o risco da cultura gerencialista

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O risco da cultura gerencialista PUBLICIDADE DE SÃO PAULO Para combater o forte gerencialismo presente tanto na esfera pública como privada a nível global, se faz necessário enxergar e compreender que estamos diante de uma abordagem instrumental, utilitarista e contábil das relações entre o homem e a sociedade, que se justifica pela frenética guerra econômica. Estamos em um cenário em que prevalece a competição, a luta por desempenhos e resultados de qualidade e eficácia constante. O pragmatismo na gestão gerencialista legitima um pensamento funcional e positivista do mundo, transformando as pessoas em números e recursos que devem ser utilizados a qualquer custo como também descartados a qualquer momento. O sociólogo francês Vincet Gaulejac chama a atenção de que a ética do resultado substitui a ética da moral na sociedade que vivemos. Os paradigmas que fundamentam a gestão como o utilitarista e economicista a serviço da ação e da redução do ser humano a um mero recurso são enaltecidos em uma conjuntura em que prevalece cada vez mais o individualismo. A finalidade da empresa como uma instituição social a serviço do bem estar da sociedade é esquecida em nome de uma ideologia de criação de seres humanos produtivos e rentáveis para o mercado. É nessa corrida desenfreada que o poder gerencial é legitimado, celebrando valores de liberdade, autonomia e enriquecimento. Mas, por outro lado, aumenta o número de pessoas deprimidas, infelizes e com diversas doenças generalizadas. Paradoxos e contradições em um mundo que se organiza em estado de crise permanente. É possível o terceiro setor não ser contaminado por este modelo de gestão destruidora e doente? Sim. Mas, para isso, é importante resgatarmos a razão que se dá somente por meio do conhecimento e reflexão. Adotar procedimentos, normas, processos de gestão e governança são fundamentais e fazem parte da gestão de uma organização. Porém é necessário não separar a objetividade racional da subjetividade humana. Esse caminho deve ser trilhado pelo terceiro setor na busca de um equilíbrio, onde a finalidade de todos os processos e ações deve estar a serviço do bem estar das pessoas e do planeta.

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Page 1: O Risco Da Cultura Gerencialista

O risco da cultura gerencialistaPUBLICIDADE

DE SÃO PAULO

Para combater o forte gerencialismo presente tanto na esfera pública como privada a nível global, se faz necessário enxergar e compreender que estamos diante de uma abordagem instrumental, utilitarista e contábil das relações entre o homem e a sociedade, que se justifica pela frenética guerra econômica.

Estamos em um cenário em que prevalece a competição, a luta por desempenhos e resultados de qualidade e eficácia constante. O pragmatismo na gestão gerencialista legitima um pensamento funcional e positivista do mundo, transformando as pessoas em números e recursos que devem ser utilizados a qualquer custo como também descartados a qualquer momento. O sociólogo francês Vincet Gaulejac chama a atenção de que a ética do resultado substitui a ética da moral na sociedade que vivemos.

Os paradigmas que fundamentam a gestão como o utilitarista e economicista a serviço da ação e da redução do ser humano a um mero recurso são enaltecidos em uma conjuntura em que prevalece cada vez mais o individualismo. A finalidade da empresa como uma instituição social a serviço do bem estar da sociedade é esquecida em nome de uma ideologia de criação de seres humanos produtivos e rentáveis para o mercado.

É nessa corrida desenfreada que o poder gerencial é legitimado, celebrando valores de liberdade, autonomia e enriquecimento. Mas, por outro lado, aumenta o número de pessoas deprimidas, infelizes e com diversas doenças generalizadas. Paradoxos e contradições em um mundo que se organiza em estado de crise permanente.

É possível o terceiro setor não ser contaminado por este modelo de gestão destruidora e doente? Sim. Mas, para isso, é importante resgatarmos a razão que se dá somente por meio do conhecimento e reflexão. Adotar procedimentos, normas, processos de gestão e governança são fundamentais e fazem parte da gestão de uma organização.

Porém é necessário não separar a objetividade racional da subjetividade humana. Esse caminho deve ser trilhado pelo terceiro setor na busca de um equilíbrio, onde a finalidade de todos os processos e ações deve estar a serviço do bem estar das pessoas e do planeta.

As organizações do terceiro setor podem cada vez mais construir uma gestão profissional e estruturada, mas não devem esquecer que sua finalidade é social. Para isso é necessário combater os valores globais do mercado por meio do resgate de valores da justiça e do bem comum.

"Ser Cidadão não é viver em Sociedade; é mudar a sociedade." (Augusto Boal).

Page 2: O Risco Da Cultura Gerencialista

Márcia Moussallem, 42, socióloga, MBA em Gestão para Organizações do Terceiro Setor, é mestre e doutoranda em Serviço Social pela PUC/SP, professora da PUC/Cogeae e da FGV-PEC/SP e sócia da empresa Merege & Moussallem Consultores.