titular de honra objetiva e sofre dano moral sempre que seu nome, credibilidade ou imagem forem atingidos por ato ilícito, como ficou patente no caso concreto. A possibilidade vem expressa

na Súmula 277 do Superior Tribunal de Justiça.

Em sua defesa, a ré afirmou que a legislação não proíbe a publicidade compa-rativa, mesmo porque a menção a preço superior de um serviço não significa demérito. Em síntese, pontuou que a simples menção para que o consumidor

pague menos em anúncio comparativo não é suficiente para macular a imagem ou reputação da demandante.

PUBLICIDADE ENGANOSAEm primeiro grau, a juíza Luciana Bertoni Tieppo, da 6ª Vara Cível da Comarca de Caxias do Sul, observou que o anúncio é um claro apelo para que os consumidores

matriculados na faculdade da autora transfiram seus cursos para a faculdade da ré, para pagar menos. Embora a propaganda comparativa não seja proibida por lei, discorreu na sentença, o anunciante não pode dizer o que quer e o que bem

entende. Deve obedecer, primeiro, às disposições do artigo 32 do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária (Lei 4.680/65 e Decreto 57.690/66) .

‘‘Portanto, a propaganda na forma como veiculada pela ré, propaganda compa-rativa, trata-se de publicidade abusiva, tendo em vista que deixou de mencionar qualquer outro fator além do preço, afirmando claramente que a autora cobra

preços mais caros pelos mesmos serviços que prestaria por preço inferior, sem qual-quer autorização da autora para a veiculação do anúncio’’, anotou na sentença.

A julgadora de primeiro grau ponderou que a publicidade violou, também, as regras do direito consumerista, especialmente o artigo 6º, inciso IV, do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90). O dispositivo diz que é direito básico do

consumidor ser protegido contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos co-merciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços. Logo, o anúncio não esclarecia

como pratica os preços mais baixos.

‘‘Desta forma, assiste razão à autora quando assevera que o referido anúncio gerou danos à sua imagem, porquanto pela mera leitura, sem a busca de maiores

informações — característica atual da sociedade hiperconsumista —, a autora é associada à prática de preços mais caros, situação que fica gravada na mente dos consumidores, considerando-se os termos em que veiculado o anúncio’’, concluiu.

DIREITO À VERDADENo TJ-RS, o relator da Apelação, desembargador Niwton Carpes da Silva, disse

que a propaganda publicitária se destina ao consumidor. Por isso, deve resguardar o direito à informação correta, não podendo se apresentar de forma ardilosa,

distorcida ou manipulada, como se verifica no anúncio publicado.

‘‘Neste diapasão, resta caracterizada a ofensa à honra da empresa requerente, quando veicula anúncio no site do Google, associando a instituição de ensino

autora à empresa que cobra valores mais ‘caros’ do mercado, sem considerar, se fosse o caso, a qualidade do ensino e do corpo docente fornecido pela empresa

autora. Trata-se de simples depreciação pelo preço’’, escreveu no acórdão.

Carpes considerou razoável e proporcional o valor arbitrado para reparação, especialmente porque a ré integra um dos maiores fundos de investimentos do

mundo — o norte-americano Advent International.

‘‘Por conta disso, a condenação deve ser sentida e experimentada e não simples-mente superficializada, erigindo-se como bastante e suficiente para coibir a prática

e também por emprestar efeito didático-pedagógico para que o ilícito não se repita’’, fulminou no acórdão.

ARTIGOSCÍVEL

As responsabilidades do fiador em caso de inadimplência contratual

Muitos têm dúvidas a respeito do conceito de fiador, suas obrigações e respon-sabilidades, o que gera medo e insegurança na hora de estipular este tipo de garantia pessoal em um contrato.

Pois bem. Fiador é aquele que arca com o pagamento da dívida caso o devedor principal e contratante da obrigação se torne inadimplente. Ainda, fiança é uma garantia que se aplica aos contratos e não aos títulos de crédito, que são garantidos por aval.

O fiador, que é terceiro em relação ao pacto firmado entre devedor e credor, assume a obrigação pelo pagamento de forma totalmente benéfica, ou seja, no intuito de ajudar alguém. E isso pode ser perigoso em alguns tipos de contrato.

Normalmente, para ser aceita como fiadora, a pessoa precisa ostentar histórico de boa pagadora, não possuir restrições no nome, ter patrimônio livre de qualquer ônus ou embaraço legal e apresentar comprovantes de renda. Estes requisitos são exigidos no período pré-contratual, não estando a empresa/insti-tuição financeira obrigada a aceitá-la.

É importante esclarecer também que são dois os tipos de fiador: o subsidiário, aquele que só arcará com a dívida caso o devedor principal não o faça ou não tenha patrimônio suficiente para quitação; e o solidário, que é acionado sem o benefício de ordem, podendo ser chamado à responsabilidade antes do devedor. Para dispensar o benefício de ordem, deve haver no contrato uma cláusula expressa nesse sentido.

Solidariedade pela dívida, para o mundo jurídico, significa dizer que todos os devedores se obrigam pelo total do débito, ficando os seus patrimônios sujeitos ao pagamento. Quando há devedores solidários, cada devedor é responsável pela dívida toda, e o credor pode exigir o adimplemento total ou parcial de qualquer um deles.

