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R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 23, n. 1, p. 5-26, jan./jun. 2006 O rápido processo de envelhecimento populacional do Brasil: sérios desafios para as políticas públicas * Laura L. Rodríguez Wong ** J. A. Carvalho *** Já são sentidos, no Brasil, os efeitos positivos da transição na estrutura etária (TEE), por exemplo, nos serviços de saúde à infância e na educação. O crescimento diferenciado previsto para a população em idade ativa (PIA), nas próximas décadas, constitui uma nova janela de oportunidades. Com efeito, a combinação do segmento sênior da força de trabalho (idades 25 a 64) – que apresenta crescimento alto – com o segmento júnior (15 a 24 anos) – que registra taxas de crescimento muito baixas ou negativas – aponta para uma tendência de diminuição da pressão demográfica por empregos novos. A qualificação da futura força de trabalho torna-se componente imprescindível para um equilíbrio intergeracional, social e econômico, mais justo. Devido à TEE novos desafios emergem relacionados à expansão da população idosa. Se a atual transferência per capita do governo for mantida constante, a diferença entre receitas e despesas aumentará, provocando um insuportável déficit fiscal. A anunciada crise, causada pelo envelhecimento da população, e o atual sistema irracional previdenciário devem ser matéria de urgente discussão na sociedade brasileira. É extremamente importante aproveitar as oportunidades geradas pela TEE e se preparar para enfrentar os novos desafios dela decorrentes. Palavras-chave: Envelhecimento. Transição da estrutura etária. Políticas públicas. Janela demográfica de oportunidades. * Os autores agradecem a Andrea Simão pela colaboração, ao traduzir para o português a versão preliminar deste artigo, apresentado na XXV Conferência Internacional de População da União Intranacional para Estudos Científicos de População (Tours, França, Julho de 2005). ** Professora do Departamento de Demografia e pesquisadora do Cedeplar/Face/UFMG. *** Professor do Departamento de Demografia e pesquisador do Cedeplar/Face/UFMG, com apoio do CNPq. 1 Em inglês, o termo equivalente encontrado na literatura é “Age Structural Transition”. Nota introdutória O termo Transição da Estrutura Etária (TEE), 1 cunhado inicialmente por Pool (2000), engloba as mudanças produzidas pelo declínio da fecundidade e que se fazem sentir, depois, no tamanho relativo e abso- luto das diversas coortes. Elas são mediadas pelas alterações nos padrões de sobrevi- vência e, em muitos casos, pelos fluxos migratórios. Este trabalho enfatiza a TEE extremamente rápida que o Brasil está experimentando em todas suas regiões. Esta simultaneidade ocorre num contexto regional caracterizado por história e cultura comuns e extremas desigualdades so- cioeconômicas e geográficas. Este trabalho descreve, em primeiro lugar, a transição demográfica pela qual o Brasil está passando. Em segundo lugar, apresenta algumas perspectivas quanto aos gastos governamentais, dado o futuro

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Page 1: O rápido processo de envelhecimento populacional do Brasil ...9 Wong, L.L.R. e Carvalho, J.A. O rápido processo de envelhecimento populacional do Brasil R. bras. Est. Pop., São

R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 23, n. 1, p. 5-26, jan./jun. 2006

O rápido processo de envelhecimentopopulacional do Brasil: sérios desafios para as

políticas públicas*

Laura L. Rodríguez Wong**

J. A. Carvalho***

Já são sentidos, no Brasil, os efeitos positivos da transição na estrutura etária(TEE), por exemplo, nos serviços de saúde à infância e na educação. Ocrescimento diferenciado previsto para a população em idade ativa (PIA), naspróximas décadas, constitui uma nova janela de oportunidades. Com efeito, acombinação do segmento sênior da força de trabalho (idades 25 a 64) – queapresenta crescimento alto – com o segmento júnior (15 a 24 anos) – que registrataxas de crescimento muito baixas ou negativas – aponta para uma tendência dediminuição da pressão demográfica por empregos novos. A qualificação da futuraforça de trabalho torna-se componente imprescindível para um equilíbriointergeracional, social e econômico, mais justo. Devido à TEE novos desafiosemergem relacionados à expansão da população idosa. Se a atual transferênciaper capita do governo for mantida constante, a diferença entre receitas edespesas aumentará, provocando um insuportável déficit fiscal. A anunciadacrise, causada pelo envelhecimento da população, e o atual sistema irracionalprevidenciário devem ser matéria de urgente discussão na sociedade brasileira.É extremamente importante aproveitar as oportunidades geradas pela TEE e sepreparar para enfrentar os novos desafios dela decorrentes.

Palavras-chave: Envelhecimento. Transição da estrutura etária. Políticaspúblicas. Janela demográfica de oportunidades.

* Os autores agradecem a Andrea Simão pela colaboração, ao traduzir para o português a versão preliminar deste artigo, apresentadona XXV Conferência Internacional de População da União Intranacional para Estudos Científicos de População (Tours, França,Julho de 2005).** Professora do Departamento de Demografia e pesquisadora do Cedeplar/Face/UFMG.*** Professor do Departamento de Demografia e pesquisador do Cedeplar/Face/UFMG, com apoio do CNPq.1 Em inglês, o termo equivalente encontrado na literatura é “Age Structural Transition”.

Nota introdutória

O termo Transição da Estrutura Etária(TEE),1 cunhado inicialmente por Pool(2000), engloba as mudanças produzidaspelo declínio da fecundidade e que se fazemsentir, depois, no tamanho relativo e abso-luto das diversas coortes. Elas são mediadaspelas alterações nos padrões de sobrevi-vência e, em muitos casos, pelos fluxosmigratórios. Este trabalho enfatiza a TEE

extremamente rápida que o Brasil estáexperimentando em todas suas regiões.Esta simultaneidade ocorre num contextoregional caracterizado por história e culturacomuns e extremas desigualdades so-cioeconômicas e geográficas.

Este trabalho descreve, em primeirolugar, a transição demográfica pela qual oBrasil está passando. Em segundo lugar,apresenta algumas perspectivas quanto aosgastos governamentais, dado o futuro

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padrão etário. Por fim, discute algumas dasdemandas sociais dos diferentes gruposetários em relação aos desafios geradospela TEE e alternativas para enfrentá-los.

Muitos dos dados deste trabalho refe-rem-se a previsões baseadas em pressu-postos que, acreditamos, deixam poucoespaço para alteração significativa nasprojeções. No caso do Brasil, a fecundidadedificilmente reverterá sua tendência; aocontrário, revisões recentes mostram queseus níveis têm sido sobreestimados. Comrelação à mortalidade, em que pese afragilidade dos dados sobre óbitos de adul-

tos, assume-se que continuará declinando.Finalmente, a migração interna e a interna-cional podem levar à necessidade de alte-ração das previsões, mas, mesmo nestescasos, isto não causaria, provavelmente,mudanças substanciais nas projeções paraos próximos qüinqüênios.

A Transição da Estrutura Etária noBrasil

Entre os anos 40 e 60, a população bra-sileira experimentou um declínio significa-tivo na mortalidade, com fecundidade rela-

GRÁFICO 1Pirâmide etária da população, por sexo

Brasil, América Latina e Caribe – 1950-2050

Fonte: Dados Brutos, Nações Unidas (2003).

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tivamente constante. A partir da segundametade da década de 60, a rápida e susten-tada redução da fecundidade desencadeouuma série de mudanças profundas na distri-buição etária, tal como na maioria dos paí-ses da América Latina e do Terceiro Mundo(Gráfico 1).

