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Revista “Práticas de AnimaçãoAno 1 – Número 0, Outubro de 2007 http://revistapraticasdeanimacao.googlepages.com 1 “O SABER, O BRINCAR E A MÚSICA” Dr.ª Susana Francisco Animadora Sociocultural O projecto de intervenção “O saber, o brincar e a música” foi desenhado na área da animação sociocultural, tendo como linha estruturante a interacção entre duas gerações (idosos e crianças), a troca de saberes e de experiências, a tolerancia e a cooperação entre crianças e idosos. Este decorreu no âmbito de um estágio curricular, integrado no plano curricular do 5º ano do curso de Animação Cultural e Educação Comunitária da Escola Superior de Educação de Santarém, realizado no Centro Social e Paroquial S. João Batista de Espite, Concelho de Ourém, Distrito de Santarém. A velhice e a infância são duas fases marcadas por algumas alterações que ocorrem a diversos níveis. Nos idosos verifica-se algum enfraquecimento físico, motor e psicológico. “O envelhecimento é acompanhado pelo aumento da vulnerabilidade” (FONTAINE, 2000: 30). Alguns deles vão alterando os seus hábitos consoante as suas capacidades. Substituiem as suas rotinas diárias por actividades que lhe exijam um menor grau de actividade. Outros, começam a receber a reforma nesta altura, o que significa um aumento do tempo livre. As gerações mais novas, estão numa fase caracterizada por uma maior tolerância e cooperação, uma vez que “a capacidade crescente de compreender os pontos de vista dos outros, ajuda-as a comunicar mais eficientemente e a ser mais flexíveis nos seus julgamentos morais” (PAPALIA, 2001: 420). Uma vez que ambos os grupos estão em fases diferentes, mas, marcadas por algumas alterações semelhantes (como o aumento da tolerância e da compreensão), porque não juntar estes dois grupos? Os idosos podem transmitir os seus conhecimentos aos mais novos, preservando assim, a memória colectiva e a história da comunidade. A pessoa idosa vivenciou várias

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Revista “Práticas de Animação” Ano 1 – Número 0, Outubro de 2007

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“O SABER, O BRINCAR E A MÚSICA”

Dr.ª Susana Francisco

Animadora Sociocultural

O projecto de intervenção “O saber, o brincar e a música” foi desenhado

na área da animação sociocultural, tendo como linha estruturante a interacção

entre duas gerações (idosos e crianças), a troca de saberes e de experiências,

a tolerancia e a cooperação entre crianças e idosos.

Este decorreu no âmbito de um estágio curricular, integrado no plano

curricular do 5º ano do curso de Animação Cultural e Educação Comunitária da

Escola Superior de Educação de Santarém, realizado no Centro Social e

Paroquial S. João Batista de Espite, Concelho de Ourém, Distrito de Santarém.

A velhice e a infância são duas fases marcadas por algumas alterações

que ocorrem a diversos níveis. Nos idosos verifica-se algum enfraquecimento

físico, motor e psicológico. “O envelhecimento é acompanhado pelo aumento

da vulnerabilidade” (FONTAINE, 2000: 30).

Alguns deles vão alterando os seus hábitos consoante as suas

capacidades. Substituiem as suas rotinas diárias por actividades que lhe exijam

um menor grau de actividade. Outros, começam a receber a reforma nesta

altura, o que significa um aumento do tempo livre.

As gerações mais novas, estão numa fase caracterizada por uma maior

tolerância e cooperação, uma vez que “a capacidade crescente de

compreender os pontos de vista dos outros, ajuda-as a comunicar mais

eficientemente e a ser mais flexíveis nos seus julgamentos morais” (PAPALIA,

2001: 420).

Uma vez que ambos os grupos estão em fases diferentes, mas,

marcadas por algumas alterações semelhantes (como o aumento da tolerância

e da compreensão), porque não juntar estes dois grupos? Os idosos podem

transmitir os seus conhecimentos aos mais novos, preservando assim, a

memória colectiva e a história da comunidade. A pessoa idosa vivenciou várias

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experiências ao longo da sua vida, acontecimentos únicos, que passo a passo

formaram a sua personalidade.

Nesta perspectiva “uma das funções chave da animação sociocultural

consiste no facto de as pessoas e os colectivos se tornarem em agentes e

protagonistas do seu próprio desenvolvimento…” (TRILLA, 2004: 255).

Tendo por base a mesma fonte, o animador deve “… gerar processos de

participação, criando espaços para a comunicação dos grupos e das pessoas,

tendo em vista estimular os diferentes colectivos a empreenderem processos

de desenvolvimento social e cultural”.

Parece-nos importante que a sociedade no seu conjunto e que cada

indivíduo tenha a percepção da necessidade de preparar o tempo de reforma e

o tempo de inactividade, de forma a promover a qualidade de vida na terceira

idade.

A prática de estágio teve início em Setembro de 2006 e teve o seu

término em Dezembro do mesmo ano, com a festa de Natal da instituição.