Com base em um caso prático de responsabilidade, o Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula nº 214, que diz: “O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu”. Isso quer dizer que caso o contrato seja renovado ou haja algum aditivo sem que o fiador participe, ele não poderá ser cobrado se ocorrer inadimplência.

A referida Súmula remete à questão primordial de que a fiança é oferecida com o intuito de ajudar alguém a conseguir alguma coisa. Se uma das características da fiança é ser benéfica, havendo renovação de contrato ou até uma eventual renegociação, o fiador só responderá em caso de inadimplência se tiver assina-do também esse instrumento aditivo.

O tipo de contrato mais comum no qual é exigida a presença de um fiador, e que facilmente nos vem à cabeça, é o de aluguel de imóveis. Conforme já dito, extremamente comum é a cláusula expressa na qual o fiador renuncia ao bene-fício de ordem, permitindo ao credor buscar primeiro o patrimônio do fiador e depois o do devedor. Em contrato de locação, além do benefício de ordem ser excluído, a fiança geralmente é de responsabilidade solidária (cobrar o todo de qualquer um), e a possibilidade de o fiador perder o bem de família (seu único imóvel de moradia) causa alvoroço.

Isso porque o artigo 3º da Lei nº 8.009/90 (que dispõe sobre a impenhorabilida-de do bem de família) é cristalino ao prever que a impenhorabilidade não pode ser alegada pelo fiador em caso de cobrança de dívida referente aos contratos de locação. Este entendimento gerou mais uma Súmula no Superior Tribunal de Justiça, a de nº 549: “É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação”. A jurisprudência está valendo desde 19 de outubro de 2015, quando o Diário da Justiça Eletrônico publicou a decisão da 2ª. Turma.

Logo, é muito importante que as pessoas tenham total ciência de como funciona este tipo de garantia pessoal chamada fiança e as suas consequências. Muitas vezes, o fiador está na melhor das intenções de ajudar um familiar ou amigo, mas não tem a exata noção do que tal desprendimento poderá significar para a sua vida e seu patrimônio.

Renata de Alcântara e Silva Terra

Advogada especializada em Recuperação de Crédito e Ativos e em Direito do Consumidor

Os riscos patrimoniais dos sócios de empresas em recuperação judicial

Algumas questões são sempre recorrentes quando do início de um projeto de reestruturação empresarial. Entrar com um pedido de recuperação judicial, por exemplo, traz insegurança ao empresário, seja com relação ao négocio, seja em relação aos possíveis reflexos que as pessoas físicas envolvidas na sociedade poderão sofrer.

Em busca de fomentar a atividade empresária é que adotamos o Princípio da Autonomia Patrimonial; ou seja, com ressalvas das empresas que possuem em sua constituição a respon-sabilidade ilimitada, em regra, apenas a pessoa jurídica responde patrimonialmente por suas obrigações. Pelo princípio societas distat a singulis, os sócios não poderão responder com o seu patrimônio pessoal por obrigações que foram assumidas pela pessoa jurídica.

Lembramos que o empresário precisa investir tendo a segurança da extensão do risco da ati-vidade empresarial, porque ser empresário é um ato de coragem em um ambiente tão hostil, com uma carga tributária classificada entre as maiores do mundo, uma política econômica instável e uma legislação trabalhista de causar calafrios.

Fazendo um apanhado pela legislação e mapeando algumas das principais decisões acerca do tema, identificamos os riscos que os sócios de empresas envolvidas em processo de recupera-ção judicial terão de se deparar no tocante à responsabilização do seu patrimônio pessoal.

A primeira, e mais conhecida, trata-se das garantias contratuais firmadas em conjunto com a empresa, como o aval. Nesse caso, o artigo 49, parágrafo 1°, da Lei 11.101/05, e a Súmula 581, do Superior Tribunal de Justiça, referem que as ações frente aos coobrigados não se sus-pendem. Significa dizer que todos os contratos em que o sócio constar como garantidor terão o seu prosseguimento normal, podendo haver a satisfação integral da dívida. Claro, possibilita ao coobrigado o direito de ação regressiva contra a empresa recuperanda.

Uma das saídas para o caso citado é o plano de recuperação trazer a supressão de garantias fidejussórias e reais, submetendo essa disposição à Assembleia Geral de Credores, conforme decidido no REsp nº 1532943/MT, que se encontra em fase de Embargos de Divergência no STJ.

Além da responsabilização contratual, temos ainda a possibilidade de responsabilização oriunda de decisão judicial quando da ocorrência da desconsideração da personalidade jurí-dica. Em nosso ordenamento jurídico, aplicam-se duas teorias. A Teoria Maior, prevista no co-mando do artigo 50 do Código Civil, requer, para a sua declaração, o abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial. A segunda, e mais preocupante, é a chamada Teoria Menor, aplicada, por exemplo, no Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) e na legislação trabalhista, que requer como condição o mero inadimplemento .

No CDC, por exemplo, segundo a previsão do artigo 28, parágrafo 5º, basta o simples inadimplemento para possibilitar a quebra do manto protetivo da sociedade e direcionar a execução aos sócios. O mesmo acontece com a legislação de responsabilização ambiental, a Lei 9.605/98. O artigo 4.º prevê a desconsideração da pessoa jurídica sempre que sua perso-nalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.

