cultura no processo de parturiÇÃo: contribuiÇÕes...

91
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES PARA A ENFERMAGEM DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Lizandra Flores Pimenta Santa Maria, RS, Brasil 2012

Upload: others

Post on 26-Dec-2020

4 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ENFERMAGEM

CULTURA NO PROCESSO DE PARTURICcedilAtildeO

CONTRIBUICcedilOtildeES PARA A ENFERMAGEM

DISSERTACcedilAtildeO DE MESTRADO

Lizandra Flores Pimenta

Santa Maria RS Brasil

2012

CULTURA NO PROCESSO DA PARTURICcedilAtildeO

CONTRIBUICcedilOtildeES PARA A ENFERMAGEM

Lizandra Flores Pimenta

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria

(UFSM RS) como requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de

Mestre em Enfermagem

Orientadora Profordf Drordf Luacutecia Beatriz Ressel

Santa Maria RS Brasil

2012

Dedico este trabalho

In memorian A minha avoacute Lourdes que com a sua sabedoria foi sempre a minha maior

incentivadora na busca pelo conhecimento

Ao meu esposo Marcio companheiro de todas as horas apoiando-me incentivando-me e

cuidando-me e ajudando-me sempre Sem o seu apoio seu carinho e sua compreensatildeo natildeo

teria sido possiacutevel chegar ateacute aqui com tranquilidade

A minha filha Letiacutecia e a meu filho Marcos agraves luzes da minha vida meus amores

principais inspiradores desse trabalho

AGRADECIMENTOS

Aos meus familiares Fabiane Nabor Carmem Nabor e Francisco pelo apoio nos

momentos difiacuteceis

Agrave minha orientadora Luacutecia por me incitar o gosto pela antropologia aleacutem da orientaccedilatildeo

foi sempre muito compreensiva com as minhas vaacuterias atividades profissionais aleacutem do

mestrado

Ao Departamento de Enfermagem da UFSM e ao Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em

Enfermagem por ter proporcionado na minha vida profissional esta qualificaccedilatildeo

A coordenaccedilatildeo e professores do PPGEnf pela acolhida pelas trocas oportunizadas e pelo

compartilhamento de saberes

Agradeccedilo agraves integrantes do Nuacutecleo de Estudos sobre Mulheres Gecircnero e Poliacuteticas Puacuteblicas-

NEMGeP especialmente a Celeste por me apresentar os caminhos deliciosos da literatura

feminista as discussotildees e a luta pelos direitos das mulheres na superaccedilatildeo das desigualdades

de gecircnero

Agradeccedilo as colegas desta caminhada Elenir e especialmente a Letiacutecia generosa nas suas

contribuiccedilotildees

A enfermagem do Centro Obsteacutetrico do Hospital Universitaacuterio de Santa Maria

profissionais na luta por uma atenccedilatildeo de qualidade para as mulheres

Ao Hospital Universitaacuterio de Santa Maria instituiccedilatildeo que facilitou a oportunidade de

crescimento profissional

Agraves (os) colegas do Mestrado pelo compartilhamento de experiecircncias e de

conhecimentos neste meu retorno agrave Escola como estudante

Enfim agraves mulheres participantes deste estudo que com sua disponibilidade e interesse

aceitaram-me em suas vidas e fizeram com que mais este estudo se concretizasse

ldquoQuando eacute que vamos nos dar conta que nosso

foco natildeo deve ser combater as cesarianas

desmedidas e abusivas mas melhorar a assistecircncia

ao parto de tal forma que escolher uma cesariana

para ter um filho tornar-se-aacute a mais tola das

decisotildees Maximilian

RESUMO

Dissertaccedilatildeo de Mestrado

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Enfermagem

Universidade Federal de Santa Maria

CULTURA NO PROCESSO DE PARTURICcedilAtildeO CONTRIBUICcedilOtildeES PARA A

ENFERMAGEM

AUTORA Lizandra Flores Pimenta

ORIENTADORA Luacutecia Beatriz Ressel

Data e Local da Defesa Santa Maria 28 de fevereiro de 2012

A investigaccedilatildeo teve como objetivo compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher Desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa com abordagem cultural Os

cenaacuterios foram uma Unidade sanitaacuteria e um hospital de referecircncia para a gestaccedilatildeo de alto risco

e para intercorrecircncias ginecoloacutegicas de um municiacutepio do interior do Rio Grande do SulBrasil

Os sujeitos deste estudo foram oito mulheres em idade feacutertil com histoacuteria pregressa de parto

vaginal ou cesariano na faixa etaacuteria entre 22 e 35 anos que tiveram filhos a partir do ano de

2004 e fora do periacuteodo graviacutedico puerperal Para produccedilatildeo dos dados utilizou-se entrevista

semi-estruturada realizada entre janeiro e marccedilo de 2011 Para a anaacutelise dos dados foi

utilizada a anaacutelise temaacutetica sugerida por Minayo dando origem a seis categorias A percepccedilatildeo

das mulheres sobre o nascimento Percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado A

percepccedilatildeo das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto Conhecendo como se daacute a

construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres Resistecircncia das mulheres ao modelo

biomeacutedico do parto Percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea Os

achados deste estudo permitem afirmar que as vivecircncia das mulheres no seu processo de

parturiccedilatildeo eacute percebida de modo diferente entre elas entendida algumas vezes de forma

positiva e outras vezes de forma negativa A identificaccedilatildeo da via de parto desejada pela

maioria das entrevistadas foi o parto normal mas a maioria natildeo conseguiu realizar esse desejo

na sua vivecircncia pela influecircncia e intervenccedilotildees recebidas do meacutedico Esta ausecircncia de

autonomia na escolha do parto normal acarretou na indicaccedilatildeo de cesaacutereas que natildeo condizem

com as indicaccedilotildees da literatura nas mulheres desse estudo As entrevistadas afirmaram que o

meacutedico tem o poder de decisatildeo sobre a escolha do tipo de parto mas algumas divergem desta

conduta dizendo que esta decisatildeo deveria ter a participaccedilatildeo da mulher jaacute que eacute ela que estaacute

sentindo e passando por este processo O significado positivo evidenciado pelas mulheres do

conviacutevio das mulheres principalmente pela figura materna proporcionou um parto integral e

enriquecedor a essas entrevistadas e exerceu influecircncia na preferecircncia por parto normal

Constatou-se que cultura tem influecircncia sobre os saberes e as praacuteticas das mulheres em

relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeo e que os muacuteltiplos aspectos que permeiam a vivecircncia das

mulheres precisam ser observados quando se presta assistecircncia a elas durante esse processo

Palavras-chave Parto Sauacutede da mulher Cultura Enfermagem

ABSTRACT

Masterrsquos Dissertation

Nursing Pos-Graduation Program

Federal University of Santa Maria

CULTURE IN THE PROCESS OF DELIVERY CONTRIBUTIONS TO

NURSING

AUTHOR Lizandra Flores Pimenta

ADVISOR Luacutecia Beatriz Ressel Date and Place of Defense Santa Maria February 28th 2012

The investigation aimed to understand how culture influences in the process of a woman

delivery A qualitative research with a cultural approach The settings were a Health Center

and a reference Hospital for high risk pregnancies and to gynecologic complications of a city

in the interior of Rio Grande do SulBrazil The people of this study were eight women in

fertile age with previous history of natural and caesarean deliveries in ages between 22 and

35 years old who had children from the year 2004 and out of the pregnancy period To the

data production a semi-structured interview was used done between January and March of

2011 To do the data analysis it was used a thematic analysis suggested by Minayo

generating six categories Women perception about the birth Women perception about the

wanted delivery Women perception in the decision about the king of delivery Knowledge

about how is the cultural construction of the women delivery process Questioning and

women resistance to the delivery biomedical model women perception about the reason of

caesarean indication The findings of this study allow affirming that women experience in

their delivery process is noticed differently among them sometimes understood in a positive

way and others in negative ways The identification of the kind of delivery wanted by the

majority of the interviewed was the natural delivery but it can be seen that the majority could

not have it in their pregnancies due to the influence and interventions given by the doctor The

absence of autonomy in the choice for the natural delivery resulted in the indication of

caesariansthat are not consistent with indications from the literature the women of this study

The interviewed affirm that the doctor has the power of decision about the king of delivery

but some diverge from this behavior saying that this decision should have the women

participation once she is the one who feels and passes by this process The positive meaning

evidenced by the women who have some relation with the pregnant mainly by the mother

figure provided an integral and enriched delivery to these women and influenced in the

preference for a natural delivery It was verified that culture has influence in the knowledge

and in the practices of women in relation to the process of delivery and that multiple aspects

that surround their life need to be observed when assistance is given to them during the

process

Key-words Delivery Women health Culture Nursing

LISTA DE ANEXOS

Anexo A - Aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM 81

Anexo B - Autorizaccedilatildeo de Emenda do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM para

troca de cenaacuterio para coleta

82

LISTA DE APEcircNDICES

Apecircndice A - Ofiacutecio agrave Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria 85

Apecircndice B - Ofiacutecio ao Departamento de Ensino e Pesquisa do HUSM 86

Apecircndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 87

Apecircndice D - Termo de Confidencialidade 89

Apecircndice E - Roteiro da entrevista com as mulheres 90

SUMAacuteRIO

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS 12

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 17

11 Poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e nascimento no

Brasil

17

12 O parto e a cultura no processo da parturiccedilatildeo 22

13 Referencial teoacuterico de Emily Martin sobre o parto e cultura 24

2 CAMINHO METODOLOacuteGICO 29

21 Fundamentos metodoloacutegicos 29

22 Os cenaacuterios do estudo 29

23 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos 31

24 Caracterizaccedilatildeo das participantes 32

25 Inserccedilatildeo em campo 34

26 Coleta de dados 33

27 Anaacutelise dos dados 34

28 Questotildees eacuteticas 35

3 ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS DADOS 37

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 61

REFEREcircNCIAS 67

ANEXOS 80

APEcircNDICES 83

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS

A gravidez e o parto satildeo eventos sociais e culturais que integram a vivecircncia

reprodutiva de homens e mulheres uma experiecircncia uacutenica no universo de ambos que envolve

tambeacutem suas famiacutelias e consequentemente a comunidade (BRASIL 2001)

O parto inscreve-se nesse universo cultural por ser um fenocircmeno que perpassa todas as

sociedades e temposespaccedilos Esse sistema de crenccedilas herdadas eacute denominado ldquocultura do

nascimentordquo a qual informa os membros da sociedade sobre a natureza de todo o processo

parturitivo da mulher e influencia seu significado em relaccedilatildeo ao tipo de parto (HELMAN

2009)

O autor supracitado diz que a gestaccedilatildeo e o parto satildeo a transiccedilatildeo do status social de

ldquomulherrdquo para o de ldquomatildeerdquo e como em todas as transiccedilotildees sociais a pessoa deve ser protegida

de qualquer dano atraveacutes de determinados rituais e comportamentos

Conforme Floyd (2009) as formas de transmitir esses comportamentos agrave parturiente

satildeo chamadas de ldquorituais da obstetriacuteciardquo dentre eles estatildeo fazer a mulher reconhecer a

deficiecircncia de seu corpo (consciente ou inconscientemente) a fim de tornaacute-la dependente da

ciecircncia e da tecnologia induzindo-a a aceitar a superioridade das instituiccedilotildees e da Medicina

em controlar seus processos naturais suas crenccedilas e seus significados individuais

Segundo Floyd (2009) eacute mais provaacutevel que esse tipo de comportamento seja

transmitido na atmosfera impessoal de um hospital do que no ambiente familiar e domeacutestico

As condiccedilotildees de nascimento apresentam significativas distinccedilotildees quando comparadas

entre diferentes realidades Nos paiacuteses ocidentais segundo Floyd (1987) o parto eacute cercado de

aparatos tecnoloacutegicos meacutedicos e essa medicalizaccedilatildeo define-o como uma disfunccedilatildeo fisioloacutegica

Jaacute nos paiacuteses orientais como exemplo o Japatildeo eacute valorizado o parto vaginal desmedicalizado

que assim como a gestaccedilatildeo natildeo eacute considerado doenccedila (SILVA 2009)

De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) 70 a 80 das gestaccedilotildees

que ocorrem no mundo satildeo consideradas de baixo risco Eis a definiccedilatildeo de parto normal

adotada pela OMS

De iniacutecio espontacircneo baixo risco no iniacutecio do trabalho de parto permanecendo

assim durante todo o processo ateacute o nascimento O bebecirc nasce espontaneamente em

posiccedilatildeo cefaacutelica de veacutertice entre 37 e 42 semanas completas de gestaccedilatildeo Apoacutes o

nascimento matildee e filho estando em boas condiccedilotildees Entretanto como o trabalho de

parto e o parto de muitas gestantes de alto risco tecircm um curso normal vaacuterias

recomendaccedilotildees tambeacutem se aplicam agrave assistecircncia dessas mulheres (OMS 2009 p9)

13

Frente a isso deve existir sempre uma razatildeo vaacutelida para se interferir nesse processo

fisioloacutegico do parto tendo como recurso para tais casos a cesariana que se trata de uma

intervenccedilatildeo meacutedica destinada agrave extraccedilatildeo do feto por via abdominal

O parto cesaacutereo eacute uma intervenccedilatildeo usada em situaccedilotildees nas quais as condiccedilotildees da matildee

e do bebecirc natildeo favorecem o parto vaginal Entretanto sua indicaccedilatildeo incorreta estaacute associada a

uma maior ocorrecircncia de mortalidade e morbidade para as parturientes tais como

hemorragias infecccedilotildees puerperais embolia pulmonar riscos anesteacutesicos bem como outras

patologias Para os bebecircs os riscos relacionam-se a distuacuterbios respiratoacuterios icteriacutecia

fisioloacutegica prematuridade iatrogecircnica hipoglicemia e anoacutexia (RAMOS 2003 VILLAR

2006 TELINI 2000)

Nessa direccedilatildeo eacute observado em nosso paiacutes nos uacuteltimos anos o aumento de partos

cesaacutereos agendados com antecedecircncia cujas indicaccedilotildees meacutedicas natildeo o justificam (MORELL

MELO 1995) Em uma pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede realizada em 2006 quase

metade (462) de todas as cesarianas foi agendada com antecedecircncia (BRASIL 2009)

Essa conduta eacute culturalmente difundida pelos profissionais da sauacutede que detecircm o

poder de modular e influenciar as demandas sobre as necessidades de sauacutede da populaccedilatildeo

(TEIXEIRA 2006) Apresentando-se sob a maacutescara da razatildeo e da necessidade essa praacutetica

desnecessaacuteria acaba por natildeo ser percebida pela maioria das mulheres que encontram

dificuldades em resistir (PEREIRA 2000)

O Ministeacuterio da Sauacutede (2001) ressalta que a informaccedilatildeo e a formaccedilatildeo de opiniatildeo entre

as mulheres satildeo prioridade no Brasil a fim de que elas possam escolher o melhor para a sua

sauacutede e para a de seus filhos pois embora profissionais e mulheres faccedilam a opccedilatildeo antecipada

do tipo de parto esse fato natildeo pode ser visto como uma simples questatildeo de preferecircncia jaacute que

cesaacuterea natildeo eacute um ldquobem de consumordquo (ODENT 2004)

Outro modo de tornar atrativo e mais agradaacutevel aos olhos das mulheres esta praacutetica de

conveniecircncia eacute o conceito contraditoacuterio de cesariana centrada na famiacutelia em que se daacute aos

pais opccedilotildees quanto ao tipo de anesteacutesico e terapia indicados para a mulher (MARTIN 2006)

Scavone (1993) explica esta valorizaccedilatildeo pelas mulheres e pela populaccedilatildeo em geral como

uma garantia meacutedica para os pais em relaccedilatildeo agrave qualidade da sua prole e da fecundidade

Ao dar respostas aos problemas obsteacutetricos e neonatais que aumentam enormemente

os iacutendices de mortalidade materna durante a gestaccedilatildeo o parto e o puerpeacuterio a medicina criou

discursos de verdade Segundo Foucault (1992 p 179)

14

As relaccedilotildees de poder natildeo podem se dissociar se estabelecer nem funcionar sem

uma produccedilatildeo uma acumulaccedilatildeo uma circulaccedilatildeo e um funcionamento do discurso

Natildeo haacute possibilidade de exerciacutecio do poder sem uma certa economia dos discursos

de verdade que funcione dentro e a partir desta dupla exigecircncia

Essa hegemonia do discurso meacutedico sobressai-se desconsiderando durante o processo

parturitivo as crenccedilas e a cultura das mulheres Eacute apenas o meacutedico quem daacute a palavra final

para duacutevidas e inquietudes das mulheres pois considera seu discurso inquestionaacutevel e

legiacutetimo (VIEIRA 2002)

Dessa forma a mulher perde sua autonomia como protagonista no processo do

nascimento

Criou-se assim uma heteronomia desfigurando-se este ato ateacute entatildeo puramente

feminino - pois natildeo era mais a mulher quem dava agrave luz - para o meacutedico como dono

e senhor do parto numa inversatildeo de papeacuteis que bdquolegitima o poder e a relaccedilatildeo da

medicina com a famiacutelia‟ (PEREIRA 2000 p17)

Essa inversatildeo de papeacuteis no cenaacuterio do parto no qual o meacutedico deteacutem o poder sobre o

corpo da mulher pode estar justificando os altos iacutendices de cesaacutereas nas uacuteltimas deacutecadas

Outra repercussatildeo desta mudanccedila de paradigma em relaccedilatildeo ao processo do nascimento

eacute a de que o parto os cuidados puerperais e com o receacutem-nascido que antigamente

transcorriam no ambiente familiar e eram envolvidos em fortes viacutenculos atualmente

transcorrem em instituiccedilotildees hospitalares onde os viacutenculos transformaram-se em meros

contatos superficiais acentuando a perda da autonomia da mulher neste processo

(MONTICELLI 1994)

O contexto do nascimento na sociedade atual mostra que a mulher parturiente estaacute

cada vez mais distante da condiccedilatildeo de protagonista da cena do parto ldquototalmente insegura

submete-se a todas as ordens e orientaccedilotildees sem entender como combinar o poder contido nas

atitudes e palavras que ouve e percebe com o fato inexoraacutevel de que eacute ela quem estaacute com dor

e quem vai parirrdquo (BRASIL 2001 p18) Fato esse constatado no aumento de cesaacutereas e

reduccedilatildeo de partos normais na rede puacuteblica no Brasil No ano de 2005 a taxa de cesaacutereas que

era de 2870 aumentou para 3610 em 2010 e em contrapartida o nuacutemero de partos

normais que em 2005 era de 7130 reduziu para 63 20 em 2010 (BRASIL 2010)

No estado do Rio Grande do Sul (RS) foi constatado por Freitas et al (2005) que os

iacutendices elevados de cesaacuterea constituem um grave problema de sauacutede puacuteblica o que pode

acarretar o mau-uso da tecnologia meacutedica na atenccedilatildeo ao parto associado a fatores sociais

econocircmicos e culturais O percentual de cesarianas que foram analisadas de 1997 a 2003 foi

de 406 para 448 respectivamente No ano de 2008 no RS segundo dados do IBGE

15

(2009) o iacutendice de cesaacutereas foi de 537

No municiacutepio de Santa MariaRS segundo dados da Vigilacircncia Epidemioloacutegica da

Secretaria Municipal de Sauacutede (SMS) no primeiro semestre de 2011 635 dos partos o que

corresponde a 1167 foram cesaacutereos o que desvela um iacutendice muito aleacutem dos 15 previstos

pela OMS O Ministeacuterio da Sauacutede (MS) estabeleceu limite para partos cesaacutereos

considerando-os de alto risco para as unidades hospitalares ateacute 40 e para unidades de risco

habitual - ateacute 25 (BRASIL 2008c)

A portaria GM nordm 466 de 14062000 retificada em 30062000 propotildee o Pacto pela

Reduccedilatildeo das Taxas de Cesaacuterea a ser firmado entre os gestores estaduais e o gestor federal

estabelecendo a taxa de 25 como desejaacutevel para todos os estados ateacute 2007 (BRASIL 2008)

Finalizar uma gestaccedilatildeo mediante uma cesaacuterea sem causa meacutedica que a justifique

ainda que esta seja a pedido da gestante eacute uma conduta meacutedica que natildeo respeita os processos

fisioloacutegicos do trabalho de parto do parto e do nascimento Por esse motivo o procedimento

ciruacutergico realizado sem indicaccedilotildees deixa de ser um procedimento fisioloacutegico tornando-se um

procedimento de risco para a matildee e para o receacutem-nascido (SABATINO 2009)

Para a abrangecircncia do tema complexidade e repercussotildees na vida das mulheres o

objeto de estudo eacute o significado que a mulher atribui ao seu parto

A justificativa para a escolha desse objeto de estudo deve-se agrave vivecircncia de dar agrave luz a

dois filhos nascidos de parto normal Letiacutecia (15 anos) e Marcos (12 anos) e de ter participado

ativamente desse processo como protagonista

Vem ao encontro disso o fato de que no decorrer da vivecircncia de dezoito anos na

assistecircncia agrave sauacutede das mulheres em maternidades e unidades baacutesicas de sauacutede e no meu

ambiente de trabalho atual como enfermeira obstetra de um hospital de ensino percebo a

intensa fragilidade das parturientes ao se submeterem a todos os procedimentos e

intervenccedilotildees sem questionamentos ao que acontece com o seu corpo durante o parto

Paralelamente agraves atividades profissionais participo como integrante do Nuacutecleo de

Estudos sobre Mulheres Gecircnero e Poliacuteticas Puacuteblicas-NEMGeP do Departamento de

Enfermagem do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Santa Maria grupo

que me despertou para as questotildees de gecircnero na temaacutetica no processo da parturiccedilatildeo O Nuacutecleo

atua em accedilotildees direcionadas agraves mulheres com abordagens que ultrapassam a dimensatildeo

bioloacutegica pois considera que as questotildees de gecircnero (cidadania empoderamento controle

social e poliacuteticas puacuteblicas) constituem referenciais fundamentais no direcionamento de

atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres (LANDERDAHL et al 2011)

16

Consultando a literatura cientiacutefica percebeu-se a ausecircncia de estudos culturais com

mulheres fora do periacuteodo graviacutedico puerperal e em cenaacuterios que natildeo sejam em maternidades

eou hospital

Alinhando-se nos argumentos acima descritos este estudo fundamentou-se no

referencial teoacuterico metodoloacutegico da abordagem socioantropoloacutegica de Emily Martin que

propotildee uma anaacutelise do fenocircmeno do parto contrapondo a delimitaccedilatildeo deste ao campo da

reproduccedilatildeo mecanicista e biomeacutedica buscando entendecirc-lo como componente essencial das

mulheres no sentido de desnaturalizar verdades muito caras vinculadas agraves concepccedilotildees

modernas de natureza e cultura Dessa forma o presente estudo traz reflexotildees que poderatildeo

repercutir na assistecircncia de enfermagem prestada agrave mulher durante o periacuteodo da parturiccedilatildeo

uma vez que auxilia na compreensatildeo das necessidades de cuidado com as parturientes a partir

da percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto e o nascimento

Com base nessas consideraccedilotildees a questatildeo norteadora de pesquisa que impulsiona

este estudo estaacute embasada no seguinte questionamento qual a participaccedilatildeo da cultura nos

saberes e as praacuteticas das mulheres em relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeo

Para responder a esta questatildeo foi definido como objetivo compreender de que forma

a cultura influencia no processo de parturiccedilatildeo da mulher

17

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

Este capiacutetulo enfoca as poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e

nascimento no Brasil bem como discute sobre parto e cultura baseando-se sobretudo nos

estudos realizados pela antropoacuteloga Emily Martin

21 Poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e nascimento no Brasil

O movimento feminista tem desempenhado um papel fundamental como instigador de

programas e poliacuteticas para as mulheres no paiacutes e sido entendido como foacuterum de debate das

questotildees da sauacutede qualidade de vida e condiccedilatildeo de cidadania feminina

Em 1974 foi implantado pelo governo o Programa de Sauacutede Materno-Infantil-PSMI

(MS74) como recomendaccedilatildeo do Plano Decenal de Sauacutede para as Ameacutericas e resultante da III

Reuniatildeo Especial de Ministros de Sauacutede das Ameacutericas que se realizou em Santiago de Chile

em 1972 Enfatizou-se nessa recomendaccedilatildeo

Formular uma poliacutetica intersetorial de proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade e agrave infacircncia

[] O programa de sauacutede e atenccedilatildeo meacutedica deveraacute ter cobertura universal

eficiecircncia operativa e acessibilidade geograacutefica institucional e financeira []

Elaborar o programa como um todo contiacutenuo que incluam as diversas atividades de

proteccedilatildeo agrave famiacutelia e em especial agrave matildee e a crianccedila orientaccedilatildeo agrave vida familiar (com

ecircnfase agrave adolescecircncia) atenccedilatildeo agraves doenccedilas ginecoloacutegicas (incluindo as veneacutereas)

diagnoacutestico precoce do cacircncer ceacutervico-uterino e do cacircncer de mama outorgar as

famiacutelias (quando isto natildeo se oponha agraves poliacuteticas nacionais) informaccedilatildeo e serviccedilo

com relaccedilatildeo agrave fertilidade e agrave esterilidade atenccedilatildeo meacutedica integral durante a gestaccedilatildeo

(matildee e feto) atenccedilatildeo ao parto e no puerpeacuterio controle do receacutem-nascido e da

crianccedila durante todas as etapas da vida especificamente no primeiro ano de vida

(OPAS 1973 p39-42)

Com isso o governo brasileiro registrou o interesse em trabalhar com o diagnoacutestico

precoce e o tratamento das doenccedilas ginecoloacutegicas incluindo as doenccedilas sexualmente

transmissiacuteveis e o cacircncer Somente no ano de 1977 a preocupaccedilatildeo eacute dirigida com mais

especificidade agrave gestaccedilatildeo ao parto e ao puerpeacuterio (TYRREL CARVALHO 1995)

O Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em 1984 em conjunto com o Ministeacuterio da Previdecircncia e

a Assistecircncia Social o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e as Secretarias Estaduais de Sauacutede e com o

apoio do movimento de mulheres implantou o Programa de Atenccedilatildeo Integral agrave Sauacutede da

Mulher (PAISM)

18

Esse programa eacute considerado um marco na histoacuteria das poliacuteticas puacuteblicas voltadas para

a sauacutede feminina e ateacute hoje eacute inspiraccedilatildeo e referecircncia na luta pela equidade de gecircnero

divulgando a importacircncia de se estabelecer um programa especiacutefico dirigido agrave mulher e de se

enfatizar certas atividades prioritaacuterias que natildeo deve ser interpretado como uma subestimaccedilatildeo

aos demais serviccedilos que a rede baacutesica deve executar mas deve ser adotado sobretudo como

estrateacutegia de mudanccedila seletiva de recursos que permitam a operacionalizaccedilatildeo de conteuacutedos de

grande prioridade vinculados agrave populaccedilatildeo feminina em todas as fases de sua vida e que

vinham sendo ateacute entatildeo negligenciados (BRASIL l984)

Em 2004 o programa foi transformado na Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agrave

Sauacutede da Mulher (MS 2004) cujo objetivo especiacutefico trecircs indica para o dever de se promover

a atenccedilatildeo obsteacutetrica e neonatal qualificada e humanizada tendo como combate agrave violecircncia de

gecircnero enfatizando a importacircncia do empoderamento das mulheres para o exerciacutecio da

autonomia e protagonismo no parto

A Poliacutetica Nacional de Humanizaccedilatildeo (MS 2004) implementada no mesmo ano

enfoca tambeacutem o respeito agraves questotildees de gecircnero etnia raccedila orientaccedilatildeo sexual com a

construccedilatildeo de autonomia e protagonismo dos sujeitos e coletivos

A I Conferecircncia Nacional de Poliacuteticas para as mulheres realizada em julho de 2004

foi muito importante na afirmaccedilatildeo dos direitos da mulher Desse evento resultou o I Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres em que foram traccediladas 4 linhas de atuaccedilatildeo sendo

uma delas a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos das mulheres o que

contribui reduccedilatildeo da morbidade e mortalidade feminina no Brasil especialmente por causas

evitaacuteveis em todos os ciclos de vida e nos diversos grupos populacionais (BRASIL 2005)

Corroborando esta afirmativa o II Plano Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres

(2008) em seu eixo sobre a sauacutede das mulheres direitos sexuais e direitos reprodutivos

postula que natildeo deve haver discriminaccedilatildeo de qualquer espeacutecie contra as mulheres

resguardando-se as identidades condiccedilotildees socioeconocircmicas e as desigualdades de gecircnero

raccedilaetnia geraccedilatildeo e orientaccedilatildeo sexual e necessitam ser consideradas na formulaccedilatildeo na

implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo de estrateacutegias de intervenccedilatildeo governamentais

Desse modo particularizar a atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher significa apenas um passo no

sentido de aumentar a capacidade resolutiva dos serviccedilos de sauacutede uma vez que haacute o desafio

de dar uma resposta efetiva aos problemas de sauacutede deste grupo de sujeitos visto conforme

Resende e Montenegro (2003) que as trecircs principais causas de morte materna no Brasil satildeo a

toxemia a hemorragia e a infecccedilatildeo puerperal as quais poderiam na maior parte dos casos

serem prevenidas Esse dado justifica a preocupaccedilatildeo com tais cuidados

19

Um dos objetivos de desenvolvimento do milecircnio (IPEA 2007) eacute melhorar a sauacutede

materna (reduccedilatildeo de trecircs quartos da mortalidade materna entre 1990 e 2015) Entretanto essa

meta do milecircnio dificilmente seraacute alcanccedilada pois grandes desafios ainda persistem a

exemplo da reduccedilatildeo das altas taxas de cesariana e nascimentos preacute-termo e no parto vaginal as

rotinas improacuteprias tais como episiotomia de rotina e intervenccedilotildees dolorosas ao bem-estar

materno e do bebecirc (THE LANCET 2011)

Para enfrentar esses desafios foi instituiacutedo pelo MS em 2000 o Programa de

Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) cujo objetivo primordial eacute ldquoassegurar a

melhoria do acesso da cobertura e da qualidade do acompanhamento preacute-natal da assistecircncia

ao parto e puerpeacuterio agraves gestantes e ao receacutem-nascido na perspectiva dos direitos de

cidadaniardquo (BRASIL 2000 p5) O Programa considera que a humanizaccedilatildeo da assistecircncia

obsteacutetrica e neonatal eacute a primeira condiccedilatildeo para o adequado acompanhamento do parto e do

puerpeacuterio (BRASIL 2000b)

A implementaccedilatildeo das accedilotildees desse programa enfrenta ainda muitos entraves

identificados e categorizados em um estudo de revisatildeo sistemaacutetica de Busanello et al (2009)

Citam-se a dificuldade de acesso aos serviccedilos de sauacutede a falta de leitos a deficiecircncia de

recursos humanos financeiros e materiais a atenccedilatildeo centrada na praacutetica intervencionista

desconsiderando o protagonismo da mulher no momento do parto e o despreparo dos

profissionais de sauacutede para a atenccedilatildeo humanizada no processo de parturiccedilatildeo sendo esta

categoria destacada como importante desafio enfrentado para concretizaccedilatildeo do PHPN

Nesse sentido o Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento - MS tem

recomendado aos serviccedilos de sauacutede que ofereccedilam uma assistecircncia digna agrave mulher aos

familiares e ao receacutem-nascido envolvendo para tanto atitude eacutetica e solidaacuteria dos

profissionais de sauacutede organizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de modo a criar um ambiente acolhedor e a

implementaccedilatildeo de rotinas hospitalares que rompam com o tradicional isolamento imposto agrave

mulher Considera-se tambeacutem necessaacuterio adotar medidas e procedimentos sabidamente

beneacuteficos para o acompanhamento do parto e do nascimento evitando-se praacuteticas

intervencionistas desnecessaacuterias (BRASIL 2000b)

Seguindo essa loacutegica o Ministeacuterio da Sauacutede tem realizado um conjunto de accedilotildees

atraveacutes de portarias ministeriais com a finalidade de estimular e regularizar a assistecircncia

obsteacutetrica aleacutem de financiar a realizaccedilatildeo de cursos de especializaccedilatildeo em enfermagem

obsteacutetrica (BRASIL 2001)

Assegura-se pela legislaccedilatildeo do exerciacutecio profissional regulamentada pela lei n

749886 e o Decreto-Lei 9440687 o direito de a enfermeira obstetra realizar assistecircncia agrave

20

parturiente e ao parto normal identificaccedilatildeo das distocias obsteacutetricas e tomada de providecircncias

ateacute a chegada do meacutedico e a realizaccedilatildeo de episiotomia e episiorrafia e aplicaccedilatildeo de anestesia

local quando necessaacuteria

Outras atribuiccedilotildees realizadas pela enfermeira obsteacutetrica que vem ganhando espaccedilo no

cenaacuterio nacional satildeo as accedilotildees de incentivo ao parto normal e as accedilotildees no atendimento preacute-

natal no qual a enfermeira eacute responsaacutevel pela educaccedilatildeo em sauacutede para as mulheres e suas

famiacutelias consulta de preacute-natal agrave gestaccedilatildeo de baixo risco solicitaccedilatildeo de exames de rotina e

prescriccedilatildeo de tratamento conforme protocolo do serviccedilo e estabelecidos em programas de

sauacutede e coleta de exame citopatoloacutegico (BRASIL 2006b)

Concorrendo nessa orientaccedilatildeo a atuaccedilatildeo da enfermeira obstetra eacute reconhecida como

primordial no processo de humanizaccedilatildeo do parto tendo como objetivo a reduccedilatildeo dos altos

iacutendices de cesaacutereas praticadas e a alta medicalizaccedilatildeo decorrentes do intervencionismo por

parte dos meacutedicos obstetras (BRASIL 2001)

Buscando proporcionar conhecimento agrave sociedade e particularmente esclarecer os

profissionais de sauacutede a OMS elaborou em 1996 um conjunto de recomendaccedilotildees de boas

praacuteticas na assistecircncia ao parto normal Essas recomendaccedilotildees foram classificadas em quatro

categorias Categoria A - praacuteticas confirmadamente uacuteteis e que devem ser estimuladas

Categoria B - praacuteticas claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas

Categoria C - praacuteticas em relaccedilatildeo agraves quais natildeo existem evidecircncias suficientes para apoiar uma

recomendaccedilatildeo clara e que devem ser utilizadas com cautela ateacute que mais pesquisas

esclareccedilam a questatildeo e Categoria D - praacuteticas frequentemente utilizadas de modo inadequado

(OMS 1996) Dentre estas categorias destacam-se neste estudo as recomendaccedilotildees que foram

classificadas como praacuteticas uacuteteis e que devem ser estimuladas

Nessa direccedilatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede implantou medidas que visam impactar e

estimular a melhoria da assistecircncia obsteacutetrica no paiacutes e humanizar o parto e nascimento

(BRASIL 2001)

Para Martins (2005) humanizar a parturiccedilatildeo eacute estar com o outro e prestar um

atendimento focado em suas necessidades eacute lembrar que no momento do parto estaacute

ocorrendo a separaccedilatildeo de dois corpos que ateacute entatildeo viviam juntos um dentro do outro em

relaccedilatildeo de dependecircncia e de iacutentimo contato

Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede (2001) os profissionais de sauacutede devem ser

coadjuvantes dessa experiecircncia direcionando toda atenccedilatildeo agraves necessidades da mulher e

oportunizando-lhe o protagonismo e o controle da situaccedilatildeo na hora do nascimento

21

Os profissionais tambeacutem devem repassar para a mulher as opccedilotildees de escolha baseados

nas evidecircncias cientiacuteficas e nos seus direitos tendo a oportunidade de empregar seu

conhecimento a serviccedilo do bem-estar da mulher e do bebecirc sabendo reconhecer os momentos

criacuteticos em que suas intervenccedilotildees satildeo necessaacuterias

Igualmente seus deveres satildeo minimizar a dor acompanhar dar conforto esclarecer

orientar enfim ajudar a parir e a nascer Precisam lembrar que satildeo os primeiros a ter contato

com cada ser que nasce e portanto devem ter consciecircncia dessa responsabilidade (BRASIL

2001)

No Brasil o movimento pela humanizaccedilatildeo do parto eacute impulsionado por experiecircncia

em vaacuterios estados Em 1994 surgiu no Rio de Janeiro a primeira maternidade puacuteblica

autodefinida como ldquohumanizadardquo que recebeu o nome de Leila Diniz (DINIZ 2005) Outro

marco em termos de poliacuteticas puacuteblicas do parto e nascimento foi a criaccedilatildeo do Precircmio Galba

Arauacutejo para Maternidades Humanizadas instituiacutedo pela portaria nordm 2883 de 4 de junho de

1998 (BRASIL 1998)

Os criteacuterios para a concessatildeo deste precircmio satildeo baseados na adesatildeo agraves recomendaccedilotildees

da OMS tais como a presenccedila de acompanhantes no preacute-parto parto e poacutes-parto a assistecircncia

aos partos de baixo risco por enfermeiras obstetras e o controle das taxas de cesaacuterea

(BRASIL 2000b)

Concedido a niacutevel estadual e nacional o precircmio Galba de Arauacutejo tem provocado

mobilizaccedilatildeo nas instituiccedilotildees de Sauacutede que lutam em defesa dos direitos das mulheres e

crianccedilas e tem recebido a participaccedilatildeo de um nuacutemero crescente de serviccedilos a cada ediccedilatildeo

contribuindo para conferir legitimidade ao modelo humanizado (DINIZ 2005)

O Centro de Parto Normal-CPN foi outra iniciativa criada pela portaria nordm 985 de

agosto de 1999 que tem como finalidade o atendimento agrave mulher no periacuteodo graviacutedico-

puerperal tendo como uma das suas atribuiccedilotildees prestar atendimento humanizado e de

qualidade exclusivamente ao parto normal sem distoacutecia assistido por enfermeira obsteacutetrica

desenvolvendo atividades educativas e de humanizaccedilatildeo durante o preacute-natal visando agrave

preparaccedilatildeo das gestantes para o parto no CPN (BRASIL 1999)

A Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar (ANS) do Ministeacuterio da Sauacutede em janeiro

de 2008 atraveacutes da Resoluccedilatildeo Normativa nordm 167 reviu o Rol de Procedimentos e Eventos em

Sauacutede e ampliou as coberturas para as beneficiaacuterias de planos de sauacutede A partir de abril de

2008 deu-se a inclusatildeo na cobertura dos partos feitos por enfermeira obstetras e a presenccedila de

um acompanhante durante toda a estada da mulher no hospital desde o momento do parto ateacute

a sua alta (ANS 2008b)

22

Destaca-se tambeacutem que a partir do ano de 2005 a lei nordm 11108 passou a garantir agraves

parturientes o direito agrave presenccedila de acompanhante de sua preferecircncia durante o trabalho de

parto parto e poacutes-parto Outra iniciativa lanccedilada pela ANS na tentativa de estimular o

aumento de partos normais e modificar os altos iacutendices de cesarianas desnecessaacuterias na rede

privada foi a campanha em favor do parto normal intitulada Parto normal estaacute no meu

plano (ANS 2008a)

Em junho de 2008 foi divulgada a Resoluccedilatildeo RDC 36 da Agecircncia Nacional de

Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA) a qual preconiza que os serviccedilos de atendimento obsteacutetrico e

neonatal devem adotar medidas que incentivem o parto humanizado e a reduccedilatildeo dos iacutendices

de mortalidade materna e neonatal no paiacutes (BRASIL 2008b)

Tambeacutem devido a algumas maternidadeshospitais estarem fazendo uma cobranccedila

indevida para a presenccedila do acompanhante na sala de parto destinada a cobrir os gastos com a

limpeza e higienizaccedilatildeo das roupas ciruacutergicas e o uso de maacutescaras e toucas descartaacuteveis

utilizadas pelo acompanhante da gestante a ANS publicou em 02082011 a Resoluccedilatildeo

Normativa 262 (ANS 2011) Essa normativa define que as despesas a serem cobertas para o

acompanhante durante o preacute-parto parto e poacutes-parto imediato deve incluir taxas de

paramentaccedilatildeo acomodaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo pelo periacuteodo de 48h podendo se estender por ateacute

10 dias quando indicado pelo meacutedico assistente (DOU 2011)

Em junho de 2011 foi instituiacuteda a iniciativa da Rede Cegonha atraveacutes da portaria nordm

1459 de 24 de junho de 2011 no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede com o intuito de

fomentar a implementaccedilatildeo de novo modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher com foco na

atenccedilatildeo ao parto

Esta poliacutetica tendo como princiacutepios o respeito a proteccedilatildeo e a realizaccedilatildeo dos direitos

humanos o respeito agrave diversidade cultural eacutetnica e racial a promoccedilatildeo da equidade com o

enfoque de gecircnero a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos de mulheres

homens jovens e adolescentes a participaccedilatildeo e a mobilizaccedilatildeo com controle social e a

compatibilizaccedilatildeo com as atividades das redes de atenccedilatildeo agrave sauacutede materna e infantil em

desenvolvimento nos Estados (BRASIL 2011)

12 O parto e a cultura no processo da parturiccedilatildeo

Historicamente o parto jaacute foi vivenciado como um evento feminino no qual os

membros do grupo social da parturiente como a matildee familiares vizinhas auxiliavam-na

23

juntamente agrave parteira que tinha seus conhecimentos fundamentados na praacutetica e na

acumulaccedilatildeo de saberes passados tradicionalmente de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo (SANTOS 2002)

No entanto no seacuteculo XVIII na Europa o parto passou por um processo de

transformaccedilatildeo principalmente devido agrave influecircncia biomeacutedica masculina De um evento

feminino domiciliar e fisioloacutegico passa a ser patoloacutegico e institucionalizado dominado por

uma praacutetica intervencionista e hospitalocecircntrica da qual a mulher perdeu seu protagonismo

(SANTOS 2002)

A percepccedilatildeo da dor no parto eacute considerada como um dos motivos que influenciam a

mulher em sua preferecircncia pela cesaacuterea e estaacute profundamente arraigada no imaginaacuterio

popular como um evento associado agrave purgaccedilatildeo feminina Relaciona-se neste sentido agrave

citaccedilatildeo do Livro Biacuteblico de Gecircnesis que se refere agrave Eva como o primeiro ser humano que

pecou e acabou por corromper o resto da humanidade com sua transgressatildeo ouvindo de Deus

ldquoe tu mulher pariraacutes com dor os teus filhosrdquo (TEIXEIRA 2006)

A ideacuteia de que a mulher deve pagar no parto por seus pecados propagada pela

medicina e pela religiatildeo hegemocircnica contrapotildee-se agrave visatildeo do parto como um momento

prazeroso Esse sentido pode ser entendido como uma heresia e uma ameaccedila a um sistema de

crenccedilas que define o parto como um processo doloroso que faz mal agrave sauacutede e agrave sexualidade

feminina e que precisa ser controlado por aparatos meacutedicos (DINIZ 2011)

De acordo com Helman (2009) a dor e seus aspectos voluntaacuterios satildeo influenciados por

fatores sociais culturais e psicoloacutegicos que determinam se a dor privada seraacute traduzida e em

que tipo de comportamento quando for puacuteblica Isso estaacute muito imbricado ao significado

pessoal de que a mulher atribui agrave dor do parto ao contexto de vida em que estaacute inserida agraves

definiccedilotildees culturais da imagem corporal da estrutura e funccedilotildees do seu corpo

Ressalta-se nessa direccedilatildeo que a posiccedilatildeo das mulheres frente ao processo de

medicalizaccedilatildeo natildeo foi propriamente a de viacutetima As mulheres de classe mais alta natildeo mais

aceitavam sentir a dor do parto e natildeo desejavam correr mais riscos aleacutem de o ato de parir com

a assistecircncia de um meacutedico significar maior poder aquisitivo de seus maridos Com isso a

consolidaccedilatildeo do processo de medicalizaccedilatildeo e hospitalizaccedilatildeo do parto acontece em meados do

seacuteculo XX motivada por tais condiccedilotildees (VARGENS PROGIANTI 2004)

No Brasil o processo de institucionalizaccedilatildeo do parto isto eacute a ocorrecircncia dos partos

dentro de instituiccedilotildees hospitalares deu-se ao longo da deacutecada de 40 com o advento da

medicina preventiva cujo objetivo principal era reduzir a mortalidade infantil Somente mais

tarde a partir da deacutecada de 80 passou-se a justificar o processo de medicalizaccedilatildeo do parto

por meio da recorrecircncia das cesarianas para reduzir a mortalidade materna (BRASIL 2001)

24

Os meacutedicos natildeo acostumados ao acompanhamento de fenocircmenos fisioloacutegicos foram

instruiacutedos a intervir resolver casos complicados e ditar ordens O parto passou entatildeo a ser

visto como um ato ciruacutergico e a mulher parturiente sendo tratada como enferma foi

impedida de seguir seus instintos e de adotar a posiccedilatildeo mais cocircmoda e fisioloacutegica (BRASIL

2001)

Privada do direito baacutesico de escolha e autonomia no nascimento do proacuteprio filho deu-

se iniacutecio agrave era do parto medicalizado no qual a matildee deixa de ser a protagonista do processo

cedendo seu lugar agrave equipe meacutedica que passa a ser o centro da cena Diversas repercussotildees

advecircm desta mudanccedila As posiccedilotildees verticalizadas que ao longo dos milecircnios foram as mais

usadas pelas mulheres em todas as raccedilas e culturas passaram a ser negadas agraves parturientes

pelos meacutedicos (MACHADO 1995)

A posiccedilatildeo assumida pela parturiente e a sua livre movimentaccedilatildeo passaram a ser

praticamente negligenciadas por profissionais alinhados agrave praacutetica ocidental moderna na qual

a mulher em trabalho de parto manteacutem-se deitada horizontalmente ou em uma posiccedilatildeo semi

inclinada para conveniecircncia da equipe obsteacutetrica na aplicaccedilatildeo dos soros monitores e

anesteacutesicos Evidecircncias de estudos etnograacuteficos realizados atualmente mostram que as

mulheres que natildeo satildeo expostas a essas rotinas assumem posiccedilotildees verticais no trabalho de

parto e no parto (BALASKAS 2008)

Balaskas (2008) reforccedila ainda que um parto ativo eacute uma atitude mental de crenccedila na

natureza do processo do parto e o modo como a mulher segue a loacutegica de seus instintos e da

sua fisiologia eacute uma forma de manifestar que estaacute no controle do seu corpo durante o trabalho

de parto e nascimento e que natildeo eacute um mero objeto de intervenccedilatildeo da equipe obsteacutetrica Os

significados culturais dados aos fenocircmenos fisioloacutegicos psicoloacutegicos e sociais de uma

sociedade refletem o comportamento das pessoas e ateacute a forma de desenvolvimento poliacutetico

econocircmico de dada sociedade (HELMAN 2009)

13 Referencial teoacuterico de Emily Martin sobre o parto e cultura

Segundo a antropoacuteloga Emily Martin (2006) a metaacutefora do uacutetero como maacutequina teve

iniacutecio no decorrer dos seacuteculos XVII e XVIII nos hospitais franceses Esta metaacutefora compara

o uacutetero a uma bomba mecacircnica capaz de expelir o feto Importante assinalar que nesta eacutepoca

que o foacuterceps era instrumento utilizado por accedilougueiros barbeiros falidos cujo status social

25

era equivalente ao de um mecacircnico De acordo com Vieira (2002) as regulamentaccedilotildees para

partejar exigiam que esses homens fossem chamados pelas parteiras para manipular os

instrumentos

A partir do seacuteculo XIX a ideologia de produccedilatildeo das faacutebricas torna-se tatildeo abrangente

que ldquochegardquo aos corpos das mulheres os quais passam a ser vistos nos textos de obstetriacutecia

como faacutebricas para a produccedilatildeo de bebecircs Martin (2006) propotildee utilizar esta metaacutefora de

produccedilatildeo fabril para entender o processo de trabalho em que meacutedico e a mulher estatildeo

envolvidos

Nesta metaacutefora segundo a autora acrescenta-se a figura do meacutedico no papel de

supervisor ou ateacute dono da faacutebrica e a mulher no papel de trabalhadora cuja maacutequina (uacutetero)

produz o produto (bebecirc) O olhar a partir de metaacuteforas de acordo com a pesquisadora

permite comparar as mesmas formas de controle e poder que ocorrem no acircmbito da produccedilatildeo

industrial ou seja de controlar os movimentos dos trabalhadores conforme a produccedilatildeo da

progressatildeo em periacuteodos especiacuteficos de tempo da maacutequina (uacutetero) para avaliar e controlar se

as contraccedilotildees uterinas satildeo eficientes ou ineficientes (MARTIN 2006)

A autora supracitada questiona o papel de passividade da mulher em relaccedilatildeo agraves

contraccedilotildees uterinas que consideradas pela ciecircncia meacutedica involuntaacuterias e inclusive

responsaacuteveis totais pela realizaccedilatildeo do parto Rezende e Montenegro (2003) comenta que no

periacuteodo expulsivo as contraccedilotildees satildeo realizadas com a glote fechada e com esforccedilos

respiratoacuterios verdadeiros chamados ldquopuxosrdquo Em nenhum momento foi mencionado que eacute a

parturiente que faz esse esforccedilo Outro exemplo de exclusatildeo do papel mulher em seu processo

de parto eacute o foco no feto conforme a citaccedilatildeo de Rezende e Montenegro (2003 p177) ldquono seu

transcurso atraveacutes do canal parturitivo impulsionado pela contratilidade uterina o feto eacute

compelido a executar certo nuacutemero de movimentos que se denominam mecanismo do partordquo

Assim sendo a metaacutefora utilizada por Martin (2006) desvela uma perspectiva que apresenta

as mulheres gestantes como ldquomateacuteria-primardquo para a produccedilatildeo de um ldquoprodutordquo

Nessa direccedilatildeo torna-se imprescindiacutevel para a produccedilatildeo de bebecircs perfeitos a

intervenccedilatildeo da cesaacuterea exigindo um miacutenimo de trabalho do uacutetero e da mulher atribuindo a

esse procedimento a imagem de ldquouacutenica graccedila salvadorardquo do bebecirc Este posicionamento

segundo a autora ignora o que talvez seja extremamente significante para a mulher e para seu

bebecirc ter a oportunidade de vivenciar o nascimento do seu filho (a) atraveacutes do seu proacuteprio

esforccedilo experimentando o protagonismo no seu parto e no nascimento da crianccedila

O mecanismo do parto conforme Rezende eacute o estudo da mecacircnica do parto o que

vem ao encontro da metaacutefora do uacutetero como maacutequina

26

A cultura meacutedica segundo Martin (2006) seria um sistema cultural cujas ideais

sobressaem-se agrave cultura popular

A autora faz ainda referecircncia a textos em obstetriacutecia da Universidade Johns Hopkins

nos EUA que comprovam que causas externas podem interferir nas atividades uterinas e que

tais alteraccedilotildees emocionais da mulher quase natildeo satildeo levadas em consideraccedilatildeo na obstetriacutecia

tendo como consequecircncia o aval para intervenccedilotildees como amniotomias uso de ocitocina para

acelerar o trabalho de parto ou a utilizaccedilatildeo da cesariana considerando desnecessaacuterias as

contraccedilotildees (MARTIN 2006)

A participaccedilatildeo do meacutedico como promotor de uma cultura intervencionista foi

destacada em um estudo nacional realizado pela socioacuteloga americana Hopkins (2000) com

pueacuterperas de cliacutenicas privadas e puacuteblicas Segundo o estudo das mulheres que fizeram

cesariana trecircs em quatro das primiacuteparas do setor privado e oito em dez do setor puacuteblico

gostariam de ter tido partos vaginais Observou-se que o meacutedico obstetra promove os medos

nas gestantes em relaccedilatildeo ao parto e superestima a seguranccedila da cesariana em funccedilatildeo dos seus

interesses

Para Martin (2006) a alienaccedilatildeo e a condiccedilatildeo fragmentada constadas na linguagem e

de algumas mulheres satildeo descritas como uma autopercepccedilatildeo passiva sendo contrastadas com

discursos de mulheres que questionam se opotildeem rejeitam e reformulam suas formas de viver

e as maneiras como a sociedade poderia funcionar apresentando uma autopercepccedilatildeo que tenta

resistir agrave passividade

As mulheres que optam pelo parto domiciliar saem dessa passividade buscam outras

formas de serem ativas no seu parto e reivindicam seu espaccedilo no ato de parir questionando o

paradigma atual de assistecircncia ao parto preconizado nas instituiccedilotildees hospitalares (KRUNO

BONILHA 2004)

No estudo etnograacutefico realizado por Martin (2006) em Baltimore (EUA) encontra-se

a narrativa de uma mulher que resiste a essa maneira de fragmentaccedilatildeo exprimindo a sua

frustraccedilatildeo em relaccedilatildeo ao parto cesariano imposto pela conduta meacutedica A narradora conta

com raiva a sua experiecircncia com a cesariana por ter perdido a cena do nascimento devido agrave

limitaccedilatildeo e ao jejum impostos pela anestesia natildeo podendo realizar os primeiros cuidados do

seu bebecirc aleacutem da proibiccedilatildeo de se alimentar por horas e limitando-se a nutrientes para a

recuperaccedilatildeo mais eficaz da cirurgia

A necessidade de compreensatildeo do parto enquanto parte integrante da vida sexual

emocional e cultural da mulher eacute proposta por Odent (2000) como o entendimento das bases

fisioloacutegicas e a integraccedilatildeo entre diferentes momentos da vida Sua hipoacutetese eacute a de que o

27

cuidado com o modo como nascemos e com a vinculaccedilatildeo amorosa matildee-bebecirc pode propiciar a

construccedilatildeo de uma sociedade mais amorosa menos destrutiva e de mais respeito pelos seres

humanos e pela natureza Esse paradigma holiacutestico tambeacutem referendado por Floyd (2004)

que destaca como elemento fundamental no processo do parto o contato das mulheres consigo

mesmas como um estado especial de consciecircncia similar agraves relaccedilotildees entre os estados

orgaacutesticos agrave oraccedilatildeo e agraves emoccedilotildees miacutesticas Nesse momento as funccedilotildees intelectuais

neocorticais devem estar colocadas em segundo plano proporcionando a expressatildeo de

funccedilotildees cerebrais mais instintivas caracteriacutesticas do parto e do aleitamento

Segundo Martin (2006) os esforccedilos para oferecer este novo paradigma que devolve agrave

mulher o controle do seu corpo no parto satildeo extraordinaacuterios O que natildeo deve permanecer

ainda que subliminarmente eacute a ideologia dominante de nossa sociedade na qual as mulheres

ao darem a luz de maneira mais aproximada do parto natural satildeo consideradas desprovidas de

cultura e consequentemente inferiores por aproximarem-se da natureza ldquoprimitivardquo como se

andassem para traacutes no tempo e na evoluccedilatildeo

Historicamente esta divisatildeo da cultura e da natureza fomentada pelos escritores do

seacuteculo XIX surgiu a partir do desenvolvimento das sociedades ocidentais e da

industrializaccedilatildeo sendo organizada em torno de dois mundos a esfera privada dentro de casa

que eacute evidenciada pertencente agrave mulher onde ocorrem funccedilotildees ditas ldquonaturaisrdquo e a esfera

puacuteblica fora de casa na qual os homens estatildeo em maior evidecircncia e onde se produz ldquoculturardquo

a qual eacute considerada atividade superior evidenciada aos homens e vista como dominante

(MARTIN 2006)

Essa forma de pensar relega a mulher ao domiacutenio do natural do inferior e da

domesticidade considera-a mais simples animalesca e livre de autocensuras Compreende

que haacute uma iniquumlidade entre natureza e cultura e que ao ldquosubmeterrdquo a mulher a fenocircmenos

totalmente naturais como o parto normal estamos reafirmando a concepccedilatildeo da mulher como

um ser mais primitivo que pertence somente agrave natureza (MARTIN 2006)

Reflete-se por outro lado de acordo com Gama (2009) que o modelo de organizaccedilatildeo

dos serviccedilos puacuteblicos e privados apresenta variaccedilotildees que produzem diferentes tipos de

assistecircncia e de relaccedilatildeo entre os profissionais de sauacutede e as usuaacuterias dando forma agraves

experiecircncias distintas entre as mulheres pesquisadas

Ao empreender uma criacutetica assentada nas relaccedilotildees de gecircnero Gama (2009) verificou

que o modelo de assistecircncia ao parto permanece submetendo quem deve ser sujeito e reproduz

o projeto da medicalizaccedilatildeo Isso reduz o campo da assistecircncia e inviabiliza um lugar de poder

diferenciado das usuaacuterias sendo a cesariana utilizada como um procedimento de alta

28

rentabilidade para a medicina obsteacutetrica privada conforme a citaccedilatildeo da antropoacuteloga Emily

Martin

Se a cesariana torna-se uma fonte de honoraacuterios mais altos para os meacutedicos e contas

hospitalares mais altas que o parto vaginal eacute de se esperar que encontremos mais

cesarianas sendo realizadas em mulheres no alto da escala de classe e raccedila

(MARTIN 2006 p 235)

Tal constataccedilatildeo justifica a demanda dos altos iacutendices de cesaacuterea no Brasil com a forma

como se organizou a assistecircncia obsteacutetrica e a formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que

reproduzem no cotidiano esse sentido tecnoloacutegico do parto e do nascimento

Com a invasatildeo da tecnologia a mulher perdeu sua autonomia como protagonista uma

vez que no modelo intervencionista da atual assistecircncia obsteacutetrica ela tornou-se objeto da

accedilatildeo e vem perdendo o controle e a decisatildeo sobre o proacuteprio processo de parto e de

nascimento Essa realidade pode afetar profundamente as mulheres os bebecircs as famiacutelias e

produzir efeitos importantes e persistentes sobre a sociedade (DINIZ 2001)

Ratifica-se nas palavras de Dias (2008) que a perda do protagonismo da mulher no

cenaacuterio do parto reflete-se nos altos iacutendices de cesaacutereas nas uacuteltimas deacutecadas no Brasil Por

outro lado a mudanccedila no modelo de assistecircncia ao parto pode ser uma estrateacutegia promissora

para a reversatildeo desse quadro jaacute que os fatores associados agrave decisatildeo da cesariana independem

do desejo da mulher

A mudanccedila para outro modo de parir mais conectado com todas as forccedilas da vida e da

cultura das mulheres pode possibilitar a construccedilatildeo de um modelo humaniacutestico com vistas ao

holiacutestico e agrave expressatildeo de um tempo de uma cultura de um avanccedilo das praacuteticas obsteacutetricas

do parto com a convivecircncia de muacuteltiplos paradigmas da assistecircncia

29

2 CAMINHO METODOacuteLOGICO

21 Fundamentos metodoloacutegicos

A presente investigaccedilatildeo constitui-se como uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva

A pesquisa qualitativa abarca o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores

e atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees (MINAYO 2004) A

metodologia qualitativa pode possibilitar aleacutem de uma interpretaccedilatildeo com lentes ampliadas do

objeto de estudo uma inserccedilatildeo na cultura do ldquooutrordquo (GEERTZ 1989)

Para Leopardi (2001) e Minayo (2008) o estudo qualitativo compreende a descriccedilatildeo e

a anaacutelise da realidade de diferentes maneiras para representar as experiecircncias do fenocircmeno

vivenciadas pelos indiviacuteduos Haacute uma implicaccedilatildeo entre o conhecimento sobre o mundo e os

sujeitos que o constroem numa relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto Logo a

interpretaccedilatildeo do fenocircmeno atribuindo-lhe significados faz parte do processo de

conhecimento tanto do sujeito pesquisador quanto dos atores pesquisados Eacute comumente

utilizada por pesquisadores sociais preocupados com a atuaccedilatildeo praacutetica (GIL 2007)

A pesquisa descritiva trabalha sobre dados ou fatos colhidos da proacutepria realidade do

indiviacuteduo ou de grupos e comunidades mais complexas Busca conhecer as diversas situaccedilotildees

e relaccedilotildees que ocorrem na vida social poliacutetica econocircmica e cultural principalmente nas

ciecircncias humanas e sociais objetivando abordar dados e problemas relevantes cujo registro

natildeo consta de documentos (CERVO BERVIAN DA SILVA 2007)

22 Os cenaacuterios do estudo

Esta pesquisa foi prevista inicialmente para ser somente desenvolvida na Unidade

Sanitaacuteria Kennedy (USK) no municiacutepio de Santa Maria - RS pelo fato de ser campo de aulas

praacuteticas e de estaacutegio supervisionado para os alunos do Curso de Enfermagem da Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM) onde satildeo realizadas accedilotildees de promoccedilatildeo agrave sauacutedecidadania de

crianccedilas adolescentes mulheres e adultos A aacuterea de abrangecircncia da USK inclui dezoito vilas

30

compreendendo uma populaccedilatildeo de aproximadamente trinta mil habitantes Em relaccedilatildeo agrave

escolaridade os natildeo alfabetizados e os indiviacuteduos que possuem o primeiro grau incompleto

perfazem 83 da populaccedilatildeo A renda per capita de 58 das pessoas e ateacute um salaacuterio miacutenimo

e 27 recebem um a dois salaacuterios miacutenimos Esta regiatildeo ainda hoje caracteriza-se por um alto

iacutendice de desemprego criminalidade desnutriccedilatildeo doenccedilas infecto-contagiosas aleacutem da

precariedade de saneamento baacutesico e de habitaccedilatildeo (MONDARDO et al 1993)

Poreacutem devido a dificuldades de infra-estrutura na referida unidade foi solicitada

transferecircncia de campo da pesquisa para o Hospital Universitaacuterio de Santa Maria (HUSM)

atraveacutes de ementa ao Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM) (Anexo B) estipulando como os locais de coleta os serviccedilos de ginecologia e

obstetriacutecia do hospital

As dificuldades encontradas foram inerentes ao objeto da pesquisa aleacutem de problemas

teacutecnico-administrativos na USK Os problemas de natureza e objeto concernem aos criteacuterios

de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos dada a ausecircncia de mulheres encaixadas em tais criteacuterios

no grupo de planejamento familiar na USK

Os problemas teacutecnico-administrativos foram relativos agrave infra-estrutura da USK que

estava funcionando em um local menor durante os procedimentos de reforma no preacutedio da

instituiccedilatildeo

Outras estrateacutegias foram realizadas na busca por sujeitos como a visita nos dias e

horaacuterios da consulta puericultura visando encontrar mulheres dentro dos criteacuterios que

viessem acompanhando os seus filhos na consulta contudo a tentativa natildeo obteve sucesso

pois era o grande nuacutemero de mulheres dentro dos criteacuterios de exclusatildeo neste caso pueacuterperas

O HUSM entatildeo foi o outro cenaacuterio escolhido para a coleta de dados que justificou-se

pela diversidade de serviccedilos de atendimento oferecidos a mulheres e de profissionais do sexo

feminino que laacute trabalham principalmente da enfermagem o que foi bastante significativa

para o estudo Solicitou-se entatildeo a autorizaccedilatildeo ao Departamento de Ensino e Pesquisa

(DEPE) do HUSM para realizaccedilatildeo da pesquisa neste serviccedilo e autorizada pelo CEP da UFSM

atraveacutes de emenda (Anexo B) para a ampliaccedilatildeo do cenaacuterio e do periacuteodo de coleta de dados

O HUSM eacute um hospital-ensino fundado no ano de 1970 que serve como base de

atendimento primaacuterio dos bairros que o cercam para o atendimento secundaacuterio agrave populaccedilatildeo

de Santa Maria e para o atendimento terciaacuterio da regiatildeo centro e fronteira gauacutecha O hospital

constitui-se como centro de ensino pesquisa e extensatildeo no acircmbito das Ciecircncias da Sauacutede

aleacutem de centro de programaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de accedilotildees voltadas agrave sauacutede das comunidades

local e regional Tambeacutem presta serviccedilos assistenciais em todas as especialidades meacutedicas

31

bem como serve de treinamento para alunos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Medicina

Residecircncia Meacutedica e de graduaccedilatildeo em Enfermagem Farmaacutecia Fonoaudiologia e

Fisioterapia

Satildeo serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia do HUSM

a unidade de Internaccedilatildeo do Centro Obsteacutetrico situada no sub- solo do HUSM

provida de seis leitos de internaccedilatildeo para mulheres em trabalho de parto ou no poacutes-parto

quatro leitos de internaccedilatildeo poacutes-cesaacuterea trecircs leitos de observaccedilatildeo para o atendimento de

intercorrecircncias ginecoloacutegicas e agrave mulher viacutetima de violecircncia

a unidade de internaccedilatildeo Toco-ginecoloacutegica situada no 2ordm andar do HUSM

onde se atendem pueacuterperas gestantes de alto-risco e mulheres em tratamento ginecoloacutegico

Possui trinta e sete leitos dos quais onze satildeo destinados agrave cliacutenica ginecoloacutegica e vinte e seis agrave

obstetriacutecia

o ambulatoacuterio da ala II que eacute localizado no teacuterreo e atende consultas de preacute-

natal puerpeacuterio e ginecologia

Destaca-se que nas unidades referidas circula um grande nuacutemero de familiares do

sexo feminino que acompanham as gestantes pueacuterperas e as mulheres internadas para

tratamento ginecoloacutegico

23 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos

Os criteacuterios de inclusatildeo foram mulheres que jaacute tiveram filhos por via vaginal ou

cesariana que natildeo estavam gestando nem eram puerpeacuteras e cujos partos ocorreram a partir do

ano de 2004 tendo como marco referencial o Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e

Nascimento do Ministeacuterio da Sauacutede Este programa foi criado em 2000 pelo Ministeacuterio da

Sauacutede mas implantado em todos os municiacutepios do Rio Grande do Sul somente em 2004

Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo mulheres nuliacuteparas mulheres

gestantes e pueacuterperas uma vez que o processo de parturiccedilatildeo ocorrendo em periacuteodo proacuteximo

ou concomitante agrave entrevista poderia influenciar nas respostas devido mais a aspectos

fisioloacutegicos e emocionais relacionados agrave dor do parto do que por aspectos culturais

32

24 Caracterizaccedilatildeo das participantes

Este estudo foi realizado com oito mulheres em idade feacutertil com histoacuteria pregressa de

parto vaginal ou cesariano quatro mulheres foram captadas na USK e quatro no HUSM

Foram convidadas para entrevistas mulheres que buscavam o atendimento no programa de

planejamento familiar da USK mulheres que buscavam o atendimento no HUSM nos

serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia e mulheres que estavam no momento da entrevista nos

serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia do HUSM

Para finalizaccedilatildeo da coleta foi utilizado o criteacuterio de saturaccedilatildeo de dados por

reincidecircncia ou seja quando da repeticcedilatildeo dos dados a coleta foi entendida como satisfatoacuteria

e entatildeo suspensa (VIacuteCTORA KNAUTH HASSEN 2000)

As participantes do estudo foram identificadas pela letra M de mulher e um nuacutemero

escolhido por ordem de entrevista (M1-M8) sendo caracterizadas no que se refere aos

aspectos soacutecio-culturais de idade estado civil escolaridade regiatildeo de moradia nuacutemero de

filhos ocupaccedilatildeo e tipo de parto vivenciado conforme descrito abaixo

Mulher 1 - 34 anos 2ordf grau completo casada teacutecnica de enfermagem Com quatro

filhos nascidos de partos normais

Mulher 2 - 24 anos 1ordm grau completo diarista casada Com uma filha tem uma

cesaacuterea

Mulher 3 - 28 anos 2ordf grau completo teacutecnica de enfermagem solteira uniatildeo estaacutevel

Com um filho nascido de parto normal

Mulher 4 - 22 anos 2ordf grau incompleto solteira operadora de caixa de supermercado

Com um filho fez uma cesaacuterea

Mulher 5 - 32 anos 1ordm grau completo do lar casada Com um filho nascido de parto

normal e o outro fez uma cesaacuterea

Mulher 6 - 35 anos 3ordm grau completo enfermeira casada Com dois filhos fez duas

cesaacutereas

Mulher 7- 28 anos 1ordm grau completo empregada domeacutestica uniatildeo estaacutevel Tem quatro

filhos nascidos de partos normal

Mulher 8 - 27 anos 2ordf grau imcompleto dona de casa divorciada Com quatro filhos

fez quatro cesaacutereas

Todas estavam na faixa etaacuteria entre 22 e 35 anos Quanto ao estado civil seis satildeo

casadas uma divorciada e uma solteira poreacutem com uniatildeo estaacutevel no momento da entrevista

33

O niacutevel de escolaridade apresentou trecircs mulheres com ensino meacutedio completo uma

com incompleto trecircs com ensino fundamental completo e uma com curso superior

Todas as participantes satildeo moradoras da zona urbana do municiacutepio

Quanto ao nuacutemero de filhos o grupo em estudo tem uma meacutedia de 2 filhos sendo que

a menor e a maior prole foi de 1 e de 4 filhos respectivamente

Quanto agrave ocupaccedilatildeo das entrevistadas duas satildeo donas de casa duas teacutecnicas de

enfermagem uma enfermeira duas empregadas domeacutesticas e uma operadora de caixa de

supermercado

O tipo de parto de maior incidecircncia vivenciado pelas mulheres foi o parto normal

num total de dez e o total de cesaacutereas foram nove

25 Inserccedilatildeo em campo

Inicialmente na USK foram contatadas mulheres que participavam dos grupos de

planejamento familiar e que compareciam nos dias preacute-estabelecidos para a dispensa dos

meacutetodos anticoncepcionais No HUSM a busca de sujeitos estendeu-se agraves diferentes unidades

de atendimento gineco-obsteacutetrico mulheres acompanhantes e mulheres que trabalham nestas

unidades e que atendiam aos criteacuterios de inclusatildeo

Tanto na USK quanto no HUSM as mulheres foram selecionadas por meio de contato

direto com a pesquisadora na sala de espera das referidas unidades ou quando estavam

acompanhando a sua familiar durante a internaccedilatildeo no HUSM

Como havia entre as participantes funcionaacuterias do serviccedilo que atendiam aos criteacuterios

de inclusatildeo dos sujeitos estas profissionais foram convidadas e as entrevistas realizadas

durante o intervalo do horaacuterio de trabalho Algumas entrevistas foram realizadas no domiciacutelio

das participantes e outras na proacutepria unidade de sauacutede e unidades do HUSM em uma sala

reservada

26 Coleta de dados

Para a obtenccedilatildeo da coleta de dados utilizou-se como instrumento uma entrevista semi-

estruturada contendo questotildees fechadas para a caracterizaccedilatildeo do grupo em estudo e questotildees

abertas que possibilitaram o aprofundamento dos dados e a obtenccedilatildeo de respostas

34

relacionadas agrave vivecircncia das pessoas A coleta de dados foi entre janeiro e marccedilo de 2011 A

entrevista foi gravada em MP3 e posteriormente transcrita na iacutentegra pela pesquisadora de

forma literal A entrevista aberta eacute aquela em que o informante aborda livremente o tema

proposto com pergunta previamente formulada e que possibilita descrever sua vivecircncia de

forma retrospectiva sem repressatildeo de seu pensamento Propicia coletar material

extremamente rico para anaacutelise e contribui para o trabalho de pesquisa em andamento

(MINAYO 2000) Como estrateacutegia de compreensatildeo da realidade sua principal funccedilatildeo eacute

retratar as experiecircncias vivenciadas bem como as definiccedilotildees fornecidas por pessoas grupos

ou organizaccedilotildees (MINAYO 2000)

As entrevistas foram previamente agendadas por meio de contato pessoal sendo

marcados data local e horaacuterio que melhor conviessem agraves entrevistadas evitando interrupccedilotildees

constrangimentos de modo a lhes permitir sentir-se agrave vontade

27 Anaacutelise dos dados

Em posse dos dados coletados estes foram objeto da investigaccedilatildeo de acordo com a

anaacutelise temaacutetica de Minayo (2008) Tal anaacutelise consiste em descobrir os nuacutecleos de sentidos

que constituem uma comunicaccedilatildeo em que sua frequecircncia ou presenccedila revela algum

significado para o objeto analiacutetico Por conseguinte para analisar significados de um

determinado depoimento o surgimento de determinados temas denota estruturas de

relevacircncia valores de referecircncia e modelos de comportamento que podem estar ocultos no

discurso (MINAYO 2008)

Considera-se que a compreensatildeo e a interpretaccedilatildeo das entrevistas nas pesquisas

qualitativas natildeo se realizam em um soacute momento pois acontecem no decorrer da proacutepria coleta

e anaacutelise dos dados quando o pesquisador interage com os sujeitos do estudo na transcriccedilatildeo

das entrevistas e particularmente nas leituras e na organizaccedilatildeo das informaccedilotildees Poreacutem para

uma melhor sistematizaccedilatildeo e compreensatildeo deve-se seguir um percurso ordenado para que se

possa igualmente apreender o conjunto dos significados contidos nos depoimentos dos

entrevistados

Minayo (2008) descreve seguindo Bardin (1977) que essa ordenaccedilatildeo da anaacutelise

temaacutetica segue a sequecircncia de trecircs etapas quais sejam preacute-anaacutelise a exploraccedilatildeo do material e

o tratamento dos resultados obtidos e interpretaccedilatildeo

35

Neste estudo a etapa de preacute-anaacutelise compreendeu a interpretaccedilatildeo do material que se

deu a partir dos questionamentos do investigador Essa etapa consistiu em trecircs tempos o

primeiro chamado de leitura flutuante entendido como a leitura exaustiva das informaccedilotildees do

material de campo periacuteodo de impregnaccedilatildeo do conteuacutedo pelo investigador Jaacute o segundo

tempo foi a Constituiccedilatildeo do ldquoCorpusrdquo no qual se buscou verificar se o material coletado

abrangia regras de eficaacutecia qualitativa tais como exaustividade representatividade

homogeneidade e pertinecircncia Em relaccedilatildeo ao terceiro tempo este perpassou a Formulaccedilatildeo e a

Reformulaccedilatildeo de Hipoacuteteses e Objetivos que baseou-se no retorno a etapa exploratoacuteria de

revisatildeo das hipoacuteteses com intuito de corrigir erros de interpretaccedilatildeo e de ampliar o leque de

indagaccedilotildees para identificar o que surge de relevante para posterior construccedilatildeo de temas ou

categorias de anaacutelise

A segunda etapa da anaacutelise temaacutetica consistiu na Exploraccedilatildeo do Material que se

delineou basicamente nas categorias especiacuteficas que abrangeram elementos ou aspectos de

caracteriacutesticas comuns ou que se relacionavam entre si

A terceira etapa constituiu o Tratamento dos Resultados Obtidos e a Interpretaccedilatildeo

Nesse momento realizaram-se inferecircncias sendo realizada a articulaccedilatildeo entre as informaccedilotildees

aqui construiacutedas e os referenciais teoacutericos de estudos jaacute publicados respondendo agrave questatildeo da

pesquisa com base em seus objetivos

28 Questotildees eacuteticas

Para a realizaccedilatildeo de todas as atividades da pesquisa atentou-se para os criteacuterios eacuteticos

e os princiacutepios bioeacuteticos da voluntariedade da autonomia da beneficecircncia da natildeo-

maleficecircncia e da justiccedila que fundamentam a Resoluccedilatildeo nordm 19696 do Conselho Nacional de

Sauacutede o qual prescreve a eacutetica na pesquisa com seres humanos (BRASIL 1996)

O projeto foi registrado no Gabinete de Projetos do Centro de Ciecircncias da Sauacutede

sendo solicitada autorizaccedilatildeo para o desenvolvimento da pesquisa ao Secretaacuterio Municipal de

Sauacutede e a Direccedilatildeo de Ensino e Pesquisa do HUSM (DEPE) Em um segundo momento foi

encaminhado para a anaacutelise do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa com Seres Humanos da UFSM

(CEP) com a devida documentaccedilatildeo solicitada assinada pelo responsaacutevel legal da instituiccedilatildeo e

pela pesquisadora Apoacutes a aprovaccedilatildeo do CEP foi realizada a etapa de campo da pesquisa

36

Os sujeitos foram informados dos detalhes da pesquisa objetivos e produccedilatildeo de dados

Para tanto antes da realizaccedilatildeo da entrevista foi lido com os sujeitos o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apecircndice B) que concordando com este

optaram por assinaacute-lo O TCLE foi redigido em duas vias uma para a participante e outra

para a pesquisadora Da mesma forma foi redigido o Termo de Confidencialidade o qual

descreve o compromisso das pesquisadoras em relaccedilatildeo agraves informaccedilotildees que soacute poderatildeo ser

divulgadas de forma anocircnima e mantidas em Compact Disc (CD) por um periacuteodo de 5

(cinco) anos sob a sua inteira responsabilidade Apoacutes este periacuteodo ficou acordado que os

dados gravados seratildeo destruiacutedos Destaca-se que o compromisso em relaccedilatildeo agrave preservaccedilatildeo do

sigilo da identidade dos sujeitos durante todas as etapas da pesquisa mesmo com a

divulgaccedilatildeo dos seus resultados sob qualquer forma foi observado sendo utilizado o sistema

de identificaccedilatildeo alfanumeacuterico

Foram ressaltadas a liberdade da participaccedilatildeo espontacircnea e o direito de desistecircncia por

parte das participantes a qualquer momento da pesquisa a fim de se evitar riscos agrave dimensatildeo

fiacutesica moral intelectual social cultural ou espiritual em qualquer fase da pesquisa com a

garantia dos princiacutepios de beneficecircncia e natildeo-maleficecircncia No entanto foi exposto que o

momento da entrevista poderia trazer algumas lembranccedilas questionamentos eou conflitos agrave

dimensatildeo emocional pelo fato de que o sujeito iria refletir sobre o seu cotidiano e suas

vivecircncias Caso isto acontecesse poderia ser indicada uma consulta se assim a participante

desejasse com profissional qualificado do serviccedilo da aacuterea de sauacutede mental do Hospital

Universitaacuterio de Santa Maria previamente contatado

37

3 ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS DADOS

O parto institucionalizado vem sendo apresentado agraves mulheres como um periacuteodo

essencialmente meacutedico que traz consigo as referecircncias de um periacuteodo patoloacutegico e

medicalizado Em consequumlecircncia disso a abordagem sob a perspectiva bioloacutegica pode reduzi-

lo e suprimir a revelaccedilatildeo dos diferentes acircngulos e facetas do universo cultural e social da

parturiente Em virtude disso este estudo fundamentou-se em conceitos socioculturais e natildeo

apenas nos meacutedico-cientiacuteficos Salienta-se que natildeo se pretende abolir os conceitos

biomeacutedicos mas antes entendecirc-los como apenas uma dentre as vaacuterias formas de abordagem

do nascimento

Monticelli (1996) aborda essa questatildeo ao confirmar que a enfermagem quando age

contextualizada dentro desta perspectiva propicia o compartilhamento de saberes e praacuteticas

evitando posturas etnocecircntricas simplistas ou puramente biologicistas sobre o processo da

parturiccedilatildeo

Na sequecircncia deste capiacutetulo seratildeo abordados seis temas surgidos em decorrecircncia da

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados que surgiram das falas das mulheres entrevistadas percepccedilatildeo

das mulheres sobre o nascimento percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado a percepccedilatildeo

das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto conhecendo como se daacute a construccedilatildeo cultural

do processo parturitivo das mulheres resistecircncia das mulheres ao modelo biomeacutedico do parto

percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea

A partir desses temas estabelecer-se-aacute um diaacutelogo com o referencial teoacuterico buscando

alcanccedilar nesse movimento a compreensatildeo de como a cultura influecircncia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher

A Percepccedilatildeo das mulheres sobre o nascimento

Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo das mulheres sobre o nascimento foram relatadas tanto

experiecircncias positivas quanto negativas

A abordagem positiva relatada pelas entrevistadas retrata a responsabilidade por uma

nova vida e a emoccedilatildeo do nascimento conforme as falas das entrevistadas

Tem a parte fiacutesica e espiritual Eu vejo como uma forma de oportunidade da gente crescer e

dar esta oportunidade para este ser que estaacute vindo resgatar as coisas que a gente precisa e que ele

precisa tambeacutem (M1)

38

Eacute uma daacutediva que Deus deu para gente inexplicaacutevel assim apesar de tudo o que a gente

passa ateacute o nascimento da crianccedila Eacute maravilhoso (M2)

Eu acho que eacute uma vida nova que vem para gente compromisso de ter que guiar aquela

pessoa que taacute nascendo com amor com aquele sentimento de cuidar de matildee de ser responsaacutevel por

aquele ser pelas atitudes dele pelo crescimento dele (M3)

O que eu imaginava na hora era ganhar ver o rostinho deles a parte mais emocionante eacute ver

a hora que eles nascem (M8)

As falas das mulheres apontam para positividades da percepccedilatildeo do parto relacionada agrave

emoccedilatildeo da primeira vez de ver o bebecirc e ao contato fiacutesico nesse momento bem como ao

sentimento de responsabilidade pelo filho Essa abordagem transmite um senso de unidade

sobre a pessoa e sua experiecircncia fiacutesica com enfoque nos aspectos emocionais e espirituais do

nascimento Segundo Martin (2006 p 248) ldquoo parto positivo concentra-se na integraccedilatildeo

funcional de todas as partes da mulher - suas memoacuterias passadas esperanccedilas futuras sua

mente e seu corpordquo

Martin (2006) apresenta as metaacuteforas da danccedila e da jornada para descrever esta

integridade colocam a mulher em um papel claramente ativo A danccedila ao significar que

quando corpo e mente encontram-se alinhados danccedilam em sincronia e unidade e entregam-se

agrave nova vida que vem chegando A metaacutefora do parto como uma jornada torna-se uma

oportunidade para o crescimento psicoloacutegico da mulher que se inicia no primeiro trimestre e

culmina no trabalho de parto quando ela relaciona-se iacutentima e singularmente consigo mesma

tendo ao final uma experiecircncia de aprendizado totalmente sua

Foi destacada pelas entrevistadas a mudanccedila do status social e o compromisso com

este novo ser na sua vida denotando o compromisso e a responsabilidade de ser matildee A

mulher que daacute agrave luz com vivecircncias positivas apresenta atitudes que vatildeo dignificaacute-la e que

fortalecem o seu ldquoeu interiorrdquo (BALASKAS 2008)

Este momento faz parte de um ritual de transiccedilatildeo social presente em todas as

sociedades do status social de esposa para o de matildee com intuito de unir os aspectos

fisioloacutegicos aos aspectos sociais da vida de uma pessoa Dessa maneira existem muitas

crenccedilas e rituais do parto e puerpeacuterio no mundo ocidental que continuam ateacute que a matildee e a

crianccedila estejam estabelecidas com seguranccedila em suas posiccedilotildees sociais (HELMAN 2009)

Segundo Odent (2003) atribui-se importacircncia crucial agrave primeira hora apoacutes o parto para

o desenvolvimento da capacidade de amar Nessa fase em condiccedilotildees fisioloacutegicas a liberaccedilatildeo

de ocitocina conhecida como ldquohormocircnio do amorrdquo associada agrave prolactina ldquohormocircnio da

maternidaderdquo significa que se matildee e o bebecirc estiverem em contato pele a pele e olho no olho

39

as chances de se estabelecer apego interaccedilatildeo e amor estatildeo garantidas para ambos Isso eacute

ratificado por Odent (2003) ao referir-se que quando o meio cultural interfere com rotinas

que desestimulam esse apego entre a matildee e o bebecirc tais como o uso de sedativos agentes

anesteacutesicos e analgeacutesicos durante o parto influencia toda a capacidade de amar devido a natildeo

liberaccedilatildeo da ocitocina natural pelo organismo da mulher

Um aspecto negativo expresso pelas entrevistadas concernente agrave percepccedilatildeo do

nascimento refere-se ao desconhecimento sobre a fisiologia do parto o que as fez entender

este processo semelhante a um processo patoloacutegico e sujeito a vaacuterias intervenccedilotildees

desnecessaacuterias conforme os relatos

O primeiro eu natildeo tinha a orientaccedilatildeo que eu tenho agora ningueacutem me orientou Foi muito

doiacutedo e difiacutecil inclusive ateacute porque ele era bem grande e iam passar o foacuterceps Natildeo sei se chegaram a

colocar mas eu consegui e nasceu normal E me colocaram o soro com ocitocina () e eu disse ldquopara

quecircrdquo mas natildeo me explicaram (M1)

Jaacute tinha perdido o tampatildeo uns 3 dias antes de comeccedilar ldquoas dorrdquo entatildeo eu ficava preocupada

ldquoSeraacute que eu natildeo vou sentir dorrdquoldquo seraacute que eu natildeo vou saber quando vai ser a hora de ir ao

hospitalrdquo Me colocaram o soro para induzir () natildeo me explicaram nada Depois veio a anestesia

remeacutedios acho que para enjocirco () natildeo consegui ganhar normal (M2)

Achei que eu tinha que me esforccedilar mais em todos eles Por isso na hora de ganhar sempre

me dava um medo Aiacute eu natildeo sei se eu me trancava Botaram o soro para dor e eu ao inveacutes de fazer a

forccedila direito como se deve fazer eu me retrancava e comeccedilava a chorar (M7)

Eu acho o parto normal muito mais arriscado que a cesaacuterea Todos os meus foram cesaacuterea

No meu caso eu acho que foi por causa da dilataccedilatildeo Todas foram agendadas Os meus filhos quando

chegam no uacuteltimo mecircs natildeo querem ficar nascem antes A minha filha nasceu com 8 meses com muito

pouco peso e foi para UTI (M8)

Os sentimentos relatados pelas entrevistadas de natildeo saber como agir no parto

exprimem significativamente seu desconhecimento acerca do processo fisioloacutegico e refletem-

se em medo e inseguranccedila Uma vez que natildeo sabem o que estaacute acontecendo com seu corpo as

mulheres controlam-no menos demonstram fragilidade e tendem a ser tratadas como objeto

de controle da equipe meacutedica Desse modo aceitam passivamente as intervenccedilotildees meacutedicas

como necessidades normais e rotineiras no parto a exemplo dos relatos do uso de ocitocina

de foacuterceps e da indicaccedilatildeo de cesariana previamente agendada

Esse eacute o modelo de atendimento tecnocraacutetico de assistecircncia descrito pela antropoacuteloga

Davis Floyd (2004) que representa a corrente de pensamento convencional e dominante

norteadora da praacutetica da assistecircncia obsteacutetrica haacute vaacuterias deacutecadas na qual o profissional de

sauacutede manteacutem um distanciamento do paciente como forma de proteger a si mesmo das

reaccedilotildees emocionais frente agraves anguacutestias deste

40

A forma e a percepccedilatildeo de como as mulheres vivenciam a sua experiecircncia de parto satildeo

impregnadas pela realidade conforme modelo que se apresenta para a sociedade isto eacute com a

mensagem de que eacute imprescindiacutevel a utilizaccedilatildeo da tecnologia como garantia de um parto

seguro O que resulta disso eacute o que chamamos de uma ldquocascata de intervenccedilotildeesrdquo que ocorre

quando uma praacutetica obsteacutetrica desencadeia outras fazendo com que se altere o processo

natural do parto (BALASKAS 2008)

Destaca-se tambeacutem a desinformaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos riscos que advecircm da cesaacuterea

desnecessaacuteria para matildee e bebecirc A entrevistada M8 narra que as cesaacutereas foram realizadas

antes de sua gestaccedilatildeo estar a termo Sabe-se que a prematuridade iatrogecircnica ocasionada por

cesaacutereas sem indicaccedilatildeo estaacute associada ao aumento da taxa de nascimentos de receacutem nascidos

preacute-termo (MACDORMAN et al 2008) e ao aumento da mortalidade neonatal (VILLAR et

al 2007)

Concorda-se com Balaskas (2008) ao afirmar que as cicatrizes corporais deixadas

pelas intervenccedilotildees desnecessaacuterias no corpo da mulher transformam-se em uma vivecircncia de

sofrimento inseguranccedila e sobrepujam toda e qualquer vivecircncia positiva ocorrida no parto

Logo um momento que deveria ser natural repleto de lembranccedilas positivas e felizes para a

mulher constitui-se num evento traumatizante Nessa direccedilatildeo entende-se que se o

comportamento humano eacute influenciado diretamente pelo meio cultural pois humanos

comunicam-se e criam cultura a socializaccedilatildeo da naturalizaccedilatildeo do parto como evento rodeado

de tecnologia e risco bem como a recapitulaccedilatildeo das experiecircncias traumaacuteticas contadas pelas

mulheres reforccedilam-se na convivecircncia social (ODENT 2004)

Ademais as intervenccedilotildees desnecessaacuterias sobrepotildeem-se ao poder que a mulher tem de

parir e que atualmente ela mesma desconhece pois a histoacuteria repassada pela medicina nas

uacuteltimas deacutecadas na cultura ocidental transformou o parto em um evento essencialmente

meacutedico sendo a mulher apenas uma parte do cenaacuterio (SEIBERT 2005)

O uso do recurso da aceleraccedilatildeo no parto com o uso do soro com ocitocina foi

percebido como forma negativa para as mulheres que o relataram O emprego de hormocircnios

sinteacuteticos no trabalho do parto como eacute o caso da ocitocina tende a cessar a fisiologia e as

etapas do parto (FIGUEREDO L 2010)

Ratificando essa informaccedilatildeo um estudo feito por Barros (2005) mostra que o aumento

de partos cesaacutereos estaacute relacionado agrave praacutetica da induccedilatildeo medicamentosa A falha de induccedilatildeo

provoca a indicaccedilatildeo de uma cesaacuterea que implica a utilizaccedilatildeo de anestesia medicaccedilotildees

antibioacuteticas profilaacuteticas medicaccedilatildeo para naacuteuseas medicaccedilatildeo para dor no poacutes-operatoacuterio e

utilizaccedilatildeo de outras drogas o que pode afetar drasticamente o comportamento materno pois o

41

que se verifica em estudos com outros mamiacuteferos eacute o natildeo-cuidado de seus bebecircs apoacutes uma

cesariana (ODENT 2004)

Eacute primordial durante a gestaccedilatildeo o preparo das mulheres para o parto apoiando suas

informaccedilotildees em praacuteticas baseadas em evidecircncias cientiacuteficas pois a grande maioria dos

procedimentos que os profissionais de sauacutede ainda utilizam no parto satildeo rotinas que estatildeo

caindo em desuso pois se mostraram mais danosas do que beneacuteficas Se as proacuteprias pacientes

souberem disso atraveacutes de atividades educativas no preacute-natal seraacute muito mais faacutecil reverter

esse quadro (DINIZ 2003)

Concorda-se nessa direccedilatildeo que a consulta preacute-natal tambeacutem eacute um espaccedilo importante

para mudanccedila de atitudes em relaccedilatildeo ao parto incentivada por profissionais que valorizam os

aspectos sociais e subjetivos da gestaccedilatildeo do parto e do nascimento (FREITAS 2005)

A Percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado

Nesta categoria as mulheres expressam a via de parto desejada A maior parte

manifestou o desejo pelo parto normal Apenas uma entrevistada manifestou preferecircncia pela

cesaacuterea e teve sua vontade atendida

Do primeiro eu natildeo pesquisei dos outros que eu comecei a ler sobre o assunto Eu queria ter

o parto em casa e mais informaccedilotildees do meacutedico Trabalhei ateacute a uacuteltima hora de internar Foi bom fiz a

respiraccedilatildeo direitinho e acabei ganhando no leito como eu pensei que queria que nascesse (M1)

Eu tinha conversado com meu esposo em casa e a gente queria parto normal mas natildeo deu

perdi o controle (M2)

Quando eu dizia que queria parto normal me diziam ldquopor que fazer parto normal por que

natildeo faz uma cesaacutereardquo Eu dizia ldquoeu quero parto normal pela recuperaccedilatildeo mais raacutepida para poder

voltar a estudarrdquo e eu achei bem melhor o parto normal do que ter feito uma cesaacuterea que daiacute eu ia

ficar dias sem poder voltar a estudar (M3)

Eu sempre quis cesaacuterea porque eu tinha medo de sentir dor ali na hora Eu vi o bebecirc assim

que o tiraram () Natildeo recebi orientaccedilatildeo sobre parto normal do meacutedico (M4)

A minha preferecircncia sempre foi o parto normal eu achei que ia ganhar normal deste uacuteltimo

mas natildeo deu fiquei frustrada (M5)

Por mim poderia ser parto vaginal tanto que do primeiro filho eu ia caminhar ateacute na veacutespera

para ver se evoluiacutea para parto normal mas natildeo evoluiu daiacute foi cesaacuterea e do outro foi cesaacuterea

tambeacutem Teve que ser programada (M6)

O parto normal foi desejado Se tivesse feito uma cesaacuterea seria o fim do mundo porque eu

demorei para aceitar a ideacuteia de que teria que fazer uma laqueadura por cesaacuterea Eu sempre dei a

preferecircncia para parto normal por causa de comentaacuterios e sobre ter infecccedilatildeo (M7)

42

Eu tinha na cabeccedila que o meu primeiro filho ia ser normal Parto normal a matildee ganha e jaacute

sai caminhando com a crianccedila no colo e cesaacuterea natildeo (M8)

Na fala das entrevistadas revelou-se o desejo pelo parto normal ou pela cesaacuterea

destacando o entendimento de que o parto normal tem a recuperaccedilatildeo mais raacutepida natildeo

interferindo na rotina e autonomia delas apresenta menos risco de infecccedilatildeo e a cesaacuterea

poderia proteger quanto agrave dor do parto Esses pontos justificaram em grande parte seu desejo

pelas vias de parto

Para Martin (2006) as mulheres que desejam o parto normal e conseguem passar por

essa experiecircncia consideram-no um processo que acontece naturalmente como algo que a

mulher realiza e natildeo simplesmente vecirc acontecer consigo

Estudos de natureza quantitativa e qualitativa da aacuterea da sauacutede em relaccedilatildeo agrave escolha

para o parto normal constataram que as expectativas das mulheres em relaccedilatildeo ao tipo de parto

justificaram-se pela recuperaccedilatildeo poacutes-parto mais raacutepida e por ser melhor para elas eou para os

bebecircs (OLIVEIRA 2002 MELCHIORI et al 2009 MANDARINO et al 2009)

A entrevistada que realizou a cesariana por desejo proacuteprio justificou sua escolha pelo

medo da dor do parto A forma como se percebe e se responde agrave dor pode ser influenciada

pela origem cultural e social Em outros grupos culturais a dor do parto natildeo eacute temida muito

diferentemente das mulheres de paiacuteses ocidentais que a temem e satildeo bastante propensas a

aceitar drogas analgeacutesicas ou anesteacutesicas (HELMAN 2009)

No Brasil o medo da dor eacute apontado como uma das causas da intervenccedilatildeo cesariana

requerida pelas mulheres e pode ser considerado assim um dos motivadores do aumento das

taxas dessa cirurgia no paiacutes (FAUacuteNDES CECATTI 1991 OLIVEIRA et al 2002)

Em um estudo feito por Almeida (2009) sobre a dor do parto normal a autora

evidenciou a ocorrecircncia de uma relaccedilatildeo de poder dos serviccedilos de obstetriacutecia sobre o corpo

feminino e a forma como estes serviccedilos gerenciam-se mantendo o processo da medicalizaccedilatildeo

o que se constitui um dos mecanismos de favorecimento da perpetuaccedilatildeo do parto cesaacutereo

com a finalidade de evitar a dor do parto normal

Entende-se tambeacutem que a dor do parto eacute em grande medida iatrogecircnica amplificada

pelo modelo assistencial que institui rotinas como a imobilizaccedilatildeo o uso abusivo de ocitocina

artificial a manobra de Kristeller a episiotomia e a episiorrafia praacuteticas no parto normal que

satildeo claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas com base em evidecircncias

cientiacuteficas e em recomendaccedilotildees da OMS (1996) e do Ministeacuterio da Sauacutede (BRASIL 2001)

43

Para tanto foi instituiacutedo pelo Ministeacuterio da Sauacutede (2000b) o Programa de

Humanizaccedilatildeo no Preacute-Natal e Nascimento cujo objetivo eacute melhorar a assistecircncia obsteacutetrica

provocada por praacuteticas e condutas inadequadas

Segundo Floyd (2004) o programa eacute traduzido como um modelo humanista de

assistecircncia tambeacutem referido por ela como modelo holiacutestico Os profissionais que atuam nessa

vertente simplesmente tecircm como desejo humanizar a tecnomedicina e apresentam maior

potencial para reformar o modelo tecnocraacutetico com mudanccedilas de atitudes e de paradigma

O modelo holiacutestico eacute o que abarca uma variedade mais rica de abordagem rompe

totalmente com o modelo dominante atual utiliza modalidades que satildeo menos prejudiciais

assiste as pessoas em seu contexto crecirc em outros modos de contexto que curam compreende

a dimensatildeo espiritual do cuidado da sauacutede e tambeacutem fortalece o desenvolvimento da vida de

cada pessoa (FLOYD 2004)

Neste sentido a escolha da via de parto torna-se importante uma vez que leva em

consideraccedilatildeo o contexto soacutecio cultural e assistencial em que a parturiente estaacute inserida e os

aspectos bioloacutegicos e psicoemocionais com intuito de promover um cuidado direcionado agraves

suas necessidades conforme recomendado nos estudos de Bezerra Cardoso (2005) e Budoacute et

al (2007) referentes a outros cenaacuterios da sauacutede Tal cuidado aproxima-se da humanizaccedilatildeo da

atenccedilatildeo no parto

De destaque nas falas das entrevistadas do presente estudo eacute o sentimento de

frustraccedilatildeo e perda de controle das que desejavam parto normal e tiveram de submeter-se agrave

cesaacuterea Situaccedilatildeo semelhante surgiu no relato das mulheres que Emily Martin (2006)

entrevistou em Baltimore (EUA) quando percebeu nos depoimentos que uma das reaccedilotildees

mais comuns especialmente quando a mulher planeja um parto vaginal e a cirurgia ocorre eacute a

perda de controle do seu parto

Por outro lado entre as entrevistadas que conseguiram realizar o parto normal

consoante seu desejo de via de parto o sentimento de aliacutevio foi constatado Para Balaskas

(2008) as sensaccedilotildees de aliacutevio realizaccedilatildeo gratidatildeo ecircxtase partem de uma grande variedade

de sensaccedilotildees que somente a experiecircncia do parto normal propicia

Uma das entrevistadas relata orientaccedilatildeo para cesariana a fim de submeter-se agrave

laqueadura tubaacuteria tendo seu desejo frustrado quanto agrave opccedilatildeo da via de parto uma vez que

desejava realizar parto normal Evidencia-se que natildeo houve o desejo de cesaacuterea no entanto a

necessidade da laqueadura

A constataccedilatildeo do desestiacutemulo ao parto normal feito pela equipe meacutedica mesmo

cientes de que essas mulheres tinham histoacuterias preacutevias de partos normais a fim de realizar

44

uma cesaacuterea concomitantemente agrave laqueadura tubaacuteria mostra o desrespeito agrave lei nordm 9263 que

trata do planejamento familiar que veda a esterilizaccedilatildeo ciruacutergica em mulher durante os

periacuteodos de parto ou aborto exceto nos casos de comprovada necessidade por cesarianas

sucessivas anteriores (BRASIL 2002)

As entrevistadas que se submeteram agrave cesaacuterea apresentaram percepccedilotildees de que algo

que foi feito com elas e natildeo de sua participaccedilatildeo como relatado nas seguintes frases ldquotiraram

o bebecircrdquo (M4) ldquopuncionaram-me umas 15 vezesrdquo (M6) ldquose a hemorragia natildeo parasse iam

tirar o meu uacuteterordquo (M8)

A sensaccedilatildeo de passividade e separaccedilatildeo entre o eu e o seu corpo surge em niacutevel

extremo quando as mulheres descrevem a cesariana Parte disso adveacutem pelo fato de ser uma

cirurgia em que um nuacutemero maior de pessoas toca manipula corta e costura seu corpo Outra

parte deve-se agrave anestesia peridural que produz insensibilidade da cintura para baixo e

intensifica-se pela colocaccedilatildeo de um pano sobre o peito da mulher de modo que ela natildeo

enxerga a metade inferior do seu corpo (MARTIN 2006)

Verificamos nas falas das entrevistadas que os laccedilos entre a matildee e o bebecirc podem estar

sendo desestimulados por priorizarem-se cuidados que poderiam ser postergados ldquoPrimeiro

foi realizado os cuidados com o bebecirc e me mostraram jaacute enrolado com as roupasrdquo (M6)

ldquoFicavam ali fazendo os cuidados com o bebecirc e me mostravam bem depoisrdquo (M8)

Esses cuidados aleacutem de estar interferindo na relaccedilatildeo amorosa matildee-bebecirc podem estar

ignorando a implementaccedilatildeo de praacuteticas simples como o clampeamento tardio do cordatildeo

umbilical o contato imediato pele-a-pele e o iniacutecio da amamentaccedilatildeo exclusiva que tem um

impacto a longo prazo na nutriccedilatildeo e na sauacutede da matildee e do bebecirc pois afetam o

desenvolvimento da crianccedila muito aleacutem do periacuteodo neonatal e do puerpeacuterio (BRASIL 2011)

A metaacutefora da produccedilatildeo no nascimento proposta pela antropoacuteloga Emily Martin

(2006) retrata a interrupccedilatildeo dos laccedilos afetivos entre matildees e bebecircs que sofreram cesarianas

devido ao controle sobre o corpo feminino exercido pela retirada do protagonismo da mulher

da cena do nascimento Fato esse semelhante agrave metaacutefora da produccedilatildeo industrial do natildeo-

envolvimento da trabalhadora com o produto do seu trabalho quando ela natildeo sente que foi

quem o produziu e quando o seu trabalho eacute estritamente organizado e controlado (MARTIN

2006)

Frequentemente quando se interfere na produccedilatildeo de um bebecirc segundo a metaacutefora da

produccedilatildeo industrial que ocorre quando natildeo eacute a mulher que daacute agrave luz e o bebecirc eacute extraiacutedo

cirurgicamente por um meacutedico a matildee sente-se desligada da crianccedila apoacutes seu nascimento

(MARTIN 2006)

45

Nesta direccedilatildeo um estudo realizado na Universidade da Cidade do Cabo Aacutefrica do Sul

mostrou que a separaccedilatildeo entre matildee e o bebecirc tem impactos negativos influenciando na

duraccedilatildeo do sono e na frequecircncia cardiacuteaca do bebecirc (BARAK 2011)

O modelo de atendimento biomeacutedico desestimula a implementaccedilatildeo de cuidados

comprovadamente eficazes e passa uma mensagem que matildee e bebecirc satildeo como uma diacuteade

conflitante natildeo sendo vistos como uma unidade integral (MARTIN 2006)

Outro elemento a ser salientado refere-se agrave percepccedilatildeo de ser matildee atraveacutes da vivecircncia

do trabalho de parto ou seja compreende-se o significado de ser matildee por meio da vivecircncia da

parturiccedilatildeo conforme fala da entrevistada Era meu primeiro filho decidi que para ser matildee

teria que ganhar de parto normal [] Se eacute para ser matildee vamos ser matildee mesmo (M3)

Como se pode notar a entrevistada destaca que o parto normal foi primordial para

sentir-se realmente matildee Importante nesse sentido a afirmaccedilatildeo de Monticelli (1996) de que o

parto eacute um ritual que marca profundamente o inconsciente feminino principalmente se for o

primeiro

A Percepccedilatildeo das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto

Nesta categoria foi significante a falta de autonomia da mulher na decisatildeo sobre a via

de parto Para compreensatildeo do parto como um evento na vida da mulher em relaccedilatildeo agrave decisatildeo

sobre o tipo de parto as mulheres opinaram

A cesaacuterea geralmente eacute o meacutedico que decide Eu sabia disso daiacute que nem todas satildeo iguais

porque a minha voacute teve 6 cesaacutereas e 6 normal e a minha matildee soacute fez cesaacuterea Entatildeo eu sabia que

podia acontecer comigo e realmente aconteceu O meacutedico disse que ia fazer uma cesaacuterea e fez

cesaacuterea disse que ela tinha tomado aacutegua no parto (M8)

Deveria ser da mulher mais do que do meacutedico jaacute que ela que estaacute sentindo e sabendo o que

estaacute acontecendo (M1)

A niacutevel de consultoacuterio (rede privada) eacute o meacutedico Natildeo daacute para escolher() Eu queria Por

mim poderia ser parto vaginal (M6)

Eu acho que deve ser a mulher mas eacute o meacutedico que decide Eles dizem que eacute protocolo que

isso que aquilo mas sabe-se que natildeo eacute assim Soacute que natildeo acontece isso neacuteEla natildeo tem o direito de

decidir se quer um parto normal ou uma cesaacuterea Eacute colocado para ela que ela vai ganhar de parto

normal por causa disso ou daquilo mas agraves vezes ela natildeo estaacute preparada de repente eacute o melhor para

o corpo mas natildeo o melhor para cabeccedila dela natildeo estaacute preparada para aquilo ali (M3)

Eacute o meacutedico que tem o poder de decisatildeo se vai ser parto vaginal ou cesaacuterea (M2)

46

Nessa categoria foi significativo o entendimento das mulheres sobre o poder de

decisatildeo que os meacutedicos tecircm em relaccedilatildeo ao tipo de parto Poreacutem elas discordam de que este

profissional determine a escolha de forma unilateral e apontam para inclusatildeo delas nessa

decisatildeo Esta perspectiva direciona-se para a autonomia e a participaccedilatildeo da mulher na decisatildeo

sobre a via de parto embora o que se constate eacute que o meacutedico determina qual a finalizaccedilatildeo da

gestaccedilatildeo

Entende-se que a questatildeo de avaliaccedilatildeo de risco e a indicaccedilatildeo de se realizar uma

cesaacuterea sejam de competecircncia meacutedica No entanto a mulher deve receber informaccedilotildees sobre

os riscos e benefiacutecios da intervenccedilatildeo a fim de exercer sua participaccedilatildeo ativa no processo Tal

questatildeo enfatiza o direito agrave informaccedilatildeo e agrave formaccedilatildeo de opiniatildeo das mulheres para que

tenham o direito de reivindicar aquilo que eacute beneacutefico para a sua sauacutede e a de seu bebecirc

Profissionais e mulheres podem ateacute tomar uma decisatildeo antecipada sobre o tipo de parto

poreacutem esse fato natildeo pode ser visto como uma simples questatildeo de preferecircncia como no caso

da cesaacuterea antecipada ou eletiva sem indicaccedilatildeo pois pode implicar em riscos e complicaccedilotildees

futuras para matildee e para o bebecirc (BRASIL 2001)

Para o Ministeacuterio da Sauacutede (2006a) um dos valores da Poliacutetica Nacional de

Humanizaccedilatildeo eacute o principio da autonomia de pensar os indiviacuteduos como sujeitos autocircnomos e

como protagonistas nos coletivos de que participam como co-responsaacuteveis pelo processo de

produccedilatildeo de sauacutede de si e do mundo em que vivem

Quando falamos da autonomia da mulher parturiente falamos de um processo em que

a cada momento se vai desconstruindo o leacutexico cientificoteacutecnico para que a mulher e a

famiacutelia possam ser chamadas ao centro de decisatildeo Mas para isso eacute importante oferecer toda a

informaccedilatildeo que ela necessita para se tornar um membro efetivo da equipe de sauacutede e como

tal ter pleno poder e capacidade de decidir da forma mais vantajosa para todos Esse eacute sem

duacutevida um processo de grande complexidade que em uma aplicaccedilatildeo absoluta incita os

profissionais de sauacutede a compreenderem que o respeito pela autonomia da mulher natildeo

constitui um dano na sua autonomia profissional mas antes um incremento pela qualidade

participaccedilatildeo e rigor eacutetico obtido atraveacutes desse processo (LEITAtildeO 2010)

Tal processo talvez seja difiacutecil de compreender para o profissional quando se alicerccedila

na cultura biomeacutedica ao redor de uma ideologia de progresso tecnoloacutegico que no contexto do

parto iniciou-se a partir da sua institucionalizaccedilatildeo com o advento da era industrial (FLOYD

2004)

47

A institucionalizaccedilatildeo do parto iniciou-se nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX quando

o mesmo passou a ser visto como um processo patoloacutegico que deveria ser controlado a fim de

evitar a morte materna e perinatal sendo entatildeo marcado por rotinas tais como episiotomias

cesaacutereas desnecessaacuterias utilizaccedilatildeo de foacuterceps profilaacutetico (PROGIANTI BARREIRA 2001)

Para Collaccedilo (2002) as instituiccedilotildees tecircm uma cultura proacutepria fundamentada no empirismo e

na tecnologia que se revelam nas rotinas e condutas intervencionistas do meacutedico O resultado

dessa conduta intervencionista eacute a discrepacircncia entre o que as mulheres desejam e o que eacute

realizado o que justificaria a mudanccedila do tipo de parto (HOPKINS 2000)

Um dos motivos alegados pelos meacutedicos para essa praacutetica seria a mudanccedila de perfil de

risco das gestantes Poreacutem um estudo realizado nos EUA que relacionou o aumento das taxas

de cesaacuterea com a mudanccedila de perfil do risco constatou que as chances de uma mulher ser

submetida a uma cesaacuterea na primeira gestaccedilatildeo sem pertencer a um grupo de risco subiu para

50 em 2005 comparado ao ano de 1996 (DECLERCQ et al 2005)

Essa desinformaccedilatildeo por parte das mulheres pode por fim a sua capacidade na decisatildeo

sobre o tipo de parto e ser atribuiacuteda agrave falta de conhecimento sobre seu corpo os processos

reprodutivos e a sexualidade (SANTOS 2008)

Segundo o relato da entrevistada M6 natildeo haacute o direito de escolha quanto ao tipo de

parto para a mulher que faz o preacute-natal na rede suplementar sendo sua autonomia geralmente

desrespeitada quando deseja um parto normal De acordo com Mccourt et al (2007) a

escolha do tipo de parto pela mulher eacute apontada na literatura meacutedica como um fator que tem

contribuiacutedo para o elevado iacutendice de cesarianas na atualidade

Destaca-se que nos serviccedilos de sauacutede suplementar no Brasil as taxas de cesaacuterea satildeo

as mais elevadas do mundo em torno de 797 (ANS 2001) A cesaacuterea daacute ao meacutedico o

maacuteximo de poder controle e conduccedilatildeo nesse processo e exige o miacutenimo de trabalho do uacutetero

e da mulher criando o ponto de vista de que este procedimento ciruacutergico fornece os melhores

bdquoprodutos‟ isto eacute produzem bebecircs perfeitos semelhantemente agrave metaacutefora de produccedilatildeo tal

como acontece nas induacutestrias (MARTIN 2006)

Logo deu-se iniacutecio a uma crenccedila de que cesaacuterea eacute protetora para o nascimento do

bebecirc Isso pode estar relacionado agrave noccedilatildeo de que partos normais satildeo traumaacuteticos para o feto

e entatildeo os profissionais ldquoaliam-serdquo ao bebecirc contra a destruiccedilatildeo em potencial causada pelo

corpo da matildee no trabalho de parto e no parto o que leva a ignorar aquilo que talvez seja o

mais importante para a mulher e para a crianccedila que eacute a natureza de suas experiecircncias no parto

e no nascimento (MARTIN 2006)

48

Aleacutem do mais na relaccedilatildeo meacutedico-parturiente fica evidente como satildeo encaradas as

questotildees relacionadas ao parto de forma diferente por cada um desses atores (ANS 2008a)

Entre os meacutedicos obstetras institui-se uma cultura proacute-cesaacuterea e como consequecircncia

parte deles natildeo se encontra motivada nem capacitada para o acompanhamento do parto

normal Em contrapartida as mulheres dentro dessa cultura tecircm dificuldade de fazer valer a

sua decisatildeo quanto ao tipo de parto por sentirem-se menos capacitadas a escolher devido agraves

questotildees teacutecnicas levantadas e sustentadas por eles (BRASIL 2001)

Estudos tecircm demonstrado que apenas 20 das usuaacuterias de convecircnio particular

conseguem dar agrave luz por parto normal sendo que a maioria das mulheres brasileiras deseja-o

(REBELO et al 2010 POTTER et al 2001 POTTER et al 2008)

Concorda-se portanto com a visatildeo de ANS (2008a) de que a criacutetica da exclusatildeo das

mulheres na decisatildeo da via de parto deve-se principalmente ao fato de que o modelo

biomeacutedico desconhece os significados que as mulheres datildeo agrave experiecircncia da gestaccedilatildeo e do

parto

Conhecendo como se daacute a construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres foram relatadas

tanto experiecircncias positivas quanto negativas dos partos das mulheres de seu conviacutevio

As mulheres que apresentam uma percepccedilatildeo positiva sobre parto normal apresentam

nas famiacutelias histoacuterias e relatos positivos do parto de suas familiares

A minha matildee teve 5 partos normais Todos em casa e a minha voacute era parteira Acho que a

influecircncia vem daiacute Queria que minha voacute tivesse viva para eu ter tido os meus filhos com ela A matildee

sempre foi positiva nunca disse que os partos foram uma coisa horriacutevel Ela sempre disse que era

uma coisa boa doiacutea claro mas ela sempre mostrou coisa boa Tenho uma irmatilde que ganhou um bebecirc

em casa natildeo deu tempo de ir para o hospital Foi raacutepido demais (M1)

Olha todas natildeo se queixaram As [familiares] que eu conversei disseram que parto normal eacute

a melhor forma por causa da recuperaccedilatildeo eacute melhor para ti cuidar do nenecirc sem depender de ningueacutem

A matildee sempre teve parto normal (M2)

Da minha matildee foi tranquumlilo O parto dela foi no mesmo hospital que eu tive ela caminhou

tudo como tinha que ser rompeu a bolsa em casa Ela me passou essa experiecircncia boa (M3)

Eu e a minha irmatilde nascemos de parto vaginal A minha voacute teve 5 filhos de parto vaginal A

minha sogra teve partos vaginais em casa Meu marido nasceu com 4kg Ela comentava como eacute que

tinha sido os nascimentos dos filhos dela de ser tudo tranquilo e das aventuras que ateacute na veacutespera

andava a cavalo e natildeo deu nada de complicaccedilatildeo e naquele tempo foi com parteiras A matildee dela era

parteira Os filhos nasceram com a avoacute (M6)

49

Durante a minha gravidez eu conversava mais sobre o parto com a minha matildee e eu a

acompanhei ela quando foi ganhar normal Eu vi como foi entatildeo eu sabia como tinha que ser quando

eu fosse ganhar que era bom A influecircncia da minha voacute e da minha matildee foi para parto normal mas

eu natildeo ganhei normal em nenhum (M8)

Na opiniatildeo dessas entrevistadas a transmissatildeo do conhecimento dos partos na famiacutelia

exerceu grande influecircncia na preferecircncia por parto normal focando a naturalidade e a

praticidade de encarar o parto normal

O processo de socializaccedilatildeo denominado ldquoprimaacuteriordquo para Berger e Luckmann (1976)

acontece na famiacutelia durante a infacircncia quando a realidade eacute apreendida atraveacutes da

consciecircncia individual e os papeacuteis sociais tornam-se seus quando identificados

Segundo Laraia (2003) a socializaccedilatildeo do indiviacuteduo eacute resultante do seu meio cultural e

a acumulaccedilatildeo de saberes e crenccedilas satildeo passadas de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Destaca-se isso

igualmente no estudo de Ressel et al (2011) relativo a cultura da sexualidade junto a

adolescentes e suas famiacutelias onde a socializaccedilatildeo dos saberes eacute um processo dinacircmico e

contiacutenuo ao longo da vida

Laraia (2003) defende que os valores que vatildeo compor a singularizaccedilatildeo de cada pessoa

na sociedade ocorrem por meio da socializaccedilatildeo atraveacutes dos relacionamentos das

representaccedilotildees pessoais sobre fenocircmenos fatos e eventos sociais

As entrevistadas M1 e M6 relatam a presenccedila de parteiras na assistecircncia ao parto Ateacute

a entrada da profissatildeo meacutedica sobre o processo do parto as mulheres em trabalho de parto

eram auxiliadas principalmente pelas matildees tias avoacutes eou parteiras Poreacutem com a perda da

importacircncia do papel das parteiras - pois ameaccedilavam o monopoacutelio do saber meacutedico - e sua

progressiva alocaccedilatildeo na marginalidade do contexto da obstetriacutecia seus saberes foram sendo

vistos sob suspeita

Em quase todas as culturas segundo Helman (2009) os principais provedores dos

cuidados primaacuterios de sauacutede satildeo as matildees e avoacutes e as parteiras ainda satildeo as responsaacuteveis pelos

cuidados obsteacutetricos em alguns paiacuteses

Percebem-se nas narrativas das entrevistadas as influecircncias positivas passadas por suas

matildees na vivecircncia da parturiccedilatildeo das mulheres da famiacutelia Elsen (2011) realizou uma anaacutelise de

quatro estudos sobre famiacutelias tendo como um dos destaques a valorizaccedilatildeo do conhecimento e

das praacuteticas do cuidado nesses ambientes familiares

Em contrapartida as entrevistadas que apresentam nos seus discursos experiecircncias

negativas mostram que no conviacutevio familiar e no ciacuterculo social proacuteximo este assunto ou natildeo

foi comentado ou foi discutido com teor negativo

50

A minha matildee nunca falou bdquocom noacutes‟ sobre isso Ela teve cesaacuterea da minha irmatilde mais nova de

sete anos e deu problemas de rim nela A minha recuperaccedilatildeo foi ruim porque demorei a recuperar

() Eu me sentia estranha e parece que minhas pernas estavam separadas do meu corpo por causa da

anestesia(M4)

Noacutes nunca conversamos sobre essas coisas laacute em casa nem com matildee e nem com irmatilde A

uacutenica coisa que me falavam eacute que sofria muito falavam que ia gritar de tanta dor que as contraccedilotildees

seriam fortes Eu sofri um pouquinho coloquei soro fiquei de barriga para cima o tempo todo ()

como se estivesse doente depois eu tive uma cesaacuterea que infeccionou os pontos Me senti um objeto

() (M5)

Minha matildee disse que eacute horriacutevel que natildeo era bom que nem cesaacuterea e nem parto normal Ela

sofreu muito Por isso na hora de ganhar assim sempre me dava um medo devido agraves histoacuterias

contadas por minha matildee (M7)

Vizinhos ateacute parentes comentavam que esqueceram uma tesoura dentro da paciente ou

esqueceram um pano Eu tenho medo de cesaacuterea Outro problema eacute aquele pano que separa a sua

cabeccedila do resto do seu corpo Disseram-me que teria de fazer uma cesaacuterea para fazer a laqueadura

na proacutexima gravidez Eu vou fazer um RX depois para ver se natildeo ficou nada laacute dentro (M7)

Aiacute vem a voacute vem a matildee conversar dizendo ldquotu natildeo faz escacircndalo natildeo gritardquo porque

realmente elas natildeo datildeo atenccedilatildeo E realmente eu vi isso Entatildeo eu sabia que natildeo era bom quando eu

fosse ganhar (M8)

Nas falas destas entrevistadas deflagra-se a ausecircncia de conversa sobre o assunto

Quando haacute diaacutelogo acerca do tema no seio familiar reveste-se de significados negativos

destacando a dor o sofrimento a anguacutestia o medo a solidatildeo e a alienaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao que

estaacute acontecendo com o seu corpo

Para Martin (2006) as mulheres podem ter essas sensaccedilotildees negativas de objetificaccedilatildeo

e fragmentaccedilatildeo tanto na cesaacuterea quanto no parto normal mas as que passam por uma cesaacuterea

descrevem essas sensaccedilotildees mais intensamente conforme destacado nas falas das entrevistadas

M4 e M5

Segundo a autora o medo e a ansiedade no parto normal satildeo gerados pela inconsciente

fragmentaccedilatildeo subliminar impliacutecita de como a mulher percebe esse fenocircmeno de como accedilotildees

que elas natildeo realizam como se o ldquoeurdquo e o ldquoseu corpordquo fossem separados entendendo que

corpo mente e estados emocionais natildeo podem ser trabalhados simultaneamente

O relato negativo foi constatado em estudos de autores da aacuterea da antropologia

mostrando que em diferentes sociedades as filhas educadas por matildees que influenciam

negativamente sofrem mais no momento do parto (LARAIA 2003) A dor do parto tambeacutem

foi apontada pela entrevistadas M5 Conforme Gualda (2004) a dor eacute um sintoma altamente

subjetivo que traz a crenccedila popular de vincular a maternidade ao sofrimento

51

A entrevistada M8 traz a questatildeo de agir conforme as regras que a equipe obsteacutetrica

impotildee de natildeo fazer escacircndalo sob pena de natildeo receber a devida atenccedilatildeo Os profissionais de

sauacutede eventualmente podem impor um comportamento que natildeo respeita o saber da parturiente

o que pode tornar difiacutecil a evoluccedilatildeo do trabalho de parto (BEZERRA CARDOSO 2006)

Outro fator de destaque de acordo com o relato da entrevistada M7 foi o medo

apresentado em relaccedilatildeo ao esquecimento dos instrumentos ciruacutergicos dentro do seu corpo

Para Leninger (1991) a descontinuidade dos acompanhamentos e tratamentos das

usuaacuterias(os) deve-se ao fato de natildeo compreenderem sua funccedilatildeo e seu funcionamento

A posiccedilatildeo supina que foi referida pela entrevistada M5 ldquofiquei de barriga para cima o

tempo todordquo eacute segundo a OMS (1996) uma praacutetica claramente prejudicial ou ineficaz que

deve ser eliminada de acordo com as evidecircncias cientiacuteficas Essa mensagem simboacutelica

transmite agrave parturiente que ela estaacute enferma e retira da mulher a liberdade de seguir seus

instintos conforme mencionado pela entrevistada

Etnoacutelogos confirmam que atraveacutes da anaacutelise de evidecircncias histoacutericas existem raccedilas e

tribos que natildeo recebem influecircncia do modelo biomeacutedico e as mulheres naturalmente assumem

posiccedilotildees verticais dos mais variados tipos e meios de apoio (BALASKAS 2008)

Outras formas de influecircncia relatadas pelas participantes foram revistas internet

meios de comunicaccedilatildeo em geral As entrevistadas atribuem grande importacircncia agraves

informaccedilotildees colhidas nessas fontes atraveacutes das quais tomam conhecimento sobre

determinados costumes e percepccedilotildees

Com as revistas eu me informava bastante sobre como que era o nascimento fotos do bebecirc

nascendo Assistia na TV o canal que mostrava partos as casas de parto onde as mulheres iam fazer

todo o preacute-natal e ganhavam na aacutegua na cama naqueles quartos que permaneciam durante o

trabalho de parto e ficavam ali mesmo na hora de ganhar com familiar junto crianccedilas adultos tudo

junto Eu achava muito interessante (M1)

Eu olhei muito no youtube parto normal Eu achei bem legal Assim eacute meio assustador mais

achei legal Ateacute ali minha decisatildeo era ganhar normal mas natildeo deu (M2)

Lia folders revistas da aacuterea sobre maternidade programas de TV que mostraram o

acompanhamento do parto no domiciacutelio na banheira mas eu tive duas cesaacutereas agendadas (M6)

A entrevistada M1 relata o atendimento oferecido em casa de parto ou centro de parto

normal onde as mulheres fazem todo o preacute-natal e datildeo agrave luz em posiccedilotildees e locais de sua

preferecircncia A ausecircncia desse tipo de estabelecimento em determinados municiacutepios do Brasil

inviabiliza o acesso aos benefiacutecios que esses serviccedilos oferecem Instituiacutedo no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede esses estabelecimentos propiciam agraves mulheres a assistecircncia ao parto

52

em sua plena universalidade e tecircm como uma de suas atribuiccedilotildees o preparo da gestante

atraveacutes do plano de parto e do desenvolvimento de atividades educativas (BRASIL 1999)

Nesse cenaacuterio o protagonismo de cada mulher na gestaccedilatildeo parto e puerpeacuterio eacute respeitado

levando em consideraccedilatildeo sua individualidade suas crenccedilas e sua cultura

A cultura eacute um todo complexo que inclui o conhecimento as crenccedilas a arte a moral a

lei os costumes e todos os outros haacutebitos e aptidotildees adquiridos pelo homem como membro da

sociedade e se faz dinacircmica pela recepccedilatildeo das influecircncias externas resultantes do contato de

um sistema cultural com outro transformaccedilatildeo que pode ser raacutepida e brusca (LARAIA 2003)

No fragmento da fala da entrevistada M6 pocircde-se identificar sua curiosidade pelo

periacuteodo graviacutedico e parto e o parto domiciacutelio e na banheira forma de nascimento que volta a

fazer parte dos centros urbanos na atualidade A influecircncia das mateacuterias veiculadas em uma

revista sobre as representaccedilotildees culturais sobre parto mostrou que a revista pode ser um meio

de divulgaccedilatildeo informal que deveria ser mais bem aproveitado para informar as mulheres sobre

seus direitos e as maneiras de reivindicaacute-los (ROSS BONILHA et al 2006)

Um estudo feito por Medeiros (2008) retrata que as mulheres que optam por um tipo

de parto fora do hospital relacionam sua escolha agraves experiecircncias vivenciadas desde o seu

proacuteprio nascimento ateacute o momento do parto de seus filhos Quando as mulheres preparam-se

para parir seguindo princiacutepios diferentes dos que a medicina define e trata a linguagem que

utilizam eacute de integridade com todas as suas partes inter-relacionadas por um sentimento de

realizaccedilatildeo de algo que seriam capazes de fazer podendo-se inferir que a experiecircncia do parto

confirma ou natildeo na mulher a sua capacidade de colocar uma crianccedila no mundo (MARTIN

2006)

As mulheres citam somente a figura meacutedica na consulta de preacute-natal e comentam

sobre a postura do profissional de sauacutede que realizou este acompanhamento Em geral natildeo

receberam nenhuma informaccedilatildeo sobre parto

O obstetra no preacute-natal natildeo falava nada sobre parto soacute media a barriga via como estava o

coraccedilatildeo do bebecirc e deu Isso que o primeiro foi particular e os outros tambeacutem foram assim (M1)

Quando eu comecei no preacute-natal eu comecei com meacutedico particular ele natildeo falou nada sobre

parto e me pediu todos aqueles exames (M3)

O meacutedico natildeo era muito de conversar soacute os exames ultrasonografia Natildeo falou sobre outras

formas de parto (M4)

A uacutenica coisa que o meacutedico falou eacute ldquotu taacute preparadardquo ldquotem certeza jaacute ta aqui neacute Agora eacute

soacute seguir adianterdquo mas natildeo me falaram sobre parto Fiz todos os exames quatro ultrassonografias

(M7)

53

Fiz todo o preacute-natal e o meacutedico natildeo me falou nada sobre parto (M5)

Nesses depoimentos detectou-se a ausecircncia de diaacutelogo e de orientaccedilatildeo sobre o parto

O acompanhamento preacute-natal das entrevistadas apontou para o enfoque bioloacutegico e tecnicista

na assistecircncia prestada limitando-se agrave avaliaccedilatildeo de batimentos cardiacuteacos fetais altura uterina

e solicitaccedilatildeo de exames e avaliaccedilatildeo

Tal atenccedilatildeo fragmenta o cuidado e o sujeito deste cuidado pois segundo Martin

(2006) desta forma as mulheres natildeo satildeo apenas fragmentadas em partes do corpo como

tambeacutem satildeo alienadas da proacutepria ciecircncia pelas praacuteticas da medicina cientiacutefica As praacuteticas

obsteacutetricas corroboram com esta alienaccedilatildeo internalizando valores culturais que transmitem

agraves gestantes a ideacuteia de que natildeo haacute necessidade de informaccedilotildees sobre os processos fisioloacutegicos

do parto (FLOYD 2009)

Como a medicina obsteacutetrica contemporacircnea estaacute determinada por pressupostos

filosoacuteficos essencialmente masculinos o parto normal que tem em seu acircmago fenocircmenos

femininos tais como a afetividade espiritualidade e as emoccedilotildees natildeo eacute compreendido pelos

profissionais que controlam o nascimento (JONES 2004)

Apesar do avanccedilo na luta por igualdade de direitos para as mulheres a

sobrevalorizaccedilatildeo do patriarcado nos hospitais eacute perpetuada por meacutedicos em sua maioria

homens que tecircm autoridade para reforccedilar rituais de parto (FLOYD 2009)

No entanto os profissionais de sauacutede que se inserem no cenaacuterio das poliacuteticas puacuteblicas

de sauacutede da mulher deveriam atualmente ter como prerrogativa a instrumentalizaccedilatildeo das

mulheres para que sejam efetivamente sujeitos de direito na sociedade sendo tambeacutem

protagonistas de suas proacuteprias vidas e de seu parto tomando suas escolhas de modo

informado conforme preconiza a Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agrave Sauacutede da Mulher -

PNAISM (BRASIL 2004)

A ausecircncia de informaccedilotildees sobre parto foi constatada na fala das entrevistadas o que

nos faz refletir sobre a atitude desses profissionais com as gestantes e relacionar esse quadro

com os altos iacutendices de cesaacuterea da atualidade entendendo que a ausecircncia de diaacutelogo e

informaccedilatildeo no preacute-natal incapacita a mulher agrave autonomia Em um estudo de revisatildeo

sistemaacutetica que avaliou as informaccedilotildees que as gestantes recebiam sobre a cesariana para

solicitaacute-la natildeo foi possiacutevel detectar os motivos que as levam a solicitar uma cesariana

(GAMBLE et al 2007)

A desinformaccedilatildeo sobre as etapas da parturiccedilatildeo foi apontada por Pereira (2011) como

fator cultural que conduz a uma etapa teacutecnica terceirizada definida quando o meacutedico assume

54

o comando e o conduz a partir de sua formaccedilatildeo teacutecnica especializada Para a autora as

mulheres consideram dessa forma um sofrimento desnecessaacuterio passar pelo trabalho de

parto porque desconhecem sua importacircncia para o organismo e para o bebecirc

Deve-se levar em conta a forma a interaccedilatildeo do cuidado entre as mulheres os

profissionais e principalmente o contexto desse cuidado que revela um desequiliacutebrio de poder

que favorece os meacutedicos (GAMBLE et al 2007)

Conforme Martin (2006) pode acontecer tambeacutem de as mulheres natildeo estarem

preocupadas com a falta de informaccedilatildeo uma vez que elas satildeo direcionadas por pressupostos

culturais da superioridade meacutedica Tais pressupostos estatildeo tatildeo arraigados em sua experiecircncia

habitual nos serviccedilos de sauacutede que as impede de perceber as contradiccedilotildees em sua proacutepria

atenccedilatildeo agrave sauacutede

Por outro lado em outra pesquisa com gestantes constatou-se a necessidade de uma

grande demanda por informaccedilotildees escuta cliacutenica e tambeacutem a utilizaccedilatildeo de materiais

educativos mais esclarecedores (HOTIMSKY et al 2002)

Essa demanda por informaccedilotildees vem sendo suprida por outros profissionais de sauacutede

segundo as entrevistadas deste estudo

A enfermeira do posto me ajudou bastante eu tomava sulfato ferroso e ia pegar com ela Me

orientou sobre as vacinas eu lembro que um pouco antes de ficar graacutevida eu tinha tomado vacina da

rubeacuteola Entatildeo assim ela me acompanhou bastante tambeacutem eu sempre conversava com ela sobre o

parto os exerciacutecios que era bom fazer Laacute na Casa de Sauacutede tambeacutem a enfermagem me ajudou

bastante tava o tempo todo junto me dizendo que ldquotinha que caminhar para tua dilataccedilatildeo aumentarrdquo

me explicavam onde o nenecirc bdquotava‟(M3)

O fisioterapeuta o dentista A fisioterapia influenciou para o parto vaginal o dentista era

homem entatildeo relatou a experiecircncia da esposa dele que tinha sido parto cesaacutereo (M6)

Eu fiz todo o planejamento com a enfermeira Ensinaram como seria para nascer e logo

depois o que eu teria que fazer que eacute amamentar o nenecirc cuidados com o nenecirc cuidados comigo

tambeacutem preventivo remeacutedio piacutelula amamentaccedilatildeo Ensinaram no posto que eu frequento (M8)

A participaccedilatildeo dos profissionais da enfermagem e da fisioterapia foi constatada em

atividades de educaccedilatildeo em sauacutede e no atendimento ao trabalho de parto

Um estudo feito por Gaiva (2003) que destaca o nascimento como um evento

pertencente agrave equipe de sauacutede destaca como necessaacuterio o engajamento dessas equipes para a

humanizaccedilatildeo do parto e do nascimento com enfoque na mulher na crianccedila e na famiacutelia

A realizaccedilatildeo de um trabalho multiprofissional e interdisciplinar durante o processo de

gestaccedilatildeo parto e nascimento incide na aprendizagem de compartilhamento de saberes e

55

praacuteticas promovendo um cuidado de qualidade para os atores envolvidos nesse processo

(CHRISTOFFEL 2003)

A Lei ndeg 749886 que dispotildee sobre a regulamentaccedilatildeo do exerciacutecio da enfermagem

referenda que o enfermeiro generalista tambeacutem estaacute habilitado a assistir agrave gestante parturiente

e pueacuterpera acompanhando a evoluccedilatildeo e do trabalho de parto e a execuccedilatildeo do parto sem

distoacutecia

Pelloso (2000) concluiu que as taxas de cesaacuterea reduziriam com a capacitaccedilatildeo dos

profissionais para o parto com a introduccedilatildeo da enfermeira obsteacutetrica no preacute-natal e na

realizaccedilatildeo do parto bem como com a inclusatildeo de accedilotildees de orientaccedilatildeo e informaccedilatildeo sobre os

riscos e os benefiacutecios do parto normal e da cesaacuterea agraves mulheres em atividades de grupo e

cursos de gestantes Embora o nuacutemero de enfermeiras obstetras atuando no Brasil ainda seja

muito baixo estima-se que o nuacutemero de partos assistidos por elas eacute bem superior agravequele

registrado no SUS (BRASIL 2001)

Essa assistecircncia tambeacutem eacute referendada pela portaria do MSGM nordm 2815 de 29 de

maio de 1998 em que se inclui na tabela do sistema de informaccedilotildees hospitalares do SUS o

procedimento ldquoparto normal sem distoacutecia realizado por enfermeira obstetrardquo (BRASIL 1998

p23)

A enfermeira obstetra na busca pelo cuidado integral e valorizando a mulher como

protagonista do processo de nascimento vem conquistando tambeacutem um espaccedilo no

atendimento a partos domiciliares aleacutem de seu papel nas instituiccedilotildees hospitalares (PETER

2005)

Questionamento e resistecircncia ao modelo biomeacutedico

Nessa categoria mostram-se os relatos de questionamento e resistecircncia ao

atendimento obsteacutetrico por parte de algumas mulheres revelando que estas natildeo tecircm

autonomia tanto na decisatildeo sobre o tipo de parto quanto na escolha por quem querem que lhes

acompanhe em seu parto

As participantes questionam as situaccedilotildees impostas pelos profissionais que representam

o modelo biomeacutedico Uma entrevistada que queria o parto normal apresentou-se encorajada a

protestar contra este modelo trocando de meacutedico quando natildeo teve a sua opiniatildeo respeitada

conforme na fala

56

() Outro fato que me deixou frustrada foi quando eu iniciei o preacute-natal eu disse que queria

parto normal o meacutedico ficou bravo e foi bem mal educado e perguntou o que eu estava fazendo laacute

entatildeo Fui embora natildeo fiz mais preacute- natal com ele fui para o SUS Eu me senti invadida (M3)

Outra entrevistada questiona a falta do acompanhante de sua preferecircncia no parto Eu

gostaria que o meu marido bdquotivesse‟ junto (M1) Em um estudo realizado por Prado Junior

(2008) constatou-se que a presenccedila de familiares no processo de nascimento eacute visto por 100

das entrevistadas como primordial Para Balaskas (2008) o sentimento relatado por homens

que jaacute acompanharam suas mulheres em trabalho de parto eacute o de plenitude em nenhum

momento o instinto de fecircmea fala tatildeo alto eacute o renascimento de uma nova mulher

Suas falas chamam a atenccedilatildeo tambeacutem para a importacircncia de a mulher poder exercer

mais liberdade e participaccedilatildeo ativa com a possibilidade de escolher se quer tomar banho ou

natildeo se quer ficar na aacutegua sentar na bola Tambeacutem eacute questionado por elas o uso da ocitocina e

a falta de respeito a sua privacidade pelo fato de estarem presentes pessoas assistindo ao seu

parto sem preacutevio pedido de autorizaccedilatildeo o que denota desrespeito a sua autonomia no

processo

Eu gostaria de ser mais orientada Entatildeo quanto mais natural pudesse ser para mim melhor

escolher se quer tomar banho ou natildeo se quer ficar na aacutegua sentar na bola Sou contra a ocitocina E

me colocaram o soro com ocitocina e eu disse ldquomas para quecirc colocar se eu jaacute to quase ganhando Soacute

para me dar uma dor mais forte e realmente deurdquo(M1) Tinha uns 7 ou 8 alunos que estavam laacute e que queriam assistir um parto pessoas que eu

nunca tinha visto olhando o meu parto Eu acho que tudo foi muito forccedilado Os alunos assistiram ao

meu parto ningueacutem me perguntou se eu queria que assistisse (M3)

A mulher em trabalho de parto precisa de privacidade para se sentir mais segura

Poreacutem em muitos locais de atendimento puacuteblico isso natildeo eacute devidamente cuidado sendo

negligenciada a cultura do sujeito que envolve seus valores percepccedilotildees necessidades e

medos (ODENT 2003)

A postura do profissional em natildeo aceitar a opiniatildeo das usuaacuterias eacute denominada por

antropoacutelogos como ldquopensamento etnocecircntricordquo ou ldquosistema fechado de cogniccedilatildeordquo O

etnocentrismo eacute um sistema acentuado por rituais que os representam e os sustentam

(FLOYD 2009) Sabem os etnocentristas da existecircncia de outro saber e crenccedilas mas estatildeo

absolutamente seguros de que seu modo de pensar eacute melhor e por isso ignoram ideacuteias

contraacuterias agraves deles e consideram esses diferentes modos de pensar uma ameaccedila A

entrevistada destaca esta postura

Acho que os meacutedicos satildeo muito apressados Deveriam deixar mais a natureza agir por conta

o bebecirc se encaixar no lugar certo deixar a matildee de forma mais natural possiacutevel (M1)

57

Um princiacutepio baacutesico do modelo de atendimento tecnocraacutetico que vem ao encontro da

forma de pensar e agir do pensamento etnocecircntrico eacute a autoridade e responsabilidade do

profissional e das instituiccedilotildees de sauacutede sobre a pessoa Nesse contexto eacute mais confortaacutevel

para a usuaacuteria abdicar de sua preferecircncia pessoal em favor da opiniatildeo meacutedica (FLOYD

2004)

Esse fato foi constatado nas entrevistas que apontavam para a resistecircncia ao modelo

biomeacutedico poreacutem atraveacutes de uma percepccedilatildeo passiva da realidade como a sensaccedilatildeo meio

vaga de que alguma coisa estaacute errada e cuja mudanccedila natildeo estaacute ao seu alcance ou natildeo depende

apenas de sua vontade e accedilatildeo A mulher parece natildeo estar ciente da fragmentaccedilatildeo subliminar

da atenccedilatildeo ao parto hospitalar como se o ldquoeurdquo e o ldquoseu corpordquo fossem separados e que

nascimento fosse parte de uma produccedilatildeo A taacutetica mais eficiente descrita por Martin quando

utiliza a analogia entre operaacuterios e mulheres dando agrave luz eacute a mulher tornar-se patratildeo de si

mesmo isto eacute dando agrave luz em seu domicilio onde elas satildeo donas da faacutebrica e podem ter total

controle sobre o processo de produccedilatildeo e sobre seu corpo (MARTIN 2006)

Percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea

Buscaram-se juntamente agraves mulheres do estudo indicaccedilotildees e motivaccedilotildees de acordo

com seu entendimento para a realizaccedilatildeo de cesariana A seguir eacute apresentada a ausecircncia de

dilataccedilatildeo a presenccedila ou natildeo de contraccedilotildees e as cesaacutereas eletivas como indicativos para a

ocorrecircncia do procedimento ciruacutergico

Eu induzi porque natildeo tinha dilataccedilatildeo eu soacute tinha contraccedilatildeo Eu natildeo tinha nenhum outro

problema () fiquei frustrada Eu queria parto normal soacute natildeo tive porque meu parto foi induzido

(M2)

Porque natildeo tinha dor natildeo tinha dilataccedilatildeo e tava muito em cima (M5)

Se tivesse entrado em trabalho de parto tudo bem daiacute ia ficar pro parto como natildeo tinha foi

para cesaacuterea (M6)

Fizeram uma junta meacutedica laacute no hospital e os meacutedicos falaram com a minha matildee pois eu era

bdquode menor‟ ela autorizou para fazer uma cesaacuterea antecipada porque eu jaacute bdquotava‟ em trabalho de

parto soacute que eu natildeo tinha dilataccedilatildeo () (M8)

Um dos motivos alegados pela entrevistada M6 foi ter sido submetida a uma cesaacuterea

eletiva por natildeo ter entrado em trabalho de parto tendo tambeacutem a falta de informaccedilatildeo apontada

sobre outras formas de nascimento

58

O descontentamento por natildeo ter vivenciado o parto normal foi narrado com frustraccedilatildeo

pela entrevistada M2 A induccedilatildeo do parto e a presenccedila de contraccedilotildees apontadas por ela como

fatores indicativos para realizaccedilatildeo de cesaacuterea estatildeo associadas ao aumento da taxa de

nascimento preacute-termo e de baixo peso

Na maioria das sociedades atuais o meio cultural propagado pelos profissionais

meacutedicos interfere nos processos fisioloacutegicos do nascimento O motivo para o aumento dos

iacutendices de cesaacutereas eacute verdadeiramente devido a uma falha universal e quase cultural no

entendimento das necessidades baacutesicas das mulheres (ODENT 2004)

Nessa direccedilatildeo as consequecircncias de risco aumentam tanto para a parturiente quanto

para o feto A taxa de internaccedilatildeo em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em um estudo feito

na Austraacutelia com gestantes de baixo risco demonstra que as chances de internaccedilatildeo em

mulheres que fizeram cesaacuterea eletiva sem entrar em trabalho de parto aumentam em 154

em gestaccedilotildees de 37 semanas 121 em gestaccedilotildees de 38 semanas e 51 para as mulheres

com 39 semanas gestacionais (TRACY et al 2007)

Os prejuiacutezos aos receacutem nascidos prematuros natildeo se apresentam somente no momento

do nascimento satildeo mais duradouros acompanham-nos na vida futura provocando problemas

de sauacutede e colocando-os em desvantagem em relaccedilatildeo aos que nasceram de parto vaginal

(TOMASHEK et al 2007 SWANY et al 2008)

Ao final da gestaccedilatildeo a mulher pode apresentar algumas vezes contraccedilotildees

permanecendo entretanto descoordenadas sem a dilataccedilatildeo da ceacutervice uterina o que se

denomina ldquofalso trabalho de partordquo Essa situaccedilatildeo pode levar o profissional de sauacutede a realizar

uma admissatildeo precoce da gestante na maternidade e com isso realizar intervenccedilotildees

desnecessaacuterias como por exemplo uma induccedilatildeo do parto sem indicaccedilatildeo ou uma cesariana

(BRASIL 2001)

Os partos induzidos e outros fatores como monitoramento fetal contiacutenuo e uso

frequente de anestesias peridurais satildeo aspectos da industrializaccedilatildeo do parto que tem como

consequumlecircncia a falta de entendimento da sua fisiologia (ODENT 2004)

Em um estudo na Escoacutecia constatou-se que 20 das pueacuterperas que se submeteram agrave

cesariana natildeo receberam orientaccedilatildeo sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea e 16 tinham

somente uma ideacuteia parcial da indicaccedilatildeo A forma e o momento inadequado de informar sobre

a indicaccedilatildeo da cirurgia podem acentuar a dificuldade de as mulheres entenderem e

compreenderem essas informaccedilotildees (HILLAN 1992) como se pocircde perceber na fala das

entrevistadas

59

E da segunda gravidez daiacute foi direto o agendamento da cesaacuterea mas eu natildeo tive outras

informaccedilotildees de outras formas de nascer ou em domiciacutelio ou em banheira Natildeo nada disso (M6)

() aiacute eles anteciparam a cesaacuterea Depois eu descobri que foi porque o meu marido faleceu

(M8)

Outra pesquisa mostra que a justificativa dada por 61 mulheres para a realizaccedilatildeo da

cesariana foi discordante da indicaccedilatildeo meacutedica em 475 dos casos Tenciona-se o fato de que

ignorar a indicaccedilatildeo de cesaacuterea pela mulher pode dificultar a conduccedilatildeo para um parto normal

posterior e as complicaccedilotildees advindas (OLIVEIRA et al 2002)

Uma das maiores preocupaccedilotildees associadas agrave cesariana aleacutem dos vaacuterios problemas

inerentes a um procedimento ciruacutergico eacute o seu impacto e risco na sauacutede reprodutiva futura da

mulher como predisposiccedilatildeo a inserccedilatildeo anormal da placenta em futuras gestaccedilotildees (LEE

DALTON 2008)

O maior risco de ruptura uterina hemorragia poacutes-parto e remoccedilatildeo manual de placenta

tambeacutem eacute relacionado a mulheres que jaacute se submeteram a uma cesariana preacutevia (TAYLOR et

al 2005)

Segundo o relato das entrevistadas natildeo foram apresentadas indicaccedilotildees para a cesaacuterea

condizentes ao que as evidecircncias cientiacuteficas preconizam na literatura da aacuterea Outro fato

apontado atraveacutes na fala das entrevistadas foi o agendamento preacutevio da cirurgia no preacute-natal

ldquoA cirurgia estava agendada jaacute no preacute-natalrdquo (M4) ldquoEstava agendada a cesaacuterea no preacute-natalrdquo

(M6)

Os inuacutemeros efeitos prejudiciais tanto para a mulher quanto para o fetoneonato da

cesaacuterea sem indicaccedilotildees satildeo comprovados pelo conhecimento cientiacutefico atual A siacutendrome da

anguacutestia respiratoacuteria do receacutem-nascido desponta com uma das principais causas de morbi-

mortalidade perinatal (MADAR 1999)

As pacientes submetidas a cesarianas agendadas sem indicaccedilotildees apresentam

morbidade e mortalidade maior quando comparadas a pacientes que realizaram o parto normal

(HALL 1999 LILFORD et al 1990)

A respeito do motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea um estudo constatou que a maioria das

mulheres demonstra certa passividade frente ao meacutedico na decisatildeo pelo parto ciruacutergico

(FIGUEIREDO N et al 2010)

Essa conduta relaciona-se com os elevados iacutendices de cesaacutereas desnecessaacuterias no

Brasil Buscando reverter esse quadro a Associaccedilatildeo Meacutedica Brasileira (AMB) e o Conselho

Federal de Medicina (CFM) em iniciativa conjunta elaboraram um protocolo sobre o tema

indicaccedilotildees de cesaacutereas intitulado Projeto Diretrizes (PD) Satildeo objetivos desse trabalho

60

conciliar informaccedilotildees sobre o tema no sentido de estimular a praacutetica da medicina baseada em

evidecircncias analisar individualmente as indicaccedilotildees de cesariana com base nas evidecircncias

cientiacuteficas da literatura promover uma diminuiccedilatildeo das taxas de cesariana (PROJETO

DIRETRIZES 2002)

Os desvios eacuteticos decorrentes dessa conduta natildeo levam em consideraccedilatildeo a sauacutede das

mulheres Haacute a necessidade constante de atualizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais meacutedicos

e demais consequumlecircncias possiacuteveis dessa atitude (HADDAD et al 2011)

Nesse contexto destaca-se um estudo realizado com docentes do Departamento

Materno- Infantil do Hospital Universitaacuterio de Satildeo Joseacute do Rio Preto que constatou a

valorizaccedilatildeo da cesaacuterea em detrimento ao parto vaginal concorrendo para a disseminaccedilatildeo da

cultura subjacente agrave desmobilizaccedilatildeo dos alunos e profissionais meacutedicos para a realizaccedilatildeo do

parto normal (MORAES GOLDENGERG 2001)

61

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao tentar traduzir sob a forma de pesquisa a compreensatildeo de como a cultura influencia

no processo de parturiccedilatildeo da mulher finalizo este estudo com o vislumbre de que o objeto

escolhido foi pleno de possibilidades para entender e sobretudo para ampliar as propostas e a

pesquisa nessa aacuterea de estudos Encerro este trabalho com a certeza de que foi uma etapa

necessaacuteria em minha vida profissional e muito importante para o meu crescimento pessoal e

acadecircmico

Como mencionado anteriormente a inquietaccedilatildeo frente agrave fragilidade das parturientes ao

se submeterem sem questionamentos a todos procedimentos e intervenccedilotildees da equipe

obsteacutetrica apresentou-se como uma das justificativas da realizaccedilatildeo deste trabalho atraveacutes da

questatildeo norteadora ldquoqual a participaccedilatildeo da cultura nos saberes e as praacuteticas das mulheres em

relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeordquo

Esse estudo abriu espaccedilo para que mulheres falassem de um periacuteodo em suas vidas

extremamente iacutentimo e especial permitindo-lhes ampliar a visatildeo acerca dos determinantes

socioculturais envolvidos nesse momento O estudo foi realizado fora do periacuteodo graviacutedico

puerperal justamente para tentar captar delas o que realmente ficou de significativo dessa

fase sem interferecircncia ou expectativas de quem estaacute passando pelo turbilhatildeo de emoccedilotildees que

acompanham o processo da parturiccedilatildeo

O desenvolvimento desta pesquisa possibilitou perceber que o parto enquanto um dos

momentos da vida da mulher de grande importacircncia nem sempre eacute compreendido e entendido

dessa maneira por elas

Da mesma forma observou-se que a vivecircncia das mulheres em seu processo de

parturiccedilatildeo eacute percebida de modo diferente por cada uma algumas vezes de forma positiva e

outras de forma negativa A forma da mulher vivenciar esse processo depende de fatores

individuais e principalmente de representaccedilotildees culturais da realidade social a que ela

pertence

A abordagem negativa do estudo referida por algumas mulheres manifestou o

desconhecimento sobre a fisiologia do parto estando intrinsecamente relacionado ao modelo

fragmentado em partes do corpo perpetuado pelas praacuteticas da medicina cientiacutefica dominantes

na sociedade

62

As mulheres natildeo estatildeo conscientes dessas circunstacircncias e reproduzem essa forma de

fragmentaccedilatildeo de que o uacutetero eacute um muacutesculo involuntaacuterio e de que o parto eacute um processo ao

qual tecircm de se submeter causando uma sensaccedilatildeo muito marcante de fragmentaccedilatildeo e

objetificaccedilatildeo nas mulheres que sofreram uma cesaacuterea conforme constatado no estudo

Por outro lado a abordagem positiva apontada por elas dignifica a responsabilidade

por uma nova vida e a emoccedilatildeo do nascimento entendendo-o como uma oportunidade de

crescimento psicoloacutegico e de resgate espirituais

Na percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado haacute divergecircncias de opiniatildeo em

relaccedilatildeo ao tipo de parto vivenciado por cada uma As mulheres que desejaram e vivenciaram

o parto normal relatam o evento como parte de uma jornada interior e exterior que envolve

sentimentos iacutentimos uma experiecircncia fiacutesica profunda e intensa de algo que elas satildeo capazes

de realizar compreendendo que o significado de ser matildee eacute ter a capacidade de passar pela

experiecircncia do trabalho de parto e do parto natural

Em contrapartida o significado da vivecircncia das mulheres que natildeo desejaram ou

realizaram a cesaacuterea assemelha-se ao processo de produccedilatildeo industrializada em nossa

sociedade em que as atividades satildeo realizadas e determinadas inteiramente pela figura do

meacutedico e dos hospitais e natildeo por elas Percebeu-se que o papel principal do parto que seria

da parturiente foi assumido por essas figuras que estatildeo no controle pois as mulheres natildeo se

sentiam prontas ou capazes de tomaacute-lo para si

Identificou-se que a via de parto desejada pela maioria das entrevistadas foi o parto

normal mas as que natildeo conseguiram realizar esse desejo foi devido agrave influecircncia e agraves

intervenccedilotildees recebidas do meacutedico Os argumentos que influenciaram o desestiacutemulo da

realizaccedilatildeo do parto normal foram a necessidade de realizaccedilatildeo de laqueadura tubaacuteria e a falta

de informaccedilatildeo sobre meacutetodos natildeo farmacoloacutegicos e farmacoloacutegicos para o aliacutevio da dor

Cabe ressaltar que as mulheres que desejaram o parto normal e conseguiram parir por

esta via sentiram seguranccedila e confianccedila na experiecircncia do trabalho de parto natildeo sendo

identificando nenhum sinal perceptiacutevel em suas palavras relacionado agrave incapacidade de fazecirc-

lo podendo assim vivenciaacute-lo ativamente Outros aspectos importantes a serem ressaltados

foram a rapidez da recuperaccedilatildeo e a volta agraves atividades diaacuterias o desejo de serem acolhidas

pelos profissionais nas suas demandas e o direito agrave informaccedilatildeo clara e eacutetica

Sobre o poder de decisatildeo do meacutedico quanto ao tipo de parto constataram-se

divergecircncias de opiniatildeo As entrevistadas afirmaram que o meacutedico tem o poder de decisatildeo

sobre a escolha do tipo de parto poreacutem algumas natildeo estatildeo de acordo com esta conduta

63

defendendo que a decisatildeo deveria levar em conta a opiniatildeo da mulher uma vez que eacute ela que

estaacute sentindo e passando pelo processo

Conforme expressam as entrevistadas elas aceitaram essa atitude por parte dos

profissionais mas sentiram que algo em relaccedilatildeo a isso poderia ter sido mudado Elas

incentivam a mudanccedila das atitudes que colocam a mulher em posiccedilatildeo desprivilegiada no

parto

Outro aspecto destacado no estudo foi como se daacute a construccedilatildeo cultural do processo

parturitivo das mulheres Pocircde-se constatar que o significado positivo evidenciado pelas

mulheres do conviacutevio das entrevistadas principalmente pela figura materna proporcionou um

parto enriquecedor agraves entrevistadas e exerceu influecircncia na preferecircncia por parto normal

Outras no entanto descrevem que se atribuiu significado negativo pelas mulheres do

conviacutevio o que provocou medo ansiedade e inseguranccedila agraves entrevistadas durante a

experiecircncia do seu parto

Assim confirma-se que o parto natildeo pode ser entendido e reduzido somente ao aspecto

bioloacutegico pois a partir da transmissatildeo de conhecimentos interrelacionais constatados nesta

pesquisa pode-se compreender que a cultura influencia no processo de parturiccedilatildeo das

mulheres E haacute que se considerar essa influecircncia quando se presta cuidado agraves parturientes

O conteuacutedo de revistas da internet dos meios de comunicaccedilatildeo em geral aleacutem das

informaccedilotildees repassadas por vizinhos constituem outro fator de notaacutevel influecircncia nesse

construto imaginaacuterio As experiecircncias relatadas denotam que essas formas de construccedilotildees

culturais servem para expansatildeo do conhecimento sobre o assunto Isso deixa claro que as

mulheres muitas vezes estatildeo conscientes de sua falta de autonomia e buscam visotildees

alternativas sobre como o seu parto poderia acontecer

As visotildees alternativas citadas por elas foram o nascimento em casa de parto e no

domiciacutelio formas de assistecircncia consideradas na atualidade como humanizadas por ativistas

do parto normal de todo o mundo e pelas organizaccedilotildees governamentais e natildeo governamentais

que trabalham em prol da humanizaccedilatildeo do parto e nascimento tendo como objetivo devolver

agrave mulher o protagonismo na sua gestaccedilatildeo parto e poacutes-parto

No relato das mulheres eacute citada somente a figura meacutedica na consulta de preacute-natal e

elas falam que esse profissional natildeo forneceu efetivamente nenhuma informaccedilatildeo sobre parto

Tal postura silenciosa por parte desse profissional pode estar influenciando a faacutecil aceitaccedilatildeo

de uma cesaacuterea desnecessaacuteria fato esse comprovado pelo tipo de parto de maior incidecircncia

das mulheres deste estudo

64

As atividades desenvolvidas durante as consultas de preacute-natal foram accedilotildees de cunho

puramente bioloacutegico tecnicista e fragmentado como constatado na forma reduzida de

assistecircncia prestada que se limita agrave solicitaccedilatildeo de exames e agrave avaliaccedilatildeo obsteacutetrica de

batimentos cardiacuteacos fetais e altura uterina

As mulheres citam o atendimento da enfermeira na vivecircncia do parto bem como na

gestaccedilatildeo o que deflagra sua importacircncia nesse processo pois tal profissatildeo se constitui como

uma das maiores estrateacutegias que visa melhorar a assistecircncia obsteacutetrica no Brasil e exerce um

papel relevante no que tange agrave humanizaccedilatildeo durante o processo de nascimento Da mesma

forma a fisioterapia tambeacutem foi citada como ponto de incentivo agrave escolha do parto normal

O significado de parto celebrado por algumas mulheres do estudo abrange o

questionamento e a resistecircncia aos pressupostos culturais subjacentes ao modelo biomeacutedico

atual discordando de praacuteticas que vivenciaram no parto consideradas desrespeitosas Ponto

comum em suas falas foi a auto-percepccedilatildeo de resistecircncia agrave passividade imposta pela praacutetica

meacutedica

Foi demonstrado pelas mulheres claro desagrado por algumas praacuteticas que retiram da

mulher a sua autonomia no processo da parturiccedilatildeo tais como coibiccedilatildeo do acompanhante no

trabalho de parto e no parto invasatildeo de privacidade com a entrada de pessoas estranhas para

assistir ao parto sem licenccedila da parturiente e a falta de autonomia na escolha da via de parto

normal

A privaccedilatildeo dessa escolha acarretou a praacutetica de cesaacutereas desnecessaacuterias na maioria

das mulheres deste estudo Um dos principais motivos para a realizaccedilatildeo das cesaacutereas foi

apontado como a falta de dilataccedilatildeo das gestantes simplesmente pelo fato de natildeo estarem em

trabalho de parto quando admitidas na maternidade

Confesso que ao teacutermino deste trabalho muitos pressupostos que faziam parte dos

meus questionamentos foram esmaecidos pois esperava encontrar mulheres alienadas agrave

medicalizaccedilatildeo e agrave patologizaccedilatildeo do processo da parturiccedilatildeo e foi surpreendente o depoimento

de algumas das entrevistadas que demonstraram estar buscando novas formas de

conhecimento e de vivecircncia deste momento tatildeo especial em suas vidas natildeo obstante estarem

inseridas em um modelo tecnicista de assistecircncia

As entrevistadas questionam as praacuteticas como se apresentam atualmente e isso natildeo

significa que refutem os proveitos tecnoloacutegicos quando necessaacuterios mas defendem a

passagem a outro tipo de cultura em que possam exercer mais liberdade e ter participaccedilatildeo

ativa no processo da parturiccedilatildeo

65

Alguns significados atribuiacutedos pelas mulheres quanto agrave preferecircncia pela cesaacuterea e a

percepccedilatildeo de que o parto normal eacute muito mais arriscado explicitam resquiacutecios do discurso

meacutedico dominante Tambeacutem se revelou no estudo que as pacientes natildeo receberam

informaccedilotildees acerca dos riscos advindos deste procedimento ciruacutergico sem indicaccedilotildees

Portanto a ausecircncia de informaccedilatildeo sobre parto que deveria ser repassada pelo meacutedico foi

uma constataccedilatildeo neste estudo

O trabalho configurou-se um exerciacutecio instigante na medida em que o encadeamento

reflexivo da anaacutelise a partir das contribuiccedilotildees teoacutericas advindas dos estudos culturais de

gecircnero e corpo foi apontando que esse profissional de sauacutede produz significado no modo

como o parto eacute vivenciado pelas mulheres

Respondo ao final destas consideraccedilotildees ao questionamento inicial do estudo

constatando que a cultura participa dos saberes e das praacuteticas das mulheres em relaccedilatildeo ao

processo da parturiccedilatildeo Poreacutem algumas mulheres estatildeo buscando reinterpretar esta cultura

por meio de novas formas de vivenciar e de burlar o sistema de sauacutede obsteacutetrico vigente que

oprime tira-lhes o poder e impotildee silecircncio sob a eacutegide da proteccedilatildeo

As mulheres querem ser respeitadas ter direito agrave privacidade em seu parto ser ouvidas

e informadas com transparecircncia e eacutetica ter espaccedilo para expressar suas escolhas e agir

conforme suas necessidades poder gritar escandalizar caso desejem querem ainda ter

assistecircncia de boa qualidade sem julgamentos e livre de praacuteticas rotineiras que as instituiccedilotildees

obsteacutetricas impotildeem sem nenhum benefiacutecio para a matildee e o bebecirc

Se essa eacute a forma para encontrar significado ao desejo das mulheres ela difere e

muito da ldquopessimizaccedilatildeordquo do parto que alguns grupos de profissionais reproduzem em uma

cesaacuterea desnecessaacuteria ou em um parto normal medicalizado para finalizar um comeccedilo de vida

Cabe a noacutes profissionais de sauacutede mulheres homens sairmos dessa zona de conforto

que a sociedade atual nos enquadrou e comeccedilarmos a entender que a mudanccedila de paradigmas

de assistecircncia em todo o processo da parturiccedilatildeo estaacute associada a cidadatildeos e cidadatildes

conscientes e sujeitos da sua proacutepria histoacuteria

A enfermagem tem uma responsabilidade muito grande em todo esse processo e natildeo

pode eximir-se dela pois somos uma categoria profissional juntamente com a medicina que

tem o respaldo na lei do exerciacutecio profissional na assistecircncia agrave parturiente e ao parto normal

Os enfermeiros tecircm a formaccedilatildeo de natildeo intervir no processo da parturiccedilatildeo isto eacute de deixar a

fisiologia agir e eacute isto que temos que buscar a reconstruccedilatildeo dessa cultura sem intervenccedilotildees no

parto normal das mulheres

66

Precisamos fazer valer esse direito legal para que como profissionais do cuidado que

somos possamos proporcionar o cuidado de oferecer como um direito agrave mulher o

protagonismo no seu parto

O reconhecimento da mulher como protagonista do seu parto eacute elemento primordial

para os profissionais poderem compreender os temores as alegrias e os prazeres da gestaccedilatildeo e

do parto e assumirem uma nova postura de atenccedilatildeo Assim encerro destacando que os

muacuteltiplos aspectos que permeiam a vivecircncia das mulheres precisam ser observados quando se

presta assistecircncia durante o processo da parturiccedilatildeo

67

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA N A M A dor do parto normal na perspectiva e vivecircncia de um grupo de

mulheres usuaacuterias do Sistema Uacutenico de Sauacutede Tese de doutorado Programa de Poacutes

Graduaccedilatildeo em Ciecircncias da Sauacutede - Convecircnio Rede Centro Oeste (UNB UFG UFMS)

Goiacircnia 2009

ANS AGEcircNCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR (Brasil) O modelo de atenccedilatildeo

obsteacutetrica no setor de Sauacutede Suplementar no Brasil cenaacuterios e perspectivas Agecircncia

Nacional de Sauacutede Suplementar ndash Rio de Janeiro ANS 2008a Disponiacutevel em

lthttpwwwansgovbrportaluploadnoticiasclippinglivro_parto_webpdfgt Acesso em 11

ago 2011

ANS Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar (Brasil) Rol de Procedimentos e Eventos em

Sauacutede RN 16708 Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar - Rio de Janeiro ANS 2008b

ANS AGEcircNCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR (Brasil) Atualiza o Rol de

Procedimentos e Eventos em Sauacutede previstos na RN nordm 211 de 11 de janeiro de 2010

Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar ndash Rio de Janeiro ANS 2011 Disponiacutevel em

lthttpwwwansgovbrimagesstoriesnoticiaspdfrn20262pdfgt Acesso em 30 nov

2011

BALASKAS J Parto Ativo guia praacutetico para o parto natural Traduccedilatildeo Adailton Salvatore

Meira 2 ed Satildeo Paulo Ground 2008

BARAK E M ALAN R H e NILS J B Should Neonates Sleep Alone Society of

Biological Psychiatry Revista Biological Psychiatry 2011

BARROS et al The challenge of reducing neonatal mortality in middle-income countries

findings from three Brazilian birth cohorts in 1982 1993 and 2004 Lancet v365 n9462

Mar 5-11 p847-54 2005

BARDIN L Anaacutelise de conteuacutedo 7 ed Portugal Ediccedilotildees 1977

BERGER P LUCKMANN T A Construccedilatildeo Social da Realidade Traduccedilatildeo de Floriano

de Souza Fernandes 3 ed Petroacutepolis Vozes 1976

68

BEZERRA M G A CARDOSO M V L M Fatores interferentes no comportamento de

parturientes enfoque na Etnoenfermagem Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v

58 n6 p698-702 novdez 2005

BEZERRA M G A CARDOSO M V L M Fatores culturais que interferem nas

experiecircncias das mulheres durante o trabalho de parto e parto Revista Latino-americana

Enfermagem maiojun 14(3)414-21 2006

BUSANELLO J COSTA K P PINHO E Humanizaccedilatildeo do Parto e do Nascimento os

desafios para a implementaccedilatildeo do programa do Ministeacuterio da Sauacutede CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 61 7 a 10 dez Fortaleza Cearaacute 2009

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Programa de Assistecircncia Integral agrave Sauacutede da Mulher bases

de accedilatildeo programaacutetica Brasiacutelia DF 1984

_____ Lei nordm 749886 Dispotildee sobre a regulamentaccedilatildeo do exerciacutecio da Enfermagem e daacute

outras providecircncias Disponiacutevel em

lthttpwwwabennacionalorgbrdownloadLeiPROFISSIONALpdf gt Acesso em 29 nov

2011

_____ Decreto n 9440687 Regulamenta a Lei nordm 7498 de 25 de junho de 1986 Dispotildee

sobre o exerciacutecio da enfermagem e da outras providecircncias Disponiacutevel em

lthttpportalcofengovbrsitenovonode4173gt Acesso em 29 nov 2011

_____ Presidecircncia da Repuacuteblica Lei nordm 11108 Altera a Lei no 8080 de 19 de setembro de

1990 para garantir agraves parturientes o direito agrave presenccedila de acompanhante durante o trabalho de

parto parto e poacutes-parto imediato no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS 2005b

Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-

20062005LeiL11108htmlgt Acesso em 25 nov 2011

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Resoluccedilatildeo nordm 196 sobre pesquisas envolvendo seres

humanos Brasiacutelia DF 1996

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 2815 de 29 de maio de 1998 - Institui o

procedimento do parto normal realizado por enfermeiro obstetra no Sistema Uacutenico de

Sauacutede Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF

seccedilatildeo 1 p47-8 1998b

69

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 2883 de 04 de junho de 1998 - Institui o Precircmio

Nacional Profordf Galba de Arauacutejo Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder

Executivo Brasiacutelia DF seccedilatildeo 1 p 24 de 0506 de 1998a Disponiacutevel em

lthttpdtr2001saudegovbrsasportariasport98GMGM-2883htmlgt Acesso em 29 nov

2011

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria nordm 985 GM Institui as Casas de Parto ou Centro de

Parto Normal no Sistema Uacutenico de Sauacutede Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do

Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 05 ago 1999

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 466 de 14 de junho de 2000 - Estabelecer como

competecircncia dos estados e do Distrito Federal a definiccedilatildeo de limite por hospital de

percentual maacuteximo de cesarianas em relaccedilatildeo ao nuacutemero total de partos realizados e

ainda a definiccedilatildeo de outras estrateacutegias para a obtenccedilatildeo de reduccedilatildeo destes procedimentos

no acircmbito do estado Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil 115-E Poder

Executivo Brasiacutelia DF 2000a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 569 570 571 572 GM Estabelece o Programa de

Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e do Nascimento Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do

Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 01 jun 2000b

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Parto Aborto e Puerpeacuterio Assistecircncia Humanizada agrave

Mulher Ministeacuterio da SauacutedeFEBRASGOABENFO Brasiacutelia DF 2001

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Assistecircncia em Planejamento familiar Manual Teacutecnico-4 ed

Brasiacutelia 2002

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo integral agrave sauacutede da mulher

princiacutepios e diretrizes Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees Programaacuteticas

Estrateacutegicas Brasiacutelia Editora do Ministeacuterio da Sauacutede 2004

_____ Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Conselho Nacional dos Direitos da

Mulher I Plano Nacional de Poliacuteticas Puacuteblicas para as Mulheres Brasiacutelia 2005a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Nuacutecleo Teacutecnico da Poliacutetica

Nacional de Humanizaccedilatildeo Humaniza SUS documento base para gestores e trabalhadores do

SUS Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Nuacutecleo Teacutecnico da Poliacutetica

Nacional de Humanizaccedilatildeo 3 ed Brasiacutelia Editora do Ministeacuterio da Sauacutede 2006a

70

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Preacute-natal e puerpeacuterio atenccedilatildeo qualificada e humanizada

Brasiacutelia DF 2006b

_____ Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Conselho Nacional dos Direitos da

Mulher II Plano Nacional de Poliacuteticas Puacuteblicas para as Mulheres Brasiacutelia 2008a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA) Resoluccedilatildeo

RDC nordm 36 de 03 de junho dispotildeem sobre Regulamento Teacutecnico para Funcionamento dos

Serviccedilos de Atenccedilatildeo Obsteacutetrica e Neonatal - Brasiacutelia - DF 2008b

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Instrutivo dos indicadores para a pactuaccedilatildeo unificada 2008

Brasiacutelia 2008c

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da

Mulher ndash PNDS 2006 dimensotildees do processo reprodutivo e da sauacutede da crianccedila Ministeacuterio

da Sauacutede Centro Brasileiro de Anaacutelise e Planejamento Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2009

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Estatiacutesticas de partos no Brasil Brasiacutelia DF 2010

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Aleacutem da sobrevivecircncia praacuteticas integradas de atenccedilatildeo ao

parto beneacuteficas para a nutriccedilatildeo e a sauacutede de matildees e crianccedilas Ministeacuterio da Sauacutede

Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Aacuterea Teacutecnica de Sauacutede da Crianccedila e Aleitamento Materno ndash

Brasiacutelia DF 2011

BUDOacute M L D et al A cultura permeando os sentimentos e as reaccedilotildees frente agrave dor Revista

da Escola de Enfermagem da USP Satildeo Paulo v41 n1 p 36-43 2007

BUSANELLO J COSTA K P PINHO E Humanizaccedilatildeo do Parto e do Nascimento os

desafios para a implementaccedilatildeo do programa do Ministeacuterio da Sauacutede CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 61 - 7 a 10 dez Fortaleza Cearaacute 2009

CERVO A BREVIAN P A A Metodologia Cientiacutefica Satildeo Paulo Mc Graw-Hill 1983

CHRISTOFFEL M M SANTOS R S Navegando no mar da neonatologia um mergulho

no mundo imaginal do receacutem-nascido da UTIN Rio de Janeiro Ed EEAN 2003

COLLACcedilO V S Parto vertical vivecircncia do casal na dimensatildeo cultural do processo de

parir Florianoacutepolis Cidade Futura 2002

71

DECLERCQ E MENACKER F MACDORMAN M Rise in no indicated risk primary

caesareans in the United States 1991-2001 cross sectional analysis BMJ v330 n7482 Jan

8 p71-2 2005

DIAS M A et al Trajetoacuteria das mulheres na definiccedilatildeo pelo parto cesaacutereo estudo de caso em

duas unidades do sistema de sauacutede suplementar do estado do Rio de Janeiro Ciecircncia e Sauacutede

Coletiva 13(5) 1521-1534 setout 2008

DINIZ C S G Direitos humanos das mulheres na gravidez e no parto Projeto Gecircnero

Violecircncia e Direitos Humanos - Novas Questotildees para o Campo da Sauacutede Coletivo Feminista

Sexualidade e Sauacutede Departamento de Medicina Preventiva Faculdade de Medicina USP 2

ed 2003

_____ Entre a teacutecnica e os direitos humanos possibilidades e limites da humanizaccedilatildeo da

assistecircncia ao parto Tese (Doutorado) Satildeo Paulo (SP) Faculdade de MedicinaUSP 2001

DOU DIAacuteRIO OFICIAL DA UNIAtildeO Seccedilatildeo 1 nordm 147 2 de agosto de 2011 p 34 Agecircncia

Nacional de Sauacutede Suplementar- ANS Resoluccedilatildeo normativa nordm 262 de 1ordm agosto de 2011

Disponiacutevel em

lthttpwwwingovbrimprensavisualizaindexjspjornal=1amppagina=34ampdata=02082011gt

Acesso em 02 ago 2011

ELSEN I SOUZA A I J MARCON SS Enfermagem agrave Famiacutelia dimensotildees e

perspectivas Maringaacute p 257-267 Eduem 2011

FAUacuteNDES A CECATTI J G A operaccedilatildeo cesaacuterea no Brasil Incidecircncia tendecircncias

causas consequecircncias e propostas de accedilatildeo Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro v7

n2 p150-173 jun 1991

FIGUEREDO L G M Consequecircncias causadas pela aplicaccedilatildeo de ocitocina na induccedilatildeo de

partos Superartigos (online) 2010 Disponiacutevel em httpwwwartigosetcbrconsequencias-

causadas-pela-aplicacao-de-ocitocina-na-inducao-de-partoshtml Acesso em 15 nov 2011

FIGUEREDO N S V et al Fatores culturais determinantes da escolha da via de parto por

gestantes HU Revista Juiz de Fora v 36 n 4 p 296-306 outdez 2010

FLOYD D R The technological model of birth J Am Folklore 100 p 479-495 1987

FLOYD D R JOHN St G Del medico al sanador Traduccedilatildeo de Lauren Showe e

colaboradores Buenos Aires Fund Creavida 2004

72

FLOYD D R Perspectivas antropoloacutegicas del parto y el nacimento Traduccedilatildeo de Jaqui