O Gráfico 2 mostra o rápido declínio jámencionado da fecundidade, equivalentea 60%, entre 1970 e 2000. Por um lado, amagnitude dessa redução, num curto pe-ríodo de tempo, é surpreendente, se com-parada com a experiência das naçõesdesenvolvidas. Com efeito, sabe-se que amaior parte dos países europeus levouquase um século para completar sua tran-sição da fecundidade. Suécia e Inglaterra,por exemplo, levaram cerca de seis dé-cadas (aproximadamente de 1870 a 1930)para diminuir em torno de 50% seus níveisde fecundidade. O Brasil, por sua vez, expe-rimentou um declínio similar em um quartode século.

Por outro lado, a queda da fecundidadevem se mostrando generalizada em todo oterritório brasileiro. Embora desigualdades

socioeconômicas e geográficas extremastenham adiado o início desse processo nasregiões menos desenvolvidas do país,estimativas baseadas nos dados do CensoDemográfico de 2000 sugerem que níveisde reposição poderão ser alcançados pelascinco regiões muito rapidamente. ONordeste, que tradicionalmente apresentacondições socioeconômicas menos favo-recidas, teve uma redução de 50% na taxade fecundidade total (TFT) num período de15 anos (de 6,1 filhos por mulher, em 1980,para 3,0, em 1995). Uma redução similarfoi observada no Norte. As duas regiõesmais pobres e menos desenvolvidas expe-rimentaram, nas duas últimas décadas doséculo passado, um declínio de fecundida-de mais intenso do que o Sudeste (WONG,2000).

A TFT nacional em 2005 estará, muitoprovavelmente, em torno do nível de repo-sição e sem perspectivas de retorno apatamares mais altos.2 De acordo com asestimativas das Nações Unidas, o Brasilapresentará o nível mais baixo de fecun-didade da América do Sul, no período 2000-

GRÁFICO 2Taxa de fecundidade total

Regiões do Brasil, Suécia e Inglaterra – 1900-2000Filhos por mulher

Fonte: Carvalho e Wong (1998); Frias e Carvalho (1996); Sawyer et al. (1999). IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios– PNAD 2003.

2 Estimativas a partir dos microdados das PNADs de 2003 e 2004 indicam que a TFT está em torno de 2,1 filhos por mulher.

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2005 (NAÇÕES UNIDAS, 2003). Além disso,estimativas de coorte indicam níveis defecundidade das mulheres brasileiras maisjovens abaixo daquele de reposição, assimcomo níveis ainda mais baixos para asgerações subseqüentes (PERPÉTUO eWONG, 2003).

As mudanças na estrutura e no nívelda mortalidade, com acentuada tendênciade queda, começando nas regiões maisdesenvolvidas no final dos anos 30(CAMARGO e FRIAS, 2001), pouco afetaram,até agora, a estrutura etária brasileira. Aprobabilidade de um recém-nascido, em1950, sobreviver até os 15 anos era inferiora 80%; atualmente estima-se que essaprobabilidade para as coortes nascidas noinício deste século situe-se em torno de 95%.Mudanças expressivas são observadastambém nas idades adultas. Esperava-seque somente metade das coortes nascidasdurante os anos 50 sobrevivesse até a idadede aposentadoria. Em contraste, tabelas desobrevivência mais recentes (SAWYER etal., 1999) indicam que pelo menos 80% dosnascidos devam atingir a idade de 60 anos.Nas próximas décadas, o declínio damortalidade no Brasil se concentrará,provavelmente, nas idades avançadas.Esse, sim, terá como efeito uma aceleraçãodo processo de envelhecimento.

A migração internacional, que temgerado saldos negativos, tem causadoimpacto pequeno sobre a estrutura etárianas décadas mais recentes, entre outrasrazões, devido ao volume populacional dopaís. Já a migração interna desempenhapapel importante na definição das estru-turas etárias regionais. Fluxos internos in-tensos nas idades economicamente ativas,o que significa seletividade por idade,contribuirão para exacerbar o processo deenvelhecimento nas áreas de origem. Éassim que Estados onde o início datransição da fecundidade começou maistarde podem apresentar, hoje, estruturasetárias mais envelhecidas.3

A estrutura etária

Dentro do processo da TEE brasileira,a presença de crianças com menos de cincoanos reduziu-se de 15% para 11%, entre1970 e 1990. De maneira similar, a parti-cipação do grupo etário 5 a 9 anos declinoude 14% para 12%. A proporção de criançascontinuou diminuindo na década seguinte,alcançando, em 2000, tamanhos seme-lhantes nos dois grupos etários (cada umcom cerca de 9% do total da população). Oformato acentuadamente piramidal come-çou, assim, a desvanecer, tendendo a umaforma retangular, o que é mais uma indica-ção do processo de envelhecimento (Grá-fico 1). Os grupos mais velhos expandiramsua participação. A população de 60 anosou mais, por exemplo, aumentou de 5,1%,em 1970, para 8,6%, em 2000.

As relações intergeracionais

Um primeiro enfoque, na análise dasrelações intergeracionais, pode ser feitoconsiderando a participação de trêsgrandes grupos etários (menos de 15 anos,de 15 a 64 anos e 65 anos e mais) napopulação total, em termos de Razões deDependência (RD) e alguns índices, comoo de Envelhecimento e o de Suporte (IE).

O Gráfico 3 mostra que a distribuiçãoetária da população, ao longo de umperíodo de 100 anos (1950 a 2050), mudaráfortemente, o que se observa, mais nitida-mente, na participação dos grupos etáriosextremos no total da população.

A Razão de Dependência (RD) e seuscomponentes (jovens, RDJ, idosos, RDI)definem, de uma maneira simples, a relaçãoentre os diferentes grupos etários (Tabe-la 1). Até meados dos anos 70, a participaçãoda população em idade ativa (entre 15 e 64anos) permaneceu basicamente constantee com valores extremamente altos. Ocontingente dependente (com menos de 15e acima de 65 anos) era quase a metade

3 Segundo o Censo de 2000, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais na Paraíba, por exemplo, é semelhante à do Rio deJaneiro.

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da população total, sendo que mais de 90%eram crianças com menos de 15 anos. ARD tem diminuído desde então e continuarádeclinando até 2025, segundo as projeçõesde população. Esta tendência de queda éuma mistura de duas tendências opostas:aumento no tamanho absoluto da popula-ção mais velha e diminuição, seguida deestabilização, do segmento com menos de15 anos.

Como mostrado por Carvalho e Wong(1998), a RD total não retornará aos altosníveis registrados até meados da décadade 70, no século XX, embora a RDI pro-vavelmente duplicar-se-á entre 2000 e 2025(ou quadruplicar-se-á, se for considerado operíodo 2000-2050).

O Índice de Envelhecimento, uma medi-da que considera apenas os dois gruposetários extremos, aqueles mais afetados noprocesso de envelhecimento, mostra a velo-cidade desse processo. Comparações feitaspor Moreira (1997) apontam o Brasil entreos países com o ritmo mais acentuado decrescimento deste índice no futuro próximo.Em 2025, o Índice de Envelhecimento será,provavelmente, três vezes maior do queaquele observado em 2000. Na populaçãobrasileira haverá, então, mais de 50 adultoscom 65 anos ou mais, por cada conjunto de100 jovens menores de 15 anos. Em 2045,

o número de pessoas idosas ultrapassariao de crianças.