Na seara trabalhista, não há uma previsão expressa quanto à desconsideração da personali-dade jurídica. A Consolidação das Leis do Trabalho limita-se a falar apenas do procedimento de instauração de incidente, consoante disposição do artigo 855-A, aplicando a Teoria Menor de forma subsidiária.

Com relação às obrigações fiscais, o Código Tributário Nacional traz a disposição do artigo 135, exigindo, para a responsabilidade pessoal, que os atos sejam praticados com excesso de poderes ou infração de lei, do contrato social ou dos estatutos. Logo, neste caso, o mero inadimplemento não é suficiente para a desconsideração da personalidade jurídica, apesar de se defender que a previsão do artigo 135 não se trata de desconsideração, mas de responsa-bilidade pessoal de terceiro.

Aliás, em recente decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª. Região (SP e MS), no processo 0029078-63.2013.4.03.0000, estabeleceu-se que o simples fato da empresa estar em recu-peração judicial não é suficiente para que os sócios constem no polo passivo. E essa posição corrobora a alegada aplicação da Teoria Maior.

O que se constata é que a individualização patrimonial entre pessoa jurídica e seus sócios possui baixa aplicação prática. O sócio de empresa em vias de pedido de recuperação judicial deve ter consciência da extensão que a moratória legal poderá trazer na relação de bens pessoais.

Finalizando, é necessário lembrar que o processo de recuperação judicial busca a reestrutu-ração do passivo, para que seja mantida a atividade empresarial e o retorno ao mercado de forma competitiva. Assim, viabilizar o adimplemento por meio da responsabilização pessoal, nos moldes acima destacados, fere a principiologia da legislação falimentar.

O que se destaca, em suma, é que se torna imperioso um planejamento pré-pedido de rees-truturação, a fim de analisar a extensão dos riscos aos sócios e identificar a real possibilidade de êxito deste processo. Afinal, não se entra em um processo de recuperação se não há planejamento para sair.

Wagner Luís Machado

Advogado especializado em Direito Empresarial

Os direitos essenciais dos sócios minoritários

O Direito Societário é regulado por normas gerais e legislações específicas, de acor-do com o tipo empresarial escolhido e constante no Estatuto Social, no qual também são registradas algumas regras a serem cumpridas pelos sócios. O Código Civil de 2002 trata do assunto a partir do artigo 997, descrevendo cada categoria de modo reduzido e pouco abrangente. Já a Lei das Sociedades Anônimas – LSA (6.404/1976) aprofunda o assunto, trazendo em seu bojo normas específicas que podem ser aplicadas também aos acionistas minoritários de companhias limitadas.

Neste contexto, vale destacar que o artigo 109 da legislação supramencionada estabelece que o Estatuto Social ou a Assembleia Geral não pode privar o acionista de participar dos lucros sociais e do acervo da companhia; de fiscalizar a gestão dos negócios sociais; de ter preferência para a subscrição das ações, das partes benefi-ciárias e debêntures conversíveis em ações; nem dos bônus de subscrição. Ainda, as ações de cada classe conferem direitos iguais aos seus titulares, sendo que os meios, processos ou ações conferidos por lei não podem ser elididos pelo Estatuto ou pela Assembleia Geral.

O dispositivo referido descreve os direitos essenciais dos acionistas com a finalidade de limitar o poder dos sócios majoritários, que não podem privar os demais por deli-beração da Assembleia Geral ou regra estatutária. Contudo, existem outros direitos inquestionáveis espalhados nos demais artigos da LSA e que são extremamente importantes. Entre eles, vale ressaltar a possibilidade de convocação da Assembleia quando essa for retardada pelos administradores, a faculdade de propor demanda judicial para apurar responsabilidade dos administradores, o direito de recesso ou de retirar-se da companhia mediante reembolso do valor das ações.

A fiscalização é realizada por meio da participação nas assembleias, solicitação e recebimento das informações financeiras e demais operações, acesso aos livros de registros da sociedade, funcionamento do Conselho Fiscal eleito pelos sócios e pelas auditorias independentes. Entretanto, a verificação e controle não serão diretos e ilimitados, para evitar prejuízos à administração. Quanto ao direito de recesso, antes descrito, importa destacar que esse visa permitir ao sócio minoritário, discordante das decisões tomadas pela maioria, a oportunidade de retirar-se do quadro societário. Visto que os sócios majoritários podem aprovar matérias conforme as previsões estatutárias, os dissidentes não serão obrigados a permanecer na sociedade.

Porém, existem hipóteses especiais descritas no artigo 136 da Lei em questão que visam limitar o direito de retirada. A título exemplificativo, registram-se algumas situações distintas que possibilitam o exercício desse direito: criação, alteração ou au-mento de ações preferenciais; redução de dividendos obrigatórios; cisão, dissolução, fusão ou incorporação; mudança do objeto social; criação de partes beneficiárias; entre outras. É conveniente salientar que os direitos retromencionados somente poderão ser exercidos pelos sócios minoritários quando atingidos os percentuais mínimos, que variam entre 5% e 10% do capital social da sociedade, conforme a LSA, artigos 123, 141, 124 (parágrafo 3º), 161 e 246. Por conseguinte, a proteção conferida aos sócios minoritários depende também da vontade da maioria que irá analisar os pleitos e deliberar a respeito do assunto.