Zieler Magui Cadot e Graciela Cobe Buenos Aires Fund Creavida 2009

FOUCAULT M Microfiacutesica do Poder Traduccedilatildeo de Roberto Machado 10 ed Rio de

Janeiro Graal 1992

FREITAS P F et al Desigualdade social nas taxas de cesariana em primiacuteparas no Rio

Grande do Sul Revista de Sauacutede Puacuteblica 39 p 761-7 2005

GAIVA M A M TAVARES C M O Nascimento um evento pertencente agrave equipe de

sauacutede Texto amp Contexto Enfermagem outdez 12(4)569-75 2003

GAMA A S et al Representaccedilotildees e experiecircncias das mulheres sobre a assistecircncia ao parto

vaginal e cesaacuterea em maternidades puacuteblica e privada Cadernos de Sauacutede Puacuteblica

25(11)2480-2488 nov 2009

GAMBLE et al A critique of the literature on womens request for cesarean section Birth

v34 n4 Dec p331-40 2007

GEERTZ C A Interpretaccedilatildeo das Culturas Rio de Janeiro (RJ) Livros Teacutecnicos e

Cientiacuteficos 1989

GIL A C Como elaborar projetos de pesquisa 4 ed 9 reimpr Satildeo Paulo Atlas 2007

GUALDA DMR BERGAMASCO RB Enfermagem cultura e o processo sauacutede-

doenccedila Satildeo Paulo Iacutecone p221- 240 2004

HADDAD S El M T CECATTI J G Estrateacutegias dirigidas aos profissionais para a

reduccedilatildeo das cesaacutereas desnecessaacuterias no Brasil Revista Brasileira Ginecologia Obstetriacutecia

33(5) 252-62 2011

HALL M H BEWLEY S Maternal mortalityand mode of delivery Lancet 354776

1999

HELMAN G C Cultura Sauacutede e Doenccedila Traduccedilatildeo Ane Rose Bolner 5 ed Porto Alegre

Artes Meacutedicas 2009

73

HILLAN M Short-Term Morbidity Associated with Cesarean Delivery Birth v 19 Issue 4

pages 190ndash194 Dec 1992

HOPKINS K Are Brazilian Women Really Choosing to Delivery by Cesarean Soc Sci

Med 51(5)725-40 2000

HOTIMSKY SN et al O parto como eu vejo ou como eu o desejo Expectativas de

gestantes usuaacuterias do SUS acerca do parto e da assistecircncia obsteacutetrica Cadernos de sauacutede

puacuteblica setout 18(5)1303-1311 2002

IBGE Instituto Brasileiro Geografia e estatiacutesticas Cadernos de Informaccedilatildeo de Sauacutede

Ministeacuterio da Sauacutede 2009

IPEA Objetivos de desenvolvimento do milecircnio relatoacuterio nacional de acompanhamento

coordenaccedilatildeo Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada e Secretaria de Planejamento e

Investimentos Estrateacutegicos supervisatildeo Grupo Teacutecnico para o acompanhamento dos ODM

Brasiacutelia Ipea MP SPI 2007

JONES R Memoacuterias do homem de vidro reminiscecircncias de um obstetra humanista Porto

Alegre Ideacuteias a Granel 2004

PRADO JUNIOR P P Da concepccedilatildeo ao nascimento Praacuteticas Educativas na assistecircncia agrave

mulher no periacuteodo graviacutedico e puerperal Dissertaccedilatildeo de Mestrado Centro Universitaacuterio

Pliacuteneo Leite - Unipli Niteroacutei 2008

KRUNO R B BONILHA A L L Parto domiciliar na voz das mulheres uma perspectiva agrave

luz da humanizaccedilatildeo Rev Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) dez25(3)396-407 2004

LANDERDAHL M C et al Contribuiccedilotildees de um nuacutecleo de estudos na consolidaccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas para as mulheres REUFSM Revista de Enfermagem da UFSM - janabr

1(1)71-79 2011

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro (RJ) Jorge Zahar p 21-

40 2003

LEE Y Mi DALTON M E Cesarean delivery on maternal request the impact on mother

and newborn Clinics in Perinatology v35 n3 Sept p505-18 x 2008

74

LEININGER M Culture care diversity amp universality a theory of nursing New York

(US) National League for Nursing Press 1991

LEITAtildeO F J C Autonomia da mulher em trabalho de parto (Dissertaccedilatildeo) Mestrado em

Bioeacutetica Universidade de Lisboa Faculdade de medicina Departamento de Bioeacutetica 2010

LILFORD R J et al The relative risks of caesarean section (intrapartum and elective) and

vaginal delivery a detailed analysis to exclude the effects of medical disorders and other

acute pre-existing physiological disturbances Br J Obstet Gynaecol 97883-92 1990

MACDORMAN et al Infant and neonatal mortality for primary cesarean and vaginal births

to women with no indicated risk United States 1998-2001 birth cohorts Birth v33 n3

Sept p175-82 2006

MACHADO E G C Gestaccedilatildeo parto e maternidade uma visatildeo holiacutestica Belo Horizonte

Editora Aurora 1995

MADAR J RICHMOND S HEY E Surfactantdeficient respiratory distress after elective

delivery at bdquoterm‟ Acta Paediatr v 88 p 1244-8 1999

MANDARINO N R et al Aspectos relacionados agrave escolha do tipo de parto um estudo

comparativo entre uma maternidade puacuteblica e outra privada em Satildeo Luiacutes Maranhatildeo Brasil

Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 25(7) p 1587-1596 jul 2009

MARTIN E A mulher no corpo - uma anaacutelise cultural da reproduccedilatildeo Traduccedilatildeo Juacutelio

Bandeira Rio de Janeiro Garamond 2006

MARTINS C S RAMOS J G L A questatildeo das cesarianas Rev Brasileira Ginecologia

Obstetriacutecia v27 nordm 10 Rio de Janeiro 2005

MCCOURT et al Elective cesarean section and decision making a critical review of the

literature Birth v34 n1 mar p65-79 2007

MEDEIROS R M K SANTOS IMM SILVA L R A escolha pelo parto domiciliar

histoacuteria de vida de mulheres que vivenciaram esta experiecircncia Esc Anna Nery Rev

Enfermagem dez 12(4) 765-72 2008

MELCHIORI et al Preferecircncia de gestantes pelo parto normal ou cesariano Interaccedilatildeo

psicologia 13(1)13-23 janjun 2009

75

MINAYO M C de S (org) Pesquisa Social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis

Vozes 2000

_____ O Desafio do Conhecimento pesquisa qualitativa em sauacutede 8 ed Satildeo Paulo Ed

Hucitec-Abrasco 2004

_____ O Desafio do Conhecimento pesquisa qualitativa em sauacutede 11 ed Satildeo Paulo Ed

Hucitec-Abrasco 2008

MONTICELLI M O nascimento como rito de passagem uma abordagem cultural para o

cuidado de enfermagem agraves mulheres e receacutem-nascidos (Dissertaccedilatildeo) Mestrado em

Enfermagem UFSC Florianoacutepolis 1994

MONDARDO S Proposta de reestruturaccedilatildeo dos serviccedilos da Unidade de Atenccedilatildeo agrave

Sauacutede da Vila Kennedy Santa MariaRS UFSM Santa Maria 1993

MORAES M S GOLDENBERG P Cesaacutereas um perfil epidecircmico Cad Sauacutede Puacuteblica

Rio de Janeiro 17 (3)509-519 maiojun 2001

MORELL M G G MELLO A V A Declaraccedilatildeo de Nascido Vivo no Estado de Satildeo

Paulo alguns resultados Informe Demograacutefico SEADE 29201-331 1995

MURTA et al Could elective cesarean sections influence the birth weight of full-term

infants Satildeo Paulo Medical Journal v124 p313-315 2006

ODENT M A Cesariana Traduccedilatildeo de Maria de Faacutetima de Madureira Florianoacutepolis Saint

Germain 2004

_____ A cientificaccedilatildeo do Amor Traduccedilatildeo de Marcos de Noronha e Talia Gevaerd de Souza

Florianoacutepolis Saint Germain 2000

ODENT M O camponecircs e a parteira Uma alternativa agrave industrializaccedilatildeo da agricultura e do

parto Traduccedilatildeo de Sarah Bailey Satildeo Paulo Ground 2003

OLIVEIRA et al Tipo de parto expectativas das mulheres Revista Latino-Americana de

Enfermagem v10 n 5 p 667-674 setout 2002

76

ORGANIZACAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE (OMS) Maternidade Segura - assistecircncia ao

parto normal 2009 Disponiacutevel em

lthttpabenforedesindicalcombrarqsmateria56_apdfgt Acesso em 06 dez 2010

_____ Sauacutede Materna e Neonatal Unidade de Maternidade Segura Sauacutede Reprodutiva e da

Famiacutelia Assistecircncia ao parto normal Um guia praacutetico de sauacutede materna e neonatal

Unidade de Maternidade Segura Sauacutede Reprodutiva e da Famiacutelia Genebra A Sauacutede 1996

OPAS III Reunioacuten Especial de Ministros de Salud de las Ameacutericas Atas resumidas

Santiago de Chile 2ordf 9 de octubre de 1972 Doc Oficial nordm 123 sept 1973

PELLOSO S M PANONT K T SOUZA K M P Opccedilatildeo ou imposiccedilatildeo Motivos de

escolha da cesaacuterea Arq Ciecircnc Sauacutede UNIPAR 4(1) 3-8 2000

PEREIRA W R Poder Violecircncia e Dominaccedilatildeo Simboacutelicos nos Serviccedilos de Sauacutede

Ribeiratildeo Preto 175p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem de Ribeiratildeo Preto

Universidade de Satildeo Paulo 2000

PEREIRA R R FRANCO S C BALDIN N Representaccedilotildees sociais e decisotildees das

gestantes sobre a parturiccedilatildeo protagonismo das mulheres Sauacutede sociedade v20 n3 Satildeo

Paulo julysept 2011

PETER A P C O Cuidado Cultural no Processo de Ser e Viver da Mulher Receacutem-

Nascido e Famiacutelia que Vivenciam o Parto no Domiciacutelio e no Hospital com Ecircnfase no

Contexto Domiciliar abrindo novos caminhos para a enfermagem (Trabalho de Conclusatildeo

de Curso) Graduaccedilatildeo em Enfermagem ndash Universidade Federal de Santa Catarina

Florianoacutepolis 2005

POTTER J E et al Unwanted caesarean sections among public and private patients in

Brazil prospective study BMJ 323 1155-8 2001

_____ Womens autonomy and scheduled cesarean sections in Brazil a cautionary tale

Birth 35 33-40 2008

PROGIANTI JM BARREIRA I A A obstetriacutecia do saber feminino agrave medicalizaccedilatildeo da

eacutepoca medieval ao seacuteculo XX 9 91-7 Revista Enfermagem UERJ 2001

PROJETO DIRETRIZES Associaccedilatildeo Meacutedica Brasileira e Conselho Federal de Medicina

Cesarianas indicaccedilotildees 2002

77

RAMOS J G L et al Morte materna em hospital terciaacuterio do Rio Grande do Sul um estudo

de 20 anos Rev Bras Ginecol Obstet 25 (6) 431-6 2003

REBELO F et al High cesarean prevalence in a national population-based study in Brazil

the role of private practice Acta Obstet Gynecol Scand 89 903-8 2010

RESSEL L B Vivenciando a sexualidade na assistecircncia de enfermagem Um estudo na

perspectiva cultural Escola de Enfermagem Universidade de Satildeo Paulo 2003

RESSEL L B et al A influecircncia da famiacutelia na vivecircncia da sexualidade Revista Esc Anna

Nery (impr) abrjun 15 (2)245-250 2011

REZENDE J MONTENEGRO B AC Obstetricia Fundamental 9 ed Rio de Janeiro

Guanabara Koogan 2003

ROSS L L BONILHA A L de L ARMELLINI C J et al Representaccedilotildees culturais

sobre parto e nascimento SEMANA CIENTIacuteFICA DO HOSPITAL DE CLIacuteNICAS DE

PORTO ALEGRE 26 Revista do HCPA 26 (Supl 1) 1-267 2006

SABATINO H Resposta ao polecircmico artigo Cesariana a polecircmica das taxas escrito por

Raphael da Cacircmara Medeiros Parente (Meacutedico do Ministeacuterio da Sauacutede - HSE Doutor em

Ginecologia - UNIFESP Mestre em Epidemiologia - UERJ) e publicado no Jornal do

CREMERJ ndash p 8 e 9 maio de 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwamigasdopartoorgbr2007indexphpoption=com_contentamptask=viewampid=891

ampItemid=204gt Acesso em 06 dez 2010

SANTOS M L Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia ao Parto e Nascimento um modelo teoacuterico

(Dissertaccedilatildeo) Mestrado em Enfermagem Universidade Federal de Santa Catarina

Florianoacutepolis 2002

SCAVONE L Impacto das Tecnologias Meacutedicas na Famiacutelia Sauacutede em Debate nordm40

p48-73 set 1993

SEIBERT S L BARBOSA J L S SANTOS J M VARGENS O M C

Medicalizaccedilatildeo x humanizaccedilatildeo o cuidado ao parto na histoacuteria Revista de Enfermagem

UERJ 13245-51 2005

SILVA L R A Experiecircncia na Casa de Parto Mohri-Japatildeo Revista de pesquisa Cuidado eacute

fundamental online setdez 1 (2) 288-298 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwseeruniriobrindexphpcuidadofundamentalarticleview359367gt Acesso em

13 out2011

78

SWAMY et al Association of preterm birth with long-term survival reproduction and next-

generation preterm birth JAMA v299 n12 Mar 26 p1429-36 2008

TAYLOR et al Risk of complications in a second pregnancy following caesarean section in

the first pregnancy a population-based study Medical Journal of Australia v183 n10

Nov 21 p515-9 2005

TEDESCO P R et al Fatores Determinantes para as Expectativas de Primigestas acerca da

Via de Parto Rev Bras Ginecol Obstet v26 n10 Rio de Janeiro novdez 2004

TEIXEIRA Z N F PEREIRA R W Parto Hospitalar - experiecircncias de mulheres da

periferia de Cuiabaacute - MT Cad Sauacutede Puacuteblica v25 n 11 Rio de Janeiro 2006

TELINI D M T Z Cesaacutereas e partos normais em gestantes com baixo risco obsteacutetrico

caracteriacutesticas maternas e repercussotildees neonatais (Tese) Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas

Campinas Universidade Estadual de Campinas 2000

THE LANCET Sauacutede dos Brasileiros 2011 Disponiacutevel em

lthttpwwwabcorgbrIMGpdfdoc-574pdf gt Acesso em 28 out 2011

TOMASHEK et al Differences in mortality between late-preterm and term singleton infants

in the United States 1995-2002 Journal of Pediatrics v151 n5 nov p450-6 456 2007

TRACY S K et al Admission of term infants to neonatal intensive care a population-based

study Birth v34 n4 dec p301-7 2007

TYRREL M A R CARVALHO V Programas nacionais de sauacutede-materno infantil

impacto poliacutetico social e inserccedilatildeo da enfermagem RJ EEANUFRJ 1995

VARGENS O M C PROGIANTI J M O Processo de Desmedicalizaccedilatildeo da Assistecircncia agrave

Mulher no Ensino de Enfermagem Rev Enferm USP 38 46-50 2004

VIacuteCTORA C G KNAUTH D R HASSEN M N A Pesquisa qualitativa em sauacutede

uma introduccedilatildeo ao tema Porto Alegre Tomo Editorial 2000

VIEIRA E M A Medicalizaccedilatildeo do Corpo Feminino Rio de Janeiro RJ Ed Fiocruz

2002

VIGILAcircNCIA EPIDEMIOLOacuteGICA Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria (SMS)

Dados Epidemioloacutegicos do Nuacutemero de Partos no Municiacutepio de Santa Maria - RS 2011

79

VILLAR J et al Caesarean delivery rates and pregnancy outcomes the 2005 WHO global

survey on maternal and Perinatal health in Latin America Lancet 367(9525)1819-29 2006

_____ Maternal and neonatal individual risks and benefits associated with caesarean

delivery multicentre prospective study BMJ v335 n7628 Nov 17 p1025 2007

80

ANEXOS

81

Anexo A - Aprovaccedilatildeo Comitecirc de Egravetica e Pesquisa

82

Anexo B - Autorizaccedilatildeo Emenda do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

83

84

APEcircNDICES

85

Apecircndice A - Ofiacutecio agrave Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria

Da Enfermeira Lizandra Flores Pimenta

Para Secretario Municipal de Sauacutede

Assunto Solicitaccedilatildeo (faz)

Santa Maria janeiro de 2011

Sr Secretaacuterio

Venho por meio deste solicitar a permissatildeo de V Srordf para desenvolver a pesquisa

intitulada A influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a

enfermagem junto as mulheres que satildeo atendidas na Unidade Baacutesica (UBS) de Sauacutede

Kennedy

Cumpre-se informar que esta pesquisa eacute resultado da experiecircncia na aacuterea obsteacutetrica

que me fez perceber a necessidade de compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher sobre a via de parto a partir das concepccedilotildees modernas sobre natureza e

cultura atribuiacutedos a percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto Como esclarecimento cabe

ressaltar que conforme a metodologia que pretendemos desenvolver os sujeitos da pesquisa

seratildeo consultados e esclarecidos acerca dos objetivos nos comprometendo a respeitar os

preceitos da Resoluccedilatildeo nordm19696 quanto agrave pesquisa envolvendo seres humanos

Colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios

Desde jaacute agradecemos

Atenciosamente

________________________ _______________________________

Enfordf Lizandra Flores Pimenta Profordf Enfordf Drordf Lucia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI ndash 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

86

Apecircndice B - Ofiacutecio ao Departamento de Ensino e Pesquisa do HUSM

Da Enfa Lizandra Flores Pimenta

Para Departamento de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitaacuterio de Santa Maria

Assunto Solicitaccedilatildeo (faz)

Santa Maria maio de 2011

Senhor Diretora

Venho por meio deste solicitar a permissatildeo de VS para desenvolver a pesquisa

intitulada ldquoA influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a

enfermagemrdquo junto agraves mulheres que estatildeo no momento da entrevista nos serviccedilos de

ginecologia e obstetriacutecia do HUSM quais sejam Centro Obsteacutetrico Unidade Toco-

ginecoloacutegica e Ambulatoacuterio ala II

Cumpre-se informar que esta pesquisa eacute resultado da experiecircncia na aacuterea obsteacutetrica

que me fez perceber a necessidade de compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher sobre a via de parto a partir das concepccedilotildees modernas sobre natureza e

cultura atribuiacutedas agrave percepccedilatildeo das mulheres em relaccedilatildeo ao parto Como esclarecimento cabe

ressaltar que conforme a metodologia que pretendo desenvolver os sujeitos da pesquisa seratildeo

consultados e esclarecidos acerca dos objetivos sendo que me comprometo a respeitar os

preceitos da Resoluccedilatildeo nordm 19696 quanto agrave pesquisa envolvendo seres humanos

Sem mais agradeccedilo a atenccedilatildeo dispensada colocando-me agrave disposiccedilatildeo para os

esclarecimentos que forem necessaacuterios

Atenciosamente

________________________ _______________________________

Enfordf Lizandra Flores Pimenta Profa Enfa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI - 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

87

Apecircndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ENFERMAGEM

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Pesquisadoras responsaacuteveis Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

Enfa Mestranda Lizandra Flores Pimenta

InstituiccedilatildeoDepartamento Universidade Federal de Santa Maria - Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Enfermagem

Telefones para contato (55) 91376501

(55) 91429743

Locais da coleta de dados Unidade sanitaacuteria Kennedy e Hospital Universitaacuterio de Santa

Maria

Vocecirc estaacute sendo convidada para participar da pesquisa intitulada ldquoA influecircncia da

cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a enfermagemrdquo de autoria de

Lizandra Flores Pimenta mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Enfermagem da

UFSM sob a orientaccedilatildeo da Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel que tem por objetivo

compreender como a cultura influencia no parto da mulher

Mas antes de concordar em participar desta pesquisa eacute importante que vocecirc

compreenda todas as informaccedilotildees as quais dizem respeito a sua participaccedilatildeo nesta pesquisa

Sua participaccedilatildeo consistiraacute em responder agraves perguntas feitas por mim pesquisadora durante a

entrevista a qual teraacute como auxiacutelio um gravador de voz Apoacutes as suas informaccedilotildees gravadas

seratildeo transcritas por mim de maneira a resguardar a veracidade dos dados Posteriormente

essas informaccedilotildees seratildeo organizadas analisadas divulgadas e publicadas em revistas

cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede sendo a sua identidade preservada em todas as etapas

Eacute importante que vocecirc compreenda que eacute assegurado o anonimato e o caraacuteter privativo

das informaccedilotildees fornecidas exclusivamente para a pesquisa Vocecirc natildeo seraacute identificada em

nenhum momento mesmo quando os resultados desta pesquisa forem divulgados sob

qualquer forma pois seraacute adotada a letra bdquoM‟ (M1 M2 M3) inicial da palavra mulher para

esta finalidade Tambeacutem as informaccedilotildees seratildeo mantidas em um CD no armaacuterio da professora

88

pesquisadora no Departamento de EnfermagemUFSM por cinco anos Apoacutes este periacuteodo os

dados seratildeo destruiacutedos Os dados coletados depois de organizados e analisados deveratildeo ser

divulgados e publicados ficando a pesquisadora juntamente com a professora responsaacutevel por

apresentar o relatoacuterio da pesquisa para a instituiccedilatildeo na qual seraacute realizado este estudo

Comunico que a sua participaccedilatildeo na entrevista natildeo representaraacute a princiacutepio risco agraves

suas dimensotildees fiacutesica moral intelectual social cultural ou espiritual em qualquer fase da

pesquisa No entanto poderaacute gerar algum desconforto como lembranccedilas questionamentos

eou conflitos agrave dimensatildeo emocional pelo fato da pesquisadora realizar uma entrevista na qual

vocecirc iraacute refletir sobre o seu cotidiano e suas vivecircncias Contudo poderaacute haver um benefiacutecio

no que se refere agrave melhor qualidade das praacuteticas no cuidar em enfermagem Se houver

qualquer desconforto a entrevista poderaacute ser suspensa e se vocecirc achar necessaacuterio poderei

fazer um encaminhamento a um especialista da aacuterea da sauacutede mental

Ciente e de acordo com o que foi anteriormente exposto eu __________________

estou de acordo em participar desta pesquisa assinando este Consentimento em duas vias

ficando com a posse de uma delas

_________________________________

Assinatura do sujeito de pesquisa

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntaacuteria o Consentimento Livre e

Esclarecido deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a participaccedilatildeo neste estudo

dede2011

__________________________________

Assinatura da pesquisadora

RG 3046400473

Se vocecirc tiver alguma consideraccedilatildeo ou duacutevida sobre a eacutetica da pesquisa entre em contato com

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa - CEP- UFSM Av Roraima 1000 - Preacutedio da Reitoria ndash 7ordm

andar ndash Campus Universitaacuterio ndash 97105-900 ndash Santa Maria-RS - Tel (55) 32209362 ndash E-mail

comiteeticapesquisamailufsmbr

89

Apecircndice D - Termo de confidencialidade

Tiacutetulo do estudo ldquoA influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees

para a enfermagemrdquo

Pesquisadora responsaacutevel Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

Pesquisadora Enfa Mestranda Lizandra Flores Pimenta

InstituiccedilatildeoDepartamento Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM)

Telefone para contato (55) 91376501 (55) 91429743

Locais da coleta de dados Unidade sanitaacuteria Kennedy e Centro Obsteacutetrico Unidade Toco-

ginecoloacutegica e Ambulatoacuterio ala II do HUSM

Os pesquisadores do presente projeto comprometem-se a preservar a privacidade dos

indiviacuteduos cujos dados seratildeo coletados por meio de entrevista gravada em aacuteudio MP3 e

realizada na UBS Kennedy numa sala reservada localizada no Hospital Universitaacuterio de

Santa Maria na cidade de Santa MariaRS Concordam igualmente que estas informaccedilotildees

seratildeo utilizadas uacutenica e exclusivamente para a execuccedilatildeo do presente projeto As informaccedilotildees

somente poderatildeo ser divulgadas de forma anocircnima e seratildeo mantidas em Compact Disc (CD)

por um periacuteodo de 5 (cinco) anos sob a responsabilidade da Enfordf Lizandra Flores Pimenta

Apoacutes este periacuteodo os dados seratildeo destruiacutedos Este projeto de pesquisa foi revisado e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM em 04012011 com o nuacutemero do CAAE

03170243000-10

Santa Maria de de 2011

________________________ _______________________________

Enfa Lizandra Flores Pimenta Profa Enfa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI ndash 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

90

Apecircndice E - Roteiro da entrevista com as mulheres

1 Dados de identificaccedilatildeo

Idade

Estado civil

Grau de instruccedilatildeo

Profissatildeoocupaccedilatildeo

Local de trabalho caso esteja trabalhando se natildeo indicar trabalho anterior

Raccedila

Quantos filhos

2 Sobre o parto

1 De que forma o parto e nascimento satildeo percebidos por vocecirc

2 Fale a respeito de sua experiecircncia em relaccedilatildeo aos seus partos e de outras mulheres do teu

conviacutevio

3 Existe alguma coisa em relaccedilatildeo ao parto de seus filhos que vocecirc gostaria que tivesse sido

diferente Por quecirc

4 O que vocecirc aprendeu sobre parto com teus pais irmatildeos irmatildes e outras pessoas da tua

famiacutelia

5 O que vocecirc escutou ou aprendeu sobre parto com os profissionais de sauacutede nos hospitais

e nos postos de sauacutede

6 O que vocecirc escutou ou aprendeu sobre parto em jornais revistas televisatildeo e internet

7 De que forma estes aprendizados participaram da tua decisatildeo sobre o tipo de parto

Page 2: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição

CULTURA NO PROCESSO DA PARTURICcedilAtildeO

CONTRIBUICcedilOtildeES PARA A ENFERMAGEM

Lizandra Flores Pimenta

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria

(UFSM RS) como requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de

Mestre em Enfermagem

Orientadora Profordf Drordf Luacutecia Beatriz Ressel

Santa Maria RS Brasil

2012

Dedico este trabalho

In memorian A minha avoacute Lourdes que com a sua sabedoria foi sempre a minha maior

incentivadora na busca pelo conhecimento

Ao meu esposo Marcio companheiro de todas as horas apoiando-me incentivando-me e

cuidando-me e ajudando-me sempre Sem o seu apoio seu carinho e sua compreensatildeo natildeo

teria sido possiacutevel chegar ateacute aqui com tranquilidade

A minha filha Letiacutecia e a meu filho Marcos agraves luzes da minha vida meus amores

principais inspiradores desse trabalho

AGRADECIMENTOS

Aos meus familiares Fabiane Nabor Carmem Nabor e Francisco pelo apoio nos

momentos difiacuteceis

Agrave minha orientadora Luacutecia por me incitar o gosto pela antropologia aleacutem da orientaccedilatildeo

foi sempre muito compreensiva com as minhas vaacuterias atividades profissionais aleacutem do

mestrado

Ao Departamento de Enfermagem da UFSM e ao Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em

Enfermagem por ter proporcionado na minha vida profissional esta qualificaccedilatildeo

A coordenaccedilatildeo e professores do PPGEnf pela acolhida pelas trocas oportunizadas e pelo

compartilhamento de saberes

Agradeccedilo agraves integrantes do Nuacutecleo de Estudos sobre Mulheres Gecircnero e Poliacuteticas Puacuteblicas-

NEMGeP especialmente a Celeste por me apresentar os caminhos deliciosos da literatura

feminista as discussotildees e a luta pelos direitos das mulheres na superaccedilatildeo das desigualdades

de gecircnero

Agradeccedilo as colegas desta caminhada Elenir e especialmente a Letiacutecia generosa nas suas

contribuiccedilotildees

A enfermagem do Centro Obsteacutetrico do Hospital Universitaacuterio de Santa Maria

profissionais na luta por uma atenccedilatildeo de qualidade para as mulheres

Ao Hospital Universitaacuterio de Santa Maria instituiccedilatildeo que facilitou a oportunidade de

crescimento profissional

Agraves (os) colegas do Mestrado pelo compartilhamento de experiecircncias e de

conhecimentos neste meu retorno agrave Escola como estudante

Enfim agraves mulheres participantes deste estudo que com sua disponibilidade e interesse

aceitaram-me em suas vidas e fizeram com que mais este estudo se concretizasse

ldquoQuando eacute que vamos nos dar conta que nosso

foco natildeo deve ser combater as cesarianas

desmedidas e abusivas mas melhorar a assistecircncia

ao parto de tal forma que escolher uma cesariana

para ter um filho tornar-se-aacute a mais tola das

decisotildees Maximilian

RESUMO

Dissertaccedilatildeo de Mestrado

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Enfermagem

Universidade Federal de Santa Maria

CULTURA NO PROCESSO DE PARTURICcedilAtildeO CONTRIBUICcedilOtildeES PARA A

ENFERMAGEM

AUTORA Lizandra Flores Pimenta

ORIENTADORA Luacutecia Beatriz Ressel

Data e Local da Defesa Santa Maria 28 de fevereiro de 2012

A investigaccedilatildeo teve como objetivo compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher Desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa com abordagem cultural Os

cenaacuterios foram uma Unidade sanitaacuteria e um hospital de referecircncia para a gestaccedilatildeo de alto risco

e para intercorrecircncias ginecoloacutegicas de um municiacutepio do interior do Rio Grande do SulBrasil

Os sujeitos deste estudo foram oito mulheres em idade feacutertil com histoacuteria pregressa de parto

vaginal ou cesariano na faixa etaacuteria entre 22 e 35 anos que tiveram filhos a partir do ano de

2004 e fora do periacuteodo graviacutedico puerperal Para produccedilatildeo dos dados utilizou-se entrevista

semi-estruturada realizada entre janeiro e marccedilo de 2011 Para a anaacutelise dos dados foi

utilizada a anaacutelise temaacutetica sugerida por Minayo dando origem a seis categorias A percepccedilatildeo

das mulheres sobre o nascimento Percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado A

percepccedilatildeo das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto Conhecendo como se daacute a

construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres Resistecircncia das mulheres ao modelo

biomeacutedico do parto Percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea Os

achados deste estudo permitem afirmar que as vivecircncia das mulheres no seu processo de

parturiccedilatildeo eacute percebida de modo diferente entre elas entendida algumas vezes de forma

positiva e outras vezes de forma negativa A identificaccedilatildeo da via de parto desejada pela

maioria das entrevistadas foi o parto normal mas a maioria natildeo conseguiu realizar esse desejo

na sua vivecircncia pela influecircncia e intervenccedilotildees recebidas do meacutedico Esta ausecircncia de

autonomia na escolha do parto normal acarretou na indicaccedilatildeo de cesaacutereas que natildeo condizem

com as indicaccedilotildees da literatura nas mulheres desse estudo As entrevistadas afirmaram que o

meacutedico tem o poder de decisatildeo sobre a escolha do tipo de parto mas algumas divergem desta

conduta dizendo que esta decisatildeo deveria ter a participaccedilatildeo da mulher jaacute que eacute ela que estaacute

sentindo e passando por este processo O significado positivo evidenciado pelas mulheres do

conviacutevio das mulheres principalmente pela figura materna proporcionou um parto integral e

enriquecedor a essas entrevistadas e exerceu influecircncia na preferecircncia por parto normal

Constatou-se que cultura tem influecircncia sobre os saberes e as praacuteticas das mulheres em

relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeo e que os muacuteltiplos aspectos que permeiam a vivecircncia das

mulheres precisam ser observados quando se presta assistecircncia a elas durante esse processo

Palavras-chave Parto Sauacutede da mulher Cultura Enfermagem

ABSTRACT

Masterrsquos Dissertation

Nursing Pos-Graduation Program

Federal University of Santa Maria

CULTURE IN THE PROCESS OF DELIVERY CONTRIBUTIONS TO

NURSING

AUTHOR Lizandra Flores Pimenta

ADVISOR Luacutecia Beatriz Ressel Date and Place of Defense Santa Maria February 28th 2012

The investigation aimed to understand how culture influences in the process of a woman

delivery A qualitative research with a cultural approach The settings were a Health Center

and a reference Hospital for high risk pregnancies and to gynecologic complications of a city

in the interior of Rio Grande do SulBrazil The people of this study were eight women in

fertile age with previous history of natural and caesarean deliveries in ages between 22 and

35 years old who had children from the year 2004 and out of the pregnancy period To the

data production a semi-structured interview was used done between January and March of

2011 To do the data analysis it was used a thematic analysis suggested by Minayo

generating six categories Women perception about the birth Women perception about the

wanted delivery Women perception in the decision about the king of delivery Knowledge

about how is the cultural construction of the women delivery process Questioning and

women resistance to the delivery biomedical model women perception about the reason of

caesarean indication The findings of this study allow affirming that women experience in

their delivery process is noticed differently among them sometimes understood in a positive

way and others in negative ways The identification of the kind of delivery wanted by the

majority of the interviewed was the natural delivery but it can be seen that the majority could

not have it in their pregnancies due to the influence and interventions given by the doctor The

absence of autonomy in the choice for the natural delivery resulted in the indication of

caesariansthat are not consistent with indications from the literature the women of this study

The interviewed affirm that the doctor has the power of decision about the king of delivery

but some diverge from this behavior saying that this decision should have the women

participation once she is the one who feels and passes by this process The positive meaning

evidenced by the women who have some relation with the pregnant mainly by the mother

figure provided an integral and enriched delivery to these women and influenced in the

preference for a natural delivery It was verified that culture has influence in the knowledge

and in the practices of women in relation to the process of delivery and that multiple aspects

that surround their life need to be observed when assistance is given to them during the

process

Key-words Delivery Women health Culture Nursing

LISTA DE ANEXOS

Anexo A - Aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM 81

Anexo B - Autorizaccedilatildeo de Emenda do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM para

troca de cenaacuterio para coleta

82

LISTA DE APEcircNDICES

Apecircndice A - Ofiacutecio agrave Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria 85

Apecircndice B - Ofiacutecio ao Departamento de Ensino e Pesquisa do HUSM 86

Apecircndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 87

Apecircndice D - Termo de Confidencialidade 89

Apecircndice E - Roteiro da entrevista com as mulheres 90

SUMAacuteRIO

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS 12

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 17

11 Poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e nascimento no

Brasil

17

12 O parto e a cultura no processo da parturiccedilatildeo 22

13 Referencial teoacuterico de Emily Martin sobre o parto e cultura 24

2 CAMINHO METODOLOacuteGICO 29

21 Fundamentos metodoloacutegicos 29

22 Os cenaacuterios do estudo 29

23 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos 31

24 Caracterizaccedilatildeo das participantes 32

25 Inserccedilatildeo em campo 34

26 Coleta de dados 33

27 Anaacutelise dos dados 34

28 Questotildees eacuteticas 35

3 ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS DADOS 37

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 61

REFEREcircNCIAS 67

ANEXOS 80

APEcircNDICES 83

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS

A gravidez e o parto satildeo eventos sociais e culturais que integram a vivecircncia

reprodutiva de homens e mulheres uma experiecircncia uacutenica no universo de ambos que envolve

tambeacutem suas famiacutelias e consequentemente a comunidade (BRASIL 2001)

O parto inscreve-se nesse universo cultural por ser um fenocircmeno que perpassa todas as

sociedades e temposespaccedilos Esse sistema de crenccedilas herdadas eacute denominado ldquocultura do

nascimentordquo a qual informa os membros da sociedade sobre a natureza de todo o processo

parturitivo da mulher e influencia seu significado em relaccedilatildeo ao tipo de parto (HELMAN

2009)

O autor supracitado diz que a gestaccedilatildeo e o parto satildeo a transiccedilatildeo do status social de

ldquomulherrdquo para o de ldquomatildeerdquo e como em todas as transiccedilotildees sociais a pessoa deve ser protegida

de qualquer dano atraveacutes de determinados rituais e comportamentos

Conforme Floyd (2009) as formas de transmitir esses comportamentos agrave parturiente

satildeo chamadas de ldquorituais da obstetriacuteciardquo dentre eles estatildeo fazer a mulher reconhecer a

deficiecircncia de seu corpo (consciente ou inconscientemente) a fim de tornaacute-la dependente da

ciecircncia e da tecnologia induzindo-a a aceitar a superioridade das instituiccedilotildees e da Medicina

em controlar seus processos naturais suas crenccedilas e seus significados individuais

Segundo Floyd (2009) eacute mais provaacutevel que esse tipo de comportamento seja

transmitido na atmosfera impessoal de um hospital do que no ambiente familiar e domeacutestico

As condiccedilotildees de nascimento apresentam significativas distinccedilotildees quando comparadas

entre diferentes realidades Nos paiacuteses ocidentais segundo Floyd (1987) o parto eacute cercado de

aparatos tecnoloacutegicos meacutedicos e essa medicalizaccedilatildeo define-o como uma disfunccedilatildeo fisioloacutegica

Jaacute nos paiacuteses orientais como exemplo o Japatildeo eacute valorizado o parto vaginal desmedicalizado

que assim como a gestaccedilatildeo natildeo eacute considerado doenccedila (SILVA 2009)

De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) 70 a 80 das gestaccedilotildees

que ocorrem no mundo satildeo consideradas de baixo risco Eis a definiccedilatildeo de parto normal

adotada pela OMS

De iniacutecio espontacircneo baixo risco no iniacutecio do trabalho de parto permanecendo

assim durante todo o processo ateacute o nascimento O bebecirc nasce espontaneamente em

posiccedilatildeo cefaacutelica de veacutertice entre 37 e 42 semanas completas de gestaccedilatildeo Apoacutes o

nascimento matildee e filho estando em boas condiccedilotildees Entretanto como o trabalho de

parto e o parto de muitas gestantes de alto risco tecircm um curso normal vaacuterias

recomendaccedilotildees tambeacutem se aplicam agrave assistecircncia dessas mulheres (OMS 2009 p9)

13

Frente a isso deve existir sempre uma razatildeo vaacutelida para se interferir nesse processo

fisioloacutegico do parto tendo como recurso para tais casos a cesariana que se trata de uma

intervenccedilatildeo meacutedica destinada agrave extraccedilatildeo do feto por via abdominal

O parto cesaacutereo eacute uma intervenccedilatildeo usada em situaccedilotildees nas quais as condiccedilotildees da matildee

e do bebecirc natildeo favorecem o parto vaginal Entretanto sua indicaccedilatildeo incorreta estaacute associada a

uma maior ocorrecircncia de mortalidade e morbidade para as parturientes tais como

hemorragias infecccedilotildees puerperais embolia pulmonar riscos anesteacutesicos bem como outras

patologias Para os bebecircs os riscos relacionam-se a distuacuterbios respiratoacuterios icteriacutecia

fisioloacutegica prematuridade iatrogecircnica hipoglicemia e anoacutexia (RAMOS 2003 VILLAR

2006 TELINI 2000)

Nessa direccedilatildeo eacute observado em nosso paiacutes nos uacuteltimos anos o aumento de partos

cesaacutereos agendados com antecedecircncia cujas indicaccedilotildees meacutedicas natildeo o justificam (MORELL

MELO 1995) Em uma pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede realizada em 2006 quase

metade (462) de todas as cesarianas foi agendada com antecedecircncia (BRASIL 2009)

Essa conduta eacute culturalmente difundida pelos profissionais da sauacutede que detecircm o

poder de modular e influenciar as demandas sobre as necessidades de sauacutede da populaccedilatildeo

(TEIXEIRA 2006) Apresentando-se sob a maacutescara da razatildeo e da necessidade essa praacutetica

desnecessaacuteria acaba por natildeo ser percebida pela maioria das mulheres que encontram

dificuldades em resistir (PEREIRA 2000)

O Ministeacuterio da Sauacutede (2001) ressalta que a informaccedilatildeo e a formaccedilatildeo de opiniatildeo entre

as mulheres satildeo prioridade no Brasil a fim de que elas possam escolher o melhor para a sua

sauacutede e para a de seus filhos pois embora profissionais e mulheres faccedilam a opccedilatildeo antecipada

do tipo de parto esse fato natildeo pode ser visto como uma simples questatildeo de preferecircncia jaacute que

cesaacuterea natildeo eacute um ldquobem de consumordquo (ODENT 2004)

Outro modo de tornar atrativo e mais agradaacutevel aos olhos das mulheres esta praacutetica de

conveniecircncia eacute o conceito contraditoacuterio de cesariana centrada na famiacutelia em que se daacute aos

pais opccedilotildees quanto ao tipo de anesteacutesico e terapia indicados para a mulher (MARTIN 2006)

Scavone (1993) explica esta valorizaccedilatildeo pelas mulheres e pela populaccedilatildeo em geral como

uma garantia meacutedica para os pais em relaccedilatildeo agrave qualidade da sua prole e da fecundidade

Ao dar respostas aos problemas obsteacutetricos e neonatais que aumentam enormemente

os iacutendices de mortalidade materna durante a gestaccedilatildeo o parto e o puerpeacuterio a medicina criou

discursos de verdade Segundo Foucault (1992 p 179)

14

As relaccedilotildees de poder natildeo podem se dissociar se estabelecer nem funcionar sem

uma produccedilatildeo uma acumulaccedilatildeo uma circulaccedilatildeo e um funcionamento do discurso

Natildeo haacute possibilidade de exerciacutecio do poder sem uma certa economia dos discursos

de verdade que funcione dentro e a partir desta dupla exigecircncia

Essa hegemonia do discurso meacutedico sobressai-se desconsiderando durante o processo

parturitivo as crenccedilas e a cultura das mulheres Eacute apenas o meacutedico quem daacute a palavra final

para duacutevidas e inquietudes das mulheres pois considera seu discurso inquestionaacutevel e

legiacutetimo (VIEIRA 2002)

Dessa forma a mulher perde sua autonomia como protagonista no processo do

nascimento

Criou-se assim uma heteronomia desfigurando-se este ato ateacute entatildeo puramente

feminino - pois natildeo era mais a mulher quem dava agrave luz - para o meacutedico como dono

e senhor do parto numa inversatildeo de papeacuteis que bdquolegitima o poder e a relaccedilatildeo da

medicina com a famiacutelia‟ (PEREIRA 2000 p17)

Essa inversatildeo de papeacuteis no cenaacuterio do parto no qual o meacutedico deteacutem o poder sobre o

corpo da mulher pode estar justificando os altos iacutendices de cesaacutereas nas uacuteltimas deacutecadas

Outra repercussatildeo desta mudanccedila de paradigma em relaccedilatildeo ao processo do nascimento

eacute a de que o parto os cuidados puerperais e com o receacutem-nascido que antigamente

transcorriam no ambiente familiar e eram envolvidos em fortes viacutenculos atualmente

transcorrem em instituiccedilotildees hospitalares onde os viacutenculos transformaram-se em meros

contatos superficiais acentuando a perda da autonomia da mulher neste processo

(MONTICELLI 1994)

O contexto do nascimento na sociedade atual mostra que a mulher parturiente estaacute

cada vez mais distante da condiccedilatildeo de protagonista da cena do parto ldquototalmente insegura

submete-se a todas as ordens e orientaccedilotildees sem entender como combinar o poder contido nas

atitudes e palavras que ouve e percebe com o fato inexoraacutevel de que eacute ela quem estaacute com dor

e quem vai parirrdquo (BRASIL 2001 p18) Fato esse constatado no aumento de cesaacutereas e

reduccedilatildeo de partos normais na rede puacuteblica no Brasil No ano de 2005 a taxa de cesaacutereas que

era de 2870 aumentou para 3610 em 2010 e em contrapartida o nuacutemero de partos

normais que em 2005 era de 7130 reduziu para 63 20 em 2010 (BRASIL 2010)

No estado do Rio Grande do Sul (RS) foi constatado por Freitas et al (2005) que os

iacutendices elevados de cesaacuterea constituem um grave problema de sauacutede puacuteblica o que pode

acarretar o mau-uso da tecnologia meacutedica na atenccedilatildeo ao parto associado a fatores sociais

econocircmicos e culturais O percentual de cesarianas que foram analisadas de 1997 a 2003 foi

de 406 para 448 respectivamente No ano de 2008 no RS segundo dados do IBGE

15

(2009) o iacutendice de cesaacutereas foi de 537

No municiacutepio de Santa MariaRS segundo dados da Vigilacircncia Epidemioloacutegica da

Secretaria Municipal de Sauacutede (SMS) no primeiro semestre de 2011 635 dos partos o que

corresponde a 1167 foram cesaacutereos o que desvela um iacutendice muito aleacutem dos 15 previstos

pela OMS O Ministeacuterio da Sauacutede (MS) estabeleceu limite para partos cesaacutereos

considerando-os de alto risco para as unidades hospitalares ateacute 40 e para unidades de risco

habitual - ateacute 25 (BRASIL 2008c)

A portaria GM nordm 466 de 14062000 retificada em 30062000 propotildee o Pacto pela

Reduccedilatildeo das Taxas de Cesaacuterea a ser firmado entre os gestores estaduais e o gestor federal

estabelecendo a taxa de 25 como desejaacutevel para todos os estados ateacute 2007 (BRASIL 2008)

Finalizar uma gestaccedilatildeo mediante uma cesaacuterea sem causa meacutedica que a justifique

ainda que esta seja a pedido da gestante eacute uma conduta meacutedica que natildeo respeita os processos

fisioloacutegicos do trabalho de parto do parto e do nascimento Por esse motivo o procedimento

ciruacutergico realizado sem indicaccedilotildees deixa de ser um procedimento fisioloacutegico tornando-se um

procedimento de risco para a matildee e para o receacutem-nascido (SABATINO 2009)

Para a abrangecircncia do tema complexidade e repercussotildees na vida das mulheres o

objeto de estudo eacute o significado que a mulher atribui ao seu parto

A justificativa para a escolha desse objeto de estudo deve-se agrave vivecircncia de dar agrave luz a

dois filhos nascidos de parto normal Letiacutecia (15 anos) e Marcos (12 anos) e de ter participado

ativamente desse processo como protagonista

Vem ao encontro disso o fato de que no decorrer da vivecircncia de dezoito anos na

assistecircncia agrave sauacutede das mulheres em maternidades e unidades baacutesicas de sauacutede e no meu

ambiente de trabalho atual como enfermeira obstetra de um hospital de ensino percebo a

intensa fragilidade das parturientes ao se submeterem a todos os procedimentos e

intervenccedilotildees sem questionamentos ao que acontece com o seu corpo durante o parto

Paralelamente agraves atividades profissionais participo como integrante do Nuacutecleo de

Estudos sobre Mulheres Gecircnero e Poliacuteticas Puacuteblicas-NEMGeP do Departamento de

Enfermagem do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Santa Maria grupo

que me despertou para as questotildees de gecircnero na temaacutetica no processo da parturiccedilatildeo O Nuacutecleo

atua em accedilotildees direcionadas agraves mulheres com abordagens que ultrapassam a dimensatildeo

bioloacutegica pois considera que as questotildees de gecircnero (cidadania empoderamento controle

social e poliacuteticas puacuteblicas) constituem referenciais fundamentais no direcionamento de

atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres (LANDERDAHL et al 2011)

16

Consultando a literatura cientiacutefica percebeu-se a ausecircncia de estudos culturais com

mulheres fora do periacuteodo graviacutedico puerperal e em cenaacuterios que natildeo sejam em maternidades

eou hospital

Alinhando-se nos argumentos acima descritos este estudo fundamentou-se no

referencial teoacuterico metodoloacutegico da abordagem socioantropoloacutegica de Emily Martin que

propotildee uma anaacutelise do fenocircmeno do parto contrapondo a delimitaccedilatildeo deste ao campo da

reproduccedilatildeo mecanicista e biomeacutedica buscando entendecirc-lo como componente essencial das

mulheres no sentido de desnaturalizar verdades muito caras vinculadas agraves concepccedilotildees

modernas de natureza e cultura Dessa forma o presente estudo traz reflexotildees que poderatildeo

repercutir na assistecircncia de enfermagem prestada agrave mulher durante o periacuteodo da parturiccedilatildeo

uma vez que auxilia na compreensatildeo das necessidades de cuidado com as parturientes a partir

da percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto e o nascimento

Com base nessas consideraccedilotildees a questatildeo norteadora de pesquisa que impulsiona

este estudo estaacute embasada no seguinte questionamento qual a participaccedilatildeo da cultura nos

saberes e as praacuteticas das mulheres em relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeo

Para responder a esta questatildeo foi definido como objetivo compreender de que forma

a cultura influencia no processo de parturiccedilatildeo da mulher

17

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

Este capiacutetulo enfoca as poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e

nascimento no Brasil bem como discute sobre parto e cultura baseando-se sobretudo nos

estudos realizados pela antropoacuteloga Emily Martin

21 Poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e nascimento no Brasil

O movimento feminista tem desempenhado um papel fundamental como instigador de

programas e poliacuteticas para as mulheres no paiacutes e sido entendido como foacuterum de debate das

questotildees da sauacutede qualidade de vida e condiccedilatildeo de cidadania feminina

Em 1974 foi implantado pelo governo o Programa de Sauacutede Materno-Infantil-PSMI

(MS74) como recomendaccedilatildeo do Plano Decenal de Sauacutede para as Ameacutericas e resultante da III

Reuniatildeo Especial de Ministros de Sauacutede das Ameacutericas que se realizou em Santiago de Chile

em 1972 Enfatizou-se nessa recomendaccedilatildeo

Formular uma poliacutetica intersetorial de proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade e agrave infacircncia

[] O programa de sauacutede e atenccedilatildeo meacutedica deveraacute ter cobertura universal

eficiecircncia operativa e acessibilidade geograacutefica institucional e financeira []

Elaborar o programa como um todo contiacutenuo que incluam as diversas atividades de

proteccedilatildeo agrave famiacutelia e em especial agrave matildee e a crianccedila orientaccedilatildeo agrave vida familiar (com

ecircnfase agrave adolescecircncia) atenccedilatildeo agraves doenccedilas ginecoloacutegicas (incluindo as veneacutereas)

diagnoacutestico precoce do cacircncer ceacutervico-uterino e do cacircncer de mama outorgar as

famiacutelias (quando isto natildeo se oponha agraves poliacuteticas nacionais) informaccedilatildeo e serviccedilo

com relaccedilatildeo agrave fertilidade e agrave esterilidade atenccedilatildeo meacutedica integral durante a gestaccedilatildeo

(matildee e feto) atenccedilatildeo ao parto e no puerpeacuterio controle do receacutem-nascido e da

crianccedila durante todas as etapas da vida especificamente no primeiro ano de vida

(OPAS 1973 p39-42)

Com isso o governo brasileiro registrou o interesse em trabalhar com o diagnoacutestico

precoce e o tratamento das doenccedilas ginecoloacutegicas incluindo as doenccedilas sexualmente

transmissiacuteveis e o cacircncer Somente no ano de 1977 a preocupaccedilatildeo eacute dirigida com mais

especificidade agrave gestaccedilatildeo ao parto e ao puerpeacuterio (TYRREL CARVALHO 1995)

O Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em 1984 em conjunto com o Ministeacuterio da Previdecircncia e

a Assistecircncia Social o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e as Secretarias Estaduais de Sauacutede e com o

apoio do movimento de mulheres implantou o Programa de Atenccedilatildeo Integral agrave Sauacutede da

Mulher (PAISM)

18

Esse programa eacute considerado um marco na histoacuteria das poliacuteticas puacuteblicas voltadas para

a sauacutede feminina e ateacute hoje eacute inspiraccedilatildeo e referecircncia na luta pela equidade de gecircnero

divulgando a importacircncia de se estabelecer um programa especiacutefico dirigido agrave mulher e de se

enfatizar certas atividades prioritaacuterias que natildeo deve ser interpretado como uma subestimaccedilatildeo

aos demais serviccedilos que a rede baacutesica deve executar mas deve ser adotado sobretudo como

estrateacutegia de mudanccedila seletiva de recursos que permitam a operacionalizaccedilatildeo de conteuacutedos de

grande prioridade vinculados agrave populaccedilatildeo feminina em todas as fases de sua vida e que

vinham sendo ateacute entatildeo negligenciados (BRASIL l984)

Em 2004 o programa foi transformado na Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agrave

Sauacutede da Mulher (MS 2004) cujo objetivo especiacutefico trecircs indica para o dever de se promover

a atenccedilatildeo obsteacutetrica e neonatal qualificada e humanizada tendo como combate agrave violecircncia de

gecircnero enfatizando a importacircncia do empoderamento das mulheres para o exerciacutecio da

autonomia e protagonismo no parto

A Poliacutetica Nacional de Humanizaccedilatildeo (MS 2004) implementada no mesmo ano

enfoca tambeacutem o respeito agraves questotildees de gecircnero etnia raccedila orientaccedilatildeo sexual com a

construccedilatildeo de autonomia e protagonismo dos sujeitos e coletivos

A I Conferecircncia Nacional de Poliacuteticas para as mulheres realizada em julho de 2004

foi muito importante na afirmaccedilatildeo dos direitos da mulher Desse evento resultou o I Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres em que foram traccediladas 4 linhas de atuaccedilatildeo sendo

uma delas a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos das mulheres o que

contribui reduccedilatildeo da morbidade e mortalidade feminina no Brasil especialmente por causas

evitaacuteveis em todos os ciclos de vida e nos diversos grupos populacionais (BRASIL 2005)

Corroborando esta afirmativa o II Plano Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres

(2008) em seu eixo sobre a sauacutede das mulheres direitos sexuais e direitos reprodutivos

postula que natildeo deve haver discriminaccedilatildeo de qualquer espeacutecie contra as mulheres

resguardando-se as identidades condiccedilotildees socioeconocircmicas e as desigualdades de gecircnero

raccedilaetnia geraccedilatildeo e orientaccedilatildeo sexual e necessitam ser consideradas na formulaccedilatildeo na

implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo de estrateacutegias de intervenccedilatildeo governamentais

Desse modo particularizar a atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher significa apenas um passo no

sentido de aumentar a capacidade resolutiva dos serviccedilos de sauacutede uma vez que haacute o desafio

de dar uma resposta efetiva aos problemas de sauacutede deste grupo de sujeitos visto conforme

Resende e Montenegro (2003) que as trecircs principais causas de morte materna no Brasil satildeo a

toxemia a hemorragia e a infecccedilatildeo puerperal as quais poderiam na maior parte dos casos

serem prevenidas Esse dado justifica a preocupaccedilatildeo com tais cuidados

19

Um dos objetivos de desenvolvimento do milecircnio (IPEA 2007) eacute melhorar a sauacutede

materna (reduccedilatildeo de trecircs quartos da mortalidade materna entre 1990 e 2015) Entretanto essa

meta do milecircnio dificilmente seraacute alcanccedilada pois grandes desafios ainda persistem a

exemplo da reduccedilatildeo das altas taxas de cesariana e nascimentos preacute-termo e no parto vaginal as

rotinas improacuteprias tais como episiotomia de rotina e intervenccedilotildees dolorosas ao bem-estar

materno e do bebecirc (THE LANCET 2011)

Para enfrentar esses desafios foi instituiacutedo pelo MS em 2000 o Programa de

Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) cujo objetivo primordial eacute ldquoassegurar a

melhoria do acesso da cobertura e da qualidade do acompanhamento preacute-natal da assistecircncia

ao parto e puerpeacuterio agraves gestantes e ao receacutem-nascido na perspectiva dos direitos de

cidadaniardquo (BRASIL 2000 p5) O Programa considera que a humanizaccedilatildeo da assistecircncia

obsteacutetrica e neonatal eacute a primeira condiccedilatildeo para o adequado acompanhamento do parto e do

puerpeacuterio (BRASIL 2000b)

A implementaccedilatildeo das accedilotildees desse programa enfrenta ainda muitos entraves

identificados e categorizados em um estudo de revisatildeo sistemaacutetica de Busanello et al (2009)

Citam-se a dificuldade de acesso aos serviccedilos de sauacutede a falta de leitos a deficiecircncia de

recursos humanos financeiros e materiais a atenccedilatildeo centrada na praacutetica intervencionista

desconsiderando o protagonismo da mulher no momento do parto e o despreparo dos

profissionais de sauacutede para a atenccedilatildeo humanizada no processo de parturiccedilatildeo sendo esta

categoria destacada como importante desafio enfrentado para concretizaccedilatildeo do PHPN

Nesse sentido o Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento - MS tem

recomendado aos serviccedilos de sauacutede que ofereccedilam uma assistecircncia digna agrave mulher aos

familiares e ao receacutem-nascido envolvendo para tanto atitude eacutetica e solidaacuteria dos

profissionais de sauacutede organizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de modo a criar um ambiente acolhedor e a

implementaccedilatildeo de rotinas hospitalares que rompam com o tradicional isolamento imposto agrave

mulher Considera-se tambeacutem necessaacuterio adotar medidas e procedimentos sabidamente

beneacuteficos para o acompanhamento do parto e do nascimento evitando-se praacuteticas

intervencionistas desnecessaacuterias (BRASIL 2000b)

Seguindo essa loacutegica o Ministeacuterio da Sauacutede tem realizado um conjunto de accedilotildees

atraveacutes de portarias ministeriais com a finalidade de estimular e regularizar a assistecircncia

obsteacutetrica aleacutem de financiar a realizaccedilatildeo de cursos de especializaccedilatildeo em enfermagem

obsteacutetrica (BRASIL 2001)

Assegura-se pela legislaccedilatildeo do exerciacutecio profissional regulamentada pela lei n

749886 e o Decreto-Lei 9440687 o direito de a enfermeira obstetra realizar assistecircncia agrave

20

parturiente e ao parto normal identificaccedilatildeo das distocias obsteacutetricas e tomada de providecircncias

ateacute a chegada do meacutedico e a realizaccedilatildeo de episiotomia e episiorrafia e aplicaccedilatildeo de anestesia

local quando necessaacuteria

Outras atribuiccedilotildees realizadas pela enfermeira obsteacutetrica que vem ganhando espaccedilo no

cenaacuterio nacional satildeo as accedilotildees de incentivo ao parto normal e as accedilotildees no atendimento preacute-

natal no qual a enfermeira eacute responsaacutevel pela educaccedilatildeo em sauacutede para as mulheres e suas

famiacutelias consulta de preacute-natal agrave gestaccedilatildeo de baixo risco solicitaccedilatildeo de exames de rotina e

prescriccedilatildeo de tratamento conforme protocolo do serviccedilo e estabelecidos em programas de

sauacutede e coleta de exame citopatoloacutegico (BRASIL 2006b)

Concorrendo nessa orientaccedilatildeo a atuaccedilatildeo da enfermeira obstetra eacute reconhecida como

primordial no processo de humanizaccedilatildeo do parto tendo como objetivo a reduccedilatildeo dos altos

iacutendices de cesaacutereas praticadas e a alta medicalizaccedilatildeo decorrentes do intervencionismo por

parte dos meacutedicos obstetras (BRASIL 2001)

Buscando proporcionar conhecimento agrave sociedade e particularmente esclarecer os

profissionais de sauacutede a OMS elaborou em 1996 um conjunto de recomendaccedilotildees de boas

praacuteticas na assistecircncia ao parto normal Essas recomendaccedilotildees foram classificadas em quatro

categorias Categoria A - praacuteticas confirmadamente uacuteteis e que devem ser estimuladas

Categoria B - praacuteticas claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas

Categoria C - praacuteticas em relaccedilatildeo agraves quais natildeo existem evidecircncias suficientes para apoiar uma

recomendaccedilatildeo clara e que devem ser utilizadas com cautela ateacute que mais pesquisas

esclareccedilam a questatildeo e Categoria D - praacuteticas frequentemente utilizadas de modo inadequado

(OMS 1996) Dentre estas categorias destacam-se neste estudo as recomendaccedilotildees que foram

classificadas como praacuteticas uacuteteis e que devem ser estimuladas

Nessa direccedilatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede implantou medidas que visam impactar e

estimular a melhoria da assistecircncia obsteacutetrica no paiacutes e humanizar o parto e nascimento

(BRASIL 2001)

Para Martins (2005) humanizar a parturiccedilatildeo eacute estar com o outro e prestar um

atendimento focado em suas necessidades eacute lembrar que no momento do parto estaacute

ocorrendo a separaccedilatildeo de dois corpos que ateacute entatildeo viviam juntos um dentro do outro em

relaccedilatildeo de dependecircncia e de iacutentimo contato

Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede (2001) os profissionais de sauacutede devem ser

coadjuvantes dessa experiecircncia direcionando toda atenccedilatildeo agraves necessidades da mulher e

oportunizando-lhe o protagonismo e o controle da situaccedilatildeo na hora do nascimento

21

Os profissionais tambeacutem devem repassar para a mulher as opccedilotildees de escolha baseados

nas evidecircncias cientiacuteficas e nos seus direitos tendo a oportunidade de empregar seu

conhecimento a serviccedilo do bem-estar da mulher e do bebecirc sabendo reconhecer os momentos

criacuteticos em que suas intervenccedilotildees satildeo necessaacuterias

Igualmente seus deveres satildeo minimizar a dor acompanhar dar conforto esclarecer

orientar enfim ajudar a parir e a nascer Precisam lembrar que satildeo os primeiros a ter contato

com cada ser que nasce e portanto devem ter consciecircncia dessa responsabilidade (BRASIL

2001)

No Brasil o movimento pela humanizaccedilatildeo do parto eacute impulsionado por experiecircncia

em vaacuterios estados Em 1994 surgiu no Rio de Janeiro a primeira maternidade puacuteblica

autodefinida como ldquohumanizadardquo que recebeu o nome de Leila Diniz (DINIZ 2005) Outro

marco em termos de poliacuteticas puacuteblicas do parto e nascimento foi a criaccedilatildeo do Precircmio Galba

Arauacutejo para Maternidades Humanizadas instituiacutedo pela portaria nordm 2883 de 4 de junho de

1998 (BRASIL 1998)

Os criteacuterios para a concessatildeo deste precircmio satildeo baseados na adesatildeo agraves recomendaccedilotildees

da OMS tais como a presenccedila de acompanhantes no preacute-parto parto e poacutes-parto a assistecircncia

aos partos de baixo risco por enfermeiras obstetras e o controle das taxas de cesaacuterea

(BRASIL 2000b)

Concedido a niacutevel estadual e nacional o precircmio Galba de Arauacutejo tem provocado

mobilizaccedilatildeo nas instituiccedilotildees de Sauacutede que lutam em defesa dos direitos das mulheres e

crianccedilas e tem recebido a participaccedilatildeo de um nuacutemero crescente de serviccedilos a cada ediccedilatildeo

contribuindo para conferir legitimidade ao modelo humanizado (DINIZ 2005)

O Centro de Parto Normal-CPN foi outra iniciativa criada pela portaria nordm 985 de

agosto de 1999 que tem como finalidade o atendimento agrave mulher no periacuteodo graviacutedico-

puerperal tendo como uma das suas atribuiccedilotildees prestar atendimento humanizado e de

qualidade exclusivamente ao parto normal sem distoacutecia assistido por enfermeira obsteacutetrica

desenvolvendo atividades educativas e de humanizaccedilatildeo durante o preacute-natal visando agrave

preparaccedilatildeo das gestantes para o parto no CPN (BRASIL 1999)

A Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar (ANS) do Ministeacuterio da Sauacutede em janeiro

de 2008 atraveacutes da Resoluccedilatildeo Normativa nordm 167 reviu o Rol de Procedimentos e Eventos em

Sauacutede e ampliou as coberturas para as beneficiaacuterias de planos de sauacutede A partir de abril de

2008 deu-se a inclusatildeo na cobertura dos partos feitos por enfermeira obstetras e a presenccedila de

um acompanhante durante toda a estada da mulher no hospital desde o momento do parto ateacute

a sua alta (ANS 2008b)

22

Destaca-se tambeacutem que a partir do ano de 2005 a lei nordm 11108 passou a garantir agraves

parturientes o direito agrave presenccedila de acompanhante de sua preferecircncia durante o trabalho de

parto parto e poacutes-parto Outra iniciativa lanccedilada pela ANS na tentativa de estimular o

aumento de partos normais e modificar os altos iacutendices de cesarianas desnecessaacuterias na rede

privada foi a campanha em favor do parto normal intitulada Parto normal estaacute no meu

plano (ANS 2008a)

Em junho de 2008 foi divulgada a Resoluccedilatildeo RDC 36 da Agecircncia Nacional de

Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA) a qual preconiza que os serviccedilos de atendimento obsteacutetrico e

neonatal devem adotar medidas que incentivem o parto humanizado e a reduccedilatildeo dos iacutendices

de mortalidade materna e neonatal no paiacutes (BRASIL 2008b)

Tambeacutem devido a algumas maternidadeshospitais estarem fazendo uma cobranccedila

indevida para a presenccedila do acompanhante na sala de parto destinada a cobrir os gastos com a

limpeza e higienizaccedilatildeo das roupas ciruacutergicas e o uso de maacutescaras e toucas descartaacuteveis

utilizadas pelo acompanhante da gestante a ANS publicou em 02082011 a Resoluccedilatildeo

Normativa 262 (ANS 2011) Essa normativa define que as despesas a serem cobertas para o

acompanhante durante o preacute-parto parto e poacutes-parto imediato deve incluir taxas de

paramentaccedilatildeo acomodaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo pelo periacuteodo de 48h podendo se estender por ateacute

10 dias quando indicado pelo meacutedico assistente (DOU 2011)

Em junho de 2011 foi instituiacuteda a iniciativa da Rede Cegonha atraveacutes da portaria nordm

1459 de 24 de junho de 2011 no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede com o intuito de

fomentar a implementaccedilatildeo de novo modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher com foco na

atenccedilatildeo ao parto

Esta poliacutetica tendo como princiacutepios o respeito a proteccedilatildeo e a realizaccedilatildeo dos direitos

humanos o respeito agrave diversidade cultural eacutetnica e racial a promoccedilatildeo da equidade com o

enfoque de gecircnero a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos de mulheres

homens jovens e adolescentes a participaccedilatildeo e a mobilizaccedilatildeo com controle social e a

compatibilizaccedilatildeo com as atividades das redes de atenccedilatildeo agrave sauacutede materna e infantil em

desenvolvimento nos Estados (BRASIL 2011)

12 O parto e a cultura no processo da parturiccedilatildeo

Historicamente o parto jaacute foi vivenciado como um evento feminino no qual os

membros do grupo social da parturiente como a matildee familiares vizinhas auxiliavam-na

23

juntamente agrave parteira que tinha seus conhecimentos fundamentados na praacutetica e na

acumulaccedilatildeo de saberes passados tradicionalmente de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo (SANTOS 2002)

No entanto no seacuteculo XVIII na Europa o parto passou por um processo de

transformaccedilatildeo principalmente devido agrave influecircncia biomeacutedica masculina De um evento

feminino domiciliar e fisioloacutegico passa a ser patoloacutegico e institucionalizado dominado por

uma praacutetica intervencionista e hospitalocecircntrica da qual a mulher perdeu seu protagonismo

(SANTOS 2002)

A percepccedilatildeo da dor no parto eacute considerada como um dos motivos que influenciam a

mulher em sua preferecircncia pela cesaacuterea e estaacute profundamente arraigada no imaginaacuterio

popular como um evento associado agrave purgaccedilatildeo feminina Relaciona-se neste sentido agrave

citaccedilatildeo do Livro Biacuteblico de Gecircnesis que se refere agrave Eva como o primeiro ser humano que

pecou e acabou por corromper o resto da humanidade com sua transgressatildeo ouvindo de Deus

ldquoe tu mulher pariraacutes com dor os teus filhosrdquo (TEIXEIRA 2006)

A ideacuteia de que a mulher deve pagar no parto por seus pecados propagada pela

medicina e pela religiatildeo hegemocircnica contrapotildee-se agrave visatildeo do parto como um momento

prazeroso Esse sentido pode ser entendido como uma heresia e uma ameaccedila a um sistema de

crenccedilas que define o parto como um processo doloroso que faz mal agrave sauacutede e agrave sexualidade

feminina e que precisa ser controlado por aparatos meacutedicos (DINIZ 2011)

De acordo com Helman (2009) a dor e seus aspectos voluntaacuterios satildeo influenciados por

fatores sociais culturais e psicoloacutegicos que determinam se a dor privada seraacute traduzida e em

que tipo de comportamento quando for puacuteblica Isso estaacute muito imbricado ao significado

pessoal de que a mulher atribui agrave dor do parto ao contexto de vida em que estaacute inserida agraves

definiccedilotildees culturais da imagem corporal da estrutura e funccedilotildees do seu corpo

Ressalta-se nessa direccedilatildeo que a posiccedilatildeo das mulheres frente ao processo de

medicalizaccedilatildeo natildeo foi propriamente a de viacutetima As mulheres de classe mais alta natildeo mais

aceitavam sentir a dor do parto e natildeo desejavam correr mais riscos aleacutem de o ato de parir com

a assistecircncia de um meacutedico significar maior poder aquisitivo de seus maridos Com isso a

consolidaccedilatildeo do processo de medicalizaccedilatildeo e hospitalizaccedilatildeo do parto acontece em meados do

seacuteculo XX motivada por tais condiccedilotildees (VARGENS PROGIANTI 2004)

No Brasil o processo de institucionalizaccedilatildeo do parto isto eacute a ocorrecircncia dos partos

dentro de instituiccedilotildees hospitalares deu-se ao longo da deacutecada de 40 com o advento da

medicina preventiva cujo objetivo principal era reduzir a mortalidade infantil Somente mais

tarde a partir da deacutecada de 80 passou-se a justificar o processo de medicalizaccedilatildeo do parto

por meio da recorrecircncia das cesarianas para reduzir a mortalidade materna (BRASIL 2001)

24

Os meacutedicos natildeo acostumados ao acompanhamento de fenocircmenos fisioloacutegicos foram

instruiacutedos a intervir resolver casos complicados e ditar ordens O parto passou entatildeo a ser

visto como um ato ciruacutergico e a mulher parturiente sendo tratada como enferma foi

impedida de seguir seus instintos e de adotar a posiccedilatildeo mais cocircmoda e fisioloacutegica (BRASIL

2001)

Privada do direito baacutesico de escolha e autonomia no nascimento do proacuteprio filho deu-

se iniacutecio agrave era do parto medicalizado no qual a matildee deixa de ser a protagonista do processo

cedendo seu lugar agrave equipe meacutedica que passa a ser o centro da cena Diversas repercussotildees

advecircm desta mudanccedila As posiccedilotildees verticalizadas que ao longo dos milecircnios foram as mais

usadas pelas mulheres em todas as raccedilas e culturas passaram a ser negadas agraves parturientes

pelos meacutedicos (MACHADO 1995)

A posiccedilatildeo assumida pela parturiente e a sua livre movimentaccedilatildeo passaram a ser

praticamente negligenciadas por profissionais alinhados agrave praacutetica ocidental moderna na qual

a mulher em trabalho de parto manteacutem-se deitada horizontalmente ou em uma posiccedilatildeo semi

inclinada para conveniecircncia da equipe obsteacutetrica na aplicaccedilatildeo dos soros monitores e

anesteacutesicos Evidecircncias de estudos etnograacuteficos realizados atualmente mostram que as

mulheres que natildeo satildeo expostas a essas rotinas assumem posiccedilotildees verticais no trabalho de

parto e no parto (BALASKAS 2008)

Balaskas (2008) reforccedila ainda que um parto ativo eacute uma atitude mental de crenccedila na

natureza do processo do parto e o modo como a mulher segue a loacutegica de seus instintos e da

sua fisiologia eacute uma forma de manifestar que estaacute no controle do seu corpo durante o trabalho

de parto e nascimento e que natildeo eacute um mero objeto de intervenccedilatildeo da equipe obsteacutetrica Os

significados culturais dados aos fenocircmenos fisioloacutegicos psicoloacutegicos e sociais de uma

sociedade refletem o comportamento das pessoas e ateacute a forma de desenvolvimento poliacutetico

econocircmico de dada sociedade (HELMAN 2009)

13 Referencial teoacuterico de Emily Martin sobre o parto e cultura

Segundo a antropoacuteloga Emily Martin (2006) a metaacutefora do uacutetero como maacutequina teve

iniacutecio no decorrer dos seacuteculos XVII e XVIII nos hospitais franceses Esta metaacutefora compara

o uacutetero a uma bomba mecacircnica capaz de expelir o feto Importante assinalar que nesta eacutepoca

que o foacuterceps era instrumento utilizado por accedilougueiros barbeiros falidos cujo status social

25

era equivalente ao de um mecacircnico De acordo com Vieira (2002) as regulamentaccedilotildees para

partejar exigiam que esses homens fossem chamados pelas parteiras para manipular os

instrumentos

A partir do seacuteculo XIX a ideologia de produccedilatildeo das faacutebricas torna-se tatildeo abrangente

que ldquochegardquo aos corpos das mulheres os quais passam a ser vistos nos textos de obstetriacutecia

como faacutebricas para a produccedilatildeo de bebecircs Martin (2006) propotildee utilizar esta metaacutefora de

produccedilatildeo fabril para entender o processo de trabalho em que meacutedico e a mulher estatildeo

envolvidos

Nesta metaacutefora segundo a autora acrescenta-se a figura do meacutedico no papel de

supervisor ou ateacute dono da faacutebrica e a mulher no papel de trabalhadora cuja maacutequina (uacutetero)

produz o produto (bebecirc) O olhar a partir de metaacuteforas de acordo com a pesquisadora

permite comparar as mesmas formas de controle e poder que ocorrem no acircmbito da produccedilatildeo

industrial ou seja de controlar os movimentos dos trabalhadores conforme a produccedilatildeo da

progressatildeo em periacuteodos especiacuteficos de tempo da maacutequina (uacutetero) para avaliar e controlar se

as contraccedilotildees uterinas satildeo eficientes ou ineficientes (MARTIN 2006)

A autora supracitada questiona o papel de passividade da mulher em relaccedilatildeo agraves

contraccedilotildees uterinas que consideradas pela ciecircncia meacutedica involuntaacuterias e inclusive

responsaacuteveis totais pela realizaccedilatildeo do parto Rezende e Montenegro (2003) comenta que no

periacuteodo expulsivo as contraccedilotildees satildeo realizadas com a glote fechada e com esforccedilos

respiratoacuterios verdadeiros chamados ldquopuxosrdquo Em nenhum momento foi mencionado que eacute a

parturiente que faz esse esforccedilo Outro exemplo de exclusatildeo do papel mulher em seu processo

de parto eacute o foco no feto conforme a citaccedilatildeo de Rezende e Montenegro (2003 p177) ldquono seu

transcurso atraveacutes do canal parturitivo impulsionado pela contratilidade uterina o feto eacute

compelido a executar certo nuacutemero de movimentos que se denominam mecanismo do partordquo

Assim sendo a metaacutefora utilizada por Martin (2006) desvela uma perspectiva que apresenta

as mulheres gestantes como ldquomateacuteria-primardquo para a produccedilatildeo de um ldquoprodutordquo

Nessa direccedilatildeo torna-se imprescindiacutevel para a produccedilatildeo de bebecircs perfeitos a

intervenccedilatildeo da cesaacuterea exigindo um miacutenimo de trabalho do uacutetero e da mulher atribuindo a

esse procedimento a imagem de ldquouacutenica graccedila salvadorardquo do bebecirc Este posicionamento

segundo a autora ignora o que talvez seja extremamente significante para a mulher e para seu

bebecirc ter a oportunidade de vivenciar o nascimento do seu filho (a) atraveacutes do seu proacuteprio

esforccedilo experimentando o protagonismo no seu parto e no nascimento da crianccedila

O mecanismo do parto conforme Rezende eacute o estudo da mecacircnica do parto o que

vem ao encontro da metaacutefora do uacutetero como maacutequina

26

A cultura meacutedica segundo Martin (2006) seria um sistema cultural cujas ideais

sobressaem-se agrave cultura popular

A autora faz ainda referecircncia a textos em obstetriacutecia da Universidade Johns Hopkins

nos EUA que comprovam que causas externas podem interferir nas atividades uterinas e que

tais alteraccedilotildees emocionais da mulher quase natildeo satildeo levadas em consideraccedilatildeo na obstetriacutecia

tendo como consequecircncia o aval para intervenccedilotildees como amniotomias uso de ocitocina para

acelerar o trabalho de parto ou a utilizaccedilatildeo da cesariana considerando desnecessaacuterias as

contraccedilotildees (MARTIN 2006)

A participaccedilatildeo do meacutedico como promotor de uma cultura intervencionista foi

destacada em um estudo nacional realizado pela socioacuteloga americana Hopkins (2000) com

pueacuterperas de cliacutenicas privadas e puacuteblicas Segundo o estudo das mulheres que fizeram

cesariana trecircs em quatro das primiacuteparas do setor privado e oito em dez do setor puacuteblico

gostariam de ter tido partos vaginais Observou-se que o meacutedico obstetra promove os medos

nas gestantes em relaccedilatildeo ao parto e superestima a seguranccedila da cesariana em funccedilatildeo dos seus

interesses

Para Martin (2006) a alienaccedilatildeo e a condiccedilatildeo fragmentada constadas na linguagem e

de algumas mulheres satildeo descritas como uma autopercepccedilatildeo passiva sendo contrastadas com

discursos de mulheres que questionam se opotildeem rejeitam e reformulam suas formas de viver

e as maneiras como a sociedade poderia funcionar apresentando uma autopercepccedilatildeo que tenta

resistir agrave passividade

As mulheres que optam pelo parto domiciliar saem dessa passividade buscam outras

formas de serem ativas no seu parto e reivindicam seu espaccedilo no ato de parir questionando o

paradigma atual de assistecircncia ao parto preconizado nas instituiccedilotildees hospitalares (KRUNO

BONILHA 2004)

No estudo etnograacutefico realizado por Martin (2006) em Baltimore (EUA) encontra-se

a narrativa de uma mulher que resiste a essa maneira de fragmentaccedilatildeo exprimindo a sua

frustraccedilatildeo em relaccedilatildeo ao parto cesariano imposto pela conduta meacutedica A narradora conta

com raiva a sua experiecircncia com a cesariana por ter perdido a cena do nascimento devido agrave

limitaccedilatildeo e ao jejum impostos pela anestesia natildeo podendo realizar os primeiros cuidados do

seu bebecirc aleacutem da proibiccedilatildeo de se alimentar por horas e limitando-se a nutrientes para a

recuperaccedilatildeo mais eficaz da cirurgia

A necessidade de compreensatildeo do parto enquanto parte integrante da vida sexual

emocional e cultural da mulher eacute proposta por Odent (2000) como o entendimento das bases

fisioloacutegicas e a integraccedilatildeo entre diferentes momentos da vida Sua hipoacutetese eacute a de que o

27

cuidado com o modo como nascemos e com a vinculaccedilatildeo amorosa matildee-bebecirc pode propiciar a

construccedilatildeo de uma sociedade mais amorosa menos destrutiva e de mais respeito pelos seres

humanos e pela natureza Esse paradigma holiacutestico tambeacutem referendado por Floyd (2004)

que destaca como elemento fundamental no processo do parto o contato das mulheres consigo

mesmas como um estado especial de consciecircncia similar agraves relaccedilotildees entre os estados

orgaacutesticos agrave oraccedilatildeo e agraves emoccedilotildees miacutesticas Nesse momento as funccedilotildees intelectuais

neocorticais devem estar colocadas em segundo plano proporcionando a expressatildeo de

funccedilotildees cerebrais mais instintivas caracteriacutesticas do parto e do aleitamento

Segundo Martin (2006) os esforccedilos para oferecer este novo paradigma que devolve agrave

mulher o controle do seu corpo no parto satildeo extraordinaacuterios O que natildeo deve permanecer

ainda que subliminarmente eacute a ideologia dominante de nossa sociedade na qual as mulheres

ao darem a luz de maneira mais aproximada do parto natural satildeo consideradas desprovidas de

cultura e consequentemente inferiores por aproximarem-se da natureza ldquoprimitivardquo como se

andassem para traacutes no tempo e na evoluccedilatildeo

Historicamente esta divisatildeo da cultura e da natureza fomentada pelos escritores do

seacuteculo XIX surgiu a partir do desenvolvimento das sociedades ocidentais e da

industrializaccedilatildeo sendo organizada em torno de dois mundos a esfera privada dentro de casa

que eacute evidenciada pertencente agrave mulher onde ocorrem funccedilotildees ditas ldquonaturaisrdquo e a esfera

puacuteblica fora de casa na qual os homens estatildeo em maior evidecircncia e onde se produz ldquoculturardquo

a qual eacute considerada atividade superior evidenciada aos homens e vista como dominante

(MARTIN 2006)

Essa forma de pensar relega a mulher ao domiacutenio do natural do inferior e da

domesticidade considera-a mais simples animalesca e livre de autocensuras Compreende

que haacute uma iniquumlidade entre natureza e cultura e que ao ldquosubmeterrdquo a mulher a fenocircmenos

totalmente naturais como o parto normal estamos reafirmando a concepccedilatildeo da mulher como

um ser mais primitivo que pertence somente agrave natureza (MARTIN 2006)

Reflete-se por outro lado de acordo com Gama (2009) que o modelo de organizaccedilatildeo

dos serviccedilos puacuteblicos e privados apresenta variaccedilotildees que produzem diferentes tipos de

assistecircncia e de relaccedilatildeo entre os profissionais de sauacutede e as usuaacuterias dando forma agraves

experiecircncias distintas entre as mulheres pesquisadas

Ao empreender uma criacutetica assentada nas relaccedilotildees de gecircnero Gama (2009) verificou

que o modelo de assistecircncia ao parto permanece submetendo quem deve ser sujeito e reproduz

o projeto da medicalizaccedilatildeo Isso reduz o campo da assistecircncia e inviabiliza um lugar de poder

diferenciado das usuaacuterias sendo a cesariana utilizada como um procedimento de alta

28

rentabilidade para a medicina obsteacutetrica privada conforme a citaccedilatildeo da antropoacuteloga Emily

Martin

Se a cesariana torna-se uma fonte de honoraacuterios mais altos para os meacutedicos e contas

hospitalares mais altas que o parto vaginal eacute de se esperar que encontremos mais

cesarianas sendo realizadas em mulheres no alto da escala de classe e raccedila

(MARTIN 2006 p 235)

Tal constataccedilatildeo justifica a demanda dos altos iacutendices de cesaacuterea no Brasil com a forma

como se organizou a assistecircncia obsteacutetrica e a formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que

reproduzem no cotidiano esse sentido tecnoloacutegico do parto e do nascimento

Com a invasatildeo da tecnologia a mulher perdeu sua autonomia como protagonista uma

vez que no modelo intervencionista da atual assistecircncia obsteacutetrica ela tornou-se objeto da

accedilatildeo e vem perdendo o controle e a decisatildeo sobre o proacuteprio processo de parto e de

nascimento Essa realidade pode afetar profundamente as mulheres os bebecircs as famiacutelias e

produzir efeitos importantes e persistentes sobre a sociedade (DINIZ 2001)

Ratifica-se nas palavras de Dias (2008) que a perda do protagonismo da mulher no

cenaacuterio do parto reflete-se nos altos iacutendices de cesaacutereas nas uacuteltimas deacutecadas no Brasil Por

outro lado a mudanccedila no modelo de assistecircncia ao parto pode ser uma estrateacutegia promissora

para a reversatildeo desse quadro jaacute que os fatores associados agrave decisatildeo da cesariana independem

do desejo da mulher

A mudanccedila para outro modo de parir mais conectado com todas as forccedilas da vida e da

cultura das mulheres pode possibilitar a construccedilatildeo de um modelo humaniacutestico com vistas ao

holiacutestico e agrave expressatildeo de um tempo de uma cultura de um avanccedilo das praacuteticas obsteacutetricas

do parto com a convivecircncia de muacuteltiplos paradigmas da assistecircncia

29

2 CAMINHO METODOacuteLOGICO

21 Fundamentos metodoloacutegicos

A presente investigaccedilatildeo constitui-se como uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva

A pesquisa qualitativa abarca o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores

e atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees (MINAYO 2004) A

metodologia qualitativa pode possibilitar aleacutem de uma interpretaccedilatildeo com lentes ampliadas do

objeto de estudo uma inserccedilatildeo na cultura do ldquooutrordquo (GEERTZ 1989)

Para Leopardi (2001) e Minayo (2008) o estudo qualitativo compreende a descriccedilatildeo e

a anaacutelise da realidade de diferentes maneiras para representar as experiecircncias do fenocircmeno

vivenciadas pelos indiviacuteduos Haacute uma implicaccedilatildeo entre o conhecimento sobre o mundo e os

sujeitos que o constroem numa relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto Logo a

interpretaccedilatildeo do fenocircmeno atribuindo-lhe significados faz parte do processo de

conhecimento tanto do sujeito pesquisador quanto dos atores pesquisados Eacute comumente

utilizada por pesquisadores sociais preocupados com a atuaccedilatildeo praacutetica (GIL 2007)

A pesquisa descritiva trabalha sobre dados ou fatos colhidos da proacutepria realidade do

indiviacuteduo ou de grupos e comunidades mais complexas Busca conhecer as diversas situaccedilotildees

e relaccedilotildees que ocorrem na vida social poliacutetica econocircmica e cultural principalmente nas

ciecircncias humanas e sociais objetivando abordar dados e problemas relevantes cujo registro

natildeo consta de documentos (CERVO BERVIAN DA SILVA 2007)

22 Os cenaacuterios do estudo

Esta pesquisa foi prevista inicialmente para ser somente desenvolvida na Unidade

Sanitaacuteria Kennedy (USK) no municiacutepio de Santa Maria - RS pelo fato de ser campo de aulas

praacuteticas e de estaacutegio supervisionado para os alunos do Curso de Enfermagem da Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM) onde satildeo realizadas accedilotildees de promoccedilatildeo agrave sauacutedecidadania de

crianccedilas adolescentes mulheres e adultos A aacuterea de abrangecircncia da USK inclui dezoito vilas

30

compreendendo uma populaccedilatildeo de aproximadamente trinta mil habitantes Em relaccedilatildeo agrave

escolaridade os natildeo alfabetizados e os indiviacuteduos que possuem o primeiro grau incompleto

perfazem 83 da populaccedilatildeo A renda per capita de 58 das pessoas e ateacute um salaacuterio miacutenimo

e 27 recebem um a dois salaacuterios miacutenimos Esta regiatildeo ainda hoje caracteriza-se por um alto

iacutendice de desemprego criminalidade desnutriccedilatildeo doenccedilas infecto-contagiosas aleacutem da

precariedade de saneamento baacutesico e de habitaccedilatildeo (MONDARDO et al 1993)

Poreacutem devido a dificuldades de infra-estrutura na referida unidade foi solicitada

transferecircncia de campo da pesquisa para o Hospital Universitaacuterio de Santa Maria (HUSM)

atraveacutes de ementa ao Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM) (Anexo B) estipulando como os locais de coleta os serviccedilos de ginecologia e

obstetriacutecia do hospital

As dificuldades encontradas foram inerentes ao objeto da pesquisa aleacutem de problemas

teacutecnico-administrativos na USK Os problemas de natureza e objeto concernem aos criteacuterios

de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos dada a ausecircncia de mulheres encaixadas em tais criteacuterios

no grupo de planejamento familiar na USK

Os problemas teacutecnico-administrativos foram relativos agrave infra-estrutura da USK que

estava funcionando em um local menor durante os procedimentos de reforma no preacutedio da

instituiccedilatildeo

Outras estrateacutegias foram realizadas na busca por sujeitos como a visita nos dias e

horaacuterios da consulta puericultura visando encontrar mulheres dentro dos criteacuterios que

viessem acompanhando os seus filhos na consulta contudo a tentativa natildeo obteve sucesso

pois era o grande nuacutemero de mulheres dentro dos criteacuterios de exclusatildeo neste caso pueacuterperas

O HUSM entatildeo foi o outro cenaacuterio escolhido para a coleta de dados que justificou-se

pela diversidade de serviccedilos de atendimento oferecidos a mulheres e de profissionais do sexo

feminino que laacute trabalham principalmente da enfermagem o que foi bastante significativa

para o estudo Solicitou-se entatildeo a autorizaccedilatildeo ao Departamento de Ensino e Pesquisa

(DEPE) do HUSM para realizaccedilatildeo da pesquisa neste serviccedilo e autorizada pelo CEP da UFSM

atraveacutes de emenda (Anexo B) para a ampliaccedilatildeo do cenaacuterio e do periacuteodo de coleta de dados

O HUSM eacute um hospital-ensino fundado no ano de 1970 que serve como base de

atendimento primaacuterio dos bairros que o cercam para o atendimento secundaacuterio agrave populaccedilatildeo

de Santa Maria e para o atendimento terciaacuterio da regiatildeo centro e fronteira gauacutecha O hospital

constitui-se como centro de ensino pesquisa e extensatildeo no acircmbito das Ciecircncias da Sauacutede

aleacutem de centro de programaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de accedilotildees voltadas agrave sauacutede das comunidades

local e regional Tambeacutem presta serviccedilos assistenciais em todas as especialidades meacutedicas

31

bem como serve de treinamento para alunos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Medicina

Residecircncia Meacutedica e de graduaccedilatildeo em Enfermagem Farmaacutecia Fonoaudiologia e

Fisioterapia

Satildeo serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia do HUSM

a unidade de Internaccedilatildeo do Centro Obsteacutetrico situada no sub- solo do HUSM

provida de seis leitos de internaccedilatildeo para mulheres em trabalho de parto ou no poacutes-parto

quatro leitos de internaccedilatildeo poacutes-cesaacuterea trecircs leitos de observaccedilatildeo para o atendimento de

intercorrecircncias ginecoloacutegicas e agrave mulher viacutetima de violecircncia

a unidade de internaccedilatildeo Toco-ginecoloacutegica situada no 2ordm andar do HUSM

onde se atendem pueacuterperas gestantes de alto-risco e mulheres em tratamento ginecoloacutegico

Possui trinta e sete leitos dos quais onze satildeo destinados agrave cliacutenica ginecoloacutegica e vinte e seis agrave

obstetriacutecia

o ambulatoacuterio da ala II que eacute localizado no teacuterreo e atende consultas de preacute-

natal puerpeacuterio e ginecologia

Destaca-se que nas unidades referidas circula um grande nuacutemero de familiares do

sexo feminino que acompanham as gestantes pueacuterperas e as mulheres internadas para

tratamento ginecoloacutegico

23 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos

Os criteacuterios de inclusatildeo foram mulheres que jaacute tiveram filhos por via vaginal ou

cesariana que natildeo estavam gestando nem eram puerpeacuteras e cujos partos ocorreram a partir do

ano de 2004 tendo como marco referencial o Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e

Nascimento do Ministeacuterio da Sauacutede Este programa foi criado em 2000 pelo Ministeacuterio da

Sauacutede mas implantado em todos os municiacutepios do Rio Grande do Sul somente em 2004

Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo mulheres nuliacuteparas mulheres

gestantes e pueacuterperas uma vez que o processo de parturiccedilatildeo ocorrendo em periacuteodo proacuteximo

ou concomitante agrave entrevista poderia influenciar nas respostas devido mais a aspectos

fisioloacutegicos e emocionais relacionados agrave dor do parto do que por aspectos culturais

32

24 Caracterizaccedilatildeo das participantes

Este estudo foi realizado com oito mulheres em idade feacutertil com histoacuteria pregressa de

parto vaginal ou cesariano quatro mulheres foram captadas na USK e quatro no HUSM

Foram convidadas para entrevistas mulheres que buscavam o atendimento no programa de

planejamento familiar da USK mulheres que buscavam o atendimento no HUSM nos

serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia e mulheres que estavam no momento da entrevista nos

serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia do HUSM

Para finalizaccedilatildeo da coleta foi utilizado o criteacuterio de saturaccedilatildeo de dados por

reincidecircncia ou seja quando da repeticcedilatildeo dos dados a coleta foi entendida como satisfatoacuteria

e entatildeo suspensa (VIacuteCTORA KNAUTH HASSEN 2000)

As participantes do estudo foram identificadas pela letra M de mulher e um nuacutemero

escolhido por ordem de entrevista (M1-M8) sendo caracterizadas no que se refere aos

aspectos soacutecio-culturais de idade estado civil escolaridade regiatildeo de moradia nuacutemero de

filhos ocupaccedilatildeo e tipo de parto vivenciado conforme descrito abaixo

Mulher 1 - 34 anos 2ordf grau completo casada teacutecnica de enfermagem Com quatro

filhos nascidos de partos normais

Mulher 2 - 24 anos 1ordm grau completo diarista casada Com uma filha tem uma

cesaacuterea

Mulher 3 - 28 anos 2ordf grau completo teacutecnica de enfermagem solteira uniatildeo estaacutevel

Com um filho nascido de parto normal

Mulher 4 - 22 anos 2ordf grau incompleto solteira operadora de caixa de supermercado

Com um filho fez uma cesaacuterea

Mulher 5 - 32 anos 1ordm grau completo do lar casada Com um filho nascido de parto

normal e o outro fez uma cesaacuterea

Mulher 6 - 35 anos 3ordm grau completo enfermeira casada Com dois filhos fez duas

cesaacutereas

Mulher 7- 28 anos 1ordm grau completo empregada domeacutestica uniatildeo estaacutevel Tem quatro

filhos nascidos de partos normal

Mulher 8 - 27 anos 2ordf grau imcompleto dona de casa divorciada Com quatro filhos

fez quatro cesaacutereas

Todas estavam na faixa etaacuteria entre 22 e 35 anos Quanto ao estado civil seis satildeo

casadas uma divorciada e uma solteira poreacutem com uniatildeo estaacutevel no momento da entrevista

33

O niacutevel de escolaridade apresentou trecircs mulheres com ensino meacutedio completo uma

com incompleto trecircs com ensino fundamental completo e uma com curso superior

Todas as participantes satildeo moradoras da zona urbana do municiacutepio

Quanto ao nuacutemero de filhos o grupo em estudo tem uma meacutedia de 2 filhos sendo que

a menor e a maior prole foi de 1 e de 4 filhos respectivamente

Quanto agrave ocupaccedilatildeo das entrevistadas duas satildeo donas de casa duas teacutecnicas de

enfermagem uma enfermeira duas empregadas domeacutesticas e uma operadora de caixa de

supermercado

O tipo de parto de maior incidecircncia vivenciado pelas mulheres foi o parto normal

num total de dez e o total de cesaacutereas foram nove

25 Inserccedilatildeo em campo

Inicialmente na USK foram contatadas mulheres que participavam dos grupos de

planejamento familiar e que compareciam nos dias preacute-estabelecidos para a dispensa dos

meacutetodos anticoncepcionais No HUSM a busca de sujeitos estendeu-se agraves diferentes unidades

de atendimento gineco-obsteacutetrico mulheres acompanhantes e mulheres que trabalham nestas

unidades e que atendiam aos criteacuterios de inclusatildeo

Tanto na USK quanto no HUSM as mulheres foram selecionadas por meio de contato

direto com a pesquisadora na sala de espera das referidas unidades ou quando estavam

acompanhando a sua familiar durante a internaccedilatildeo no HUSM

Como havia entre as participantes funcionaacuterias do serviccedilo que atendiam aos criteacuterios

de inclusatildeo dos sujeitos estas profissionais foram convidadas e as entrevistas realizadas

durante o intervalo do horaacuterio de trabalho Algumas entrevistas foram realizadas no domiciacutelio

das participantes e outras na proacutepria unidade de sauacutede e unidades do HUSM em uma sala

reservada

26 Coleta de dados

Para a obtenccedilatildeo da coleta de dados utilizou-se como instrumento uma entrevista semi-

estruturada contendo questotildees fechadas para a caracterizaccedilatildeo do grupo em estudo e questotildees

abertas que possibilitaram o aprofundamento dos dados e a obtenccedilatildeo de respostas

34

relacionadas agrave vivecircncia das pessoas A coleta de dados foi entre janeiro e marccedilo de 2011 A

entrevista foi gravada em MP3 e posteriormente transcrita na iacutentegra pela pesquisadora de

forma literal A entrevista aberta eacute aquela em que o informante aborda livremente o tema

proposto com pergunta previamente formulada e que possibilita descrever sua vivecircncia de

forma retrospectiva sem repressatildeo de seu pensamento Propicia coletar material

extremamente rico para anaacutelise e contribui para o trabalho de pesquisa em andamento

(MINAYO 2000) Como estrateacutegia de compreensatildeo da realidade sua principal funccedilatildeo eacute

retratar as experiecircncias vivenciadas bem como as definiccedilotildees fornecidas por pessoas grupos

ou organizaccedilotildees (MINAYO 2000)

As entrevistas foram previamente agendadas por meio de contato pessoal sendo

marcados data local e horaacuterio que melhor conviessem agraves entrevistadas evitando interrupccedilotildees

constrangimentos de modo a lhes permitir sentir-se agrave vontade

27 Anaacutelise dos dados

Em posse dos dados coletados estes foram objeto da investigaccedilatildeo de acordo com a

anaacutelise temaacutetica de Minayo (2008) Tal anaacutelise consiste em descobrir os nuacutecleos de sentidos

que constituem uma comunicaccedilatildeo em que sua frequecircncia ou presenccedila revela algum

significado para o objeto analiacutetico Por conseguinte para analisar significados de um

determinado depoimento o surgimento de determinados temas denota estruturas de

relevacircncia valores de referecircncia e modelos de comportamento que podem estar ocultos no

discurso (MINAYO 2008)

Considera-se que a compreensatildeo e a interpretaccedilatildeo das entrevistas nas pesquisas

qualitativas natildeo se realizam em um soacute momento pois acontecem no decorrer da proacutepria coleta

e anaacutelise dos dados quando o pesquisador interage com os sujeitos do estudo na transcriccedilatildeo

das entrevistas e particularmente nas leituras e na organizaccedilatildeo das informaccedilotildees Poreacutem para

uma melhor sistematizaccedilatildeo e compreensatildeo deve-se seguir um percurso ordenado para que se

possa igualmente apreender o conjunto dos significados contidos nos depoimentos dos

entrevistados

Minayo (2008) descreve seguindo Bardin (1977) que essa ordenaccedilatildeo da anaacutelise

temaacutetica segue a sequecircncia de trecircs etapas quais sejam preacute-anaacutelise a exploraccedilatildeo do material e

o tratamento dos resultados obtidos e interpretaccedilatildeo

35

Neste estudo a etapa de preacute-anaacutelise compreendeu a interpretaccedilatildeo do material que se

deu a partir dos questionamentos do investigador Essa etapa consistiu em trecircs tempos o

primeiro chamado de leitura flutuante entendido como a leitura exaustiva das informaccedilotildees do

material de campo periacuteodo de impregnaccedilatildeo do conteuacutedo pelo investigador Jaacute o segundo

tempo foi a Constituiccedilatildeo do ldquoCorpusrdquo no qual se buscou verificar se o material coletado

abrangia regras de eficaacutecia qualitativa tais como exaustividade representatividade

homogeneidade e pertinecircncia Em relaccedilatildeo ao terceiro tempo este perpassou a Formulaccedilatildeo e a

Reformulaccedilatildeo de Hipoacuteteses e Objetivos que baseou-se no retorno a etapa exploratoacuteria de

revisatildeo das hipoacuteteses com intuito de corrigir erros de interpretaccedilatildeo e de ampliar o leque de

indagaccedilotildees para identificar o que surge de relevante para posterior construccedilatildeo de temas ou

categorias de anaacutelise

A segunda etapa da anaacutelise temaacutetica consistiu na Exploraccedilatildeo do Material que se

delineou basicamente nas categorias especiacuteficas que abrangeram elementos ou aspectos de

caracteriacutesticas comuns ou que se relacionavam entre si

A terceira etapa constituiu o Tratamento dos Resultados Obtidos e a Interpretaccedilatildeo

Nesse momento realizaram-se inferecircncias sendo realizada a articulaccedilatildeo entre as informaccedilotildees

aqui construiacutedas e os referenciais teoacutericos de estudos jaacute publicados respondendo agrave questatildeo da

pesquisa com base em seus objetivos

28 Questotildees eacuteticas

Para a realizaccedilatildeo de todas as atividades da pesquisa atentou-se para os criteacuterios eacuteticos

e os princiacutepios bioeacuteticos da voluntariedade da autonomia da beneficecircncia da natildeo-

maleficecircncia e da justiccedila que fundamentam a Resoluccedilatildeo nordm 19696 do Conselho Nacional de

Sauacutede o qual prescreve a eacutetica na pesquisa com seres humanos (BRASIL 1996)

O projeto foi registrado no Gabinete de Projetos do Centro de Ciecircncias da Sauacutede

sendo solicitada autorizaccedilatildeo para o desenvolvimento da pesquisa ao Secretaacuterio Municipal de

Sauacutede e a Direccedilatildeo de Ensino e Pesquisa do HUSM (DEPE) Em um segundo momento foi

encaminhado para a anaacutelise do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa com Seres Humanos da UFSM

(CEP) com a devida documentaccedilatildeo solicitada assinada pelo responsaacutevel legal da instituiccedilatildeo e

pela pesquisadora Apoacutes a aprovaccedilatildeo do CEP foi realizada a etapa de campo da pesquisa

36

Os sujeitos foram informados dos detalhes da pesquisa objetivos e produccedilatildeo de dados

Para tanto antes da realizaccedilatildeo da entrevista foi lido com os sujeitos o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apecircndice B) que concordando com este

optaram por assinaacute-lo O TCLE foi redigido em duas vias uma para a participante e outra

para a pesquisadora Da mesma forma foi redigido o Termo de Confidencialidade o qual

descreve o compromisso das pesquisadoras em relaccedilatildeo agraves informaccedilotildees que soacute poderatildeo ser

divulgadas de forma anocircnima e mantidas em Compact Disc (CD) por um periacuteodo de 5

(cinco) anos sob a sua inteira responsabilidade Apoacutes este periacuteodo ficou acordado que os

dados gravados seratildeo destruiacutedos Destaca-se que o compromisso em relaccedilatildeo agrave preservaccedilatildeo do

sigilo da identidade dos sujeitos durante todas as etapas da pesquisa mesmo com a

divulgaccedilatildeo dos seus resultados sob qualquer forma foi observado sendo utilizado o sistema

de identificaccedilatildeo alfanumeacuterico

Foram ressaltadas a liberdade da participaccedilatildeo espontacircnea e o direito de desistecircncia por

parte das participantes a qualquer momento da pesquisa a fim de se evitar riscos agrave dimensatildeo

fiacutesica moral intelectual social cultural ou espiritual em qualquer fase da pesquisa com a

garantia dos princiacutepios de beneficecircncia e natildeo-maleficecircncia No entanto foi exposto que o

momento da entrevista poderia trazer algumas lembranccedilas questionamentos eou conflitos agrave

dimensatildeo emocional pelo fato de que o sujeito iria refletir sobre o seu cotidiano e suas

vivecircncias Caso isto acontecesse poderia ser indicada uma consulta se assim a participante

desejasse com profissional qualificado do serviccedilo da aacuterea de sauacutede mental do Hospital

Universitaacuterio de Santa Maria previamente contatado

37

3 ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS DADOS

O parto institucionalizado vem sendo apresentado agraves mulheres como um periacuteodo

essencialmente meacutedico que traz consigo as referecircncias de um periacuteodo patoloacutegico e

medicalizado Em consequumlecircncia disso a abordagem sob a perspectiva bioloacutegica pode reduzi-

lo e suprimir a revelaccedilatildeo dos diferentes acircngulos e facetas do universo cultural e social da

parturiente Em virtude disso este estudo fundamentou-se em conceitos socioculturais e natildeo

apenas nos meacutedico-cientiacuteficos Salienta-se que natildeo se pretende abolir os conceitos

biomeacutedicos mas antes entendecirc-los como apenas uma dentre as vaacuterias formas de abordagem

do nascimento

Monticelli (1996) aborda essa questatildeo ao confirmar que a enfermagem quando age

contextualizada dentro desta perspectiva propicia o compartilhamento de saberes e praacuteticas

evitando posturas etnocecircntricas simplistas ou puramente biologicistas sobre o processo da

parturiccedilatildeo

Na sequecircncia deste capiacutetulo seratildeo abordados seis temas surgidos em decorrecircncia da

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados que surgiram das falas das mulheres entrevistadas percepccedilatildeo

das mulheres sobre o nascimento percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado a percepccedilatildeo

das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto conhecendo como se daacute a construccedilatildeo cultural

do processo parturitivo das mulheres resistecircncia das mulheres ao modelo biomeacutedico do parto

percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea

A partir desses temas estabelecer-se-aacute um diaacutelogo com o referencial teoacuterico buscando

alcanccedilar nesse movimento a compreensatildeo de como a cultura influecircncia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher

A Percepccedilatildeo das mulheres sobre o nascimento

Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo das mulheres sobre o nascimento foram relatadas tanto

experiecircncias positivas quanto negativas

A abordagem positiva relatada pelas entrevistadas retrata a responsabilidade por uma

nova vida e a emoccedilatildeo do nascimento conforme as falas das entrevistadas

Tem a parte fiacutesica e espiritual Eu vejo como uma forma de oportunidade da gente crescer e

dar esta oportunidade para este ser que estaacute vindo resgatar as coisas que a gente precisa e que ele

precisa tambeacutem (M1)

38

Eacute uma daacutediva que Deus deu para gente inexplicaacutevel assim apesar de tudo o que a gente

passa ateacute o nascimento da crianccedila Eacute maravilhoso (M2)

Eu acho que eacute uma vida nova que vem para gente compromisso de ter que guiar aquela

pessoa que taacute nascendo com amor com aquele sentimento de cuidar de matildee de ser responsaacutevel por

aquele ser pelas atitudes dele pelo crescimento dele (M3)

O que eu imaginava na hora era ganhar ver o rostinho deles a parte mais emocionante eacute ver

a hora que eles nascem (M8)

As falas das mulheres apontam para positividades da percepccedilatildeo do parto relacionada agrave

emoccedilatildeo da primeira vez de ver o bebecirc e ao contato fiacutesico nesse momento bem como ao

sentimento de responsabilidade pelo filho Essa abordagem transmite um senso de unidade

sobre a pessoa e sua experiecircncia fiacutesica com enfoque nos aspectos emocionais e espirituais do

nascimento Segundo Martin (2006 p 248) ldquoo parto positivo concentra-se na integraccedilatildeo

funcional de todas as partes da mulher - suas memoacuterias passadas esperanccedilas futuras sua

mente e seu corpordquo

Martin (2006) apresenta as metaacuteforas da danccedila e da jornada para descrever esta

integridade colocam a mulher em um papel claramente ativo A danccedila ao significar que

quando corpo e mente encontram-se alinhados danccedilam em sincronia e unidade e entregam-se

agrave nova vida que vem chegando A metaacutefora do parto como uma jornada torna-se uma

oportunidade para o crescimento psicoloacutegico da mulher que se inicia no primeiro trimestre e

culmina no trabalho de parto quando ela relaciona-se iacutentima e singularmente consigo mesma

tendo ao final uma experiecircncia de aprendizado totalmente sua

Foi destacada pelas entrevistadas a mudanccedila do status social e o compromisso com

este novo ser na sua vida denotando o compromisso e a responsabilidade de ser matildee A

mulher que daacute agrave luz com vivecircncias positivas apresenta atitudes que vatildeo dignificaacute-la e que

fortalecem o seu ldquoeu interiorrdquo (BALASKAS 2008)

Este momento faz parte de um ritual de transiccedilatildeo social presente em todas as

sociedades do status social de esposa para o de matildee com intuito de unir os aspectos

fisioloacutegicos aos aspectos sociais da vida de uma pessoa Dessa maneira existem muitas

crenccedilas e rituais do parto e puerpeacuterio no mundo ocidental que continuam ateacute que a matildee e a

crianccedila estejam estabelecidas com seguranccedila em suas posiccedilotildees sociais (HELMAN 2009)

Segundo Odent (2003) atribui-se importacircncia crucial agrave primeira hora apoacutes o parto para

o desenvolvimento da capacidade de amar Nessa fase em condiccedilotildees fisioloacutegicas a liberaccedilatildeo

de ocitocina conhecida como ldquohormocircnio do amorrdquo associada agrave prolactina ldquohormocircnio da

maternidaderdquo significa que se matildee e o bebecirc estiverem em contato pele a pele e olho no olho

39

as chances de se estabelecer apego interaccedilatildeo e amor estatildeo garantidas para ambos Isso eacute

ratificado por Odent (2003) ao referir-se que quando o meio cultural interfere com rotinas

que desestimulam esse apego entre a matildee e o bebecirc tais como o uso de sedativos agentes

anesteacutesicos e analgeacutesicos durante o parto influencia toda a capacidade de amar devido a natildeo

liberaccedilatildeo da ocitocina natural pelo organismo da mulher

Um aspecto negativo expresso pelas entrevistadas concernente agrave percepccedilatildeo do

nascimento refere-se ao desconhecimento sobre a fisiologia do parto o que as fez entender

este processo semelhante a um processo patoloacutegico e sujeito a vaacuterias intervenccedilotildees

desnecessaacuterias conforme os relatos

O primeiro eu natildeo tinha a orientaccedilatildeo que eu tenho agora ningueacutem me orientou Foi muito

doiacutedo e difiacutecil inclusive ateacute porque ele era bem grande e iam passar o foacuterceps Natildeo sei se chegaram a

colocar mas eu consegui e nasceu normal E me colocaram o soro com ocitocina () e eu disse ldquopara

quecircrdquo mas natildeo me explicaram (M1)

Jaacute tinha perdido o tampatildeo uns 3 dias antes de comeccedilar ldquoas dorrdquo entatildeo eu ficava preocupada

ldquoSeraacute que eu natildeo vou sentir dorrdquoldquo seraacute que eu natildeo vou saber quando vai ser a hora de ir ao

hospitalrdquo Me colocaram o soro para induzir () natildeo me explicaram nada Depois veio a anestesia

remeacutedios acho que para enjocirco () natildeo consegui ganhar normal (M2)

Achei que eu tinha que me esforccedilar mais em todos eles Por isso na hora de ganhar sempre

me dava um medo Aiacute eu natildeo sei se eu me trancava Botaram o soro para dor e eu ao inveacutes de fazer a

forccedila direito como se deve fazer eu me retrancava e comeccedilava a chorar (M7)

Eu acho o parto normal muito mais arriscado que a cesaacuterea Todos os meus foram cesaacuterea

No meu caso eu acho que foi por causa da dilataccedilatildeo Todas foram agendadas Os meus filhos quando

chegam no uacuteltimo mecircs natildeo querem ficar nascem antes A minha filha nasceu com 8 meses com muito

pouco peso e foi para UTI (M8)

Os sentimentos relatados pelas entrevistadas de natildeo saber como agir no parto

exprimem significativamente seu desconhecimento acerca do processo fisioloacutegico e refletem-

se em medo e inseguranccedila Uma vez que natildeo sabem o que estaacute acontecendo com seu corpo as

mulheres controlam-no menos demonstram fragilidade e tendem a ser tratadas como objeto

de controle da equipe meacutedica Desse modo aceitam passivamente as intervenccedilotildees meacutedicas

como necessidades normais e rotineiras no parto a exemplo dos relatos do uso de ocitocina

de foacuterceps e da indicaccedilatildeo de cesariana previamente agendada

Esse eacute o modelo de atendimento tecnocraacutetico de assistecircncia descrito pela antropoacuteloga

Davis Floyd (2004) que representa a corrente de pensamento convencional e dominante

norteadora da praacutetica da assistecircncia obsteacutetrica haacute vaacuterias deacutecadas na qual o profissional de

sauacutede manteacutem um distanciamento do paciente como forma de proteger a si mesmo das

reaccedilotildees emocionais frente agraves anguacutestias deste

40

A forma e a percepccedilatildeo de como as mulheres vivenciam a sua experiecircncia de parto satildeo

impregnadas pela realidade conforme modelo que se apresenta para a sociedade isto eacute com a

mensagem de que eacute imprescindiacutevel a utilizaccedilatildeo da tecnologia como garantia de um parto

seguro O que resulta disso eacute o que chamamos de uma ldquocascata de intervenccedilotildeesrdquo que ocorre

quando uma praacutetica obsteacutetrica desencadeia outras fazendo com que se altere o processo

natural do parto (BALASKAS 2008)

Destaca-se tambeacutem a desinformaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos riscos que advecircm da cesaacuterea

desnecessaacuteria para matildee e bebecirc A entrevistada M8 narra que as cesaacutereas foram realizadas

antes de sua gestaccedilatildeo estar a termo Sabe-se que a prematuridade iatrogecircnica ocasionada por

cesaacutereas sem indicaccedilatildeo estaacute associada ao aumento da taxa de nascimentos de receacutem nascidos

preacute-termo (MACDORMAN et al 2008) e ao aumento da mortalidade neonatal (VILLAR et

al 2007)

Concorda-se com Balaskas (2008) ao afirmar que as cicatrizes corporais deixadas

pelas intervenccedilotildees desnecessaacuterias no corpo da mulher transformam-se em uma vivecircncia de

sofrimento inseguranccedila e sobrepujam toda e qualquer vivecircncia positiva ocorrida no parto

Logo um momento que deveria ser natural repleto de lembranccedilas positivas e felizes para a

mulher constitui-se num evento traumatizante Nessa direccedilatildeo entende-se que se o

comportamento humano eacute influenciado diretamente pelo meio cultural pois humanos

comunicam-se e criam cultura a socializaccedilatildeo da naturalizaccedilatildeo do parto como evento rodeado

de tecnologia e risco bem como a recapitulaccedilatildeo das experiecircncias traumaacuteticas contadas pelas

mulheres reforccedilam-se na convivecircncia social (ODENT 2004)

Ademais as intervenccedilotildees desnecessaacuterias sobrepotildeem-se ao poder que a mulher tem de

parir e que atualmente ela mesma desconhece pois a histoacuteria repassada pela medicina nas

uacuteltimas deacutecadas na cultura ocidental transformou o parto em um evento essencialmente

meacutedico sendo a mulher apenas uma parte do cenaacuterio (SEIBERT 2005)

O uso do recurso da aceleraccedilatildeo no parto com o uso do soro com ocitocina foi

percebido como forma negativa para as mulheres que o relataram O emprego de hormocircnios

sinteacuteticos no trabalho do parto como eacute o caso da ocitocina tende a cessar a fisiologia e as

etapas do parto (FIGUEREDO L 2010)

Ratificando essa informaccedilatildeo um estudo feito por Barros (2005) mostra que o aumento

de partos cesaacutereos estaacute relacionado agrave praacutetica da induccedilatildeo medicamentosa A falha de induccedilatildeo

provoca a indicaccedilatildeo de uma cesaacuterea que implica a utilizaccedilatildeo de anestesia medicaccedilotildees

antibioacuteticas profilaacuteticas medicaccedilatildeo para naacuteuseas medicaccedilatildeo para dor no poacutes-operatoacuterio e

utilizaccedilatildeo de outras drogas o que pode afetar drasticamente o comportamento materno pois o

41

que se verifica em estudos com outros mamiacuteferos eacute o natildeo-cuidado de seus bebecircs apoacutes uma

cesariana (ODENT 2004)

Eacute primordial durante a gestaccedilatildeo o preparo das mulheres para o parto apoiando suas

informaccedilotildees em praacuteticas baseadas em evidecircncias cientiacuteficas pois a grande maioria dos

procedimentos que os profissionais de sauacutede ainda utilizam no parto satildeo rotinas que estatildeo

caindo em desuso pois se mostraram mais danosas do que beneacuteficas Se as proacuteprias pacientes

souberem disso atraveacutes de atividades educativas no preacute-natal seraacute muito mais faacutecil reverter

esse quadro (DINIZ 2003)

Concorda-se nessa direccedilatildeo que a consulta preacute-natal tambeacutem eacute um espaccedilo importante

para mudanccedila de atitudes em relaccedilatildeo ao parto incentivada por profissionais que valorizam os

aspectos sociais e subjetivos da gestaccedilatildeo do parto e do nascimento (FREITAS 2005)

A Percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado

Nesta categoria as mulheres expressam a via de parto desejada A maior parte

manifestou o desejo pelo parto normal Apenas uma entrevistada manifestou preferecircncia pela

cesaacuterea e teve sua vontade atendida

Do primeiro eu natildeo pesquisei dos outros que eu comecei a ler sobre o assunto Eu queria ter

o parto em casa e mais informaccedilotildees do meacutedico Trabalhei ateacute a uacuteltima hora de internar Foi bom fiz a

respiraccedilatildeo direitinho e acabei ganhando no leito como eu pensei que queria que nascesse (M1)

Eu tinha conversado com meu esposo em casa e a gente queria parto normal mas natildeo deu

perdi o controle (M2)

Quando eu dizia que queria parto normal me diziam ldquopor que fazer parto normal por que

natildeo faz uma cesaacutereardquo Eu dizia ldquoeu quero parto normal pela recuperaccedilatildeo mais raacutepida para poder

voltar a estudarrdquo e eu achei bem melhor o parto normal do que ter feito uma cesaacuterea que daiacute eu ia

ficar dias sem poder voltar a estudar (M3)

Eu sempre quis cesaacuterea porque eu tinha medo de sentir dor ali na hora Eu vi o bebecirc assim

que o tiraram () Natildeo recebi orientaccedilatildeo sobre parto normal do meacutedico (M4)

A minha preferecircncia sempre foi o parto normal eu achei que ia ganhar normal deste uacuteltimo

mas natildeo deu fiquei frustrada (M5)

Por mim poderia ser parto vaginal tanto que do primeiro filho eu ia caminhar ateacute na veacutespera

para ver se evoluiacutea para parto normal mas natildeo evoluiu daiacute foi cesaacuterea e do outro foi cesaacuterea

tambeacutem Teve que ser programada (M6)

O parto normal foi desejado Se tivesse feito uma cesaacuterea seria o fim do mundo porque eu

demorei para aceitar a ideacuteia de que teria que fazer uma laqueadura por cesaacuterea Eu sempre dei a

preferecircncia para parto normal por causa de comentaacuterios e sobre ter infecccedilatildeo (M7)

42

Eu tinha na cabeccedila que o meu primeiro filho ia ser normal Parto normal a matildee ganha e jaacute

sai caminhando com a crianccedila no colo e cesaacuterea natildeo (M8)

Na fala das entrevistadas revelou-se o desejo pelo parto normal ou pela cesaacuterea

destacando o entendimento de que o parto normal tem a recuperaccedilatildeo mais raacutepida natildeo

interferindo na rotina e autonomia delas apresenta menos risco de infecccedilatildeo e a cesaacuterea

poderia proteger quanto agrave dor do parto Esses pontos justificaram em grande parte seu desejo

pelas vias de parto

Para Martin (2006) as mulheres que desejam o parto normal e conseguem passar por

essa experiecircncia consideram-no um processo que acontece naturalmente como algo que a

mulher realiza e natildeo simplesmente vecirc acontecer consigo

Estudos de natureza quantitativa e qualitativa da aacuterea da sauacutede em relaccedilatildeo agrave escolha

para o parto normal constataram que as expectativas das mulheres em relaccedilatildeo ao tipo de parto

justificaram-se pela recuperaccedilatildeo poacutes-parto mais raacutepida e por ser melhor para elas eou para os

bebecircs (OLIVEIRA 2002 MELCHIORI et al 2009 MANDARINO et al 2009)

A entrevistada que realizou a cesariana por desejo proacuteprio justificou sua escolha pelo

medo da dor do parto A forma como se percebe e se responde agrave dor pode ser influenciada

pela origem cultural e social Em outros grupos culturais a dor do parto natildeo eacute temida muito

diferentemente das mulheres de paiacuteses ocidentais que a temem e satildeo bastante propensas a

aceitar drogas analgeacutesicas ou anesteacutesicas (HELMAN 2009)

No Brasil o medo da dor eacute apontado como uma das causas da intervenccedilatildeo cesariana

requerida pelas mulheres e pode ser considerado assim um dos motivadores do aumento das

taxas dessa cirurgia no paiacutes (FAUacuteNDES CECATTI 1991 OLIVEIRA et al 2002)

Em um estudo feito por Almeida (2009) sobre a dor do parto normal a autora

evidenciou a ocorrecircncia de uma relaccedilatildeo de poder dos serviccedilos de obstetriacutecia sobre o corpo

feminino e a forma como estes serviccedilos gerenciam-se mantendo o processo da medicalizaccedilatildeo

o que se constitui um dos mecanismos de favorecimento da perpetuaccedilatildeo do parto cesaacutereo

com a finalidade de evitar a dor do parto normal

Entende-se tambeacutem que a dor do parto eacute em grande medida iatrogecircnica amplificada

pelo modelo assistencial que institui rotinas como a imobilizaccedilatildeo o uso abusivo de ocitocina

artificial a manobra de Kristeller a episiotomia e a episiorrafia praacuteticas no parto normal que

satildeo claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas com base em evidecircncias

cientiacuteficas e em recomendaccedilotildees da OMS (1996) e do Ministeacuterio da Sauacutede (BRASIL 2001)

43

Para tanto foi instituiacutedo pelo Ministeacuterio da Sauacutede (2000b) o Programa de

Humanizaccedilatildeo no Preacute-Natal e Nascimento cujo objetivo eacute melhorar a assistecircncia obsteacutetrica

provocada por praacuteticas e condutas inadequadas

Segundo Floyd (2004) o programa eacute traduzido como um modelo humanista de

assistecircncia tambeacutem referido por ela como modelo holiacutestico Os profissionais que atuam nessa

vertente simplesmente tecircm como desejo humanizar a tecnomedicina e apresentam maior

potencial para reformar o modelo tecnocraacutetico com mudanccedilas de atitudes e de paradigma

O modelo holiacutestico eacute o que abarca uma variedade mais rica de abordagem rompe

totalmente com o modelo dominante atual utiliza modalidades que satildeo menos prejudiciais

assiste as pessoas em seu contexto crecirc em outros modos de contexto que curam compreende

a dimensatildeo espiritual do cuidado da sauacutede e tambeacutem fortalece o desenvolvimento da vida de

cada pessoa (FLOYD 2004)

Neste sentido a escolha da via de parto torna-se importante uma vez que leva em

consideraccedilatildeo o contexto soacutecio cultural e assistencial em que a parturiente estaacute inserida e os

aspectos bioloacutegicos e psicoemocionais com intuito de promover um cuidado direcionado agraves

suas necessidades conforme recomendado nos estudos de Bezerra Cardoso (2005) e Budoacute et

al (2007) referentes a outros cenaacuterios da sauacutede Tal cuidado aproxima-se da humanizaccedilatildeo da

atenccedilatildeo no parto

De destaque nas falas das entrevistadas do presente estudo eacute o sentimento de

frustraccedilatildeo e perda de controle das que desejavam parto normal e tiveram de submeter-se agrave

cesaacuterea Situaccedilatildeo semelhante surgiu no relato das mulheres que Emily Martin (2006)

entrevistou em Baltimore (EUA) quando percebeu nos depoimentos que uma das reaccedilotildees

mais comuns especialmente quando a mulher planeja um parto vaginal e a cirurgia ocorre eacute a

perda de controle do seu parto

Por outro lado entre as entrevistadas que conseguiram realizar o parto normal

consoante seu desejo de via de parto o sentimento de aliacutevio foi constatado Para Balaskas

(2008) as sensaccedilotildees de aliacutevio realizaccedilatildeo gratidatildeo ecircxtase partem de uma grande variedade

de sensaccedilotildees que somente a experiecircncia do parto normal propicia

Uma das entrevistadas relata orientaccedilatildeo para cesariana a fim de submeter-se agrave

laqueadura tubaacuteria tendo seu desejo frustrado quanto agrave opccedilatildeo da via de parto uma vez que

desejava realizar parto normal Evidencia-se que natildeo houve o desejo de cesaacuterea no entanto a

necessidade da laqueadura

A constataccedilatildeo do desestiacutemulo ao parto normal feito pela equipe meacutedica mesmo

cientes de que essas mulheres tinham histoacuterias preacutevias de partos normais a fim de realizar

44

uma cesaacuterea concomitantemente agrave laqueadura tubaacuteria mostra o desrespeito agrave lei nordm 9263 que

trata do planejamento familiar que veda a esterilizaccedilatildeo ciruacutergica em mulher durante os

periacuteodos de parto ou aborto exceto nos casos de comprovada necessidade por cesarianas

sucessivas anteriores (BRASIL 2002)

As entrevistadas que se submeteram agrave cesaacuterea apresentaram percepccedilotildees de que algo

que foi feito com elas e natildeo de sua participaccedilatildeo como relatado nas seguintes frases ldquotiraram

o bebecircrdquo (M4) ldquopuncionaram-me umas 15 vezesrdquo (M6) ldquose a hemorragia natildeo parasse iam

tirar o meu uacuteterordquo (M8)

A sensaccedilatildeo de passividade e separaccedilatildeo entre o eu e o seu corpo surge em niacutevel

extremo quando as mulheres descrevem a cesariana Parte disso adveacutem pelo fato de ser uma

cirurgia em que um nuacutemero maior de pessoas toca manipula corta e costura seu corpo Outra

parte deve-se agrave anestesia peridural que produz insensibilidade da cintura para baixo e

intensifica-se pela colocaccedilatildeo de um pano sobre o peito da mulher de modo que ela natildeo

enxerga a metade inferior do seu corpo (MARTIN 2006)

Verificamos nas falas das entrevistadas que os laccedilos entre a matildee e o bebecirc podem estar

sendo desestimulados por priorizarem-se cuidados que poderiam ser postergados ldquoPrimeiro

foi realizado os cuidados com o bebecirc e me mostraram jaacute enrolado com as roupasrdquo (M6)

ldquoFicavam ali fazendo os cuidados com o bebecirc e me mostravam bem depoisrdquo (M8)

Esses cuidados aleacutem de estar interferindo na relaccedilatildeo amorosa matildee-bebecirc podem estar

ignorando a implementaccedilatildeo de praacuteticas simples como o clampeamento tardio do cordatildeo

umbilical o contato imediato pele-a-pele e o iniacutecio da amamentaccedilatildeo exclusiva que tem um

impacto a longo prazo na nutriccedilatildeo e na sauacutede da matildee e do bebecirc pois afetam o

desenvolvimento da crianccedila muito aleacutem do periacuteodo neonatal e do puerpeacuterio (BRASIL 2011)

A metaacutefora da produccedilatildeo no nascimento proposta pela antropoacuteloga Emily Martin

(2006) retrata a interrupccedilatildeo dos laccedilos afetivos entre matildees e bebecircs que sofreram cesarianas

devido ao controle sobre o corpo feminino exercido pela retirada do protagonismo da mulher

da cena do nascimento Fato esse semelhante agrave metaacutefora da produccedilatildeo industrial do natildeo-

envolvimento da trabalhadora com o produto do seu trabalho quando ela natildeo sente que foi

quem o produziu e quando o seu trabalho eacute estritamente organizado e controlado (MARTIN

2006)

Frequentemente quando se interfere na produccedilatildeo de um bebecirc segundo a metaacutefora da

produccedilatildeo industrial que ocorre quando natildeo eacute a mulher que daacute agrave luz e o bebecirc eacute extraiacutedo

cirurgicamente por um meacutedico a matildee sente-se desligada da crianccedila apoacutes seu nascimento

(MARTIN 2006)

45

Nesta direccedilatildeo um estudo realizado na Universidade da Cidade do Cabo Aacutefrica do Sul

mostrou que a separaccedilatildeo entre matildee e o bebecirc tem impactos negativos influenciando na

duraccedilatildeo do sono e na frequecircncia cardiacuteaca do bebecirc (BARAK 2011)

O modelo de atendimento biomeacutedico desestimula a implementaccedilatildeo de cuidados

comprovadamente eficazes e passa uma mensagem que matildee e bebecirc satildeo como uma diacuteade

conflitante natildeo sendo vistos como uma unidade integral (MARTIN 2006)

Outro elemento a ser salientado refere-se agrave percepccedilatildeo de ser matildee atraveacutes da vivecircncia

do trabalho de parto ou seja compreende-se o significado de ser matildee por meio da vivecircncia da

parturiccedilatildeo conforme fala da entrevistada Era meu primeiro filho decidi que para ser matildee

teria que ganhar de parto normal [] Se eacute para ser matildee vamos ser matildee mesmo (M3)

Como se pode notar a entrevistada destaca que o parto normal foi primordial para

sentir-se realmente matildee Importante nesse sentido a afirmaccedilatildeo de Monticelli (1996) de que o

parto eacute um ritual que marca profundamente o inconsciente feminino principalmente se for o

primeiro

A Percepccedilatildeo das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto

Nesta categoria foi significante a falta de autonomia da mulher na decisatildeo sobre a via

de parto Para compreensatildeo do parto como um evento na vida da mulher em relaccedilatildeo agrave decisatildeo

sobre o tipo de parto as mulheres opinaram

A cesaacuterea geralmente eacute o meacutedico que decide Eu sabia disso daiacute que nem todas satildeo iguais

porque a minha voacute teve 6 cesaacutereas e 6 normal e a minha matildee soacute fez cesaacuterea Entatildeo eu sabia que

podia acontecer comigo e realmente aconteceu O meacutedico disse que ia fazer uma cesaacuterea e fez

cesaacuterea disse que ela tinha tomado aacutegua no parto (M8)

Deveria ser da mulher mais do que do meacutedico jaacute que ela que estaacute sentindo e sabendo o que

estaacute acontecendo (M1)

A niacutevel de consultoacuterio (rede privada) eacute o meacutedico Natildeo daacute para escolher() Eu queria Por

mim poderia ser parto vaginal (M6)

Eu acho que deve ser a mulher mas eacute o meacutedico que decide Eles dizem que eacute protocolo que

isso que aquilo mas sabe-se que natildeo eacute assim Soacute que natildeo acontece isso neacuteEla natildeo tem o direito de

decidir se quer um parto normal ou uma cesaacuterea Eacute colocado para ela que ela vai ganhar de parto

normal por causa disso ou daquilo mas agraves vezes ela natildeo estaacute preparada de repente eacute o melhor para

o corpo mas natildeo o melhor para cabeccedila dela natildeo estaacute preparada para aquilo ali (M3)

Eacute o meacutedico que tem o poder de decisatildeo se vai ser parto vaginal ou cesaacuterea (M2)

46

Nessa categoria foi significativo o entendimento das mulheres sobre o poder de

decisatildeo que os meacutedicos tecircm em relaccedilatildeo ao tipo de parto Poreacutem elas discordam de que este

profissional determine a escolha de forma unilateral e apontam para inclusatildeo delas nessa

decisatildeo Esta perspectiva direciona-se para a autonomia e a participaccedilatildeo da mulher na decisatildeo

sobre a via de parto embora o que se constate eacute que o meacutedico determina qual a finalizaccedilatildeo da

gestaccedilatildeo

Entende-se que a questatildeo de avaliaccedilatildeo de risco e a indicaccedilatildeo de se realizar uma

cesaacuterea sejam de competecircncia meacutedica No entanto a mulher deve receber informaccedilotildees sobre

os riscos e benefiacutecios da intervenccedilatildeo a fim de exercer sua participaccedilatildeo ativa no processo Tal

questatildeo enfatiza o direito agrave informaccedilatildeo e agrave formaccedilatildeo de opiniatildeo das mulheres para que

tenham o direito de reivindicar aquilo que eacute beneacutefico para a sua sauacutede e a de seu bebecirc

Profissionais e mulheres podem ateacute tomar uma decisatildeo antecipada sobre o tipo de parto

poreacutem esse fato natildeo pode ser visto como uma simples questatildeo de preferecircncia como no caso

da cesaacuterea antecipada ou eletiva sem indicaccedilatildeo pois pode implicar em riscos e complicaccedilotildees

futuras para matildee e para o bebecirc (BRASIL 2001)

Para o Ministeacuterio da Sauacutede (2006a) um dos valores da Poliacutetica Nacional de

Humanizaccedilatildeo eacute o principio da autonomia de pensar os indiviacuteduos como sujeitos autocircnomos e

como protagonistas nos coletivos de que participam como co-responsaacuteveis pelo processo de

produccedilatildeo de sauacutede de si e do mundo em que vivem

Quando falamos da autonomia da mulher parturiente falamos de um processo em que

a cada momento se vai desconstruindo o leacutexico cientificoteacutecnico para que a mulher e a

famiacutelia possam ser chamadas ao centro de decisatildeo Mas para isso eacute importante oferecer toda a

informaccedilatildeo que ela necessita para se tornar um membro efetivo da equipe de sauacutede e como

tal ter pleno poder e capacidade de decidir da forma mais vantajosa para todos Esse eacute sem

duacutevida um processo de grande complexidade que em uma aplicaccedilatildeo absoluta incita os

profissionais de sauacutede a compreenderem que o respeito pela autonomia da mulher natildeo

constitui um dano na sua autonomia profissional mas antes um incremento pela qualidade

participaccedilatildeo e rigor eacutetico obtido atraveacutes desse processo (LEITAtildeO 2010)

Tal processo talvez seja difiacutecil de compreender para o profissional quando se alicerccedila

na cultura biomeacutedica ao redor de uma ideologia de progresso tecnoloacutegico que no contexto do

parto iniciou-se a partir da sua institucionalizaccedilatildeo com o advento da era industrial (FLOYD

2004)

47

A institucionalizaccedilatildeo do parto iniciou-se nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX quando

o mesmo passou a ser visto como um processo patoloacutegico que deveria ser controlado a fim de

evitar a morte materna e perinatal sendo entatildeo marcado por rotinas tais como episiotomias

cesaacutereas desnecessaacuterias utilizaccedilatildeo de foacuterceps profilaacutetico (PROGIANTI BARREIRA 2001)

Para Collaccedilo (2002) as instituiccedilotildees tecircm uma cultura proacutepria fundamentada no empirismo e

na tecnologia que se revelam nas rotinas e condutas intervencionistas do meacutedico O resultado

dessa conduta intervencionista eacute a discrepacircncia entre o que as mulheres desejam e o que eacute

realizado o que justificaria a mudanccedila do tipo de parto (HOPKINS 2000)

Um dos motivos alegados pelos meacutedicos para essa praacutetica seria a mudanccedila de perfil de

risco das gestantes Poreacutem um estudo realizado nos EUA que relacionou o aumento das taxas

de cesaacuterea com a mudanccedila de perfil do risco constatou que as chances de uma mulher ser

submetida a uma cesaacuterea na primeira gestaccedilatildeo sem pertencer a um grupo de risco subiu para

50 em 2005 comparado ao ano de 1996 (DECLERCQ et al 2005)

Essa desinformaccedilatildeo por parte das mulheres pode por fim a sua capacidade na decisatildeo

sobre o tipo de parto e ser atribuiacuteda agrave falta de conhecimento sobre seu corpo os processos

reprodutivos e a sexualidade (SANTOS 2008)

Segundo o relato da entrevistada M6 natildeo haacute o direito de escolha quanto ao tipo de

parto para a mulher que faz o preacute-natal na rede suplementar sendo sua autonomia geralmente

desrespeitada quando deseja um parto normal De acordo com Mccourt et al (2007) a

escolha do tipo de parto pela mulher eacute apontada na literatura meacutedica como um fator que tem

contribuiacutedo para o elevado iacutendice de cesarianas na atualidade

Destaca-se que nos serviccedilos de sauacutede suplementar no Brasil as taxas de cesaacuterea satildeo

as mais elevadas do mundo em torno de 797 (ANS 2001) A cesaacuterea daacute ao meacutedico o

maacuteximo de poder controle e conduccedilatildeo nesse processo e exige o miacutenimo de trabalho do uacutetero

e da mulher criando o ponto de vista de que este procedimento ciruacutergico fornece os melhores

bdquoprodutos‟ isto eacute produzem bebecircs perfeitos semelhantemente agrave metaacutefora de produccedilatildeo tal

como acontece nas induacutestrias (MARTIN 2006)

Logo deu-se iniacutecio a uma crenccedila de que cesaacuterea eacute protetora para o nascimento do

bebecirc Isso pode estar relacionado agrave noccedilatildeo de que partos normais satildeo traumaacuteticos para o feto

e entatildeo os profissionais ldquoaliam-serdquo ao bebecirc contra a destruiccedilatildeo em potencial causada pelo

corpo da matildee no trabalho de parto e no parto o que leva a ignorar aquilo que talvez seja o

mais importante para a mulher e para a crianccedila que eacute a natureza de suas experiecircncias no parto

e no nascimento (MARTIN 2006)

48

Aleacutem do mais na relaccedilatildeo meacutedico-parturiente fica evidente como satildeo encaradas as

questotildees relacionadas ao parto de forma diferente por cada um desses atores (ANS 2008a)

Entre os meacutedicos obstetras institui-se uma cultura proacute-cesaacuterea e como consequecircncia

parte deles natildeo se encontra motivada nem capacitada para o acompanhamento do parto

normal Em contrapartida as mulheres dentro dessa cultura tecircm dificuldade de fazer valer a

sua decisatildeo quanto ao tipo de parto por sentirem-se menos capacitadas a escolher devido agraves

questotildees teacutecnicas levantadas e sustentadas por eles (BRASIL 2001)

Estudos tecircm demonstrado que apenas 20 das usuaacuterias de convecircnio particular

conseguem dar agrave luz por parto normal sendo que a maioria das mulheres brasileiras deseja-o

(REBELO et al 2010 POTTER et al 2001 POTTER et al 2008)

Concorda-se portanto com a visatildeo de ANS (2008a) de que a criacutetica da exclusatildeo das

mulheres na decisatildeo da via de parto deve-se principalmente ao fato de que o modelo

biomeacutedico desconhece os significados que as mulheres datildeo agrave experiecircncia da gestaccedilatildeo e do

parto

Conhecendo como se daacute a construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres foram relatadas

tanto experiecircncias positivas quanto negativas dos partos das mulheres de seu conviacutevio

As mulheres que apresentam uma percepccedilatildeo positiva sobre parto normal apresentam

nas famiacutelias histoacuterias e relatos positivos do parto de suas familiares

A minha matildee teve 5 partos normais Todos em casa e a minha voacute era parteira Acho que a

influecircncia vem daiacute Queria que minha voacute tivesse viva para eu ter tido os meus filhos com ela A matildee

sempre foi positiva nunca disse que os partos foram uma coisa horriacutevel Ela sempre disse que era

uma coisa boa doiacutea claro mas ela sempre mostrou coisa boa Tenho uma irmatilde que ganhou um bebecirc

em casa natildeo deu tempo de ir para o hospital Foi raacutepido demais (M1)

Olha todas natildeo se queixaram As [familiares] que eu conversei disseram que parto normal eacute

a melhor forma por causa da recuperaccedilatildeo eacute melhor para ti cuidar do nenecirc sem depender de ningueacutem

A matildee sempre teve parto normal (M2)

Da minha matildee foi tranquumlilo O parto dela foi no mesmo hospital que eu tive ela caminhou

tudo como tinha que ser rompeu a bolsa em casa Ela me passou essa experiecircncia boa (M3)

Eu e a minha irmatilde nascemos de parto vaginal A minha voacute teve 5 filhos de parto vaginal A

minha sogra teve partos vaginais em casa Meu marido nasceu com 4kg Ela comentava como eacute que

tinha sido os nascimentos dos filhos dela de ser tudo tranquilo e das aventuras que ateacute na veacutespera

andava a cavalo e natildeo deu nada de complicaccedilatildeo e naquele tempo foi com parteiras A matildee dela era

parteira Os filhos nasceram com a avoacute (M6)

49

Durante a minha gravidez eu conversava mais sobre o parto com a minha matildee e eu a

acompanhei ela quando foi ganhar normal Eu vi como foi entatildeo eu sabia como tinha que ser quando

eu fosse ganhar que era bom A influecircncia da minha voacute e da minha matildee foi para parto normal mas

eu natildeo ganhei normal em nenhum (M8)

Na opiniatildeo dessas entrevistadas a transmissatildeo do conhecimento dos partos na famiacutelia

exerceu grande influecircncia na preferecircncia por parto normal focando a naturalidade e a

praticidade de encarar o parto normal

O processo de socializaccedilatildeo denominado ldquoprimaacuteriordquo para Berger e Luckmann (1976)

acontece na famiacutelia durante a infacircncia quando a realidade eacute apreendida atraveacutes da

consciecircncia individual e os papeacuteis sociais tornam-se seus quando identificados

Segundo Laraia (2003) a socializaccedilatildeo do indiviacuteduo eacute resultante do seu meio cultural e

a acumulaccedilatildeo de saberes e crenccedilas satildeo passadas de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Destaca-se isso

igualmente no estudo de Ressel et al (2011) relativo a cultura da sexualidade junto a

adolescentes e suas famiacutelias onde a socializaccedilatildeo dos saberes eacute um processo dinacircmico e

contiacutenuo ao longo da vida

Laraia (2003) defende que os valores que vatildeo compor a singularizaccedilatildeo de cada pessoa

na sociedade ocorrem por meio da socializaccedilatildeo atraveacutes dos relacionamentos das

representaccedilotildees pessoais sobre fenocircmenos fatos e eventos sociais

As entrevistadas M1 e M6 relatam a presenccedila de parteiras na assistecircncia ao parto Ateacute

a entrada da profissatildeo meacutedica sobre o processo do parto as mulheres em trabalho de parto

eram auxiliadas principalmente pelas matildees tias avoacutes eou parteiras Poreacutem com a perda da

importacircncia do papel das parteiras - pois ameaccedilavam o monopoacutelio do saber meacutedico - e sua

progressiva alocaccedilatildeo na marginalidade do contexto da obstetriacutecia seus saberes foram sendo

vistos sob suspeita

Em quase todas as culturas segundo Helman (2009) os principais provedores dos

cuidados primaacuterios de sauacutede satildeo as matildees e avoacutes e as parteiras ainda satildeo as responsaacuteveis pelos

cuidados obsteacutetricos em alguns paiacuteses

Percebem-se nas narrativas das entrevistadas as influecircncias positivas passadas por suas

matildees na vivecircncia da parturiccedilatildeo das mulheres da famiacutelia Elsen (2011) realizou uma anaacutelise de

quatro estudos sobre famiacutelias tendo como um dos destaques a valorizaccedilatildeo do conhecimento e

das praacuteticas do cuidado nesses ambientes familiares

Em contrapartida as entrevistadas que apresentam nos seus discursos experiecircncias

negativas mostram que no conviacutevio familiar e no ciacuterculo social proacuteximo este assunto ou natildeo

foi comentado ou foi discutido com teor negativo

50

A minha matildee nunca falou bdquocom noacutes‟ sobre isso Ela teve cesaacuterea da minha irmatilde mais nova de

sete anos e deu problemas de rim nela A minha recuperaccedilatildeo foi ruim porque demorei a recuperar

() Eu me sentia estranha e parece que minhas pernas estavam separadas do meu corpo por causa da

anestesia(M4)

Noacutes nunca conversamos sobre essas coisas laacute em casa nem com matildee e nem com irmatilde A

uacutenica coisa que me falavam eacute que sofria muito falavam que ia gritar de tanta dor que as contraccedilotildees

seriam fortes Eu sofri um pouquinho coloquei soro fiquei de barriga para cima o tempo todo ()

como se estivesse doente depois eu tive uma cesaacuterea que infeccionou os pontos Me senti um objeto

() (M5)

Minha matildee disse que eacute horriacutevel que natildeo era bom que nem cesaacuterea e nem parto normal Ela

sofreu muito Por isso na hora de ganhar assim sempre me dava um medo devido agraves histoacuterias

contadas por minha matildee (M7)

Vizinhos ateacute parentes comentavam que esqueceram uma tesoura dentro da paciente ou

esqueceram um pano Eu tenho medo de cesaacuterea Outro problema eacute aquele pano que separa a sua

cabeccedila do resto do seu corpo Disseram-me que teria de fazer uma cesaacuterea para fazer a laqueadura

na proacutexima gravidez Eu vou fazer um RX depois para ver se natildeo ficou nada laacute dentro (M7)

Aiacute vem a voacute vem a matildee conversar dizendo ldquotu natildeo faz escacircndalo natildeo gritardquo porque

realmente elas natildeo datildeo atenccedilatildeo E realmente eu vi isso Entatildeo eu sabia que natildeo era bom quando eu

fosse ganhar (M8)

Nas falas destas entrevistadas deflagra-se a ausecircncia de conversa sobre o assunto

Quando haacute diaacutelogo acerca do tema no seio familiar reveste-se de significados negativos

destacando a dor o sofrimento a anguacutestia o medo a solidatildeo e a alienaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao que

estaacute acontecendo com o seu corpo

Para Martin (2006) as mulheres podem ter essas sensaccedilotildees negativas de objetificaccedilatildeo

e fragmentaccedilatildeo tanto na cesaacuterea quanto no parto normal mas as que passam por uma cesaacuterea

descrevem essas sensaccedilotildees mais intensamente conforme destacado nas falas das entrevistadas

M4 e M5

Segundo a autora o medo e a ansiedade no parto normal satildeo gerados pela inconsciente

fragmentaccedilatildeo subliminar impliacutecita de como a mulher percebe esse fenocircmeno de como accedilotildees

que elas natildeo realizam como se o ldquoeurdquo e o ldquoseu corpordquo fossem separados entendendo que

corpo mente e estados emocionais natildeo podem ser trabalhados simultaneamente

O relato negativo foi constatado em estudos de autores da aacuterea da antropologia

mostrando que em diferentes sociedades as filhas educadas por matildees que influenciam

negativamente sofrem mais no momento do parto (LARAIA 2003) A dor do parto tambeacutem

foi apontada pela entrevistadas M5 Conforme Gualda (2004) a dor eacute um sintoma altamente

subjetivo que traz a crenccedila popular de vincular a maternidade ao sofrimento

51

A entrevistada M8 traz a questatildeo de agir conforme as regras que a equipe obsteacutetrica

impotildee de natildeo fazer escacircndalo sob pena de natildeo receber a devida atenccedilatildeo Os profissionais de

sauacutede eventualmente podem impor um comportamento que natildeo respeita o saber da parturiente

o que pode tornar difiacutecil a evoluccedilatildeo do trabalho de parto (BEZERRA CARDOSO 2006)

Outro fator de destaque de acordo com o relato da entrevistada M7 foi o medo

apresentado em relaccedilatildeo ao esquecimento dos instrumentos ciruacutergicos dentro do seu corpo

Para Leninger (1991) a descontinuidade dos acompanhamentos e tratamentos das

usuaacuterias(os) deve-se ao fato de natildeo compreenderem sua funccedilatildeo e seu funcionamento

A posiccedilatildeo supina que foi referida pela entrevistada M5 ldquofiquei de barriga para cima o

tempo todordquo eacute segundo a OMS (1996) uma praacutetica claramente prejudicial ou ineficaz que

deve ser eliminada de acordo com as evidecircncias cientiacuteficas Essa mensagem simboacutelica

transmite agrave parturiente que ela estaacute enferma e retira da mulher a liberdade de seguir seus

instintos conforme mencionado pela entrevistada

Etnoacutelogos confirmam que atraveacutes da anaacutelise de evidecircncias histoacutericas existem raccedilas e

tribos que natildeo recebem influecircncia do modelo biomeacutedico e as mulheres naturalmente assumem

posiccedilotildees verticais dos mais variados tipos e meios de apoio (BALASKAS 2008)

Outras formas de influecircncia relatadas pelas participantes foram revistas internet

meios de comunicaccedilatildeo em geral As entrevistadas atribuem grande importacircncia agraves

informaccedilotildees colhidas nessas fontes atraveacutes das quais tomam conhecimento sobre

determinados costumes e percepccedilotildees

Com as revistas eu me informava bastante sobre como que era o nascimento fotos do bebecirc

nascendo Assistia na TV o canal que mostrava partos as casas de parto onde as mulheres iam fazer

todo o preacute-natal e ganhavam na aacutegua na cama naqueles quartos que permaneciam durante o

trabalho de parto e ficavam ali mesmo na hora de ganhar com familiar junto crianccedilas adultos tudo

junto Eu achava muito interessante (M1)

Eu olhei muito no youtube parto normal Eu achei bem legal Assim eacute meio assustador mais

achei legal Ateacute ali minha decisatildeo era ganhar normal mas natildeo deu (M2)

Lia folders revistas da aacuterea sobre maternidade programas de TV que mostraram o

acompanhamento do parto no domiciacutelio na banheira mas eu tive duas cesaacutereas agendadas (M6)

A entrevistada M1 relata o atendimento oferecido em casa de parto ou centro de parto

normal onde as mulheres fazem todo o preacute-natal e datildeo agrave luz em posiccedilotildees e locais de sua

preferecircncia A ausecircncia desse tipo de estabelecimento em determinados municiacutepios do Brasil

inviabiliza o acesso aos benefiacutecios que esses serviccedilos oferecem Instituiacutedo no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede esses estabelecimentos propiciam agraves mulheres a assistecircncia ao parto

52

em sua plena universalidade e tecircm como uma de suas atribuiccedilotildees o preparo da gestante

atraveacutes do plano de parto e do desenvolvimento de atividades educativas (BRASIL 1999)

Nesse cenaacuterio o protagonismo de cada mulher na gestaccedilatildeo parto e puerpeacuterio eacute respeitado

levando em consideraccedilatildeo sua individualidade suas crenccedilas e sua cultura

A cultura eacute um todo complexo que inclui o conhecimento as crenccedilas a arte a moral a

lei os costumes e todos os outros haacutebitos e aptidotildees adquiridos pelo homem como membro da

sociedade e se faz dinacircmica pela recepccedilatildeo das influecircncias externas resultantes do contato de

um sistema cultural com outro transformaccedilatildeo que pode ser raacutepida e brusca (LARAIA 2003)

No fragmento da fala da entrevistada M6 pocircde-se identificar sua curiosidade pelo

periacuteodo graviacutedico e parto e o parto domiciacutelio e na banheira forma de nascimento que volta a

fazer parte dos centros urbanos na atualidade A influecircncia das mateacuterias veiculadas em uma

revista sobre as representaccedilotildees culturais sobre parto mostrou que a revista pode ser um meio

de divulgaccedilatildeo informal que deveria ser mais bem aproveitado para informar as mulheres sobre

seus direitos e as maneiras de reivindicaacute-los (ROSS BONILHA et al 2006)

Um estudo feito por Medeiros (2008) retrata que as mulheres que optam por um tipo

de parto fora do hospital relacionam sua escolha agraves experiecircncias vivenciadas desde o seu

proacuteprio nascimento ateacute o momento do parto de seus filhos Quando as mulheres preparam-se

para parir seguindo princiacutepios diferentes dos que a medicina define e trata a linguagem que

utilizam eacute de integridade com todas as suas partes inter-relacionadas por um sentimento de

realizaccedilatildeo de algo que seriam capazes de fazer podendo-se inferir que a experiecircncia do parto

confirma ou natildeo na mulher a sua capacidade de colocar uma crianccedila no mundo (MARTIN

2006)

As mulheres citam somente a figura meacutedica na consulta de preacute-natal e comentam

sobre a postura do profissional de sauacutede que realizou este acompanhamento Em geral natildeo

receberam nenhuma informaccedilatildeo sobre parto

O obstetra no preacute-natal natildeo falava nada sobre parto soacute media a barriga via como estava o

coraccedilatildeo do bebecirc e deu Isso que o primeiro foi particular e os outros tambeacutem foram assim (M1)

Quando eu comecei no preacute-natal eu comecei com meacutedico particular ele natildeo falou nada sobre

parto e me pediu todos aqueles exames (M3)

O meacutedico natildeo era muito de conversar soacute os exames ultrasonografia Natildeo falou sobre outras

formas de parto (M4)

A uacutenica coisa que o meacutedico falou eacute ldquotu taacute preparadardquo ldquotem certeza jaacute ta aqui neacute Agora eacute

soacute seguir adianterdquo mas natildeo me falaram sobre parto Fiz todos os exames quatro ultrassonografias

(M7)

53

Fiz todo o preacute-natal e o meacutedico natildeo me falou nada sobre parto (M5)

Nesses depoimentos detectou-se a ausecircncia de diaacutelogo e de orientaccedilatildeo sobre o parto

O acompanhamento preacute-natal das entrevistadas apontou para o enfoque bioloacutegico e tecnicista

na assistecircncia prestada limitando-se agrave avaliaccedilatildeo de batimentos cardiacuteacos fetais altura uterina

e solicitaccedilatildeo de exames e avaliaccedilatildeo

Tal atenccedilatildeo fragmenta o cuidado e o sujeito deste cuidado pois segundo Martin

(2006) desta forma as mulheres natildeo satildeo apenas fragmentadas em partes do corpo como

tambeacutem satildeo alienadas da proacutepria ciecircncia pelas praacuteticas da medicina cientiacutefica As praacuteticas

obsteacutetricas corroboram com esta alienaccedilatildeo internalizando valores culturais que transmitem

agraves gestantes a ideacuteia de que natildeo haacute necessidade de informaccedilotildees sobre os processos fisioloacutegicos

do parto (FLOYD 2009)

Como a medicina obsteacutetrica contemporacircnea estaacute determinada por pressupostos

filosoacuteficos essencialmente masculinos o parto normal que tem em seu acircmago fenocircmenos

femininos tais como a afetividade espiritualidade e as emoccedilotildees natildeo eacute compreendido pelos

profissionais que controlam o nascimento (JONES 2004)

Apesar do avanccedilo na luta por igualdade de direitos para as mulheres a

sobrevalorizaccedilatildeo do patriarcado nos hospitais eacute perpetuada por meacutedicos em sua maioria

homens que tecircm autoridade para reforccedilar rituais de parto (FLOYD 2009)

No entanto os profissionais de sauacutede que se inserem no cenaacuterio das poliacuteticas puacuteblicas

de sauacutede da mulher deveriam atualmente ter como prerrogativa a instrumentalizaccedilatildeo das

mulheres para que sejam efetivamente sujeitos de direito na sociedade sendo tambeacutem

protagonistas de suas proacuteprias vidas e de seu parto tomando suas escolhas de modo

informado conforme preconiza a Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agrave Sauacutede da Mulher -

PNAISM (BRASIL 2004)

A ausecircncia de informaccedilotildees sobre parto foi constatada na fala das entrevistadas o que

nos faz refletir sobre a atitude desses profissionais com as gestantes e relacionar esse quadro

com os altos iacutendices de cesaacuterea da atualidade entendendo que a ausecircncia de diaacutelogo e

informaccedilatildeo no preacute-natal incapacita a mulher agrave autonomia Em um estudo de revisatildeo

sistemaacutetica que avaliou as informaccedilotildees que as gestantes recebiam sobre a cesariana para

solicitaacute-la natildeo foi possiacutevel detectar os motivos que as levam a solicitar uma cesariana

(GAMBLE et al 2007)

A desinformaccedilatildeo sobre as etapas da parturiccedilatildeo foi apontada por Pereira (2011) como

fator cultural que conduz a uma etapa teacutecnica terceirizada definida quando o meacutedico assume

54

o comando e o conduz a partir de sua formaccedilatildeo teacutecnica especializada Para a autora as

mulheres consideram dessa forma um sofrimento desnecessaacuterio passar pelo trabalho de

parto porque desconhecem sua importacircncia para o organismo e para o bebecirc

Deve-se levar em conta a forma a interaccedilatildeo do cuidado entre as mulheres os

profissionais e principalmente o contexto desse cuidado que revela um desequiliacutebrio de poder

que favorece os meacutedicos (GAMBLE et al 2007)

Conforme Martin (2006) pode acontecer tambeacutem de as mulheres natildeo estarem

preocupadas com a falta de informaccedilatildeo uma vez que elas satildeo direcionadas por pressupostos

culturais da superioridade meacutedica Tais pressupostos estatildeo tatildeo arraigados em sua experiecircncia

habitual nos serviccedilos de sauacutede que as impede de perceber as contradiccedilotildees em sua proacutepria

atenccedilatildeo agrave sauacutede

Por outro lado em outra pesquisa com gestantes constatou-se a necessidade de uma

grande demanda por informaccedilotildees escuta cliacutenica e tambeacutem a utilizaccedilatildeo de materiais

educativos mais esclarecedores (HOTIMSKY et al 2002)

Essa demanda por informaccedilotildees vem sendo suprida por outros profissionais de sauacutede

segundo as entrevistadas deste estudo

A enfermeira do posto me ajudou bastante eu tomava sulfato ferroso e ia pegar com ela Me

orientou sobre as vacinas eu lembro que um pouco antes de ficar graacutevida eu tinha tomado vacina da

rubeacuteola Entatildeo assim ela me acompanhou bastante tambeacutem eu sempre conversava com ela sobre o

parto os exerciacutecios que era bom fazer Laacute na Casa de Sauacutede tambeacutem a enfermagem me ajudou

bastante tava o tempo todo junto me dizendo que ldquotinha que caminhar para tua dilataccedilatildeo aumentarrdquo

me explicavam onde o nenecirc bdquotava‟(M3)

O fisioterapeuta o dentista A fisioterapia influenciou para o parto vaginal o dentista era

homem entatildeo relatou a experiecircncia da esposa dele que tinha sido parto cesaacutereo (M6)

Eu fiz todo o planejamento com a enfermeira Ensinaram como seria para nascer e logo

depois o que eu teria que fazer que eacute amamentar o nenecirc cuidados com o nenecirc cuidados comigo

tambeacutem preventivo remeacutedio piacutelula amamentaccedilatildeo Ensinaram no posto que eu frequento (M8)

A participaccedilatildeo dos profissionais da enfermagem e da fisioterapia foi constatada em

atividades de educaccedilatildeo em sauacutede e no atendimento ao trabalho de parto

Um estudo feito por Gaiva (2003) que destaca o nascimento como um evento

pertencente agrave equipe de sauacutede destaca como necessaacuterio o engajamento dessas equipes para a

humanizaccedilatildeo do parto e do nascimento com enfoque na mulher na crianccedila e na famiacutelia

A realizaccedilatildeo de um trabalho multiprofissional e interdisciplinar durante o processo de

gestaccedilatildeo parto e nascimento incide na aprendizagem de compartilhamento de saberes e

55

praacuteticas promovendo um cuidado de qualidade para os atores envolvidos nesse processo

(CHRISTOFFEL 2003)

A Lei ndeg 749886 que dispotildee sobre a regulamentaccedilatildeo do exerciacutecio da enfermagem

referenda que o enfermeiro generalista tambeacutem estaacute habilitado a assistir agrave gestante parturiente

e pueacuterpera acompanhando a evoluccedilatildeo e do trabalho de parto e a execuccedilatildeo do parto sem

distoacutecia

Pelloso (2000) concluiu que as taxas de cesaacuterea reduziriam com a capacitaccedilatildeo dos

profissionais para o parto com a introduccedilatildeo da enfermeira obsteacutetrica no preacute-natal e na

realizaccedilatildeo do parto bem como com a inclusatildeo de accedilotildees de orientaccedilatildeo e informaccedilatildeo sobre os

riscos e os benefiacutecios do parto normal e da cesaacuterea agraves mulheres em atividades de grupo e

cursos de gestantes Embora o nuacutemero de enfermeiras obstetras atuando no Brasil ainda seja

muito baixo estima-se que o nuacutemero de partos assistidos por elas eacute bem superior agravequele

registrado no SUS (BRASIL 2001)

Essa assistecircncia tambeacutem eacute referendada pela portaria do MSGM nordm 2815 de 29 de

maio de 1998 em que se inclui na tabela do sistema de informaccedilotildees hospitalares do SUS o

procedimento ldquoparto normal sem distoacutecia realizado por enfermeira obstetrardquo (BRASIL 1998

p23)

A enfermeira obstetra na busca pelo cuidado integral e valorizando a mulher como

protagonista do processo de nascimento vem conquistando tambeacutem um espaccedilo no

atendimento a partos domiciliares aleacutem de seu papel nas instituiccedilotildees hospitalares (PETER

2005)

Questionamento e resistecircncia ao modelo biomeacutedico

Nessa categoria mostram-se os relatos de questionamento e resistecircncia ao

atendimento obsteacutetrico por parte de algumas mulheres revelando que estas natildeo tecircm

autonomia tanto na decisatildeo sobre o tipo de parto quanto na escolha por quem querem que lhes

acompanhe em seu parto

As participantes questionam as situaccedilotildees impostas pelos profissionais que representam

o modelo biomeacutedico Uma entrevistada que queria o parto normal apresentou-se encorajada a

protestar contra este modelo trocando de meacutedico quando natildeo teve a sua opiniatildeo respeitada

conforme na fala

56

() Outro fato que me deixou frustrada foi quando eu iniciei o preacute-natal eu disse que queria

parto normal o meacutedico ficou bravo e foi bem mal educado e perguntou o que eu estava fazendo laacute

entatildeo Fui embora natildeo fiz mais preacute- natal com ele fui para o SUS Eu me senti invadida (M3)

Outra entrevistada questiona a falta do acompanhante de sua preferecircncia no parto Eu

gostaria que o meu marido bdquotivesse‟ junto (M1) Em um estudo realizado por Prado Junior

(2008) constatou-se que a presenccedila de familiares no processo de nascimento eacute visto por 100

das entrevistadas como primordial Para Balaskas (2008) o sentimento relatado por homens

que jaacute acompanharam suas mulheres em trabalho de parto eacute o de plenitude em nenhum

momento o instinto de fecircmea fala tatildeo alto eacute o renascimento de uma nova mulher

Suas falas chamam a atenccedilatildeo tambeacutem para a importacircncia de a mulher poder exercer

mais liberdade e participaccedilatildeo ativa com a possibilidade de escolher se quer tomar banho ou

natildeo se quer ficar na aacutegua sentar na bola Tambeacutem eacute questionado por elas o uso da ocitocina e

a falta de respeito a sua privacidade pelo fato de estarem presentes pessoas assistindo ao seu

parto sem preacutevio pedido de autorizaccedilatildeo o que denota desrespeito a sua autonomia no

processo

Eu gostaria de ser mais orientada Entatildeo quanto mais natural pudesse ser para mim melhor

escolher se quer tomar banho ou natildeo se quer ficar na aacutegua sentar na bola Sou contra a ocitocina E

me colocaram o soro com ocitocina e eu disse ldquomas para quecirc colocar se eu jaacute to quase ganhando Soacute

para me dar uma dor mais forte e realmente deurdquo(M1) Tinha uns 7 ou 8 alunos que estavam laacute e que queriam assistir um parto pessoas que eu

nunca tinha visto olhando o meu parto Eu acho que tudo foi muito forccedilado Os alunos assistiram ao

meu parto ningueacutem me perguntou se eu queria que assistisse (M3)

A mulher em trabalho de parto precisa de privacidade para se sentir mais segura

Poreacutem em muitos locais de atendimento puacuteblico isso natildeo eacute devidamente cuidado sendo

negligenciada a cultura do sujeito que envolve seus valores percepccedilotildees necessidades e

medos (ODENT 2003)

A postura do profissional em natildeo aceitar a opiniatildeo das usuaacuterias eacute denominada por

antropoacutelogos como ldquopensamento etnocecircntricordquo ou ldquosistema fechado de cogniccedilatildeordquo O

etnocentrismo eacute um sistema acentuado por rituais que os representam e os sustentam

(FLOYD 2009) Sabem os etnocentristas da existecircncia de outro saber e crenccedilas mas estatildeo

absolutamente seguros de que seu modo de pensar eacute melhor e por isso ignoram ideacuteias

contraacuterias agraves deles e consideram esses diferentes modos de pensar uma ameaccedila A

entrevistada destaca esta postura

Acho que os meacutedicos satildeo muito apressados Deveriam deixar mais a natureza agir por conta

o bebecirc se encaixar no lugar certo deixar a matildee de forma mais natural possiacutevel (M1)

57

Um princiacutepio baacutesico do modelo de atendimento tecnocraacutetico que vem ao encontro da

forma de pensar e agir do pensamento etnocecircntrico eacute a autoridade e responsabilidade do

profissional e das instituiccedilotildees de sauacutede sobre a pessoa Nesse contexto eacute mais confortaacutevel

para a usuaacuteria abdicar de sua preferecircncia pessoal em favor da opiniatildeo meacutedica (FLOYD

2004)

Esse fato foi constatado nas entrevistas que apontavam para a resistecircncia ao modelo

biomeacutedico poreacutem atraveacutes de uma percepccedilatildeo passiva da realidade como a sensaccedilatildeo meio

vaga de que alguma coisa estaacute errada e cuja mudanccedila natildeo estaacute ao seu alcance ou natildeo depende

apenas de sua vontade e accedilatildeo A mulher parece natildeo estar ciente da fragmentaccedilatildeo subliminar

da atenccedilatildeo ao parto hospitalar como se o ldquoeurdquo e o ldquoseu corpordquo fossem separados e que

nascimento fosse parte de uma produccedilatildeo A taacutetica mais eficiente descrita por Martin quando

utiliza a analogia entre operaacuterios e mulheres dando agrave luz eacute a mulher tornar-se patratildeo de si

mesmo isto eacute dando agrave luz em seu domicilio onde elas satildeo donas da faacutebrica e podem ter total

controle sobre o processo de produccedilatildeo e sobre seu corpo (MARTIN 2006)

Percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea

Buscaram-se juntamente agraves mulheres do estudo indicaccedilotildees e motivaccedilotildees de acordo

com seu entendimento para a realizaccedilatildeo de cesariana A seguir eacute apresentada a ausecircncia de

dilataccedilatildeo a presenccedila ou natildeo de contraccedilotildees e as cesaacutereas eletivas como indicativos para a

ocorrecircncia do procedimento ciruacutergico

Eu induzi porque natildeo tinha dilataccedilatildeo eu soacute tinha contraccedilatildeo Eu natildeo tinha nenhum outro

problema () fiquei frustrada Eu queria parto normal soacute natildeo tive porque meu parto foi induzido

(M2)

Porque natildeo tinha dor natildeo tinha dilataccedilatildeo e tava muito em cima (M5)

Se tivesse entrado em trabalho de parto tudo bem daiacute ia ficar pro parto como natildeo tinha foi

para cesaacuterea (M6)

Fizeram uma junta meacutedica laacute no hospital e os meacutedicos falaram com a minha matildee pois eu era

bdquode menor‟ ela autorizou para fazer uma cesaacuterea antecipada porque eu jaacute bdquotava‟ em trabalho de

parto soacute que eu natildeo tinha dilataccedilatildeo () (M8)

Um dos motivos alegados pela entrevistada M6 foi ter sido submetida a uma cesaacuterea

eletiva por natildeo ter entrado em trabalho de parto tendo tambeacutem a falta de informaccedilatildeo apontada

sobre outras formas de nascimento

58

O descontentamento por natildeo ter vivenciado o parto normal foi narrado com frustraccedilatildeo

pela entrevistada M2 A induccedilatildeo do parto e a presenccedila de contraccedilotildees apontadas por ela como

fatores indicativos para realizaccedilatildeo de cesaacuterea estatildeo associadas ao aumento da taxa de

nascimento preacute-termo e de baixo peso

Na maioria das sociedades atuais o meio cultural propagado pelos profissionais

meacutedicos interfere nos processos fisioloacutegicos do nascimento O motivo para o aumento dos

iacutendices de cesaacutereas eacute verdadeiramente devido a uma falha universal e quase cultural no

entendimento das necessidades baacutesicas das mulheres (ODENT 2004)

Nessa direccedilatildeo as consequecircncias de risco aumentam tanto para a parturiente quanto

para o feto A taxa de internaccedilatildeo em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em um estudo feito

na Austraacutelia com gestantes de baixo risco demonstra que as chances de internaccedilatildeo em

mulheres que fizeram cesaacuterea eletiva sem entrar em trabalho de parto aumentam em 154

em gestaccedilotildees de 37 semanas 121 em gestaccedilotildees de 38 semanas e 51 para as mulheres

com 39 semanas gestacionais (TRACY et al 2007)

Os prejuiacutezos aos receacutem nascidos prematuros natildeo se apresentam somente no momento

do nascimento satildeo mais duradouros acompanham-nos na vida futura provocando problemas

de sauacutede e colocando-os em desvantagem em relaccedilatildeo aos que nasceram de parto vaginal

(TOMASHEK et al 2007 SWANY et al 2008)

Ao final da gestaccedilatildeo a mulher pode apresentar algumas vezes contraccedilotildees

permanecendo entretanto descoordenadas sem a dilataccedilatildeo da ceacutervice uterina o que se

denomina ldquofalso trabalho de partordquo Essa situaccedilatildeo pode levar o profissional de sauacutede a realizar

uma admissatildeo precoce da gestante na maternidade e com isso realizar intervenccedilotildees

desnecessaacuterias como por exemplo uma induccedilatildeo do parto sem indicaccedilatildeo ou uma cesariana

(BRASIL 2001)

Os partos induzidos e outros fatores como monitoramento fetal contiacutenuo e uso

frequente de anestesias peridurais satildeo aspectos da industrializaccedilatildeo do parto que tem como

consequumlecircncia a falta de entendimento da sua fisiologia (ODENT 2004)

Em um estudo na Escoacutecia constatou-se que 20 das pueacuterperas que se submeteram agrave

cesariana natildeo receberam orientaccedilatildeo sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea e 16 tinham

somente uma ideacuteia parcial da indicaccedilatildeo A forma e o momento inadequado de informar sobre

a indicaccedilatildeo da cirurgia podem acentuar a dificuldade de as mulheres entenderem e

compreenderem essas informaccedilotildees (HILLAN 1992) como se pocircde perceber na fala das

entrevistadas

59

E da segunda gravidez daiacute foi direto o agendamento da cesaacuterea mas eu natildeo tive outras

informaccedilotildees de outras formas de nascer ou em domiciacutelio ou em banheira Natildeo nada disso (M6)

() aiacute eles anteciparam a cesaacuterea Depois eu descobri que foi porque o meu marido faleceu

(M8)

Outra pesquisa mostra que a justificativa dada por 61 mulheres para a realizaccedilatildeo da

cesariana foi discordante da indicaccedilatildeo meacutedica em 475 dos casos Tenciona-se o fato de que

ignorar a indicaccedilatildeo de cesaacuterea pela mulher pode dificultar a conduccedilatildeo para um parto normal

posterior e as complicaccedilotildees advindas (OLIVEIRA et al 2002)

Uma das maiores preocupaccedilotildees associadas agrave cesariana aleacutem dos vaacuterios problemas

inerentes a um procedimento ciruacutergico eacute o seu impacto e risco na sauacutede reprodutiva futura da

mulher como predisposiccedilatildeo a inserccedilatildeo anormal da placenta em futuras gestaccedilotildees (LEE

DALTON 2008)

O maior risco de ruptura uterina hemorragia poacutes-parto e remoccedilatildeo manual de placenta

tambeacutem eacute relacionado a mulheres que jaacute se submeteram a uma cesariana preacutevia (TAYLOR et

al 2005)

Segundo o relato das entrevistadas natildeo foram apresentadas indicaccedilotildees para a cesaacuterea

condizentes ao que as evidecircncias cientiacuteficas preconizam na literatura da aacuterea Outro fato

apontado atraveacutes na fala das entrevistadas foi o agendamento preacutevio da cirurgia no preacute-natal

ldquoA cirurgia estava agendada jaacute no preacute-natalrdquo (M4) ldquoEstava agendada a cesaacuterea no preacute-natalrdquo

(M6)

Os inuacutemeros efeitos prejudiciais tanto para a mulher quanto para o fetoneonato da

cesaacuterea sem indicaccedilotildees satildeo comprovados pelo conhecimento cientiacutefico atual A siacutendrome da

anguacutestia respiratoacuteria do receacutem-nascido desponta com uma das principais causas de morbi-

mortalidade perinatal (MADAR 1999)

As pacientes submetidas a cesarianas agendadas sem indicaccedilotildees apresentam

morbidade e mortalidade maior quando comparadas a pacientes que realizaram o parto normal

(HALL 1999 LILFORD et al 1990)

A respeito do motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea um estudo constatou que a maioria das

mulheres demonstra certa passividade frente ao meacutedico na decisatildeo pelo parto ciruacutergico

(FIGUEIREDO N et al 2010)

Essa conduta relaciona-se com os elevados iacutendices de cesaacutereas desnecessaacuterias no

Brasil Buscando reverter esse quadro a Associaccedilatildeo Meacutedica Brasileira (AMB) e o Conselho

Federal de Medicina (CFM) em iniciativa conjunta elaboraram um protocolo sobre o tema

indicaccedilotildees de cesaacutereas intitulado Projeto Diretrizes (PD) Satildeo objetivos desse trabalho

60

conciliar informaccedilotildees sobre o tema no sentido de estimular a praacutetica da medicina baseada em

evidecircncias analisar individualmente as indicaccedilotildees de cesariana com base nas evidecircncias

cientiacuteficas da literatura promover uma diminuiccedilatildeo das taxas de cesariana (PROJETO

DIRETRIZES 2002)

Os desvios eacuteticos decorrentes dessa conduta natildeo levam em consideraccedilatildeo a sauacutede das

mulheres Haacute a necessidade constante de atualizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais meacutedicos

e demais consequumlecircncias possiacuteveis dessa atitude (HADDAD et al 2011)

Nesse contexto destaca-se um estudo realizado com docentes do Departamento

Materno- Infantil do Hospital Universitaacuterio de Satildeo Joseacute do Rio Preto que constatou a

valorizaccedilatildeo da cesaacuterea em detrimento ao parto vaginal concorrendo para a disseminaccedilatildeo da

cultura subjacente agrave desmobilizaccedilatildeo dos alunos e profissionais meacutedicos para a realizaccedilatildeo do

parto normal (MORAES GOLDENGERG 2001)