Considerando-se as relações entre ostrês grandes grupos etários, pode-se afirmarque estamos, atualmente, diante de umajanela de oportunidades, em termos demo-gráficos, ou um bônus demográfico na ter-minologia de outros estudiosos.4 Com efeito,o país estará atingindo por volta de 2025 amais baixa Razão de Dependência, pelomenos desde seu primeiro censo demográ-fico, em 1872. Isso, graças ao aumento dapopulação nas idades ativas (em termostanto absolutos quanto relativos), parale-lamente ao rápido declínio da participaçãode crianças e jovens e ao ainda pequenoaumento, em termos absolutos, do pesorelativo da população mais velha.

O Brasil, à frente da maioria dos paíseslatino-americanos, está num estágio emque, de acordo com Behrman et al. (2001),serão observados alguns dos mais fortes epositivos efeitos da estrutura etária. A curtoe médio prazos, o tamanho menor dasgerações de crianças possibilita, em prin-cípio, um maior retorno dos recursos nelasinvestidos. É de se esperar um aumento doinvestimento governamental per capita naeducação, principalmente nos níveis fun-damental e médio, em um contexto dediminuição sustentada do peso relativo –

GRÁFICO 3Distribuição da população, por grupos etários

Brasil – 1950-2050

Fonte: Dados brutos, Nações Unidas (2003).

4 Ver, por exemplo, Bloom (1998).

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quando não do número absoluto – da po-pulação jovem e de aumento, ainda peque-no, do peso da população idosa (Gráfico 3).A RDI será significativamente mais altasomente a partir de 2020. As crianças dehoje constituirão a força de trabalho doamanhã e enfrentarão crescentes razões dedependência de idosos. A conclusão lógicadisto é que a sociedade necessita, vitalmen-te, investir na atual geração de crianças,particularmente nas áreas de saúde eeducação. Não se trata, apenas, de garantira melhoria da qualidade de vida dessasgerações, mas de sustentação, de formaequilibrada, de toda a sociedade, pois ca-berá às novas gerações, no médio prazo,como componentes da população em idadeativa, a responsabilidade por um bom de-sempenho da economia, mormente do pontode vista da produção. Conseqüentemente,dependerá, também, das atuais gerações dejovens, no médio prazo, a garantia de umavida digna às gerações de idosos. Ademais,é nesta fase que a sociedade deve sepreparar, através de reformas institucionaisna área da seguridade social, para conviver,no futuro próximo, com altas e sustentadastaxas de dependência de idosos.

As taxas de crescimento

O panorama da TEE, apresentado se-gundo os grandes grupos etários, pode sermais bem compreendido considerando-seas taxas médias de crescimento anual (r)entre 2000 e 2050, de grupos etários mais

específicos (Tabela 2). As populações nosgrupos de 0-14 e 15-24 anos, nascidasdepois de 1975, portanto, durante o períodode declínio da fecundidade, aumentarãodurante a primeira metade deste século ataxas bem abaixo do valor médio dapopulação total. Exceto no grupo etário 15-24 anos entre 2000-2005, as taxas decrescimento serão negativas durante todoo período. De agora até meados do século,segundo as projeções das Nações Unidas,tanto a população alcançando a idade deentrada no sistema escolar quanto aquelacompletando a idade de introdução nomercado de trabalho crescerão, ano a ano,a taxas negativas.

Os grupos etários nos quais a força detrabalho mais se concentra (entre 25 e 64anos) apresentarão, até 2015, taxas decrescimento bastante significativas, entre2% e 1,6% ao ano, porém rapidamentedeclinantes, alcançando, entre 2045 e 2050,variação negativa. Finalmente, os gruposacima de 65 anos aumentarão a taxaspositivas e altas durante todo o período: apopulação de 65 a 74 anos, a taxas cres-centes e superiores a 3% ao ano até 2005:e aquela com 75 ou mais anos de idade, ataxas significativamente superiores a 4% até2030. Apenas a partir dessas datas passa-rão a ser sentidos, na variação do volumedos grupos etários correspondentes, osefeitos do declínio da fecundidade, iniciadodécadas atrás.

É este padrão de crescimento diferen-ciado por idade (baixo no segmento jovem;

TABELA 1Razão de Dependência e suas distribuições relativas e Índice de Envelhecimento

Brasil – 1950-2050

Fonte: Dados brutos, Nações Unidas (2003).(1) Razão de Dependência (RTD) = RDJ + RDI.(2) RDJ = população menor de 15 anos/população de 15-64 anos.(3) RDI = população de 65 anos ou mais/população de 15-64 anos.(4) Índice de Envelhecimento = população com 65 anos ou mais/ população com menos de 15 anos.

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alto na população em idade ativa até 2025;altíssimo no contingente de idosos) que pro-duz, necessariamente, a mudança na estru-tura etária. E é para esta complexa dinâmicapopulacional que os formuladores de polí-ticas públicas devem atentar.

O tamanho da população brasileira

Entre 2000 e 2020, cerca de 38 milhõesde pessoas serão adicionadas à populaçãototal. Apesar disso, entre os jovens e mesmoem certos segmentos da população adulta,taxas de crescimento negativas prevale-cerão. Durante esse período, o tamanho dapopulação abaixo de 25 anos deverádiminuir em cerca de 5 milhões. Além disso,o grupo de 15 a 35 anos (que atualmenteinclui as mulheres responsáveis por maisde 90% dos nascimentos) enfrentará taxasde crescimento negativas por todo o período2010-2050. Com isso, o número de nasci-mentos, que na virada do século já experi-mentou queda absoluta, poderá continuardeclinando, mesmo se a taxa de fecundi-dade permanecer constante.5

A população em idade de trabalhar

O contingente responsável pela produ-ção econômica centra-se, principalmente,no grupo etário de 15 a 64 anos e pode serdesagregado em dois grandes subgrupos.

Primeiro, considere-se a populaçãoque, em princípio, corresponderia à mão-de-obra sênior (25 a 64 anos: 75,5 milhões

em 2000). Sua alta taxa de crescimento(Tabela 2) implica um incremento anualentre 2 e 1,5 milhões de pessoas, ao longoda primeira década deste século. Esteimportante subgrupo, representando, em2000, em torno de 45% da população total,deverá continuar a crescer até 2045. Apopulação neste subgrupo registra, normal-mente, altas taxas de atividade e é compos-ta pelos contribuintes fiscais mais expres-sivos da força de trabalho.

Segundo, tome-se a população queabarcaria o segmento júnior de mão-de-obra (idades entre 15 e 24 anos: 34,3 mi-lhões em 2000). Este subgrupo, em queestariam, majoritariamente, aqueles entran-do na força de trabalho pela primeira vez,terá taxas negativas de crescimento a partirdo qüinqüênio 2005/2010. Uma fração im-portante (aqueles de 15 a 19 anos) dedica-se, exclusiva ou concomitantemente, a estu-dar. A outra (20 a 24 anos) estará, provavel-mente, no seu primeiro emprego ou à suaprocura.

Se a população em idade ativa é relati-vamente jovem, o desemprego tende a sermais elevado, diminuindo à medida que aestrutura etária envelhece (BEHRMAN et al.,2001). Até recentemente, o tamanho do grupojúnior, no Brasil, aumentou, em númerosabsolutos, muito rapidamente (Gráfico 4).

Quando o número de jovens cresceaceleradamente, ao entrar no mercado detrabalho, há forte pressão na economia,pela necessidade de geração de novos em-pregos, com o risco de aumentar a instabi-

TABELA 2Taxa de crescimento média anual da população, por grupos etários

Brasil – 2000-2050

Fonte: Dados brutos, Nações Unidas (2003).