A vontade dos quotistas majoritários sempre irá prevalecer quando a questão invocada envolver direitos coletivos. Mas os direitos essenciais da minoria não podem ser violados, já que vêm resguardados em lei. A respeito desses direitos, podem-se identificar alguns que servem para a proteção dos sócios minoritários, tais como: direito na manutenção da participação no percentual do capital social; direito de participar na escolha do tipo societário; direito de receber dividendos; e direito de permanecer na sociedade.

Outros direitos relevantes podem ser estabelecidos no Contrato Social, visando: indicação de administradores; percepção de dividendos mínimos, fixos ou cumu-lativos; participação em parcela mínima do lucro anual; motivos para a dissolução da sociedade; formas de resolução de disputas; declarações; indenizações, perdas e danos; benefícios; estipulação de pró-labore; autorizações; obrigações; notifica-ções; recursos; procedimentos internos; garantias; confidencialidade; penalidades; arbitragem; e muito mais.

Os sócios também têm direito à participação no acervo da sociedade, de acordo com os percentuais de suas quotas, em caso de rompimento do vínculo societário; direito de preferência na subscrição de novas quotas decorrentes de aumento do capital so-cial; direito de voto para manifestação de vontade nas alterações contratuais, ainda que seja para discordar dos demais. Todos em conjunto contribuem nas tomadas de decisões e, consequentemente, devem respeitar os fins sociais e trabalhar de acordo com os interesses da empresa, tendo por base o dever da lealdade societária.

Marisângela de Mello

Advogada especializada em Direito Civil

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A inconstitucionalidade da majoração da Taxa de Utilização do Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex)

Não é de hoje que se discute o tamanho da carga tributária brasileira e a ausência da devida contrapartida estatal. O Sistema Tributário Nacional é complexo e, em muitos aspectos, inibe o desenvolvimento econômico do país. Apesar de se reconhecer a neces-sidade do estado de garantir a manutenção de um sistema tributário eficiente, a atual sistemática de arrecadação pouco contribui para a sua devida compreensão por parte dos contribuintes.

Para se ter uma ideia dessa complexidade, em fevereiro de 2016, existiam 92 diferentes tipos de tributos no Brasil. Além disso, somente no ano de 2015 ocorreram 27 importantes modificações na legislação tributária. Entre 1988 e 2013, o Brasil experimentou 15 altera-ções tributárias estruturais. No mesmo período, foram adicionadas ao nosso ordenamento jurídico, em média, 31 novas normas tributárias por dia.

Segundo estudo conduzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a complexidade tributária brasileira tem dois custos imediatos: litígios judiciais e custos ad-ministrativos para as empresas. Em relação aos litígios judiciais, apenas no ano de 2013, essa soma atingia o equivalente a US$ 330 bilhões – aproximadamente 15% do produto interno bruto (PIB) brasileiro. Para efeitos de comparação, essa proporção é de 0,2% do PIB para os Estados Unidos.

Em relação aos custos administrativos impostos às empresas, de acordo com o relatório Doing Business (2015), do Banco Mundial, no Brasil, uma empresa de tamanho médio gasta 2.600 horas por ano com a burocracia tributária. Um número absurdamente alto quando comparado com países como o México (334 horas por ano) ou a Argentina (405 horas por ano).

Diante deste cenário, muitos contribuintes têm buscado, junto ao Poder Judiciário, formas de ver garantida a manutenção de seus direitos fundamentais, frente aos equívocos e desacertos praticados pelo estado.

Em uma dessas oportunidades, o Supremo Tribunal Federal exarou uma importante decisão em prol da manutenção dos direitos fundamentais dos contribuintes. Trata-se do Agravo Regimental em RE 959.274/SC, no qual a Primeira Turma do STF, por maioria, determinou o seguimento do recurso extraordinário em que se discutia a possibilidade de majoração, por portaria do Ministério da Fazenda, da alíquota da Taxa de Utilização do Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex).

No caso, a matéria debatida dizia respeito especificamente à constitucionalidade ou não da majoração da Taxa, instituída pela Lei 9.716/1998, por meio da Portaria 257/11, do Ministério da Fazenda.

De um lado, o contribuinte – uma montadora de veículos – alegava a violação direta dos preceitos da Constituição Federal, por meio da inconstitucionalidade do artigo 3º, pará-grafo 2º, da Lei 9.716/1998, e, consequentemente, da Portaria 257/11 do Ministério da Fazenda, por afrontar o artigo 150, inciso I, da Constituição – ‘‘exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça’’. É que o comando destes dispositivos prevê que os valores da Taxa podem ser reajustados anualmente, por ato do ministro da Fazenda, conforme a va-riação dos custos de operação e dos investimentos no Siscomex. Assim, a Fazenda Pública entendia não haver ofensa ao princípio da legalidade.

Apesar da evidente controvérsia, o egrégio STF, em lúcida manifestação, afirmou, ao menos por ora, ser inconstitucional a majoração de alíquotas da Taxa de Utilização do Siscomex por ato normativo infralegal – ou seja, por meio de portaria. Além disso, o ato ministerial havia majorado em 500% os valores atribuídos à taxa em questão. Ocorre que a Lei 9.716/1998, a qual havia instituído o tributo, sequer estabelece balizas mínimas e máximas para eventual exercício de delegação tributária por parte do chefe do Executivo.