61

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao tentar traduzir sob a forma de pesquisa a compreensatildeo de como a cultura influencia

no processo de parturiccedilatildeo da mulher finalizo este estudo com o vislumbre de que o objeto

escolhido foi pleno de possibilidades para entender e sobretudo para ampliar as propostas e a

pesquisa nessa aacuterea de estudos Encerro este trabalho com a certeza de que foi uma etapa

necessaacuteria em minha vida profissional e muito importante para o meu crescimento pessoal e

acadecircmico

Como mencionado anteriormente a inquietaccedilatildeo frente agrave fragilidade das parturientes ao

se submeterem sem questionamentos a todos procedimentos e intervenccedilotildees da equipe

obsteacutetrica apresentou-se como uma das justificativas da realizaccedilatildeo deste trabalho atraveacutes da

questatildeo norteadora ldquoqual a participaccedilatildeo da cultura nos saberes e as praacuteticas das mulheres em

relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeordquo

Esse estudo abriu espaccedilo para que mulheres falassem de um periacuteodo em suas vidas

extremamente iacutentimo e especial permitindo-lhes ampliar a visatildeo acerca dos determinantes

socioculturais envolvidos nesse momento O estudo foi realizado fora do periacuteodo graviacutedico

puerperal justamente para tentar captar delas o que realmente ficou de significativo dessa

fase sem interferecircncia ou expectativas de quem estaacute passando pelo turbilhatildeo de emoccedilotildees que

acompanham o processo da parturiccedilatildeo

O desenvolvimento desta pesquisa possibilitou perceber que o parto enquanto um dos

momentos da vida da mulher de grande importacircncia nem sempre eacute compreendido e entendido

dessa maneira por elas

Da mesma forma observou-se que a vivecircncia das mulheres em seu processo de

parturiccedilatildeo eacute percebida de modo diferente por cada uma algumas vezes de forma positiva e

outras de forma negativa A forma da mulher vivenciar esse processo depende de fatores

individuais e principalmente de representaccedilotildees culturais da realidade social a que ela

pertence

A abordagem negativa do estudo referida por algumas mulheres manifestou o

desconhecimento sobre a fisiologia do parto estando intrinsecamente relacionado ao modelo

fragmentado em partes do corpo perpetuado pelas praacuteticas da medicina cientiacutefica dominantes

na sociedade

62

As mulheres natildeo estatildeo conscientes dessas circunstacircncias e reproduzem essa forma de

fragmentaccedilatildeo de que o uacutetero eacute um muacutesculo involuntaacuterio e de que o parto eacute um processo ao

qual tecircm de se submeter causando uma sensaccedilatildeo muito marcante de fragmentaccedilatildeo e

objetificaccedilatildeo nas mulheres que sofreram uma cesaacuterea conforme constatado no estudo

Por outro lado a abordagem positiva apontada por elas dignifica a responsabilidade

por uma nova vida e a emoccedilatildeo do nascimento entendendo-o como uma oportunidade de

crescimento psicoloacutegico e de resgate espirituais

Na percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado haacute divergecircncias de opiniatildeo em

relaccedilatildeo ao tipo de parto vivenciado por cada uma As mulheres que desejaram e vivenciaram

o parto normal relatam o evento como parte de uma jornada interior e exterior que envolve

sentimentos iacutentimos uma experiecircncia fiacutesica profunda e intensa de algo que elas satildeo capazes

de realizar compreendendo que o significado de ser matildee eacute ter a capacidade de passar pela

experiecircncia do trabalho de parto e do parto natural

Em contrapartida o significado da vivecircncia das mulheres que natildeo desejaram ou

realizaram a cesaacuterea assemelha-se ao processo de produccedilatildeo industrializada em nossa

sociedade em que as atividades satildeo realizadas e determinadas inteiramente pela figura do

meacutedico e dos hospitais e natildeo por elas Percebeu-se que o papel principal do parto que seria

da parturiente foi assumido por essas figuras que estatildeo no controle pois as mulheres natildeo se

sentiam prontas ou capazes de tomaacute-lo para si

Identificou-se que a via de parto desejada pela maioria das entrevistadas foi o parto

normal mas as que natildeo conseguiram realizar esse desejo foi devido agrave influecircncia e agraves

intervenccedilotildees recebidas do meacutedico Os argumentos que influenciaram o desestiacutemulo da

realizaccedilatildeo do parto normal foram a necessidade de realizaccedilatildeo de laqueadura tubaacuteria e a falta

de informaccedilatildeo sobre meacutetodos natildeo farmacoloacutegicos e farmacoloacutegicos para o aliacutevio da dor

Cabe ressaltar que as mulheres que desejaram o parto normal e conseguiram parir por

esta via sentiram seguranccedila e confianccedila na experiecircncia do trabalho de parto natildeo sendo

identificando nenhum sinal perceptiacutevel em suas palavras relacionado agrave incapacidade de fazecirc-

lo podendo assim vivenciaacute-lo ativamente Outros aspectos importantes a serem ressaltados

foram a rapidez da recuperaccedilatildeo e a volta agraves atividades diaacuterias o desejo de serem acolhidas

pelos profissionais nas suas demandas e o direito agrave informaccedilatildeo clara e eacutetica

Sobre o poder de decisatildeo do meacutedico quanto ao tipo de parto constataram-se

divergecircncias de opiniatildeo As entrevistadas afirmaram que o meacutedico tem o poder de decisatildeo

sobre a escolha do tipo de parto poreacutem algumas natildeo estatildeo de acordo com esta conduta

63

defendendo que a decisatildeo deveria levar em conta a opiniatildeo da mulher uma vez que eacute ela que

estaacute sentindo e passando pelo processo

Conforme expressam as entrevistadas elas aceitaram essa atitude por parte dos

profissionais mas sentiram que algo em relaccedilatildeo a isso poderia ter sido mudado Elas

incentivam a mudanccedila das atitudes que colocam a mulher em posiccedilatildeo desprivilegiada no

parto

Outro aspecto destacado no estudo foi como se daacute a construccedilatildeo cultural do processo

parturitivo das mulheres Pocircde-se constatar que o significado positivo evidenciado pelas

mulheres do conviacutevio das entrevistadas principalmente pela figura materna proporcionou um

parto enriquecedor agraves entrevistadas e exerceu influecircncia na preferecircncia por parto normal

Outras no entanto descrevem que se atribuiu significado negativo pelas mulheres do

conviacutevio o que provocou medo ansiedade e inseguranccedila agraves entrevistadas durante a

experiecircncia do seu parto

Assim confirma-se que o parto natildeo pode ser entendido e reduzido somente ao aspecto

bioloacutegico pois a partir da transmissatildeo de conhecimentos interrelacionais constatados nesta

pesquisa pode-se compreender que a cultura influencia no processo de parturiccedilatildeo das

mulheres E haacute que se considerar essa influecircncia quando se presta cuidado agraves parturientes

O conteuacutedo de revistas da internet dos meios de comunicaccedilatildeo em geral aleacutem das

informaccedilotildees repassadas por vizinhos constituem outro fator de notaacutevel influecircncia nesse

construto imaginaacuterio As experiecircncias relatadas denotam que essas formas de construccedilotildees

culturais servem para expansatildeo do conhecimento sobre o assunto Isso deixa claro que as

mulheres muitas vezes estatildeo conscientes de sua falta de autonomia e buscam visotildees

alternativas sobre como o seu parto poderia acontecer

As visotildees alternativas citadas por elas foram o nascimento em casa de parto e no

domiciacutelio formas de assistecircncia consideradas na atualidade como humanizadas por ativistas

do parto normal de todo o mundo e pelas organizaccedilotildees governamentais e natildeo governamentais

que trabalham em prol da humanizaccedilatildeo do parto e nascimento tendo como objetivo devolver

agrave mulher o protagonismo na sua gestaccedilatildeo parto e poacutes-parto

No relato das mulheres eacute citada somente a figura meacutedica na consulta de preacute-natal e

elas falam que esse profissional natildeo forneceu efetivamente nenhuma informaccedilatildeo sobre parto

Tal postura silenciosa por parte desse profissional pode estar influenciando a faacutecil aceitaccedilatildeo

de uma cesaacuterea desnecessaacuteria fato esse comprovado pelo tipo de parto de maior incidecircncia

das mulheres deste estudo

64

As atividades desenvolvidas durante as consultas de preacute-natal foram accedilotildees de cunho

puramente bioloacutegico tecnicista e fragmentado como constatado na forma reduzida de

assistecircncia prestada que se limita agrave solicitaccedilatildeo de exames e agrave avaliaccedilatildeo obsteacutetrica de

batimentos cardiacuteacos fetais e altura uterina

As mulheres citam o atendimento da enfermeira na vivecircncia do parto bem como na

gestaccedilatildeo o que deflagra sua importacircncia nesse processo pois tal profissatildeo se constitui como

uma das maiores estrateacutegias que visa melhorar a assistecircncia obsteacutetrica no Brasil e exerce um

papel relevante no que tange agrave humanizaccedilatildeo durante o processo de nascimento Da mesma

forma a fisioterapia tambeacutem foi citada como ponto de incentivo agrave escolha do parto normal

O significado de parto celebrado por algumas mulheres do estudo abrange o

questionamento e a resistecircncia aos pressupostos culturais subjacentes ao modelo biomeacutedico

atual discordando de praacuteticas que vivenciaram no parto consideradas desrespeitosas Ponto

comum em suas falas foi a auto-percepccedilatildeo de resistecircncia agrave passividade imposta pela praacutetica

meacutedica

Foi demonstrado pelas mulheres claro desagrado por algumas praacuteticas que retiram da

mulher a sua autonomia no processo da parturiccedilatildeo tais como coibiccedilatildeo do acompanhante no

trabalho de parto e no parto invasatildeo de privacidade com a entrada de pessoas estranhas para

assistir ao parto sem licenccedila da parturiente e a falta de autonomia na escolha da via de parto

normal

A privaccedilatildeo dessa escolha acarretou a praacutetica de cesaacutereas desnecessaacuterias na maioria

das mulheres deste estudo Um dos principais motivos para a realizaccedilatildeo das cesaacutereas foi

apontado como a falta de dilataccedilatildeo das gestantes simplesmente pelo fato de natildeo estarem em

trabalho de parto quando admitidas na maternidade

Confesso que ao teacutermino deste trabalho muitos pressupostos que faziam parte dos

meus questionamentos foram esmaecidos pois esperava encontrar mulheres alienadas agrave

medicalizaccedilatildeo e agrave patologizaccedilatildeo do processo da parturiccedilatildeo e foi surpreendente o depoimento

de algumas das entrevistadas que demonstraram estar buscando novas formas de

conhecimento e de vivecircncia deste momento tatildeo especial em suas vidas natildeo obstante estarem

inseridas em um modelo tecnicista de assistecircncia

As entrevistadas questionam as praacuteticas como se apresentam atualmente e isso natildeo

significa que refutem os proveitos tecnoloacutegicos quando necessaacuterios mas defendem a

passagem a outro tipo de cultura em que possam exercer mais liberdade e ter participaccedilatildeo

ativa no processo da parturiccedilatildeo

65

Alguns significados atribuiacutedos pelas mulheres quanto agrave preferecircncia pela cesaacuterea e a

percepccedilatildeo de que o parto normal eacute muito mais arriscado explicitam resquiacutecios do discurso

meacutedico dominante Tambeacutem se revelou no estudo que as pacientes natildeo receberam

informaccedilotildees acerca dos riscos advindos deste procedimento ciruacutergico sem indicaccedilotildees

Portanto a ausecircncia de informaccedilatildeo sobre parto que deveria ser repassada pelo meacutedico foi

uma constataccedilatildeo neste estudo

O trabalho configurou-se um exerciacutecio instigante na medida em que o encadeamento

reflexivo da anaacutelise a partir das contribuiccedilotildees teoacutericas advindas dos estudos culturais de

gecircnero e corpo foi apontando que esse profissional de sauacutede produz significado no modo

como o parto eacute vivenciado pelas mulheres

Respondo ao final destas consideraccedilotildees ao questionamento inicial do estudo

constatando que a cultura participa dos saberes e das praacuteticas das mulheres em relaccedilatildeo ao

processo da parturiccedilatildeo Poreacutem algumas mulheres estatildeo buscando reinterpretar esta cultura

por meio de novas formas de vivenciar e de burlar o sistema de sauacutede obsteacutetrico vigente que

oprime tira-lhes o poder e impotildee silecircncio sob a eacutegide da proteccedilatildeo

As mulheres querem ser respeitadas ter direito agrave privacidade em seu parto ser ouvidas

e informadas com transparecircncia e eacutetica ter espaccedilo para expressar suas escolhas e agir

conforme suas necessidades poder gritar escandalizar caso desejem querem ainda ter

assistecircncia de boa qualidade sem julgamentos e livre de praacuteticas rotineiras que as instituiccedilotildees

obsteacutetricas impotildeem sem nenhum benefiacutecio para a matildee e o bebecirc

Se essa eacute a forma para encontrar significado ao desejo das mulheres ela difere e

muito da ldquopessimizaccedilatildeordquo do parto que alguns grupos de profissionais reproduzem em uma

cesaacuterea desnecessaacuteria ou em um parto normal medicalizado para finalizar um comeccedilo de vida

Cabe a noacutes profissionais de sauacutede mulheres homens sairmos dessa zona de conforto

que a sociedade atual nos enquadrou e comeccedilarmos a entender que a mudanccedila de paradigmas

de assistecircncia em todo o processo da parturiccedilatildeo estaacute associada a cidadatildeos e cidadatildes

conscientes e sujeitos da sua proacutepria histoacuteria

A enfermagem tem uma responsabilidade muito grande em todo esse processo e natildeo

pode eximir-se dela pois somos uma categoria profissional juntamente com a medicina que

tem o respaldo na lei do exerciacutecio profissional na assistecircncia agrave parturiente e ao parto normal

Os enfermeiros tecircm a formaccedilatildeo de natildeo intervir no processo da parturiccedilatildeo isto eacute de deixar a

fisiologia agir e eacute isto que temos que buscar a reconstruccedilatildeo dessa cultura sem intervenccedilotildees no

parto normal das mulheres

66

Precisamos fazer valer esse direito legal para que como profissionais do cuidado que

somos possamos proporcionar o cuidado de oferecer como um direito agrave mulher o

protagonismo no seu parto

O reconhecimento da mulher como protagonista do seu parto eacute elemento primordial

para os profissionais poderem compreender os temores as alegrias e os prazeres da gestaccedilatildeo e

do parto e assumirem uma nova postura de atenccedilatildeo Assim encerro destacando que os

muacuteltiplos aspectos que permeiam a vivecircncia das mulheres precisam ser observados quando se

presta assistecircncia durante o processo da parturiccedilatildeo

67

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA N A M A dor do parto normal na perspectiva e vivecircncia de um grupo de

mulheres usuaacuterias do Sistema Uacutenico de Sauacutede Tese de doutorado Programa de Poacutes

Graduaccedilatildeo em Ciecircncias da Sauacutede - Convecircnio Rede Centro Oeste (UNB UFG UFMS)

Goiacircnia 2009

ANS AGEcircNCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR (Brasil) O modelo de atenccedilatildeo

obsteacutetrica no setor de Sauacutede Suplementar no Brasil cenaacuterios e perspectivas Agecircncia

Nacional de Sauacutede Suplementar ndash Rio de Janeiro ANS 2008a Disponiacutevel em

lthttpwwwansgovbrportaluploadnoticiasclippinglivro_parto_webpdfgt Acesso em 11

ago 2011

ANS Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar (Brasil) Rol de Procedimentos e Eventos em

Sauacutede RN 16708 Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar - Rio de Janeiro ANS 2008b

ANS AGEcircNCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR (Brasil) Atualiza o Rol de

Procedimentos e Eventos em Sauacutede previstos na RN nordm 211 de 11 de janeiro de 2010

Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar ndash Rio de Janeiro ANS 2011 Disponiacutevel em

lthttpwwwansgovbrimagesstoriesnoticiaspdfrn20262pdfgt Acesso em 30 nov

2011

BALASKAS J Parto Ativo guia praacutetico para o parto natural Traduccedilatildeo Adailton Salvatore

Meira 2 ed Satildeo Paulo Ground 2008

BARAK E M ALAN R H e NILS J B Should Neonates Sleep Alone Society of

Biological Psychiatry Revista Biological Psychiatry 2011

BARROS et al The challenge of reducing neonatal mortality in middle-income countries

findings from three Brazilian birth cohorts in 1982 1993 and 2004 Lancet v365 n9462

Mar 5-11 p847-54 2005

BARDIN L Anaacutelise de conteuacutedo 7 ed Portugal Ediccedilotildees 1977

BERGER P LUCKMANN T A Construccedilatildeo Social da Realidade Traduccedilatildeo de Floriano

de Souza Fernandes 3 ed Petroacutepolis Vozes 1976

68

BEZERRA M G A CARDOSO M V L M Fatores interferentes no comportamento de

parturientes enfoque na Etnoenfermagem Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v

58 n6 p698-702 novdez 2005

BEZERRA M G A CARDOSO M V L M Fatores culturais que interferem nas

experiecircncias das mulheres durante o trabalho de parto e parto Revista Latino-americana

Enfermagem maiojun 14(3)414-21 2006

BUSANELLO J COSTA K P PINHO E Humanizaccedilatildeo do Parto e do Nascimento os

desafios para a implementaccedilatildeo do programa do Ministeacuterio da Sauacutede CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 61 7 a 10 dez Fortaleza Cearaacute 2009

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Programa de Assistecircncia Integral agrave Sauacutede da Mulher bases

de accedilatildeo programaacutetica Brasiacutelia DF 1984

_____ Lei nordm 749886 Dispotildee sobre a regulamentaccedilatildeo do exerciacutecio da Enfermagem e daacute

outras providecircncias Disponiacutevel em

lthttpwwwabennacionalorgbrdownloadLeiPROFISSIONALpdf gt Acesso em 29 nov

2011

_____ Decreto n 9440687 Regulamenta a Lei nordm 7498 de 25 de junho de 1986 Dispotildee

sobre o exerciacutecio da enfermagem e da outras providecircncias Disponiacutevel em

lthttpportalcofengovbrsitenovonode4173gt Acesso em 29 nov 2011

_____ Presidecircncia da Repuacuteblica Lei nordm 11108 Altera a Lei no 8080 de 19 de setembro de

1990 para garantir agraves parturientes o direito agrave presenccedila de acompanhante durante o trabalho de

parto parto e poacutes-parto imediato no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS 2005b

Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-

20062005LeiL11108htmlgt Acesso em 25 nov 2011

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Resoluccedilatildeo nordm 196 sobre pesquisas envolvendo seres

humanos Brasiacutelia DF 1996

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 2815 de 29 de maio de 1998 - Institui o

procedimento do parto normal realizado por enfermeiro obstetra no Sistema Uacutenico de

Sauacutede Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF

seccedilatildeo 1 p47-8 1998b

69

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 2883 de 04 de junho de 1998 - Institui o Precircmio

Nacional Profordf Galba de Arauacutejo Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder

Executivo Brasiacutelia DF seccedilatildeo 1 p 24 de 0506 de 1998a Disponiacutevel em

lthttpdtr2001saudegovbrsasportariasport98GMGM-2883htmlgt Acesso em 29 nov

2011

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria nordm 985 GM Institui as Casas de Parto ou Centro de

Parto Normal no Sistema Uacutenico de Sauacutede Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do

Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 05 ago 1999

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 466 de 14 de junho de 2000 - Estabelecer como

competecircncia dos estados e do Distrito Federal a definiccedilatildeo de limite por hospital de

percentual maacuteximo de cesarianas em relaccedilatildeo ao nuacutemero total de partos realizados e

ainda a definiccedilatildeo de outras estrateacutegias para a obtenccedilatildeo de reduccedilatildeo destes procedimentos

no acircmbito do estado Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil 115-E Poder

Executivo Brasiacutelia DF 2000a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 569 570 571 572 GM Estabelece o Programa de

Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e do Nascimento Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do

Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 01 jun 2000b

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Parto Aborto e Puerpeacuterio Assistecircncia Humanizada agrave

Mulher Ministeacuterio da SauacutedeFEBRASGOABENFO Brasiacutelia DF 2001

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Assistecircncia em Planejamento familiar Manual Teacutecnico-4 ed

Brasiacutelia 2002

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo integral agrave sauacutede da mulher

princiacutepios e diretrizes Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees Programaacuteticas

Estrateacutegicas Brasiacutelia Editora do Ministeacuterio da Sauacutede 2004

_____ Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Conselho Nacional dos Direitos da

Mulher I Plano Nacional de Poliacuteticas Puacuteblicas para as Mulheres Brasiacutelia 2005a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Nuacutecleo Teacutecnico da Poliacutetica

Nacional de Humanizaccedilatildeo Humaniza SUS documento base para gestores e trabalhadores do

SUS Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Nuacutecleo Teacutecnico da Poliacutetica

Nacional de Humanizaccedilatildeo 3 ed Brasiacutelia Editora do Ministeacuterio da Sauacutede 2006a

70

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Preacute-natal e puerpeacuterio atenccedilatildeo qualificada e humanizada

Brasiacutelia DF 2006b

_____ Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Conselho Nacional dos Direitos da

Mulher II Plano Nacional de Poliacuteticas Puacuteblicas para as Mulheres Brasiacutelia 2008a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA) Resoluccedilatildeo

RDC nordm 36 de 03 de junho dispotildeem sobre Regulamento Teacutecnico para Funcionamento dos

Serviccedilos de Atenccedilatildeo Obsteacutetrica e Neonatal - Brasiacutelia - DF 2008b

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Instrutivo dos indicadores para a pactuaccedilatildeo unificada 2008

Brasiacutelia 2008c

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da

Mulher ndash PNDS 2006 dimensotildees do processo reprodutivo e da sauacutede da crianccedila Ministeacuterio

da Sauacutede Centro Brasileiro de Anaacutelise e Planejamento Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2009

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Estatiacutesticas de partos no Brasil Brasiacutelia DF 2010

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Aleacutem da sobrevivecircncia praacuteticas integradas de atenccedilatildeo ao

parto beneacuteficas para a nutriccedilatildeo e a sauacutede de matildees e crianccedilas Ministeacuterio da Sauacutede

Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Aacuterea Teacutecnica de Sauacutede da Crianccedila e Aleitamento Materno ndash

Brasiacutelia DF 2011

BUDOacute M L D et al A cultura permeando os sentimentos e as reaccedilotildees frente agrave dor Revista

da Escola de Enfermagem da USP Satildeo Paulo v41 n1 p 36-43 2007

BUSANELLO J COSTA K P PINHO E Humanizaccedilatildeo do Parto e do Nascimento os

desafios para a implementaccedilatildeo do programa do Ministeacuterio da Sauacutede CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 61 - 7 a 10 dez Fortaleza Cearaacute 2009

CERVO A BREVIAN P A A Metodologia Cientiacutefica Satildeo Paulo Mc Graw-Hill 1983

CHRISTOFFEL M M SANTOS R S Navegando no mar da neonatologia um mergulho

no mundo imaginal do receacutem-nascido da UTIN Rio de Janeiro Ed EEAN 2003

COLLACcedilO V S Parto vertical vivecircncia do casal na dimensatildeo cultural do processo de

parir Florianoacutepolis Cidade Futura 2002

71

DECLERCQ E MENACKER F MACDORMAN M Rise in no indicated risk primary

caesareans in the United States 1991-2001 cross sectional analysis BMJ v330 n7482 Jan

8 p71-2 2005

DIAS M A et al Trajetoacuteria das mulheres na definiccedilatildeo pelo parto cesaacutereo estudo de caso em

duas unidades do sistema de sauacutede suplementar do estado do Rio de Janeiro Ciecircncia e Sauacutede

Coletiva 13(5) 1521-1534 setout 2008

DINIZ C S G Direitos humanos das mulheres na gravidez e no parto Projeto Gecircnero

Violecircncia e Direitos Humanos - Novas Questotildees para o Campo da Sauacutede Coletivo Feminista

Sexualidade e Sauacutede Departamento de Medicina Preventiva Faculdade de Medicina USP 2

ed 2003

_____ Entre a teacutecnica e os direitos humanos possibilidades e limites da humanizaccedilatildeo da

assistecircncia ao parto Tese (Doutorado) Satildeo Paulo (SP) Faculdade de MedicinaUSP 2001

DOU DIAacuteRIO OFICIAL DA UNIAtildeO Seccedilatildeo 1 nordm 147 2 de agosto de 2011 p 34 Agecircncia

Nacional de Sauacutede Suplementar- ANS Resoluccedilatildeo normativa nordm 262 de 1ordm agosto de 2011

Disponiacutevel em

lthttpwwwingovbrimprensavisualizaindexjspjornal=1amppagina=34ampdata=02082011gt

Acesso em 02 ago 2011

ELSEN I SOUZA A I J MARCON SS Enfermagem agrave Famiacutelia dimensotildees e

perspectivas Maringaacute p 257-267 Eduem 2011

FAUacuteNDES A CECATTI J G A operaccedilatildeo cesaacuterea no Brasil Incidecircncia tendecircncias

causas consequecircncias e propostas de accedilatildeo Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro v7

n2 p150-173 jun 1991

FIGUEREDO L G M Consequecircncias causadas pela aplicaccedilatildeo de ocitocina na induccedilatildeo de

partos Superartigos (online) 2010 Disponiacutevel em httpwwwartigosetcbrconsequencias-

causadas-pela-aplicacao-de-ocitocina-na-inducao-de-partoshtml Acesso em 15 nov 2011

FIGUEREDO N S V et al Fatores culturais determinantes da escolha da via de parto por

gestantes HU Revista Juiz de Fora v 36 n 4 p 296-306 outdez 2010

FLOYD D R The technological model of birth J Am Folklore 100 p 479-495 1987

FLOYD D R JOHN St G Del medico al sanador Traduccedilatildeo de Lauren Showe e

colaboradores Buenos Aires Fund Creavida 2004

72

FLOYD D R Perspectivas antropoloacutegicas del parto y el nacimento Traduccedilatildeo de Jaqui

Zieler Magui Cadot e Graciela Cobe Buenos Aires Fund Creavida 2009

FOUCAULT M Microfiacutesica do Poder Traduccedilatildeo de Roberto Machado 10 ed Rio de

Janeiro Graal 1992

FREITAS P F et al Desigualdade social nas taxas de cesariana em primiacuteparas no Rio

Grande do Sul Revista de Sauacutede Puacuteblica 39 p 761-7 2005

GAIVA M A M TAVARES C M O Nascimento um evento pertencente agrave equipe de

sauacutede Texto amp Contexto Enfermagem outdez 12(4)569-75 2003

GAMA A S et al Representaccedilotildees e experiecircncias das mulheres sobre a assistecircncia ao parto

vaginal e cesaacuterea em maternidades puacuteblica e privada Cadernos de Sauacutede Puacuteblica

25(11)2480-2488 nov 2009

GAMBLE et al A critique of the literature on womens request for cesarean section Birth

v34 n4 Dec p331-40 2007

GEERTZ C A Interpretaccedilatildeo das Culturas Rio de Janeiro (RJ) Livros Teacutecnicos e

Cientiacuteficos 1989

GIL A C Como elaborar projetos de pesquisa 4 ed 9 reimpr Satildeo Paulo Atlas 2007

GUALDA DMR BERGAMASCO RB Enfermagem cultura e o processo sauacutede-

doenccedila Satildeo Paulo Iacutecone p221- 240 2004

HADDAD S El M T CECATTI J G Estrateacutegias dirigidas aos profissionais para a

reduccedilatildeo das cesaacutereas desnecessaacuterias no Brasil Revista Brasileira Ginecologia Obstetriacutecia

33(5) 252-62 2011

HALL M H BEWLEY S Maternal mortalityand mode of delivery Lancet 354776

1999

HELMAN G C Cultura Sauacutede e Doenccedila Traduccedilatildeo Ane Rose Bolner 5 ed Porto Alegre

Artes Meacutedicas 2009

73

HILLAN M Short-Term Morbidity Associated with Cesarean Delivery Birth v 19 Issue 4

pages 190ndash194 Dec 1992

HOPKINS K Are Brazilian Women Really Choosing to Delivery by Cesarean Soc Sci

Med 51(5)725-40 2000

HOTIMSKY SN et al O parto como eu vejo ou como eu o desejo Expectativas de

gestantes usuaacuterias do SUS acerca do parto e da assistecircncia obsteacutetrica Cadernos de sauacutede

puacuteblica setout 18(5)1303-1311 2002

IBGE Instituto Brasileiro Geografia e estatiacutesticas Cadernos de Informaccedilatildeo de Sauacutede

Ministeacuterio da Sauacutede 2009

IPEA Objetivos de desenvolvimento do milecircnio relatoacuterio nacional de acompanhamento

coordenaccedilatildeo Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada e Secretaria de Planejamento e

Investimentos Estrateacutegicos supervisatildeo Grupo Teacutecnico para o acompanhamento dos ODM

Brasiacutelia Ipea MP SPI 2007

JONES R Memoacuterias do homem de vidro reminiscecircncias de um obstetra humanista Porto

Alegre Ideacuteias a Granel 2004

PRADO JUNIOR P P Da concepccedilatildeo ao nascimento Praacuteticas Educativas na assistecircncia agrave

mulher no periacuteodo graviacutedico e puerperal Dissertaccedilatildeo de Mestrado Centro Universitaacuterio

Pliacuteneo Leite - Unipli Niteroacutei 2008

KRUNO R B BONILHA A L L Parto domiciliar na voz das mulheres uma perspectiva agrave

luz da humanizaccedilatildeo Rev Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) dez25(3)396-407 2004

LANDERDAHL M C et al Contribuiccedilotildees de um nuacutecleo de estudos na consolidaccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas para as mulheres REUFSM Revista de Enfermagem da UFSM - janabr

1(1)71-79 2011

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro (RJ) Jorge Zahar p 21-

40 2003

LEE Y Mi DALTON M E Cesarean delivery on maternal request the impact on mother

and newborn Clinics in Perinatology v35 n3 Sept p505-18 x 2008

74

LEININGER M Culture care diversity amp universality a theory of nursing New York

(US) National League for Nursing Press 1991

LEITAtildeO F J C Autonomia da mulher em trabalho de parto (Dissertaccedilatildeo) Mestrado em

Bioeacutetica Universidade de Lisboa Faculdade de medicina Departamento de Bioeacutetica 2010

LILFORD R J et al The relative risks of caesarean section (intrapartum and elective) and

vaginal delivery a detailed analysis to exclude the effects of medical disorders and other

acute pre-existing physiological disturbances Br J Obstet Gynaecol 97883-92 1990

MACDORMAN et al Infant and neonatal mortality for primary cesarean and vaginal births

to women with no indicated risk United States 1998-2001 birth cohorts Birth v33 n3

Sept p175-82 2006

MACHADO E G C Gestaccedilatildeo parto e maternidade uma visatildeo holiacutestica Belo Horizonte

Editora Aurora 1995

MADAR J RICHMOND S HEY E Surfactantdeficient respiratory distress after elective

delivery at bdquoterm‟ Acta Paediatr v 88 p 1244-8 1999

MANDARINO N R et al Aspectos relacionados agrave escolha do tipo de parto um estudo

comparativo entre uma maternidade puacuteblica e outra privada em Satildeo Luiacutes Maranhatildeo Brasil

Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 25(7) p 1587-1596 jul 2009

MARTIN E A mulher no corpo - uma anaacutelise cultural da reproduccedilatildeo Traduccedilatildeo Juacutelio

Bandeira Rio de Janeiro Garamond 2006

MARTINS C S RAMOS J G L A questatildeo das cesarianas Rev Brasileira Ginecologia

Obstetriacutecia v27 nordm 10 Rio de Janeiro 2005

MCCOURT et al Elective cesarean section and decision making a critical review of the

literature Birth v34 n1 mar p65-79 2007

MEDEIROS R M K SANTOS IMM SILVA L R A escolha pelo parto domiciliar

histoacuteria de vida de mulheres que vivenciaram esta experiecircncia Esc Anna Nery Rev

Enfermagem dez 12(4) 765-72 2008

MELCHIORI et al Preferecircncia de gestantes pelo parto normal ou cesariano Interaccedilatildeo

psicologia 13(1)13-23 janjun 2009

75

MINAYO M C de S (org) Pesquisa Social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis

Vozes 2000

_____ O Desafio do Conhecimento pesquisa qualitativa em sauacutede 8 ed Satildeo Paulo Ed

Hucitec-Abrasco 2004

_____ O Desafio do Conhecimento pesquisa qualitativa em sauacutede 11 ed Satildeo Paulo Ed

Hucitec-Abrasco 2008

MONTICELLI M O nascimento como rito de passagem uma abordagem cultural para o

cuidado de enfermagem agraves mulheres e receacutem-nascidos (Dissertaccedilatildeo) Mestrado em

Enfermagem UFSC Florianoacutepolis 1994

MONDARDO S Proposta de reestruturaccedilatildeo dos serviccedilos da Unidade de Atenccedilatildeo agrave

Sauacutede da Vila Kennedy Santa MariaRS UFSM Santa Maria 1993

MORAES M S GOLDENBERG P Cesaacutereas um perfil epidecircmico Cad Sauacutede Puacuteblica

Rio de Janeiro 17 (3)509-519 maiojun 2001

MORELL M G G MELLO A V A Declaraccedilatildeo de Nascido Vivo no Estado de Satildeo

Paulo alguns resultados Informe Demograacutefico SEADE 29201-331 1995

MURTA et al Could elective cesarean sections influence the birth weight of full-term

infants Satildeo Paulo Medical Journal v124 p313-315 2006

ODENT M A Cesariana Traduccedilatildeo de Maria de Faacutetima de Madureira Florianoacutepolis Saint

Germain 2004

_____ A cientificaccedilatildeo do Amor Traduccedilatildeo de Marcos de Noronha e Talia Gevaerd de Souza

Florianoacutepolis Saint Germain 2000

ODENT M O camponecircs e a parteira Uma alternativa agrave industrializaccedilatildeo da agricultura e do

parto Traduccedilatildeo de Sarah Bailey Satildeo Paulo Ground 2003

OLIVEIRA et al Tipo de parto expectativas das mulheres Revista Latino-Americana de

Enfermagem v10 n 5 p 667-674 setout 2002

76

ORGANIZACAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE (OMS) Maternidade Segura - assistecircncia ao

parto normal 2009 Disponiacutevel em

lthttpabenforedesindicalcombrarqsmateria56_apdfgt Acesso em 06 dez 2010

_____ Sauacutede Materna e Neonatal Unidade de Maternidade Segura Sauacutede Reprodutiva e da

Famiacutelia Assistecircncia ao parto normal Um guia praacutetico de sauacutede materna e neonatal

Unidade de Maternidade Segura Sauacutede Reprodutiva e da Famiacutelia Genebra A Sauacutede 1996

OPAS III Reunioacuten Especial de Ministros de Salud de las Ameacutericas Atas resumidas

Santiago de Chile 2ordf 9 de octubre de 1972 Doc Oficial nordm 123 sept 1973

PELLOSO S M PANONT K T SOUZA K M P Opccedilatildeo ou imposiccedilatildeo Motivos de

escolha da cesaacuterea Arq Ciecircnc Sauacutede UNIPAR 4(1) 3-8 2000

PEREIRA W R Poder Violecircncia e Dominaccedilatildeo Simboacutelicos nos Serviccedilos de Sauacutede

Ribeiratildeo Preto 175p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem de Ribeiratildeo Preto

Universidade de Satildeo Paulo 2000

PEREIRA R R FRANCO S C BALDIN N Representaccedilotildees sociais e decisotildees das

gestantes sobre a parturiccedilatildeo protagonismo das mulheres Sauacutede sociedade v20 n3 Satildeo

Paulo julysept 2011

PETER A P C O Cuidado Cultural no Processo de Ser e Viver da Mulher Receacutem-

Nascido e Famiacutelia que Vivenciam o Parto no Domiciacutelio e no Hospital com Ecircnfase no

Contexto Domiciliar abrindo novos caminhos para a enfermagem (Trabalho de Conclusatildeo

de Curso) Graduaccedilatildeo em Enfermagem ndash Universidade Federal de Santa Catarina

Florianoacutepolis 2005

POTTER J E et al Unwanted caesarean sections among public and private patients in

Brazil prospective study BMJ 323 1155-8 2001

_____ Womens autonomy and scheduled cesarean sections in Brazil a cautionary tale

Birth 35 33-40 2008

PROGIANTI JM BARREIRA I A A obstetriacutecia do saber feminino agrave medicalizaccedilatildeo da

eacutepoca medieval ao seacuteculo XX 9 91-7 Revista Enfermagem UERJ 2001

PROJETO DIRETRIZES Associaccedilatildeo Meacutedica Brasileira e Conselho Federal de Medicina

Cesarianas indicaccedilotildees 2002

77

RAMOS J G L et al Morte materna em hospital terciaacuterio do Rio Grande do Sul um estudo

de 20 anos Rev Bras Ginecol Obstet 25 (6) 431-6 2003

REBELO F et al High cesarean prevalence in a national population-based study in Brazil

the role of private practice Acta Obstet Gynecol Scand 89 903-8 2010

RESSEL L B Vivenciando a sexualidade na assistecircncia de enfermagem Um estudo na

perspectiva cultural Escola de Enfermagem Universidade de Satildeo Paulo 2003

RESSEL L B et al A influecircncia da famiacutelia na vivecircncia da sexualidade Revista Esc Anna

Nery (impr) abrjun 15 (2)245-250 2011

REZENDE J MONTENEGRO B AC Obstetricia Fundamental 9 ed Rio de Janeiro

Guanabara Koogan 2003

ROSS L L BONILHA A L de L ARMELLINI C J et al Representaccedilotildees culturais

sobre parto e nascimento SEMANA CIENTIacuteFICA DO HOSPITAL DE CLIacuteNICAS DE

PORTO ALEGRE 26 Revista do HCPA 26 (Supl 1) 1-267 2006

SABATINO H Resposta ao polecircmico artigo Cesariana a polecircmica das taxas escrito por

Raphael da Cacircmara Medeiros Parente (Meacutedico do Ministeacuterio da Sauacutede - HSE Doutor em

Ginecologia - UNIFESP Mestre em Epidemiologia - UERJ) e publicado no Jornal do

CREMERJ ndash p 8 e 9 maio de 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwamigasdopartoorgbr2007indexphpoption=com_contentamptask=viewampid=891

ampItemid=204gt Acesso em 06 dez 2010

SANTOS M L Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia ao Parto e Nascimento um modelo teoacuterico

(Dissertaccedilatildeo) Mestrado em Enfermagem Universidade Federal de Santa Catarina

Florianoacutepolis 2002

SCAVONE L Impacto das Tecnologias Meacutedicas na Famiacutelia Sauacutede em Debate nordm40

p48-73 set 1993

SEIBERT S L BARBOSA J L S SANTOS J M VARGENS O M C

Medicalizaccedilatildeo x humanizaccedilatildeo o cuidado ao parto na histoacuteria Revista de Enfermagem

UERJ 13245-51 2005

SILVA L R A Experiecircncia na Casa de Parto Mohri-Japatildeo Revista de pesquisa Cuidado eacute

fundamental online setdez 1 (2) 288-298 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwseeruniriobrindexphpcuidadofundamentalarticleview359367gt Acesso em

13 out2011

78

SWAMY et al Association of preterm birth with long-term survival reproduction and next-

generation preterm birth JAMA v299 n12 Mar 26 p1429-36 2008

TAYLOR et al Risk of complications in a second pregnancy following caesarean section in

the first pregnancy a population-based study Medical Journal of Australia v183 n10

Nov 21 p515-9 2005

TEDESCO P R et al Fatores Determinantes para as Expectativas de Primigestas acerca da

Via de Parto Rev Bras Ginecol Obstet v26 n10 Rio de Janeiro novdez 2004

TEIXEIRA Z N F PEREIRA R W Parto Hospitalar - experiecircncias de mulheres da

periferia de Cuiabaacute - MT Cad Sauacutede Puacuteblica v25 n 11 Rio de Janeiro 2006

TELINI D M T Z Cesaacutereas e partos normais em gestantes com baixo risco obsteacutetrico

caracteriacutesticas maternas e repercussotildees neonatais (Tese) Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas

Campinas Universidade Estadual de Campinas 2000

THE LANCET Sauacutede dos Brasileiros 2011 Disponiacutevel em

lthttpwwwabcorgbrIMGpdfdoc-574pdf gt Acesso em 28 out 2011

TOMASHEK et al Differences in mortality between late-preterm and term singleton infants

in the United States 1995-2002 Journal of Pediatrics v151 n5 nov p450-6 456 2007

TRACY S K et al Admission of term infants to neonatal intensive care a population-based

study Birth v34 n4 dec p301-7 2007

TYRREL M A R CARVALHO V Programas nacionais de sauacutede-materno infantil

impacto poliacutetico social e inserccedilatildeo da enfermagem RJ EEANUFRJ 1995

VARGENS O M C PROGIANTI J M O Processo de Desmedicalizaccedilatildeo da Assistecircncia agrave

Mulher no Ensino de Enfermagem Rev Enferm USP 38 46-50 2004

VIacuteCTORA C G KNAUTH D R HASSEN M N A Pesquisa qualitativa em sauacutede

uma introduccedilatildeo ao tema Porto Alegre Tomo Editorial 2000

VIEIRA E M A Medicalizaccedilatildeo do Corpo Feminino Rio de Janeiro RJ Ed Fiocruz

2002

VIGILAcircNCIA EPIDEMIOLOacuteGICA Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria (SMS)

Dados Epidemioloacutegicos do Nuacutemero de Partos no Municiacutepio de Santa Maria - RS 2011

79

VILLAR J et al Caesarean delivery rates and pregnancy outcomes the 2005 WHO global

survey on maternal and Perinatal health in Latin America Lancet 367(9525)1819-29 2006

_____ Maternal and neonatal individual risks and benefits associated with caesarean

delivery multicentre prospective study BMJ v335 n7628 Nov 17 p1025 2007

80

ANEXOS

81

Anexo A - Aprovaccedilatildeo Comitecirc de Egravetica e Pesquisa

82

Anexo B - Autorizaccedilatildeo Emenda do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

83

84

APEcircNDICES

85

Apecircndice A - Ofiacutecio agrave Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria

Da Enfermeira Lizandra Flores Pimenta

Para Secretario Municipal de Sauacutede

Assunto Solicitaccedilatildeo (faz)

Santa Maria janeiro de 2011

Sr Secretaacuterio

Venho por meio deste solicitar a permissatildeo de V Srordf para desenvolver a pesquisa

intitulada A influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a

enfermagem junto as mulheres que satildeo atendidas na Unidade Baacutesica (UBS) de Sauacutede

Kennedy

Cumpre-se informar que esta pesquisa eacute resultado da experiecircncia na aacuterea obsteacutetrica

que me fez perceber a necessidade de compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher sobre a via de parto a partir das concepccedilotildees modernas sobre natureza e

cultura atribuiacutedos a percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto Como esclarecimento cabe

ressaltar que conforme a metodologia que pretendemos desenvolver os sujeitos da pesquisa

seratildeo consultados e esclarecidos acerca dos objetivos nos comprometendo a respeitar os

preceitos da Resoluccedilatildeo nordm19696 quanto agrave pesquisa envolvendo seres humanos

Colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios

Desde jaacute agradecemos

Atenciosamente

________________________ _______________________________

Enfordf Lizandra Flores Pimenta Profordf Enfordf Drordf Lucia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI ndash 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

86

Apecircndice B - Ofiacutecio ao Departamento de Ensino e Pesquisa do HUSM

Da Enfa Lizandra Flores Pimenta

Para Departamento de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitaacuterio de Santa Maria

Assunto Solicitaccedilatildeo (faz)

Santa Maria maio de 2011

Senhor Diretora

Venho por meio deste solicitar a permissatildeo de VS para desenvolver a pesquisa

intitulada ldquoA influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a

enfermagemrdquo junto agraves mulheres que estatildeo no momento da entrevista nos serviccedilos de

ginecologia e obstetriacutecia do HUSM quais sejam Centro Obsteacutetrico Unidade Toco-

ginecoloacutegica e Ambulatoacuterio ala II

Cumpre-se informar que esta pesquisa eacute resultado da experiecircncia na aacuterea obsteacutetrica

que me fez perceber a necessidade de compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher sobre a via de parto a partir das concepccedilotildees modernas sobre natureza e

cultura atribuiacutedas agrave percepccedilatildeo das mulheres em relaccedilatildeo ao parto Como esclarecimento cabe

ressaltar que conforme a metodologia que pretendo desenvolver os sujeitos da pesquisa seratildeo

consultados e esclarecidos acerca dos objetivos sendo que me comprometo a respeitar os

preceitos da Resoluccedilatildeo nordm 19696 quanto agrave pesquisa envolvendo seres humanos

Sem mais agradeccedilo a atenccedilatildeo dispensada colocando-me agrave disposiccedilatildeo para os

esclarecimentos que forem necessaacuterios

Atenciosamente

________________________ _______________________________

Enfordf Lizandra Flores Pimenta Profa Enfa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI - 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

87

Apecircndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ENFERMAGEM

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Pesquisadoras responsaacuteveis Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

Enfa Mestranda Lizandra Flores Pimenta

InstituiccedilatildeoDepartamento Universidade Federal de Santa Maria - Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Enfermagem

Telefones para contato (55) 91376501

(55) 91429743

Locais da coleta de dados Unidade sanitaacuteria Kennedy e Hospital Universitaacuterio de Santa

Maria

Vocecirc estaacute sendo convidada para participar da pesquisa intitulada ldquoA influecircncia da

cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a enfermagemrdquo de autoria de

Lizandra Flores Pimenta mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Enfermagem da

UFSM sob a orientaccedilatildeo da Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel que tem por objetivo

compreender como a cultura influencia no parto da mulher

Mas antes de concordar em participar desta pesquisa eacute importante que vocecirc

compreenda todas as informaccedilotildees as quais dizem respeito a sua participaccedilatildeo nesta pesquisa

Sua participaccedilatildeo consistiraacute em responder agraves perguntas feitas por mim pesquisadora durante a

entrevista a qual teraacute como auxiacutelio um gravador de voz Apoacutes as suas informaccedilotildees gravadas

seratildeo transcritas por mim de maneira a resguardar a veracidade dos dados Posteriormente

essas informaccedilotildees seratildeo organizadas analisadas divulgadas e publicadas em revistas

cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede sendo a sua identidade preservada em todas as etapas

Eacute importante que vocecirc compreenda que eacute assegurado o anonimato e o caraacuteter privativo

das informaccedilotildees fornecidas exclusivamente para a pesquisa Vocecirc natildeo seraacute identificada em

nenhum momento mesmo quando os resultados desta pesquisa forem divulgados sob

qualquer forma pois seraacute adotada a letra bdquoM‟ (M1 M2 M3) inicial da palavra mulher para

esta finalidade Tambeacutem as informaccedilotildees seratildeo mantidas em um CD no armaacuterio da professora

88

pesquisadora no Departamento de EnfermagemUFSM por cinco anos Apoacutes este periacuteodo os

dados seratildeo destruiacutedos Os dados coletados depois de organizados e analisados deveratildeo ser

divulgados e publicados ficando a pesquisadora juntamente com a professora responsaacutevel por

apresentar o relatoacuterio da pesquisa para a instituiccedilatildeo na qual seraacute realizado este estudo

Comunico que a sua participaccedilatildeo na entrevista natildeo representaraacute a princiacutepio risco agraves

suas dimensotildees fiacutesica moral intelectual social cultural ou espiritual em qualquer fase da

pesquisa No entanto poderaacute gerar algum desconforto como lembranccedilas questionamentos

eou conflitos agrave dimensatildeo emocional pelo fato da pesquisadora realizar uma entrevista na qual

vocecirc iraacute refletir sobre o seu cotidiano e suas vivecircncias Contudo poderaacute haver um benefiacutecio

no que se refere agrave melhor qualidade das praacuteticas no cuidar em enfermagem Se houver

qualquer desconforto a entrevista poderaacute ser suspensa e se vocecirc achar necessaacuterio poderei

fazer um encaminhamento a um especialista da aacuterea da sauacutede mental

Ciente e de acordo com o que foi anteriormente exposto eu __________________

estou de acordo em participar desta pesquisa assinando este Consentimento em duas vias

ficando com a posse de uma delas

_________________________________

Assinatura do sujeito de pesquisa

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntaacuteria o Consentimento Livre e

Esclarecido deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a participaccedilatildeo neste estudo

dede2011

__________________________________

Assinatura da pesquisadora

RG 3046400473

Se vocecirc tiver alguma consideraccedilatildeo ou duacutevida sobre a eacutetica da pesquisa entre em contato com

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa - CEP- UFSM Av Roraima 1000 - Preacutedio da Reitoria ndash 7ordm

andar ndash Campus Universitaacuterio ndash 97105-900 ndash Santa Maria-RS - Tel (55) 32209362 ndash E-mail

comiteeticapesquisamailufsmbr

89

Apecircndice D - Termo de confidencialidade

Tiacutetulo do estudo ldquoA influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees

para a enfermagemrdquo

Pesquisadora responsaacutevel Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

Pesquisadora Enfa Mestranda Lizandra Flores Pimenta

InstituiccedilatildeoDepartamento Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM)

Telefone para contato (55) 91376501 (55) 91429743

Locais da coleta de dados Unidade sanitaacuteria Kennedy e Centro Obsteacutetrico Unidade Toco-

ginecoloacutegica e Ambulatoacuterio ala II do HUSM

Os pesquisadores do presente projeto comprometem-se a preservar a privacidade dos

indiviacuteduos cujos dados seratildeo coletados por meio de entrevista gravada em aacuteudio MP3 e

realizada na UBS Kennedy numa sala reservada localizada no Hospital Universitaacuterio de

Santa Maria na cidade de Santa MariaRS Concordam igualmente que estas informaccedilotildees

seratildeo utilizadas uacutenica e exclusivamente para a execuccedilatildeo do presente projeto As informaccedilotildees

somente poderatildeo ser divulgadas de forma anocircnima e seratildeo mantidas em Compact Disc (CD)

por um periacuteodo de 5 (cinco) anos sob a responsabilidade da Enfordf Lizandra Flores Pimenta

Apoacutes este periacuteodo os dados seratildeo destruiacutedos Este projeto de pesquisa foi revisado e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM em 04012011 com o nuacutemero do CAAE

03170243000-10

Santa Maria de de 2011

________________________ _______________________________

Enfa Lizandra Flores Pimenta Profa Enfa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI ndash 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

90

Apecircndice E - Roteiro da entrevista com as mulheres

1 Dados de identificaccedilatildeo

Idade

Estado civil

Grau de instruccedilatildeo

Profissatildeoocupaccedilatildeo

Local de trabalho caso esteja trabalhando se natildeo indicar trabalho anterior

Raccedila

Quantos filhos

2 Sobre o parto

1 De que forma o parto e nascimento satildeo percebidos por vocecirc

2 Fale a respeito de sua experiecircncia em relaccedilatildeo aos seus partos e de outras mulheres do teu

conviacutevio

3 Existe alguma coisa em relaccedilatildeo ao parto de seus filhos que vocecirc gostaria que tivesse sido

diferente Por quecirc

4 O que vocecirc aprendeu sobre parto com teus pais irmatildeos irmatildes e outras pessoas da tua

famiacutelia

5 O que vocecirc escutou ou aprendeu sobre parto com os profissionais de sauacutede nos hospitais

e nos postos de sauacutede

6 O que vocecirc escutou ou aprendeu sobre parto em jornais revistas televisatildeo e internet

7 De que forma estes aprendizados participaram da tua decisatildeo sobre o tipo de parto

Page 3: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição

Dedico este trabalho

In memorian A minha avoacute Lourdes que com a sua sabedoria foi sempre a minha maior

incentivadora na busca pelo conhecimento

Ao meu esposo Marcio companheiro de todas as horas apoiando-me incentivando-me e

cuidando-me e ajudando-me sempre Sem o seu apoio seu carinho e sua compreensatildeo natildeo

teria sido possiacutevel chegar ateacute aqui com tranquilidade

A minha filha Letiacutecia e a meu filho Marcos agraves luzes da minha vida meus amores

principais inspiradores desse trabalho

AGRADECIMENTOS

Aos meus familiares Fabiane Nabor Carmem Nabor e Francisco pelo apoio nos

momentos difiacuteceis

Agrave minha orientadora Luacutecia por me incitar o gosto pela antropologia aleacutem da orientaccedilatildeo

foi sempre muito compreensiva com as minhas vaacuterias atividades profissionais aleacutem do

mestrado

Ao Departamento de Enfermagem da UFSM e ao Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em

Enfermagem por ter proporcionado na minha vida profissional esta qualificaccedilatildeo

A coordenaccedilatildeo e professores do PPGEnf pela acolhida pelas trocas oportunizadas e pelo

compartilhamento de saberes

Agradeccedilo agraves integrantes do Nuacutecleo de Estudos sobre Mulheres Gecircnero e Poliacuteticas Puacuteblicas-

NEMGeP especialmente a Celeste por me apresentar os caminhos deliciosos da literatura

feminista as discussotildees e a luta pelos direitos das mulheres na superaccedilatildeo das desigualdades

de gecircnero

Agradeccedilo as colegas desta caminhada Elenir e especialmente a Letiacutecia generosa nas suas

contribuiccedilotildees

A enfermagem do Centro Obsteacutetrico do Hospital Universitaacuterio de Santa Maria

profissionais na luta por uma atenccedilatildeo de qualidade para as mulheres

Ao Hospital Universitaacuterio de Santa Maria instituiccedilatildeo que facilitou a oportunidade de

crescimento profissional

Agraves (os) colegas do Mestrado pelo compartilhamento de experiecircncias e de

conhecimentos neste meu retorno agrave Escola como estudante

Enfim agraves mulheres participantes deste estudo que com sua disponibilidade e interesse

aceitaram-me em suas vidas e fizeram com que mais este estudo se concretizasse

ldquoQuando eacute que vamos nos dar conta que nosso

foco natildeo deve ser combater as cesarianas

desmedidas e abusivas mas melhorar a assistecircncia

ao parto de tal forma que escolher uma cesariana

para ter um filho tornar-se-aacute a mais tola das

decisotildees Maximilian

RESUMO

Dissertaccedilatildeo de Mestrado

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Enfermagem

Universidade Federal de Santa Maria

CULTURA NO PROCESSO DE PARTURICcedilAtildeO CONTRIBUICcedilOtildeES PARA A

ENFERMAGEM

AUTORA Lizandra Flores Pimenta

ORIENTADORA Luacutecia Beatriz Ressel

Data e Local da Defesa Santa Maria 28 de fevereiro de 2012

A investigaccedilatildeo teve como objetivo compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher Desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa com abordagem cultural Os

cenaacuterios foram uma Unidade sanitaacuteria e um hospital de referecircncia para a gestaccedilatildeo de alto risco

e para intercorrecircncias ginecoloacutegicas de um municiacutepio do interior do Rio Grande do SulBrasil

Os sujeitos deste estudo foram oito mulheres em idade feacutertil com histoacuteria pregressa de parto

vaginal ou cesariano na faixa etaacuteria entre 22 e 35 anos que tiveram filhos a partir do ano de

2004 e fora do periacuteodo graviacutedico puerperal Para produccedilatildeo dos dados utilizou-se entrevista

semi-estruturada realizada entre janeiro e marccedilo de 2011 Para a anaacutelise dos dados foi

utilizada a anaacutelise temaacutetica sugerida por Minayo dando origem a seis categorias A percepccedilatildeo

das mulheres sobre o nascimento Percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado A

percepccedilatildeo das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto Conhecendo como se daacute a

construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres Resistecircncia das mulheres ao modelo

biomeacutedico do parto Percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea Os

achados deste estudo permitem afirmar que as vivecircncia das mulheres no seu processo de

parturiccedilatildeo eacute percebida de modo diferente entre elas entendida algumas vezes de forma

positiva e outras vezes de forma negativa A identificaccedilatildeo da via de parto desejada pela

maioria das entrevistadas foi o parto normal mas a maioria natildeo conseguiu realizar esse desejo

na sua vivecircncia pela influecircncia e intervenccedilotildees recebidas do meacutedico Esta ausecircncia de

autonomia na escolha do parto normal acarretou na indicaccedilatildeo de cesaacutereas que natildeo condizem

com as indicaccedilotildees da literatura nas mulheres desse estudo As entrevistadas afirmaram que o

meacutedico tem o poder de decisatildeo sobre a escolha do tipo de parto mas algumas divergem desta

conduta dizendo que esta decisatildeo deveria ter a participaccedilatildeo da mulher jaacute que eacute ela que estaacute

sentindo e passando por este processo O significado positivo evidenciado pelas mulheres do

conviacutevio das mulheres principalmente pela figura materna proporcionou um parto integral e

enriquecedor a essas entrevistadas e exerceu influecircncia na preferecircncia por parto normal

Constatou-se que cultura tem influecircncia sobre os saberes e as praacuteticas das mulheres em

relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeo e que os muacuteltiplos aspectos que permeiam a vivecircncia das

mulheres precisam ser observados quando se presta assistecircncia a elas durante esse processo

Palavras-chave Parto Sauacutede da mulher Cultura Enfermagem

ABSTRACT

Masterrsquos Dissertation

Nursing Pos-Graduation Program

Federal University of Santa Maria

CULTURE IN THE PROCESS OF DELIVERY CONTRIBUTIONS TO

NURSING

AUTHOR Lizandra Flores Pimenta

ADVISOR Luacutecia Beatriz Ressel Date and Place of Defense Santa Maria February 28th 2012

The investigation aimed to understand how culture influences in the process of a woman

delivery A qualitative research with a cultural approach The settings were a Health Center

and a reference Hospital for high risk pregnancies and to gynecologic complications of a city

in the interior of Rio Grande do SulBrazil The people of this study were eight women in

fertile age with previous history of natural and caesarean deliveries in ages between 22 and

35 years old who had children from the year 2004 and out of the pregnancy period To the

data production a semi-structured interview was used done between January and March of

2011 To do the data analysis it was used a thematic analysis suggested by Minayo

generating six categories Women perception about the birth Women perception about the

wanted delivery Women perception in the decision about the king of delivery Knowledge

about how is the cultural construction of the women delivery process Questioning and

women resistance to the delivery biomedical model women perception about the reason of

caesarean indication The findings of this study allow affirming that women experience in

their delivery process is noticed differently among them sometimes understood in a positive

way and others in negative ways The identification of the kind of delivery wanted by the

majority of the interviewed was the natural delivery but it can be seen that the majority could

not have it in their pregnancies due to the influence and interventions given by the doctor The

absence of autonomy in the choice for the natural delivery resulted in the indication of

caesariansthat are not consistent with indications from the literature the women of this study

The interviewed affirm that the doctor has the power of decision about the king of delivery

but some diverge from this behavior saying that this decision should have the women

participation once she is the one who feels and passes by this process The positive meaning

evidenced by the women who have some relation with the pregnant mainly by the mother

figure provided an integral and enriched delivery to these women and influenced in the

preference for a natural delivery It was verified that culture has influence in the knowledge

and in the practices of women in relation to the process of delivery and that multiple aspects

that surround their life need to be observed when assistance is given to them during the

process

Key-words Delivery Women health Culture Nursing

LISTA DE ANEXOS

Anexo A - Aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM 81

Anexo B - Autorizaccedilatildeo de Emenda do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM para

troca de cenaacuterio para coleta

82

LISTA DE APEcircNDICES

Apecircndice A - Ofiacutecio agrave Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria 85

Apecircndice B - Ofiacutecio ao Departamento de Ensino e Pesquisa do HUSM 86

Apecircndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 87

Apecircndice D - Termo de Confidencialidade 89

Apecircndice E - Roteiro da entrevista com as mulheres 90

SUMAacuteRIO

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS 12

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 17

11 Poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e nascimento no

Brasil

17

12 O parto e a cultura no processo da parturiccedilatildeo 22

13 Referencial teoacuterico de Emily Martin sobre o parto e cultura 24

2 CAMINHO METODOLOacuteGICO 29

21 Fundamentos metodoloacutegicos 29

22 Os cenaacuterios do estudo 29

23 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos 31

24 Caracterizaccedilatildeo das participantes 32

25 Inserccedilatildeo em campo 34

26 Coleta de dados 33

27 Anaacutelise dos dados 34

28 Questotildees eacuteticas 35

3 ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS DADOS 37

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 61

REFEREcircNCIAS 67

ANEXOS 80

APEcircNDICES 83

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS

A gravidez e o parto satildeo eventos sociais e culturais que integram a vivecircncia

reprodutiva de homens e mulheres uma experiecircncia uacutenica no universo de ambos que envolve

tambeacutem suas famiacutelias e consequentemente a comunidade (BRASIL 2001)

O parto inscreve-se nesse universo cultural por ser um fenocircmeno que perpassa todas as

sociedades e temposespaccedilos Esse sistema de crenccedilas herdadas eacute denominado ldquocultura do

nascimentordquo a qual informa os membros da sociedade sobre a natureza de todo o processo

parturitivo da mulher e influencia seu significado em relaccedilatildeo ao tipo de parto (HELMAN

2009)

O autor supracitado diz que a gestaccedilatildeo e o parto satildeo a transiccedilatildeo do status social de

ldquomulherrdquo para o de ldquomatildeerdquo e como em todas as transiccedilotildees sociais a pessoa deve ser protegida

de qualquer dano atraveacutes de determinados rituais e comportamentos

Conforme Floyd (2009) as formas de transmitir esses comportamentos agrave parturiente

satildeo chamadas de ldquorituais da obstetriacuteciardquo dentre eles estatildeo fazer a mulher reconhecer a

deficiecircncia de seu corpo (consciente ou inconscientemente) a fim de tornaacute-la dependente da

ciecircncia e da tecnologia induzindo-a a aceitar a superioridade das instituiccedilotildees e da Medicina

em controlar seus processos naturais suas crenccedilas e seus significados individuais

Segundo Floyd (2009) eacute mais provaacutevel que esse tipo de comportamento seja

transmitido na atmosfera impessoal de um hospital do que no ambiente familiar e domeacutestico

As condiccedilotildees de nascimento apresentam significativas distinccedilotildees quando comparadas

entre diferentes realidades Nos paiacuteses ocidentais segundo Floyd (1987) o parto eacute cercado de

aparatos tecnoloacutegicos meacutedicos e essa medicalizaccedilatildeo define-o como uma disfunccedilatildeo fisioloacutegica

Jaacute nos paiacuteses orientais como exemplo o Japatildeo eacute valorizado o parto vaginal desmedicalizado

que assim como a gestaccedilatildeo natildeo eacute considerado doenccedila (SILVA 2009)

De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) 70 a 80 das gestaccedilotildees

que ocorrem no mundo satildeo consideradas de baixo risco Eis a definiccedilatildeo de parto normal

adotada pela OMS

De iniacutecio espontacircneo baixo risco no iniacutecio do trabalho de parto permanecendo

assim durante todo o processo ateacute o nascimento O bebecirc nasce espontaneamente em

posiccedilatildeo cefaacutelica de veacutertice entre 37 e 42 semanas completas de gestaccedilatildeo Apoacutes o

nascimento matildee e filho estando em boas condiccedilotildees Entretanto como o trabalho de

parto e o parto de muitas gestantes de alto risco tecircm um curso normal vaacuterias

recomendaccedilotildees tambeacutem se aplicam agrave assistecircncia dessas mulheres (OMS 2009 p9)

13

Frente a isso deve existir sempre uma razatildeo vaacutelida para se interferir nesse processo

fisioloacutegico do parto tendo como recurso para tais casos a cesariana que se trata de uma

intervenccedilatildeo meacutedica destinada agrave extraccedilatildeo do feto por via abdominal

O parto cesaacutereo eacute uma intervenccedilatildeo usada em situaccedilotildees nas quais as condiccedilotildees da matildee

e do bebecirc natildeo favorecem o parto vaginal Entretanto sua indicaccedilatildeo incorreta estaacute associada a

uma maior ocorrecircncia de mortalidade e morbidade para as parturientes tais como

hemorragias infecccedilotildees puerperais embolia pulmonar riscos anesteacutesicos bem como outras

patologias Para os bebecircs os riscos relacionam-se a distuacuterbios respiratoacuterios icteriacutecia

fisioloacutegica prematuridade iatrogecircnica hipoglicemia e anoacutexia (RAMOS 2003 VILLAR

2006 TELINI 2000)

Nessa direccedilatildeo eacute observado em nosso paiacutes nos uacuteltimos anos o aumento de partos

cesaacutereos agendados com antecedecircncia cujas indicaccedilotildees meacutedicas natildeo o justificam (MORELL

MELO 1995) Em uma pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede realizada em 2006 quase

metade (462) de todas as cesarianas foi agendada com antecedecircncia (BRASIL 2009)

Essa conduta eacute culturalmente difundida pelos profissionais da sauacutede que detecircm o

poder de modular e influenciar as demandas sobre as necessidades de sauacutede da populaccedilatildeo

(TEIXEIRA 2006) Apresentando-se sob a maacutescara da razatildeo e da necessidade essa praacutetica

desnecessaacuteria acaba por natildeo ser percebida pela maioria das mulheres que encontram

dificuldades em resistir (PEREIRA 2000)

O Ministeacuterio da Sauacutede (2001) ressalta que a informaccedilatildeo e a formaccedilatildeo de opiniatildeo entre

as mulheres satildeo prioridade no Brasil a fim de que elas possam escolher o melhor para a sua

sauacutede e para a de seus filhos pois embora profissionais e mulheres faccedilam a opccedilatildeo antecipada

do tipo de parto esse fato natildeo pode ser visto como uma simples questatildeo de preferecircncia jaacute que

cesaacuterea natildeo eacute um ldquobem de consumordquo (ODENT 2004)

Outro modo de tornar atrativo e mais agradaacutevel aos olhos das mulheres esta praacutetica de

conveniecircncia eacute o conceito contraditoacuterio de cesariana centrada na famiacutelia em que se daacute aos

pais opccedilotildees quanto ao tipo de anesteacutesico e terapia indicados para a mulher (MARTIN 2006)

Scavone (1993) explica esta valorizaccedilatildeo pelas mulheres e pela populaccedilatildeo em geral como

uma garantia meacutedica para os pais em relaccedilatildeo agrave qualidade da sua prole e da fecundidade

Ao dar respostas aos problemas obsteacutetricos e neonatais que aumentam enormemente

os iacutendices de mortalidade materna durante a gestaccedilatildeo o parto e o puerpeacuterio a medicina criou

discursos de verdade Segundo Foucault (1992 p 179)

14

As relaccedilotildees de poder natildeo podem se dissociar se estabelecer nem funcionar sem

uma produccedilatildeo uma acumulaccedilatildeo uma circulaccedilatildeo e um funcionamento do discurso

Natildeo haacute possibilidade de exerciacutecio do poder sem uma certa economia dos discursos

de verdade que funcione dentro e a partir desta dupla exigecircncia

Essa hegemonia do discurso meacutedico sobressai-se desconsiderando durante o processo

parturitivo as crenccedilas e a cultura das mulheres Eacute apenas o meacutedico quem daacute a palavra final

para duacutevidas e inquietudes das mulheres pois considera seu discurso inquestionaacutevel e

legiacutetimo (VIEIRA 2002)

Dessa forma a mulher perde sua autonomia como protagonista no processo do

nascimento

Criou-se assim uma heteronomia desfigurando-se este ato ateacute entatildeo puramente

feminino - pois natildeo era mais a mulher quem dava agrave luz - para o meacutedico como dono

e senhor do parto numa inversatildeo de papeacuteis que bdquolegitima o poder e a relaccedilatildeo da

medicina com a famiacutelia‟ (PEREIRA 2000 p17)

Essa inversatildeo de papeacuteis no cenaacuterio do parto no qual o meacutedico deteacutem o poder sobre o

corpo da mulher pode estar justificando os altos iacutendices de cesaacutereas nas uacuteltimas deacutecadas

Outra repercussatildeo desta mudanccedila de paradigma em relaccedilatildeo ao processo do nascimento

eacute a de que o parto os cuidados puerperais e com o receacutem-nascido que antigamente

transcorriam no ambiente familiar e eram envolvidos em fortes viacutenculos atualmente

transcorrem em instituiccedilotildees hospitalares onde os viacutenculos transformaram-se em meros

contatos superficiais acentuando a perda da autonomia da mulher neste processo

(MONTICELLI 1994)

O contexto do nascimento na sociedade atual mostra que a mulher parturiente estaacute

cada vez mais distante da condiccedilatildeo de protagonista da cena do parto ldquototalmente insegura

submete-se a todas as ordens e orientaccedilotildees sem entender como combinar o poder contido nas

atitudes e palavras que ouve e percebe com o fato inexoraacutevel de que eacute ela quem estaacute com dor

e quem vai parirrdquo (BRASIL 2001 p18) Fato esse constatado no aumento de cesaacutereas e

reduccedilatildeo de partos normais na rede puacuteblica no Brasil No ano de 2005 a taxa de cesaacutereas que

era de 2870 aumentou para 3610 em 2010 e em contrapartida o nuacutemero de partos

normais que em 2005 era de 7130 reduziu para 63 20 em 2010 (BRASIL 2010)

No estado do Rio Grande do Sul (RS) foi constatado por Freitas et al (2005) que os

iacutendices elevados de cesaacuterea constituem um grave problema de sauacutede puacuteblica o que pode

acarretar o mau-uso da tecnologia meacutedica na atenccedilatildeo ao parto associado a fatores sociais

econocircmicos e culturais O percentual de cesarianas que foram analisadas de 1997 a 2003 foi

de 406 para 448 respectivamente No ano de 2008 no RS segundo dados do IBGE

15

(2009) o iacutendice de cesaacutereas foi de 537

No municiacutepio de Santa MariaRS segundo dados da Vigilacircncia Epidemioloacutegica da

Secretaria Municipal de Sauacutede (SMS) no primeiro semestre de 2011 635 dos partos o que

corresponde a 1167 foram cesaacutereos o que desvela um iacutendice muito aleacutem dos 15 previstos

pela OMS O Ministeacuterio da Sauacutede (MS) estabeleceu limite para partos cesaacutereos

considerando-os de alto risco para as unidades hospitalares ateacute 40 e para unidades de risco

habitual - ateacute 25 (BRASIL 2008c)

A portaria GM nordm 466 de 14062000 retificada em 30062000 propotildee o Pacto pela

Reduccedilatildeo das Taxas de Cesaacuterea a ser firmado entre os gestores estaduais e o gestor federal

estabelecendo a taxa de 25 como desejaacutevel para todos os estados ateacute 2007 (BRASIL 2008)

Finalizar uma gestaccedilatildeo mediante uma cesaacuterea sem causa meacutedica que a justifique

ainda que esta seja a pedido da gestante eacute uma conduta meacutedica que natildeo respeita os processos

fisioloacutegicos do trabalho de parto do parto e do nascimento Por esse motivo o procedimento

ciruacutergico realizado sem indicaccedilotildees deixa de ser um procedimento fisioloacutegico tornando-se um

procedimento de risco para a matildee e para o receacutem-nascido (SABATINO 2009)

Para a abrangecircncia do tema complexidade e repercussotildees na vida das mulheres o

objeto de estudo eacute o significado que a mulher atribui ao seu parto

A justificativa para a escolha desse objeto de estudo deve-se agrave vivecircncia de dar agrave luz a

dois filhos nascidos de parto normal Letiacutecia (15 anos) e Marcos (12 anos) e de ter participado

ativamente desse processo como protagonista

Vem ao encontro disso o fato de que no decorrer da vivecircncia de dezoito anos na

assistecircncia agrave sauacutede das mulheres em maternidades e unidades baacutesicas de sauacutede e no meu

ambiente de trabalho atual como enfermeira obstetra de um hospital de ensino percebo a

intensa fragilidade das parturientes ao se submeterem a todos os procedimentos e

intervenccedilotildees sem questionamentos ao que acontece com o seu corpo durante o parto

Paralelamente agraves atividades profissionais participo como integrante do Nuacutecleo de

Estudos sobre Mulheres Gecircnero e Poliacuteticas Puacuteblicas-NEMGeP do Departamento de

Enfermagem do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Santa Maria grupo

que me despertou para as questotildees de gecircnero na temaacutetica no processo da parturiccedilatildeo O Nuacutecleo

atua em accedilotildees direcionadas agraves mulheres com abordagens que ultrapassam a dimensatildeo

bioloacutegica pois considera que as questotildees de gecircnero (cidadania empoderamento controle

social e poliacuteticas puacuteblicas) constituem referenciais fundamentais no direcionamento de

atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres (LANDERDAHL et al 2011)

16

Consultando a literatura cientiacutefica percebeu-se a ausecircncia de estudos culturais com

mulheres fora do periacuteodo graviacutedico puerperal e em cenaacuterios que natildeo sejam em maternidades

eou hospital

Alinhando-se nos argumentos acima descritos este estudo fundamentou-se no

referencial teoacuterico metodoloacutegico da abordagem socioantropoloacutegica de Emily Martin que

propotildee uma anaacutelise do fenocircmeno do parto contrapondo a delimitaccedilatildeo deste ao campo da

reproduccedilatildeo mecanicista e biomeacutedica buscando entendecirc-lo como componente essencial das

mulheres no sentido de desnaturalizar verdades muito caras vinculadas agraves concepccedilotildees

modernas de natureza e cultura Dessa forma o presente estudo traz reflexotildees que poderatildeo

repercutir na assistecircncia de enfermagem prestada agrave mulher durante o periacuteodo da parturiccedilatildeo

uma vez que auxilia na compreensatildeo das necessidades de cuidado com as parturientes a partir

da percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto e o nascimento

Com base nessas consideraccedilotildees a questatildeo norteadora de pesquisa que impulsiona

este estudo estaacute embasada no seguinte questionamento qual a participaccedilatildeo da cultura nos

saberes e as praacuteticas das mulheres em relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeo

Para responder a esta questatildeo foi definido como objetivo compreender de que forma

a cultura influencia no processo de parturiccedilatildeo da mulher

17

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

Este capiacutetulo enfoca as poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e

nascimento no Brasil bem como discute sobre parto e cultura baseando-se sobretudo nos

estudos realizados pela antropoacuteloga Emily Martin

21 Poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e nascimento no Brasil

O movimento feminista tem desempenhado um papel fundamental como instigador de

programas e poliacuteticas para as mulheres no paiacutes e sido entendido como foacuterum de debate das

questotildees da sauacutede qualidade de vida e condiccedilatildeo de cidadania feminina

Em 1974 foi implantado pelo governo o Programa de Sauacutede Materno-Infantil-PSMI

(MS74) como recomendaccedilatildeo do Plano Decenal de Sauacutede para as Ameacutericas e resultante da III

Reuniatildeo Especial de Ministros de Sauacutede das Ameacutericas que se realizou em Santiago de Chile

em 1972 Enfatizou-se nessa recomendaccedilatildeo

Formular uma poliacutetica intersetorial de proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade e agrave infacircncia

[] O programa de sauacutede e atenccedilatildeo meacutedica deveraacute ter cobertura universal

eficiecircncia operativa e acessibilidade geograacutefica institucional e financeira []

Elaborar o programa como um todo contiacutenuo que incluam as diversas atividades de

proteccedilatildeo agrave famiacutelia e em especial agrave matildee e a crianccedila orientaccedilatildeo agrave vida familiar (com

ecircnfase agrave adolescecircncia) atenccedilatildeo agraves doenccedilas ginecoloacutegicas (incluindo as veneacutereas)

diagnoacutestico precoce do cacircncer ceacutervico-uterino e do cacircncer de mama outorgar as

famiacutelias (quando isto natildeo se oponha agraves poliacuteticas nacionais) informaccedilatildeo e serviccedilo

com relaccedilatildeo agrave fertilidade e agrave esterilidade atenccedilatildeo meacutedica integral durante a gestaccedilatildeo

(matildee e feto) atenccedilatildeo ao parto e no puerpeacuterio controle do receacutem-nascido e da

crianccedila durante todas as etapas da vida especificamente no primeiro ano de vida

(OPAS 1973 p39-42)

Com isso o governo brasileiro registrou o interesse em trabalhar com o diagnoacutestico

precoce e o tratamento das doenccedilas ginecoloacutegicas incluindo as doenccedilas sexualmente

transmissiacuteveis e o cacircncer Somente no ano de 1977 a preocupaccedilatildeo eacute dirigida com mais

especificidade agrave gestaccedilatildeo ao parto e ao puerpeacuterio (TYRREL CARVALHO 1995)

O Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em 1984 em conjunto com o Ministeacuterio da Previdecircncia e

a Assistecircncia Social o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e as Secretarias Estaduais de Sauacutede e com o

apoio do movimento de mulheres implantou o Programa de Atenccedilatildeo Integral agrave Sauacutede da

Mulher (PAISM)

18

Esse programa eacute considerado um marco na histoacuteria das poliacuteticas puacuteblicas voltadas para

a sauacutede feminina e ateacute hoje eacute inspiraccedilatildeo e referecircncia na luta pela equidade de gecircnero

divulgando a importacircncia de se estabelecer um programa especiacutefico dirigido agrave mulher e de se

enfatizar certas atividades prioritaacuterias que natildeo deve ser interpretado como uma subestimaccedilatildeo

aos demais serviccedilos que a rede baacutesica deve executar mas deve ser adotado sobretudo como

estrateacutegia de mudanccedila seletiva de recursos que permitam a operacionalizaccedilatildeo de conteuacutedos de

grande prioridade vinculados agrave populaccedilatildeo feminina em todas as fases de sua vida e que

vinham sendo ateacute entatildeo negligenciados (BRASIL l984)

Em 2004 o programa foi transformado na Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agrave

Sauacutede da Mulher (MS 2004) cujo objetivo especiacutefico trecircs indica para o dever de se promover

a atenccedilatildeo obsteacutetrica e neonatal qualificada e humanizada tendo como combate agrave violecircncia de

gecircnero enfatizando a importacircncia do empoderamento das mulheres para o exerciacutecio da

autonomia e protagonismo no parto

A Poliacutetica Nacional de Humanizaccedilatildeo (MS 2004) implementada no mesmo ano

enfoca tambeacutem o respeito agraves questotildees de gecircnero etnia raccedila orientaccedilatildeo sexual com a

construccedilatildeo de autonomia e protagonismo dos sujeitos e coletivos

A I Conferecircncia Nacional de Poliacuteticas para as mulheres realizada em julho de 2004

foi muito importante na afirmaccedilatildeo dos direitos da mulher Desse evento resultou o I Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres em que foram traccediladas 4 linhas de atuaccedilatildeo sendo

uma delas a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos das mulheres o que

contribui reduccedilatildeo da morbidade e mortalidade feminina no Brasil especialmente por causas

evitaacuteveis em todos os ciclos de vida e nos diversos grupos populacionais (BRASIL 2005)

Corroborando esta afirmativa o II Plano Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres

(2008) em seu eixo sobre a sauacutede das mulheres direitos sexuais e direitos reprodutivos

postula que natildeo deve haver discriminaccedilatildeo de qualquer espeacutecie contra as mulheres

resguardando-se as identidades condiccedilotildees socioeconocircmicas e as desigualdades de gecircnero

raccedilaetnia geraccedilatildeo e orientaccedilatildeo sexual e necessitam ser consideradas na formulaccedilatildeo na

implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo de estrateacutegias de intervenccedilatildeo governamentais

Desse modo particularizar a atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher significa apenas um passo no

sentido de aumentar a capacidade resolutiva dos serviccedilos de sauacutede uma vez que haacute o desafio

de dar uma resposta efetiva aos problemas de sauacutede deste grupo de sujeitos visto conforme

Resende e Montenegro (2003) que as trecircs principais causas de morte materna no Brasil satildeo a

toxemia a hemorragia e a infecccedilatildeo puerperal as quais poderiam na maior parte dos casos

serem prevenidas Esse dado justifica a preocupaccedilatildeo com tais cuidados

19

Um dos objetivos de desenvolvimento do milecircnio (IPEA 2007) eacute melhorar a sauacutede

materna (reduccedilatildeo de trecircs quartos da mortalidade materna entre 1990 e 2015) Entretanto essa

meta do milecircnio dificilmente seraacute alcanccedilada pois grandes desafios ainda persistem a

exemplo da reduccedilatildeo das altas taxas de cesariana e nascimentos preacute-termo e no parto vaginal as

rotinas improacuteprias tais como episiotomia de rotina e intervenccedilotildees dolorosas ao bem-estar

materno e do bebecirc (THE LANCET 2011)

Para enfrentar esses desafios foi instituiacutedo pelo MS em 2000 o Programa de

Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) cujo objetivo primordial eacute ldquoassegurar a

melhoria do acesso da cobertura e da qualidade do acompanhamento preacute-natal da assistecircncia

ao parto e puerpeacuterio agraves gestantes e ao receacutem-nascido na perspectiva dos direitos de

cidadaniardquo (BRASIL 2000 p5) O Programa considera que a humanizaccedilatildeo da assistecircncia

obsteacutetrica e neonatal eacute a primeira condiccedilatildeo para o adequado acompanhamento do parto e do

puerpeacuterio (BRASIL 2000b)

A implementaccedilatildeo das accedilotildees desse programa enfrenta ainda muitos entraves

identificados e categorizados em um estudo de revisatildeo sistemaacutetica de Busanello et al (2009)

Citam-se a dificuldade de acesso aos serviccedilos de sauacutede a falta de leitos a deficiecircncia de

recursos humanos financeiros e materiais a atenccedilatildeo centrada na praacutetica intervencionista

desconsiderando o protagonismo da mulher no momento do parto e o despreparo dos

profissionais de sauacutede para a atenccedilatildeo humanizada no processo de parturiccedilatildeo sendo esta

categoria destacada como importante desafio enfrentado para concretizaccedilatildeo do PHPN

Nesse sentido o Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento - MS tem

recomendado aos serviccedilos de sauacutede que ofereccedilam uma assistecircncia digna agrave mulher aos

familiares e ao receacutem-nascido envolvendo para tanto atitude eacutetica e solidaacuteria dos

profissionais de sauacutede organizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de modo a criar um ambiente acolhedor e a

implementaccedilatildeo de rotinas hospitalares que rompam com o tradicional isolamento imposto agrave

mulher Considera-se tambeacutem necessaacuterio adotar medidas e procedimentos sabidamente

beneacuteficos para o acompanhamento do parto e do nascimento evitando-se praacuteticas

intervencionistas desnecessaacuterias (BRASIL 2000b)

Seguindo essa loacutegica o Ministeacuterio da Sauacutede tem realizado um conjunto de accedilotildees

atraveacutes de portarias ministeriais com a finalidade de estimular e regularizar a assistecircncia

obsteacutetrica aleacutem de financiar a realizaccedilatildeo de cursos de especializaccedilatildeo em enfermagem

obsteacutetrica (BRASIL 2001)

Assegura-se pela legislaccedilatildeo do exerciacutecio profissional regulamentada pela lei n

749886 e o Decreto-Lei 9440687 o direito de a enfermeira obstetra realizar assistecircncia agrave

20

parturiente e ao parto normal identificaccedilatildeo das distocias obsteacutetricas e tomada de providecircncias

ateacute a chegada do meacutedico e a realizaccedilatildeo de episiotomia e episiorrafia e aplicaccedilatildeo de anestesia

local quando necessaacuteria

Outras atribuiccedilotildees realizadas pela enfermeira obsteacutetrica que vem ganhando espaccedilo no

cenaacuterio nacional satildeo as accedilotildees de incentivo ao parto normal e as accedilotildees no atendimento preacute-

natal no qual a enfermeira eacute responsaacutevel pela educaccedilatildeo em sauacutede para as mulheres e suas

famiacutelias consulta de preacute-natal agrave gestaccedilatildeo de baixo risco solicitaccedilatildeo de exames de rotina e

prescriccedilatildeo de tratamento conforme protocolo do serviccedilo e estabelecidos em programas de

sauacutede e coleta de exame citopatoloacutegico (BRASIL 2006b)

Concorrendo nessa orientaccedilatildeo a atuaccedilatildeo da enfermeira obstetra eacute reconhecida como

primordial no processo de humanizaccedilatildeo do parto tendo como objetivo a reduccedilatildeo dos altos

iacutendices de cesaacutereas praticadas e a alta medicalizaccedilatildeo decorrentes do intervencionismo por

parte dos meacutedicos obstetras (BRASIL 2001)

Buscando proporcionar conhecimento agrave sociedade e particularmente esclarecer os

profissionais de sauacutede a OMS elaborou em 1996 um conjunto de recomendaccedilotildees de boas

praacuteticas na assistecircncia ao parto normal Essas recomendaccedilotildees foram classificadas em quatro

categorias Categoria A - praacuteticas confirmadamente uacuteteis e que devem ser estimuladas

Categoria B - praacuteticas claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas

Categoria C - praacuteticas em relaccedilatildeo agraves quais natildeo existem evidecircncias suficientes para apoiar uma

recomendaccedilatildeo clara e que devem ser utilizadas com cautela ateacute que mais pesquisas

esclareccedilam a questatildeo e Categoria D - praacuteticas frequentemente utilizadas de modo inadequado

(OMS 1996) Dentre estas categorias destacam-se neste estudo as recomendaccedilotildees que foram

classificadas como praacuteticas uacuteteis e que devem ser estimuladas

Nessa direccedilatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede implantou medidas que visam impactar e

estimular a melhoria da assistecircncia obsteacutetrica no paiacutes e humanizar o parto e nascimento

(BRASIL 2001)

Para Martins (2005) humanizar a parturiccedilatildeo eacute estar com o outro e prestar um

atendimento focado em suas necessidades eacute lembrar que no momento do parto estaacute

ocorrendo a separaccedilatildeo de dois corpos que ateacute entatildeo viviam juntos um dentro do outro em

relaccedilatildeo de dependecircncia e de iacutentimo contato

Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede (2001) os profissionais de sauacutede devem ser

coadjuvantes dessa experiecircncia direcionando toda atenccedilatildeo agraves necessidades da mulher e

oportunizando-lhe o protagonismo e o controle da situaccedilatildeo na hora do nascimento

21

Os profissionais tambeacutem devem repassar para a mulher as opccedilotildees de escolha baseados

nas evidecircncias cientiacuteficas e nos seus direitos tendo a oportunidade de empregar seu

conhecimento a serviccedilo do bem-estar da mulher e do bebecirc sabendo reconhecer os momentos

criacuteticos em que suas intervenccedilotildees satildeo necessaacuterias

Igualmente seus deveres satildeo minimizar a dor acompanhar dar conforto esclarecer

orientar enfim ajudar a parir e a nascer Precisam lembrar que satildeo os primeiros a ter contato

com cada ser que nasce e portanto devem ter consciecircncia dessa responsabilidade (BRASIL

2001)

No Brasil o movimento pela humanizaccedilatildeo do parto eacute impulsionado por experiecircncia

em vaacuterios estados Em 1994 surgiu no Rio de Janeiro a primeira maternidade puacuteblica

autodefinida como ldquohumanizadardquo que recebeu o nome de Leila Diniz (DINIZ 2005) Outro

marco em termos de poliacuteticas puacuteblicas do parto e nascimento foi a criaccedilatildeo do Precircmio Galba

Arauacutejo para Maternidades Humanizadas instituiacutedo pela portaria nordm 2883 de 4 de junho de

1998 (BRASIL 1998)

Os criteacuterios para a concessatildeo deste precircmio satildeo baseados na adesatildeo agraves recomendaccedilotildees

da OMS tais como a presenccedila de acompanhantes no preacute-parto parto e poacutes-parto a assistecircncia

aos partos de baixo risco por enfermeiras obstetras e o controle das taxas de cesaacuterea

(BRASIL 2000b)

Concedido a niacutevel estadual e nacional o precircmio Galba de Arauacutejo tem provocado

mobilizaccedilatildeo nas instituiccedilotildees de Sauacutede que lutam em defesa dos direitos das mulheres e

crianccedilas e tem recebido a participaccedilatildeo de um nuacutemero crescente de serviccedilos a cada ediccedilatildeo

contribuindo para conferir legitimidade ao modelo humanizado (DINIZ 2005)

O Centro de Parto Normal-CPN foi outra iniciativa criada pela portaria nordm 985 de

agosto de 1999 que tem como finalidade o atendimento agrave mulher no periacuteodo graviacutedico-

puerperal tendo como uma das suas atribuiccedilotildees prestar atendimento humanizado e de

qualidade exclusivamente ao parto normal sem distoacutecia assistido por enfermeira obsteacutetrica

desenvolvendo atividades educativas e de humanizaccedilatildeo durante o preacute-natal visando agrave

preparaccedilatildeo das gestantes para o parto no CPN (BRASIL 1999)

A Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar (ANS) do Ministeacuterio da Sauacutede em janeiro

de 2008 atraveacutes da Resoluccedilatildeo Normativa nordm 167 reviu o Rol de Procedimentos e Eventos em

Sauacutede e ampliou as coberturas para as beneficiaacuterias de planos de sauacutede A partir de abril de

2008 deu-se a inclusatildeo na cobertura dos partos feitos por enfermeira obstetras e a presenccedila de

um acompanhante durante toda a estada da mulher no hospital desde o momento do parto ateacute

a sua alta (ANS 2008b)

22

Destaca-se tambeacutem que a partir do ano de 2005 a lei nordm 11108 passou a garantir agraves

parturientes o direito agrave presenccedila de acompanhante de sua preferecircncia durante o trabalho de

parto parto e poacutes-parto Outra iniciativa lanccedilada pela ANS na tentativa de estimular o

aumento de partos normais e modificar os altos iacutendices de cesarianas desnecessaacuterias na rede

privada foi a campanha em favor do parto normal intitulada Parto normal estaacute no meu

plano (ANS 2008a)

Em junho de 2008 foi divulgada a Resoluccedilatildeo RDC 36 da Agecircncia Nacional de

Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA) a qual preconiza que os serviccedilos de atendimento obsteacutetrico e

neonatal devem adotar medidas que incentivem o parto humanizado e a reduccedilatildeo dos iacutendices

de mortalidade materna e neonatal no paiacutes (BRASIL 2008b)

Tambeacutem devido a algumas maternidadeshospitais estarem fazendo uma cobranccedila

indevida para a presenccedila do acompanhante na sala de parto destinada a cobrir os gastos com a

limpeza e higienizaccedilatildeo das roupas ciruacutergicas e o uso de maacutescaras e toucas descartaacuteveis

utilizadas pelo acompanhante da gestante a ANS publicou em 02082011 a Resoluccedilatildeo

Normativa 262 (ANS 2011) Essa normativa define que as despesas a serem cobertas para o

acompanhante durante o preacute-parto parto e poacutes-parto imediato deve incluir taxas de

paramentaccedilatildeo acomodaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo pelo periacuteodo de 48h podendo se estender por ateacute

10 dias quando indicado pelo meacutedico assistente (DOU 2011)

Em junho de 2011 foi instituiacuteda a iniciativa da Rede Cegonha atraveacutes da portaria nordm

1459 de 24 de junho de 2011 no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede com o intuito de

fomentar a implementaccedilatildeo de novo modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher com foco na

atenccedilatildeo ao parto

Esta poliacutetica tendo como princiacutepios o respeito a proteccedilatildeo e a realizaccedilatildeo dos direitos

humanos o respeito agrave diversidade cultural eacutetnica e racial a promoccedilatildeo da equidade com o

enfoque de gecircnero a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos de mulheres

homens jovens e adolescentes a participaccedilatildeo e a mobilizaccedilatildeo com controle social e a

compatibilizaccedilatildeo com as atividades das redes de atenccedilatildeo agrave sauacutede materna e infantil em

desenvolvimento nos Estados (BRASIL 2011)

12 O parto e a cultura no processo da parturiccedilatildeo

Historicamente o parto jaacute foi vivenciado como um evento feminino no qual os

membros do grupo social da parturiente como a matildee familiares vizinhas auxiliavam-na

23

juntamente agrave parteira que tinha seus conhecimentos fundamentados na praacutetica e na

acumulaccedilatildeo de saberes passados tradicionalmente de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo (SANTOS 2002)

No entanto no seacuteculo XVIII na Europa o parto passou por um processo de

transformaccedilatildeo principalmente devido agrave influecircncia biomeacutedica masculina De um evento

feminino domiciliar e fisioloacutegico passa a ser patoloacutegico e institucionalizado dominado por

uma praacutetica intervencionista e hospitalocecircntrica da qual a mulher perdeu seu protagonismo

(SANTOS 2002)

A percepccedilatildeo da dor no parto eacute considerada como um dos motivos que influenciam a

mulher em sua preferecircncia pela cesaacuterea e estaacute profundamente arraigada no imaginaacuterio

popular como um evento associado agrave purgaccedilatildeo feminina Relaciona-se neste sentido agrave

citaccedilatildeo do Livro Biacuteblico de Gecircnesis que se refere agrave Eva como o primeiro ser humano que

pecou e acabou por corromper o resto da humanidade com sua transgressatildeo ouvindo de Deus

ldquoe tu mulher pariraacutes com dor os teus filhosrdquo (TEIXEIRA 2006)

A ideacuteia de que a mulher deve pagar no parto por seus pecados propagada pela

medicina e pela religiatildeo hegemocircnica contrapotildee-se agrave visatildeo do parto como um momento

prazeroso Esse sentido pode ser entendido como uma heresia e uma ameaccedila a um sistema de

crenccedilas que define o parto como um processo doloroso que faz mal agrave sauacutede e agrave sexualidade

feminina e que precisa ser controlado por aparatos meacutedicos (DINIZ 2011)

De acordo com Helman (2009) a dor e seus aspectos voluntaacuterios satildeo influenciados por

fatores sociais culturais e psicoloacutegicos que determinam se a dor privada seraacute traduzida e em

que tipo de comportamento quando for puacuteblica Isso estaacute muito imbricado ao significado

pessoal de que a mulher atribui agrave dor do parto ao contexto de vida em que estaacute inserida agraves

definiccedilotildees culturais da imagem corporal da estrutura e funccedilotildees do seu corpo

Ressalta-se nessa direccedilatildeo que a posiccedilatildeo das mulheres frente ao processo de

medicalizaccedilatildeo natildeo foi propriamente a de viacutetima As mulheres de classe mais alta natildeo mais

aceitavam sentir a dor do parto e natildeo desejavam correr mais riscos aleacutem de o ato de parir com

a assistecircncia de um meacutedico significar maior poder aquisitivo de seus maridos Com isso a

consolidaccedilatildeo do processo de medicalizaccedilatildeo e hospitalizaccedilatildeo do parto acontece em meados do

seacuteculo XX motivada por tais condiccedilotildees (VARGENS PROGIANTI 2004)

No Brasil o processo de institucionalizaccedilatildeo do parto isto eacute a ocorrecircncia dos partos

dentro de instituiccedilotildees hospitalares deu-se ao longo da deacutecada de 40 com o advento da

medicina preventiva cujo objetivo principal era reduzir a mortalidade infantil Somente mais

tarde a partir da deacutecada de 80 passou-se a justificar o processo de medicalizaccedilatildeo do parto

por meio da recorrecircncia das cesarianas para reduzir a mortalidade materna (BRASIL 2001)

24

Os meacutedicos natildeo acostumados ao acompanhamento de fenocircmenos fisioloacutegicos foram

instruiacutedos a intervir resolver casos complicados e ditar ordens O parto passou entatildeo a ser

visto como um ato ciruacutergico e a mulher parturiente sendo tratada como enferma foi

impedida de seguir seus instintos e de adotar a posiccedilatildeo mais cocircmoda e fisioloacutegica (BRASIL

2001)

Privada do direito baacutesico de escolha e autonomia no nascimento do proacuteprio filho deu-

se iniacutecio agrave era do parto medicalizado no qual a matildee deixa de ser a protagonista do processo

cedendo seu lugar agrave equipe meacutedica que passa a ser o centro da cena Diversas repercussotildees

advecircm desta mudanccedila As posiccedilotildees verticalizadas que ao longo dos milecircnios foram as mais

usadas pelas mulheres em todas as raccedilas e culturas passaram a ser negadas agraves parturientes

pelos meacutedicos (MACHADO 1995)

A posiccedilatildeo assumida pela parturiente e a sua livre movimentaccedilatildeo passaram a ser

praticamente negligenciadas por profissionais alinhados agrave praacutetica ocidental moderna na qual

a mulher em trabalho de parto manteacutem-se deitada horizontalmente ou em uma posiccedilatildeo semi

inclinada para conveniecircncia da equipe obsteacutetrica na aplicaccedilatildeo dos soros monitores e

anesteacutesicos Evidecircncias de estudos etnograacuteficos realizados atualmente mostram que as

mulheres que natildeo satildeo expostas a essas rotinas assumem posiccedilotildees verticais no trabalho de

parto e no parto (BALASKAS 2008)

Balaskas (2008) reforccedila ainda que um parto ativo eacute uma atitude mental de crenccedila na

natureza do processo do parto e o modo como a mulher segue a loacutegica de seus instintos e da

sua fisiologia eacute uma forma de manifestar que estaacute no controle do seu corpo durante o trabalho

de parto e nascimento e que natildeo eacute um mero objeto de intervenccedilatildeo da equipe obsteacutetrica Os

significados culturais dados aos fenocircmenos fisioloacutegicos psicoloacutegicos e sociais de uma

sociedade refletem o comportamento das pessoas e ateacute a forma de desenvolvimento poliacutetico

econocircmico de dada sociedade (HELMAN 2009)

13 Referencial teoacuterico de Emily Martin sobre o parto e cultura

Segundo a antropoacuteloga Emily Martin (2006) a metaacutefora do uacutetero como maacutequina teve

iniacutecio no decorrer dos seacuteculos XVII e XVIII nos hospitais franceses Esta metaacutefora compara

o uacutetero a uma bomba mecacircnica capaz de expelir o feto Importante assinalar que nesta eacutepoca

que o foacuterceps era instrumento utilizado por accedilougueiros barbeiros falidos cujo status social

25

era equivalente ao de um mecacircnico De acordo com Vieira (2002) as regulamentaccedilotildees para

partejar exigiam que esses homens fossem chamados pelas parteiras para manipular os

instrumentos

A partir do seacuteculo XIX a ideologia de produccedilatildeo das faacutebricas torna-se tatildeo abrangente

que ldquochegardquo aos corpos das mulheres os quais passam a ser vistos nos textos de obstetriacutecia

como faacutebricas para a produccedilatildeo de bebecircs Martin (2006) propotildee utilizar esta metaacutefora de

produccedilatildeo fabril para entender o processo de trabalho em que meacutedico e a mulher estatildeo

envolvidos

Nesta metaacutefora segundo a autora acrescenta-se a figura do meacutedico no papel de

supervisor ou ateacute dono da faacutebrica e a mulher no papel de trabalhadora cuja maacutequina (uacutetero)

produz o produto (bebecirc) O olhar a partir de metaacuteforas de acordo com a pesquisadora

permite comparar as mesmas formas de controle e poder que ocorrem no acircmbito da produccedilatildeo

industrial ou seja de controlar os movimentos dos trabalhadores conforme a produccedilatildeo da

progressatildeo em periacuteodos especiacuteficos de tempo da maacutequina (uacutetero) para avaliar e controlar se

as contraccedilotildees uterinas satildeo eficientes ou ineficientes (MARTIN 2006)

A autora supracitada questiona o papel de passividade da mulher em relaccedilatildeo agraves

contraccedilotildees uterinas que consideradas pela ciecircncia meacutedica involuntaacuterias e inclusive

responsaacuteveis totais pela realizaccedilatildeo do parto Rezende e Montenegro (2003) comenta que no

periacuteodo expulsivo as contraccedilotildees satildeo realizadas com a glote fechada e com esforccedilos

respiratoacuterios verdadeiros chamados ldquopuxosrdquo Em nenhum momento foi mencionado que eacute a

parturiente que faz esse esforccedilo Outro exemplo de exclusatildeo do papel mulher em seu processo

de parto eacute o foco no feto conforme a citaccedilatildeo de Rezende e Montenegro (2003 p177) ldquono seu

transcurso atraveacutes do canal parturitivo impulsionado pela contratilidade uterina o feto eacute

compelido a executar certo nuacutemero de movimentos que se denominam mecanismo do partordquo

Assim sendo a metaacutefora utilizada por Martin (2006) desvela uma perspectiva que apresenta

as mulheres gestantes como ldquomateacuteria-primardquo para a produccedilatildeo de um ldquoprodutordquo

Nessa direccedilatildeo torna-se imprescindiacutevel para a produccedilatildeo de bebecircs perfeitos a

intervenccedilatildeo da cesaacuterea exigindo um miacutenimo de trabalho do uacutetero e da mulher atribuindo a

esse procedimento a imagem de ldquouacutenica graccedila salvadorardquo do bebecirc Este posicionamento

segundo a autora ignora o que talvez seja extremamente significante para a mulher e para seu

bebecirc ter a oportunidade de vivenciar o nascimento do seu filho (a) atraveacutes do seu proacuteprio

esforccedilo experimentando o protagonismo no seu parto e no nascimento da crianccedila

O mecanismo do parto conforme Rezende eacute o estudo da mecacircnica do parto o que

vem ao encontro da metaacutefora do uacutetero como maacutequina

26

A cultura meacutedica segundo Martin (2006) seria um sistema cultural cujas ideais

sobressaem-se agrave cultura popular

A autora faz ainda referecircncia a textos em obstetriacutecia da Universidade Johns Hopkins

nos EUA que comprovam que causas externas podem interferir nas atividades uterinas e que

tais alteraccedilotildees emocionais da mulher quase natildeo satildeo levadas em consideraccedilatildeo na obstetriacutecia

tendo como consequecircncia o aval para intervenccedilotildees como amniotomias uso de ocitocina para

acelerar o trabalho de parto ou a utilizaccedilatildeo da cesariana considerando desnecessaacuterias as

contraccedilotildees (MARTIN 2006)

A participaccedilatildeo do meacutedico como promotor de uma cultura intervencionista foi

destacada em um estudo nacional realizado pela socioacuteloga americana Hopkins (2000) com

pueacuterperas de cliacutenicas privadas e puacuteblicas Segundo o estudo das mulheres que fizeram

cesariana trecircs em quatro das primiacuteparas do setor privado e oito em dez do setor puacuteblico

gostariam de ter tido partos vaginais Observou-se que o meacutedico obstetra promove os medos

nas gestantes em relaccedilatildeo ao parto e superestima a seguranccedila da cesariana em funccedilatildeo dos seus

interesses

Para Martin (2006) a alienaccedilatildeo e a condiccedilatildeo fragmentada constadas na linguagem e

de algumas mulheres satildeo descritas como uma autopercepccedilatildeo passiva sendo contrastadas com

discursos de mulheres que questionam se opotildeem rejeitam e reformulam suas formas de viver

e as maneiras como a sociedade poderia funcionar apresentando uma autopercepccedilatildeo que tenta

resistir agrave passividade

As mulheres que optam pelo parto domiciliar saem dessa passividade buscam outras

formas de serem ativas no seu parto e reivindicam seu espaccedilo no ato de parir questionando o

paradigma atual de assistecircncia ao parto preconizado nas instituiccedilotildees hospitalares (KRUNO

BONILHA 2004)

No estudo etnograacutefico realizado por Martin (2006) em Baltimore (EUA) encontra-se

a narrativa de uma mulher que resiste a essa maneira de fragmentaccedilatildeo exprimindo a sua

frustraccedilatildeo em relaccedilatildeo ao parto cesariano imposto pela conduta meacutedica A narradora conta

com raiva a sua experiecircncia com a cesariana por ter perdido a cena do nascimento devido agrave

limitaccedilatildeo e ao jejum impostos pela anestesia natildeo podendo realizar os primeiros cuidados do

seu bebecirc aleacutem da proibiccedilatildeo de se alimentar por horas e limitando-se a nutrientes para a

recuperaccedilatildeo mais eficaz da cirurgia

A necessidade de compreensatildeo do parto enquanto parte integrante da vida sexual

emocional e cultural da mulher eacute proposta por Odent (2000) como o entendimento das bases

fisioloacutegicas e a integraccedilatildeo entre diferentes momentos da vida Sua hipoacutetese eacute a de que o

27

cuidado com o modo como nascemos e com a vinculaccedilatildeo amorosa matildee-bebecirc pode propiciar a

construccedilatildeo de uma sociedade mais amorosa menos destrutiva e de mais respeito pelos seres

humanos e pela natureza Esse paradigma holiacutestico tambeacutem referendado por Floyd (2004)

que destaca como elemento fundamental no processo do parto o contato das mulheres consigo

mesmas como um estado especial de consciecircncia similar agraves relaccedilotildees entre os estados

orgaacutesticos agrave oraccedilatildeo e agraves emoccedilotildees miacutesticas Nesse momento as funccedilotildees intelectuais

neocorticais devem estar colocadas em segundo plano proporcionando a expressatildeo de

funccedilotildees cerebrais mais instintivas caracteriacutesticas do parto e do aleitamento

Segundo Martin (2006) os esforccedilos para oferecer este novo paradigma que devolve agrave

mulher o controle do seu corpo no parto satildeo extraordinaacuterios O que natildeo deve permanecer

ainda que subliminarmente eacute a ideologia dominante de nossa sociedade na qual as mulheres

ao darem a luz de maneira mais aproximada do parto natural satildeo consideradas desprovidas de

cultura e consequentemente inferiores por aproximarem-se da natureza ldquoprimitivardquo como se

andassem para traacutes no tempo e na evoluccedilatildeo

Historicamente esta divisatildeo da cultura e da natureza fomentada pelos escritores do

seacuteculo XIX surgiu a partir do desenvolvimento das sociedades ocidentais e da

industrializaccedilatildeo sendo organizada em torno de dois mundos a esfera privada dentro de casa

que eacute evidenciada pertencente agrave mulher onde ocorrem funccedilotildees ditas ldquonaturaisrdquo e a esfera

puacuteblica fora de casa na qual os homens estatildeo em maior evidecircncia e onde se produz ldquoculturardquo

a qual eacute considerada atividade superior evidenciada aos homens e vista como dominante

(MARTIN 2006)

Essa forma de pensar relega a mulher ao domiacutenio do natural do inferior e da

domesticidade considera-a mais simples animalesca e livre de autocensuras Compreende

que haacute uma iniquumlidade entre natureza e cultura e que ao ldquosubmeterrdquo a mulher a fenocircmenos

totalmente naturais como o parto normal estamos reafirmando a concepccedilatildeo da mulher como

um ser mais primitivo que pertence somente agrave natureza (MARTIN 2006)

Reflete-se por outro lado de acordo com Gama (2009) que o modelo de organizaccedilatildeo

dos serviccedilos puacuteblicos e privados apresenta variaccedilotildees que produzem diferentes tipos de

assistecircncia e de relaccedilatildeo entre os profissionais de sauacutede e as usuaacuterias dando forma agraves

experiecircncias distintas entre as mulheres pesquisadas

Ao empreender uma criacutetica assentada nas relaccedilotildees de gecircnero Gama (2009) verificou

que o modelo de assistecircncia ao parto permanece submetendo quem deve ser sujeito e reproduz

o projeto da medicalizaccedilatildeo Isso reduz o campo da assistecircncia e inviabiliza um lugar de poder

diferenciado das usuaacuterias sendo a cesariana utilizada como um procedimento de alta

28

rentabilidade para a medicina obsteacutetrica privada conforme a citaccedilatildeo da antropoacuteloga Emily

Martin

Se a cesariana torna-se uma fonte de honoraacuterios mais altos para os meacutedicos e contas

hospitalares mais altas que o parto vaginal eacute de se esperar que encontremos mais

cesarianas sendo realizadas em mulheres no alto da escala de classe e raccedila

(MARTIN 2006 p 235)

Tal constataccedilatildeo justifica a demanda dos altos iacutendices de cesaacuterea no Brasil com a forma

como se organizou a assistecircncia obsteacutetrica e a formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que

reproduzem no cotidiano esse sentido tecnoloacutegico do parto e do nascimento

Com a invasatildeo da tecnologia a mulher perdeu sua autonomia como protagonista uma

vez que no modelo intervencionista da atual assistecircncia obsteacutetrica ela tornou-se objeto da

accedilatildeo e vem perdendo o controle e a decisatildeo sobre o proacuteprio processo de parto e de

nascimento Essa realidade pode afetar profundamente as mulheres os bebecircs as famiacutelias e

produzir efeitos importantes e persistentes sobre a sociedade (DINIZ 2001)

Ratifica-se nas palavras de Dias (2008) que a perda do protagonismo da mulher no

cenaacuterio do parto reflete-se nos altos iacutendices de cesaacutereas nas uacuteltimas deacutecadas no Brasil Por

outro lado a mudanccedila no modelo de assistecircncia ao parto pode ser uma estrateacutegia promissora

para a reversatildeo desse quadro jaacute que os fatores associados agrave decisatildeo da cesariana independem

do desejo da mulher

A mudanccedila para outro modo de parir mais conectado com todas as forccedilas da vida e da

cultura das mulheres pode possibilitar a construccedilatildeo de um modelo humaniacutestico com vistas ao

holiacutestico e agrave expressatildeo de um tempo de uma cultura de um avanccedilo das praacuteticas obsteacutetricas

do parto com a convivecircncia de muacuteltiplos paradigmas da assistecircncia

29

2 CAMINHO METODOacuteLOGICO

21 Fundamentos metodoloacutegicos

A presente investigaccedilatildeo constitui-se como uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva

A pesquisa qualitativa abarca o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores

e atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees (MINAYO 2004) A

metodologia qualitativa pode possibilitar aleacutem de uma interpretaccedilatildeo com lentes ampliadas do

objeto de estudo uma inserccedilatildeo na cultura do ldquooutrordquo (GEERTZ 1989)

Para Leopardi (2001) e Minayo (2008) o estudo qualitativo compreende a descriccedilatildeo e

a anaacutelise da realidade de diferentes maneiras para representar as experiecircncias do fenocircmeno

vivenciadas pelos indiviacuteduos Haacute uma implicaccedilatildeo entre o conhecimento sobre o mundo e os

sujeitos que o constroem numa relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto Logo a

interpretaccedilatildeo do fenocircmeno atribuindo-lhe significados faz parte do processo de

conhecimento tanto do sujeito pesquisador quanto dos atores pesquisados Eacute comumente

utilizada por pesquisadores sociais preocupados com a atuaccedilatildeo praacutetica (GIL 2007)

A pesquisa descritiva trabalha sobre dados ou fatos colhidos da proacutepria realidade do

indiviacuteduo ou de grupos e comunidades mais complexas Busca conhecer as diversas situaccedilotildees

e relaccedilotildees que ocorrem na vida social poliacutetica econocircmica e cultural principalmente nas

ciecircncias humanas e sociais objetivando abordar dados e problemas relevantes cujo registro

natildeo consta de documentos (CERVO BERVIAN DA SILVA 2007)

22 Os cenaacuterios do estudo

Esta pesquisa foi prevista inicialmente para ser somente desenvolvida na Unidade

Sanitaacuteria Kennedy (USK) no municiacutepio de Santa Maria - RS pelo fato de ser campo de aulas

praacuteticas e de estaacutegio supervisionado para os alunos do Curso de Enfermagem da Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM) onde satildeo realizadas accedilotildees de promoccedilatildeo agrave sauacutedecidadania de

crianccedilas adolescentes mulheres e adultos A aacuterea de abrangecircncia da USK inclui dezoito vilas

30

compreendendo uma populaccedilatildeo de aproximadamente trinta mil habitantes Em relaccedilatildeo agrave

escolaridade os natildeo alfabetizados e os indiviacuteduos que possuem o primeiro grau incompleto

perfazem 83 da populaccedilatildeo A renda per capita de 58 das pessoas e ateacute um salaacuterio miacutenimo

e 27 recebem um a dois salaacuterios miacutenimos Esta regiatildeo ainda hoje caracteriza-se por um alto

iacutendice de desemprego criminalidade desnutriccedilatildeo doenccedilas infecto-contagiosas aleacutem da

precariedade de saneamento baacutesico e de habitaccedilatildeo (MONDARDO et al 1993)

Poreacutem devido a dificuldades de infra-estrutura na referida unidade foi solicitada

transferecircncia de campo da pesquisa para o Hospital Universitaacuterio de Santa Maria (HUSM)

atraveacutes de ementa ao Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM) (Anexo B) estipulando como os locais de coleta os serviccedilos de ginecologia e

obstetriacutecia do hospital

As dificuldades encontradas foram inerentes ao objeto da pesquisa aleacutem de problemas

teacutecnico-administrativos na USK Os problemas de natureza e objeto concernem aos criteacuterios

de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos dada a ausecircncia de mulheres encaixadas em tais criteacuterios

no grupo de planejamento familiar na USK

Os problemas teacutecnico-administrativos foram relativos agrave infra-estrutura da USK que

estava funcionando em um local menor durante os procedimentos de reforma no preacutedio da

instituiccedilatildeo

Outras estrateacutegias foram realizadas na busca por sujeitos como a visita nos dias e

horaacuterios da consulta puericultura visando encontrar mulheres dentro dos criteacuterios que

viessem acompanhando os seus filhos na consulta contudo a tentativa natildeo obteve sucesso

pois era o grande nuacutemero de mulheres dentro dos criteacuterios de exclusatildeo neste caso pueacuterperas

O HUSM entatildeo foi o outro cenaacuterio escolhido para a coleta de dados que justificou-se

pela diversidade de serviccedilos de atendimento oferecidos a mulheres e de profissionais do sexo

feminino que laacute trabalham principalmente da enfermagem o que foi bastante significativa

para o estudo Solicitou-se entatildeo a autorizaccedilatildeo ao Departamento de Ensino e Pesquisa

(DEPE) do HUSM para realizaccedilatildeo da pesquisa neste serviccedilo e autorizada pelo CEP da UFSM

atraveacutes de emenda (Anexo B) para a ampliaccedilatildeo do cenaacuterio e do periacuteodo de coleta de dados

O HUSM eacute um hospital-ensino fundado no ano de 1970 que serve como base de

atendimento primaacuterio dos bairros que o cercam para o atendimento secundaacuterio agrave populaccedilatildeo

de Santa Maria e para o atendimento terciaacuterio da regiatildeo centro e fronteira gauacutecha O hospital

constitui-se como centro de ensino pesquisa e extensatildeo no acircmbito das Ciecircncias da Sauacutede

aleacutem de centro de programaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de accedilotildees voltadas agrave sauacutede das comunidades

local e regional Tambeacutem presta serviccedilos assistenciais em todas as especialidades meacutedicas

31

bem como serve de treinamento para alunos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Medicina

Residecircncia Meacutedica e de graduaccedilatildeo em Enfermagem Farmaacutecia Fonoaudiologia e

Fisioterapia

Satildeo serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia do HUSM

a unidade de Internaccedilatildeo do Centro Obsteacutetrico situada no sub- solo do HUSM

provida de seis leitos de internaccedilatildeo para mulheres em trabalho de parto ou no poacutes-parto

quatro leitos de internaccedilatildeo poacutes-cesaacuterea trecircs leitos de observaccedilatildeo para o atendimento de

intercorrecircncias ginecoloacutegicas e agrave mulher viacutetima de violecircncia

a unidade de internaccedilatildeo Toco-ginecoloacutegica situada no 2ordm andar do HUSM

onde se atendem pueacuterperas gestantes de alto-risco e mulheres em tratamento ginecoloacutegico

Possui trinta e sete leitos dos quais onze satildeo destinados agrave cliacutenica ginecoloacutegica e vinte e seis agrave

obstetriacutecia

o ambulatoacuterio da ala II que eacute localizado no teacuterreo e atende consultas de preacute-

natal puerpeacuterio e ginecologia

Destaca-se que nas unidades referidas circula um grande nuacutemero de familiares do

sexo feminino que acompanham as gestantes pueacuterperas e as mulheres internadas para

tratamento ginecoloacutegico

23 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos

Os criteacuterios de inclusatildeo foram mulheres que jaacute tiveram filhos por via vaginal ou

cesariana que natildeo estavam gestando nem eram puerpeacuteras e cujos partos ocorreram a partir do

ano de 2004 tendo como marco referencial o Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e

Nascimento do Ministeacuterio da Sauacutede Este programa foi criado em 2000 pelo Ministeacuterio da

Sauacutede mas implantado em todos os municiacutepios do Rio Grande do Sul somente em 2004

Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo mulheres nuliacuteparas mulheres

gestantes e pueacuterperas uma vez que o processo de parturiccedilatildeo ocorrendo em periacuteodo proacuteximo

ou concomitante agrave entrevista poderia influenciar nas respostas devido mais a aspectos

fisioloacutegicos e emocionais relacionados agrave dor do parto do que por aspectos culturais

32

24 Caracterizaccedilatildeo das participantes

Este estudo foi realizado com oito mulheres em idade feacutertil com histoacuteria pregressa de

parto vaginal ou cesariano quatro mulheres foram captadas na USK e quatro no HUSM

Foram convidadas para entrevistas mulheres que buscavam o atendimento no programa de

planejamento familiar da USK mulheres que buscavam o atendimento no HUSM nos

serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia e mulheres que estavam no momento da entrevista nos

serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia do HUSM

Para finalizaccedilatildeo da coleta foi utilizado o criteacuterio de saturaccedilatildeo de dados por

reincidecircncia ou seja quando da repeticcedilatildeo dos dados a coleta foi entendida como satisfatoacuteria

e entatildeo suspensa (VIacuteCTORA KNAUTH HASSEN 2000)

As participantes do estudo foram identificadas pela letra M de mulher e um nuacutemero

escolhido por ordem de entrevista (M1-M8) sendo caracterizadas no que se refere aos

aspectos soacutecio-culturais de idade estado civil escolaridade regiatildeo de moradia nuacutemero de

filhos ocupaccedilatildeo e tipo de parto vivenciado conforme descrito abaixo

Mulher 1 - 34 anos 2ordf grau completo casada teacutecnica de enfermagem Com quatro

filhos nascidos de partos normais

Mulher 2 - 24 anos 1ordm grau completo diarista casada Com uma filha tem uma

cesaacuterea

Mulher 3 - 28 anos 2ordf grau completo teacutecnica de enfermagem solteira uniatildeo estaacutevel

Com um filho nascido de parto normal

Mulher 4 - 22 anos 2ordf grau incompleto solteira operadora de caixa de supermercado

Com um filho fez uma cesaacuterea

Mulher 5 - 32 anos 1ordm grau completo do lar casada Com um filho nascido de parto

normal e o outro fez uma cesaacuterea

Mulher 6 - 35 anos 3ordm grau completo enfermeira casada Com dois filhos fez duas

cesaacutereas

Mulher 7- 28 anos 1ordm grau completo empregada domeacutestica uniatildeo estaacutevel Tem quatro

filhos nascidos de partos normal

Mulher 8 - 27 anos 2ordf grau imcompleto dona de casa divorciada Com quatro filhos

fez quatro cesaacutereas

Todas estavam na faixa etaacuteria entre 22 e 35 anos Quanto ao estado civil seis satildeo

casadas uma divorciada e uma solteira poreacutem com uniatildeo estaacutevel no momento da entrevista

33

O niacutevel de escolaridade apresentou trecircs mulheres com ensino meacutedio completo uma

com incompleto trecircs com ensino fundamental completo e uma com curso superior

Todas as participantes satildeo moradoras da zona urbana do municiacutepio

Quanto ao nuacutemero de filhos o grupo em estudo tem uma meacutedia de 2 filhos sendo que

a menor e a maior prole foi de 1 e de 4 filhos respectivamente

Quanto agrave ocupaccedilatildeo das entrevistadas duas satildeo donas de casa duas teacutecnicas de

enfermagem uma enfermeira duas empregadas domeacutesticas e uma operadora de caixa de

supermercado

O tipo de parto de maior incidecircncia vivenciado pelas mulheres foi o parto normal

num total de dez e o total de cesaacutereas foram nove

25 Inserccedilatildeo em campo

Inicialmente na USK foram contatadas mulheres que participavam dos grupos de

planejamento familiar e que compareciam nos dias preacute-estabelecidos para a dispensa dos

meacutetodos anticoncepcionais No HUSM a busca de sujeitos estendeu-se agraves diferentes unidades

de atendimento gineco-obsteacutetrico mulheres acompanhantes e mulheres que trabalham nestas

unidades e que atendiam aos criteacuterios de inclusatildeo

Tanto na USK quanto no HUSM as mulheres foram selecionadas por meio de contato

direto com a pesquisadora na sala de espera das referidas unidades ou quando estavam

acompanhando a sua familiar durante a internaccedilatildeo no HUSM

Como havia entre as participantes funcionaacuterias do serviccedilo que atendiam aos criteacuterios

de inclusatildeo dos sujeitos estas profissionais foram convidadas e as entrevistas realizadas

durante o intervalo do horaacuterio de trabalho Algumas entrevistas foram realizadas no domiciacutelio

das participantes e outras na proacutepria unidade de sauacutede e unidades do HUSM em uma sala

reservada

26 Coleta de dados

Para a obtenccedilatildeo da coleta de dados utilizou-se como instrumento uma entrevista semi-

estruturada contendo questotildees fechadas para a caracterizaccedilatildeo do grupo em estudo e questotildees

abertas que possibilitaram o aprofundamento dos dados e a obtenccedilatildeo de respostas

34

relacionadas agrave vivecircncia das pessoas A coleta de dados foi entre janeiro e marccedilo de 2011 A

entrevista foi gravada em MP3 e posteriormente transcrita na iacutentegra pela pesquisadora de

forma literal A entrevista aberta eacute aquela em que o informante aborda livremente o tema

proposto com pergunta previamente formulada e que possibilita descrever sua vivecircncia de

forma retrospectiva sem repressatildeo de seu pensamento Propicia coletar material

extremamente rico para anaacutelise e contribui para o trabalho de pesquisa em andamento

(MINAYO 2000) Como estrateacutegia de compreensatildeo da realidade sua principal funccedilatildeo eacute

retratar as experiecircncias vivenciadas bem como as definiccedilotildees fornecidas por pessoas grupos

ou organizaccedilotildees (MINAYO 2000)

As entrevistas foram previamente agendadas por meio de contato pessoal sendo

marcados data local e horaacuterio que melhor conviessem agraves entrevistadas evitando interrupccedilotildees

constrangimentos de modo a lhes permitir sentir-se agrave vontade

27 Anaacutelise dos dados

Em posse dos dados coletados estes foram objeto da investigaccedilatildeo de acordo com a

anaacutelise temaacutetica de Minayo (2008) Tal anaacutelise consiste em descobrir os nuacutecleos de sentidos

que constituem uma comunicaccedilatildeo em que sua frequecircncia ou presenccedila revela algum

significado para o objeto analiacutetico Por conseguinte para analisar significados de um

determinado depoimento o surgimento de determinados temas denota estruturas de

relevacircncia valores de referecircncia e modelos de comportamento que podem estar ocultos no

discurso (MINAYO 2008)

Considera-se que a compreensatildeo e a interpretaccedilatildeo das entrevistas nas pesquisas

qualitativas natildeo se realizam em um soacute momento pois acontecem no decorrer da proacutepria coleta

e anaacutelise dos dados quando o pesquisador interage com os sujeitos do estudo na transcriccedilatildeo

das entrevistas e particularmente nas leituras e na organizaccedilatildeo das informaccedilotildees Poreacutem para

uma melhor sistematizaccedilatildeo e compreensatildeo deve-se seguir um percurso ordenado para que se

possa igualmente apreender o conjunto dos significados contidos nos depoimentos dos

entrevistados

Minayo (2008) descreve seguindo Bardin (1977) que essa ordenaccedilatildeo da anaacutelise

temaacutetica segue a sequecircncia de trecircs etapas quais sejam preacute-anaacutelise a exploraccedilatildeo do material e

o tratamento dos resultados obtidos e interpretaccedilatildeo

35

Neste estudo a etapa de preacute-anaacutelise compreendeu a interpretaccedilatildeo do material que se

deu a partir dos questionamentos do investigador Essa etapa consistiu em trecircs tempos o

primeiro chamado de leitura flutuante entendido como a leitura exaustiva das informaccedilotildees do

material de campo periacuteodo de impregnaccedilatildeo do conteuacutedo pelo investigador Jaacute o segundo

tempo foi a Constituiccedilatildeo do ldquoCorpusrdquo no qual se buscou verificar se o material coletado

abrangia regras de eficaacutecia qualitativa tais como exaustividade representatividade

homogeneidade e pertinecircncia Em relaccedilatildeo ao terceiro tempo este perpassou a Formulaccedilatildeo e a

Reformulaccedilatildeo de Hipoacuteteses e Objetivos que baseou-se no retorno a etapa exploratoacuteria de

revisatildeo das hipoacuteteses com intuito de corrigir erros de interpretaccedilatildeo e de ampliar o leque de

indagaccedilotildees para identificar o que surge de relevante para posterior construccedilatildeo de temas ou

categorias de anaacutelise

A segunda etapa da anaacutelise temaacutetica consistiu na Exploraccedilatildeo do Material que se

delineou basicamente nas categorias especiacuteficas que abrangeram elementos ou aspectos de

caracteriacutesticas comuns ou que se relacionavam entre si

A terceira etapa constituiu o Tratamento dos Resultados Obtidos e a Interpretaccedilatildeo

Nesse momento realizaram-se inferecircncias sendo realizada a articulaccedilatildeo entre as informaccedilotildees

aqui construiacutedas e os referenciais teoacutericos de estudos jaacute publicados respondendo agrave questatildeo da

pesquisa com base em seus objetivos

28 Questotildees eacuteticas

Para a realizaccedilatildeo de todas as atividades da pesquisa atentou-se para os criteacuterios eacuteticos

e os princiacutepios bioeacuteticos da voluntariedade da autonomia da beneficecircncia da natildeo-

maleficecircncia e da justiccedila que fundamentam a Resoluccedilatildeo nordm 19696 do Conselho Nacional de

Sauacutede o qual prescreve a eacutetica na pesquisa com seres humanos (BRASIL 1996)

O projeto foi registrado no Gabinete de Projetos do Centro de Ciecircncias da Sauacutede

sendo solicitada autorizaccedilatildeo para o desenvolvimento da pesquisa ao Secretaacuterio Municipal de

Sauacutede e a Direccedilatildeo de Ensino e Pesquisa do HUSM (DEPE) Em um segundo momento foi

encaminhado para a anaacutelise do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa com Seres Humanos da UFSM

(CEP) com a devida documentaccedilatildeo solicitada assinada pelo responsaacutevel legal da instituiccedilatildeo e

pela pesquisadora Apoacutes a aprovaccedilatildeo do CEP foi realizada a etapa de campo da pesquisa

36

Os sujeitos foram informados dos detalhes da pesquisa objetivos e produccedilatildeo de dados

Para tanto antes da realizaccedilatildeo da entrevista foi lido com os sujeitos o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apecircndice B) que concordando com este

optaram por assinaacute-lo O TCLE foi redigido em duas vias uma para a participante e outra

para a pesquisadora Da mesma forma foi redigido o Termo de Confidencialidade o qual

descreve o compromisso das pesquisadoras em relaccedilatildeo agraves informaccedilotildees que soacute poderatildeo ser

divulgadas de forma anocircnima e mantidas em Compact Disc (CD) por um periacuteodo de 5

(cinco) anos sob a sua inteira responsabilidade Apoacutes este periacuteodo ficou acordado que os

dados gravados seratildeo destruiacutedos Destaca-se que o compromisso em relaccedilatildeo agrave preservaccedilatildeo do

sigilo da identidade dos sujeitos durante todas as etapas da pesquisa mesmo com a

divulgaccedilatildeo dos seus resultados sob qualquer forma foi observado sendo utilizado o sistema

de identificaccedilatildeo alfanumeacuterico

Foram ressaltadas a liberdade da participaccedilatildeo espontacircnea e o direito de desistecircncia por

parte das participantes a qualquer momento da pesquisa a fim de se evitar riscos agrave dimensatildeo

fiacutesica moral intelectual social cultural ou espiritual em qualquer fase da pesquisa com a

garantia dos princiacutepios de beneficecircncia e natildeo-maleficecircncia No entanto foi exposto que o

momento da entrevista poderia trazer algumas lembranccedilas questionamentos eou conflitos agrave

dimensatildeo emocional pelo fato de que o sujeito iria refletir sobre o seu cotidiano e suas

vivecircncias Caso isto acontecesse poderia ser indicada uma consulta se assim a participante

desejasse com profissional qualificado do serviccedilo da aacuterea de sauacutede mental do Hospital

Universitaacuterio de Santa Maria previamente contatado

37

3 ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS DADOS

O parto institucionalizado vem sendo apresentado agraves mulheres como um periacuteodo

essencialmente meacutedico que traz consigo as referecircncias de um periacuteodo patoloacutegico e

medicalizado Em consequumlecircncia disso a abordagem sob a perspectiva bioloacutegica pode reduzi-

lo e suprimir a revelaccedilatildeo dos diferentes acircngulos e facetas do universo cultural e social da

parturiente Em virtude disso este estudo fundamentou-se em conceitos socioculturais e natildeo

apenas nos meacutedico-cientiacuteficos Salienta-se que natildeo se pretende abolir os conceitos

biomeacutedicos mas antes entendecirc-los como apenas uma dentre as vaacuterias formas de abordagem

do nascimento

Monticelli (1996) aborda essa questatildeo ao confirmar que a enfermagem quando age

contextualizada dentro desta perspectiva propicia o compartilhamento de saberes e praacuteticas

evitando posturas etnocecircntricas simplistas ou puramente biologicistas sobre o processo da

parturiccedilatildeo

Na sequecircncia deste capiacutetulo seratildeo abordados seis temas surgidos em decorrecircncia da

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados que surgiram das falas das mulheres entrevistadas percepccedilatildeo

das mulheres sobre o nascimento percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado a percepccedilatildeo

das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto conhecendo como se daacute a construccedilatildeo cultural

do processo parturitivo das mulheres resistecircncia das mulheres ao modelo biomeacutedico do parto

percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea

A partir desses temas estabelecer-se-aacute um diaacutelogo com o referencial teoacuterico buscando

alcanccedilar nesse movimento a compreensatildeo de como a cultura influecircncia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher

A Percepccedilatildeo das mulheres sobre o nascimento

Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo das mulheres sobre o nascimento foram relatadas tanto

experiecircncias positivas quanto negativas

A abordagem positiva relatada pelas entrevistadas retrata a responsabilidade por uma

nova vida e a emoccedilatildeo do nascimento conforme as falas das entrevistadas

Tem a parte fiacutesica e espiritual Eu vejo como uma forma de oportunidade da gente crescer e

dar esta oportunidade para este ser que estaacute vindo resgatar as coisas que a gente precisa e que ele

precisa tambeacutem (M1)

38

Eacute uma daacutediva que Deus deu para gente inexplicaacutevel assim apesar de tudo o que a gente

passa ateacute o nascimento da crianccedila Eacute maravilhoso (M2)

Eu acho que eacute uma vida nova que vem para gente compromisso de ter que guiar aquela

pessoa que taacute nascendo com amor com aquele sentimento de cuidar de matildee de ser responsaacutevel por

aquele ser pelas atitudes dele pelo crescimento dele (M3)

O que eu imaginava na hora era ganhar ver o rostinho deles a parte mais emocionante eacute ver

a hora que eles nascem (M8)

As falas das mulheres apontam para positividades da percepccedilatildeo do parto relacionada agrave

emoccedilatildeo da primeira vez de ver o bebecirc e ao contato fiacutesico nesse momento bem como ao

sentimento de responsabilidade pelo filho Essa abordagem transmite um senso de unidade

sobre a pessoa e sua experiecircncia fiacutesica com enfoque nos aspectos emocionais e espirituais do

nascimento Segundo Martin (2006 p 248) ldquoo parto positivo concentra-se na integraccedilatildeo

funcional de todas as partes da mulher - suas memoacuterias passadas esperanccedilas futuras sua

mente e seu corpordquo

Martin (2006) apresenta as metaacuteforas da danccedila e da jornada para descrever esta

integridade colocam a mulher em um papel claramente ativo A danccedila ao significar que

quando corpo e mente encontram-se alinhados danccedilam em sincronia e unidade e entregam-se

agrave nova vida que vem chegando A metaacutefora do parto como uma jornada torna-se uma

oportunidade para o crescimento psicoloacutegico da mulher que se inicia no primeiro trimestre e

culmina no trabalho de parto quando ela relaciona-se iacutentima e singularmente consigo mesma

tendo ao final uma experiecircncia de aprendizado totalmente sua

Foi destacada pelas entrevistadas a mudanccedila do status social e o compromisso com

este novo ser na sua vida denotando o compromisso e a responsabilidade de ser matildee A

mulher que daacute agrave luz com vivecircncias positivas apresenta atitudes que vatildeo dignificaacute-la e que

fortalecem o seu ldquoeu interiorrdquo (BALASKAS 2008)

Este momento faz parte de um ritual de transiccedilatildeo social presente em todas as

sociedades do status social de esposa para o de matildee com intuito de unir os aspectos

fisioloacutegicos aos aspectos sociais da vida de uma pessoa Dessa maneira existem muitas

crenccedilas e rituais do parto e puerpeacuterio no mundo ocidental que continuam ateacute que a matildee e a

crianccedila estejam estabelecidas com seguranccedila em suas posiccedilotildees sociais (HELMAN 2009)

Segundo Odent (2003) atribui-se importacircncia crucial agrave primeira hora apoacutes o parto para

o desenvolvimento da capacidade de amar Nessa fase em condiccedilotildees fisioloacutegicas a liberaccedilatildeo

de ocitocina conhecida como ldquohormocircnio do amorrdquo associada agrave prolactina ldquohormocircnio da

maternidaderdquo significa que se matildee e o bebecirc estiverem em contato pele a pele e olho no olho

39

as chances de se estabelecer apego interaccedilatildeo e amor estatildeo garantidas para ambos Isso eacute

ratificado por Odent (2003) ao referir-se que quando o meio cultural interfere com rotinas

que desestimulam esse apego entre a matildee e o bebecirc tais como o uso de sedativos agentes

anesteacutesicos e analgeacutesicos durante o parto influencia toda a capacidade de amar devido a natildeo

liberaccedilatildeo da ocitocina natural pelo organismo da mulher

Um aspecto negativo expresso pelas entrevistadas concernente agrave percepccedilatildeo do

nascimento refere-se ao desconhecimento sobre a fisiologia do parto o que as fez entender

este processo semelhante a um processo patoloacutegico e sujeito a vaacuterias intervenccedilotildees

desnecessaacuterias conforme os relatos

O primeiro eu natildeo tinha a orientaccedilatildeo que eu tenho agora ningueacutem me orientou Foi muito

doiacutedo e difiacutecil inclusive ateacute porque ele era bem grande e iam passar o foacuterceps Natildeo sei se chegaram a

colocar mas eu consegui e nasceu normal E me colocaram o soro com ocitocina () e eu disse ldquopara

quecircrdquo mas natildeo me explicaram (M1)

Jaacute tinha perdido o tampatildeo uns 3 dias antes de comeccedilar ldquoas dorrdquo entatildeo eu ficava preocupada

ldquoSeraacute que eu natildeo vou sentir dorrdquoldquo seraacute que eu natildeo vou saber quando vai ser a hora de ir ao

hospitalrdquo Me colocaram o soro para induzir () natildeo me explicaram nada Depois veio a anestesia

remeacutedios acho que para enjocirco () natildeo consegui ganhar normal (M2)

Achei que eu tinha que me esforccedilar mais em todos eles Por isso na hora de ganhar sempre

me dava um medo Aiacute eu natildeo sei se eu me trancava Botaram o soro para dor e eu ao inveacutes de fazer a

forccedila direito como se deve fazer eu me retrancava e comeccedilava a chorar (M7)

Eu acho o parto normal muito mais arriscado que a cesaacuterea Todos os meus foram cesaacuterea

No meu caso eu acho que foi por causa da dilataccedilatildeo Todas foram agendadas Os meus filhos quando

chegam no uacuteltimo mecircs natildeo querem ficar nascem antes A minha filha nasceu com 8 meses com muito

pouco peso e foi para UTI (M8)

Os sentimentos relatados pelas entrevistadas de natildeo saber como agir no parto

exprimem significativamente seu desconhecimento acerca do processo fisioloacutegico e refletem-

se em medo e inseguranccedila Uma vez que natildeo sabem o que estaacute acontecendo com seu corpo as

mulheres controlam-no menos demonstram fragilidade e tendem a ser tratadas como objeto

de controle da equipe meacutedica Desse modo aceitam passivamente as intervenccedilotildees meacutedicas

como necessidades normais e rotineiras no parto a exemplo dos relatos do uso de ocitocina

de foacuterceps e da indicaccedilatildeo de cesariana previamente agendada

Esse eacute o modelo de atendimento tecnocraacutetico de assistecircncia descrito pela antropoacuteloga

Davis Floyd (2004) que representa a corrente de pensamento convencional e dominante

norteadora da praacutetica da assistecircncia obsteacutetrica haacute vaacuterias deacutecadas na qual o profissional de

sauacutede manteacutem um distanciamento do paciente como forma de proteger a si mesmo das

reaccedilotildees emocionais frente agraves anguacutestias deste

40

A forma e a percepccedilatildeo de como as mulheres vivenciam a sua experiecircncia de parto satildeo

impregnadas pela realidade conforme modelo que se apresenta para a sociedade isto eacute com a

mensagem de que eacute imprescindiacutevel a utilizaccedilatildeo da tecnologia como garantia de um parto

seguro O que resulta disso eacute o que chamamos de uma ldquocascata de intervenccedilotildeesrdquo que ocorre

quando uma praacutetica obsteacutetrica desencadeia outras fazendo com que se altere o processo

natural do parto (BALASKAS 2008)

Destaca-se tambeacutem a desinformaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos riscos que advecircm da cesaacuterea

desnecessaacuteria para matildee e bebecirc A entrevistada M8 narra que as cesaacutereas foram realizadas

antes de sua gestaccedilatildeo estar a termo Sabe-se que a prematuridade iatrogecircnica ocasionada por

cesaacutereas sem indicaccedilatildeo estaacute associada ao aumento da taxa de nascimentos de receacutem nascidos

preacute-termo (MACDORMAN et al 2008) e ao aumento da mortalidade neonatal (VILLAR et

al 2007)

Concorda-se com Balaskas (2008) ao afirmar que as cicatrizes corporais deixadas

pelas intervenccedilotildees desnecessaacuterias no corpo da mulher transformam-se em uma vivecircncia de

sofrimento inseguranccedila e sobrepujam toda e qualquer vivecircncia positiva ocorrida no parto

Logo um momento que deveria ser natural repleto de lembranccedilas positivas e felizes para a

mulher constitui-se num evento traumatizante Nessa direccedilatildeo entende-se que se o

comportamento humano eacute influenciado diretamente pelo meio cultural pois humanos

comunicam-se e criam cultura a socializaccedilatildeo da naturalizaccedilatildeo do parto como evento rodeado

de tecnologia e risco bem como a recapitulaccedilatildeo das experiecircncias traumaacuteticas contadas pelas

mulheres reforccedilam-se na convivecircncia social (ODENT 2004)

Ademais as intervenccedilotildees desnecessaacuterias sobrepotildeem-se ao poder que a mulher tem de

parir e que atualmente ela mesma desconhece pois a histoacuteria repassada pela medicina nas

uacuteltimas deacutecadas na cultura ocidental transformou o parto em um evento essencialmente

meacutedico sendo a mulher apenas uma parte do cenaacuterio (SEIBERT 2005)

O uso do recurso da aceleraccedilatildeo no parto com o uso do soro com ocitocina foi

percebido como forma negativa para as mulheres que o relataram O emprego de hormocircnios

sinteacuteticos no trabalho do parto como eacute o caso da ocitocina tende a cessar a fisiologia e as

etapas do parto (FIGUEREDO L 2010)

Ratificando essa informaccedilatildeo um estudo feito por Barros (2005) mostra que o aumento

de partos cesaacutereos estaacute relacionado agrave praacutetica da induccedilatildeo medicamentosa A falha de induccedilatildeo

provoca a indicaccedilatildeo de uma cesaacuterea que implica a utilizaccedilatildeo de anestesia medicaccedilotildees

antibioacuteticas profilaacuteticas medicaccedilatildeo para naacuteuseas medicaccedilatildeo para dor no poacutes-operatoacuterio e

utilizaccedilatildeo de outras drogas o que pode afetar drasticamente o comportamento materno pois o

41

que se verifica em estudos com outros mamiacuteferos eacute o natildeo-cuidado de seus bebecircs apoacutes uma

cesariana (ODENT 2004)

Eacute primordial durante a gestaccedilatildeo o preparo das mulheres para o parto apoiando suas

informaccedilotildees em praacuteticas baseadas em evidecircncias cientiacuteficas pois a grande maioria dos

procedimentos que os profissionais de sauacutede ainda utilizam no parto satildeo rotinas que estatildeo

caindo em desuso pois se mostraram mais danosas do que beneacuteficas Se as proacuteprias pacientes

souberem disso atraveacutes de atividades educativas no preacute-natal seraacute muito mais faacutecil reverter

esse quadro (DINIZ 2003)

Concorda-se nessa direccedilatildeo que a consulta preacute-natal tambeacutem eacute um espaccedilo importante

para mudanccedila de atitudes em relaccedilatildeo ao parto incentivada por profissionais que valorizam os

aspectos sociais e subjetivos da gestaccedilatildeo do parto e do nascimento (FREITAS 2005)

A Percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado

Nesta categoria as mulheres expressam a via de parto desejada A maior parte

manifestou o desejo pelo parto normal Apenas uma entrevistada manifestou preferecircncia pela

cesaacuterea e teve sua vontade atendida

Do primeiro eu natildeo pesquisei dos outros que eu comecei a ler sobre o assunto Eu queria ter

o parto em casa e mais informaccedilotildees do meacutedico Trabalhei ateacute a uacuteltima hora de internar Foi bom fiz a

respiraccedilatildeo direitinho e acabei ganhando no leito como eu pensei que queria que nascesse (M1)

Eu tinha conversado com meu esposo em casa e a gente queria parto normal mas natildeo deu

perdi o controle (M2)

Quando eu dizia que queria parto normal me diziam ldquopor que fazer parto normal por que

natildeo faz uma cesaacutereardquo Eu dizia ldquoeu quero parto normal pela recuperaccedilatildeo mais raacutepida para poder

voltar a estudarrdquo e eu achei bem melhor o parto normal do que ter feito uma cesaacuterea que daiacute eu ia

ficar dias sem poder voltar a estudar (M3)

Eu sempre quis cesaacuterea porque eu tinha medo de sentir dor ali na hora Eu vi o bebecirc assim

que o tiraram () Natildeo recebi orientaccedilatildeo sobre parto normal do meacutedico (M4)

A minha preferecircncia sempre foi o parto normal eu achei que ia ganhar normal deste uacuteltimo

mas natildeo deu fiquei frustrada (M5)

Por mim poderia ser parto vaginal tanto que do primeiro filho eu ia caminhar ateacute na veacutespera

para ver se evoluiacutea para parto normal mas natildeo evoluiu daiacute foi cesaacuterea e do outro foi cesaacuterea

tambeacutem Teve que ser programada (M6)

O parto normal foi desejado Se tivesse feito uma cesaacuterea seria o fim do mundo porque eu

demorei para aceitar a ideacuteia de que teria que fazer uma laqueadura por cesaacuterea Eu sempre dei a

preferecircncia para parto normal por causa de comentaacuterios e sobre ter infecccedilatildeo (M7)

42

Eu tinha na cabeccedila que o meu primeiro filho ia ser normal Parto normal a matildee ganha e jaacute

sai caminhando com a crianccedila no colo e cesaacuterea natildeo (M8)

Na fala das entrevistadas revelou-se o desejo pelo parto normal ou pela cesaacuterea

destacando o entendimento de que o parto normal tem a recuperaccedilatildeo mais raacutepida natildeo

interferindo na rotina e autonomia delas apresenta menos risco de infecccedilatildeo e a cesaacuterea

poderia proteger quanto agrave dor do parto Esses pontos justificaram em grande parte seu desejo

pelas vias de parto

Para Martin (2006) as mulheres que desejam o parto normal e conseguem passar por

essa experiecircncia consideram-no um processo que acontece naturalmente como algo que a

mulher realiza e natildeo simplesmente vecirc acontecer consigo

Estudos de natureza quantitativa e qualitativa da aacuterea da sauacutede em relaccedilatildeo agrave escolha

para o parto normal constataram que as expectativas das mulheres em relaccedilatildeo ao tipo de parto

justificaram-se pela recuperaccedilatildeo poacutes-parto mais raacutepida e por ser melhor para elas eou para os

bebecircs (OLIVEIRA 2002 MELCHIORI et al 2009 MANDARINO et al 2009)

A entrevistada que realizou a cesariana por desejo proacuteprio justificou sua escolha pelo

medo da dor do parto A forma como se percebe e se responde agrave dor pode ser influenciada

pela origem cultural e social Em outros grupos culturais a dor do parto natildeo eacute temida muito

diferentemente das mulheres de paiacuteses ocidentais que a temem e satildeo bastante propensas a

aceitar drogas analgeacutesicas ou anesteacutesicas (HELMAN 2009)

No Brasil o medo da dor eacute apontado como uma das causas da intervenccedilatildeo cesariana

requerida pelas mulheres e pode ser considerado assim um dos motivadores do aumento das

taxas dessa cirurgia no paiacutes (FAUacuteNDES CECATTI 1991 OLIVEIRA et al 2002)

Em um estudo feito por Almeida (2009) sobre a dor do parto normal a autora

evidenciou a ocorrecircncia de uma relaccedilatildeo de poder dos serviccedilos de obstetriacutecia sobre o corpo

feminino e a forma como estes serviccedilos gerenciam-se mantendo o processo da medicalizaccedilatildeo

o que se constitui um dos mecanismos de favorecimento da perpetuaccedilatildeo do parto cesaacutereo

com a finalidade de evitar a dor do parto normal

Entende-se tambeacutem que a dor do parto eacute em grande medida iatrogecircnica amplificada

pelo modelo assistencial que institui rotinas como a imobilizaccedilatildeo o uso abusivo de ocitocina

artificial a manobra de Kristeller a episiotomia e a episiorrafia praacuteticas no parto normal que

satildeo claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas com base em evidecircncias

cientiacuteficas e em recomendaccedilotildees da OMS (1996) e do Ministeacuterio da Sauacutede (BRASIL 2001)

43

Para tanto foi instituiacutedo pelo Ministeacuterio da Sauacutede (2000b) o Programa de

Humanizaccedilatildeo no Preacute-Natal e Nascimento cujo objetivo eacute melhorar a assistecircncia obsteacutetrica

provocada por praacuteticas e condutas inadequadas

Segundo Floyd (2004) o programa eacute traduzido como um modelo humanista de

assistecircncia tambeacutem referido por ela como modelo holiacutestico Os profissionais que atuam nessa

vertente simplesmente tecircm como desejo humanizar a tecnomedicina e apresentam maior

potencial para reformar o modelo tecnocraacutetico com mudanccedilas de atitudes e de paradigma

O modelo holiacutestico eacute o que abarca uma variedade mais rica de abordagem rompe

totalmente com o modelo dominante atual utiliza modalidades que satildeo menos prejudiciais

assiste as pessoas em seu contexto crecirc em outros modos de contexto que curam compreende

a dimensatildeo espiritual do cuidado da sauacutede e tambeacutem fortalece o desenvolvimento da vida de

cada pessoa (FLOYD 2004)

Neste sentido a escolha da via de parto torna-se importante uma vez que leva em

consideraccedilatildeo o contexto soacutecio cultural e assistencial em que a parturiente estaacute inserida e os

aspectos bioloacutegicos e psicoemocionais com intuito de promover um cuidado direcionado agraves

suas necessidades conforme recomendado nos estudos de Bezerra Cardoso (2005) e Budoacute et

al (2007) referentes a outros cenaacuterios da sauacutede Tal cuidado aproxima-se da humanizaccedilatildeo da

atenccedilatildeo no parto

De destaque nas falas das entrevistadas do presente estudo eacute o sentimento de

frustraccedilatildeo e perda de controle das que desejavam parto normal e tiveram de submeter-se agrave

cesaacuterea Situaccedilatildeo semelhante surgiu no relato das mulheres que Emily Martin (2006)

entrevistou em Baltimore (EUA) quando percebeu nos depoimentos que uma das reaccedilotildees

mais comuns especialmente quando a mulher planeja um parto vaginal e a cirurgia ocorre eacute a

perda de controle do seu parto

Por outro lado entre as entrevistadas que conseguiram realizar o parto normal

consoante seu desejo de via de parto o sentimento de aliacutevio foi constatado Para Balaskas

(2008) as sensaccedilotildees de aliacutevio realizaccedilatildeo gratidatildeo ecircxtase partem de uma grande variedade

de sensaccedilotildees que somente a experiecircncia do parto normal propicia

Uma das entrevistadas relata orientaccedilatildeo para cesariana a fim de submeter-se agrave

laqueadura tubaacuteria tendo seu desejo frustrado quanto agrave opccedilatildeo da via de parto uma vez que

desejava realizar parto normal Evidencia-se que natildeo houve o desejo de cesaacuterea no entanto a

necessidade da laqueadura

A constataccedilatildeo do desestiacutemulo ao parto normal feito pela equipe meacutedica mesmo

cientes de que essas mulheres tinham histoacuterias preacutevias de partos normais a fim de realizar

44

uma cesaacuterea concomitantemente agrave laqueadura tubaacuteria mostra o desrespeito agrave lei nordm 9263 que

trata do planejamento familiar que veda a esterilizaccedilatildeo ciruacutergica em mulher durante os

periacuteodos de parto ou aborto exceto nos casos de comprovada necessidade por cesarianas

sucessivas anteriores (BRASIL 2002)

As entrevistadas que se submeteram agrave cesaacuterea apresentaram percepccedilotildees de que algo

que foi feito com elas e natildeo de sua participaccedilatildeo como relatado nas seguintes frases ldquotiraram

o bebecircrdquo (M4) ldquopuncionaram-me umas 15 vezesrdquo (M6) ldquose a hemorragia natildeo parasse iam

tirar o meu uacuteterordquo (M8)

A sensaccedilatildeo de passividade e separaccedilatildeo entre o eu e o seu corpo surge em niacutevel

extremo quando as mulheres descrevem a cesariana Parte disso adveacutem pelo fato de ser uma

cirurgia em que um nuacutemero maior de pessoas toca manipula corta e costura seu corpo Outra

parte deve-se agrave anestesia peridural que produz insensibilidade da cintura para baixo e

intensifica-se pela colocaccedilatildeo de um pano sobre o peito da mulher de modo que ela natildeo

enxerga a metade inferior do seu corpo (MARTIN 2006)

Verificamos nas falas das entrevistadas que os laccedilos entre a matildee e o bebecirc podem estar

sendo desestimulados por priorizarem-se cuidados que poderiam ser postergados ldquoPrimeiro

foi realizado os cuidados com o bebecirc e me mostraram jaacute enrolado com as roupasrdquo (M6)

ldquoFicavam ali fazendo os cuidados com o bebecirc e me mostravam bem depoisrdquo (M8)

Esses cuidados aleacutem de estar interferindo na relaccedilatildeo amorosa matildee-bebecirc podem estar

ignorando a implementaccedilatildeo de praacuteticas simples como o clampeamento tardio do cordatildeo

umbilical o contato imediato pele-a-pele e o iniacutecio da amamentaccedilatildeo exclusiva que tem um

impacto a longo prazo na nutriccedilatildeo e na sauacutede da matildee e do bebecirc pois afetam o

desenvolvimento da crianccedila muito aleacutem do periacuteodo neonatal e do puerpeacuterio (BRASIL 2011)

A metaacutefora da produccedilatildeo no nascimento proposta pela antropoacuteloga Emily Martin

(2006) retrata a interrupccedilatildeo dos laccedilos afetivos entre matildees e bebecircs que sofreram cesarianas

devido ao controle sobre o corpo feminino exercido pela retirada do protagonismo da mulher

da cena do nascimento Fato esse semelhante agrave metaacutefora da produccedilatildeo industrial do natildeo-

envolvimento da trabalhadora com o produto do seu trabalho quando ela natildeo sente que foi

quem o produziu e quando o seu trabalho eacute estritamente organizado e controlado (MARTIN

2006)

Frequentemente quando se interfere na produccedilatildeo de um bebecirc segundo a metaacutefora da

produccedilatildeo industrial que ocorre quando natildeo eacute a mulher que daacute agrave luz e o bebecirc eacute extraiacutedo

cirurgicamente por um meacutedico a matildee sente-se desligada da crianccedila apoacutes seu nascimento

(MARTIN 2006)

45

Nesta direccedilatildeo um estudo realizado na Universidade da Cidade do Cabo Aacutefrica do Sul

mostrou que a separaccedilatildeo entre matildee e o bebecirc tem impactos negativos influenciando na

duraccedilatildeo do sono e na frequecircncia cardiacuteaca do bebecirc (BARAK 2011)

O modelo de atendimento biomeacutedico desestimula a implementaccedilatildeo de cuidados

comprovadamente eficazes e passa uma mensagem que matildee e bebecirc satildeo como uma diacuteade

conflitante natildeo sendo vistos como uma unidade integral (MARTIN 2006)

Outro elemento a ser salientado refere-se agrave percepccedilatildeo de ser matildee atraveacutes da vivecircncia

do trabalho de parto ou seja compreende-se o significado de ser matildee por meio da vivecircncia da

parturiccedilatildeo conforme fala da entrevistada Era meu primeiro filho decidi que para ser matildee

teria que ganhar de parto normal [] Se eacute para ser matildee vamos ser matildee mesmo (M3)

Como se pode notar a entrevistada destaca que o parto normal foi primordial para

sentir-se realmente matildee Importante nesse sentido a afirmaccedilatildeo de Monticelli (1996) de que o

parto eacute um ritual que marca profundamente o inconsciente feminino principalmente se for o

primeiro

A Percepccedilatildeo das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto

Nesta categoria foi significante a falta de autonomia da mulher na decisatildeo sobre a via

de parto Para compreensatildeo do parto como um evento na vida da mulher em relaccedilatildeo agrave decisatildeo

sobre o tipo de parto as mulheres opinaram

A cesaacuterea geralmente eacute o meacutedico que decide Eu sabia disso daiacute que nem todas satildeo iguais

porque a minha voacute teve 6 cesaacutereas e 6 normal e a minha matildee soacute fez cesaacuterea Entatildeo eu sabia que

podia acontecer comigo e realmente aconteceu O meacutedico disse que ia fazer uma cesaacuterea e fez

cesaacuterea disse que ela tinha tomado aacutegua no parto (M8)

Deveria ser da mulher mais do que do meacutedico jaacute que ela que estaacute sentindo e sabendo o que

estaacute acontecendo (M1)

A niacutevel de consultoacuterio (rede privada) eacute o meacutedico Natildeo daacute para escolher() Eu queria Por

mim poderia ser parto vaginal (M6)

Eu acho que deve ser a mulher mas eacute o meacutedico que decide Eles dizem que eacute protocolo que

isso que aquilo mas sabe-se que natildeo eacute assim Soacute que natildeo acontece isso neacuteEla natildeo tem o direito de

decidir se quer um parto normal ou uma cesaacuterea Eacute colocado para ela que ela vai ganhar de parto

normal por causa disso ou daquilo mas agraves vezes ela natildeo estaacute preparada de repente eacute o melhor para

o corpo mas natildeo o melhor para cabeccedila dela natildeo estaacute preparada para aquilo ali (M3)

Eacute o meacutedico que tem o poder de decisatildeo se vai ser parto vaginal ou cesaacuterea (M2)

46

Nessa categoria foi significativo o entendimento das mulheres sobre o poder de

decisatildeo que os meacutedicos tecircm em relaccedilatildeo ao tipo de parto Poreacutem elas discordam de que este

profissional determine a escolha de forma unilateral e apontam para inclusatildeo delas nessa

decisatildeo Esta perspectiva direciona-se para a autonomia e a participaccedilatildeo da mulher na decisatildeo

sobre a via de parto embora o que se constate eacute que o meacutedico determina qual a finalizaccedilatildeo da

gestaccedilatildeo

Entende-se que a questatildeo de avaliaccedilatildeo de risco e a indicaccedilatildeo de se realizar uma

cesaacuterea sejam de competecircncia meacutedica No entanto a mulher deve receber informaccedilotildees sobre

os riscos e benefiacutecios da intervenccedilatildeo a fim de exercer sua participaccedilatildeo ativa no processo Tal

questatildeo enfatiza o direito agrave informaccedilatildeo e agrave formaccedilatildeo de opiniatildeo das mulheres para que

tenham o direito de reivindicar aquilo que eacute beneacutefico para a sua sauacutede e a de seu bebecirc

Profissionais e mulheres podem ateacute tomar uma decisatildeo antecipada sobre o tipo de parto

poreacutem esse fato natildeo pode ser visto como uma simples questatildeo de preferecircncia como no caso

da cesaacuterea antecipada ou eletiva sem indicaccedilatildeo pois pode implicar em riscos e complicaccedilotildees

futuras para matildee e para o bebecirc (BRASIL 2001)

Para o Ministeacuterio da Sauacutede (2006a) um dos valores da Poliacutetica Nacional de

Humanizaccedilatildeo eacute o principio da autonomia de pensar os indiviacuteduos como sujeitos autocircnomos e

como protagonistas nos coletivos de que participam como co-responsaacuteveis pelo processo de

produccedilatildeo de sauacutede de si e do mundo em que vivem

Quando falamos da autonomia da mulher parturiente falamos de um processo em que

a cada momento se vai desconstruindo o leacutexico cientificoteacutecnico para que a mulher e a

famiacutelia possam ser chamadas ao centro de decisatildeo Mas para isso eacute importante oferecer toda a

informaccedilatildeo que ela necessita para se tornar um membro efetivo da equipe de sauacutede e como

tal ter pleno poder e capacidade de decidir da forma mais vantajosa para todos Esse eacute sem

duacutevida um processo de grande complexidade que em uma aplicaccedilatildeo absoluta incita os

profissionais de sauacutede a compreenderem que o respeito pela autonomia da mulher natildeo

constitui um dano na sua autonomia profissional mas antes um incremento pela qualidade

participaccedilatildeo e rigor eacutetico obtido atraveacutes desse processo (LEITAtildeO 2010)

Tal processo talvez seja difiacutecil de compreender para o profissional quando se alicerccedila

na cultura biomeacutedica ao redor de uma ideologia de progresso tecnoloacutegico que no contexto do

parto iniciou-se a partir da sua institucionalizaccedilatildeo com o advento da era industrial (FLOYD

2004)

47

A institucionalizaccedilatildeo do parto iniciou-se nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX quando

o mesmo passou a ser visto como um processo patoloacutegico que deveria ser controlado a fim de

evitar a morte materna e perinatal sendo entatildeo marcado por rotinas tais como episiotomias

cesaacutereas desnecessaacuterias utilizaccedilatildeo de foacuterceps profilaacutetico (PROGIANTI BARREIRA 2001)

Para Collaccedilo (2002) as instituiccedilotildees tecircm uma cultura proacutepria fundamentada no empirismo e

na tecnologia que se revelam nas rotinas e condutas intervencionistas do meacutedico O resultado

dessa conduta intervencionista eacute a discrepacircncia entre o que as mulheres desejam e o que eacute

realizado o que justificaria a mudanccedila do tipo de parto (HOPKINS 2000)

Um dos motivos alegados pelos meacutedicos para essa praacutetica seria a mudanccedila de perfil de

risco das gestantes Poreacutem um estudo realizado nos EUA que relacionou o aumento das taxas

de cesaacuterea com a mudanccedila de perfil do risco constatou que as chances de uma mulher ser

submetida a uma cesaacuterea na primeira gestaccedilatildeo sem pertencer a um grupo de risco subiu para

50 em 2005 comparado ao ano de 1996 (DECLERCQ et al 2005)

Essa desinformaccedilatildeo por parte das mulheres pode por fim a sua capacidade na decisatildeo

sobre o tipo de parto e ser atribuiacuteda agrave falta de conhecimento sobre seu corpo os processos

reprodutivos e a sexualidade (SANTOS 2008)

Segundo o relato da entrevistada M6 natildeo haacute o direito de escolha quanto ao tipo de

parto para a mulher que faz o preacute-natal na rede suplementar sendo sua autonomia geralmente

desrespeitada quando deseja um parto normal De acordo com Mccourt et al (2007) a

escolha do tipo de parto pela mulher eacute apontada na literatura meacutedica como um fator que tem

contribuiacutedo para o elevado iacutendice de cesarianas na atualidade

Destaca-se que nos serviccedilos de sauacutede suplementar no Brasil as taxas de cesaacuterea satildeo

as mais elevadas do mundo em torno de 797 (ANS 2001) A cesaacuterea daacute ao meacutedico o

maacuteximo de poder controle e conduccedilatildeo nesse processo e exige o miacutenimo de trabalho do uacutetero

e da mulher criando o ponto de vista de que este procedimento ciruacutergico fornece os melhores

bdquoprodutos‟ isto eacute produzem bebecircs perfeitos semelhantemente agrave metaacutefora de produccedilatildeo tal

como acontece nas induacutestrias (MARTIN 2006)

Logo deu-se iniacutecio a uma crenccedila de que cesaacuterea eacute protetora para o nascimento do

bebecirc Isso pode estar relacionado agrave noccedilatildeo de que partos normais satildeo traumaacuteticos para o feto

e entatildeo os profissionais ldquoaliam-serdquo ao bebecirc contra a destruiccedilatildeo em potencial causada pelo

corpo da matildee no trabalho de parto e no parto o que leva a ignorar aquilo que talvez seja o

mais importante para a mulher e para a crianccedila que eacute a natureza de suas experiecircncias no parto

e no nascimento (MARTIN 2006)

48

Aleacutem do mais na relaccedilatildeo meacutedico-parturiente fica evidente como satildeo encaradas as

questotildees relacionadas ao parto de forma diferente por cada um desses atores (ANS 2008a)

Entre os meacutedicos obstetras institui-se uma cultura proacute-cesaacuterea e como consequecircncia

parte deles natildeo se encontra motivada nem capacitada para o acompanhamento do parto

normal Em contrapartida as mulheres dentro dessa cultura tecircm dificuldade de fazer valer a

sua decisatildeo quanto ao tipo de parto por sentirem-se menos capacitadas a escolher devido agraves

questotildees teacutecnicas levantadas e sustentadas por eles (BRASIL 2001)

Estudos tecircm demonstrado que apenas 20 das usuaacuterias de convecircnio particular

conseguem dar agrave luz por parto normal sendo que a maioria das mulheres brasileiras deseja-o

(REBELO et al 2010 POTTER et al 2001 POTTER et al 2008)

Concorda-se portanto com a visatildeo de ANS (2008a) de que a criacutetica da exclusatildeo das

mulheres na decisatildeo da via de parto deve-se principalmente ao fato de que o modelo

biomeacutedico desconhece os significados que as mulheres datildeo agrave experiecircncia da gestaccedilatildeo e do

parto

Conhecendo como se daacute a construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres foram relatadas

tanto experiecircncias positivas quanto negativas dos partos das mulheres de seu conviacutevio

As mulheres que apresentam uma percepccedilatildeo positiva sobre parto normal apresentam

nas famiacutelias histoacuterias e relatos positivos do parto de suas familiares

A minha matildee teve 5 partos normais Todos em casa e a minha voacute era parteira Acho que a

influecircncia vem daiacute Queria que minha voacute tivesse viva para eu ter tido os meus filhos com ela A matildee

sempre foi positiva nunca disse que os partos foram uma coisa horriacutevel Ela sempre disse que era

uma coisa boa doiacutea claro mas ela sempre mostrou coisa boa Tenho uma irmatilde que ganhou um bebecirc

em casa natildeo deu tempo de ir para o hospital Foi raacutepido demais (M1)

Olha todas natildeo se queixaram As [familiares] que eu conversei disseram que parto normal eacute

a melhor forma por causa da recuperaccedilatildeo eacute melhor para ti cuidar do nenecirc sem depender de ningueacutem

A matildee sempre teve parto normal (M2)

Da minha matildee foi tranquumlilo O parto dela foi no mesmo hospital que eu tive ela caminhou

tudo como tinha que ser rompeu a bolsa em casa Ela me passou essa experiecircncia boa (M3)

Eu e a minha irmatilde nascemos de parto vaginal A minha voacute teve 5 filhos de parto vaginal A

minha sogra teve partos vaginais em casa Meu marido nasceu com 4kg Ela comentava como eacute que

tinha sido os nascimentos dos filhos dela de ser tudo tranquilo e das aventuras que ateacute na veacutespera

andava a cavalo e natildeo deu nada de complicaccedilatildeo e naquele tempo foi com parteiras A matildee dela era

parteira Os filhos nasceram com a avoacute (M6)

49

Durante a minha gravidez eu conversava mais sobre o parto com a minha matildee e eu a

acompanhei ela quando foi ganhar normal Eu vi como foi entatildeo eu sabia como tinha que ser quando

eu fosse ganhar que era bom A influecircncia da minha voacute e da minha matildee foi para parto normal mas

eu natildeo ganhei normal em nenhum (M8)

Na opiniatildeo dessas entrevistadas a transmissatildeo do conhecimento dos partos na famiacutelia

exerceu grande influecircncia na preferecircncia por parto normal focando a naturalidade e a

praticidade de encarar o parto normal

O processo de socializaccedilatildeo denominado ldquoprimaacuteriordquo para Berger e Luckmann (1976)

acontece na famiacutelia durante a infacircncia quando a realidade eacute apreendida atraveacutes da

consciecircncia individual e os papeacuteis sociais tornam-se seus quando identificados

Segundo Laraia (2003) a socializaccedilatildeo do indiviacuteduo eacute resultante do seu meio cultural e

a acumulaccedilatildeo de saberes e crenccedilas satildeo passadas de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Destaca-se isso

igualmente no estudo de Ressel et al (2011) relativo a cultura da sexualidade junto a

adolescentes e suas famiacutelias onde a socializaccedilatildeo dos saberes eacute um processo dinacircmico e

contiacutenuo ao longo da vida

Laraia (2003) defende que os valores que vatildeo compor a singularizaccedilatildeo de cada pessoa

na sociedade ocorrem por meio da socializaccedilatildeo atraveacutes dos relacionamentos das

representaccedilotildees pessoais sobre fenocircmenos fatos e eventos sociais

As entrevistadas M1 e M6 relatam a presenccedila de parteiras na assistecircncia ao parto Ateacute

a entrada da profissatildeo meacutedica sobre o processo do parto as mulheres em trabalho de parto

eram auxiliadas principalmente pelas matildees tias avoacutes eou parteiras Poreacutem com a perda da

importacircncia do papel das parteiras - pois ameaccedilavam o monopoacutelio do saber meacutedico - e sua

progressiva alocaccedilatildeo na marginalidade do contexto da obstetriacutecia seus saberes foram sendo

vistos sob suspeita

Em quase todas as culturas segundo Helman (2009) os principais provedores dos

cuidados primaacuterios de sauacutede satildeo as matildees e avoacutes e as parteiras ainda satildeo as responsaacuteveis pelos

cuidados obsteacutetricos em alguns paiacuteses

Percebem-se nas narrativas das entrevistadas as influecircncias positivas passadas por suas

matildees na vivecircncia da parturiccedilatildeo das mulheres da famiacutelia Elsen (2011) realizou uma anaacutelise de

quatro estudos sobre famiacutelias tendo como um dos destaques a valorizaccedilatildeo do conhecimento e

das praacuteticas do cuidado nesses ambientes familiares

Em contrapartida as entrevistadas que apresentam nos seus discursos experiecircncias

negativas mostram que no conviacutevio familiar e no ciacuterculo social proacuteximo este assunto ou natildeo

foi comentado ou foi discutido com teor negativo

50

A minha matildee nunca falou bdquocom noacutes‟ sobre isso Ela teve cesaacuterea da minha irmatilde mais nova de

sete anos e deu problemas de rim nela A minha recuperaccedilatildeo foi ruim porque demorei a recuperar

() Eu me sentia estranha e parece que minhas pernas estavam separadas do meu corpo por causa da

anestesia(M4)

Noacutes nunca conversamos sobre essas coisas laacute em casa nem com matildee e nem com irmatilde A

uacutenica coisa que me falavam eacute que sofria muito falavam que ia gritar de tanta dor que as contraccedilotildees

seriam fortes Eu sofri um pouquinho coloquei soro fiquei de barriga para cima o tempo todo ()

como se estivesse doente depois eu tive uma cesaacuterea que infeccionou os pontos Me senti um objeto

() (M5)

Minha matildee disse que eacute horriacutevel que natildeo era bom que nem cesaacuterea e nem parto normal Ela

sofreu muito Por isso na hora de ganhar assim sempre me dava um medo devido agraves histoacuterias

contadas por minha matildee (M7)

Vizinhos ateacute parentes comentavam que esqueceram uma tesoura dentro da paciente ou

esqueceram um pano Eu tenho medo de cesaacuterea Outro problema eacute aquele pano que separa a sua

cabeccedila do resto do seu corpo Disseram-me que teria de fazer uma cesaacuterea para fazer a laqueadura

na proacutexima gravidez Eu vou fazer um RX depois para ver se natildeo ficou nada laacute dentro (M7)

Aiacute vem a voacute vem a matildee conversar dizendo ldquotu natildeo faz escacircndalo natildeo gritardquo porque

realmente elas natildeo datildeo atenccedilatildeo E realmente eu vi isso Entatildeo eu sabia que natildeo era bom quando eu

fosse ganhar (M8)

Nas falas destas entrevistadas deflagra-se a ausecircncia de conversa sobre o assunto

Quando haacute diaacutelogo acerca do tema no seio familiar reveste-se de significados negativos

destacando a dor o sofrimento a anguacutestia o medo a solidatildeo e a alienaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao que

estaacute acontecendo com o seu corpo

Para Martin (2006) as mulheres podem ter essas sensaccedilotildees negativas de objetificaccedilatildeo

e fragmentaccedilatildeo tanto na cesaacuterea quanto no parto normal mas as que passam por uma cesaacuterea

descrevem essas sensaccedilotildees mais intensamente conforme destacado nas falas das entrevistadas

M4 e M5

Segundo a autora o medo e a ansiedade no parto normal satildeo gerados pela inconsciente

fragmentaccedilatildeo subliminar impliacutecita de como a mulher percebe esse fenocircmeno de como accedilotildees

que elas natildeo realizam como se o ldquoeurdquo e o ldquoseu corpordquo fossem separados entendendo que

corpo mente e estados emocionais natildeo podem ser trabalhados simultaneamente

O relato negativo foi constatado em estudos de autores da aacuterea da antropologia

mostrando que em diferentes sociedades as filhas educadas por matildees que influenciam

negativamente sofrem mais no momento do parto (LARAIA 2003) A dor do parto tambeacutem

foi apontada pela entrevistadas M5 Conforme Gualda (2004) a dor eacute um sintoma altamente

subjetivo que traz a crenccedila popular de vincular a maternidade ao sofrimento

51

A entrevistada M8 traz a questatildeo de agir conforme as regras que a equipe obsteacutetrica

impotildee de natildeo fazer escacircndalo sob pena de natildeo receber a devida atenccedilatildeo Os profissionais de

sauacutede eventualmente podem impor um comportamento que natildeo respeita o saber da parturiente

o que pode tornar difiacutecil a evoluccedilatildeo do trabalho de parto (BEZERRA CARDOSO 2006)

Outro fator de destaque de acordo com o relato da entrevistada M7 foi o medo

apresentado em relaccedilatildeo ao esquecimento dos instrumentos ciruacutergicos dentro do seu corpo

Para Leninger (1991) a descontinuidade dos acompanhamentos e tratamentos das

usuaacuterias(os) deve-se ao fato de natildeo compreenderem sua funccedilatildeo e seu funcionamento

A posiccedilatildeo supina que foi referida pela entrevistada M5 ldquofiquei de barriga para cima o

tempo todordquo eacute segundo a OMS (1996) uma praacutetica claramente prejudicial ou ineficaz que

deve ser eliminada de acordo com as evidecircncias cientiacuteficas Essa mensagem simboacutelica

transmite agrave parturiente que ela estaacute enferma e retira da mulher a liberdade de seguir seus

instintos conforme mencionado pela entrevistada

Etnoacutelogos confirmam que atraveacutes da anaacutelise de evidecircncias histoacutericas existem raccedilas e

tribos que natildeo recebem influecircncia do modelo biomeacutedico e as mulheres naturalmente assumem

posiccedilotildees verticais dos mais variados tipos e meios de apoio (BALASKAS 2008)

Outras formas de influecircncia relatadas pelas participantes foram revistas internet

meios de comunicaccedilatildeo em geral As entrevistadas atribuem grande importacircncia agraves

informaccedilotildees colhidas nessas fontes atraveacutes das quais tomam conhecimento sobre

determinados costumes e percepccedilotildees

Com as revistas eu me informava bastante sobre como que era o nascimento fotos do bebecirc

nascendo Assistia na TV o canal que mostrava partos as casas de parto onde as mulheres iam fazer

todo o preacute-natal e ganhavam na aacutegua na cama naqueles quartos que permaneciam durante o

trabalho de parto e ficavam ali mesmo na hora de ganhar com familiar junto crianccedilas adultos tudo

junto Eu achava muito interessante (M1)

Eu olhei muito no youtube parto normal Eu achei bem legal Assim eacute meio assustador mais

achei legal Ateacute ali minha decisatildeo era ganhar normal mas natildeo deu (M2)

Lia folders revistas da aacuterea sobre maternidade programas de TV que mostraram o

acompanhamento do parto no domiciacutelio na banheira mas eu tive duas cesaacutereas agendadas (M6)

A entrevistada M1 relata o atendimento oferecido em casa de parto ou centro de parto

normal onde as mulheres fazem todo o preacute-natal e datildeo agrave luz em posiccedilotildees e locais de sua

preferecircncia A ausecircncia desse tipo de estabelecimento em determinados municiacutepios do Brasil

inviabiliza o acesso aos benefiacutecios que esses serviccedilos oferecem Instituiacutedo no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede esses estabelecimentos propiciam agraves mulheres a assistecircncia ao parto

52

em sua plena universalidade e tecircm como uma de suas atribuiccedilotildees o preparo da gestante

atraveacutes do plano de parto e do desenvolvimento de atividades educativas (BRASIL 1999)