As primeiras semanas de contacto com a instituição permitiram-me

inteirar da sua organização e funcionamento, tendo sido possível constatar que

funcionam no mesmo edifício três valências: Lar, Centro de Dia e ATL. Não

havendo, porém, qualquer contacto entre idosos e crianças. Da análise à

realidade institucional constatei ainda, que são desenvolvidas algumas

actividades orientadas pela Directora Técnica, apesar dos idosos ainda terem

bastante tempo livre, caracterizado por uma grande inactividade. Contudo,

importa referir que era grande a sua adesão e participação sempre que lhes

eram propostas actividades.

As crianças envolviam-se nas actividades propostas pela Auxiliar de

Serviços Gerais. Enquanto estas decorriam, elas gostavam de trocar

experiências e ideias, cooperando desta forma, entre si. No entanto,

verificavase que as actividades sugeridas às crianças se centravam

maioritariamente na expressão plástica.

A partir destas constatações foram construídas e aplicadas algumas

grelhas de observação e realizadas entrevistas exploratórias com o objectivo

de melhor conhecer os dois grupos etários em estudo – crianças e idosos.

Um maior e mais profundo conhecimento da realidade, pareceu ser

pertinente estabelecer alguma ligação entre estas duas gerações, que apesar

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da proximidade física se encontravam completamente separadas. A troca de

saberes e experiências entre as duas gerações seria na minha opinião,

vantajosa e enriquecedora. Foi neste momento que o projecto de intervenção

se começou a delinear. A música foi em meu entender, o elemento facilitador

do diálogo e troca de experiências intergeracional.

A informação recolhida através da aplicação das grelhas e da realização

de entrevistas veio confirmar que essa escolha seria um bom caminho, uma

vês que tanto as crianças como os idosos disseram que gostariam de passear,

contar histórias, jogar e dançar em conjunto.

Dentro desta área, o projecto “O saber, o brincar e a música”

fundamentou-se em quatro pilares fundamentais: a entoação de canções e

partilha de histórias e vivências a elas associadas; o passeio ao pinhal e aos

cafés locais; a construção, ornamentação e exploração de instrumentos

musicais e o ensaio de uma música conjunta.

O projecto desenvolvido inscreve-se na animação sociocultural, área que

nunca tinha sido explorada anteriormente na instituição. O contacto

intergeracional foi o fio condutor.

Fundamentação teórica

Ao longo dos tempos, o conceito de envelhecimento foi objecto de discussão.

Actualmente, ele está associado a algumas modificações que ocorrem durante

uma determinada altura.

Nesta perspectiva, “A velhice pode ser definida como um processo

desfavorável e progressivo da mudança, de um modo geral associado à

passagem do tempo, que se torna perceptível depois da maturidade e conclui,

invariavelmente, com a morte”. (CABRILLO, 1992: 16)

Este processo é diferente de pessoa para pessoa e aponta sinais a

diversos níveis e em intensidades variadas.

“O início da senescência, período marcado por declínios evidentes no

funcionamento do corpo, às vezes marcado por declínios com o

envelhecimento, varia bastante... A maioria das teorias biológicas de

envelhecimento encaixa-se em duas categorias: teorias de programação

genética e teorias de taxas variáveis” (PAPALIA, 2000: 500).

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A primeira teoria defende que o envelhecimento biológico tem origem na

activação e desactivação de certos genes, que ocorrem nesta fase. Há também

a tese que defende que, há uma quedadas funções a nível do sistema

imunológico, o que leva ao envelhecimento e a uma maior vunerabilidade às

doenças.

A segunda teoria sustenta que as células e os tecidos vão-se

desgastando, provocando um mau funcionamento mal e danos em alguns

órgãos. Desta forma, com o avançar da idade o sistema imunológico começa a

confundir-se e a atacar as próprias células do organismo.

As mudanças que ocorrem a este grau variam de pessoa para pessoa.

Porém, relativamente às pessoas idosas saudáveis, o cérebro regista poucas

diferenças.

A partir dos 30 anos, o cérebro começa a perder peso devido ao

desaparecimento da sua substância branca. Tendo por base a mesma fonte, é

licito afirmar que “juntamente com a perda de substância cerebral, pode ocorrer

um retardamento gradativo das respostas, o qual inicia na meia – idade”.

A nível motor, estas fazem as mesmas coisas que as pessoas mais

jovens, só que mais devagar, devido à diminuição da força e à limitação em

algumas actividades que necessitam de mais esforço por parte da pessoa.

“Os problemas psicológicos da pessoa idosa estão sobretudo

associados às perdas de papel, às múltiplas situações de stress, à doença, e

ao desenraizamento entre outros traumatismos” (BERGER, 1995: 64).

Segundo Papalia a morte de algum familiar ou amigo pode levar “as

pessoas muitas vezes a sofrerem mudanças físicas, cognitivas e de

personalidade”.