De igual modo, por se tratar de taxa, e não de imposto, não há permissivo constitucional para excepcionar-se o princípio da reserva legal em matéria tributária. Ou seja, somente lei em sentido estrito seria instrumento hábil para a criação e majoração de tributos. A Legalidade Tributária é, portanto, o verdadeiro direito fundamental dos contribuintes, que não admite flexibilização em hipóteses que não estejam constitucionalmente previstas.

Desta forma, portanto, apesar do complexo modelo tributário adotado em nosso país ter privilegiado o direito arrecadatório do estado, por meio de um conjunto de regras de difícil compreensão por parte dos contribuintes, é preciso estar atento, de modo a repelir qualquer ameaça de não observância dos direitos fundamentais dos contribuintes.

Advogado especializado em Direito Tributário

Geovane Machado Alves

ARTIGOS

Contrato intermitente, um ajuste livre, democrático e, ao mesmo tempo, incompreendido

Desde a publicação da Lei 13.467, em julho de 2017, conhecida popularmente como ‘‘reforma trabalhista’’, despontaram muitas dúvidas sobre sua efetiva aplicação. Essa insegurança atingiu em cheio não só o meio empresarial e os sindicatos, como os próprios trabalhadores, o Poder Judiciário e mesmo os advogados que militam na área trabalhista. Um dos temas que causa mais discussões, nos meios acadêmico e profissional, sem dúvidas, é a criação do contrato intermitente. Para os pouco familiarizados, este tipo de contrato permite que o empregador convoque o empregado apenas e quando tiver necessidade de seus préstimos, sem que, com isso, fique descaracterizada a subordinação jurídica. E, claro, nem a manutenção do vínculo empregatício.

O conceito vem expresso no parágrafo 3º. do artigo 443 da CLT: ‘‘Considera-se como intermitente o contrato de trabalho no qual a prestação de serviços, com subordinação, não é contínua, ocorrendo com alternância de períodos de prestação de serviços e de inatividade, de-terminados em horas, dias ou meses, independentemente do tipo de atividade do empregado e do empregador, exceto para os aeronautas, regidos por legislação própria’’.

Por consequência, o trabalho requisitado não necessariamente será diário; logo, poderá o empregado laborar pelos dias acordados junto ao empregador e, ao final do compromisso, não mais precisará retornar à empresa, salvo quando novamente convocado, o que sempre será feito com pelo menos três dias de antecedência, segundo previsão do artigo 452-A, parágrafo 1º, da ‘‘carta laboral’’.

Apesar de se tratar de modalidade contratual prevista em Lei, há inúmeras vozes que ecoam no sentido contrário à sua adoção. Os detratores da ideia alegam que o empregado será prejudicado em razão de não contar com uma remuneração fixa, o que lhe traria instabilidade financeira, por exemplo. Isso seria contrário à própria Constituição Federal no que concerne ao direito ao salário mínimo (artigo 7º, incisos V, VII e X). Ainda neste sentido, estariam feridos de morte os princípios constitucionais que visam à proteção ao trabalho e à remuneração digna e suficiente ao sustento do trabalhador (artigo 7º, inciso IV), os quais se juntam ao princípio da dignidade da pessoa humana (artigo1º, inciso III).

Outra questão que confronta este modelo é a situação do empregado junto ao Instituto Nacional do Seguro Social, já que as contribuições previdenciárias se baseiam na remuneração mensal percebida pelo trabalhador. Como os valores pagos têm como referência as horas efetivamente trabalhadas, podendo ser poucas durante o mês de competência, o empregado não atinge, em muitos casos, o valor mínimo de contribuição, ainda que a quota-empregador seja paga (artigo 452-A, parágrafo 8º). É que o INSS desconsidera contribuições abaixo de R$ 190,80 (equivalente a 20% do salário mínimo).

Neste caso, o empregado terá que complementar a contribuição ao INSS do próprio bolso, conforme Ato Declaratório Interpretativo nº 6 (ADI) e artigo 911-A e seguintes da CLT. Mas tem mais. No caso do empregado que sofre acidente de trabalho, laborando para mais de um empregador ao mesmo tempo e em idêntica função, a Lei não preveria qual dos empregadores seria responsável pela emissão da CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho. E, em caso de doença profissional, nem definiria com qual empresa haveria o chamado ‘‘nexo causal’’ deflagrador da enfermidade. Em síntese, não seria possível conhecer, com precisão, a causa e/ou o causador do dano.

A Medida Provisória 808/17 previa que, em caso de extinção do contrato intermitente, o pa-gamento seria pela metade da indenização do período de aviso-prévio e do acréscimo de 40% do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, além de limitar o levantamento dos depósitos de FGTS em até 80%, sem dar direito ao gozo do seguro-desemprego (artigo 452-E). Entretanto, a Medida Provisória teve sua vigência encerrada.

A celeuma, em geral, se fixa em direitos fundamentais atingidos, nos termos do artigo 7º e incisos I, II e III, o que ultrapassaria a esfera infraconstitucional da CLT.