5 O número anual de registros de nascimentos diminuiu de 4,2 milhões para 3,8 milhões entre o biênio 1999/2000 e 2001/2002(IBGE). Estes valores encobrem registros atrasados, no entanto, dados altamente confiáveis de UFs como São Paulo, SantaCatarina ou Rio Grande do Sul confirmam esta acentuada diminuição (Sinasc/Datasus dos anos 2000 em diante).

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lidade social ou econômica que o aumentodo desemprego provoca.6 A razão entre amão-de-obra júnior e a sênior é um indica-dor da pressão pela necessidade de novos

empregos. No caso do Brasil, este quocien-te começou a apresentar uma tendência dedeclínio durante os anos 80 (Gráfico 4), quese acentuará nas próximas décadas devido

GRÁFICO 4População de 15 a 19 e 20 a 24 anos e razões intragrupos em idade economicamente ativa

Brasil – 1950-2050

Fonte: Dados Brutos, Nações Unidas (2003).

GRÁFICO 5Razões intra-idade ativa

Regiões do Brasil – 2000-2040

6 Muniz (2003) observou esta relação, particularmente, entre homens jovens (15 a 19 anos) nas áreas metropolitanas, onde taxasde crescimento ainda mais altas são causadas por migrações internas. Esta tendência demográfica é, provavelmente, um dosfatores que tornou mais difícil resolver o problema do desemprego nos anos 90.

Fonte: Estimativas geradas usando projeções feitas por Sawyer et al. (1999).

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ao crescimento negativo da populaçãojovem.

Com a disseminação da TEE pelo país,a mesma tendência é observada em todasas regiões brasileiras, independentementede seu nível de desenvolvimento econô-mico (Gráfico 5). Nas Regiões Norte e Nor-deste, onde mais recentemente iniciou-sea TEE e que, como se sabe, são menos de-senvolvidas, o declínio destas razões serámais acentuado.

Embora a transição de uma populaçãojovem para uma mais envelhecida possa,inicialmente, impulsionar as perspectivas decrescimento econômico, devido à redução,dentro da população em idade ativa, daproporção de jovens, a maior proporção,na população total, daquela em idade ativa,como um todo, poderá constituir umaameaça, se as políticas adotadas não foremadequadas (BEHRMAN et al., 2001). De umlado, poderá haver outra janela de opor-tunidades: o crescimento positivo no grupoetário que inclui trabalhadores sênior, quenormalmente possuem maiores taxas deemprego do que a mão-de-obra júnior,7

implica, também, maiores contribuiçõesfiscais. De outro lado, o desafio será maisdifícil se a força de trabalho sênior não forpreparada ou estiver subempregada, o queé o caso, principalmente, nas regiões brasi-leiras menos desenvolvidas. Nestas cir-cunstâncias, o bônus demográfico geradopela menor pressão por novos postos detrabalho pode perder sua eficácia inicial.

A sustentação fiscal da TEE no Brasil:receitas e despesas governamentaisrelacionadas à idade

Apesar do bom desempenho dos indi-cadores sociais durante a maior parte dasegunda metade do último século, o Brasilainda continua subdesenvolvido e com uma

das piores distribuições de renda do mundo(IPEA, 2005). Políticas públicas têm bus-cado a superação de tais disparidades. Amaior parte delas tem estreita relação coma idade da população e precisa levar emconta o atual processo de TEE.

Por um lado, programas materno-infan-tis, por exemplo, podem ser qualitativamentemelhorados, uma vez que o número debeneficiários está diminuindo (em termosrelativos e, freqüentemente, absolutos). Poroutro lado, mais pressão surgirá de novasnecessidades. As demandas, por exemplo,dos idosos poderão se tornar tão grandesque recursos de outros programas precisa-rão ser alocados para este segmentopopulacional.

Para avaliar a magnitude destas mu-danças anunciadas, uma análise dos gastosgovernamentais é apresentada.

Sobre receitas e despesasgovernamentais relacionadas à idade

Um exercício contábil das transferên-cias governamentais (receitas e despesas),tomando-se como base impostos discri-minados por idade, para os anos 90, revela,como esperado, que a origem dos recursosque alimentam o financiamento de gastospúblicos concentra-se nas idades centraisda população economicamente ativa(TURRA, 2001). O perfil etário dos impostos,estimado pelo autor, mostra que as trans-ferências de recursos da população entre30 e 49 anos eram cerca de US$ 2.000 percapita por ano, em 1996, estando o pontomodal entre as idades de 40 a 49 anos(Gráfico 6).8

As despesas governamentais percapita relacionadas à idade da população,quando comparadas à receita, comoestimado por Turra (2001), são maiores ecom diferente padrão por idade. Volumes

7 Resultados de Behrman et al. (2001) mostram que, se a estrutura etária da população é relativamente jovem, a taxa de crescimentoda população em idade economicamente ativa tende a ultrapassar a taxa de crescimento de acumulação de capital. Mais tarde,quando as coortes mais jovens – menores em tamanho – atingirem a idade economicamente ativa, o capital por trabalhador tendea aumentar.8 Contabilidade realizada por Turra (2000) mostra que os impostos relacionados ou não com a idade somaram US$ 218 bilhões,o equivalente a 28% do Produto Nacional Bruto de 1996. Os valores aqui apresentados desconsideram itens não relacionadosdiretamente com a idade, tais como segurança pública, transporte, pesquisa e defesa.

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menores destinam-se às pessoas maisjovens, nas quais a maioria dos gastos éalocada na educação. O gasto per capitamais baixo dá-se no grupo etário entre 30 e39 anos. Após esta idade, as transferênciasgovernamentais aumentam exponencial-mente e direcionam-se, quase exclusiva-mente, para a saúde, pensões e aposen-tadoria de funcionários públicos e traba-lhadores do setor privado. Depois da idade60, os gastos anuais ultrapassam US$4.000 per capita, dez vezes o equivalentetransferido para uma criança com menosde dez anos. Proporções semelhantes sãoencontradas apenas em países desen-volvidos (TURRA, 2001). No Brasil a maiorparte dos recursos vai para as aposen-tadorias, com peso desproporcional da-queles destinados aos servidores públicos.Uma fração relativamente pequena édestinada à saúde pública. O Brasil,certamente, difere da maioria dos paísesdesenvolvidos, neste aspecto.

Dada a estrutura etária das transfe-rências governamentais per capita, temhavido, de acordo com Turra, um ganhoeconômico significativo, devido ao bônus

demográfico. Parte desse ganho teria sidoa taxa de crescimento relativamente alta daforça de trabalho. Entretanto, a janela de-mográfica de oportunidades não é per-manente, existindo desafios emergentes aserem enfrentados, sem o que a sociedadenão se beneficiará das oportunidades ofe-recidas pelo padrão demográfico brasileiro.

Perspectivas das receitas e despesasgovernamentais por idade

Uma simulação simples, usando osdados anteriormente mencionados, mostraque as futuras despesas governamentais,provavelmente, crescerão proporcional-mente mais do que a receita (impostos),devido à TEE. Resultados globais destasimulação estão na Tabela 3 e valoresdesagregados por grupos de idade sãoapresentados no Gráfico 7.

O exercício é feito para os anos de 2000,2025 e 2050, com o pressuposto de que astransferências per capita (receitas edespesas) permaneçam constantes poridade. Num sentido amplo, isto implicatransferências individuais constantes para

GRÁFICO 6Transferências governamentais per capita, por grupos etários

Brasil – 1995

Fonte: Elaborado a partir dos dados de Turra (2001).