Por sua vez, as crianças entre os 6 e os 10 anos de idade, também

estão numa fase de mudança. Esta não é tão visível a nível físico, uma vez que

“o crescimento em altura e peso, durante o período escolar, abranda

consideravelmente, se comparado com a sua velocidade rápida durante a

infância” (PAPALIA, 2000), mas a nível motor.

Entre esta idade, Diane Papalia (PAPALIA, 2000) afirma que elas “… em

consequência de um acentuado desenvolvimento motor, …, podem envolver-se

numa maior variedade de actividades motoras do que as crianças no período

pré-escolar”.

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No âmbito cognitivo, e, tendo por base Jean Piaget citado pela mesma

autora, as crianças nesta faixa etária, situam-se no estádio das operações

concretas. Nesta perspectiva, “as crianças são menos egocêntricas do que

anteriormente e são mais eficientes em tarefas que requerem raciocínio

lógico… contudo o seu raciocínio é muito limitado ao aqui e agora” (PAPALIA,

2001: 458).

Uma vez que estas duas gerações se encontram em fases distintas, mas

caracterizadas por algumas mudanças que poderão marcar o seu futuro

próximo, porque não colocar em contacto estas duas gerações? Começam a

figurar algumas iniciativas no âmbito da intergeracionalidade, algumas

individualidades pronunciaram-se, enumerando as suas vantagens. Moragas

(1997) afirma que “as relações intergeracionais podem ser solidárias, sendo

que proporcionam ajuda em certos momentos vitais”.

O “Projecto Viver” na sua página oficial refere as características

essenciais para o sucesso dos programas intergeracionais. São eles:

- Demonstrar benefícios mútuos para os participantes das várias idades;

- Estabelecer novos papéis sociais e/ou novas perspectivas para os jovens e

idosos;

- Envolver múltiplas gerações tendo que incluir pelo menos duas gerações não

adjacentes ou de parentesco;

- Promover a consciencialização crescente e compreensão entre gerações

mais novas e mais velhas aumentando a auto – estima para ambas;

- Abordar temáticas sociais e políticas relevantes para as gerações envolvidas;

- Incluír elementos de planeamento de programas

Nesta perspectiva, seria vantajoso a realização de actividades dirigidas

simultaneamente aos idosos do Centro Social Paroquial de S. João Batista de

Espite e às crianças que frequentam a valência de ATL da instituição.

“Vários estudos confirmam a importância que a música tem para o

bemestar do bebé, desde quando ele ainda é um feto e está no ventre da mãe.

A música traz tranquilidade para a mãe e para o bebé, introduzindo-o na

sensibilização aos sons, desde muito cedo” (Portal da família: 2006). Ela

estimula áreas do cérebro não desenvolvidas por outras linguagens, como a

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escrita e a oral. Esta surge como “… una forma de expresión de emociones y

como suscitadora de emociones; como mensaje y forma de comunicación; …”

(ANDER-EGG, 2001: 362).

“A música tem ainda, o dom de aproximar as pessoas. A criança que

vive em contacto com a música, aprende a conviver melhor com as outras

crianças e estabelece um meio de se comunicar muito mais harmonioso do que

aquela que é privada da música”. (Portal da família: 2006)

A música acabou por ser o meio que utilizei para procurar ajudar a

população-alvo a vencer as carências diagnosticadas.

Neste projecto “a animação sócio-cultural nasce como uma forma de

promoção de actividades destinadas a preencher criativamente o tempo

livre,..., e criar as condições para a expressão, iniciativa e criatividade da

mesma gente” (ANDER-EGG, 1999: 9). Esta surge assim como uma tentativa

de resposta a toda esta situação, respondendo às exigências humanas e

privilegiando o estabelecimento de novas relações entre as pessoas.

A Animação Sociocultural: Origem, Conceito e Modalidades

A palavra animação deriva da palavra de origem latina anima, e“significa

acto ou efeito de animar, dar vida, infundir ânimo, valor e energia” (JARDIM,

2002).

Este termo foi utilizado primeiramente, a partir dos anos 60 na França

(mais tarde na Bélgica, Portugal, Espanha e Itália), “… para designar um

conjunto de acções dirigidas a gerar processos de participação da gente

tendentes à dinamização do corpo social”. (Ander - Egg, 1999: 9)

Para Besnard, a ASC teve origem na educação popular, afirmando-se

como uma possibilidade de cultura para todos/as, uma espécie de escola

paralela (1980: 17).

A animação sociocultural surgiu como um instrumento cujos objectivos,

eram de preencher o tempo livre de uma forma criativa, alterar o

desarreigamento produzido nos centros das grandes cidades e precaver o

aprofundamento da fissura cultural que existia nas várias camadas sociais. “Em

Portugal atingiu a sua máxima expressão na segunda metade da década de

70, depois da revolução do 25 de Abril. Contudo, os seus antecedentes

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remontam aos tempos longínquos da 1ª república (1910/1926), prolongando-se

pela ditadura militar e pelo Estado Novo (1926/1974)”. (LOPES, 2006: 95).