Por outro lado, os defensores do contrato intermitente – incluindo-se aí o Governo e a Previ-dência Social – enxergam nesta modalidade uma forma oficial de retirar da informalidade os trabalhadores que vivem de “bicos”, ou seja, do trabalho informal, sem vínculo empregatício, incrementando as arrecadações fiscal, previdenciária e social. Desta forma, o empregado estaria sob a guarda da Previdência em caso de acidente ou doença do trabalho.

No que toca ao empresariado, a modalidade, por atender a real necessidade de trabalho, permite que somente o necessário seja gasto com a folha salarial. Com isso, o empregador consegue lidar melhor com os picos de demanda, sazonais, como o caso dos bares e empreen-dimentos ligados ao turismo, que sempre requerem mão de obra – mas em épocas específicas.

É imperativo deixar claro que a contratação intermitente não é uma regra imposta ao mercado. Antes, trata-se de modalidade que depende da atividade do empregador e de sua necessidade. Os trabalhadores podem aceitar as condições de trabalho ou não, como em qualquer outra modalidade contratual. Logo, não há razão para se ter medo.

Christian Charles do Carmo de Ávila

Advogado especializado em Direito do Trabalho

A controvertida discussão sobre o controle de constitucionalidade dos contratos de adesão

Viver sem os contratos de adesão é algo impensável numa sociedade de relações padronizadas, como a nossa, onde todos os indivíduos, indistintamente, se percebem como consumidores. Trata-se de instrumento cujas cláusulas são preestabelecidas unilateralmente pela parte contratual econômica e intelectualmente mais forte – o fornecedor. É este que estabelece as regras que melhor convêm aos seus interesses, sem que a outra parte – o consumidor – possa discutir ou modificar substancialmente o conteúdo do contrato escrito.

Nessa linha, se não é possível sonhar com uma igualdade absoluta na discussão travada em torno dos contratos de adesão, pelo menos no Brasil, a legislação vigente disponibiliza meios para que esse brutal desequilíbrio seja, ao menos, amenizado, especialmente através do controle de cláusulas abusivas.

O Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990) prevê que o referido controle pode ser feito pela via judicial. Assim, por exemplo, basta que determinada cláusula de um contrato seja considerada abusiva para que o juiz, mesmo de ofício, decrete sua nulidade. O controle judicial também pode ser feito pelo Ministério Público, que tem a tutela dos direitos coletivos dos consumidores, evitando que uma cláusula nula seja incorporada nos contratos individuais e até proibida em ajustes futuros. Cabe ressaltar, no entanto, que a nulidade de uma cláusula abusiva em contrato consume-rista não tem o condão de invalidá-lo por completo.

Embora exista a possibilidade do exercício de controle das cláusulas abusivas pela via judicial, com o objeto da decretação de nulidade, há quem defenda um controle maior sobre os contratos de adesão. E não apenas sobre estes, mas também sobre os contratos de caráter geral.

É o caso do senador João Costa (PPL-TO), que vem propondo mudanças legislativas para permitir o controle de constitucionalidade dos contratos de caráter geral e por adesão, já que uma Ação Direita de Inconstitucionalidade (ADI) só pode questionar leis de Direito Público, e não as contratuais – que envolvem as partes numa relação direta de Direito Privado.

No cenário atual, o Supremo Tribunal Federal impede que a massa de consumidores possa discutir o desequilíbrio contratual dos contratos de seguros privados, bancários, de consórcios, de cartões de crédito, de financiamento habitacional, de empréstimos consignados, de energia e telecomunicações, dentre outros. Segundo o parlamentar, embora sejam escritos para uma relação contratual privada, ou interpartes, tais con-tratos atingem a magnitude semelhante ao efeito difuso esperado das leis de caráter estatal. Esta situação reforçaria a tese de que a massificação dos contratos aumentou a relação de poder ou de domínio da parte mais forte sobre a mais fraca, desequili-brando em demasia os ‘‘pratos da balança’’.

Na prática, o Projeto de Lei do Senado (PLS) 114/2013, de autoria do parlamentar, propõe alterar a Lei 9.868/1999, que trata do processo e julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade e da Ação Declaratória de Constitucionalidade perante o STF, e a Lei 5.869/1973, que instituiu o Código de Processo Civil. Tudo com o objetivo de admitir o controle de constitucionalidade da norma jurídica contratual de caráter geral.

Por certo, devido à entrada em vigor, em janeiro de 2016, da Lei 13.105/2015, que instituiu o Novo Código de Processo Civil, o projeto de lei deverá receber ao menos uma emenda parlamentar. Isso porque o artigo que se busca alterar na Lei Processual Civil de 1973 encontra correspondência na nova Lei de 2015, com redação idêntica.

Interessante e revelador registrar, ipsis litteris, a parte final da justificativa do projeto do senador tocantinense: ‘‘Com a mundialização de mercados e a consequente ampliação dos horizontes contratuais, com a desigualdade nas relações contratuais e com a massificação dos contratos – diante de uma submissão dos mais fracos ao poder dos mais fortes, cada vez mais intensa –, é preciso redefinir as razões que justificaram a criação da jurisdição constitucional no âmbito dos órgãos do Estado, a fim de esten-dê-la à norma jurídica contratual”. O PSL encontra-se na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado, esperando a nomeação de um relator.