Nesse cenaacuterio o protagonismo de cada mulher na gestaccedilatildeo parto e puerpeacuterio eacute respeitado

levando em consideraccedilatildeo sua individualidade suas crenccedilas e sua cultura

A cultura eacute um todo complexo que inclui o conhecimento as crenccedilas a arte a moral a

lei os costumes e todos os outros haacutebitos e aptidotildees adquiridos pelo homem como membro da

sociedade e se faz dinacircmica pela recepccedilatildeo das influecircncias externas resultantes do contato de

um sistema cultural com outro transformaccedilatildeo que pode ser raacutepida e brusca (LARAIA 2003)

No fragmento da fala da entrevistada M6 pocircde-se identificar sua curiosidade pelo

periacuteodo graviacutedico e parto e o parto domiciacutelio e na banheira forma de nascimento que volta a

fazer parte dos centros urbanos na atualidade A influecircncia das mateacuterias veiculadas em uma

revista sobre as representaccedilotildees culturais sobre parto mostrou que a revista pode ser um meio

de divulgaccedilatildeo informal que deveria ser mais bem aproveitado para informar as mulheres sobre

seus direitos e as maneiras de reivindicaacute-los (ROSS BONILHA et al 2006)

Um estudo feito por Medeiros (2008) retrata que as mulheres que optam por um tipo

de parto fora do hospital relacionam sua escolha agraves experiecircncias vivenciadas desde o seu

proacuteprio nascimento ateacute o momento do parto de seus filhos Quando as mulheres preparam-se

para parir seguindo princiacutepios diferentes dos que a medicina define e trata a linguagem que

utilizam eacute de integridade com todas as suas partes inter-relacionadas por um sentimento de

realizaccedilatildeo de algo que seriam capazes de fazer podendo-se inferir que a experiecircncia do parto

confirma ou natildeo na mulher a sua capacidade de colocar uma crianccedila no mundo (MARTIN

2006)

As mulheres citam somente a figura meacutedica na consulta de preacute-natal e comentam

sobre a postura do profissional de sauacutede que realizou este acompanhamento Em geral natildeo

receberam nenhuma informaccedilatildeo sobre parto

O obstetra no preacute-natal natildeo falava nada sobre parto soacute media a barriga via como estava o

coraccedilatildeo do bebecirc e deu Isso que o primeiro foi particular e os outros tambeacutem foram assim (M1)

Quando eu comecei no preacute-natal eu comecei com meacutedico particular ele natildeo falou nada sobre

parto e me pediu todos aqueles exames (M3)

O meacutedico natildeo era muito de conversar soacute os exames ultrasonografia Natildeo falou sobre outras

formas de parto (M4)

A uacutenica coisa que o meacutedico falou eacute ldquotu taacute preparadardquo ldquotem certeza jaacute ta aqui neacute Agora eacute

soacute seguir adianterdquo mas natildeo me falaram sobre parto Fiz todos os exames quatro ultrassonografias

(M7)

53

Fiz todo o preacute-natal e o meacutedico natildeo me falou nada sobre parto (M5)

Nesses depoimentos detectou-se a ausecircncia de diaacutelogo e de orientaccedilatildeo sobre o parto

O acompanhamento preacute-natal das entrevistadas apontou para o enfoque bioloacutegico e tecnicista

na assistecircncia prestada limitando-se agrave avaliaccedilatildeo de batimentos cardiacuteacos fetais altura uterina

e solicitaccedilatildeo de exames e avaliaccedilatildeo

Tal atenccedilatildeo fragmenta o cuidado e o sujeito deste cuidado pois segundo Martin

(2006) desta forma as mulheres natildeo satildeo apenas fragmentadas em partes do corpo como

tambeacutem satildeo alienadas da proacutepria ciecircncia pelas praacuteticas da medicina cientiacutefica As praacuteticas

obsteacutetricas corroboram com esta alienaccedilatildeo internalizando valores culturais que transmitem

agraves gestantes a ideacuteia de que natildeo haacute necessidade de informaccedilotildees sobre os processos fisioloacutegicos

do parto (FLOYD 2009)

Como a medicina obsteacutetrica contemporacircnea estaacute determinada por pressupostos

filosoacuteficos essencialmente masculinos o parto normal que tem em seu acircmago fenocircmenos

femininos tais como a afetividade espiritualidade e as emoccedilotildees natildeo eacute compreendido pelos

profissionais que controlam o nascimento (JONES 2004)

Apesar do avanccedilo na luta por igualdade de direitos para as mulheres a

sobrevalorizaccedilatildeo do patriarcado nos hospitais eacute perpetuada por meacutedicos em sua maioria

homens que tecircm autoridade para reforccedilar rituais de parto (FLOYD 2009)

No entanto os profissionais de sauacutede que se inserem no cenaacuterio das poliacuteticas puacuteblicas

de sauacutede da mulher deveriam atualmente ter como prerrogativa a instrumentalizaccedilatildeo das

mulheres para que sejam efetivamente sujeitos de direito na sociedade sendo tambeacutem

protagonistas de suas proacuteprias vidas e de seu parto tomando suas escolhas de modo

informado conforme preconiza a Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agrave Sauacutede da Mulher -

PNAISM (BRASIL 2004)

A ausecircncia de informaccedilotildees sobre parto foi constatada na fala das entrevistadas o que

nos faz refletir sobre a atitude desses profissionais com as gestantes e relacionar esse quadro

com os altos iacutendices de cesaacuterea da atualidade entendendo que a ausecircncia de diaacutelogo e

informaccedilatildeo no preacute-natal incapacita a mulher agrave autonomia Em um estudo de revisatildeo

sistemaacutetica que avaliou as informaccedilotildees que as gestantes recebiam sobre a cesariana para

solicitaacute-la natildeo foi possiacutevel detectar os motivos que as levam a solicitar uma cesariana

(GAMBLE et al 2007)

A desinformaccedilatildeo sobre as etapas da parturiccedilatildeo foi apontada por Pereira (2011) como

fator cultural que conduz a uma etapa teacutecnica terceirizada definida quando o meacutedico assume

54

o comando e o conduz a partir de sua formaccedilatildeo teacutecnica especializada Para a autora as

mulheres consideram dessa forma um sofrimento desnecessaacuterio passar pelo trabalho de

parto porque desconhecem sua importacircncia para o organismo e para o bebecirc

Deve-se levar em conta a forma a interaccedilatildeo do cuidado entre as mulheres os

profissionais e principalmente o contexto desse cuidado que revela um desequiliacutebrio de poder

que favorece os meacutedicos (GAMBLE et al 2007)

Conforme Martin (2006) pode acontecer tambeacutem de as mulheres natildeo estarem

preocupadas com a falta de informaccedilatildeo uma vez que elas satildeo direcionadas por pressupostos

culturais da superioridade meacutedica Tais pressupostos estatildeo tatildeo arraigados em sua experiecircncia

habitual nos serviccedilos de sauacutede que as impede de perceber as contradiccedilotildees em sua proacutepria

atenccedilatildeo agrave sauacutede

Por outro lado em outra pesquisa com gestantes constatou-se a necessidade de uma

grande demanda por informaccedilotildees escuta cliacutenica e tambeacutem a utilizaccedilatildeo de materiais

educativos mais esclarecedores (HOTIMSKY et al 2002)

Essa demanda por informaccedilotildees vem sendo suprida por outros profissionais de sauacutede

segundo as entrevistadas deste estudo

A enfermeira do posto me ajudou bastante eu tomava sulfato ferroso e ia pegar com ela Me

orientou sobre as vacinas eu lembro que um pouco antes de ficar graacutevida eu tinha tomado vacina da

rubeacuteola Entatildeo assim ela me acompanhou bastante tambeacutem eu sempre conversava com ela sobre o

parto os exerciacutecios que era bom fazer Laacute na Casa de Sauacutede tambeacutem a enfermagem me ajudou

bastante tava o tempo todo junto me dizendo que ldquotinha que caminhar para tua dilataccedilatildeo aumentarrdquo

me explicavam onde o nenecirc bdquotava‟(M3)

O fisioterapeuta o dentista A fisioterapia influenciou para o parto vaginal o dentista era

homem entatildeo relatou a experiecircncia da esposa dele que tinha sido parto cesaacutereo (M6)

Eu fiz todo o planejamento com a enfermeira Ensinaram como seria para nascer e logo

depois o que eu teria que fazer que eacute amamentar o nenecirc cuidados com o nenecirc cuidados comigo

tambeacutem preventivo remeacutedio piacutelula amamentaccedilatildeo Ensinaram no posto que eu frequento (M8)

A participaccedilatildeo dos profissionais da enfermagem e da fisioterapia foi constatada em

atividades de educaccedilatildeo em sauacutede e no atendimento ao trabalho de parto

Um estudo feito por Gaiva (2003) que destaca o nascimento como um evento

pertencente agrave equipe de sauacutede destaca como necessaacuterio o engajamento dessas equipes para a

humanizaccedilatildeo do parto e do nascimento com enfoque na mulher na crianccedila e na famiacutelia

A realizaccedilatildeo de um trabalho multiprofissional e interdisciplinar durante o processo de

gestaccedilatildeo parto e nascimento incide na aprendizagem de compartilhamento de saberes e

55

praacuteticas promovendo um cuidado de qualidade para os atores envolvidos nesse processo

(CHRISTOFFEL 2003)

A Lei ndeg 749886 que dispotildee sobre a regulamentaccedilatildeo do exerciacutecio da enfermagem

referenda que o enfermeiro generalista tambeacutem estaacute habilitado a assistir agrave gestante parturiente

e pueacuterpera acompanhando a evoluccedilatildeo e do trabalho de parto e a execuccedilatildeo do parto sem

distoacutecia

Pelloso (2000) concluiu que as taxas de cesaacuterea reduziriam com a capacitaccedilatildeo dos

profissionais para o parto com a introduccedilatildeo da enfermeira obsteacutetrica no preacute-natal e na

realizaccedilatildeo do parto bem como com a inclusatildeo de accedilotildees de orientaccedilatildeo e informaccedilatildeo sobre os

riscos e os benefiacutecios do parto normal e da cesaacuterea agraves mulheres em atividades de grupo e

cursos de gestantes Embora o nuacutemero de enfermeiras obstetras atuando no Brasil ainda seja

muito baixo estima-se que o nuacutemero de partos assistidos por elas eacute bem superior agravequele

registrado no SUS (BRASIL 2001)

Essa assistecircncia tambeacutem eacute referendada pela portaria do MSGM nordm 2815 de 29 de

maio de 1998 em que se inclui na tabela do sistema de informaccedilotildees hospitalares do SUS o

procedimento ldquoparto normal sem distoacutecia realizado por enfermeira obstetrardquo (BRASIL 1998

p23)

A enfermeira obstetra na busca pelo cuidado integral e valorizando a mulher como

protagonista do processo de nascimento vem conquistando tambeacutem um espaccedilo no

atendimento a partos domiciliares aleacutem de seu papel nas instituiccedilotildees hospitalares (PETER

2005)

Questionamento e resistecircncia ao modelo biomeacutedico

Nessa categoria mostram-se os relatos de questionamento e resistecircncia ao

atendimento obsteacutetrico por parte de algumas mulheres revelando que estas natildeo tecircm

autonomia tanto na decisatildeo sobre o tipo de parto quanto na escolha por quem querem que lhes

acompanhe em seu parto

As participantes questionam as situaccedilotildees impostas pelos profissionais que representam

o modelo biomeacutedico Uma entrevistada que queria o parto normal apresentou-se encorajada a

protestar contra este modelo trocando de meacutedico quando natildeo teve a sua opiniatildeo respeitada

conforme na fala

56

() Outro fato que me deixou frustrada foi quando eu iniciei o preacute-natal eu disse que queria

parto normal o meacutedico ficou bravo e foi bem mal educado e perguntou o que eu estava fazendo laacute

entatildeo Fui embora natildeo fiz mais preacute- natal com ele fui para o SUS Eu me senti invadida (M3)

Outra entrevistada questiona a falta do acompanhante de sua preferecircncia no parto Eu

gostaria que o meu marido bdquotivesse‟ junto (M1) Em um estudo realizado por Prado Junior

(2008) constatou-se que a presenccedila de familiares no processo de nascimento eacute visto por 100

das entrevistadas como primordial Para Balaskas (2008) o sentimento relatado por homens

que jaacute acompanharam suas mulheres em trabalho de parto eacute o de plenitude em nenhum

momento o instinto de fecircmea fala tatildeo alto eacute o renascimento de uma nova mulher

Suas falas chamam a atenccedilatildeo tambeacutem para a importacircncia de a mulher poder exercer

mais liberdade e participaccedilatildeo ativa com a possibilidade de escolher se quer tomar banho ou

natildeo se quer ficar na aacutegua sentar na bola Tambeacutem eacute questionado por elas o uso da ocitocina e

a falta de respeito a sua privacidade pelo fato de estarem presentes pessoas assistindo ao seu

parto sem preacutevio pedido de autorizaccedilatildeo o que denota desrespeito a sua autonomia no

processo

Eu gostaria de ser mais orientada Entatildeo quanto mais natural pudesse ser para mim melhor

escolher se quer tomar banho ou natildeo se quer ficar na aacutegua sentar na bola Sou contra a ocitocina E

me colocaram o soro com ocitocina e eu disse ldquomas para quecirc colocar se eu jaacute to quase ganhando Soacute

para me dar uma dor mais forte e realmente deurdquo(M1) Tinha uns 7 ou 8 alunos que estavam laacute e que queriam assistir um parto pessoas que eu

nunca tinha visto olhando o meu parto Eu acho que tudo foi muito forccedilado Os alunos assistiram ao

meu parto ningueacutem me perguntou se eu queria que assistisse (M3)

A mulher em trabalho de parto precisa de privacidade para se sentir mais segura

Poreacutem em muitos locais de atendimento puacuteblico isso natildeo eacute devidamente cuidado sendo

negligenciada a cultura do sujeito que envolve seus valores percepccedilotildees necessidades e

medos (ODENT 2003)

A postura do profissional em natildeo aceitar a opiniatildeo das usuaacuterias eacute denominada por

antropoacutelogos como ldquopensamento etnocecircntricordquo ou ldquosistema fechado de cogniccedilatildeordquo O

etnocentrismo eacute um sistema acentuado por rituais que os representam e os sustentam

(FLOYD 2009) Sabem os etnocentristas da existecircncia de outro saber e crenccedilas mas estatildeo

absolutamente seguros de que seu modo de pensar eacute melhor e por isso ignoram ideacuteias

contraacuterias agraves deles e consideram esses diferentes modos de pensar uma ameaccedila A

entrevistada destaca esta postura

Acho que os meacutedicos satildeo muito apressados Deveriam deixar mais a natureza agir por conta

o bebecirc se encaixar no lugar certo deixar a matildee de forma mais natural possiacutevel (M1)

57

Um princiacutepio baacutesico do modelo de atendimento tecnocraacutetico que vem ao encontro da

forma de pensar e agir do pensamento etnocecircntrico eacute a autoridade e responsabilidade do

profissional e das instituiccedilotildees de sauacutede sobre a pessoa Nesse contexto eacute mais confortaacutevel

para a usuaacuteria abdicar de sua preferecircncia pessoal em favor da opiniatildeo meacutedica (FLOYD

2004)

Esse fato foi constatado nas entrevistas que apontavam para a resistecircncia ao modelo

biomeacutedico poreacutem atraveacutes de uma percepccedilatildeo passiva da realidade como a sensaccedilatildeo meio

vaga de que alguma coisa estaacute errada e cuja mudanccedila natildeo estaacute ao seu alcance ou natildeo depende

apenas de sua vontade e accedilatildeo A mulher parece natildeo estar ciente da fragmentaccedilatildeo subliminar

da atenccedilatildeo ao parto hospitalar como se o ldquoeurdquo e o ldquoseu corpordquo fossem separados e que

nascimento fosse parte de uma produccedilatildeo A taacutetica mais eficiente descrita por Martin quando

utiliza a analogia entre operaacuterios e mulheres dando agrave luz eacute a mulher tornar-se patratildeo de si

mesmo isto eacute dando agrave luz em seu domicilio onde elas satildeo donas da faacutebrica e podem ter total

controle sobre o processo de produccedilatildeo e sobre seu corpo (MARTIN 2006)

Percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea

Buscaram-se juntamente agraves mulheres do estudo indicaccedilotildees e motivaccedilotildees de acordo

com seu entendimento para a realizaccedilatildeo de cesariana A seguir eacute apresentada a ausecircncia de

dilataccedilatildeo a presenccedila ou natildeo de contraccedilotildees e as cesaacutereas eletivas como indicativos para a

ocorrecircncia do procedimento ciruacutergico

Eu induzi porque natildeo tinha dilataccedilatildeo eu soacute tinha contraccedilatildeo Eu natildeo tinha nenhum outro

problema () fiquei frustrada Eu queria parto normal soacute natildeo tive porque meu parto foi induzido

(M2)

Porque natildeo tinha dor natildeo tinha dilataccedilatildeo e tava muito em cima (M5)

Se tivesse entrado em trabalho de parto tudo bem daiacute ia ficar pro parto como natildeo tinha foi

para cesaacuterea (M6)

Fizeram uma junta meacutedica laacute no hospital e os meacutedicos falaram com a minha matildee pois eu era

bdquode menor‟ ela autorizou para fazer uma cesaacuterea antecipada porque eu jaacute bdquotava‟ em trabalho de

parto soacute que eu natildeo tinha dilataccedilatildeo () (M8)

Um dos motivos alegados pela entrevistada M6 foi ter sido submetida a uma cesaacuterea

eletiva por natildeo ter entrado em trabalho de parto tendo tambeacutem a falta de informaccedilatildeo apontada

sobre outras formas de nascimento

58

O descontentamento por natildeo ter vivenciado o parto normal foi narrado com frustraccedilatildeo

pela entrevistada M2 A induccedilatildeo do parto e a presenccedila de contraccedilotildees apontadas por ela como

fatores indicativos para realizaccedilatildeo de cesaacuterea estatildeo associadas ao aumento da taxa de

nascimento preacute-termo e de baixo peso

Na maioria das sociedades atuais o meio cultural propagado pelos profissionais

meacutedicos interfere nos processos fisioloacutegicos do nascimento O motivo para o aumento dos

iacutendices de cesaacutereas eacute verdadeiramente devido a uma falha universal e quase cultural no

entendimento das necessidades baacutesicas das mulheres (ODENT 2004)

Nessa direccedilatildeo as consequecircncias de risco aumentam tanto para a parturiente quanto

para o feto A taxa de internaccedilatildeo em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em um estudo feito

na Austraacutelia com gestantes de baixo risco demonstra que as chances de internaccedilatildeo em

mulheres que fizeram cesaacuterea eletiva sem entrar em trabalho de parto aumentam em 154

em gestaccedilotildees de 37 semanas 121 em gestaccedilotildees de 38 semanas e 51 para as mulheres

com 39 semanas gestacionais (TRACY et al 2007)

Os prejuiacutezos aos receacutem nascidos prematuros natildeo se apresentam somente no momento

do nascimento satildeo mais duradouros acompanham-nos na vida futura provocando problemas

de sauacutede e colocando-os em desvantagem em relaccedilatildeo aos que nasceram de parto vaginal

(TOMASHEK et al 2007 SWANY et al 2008)

Ao final da gestaccedilatildeo a mulher pode apresentar algumas vezes contraccedilotildees

permanecendo entretanto descoordenadas sem a dilataccedilatildeo da ceacutervice uterina o que se

denomina ldquofalso trabalho de partordquo Essa situaccedilatildeo pode levar o profissional de sauacutede a realizar

uma admissatildeo precoce da gestante na maternidade e com isso realizar intervenccedilotildees

desnecessaacuterias como por exemplo uma induccedilatildeo do parto sem indicaccedilatildeo ou uma cesariana

(BRASIL 2001)

Os partos induzidos e outros fatores como monitoramento fetal contiacutenuo e uso

frequente de anestesias peridurais satildeo aspectos da industrializaccedilatildeo do parto que tem como

consequumlecircncia a falta de entendimento da sua fisiologia (ODENT 2004)

Em um estudo na Escoacutecia constatou-se que 20 das pueacuterperas que se submeteram agrave

cesariana natildeo receberam orientaccedilatildeo sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea e 16 tinham

somente uma ideacuteia parcial da indicaccedilatildeo A forma e o momento inadequado de informar sobre

a indicaccedilatildeo da cirurgia podem acentuar a dificuldade de as mulheres entenderem e

compreenderem essas informaccedilotildees (HILLAN 1992) como se pocircde perceber na fala das

entrevistadas

59

E da segunda gravidez daiacute foi direto o agendamento da cesaacuterea mas eu natildeo tive outras

informaccedilotildees de outras formas de nascer ou em domiciacutelio ou em banheira Natildeo nada disso (M6)

() aiacute eles anteciparam a cesaacuterea Depois eu descobri que foi porque o meu marido faleceu

(M8)

Outra pesquisa mostra que a justificativa dada por 61 mulheres para a realizaccedilatildeo da

cesariana foi discordante da indicaccedilatildeo meacutedica em 475 dos casos Tenciona-se o fato de que

ignorar a indicaccedilatildeo de cesaacuterea pela mulher pode dificultar a conduccedilatildeo para um parto normal

posterior e as complicaccedilotildees advindas (OLIVEIRA et al 2002)

Uma das maiores preocupaccedilotildees associadas agrave cesariana aleacutem dos vaacuterios problemas

inerentes a um procedimento ciruacutergico eacute o seu impacto e risco na sauacutede reprodutiva futura da

mulher como predisposiccedilatildeo a inserccedilatildeo anormal da placenta em futuras gestaccedilotildees (LEE

DALTON 2008)

O maior risco de ruptura uterina hemorragia poacutes-parto e remoccedilatildeo manual de placenta

tambeacutem eacute relacionado a mulheres que jaacute se submeteram a uma cesariana preacutevia (TAYLOR et

al 2005)

Segundo o relato das entrevistadas natildeo foram apresentadas indicaccedilotildees para a cesaacuterea

condizentes ao que as evidecircncias cientiacuteficas preconizam na literatura da aacuterea Outro fato

apontado atraveacutes na fala das entrevistadas foi o agendamento preacutevio da cirurgia no preacute-natal

ldquoA cirurgia estava agendada jaacute no preacute-natalrdquo (M4) ldquoEstava agendada a cesaacuterea no preacute-natalrdquo

(M6)

Os inuacutemeros efeitos prejudiciais tanto para a mulher quanto para o fetoneonato da

cesaacuterea sem indicaccedilotildees satildeo comprovados pelo conhecimento cientiacutefico atual A siacutendrome da

anguacutestia respiratoacuteria do receacutem-nascido desponta com uma das principais causas de morbi-

mortalidade perinatal (MADAR 1999)

As pacientes submetidas a cesarianas agendadas sem indicaccedilotildees apresentam

morbidade e mortalidade maior quando comparadas a pacientes que realizaram o parto normal

(HALL 1999 LILFORD et al 1990)

A respeito do motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea um estudo constatou que a maioria das

mulheres demonstra certa passividade frente ao meacutedico na decisatildeo pelo parto ciruacutergico

(FIGUEIREDO N et al 2010)

Essa conduta relaciona-se com os elevados iacutendices de cesaacutereas desnecessaacuterias no

Brasil Buscando reverter esse quadro a Associaccedilatildeo Meacutedica Brasileira (AMB) e o Conselho

Federal de Medicina (CFM) em iniciativa conjunta elaboraram um protocolo sobre o tema

indicaccedilotildees de cesaacutereas intitulado Projeto Diretrizes (PD) Satildeo objetivos desse trabalho

60

conciliar informaccedilotildees sobre o tema no sentido de estimular a praacutetica da medicina baseada em

evidecircncias analisar individualmente as indicaccedilotildees de cesariana com base nas evidecircncias

cientiacuteficas da literatura promover uma diminuiccedilatildeo das taxas de cesariana (PROJETO

DIRETRIZES 2002)

Os desvios eacuteticos decorrentes dessa conduta natildeo levam em consideraccedilatildeo a sauacutede das

mulheres Haacute a necessidade constante de atualizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais meacutedicos

e demais consequumlecircncias possiacuteveis dessa atitude (HADDAD et al 2011)

Nesse contexto destaca-se um estudo realizado com docentes do Departamento

Materno- Infantil do Hospital Universitaacuterio de Satildeo Joseacute do Rio Preto que constatou a

valorizaccedilatildeo da cesaacuterea em detrimento ao parto vaginal concorrendo para a disseminaccedilatildeo da

cultura subjacente agrave desmobilizaccedilatildeo dos alunos e profissionais meacutedicos para a realizaccedilatildeo do

parto normal (MORAES GOLDENGERG 2001)

61

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao tentar traduzir sob a forma de pesquisa a compreensatildeo de como a cultura influencia

no processo de parturiccedilatildeo da mulher finalizo este estudo com o vislumbre de que o objeto

escolhido foi pleno de possibilidades para entender e sobretudo para ampliar as propostas e a

pesquisa nessa aacuterea de estudos Encerro este trabalho com a certeza de que foi uma etapa

necessaacuteria em minha vida profissional e muito importante para o meu crescimento pessoal e

acadecircmico

Como mencionado anteriormente a inquietaccedilatildeo frente agrave fragilidade das parturientes ao

se submeterem sem questionamentos a todos procedimentos e intervenccedilotildees da equipe

obsteacutetrica apresentou-se como uma das justificativas da realizaccedilatildeo deste trabalho atraveacutes da

questatildeo norteadora ldquoqual a participaccedilatildeo da cultura nos saberes e as praacuteticas das mulheres em

relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeordquo

Esse estudo abriu espaccedilo para que mulheres falassem de um periacuteodo em suas vidas

extremamente iacutentimo e especial permitindo-lhes ampliar a visatildeo acerca dos determinantes

socioculturais envolvidos nesse momento O estudo foi realizado fora do periacuteodo graviacutedico

puerperal justamente para tentar captar delas o que realmente ficou de significativo dessa

fase sem interferecircncia ou expectativas de quem estaacute passando pelo turbilhatildeo de emoccedilotildees que

acompanham o processo da parturiccedilatildeo

O desenvolvimento desta pesquisa possibilitou perceber que o parto enquanto um dos

momentos da vida da mulher de grande importacircncia nem sempre eacute compreendido e entendido

dessa maneira por elas

Da mesma forma observou-se que a vivecircncia das mulheres em seu processo de

parturiccedilatildeo eacute percebida de modo diferente por cada uma algumas vezes de forma positiva e

outras de forma negativa A forma da mulher vivenciar esse processo depende de fatores

individuais e principalmente de representaccedilotildees culturais da realidade social a que ela

pertence

A abordagem negativa do estudo referida por algumas mulheres manifestou o

desconhecimento sobre a fisiologia do parto estando intrinsecamente relacionado ao modelo

fragmentado em partes do corpo perpetuado pelas praacuteticas da medicina cientiacutefica dominantes

na sociedade

62

As mulheres natildeo estatildeo conscientes dessas circunstacircncias e reproduzem essa forma de

fragmentaccedilatildeo de que o uacutetero eacute um muacutesculo involuntaacuterio e de que o parto eacute um processo ao

qual tecircm de se submeter causando uma sensaccedilatildeo muito marcante de fragmentaccedilatildeo e

objetificaccedilatildeo nas mulheres que sofreram uma cesaacuterea conforme constatado no estudo

Por outro lado a abordagem positiva apontada por elas dignifica a responsabilidade

por uma nova vida e a emoccedilatildeo do nascimento entendendo-o como uma oportunidade de

crescimento psicoloacutegico e de resgate espirituais

Na percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado haacute divergecircncias de opiniatildeo em

relaccedilatildeo ao tipo de parto vivenciado por cada uma As mulheres que desejaram e vivenciaram

o parto normal relatam o evento como parte de uma jornada interior e exterior que envolve

sentimentos iacutentimos uma experiecircncia fiacutesica profunda e intensa de algo que elas satildeo capazes

de realizar compreendendo que o significado de ser matildee eacute ter a capacidade de passar pela

experiecircncia do trabalho de parto e do parto natural

Em contrapartida o significado da vivecircncia das mulheres que natildeo desejaram ou

realizaram a cesaacuterea assemelha-se ao processo de produccedilatildeo industrializada em nossa

sociedade em que as atividades satildeo realizadas e determinadas inteiramente pela figura do

meacutedico e dos hospitais e natildeo por elas Percebeu-se que o papel principal do parto que seria

da parturiente foi assumido por essas figuras que estatildeo no controle pois as mulheres natildeo se

sentiam prontas ou capazes de tomaacute-lo para si

Identificou-se que a via de parto desejada pela maioria das entrevistadas foi o parto

normal mas as que natildeo conseguiram realizar esse desejo foi devido agrave influecircncia e agraves

intervenccedilotildees recebidas do meacutedico Os argumentos que influenciaram o desestiacutemulo da

realizaccedilatildeo do parto normal foram a necessidade de realizaccedilatildeo de laqueadura tubaacuteria e a falta

de informaccedilatildeo sobre meacutetodos natildeo farmacoloacutegicos e farmacoloacutegicos para o aliacutevio da dor

Cabe ressaltar que as mulheres que desejaram o parto normal e conseguiram parir por

esta via sentiram seguranccedila e confianccedila na experiecircncia do trabalho de parto natildeo sendo

identificando nenhum sinal perceptiacutevel em suas palavras relacionado agrave incapacidade de fazecirc-

lo podendo assim vivenciaacute-lo ativamente Outros aspectos importantes a serem ressaltados

foram a rapidez da recuperaccedilatildeo e a volta agraves atividades diaacuterias o desejo de serem acolhidas

pelos profissionais nas suas demandas e o direito agrave informaccedilatildeo clara e eacutetica

Sobre o poder de decisatildeo do meacutedico quanto ao tipo de parto constataram-se

divergecircncias de opiniatildeo As entrevistadas afirmaram que o meacutedico tem o poder de decisatildeo

sobre a escolha do tipo de parto poreacutem algumas natildeo estatildeo de acordo com esta conduta

63

defendendo que a decisatildeo deveria levar em conta a opiniatildeo da mulher uma vez que eacute ela que

estaacute sentindo e passando pelo processo

Conforme expressam as entrevistadas elas aceitaram essa atitude por parte dos

profissionais mas sentiram que algo em relaccedilatildeo a isso poderia ter sido mudado Elas

incentivam a mudanccedila das atitudes que colocam a mulher em posiccedilatildeo desprivilegiada no

parto

Outro aspecto destacado no estudo foi como se daacute a construccedilatildeo cultural do processo

parturitivo das mulheres Pocircde-se constatar que o significado positivo evidenciado pelas

mulheres do conviacutevio das entrevistadas principalmente pela figura materna proporcionou um

parto enriquecedor agraves entrevistadas e exerceu influecircncia na preferecircncia por parto normal

Outras no entanto descrevem que se atribuiu significado negativo pelas mulheres do

conviacutevio o que provocou medo ansiedade e inseguranccedila agraves entrevistadas durante a

experiecircncia do seu parto

Assim confirma-se que o parto natildeo pode ser entendido e reduzido somente ao aspecto

bioloacutegico pois a partir da transmissatildeo de conhecimentos interrelacionais constatados nesta

pesquisa pode-se compreender que a cultura influencia no processo de parturiccedilatildeo das

mulheres E haacute que se considerar essa influecircncia quando se presta cuidado agraves parturientes

O conteuacutedo de revistas da internet dos meios de comunicaccedilatildeo em geral aleacutem das

informaccedilotildees repassadas por vizinhos constituem outro fator de notaacutevel influecircncia nesse

construto imaginaacuterio As experiecircncias relatadas denotam que essas formas de construccedilotildees

culturais servem para expansatildeo do conhecimento sobre o assunto Isso deixa claro que as

mulheres muitas vezes estatildeo conscientes de sua falta de autonomia e buscam visotildees

alternativas sobre como o seu parto poderia acontecer

As visotildees alternativas citadas por elas foram o nascimento em casa de parto e no

domiciacutelio formas de assistecircncia consideradas na atualidade como humanizadas por ativistas

do parto normal de todo o mundo e pelas organizaccedilotildees governamentais e natildeo governamentais

que trabalham em prol da humanizaccedilatildeo do parto e nascimento tendo como objetivo devolver

agrave mulher o protagonismo na sua gestaccedilatildeo parto e poacutes-parto

No relato das mulheres eacute citada somente a figura meacutedica na consulta de preacute-natal e

elas falam que esse profissional natildeo forneceu efetivamente nenhuma informaccedilatildeo sobre parto

Tal postura silenciosa por parte desse profissional pode estar influenciando a faacutecil aceitaccedilatildeo

de uma cesaacuterea desnecessaacuteria fato esse comprovado pelo tipo de parto de maior incidecircncia

das mulheres deste estudo

64

As atividades desenvolvidas durante as consultas de preacute-natal foram accedilotildees de cunho

puramente bioloacutegico tecnicista e fragmentado como constatado na forma reduzida de

assistecircncia prestada que se limita agrave solicitaccedilatildeo de exames e agrave avaliaccedilatildeo obsteacutetrica de

batimentos cardiacuteacos fetais e altura uterina

As mulheres citam o atendimento da enfermeira na vivecircncia do parto bem como na

gestaccedilatildeo o que deflagra sua importacircncia nesse processo pois tal profissatildeo se constitui como

uma das maiores estrateacutegias que visa melhorar a assistecircncia obsteacutetrica no Brasil e exerce um

papel relevante no que tange agrave humanizaccedilatildeo durante o processo de nascimento Da mesma

forma a fisioterapia tambeacutem foi citada como ponto de incentivo agrave escolha do parto normal

O significado de parto celebrado por algumas mulheres do estudo abrange o

questionamento e a resistecircncia aos pressupostos culturais subjacentes ao modelo biomeacutedico

atual discordando de praacuteticas que vivenciaram no parto consideradas desrespeitosas Ponto

comum em suas falas foi a auto-percepccedilatildeo de resistecircncia agrave passividade imposta pela praacutetica

meacutedica

Foi demonstrado pelas mulheres claro desagrado por algumas praacuteticas que retiram da

mulher a sua autonomia no processo da parturiccedilatildeo tais como coibiccedilatildeo do acompanhante no

trabalho de parto e no parto invasatildeo de privacidade com a entrada de pessoas estranhas para

assistir ao parto sem licenccedila da parturiente e a falta de autonomia na escolha da via de parto

normal

A privaccedilatildeo dessa escolha acarretou a praacutetica de cesaacutereas desnecessaacuterias na maioria

das mulheres deste estudo Um dos principais motivos para a realizaccedilatildeo das cesaacutereas foi

apontado como a falta de dilataccedilatildeo das gestantes simplesmente pelo fato de natildeo estarem em

trabalho de parto quando admitidas na maternidade

Confesso que ao teacutermino deste trabalho muitos pressupostos que faziam parte dos

meus questionamentos foram esmaecidos pois esperava encontrar mulheres alienadas agrave

medicalizaccedilatildeo e agrave patologizaccedilatildeo do processo da parturiccedilatildeo e foi surpreendente o depoimento

de algumas das entrevistadas que demonstraram estar buscando novas formas de

conhecimento e de vivecircncia deste momento tatildeo especial em suas vidas natildeo obstante estarem

inseridas em um modelo tecnicista de assistecircncia

As entrevistadas questionam as praacuteticas como se apresentam atualmente e isso natildeo

significa que refutem os proveitos tecnoloacutegicos quando necessaacuterios mas defendem a

passagem a outro tipo de cultura em que possam exercer mais liberdade e ter participaccedilatildeo

ativa no processo da parturiccedilatildeo

65

Alguns significados atribuiacutedos pelas mulheres quanto agrave preferecircncia pela cesaacuterea e a

percepccedilatildeo de que o parto normal eacute muito mais arriscado explicitam resquiacutecios do discurso

meacutedico dominante Tambeacutem se revelou no estudo que as pacientes natildeo receberam

informaccedilotildees acerca dos riscos advindos deste procedimento ciruacutergico sem indicaccedilotildees

Portanto a ausecircncia de informaccedilatildeo sobre parto que deveria ser repassada pelo meacutedico foi

uma constataccedilatildeo neste estudo

O trabalho configurou-se um exerciacutecio instigante na medida em que o encadeamento

reflexivo da anaacutelise a partir das contribuiccedilotildees teoacutericas advindas dos estudos culturais de

gecircnero e corpo foi apontando que esse profissional de sauacutede produz significado no modo

como o parto eacute vivenciado pelas mulheres

Respondo ao final destas consideraccedilotildees ao questionamento inicial do estudo

constatando que a cultura participa dos saberes e das praacuteticas das mulheres em relaccedilatildeo ao

processo da parturiccedilatildeo Poreacutem algumas mulheres estatildeo buscando reinterpretar esta cultura

por meio de novas formas de vivenciar e de burlar o sistema de sauacutede obsteacutetrico vigente que

oprime tira-lhes o poder e impotildee silecircncio sob a eacutegide da proteccedilatildeo

As mulheres querem ser respeitadas ter direito agrave privacidade em seu parto ser ouvidas

e informadas com transparecircncia e eacutetica ter espaccedilo para expressar suas escolhas e agir

conforme suas necessidades poder gritar escandalizar caso desejem querem ainda ter

assistecircncia de boa qualidade sem julgamentos e livre de praacuteticas rotineiras que as instituiccedilotildees

obsteacutetricas impotildeem sem nenhum benefiacutecio para a matildee e o bebecirc

Se essa eacute a forma para encontrar significado ao desejo das mulheres ela difere e

muito da ldquopessimizaccedilatildeordquo do parto que alguns grupos de profissionais reproduzem em uma

cesaacuterea desnecessaacuteria ou em um parto normal medicalizado para finalizar um comeccedilo de vida

Cabe a noacutes profissionais de sauacutede mulheres homens sairmos dessa zona de conforto

que a sociedade atual nos enquadrou e comeccedilarmos a entender que a mudanccedila de paradigmas

de assistecircncia em todo o processo da parturiccedilatildeo estaacute associada a cidadatildeos e cidadatildes

conscientes e sujeitos da sua proacutepria histoacuteria

A enfermagem tem uma responsabilidade muito grande em todo esse processo e natildeo

pode eximir-se dela pois somos uma categoria profissional juntamente com a medicina que

tem o respaldo na lei do exerciacutecio profissional na assistecircncia agrave parturiente e ao parto normal

Os enfermeiros tecircm a formaccedilatildeo de natildeo intervir no processo da parturiccedilatildeo isto eacute de deixar a

fisiologia agir e eacute isto que temos que buscar a reconstruccedilatildeo dessa cultura sem intervenccedilotildees no

parto normal das mulheres

66

Precisamos fazer valer esse direito legal para que como profissionais do cuidado que

somos possamos proporcionar o cuidado de oferecer como um direito agrave mulher o

protagonismo no seu parto

O reconhecimento da mulher como protagonista do seu parto eacute elemento primordial

para os profissionais poderem compreender os temores as alegrias e os prazeres da gestaccedilatildeo e

do parto e assumirem uma nova postura de atenccedilatildeo Assim encerro destacando que os

muacuteltiplos aspectos que permeiam a vivecircncia das mulheres precisam ser observados quando se

presta assistecircncia durante o processo da parturiccedilatildeo

67

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA N A M A dor do parto normal na perspectiva e vivecircncia de um grupo de

mulheres usuaacuterias do Sistema Uacutenico de Sauacutede Tese de doutorado Programa de Poacutes

Graduaccedilatildeo em Ciecircncias da Sauacutede - Convecircnio Rede Centro Oeste (UNB UFG UFMS)

Goiacircnia 2009

ANS AGEcircNCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR (Brasil) O modelo de atenccedilatildeo

obsteacutetrica no setor de Sauacutede Suplementar no Brasil cenaacuterios e perspectivas Agecircncia

Nacional de Sauacutede Suplementar ndash Rio de Janeiro ANS 2008a Disponiacutevel em

lthttpwwwansgovbrportaluploadnoticiasclippinglivro_parto_webpdfgt Acesso em 11

ago 2011

ANS Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar (Brasil) Rol de Procedimentos e Eventos em

Sauacutede RN 16708 Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar - Rio de Janeiro ANS 2008b

ANS AGEcircNCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR (Brasil) Atualiza o Rol de

Procedimentos e Eventos em Sauacutede previstos na RN nordm 211 de 11 de janeiro de 2010

Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar ndash Rio de Janeiro ANS 2011 Disponiacutevel em

lthttpwwwansgovbrimagesstoriesnoticiaspdfrn20262pdfgt Acesso em 30 nov

2011

BALASKAS J Parto Ativo guia praacutetico para o parto natural Traduccedilatildeo Adailton Salvatore

Meira 2 ed Satildeo Paulo Ground 2008

BARAK E M ALAN R H e NILS J B Should Neonates Sleep Alone Society of

Biological Psychiatry Revista Biological Psychiatry 2011

BARROS et al The challenge of reducing neonatal mortality in middle-income countries

findings from three Brazilian birth cohorts in 1982 1993 and 2004 Lancet v365 n9462

Mar 5-11 p847-54 2005

BARDIN L Anaacutelise de conteuacutedo 7 ed Portugal Ediccedilotildees 1977

BERGER P LUCKMANN T A Construccedilatildeo Social da Realidade Traduccedilatildeo de Floriano

de Souza Fernandes 3 ed Petroacutepolis Vozes 1976

68

BEZERRA M G A CARDOSO M V L M Fatores interferentes no comportamento de

parturientes enfoque na Etnoenfermagem Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v

58 n6 p698-702 novdez 2005

BEZERRA M G A CARDOSO M V L M Fatores culturais que interferem nas

experiecircncias das mulheres durante o trabalho de parto e parto Revista Latino-americana

Enfermagem maiojun 14(3)414-21 2006

BUSANELLO J COSTA K P PINHO E Humanizaccedilatildeo do Parto e do Nascimento os

desafios para a implementaccedilatildeo do programa do Ministeacuterio da Sauacutede CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 61 7 a 10 dez Fortaleza Cearaacute 2009

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Programa de Assistecircncia Integral agrave Sauacutede da Mulher bases

de accedilatildeo programaacutetica Brasiacutelia DF 1984

_____ Lei nordm 749886 Dispotildee sobre a regulamentaccedilatildeo do exerciacutecio da Enfermagem e daacute

outras providecircncias Disponiacutevel em

lthttpwwwabennacionalorgbrdownloadLeiPROFISSIONALpdf gt Acesso em 29 nov

2011

_____ Decreto n 9440687 Regulamenta a Lei nordm 7498 de 25 de junho de 1986 Dispotildee

sobre o exerciacutecio da enfermagem e da outras providecircncias Disponiacutevel em

lthttpportalcofengovbrsitenovonode4173gt Acesso em 29 nov 2011

_____ Presidecircncia da Repuacuteblica Lei nordm 11108 Altera a Lei no 8080 de 19 de setembro de

1990 para garantir agraves parturientes o direito agrave presenccedila de acompanhante durante o trabalho de

parto parto e poacutes-parto imediato no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS 2005b

Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-

20062005LeiL11108htmlgt Acesso em 25 nov 2011

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Resoluccedilatildeo nordm 196 sobre pesquisas envolvendo seres

humanos Brasiacutelia DF 1996

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 2815 de 29 de maio de 1998 - Institui o

procedimento do parto normal realizado por enfermeiro obstetra no Sistema Uacutenico de

Sauacutede Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF

seccedilatildeo 1 p47-8 1998b

69

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 2883 de 04 de junho de 1998 - Institui o Precircmio

Nacional Profordf Galba de Arauacutejo Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder

Executivo Brasiacutelia DF seccedilatildeo 1 p 24 de 0506 de 1998a Disponiacutevel em

lthttpdtr2001saudegovbrsasportariasport98GMGM-2883htmlgt Acesso em 29 nov

2011

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria nordm 985 GM Institui as Casas de Parto ou Centro de

Parto Normal no Sistema Uacutenico de Sauacutede Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do

Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 05 ago 1999

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 466 de 14 de junho de 2000 - Estabelecer como

competecircncia dos estados e do Distrito Federal a definiccedilatildeo de limite por hospital de

percentual maacuteximo de cesarianas em relaccedilatildeo ao nuacutemero total de partos realizados e

ainda a definiccedilatildeo de outras estrateacutegias para a obtenccedilatildeo de reduccedilatildeo destes procedimentos

no acircmbito do estado Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil 115-E Poder

Executivo Brasiacutelia DF 2000a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 569 570 571 572 GM Estabelece o Programa de

Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e do Nascimento Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do

Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 01 jun 2000b

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Parto Aborto e Puerpeacuterio Assistecircncia Humanizada agrave

Mulher Ministeacuterio da SauacutedeFEBRASGOABENFO Brasiacutelia DF 2001

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Assistecircncia em Planejamento familiar Manual Teacutecnico-4 ed

Brasiacutelia 2002

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo integral agrave sauacutede da mulher

princiacutepios e diretrizes Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees Programaacuteticas

Estrateacutegicas Brasiacutelia Editora do Ministeacuterio da Sauacutede 2004

_____ Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Conselho Nacional dos Direitos da

Mulher I Plano Nacional de Poliacuteticas Puacuteblicas para as Mulheres Brasiacutelia 2005a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Nuacutecleo Teacutecnico da Poliacutetica

Nacional de Humanizaccedilatildeo Humaniza SUS documento base para gestores e trabalhadores do

SUS Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Nuacutecleo Teacutecnico da Poliacutetica

Nacional de Humanizaccedilatildeo 3 ed Brasiacutelia Editora do Ministeacuterio da Sauacutede 2006a

70

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Preacute-natal e puerpeacuterio atenccedilatildeo qualificada e humanizada

Brasiacutelia DF 2006b

_____ Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Conselho Nacional dos Direitos da

Mulher II Plano Nacional de Poliacuteticas Puacuteblicas para as Mulheres Brasiacutelia 2008a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA) Resoluccedilatildeo

RDC nordm 36 de 03 de junho dispotildeem sobre Regulamento Teacutecnico para Funcionamento dos

Serviccedilos de Atenccedilatildeo Obsteacutetrica e Neonatal - Brasiacutelia - DF 2008b

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Instrutivo dos indicadores para a pactuaccedilatildeo unificada 2008

Brasiacutelia 2008c

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da

Mulher ndash PNDS 2006 dimensotildees do processo reprodutivo e da sauacutede da crianccedila Ministeacuterio

da Sauacutede Centro Brasileiro de Anaacutelise e Planejamento Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2009

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Estatiacutesticas de partos no Brasil Brasiacutelia DF 2010

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Aleacutem da sobrevivecircncia praacuteticas integradas de atenccedilatildeo ao

parto beneacuteficas para a nutriccedilatildeo e a sauacutede de matildees e crianccedilas Ministeacuterio da Sauacutede

Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Aacuterea Teacutecnica de Sauacutede da Crianccedila e Aleitamento Materno ndash

Brasiacutelia DF 2011

BUDOacute M L D et al A cultura permeando os sentimentos e as reaccedilotildees frente agrave dor Revista

da Escola de Enfermagem da USP Satildeo Paulo v41 n1 p 36-43 2007

BUSANELLO J COSTA K P PINHO E Humanizaccedilatildeo do Parto e do Nascimento os

desafios para a implementaccedilatildeo do programa do Ministeacuterio da Sauacutede CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 61 - 7 a 10 dez Fortaleza Cearaacute 2009

CERVO A BREVIAN P A A Metodologia Cientiacutefica Satildeo Paulo Mc Graw-Hill 1983

CHRISTOFFEL M M SANTOS R S Navegando no mar da neonatologia um mergulho

no mundo imaginal do receacutem-nascido da UTIN Rio de Janeiro Ed EEAN 2003

COLLACcedilO V S Parto vertical vivecircncia do casal na dimensatildeo cultural do processo de

parir Florianoacutepolis Cidade Futura 2002

71

DECLERCQ E MENACKER F MACDORMAN M Rise in no indicated risk primary

caesareans in the United States 1991-2001 cross sectional analysis BMJ v330 n7482 Jan

8 p71-2 2005

DIAS M A et al Trajetoacuteria das mulheres na definiccedilatildeo pelo parto cesaacutereo estudo de caso em

duas unidades do sistema de sauacutede suplementar do estado do Rio de Janeiro Ciecircncia e Sauacutede

Coletiva 13(5) 1521-1534 setout 2008

DINIZ C S G Direitos humanos das mulheres na gravidez e no parto Projeto Gecircnero

Violecircncia e Direitos Humanos - Novas Questotildees para o Campo da Sauacutede Coletivo Feminista

Sexualidade e Sauacutede Departamento de Medicina Preventiva Faculdade de Medicina USP 2

ed 2003

_____ Entre a teacutecnica e os direitos humanos possibilidades e limites da humanizaccedilatildeo da

assistecircncia ao parto Tese (Doutorado) Satildeo Paulo (SP) Faculdade de MedicinaUSP 2001

DOU DIAacuteRIO OFICIAL DA UNIAtildeO Seccedilatildeo 1 nordm 147 2 de agosto de 2011 p 34 Agecircncia

Nacional de Sauacutede Suplementar- ANS Resoluccedilatildeo normativa nordm 262 de 1ordm agosto de 2011

Disponiacutevel em

lthttpwwwingovbrimprensavisualizaindexjspjornal=1amppagina=34ampdata=02082011gt

Acesso em 02 ago 2011

ELSEN I SOUZA A I J MARCON SS Enfermagem agrave Famiacutelia dimensotildees e

perspectivas Maringaacute p 257-267 Eduem 2011

FAUacuteNDES A CECATTI J G A operaccedilatildeo cesaacuterea no Brasil Incidecircncia tendecircncias

causas consequecircncias e propostas de accedilatildeo Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro v7

n2 p150-173 jun 1991

FIGUEREDO L G M Consequecircncias causadas pela aplicaccedilatildeo de ocitocina na induccedilatildeo de

partos Superartigos (online) 2010 Disponiacutevel em httpwwwartigosetcbrconsequencias-

causadas-pela-aplicacao-de-ocitocina-na-inducao-de-partoshtml Acesso em 15 nov 2011

FIGUEREDO N S V et al Fatores culturais determinantes da escolha da via de parto por

gestantes HU Revista Juiz de Fora v 36 n 4 p 296-306 outdez 2010

FLOYD D R The technological model of birth J Am Folklore 100 p 479-495 1987

FLOYD D R JOHN St G Del medico al sanador Traduccedilatildeo de Lauren Showe e

colaboradores Buenos Aires Fund Creavida 2004

72

FLOYD D R Perspectivas antropoloacutegicas del parto y el nacimento Traduccedilatildeo de Jaqui

Zieler Magui Cadot e Graciela Cobe Buenos Aires Fund Creavida 2009

FOUCAULT M Microfiacutesica do Poder Traduccedilatildeo de Roberto Machado 10 ed Rio de

Janeiro Graal 1992

FREITAS P F et al Desigualdade social nas taxas de cesariana em primiacuteparas no Rio

Grande do Sul Revista de Sauacutede Puacuteblica 39 p 761-7 2005

GAIVA M A M TAVARES C M O Nascimento um evento pertencente agrave equipe de

sauacutede Texto amp Contexto Enfermagem outdez 12(4)569-75 2003

GAMA A S et al Representaccedilotildees e experiecircncias das mulheres sobre a assistecircncia ao parto

vaginal e cesaacuterea em maternidades puacuteblica e privada Cadernos de Sauacutede Puacuteblica

25(11)2480-2488 nov 2009

GAMBLE et al A critique of the literature on womens request for cesarean section Birth

v34 n4 Dec p331-40 2007

GEERTZ C A Interpretaccedilatildeo das Culturas Rio de Janeiro (RJ) Livros Teacutecnicos e

Cientiacuteficos 1989

GIL A C Como elaborar projetos de pesquisa 4 ed 9 reimpr Satildeo Paulo Atlas 2007

GUALDA DMR BERGAMASCO RB Enfermagem cultura e o processo sauacutede-

doenccedila Satildeo Paulo Iacutecone p221- 240 2004

HADDAD S El M T CECATTI J G Estrateacutegias dirigidas aos profissionais para a

reduccedilatildeo das cesaacutereas desnecessaacuterias no Brasil Revista Brasileira Ginecologia Obstetriacutecia

33(5) 252-62 2011

HALL M H BEWLEY S Maternal mortalityand mode of delivery Lancet 354776

1999

HELMAN G C Cultura Sauacutede e Doenccedila Traduccedilatildeo Ane Rose Bolner 5 ed Porto Alegre

Artes Meacutedicas 2009

73

HILLAN M Short-Term Morbidity Associated with Cesarean Delivery Birth v 19 Issue 4

pages 190ndash194 Dec 1992

HOPKINS K Are Brazilian Women Really Choosing to Delivery by Cesarean Soc Sci

Med 51(5)725-40 2000

HOTIMSKY SN et al O parto como eu vejo ou como eu o desejo Expectativas de

gestantes usuaacuterias do SUS acerca do parto e da assistecircncia obsteacutetrica Cadernos de sauacutede

puacuteblica setout 18(5)1303-1311 2002

IBGE Instituto Brasileiro Geografia e estatiacutesticas Cadernos de Informaccedilatildeo de Sauacutede

Ministeacuterio da Sauacutede 2009

IPEA Objetivos de desenvolvimento do milecircnio relatoacuterio nacional de acompanhamento

coordenaccedilatildeo Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada e Secretaria de Planejamento e

Investimentos Estrateacutegicos supervisatildeo Grupo Teacutecnico para o acompanhamento dos ODM

Brasiacutelia Ipea MP SPI 2007

JONES R Memoacuterias do homem de vidro reminiscecircncias de um obstetra humanista Porto

Alegre Ideacuteias a Granel 2004

PRADO JUNIOR P P Da concepccedilatildeo ao nascimento Praacuteticas Educativas na assistecircncia agrave

mulher no periacuteodo graviacutedico e puerperal Dissertaccedilatildeo de Mestrado Centro Universitaacuterio

Pliacuteneo Leite - Unipli Niteroacutei 2008

KRUNO R B BONILHA A L L Parto domiciliar na voz das mulheres uma perspectiva agrave

luz da humanizaccedilatildeo Rev Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) dez25(3)396-407 2004

LANDERDAHL M C et al Contribuiccedilotildees de um nuacutecleo de estudos na consolidaccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas para as mulheres REUFSM Revista de Enfermagem da UFSM - janabr

1(1)71-79 2011

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro (RJ) Jorge Zahar p 21-

40 2003

LEE Y Mi DALTON M E Cesarean delivery on maternal request the impact on mother

and newborn Clinics in Perinatology v35 n3 Sept p505-18 x 2008

74

LEININGER M Culture care diversity amp universality a theory of nursing New York

(US) National League for Nursing Press 1991

LEITAtildeO F J C Autonomia da mulher em trabalho de parto (Dissertaccedilatildeo) Mestrado em

Bioeacutetica Universidade de Lisboa Faculdade de medicina Departamento de Bioeacutetica 2010

LILFORD R J et al The relative risks of caesarean section (intrapartum and elective) and

vaginal delivery a detailed analysis to exclude the effects of medical disorders and other

acute pre-existing physiological disturbances Br J Obstet Gynaecol 97883-92 1990

MACDORMAN et al Infant and neonatal mortality for primary cesarean and vaginal births

to women with no indicated risk United States 1998-2001 birth cohorts Birth v33 n3

Sept p175-82 2006

MACHADO E G C Gestaccedilatildeo parto e maternidade uma visatildeo holiacutestica Belo Horizonte

Editora Aurora 1995

MADAR J RICHMOND S HEY E Surfactantdeficient respiratory distress after elective

delivery at bdquoterm‟ Acta Paediatr v 88 p 1244-8 1999

MANDARINO N R et al Aspectos relacionados agrave escolha do tipo de parto um estudo

comparativo entre uma maternidade puacuteblica e outra privada em Satildeo Luiacutes Maranhatildeo Brasil

Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 25(7) p 1587-1596 jul 2009

MARTIN E A mulher no corpo - uma anaacutelise cultural da reproduccedilatildeo Traduccedilatildeo Juacutelio

Bandeira Rio de Janeiro Garamond 2006

MARTINS C S RAMOS J G L A questatildeo das cesarianas Rev Brasileira Ginecologia

Obstetriacutecia v27 nordm 10 Rio de Janeiro 2005

MCCOURT et al Elective cesarean section and decision making a critical review of the

literature Birth v34 n1 mar p65-79 2007

MEDEIROS R M K SANTOS IMM SILVA L R A escolha pelo parto domiciliar

histoacuteria de vida de mulheres que vivenciaram esta experiecircncia Esc Anna Nery Rev

Enfermagem dez 12(4) 765-72 2008

MELCHIORI et al Preferecircncia de gestantes pelo parto normal ou cesariano Interaccedilatildeo

psicologia 13(1)13-23 janjun 2009

75

MINAYO M C de S (org) Pesquisa Social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis

Vozes 2000

_____ O Desafio do Conhecimento pesquisa qualitativa em sauacutede 8 ed Satildeo Paulo Ed

Hucitec-Abrasco 2004

_____ O Desafio do Conhecimento pesquisa qualitativa em sauacutede 11 ed Satildeo Paulo Ed

Hucitec-Abrasco 2008

MONTICELLI M O nascimento como rito de passagem uma abordagem cultural para o

cuidado de enfermagem agraves mulheres e receacutem-nascidos (Dissertaccedilatildeo) Mestrado em

Enfermagem UFSC Florianoacutepolis 1994

MONDARDO S Proposta de reestruturaccedilatildeo dos serviccedilos da Unidade de Atenccedilatildeo agrave

Sauacutede da Vila Kennedy Santa MariaRS UFSM Santa Maria 1993

MORAES M S GOLDENBERG P Cesaacutereas um perfil epidecircmico Cad Sauacutede Puacuteblica

Rio de Janeiro 17 (3)509-519 maiojun 2001

MORELL M G G MELLO A V A Declaraccedilatildeo de Nascido Vivo no Estado de Satildeo

Paulo alguns resultados Informe Demograacutefico SEADE 29201-331 1995

MURTA et al Could elective cesarean sections influence the birth weight of full-term

infants Satildeo Paulo Medical Journal v124 p313-315 2006

ODENT M A Cesariana Traduccedilatildeo de Maria de Faacutetima de Madureira Florianoacutepolis Saint

Germain 2004

_____ A cientificaccedilatildeo do Amor Traduccedilatildeo de Marcos de Noronha e Talia Gevaerd de Souza

Florianoacutepolis Saint Germain 2000

ODENT M O camponecircs e a parteira Uma alternativa agrave industrializaccedilatildeo da agricultura e do

parto Traduccedilatildeo de Sarah Bailey Satildeo Paulo Ground 2003

OLIVEIRA et al Tipo de parto expectativas das mulheres Revista Latino-Americana de

Enfermagem v10 n 5 p 667-674 setout 2002

76

ORGANIZACAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE (OMS) Maternidade Segura - assistecircncia ao

parto normal 2009 Disponiacutevel em

lthttpabenforedesindicalcombrarqsmateria56_apdfgt Acesso em 06 dez 2010

_____ Sauacutede Materna e Neonatal Unidade de Maternidade Segura Sauacutede Reprodutiva e da

Famiacutelia Assistecircncia ao parto normal Um guia praacutetico de sauacutede materna e neonatal

Unidade de Maternidade Segura Sauacutede Reprodutiva e da Famiacutelia Genebra A Sauacutede 1996

OPAS III Reunioacuten Especial de Ministros de Salud de las Ameacutericas Atas resumidas

Santiago de Chile 2ordf 9 de octubre de 1972 Doc Oficial nordm 123 sept 1973

PELLOSO S M PANONT K T SOUZA K M P Opccedilatildeo ou imposiccedilatildeo Motivos de

escolha da cesaacuterea Arq Ciecircnc Sauacutede UNIPAR 4(1) 3-8 2000

PEREIRA W R Poder Violecircncia e Dominaccedilatildeo Simboacutelicos nos Serviccedilos de Sauacutede

Ribeiratildeo Preto 175p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem de Ribeiratildeo Preto

Universidade de Satildeo Paulo 2000

PEREIRA R R FRANCO S C BALDIN N Representaccedilotildees sociais e decisotildees das

gestantes sobre a parturiccedilatildeo protagonismo das mulheres Sauacutede sociedade v20 n3 Satildeo

Paulo julysept 2011

PETER A P C O Cuidado Cultural no Processo de Ser e Viver da Mulher Receacutem-

Nascido e Famiacutelia que Vivenciam o Parto no Domiciacutelio e no Hospital com Ecircnfase no

Contexto Domiciliar abrindo novos caminhos para a enfermagem (Trabalho de Conclusatildeo

de Curso) Graduaccedilatildeo em Enfermagem ndash Universidade Federal de Santa Catarina

Florianoacutepolis 2005

POTTER J E et al Unwanted caesarean sections among public and private patients in

Brazil prospective study BMJ 323 1155-8 2001

_____ Womens autonomy and scheduled cesarean sections in Brazil a cautionary tale

Birth 35 33-40 2008

PROGIANTI JM BARREIRA I A A obstetriacutecia do saber feminino agrave medicalizaccedilatildeo da

eacutepoca medieval ao seacuteculo XX 9 91-7 Revista Enfermagem UERJ 2001

PROJETO DIRETRIZES Associaccedilatildeo Meacutedica Brasileira e Conselho Federal de Medicina

Cesarianas indicaccedilotildees 2002

77

RAMOS J G L et al Morte materna em hospital terciaacuterio do Rio Grande do Sul um estudo

de 20 anos Rev Bras Ginecol Obstet 25 (6) 431-6 2003

REBELO F et al High cesarean prevalence in a national population-based study in Brazil

the role of private practice Acta Obstet Gynecol Scand 89 903-8 2010

RESSEL L B Vivenciando a sexualidade na assistecircncia de enfermagem Um estudo na

perspectiva cultural Escola de Enfermagem Universidade de Satildeo Paulo 2003

RESSEL L B et al A influecircncia da famiacutelia na vivecircncia da sexualidade Revista Esc Anna

Nery (impr) abrjun 15 (2)245-250 2011

REZENDE J MONTENEGRO B AC Obstetricia Fundamental 9 ed Rio de Janeiro

Guanabara Koogan 2003

ROSS L L BONILHA A L de L ARMELLINI C J et al Representaccedilotildees culturais

sobre parto e nascimento SEMANA CIENTIacuteFICA DO HOSPITAL DE CLIacuteNICAS DE

PORTO ALEGRE 26 Revista do HCPA 26 (Supl 1) 1-267 2006

SABATINO H Resposta ao polecircmico artigo Cesariana a polecircmica das taxas escrito por

Raphael da Cacircmara Medeiros Parente (Meacutedico do Ministeacuterio da Sauacutede - HSE Doutor em

Ginecologia - UNIFESP Mestre em Epidemiologia - UERJ) e publicado no Jornal do

CREMERJ ndash p 8 e 9 maio de 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwamigasdopartoorgbr2007indexphpoption=com_contentamptask=viewampid=891

ampItemid=204gt Acesso em 06 dez 2010

SANTOS M L Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia ao Parto e Nascimento um modelo teoacuterico

(Dissertaccedilatildeo) Mestrado em Enfermagem Universidade Federal de Santa Catarina

Florianoacutepolis 2002

SCAVONE L Impacto das Tecnologias Meacutedicas na Famiacutelia Sauacutede em Debate nordm40

p48-73 set 1993

SEIBERT S L BARBOSA J L S SANTOS J M VARGENS O M C

Medicalizaccedilatildeo x humanizaccedilatildeo o cuidado ao parto na histoacuteria Revista de Enfermagem

UERJ 13245-51 2005

SILVA L R A Experiecircncia na Casa de Parto Mohri-Japatildeo Revista de pesquisa Cuidado eacute

fundamental online setdez 1 (2) 288-298 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwseeruniriobrindexphpcuidadofundamentalarticleview359367gt Acesso em

13 out2011

78

SWAMY et al Association of preterm birth with long-term survival reproduction and next-

generation preterm birth JAMA v299 n12 Mar 26 p1429-36 2008

TAYLOR et al Risk of complications in a second pregnancy following caesarean section in

the first pregnancy a population-based study Medical Journal of Australia v183 n10

Nov 21 p515-9 2005

TEDESCO P R et al Fatores Determinantes para as Expectativas de Primigestas acerca da

Via de Parto Rev Bras Ginecol Obstet v26 n10 Rio de Janeiro novdez 2004

TEIXEIRA Z N F PEREIRA R W Parto Hospitalar - experiecircncias de mulheres da

periferia de Cuiabaacute - MT Cad Sauacutede Puacuteblica v25 n 11 Rio de Janeiro 2006

TELINI D M T Z Cesaacutereas e partos normais em gestantes com baixo risco obsteacutetrico

caracteriacutesticas maternas e repercussotildees neonatais (Tese) Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas

Campinas Universidade Estadual de Campinas 2000

THE LANCET Sauacutede dos Brasileiros 2011 Disponiacutevel em

lthttpwwwabcorgbrIMGpdfdoc-574pdf gt Acesso em 28 out 2011

TOMASHEK et al Differences in mortality between late-preterm and term singleton infants

in the United States 1995-2002 Journal of Pediatrics v151 n5 nov p450-6 456 2007

TRACY S K et al Admission of term infants to neonatal intensive care a population-based

study Birth v34 n4 dec p301-7 2007

TYRREL M A R CARVALHO V Programas nacionais de sauacutede-materno infantil

impacto poliacutetico social e inserccedilatildeo da enfermagem RJ EEANUFRJ 1995

VARGENS O M C PROGIANTI J M O Processo de Desmedicalizaccedilatildeo da Assistecircncia agrave

Mulher no Ensino de Enfermagem Rev Enferm USP 38 46-50 2004

VIacuteCTORA C G KNAUTH D R HASSEN M N A Pesquisa qualitativa em sauacutede

uma introduccedilatildeo ao tema Porto Alegre Tomo Editorial 2000

VIEIRA E M A Medicalizaccedilatildeo do Corpo Feminino Rio de Janeiro RJ Ed Fiocruz

2002

VIGILAcircNCIA EPIDEMIOLOacuteGICA Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria (SMS)

Dados Epidemioloacutegicos do Nuacutemero de Partos no Municiacutepio de Santa Maria - RS 2011

79

VILLAR J et al Caesarean delivery rates and pregnancy outcomes the 2005 WHO global

survey on maternal and Perinatal health in Latin America Lancet 367(9525)1819-29 2006

_____ Maternal and neonatal individual risks and benefits associated with caesarean

delivery multicentre prospective study BMJ v335 n7628 Nov 17 p1025 2007

80

ANEXOS

81

Anexo A - Aprovaccedilatildeo Comitecirc de Egravetica e Pesquisa

82

Anexo B - Autorizaccedilatildeo Emenda do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

83

84

APEcircNDICES

85

Apecircndice A - Ofiacutecio agrave Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria

Da Enfermeira Lizandra Flores Pimenta

Para Secretario Municipal de Sauacutede

Assunto Solicitaccedilatildeo (faz)

Santa Maria janeiro de 2011

Sr Secretaacuterio

Venho por meio deste solicitar a permissatildeo de V Srordf para desenvolver a pesquisa

intitulada A influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a

enfermagem junto as mulheres que satildeo atendidas na Unidade Baacutesica (UBS) de Sauacutede

Kennedy

Cumpre-se informar que esta pesquisa eacute resultado da experiecircncia na aacuterea obsteacutetrica

que me fez perceber a necessidade de compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher sobre a via de parto a partir das concepccedilotildees modernas sobre natureza e

cultura atribuiacutedos a percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto Como esclarecimento cabe

ressaltar que conforme a metodologia que pretendemos desenvolver os sujeitos da pesquisa

seratildeo consultados e esclarecidos acerca dos objetivos nos comprometendo a respeitar os

preceitos da Resoluccedilatildeo nordm19696 quanto agrave pesquisa envolvendo seres humanos

Colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios

Desde jaacute agradecemos

Atenciosamente

________________________ _______________________________

Enfordf Lizandra Flores Pimenta Profordf Enfordf Drordf Lucia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI ndash 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

86

Apecircndice B - Ofiacutecio ao Departamento de Ensino e Pesquisa do HUSM

Da Enfa Lizandra Flores Pimenta

Para Departamento de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitaacuterio de Santa Maria

Assunto Solicitaccedilatildeo (faz)

Santa Maria maio de 2011

Senhor Diretora

Venho por meio deste solicitar a permissatildeo de VS para desenvolver a pesquisa

intitulada ldquoA influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a

enfermagemrdquo junto agraves mulheres que estatildeo no momento da entrevista nos serviccedilos de

ginecologia e obstetriacutecia do HUSM quais sejam Centro Obsteacutetrico Unidade Toco-

ginecoloacutegica e Ambulatoacuterio ala II

Cumpre-se informar que esta pesquisa eacute resultado da experiecircncia na aacuterea obsteacutetrica

que me fez perceber a necessidade de compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher sobre a via de parto a partir das concepccedilotildees modernas sobre natureza e

cultura atribuiacutedas agrave percepccedilatildeo das mulheres em relaccedilatildeo ao parto Como esclarecimento cabe

ressaltar que conforme a metodologia que pretendo desenvolver os sujeitos da pesquisa seratildeo

consultados e esclarecidos acerca dos objetivos sendo que me comprometo a respeitar os

preceitos da Resoluccedilatildeo nordm 19696 quanto agrave pesquisa envolvendo seres humanos

Sem mais agradeccedilo a atenccedilatildeo dispensada colocando-me agrave disposiccedilatildeo para os

esclarecimentos que forem necessaacuterios

Atenciosamente

________________________ _______________________________

Enfordf Lizandra Flores Pimenta Profa Enfa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI - 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

87

Apecircndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ENFERMAGEM

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Pesquisadoras responsaacuteveis Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

Enfa Mestranda Lizandra Flores Pimenta

InstituiccedilatildeoDepartamento Universidade Federal de Santa Maria - Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Enfermagem

Telefones para contato (55) 91376501

(55) 91429743

Locais da coleta de dados Unidade sanitaacuteria Kennedy e Hospital Universitaacuterio de Santa

Maria

Vocecirc estaacute sendo convidada para participar da pesquisa intitulada ldquoA influecircncia da

cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a enfermagemrdquo de autoria de

Lizandra Flores Pimenta mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Enfermagem da

UFSM sob a orientaccedilatildeo da Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel que tem por objetivo

compreender como a cultura influencia no parto da mulher

Mas antes de concordar em participar desta pesquisa eacute importante que vocecirc

compreenda todas as informaccedilotildees as quais dizem respeito a sua participaccedilatildeo nesta pesquisa

Sua participaccedilatildeo consistiraacute em responder agraves perguntas feitas por mim pesquisadora durante a

entrevista a qual teraacute como auxiacutelio um gravador de voz Apoacutes as suas informaccedilotildees gravadas

seratildeo transcritas por mim de maneira a resguardar a veracidade dos dados Posteriormente

essas informaccedilotildees seratildeo organizadas analisadas divulgadas e publicadas em revistas

cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede sendo a sua identidade preservada em todas as etapas

Eacute importante que vocecirc compreenda que eacute assegurado o anonimato e o caraacuteter privativo

das informaccedilotildees fornecidas exclusivamente para a pesquisa Vocecirc natildeo seraacute identificada em

nenhum momento mesmo quando os resultados desta pesquisa forem divulgados sob

qualquer forma pois seraacute adotada a letra bdquoM‟ (M1 M2 M3) inicial da palavra mulher para

esta finalidade Tambeacutem as informaccedilotildees seratildeo mantidas em um CD no armaacuterio da professora

88

pesquisadora no Departamento de EnfermagemUFSM por cinco anos Apoacutes este periacuteodo os

dados seratildeo destruiacutedos Os dados coletados depois de organizados e analisados deveratildeo ser

divulgados e publicados ficando a pesquisadora juntamente com a professora responsaacutevel por

apresentar o relatoacuterio da pesquisa para a instituiccedilatildeo na qual seraacute realizado este estudo

Comunico que a sua participaccedilatildeo na entrevista natildeo representaraacute a princiacutepio risco agraves

suas dimensotildees fiacutesica moral intelectual social cultural ou espiritual em qualquer fase da

pesquisa No entanto poderaacute gerar algum desconforto como lembranccedilas questionamentos

eou conflitos agrave dimensatildeo emocional pelo fato da pesquisadora realizar uma entrevista na qual

vocecirc iraacute refletir sobre o seu cotidiano e suas vivecircncias Contudo poderaacute haver um benefiacutecio

no que se refere agrave melhor qualidade das praacuteticas no cuidar em enfermagem Se houver

qualquer desconforto a entrevista poderaacute ser suspensa e se vocecirc achar necessaacuterio poderei

fazer um encaminhamento a um especialista da aacuterea da sauacutede mental

Ciente e de acordo com o que foi anteriormente exposto eu __________________

estou de acordo em participar desta pesquisa assinando este Consentimento em duas vias

ficando com a posse de uma delas

_________________________________

Assinatura do sujeito de pesquisa

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntaacuteria o Consentimento Livre e

Esclarecido deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a participaccedilatildeo neste estudo

dede2011

__________________________________

Assinatura da pesquisadora

RG 3046400473

Se vocecirc tiver alguma consideraccedilatildeo ou duacutevida sobre a eacutetica da pesquisa entre em contato com

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa - CEP- UFSM Av Roraima 1000 - Preacutedio da Reitoria ndash 7ordm

andar ndash Campus Universitaacuterio ndash 97105-900 ndash Santa Maria-RS - Tel (55) 32209362 ndash E-mail

comiteeticapesquisamailufsmbr

89

Apecircndice D - Termo de confidencialidade

Tiacutetulo do estudo ldquoA influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees

para a enfermagemrdquo

Pesquisadora responsaacutevel Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

Pesquisadora Enfa Mestranda Lizandra Flores Pimenta

InstituiccedilatildeoDepartamento Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM)

Telefone para contato (55) 91376501 (55) 91429743

Locais da coleta de dados Unidade sanitaacuteria Kennedy e Centro Obsteacutetrico Unidade Toco-

ginecoloacutegica e Ambulatoacuterio ala II do HUSM

Os pesquisadores do presente projeto comprometem-se a preservar a privacidade dos

indiviacuteduos cujos dados seratildeo coletados por meio de entrevista gravada em aacuteudio MP3 e

realizada na UBS Kennedy numa sala reservada localizada no Hospital Universitaacuterio de

Santa Maria na cidade de Santa MariaRS Concordam igualmente que estas informaccedilotildees

seratildeo utilizadas uacutenica e exclusivamente para a execuccedilatildeo do presente projeto As informaccedilotildees

somente poderatildeo ser divulgadas de forma anocircnima e seratildeo mantidas em Compact Disc (CD)

por um periacuteodo de 5 (cinco) anos sob a responsabilidade da Enfordf Lizandra Flores Pimenta

Apoacutes este periacuteodo os dados seratildeo destruiacutedos Este projeto de pesquisa foi revisado e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM em 04012011 com o nuacutemero do CAAE

03170243000-10

Santa Maria de de 2011

________________________ _______________________________

Enfa Lizandra Flores Pimenta Profa Enfa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI ndash 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

90

Apecircndice E - Roteiro da entrevista com as mulheres

1 Dados de identificaccedilatildeo

Idade

Estado civil

Grau de instruccedilatildeo

Profissatildeoocupaccedilatildeo

Local de trabalho caso esteja trabalhando se natildeo indicar trabalho anterior

Raccedila

Quantos filhos

2 Sobre o parto

1 De que forma o parto e nascimento satildeo percebidos por vocecirc

2 Fale a respeito de sua experiecircncia em relaccedilatildeo aos seus partos e de outras mulheres do teu

conviacutevio

3 Existe alguma coisa em relaccedilatildeo ao parto de seus filhos que vocecirc gostaria que tivesse sido

diferente Por quecirc

4 O que vocecirc aprendeu sobre parto com teus pais irmatildeos irmatildes e outras pessoas da tua

famiacutelia

5 O que vocecirc escutou ou aprendeu sobre parto com os profissionais de sauacutede nos hospitais

e nos postos de sauacutede

6 O que vocecirc escutou ou aprendeu sobre parto em jornais revistas televisatildeo e internet

7 De que forma estes aprendizados participaram da tua decisatildeo sobre o tipo de parto

Page 4: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição

AGRADECIMENTOS

Aos meus familiares Fabiane Nabor Carmem Nabor e Francisco pelo apoio nos

momentos difiacuteceis

Agrave minha orientadora Luacutecia por me incitar o gosto pela antropologia aleacutem da orientaccedilatildeo

foi sempre muito compreensiva com as minhas vaacuterias atividades profissionais aleacutem do

mestrado

Ao Departamento de Enfermagem da UFSM e ao Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em

Enfermagem por ter proporcionado na minha vida profissional esta qualificaccedilatildeo

A coordenaccedilatildeo e professores do PPGEnf pela acolhida pelas trocas oportunizadas e pelo

compartilhamento de saberes

Agradeccedilo agraves integrantes do Nuacutecleo de Estudos sobre Mulheres Gecircnero e Poliacuteticas Puacuteblicas-

NEMGeP especialmente a Celeste por me apresentar os caminhos deliciosos da literatura

feminista as discussotildees e a luta pelos direitos das mulheres na superaccedilatildeo das desigualdades

de gecircnero

Agradeccedilo as colegas desta caminhada Elenir e especialmente a Letiacutecia generosa nas suas

contribuiccedilotildees

A enfermagem do Centro Obsteacutetrico do Hospital Universitaacuterio de Santa Maria

profissionais na luta por uma atenccedilatildeo de qualidade para as mulheres

Ao Hospital Universitaacuterio de Santa Maria instituiccedilatildeo que facilitou a oportunidade de

crescimento profissional

Agraves (os) colegas do Mestrado pelo compartilhamento de experiecircncias e de

conhecimentos neste meu retorno agrave Escola como estudante

Enfim agraves mulheres participantes deste estudo que com sua disponibilidade e interesse

aceitaram-me em suas vidas e fizeram com que mais este estudo se concretizasse

ldquoQuando eacute que vamos nos dar conta que nosso

foco natildeo deve ser combater as cesarianas

desmedidas e abusivas mas melhorar a assistecircncia

ao parto de tal forma que escolher uma cesariana

para ter um filho tornar-se-aacute a mais tola das

decisotildees Maximilian

RESUMO

Dissertaccedilatildeo de Mestrado

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Enfermagem

Universidade Federal de Santa Maria

CULTURA NO PROCESSO DE PARTURICcedilAtildeO CONTRIBUICcedilOtildeES PARA A

ENFERMAGEM

AUTORA Lizandra Flores Pimenta

ORIENTADORA Luacutecia Beatriz Ressel

Data e Local da Defesa Santa Maria 28 de fevereiro de 2012

A investigaccedilatildeo teve como objetivo compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher Desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa com abordagem cultural Os

cenaacuterios foram uma Unidade sanitaacuteria e um hospital de referecircncia para a gestaccedilatildeo de alto risco

e para intercorrecircncias ginecoloacutegicas de um municiacutepio do interior do Rio Grande do SulBrasil

Os sujeitos deste estudo foram oito mulheres em idade feacutertil com histoacuteria pregressa de parto

vaginal ou cesariano na faixa etaacuteria entre 22 e 35 anos que tiveram filhos a partir do ano de

2004 e fora do periacuteodo graviacutedico puerperal Para produccedilatildeo dos dados utilizou-se entrevista

semi-estruturada realizada entre janeiro e marccedilo de 2011 Para a anaacutelise dos dados foi

utilizada a anaacutelise temaacutetica sugerida por Minayo dando origem a seis categorias A percepccedilatildeo

das mulheres sobre o nascimento Percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado A

percepccedilatildeo das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto Conhecendo como se daacute a

construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres Resistecircncia das mulheres ao modelo

biomeacutedico do parto Percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea Os

achados deste estudo permitem afirmar que as vivecircncia das mulheres no seu processo de

parturiccedilatildeo eacute percebida de modo diferente entre elas entendida algumas vezes de forma

positiva e outras vezes de forma negativa A identificaccedilatildeo da via de parto desejada pela

maioria das entrevistadas foi o parto normal mas a maioria natildeo conseguiu realizar esse desejo

na sua vivecircncia pela influecircncia e intervenccedilotildees recebidas do meacutedico Esta ausecircncia de

autonomia na escolha do parto normal acarretou na indicaccedilatildeo de cesaacutereas que natildeo condizem

com as indicaccedilotildees da literatura nas mulheres desse estudo As entrevistadas afirmaram que o

meacutedico tem o poder de decisatildeo sobre a escolha do tipo de parto mas algumas divergem desta

conduta dizendo que esta decisatildeo deveria ter a participaccedilatildeo da mulher jaacute que eacute ela que estaacute

sentindo e passando por este processo O significado positivo evidenciado pelas mulheres do

conviacutevio das mulheres principalmente pela figura materna proporcionou um parto integral e

enriquecedor a essas entrevistadas e exerceu influecircncia na preferecircncia por parto normal

Constatou-se que cultura tem influecircncia sobre os saberes e as praacuteticas das mulheres em

relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeo e que os muacuteltiplos aspectos que permeiam a vivecircncia das

mulheres precisam ser observados quando se presta assistecircncia a elas durante esse processo

Palavras-chave Parto Sauacutede da mulher Cultura Enfermagem

ABSTRACT

Masterrsquos Dissertation

Nursing Pos-Graduation Program

Federal University of Santa Maria

CULTURE IN THE PROCESS OF DELIVERY CONTRIBUTIONS TO

NURSING

AUTHOR Lizandra Flores Pimenta

ADVISOR Luacutecia Beatriz Ressel Date and Place of Defense Santa Maria February 28th 2012

The investigation aimed to understand how culture influences in the process of a woman

delivery A qualitative research with a cultural approach The settings were a Health Center

and a reference Hospital for high risk pregnancies and to gynecologic complications of a city

in the interior of Rio Grande do SulBrazil The people of this study were eight women in

fertile age with previous history of natural and caesarean deliveries in ages between 22 and

35 years old who had children from the year 2004 and out of the pregnancy period To the

data production a semi-structured interview was used done between January and March of

2011 To do the data analysis it was used a thematic analysis suggested by Minayo

generating six categories Women perception about the birth Women perception about the

wanted delivery Women perception in the decision about the king of delivery Knowledge

about how is the cultural construction of the women delivery process Questioning and

women resistance to the delivery biomedical model women perception about the reason of

caesarean indication The findings of this study allow affirming that women experience in

their delivery process is noticed differently among them sometimes understood in a positive

way and others in negative ways The identification of the kind of delivery wanted by the

majority of the interviewed was the natural delivery but it can be seen that the majority could

not have it in their pregnancies due to the influence and interventions given by the doctor The

absence of autonomy in the choice for the natural delivery resulted in the indication of

caesariansthat are not consistent with indications from the literature the women of this study

The interviewed affirm that the doctor has the power of decision about the king of delivery

but some diverge from this behavior saying that this decision should have the women

participation once she is the one who feels and passes by this process The positive meaning

evidenced by the women who have some relation with the pregnant mainly by the mother

figure provided an integral and enriched delivery to these women and influenced in the

preference for a natural delivery It was verified that culture has influence in the knowledge

and in the practices of women in relation to the process of delivery and that multiple aspects

that surround their life need to be observed when assistance is given to them during the

process

Key-words Delivery Women health Culture Nursing

LISTA DE ANEXOS

Anexo A - Aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM 81

Anexo B - Autorizaccedilatildeo de Emenda do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM para

troca de cenaacuterio para coleta

82

LISTA DE APEcircNDICES

Apecircndice A - Ofiacutecio agrave Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria 85

Apecircndice B - Ofiacutecio ao Departamento de Ensino e Pesquisa do HUSM 86

Apecircndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 87

Apecircndice D - Termo de Confidencialidade 89

Apecircndice E - Roteiro da entrevista com as mulheres 90

SUMAacuteRIO

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS 12

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 17

11 Poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e nascimento no

Brasil

17

12 O parto e a cultura no processo da parturiccedilatildeo 22

13 Referencial teoacuterico de Emily Martin sobre o parto e cultura 24

2 CAMINHO METODOLOacuteGICO 29

21 Fundamentos metodoloacutegicos 29

22 Os cenaacuterios do estudo 29

23 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos 31

24 Caracterizaccedilatildeo das participantes 32

25 Inserccedilatildeo em campo 34

26 Coleta de dados 33

27 Anaacutelise dos dados 34

28 Questotildees eacuteticas 35

3 ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS DADOS 37

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 61

REFEREcircNCIAS 67

ANEXOS 80

APEcircNDICES 83

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS

A gravidez e o parto satildeo eventos sociais e culturais que integram a vivecircncia

reprodutiva de homens e mulheres uma experiecircncia uacutenica no universo de ambos que envolve

tambeacutem suas famiacutelias e consequentemente a comunidade (BRASIL 2001)

O parto inscreve-se nesse universo cultural por ser um fenocircmeno que perpassa todas as

sociedades e temposespaccedilos Esse sistema de crenccedilas herdadas eacute denominado ldquocultura do

nascimentordquo a qual informa os membros da sociedade sobre a natureza de todo o processo

parturitivo da mulher e influencia seu significado em relaccedilatildeo ao tipo de parto (HELMAN

2009)

O autor supracitado diz que a gestaccedilatildeo e o parto satildeo a transiccedilatildeo do status social de

ldquomulherrdquo para o de ldquomatildeerdquo e como em todas as transiccedilotildees sociais a pessoa deve ser protegida

de qualquer dano atraveacutes de determinados rituais e comportamentos

Conforme Floyd (2009) as formas de transmitir esses comportamentos agrave parturiente

satildeo chamadas de ldquorituais da obstetriacuteciardquo dentre eles estatildeo fazer a mulher reconhecer a

deficiecircncia de seu corpo (consciente ou inconscientemente) a fim de tornaacute-la dependente da

ciecircncia e da tecnologia induzindo-a a aceitar a superioridade das instituiccedilotildees e da Medicina

em controlar seus processos naturais suas crenccedilas e seus significados individuais

Segundo Floyd (2009) eacute mais provaacutevel que esse tipo de comportamento seja

transmitido na atmosfera impessoal de um hospital do que no ambiente familiar e domeacutestico

As condiccedilotildees de nascimento apresentam significativas distinccedilotildees quando comparadas

entre diferentes realidades Nos paiacuteses ocidentais segundo Floyd (1987) o parto eacute cercado de

aparatos tecnoloacutegicos meacutedicos e essa medicalizaccedilatildeo define-o como uma disfunccedilatildeo fisioloacutegica

Jaacute nos paiacuteses orientais como exemplo o Japatildeo eacute valorizado o parto vaginal desmedicalizado

que assim como a gestaccedilatildeo natildeo eacute considerado doenccedila (SILVA 2009)

De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) 70 a 80 das gestaccedilotildees

que ocorrem no mundo satildeo consideradas de baixo risco Eis a definiccedilatildeo de parto normal

adotada pela OMS

De iniacutecio espontacircneo baixo risco no iniacutecio do trabalho de parto permanecendo

assim durante todo o processo ateacute o nascimento O bebecirc nasce espontaneamente em

posiccedilatildeo cefaacutelica de veacutertice entre 37 e 42 semanas completas de gestaccedilatildeo Apoacutes o

nascimento matildee e filho estando em boas condiccedilotildees Entretanto como o trabalho de

parto e o parto de muitas gestantes de alto risco tecircm um curso normal vaacuterias

recomendaccedilotildees tambeacutem se aplicam agrave assistecircncia dessas mulheres (OMS 2009 p9)

13

Frente a isso deve existir sempre uma razatildeo vaacutelida para se interferir nesse processo

fisioloacutegico do parto tendo como recurso para tais casos a cesariana que se trata de uma

intervenccedilatildeo meacutedica destinada agrave extraccedilatildeo do feto por via abdominal

O parto cesaacutereo eacute uma intervenccedilatildeo usada em situaccedilotildees nas quais as condiccedilotildees da matildee

e do bebecirc natildeo favorecem o parto vaginal Entretanto sua indicaccedilatildeo incorreta estaacute associada a

uma maior ocorrecircncia de mortalidade e morbidade para as parturientes tais como

hemorragias infecccedilotildees puerperais embolia pulmonar riscos anesteacutesicos bem como outras

patologias Para os bebecircs os riscos relacionam-se a distuacuterbios respiratoacuterios icteriacutecia

fisioloacutegica prematuridade iatrogecircnica hipoglicemia e anoacutexia (RAMOS 2003 VILLAR

2006 TELINI 2000)

Nessa direccedilatildeo eacute observado em nosso paiacutes nos uacuteltimos anos o aumento de partos

cesaacutereos agendados com antecedecircncia cujas indicaccedilotildees meacutedicas natildeo o justificam (MORELL

MELO 1995) Em uma pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede realizada em 2006 quase

metade (462) de todas as cesarianas foi agendada com antecedecircncia (BRASIL 2009)

Essa conduta eacute culturalmente difundida pelos profissionais da sauacutede que detecircm o

poder de modular e influenciar as demandas sobre as necessidades de sauacutede da populaccedilatildeo

(TEIXEIRA 2006) Apresentando-se sob a maacutescara da razatildeo e da necessidade essa praacutetica

desnecessaacuteria acaba por natildeo ser percebida pela maioria das mulheres que encontram

dificuldades em resistir (PEREIRA 2000)

O Ministeacuterio da Sauacutede (2001) ressalta que a informaccedilatildeo e a formaccedilatildeo de opiniatildeo entre

as mulheres satildeo prioridade no Brasil a fim de que elas possam escolher o melhor para a sua

sauacutede e para a de seus filhos pois embora profissionais e mulheres faccedilam a opccedilatildeo antecipada

do tipo de parto esse fato natildeo pode ser visto como uma simples questatildeo de preferecircncia jaacute que

cesaacuterea natildeo eacute um ldquobem de consumordquo (ODENT 2004)

Outro modo de tornar atrativo e mais agradaacutevel aos olhos das mulheres esta praacutetica de

conveniecircncia eacute o conceito contraditoacuterio de cesariana centrada na famiacutelia em que se daacute aos

pais opccedilotildees quanto ao tipo de anesteacutesico e terapia indicados para a mulher (MARTIN 2006)

Scavone (1993) explica esta valorizaccedilatildeo pelas mulheres e pela populaccedilatildeo em geral como

uma garantia meacutedica para os pais em relaccedilatildeo agrave qualidade da sua prole e da fecundidade

Ao dar respostas aos problemas obsteacutetricos e neonatais que aumentam enormemente

os iacutendices de mortalidade materna durante a gestaccedilatildeo o parto e o puerpeacuterio a medicina criou

discursos de verdade Segundo Foucault (1992 p 179)

14

As relaccedilotildees de poder natildeo podem se dissociar se estabelecer nem funcionar sem

uma produccedilatildeo uma acumulaccedilatildeo uma circulaccedilatildeo e um funcionamento do discurso

Natildeo haacute possibilidade de exerciacutecio do poder sem uma certa economia dos discursos

de verdade que funcione dentro e a partir desta dupla exigecircncia

Essa hegemonia do discurso meacutedico sobressai-se desconsiderando durante o processo

parturitivo as crenccedilas e a cultura das mulheres Eacute apenas o meacutedico quem daacute a palavra final

para duacutevidas e inquietudes das mulheres pois considera seu discurso inquestionaacutevel e

legiacutetimo (VIEIRA 2002)

Dessa forma a mulher perde sua autonomia como protagonista no processo do

nascimento

Criou-se assim uma heteronomia desfigurando-se este ato ateacute entatildeo puramente

feminino - pois natildeo era mais a mulher quem dava agrave luz - para o meacutedico como dono

e senhor do parto numa inversatildeo de papeacuteis que bdquolegitima o poder e a relaccedilatildeo da

medicina com a famiacutelia‟ (PEREIRA 2000 p17)

Essa inversatildeo de papeacuteis no cenaacuterio do parto no qual o meacutedico deteacutem o poder sobre o

corpo da mulher pode estar justificando os altos iacutendices de cesaacutereas nas uacuteltimas deacutecadas

Outra repercussatildeo desta mudanccedila de paradigma em relaccedilatildeo ao processo do nascimento

eacute a de que o parto os cuidados puerperais e com o receacutem-nascido que antigamente

transcorriam no ambiente familiar e eram envolvidos em fortes viacutenculos atualmente

transcorrem em instituiccedilotildees hospitalares onde os viacutenculos transformaram-se em meros

contatos superficiais acentuando a perda da autonomia da mulher neste processo

(MONTICELLI 1994)

O contexto do nascimento na sociedade atual mostra que a mulher parturiente estaacute

cada vez mais distante da condiccedilatildeo de protagonista da cena do parto ldquototalmente insegura

submete-se a todas as ordens e orientaccedilotildees sem entender como combinar o poder contido nas

atitudes e palavras que ouve e percebe com o fato inexoraacutevel de que eacute ela quem estaacute com dor

e quem vai parirrdquo (BRASIL 2001 p18) Fato esse constatado no aumento de cesaacutereas e

reduccedilatildeo de partos normais na rede puacuteblica no Brasil No ano de 2005 a taxa de cesaacutereas que

era de 2870 aumentou para 3610 em 2010 e em contrapartida o nuacutemero de partos

normais que em 2005 era de 7130 reduziu para 63 20 em 2010 (BRASIL 2010)

No estado do Rio Grande do Sul (RS) foi constatado por Freitas et al (2005) que os

iacutendices elevados de cesaacuterea constituem um grave problema de sauacutede puacuteblica o que pode

acarretar o mau-uso da tecnologia meacutedica na atenccedilatildeo ao parto associado a fatores sociais

econocircmicos e culturais O percentual de cesarianas que foram analisadas de 1997 a 2003 foi

de 406 para 448 respectivamente No ano de 2008 no RS segundo dados do IBGE

15

(2009) o iacutendice de cesaacutereas foi de 537

No municiacutepio de Santa MariaRS segundo dados da Vigilacircncia Epidemioloacutegica da

Secretaria Municipal de Sauacutede (SMS) no primeiro semestre de 2011 635 dos partos o que

corresponde a 1167 foram cesaacutereos o que desvela um iacutendice muito aleacutem dos 15 previstos

pela OMS O Ministeacuterio da Sauacutede (MS) estabeleceu limite para partos cesaacutereos

considerando-os de alto risco para as unidades hospitalares ateacute 40 e para unidades de risco

habitual - ateacute 25 (BRASIL 2008c)

A portaria GM nordm 466 de 14062000 retificada em 30062000 propotildee o Pacto pela

Reduccedilatildeo das Taxas de Cesaacuterea a ser firmado entre os gestores estaduais e o gestor federal

estabelecendo a taxa de 25 como desejaacutevel para todos os estados ateacute 2007 (BRASIL 2008)

Finalizar uma gestaccedilatildeo mediante uma cesaacuterea sem causa meacutedica que a justifique

ainda que esta seja a pedido da gestante eacute uma conduta meacutedica que natildeo respeita os processos

fisioloacutegicos do trabalho de parto do parto e do nascimento Por esse motivo o procedimento

ciruacutergico realizado sem indicaccedilotildees deixa de ser um procedimento fisioloacutegico tornando-se um

procedimento de risco para a matildee e para o receacutem-nascido (SABATINO 2009)

Para a abrangecircncia do tema complexidade e repercussotildees na vida das mulheres o

objeto de estudo eacute o significado que a mulher atribui ao seu parto

A justificativa para a escolha desse objeto de estudo deve-se agrave vivecircncia de dar agrave luz a

dois filhos nascidos de parto normal Letiacutecia (15 anos) e Marcos (12 anos) e de ter participado

ativamente desse processo como protagonista

Vem ao encontro disso o fato de que no decorrer da vivecircncia de dezoito anos na

assistecircncia agrave sauacutede das mulheres em maternidades e unidades baacutesicas de sauacutede e no meu

ambiente de trabalho atual como enfermeira obstetra de um hospital de ensino percebo a

intensa fragilidade das parturientes ao se submeterem a todos os procedimentos e

intervenccedilotildees sem questionamentos ao que acontece com o seu corpo durante o parto

Paralelamente agraves atividades profissionais participo como integrante do Nuacutecleo de

Estudos sobre Mulheres Gecircnero e Poliacuteticas Puacuteblicas-NEMGeP do Departamento de

Enfermagem do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Santa Maria grupo

que me despertou para as questotildees de gecircnero na temaacutetica no processo da parturiccedilatildeo O Nuacutecleo

atua em accedilotildees direcionadas agraves mulheres com abordagens que ultrapassam a dimensatildeo

bioloacutegica pois considera que as questotildees de gecircnero (cidadania empoderamento controle

social e poliacuteticas puacuteblicas) constituem referenciais fundamentais no direcionamento de

atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres (LANDERDAHL et al 2011)

16

Consultando a literatura cientiacutefica percebeu-se a ausecircncia de estudos culturais com

mulheres fora do periacuteodo graviacutedico puerperal e em cenaacuterios que natildeo sejam em maternidades

eou hospital

Alinhando-se nos argumentos acima descritos este estudo fundamentou-se no

referencial teoacuterico metodoloacutegico da abordagem socioantropoloacutegica de Emily Martin que

propotildee uma anaacutelise do fenocircmeno do parto contrapondo a delimitaccedilatildeo deste ao campo da

reproduccedilatildeo mecanicista e biomeacutedica buscando entendecirc-lo como componente essencial das

mulheres no sentido de desnaturalizar verdades muito caras vinculadas agraves concepccedilotildees

modernas de natureza e cultura Dessa forma o presente estudo traz reflexotildees que poderatildeo

repercutir na assistecircncia de enfermagem prestada agrave mulher durante o periacuteodo da parturiccedilatildeo

uma vez que auxilia na compreensatildeo das necessidades de cuidado com as parturientes a partir

da percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto e o nascimento

Com base nessas consideraccedilotildees a questatildeo norteadora de pesquisa que impulsiona

este estudo estaacute embasada no seguinte questionamento qual a participaccedilatildeo da cultura nos

saberes e as praacuteticas das mulheres em relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeo

Para responder a esta questatildeo foi definido como objetivo compreender de que forma

a cultura influencia no processo de parturiccedilatildeo da mulher

17

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

Este capiacutetulo enfoca as poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e

nascimento no Brasil bem como discute sobre parto e cultura baseando-se sobretudo nos

estudos realizados pela antropoacuteloga Emily Martin

21 Poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e nascimento no Brasil

O movimento feminista tem desempenhado um papel fundamental como instigador de

programas e poliacuteticas para as mulheres no paiacutes e sido entendido como foacuterum de debate das

questotildees da sauacutede qualidade de vida e condiccedilatildeo de cidadania feminina

Em 1974 foi implantado pelo governo o Programa de Sauacutede Materno-Infantil-PSMI

(MS74) como recomendaccedilatildeo do Plano Decenal de Sauacutede para as Ameacutericas e resultante da III

Reuniatildeo Especial de Ministros de Sauacutede das Ameacutericas que se realizou em Santiago de Chile

em 1972 Enfatizou-se nessa recomendaccedilatildeo

Formular uma poliacutetica intersetorial de proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade e agrave infacircncia

[] O programa de sauacutede e atenccedilatildeo meacutedica deveraacute ter cobertura universal

eficiecircncia operativa e acessibilidade geograacutefica institucional e financeira []

Elaborar o programa como um todo contiacutenuo que incluam as diversas atividades de

proteccedilatildeo agrave famiacutelia e em especial agrave matildee e a crianccedila orientaccedilatildeo agrave vida familiar (com

ecircnfase agrave adolescecircncia) atenccedilatildeo agraves doenccedilas ginecoloacutegicas (incluindo as veneacutereas)

diagnoacutestico precoce do cacircncer ceacutervico-uterino e do cacircncer de mama outorgar as

famiacutelias (quando isto natildeo se oponha agraves poliacuteticas nacionais) informaccedilatildeo e serviccedilo

com relaccedilatildeo agrave fertilidade e agrave esterilidade atenccedilatildeo meacutedica integral durante a gestaccedilatildeo

(matildee e feto) atenccedilatildeo ao parto e no puerpeacuterio controle do receacutem-nascido e da

crianccedila durante todas as etapas da vida especificamente no primeiro ano de vida

(OPAS 1973 p39-42)

Com isso o governo brasileiro registrou o interesse em trabalhar com o diagnoacutestico

precoce e o tratamento das doenccedilas ginecoloacutegicas incluindo as doenccedilas sexualmente

transmissiacuteveis e o cacircncer Somente no ano de 1977 a preocupaccedilatildeo eacute dirigida com mais

especificidade agrave gestaccedilatildeo ao parto e ao puerpeacuterio (TYRREL CARVALHO 1995)

O Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em 1984 em conjunto com o Ministeacuterio da Previdecircncia e

a Assistecircncia Social o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e as Secretarias Estaduais de Sauacutede e com o

apoio do movimento de mulheres implantou o Programa de Atenccedilatildeo Integral agrave Sauacutede da

Mulher (PAISM)

18

Esse programa eacute considerado um marco na histoacuteria das poliacuteticas puacuteblicas voltadas para

a sauacutede feminina e ateacute hoje eacute inspiraccedilatildeo e referecircncia na luta pela equidade de gecircnero

divulgando a importacircncia de se estabelecer um programa especiacutefico dirigido agrave mulher e de se

enfatizar certas atividades prioritaacuterias que natildeo deve ser interpretado como uma subestimaccedilatildeo

aos demais serviccedilos que a rede baacutesica deve executar mas deve ser adotado sobretudo como

estrateacutegia de mudanccedila seletiva de recursos que permitam a operacionalizaccedilatildeo de conteuacutedos de

grande prioridade vinculados agrave populaccedilatildeo feminina em todas as fases de sua vida e que

vinham sendo ateacute entatildeo negligenciados (BRASIL l984)

Em 2004 o programa foi transformado na Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agrave

Sauacutede da Mulher (MS 2004) cujo objetivo especiacutefico trecircs indica para o dever de se promover

a atenccedilatildeo obsteacutetrica e neonatal qualificada e humanizada tendo como combate agrave violecircncia de

gecircnero enfatizando a importacircncia do empoderamento das mulheres para o exerciacutecio da

autonomia e protagonismo no parto

A Poliacutetica Nacional de Humanizaccedilatildeo (MS 2004) implementada no mesmo ano

enfoca tambeacutem o respeito agraves questotildees de gecircnero etnia raccedila orientaccedilatildeo sexual com a

construccedilatildeo de autonomia e protagonismo dos sujeitos e coletivos

A I Conferecircncia Nacional de Poliacuteticas para as mulheres realizada em julho de 2004

foi muito importante na afirmaccedilatildeo dos direitos da mulher Desse evento resultou o I Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres em que foram traccediladas 4 linhas de atuaccedilatildeo sendo

uma delas a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos das mulheres o que

contribui reduccedilatildeo da morbidade e mortalidade feminina no Brasil especialmente por causas

evitaacuteveis em todos os ciclos de vida e nos diversos grupos populacionais (BRASIL 2005)

Corroborando esta afirmativa o II Plano Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres

(2008) em seu eixo sobre a sauacutede das mulheres direitos sexuais e direitos reprodutivos

postula que natildeo deve haver discriminaccedilatildeo de qualquer espeacutecie contra as mulheres

resguardando-se as identidades condiccedilotildees socioeconocircmicas e as desigualdades de gecircnero

raccedilaetnia geraccedilatildeo e orientaccedilatildeo sexual e necessitam ser consideradas na formulaccedilatildeo na

implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo de estrateacutegias de intervenccedilatildeo governamentais

Desse modo particularizar a atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher significa apenas um passo no

sentido de aumentar a capacidade resolutiva dos serviccedilos de sauacutede uma vez que haacute o desafio

de dar uma resposta efetiva aos problemas de sauacutede deste grupo de sujeitos visto conforme

Resende e Montenegro (2003) que as trecircs principais causas de morte materna no Brasil satildeo a

toxemia a hemorragia e a infecccedilatildeo puerperal as quais poderiam na maior parte dos casos

serem prevenidas Esse dado justifica a preocupaccedilatildeo com tais cuidados

19

Um dos objetivos de desenvolvimento do milecircnio (IPEA 2007) eacute melhorar a sauacutede

materna (reduccedilatildeo de trecircs quartos da mortalidade materna entre 1990 e 2015) Entretanto essa

meta do milecircnio dificilmente seraacute alcanccedilada pois grandes desafios ainda persistem a

exemplo da reduccedilatildeo das altas taxas de cesariana e nascimentos preacute-termo e no parto vaginal as

rotinas improacuteprias tais como episiotomia de rotina e intervenccedilotildees dolorosas ao bem-estar

materno e do bebecirc (THE LANCET 2011)

Para enfrentar esses desafios foi instituiacutedo pelo MS em 2000 o Programa de

Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) cujo objetivo primordial eacute ldquoassegurar a

melhoria do acesso da cobertura e da qualidade do acompanhamento preacute-natal da assistecircncia

ao parto e puerpeacuterio agraves gestantes e ao receacutem-nascido na perspectiva dos direitos de

cidadaniardquo (BRASIL 2000 p5) O Programa considera que a humanizaccedilatildeo da assistecircncia

obsteacutetrica e neonatal eacute a primeira condiccedilatildeo para o adequado acompanhamento do parto e do

puerpeacuterio (BRASIL 2000b)

A implementaccedilatildeo das accedilotildees desse programa enfrenta ainda muitos entraves

identificados e categorizados em um estudo de revisatildeo sistemaacutetica de Busanello et al (2009)

Citam-se a dificuldade de acesso aos serviccedilos de sauacutede a falta de leitos a deficiecircncia de

recursos humanos financeiros e materiais a atenccedilatildeo centrada na praacutetica intervencionista

desconsiderando o protagonismo da mulher no momento do parto e o despreparo dos

profissionais de sauacutede para a atenccedilatildeo humanizada no processo de parturiccedilatildeo sendo esta

categoria destacada como importante desafio enfrentado para concretizaccedilatildeo do PHPN

Nesse sentido o Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento - MS tem

recomendado aos serviccedilos de sauacutede que ofereccedilam uma assistecircncia digna agrave mulher aos

familiares e ao receacutem-nascido envolvendo para tanto atitude eacutetica e solidaacuteria dos

profissionais de sauacutede organizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de modo a criar um ambiente acolhedor e a

implementaccedilatildeo de rotinas hospitalares que rompam com o tradicional isolamento imposto agrave

mulher Considera-se tambeacutem necessaacuterio adotar medidas e procedimentos sabidamente

beneacuteficos para o acompanhamento do parto e do nascimento evitando-se praacuteticas

intervencionistas desnecessaacuterias (BRASIL 2000b)

Seguindo essa loacutegica o Ministeacuterio da Sauacutede tem realizado um conjunto de accedilotildees

atraveacutes de portarias ministeriais com a finalidade de estimular e regularizar a assistecircncia

obsteacutetrica aleacutem de financiar a realizaccedilatildeo de cursos de especializaccedilatildeo em enfermagem

obsteacutetrica (BRASIL 2001)

Assegura-se pela legislaccedilatildeo do exerciacutecio profissional regulamentada pela lei n

749886 e o Decreto-Lei 9440687 o direito de a enfermeira obstetra realizar assistecircncia agrave

20

parturiente e ao parto normal identificaccedilatildeo das distocias obsteacutetricas e tomada de providecircncias

ateacute a chegada do meacutedico e a realizaccedilatildeo de episiotomia e episiorrafia e aplicaccedilatildeo de anestesia

local quando necessaacuteria

Outras atribuiccedilotildees realizadas pela enfermeira obsteacutetrica que vem ganhando espaccedilo no

cenaacuterio nacional satildeo as accedilotildees de incentivo ao parto normal e as accedilotildees no atendimento preacute-

natal no qual a enfermeira eacute responsaacutevel pela educaccedilatildeo em sauacutede para as mulheres e suas

famiacutelias consulta de preacute-natal agrave gestaccedilatildeo de baixo risco solicitaccedilatildeo de exames de rotina e

prescriccedilatildeo de tratamento conforme protocolo do serviccedilo e estabelecidos em programas de

sauacutede e coleta de exame citopatoloacutegico (BRASIL 2006b)

Concorrendo nessa orientaccedilatildeo a atuaccedilatildeo da enfermeira obstetra eacute reconhecida como

primordial no processo de humanizaccedilatildeo do parto tendo como objetivo a reduccedilatildeo dos altos

iacutendices de cesaacutereas praticadas e a alta medicalizaccedilatildeo decorrentes do intervencionismo por

parte dos meacutedicos obstetras (BRASIL 2001)

Buscando proporcionar conhecimento agrave sociedade e particularmente esclarecer os

profissionais de sauacutede a OMS elaborou em 1996 um conjunto de recomendaccedilotildees de boas

praacuteticas na assistecircncia ao parto normal Essas recomendaccedilotildees foram classificadas em quatro

categorias Categoria A - praacuteticas confirmadamente uacuteteis e que devem ser estimuladas

Categoria B - praacuteticas claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas

Categoria C - praacuteticas em relaccedilatildeo agraves quais natildeo existem evidecircncias suficientes para apoiar uma

recomendaccedilatildeo clara e que devem ser utilizadas com cautela ateacute que mais pesquisas

esclareccedilam a questatildeo e Categoria D - praacuteticas frequentemente utilizadas de modo inadequado

(OMS 1996) Dentre estas categorias destacam-se neste estudo as recomendaccedilotildees que foram

classificadas como praacuteticas uacuteteis e que devem ser estimuladas

Nessa direccedilatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede implantou medidas que visam impactar e

estimular a melhoria da assistecircncia obsteacutetrica no paiacutes e humanizar o parto e nascimento

(BRASIL 2001)

Para Martins (2005) humanizar a parturiccedilatildeo eacute estar com o outro e prestar um

atendimento focado em suas necessidades eacute lembrar que no momento do parto estaacute

ocorrendo a separaccedilatildeo de dois corpos que ateacute entatildeo viviam juntos um dentro do outro em

relaccedilatildeo de dependecircncia e de iacutentimo contato

Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede (2001) os profissionais de sauacutede devem ser

coadjuvantes dessa experiecircncia direcionando toda atenccedilatildeo agraves necessidades da mulher e

oportunizando-lhe o protagonismo e o controle da situaccedilatildeo na hora do nascimento

21

Os profissionais tambeacutem devem repassar para a mulher as opccedilotildees de escolha baseados

nas evidecircncias cientiacuteficas e nos seus direitos tendo a oportunidade de empregar seu

conhecimento a serviccedilo do bem-estar da mulher e do bebecirc sabendo reconhecer os momentos

criacuteticos em que suas intervenccedilotildees satildeo necessaacuterias

Igualmente seus deveres satildeo minimizar a dor acompanhar dar conforto esclarecer

orientar enfim ajudar a parir e a nascer Precisam lembrar que satildeo os primeiros a ter contato

com cada ser que nasce e portanto devem ter consciecircncia dessa responsabilidade (BRASIL

2001)

No Brasil o movimento pela humanizaccedilatildeo do parto eacute impulsionado por experiecircncia

em vaacuterios estados Em 1994 surgiu no Rio de Janeiro a primeira maternidade puacuteblica

autodefinida como ldquohumanizadardquo que recebeu o nome de Leila Diniz (DINIZ 2005) Outro

marco em termos de poliacuteticas puacuteblicas do parto e nascimento foi a criaccedilatildeo do Precircmio Galba

Arauacutejo para Maternidades Humanizadas instituiacutedo pela portaria nordm 2883 de 4 de junho de

1998 (BRASIL 1998)

Os criteacuterios para a concessatildeo deste precircmio satildeo baseados na adesatildeo agraves recomendaccedilotildees

da OMS tais como a presenccedila de acompanhantes no preacute-parto parto e poacutes-parto a assistecircncia

aos partos de baixo risco por enfermeiras obstetras e o controle das taxas de cesaacuterea

(BRASIL 2000b)

Concedido a niacutevel estadual e nacional o precircmio Galba de Arauacutejo tem provocado

mobilizaccedilatildeo nas instituiccedilotildees de Sauacutede que lutam em defesa dos direitos das mulheres e

crianccedilas e tem recebido a participaccedilatildeo de um nuacutemero crescente de serviccedilos a cada ediccedilatildeo

contribuindo para conferir legitimidade ao modelo humanizado (DINIZ 2005)

O Centro de Parto Normal-CPN foi outra iniciativa criada pela portaria nordm 985 de

agosto de 1999 que tem como finalidade o atendimento agrave mulher no periacuteodo graviacutedico-

puerperal tendo como uma das suas atribuiccedilotildees prestar atendimento humanizado e de

qualidade exclusivamente ao parto normal sem distoacutecia assistido por enfermeira obsteacutetrica

desenvolvendo atividades educativas e de humanizaccedilatildeo durante o preacute-natal visando agrave

preparaccedilatildeo das gestantes para o parto no CPN (BRASIL 1999)

A Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar (ANS) do Ministeacuterio da Sauacutede em janeiro

de 2008 atraveacutes da Resoluccedilatildeo Normativa nordm 167 reviu o Rol de Procedimentos e Eventos em

Sauacutede e ampliou as coberturas para as beneficiaacuterias de planos de sauacutede A partir de abril de

2008 deu-se a inclusatildeo na cobertura dos partos feitos por enfermeira obstetras e a presenccedila de

um acompanhante durante toda a estada da mulher no hospital desde o momento do parto ateacute

a sua alta (ANS 2008b)

22

Destaca-se tambeacutem que a partir do ano de 2005 a lei nordm 11108 passou a garantir agraves

parturientes o direito agrave presenccedila de acompanhante de sua preferecircncia durante o trabalho de

parto parto e poacutes-parto Outra iniciativa lanccedilada pela ANS na tentativa de estimular o

aumento de partos normais e modificar os altos iacutendices de cesarianas desnecessaacuterias na rede

privada foi a campanha em favor do parto normal intitulada Parto normal estaacute no meu

plano (ANS 2008a)

Em junho de 2008 foi divulgada a Resoluccedilatildeo RDC 36 da Agecircncia Nacional de

Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA) a qual preconiza que os serviccedilos de atendimento obsteacutetrico e

neonatal devem adotar medidas que incentivem o parto humanizado e a reduccedilatildeo dos iacutendices

de mortalidade materna e neonatal no paiacutes (BRASIL 2008b)

Tambeacutem devido a algumas maternidadeshospitais estarem fazendo uma cobranccedila

indevida para a presenccedila do acompanhante na sala de parto destinada a cobrir os gastos com a

limpeza e higienizaccedilatildeo das roupas ciruacutergicas e o uso de maacutescaras e toucas descartaacuteveis

utilizadas pelo acompanhante da gestante a ANS publicou em 02082011 a Resoluccedilatildeo

Normativa 262 (ANS 2011) Essa normativa define que as despesas a serem cobertas para o

acompanhante durante o preacute-parto parto e poacutes-parto imediato deve incluir taxas de

paramentaccedilatildeo acomodaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo pelo periacuteodo de 48h podendo se estender por ateacute

10 dias quando indicado pelo meacutedico assistente (DOU 2011)

Em junho de 2011 foi instituiacuteda a iniciativa da Rede Cegonha atraveacutes da portaria nordm

1459 de 24 de junho de 2011 no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede com o intuito de

fomentar a implementaccedilatildeo de novo modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher com foco na

atenccedilatildeo ao parto

Esta poliacutetica tendo como princiacutepios o respeito a proteccedilatildeo e a realizaccedilatildeo dos direitos

humanos o respeito agrave diversidade cultural eacutetnica e racial a promoccedilatildeo da equidade com o

enfoque de gecircnero a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos de mulheres

homens jovens e adolescentes a participaccedilatildeo e a mobilizaccedilatildeo com controle social e a

compatibilizaccedilatildeo com as atividades das redes de atenccedilatildeo agrave sauacutede materna e infantil em

desenvolvimento nos Estados (BRASIL 2011)

12 O parto e a cultura no processo da parturiccedilatildeo

Historicamente o parto jaacute foi vivenciado como um evento feminino no qual os

membros do grupo social da parturiente como a matildee familiares vizinhas auxiliavam-na

23

juntamente agrave parteira que tinha seus conhecimentos fundamentados na praacutetica e na

acumulaccedilatildeo de saberes passados tradicionalmente de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo (SANTOS 2002)

No entanto no seacuteculo XVIII na Europa o parto passou por um processo de

transformaccedilatildeo principalmente devido agrave influecircncia biomeacutedica masculina De um evento

feminino domiciliar e fisioloacutegico passa a ser patoloacutegico e institucionalizado dominado por

uma praacutetica intervencionista e hospitalocecircntrica da qual a mulher perdeu seu protagonismo

(SANTOS 2002)

A percepccedilatildeo da dor no parto eacute considerada como um dos motivos que influenciam a

mulher em sua preferecircncia pela cesaacuterea e estaacute profundamente arraigada no imaginaacuterio

popular como um evento associado agrave purgaccedilatildeo feminina Relaciona-se neste sentido agrave

citaccedilatildeo do Livro Biacuteblico de Gecircnesis que se refere agrave Eva como o primeiro ser humano que

pecou e acabou por corromper o resto da humanidade com sua transgressatildeo ouvindo de Deus

ldquoe tu mulher pariraacutes com dor os teus filhosrdquo (TEIXEIRA 2006)

A ideacuteia de que a mulher deve pagar no parto por seus pecados propagada pela

medicina e pela religiatildeo hegemocircnica contrapotildee-se agrave visatildeo do parto como um momento

prazeroso Esse sentido pode ser entendido como uma heresia e uma ameaccedila a um sistema de

crenccedilas que define o parto como um processo doloroso que faz mal agrave sauacutede e agrave sexualidade

feminina e que precisa ser controlado por aparatos meacutedicos (DINIZ 2011)

De acordo com Helman (2009) a dor e seus aspectos voluntaacuterios satildeo influenciados por

fatores sociais culturais e psicoloacutegicos que determinam se a dor privada seraacute traduzida e em

que tipo de comportamento quando for puacuteblica Isso estaacute muito imbricado ao significado

pessoal de que a mulher atribui agrave dor do parto ao contexto de vida em que estaacute inserida agraves

definiccedilotildees culturais da imagem corporal da estrutura e funccedilotildees do seu corpo

Ressalta-se nessa direccedilatildeo que a posiccedilatildeo das mulheres frente ao processo de

medicalizaccedilatildeo natildeo foi propriamente a de viacutetima As mulheres de classe mais alta natildeo mais

aceitavam sentir a dor do parto e natildeo desejavam correr mais riscos aleacutem de o ato de parir com

a assistecircncia de um meacutedico significar maior poder aquisitivo de seus maridos Com isso a

consolidaccedilatildeo do processo de medicalizaccedilatildeo e hospitalizaccedilatildeo do parto acontece em meados do

seacuteculo XX motivada por tais condiccedilotildees (VARGENS PROGIANTI 2004)

No Brasil o processo de institucionalizaccedilatildeo do parto isto eacute a ocorrecircncia dos partos

dentro de instituiccedilotildees hospitalares deu-se ao longo da deacutecada de 40 com o advento da

medicina preventiva cujo objetivo principal era reduzir a mortalidade infantil Somente mais

tarde a partir da deacutecada de 80 passou-se a justificar o processo de medicalizaccedilatildeo do parto

por meio da recorrecircncia das cesarianas para reduzir a mortalidade materna (BRASIL 2001)

24

Os meacutedicos natildeo acostumados ao acompanhamento de fenocircmenos fisioloacutegicos foram

instruiacutedos a intervir resolver casos complicados e ditar ordens O parto passou entatildeo a ser

visto como um ato ciruacutergico e a mulher parturiente sendo tratada como enferma foi

impedida de seguir seus instintos e de adotar a posiccedilatildeo mais cocircmoda e fisioloacutegica (BRASIL

2001)

Privada do direito baacutesico de escolha e autonomia no nascimento do proacuteprio filho deu-

se iniacutecio agrave era do parto medicalizado no qual a matildee deixa de ser a protagonista do processo

cedendo seu lugar agrave equipe meacutedica que passa a ser o centro da cena Diversas repercussotildees

advecircm desta mudanccedila As posiccedilotildees verticalizadas que ao longo dos milecircnios foram as mais

usadas pelas mulheres em todas as raccedilas e culturas passaram a ser negadas agraves parturientes

pelos meacutedicos (MACHADO 1995)

A posiccedilatildeo assumida pela parturiente e a sua livre movimentaccedilatildeo passaram a ser

praticamente negligenciadas por profissionais alinhados agrave praacutetica ocidental moderna na qual

a mulher em trabalho de parto manteacutem-se deitada horizontalmente ou em uma posiccedilatildeo semi

inclinada para conveniecircncia da equipe obsteacutetrica na aplicaccedilatildeo dos soros monitores e

anesteacutesicos Evidecircncias de estudos etnograacuteficos realizados atualmente mostram que as

mulheres que natildeo satildeo expostas a essas rotinas assumem posiccedilotildees verticais no trabalho de

parto e no parto (BALASKAS 2008)

Balaskas (2008) reforccedila ainda que um parto ativo eacute uma atitude mental de crenccedila na

natureza do processo do parto e o modo como a mulher segue a loacutegica de seus instintos e da

sua fisiologia eacute uma forma de manifestar que estaacute no controle do seu corpo durante o trabalho

de parto e nascimento e que natildeo eacute um mero objeto de intervenccedilatildeo da equipe obsteacutetrica Os

significados culturais dados aos fenocircmenos fisioloacutegicos psicoloacutegicos e sociais de uma

sociedade refletem o comportamento das pessoas e ateacute a forma de desenvolvimento poliacutetico

econocircmico de dada sociedade (HELMAN 2009)

13 Referencial teoacuterico de Emily Martin sobre o parto e cultura

Segundo a antropoacuteloga Emily Martin (2006) a metaacutefora do uacutetero como maacutequina teve

iniacutecio no decorrer dos seacuteculos XVII e XVIII nos hospitais franceses Esta metaacutefora compara

o uacutetero a uma bomba mecacircnica capaz de expelir o feto Importante assinalar que nesta eacutepoca

que o foacuterceps era instrumento utilizado por accedilougueiros barbeiros falidos cujo status social

25

era equivalente ao de um mecacircnico De acordo com Vieira (2002) as regulamentaccedilotildees para

partejar exigiam que esses homens fossem chamados pelas parteiras para manipular os

instrumentos

A partir do seacuteculo XIX a ideologia de produccedilatildeo das faacutebricas torna-se tatildeo abrangente

que ldquochegardquo aos corpos das mulheres os quais passam a ser vistos nos textos de obstetriacutecia

como faacutebricas para a produccedilatildeo de bebecircs Martin (2006) propotildee utilizar esta metaacutefora de

produccedilatildeo fabril para entender o processo de trabalho em que meacutedico e a mulher estatildeo

envolvidos

Nesta metaacutefora segundo a autora acrescenta-se a figura do meacutedico no papel de

supervisor ou ateacute dono da faacutebrica e a mulher no papel de trabalhadora cuja maacutequina (uacutetero)

produz o produto (bebecirc) O olhar a partir de metaacuteforas de acordo com a pesquisadora

permite comparar as mesmas formas de controle e poder que ocorrem no acircmbito da produccedilatildeo

industrial ou seja de controlar os movimentos dos trabalhadores conforme a produccedilatildeo da

progressatildeo em periacuteodos especiacuteficos de tempo da maacutequina (uacutetero) para avaliar e controlar se

as contraccedilotildees uterinas satildeo eficientes ou ineficientes (MARTIN 2006)

A autora supracitada questiona o papel de passividade da mulher em relaccedilatildeo agraves

contraccedilotildees uterinas que consideradas pela ciecircncia meacutedica involuntaacuterias e inclusive

responsaacuteveis totais pela realizaccedilatildeo do parto Rezende e Montenegro (2003) comenta que no

periacuteodo expulsivo as contraccedilotildees satildeo realizadas com a glote fechada e com esforccedilos

respiratoacuterios verdadeiros chamados ldquopuxosrdquo Em nenhum momento foi mencionado que eacute a

parturiente que faz esse esforccedilo Outro exemplo de exclusatildeo do papel mulher em seu processo

de parto eacute o foco no feto conforme a citaccedilatildeo de Rezende e Montenegro (2003 p177) ldquono seu

transcurso atraveacutes do canal parturitivo impulsionado pela contratilidade uterina o feto eacute

compelido a executar certo nuacutemero de movimentos que se denominam mecanismo do partordquo

Assim sendo a metaacutefora utilizada por Martin (2006) desvela uma perspectiva que apresenta

as mulheres gestantes como ldquomateacuteria-primardquo para a produccedilatildeo de um ldquoprodutordquo

Nessa direccedilatildeo torna-se imprescindiacutevel para a produccedilatildeo de bebecircs perfeitos a

intervenccedilatildeo da cesaacuterea exigindo um miacutenimo de trabalho do uacutetero e da mulher atribuindo a

esse procedimento a imagem de ldquouacutenica graccedila salvadorardquo do bebecirc Este posicionamento

segundo a autora ignora o que talvez seja extremamente significante para a mulher e para seu

bebecirc ter a oportunidade de vivenciar o nascimento do seu filho (a) atraveacutes do seu proacuteprio

esforccedilo experimentando o protagonismo no seu parto e no nascimento da crianccedila

O mecanismo do parto conforme Rezende eacute o estudo da mecacircnica do parto o que

vem ao encontro da metaacutefora do uacutetero como maacutequina

26

A cultura meacutedica segundo Martin (2006) seria um sistema cultural cujas ideais

sobressaem-se agrave cultura popular

A autora faz ainda referecircncia a textos em obstetriacutecia da Universidade Johns Hopkins

nos EUA que comprovam que causas externas podem interferir nas atividades uterinas e que

tais alteraccedilotildees emocionais da mulher quase natildeo satildeo levadas em consideraccedilatildeo na obstetriacutecia

tendo como consequecircncia o aval para intervenccedilotildees como amniotomias uso de ocitocina para

acelerar o trabalho de parto ou a utilizaccedilatildeo da cesariana considerando desnecessaacuterias as

contraccedilotildees (MARTIN 2006)

A participaccedilatildeo do meacutedico como promotor de uma cultura intervencionista foi

destacada em um estudo nacional realizado pela socioacuteloga americana Hopkins (2000) com

pueacuterperas de cliacutenicas privadas e puacuteblicas Segundo o estudo das mulheres que fizeram

cesariana trecircs em quatro das primiacuteparas do setor privado e oito em dez do setor puacuteblico

gostariam de ter tido partos vaginais Observou-se que o meacutedico obstetra promove os medos

nas gestantes em relaccedilatildeo ao parto e superestima a seguranccedila da cesariana em funccedilatildeo dos seus

interesses

Para Martin (2006) a alienaccedilatildeo e a condiccedilatildeo fragmentada constadas na linguagem e

de algumas mulheres satildeo descritas como uma autopercepccedilatildeo passiva sendo contrastadas com

discursos de mulheres que questionam se opotildeem rejeitam e reformulam suas formas de viver

e as maneiras como a sociedade poderia funcionar apresentando uma autopercepccedilatildeo que tenta

resistir agrave passividade

As mulheres que optam pelo parto domiciliar saem dessa passividade buscam outras

formas de serem ativas no seu parto e reivindicam seu espaccedilo no ato de parir questionando o

paradigma atual de assistecircncia ao parto preconizado nas instituiccedilotildees hospitalares (KRUNO

BONILHA 2004)

No estudo etnograacutefico realizado por Martin (2006) em Baltimore (EUA) encontra-se

a narrativa de uma mulher que resiste a essa maneira de fragmentaccedilatildeo exprimindo a sua

frustraccedilatildeo em relaccedilatildeo ao parto cesariano imposto pela conduta meacutedica A narradora conta

com raiva a sua experiecircncia com a cesariana por ter perdido a cena do nascimento devido agrave

limitaccedilatildeo e ao jejum impostos pela anestesia natildeo podendo realizar os primeiros cuidados do

seu bebecirc aleacutem da proibiccedilatildeo de se alimentar por horas e limitando-se a nutrientes para a

recuperaccedilatildeo mais eficaz da cirurgia

A necessidade de compreensatildeo do parto enquanto parte integrante da vida sexual

emocional e cultural da mulher eacute proposta por Odent (2000) como o entendimento das bases

fisioloacutegicas e a integraccedilatildeo entre diferentes momentos da vida Sua hipoacutetese eacute a de que o

27

cuidado com o modo como nascemos e com a vinculaccedilatildeo amorosa matildee-bebecirc pode propiciar a

construccedilatildeo de uma sociedade mais amorosa menos destrutiva e de mais respeito pelos seres

humanos e pela natureza Esse paradigma holiacutestico tambeacutem referendado por Floyd (2004)

que destaca como elemento fundamental no processo do parto o contato das mulheres consigo

mesmas como um estado especial de consciecircncia similar agraves relaccedilotildees entre os estados

orgaacutesticos agrave oraccedilatildeo e agraves emoccedilotildees miacutesticas Nesse momento as funccedilotildees intelectuais

neocorticais devem estar colocadas em segundo plano proporcionando a expressatildeo de

funccedilotildees cerebrais mais instintivas caracteriacutesticas do parto e do aleitamento

Segundo Martin (2006) os esforccedilos para oferecer este novo paradigma que devolve agrave

mulher o controle do seu corpo no parto satildeo extraordinaacuterios O que natildeo deve permanecer

ainda que subliminarmente eacute a ideologia dominante de nossa sociedade na qual as mulheres

ao darem a luz de maneira mais aproximada do parto natural satildeo consideradas desprovidas de

cultura e consequentemente inferiores por aproximarem-se da natureza ldquoprimitivardquo como se

andassem para traacutes no tempo e na evoluccedilatildeo

Historicamente esta divisatildeo da cultura e da natureza fomentada pelos escritores do

seacuteculo XIX surgiu a partir do desenvolvimento das sociedades ocidentais e da

industrializaccedilatildeo sendo organizada em torno de dois mundos a esfera privada dentro de casa

que eacute evidenciada pertencente agrave mulher onde ocorrem funccedilotildees ditas ldquonaturaisrdquo e a esfera

puacuteblica fora de casa na qual os homens estatildeo em maior evidecircncia e onde se produz ldquoculturardquo

a qual eacute considerada atividade superior evidenciada aos homens e vista como dominante

(MARTIN 2006)

Essa forma de pensar relega a mulher ao domiacutenio do natural do inferior e da

domesticidade considera-a mais simples animalesca e livre de autocensuras Compreende

que haacute uma iniquumlidade entre natureza e cultura e que ao ldquosubmeterrdquo a mulher a fenocircmenos

totalmente naturais como o parto normal estamos reafirmando a concepccedilatildeo da mulher como

um ser mais primitivo que pertence somente agrave natureza (MARTIN 2006)

Reflete-se por outro lado de acordo com Gama (2009) que o modelo de organizaccedilatildeo

dos serviccedilos puacuteblicos e privados apresenta variaccedilotildees que produzem diferentes tipos de

assistecircncia e de relaccedilatildeo entre os profissionais de sauacutede e as usuaacuterias dando forma agraves

experiecircncias distintas entre as mulheres pesquisadas

Ao empreender uma criacutetica assentada nas relaccedilotildees de gecircnero Gama (2009) verificou

que o modelo de assistecircncia ao parto permanece submetendo quem deve ser sujeito e reproduz

o projeto da medicalizaccedilatildeo Isso reduz o campo da assistecircncia e inviabiliza um lugar de poder

diferenciado das usuaacuterias sendo a cesariana utilizada como um procedimento de alta

28

rentabilidade para a medicina obsteacutetrica privada conforme a citaccedilatildeo da antropoacuteloga Emily

Martin

Se a cesariana torna-se uma fonte de honoraacuterios mais altos para os meacutedicos e contas

hospitalares mais altas que o parto vaginal eacute de se esperar que encontremos mais

cesarianas sendo realizadas em mulheres no alto da escala de classe e raccedila

(MARTIN 2006 p 235)

Tal constataccedilatildeo justifica a demanda dos altos iacutendices de cesaacuterea no Brasil com a forma

como se organizou a assistecircncia obsteacutetrica e a formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que

reproduzem no cotidiano esse sentido tecnoloacutegico do parto e do nascimento

Com a invasatildeo da tecnologia a mulher perdeu sua autonomia como protagonista uma

vez que no modelo intervencionista da atual assistecircncia obsteacutetrica ela tornou-se objeto da

accedilatildeo e vem perdendo o controle e a decisatildeo sobre o proacuteprio processo de parto e de

nascimento Essa realidade pode afetar profundamente as mulheres os bebecircs as famiacutelias e

produzir efeitos importantes e persistentes sobre a sociedade (DINIZ 2001)

Ratifica-se nas palavras de Dias (2008) que a perda do protagonismo da mulher no

cenaacuterio do parto reflete-se nos altos iacutendices de cesaacutereas nas uacuteltimas deacutecadas no Brasil Por

outro lado a mudanccedila no modelo de assistecircncia ao parto pode ser uma estrateacutegia promissora

para a reversatildeo desse quadro jaacute que os fatores associados agrave decisatildeo da cesariana independem

do desejo da mulher

A mudanccedila para outro modo de parir mais conectado com todas as forccedilas da vida e da

cultura das mulheres pode possibilitar a construccedilatildeo de um modelo humaniacutestico com vistas ao

holiacutestico e agrave expressatildeo de um tempo de uma cultura de um avanccedilo das praacuteticas obsteacutetricas

do parto com a convivecircncia de muacuteltiplos paradigmas da assistecircncia

29

2 CAMINHO METODOacuteLOGICO

21 Fundamentos metodoloacutegicos

A presente investigaccedilatildeo constitui-se como uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva

A pesquisa qualitativa abarca o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores

e atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees (MINAYO 2004) A

metodologia qualitativa pode possibilitar aleacutem de uma interpretaccedilatildeo com lentes ampliadas do

objeto de estudo uma inserccedilatildeo na cultura do ldquooutrordquo (GEERTZ 1989)

Para Leopardi (2001) e Minayo (2008) o estudo qualitativo compreende a descriccedilatildeo e

a anaacutelise da realidade de diferentes maneiras para representar as experiecircncias do fenocircmeno

vivenciadas pelos indiviacuteduos Haacute uma implicaccedilatildeo entre o conhecimento sobre o mundo e os

sujeitos que o constroem numa relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto Logo a

interpretaccedilatildeo do fenocircmeno atribuindo-lhe significados faz parte do processo de

conhecimento tanto do sujeito pesquisador quanto dos atores pesquisados Eacute comumente

utilizada por pesquisadores sociais preocupados com a atuaccedilatildeo praacutetica (GIL 2007)

A pesquisa descritiva trabalha sobre dados ou fatos colhidos da proacutepria realidade do

indiviacuteduo ou de grupos e comunidades mais complexas Busca conhecer as diversas situaccedilotildees

e relaccedilotildees que ocorrem na vida social poliacutetica econocircmica e cultural principalmente nas

ciecircncias humanas e sociais objetivando abordar dados e problemas relevantes cujo registro

natildeo consta de documentos (CERVO BERVIAN DA SILVA 2007)

22 Os cenaacuterios do estudo

Esta pesquisa foi prevista inicialmente para ser somente desenvolvida na Unidade

Sanitaacuteria Kennedy (USK) no municiacutepio de Santa Maria - RS pelo fato de ser campo de aulas

praacuteticas e de estaacutegio supervisionado para os alunos do Curso de Enfermagem da Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM) onde satildeo realizadas accedilotildees de promoccedilatildeo agrave sauacutedecidadania de

crianccedilas adolescentes mulheres e adultos A aacuterea de abrangecircncia da USK inclui dezoito vilas

30

compreendendo uma populaccedilatildeo de aproximadamente trinta mil habitantes Em relaccedilatildeo agrave

escolaridade os natildeo alfabetizados e os indiviacuteduos que possuem o primeiro grau incompleto

perfazem 83 da populaccedilatildeo A renda per capita de 58 das pessoas e ateacute um salaacuterio miacutenimo

e 27 recebem um a dois salaacuterios miacutenimos Esta regiatildeo ainda hoje caracteriza-se por um alto

iacutendice de desemprego criminalidade desnutriccedilatildeo doenccedilas infecto-contagiosas aleacutem da

precariedade de saneamento baacutesico e de habitaccedilatildeo (MONDARDO et al 1993)

Poreacutem devido a dificuldades de infra-estrutura na referida unidade foi solicitada

transferecircncia de campo da pesquisa para o Hospital Universitaacuterio de Santa Maria (HUSM)

atraveacutes de ementa ao Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM) (Anexo B) estipulando como os locais de coleta os serviccedilos de ginecologia e

obstetriacutecia do hospital

As dificuldades encontradas foram inerentes ao objeto da pesquisa aleacutem de problemas

teacutecnico-administrativos na USK Os problemas de natureza e objeto concernem aos criteacuterios

de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos dada a ausecircncia de mulheres encaixadas em tais criteacuterios

no grupo de planejamento familiar na USK

Os problemas teacutecnico-administrativos foram relativos agrave infra-estrutura da USK que

estava funcionando em um local menor durante os procedimentos de reforma no preacutedio da

instituiccedilatildeo

Outras estrateacutegias foram realizadas na busca por sujeitos como a visita nos dias e

horaacuterios da consulta puericultura visando encontrar mulheres dentro dos criteacuterios que

viessem acompanhando os seus filhos na consulta contudo a tentativa natildeo obteve sucesso

pois era o grande nuacutemero de mulheres dentro dos criteacuterios de exclusatildeo neste caso pueacuterperas

O HUSM entatildeo foi o outro cenaacuterio escolhido para a coleta de dados que justificou-se

pela diversidade de serviccedilos de atendimento oferecidos a mulheres e de profissionais do sexo

feminino que laacute trabalham principalmente da enfermagem o que foi bastante significativa

para o estudo Solicitou-se entatildeo a autorizaccedilatildeo ao Departamento de Ensino e Pesquisa

(DEPE) do HUSM para realizaccedilatildeo da pesquisa neste serviccedilo e autorizada pelo CEP da UFSM

atraveacutes de emenda (Anexo B) para a ampliaccedilatildeo do cenaacuterio e do periacuteodo de coleta de dados

O HUSM eacute um hospital-ensino fundado no ano de 1970 que serve como base de

atendimento primaacuterio dos bairros que o cercam para o atendimento secundaacuterio agrave populaccedilatildeo

de Santa Maria e para o atendimento terciaacuterio da regiatildeo centro e fronteira gauacutecha O hospital

constitui-se como centro de ensino pesquisa e extensatildeo no acircmbito das Ciecircncias da Sauacutede

aleacutem de centro de programaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de accedilotildees voltadas agrave sauacutede das comunidades

local e regional Tambeacutem presta serviccedilos assistenciais em todas as especialidades meacutedicas

31

bem como serve de treinamento para alunos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Medicina

Residecircncia Meacutedica e de graduaccedilatildeo em Enfermagem Farmaacutecia Fonoaudiologia e

Fisioterapia

Satildeo serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia do HUSM

a unidade de Internaccedilatildeo do Centro Obsteacutetrico situada no sub- solo do HUSM

provida de seis leitos de internaccedilatildeo para mulheres em trabalho de parto ou no poacutes-parto

quatro leitos de internaccedilatildeo poacutes-cesaacuterea trecircs leitos de observaccedilatildeo para o atendimento de

intercorrecircncias ginecoloacutegicas e agrave mulher viacutetima de violecircncia

a unidade de internaccedilatildeo Toco-ginecoloacutegica situada no 2ordm andar do HUSM

onde se atendem pueacuterperas gestantes de alto-risco e mulheres em tratamento ginecoloacutegico

Possui trinta e sete leitos dos quais onze satildeo destinados agrave cliacutenica ginecoloacutegica e vinte e seis agrave

obstetriacutecia

o ambulatoacuterio da ala II que eacute localizado no teacuterreo e atende consultas de preacute-

natal puerpeacuterio e ginecologia

Destaca-se que nas unidades referidas circula um grande nuacutemero de familiares do

sexo feminino que acompanham as gestantes pueacuterperas e as mulheres internadas para

tratamento ginecoloacutegico

23 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos

Os criteacuterios de inclusatildeo foram mulheres que jaacute tiveram filhos por via vaginal ou

cesariana que natildeo estavam gestando nem eram puerpeacuteras e cujos partos ocorreram a partir do

ano de 2004 tendo como marco referencial o Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e

Nascimento do Ministeacuterio da Sauacutede Este programa foi criado em 2000 pelo Ministeacuterio da

Sauacutede mas implantado em todos os municiacutepios do Rio Grande do Sul somente em 2004

Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo mulheres nuliacuteparas mulheres

gestantes e pueacuterperas uma vez que o processo de parturiccedilatildeo ocorrendo em periacuteodo proacuteximo

ou concomitante agrave entrevista poderia influenciar nas respostas devido mais a aspectos

fisioloacutegicos e emocionais relacionados agrave dor do parto do que por aspectos culturais

32

24 Caracterizaccedilatildeo das participantes

Este estudo foi realizado com oito mulheres em idade feacutertil com histoacuteria pregressa de

parto vaginal ou cesariano quatro mulheres foram captadas na USK e quatro no HUSM

Foram convidadas para entrevistas mulheres que buscavam o atendimento no programa de

planejamento familiar da USK mulheres que buscavam o atendimento no HUSM nos

serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia e mulheres que estavam no momento da entrevista nos

serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia do HUSM

Para finalizaccedilatildeo da coleta foi utilizado o criteacuterio de saturaccedilatildeo de dados por

reincidecircncia ou seja quando da repeticcedilatildeo dos dados a coleta foi entendida como satisfatoacuteria

e entatildeo suspensa (VIacuteCTORA KNAUTH HASSEN 2000)

As participantes do estudo foram identificadas pela letra M de mulher e um nuacutemero

escolhido por ordem de entrevista (M1-M8) sendo caracterizadas no que se refere aos

aspectos soacutecio-culturais de idade estado civil escolaridade regiatildeo de moradia nuacutemero de

filhos ocupaccedilatildeo e tipo de parto vivenciado conforme descrito abaixo

Mulher 1 - 34 anos 2ordf grau completo casada teacutecnica de enfermagem Com quatro

filhos nascidos de partos normais

Mulher 2 - 24 anos 1ordm grau completo diarista casada Com uma filha tem uma

cesaacuterea

Mulher 3 - 28 anos 2ordf grau completo teacutecnica de enfermagem solteira uniatildeo estaacutevel

Com um filho nascido de parto normal

Mulher 4 - 22 anos 2ordf grau incompleto solteira operadora de caixa de supermercado

Com um filho fez uma cesaacuterea

Mulher 5 - 32 anos 1ordm grau completo do lar casada Com um filho nascido de parto

normal e o outro fez uma cesaacuterea

Mulher 6 - 35 anos 3ordm grau completo enfermeira casada Com dois filhos fez duas

cesaacutereas

Mulher 7- 28 anos 1ordm grau completo empregada domeacutestica uniatildeo estaacutevel Tem quatro

filhos nascidos de partos normal

Mulher 8 - 27 anos 2ordf grau imcompleto dona de casa divorciada Com quatro filhos

fez quatro cesaacutereas

Todas estavam na faixa etaacuteria entre 22 e 35 anos Quanto ao estado civil seis satildeo

casadas uma divorciada e uma solteira poreacutem com uniatildeo estaacutevel no momento da entrevista

33

O niacutevel de escolaridade apresentou trecircs mulheres com ensino meacutedio completo uma

com incompleto trecircs com ensino fundamental completo e uma com curso superior

Todas as participantes satildeo moradoras da zona urbana do municiacutepio

Quanto ao nuacutemero de filhos o grupo em estudo tem uma meacutedia de 2 filhos sendo que

a menor e a maior prole foi de 1 e de 4 filhos respectivamente

Quanto agrave ocupaccedilatildeo das entrevistadas duas satildeo donas de casa duas teacutecnicas de

enfermagem uma enfermeira duas empregadas domeacutesticas e uma operadora de caixa de

supermercado

O tipo de parto de maior incidecircncia vivenciado pelas mulheres foi o parto normal

num total de dez e o total de cesaacutereas foram nove

25 Inserccedilatildeo em campo

Inicialmente na USK foram contatadas mulheres que participavam dos grupos de

planejamento familiar e que compareciam nos dias preacute-estabelecidos para a dispensa dos

meacutetodos anticoncepcionais No HUSM a busca de sujeitos estendeu-se agraves diferentes unidades

de atendimento gineco-obsteacutetrico mulheres acompanhantes e mulheres que trabalham nestas

unidades e que atendiam aos criteacuterios de inclusatildeo

Tanto na USK quanto no HUSM as mulheres foram selecionadas por meio de contato

direto com a pesquisadora na sala de espera das referidas unidades ou quando estavam

acompanhando a sua familiar durante a internaccedilatildeo no HUSM

Como havia entre as participantes funcionaacuterias do serviccedilo que atendiam aos criteacuterios

de inclusatildeo dos sujeitos estas profissionais foram convidadas e as entrevistas realizadas

durante o intervalo do horaacuterio de trabalho Algumas entrevistas foram realizadas no domiciacutelio

das participantes e outras na proacutepria unidade de sauacutede e unidades do HUSM em uma sala

reservada

26 Coleta de dados

Para a obtenccedilatildeo da coleta de dados utilizou-se como instrumento uma entrevista semi-

estruturada contendo questotildees fechadas para a caracterizaccedilatildeo do grupo em estudo e questotildees

abertas que possibilitaram o aprofundamento dos dados e a obtenccedilatildeo de respostas

34

relacionadas agrave vivecircncia das pessoas A coleta de dados foi entre janeiro e marccedilo de 2011 A

entrevista foi gravada em MP3 e posteriormente transcrita na iacutentegra pela pesquisadora de

forma literal A entrevista aberta eacute aquela em que o informante aborda livremente o tema

proposto com pergunta previamente formulada e que possibilita descrever sua vivecircncia de

forma retrospectiva sem repressatildeo de seu pensamento Propicia coletar material

extremamente rico para anaacutelise e contribui para o trabalho de pesquisa em andamento

(MINAYO 2000) Como estrateacutegia de compreensatildeo da realidade sua principal funccedilatildeo eacute

retratar as experiecircncias vivenciadas bem como as definiccedilotildees fornecidas por pessoas grupos

ou organizaccedilotildees (MINAYO 2000)

As entrevistas foram previamente agendadas por meio de contato pessoal sendo

marcados data local e horaacuterio que melhor conviessem agraves entrevistadas evitando interrupccedilotildees

constrangimentos de modo a lhes permitir sentir-se agrave vontade

27 Anaacutelise dos dados

Em posse dos dados coletados estes foram objeto da investigaccedilatildeo de acordo com a

anaacutelise temaacutetica de Minayo (2008) Tal anaacutelise consiste em descobrir os nuacutecleos de sentidos

que constituem uma comunicaccedilatildeo em que sua frequecircncia ou presenccedila revela algum

significado para o objeto analiacutetico Por conseguinte para analisar significados de um

determinado depoimento o surgimento de determinados temas denota estruturas de

relevacircncia valores de referecircncia e modelos de comportamento que podem estar ocultos no

discurso (MINAYO 2008)

Considera-se que a compreensatildeo e a interpretaccedilatildeo das entrevistas nas pesquisas

qualitativas natildeo se realizam em um soacute momento pois acontecem no decorrer da proacutepria coleta

e anaacutelise dos dados quando o pesquisador interage com os sujeitos do estudo na transcriccedilatildeo

das entrevistas e particularmente nas leituras e na organizaccedilatildeo das informaccedilotildees Poreacutem para

uma melhor sistematizaccedilatildeo e compreensatildeo deve-se seguir um percurso ordenado para que se

possa igualmente apreender o conjunto dos significados contidos nos depoimentos dos

entrevistados

Minayo (2008) descreve seguindo Bardin (1977) que essa ordenaccedilatildeo da anaacutelise

temaacutetica segue a sequecircncia de trecircs etapas quais sejam preacute-anaacutelise a exploraccedilatildeo do material e

o tratamento dos resultados obtidos e interpretaccedilatildeo

35

Neste estudo a etapa de preacute-anaacutelise compreendeu a interpretaccedilatildeo do material que se

deu a partir dos questionamentos do investigador Essa etapa consistiu em trecircs tempos o

primeiro chamado de leitura flutuante entendido como a leitura exaustiva das informaccedilotildees do

material de campo periacuteodo de impregnaccedilatildeo do conteuacutedo pelo investigador Jaacute o segundo

tempo foi a Constituiccedilatildeo do ldquoCorpusrdquo no qual se buscou verificar se o material coletado

abrangia regras de eficaacutecia qualitativa tais como exaustividade representatividade

homogeneidade e pertinecircncia Em relaccedilatildeo ao terceiro tempo este perpassou a Formulaccedilatildeo e a

Reformulaccedilatildeo de Hipoacuteteses e Objetivos que baseou-se no retorno a etapa exploratoacuteria de

revisatildeo das hipoacuteteses com intuito de corrigir erros de interpretaccedilatildeo e de ampliar o leque de

indagaccedilotildees para identificar o que surge de relevante para posterior construccedilatildeo de temas ou

categorias de anaacutelise

A segunda etapa da anaacutelise temaacutetica consistiu na Exploraccedilatildeo do Material que se

delineou basicamente nas categorias especiacuteficas que abrangeram elementos ou aspectos de

caracteriacutesticas comuns ou que se relacionavam entre si

A terceira etapa constituiu o Tratamento dos Resultados Obtidos e a Interpretaccedilatildeo

Nesse momento realizaram-se inferecircncias sendo realizada a articulaccedilatildeo entre as informaccedilotildees

aqui construiacutedas e os referenciais teoacutericos de estudos jaacute publicados respondendo agrave questatildeo da

pesquisa com base em seus objetivos

28 Questotildees eacuteticas

Para a realizaccedilatildeo de todas as atividades da pesquisa atentou-se para os criteacuterios eacuteticos

e os princiacutepios bioeacuteticos da voluntariedade da autonomia da beneficecircncia da natildeo-

maleficecircncia e da justiccedila que fundamentam a Resoluccedilatildeo nordm 19696 do Conselho Nacional de

Sauacutede o qual prescreve a eacutetica na pesquisa com seres humanos (BRASIL 1996)

O projeto foi registrado no Gabinete de Projetos do Centro de Ciecircncias da Sauacutede

sendo solicitada autorizaccedilatildeo para o desenvolvimento da pesquisa ao Secretaacuterio Municipal de

Sauacutede e a Direccedilatildeo de Ensino e Pesquisa do HUSM (DEPE) Em um segundo momento foi

encaminhado para a anaacutelise do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa com Seres Humanos da UFSM

(CEP) com a devida documentaccedilatildeo solicitada assinada pelo responsaacutevel legal da instituiccedilatildeo e

pela pesquisadora Apoacutes a aprovaccedilatildeo do CEP foi realizada a etapa de campo da pesquisa

36

Os sujeitos foram informados dos detalhes da pesquisa objetivos e produccedilatildeo de dados

Para tanto antes da realizaccedilatildeo da entrevista foi lido com os sujeitos o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apecircndice B) que concordando com este

optaram por assinaacute-lo O TCLE foi redigido em duas vias uma para a participante e outra

para a pesquisadora Da mesma forma foi redigido o Termo de Confidencialidade o qual

descreve o compromisso das pesquisadoras em relaccedilatildeo agraves informaccedilotildees que soacute poderatildeo ser

divulgadas de forma anocircnima e mantidas em Compact Disc (CD) por um periacuteodo de 5

(cinco) anos sob a sua inteira responsabilidade Apoacutes este periacuteodo ficou acordado que os

dados gravados seratildeo destruiacutedos Destaca-se que o compromisso em relaccedilatildeo agrave preservaccedilatildeo do

sigilo da identidade dos sujeitos durante todas as etapas da pesquisa mesmo com a

divulgaccedilatildeo dos seus resultados sob qualquer forma foi observado sendo utilizado o sistema

de identificaccedilatildeo alfanumeacuterico

Foram ressaltadas a liberdade da participaccedilatildeo espontacircnea e o direito de desistecircncia por

parte das participantes a qualquer momento da pesquisa a fim de se evitar riscos agrave dimensatildeo

fiacutesica moral intelectual social cultural ou espiritual em qualquer fase da pesquisa com a

garantia dos princiacutepios de beneficecircncia e natildeo-maleficecircncia No entanto foi exposto que o

momento da entrevista poderia trazer algumas lembranccedilas questionamentos eou conflitos agrave

dimensatildeo emocional pelo fato de que o sujeito iria refletir sobre o seu cotidiano e suas

vivecircncias Caso isto acontecesse poderia ser indicada uma consulta se assim a participante

desejasse com profissional qualificado do serviccedilo da aacuterea de sauacutede mental do Hospital

Universitaacuterio de Santa Maria previamente contatado

37

3 ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS DADOS

O parto institucionalizado vem sendo apresentado agraves mulheres como um periacuteodo

essencialmente meacutedico que traz consigo as referecircncias de um periacuteodo patoloacutegico e

medicalizado Em consequumlecircncia disso a abordagem sob a perspectiva bioloacutegica pode reduzi-

lo e suprimir a revelaccedilatildeo dos diferentes acircngulos e facetas do universo cultural e social da

parturiente Em virtude disso este estudo fundamentou-se em conceitos socioculturais e natildeo

apenas nos meacutedico-cientiacuteficos Salienta-se que natildeo se pretende abolir os conceitos

biomeacutedicos mas antes entendecirc-los como apenas uma dentre as vaacuterias formas de abordagem

do nascimento

Monticelli (1996) aborda essa questatildeo ao confirmar que a enfermagem quando age

contextualizada dentro desta perspectiva propicia o compartilhamento de saberes e praacuteticas

evitando posturas etnocecircntricas simplistas ou puramente biologicistas sobre o processo da

parturiccedilatildeo

Na sequecircncia deste capiacutetulo seratildeo abordados seis temas surgidos em decorrecircncia da

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados que surgiram das falas das mulheres entrevistadas percepccedilatildeo

das mulheres sobre o nascimento percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado a percepccedilatildeo

das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto conhecendo como se daacute a construccedilatildeo cultural

do processo parturitivo das mulheres resistecircncia das mulheres ao modelo biomeacutedico do parto

percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea

A partir desses temas estabelecer-se-aacute um diaacutelogo com o referencial teoacuterico buscando

alcanccedilar nesse movimento a compreensatildeo de como a cultura influecircncia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher

A Percepccedilatildeo das mulheres sobre o nascimento

Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo das mulheres sobre o nascimento foram relatadas tanto

experiecircncias positivas quanto negativas

A abordagem positiva relatada pelas entrevistadas retrata a responsabilidade por uma

nova vida e a emoccedilatildeo do nascimento conforme as falas das entrevistadas

Tem a parte fiacutesica e espiritual Eu vejo como uma forma de oportunidade da gente crescer e

dar esta oportunidade para este ser que estaacute vindo resgatar as coisas que a gente precisa e que ele

precisa tambeacutem (M1)

38

Eacute uma daacutediva que Deus deu para gente inexplicaacutevel assim apesar de tudo o que a gente

passa ateacute o nascimento da crianccedila Eacute maravilhoso (M2)

Eu acho que eacute uma vida nova que vem para gente compromisso de ter que guiar aquela

pessoa que taacute nascendo com amor com aquele sentimento de cuidar de matildee de ser responsaacutevel por

aquele ser pelas atitudes dele pelo crescimento dele (M3)

O que eu imaginava na hora era ganhar ver o rostinho deles a parte mais emocionante eacute ver

a hora que eles nascem (M8)

As falas das mulheres apontam para positividades da percepccedilatildeo do parto relacionada agrave

emoccedilatildeo da primeira vez de ver o bebecirc e ao contato fiacutesico nesse momento bem como ao

sentimento de responsabilidade pelo filho Essa abordagem transmite um senso de unidade

sobre a pessoa e sua experiecircncia fiacutesica com enfoque nos aspectos emocionais e espirituais do

nascimento Segundo Martin (2006 p 248) ldquoo parto positivo concentra-se na integraccedilatildeo

funcional de todas as partes da mulher - suas memoacuterias passadas esperanccedilas futuras sua

mente e seu corpordquo

Martin (2006) apresenta as metaacuteforas da danccedila e da jornada para descrever esta

integridade colocam a mulher em um papel claramente ativo A danccedila ao significar que

quando corpo e mente encontram-se alinhados danccedilam em sincronia e unidade e entregam-se

agrave nova vida que vem chegando A metaacutefora do parto como uma jornada torna-se uma

oportunidade para o crescimento psicoloacutegico da mulher que se inicia no primeiro trimestre e

culmina no trabalho de parto quando ela relaciona-se iacutentima e singularmente consigo mesma

tendo ao final uma experiecircncia de aprendizado totalmente sua

Foi destacada pelas entrevistadas a mudanccedila do status social e o compromisso com

este novo ser na sua vida denotando o compromisso e a responsabilidade de ser matildee A

mulher que daacute agrave luz com vivecircncias positivas apresenta atitudes que vatildeo dignificaacute-la e que

fortalecem o seu ldquoeu interiorrdquo (BALASKAS 2008)

Este momento faz parte de um ritual de transiccedilatildeo social presente em todas as

sociedades do status social de esposa para o de matildee com intuito de unir os aspectos

fisioloacutegicos aos aspectos sociais da vida de uma pessoa Dessa maneira existem muitas

crenccedilas e rituais do parto e puerpeacuterio no mundo ocidental que continuam ateacute que a matildee e a

crianccedila estejam estabelecidas com seguranccedila em suas posiccedilotildees sociais (HELMAN 2009)

Segundo Odent (2003) atribui-se importacircncia crucial agrave primeira hora apoacutes o parto para

o desenvolvimento da capacidade de amar Nessa fase em condiccedilotildees fisioloacutegicas a liberaccedilatildeo

de ocitocina conhecida como ldquohormocircnio do amorrdquo associada agrave prolactina ldquohormocircnio da

maternidaderdquo significa que se matildee e o bebecirc estiverem em contato pele a pele e olho no olho

39

as chances de se estabelecer apego interaccedilatildeo e amor estatildeo garantidas para ambos Isso eacute

ratificado por Odent (2003) ao referir-se que quando o meio cultural interfere com rotinas

que desestimulam esse apego entre a matildee e o bebecirc tais como o uso de sedativos agentes

anesteacutesicos e analgeacutesicos durante o parto influencia toda a capacidade de amar devido a natildeo

liberaccedilatildeo da ocitocina natural pelo organismo da mulher

Um aspecto negativo expresso pelas entrevistadas concernente agrave percepccedilatildeo do

nascimento refere-se ao desconhecimento sobre a fisiologia do parto o que as fez entender

este processo semelhante a um processo patoloacutegico e sujeito a vaacuterias intervenccedilotildees

desnecessaacuterias conforme os relatos

O primeiro eu natildeo tinha a orientaccedilatildeo que eu tenho agora ningueacutem me orientou Foi muito

doiacutedo e difiacutecil inclusive ateacute porque ele era bem grande e iam passar o foacuterceps Natildeo sei se chegaram a

colocar mas eu consegui e nasceu normal E me colocaram o soro com ocitocina () e eu disse ldquopara

quecircrdquo mas natildeo me explicaram (M1)

Jaacute tinha perdido o tampatildeo uns 3 dias antes de comeccedilar ldquoas dorrdquo entatildeo eu ficava preocupada

ldquoSeraacute que eu natildeo vou sentir dorrdquoldquo seraacute que eu natildeo vou saber quando vai ser a hora de ir ao

hospitalrdquo Me colocaram o soro para induzir () natildeo me explicaram nada Depois veio a anestesia

remeacutedios acho que para enjocirco () natildeo consegui ganhar normal (M2)

Achei que eu tinha que me esforccedilar mais em todos eles Por isso na hora de ganhar sempre

me dava um medo Aiacute eu natildeo sei se eu me trancava Botaram o soro para dor e eu ao inveacutes de fazer a

forccedila direito como se deve fazer eu me retrancava e comeccedilava a chorar (M7)

Eu acho o parto normal muito mais arriscado que a cesaacuterea Todos os meus foram cesaacuterea

No meu caso eu acho que foi por causa da dilataccedilatildeo Todas foram agendadas Os meus filhos quando

chegam no uacuteltimo mecircs natildeo querem ficar nascem antes A minha filha nasceu com 8 meses com muito

pouco peso e foi para UTI (M8)

Os sentimentos relatados pelas entrevistadas de natildeo saber como agir no parto

exprimem significativamente seu desconhecimento acerca do processo fisioloacutegico e refletem-

se em medo e inseguranccedila Uma vez que natildeo sabem o que estaacute acontecendo com seu corpo as

mulheres controlam-no menos demonstram fragilidade e tendem a ser tratadas como objeto

de controle da equipe meacutedica Desse modo aceitam passivamente as intervenccedilotildees meacutedicas

como necessidades normais e rotineiras no parto a exemplo dos relatos do uso de ocitocina

de foacuterceps e da indicaccedilatildeo de cesariana previamente agendada

Esse eacute o modelo de atendimento tecnocraacutetico de assistecircncia descrito pela antropoacuteloga

Davis Floyd (2004) que representa a corrente de pensamento convencional e dominante

norteadora da praacutetica da assistecircncia obsteacutetrica haacute vaacuterias deacutecadas na qual o profissional de

sauacutede manteacutem um distanciamento do paciente como forma de proteger a si mesmo das

reaccedilotildees emocionais frente agraves anguacutestias deste

40

A forma e a percepccedilatildeo de como as mulheres vivenciam a sua experiecircncia de parto satildeo

impregnadas pela realidade conforme modelo que se apresenta para a sociedade isto eacute com a

mensagem de que eacute imprescindiacutevel a utilizaccedilatildeo da tecnologia como garantia de um parto

seguro O que resulta disso eacute o que chamamos de uma ldquocascata de intervenccedilotildeesrdquo que ocorre

quando uma praacutetica obsteacutetrica desencadeia outras fazendo com que se altere o processo

natural do parto (BALASKAS 2008)

Destaca-se tambeacutem a desinformaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos riscos que advecircm da cesaacuterea

desnecessaacuteria para matildee e bebecirc A entrevistada M8 narra que as cesaacutereas foram realizadas

antes de sua gestaccedilatildeo estar a termo Sabe-se que a prematuridade iatrogecircnica ocasionada por

cesaacutereas sem indicaccedilatildeo estaacute associada ao aumento da taxa de nascimentos de receacutem nascidos

preacute-termo (MACDORMAN et al 2008) e ao aumento da mortalidade neonatal (VILLAR et

al 2007)

Concorda-se com Balaskas (2008) ao afirmar que as cicatrizes corporais deixadas

pelas intervenccedilotildees desnecessaacuterias no corpo da mulher transformam-se em uma vivecircncia de

sofrimento inseguranccedila e sobrepujam toda e qualquer vivecircncia positiva ocorrida no parto

Logo um momento que deveria ser natural repleto de lembranccedilas positivas e felizes para a

mulher constitui-se num evento traumatizante Nessa direccedilatildeo entende-se que se o

comportamento humano eacute influenciado diretamente pelo meio cultural pois humanos

comunicam-se e criam cultura a socializaccedilatildeo da naturalizaccedilatildeo do parto como evento rodeado

de tecnologia e risco bem como a recapitulaccedilatildeo das experiecircncias traumaacuteticas contadas pelas

mulheres reforccedilam-se na convivecircncia social (ODENT 2004)

Ademais as intervenccedilotildees desnecessaacuterias sobrepotildeem-se ao poder que a mulher tem de

parir e que atualmente ela mesma desconhece pois a histoacuteria repassada pela medicina nas

uacuteltimas deacutecadas na cultura ocidental transformou o parto em um evento essencialmente

meacutedico sendo a mulher apenas uma parte do cenaacuterio (SEIBERT 2005)

O uso do recurso da aceleraccedilatildeo no parto com o uso do soro com ocitocina foi

percebido como forma negativa para as mulheres que o relataram O emprego de hormocircnios

sinteacuteticos no trabalho do parto como eacute o caso da ocitocina tende a cessar a fisiologia e as

etapas do parto (FIGUEREDO L 2010)

Ratificando essa informaccedilatildeo um estudo feito por Barros (2005) mostra que o aumento

de partos cesaacutereos estaacute relacionado agrave praacutetica da induccedilatildeo medicamentosa A falha de induccedilatildeo

provoca a indicaccedilatildeo de uma cesaacuterea que implica a utilizaccedilatildeo de anestesia medicaccedilotildees

antibioacuteticas profilaacuteticas medicaccedilatildeo para naacuteuseas medicaccedilatildeo para dor no poacutes-operatoacuterio e

utilizaccedilatildeo de outras drogas o que pode afetar drasticamente o comportamento materno pois o

41

que se verifica em estudos com outros mamiacuteferos eacute o natildeo-cuidado de seus bebecircs apoacutes uma

cesariana (ODENT 2004)

Eacute primordial durante a gestaccedilatildeo o preparo das mulheres para o parto apoiando suas

informaccedilotildees em praacuteticas baseadas em evidecircncias cientiacuteficas pois a grande maioria dos

procedimentos que os profissionais de sauacutede ainda utilizam no parto satildeo rotinas que estatildeo

caindo em desuso pois se mostraram mais danosas do que beneacuteficas Se as proacuteprias pacientes

souberem disso atraveacutes de atividades educativas no preacute-natal seraacute muito mais faacutecil reverter

esse quadro (DINIZ 2003)

Concorda-se nessa direccedilatildeo que a consulta preacute-natal tambeacutem eacute um espaccedilo importante

para mudanccedila de atitudes em relaccedilatildeo ao parto incentivada por profissionais que valorizam os

aspectos sociais e subjetivos da gestaccedilatildeo do parto e do nascimento (FREITAS 2005)

A Percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado

Nesta categoria as mulheres expressam a via de parto desejada A maior parte

manifestou o desejo pelo parto normal Apenas uma entrevistada manifestou preferecircncia pela

cesaacuterea e teve sua vontade atendida

Do primeiro eu natildeo pesquisei dos outros que eu comecei a ler sobre o assunto Eu queria ter

o parto em casa e mais informaccedilotildees do meacutedico Trabalhei ateacute a uacuteltima hora de internar Foi bom fiz a

respiraccedilatildeo direitinho e acabei ganhando no leito como eu pensei que queria que nascesse (M1)

Eu tinha conversado com meu esposo em casa e a gente queria parto normal mas natildeo deu

perdi o controle (M2)

Quando eu dizia que queria parto normal me diziam ldquopor que fazer parto normal por que

natildeo faz uma cesaacutereardquo Eu dizia ldquoeu quero parto normal pela recuperaccedilatildeo mais raacutepida para poder

voltar a estudarrdquo e eu achei bem melhor o parto normal do que ter feito uma cesaacuterea que daiacute eu ia

ficar dias sem poder voltar a estudar (M3)

Eu sempre quis cesaacuterea porque eu tinha medo de sentir dor ali na hora Eu vi o bebecirc assim

que o tiraram () Natildeo recebi orientaccedilatildeo sobre parto normal do meacutedico (M4)

A minha preferecircncia sempre foi o parto normal eu achei que ia ganhar normal deste uacuteltimo

mas natildeo deu fiquei frustrada (M5)

Por mim poderia ser parto vaginal tanto que do primeiro filho eu ia caminhar ateacute na veacutespera

para ver se evoluiacutea para parto normal mas natildeo evoluiu daiacute foi cesaacuterea e do outro foi cesaacuterea

tambeacutem Teve que ser programada (M6)

O parto normal foi desejado Se tivesse feito uma cesaacuterea seria o fim do mundo porque eu

demorei para aceitar a ideacuteia de que teria que fazer uma laqueadura por cesaacuterea Eu sempre dei a

preferecircncia para parto normal por causa de comentaacuterios e sobre ter infecccedilatildeo (M7)

42

Eu tinha na cabeccedila que o meu primeiro filho ia ser normal Parto normal a matildee ganha e jaacute

sai caminhando com a crianccedila no colo e cesaacuterea natildeo (M8)

Na fala das entrevistadas revelou-se o desejo pelo parto normal ou pela cesaacuterea

destacando o entendimento de que o parto normal tem a recuperaccedilatildeo mais raacutepida natildeo

interferindo na rotina e autonomia delas apresenta menos risco de infecccedilatildeo e a cesaacuterea

poderia proteger quanto agrave dor do parto Esses pontos justificaram em grande parte seu desejo

pelas vias de parto

Para Martin (2006) as mulheres que desejam o parto normal e conseguem passar por

essa experiecircncia consideram-no um processo que acontece naturalmente como algo que a

mulher realiza e natildeo simplesmente vecirc acontecer consigo

Estudos de natureza quantitativa e qualitativa da aacuterea da sauacutede em relaccedilatildeo agrave escolha

para o parto normal constataram que as expectativas das mulheres em relaccedilatildeo ao tipo de parto

justificaram-se pela recuperaccedilatildeo poacutes-parto mais raacutepida e por ser melhor para elas eou para os

bebecircs (OLIVEIRA 2002 MELCHIORI et al 2009 MANDARINO et al 2009)

A entrevistada que realizou a cesariana por desejo proacuteprio justificou sua escolha pelo

medo da dor do parto A forma como se percebe e se responde agrave dor pode ser influenciada

pela origem cultural e social Em outros grupos culturais a dor do parto natildeo eacute temida muito

diferentemente das mulheres de paiacuteses ocidentais que a temem e satildeo bastante propensas a

aceitar drogas analgeacutesicas ou anesteacutesicas (HELMAN 2009)

No Brasil o medo da dor eacute apontado como uma das causas da intervenccedilatildeo cesariana

requerida pelas mulheres e pode ser considerado assim um dos motivadores do aumento das

taxas dessa cirurgia no paiacutes (FAUacuteNDES CECATTI 1991 OLIVEIRA et al 2002)

Em um estudo feito por Almeida (2009) sobre a dor do parto normal a autora

evidenciou a ocorrecircncia de uma relaccedilatildeo de poder dos serviccedilos de obstetriacutecia sobre o corpo

feminino e a forma como estes serviccedilos gerenciam-se mantendo o processo da medicalizaccedilatildeo

o que se constitui um dos mecanismos de favorecimento da perpetuaccedilatildeo do parto cesaacutereo

com a finalidade de evitar a dor do parto normal

Entende-se tambeacutem que a dor do parto eacute em grande medida iatrogecircnica amplificada

pelo modelo assistencial que institui rotinas como a imobilizaccedilatildeo o uso abusivo de ocitocina

artificial a manobra de Kristeller a episiotomia e a episiorrafia praacuteticas no parto normal que

satildeo claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas com base em evidecircncias

cientiacuteficas e em recomendaccedilotildees da OMS (1996) e do Ministeacuterio da Sauacutede (BRASIL 2001)

43

Para tanto foi instituiacutedo pelo Ministeacuterio da Sauacutede (2000b) o Programa de

Humanizaccedilatildeo no Preacute-Natal e Nascimento cujo objetivo eacute melhorar a assistecircncia obsteacutetrica

provocada por praacuteticas e condutas inadequadas

Segundo Floyd (2004) o programa eacute traduzido como um modelo humanista de

assistecircncia tambeacutem referido por ela como modelo holiacutestico Os profissionais que atuam nessa

vertente simplesmente tecircm como desejo humanizar a tecnomedicina e apresentam maior

potencial para reformar o modelo tecnocraacutetico com mudanccedilas de atitudes e de paradigma

O modelo holiacutestico eacute o que abarca uma variedade mais rica de abordagem rompe

totalmente com o modelo dominante atual utiliza modalidades que satildeo menos prejudiciais

assiste as pessoas em seu contexto crecirc em outros modos de contexto que curam compreende

a dimensatildeo espiritual do cuidado da sauacutede e tambeacutem fortalece o desenvolvimento da vida de

cada pessoa (FLOYD 2004)

Neste sentido a escolha da via de parto torna-se importante uma vez que leva em

consideraccedilatildeo o contexto soacutecio cultural e assistencial em que a parturiente estaacute inserida e os

aspectos bioloacutegicos e psicoemocionais com intuito de promover um cuidado direcionado agraves

suas necessidades conforme recomendado nos estudos de Bezerra Cardoso (2005) e Budoacute et

al (2007) referentes a outros cenaacuterios da sauacutede Tal cuidado aproxima-se da humanizaccedilatildeo da

atenccedilatildeo no parto

De destaque nas falas das entrevistadas do presente estudo eacute o sentimento de

frustraccedilatildeo e perda de controle das que desejavam parto normal e tiveram de submeter-se agrave

cesaacuterea Situaccedilatildeo semelhante surgiu no relato das mulheres que Emily Martin (2006)

entrevistou em Baltimore (EUA) quando percebeu nos depoimentos que uma das reaccedilotildees

mais comuns especialmente quando a mulher planeja um parto vaginal e a cirurgia ocorre eacute a

perda de controle do seu parto

Por outro lado entre as entrevistadas que conseguiram realizar o parto normal

consoante seu desejo de via de parto o sentimento de aliacutevio foi constatado Para Balaskas

(2008) as sensaccedilotildees de aliacutevio realizaccedilatildeo gratidatildeo ecircxtase partem de uma grande variedade

de sensaccedilotildees que somente a experiecircncia do parto normal propicia

Uma das entrevistadas relata orientaccedilatildeo para cesariana a fim de submeter-se agrave

laqueadura tubaacuteria tendo seu desejo frustrado quanto agrave opccedilatildeo da via de parto uma vez que

desejava realizar parto normal Evidencia-se que natildeo houve o desejo de cesaacuterea no entanto a

necessidade da laqueadura

A constataccedilatildeo do desestiacutemulo ao parto normal feito pela equipe meacutedica mesmo

cientes de que essas mulheres tinham histoacuterias preacutevias de partos normais a fim de realizar

44

uma cesaacuterea concomitantemente agrave laqueadura tubaacuteria mostra o desrespeito agrave lei nordm 9263 que

trata do planejamento familiar que veda a esterilizaccedilatildeo ciruacutergica em mulher durante os

periacuteodos de parto ou aborto exceto nos casos de comprovada necessidade por cesarianas

sucessivas anteriores (BRASIL 2002)

As entrevistadas que se submeteram agrave cesaacuterea apresentaram percepccedilotildees de que algo

que foi feito com elas e natildeo de sua participaccedilatildeo como relatado nas seguintes frases ldquotiraram

o bebecircrdquo (M4) ldquopuncionaram-me umas 15 vezesrdquo (M6) ldquose a hemorragia natildeo parasse iam

tirar o meu uacuteterordquo (M8)