Desta forma, a primeira definição portuguesa de Animação Sociocultural

data de 1975 e, é da autoria do FAOJ (Fundo de Apoio às Organizações

Juvenis), seguindo-se a de Garcia e posteriormente a de Gaspar. Estas três

primeiras definições descrevem a animação como um conjunto de actividades

e uma alternativa cultural.

Uma vez que este conceito é muito vasto, não existe ainda uma

definição consensual de animação sociocultural. Esta pode ser encarada de

várias formas, consoante a área ou âmbito de intervenção, as modalidades e o

público-alvo a que se destina.

Nesta perspectiva, vários autores (entre os quais Mário Viché, citado por

Ander-Egg), propuseram várias definições em que a relacionam com a

participação activa dos membros de uma comunidade nas actividades culturais

do meio em que vivem. Nesta perspectiva, Vilché define-a como “…un proceso

que surge en el seno de los grupos sociales, los cuales mediante la

participación activa de sus miembros, van a ser capaces de generar cultura”

(ANDER-EGG, 2001: 105).

Ezequiel Ander-Egg caracteriza a animação sociocultural como “un

conjunto de técnicas sociales que, basadas en una pedagogía participativa,

tiene por finalidad promover prácticas y actividades voluntarias que con la

participación activa de la gente, se desarrollan en el seno de un grupo o

comunidad determinada, y se manifiestan en los diferentes ámbito de las

actividades socioculturales que procuran el desarrollo de la calidad de vida”

(ANDER-EGG, 2001:100).

Jaume Trilla, atreve-se a definir o animador como “Um educador, apesar

de nem todos estarem de acordo em identificar o animador como um educador;

todavia, há unanimidade na altura de aceitar que é um dinamizador, um

mobilizador, como o seu próprio nome indica. Neste sentido, pode considerarse

educador, visto que pretende provocar uma mudança de atitudes, da

passividade à actividade.

Um agente social, visto que exerce esta animação não com indivíduos

isolados, mas com grupos ou colectivos os quais tenta envolver numa acção

conjunta, desde o mais elementar até ao mais comprometido.

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Um relacionador, capaz de estabelecer uma comunicação positiva entre

as pessoas, grupos e comunidades e de todos eles com as instituições sociais

e com os organismos públicos. Na minha opinião, é esta a sua característica

mais definitória e peculiar, a que o diferencia de outras profissões afins” (Trilla,

2004: 125).

Nesta sequência de ideias, o projecto de intervenção que se descreverá

posteriormente, centrou-se na vertente cultural, pretendendo que cada idoso e

cada criança participasse activamente na vida em grupo e na sociedade em

que estão inseridos, propondo mudanças e aperfeiçoamentos e favorecendo o

crescimento da qualidade de vida, através da interacção entre as duas

gerações, da troca de saberes e de experiências.

Objectivos

O projecto desenvolvido teve por base os seguintes objectivos: fomentar

a interacção entre as duas gerações, proporcionar a troca de saberes e de

experiências, favorecer a auto-estima, promover a imaginação; despertar a

criatividade das crianças, incentivar à tolerância e à cooperação entre as

crianças e os idosos, proporcionar vivências e experiências musicais

diversificadas.

As actividades decorrentes do projecto sustentaram-se em quatro pilares

diferentes:

Entoação de canções e partilha de histórias e vivências a elas associadas

Neste primeiro momento foram realizadas três sessões diferentes. O

protagonismo coube aos idosos. Estes partilharam com as crianças algumas

canções da sua juventude, assim como algumas histórias que lhe estão

associadas. Na segunda sessão foram as crianças a fazer essa partilha e a

propor o debate de ideias. A terceira sessão foi efectuada a partir da escuta de

algumas músicas sugeridas por mim, animadora estagiária na instituição (fig. 1

e 2).

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Figuras 1 e 2 – Os idosos e as crianças a cantarem e a baterem palmas na segunda sessão.

Passeio ao pinhal e aos cafés locais

Este passeio foi pensado para ser realizado pelos dois grupos, mas

devido a recomendações por parte da Direcção do Centro, não foi possível que

os idosos o realizassem. Sendo assim, foram só as crianças recolher materiais

que permitissem construir instrumentos musicais. Esta recolha foi feita pelo

mesmo grupo no mesmo dia.

Construção, ornamentação e exploração de instrumentos musicais

Esta actividade, como o próprio nome indica, consistiu na realização,

construção e decoração de instrumentos musicais a partir do material

recolhido. Ela decorreu em duas sessões distintas (fig. 3, 4, 5 e 6).

Figuras 3 e 4 – Material utilizado para a construção dos instrumentos musicais.

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Figuras 5 e 6 – Pedras pintadas pelas crianças e idosos. Criança e idosa a construírem umas maracas. Ensaio de músicas de Natal conjuntas

As músicas foram cantadas e orquestradas tanto pelos idosos como

pelas crianças e, foram apresentadas na festa de Natal da instituição. Para

isso, foram feitos três ensaios.