Fornecedores e consumidores aguardam, desde já, ansiosamente, as discussões em plenário, para poder exercer o seu direito de opinião sobre os destinos desta relação contratual. Afinal, a possível diminuição da assimetria jurídica trará, por consequência, uma assimetria fática nas relações entre produtor e consumidor. É esperar, e obrar, para que o bom senso prevaleça.

Fabrício Martins Brandt

Advogado especializado em Direito Civil

A irracional cobrança de direitos autorais em quartos privados e o alento que vem do TJ-SP

Para que se possa oferecer uma música para fruição pública, em regra, há necessidade de prévia e expressa autorização do autor ou titular da obra. Tal autorização se dá pelo recolhimento de contribuição a título de direito autoral, documento obtido junto ao Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), entidade representativa das associações que reúnem os artistas. Assim, aquele que pretende realizar a execução pública de uma obra musical, em local frequentado por inúmeras pessoas, deve recolher os direitos autorais. Para tanto, deve apresentar ao Ecad a relação das obras utilizadas, indicando o nome dos autores, artistas e produtores.

São considerados locais de frequência coletiva os teatros, cinemas, salões de baile ou concertos, boates, bares, clubes, associações, lojas, estabelecimentos comerciais e industriais, estádios, circos, feiras, restaurantes, hotéis, motéis, clínicas, hospitais, órgãos públicos, meios de transporte ou onde quer se executem composições musicais.

Nesse sentido, em determinadas situações, é fácil visualizar o fato gerador da cobrança: um show ou concerto, cujos artistas executem obras de outro cantor ou compositor; uma peça de teatro ou filme com trilha sonora; um salão de baile ou boate, onde haja a reprodução de diversas músicas na pista de dança. Isso sem falar nos bares, restaurantes, lojas e estabeleci-mentos que mantêm som ambiente. Em síntese, quem oferece música aos seus consumidores não tem como ignorar a obrigação legal de recolher os direitos autorais. Até aqui, tudo bem.

O estranho, no entanto, é considerar o quarto de hotel, onde se decide passar parte das férias com a família, como local de frequência coletiva. A terminologia é trazida pela Lei 9.610/98 – Lei de Direitos Autorais (LDA), que determina que, sem autorização do titular, não poderão ser executadas composições musicais publicamente em locais de frequência coletiva.

Mas o que o seu quarto de hotel tem a ver com isso? Incrivelmente, o seu quarto, por possuir equipamentos que permitem a execução de obras musicais – leia-se um televisor ou rádio – é considerado um local de frequência coletiva. Por esta singela razão, o proprietário do estabe-lecimento onde você se hospedou – o hotel – deve recolher mensalmente a contribuição para o Ecad, por execução pública de composições musicais. O mesmo tratamento é aplicado para quartos de motel, clínicas e hospitais. Para o Ecad, a cobrança se justifica e é uma justa retri-buição aos criadores, já que ‘‘a música disponibilizada nos quartos é um atributo importante para o maior conforto dos clientes, agregando valor ao negócio’’.

O curioso desta história é que o artigo 46, inciso VI, da LDA, diz que não constitui ofensa aos direitos autorais a fruição de obra musical nos limites do recesso familiar, local, evidentemen-te, onde tal execução não se dá com fins lucrativos. Assim, fica a pergunta: como considerar execução pública de obra musical um singelo e corriqueiro assistir de televisão ou escutar rádio no reduto de um quarto de hotel ou de motel ou até mesmo de hospital? Logo, o conceito de recesso familiar contido neste dispositivo legal deveria ser estendido e aplicado em analogia aos estabelecimentos de hospedagem. Afinal, quartos de hotel e motel são unidades de frequência individual e de uso exclusivo do hóspede. São áreas de uso privativo. Por esta razão, deveriam ser equiparados à própria residência, usufruindo da garantia da inviolabilidade do domicilio, assegurada no inciso XI, do artigo 5°, da Constituição Federal. A chave da controvérsia, como se percebe, reside no local onde se dá a fruição, que não pode ter a sua essência alterada, sob pena de violar preceito conhecido desde a Idade Média (séculos V a XV) e figurar entre os direitos fundamentais da pessoa humana reconhecidos na Carta Maior.

Parte desta fundamentação foi reconhecida em recente acórdão da 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo. O colegiado entendeu, assim como a 8ª. Vara Cível de São José dos Campos, que proferiu a sentença, que não se pode comparar motéis e hotéis a espaços públicos. “O sistema de televisão disponibilizado pelo réu, nos quartos, é daqueles por assinatura, de modo que as emissoras e redes de televisão já recolhem os valores devidos a título de direitos autorais ao Ecad”, afirmou o desembargador Mathias Coltro. Em outras palavras, como reconhecido no juízo de origem: quarto de hotel não pode ser considerado como área pública, para legitimar a cobrança, porque as retransmissões são executadas de forma privada.

O acórdão do tribunal paulista é um alento, mas, assim como outras decisões isoladas pelo país, contraria a jurisprudência assentada no Superior Tribunal de Justiça. Registra a ementa do Recurso Especial 1589598/MS, relatado pelo ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, no ponto que interessa: ‘‘a simples disponibilização de aparelhos radiofônicos e televisores em quartos de hotéis, motéis, clínicas e hospitais autoriza a cobrança, pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição - ECAD, dos direitos autorais de todos os titulares filiados às associações que o integram”.