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o governo e valores constantes da ofertaper capita de serviços públicos básicos, taiscomo saúde, educação e previdência social.Certamente, poderiam ser utilizadas hipó-teses mais complexas para prever as recei-tas e despesas governamentais por idade.Entretanto, presume-se constante o valorper capita porque a ênfase está nas conse-qüências das mudanças no padrão etáriosobre o equilíbrio fiscal do Estado.

A Tabela 3 mostra que a razão entrereceita e despesa governamental por idade(R/D) era próxima a 1,0 em 2000. O padrãopor idade da receita difere, significativa-mente, daquele das despesas. Estas últimassão alocadas, principalmente, na populaçãode 50 anos ou mais, com extrema concentra-ção entre aqueles com 60 anos ou mais; asreceitas têm origem, mormente, na popula-ção em idade ativa, com concentraçãonaquela entre 30 e 49 anos (Gráfico 7).

Em 2025, a R/D (0,84) seria significa-tivamente menor do que no cenário de2000. Enquanto, entre 2000 e 2025, a re-ceita se elevaria 33%, em função da altataxa de crescimento da população em idadeativa, como mencionado anteriormente, asdespesas aumentariam ainda mais (apro-ximadamente 60%), devido ao alto cres-cimento da proporção da população idosa.Como conseqüência, o padrão etário dosgastos governamentais variaria drastica-mente. Aqueles com 60 anos ou maispassariam a receber metade do total dareceita governamental. Isto é esperado,devido ao avanço do envelhecimento. En-tretanto, o padrão etário das receitas perma-neceria aproximadamente constante.

O cenário em 2050 seguiria a tendênciainiciada em torno de 2025. A R/D cairia para,aproximadamente, 0,5. Entre 2025 e 2050,as receitas aumentariam um pouco (10%),

TABELA 3Simulação das receitas e despesas, segundo grupos etários

Brasil – 2000-2050

Fonte: Estimativas a partir dos dados produzidos por Turra (2001).(1) Razão entre receitas e despesas governamentais relacionadas à idade.

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pois a população em idade ativa (os prin-cipais contribuintes) continuará a crescer.Já no caso das despesas, a expansão seriasuperior a 60%, em função do rápidoaumento na população idosa. Isto, claro,afetará o déficit público. Enquanto o padrãoetário das receitas permanecerá quase omesmo, o padrão etário das despesasexacerbaria a tendência descrita do períodoanterior. Em termos absolutos, haverá riscode se alocar menos recursos financeirosgovernamentais para a população jovem,já que se espera que este segmentoapresente crescimento negativo até o finalda primeira metade deste século. Apro-ximadamente 70% das despesas gover-

namentais relacionadas à idade destinar-se-iam à população com 60 anos ou mais.

Em resumo, se as atuais receitas edespesas governamentais per capita con-tinuarem constantes, a diferença entrereceitas e despesas expandir-se-á veloz-mente, com o risco de tornar insustentávelo débito fiscal.

Políticas sociais e econômicasrelacionadas à idade

Nesta seção são consideradas asconseqüências da transição etária sobre asdemandas sociais de grupos selecionados– crianças, população em idade de trabalhar

GRÁFICO 7Receitas (impostos) e despesas governamentais totais, por grupos etários

Brasil – 2000-2050

Fonte: Estimativas a partir dos dados produzidos por Turra (2001).

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e idosos –, bem como discutidas alternativaspara o desenvolvimento sustentável.

Nesta discussão, cabe uma palavra decautela. A diminuição do número ou do pesorelativo das pessoas em grupos etários quesão objeto de políticas públicas específicaspropicia, em princípio, um melhor aten-dimento da demanda. No entanto, o próprioprocesso de mudanças socioeconômicas,dentro do qual se dá a transição da fecun-didade, pode mudar as características dademanda, minimizando ou anulando essavantagem inicial. Um exemplo típico é ademanda por educação infantil (creche ematernal), que pode aumentar despropor-cionalmente à variação do número decrianças, devido, entre outras razões, aocrescimento da participação feminina naforça de trabalho e à difusão de atitudesmodernas, incentivando as crianças ainteragirem, além da fronteira de seus lares.

População infantil

A população infantil, embora apre-sentando pequenas oscilações no tamanhodas novas coortes, terá taxa de crescimentoabaixo de zero, tal como ilustrado ante-riormente na Tabela 2. Políticas públicasvoltadas para a infância poderiam beneficiarmuito mais as novas gerações, devido àscondições favoráveis do lado da demanda.

Dois aspectos serão aqui considerados:nutrição e educação.

- Nutrição infantil

Condições para melhoria nos padrõesnutricionais surgem durante a TEE. O de-clínio da fecundidade no Brasil teve, comoconseqüência, não somente o surgimentode famílias menores, mas também a am-pliação dos intervalos de nascimentos(BEMFAM, 1997), aumentando as chancesde melhorar os níveis de nutrição infantil.Peliano (1990) constatou que houvemelhoras nutricionais significativas duranteos anos 80, quando o declínio da fecun-didade já houvera avançado. Entretanto,uma sociedade só pode aproveitar, inte-

gralmente, o dividendo demográfico pararesolver ou reduzir problemas sociais se umplanejamento adequado for aplicado nomomento certo. Ainda há populaçõesvulneráveis nestas idades. Silva et al. (2001)encontraram alta prevalência de anemiaentre crianças com idade inferior a 36 me-ses, em creches públicas de Porto Alegre,cidade com padrão de vida relativamentealto. Há, ainda, sem dúvida, a necessidadede intervenções para superar este proble-ma. Seguramente, isto é mais fácil (ou me-nos difícil) com coortes de menor tamanho.

No transcorrer da transição da fecun-didade, podem surgir outros fatores queanulem os benefícios deste particularmomento demográfico. A modernizaçãocostuma encorajar, por exemplo, a ociden-talização de hábitos nutricionais; o paísestá, agora, num estágio de transiçãonutricional no qual começa a aparecer aobesidade. A prevalência de sobrepesoentre a população adulta, em 2002-2003,era relativamente alta nas cinco regiões, nasáreas urbana e rural e em todos os estratossocioeconômicos (IBGE, 2004, p. 49). Háevidências de que, independentemente donível de renda, a preferência por refeiçõesprocessadas – as denominadas fast-food –está presente em cidades tanto do Nortecomo do Sudeste.9 Doyleand e Feldman(1997) apontam para a necessidade deenvolver crianças e pais em campanhas deeducação nutricional sobre preferênciasalimentares e de evitar o risco de doençascrônicas. Esta é uma recomendação óbviaque, não obstante, está longe de ser im-plementada. Outro exemplo encontra-se nopadrão etário de declínio da fecundidade,com aumento da participação da gravidezna adolescência. Sabe-se que mães ado-lescentes estão mais sujeitas a dar à luzcrianças de baixo peso. Fatores sociocul-turais, tais como pobreza e privação social,bem como fatores biológicos e nutricionaisdurante a gravidez, podem ser determi-nantes importantes deste fenômeno (GAMAet al., 2001). Programas educacionais debaixo custo, dirigidos à população jovem,

9 Veja, por exemplo, Doyle e Feldman (1997); Aquino e Philippi (2002); Barreto e Cyrillo (2001).

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podem ser planejados com mais chancesde sucesso, agora que este segmento po-pulacional apresenta taxas de crescimentoabaixo de zero.

- População em idade escolar

O tamanho das populações com menosde 15 anos, muito provavelmente, diminuiráaté 2050, embora os vários subgruposetários envolvidos experimentem taxas decrescimento oscilantes. Obviamente, comofoi o caso dos países do sul e sudeste asiá-tico, a diminuição oferecerá oportunidadesdemográficas claras para se chegar a umaeducação, nos níveis fundamental e médio,universal e de qualidade. Para atingir esteobjetivo, um novo modelo educacional, comflexibilidade suficiente para permitir quesejam antecipadas as variações de deman-da geradas pelas oscilações populacionais,torna-se essencial.