Recursos

Para a realização das actividades, utilizei os recursos de que dou conta

no quadro seguinte:

Recursos

Actividade Institucionais Financeiros Físicos Materiais Humanos

Entoação de canções e partilha de histórias e vivências a elas associadas

- Leitor de CD; - Cadeiras;

A sala de estar do Lar

- Objectos alusivos ao trabalho na resina (espátula, púcaros e ferro de renovar). - Gravador. - Cassete para gravar a sessão.

A Animadora estagiária, as crianças e os idosos

Passeio ao pinhal e aos cafés locais.

A rua e os cafés locais

- Sacos para transportar o material recolhido; - Alguns elementos da natureza (por exemplo: pedras, paus, areia, folhas, …).

A Animadora estagiária, as crianças e os idosos

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Construção, ornamentação e exploração de instrumentos musicais

- Pincéis; - Tesouras; - Cadeiras; - 2 Mesas;

20,00€

A sala de estar do Lar

- Materiais recolhidos no passeio; - Cola; - Papel crepe de várias cores; - Tintas; - Cordão; - Arame; - Fitas auto -adesivas de cor;

A Animadora estagiária, as crianças e os idosos

Ensaio de músicas de Natal conjuntas.

- Leitor de CD; - Outros instrumentos musicais;

A sala de estar do Lar

- Instrumentos musicais criados pelos idosos e pelas crianças;

A Animadora estagiária, as crianças e os idosos

Quadro 1 – Recursos utilizados

Privilegiou-se como metodologia de intervenção a participativa,

procurando-se que todas as actividades a realizar fossem sugeridas tanto pelas

crianças como pelos idosos, de forma a serem eles próprios a decidirem nas

que queriam participar.

Segundo Ander-Egg (1999) “a participação é um aspecto fundamental

da animação e, ao exercer uma intencionalidade de gerar processos de

participação como também de promoção da responsabilidade colectiva, a

animação sociocultural torna-se num instrumento de criação de poder popular.

Isto porque a actuação da animação enquanto prática participativa, incide

sobre experiências conjuntas, no aproveitamento das potencialidades de cada

indivíduo e na integração das experiências, conhecimentos e habilidades de

cada um dos indivíduos”.

Avaliação

O projecto “O saber, o brincar e a música” foi alvo de avaliação contínua

pelo que foi sendo alvo de alterações e modificações pontuais. A avaliação

contínua do projecto teve ainda a função de instrumento de apoio à tomada de

decisões. Esta permitiu que a animadora estagiária reflectisse acerca da forma

como as actividades estavam a decorrer e as adequasse aos seus

destinatários.

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Em seguida apresentam-se os resultados da avaliação final, baseada

nos critérios de adequação, pertinência, eficácia e equidade, (GUERRA, 2000:

198).

Quadro 2 - Avaliação da adequação

Situação inicial

Objectivos do projecto

Situação final (efeitos observados)

Não existe qualquer contacto entre idosos e crianças.

• Fomentar a interacção entre as duas gerações;

Tanto as crianças como os idosos mostraram gostar desta interacção entre estes dois grupos, uma vez que as crianças foram fazendo várias vezes alguns desenhos (ver figura 9) para os idosos e, tanto um grupo como o outro perguntavam constantemente quando se voltariam a encontrar.

Apesar de serem desenvolvidas algumas actividades, os idosos ainda têm bastante tempo livre, o qual é caracterizado por uma grande inactividade.

• Favorecer a auto – estima;

• Fomentar a iniciativa;

• Fomentar a interacção entre as duas gerações;

Os idosos mostraram-se mais participativos e activos, desenvolvendo e propondo algumas actividades. Por vezes, vinham ter comigo a cantar uma música e a pedir para colocar música a tocar para eles ouvirem enquanto estavam sem actividades.

As actividades sugeridas às crianças centram -se maioritariamente na expressão plástica.

• Estimular a criatividade e a imaginação das crianças;

• Diversificar as actividades de ocupação de tempos livres;

• Proporcionar vivências e experiências musicais diversificadas;

As crianças participaram activamente nas actividades propostas. Relativamente à construção e ornamentação dos instrumentos musicais, mostraram-se bastante empenhadas, assim como na preparação das músicas de Natal. A partir de vários objectos construíram instrumentos musicais diversos que permitiram acompanhar as músicas a cantar.

Tanto as crianças como os idosos cooperam e colaboram dentro do próprio grupo em que estão inseridos.

• Incentivar a tolerância e a cooperação entre os dois grupos;

Os dois grupos ajudaram-se e colaboraram entre si, trocando e aceitando ideias dadas pelos vários elementos dos grupos.

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Fig. 7 - Desenhos feitos por algumas crianças para os idosos.

Numa situação inicial observou-se que os idosos participavam em

algumas actividades que lhe eram sugeridas, mas eles ainda tinham bastante

tempo livre caracterizado por uma grande inactividade.