A sensaccedilatildeo de passividade e separaccedilatildeo entre o eu e o seu corpo surge em niacutevel

extremo quando as mulheres descrevem a cesariana Parte disso adveacutem pelo fato de ser uma

cirurgia em que um nuacutemero maior de pessoas toca manipula corta e costura seu corpo Outra

parte deve-se agrave anestesia peridural que produz insensibilidade da cintura para baixo e

intensifica-se pela colocaccedilatildeo de um pano sobre o peito da mulher de modo que ela natildeo

enxerga a metade inferior do seu corpo (MARTIN 2006)

Verificamos nas falas das entrevistadas que os laccedilos entre a matildee e o bebecirc podem estar

sendo desestimulados por priorizarem-se cuidados que poderiam ser postergados ldquoPrimeiro

foi realizado os cuidados com o bebecirc e me mostraram jaacute enrolado com as roupasrdquo (M6)

ldquoFicavam ali fazendo os cuidados com o bebecirc e me mostravam bem depoisrdquo (M8)

Esses cuidados aleacutem de estar interferindo na relaccedilatildeo amorosa matildee-bebecirc podem estar

ignorando a implementaccedilatildeo de praacuteticas simples como o clampeamento tardio do cordatildeo

umbilical o contato imediato pele-a-pele e o iniacutecio da amamentaccedilatildeo exclusiva que tem um

impacto a longo prazo na nutriccedilatildeo e na sauacutede da matildee e do bebecirc pois afetam o

desenvolvimento da crianccedila muito aleacutem do periacuteodo neonatal e do puerpeacuterio (BRASIL 2011)

A metaacutefora da produccedilatildeo no nascimento proposta pela antropoacuteloga Emily Martin

(2006) retrata a interrupccedilatildeo dos laccedilos afetivos entre matildees e bebecircs que sofreram cesarianas

devido ao controle sobre o corpo feminino exercido pela retirada do protagonismo da mulher

da cena do nascimento Fato esse semelhante agrave metaacutefora da produccedilatildeo industrial do natildeo-

envolvimento da trabalhadora com o produto do seu trabalho quando ela natildeo sente que foi

quem o produziu e quando o seu trabalho eacute estritamente organizado e controlado (MARTIN

2006)

Frequentemente quando se interfere na produccedilatildeo de um bebecirc segundo a metaacutefora da

produccedilatildeo industrial que ocorre quando natildeo eacute a mulher que daacute agrave luz e o bebecirc eacute extraiacutedo

cirurgicamente por um meacutedico a matildee sente-se desligada da crianccedila apoacutes seu nascimento

(MARTIN 2006)

45

Nesta direccedilatildeo um estudo realizado na Universidade da Cidade do Cabo Aacutefrica do Sul

mostrou que a separaccedilatildeo entre matildee e o bebecirc tem impactos negativos influenciando na

duraccedilatildeo do sono e na frequecircncia cardiacuteaca do bebecirc (BARAK 2011)

O modelo de atendimento biomeacutedico desestimula a implementaccedilatildeo de cuidados

comprovadamente eficazes e passa uma mensagem que matildee e bebecirc satildeo como uma diacuteade

conflitante natildeo sendo vistos como uma unidade integral (MARTIN 2006)

Outro elemento a ser salientado refere-se agrave percepccedilatildeo de ser matildee atraveacutes da vivecircncia

do trabalho de parto ou seja compreende-se o significado de ser matildee por meio da vivecircncia da

parturiccedilatildeo conforme fala da entrevistada Era meu primeiro filho decidi que para ser matildee

teria que ganhar de parto normal [] Se eacute para ser matildee vamos ser matildee mesmo (M3)

Como se pode notar a entrevistada destaca que o parto normal foi primordial para

sentir-se realmente matildee Importante nesse sentido a afirmaccedilatildeo de Monticelli (1996) de que o

parto eacute um ritual que marca profundamente o inconsciente feminino principalmente se for o

primeiro

A Percepccedilatildeo das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto

Nesta categoria foi significante a falta de autonomia da mulher na decisatildeo sobre a via

de parto Para compreensatildeo do parto como um evento na vida da mulher em relaccedilatildeo agrave decisatildeo

sobre o tipo de parto as mulheres opinaram

A cesaacuterea geralmente eacute o meacutedico que decide Eu sabia disso daiacute que nem todas satildeo iguais

porque a minha voacute teve 6 cesaacutereas e 6 normal e a minha matildee soacute fez cesaacuterea Entatildeo eu sabia que

podia acontecer comigo e realmente aconteceu O meacutedico disse que ia fazer uma cesaacuterea e fez

cesaacuterea disse que ela tinha tomado aacutegua no parto (M8)

Deveria ser da mulher mais do que do meacutedico jaacute que ela que estaacute sentindo e sabendo o que

estaacute acontecendo (M1)

A niacutevel de consultoacuterio (rede privada) eacute o meacutedico Natildeo daacute para escolher() Eu queria Por

mim poderia ser parto vaginal (M6)

Eu acho que deve ser a mulher mas eacute o meacutedico que decide Eles dizem que eacute protocolo que

isso que aquilo mas sabe-se que natildeo eacute assim Soacute que natildeo acontece isso neacuteEla natildeo tem o direito de

decidir se quer um parto normal ou uma cesaacuterea Eacute colocado para ela que ela vai ganhar de parto

normal por causa disso ou daquilo mas agraves vezes ela natildeo estaacute preparada de repente eacute o melhor para

o corpo mas natildeo o melhor para cabeccedila dela natildeo estaacute preparada para aquilo ali (M3)

Eacute o meacutedico que tem o poder de decisatildeo se vai ser parto vaginal ou cesaacuterea (M2)

46

Nessa categoria foi significativo o entendimento das mulheres sobre o poder de

decisatildeo que os meacutedicos tecircm em relaccedilatildeo ao tipo de parto Poreacutem elas discordam de que este

profissional determine a escolha de forma unilateral e apontam para inclusatildeo delas nessa

decisatildeo Esta perspectiva direciona-se para a autonomia e a participaccedilatildeo da mulher na decisatildeo

sobre a via de parto embora o que se constate eacute que o meacutedico determina qual a finalizaccedilatildeo da

gestaccedilatildeo

Entende-se que a questatildeo de avaliaccedilatildeo de risco e a indicaccedilatildeo de se realizar uma

cesaacuterea sejam de competecircncia meacutedica No entanto a mulher deve receber informaccedilotildees sobre

os riscos e benefiacutecios da intervenccedilatildeo a fim de exercer sua participaccedilatildeo ativa no processo Tal

questatildeo enfatiza o direito agrave informaccedilatildeo e agrave formaccedilatildeo de opiniatildeo das mulheres para que

tenham o direito de reivindicar aquilo que eacute beneacutefico para a sua sauacutede e a de seu bebecirc

Profissionais e mulheres podem ateacute tomar uma decisatildeo antecipada sobre o tipo de parto

poreacutem esse fato natildeo pode ser visto como uma simples questatildeo de preferecircncia como no caso

da cesaacuterea antecipada ou eletiva sem indicaccedilatildeo pois pode implicar em riscos e complicaccedilotildees

futuras para matildee e para o bebecirc (BRASIL 2001)

Para o Ministeacuterio da Sauacutede (2006a) um dos valores da Poliacutetica Nacional de

Humanizaccedilatildeo eacute o principio da autonomia de pensar os indiviacuteduos como sujeitos autocircnomos e

como protagonistas nos coletivos de que participam como co-responsaacuteveis pelo processo de

produccedilatildeo de sauacutede de si e do mundo em que vivem

Quando falamos da autonomia da mulher parturiente falamos de um processo em que

a cada momento se vai desconstruindo o leacutexico cientificoteacutecnico para que a mulher e a

famiacutelia possam ser chamadas ao centro de decisatildeo Mas para isso eacute importante oferecer toda a

informaccedilatildeo que ela necessita para se tornar um membro efetivo da equipe de sauacutede e como

tal ter pleno poder e capacidade de decidir da forma mais vantajosa para todos Esse eacute sem

duacutevida um processo de grande complexidade que em uma aplicaccedilatildeo absoluta incita os

profissionais de sauacutede a compreenderem que o respeito pela autonomia da mulher natildeo

constitui um dano na sua autonomia profissional mas antes um incremento pela qualidade

participaccedilatildeo e rigor eacutetico obtido atraveacutes desse processo (LEITAtildeO 2010)

Tal processo talvez seja difiacutecil de compreender para o profissional quando se alicerccedila

na cultura biomeacutedica ao redor de uma ideologia de progresso tecnoloacutegico que no contexto do

parto iniciou-se a partir da sua institucionalizaccedilatildeo com o advento da era industrial (FLOYD

2004)

47

A institucionalizaccedilatildeo do parto iniciou-se nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX quando

o mesmo passou a ser visto como um processo patoloacutegico que deveria ser controlado a fim de

evitar a morte materna e perinatal sendo entatildeo marcado por rotinas tais como episiotomias

cesaacutereas desnecessaacuterias utilizaccedilatildeo de foacuterceps profilaacutetico (PROGIANTI BARREIRA 2001)

Para Collaccedilo (2002) as instituiccedilotildees tecircm uma cultura proacutepria fundamentada no empirismo e

na tecnologia que se revelam nas rotinas e condutas intervencionistas do meacutedico O resultado

dessa conduta intervencionista eacute a discrepacircncia entre o que as mulheres desejam e o que eacute

realizado o que justificaria a mudanccedila do tipo de parto (HOPKINS 2000)

Um dos motivos alegados pelos meacutedicos para essa praacutetica seria a mudanccedila de perfil de

risco das gestantes Poreacutem um estudo realizado nos EUA que relacionou o aumento das taxas

de cesaacuterea com a mudanccedila de perfil do risco constatou que as chances de uma mulher ser

submetida a uma cesaacuterea na primeira gestaccedilatildeo sem pertencer a um grupo de risco subiu para

50 em 2005 comparado ao ano de 1996 (DECLERCQ et al 2005)

Essa desinformaccedilatildeo por parte das mulheres pode por fim a sua capacidade na decisatildeo

sobre o tipo de parto e ser atribuiacuteda agrave falta de conhecimento sobre seu corpo os processos

reprodutivos e a sexualidade (SANTOS 2008)

Segundo o relato da entrevistada M6 natildeo haacute o direito de escolha quanto ao tipo de

parto para a mulher que faz o preacute-natal na rede suplementar sendo sua autonomia geralmente

desrespeitada quando deseja um parto normal De acordo com Mccourt et al (2007) a

escolha do tipo de parto pela mulher eacute apontada na literatura meacutedica como um fator que tem

contribuiacutedo para o elevado iacutendice de cesarianas na atualidade

Destaca-se que nos serviccedilos de sauacutede suplementar no Brasil as taxas de cesaacuterea satildeo

as mais elevadas do mundo em torno de 797 (ANS 2001) A cesaacuterea daacute ao meacutedico o

maacuteximo de poder controle e conduccedilatildeo nesse processo e exige o miacutenimo de trabalho do uacutetero

e da mulher criando o ponto de vista de que este procedimento ciruacutergico fornece os melhores

bdquoprodutos‟ isto eacute produzem bebecircs perfeitos semelhantemente agrave metaacutefora de produccedilatildeo tal

como acontece nas induacutestrias (MARTIN 2006)

Logo deu-se iniacutecio a uma crenccedila de que cesaacuterea eacute protetora para o nascimento do

bebecirc Isso pode estar relacionado agrave noccedilatildeo de que partos normais satildeo traumaacuteticos para o feto

e entatildeo os profissionais ldquoaliam-serdquo ao bebecirc contra a destruiccedilatildeo em potencial causada pelo

corpo da matildee no trabalho de parto e no parto o que leva a ignorar aquilo que talvez seja o

mais importante para a mulher e para a crianccedila que eacute a natureza de suas experiecircncias no parto

e no nascimento (MARTIN 2006)

48

Aleacutem do mais na relaccedilatildeo meacutedico-parturiente fica evidente como satildeo encaradas as

questotildees relacionadas ao parto de forma diferente por cada um desses atores (ANS 2008a)

Entre os meacutedicos obstetras institui-se uma cultura proacute-cesaacuterea e como consequecircncia

parte deles natildeo se encontra motivada nem capacitada para o acompanhamento do parto

normal Em contrapartida as mulheres dentro dessa cultura tecircm dificuldade de fazer valer a

sua decisatildeo quanto ao tipo de parto por sentirem-se menos capacitadas a escolher devido agraves

questotildees teacutecnicas levantadas e sustentadas por eles (BRASIL 2001)

Estudos tecircm demonstrado que apenas 20 das usuaacuterias de convecircnio particular

conseguem dar agrave luz por parto normal sendo que a maioria das mulheres brasileiras deseja-o

(REBELO et al 2010 POTTER et al 2001 POTTER et al 2008)

Concorda-se portanto com a visatildeo de ANS (2008a) de que a criacutetica da exclusatildeo das

mulheres na decisatildeo da via de parto deve-se principalmente ao fato de que o modelo

biomeacutedico desconhece os significados que as mulheres datildeo agrave experiecircncia da gestaccedilatildeo e do

parto

Conhecendo como se daacute a construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres foram relatadas

tanto experiecircncias positivas quanto negativas dos partos das mulheres de seu conviacutevio

As mulheres que apresentam uma percepccedilatildeo positiva sobre parto normal apresentam

nas famiacutelias histoacuterias e relatos positivos do parto de suas familiares

A minha matildee teve 5 partos normais Todos em casa e a minha voacute era parteira Acho que a

influecircncia vem daiacute Queria que minha voacute tivesse viva para eu ter tido os meus filhos com ela A matildee

sempre foi positiva nunca disse que os partos foram uma coisa horriacutevel Ela sempre disse que era

uma coisa boa doiacutea claro mas ela sempre mostrou coisa boa Tenho uma irmatilde que ganhou um bebecirc

em casa natildeo deu tempo de ir para o hospital Foi raacutepido demais (M1)

Olha todas natildeo se queixaram As [familiares] que eu conversei disseram que parto normal eacute

a melhor forma por causa da recuperaccedilatildeo eacute melhor para ti cuidar do nenecirc sem depender de ningueacutem

A matildee sempre teve parto normal (M2)

Da minha matildee foi tranquumlilo O parto dela foi no mesmo hospital que eu tive ela caminhou

tudo como tinha que ser rompeu a bolsa em casa Ela me passou essa experiecircncia boa (M3)

Eu e a minha irmatilde nascemos de parto vaginal A minha voacute teve 5 filhos de parto vaginal A

minha sogra teve partos vaginais em casa Meu marido nasceu com 4kg Ela comentava como eacute que

tinha sido os nascimentos dos filhos dela de ser tudo tranquilo e das aventuras que ateacute na veacutespera

andava a cavalo e natildeo deu nada de complicaccedilatildeo e naquele tempo foi com parteiras A matildee dela era

parteira Os filhos nasceram com a avoacute (M6)

49

Durante a minha gravidez eu conversava mais sobre o parto com a minha matildee e eu a

acompanhei ela quando foi ganhar normal Eu vi como foi entatildeo eu sabia como tinha que ser quando

eu fosse ganhar que era bom A influecircncia da minha voacute e da minha matildee foi para parto normal mas

eu natildeo ganhei normal em nenhum (M8)

Na opiniatildeo dessas entrevistadas a transmissatildeo do conhecimento dos partos na famiacutelia

exerceu grande influecircncia na preferecircncia por parto normal focando a naturalidade e a

praticidade de encarar o parto normal

O processo de socializaccedilatildeo denominado ldquoprimaacuteriordquo para Berger e Luckmann (1976)

acontece na famiacutelia durante a infacircncia quando a realidade eacute apreendida atraveacutes da

consciecircncia individual e os papeacuteis sociais tornam-se seus quando identificados

Segundo Laraia (2003) a socializaccedilatildeo do indiviacuteduo eacute resultante do seu meio cultural e

a acumulaccedilatildeo de saberes e crenccedilas satildeo passadas de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Destaca-se isso

igualmente no estudo de Ressel et al (2011) relativo a cultura da sexualidade junto a

adolescentes e suas famiacutelias onde a socializaccedilatildeo dos saberes eacute um processo dinacircmico e

contiacutenuo ao longo da vida

Laraia (2003) defende que os valores que vatildeo compor a singularizaccedilatildeo de cada pessoa

na sociedade ocorrem por meio da socializaccedilatildeo atraveacutes dos relacionamentos das

representaccedilotildees pessoais sobre fenocircmenos fatos e eventos sociais

As entrevistadas M1 e M6 relatam a presenccedila de parteiras na assistecircncia ao parto Ateacute

a entrada da profissatildeo meacutedica sobre o processo do parto as mulheres em trabalho de parto

eram auxiliadas principalmente pelas matildees tias avoacutes eou parteiras Poreacutem com a perda da

importacircncia do papel das parteiras - pois ameaccedilavam o monopoacutelio do saber meacutedico - e sua

progressiva alocaccedilatildeo na marginalidade do contexto da obstetriacutecia seus saberes foram sendo

vistos sob suspeita

Em quase todas as culturas segundo Helman (2009) os principais provedores dos

cuidados primaacuterios de sauacutede satildeo as matildees e avoacutes e as parteiras ainda satildeo as responsaacuteveis pelos

cuidados obsteacutetricos em alguns paiacuteses

Percebem-se nas narrativas das entrevistadas as influecircncias positivas passadas por suas

matildees na vivecircncia da parturiccedilatildeo das mulheres da famiacutelia Elsen (2011) realizou uma anaacutelise de

quatro estudos sobre famiacutelias tendo como um dos destaques a valorizaccedilatildeo do conhecimento e

das praacuteticas do cuidado nesses ambientes familiares

Em contrapartida as entrevistadas que apresentam nos seus discursos experiecircncias

negativas mostram que no conviacutevio familiar e no ciacuterculo social proacuteximo este assunto ou natildeo

foi comentado ou foi discutido com teor negativo

50

A minha matildee nunca falou bdquocom noacutes‟ sobre isso Ela teve cesaacuterea da minha irmatilde mais nova de

sete anos e deu problemas de rim nela A minha recuperaccedilatildeo foi ruim porque demorei a recuperar

() Eu me sentia estranha e parece que minhas pernas estavam separadas do meu corpo por causa da

anestesia(M4)

Noacutes nunca conversamos sobre essas coisas laacute em casa nem com matildee e nem com irmatilde A

uacutenica coisa que me falavam eacute que sofria muito falavam que ia gritar de tanta dor que as contraccedilotildees

seriam fortes Eu sofri um pouquinho coloquei soro fiquei de barriga para cima o tempo todo ()

como se estivesse doente depois eu tive uma cesaacuterea que infeccionou os pontos Me senti um objeto

() (M5)

Minha matildee disse que eacute horriacutevel que natildeo era bom que nem cesaacuterea e nem parto normal Ela

sofreu muito Por isso na hora de ganhar assim sempre me dava um medo devido agraves histoacuterias

contadas por minha matildee (M7)

Vizinhos ateacute parentes comentavam que esqueceram uma tesoura dentro da paciente ou

esqueceram um pano Eu tenho medo de cesaacuterea Outro problema eacute aquele pano que separa a sua

cabeccedila do resto do seu corpo Disseram-me que teria de fazer uma cesaacuterea para fazer a laqueadura

na proacutexima gravidez Eu vou fazer um RX depois para ver se natildeo ficou nada laacute dentro (M7)

Aiacute vem a voacute vem a matildee conversar dizendo ldquotu natildeo faz escacircndalo natildeo gritardquo porque

realmente elas natildeo datildeo atenccedilatildeo E realmente eu vi isso Entatildeo eu sabia que natildeo era bom quando eu

fosse ganhar (M8)

Nas falas destas entrevistadas deflagra-se a ausecircncia de conversa sobre o assunto

Quando haacute diaacutelogo acerca do tema no seio familiar reveste-se de significados negativos

destacando a dor o sofrimento a anguacutestia o medo a solidatildeo e a alienaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao que

estaacute acontecendo com o seu corpo

Para Martin (2006) as mulheres podem ter essas sensaccedilotildees negativas de objetificaccedilatildeo

e fragmentaccedilatildeo tanto na cesaacuterea quanto no parto normal mas as que passam por uma cesaacuterea

descrevem essas sensaccedilotildees mais intensamente conforme destacado nas falas das entrevistadas

M4 e M5

Segundo a autora o medo e a ansiedade no parto normal satildeo gerados pela inconsciente

fragmentaccedilatildeo subliminar impliacutecita de como a mulher percebe esse fenocircmeno de como accedilotildees

que elas natildeo realizam como se o ldquoeurdquo e o ldquoseu corpordquo fossem separados entendendo que

corpo mente e estados emocionais natildeo podem ser trabalhados simultaneamente

O relato negativo foi constatado em estudos de autores da aacuterea da antropologia

mostrando que em diferentes sociedades as filhas educadas por matildees que influenciam

negativamente sofrem mais no momento do parto (LARAIA 2003) A dor do parto tambeacutem

foi apontada pela entrevistadas M5 Conforme Gualda (2004) a dor eacute um sintoma altamente

subjetivo que traz a crenccedila popular de vincular a maternidade ao sofrimento

51

A entrevistada M8 traz a questatildeo de agir conforme as regras que a equipe obsteacutetrica

impotildee de natildeo fazer escacircndalo sob pena de natildeo receber a devida atenccedilatildeo Os profissionais de

sauacutede eventualmente podem impor um comportamento que natildeo respeita o saber da parturiente

o que pode tornar difiacutecil a evoluccedilatildeo do trabalho de parto (BEZERRA CARDOSO 2006)

Outro fator de destaque de acordo com o relato da entrevistada M7 foi o medo

apresentado em relaccedilatildeo ao esquecimento dos instrumentos ciruacutergicos dentro do seu corpo

Para Leninger (1991) a descontinuidade dos acompanhamentos e tratamentos das

usuaacuterias(os) deve-se ao fato de natildeo compreenderem sua funccedilatildeo e seu funcionamento

A posiccedilatildeo supina que foi referida pela entrevistada M5 ldquofiquei de barriga para cima o

tempo todordquo eacute segundo a OMS (1996) uma praacutetica claramente prejudicial ou ineficaz que

deve ser eliminada de acordo com as evidecircncias cientiacuteficas Essa mensagem simboacutelica

transmite agrave parturiente que ela estaacute enferma e retira da mulher a liberdade de seguir seus

instintos conforme mencionado pela entrevistada

Etnoacutelogos confirmam que atraveacutes da anaacutelise de evidecircncias histoacutericas existem raccedilas e

tribos que natildeo recebem influecircncia do modelo biomeacutedico e as mulheres naturalmente assumem

posiccedilotildees verticais dos mais variados tipos e meios de apoio (BALASKAS 2008)

Outras formas de influecircncia relatadas pelas participantes foram revistas internet

meios de comunicaccedilatildeo em geral As entrevistadas atribuem grande importacircncia agraves

informaccedilotildees colhidas nessas fontes atraveacutes das quais tomam conhecimento sobre

determinados costumes e percepccedilotildees

Com as revistas eu me informava bastante sobre como que era o nascimento fotos do bebecirc

nascendo Assistia na TV o canal que mostrava partos as casas de parto onde as mulheres iam fazer

todo o preacute-natal e ganhavam na aacutegua na cama naqueles quartos que permaneciam durante o

trabalho de parto e ficavam ali mesmo na hora de ganhar com familiar junto crianccedilas adultos tudo

junto Eu achava muito interessante (M1)

Eu olhei muito no youtube parto normal Eu achei bem legal Assim eacute meio assustador mais

achei legal Ateacute ali minha decisatildeo era ganhar normal mas natildeo deu (M2)

Lia folders revistas da aacuterea sobre maternidade programas de TV que mostraram o

acompanhamento do parto no domiciacutelio na banheira mas eu tive duas cesaacutereas agendadas (M6)

A entrevistada M1 relata o atendimento oferecido em casa de parto ou centro de parto

normal onde as mulheres fazem todo o preacute-natal e datildeo agrave luz em posiccedilotildees e locais de sua

preferecircncia A ausecircncia desse tipo de estabelecimento em determinados municiacutepios do Brasil

inviabiliza o acesso aos benefiacutecios que esses serviccedilos oferecem Instituiacutedo no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede esses estabelecimentos propiciam agraves mulheres a assistecircncia ao parto

52

em sua plena universalidade e tecircm como uma de suas atribuiccedilotildees o preparo da gestante

atraveacutes do plano de parto e do desenvolvimento de atividades educativas (BRASIL 1999)

Nesse cenaacuterio o protagonismo de cada mulher na gestaccedilatildeo parto e puerpeacuterio eacute respeitado

levando em consideraccedilatildeo sua individualidade suas crenccedilas e sua cultura

A cultura eacute um todo complexo que inclui o conhecimento as crenccedilas a arte a moral a

lei os costumes e todos os outros haacutebitos e aptidotildees adquiridos pelo homem como membro da

sociedade e se faz dinacircmica pela recepccedilatildeo das influecircncias externas resultantes do contato de

um sistema cultural com outro transformaccedilatildeo que pode ser raacutepida e brusca (LARAIA 2003)

No fragmento da fala da entrevistada M6 pocircde-se identificar sua curiosidade pelo

periacuteodo graviacutedico e parto e o parto domiciacutelio e na banheira forma de nascimento que volta a

fazer parte dos centros urbanos na atualidade A influecircncia das mateacuterias veiculadas em uma

revista sobre as representaccedilotildees culturais sobre parto mostrou que a revista pode ser um meio

de divulgaccedilatildeo informal que deveria ser mais bem aproveitado para informar as mulheres sobre

seus direitos e as maneiras de reivindicaacute-los (ROSS BONILHA et al 2006)

Um estudo feito por Medeiros (2008) retrata que as mulheres que optam por um tipo

de parto fora do hospital relacionam sua escolha agraves experiecircncias vivenciadas desde o seu

proacuteprio nascimento ateacute o momento do parto de seus filhos Quando as mulheres preparam-se

para parir seguindo princiacutepios diferentes dos que a medicina define e trata a linguagem que

utilizam eacute de integridade com todas as suas partes inter-relacionadas por um sentimento de

realizaccedilatildeo de algo que seriam capazes de fazer podendo-se inferir que a experiecircncia do parto

confirma ou natildeo na mulher a sua capacidade de colocar uma crianccedila no mundo (MARTIN

2006)

As mulheres citam somente a figura meacutedica na consulta de preacute-natal e comentam

sobre a postura do profissional de sauacutede que realizou este acompanhamento Em geral natildeo

receberam nenhuma informaccedilatildeo sobre parto

O obstetra no preacute-natal natildeo falava nada sobre parto soacute media a barriga via como estava o

coraccedilatildeo do bebecirc e deu Isso que o primeiro foi particular e os outros tambeacutem foram assim (M1)

Quando eu comecei no preacute-natal eu comecei com meacutedico particular ele natildeo falou nada sobre

parto e me pediu todos aqueles exames (M3)

O meacutedico natildeo era muito de conversar soacute os exames ultrasonografia Natildeo falou sobre outras

formas de parto (M4)

A uacutenica coisa que o meacutedico falou eacute ldquotu taacute preparadardquo ldquotem certeza jaacute ta aqui neacute Agora eacute

soacute seguir adianterdquo mas natildeo me falaram sobre parto Fiz todos os exames quatro ultrassonografias

(M7)

53

Fiz todo o preacute-natal e o meacutedico natildeo me falou nada sobre parto (M5)

Nesses depoimentos detectou-se a ausecircncia de diaacutelogo e de orientaccedilatildeo sobre o parto

O acompanhamento preacute-natal das entrevistadas apontou para o enfoque bioloacutegico e tecnicista

na assistecircncia prestada limitando-se agrave avaliaccedilatildeo de batimentos cardiacuteacos fetais altura uterina

e solicitaccedilatildeo de exames e avaliaccedilatildeo

Tal atenccedilatildeo fragmenta o cuidado e o sujeito deste cuidado pois segundo Martin

(2006) desta forma as mulheres natildeo satildeo apenas fragmentadas em partes do corpo como

tambeacutem satildeo alienadas da proacutepria ciecircncia pelas praacuteticas da medicina cientiacutefica As praacuteticas

obsteacutetricas corroboram com esta alienaccedilatildeo internalizando valores culturais que transmitem

agraves gestantes a ideacuteia de que natildeo haacute necessidade de informaccedilotildees sobre os processos fisioloacutegicos

do parto (FLOYD 2009)

Como a medicina obsteacutetrica contemporacircnea estaacute determinada por pressupostos

filosoacuteficos essencialmente masculinos o parto normal que tem em seu acircmago fenocircmenos

femininos tais como a afetividade espiritualidade e as emoccedilotildees natildeo eacute compreendido pelos

profissionais que controlam o nascimento (JONES 2004)

Apesar do avanccedilo na luta por igualdade de direitos para as mulheres a

sobrevalorizaccedilatildeo do patriarcado nos hospitais eacute perpetuada por meacutedicos em sua maioria

homens que tecircm autoridade para reforccedilar rituais de parto (FLOYD 2009)

No entanto os profissionais de sauacutede que se inserem no cenaacuterio das poliacuteticas puacuteblicas

de sauacutede da mulher deveriam atualmente ter como prerrogativa a instrumentalizaccedilatildeo das

mulheres para que sejam efetivamente sujeitos de direito na sociedade sendo tambeacutem

protagonistas de suas proacuteprias vidas e de seu parto tomando suas escolhas de modo

informado conforme preconiza a Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agrave Sauacutede da Mulher -

PNAISM (BRASIL 2004)

A ausecircncia de informaccedilotildees sobre parto foi constatada na fala das entrevistadas o que

nos faz refletir sobre a atitude desses profissionais com as gestantes e relacionar esse quadro

com os altos iacutendices de cesaacuterea da atualidade entendendo que a ausecircncia de diaacutelogo e

informaccedilatildeo no preacute-natal incapacita a mulher agrave autonomia Em um estudo de revisatildeo

sistemaacutetica que avaliou as informaccedilotildees que as gestantes recebiam sobre a cesariana para

solicitaacute-la natildeo foi possiacutevel detectar os motivos que as levam a solicitar uma cesariana

(GAMBLE et al 2007)

A desinformaccedilatildeo sobre as etapas da parturiccedilatildeo foi apontada por Pereira (2011) como

fator cultural que conduz a uma etapa teacutecnica terceirizada definida quando o meacutedico assume

54

o comando e o conduz a partir de sua formaccedilatildeo teacutecnica especializada Para a autora as

mulheres consideram dessa forma um sofrimento desnecessaacuterio passar pelo trabalho de

parto porque desconhecem sua importacircncia para o organismo e para o bebecirc

Deve-se levar em conta a forma a interaccedilatildeo do cuidado entre as mulheres os

profissionais e principalmente o contexto desse cuidado que revela um desequiliacutebrio de poder

que favorece os meacutedicos (GAMBLE et al 2007)

Conforme Martin (2006) pode acontecer tambeacutem de as mulheres natildeo estarem

preocupadas com a falta de informaccedilatildeo uma vez que elas satildeo direcionadas por pressupostos

culturais da superioridade meacutedica Tais pressupostos estatildeo tatildeo arraigados em sua experiecircncia

habitual nos serviccedilos de sauacutede que as impede de perceber as contradiccedilotildees em sua proacutepria

atenccedilatildeo agrave sauacutede

Por outro lado em outra pesquisa com gestantes constatou-se a necessidade de uma

grande demanda por informaccedilotildees escuta cliacutenica e tambeacutem a utilizaccedilatildeo de materiais

educativos mais esclarecedores (HOTIMSKY et al 2002)

Essa demanda por informaccedilotildees vem sendo suprida por outros profissionais de sauacutede

segundo as entrevistadas deste estudo

A enfermeira do posto me ajudou bastante eu tomava sulfato ferroso e ia pegar com ela Me

orientou sobre as vacinas eu lembro que um pouco antes de ficar graacutevida eu tinha tomado vacina da

rubeacuteola Entatildeo assim ela me acompanhou bastante tambeacutem eu sempre conversava com ela sobre o

parto os exerciacutecios que era bom fazer Laacute na Casa de Sauacutede tambeacutem a enfermagem me ajudou

bastante tava o tempo todo junto me dizendo que ldquotinha que caminhar para tua dilataccedilatildeo aumentarrdquo

me explicavam onde o nenecirc bdquotava‟(M3)

O fisioterapeuta o dentista A fisioterapia influenciou para o parto vaginal o dentista era

homem entatildeo relatou a experiecircncia da esposa dele que tinha sido parto cesaacutereo (M6)

Eu fiz todo o planejamento com a enfermeira Ensinaram como seria para nascer e logo

depois o que eu teria que fazer que eacute amamentar o nenecirc cuidados com o nenecirc cuidados comigo

tambeacutem preventivo remeacutedio piacutelula amamentaccedilatildeo Ensinaram no posto que eu frequento (M8)

A participaccedilatildeo dos profissionais da enfermagem e da fisioterapia foi constatada em

atividades de educaccedilatildeo em sauacutede e no atendimento ao trabalho de parto

Um estudo feito por Gaiva (2003) que destaca o nascimento como um evento

pertencente agrave equipe de sauacutede destaca como necessaacuterio o engajamento dessas equipes para a

humanizaccedilatildeo do parto e do nascimento com enfoque na mulher na crianccedila e na famiacutelia

A realizaccedilatildeo de um trabalho multiprofissional e interdisciplinar durante o processo de

gestaccedilatildeo parto e nascimento incide na aprendizagem de compartilhamento de saberes e

55

praacuteticas promovendo um cuidado de qualidade para os atores envolvidos nesse processo

(CHRISTOFFEL 2003)

A Lei ndeg 749886 que dispotildee sobre a regulamentaccedilatildeo do exerciacutecio da enfermagem

referenda que o enfermeiro generalista tambeacutem estaacute habilitado a assistir agrave gestante parturiente

e pueacuterpera acompanhando a evoluccedilatildeo e do trabalho de parto e a execuccedilatildeo do parto sem

distoacutecia

Pelloso (2000) concluiu que as taxas de cesaacuterea reduziriam com a capacitaccedilatildeo dos

profissionais para o parto com a introduccedilatildeo da enfermeira obsteacutetrica no preacute-natal e na

realizaccedilatildeo do parto bem como com a inclusatildeo de accedilotildees de orientaccedilatildeo e informaccedilatildeo sobre os

riscos e os benefiacutecios do parto normal e da cesaacuterea agraves mulheres em atividades de grupo e

cursos de gestantes Embora o nuacutemero de enfermeiras obstetras atuando no Brasil ainda seja

muito baixo estima-se que o nuacutemero de partos assistidos por elas eacute bem superior agravequele

registrado no SUS (BRASIL 2001)

Essa assistecircncia tambeacutem eacute referendada pela portaria do MSGM nordm 2815 de 29 de

maio de 1998 em que se inclui na tabela do sistema de informaccedilotildees hospitalares do SUS o

procedimento ldquoparto normal sem distoacutecia realizado por enfermeira obstetrardquo (BRASIL 1998

p23)

A enfermeira obstetra na busca pelo cuidado integral e valorizando a mulher como

protagonista do processo de nascimento vem conquistando tambeacutem um espaccedilo no

atendimento a partos domiciliares aleacutem de seu papel nas instituiccedilotildees hospitalares (PETER

2005)

Questionamento e resistecircncia ao modelo biomeacutedico

Nessa categoria mostram-se os relatos de questionamento e resistecircncia ao

atendimento obsteacutetrico por parte de algumas mulheres revelando que estas natildeo tecircm

autonomia tanto na decisatildeo sobre o tipo de parto quanto na escolha por quem querem que lhes

acompanhe em seu parto

As participantes questionam as situaccedilotildees impostas pelos profissionais que representam

o modelo biomeacutedico Uma entrevistada que queria o parto normal apresentou-se encorajada a

protestar contra este modelo trocando de meacutedico quando natildeo teve a sua opiniatildeo respeitada

conforme na fala

56

() Outro fato que me deixou frustrada foi quando eu iniciei o preacute-natal eu disse que queria

parto normal o meacutedico ficou bravo e foi bem mal educado e perguntou o que eu estava fazendo laacute

entatildeo Fui embora natildeo fiz mais preacute- natal com ele fui para o SUS Eu me senti invadida (M3)

Outra entrevistada questiona a falta do acompanhante de sua preferecircncia no parto Eu

gostaria que o meu marido bdquotivesse‟ junto (M1) Em um estudo realizado por Prado Junior

(2008) constatou-se que a presenccedila de familiares no processo de nascimento eacute visto por 100

das entrevistadas como primordial Para Balaskas (2008) o sentimento relatado por homens

que jaacute acompanharam suas mulheres em trabalho de parto eacute o de plenitude em nenhum

momento o instinto de fecircmea fala tatildeo alto eacute o renascimento de uma nova mulher

Suas falas chamam a atenccedilatildeo tambeacutem para a importacircncia de a mulher poder exercer

mais liberdade e participaccedilatildeo ativa com a possibilidade de escolher se quer tomar banho ou

natildeo se quer ficar na aacutegua sentar na bola Tambeacutem eacute questionado por elas o uso da ocitocina e

a falta de respeito a sua privacidade pelo fato de estarem presentes pessoas assistindo ao seu

parto sem preacutevio pedido de autorizaccedilatildeo o que denota desrespeito a sua autonomia no

processo

Eu gostaria de ser mais orientada Entatildeo quanto mais natural pudesse ser para mim melhor

escolher se quer tomar banho ou natildeo se quer ficar na aacutegua sentar na bola Sou contra a ocitocina E

me colocaram o soro com ocitocina e eu disse ldquomas para quecirc colocar se eu jaacute to quase ganhando Soacute

para me dar uma dor mais forte e realmente deurdquo(M1) Tinha uns 7 ou 8 alunos que estavam laacute e que queriam assistir um parto pessoas que eu

nunca tinha visto olhando o meu parto Eu acho que tudo foi muito forccedilado Os alunos assistiram ao

meu parto ningueacutem me perguntou se eu queria que assistisse (M3)

A mulher em trabalho de parto precisa de privacidade para se sentir mais segura

Poreacutem em muitos locais de atendimento puacuteblico isso natildeo eacute devidamente cuidado sendo

negligenciada a cultura do sujeito que envolve seus valores percepccedilotildees necessidades e

medos (ODENT 2003)

A postura do profissional em natildeo aceitar a opiniatildeo das usuaacuterias eacute denominada por

antropoacutelogos como ldquopensamento etnocecircntricordquo ou ldquosistema fechado de cogniccedilatildeordquo O

etnocentrismo eacute um sistema acentuado por rituais que os representam e os sustentam

(FLOYD 2009) Sabem os etnocentristas da existecircncia de outro saber e crenccedilas mas estatildeo

absolutamente seguros de que seu modo de pensar eacute melhor e por isso ignoram ideacuteias

contraacuterias agraves deles e consideram esses diferentes modos de pensar uma ameaccedila A

entrevistada destaca esta postura

Acho que os meacutedicos satildeo muito apressados Deveriam deixar mais a natureza agir por conta

o bebecirc se encaixar no lugar certo deixar a matildee de forma mais natural possiacutevel (M1)

57

Um princiacutepio baacutesico do modelo de atendimento tecnocraacutetico que vem ao encontro da

forma de pensar e agir do pensamento etnocecircntrico eacute a autoridade e responsabilidade do

profissional e das instituiccedilotildees de sauacutede sobre a pessoa Nesse contexto eacute mais confortaacutevel

para a usuaacuteria abdicar de sua preferecircncia pessoal em favor da opiniatildeo meacutedica (FLOYD

2004)

Esse fato foi constatado nas entrevistas que apontavam para a resistecircncia ao modelo

biomeacutedico poreacutem atraveacutes de uma percepccedilatildeo passiva da realidade como a sensaccedilatildeo meio

vaga de que alguma coisa estaacute errada e cuja mudanccedila natildeo estaacute ao seu alcance ou natildeo depende

apenas de sua vontade e accedilatildeo A mulher parece natildeo estar ciente da fragmentaccedilatildeo subliminar

da atenccedilatildeo ao parto hospitalar como se o ldquoeurdquo e o ldquoseu corpordquo fossem separados e que

nascimento fosse parte de uma produccedilatildeo A taacutetica mais eficiente descrita por Martin quando

utiliza a analogia entre operaacuterios e mulheres dando agrave luz eacute a mulher tornar-se patratildeo de si

mesmo isto eacute dando agrave luz em seu domicilio onde elas satildeo donas da faacutebrica e podem ter total

controle sobre o processo de produccedilatildeo e sobre seu corpo (MARTIN 2006)

Percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea

Buscaram-se juntamente agraves mulheres do estudo indicaccedilotildees e motivaccedilotildees de acordo

com seu entendimento para a realizaccedilatildeo de cesariana A seguir eacute apresentada a ausecircncia de

dilataccedilatildeo a presenccedila ou natildeo de contraccedilotildees e as cesaacutereas eletivas como indicativos para a

ocorrecircncia do procedimento ciruacutergico

Eu induzi porque natildeo tinha dilataccedilatildeo eu soacute tinha contraccedilatildeo Eu natildeo tinha nenhum outro

problema () fiquei frustrada Eu queria parto normal soacute natildeo tive porque meu parto foi induzido

(M2)

Porque natildeo tinha dor natildeo tinha dilataccedilatildeo e tava muito em cima (M5)

Se tivesse entrado em trabalho de parto tudo bem daiacute ia ficar pro parto como natildeo tinha foi

para cesaacuterea (M6)

Fizeram uma junta meacutedica laacute no hospital e os meacutedicos falaram com a minha matildee pois eu era

bdquode menor‟ ela autorizou para fazer uma cesaacuterea antecipada porque eu jaacute bdquotava‟ em trabalho de

parto soacute que eu natildeo tinha dilataccedilatildeo () (M8)

Um dos motivos alegados pela entrevistada M6 foi ter sido submetida a uma cesaacuterea

eletiva por natildeo ter entrado em trabalho de parto tendo tambeacutem a falta de informaccedilatildeo apontada

sobre outras formas de nascimento

58

O descontentamento por natildeo ter vivenciado o parto normal foi narrado com frustraccedilatildeo

pela entrevistada M2 A induccedilatildeo do parto e a presenccedila de contraccedilotildees apontadas por ela como

fatores indicativos para realizaccedilatildeo de cesaacuterea estatildeo associadas ao aumento da taxa de

nascimento preacute-termo e de baixo peso

Na maioria das sociedades atuais o meio cultural propagado pelos profissionais

meacutedicos interfere nos processos fisioloacutegicos do nascimento O motivo para o aumento dos

iacutendices de cesaacutereas eacute verdadeiramente devido a uma falha universal e quase cultural no

entendimento das necessidades baacutesicas das mulheres (ODENT 2004)

Nessa direccedilatildeo as consequecircncias de risco aumentam tanto para a parturiente quanto

para o feto A taxa de internaccedilatildeo em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em um estudo feito

na Austraacutelia com gestantes de baixo risco demonstra que as chances de internaccedilatildeo em

mulheres que fizeram cesaacuterea eletiva sem entrar em trabalho de parto aumentam em 154

em gestaccedilotildees de 37 semanas 121 em gestaccedilotildees de 38 semanas e 51 para as mulheres

com 39 semanas gestacionais (TRACY et al 2007)

Os prejuiacutezos aos receacutem nascidos prematuros natildeo se apresentam somente no momento

do nascimento satildeo mais duradouros acompanham-nos na vida futura provocando problemas

de sauacutede e colocando-os em desvantagem em relaccedilatildeo aos que nasceram de parto vaginal

(TOMASHEK et al 2007 SWANY et al 2008)

Ao final da gestaccedilatildeo a mulher pode apresentar algumas vezes contraccedilotildees

permanecendo entretanto descoordenadas sem a dilataccedilatildeo da ceacutervice uterina o que se

denomina ldquofalso trabalho de partordquo Essa situaccedilatildeo pode levar o profissional de sauacutede a realizar

uma admissatildeo precoce da gestante na maternidade e com isso realizar intervenccedilotildees

desnecessaacuterias como por exemplo uma induccedilatildeo do parto sem indicaccedilatildeo ou uma cesariana

(BRASIL 2001)

Os partos induzidos e outros fatores como monitoramento fetal contiacutenuo e uso

frequente de anestesias peridurais satildeo aspectos da industrializaccedilatildeo do parto que tem como

consequumlecircncia a falta de entendimento da sua fisiologia (ODENT 2004)

Em um estudo na Escoacutecia constatou-se que 20 das pueacuterperas que se submeteram agrave

cesariana natildeo receberam orientaccedilatildeo sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea e 16 tinham

somente uma ideacuteia parcial da indicaccedilatildeo A forma e o momento inadequado de informar sobre

a indicaccedilatildeo da cirurgia podem acentuar a dificuldade de as mulheres entenderem e

compreenderem essas informaccedilotildees (HILLAN 1992) como se pocircde perceber na fala das

entrevistadas

59

E da segunda gravidez daiacute foi direto o agendamento da cesaacuterea mas eu natildeo tive outras

informaccedilotildees de outras formas de nascer ou em domiciacutelio ou em banheira Natildeo nada disso (M6)

() aiacute eles anteciparam a cesaacuterea Depois eu descobri que foi porque o meu marido faleceu

(M8)

Outra pesquisa mostra que a justificativa dada por 61 mulheres para a realizaccedilatildeo da

cesariana foi discordante da indicaccedilatildeo meacutedica em 475 dos casos Tenciona-se o fato de que

ignorar a indicaccedilatildeo de cesaacuterea pela mulher pode dificultar a conduccedilatildeo para um parto normal

posterior e as complicaccedilotildees advindas (OLIVEIRA et al 2002)

Uma das maiores preocupaccedilotildees associadas agrave cesariana aleacutem dos vaacuterios problemas

inerentes a um procedimento ciruacutergico eacute o seu impacto e risco na sauacutede reprodutiva futura da

mulher como predisposiccedilatildeo a inserccedilatildeo anormal da placenta em futuras gestaccedilotildees (LEE

DALTON 2008)

O maior risco de ruptura uterina hemorragia poacutes-parto e remoccedilatildeo manual de placenta

tambeacutem eacute relacionado a mulheres que jaacute se submeteram a uma cesariana preacutevia (TAYLOR et

al 2005)

Segundo o relato das entrevistadas natildeo foram apresentadas indicaccedilotildees para a cesaacuterea

condizentes ao que as evidecircncias cientiacuteficas preconizam na literatura da aacuterea Outro fato

apontado atraveacutes na fala das entrevistadas foi o agendamento preacutevio da cirurgia no preacute-natal

ldquoA cirurgia estava agendada jaacute no preacute-natalrdquo (M4) ldquoEstava agendada a cesaacuterea no preacute-natalrdquo

(M6)

Os inuacutemeros efeitos prejudiciais tanto para a mulher quanto para o fetoneonato da

cesaacuterea sem indicaccedilotildees satildeo comprovados pelo conhecimento cientiacutefico atual A siacutendrome da

anguacutestia respiratoacuteria do receacutem-nascido desponta com uma das principais causas de morbi-

mortalidade perinatal (MADAR 1999)

As pacientes submetidas a cesarianas agendadas sem indicaccedilotildees apresentam

morbidade e mortalidade maior quando comparadas a pacientes que realizaram o parto normal

(HALL 1999 LILFORD et al 1990)

A respeito do motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea um estudo constatou que a maioria das

mulheres demonstra certa passividade frente ao meacutedico na decisatildeo pelo parto ciruacutergico

(FIGUEIREDO N et al 2010)

Essa conduta relaciona-se com os elevados iacutendices de cesaacutereas desnecessaacuterias no

Brasil Buscando reverter esse quadro a Associaccedilatildeo Meacutedica Brasileira (AMB) e o Conselho

Federal de Medicina (CFM) em iniciativa conjunta elaboraram um protocolo sobre o tema

indicaccedilotildees de cesaacutereas intitulado Projeto Diretrizes (PD) Satildeo objetivos desse trabalho

60

conciliar informaccedilotildees sobre o tema no sentido de estimular a praacutetica da medicina baseada em

evidecircncias analisar individualmente as indicaccedilotildees de cesariana com base nas evidecircncias

cientiacuteficas da literatura promover uma diminuiccedilatildeo das taxas de cesariana (PROJETO

DIRETRIZES 2002)

Os desvios eacuteticos decorrentes dessa conduta natildeo levam em consideraccedilatildeo a sauacutede das

mulheres Haacute a necessidade constante de atualizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais meacutedicos

e demais consequumlecircncias possiacuteveis dessa atitude (HADDAD et al 2011)

Nesse contexto destaca-se um estudo realizado com docentes do Departamento

Materno- Infantil do Hospital Universitaacuterio de Satildeo Joseacute do Rio Preto que constatou a

valorizaccedilatildeo da cesaacuterea em detrimento ao parto vaginal concorrendo para a disseminaccedilatildeo da

cultura subjacente agrave desmobilizaccedilatildeo dos alunos e profissionais meacutedicos para a realizaccedilatildeo do

parto normal (MORAES GOLDENGERG 2001)

61

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao tentar traduzir sob a forma de pesquisa a compreensatildeo de como a cultura influencia

no processo de parturiccedilatildeo da mulher finalizo este estudo com o vislumbre de que o objeto

escolhido foi pleno de possibilidades para entender e sobretudo para ampliar as propostas e a

pesquisa nessa aacuterea de estudos Encerro este trabalho com a certeza de que foi uma etapa

necessaacuteria em minha vida profissional e muito importante para o meu crescimento pessoal e

acadecircmico

Como mencionado anteriormente a inquietaccedilatildeo frente agrave fragilidade das parturientes ao

se submeterem sem questionamentos a todos procedimentos e intervenccedilotildees da equipe

obsteacutetrica apresentou-se como uma das justificativas da realizaccedilatildeo deste trabalho atraveacutes da

questatildeo norteadora ldquoqual a participaccedilatildeo da cultura nos saberes e as praacuteticas das mulheres em

relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeordquo

Esse estudo abriu espaccedilo para que mulheres falassem de um periacuteodo em suas vidas

extremamente iacutentimo e especial permitindo-lhes ampliar a visatildeo acerca dos determinantes

socioculturais envolvidos nesse momento O estudo foi realizado fora do periacuteodo graviacutedico

puerperal justamente para tentar captar delas o que realmente ficou de significativo dessa

fase sem interferecircncia ou expectativas de quem estaacute passando pelo turbilhatildeo de emoccedilotildees que

acompanham o processo da parturiccedilatildeo

O desenvolvimento desta pesquisa possibilitou perceber que o parto enquanto um dos

momentos da vida da mulher de grande importacircncia nem sempre eacute compreendido e entendido

dessa maneira por elas

Da mesma forma observou-se que a vivecircncia das mulheres em seu processo de

parturiccedilatildeo eacute percebida de modo diferente por cada uma algumas vezes de forma positiva e

outras de forma negativa A forma da mulher vivenciar esse processo depende de fatores

individuais e principalmente de representaccedilotildees culturais da realidade social a que ela

pertence

A abordagem negativa do estudo referida por algumas mulheres manifestou o

desconhecimento sobre a fisiologia do parto estando intrinsecamente relacionado ao modelo

fragmentado em partes do corpo perpetuado pelas praacuteticas da medicina cientiacutefica dominantes

na sociedade

62

As mulheres natildeo estatildeo conscientes dessas circunstacircncias e reproduzem essa forma de

fragmentaccedilatildeo de que o uacutetero eacute um muacutesculo involuntaacuterio e de que o parto eacute um processo ao

qual tecircm de se submeter causando uma sensaccedilatildeo muito marcante de fragmentaccedilatildeo e

objetificaccedilatildeo nas mulheres que sofreram uma cesaacuterea conforme constatado no estudo

Por outro lado a abordagem positiva apontada por elas dignifica a responsabilidade

por uma nova vida e a emoccedilatildeo do nascimento entendendo-o como uma oportunidade de

crescimento psicoloacutegico e de resgate espirituais

Na percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado haacute divergecircncias de opiniatildeo em

relaccedilatildeo ao tipo de parto vivenciado por cada uma As mulheres que desejaram e vivenciaram

o parto normal relatam o evento como parte de uma jornada interior e exterior que envolve

sentimentos iacutentimos uma experiecircncia fiacutesica profunda e intensa de algo que elas satildeo capazes

de realizar compreendendo que o significado de ser matildee eacute ter a capacidade de passar pela

experiecircncia do trabalho de parto e do parto natural

Em contrapartida o significado da vivecircncia das mulheres que natildeo desejaram ou

realizaram a cesaacuterea assemelha-se ao processo de produccedilatildeo industrializada em nossa

sociedade em que as atividades satildeo realizadas e determinadas inteiramente pela figura do

meacutedico e dos hospitais e natildeo por elas Percebeu-se que o papel principal do parto que seria

da parturiente foi assumido por essas figuras que estatildeo no controle pois as mulheres natildeo se

sentiam prontas ou capazes de tomaacute-lo para si

Identificou-se que a via de parto desejada pela maioria das entrevistadas foi o parto

normal mas as que natildeo conseguiram realizar esse desejo foi devido agrave influecircncia e agraves

intervenccedilotildees recebidas do meacutedico Os argumentos que influenciaram o desestiacutemulo da

realizaccedilatildeo do parto normal foram a necessidade de realizaccedilatildeo de laqueadura tubaacuteria e a falta

de informaccedilatildeo sobre meacutetodos natildeo farmacoloacutegicos e farmacoloacutegicos para o aliacutevio da dor

Cabe ressaltar que as mulheres que desejaram o parto normal e conseguiram parir por

esta via sentiram seguranccedila e confianccedila na experiecircncia do trabalho de parto natildeo sendo

identificando nenhum sinal perceptiacutevel em suas palavras relacionado agrave incapacidade de fazecirc-

lo podendo assim vivenciaacute-lo ativamente Outros aspectos importantes a serem ressaltados

foram a rapidez da recuperaccedilatildeo e a volta agraves atividades diaacuterias o desejo de serem acolhidas

pelos profissionais nas suas demandas e o direito agrave informaccedilatildeo clara e eacutetica

Sobre o poder de decisatildeo do meacutedico quanto ao tipo de parto constataram-se

divergecircncias de opiniatildeo As entrevistadas afirmaram que o meacutedico tem o poder de decisatildeo

sobre a escolha do tipo de parto poreacutem algumas natildeo estatildeo de acordo com esta conduta

63

defendendo que a decisatildeo deveria levar em conta a opiniatildeo da mulher uma vez que eacute ela que

estaacute sentindo e passando pelo processo

Conforme expressam as entrevistadas elas aceitaram essa atitude por parte dos

profissionais mas sentiram que algo em relaccedilatildeo a isso poderia ter sido mudado Elas

incentivam a mudanccedila das atitudes que colocam a mulher em posiccedilatildeo desprivilegiada no

parto

Outro aspecto destacado no estudo foi como se daacute a construccedilatildeo cultural do processo

parturitivo das mulheres Pocircde-se constatar que o significado positivo evidenciado pelas

mulheres do conviacutevio das entrevistadas principalmente pela figura materna proporcionou um

parto enriquecedor agraves entrevistadas e exerceu influecircncia na preferecircncia por parto normal

Outras no entanto descrevem que se atribuiu significado negativo pelas mulheres do

conviacutevio o que provocou medo ansiedade e inseguranccedila agraves entrevistadas durante a

experiecircncia do seu parto

Assim confirma-se que o parto natildeo pode ser entendido e reduzido somente ao aspecto

bioloacutegico pois a partir da transmissatildeo de conhecimentos interrelacionais constatados nesta

pesquisa pode-se compreender que a cultura influencia no processo de parturiccedilatildeo das

mulheres E haacute que se considerar essa influecircncia quando se presta cuidado agraves parturientes

O conteuacutedo de revistas da internet dos meios de comunicaccedilatildeo em geral aleacutem das

informaccedilotildees repassadas por vizinhos constituem outro fator de notaacutevel influecircncia nesse

construto imaginaacuterio As experiecircncias relatadas denotam que essas formas de construccedilotildees

culturais servem para expansatildeo do conhecimento sobre o assunto Isso deixa claro que as

mulheres muitas vezes estatildeo conscientes de sua falta de autonomia e buscam visotildees

alternativas sobre como o seu parto poderia acontecer

As visotildees alternativas citadas por elas foram o nascimento em casa de parto e no

domiciacutelio formas de assistecircncia consideradas na atualidade como humanizadas por ativistas

do parto normal de todo o mundo e pelas organizaccedilotildees governamentais e natildeo governamentais

que trabalham em prol da humanizaccedilatildeo do parto e nascimento tendo como objetivo devolver

agrave mulher o protagonismo na sua gestaccedilatildeo parto e poacutes-parto

No relato das mulheres eacute citada somente a figura meacutedica na consulta de preacute-natal e

elas falam que esse profissional natildeo forneceu efetivamente nenhuma informaccedilatildeo sobre parto

Tal postura silenciosa por parte desse profissional pode estar influenciando a faacutecil aceitaccedilatildeo

de uma cesaacuterea desnecessaacuteria fato esse comprovado pelo tipo de parto de maior incidecircncia

das mulheres deste estudo

64

As atividades desenvolvidas durante as consultas de preacute-natal foram accedilotildees de cunho

puramente bioloacutegico tecnicista e fragmentado como constatado na forma reduzida de

assistecircncia prestada que se limita agrave solicitaccedilatildeo de exames e agrave avaliaccedilatildeo obsteacutetrica de

batimentos cardiacuteacos fetais e altura uterina

As mulheres citam o atendimento da enfermeira na vivecircncia do parto bem como na

gestaccedilatildeo o que deflagra sua importacircncia nesse processo pois tal profissatildeo se constitui como

uma das maiores estrateacutegias que visa melhorar a assistecircncia obsteacutetrica no Brasil e exerce um

papel relevante no que tange agrave humanizaccedilatildeo durante o processo de nascimento Da mesma

forma a fisioterapia tambeacutem foi citada como ponto de incentivo agrave escolha do parto normal

O significado de parto celebrado por algumas mulheres do estudo abrange o

questionamento e a resistecircncia aos pressupostos culturais subjacentes ao modelo biomeacutedico

atual discordando de praacuteticas que vivenciaram no parto consideradas desrespeitosas Ponto

comum em suas falas foi a auto-percepccedilatildeo de resistecircncia agrave passividade imposta pela praacutetica

meacutedica

Foi demonstrado pelas mulheres claro desagrado por algumas praacuteticas que retiram da

mulher a sua autonomia no processo da parturiccedilatildeo tais como coibiccedilatildeo do acompanhante no

trabalho de parto e no parto invasatildeo de privacidade com a entrada de pessoas estranhas para

assistir ao parto sem licenccedila da parturiente e a falta de autonomia na escolha da via de parto

normal

A privaccedilatildeo dessa escolha acarretou a praacutetica de cesaacutereas desnecessaacuterias na maioria

das mulheres deste estudo Um dos principais motivos para a realizaccedilatildeo das cesaacutereas foi

apontado como a falta de dilataccedilatildeo das gestantes simplesmente pelo fato de natildeo estarem em

trabalho de parto quando admitidas na maternidade

Confesso que ao teacutermino deste trabalho muitos pressupostos que faziam parte dos

meus questionamentos foram esmaecidos pois esperava encontrar mulheres alienadas agrave

medicalizaccedilatildeo e agrave patologizaccedilatildeo do processo da parturiccedilatildeo e foi surpreendente o depoimento

de algumas das entrevistadas que demonstraram estar buscando novas formas de

conhecimento e de vivecircncia deste momento tatildeo especial em suas vidas natildeo obstante estarem

inseridas em um modelo tecnicista de assistecircncia

As entrevistadas questionam as praacuteticas como se apresentam atualmente e isso natildeo

significa que refutem os proveitos tecnoloacutegicos quando necessaacuterios mas defendem a

passagem a outro tipo de cultura em que possam exercer mais liberdade e ter participaccedilatildeo

ativa no processo da parturiccedilatildeo

65

Alguns significados atribuiacutedos pelas mulheres quanto agrave preferecircncia pela cesaacuterea e a

percepccedilatildeo de que o parto normal eacute muito mais arriscado explicitam resquiacutecios do discurso

meacutedico dominante Tambeacutem se revelou no estudo que as pacientes natildeo receberam

informaccedilotildees acerca dos riscos advindos deste procedimento ciruacutergico sem indicaccedilotildees

Portanto a ausecircncia de informaccedilatildeo sobre parto que deveria ser repassada pelo meacutedico foi

uma constataccedilatildeo neste estudo

O trabalho configurou-se um exerciacutecio instigante na medida em que o encadeamento

reflexivo da anaacutelise a partir das contribuiccedilotildees teoacutericas advindas dos estudos culturais de

gecircnero e corpo foi apontando que esse profissional de sauacutede produz significado no modo

como o parto eacute vivenciado pelas mulheres

Respondo ao final destas consideraccedilotildees ao questionamento inicial do estudo

constatando que a cultura participa dos saberes e das praacuteticas das mulheres em relaccedilatildeo ao

processo da parturiccedilatildeo Poreacutem algumas mulheres estatildeo buscando reinterpretar esta cultura

por meio de novas formas de vivenciar e de burlar o sistema de sauacutede obsteacutetrico vigente que

oprime tira-lhes o poder e impotildee silecircncio sob a eacutegide da proteccedilatildeo

As mulheres querem ser respeitadas ter direito agrave privacidade em seu parto ser ouvidas

e informadas com transparecircncia e eacutetica ter espaccedilo para expressar suas escolhas e agir

conforme suas necessidades poder gritar escandalizar caso desejem querem ainda ter

assistecircncia de boa qualidade sem julgamentos e livre de praacuteticas rotineiras que as instituiccedilotildees

obsteacutetricas impotildeem sem nenhum benefiacutecio para a matildee e o bebecirc

Se essa eacute a forma para encontrar significado ao desejo das mulheres ela difere e

muito da ldquopessimizaccedilatildeordquo do parto que alguns grupos de profissionais reproduzem em uma

cesaacuterea desnecessaacuteria ou em um parto normal medicalizado para finalizar um comeccedilo de vida

Cabe a noacutes profissionais de sauacutede mulheres homens sairmos dessa zona de conforto

que a sociedade atual nos enquadrou e comeccedilarmos a entender que a mudanccedila de paradigmas

de assistecircncia em todo o processo da parturiccedilatildeo estaacute associada a cidadatildeos e cidadatildes

conscientes e sujeitos da sua proacutepria histoacuteria

A enfermagem tem uma responsabilidade muito grande em todo esse processo e natildeo

pode eximir-se dela pois somos uma categoria profissional juntamente com a medicina que

tem o respaldo na lei do exerciacutecio profissional na assistecircncia agrave parturiente e ao parto normal

Os enfermeiros tecircm a formaccedilatildeo de natildeo intervir no processo da parturiccedilatildeo isto eacute de deixar a

fisiologia agir e eacute isto que temos que buscar a reconstruccedilatildeo dessa cultura sem intervenccedilotildees no

parto normal das mulheres

66

Precisamos fazer valer esse direito legal para que como profissionais do cuidado que

somos possamos proporcionar o cuidado de oferecer como um direito agrave mulher o

protagonismo no seu parto

O reconhecimento da mulher como protagonista do seu parto eacute elemento primordial

para os profissionais poderem compreender os temores as alegrias e os prazeres da gestaccedilatildeo e

do parto e assumirem uma nova postura de atenccedilatildeo Assim encerro destacando que os

muacuteltiplos aspectos que permeiam a vivecircncia das mulheres precisam ser observados quando se

presta assistecircncia durante o processo da parturiccedilatildeo

67

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA N A M A dor do parto normal na perspectiva e vivecircncia de um grupo de

mulheres usuaacuterias do Sistema Uacutenico de Sauacutede Tese de doutorado Programa de Poacutes

Graduaccedilatildeo em Ciecircncias da Sauacutede - Convecircnio Rede Centro Oeste (UNB UFG UFMS)

Goiacircnia 2009

ANS AGEcircNCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR (Brasil) O modelo de atenccedilatildeo

obsteacutetrica no setor de Sauacutede Suplementar no Brasil cenaacuterios e perspectivas Agecircncia

Nacional de Sauacutede Suplementar ndash Rio de Janeiro ANS 2008a Disponiacutevel em

lthttpwwwansgovbrportaluploadnoticiasclippinglivro_parto_webpdfgt Acesso em 11

ago 2011

ANS Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar (Brasil) Rol de Procedimentos e Eventos em

Sauacutede RN 16708 Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar - Rio de Janeiro ANS 2008b

ANS AGEcircNCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR (Brasil) Atualiza o Rol de

Procedimentos e Eventos em Sauacutede previstos na RN nordm 211 de 11 de janeiro de 2010

Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar ndash Rio de Janeiro ANS 2011 Disponiacutevel em

lthttpwwwansgovbrimagesstoriesnoticiaspdfrn20262pdfgt Acesso em 30 nov

2011

BALASKAS J Parto Ativo guia praacutetico para o parto natural Traduccedilatildeo Adailton Salvatore

Meira 2 ed Satildeo Paulo Ground 2008

BARAK E M ALAN R H e NILS J B Should Neonates Sleep Alone Society of

Biological Psychiatry Revista Biological Psychiatry 2011

BARROS et al The challenge of reducing neonatal mortality in middle-income countries

findings from three Brazilian birth cohorts in 1982 1993 and 2004 Lancet v365 n9462

Mar 5-11 p847-54 2005

BARDIN L Anaacutelise de conteuacutedo 7 ed Portugal Ediccedilotildees 1977

BERGER P LUCKMANN T A Construccedilatildeo Social da Realidade Traduccedilatildeo de Floriano

de Souza Fernandes 3 ed Petroacutepolis Vozes 1976

68

BEZERRA M G A CARDOSO M V L M Fatores interferentes no comportamento de

parturientes enfoque na Etnoenfermagem Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v

58 n6 p698-702 novdez 2005

BEZERRA M G A CARDOSO M V L M Fatores culturais que interferem nas

experiecircncias das mulheres durante o trabalho de parto e parto Revista Latino-americana

Enfermagem maiojun 14(3)414-21 2006

BUSANELLO J COSTA K P PINHO E Humanizaccedilatildeo do Parto e do Nascimento os

desafios para a implementaccedilatildeo do programa do Ministeacuterio da Sauacutede CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 61 7 a 10 dez Fortaleza Cearaacute 2009

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Programa de Assistecircncia Integral agrave Sauacutede da Mulher bases

de accedilatildeo programaacutetica Brasiacutelia DF 1984

_____ Lei nordm 749886 Dispotildee sobre a regulamentaccedilatildeo do exerciacutecio da Enfermagem e daacute

outras providecircncias Disponiacutevel em

lthttpwwwabennacionalorgbrdownloadLeiPROFISSIONALpdf gt Acesso em 29 nov

2011

_____ Decreto n 9440687 Regulamenta a Lei nordm 7498 de 25 de junho de 1986 Dispotildee

sobre o exerciacutecio da enfermagem e da outras providecircncias Disponiacutevel em

lthttpportalcofengovbrsitenovonode4173gt Acesso em 29 nov 2011

_____ Presidecircncia da Repuacuteblica Lei nordm 11108 Altera a Lei no 8080 de 19 de setembro de

1990 para garantir agraves parturientes o direito agrave presenccedila de acompanhante durante o trabalho de

parto parto e poacutes-parto imediato no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS 2005b

Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-

20062005LeiL11108htmlgt Acesso em 25 nov 2011

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Resoluccedilatildeo nordm 196 sobre pesquisas envolvendo seres

humanos Brasiacutelia DF 1996

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 2815 de 29 de maio de 1998 - Institui o

procedimento do parto normal realizado por enfermeiro obstetra no Sistema Uacutenico de

Sauacutede Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF

seccedilatildeo 1 p47-8 1998b

69

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 2883 de 04 de junho de 1998 - Institui o Precircmio

Nacional Profordf Galba de Arauacutejo Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder

Executivo Brasiacutelia DF seccedilatildeo 1 p 24 de 0506 de 1998a Disponiacutevel em

lthttpdtr2001saudegovbrsasportariasport98GMGM-2883htmlgt Acesso em 29 nov

2011

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria nordm 985 GM Institui as Casas de Parto ou Centro de

Parto Normal no Sistema Uacutenico de Sauacutede Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do

Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 05 ago 1999

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 466 de 14 de junho de 2000 - Estabelecer como

competecircncia dos estados e do Distrito Federal a definiccedilatildeo de limite por hospital de

percentual maacuteximo de cesarianas em relaccedilatildeo ao nuacutemero total de partos realizados e

ainda a definiccedilatildeo de outras estrateacutegias para a obtenccedilatildeo de reduccedilatildeo destes procedimentos

no acircmbito do estado Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil 115-E Poder

Executivo Brasiacutelia DF 2000a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 569 570 571 572 GM Estabelece o Programa de

Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e do Nascimento Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do

Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 01 jun 2000b

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Parto Aborto e Puerpeacuterio Assistecircncia Humanizada agrave

Mulher Ministeacuterio da SauacutedeFEBRASGOABENFO Brasiacutelia DF 2001

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Assistecircncia em Planejamento familiar Manual Teacutecnico-4 ed

Brasiacutelia 2002

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo integral agrave sauacutede da mulher

princiacutepios e diretrizes Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees Programaacuteticas

Estrateacutegicas Brasiacutelia Editora do Ministeacuterio da Sauacutede 2004

_____ Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Conselho Nacional dos Direitos da

Mulher I Plano Nacional de Poliacuteticas Puacuteblicas para as Mulheres Brasiacutelia 2005a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Nuacutecleo Teacutecnico da Poliacutetica

Nacional de Humanizaccedilatildeo Humaniza SUS documento base para gestores e trabalhadores do

SUS Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Nuacutecleo Teacutecnico da Poliacutetica

Nacional de Humanizaccedilatildeo 3 ed Brasiacutelia Editora do Ministeacuterio da Sauacutede 2006a

70

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Preacute-natal e puerpeacuterio atenccedilatildeo qualificada e humanizada

Brasiacutelia DF 2006b

_____ Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Conselho Nacional dos Direitos da

Mulher II Plano Nacional de Poliacuteticas Puacuteblicas para as Mulheres Brasiacutelia 2008a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA) Resoluccedilatildeo

RDC nordm 36 de 03 de junho dispotildeem sobre Regulamento Teacutecnico para Funcionamento dos

Serviccedilos de Atenccedilatildeo Obsteacutetrica e Neonatal - Brasiacutelia - DF 2008b

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Instrutivo dos indicadores para a pactuaccedilatildeo unificada 2008

Brasiacutelia 2008c

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da

Mulher ndash PNDS 2006 dimensotildees do processo reprodutivo e da sauacutede da crianccedila Ministeacuterio

da Sauacutede Centro Brasileiro de Anaacutelise e Planejamento Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2009

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Estatiacutesticas de partos no Brasil Brasiacutelia DF 2010

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Aleacutem da sobrevivecircncia praacuteticas integradas de atenccedilatildeo ao

parto beneacuteficas para a nutriccedilatildeo e a sauacutede de matildees e crianccedilas Ministeacuterio da Sauacutede

Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Aacuterea Teacutecnica de Sauacutede da Crianccedila e Aleitamento Materno ndash

Brasiacutelia DF 2011

BUDOacute M L D et al A cultura permeando os sentimentos e as reaccedilotildees frente agrave dor Revista

da Escola de Enfermagem da USP Satildeo Paulo v41 n1 p 36-43 2007

BUSANELLO J COSTA K P PINHO E Humanizaccedilatildeo do Parto e do Nascimento os

desafios para a implementaccedilatildeo do programa do Ministeacuterio da Sauacutede CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 61 - 7 a 10 dez Fortaleza Cearaacute 2009

CERVO A BREVIAN P A A Metodologia Cientiacutefica Satildeo Paulo Mc Graw-Hill 1983

CHRISTOFFEL M M SANTOS R S Navegando no mar da neonatologia um mergulho

no mundo imaginal do receacutem-nascido da UTIN Rio de Janeiro Ed EEAN 2003

COLLACcedilO V S Parto vertical vivecircncia do casal na dimensatildeo cultural do processo de

parir Florianoacutepolis Cidade Futura 2002

71

DECLERCQ E MENACKER F MACDORMAN M Rise in no indicated risk primary

caesareans in the United States 1991-2001 cross sectional analysis BMJ v330 n7482 Jan

8 p71-2 2005

DIAS M A et al Trajetoacuteria das mulheres na definiccedilatildeo pelo parto cesaacutereo estudo de caso em

duas unidades do sistema de sauacutede suplementar do estado do Rio de Janeiro Ciecircncia e Sauacutede

Coletiva 13(5) 1521-1534 setout 2008

DINIZ C S G Direitos humanos das mulheres na gravidez e no parto Projeto Gecircnero

Violecircncia e Direitos Humanos - Novas Questotildees para o Campo da Sauacutede Coletivo Feminista

Sexualidade e Sauacutede Departamento de Medicina Preventiva Faculdade de Medicina USP 2

ed 2003

_____ Entre a teacutecnica e os direitos humanos possibilidades e limites da humanizaccedilatildeo da

assistecircncia ao parto Tese (Doutorado) Satildeo Paulo (SP) Faculdade de MedicinaUSP 2001

DOU DIAacuteRIO OFICIAL DA UNIAtildeO Seccedilatildeo 1 nordm 147 2 de agosto de 2011 p 34 Agecircncia

Nacional de Sauacutede Suplementar- ANS Resoluccedilatildeo normativa nordm 262 de 1ordm agosto de 2011

Disponiacutevel em

lthttpwwwingovbrimprensavisualizaindexjspjornal=1amppagina=34ampdata=02082011gt

Acesso em 02 ago 2011

ELSEN I SOUZA A I J MARCON SS Enfermagem agrave Famiacutelia dimensotildees e

perspectivas Maringaacute p 257-267 Eduem 2011

FAUacuteNDES A CECATTI J G A operaccedilatildeo cesaacuterea no Brasil Incidecircncia tendecircncias

causas consequecircncias e propostas de accedilatildeo Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro v7

n2 p150-173 jun 1991

FIGUEREDO L G M Consequecircncias causadas pela aplicaccedilatildeo de ocitocina na induccedilatildeo de

partos Superartigos (online) 2010 Disponiacutevel em httpwwwartigosetcbrconsequencias-

causadas-pela-aplicacao-de-ocitocina-na-inducao-de-partoshtml Acesso em 15 nov 2011

FIGUEREDO N S V et al Fatores culturais determinantes da escolha da via de parto por

gestantes HU Revista Juiz de Fora v 36 n 4 p 296-306 outdez 2010

FLOYD D R The technological model of birth J Am Folklore 100 p 479-495 1987

FLOYD D R JOHN St G Del medico al sanador Traduccedilatildeo de Lauren Showe e

colaboradores Buenos Aires Fund Creavida 2004

72

FLOYD D R Perspectivas antropoloacutegicas del parto y el nacimento Traduccedilatildeo de Jaqui

Zieler Magui Cadot e Graciela Cobe Buenos Aires Fund Creavida 2009

FOUCAULT M Microfiacutesica do Poder Traduccedilatildeo de Roberto Machado 10 ed Rio de

Janeiro Graal 1992

FREITAS P F et al Desigualdade social nas taxas de cesariana em primiacuteparas no Rio

Grande do Sul Revista de Sauacutede Puacuteblica 39 p 761-7 2005

GAIVA M A M TAVARES C M O Nascimento um evento pertencente agrave equipe de

sauacutede Texto amp Contexto Enfermagem outdez 12(4)569-75 2003

GAMA A S et al Representaccedilotildees e experiecircncias das mulheres sobre a assistecircncia ao parto

vaginal e cesaacuterea em maternidades puacuteblica e privada Cadernos de Sauacutede Puacuteblica

25(11)2480-2488 nov 2009

GAMBLE et al A critique of the literature on womens request for cesarean section Birth

v34 n4 Dec p331-40 2007

GEERTZ C A Interpretaccedilatildeo das Culturas Rio de Janeiro (RJ) Livros Teacutecnicos e

Cientiacuteficos 1989

GIL A C Como elaborar projetos de pesquisa 4 ed 9 reimpr Satildeo Paulo Atlas 2007

GUALDA DMR BERGAMASCO RB Enfermagem cultura e o processo sauacutede-

doenccedila Satildeo Paulo Iacutecone p221- 240 2004

HADDAD S El M T CECATTI J G Estrateacutegias dirigidas aos profissionais para a

reduccedilatildeo das cesaacutereas desnecessaacuterias no Brasil Revista Brasileira Ginecologia Obstetriacutecia

33(5) 252-62 2011

HALL M H BEWLEY S Maternal mortalityand mode of delivery Lancet 354776

1999

HELMAN G C Cultura Sauacutede e Doenccedila Traduccedilatildeo Ane Rose Bolner 5 ed Porto Alegre

Artes Meacutedicas 2009

73

HILLAN M Short-Term Morbidity Associated with Cesarean Delivery Birth v 19 Issue 4

pages 190ndash194 Dec 1992

HOPKINS K Are Brazilian Women Really Choosing to Delivery by Cesarean Soc Sci

Med 51(5)725-40 2000

HOTIMSKY SN et al O parto como eu vejo ou como eu o desejo Expectativas de

gestantes usuaacuterias do SUS acerca do parto e da assistecircncia obsteacutetrica Cadernos de sauacutede

puacuteblica setout 18(5)1303-1311 2002

IBGE Instituto Brasileiro Geografia e estatiacutesticas Cadernos de Informaccedilatildeo de Sauacutede

Ministeacuterio da Sauacutede 2009

IPEA Objetivos de desenvolvimento do milecircnio relatoacuterio nacional de acompanhamento

coordenaccedilatildeo Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada e Secretaria de Planejamento e

Investimentos Estrateacutegicos supervisatildeo Grupo Teacutecnico para o acompanhamento dos ODM

Brasiacutelia Ipea MP SPI 2007

JONES R Memoacuterias do homem de vidro reminiscecircncias de um obstetra humanista Porto

Alegre Ideacuteias a Granel 2004

PRADO JUNIOR P P Da concepccedilatildeo ao nascimento Praacuteticas Educativas na assistecircncia agrave

mulher no periacuteodo graviacutedico e puerperal Dissertaccedilatildeo de Mestrado Centro Universitaacuterio

Pliacuteneo Leite - Unipli Niteroacutei 2008

KRUNO R B BONILHA A L L Parto domiciliar na voz das mulheres uma perspectiva agrave

luz da humanizaccedilatildeo Rev Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) dez25(3)396-407 2004

LANDERDAHL M C et al Contribuiccedilotildees de um nuacutecleo de estudos na consolidaccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas para as mulheres REUFSM Revista de Enfermagem da UFSM - janabr

1(1)71-79 2011

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro (RJ) Jorge Zahar p 21-

40 2003

LEE Y Mi DALTON M E Cesarean delivery on maternal request the impact on mother

and newborn Clinics in Perinatology v35 n3 Sept p505-18 x 2008

74

LEININGER M Culture care diversity amp universality a theory of nursing New York

(US) National League for Nursing Press 1991

LEITAtildeO F J C Autonomia da mulher em trabalho de parto (Dissertaccedilatildeo) Mestrado em

Bioeacutetica Universidade de Lisboa Faculdade de medicina Departamento de Bioeacutetica 2010

LILFORD R J et al The relative risks of caesarean section (intrapartum and elective) and

vaginal delivery a detailed analysis to exclude the effects of medical disorders and other

acute pre-existing physiological disturbances Br J Obstet Gynaecol 97883-92 1990

MACDORMAN et al Infant and neonatal mortality for primary cesarean and vaginal births

to women with no indicated risk United States 1998-2001 birth cohorts Birth v33 n3

Sept p175-82 2006

MACHADO E G C Gestaccedilatildeo parto e maternidade uma visatildeo holiacutestica Belo Horizonte

Editora Aurora 1995

MADAR J RICHMOND S HEY E Surfactantdeficient respiratory distress after elective

delivery at bdquoterm‟ Acta Paediatr v 88 p 1244-8 1999

MANDARINO N R et al Aspectos relacionados agrave escolha do tipo de parto um estudo

comparativo entre uma maternidade puacuteblica e outra privada em Satildeo Luiacutes Maranhatildeo Brasil

Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 25(7) p 1587-1596 jul 2009

MARTIN E A mulher no corpo - uma anaacutelise cultural da reproduccedilatildeo Traduccedilatildeo Juacutelio

Bandeira Rio de Janeiro Garamond 2006

MARTINS C S RAMOS J G L A questatildeo das cesarianas Rev Brasileira Ginecologia

Obstetriacutecia v27 nordm 10 Rio de Janeiro 2005

MCCOURT et al Elective cesarean section and decision making a critical review of the

literature Birth v34 n1 mar p65-79 2007

MEDEIROS R M K SANTOS IMM SILVA L R A escolha pelo parto domiciliar

histoacuteria de vida de mulheres que vivenciaram esta experiecircncia Esc Anna Nery Rev

Enfermagem dez 12(4) 765-72 2008

MELCHIORI et al Preferecircncia de gestantes pelo parto normal ou cesariano Interaccedilatildeo

psicologia 13(1)13-23 janjun 2009

75

MINAYO M C de S (org) Pesquisa Social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis

Vozes 2000

_____ O Desafio do Conhecimento pesquisa qualitativa em sauacutede 8 ed Satildeo Paulo Ed

Hucitec-Abrasco 2004

_____ O Desafio do Conhecimento pesquisa qualitativa em sauacutede 11 ed Satildeo Paulo Ed

Hucitec-Abrasco 2008

MONTICELLI M O nascimento como rito de passagem uma abordagem cultural para o

cuidado de enfermagem agraves mulheres e receacutem-nascidos (Dissertaccedilatildeo) Mestrado em

Enfermagem UFSC Florianoacutepolis 1994

MONDARDO S Proposta de reestruturaccedilatildeo dos serviccedilos da Unidade de Atenccedilatildeo agrave

Sauacutede da Vila Kennedy Santa MariaRS UFSM Santa Maria 1993

MORAES M S GOLDENBERG P Cesaacutereas um perfil epidecircmico Cad Sauacutede Puacuteblica

Rio de Janeiro 17 (3)509-519 maiojun 2001

MORELL M G G MELLO A V A Declaraccedilatildeo de Nascido Vivo no Estado de Satildeo

Paulo alguns resultados Informe Demograacutefico SEADE 29201-331 1995

MURTA et al Could elective cesarean sections influence the birth weight of full-term

infants Satildeo Paulo Medical Journal v124 p313-315 2006

ODENT M A Cesariana Traduccedilatildeo de Maria de Faacutetima de Madureira Florianoacutepolis Saint

Germain 2004

_____ A cientificaccedilatildeo do Amor Traduccedilatildeo de Marcos de Noronha e Talia Gevaerd de Souza

Florianoacutepolis Saint Germain 2000

ODENT M O camponecircs e a parteira Uma alternativa agrave industrializaccedilatildeo da agricultura e do

parto Traduccedilatildeo de Sarah Bailey Satildeo Paulo Ground 2003

OLIVEIRA et al Tipo de parto expectativas das mulheres Revista Latino-Americana de

Enfermagem v10 n 5 p 667-674 setout 2002

76

ORGANIZACAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE (OMS) Maternidade Segura - assistecircncia ao

parto normal 2009 Disponiacutevel em

lthttpabenforedesindicalcombrarqsmateria56_apdfgt Acesso em 06 dez 2010

_____ Sauacutede Materna e Neonatal Unidade de Maternidade Segura Sauacutede Reprodutiva e da

Famiacutelia Assistecircncia ao parto normal Um guia praacutetico de sauacutede materna e neonatal

Unidade de Maternidade Segura Sauacutede Reprodutiva e da Famiacutelia Genebra A Sauacutede 1996

OPAS III Reunioacuten Especial de Ministros de Salud de las Ameacutericas Atas resumidas

Santiago de Chile 2ordf 9 de octubre de 1972 Doc Oficial nordm 123 sept 1973

PELLOSO S M PANONT K T SOUZA K M P Opccedilatildeo ou imposiccedilatildeo Motivos de

escolha da cesaacuterea Arq Ciecircnc Sauacutede UNIPAR 4(1) 3-8 2000

PEREIRA W R Poder Violecircncia e Dominaccedilatildeo Simboacutelicos nos Serviccedilos de Sauacutede

Ribeiratildeo Preto 175p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem de Ribeiratildeo Preto

Universidade de Satildeo Paulo 2000

PEREIRA R R FRANCO S C BALDIN N Representaccedilotildees sociais e decisotildees das

gestantes sobre a parturiccedilatildeo protagonismo das mulheres Sauacutede sociedade v20 n3 Satildeo

Paulo julysept 2011

PETER A P C O Cuidado Cultural no Processo de Ser e Viver da Mulher Receacutem-

Nascido e Famiacutelia que Vivenciam o Parto no Domiciacutelio e no Hospital com Ecircnfase no

Contexto Domiciliar abrindo novos caminhos para a enfermagem (Trabalho de Conclusatildeo

de Curso) Graduaccedilatildeo em Enfermagem ndash Universidade Federal de Santa Catarina

Florianoacutepolis 2005

POTTER J E et al Unwanted caesarean sections among public and private patients in

Brazil prospective study BMJ 323 1155-8 2001

_____ Womens autonomy and scheduled cesarean sections in Brazil a cautionary tale

Birth 35 33-40 2008

PROGIANTI JM BARREIRA I A A obstetriacutecia do saber feminino agrave medicalizaccedilatildeo da

eacutepoca medieval ao seacuteculo XX 9 91-7 Revista Enfermagem UERJ 2001

PROJETO DIRETRIZES Associaccedilatildeo Meacutedica Brasileira e Conselho Federal de Medicina

Cesarianas indicaccedilotildees 2002

77

RAMOS J G L et al Morte materna em hospital terciaacuterio do Rio Grande do Sul um estudo

de 20 anos Rev Bras Ginecol Obstet 25 (6) 431-6 2003

REBELO F et al High cesarean prevalence in a national population-based study in Brazil

the role of private practice Acta Obstet Gynecol Scand 89 903-8 2010

RESSEL L B Vivenciando a sexualidade na assistecircncia de enfermagem Um estudo na

perspectiva cultural Escola de Enfermagem Universidade de Satildeo Paulo 2003

RESSEL L B et al A influecircncia da famiacutelia na vivecircncia da sexualidade Revista Esc Anna

Nery (impr) abrjun 15 (2)245-250 2011

REZENDE J MONTENEGRO B AC Obstetricia Fundamental 9 ed Rio de Janeiro

Guanabara Koogan 2003

ROSS L L BONILHA A L de L ARMELLINI C J et al Representaccedilotildees culturais

sobre parto e nascimento SEMANA CIENTIacuteFICA DO HOSPITAL DE CLIacuteNICAS DE

PORTO ALEGRE 26 Revista do HCPA 26 (Supl 1) 1-267 2006

SABATINO H Resposta ao polecircmico artigo Cesariana a polecircmica das taxas escrito por

Raphael da Cacircmara Medeiros Parente (Meacutedico do Ministeacuterio da Sauacutede - HSE Doutor em

Ginecologia - UNIFESP Mestre em Epidemiologia - UERJ) e publicado no Jornal do

CREMERJ ndash p 8 e 9 maio de 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwamigasdopartoorgbr2007indexphpoption=com_contentamptask=viewampid=891

ampItemid=204gt Acesso em 06 dez 2010

SANTOS M L Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia ao Parto e Nascimento um modelo teoacuterico

(Dissertaccedilatildeo) Mestrado em Enfermagem Universidade Federal de Santa Catarina

Florianoacutepolis 2002

SCAVONE L Impacto das Tecnologias Meacutedicas na Famiacutelia Sauacutede em Debate nordm40

p48-73 set 1993

SEIBERT S L BARBOSA J L S SANTOS J M VARGENS O M C

Medicalizaccedilatildeo x humanizaccedilatildeo o cuidado ao parto na histoacuteria Revista de Enfermagem

UERJ 13245-51 2005

SILVA L R A Experiecircncia na Casa de Parto Mohri-Japatildeo Revista de pesquisa Cuidado eacute

fundamental online setdez 1 (2) 288-298 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwseeruniriobrindexphpcuidadofundamentalarticleview359367gt Acesso em

13 out2011

78

SWAMY et al Association of preterm birth with long-term survival reproduction and next-

generation preterm birth JAMA v299 n12 Mar 26 p1429-36 2008

TAYLOR et al Risk of complications in a second pregnancy following caesarean section in

the first pregnancy a population-based study Medical Journal of Australia v183 n10

Nov 21 p515-9 2005

TEDESCO P R et al Fatores Determinantes para as Expectativas de Primigestas acerca da

Via de Parto Rev Bras Ginecol Obstet v26 n10 Rio de Janeiro novdez 2004

TEIXEIRA Z N F PEREIRA R W Parto Hospitalar - experiecircncias de mulheres da

periferia de Cuiabaacute - MT Cad Sauacutede Puacuteblica v25 n 11 Rio de Janeiro 2006

TELINI D M T Z Cesaacutereas e partos normais em gestantes com baixo risco obsteacutetrico

caracteriacutesticas maternas e repercussotildees neonatais (Tese) Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas

Campinas Universidade Estadual de Campinas 2000

THE LANCET Sauacutede dos Brasileiros 2011 Disponiacutevel em

lthttpwwwabcorgbrIMGpdfdoc-574pdf gt Acesso em 28 out 2011

TOMASHEK et al Differences in mortality between late-preterm and term singleton infants

in the United States 1995-2002 Journal of Pediatrics v151 n5 nov p450-6 456 2007

TRACY S K et al Admission of term infants to neonatal intensive care a population-based

study Birth v34 n4 dec p301-7 2007

TYRREL M A R CARVALHO V Programas nacionais de sauacutede-materno infantil

impacto poliacutetico social e inserccedilatildeo da enfermagem RJ EEANUFRJ 1995

VARGENS O M C PROGIANTI J M O Processo de Desmedicalizaccedilatildeo da Assistecircncia agrave

Mulher no Ensino de Enfermagem Rev Enferm USP 38 46-50 2004

VIacuteCTORA C G KNAUTH D R HASSEN M N A Pesquisa qualitativa em sauacutede

uma introduccedilatildeo ao tema Porto Alegre Tomo Editorial 2000

VIEIRA E M A Medicalizaccedilatildeo do Corpo Feminino Rio de Janeiro RJ Ed Fiocruz

2002

VIGILAcircNCIA EPIDEMIOLOacuteGICA Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria (SMS)

Dados Epidemioloacutegicos do Nuacutemero de Partos no Municiacutepio de Santa Maria - RS 2011

79

VILLAR J et al Caesarean delivery rates and pregnancy outcomes the 2005 WHO global

survey on maternal and Perinatal health in Latin America Lancet 367(9525)1819-29 2006

_____ Maternal and neonatal individual risks and benefits associated with caesarean

delivery multicentre prospective study BMJ v335 n7628 Nov 17 p1025 2007

80

ANEXOS

81

Anexo A - Aprovaccedilatildeo Comitecirc de Egravetica e Pesquisa

82

Anexo B - Autorizaccedilatildeo Emenda do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

83

84

APEcircNDICES

85

Apecircndice A - Ofiacutecio agrave Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria

Da Enfermeira Lizandra Flores Pimenta

Para Secretario Municipal de Sauacutede

Assunto Solicitaccedilatildeo (faz)

Santa Maria janeiro de 2011

Sr Secretaacuterio

Venho por meio deste solicitar a permissatildeo de V Srordf para desenvolver a pesquisa

intitulada A influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a

enfermagem junto as mulheres que satildeo atendidas na Unidade Baacutesica (UBS) de Sauacutede

Kennedy

Cumpre-se informar que esta pesquisa eacute resultado da experiecircncia na aacuterea obsteacutetrica

que me fez perceber a necessidade de compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher sobre a via de parto a partir das concepccedilotildees modernas sobre natureza e

cultura atribuiacutedos a percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto Como esclarecimento cabe

ressaltar que conforme a metodologia que pretendemos desenvolver os sujeitos da pesquisa

seratildeo consultados e esclarecidos acerca dos objetivos nos comprometendo a respeitar os

preceitos da Resoluccedilatildeo nordm19696 quanto agrave pesquisa envolvendo seres humanos

Colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios

Desde jaacute agradecemos

Atenciosamente

________________________ _______________________________

Enfordf Lizandra Flores Pimenta Profordf Enfordf Drordf Lucia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI ndash 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

86

Apecircndice B - Ofiacutecio ao Departamento de Ensino e Pesquisa do HUSM

Da Enfa Lizandra Flores Pimenta

Para Departamento de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitaacuterio de Santa Maria

Assunto Solicitaccedilatildeo (faz)

Santa Maria maio de 2011

Senhor Diretora

Venho por meio deste solicitar a permissatildeo de VS para desenvolver a pesquisa

intitulada ldquoA influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a

enfermagemrdquo junto agraves mulheres que estatildeo no momento da entrevista nos serviccedilos de

ginecologia e obstetriacutecia do HUSM quais sejam Centro Obsteacutetrico Unidade Toco-

ginecoloacutegica e Ambulatoacuterio ala II

Cumpre-se informar que esta pesquisa eacute resultado da experiecircncia na aacuterea obsteacutetrica

que me fez perceber a necessidade de compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher sobre a via de parto a partir das concepccedilotildees modernas sobre natureza e

cultura atribuiacutedas agrave percepccedilatildeo das mulheres em relaccedilatildeo ao parto Como esclarecimento cabe

ressaltar que conforme a metodologia que pretendo desenvolver os sujeitos da pesquisa seratildeo

consultados e esclarecidos acerca dos objetivos sendo que me comprometo a respeitar os

preceitos da Resoluccedilatildeo nordm 19696 quanto agrave pesquisa envolvendo seres humanos

Sem mais agradeccedilo a atenccedilatildeo dispensada colocando-me agrave disposiccedilatildeo para os

esclarecimentos que forem necessaacuterios

Atenciosamente

________________________ _______________________________

Enfordf Lizandra Flores Pimenta Profa Enfa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI - 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

87

Apecircndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ENFERMAGEM

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Pesquisadoras responsaacuteveis Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

Enfa Mestranda Lizandra Flores Pimenta

InstituiccedilatildeoDepartamento Universidade Federal de Santa Maria - Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Enfermagem

Telefones para contato (55) 91376501

(55) 91429743

Locais da coleta de dados Unidade sanitaacuteria Kennedy e Hospital Universitaacuterio de Santa

Maria

Vocecirc estaacute sendo convidada para participar da pesquisa intitulada ldquoA influecircncia da

cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a enfermagemrdquo de autoria de

Lizandra Flores Pimenta mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Enfermagem da

UFSM sob a orientaccedilatildeo da Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel que tem por objetivo

compreender como a cultura influencia no parto da mulher

Mas antes de concordar em participar desta pesquisa eacute importante que vocecirc

compreenda todas as informaccedilotildees as quais dizem respeito a sua participaccedilatildeo nesta pesquisa

Sua participaccedilatildeo consistiraacute em responder agraves perguntas feitas por mim pesquisadora durante a

entrevista a qual teraacute como auxiacutelio um gravador de voz Apoacutes as suas informaccedilotildees gravadas

seratildeo transcritas por mim de maneira a resguardar a veracidade dos dados Posteriormente

essas informaccedilotildees seratildeo organizadas analisadas divulgadas e publicadas em revistas

cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede sendo a sua identidade preservada em todas as etapas

Eacute importante que vocecirc compreenda que eacute assegurado o anonimato e o caraacuteter privativo

das informaccedilotildees fornecidas exclusivamente para a pesquisa Vocecirc natildeo seraacute identificada em

nenhum momento mesmo quando os resultados desta pesquisa forem divulgados sob

qualquer forma pois seraacute adotada a letra bdquoM‟ (M1 M2 M3) inicial da palavra mulher para

esta finalidade Tambeacutem as informaccedilotildees seratildeo mantidas em um CD no armaacuterio da professora

88

pesquisadora no Departamento de EnfermagemUFSM por cinco anos Apoacutes este periacuteodo os

dados seratildeo destruiacutedos Os dados coletados depois de organizados e analisados deveratildeo ser

divulgados e publicados ficando a pesquisadora juntamente com a professora responsaacutevel por

apresentar o relatoacuterio da pesquisa para a instituiccedilatildeo na qual seraacute realizado este estudo

Comunico que a sua participaccedilatildeo na entrevista natildeo representaraacute a princiacutepio risco agraves

suas dimensotildees fiacutesica moral intelectual social cultural ou espiritual em qualquer fase da

pesquisa No entanto poderaacute gerar algum desconforto como lembranccedilas questionamentos

eou conflitos agrave dimensatildeo emocional pelo fato da pesquisadora realizar uma entrevista na qual

vocecirc iraacute refletir sobre o seu cotidiano e suas vivecircncias Contudo poderaacute haver um benefiacutecio

no que se refere agrave melhor qualidade das praacuteticas no cuidar em enfermagem Se houver

qualquer desconforto a entrevista poderaacute ser suspensa e se vocecirc achar necessaacuterio poderei

fazer um encaminhamento a um especialista da aacuterea da sauacutede mental

Ciente e de acordo com o que foi anteriormente exposto eu __________________

estou de acordo em participar desta pesquisa assinando este Consentimento em duas vias

ficando com a posse de uma delas

_________________________________

Assinatura do sujeito de pesquisa

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntaacuteria o Consentimento Livre e

Esclarecido deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a participaccedilatildeo neste estudo

dede2011

__________________________________

Assinatura da pesquisadora

RG 3046400473

Se vocecirc tiver alguma consideraccedilatildeo ou duacutevida sobre a eacutetica da pesquisa entre em contato com

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa - CEP- UFSM Av Roraima 1000 - Preacutedio da Reitoria ndash 7ordm

andar ndash Campus Universitaacuterio ndash 97105-900 ndash Santa Maria-RS - Tel (55) 32209362 ndash E-mail

comiteeticapesquisamailufsmbr

89

Apecircndice D - Termo de confidencialidade

Tiacutetulo do estudo ldquoA influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees

para a enfermagemrdquo

Pesquisadora responsaacutevel Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

Pesquisadora Enfa Mestranda Lizandra Flores Pimenta

InstituiccedilatildeoDepartamento Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM)

Telefone para contato (55) 91376501 (55) 91429743

Locais da coleta de dados Unidade sanitaacuteria Kennedy e Centro Obsteacutetrico Unidade Toco-

ginecoloacutegica e Ambulatoacuterio ala II do HUSM

Os pesquisadores do presente projeto comprometem-se a preservar a privacidade dos

indiviacuteduos cujos dados seratildeo coletados por meio de entrevista gravada em aacuteudio MP3 e

realizada na UBS Kennedy numa sala reservada localizada no Hospital Universitaacuterio de

Santa Maria na cidade de Santa MariaRS Concordam igualmente que estas informaccedilotildees

seratildeo utilizadas uacutenica e exclusivamente para a execuccedilatildeo do presente projeto As informaccedilotildees

somente poderatildeo ser divulgadas de forma anocircnima e seratildeo mantidas em Compact Disc (CD)

por um periacuteodo de 5 (cinco) anos sob a responsabilidade da Enfordf Lizandra Flores Pimenta

Apoacutes este periacuteodo os dados seratildeo destruiacutedos Este projeto de pesquisa foi revisado e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM em 04012011 com o nuacutemero do CAAE

03170243000-10

Santa Maria de de 2011

________________________ _______________________________

Enfa Lizandra Flores Pimenta Profa Enfa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI ndash 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

90

Apecircndice E - Roteiro da entrevista com as mulheres

1 Dados de identificaccedilatildeo

Idade

Estado civil

Grau de instruccedilatildeo

Profissatildeoocupaccedilatildeo

Local de trabalho caso esteja trabalhando se natildeo indicar trabalho anterior

Raccedila

Quantos filhos

2 Sobre o parto

1 De que forma o parto e nascimento satildeo percebidos por vocecirc

2 Fale a respeito de sua experiecircncia em relaccedilatildeo aos seus partos e de outras mulheres do teu

conviacutevio

3 Existe alguma coisa em relaccedilatildeo ao parto de seus filhos que vocecirc gostaria que tivesse sido

diferente Por quecirc

4 O que vocecirc aprendeu sobre parto com teus pais irmatildeos irmatildes e outras pessoas da tua

famiacutelia

5 O que vocecirc escutou ou aprendeu sobre parto com os profissionais de sauacutede nos hospitais

e nos postos de sauacutede

6 O que vocecirc escutou ou aprendeu sobre parto em jornais revistas televisatildeo e internet

7 De que forma estes aprendizados participaram da tua decisatildeo sobre o tipo de parto

Page 5: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição

ldquoQuando eacute que vamos nos dar conta que nosso

foco natildeo deve ser combater as cesarianas

desmedidas e abusivas mas melhorar a assistecircncia

ao parto de tal forma que escolher uma cesariana

para ter um filho tornar-se-aacute a mais tola das

decisotildees Maximilian

RESUMO

Dissertaccedilatildeo de Mestrado

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Enfermagem

Universidade Federal de Santa Maria

CULTURA NO PROCESSO DE PARTURICcedilAtildeO CONTRIBUICcedilOtildeES PARA A

ENFERMAGEM

AUTORA Lizandra Flores Pimenta

ORIENTADORA Luacutecia Beatriz Ressel

Data e Local da Defesa Santa Maria 28 de fevereiro de 2012

A investigaccedilatildeo teve como objetivo compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher Desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa com abordagem cultural Os

cenaacuterios foram uma Unidade sanitaacuteria e um hospital de referecircncia para a gestaccedilatildeo de alto risco

e para intercorrecircncias ginecoloacutegicas de um municiacutepio do interior do Rio Grande do SulBrasil

Os sujeitos deste estudo foram oito mulheres em idade feacutertil com histoacuteria pregressa de parto

vaginal ou cesariano na faixa etaacuteria entre 22 e 35 anos que tiveram filhos a partir do ano de

2004 e fora do periacuteodo graviacutedico puerperal Para produccedilatildeo dos dados utilizou-se entrevista

semi-estruturada realizada entre janeiro e marccedilo de 2011 Para a anaacutelise dos dados foi

utilizada a anaacutelise temaacutetica sugerida por Minayo dando origem a seis categorias A percepccedilatildeo

das mulheres sobre o nascimento Percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado A

percepccedilatildeo das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto Conhecendo como se daacute a

construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres Resistecircncia das mulheres ao modelo

biomeacutedico do parto Percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea Os

achados deste estudo permitem afirmar que as vivecircncia das mulheres no seu processo de

parturiccedilatildeo eacute percebida de modo diferente entre elas entendida algumas vezes de forma

positiva e outras vezes de forma negativa A identificaccedilatildeo da via de parto desejada pela

maioria das entrevistadas foi o parto normal mas a maioria natildeo conseguiu realizar esse desejo

na sua vivecircncia pela influecircncia e intervenccedilotildees recebidas do meacutedico Esta ausecircncia de

autonomia na escolha do parto normal acarretou na indicaccedilatildeo de cesaacutereas que natildeo condizem

com as indicaccedilotildees da literatura nas mulheres desse estudo As entrevistadas afirmaram que o

meacutedico tem o poder de decisatildeo sobre a escolha do tipo de parto mas algumas divergem desta

conduta dizendo que esta decisatildeo deveria ter a participaccedilatildeo da mulher jaacute que eacute ela que estaacute

sentindo e passando por este processo O significado positivo evidenciado pelas mulheres do

conviacutevio das mulheres principalmente pela figura materna proporcionou um parto integral e

enriquecedor a essas entrevistadas e exerceu influecircncia na preferecircncia por parto normal

Constatou-se que cultura tem influecircncia sobre os saberes e as praacuteticas das mulheres em

relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeo e que os muacuteltiplos aspectos que permeiam a vivecircncia das

mulheres precisam ser observados quando se presta assistecircncia a elas durante esse processo

Palavras-chave Parto Sauacutede da mulher Cultura Enfermagem

ABSTRACT

Masterrsquos Dissertation

Nursing Pos-Graduation Program

Federal University of Santa Maria

CULTURE IN THE PROCESS OF DELIVERY CONTRIBUTIONS TO

NURSING

AUTHOR Lizandra Flores Pimenta

ADVISOR Luacutecia Beatriz Ressel Date and Place of Defense Santa Maria February 28th 2012

The investigation aimed to understand how culture influences in the process of a woman

delivery A qualitative research with a cultural approach The settings were a Health Center

and a reference Hospital for high risk pregnancies and to gynecologic complications of a city

in the interior of Rio Grande do SulBrazil The people of this study were eight women in

fertile age with previous history of natural and caesarean deliveries in ages between 22 and

35 years old who had children from the year 2004 and out of the pregnancy period To the

data production a semi-structured interview was used done between January and March of

2011 To do the data analysis it was used a thematic analysis suggested by Minayo

generating six categories Women perception about the birth Women perception about the

wanted delivery Women perception in the decision about the king of delivery Knowledge

about how is the cultural construction of the women delivery process Questioning and

women resistance to the delivery biomedical model women perception about the reason of

caesarean indication The findings of this study allow affirming that women experience in

their delivery process is noticed differently among them sometimes understood in a positive

way and others in negative ways The identification of the kind of delivery wanted by the

majority of the interviewed was the natural delivery but it can be seen that the majority could

not have it in their pregnancies due to the influence and interventions given by the doctor The

absence of autonomy in the choice for the natural delivery resulted in the indication of

caesariansthat are not consistent with indications from the literature the women of this study

The interviewed affirm that the doctor has the power of decision about the king of delivery

but some diverge from this behavior saying that this decision should have the women

participation once she is the one who feels and passes by this process The positive meaning

evidenced by the women who have some relation with the pregnant mainly by the mother

figure provided an integral and enriched delivery to these women and influenced in the

preference for a natural delivery It was verified that culture has influence in the knowledge

and in the practices of women in relation to the process of delivery and that multiple aspects

that surround their life need to be observed when assistance is given to them during the

process

Key-words Delivery Women health Culture Nursing

LISTA DE ANEXOS

Anexo A - Aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM 81

Anexo B - Autorizaccedilatildeo de Emenda do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM para

troca de cenaacuterio para coleta

82

LISTA DE APEcircNDICES

Apecircndice A - Ofiacutecio agrave Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria 85

Apecircndice B - Ofiacutecio ao Departamento de Ensino e Pesquisa do HUSM 86

Apecircndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 87

Apecircndice D - Termo de Confidencialidade 89

Apecircndice E - Roteiro da entrevista com as mulheres 90

SUMAacuteRIO

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS 12

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 17

11 Poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e nascimento no

Brasil

17

12 O parto e a cultura no processo da parturiccedilatildeo 22

13 Referencial teoacuterico de Emily Martin sobre o parto e cultura 24

2 CAMINHO METODOLOacuteGICO 29

21 Fundamentos metodoloacutegicos 29

22 Os cenaacuterios do estudo 29

23 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos 31

24 Caracterizaccedilatildeo das participantes 32

25 Inserccedilatildeo em campo 34

26 Coleta de dados 33

27 Anaacutelise dos dados 34

28 Questotildees eacuteticas 35

3 ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS DADOS 37

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 61

REFEREcircNCIAS 67

ANEXOS 80

APEcircNDICES 83

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS

A gravidez e o parto satildeo eventos sociais e culturais que integram a vivecircncia

reprodutiva de homens e mulheres uma experiecircncia uacutenica no universo de ambos que envolve

tambeacutem suas famiacutelias e consequentemente a comunidade (BRASIL 2001)

O parto inscreve-se nesse universo cultural por ser um fenocircmeno que perpassa todas as

sociedades e temposespaccedilos Esse sistema de crenccedilas herdadas eacute denominado ldquocultura do

nascimentordquo a qual informa os membros da sociedade sobre a natureza de todo o processo

parturitivo da mulher e influencia seu significado em relaccedilatildeo ao tipo de parto (HELMAN

2009)

O autor supracitado diz que a gestaccedilatildeo e o parto satildeo a transiccedilatildeo do status social de

ldquomulherrdquo para o de ldquomatildeerdquo e como em todas as transiccedilotildees sociais a pessoa deve ser protegida

de qualquer dano atraveacutes de determinados rituais e comportamentos

Conforme Floyd (2009) as formas de transmitir esses comportamentos agrave parturiente

satildeo chamadas de ldquorituais da obstetriacuteciardquo dentre eles estatildeo fazer a mulher reconhecer a

deficiecircncia de seu corpo (consciente ou inconscientemente) a fim de tornaacute-la dependente da

ciecircncia e da tecnologia induzindo-a a aceitar a superioridade das instituiccedilotildees e da Medicina

em controlar seus processos naturais suas crenccedilas e seus significados individuais

Segundo Floyd (2009) eacute mais provaacutevel que esse tipo de comportamento seja

transmitido na atmosfera impessoal de um hospital do que no ambiente familiar e domeacutestico

As condiccedilotildees de nascimento apresentam significativas distinccedilotildees quando comparadas

entre diferentes realidades Nos paiacuteses ocidentais segundo Floyd (1987) o parto eacute cercado de

aparatos tecnoloacutegicos meacutedicos e essa medicalizaccedilatildeo define-o como uma disfunccedilatildeo fisioloacutegica

Jaacute nos paiacuteses orientais como exemplo o Japatildeo eacute valorizado o parto vaginal desmedicalizado

que assim como a gestaccedilatildeo natildeo eacute considerado doenccedila (SILVA 2009)

De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) 70 a 80 das gestaccedilotildees

que ocorrem no mundo satildeo consideradas de baixo risco Eis a definiccedilatildeo de parto normal

adotada pela OMS

De iniacutecio espontacircneo baixo risco no iniacutecio do trabalho de parto permanecendo

assim durante todo o processo ateacute o nascimento O bebecirc nasce espontaneamente em

posiccedilatildeo cefaacutelica de veacutertice entre 37 e 42 semanas completas de gestaccedilatildeo Apoacutes o

nascimento matildee e filho estando em boas condiccedilotildees Entretanto como o trabalho de

parto e o parto de muitas gestantes de alto risco tecircm um curso normal vaacuterias

recomendaccedilotildees tambeacutem se aplicam agrave assistecircncia dessas mulheres (OMS 2009 p9)

13

Frente a isso deve existir sempre uma razatildeo vaacutelida para se interferir nesse processo

fisioloacutegico do parto tendo como recurso para tais casos a cesariana que se trata de uma

intervenccedilatildeo meacutedica destinada agrave extraccedilatildeo do feto por via abdominal

O parto cesaacutereo eacute uma intervenccedilatildeo usada em situaccedilotildees nas quais as condiccedilotildees da matildee

e do bebecirc natildeo favorecem o parto vaginal Entretanto sua indicaccedilatildeo incorreta estaacute associada a

uma maior ocorrecircncia de mortalidade e morbidade para as parturientes tais como

hemorragias infecccedilotildees puerperais embolia pulmonar riscos anesteacutesicos bem como outras

patologias Para os bebecircs os riscos relacionam-se a distuacuterbios respiratoacuterios icteriacutecia

fisioloacutegica prematuridade iatrogecircnica hipoglicemia e anoacutexia (RAMOS 2003 VILLAR

2006 TELINI 2000)

Nessa direccedilatildeo eacute observado em nosso paiacutes nos uacuteltimos anos o aumento de partos

cesaacutereos agendados com antecedecircncia cujas indicaccedilotildees meacutedicas natildeo o justificam (MORELL

MELO 1995) Em uma pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede realizada em 2006 quase

metade (462) de todas as cesarianas foi agendada com antecedecircncia (BRASIL 2009)

Essa conduta eacute culturalmente difundida pelos profissionais da sauacutede que detecircm o

poder de modular e influenciar as demandas sobre as necessidades de sauacutede da populaccedilatildeo

(TEIXEIRA 2006) Apresentando-se sob a maacutescara da razatildeo e da necessidade essa praacutetica

desnecessaacuteria acaba por natildeo ser percebida pela maioria das mulheres que encontram

dificuldades em resistir (PEREIRA 2000)

O Ministeacuterio da Sauacutede (2001) ressalta que a informaccedilatildeo e a formaccedilatildeo de opiniatildeo entre

as mulheres satildeo prioridade no Brasil a fim de que elas possam escolher o melhor para a sua

sauacutede e para a de seus filhos pois embora profissionais e mulheres faccedilam a opccedilatildeo antecipada

do tipo de parto esse fato natildeo pode ser visto como uma simples questatildeo de preferecircncia jaacute que

cesaacuterea natildeo eacute um ldquobem de consumordquo (ODENT 2004)

Outro modo de tornar atrativo e mais agradaacutevel aos olhos das mulheres esta praacutetica de

conveniecircncia eacute o conceito contraditoacuterio de cesariana centrada na famiacutelia em que se daacute aos

pais opccedilotildees quanto ao tipo de anesteacutesico e terapia indicados para a mulher (MARTIN 2006)

Scavone (1993) explica esta valorizaccedilatildeo pelas mulheres e pela populaccedilatildeo em geral como

uma garantia meacutedica para os pais em relaccedilatildeo agrave qualidade da sua prole e da fecundidade

Ao dar respostas aos problemas obsteacutetricos e neonatais que aumentam enormemente

os iacutendices de mortalidade materna durante a gestaccedilatildeo o parto e o puerpeacuterio a medicina criou

discursos de verdade Segundo Foucault (1992 p 179)

14

As relaccedilotildees de poder natildeo podem se dissociar se estabelecer nem funcionar sem

uma produccedilatildeo uma acumulaccedilatildeo uma circulaccedilatildeo e um funcionamento do discurso

Natildeo haacute possibilidade de exerciacutecio do poder sem uma certa economia dos discursos

de verdade que funcione dentro e a partir desta dupla exigecircncia

Essa hegemonia do discurso meacutedico sobressai-se desconsiderando durante o processo

parturitivo as crenccedilas e a cultura das mulheres Eacute apenas o meacutedico quem daacute a palavra final

para duacutevidas e inquietudes das mulheres pois considera seu discurso inquestionaacutevel e

legiacutetimo (VIEIRA 2002)

Dessa forma a mulher perde sua autonomia como protagonista no processo do

nascimento

Criou-se assim uma heteronomia desfigurando-se este ato ateacute entatildeo puramente

feminino - pois natildeo era mais a mulher quem dava agrave luz - para o meacutedico como dono

e senhor do parto numa inversatildeo de papeacuteis que bdquolegitima o poder e a relaccedilatildeo da

medicina com a famiacutelia‟ (PEREIRA 2000 p17)

Essa inversatildeo de papeacuteis no cenaacuterio do parto no qual o meacutedico deteacutem o poder sobre o

corpo da mulher pode estar justificando os altos iacutendices de cesaacutereas nas uacuteltimas deacutecadas

Outra repercussatildeo desta mudanccedila de paradigma em relaccedilatildeo ao processo do nascimento

eacute a de que o parto os cuidados puerperais e com o receacutem-nascido que antigamente

transcorriam no ambiente familiar e eram envolvidos em fortes viacutenculos atualmente

transcorrem em instituiccedilotildees hospitalares onde os viacutenculos transformaram-se em meros

contatos superficiais acentuando a perda da autonomia da mulher neste processo

(MONTICELLI 1994)

O contexto do nascimento na sociedade atual mostra que a mulher parturiente estaacute

cada vez mais distante da condiccedilatildeo de protagonista da cena do parto ldquototalmente insegura

submete-se a todas as ordens e orientaccedilotildees sem entender como combinar o poder contido nas

atitudes e palavras que ouve e percebe com o fato inexoraacutevel de que eacute ela quem estaacute com dor

e quem vai parirrdquo (BRASIL 2001 p18) Fato esse constatado no aumento de cesaacutereas e

reduccedilatildeo de partos normais na rede puacuteblica no Brasil No ano de 2005 a taxa de cesaacutereas que

era de 2870 aumentou para 3610 em 2010 e em contrapartida o nuacutemero de partos

normais que em 2005 era de 7130 reduziu para 63 20 em 2010 (BRASIL 2010)

No estado do Rio Grande do Sul (RS) foi constatado por Freitas et al (2005) que os

iacutendices elevados de cesaacuterea constituem um grave problema de sauacutede puacuteblica o que pode

acarretar o mau-uso da tecnologia meacutedica na atenccedilatildeo ao parto associado a fatores sociais

econocircmicos e culturais O percentual de cesarianas que foram analisadas de 1997 a 2003 foi

de 406 para 448 respectivamente No ano de 2008 no RS segundo dados do IBGE

15

(2009) o iacutendice de cesaacutereas foi de 537

No municiacutepio de Santa MariaRS segundo dados da Vigilacircncia Epidemioloacutegica da

Secretaria Municipal de Sauacutede (SMS) no primeiro semestre de 2011 635 dos partos o que

corresponde a 1167 foram cesaacutereos o que desvela um iacutendice muito aleacutem dos 15 previstos

pela OMS O Ministeacuterio da Sauacutede (MS) estabeleceu limite para partos cesaacutereos

considerando-os de alto risco para as unidades hospitalares ateacute 40 e para unidades de risco

habitual - ateacute 25 (BRASIL 2008c)

A portaria GM nordm 466 de 14062000 retificada em 30062000 propotildee o Pacto pela

Reduccedilatildeo das Taxas de Cesaacuterea a ser firmado entre os gestores estaduais e o gestor federal

estabelecendo a taxa de 25 como desejaacutevel para todos os estados ateacute 2007 (BRASIL 2008)

Finalizar uma gestaccedilatildeo mediante uma cesaacuterea sem causa meacutedica que a justifique

ainda que esta seja a pedido da gestante eacute uma conduta meacutedica que natildeo respeita os processos

fisioloacutegicos do trabalho de parto do parto e do nascimento Por esse motivo o procedimento

ciruacutergico realizado sem indicaccedilotildees deixa de ser um procedimento fisioloacutegico tornando-se um

procedimento de risco para a matildee e para o receacutem-nascido (SABATINO 2009)

Para a abrangecircncia do tema complexidade e repercussotildees na vida das mulheres o

objeto de estudo eacute o significado que a mulher atribui ao seu parto

A justificativa para a escolha desse objeto de estudo deve-se agrave vivecircncia de dar agrave luz a

dois filhos nascidos de parto normal Letiacutecia (15 anos) e Marcos (12 anos) e de ter participado

ativamente desse processo como protagonista

Vem ao encontro disso o fato de que no decorrer da vivecircncia de dezoito anos na

assistecircncia agrave sauacutede das mulheres em maternidades e unidades baacutesicas de sauacutede e no meu

ambiente de trabalho atual como enfermeira obstetra de um hospital de ensino percebo a

intensa fragilidade das parturientes ao se submeterem a todos os procedimentos e

intervenccedilotildees sem questionamentos ao que acontece com o seu corpo durante o parto

Paralelamente agraves atividades profissionais participo como integrante do Nuacutecleo de

Estudos sobre Mulheres Gecircnero e Poliacuteticas Puacuteblicas-NEMGeP do Departamento de

Enfermagem do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Santa Maria grupo

que me despertou para as questotildees de gecircnero na temaacutetica no processo da parturiccedilatildeo O Nuacutecleo

atua em accedilotildees direcionadas agraves mulheres com abordagens que ultrapassam a dimensatildeo

bioloacutegica pois considera que as questotildees de gecircnero (cidadania empoderamento controle

social e poliacuteticas puacuteblicas) constituem referenciais fundamentais no direcionamento de

atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres (LANDERDAHL et al 2011)

16

Consultando a literatura cientiacutefica percebeu-se a ausecircncia de estudos culturais com

mulheres fora do periacuteodo graviacutedico puerperal e em cenaacuterios que natildeo sejam em maternidades

eou hospital

Alinhando-se nos argumentos acima descritos este estudo fundamentou-se no

referencial teoacuterico metodoloacutegico da abordagem socioantropoloacutegica de Emily Martin que

propotildee uma anaacutelise do fenocircmeno do parto contrapondo a delimitaccedilatildeo deste ao campo da

reproduccedilatildeo mecanicista e biomeacutedica buscando entendecirc-lo como componente essencial das

mulheres no sentido de desnaturalizar verdades muito caras vinculadas agraves concepccedilotildees

modernas de natureza e cultura Dessa forma o presente estudo traz reflexotildees que poderatildeo

repercutir na assistecircncia de enfermagem prestada agrave mulher durante o periacuteodo da parturiccedilatildeo

uma vez que auxilia na compreensatildeo das necessidades de cuidado com as parturientes a partir

da percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto e o nascimento

Com base nessas consideraccedilotildees a questatildeo norteadora de pesquisa que impulsiona

este estudo estaacute embasada no seguinte questionamento qual a participaccedilatildeo da cultura nos

saberes e as praacuteticas das mulheres em relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeo

Para responder a esta questatildeo foi definido como objetivo compreender de que forma

a cultura influencia no processo de parturiccedilatildeo da mulher

17

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

Este capiacutetulo enfoca as poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e

nascimento no Brasil bem como discute sobre parto e cultura baseando-se sobretudo nos

estudos realizados pela antropoacuteloga Emily Martin

21 Poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e nascimento no Brasil

O movimento feminista tem desempenhado um papel fundamental como instigador de

programas e poliacuteticas para as mulheres no paiacutes e sido entendido como foacuterum de debate das

questotildees da sauacutede qualidade de vida e condiccedilatildeo de cidadania feminina

Em 1974 foi implantado pelo governo o Programa de Sauacutede Materno-Infantil-PSMI

(MS74) como recomendaccedilatildeo do Plano Decenal de Sauacutede para as Ameacutericas e resultante da III

Reuniatildeo Especial de Ministros de Sauacutede das Ameacutericas que se realizou em Santiago de Chile

em 1972 Enfatizou-se nessa recomendaccedilatildeo

Formular uma poliacutetica intersetorial de proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade e agrave infacircncia

[] O programa de sauacutede e atenccedilatildeo meacutedica deveraacute ter cobertura universal

eficiecircncia operativa e acessibilidade geograacutefica institucional e financeira []

Elaborar o programa como um todo contiacutenuo que incluam as diversas atividades de

proteccedilatildeo agrave famiacutelia e em especial agrave matildee e a crianccedila orientaccedilatildeo agrave vida familiar (com

ecircnfase agrave adolescecircncia) atenccedilatildeo agraves doenccedilas ginecoloacutegicas (incluindo as veneacutereas)

diagnoacutestico precoce do cacircncer ceacutervico-uterino e do cacircncer de mama outorgar as

famiacutelias (quando isto natildeo se oponha agraves poliacuteticas nacionais) informaccedilatildeo e serviccedilo

com relaccedilatildeo agrave fertilidade e agrave esterilidade atenccedilatildeo meacutedica integral durante a gestaccedilatildeo

(matildee e feto) atenccedilatildeo ao parto e no puerpeacuterio controle do receacutem-nascido e da

crianccedila durante todas as etapas da vida especificamente no primeiro ano de vida

(OPAS 1973 p39-42)

Com isso o governo brasileiro registrou o interesse em trabalhar com o diagnoacutestico

precoce e o tratamento das doenccedilas ginecoloacutegicas incluindo as doenccedilas sexualmente

transmissiacuteveis e o cacircncer Somente no ano de 1977 a preocupaccedilatildeo eacute dirigida com mais

especificidade agrave gestaccedilatildeo ao parto e ao puerpeacuterio (TYRREL CARVALHO 1995)

O Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em 1984 em conjunto com o Ministeacuterio da Previdecircncia e

a Assistecircncia Social o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e as Secretarias Estaduais de Sauacutede e com o

apoio do movimento de mulheres implantou o Programa de Atenccedilatildeo Integral agrave Sauacutede da

Mulher (PAISM)

18

Esse programa eacute considerado um marco na histoacuteria das poliacuteticas puacuteblicas voltadas para

a sauacutede feminina e ateacute hoje eacute inspiraccedilatildeo e referecircncia na luta pela equidade de gecircnero

divulgando a importacircncia de se estabelecer um programa especiacutefico dirigido agrave mulher e de se

enfatizar certas atividades prioritaacuterias que natildeo deve ser interpretado como uma subestimaccedilatildeo

aos demais serviccedilos que a rede baacutesica deve executar mas deve ser adotado sobretudo como

estrateacutegia de mudanccedila seletiva de recursos que permitam a operacionalizaccedilatildeo de conteuacutedos de

grande prioridade vinculados agrave populaccedilatildeo feminina em todas as fases de sua vida e que

vinham sendo ateacute entatildeo negligenciados (BRASIL l984)

Em 2004 o programa foi transformado na Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agrave

Sauacutede da Mulher (MS 2004) cujo objetivo especiacutefico trecircs indica para o dever de se promover

a atenccedilatildeo obsteacutetrica e neonatal qualificada e humanizada tendo como combate agrave violecircncia de

gecircnero enfatizando a importacircncia do empoderamento das mulheres para o exerciacutecio da

autonomia e protagonismo no parto

A Poliacutetica Nacional de Humanizaccedilatildeo (MS 2004) implementada no mesmo ano

enfoca tambeacutem o respeito agraves questotildees de gecircnero etnia raccedila orientaccedilatildeo sexual com a

construccedilatildeo de autonomia e protagonismo dos sujeitos e coletivos

A I Conferecircncia Nacional de Poliacuteticas para as mulheres realizada em julho de 2004

foi muito importante na afirmaccedilatildeo dos direitos da mulher Desse evento resultou o I Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres em que foram traccediladas 4 linhas de atuaccedilatildeo sendo

uma delas a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos das mulheres o que

contribui reduccedilatildeo da morbidade e mortalidade feminina no Brasil especialmente por causas

evitaacuteveis em todos os ciclos de vida e nos diversos grupos populacionais (BRASIL 2005)

Corroborando esta afirmativa o II Plano Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres

(2008) em seu eixo sobre a sauacutede das mulheres direitos sexuais e direitos reprodutivos

postula que natildeo deve haver discriminaccedilatildeo de qualquer espeacutecie contra as mulheres

resguardando-se as identidades condiccedilotildees socioeconocircmicas e as desigualdades de gecircnero

raccedilaetnia geraccedilatildeo e orientaccedilatildeo sexual e necessitam ser consideradas na formulaccedilatildeo na

implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo de estrateacutegias de intervenccedilatildeo governamentais

Desse modo particularizar a atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher significa apenas um passo no

sentido de aumentar a capacidade resolutiva dos serviccedilos de sauacutede uma vez que haacute o desafio

de dar uma resposta efetiva aos problemas de sauacutede deste grupo de sujeitos visto conforme

Resende e Montenegro (2003) que as trecircs principais causas de morte materna no Brasil satildeo a

toxemia a hemorragia e a infecccedilatildeo puerperal as quais poderiam na maior parte dos casos

serem prevenidas Esse dado justifica a preocupaccedilatildeo com tais cuidados

19

Um dos objetivos de desenvolvimento do milecircnio (IPEA 2007) eacute melhorar a sauacutede

materna (reduccedilatildeo de trecircs quartos da mortalidade materna entre 1990 e 2015) Entretanto essa

meta do milecircnio dificilmente seraacute alcanccedilada pois grandes desafios ainda persistem a

exemplo da reduccedilatildeo das altas taxas de cesariana e nascimentos preacute-termo e no parto vaginal as

rotinas improacuteprias tais como episiotomia de rotina e intervenccedilotildees dolorosas ao bem-estar

materno e do bebecirc (THE LANCET 2011)

Para enfrentar esses desafios foi instituiacutedo pelo MS em 2000 o Programa de

Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) cujo objetivo primordial eacute ldquoassegurar a

melhoria do acesso da cobertura e da qualidade do acompanhamento preacute-natal da assistecircncia

ao parto e puerpeacuterio agraves gestantes e ao receacutem-nascido na perspectiva dos direitos de

cidadaniardquo (BRASIL 2000 p5) O Programa considera que a humanizaccedilatildeo da assistecircncia

obsteacutetrica e neonatal eacute a primeira condiccedilatildeo para o adequado acompanhamento do parto e do

puerpeacuterio (BRASIL 2000b)

A implementaccedilatildeo das accedilotildees desse programa enfrenta ainda muitos entraves

identificados e categorizados em um estudo de revisatildeo sistemaacutetica de Busanello et al (2009)

Citam-se a dificuldade de acesso aos serviccedilos de sauacutede a falta de leitos a deficiecircncia de

recursos humanos financeiros e materiais a atenccedilatildeo centrada na praacutetica intervencionista

desconsiderando o protagonismo da mulher no momento do parto e o despreparo dos

profissionais de sauacutede para a atenccedilatildeo humanizada no processo de parturiccedilatildeo sendo esta

categoria destacada como importante desafio enfrentado para concretizaccedilatildeo do PHPN

Nesse sentido o Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento - MS tem

recomendado aos serviccedilos de sauacutede que ofereccedilam uma assistecircncia digna agrave mulher aos

familiares e ao receacutem-nascido envolvendo para tanto atitude eacutetica e solidaacuteria dos

profissionais de sauacutede organizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de modo a criar um ambiente acolhedor e a

implementaccedilatildeo de rotinas hospitalares que rompam com o tradicional isolamento imposto agrave

mulher Considera-se tambeacutem necessaacuterio adotar medidas e procedimentos sabidamente

beneacuteficos para o acompanhamento do parto e do nascimento evitando-se praacuteticas

intervencionistas desnecessaacuterias (BRASIL 2000b)

Seguindo essa loacutegica o Ministeacuterio da Sauacutede tem realizado um conjunto de accedilotildees

atraveacutes de portarias ministeriais com a finalidade de estimular e regularizar a assistecircncia

obsteacutetrica aleacutem de financiar a realizaccedilatildeo de cursos de especializaccedilatildeo em enfermagem

obsteacutetrica (BRASIL 2001)

Assegura-se pela legislaccedilatildeo do exerciacutecio profissional regulamentada pela lei n

749886 e o Decreto-Lei 9440687 o direito de a enfermeira obstetra realizar assistecircncia agrave

20

parturiente e ao parto normal identificaccedilatildeo das distocias obsteacutetricas e tomada de providecircncias

ateacute a chegada do meacutedico e a realizaccedilatildeo de episiotomia e episiorrafia e aplicaccedilatildeo de anestesia

local quando necessaacuteria

Outras atribuiccedilotildees realizadas pela enfermeira obsteacutetrica que vem ganhando espaccedilo no

cenaacuterio nacional satildeo as accedilotildees de incentivo ao parto normal e as accedilotildees no atendimento preacute-

natal no qual a enfermeira eacute responsaacutevel pela educaccedilatildeo em sauacutede para as mulheres e suas

famiacutelias consulta de preacute-natal agrave gestaccedilatildeo de baixo risco solicitaccedilatildeo de exames de rotina e

prescriccedilatildeo de tratamento conforme protocolo do serviccedilo e estabelecidos em programas de

sauacutede e coleta de exame citopatoloacutegico (BRASIL 2006b)

Concorrendo nessa orientaccedilatildeo a atuaccedilatildeo da enfermeira obstetra eacute reconhecida como

primordial no processo de humanizaccedilatildeo do parto tendo como objetivo a reduccedilatildeo dos altos

iacutendices de cesaacutereas praticadas e a alta medicalizaccedilatildeo decorrentes do intervencionismo por

parte dos meacutedicos obstetras (BRASIL 2001)

Buscando proporcionar conhecimento agrave sociedade e particularmente esclarecer os

profissionais de sauacutede a OMS elaborou em 1996 um conjunto de recomendaccedilotildees de boas

praacuteticas na assistecircncia ao parto normal Essas recomendaccedilotildees foram classificadas em quatro

categorias Categoria A - praacuteticas confirmadamente uacuteteis e que devem ser estimuladas

Categoria B - praacuteticas claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas

Categoria C - praacuteticas em relaccedilatildeo agraves quais natildeo existem evidecircncias suficientes para apoiar uma

recomendaccedilatildeo clara e que devem ser utilizadas com cautela ateacute que mais pesquisas

esclareccedilam a questatildeo e Categoria D - praacuteticas frequentemente utilizadas de modo inadequado

(OMS 1996) Dentre estas categorias destacam-se neste estudo as recomendaccedilotildees que foram

classificadas como praacuteticas uacuteteis e que devem ser estimuladas

Nessa direccedilatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede implantou medidas que visam impactar e

estimular a melhoria da assistecircncia obsteacutetrica no paiacutes e humanizar o parto e nascimento

(BRASIL 2001)

Para Martins (2005) humanizar a parturiccedilatildeo eacute estar com o outro e prestar um

atendimento focado em suas necessidades eacute lembrar que no momento do parto estaacute

ocorrendo a separaccedilatildeo de dois corpos que ateacute entatildeo viviam juntos um dentro do outro em

relaccedilatildeo de dependecircncia e de iacutentimo contato

Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede (2001) os profissionais de sauacutede devem ser

coadjuvantes dessa experiecircncia direcionando toda atenccedilatildeo agraves necessidades da mulher e

oportunizando-lhe o protagonismo e o controle da situaccedilatildeo na hora do nascimento

21

Os profissionais tambeacutem devem repassar para a mulher as opccedilotildees de escolha baseados

nas evidecircncias cientiacuteficas e nos seus direitos tendo a oportunidade de empregar seu

conhecimento a serviccedilo do bem-estar da mulher e do bebecirc sabendo reconhecer os momentos

criacuteticos em que suas intervenccedilotildees satildeo necessaacuterias

Igualmente seus deveres satildeo minimizar a dor acompanhar dar conforto esclarecer

orientar enfim ajudar a parir e a nascer Precisam lembrar que satildeo os primeiros a ter contato

com cada ser que nasce e portanto devem ter consciecircncia dessa responsabilidade (BRASIL

2001)

No Brasil o movimento pela humanizaccedilatildeo do parto eacute impulsionado por experiecircncia

em vaacuterios estados Em 1994 surgiu no Rio de Janeiro a primeira maternidade puacuteblica

autodefinida como ldquohumanizadardquo que recebeu o nome de Leila Diniz (DINIZ 2005) Outro

marco em termos de poliacuteticas puacuteblicas do parto e nascimento foi a criaccedilatildeo do Precircmio Galba

Arauacutejo para Maternidades Humanizadas instituiacutedo pela portaria nordm 2883 de 4 de junho de

1998 (BRASIL 1998)

Os criteacuterios para a concessatildeo deste precircmio satildeo baseados na adesatildeo agraves recomendaccedilotildees

da OMS tais como a presenccedila de acompanhantes no preacute-parto parto e poacutes-parto a assistecircncia

aos partos de baixo risco por enfermeiras obstetras e o controle das taxas de cesaacuterea

(BRASIL 2000b)

Concedido a niacutevel estadual e nacional o precircmio Galba de Arauacutejo tem provocado

mobilizaccedilatildeo nas instituiccedilotildees de Sauacutede que lutam em defesa dos direitos das mulheres e

crianccedilas e tem recebido a participaccedilatildeo de um nuacutemero crescente de serviccedilos a cada ediccedilatildeo

contribuindo para conferir legitimidade ao modelo humanizado (DINIZ 2005)

O Centro de Parto Normal-CPN foi outra iniciativa criada pela portaria nordm 985 de

agosto de 1999 que tem como finalidade o atendimento agrave mulher no periacuteodo graviacutedico-

puerperal tendo como uma das suas atribuiccedilotildees prestar atendimento humanizado e de

qualidade exclusivamente ao parto normal sem distoacutecia assistido por enfermeira obsteacutetrica

desenvolvendo atividades educativas e de humanizaccedilatildeo durante o preacute-natal visando agrave

preparaccedilatildeo das gestantes para o parto no CPN (BRASIL 1999)

A Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar (ANS) do Ministeacuterio da Sauacutede em janeiro

de 2008 atraveacutes da Resoluccedilatildeo Normativa nordm 167 reviu o Rol de Procedimentos e Eventos em

Sauacutede e ampliou as coberturas para as beneficiaacuterias de planos de sauacutede A partir de abril de

2008 deu-se a inclusatildeo na cobertura dos partos feitos por enfermeira obstetras e a presenccedila de

um acompanhante durante toda a estada da mulher no hospital desde o momento do parto ateacute

a sua alta (ANS 2008b)

22

Destaca-se tambeacutem que a partir do ano de 2005 a lei nordm 11108 passou a garantir agraves

parturientes o direito agrave presenccedila de acompanhante de sua preferecircncia durante o trabalho de

parto parto e poacutes-parto Outra iniciativa lanccedilada pela ANS na tentativa de estimular o

aumento de partos normais e modificar os altos iacutendices de cesarianas desnecessaacuterias na rede

privada foi a campanha em favor do parto normal intitulada Parto normal estaacute no meu

plano (ANS 2008a)

Em junho de 2008 foi divulgada a Resoluccedilatildeo RDC 36 da Agecircncia Nacional de

Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA) a qual preconiza que os serviccedilos de atendimento obsteacutetrico e

neonatal devem adotar medidas que incentivem o parto humanizado e a reduccedilatildeo dos iacutendices

de mortalidade materna e neonatal no paiacutes (BRASIL 2008b)

Tambeacutem devido a algumas maternidadeshospitais estarem fazendo uma cobranccedila

indevida para a presenccedila do acompanhante na sala de parto destinada a cobrir os gastos com a

limpeza e higienizaccedilatildeo das roupas ciruacutergicas e o uso de maacutescaras e toucas descartaacuteveis

utilizadas pelo acompanhante da gestante a ANS publicou em 02082011 a Resoluccedilatildeo

Normativa 262 (ANS 2011) Essa normativa define que as despesas a serem cobertas para o

acompanhante durante o preacute-parto parto e poacutes-parto imediato deve incluir taxas de

paramentaccedilatildeo acomodaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo pelo periacuteodo de 48h podendo se estender por ateacute

10 dias quando indicado pelo meacutedico assistente (DOU 2011)

Em junho de 2011 foi instituiacuteda a iniciativa da Rede Cegonha atraveacutes da portaria nordm

1459 de 24 de junho de 2011 no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede com o intuito de

fomentar a implementaccedilatildeo de novo modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher com foco na

atenccedilatildeo ao parto

Esta poliacutetica tendo como princiacutepios o respeito a proteccedilatildeo e a realizaccedilatildeo dos direitos

humanos o respeito agrave diversidade cultural eacutetnica e racial a promoccedilatildeo da equidade com o

enfoque de gecircnero a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos de mulheres

homens jovens e adolescentes a participaccedilatildeo e a mobilizaccedilatildeo com controle social e a

compatibilizaccedilatildeo com as atividades das redes de atenccedilatildeo agrave sauacutede materna e infantil em

desenvolvimento nos Estados (BRASIL 2011)

12 O parto e a cultura no processo da parturiccedilatildeo

Historicamente o parto jaacute foi vivenciado como um evento feminino no qual os

membros do grupo social da parturiente como a matildee familiares vizinhas auxiliavam-na

23

juntamente agrave parteira que tinha seus conhecimentos fundamentados na praacutetica e na

acumulaccedilatildeo de saberes passados tradicionalmente de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo (SANTOS 2002)

No entanto no seacuteculo XVIII na Europa o parto passou por um processo de

transformaccedilatildeo principalmente devido agrave influecircncia biomeacutedica masculina De um evento

feminino domiciliar e fisioloacutegico passa a ser patoloacutegico e institucionalizado dominado por

uma praacutetica intervencionista e hospitalocecircntrica da qual a mulher perdeu seu protagonismo

(SANTOS 2002)

A percepccedilatildeo da dor no parto eacute considerada como um dos motivos que influenciam a

mulher em sua preferecircncia pela cesaacuterea e estaacute profundamente arraigada no imaginaacuterio

popular como um evento associado agrave purgaccedilatildeo feminina Relaciona-se neste sentido agrave

citaccedilatildeo do Livro Biacuteblico de Gecircnesis que se refere agrave Eva como o primeiro ser humano que

pecou e acabou por corromper o resto da humanidade com sua transgressatildeo ouvindo de Deus

ldquoe tu mulher pariraacutes com dor os teus filhosrdquo (TEIXEIRA 2006)

A ideacuteia de que a mulher deve pagar no parto por seus pecados propagada pela

medicina e pela religiatildeo hegemocircnica contrapotildee-se agrave visatildeo do parto como um momento

prazeroso Esse sentido pode ser entendido como uma heresia e uma ameaccedila a um sistema de

crenccedilas que define o parto como um processo doloroso que faz mal agrave sauacutede e agrave sexualidade

feminina e que precisa ser controlado por aparatos meacutedicos (DINIZ 2011)

De acordo com Helman (2009) a dor e seus aspectos voluntaacuterios satildeo influenciados por

fatores sociais culturais e psicoloacutegicos que determinam se a dor privada seraacute traduzida e em

que tipo de comportamento quando for puacuteblica Isso estaacute muito imbricado ao significado

pessoal de que a mulher atribui agrave dor do parto ao contexto de vida em que estaacute inserida agraves

definiccedilotildees culturais da imagem corporal da estrutura e funccedilotildees do seu corpo

Ressalta-se nessa direccedilatildeo que a posiccedilatildeo das mulheres frente ao processo de

medicalizaccedilatildeo natildeo foi propriamente a de viacutetima As mulheres de classe mais alta natildeo mais

aceitavam sentir a dor do parto e natildeo desejavam correr mais riscos aleacutem de o ato de parir com

a assistecircncia de um meacutedico significar maior poder aquisitivo de seus maridos Com isso a

consolidaccedilatildeo do processo de medicalizaccedilatildeo e hospitalizaccedilatildeo do parto acontece em meados do

seacuteculo XX motivada por tais condiccedilotildees (VARGENS PROGIANTI 2004)

No Brasil o processo de institucionalizaccedilatildeo do parto isto eacute a ocorrecircncia dos partos

dentro de instituiccedilotildees hospitalares deu-se ao longo da deacutecada de 40 com o advento da

medicina preventiva cujo objetivo principal era reduzir a mortalidade infantil Somente mais

tarde a partir da deacutecada de 80 passou-se a justificar o processo de medicalizaccedilatildeo do parto

por meio da recorrecircncia das cesarianas para reduzir a mortalidade materna (BRASIL 2001)

24

Os meacutedicos natildeo acostumados ao acompanhamento de fenocircmenos fisioloacutegicos foram

instruiacutedos a intervir resolver casos complicados e ditar ordens O parto passou entatildeo a ser

visto como um ato ciruacutergico e a mulher parturiente sendo tratada como enferma foi

impedida de seguir seus instintos e de adotar a posiccedilatildeo mais cocircmoda e fisioloacutegica (BRASIL

2001)

Privada do direito baacutesico de escolha e autonomia no nascimento do proacuteprio filho deu-

se iniacutecio agrave era do parto medicalizado no qual a matildee deixa de ser a protagonista do processo

cedendo seu lugar agrave equipe meacutedica que passa a ser o centro da cena Diversas repercussotildees

advecircm desta mudanccedila As posiccedilotildees verticalizadas que ao longo dos milecircnios foram as mais

usadas pelas mulheres em todas as raccedilas e culturas passaram a ser negadas agraves parturientes

pelos meacutedicos (MACHADO 1995)

A posiccedilatildeo assumida pela parturiente e a sua livre movimentaccedilatildeo passaram a ser

praticamente negligenciadas por profissionais alinhados agrave praacutetica ocidental moderna na qual

a mulher em trabalho de parto manteacutem-se deitada horizontalmente ou em uma posiccedilatildeo semi

inclinada para conveniecircncia da equipe obsteacutetrica na aplicaccedilatildeo dos soros monitores e

anesteacutesicos Evidecircncias de estudos etnograacuteficos realizados atualmente mostram que as

mulheres que natildeo satildeo expostas a essas rotinas assumem posiccedilotildees verticais no trabalho de

parto e no parto (BALASKAS 2008)

Balaskas (2008) reforccedila ainda que um parto ativo eacute uma atitude mental de crenccedila na

natureza do processo do parto e o modo como a mulher segue a loacutegica de seus instintos e da

sua fisiologia eacute uma forma de manifestar que estaacute no controle do seu corpo durante o trabalho

de parto e nascimento e que natildeo eacute um mero objeto de intervenccedilatildeo da equipe obsteacutetrica Os

significados culturais dados aos fenocircmenos fisioloacutegicos psicoloacutegicos e sociais de uma

sociedade refletem o comportamento das pessoas e ateacute a forma de desenvolvimento poliacutetico

econocircmico de dada sociedade (HELMAN 2009)

13 Referencial teoacuterico de Emily Martin sobre o parto e cultura

Segundo a antropoacuteloga Emily Martin (2006) a metaacutefora do uacutetero como maacutequina teve

iniacutecio no decorrer dos seacuteculos XVII e XVIII nos hospitais franceses Esta metaacutefora compara

o uacutetero a uma bomba mecacircnica capaz de expelir o feto Importante assinalar que nesta eacutepoca

que o foacuterceps era instrumento utilizado por accedilougueiros barbeiros falidos cujo status social

25

era equivalente ao de um mecacircnico De acordo com Vieira (2002) as regulamentaccedilotildees para

partejar exigiam que esses homens fossem chamados pelas parteiras para manipular os

instrumentos

A partir do seacuteculo XIX a ideologia de produccedilatildeo das faacutebricas torna-se tatildeo abrangente

que ldquochegardquo aos corpos das mulheres os quais passam a ser vistos nos textos de obstetriacutecia

como faacutebricas para a produccedilatildeo de bebecircs Martin (2006) propotildee utilizar esta metaacutefora de

produccedilatildeo fabril para entender o processo de trabalho em que meacutedico e a mulher estatildeo

envolvidos

Nesta metaacutefora segundo a autora acrescenta-se a figura do meacutedico no papel de

supervisor ou ateacute dono da faacutebrica e a mulher no papel de trabalhadora cuja maacutequina (uacutetero)

produz o produto (bebecirc) O olhar a partir de metaacuteforas de acordo com a pesquisadora

permite comparar as mesmas formas de controle e poder que ocorrem no acircmbito da produccedilatildeo

industrial ou seja de controlar os movimentos dos trabalhadores conforme a produccedilatildeo da

progressatildeo em periacuteodos especiacuteficos de tempo da maacutequina (uacutetero) para avaliar e controlar se

as contraccedilotildees uterinas satildeo eficientes ou ineficientes (MARTIN 2006)

A autora supracitada questiona o papel de passividade da mulher em relaccedilatildeo agraves

contraccedilotildees uterinas que consideradas pela ciecircncia meacutedica involuntaacuterias e inclusive

responsaacuteveis totais pela realizaccedilatildeo do parto Rezende e Montenegro (2003) comenta que no

periacuteodo expulsivo as contraccedilotildees satildeo realizadas com a glote fechada e com esforccedilos

respiratoacuterios verdadeiros chamados ldquopuxosrdquo Em nenhum momento foi mencionado que eacute a

parturiente que faz esse esforccedilo Outro exemplo de exclusatildeo do papel mulher em seu processo

de parto eacute o foco no feto conforme a citaccedilatildeo de Rezende e Montenegro (2003 p177) ldquono seu

transcurso atraveacutes do canal parturitivo impulsionado pela contratilidade uterina o feto eacute

compelido a executar certo nuacutemero de movimentos que se denominam mecanismo do partordquo

Assim sendo a metaacutefora utilizada por Martin (2006) desvela uma perspectiva que apresenta

as mulheres gestantes como ldquomateacuteria-primardquo para a produccedilatildeo de um ldquoprodutordquo

Nessa direccedilatildeo torna-se imprescindiacutevel para a produccedilatildeo de bebecircs perfeitos a

intervenccedilatildeo da cesaacuterea exigindo um miacutenimo de trabalho do uacutetero e da mulher atribuindo a

esse procedimento a imagem de ldquouacutenica graccedila salvadorardquo do bebecirc Este posicionamento

segundo a autora ignora o que talvez seja extremamente significante para a mulher e para seu

bebecirc ter a oportunidade de vivenciar o nascimento do seu filho (a) atraveacutes do seu proacuteprio

esforccedilo experimentando o protagonismo no seu parto e no nascimento da crianccedila

O mecanismo do parto conforme Rezende eacute o estudo da mecacircnica do parto o que

vem ao encontro da metaacutefora do uacutetero como maacutequina

26

A cultura meacutedica segundo Martin (2006) seria um sistema cultural cujas ideais

sobressaem-se agrave cultura popular

A autora faz ainda referecircncia a textos em obstetriacutecia da Universidade Johns Hopkins

nos EUA que comprovam que causas externas podem interferir nas atividades uterinas e que

tais alteraccedilotildees emocionais da mulher quase natildeo satildeo levadas em consideraccedilatildeo na obstetriacutecia

tendo como consequecircncia o aval para intervenccedilotildees como amniotomias uso de ocitocina para

acelerar o trabalho de parto ou a utilizaccedilatildeo da cesariana considerando desnecessaacuterias as

contraccedilotildees (MARTIN 2006)

A participaccedilatildeo do meacutedico como promotor de uma cultura intervencionista foi

destacada em um estudo nacional realizado pela socioacuteloga americana Hopkins (2000) com

pueacuterperas de cliacutenicas privadas e puacuteblicas Segundo o estudo das mulheres que fizeram

cesariana trecircs em quatro das primiacuteparas do setor privado e oito em dez do setor puacuteblico

gostariam de ter tido partos vaginais Observou-se que o meacutedico obstetra promove os medos

nas gestantes em relaccedilatildeo ao parto e superestima a seguranccedila da cesariana em funccedilatildeo dos seus

interesses

Para Martin (2006) a alienaccedilatildeo e a condiccedilatildeo fragmentada constadas na linguagem e

de algumas mulheres satildeo descritas como uma autopercepccedilatildeo passiva sendo contrastadas com

discursos de mulheres que questionam se opotildeem rejeitam e reformulam suas formas de viver

e as maneiras como a sociedade poderia funcionar apresentando uma autopercepccedilatildeo que tenta

resistir agrave passividade

As mulheres que optam pelo parto domiciliar saem dessa passividade buscam outras

formas de serem ativas no seu parto e reivindicam seu espaccedilo no ato de parir questionando o

paradigma atual de assistecircncia ao parto preconizado nas instituiccedilotildees hospitalares (KRUNO

BONILHA 2004)

No estudo etnograacutefico realizado por Martin (2006) em Baltimore (EUA) encontra-se

a narrativa de uma mulher que resiste a essa maneira de fragmentaccedilatildeo exprimindo a sua

frustraccedilatildeo em relaccedilatildeo ao parto cesariano imposto pela conduta meacutedica A narradora conta

com raiva a sua experiecircncia com a cesariana por ter perdido a cena do nascimento devido agrave

limitaccedilatildeo e ao jejum impostos pela anestesia natildeo podendo realizar os primeiros cuidados do

seu bebecirc aleacutem da proibiccedilatildeo de se alimentar por horas e limitando-se a nutrientes para a

recuperaccedilatildeo mais eficaz da cirurgia

A necessidade de compreensatildeo do parto enquanto parte integrante da vida sexual

emocional e cultural da mulher eacute proposta por Odent (2000) como o entendimento das bases

fisioloacutegicas e a integraccedilatildeo entre diferentes momentos da vida Sua hipoacutetese eacute a de que o

27

cuidado com o modo como nascemos e com a vinculaccedilatildeo amorosa matildee-bebecirc pode propiciar a

construccedilatildeo de uma sociedade mais amorosa menos destrutiva e de mais respeito pelos seres

humanos e pela natureza Esse paradigma holiacutestico tambeacutem referendado por Floyd (2004)

que destaca como elemento fundamental no processo do parto o contato das mulheres consigo

mesmas como um estado especial de consciecircncia similar agraves relaccedilotildees entre os estados

orgaacutesticos agrave oraccedilatildeo e agraves emoccedilotildees miacutesticas Nesse momento as funccedilotildees intelectuais

neocorticais devem estar colocadas em segundo plano proporcionando a expressatildeo de

funccedilotildees cerebrais mais instintivas caracteriacutesticas do parto e do aleitamento

Segundo Martin (2006) os esforccedilos para oferecer este novo paradigma que devolve agrave

mulher o controle do seu corpo no parto satildeo extraordinaacuterios O que natildeo deve permanecer

ainda que subliminarmente eacute a ideologia dominante de nossa sociedade na qual as mulheres

ao darem a luz de maneira mais aproximada do parto natural satildeo consideradas desprovidas de

cultura e consequentemente inferiores por aproximarem-se da natureza ldquoprimitivardquo como se

andassem para traacutes no tempo e na evoluccedilatildeo

Historicamente esta divisatildeo da cultura e da natureza fomentada pelos escritores do

seacuteculo XIX surgiu a partir do desenvolvimento das sociedades ocidentais e da

industrializaccedilatildeo sendo organizada em torno de dois mundos a esfera privada dentro de casa

que eacute evidenciada pertencente agrave mulher onde ocorrem funccedilotildees ditas ldquonaturaisrdquo e a esfera

puacuteblica fora de casa na qual os homens estatildeo em maior evidecircncia e onde se produz ldquoculturardquo

a qual eacute considerada atividade superior evidenciada aos homens e vista como dominante

(MARTIN 2006)

Essa forma de pensar relega a mulher ao domiacutenio do natural do inferior e da

domesticidade considera-a mais simples animalesca e livre de autocensuras Compreende

que haacute uma iniquumlidade entre natureza e cultura e que ao ldquosubmeterrdquo a mulher a fenocircmenos

totalmente naturais como o parto normal estamos reafirmando a concepccedilatildeo da mulher como

um ser mais primitivo que pertence somente agrave natureza (MARTIN 2006)

Reflete-se por outro lado de acordo com Gama (2009) que o modelo de organizaccedilatildeo

dos serviccedilos puacuteblicos e privados apresenta variaccedilotildees que produzem diferentes tipos de

assistecircncia e de relaccedilatildeo entre os profissionais de sauacutede e as usuaacuterias dando forma agraves

experiecircncias distintas entre as mulheres pesquisadas

Ao empreender uma criacutetica assentada nas relaccedilotildees de gecircnero Gama (2009) verificou

que o modelo de assistecircncia ao parto permanece submetendo quem deve ser sujeito e reproduz

o projeto da medicalizaccedilatildeo Isso reduz o campo da assistecircncia e inviabiliza um lugar de poder

diferenciado das usuaacuterias sendo a cesariana utilizada como um procedimento de alta

28

rentabilidade para a medicina obsteacutetrica privada conforme a citaccedilatildeo da antropoacuteloga Emily

Martin

Se a cesariana torna-se uma fonte de honoraacuterios mais altos para os meacutedicos e contas

hospitalares mais altas que o parto vaginal eacute de se esperar que encontremos mais

cesarianas sendo realizadas em mulheres no alto da escala de classe e raccedila

(MARTIN 2006 p 235)

Tal constataccedilatildeo justifica a demanda dos altos iacutendices de cesaacuterea no Brasil com a forma

como se organizou a assistecircncia obsteacutetrica e a formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que

reproduzem no cotidiano esse sentido tecnoloacutegico do parto e do nascimento

Com a invasatildeo da tecnologia a mulher perdeu sua autonomia como protagonista uma

vez que no modelo intervencionista da atual assistecircncia obsteacutetrica ela tornou-se objeto da

accedilatildeo e vem perdendo o controle e a decisatildeo sobre o proacuteprio processo de parto e de

nascimento Essa realidade pode afetar profundamente as mulheres os bebecircs as famiacutelias e

produzir efeitos importantes e persistentes sobre a sociedade (DINIZ 2001)

Ratifica-se nas palavras de Dias (2008) que a perda do protagonismo da mulher no

cenaacuterio do parto reflete-se nos altos iacutendices de cesaacutereas nas uacuteltimas deacutecadas no Brasil Por

outro lado a mudanccedila no modelo de assistecircncia ao parto pode ser uma estrateacutegia promissora

para a reversatildeo desse quadro jaacute que os fatores associados agrave decisatildeo da cesariana independem

do desejo da mulher

A mudanccedila para outro modo de parir mais conectado com todas as forccedilas da vida e da

cultura das mulheres pode possibilitar a construccedilatildeo de um modelo humaniacutestico com vistas ao

holiacutestico e agrave expressatildeo de um tempo de uma cultura de um avanccedilo das praacuteticas obsteacutetricas

do parto com a convivecircncia de muacuteltiplos paradigmas da assistecircncia

29

2 CAMINHO METODOacuteLOGICO

21 Fundamentos metodoloacutegicos

A presente investigaccedilatildeo constitui-se como uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva

A pesquisa qualitativa abarca o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores

e atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees (MINAYO 2004) A

metodologia qualitativa pode possibilitar aleacutem de uma interpretaccedilatildeo com lentes ampliadas do

objeto de estudo uma inserccedilatildeo na cultura do ldquooutrordquo (GEERTZ 1989)

Para Leopardi (2001) e Minayo (2008) o estudo qualitativo compreende a descriccedilatildeo e

a anaacutelise da realidade de diferentes maneiras para representar as experiecircncias do fenocircmeno

vivenciadas pelos indiviacuteduos Haacute uma implicaccedilatildeo entre o conhecimento sobre o mundo e os

sujeitos que o constroem numa relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto Logo a

interpretaccedilatildeo do fenocircmeno atribuindo-lhe significados faz parte do processo de

conhecimento tanto do sujeito pesquisador quanto dos atores pesquisados Eacute comumente

utilizada por pesquisadores sociais preocupados com a atuaccedilatildeo praacutetica (GIL 2007)

A pesquisa descritiva trabalha sobre dados ou fatos colhidos da proacutepria realidade do

indiviacuteduo ou de grupos e comunidades mais complexas Busca conhecer as diversas situaccedilotildees

e relaccedilotildees que ocorrem na vida social poliacutetica econocircmica e cultural principalmente nas

ciecircncias humanas e sociais objetivando abordar dados e problemas relevantes cujo registro

natildeo consta de documentos (CERVO BERVIAN DA SILVA 2007)

22 Os cenaacuterios do estudo

Esta pesquisa foi prevista inicialmente para ser somente desenvolvida na Unidade

Sanitaacuteria Kennedy (USK) no municiacutepio de Santa Maria - RS pelo fato de ser campo de aulas

praacuteticas e de estaacutegio supervisionado para os alunos do Curso de Enfermagem da Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM) onde satildeo realizadas accedilotildees de promoccedilatildeo agrave sauacutedecidadania de

crianccedilas adolescentes mulheres e adultos A aacuterea de abrangecircncia da USK inclui dezoito vilas

30

compreendendo uma populaccedilatildeo de aproximadamente trinta mil habitantes Em relaccedilatildeo agrave

escolaridade os natildeo alfabetizados e os indiviacuteduos que possuem o primeiro grau incompleto

perfazem 83 da populaccedilatildeo A renda per capita de 58 das pessoas e ateacute um salaacuterio miacutenimo

e 27 recebem um a dois salaacuterios miacutenimos Esta regiatildeo ainda hoje caracteriza-se por um alto

iacutendice de desemprego criminalidade desnutriccedilatildeo doenccedilas infecto-contagiosas aleacutem da

precariedade de saneamento baacutesico e de habitaccedilatildeo (MONDARDO et al 1993)

Poreacutem devido a dificuldades de infra-estrutura na referida unidade foi solicitada

transferecircncia de campo da pesquisa para o Hospital Universitaacuterio de Santa Maria (HUSM)

atraveacutes de ementa ao Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM) (Anexo B) estipulando como os locais de coleta os serviccedilos de ginecologia e

obstetriacutecia do hospital

As dificuldades encontradas foram inerentes ao objeto da pesquisa aleacutem de problemas

teacutecnico-administrativos na USK Os problemas de natureza e objeto concernem aos criteacuterios

de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos dada a ausecircncia de mulheres encaixadas em tais criteacuterios

no grupo de planejamento familiar na USK

Os problemas teacutecnico-administrativos foram relativos agrave infra-estrutura da USK que

estava funcionando em um local menor durante os procedimentos de reforma no preacutedio da

instituiccedilatildeo

Outras estrateacutegias foram realizadas na busca por sujeitos como a visita nos dias e

horaacuterios da consulta puericultura visando encontrar mulheres dentro dos criteacuterios que

viessem acompanhando os seus filhos na consulta contudo a tentativa natildeo obteve sucesso

pois era o grande nuacutemero de mulheres dentro dos criteacuterios de exclusatildeo neste caso pueacuterperas

O HUSM entatildeo foi o outro cenaacuterio escolhido para a coleta de dados que justificou-se

pela diversidade de serviccedilos de atendimento oferecidos a mulheres e de profissionais do sexo

feminino que laacute trabalham principalmente da enfermagem o que foi bastante significativa

para o estudo Solicitou-se entatildeo a autorizaccedilatildeo ao Departamento de Ensino e Pesquisa

(DEPE) do HUSM para realizaccedilatildeo da pesquisa neste serviccedilo e autorizada pelo CEP da UFSM

atraveacutes de emenda (Anexo B) para a ampliaccedilatildeo do cenaacuterio e do periacuteodo de coleta de dados

O HUSM eacute um hospital-ensino fundado no ano de 1970 que serve como base de

atendimento primaacuterio dos bairros que o cercam para o atendimento secundaacuterio agrave populaccedilatildeo

de Santa Maria e para o atendimento terciaacuterio da regiatildeo centro e fronteira gauacutecha O hospital

constitui-se como centro de ensino pesquisa e extensatildeo no acircmbito das Ciecircncias da Sauacutede

aleacutem de centro de programaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de accedilotildees voltadas agrave sauacutede das comunidades

local e regional Tambeacutem presta serviccedilos assistenciais em todas as especialidades meacutedicas

31

bem como serve de treinamento para alunos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Medicina

Residecircncia Meacutedica e de graduaccedilatildeo em Enfermagem Farmaacutecia Fonoaudiologia e

Fisioterapia

Satildeo serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia do HUSM

a unidade de Internaccedilatildeo do Centro Obsteacutetrico situada no sub- solo do HUSM

provida de seis leitos de internaccedilatildeo para mulheres em trabalho de parto ou no poacutes-parto

quatro leitos de internaccedilatildeo poacutes-cesaacuterea trecircs leitos de observaccedilatildeo para o atendimento de

intercorrecircncias ginecoloacutegicas e agrave mulher viacutetima de violecircncia

a unidade de internaccedilatildeo Toco-ginecoloacutegica situada no 2ordm andar do HUSM

onde se atendem pueacuterperas gestantes de alto-risco e mulheres em tratamento ginecoloacutegico

Possui trinta e sete leitos dos quais onze satildeo destinados agrave cliacutenica ginecoloacutegica e vinte e seis agrave

obstetriacutecia

o ambulatoacuterio da ala II que eacute localizado no teacuterreo e atende consultas de preacute-

natal puerpeacuterio e ginecologia

Destaca-se que nas unidades referidas circula um grande nuacutemero de familiares do

sexo feminino que acompanham as gestantes pueacuterperas e as mulheres internadas para

tratamento ginecoloacutegico

23 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos

Os criteacuterios de inclusatildeo foram mulheres que jaacute tiveram filhos por via vaginal ou

cesariana que natildeo estavam gestando nem eram puerpeacuteras e cujos partos ocorreram a partir do

ano de 2004 tendo como marco referencial o Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e

Nascimento do Ministeacuterio da Sauacutede Este programa foi criado em 2000 pelo Ministeacuterio da

Sauacutede mas implantado em todos os municiacutepios do Rio Grande do Sul somente em 2004

Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo mulheres nuliacuteparas mulheres

gestantes e pueacuterperas uma vez que o processo de parturiccedilatildeo ocorrendo em periacuteodo proacuteximo

ou concomitante agrave entrevista poderia influenciar nas respostas devido mais a aspectos

fisioloacutegicos e emocionais relacionados agrave dor do parto do que por aspectos culturais

32

24 Caracterizaccedilatildeo das participantes

Este estudo foi realizado com oito mulheres em idade feacutertil com histoacuteria pregressa de

parto vaginal ou cesariano quatro mulheres foram captadas na USK e quatro no HUSM

Foram convidadas para entrevistas mulheres que buscavam o atendimento no programa de

planejamento familiar da USK mulheres que buscavam o atendimento no HUSM nos

serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia e mulheres que estavam no momento da entrevista nos

serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia do HUSM

Para finalizaccedilatildeo da coleta foi utilizado o criteacuterio de saturaccedilatildeo de dados por

reincidecircncia ou seja quando da repeticcedilatildeo dos dados a coleta foi entendida como satisfatoacuteria

e entatildeo suspensa (VIacuteCTORA KNAUTH HASSEN 2000)

As participantes do estudo foram identificadas pela letra M de mulher e um nuacutemero

escolhido por ordem de entrevista (M1-M8) sendo caracterizadas no que se refere aos

aspectos soacutecio-culturais de idade estado civil escolaridade regiatildeo de moradia nuacutemero de

filhos ocupaccedilatildeo e tipo de parto vivenciado conforme descrito abaixo

Mulher 1 - 34 anos 2ordf grau completo casada teacutecnica de enfermagem Com quatro

filhos nascidos de partos normais

Mulher 2 - 24 anos 1ordm grau completo diarista casada Com uma filha tem uma

cesaacuterea

Mulher 3 - 28 anos 2ordf grau completo teacutecnica de enfermagem solteira uniatildeo estaacutevel

Com um filho nascido de parto normal

Mulher 4 - 22 anos 2ordf grau incompleto solteira operadora de caixa de supermercado

Com um filho fez uma cesaacuterea

Mulher 5 - 32 anos 1ordm grau completo do lar casada Com um filho nascido de parto

normal e o outro fez uma cesaacuterea

Mulher 6 - 35 anos 3ordm grau completo enfermeira casada Com dois filhos fez duas

cesaacutereas

Mulher 7- 28 anos 1ordm grau completo empregada domeacutestica uniatildeo estaacutevel Tem quatro

filhos nascidos de partos normal

Mulher 8 - 27 anos 2ordf grau imcompleto dona de casa divorciada Com quatro filhos

fez quatro cesaacutereas

Todas estavam na faixa etaacuteria entre 22 e 35 anos Quanto ao estado civil seis satildeo

casadas uma divorciada e uma solteira poreacutem com uniatildeo estaacutevel no momento da entrevista

33

O niacutevel de escolaridade apresentou trecircs mulheres com ensino meacutedio completo uma

com incompleto trecircs com ensino fundamental completo e uma com curso superior

Todas as participantes satildeo moradoras da zona urbana do municiacutepio

Quanto ao nuacutemero de filhos o grupo em estudo tem uma meacutedia de 2 filhos sendo que

a menor e a maior prole foi de 1 e de 4 filhos respectivamente

Quanto agrave ocupaccedilatildeo das entrevistadas duas satildeo donas de casa duas teacutecnicas de

enfermagem uma enfermeira duas empregadas domeacutesticas e uma operadora de caixa de

supermercado

O tipo de parto de maior incidecircncia vivenciado pelas mulheres foi o parto normal

num total de dez e o total de cesaacutereas foram nove

25 Inserccedilatildeo em campo

Inicialmente na USK foram contatadas mulheres que participavam dos grupos de

planejamento familiar e que compareciam nos dias preacute-estabelecidos para a dispensa dos

meacutetodos anticoncepcionais No HUSM a busca de sujeitos estendeu-se agraves diferentes unidades

de atendimento gineco-obsteacutetrico mulheres acompanhantes e mulheres que trabalham nestas

unidades e que atendiam aos criteacuterios de inclusatildeo

Tanto na USK quanto no HUSM as mulheres foram selecionadas por meio de contato

direto com a pesquisadora na sala de espera das referidas unidades ou quando estavam

acompanhando a sua familiar durante a internaccedilatildeo no HUSM

Como havia entre as participantes funcionaacuterias do serviccedilo que atendiam aos criteacuterios

de inclusatildeo dos sujeitos estas profissionais foram convidadas e as entrevistas realizadas

durante o intervalo do horaacuterio de trabalho Algumas entrevistas foram realizadas no domiciacutelio

das participantes e outras na proacutepria unidade de sauacutede e unidades do HUSM em uma sala

reservada

26 Coleta de dados

Para a obtenccedilatildeo da coleta de dados utilizou-se como instrumento uma entrevista semi-

estruturada contendo questotildees fechadas para a caracterizaccedilatildeo do grupo em estudo e questotildees

abertas que possibilitaram o aprofundamento dos dados e a obtenccedilatildeo de respostas

34

relacionadas agrave vivecircncia das pessoas A coleta de dados foi entre janeiro e marccedilo de 2011 A

entrevista foi gravada em MP3 e posteriormente transcrita na iacutentegra pela pesquisadora de

forma literal A entrevista aberta eacute aquela em que o informante aborda livremente o tema

proposto com pergunta previamente formulada e que possibilita descrever sua vivecircncia de

forma retrospectiva sem repressatildeo de seu pensamento Propicia coletar material

extremamente rico para anaacutelise e contribui para o trabalho de pesquisa em andamento

(MINAYO 2000) Como estrateacutegia de compreensatildeo da realidade sua principal funccedilatildeo eacute

retratar as experiecircncias vivenciadas bem como as definiccedilotildees fornecidas por pessoas grupos

ou organizaccedilotildees (MINAYO 2000)

As entrevistas foram previamente agendadas por meio de contato pessoal sendo

marcados data local e horaacuterio que melhor conviessem agraves entrevistadas evitando interrupccedilotildees

constrangimentos de modo a lhes permitir sentir-se agrave vontade

27 Anaacutelise dos dados

Em posse dos dados coletados estes foram objeto da investigaccedilatildeo de acordo com a

anaacutelise temaacutetica de Minayo (2008) Tal anaacutelise consiste em descobrir os nuacutecleos de sentidos

que constituem uma comunicaccedilatildeo em que sua frequecircncia ou presenccedila revela algum

significado para o objeto analiacutetico Por conseguinte para analisar significados de um

determinado depoimento o surgimento de determinados temas denota estruturas de

relevacircncia valores de referecircncia e modelos de comportamento que podem estar ocultos no

discurso (MINAYO 2008)

Considera-se que a compreensatildeo e a interpretaccedilatildeo das entrevistas nas pesquisas

qualitativas natildeo se realizam em um soacute momento pois acontecem no decorrer da proacutepria coleta

e anaacutelise dos dados quando o pesquisador interage com os sujeitos do estudo na transcriccedilatildeo

das entrevistas e particularmente nas leituras e na organizaccedilatildeo das informaccedilotildees Poreacutem para

uma melhor sistematizaccedilatildeo e compreensatildeo deve-se seguir um percurso ordenado para que se

possa igualmente apreender o conjunto dos significados contidos nos depoimentos dos

entrevistados

Minayo (2008) descreve seguindo Bardin (1977) que essa ordenaccedilatildeo da anaacutelise

temaacutetica segue a sequecircncia de trecircs etapas quais sejam preacute-anaacutelise a exploraccedilatildeo do material e

o tratamento dos resultados obtidos e interpretaccedilatildeo

35

Neste estudo a etapa de preacute-anaacutelise compreendeu a interpretaccedilatildeo do material que se

deu a partir dos questionamentos do investigador Essa etapa consistiu em trecircs tempos o

primeiro chamado de leitura flutuante entendido como a leitura exaustiva das informaccedilotildees do

material de campo periacuteodo de impregnaccedilatildeo do conteuacutedo pelo investigador Jaacute o segundo

tempo foi a Constituiccedilatildeo do ldquoCorpusrdquo no qual se buscou verificar se o material coletado

abrangia regras de eficaacutecia qualitativa tais como exaustividade representatividade

homogeneidade e pertinecircncia Em relaccedilatildeo ao terceiro tempo este perpassou a Formulaccedilatildeo e a

Reformulaccedilatildeo de Hipoacuteteses e Objetivos que baseou-se no retorno a etapa exploratoacuteria de

revisatildeo das hipoacuteteses com intuito de corrigir erros de interpretaccedilatildeo e de ampliar o leque de

indagaccedilotildees para identificar o que surge de relevante para posterior construccedilatildeo de temas ou

categorias de anaacutelise

A segunda etapa da anaacutelise temaacutetica consistiu na Exploraccedilatildeo do Material que se

delineou basicamente nas categorias especiacuteficas que abrangeram elementos ou aspectos de

caracteriacutesticas comuns ou que se relacionavam entre si

A terceira etapa constituiu o Tratamento dos Resultados Obtidos e a Interpretaccedilatildeo

Nesse momento realizaram-se inferecircncias sendo realizada a articulaccedilatildeo entre as informaccedilotildees

aqui construiacutedas e os referenciais teoacutericos de estudos jaacute publicados respondendo agrave questatildeo da

pesquisa com base em seus objetivos

28 Questotildees eacuteticas

Para a realizaccedilatildeo de todas as atividades da pesquisa atentou-se para os criteacuterios eacuteticos

e os princiacutepios bioeacuteticos da voluntariedade da autonomia da beneficecircncia da natildeo-

maleficecircncia e da justiccedila que fundamentam a Resoluccedilatildeo nordm 19696 do Conselho Nacional de

Sauacutede o qual prescreve a eacutetica na pesquisa com seres humanos (BRASIL 1996)

O projeto foi registrado no Gabinete de Projetos do Centro de Ciecircncias da Sauacutede

sendo solicitada autorizaccedilatildeo para o desenvolvimento da pesquisa ao Secretaacuterio Municipal de

Sauacutede e a Direccedilatildeo de Ensino e Pesquisa do HUSM (DEPE) Em um segundo momento foi

encaminhado para a anaacutelise do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa com Seres Humanos da UFSM

(CEP) com a devida documentaccedilatildeo solicitada assinada pelo responsaacutevel legal da instituiccedilatildeo e

pela pesquisadora Apoacutes a aprovaccedilatildeo do CEP foi realizada a etapa de campo da pesquisa

36

Os sujeitos foram informados dos detalhes da pesquisa objetivos e produccedilatildeo de dados

Para tanto antes da realizaccedilatildeo da entrevista foi lido com os sujeitos o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apecircndice B) que concordando com este

optaram por assinaacute-lo O TCLE foi redigido em duas vias uma para a participante e outra

para a pesquisadora Da mesma forma foi redigido o Termo de Confidencialidade o qual

descreve o compromisso das pesquisadoras em relaccedilatildeo agraves informaccedilotildees que soacute poderatildeo ser

divulgadas de forma anocircnima e mantidas em Compact Disc (CD) por um periacuteodo de 5