O Brasil apresenta uma singular opor-tunidade, favorável para implementar umapolítica educacional que supere as defi-ciências do sistema, tais como coberturainsatisfatória, altas taxas de repetência eevasão, baixa qualidade de ensino, para oque os problemas relacionados aos baixossalários e à pouca qualificação dos profes-sores têm que ser, necessariamente, sana-dos. Pesquisa feita pelo Inep (2004) advertepara uma escassez aguda de professoresjá no curto prazo se as condições de traba-lho, principalmente salários, não melhora-rem (UNESCO, 2005).

Poder-se-ia pensar que a infra-estruturafísica e de recursos humanos, necessáriapara atender a toda a demanda por edu-cação fundamental, já esteja praticamentepronta, diante do atual grau de cobertura,quase completa, e do declínio do númerode jovens. No entanto, além da pouca qua-lificação do corpo docente e das condiçõesprecárias de muitas das instalações es-colares, há de se levar em conta que setorna imprescindível oferecer aos jovenseducação em tempo integral, ao invés deem apenas um turno, como se faz atual-mente na quase totalidade das escolasbrasileiras. Para tal, é necessário um esforçoenorme da sociedade, dentro de um“projeto de Nação”, que, no entanto, torna-

se mais plausível no contexto da transiçãoda fecundidade.

À medida que a pressão advinda decrianças entrando na escola diminui, oumesmo desaparece, todos aqueles já ma-triculados beneficiam-se da TEE. Riani(2001) mostra que a redução da coorte emidade escolar, em 1990, tornou possível,além do aumento da cobertura, a melhoriana qualidade e na eficiência do sistemaeducacional. No entanto, é provável que osavanços ora em curso tenham se dado maisdevido ao lado da demanda – menor nú-mero de jovens do que da oferta.

A simulação apresentada nas páginasanteriores mostra que se os gastos gover-namentais per capita, relacionados à idade,forem mantidos constantes, resultarão, numfuturo próximo, em menor proporção derecursos alocados à educação devido àredução da população em idade escolar,em termos tanto relativos quanto absolutos.O déficit fiscal rapidamente crescente, cau-sado, como visto, pela diferença entre recei-tas e despesas governamentais relacio-nadas à idade, fortalecerá os argumentospara que o investimento público governa-mental no sistema educacional não sejaaumentado. Entretanto, a atual TEE brasi-leira representa uma oportunidade ímparpara superar um dos principais problemasdo país, razão pela qual deveria se lutarpela expansão do sistema educacional emvez de reduzi-lo devido à diminuição na de-manda. A janela de oportunidades resultaráem aumento da oferta de capital humanode alta qualidade, somente se investimen-tos apropriados forem realizados (BIRDSALLe SINDING apud NAVANEETHAM, 2001).

Um problema adicional, apesar dosavanços na cobertura da educação básicabrasileira, é o enorme déficit em termos deeducação secundária e universitária, istosem considerar a qualidade. Adicional-mente, a economia brasileira poderia ter umdesempenho melhor se políticas paracapacitação técnica fossem reforçadas. Deacordo com Bowman (1987), onde existecerta diversidade na atividade econômica– como é o caso brasileiro – há mais espaçopara progressos em educação alternativa.Não foi por acaso que programas educa-

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cionais envolvendo o governo e os setoresindustriais e tecnológicos desenvolveram-se muito em países que estão, atualmente,à frente dos desafios econômicos – comoCoréia do Sul e Malásia, por exemplo.Assim, o ensino técnico após o término daeducação básica deve ser de suma impor-tância e uma alternativa neste início deséculo. O Brasil deveria se espelhar na tran-sição dos países da Ásia Ocidental, onde apopulação jovem, cuja alta qualificação foiobtida através de educação técnica, contri-buiu, significativamente, para o seu progres-so (BOWMAN, 1987:88-89). A qualidade eos níveis de escolaridade alcançados acon-teceram de forma tal que a sucessão decoortes jovens menores em tamanho nãorepresentou problemas para a sua força detrabalho.

A população em idade economicamenteativa

A TEE brasileira envolve, como já mos-trado, uma população em idade ativacrescente até 2025, como proporção dapopulação total do país, quando alcançaráseu valor máximo (em torno de 69%). Apartir de 2025 declinará lentamente,atingindo 63% em 2050 (Gráfico 3). Oprimeiro e mais evidente desafio é a geraçãode empregos que acompanhe esse cresci-mento. Dentro deste grande grupo, entre-tanto, o segmento júnior (população de 15a 24 anos) já está entrando num período decrescimento negativo, enquanto a força detrabalho sênior continua crescendo. Doponto de vista demográfico, esta compo-sição representa um bônus se, comomencionado, a força de trabalho estiver em-pregada adequadamente. O crescimentopositivo da força de trabalho sênior nestascondições significa maior capacidade depoupança, maior receita governamental e,conseqüentemente, maior capacidade parafinanciar programas públicos.

No Brasil, uma parte importante da po-pulação trabalhadora jovem está na escola.Nas idades entre 15 e 19 anos, dois terçosdos jovens freqüentam a escola, estandoou não trabalhando; destes, aproxima-damente metade, geralmente mais pobre,

é constituída de trabalhadores em tempointegral. Silva Leme e Wajnman (2000)encontraram que, entre aqueles que traba-lhavam e freqüentavam escola simultanea-mente, uma porção significativa tinha retor-nado à escola depois de se tornar economi-camente ativa. Isto pode ser um sinal depressão por qualificação adicional que geremaior produtividade. Assim, novamente, osformuladores de políticas deveriam apro-veitar a conjuntura oferecida pela TEE eprivilegiar a formação de recursos huma-nos, com particular atenção às geraçõesmais novas.

Existem razões adicionais para foca-lizar a mão-de-obra júnior. Se, por um lado,a taxa de crescimento negativa destesegmento indica menor pressão por gera-ção de empregos e, no futuro próximo,sinaliza outra janela de oportunidades, poroutro, pode também ser motivo de alarme.Chesnais (2004) argumenta que este grupotambém é muito importante para o mercadode consumo, dado que seus membros estãono estágio de formação de família, quandosurgem demandas por moradia, casas,móveis, automóveis e outros bens dura-douros. Assim, a diminuição do tamanhodeste grupo pode se tornar um fator igual-mente negativo se levar a um declínio dademanda agregada da economia.

Como visto, o aumento do peso relativoda força de trabalho sênior favorece, emprincípio, o crescimento econômico, devidoà sua maior capacidade de poupança(LINDH e MALMBERG, 1999). Este grupoapresentará taxas de crescimento altas naspróximas décadas. Como no caso deCingapura, analisado por Navaneetham(2001), o Brasil poderá usar esta oportu-nidade para aumentar sua capacidade depoupança, o que é imprescindível para quese acelere o crescimento econômico. Noentanto, os benefícios irão se materializarsomente se o ambiente socioeconômico forfavorável à poupança e, sobretudo, se foraumentado, significativamente, o nível deemprego e restabelecido o equilíbrio fiscal.Isto é, claramente, um grande desafio parao país. Behrman et al. (2001) explicam que,na América Latina, o processo de enve-lhecimento não coincidiu, até agora, com

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aumentos na poupança, em contraste como que aconteceu nos países asiáticos.