Verificou-se também a necessidade de estabelecer contacto com as

crianças da valência de ATL, uma vez que tanto elas como os idosos

mostraram esse desejo. Daí o surgimento do projecto: “O saber, o brincar e a

música”.

O projecto permitiu que as visitas das crianças continuassem, pelo

menos, durante mais uma semana, visto que ambas as partes diziam “ter

saudades”, estando sempre à espera que surgisse a possibilidade da visita.

Apesar de não se poder dizer que este levou à participação global dos

idosos da instituição, os mais autónomos participaram nas actividades de forma

entusiástica adoptando uma postura mais activa e participativa.

Durante o decorrer das actividades registou-se uma partilha de

experiências e de conhecimentos de ideias e saberes, verificando-se o

empenho do grupo nas actividades propostas. Foi ainda notária a satisfação

demonstrada pelos idosos por haver interesse pelas suas vivências e

conhecimentos.

Assim, segundo os vários indícios observados, verifica-se que o projecto

de intervenção se adequou ao contexto e à situação, pois, tentou responder às

mais variadas necessidades diagnosticadas, adequando-se às expectativas,

recursos e constrangimentos verificados, mas sem os perder de vista os seus

objectivos e o seu fio condutor. Desta forma, poder-se-á afirmar que se

manteve coerente na sua estrutura e execução.

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Relativamente à pertinência, esta é observável comparando as políticas,

a missão, as estratégias e os objectivos da instituição com os objectivos do

projecto de intervenção de modo a verificar o grau de conformidade. (ver

quadros 3 e 4).

Objectivos da instituição relativas às Valências de

Lar e Centro de Dia Objectivos do projecto

Despertar o gosto pela vida; Favorecer a auto – confiança valorizando a experiência de vida como fonte de conhecimento para os mais novos;

Manter/desenvolver as capacidades ainda existentes;

Promover a imaginação; Valorizar os conhecimentos e potenciais de cada um;

Estimular a capacidade participativa e de iniciativa do idoso;

Proporcionar a troca de saberes e de experiências;

Enquadrar o idoso num programa com várias actividades de foro recreativo, cultural, espiritual, e desportivo, permitindo um estímulo constante às suas capacidades físicas, sociais e psicológicas;

Utilizar o contacto com as crianças como forma de conhecer gestos, expectativas e interesses dos mais novos;

Promover a auto – estima e valorização pessoal; Favorecer a auto – estima; Promover e desenvolver as capacidades de interacção social;

Incentivar a tolerância e a cooperação entre as crianças e os idosos;

Fazer com que o idoso se sinta útil. Proporcionar a troca de saberes e de experiências;

Oferecer aos idosos, um espaço de vida socialmente organizado e adaptado às suas idades, para que possam viver de acordo com a sua personalidade e a sua relação social;

Promover a imaginação; Incentivar a tolerância e a cooperação entre as crianças e os idosos;

Quadro 3 – Avaliação da pertinência alusiva às Valências de Lar e Centro de Dia

Um dos objectivos da instituição relativamente aos idosos é promover a

auto-estima, a valorização pessoal e o desenvolvimento das capacidades de

interacção social. O projecto incidiu prioritariamente sobre estes objectivos

através da realização de actividades conjuntas entre os idosos e as crianças.

A participação em várias actividades é outro aspecto referido quer pela

instituição, quer pelo projecto, de forma a aumentar o nível de ocupação dos

utentes mantendo-os activos.

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Objectivos da instituição relativas à Valência de ATL

Objectivos do projecto

Promover relações de interacção de acordo com as necessidades primárias das crianças;

Proporcionar a troca de saberes e de experiências;

Promover o desenvolvimento de situações ricas em afecto, que ajudem a criança a desenvolver sentimentos de segurança, estabilidade e regularidade;

Utilizar o contacto com os idosos como forma de conhecer gestos, expectativas e interesses dos mais velhos;

Desenvolver formas de acolhimento dos pais das crianças que permitam a construção de sentimentos de confiança, compreensão mútua das lógicas educativas, utilizadas por pais e educadores;

Favorecer a auto-confiança;

Ajudar a criança a utilizar as suas crescentes capacidades psico-motoras, cognitivas e psico- sociais, para descobrir, alcançar e explorar o mundo que a rodeia;

Proporcionar a troca de saberes e de experiências com os idosos;

Ajudar a construção de normas individuais e sociais necessárias ao desenvolvimento de comportamento equilibrados;

Incentivar a tolerância e a cooperação entre as crianças e os idosos;

Possibilitar actividades de planificação de desenvolvimento de projectos e ideias;

Diversificar as actividades de ocupação de tempos livres;

Incentivar situações de interacção individual e em grupo, que permitam a discussão de pontos de vista e a maleabilização de opiniões e conceitos;

Incentivar a tolerância e a cooperação entre as crianças e os idosos;

Quadro 4 – Avaliação da pertinência alusiva à Valência de ATL

Relativamente às crianças, um dos objectivos é possibilitar

actividadesde planificação de desenvolvimento de projectos e ideias. O

projecto de intervenção: “O saber, o brincar e a música” procurou proporcionar-

lhes várias actividades diferentes das que já são realizadas. Sustentada na

análise feita, poder-se-á afirmar que se tratou de um projecto pertinente, uma

vez que não divergiu dos objectivos da instituição, pelo contrário, valorizou a

sua função, respeitou a sua organização e funcionamento.