Se mais decisões se somarem ao entendimento da 5ª Câmara de Direito Privado do TJ-SP, pode ser o início de uma reviravolta na jurisprudência. Oxalá!!!

Vanessa Pereira Oliveira Soares

Advogada especializada em Contratos e Negócios da Propriedade Intelectual

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Index Boletim - Segundo trimestre de 2018Pág. 20

NOTAS

Levantamento feito pela consultoria Thomson Reu-ters, com base em dados divulgados pela Receita Federal em 15 de fevereiro, mostra que a indústria e o comércio fecharam 2017 com pico de autua-ções tributárias. No comércio, o crescimento foi de 137%, considerando a evolução dos R$ 8,6 bilhões em 2016 para R$ 20,4 bilhões em 2017. Na indústria, a alta acumulada foi de 93,5%, com R$ 107,4 bilhões em multas no ano passado ante R$ 55,5 bilhões em recuperações tributárias em 2016. No setor financeiro, o crescimento foi menor, de 47,6%, mas ainda expressivo. Em 2016, as recupe-

rações tributárias do setor somaram R$ 10,5 bilhões e, em 2017, foram alçadas a R$ 15,2 bilhões.

‘‘Em 2018, o foco das operações da Receita Fe-deral deve atingir mais bebidas, cigarros e com-bustíveis, além dos fundos de pensão, reorganiza-ções societárias e repatriação de ativos. Estima-se algo como R$ 150 bilhões em autuações para o período, em todos os setores econômicos’’, segun-

do Carlos Nascimento, gerente da Thomson Reu-ters Brasil. No ano passado, as autuações somaram

R$ 205 bilhões.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que os contratos digitais se equiparam aos documentos físicos para o caso de execução de uma dívida, abrindo espaço para que bancos e empresas que oferecem serviços financeiros que se diferenciam pelas facilidades proporcionadas pela tecnologia da informação (fintechs) acionem devedores mais rapidamente. E com isso, é claro, reduzam o custo de financiamentos e empréstimos.

Usados cada vez mais por bancos, fundos de investimento e previdência, os contratos digitais eram cobrados na Justiça em ações de conheci-mento, cuja tramitação média chega a 10 anos de duração, em vez de ações de execução, que podem levar até um ano quando o devedor possui recursos para honrar a dívida.

Ao reconhecer a validade de contratos digitais, o STJ dá o primeiro passo para que acordos feitos por meio de aplicativos de celular ou pela internet tenham o mesmo rito que documentos em papel, com testemunhas e assinados pelo devedor.

A inovação do STJ não tem caráter vinculante, o que permite a cortes estaduais não reconhecerem a validade de contratos virtuais automatica-mente, ao mesmo tempo em que advogados podem usar o precedente do tribunal superior para buscar uma solução mais rápida para dívidas.

STJ EQUIPARA CONTRATOS DIGITAL E FÍSICO PARA COBRANÇA DE DEVEDORES

Indústria e comércio, os setores mais castigados pelo fisco em 2017

As dívidas trabalhistas devem ser corrigidas pelo IPCA-E, índice que reflete a inflação real e que tem condições de repor o valor da moeda do período entre a contração da dívida e o efetivo pagamento. Foi o que decidiu a 1ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho, ao declarar inconstitucional o uso da TR para a cor-reção monetária de dívidas trabalhistas. Para o ministro Walmir Oliveira, corrigir dívidas trabalhistas pela TR é inconstitucional, por não repor perdas com a inflação.

A turma seguiu precedente do Plenário do TST, que declarou inconstitucional o trecho “equivalentes à TRD”, do artigo 39 da Lei 8.177/1991. A lei foi editada como medida para desindexar as cadernetas de poupança dos índices de inflação oficial, mas também impôs a TR, usada para correção da poupança privada, a débitos trabalhistas “não satisfeitos pelo empregador nas épocas próprias”.

Dados extraídos do Observatório Digital de Saúde e Segu-rança do Trabalho, entre os anos 2012 e 2017, mostram que a Previdência Social gastou mais de R$ 26 bilhões com benefícios acidentários. Além disso, foram perdidos 305.299.902 dias de trabalho com afastamentos previdenciários. No mesmo período, houve o registro de cerca de quatro milhões de acidentes noti-ficados, dos quais apenas 646 mil em média por ano envolvem trabalhadores da economia formal. Os prejuízos são ainda maio-res, pois a subnotificação é muito expressiva.

A maior parte dos acidentes e mortes no trabalho ocorre com homens na faixa etária de 18 a 24 anos, que exercem atividades de baixa remuneração. O levantamento também revela que, no decorrer desses últimos cinco anos, o número de acidentes fa-tais com máquinas e equipamentos (1.897) é três vezes maior do que a média das outras causas (677); e as amputações (22.899) são 15 vezes mais frequentes do que a média geral (1.471)

1ª TURMA DO TST APLICA IPCA PARA CORREÇÃO MONETÁRIA DE DÍVIDAS TRABALHISTAS

HOMENS JOVENS SÃO AS MAIORES VÍTIMAS DE ACIDENTES DE TRABALHO