Como a razão de dependência idosaestará, em pouco tempo, aumentando rapi-damente, é agora que se deve aproveitar obônus demográfico oferecido pela compo-sição da população em idade ativa. Istopoderia, certamente, aumentar a capaci-dade de poupança e de investimento, o queseria importante para atender às demandasfuturas da população idosa.

A população idosa

O tamanho e a participação da popu-lação de 65 anos e mais, como já dito,aumentarão continuamente durante a TEE,aproximando-se de 20% da população total;uma proporção mais alta daquela encon-trada, hoje, em qualquer país europeu.10

Assim, em 2050, o Brasil defrontar-se-á coma difícil situação de atender uma sociedademais envelhecida do que a da Europa atual,onde uma transição etária muito mais lenta,concomitante com o desenvolvimentosocial e econômico, não foi capaz, ainda,de convertê-la numa sociedade justa paratodas as idades. A questão é saber se, numcurto período de tempo, o Brasil – que temuma distribuição, tanto de renda como deserviços sociais, notavelmente injusta – serácapaz de enfrentar, com êxito, este desafio.Behrman et al. (2001) mostram que, particu-larmente na América Latina, quando a par-ticipação da população de grupos etáriosmais velhos (e mais desiguais) aumenta,as desigualdades tendem a crescer. Naformulação de políticas para enfrentar estesdesafios, a TEE deveria não só ser levadaem conta, mas, acima de tudo, ser apro-veitada, em suas diferentes fases, comoinstrumento de superação dos problemaspor ela mesma gerados.

O desafio colocado pela TEE para apopulação idosa relaciona-se à neces-sidade de geração de recursos e de

construção de infra-estrutura que permitamum envelhecimento ativo. Esta condição éimprescindível, ademais, por razões econô-micas. As simulações anteriores demons-traram que, sem mudanças estruturais,haverá um sério risco de profundo dese-quilíbrio fiscal, sendo que o envelhecimentoativo é uma forma de amenizar este risco,pois, como argumenta a OMS/WHO (2002),idosos ativos e saudáveis consomem consi-deravelmente menos recursos. O envelhe-cimento ativo é sinônimo de uma vidasaudável, participativa e com seguridadesocial.

- Previdência social

A Previdência Social no Brasil, comona maior parte dos países da AméricaLatina, é baseada no sistema de repartiçãosimples, que funcionou de forma satisfatóriaem populações relativamente jovens, qua-se-estáveis. Atualmente, enfrentam crisesestruturais, não-demográficas, crônicas.Aumentos na longevidade, ocorrendo simul-taneamente com a TEE, agravarão, aindamais, o desequilíbrio fiscal do país se, entreoutras medidas, a idade de aposentadorianão mudar. Como mostrado anteriormente,sem reformas no sistema atual, transfe-rências em direção às populações maisvelhas consumirão metade dos gastosgovernamentais relacionados à idade, em2025, ou cerca de dois terços em 2050. Isto,claro, partindo do pressuposto de quehaverá recursos disponíveis. O complexosistema de previdência social brasileiro éum dos poucos em que uma idade mínimapara aposentadoria não é universalmenteimposta. De acordo com as mudanças maisrecentes, a maior parte dos trabalhadoresno setor privado pode se aposentar depoisde 30 anos de contribuição (mulheres) ou35 anos (homens), independentemente daidade. Uma alternativa estrutural paramelhorar o cenário futuro é o aumento naidade média à aposentadoria.11 Reformas

10 A maior proporção de pessoas com 65 anos e mais na Europa, no qüinqüênio 2000/2005, está na Itália (18,8%) (Nações Unidas,2003).11 A OECD tem publicado vários estudos recomendando esta alternativa em países desenvolvidos (veja, por exemplo, OECD, 1998).Veja, também, Heller (2003).

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recentes, introduzidas no Sistema Brasileirode Seguridade Social, mudaram a legis-lação relativa aos funcionários públicos,requerendo, dos novos contribuintes, umaidade mínima para aposentadoria de 55 anos(mulheres) ou de 60 anos (homens). Osdébitos crescentes do sistema, provavel-mente, forçarão a introdução de limitaçõesde idade, similares, para os trabalhadoresdo setor privado. Novas estratégias, comomanter os benefícios de pensão constantesem termos reais, em vez de atrelá-los àsvariações nos salários da população ativa(salário mínimo), terão que ser adotadas.

Incentivos para permanecer por maistempo na força de trabalho podem amenizaro peso fiscal e resultar, ao mesmo tempo,em pensões permanentemente mais altasapós a aposentadoria. Esta alternativa temsido incluída nas propostas recentes de mu-danças na legislação do Sistema deSeguridade Social Brasileiro. Outrossim, oincentivo para se aposentar mais tarde po-deria aumentar o desemprego, em um con-texto de altos níveis de desemprego estrutu-ral, como é o caso brasileiro. Assim, maisuma vez, o crescimento econômico e oconseqüente aumento do nível de empregotornam-se imprescindíveis para poderaproveitar as oportunidades e superar osdesafios gerados pela transição dafecundidade.

Por outro lado, retornar ao mercado detrabalho após ter se aposentado já é um fatono Brasil. Em torno de um terço dos apo-sentados são economicamente ativos nopaís (LIBERATO, 2003). Isto acontece, emparte, devido à idade jovem de aposenta-doria: 56,5 anos em média (FÍGOLI, 2000);mas, principalmente, porque, apesar do “ge-neroso programa de seguridade social”, osbenefícios são distribuídos de maneira desi-gual e uma proporção importante dos apo-sentados (60%) recebe pagamento mensalde, somente, um salário mínimo. Em impor-tantes aglomerados urbanos da AméricaLatina, São Paulo entre eles, aproximada-mente 80% dos aposentados ou pensionis-tas que retornam à força de trabalho apon-tam necessidades econômicas como aprincipal razão para tal (PAN AMERICANHEALTH ORGANIZATION, 2000).

- Assistência à saúde para a população idosa

Sabe-se que a demanda por cuidadosde saúde relacionada à população idosa édiferente daquela apresentada pelo restoda sociedade, devido à incapacidade e aoprocesso degenerativo, que requerem gran-des gastos em equipamentos, medicamen-tos e recursos humanos capacitados. Amagnitude do aumento dos custos daassistência à saúde, em função do envelhe-cimento da população, advém, em parte,da proporção de idosos com problemas crô-nicos (ou seja, com necessidades perma-nentes de atenção à saúde). Estima-se queentre 75% e 80% da população de 60 anose mais na América Latina tem pelo menosuma doença crônica (PAN AMERICANHEALTH ORGANIZATION/2000). Uma esti-mativa conservadora para o Brasil, apli-cando esta proporção para o início do sé-culo, resultaria em algo mais de 11 milhõesde pessoas com 60 anos ou mais nesta con-dição, contingente que poderá aumentarpara 27 milhões, em 2025, e para aproxima-damente 50 milhões, em 2050. Um exercíciode extrapolação similar, considerando aincapacidade funcional, resultaria numnúmero próximo dos três milhões de pes-soas idosas por volta de 2005 nesta condição(6,7 milhões em 2025 e 12 milhões em 2050).

Dadas as limitações do sistema desaúde pública brasileiro, o rápido processode envelhecimento aponta para a neces-sidade de se redefinirem as políticas destesetor, com o intuito de prevenir, ou pelomenos atenuar, o desamparo das geraçõesmais velhas.