(cinco) anos sob a sua inteira responsabilidade Apoacutes este periacuteodo ficou acordado que os

dados gravados seratildeo destruiacutedos Destaca-se que o compromisso em relaccedilatildeo agrave preservaccedilatildeo do

sigilo da identidade dos sujeitos durante todas as etapas da pesquisa mesmo com a

divulgaccedilatildeo dos seus resultados sob qualquer forma foi observado sendo utilizado o sistema

de identificaccedilatildeo alfanumeacuterico

Foram ressaltadas a liberdade da participaccedilatildeo espontacircnea e o direito de desistecircncia por

parte das participantes a qualquer momento da pesquisa a fim de se evitar riscos agrave dimensatildeo

fiacutesica moral intelectual social cultural ou espiritual em qualquer fase da pesquisa com a

garantia dos princiacutepios de beneficecircncia e natildeo-maleficecircncia No entanto foi exposto que o

momento da entrevista poderia trazer algumas lembranccedilas questionamentos eou conflitos agrave

dimensatildeo emocional pelo fato de que o sujeito iria refletir sobre o seu cotidiano e suas

vivecircncias Caso isto acontecesse poderia ser indicada uma consulta se assim a participante

desejasse com profissional qualificado do serviccedilo da aacuterea de sauacutede mental do Hospital

Universitaacuterio de Santa Maria previamente contatado

37

3 ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS DADOS

O parto institucionalizado vem sendo apresentado agraves mulheres como um periacuteodo

essencialmente meacutedico que traz consigo as referecircncias de um periacuteodo patoloacutegico e

medicalizado Em consequumlecircncia disso a abordagem sob a perspectiva bioloacutegica pode reduzi-

lo e suprimir a revelaccedilatildeo dos diferentes acircngulos e facetas do universo cultural e social da

parturiente Em virtude disso este estudo fundamentou-se em conceitos socioculturais e natildeo

apenas nos meacutedico-cientiacuteficos Salienta-se que natildeo se pretende abolir os conceitos

biomeacutedicos mas antes entendecirc-los como apenas uma dentre as vaacuterias formas de abordagem

do nascimento

Monticelli (1996) aborda essa questatildeo ao confirmar que a enfermagem quando age

contextualizada dentro desta perspectiva propicia o compartilhamento de saberes e praacuteticas

evitando posturas etnocecircntricas simplistas ou puramente biologicistas sobre o processo da

parturiccedilatildeo

Na sequecircncia deste capiacutetulo seratildeo abordados seis temas surgidos em decorrecircncia da

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados que surgiram das falas das mulheres entrevistadas percepccedilatildeo

das mulheres sobre o nascimento percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado a percepccedilatildeo

das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto conhecendo como se daacute a construccedilatildeo cultural

do processo parturitivo das mulheres resistecircncia das mulheres ao modelo biomeacutedico do parto

percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea

A partir desses temas estabelecer-se-aacute um diaacutelogo com o referencial teoacuterico buscando

alcanccedilar nesse movimento a compreensatildeo de como a cultura influecircncia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher

A Percepccedilatildeo das mulheres sobre o nascimento

Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo das mulheres sobre o nascimento foram relatadas tanto

experiecircncias positivas quanto negativas

A abordagem positiva relatada pelas entrevistadas retrata a responsabilidade por uma

nova vida e a emoccedilatildeo do nascimento conforme as falas das entrevistadas

Tem a parte fiacutesica e espiritual Eu vejo como uma forma de oportunidade da gente crescer e

dar esta oportunidade para este ser que estaacute vindo resgatar as coisas que a gente precisa e que ele

precisa tambeacutem (M1)

38

Eacute uma daacutediva que Deus deu para gente inexplicaacutevel assim apesar de tudo o que a gente

passa ateacute o nascimento da crianccedila Eacute maravilhoso (M2)

Eu acho que eacute uma vida nova que vem para gente compromisso de ter que guiar aquela

pessoa que taacute nascendo com amor com aquele sentimento de cuidar de matildee de ser responsaacutevel por

aquele ser pelas atitudes dele pelo crescimento dele (M3)

O que eu imaginava na hora era ganhar ver o rostinho deles a parte mais emocionante eacute ver

a hora que eles nascem (M8)

As falas das mulheres apontam para positividades da percepccedilatildeo do parto relacionada agrave

emoccedilatildeo da primeira vez de ver o bebecirc e ao contato fiacutesico nesse momento bem como ao

sentimento de responsabilidade pelo filho Essa abordagem transmite um senso de unidade

sobre a pessoa e sua experiecircncia fiacutesica com enfoque nos aspectos emocionais e espirituais do

nascimento Segundo Martin (2006 p 248) ldquoo parto positivo concentra-se na integraccedilatildeo

funcional de todas as partes da mulher - suas memoacuterias passadas esperanccedilas futuras sua

mente e seu corpordquo

Martin (2006) apresenta as metaacuteforas da danccedila e da jornada para descrever esta

integridade colocam a mulher em um papel claramente ativo A danccedila ao significar que

quando corpo e mente encontram-se alinhados danccedilam em sincronia e unidade e entregam-se

agrave nova vida que vem chegando A metaacutefora do parto como uma jornada torna-se uma

oportunidade para o crescimento psicoloacutegico da mulher que se inicia no primeiro trimestre e

culmina no trabalho de parto quando ela relaciona-se iacutentima e singularmente consigo mesma

tendo ao final uma experiecircncia de aprendizado totalmente sua

Foi destacada pelas entrevistadas a mudanccedila do status social e o compromisso com

este novo ser na sua vida denotando o compromisso e a responsabilidade de ser matildee A

mulher que daacute agrave luz com vivecircncias positivas apresenta atitudes que vatildeo dignificaacute-la e que

fortalecem o seu ldquoeu interiorrdquo (BALASKAS 2008)

Este momento faz parte de um ritual de transiccedilatildeo social presente em todas as

sociedades do status social de esposa para o de matildee com intuito de unir os aspectos

fisioloacutegicos aos aspectos sociais da vida de uma pessoa Dessa maneira existem muitas

crenccedilas e rituais do parto e puerpeacuterio no mundo ocidental que continuam ateacute que a matildee e a

crianccedila estejam estabelecidas com seguranccedila em suas posiccedilotildees sociais (HELMAN 2009)

Segundo Odent (2003) atribui-se importacircncia crucial agrave primeira hora apoacutes o parto para

o desenvolvimento da capacidade de amar Nessa fase em condiccedilotildees fisioloacutegicas a liberaccedilatildeo

de ocitocina conhecida como ldquohormocircnio do amorrdquo associada agrave prolactina ldquohormocircnio da

maternidaderdquo significa que se matildee e o bebecirc estiverem em contato pele a pele e olho no olho

39

as chances de se estabelecer apego interaccedilatildeo e amor estatildeo garantidas para ambos Isso eacute

ratificado por Odent (2003) ao referir-se que quando o meio cultural interfere com rotinas

que desestimulam esse apego entre a matildee e o bebecirc tais como o uso de sedativos agentes

anesteacutesicos e analgeacutesicos durante o parto influencia toda a capacidade de amar devido a natildeo

liberaccedilatildeo da ocitocina natural pelo organismo da mulher

Um aspecto negativo expresso pelas entrevistadas concernente agrave percepccedilatildeo do

nascimento refere-se ao desconhecimento sobre a fisiologia do parto o que as fez entender

este processo semelhante a um processo patoloacutegico e sujeito a vaacuterias intervenccedilotildees

desnecessaacuterias conforme os relatos

O primeiro eu natildeo tinha a orientaccedilatildeo que eu tenho agora ningueacutem me orientou Foi muito

doiacutedo e difiacutecil inclusive ateacute porque ele era bem grande e iam passar o foacuterceps Natildeo sei se chegaram a

colocar mas eu consegui e nasceu normal E me colocaram o soro com ocitocina () e eu disse ldquopara

quecircrdquo mas natildeo me explicaram (M1)

Jaacute tinha perdido o tampatildeo uns 3 dias antes de comeccedilar ldquoas dorrdquo entatildeo eu ficava preocupada

ldquoSeraacute que eu natildeo vou sentir dorrdquoldquo seraacute que eu natildeo vou saber quando vai ser a hora de ir ao

hospitalrdquo Me colocaram o soro para induzir () natildeo me explicaram nada Depois veio a anestesia

remeacutedios acho que para enjocirco () natildeo consegui ganhar normal (M2)

Achei que eu tinha que me esforccedilar mais em todos eles Por isso na hora de ganhar sempre

me dava um medo Aiacute eu natildeo sei se eu me trancava Botaram o soro para dor e eu ao inveacutes de fazer a

forccedila direito como se deve fazer eu me retrancava e comeccedilava a chorar (M7)

Eu acho o parto normal muito mais arriscado que a cesaacuterea Todos os meus foram cesaacuterea

No meu caso eu acho que foi por causa da dilataccedilatildeo Todas foram agendadas Os meus filhos quando

chegam no uacuteltimo mecircs natildeo querem ficar nascem antes A minha filha nasceu com 8 meses com muito

pouco peso e foi para UTI (M8)

Os sentimentos relatados pelas entrevistadas de natildeo saber como agir no parto

exprimem significativamente seu desconhecimento acerca do processo fisioloacutegico e refletem-

se em medo e inseguranccedila Uma vez que natildeo sabem o que estaacute acontecendo com seu corpo as

mulheres controlam-no menos demonstram fragilidade e tendem a ser tratadas como objeto

de controle da equipe meacutedica Desse modo aceitam passivamente as intervenccedilotildees meacutedicas

como necessidades normais e rotineiras no parto a exemplo dos relatos do uso de ocitocina

de foacuterceps e da indicaccedilatildeo de cesariana previamente agendada

Esse eacute o modelo de atendimento tecnocraacutetico de assistecircncia descrito pela antropoacuteloga

Davis Floyd (2004) que representa a corrente de pensamento convencional e dominante

norteadora da praacutetica da assistecircncia obsteacutetrica haacute vaacuterias deacutecadas na qual o profissional de

sauacutede manteacutem um distanciamento do paciente como forma de proteger a si mesmo das

reaccedilotildees emocionais frente agraves anguacutestias deste

40

A forma e a percepccedilatildeo de como as mulheres vivenciam a sua experiecircncia de parto satildeo

impregnadas pela realidade conforme modelo que se apresenta para a sociedade isto eacute com a

mensagem de que eacute imprescindiacutevel a utilizaccedilatildeo da tecnologia como garantia de um parto

seguro O que resulta disso eacute o que chamamos de uma ldquocascata de intervenccedilotildeesrdquo que ocorre

quando uma praacutetica obsteacutetrica desencadeia outras fazendo com que se altere o processo

natural do parto (BALASKAS 2008)

Destaca-se tambeacutem a desinformaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos riscos que advecircm da cesaacuterea

desnecessaacuteria para matildee e bebecirc A entrevistada M8 narra que as cesaacutereas foram realizadas

antes de sua gestaccedilatildeo estar a termo Sabe-se que a prematuridade iatrogecircnica ocasionada por

cesaacutereas sem indicaccedilatildeo estaacute associada ao aumento da taxa de nascimentos de receacutem nascidos

preacute-termo (MACDORMAN et al 2008) e ao aumento da mortalidade neonatal (VILLAR et

al 2007)

Concorda-se com Balaskas (2008) ao afirmar que as cicatrizes corporais deixadas

pelas intervenccedilotildees desnecessaacuterias no corpo da mulher transformam-se em uma vivecircncia de

sofrimento inseguranccedila e sobrepujam toda e qualquer vivecircncia positiva ocorrida no parto

Logo um momento que deveria ser natural repleto de lembranccedilas positivas e felizes para a

mulher constitui-se num evento traumatizante Nessa direccedilatildeo entende-se que se o

comportamento humano eacute influenciado diretamente pelo meio cultural pois humanos

comunicam-se e criam cultura a socializaccedilatildeo da naturalizaccedilatildeo do parto como evento rodeado

de tecnologia e risco bem como a recapitulaccedilatildeo das experiecircncias traumaacuteticas contadas pelas

mulheres reforccedilam-se na convivecircncia social (ODENT 2004)

Ademais as intervenccedilotildees desnecessaacuterias sobrepotildeem-se ao poder que a mulher tem de

parir e que atualmente ela mesma desconhece pois a histoacuteria repassada pela medicina nas

uacuteltimas deacutecadas na cultura ocidental transformou o parto em um evento essencialmente

meacutedico sendo a mulher apenas uma parte do cenaacuterio (SEIBERT 2005)

O uso do recurso da aceleraccedilatildeo no parto com o uso do soro com ocitocina foi

percebido como forma negativa para as mulheres que o relataram O emprego de hormocircnios

sinteacuteticos no trabalho do parto como eacute o caso da ocitocina tende a cessar a fisiologia e as

etapas do parto (FIGUEREDO L 2010)

Ratificando essa informaccedilatildeo um estudo feito por Barros (2005) mostra que o aumento

de partos cesaacutereos estaacute relacionado agrave praacutetica da induccedilatildeo medicamentosa A falha de induccedilatildeo

provoca a indicaccedilatildeo de uma cesaacuterea que implica a utilizaccedilatildeo de anestesia medicaccedilotildees

antibioacuteticas profilaacuteticas medicaccedilatildeo para naacuteuseas medicaccedilatildeo para dor no poacutes-operatoacuterio e

utilizaccedilatildeo de outras drogas o que pode afetar drasticamente o comportamento materno pois o

41

que se verifica em estudos com outros mamiacuteferos eacute o natildeo-cuidado de seus bebecircs apoacutes uma

cesariana (ODENT 2004)

Eacute primordial durante a gestaccedilatildeo o preparo das mulheres para o parto apoiando suas

informaccedilotildees em praacuteticas baseadas em evidecircncias cientiacuteficas pois a grande maioria dos

procedimentos que os profissionais de sauacutede ainda utilizam no parto satildeo rotinas que estatildeo

caindo em desuso pois se mostraram mais danosas do que beneacuteficas Se as proacuteprias pacientes

souberem disso atraveacutes de atividades educativas no preacute-natal seraacute muito mais faacutecil reverter

esse quadro (DINIZ 2003)

Concorda-se nessa direccedilatildeo que a consulta preacute-natal tambeacutem eacute um espaccedilo importante

para mudanccedila de atitudes em relaccedilatildeo ao parto incentivada por profissionais que valorizam os

aspectos sociais e subjetivos da gestaccedilatildeo do parto e do nascimento (FREITAS 2005)

A Percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado

Nesta categoria as mulheres expressam a via de parto desejada A maior parte

manifestou o desejo pelo parto normal Apenas uma entrevistada manifestou preferecircncia pela

cesaacuterea e teve sua vontade atendida

Do primeiro eu natildeo pesquisei dos outros que eu comecei a ler sobre o assunto Eu queria ter

o parto em casa e mais informaccedilotildees do meacutedico Trabalhei ateacute a uacuteltima hora de internar Foi bom fiz a

respiraccedilatildeo direitinho e acabei ganhando no leito como eu pensei que queria que nascesse (M1)

Eu tinha conversado com meu esposo em casa e a gente queria parto normal mas natildeo deu

perdi o controle (M2)

Quando eu dizia que queria parto normal me diziam ldquopor que fazer parto normal por que

natildeo faz uma cesaacutereardquo Eu dizia ldquoeu quero parto normal pela recuperaccedilatildeo mais raacutepida para poder

voltar a estudarrdquo e eu achei bem melhor o parto normal do que ter feito uma cesaacuterea que daiacute eu ia

ficar dias sem poder voltar a estudar (M3)

Eu sempre quis cesaacuterea porque eu tinha medo de sentir dor ali na hora Eu vi o bebecirc assim

que o tiraram () Natildeo recebi orientaccedilatildeo sobre parto normal do meacutedico (M4)

A minha preferecircncia sempre foi o parto normal eu achei que ia ganhar normal deste uacuteltimo

mas natildeo deu fiquei frustrada (M5)

Por mim poderia ser parto vaginal tanto que do primeiro filho eu ia caminhar ateacute na veacutespera

para ver se evoluiacutea para parto normal mas natildeo evoluiu daiacute foi cesaacuterea e do outro foi cesaacuterea

tambeacutem Teve que ser programada (M6)

O parto normal foi desejado Se tivesse feito uma cesaacuterea seria o fim do mundo porque eu

demorei para aceitar a ideacuteia de que teria que fazer uma laqueadura por cesaacuterea Eu sempre dei a

preferecircncia para parto normal por causa de comentaacuterios e sobre ter infecccedilatildeo (M7)

42

Eu tinha na cabeccedila que o meu primeiro filho ia ser normal Parto normal a matildee ganha e jaacute

sai caminhando com a crianccedila no colo e cesaacuterea natildeo (M8)

Na fala das entrevistadas revelou-se o desejo pelo parto normal ou pela cesaacuterea

destacando o entendimento de que o parto normal tem a recuperaccedilatildeo mais raacutepida natildeo

interferindo na rotina e autonomia delas apresenta menos risco de infecccedilatildeo e a cesaacuterea

poderia proteger quanto agrave dor do parto Esses pontos justificaram em grande parte seu desejo

pelas vias de parto

Para Martin (2006) as mulheres que desejam o parto normal e conseguem passar por

essa experiecircncia consideram-no um processo que acontece naturalmente como algo que a

mulher realiza e natildeo simplesmente vecirc acontecer consigo

Estudos de natureza quantitativa e qualitativa da aacuterea da sauacutede em relaccedilatildeo agrave escolha

para o parto normal constataram que as expectativas das mulheres em relaccedilatildeo ao tipo de parto

justificaram-se pela recuperaccedilatildeo poacutes-parto mais raacutepida e por ser melhor para elas eou para os

bebecircs (OLIVEIRA 2002 MELCHIORI et al 2009 MANDARINO et al 2009)

A entrevistada que realizou a cesariana por desejo proacuteprio justificou sua escolha pelo

medo da dor do parto A forma como se percebe e se responde agrave dor pode ser influenciada

pela origem cultural e social Em outros grupos culturais a dor do parto natildeo eacute temida muito

diferentemente das mulheres de paiacuteses ocidentais que a temem e satildeo bastante propensas a

aceitar drogas analgeacutesicas ou anesteacutesicas (HELMAN 2009)

No Brasil o medo da dor eacute apontado como uma das causas da intervenccedilatildeo cesariana

requerida pelas mulheres e pode ser considerado assim um dos motivadores do aumento das

taxas dessa cirurgia no paiacutes (FAUacuteNDES CECATTI 1991 OLIVEIRA et al 2002)

Em um estudo feito por Almeida (2009) sobre a dor do parto normal a autora

evidenciou a ocorrecircncia de uma relaccedilatildeo de poder dos serviccedilos de obstetriacutecia sobre o corpo

feminino e a forma como estes serviccedilos gerenciam-se mantendo o processo da medicalizaccedilatildeo

o que se constitui um dos mecanismos de favorecimento da perpetuaccedilatildeo do parto cesaacutereo

com a finalidade de evitar a dor do parto normal

Entende-se tambeacutem que a dor do parto eacute em grande medida iatrogecircnica amplificada

pelo modelo assistencial que institui rotinas como a imobilizaccedilatildeo o uso abusivo de ocitocina

artificial a manobra de Kristeller a episiotomia e a episiorrafia praacuteticas no parto normal que

satildeo claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas com base em evidecircncias

cientiacuteficas e em recomendaccedilotildees da OMS (1996) e do Ministeacuterio da Sauacutede (BRASIL 2001)

43

Para tanto foi instituiacutedo pelo Ministeacuterio da Sauacutede (2000b) o Programa de

Humanizaccedilatildeo no Preacute-Natal e Nascimento cujo objetivo eacute melhorar a assistecircncia obsteacutetrica

provocada por praacuteticas e condutas inadequadas

Segundo Floyd (2004) o programa eacute traduzido como um modelo humanista de

assistecircncia tambeacutem referido por ela como modelo holiacutestico Os profissionais que atuam nessa

vertente simplesmente tecircm como desejo humanizar a tecnomedicina e apresentam maior

potencial para reformar o modelo tecnocraacutetico com mudanccedilas de atitudes e de paradigma

O modelo holiacutestico eacute o que abarca uma variedade mais rica de abordagem rompe

totalmente com o modelo dominante atual utiliza modalidades que satildeo menos prejudiciais

assiste as pessoas em seu contexto crecirc em outros modos de contexto que curam compreende

a dimensatildeo espiritual do cuidado da sauacutede e tambeacutem fortalece o desenvolvimento da vida de

cada pessoa (FLOYD 2004)

Neste sentido a escolha da via de parto torna-se importante uma vez que leva em

consideraccedilatildeo o contexto soacutecio cultural e assistencial em que a parturiente estaacute inserida e os

aspectos bioloacutegicos e psicoemocionais com intuito de promover um cuidado direcionado agraves

suas necessidades conforme recomendado nos estudos de Bezerra Cardoso (2005) e Budoacute et

al (2007) referentes a outros cenaacuterios da sauacutede Tal cuidado aproxima-se da humanizaccedilatildeo da

atenccedilatildeo no parto

De destaque nas falas das entrevistadas do presente estudo eacute o sentimento de

frustraccedilatildeo e perda de controle das que desejavam parto normal e tiveram de submeter-se agrave

cesaacuterea Situaccedilatildeo semelhante surgiu no relato das mulheres que Emily Martin (2006)

entrevistou em Baltimore (EUA) quando percebeu nos depoimentos que uma das reaccedilotildees

mais comuns especialmente quando a mulher planeja um parto vaginal e a cirurgia ocorre eacute a

perda de controle do seu parto

Por outro lado entre as entrevistadas que conseguiram realizar o parto normal

consoante seu desejo de via de parto o sentimento de aliacutevio foi constatado Para Balaskas

(2008) as sensaccedilotildees de aliacutevio realizaccedilatildeo gratidatildeo ecircxtase partem de uma grande variedade

de sensaccedilotildees que somente a experiecircncia do parto normal propicia

Uma das entrevistadas relata orientaccedilatildeo para cesariana a fim de submeter-se agrave

laqueadura tubaacuteria tendo seu desejo frustrado quanto agrave opccedilatildeo da via de parto uma vez que

desejava realizar parto normal Evidencia-se que natildeo houve o desejo de cesaacuterea no entanto a

necessidade da laqueadura

A constataccedilatildeo do desestiacutemulo ao parto normal feito pela equipe meacutedica mesmo

cientes de que essas mulheres tinham histoacuterias preacutevias de partos normais a fim de realizar

44

uma cesaacuterea concomitantemente agrave laqueadura tubaacuteria mostra o desrespeito agrave lei nordm 9263 que

trata do planejamento familiar que veda a esterilizaccedilatildeo ciruacutergica em mulher durante os

periacuteodos de parto ou aborto exceto nos casos de comprovada necessidade por cesarianas

sucessivas anteriores (BRASIL 2002)

As entrevistadas que se submeteram agrave cesaacuterea apresentaram percepccedilotildees de que algo

que foi feito com elas e natildeo de sua participaccedilatildeo como relatado nas seguintes frases ldquotiraram

o bebecircrdquo (M4) ldquopuncionaram-me umas 15 vezesrdquo (M6) ldquose a hemorragia natildeo parasse iam

tirar o meu uacuteterordquo (M8)

A sensaccedilatildeo de passividade e separaccedilatildeo entre o eu e o seu corpo surge em niacutevel

extremo quando as mulheres descrevem a cesariana Parte disso adveacutem pelo fato de ser uma

cirurgia em que um nuacutemero maior de pessoas toca manipula corta e costura seu corpo Outra

parte deve-se agrave anestesia peridural que produz insensibilidade da cintura para baixo e

intensifica-se pela colocaccedilatildeo de um pano sobre o peito da mulher de modo que ela natildeo

enxerga a metade inferior do seu corpo (MARTIN 2006)

Verificamos nas falas das entrevistadas que os laccedilos entre a matildee e o bebecirc podem estar

sendo desestimulados por priorizarem-se cuidados que poderiam ser postergados ldquoPrimeiro

foi realizado os cuidados com o bebecirc e me mostraram jaacute enrolado com as roupasrdquo (M6)

ldquoFicavam ali fazendo os cuidados com o bebecirc e me mostravam bem depoisrdquo (M8)

Esses cuidados aleacutem de estar interferindo na relaccedilatildeo amorosa matildee-bebecirc podem estar

ignorando a implementaccedilatildeo de praacuteticas simples como o clampeamento tardio do cordatildeo

umbilical o contato imediato pele-a-pele e o iniacutecio da amamentaccedilatildeo exclusiva que tem um

impacto a longo prazo na nutriccedilatildeo e na sauacutede da matildee e do bebecirc pois afetam o

desenvolvimento da crianccedila muito aleacutem do periacuteodo neonatal e do puerpeacuterio (BRASIL 2011)

A metaacutefora da produccedilatildeo no nascimento proposta pela antropoacuteloga Emily Martin

(2006) retrata a interrupccedilatildeo dos laccedilos afetivos entre matildees e bebecircs que sofreram cesarianas

devido ao controle sobre o corpo feminino exercido pela retirada do protagonismo da mulher

da cena do nascimento Fato esse semelhante agrave metaacutefora da produccedilatildeo industrial do natildeo-

envolvimento da trabalhadora com o produto do seu trabalho quando ela natildeo sente que foi

quem o produziu e quando o seu trabalho eacute estritamente organizado e controlado (MARTIN

2006)

Frequentemente quando se interfere na produccedilatildeo de um bebecirc segundo a metaacutefora da

produccedilatildeo industrial que ocorre quando natildeo eacute a mulher que daacute agrave luz e o bebecirc eacute extraiacutedo

cirurgicamente por um meacutedico a matildee sente-se desligada da crianccedila apoacutes seu nascimento

(MARTIN 2006)

45

Nesta direccedilatildeo um estudo realizado na Universidade da Cidade do Cabo Aacutefrica do Sul

mostrou que a separaccedilatildeo entre matildee e o bebecirc tem impactos negativos influenciando na

duraccedilatildeo do sono e na frequecircncia cardiacuteaca do bebecirc (BARAK 2011)

O modelo de atendimento biomeacutedico desestimula a implementaccedilatildeo de cuidados

comprovadamente eficazes e passa uma mensagem que matildee e bebecirc satildeo como uma diacuteade

conflitante natildeo sendo vistos como uma unidade integral (MARTIN 2006)

Outro elemento a ser salientado refere-se agrave percepccedilatildeo de ser matildee atraveacutes da vivecircncia

do trabalho de parto ou seja compreende-se o significado de ser matildee por meio da vivecircncia da

parturiccedilatildeo conforme fala da entrevistada Era meu primeiro filho decidi que para ser matildee

teria que ganhar de parto normal [] Se eacute para ser matildee vamos ser matildee mesmo (M3)

Como se pode notar a entrevistada destaca que o parto normal foi primordial para

sentir-se realmente matildee Importante nesse sentido a afirmaccedilatildeo de Monticelli (1996) de que o

parto eacute um ritual que marca profundamente o inconsciente feminino principalmente se for o

primeiro

A Percepccedilatildeo das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto

Nesta categoria foi significante a falta de autonomia da mulher na decisatildeo sobre a via

de parto Para compreensatildeo do parto como um evento na vida da mulher em relaccedilatildeo agrave decisatildeo

sobre o tipo de parto as mulheres opinaram

A cesaacuterea geralmente eacute o meacutedico que decide Eu sabia disso daiacute que nem todas satildeo iguais

porque a minha voacute teve 6 cesaacutereas e 6 normal e a minha matildee soacute fez cesaacuterea Entatildeo eu sabia que

podia acontecer comigo e realmente aconteceu O meacutedico disse que ia fazer uma cesaacuterea e fez

cesaacuterea disse que ela tinha tomado aacutegua no parto (M8)

Deveria ser da mulher mais do que do meacutedico jaacute que ela que estaacute sentindo e sabendo o que

estaacute acontecendo (M1)

A niacutevel de consultoacuterio (rede privada) eacute o meacutedico Natildeo daacute para escolher() Eu queria Por

mim poderia ser parto vaginal (M6)

Eu acho que deve ser a mulher mas eacute o meacutedico que decide Eles dizem que eacute protocolo que

isso que aquilo mas sabe-se que natildeo eacute assim Soacute que natildeo acontece isso neacuteEla natildeo tem o direito de

decidir se quer um parto normal ou uma cesaacuterea Eacute colocado para ela que ela vai ganhar de parto

normal por causa disso ou daquilo mas agraves vezes ela natildeo estaacute preparada de repente eacute o melhor para

o corpo mas natildeo o melhor para cabeccedila dela natildeo estaacute preparada para aquilo ali (M3)

Eacute o meacutedico que tem o poder de decisatildeo se vai ser parto vaginal ou cesaacuterea (M2)

46

Nessa categoria foi significativo o entendimento das mulheres sobre o poder de

decisatildeo que os meacutedicos tecircm em relaccedilatildeo ao tipo de parto Poreacutem elas discordam de que este

profissional determine a escolha de forma unilateral e apontam para inclusatildeo delas nessa

decisatildeo Esta perspectiva direciona-se para a autonomia e a participaccedilatildeo da mulher na decisatildeo

sobre a via de parto embora o que se constate eacute que o meacutedico determina qual a finalizaccedilatildeo da

gestaccedilatildeo

Entende-se que a questatildeo de avaliaccedilatildeo de risco e a indicaccedilatildeo de se realizar uma

cesaacuterea sejam de competecircncia meacutedica No entanto a mulher deve receber informaccedilotildees sobre

os riscos e benefiacutecios da intervenccedilatildeo a fim de exercer sua participaccedilatildeo ativa no processo Tal

questatildeo enfatiza o direito agrave informaccedilatildeo e agrave formaccedilatildeo de opiniatildeo das mulheres para que

tenham o direito de reivindicar aquilo que eacute beneacutefico para a sua sauacutede e a de seu bebecirc

Profissionais e mulheres podem ateacute tomar uma decisatildeo antecipada sobre o tipo de parto

poreacutem esse fato natildeo pode ser visto como uma simples questatildeo de preferecircncia como no caso

da cesaacuterea antecipada ou eletiva sem indicaccedilatildeo pois pode implicar em riscos e complicaccedilotildees

futuras para matildee e para o bebecirc (BRASIL 2001)

Para o Ministeacuterio da Sauacutede (2006a) um dos valores da Poliacutetica Nacional de

Humanizaccedilatildeo eacute o principio da autonomia de pensar os indiviacuteduos como sujeitos autocircnomos e

como protagonistas nos coletivos de que participam como co-responsaacuteveis pelo processo de

produccedilatildeo de sauacutede de si e do mundo em que vivem

Quando falamos da autonomia da mulher parturiente falamos de um processo em que

a cada momento se vai desconstruindo o leacutexico cientificoteacutecnico para que a mulher e a

famiacutelia possam ser chamadas ao centro de decisatildeo Mas para isso eacute importante oferecer toda a

informaccedilatildeo que ela necessita para se tornar um membro efetivo da equipe de sauacutede e como

tal ter pleno poder e capacidade de decidir da forma mais vantajosa para todos Esse eacute sem

duacutevida um processo de grande complexidade que em uma aplicaccedilatildeo absoluta incita os

profissionais de sauacutede a compreenderem que o respeito pela autonomia da mulher natildeo

constitui um dano na sua autonomia profissional mas antes um incremento pela qualidade

participaccedilatildeo e rigor eacutetico obtido atraveacutes desse processo (LEITAtildeO 2010)

Tal processo talvez seja difiacutecil de compreender para o profissional quando se alicerccedila

na cultura biomeacutedica ao redor de uma ideologia de progresso tecnoloacutegico que no contexto do

parto iniciou-se a partir da sua institucionalizaccedilatildeo com o advento da era industrial (FLOYD

2004)

47

A institucionalizaccedilatildeo do parto iniciou-se nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX quando

o mesmo passou a ser visto como um processo patoloacutegico que deveria ser controlado a fim de

evitar a morte materna e perinatal sendo entatildeo marcado por rotinas tais como episiotomias

cesaacutereas desnecessaacuterias utilizaccedilatildeo de foacuterceps profilaacutetico (PROGIANTI BARREIRA 2001)

Para Collaccedilo (2002) as instituiccedilotildees tecircm uma cultura proacutepria fundamentada no empirismo e

na tecnologia que se revelam nas rotinas e condutas intervencionistas do meacutedico O resultado

dessa conduta intervencionista eacute a discrepacircncia entre o que as mulheres desejam e o que eacute

realizado o que justificaria a mudanccedila do tipo de parto (HOPKINS 2000)

Um dos motivos alegados pelos meacutedicos para essa praacutetica seria a mudanccedila de perfil de

risco das gestantes Poreacutem um estudo realizado nos EUA que relacionou o aumento das taxas

de cesaacuterea com a mudanccedila de perfil do risco constatou que as chances de uma mulher ser

submetida a uma cesaacuterea na primeira gestaccedilatildeo sem pertencer a um grupo de risco subiu para

50 em 2005 comparado ao ano de 1996 (DECLERCQ et al 2005)

Essa desinformaccedilatildeo por parte das mulheres pode por fim a sua capacidade na decisatildeo

sobre o tipo de parto e ser atribuiacuteda agrave falta de conhecimento sobre seu corpo os processos

reprodutivos e a sexualidade (SANTOS 2008)

Segundo o relato da entrevistada M6 natildeo haacute o direito de escolha quanto ao tipo de

parto para a mulher que faz o preacute-natal na rede suplementar sendo sua autonomia geralmente

desrespeitada quando deseja um parto normal De acordo com Mccourt et al (2007) a

escolha do tipo de parto pela mulher eacute apontada na literatura meacutedica como um fator que tem

contribuiacutedo para o elevado iacutendice de cesarianas na atualidade

Destaca-se que nos serviccedilos de sauacutede suplementar no Brasil as taxas de cesaacuterea satildeo

as mais elevadas do mundo em torno de 797 (ANS 2001) A cesaacuterea daacute ao meacutedico o

maacuteximo de poder controle e conduccedilatildeo nesse processo e exige o miacutenimo de trabalho do uacutetero

e da mulher criando o ponto de vista de que este procedimento ciruacutergico fornece os melhores

bdquoprodutos‟ isto eacute produzem bebecircs perfeitos semelhantemente agrave metaacutefora de produccedilatildeo tal

como acontece nas induacutestrias (MARTIN 2006)

Logo deu-se iniacutecio a uma crenccedila de que cesaacuterea eacute protetora para o nascimento do

bebecirc Isso pode estar relacionado agrave noccedilatildeo de que partos normais satildeo traumaacuteticos para o feto

e entatildeo os profissionais ldquoaliam-serdquo ao bebecirc contra a destruiccedilatildeo em potencial causada pelo

corpo da matildee no trabalho de parto e no parto o que leva a ignorar aquilo que talvez seja o

mais importante para a mulher e para a crianccedila que eacute a natureza de suas experiecircncias no parto

e no nascimento (MARTIN 2006)

48

Aleacutem do mais na relaccedilatildeo meacutedico-parturiente fica evidente como satildeo encaradas as

questotildees relacionadas ao parto de forma diferente por cada um desses atores (ANS 2008a)

Entre os meacutedicos obstetras institui-se uma cultura proacute-cesaacuterea e como consequecircncia

parte deles natildeo se encontra motivada nem capacitada para o acompanhamento do parto

normal Em contrapartida as mulheres dentro dessa cultura tecircm dificuldade de fazer valer a

sua decisatildeo quanto ao tipo de parto por sentirem-se menos capacitadas a escolher devido agraves

questotildees teacutecnicas levantadas e sustentadas por eles (BRASIL 2001)

Estudos tecircm demonstrado que apenas 20 das usuaacuterias de convecircnio particular

conseguem dar agrave luz por parto normal sendo que a maioria das mulheres brasileiras deseja-o

(REBELO et al 2010 POTTER et al 2001 POTTER et al 2008)

Concorda-se portanto com a visatildeo de ANS (2008a) de que a criacutetica da exclusatildeo das

mulheres na decisatildeo da via de parto deve-se principalmente ao fato de que o modelo

biomeacutedico desconhece os significados que as mulheres datildeo agrave experiecircncia da gestaccedilatildeo e do

parto

Conhecendo como se daacute a construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres foram relatadas

tanto experiecircncias positivas quanto negativas dos partos das mulheres de seu conviacutevio

As mulheres que apresentam uma percepccedilatildeo positiva sobre parto normal apresentam

nas famiacutelias histoacuterias e relatos positivos do parto de suas familiares

A minha matildee teve 5 partos normais Todos em casa e a minha voacute era parteira Acho que a

influecircncia vem daiacute Queria que minha voacute tivesse viva para eu ter tido os meus filhos com ela A matildee

sempre foi positiva nunca disse que os partos foram uma coisa horriacutevel Ela sempre disse que era

uma coisa boa doiacutea claro mas ela sempre mostrou coisa boa Tenho uma irmatilde que ganhou um bebecirc

em casa natildeo deu tempo de ir para o hospital Foi raacutepido demais (M1)

Olha todas natildeo se queixaram As [familiares] que eu conversei disseram que parto normal eacute

a melhor forma por causa da recuperaccedilatildeo eacute melhor para ti cuidar do nenecirc sem depender de ningueacutem

A matildee sempre teve parto normal (M2)

Da minha matildee foi tranquumlilo O parto dela foi no mesmo hospital que eu tive ela caminhou

tudo como tinha que ser rompeu a bolsa em casa Ela me passou essa experiecircncia boa (M3)

Eu e a minha irmatilde nascemos de parto vaginal A minha voacute teve 5 filhos de parto vaginal A

minha sogra teve partos vaginais em casa Meu marido nasceu com 4kg Ela comentava como eacute que

tinha sido os nascimentos dos filhos dela de ser tudo tranquilo e das aventuras que ateacute na veacutespera

andava a cavalo e natildeo deu nada de complicaccedilatildeo e naquele tempo foi com parteiras A matildee dela era

parteira Os filhos nasceram com a avoacute (M6)

49

Durante a minha gravidez eu conversava mais sobre o parto com a minha matildee e eu a

acompanhei ela quando foi ganhar normal Eu vi como foi entatildeo eu sabia como tinha que ser quando

eu fosse ganhar que era bom A influecircncia da minha voacute e da minha matildee foi para parto normal mas

eu natildeo ganhei normal em nenhum (M8)

Na opiniatildeo dessas entrevistadas a transmissatildeo do conhecimento dos partos na famiacutelia

exerceu grande influecircncia na preferecircncia por parto normal focando a naturalidade e a

praticidade de encarar o parto normal

O processo de socializaccedilatildeo denominado ldquoprimaacuteriordquo para Berger e Luckmann (1976)

acontece na famiacutelia durante a infacircncia quando a realidade eacute apreendida atraveacutes da

consciecircncia individual e os papeacuteis sociais tornam-se seus quando identificados

Segundo Laraia (2003) a socializaccedilatildeo do indiviacuteduo eacute resultante do seu meio cultural e

a acumulaccedilatildeo de saberes e crenccedilas satildeo passadas de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Destaca-se isso

igualmente no estudo de Ressel et al (2011) relativo a cultura da sexualidade junto a

adolescentes e suas famiacutelias onde a socializaccedilatildeo dos saberes eacute um processo dinacircmico e

contiacutenuo ao longo da vida

Laraia (2003) defende que os valores que vatildeo compor a singularizaccedilatildeo de cada pessoa

na sociedade ocorrem por meio da socializaccedilatildeo atraveacutes dos relacionamentos das

representaccedilotildees pessoais sobre fenocircmenos fatos e eventos sociais

As entrevistadas M1 e M6 relatam a presenccedila de parteiras na assistecircncia ao parto Ateacute

a entrada da profissatildeo meacutedica sobre o processo do parto as mulheres em trabalho de parto

eram auxiliadas principalmente pelas matildees tias avoacutes eou parteiras Poreacutem com a perda da

importacircncia do papel das parteiras - pois ameaccedilavam o monopoacutelio do saber meacutedico - e sua

progressiva alocaccedilatildeo na marginalidade do contexto da obstetriacutecia seus saberes foram sendo

vistos sob suspeita

Em quase todas as culturas segundo Helman (2009) os principais provedores dos

cuidados primaacuterios de sauacutede satildeo as matildees e avoacutes e as parteiras ainda satildeo as responsaacuteveis pelos

cuidados obsteacutetricos em alguns paiacuteses

Percebem-se nas narrativas das entrevistadas as influecircncias positivas passadas por suas

matildees na vivecircncia da parturiccedilatildeo das mulheres da famiacutelia Elsen (2011) realizou uma anaacutelise de

quatro estudos sobre famiacutelias tendo como um dos destaques a valorizaccedilatildeo do conhecimento e

das praacuteticas do cuidado nesses ambientes familiares

Em contrapartida as entrevistadas que apresentam nos seus discursos experiecircncias

negativas mostram que no conviacutevio familiar e no ciacuterculo social proacuteximo este assunto ou natildeo

foi comentado ou foi discutido com teor negativo

50

A minha matildee nunca falou bdquocom noacutes‟ sobre isso Ela teve cesaacuterea da minha irmatilde mais nova de

sete anos e deu problemas de rim nela A minha recuperaccedilatildeo foi ruim porque demorei a recuperar

() Eu me sentia estranha e parece que minhas pernas estavam separadas do meu corpo por causa da

anestesia(M4)

Noacutes nunca conversamos sobre essas coisas laacute em casa nem com matildee e nem com irmatilde A

uacutenica coisa que me falavam eacute que sofria muito falavam que ia gritar de tanta dor que as contraccedilotildees

seriam fortes Eu sofri um pouquinho coloquei soro fiquei de barriga para cima o tempo todo ()

como se estivesse doente depois eu tive uma cesaacuterea que infeccionou os pontos Me senti um objeto

() (M5)

Minha matildee disse que eacute horriacutevel que natildeo era bom que nem cesaacuterea e nem parto normal Ela

sofreu muito Por isso na hora de ganhar assim sempre me dava um medo devido agraves histoacuterias

contadas por minha matildee (M7)

Vizinhos ateacute parentes comentavam que esqueceram uma tesoura dentro da paciente ou

esqueceram um pano Eu tenho medo de cesaacuterea Outro problema eacute aquele pano que separa a sua

cabeccedila do resto do seu corpo Disseram-me que teria de fazer uma cesaacuterea para fazer a laqueadura

na proacutexima gravidez Eu vou fazer um RX depois para ver se natildeo ficou nada laacute dentro (M7)

Aiacute vem a voacute vem a matildee conversar dizendo ldquotu natildeo faz escacircndalo natildeo gritardquo porque

realmente elas natildeo datildeo atenccedilatildeo E realmente eu vi isso Entatildeo eu sabia que natildeo era bom quando eu

fosse ganhar (M8)

Nas falas destas entrevistadas deflagra-se a ausecircncia de conversa sobre o assunto

Quando haacute diaacutelogo acerca do tema no seio familiar reveste-se de significados negativos

destacando a dor o sofrimento a anguacutestia o medo a solidatildeo e a alienaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao que

estaacute acontecendo com o seu corpo

Para Martin (2006) as mulheres podem ter essas sensaccedilotildees negativas de objetificaccedilatildeo

e fragmentaccedilatildeo tanto na cesaacuterea quanto no parto normal mas as que passam por uma cesaacuterea

descrevem essas sensaccedilotildees mais intensamente conforme destacado nas falas das entrevistadas

M4 e M5

Segundo a autora o medo e a ansiedade no parto normal satildeo gerados pela inconsciente

fragmentaccedilatildeo subliminar impliacutecita de como a mulher percebe esse fenocircmeno de como accedilotildees

que elas natildeo realizam como se o ldquoeurdquo e o ldquoseu corpordquo fossem separados entendendo que

corpo mente e estados emocionais natildeo podem ser trabalhados simultaneamente

O relato negativo foi constatado em estudos de autores da aacuterea da antropologia

mostrando que em diferentes sociedades as filhas educadas por matildees que influenciam

negativamente sofrem mais no momento do parto (LARAIA 2003) A dor do parto tambeacutem

foi apontada pela entrevistadas M5 Conforme Gualda (2004) a dor eacute um sintoma altamente

subjetivo que traz a crenccedila popular de vincular a maternidade ao sofrimento

51

A entrevistada M8 traz a questatildeo de agir conforme as regras que a equipe obsteacutetrica

impotildee de natildeo fazer escacircndalo sob pena de natildeo receber a devida atenccedilatildeo Os profissionais de

sauacutede eventualmente podem impor um comportamento que natildeo respeita o saber da parturiente

o que pode tornar difiacutecil a evoluccedilatildeo do trabalho de parto (BEZERRA CARDOSO 2006)

Outro fator de destaque de acordo com o relato da entrevistada M7 foi o medo

apresentado em relaccedilatildeo ao esquecimento dos instrumentos ciruacutergicos dentro do seu corpo

Para Leninger (1991) a descontinuidade dos acompanhamentos e tratamentos das

usuaacuterias(os) deve-se ao fato de natildeo compreenderem sua funccedilatildeo e seu funcionamento

A posiccedilatildeo supina que foi referida pela entrevistada M5 ldquofiquei de barriga para cima o

tempo todordquo eacute segundo a OMS (1996) uma praacutetica claramente prejudicial ou ineficaz que

deve ser eliminada de acordo com as evidecircncias cientiacuteficas Essa mensagem simboacutelica

transmite agrave parturiente que ela estaacute enferma e retira da mulher a liberdade de seguir seus

instintos conforme mencionado pela entrevistada

Etnoacutelogos confirmam que atraveacutes da anaacutelise de evidecircncias histoacutericas existem raccedilas e

tribos que natildeo recebem influecircncia do modelo biomeacutedico e as mulheres naturalmente assumem

posiccedilotildees verticais dos mais variados tipos e meios de apoio (BALASKAS 2008)

Outras formas de influecircncia relatadas pelas participantes foram revistas internet

meios de comunicaccedilatildeo em geral As entrevistadas atribuem grande importacircncia agraves

informaccedilotildees colhidas nessas fontes atraveacutes das quais tomam conhecimento sobre

determinados costumes e percepccedilotildees

Com as revistas eu me informava bastante sobre como que era o nascimento fotos do bebecirc

nascendo Assistia na TV o canal que mostrava partos as casas de parto onde as mulheres iam fazer

todo o preacute-natal e ganhavam na aacutegua na cama naqueles quartos que permaneciam durante o

trabalho de parto e ficavam ali mesmo na hora de ganhar com familiar junto crianccedilas adultos tudo

junto Eu achava muito interessante (M1)

Eu olhei muito no youtube parto normal Eu achei bem legal Assim eacute meio assustador mais

achei legal Ateacute ali minha decisatildeo era ganhar normal mas natildeo deu (M2)

Lia folders revistas da aacuterea sobre maternidade programas de TV que mostraram o

acompanhamento do parto no domiciacutelio na banheira mas eu tive duas cesaacutereas agendadas (M6)

A entrevistada M1 relata o atendimento oferecido em casa de parto ou centro de parto

normal onde as mulheres fazem todo o preacute-natal e datildeo agrave luz em posiccedilotildees e locais de sua

preferecircncia A ausecircncia desse tipo de estabelecimento em determinados municiacutepios do Brasil

inviabiliza o acesso aos benefiacutecios que esses serviccedilos oferecem Instituiacutedo no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede esses estabelecimentos propiciam agraves mulheres a assistecircncia ao parto

52

em sua plena universalidade e tecircm como uma de suas atribuiccedilotildees o preparo da gestante

atraveacutes do plano de parto e do desenvolvimento de atividades educativas (BRASIL 1999)

Nesse cenaacuterio o protagonismo de cada mulher na gestaccedilatildeo parto e puerpeacuterio eacute respeitado

levando em consideraccedilatildeo sua individualidade suas crenccedilas e sua cultura

A cultura eacute um todo complexo que inclui o conhecimento as crenccedilas a arte a moral a

lei os costumes e todos os outros haacutebitos e aptidotildees adquiridos pelo homem como membro da

sociedade e se faz dinacircmica pela recepccedilatildeo das influecircncias externas resultantes do contato de

um sistema cultural com outro transformaccedilatildeo que pode ser raacutepida e brusca (LARAIA 2003)

No fragmento da fala da entrevistada M6 pocircde-se identificar sua curiosidade pelo

periacuteodo graviacutedico e parto e o parto domiciacutelio e na banheira forma de nascimento que volta a

fazer parte dos centros urbanos na atualidade A influecircncia das mateacuterias veiculadas em uma

revista sobre as representaccedilotildees culturais sobre parto mostrou que a revista pode ser um meio

de divulgaccedilatildeo informal que deveria ser mais bem aproveitado para informar as mulheres sobre

seus direitos e as maneiras de reivindicaacute-los (ROSS BONILHA et al 2006)

Um estudo feito por Medeiros (2008) retrata que as mulheres que optam por um tipo

de parto fora do hospital relacionam sua escolha agraves experiecircncias vivenciadas desde o seu

proacuteprio nascimento ateacute o momento do parto de seus filhos Quando as mulheres preparam-se

para parir seguindo princiacutepios diferentes dos que a medicina define e trata a linguagem que

utilizam eacute de integridade com todas as suas partes inter-relacionadas por um sentimento de

realizaccedilatildeo de algo que seriam capazes de fazer podendo-se inferir que a experiecircncia do parto

confirma ou natildeo na mulher a sua capacidade de colocar uma crianccedila no mundo (MARTIN

2006)

As mulheres citam somente a figura meacutedica na consulta de preacute-natal e comentam

sobre a postura do profissional de sauacutede que realizou este acompanhamento Em geral natildeo

receberam nenhuma informaccedilatildeo sobre parto

O obstetra no preacute-natal natildeo falava nada sobre parto soacute media a barriga via como estava o

coraccedilatildeo do bebecirc e deu Isso que o primeiro foi particular e os outros tambeacutem foram assim (M1)

Quando eu comecei no preacute-natal eu comecei com meacutedico particular ele natildeo falou nada sobre

parto e me pediu todos aqueles exames (M3)

O meacutedico natildeo era muito de conversar soacute os exames ultrasonografia Natildeo falou sobre outras

formas de parto (M4)

A uacutenica coisa que o meacutedico falou eacute ldquotu taacute preparadardquo ldquotem certeza jaacute ta aqui neacute Agora eacute

soacute seguir adianterdquo mas natildeo me falaram sobre parto Fiz todos os exames quatro ultrassonografias

(M7)

53

Fiz todo o preacute-natal e o meacutedico natildeo me falou nada sobre parto (M5)

Nesses depoimentos detectou-se a ausecircncia de diaacutelogo e de orientaccedilatildeo sobre o parto

O acompanhamento preacute-natal das entrevistadas apontou para o enfoque bioloacutegico e tecnicista

na assistecircncia prestada limitando-se agrave avaliaccedilatildeo de batimentos cardiacuteacos fetais altura uterina

e solicitaccedilatildeo de exames e avaliaccedilatildeo

Tal atenccedilatildeo fragmenta o cuidado e o sujeito deste cuidado pois segundo Martin

(2006) desta forma as mulheres natildeo satildeo apenas fragmentadas em partes do corpo como

tambeacutem satildeo alienadas da proacutepria ciecircncia pelas praacuteticas da medicina cientiacutefica As praacuteticas

obsteacutetricas corroboram com esta alienaccedilatildeo internalizando valores culturais que transmitem

agraves gestantes a ideacuteia de que natildeo haacute necessidade de informaccedilotildees sobre os processos fisioloacutegicos

do parto (FLOYD 2009)

Como a medicina obsteacutetrica contemporacircnea estaacute determinada por pressupostos

filosoacuteficos essencialmente masculinos o parto normal que tem em seu acircmago fenocircmenos

femininos tais como a afetividade espiritualidade e as emoccedilotildees natildeo eacute compreendido pelos

profissionais que controlam o nascimento (JONES 2004)

Apesar do avanccedilo na luta por igualdade de direitos para as mulheres a

sobrevalorizaccedilatildeo do patriarcado nos hospitais eacute perpetuada por meacutedicos em sua maioria

homens que tecircm autoridade para reforccedilar rituais de parto (FLOYD 2009)

No entanto os profissionais de sauacutede que se inserem no cenaacuterio das poliacuteticas puacuteblicas

de sauacutede da mulher deveriam atualmente ter como prerrogativa a instrumentalizaccedilatildeo das

mulheres para que sejam efetivamente sujeitos de direito na sociedade sendo tambeacutem

protagonistas de suas proacuteprias vidas e de seu parto tomando suas escolhas de modo

informado conforme preconiza a Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agrave Sauacutede da Mulher -

PNAISM (BRASIL 2004)

A ausecircncia de informaccedilotildees sobre parto foi constatada na fala das entrevistadas o que

nos faz refletir sobre a atitude desses profissionais com as gestantes e relacionar esse quadro

com os altos iacutendices de cesaacuterea da atualidade entendendo que a ausecircncia de diaacutelogo e

informaccedilatildeo no preacute-natal incapacita a mulher agrave autonomia Em um estudo de revisatildeo

sistemaacutetica que avaliou as informaccedilotildees que as gestantes recebiam sobre a cesariana para

solicitaacute-la natildeo foi possiacutevel detectar os motivos que as levam a solicitar uma cesariana

(GAMBLE et al 2007)

A desinformaccedilatildeo sobre as etapas da parturiccedilatildeo foi apontada por Pereira (2011) como

fator cultural que conduz a uma etapa teacutecnica terceirizada definida quando o meacutedico assume

54

o comando e o conduz a partir de sua formaccedilatildeo teacutecnica especializada Para a autora as

mulheres consideram dessa forma um sofrimento desnecessaacuterio passar pelo trabalho de

parto porque desconhecem sua importacircncia para o organismo e para o bebecirc

Deve-se levar em conta a forma a interaccedilatildeo do cuidado entre as mulheres os

profissionais e principalmente o contexto desse cuidado que revela um desequiliacutebrio de poder

que favorece os meacutedicos (GAMBLE et al 2007)

Conforme Martin (2006) pode acontecer tambeacutem de as mulheres natildeo estarem

preocupadas com a falta de informaccedilatildeo uma vez que elas satildeo direcionadas por pressupostos

culturais da superioridade meacutedica Tais pressupostos estatildeo tatildeo arraigados em sua experiecircncia

habitual nos serviccedilos de sauacutede que as impede de perceber as contradiccedilotildees em sua proacutepria

atenccedilatildeo agrave sauacutede

Por outro lado em outra pesquisa com gestantes constatou-se a necessidade de uma

grande demanda por informaccedilotildees escuta cliacutenica e tambeacutem a utilizaccedilatildeo de materiais

educativos mais esclarecedores (HOTIMSKY et al 2002)

Essa demanda por informaccedilotildees vem sendo suprida por outros profissionais de sauacutede

segundo as entrevistadas deste estudo

A enfermeira do posto me ajudou bastante eu tomava sulfato ferroso e ia pegar com ela Me

orientou sobre as vacinas eu lembro que um pouco antes de ficar graacutevida eu tinha tomado vacina da

rubeacuteola Entatildeo assim ela me acompanhou bastante tambeacutem eu sempre conversava com ela sobre o

parto os exerciacutecios que era bom fazer Laacute na Casa de Sauacutede tambeacutem a enfermagem me ajudou

bastante tava o tempo todo junto me dizendo que ldquotinha que caminhar para tua dilataccedilatildeo aumentarrdquo

me explicavam onde o nenecirc bdquotava‟(M3)

O fisioterapeuta o dentista A fisioterapia influenciou para o parto vaginal o dentista era

homem entatildeo relatou a experiecircncia da esposa dele que tinha sido parto cesaacutereo (M6)

Eu fiz todo o planejamento com a enfermeira Ensinaram como seria para nascer e logo

depois o que eu teria que fazer que eacute amamentar o nenecirc cuidados com o nenecirc cuidados comigo

tambeacutem preventivo remeacutedio piacutelula amamentaccedilatildeo Ensinaram no posto que eu frequento (M8)

A participaccedilatildeo dos profissionais da enfermagem e da fisioterapia foi constatada em

atividades de educaccedilatildeo em sauacutede e no atendimento ao trabalho de parto

Um estudo feito por Gaiva (2003) que destaca o nascimento como um evento

pertencente agrave equipe de sauacutede destaca como necessaacuterio o engajamento dessas equipes para a

humanizaccedilatildeo do parto e do nascimento com enfoque na mulher na crianccedila e na famiacutelia

A realizaccedilatildeo de um trabalho multiprofissional e interdisciplinar durante o processo de

gestaccedilatildeo parto e nascimento incide na aprendizagem de compartilhamento de saberes e

55

praacuteticas promovendo um cuidado de qualidade para os atores envolvidos nesse processo

(CHRISTOFFEL 2003)

A Lei ndeg 749886 que dispotildee sobre a regulamentaccedilatildeo do exerciacutecio da enfermagem

referenda que o enfermeiro generalista tambeacutem estaacute habilitado a assistir agrave gestante parturiente

e pueacuterpera acompanhando a evoluccedilatildeo e do trabalho de parto e a execuccedilatildeo do parto sem

distoacutecia

Pelloso (2000) concluiu que as taxas de cesaacuterea reduziriam com a capacitaccedilatildeo dos

profissionais para o parto com a introduccedilatildeo da enfermeira obsteacutetrica no preacute-natal e na

realizaccedilatildeo do parto bem como com a inclusatildeo de accedilotildees de orientaccedilatildeo e informaccedilatildeo sobre os

riscos e os benefiacutecios do parto normal e da cesaacuterea agraves mulheres em atividades de grupo e

cursos de gestantes Embora o nuacutemero de enfermeiras obstetras atuando no Brasil ainda seja

muito baixo estima-se que o nuacutemero de partos assistidos por elas eacute bem superior agravequele

registrado no SUS (BRASIL 2001)

Essa assistecircncia tambeacutem eacute referendada pela portaria do MSGM nordm 2815 de 29 de

maio de 1998 em que se inclui na tabela do sistema de informaccedilotildees hospitalares do SUS o

procedimento ldquoparto normal sem distoacutecia realizado por enfermeira obstetrardquo (BRASIL 1998

p23)

A enfermeira obstetra na busca pelo cuidado integral e valorizando a mulher como

protagonista do processo de nascimento vem conquistando tambeacutem um espaccedilo no

atendimento a partos domiciliares aleacutem de seu papel nas instituiccedilotildees hospitalares (PETER

2005)

Questionamento e resistecircncia ao modelo biomeacutedico

Nessa categoria mostram-se os relatos de questionamento e resistecircncia ao

atendimento obsteacutetrico por parte de algumas mulheres revelando que estas natildeo tecircm

autonomia tanto na decisatildeo sobre o tipo de parto quanto na escolha por quem querem que lhes

acompanhe em seu parto

As participantes questionam as situaccedilotildees impostas pelos profissionais que representam

o modelo biomeacutedico Uma entrevistada que queria o parto normal apresentou-se encorajada a

protestar contra este modelo trocando de meacutedico quando natildeo teve a sua opiniatildeo respeitada

conforme na fala

56

() Outro fato que me deixou frustrada foi quando eu iniciei o preacute-natal eu disse que queria

parto normal o meacutedico ficou bravo e foi bem mal educado e perguntou o que eu estava fazendo laacute

entatildeo Fui embora natildeo fiz mais preacute- natal com ele fui para o SUS Eu me senti invadida (M3)

Outra entrevistada questiona a falta do acompanhante de sua preferecircncia no parto Eu

gostaria que o meu marido bdquotivesse‟ junto (M1) Em um estudo realizado por Prado Junior

(2008) constatou-se que a presenccedila de familiares no processo de nascimento eacute visto por 100

das entrevistadas como primordial Para Balaskas (2008) o sentimento relatado por homens

que jaacute acompanharam suas mulheres em trabalho de parto eacute o de plenitude em nenhum

momento o instinto de fecircmea fala tatildeo alto eacute o renascimento de uma nova mulher

Suas falas chamam a atenccedilatildeo tambeacutem para a importacircncia de a mulher poder exercer

mais liberdade e participaccedilatildeo ativa com a possibilidade de escolher se quer tomar banho ou

natildeo se quer ficar na aacutegua sentar na bola Tambeacutem eacute questionado por elas o uso da ocitocina e

a falta de respeito a sua privacidade pelo fato de estarem presentes pessoas assistindo ao seu

parto sem preacutevio pedido de autorizaccedilatildeo o que denota desrespeito a sua autonomia no

processo

Eu gostaria de ser mais orientada Entatildeo quanto mais natural pudesse ser para mim melhor

escolher se quer tomar banho ou natildeo se quer ficar na aacutegua sentar na bola Sou contra a ocitocina E

me colocaram o soro com ocitocina e eu disse ldquomas para quecirc colocar se eu jaacute to quase ganhando Soacute

para me dar uma dor mais forte e realmente deurdquo(M1) Tinha uns 7 ou 8 alunos que estavam laacute e que queriam assistir um parto pessoas que eu

nunca tinha visto olhando o meu parto Eu acho que tudo foi muito forccedilado Os alunos assistiram ao

meu parto ningueacutem me perguntou se eu queria que assistisse (M3)

A mulher em trabalho de parto precisa de privacidade para se sentir mais segura

Poreacutem em muitos locais de atendimento puacuteblico isso natildeo eacute devidamente cuidado sendo

negligenciada a cultura do sujeito que envolve seus valores percepccedilotildees necessidades e

medos (ODENT 2003)

A postura do profissional em natildeo aceitar a opiniatildeo das usuaacuterias eacute denominada por

antropoacutelogos como ldquopensamento etnocecircntricordquo ou ldquosistema fechado de cogniccedilatildeordquo O

etnocentrismo eacute um sistema acentuado por rituais que os representam e os sustentam

(FLOYD 2009) Sabem os etnocentristas da existecircncia de outro saber e crenccedilas mas estatildeo

absolutamente seguros de que seu modo de pensar eacute melhor e por isso ignoram ideacuteias

contraacuterias agraves deles e consideram esses diferentes modos de pensar uma ameaccedila A

entrevistada destaca esta postura

Acho que os meacutedicos satildeo muito apressados Deveriam deixar mais a natureza agir por conta

o bebecirc se encaixar no lugar certo deixar a matildee de forma mais natural possiacutevel (M1)

57

Um princiacutepio baacutesico do modelo de atendimento tecnocraacutetico que vem ao encontro da

forma de pensar e agir do pensamento etnocecircntrico eacute a autoridade e responsabilidade do

profissional e das instituiccedilotildees de sauacutede sobre a pessoa Nesse contexto eacute mais confortaacutevel

para a usuaacuteria abdicar de sua preferecircncia pessoal em favor da opiniatildeo meacutedica (FLOYD

2004)

Esse fato foi constatado nas entrevistas que apontavam para a resistecircncia ao modelo

biomeacutedico poreacutem atraveacutes de uma percepccedilatildeo passiva da realidade como a sensaccedilatildeo meio

vaga de que alguma coisa estaacute errada e cuja mudanccedila natildeo estaacute ao seu alcance ou natildeo depende

apenas de sua vontade e accedilatildeo A mulher parece natildeo estar ciente da fragmentaccedilatildeo subliminar

da atenccedilatildeo ao parto hospitalar como se o ldquoeurdquo e o ldquoseu corpordquo fossem separados e que

nascimento fosse parte de uma produccedilatildeo A taacutetica mais eficiente descrita por Martin quando

utiliza a analogia entre operaacuterios e mulheres dando agrave luz eacute a mulher tornar-se patratildeo de si

mesmo isto eacute dando agrave luz em seu domicilio onde elas satildeo donas da faacutebrica e podem ter total

controle sobre o processo de produccedilatildeo e sobre seu corpo (MARTIN 2006)

Percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea

Buscaram-se juntamente agraves mulheres do estudo indicaccedilotildees e motivaccedilotildees de acordo

com seu entendimento para a realizaccedilatildeo de cesariana A seguir eacute apresentada a ausecircncia de

dilataccedilatildeo a presenccedila ou natildeo de contraccedilotildees e as cesaacutereas eletivas como indicativos para a

ocorrecircncia do procedimento ciruacutergico

Eu induzi porque natildeo tinha dilataccedilatildeo eu soacute tinha contraccedilatildeo Eu natildeo tinha nenhum outro

problema () fiquei frustrada Eu queria parto normal soacute natildeo tive porque meu parto foi induzido

(M2)

Porque natildeo tinha dor natildeo tinha dilataccedilatildeo e tava muito em cima (M5)

Se tivesse entrado em trabalho de parto tudo bem daiacute ia ficar pro parto como natildeo tinha foi

para cesaacuterea (M6)

Fizeram uma junta meacutedica laacute no hospital e os meacutedicos falaram com a minha matildee pois eu era

bdquode menor‟ ela autorizou para fazer uma cesaacuterea antecipada porque eu jaacute bdquotava‟ em trabalho de

parto soacute que eu natildeo tinha dilataccedilatildeo () (M8)

Um dos motivos alegados pela entrevistada M6 foi ter sido submetida a uma cesaacuterea

eletiva por natildeo ter entrado em trabalho de parto tendo tambeacutem a falta de informaccedilatildeo apontada

sobre outras formas de nascimento

58

O descontentamento por natildeo ter vivenciado o parto normal foi narrado com frustraccedilatildeo

pela entrevistada M2 A induccedilatildeo do parto e a presenccedila de contraccedilotildees apontadas por ela como

fatores indicativos para realizaccedilatildeo de cesaacuterea estatildeo associadas ao aumento da taxa de

nascimento preacute-termo e de baixo peso

Na maioria das sociedades atuais o meio cultural propagado pelos profissionais

meacutedicos interfere nos processos fisioloacutegicos do nascimento O motivo para o aumento dos

iacutendices de cesaacutereas eacute verdadeiramente devido a uma falha universal e quase cultural no

entendimento das necessidades baacutesicas das mulheres (ODENT 2004)

Nessa direccedilatildeo as consequecircncias de risco aumentam tanto para a parturiente quanto

para o feto A taxa de internaccedilatildeo em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em um estudo feito

na Austraacutelia com gestantes de baixo risco demonstra que as chances de internaccedilatildeo em

mulheres que fizeram cesaacuterea eletiva sem entrar em trabalho de parto aumentam em 154

em gestaccedilotildees de 37 semanas 121 em gestaccedilotildees de 38 semanas e 51 para as mulheres

com 39 semanas gestacionais (TRACY et al 2007)

Os prejuiacutezos aos receacutem nascidos prematuros natildeo se apresentam somente no momento

do nascimento satildeo mais duradouros acompanham-nos na vida futura provocando problemas

de sauacutede e colocando-os em desvantagem em relaccedilatildeo aos que nasceram de parto vaginal

(TOMASHEK et al 2007 SWANY et al 2008)

Ao final da gestaccedilatildeo a mulher pode apresentar algumas vezes contraccedilotildees

permanecendo entretanto descoordenadas sem a dilataccedilatildeo da ceacutervice uterina o que se

denomina ldquofalso trabalho de partordquo Essa situaccedilatildeo pode levar o profissional de sauacutede a realizar

uma admissatildeo precoce da gestante na maternidade e com isso realizar intervenccedilotildees

desnecessaacuterias como por exemplo uma induccedilatildeo do parto sem indicaccedilatildeo ou uma cesariana

(BRASIL 2001)

Os partos induzidos e outros fatores como monitoramento fetal contiacutenuo e uso

frequente de anestesias peridurais satildeo aspectos da industrializaccedilatildeo do parto que tem como

consequumlecircncia a falta de entendimento da sua fisiologia (ODENT 2004)

Em um estudo na Escoacutecia constatou-se que 20 das pueacuterperas que se submeteram agrave

cesariana natildeo receberam orientaccedilatildeo sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea e 16 tinham

somente uma ideacuteia parcial da indicaccedilatildeo A forma e o momento inadequado de informar sobre

a indicaccedilatildeo da cirurgia podem acentuar a dificuldade de as mulheres entenderem e

compreenderem essas informaccedilotildees (HILLAN 1992) como se pocircde perceber na fala das

entrevistadas

59

E da segunda gravidez daiacute foi direto o agendamento da cesaacuterea mas eu natildeo tive outras

informaccedilotildees de outras formas de nascer ou em domiciacutelio ou em banheira Natildeo nada disso (M6)

() aiacute eles anteciparam a cesaacuterea Depois eu descobri que foi porque o meu marido faleceu

(M8)

Outra pesquisa mostra que a justificativa dada por 61 mulheres para a realizaccedilatildeo da

cesariana foi discordante da indicaccedilatildeo meacutedica em 475 dos casos Tenciona-se o fato de que

ignorar a indicaccedilatildeo de cesaacuterea pela mulher pode dificultar a conduccedilatildeo para um parto normal

posterior e as complicaccedilotildees advindas (OLIVEIRA et al 2002)

Uma das maiores preocupaccedilotildees associadas agrave cesariana aleacutem dos vaacuterios problemas

inerentes a um procedimento ciruacutergico eacute o seu impacto e risco na sauacutede reprodutiva futura da

mulher como predisposiccedilatildeo a inserccedilatildeo anormal da placenta em futuras gestaccedilotildees (LEE

DALTON 2008)

O maior risco de ruptura uterina hemorragia poacutes-parto e remoccedilatildeo manual de placenta

tambeacutem eacute relacionado a mulheres que jaacute se submeteram a uma cesariana preacutevia (TAYLOR et

al 2005)

Segundo o relato das entrevistadas natildeo foram apresentadas indicaccedilotildees para a cesaacuterea

condizentes ao que as evidecircncias cientiacuteficas preconizam na literatura da aacuterea Outro fato

apontado atraveacutes na fala das entrevistadas foi o agendamento preacutevio da cirurgia no preacute-natal

ldquoA cirurgia estava agendada jaacute no preacute-natalrdquo (M4) ldquoEstava agendada a cesaacuterea no preacute-natalrdquo

(M6)

Os inuacutemeros efeitos prejudiciais tanto para a mulher quanto para o fetoneonato da

cesaacuterea sem indicaccedilotildees satildeo comprovados pelo conhecimento cientiacutefico atual A siacutendrome da

anguacutestia respiratoacuteria do receacutem-nascido desponta com uma das principais causas de morbi-

mortalidade perinatal (MADAR 1999)

As pacientes submetidas a cesarianas agendadas sem indicaccedilotildees apresentam

morbidade e mortalidade maior quando comparadas a pacientes que realizaram o parto normal

(HALL 1999 LILFORD et al 1990)

A respeito do motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea um estudo constatou que a maioria das

mulheres demonstra certa passividade frente ao meacutedico na decisatildeo pelo parto ciruacutergico

(FIGUEIREDO N et al 2010)

Essa conduta relaciona-se com os elevados iacutendices de cesaacutereas desnecessaacuterias no

Brasil Buscando reverter esse quadro a Associaccedilatildeo Meacutedica Brasileira (AMB) e o Conselho

Federal de Medicina (CFM) em iniciativa conjunta elaboraram um protocolo sobre o tema

indicaccedilotildees de cesaacutereas intitulado Projeto Diretrizes (PD) Satildeo objetivos desse trabalho

60

conciliar informaccedilotildees sobre o tema no sentido de estimular a praacutetica da medicina baseada em

evidecircncias analisar individualmente as indicaccedilotildees de cesariana com base nas evidecircncias

cientiacuteficas da literatura promover uma diminuiccedilatildeo das taxas de cesariana (PROJETO

DIRETRIZES 2002)

Os desvios eacuteticos decorrentes dessa conduta natildeo levam em consideraccedilatildeo a sauacutede das

mulheres Haacute a necessidade constante de atualizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais meacutedicos

e demais consequumlecircncias possiacuteveis dessa atitude (HADDAD et al 2011)

Nesse contexto destaca-se um estudo realizado com docentes do Departamento

Materno- Infantil do Hospital Universitaacuterio de Satildeo Joseacute do Rio Preto que constatou a

valorizaccedilatildeo da cesaacuterea em detrimento ao parto vaginal concorrendo para a disseminaccedilatildeo da

cultura subjacente agrave desmobilizaccedilatildeo dos alunos e profissionais meacutedicos para a realizaccedilatildeo do

parto normal (MORAES GOLDENGERG 2001)

61

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao tentar traduzir sob a forma de pesquisa a compreensatildeo de como a cultura influencia

no processo de parturiccedilatildeo da mulher finalizo este estudo com o vislumbre de que o objeto

escolhido foi pleno de possibilidades para entender e sobretudo para ampliar as propostas e a

pesquisa nessa aacuterea de estudos Encerro este trabalho com a certeza de que foi uma etapa

necessaacuteria em minha vida profissional e muito importante para o meu crescimento pessoal e

acadecircmico

Como mencionado anteriormente a inquietaccedilatildeo frente agrave fragilidade das parturientes ao

se submeterem sem questionamentos a todos procedimentos e intervenccedilotildees da equipe

obsteacutetrica apresentou-se como uma das justificativas da realizaccedilatildeo deste trabalho atraveacutes da

questatildeo norteadora ldquoqual a participaccedilatildeo da cultura nos saberes e as praacuteticas das mulheres em

relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeordquo

Esse estudo abriu espaccedilo para que mulheres falassem de um periacuteodo em suas vidas

extremamente iacutentimo e especial permitindo-lhes ampliar a visatildeo acerca dos determinantes

socioculturais envolvidos nesse momento O estudo foi realizado fora do periacuteodo graviacutedico

puerperal justamente para tentar captar delas o que realmente ficou de significativo dessa

fase sem interferecircncia ou expectativas de quem estaacute passando pelo turbilhatildeo de emoccedilotildees que

acompanham o processo da parturiccedilatildeo

O desenvolvimento desta pesquisa possibilitou perceber que o parto enquanto um dos

momentos da vida da mulher de grande importacircncia nem sempre eacute compreendido e entendido

dessa maneira por elas

Da mesma forma observou-se que a vivecircncia das mulheres em seu processo de

parturiccedilatildeo eacute percebida de modo diferente por cada uma algumas vezes de forma positiva e

outras de forma negativa A forma da mulher vivenciar esse processo depende de fatores

individuais e principalmente de representaccedilotildees culturais da realidade social a que ela

pertence

A abordagem negativa do estudo referida por algumas mulheres manifestou o

desconhecimento sobre a fisiologia do parto estando intrinsecamente relacionado ao modelo

fragmentado em partes do corpo perpetuado pelas praacuteticas da medicina cientiacutefica dominantes

na sociedade

62

As mulheres natildeo estatildeo conscientes dessas circunstacircncias e reproduzem essa forma de

fragmentaccedilatildeo de que o uacutetero eacute um muacutesculo involuntaacuterio e de que o parto eacute um processo ao

qual tecircm de se submeter causando uma sensaccedilatildeo muito marcante de fragmentaccedilatildeo e

objetificaccedilatildeo nas mulheres que sofreram uma cesaacuterea conforme constatado no estudo

Por outro lado a abordagem positiva apontada por elas dignifica a responsabilidade

por uma nova vida e a emoccedilatildeo do nascimento entendendo-o como uma oportunidade de

crescimento psicoloacutegico e de resgate espirituais

Na percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado haacute divergecircncias de opiniatildeo em

relaccedilatildeo ao tipo de parto vivenciado por cada uma As mulheres que desejaram e vivenciaram

o parto normal relatam o evento como parte de uma jornada interior e exterior que envolve

sentimentos iacutentimos uma experiecircncia fiacutesica profunda e intensa de algo que elas satildeo capazes

de realizar compreendendo que o significado de ser matildee eacute ter a capacidade de passar pela

experiecircncia do trabalho de parto e do parto natural

Em contrapartida o significado da vivecircncia das mulheres que natildeo desejaram ou

realizaram a cesaacuterea assemelha-se ao processo de produccedilatildeo industrializada em nossa

sociedade em que as atividades satildeo realizadas e determinadas inteiramente pela figura do

meacutedico e dos hospitais e natildeo por elas Percebeu-se que o papel principal do parto que seria

da parturiente foi assumido por essas figuras que estatildeo no controle pois as mulheres natildeo se

sentiam prontas ou capazes de tomaacute-lo para si

Identificou-se que a via de parto desejada pela maioria das entrevistadas foi o parto

normal mas as que natildeo conseguiram realizar esse desejo foi devido agrave influecircncia e agraves

intervenccedilotildees recebidas do meacutedico Os argumentos que influenciaram o desestiacutemulo da

realizaccedilatildeo do parto normal foram a necessidade de realizaccedilatildeo de laqueadura tubaacuteria e a falta

de informaccedilatildeo sobre meacutetodos natildeo farmacoloacutegicos e farmacoloacutegicos para o aliacutevio da dor

Cabe ressaltar que as mulheres que desejaram o parto normal e conseguiram parir por

esta via sentiram seguranccedila e confianccedila na experiecircncia do trabalho de parto natildeo sendo

identificando nenhum sinal perceptiacutevel em suas palavras relacionado agrave incapacidade de fazecirc-

lo podendo assim vivenciaacute-lo ativamente Outros aspectos importantes a serem ressaltados

foram a rapidez da recuperaccedilatildeo e a volta agraves atividades diaacuterias o desejo de serem acolhidas

pelos profissionais nas suas demandas e o direito agrave informaccedilatildeo clara e eacutetica

Sobre o poder de decisatildeo do meacutedico quanto ao tipo de parto constataram-se

divergecircncias de opiniatildeo As entrevistadas afirmaram que o meacutedico tem o poder de decisatildeo

sobre a escolha do tipo de parto poreacutem algumas natildeo estatildeo de acordo com esta conduta

63

defendendo que a decisatildeo deveria levar em conta a opiniatildeo da mulher uma vez que eacute ela que

estaacute sentindo e passando pelo processo

Conforme expressam as entrevistadas elas aceitaram essa atitude por parte dos

profissionais mas sentiram que algo em relaccedilatildeo a isso poderia ter sido mudado Elas

incentivam a mudanccedila das atitudes que colocam a mulher em posiccedilatildeo desprivilegiada no

parto

Outro aspecto destacado no estudo foi como se daacute a construccedilatildeo cultural do processo

parturitivo das mulheres Pocircde-se constatar que o significado positivo evidenciado pelas

mulheres do conviacutevio das entrevistadas principalmente pela figura materna proporcionou um

parto enriquecedor agraves entrevistadas e exerceu influecircncia na preferecircncia por parto normal

Outras no entanto descrevem que se atribuiu significado negativo pelas mulheres do

conviacutevio o que provocou medo ansiedade e inseguranccedila agraves entrevistadas durante a

experiecircncia do seu parto

Assim confirma-se que o parto natildeo pode ser entendido e reduzido somente ao aspecto

bioloacutegico pois a partir da transmissatildeo de conhecimentos interrelacionais constatados nesta

pesquisa pode-se compreender que a cultura influencia no processo de parturiccedilatildeo das

mulheres E haacute que se considerar essa influecircncia quando se presta cuidado agraves parturientes

O conteuacutedo de revistas da internet dos meios de comunicaccedilatildeo em geral aleacutem das

informaccedilotildees repassadas por vizinhos constituem outro fator de notaacutevel influecircncia nesse

construto imaginaacuterio As experiecircncias relatadas denotam que essas formas de construccedilotildees

culturais servem para expansatildeo do conhecimento sobre o assunto Isso deixa claro que as

mulheres muitas vezes estatildeo conscientes de sua falta de autonomia e buscam visotildees

alternativas sobre como o seu parto poderia acontecer

As visotildees alternativas citadas por elas foram o nascimento em casa de parto e no

domiciacutelio formas de assistecircncia consideradas na atualidade como humanizadas por ativistas

do parto normal de todo o mundo e pelas organizaccedilotildees governamentais e natildeo governamentais

que trabalham em prol da humanizaccedilatildeo do parto e nascimento tendo como objetivo devolver

agrave mulher o protagonismo na sua gestaccedilatildeo parto e poacutes-parto

No relato das mulheres eacute citada somente a figura meacutedica na consulta de preacute-natal e

elas falam que esse profissional natildeo forneceu efetivamente nenhuma informaccedilatildeo sobre parto

Tal postura silenciosa por parte desse profissional pode estar influenciando a faacutecil aceitaccedilatildeo

de uma cesaacuterea desnecessaacuteria fato esse comprovado pelo tipo de parto de maior incidecircncia

das mulheres deste estudo

64

As atividades desenvolvidas durante as consultas de preacute-natal foram accedilotildees de cunho

puramente bioloacutegico tecnicista e fragmentado como constatado na forma reduzida de

assistecircncia prestada que se limita agrave solicitaccedilatildeo de exames e agrave avaliaccedilatildeo obsteacutetrica de

batimentos cardiacuteacos fetais e altura uterina

As mulheres citam o atendimento da enfermeira na vivecircncia do parto bem como na

gestaccedilatildeo o que deflagra sua importacircncia nesse processo pois tal profissatildeo se constitui como

uma das maiores estrateacutegias que visa melhorar a assistecircncia obsteacutetrica no Brasil e exerce um

papel relevante no que tange agrave humanizaccedilatildeo durante o processo de nascimento Da mesma

forma a fisioterapia tambeacutem foi citada como ponto de incentivo agrave escolha do parto normal

O significado de parto celebrado por algumas mulheres do estudo abrange o

questionamento e a resistecircncia aos pressupostos culturais subjacentes ao modelo biomeacutedico

atual discordando de praacuteticas que vivenciaram no parto consideradas desrespeitosas Ponto

comum em suas falas foi a auto-percepccedilatildeo de resistecircncia agrave passividade imposta pela praacutetica

meacutedica

Foi demonstrado pelas mulheres claro desagrado por algumas praacuteticas que retiram da

mulher a sua autonomia no processo da parturiccedilatildeo tais como coibiccedilatildeo do acompanhante no

trabalho de parto e no parto invasatildeo de privacidade com a entrada de pessoas estranhas para

assistir ao parto sem licenccedila da parturiente e a falta de autonomia na escolha da via de parto

normal

A privaccedilatildeo dessa escolha acarretou a praacutetica de cesaacutereas desnecessaacuterias na maioria

das mulheres deste estudo Um dos principais motivos para a realizaccedilatildeo das cesaacutereas foi

apontado como a falta de dilataccedilatildeo das gestantes simplesmente pelo fato de natildeo estarem em

trabalho de parto quando admitidas na maternidade

Confesso que ao teacutermino deste trabalho muitos pressupostos que faziam parte dos

meus questionamentos foram esmaecidos pois esperava encontrar mulheres alienadas agrave

medicalizaccedilatildeo e agrave patologizaccedilatildeo do processo da parturiccedilatildeo e foi surpreendente o depoimento

de algumas das entrevistadas que demonstraram estar buscando novas formas de

conhecimento e de vivecircncia deste momento tatildeo especial em suas vidas natildeo obstante estarem

inseridas em um modelo tecnicista de assistecircncia

As entrevistadas questionam as praacuteticas como se apresentam atualmente e isso natildeo

significa que refutem os proveitos tecnoloacutegicos quando necessaacuterios mas defendem a

passagem a outro tipo de cultura em que possam exercer mais liberdade e ter participaccedilatildeo

ativa no processo da parturiccedilatildeo

65

Alguns significados atribuiacutedos pelas mulheres quanto agrave preferecircncia pela cesaacuterea e a

percepccedilatildeo de que o parto normal eacute muito mais arriscado explicitam resquiacutecios do discurso

meacutedico dominante Tambeacutem se revelou no estudo que as pacientes natildeo receberam

informaccedilotildees acerca dos riscos advindos deste procedimento ciruacutergico sem indicaccedilotildees

Portanto a ausecircncia de informaccedilatildeo sobre parto que deveria ser repassada pelo meacutedico foi

uma constataccedilatildeo neste estudo

O trabalho configurou-se um exerciacutecio instigante na medida em que o encadeamento

reflexivo da anaacutelise a partir das contribuiccedilotildees teoacutericas advindas dos estudos culturais de

gecircnero e corpo foi apontando que esse profissional de sauacutede produz significado no modo

como o parto eacute vivenciado pelas mulheres

Respondo ao final destas consideraccedilotildees ao questionamento inicial do estudo

constatando que a cultura participa dos saberes e das praacuteticas das mulheres em relaccedilatildeo ao

processo da parturiccedilatildeo Poreacutem algumas mulheres estatildeo buscando reinterpretar esta cultura

por meio de novas formas de vivenciar e de burlar o sistema de sauacutede obsteacutetrico vigente que

oprime tira-lhes o poder e impotildee silecircncio sob a eacutegide da proteccedilatildeo

As mulheres querem ser respeitadas ter direito agrave privacidade em seu parto ser ouvidas

e informadas com transparecircncia e eacutetica ter espaccedilo para expressar suas escolhas e agir

conforme suas necessidades poder gritar escandalizar caso desejem querem ainda ter

assistecircncia de boa qualidade sem julgamentos e livre de praacuteticas rotineiras que as instituiccedilotildees

obsteacutetricas impotildeem sem nenhum benefiacutecio para a matildee e o bebecirc

Se essa eacute a forma para encontrar significado ao desejo das mulheres ela difere e

muito da ldquopessimizaccedilatildeordquo do parto que alguns grupos de profissionais reproduzem em uma

cesaacuterea desnecessaacuteria ou em um parto normal medicalizado para finalizar um comeccedilo de vida

Cabe a noacutes profissionais de sauacutede mulheres homens sairmos dessa zona de conforto

que a sociedade atual nos enquadrou e comeccedilarmos a entender que a mudanccedila de paradigmas

de assistecircncia em todo o processo da parturiccedilatildeo estaacute associada a cidadatildeos e cidadatildes

conscientes e sujeitos da sua proacutepria histoacuteria

A enfermagem tem uma responsabilidade muito grande em todo esse processo e natildeo

pode eximir-se dela pois somos uma categoria profissional juntamente com a medicina que

tem o respaldo na lei do exerciacutecio profissional na assistecircncia agrave parturiente e ao parto normal

Os enfermeiros tecircm a formaccedilatildeo de natildeo intervir no processo da parturiccedilatildeo isto eacute de deixar a

fisiologia agir e eacute isto que temos que buscar a reconstruccedilatildeo dessa cultura sem intervenccedilotildees no

parto normal das mulheres

66

Precisamos fazer valer esse direito legal para que como profissionais do cuidado que

somos possamos proporcionar o cuidado de oferecer como um direito agrave mulher o

protagonismo no seu parto

O reconhecimento da mulher como protagonista do seu parto eacute elemento primordial

para os profissionais poderem compreender os temores as alegrias e os prazeres da gestaccedilatildeo e

do parto e assumirem uma nova postura de atenccedilatildeo Assim encerro destacando que os

muacuteltiplos aspectos que permeiam a vivecircncia das mulheres precisam ser observados quando se

presta assistecircncia durante o processo da parturiccedilatildeo

67

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA N A M A dor do parto normal na perspectiva e vivecircncia de um grupo de

mulheres usuaacuterias do Sistema Uacutenico de Sauacutede Tese de doutorado Programa de Poacutes

Graduaccedilatildeo em Ciecircncias da Sauacutede - Convecircnio Rede Centro Oeste (UNB UFG UFMS)

Goiacircnia 2009

ANS AGEcircNCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR (Brasil) O modelo de atenccedilatildeo

obsteacutetrica no setor de Sauacutede Suplementar no Brasil cenaacuterios e perspectivas Agecircncia

Nacional de Sauacutede Suplementar ndash Rio de Janeiro ANS 2008a Disponiacutevel em

lthttpwwwansgovbrportaluploadnoticiasclippinglivro_parto_webpdfgt Acesso em 11

ago 2011

ANS Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar (Brasil) Rol de Procedimentos e Eventos em

Sauacutede RN 16708 Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar - Rio de Janeiro ANS 2008b

ANS AGEcircNCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR (Brasil) Atualiza o Rol de

Procedimentos e Eventos em Sauacutede previstos na RN nordm 211 de 11 de janeiro de 2010

Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar ndash Rio de Janeiro ANS 2011 Disponiacutevel em

lthttpwwwansgovbrimagesstoriesnoticiaspdfrn20262pdfgt Acesso em 30 nov

2011

BALASKAS J Parto Ativo guia praacutetico para o parto natural Traduccedilatildeo Adailton Salvatore

Meira 2 ed Satildeo Paulo Ground 2008

BARAK E M ALAN R H e NILS J B Should Neonates Sleep Alone Society of

Biological Psychiatry Revista Biological Psychiatry 2011

BARROS et al The challenge of reducing neonatal mortality in middle-income countries

findings from three Brazilian birth cohorts in 1982 1993 and 2004 Lancet v365 n9462

Mar 5-11 p847-54 2005

BARDIN L Anaacutelise de conteuacutedo 7 ed Portugal Ediccedilotildees 1977

BERGER P LUCKMANN T A Construccedilatildeo Social da Realidade Traduccedilatildeo de Floriano

de Souza Fernandes 3 ed Petroacutepolis Vozes 1976

68

BEZERRA M G A CARDOSO M V L M Fatores interferentes no comportamento de

parturientes enfoque na Etnoenfermagem Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v

58 n6 p698-702 novdez 2005

BEZERRA M G A CARDOSO M V L M Fatores culturais que interferem nas

experiecircncias das mulheres durante o trabalho de parto e parto Revista Latino-americana

Enfermagem maiojun 14(3)414-21 2006

BUSANELLO J COSTA K P PINHO E Humanizaccedilatildeo do Parto e do Nascimento os

desafios para a implementaccedilatildeo do programa do Ministeacuterio da Sauacutede CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 61 7 a 10 dez Fortaleza Cearaacute 2009

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Programa de Assistecircncia Integral agrave Sauacutede da Mulher bases

de accedilatildeo programaacutetica Brasiacutelia DF 1984

_____ Lei nordm 749886 Dispotildee sobre a regulamentaccedilatildeo do exerciacutecio da Enfermagem e daacute

outras providecircncias Disponiacutevel em

lthttpwwwabennacionalorgbrdownloadLeiPROFISSIONALpdf gt Acesso em 29 nov

2011

_____ Decreto n 9440687 Regulamenta a Lei nordm 7498 de 25 de junho de 1986 Dispotildee

sobre o exerciacutecio da enfermagem e da outras providecircncias Disponiacutevel em

lthttpportalcofengovbrsitenovonode4173gt Acesso em 29 nov 2011

_____ Presidecircncia da Repuacuteblica Lei nordm 11108 Altera a Lei no 8080 de 19 de setembro de

1990 para garantir agraves parturientes o direito agrave presenccedila de acompanhante durante o trabalho de

parto parto e poacutes-parto imediato no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS 2005b

Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-

20062005LeiL11108htmlgt Acesso em 25 nov 2011

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Resoluccedilatildeo nordm 196 sobre pesquisas envolvendo seres

humanos Brasiacutelia DF 1996

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 2815 de 29 de maio de 1998 - Institui o

procedimento do parto normal realizado por enfermeiro obstetra no Sistema Uacutenico de

Sauacutede Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF

seccedilatildeo 1 p47-8 1998b

69

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 2883 de 04 de junho de 1998 - Institui o Precircmio

Nacional Profordf Galba de Arauacutejo Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder

Executivo Brasiacutelia DF seccedilatildeo 1 p 24 de 0506 de 1998a Disponiacutevel em

lthttpdtr2001saudegovbrsasportariasport98GMGM-2883htmlgt Acesso em 29 nov

2011

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria nordm 985 GM Institui as Casas de Parto ou Centro de

Parto Normal no Sistema Uacutenico de Sauacutede Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do

Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 05 ago 1999

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 466 de 14 de junho de 2000 - Estabelecer como

competecircncia dos estados e do Distrito Federal a definiccedilatildeo de limite por hospital de

percentual maacuteximo de cesarianas em relaccedilatildeo ao nuacutemero total de partos realizados e

ainda a definiccedilatildeo de outras estrateacutegias para a obtenccedilatildeo de reduccedilatildeo destes procedimentos

no acircmbito do estado Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil 115-E Poder

Executivo Brasiacutelia DF 2000a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 569 570 571 572 GM Estabelece o Programa de

Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e do Nascimento Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do

Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 01 jun 2000b

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Parto Aborto e Puerpeacuterio Assistecircncia Humanizada agrave

Mulher Ministeacuterio da SauacutedeFEBRASGOABENFO Brasiacutelia DF 2001

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Assistecircncia em Planejamento familiar Manual Teacutecnico-4 ed

Brasiacutelia 2002

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo integral agrave sauacutede da mulher

princiacutepios e diretrizes Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees Programaacuteticas

Estrateacutegicas Brasiacutelia Editora do Ministeacuterio da Sauacutede 2004

_____ Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Conselho Nacional dos Direitos da

Mulher I Plano Nacional de Poliacuteticas Puacuteblicas para as Mulheres Brasiacutelia 2005a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Nuacutecleo Teacutecnico da Poliacutetica

Nacional de Humanizaccedilatildeo Humaniza SUS documento base para gestores e trabalhadores do

SUS Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Nuacutecleo Teacutecnico da Poliacutetica

Nacional de Humanizaccedilatildeo 3 ed Brasiacutelia Editora do Ministeacuterio da Sauacutede 2006a

70

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Preacute-natal e puerpeacuterio atenccedilatildeo qualificada e humanizada

Brasiacutelia DF 2006b

_____ Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Conselho Nacional dos Direitos da

Mulher II Plano Nacional de Poliacuteticas Puacuteblicas para as Mulheres Brasiacutelia 2008a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA) Resoluccedilatildeo

RDC nordm 36 de 03 de junho dispotildeem sobre Regulamento Teacutecnico para Funcionamento dos

Serviccedilos de Atenccedilatildeo Obsteacutetrica e Neonatal - Brasiacutelia - DF 2008b

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Instrutivo dos indicadores para a pactuaccedilatildeo unificada 2008

Brasiacutelia 2008c

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da

Mulher ndash PNDS 2006 dimensotildees do processo reprodutivo e da sauacutede da crianccedila Ministeacuterio

da Sauacutede Centro Brasileiro de Anaacutelise e Planejamento Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2009

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Estatiacutesticas de partos no Brasil Brasiacutelia DF 2010

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Aleacutem da sobrevivecircncia praacuteticas integradas de atenccedilatildeo ao

parto beneacuteficas para a nutriccedilatildeo e a sauacutede de matildees e crianccedilas Ministeacuterio da Sauacutede

Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Aacuterea Teacutecnica de Sauacutede da Crianccedila e Aleitamento Materno ndash

Brasiacutelia DF 2011

BUDOacute M L D et al A cultura permeando os sentimentos e as reaccedilotildees frente agrave dor Revista

da Escola de Enfermagem da USP Satildeo Paulo v41 n1 p 36-43 2007

BUSANELLO J COSTA K P PINHO E Humanizaccedilatildeo do Parto e do Nascimento os

desafios para a implementaccedilatildeo do programa do Ministeacuterio da Sauacutede CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 61 - 7 a 10 dez Fortaleza Cearaacute 2009

CERVO A BREVIAN P A A Metodologia Cientiacutefica Satildeo Paulo Mc Graw-Hill 1983

CHRISTOFFEL M M SANTOS R S Navegando no mar da neonatologia um mergulho

no mundo imaginal do receacutem-nascido da UTIN Rio de Janeiro Ed EEAN 2003

COLLACcedilO V S Parto vertical vivecircncia do casal na dimensatildeo cultural do processo de

parir Florianoacutepolis Cidade Futura 2002

71

DECLERCQ E MENACKER F MACDORMAN M Rise in no indicated risk primary

caesareans in the United States 1991-2001 cross sectional analysis BMJ v330 n7482 Jan

8 p71-2 2005

DIAS M A et al Trajetoacuteria das mulheres na definiccedilatildeo pelo parto cesaacutereo estudo de caso em

duas unidades do sistema de sauacutede suplementar do estado do Rio de Janeiro Ciecircncia e Sauacutede

Coletiva 13(5) 1521-1534 setout 2008

DINIZ C S G Direitos humanos das mulheres na gravidez e no parto Projeto Gecircnero

Violecircncia e Direitos Humanos - Novas Questotildees para o Campo da Sauacutede Coletivo Feminista

Sexualidade e Sauacutede Departamento de Medicina Preventiva Faculdade de Medicina USP 2

ed 2003

_____ Entre a teacutecnica e os direitos humanos possibilidades e limites da humanizaccedilatildeo da

assistecircncia ao parto Tese (Doutorado) Satildeo Paulo (SP) Faculdade de MedicinaUSP 2001

DOU DIAacuteRIO OFICIAL DA UNIAtildeO Seccedilatildeo 1 nordm 147 2 de agosto de 2011 p 34 Agecircncia

Nacional de Sauacutede Suplementar- ANS Resoluccedilatildeo normativa nordm 262 de 1ordm agosto de 2011

Disponiacutevel em

lthttpwwwingovbrimprensavisualizaindexjspjornal=1amppagina=34ampdata=02082011gt

Acesso em 02 ago 2011

ELSEN I SOUZA A I J MARCON SS Enfermagem agrave Famiacutelia dimensotildees e

perspectivas Maringaacute p 257-267 Eduem 2011

FAUacuteNDES A CECATTI J G A operaccedilatildeo cesaacuterea no Brasil Incidecircncia tendecircncias

causas consequecircncias e propostas de accedilatildeo Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro v7

n2 p150-173 jun 1991

FIGUEREDO L G M Consequecircncias causadas pela aplicaccedilatildeo de ocitocina na induccedilatildeo de

partos Superartigos (online) 2010 Disponiacutevel em httpwwwartigosetcbrconsequencias-

causadas-pela-aplicacao-de-ocitocina-na-inducao-de-partoshtml Acesso em 15 nov 2011

FIGUEREDO N S V et al Fatores culturais determinantes da escolha da via de parto por

gestantes HU Revista Juiz de Fora v 36 n 4 p 296-306 outdez 2010

FLOYD D R The technological model of birth J Am Folklore 100 p 479-495 1987

FLOYD D R JOHN St G Del medico al sanador Traduccedilatildeo de Lauren Showe e

colaboradores Buenos Aires Fund Creavida 2004

72

FLOYD D R Perspectivas antropoloacutegicas del parto y el nacimento Traduccedilatildeo de Jaqui

Zieler Magui Cadot e Graciela Cobe Buenos Aires Fund Creavida 2009

FOUCAULT M Microfiacutesica do Poder Traduccedilatildeo de Roberto Machado 10 ed Rio de

Janeiro Graal 1992

FREITAS P F et al Desigualdade social nas taxas de cesariana em primiacuteparas no Rio

Grande do Sul Revista de Sauacutede Puacuteblica 39 p 761-7 2005

GAIVA M A M TAVARES C M O Nascimento um evento pertencente agrave equipe de

sauacutede Texto amp Contexto Enfermagem outdez 12(4)569-75 2003

GAMA A S et al Representaccedilotildees e experiecircncias das mulheres sobre a assistecircncia ao parto

vaginal e cesaacuterea em maternidades puacuteblica e privada Cadernos de Sauacutede Puacuteblica

25(11)2480-2488 nov 2009

GAMBLE et al A critique of the literature on womens request for cesarean section Birth

v34 n4 Dec p331-40 2007

GEERTZ C A Interpretaccedilatildeo das Culturas Rio de Janeiro (RJ) Livros Teacutecnicos e

Cientiacuteficos 1989

GIL A C Como elaborar projetos de pesquisa 4 ed 9 reimpr Satildeo Paulo Atlas 2007

GUALDA DMR BERGAMASCO RB Enfermagem cultura e o processo sauacutede-

doenccedila Satildeo Paulo Iacutecone p221- 240 2004

HADDAD S El M T CECATTI J G Estrateacutegias dirigidas aos profissionais para a

reduccedilatildeo das cesaacutereas desnecessaacuterias no Brasil Revista Brasileira Ginecologia Obstetriacutecia

33(5) 252-62 2011

HALL M H BEWLEY S Maternal mortalityand mode of delivery Lancet 354776

1999

HELMAN G C Cultura Sauacutede e Doenccedila Traduccedilatildeo Ane Rose Bolner 5 ed Porto Alegre

Artes Meacutedicas 2009

73

HILLAN M Short-Term Morbidity Associated with Cesarean Delivery Birth v 19 Issue 4

pages 190ndash194 Dec 1992

HOPKINS K Are Brazilian Women Really Choosing to Delivery by Cesarean Soc Sci

Med 51(5)725-40 2000

HOTIMSKY SN et al O parto como eu vejo ou como eu o desejo Expectativas de

gestantes usuaacuterias do SUS acerca do parto e da assistecircncia obsteacutetrica Cadernos de sauacutede

puacuteblica setout 18(5)1303-1311 2002

IBGE Instituto Brasileiro Geografia e estatiacutesticas Cadernos de Informaccedilatildeo de Sauacutede

Ministeacuterio da Sauacutede 2009

IPEA Objetivos de desenvolvimento do milecircnio relatoacuterio nacional de acompanhamento

coordenaccedilatildeo Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada e Secretaria de Planejamento e

Investimentos Estrateacutegicos supervisatildeo Grupo Teacutecnico para o acompanhamento dos ODM

Brasiacutelia Ipea MP SPI 2007

JONES R Memoacuterias do homem de vidro reminiscecircncias de um obstetra humanista Porto

Alegre Ideacuteias a Granel 2004

PRADO JUNIOR P P Da concepccedilatildeo ao nascimento Praacuteticas Educativas na assistecircncia agrave

mulher no periacuteodo graviacutedico e puerperal Dissertaccedilatildeo de Mestrado Centro Universitaacuterio

Pliacuteneo Leite - Unipli Niteroacutei 2008

KRUNO R B BONILHA A L L Parto domiciliar na voz das mulheres uma perspectiva agrave

luz da humanizaccedilatildeo Rev Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) dez25(3)396-407 2004

LANDERDAHL M C et al Contribuiccedilotildees de um nuacutecleo de estudos na consolidaccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas para as mulheres REUFSM Revista de Enfermagem da UFSM - janabr

1(1)71-79 2011

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro (RJ) Jorge Zahar p 21-

40 2003

LEE Y Mi DALTON M E Cesarean delivery on maternal request the impact on mother

and newborn Clinics in Perinatology v35 n3 Sept p505-18 x 2008

74

LEININGER M Culture care diversity amp universality a theory of nursing New York

(US) National League for Nursing Press 1991

LEITAtildeO F J C Autonomia da mulher em trabalho de parto (Dissertaccedilatildeo) Mestrado em

Bioeacutetica Universidade de Lisboa Faculdade de medicina Departamento de Bioeacutetica 2010

LILFORD R J et al The relative risks of caesarean section (intrapartum and elective) and

vaginal delivery a detailed analysis to exclude the effects of medical disorders and other

acute pre-existing physiological disturbances Br J Obstet Gynaecol 97883-92 1990

MACDORMAN et al Infant and neonatal mortality for primary cesarean and vaginal births

to women with no indicated risk United States 1998-2001 birth cohorts Birth v33 n3

Sept p175-82 2006

MACHADO E G C Gestaccedilatildeo parto e maternidade uma visatildeo holiacutestica Belo Horizonte

Editora Aurora 1995

MADAR J RICHMOND S HEY E Surfactantdeficient respiratory distress after elective

delivery at bdquoterm‟ Acta Paediatr v 88 p 1244-8 1999

MANDARINO N R et al Aspectos relacionados agrave escolha do tipo de parto um estudo

comparativo entre uma maternidade puacuteblica e outra privada em Satildeo Luiacutes Maranhatildeo Brasil

Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 25(7) p 1587-1596 jul 2009

MARTIN E A mulher no corpo - uma anaacutelise cultural da reproduccedilatildeo Traduccedilatildeo Juacutelio

Bandeira Rio de Janeiro Garamond 2006

MARTINS C S RAMOS J G L A questatildeo das cesarianas Rev Brasileira Ginecologia

Obstetriacutecia v27 nordm 10 Rio de Janeiro 2005

MCCOURT et al Elective cesarean section and decision making a critical review of the

literature Birth v34 n1 mar p65-79 2007

MEDEIROS R M K SANTOS IMM SILVA L R A escolha pelo parto domiciliar

histoacuteria de vida de mulheres que vivenciaram esta experiecircncia Esc Anna Nery Rev

Enfermagem dez 12(4) 765-72 2008

MELCHIORI et al Preferecircncia de gestantes pelo parto normal ou cesariano Interaccedilatildeo

psicologia 13(1)13-23 janjun 2009

75

MINAYO M C de S (org) Pesquisa Social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis

Vozes 2000

_____ O Desafio do Conhecimento pesquisa qualitativa em sauacutede 8 ed Satildeo Paulo Ed

Hucitec-Abrasco 2004

_____ O Desafio do Conhecimento pesquisa qualitativa em sauacutede 11 ed Satildeo Paulo Ed

Hucitec-Abrasco 2008

MONTICELLI M O nascimento como rito de passagem uma abordagem cultural para o

cuidado de enfermagem agraves mulheres e receacutem-nascidos (Dissertaccedilatildeo) Mestrado em

Enfermagem UFSC Florianoacutepolis 1994

MONDARDO S Proposta de reestruturaccedilatildeo dos serviccedilos da Unidade de Atenccedilatildeo agrave

Sauacutede da Vila Kennedy Santa MariaRS UFSM Santa Maria 1993

MORAES M S GOLDENBERG P Cesaacutereas um perfil epidecircmico Cad Sauacutede Puacuteblica

Rio de Janeiro 17 (3)509-519 maiojun 2001

MORELL M G G MELLO A V A Declaraccedilatildeo de Nascido Vivo no Estado de Satildeo

Paulo alguns resultados Informe Demograacutefico SEADE 29201-331 1995

MURTA et al Could elective cesarean sections influence the birth weight of full-term

infants Satildeo Paulo Medical Journal v124 p313-315 2006

ODENT M A Cesariana Traduccedilatildeo de Maria de Faacutetima de Madureira Florianoacutepolis Saint

Germain 2004

_____ A cientificaccedilatildeo do Amor Traduccedilatildeo de Marcos de Noronha e Talia Gevaerd de Souza

Florianoacutepolis Saint Germain 2000

ODENT M O camponecircs e a parteira Uma alternativa agrave industrializaccedilatildeo da agricultura e do

parto Traduccedilatildeo de Sarah Bailey Satildeo Paulo Ground 2003

OLIVEIRA et al Tipo de parto expectativas das mulheres Revista Latino-Americana de

Enfermagem v10 n 5 p 667-674 setout 2002

76

ORGANIZACAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE (OMS) Maternidade Segura - assistecircncia ao

parto normal 2009 Disponiacutevel em

lthttpabenforedesindicalcombrarqsmateria56_apdfgt Acesso em 06 dez 2010

_____ Sauacutede Materna e Neonatal Unidade de Maternidade Segura Sauacutede Reprodutiva e da

Famiacutelia Assistecircncia ao parto normal Um guia praacutetico de sauacutede materna e neonatal

Unidade de Maternidade Segura Sauacutede Reprodutiva e da Famiacutelia Genebra A Sauacutede 1996

OPAS III Reunioacuten Especial de Ministros de Salud de las Ameacutericas Atas resumidas

Santiago de Chile 2ordf 9 de octubre de 1972 Doc Oficial nordm 123 sept 1973

PELLOSO S M PANONT K T SOUZA K M P Opccedilatildeo ou imposiccedilatildeo Motivos de

escolha da cesaacuterea Arq Ciecircnc Sauacutede UNIPAR 4(1) 3-8 2000

PEREIRA W R Poder Violecircncia e Dominaccedilatildeo Simboacutelicos nos Serviccedilos de Sauacutede

Ribeiratildeo Preto 175p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem de Ribeiratildeo Preto

Universidade de Satildeo Paulo 2000

PEREIRA R R FRANCO S C BALDIN N Representaccedilotildees sociais e decisotildees das

gestantes sobre a parturiccedilatildeo protagonismo das mulheres Sauacutede sociedade v20 n3 Satildeo

Paulo julysept 2011

PETER A P C O Cuidado Cultural no Processo de Ser e Viver da Mulher Receacutem-

Nascido e Famiacutelia que Vivenciam o Parto no Domiciacutelio e no Hospital com Ecircnfase no

Contexto Domiciliar abrindo novos caminhos para a enfermagem (Trabalho de Conclusatildeo

de Curso) Graduaccedilatildeo em Enfermagem ndash Universidade Federal de Santa Catarina

Florianoacutepolis 2005

POTTER J E et al Unwanted caesarean sections among public and private patients in

Brazil prospective study BMJ 323 1155-8 2001

_____ Womens autonomy and scheduled cesarean sections in Brazil a cautionary tale

Birth 35 33-40 2008

PROGIANTI JM BARREIRA I A A obstetriacutecia do saber feminino agrave medicalizaccedilatildeo da

eacutepoca medieval ao seacuteculo XX 9 91-7 Revista Enfermagem UERJ 2001

PROJETO DIRETRIZES Associaccedilatildeo Meacutedica Brasileira e Conselho Federal de Medicina

Cesarianas indicaccedilotildees 2002

77

RAMOS J G L et al Morte materna em hospital terciaacuterio do Rio Grande do Sul um estudo

de 20 anos Rev Bras Ginecol Obstet 25 (6) 431-6 2003

REBELO F et al High cesarean prevalence in a national population-based study in Brazil

the role of private practice Acta Obstet Gynecol Scand 89 903-8 2010

RESSEL L B Vivenciando a sexualidade na assistecircncia de enfermagem Um estudo na

perspectiva cultural Escola de Enfermagem Universidade de Satildeo Paulo 2003

RESSEL L B et al A influecircncia da famiacutelia na vivecircncia da sexualidade Revista Esc Anna

Nery (impr) abrjun 15 (2)245-250 2011

REZENDE J MONTENEGRO B AC Obstetricia Fundamental 9 ed Rio de Janeiro

Guanabara Koogan 2003

ROSS L L BONILHA A L de L ARMELLINI C J et al Representaccedilotildees culturais

sobre parto e nascimento SEMANA CIENTIacuteFICA DO HOSPITAL DE CLIacuteNICAS DE

PORTO ALEGRE 26 Revista do HCPA 26 (Supl 1) 1-267 2006

SABATINO H Resposta ao polecircmico artigo Cesariana a polecircmica das taxas escrito por

Raphael da Cacircmara Medeiros Parente (Meacutedico do Ministeacuterio da Sauacutede - HSE Doutor em

Ginecologia - UNIFESP Mestre em Epidemiologia - UERJ) e publicado no Jornal do

CREMERJ ndash p 8 e 9 maio de 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwamigasdopartoorgbr2007indexphpoption=com_contentamptask=viewampid=891

ampItemid=204gt Acesso em 06 dez 2010

SANTOS M L Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia ao Parto e Nascimento um modelo teoacuterico

(Dissertaccedilatildeo) Mestrado em Enfermagem Universidade Federal de Santa Catarina

Florianoacutepolis 2002

SCAVONE L Impacto das Tecnologias Meacutedicas na Famiacutelia Sauacutede em Debate nordm40

p48-73 set 1993

SEIBERT S L BARBOSA J L S SANTOS J M VARGENS O M C

Medicalizaccedilatildeo x humanizaccedilatildeo o cuidado ao parto na histoacuteria Revista de Enfermagem

UERJ 13245-51 2005

SILVA L R A Experiecircncia na Casa de Parto Mohri-Japatildeo Revista de pesquisa Cuidado eacute

fundamental online setdez 1 (2) 288-298 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwseeruniriobrindexphpcuidadofundamentalarticleview359367gt Acesso em

13 out2011

78

SWAMY et al Association of preterm birth with long-term survival reproduction and next-

generation preterm birth JAMA v299 n12 Mar 26 p1429-36 2008

TAYLOR et al Risk of complications in a second pregnancy following caesarean section in

the first pregnancy a population-based study Medical Journal of Australia v183 n10

Nov 21 p515-9 2005

TEDESCO P R et al Fatores Determinantes para as Expectativas de Primigestas acerca da

Via de Parto Rev Bras Ginecol Obstet v26 n10 Rio de Janeiro novdez 2004

TEIXEIRA Z N F PEREIRA R W Parto Hospitalar - experiecircncias de mulheres da

periferia de Cuiabaacute - MT Cad Sauacutede Puacuteblica v25 n 11 Rio de Janeiro 2006

TELINI D M T Z Cesaacutereas e partos normais em gestantes com baixo risco obsteacutetrico

caracteriacutesticas maternas e repercussotildees neonatais (Tese) Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas

Campinas Universidade Estadual de Campinas 2000

THE LANCET Sauacutede dos Brasileiros 2011 Disponiacutevel em

lthttpwwwabcorgbrIMGpdfdoc-574pdf gt Acesso em 28 out 2011

TOMASHEK et al Differences in mortality between late-preterm and term singleton infants

in the United States 1995-2002 Journal of Pediatrics v151 n5 nov p450-6 456 2007

TRACY S K et al Admission of term infants to neonatal intensive care a population-based

study Birth v34 n4 dec p301-7 2007

TYRREL M A R CARVALHO V Programas nacionais de sauacutede-materno infantil

impacto poliacutetico social e inserccedilatildeo da enfermagem RJ EEANUFRJ 1995

VARGENS O M C PROGIANTI J M O Processo de Desmedicalizaccedilatildeo da Assistecircncia agrave

Mulher no Ensino de Enfermagem Rev Enferm USP 38 46-50 2004

VIacuteCTORA C G KNAUTH D R HASSEN M N A Pesquisa qualitativa em sauacutede

uma introduccedilatildeo ao tema Porto Alegre Tomo Editorial 2000

VIEIRA E M A Medicalizaccedilatildeo do Corpo Feminino Rio de Janeiro RJ Ed Fiocruz

2002

VIGILAcircNCIA EPIDEMIOLOacuteGICA Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria (SMS)

Dados Epidemioloacutegicos do Nuacutemero de Partos no Municiacutepio de Santa Maria - RS 2011

79

VILLAR J et al Caesarean delivery rates and pregnancy outcomes the 2005 WHO global

survey on maternal and Perinatal health in Latin America Lancet 367(9525)1819-29 2006

_____ Maternal and neonatal individual risks and benefits associated with caesarean

delivery multicentre prospective study BMJ v335 n7628 Nov 17 p1025 2007

80

ANEXOS

81

Anexo A - Aprovaccedilatildeo Comitecirc de Egravetica e Pesquisa

82

Anexo B - Autorizaccedilatildeo Emenda do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

83

84

APEcircNDICES

85

Apecircndice A - Ofiacutecio agrave Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria

Da Enfermeira Lizandra Flores Pimenta

Para Secretario Municipal de Sauacutede

Assunto Solicitaccedilatildeo (faz)

Santa Maria janeiro de 2011

Sr Secretaacuterio

Venho por meio deste solicitar a permissatildeo de V Srordf para desenvolver a pesquisa

intitulada A influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a

enfermagem junto as mulheres que satildeo atendidas na Unidade Baacutesica (UBS) de Sauacutede

Kennedy

Cumpre-se informar que esta pesquisa eacute resultado da experiecircncia na aacuterea obsteacutetrica

que me fez perceber a necessidade de compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher sobre a via de parto a partir das concepccedilotildees modernas sobre natureza e

cultura atribuiacutedos a percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto Como esclarecimento cabe

ressaltar que conforme a metodologia que pretendemos desenvolver os sujeitos da pesquisa

seratildeo consultados e esclarecidos acerca dos objetivos nos comprometendo a respeitar os

preceitos da Resoluccedilatildeo nordm19696 quanto agrave pesquisa envolvendo seres humanos

Colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios

Desde jaacute agradecemos

Atenciosamente

________________________ _______________________________

Enfordf Lizandra Flores Pimenta Profordf Enfordf Drordf Lucia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI ndash 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

86

Apecircndice B - Ofiacutecio ao Departamento de Ensino e Pesquisa do HUSM

Da Enfa Lizandra Flores Pimenta

Para Departamento de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitaacuterio de Santa Maria

Assunto Solicitaccedilatildeo (faz)

Santa Maria maio de 2011

Senhor Diretora

Venho por meio deste solicitar a permissatildeo de VS para desenvolver a pesquisa

intitulada ldquoA influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a

enfermagemrdquo junto agraves mulheres que estatildeo no momento da entrevista nos serviccedilos de

ginecologia e obstetriacutecia do HUSM quais sejam Centro Obsteacutetrico Unidade Toco-

ginecoloacutegica e Ambulatoacuterio ala II

Cumpre-se informar que esta pesquisa eacute resultado da experiecircncia na aacuterea obsteacutetrica

que me fez perceber a necessidade de compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher sobre a via de parto a partir das concepccedilotildees modernas sobre natureza e

cultura atribuiacutedas agrave percepccedilatildeo das mulheres em relaccedilatildeo ao parto Como esclarecimento cabe

ressaltar que conforme a metodologia que pretendo desenvolver os sujeitos da pesquisa seratildeo

consultados e esclarecidos acerca dos objetivos sendo que me comprometo a respeitar os

preceitos da Resoluccedilatildeo nordm 19696 quanto agrave pesquisa envolvendo seres humanos

Sem mais agradeccedilo a atenccedilatildeo dispensada colocando-me agrave disposiccedilatildeo para os

esclarecimentos que forem necessaacuterios

Atenciosamente

________________________ _______________________________

Enfordf Lizandra Flores Pimenta Profa Enfa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI - 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

87

Apecircndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ENFERMAGEM

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Pesquisadoras responsaacuteveis Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

Enfa Mestranda Lizandra Flores Pimenta

InstituiccedilatildeoDepartamento Universidade Federal de Santa Maria - Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Enfermagem

Telefones para contato (55) 91376501

(55) 91429743

Locais da coleta de dados Unidade sanitaacuteria Kennedy e Hospital Universitaacuterio de Santa

Maria

Vocecirc estaacute sendo convidada para participar da pesquisa intitulada ldquoA influecircncia da

cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a enfermagemrdquo de autoria de

Lizandra Flores Pimenta mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Enfermagem da

UFSM sob a orientaccedilatildeo da Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel que tem por objetivo

compreender como a cultura influencia no parto da mulher

Mas antes de concordar em participar desta pesquisa eacute importante que vocecirc

compreenda todas as informaccedilotildees as quais dizem respeito a sua participaccedilatildeo nesta pesquisa

Sua participaccedilatildeo consistiraacute em responder agraves perguntas feitas por mim pesquisadora durante a

entrevista a qual teraacute como auxiacutelio um gravador de voz Apoacutes as suas informaccedilotildees gravadas

seratildeo transcritas por mim de maneira a resguardar a veracidade dos dados Posteriormente

essas informaccedilotildees seratildeo organizadas analisadas divulgadas e publicadas em revistas

cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede sendo a sua identidade preservada em todas as etapas

Eacute importante que vocecirc compreenda que eacute assegurado o anonimato e o caraacuteter privativo

das informaccedilotildees fornecidas exclusivamente para a pesquisa Vocecirc natildeo seraacute identificada em

nenhum momento mesmo quando os resultados desta pesquisa forem divulgados sob

qualquer forma pois seraacute adotada a letra bdquoM‟ (M1 M2 M3) inicial da palavra mulher para

esta finalidade Tambeacutem as informaccedilotildees seratildeo mantidas em um CD no armaacuterio da professora

88

pesquisadora no Departamento de EnfermagemUFSM por cinco anos Apoacutes este periacuteodo os

dados seratildeo destruiacutedos Os dados coletados depois de organizados e analisados deveratildeo ser

divulgados e publicados ficando a pesquisadora juntamente com a professora responsaacutevel por

apresentar o relatoacuterio da pesquisa para a instituiccedilatildeo na qual seraacute realizado este estudo

Comunico que a sua participaccedilatildeo na entrevista natildeo representaraacute a princiacutepio risco agraves

suas dimensotildees fiacutesica moral intelectual social cultural ou espiritual em qualquer fase da

pesquisa No entanto poderaacute gerar algum desconforto como lembranccedilas questionamentos

eou conflitos agrave dimensatildeo emocional pelo fato da pesquisadora realizar uma entrevista na qual

vocecirc iraacute refletir sobre o seu cotidiano e suas vivecircncias Contudo poderaacute haver um benefiacutecio

no que se refere agrave melhor qualidade das praacuteticas no cuidar em enfermagem Se houver

qualquer desconforto a entrevista poderaacute ser suspensa e se vocecirc achar necessaacuterio poderei

fazer um encaminhamento a um especialista da aacuterea da sauacutede mental

Ciente e de acordo com o que foi anteriormente exposto eu __________________

estou de acordo em participar desta pesquisa assinando este Consentimento em duas vias

ficando com a posse de uma delas

_________________________________

Assinatura do sujeito de pesquisa

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntaacuteria o Consentimento Livre e

Esclarecido deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a participaccedilatildeo neste estudo

dede2011

__________________________________

Assinatura da pesquisadora

RG 3046400473

Se vocecirc tiver alguma consideraccedilatildeo ou duacutevida sobre a eacutetica da pesquisa entre em contato com

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa - CEP- UFSM Av Roraima 1000 - Preacutedio da Reitoria ndash 7ordm

andar ndash Campus Universitaacuterio ndash 97105-900 ndash Santa Maria-RS - Tel (55) 32209362 ndash E-mail

comiteeticapesquisamailufsmbr

89

Apecircndice D - Termo de confidencialidade

Tiacutetulo do estudo ldquoA influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees

para a enfermagemrdquo

Pesquisadora responsaacutevel Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

Pesquisadora Enfa Mestranda Lizandra Flores Pimenta

InstituiccedilatildeoDepartamento Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM)

Telefone para contato (55) 91376501 (55) 91429743

Locais da coleta de dados Unidade sanitaacuteria Kennedy e Centro Obsteacutetrico Unidade Toco-

ginecoloacutegica e Ambulatoacuterio ala II do HUSM

Os pesquisadores do presente projeto comprometem-se a preservar a privacidade dos

indiviacuteduos cujos dados seratildeo coletados por meio de entrevista gravada em aacuteudio MP3 e

realizada na UBS Kennedy numa sala reservada localizada no Hospital Universitaacuterio de

Santa Maria na cidade de Santa MariaRS Concordam igualmente que estas informaccedilotildees

seratildeo utilizadas uacutenica e exclusivamente para a execuccedilatildeo do presente projeto As informaccedilotildees

somente poderatildeo ser divulgadas de forma anocircnima e seratildeo mantidas em Compact Disc (CD)

por um periacuteodo de 5 (cinco) anos sob a responsabilidade da Enfordf Lizandra Flores Pimenta

Apoacutes este periacuteodo os dados seratildeo destruiacutedos Este projeto de pesquisa foi revisado e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM em 04012011 com o nuacutemero do CAAE

03170243000-10

Santa Maria de de 2011

________________________ _______________________________

Enfa Lizandra Flores Pimenta Profa Enfa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI ndash 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

90

Apecircndice E - Roteiro da entrevista com as mulheres

1 Dados de identificaccedilatildeo

Idade

Estado civil

Grau de instruccedilatildeo

Profissatildeoocupaccedilatildeo

Local de trabalho caso esteja trabalhando se natildeo indicar trabalho anterior

Raccedila

Quantos filhos

2 Sobre o parto

1 De que forma o parto e nascimento satildeo percebidos por vocecirc

2 Fale a respeito de sua experiecircncia em relaccedilatildeo aos seus partos e de outras mulheres do teu

conviacutevio

3 Existe alguma coisa em relaccedilatildeo ao parto de seus filhos que vocecirc gostaria que tivesse sido

diferente Por quecirc

4 O que vocecirc aprendeu sobre parto com teus pais irmatildeos irmatildes e outras pessoas da tua

famiacutelia

5 O que vocecirc escutou ou aprendeu sobre parto com os profissionais de sauacutede nos hospitais

e nos postos de sauacutede

6 O que vocecirc escutou ou aprendeu sobre parto em jornais revistas televisatildeo e internet

7 De que forma estes aprendizados participaram da tua decisatildeo sobre o tipo de parto

Page 6: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição

RESUMO

Dissertaccedilatildeo de Mestrado

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Enfermagem

Universidade Federal de Santa Maria

CULTURA NO PROCESSO DE PARTURICcedilAtildeO CONTRIBUICcedilOtildeES PARA A

ENFERMAGEM

AUTORA Lizandra Flores Pimenta

ORIENTADORA Luacutecia Beatriz Ressel

Data e Local da Defesa Santa Maria 28 de fevereiro de 2012

A investigaccedilatildeo teve como objetivo compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher Desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa com abordagem cultural Os

cenaacuterios foram uma Unidade sanitaacuteria e um hospital de referecircncia para a gestaccedilatildeo de alto risco

e para intercorrecircncias ginecoloacutegicas de um municiacutepio do interior do Rio Grande do SulBrasil

Os sujeitos deste estudo foram oito mulheres em idade feacutertil com histoacuteria pregressa de parto

vaginal ou cesariano na faixa etaacuteria entre 22 e 35 anos que tiveram filhos a partir do ano de

2004 e fora do periacuteodo graviacutedico puerperal Para produccedilatildeo dos dados utilizou-se entrevista

semi-estruturada realizada entre janeiro e marccedilo de 2011 Para a anaacutelise dos dados foi

utilizada a anaacutelise temaacutetica sugerida por Minayo dando origem a seis categorias A percepccedilatildeo

das mulheres sobre o nascimento Percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado A

percepccedilatildeo das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto Conhecendo como se daacute a

construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres Resistecircncia das mulheres ao modelo

biomeacutedico do parto Percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea Os

achados deste estudo permitem afirmar que as vivecircncia das mulheres no seu processo de

parturiccedilatildeo eacute percebida de modo diferente entre elas entendida algumas vezes de forma

positiva e outras vezes de forma negativa A identificaccedilatildeo da via de parto desejada pela

maioria das entrevistadas foi o parto normal mas a maioria natildeo conseguiu realizar esse desejo

na sua vivecircncia pela influecircncia e intervenccedilotildees recebidas do meacutedico Esta ausecircncia de

autonomia na escolha do parto normal acarretou na indicaccedilatildeo de cesaacutereas que natildeo condizem

com as indicaccedilotildees da literatura nas mulheres desse estudo As entrevistadas afirmaram que o

meacutedico tem o poder de decisatildeo sobre a escolha do tipo de parto mas algumas divergem desta

conduta dizendo que esta decisatildeo deveria ter a participaccedilatildeo da mulher jaacute que eacute ela que estaacute

sentindo e passando por este processo O significado positivo evidenciado pelas mulheres do

conviacutevio das mulheres principalmente pela figura materna proporcionou um parto integral e

enriquecedor a essas entrevistadas e exerceu influecircncia na preferecircncia por parto normal

Constatou-se que cultura tem influecircncia sobre os saberes e as praacuteticas das mulheres em

relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeo e que os muacuteltiplos aspectos que permeiam a vivecircncia das

mulheres precisam ser observados quando se presta assistecircncia a elas durante esse processo

Palavras-chave Parto Sauacutede da mulher Cultura Enfermagem

ABSTRACT

Masterrsquos Dissertation

Nursing Pos-Graduation Program

Federal University of Santa Maria

CULTURE IN THE PROCESS OF DELIVERY CONTRIBUTIONS TO

NURSING

AUTHOR Lizandra Flores Pimenta

ADVISOR Luacutecia Beatriz Ressel Date and Place of Defense Santa Maria February 28th 2012

The investigation aimed to understand how culture influences in the process of a woman

delivery A qualitative research with a cultural approach The settings were a Health Center

and a reference Hospital for high risk pregnancies and to gynecologic complications of a city

in the interior of Rio Grande do SulBrazil The people of this study were eight women in

fertile age with previous history of natural and caesarean deliveries in ages between 22 and

35 years old who had children from the year 2004 and out of the pregnancy period To the

data production a semi-structured interview was used done between January and March of

2011 To do the data analysis it was used a thematic analysis suggested by Minayo

generating six categories Women perception about the birth Women perception about the

wanted delivery Women perception in the decision about the king of delivery Knowledge

about how is the cultural construction of the women delivery process Questioning and

women resistance to the delivery biomedical model women perception about the reason of

caesarean indication The findings of this study allow affirming that women experience in

their delivery process is noticed differently among them sometimes understood in a positive

way and others in negative ways The identification of the kind of delivery wanted by the

majority of the interviewed was the natural delivery but it can be seen that the majority could

not have it in their pregnancies due to the influence and interventions given by the doctor The

absence of autonomy in the choice for the natural delivery resulted in the indication of

caesariansthat are not consistent with indications from the literature the women of this study

The interviewed affirm that the doctor has the power of decision about the king of delivery

but some diverge from this behavior saying that this decision should have the women

participation once she is the one who feels and passes by this process The positive meaning

evidenced by the women who have some relation with the pregnant mainly by the mother

figure provided an integral and enriched delivery to these women and influenced in the

preference for a natural delivery It was verified that culture has influence in the knowledge

and in the practices of women in relation to the process of delivery and that multiple aspects

that surround their life need to be observed when assistance is given to them during the

process

Key-words Delivery Women health Culture Nursing

LISTA DE ANEXOS

Anexo A - Aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM 81

Anexo B - Autorizaccedilatildeo de Emenda do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM para

troca de cenaacuterio para coleta

82

LISTA DE APEcircNDICES

Apecircndice A - Ofiacutecio agrave Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria 85

Apecircndice B - Ofiacutecio ao Departamento de Ensino e Pesquisa do HUSM 86

Apecircndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 87

Apecircndice D - Termo de Confidencialidade 89

Apecircndice E - Roteiro da entrevista com as mulheres 90

SUMAacuteRIO

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS 12

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 17

11 Poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e nascimento no

Brasil

17

12 O parto e a cultura no processo da parturiccedilatildeo 22

13 Referencial teoacuterico de Emily Martin sobre o parto e cultura 24

2 CAMINHO METODOLOacuteGICO 29

21 Fundamentos metodoloacutegicos 29

22 Os cenaacuterios do estudo 29

23 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos 31

24 Caracterizaccedilatildeo das participantes 32

25 Inserccedilatildeo em campo 34

26 Coleta de dados 33

27 Anaacutelise dos dados 34

28 Questotildees eacuteticas 35

3 ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS DADOS 37

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 61

REFEREcircNCIAS 67

ANEXOS 80

APEcircNDICES 83

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS

A gravidez e o parto satildeo eventos sociais e culturais que integram a vivecircncia

reprodutiva de homens e mulheres uma experiecircncia uacutenica no universo de ambos que envolve

tambeacutem suas famiacutelias e consequentemente a comunidade (BRASIL 2001)

O parto inscreve-se nesse universo cultural por ser um fenocircmeno que perpassa todas as

sociedades e temposespaccedilos Esse sistema de crenccedilas herdadas eacute denominado ldquocultura do

nascimentordquo a qual informa os membros da sociedade sobre a natureza de todo o processo

parturitivo da mulher e influencia seu significado em relaccedilatildeo ao tipo de parto (HELMAN

2009)

O autor supracitado diz que a gestaccedilatildeo e o parto satildeo a transiccedilatildeo do status social de

ldquomulherrdquo para o de ldquomatildeerdquo e como em todas as transiccedilotildees sociais a pessoa deve ser protegida

de qualquer dano atraveacutes de determinados rituais e comportamentos

Conforme Floyd (2009) as formas de transmitir esses comportamentos agrave parturiente

satildeo chamadas de ldquorituais da obstetriacuteciardquo dentre eles estatildeo fazer a mulher reconhecer a

deficiecircncia de seu corpo (consciente ou inconscientemente) a fim de tornaacute-la dependente da

ciecircncia e da tecnologia induzindo-a a aceitar a superioridade das instituiccedilotildees e da Medicina

em controlar seus processos naturais suas crenccedilas e seus significados individuais

Segundo Floyd (2009) eacute mais provaacutevel que esse tipo de comportamento seja

transmitido na atmosfera impessoal de um hospital do que no ambiente familiar e domeacutestico

As condiccedilotildees de nascimento apresentam significativas distinccedilotildees quando comparadas

entre diferentes realidades Nos paiacuteses ocidentais segundo Floyd (1987) o parto eacute cercado de

aparatos tecnoloacutegicos meacutedicos e essa medicalizaccedilatildeo define-o como uma disfunccedilatildeo fisioloacutegica

Jaacute nos paiacuteses orientais como exemplo o Japatildeo eacute valorizado o parto vaginal desmedicalizado

que assim como a gestaccedilatildeo natildeo eacute considerado doenccedila (SILVA 2009)

De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) 70 a 80 das gestaccedilotildees

que ocorrem no mundo satildeo consideradas de baixo risco Eis a definiccedilatildeo de parto normal

adotada pela OMS

De iniacutecio espontacircneo baixo risco no iniacutecio do trabalho de parto permanecendo

assim durante todo o processo ateacute o nascimento O bebecirc nasce espontaneamente em

posiccedilatildeo cefaacutelica de veacutertice entre 37 e 42 semanas completas de gestaccedilatildeo Apoacutes o

nascimento matildee e filho estando em boas condiccedilotildees Entretanto como o trabalho de

parto e o parto de muitas gestantes de alto risco tecircm um curso normal vaacuterias

recomendaccedilotildees tambeacutem se aplicam agrave assistecircncia dessas mulheres (OMS 2009 p9)

13

Frente a isso deve existir sempre uma razatildeo vaacutelida para se interferir nesse processo

fisioloacutegico do parto tendo como recurso para tais casos a cesariana que se trata de uma

intervenccedilatildeo meacutedica destinada agrave extraccedilatildeo do feto por via abdominal

O parto cesaacutereo eacute uma intervenccedilatildeo usada em situaccedilotildees nas quais as condiccedilotildees da matildee

e do bebecirc natildeo favorecem o parto vaginal Entretanto sua indicaccedilatildeo incorreta estaacute associada a

uma maior ocorrecircncia de mortalidade e morbidade para as parturientes tais como

hemorragias infecccedilotildees puerperais embolia pulmonar riscos anesteacutesicos bem como outras

patologias Para os bebecircs os riscos relacionam-se a distuacuterbios respiratoacuterios icteriacutecia

fisioloacutegica prematuridade iatrogecircnica hipoglicemia e anoacutexia (RAMOS 2003 VILLAR

2006 TELINI 2000)

Nessa direccedilatildeo eacute observado em nosso paiacutes nos uacuteltimos anos o aumento de partos

cesaacutereos agendados com antecedecircncia cujas indicaccedilotildees meacutedicas natildeo o justificam (MORELL

MELO 1995) Em uma pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede realizada em 2006 quase

metade (462) de todas as cesarianas foi agendada com antecedecircncia (BRASIL 2009)

Essa conduta eacute culturalmente difundida pelos profissionais da sauacutede que detecircm o

poder de modular e influenciar as demandas sobre as necessidades de sauacutede da populaccedilatildeo

(TEIXEIRA 2006) Apresentando-se sob a maacutescara da razatildeo e da necessidade essa praacutetica

desnecessaacuteria acaba por natildeo ser percebida pela maioria das mulheres que encontram

dificuldades em resistir (PEREIRA 2000)

O Ministeacuterio da Sauacutede (2001) ressalta que a informaccedilatildeo e a formaccedilatildeo de opiniatildeo entre

as mulheres satildeo prioridade no Brasil a fim de que elas possam escolher o melhor para a sua

sauacutede e para a de seus filhos pois embora profissionais e mulheres faccedilam a opccedilatildeo antecipada

do tipo de parto esse fato natildeo pode ser visto como uma simples questatildeo de preferecircncia jaacute que

cesaacuterea natildeo eacute um ldquobem de consumordquo (ODENT 2004)

Outro modo de tornar atrativo e mais agradaacutevel aos olhos das mulheres esta praacutetica de

conveniecircncia eacute o conceito contraditoacuterio de cesariana centrada na famiacutelia em que se daacute aos

pais opccedilotildees quanto ao tipo de anesteacutesico e terapia indicados para a mulher (MARTIN 2006)

Scavone (1993) explica esta valorizaccedilatildeo pelas mulheres e pela populaccedilatildeo em geral como

uma garantia meacutedica para os pais em relaccedilatildeo agrave qualidade da sua prole e da fecundidade

Ao dar respostas aos problemas obsteacutetricos e neonatais que aumentam enormemente

os iacutendices de mortalidade materna durante a gestaccedilatildeo o parto e o puerpeacuterio a medicina criou

discursos de verdade Segundo Foucault (1992 p 179)

14

As relaccedilotildees de poder natildeo podem se dissociar se estabelecer nem funcionar sem

uma produccedilatildeo uma acumulaccedilatildeo uma circulaccedilatildeo e um funcionamento do discurso

Natildeo haacute possibilidade de exerciacutecio do poder sem uma certa economia dos discursos

de verdade que funcione dentro e a partir desta dupla exigecircncia

Essa hegemonia do discurso meacutedico sobressai-se desconsiderando durante o processo

parturitivo as crenccedilas e a cultura das mulheres Eacute apenas o meacutedico quem daacute a palavra final

para duacutevidas e inquietudes das mulheres pois considera seu discurso inquestionaacutevel e

legiacutetimo (VIEIRA 2002)

Dessa forma a mulher perde sua autonomia como protagonista no processo do

nascimento

Criou-se assim uma heteronomia desfigurando-se este ato ateacute entatildeo puramente

feminino - pois natildeo era mais a mulher quem dava agrave luz - para o meacutedico como dono

e senhor do parto numa inversatildeo de papeacuteis que bdquolegitima o poder e a relaccedilatildeo da

medicina com a famiacutelia‟ (PEREIRA 2000 p17)

Essa inversatildeo de papeacuteis no cenaacuterio do parto no qual o meacutedico deteacutem o poder sobre o

corpo da mulher pode estar justificando os altos iacutendices de cesaacutereas nas uacuteltimas deacutecadas

Outra repercussatildeo desta mudanccedila de paradigma em relaccedilatildeo ao processo do nascimento

eacute a de que o parto os cuidados puerperais e com o receacutem-nascido que antigamente

transcorriam no ambiente familiar e eram envolvidos em fortes viacutenculos atualmente

transcorrem em instituiccedilotildees hospitalares onde os viacutenculos transformaram-se em meros

contatos superficiais acentuando a perda da autonomia da mulher neste processo

(MONTICELLI 1994)

O contexto do nascimento na sociedade atual mostra que a mulher parturiente estaacute

cada vez mais distante da condiccedilatildeo de protagonista da cena do parto ldquototalmente insegura

submete-se a todas as ordens e orientaccedilotildees sem entender como combinar o poder contido nas

atitudes e palavras que ouve e percebe com o fato inexoraacutevel de que eacute ela quem estaacute com dor

e quem vai parirrdquo (BRASIL 2001 p18) Fato esse constatado no aumento de cesaacutereas e

reduccedilatildeo de partos normais na rede puacuteblica no Brasil No ano de 2005 a taxa de cesaacutereas que

era de 2870 aumentou para 3610 em 2010 e em contrapartida o nuacutemero de partos

normais que em 2005 era de 7130 reduziu para 63 20 em 2010 (BRASIL 2010)

No estado do Rio Grande do Sul (RS) foi constatado por Freitas et al (2005) que os

iacutendices elevados de cesaacuterea constituem um grave problema de sauacutede puacuteblica o que pode

acarretar o mau-uso da tecnologia meacutedica na atenccedilatildeo ao parto associado a fatores sociais

econocircmicos e culturais O percentual de cesarianas que foram analisadas de 1997 a 2003 foi

de 406 para 448 respectivamente No ano de 2008 no RS segundo dados do IBGE

15

(2009) o iacutendice de cesaacutereas foi de 537

No municiacutepio de Santa MariaRS segundo dados da Vigilacircncia Epidemioloacutegica da

Secretaria Municipal de Sauacutede (SMS) no primeiro semestre de 2011 635 dos partos o que

corresponde a 1167 foram cesaacutereos o que desvela um iacutendice muito aleacutem dos 15 previstos

pela OMS O Ministeacuterio da Sauacutede (MS) estabeleceu limite para partos cesaacutereos

considerando-os de alto risco para as unidades hospitalares ateacute 40 e para unidades de risco

habitual - ateacute 25 (BRASIL 2008c)

A portaria GM nordm 466 de 14062000 retificada em 30062000 propotildee o Pacto pela

Reduccedilatildeo das Taxas de Cesaacuterea a ser firmado entre os gestores estaduais e o gestor federal

estabelecendo a taxa de 25 como desejaacutevel para todos os estados ateacute 2007 (BRASIL 2008)

Finalizar uma gestaccedilatildeo mediante uma cesaacuterea sem causa meacutedica que a justifique

ainda que esta seja a pedido da gestante eacute uma conduta meacutedica que natildeo respeita os processos

fisioloacutegicos do trabalho de parto do parto e do nascimento Por esse motivo o procedimento

ciruacutergico realizado sem indicaccedilotildees deixa de ser um procedimento fisioloacutegico tornando-se um

procedimento de risco para a matildee e para o receacutem-nascido (SABATINO 2009)

Para a abrangecircncia do tema complexidade e repercussotildees na vida das mulheres o

objeto de estudo eacute o significado que a mulher atribui ao seu parto

A justificativa para a escolha desse objeto de estudo deve-se agrave vivecircncia de dar agrave luz a

dois filhos nascidos de parto normal Letiacutecia (15 anos) e Marcos (12 anos) e de ter participado

ativamente desse processo como protagonista

Vem ao encontro disso o fato de que no decorrer da vivecircncia de dezoito anos na

assistecircncia agrave sauacutede das mulheres em maternidades e unidades baacutesicas de sauacutede e no meu

ambiente de trabalho atual como enfermeira obstetra de um hospital de ensino percebo a

intensa fragilidade das parturientes ao se submeterem a todos os procedimentos e

intervenccedilotildees sem questionamentos ao que acontece com o seu corpo durante o parto

Paralelamente agraves atividades profissionais participo como integrante do Nuacutecleo de

Estudos sobre Mulheres Gecircnero e Poliacuteticas Puacuteblicas-NEMGeP do Departamento de

Enfermagem do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Santa Maria grupo

que me despertou para as questotildees de gecircnero na temaacutetica no processo da parturiccedilatildeo O Nuacutecleo

atua em accedilotildees direcionadas agraves mulheres com abordagens que ultrapassam a dimensatildeo

bioloacutegica pois considera que as questotildees de gecircnero (cidadania empoderamento controle

social e poliacuteticas puacuteblicas) constituem referenciais fundamentais no direcionamento de

atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres (LANDERDAHL et al 2011)

16

Consultando a literatura cientiacutefica percebeu-se a ausecircncia de estudos culturais com

mulheres fora do periacuteodo graviacutedico puerperal e em cenaacuterios que natildeo sejam em maternidades

eou hospital

Alinhando-se nos argumentos acima descritos este estudo fundamentou-se no

referencial teoacuterico metodoloacutegico da abordagem socioantropoloacutegica de Emily Martin que

propotildee uma anaacutelise do fenocircmeno do parto contrapondo a delimitaccedilatildeo deste ao campo da

reproduccedilatildeo mecanicista e biomeacutedica buscando entendecirc-lo como componente essencial das

mulheres no sentido de desnaturalizar verdades muito caras vinculadas agraves concepccedilotildees

modernas de natureza e cultura Dessa forma o presente estudo traz reflexotildees que poderatildeo

repercutir na assistecircncia de enfermagem prestada agrave mulher durante o periacuteodo da parturiccedilatildeo

uma vez que auxilia na compreensatildeo das necessidades de cuidado com as parturientes a partir

da percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto e o nascimento

Com base nessas consideraccedilotildees a questatildeo norteadora de pesquisa que impulsiona

este estudo estaacute embasada no seguinte questionamento qual a participaccedilatildeo da cultura nos

saberes e as praacuteticas das mulheres em relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeo

Para responder a esta questatildeo foi definido como objetivo compreender de que forma

a cultura influencia no processo de parturiccedilatildeo da mulher

17

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

Este capiacutetulo enfoca as poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e

nascimento no Brasil bem como discute sobre parto e cultura baseando-se sobretudo nos

estudos realizados pela antropoacuteloga Emily Martin

21 Poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e nascimento no Brasil

O movimento feminista tem desempenhado um papel fundamental como instigador de

programas e poliacuteticas para as mulheres no paiacutes e sido entendido como foacuterum de debate das

questotildees da sauacutede qualidade de vida e condiccedilatildeo de cidadania feminina

Em 1974 foi implantado pelo governo o Programa de Sauacutede Materno-Infantil-PSMI

(MS74) como recomendaccedilatildeo do Plano Decenal de Sauacutede para as Ameacutericas e resultante da III

Reuniatildeo Especial de Ministros de Sauacutede das Ameacutericas que se realizou em Santiago de Chile

em 1972 Enfatizou-se nessa recomendaccedilatildeo

Formular uma poliacutetica intersetorial de proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade e agrave infacircncia

[] O programa de sauacutede e atenccedilatildeo meacutedica deveraacute ter cobertura universal

eficiecircncia operativa e acessibilidade geograacutefica institucional e financeira []

Elaborar o programa como um todo contiacutenuo que incluam as diversas atividades de

proteccedilatildeo agrave famiacutelia e em especial agrave matildee e a crianccedila orientaccedilatildeo agrave vida familiar (com

ecircnfase agrave adolescecircncia) atenccedilatildeo agraves doenccedilas ginecoloacutegicas (incluindo as veneacutereas)

diagnoacutestico precoce do cacircncer ceacutervico-uterino e do cacircncer de mama outorgar as

famiacutelias (quando isto natildeo se oponha agraves poliacuteticas nacionais) informaccedilatildeo e serviccedilo

com relaccedilatildeo agrave fertilidade e agrave esterilidade atenccedilatildeo meacutedica integral durante a gestaccedilatildeo

(matildee e feto) atenccedilatildeo ao parto e no puerpeacuterio controle do receacutem-nascido e da

crianccedila durante todas as etapas da vida especificamente no primeiro ano de vida

(OPAS 1973 p39-42)

Com isso o governo brasileiro registrou o interesse em trabalhar com o diagnoacutestico

precoce e o tratamento das doenccedilas ginecoloacutegicas incluindo as doenccedilas sexualmente

transmissiacuteveis e o cacircncer Somente no ano de 1977 a preocupaccedilatildeo eacute dirigida com mais

especificidade agrave gestaccedilatildeo ao parto e ao puerpeacuterio (TYRREL CARVALHO 1995)

O Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em 1984 em conjunto com o Ministeacuterio da Previdecircncia e

a Assistecircncia Social o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e as Secretarias Estaduais de Sauacutede e com o

apoio do movimento de mulheres implantou o Programa de Atenccedilatildeo Integral agrave Sauacutede da

Mulher (PAISM)

18

Esse programa eacute considerado um marco na histoacuteria das poliacuteticas puacuteblicas voltadas para

a sauacutede feminina e ateacute hoje eacute inspiraccedilatildeo e referecircncia na luta pela equidade de gecircnero

divulgando a importacircncia de se estabelecer um programa especiacutefico dirigido agrave mulher e de se

enfatizar certas atividades prioritaacuterias que natildeo deve ser interpretado como uma subestimaccedilatildeo

aos demais serviccedilos que a rede baacutesica deve executar mas deve ser adotado sobretudo como

estrateacutegia de mudanccedila seletiva de recursos que permitam a operacionalizaccedilatildeo de conteuacutedos de

grande prioridade vinculados agrave populaccedilatildeo feminina em todas as fases de sua vida e que

vinham sendo ateacute entatildeo negligenciados (BRASIL l984)

Em 2004 o programa foi transformado na Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agrave

Sauacutede da Mulher (MS 2004) cujo objetivo especiacutefico trecircs indica para o dever de se promover

a atenccedilatildeo obsteacutetrica e neonatal qualificada e humanizada tendo como combate agrave violecircncia de

gecircnero enfatizando a importacircncia do empoderamento das mulheres para o exerciacutecio da

autonomia e protagonismo no parto

A Poliacutetica Nacional de Humanizaccedilatildeo (MS 2004) implementada no mesmo ano

enfoca tambeacutem o respeito agraves questotildees de gecircnero etnia raccedila orientaccedilatildeo sexual com a

construccedilatildeo de autonomia e protagonismo dos sujeitos e coletivos

A I Conferecircncia Nacional de Poliacuteticas para as mulheres realizada em julho de 2004

foi muito importante na afirmaccedilatildeo dos direitos da mulher Desse evento resultou o I Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres em que foram traccediladas 4 linhas de atuaccedilatildeo sendo

uma delas a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos das mulheres o que

contribui reduccedilatildeo da morbidade e mortalidade feminina no Brasil especialmente por causas

evitaacuteveis em todos os ciclos de vida e nos diversos grupos populacionais (BRASIL 2005)

Corroborando esta afirmativa o II Plano Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres

(2008) em seu eixo sobre a sauacutede das mulheres direitos sexuais e direitos reprodutivos

postula que natildeo deve haver discriminaccedilatildeo de qualquer espeacutecie contra as mulheres

resguardando-se as identidades condiccedilotildees socioeconocircmicas e as desigualdades de gecircnero

raccedilaetnia geraccedilatildeo e orientaccedilatildeo sexual e necessitam ser consideradas na formulaccedilatildeo na

implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo de estrateacutegias de intervenccedilatildeo governamentais

Desse modo particularizar a atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher significa apenas um passo no

sentido de aumentar a capacidade resolutiva dos serviccedilos de sauacutede uma vez que haacute o desafio

de dar uma resposta efetiva aos problemas de sauacutede deste grupo de sujeitos visto conforme

Resende e Montenegro (2003) que as trecircs principais causas de morte materna no Brasil satildeo a

toxemia a hemorragia e a infecccedilatildeo puerperal as quais poderiam na maior parte dos casos

serem prevenidas Esse dado justifica a preocupaccedilatildeo com tais cuidados

19

Um dos objetivos de desenvolvimento do milecircnio (IPEA 2007) eacute melhorar a sauacutede

materna (reduccedilatildeo de trecircs quartos da mortalidade materna entre 1990 e 2015) Entretanto essa

meta do milecircnio dificilmente seraacute alcanccedilada pois grandes desafios ainda persistem a

exemplo da reduccedilatildeo das altas taxas de cesariana e nascimentos preacute-termo e no parto vaginal as

rotinas improacuteprias tais como episiotomia de rotina e intervenccedilotildees dolorosas ao bem-estar

materno e do bebecirc (THE LANCET 2011)

Para enfrentar esses desafios foi instituiacutedo pelo MS em 2000 o Programa de

Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) cujo objetivo primordial eacute ldquoassegurar a

melhoria do acesso da cobertura e da qualidade do acompanhamento preacute-natal da assistecircncia

ao parto e puerpeacuterio agraves gestantes e ao receacutem-nascido na perspectiva dos direitos de

cidadaniardquo (BRASIL 2000 p5) O Programa considera que a humanizaccedilatildeo da assistecircncia

obsteacutetrica e neonatal eacute a primeira condiccedilatildeo para o adequado acompanhamento do parto e do

puerpeacuterio (BRASIL 2000b)

A implementaccedilatildeo das accedilotildees desse programa enfrenta ainda muitos entraves

identificados e categorizados em um estudo de revisatildeo sistemaacutetica de Busanello et al (2009)

Citam-se a dificuldade de acesso aos serviccedilos de sauacutede a falta de leitos a deficiecircncia de

recursos humanos financeiros e materiais a atenccedilatildeo centrada na praacutetica intervencionista

desconsiderando o protagonismo da mulher no momento do parto e o despreparo dos

profissionais de sauacutede para a atenccedilatildeo humanizada no processo de parturiccedilatildeo sendo esta

categoria destacada como importante desafio enfrentado para concretizaccedilatildeo do PHPN

Nesse sentido o Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento - MS tem

recomendado aos serviccedilos de sauacutede que ofereccedilam uma assistecircncia digna agrave mulher aos

familiares e ao receacutem-nascido envolvendo para tanto atitude eacutetica e solidaacuteria dos

profissionais de sauacutede organizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de modo a criar um ambiente acolhedor e a

implementaccedilatildeo de rotinas hospitalares que rompam com o tradicional isolamento imposto agrave

mulher Considera-se tambeacutem necessaacuterio adotar medidas e procedimentos sabidamente

beneacuteficos para o acompanhamento do parto e do nascimento evitando-se praacuteticas

intervencionistas desnecessaacuterias (BRASIL 2000b)

Seguindo essa loacutegica o Ministeacuterio da Sauacutede tem realizado um conjunto de accedilotildees

atraveacutes de portarias ministeriais com a finalidade de estimular e regularizar a assistecircncia

obsteacutetrica aleacutem de financiar a realizaccedilatildeo de cursos de especializaccedilatildeo em enfermagem

obsteacutetrica (BRASIL 2001)

Assegura-se pela legislaccedilatildeo do exerciacutecio profissional regulamentada pela lei n

749886 e o Decreto-Lei 9440687 o direito de a enfermeira obstetra realizar assistecircncia agrave

20

parturiente e ao parto normal identificaccedilatildeo das distocias obsteacutetricas e tomada de providecircncias

ateacute a chegada do meacutedico e a realizaccedilatildeo de episiotomia e episiorrafia e aplicaccedilatildeo de anestesia

local quando necessaacuteria

Outras atribuiccedilotildees realizadas pela enfermeira obsteacutetrica que vem ganhando espaccedilo no

cenaacuterio nacional satildeo as accedilotildees de incentivo ao parto normal e as accedilotildees no atendimento preacute-

natal no qual a enfermeira eacute responsaacutevel pela educaccedilatildeo em sauacutede para as mulheres e suas

famiacutelias consulta de preacute-natal agrave gestaccedilatildeo de baixo risco solicitaccedilatildeo de exames de rotina e

prescriccedilatildeo de tratamento conforme protocolo do serviccedilo e estabelecidos em programas de

sauacutede e coleta de exame citopatoloacutegico (BRASIL 2006b)

Concorrendo nessa orientaccedilatildeo a atuaccedilatildeo da enfermeira obstetra eacute reconhecida como

primordial no processo de humanizaccedilatildeo do parto tendo como objetivo a reduccedilatildeo dos altos

iacutendices de cesaacutereas praticadas e a alta medicalizaccedilatildeo decorrentes do intervencionismo por

parte dos meacutedicos obstetras (BRASIL 2001)

Buscando proporcionar conhecimento agrave sociedade e particularmente esclarecer os

profissionais de sauacutede a OMS elaborou em 1996 um conjunto de recomendaccedilotildees de boas

praacuteticas na assistecircncia ao parto normal Essas recomendaccedilotildees foram classificadas em quatro

categorias Categoria A - praacuteticas confirmadamente uacuteteis e que devem ser estimuladas

Categoria B - praacuteticas claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas

Categoria C - praacuteticas em relaccedilatildeo agraves quais natildeo existem evidecircncias suficientes para apoiar uma

recomendaccedilatildeo clara e que devem ser utilizadas com cautela ateacute que mais pesquisas

esclareccedilam a questatildeo e Categoria D - praacuteticas frequentemente utilizadas de modo inadequado

(OMS 1996) Dentre estas categorias destacam-se neste estudo as recomendaccedilotildees que foram

classificadas como praacuteticas uacuteteis e que devem ser estimuladas

Nessa direccedilatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede implantou medidas que visam impactar e

estimular a melhoria da assistecircncia obsteacutetrica no paiacutes e humanizar o parto e nascimento

(BRASIL 2001)

Para Martins (2005) humanizar a parturiccedilatildeo eacute estar com o outro e prestar um

atendimento focado em suas necessidades eacute lembrar que no momento do parto estaacute

ocorrendo a separaccedilatildeo de dois corpos que ateacute entatildeo viviam juntos um dentro do outro em

relaccedilatildeo de dependecircncia e de iacutentimo contato

Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede (2001) os profissionais de sauacutede devem ser

coadjuvantes dessa experiecircncia direcionando toda atenccedilatildeo agraves necessidades da mulher e

oportunizando-lhe o protagonismo e o controle da situaccedilatildeo na hora do nascimento

21

Os profissionais tambeacutem devem repassar para a mulher as opccedilotildees de escolha baseados

nas evidecircncias cientiacuteficas e nos seus direitos tendo a oportunidade de empregar seu

conhecimento a serviccedilo do bem-estar da mulher e do bebecirc sabendo reconhecer os momentos

criacuteticos em que suas intervenccedilotildees satildeo necessaacuterias

Igualmente seus deveres satildeo minimizar a dor acompanhar dar conforto esclarecer

orientar enfim ajudar a parir e a nascer Precisam lembrar que satildeo os primeiros a ter contato

com cada ser que nasce e portanto devem ter consciecircncia dessa responsabilidade (BRASIL

2001)

No Brasil o movimento pela humanizaccedilatildeo do parto eacute impulsionado por experiecircncia

em vaacuterios estados Em 1994 surgiu no Rio de Janeiro a primeira maternidade puacuteblica

autodefinida como ldquohumanizadardquo que recebeu o nome de Leila Diniz (DINIZ 2005) Outro

marco em termos de poliacuteticas puacuteblicas do parto e nascimento foi a criaccedilatildeo do Precircmio Galba

Arauacutejo para Maternidades Humanizadas instituiacutedo pela portaria nordm 2883 de 4 de junho de

1998 (BRASIL 1998)

Os criteacuterios para a concessatildeo deste precircmio satildeo baseados na adesatildeo agraves recomendaccedilotildees

da OMS tais como a presenccedila de acompanhantes no preacute-parto parto e poacutes-parto a assistecircncia

aos partos de baixo risco por enfermeiras obstetras e o controle das taxas de cesaacuterea

(BRASIL 2000b)

Concedido a niacutevel estadual e nacional o precircmio Galba de Arauacutejo tem provocado

mobilizaccedilatildeo nas instituiccedilotildees de Sauacutede que lutam em defesa dos direitos das mulheres e

crianccedilas e tem recebido a participaccedilatildeo de um nuacutemero crescente de serviccedilos a cada ediccedilatildeo

contribuindo para conferir legitimidade ao modelo humanizado (DINIZ 2005)

O Centro de Parto Normal-CPN foi outra iniciativa criada pela portaria nordm 985 de

agosto de 1999 que tem como finalidade o atendimento agrave mulher no periacuteodo graviacutedico-

puerperal tendo como uma das suas atribuiccedilotildees prestar atendimento humanizado e de

qualidade exclusivamente ao parto normal sem distoacutecia assistido por enfermeira obsteacutetrica

desenvolvendo atividades educativas e de humanizaccedilatildeo durante o preacute-natal visando agrave

preparaccedilatildeo das gestantes para o parto no CPN (BRASIL 1999)

A Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar (ANS) do Ministeacuterio da Sauacutede em janeiro

de 2008 atraveacutes da Resoluccedilatildeo Normativa nordm 167 reviu o Rol de Procedimentos e Eventos em

Sauacutede e ampliou as coberturas para as beneficiaacuterias de planos de sauacutede A partir de abril de

2008 deu-se a inclusatildeo na cobertura dos partos feitos por enfermeira obstetras e a presenccedila de

um acompanhante durante toda a estada da mulher no hospital desde o momento do parto ateacute

a sua alta (ANS 2008b)

22

Destaca-se tambeacutem que a partir do ano de 2005 a lei nordm 11108 passou a garantir agraves

parturientes o direito agrave presenccedila de acompanhante de sua preferecircncia durante o trabalho de

parto parto e poacutes-parto Outra iniciativa lanccedilada pela ANS na tentativa de estimular o

aumento de partos normais e modificar os altos iacutendices de cesarianas desnecessaacuterias na rede

privada foi a campanha em favor do parto normal intitulada Parto normal estaacute no meu

plano (ANS 2008a)

Em junho de 2008 foi divulgada a Resoluccedilatildeo RDC 36 da Agecircncia Nacional de

Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA) a qual preconiza que os serviccedilos de atendimento obsteacutetrico e

neonatal devem adotar medidas que incentivem o parto humanizado e a reduccedilatildeo dos iacutendices

de mortalidade materna e neonatal no paiacutes (BRASIL 2008b)

Tambeacutem devido a algumas maternidadeshospitais estarem fazendo uma cobranccedila

indevida para a presenccedila do acompanhante na sala de parto destinada a cobrir os gastos com a

limpeza e higienizaccedilatildeo das roupas ciruacutergicas e o uso de maacutescaras e toucas descartaacuteveis

utilizadas pelo acompanhante da gestante a ANS publicou em 02082011 a Resoluccedilatildeo

Normativa 262 (ANS 2011) Essa normativa define que as despesas a serem cobertas para o

acompanhante durante o preacute-parto parto e poacutes-parto imediato deve incluir taxas de

paramentaccedilatildeo acomodaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo pelo periacuteodo de 48h podendo se estender por ateacute

10 dias quando indicado pelo meacutedico assistente (DOU 2011)

Em junho de 2011 foi instituiacuteda a iniciativa da Rede Cegonha atraveacutes da portaria nordm

1459 de 24 de junho de 2011 no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede com o intuito de

fomentar a implementaccedilatildeo de novo modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher com foco na

atenccedilatildeo ao parto

Esta poliacutetica tendo como princiacutepios o respeito a proteccedilatildeo e a realizaccedilatildeo dos direitos

humanos o respeito agrave diversidade cultural eacutetnica e racial a promoccedilatildeo da equidade com o

enfoque de gecircnero a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos de mulheres

homens jovens e adolescentes a participaccedilatildeo e a mobilizaccedilatildeo com controle social e a

compatibilizaccedilatildeo com as atividades das redes de atenccedilatildeo agrave sauacutede materna e infantil em

desenvolvimento nos Estados (BRASIL 2011)

12 O parto e a cultura no processo da parturiccedilatildeo

Historicamente o parto jaacute foi vivenciado como um evento feminino no qual os

membros do grupo social da parturiente como a matildee familiares vizinhas auxiliavam-na

23

juntamente agrave parteira que tinha seus conhecimentos fundamentados na praacutetica e na

acumulaccedilatildeo de saberes passados tradicionalmente de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo (SANTOS 2002)

No entanto no seacuteculo XVIII na Europa o parto passou por um processo de

transformaccedilatildeo principalmente devido agrave influecircncia biomeacutedica masculina De um evento

feminino domiciliar e fisioloacutegico passa a ser patoloacutegico e institucionalizado dominado por

uma praacutetica intervencionista e hospitalocecircntrica da qual a mulher perdeu seu protagonismo

(SANTOS 2002)

A percepccedilatildeo da dor no parto eacute considerada como um dos motivos que influenciam a

mulher em sua preferecircncia pela cesaacuterea e estaacute profundamente arraigada no imaginaacuterio

popular como um evento associado agrave purgaccedilatildeo feminina Relaciona-se neste sentido agrave

citaccedilatildeo do Livro Biacuteblico de Gecircnesis que se refere agrave Eva como o primeiro ser humano que

pecou e acabou por corromper o resto da humanidade com sua transgressatildeo ouvindo de Deus

ldquoe tu mulher pariraacutes com dor os teus filhosrdquo (TEIXEIRA 2006)

A ideacuteia de que a mulher deve pagar no parto por seus pecados propagada pela

medicina e pela religiatildeo hegemocircnica contrapotildee-se agrave visatildeo do parto como um momento

prazeroso Esse sentido pode ser entendido como uma heresia e uma ameaccedila a um sistema de

crenccedilas que define o parto como um processo doloroso que faz mal agrave sauacutede e agrave sexualidade

feminina e que precisa ser controlado por aparatos meacutedicos (DINIZ 2011)

De acordo com Helman (2009) a dor e seus aspectos voluntaacuterios satildeo influenciados por

fatores sociais culturais e psicoloacutegicos que determinam se a dor privada seraacute traduzida e em

que tipo de comportamento quando for puacuteblica Isso estaacute muito imbricado ao significado

pessoal de que a mulher atribui agrave dor do parto ao contexto de vida em que estaacute inserida agraves

definiccedilotildees culturais da imagem corporal da estrutura e funccedilotildees do seu corpo

Ressalta-se nessa direccedilatildeo que a posiccedilatildeo das mulheres frente ao processo de

medicalizaccedilatildeo natildeo foi propriamente a de viacutetima As mulheres de classe mais alta natildeo mais

aceitavam sentir a dor do parto e natildeo desejavam correr mais riscos aleacutem de o ato de parir com

a assistecircncia de um meacutedico significar maior poder aquisitivo de seus maridos Com isso a

consolidaccedilatildeo do processo de medicalizaccedilatildeo e hospitalizaccedilatildeo do parto acontece em meados do

seacuteculo XX motivada por tais condiccedilotildees (VARGENS PROGIANTI 2004)

No Brasil o processo de institucionalizaccedilatildeo do parto isto eacute a ocorrecircncia dos partos

dentro de instituiccedilotildees hospitalares deu-se ao longo da deacutecada de 40 com o advento da

medicina preventiva cujo objetivo principal era reduzir a mortalidade infantil Somente mais

tarde a partir da deacutecada de 80 passou-se a justificar o processo de medicalizaccedilatildeo do parto

por meio da recorrecircncia das cesarianas para reduzir a mortalidade materna (BRASIL 2001)

24

Os meacutedicos natildeo acostumados ao acompanhamento de fenocircmenos fisioloacutegicos foram

instruiacutedos a intervir resolver casos complicados e ditar ordens O parto passou entatildeo a ser

visto como um ato ciruacutergico e a mulher parturiente sendo tratada como enferma foi

impedida de seguir seus instintos e de adotar a posiccedilatildeo mais cocircmoda e fisioloacutegica (BRASIL

2001)

Privada do direito baacutesico de escolha e autonomia no nascimento do proacuteprio filho deu-

se iniacutecio agrave era do parto medicalizado no qual a matildee deixa de ser a protagonista do processo

cedendo seu lugar agrave equipe meacutedica que passa a ser o centro da cena Diversas repercussotildees

advecircm desta mudanccedila As posiccedilotildees verticalizadas que ao longo dos milecircnios foram as mais

usadas pelas mulheres em todas as raccedilas e culturas passaram a ser negadas agraves parturientes

pelos meacutedicos (MACHADO 1995)

A posiccedilatildeo assumida pela parturiente e a sua livre movimentaccedilatildeo passaram a ser

praticamente negligenciadas por profissionais alinhados agrave praacutetica ocidental moderna na qual

a mulher em trabalho de parto manteacutem-se deitada horizontalmente ou em uma posiccedilatildeo semi

inclinada para conveniecircncia da equipe obsteacutetrica na aplicaccedilatildeo dos soros monitores e

anesteacutesicos Evidecircncias de estudos etnograacuteficos realizados atualmente mostram que as

mulheres que natildeo satildeo expostas a essas rotinas assumem posiccedilotildees verticais no trabalho de

parto e no parto (BALASKAS 2008)

Balaskas (2008) reforccedila ainda que um parto ativo eacute uma atitude mental de crenccedila na

natureza do processo do parto e o modo como a mulher segue a loacutegica de seus instintos e da

sua fisiologia eacute uma forma de manifestar que estaacute no controle do seu corpo durante o trabalho

de parto e nascimento e que natildeo eacute um mero objeto de intervenccedilatildeo da equipe obsteacutetrica Os

significados culturais dados aos fenocircmenos fisioloacutegicos psicoloacutegicos e sociais de uma

sociedade refletem o comportamento das pessoas e ateacute a forma de desenvolvimento poliacutetico

econocircmico de dada sociedade (HELMAN 2009)

13 Referencial teoacuterico de Emily Martin sobre o parto e cultura

Segundo a antropoacuteloga Emily Martin (2006) a metaacutefora do uacutetero como maacutequina teve

iniacutecio no decorrer dos seacuteculos XVII e XVIII nos hospitais franceses Esta metaacutefora compara

o uacutetero a uma bomba mecacircnica capaz de expelir o feto Importante assinalar que nesta eacutepoca

que o foacuterceps era instrumento utilizado por accedilougueiros barbeiros falidos cujo status social

25

era equivalente ao de um mecacircnico De acordo com Vieira (2002) as regulamentaccedilotildees para

partejar exigiam que esses homens fossem chamados pelas parteiras para manipular os

instrumentos

A partir do seacuteculo XIX a ideologia de produccedilatildeo das faacutebricas torna-se tatildeo abrangente

que ldquochegardquo aos corpos das mulheres os quais passam a ser vistos nos textos de obstetriacutecia

como faacutebricas para a produccedilatildeo de bebecircs Martin (2006) propotildee utilizar esta metaacutefora de

produccedilatildeo fabril para entender o processo de trabalho em que meacutedico e a mulher estatildeo

envolvidos

Nesta metaacutefora segundo a autora acrescenta-se a figura do meacutedico no papel de

supervisor ou ateacute dono da faacutebrica e a mulher no papel de trabalhadora cuja maacutequina (uacutetero)

produz o produto (bebecirc) O olhar a partir de metaacuteforas de acordo com a pesquisadora

permite comparar as mesmas formas de controle e poder que ocorrem no acircmbito da produccedilatildeo

industrial ou seja de controlar os movimentos dos trabalhadores conforme a produccedilatildeo da

progressatildeo em periacuteodos especiacuteficos de tempo da maacutequina (uacutetero) para avaliar e controlar se

as contraccedilotildees uterinas satildeo eficientes ou ineficientes (MARTIN 2006)

A autora supracitada questiona o papel de passividade da mulher em relaccedilatildeo agraves

contraccedilotildees uterinas que consideradas pela ciecircncia meacutedica involuntaacuterias e inclusive

responsaacuteveis totais pela realizaccedilatildeo do parto Rezende e Montenegro (2003) comenta que no

periacuteodo expulsivo as contraccedilotildees satildeo realizadas com a glote fechada e com esforccedilos

respiratoacuterios verdadeiros chamados ldquopuxosrdquo Em nenhum momento foi mencionado que eacute a

parturiente que faz esse esforccedilo Outro exemplo de exclusatildeo do papel mulher em seu processo

de parto eacute o foco no feto conforme a citaccedilatildeo de Rezende e Montenegro (2003 p177) ldquono seu

transcurso atraveacutes do canal parturitivo impulsionado pela contratilidade uterina o feto eacute

compelido a executar certo nuacutemero de movimentos que se denominam mecanismo do partordquo

Assim sendo a metaacutefora utilizada por Martin (2006) desvela uma perspectiva que apresenta

as mulheres gestantes como ldquomateacuteria-primardquo para a produccedilatildeo de um ldquoprodutordquo

Nessa direccedilatildeo torna-se imprescindiacutevel para a produccedilatildeo de bebecircs perfeitos a

intervenccedilatildeo da cesaacuterea exigindo um miacutenimo de trabalho do uacutetero e da mulher atribuindo a

esse procedimento a imagem de ldquouacutenica graccedila salvadorardquo do bebecirc Este posicionamento

segundo a autora ignora o que talvez seja extremamente significante para a mulher e para seu

bebecirc ter a oportunidade de vivenciar o nascimento do seu filho (a) atraveacutes do seu proacuteprio

esforccedilo experimentando o protagonismo no seu parto e no nascimento da crianccedila

O mecanismo do parto conforme Rezende eacute o estudo da mecacircnica do parto o que

vem ao encontro da metaacutefora do uacutetero como maacutequina

26

A cultura meacutedica segundo Martin (2006) seria um sistema cultural cujas ideais

sobressaem-se agrave cultura popular

A autora faz ainda referecircncia a textos em obstetriacutecia da Universidade Johns Hopkins

nos EUA que comprovam que causas externas podem interferir nas atividades uterinas e que

tais alteraccedilotildees emocionais da mulher quase natildeo satildeo levadas em consideraccedilatildeo na obstetriacutecia

tendo como consequecircncia o aval para intervenccedilotildees como amniotomias uso de ocitocina para

acelerar o trabalho de parto ou a utilizaccedilatildeo da cesariana considerando desnecessaacuterias as

contraccedilotildees (MARTIN 2006)

A participaccedilatildeo do meacutedico como promotor de uma cultura intervencionista foi

destacada em um estudo nacional realizado pela socioacuteloga americana Hopkins (2000) com

pueacuterperas de cliacutenicas privadas e puacuteblicas Segundo o estudo das mulheres que fizeram

cesariana trecircs em quatro das primiacuteparas do setor privado e oito em dez do setor puacuteblico

gostariam de ter tido partos vaginais Observou-se que o meacutedico obstetra promove os medos

nas gestantes em relaccedilatildeo ao parto e superestima a seguranccedila da cesariana em funccedilatildeo dos seus

interesses

Para Martin (2006) a alienaccedilatildeo e a condiccedilatildeo fragmentada constadas na linguagem e

de algumas mulheres satildeo descritas como uma autopercepccedilatildeo passiva sendo contrastadas com

discursos de mulheres que questionam se opotildeem rejeitam e reformulam suas formas de viver

e as maneiras como a sociedade poderia funcionar apresentando uma autopercepccedilatildeo que tenta

resistir agrave passividade

As mulheres que optam pelo parto domiciliar saem dessa passividade buscam outras

formas de serem ativas no seu parto e reivindicam seu espaccedilo no ato de parir questionando o

paradigma atual de assistecircncia ao parto preconizado nas instituiccedilotildees hospitalares (KRUNO

BONILHA 2004)

No estudo etnograacutefico realizado por Martin (2006) em Baltimore (EUA) encontra-se

a narrativa de uma mulher que resiste a essa maneira de fragmentaccedilatildeo exprimindo a sua

frustraccedilatildeo em relaccedilatildeo ao parto cesariano imposto pela conduta meacutedica A narradora conta

com raiva a sua experiecircncia com a cesariana por ter perdido a cena do nascimento devido agrave

limitaccedilatildeo e ao jejum impostos pela anestesia natildeo podendo realizar os primeiros cuidados do

seu bebecirc aleacutem da proibiccedilatildeo de se alimentar por horas e limitando-se a nutrientes para a

recuperaccedilatildeo mais eficaz da cirurgia

A necessidade de compreensatildeo do parto enquanto parte integrante da vida sexual

emocional e cultural da mulher eacute proposta por Odent (2000) como o entendimento das bases

fisioloacutegicas e a integraccedilatildeo entre diferentes momentos da vida Sua hipoacutetese eacute a de que o

27

cuidado com o modo como nascemos e com a vinculaccedilatildeo amorosa matildee-bebecirc pode propiciar a

construccedilatildeo de uma sociedade mais amorosa menos destrutiva e de mais respeito pelos seres

humanos e pela natureza Esse paradigma holiacutestico tambeacutem referendado por Floyd (2004)

que destaca como elemento fundamental no processo do parto o contato das mulheres consigo

mesmas como um estado especial de consciecircncia similar agraves relaccedilotildees entre os estados

orgaacutesticos agrave oraccedilatildeo e agraves emoccedilotildees miacutesticas Nesse momento as funccedilotildees intelectuais

neocorticais devem estar colocadas em segundo plano proporcionando a expressatildeo de

funccedilotildees cerebrais mais instintivas caracteriacutesticas do parto e do aleitamento