Apresenta-se de seguida um quadro que contém os objectivos traçados,

atingidos e como foram alcançados, especificando as actividades que

contribuíram para a prossecução desses mesmos objectivos (ver quadro 5).

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Objectivos previstos Actividades desenvolvidas com vista à prossecução dos objectivos

Fomentar a interacção entre as duas gerações;

Os quatro momentos do projecto e as várias actividades a realizar, dentro de cada um desses momentos, foram pensados e delineados sempre com actividades conjuntas, pressupondo uma permanente interacção e entreajuda entre crianças e idosos. Apenas uma delas e contra a nossa vontade não foi realizada em conjunto.

Favorecer a auto-estima; Nas várias actividades realizadas procurou-se estimular a auto-estima, através de diversas experiências e das vivências de cada grupo, tendo as músicas que gostam como ponto de partida. Também a construção com sucesso de vários instrumentos musicais pelos dois grupos se revelou significativa pelo empreendimento, criatividade e prazer demonstrado na realização da actividade.

Incentivar a tolerância e a cooperação entre as crianças e os idosos;

Pela atenção e interesse revelado pelas experiências e vivências relatados pelo outro grupo, tentou-se despertar a tolerância entre as crianças e os idosos. Através da aceitação das ideias e sugestões dadas aquando da construção dos instrumentos, e ainda pelo empenhamento de ambos os grupos na preparação e execução de uma produção conjunta: as canções de Natal, procurou-se que as crianças cooperassem com os idosos e vice-versa.

Proporcionar a troca de saberes e de experiências;

Através do momento – “Entoação de canções e partilha de histórias e vivências a elas associadas” – procurou-se que tanto as crianças como os idosos partilhassem algumas experiências e vivências já vivenciadas por eles.

Proporcionar vivências e experiências musicais diversificadas;

Desde a audição das canções à construção de instrumentos musicais, a partir de materiais de desperdício a materiais naturais, tentou-se que fossem transmitidas algumas vivências tanto pelos mais novos como pelos mais velhos, assim como, a experimentação e criação de instrumentos musicais.

Promover a imaginação;

Na construção, decoração e experimentação dos instrumentos musicais procurou-se fomentar a imaginação através da ornamentação de forma livre e espontânea dos instrumentos feita em conjunto. Ao criarem um ritmo para acompanhar as canções de Natal, procurou-se que tantas as crianças como os idosos descobrissem os sons que mais se adequassem a cada canção.

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Despertar a criatividade das crianças;

Na construção, decoração e experimentação dos instrumentos musicais, assim como da entoação das músicas de Natal acompanhadas por esses instrumentos tentou-se que as crianças o fizessem de uma forma criativa.

Quadro 5 – Avaliação da eficácia

Como se pode verificar através da análise do quadro 5, os objectivos do

projecto foram atingidos, através das várias actividades realizadas e dos seus

resultados.

Em relação ao público-alvo, este coincidiu com o previamente previsto –

os idosos das valências de Centro de Dia, de Lar e as crianças do ATL, apesar

de o “Passeio aos pinhais e aos cafés locais” só poder ser realizado pelas

crianças. Os intervenientes também foram os previstos: a animadora estagiária,

os idosos do Centro de Dia e do Lar, as crianças do ATL e os responsáveis

pelos cafés locais.

Os principais obstáculos sentidos foram a impossibilidade de todos os

idosos interessados se poderem deslocar ao ATL e à actividade de recolha de

materiais que decorreu no exterior da instituição. Analisando todos os

indicadores que determinam a eficácia do projecto, poder-se-á afirmar que o

projecto atingiu os objectivos defenidos face ao diagnóstico social realizado

anteriormente, à sua execução.

A equidade está relacionada com a distribuição e a partilha dos recursos

entre os indivíduos e o grupo. O projecto “O Saber, o brincar e a música”

procurou proporcionar igualdade de oportunidades para cada uma das crianças

e para os idosos que estiveram disponíveis para participar no projecto.

Através do diálogo com o público-alvo e da observação participante no

seu dia-a-dia, tentou-se delinear um projecto que correspondesse às

necessidades existentes, elaborando-se actividades para todos os

intervenientes, adoptando atitudes e comportamentos que fossem ao encontro

das necessidades de cada um.

Contudo, como o projecto não contemplou a participação de duas das

valências da instituição (o apoio domiciliário e o prolongamento de horário) nem

dos idosos acamados, talvez se possa afirmar que o projecto foi menos

satisfatório em relação à equidade.