Em relação à saúde pública, em geral,sabe-se que os serviços de saúde sãodirecionados principalmente para a saúdematerno-infantil e reprodutiva e para lidarcom as doenças infecciosas. Com o pro-gresso da transição epidemiológica noBrasil, este enfoque está mudando e asaúde pública deve privilegiar políticas deprevenção, centralizando-se, por exemplo,nas doenças crônicas que, sem atençãomédica, muito freqüentemente geramincapacidade. Entre as outras prioridadesestá, sem dúvida, a formação de recursoshumanos para serviços geriátricos e geron-tológicos, desde o nível primário de atenção

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à saúde, até tratamentos de alta comple-xidade. Os investimentos neste campo, pelasua própria natureza, levam consideráveltempo para frutificar. A definição e imple-mentação de uma nova política nesta áreadeveriam merecer a maior das atenções,para evitar, no médio e longo prazos,problemas gravíssimos, dado o rápidoprocesso de envelhecimento da população.

- Participação – redes sociais e suporteintergeracional

O aumento da longevidade e o rápidocrescimento do peso relativo da populaçãoidosa, aliados às deficiências no sistemapúblico de saúde, magnificam a importânciadas redes sociais de apoio aos idosos. Háfortes evidências de que uma rede socialsólida contribui, em muito, para um maiorbem-estar das pessoas idosas.12 Na cidadede São Paulo, mais da metade das pessoasidosas, com pelo menos uma incapacidade,recebe suporte de parentes próximos(parceiro, filho ou genro/nora), os quaisfazem parte das redes “informais” que ofe-recem suporte às pessoas da terceira idade(PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION,2001). A mesma pesquisa identifica SãoPaulo entre as cidades com níveis relati-vamente elevados de interação entre oidoso e a comunidade (PELÁEZ e WONG,2004). O suporte intergeracional funciona,também, na direção oposta: a família, muitofreqüentemente, usufrui a aposentadoria oupagamento de pensão dos idosos, particu-larmente entre os pobres e na área rural.Segundo Camarano (2002), estes paga-mentos explicam, em boa parte, a asso-ciação entre contribuição de idosos para arenda domiciliar e arranjos familiares. Trata-se de um mecanismo que, em princípio,promove a integração da família e que po-de, ou não, favorecer o bem-estar do idoso.

Em resumo, incentivar o desenvol-vimento das redes sociais é uma maneirade facilitar os cuidados com a saúde e decriar oportunidades para melhoria dascondições de vida dos idosos. É necessário,

conseqüentemente, levar em consideraçãoeste recurso, de baixo custo financeiro, eestimular sua formação. As redes devemincluir, acima de tudo, a família e parentesmais próximos, que constituem os poten-ciais “cuidadores” do idoso, na presençainexorável da degeneração biológica, emparalelo ao aparato governamental,certamente insuficiente.

Considerações finais

Independentemente dos mecanismosque determinaram a TEE, a janela deoportunidades, por ela propiciada, ofereceucondições favoráveis para a sociedadereformular várias de suas políticas públicasreferentes à educação e saúde infantil.Seria ingenuidade acreditar que, por si só,a diminuição no número de nascimentos,em termos relativos ou absolutos, e a redu-ção na taxa de crescimento da populaçãototal, como conseqüência do declínio defecundidade, resultarão, automaticamen-te, na solução dos problemas sociais eeconômicos (CARVALHO e WONG, 1998).Para isto, é necessária uma nova posturada sociedade, que aproveite as váriasoportunidades geradas pela transição dafecundidade.

As condições favoráveis, surgidas dadinâmica demográfica, devem ser seria-mente levadas em conta, na definição daspolíticas públicas. Uma redefinição de prio-ridades, tendo em vista o novo padrãodemográfico, na alocação de recursos,garantindo ganhos sociais e econômicosmais elevados, a médio e longo prazos, éuma necessidade urgente. O bônus estápresente somente no lado demográfico daequação população-desenvolvimento. Nocaso brasileiro, muitas das oportunida-des já foram perdidas, porque políticasapropriadas não foram implementadas atempo. Um exemplo refere-se à baixaqualidade do ensino dado aos jovensbrasileiros, pertencentes a coortes re-lativamente menores, que hoje estão às

12 Cohen, S. (2001) apresenta um inventário de estudos internacionais relacionados com redes.

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vésperas de ingressar no mercado detrabalho.13

Outra oportunidade gerada pela TEEirá se revelar durante as quatro primeirasdécadas deste século: enquanto a partemais madura da população em idade ativa(25 ou mais anos de idade) crescerá ataxas positivas, aquela mais jovem (15 a 24anos) diminuirá em termos absolutos.Várias vantagens relacionadas a estasituação foram apontadas. Este dividen-do, entretanto, só será plenamente apro-veitado, se altos níveis de emprego, comaumento de produtividade, forem al-cançados.

Uma condição necessária, mas nãosuficiente, para a conquista do equilíbriosocial, econômico e intergeracional é acapacitação da força de trabalho. Por estarazão, a qualificação intelectual, técnica eprofissional deve se constituir em prioridadedas políticas relacionadas à populaçãojovem. A sociedade deve despertar para ofato de que os jovens de hoje serão aquelesque terão que sustentar, no futuro, o con-tingente de idosos, que crescerá ra-

13 Pesquisa mencionada por Glewwe e Kremer (2005) revela que um, em cada quatro estudantes de 15 anos do ensino médio,não consegue entender, com clareza, um texto relativamente simples de português.14 Veja, por exemplo, Ogawa et al., Nações Unidas/ESCP (1983).

pidamente e comporá uma proporçãocrescente da população total do país.

Em perspectiva, qualquer exercício quesimule os gastos governamentais no futuroproduzirá cenários bem conhecidos: gru-pos populacionais mais velhos deman-darão recursos massivos, a médio e longoprazos, seja pelo lado da previdência social,seja pelo fato de que é nas idades maisavançadas que os cuidados com a saúdetornam-se mais necessários e onerosos.

A maior parte das recomendações aquidiscutidas, relacionadas aos impactos daTEE, assemelha-se àquelas feitas para ospaíses desenvolvidos em décadas passa-das. Suas experiências devem ser consi-deradas, no entanto, levando-se em conta,acima de tudo, a grande diferença develocidade das mudanças demográficasnos países em desenvolvimento.14 Portantopara aproveitar a janela de oportunidadese preparar a sociedade para os desafiosconseqüentes, é extremamente importanteque a sociedade se conscientize do poucotempo disponível para se definir e imple-mentar os planos e políticas adequados.

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Abstract

The rapid process of aging in Brazil: serious challenges for public policies

The positive effects of the recent age structure transition (AST) in Brazil can be seen in children’shealth services, education and other areas. The higher growth rate estimated for theeconomically active population in coming decades constitutes a new area of opportunities.The combination of the older segment of the labor force (ages 25 to 64), which is showing highgrowth, with the junior segment (ages 15 to 24), which is showing very low or even negativegrowth rates, indicates a trend toward reducing the demographic pressure for new jobs. Thetraining of the future labor force has become an indispensable component for a more justintergenerational, social and economic balance. Due to the age structure transition, newchallenges are emerging related to the expansion of the older population. If the present percapita transfer of funds from the government is maintained constant, the difference betweenrevenue and expenses will increase, causing an unsustainable fiscal deficit. The expectedcrisis brought about by the aging of the population and the current irrational social securitysystem must be urgently discussed in Brazilian society. The best must be made of theopportunities generated by age structure transition in order to prepare to face the new resultingchallenges.

Key words: Aging. Age structure transition. Public policies. Demographic window ofopportunities.

Recebido para publicação em 03/11/2005.Aceito para publicação em 17/03/2006.