Segundo Martin (2006) os esforccedilos para oferecer este novo paradigma que devolve agrave

mulher o controle do seu corpo no parto satildeo extraordinaacuterios O que natildeo deve permanecer

ainda que subliminarmente eacute a ideologia dominante de nossa sociedade na qual as mulheres

ao darem a luz de maneira mais aproximada do parto natural satildeo consideradas desprovidas de

cultura e consequentemente inferiores por aproximarem-se da natureza ldquoprimitivardquo como se

andassem para traacutes no tempo e na evoluccedilatildeo

Historicamente esta divisatildeo da cultura e da natureza fomentada pelos escritores do

seacuteculo XIX surgiu a partir do desenvolvimento das sociedades ocidentais e da

industrializaccedilatildeo sendo organizada em torno de dois mundos a esfera privada dentro de casa

que eacute evidenciada pertencente agrave mulher onde ocorrem funccedilotildees ditas ldquonaturaisrdquo e a esfera

puacuteblica fora de casa na qual os homens estatildeo em maior evidecircncia e onde se produz ldquoculturardquo

a qual eacute considerada atividade superior evidenciada aos homens e vista como dominante

(MARTIN 2006)

Essa forma de pensar relega a mulher ao domiacutenio do natural do inferior e da

domesticidade considera-a mais simples animalesca e livre de autocensuras Compreende

que haacute uma iniquumlidade entre natureza e cultura e que ao ldquosubmeterrdquo a mulher a fenocircmenos

totalmente naturais como o parto normal estamos reafirmando a concepccedilatildeo da mulher como

um ser mais primitivo que pertence somente agrave natureza (MARTIN 2006)

Reflete-se por outro lado de acordo com Gama (2009) que o modelo de organizaccedilatildeo

dos serviccedilos puacuteblicos e privados apresenta variaccedilotildees que produzem diferentes tipos de

assistecircncia e de relaccedilatildeo entre os profissionais de sauacutede e as usuaacuterias dando forma agraves

experiecircncias distintas entre as mulheres pesquisadas

Ao empreender uma criacutetica assentada nas relaccedilotildees de gecircnero Gama (2009) verificou

que o modelo de assistecircncia ao parto permanece submetendo quem deve ser sujeito e reproduz

o projeto da medicalizaccedilatildeo Isso reduz o campo da assistecircncia e inviabiliza um lugar de poder

diferenciado das usuaacuterias sendo a cesariana utilizada como um procedimento de alta

28

rentabilidade para a medicina obsteacutetrica privada conforme a citaccedilatildeo da antropoacuteloga Emily

Martin

Se a cesariana torna-se uma fonte de honoraacuterios mais altos para os meacutedicos e contas

hospitalares mais altas que o parto vaginal eacute de se esperar que encontremos mais

cesarianas sendo realizadas em mulheres no alto da escala de classe e raccedila

(MARTIN 2006 p 235)

Tal constataccedilatildeo justifica a demanda dos altos iacutendices de cesaacuterea no Brasil com a forma

como se organizou a assistecircncia obsteacutetrica e a formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que

reproduzem no cotidiano esse sentido tecnoloacutegico do parto e do nascimento

Com a invasatildeo da tecnologia a mulher perdeu sua autonomia como protagonista uma

vez que no modelo intervencionista da atual assistecircncia obsteacutetrica ela tornou-se objeto da

accedilatildeo e vem perdendo o controle e a decisatildeo sobre o proacuteprio processo de parto e de

nascimento Essa realidade pode afetar profundamente as mulheres os bebecircs as famiacutelias e

produzir efeitos importantes e persistentes sobre a sociedade (DINIZ 2001)

Ratifica-se nas palavras de Dias (2008) que a perda do protagonismo da mulher no

cenaacuterio do parto reflete-se nos altos iacutendices de cesaacutereas nas uacuteltimas deacutecadas no Brasil Por

outro lado a mudanccedila no modelo de assistecircncia ao parto pode ser uma estrateacutegia promissora

para a reversatildeo desse quadro jaacute que os fatores associados agrave decisatildeo da cesariana independem

do desejo da mulher

A mudanccedila para outro modo de parir mais conectado com todas as forccedilas da vida e da

cultura das mulheres pode possibilitar a construccedilatildeo de um modelo humaniacutestico com vistas ao

holiacutestico e agrave expressatildeo de um tempo de uma cultura de um avanccedilo das praacuteticas obsteacutetricas

do parto com a convivecircncia de muacuteltiplos paradigmas da assistecircncia

29

2 CAMINHO METODOacuteLOGICO

21 Fundamentos metodoloacutegicos

A presente investigaccedilatildeo constitui-se como uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva

A pesquisa qualitativa abarca o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores

e atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees (MINAYO 2004) A

metodologia qualitativa pode possibilitar aleacutem de uma interpretaccedilatildeo com lentes ampliadas do

objeto de estudo uma inserccedilatildeo na cultura do ldquooutrordquo (GEERTZ 1989)

Para Leopardi (2001) e Minayo (2008) o estudo qualitativo compreende a descriccedilatildeo e

a anaacutelise da realidade de diferentes maneiras para representar as experiecircncias do fenocircmeno

vivenciadas pelos indiviacuteduos Haacute uma implicaccedilatildeo entre o conhecimento sobre o mundo e os

sujeitos que o constroem numa relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto Logo a

interpretaccedilatildeo do fenocircmeno atribuindo-lhe significados faz parte do processo de

conhecimento tanto do sujeito pesquisador quanto dos atores pesquisados Eacute comumente

utilizada por pesquisadores sociais preocupados com a atuaccedilatildeo praacutetica (GIL 2007)

A pesquisa descritiva trabalha sobre dados ou fatos colhidos da proacutepria realidade do

indiviacuteduo ou de grupos e comunidades mais complexas Busca conhecer as diversas situaccedilotildees

e relaccedilotildees que ocorrem na vida social poliacutetica econocircmica e cultural principalmente nas

ciecircncias humanas e sociais objetivando abordar dados e problemas relevantes cujo registro

natildeo consta de documentos (CERVO BERVIAN DA SILVA 2007)

22 Os cenaacuterios do estudo

Esta pesquisa foi prevista inicialmente para ser somente desenvolvida na Unidade

Sanitaacuteria Kennedy (USK) no municiacutepio de Santa Maria - RS pelo fato de ser campo de aulas

praacuteticas e de estaacutegio supervisionado para os alunos do Curso de Enfermagem da Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM) onde satildeo realizadas accedilotildees de promoccedilatildeo agrave sauacutedecidadania de

crianccedilas adolescentes mulheres e adultos A aacuterea de abrangecircncia da USK inclui dezoito vilas

30

compreendendo uma populaccedilatildeo de aproximadamente trinta mil habitantes Em relaccedilatildeo agrave

escolaridade os natildeo alfabetizados e os indiviacuteduos que possuem o primeiro grau incompleto

perfazem 83 da populaccedilatildeo A renda per capita de 58 das pessoas e ateacute um salaacuterio miacutenimo

e 27 recebem um a dois salaacuterios miacutenimos Esta regiatildeo ainda hoje caracteriza-se por um alto

iacutendice de desemprego criminalidade desnutriccedilatildeo doenccedilas infecto-contagiosas aleacutem da

precariedade de saneamento baacutesico e de habitaccedilatildeo (MONDARDO et al 1993)

Poreacutem devido a dificuldades de infra-estrutura na referida unidade foi solicitada

transferecircncia de campo da pesquisa para o Hospital Universitaacuterio de Santa Maria (HUSM)

atraveacutes de ementa ao Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM) (Anexo B) estipulando como os locais de coleta os serviccedilos de ginecologia e

obstetriacutecia do hospital

As dificuldades encontradas foram inerentes ao objeto da pesquisa aleacutem de problemas

teacutecnico-administrativos na USK Os problemas de natureza e objeto concernem aos criteacuterios

de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos dada a ausecircncia de mulheres encaixadas em tais criteacuterios

no grupo de planejamento familiar na USK

Os problemas teacutecnico-administrativos foram relativos agrave infra-estrutura da USK que

estava funcionando em um local menor durante os procedimentos de reforma no preacutedio da

instituiccedilatildeo

Outras estrateacutegias foram realizadas na busca por sujeitos como a visita nos dias e

horaacuterios da consulta puericultura visando encontrar mulheres dentro dos criteacuterios que

viessem acompanhando os seus filhos na consulta contudo a tentativa natildeo obteve sucesso

pois era o grande nuacutemero de mulheres dentro dos criteacuterios de exclusatildeo neste caso pueacuterperas

O HUSM entatildeo foi o outro cenaacuterio escolhido para a coleta de dados que justificou-se

pela diversidade de serviccedilos de atendimento oferecidos a mulheres e de profissionais do sexo

feminino que laacute trabalham principalmente da enfermagem o que foi bastante significativa

para o estudo Solicitou-se entatildeo a autorizaccedilatildeo ao Departamento de Ensino e Pesquisa

(DEPE) do HUSM para realizaccedilatildeo da pesquisa neste serviccedilo e autorizada pelo CEP da UFSM

atraveacutes de emenda (Anexo B) para a ampliaccedilatildeo do cenaacuterio e do periacuteodo de coleta de dados

O HUSM eacute um hospital-ensino fundado no ano de 1970 que serve como base de

atendimento primaacuterio dos bairros que o cercam para o atendimento secundaacuterio agrave populaccedilatildeo

de Santa Maria e para o atendimento terciaacuterio da regiatildeo centro e fronteira gauacutecha O hospital

constitui-se como centro de ensino pesquisa e extensatildeo no acircmbito das Ciecircncias da Sauacutede

aleacutem de centro de programaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de accedilotildees voltadas agrave sauacutede das comunidades

local e regional Tambeacutem presta serviccedilos assistenciais em todas as especialidades meacutedicas

31

bem como serve de treinamento para alunos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Medicina

Residecircncia Meacutedica e de graduaccedilatildeo em Enfermagem Farmaacutecia Fonoaudiologia e

Fisioterapia

Satildeo serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia do HUSM

a unidade de Internaccedilatildeo do Centro Obsteacutetrico situada no sub- solo do HUSM

provida de seis leitos de internaccedilatildeo para mulheres em trabalho de parto ou no poacutes-parto

quatro leitos de internaccedilatildeo poacutes-cesaacuterea trecircs leitos de observaccedilatildeo para o atendimento de

intercorrecircncias ginecoloacutegicas e agrave mulher viacutetima de violecircncia

a unidade de internaccedilatildeo Toco-ginecoloacutegica situada no 2ordm andar do HUSM

onde se atendem pueacuterperas gestantes de alto-risco e mulheres em tratamento ginecoloacutegico

Possui trinta e sete leitos dos quais onze satildeo destinados agrave cliacutenica ginecoloacutegica e vinte e seis agrave

obstetriacutecia

o ambulatoacuterio da ala II que eacute localizado no teacuterreo e atende consultas de preacute-

natal puerpeacuterio e ginecologia

Destaca-se que nas unidades referidas circula um grande nuacutemero de familiares do

sexo feminino que acompanham as gestantes pueacuterperas e as mulheres internadas para

tratamento ginecoloacutegico

23 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos

Os criteacuterios de inclusatildeo foram mulheres que jaacute tiveram filhos por via vaginal ou

cesariana que natildeo estavam gestando nem eram puerpeacuteras e cujos partos ocorreram a partir do

ano de 2004 tendo como marco referencial o Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e

Nascimento do Ministeacuterio da Sauacutede Este programa foi criado em 2000 pelo Ministeacuterio da

Sauacutede mas implantado em todos os municiacutepios do Rio Grande do Sul somente em 2004

Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo mulheres nuliacuteparas mulheres

gestantes e pueacuterperas uma vez que o processo de parturiccedilatildeo ocorrendo em periacuteodo proacuteximo

ou concomitante agrave entrevista poderia influenciar nas respostas devido mais a aspectos

fisioloacutegicos e emocionais relacionados agrave dor do parto do que por aspectos culturais

32

24 Caracterizaccedilatildeo das participantes

Este estudo foi realizado com oito mulheres em idade feacutertil com histoacuteria pregressa de

parto vaginal ou cesariano quatro mulheres foram captadas na USK e quatro no HUSM

Foram convidadas para entrevistas mulheres que buscavam o atendimento no programa de

planejamento familiar da USK mulheres que buscavam o atendimento no HUSM nos

serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia e mulheres que estavam no momento da entrevista nos

serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia do HUSM

Para finalizaccedilatildeo da coleta foi utilizado o criteacuterio de saturaccedilatildeo de dados por

reincidecircncia ou seja quando da repeticcedilatildeo dos dados a coleta foi entendida como satisfatoacuteria

e entatildeo suspensa (VIacuteCTORA KNAUTH HASSEN 2000)

As participantes do estudo foram identificadas pela letra M de mulher e um nuacutemero

escolhido por ordem de entrevista (M1-M8) sendo caracterizadas no que se refere aos

aspectos soacutecio-culturais de idade estado civil escolaridade regiatildeo de moradia nuacutemero de

filhos ocupaccedilatildeo e tipo de parto vivenciado conforme descrito abaixo

Mulher 1 - 34 anos 2ordf grau completo casada teacutecnica de enfermagem Com quatro

filhos nascidos de partos normais

Mulher 2 - 24 anos 1ordm grau completo diarista casada Com uma filha tem uma

cesaacuterea

Mulher 3 - 28 anos 2ordf grau completo teacutecnica de enfermagem solteira uniatildeo estaacutevel

Com um filho nascido de parto normal

Mulher 4 - 22 anos 2ordf grau incompleto solteira operadora de caixa de supermercado

Com um filho fez uma cesaacuterea

Mulher 5 - 32 anos 1ordm grau completo do lar casada Com um filho nascido de parto

normal e o outro fez uma cesaacuterea

Mulher 6 - 35 anos 3ordm grau completo enfermeira casada Com dois filhos fez duas

cesaacutereas

Mulher 7- 28 anos 1ordm grau completo empregada domeacutestica uniatildeo estaacutevel Tem quatro

filhos nascidos de partos normal

Mulher 8 - 27 anos 2ordf grau imcompleto dona de casa divorciada Com quatro filhos

fez quatro cesaacutereas

Todas estavam na faixa etaacuteria entre 22 e 35 anos Quanto ao estado civil seis satildeo

casadas uma divorciada e uma solteira poreacutem com uniatildeo estaacutevel no momento da entrevista

33

O niacutevel de escolaridade apresentou trecircs mulheres com ensino meacutedio completo uma

com incompleto trecircs com ensino fundamental completo e uma com curso superior

Todas as participantes satildeo moradoras da zona urbana do municiacutepio

Quanto ao nuacutemero de filhos o grupo em estudo tem uma meacutedia de 2 filhos sendo que

a menor e a maior prole foi de 1 e de 4 filhos respectivamente

Quanto agrave ocupaccedilatildeo das entrevistadas duas satildeo donas de casa duas teacutecnicas de

enfermagem uma enfermeira duas empregadas domeacutesticas e uma operadora de caixa de

supermercado

O tipo de parto de maior incidecircncia vivenciado pelas mulheres foi o parto normal

num total de dez e o total de cesaacutereas foram nove

25 Inserccedilatildeo em campo

Inicialmente na USK foram contatadas mulheres que participavam dos grupos de

planejamento familiar e que compareciam nos dias preacute-estabelecidos para a dispensa dos

meacutetodos anticoncepcionais No HUSM a busca de sujeitos estendeu-se agraves diferentes unidades

de atendimento gineco-obsteacutetrico mulheres acompanhantes e mulheres que trabalham nestas

unidades e que atendiam aos criteacuterios de inclusatildeo

Tanto na USK quanto no HUSM as mulheres foram selecionadas por meio de contato

direto com a pesquisadora na sala de espera das referidas unidades ou quando estavam

acompanhando a sua familiar durante a internaccedilatildeo no HUSM

Como havia entre as participantes funcionaacuterias do serviccedilo que atendiam aos criteacuterios

de inclusatildeo dos sujeitos estas profissionais foram convidadas e as entrevistas realizadas

durante o intervalo do horaacuterio de trabalho Algumas entrevistas foram realizadas no domiciacutelio

das participantes e outras na proacutepria unidade de sauacutede e unidades do HUSM em uma sala

reservada

26 Coleta de dados

Para a obtenccedilatildeo da coleta de dados utilizou-se como instrumento uma entrevista semi-

estruturada contendo questotildees fechadas para a caracterizaccedilatildeo do grupo em estudo e questotildees

abertas que possibilitaram o aprofundamento dos dados e a obtenccedilatildeo de respostas

34

relacionadas agrave vivecircncia das pessoas A coleta de dados foi entre janeiro e marccedilo de 2011 A

entrevista foi gravada em MP3 e posteriormente transcrita na iacutentegra pela pesquisadora de

forma literal A entrevista aberta eacute aquela em que o informante aborda livremente o tema

proposto com pergunta previamente formulada e que possibilita descrever sua vivecircncia de

forma retrospectiva sem repressatildeo de seu pensamento Propicia coletar material

extremamente rico para anaacutelise e contribui para o trabalho de pesquisa em andamento

(MINAYO 2000) Como estrateacutegia de compreensatildeo da realidade sua principal funccedilatildeo eacute

retratar as experiecircncias vivenciadas bem como as definiccedilotildees fornecidas por pessoas grupos

ou organizaccedilotildees (MINAYO 2000)

As entrevistas foram previamente agendadas por meio de contato pessoal sendo

marcados data local e horaacuterio que melhor conviessem agraves entrevistadas evitando interrupccedilotildees

constrangimentos de modo a lhes permitir sentir-se agrave vontade

27 Anaacutelise dos dados

Em posse dos dados coletados estes foram objeto da investigaccedilatildeo de acordo com a

anaacutelise temaacutetica de Minayo (2008) Tal anaacutelise consiste em descobrir os nuacutecleos de sentidos

que constituem uma comunicaccedilatildeo em que sua frequecircncia ou presenccedila revela algum

significado para o objeto analiacutetico Por conseguinte para analisar significados de um

determinado depoimento o surgimento de determinados temas denota estruturas de

relevacircncia valores de referecircncia e modelos de comportamento que podem estar ocultos no

discurso (MINAYO 2008)

Considera-se que a compreensatildeo e a interpretaccedilatildeo das entrevistas nas pesquisas

qualitativas natildeo se realizam em um soacute momento pois acontecem no decorrer da proacutepria coleta

e anaacutelise dos dados quando o pesquisador interage com os sujeitos do estudo na transcriccedilatildeo

das entrevistas e particularmente nas leituras e na organizaccedilatildeo das informaccedilotildees Poreacutem para

uma melhor sistematizaccedilatildeo e compreensatildeo deve-se seguir um percurso ordenado para que se

possa igualmente apreender o conjunto dos significados contidos nos depoimentos dos

entrevistados

Minayo (2008) descreve seguindo Bardin (1977) que essa ordenaccedilatildeo da anaacutelise

temaacutetica segue a sequecircncia de trecircs etapas quais sejam preacute-anaacutelise a exploraccedilatildeo do material e

o tratamento dos resultados obtidos e interpretaccedilatildeo

35

Neste estudo a etapa de preacute-anaacutelise compreendeu a interpretaccedilatildeo do material que se

deu a partir dos questionamentos do investigador Essa etapa consistiu em trecircs tempos o

primeiro chamado de leitura flutuante entendido como a leitura exaustiva das informaccedilotildees do

material de campo periacuteodo de impregnaccedilatildeo do conteuacutedo pelo investigador Jaacute o segundo

tempo foi a Constituiccedilatildeo do ldquoCorpusrdquo no qual se buscou verificar se o material coletado

abrangia regras de eficaacutecia qualitativa tais como exaustividade representatividade

homogeneidade e pertinecircncia Em relaccedilatildeo ao terceiro tempo este perpassou a Formulaccedilatildeo e a

Reformulaccedilatildeo de Hipoacuteteses e Objetivos que baseou-se no retorno a etapa exploratoacuteria de

revisatildeo das hipoacuteteses com intuito de corrigir erros de interpretaccedilatildeo e de ampliar o leque de

indagaccedilotildees para identificar o que surge de relevante para posterior construccedilatildeo de temas ou

categorias de anaacutelise

A segunda etapa da anaacutelise temaacutetica consistiu na Exploraccedilatildeo do Material que se

delineou basicamente nas categorias especiacuteficas que abrangeram elementos ou aspectos de

caracteriacutesticas comuns ou que se relacionavam entre si

A terceira etapa constituiu o Tratamento dos Resultados Obtidos e a Interpretaccedilatildeo

Nesse momento realizaram-se inferecircncias sendo realizada a articulaccedilatildeo entre as informaccedilotildees

aqui construiacutedas e os referenciais teoacutericos de estudos jaacute publicados respondendo agrave questatildeo da

pesquisa com base em seus objetivos

28 Questotildees eacuteticas

Para a realizaccedilatildeo de todas as atividades da pesquisa atentou-se para os criteacuterios eacuteticos

e os princiacutepios bioeacuteticos da voluntariedade da autonomia da beneficecircncia da natildeo-

maleficecircncia e da justiccedila que fundamentam a Resoluccedilatildeo nordm 19696 do Conselho Nacional de

Sauacutede o qual prescreve a eacutetica na pesquisa com seres humanos (BRASIL 1996)

O projeto foi registrado no Gabinete de Projetos do Centro de Ciecircncias da Sauacutede

sendo solicitada autorizaccedilatildeo para o desenvolvimento da pesquisa ao Secretaacuterio Municipal de

Sauacutede e a Direccedilatildeo de Ensino e Pesquisa do HUSM (DEPE) Em um segundo momento foi

encaminhado para a anaacutelise do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa com Seres Humanos da UFSM

(CEP) com a devida documentaccedilatildeo solicitada assinada pelo responsaacutevel legal da instituiccedilatildeo e

pela pesquisadora Apoacutes a aprovaccedilatildeo do CEP foi realizada a etapa de campo da pesquisa

36

Os sujeitos foram informados dos detalhes da pesquisa objetivos e produccedilatildeo de dados

Para tanto antes da realizaccedilatildeo da entrevista foi lido com os sujeitos o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apecircndice B) que concordando com este

optaram por assinaacute-lo O TCLE foi redigido em duas vias uma para a participante e outra

para a pesquisadora Da mesma forma foi redigido o Termo de Confidencialidade o qual

descreve o compromisso das pesquisadoras em relaccedilatildeo agraves informaccedilotildees que soacute poderatildeo ser

divulgadas de forma anocircnima e mantidas em Compact Disc (CD) por um periacuteodo de 5

(cinco) anos sob a sua inteira responsabilidade Apoacutes este periacuteodo ficou acordado que os

dados gravados seratildeo destruiacutedos Destaca-se que o compromisso em relaccedilatildeo agrave preservaccedilatildeo do

sigilo da identidade dos sujeitos durante todas as etapas da pesquisa mesmo com a

divulgaccedilatildeo dos seus resultados sob qualquer forma foi observado sendo utilizado o sistema

de identificaccedilatildeo alfanumeacuterico

Foram ressaltadas a liberdade da participaccedilatildeo espontacircnea e o direito de desistecircncia por

parte das participantes a qualquer momento da pesquisa a fim de se evitar riscos agrave dimensatildeo

fiacutesica moral intelectual social cultural ou espiritual em qualquer fase da pesquisa com a

garantia dos princiacutepios de beneficecircncia e natildeo-maleficecircncia No entanto foi exposto que o

momento da entrevista poderia trazer algumas lembranccedilas questionamentos eou conflitos agrave

dimensatildeo emocional pelo fato de que o sujeito iria refletir sobre o seu cotidiano e suas

vivecircncias Caso isto acontecesse poderia ser indicada uma consulta se assim a participante

desejasse com profissional qualificado do serviccedilo da aacuterea de sauacutede mental do Hospital

Universitaacuterio de Santa Maria previamente contatado

37

3 ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS DADOS

O parto institucionalizado vem sendo apresentado agraves mulheres como um periacuteodo

essencialmente meacutedico que traz consigo as referecircncias de um periacuteodo patoloacutegico e

medicalizado Em consequumlecircncia disso a abordagem sob a perspectiva bioloacutegica pode reduzi-

lo e suprimir a revelaccedilatildeo dos diferentes acircngulos e facetas do universo cultural e social da

parturiente Em virtude disso este estudo fundamentou-se em conceitos socioculturais e natildeo

apenas nos meacutedico-cientiacuteficos Salienta-se que natildeo se pretende abolir os conceitos

biomeacutedicos mas antes entendecirc-los como apenas uma dentre as vaacuterias formas de abordagem

do nascimento

Monticelli (1996) aborda essa questatildeo ao confirmar que a enfermagem quando age

contextualizada dentro desta perspectiva propicia o compartilhamento de saberes e praacuteticas

evitando posturas etnocecircntricas simplistas ou puramente biologicistas sobre o processo da

parturiccedilatildeo

Na sequecircncia deste capiacutetulo seratildeo abordados seis temas surgidos em decorrecircncia da

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados que surgiram das falas das mulheres entrevistadas percepccedilatildeo

das mulheres sobre o nascimento percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado a percepccedilatildeo

das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto conhecendo como se daacute a construccedilatildeo cultural

do processo parturitivo das mulheres resistecircncia das mulheres ao modelo biomeacutedico do parto

percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea

A partir desses temas estabelecer-se-aacute um diaacutelogo com o referencial teoacuterico buscando

alcanccedilar nesse movimento a compreensatildeo de como a cultura influecircncia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher

A Percepccedilatildeo das mulheres sobre o nascimento

Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo das mulheres sobre o nascimento foram relatadas tanto

experiecircncias positivas quanto negativas

A abordagem positiva relatada pelas entrevistadas retrata a responsabilidade por uma

nova vida e a emoccedilatildeo do nascimento conforme as falas das entrevistadas

Tem a parte fiacutesica e espiritual Eu vejo como uma forma de oportunidade da gente crescer e

dar esta oportunidade para este ser que estaacute vindo resgatar as coisas que a gente precisa e que ele

precisa tambeacutem (M1)

38

Eacute uma daacutediva que Deus deu para gente inexplicaacutevel assim apesar de tudo o que a gente

passa ateacute o nascimento da crianccedila Eacute maravilhoso (M2)

Eu acho que eacute uma vida nova que vem para gente compromisso de ter que guiar aquela

pessoa que taacute nascendo com amor com aquele sentimento de cuidar de matildee de ser responsaacutevel por

aquele ser pelas atitudes dele pelo crescimento dele (M3)

O que eu imaginava na hora era ganhar ver o rostinho deles a parte mais emocionante eacute ver

a hora que eles nascem (M8)

As falas das mulheres apontam para positividades da percepccedilatildeo do parto relacionada agrave

emoccedilatildeo da primeira vez de ver o bebecirc e ao contato fiacutesico nesse momento bem como ao

sentimento de responsabilidade pelo filho Essa abordagem transmite um senso de unidade

sobre a pessoa e sua experiecircncia fiacutesica com enfoque nos aspectos emocionais e espirituais do

nascimento Segundo Martin (2006 p 248) ldquoo parto positivo concentra-se na integraccedilatildeo

funcional de todas as partes da mulher - suas memoacuterias passadas esperanccedilas futuras sua

mente e seu corpordquo

Martin (2006) apresenta as metaacuteforas da danccedila e da jornada para descrever esta

integridade colocam a mulher em um papel claramente ativo A danccedila ao significar que

quando corpo e mente encontram-se alinhados danccedilam em sincronia e unidade e entregam-se

agrave nova vida que vem chegando A metaacutefora do parto como uma jornada torna-se uma

oportunidade para o crescimento psicoloacutegico da mulher que se inicia no primeiro trimestre e

culmina no trabalho de parto quando ela relaciona-se iacutentima e singularmente consigo mesma

tendo ao final uma experiecircncia de aprendizado totalmente sua

Foi destacada pelas entrevistadas a mudanccedila do status social e o compromisso com

este novo ser na sua vida denotando o compromisso e a responsabilidade de ser matildee A

mulher que daacute agrave luz com vivecircncias positivas apresenta atitudes que vatildeo dignificaacute-la e que

fortalecem o seu ldquoeu interiorrdquo (BALASKAS 2008)

Este momento faz parte de um ritual de transiccedilatildeo social presente em todas as

sociedades do status social de esposa para o de matildee com intuito de unir os aspectos

fisioloacutegicos aos aspectos sociais da vida de uma pessoa Dessa maneira existem muitas

crenccedilas e rituais do parto e puerpeacuterio no mundo ocidental que continuam ateacute que a matildee e a

crianccedila estejam estabelecidas com seguranccedila em suas posiccedilotildees sociais (HELMAN 2009)

Segundo Odent (2003) atribui-se importacircncia crucial agrave primeira hora apoacutes o parto para

o desenvolvimento da capacidade de amar Nessa fase em condiccedilotildees fisioloacutegicas a liberaccedilatildeo

de ocitocina conhecida como ldquohormocircnio do amorrdquo associada agrave prolactina ldquohormocircnio da

maternidaderdquo significa que se matildee e o bebecirc estiverem em contato pele a pele e olho no olho

39

as chances de se estabelecer apego interaccedilatildeo e amor estatildeo garantidas para ambos Isso eacute

ratificado por Odent (2003) ao referir-se que quando o meio cultural interfere com rotinas

que desestimulam esse apego entre a matildee e o bebecirc tais como o uso de sedativos agentes

anesteacutesicos e analgeacutesicos durante o parto influencia toda a capacidade de amar devido a natildeo

liberaccedilatildeo da ocitocina natural pelo organismo da mulher

Um aspecto negativo expresso pelas entrevistadas concernente agrave percepccedilatildeo do

nascimento refere-se ao desconhecimento sobre a fisiologia do parto o que as fez entender

este processo semelhante a um processo patoloacutegico e sujeito a vaacuterias intervenccedilotildees

desnecessaacuterias conforme os relatos

O primeiro eu natildeo tinha a orientaccedilatildeo que eu tenho agora ningueacutem me orientou Foi muito

doiacutedo e difiacutecil inclusive ateacute porque ele era bem grande e iam passar o foacuterceps Natildeo sei se chegaram a

colocar mas eu consegui e nasceu normal E me colocaram o soro com ocitocina () e eu disse ldquopara

quecircrdquo mas natildeo me explicaram (M1)

Jaacute tinha perdido o tampatildeo uns 3 dias antes de comeccedilar ldquoas dorrdquo entatildeo eu ficava preocupada

ldquoSeraacute que eu natildeo vou sentir dorrdquoldquo seraacute que eu natildeo vou saber quando vai ser a hora de ir ao

hospitalrdquo Me colocaram o soro para induzir () natildeo me explicaram nada Depois veio a anestesia

remeacutedios acho que para enjocirco () natildeo consegui ganhar normal (M2)

Achei que eu tinha que me esforccedilar mais em todos eles Por isso na hora de ganhar sempre

me dava um medo Aiacute eu natildeo sei se eu me trancava Botaram o soro para dor e eu ao inveacutes de fazer a

forccedila direito como se deve fazer eu me retrancava e comeccedilava a chorar (M7)

Eu acho o parto normal muito mais arriscado que a cesaacuterea Todos os meus foram cesaacuterea

No meu caso eu acho que foi por causa da dilataccedilatildeo Todas foram agendadas Os meus filhos quando

chegam no uacuteltimo mecircs natildeo querem ficar nascem antes A minha filha nasceu com 8 meses com muito

pouco peso e foi para UTI (M8)

Os sentimentos relatados pelas entrevistadas de natildeo saber como agir no parto

exprimem significativamente seu desconhecimento acerca do processo fisioloacutegico e refletem-

se em medo e inseguranccedila Uma vez que natildeo sabem o que estaacute acontecendo com seu corpo as

mulheres controlam-no menos demonstram fragilidade e tendem a ser tratadas como objeto

de controle da equipe meacutedica Desse modo aceitam passivamente as intervenccedilotildees meacutedicas

como necessidades normais e rotineiras no parto a exemplo dos relatos do uso de ocitocina

de foacuterceps e da indicaccedilatildeo de cesariana previamente agendada

Esse eacute o modelo de atendimento tecnocraacutetico de assistecircncia descrito pela antropoacuteloga

Davis Floyd (2004) que representa a corrente de pensamento convencional e dominante

norteadora da praacutetica da assistecircncia obsteacutetrica haacute vaacuterias deacutecadas na qual o profissional de

sauacutede manteacutem um distanciamento do paciente como forma de proteger a si mesmo das

reaccedilotildees emocionais frente agraves anguacutestias deste

40

A forma e a percepccedilatildeo de como as mulheres vivenciam a sua experiecircncia de parto satildeo

impregnadas pela realidade conforme modelo que se apresenta para a sociedade isto eacute com a

mensagem de que eacute imprescindiacutevel a utilizaccedilatildeo da tecnologia como garantia de um parto

seguro O que resulta disso eacute o que chamamos de uma ldquocascata de intervenccedilotildeesrdquo que ocorre

quando uma praacutetica obsteacutetrica desencadeia outras fazendo com que se altere o processo

natural do parto (BALASKAS 2008)

Destaca-se tambeacutem a desinformaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos riscos que advecircm da cesaacuterea

desnecessaacuteria para matildee e bebecirc A entrevistada M8 narra que as cesaacutereas foram realizadas

antes de sua gestaccedilatildeo estar a termo Sabe-se que a prematuridade iatrogecircnica ocasionada por

cesaacutereas sem indicaccedilatildeo estaacute associada ao aumento da taxa de nascimentos de receacutem nascidos

preacute-termo (MACDORMAN et al 2008) e ao aumento da mortalidade neonatal (VILLAR et

al 2007)

Concorda-se com Balaskas (2008) ao afirmar que as cicatrizes corporais deixadas

pelas intervenccedilotildees desnecessaacuterias no corpo da mulher transformam-se em uma vivecircncia de

sofrimento inseguranccedila e sobrepujam toda e qualquer vivecircncia positiva ocorrida no parto

Logo um momento que deveria ser natural repleto de lembranccedilas positivas e felizes para a

mulher constitui-se num evento traumatizante Nessa direccedilatildeo entende-se que se o

comportamento humano eacute influenciado diretamente pelo meio cultural pois humanos

comunicam-se e criam cultura a socializaccedilatildeo da naturalizaccedilatildeo do parto como evento rodeado

de tecnologia e risco bem como a recapitulaccedilatildeo das experiecircncias traumaacuteticas contadas pelas

mulheres reforccedilam-se na convivecircncia social (ODENT 2004)

Ademais as intervenccedilotildees desnecessaacuterias sobrepotildeem-se ao poder que a mulher tem de

parir e que atualmente ela mesma desconhece pois a histoacuteria repassada pela medicina nas

uacuteltimas deacutecadas na cultura ocidental transformou o parto em um evento essencialmente

meacutedico sendo a mulher apenas uma parte do cenaacuterio (SEIBERT 2005)

O uso do recurso da aceleraccedilatildeo no parto com o uso do soro com ocitocina foi

percebido como forma negativa para as mulheres que o relataram O emprego de hormocircnios

sinteacuteticos no trabalho do parto como eacute o caso da ocitocina tende a cessar a fisiologia e as

etapas do parto (FIGUEREDO L 2010)

Ratificando essa informaccedilatildeo um estudo feito por Barros (2005) mostra que o aumento

de partos cesaacutereos estaacute relacionado agrave praacutetica da induccedilatildeo medicamentosa A falha de induccedilatildeo

provoca a indicaccedilatildeo de uma cesaacuterea que implica a utilizaccedilatildeo de anestesia medicaccedilotildees

antibioacuteticas profilaacuteticas medicaccedilatildeo para naacuteuseas medicaccedilatildeo para dor no poacutes-operatoacuterio e

utilizaccedilatildeo de outras drogas o que pode afetar drasticamente o comportamento materno pois o

41

que se verifica em estudos com outros mamiacuteferos eacute o natildeo-cuidado de seus bebecircs apoacutes uma

cesariana (ODENT 2004)

Eacute primordial durante a gestaccedilatildeo o preparo das mulheres para o parto apoiando suas

informaccedilotildees em praacuteticas baseadas em evidecircncias cientiacuteficas pois a grande maioria dos

procedimentos que os profissionais de sauacutede ainda utilizam no parto satildeo rotinas que estatildeo

caindo em desuso pois se mostraram mais danosas do que beneacuteficas Se as proacuteprias pacientes

souberem disso atraveacutes de atividades educativas no preacute-natal seraacute muito mais faacutecil reverter

esse quadro (DINIZ 2003)

Concorda-se nessa direccedilatildeo que a consulta preacute-natal tambeacutem eacute um espaccedilo importante

para mudanccedila de atitudes em relaccedilatildeo ao parto incentivada por profissionais que valorizam os

aspectos sociais e subjetivos da gestaccedilatildeo do parto e do nascimento (FREITAS 2005)

A Percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado

Nesta categoria as mulheres expressam a via de parto desejada A maior parte

manifestou o desejo pelo parto normal Apenas uma entrevistada manifestou preferecircncia pela

cesaacuterea e teve sua vontade atendida

Do primeiro eu natildeo pesquisei dos outros que eu comecei a ler sobre o assunto Eu queria ter

o parto em casa e mais informaccedilotildees do meacutedico Trabalhei ateacute a uacuteltima hora de internar Foi bom fiz a

respiraccedilatildeo direitinho e acabei ganhando no leito como eu pensei que queria que nascesse (M1)

Eu tinha conversado com meu esposo em casa e a gente queria parto normal mas natildeo deu

perdi o controle (M2)

Quando eu dizia que queria parto normal me diziam ldquopor que fazer parto normal por que

natildeo faz uma cesaacutereardquo Eu dizia ldquoeu quero parto normal pela recuperaccedilatildeo mais raacutepida para poder

voltar a estudarrdquo e eu achei bem melhor o parto normal do que ter feito uma cesaacuterea que daiacute eu ia

ficar dias sem poder voltar a estudar (M3)

Eu sempre quis cesaacuterea porque eu tinha medo de sentir dor ali na hora Eu vi o bebecirc assim

que o tiraram () Natildeo recebi orientaccedilatildeo sobre parto normal do meacutedico (M4)

A minha preferecircncia sempre foi o parto normal eu achei que ia ganhar normal deste uacuteltimo

mas natildeo deu fiquei frustrada (M5)

Por mim poderia ser parto vaginal tanto que do primeiro filho eu ia caminhar ateacute na veacutespera

para ver se evoluiacutea para parto normal mas natildeo evoluiu daiacute foi cesaacuterea e do outro foi cesaacuterea

tambeacutem Teve que ser programada (M6)

O parto normal foi desejado Se tivesse feito uma cesaacuterea seria o fim do mundo porque eu

demorei para aceitar a ideacuteia de que teria que fazer uma laqueadura por cesaacuterea Eu sempre dei a

preferecircncia para parto normal por causa de comentaacuterios e sobre ter infecccedilatildeo (M7)

42

Eu tinha na cabeccedila que o meu primeiro filho ia ser normal Parto normal a matildee ganha e jaacute

sai caminhando com a crianccedila no colo e cesaacuterea natildeo (M8)

Na fala das entrevistadas revelou-se o desejo pelo parto normal ou pela cesaacuterea

destacando o entendimento de que o parto normal tem a recuperaccedilatildeo mais raacutepida natildeo

interferindo na rotina e autonomia delas apresenta menos risco de infecccedilatildeo e a cesaacuterea

poderia proteger quanto agrave dor do parto Esses pontos justificaram em grande parte seu desejo

pelas vias de parto

Para Martin (2006) as mulheres que desejam o parto normal e conseguem passar por

essa experiecircncia consideram-no um processo que acontece naturalmente como algo que a

mulher realiza e natildeo simplesmente vecirc acontecer consigo

Estudos de natureza quantitativa e qualitativa da aacuterea da sauacutede em relaccedilatildeo agrave escolha

para o parto normal constataram que as expectativas das mulheres em relaccedilatildeo ao tipo de parto

justificaram-se pela recuperaccedilatildeo poacutes-parto mais raacutepida e por ser melhor para elas eou para os

bebecircs (OLIVEIRA 2002 MELCHIORI et al 2009 MANDARINO et al 2009)

A entrevistada que realizou a cesariana por desejo proacuteprio justificou sua escolha pelo

medo da dor do parto A forma como se percebe e se responde agrave dor pode ser influenciada

pela origem cultural e social Em outros grupos culturais a dor do parto natildeo eacute temida muito

diferentemente das mulheres de paiacuteses ocidentais que a temem e satildeo bastante propensas a

aceitar drogas analgeacutesicas ou anesteacutesicas (HELMAN 2009)

No Brasil o medo da dor eacute apontado como uma das causas da intervenccedilatildeo cesariana

requerida pelas mulheres e pode ser considerado assim um dos motivadores do aumento das

taxas dessa cirurgia no paiacutes (FAUacuteNDES CECATTI 1991 OLIVEIRA et al 2002)

Em um estudo feito por Almeida (2009) sobre a dor do parto normal a autora

evidenciou a ocorrecircncia de uma relaccedilatildeo de poder dos serviccedilos de obstetriacutecia sobre o corpo

feminino e a forma como estes serviccedilos gerenciam-se mantendo o processo da medicalizaccedilatildeo

o que se constitui um dos mecanismos de favorecimento da perpetuaccedilatildeo do parto cesaacutereo

com a finalidade de evitar a dor do parto normal

Entende-se tambeacutem que a dor do parto eacute em grande medida iatrogecircnica amplificada

pelo modelo assistencial que institui rotinas como a imobilizaccedilatildeo o uso abusivo de ocitocina

artificial a manobra de Kristeller a episiotomia e a episiorrafia praacuteticas no parto normal que

satildeo claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas com base em evidecircncias

cientiacuteficas e em recomendaccedilotildees da OMS (1996) e do Ministeacuterio da Sauacutede (BRASIL 2001)

43

Para tanto foi instituiacutedo pelo Ministeacuterio da Sauacutede (2000b) o Programa de

Humanizaccedilatildeo no Preacute-Natal e Nascimento cujo objetivo eacute melhorar a assistecircncia obsteacutetrica

provocada por praacuteticas e condutas inadequadas

Segundo Floyd (2004) o programa eacute traduzido como um modelo humanista de

assistecircncia tambeacutem referido por ela como modelo holiacutestico Os profissionais que atuam nessa

vertente simplesmente tecircm como desejo humanizar a tecnomedicina e apresentam maior

potencial para reformar o modelo tecnocraacutetico com mudanccedilas de atitudes e de paradigma

O modelo holiacutestico eacute o que abarca uma variedade mais rica de abordagem rompe

totalmente com o modelo dominante atual utiliza modalidades que satildeo menos prejudiciais

assiste as pessoas em seu contexto crecirc em outros modos de contexto que curam compreende

a dimensatildeo espiritual do cuidado da sauacutede e tambeacutem fortalece o desenvolvimento da vida de

cada pessoa (FLOYD 2004)

Neste sentido a escolha da via de parto torna-se importante uma vez que leva em

consideraccedilatildeo o contexto soacutecio cultural e assistencial em que a parturiente estaacute inserida e os

aspectos bioloacutegicos e psicoemocionais com intuito de promover um cuidado direcionado agraves

suas necessidades conforme recomendado nos estudos de Bezerra Cardoso (2005) e Budoacute et

al (2007) referentes a outros cenaacuterios da sauacutede Tal cuidado aproxima-se da humanizaccedilatildeo da

atenccedilatildeo no parto

De destaque nas falas das entrevistadas do presente estudo eacute o sentimento de

frustraccedilatildeo e perda de controle das que desejavam parto normal e tiveram de submeter-se agrave

cesaacuterea Situaccedilatildeo semelhante surgiu no relato das mulheres que Emily Martin (2006)

entrevistou em Baltimore (EUA) quando percebeu nos depoimentos que uma das reaccedilotildees

mais comuns especialmente quando a mulher planeja um parto vaginal e a cirurgia ocorre eacute a

perda de controle do seu parto

Por outro lado entre as entrevistadas que conseguiram realizar o parto normal

consoante seu desejo de via de parto o sentimento de aliacutevio foi constatado Para Balaskas

(2008) as sensaccedilotildees de aliacutevio realizaccedilatildeo gratidatildeo ecircxtase partem de uma grande variedade

de sensaccedilotildees que somente a experiecircncia do parto normal propicia

Uma das entrevistadas relata orientaccedilatildeo para cesariana a fim de submeter-se agrave

laqueadura tubaacuteria tendo seu desejo frustrado quanto agrave opccedilatildeo da via de parto uma vez que

desejava realizar parto normal Evidencia-se que natildeo houve o desejo de cesaacuterea no entanto a

necessidade da laqueadura

A constataccedilatildeo do desestiacutemulo ao parto normal feito pela equipe meacutedica mesmo

cientes de que essas mulheres tinham histoacuterias preacutevias de partos normais a fim de realizar

44

uma cesaacuterea concomitantemente agrave laqueadura tubaacuteria mostra o desrespeito agrave lei nordm 9263 que

trata do planejamento familiar que veda a esterilizaccedilatildeo ciruacutergica em mulher durante os

periacuteodos de parto ou aborto exceto nos casos de comprovada necessidade por cesarianas

sucessivas anteriores (BRASIL 2002)

As entrevistadas que se submeteram agrave cesaacuterea apresentaram percepccedilotildees de que algo

que foi feito com elas e natildeo de sua participaccedilatildeo como relatado nas seguintes frases ldquotiraram

o bebecircrdquo (M4) ldquopuncionaram-me umas 15 vezesrdquo (M6) ldquose a hemorragia natildeo parasse iam

tirar o meu uacuteterordquo (M8)

A sensaccedilatildeo de passividade e separaccedilatildeo entre o eu e o seu corpo surge em niacutevel

extremo quando as mulheres descrevem a cesariana Parte disso adveacutem pelo fato de ser uma

cirurgia em que um nuacutemero maior de pessoas toca manipula corta e costura seu corpo Outra

parte deve-se agrave anestesia peridural que produz insensibilidade da cintura para baixo e

intensifica-se pela colocaccedilatildeo de um pano sobre o peito da mulher de modo que ela natildeo

enxerga a metade inferior do seu corpo (MARTIN 2006)

Verificamos nas falas das entrevistadas que os laccedilos entre a matildee e o bebecirc podem estar

sendo desestimulados por priorizarem-se cuidados que poderiam ser postergados ldquoPrimeiro

foi realizado os cuidados com o bebecirc e me mostraram jaacute enrolado com as roupasrdquo (M6)

ldquoFicavam ali fazendo os cuidados com o bebecirc e me mostravam bem depoisrdquo (M8)

Esses cuidados aleacutem de estar interferindo na relaccedilatildeo amorosa matildee-bebecirc podem estar

ignorando a implementaccedilatildeo de praacuteticas simples como o clampeamento tardio do cordatildeo

umbilical o contato imediato pele-a-pele e o iniacutecio da amamentaccedilatildeo exclusiva que tem um

impacto a longo prazo na nutriccedilatildeo e na sauacutede da matildee e do bebecirc pois afetam o

desenvolvimento da crianccedila muito aleacutem do periacuteodo neonatal e do puerpeacuterio (BRASIL 2011)

A metaacutefora da produccedilatildeo no nascimento proposta pela antropoacuteloga Emily Martin

(2006) retrata a interrupccedilatildeo dos laccedilos afetivos entre matildees e bebecircs que sofreram cesarianas

devido ao controle sobre o corpo feminino exercido pela retirada do protagonismo da mulher

da cena do nascimento Fato esse semelhante agrave metaacutefora da produccedilatildeo industrial do natildeo-

envolvimento da trabalhadora com o produto do seu trabalho quando ela natildeo sente que foi

quem o produziu e quando o seu trabalho eacute estritamente organizado e controlado (MARTIN

2006)

Frequentemente quando se interfere na produccedilatildeo de um bebecirc segundo a metaacutefora da

produccedilatildeo industrial que ocorre quando natildeo eacute a mulher que daacute agrave luz e o bebecirc eacute extraiacutedo

cirurgicamente por um meacutedico a matildee sente-se desligada da crianccedila apoacutes seu nascimento

(MARTIN 2006)

45

Nesta direccedilatildeo um estudo realizado na Universidade da Cidade do Cabo Aacutefrica do Sul

mostrou que a separaccedilatildeo entre matildee e o bebecirc tem impactos negativos influenciando na

duraccedilatildeo do sono e na frequecircncia cardiacuteaca do bebecirc (BARAK 2011)

O modelo de atendimento biomeacutedico desestimula a implementaccedilatildeo de cuidados

comprovadamente eficazes e passa uma mensagem que matildee e bebecirc satildeo como uma diacuteade

conflitante natildeo sendo vistos como uma unidade integral (MARTIN 2006)

Outro elemento a ser salientado refere-se agrave percepccedilatildeo de ser matildee atraveacutes da vivecircncia

do trabalho de parto ou seja compreende-se o significado de ser matildee por meio da vivecircncia da

parturiccedilatildeo conforme fala da entrevistada Era meu primeiro filho decidi que para ser matildee

teria que ganhar de parto normal [] Se eacute para ser matildee vamos ser matildee mesmo (M3)

Como se pode notar a entrevistada destaca que o parto normal foi primordial para

sentir-se realmente matildee Importante nesse sentido a afirmaccedilatildeo de Monticelli (1996) de que o

parto eacute um ritual que marca profundamente o inconsciente feminino principalmente se for o

primeiro

A Percepccedilatildeo das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto

Nesta categoria foi significante a falta de autonomia da mulher na decisatildeo sobre a via

de parto Para compreensatildeo do parto como um evento na vida da mulher em relaccedilatildeo agrave decisatildeo

sobre o tipo de parto as mulheres opinaram

A cesaacuterea geralmente eacute o meacutedico que decide Eu sabia disso daiacute que nem todas satildeo iguais

porque a minha voacute teve 6 cesaacutereas e 6 normal e a minha matildee soacute fez cesaacuterea Entatildeo eu sabia que

podia acontecer comigo e realmente aconteceu O meacutedico disse que ia fazer uma cesaacuterea e fez

cesaacuterea disse que ela tinha tomado aacutegua no parto (M8)

Deveria ser da mulher mais do que do meacutedico jaacute que ela que estaacute sentindo e sabendo o que

estaacute acontecendo (M1)

A niacutevel de consultoacuterio (rede privada) eacute o meacutedico Natildeo daacute para escolher() Eu queria Por

mim poderia ser parto vaginal (M6)

Eu acho que deve ser a mulher mas eacute o meacutedico que decide Eles dizem que eacute protocolo que

isso que aquilo mas sabe-se que natildeo eacute assim Soacute que natildeo acontece isso neacuteEla natildeo tem o direito de

decidir se quer um parto normal ou uma cesaacuterea Eacute colocado para ela que ela vai ganhar de parto

normal por causa disso ou daquilo mas agraves vezes ela natildeo estaacute preparada de repente eacute o melhor para

o corpo mas natildeo o melhor para cabeccedila dela natildeo estaacute preparada para aquilo ali (M3)

Eacute o meacutedico que tem o poder de decisatildeo se vai ser parto vaginal ou cesaacuterea (M2)

46

Nessa categoria foi significativo o entendimento das mulheres sobre o poder de

decisatildeo que os meacutedicos tecircm em relaccedilatildeo ao tipo de parto Poreacutem elas discordam de que este

profissional determine a escolha de forma unilateral e apontam para inclusatildeo delas nessa

decisatildeo Esta perspectiva direciona-se para a autonomia e a participaccedilatildeo da mulher na decisatildeo

sobre a via de parto embora o que se constate eacute que o meacutedico determina qual a finalizaccedilatildeo da

gestaccedilatildeo

Entende-se que a questatildeo de avaliaccedilatildeo de risco e a indicaccedilatildeo de se realizar uma

cesaacuterea sejam de competecircncia meacutedica No entanto a mulher deve receber informaccedilotildees sobre

os riscos e benefiacutecios da intervenccedilatildeo a fim de exercer sua participaccedilatildeo ativa no processo Tal

questatildeo enfatiza o direito agrave informaccedilatildeo e agrave formaccedilatildeo de opiniatildeo das mulheres para que

tenham o direito de reivindicar aquilo que eacute beneacutefico para a sua sauacutede e a de seu bebecirc

Profissionais e mulheres podem ateacute tomar uma decisatildeo antecipada sobre o tipo de parto

poreacutem esse fato natildeo pode ser visto como uma simples questatildeo de preferecircncia como no caso

da cesaacuterea antecipada ou eletiva sem indicaccedilatildeo pois pode implicar em riscos e complicaccedilotildees

futuras para matildee e para o bebecirc (BRASIL 2001)

Para o Ministeacuterio da Sauacutede (2006a) um dos valores da Poliacutetica Nacional de

Humanizaccedilatildeo eacute o principio da autonomia de pensar os indiviacuteduos como sujeitos autocircnomos e

como protagonistas nos coletivos de que participam como co-responsaacuteveis pelo processo de

produccedilatildeo de sauacutede de si e do mundo em que vivem

Quando falamos da autonomia da mulher parturiente falamos de um processo em que

a cada momento se vai desconstruindo o leacutexico cientificoteacutecnico para que a mulher e a

famiacutelia possam ser chamadas ao centro de decisatildeo Mas para isso eacute importante oferecer toda a

informaccedilatildeo que ela necessita para se tornar um membro efetivo da equipe de sauacutede e como

tal ter pleno poder e capacidade de decidir da forma mais vantajosa para todos Esse eacute sem

duacutevida um processo de grande complexidade que em uma aplicaccedilatildeo absoluta incita os

profissionais de sauacutede a compreenderem que o respeito pela autonomia da mulher natildeo

constitui um dano na sua autonomia profissional mas antes um incremento pela qualidade

participaccedilatildeo e rigor eacutetico obtido atraveacutes desse processo (LEITAtildeO 2010)

Tal processo talvez seja difiacutecil de compreender para o profissional quando se alicerccedila

na cultura biomeacutedica ao redor de uma ideologia de progresso tecnoloacutegico que no contexto do

parto iniciou-se a partir da sua institucionalizaccedilatildeo com o advento da era industrial (FLOYD

2004)

47

A institucionalizaccedilatildeo do parto iniciou-se nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX quando

o mesmo passou a ser visto como um processo patoloacutegico que deveria ser controlado a fim de

evitar a morte materna e perinatal sendo entatildeo marcado por rotinas tais como episiotomias

cesaacutereas desnecessaacuterias utilizaccedilatildeo de foacuterceps profilaacutetico (PROGIANTI BARREIRA 2001)

Para Collaccedilo (2002) as instituiccedilotildees tecircm uma cultura proacutepria fundamentada no empirismo e

na tecnologia que se revelam nas rotinas e condutas intervencionistas do meacutedico O resultado

dessa conduta intervencionista eacute a discrepacircncia entre o que as mulheres desejam e o que eacute

realizado o que justificaria a mudanccedila do tipo de parto (HOPKINS 2000)

Um dos motivos alegados pelos meacutedicos para essa praacutetica seria a mudanccedila de perfil de

risco das gestantes Poreacutem um estudo realizado nos EUA que relacionou o aumento das taxas

de cesaacuterea com a mudanccedila de perfil do risco constatou que as chances de uma mulher ser

submetida a uma cesaacuterea na primeira gestaccedilatildeo sem pertencer a um grupo de risco subiu para

50 em 2005 comparado ao ano de 1996 (DECLERCQ et al 2005)

Essa desinformaccedilatildeo por parte das mulheres pode por fim a sua capacidade na decisatildeo

sobre o tipo de parto e ser atribuiacuteda agrave falta de conhecimento sobre seu corpo os processos

reprodutivos e a sexualidade (SANTOS 2008)

Segundo o relato da entrevistada M6 natildeo haacute o direito de escolha quanto ao tipo de

parto para a mulher que faz o preacute-natal na rede suplementar sendo sua autonomia geralmente

desrespeitada quando deseja um parto normal De acordo com Mccourt et al (2007) a

escolha do tipo de parto pela mulher eacute apontada na literatura meacutedica como um fator que tem

contribuiacutedo para o elevado iacutendice de cesarianas na atualidade

Destaca-se que nos serviccedilos de sauacutede suplementar no Brasil as taxas de cesaacuterea satildeo

as mais elevadas do mundo em torno de 797 (ANS 2001) A cesaacuterea daacute ao meacutedico o

maacuteximo de poder controle e conduccedilatildeo nesse processo e exige o miacutenimo de trabalho do uacutetero

e da mulher criando o ponto de vista de que este procedimento ciruacutergico fornece os melhores

bdquoprodutos‟ isto eacute produzem bebecircs perfeitos semelhantemente agrave metaacutefora de produccedilatildeo tal

como acontece nas induacutestrias (MARTIN 2006)

Logo deu-se iniacutecio a uma crenccedila de que cesaacuterea eacute protetora para o nascimento do

bebecirc Isso pode estar relacionado agrave noccedilatildeo de que partos normais satildeo traumaacuteticos para o feto

e entatildeo os profissionais ldquoaliam-serdquo ao bebecirc contra a destruiccedilatildeo em potencial causada pelo

corpo da matildee no trabalho de parto e no parto o que leva a ignorar aquilo que talvez seja o

mais importante para a mulher e para a crianccedila que eacute a natureza de suas experiecircncias no parto

e no nascimento (MARTIN 2006)

48

Aleacutem do mais na relaccedilatildeo meacutedico-parturiente fica evidente como satildeo encaradas as

questotildees relacionadas ao parto de forma diferente por cada um desses atores (ANS 2008a)

Entre os meacutedicos obstetras institui-se uma cultura proacute-cesaacuterea e como consequecircncia

parte deles natildeo se encontra motivada nem capacitada para o acompanhamento do parto

normal Em contrapartida as mulheres dentro dessa cultura tecircm dificuldade de fazer valer a

sua decisatildeo quanto ao tipo de parto por sentirem-se menos capacitadas a escolher devido agraves

questotildees teacutecnicas levantadas e sustentadas por eles (BRASIL 2001)

Estudos tecircm demonstrado que apenas 20 das usuaacuterias de convecircnio particular

conseguem dar agrave luz por parto normal sendo que a maioria das mulheres brasileiras deseja-o

(REBELO et al 2010 POTTER et al 2001 POTTER et al 2008)

Concorda-se portanto com a visatildeo de ANS (2008a) de que a criacutetica da exclusatildeo das

mulheres na decisatildeo da via de parto deve-se principalmente ao fato de que o modelo

biomeacutedico desconhece os significados que as mulheres datildeo agrave experiecircncia da gestaccedilatildeo e do

parto

Conhecendo como se daacute a construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres foram relatadas

tanto experiecircncias positivas quanto negativas dos partos das mulheres de seu conviacutevio

As mulheres que apresentam uma percepccedilatildeo positiva sobre parto normal apresentam

nas famiacutelias histoacuterias e relatos positivos do parto de suas familiares

A minha matildee teve 5 partos normais Todos em casa e a minha voacute era parteira Acho que a

influecircncia vem daiacute Queria que minha voacute tivesse viva para eu ter tido os meus filhos com ela A matildee

sempre foi positiva nunca disse que os partos foram uma coisa horriacutevel Ela sempre disse que era

uma coisa boa doiacutea claro mas ela sempre mostrou coisa boa Tenho uma irmatilde que ganhou um bebecirc

em casa natildeo deu tempo de ir para o hospital Foi raacutepido demais (M1)

Olha todas natildeo se queixaram As [familiares] que eu conversei disseram que parto normal eacute

a melhor forma por causa da recuperaccedilatildeo eacute melhor para ti cuidar do nenecirc sem depender de ningueacutem

A matildee sempre teve parto normal (M2)

Da minha matildee foi tranquumlilo O parto dela foi no mesmo hospital que eu tive ela caminhou

tudo como tinha que ser rompeu a bolsa em casa Ela me passou essa experiecircncia boa (M3)

Eu e a minha irmatilde nascemos de parto vaginal A minha voacute teve 5 filhos de parto vaginal A

minha sogra teve partos vaginais em casa Meu marido nasceu com 4kg Ela comentava como eacute que

tinha sido os nascimentos dos filhos dela de ser tudo tranquilo e das aventuras que ateacute na veacutespera

andava a cavalo e natildeo deu nada de complicaccedilatildeo e naquele tempo foi com parteiras A matildee dela era

parteira Os filhos nasceram com a avoacute (M6)

49

Durante a minha gravidez eu conversava mais sobre o parto com a minha matildee e eu a

acompanhei ela quando foi ganhar normal Eu vi como foi entatildeo eu sabia como tinha que ser quando

eu fosse ganhar que era bom A influecircncia da minha voacute e da minha matildee foi para parto normal mas

eu natildeo ganhei normal em nenhum (M8)

Na opiniatildeo dessas entrevistadas a transmissatildeo do conhecimento dos partos na famiacutelia

exerceu grande influecircncia na preferecircncia por parto normal focando a naturalidade e a

praticidade de encarar o parto normal

O processo de socializaccedilatildeo denominado ldquoprimaacuteriordquo para Berger e Luckmann (1976)

acontece na famiacutelia durante a infacircncia quando a realidade eacute apreendida atraveacutes da

consciecircncia individual e os papeacuteis sociais tornam-se seus quando identificados

Segundo Laraia (2003) a socializaccedilatildeo do indiviacuteduo eacute resultante do seu meio cultural e

a acumulaccedilatildeo de saberes e crenccedilas satildeo passadas de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Destaca-se isso

igualmente no estudo de Ressel et al (2011) relativo a cultura da sexualidade junto a

adolescentes e suas famiacutelias onde a socializaccedilatildeo dos saberes eacute um processo dinacircmico e

contiacutenuo ao longo da vida

Laraia (2003) defende que os valores que vatildeo compor a singularizaccedilatildeo de cada pessoa

na sociedade ocorrem por meio da socializaccedilatildeo atraveacutes dos relacionamentos das

representaccedilotildees pessoais sobre fenocircmenos fatos e eventos sociais

As entrevistadas M1 e M6 relatam a presenccedila de parteiras na assistecircncia ao parto Ateacute

a entrada da profissatildeo meacutedica sobre o processo do parto as mulheres em trabalho de parto

eram auxiliadas principalmente pelas matildees tias avoacutes eou parteiras Poreacutem com a perda da

importacircncia do papel das parteiras - pois ameaccedilavam o monopoacutelio do saber meacutedico - e sua

progressiva alocaccedilatildeo na marginalidade do contexto da obstetriacutecia seus saberes foram sendo

vistos sob suspeita

Em quase todas as culturas segundo Helman (2009) os principais provedores dos

cuidados primaacuterios de sauacutede satildeo as matildees e avoacutes e as parteiras ainda satildeo as responsaacuteveis pelos

cuidados obsteacutetricos em alguns paiacuteses

Percebem-se nas narrativas das entrevistadas as influecircncias positivas passadas por suas

matildees na vivecircncia da parturiccedilatildeo das mulheres da famiacutelia Elsen (2011) realizou uma anaacutelise de

quatro estudos sobre famiacutelias tendo como um dos destaques a valorizaccedilatildeo do conhecimento e

das praacuteticas do cuidado nesses ambientes familiares

Em contrapartida as entrevistadas que apresentam nos seus discursos experiecircncias

negativas mostram que no conviacutevio familiar e no ciacuterculo social proacuteximo este assunto ou natildeo

foi comentado ou foi discutido com teor negativo

50

A minha matildee nunca falou bdquocom noacutes‟ sobre isso Ela teve cesaacuterea da minha irmatilde mais nova de

sete anos e deu problemas de rim nela A minha recuperaccedilatildeo foi ruim porque demorei a recuperar

() Eu me sentia estranha e parece que minhas pernas estavam separadas do meu corpo por causa da

anestesia(M4)

Noacutes nunca conversamos sobre essas coisas laacute em casa nem com matildee e nem com irmatilde A

uacutenica coisa que me falavam eacute que sofria muito falavam que ia gritar de tanta dor que as contraccedilotildees

seriam fortes Eu sofri um pouquinho coloquei soro fiquei de barriga para cima o tempo todo ()

como se estivesse doente depois eu tive uma cesaacuterea que infeccionou os pontos Me senti um objeto

() (M5)

Minha matildee disse que eacute horriacutevel que natildeo era bom que nem cesaacuterea e nem parto normal Ela

sofreu muito Por isso na hora de ganhar assim sempre me dava um medo devido agraves histoacuterias

contadas por minha matildee (M7)

Vizinhos ateacute parentes comentavam que esqueceram uma tesoura dentro da paciente ou

esqueceram um pano Eu tenho medo de cesaacuterea Outro problema eacute aquele pano que separa a sua

cabeccedila do resto do seu corpo Disseram-me que teria de fazer uma cesaacuterea para fazer a laqueadura

na proacutexima gravidez Eu vou fazer um RX depois para ver se natildeo ficou nada laacute dentro (M7)

Aiacute vem a voacute vem a matildee conversar dizendo ldquotu natildeo faz escacircndalo natildeo gritardquo porque

realmente elas natildeo datildeo atenccedilatildeo E realmente eu vi isso Entatildeo eu sabia que natildeo era bom quando eu

fosse ganhar (M8)

Nas falas destas entrevistadas deflagra-se a ausecircncia de conversa sobre o assunto

Quando haacute diaacutelogo acerca do tema no seio familiar reveste-se de significados negativos

destacando a dor o sofrimento a anguacutestia o medo a solidatildeo e a alienaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao que

estaacute acontecendo com o seu corpo

Para Martin (2006) as mulheres podem ter essas sensaccedilotildees negativas de objetificaccedilatildeo

e fragmentaccedilatildeo tanto na cesaacuterea quanto no parto normal mas as que passam por uma cesaacuterea

descrevem essas sensaccedilotildees mais intensamente conforme destacado nas falas das entrevistadas

M4 e M5

Segundo a autora o medo e a ansiedade no parto normal satildeo gerados pela inconsciente

fragmentaccedilatildeo subliminar impliacutecita de como a mulher percebe esse fenocircmeno de como accedilotildees

que elas natildeo realizam como se o ldquoeurdquo e o ldquoseu corpordquo fossem separados entendendo que

corpo mente e estados emocionais natildeo podem ser trabalhados simultaneamente

O relato negativo foi constatado em estudos de autores da aacuterea da antropologia

mostrando que em diferentes sociedades as filhas educadas por matildees que influenciam

negativamente sofrem mais no momento do parto (LARAIA 2003) A dor do parto tambeacutem

foi apontada pela entrevistadas M5 Conforme Gualda (2004) a dor eacute um sintoma altamente

subjetivo que traz a crenccedila popular de vincular a maternidade ao sofrimento

51

A entrevistada M8 traz a questatildeo de agir conforme as regras que a equipe obsteacutetrica

impotildee de natildeo fazer escacircndalo sob pena de natildeo receber a devida atenccedilatildeo Os profissionais de

sauacutede eventualmente podem impor um comportamento que natildeo respeita o saber da parturiente

o que pode tornar difiacutecil a evoluccedilatildeo do trabalho de parto (BEZERRA CARDOSO 2006)

Outro fator de destaque de acordo com o relato da entrevistada M7 foi o medo

apresentado em relaccedilatildeo ao esquecimento dos instrumentos ciruacutergicos dentro do seu corpo

Para Leninger (1991) a descontinuidade dos acompanhamentos e tratamentos das

usuaacuterias(os) deve-se ao fato de natildeo compreenderem sua funccedilatildeo e seu funcionamento

A posiccedilatildeo supina que foi referida pela entrevistada M5 ldquofiquei de barriga para cima o

tempo todordquo eacute segundo a OMS (1996) uma praacutetica claramente prejudicial ou ineficaz que

deve ser eliminada de acordo com as evidecircncias cientiacuteficas Essa mensagem simboacutelica

transmite agrave parturiente que ela estaacute enferma e retira da mulher a liberdade de seguir seus

instintos conforme mencionado pela entrevistada

Etnoacutelogos confirmam que atraveacutes da anaacutelise de evidecircncias histoacutericas existem raccedilas e

tribos que natildeo recebem influecircncia do modelo biomeacutedico e as mulheres naturalmente assumem

posiccedilotildees verticais dos mais variados tipos e meios de apoio (BALASKAS 2008)

Outras formas de influecircncia relatadas pelas participantes foram revistas internet

meios de comunicaccedilatildeo em geral As entrevistadas atribuem grande importacircncia agraves

informaccedilotildees colhidas nessas fontes atraveacutes das quais tomam conhecimento sobre

determinados costumes e percepccedilotildees

Com as revistas eu me informava bastante sobre como que era o nascimento fotos do bebecirc

nascendo Assistia na TV o canal que mostrava partos as casas de parto onde as mulheres iam fazer

todo o preacute-natal e ganhavam na aacutegua na cama naqueles quartos que permaneciam durante o

trabalho de parto e ficavam ali mesmo na hora de ganhar com familiar junto crianccedilas adultos tudo

junto Eu achava muito interessante (M1)

Eu olhei muito no youtube parto normal Eu achei bem legal Assim eacute meio assustador mais

achei legal Ateacute ali minha decisatildeo era ganhar normal mas natildeo deu (M2)

Lia folders revistas da aacuterea sobre maternidade programas de TV que mostraram o

acompanhamento do parto no domiciacutelio na banheira mas eu tive duas cesaacutereas agendadas (M6)

A entrevistada M1 relata o atendimento oferecido em casa de parto ou centro de parto

normal onde as mulheres fazem todo o preacute-natal e datildeo agrave luz em posiccedilotildees e locais de sua

preferecircncia A ausecircncia desse tipo de estabelecimento em determinados municiacutepios do Brasil

inviabiliza o acesso aos benefiacutecios que esses serviccedilos oferecem Instituiacutedo no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede esses estabelecimentos propiciam agraves mulheres a assistecircncia ao parto

52

em sua plena universalidade e tecircm como uma de suas atribuiccedilotildees o preparo da gestante

atraveacutes do plano de parto e do desenvolvimento de atividades educativas (BRASIL 1999)

Nesse cenaacuterio o protagonismo de cada mulher na gestaccedilatildeo parto e puerpeacuterio eacute respeitado

levando em consideraccedilatildeo sua individualidade suas crenccedilas e sua cultura

A cultura eacute um todo complexo que inclui o conhecimento as crenccedilas a arte a moral a

lei os costumes e todos os outros haacutebitos e aptidotildees adquiridos pelo homem como membro da

sociedade e se faz dinacircmica pela recepccedilatildeo das influecircncias externas resultantes do contato de

um sistema cultural com outro transformaccedilatildeo que pode ser raacutepida e brusca (LARAIA 2003)

No fragmento da fala da entrevistada M6 pocircde-se identificar sua curiosidade pelo

periacuteodo graviacutedico e parto e o parto domiciacutelio e na banheira forma de nascimento que volta a

fazer parte dos centros urbanos na atualidade A influecircncia das mateacuterias veiculadas em uma

revista sobre as representaccedilotildees culturais sobre parto mostrou que a revista pode ser um meio

de divulgaccedilatildeo informal que deveria ser mais bem aproveitado para informar as mulheres sobre

seus direitos e as maneiras de reivindicaacute-los (ROSS BONILHA et al 2006)

Um estudo feito por Medeiros (2008) retrata que as mulheres que optam por um tipo

de parto fora do hospital relacionam sua escolha agraves experiecircncias vivenciadas desde o seu

proacuteprio nascimento ateacute o momento do parto de seus filhos Quando as mulheres preparam-se

para parir seguindo princiacutepios diferentes dos que a medicina define e trata a linguagem que

utilizam eacute de integridade com todas as suas partes inter-relacionadas por um sentimento de

realizaccedilatildeo de algo que seriam capazes de fazer podendo-se inferir que a experiecircncia do parto

confirma ou natildeo na mulher a sua capacidade de colocar uma crianccedila no mundo (MARTIN

2006)

As mulheres citam somente a figura meacutedica na consulta de preacute-natal e comentam

sobre a postura do profissional de sauacutede que realizou este acompanhamento Em geral natildeo

receberam nenhuma informaccedilatildeo sobre parto

O obstetra no preacute-natal natildeo falava nada sobre parto soacute media a barriga via como estava o

coraccedilatildeo do bebecirc e deu Isso que o primeiro foi particular e os outros tambeacutem foram assim (M1)

Quando eu comecei no preacute-natal eu comecei com meacutedico particular ele natildeo falou nada sobre

parto e me pediu todos aqueles exames (M3)

O meacutedico natildeo era muito de conversar soacute os exames ultrasonografia Natildeo falou sobre outras

formas de parto (M4)

A uacutenica coisa que o meacutedico falou eacute ldquotu taacute preparadardquo ldquotem certeza jaacute ta aqui neacute Agora eacute

soacute seguir adianterdquo mas natildeo me falaram sobre parto Fiz todos os exames quatro ultrassonografias

(M7)

53

Fiz todo o preacute-natal e o meacutedico natildeo me falou nada sobre parto (M5)

Nesses depoimentos detectou-se a ausecircncia de diaacutelogo e de orientaccedilatildeo sobre o parto

O acompanhamento preacute-natal das entrevistadas apontou para o enfoque bioloacutegico e tecnicista

na assistecircncia prestada limitando-se agrave avaliaccedilatildeo de batimentos cardiacuteacos fetais altura uterina

e solicitaccedilatildeo de exames e avaliaccedilatildeo

Tal atenccedilatildeo fragmenta o cuidado e o sujeito deste cuidado pois segundo Martin

(2006) desta forma as mulheres natildeo satildeo apenas fragmentadas em partes do corpo como

tambeacutem satildeo alienadas da proacutepria ciecircncia pelas praacuteticas da medicina cientiacutefica As praacuteticas

obsteacutetricas corroboram com esta alienaccedilatildeo internalizando valores culturais que transmitem

agraves gestantes a ideacuteia de que natildeo haacute necessidade de informaccedilotildees sobre os processos fisioloacutegicos

do parto (FLOYD 2009)

Como a medicina obsteacutetrica contemporacircnea estaacute determinada por pressupostos

filosoacuteficos essencialmente masculinos o parto normal que tem em seu acircmago fenocircmenos

femininos tais como a afetividade espiritualidade e as emoccedilotildees natildeo eacute compreendido pelos

profissionais que controlam o nascimento (JONES 2004)

Apesar do avanccedilo na luta por igualdade de direitos para as mulheres a

sobrevalorizaccedilatildeo do patriarcado nos hospitais eacute perpetuada por meacutedicos em sua maioria

homens que tecircm autoridade para reforccedilar rituais de parto (FLOYD 2009)

No entanto os profissionais de sauacutede que se inserem no cenaacuterio das poliacuteticas puacuteblicas

de sauacutede da mulher deveriam atualmente ter como prerrogativa a instrumentalizaccedilatildeo das

mulheres para que sejam efetivamente sujeitos de direito na sociedade sendo tambeacutem

protagonistas de suas proacuteprias vidas e de seu parto tomando suas escolhas de modo

informado conforme preconiza a Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agrave Sauacutede da Mulher -

PNAISM (BRASIL 2004)

A ausecircncia de informaccedilotildees sobre parto foi constatada na fala das entrevistadas o que

nos faz refletir sobre a atitude desses profissionais com as gestantes e relacionar esse quadro

com os altos iacutendices de cesaacuterea da atualidade entendendo que a ausecircncia de diaacutelogo e

informaccedilatildeo no preacute-natal incapacita a mulher agrave autonomia Em um estudo de revisatildeo

sistemaacutetica que avaliou as informaccedilotildees que as gestantes recebiam sobre a cesariana para

solicitaacute-la natildeo foi possiacutevel detectar os motivos que as levam a solicitar uma cesariana

(GAMBLE et al 2007)

A desinformaccedilatildeo sobre as etapas da parturiccedilatildeo foi apontada por Pereira (2011) como

fator cultural que conduz a uma etapa teacutecnica terceirizada definida quando o meacutedico assume

54

o comando e o conduz a partir de sua formaccedilatildeo teacutecnica especializada Para a autora as

mulheres consideram dessa forma um sofrimento desnecessaacuterio passar pelo trabalho de

parto porque desconhecem sua importacircncia para o organismo e para o bebecirc

Deve-se levar em conta a forma a interaccedilatildeo do cuidado entre as mulheres os

profissionais e principalmente o contexto desse cuidado que revela um desequiliacutebrio de poder

que favorece os meacutedicos (GAMBLE et al 2007)

Conforme Martin (2006) pode acontecer tambeacutem de as mulheres natildeo estarem

preocupadas com a falta de informaccedilatildeo uma vez que elas satildeo direcionadas por pressupostos

culturais da superioridade meacutedica Tais pressupostos estatildeo tatildeo arraigados em sua experiecircncia

habitual nos serviccedilos de sauacutede que as impede de perceber as contradiccedilotildees em sua proacutepria

atenccedilatildeo agrave sauacutede

Por outro lado em outra pesquisa com gestantes constatou-se a necessidade de uma

grande demanda por informaccedilotildees escuta cliacutenica e tambeacutem a utilizaccedilatildeo de materiais

educativos mais esclarecedores (HOTIMSKY et al 2002)

Essa demanda por informaccedilotildees vem sendo suprida por outros profissionais de sauacutede

segundo as entrevistadas deste estudo

A enfermeira do posto me ajudou bastante eu tomava sulfato ferroso e ia pegar com ela Me

orientou sobre as vacinas eu lembro que um pouco antes de ficar graacutevida eu tinha tomado vacina da

rubeacuteola Entatildeo assim ela me acompanhou bastante tambeacutem eu sempre conversava com ela sobre o

parto os exerciacutecios que era bom fazer Laacute na Casa de Sauacutede tambeacutem a enfermagem me ajudou

bastante tava o tempo todo junto me dizendo que ldquotinha que caminhar para tua dilataccedilatildeo aumentarrdquo

me explicavam onde o nenecirc bdquotava‟(M3)

O fisioterapeuta o dentista A fisioterapia influenciou para o parto vaginal o dentista era

homem entatildeo relatou a experiecircncia da esposa dele que tinha sido parto cesaacutereo (M6)

Eu fiz todo o planejamento com a enfermeira Ensinaram como seria para nascer e logo

depois o que eu teria que fazer que eacute amamentar o nenecirc cuidados com o nenecirc cuidados comigo

tambeacutem preventivo remeacutedio piacutelula amamentaccedilatildeo Ensinaram no posto que eu frequento (M8)

A participaccedilatildeo dos profissionais da enfermagem e da fisioterapia foi constatada em

atividades de educaccedilatildeo em sauacutede e no atendimento ao trabalho de parto

Um estudo feito por Gaiva (2003) que destaca o nascimento como um evento

pertencente agrave equipe de sauacutede destaca como necessaacuterio o engajamento dessas equipes para a

humanizaccedilatildeo do parto e do nascimento com enfoque na mulher na crianccedila e na famiacutelia

A realizaccedilatildeo de um trabalho multiprofissional e interdisciplinar durante o processo de

gestaccedilatildeo parto e nascimento incide na aprendizagem de compartilhamento de saberes e

55

praacuteticas promovendo um cuidado de qualidade para os atores envolvidos nesse processo

(CHRISTOFFEL 2003)

A Lei ndeg 749886 que dispotildee sobre a regulamentaccedilatildeo do exerciacutecio da enfermagem

referenda que o enfermeiro generalista tambeacutem estaacute habilitado a assistir agrave gestante parturiente

e pueacuterpera acompanhando a evoluccedilatildeo e do trabalho de parto e a execuccedilatildeo do parto sem

distoacutecia

Pelloso (2000) concluiu que as taxas de cesaacuterea reduziriam com a capacitaccedilatildeo dos

profissionais para o parto com a introduccedilatildeo da enfermeira obsteacutetrica no preacute-natal e na

realizaccedilatildeo do parto bem como com a inclusatildeo de accedilotildees de orientaccedilatildeo e informaccedilatildeo sobre os

riscos e os benefiacutecios do parto normal e da cesaacuterea agraves mulheres em atividades de grupo e

cursos de gestantes Embora o nuacutemero de enfermeiras obstetras atuando no Brasil ainda seja

muito baixo estima-se que o nuacutemero de partos assistidos por elas eacute bem superior agravequele

registrado no SUS (BRASIL 2001)

Essa assistecircncia tambeacutem eacute referendada pela portaria do MSGM nordm 2815 de 29 de

maio de 1998 em que se inclui na tabela do sistema de informaccedilotildees hospitalares do SUS o

procedimento ldquoparto normal sem distoacutecia realizado por enfermeira obstetrardquo (BRASIL 1998

p23)

A enfermeira obstetra na busca pelo cuidado integral e valorizando a mulher como

protagonista do processo de nascimento vem conquistando tambeacutem um espaccedilo no

atendimento a partos domiciliares aleacutem de seu papel nas instituiccedilotildees hospitalares (PETER

2005)

Questionamento e resistecircncia ao modelo biomeacutedico

Nessa categoria mostram-se os relatos de questionamento e resistecircncia ao

atendimento obsteacutetrico por parte de algumas mulheres revelando que estas natildeo tecircm

autonomia tanto na decisatildeo sobre o tipo de parto quanto na escolha por quem querem que lhes

acompanhe em seu parto

As participantes questionam as situaccedilotildees impostas pelos profissionais que representam

o modelo biomeacutedico Uma entrevistada que queria o parto normal apresentou-se encorajada a

protestar contra este modelo trocando de meacutedico quando natildeo teve a sua opiniatildeo respeitada

conforme na fala

56

() Outro fato que me deixou frustrada foi quando eu iniciei o preacute-natal eu disse que queria

parto normal o meacutedico ficou bravo e foi bem mal educado e perguntou o que eu estava fazendo laacute

entatildeo Fui embora natildeo fiz mais preacute- natal com ele fui para o SUS Eu me senti invadida (M3)

Outra entrevistada questiona a falta do acompanhante de sua preferecircncia no parto Eu

gostaria que o meu marido bdquotivesse‟ junto (M1) Em um estudo realizado por Prado Junior

(2008) constatou-se que a presenccedila de familiares no processo de nascimento eacute visto por 100

das entrevistadas como primordial Para Balaskas (2008) o sentimento relatado por homens

que jaacute acompanharam suas mulheres em trabalho de parto eacute o de plenitude em nenhum

momento o instinto de fecircmea fala tatildeo alto eacute o renascimento de uma nova mulher

Suas falas chamam a atenccedilatildeo tambeacutem para a importacircncia de a mulher poder exercer

mais liberdade e participaccedilatildeo ativa com a possibilidade de escolher se quer tomar banho ou

natildeo se quer ficar na aacutegua sentar na bola Tambeacutem eacute questionado por elas o uso da ocitocina e

a falta de respeito a sua privacidade pelo fato de estarem presentes pessoas assistindo ao seu

parto sem preacutevio pedido de autorizaccedilatildeo o que denota desrespeito a sua autonomia no

processo

Eu gostaria de ser mais orientada Entatildeo quanto mais natural pudesse ser para mim melhor

escolher se quer tomar banho ou natildeo se quer ficar na aacutegua sentar na bola Sou contra a ocitocina E

me colocaram o soro com ocitocina e eu disse ldquomas para quecirc colocar se eu jaacute to quase ganhando Soacute

para me dar uma dor mais forte e realmente deurdquo(M1) Tinha uns 7 ou 8 alunos que estavam laacute e que queriam assistir um parto pessoas que eu

nunca tinha visto olhando o meu parto Eu acho que tudo foi muito forccedilado Os alunos assistiram ao

meu parto ningueacutem me perguntou se eu queria que assistisse (M3)

A mulher em trabalho de parto precisa de privacidade para se sentir mais segura

Poreacutem em muitos locais de atendimento puacuteblico isso natildeo eacute devidamente cuidado sendo

negligenciada a cultura do sujeito que envolve seus valores percepccedilotildees necessidades e

medos (ODENT 2003)

A postura do profissional em natildeo aceitar a opiniatildeo das usuaacuterias eacute denominada por

antropoacutelogos como ldquopensamento etnocecircntricordquo ou ldquosistema fechado de cogniccedilatildeordquo O

etnocentrismo eacute um sistema acentuado por rituais que os representam e os sustentam

(FLOYD 2009) Sabem os etnocentristas da existecircncia de outro saber e crenccedilas mas estatildeo

absolutamente seguros de que seu modo de pensar eacute melhor e por isso ignoram ideacuteias

contraacuterias agraves deles e consideram esses diferentes modos de pensar uma ameaccedila A

entrevistada destaca esta postura

Acho que os meacutedicos satildeo muito apressados Deveriam deixar mais a natureza agir por conta

o bebecirc se encaixar no lugar certo deixar a matildee de forma mais natural possiacutevel (M1)

57

Um princiacutepio baacutesico do modelo de atendimento tecnocraacutetico que vem ao encontro da

forma de pensar e agir do pensamento etnocecircntrico eacute a autoridade e responsabilidade do

profissional e das instituiccedilotildees de sauacutede sobre a pessoa Nesse contexto eacute mais confortaacutevel

para a usuaacuteria abdicar de sua preferecircncia pessoal em favor da opiniatildeo meacutedica (FLOYD

2004)

Esse fato foi constatado nas entrevistas que apontavam para a resistecircncia ao modelo

biomeacutedico poreacutem atraveacutes de uma percepccedilatildeo passiva da realidade como a sensaccedilatildeo meio

vaga de que alguma coisa estaacute errada e cuja mudanccedila natildeo estaacute ao seu alcance ou natildeo depende

apenas de sua vontade e accedilatildeo A mulher parece natildeo estar ciente da fragmentaccedilatildeo subliminar

da atenccedilatildeo ao parto hospitalar como se o ldquoeurdquo e o ldquoseu corpordquo fossem separados e que

nascimento fosse parte de uma produccedilatildeo A taacutetica mais eficiente descrita por Martin quando

utiliza a analogia entre operaacuterios e mulheres dando agrave luz eacute a mulher tornar-se patratildeo de si

mesmo isto eacute dando agrave luz em seu domicilio onde elas satildeo donas da faacutebrica e podem ter total

controle sobre o processo de produccedilatildeo e sobre seu corpo (MARTIN 2006)

Percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea

Buscaram-se juntamente agraves mulheres do estudo indicaccedilotildees e motivaccedilotildees de acordo

com seu entendimento para a realizaccedilatildeo de cesariana A seguir eacute apresentada a ausecircncia de

dilataccedilatildeo a presenccedila ou natildeo de contraccedilotildees e as cesaacutereas eletivas como indicativos para a

ocorrecircncia do procedimento ciruacutergico

Eu induzi porque natildeo tinha dilataccedilatildeo eu soacute tinha contraccedilatildeo Eu natildeo tinha nenhum outro

problema () fiquei frustrada Eu queria parto normal soacute natildeo tive porque meu parto foi induzido

(M2)

Porque natildeo tinha dor natildeo tinha dilataccedilatildeo e tava muito em cima (M5)

Se tivesse entrado em trabalho de parto tudo bem daiacute ia ficar pro parto como natildeo tinha foi

para cesaacuterea (M6)

Fizeram uma junta meacutedica laacute no hospital e os meacutedicos falaram com a minha matildee pois eu era

bdquode menor‟ ela autorizou para fazer uma cesaacuterea antecipada porque eu jaacute bdquotava‟ em trabalho de

parto soacute que eu natildeo tinha dilataccedilatildeo () (M8)

Um dos motivos alegados pela entrevistada M6 foi ter sido submetida a uma cesaacuterea

eletiva por natildeo ter entrado em trabalho de parto tendo tambeacutem a falta de informaccedilatildeo apontada

sobre outras formas de nascimento

58

O descontentamento por natildeo ter vivenciado o parto normal foi narrado com frustraccedilatildeo

pela entrevistada M2 A induccedilatildeo do parto e a presenccedila de contraccedilotildees apontadas por ela como

fatores indicativos para realizaccedilatildeo de cesaacuterea estatildeo associadas ao aumento da taxa de

nascimento preacute-termo e de baixo peso

Na maioria das sociedades atuais o meio cultural propagado pelos profissionais

meacutedicos interfere nos processos fisioloacutegicos do nascimento O motivo para o aumento dos

iacutendices de cesaacutereas eacute verdadeiramente devido a uma falha universal e quase cultural no

entendimento das necessidades baacutesicas das mulheres (ODENT 2004)

Nessa direccedilatildeo as consequecircncias de risco aumentam tanto para a parturiente quanto

para o feto A taxa de internaccedilatildeo em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em um estudo feito

na Austraacutelia com gestantes de baixo risco demonstra que as chances de internaccedilatildeo em

mulheres que fizeram cesaacuterea eletiva sem entrar em trabalho de parto aumentam em 154

em gestaccedilotildees de 37 semanas 121 em gestaccedilotildees de 38 semanas e 51 para as mulheres

com 39 semanas gestacionais (TRACY et al 2007)

Os prejuiacutezos aos receacutem nascidos prematuros natildeo se apresentam somente no momento

do nascimento satildeo mais duradouros acompanham-nos na vida futura provocando problemas

de sauacutede e colocando-os em desvantagem em relaccedilatildeo aos que nasceram de parto vaginal

(TOMASHEK et al 2007 SWANY et al 2008)

Ao final da gestaccedilatildeo a mulher pode apresentar algumas vezes contraccedilotildees

permanecendo entretanto descoordenadas sem a dilataccedilatildeo da ceacutervice uterina o que se

denomina ldquofalso trabalho de partordquo Essa situaccedilatildeo pode levar o profissional de sauacutede a realizar

uma admissatildeo precoce da gestante na maternidade e com isso realizar intervenccedilotildees

desnecessaacuterias como por exemplo uma induccedilatildeo do parto sem indicaccedilatildeo ou uma cesariana

(BRASIL 2001)

Os partos induzidos e outros fatores como monitoramento fetal contiacutenuo e uso

frequente de anestesias peridurais satildeo aspectos da industrializaccedilatildeo do parto que tem como

consequumlecircncia a falta de entendimento da sua fisiologia (ODENT 2004)

Em um estudo na Escoacutecia constatou-se que 20 das pueacuterperas que se submeteram agrave

cesariana natildeo receberam orientaccedilatildeo sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea e 16 tinham

somente uma ideacuteia parcial da indicaccedilatildeo A forma e o momento inadequado de informar sobre

a indicaccedilatildeo da cirurgia podem acentuar a dificuldade de as mulheres entenderem e

compreenderem essas informaccedilotildees (HILLAN 1992) como se pocircde perceber na fala das

entrevistadas

59

E da segunda gravidez daiacute foi direto o agendamento da cesaacuterea mas eu natildeo tive outras

informaccedilotildees de outras formas de nascer ou em domiciacutelio ou em banheira Natildeo nada disso (M6)

() aiacute eles anteciparam a cesaacuterea Depois eu descobri que foi porque o meu marido faleceu

(M8)

Outra pesquisa mostra que a justificativa dada por 61 mulheres para a realizaccedilatildeo da

cesariana foi discordante da indicaccedilatildeo meacutedica em 475 dos casos Tenciona-se o fato de que

ignorar a indicaccedilatildeo de cesaacuterea pela mulher pode dificultar a conduccedilatildeo para um parto normal

posterior e as complicaccedilotildees advindas (OLIVEIRA et al 2002)

Uma das maiores preocupaccedilotildees associadas agrave cesariana aleacutem dos vaacuterios problemas

inerentes a um procedimento ciruacutergico eacute o seu impacto e risco na sauacutede reprodutiva futura da

mulher como predisposiccedilatildeo a inserccedilatildeo anormal da placenta em futuras gestaccedilotildees (LEE

DALTON 2008)

O maior risco de ruptura uterina hemorragia poacutes-parto e remoccedilatildeo manual de placenta

tambeacutem eacute relacionado a mulheres que jaacute se submeteram a uma cesariana preacutevia (TAYLOR et

al 2005)

Segundo o relato das entrevistadas natildeo foram apresentadas indicaccedilotildees para a cesaacuterea

condizentes ao que as evidecircncias cientiacuteficas preconizam na literatura da aacuterea Outro fato

apontado atraveacutes na fala das entrevistadas foi o agendamento preacutevio da cirurgia no preacute-natal

ldquoA cirurgia estava agendada jaacute no preacute-natalrdquo (M4) ldquoEstava agendada a cesaacuterea no preacute-natalrdquo

(M6)

Os inuacutemeros efeitos prejudiciais tanto para a mulher quanto para o fetoneonato da

cesaacuterea sem indicaccedilotildees satildeo comprovados pelo conhecimento cientiacutefico atual A siacutendrome da

anguacutestia respiratoacuteria do receacutem-nascido desponta com uma das principais causas de morbi-

mortalidade perinatal (MADAR 1999)

As pacientes submetidas a cesarianas agendadas sem indicaccedilotildees apresentam

morbidade e mortalidade maior quando comparadas a pacientes que realizaram o parto normal

(HALL 1999 LILFORD et al 1990)

A respeito do motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea um estudo constatou que a maioria das

mulheres demonstra certa passividade frente ao meacutedico na decisatildeo pelo parto ciruacutergico

(FIGUEIREDO N et al 2010)

Essa conduta relaciona-se com os elevados iacutendices de cesaacutereas desnecessaacuterias no

Brasil Buscando reverter esse quadro a Associaccedilatildeo Meacutedica Brasileira (AMB) e o Conselho

Federal de Medicina (CFM) em iniciativa conjunta elaboraram um protocolo sobre o tema

indicaccedilotildees de cesaacutereas intitulado Projeto Diretrizes (PD) Satildeo objetivos desse trabalho

60

conciliar informaccedilotildees sobre o tema no sentido de estimular a praacutetica da medicina baseada em

evidecircncias analisar individualmente as indicaccedilotildees de cesariana com base nas evidecircncias

cientiacuteficas da literatura promover uma diminuiccedilatildeo das taxas de cesariana (PROJETO

DIRETRIZES 2002)

Os desvios eacuteticos decorrentes dessa conduta natildeo levam em consideraccedilatildeo a sauacutede das

mulheres Haacute a necessidade constante de atualizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais meacutedicos

e demais consequumlecircncias possiacuteveis dessa atitude (HADDAD et al 2011)

Nesse contexto destaca-se um estudo realizado com docentes do Departamento

Materno- Infantil do Hospital Universitaacuterio de Satildeo Joseacute do Rio Preto que constatou a

valorizaccedilatildeo da cesaacuterea em detrimento ao parto vaginal concorrendo para a disseminaccedilatildeo da

cultura subjacente agrave desmobilizaccedilatildeo dos alunos e profissionais meacutedicos para a realizaccedilatildeo do

parto normal (MORAES GOLDENGERG 2001)

61

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao tentar traduzir sob a forma de pesquisa a compreensatildeo de como a cultura influencia

no processo de parturiccedilatildeo da mulher finalizo este estudo com o vislumbre de que o objeto

escolhido foi pleno de possibilidades para entender e sobretudo para ampliar as propostas e a

pesquisa nessa aacuterea de estudos Encerro este trabalho com a certeza de que foi uma etapa

necessaacuteria em minha vida profissional e muito importante para o meu crescimento pessoal e

acadecircmico

Como mencionado anteriormente a inquietaccedilatildeo frente agrave fragilidade das parturientes ao

se submeterem sem questionamentos a todos procedimentos e intervenccedilotildees da equipe

obsteacutetrica apresentou-se como uma das justificativas da realizaccedilatildeo deste trabalho atraveacutes da

questatildeo norteadora ldquoqual a participaccedilatildeo da cultura nos saberes e as praacuteticas das mulheres em

relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeordquo

Esse estudo abriu espaccedilo para que mulheres falassem de um periacuteodo em suas vidas

extremamente iacutentimo e especial permitindo-lhes ampliar a visatildeo acerca dos determinantes

socioculturais envolvidos nesse momento O estudo foi realizado fora do periacuteodo graviacutedico

puerperal justamente para tentar captar delas o que realmente ficou de significativo dessa

fase sem interferecircncia ou expectativas de quem estaacute passando pelo turbilhatildeo de emoccedilotildees que

acompanham o processo da parturiccedilatildeo

O desenvolvimento desta pesquisa possibilitou perceber que o parto enquanto um dos

momentos da vida da mulher de grande importacircncia nem sempre eacute compreendido e entendido

dessa maneira por elas

Da mesma forma observou-se que a vivecircncia das mulheres em seu processo de

parturiccedilatildeo eacute percebida de modo diferente por cada uma algumas vezes de forma positiva e

outras de forma negativa A forma da mulher vivenciar esse processo depende de fatores

individuais e principalmente de representaccedilotildees culturais da realidade social a que ela

pertence

A abordagem negativa do estudo referida por algumas mulheres manifestou o

desconhecimento sobre a fisiologia do parto estando intrinsecamente relacionado ao modelo

fragmentado em partes do corpo perpetuado pelas praacuteticas da medicina cientiacutefica dominantes

na sociedade

62

As mulheres natildeo estatildeo conscientes dessas circunstacircncias e reproduzem essa forma de

fragmentaccedilatildeo de que o uacutetero eacute um muacutesculo involuntaacuterio e de que o parto eacute um processo ao

qual tecircm de se submeter causando uma sensaccedilatildeo muito marcante de fragmentaccedilatildeo e

objetificaccedilatildeo nas mulheres que sofreram uma cesaacuterea conforme constatado no estudo

Por outro lado a abordagem positiva apontada por elas dignifica a responsabilidade

por uma nova vida e a emoccedilatildeo do nascimento entendendo-o como uma oportunidade de

crescimento psicoloacutegico e de resgate espirituais

Na percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado haacute divergecircncias de opiniatildeo em

relaccedilatildeo ao tipo de parto vivenciado por cada uma As mulheres que desejaram e vivenciaram

o parto normal relatam o evento como parte de uma jornada interior e exterior que envolve

sentimentos iacutentimos uma experiecircncia fiacutesica profunda e intensa de algo que elas satildeo capazes

de realizar compreendendo que o significado de ser matildee eacute ter a capacidade de passar pela

experiecircncia do trabalho de parto e do parto natural

Em contrapartida o significado da vivecircncia das mulheres que natildeo desejaram ou

realizaram a cesaacuterea assemelha-se ao processo de produccedilatildeo industrializada em nossa

sociedade em que as atividades satildeo realizadas e determinadas inteiramente pela figura do

meacutedico e dos hospitais e natildeo por elas Percebeu-se que o papel principal do parto que seria

da parturiente foi assumido por essas figuras que estatildeo no controle pois as mulheres natildeo se

sentiam prontas ou capazes de tomaacute-lo para si

Identificou-se que a via de parto desejada pela maioria das entrevistadas foi o parto

normal mas as que natildeo conseguiram realizar esse desejo foi devido agrave influecircncia e agraves

intervenccedilotildees recebidas do meacutedico Os argumentos que influenciaram o desestiacutemulo da

realizaccedilatildeo do parto normal foram a necessidade de realizaccedilatildeo de laqueadura tubaacuteria e a falta

de informaccedilatildeo sobre meacutetodos natildeo farmacoloacutegicos e farmacoloacutegicos para o aliacutevio da dor

Cabe ressaltar que as mulheres que desejaram o parto normal e conseguiram parir por

esta via sentiram seguranccedila e confianccedila na experiecircncia do trabalho de parto natildeo sendo

identificando nenhum sinal perceptiacutevel em suas palavras relacionado agrave incapacidade de fazecirc-

lo podendo assim vivenciaacute-lo ativamente Outros aspectos importantes a serem ressaltados

foram a rapidez da recuperaccedilatildeo e a volta agraves atividades diaacuterias o desejo de serem acolhidas

pelos profissionais nas suas demandas e o direito agrave informaccedilatildeo clara e eacutetica

Sobre o poder de decisatildeo do meacutedico quanto ao tipo de parto constataram-se

divergecircncias de opiniatildeo As entrevistadas afirmaram que o meacutedico tem o poder de decisatildeo

sobre a escolha do tipo de parto poreacutem algumas natildeo estatildeo de acordo com esta conduta

63

defendendo que a decisatildeo deveria levar em conta a opiniatildeo da mulher uma vez que eacute ela que

estaacute sentindo e passando pelo processo

Conforme expressam as entrevistadas elas aceitaram essa atitude por parte dos

profissionais mas sentiram que algo em relaccedilatildeo a isso poderia ter sido mudado Elas

incentivam a mudanccedila das atitudes que colocam a mulher em posiccedilatildeo desprivilegiada no

parto

Outro aspecto destacado no estudo foi como se daacute a construccedilatildeo cultural do processo

parturitivo das mulheres Pocircde-se constatar que o significado positivo evidenciado pelas

mulheres do conviacutevio das entrevistadas principalmente pela figura materna proporcionou um

parto enriquecedor agraves entrevistadas e exerceu influecircncia na preferecircncia por parto normal

Outras no entanto descrevem que se atribuiu significado negativo pelas mulheres do

conviacutevio o que provocou medo ansiedade e inseguranccedila agraves entrevistadas durante a

experiecircncia do seu parto

Assim confirma-se que o parto natildeo pode ser entendido e reduzido somente ao aspecto

bioloacutegico pois a partir da transmissatildeo de conhecimentos interrelacionais constatados nesta

pesquisa pode-se compreender que a cultura influencia no processo de parturiccedilatildeo das

mulheres E haacute que se considerar essa influecircncia quando se presta cuidado agraves parturientes

O conteuacutedo de revistas da internet dos meios de comunicaccedilatildeo em geral aleacutem das

informaccedilotildees repassadas por vizinhos constituem outro fator de notaacutevel influecircncia nesse

construto imaginaacuterio As experiecircncias relatadas denotam que essas formas de construccedilotildees

culturais servem para expansatildeo do conhecimento sobre o assunto Isso deixa claro que as

mulheres muitas vezes estatildeo conscientes de sua falta de autonomia e buscam visotildees

alternativas sobre como o seu parto poderia acontecer

As visotildees alternativas citadas por elas foram o nascimento em casa de parto e no

domiciacutelio formas de assistecircncia consideradas na atualidade como humanizadas por ativistas

do parto normal de todo o mundo e pelas organizaccedilotildees governamentais e natildeo governamentais

que trabalham em prol da humanizaccedilatildeo do parto e nascimento tendo como objetivo devolver

agrave mulher o protagonismo na sua gestaccedilatildeo parto e poacutes-parto

No relato das mulheres eacute citada somente a figura meacutedica na consulta de preacute-natal e

elas falam que esse profissional natildeo forneceu efetivamente nenhuma informaccedilatildeo sobre parto

Tal postura silenciosa por parte desse profissional pode estar influenciando a faacutecil aceitaccedilatildeo

de uma cesaacuterea desnecessaacuteria fato esse comprovado pelo tipo de parto de maior incidecircncia

das mulheres deste estudo

64

As atividades desenvolvidas durante as consultas de preacute-natal foram accedilotildees de cunho

puramente bioloacutegico tecnicista e fragmentado como constatado na forma reduzida de

assistecircncia prestada que se limita agrave solicitaccedilatildeo de exames e agrave avaliaccedilatildeo obsteacutetrica de

batimentos cardiacuteacos fetais e altura uterina

As mulheres citam o atendimento da enfermeira na vivecircncia do parto bem como na

gestaccedilatildeo o que deflagra sua importacircncia nesse processo pois tal profissatildeo se constitui como

uma das maiores estrateacutegias que visa melhorar a assistecircncia obsteacutetrica no Brasil e exerce um

papel relevante no que tange agrave humanizaccedilatildeo durante o processo de nascimento Da mesma

forma a fisioterapia tambeacutem foi citada como ponto de incentivo agrave escolha do parto normal

O significado de parto celebrado por algumas mulheres do estudo abrange o

questionamento e a resistecircncia aos pressupostos culturais subjacentes ao modelo biomeacutedico

atual discordando de praacuteticas que vivenciaram no parto consideradas desrespeitosas Ponto

comum em suas falas foi a auto-percepccedilatildeo de resistecircncia agrave passividade imposta pela praacutetica

meacutedica

Foi demonstrado pelas mulheres claro desagrado por algumas praacuteticas que retiram da

mulher a sua autonomia no processo da parturiccedilatildeo tais como coibiccedilatildeo do acompanhante no

trabalho de parto e no parto invasatildeo de privacidade com a entrada de pessoas estranhas para

assistir ao parto sem licenccedila da parturiente e a falta de autonomia na escolha da via de parto

normal

A privaccedilatildeo dessa escolha acarretou a praacutetica de cesaacutereas desnecessaacuterias na maioria

das mulheres deste estudo Um dos principais motivos para a realizaccedilatildeo das cesaacutereas foi

apontado como a falta de dilataccedilatildeo das gestantes simplesmente pelo fato de natildeo estarem em

trabalho de parto quando admitidas na maternidade

Confesso que ao teacutermino deste trabalho muitos pressupostos que faziam parte dos

meus questionamentos foram esmaecidos pois esperava encontrar mulheres alienadas agrave

medicalizaccedilatildeo e agrave patologizaccedilatildeo do processo da parturiccedilatildeo e foi surpreendente o depoimento

de algumas das entrevistadas que demonstraram estar buscando novas formas de

conhecimento e de vivecircncia deste momento tatildeo especial em suas vidas natildeo obstante estarem

inseridas em um modelo tecnicista de assistecircncia

As entrevistadas questionam as praacuteticas como se apresentam atualmente e isso natildeo

significa que refutem os proveitos tecnoloacutegicos quando necessaacuterios mas defendem a

passagem a outro tipo de cultura em que possam exercer mais liberdade e ter participaccedilatildeo

ativa no processo da parturiccedilatildeo

65

Alguns significados atribuiacutedos pelas mulheres quanto agrave preferecircncia pela cesaacuterea e a

percepccedilatildeo de que o parto normal eacute muito mais arriscado explicitam resquiacutecios do discurso

meacutedico dominante Tambeacutem se revelou no estudo que as pacientes natildeo receberam

informaccedilotildees acerca dos riscos advindos deste procedimento ciruacutergico sem indicaccedilotildees

Portanto a ausecircncia de informaccedilatildeo sobre parto que deveria ser repassada pelo meacutedico foi

uma constataccedilatildeo neste estudo

O trabalho configurou-se um exerciacutecio instigante na medida em que o encadeamento

reflexivo da anaacutelise a partir das contribuiccedilotildees teoacutericas advindas dos estudos culturais de

gecircnero e corpo foi apontando que esse profissional de sauacutede produz significado no modo

como o parto eacute vivenciado pelas mulheres

Respondo ao final destas consideraccedilotildees ao questionamento inicial do estudo

constatando que a cultura participa dos saberes e das praacuteticas das mulheres em relaccedilatildeo ao

processo da parturiccedilatildeo Poreacutem algumas mulheres estatildeo buscando reinterpretar esta cultura

por meio de novas formas de vivenciar e de burlar o sistema de sauacutede obsteacutetrico vigente que

oprime tira-lhes o poder e impotildee silecircncio sob a eacutegide da proteccedilatildeo

As mulheres querem ser respeitadas ter direito agrave privacidade em seu parto ser ouvidas

e informadas com transparecircncia e eacutetica ter espaccedilo para expressar suas escolhas e agir

conforme suas necessidades poder gritar escandalizar caso desejem querem ainda ter

assistecircncia de boa qualidade sem julgamentos e livre de praacuteticas rotineiras que as instituiccedilotildees

obsteacutetricas impotildeem sem nenhum benefiacutecio para a matildee e o bebecirc

Se essa eacute a forma para encontrar significado ao desejo das mulheres ela difere e

muito da ldquopessimizaccedilatildeordquo do parto que alguns grupos de profissionais reproduzem em uma

cesaacuterea desnecessaacuteria ou em um parto normal medicalizado para finalizar um comeccedilo de vida

Cabe a noacutes profissionais de sauacutede mulheres homens sairmos dessa zona de conforto

que a sociedade atual nos enquadrou e comeccedilarmos a entender que a mudanccedila de paradigmas

de assistecircncia em todo o processo da parturiccedilatildeo estaacute associada a cidadatildeos e cidadatildes

conscientes e sujeitos da sua proacutepria histoacuteria

A enfermagem tem uma responsabilidade muito grande em todo esse processo e natildeo

pode eximir-se dela pois somos uma categoria profissional juntamente com a medicina que

tem o respaldo na lei do exerciacutecio profissional na assistecircncia agrave parturiente e ao parto normal

Os enfermeiros tecircm a formaccedilatildeo de natildeo intervir no processo da parturiccedilatildeo isto eacute de deixar a

fisiologia agir e eacute isto que temos que buscar a reconstruccedilatildeo dessa cultura sem intervenccedilotildees no

parto normal das mulheres

66

Precisamos fazer valer esse direito legal para que como profissionais do cuidado que

somos possamos proporcionar o cuidado de oferecer como um direito agrave mulher o

protagonismo no seu parto

O reconhecimento da mulher como protagonista do seu parto eacute elemento primordial

para os profissionais poderem compreender os temores as alegrias e os prazeres da gestaccedilatildeo e

do parto e assumirem uma nova postura de atenccedilatildeo Assim encerro destacando que os

muacuteltiplos aspectos que permeiam a vivecircncia das mulheres precisam ser observados quando se

presta assistecircncia durante o processo da parturiccedilatildeo

67

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA N A M A dor do parto normal na perspectiva e vivecircncia de um grupo de

mulheres usuaacuterias do Sistema Uacutenico de Sauacutede Tese de doutorado Programa de Poacutes

Graduaccedilatildeo em Ciecircncias da Sauacutede - Convecircnio Rede Centro Oeste (UNB UFG UFMS)

Goiacircnia 2009

ANS AGEcircNCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR (Brasil) O modelo de atenccedilatildeo

obsteacutetrica no setor de Sauacutede Suplementar no Brasil cenaacuterios e perspectivas Agecircncia

Nacional de Sauacutede Suplementar ndash Rio de Janeiro ANS 2008a Disponiacutevel em

lthttpwwwansgovbrportaluploadnoticiasclippinglivro_parto_webpdfgt Acesso em 11

ago 2011

ANS Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar (Brasil) Rol de Procedimentos e Eventos em

Sauacutede RN 16708 Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar - Rio de Janeiro ANS 2008b

ANS AGEcircNCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR (Brasil) Atualiza o Rol de

Procedimentos e Eventos em Sauacutede previstos na RN nordm 211 de 11 de janeiro de 2010

Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar ndash Rio de Janeiro ANS 2011 Disponiacutevel em

lthttpwwwansgovbrimagesstoriesnoticiaspdfrn20262pdfgt Acesso em 30 nov

2011

BALASKAS J Parto Ativo guia praacutetico para o parto natural Traduccedilatildeo Adailton Salvatore

Meira 2 ed Satildeo Paulo Ground 2008

BARAK E M ALAN R H e NILS J B Should Neonates Sleep Alone Society of

Biological Psychiatry Revista Biological Psychiatry 2011

BARROS et al The challenge of reducing neonatal mortality in middle-income countries

findings from three Brazilian birth cohorts in 1982 1993 and 2004 Lancet v365 n9462

Mar 5-11 p847-54 2005

BARDIN L Anaacutelise de conteuacutedo 7 ed Portugal Ediccedilotildees 1977

BERGER P LUCKMANN T A Construccedilatildeo Social da Realidade Traduccedilatildeo de Floriano

de Souza Fernandes 3 ed Petroacutepolis Vozes 1976

68

BEZERRA M G A CARDOSO M V L M Fatores interferentes no comportamento de

parturientes enfoque na Etnoenfermagem Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v

58 n6 p698-702 novdez 2005

BEZERRA M G A CARDOSO M V L M Fatores culturais que interferem nas

experiecircncias das mulheres durante o trabalho de parto e parto Revista Latino-americana

Enfermagem maiojun 14(3)414-21 2006

BUSANELLO J COSTA K P PINHO E Humanizaccedilatildeo do Parto e do Nascimento os

desafios para a implementaccedilatildeo do programa do Ministeacuterio da Sauacutede CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 61 7 a 10 dez Fortaleza Cearaacute 2009

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Programa de Assistecircncia Integral agrave Sauacutede da Mulher bases

de accedilatildeo programaacutetica Brasiacutelia DF 1984

_____ Lei nordm 749886 Dispotildee sobre a regulamentaccedilatildeo do exerciacutecio da Enfermagem e daacute

outras providecircncias Disponiacutevel em

lthttpwwwabennacionalorgbrdownloadLeiPROFISSIONALpdf gt Acesso em 29 nov

2011

_____ Decreto n 9440687 Regulamenta a Lei nordm 7498 de 25 de junho de 1986 Dispotildee

sobre o exerciacutecio da enfermagem e da outras providecircncias Disponiacutevel em

lthttpportalcofengovbrsitenovonode4173gt Acesso em 29 nov 2011

_____ Presidecircncia da Repuacuteblica Lei nordm 11108 Altera a Lei no 8080 de 19 de setembro de

1990 para garantir agraves parturientes o direito agrave presenccedila de acompanhante durante o trabalho de

parto parto e poacutes-parto imediato no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS 2005b

Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-

20062005LeiL11108htmlgt Acesso em 25 nov 2011

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Resoluccedilatildeo nordm 196 sobre pesquisas envolvendo seres

humanos Brasiacutelia DF 1996

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 2815 de 29 de maio de 1998 - Institui o

procedimento do parto normal realizado por enfermeiro obstetra no Sistema Uacutenico de

Sauacutede Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF

seccedilatildeo 1 p47-8 1998b

69

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 2883 de 04 de junho de 1998 - Institui o Precircmio

Nacional Profordf Galba de Arauacutejo Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder

Executivo Brasiacutelia DF seccedilatildeo 1 p 24 de 0506 de 1998a Disponiacutevel em

lthttpdtr2001saudegovbrsasportariasport98GMGM-2883htmlgt Acesso em 29 nov

2011

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria nordm 985 GM Institui as Casas de Parto ou Centro de

Parto Normal no Sistema Uacutenico de Sauacutede Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do

Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 05 ago 1999

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 466 de 14 de junho de 2000 - Estabelecer como

competecircncia dos estados e do Distrito Federal a definiccedilatildeo de limite por hospital de

percentual maacuteximo de cesarianas em relaccedilatildeo ao nuacutemero total de partos realizados e

ainda a definiccedilatildeo de outras estrateacutegias para a obtenccedilatildeo de reduccedilatildeo destes procedimentos

no acircmbito do estado Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil 115-E Poder

Executivo Brasiacutelia DF 2000a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 569 570 571 572 GM Estabelece o Programa de

Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e do Nascimento Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do

Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 01 jun 2000b

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Parto Aborto e Puerpeacuterio Assistecircncia Humanizada agrave

Mulher Ministeacuterio da SauacutedeFEBRASGOABENFO Brasiacutelia DF 2001

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Assistecircncia em Planejamento familiar Manual Teacutecnico-4 ed

Brasiacutelia 2002

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo integral agrave sauacutede da mulher

princiacutepios e diretrizes Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees Programaacuteticas

Estrateacutegicas Brasiacutelia Editora do Ministeacuterio da Sauacutede 2004

_____ Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Conselho Nacional dos Direitos da

Mulher I Plano Nacional de Poliacuteticas Puacuteblicas para as Mulheres Brasiacutelia 2005a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Nuacutecleo Teacutecnico da Poliacutetica

Nacional de Humanizaccedilatildeo Humaniza SUS documento base para gestores e trabalhadores do

SUS Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Nuacutecleo Teacutecnico da Poliacutetica

Nacional de Humanizaccedilatildeo 3 ed Brasiacutelia Editora do Ministeacuterio da Sauacutede 2006a

70

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Preacute-natal e puerpeacuterio atenccedilatildeo qualificada e humanizada

Brasiacutelia DF 2006b

_____ Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Conselho Nacional dos Direitos da

Mulher II Plano Nacional de Poliacuteticas Puacuteblicas para as Mulheres Brasiacutelia 2008a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA) Resoluccedilatildeo

RDC nordm 36 de 03 de junho dispotildeem sobre Regulamento Teacutecnico para Funcionamento dos

Serviccedilos de Atenccedilatildeo Obsteacutetrica e Neonatal - Brasiacutelia - DF 2008b

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Instrutivo dos indicadores para a pactuaccedilatildeo unificada 2008

Brasiacutelia 2008c

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da

Mulher ndash PNDS 2006 dimensotildees do processo reprodutivo e da sauacutede da crianccedila Ministeacuterio

da Sauacutede Centro Brasileiro de Anaacutelise e Planejamento Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2009

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Estatiacutesticas de partos no Brasil Brasiacutelia DF 2010

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Aleacutem da sobrevivecircncia praacuteticas integradas de atenccedilatildeo ao

parto beneacuteficas para a nutriccedilatildeo e a sauacutede de matildees e crianccedilas Ministeacuterio da Sauacutede

Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Aacuterea Teacutecnica de Sauacutede da Crianccedila e Aleitamento Materno ndash

Brasiacutelia DF 2011

BUDOacute M L D et al A cultura permeando os sentimentos e as reaccedilotildees frente agrave dor Revista

da Escola de Enfermagem da USP Satildeo Paulo v41 n1 p 36-43 2007

BUSANELLO J COSTA K P PINHO E Humanizaccedilatildeo do Parto e do Nascimento os

desafios para a implementaccedilatildeo do programa do Ministeacuterio da Sauacutede CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 61 - 7 a 10 dez Fortaleza Cearaacute 2009

CERVO A BREVIAN P A A Metodologia Cientiacutefica Satildeo Paulo Mc Graw-Hill 1983

CHRISTOFFEL M M SANTOS R S Navegando no mar da neonatologia um mergulho

no mundo imaginal do receacutem-nascido da UTIN Rio de Janeiro Ed EEAN 2003

COLLACcedilO V S Parto vertical vivecircncia do casal na dimensatildeo cultural do processo de

parir Florianoacutepolis Cidade Futura 2002

71

DECLERCQ E MENACKER F MACDORMAN M Rise in no indicated risk primary

caesareans in the United States 1991-2001 cross sectional analysis BMJ v330 n7482 Jan

8 p71-2 2005

DIAS M A et al Trajetoacuteria das mulheres na definiccedilatildeo pelo parto cesaacutereo estudo de caso em

duas unidades do sistema de sauacutede suplementar do estado do Rio de Janeiro Ciecircncia e Sauacutede

Coletiva 13(5) 1521-1534 setout 2008

DINIZ C S G Direitos humanos das mulheres na gravidez e no parto Projeto Gecircnero

Violecircncia e Direitos Humanos - Novas Questotildees para o Campo da Sauacutede Coletivo Feminista

Sexualidade e Sauacutede Departamento de Medicina Preventiva Faculdade de Medicina USP 2

ed 2003

_____ Entre a teacutecnica e os direitos humanos possibilidades e limites da humanizaccedilatildeo da

assistecircncia ao parto Tese (Doutorado) Satildeo Paulo (SP) Faculdade de MedicinaUSP 2001

DOU DIAacuteRIO OFICIAL DA UNIAtildeO Seccedilatildeo 1 nordm 147 2 de agosto de 2011 p 34 Agecircncia

Nacional de Sauacutede Suplementar- ANS Resoluccedilatildeo normativa nordm 262 de 1ordm agosto de 2011

Disponiacutevel em

lthttpwwwingovbrimprensavisualizaindexjspjornal=1amppagina=34ampdata=02082011gt

Acesso em 02 ago 2011

ELSEN I SOUZA A I J MARCON SS Enfermagem agrave Famiacutelia dimensotildees e

perspectivas Maringaacute p 257-267 Eduem 2011

FAUacuteNDES A CECATTI J G A operaccedilatildeo cesaacuterea no Brasil Incidecircncia tendecircncias

causas consequecircncias e propostas de accedilatildeo Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro v7

n2 p150-173 jun 1991

FIGUEREDO L G M Consequecircncias causadas pela aplicaccedilatildeo de ocitocina na induccedilatildeo de

partos Superartigos (online) 2010 Disponiacutevel em httpwwwartigosetcbrconsequencias-

causadas-pela-aplicacao-de-ocitocina-na-inducao-de-partoshtml Acesso em 15 nov 2011

FIGUEREDO N S V et al Fatores culturais determinantes da escolha da via de parto por

gestantes HU Revista Juiz de Fora v 36 n 4 p 296-306 outdez 2010

FLOYD D R The technological model of birth J Am Folklore 100 p 479-495 1987

FLOYD D R JOHN St G Del medico al sanador Traduccedilatildeo de Lauren Showe e

colaboradores Buenos Aires Fund Creavida 2004

72

FLOYD D R Perspectivas antropoloacutegicas del parto y el nacimento Traduccedilatildeo de Jaqui

Zieler Magui Cadot e Graciela Cobe Buenos Aires Fund Creavida 2009

FOUCAULT M Microfiacutesica do Poder Traduccedilatildeo de Roberto Machado 10 ed Rio de

Janeiro Graal 1992

FREITAS P F et al Desigualdade social nas taxas de cesariana em primiacuteparas no Rio

Grande do Sul Revista de Sauacutede Puacuteblica 39 p 761-7 2005

GAIVA M A M TAVARES C M O Nascimento um evento pertencente agrave equipe de

sauacutede Texto amp Contexto Enfermagem outdez 12(4)569-75 2003

GAMA A S et al Representaccedilotildees e experiecircncias das mulheres sobre a assistecircncia ao parto

vaginal e cesaacuterea em maternidades puacuteblica e privada Cadernos de Sauacutede Puacuteblica

25(11)2480-2488 nov 2009

GAMBLE et al A critique of the literature on womens request for cesarean section Birth

v34 n4 Dec p331-40 2007

GEERTZ C A Interpretaccedilatildeo das Culturas Rio de Janeiro (RJ) Livros Teacutecnicos e

Cientiacuteficos 1989

GIL A C Como elaborar projetos de pesquisa 4 ed 9 reimpr Satildeo Paulo Atlas 2007

GUALDA DMR BERGAMASCO RB Enfermagem cultura e o processo sauacutede-

doenccedila Satildeo Paulo Iacutecone p221- 240 2004

HADDAD S El M T CECATTI J G Estrateacutegias dirigidas aos profissionais para a

reduccedilatildeo das cesaacutereas desnecessaacuterias no Brasil Revista Brasileira Ginecologia Obstetriacutecia

33(5) 252-62 2011

HALL M H BEWLEY S Maternal mortalityand mode of delivery Lancet 354776

1999

HELMAN G C Cultura Sauacutede e Doenccedila Traduccedilatildeo Ane Rose Bolner 5 ed Porto Alegre

Artes Meacutedicas 2009

73

HILLAN M Short-Term Morbidity Associated with Cesarean Delivery Birth v 19 Issue 4

pages 190ndash194 Dec 1992

HOPKINS K Are Brazilian Women Really Choosing to Delivery by Cesarean Soc Sci

Med 51(5)725-40 2000

HOTIMSKY SN et al O parto como eu vejo ou como eu o desejo Expectativas de

gestantes usuaacuterias do SUS acerca do parto e da assistecircncia obsteacutetrica Cadernos de sauacutede

puacuteblica setout 18(5)1303-1311 2002

IBGE Instituto Brasileiro Geografia e estatiacutesticas Cadernos de Informaccedilatildeo de Sauacutede

Ministeacuterio da Sauacutede 2009

IPEA Objetivos de desenvolvimento do milecircnio relatoacuterio nacional de acompanhamento

coordenaccedilatildeo Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada e Secretaria de Planejamento e

Investimentos Estrateacutegicos supervisatildeo Grupo Teacutecnico para o acompanhamento dos ODM

Brasiacutelia Ipea MP SPI 2007

JONES R Memoacuterias do homem de vidro reminiscecircncias de um obstetra humanista Porto

Alegre Ideacuteias a Granel 2004

PRADO JUNIOR P P Da concepccedilatildeo ao nascimento Praacuteticas Educativas na assistecircncia agrave

mulher no periacuteodo graviacutedico e puerperal Dissertaccedilatildeo de Mestrado Centro Universitaacuterio

Pliacuteneo Leite - Unipli Niteroacutei 2008

KRUNO R B BONILHA A L L Parto domiciliar na voz das mulheres uma perspectiva agrave

luz da humanizaccedilatildeo Rev Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) dez25(3)396-407 2004

LANDERDAHL M C et al Contribuiccedilotildees de um nuacutecleo de estudos na consolidaccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas para as mulheres REUFSM Revista de Enfermagem da UFSM - janabr

1(1)71-79 2011

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro (RJ) Jorge Zahar p 21-

40 2003

LEE Y Mi DALTON M E Cesarean delivery on maternal request the impact on mother

and newborn Clinics in Perinatology v35 n3 Sept p505-18 x 2008

74

LEININGER M Culture care diversity amp universality a theory of nursing New York

(US) National League for Nursing Press 1991

LEITAtildeO F J C Autonomia da mulher em trabalho de parto (Dissertaccedilatildeo) Mestrado em

Bioeacutetica Universidade de Lisboa Faculdade de medicina Departamento de Bioeacutetica 2010

LILFORD R J et al The relative risks of caesarean section (intrapartum and elective) and

vaginal delivery a detailed analysis to exclude the effects of medical disorders and other

acute pre-existing physiological disturbances Br J Obstet Gynaecol 97883-92 1990

MACDORMAN et al Infant and neonatal mortality for primary cesarean and vaginal births

to women with no indicated risk United States 1998-2001 birth cohorts Birth v33 n3

Sept p175-82 2006

MACHADO E G C Gestaccedilatildeo parto e maternidade uma visatildeo holiacutestica Belo Horizonte

Editora Aurora 1995

MADAR J RICHMOND S HEY E Surfactantdeficient respiratory distress after elective

delivery at bdquoterm‟ Acta Paediatr v 88 p 1244-8 1999

MANDARINO N R et al Aspectos relacionados agrave escolha do tipo de parto um estudo

comparativo entre uma maternidade puacuteblica e outra privada em Satildeo Luiacutes Maranhatildeo Brasil

Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 25(7) p 1587-1596 jul 2009

MARTIN E A mulher no corpo - uma anaacutelise cultural da reproduccedilatildeo Traduccedilatildeo Juacutelio

Bandeira Rio de Janeiro Garamond 2006

MARTINS C S RAMOS J G L A questatildeo das cesarianas Rev Brasileira Ginecologia

Obstetriacutecia v27 nordm 10 Rio de Janeiro 2005

MCCOURT et al Elective cesarean section and decision making a critical review of the

literature Birth v34 n1 mar p65-79 2007

MEDEIROS R M K SANTOS IMM SILVA L R A escolha pelo parto domiciliar

histoacuteria de vida de mulheres que vivenciaram esta experiecircncia Esc Anna Nery Rev

Enfermagem dez 12(4) 765-72 2008

MELCHIORI et al Preferecircncia de gestantes pelo parto normal ou cesariano Interaccedilatildeo

psicologia 13(1)13-23 janjun 2009

75

MINAYO M C de S (org) Pesquisa Social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis

Vozes 2000

_____ O Desafio do Conhecimento pesquisa qualitativa em sauacutede 8 ed Satildeo Paulo Ed

Hucitec-Abrasco 2004

_____ O Desafio do Conhecimento pesquisa qualitativa em sauacutede 11 ed Satildeo Paulo Ed

Hucitec-Abrasco 2008

MONTICELLI M O nascimento como rito de passagem uma abordagem cultural para o

cuidado de enfermagem agraves mulheres e receacutem-nascidos (Dissertaccedilatildeo) Mestrado em

Enfermagem UFSC Florianoacutepolis 1994

MONDARDO S Proposta de reestruturaccedilatildeo dos serviccedilos da Unidade de Atenccedilatildeo agrave

Sauacutede da Vila Kennedy Santa MariaRS UFSM Santa Maria 1993

MORAES M S GOLDENBERG P Cesaacutereas um perfil epidecircmico Cad Sauacutede Puacuteblica

Rio de Janeiro 17 (3)509-519 maiojun 2001

MORELL M G G MELLO A V A Declaraccedilatildeo de Nascido Vivo no Estado de Satildeo

Paulo alguns resultados Informe Demograacutefico SEADE 29201-331 1995

MURTA et al Could elective cesarean sections influence the birth weight of full-term

infants Satildeo Paulo Medical Journal v124 p313-315 2006

ODENT M A Cesariana Traduccedilatildeo de Maria de Faacutetima de Madureira Florianoacutepolis Saint

Germain 2004

_____ A cientificaccedilatildeo do Amor Traduccedilatildeo de Marcos de Noronha e Talia Gevaerd de Souza

Florianoacutepolis Saint Germain 2000

ODENT M O camponecircs e a parteira Uma alternativa agrave industrializaccedilatildeo da agricultura e do

parto Traduccedilatildeo de Sarah Bailey Satildeo Paulo Ground 2003

OLIVEIRA et al Tipo de parto expectativas das mulheres Revista Latino-Americana de

Enfermagem v10 n 5 p 667-674 setout 2002

76

ORGANIZACAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE (OMS) Maternidade Segura - assistecircncia ao

parto normal 2009 Disponiacutevel em

lthttpabenforedesindicalcombrarqsmateria56_apdfgt Acesso em 06 dez 2010

_____ Sauacutede Materna e Neonatal Unidade de Maternidade Segura Sauacutede Reprodutiva e da

Famiacutelia Assistecircncia ao parto normal Um guia praacutetico de sauacutede materna e neonatal

Unidade de Maternidade Segura Sauacutede Reprodutiva e da Famiacutelia Genebra A Sauacutede 1996

OPAS III Reunioacuten Especial de Ministros de Salud de las Ameacutericas Atas resumidas

Santiago de Chile 2ordf 9 de octubre de 1972 Doc Oficial nordm 123 sept 1973

PELLOSO S M PANONT K T SOUZA K M P Opccedilatildeo ou imposiccedilatildeo Motivos de

escolha da cesaacuterea Arq Ciecircnc Sauacutede UNIPAR 4(1) 3-8 2000

PEREIRA W R Poder Violecircncia e Dominaccedilatildeo Simboacutelicos nos Serviccedilos de Sauacutede

Ribeiratildeo Preto 175p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem de Ribeiratildeo Preto

Universidade de Satildeo Paulo 2000

PEREIRA R R FRANCO S C BALDIN N Representaccedilotildees sociais e decisotildees das

gestantes sobre a parturiccedilatildeo protagonismo das mulheres Sauacutede sociedade v20 n3 Satildeo

Paulo julysept 2011

PETER A P C O Cuidado Cultural no Processo de Ser e Viver da Mulher Receacutem-

Nascido e Famiacutelia que Vivenciam o Parto no Domiciacutelio e no Hospital com Ecircnfase no

Contexto Domiciliar abrindo novos caminhos para a enfermagem (Trabalho de Conclusatildeo

de Curso) Graduaccedilatildeo em Enfermagem ndash Universidade Federal de Santa Catarina

Florianoacutepolis 2005

POTTER J E et al Unwanted caesarean sections among public and private patients in

Brazil prospective study BMJ 323 1155-8 2001

_____ Womens autonomy and scheduled cesarean sections in Brazil a cautionary tale

Birth 35 33-40 2008

PROGIANTI JM BARREIRA I A A obstetriacutecia do saber feminino agrave medicalizaccedilatildeo da

eacutepoca medieval ao seacuteculo XX 9 91-7 Revista Enfermagem UERJ 2001

PROJETO DIRETRIZES Associaccedilatildeo Meacutedica Brasileira e Conselho Federal de Medicina

Cesarianas indicaccedilotildees 2002

77

RAMOS J G L et al Morte materna em hospital terciaacuterio do Rio Grande do Sul um estudo

de 20 anos Rev Bras Ginecol Obstet 25 (6) 431-6 2003

REBELO F et al High cesarean prevalence in a national population-based study in Brazil

the role of private practice Acta Obstet Gynecol Scand 89 903-8 2010

RESSEL L B Vivenciando a sexualidade na assistecircncia de enfermagem Um estudo na

perspectiva cultural Escola de Enfermagem Universidade de Satildeo Paulo 2003

RESSEL L B et al A influecircncia da famiacutelia na vivecircncia da sexualidade Revista Esc Anna

Nery (impr) abrjun 15 (2)245-250 2011

REZENDE J MONTENEGRO B AC Obstetricia Fundamental 9 ed Rio de Janeiro

Guanabara Koogan 2003

ROSS L L BONILHA A L de L ARMELLINI C J et al Representaccedilotildees culturais

sobre parto e nascimento SEMANA CIENTIacuteFICA DO HOSPITAL DE CLIacuteNICAS DE

PORTO ALEGRE 26 Revista do HCPA 26 (Supl 1) 1-267 2006

SABATINO H Resposta ao polecircmico artigo Cesariana a polecircmica das taxas escrito por

Raphael da Cacircmara Medeiros Parente (Meacutedico do Ministeacuterio da Sauacutede - HSE Doutor em

Ginecologia - UNIFESP Mestre em Epidemiologia - UERJ) e publicado no Jornal do

CREMERJ ndash p 8 e 9 maio de 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwamigasdopartoorgbr2007indexphpoption=com_contentamptask=viewampid=891

ampItemid=204gt Acesso em 06 dez 2010

SANTOS M L Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia ao Parto e Nascimento um modelo teoacuterico

(Dissertaccedilatildeo) Mestrado em Enfermagem Universidade Federal de Santa Catarina

Florianoacutepolis 2002

SCAVONE L Impacto das Tecnologias Meacutedicas na Famiacutelia Sauacutede em Debate nordm40

p48-73 set 1993

SEIBERT S L BARBOSA J L S SANTOS J M VARGENS O M C

Medicalizaccedilatildeo x humanizaccedilatildeo o cuidado ao parto na histoacuteria Revista de Enfermagem

UERJ 13245-51 2005

SILVA L R A Experiecircncia na Casa de Parto Mohri-Japatildeo Revista de pesquisa Cuidado eacute

fundamental online setdez 1 (2) 288-298 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwseeruniriobrindexphpcuidadofundamentalarticleview359367gt Acesso em

13 out2011

78

SWAMY et al Association of preterm birth with long-term survival reproduction and next-

generation preterm birth JAMA v299 n12 Mar 26 p1429-36 2008

TAYLOR et al Risk of complications in a second pregnancy following caesarean section in

the first pregnancy a population-based study Medical Journal of Australia v183 n10

Nov 21 p515-9 2005

TEDESCO P R et al Fatores Determinantes para as Expectativas de Primigestas acerca da

Via de Parto Rev Bras Ginecol Obstet v26 n10 Rio de Janeiro novdez 2004

TEIXEIRA Z N F PEREIRA R W Parto Hospitalar - experiecircncias de mulheres da

periferia de Cuiabaacute - MT Cad Sauacutede Puacuteblica v25 n 11 Rio de Janeiro 2006

TELINI D M T Z Cesaacutereas e partos normais em gestantes com baixo risco obsteacutetrico

caracteriacutesticas maternas e repercussotildees neonatais (Tese) Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas

Campinas Universidade Estadual de Campinas 2000

THE LANCET Sauacutede dos Brasileiros 2011 Disponiacutevel em

lthttpwwwabcorgbrIMGpdfdoc-574pdf gt Acesso em 28 out 2011

TOMASHEK et al Differences in mortality between late-preterm and term singleton infants

in the United States 1995-2002 Journal of Pediatrics v151 n5 nov p450-6 456 2007

TRACY S K et al Admission of term infants to neonatal intensive care a population-based

study Birth v34 n4 dec p301-7 2007

TYRREL M A R CARVALHO V Programas nacionais de sauacutede-materno infantil

impacto poliacutetico social e inserccedilatildeo da enfermagem RJ EEANUFRJ 1995

VARGENS O M C PROGIANTI J M O Processo de Desmedicalizaccedilatildeo da Assistecircncia agrave

Mulher no Ensino de Enfermagem Rev Enferm USP 38 46-50 2004

VIacuteCTORA C G KNAUTH D R HASSEN M N A Pesquisa qualitativa em sauacutede

uma introduccedilatildeo ao tema Porto Alegre Tomo Editorial 2000

VIEIRA E M A Medicalizaccedilatildeo do Corpo Feminino Rio de Janeiro RJ Ed Fiocruz

2002

VIGILAcircNCIA EPIDEMIOLOacuteGICA Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria (SMS)

Dados Epidemioloacutegicos do Nuacutemero de Partos no Municiacutepio de Santa Maria - RS 2011

79

VILLAR J et al Caesarean delivery rates and pregnancy outcomes the 2005 WHO global

survey on maternal and Perinatal health in Latin America Lancet 367(9525)1819-29 2006

_____ Maternal and neonatal individual risks and benefits associated with caesarean

delivery multicentre prospective study BMJ v335 n7628 Nov 17 p1025 2007

80

ANEXOS

81

Anexo A - Aprovaccedilatildeo Comitecirc de Egravetica e Pesquisa

82

Anexo B - Autorizaccedilatildeo Emenda do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

83

84

APEcircNDICES

85

Apecircndice A - Ofiacutecio agrave Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria

Da Enfermeira Lizandra Flores Pimenta

Para Secretario Municipal de Sauacutede

Assunto Solicitaccedilatildeo (faz)

Santa Maria janeiro de 2011

Sr Secretaacuterio

Venho por meio deste solicitar a permissatildeo de V Srordf para desenvolver a pesquisa

intitulada A influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a

enfermagem junto as mulheres que satildeo atendidas na Unidade Baacutesica (UBS) de Sauacutede

Kennedy

Cumpre-se informar que esta pesquisa eacute resultado da experiecircncia na aacuterea obsteacutetrica

que me fez perceber a necessidade de compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher sobre a via de parto a partir das concepccedilotildees modernas sobre natureza e

cultura atribuiacutedos a percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto Como esclarecimento cabe

ressaltar que conforme a metodologia que pretendemos desenvolver os sujeitos da pesquisa

seratildeo consultados e esclarecidos acerca dos objetivos nos comprometendo a respeitar os

preceitos da Resoluccedilatildeo nordm19696 quanto agrave pesquisa envolvendo seres humanos

Colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios

Desde jaacute agradecemos

Atenciosamente

________________________ _______________________________

Enfordf Lizandra Flores Pimenta Profordf Enfordf Drordf Lucia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI ndash 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

86

Apecircndice B - Ofiacutecio ao Departamento de Ensino e Pesquisa do HUSM

Da Enfa Lizandra Flores Pimenta

Para Departamento de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitaacuterio de Santa Maria

Assunto Solicitaccedilatildeo (faz)

Santa Maria maio de 2011

Senhor Diretora

Venho por meio deste solicitar a permissatildeo de VS para desenvolver a pesquisa

intitulada ldquoA influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a

enfermagemrdquo junto agraves mulheres que estatildeo no momento da entrevista nos serviccedilos de

ginecologia e obstetriacutecia do HUSM quais sejam Centro Obsteacutetrico Unidade Toco-

ginecoloacutegica e Ambulatoacuterio ala II

Cumpre-se informar que esta pesquisa eacute resultado da experiecircncia na aacuterea obsteacutetrica

que me fez perceber a necessidade de compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher sobre a via de parto a partir das concepccedilotildees modernas sobre natureza e

cultura atribuiacutedas agrave percepccedilatildeo das mulheres em relaccedilatildeo ao parto Como esclarecimento cabe

ressaltar que conforme a metodologia que pretendo desenvolver os sujeitos da pesquisa seratildeo

consultados e esclarecidos acerca dos objetivos sendo que me comprometo a respeitar os

preceitos da Resoluccedilatildeo nordm 19696 quanto agrave pesquisa envolvendo seres humanos

Sem mais agradeccedilo a atenccedilatildeo dispensada colocando-me agrave disposiccedilatildeo para os

esclarecimentos que forem necessaacuterios

Atenciosamente

________________________ _______________________________

Enfordf Lizandra Flores Pimenta Profa Enfa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI - 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

87

Apecircndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ENFERMAGEM

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Pesquisadoras responsaacuteveis Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

Enfa Mestranda Lizandra Flores Pimenta

InstituiccedilatildeoDepartamento Universidade Federal de Santa Maria - Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Enfermagem

Telefones para contato (55) 91376501

(55) 91429743

Locais da coleta de dados Unidade sanitaacuteria Kennedy e Hospital Universitaacuterio de Santa

Maria

Vocecirc estaacute sendo convidada para participar da pesquisa intitulada ldquoA influecircncia da

cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a enfermagemrdquo de autoria de

Lizandra Flores Pimenta mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Enfermagem da

UFSM sob a orientaccedilatildeo da Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel que tem por objetivo

compreender como a cultura influencia no parto da mulher

Mas antes de concordar em participar desta pesquisa eacute importante que vocecirc

compreenda todas as informaccedilotildees as quais dizem respeito a sua participaccedilatildeo nesta pesquisa

Sua participaccedilatildeo consistiraacute em responder agraves perguntas feitas por mim pesquisadora durante a

entrevista a qual teraacute como auxiacutelio um gravador de voz Apoacutes as suas informaccedilotildees gravadas

seratildeo transcritas por mim de maneira a resguardar a veracidade dos dados Posteriormente

essas informaccedilotildees seratildeo organizadas analisadas divulgadas e publicadas em revistas

cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede sendo a sua identidade preservada em todas as etapas

Eacute importante que vocecirc compreenda que eacute assegurado o anonimato e o caraacuteter privativo

das informaccedilotildees fornecidas exclusivamente para a pesquisa Vocecirc natildeo seraacute identificada em

nenhum momento mesmo quando os resultados desta pesquisa forem divulgados sob

qualquer forma pois seraacute adotada a letra bdquoM‟ (M1 M2 M3) inicial da palavra mulher para

esta finalidade Tambeacutem as informaccedilotildees seratildeo mantidas em um CD no armaacuterio da professora

88

pesquisadora no Departamento de EnfermagemUFSM por cinco anos Apoacutes este periacuteodo os

dados seratildeo destruiacutedos Os dados coletados depois de organizados e analisados deveratildeo ser

divulgados e publicados ficando a pesquisadora juntamente com a professora responsaacutevel por

apresentar o relatoacuterio da pesquisa para a instituiccedilatildeo na qual seraacute realizado este estudo

Comunico que a sua participaccedilatildeo na entrevista natildeo representaraacute a princiacutepio risco agraves

suas dimensotildees fiacutesica moral intelectual social cultural ou espiritual em qualquer fase da

pesquisa No entanto poderaacute gerar algum desconforto como lembranccedilas questionamentos

eou conflitos agrave dimensatildeo emocional pelo fato da pesquisadora realizar uma entrevista na qual

vocecirc iraacute refletir sobre o seu cotidiano e suas vivecircncias Contudo poderaacute haver um benefiacutecio

no que se refere agrave melhor qualidade das praacuteticas no cuidar em enfermagem Se houver

qualquer desconforto a entrevista poderaacute ser suspensa e se vocecirc achar necessaacuterio poderei

fazer um encaminhamento a um especialista da aacuterea da sauacutede mental

Ciente e de acordo com o que foi anteriormente exposto eu __________________

estou de acordo em participar desta pesquisa assinando este Consentimento em duas vias

ficando com a posse de uma delas

_________________________________

Assinatura do sujeito de pesquisa

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntaacuteria o Consentimento Livre e

Esclarecido deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a participaccedilatildeo neste estudo

dede2011

__________________________________

Assinatura da pesquisadora

RG 3046400473

Se vocecirc tiver alguma consideraccedilatildeo ou duacutevida sobre a eacutetica da pesquisa entre em contato com

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa - CEP- UFSM Av Roraima 1000 - Preacutedio da Reitoria ndash 7ordm

andar ndash Campus Universitaacuterio ndash 97105-900 ndash Santa Maria-RS - Tel (55) 32209362 ndash E-mail

comiteeticapesquisamailufsmbr

89

Apecircndice D - Termo de confidencialidade

Tiacutetulo do estudo ldquoA influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees

para a enfermagemrdquo

Pesquisadora responsaacutevel Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

Pesquisadora Enfa Mestranda Lizandra Flores Pimenta

InstituiccedilatildeoDepartamento Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM)

Telefone para contato (55) 91376501 (55) 91429743

Locais da coleta de dados Unidade sanitaacuteria Kennedy e Centro Obsteacutetrico Unidade Toco-

ginecoloacutegica e Ambulatoacuterio ala II do HUSM

Os pesquisadores do presente projeto comprometem-se a preservar a privacidade dos

indiviacuteduos cujos dados seratildeo coletados por meio de entrevista gravada em aacuteudio MP3 e

realizada na UBS Kennedy numa sala reservada localizada no Hospital Universitaacuterio de

Santa Maria na cidade de Santa MariaRS Concordam igualmente que estas informaccedilotildees

seratildeo utilizadas uacutenica e exclusivamente para a execuccedilatildeo do presente projeto As informaccedilotildees

somente poderatildeo ser divulgadas de forma anocircnima e seratildeo mantidas em Compact Disc (CD)

por um periacuteodo de 5 (cinco) anos sob a responsabilidade da Enfordf Lizandra Flores Pimenta

Apoacutes este periacuteodo os dados seratildeo destruiacutedos Este projeto de pesquisa foi revisado e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM em 04012011 com o nuacutemero do CAAE

03170243000-10

Santa Maria de de 2011

________________________ _______________________________

Enfa Lizandra Flores Pimenta Profa Enfa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI ndash 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

90

Apecircndice E - Roteiro da entrevista com as mulheres

1 Dados de identificaccedilatildeo

Idade

Estado civil

Grau de instruccedilatildeo

Profissatildeoocupaccedilatildeo

Local de trabalho caso esteja trabalhando se natildeo indicar trabalho anterior

Raccedila

Quantos filhos

2 Sobre o parto

1 De que forma o parto e nascimento satildeo percebidos por vocecirc

2 Fale a respeito de sua experiecircncia em relaccedilatildeo aos seus partos e de outras mulheres do teu

conviacutevio

3 Existe alguma coisa em relaccedilatildeo ao parto de seus filhos que vocecirc gostaria que tivesse sido

diferente Por quecirc

4 O que vocecirc aprendeu sobre parto com teus pais irmatildeos irmatildes e outras pessoas da tua

famiacutelia

5 O que vocecirc escutou ou aprendeu sobre parto com os profissionais de sauacutede nos hospitais

e nos postos de sauacutede

6 O que vocecirc escutou ou aprendeu sobre parto em jornais revistas televisatildeo e internet

7 De que forma estes aprendizados participaram da tua decisatildeo sobre o tipo de parto

Page 7: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição

ABSTRACT

Masterrsquos Dissertation

Nursing Pos-Graduation Program

Federal University of Santa Maria

CULTURE IN THE PROCESS OF DELIVERY CONTRIBUTIONS TO

NURSING

AUTHOR Lizandra Flores Pimenta

ADVISOR Luacutecia Beatriz Ressel Date and Place of Defense Santa Maria February 28th 2012

The investigation aimed to understand how culture influences in the process of a woman

delivery A qualitative research with a cultural approach The settings were a Health Center

and a reference Hospital for high risk pregnancies and to gynecologic complications of a city

in the interior of Rio Grande do SulBrazil The people of this study were eight women in

fertile age with previous history of natural and caesarean deliveries in ages between 22 and

35 years old who had children from the year 2004 and out of the pregnancy period To the

data production a semi-structured interview was used done between January and March of

2011 To do the data analysis it was used a thematic analysis suggested by Minayo

generating six categories Women perception about the birth Women perception about the

wanted delivery Women perception in the decision about the king of delivery Knowledge

about how is the cultural construction of the women delivery process Questioning and

women resistance to the delivery biomedical model women perception about the reason of

caesarean indication The findings of this study allow affirming that women experience in

their delivery process is noticed differently among them sometimes understood in a positive

way and others in negative ways The identification of the kind of delivery wanted by the

majority of the interviewed was the natural delivery but it can be seen that the majority could

not have it in their pregnancies due to the influence and interventions given by the doctor The

absence of autonomy in the choice for the natural delivery resulted in the indication of

caesariansthat are not consistent with indications from the literature the women of this study

The interviewed affirm that the doctor has the power of decision about the king of delivery

but some diverge from this behavior saying that this decision should have the women

participation once she is the one who feels and passes by this process The positive meaning

evidenced by the women who have some relation with the pregnant mainly by the mother

figure provided an integral and enriched delivery to these women and influenced in the

preference for a natural delivery It was verified that culture has influence in the knowledge

and in the practices of women in relation to the process of delivery and that multiple aspects

that surround their life need to be observed when assistance is given to them during the

process

Key-words Delivery Women health Culture Nursing

LISTA DE ANEXOS

Anexo A - Aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM 81

Anexo B - Autorizaccedilatildeo de Emenda do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM para

troca de cenaacuterio para coleta

82

LISTA DE APEcircNDICES

Apecircndice A - Ofiacutecio agrave Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria 85

Apecircndice B - Ofiacutecio ao Departamento de Ensino e Pesquisa do HUSM 86

Apecircndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 87

Apecircndice D - Termo de Confidencialidade 89

Apecircndice E - Roteiro da entrevista com as mulheres 90

SUMAacuteRIO

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS 12

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 17

11 Poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e nascimento no

Brasil

17

12 O parto e a cultura no processo da parturiccedilatildeo 22

13 Referencial teoacuterico de Emily Martin sobre o parto e cultura 24

2 CAMINHO METODOLOacuteGICO 29

21 Fundamentos metodoloacutegicos 29

22 Os cenaacuterios do estudo 29

23 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos 31

24 Caracterizaccedilatildeo das participantes 32

25 Inserccedilatildeo em campo 34

26 Coleta de dados 33

27 Anaacutelise dos dados 34

28 Questotildees eacuteticas 35

3 ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS DADOS 37

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 61

REFEREcircNCIAS 67

ANEXOS 80

APEcircNDICES 83

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS

A gravidez e o parto satildeo eventos sociais e culturais que integram a vivecircncia

reprodutiva de homens e mulheres uma experiecircncia uacutenica no universo de ambos que envolve

tambeacutem suas famiacutelias e consequentemente a comunidade (BRASIL 2001)

O parto inscreve-se nesse universo cultural por ser um fenocircmeno que perpassa todas as

sociedades e temposespaccedilos Esse sistema de crenccedilas herdadas eacute denominado ldquocultura do

nascimentordquo a qual informa os membros da sociedade sobre a natureza de todo o processo

parturitivo da mulher e influencia seu significado em relaccedilatildeo ao tipo de parto (HELMAN

2009)

O autor supracitado diz que a gestaccedilatildeo e o parto satildeo a transiccedilatildeo do status social de

ldquomulherrdquo para o de ldquomatildeerdquo e como em todas as transiccedilotildees sociais a pessoa deve ser protegida

de qualquer dano atraveacutes de determinados rituais e comportamentos

Conforme Floyd (2009) as formas de transmitir esses comportamentos agrave parturiente

satildeo chamadas de ldquorituais da obstetriacuteciardquo dentre eles estatildeo fazer a mulher reconhecer a

deficiecircncia de seu corpo (consciente ou inconscientemente) a fim de tornaacute-la dependente da

ciecircncia e da tecnologia induzindo-a a aceitar a superioridade das instituiccedilotildees e da Medicina

em controlar seus processos naturais suas crenccedilas e seus significados individuais

Segundo Floyd (2009) eacute mais provaacutevel que esse tipo de comportamento seja

transmitido na atmosfera impessoal de um hospital do que no ambiente familiar e domeacutestico

As condiccedilotildees de nascimento apresentam significativas distinccedilotildees quando comparadas

entre diferentes realidades Nos paiacuteses ocidentais segundo Floyd (1987) o parto eacute cercado de

aparatos tecnoloacutegicos meacutedicos e essa medicalizaccedilatildeo define-o como uma disfunccedilatildeo fisioloacutegica

Jaacute nos paiacuteses orientais como exemplo o Japatildeo eacute valorizado o parto vaginal desmedicalizado

que assim como a gestaccedilatildeo natildeo eacute considerado doenccedila (SILVA 2009)

De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) 70 a 80 das gestaccedilotildees

que ocorrem no mundo satildeo consideradas de baixo risco Eis a definiccedilatildeo de parto normal

adotada pela OMS

De iniacutecio espontacircneo baixo risco no iniacutecio do trabalho de parto permanecendo

assim durante todo o processo ateacute o nascimento O bebecirc nasce espontaneamente em

posiccedilatildeo cefaacutelica de veacutertice entre 37 e 42 semanas completas de gestaccedilatildeo Apoacutes o

nascimento matildee e filho estando em boas condiccedilotildees Entretanto como o trabalho de

parto e o parto de muitas gestantes de alto risco tecircm um curso normal vaacuterias

recomendaccedilotildees tambeacutem se aplicam agrave assistecircncia dessas mulheres (OMS 2009 p9)

13

Frente a isso deve existir sempre uma razatildeo vaacutelida para se interferir nesse processo

fisioloacutegico do parto tendo como recurso para tais casos a cesariana que se trata de uma

intervenccedilatildeo meacutedica destinada agrave extraccedilatildeo do feto por via abdominal

O parto cesaacutereo eacute uma intervenccedilatildeo usada em situaccedilotildees nas quais as condiccedilotildees da matildee

e do bebecirc natildeo favorecem o parto vaginal Entretanto sua indicaccedilatildeo incorreta estaacute associada a

uma maior ocorrecircncia de mortalidade e morbidade para as parturientes tais como

hemorragias infecccedilotildees puerperais embolia pulmonar riscos anesteacutesicos bem como outras

patologias Para os bebecircs os riscos relacionam-se a distuacuterbios respiratoacuterios icteriacutecia

fisioloacutegica prematuridade iatrogecircnica hipoglicemia e anoacutexia (RAMOS 2003 VILLAR

2006 TELINI 2000)

Nessa direccedilatildeo eacute observado em nosso paiacutes nos uacuteltimos anos o aumento de partos

cesaacutereos agendados com antecedecircncia cujas indicaccedilotildees meacutedicas natildeo o justificam (MORELL

MELO 1995) Em uma pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede realizada em 2006 quase

metade (462) de todas as cesarianas foi agendada com antecedecircncia (BRASIL 2009)

Essa conduta eacute culturalmente difundida pelos profissionais da sauacutede que detecircm o

poder de modular e influenciar as demandas sobre as necessidades de sauacutede da populaccedilatildeo

(TEIXEIRA 2006) Apresentando-se sob a maacutescara da razatildeo e da necessidade essa praacutetica

desnecessaacuteria acaba por natildeo ser percebida pela maioria das mulheres que encontram

dificuldades em resistir (PEREIRA 2000)

O Ministeacuterio da Sauacutede (2001) ressalta que a informaccedilatildeo e a formaccedilatildeo de opiniatildeo entre

as mulheres satildeo prioridade no Brasil a fim de que elas possam escolher o melhor para a sua

sauacutede e para a de seus filhos pois embora profissionais e mulheres faccedilam a opccedilatildeo antecipada

do tipo de parto esse fato natildeo pode ser visto como uma simples questatildeo de preferecircncia jaacute que

cesaacuterea natildeo eacute um ldquobem de consumordquo (ODENT 2004)

Outro modo de tornar atrativo e mais agradaacutevel aos olhos das mulheres esta praacutetica de

conveniecircncia eacute o conceito contraditoacuterio de cesariana centrada na famiacutelia em que se daacute aos

pais opccedilotildees quanto ao tipo de anesteacutesico e terapia indicados para a mulher (MARTIN 2006)

Scavone (1993) explica esta valorizaccedilatildeo pelas mulheres e pela populaccedilatildeo em geral como

uma garantia meacutedica para os pais em relaccedilatildeo agrave qualidade da sua prole e da fecundidade

Ao dar respostas aos problemas obsteacutetricos e neonatais que aumentam enormemente

os iacutendices de mortalidade materna durante a gestaccedilatildeo o parto e o puerpeacuterio a medicina criou

discursos de verdade Segundo Foucault (1992 p 179)

14

As relaccedilotildees de poder natildeo podem se dissociar se estabelecer nem funcionar sem

uma produccedilatildeo uma acumulaccedilatildeo uma circulaccedilatildeo e um funcionamento do discurso

Natildeo haacute possibilidade de exerciacutecio do poder sem uma certa economia dos discursos

de verdade que funcione dentro e a partir desta dupla exigecircncia

Essa hegemonia do discurso meacutedico sobressai-se desconsiderando durante o processo

parturitivo as crenccedilas e a cultura das mulheres Eacute apenas o meacutedico quem daacute a palavra final

para duacutevidas e inquietudes das mulheres pois considera seu discurso inquestionaacutevel e

legiacutetimo (VIEIRA 2002)

Dessa forma a mulher perde sua autonomia como protagonista no processo do

nascimento

Criou-se assim uma heteronomia desfigurando-se este ato ateacute entatildeo puramente

feminino - pois natildeo era mais a mulher quem dava agrave luz - para o meacutedico como dono

e senhor do parto numa inversatildeo de papeacuteis que bdquolegitima o poder e a relaccedilatildeo da

medicina com a famiacutelia‟ (PEREIRA 2000 p17)

Essa inversatildeo de papeacuteis no cenaacuterio do parto no qual o meacutedico deteacutem o poder sobre o

corpo da mulher pode estar justificando os altos iacutendices de cesaacutereas nas uacuteltimas deacutecadas

Outra repercussatildeo desta mudanccedila de paradigma em relaccedilatildeo ao processo do nascimento

eacute a de que o parto os cuidados puerperais e com o receacutem-nascido que antigamente

transcorriam no ambiente familiar e eram envolvidos em fortes viacutenculos atualmente

transcorrem em instituiccedilotildees hospitalares onde os viacutenculos transformaram-se em meros

contatos superficiais acentuando a perda da autonomia da mulher neste processo

(MONTICELLI 1994)

O contexto do nascimento na sociedade atual mostra que a mulher parturiente estaacute

cada vez mais distante da condiccedilatildeo de protagonista da cena do parto ldquototalmente insegura

submete-se a todas as ordens e orientaccedilotildees sem entender como combinar o poder contido nas

atitudes e palavras que ouve e percebe com o fato inexoraacutevel de que eacute ela quem estaacute com dor

e quem vai parirrdquo (BRASIL 2001 p18) Fato esse constatado no aumento de cesaacutereas e

reduccedilatildeo de partos normais na rede puacuteblica no Brasil No ano de 2005 a taxa de cesaacutereas que

era de 2870 aumentou para 3610 em 2010 e em contrapartida o nuacutemero de partos

normais que em 2005 era de 7130 reduziu para 63 20 em 2010 (BRASIL 2010)

No estado do Rio Grande do Sul (RS) foi constatado por Freitas et al (2005) que os

iacutendices elevados de cesaacuterea constituem um grave problema de sauacutede puacuteblica o que pode

acarretar o mau-uso da tecnologia meacutedica na atenccedilatildeo ao parto associado a fatores sociais

econocircmicos e culturais O percentual de cesarianas que foram analisadas de 1997 a 2003 foi

de 406 para 448 respectivamente No ano de 2008 no RS segundo dados do IBGE

15

(2009) o iacutendice de cesaacutereas foi de 537

No municiacutepio de Santa MariaRS segundo dados da Vigilacircncia Epidemioloacutegica da

Secretaria Municipal de Sauacutede (SMS) no primeiro semestre de 2011 635 dos partos o que

corresponde a 1167 foram cesaacutereos o que desvela um iacutendice muito aleacutem dos 15 previstos

pela OMS O Ministeacuterio da Sauacutede (MS) estabeleceu limite para partos cesaacutereos

considerando-os de alto risco para as unidades hospitalares ateacute 40 e para unidades de risco

habitual - ateacute 25 (BRASIL 2008c)

A portaria GM nordm 466 de 14062000 retificada em 30062000 propotildee o Pacto pela

Reduccedilatildeo das Taxas de Cesaacuterea a ser firmado entre os gestores estaduais e o gestor federal

estabelecendo a taxa de 25 como desejaacutevel para todos os estados ateacute 2007 (BRASIL 2008)

Finalizar uma gestaccedilatildeo mediante uma cesaacuterea sem causa meacutedica que a justifique

ainda que esta seja a pedido da gestante eacute uma conduta meacutedica que natildeo respeita os processos

fisioloacutegicos do trabalho de parto do parto e do nascimento Por esse motivo o procedimento

ciruacutergico realizado sem indicaccedilotildees deixa de ser um procedimento fisioloacutegico tornando-se um

procedimento de risco para a matildee e para o receacutem-nascido (SABATINO 2009)

Para a abrangecircncia do tema complexidade e repercussotildees na vida das mulheres o

objeto de estudo eacute o significado que a mulher atribui ao seu parto

A justificativa para a escolha desse objeto de estudo deve-se agrave vivecircncia de dar agrave luz a

dois filhos nascidos de parto normal Letiacutecia (15 anos) e Marcos (12 anos) e de ter participado

ativamente desse processo como protagonista

Vem ao encontro disso o fato de que no decorrer da vivecircncia de dezoito anos na

assistecircncia agrave sauacutede das mulheres em maternidades e unidades baacutesicas de sauacutede e no meu

ambiente de trabalho atual como enfermeira obstetra de um hospital de ensino percebo a

intensa fragilidade das parturientes ao se submeterem a todos os procedimentos e

intervenccedilotildees sem questionamentos ao que acontece com o seu corpo durante o parto

Paralelamente agraves atividades profissionais participo como integrante do Nuacutecleo de

Estudos sobre Mulheres Gecircnero e Poliacuteticas Puacuteblicas-NEMGeP do Departamento de

Enfermagem do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Santa Maria grupo

que me despertou para as questotildees de gecircnero na temaacutetica no processo da parturiccedilatildeo O Nuacutecleo

atua em accedilotildees direcionadas agraves mulheres com abordagens que ultrapassam a dimensatildeo

bioloacutegica pois considera que as questotildees de gecircnero (cidadania empoderamento controle

social e poliacuteticas puacuteblicas) constituem referenciais fundamentais no direcionamento de

atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres (LANDERDAHL et al 2011)

16

Consultando a literatura cientiacutefica percebeu-se a ausecircncia de estudos culturais com

mulheres fora do periacuteodo graviacutedico puerperal e em cenaacuterios que natildeo sejam em maternidades

eou hospital

Alinhando-se nos argumentos acima descritos este estudo fundamentou-se no

referencial teoacuterico metodoloacutegico da abordagem socioantropoloacutegica de Emily Martin que

propotildee uma anaacutelise do fenocircmeno do parto contrapondo a delimitaccedilatildeo deste ao campo da

reproduccedilatildeo mecanicista e biomeacutedica buscando entendecirc-lo como componente essencial das

mulheres no sentido de desnaturalizar verdades muito caras vinculadas agraves concepccedilotildees

modernas de natureza e cultura Dessa forma o presente estudo traz reflexotildees que poderatildeo

repercutir na assistecircncia de enfermagem prestada agrave mulher durante o periacuteodo da parturiccedilatildeo

uma vez que auxilia na compreensatildeo das necessidades de cuidado com as parturientes a partir

da percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto e o nascimento

Com base nessas consideraccedilotildees a questatildeo norteadora de pesquisa que impulsiona

este estudo estaacute embasada no seguinte questionamento qual a participaccedilatildeo da cultura nos

saberes e as praacuteticas das mulheres em relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeo

Para responder a esta questatildeo foi definido como objetivo compreender de que forma

a cultura influencia no processo de parturiccedilatildeo da mulher

17

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

Este capiacutetulo enfoca as poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e

nascimento no Brasil bem como discute sobre parto e cultura baseando-se sobretudo nos

estudos realizados pela antropoacuteloga Emily Martin

21 Poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e nascimento no Brasil

O movimento feminista tem desempenhado um papel fundamental como instigador de

programas e poliacuteticas para as mulheres no paiacutes e sido entendido como foacuterum de debate das

questotildees da sauacutede qualidade de vida e condiccedilatildeo de cidadania feminina

Em 1974 foi implantado pelo governo o Programa de Sauacutede Materno-Infantil-PSMI

(MS74) como recomendaccedilatildeo do Plano Decenal de Sauacutede para as Ameacutericas e resultante da III

Reuniatildeo Especial de Ministros de Sauacutede das Ameacutericas que se realizou em Santiago de Chile

em 1972 Enfatizou-se nessa recomendaccedilatildeo

Formular uma poliacutetica intersetorial de proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade e agrave infacircncia

[] O programa de sauacutede e atenccedilatildeo meacutedica deveraacute ter cobertura universal

eficiecircncia operativa e acessibilidade geograacutefica institucional e financeira []

Elaborar o programa como um todo contiacutenuo que incluam as diversas atividades de

proteccedilatildeo agrave famiacutelia e em especial agrave matildee e a crianccedila orientaccedilatildeo agrave vida familiar (com

ecircnfase agrave adolescecircncia) atenccedilatildeo agraves doenccedilas ginecoloacutegicas (incluindo as veneacutereas)

diagnoacutestico precoce do cacircncer ceacutervico-uterino e do cacircncer de mama outorgar as

famiacutelias (quando isto natildeo se oponha agraves poliacuteticas nacionais) informaccedilatildeo e serviccedilo

com relaccedilatildeo agrave fertilidade e agrave esterilidade atenccedilatildeo meacutedica integral durante a gestaccedilatildeo

(matildee e feto) atenccedilatildeo ao parto e no puerpeacuterio controle do receacutem-nascido e da

crianccedila durante todas as etapas da vida especificamente no primeiro ano de vida

(OPAS 1973 p39-42)

Com isso o governo brasileiro registrou o interesse em trabalhar com o diagnoacutestico

precoce e o tratamento das doenccedilas ginecoloacutegicas incluindo as doenccedilas sexualmente

transmissiacuteveis e o cacircncer Somente no ano de 1977 a preocupaccedilatildeo eacute dirigida com mais

especificidade agrave gestaccedilatildeo ao parto e ao puerpeacuterio (TYRREL CARVALHO 1995)

O Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em 1984 em conjunto com o Ministeacuterio da Previdecircncia e

a Assistecircncia Social o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e as Secretarias Estaduais de Sauacutede e com o

apoio do movimento de mulheres implantou o Programa de Atenccedilatildeo Integral agrave Sauacutede da

Mulher (PAISM)

18

Esse programa eacute considerado um marco na histoacuteria das poliacuteticas puacuteblicas voltadas para

a sauacutede feminina e ateacute hoje eacute inspiraccedilatildeo e referecircncia na luta pela equidade de gecircnero

divulgando a importacircncia de se estabelecer um programa especiacutefico dirigido agrave mulher e de se

enfatizar certas atividades prioritaacuterias que natildeo deve ser interpretado como uma subestimaccedilatildeo

aos demais serviccedilos que a rede baacutesica deve executar mas deve ser adotado sobretudo como

estrateacutegia de mudanccedila seletiva de recursos que permitam a operacionalizaccedilatildeo de conteuacutedos de

grande prioridade vinculados agrave populaccedilatildeo feminina em todas as fases de sua vida e que

vinham sendo ateacute entatildeo negligenciados (BRASIL l984)

Em 2004 o programa foi transformado na Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agrave

Sauacutede da Mulher (MS 2004) cujo objetivo especiacutefico trecircs indica para o dever de se promover

a atenccedilatildeo obsteacutetrica e neonatal qualificada e humanizada tendo como combate agrave violecircncia de

gecircnero enfatizando a importacircncia do empoderamento das mulheres para o exerciacutecio da

autonomia e protagonismo no parto

A Poliacutetica Nacional de Humanizaccedilatildeo (MS 2004) implementada no mesmo ano

enfoca tambeacutem o respeito agraves questotildees de gecircnero etnia raccedila orientaccedilatildeo sexual com a

construccedilatildeo de autonomia e protagonismo dos sujeitos e coletivos

A I Conferecircncia Nacional de Poliacuteticas para as mulheres realizada em julho de 2004

foi muito importante na afirmaccedilatildeo dos direitos da mulher Desse evento resultou o I Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres em que foram traccediladas 4 linhas de atuaccedilatildeo sendo

uma delas a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos das mulheres o que

contribui reduccedilatildeo da morbidade e mortalidade feminina no Brasil especialmente por causas

evitaacuteveis em todos os ciclos de vida e nos diversos grupos populacionais (BRASIL 2005)

Corroborando esta afirmativa o II Plano Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres

(2008) em seu eixo sobre a sauacutede das mulheres direitos sexuais e direitos reprodutivos

postula que natildeo deve haver discriminaccedilatildeo de qualquer espeacutecie contra as mulheres

resguardando-se as identidades condiccedilotildees socioeconocircmicas e as desigualdades de gecircnero

raccedilaetnia geraccedilatildeo e orientaccedilatildeo sexual e necessitam ser consideradas na formulaccedilatildeo na

implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo de estrateacutegias de intervenccedilatildeo governamentais

Desse modo particularizar a atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher significa apenas um passo no

sentido de aumentar a capacidade resolutiva dos serviccedilos de sauacutede uma vez que haacute o desafio

de dar uma resposta efetiva aos problemas de sauacutede deste grupo de sujeitos visto conforme

Resende e Montenegro (2003) que as trecircs principais causas de morte materna no Brasil satildeo a

toxemia a hemorragia e a infecccedilatildeo puerperal as quais poderiam na maior parte dos casos

serem prevenidas Esse dado justifica a preocupaccedilatildeo com tais cuidados

19

Um dos objetivos de desenvolvimento do milecircnio (IPEA 2007) eacute melhorar a sauacutede

materna (reduccedilatildeo de trecircs quartos da mortalidade materna entre 1990 e 2015) Entretanto essa

meta do milecircnio dificilmente seraacute alcanccedilada pois grandes desafios ainda persistem a

exemplo da reduccedilatildeo das altas taxas de cesariana e nascimentos preacute-termo e no parto vaginal as

rotinas improacuteprias tais como episiotomia de rotina e intervenccedilotildees dolorosas ao bem-estar

materno e do bebecirc (THE LANCET 2011)

Para enfrentar esses desafios foi instituiacutedo pelo MS em 2000 o Programa de

Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) cujo objetivo primordial eacute ldquoassegurar a

melhoria do acesso da cobertura e da qualidade do acompanhamento preacute-natal da assistecircncia

ao parto e puerpeacuterio agraves gestantes e ao receacutem-nascido na perspectiva dos direitos de

cidadaniardquo (BRASIL 2000 p5) O Programa considera que a humanizaccedilatildeo da assistecircncia

obsteacutetrica e neonatal eacute a primeira condiccedilatildeo para o adequado acompanhamento do parto e do

puerpeacuterio (BRASIL 2000b)

A implementaccedilatildeo das accedilotildees desse programa enfrenta ainda muitos entraves

identificados e categorizados em um estudo de revisatildeo sistemaacutetica de Busanello et al (2009)

Citam-se a dificuldade de acesso aos serviccedilos de sauacutede a falta de leitos a deficiecircncia de

recursos humanos financeiros e materiais a atenccedilatildeo centrada na praacutetica intervencionista

desconsiderando o protagonismo da mulher no momento do parto e o despreparo dos

profissionais de sauacutede para a atenccedilatildeo humanizada no processo de parturiccedilatildeo sendo esta

categoria destacada como importante desafio enfrentado para concretizaccedilatildeo do PHPN

Nesse sentido o Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento - MS tem

recomendado aos serviccedilos de sauacutede que ofereccedilam uma assistecircncia digna agrave mulher aos

familiares e ao receacutem-nascido envolvendo para tanto atitude eacutetica e solidaacuteria dos

profissionais de sauacutede organizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de modo a criar um ambiente acolhedor e a

implementaccedilatildeo de rotinas hospitalares que rompam com o tradicional isolamento imposto agrave

mulher Considera-se tambeacutem necessaacuterio adotar medidas e procedimentos sabidamente

beneacuteficos para o acompanhamento do parto e do nascimento evitando-se praacuteticas

intervencionistas desnecessaacuterias (BRASIL 2000b)

Seguindo essa loacutegica o Ministeacuterio da Sauacutede tem realizado um conjunto de accedilotildees

atraveacutes de portarias ministeriais com a finalidade de estimular e regularizar a assistecircncia

obsteacutetrica aleacutem de financiar a realizaccedilatildeo de cursos de especializaccedilatildeo em enfermagem

obsteacutetrica (BRASIL 2001)

Assegura-se pela legislaccedilatildeo do exerciacutecio profissional regulamentada pela lei n

749886 e o Decreto-Lei 9440687 o direito de a enfermeira obstetra realizar assistecircncia agrave

20

parturiente e ao parto normal identificaccedilatildeo das distocias obsteacutetricas e tomada de providecircncias

ateacute a chegada do meacutedico e a realizaccedilatildeo de episiotomia e episiorrafia e aplicaccedilatildeo de anestesia

local quando necessaacuteria

Outras atribuiccedilotildees realizadas pela enfermeira obsteacutetrica que vem ganhando espaccedilo no

cenaacuterio nacional satildeo as accedilotildees de incentivo ao parto normal e as accedilotildees no atendimento preacute-

natal no qual a enfermeira eacute responsaacutevel pela educaccedilatildeo em sauacutede para as mulheres e suas

famiacutelias consulta de preacute-natal agrave gestaccedilatildeo de baixo risco solicitaccedilatildeo de exames de rotina e

prescriccedilatildeo de tratamento conforme protocolo do serviccedilo e estabelecidos em programas de

sauacutede e coleta de exame citopatoloacutegico (BRASIL 2006b)

Concorrendo nessa orientaccedilatildeo a atuaccedilatildeo da enfermeira obstetra eacute reconhecida como

primordial no processo de humanizaccedilatildeo do parto tendo como objetivo a reduccedilatildeo dos altos

iacutendices de cesaacutereas praticadas e a alta medicalizaccedilatildeo decorrentes do intervencionismo por

parte dos meacutedicos obstetras (BRASIL 2001)

Buscando proporcionar conhecimento agrave sociedade e particularmente esclarecer os

profissionais de sauacutede a OMS elaborou em 1996 um conjunto de recomendaccedilotildees de boas

praacuteticas na assistecircncia ao parto normal Essas recomendaccedilotildees foram classificadas em quatro

categorias Categoria A - praacuteticas confirmadamente uacuteteis e que devem ser estimuladas

Categoria B - praacuteticas claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas

Categoria C - praacuteticas em relaccedilatildeo agraves quais natildeo existem evidecircncias suficientes para apoiar uma

recomendaccedilatildeo clara e que devem ser utilizadas com cautela ateacute que mais pesquisas

esclareccedilam a questatildeo e Categoria D - praacuteticas frequentemente utilizadas de modo inadequado

(OMS 1996) Dentre estas categorias destacam-se neste estudo as recomendaccedilotildees que foram

classificadas como praacuteticas uacuteteis e que devem ser estimuladas

Nessa direccedilatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede implantou medidas que visam impactar e

estimular a melhoria da assistecircncia obsteacutetrica no paiacutes e humanizar o parto e nascimento

(BRASIL 2001)

Para Martins (2005) humanizar a parturiccedilatildeo eacute estar com o outro e prestar um

atendimento focado em suas necessidades eacute lembrar que no momento do parto estaacute

ocorrendo a separaccedilatildeo de dois corpos que ateacute entatildeo viviam juntos um dentro do outro em

relaccedilatildeo de dependecircncia e de iacutentimo contato

Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede (2001) os profissionais de sauacutede devem ser

coadjuvantes dessa experiecircncia direcionando toda atenccedilatildeo agraves necessidades da mulher e

oportunizando-lhe o protagonismo e o controle da situaccedilatildeo na hora do nascimento