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Reflexão sobre a intervenção

O período de estágio permitiu o contacto com as crianças, que

frequentam o ATL e com os idosos das valências de Lar e Centro de Dia do

Centro Social Paroquial S. João Batista de Espite. Observado todo o trajecto

deste projecto de intervenção, será adequado reflectir sobre a prática do

animador neste tipo de instituições, que acolhem públicos distintos.

Deste modo, a animadora estagiária dinamizou dois grupos que se

encontravam no mesmo edifício, mas que nunca se encontravam, sugerindo

algumas actividades (no âmbito da música) sem imposições.

Esta atitude procurou constituir um suporte de incentivo aos utentes,

naquilo que era a linha estruturante do projecto: favorecer a auto-estima,

incentivar a tolerância e a cooperação entre as crianças e os idosos,

proporcionar a troca de saberes e de experiências, proporcionar vivências e

experiências musicais diversificadas, promover a imaginação e despertar a

criatividade das crianças.

No que diz respeito aos resultados da avaliação do projecto, esta é

globalmente positiva, ainda que se tenham sentido dificuldades ao longo da

intervenção, relacionadas com o impedimento de os idosos se deslocarem ao

ATL e ao exterior para a realização da actividade da recolha de materiais.

As aprendizagens realizadas ao longo do curso de Animação Cultural e

Educação Comunitária constituíram aspectos importantes no desempenho da

animadora estagiária, nomeadamente no emprego de conteúdos referentes à

animação cultural e comunitária, à terceira idade, à infância e à

intergeracionalidade.

Para a realidade descrita anteriormente contribuíram as seguintes

disciplinas: Psicologia, Psicologia do Adulto, Animação e Educação de Adultos

(a fim de conhecer melhor as características, a vários níveis, do público-alvo e

as actividades desenvolvidas), Desenho e Desenvolvimento de Projectos de

Animação Sociocultural (permitiu adquirir conhecimentos sobre as fases e a

elaboração de projectos), Estágio II e Estágio III, (uma vez que edificaram

algumas experiências com crianças).

Para terminar, o estágio e o projecto desenvolvido nesta instituição

superaram as expectativas da animadora estagiária, uma vez que permitiram-

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lhe ter contacto com dois grupos com idades diferentes, ao mesmo tempo, e

aprender coisas distintas.

Nesta perspectiva, estes constituíram uma experiência bastante positiva

e enriquecedora, permitindo ter uma maior consciência sobre o funcionamento

deste tipo de instituições com várias valências e a construção de projectos

intergeracionais.

O local de estágio constituiu um bom espaço para realizar este projecto

de animação, devido às diversas valências que apresenta e aos diferentes

públicos que delas fazem parte. Foi-nos possível criar um projecto original e,

nele, fazer interagir dois grupos etários diferentes, embora alguns dos idosos

não pudessem participar.

Partindo do que foi se detectando ao longo da fase de intervenção, e

tendo por base os autores Limón e Crespo, que afirmam que “actualmente se

reconoce que la convivencia intergeneracional es buena y necesaria para

desarrollar sociedades que promueven la integración y el bienestar de sus

miembros”; podemos afirmar que com o projecto “O saber, o brincar e a

música” procurámos que através das vivências transmitidas pelas crianças, os

idosos se mantivessem actualizados acerca do que se passa na comunidade

em que estão inseridos.

Bostrum (2001) refere-se à intergeracionalidade como sendo o “tempo

realmente importante que junta as pessoas de várias idades, onde estas

partilham experiências já vividas”. Por sua vez, Silva (1978) refere que a cultura

faz parte da nossa sociedade e engloba todo um conjunto de costumes,

crenças e vivências de um povo. Ora neste projecto procurou-se juntar duas

gerações com idades diferentes e, num primeiro momento, que os idosos

transmitissem às crianças a sua cultura ou seja, algumas músicas e histórias

ligadas ao seu quotidiano quando trabalhavam no campo e no pinhal através

da transmissão oral.

No sentido de dar continuidade ao projecto que se desenvolveu,

poderse-á propor a realização de mais algumas actividades conjuntas. Por

exemplo, durante a fase de intervenção, nomeadamente aquando da

decoração natalícia e da construção e ornamentação dos instrumentos

musicais, um (a) dos (as) idosos (as) mostrou saber fazer alguns trabalhos de

desenho, pintura e recortes em papel. Para além disso, mostrou disponibilidade

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e gosto em ensinar os seus conhecimentos a quem se mostrasse disposto a

aprender, nomeadamente às crianças do ATL.

Após a realização do estágio e do projecto, tanto as crianças como os

idosos mostraram gostar de ficar com os instrumentos musicais construídos em

conjunto. Isto poderá levar a que estes aprendam mais músicas em conjunto e

possam construir mais instrumentos musicais em conjunto.

Defendemos a ideia de que os estágios facilitam a interacção com

diversos profissionais, permitem que futuros profissionais da animação

sociocultural desenvolvam métodos de pesquisa e comunicação.

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