21

Os profissionais tambeacutem devem repassar para a mulher as opccedilotildees de escolha baseados

nas evidecircncias cientiacuteficas e nos seus direitos tendo a oportunidade de empregar seu

conhecimento a serviccedilo do bem-estar da mulher e do bebecirc sabendo reconhecer os momentos

criacuteticos em que suas intervenccedilotildees satildeo necessaacuterias

Igualmente seus deveres satildeo minimizar a dor acompanhar dar conforto esclarecer

orientar enfim ajudar a parir e a nascer Precisam lembrar que satildeo os primeiros a ter contato

com cada ser que nasce e portanto devem ter consciecircncia dessa responsabilidade (BRASIL

2001)

No Brasil o movimento pela humanizaccedilatildeo do parto eacute impulsionado por experiecircncia

em vaacuterios estados Em 1994 surgiu no Rio de Janeiro a primeira maternidade puacuteblica

autodefinida como ldquohumanizadardquo que recebeu o nome de Leila Diniz (DINIZ 2005) Outro

marco em termos de poliacuteticas puacuteblicas do parto e nascimento foi a criaccedilatildeo do Precircmio Galba

Arauacutejo para Maternidades Humanizadas instituiacutedo pela portaria nordm 2883 de 4 de junho de

1998 (BRASIL 1998)

Os criteacuterios para a concessatildeo deste precircmio satildeo baseados na adesatildeo agraves recomendaccedilotildees

da OMS tais como a presenccedila de acompanhantes no preacute-parto parto e poacutes-parto a assistecircncia

aos partos de baixo risco por enfermeiras obstetras e o controle das taxas de cesaacuterea

(BRASIL 2000b)

Concedido a niacutevel estadual e nacional o precircmio Galba de Arauacutejo tem provocado

mobilizaccedilatildeo nas instituiccedilotildees de Sauacutede que lutam em defesa dos direitos das mulheres e

crianccedilas e tem recebido a participaccedilatildeo de um nuacutemero crescente de serviccedilos a cada ediccedilatildeo

contribuindo para conferir legitimidade ao modelo humanizado (DINIZ 2005)

O Centro de Parto Normal-CPN foi outra iniciativa criada pela portaria nordm 985 de

agosto de 1999 que tem como finalidade o atendimento agrave mulher no periacuteodo graviacutedico-

puerperal tendo como uma das suas atribuiccedilotildees prestar atendimento humanizado e de

qualidade exclusivamente ao parto normal sem distoacutecia assistido por enfermeira obsteacutetrica

desenvolvendo atividades educativas e de humanizaccedilatildeo durante o preacute-natal visando agrave

preparaccedilatildeo das gestantes para o parto no CPN (BRASIL 1999)

A Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar (ANS) do Ministeacuterio da Sauacutede em janeiro

de 2008 atraveacutes da Resoluccedilatildeo Normativa nordm 167 reviu o Rol de Procedimentos e Eventos em

Sauacutede e ampliou as coberturas para as beneficiaacuterias de planos de sauacutede A partir de abril de

2008 deu-se a inclusatildeo na cobertura dos partos feitos por enfermeira obstetras e a presenccedila de

um acompanhante durante toda a estada da mulher no hospital desde o momento do parto ateacute

a sua alta (ANS 2008b)

22

Destaca-se tambeacutem que a partir do ano de 2005 a lei nordm 11108 passou a garantir agraves

parturientes o direito agrave presenccedila de acompanhante de sua preferecircncia durante o trabalho de

parto parto e poacutes-parto Outra iniciativa lanccedilada pela ANS na tentativa de estimular o

aumento de partos normais e modificar os altos iacutendices de cesarianas desnecessaacuterias na rede

privada foi a campanha em favor do parto normal intitulada Parto normal estaacute no meu

plano (ANS 2008a)

Em junho de 2008 foi divulgada a Resoluccedilatildeo RDC 36 da Agecircncia Nacional de

Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA) a qual preconiza que os serviccedilos de atendimento obsteacutetrico e

neonatal devem adotar medidas que incentivem o parto humanizado e a reduccedilatildeo dos iacutendices

de mortalidade materna e neonatal no paiacutes (BRASIL 2008b)

Tambeacutem devido a algumas maternidadeshospitais estarem fazendo uma cobranccedila

indevida para a presenccedila do acompanhante na sala de parto destinada a cobrir os gastos com a

limpeza e higienizaccedilatildeo das roupas ciruacutergicas e o uso de maacutescaras e toucas descartaacuteveis

utilizadas pelo acompanhante da gestante a ANS publicou em 02082011 a Resoluccedilatildeo

Normativa 262 (ANS 2011) Essa normativa define que as despesas a serem cobertas para o

acompanhante durante o preacute-parto parto e poacutes-parto imediato deve incluir taxas de

paramentaccedilatildeo acomodaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo pelo periacuteodo de 48h podendo se estender por ateacute

10 dias quando indicado pelo meacutedico assistente (DOU 2011)

Em junho de 2011 foi instituiacuteda a iniciativa da Rede Cegonha atraveacutes da portaria nordm

1459 de 24 de junho de 2011 no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede com o intuito de

fomentar a implementaccedilatildeo de novo modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher com foco na

atenccedilatildeo ao parto

Esta poliacutetica tendo como princiacutepios o respeito a proteccedilatildeo e a realizaccedilatildeo dos direitos

humanos o respeito agrave diversidade cultural eacutetnica e racial a promoccedilatildeo da equidade com o

enfoque de gecircnero a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos de mulheres

homens jovens e adolescentes a participaccedilatildeo e a mobilizaccedilatildeo com controle social e a

compatibilizaccedilatildeo com as atividades das redes de atenccedilatildeo agrave sauacutede materna e infantil em

desenvolvimento nos Estados (BRASIL 2011)

12 O parto e a cultura no processo da parturiccedilatildeo

Historicamente o parto jaacute foi vivenciado como um evento feminino no qual os

membros do grupo social da parturiente como a matildee familiares vizinhas auxiliavam-na

23

juntamente agrave parteira que tinha seus conhecimentos fundamentados na praacutetica e na

acumulaccedilatildeo de saberes passados tradicionalmente de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo (SANTOS 2002)

No entanto no seacuteculo XVIII na Europa o parto passou por um processo de

transformaccedilatildeo principalmente devido agrave influecircncia biomeacutedica masculina De um evento

feminino domiciliar e fisioloacutegico passa a ser patoloacutegico e institucionalizado dominado por

uma praacutetica intervencionista e hospitalocecircntrica da qual a mulher perdeu seu protagonismo

(SANTOS 2002)

A percepccedilatildeo da dor no parto eacute considerada como um dos motivos que influenciam a

mulher em sua preferecircncia pela cesaacuterea e estaacute profundamente arraigada no imaginaacuterio

popular como um evento associado agrave purgaccedilatildeo feminina Relaciona-se neste sentido agrave

citaccedilatildeo do Livro Biacuteblico de Gecircnesis que se refere agrave Eva como o primeiro ser humano que

pecou e acabou por corromper o resto da humanidade com sua transgressatildeo ouvindo de Deus

ldquoe tu mulher pariraacutes com dor os teus filhosrdquo (TEIXEIRA 2006)

A ideacuteia de que a mulher deve pagar no parto por seus pecados propagada pela

medicina e pela religiatildeo hegemocircnica contrapotildee-se agrave visatildeo do parto como um momento

prazeroso Esse sentido pode ser entendido como uma heresia e uma ameaccedila a um sistema de

crenccedilas que define o parto como um processo doloroso que faz mal agrave sauacutede e agrave sexualidade

feminina e que precisa ser controlado por aparatos meacutedicos (DINIZ 2011)

De acordo com Helman (2009) a dor e seus aspectos voluntaacuterios satildeo influenciados por

fatores sociais culturais e psicoloacutegicos que determinam se a dor privada seraacute traduzida e em

que tipo de comportamento quando for puacuteblica Isso estaacute muito imbricado ao significado

pessoal de que a mulher atribui agrave dor do parto ao contexto de vida em que estaacute inserida agraves

definiccedilotildees culturais da imagem corporal da estrutura e funccedilotildees do seu corpo

Ressalta-se nessa direccedilatildeo que a posiccedilatildeo das mulheres frente ao processo de

medicalizaccedilatildeo natildeo foi propriamente a de viacutetima As mulheres de classe mais alta natildeo mais

aceitavam sentir a dor do parto e natildeo desejavam correr mais riscos aleacutem de o ato de parir com

a assistecircncia de um meacutedico significar maior poder aquisitivo de seus maridos Com isso a

consolidaccedilatildeo do processo de medicalizaccedilatildeo e hospitalizaccedilatildeo do parto acontece em meados do

seacuteculo XX motivada por tais condiccedilotildees (VARGENS PROGIANTI 2004)

No Brasil o processo de institucionalizaccedilatildeo do parto isto eacute a ocorrecircncia dos partos

dentro de instituiccedilotildees hospitalares deu-se ao longo da deacutecada de 40 com o advento da

medicina preventiva cujo objetivo principal era reduzir a mortalidade infantil Somente mais

tarde a partir da deacutecada de 80 passou-se a justificar o processo de medicalizaccedilatildeo do parto

por meio da recorrecircncia das cesarianas para reduzir a mortalidade materna (BRASIL 2001)

24

Os meacutedicos natildeo acostumados ao acompanhamento de fenocircmenos fisioloacutegicos foram

instruiacutedos a intervir resolver casos complicados e ditar ordens O parto passou entatildeo a ser

visto como um ato ciruacutergico e a mulher parturiente sendo tratada como enferma foi

impedida de seguir seus instintos e de adotar a posiccedilatildeo mais cocircmoda e fisioloacutegica (BRASIL

2001)

Privada do direito baacutesico de escolha e autonomia no nascimento do proacuteprio filho deu-

se iniacutecio agrave era do parto medicalizado no qual a matildee deixa de ser a protagonista do processo

cedendo seu lugar agrave equipe meacutedica que passa a ser o centro da cena Diversas repercussotildees

advecircm desta mudanccedila As posiccedilotildees verticalizadas que ao longo dos milecircnios foram as mais

usadas pelas mulheres em todas as raccedilas e culturas passaram a ser negadas agraves parturientes

pelos meacutedicos (MACHADO 1995)

A posiccedilatildeo assumida pela parturiente e a sua livre movimentaccedilatildeo passaram a ser

praticamente negligenciadas por profissionais alinhados agrave praacutetica ocidental moderna na qual

a mulher em trabalho de parto manteacutem-se deitada horizontalmente ou em uma posiccedilatildeo semi

inclinada para conveniecircncia da equipe obsteacutetrica na aplicaccedilatildeo dos soros monitores e

anesteacutesicos Evidecircncias de estudos etnograacuteficos realizados atualmente mostram que as

mulheres que natildeo satildeo expostas a essas rotinas assumem posiccedilotildees verticais no trabalho de

parto e no parto (BALASKAS 2008)

Balaskas (2008) reforccedila ainda que um parto ativo eacute uma atitude mental de crenccedila na

natureza do processo do parto e o modo como a mulher segue a loacutegica de seus instintos e da

sua fisiologia eacute uma forma de manifestar que estaacute no controle do seu corpo durante o trabalho

de parto e nascimento e que natildeo eacute um mero objeto de intervenccedilatildeo da equipe obsteacutetrica Os

significados culturais dados aos fenocircmenos fisioloacutegicos psicoloacutegicos e sociais de uma

sociedade refletem o comportamento das pessoas e ateacute a forma de desenvolvimento poliacutetico

econocircmico de dada sociedade (HELMAN 2009)

13 Referencial teoacuterico de Emily Martin sobre o parto e cultura

Segundo a antropoacuteloga Emily Martin (2006) a metaacutefora do uacutetero como maacutequina teve

iniacutecio no decorrer dos seacuteculos XVII e XVIII nos hospitais franceses Esta metaacutefora compara

o uacutetero a uma bomba mecacircnica capaz de expelir o feto Importante assinalar que nesta eacutepoca

que o foacuterceps era instrumento utilizado por accedilougueiros barbeiros falidos cujo status social

25

era equivalente ao de um mecacircnico De acordo com Vieira (2002) as regulamentaccedilotildees para

partejar exigiam que esses homens fossem chamados pelas parteiras para manipular os

instrumentos

A partir do seacuteculo XIX a ideologia de produccedilatildeo das faacutebricas torna-se tatildeo abrangente

que ldquochegardquo aos corpos das mulheres os quais passam a ser vistos nos textos de obstetriacutecia

como faacutebricas para a produccedilatildeo de bebecircs Martin (2006) propotildee utilizar esta metaacutefora de

produccedilatildeo fabril para entender o processo de trabalho em que meacutedico e a mulher estatildeo

envolvidos

Nesta metaacutefora segundo a autora acrescenta-se a figura do meacutedico no papel de

supervisor ou ateacute dono da faacutebrica e a mulher no papel de trabalhadora cuja maacutequina (uacutetero)

produz o produto (bebecirc) O olhar a partir de metaacuteforas de acordo com a pesquisadora

permite comparar as mesmas formas de controle e poder que ocorrem no acircmbito da produccedilatildeo

industrial ou seja de controlar os movimentos dos trabalhadores conforme a produccedilatildeo da

progressatildeo em periacuteodos especiacuteficos de tempo da maacutequina (uacutetero) para avaliar e controlar se

as contraccedilotildees uterinas satildeo eficientes ou ineficientes (MARTIN 2006)

A autora supracitada questiona o papel de passividade da mulher em relaccedilatildeo agraves

contraccedilotildees uterinas que consideradas pela ciecircncia meacutedica involuntaacuterias e inclusive

responsaacuteveis totais pela realizaccedilatildeo do parto Rezende e Montenegro (2003) comenta que no

periacuteodo expulsivo as contraccedilotildees satildeo realizadas com a glote fechada e com esforccedilos

respiratoacuterios verdadeiros chamados ldquopuxosrdquo Em nenhum momento foi mencionado que eacute a

parturiente que faz esse esforccedilo Outro exemplo de exclusatildeo do papel mulher em seu processo

de parto eacute o foco no feto conforme a citaccedilatildeo de Rezende e Montenegro (2003 p177) ldquono seu

transcurso atraveacutes do canal parturitivo impulsionado pela contratilidade uterina o feto eacute

compelido a executar certo nuacutemero de movimentos que se denominam mecanismo do partordquo

Assim sendo a metaacutefora utilizada por Martin (2006) desvela uma perspectiva que apresenta

as mulheres gestantes como ldquomateacuteria-primardquo para a produccedilatildeo de um ldquoprodutordquo

Nessa direccedilatildeo torna-se imprescindiacutevel para a produccedilatildeo de bebecircs perfeitos a

intervenccedilatildeo da cesaacuterea exigindo um miacutenimo de trabalho do uacutetero e da mulher atribuindo a

esse procedimento a imagem de ldquouacutenica graccedila salvadorardquo do bebecirc Este posicionamento

segundo a autora ignora o que talvez seja extremamente significante para a mulher e para seu

bebecirc ter a oportunidade de vivenciar o nascimento do seu filho (a) atraveacutes do seu proacuteprio

esforccedilo experimentando o protagonismo no seu parto e no nascimento da crianccedila

O mecanismo do parto conforme Rezende eacute o estudo da mecacircnica do parto o que

vem ao encontro da metaacutefora do uacutetero como maacutequina

26

A cultura meacutedica segundo Martin (2006) seria um sistema cultural cujas ideais

sobressaem-se agrave cultura popular

A autora faz ainda referecircncia a textos em obstetriacutecia da Universidade Johns Hopkins

nos EUA que comprovam que causas externas podem interferir nas atividades uterinas e que

tais alteraccedilotildees emocionais da mulher quase natildeo satildeo levadas em consideraccedilatildeo na obstetriacutecia

tendo como consequecircncia o aval para intervenccedilotildees como amniotomias uso de ocitocina para

acelerar o trabalho de parto ou a utilizaccedilatildeo da cesariana considerando desnecessaacuterias as

contraccedilotildees (MARTIN 2006)

A participaccedilatildeo do meacutedico como promotor de uma cultura intervencionista foi

destacada em um estudo nacional realizado pela socioacuteloga americana Hopkins (2000) com

pueacuterperas de cliacutenicas privadas e puacuteblicas Segundo o estudo das mulheres que fizeram

cesariana trecircs em quatro das primiacuteparas do setor privado e oito em dez do setor puacuteblico

gostariam de ter tido partos vaginais Observou-se que o meacutedico obstetra promove os medos

nas gestantes em relaccedilatildeo ao parto e superestima a seguranccedila da cesariana em funccedilatildeo dos seus

interesses

Para Martin (2006) a alienaccedilatildeo e a condiccedilatildeo fragmentada constadas na linguagem e

de algumas mulheres satildeo descritas como uma autopercepccedilatildeo passiva sendo contrastadas com

discursos de mulheres que questionam se opotildeem rejeitam e reformulam suas formas de viver

e as maneiras como a sociedade poderia funcionar apresentando uma autopercepccedilatildeo que tenta

resistir agrave passividade

As mulheres que optam pelo parto domiciliar saem dessa passividade buscam outras

formas de serem ativas no seu parto e reivindicam seu espaccedilo no ato de parir questionando o

paradigma atual de assistecircncia ao parto preconizado nas instituiccedilotildees hospitalares (KRUNO

BONILHA 2004)

No estudo etnograacutefico realizado por Martin (2006) em Baltimore (EUA) encontra-se

a narrativa de uma mulher que resiste a essa maneira de fragmentaccedilatildeo exprimindo a sua

frustraccedilatildeo em relaccedilatildeo ao parto cesariano imposto pela conduta meacutedica A narradora conta

com raiva a sua experiecircncia com a cesariana por ter perdido a cena do nascimento devido agrave

limitaccedilatildeo e ao jejum impostos pela anestesia natildeo podendo realizar os primeiros cuidados do

seu bebecirc aleacutem da proibiccedilatildeo de se alimentar por horas e limitando-se a nutrientes para a

recuperaccedilatildeo mais eficaz da cirurgia

A necessidade de compreensatildeo do parto enquanto parte integrante da vida sexual

emocional e cultural da mulher eacute proposta por Odent (2000) como o entendimento das bases

fisioloacutegicas e a integraccedilatildeo entre diferentes momentos da vida Sua hipoacutetese eacute a de que o

27

cuidado com o modo como nascemos e com a vinculaccedilatildeo amorosa matildee-bebecirc pode propiciar a

construccedilatildeo de uma sociedade mais amorosa menos destrutiva e de mais respeito pelos seres

humanos e pela natureza Esse paradigma holiacutestico tambeacutem referendado por Floyd (2004)

que destaca como elemento fundamental no processo do parto o contato das mulheres consigo

mesmas como um estado especial de consciecircncia similar agraves relaccedilotildees entre os estados

orgaacutesticos agrave oraccedilatildeo e agraves emoccedilotildees miacutesticas Nesse momento as funccedilotildees intelectuais

neocorticais devem estar colocadas em segundo plano proporcionando a expressatildeo de

funccedilotildees cerebrais mais instintivas caracteriacutesticas do parto e do aleitamento

Segundo Martin (2006) os esforccedilos para oferecer este novo paradigma que devolve agrave

mulher o controle do seu corpo no parto satildeo extraordinaacuterios O que natildeo deve permanecer

ainda que subliminarmente eacute a ideologia dominante de nossa sociedade na qual as mulheres

ao darem a luz de maneira mais aproximada do parto natural satildeo consideradas desprovidas de

cultura e consequentemente inferiores por aproximarem-se da natureza ldquoprimitivardquo como se

andassem para traacutes no tempo e na evoluccedilatildeo

Historicamente esta divisatildeo da cultura e da natureza fomentada pelos escritores do

seacuteculo XIX surgiu a partir do desenvolvimento das sociedades ocidentais e da

industrializaccedilatildeo sendo organizada em torno de dois mundos a esfera privada dentro de casa

que eacute evidenciada pertencente agrave mulher onde ocorrem funccedilotildees ditas ldquonaturaisrdquo e a esfera

puacuteblica fora de casa na qual os homens estatildeo em maior evidecircncia e onde se produz ldquoculturardquo

a qual eacute considerada atividade superior evidenciada aos homens e vista como dominante

(MARTIN 2006)

Essa forma de pensar relega a mulher ao domiacutenio do natural do inferior e da

domesticidade considera-a mais simples animalesca e livre de autocensuras Compreende

que haacute uma iniquumlidade entre natureza e cultura e que ao ldquosubmeterrdquo a mulher a fenocircmenos

totalmente naturais como o parto normal estamos reafirmando a concepccedilatildeo da mulher como

um ser mais primitivo que pertence somente agrave natureza (MARTIN 2006)

Reflete-se por outro lado de acordo com Gama (2009) que o modelo de organizaccedilatildeo

dos serviccedilos puacuteblicos e privados apresenta variaccedilotildees que produzem diferentes tipos de

assistecircncia e de relaccedilatildeo entre os profissionais de sauacutede e as usuaacuterias dando forma agraves

experiecircncias distintas entre as mulheres pesquisadas

Ao empreender uma criacutetica assentada nas relaccedilotildees de gecircnero Gama (2009) verificou

que o modelo de assistecircncia ao parto permanece submetendo quem deve ser sujeito e reproduz

o projeto da medicalizaccedilatildeo Isso reduz o campo da assistecircncia e inviabiliza um lugar de poder

diferenciado das usuaacuterias sendo a cesariana utilizada como um procedimento de alta

28

rentabilidade para a medicina obsteacutetrica privada conforme a citaccedilatildeo da antropoacuteloga Emily

Martin

Se a cesariana torna-se uma fonte de honoraacuterios mais altos para os meacutedicos e contas

hospitalares mais altas que o parto vaginal eacute de se esperar que encontremos mais

cesarianas sendo realizadas em mulheres no alto da escala de classe e raccedila

(MARTIN 2006 p 235)

Tal constataccedilatildeo justifica a demanda dos altos iacutendices de cesaacuterea no Brasil com a forma

como se organizou a assistecircncia obsteacutetrica e a formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que

reproduzem no cotidiano esse sentido tecnoloacutegico do parto e do nascimento

Com a invasatildeo da tecnologia a mulher perdeu sua autonomia como protagonista uma

vez que no modelo intervencionista da atual assistecircncia obsteacutetrica ela tornou-se objeto da

accedilatildeo e vem perdendo o controle e a decisatildeo sobre o proacuteprio processo de parto e de

nascimento Essa realidade pode afetar profundamente as mulheres os bebecircs as famiacutelias e

produzir efeitos importantes e persistentes sobre a sociedade (DINIZ 2001)

Ratifica-se nas palavras de Dias (2008) que a perda do protagonismo da mulher no

cenaacuterio do parto reflete-se nos altos iacutendices de cesaacutereas nas uacuteltimas deacutecadas no Brasil Por

outro lado a mudanccedila no modelo de assistecircncia ao parto pode ser uma estrateacutegia promissora

para a reversatildeo desse quadro jaacute que os fatores associados agrave decisatildeo da cesariana independem

do desejo da mulher

A mudanccedila para outro modo de parir mais conectado com todas as forccedilas da vida e da

cultura das mulheres pode possibilitar a construccedilatildeo de um modelo humaniacutestico com vistas ao

holiacutestico e agrave expressatildeo de um tempo de uma cultura de um avanccedilo das praacuteticas obsteacutetricas

do parto com a convivecircncia de muacuteltiplos paradigmas da assistecircncia

29

2 CAMINHO METODOacuteLOGICO

21 Fundamentos metodoloacutegicos

A presente investigaccedilatildeo constitui-se como uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva

A pesquisa qualitativa abarca o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores

e atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees (MINAYO 2004) A

metodologia qualitativa pode possibilitar aleacutem de uma interpretaccedilatildeo com lentes ampliadas do

objeto de estudo uma inserccedilatildeo na cultura do ldquooutrordquo (GEERTZ 1989)

Para Leopardi (2001) e Minayo (2008) o estudo qualitativo compreende a descriccedilatildeo e

a anaacutelise da realidade de diferentes maneiras para representar as experiecircncias do fenocircmeno

vivenciadas pelos indiviacuteduos Haacute uma implicaccedilatildeo entre o conhecimento sobre o mundo e os

sujeitos que o constroem numa relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto Logo a

interpretaccedilatildeo do fenocircmeno atribuindo-lhe significados faz parte do processo de

conhecimento tanto do sujeito pesquisador quanto dos atores pesquisados Eacute comumente

utilizada por pesquisadores sociais preocupados com a atuaccedilatildeo praacutetica (GIL 2007)

A pesquisa descritiva trabalha sobre dados ou fatos colhidos da proacutepria realidade do

indiviacuteduo ou de grupos e comunidades mais complexas Busca conhecer as diversas situaccedilotildees

e relaccedilotildees que ocorrem na vida social poliacutetica econocircmica e cultural principalmente nas

ciecircncias humanas e sociais objetivando abordar dados e problemas relevantes cujo registro

natildeo consta de documentos (CERVO BERVIAN DA SILVA 2007)

22 Os cenaacuterios do estudo

Esta pesquisa foi prevista inicialmente para ser somente desenvolvida na Unidade

Sanitaacuteria Kennedy (USK) no municiacutepio de Santa Maria - RS pelo fato de ser campo de aulas

praacuteticas e de estaacutegio supervisionado para os alunos do Curso de Enfermagem da Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM) onde satildeo realizadas accedilotildees de promoccedilatildeo agrave sauacutedecidadania de

crianccedilas adolescentes mulheres e adultos A aacuterea de abrangecircncia da USK inclui dezoito vilas

30

compreendendo uma populaccedilatildeo de aproximadamente trinta mil habitantes Em relaccedilatildeo agrave

escolaridade os natildeo alfabetizados e os indiviacuteduos que possuem o primeiro grau incompleto

perfazem 83 da populaccedilatildeo A renda per capita de 58 das pessoas e ateacute um salaacuterio miacutenimo

e 27 recebem um a dois salaacuterios miacutenimos Esta regiatildeo ainda hoje caracteriza-se por um alto

iacutendice de desemprego criminalidade desnutriccedilatildeo doenccedilas infecto-contagiosas aleacutem da

precariedade de saneamento baacutesico e de habitaccedilatildeo (MONDARDO et al 1993)

Poreacutem devido a dificuldades de infra-estrutura na referida unidade foi solicitada

transferecircncia de campo da pesquisa para o Hospital Universitaacuterio de Santa Maria (HUSM)

atraveacutes de ementa ao Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM) (Anexo B) estipulando como os locais de coleta os serviccedilos de ginecologia e

obstetriacutecia do hospital

As dificuldades encontradas foram inerentes ao objeto da pesquisa aleacutem de problemas

teacutecnico-administrativos na USK Os problemas de natureza e objeto concernem aos criteacuterios

de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos dada a ausecircncia de mulheres encaixadas em tais criteacuterios

no grupo de planejamento familiar na USK

Os problemas teacutecnico-administrativos foram relativos agrave infra-estrutura da USK que

estava funcionando em um local menor durante os procedimentos de reforma no preacutedio da

instituiccedilatildeo

Outras estrateacutegias foram realizadas na busca por sujeitos como a visita nos dias e

horaacuterios da consulta puericultura visando encontrar mulheres dentro dos criteacuterios que

viessem acompanhando os seus filhos na consulta contudo a tentativa natildeo obteve sucesso

pois era o grande nuacutemero de mulheres dentro dos criteacuterios de exclusatildeo neste caso pueacuterperas

O HUSM entatildeo foi o outro cenaacuterio escolhido para a coleta de dados que justificou-se

pela diversidade de serviccedilos de atendimento oferecidos a mulheres e de profissionais do sexo

feminino que laacute trabalham principalmente da enfermagem o que foi bastante significativa

para o estudo Solicitou-se entatildeo a autorizaccedilatildeo ao Departamento de Ensino e Pesquisa

(DEPE) do HUSM para realizaccedilatildeo da pesquisa neste serviccedilo e autorizada pelo CEP da UFSM

atraveacutes de emenda (Anexo B) para a ampliaccedilatildeo do cenaacuterio e do periacuteodo de coleta de dados

O HUSM eacute um hospital-ensino fundado no ano de 1970 que serve como base de

atendimento primaacuterio dos bairros que o cercam para o atendimento secundaacuterio agrave populaccedilatildeo

de Santa Maria e para o atendimento terciaacuterio da regiatildeo centro e fronteira gauacutecha O hospital

constitui-se como centro de ensino pesquisa e extensatildeo no acircmbito das Ciecircncias da Sauacutede

aleacutem de centro de programaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de accedilotildees voltadas agrave sauacutede das comunidades

local e regional Tambeacutem presta serviccedilos assistenciais em todas as especialidades meacutedicas

31

bem como serve de treinamento para alunos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Medicina

Residecircncia Meacutedica e de graduaccedilatildeo em Enfermagem Farmaacutecia Fonoaudiologia e

Fisioterapia

Satildeo serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia do HUSM

a unidade de Internaccedilatildeo do Centro Obsteacutetrico situada no sub- solo do HUSM

provida de seis leitos de internaccedilatildeo para mulheres em trabalho de parto ou no poacutes-parto

quatro leitos de internaccedilatildeo poacutes-cesaacuterea trecircs leitos de observaccedilatildeo para o atendimento de

intercorrecircncias ginecoloacutegicas e agrave mulher viacutetima de violecircncia

a unidade de internaccedilatildeo Toco-ginecoloacutegica situada no 2ordm andar do HUSM

onde se atendem pueacuterperas gestantes de alto-risco e mulheres em tratamento ginecoloacutegico

Possui trinta e sete leitos dos quais onze satildeo destinados agrave cliacutenica ginecoloacutegica e vinte e seis agrave

obstetriacutecia

o ambulatoacuterio da ala II que eacute localizado no teacuterreo e atende consultas de preacute-

natal puerpeacuterio e ginecologia

Destaca-se que nas unidades referidas circula um grande nuacutemero de familiares do

sexo feminino que acompanham as gestantes pueacuterperas e as mulheres internadas para

tratamento ginecoloacutegico

23 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos

Os criteacuterios de inclusatildeo foram mulheres que jaacute tiveram filhos por via vaginal ou

cesariana que natildeo estavam gestando nem eram puerpeacuteras e cujos partos ocorreram a partir do

ano de 2004 tendo como marco referencial o Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e

Nascimento do Ministeacuterio da Sauacutede Este programa foi criado em 2000 pelo Ministeacuterio da

Sauacutede mas implantado em todos os municiacutepios do Rio Grande do Sul somente em 2004

Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo mulheres nuliacuteparas mulheres

gestantes e pueacuterperas uma vez que o processo de parturiccedilatildeo ocorrendo em periacuteodo proacuteximo

ou concomitante agrave entrevista poderia influenciar nas respostas devido mais a aspectos

fisioloacutegicos e emocionais relacionados agrave dor do parto do que por aspectos culturais

32

24 Caracterizaccedilatildeo das participantes

Este estudo foi realizado com oito mulheres em idade feacutertil com histoacuteria pregressa de

parto vaginal ou cesariano quatro mulheres foram captadas na USK e quatro no HUSM

Foram convidadas para entrevistas mulheres que buscavam o atendimento no programa de

planejamento familiar da USK mulheres que buscavam o atendimento no HUSM nos

serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia e mulheres que estavam no momento da entrevista nos

serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia do HUSM

Para finalizaccedilatildeo da coleta foi utilizado o criteacuterio de saturaccedilatildeo de dados por

reincidecircncia ou seja quando da repeticcedilatildeo dos dados a coleta foi entendida como satisfatoacuteria

e entatildeo suspensa (VIacuteCTORA KNAUTH HASSEN 2000)

As participantes do estudo foram identificadas pela letra M de mulher e um nuacutemero

escolhido por ordem de entrevista (M1-M8) sendo caracterizadas no que se refere aos

aspectos soacutecio-culturais de idade estado civil escolaridade regiatildeo de moradia nuacutemero de

filhos ocupaccedilatildeo e tipo de parto vivenciado conforme descrito abaixo

Mulher 1 - 34 anos 2ordf grau completo casada teacutecnica de enfermagem Com quatro

filhos nascidos de partos normais

Mulher 2 - 24 anos 1ordm grau completo diarista casada Com uma filha tem uma

cesaacuterea

Mulher 3 - 28 anos 2ordf grau completo teacutecnica de enfermagem solteira uniatildeo estaacutevel

Com um filho nascido de parto normal

Mulher 4 - 22 anos 2ordf grau incompleto solteira operadora de caixa de supermercado

Com um filho fez uma cesaacuterea

Mulher 5 - 32 anos 1ordm grau completo do lar casada Com um filho nascido de parto

normal e o outro fez uma cesaacuterea

Mulher 6 - 35 anos 3ordm grau completo enfermeira casada Com dois filhos fez duas

cesaacutereas

Mulher 7- 28 anos 1ordm grau completo empregada domeacutestica uniatildeo estaacutevel Tem quatro

filhos nascidos de partos normal

Mulher 8 - 27 anos 2ordf grau imcompleto dona de casa divorciada Com quatro filhos

fez quatro cesaacutereas

Todas estavam na faixa etaacuteria entre 22 e 35 anos Quanto ao estado civil seis satildeo

casadas uma divorciada e uma solteira poreacutem com uniatildeo estaacutevel no momento da entrevista

33

O niacutevel de escolaridade apresentou trecircs mulheres com ensino meacutedio completo uma

com incompleto trecircs com ensino fundamental completo e uma com curso superior

Todas as participantes satildeo moradoras da zona urbana do municiacutepio

Quanto ao nuacutemero de filhos o grupo em estudo tem uma meacutedia de 2 filhos sendo que

a menor e a maior prole foi de 1 e de 4 filhos respectivamente

Quanto agrave ocupaccedilatildeo das entrevistadas duas satildeo donas de casa duas teacutecnicas de

enfermagem uma enfermeira duas empregadas domeacutesticas e uma operadora de caixa de

supermercado

O tipo de parto de maior incidecircncia vivenciado pelas mulheres foi o parto normal

num total de dez e o total de cesaacutereas foram nove

25 Inserccedilatildeo em campo

Inicialmente na USK foram contatadas mulheres que participavam dos grupos de

planejamento familiar e que compareciam nos dias preacute-estabelecidos para a dispensa dos

meacutetodos anticoncepcionais No HUSM a busca de sujeitos estendeu-se agraves diferentes unidades

de atendimento gineco-obsteacutetrico mulheres acompanhantes e mulheres que trabalham nestas

unidades e que atendiam aos criteacuterios de inclusatildeo

Tanto na USK quanto no HUSM as mulheres foram selecionadas por meio de contato

direto com a pesquisadora na sala de espera das referidas unidades ou quando estavam

acompanhando a sua familiar durante a internaccedilatildeo no HUSM

Como havia entre as participantes funcionaacuterias do serviccedilo que atendiam aos criteacuterios

de inclusatildeo dos sujeitos estas profissionais foram convidadas e as entrevistas realizadas

durante o intervalo do horaacuterio de trabalho Algumas entrevistas foram realizadas no domiciacutelio

das participantes e outras na proacutepria unidade de sauacutede e unidades do HUSM em uma sala

reservada

26 Coleta de dados

Para a obtenccedilatildeo da coleta de dados utilizou-se como instrumento uma entrevista semi-

estruturada contendo questotildees fechadas para a caracterizaccedilatildeo do grupo em estudo e questotildees

abertas que possibilitaram o aprofundamento dos dados e a obtenccedilatildeo de respostas

34

relacionadas agrave vivecircncia das pessoas A coleta de dados foi entre janeiro e marccedilo de 2011 A

entrevista foi gravada em MP3 e posteriormente transcrita na iacutentegra pela pesquisadora de

forma literal A entrevista aberta eacute aquela em que o informante aborda livremente o tema

proposto com pergunta previamente formulada e que possibilita descrever sua vivecircncia de

forma retrospectiva sem repressatildeo de seu pensamento Propicia coletar material

extremamente rico para anaacutelise e contribui para o trabalho de pesquisa em andamento

(MINAYO 2000) Como estrateacutegia de compreensatildeo da realidade sua principal funccedilatildeo eacute

retratar as experiecircncias vivenciadas bem como as definiccedilotildees fornecidas por pessoas grupos

ou organizaccedilotildees (MINAYO 2000)

As entrevistas foram previamente agendadas por meio de contato pessoal sendo

marcados data local e horaacuterio que melhor conviessem agraves entrevistadas evitando interrupccedilotildees

constrangimentos de modo a lhes permitir sentir-se agrave vontade

27 Anaacutelise dos dados

Em posse dos dados coletados estes foram objeto da investigaccedilatildeo de acordo com a

anaacutelise temaacutetica de Minayo (2008) Tal anaacutelise consiste em descobrir os nuacutecleos de sentidos

que constituem uma comunicaccedilatildeo em que sua frequecircncia ou presenccedila revela algum

significado para o objeto analiacutetico Por conseguinte para analisar significados de um

determinado depoimento o surgimento de determinados temas denota estruturas de

relevacircncia valores de referecircncia e modelos de comportamento que podem estar ocultos no

discurso (MINAYO 2008)

Considera-se que a compreensatildeo e a interpretaccedilatildeo das entrevistas nas pesquisas

qualitativas natildeo se realizam em um soacute momento pois acontecem no decorrer da proacutepria coleta

e anaacutelise dos dados quando o pesquisador interage com os sujeitos do estudo na transcriccedilatildeo

das entrevistas e particularmente nas leituras e na organizaccedilatildeo das informaccedilotildees Poreacutem para

uma melhor sistematizaccedilatildeo e compreensatildeo deve-se seguir um percurso ordenado para que se

possa igualmente apreender o conjunto dos significados contidos nos depoimentos dos

entrevistados

Minayo (2008) descreve seguindo Bardin (1977) que essa ordenaccedilatildeo da anaacutelise

temaacutetica segue a sequecircncia de trecircs etapas quais sejam preacute-anaacutelise a exploraccedilatildeo do material e

o tratamento dos resultados obtidos e interpretaccedilatildeo

35

Neste estudo a etapa de preacute-anaacutelise compreendeu a interpretaccedilatildeo do material que se

deu a partir dos questionamentos do investigador Essa etapa consistiu em trecircs tempos o

primeiro chamado de leitura flutuante entendido como a leitura exaustiva das informaccedilotildees do

material de campo periacuteodo de impregnaccedilatildeo do conteuacutedo pelo investigador Jaacute o segundo

tempo foi a Constituiccedilatildeo do ldquoCorpusrdquo no qual se buscou verificar se o material coletado

abrangia regras de eficaacutecia qualitativa tais como exaustividade representatividade

homogeneidade e pertinecircncia Em relaccedilatildeo ao terceiro tempo este perpassou a Formulaccedilatildeo e a

Reformulaccedilatildeo de Hipoacuteteses e Objetivos que baseou-se no retorno a etapa exploratoacuteria de

revisatildeo das hipoacuteteses com intuito de corrigir erros de interpretaccedilatildeo e de ampliar o leque de

indagaccedilotildees para identificar o que surge de relevante para posterior construccedilatildeo de temas ou

categorias de anaacutelise

A segunda etapa da anaacutelise temaacutetica consistiu na Exploraccedilatildeo do Material que se

delineou basicamente nas categorias especiacuteficas que abrangeram elementos ou aspectos de

caracteriacutesticas comuns ou que se relacionavam entre si

A terceira etapa constituiu o Tratamento dos Resultados Obtidos e a Interpretaccedilatildeo

Nesse momento realizaram-se inferecircncias sendo realizada a articulaccedilatildeo entre as informaccedilotildees

aqui construiacutedas e os referenciais teoacutericos de estudos jaacute publicados respondendo agrave questatildeo da

pesquisa com base em seus objetivos

28 Questotildees eacuteticas

Para a realizaccedilatildeo de todas as atividades da pesquisa atentou-se para os criteacuterios eacuteticos

e os princiacutepios bioeacuteticos da voluntariedade da autonomia da beneficecircncia da natildeo-

maleficecircncia e da justiccedila que fundamentam a Resoluccedilatildeo nordm 19696 do Conselho Nacional de

Sauacutede o qual prescreve a eacutetica na pesquisa com seres humanos (BRASIL 1996)

O projeto foi registrado no Gabinete de Projetos do Centro de Ciecircncias da Sauacutede

sendo solicitada autorizaccedilatildeo para o desenvolvimento da pesquisa ao Secretaacuterio Municipal de

Sauacutede e a Direccedilatildeo de Ensino e Pesquisa do HUSM (DEPE) Em um segundo momento foi

encaminhado para a anaacutelise do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa com Seres Humanos da UFSM

(CEP) com a devida documentaccedilatildeo solicitada assinada pelo responsaacutevel legal da instituiccedilatildeo e

pela pesquisadora Apoacutes a aprovaccedilatildeo do CEP foi realizada a etapa de campo da pesquisa

36

Os sujeitos foram informados dos detalhes da pesquisa objetivos e produccedilatildeo de dados

Para tanto antes da realizaccedilatildeo da entrevista foi lido com os sujeitos o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apecircndice B) que concordando com este

optaram por assinaacute-lo O TCLE foi redigido em duas vias uma para a participante e outra

para a pesquisadora Da mesma forma foi redigido o Termo de Confidencialidade o qual

descreve o compromisso das pesquisadoras em relaccedilatildeo agraves informaccedilotildees que soacute poderatildeo ser

divulgadas de forma anocircnima e mantidas em Compact Disc (CD) por um periacuteodo de 5

(cinco) anos sob a sua inteira responsabilidade Apoacutes este periacuteodo ficou acordado que os

dados gravados seratildeo destruiacutedos Destaca-se que o compromisso em relaccedilatildeo agrave preservaccedilatildeo do

sigilo da identidade dos sujeitos durante todas as etapas da pesquisa mesmo com a

divulgaccedilatildeo dos seus resultados sob qualquer forma foi observado sendo utilizado o sistema

de identificaccedilatildeo alfanumeacuterico

Foram ressaltadas a liberdade da participaccedilatildeo espontacircnea e o direito de desistecircncia por

parte das participantes a qualquer momento da pesquisa a fim de se evitar riscos agrave dimensatildeo

fiacutesica moral intelectual social cultural ou espiritual em qualquer fase da pesquisa com a

garantia dos princiacutepios de beneficecircncia e natildeo-maleficecircncia No entanto foi exposto que o

momento da entrevista poderia trazer algumas lembranccedilas questionamentos eou conflitos agrave

dimensatildeo emocional pelo fato de que o sujeito iria refletir sobre o seu cotidiano e suas

vivecircncias Caso isto acontecesse poderia ser indicada uma consulta se assim a participante

desejasse com profissional qualificado do serviccedilo da aacuterea de sauacutede mental do Hospital

Universitaacuterio de Santa Maria previamente contatado

37

3 ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS DADOS

O parto institucionalizado vem sendo apresentado agraves mulheres como um periacuteodo

essencialmente meacutedico que traz consigo as referecircncias de um periacuteodo patoloacutegico e

medicalizado Em consequumlecircncia disso a abordagem sob a perspectiva bioloacutegica pode reduzi-

lo e suprimir a revelaccedilatildeo dos diferentes acircngulos e facetas do universo cultural e social da

parturiente Em virtude disso este estudo fundamentou-se em conceitos socioculturais e natildeo

apenas nos meacutedico-cientiacuteficos Salienta-se que natildeo se pretende abolir os conceitos

biomeacutedicos mas antes entendecirc-los como apenas uma dentre as vaacuterias formas de abordagem

do nascimento

Monticelli (1996) aborda essa questatildeo ao confirmar que a enfermagem quando age

contextualizada dentro desta perspectiva propicia o compartilhamento de saberes e praacuteticas

evitando posturas etnocecircntricas simplistas ou puramente biologicistas sobre o processo da

parturiccedilatildeo

Na sequecircncia deste capiacutetulo seratildeo abordados seis temas surgidos em decorrecircncia da

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados que surgiram das falas das mulheres entrevistadas percepccedilatildeo

das mulheres sobre o nascimento percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado a percepccedilatildeo

das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto conhecendo como se daacute a construccedilatildeo cultural

do processo parturitivo das mulheres resistecircncia das mulheres ao modelo biomeacutedico do parto

percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea

A partir desses temas estabelecer-se-aacute um diaacutelogo com o referencial teoacuterico buscando

alcanccedilar nesse movimento a compreensatildeo de como a cultura influecircncia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher

A Percepccedilatildeo das mulheres sobre o nascimento

Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo das mulheres sobre o nascimento foram relatadas tanto

experiecircncias positivas quanto negativas

A abordagem positiva relatada pelas entrevistadas retrata a responsabilidade por uma

nova vida e a emoccedilatildeo do nascimento conforme as falas das entrevistadas

Tem a parte fiacutesica e espiritual Eu vejo como uma forma de oportunidade da gente crescer e

dar esta oportunidade para este ser que estaacute vindo resgatar as coisas que a gente precisa e que ele

precisa tambeacutem (M1)

38

Eacute uma daacutediva que Deus deu para gente inexplicaacutevel assim apesar de tudo o que a gente

passa ateacute o nascimento da crianccedila Eacute maravilhoso (M2)

Eu acho que eacute uma vida nova que vem para gente compromisso de ter que guiar aquela

pessoa que taacute nascendo com amor com aquele sentimento de cuidar de matildee de ser responsaacutevel por

aquele ser pelas atitudes dele pelo crescimento dele (M3)

O que eu imaginava na hora era ganhar ver o rostinho deles a parte mais emocionante eacute ver

a hora que eles nascem (M8)

As falas das mulheres apontam para positividades da percepccedilatildeo do parto relacionada agrave

emoccedilatildeo da primeira vez de ver o bebecirc e ao contato fiacutesico nesse momento bem como ao

sentimento de responsabilidade pelo filho Essa abordagem transmite um senso de unidade

sobre a pessoa e sua experiecircncia fiacutesica com enfoque nos aspectos emocionais e espirituais do

nascimento Segundo Martin (2006 p 248) ldquoo parto positivo concentra-se na integraccedilatildeo

funcional de todas as partes da mulher - suas memoacuterias passadas esperanccedilas futuras sua

mente e seu corpordquo

Martin (2006) apresenta as metaacuteforas da danccedila e da jornada para descrever esta

integridade colocam a mulher em um papel claramente ativo A danccedila ao significar que

quando corpo e mente encontram-se alinhados danccedilam em sincronia e unidade e entregam-se

agrave nova vida que vem chegando A metaacutefora do parto como uma jornada torna-se uma

oportunidade para o crescimento psicoloacutegico da mulher que se inicia no primeiro trimestre e

culmina no trabalho de parto quando ela relaciona-se iacutentima e singularmente consigo mesma

tendo ao final uma experiecircncia de aprendizado totalmente sua

Foi destacada pelas entrevistadas a mudanccedila do status social e o compromisso com

este novo ser na sua vida denotando o compromisso e a responsabilidade de ser matildee A

mulher que daacute agrave luz com vivecircncias positivas apresenta atitudes que vatildeo dignificaacute-la e que

fortalecem o seu ldquoeu interiorrdquo (BALASKAS 2008)

Este momento faz parte de um ritual de transiccedilatildeo social presente em todas as

sociedades do status social de esposa para o de matildee com intuito de unir os aspectos

fisioloacutegicos aos aspectos sociais da vida de uma pessoa Dessa maneira existem muitas

crenccedilas e rituais do parto e puerpeacuterio no mundo ocidental que continuam ateacute que a matildee e a

crianccedila estejam estabelecidas com seguranccedila em suas posiccedilotildees sociais (HELMAN 2009)

Segundo Odent (2003) atribui-se importacircncia crucial agrave primeira hora apoacutes o parto para

o desenvolvimento da capacidade de amar Nessa fase em condiccedilotildees fisioloacutegicas a liberaccedilatildeo

de ocitocina conhecida como ldquohormocircnio do amorrdquo associada agrave prolactina ldquohormocircnio da

maternidaderdquo significa que se matildee e o bebecirc estiverem em contato pele a pele e olho no olho

39

as chances de se estabelecer apego interaccedilatildeo e amor estatildeo garantidas para ambos Isso eacute

ratificado por Odent (2003) ao referir-se que quando o meio cultural interfere com rotinas

que desestimulam esse apego entre a matildee e o bebecirc tais como o uso de sedativos agentes

anesteacutesicos e analgeacutesicos durante o parto influencia toda a capacidade de amar devido a natildeo

liberaccedilatildeo da ocitocina natural pelo organismo da mulher

Um aspecto negativo expresso pelas entrevistadas concernente agrave percepccedilatildeo do

nascimento refere-se ao desconhecimento sobre a fisiologia do parto o que as fez entender

este processo semelhante a um processo patoloacutegico e sujeito a vaacuterias intervenccedilotildees

desnecessaacuterias conforme os relatos

O primeiro eu natildeo tinha a orientaccedilatildeo que eu tenho agora ningueacutem me orientou Foi muito

doiacutedo e difiacutecil inclusive ateacute porque ele era bem grande e iam passar o foacuterceps Natildeo sei se chegaram a

colocar mas eu consegui e nasceu normal E me colocaram o soro com ocitocina () e eu disse ldquopara

quecircrdquo mas natildeo me explicaram (M1)

Jaacute tinha perdido o tampatildeo uns 3 dias antes de comeccedilar ldquoas dorrdquo entatildeo eu ficava preocupada

ldquoSeraacute que eu natildeo vou sentir dorrdquoldquo seraacute que eu natildeo vou saber quando vai ser a hora de ir ao

hospitalrdquo Me colocaram o soro para induzir () natildeo me explicaram nada Depois veio a anestesia

remeacutedios acho que para enjocirco () natildeo consegui ganhar normal (M2)

Achei que eu tinha que me esforccedilar mais em todos eles Por isso na hora de ganhar sempre

me dava um medo Aiacute eu natildeo sei se eu me trancava Botaram o soro para dor e eu ao inveacutes de fazer a

forccedila direito como se deve fazer eu me retrancava e comeccedilava a chorar (M7)

Eu acho o parto normal muito mais arriscado que a cesaacuterea Todos os meus foram cesaacuterea

No meu caso eu acho que foi por causa da dilataccedilatildeo Todas foram agendadas Os meus filhos quando

chegam no uacuteltimo mecircs natildeo querem ficar nascem antes A minha filha nasceu com 8 meses com muito

pouco peso e foi para UTI (M8)

Os sentimentos relatados pelas entrevistadas de natildeo saber como agir no parto

exprimem significativamente seu desconhecimento acerca do processo fisioloacutegico e refletem-

se em medo e inseguranccedila Uma vez que natildeo sabem o que estaacute acontecendo com seu corpo as

mulheres controlam-no menos demonstram fragilidade e tendem a ser tratadas como objeto

de controle da equipe meacutedica Desse modo aceitam passivamente as intervenccedilotildees meacutedicas

como necessidades normais e rotineiras no parto a exemplo dos relatos do uso de ocitocina

de foacuterceps e da indicaccedilatildeo de cesariana previamente agendada

Esse eacute o modelo de atendimento tecnocraacutetico de assistecircncia descrito pela antropoacuteloga

Davis Floyd (2004) que representa a corrente de pensamento convencional e dominante

norteadora da praacutetica da assistecircncia obsteacutetrica haacute vaacuterias deacutecadas na qual o profissional de

sauacutede manteacutem um distanciamento do paciente como forma de proteger a si mesmo das

reaccedilotildees emocionais frente agraves anguacutestias deste

40

A forma e a percepccedilatildeo de como as mulheres vivenciam a sua experiecircncia de parto satildeo

impregnadas pela realidade conforme modelo que se apresenta para a sociedade isto eacute com a

mensagem de que eacute imprescindiacutevel a utilizaccedilatildeo da tecnologia como garantia de um parto

seguro O que resulta disso eacute o que chamamos de uma ldquocascata de intervenccedilotildeesrdquo que ocorre

quando uma praacutetica obsteacutetrica desencadeia outras fazendo com que se altere o processo

natural do parto (BALASKAS 2008)

Destaca-se tambeacutem a desinformaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos riscos que advecircm da cesaacuterea

desnecessaacuteria para matildee e bebecirc A entrevistada M8 narra que as cesaacutereas foram realizadas

antes de sua gestaccedilatildeo estar a termo Sabe-se que a prematuridade iatrogecircnica ocasionada por

cesaacutereas sem indicaccedilatildeo estaacute associada ao aumento da taxa de nascimentos de receacutem nascidos

preacute-termo (MACDORMAN et al 2008) e ao aumento da mortalidade neonatal (VILLAR et

al 2007)

Concorda-se com Balaskas (2008) ao afirmar que as cicatrizes corporais deixadas

pelas intervenccedilotildees desnecessaacuterias no corpo da mulher transformam-se em uma vivecircncia de

sofrimento inseguranccedila e sobrepujam toda e qualquer vivecircncia positiva ocorrida no parto

Logo um momento que deveria ser natural repleto de lembranccedilas positivas e felizes para a

mulher constitui-se num evento traumatizante Nessa direccedilatildeo entende-se que se o

comportamento humano eacute influenciado diretamente pelo meio cultural pois humanos

comunicam-se e criam cultura a socializaccedilatildeo da naturalizaccedilatildeo do parto como evento rodeado

de tecnologia e risco bem como a recapitulaccedilatildeo das experiecircncias traumaacuteticas contadas pelas

mulheres reforccedilam-se na convivecircncia social (ODENT 2004)

Ademais as intervenccedilotildees desnecessaacuterias sobrepotildeem-se ao poder que a mulher tem de

parir e que atualmente ela mesma desconhece pois a histoacuteria repassada pela medicina nas

uacuteltimas deacutecadas na cultura ocidental transformou o parto em um evento essencialmente

meacutedico sendo a mulher apenas uma parte do cenaacuterio (SEIBERT 2005)

O uso do recurso da aceleraccedilatildeo no parto com o uso do soro com ocitocina foi

percebido como forma negativa para as mulheres que o relataram O emprego de hormocircnios

sinteacuteticos no trabalho do parto como eacute o caso da ocitocina tende a cessar a fisiologia e as

etapas do parto (FIGUEREDO L 2010)

Ratificando essa informaccedilatildeo um estudo feito por Barros (2005) mostra que o aumento

de partos cesaacutereos estaacute relacionado agrave praacutetica da induccedilatildeo medicamentosa A falha de induccedilatildeo

provoca a indicaccedilatildeo de uma cesaacuterea que implica a utilizaccedilatildeo de anestesia medicaccedilotildees

antibioacuteticas profilaacuteticas medicaccedilatildeo para naacuteuseas medicaccedilatildeo para dor no poacutes-operatoacuterio e

utilizaccedilatildeo de outras drogas o que pode afetar drasticamente o comportamento materno pois o

41

que se verifica em estudos com outros mamiacuteferos eacute o natildeo-cuidado de seus bebecircs apoacutes uma

cesariana (ODENT 2004)

Eacute primordial durante a gestaccedilatildeo o preparo das mulheres para o parto apoiando suas

informaccedilotildees em praacuteticas baseadas em evidecircncias cientiacuteficas pois a grande maioria dos

procedimentos que os profissionais de sauacutede ainda utilizam no parto satildeo rotinas que estatildeo

caindo em desuso pois se mostraram mais danosas do que beneacuteficas Se as proacuteprias pacientes

souberem disso atraveacutes de atividades educativas no preacute-natal seraacute muito mais faacutecil reverter

esse quadro (DINIZ 2003)

Concorda-se nessa direccedilatildeo que a consulta preacute-natal tambeacutem eacute um espaccedilo importante

para mudanccedila de atitudes em relaccedilatildeo ao parto incentivada por profissionais que valorizam os

aspectos sociais e subjetivos da gestaccedilatildeo do parto e do nascimento (FREITAS 2005)

A Percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado

Nesta categoria as mulheres expressam a via de parto desejada A maior parte

manifestou o desejo pelo parto normal Apenas uma entrevistada manifestou preferecircncia pela

cesaacuterea e teve sua vontade atendida

Do primeiro eu natildeo pesquisei dos outros que eu comecei a ler sobre o assunto Eu queria ter

o parto em casa e mais informaccedilotildees do meacutedico Trabalhei ateacute a uacuteltima hora de internar Foi bom fiz a

respiraccedilatildeo direitinho e acabei ganhando no leito como eu pensei que queria que nascesse (M1)

Eu tinha conversado com meu esposo em casa e a gente queria parto normal mas natildeo deu

perdi o controle (M2)

Quando eu dizia que queria parto normal me diziam ldquopor que fazer parto normal por que

natildeo faz uma cesaacutereardquo Eu dizia ldquoeu quero parto normal pela recuperaccedilatildeo mais raacutepida para poder

voltar a estudarrdquo e eu achei bem melhor o parto normal do que ter feito uma cesaacuterea que daiacute eu ia

ficar dias sem poder voltar a estudar (M3)

Eu sempre quis cesaacuterea porque eu tinha medo de sentir dor ali na hora Eu vi o bebecirc assim

que o tiraram () Natildeo recebi orientaccedilatildeo sobre parto normal do meacutedico (M4)

A minha preferecircncia sempre foi o parto normal eu achei que ia ganhar normal deste uacuteltimo

mas natildeo deu fiquei frustrada (M5)

Por mim poderia ser parto vaginal tanto que do primeiro filho eu ia caminhar ateacute na veacutespera

para ver se evoluiacutea para parto normal mas natildeo evoluiu daiacute foi cesaacuterea e do outro foi cesaacuterea

tambeacutem Teve que ser programada (M6)

O parto normal foi desejado Se tivesse feito uma cesaacuterea seria o fim do mundo porque eu

demorei para aceitar a ideacuteia de que teria que fazer uma laqueadura por cesaacuterea Eu sempre dei a

preferecircncia para parto normal por causa de comentaacuterios e sobre ter infecccedilatildeo (M7)

42

Eu tinha na cabeccedila que o meu primeiro filho ia ser normal Parto normal a matildee ganha e jaacute

sai caminhando com a crianccedila no colo e cesaacuterea natildeo (M8)

Na fala das entrevistadas revelou-se o desejo pelo parto normal ou pela cesaacuterea

destacando o entendimento de que o parto normal tem a recuperaccedilatildeo mais raacutepida natildeo

interferindo na rotina e autonomia delas apresenta menos risco de infecccedilatildeo e a cesaacuterea

poderia proteger quanto agrave dor do parto Esses pontos justificaram em grande parte seu desejo

pelas vias de parto

Para Martin (2006) as mulheres que desejam o parto normal e conseguem passar por

essa experiecircncia consideram-no um processo que acontece naturalmente como algo que a

mulher realiza e natildeo simplesmente vecirc acontecer consigo

Estudos de natureza quantitativa e qualitativa da aacuterea da sauacutede em relaccedilatildeo agrave escolha

para o parto normal constataram que as expectativas das mulheres em relaccedilatildeo ao tipo de parto

justificaram-se pela recuperaccedilatildeo poacutes-parto mais raacutepida e por ser melhor para elas eou para os

bebecircs (OLIVEIRA 2002 MELCHIORI et al 2009 MANDARINO et al 2009)

A entrevistada que realizou a cesariana por desejo proacuteprio justificou sua escolha pelo

medo da dor do parto A forma como se percebe e se responde agrave dor pode ser influenciada

pela origem cultural e social Em outros grupos culturais a dor do parto natildeo eacute temida muito

diferentemente das mulheres de paiacuteses ocidentais que a temem e satildeo bastante propensas a

aceitar drogas analgeacutesicas ou anesteacutesicas (HELMAN 2009)

No Brasil o medo da dor eacute apontado como uma das causas da intervenccedilatildeo cesariana

requerida pelas mulheres e pode ser considerado assim um dos motivadores do aumento das

taxas dessa cirurgia no paiacutes (FAUacuteNDES CECATTI 1991 OLIVEIRA et al 2002)

Em um estudo feito por Almeida (2009) sobre a dor do parto normal a autora

evidenciou a ocorrecircncia de uma relaccedilatildeo de poder dos serviccedilos de obstetriacutecia sobre o corpo

feminino e a forma como estes serviccedilos gerenciam-se mantendo o processo da medicalizaccedilatildeo

o que se constitui um dos mecanismos de favorecimento da perpetuaccedilatildeo do parto cesaacutereo

com a finalidade de evitar a dor do parto normal

Entende-se tambeacutem que a dor do parto eacute em grande medida iatrogecircnica amplificada

pelo modelo assistencial que institui rotinas como a imobilizaccedilatildeo o uso abusivo de ocitocina

artificial a manobra de Kristeller a episiotomia e a episiorrafia praacuteticas no parto normal que

satildeo claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas com base em evidecircncias

cientiacuteficas e em recomendaccedilotildees da OMS (1996) e do Ministeacuterio da Sauacutede (BRASIL 2001)

43

Para tanto foi instituiacutedo pelo Ministeacuterio da Sauacutede (2000b) o Programa de

Humanizaccedilatildeo no Preacute-Natal e Nascimento cujo objetivo eacute melhorar a assistecircncia obsteacutetrica

provocada por praacuteticas e condutas inadequadas

Segundo Floyd (2004) o programa eacute traduzido como um modelo humanista de

assistecircncia tambeacutem referido por ela como modelo holiacutestico Os profissionais que atuam nessa

vertente simplesmente tecircm como desejo humanizar a tecnomedicina e apresentam maior

potencial para reformar o modelo tecnocraacutetico com mudanccedilas de atitudes e de paradigma

O modelo holiacutestico eacute o que abarca uma variedade mais rica de abordagem rompe

totalmente com o modelo dominante atual utiliza modalidades que satildeo menos prejudiciais

assiste as pessoas em seu contexto crecirc em outros modos de contexto que curam compreende

a dimensatildeo espiritual do cuidado da sauacutede e tambeacutem fortalece o desenvolvimento da vida de

cada pessoa (FLOYD 2004)

Neste sentido a escolha da via de parto torna-se importante uma vez que leva em

consideraccedilatildeo o contexto soacutecio cultural e assistencial em que a parturiente estaacute inserida e os

aspectos bioloacutegicos e psicoemocionais com intuito de promover um cuidado direcionado agraves

suas necessidades conforme recomendado nos estudos de Bezerra Cardoso (2005) e Budoacute et

al (2007) referentes a outros cenaacuterios da sauacutede Tal cuidado aproxima-se da humanizaccedilatildeo da

atenccedilatildeo no parto

De destaque nas falas das entrevistadas do presente estudo eacute o sentimento de

frustraccedilatildeo e perda de controle das que desejavam parto normal e tiveram de submeter-se agrave

cesaacuterea Situaccedilatildeo semelhante surgiu no relato das mulheres que Emily Martin (2006)

entrevistou em Baltimore (EUA) quando percebeu nos depoimentos que uma das reaccedilotildees

mais comuns especialmente quando a mulher planeja um parto vaginal e a cirurgia ocorre eacute a

perda de controle do seu parto

Por outro lado entre as entrevistadas que conseguiram realizar o parto normal

consoante seu desejo de via de parto o sentimento de aliacutevio foi constatado Para Balaskas

(2008) as sensaccedilotildees de aliacutevio realizaccedilatildeo gratidatildeo ecircxtase partem de uma grande variedade

de sensaccedilotildees que somente a experiecircncia do parto normal propicia

Uma das entrevistadas relata orientaccedilatildeo para cesariana a fim de submeter-se agrave

laqueadura tubaacuteria tendo seu desejo frustrado quanto agrave opccedilatildeo da via de parto uma vez que

desejava realizar parto normal Evidencia-se que natildeo houve o desejo de cesaacuterea no entanto a

necessidade da laqueadura

A constataccedilatildeo do desestiacutemulo ao parto normal feito pela equipe meacutedica mesmo

cientes de que essas mulheres tinham histoacuterias preacutevias de partos normais a fim de realizar

44

uma cesaacuterea concomitantemente agrave laqueadura tubaacuteria mostra o desrespeito agrave lei nordm 9263 que

trata do planejamento familiar que veda a esterilizaccedilatildeo ciruacutergica em mulher durante os

periacuteodos de parto ou aborto exceto nos casos de comprovada necessidade por cesarianas

sucessivas anteriores (BRASIL 2002)

As entrevistadas que se submeteram agrave cesaacuterea apresentaram percepccedilotildees de que algo

que foi feito com elas e natildeo de sua participaccedilatildeo como relatado nas seguintes frases ldquotiraram

o bebecircrdquo (M4) ldquopuncionaram-me umas 15 vezesrdquo (M6) ldquose a hemorragia natildeo parasse iam

tirar o meu uacuteterordquo (M8)

A sensaccedilatildeo de passividade e separaccedilatildeo entre o eu e o seu corpo surge em niacutevel

extremo quando as mulheres descrevem a cesariana Parte disso adveacutem pelo fato de ser uma

cirurgia em que um nuacutemero maior de pessoas toca manipula corta e costura seu corpo Outra

parte deve-se agrave anestesia peridural que produz insensibilidade da cintura para baixo e

intensifica-se pela colocaccedilatildeo de um pano sobre o peito da mulher de modo que ela natildeo

enxerga a metade inferior do seu corpo (MARTIN 2006)

Verificamos nas falas das entrevistadas que os laccedilos entre a matildee e o bebecirc podem estar

sendo desestimulados por priorizarem-se cuidados que poderiam ser postergados ldquoPrimeiro

foi realizado os cuidados com o bebecirc e me mostraram jaacute enrolado com as roupasrdquo (M6)

ldquoFicavam ali fazendo os cuidados com o bebecirc e me mostravam bem depoisrdquo (M8)

Esses cuidados aleacutem de estar interferindo na relaccedilatildeo amorosa matildee-bebecirc podem estar

ignorando a implementaccedilatildeo de praacuteticas simples como o clampeamento tardio do cordatildeo

umbilical o contato imediato pele-a-pele e o iniacutecio da amamentaccedilatildeo exclusiva que tem um

impacto a longo prazo na nutriccedilatildeo e na sauacutede da matildee e do bebecirc pois afetam o

desenvolvimento da crianccedila muito aleacutem do periacuteodo neonatal e do puerpeacuterio (BRASIL 2011)

A metaacutefora da produccedilatildeo no nascimento proposta pela antropoacuteloga Emily Martin

(2006) retrata a interrupccedilatildeo dos laccedilos afetivos entre matildees e bebecircs que sofreram cesarianas

devido ao controle sobre o corpo feminino exercido pela retirada do protagonismo da mulher

da cena do nascimento Fato esse semelhante agrave metaacutefora da produccedilatildeo industrial do natildeo-

envolvimento da trabalhadora com o produto do seu trabalho quando ela natildeo sente que foi

quem o produziu e quando o seu trabalho eacute estritamente organizado e controlado (MARTIN

2006)

Frequentemente quando se interfere na produccedilatildeo de um bebecirc segundo a metaacutefora da

produccedilatildeo industrial que ocorre quando natildeo eacute a mulher que daacute agrave luz e o bebecirc eacute extraiacutedo

cirurgicamente por um meacutedico a matildee sente-se desligada da crianccedila apoacutes seu nascimento

(MARTIN 2006)

45

Nesta direccedilatildeo um estudo realizado na Universidade da Cidade do Cabo Aacutefrica do Sul

mostrou que a separaccedilatildeo entre matildee e o bebecirc tem impactos negativos influenciando na

duraccedilatildeo do sono e na frequecircncia cardiacuteaca do bebecirc (BARAK 2011)

O modelo de atendimento biomeacutedico desestimula a implementaccedilatildeo de cuidados

comprovadamente eficazes e passa uma mensagem que matildee e bebecirc satildeo como uma diacuteade

conflitante natildeo sendo vistos como uma unidade integral (MARTIN 2006)

Outro elemento a ser salientado refere-se agrave percepccedilatildeo de ser matildee atraveacutes da vivecircncia

do trabalho de parto ou seja compreende-se o significado de ser matildee por meio da vivecircncia da

parturiccedilatildeo conforme fala da entrevistada Era meu primeiro filho decidi que para ser matildee

teria que ganhar de parto normal [] Se eacute para ser matildee vamos ser matildee mesmo (M3)

Como se pode notar a entrevistada destaca que o parto normal foi primordial para

sentir-se realmente matildee Importante nesse sentido a afirmaccedilatildeo de Monticelli (1996) de que o

parto eacute um ritual que marca profundamente o inconsciente feminino principalmente se for o

primeiro

A Percepccedilatildeo das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto

Nesta categoria foi significante a falta de autonomia da mulher na decisatildeo sobre a via

de parto Para compreensatildeo do parto como um evento na vida da mulher em relaccedilatildeo agrave decisatildeo

sobre o tipo de parto as mulheres opinaram

A cesaacuterea geralmente eacute o meacutedico que decide Eu sabia disso daiacute que nem todas satildeo iguais

porque a minha voacute teve 6 cesaacutereas e 6 normal e a minha matildee soacute fez cesaacuterea Entatildeo eu sabia que

podia acontecer comigo e realmente aconteceu O meacutedico disse que ia fazer uma cesaacuterea e fez

cesaacuterea disse que ela tinha tomado aacutegua no parto (M8)

Deveria ser da mulher mais do que do meacutedico jaacute que ela que estaacute sentindo e sabendo o que

estaacute acontecendo (M1)

A niacutevel de consultoacuterio (rede privada) eacute o meacutedico Natildeo daacute para escolher() Eu queria Por

mim poderia ser parto vaginal (M6)

Eu acho que deve ser a mulher mas eacute o meacutedico que decide Eles dizem que eacute protocolo que

isso que aquilo mas sabe-se que natildeo eacute assim Soacute que natildeo acontece isso neacuteEla natildeo tem o direito de

decidir se quer um parto normal ou uma cesaacuterea Eacute colocado para ela que ela vai ganhar de parto

normal por causa disso ou daquilo mas agraves vezes ela natildeo estaacute preparada de repente eacute o melhor para

o corpo mas natildeo o melhor para cabeccedila dela natildeo estaacute preparada para aquilo ali (M3)

Eacute o meacutedico que tem o poder de decisatildeo se vai ser parto vaginal ou cesaacuterea (M2)

46

Nessa categoria foi significativo o entendimento das mulheres sobre o poder de

decisatildeo que os meacutedicos tecircm em relaccedilatildeo ao tipo de parto Poreacutem elas discordam de que este

profissional determine a escolha de forma unilateral e apontam para inclusatildeo delas nessa

decisatildeo Esta perspectiva direciona-se para a autonomia e a participaccedilatildeo da mulher na decisatildeo

sobre a via de parto embora o que se constate eacute que o meacutedico determina qual a finalizaccedilatildeo da

gestaccedilatildeo

Entende-se que a questatildeo de avaliaccedilatildeo de risco e a indicaccedilatildeo de se realizar uma

cesaacuterea sejam de competecircncia meacutedica No entanto a mulher deve receber informaccedilotildees sobre

os riscos e benefiacutecios da intervenccedilatildeo a fim de exercer sua participaccedilatildeo ativa no processo Tal

questatildeo enfatiza o direito agrave informaccedilatildeo e agrave formaccedilatildeo de opiniatildeo das mulheres para que

tenham o direito de reivindicar aquilo que eacute beneacutefico para a sua sauacutede e a de seu bebecirc

Profissionais e mulheres podem ateacute tomar uma decisatildeo antecipada sobre o tipo de parto

poreacutem esse fato natildeo pode ser visto como uma simples questatildeo de preferecircncia como no caso

da cesaacuterea antecipada ou eletiva sem indicaccedilatildeo pois pode implicar em riscos e complicaccedilotildees

futuras para matildee e para o bebecirc (BRASIL 2001)

Para o Ministeacuterio da Sauacutede (2006a) um dos valores da Poliacutetica Nacional de

Humanizaccedilatildeo eacute o principio da autonomia de pensar os indiviacuteduos como sujeitos autocircnomos e

como protagonistas nos coletivos de que participam como co-responsaacuteveis pelo processo de

produccedilatildeo de sauacutede de si e do mundo em que vivem

Quando falamos da autonomia da mulher parturiente falamos de um processo em que

a cada momento se vai desconstruindo o leacutexico cientificoteacutecnico para que a mulher e a

famiacutelia possam ser chamadas ao centro de decisatildeo Mas para isso eacute importante oferecer toda a

informaccedilatildeo que ela necessita para se tornar um membro efetivo da equipe de sauacutede e como

tal ter pleno poder e capacidade de decidir da forma mais vantajosa para todos Esse eacute sem

duacutevida um processo de grande complexidade que em uma aplicaccedilatildeo absoluta incita os

profissionais de sauacutede a compreenderem que o respeito pela autonomia da mulher natildeo

constitui um dano na sua autonomia profissional mas antes um incremento pela qualidade

participaccedilatildeo e rigor eacutetico obtido atraveacutes desse processo (LEITAtildeO 2010)

Tal processo talvez seja difiacutecil de compreender para o profissional quando se alicerccedila

na cultura biomeacutedica ao redor de uma ideologia de progresso tecnoloacutegico que no contexto do

parto iniciou-se a partir da sua institucionalizaccedilatildeo com o advento da era industrial (FLOYD

2004)

47

A institucionalizaccedilatildeo do parto iniciou-se nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX quando

o mesmo passou a ser visto como um processo patoloacutegico que deveria ser controlado a fim de

evitar a morte materna e perinatal sendo entatildeo marcado por rotinas tais como episiotomias

cesaacutereas desnecessaacuterias utilizaccedilatildeo de foacuterceps profilaacutetico (PROGIANTI BARREIRA 2001)

Para Collaccedilo (2002) as instituiccedilotildees tecircm uma cultura proacutepria fundamentada no empirismo e

na tecnologia que se revelam nas rotinas e condutas intervencionistas do meacutedico O resultado

dessa conduta intervencionista eacute a discrepacircncia entre o que as mulheres desejam e o que eacute

realizado o que justificaria a mudanccedila do tipo de parto (HOPKINS 2000)

Um dos motivos alegados pelos meacutedicos para essa praacutetica seria a mudanccedila de perfil de

risco das gestantes Poreacutem um estudo realizado nos EUA que relacionou o aumento das taxas

de cesaacuterea com a mudanccedila de perfil do risco constatou que as chances de uma mulher ser

submetida a uma cesaacuterea na primeira gestaccedilatildeo sem pertencer a um grupo de risco subiu para

50 em 2005 comparado ao ano de 1996 (DECLERCQ et al 2005)

Essa desinformaccedilatildeo por parte das mulheres pode por fim a sua capacidade na decisatildeo

sobre o tipo de parto e ser atribuiacuteda agrave falta de conhecimento sobre seu corpo os processos

reprodutivos e a sexualidade (SANTOS 2008)

Segundo o relato da entrevistada M6 natildeo haacute o direito de escolha quanto ao tipo de

parto para a mulher que faz o preacute-natal na rede suplementar sendo sua autonomia geralmente

desrespeitada quando deseja um parto normal De acordo com Mccourt et al (2007) a

escolha do tipo de parto pela mulher eacute apontada na literatura meacutedica como um fator que tem

contribuiacutedo para o elevado iacutendice de cesarianas na atualidade

Destaca-se que nos serviccedilos de sauacutede suplementar no Brasil as taxas de cesaacuterea satildeo

as mais elevadas do mundo em torno de 797 (ANS 2001) A cesaacuterea daacute ao meacutedico o

maacuteximo de poder controle e conduccedilatildeo nesse processo e exige o miacutenimo de trabalho do uacutetero

e da mulher criando o ponto de vista de que este procedimento ciruacutergico fornece os melhores

bdquoprodutos‟ isto eacute produzem bebecircs perfeitos semelhantemente agrave metaacutefora de produccedilatildeo tal

como acontece nas induacutestrias (MARTIN 2006)

Logo deu-se iniacutecio a uma crenccedila de que cesaacuterea eacute protetora para o nascimento do

bebecirc Isso pode estar relacionado agrave noccedilatildeo de que partos normais satildeo traumaacuteticos para o feto

e entatildeo os profissionais ldquoaliam-serdquo ao bebecirc contra a destruiccedilatildeo em potencial causada pelo

corpo da matildee no trabalho de parto e no parto o que leva a ignorar aquilo que talvez seja o

mais importante para a mulher e para a crianccedila que eacute a natureza de suas experiecircncias no parto

e no nascimento (MARTIN 2006)

48

Aleacutem do mais na relaccedilatildeo meacutedico-parturiente fica evidente como satildeo encaradas as

questotildees relacionadas ao parto de forma diferente por cada um desses atores (ANS 2008a)

Entre os meacutedicos obstetras institui-se uma cultura proacute-cesaacuterea e como consequecircncia

parte deles natildeo se encontra motivada nem capacitada para o acompanhamento do parto

normal Em contrapartida as mulheres dentro dessa cultura tecircm dificuldade de fazer valer a

sua decisatildeo quanto ao tipo de parto por sentirem-se menos capacitadas a escolher devido agraves

questotildees teacutecnicas levantadas e sustentadas por eles (BRASIL 2001)

Estudos tecircm demonstrado que apenas 20 das usuaacuterias de convecircnio particular

conseguem dar agrave luz por parto normal sendo que a maioria das mulheres brasileiras deseja-o

(REBELO et al 2010 POTTER et al 2001 POTTER et al 2008)

Concorda-se portanto com a visatildeo de ANS (2008a) de que a criacutetica da exclusatildeo das

mulheres na decisatildeo da via de parto deve-se principalmente ao fato de que o modelo

biomeacutedico desconhece os significados que as mulheres datildeo agrave experiecircncia da gestaccedilatildeo e do

parto

Conhecendo como se daacute a construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres foram relatadas

tanto experiecircncias positivas quanto negativas dos partos das mulheres de seu conviacutevio

As mulheres que apresentam uma percepccedilatildeo positiva sobre parto normal apresentam

nas famiacutelias histoacuterias e relatos positivos do parto de suas familiares

A minha matildee teve 5 partos normais Todos em casa e a minha voacute era parteira Acho que a

influecircncia vem daiacute Queria que minha voacute tivesse viva para eu ter tido os meus filhos com ela A matildee

sempre foi positiva nunca disse que os partos foram uma coisa horriacutevel Ela sempre disse que era

uma coisa boa doiacutea claro mas ela sempre mostrou coisa boa Tenho uma irmatilde que ganhou um bebecirc

em casa natildeo deu tempo de ir para o hospital Foi raacutepido demais (M1)

Olha todas natildeo se queixaram As [familiares] que eu conversei disseram que parto normal eacute

a melhor forma por causa da recuperaccedilatildeo eacute melhor para ti cuidar do nenecirc sem depender de ningueacutem

A matildee sempre teve parto normal (M2)

Da minha matildee foi tranquumlilo O parto dela foi no mesmo hospital que eu tive ela caminhou

tudo como tinha que ser rompeu a bolsa em casa Ela me passou essa experiecircncia boa (M3)

Eu e a minha irmatilde nascemos de parto vaginal A minha voacute teve 5 filhos de parto vaginal A

minha sogra teve partos vaginais em casa Meu marido nasceu com 4kg Ela comentava como eacute que

tinha sido os nascimentos dos filhos dela de ser tudo tranquilo e das aventuras que ateacute na veacutespera

andava a cavalo e natildeo deu nada de complicaccedilatildeo e naquele tempo foi com parteiras A matildee dela era

parteira Os filhos nasceram com a avoacute (M6)

49

Durante a minha gravidez eu conversava mais sobre o parto com a minha matildee e eu a

acompanhei ela quando foi ganhar normal Eu vi como foi entatildeo eu sabia como tinha que ser quando

eu fosse ganhar que era bom A influecircncia da minha voacute e da minha matildee foi para parto normal mas

eu natildeo ganhei normal em nenhum (M8)

Na opiniatildeo dessas entrevistadas a transmissatildeo do conhecimento dos partos na famiacutelia

exerceu grande influecircncia na preferecircncia por parto normal focando a naturalidade e a

praticidade de encarar o parto normal

O processo de socializaccedilatildeo denominado ldquoprimaacuteriordquo para Berger e Luckmann (1976)

acontece na famiacutelia durante a infacircncia quando a realidade eacute apreendida atraveacutes da

consciecircncia individual e os papeacuteis sociais tornam-se seus quando identificados

Segundo Laraia (2003) a socializaccedilatildeo do indiviacuteduo eacute resultante do seu meio cultural e

a acumulaccedilatildeo de saberes e crenccedilas satildeo passadas de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Destaca-se isso

igualmente no estudo de Ressel et al (2011) relativo a cultura da sexualidade junto a

adolescentes e suas famiacutelias onde a socializaccedilatildeo dos saberes eacute um processo dinacircmico e

contiacutenuo ao longo da vida

Laraia (2003) defende que os valores que vatildeo compor a singularizaccedilatildeo de cada pessoa

na sociedade ocorrem por meio da socializaccedilatildeo atraveacutes dos relacionamentos das

representaccedilotildees pessoais sobre fenocircmenos fatos e eventos sociais

As entrevistadas M1 e M6 relatam a presenccedila de parteiras na assistecircncia ao parto Ateacute

a entrada da profissatildeo meacutedica sobre o processo do parto as mulheres em trabalho de parto

eram auxiliadas principalmente pelas matildees tias avoacutes eou parteiras Poreacutem com a perda da

importacircncia do papel das parteiras - pois ameaccedilavam o monopoacutelio do saber meacutedico - e sua

progressiva alocaccedilatildeo na marginalidade do contexto da obstetriacutecia seus saberes foram sendo

vistos sob suspeita

Em quase todas as culturas segundo Helman (2009) os principais provedores dos

cuidados primaacuterios de sauacutede satildeo as matildees e avoacutes e as parteiras ainda satildeo as responsaacuteveis pelos

cuidados obsteacutetricos em alguns paiacuteses

Percebem-se nas narrativas das entrevistadas as influecircncias positivas passadas por suas

matildees na vivecircncia da parturiccedilatildeo das mulheres da famiacutelia Elsen (2011) realizou uma anaacutelise de

quatro estudos sobre famiacutelias tendo como um dos destaques a valorizaccedilatildeo do conhecimento e

das praacuteticas do cuidado nesses ambientes familiares

Em contrapartida as entrevistadas que apresentam nos seus discursos experiecircncias

negativas mostram que no conviacutevio familiar e no ciacuterculo social proacuteximo este assunto ou natildeo

foi comentado ou foi discutido com teor negativo

50

A minha matildee nunca falou bdquocom noacutes‟ sobre isso Ela teve cesaacuterea da minha irmatilde mais nova de

sete anos e deu problemas de rim nela A minha recuperaccedilatildeo foi ruim porque demorei a recuperar

() Eu me sentia estranha e parece que minhas pernas estavam separadas do meu corpo por causa da

anestesia(M4)

Noacutes nunca conversamos sobre essas coisas laacute em casa nem com matildee e nem com irmatilde A

uacutenica coisa que me falavam eacute que sofria muito falavam que ia gritar de tanta dor que as contraccedilotildees

seriam fortes Eu sofri um pouquinho coloquei soro fiquei de barriga para cima o tempo todo ()

como se estivesse doente depois eu tive uma cesaacuterea que infeccionou os pontos Me senti um objeto

() (M5)

Minha matildee disse que eacute horriacutevel que natildeo era bom que nem cesaacuterea e nem parto normal Ela

sofreu muito Por isso na hora de ganhar assim sempre me dava um medo devido agraves histoacuterias

contadas por minha matildee (M7)

Vizinhos ateacute parentes comentavam que esqueceram uma tesoura dentro da paciente ou

esqueceram um pano Eu tenho medo de cesaacuterea Outro problema eacute aquele pano que separa a sua

cabeccedila do resto do seu corpo Disseram-me que teria de fazer uma cesaacuterea para fazer a laqueadura

na proacutexima gravidez Eu vou fazer um RX depois para ver se natildeo ficou nada laacute dentro (M7)

Aiacute vem a voacute vem a matildee conversar dizendo ldquotu natildeo faz escacircndalo natildeo gritardquo porque

realmente elas natildeo datildeo atenccedilatildeo E realmente eu vi isso Entatildeo eu sabia que natildeo era bom quando eu

fosse ganhar (M8)

Nas falas destas entrevistadas deflagra-se a ausecircncia de conversa sobre o assunto

Quando haacute diaacutelogo acerca do tema no seio familiar reveste-se de significados negativos

destacando a dor o sofrimento a anguacutestia o medo a solidatildeo e a alienaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao que

estaacute acontecendo com o seu corpo

Para Martin (2006) as mulheres podem ter essas sensaccedilotildees negativas de objetificaccedilatildeo

e fragmentaccedilatildeo tanto na cesaacuterea quanto no parto normal mas as que passam por uma cesaacuterea

descrevem essas sensaccedilotildees mais intensamente conforme destacado nas falas das entrevistadas

M4 e M5

Segundo a autora o medo e a ansiedade no parto normal satildeo gerados pela inconsciente

fragmentaccedilatildeo subliminar impliacutecita de como a mulher percebe esse fenocircmeno de como accedilotildees

que elas natildeo realizam como se o ldquoeurdquo e o ldquoseu corpordquo fossem separados entendendo que

corpo mente e estados emocionais natildeo podem ser trabalhados simultaneamente

O relato negativo foi constatado em estudos de autores da aacuterea da antropologia

mostrando que em diferentes sociedades as filhas educadas por matildees que influenciam

negativamente sofrem mais no momento do parto (LARAIA 2003) A dor do parto tambeacutem

foi apontada pela entrevistadas M5 Conforme Gualda (2004) a dor eacute um sintoma altamente

subjetivo que traz a crenccedila popular de vincular a maternidade ao sofrimento

51

A entrevistada M8 traz a questatildeo de agir conforme as regras que a equipe obsteacutetrica

impotildee de natildeo fazer escacircndalo sob pena de natildeo receber a devida atenccedilatildeo Os profissionais de

sauacutede eventualmente podem impor um comportamento que natildeo respeita o saber da parturiente

o que pode tornar difiacutecil a evoluccedilatildeo do trabalho de parto (BEZERRA CARDOSO 2006)

Outro fator de destaque de acordo com o relato da entrevistada M7 foi o medo

apresentado em relaccedilatildeo ao esquecimento dos instrumentos ciruacutergicos dentro do seu corpo

Para Leninger (1991) a descontinuidade dos acompanhamentos e tratamentos das

usuaacuterias(os) deve-se ao fato de natildeo compreenderem sua funccedilatildeo e seu funcionamento

A posiccedilatildeo supina que foi referida pela entrevistada M5 ldquofiquei de barriga para cima o

tempo todordquo eacute segundo a OMS (1996) uma praacutetica claramente prejudicial ou ineficaz que

deve ser eliminada de acordo com as evidecircncias cientiacuteficas Essa mensagem simboacutelica

transmite agrave parturiente que ela estaacute enferma e retira da mulher a liberdade de seguir seus

instintos conforme mencionado pela entrevistada

Etnoacutelogos confirmam que atraveacutes da anaacutelise de evidecircncias histoacutericas existem raccedilas e

tribos que natildeo recebem influecircncia do modelo biomeacutedico e as mulheres naturalmente assumem

posiccedilotildees verticais dos mais variados tipos e meios de apoio (BALASKAS 2008)

Outras formas de influecircncia relatadas pelas participantes foram revistas internet

meios de comunicaccedilatildeo em geral As entrevistadas atribuem grande importacircncia agraves

informaccedilotildees colhidas nessas fontes atraveacutes das quais tomam conhecimento sobre

determinados costumes e percepccedilotildees

Com as revistas eu me informava bastante sobre como que era o nascimento fotos do bebecirc

nascendo Assistia na TV o canal que mostrava partos as casas de parto onde as mulheres iam fazer

todo o preacute-natal e ganhavam na aacutegua na cama naqueles quartos que permaneciam durante o

trabalho de parto e ficavam ali mesmo na hora de ganhar com familiar junto crianccedilas adultos tudo

junto Eu achava muito interessante (M1)

Eu olhei muito no youtube parto normal Eu achei bem legal Assim eacute meio assustador mais

achei legal Ateacute ali minha decisatildeo era ganhar normal mas natildeo deu (M2)

Lia folders revistas da aacuterea sobre maternidade programas de TV que mostraram o

acompanhamento do parto no domiciacutelio na banheira mas eu tive duas cesaacutereas agendadas (M6)

A entrevistada M1 relata o atendimento oferecido em casa de parto ou centro de parto

normal onde as mulheres fazem todo o preacute-natal e datildeo agrave luz em posiccedilotildees e locais de sua

preferecircncia A ausecircncia desse tipo de estabelecimento em determinados municiacutepios do Brasil

inviabiliza o acesso aos benefiacutecios que esses serviccedilos oferecem Instituiacutedo no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede esses estabelecimentos propiciam agraves mulheres a assistecircncia ao parto

52

em sua plena universalidade e tecircm como uma de suas atribuiccedilotildees o preparo da gestante

atraveacutes do plano de parto e do desenvolvimento de atividades educativas (BRASIL 1999)

Nesse cenaacuterio o protagonismo de cada mulher na gestaccedilatildeo parto e puerpeacuterio eacute respeitado

levando em consideraccedilatildeo sua individualidade suas crenccedilas e sua cultura

A cultura eacute um todo complexo que inclui o conhecimento as crenccedilas a arte a moral a

lei os costumes e todos os outros haacutebitos e aptidotildees adquiridos pelo homem como membro da

sociedade e se faz dinacircmica pela recepccedilatildeo das influecircncias externas resultantes do contato de

um sistema cultural com outro transformaccedilatildeo que pode ser raacutepida e brusca (LARAIA 2003)

No fragmento da fala da entrevistada M6 pocircde-se identificar sua curiosidade pelo

periacuteodo graviacutedico e parto e o parto domiciacutelio e na banheira forma de nascimento que volta a

fazer parte dos centros urbanos na atualidade A influecircncia das mateacuterias veiculadas em uma

revista sobre as representaccedilotildees culturais sobre parto mostrou que a revista pode ser um meio

de divulgaccedilatildeo informal que deveria ser mais bem aproveitado para informar as mulheres sobre

seus direitos e as maneiras de reivindicaacute-los (ROSS BONILHA et al 2006)

Um estudo feito por Medeiros (2008) retrata que as mulheres que optam por um tipo

de parto fora do hospital relacionam sua escolha agraves experiecircncias vivenciadas desde o seu

proacuteprio nascimento ateacute o momento do parto de seus filhos Quando as mulheres preparam-se

para parir seguindo princiacutepios diferentes dos que a medicina define e trata a linguagem que

utilizam eacute de integridade com todas as suas partes inter-relacionadas por um sentimento de

realizaccedilatildeo de algo que seriam capazes de fazer podendo-se inferir que a experiecircncia do parto

confirma ou natildeo na mulher a sua capacidade de colocar uma crianccedila no mundo (MARTIN

2006)

As mulheres citam somente a figura meacutedica na consulta de preacute-natal e comentam

sobre a postura do profissional de sauacutede que realizou este acompanhamento Em geral natildeo

receberam nenhuma informaccedilatildeo sobre parto

O obstetra no preacute-natal natildeo falava nada sobre parto soacute media a barriga via como estava o

coraccedilatildeo do bebecirc e deu Isso que o primeiro foi particular e os outros tambeacutem foram assim (M1)

Quando eu comecei no preacute-natal eu comecei com meacutedico particular ele natildeo falou nada sobre

parto e me pediu todos aqueles exames (M3)

O meacutedico natildeo era muito de conversar soacute os exames ultrasonografia Natildeo falou sobre outras

formas de parto (M4)

A uacutenica coisa que o meacutedico falou eacute ldquotu taacute preparadardquo ldquotem certeza jaacute ta aqui neacute Agora eacute

soacute seguir adianterdquo mas natildeo me falaram sobre parto Fiz todos os exames quatro ultrassonografias

(M7)

53

Fiz todo o preacute-natal e o meacutedico natildeo me falou nada sobre parto (M5)

Nesses depoimentos detectou-se a ausecircncia de diaacutelogo e de orientaccedilatildeo sobre o parto

O acompanhamento preacute-natal das entrevistadas apontou para o enfoque bioloacutegico e tecnicista

na assistecircncia prestada limitando-se agrave avaliaccedilatildeo de batimentos cardiacuteacos fetais altura uterina

e solicitaccedilatildeo de exames e avaliaccedilatildeo

Tal atenccedilatildeo fragmenta o cuidado e o sujeito deste cuidado pois segundo Martin

(2006) desta forma as mulheres natildeo satildeo apenas fragmentadas em partes do corpo como

tambeacutem satildeo alienadas da proacutepria ciecircncia pelas praacuteticas da medicina cientiacutefica As praacuteticas

obsteacutetricas corroboram com esta alienaccedilatildeo internalizando valores culturais que transmitem

agraves gestantes a ideacuteia de que natildeo haacute necessidade de informaccedilotildees sobre os processos fisioloacutegicos

do parto (FLOYD 2009)

Como a medicina obsteacutetrica contemporacircnea estaacute determinada por pressupostos

filosoacuteficos essencialmente masculinos o parto normal que tem em seu acircmago fenocircmenos

femininos tais como a afetividade espiritualidade e as emoccedilotildees natildeo eacute compreendido pelos

profissionais que controlam o nascimento (JONES 2004)

Apesar do avanccedilo na luta por igualdade de direitos para as mulheres a

sobrevalorizaccedilatildeo do patriarcado nos hospitais eacute perpetuada por meacutedicos em sua maioria

homens que tecircm autoridade para reforccedilar rituais de parto (FLOYD 2009)

No entanto os profissionais de sauacutede que se inserem no cenaacuterio das poliacuteticas puacuteblicas

de sauacutede da mulher deveriam atualmente ter como prerrogativa a instrumentalizaccedilatildeo das

mulheres para que sejam efetivamente sujeitos de direito na sociedade sendo tambeacutem

protagonistas de suas proacuteprias vidas e de seu parto tomando suas escolhas de modo

informado conforme preconiza a Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agrave Sauacutede da Mulher -

PNAISM (BRASIL 2004)

A ausecircncia de informaccedilotildees sobre parto foi constatada na fala das entrevistadas o que

nos faz refletir sobre a atitude desses profissionais com as gestantes e relacionar esse quadro

com os altos iacutendices de cesaacuterea da atualidade entendendo que a ausecircncia de diaacutelogo e

informaccedilatildeo no preacute-natal incapacita a mulher agrave autonomia Em um estudo de revisatildeo

sistemaacutetica que avaliou as informaccedilotildees que as gestantes recebiam sobre a cesariana para

solicitaacute-la natildeo foi possiacutevel detectar os motivos que as levam a solicitar uma cesariana

(GAMBLE et al 2007)

A desinformaccedilatildeo sobre as etapas da parturiccedilatildeo foi apontada por Pereira (2011) como

fator cultural que conduz a uma etapa teacutecnica terceirizada definida quando o meacutedico assume

54

o comando e o conduz a partir de sua formaccedilatildeo teacutecnica especializada Para a autora as

mulheres consideram dessa forma um sofrimento desnecessaacuterio passar pelo trabalho de

parto porque desconhecem sua importacircncia para o organismo e para o bebecirc

Deve-se levar em conta a forma a interaccedilatildeo do cuidado entre as mulheres os

profissionais e principalmente o contexto desse cuidado que revela um desequiliacutebrio de poder

que favorece os meacutedicos (GAMBLE et al 2007)

Conforme Martin (2006) pode acontecer tambeacutem de as mulheres natildeo estarem

preocupadas com a falta de informaccedilatildeo uma vez que elas satildeo direcionadas por pressupostos

culturais da superioridade meacutedica Tais pressupostos estatildeo tatildeo arraigados em sua experiecircncia

habitual nos serviccedilos de sauacutede que as impede de perceber as contradiccedilotildees em sua proacutepria

atenccedilatildeo agrave sauacutede

Por outro lado em outra pesquisa com gestantes constatou-se a necessidade de uma

grande demanda por informaccedilotildees escuta cliacutenica e tambeacutem a utilizaccedilatildeo de materiais

educativos mais esclarecedores (HOTIMSKY et al 2002)

Essa demanda por informaccedilotildees vem sendo suprida por outros profissionais de sauacutede

segundo as entrevistadas deste estudo

A enfermeira do posto me ajudou bastante eu tomava sulfato ferroso e ia pegar com ela Me

orientou sobre as vacinas eu lembro que um pouco antes de ficar graacutevida eu tinha tomado vacina da

rubeacuteola Entatildeo assim ela me acompanhou bastante tambeacutem eu sempre conversava com ela sobre o

parto os exerciacutecios que era bom fazer Laacute na Casa de Sauacutede tambeacutem a enfermagem me ajudou

bastante tava o tempo todo junto me dizendo que ldquotinha que caminhar para tua dilataccedilatildeo aumentarrdquo

me explicavam onde o nenecirc bdquotava‟(M3)

O fisioterapeuta o dentista A fisioterapia influenciou para o parto vaginal o dentista era

homem entatildeo relatou a experiecircncia da esposa dele que tinha sido parto cesaacutereo (M6)

Eu fiz todo o planejamento com a enfermeira Ensinaram como seria para nascer e logo

depois o que eu teria que fazer que eacute amamentar o nenecirc cuidados com o nenecirc cuidados comigo

tambeacutem preventivo remeacutedio piacutelula amamentaccedilatildeo Ensinaram no posto que eu frequento (M8)

A participaccedilatildeo dos profissionais da enfermagem e da fisioterapia foi constatada em

atividades de educaccedilatildeo em sauacutede e no atendimento ao trabalho de parto

Um estudo feito por Gaiva (2003) que destaca o nascimento como um evento

pertencente agrave equipe de sauacutede destaca como necessaacuterio o engajamento dessas equipes para a

humanizaccedilatildeo do parto e do nascimento com enfoque na mulher na crianccedila e na famiacutelia

A realizaccedilatildeo de um trabalho multiprofissional e interdisciplinar durante o processo de

gestaccedilatildeo parto e nascimento incide na aprendizagem de compartilhamento de saberes e

55

praacuteticas promovendo um cuidado de qualidade para os atores envolvidos nesse processo

(CHRISTOFFEL 2003)

A Lei ndeg 749886 que dispotildee sobre a regulamentaccedilatildeo do exerciacutecio da enfermagem

referenda que o enfermeiro generalista tambeacutem estaacute habilitado a assistir agrave gestante parturiente

e pueacuterpera acompanhando a evoluccedilatildeo e do trabalho de parto e a execuccedilatildeo do parto sem

distoacutecia

Pelloso (2000) concluiu que as taxas de cesaacuterea reduziriam com a capacitaccedilatildeo dos

profissionais para o parto com a introduccedilatildeo da enfermeira obsteacutetrica no preacute-natal e na

realizaccedilatildeo do parto bem como com a inclusatildeo de accedilotildees de orientaccedilatildeo e informaccedilatildeo sobre os

riscos e os benefiacutecios do parto normal e da cesaacuterea agraves mulheres em atividades de grupo e

cursos de gestantes Embora o nuacutemero de enfermeiras obstetras atuando no Brasil ainda seja

muito baixo estima-se que o nuacutemero de partos assistidos por elas eacute bem superior agravequele

registrado no SUS (BRASIL 2001)

Essa assistecircncia tambeacutem eacute referendada pela portaria do MSGM nordm 2815 de 29 de

maio de 1998 em que se inclui na tabela do sistema de informaccedilotildees hospitalares do SUS o

procedimento ldquoparto normal sem distoacutecia realizado por enfermeira obstetrardquo (BRASIL 1998

p23)

A enfermeira obstetra na busca pelo cuidado integral e valorizando a mulher como

protagonista do processo de nascimento vem conquistando tambeacutem um espaccedilo no

atendimento a partos domiciliares aleacutem de seu papel nas instituiccedilotildees hospitalares (PETER

2005)

Questionamento e resistecircncia ao modelo biomeacutedico

Nessa categoria mostram-se os relatos de questionamento e resistecircncia ao

atendimento obsteacutetrico por parte de algumas mulheres revelando que estas natildeo tecircm

autonomia tanto na decisatildeo sobre o tipo de parto quanto na escolha por quem querem que lhes

acompanhe em seu parto

As participantes questionam as situaccedilotildees impostas pelos profissionais que representam

o modelo biomeacutedico Uma entrevistada que queria o parto normal apresentou-se encorajada a

protestar contra este modelo trocando de meacutedico quando natildeo teve a sua opiniatildeo respeitada

conforme na fala

56

() Outro fato que me deixou frustrada foi quando eu iniciei o preacute-natal eu disse que queria

parto normal o meacutedico ficou bravo e foi bem mal educado e perguntou o que eu estava fazendo laacute

entatildeo Fui embora natildeo fiz mais preacute- natal com ele fui para o SUS Eu me senti invadida (M3)

Outra entrevistada questiona a falta do acompanhante de sua preferecircncia no parto Eu

gostaria que o meu marido bdquotivesse‟ junto (M1) Em um estudo realizado por Prado Junior

(2008) constatou-se que a presenccedila de familiares no processo de nascimento eacute visto por 100

das entrevistadas como primordial Para Balaskas (2008) o sentimento relatado por homens

que jaacute acompanharam suas mulheres em trabalho de parto eacute o de plenitude em nenhum

momento o instinto de fecircmea fala tatildeo alto eacute o renascimento de uma nova mulher

Suas falas chamam a atenccedilatildeo tambeacutem para a importacircncia de a mulher poder exercer

mais liberdade e participaccedilatildeo ativa com a possibilidade de escolher se quer tomar banho ou

natildeo se quer ficar na aacutegua sentar na bola Tambeacutem eacute questionado por elas o uso da ocitocina e

a falta de respeito a sua privacidade pelo fato de estarem presentes pessoas assistindo ao seu

parto sem preacutevio pedido de autorizaccedilatildeo o que denota desrespeito a sua autonomia no

processo

Eu gostaria de ser mais orientada Entatildeo quanto mais natural pudesse ser para mim melhor

escolher se quer tomar banho ou natildeo se quer ficar na aacutegua sentar na bola Sou contra a ocitocina E

me colocaram o soro com ocitocina e eu disse ldquomas para quecirc colocar se eu jaacute to quase ganhando Soacute

para me dar uma dor mais forte e realmente deurdquo(M1) Tinha uns 7 ou 8 alunos que estavam laacute e que queriam assistir um parto pessoas que eu

nunca tinha visto olhando o meu parto Eu acho que tudo foi muito forccedilado Os alunos assistiram ao

meu parto ningueacutem me perguntou se eu queria que assistisse (M3)

A mulher em trabalho de parto precisa de privacidade para se sentir mais segura

Poreacutem em muitos locais de atendimento puacuteblico isso natildeo eacute devidamente cuidado sendo

negligenciada a cultura do sujeito que envolve seus valores percepccedilotildees necessidades e

medos (ODENT 2003)

A postura do profissional em natildeo aceitar a opiniatildeo das usuaacuterias eacute denominada por

antropoacutelogos como ldquopensamento etnocecircntricordquo ou ldquosistema fechado de cogniccedilatildeordquo O

etnocentrismo eacute um sistema acentuado por rituais que os representam e os sustentam

(FLOYD 2009) Sabem os etnocentristas da existecircncia de outro saber e crenccedilas mas estatildeo

absolutamente seguros de que seu modo de pensar eacute melhor e por isso ignoram ideacuteias

contraacuterias agraves deles e consideram esses diferentes modos de pensar uma ameaccedila A

entrevistada destaca esta postura

Acho que os meacutedicos satildeo muito apressados Deveriam deixar mais a natureza agir por conta

o bebecirc se encaixar no lugar certo deixar a matildee de forma mais natural possiacutevel (M1)

57

Um princiacutepio baacutesico do modelo de atendimento tecnocraacutetico que vem ao encontro da

forma de pensar e agir do pensamento etnocecircntrico eacute a autoridade e responsabilidade do

profissional e das instituiccedilotildees de sauacutede sobre a pessoa Nesse contexto eacute mais confortaacutevel

para a usuaacuteria abdicar de sua preferecircncia pessoal em favor da opiniatildeo meacutedica (FLOYD

2004)

Esse fato foi constatado nas entrevistas que apontavam para a resistecircncia ao modelo

biomeacutedico poreacutem atraveacutes de uma percepccedilatildeo passiva da realidade como a sensaccedilatildeo meio

vaga de que alguma coisa estaacute errada e cuja mudanccedila natildeo estaacute ao seu alcance ou natildeo depende

apenas de sua vontade e accedilatildeo A mulher parece natildeo estar ciente da fragmentaccedilatildeo subliminar

da atenccedilatildeo ao parto hospitalar como se o ldquoeurdquo e o ldquoseu corpordquo fossem separados e que

nascimento fosse parte de uma produccedilatildeo A taacutetica mais eficiente descrita por Martin quando

utiliza a analogia entre operaacuterios e mulheres dando agrave luz eacute a mulher tornar-se patratildeo de si

mesmo isto eacute dando agrave luz em seu domicilio onde elas satildeo donas da faacutebrica e podem ter total

controle sobre o processo de produccedilatildeo e sobre seu corpo (MARTIN 2006)

Percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea

Buscaram-se juntamente agraves mulheres do estudo indicaccedilotildees e motivaccedilotildees de acordo

com seu entendimento para a realizaccedilatildeo de cesariana A seguir eacute apresentada a ausecircncia de

dilataccedilatildeo a presenccedila ou natildeo de contraccedilotildees e as cesaacutereas eletivas como indicativos para a

ocorrecircncia do procedimento ciruacutergico

Eu induzi porque natildeo tinha dilataccedilatildeo eu soacute tinha contraccedilatildeo Eu natildeo tinha nenhum outro

problema () fiquei frustrada Eu queria parto normal soacute natildeo tive porque meu parto foi induzido

(M2)

Porque natildeo tinha dor natildeo tinha dilataccedilatildeo e tava muito em cima (M5)

Se tivesse entrado em trabalho de parto tudo bem daiacute ia ficar pro parto como natildeo tinha foi

para cesaacuterea (M6)

Fizeram uma junta meacutedica laacute no hospital e os meacutedicos falaram com a minha matildee pois eu era

bdquode menor‟ ela autorizou para fazer uma cesaacuterea antecipada porque eu jaacute bdquotava‟ em trabalho de

parto soacute que eu natildeo tinha dilataccedilatildeo () (M8)

Um dos motivos alegados pela entrevistada M6 foi ter sido submetida a uma cesaacuterea

eletiva por natildeo ter entrado em trabalho de parto tendo tambeacutem a falta de informaccedilatildeo apontada

sobre outras formas de nascimento

58

O descontentamento por natildeo ter vivenciado o parto normal foi narrado com frustraccedilatildeo

pela entrevistada M2 A induccedilatildeo do parto e a presenccedila de contraccedilotildees apontadas por ela como

fatores indicativos para realizaccedilatildeo de cesaacuterea estatildeo associadas ao aumento da taxa de

nascimento preacute-termo e de baixo peso

Na maioria das sociedades atuais o meio cultural propagado pelos profissionais

meacutedicos interfere nos processos fisioloacutegicos do nascimento O motivo para o aumento dos

iacutendices de cesaacutereas eacute verdadeiramente devido a uma falha universal e quase cultural no

entendimento das necessidades baacutesicas das mulheres (ODENT 2004)

Nessa direccedilatildeo as consequecircncias de risco aumentam tanto para a parturiente quanto

para o feto A taxa de internaccedilatildeo em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em um estudo feito

na Austraacutelia com gestantes de baixo risco demonstra que as chances de internaccedilatildeo em

mulheres que fizeram cesaacuterea eletiva sem entrar em trabalho de parto aumentam em 154

em gestaccedilotildees de 37 semanas 121 em gestaccedilotildees de 38 semanas e 51 para as mulheres

com 39 semanas gestacionais (TRACY et al 2007)

Os prejuiacutezos aos receacutem nascidos prematuros natildeo se apresentam somente no momento

do nascimento satildeo mais duradouros acompanham-nos na vida futura provocando problemas

de sauacutede e colocando-os em desvantagem em relaccedilatildeo aos que nasceram de parto vaginal

(TOMASHEK et al 2007 SWANY et al 2008)

Ao final da gestaccedilatildeo a mulher pode apresentar algumas vezes contraccedilotildees

permanecendo entretanto descoordenadas sem a dilataccedilatildeo da ceacutervice uterina o que se

denomina ldquofalso trabalho de partordquo Essa situaccedilatildeo pode levar o profissional de sauacutede a realizar

uma admissatildeo precoce da gestante na maternidade e com isso realizar intervenccedilotildees

desnecessaacuterias como por exemplo uma induccedilatildeo do parto sem indicaccedilatildeo ou uma cesariana

(BRASIL 2001)

Os partos induzidos e outros fatores como monitoramento fetal contiacutenuo e uso

frequente de anestesias peridurais satildeo aspectos da industrializaccedilatildeo do parto que tem como

consequumlecircncia a falta de entendimento da sua fisiologia (ODENT 2004)

Em um estudo na Escoacutecia constatou-se que 20 das pueacuterperas que se submeteram agrave

cesariana natildeo receberam orientaccedilatildeo sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea e 16 tinham

somente uma ideacuteia parcial da indicaccedilatildeo A forma e o momento inadequado de informar sobre

a indicaccedilatildeo da cirurgia podem acentuar a dificuldade de as mulheres entenderem e

compreenderem essas informaccedilotildees (HILLAN 1992) como se pocircde perceber na fala das

entrevistadas

59

E da segunda gravidez daiacute foi direto o agendamento da cesaacuterea mas eu natildeo tive outras

informaccedilotildees de outras formas de nascer ou em domiciacutelio ou em banheira Natildeo nada disso (M6)

() aiacute eles anteciparam a cesaacuterea Depois eu descobri que foi porque o meu marido faleceu

(M8)

Outra pesquisa mostra que a justificativa dada por 61 mulheres para a realizaccedilatildeo da

cesariana foi discordante da indicaccedilatildeo meacutedica em 475 dos casos Tenciona-se o fato de que

ignorar a indicaccedilatildeo de cesaacuterea pela mulher pode dificultar a conduccedilatildeo para um parto normal

posterior e as complicaccedilotildees advindas (OLIVEIRA et al 2002)

Uma das maiores preocupaccedilotildees associadas agrave cesariana aleacutem dos vaacuterios problemas

inerentes a um procedimento ciruacutergico eacute o seu impacto e risco na sauacutede reprodutiva futura da

mulher como predisposiccedilatildeo a inserccedilatildeo anormal da placenta em futuras gestaccedilotildees (LEE

DALTON 2008)

O maior risco de ruptura uterina hemorragia poacutes-parto e remoccedilatildeo manual de placenta

tambeacutem eacute relacionado a mulheres que jaacute se submeteram a uma cesariana preacutevia (TAYLOR et

al 2005)

Segundo o relato das entrevistadas natildeo foram apresentadas indicaccedilotildees para a cesaacuterea

condizentes ao que as evidecircncias cientiacuteficas preconizam na literatura da aacuterea Outro fato

apontado atraveacutes na fala das entrevistadas foi o agendamento preacutevio da cirurgia no preacute-natal

ldquoA cirurgia estava agendada jaacute no preacute-natalrdquo (M4) ldquoEstava agendada a cesaacuterea no preacute-natalrdquo

(M6)

Os inuacutemeros efeitos prejudiciais tanto para a mulher quanto para o fetoneonato da

cesaacuterea sem indicaccedilotildees satildeo comprovados pelo conhecimento cientiacutefico atual A siacutendrome da

anguacutestia respiratoacuteria do receacutem-nascido desponta com uma das principais causas de morbi-

mortalidade perinatal (MADAR 1999)

As pacientes submetidas a cesarianas agendadas sem indicaccedilotildees apresentam

morbidade e mortalidade maior quando comparadas a pacientes que realizaram o parto normal

(HALL 1999 LILFORD et al 1990)

A respeito do motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea um estudo constatou que a maioria das

mulheres demonstra certa passividade frente ao meacutedico na decisatildeo pelo parto ciruacutergico

(FIGUEIREDO N et al 2010)

Essa conduta relaciona-se com os elevados iacutendices de cesaacutereas desnecessaacuterias no

Brasil Buscando reverter esse quadro a Associaccedilatildeo Meacutedica Brasileira (AMB) e o Conselho

Federal de Medicina (CFM) em iniciativa conjunta elaboraram um protocolo sobre o tema

indicaccedilotildees de cesaacutereas intitulado Projeto Diretrizes (PD) Satildeo objetivos desse trabalho

60

conciliar informaccedilotildees sobre o tema no sentido de estimular a praacutetica da medicina baseada em

evidecircncias analisar individualmente as indicaccedilotildees de cesariana com base nas evidecircncias

cientiacuteficas da literatura promover uma diminuiccedilatildeo das taxas de cesariana (PROJETO

DIRETRIZES 2002)

Os desvios eacuteticos decorrentes dessa conduta natildeo levam em consideraccedilatildeo a sauacutede das

mulheres Haacute a necessidade constante de atualizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais meacutedicos

e demais consequumlecircncias possiacuteveis dessa atitude (HADDAD et al 2011)

Nesse contexto destaca-se um estudo realizado com docentes do Departamento

Materno- Infantil do Hospital Universitaacuterio de Satildeo Joseacute do Rio Preto que constatou a

valorizaccedilatildeo da cesaacuterea em detrimento ao parto vaginal concorrendo para a disseminaccedilatildeo da

cultura subjacente agrave desmobilizaccedilatildeo dos alunos e profissionais meacutedicos para a realizaccedilatildeo do

parto normal (MORAES GOLDENGERG 2001)

61

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao tentar traduzir sob a forma de pesquisa a compreensatildeo de como a cultura influencia

no processo de parturiccedilatildeo da mulher finalizo este estudo com o vislumbre de que o objeto

escolhido foi pleno de possibilidades para entender e sobretudo para ampliar as propostas e a

pesquisa nessa aacuterea de estudos Encerro este trabalho com a certeza de que foi uma etapa

necessaacuteria em minha vida profissional e muito importante para o meu crescimento pessoal e

acadecircmico

Como mencionado anteriormente a inquietaccedilatildeo frente agrave fragilidade das parturientes ao

se submeterem sem questionamentos a todos procedimentos e intervenccedilotildees da equipe

obsteacutetrica apresentou-se como uma das justificativas da realizaccedilatildeo deste trabalho atraveacutes da

questatildeo norteadora ldquoqual a participaccedilatildeo da cultura nos saberes e as praacuteticas das mulheres em

relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeordquo

Esse estudo abriu espaccedilo para que mulheres falassem de um periacuteodo em suas vidas

extremamente iacutentimo e especial permitindo-lhes ampliar a visatildeo acerca dos determinantes

socioculturais envolvidos nesse momento O estudo foi realizado fora do periacuteodo graviacutedico

puerperal justamente para tentar captar delas o que realmente ficou de significativo dessa

fase sem interferecircncia ou expectativas de quem estaacute passando pelo turbilhatildeo de emoccedilotildees que

acompanham o processo da parturiccedilatildeo

O desenvolvimento desta pesquisa possibilitou perceber que o parto enquanto um dos

momentos da vida da mulher de grande importacircncia nem sempre eacute compreendido e entendido

dessa maneira por elas

Da mesma forma observou-se que a vivecircncia das mulheres em seu processo de

parturiccedilatildeo eacute percebida de modo diferente por cada uma algumas vezes de forma positiva e

outras de forma negativa A forma da mulher vivenciar esse processo depende de fatores

individuais e principalmente de representaccedilotildees culturais da realidade social a que ela

pertence

A abordagem negativa do estudo referida por algumas mulheres manifestou o

desconhecimento sobre a fisiologia do parto estando intrinsecamente relacionado ao modelo

fragmentado em partes do corpo perpetuado pelas praacuteticas da medicina cientiacutefica dominantes

na sociedade

62

As mulheres natildeo estatildeo conscientes dessas circunstacircncias e reproduzem essa forma de

fragmentaccedilatildeo de que o uacutetero eacute um muacutesculo involuntaacuterio e de que o parto eacute um processo ao

qual tecircm de se submeter causando uma sensaccedilatildeo muito marcante de fragmentaccedilatildeo e

objetificaccedilatildeo nas mulheres que sofreram uma cesaacuterea conforme constatado no estudo

Por outro lado a abordagem positiva apontada por elas dignifica a responsabilidade

por uma nova vida e a emoccedilatildeo do nascimento entendendo-o como uma oportunidade de

crescimento psicoloacutegico e de resgate espirituais

Na percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado haacute divergecircncias de opiniatildeo em

relaccedilatildeo ao tipo de parto vivenciado por cada uma As mulheres que desejaram e vivenciaram

o parto normal relatam o evento como parte de uma jornada interior e exterior que envolve

sentimentos iacutentimos uma experiecircncia fiacutesica profunda e intensa de algo que elas satildeo capazes

de realizar compreendendo que o significado de ser matildee eacute ter a capacidade de passar pela

experiecircncia do trabalho de parto e do parto natural

Em contrapartida o significado da vivecircncia das mulheres que natildeo desejaram ou

realizaram a cesaacuterea assemelha-se ao processo de produccedilatildeo industrializada em nossa

sociedade em que as atividades satildeo realizadas e determinadas inteiramente pela figura do

meacutedico e dos hospitais e natildeo por elas Percebeu-se que o papel principal do parto que seria

da parturiente foi assumido por essas figuras que estatildeo no controle pois as mulheres natildeo se

sentiam prontas ou capazes de tomaacute-lo para si

Identificou-se que a via de parto desejada pela maioria das entrevistadas foi o parto

normal mas as que natildeo conseguiram realizar esse desejo foi devido agrave influecircncia e agraves

intervenccedilotildees recebidas do meacutedico Os argumentos que influenciaram o desestiacutemulo da

realizaccedilatildeo do parto normal foram a necessidade de realizaccedilatildeo de laqueadura tubaacuteria e a falta

de informaccedilatildeo sobre meacutetodos natildeo farmacoloacutegicos e farmacoloacutegicos para o aliacutevio da dor

Cabe ressaltar que as mulheres que desejaram o parto normal e conseguiram parir por

esta via sentiram seguranccedila e confianccedila na experiecircncia do trabalho de parto natildeo sendo

identificando nenhum sinal perceptiacutevel em suas palavras relacionado agrave incapacidade de fazecirc-

lo podendo assim vivenciaacute-lo ativamente Outros aspectos importantes a serem ressaltados

foram a rapidez da recuperaccedilatildeo e a volta agraves atividades diaacuterias o desejo de serem acolhidas

pelos profissionais nas suas demandas e o direito agrave informaccedilatildeo clara e eacutetica

Sobre o poder de decisatildeo do meacutedico quanto ao tipo de parto constataram-se

divergecircncias de opiniatildeo As entrevistadas afirmaram que o meacutedico tem o poder de decisatildeo

sobre a escolha do tipo de parto poreacutem algumas natildeo estatildeo de acordo com esta conduta

63

defendendo que a decisatildeo deveria levar em conta a opiniatildeo da mulher uma vez que eacute ela que

estaacute sentindo e passando pelo processo

Conforme expressam as entrevistadas elas aceitaram essa atitude por parte dos

profissionais mas sentiram que algo em relaccedilatildeo a isso poderia ter sido mudado Elas

incentivam a mudanccedila das atitudes que colocam a mulher em posiccedilatildeo desprivilegiada no

parto

Outro aspecto destacado no estudo foi como se daacute a construccedilatildeo cultural do processo

parturitivo das mulheres Pocircde-se constatar que o significado positivo evidenciado pelas

mulheres do conviacutevio das entrevistadas principalmente pela figura materna proporcionou um

parto enriquecedor agraves entrevistadas e exerceu influecircncia na preferecircncia por parto normal

Outras no entanto descrevem que se atribuiu significado negativo pelas mulheres do

conviacutevio o que provocou medo ansiedade e inseguranccedila agraves entrevistadas durante a

experiecircncia do seu parto

Assim confirma-se que o parto natildeo pode ser entendido e reduzido somente ao aspecto

bioloacutegico pois a partir da transmissatildeo de conhecimentos interrelacionais constatados nesta

pesquisa pode-se compreender que a cultura influencia no processo de parturiccedilatildeo das

mulheres E haacute que se considerar essa influecircncia quando se presta cuidado agraves parturientes

O conteuacutedo de revistas da internet dos meios de comunicaccedilatildeo em geral aleacutem das

informaccedilotildees repassadas por vizinhos constituem outro fator de notaacutevel influecircncia nesse

construto imaginaacuterio As experiecircncias relatadas denotam que essas formas de construccedilotildees

culturais servem para expansatildeo do conhecimento sobre o assunto Isso deixa claro que as

mulheres muitas vezes estatildeo conscientes de sua falta de autonomia e buscam visotildees

alternativas sobre como o seu parto poderia acontecer

As visotildees alternativas citadas por elas foram o nascimento em casa de parto e no

domiciacutelio formas de assistecircncia consideradas na atualidade como humanizadas por ativistas

do parto normal de todo o mundo e pelas organizaccedilotildees governamentais e natildeo governamentais

que trabalham em prol da humanizaccedilatildeo do parto e nascimento tendo como objetivo devolver

agrave mulher o protagonismo na sua gestaccedilatildeo parto e poacutes-parto

No relato das mulheres eacute citada somente a figura meacutedica na consulta de preacute-natal e

elas falam que esse profissional natildeo forneceu efetivamente nenhuma informaccedilatildeo sobre parto

Tal postura silenciosa por parte desse profissional pode estar influenciando a faacutecil aceitaccedilatildeo

de uma cesaacuterea desnecessaacuteria fato esse comprovado pelo tipo de parto de maior incidecircncia

das mulheres deste estudo

64

As atividades desenvolvidas durante as consultas de preacute-natal foram accedilotildees de cunho

puramente bioloacutegico tecnicista e fragmentado como constatado na forma reduzida de

assistecircncia prestada que se limita agrave solicitaccedilatildeo de exames e agrave avaliaccedilatildeo obsteacutetrica de

batimentos cardiacuteacos fetais e altura uterina

As mulheres citam o atendimento da enfermeira na vivecircncia do parto bem como na

gestaccedilatildeo o que deflagra sua importacircncia nesse processo pois tal profissatildeo se constitui como

uma das maiores estrateacutegias que visa melhorar a assistecircncia obsteacutetrica no Brasil e exerce um

papel relevante no que tange agrave humanizaccedilatildeo durante o processo de nascimento Da mesma

forma a fisioterapia tambeacutem foi citada como ponto de incentivo agrave escolha do parto normal

O significado de parto celebrado por algumas mulheres do estudo abrange o

questionamento e a resistecircncia aos pressupostos culturais subjacentes ao modelo biomeacutedico

atual discordando de praacuteticas que vivenciaram no parto consideradas desrespeitosas Ponto

comum em suas falas foi a auto-percepccedilatildeo de resistecircncia agrave passividade imposta pela praacutetica

meacutedica

Foi demonstrado pelas mulheres claro desagrado por algumas praacuteticas que retiram da

mulher a sua autonomia no processo da parturiccedilatildeo tais como coibiccedilatildeo do acompanhante no

trabalho de parto e no parto invasatildeo de privacidade com a entrada de pessoas estranhas para

assistir ao parto sem licenccedila da parturiente e a falta de autonomia na escolha da via de parto

normal

A privaccedilatildeo dessa escolha acarretou a praacutetica de cesaacutereas desnecessaacuterias na maioria

das mulheres deste estudo Um dos principais motivos para a realizaccedilatildeo das cesaacutereas foi

apontado como a falta de dilataccedilatildeo das gestantes simplesmente pelo fato de natildeo estarem em

trabalho de parto quando admitidas na maternidade

Confesso que ao teacutermino deste trabalho muitos pressupostos que faziam parte dos

meus questionamentos foram esmaecidos pois esperava encontrar mulheres alienadas agrave

medicalizaccedilatildeo e agrave patologizaccedilatildeo do processo da parturiccedilatildeo e foi surpreendente o depoimento

de algumas das entrevistadas que demonstraram estar buscando novas formas de

conhecimento e de vivecircncia deste momento tatildeo especial em suas vidas natildeo obstante estarem

inseridas em um modelo tecnicista de assistecircncia

As entrevistadas questionam as praacuteticas como se apresentam atualmente e isso natildeo

significa que refutem os proveitos tecnoloacutegicos quando necessaacuterios mas defendem a

passagem a outro tipo de cultura em que possam exercer mais liberdade e ter participaccedilatildeo

ativa no processo da parturiccedilatildeo

65

Alguns significados atribuiacutedos pelas mulheres quanto agrave preferecircncia pela cesaacuterea e a

percepccedilatildeo de que o parto normal eacute muito mais arriscado explicitam resquiacutecios do discurso

meacutedico dominante Tambeacutem se revelou no estudo que as pacientes natildeo receberam

informaccedilotildees acerca dos riscos advindos deste procedimento ciruacutergico sem indicaccedilotildees

Portanto a ausecircncia de informaccedilatildeo sobre parto que deveria ser repassada pelo meacutedico foi

uma constataccedilatildeo neste estudo

O trabalho configurou-se um exerciacutecio instigante na medida em que o encadeamento

reflexivo da anaacutelise a partir das contribuiccedilotildees teoacutericas advindas dos estudos culturais de

gecircnero e corpo foi apontando que esse profissional de sauacutede produz significado no modo

como o parto eacute vivenciado pelas mulheres

Respondo ao final destas consideraccedilotildees ao questionamento inicial do estudo

constatando que a cultura participa dos saberes e das praacuteticas das mulheres em relaccedilatildeo ao

processo da parturiccedilatildeo Poreacutem algumas mulheres estatildeo buscando reinterpretar esta cultura

por meio de novas formas de vivenciar e de burlar o sistema de sauacutede obsteacutetrico vigente que

oprime tira-lhes o poder e impotildee silecircncio sob a eacutegide da proteccedilatildeo

As mulheres querem ser respeitadas ter direito agrave privacidade em seu parto ser ouvidas

e informadas com transparecircncia e eacutetica ter espaccedilo para expressar suas escolhas e agir

conforme suas necessidades poder gritar escandalizar caso desejem querem ainda ter

assistecircncia de boa qualidade sem julgamentos e livre de praacuteticas rotineiras que as instituiccedilotildees

obsteacutetricas impotildeem sem nenhum benefiacutecio para a matildee e o bebecirc

Se essa eacute a forma para encontrar significado ao desejo das mulheres ela difere e

muito da ldquopessimizaccedilatildeordquo do parto que alguns grupos de profissionais reproduzem em uma

cesaacuterea desnecessaacuteria ou em um parto normal medicalizado para finalizar um comeccedilo de vida

Cabe a noacutes profissionais de sauacutede mulheres homens sairmos dessa zona de conforto

que a sociedade atual nos enquadrou e comeccedilarmos a entender que a mudanccedila de paradigmas

de assistecircncia em todo o processo da parturiccedilatildeo estaacute associada a cidadatildeos e cidadatildes

conscientes e sujeitos da sua proacutepria histoacuteria

A enfermagem tem uma responsabilidade muito grande em todo esse processo e natildeo

pode eximir-se dela pois somos uma categoria profissional juntamente com a medicina que

tem o respaldo na lei do exerciacutecio profissional na assistecircncia agrave parturiente e ao parto normal

Os enfermeiros tecircm a formaccedilatildeo de natildeo intervir no processo da parturiccedilatildeo isto eacute de deixar a

fisiologia agir e eacute isto que temos que buscar a reconstruccedilatildeo dessa cultura sem intervenccedilotildees no

parto normal das mulheres

66

Precisamos fazer valer esse direito legal para que como profissionais do cuidado que

somos possamos proporcionar o cuidado de oferecer como um direito agrave mulher o

protagonismo no seu parto

O reconhecimento da mulher como protagonista do seu parto eacute elemento primordial

para os profissionais poderem compreender os temores as alegrias e os prazeres da gestaccedilatildeo e

do parto e assumirem uma nova postura de atenccedilatildeo Assim encerro destacando que os

muacuteltiplos aspectos que permeiam a vivecircncia das mulheres precisam ser observados quando se

presta assistecircncia durante o processo da parturiccedilatildeo

67

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA N A M A dor do parto normal na perspectiva e vivecircncia de um grupo de

mulheres usuaacuterias do Sistema Uacutenico de Sauacutede Tese de doutorado Programa de Poacutes

Graduaccedilatildeo em Ciecircncias da Sauacutede - Convecircnio Rede Centro Oeste (UNB UFG UFMS)

Goiacircnia 2009

ANS AGEcircNCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR (Brasil) O modelo de atenccedilatildeo

obsteacutetrica no setor de Sauacutede Suplementar no Brasil cenaacuterios e perspectivas Agecircncia

Nacional de Sauacutede Suplementar ndash Rio de Janeiro ANS 2008a Disponiacutevel em

lthttpwwwansgovbrportaluploadnoticiasclippinglivro_parto_webpdfgt Acesso em 11

ago 2011

ANS Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar (Brasil) Rol de Procedimentos e Eventos em

Sauacutede RN 16708 Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar - Rio de Janeiro ANS 2008b

ANS AGEcircNCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR (Brasil) Atualiza o Rol de

Procedimentos e Eventos em Sauacutede previstos na RN nordm 211 de 11 de janeiro de 2010

Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar ndash Rio de Janeiro ANS 2011 Disponiacutevel em

lthttpwwwansgovbrimagesstoriesnoticiaspdfrn20262pdfgt Acesso em 30 nov

2011

BALASKAS J Parto Ativo guia praacutetico para o parto natural Traduccedilatildeo Adailton Salvatore

Meira 2 ed Satildeo Paulo Ground 2008

BARAK E M ALAN R H e NILS J B Should Neonates Sleep Alone Society of

Biological Psychiatry Revista Biological Psychiatry 2011

BARROS et al The challenge of reducing neonatal mortality in middle-income countries

findings from three Brazilian birth cohorts in 1982 1993 and 2004 Lancet v365 n9462

Mar 5-11 p847-54 2005

BARDIN L Anaacutelise de conteuacutedo 7 ed Portugal Ediccedilotildees 1977

BERGER P LUCKMANN T A Construccedilatildeo Social da Realidade Traduccedilatildeo de Floriano

de Souza Fernandes 3 ed Petroacutepolis Vozes 1976

68

BEZERRA M G A CARDOSO M V L M Fatores interferentes no comportamento de

parturientes enfoque na Etnoenfermagem Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v

58 n6 p698-702 novdez 2005

BEZERRA M G A CARDOSO M V L M Fatores culturais que interferem nas

experiecircncias das mulheres durante o trabalho de parto e parto Revista Latino-americana

Enfermagem maiojun 14(3)414-21 2006

BUSANELLO J COSTA K P PINHO E Humanizaccedilatildeo do Parto e do Nascimento os

desafios para a implementaccedilatildeo do programa do Ministeacuterio da Sauacutede CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 61 7 a 10 dez Fortaleza Cearaacute 2009

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Programa de Assistecircncia Integral agrave Sauacutede da Mulher bases

de accedilatildeo programaacutetica Brasiacutelia DF 1984

_____ Lei nordm 749886 Dispotildee sobre a regulamentaccedilatildeo do exerciacutecio da Enfermagem e daacute

outras providecircncias Disponiacutevel em

lthttpwwwabennacionalorgbrdownloadLeiPROFISSIONALpdf gt Acesso em 29 nov

2011

_____ Decreto n 9440687 Regulamenta a Lei nordm 7498 de 25 de junho de 1986 Dispotildee

sobre o exerciacutecio da enfermagem e da outras providecircncias Disponiacutevel em

lthttpportalcofengovbrsitenovonode4173gt Acesso em 29 nov 2011

_____ Presidecircncia da Repuacuteblica Lei nordm 11108 Altera a Lei no 8080 de 19 de setembro de

1990 para garantir agraves parturientes o direito agrave presenccedila de acompanhante durante o trabalho de

parto parto e poacutes-parto imediato no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS 2005b

Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-

20062005LeiL11108htmlgt Acesso em 25 nov 2011

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Resoluccedilatildeo nordm 196 sobre pesquisas envolvendo seres

humanos Brasiacutelia DF 1996

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 2815 de 29 de maio de 1998 - Institui o

procedimento do parto normal realizado por enfermeiro obstetra no Sistema Uacutenico de

Sauacutede Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF

seccedilatildeo 1 p47-8 1998b

69

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 2883 de 04 de junho de 1998 - Institui o Precircmio

Nacional Profordf Galba de Arauacutejo Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder

Executivo Brasiacutelia DF seccedilatildeo 1 p 24 de 0506 de 1998a Disponiacutevel em

lthttpdtr2001saudegovbrsasportariasport98GMGM-2883htmlgt Acesso em 29 nov

2011

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria nordm 985 GM Institui as Casas de Parto ou Centro de

Parto Normal no Sistema Uacutenico de Sauacutede Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do

Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 05 ago 1999

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 466 de 14 de junho de 2000 - Estabelecer como

competecircncia dos estados e do Distrito Federal a definiccedilatildeo de limite por hospital de

percentual maacuteximo de cesarianas em relaccedilatildeo ao nuacutemero total de partos realizados e

ainda a definiccedilatildeo de outras estrateacutegias para a obtenccedilatildeo de reduccedilatildeo destes procedimentos

no acircmbito do estado Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil 115-E Poder

Executivo Brasiacutelia DF 2000a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 569 570 571 572 GM Estabelece o Programa de

Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e do Nascimento Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do

Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 01 jun 2000b

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Parto Aborto e Puerpeacuterio Assistecircncia Humanizada agrave

Mulher Ministeacuterio da SauacutedeFEBRASGOABENFO Brasiacutelia DF 2001

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Assistecircncia em Planejamento familiar Manual Teacutecnico-4 ed

Brasiacutelia 2002

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo integral agrave sauacutede da mulher

princiacutepios e diretrizes Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees Programaacuteticas

Estrateacutegicas Brasiacutelia Editora do Ministeacuterio da Sauacutede 2004

_____ Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Conselho Nacional dos Direitos da

Mulher I Plano Nacional de Poliacuteticas Puacuteblicas para as Mulheres Brasiacutelia 2005a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Nuacutecleo Teacutecnico da Poliacutetica

Nacional de Humanizaccedilatildeo Humaniza SUS documento base para gestores e trabalhadores do

SUS Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Nuacutecleo Teacutecnico da Poliacutetica

Nacional de Humanizaccedilatildeo 3 ed Brasiacutelia Editora do Ministeacuterio da Sauacutede 2006a

70

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Preacute-natal e puerpeacuterio atenccedilatildeo qualificada e humanizada

Brasiacutelia DF 2006b

_____ Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Conselho Nacional dos Direitos da

Mulher II Plano Nacional de Poliacuteticas Puacuteblicas para as Mulheres Brasiacutelia 2008a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA) Resoluccedilatildeo

RDC nordm 36 de 03 de junho dispotildeem sobre Regulamento Teacutecnico para Funcionamento dos

Serviccedilos de Atenccedilatildeo Obsteacutetrica e Neonatal - Brasiacutelia - DF 2008b

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Instrutivo dos indicadores para a pactuaccedilatildeo unificada 2008

Brasiacutelia 2008c

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da

Mulher ndash PNDS 2006 dimensotildees do processo reprodutivo e da sauacutede da crianccedila Ministeacuterio

da Sauacutede Centro Brasileiro de Anaacutelise e Planejamento Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2009

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Estatiacutesticas de partos no Brasil Brasiacutelia DF 2010

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Aleacutem da sobrevivecircncia praacuteticas integradas de atenccedilatildeo ao

parto beneacuteficas para a nutriccedilatildeo e a sauacutede de matildees e crianccedilas Ministeacuterio da Sauacutede

Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Aacuterea Teacutecnica de Sauacutede da Crianccedila e Aleitamento Materno ndash

Brasiacutelia DF 2011

BUDOacute M L D et al A cultura permeando os sentimentos e as reaccedilotildees frente agrave dor Revista

da Escola de Enfermagem da USP Satildeo Paulo v41 n1 p 36-43 2007

BUSANELLO J COSTA K P PINHO E Humanizaccedilatildeo do Parto e do Nascimento os

desafios para a implementaccedilatildeo do programa do Ministeacuterio da Sauacutede CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 61 - 7 a 10 dez Fortaleza Cearaacute 2009

CERVO A BREVIAN P A A Metodologia Cientiacutefica Satildeo Paulo Mc Graw-Hill 1983

CHRISTOFFEL M M SANTOS R S Navegando no mar da neonatologia um mergulho

no mundo imaginal do receacutem-nascido da UTIN Rio de Janeiro Ed EEAN 2003

COLLACcedilO V S Parto vertical vivecircncia do casal na dimensatildeo cultural do processo de

parir Florianoacutepolis Cidade Futura 2002

71

DECLERCQ E MENACKER F MACDORMAN M Rise in no indicated risk primary

caesareans in the United States 1991-2001 cross sectional analysis BMJ v330 n7482 Jan

8 p71-2 2005

DIAS M A et al Trajetoacuteria das mulheres na definiccedilatildeo pelo parto cesaacutereo estudo de caso em

duas unidades do sistema de sauacutede suplementar do estado do Rio de Janeiro Ciecircncia e Sauacutede

Coletiva 13(5) 1521-1534 setout 2008

DINIZ C S G Direitos humanos das mulheres na gravidez e no parto Projeto Gecircnero

Violecircncia e Direitos Humanos - Novas Questotildees para o Campo da Sauacutede Coletivo Feminista

Sexualidade e Sauacutede Departamento de Medicina Preventiva Faculdade de Medicina USP 2

ed 2003

_____ Entre a teacutecnica e os direitos humanos possibilidades e limites da humanizaccedilatildeo da

assistecircncia ao parto Tese (Doutorado) Satildeo Paulo (SP) Faculdade de MedicinaUSP 2001

DOU DIAacuteRIO OFICIAL DA UNIAtildeO Seccedilatildeo 1 nordm 147 2 de agosto de 2011 p 34 Agecircncia

Nacional de Sauacutede Suplementar- ANS Resoluccedilatildeo normativa nordm 262 de 1ordm agosto de 2011

Disponiacutevel em

lthttpwwwingovbrimprensavisualizaindexjspjornal=1amppagina=34ampdata=02082011gt

Acesso em 02 ago 2011

ELSEN I SOUZA A I J MARCON SS Enfermagem agrave Famiacutelia dimensotildees e

perspectivas Maringaacute p 257-267 Eduem 2011

FAUacuteNDES A CECATTI J G A operaccedilatildeo cesaacuterea no Brasil Incidecircncia tendecircncias

causas consequecircncias e propostas de accedilatildeo Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro v7

n2 p150-173 jun 1991

FIGUEREDO L G M Consequecircncias causadas pela aplicaccedilatildeo de ocitocina na induccedilatildeo de

partos Superartigos (online) 2010 Disponiacutevel em httpwwwartigosetcbrconsequencias-

causadas-pela-aplicacao-de-ocitocina-na-inducao-de-partoshtml Acesso em 15 nov 2011

FIGUEREDO N S V et al Fatores culturais determinantes da escolha da via de parto por

gestantes HU Revista Juiz de Fora v 36 n 4 p 296-306 outdez 2010

FLOYD D R The technological model of birth J Am Folklore 100 p 479-495 1987

FLOYD D R JOHN St G Del medico al sanador Traduccedilatildeo de Lauren Showe e

colaboradores Buenos Aires Fund Creavida 2004

72

FLOYD D R Perspectivas antropoloacutegicas del parto y el nacimento Traduccedilatildeo de Jaqui

Zieler Magui Cadot e Graciela Cobe Buenos Aires Fund Creavida 2009

FOUCAULT M Microfiacutesica do Poder Traduccedilatildeo de Roberto Machado 10 ed Rio de

Janeiro Graal 1992

FREITAS P F et al Desigualdade social nas taxas de cesariana em primiacuteparas no Rio

Grande do Sul Revista de Sauacutede Puacuteblica 39 p 761-7 2005

GAIVA M A M TAVARES C M O Nascimento um evento pertencente agrave equipe de

sauacutede Texto amp Contexto Enfermagem outdez 12(4)569-75 2003

GAMA A S et al Representaccedilotildees e experiecircncias das mulheres sobre a assistecircncia ao parto

vaginal e cesaacuterea em maternidades puacuteblica e privada Cadernos de Sauacutede Puacuteblica

25(11)2480-2488 nov 2009

GAMBLE et al A critique of the literature on womens request for cesarean section Birth

v34 n4 Dec p331-40 2007

GEERTZ C A Interpretaccedilatildeo das Culturas Rio de Janeiro (RJ) Livros Teacutecnicos e

Cientiacuteficos 1989

GIL A C Como elaborar projetos de pesquisa 4 ed 9 reimpr Satildeo Paulo Atlas 2007

GUALDA DMR BERGAMASCO RB Enfermagem cultura e o processo sauacutede-

doenccedila Satildeo Paulo Iacutecone p221- 240 2004

HADDAD S El M T CECATTI J G Estrateacutegias dirigidas aos profissionais para a

reduccedilatildeo das cesaacutereas desnecessaacuterias no Brasil Revista Brasileira Ginecologia Obstetriacutecia

33(5) 252-62 2011

HALL M H BEWLEY S Maternal mortalityand mode of delivery Lancet 354776

1999

HELMAN G C Cultura Sauacutede e Doenccedila Traduccedilatildeo Ane Rose Bolner 5 ed Porto Alegre

Artes Meacutedicas 2009

73

HILLAN M Short-Term Morbidity Associated with Cesarean Delivery Birth v 19 Issue 4

pages 190ndash194 Dec 1992

HOPKINS K Are Brazilian Women Really Choosing to Delivery by Cesarean Soc Sci

Med 51(5)725-40 2000

HOTIMSKY SN et al O parto como eu vejo ou como eu o desejo Expectativas de

gestantes usuaacuterias do SUS acerca do parto e da assistecircncia obsteacutetrica Cadernos de sauacutede

puacuteblica setout 18(5)1303-1311 2002

IBGE Instituto Brasileiro Geografia e estatiacutesticas Cadernos de Informaccedilatildeo de Sauacutede

Ministeacuterio da Sauacutede 2009

IPEA Objetivos de desenvolvimento do milecircnio relatoacuterio nacional de acompanhamento

coordenaccedilatildeo Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada e Secretaria de Planejamento e

Investimentos Estrateacutegicos supervisatildeo Grupo Teacutecnico para o acompanhamento dos ODM

Brasiacutelia Ipea MP SPI 2007

JONES R Memoacuterias do homem de vidro reminiscecircncias de um obstetra humanista Porto

Alegre Ideacuteias a Granel 2004

PRADO JUNIOR P P Da concepccedilatildeo ao nascimento Praacuteticas Educativas na assistecircncia agrave

mulher no periacuteodo graviacutedico e puerperal Dissertaccedilatildeo de Mestrado Centro Universitaacuterio

Pliacuteneo Leite - Unipli Niteroacutei 2008

KRUNO R B BONILHA A L L Parto domiciliar na voz das mulheres uma perspectiva agrave

luz da humanizaccedilatildeo Rev Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) dez25(3)396-407 2004

LANDERDAHL M C et al Contribuiccedilotildees de um nuacutecleo de estudos na consolidaccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas para as mulheres REUFSM Revista de Enfermagem da UFSM - janabr

1(1)71-79 2011

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro (RJ) Jorge Zahar p 21-

40 2003

LEE Y Mi DALTON M E Cesarean delivery on maternal request the impact on mother

and newborn Clinics in Perinatology v35 n3 Sept p505-18 x 2008

74

LEININGER M Culture care diversity amp universality a theory of nursing New York

(US) National League for Nursing Press 1991

LEITAtildeO F J C Autonomia da mulher em trabalho de parto (Dissertaccedilatildeo) Mestrado em

Bioeacutetica Universidade de Lisboa Faculdade de medicina Departamento de Bioeacutetica 2010

LILFORD R J et al The relative risks of caesarean section (intrapartum and elective) and

vaginal delivery a detailed analysis to exclude the effects of medical disorders and other

acute pre-existing physiological disturbances Br J Obstet Gynaecol 97883-92 1990

MACDORMAN et al Infant and neonatal mortality for primary cesarean and vaginal births

to women with no indicated risk United States 1998-2001 birth cohorts Birth v33 n3

Sept p175-82 2006

MACHADO E G C Gestaccedilatildeo parto e maternidade uma visatildeo holiacutestica Belo Horizonte

Editora Aurora 1995

MADAR J RICHMOND S HEY E Surfactantdeficient respiratory distress after elective

delivery at bdquoterm‟ Acta Paediatr v 88 p 1244-8 1999

MANDARINO N R et al Aspectos relacionados agrave escolha do tipo de parto um estudo

comparativo entre uma maternidade puacuteblica e outra privada em Satildeo Luiacutes Maranhatildeo Brasil

Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 25(7) p 1587-1596 jul 2009

MARTIN E A mulher no corpo - uma anaacutelise cultural da reproduccedilatildeo Traduccedilatildeo Juacutelio

Bandeira Rio de Janeiro Garamond 2006

MARTINS C S RAMOS J G L A questatildeo das cesarianas Rev Brasileira Ginecologia

Obstetriacutecia v27 nordm 10 Rio de Janeiro 2005

MCCOURT et al Elective cesarean section and decision making a critical review of the

literature Birth v34 n1 mar p65-79 2007

MEDEIROS R M K SANTOS IMM SILVA L R A escolha pelo parto domiciliar

histoacuteria de vida de mulheres que vivenciaram esta experiecircncia Esc Anna Nery Rev

Enfermagem dez 12(4) 765-72 2008

MELCHIORI et al Preferecircncia de gestantes pelo parto normal ou cesariano Interaccedilatildeo

psicologia 13(1)13-23 janjun 2009

75

MINAYO M C de S (org) Pesquisa Social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis

Vozes 2000

_____ O Desafio do Conhecimento pesquisa qualitativa em sauacutede 8 ed Satildeo Paulo Ed

Hucitec-Abrasco 2004

_____ O Desafio do Conhecimento pesquisa qualitativa em sauacutede 11 ed Satildeo Paulo Ed

Hucitec-Abrasco 2008

MONTICELLI M O nascimento como rito de passagem uma abordagem cultural para o

cuidado de enfermagem agraves mulheres e receacutem-nascidos (Dissertaccedilatildeo) Mestrado em

Enfermagem UFSC Florianoacutepolis 1994

MONDARDO S Proposta de reestruturaccedilatildeo dos serviccedilos da Unidade de Atenccedilatildeo agrave

Sauacutede da Vila Kennedy Santa MariaRS UFSM Santa Maria 1993

MORAES M S GOLDENBERG P Cesaacutereas um perfil epidecircmico Cad Sauacutede Puacuteblica

Rio de Janeiro 17 (3)509-519 maiojun 2001

MORELL M G G MELLO A V A Declaraccedilatildeo de Nascido Vivo no Estado de Satildeo

Paulo alguns resultados Informe Demograacutefico SEADE 29201-331 1995

MURTA et al Could elective cesarean sections influence the birth weight of full-term

infants Satildeo Paulo Medical Journal v124 p313-315 2006

ODENT M A Cesariana Traduccedilatildeo de Maria de Faacutetima de Madureira Florianoacutepolis Saint

Germain 2004

_____ A cientificaccedilatildeo do Amor Traduccedilatildeo de Marcos de Noronha e Talia Gevaerd de Souza

Florianoacutepolis Saint Germain 2000

ODENT M O camponecircs e a parteira Uma alternativa agrave industrializaccedilatildeo da agricultura e do

parto Traduccedilatildeo de Sarah Bailey Satildeo Paulo Ground 2003

OLIVEIRA et al Tipo de parto expectativas das mulheres Revista Latino-Americana de

Enfermagem v10 n 5 p 667-674 setout 2002

76

ORGANIZACAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE (OMS) Maternidade Segura - assistecircncia ao

parto normal 2009 Disponiacutevel em

lthttpabenforedesindicalcombrarqsmateria56_apdfgt Acesso em 06 dez 2010

_____ Sauacutede Materna e Neonatal Unidade de Maternidade Segura Sauacutede Reprodutiva e da

Famiacutelia Assistecircncia ao parto normal Um guia praacutetico de sauacutede materna e neonatal

Unidade de Maternidade Segura Sauacutede Reprodutiva e da Famiacutelia Genebra A Sauacutede 1996

OPAS III Reunioacuten Especial de Ministros de Salud de las Ameacutericas Atas resumidas

Santiago de Chile 2ordf 9 de octubre de 1972 Doc Oficial nordm 123 sept 1973

PELLOSO S M PANONT K T SOUZA K M P Opccedilatildeo ou imposiccedilatildeo Motivos de

escolha da cesaacuterea Arq Ciecircnc Sauacutede UNIPAR 4(1) 3-8 2000

PEREIRA W R Poder Violecircncia e Dominaccedilatildeo Simboacutelicos nos Serviccedilos de Sauacutede

Ribeiratildeo Preto 175p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem de Ribeiratildeo Preto

Universidade de Satildeo Paulo 2000

PEREIRA R R FRANCO S C BALDIN N Representaccedilotildees sociais e decisotildees das

gestantes sobre a parturiccedilatildeo protagonismo das mulheres Sauacutede sociedade v20 n3 Satildeo

Paulo julysept 2011

PETER A P C O Cuidado Cultural no Processo de Ser e Viver da Mulher Receacutem-

Nascido e Famiacutelia que Vivenciam o Parto no Domiciacutelio e no Hospital com Ecircnfase no

Contexto Domiciliar abrindo novos caminhos para a enfermagem (Trabalho de Conclusatildeo

de Curso) Graduaccedilatildeo em Enfermagem ndash Universidade Federal de Santa Catarina

Florianoacutepolis 2005

POTTER J E et al Unwanted caesarean sections among public and private patients in

Brazil prospective study BMJ 323 1155-8 2001

_____ Womens autonomy and scheduled cesarean sections in Brazil a cautionary tale

Birth 35 33-40 2008

PROGIANTI JM BARREIRA I A A obstetriacutecia do saber feminino agrave medicalizaccedilatildeo da

eacutepoca medieval ao seacuteculo XX 9 91-7 Revista Enfermagem UERJ 2001

PROJETO DIRETRIZES Associaccedilatildeo Meacutedica Brasileira e Conselho Federal de Medicina

Cesarianas indicaccedilotildees 2002

77

RAMOS J G L et al Morte materna em hospital terciaacuterio do Rio Grande do Sul um estudo

de 20 anos Rev Bras Ginecol Obstet 25 (6) 431-6 2003

REBELO F et al High cesarean prevalence in a national population-based study in Brazil

the role of private practice Acta Obstet Gynecol Scand 89 903-8 2010

RESSEL L B Vivenciando a sexualidade na assistecircncia de enfermagem Um estudo na

perspectiva cultural Escola de Enfermagem Universidade de Satildeo Paulo 2003

RESSEL L B et al A influecircncia da famiacutelia na vivecircncia da sexualidade Revista Esc Anna

Nery (impr) abrjun 15 (2)245-250 2011

REZENDE J MONTENEGRO B AC Obstetricia Fundamental 9 ed Rio de Janeiro

Guanabara Koogan 2003

ROSS L L BONILHA A L de L ARMELLINI C J et al Representaccedilotildees culturais

sobre parto e nascimento SEMANA CIENTIacuteFICA DO HOSPITAL DE CLIacuteNICAS DE

PORTO ALEGRE 26 Revista do HCPA 26 (Supl 1) 1-267 2006

SABATINO H Resposta ao polecircmico artigo Cesariana a polecircmica das taxas escrito por

Raphael da Cacircmara Medeiros Parente (Meacutedico do Ministeacuterio da Sauacutede - HSE Doutor em

Ginecologia - UNIFESP Mestre em Epidemiologia - UERJ) e publicado no Jornal do

CREMERJ ndash p 8 e 9 maio de 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwamigasdopartoorgbr2007indexphpoption=com_contentamptask=viewampid=891

ampItemid=204gt Acesso em 06 dez 2010

SANTOS M L Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia ao Parto e Nascimento um modelo teoacuterico

(Dissertaccedilatildeo) Mestrado em Enfermagem Universidade Federal de Santa Catarina

Florianoacutepolis 2002

SCAVONE L Impacto das Tecnologias Meacutedicas na Famiacutelia Sauacutede em Debate nordm40

p48-73 set 1993

SEIBERT S L BARBOSA J L S SANTOS J M VARGENS O M C

Medicalizaccedilatildeo x humanizaccedilatildeo o cuidado ao parto na histoacuteria Revista de Enfermagem

UERJ 13245-51 2005

SILVA L R A Experiecircncia na Casa de Parto Mohri-Japatildeo Revista de pesquisa Cuidado eacute

fundamental online setdez 1 (2) 288-298 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwseeruniriobrindexphpcuidadofundamentalarticleview359367gt Acesso em

13 out2011

78

SWAMY et al Association of preterm birth with long-term survival reproduction and next-

generation preterm birth JAMA v299 n12 Mar 26 p1429-36 2008

TAYLOR et al Risk of complications in a second pregnancy following caesarean section in

the first pregnancy a population-based study Medical Journal of Australia v183 n10

Nov 21 p515-9 2005

TEDESCO P R et al Fatores Determinantes para as Expectativas de Primigestas acerca da

Via de Parto Rev Bras Ginecol Obstet v26 n10 Rio de Janeiro novdez 2004

TEIXEIRA Z N F PEREIRA R W Parto Hospitalar - experiecircncias de mulheres da

periferia de Cuiabaacute - MT Cad Sauacutede Puacuteblica v25 n 11 Rio de Janeiro 2006

TELINI D M T Z Cesaacutereas e partos normais em gestantes com baixo risco obsteacutetrico

caracteriacutesticas maternas e repercussotildees neonatais (Tese) Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas

Campinas Universidade Estadual de Campinas 2000

THE LANCET Sauacutede dos Brasileiros 2011 Disponiacutevel em

lthttpwwwabcorgbrIMGpdfdoc-574pdf gt Acesso em 28 out 2011

TOMASHEK et al Differences in mortality between late-preterm and term singleton infants

in the United States 1995-2002 Journal of Pediatrics v151 n5 nov p450-6 456 2007

TRACY S K et al Admission of term infants to neonatal intensive care a population-based

study Birth v34 n4 dec p301-7 2007

TYRREL M A R CARVALHO V Programas nacionais de sauacutede-materno infantil

impacto poliacutetico social e inserccedilatildeo da enfermagem RJ EEANUFRJ 1995

VARGENS O M C PROGIANTI J M O Processo de Desmedicalizaccedilatildeo da Assistecircncia agrave

Mulher no Ensino de Enfermagem Rev Enferm USP 38 46-50 2004

VIacuteCTORA C G KNAUTH D R HASSEN M N A Pesquisa qualitativa em sauacutede

uma introduccedilatildeo ao tema Porto Alegre Tomo Editorial 2000

VIEIRA E M A Medicalizaccedilatildeo do Corpo Feminino Rio de Janeiro RJ Ed Fiocruz

2002

VIGILAcircNCIA EPIDEMIOLOacuteGICA Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria (SMS)

Dados Epidemioloacutegicos do Nuacutemero de Partos no Municiacutepio de Santa Maria - RS 2011

79

VILLAR J et al Caesarean delivery rates and pregnancy outcomes the 2005 WHO global

survey on maternal and Perinatal health in Latin America Lancet 367(9525)1819-29 2006

_____ Maternal and neonatal individual risks and benefits associated with caesarean

delivery multicentre prospective study BMJ v335 n7628 Nov 17 p1025 2007

80

ANEXOS

81

Anexo A - Aprovaccedilatildeo Comitecirc de Egravetica e Pesquisa

82

Anexo B - Autorizaccedilatildeo Emenda do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

83

84

APEcircNDICES

85

Apecircndice A - Ofiacutecio agrave Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria

Da Enfermeira Lizandra Flores Pimenta

Para Secretario Municipal de Sauacutede

Assunto Solicitaccedilatildeo (faz)

Santa Maria janeiro de 2011

Sr Secretaacuterio

Venho por meio deste solicitar a permissatildeo de V Srordf para desenvolver a pesquisa

intitulada A influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a

enfermagem junto as mulheres que satildeo atendidas na Unidade Baacutesica (UBS) de Sauacutede

Kennedy

Cumpre-se informar que esta pesquisa eacute resultado da experiecircncia na aacuterea obsteacutetrica

que me fez perceber a necessidade de compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher sobre a via de parto a partir das concepccedilotildees modernas sobre natureza e

cultura atribuiacutedos a percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto Como esclarecimento cabe

ressaltar que conforme a metodologia que pretendemos desenvolver os sujeitos da pesquisa

seratildeo consultados e esclarecidos acerca dos objetivos nos comprometendo a respeitar os

preceitos da Resoluccedilatildeo nordm19696 quanto agrave pesquisa envolvendo seres humanos

Colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios

Desde jaacute agradecemos

Atenciosamente

________________________ _______________________________

Enfordf Lizandra Flores Pimenta Profordf Enfordf Drordf Lucia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI ndash 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

86

Apecircndice B - Ofiacutecio ao Departamento de Ensino e Pesquisa do HUSM

Da Enfa Lizandra Flores Pimenta

Para Departamento de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitaacuterio de Santa Maria

Assunto Solicitaccedilatildeo (faz)

Santa Maria maio de 2011

Senhor Diretora

Venho por meio deste solicitar a permissatildeo de VS para desenvolver a pesquisa

intitulada ldquoA influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a

enfermagemrdquo junto agraves mulheres que estatildeo no momento da entrevista nos serviccedilos de

ginecologia e obstetriacutecia do HUSM quais sejam Centro Obsteacutetrico Unidade Toco-

ginecoloacutegica e Ambulatoacuterio ala II

Cumpre-se informar que esta pesquisa eacute resultado da experiecircncia na aacuterea obsteacutetrica

que me fez perceber a necessidade de compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher sobre a via de parto a partir das concepccedilotildees modernas sobre natureza e

cultura atribuiacutedas agrave percepccedilatildeo das mulheres em relaccedilatildeo ao parto Como esclarecimento cabe

ressaltar que conforme a metodologia que pretendo desenvolver os sujeitos da pesquisa seratildeo

consultados e esclarecidos acerca dos objetivos sendo que me comprometo a respeitar os

preceitos da Resoluccedilatildeo nordm 19696 quanto agrave pesquisa envolvendo seres humanos

Sem mais agradeccedilo a atenccedilatildeo dispensada colocando-me agrave disposiccedilatildeo para os

esclarecimentos que forem necessaacuterios

Atenciosamente

________________________ _______________________________

Enfordf Lizandra Flores Pimenta Profa Enfa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI - 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

87

Apecircndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ENFERMAGEM

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Pesquisadoras responsaacuteveis Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

Enfa Mestranda Lizandra Flores Pimenta

InstituiccedilatildeoDepartamento Universidade Federal de Santa Maria - Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Enfermagem

Telefones para contato (55) 91376501

(55) 91429743

Locais da coleta de dados Unidade sanitaacuteria Kennedy e Hospital Universitaacuterio de Santa

Maria

Vocecirc estaacute sendo convidada para participar da pesquisa intitulada ldquoA influecircncia da

cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a enfermagemrdquo de autoria de

Lizandra Flores Pimenta mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Enfermagem da

UFSM sob a orientaccedilatildeo da Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel que tem por objetivo

compreender como a cultura influencia no parto da mulher

Mas antes de concordar em participar desta pesquisa eacute importante que vocecirc

compreenda todas as informaccedilotildees as quais dizem respeito a sua participaccedilatildeo nesta pesquisa

Sua participaccedilatildeo consistiraacute em responder agraves perguntas feitas por mim pesquisadora durante a

entrevista a qual teraacute como auxiacutelio um gravador de voz Apoacutes as suas informaccedilotildees gravadas

seratildeo transcritas por mim de maneira a resguardar a veracidade dos dados Posteriormente

essas informaccedilotildees seratildeo organizadas analisadas divulgadas e publicadas em revistas

cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede sendo a sua identidade preservada em todas as etapas

Eacute importante que vocecirc compreenda que eacute assegurado o anonimato e o caraacuteter privativo

das informaccedilotildees fornecidas exclusivamente para a pesquisa Vocecirc natildeo seraacute identificada em

nenhum momento mesmo quando os resultados desta pesquisa forem divulgados sob

qualquer forma pois seraacute adotada a letra bdquoM‟ (M1 M2 M3) inicial da palavra mulher para

esta finalidade Tambeacutem as informaccedilotildees seratildeo mantidas em um CD no armaacuterio da professora

88

pesquisadora no Departamento de EnfermagemUFSM por cinco anos Apoacutes este periacuteodo os

dados seratildeo destruiacutedos Os dados coletados depois de organizados e analisados deveratildeo ser

divulgados e publicados ficando a pesquisadora juntamente com a professora responsaacutevel por

apresentar o relatoacuterio da pesquisa para a instituiccedilatildeo na qual seraacute realizado este estudo

Comunico que a sua participaccedilatildeo na entrevista natildeo representaraacute a princiacutepio risco agraves

suas dimensotildees fiacutesica moral intelectual social cultural ou espiritual em qualquer fase da

pesquisa No entanto poderaacute gerar algum desconforto como lembranccedilas questionamentos

eou conflitos agrave dimensatildeo emocional pelo fato da pesquisadora realizar uma entrevista na qual

vocecirc iraacute refletir sobre o seu cotidiano e suas vivecircncias Contudo poderaacute haver um benefiacutecio

no que se refere agrave melhor qualidade das praacuteticas no cuidar em enfermagem Se houver

qualquer desconforto a entrevista poderaacute ser suspensa e se vocecirc achar necessaacuterio poderei

fazer um encaminhamento a um especialista da aacuterea da sauacutede mental

Ciente e de acordo com o que foi anteriormente exposto eu __________________

estou de acordo em participar desta pesquisa assinando este Consentimento em duas vias

ficando com a posse de uma delas

_________________________________

Assinatura do sujeito de pesquisa

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntaacuteria o Consentimento Livre e

Esclarecido deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a participaccedilatildeo neste estudo

dede2011

__________________________________

Assinatura da pesquisadora

RG 3046400473

Se vocecirc tiver alguma consideraccedilatildeo ou duacutevida sobre a eacutetica da pesquisa entre em contato com

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa - CEP- UFSM Av Roraima 1000 - Preacutedio da Reitoria ndash 7ordm

andar ndash Campus Universitaacuterio ndash 97105-900 ndash Santa Maria-RS - Tel (55) 32209362 ndash E-mail

comiteeticapesquisamailufsmbr

89

Apecircndice D - Termo de confidencialidade

Tiacutetulo do estudo ldquoA influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees

para a enfermagemrdquo

Pesquisadora responsaacutevel Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

Pesquisadora Enfa Mestranda Lizandra Flores Pimenta

InstituiccedilatildeoDepartamento Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM)

Telefone para contato (55) 91376501 (55) 91429743

Locais da coleta de dados Unidade sanitaacuteria Kennedy e Centro Obsteacutetrico Unidade Toco-

ginecoloacutegica e Ambulatoacuterio ala II do HUSM

Os pesquisadores do presente projeto comprometem-se a preservar a privacidade dos

indiviacuteduos cujos dados seratildeo coletados por meio de entrevista gravada em aacuteudio MP3 e

realizada na UBS Kennedy numa sala reservada localizada no Hospital Universitaacuterio de

Santa Maria na cidade de Santa MariaRS Concordam igualmente que estas informaccedilotildees

seratildeo utilizadas uacutenica e exclusivamente para a execuccedilatildeo do presente projeto As informaccedilotildees

somente poderatildeo ser divulgadas de forma anocircnima e seratildeo mantidas em Compact Disc (CD)

por um periacuteodo de 5 (cinco) anos sob a responsabilidade da Enfordf Lizandra Flores Pimenta

Apoacutes este periacuteodo os dados seratildeo destruiacutedos Este projeto de pesquisa foi revisado e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM em 04012011 com o nuacutemero do CAAE

03170243000-10

Santa Maria de de 2011

________________________ _______________________________

Enfa Lizandra Flores Pimenta Profa Enfa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI ndash 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

90

Apecircndice E - Roteiro da entrevista com as mulheres

1 Dados de identificaccedilatildeo

Idade

Estado civil

Grau de instruccedilatildeo

Profissatildeoocupaccedilatildeo

Local de trabalho caso esteja trabalhando se natildeo indicar trabalho anterior

Raccedila

Quantos filhos

2 Sobre o parto

1 De que forma o parto e nascimento satildeo percebidos por vocecirc

2 Fale a respeito de sua experiecircncia em relaccedilatildeo aos seus partos e de outras mulheres do teu

conviacutevio

3 Existe alguma coisa em relaccedilatildeo ao parto de seus filhos que vocecirc gostaria que tivesse sido

diferente Por quecirc

4 O que vocecirc aprendeu sobre parto com teus pais irmatildeos irmatildes e outras pessoas da tua

famiacutelia

5 O que vocecirc escutou ou aprendeu sobre parto com os profissionais de sauacutede nos hospitais

e nos postos de sauacutede

6 O que vocecirc escutou ou aprendeu sobre parto em jornais revistas televisatildeo e internet

7 De que forma estes aprendizados participaram da tua decisatildeo sobre o tipo de parto

Page 8: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição

LISTA DE ANEXOS

Anexo A - Aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM 81

Anexo B - Autorizaccedilatildeo de Emenda do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM para

troca de cenaacuterio para coleta

82

LISTA DE APEcircNDICES

Apecircndice A - Ofiacutecio agrave Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria 85

Apecircndice B - Ofiacutecio ao Departamento de Ensino e Pesquisa do HUSM 86

Apecircndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 87

Apecircndice D - Termo de Confidencialidade 89

Apecircndice E - Roteiro da entrevista com as mulheres 90

SUMAacuteRIO

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS 12

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 17

11 Poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e nascimento no

Brasil

17

12 O parto e a cultura no processo da parturiccedilatildeo 22

13 Referencial teoacuterico de Emily Martin sobre o parto e cultura 24

2 CAMINHO METODOLOacuteGICO 29

21 Fundamentos metodoloacutegicos 29

22 Os cenaacuterios do estudo 29

23 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos 31

24 Caracterizaccedilatildeo das participantes 32

25 Inserccedilatildeo em campo 34

26 Coleta de dados 33

27 Anaacutelise dos dados 34

28 Questotildees eacuteticas 35

3 ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS DADOS 37

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 61

REFEREcircNCIAS 67

ANEXOS 80

APEcircNDICES 83

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS

A gravidez e o parto satildeo eventos sociais e culturais que integram a vivecircncia

reprodutiva de homens e mulheres uma experiecircncia uacutenica no universo de ambos que envolve

tambeacutem suas famiacutelias e consequentemente a comunidade (BRASIL 2001)

O parto inscreve-se nesse universo cultural por ser um fenocircmeno que perpassa todas as

sociedades e temposespaccedilos Esse sistema de crenccedilas herdadas eacute denominado ldquocultura do

nascimentordquo a qual informa os membros da sociedade sobre a natureza de todo o processo

parturitivo da mulher e influencia seu significado em relaccedilatildeo ao tipo de parto (HELMAN

2009)

O autor supracitado diz que a gestaccedilatildeo e o parto satildeo a transiccedilatildeo do status social de

ldquomulherrdquo para o de ldquomatildeerdquo e como em todas as transiccedilotildees sociais a pessoa deve ser protegida

de qualquer dano atraveacutes de determinados rituais e comportamentos

Conforme Floyd (2009) as formas de transmitir esses comportamentos agrave parturiente

satildeo chamadas de ldquorituais da obstetriacuteciardquo dentre eles estatildeo fazer a mulher reconhecer a

deficiecircncia de seu corpo (consciente ou inconscientemente) a fim de tornaacute-la dependente da

ciecircncia e da tecnologia induzindo-a a aceitar a superioridade das instituiccedilotildees e da Medicina

em controlar seus processos naturais suas crenccedilas e seus significados individuais

Segundo Floyd (2009) eacute mais provaacutevel que esse tipo de comportamento seja

transmitido na atmosfera impessoal de um hospital do que no ambiente familiar e domeacutestico

As condiccedilotildees de nascimento apresentam significativas distinccedilotildees quando comparadas

entre diferentes realidades Nos paiacuteses ocidentais segundo Floyd (1987) o parto eacute cercado de

aparatos tecnoloacutegicos meacutedicos e essa medicalizaccedilatildeo define-o como uma disfunccedilatildeo fisioloacutegica

Jaacute nos paiacuteses orientais como exemplo o Japatildeo eacute valorizado o parto vaginal desmedicalizado

que assim como a gestaccedilatildeo natildeo eacute considerado doenccedila (SILVA 2009)

De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) 70 a 80 das gestaccedilotildees

que ocorrem no mundo satildeo consideradas de baixo risco Eis a definiccedilatildeo de parto normal

adotada pela OMS

De iniacutecio espontacircneo baixo risco no iniacutecio do trabalho de parto permanecendo

assim durante todo o processo ateacute o nascimento O bebecirc nasce espontaneamente em

posiccedilatildeo cefaacutelica de veacutertice entre 37 e 42 semanas completas de gestaccedilatildeo Apoacutes o

nascimento matildee e filho estando em boas condiccedilotildees Entretanto como o trabalho de

parto e o parto de muitas gestantes de alto risco tecircm um curso normal vaacuterias

recomendaccedilotildees tambeacutem se aplicam agrave assistecircncia dessas mulheres (OMS 2009 p9)

13

Frente a isso deve existir sempre uma razatildeo vaacutelida para se interferir nesse processo

fisioloacutegico do parto tendo como recurso para tais casos a cesariana que se trata de uma

intervenccedilatildeo meacutedica destinada agrave extraccedilatildeo do feto por via abdominal

O parto cesaacutereo eacute uma intervenccedilatildeo usada em situaccedilotildees nas quais as condiccedilotildees da matildee

e do bebecirc natildeo favorecem o parto vaginal Entretanto sua indicaccedilatildeo incorreta estaacute associada a

uma maior ocorrecircncia de mortalidade e morbidade para as parturientes tais como

hemorragias infecccedilotildees puerperais embolia pulmonar riscos anesteacutesicos bem como outras

patologias Para os bebecircs os riscos relacionam-se a distuacuterbios respiratoacuterios icteriacutecia

fisioloacutegica prematuridade iatrogecircnica hipoglicemia e anoacutexia (RAMOS 2003 VILLAR

2006 TELINI 2000)

Nessa direccedilatildeo eacute observado em nosso paiacutes nos uacuteltimos anos o aumento de partos

cesaacutereos agendados com antecedecircncia cujas indicaccedilotildees meacutedicas natildeo o justificam (MORELL

MELO 1995) Em uma pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede realizada em 2006 quase

metade (462) de todas as cesarianas foi agendada com antecedecircncia (BRASIL 2009)

Essa conduta eacute culturalmente difundida pelos profissionais da sauacutede que detecircm o

poder de modular e influenciar as demandas sobre as necessidades de sauacutede da populaccedilatildeo

(TEIXEIRA 2006) Apresentando-se sob a maacutescara da razatildeo e da necessidade essa praacutetica

desnecessaacuteria acaba por natildeo ser percebida pela maioria das mulheres que encontram

dificuldades em resistir (PEREIRA 2000)

O Ministeacuterio da Sauacutede (2001) ressalta que a informaccedilatildeo e a formaccedilatildeo de opiniatildeo entre

as mulheres satildeo prioridade no Brasil a fim de que elas possam escolher o melhor para a sua

sauacutede e para a de seus filhos pois embora profissionais e mulheres faccedilam a opccedilatildeo antecipada

do tipo de parto esse fato natildeo pode ser visto como uma simples questatildeo de preferecircncia jaacute que

cesaacuterea natildeo eacute um ldquobem de consumordquo (ODENT 2004)

Outro modo de tornar atrativo e mais agradaacutevel aos olhos das mulheres esta praacutetica de

conveniecircncia eacute o conceito contraditoacuterio de cesariana centrada na famiacutelia em que se daacute aos

pais opccedilotildees quanto ao tipo de anesteacutesico e terapia indicados para a mulher (MARTIN 2006)

Scavone (1993) explica esta valorizaccedilatildeo pelas mulheres e pela populaccedilatildeo em geral como

uma garantia meacutedica para os pais em relaccedilatildeo agrave qualidade da sua prole e da fecundidade

Ao dar respostas aos problemas obsteacutetricos e neonatais que aumentam enormemente

os iacutendices de mortalidade materna durante a gestaccedilatildeo o parto e o puerpeacuterio a medicina criou

discursos de verdade Segundo Foucault (1992 p 179)

14

As relaccedilotildees de poder natildeo podem se dissociar se estabelecer nem funcionar sem

uma produccedilatildeo uma acumulaccedilatildeo uma circulaccedilatildeo e um funcionamento do discurso

Natildeo haacute possibilidade de exerciacutecio do poder sem uma certa economia dos discursos

de verdade que funcione dentro e a partir desta dupla exigecircncia

Essa hegemonia do discurso meacutedico sobressai-se desconsiderando durante o processo

parturitivo as crenccedilas e a cultura das mulheres Eacute apenas o meacutedico quem daacute a palavra final

para duacutevidas e inquietudes das mulheres pois considera seu discurso inquestionaacutevel e

legiacutetimo (VIEIRA 2002)

Dessa forma a mulher perde sua autonomia como protagonista no processo do

nascimento

Criou-se assim uma heteronomia desfigurando-se este ato ateacute entatildeo puramente

feminino - pois natildeo era mais a mulher quem dava agrave luz - para o meacutedico como dono

e senhor do parto numa inversatildeo de papeacuteis que bdquolegitima o poder e a relaccedilatildeo da

medicina com a famiacutelia‟ (PEREIRA 2000 p17)

Essa inversatildeo de papeacuteis no cenaacuterio do parto no qual o meacutedico deteacutem o poder sobre o

corpo da mulher pode estar justificando os altos iacutendices de cesaacutereas nas uacuteltimas deacutecadas

Outra repercussatildeo desta mudanccedila de paradigma em relaccedilatildeo ao processo do nascimento

eacute a de que o parto os cuidados puerperais e com o receacutem-nascido que antigamente

transcorriam no ambiente familiar e eram envolvidos em fortes viacutenculos atualmente

transcorrem em instituiccedilotildees hospitalares onde os viacutenculos transformaram-se em meros

contatos superficiais acentuando a perda da autonomia da mulher neste processo

(MONTICELLI 1994)

O contexto do nascimento na sociedade atual mostra que a mulher parturiente estaacute

cada vez mais distante da condiccedilatildeo de protagonista da cena do parto ldquototalmente insegura

submete-se a todas as ordens e orientaccedilotildees sem entender como combinar o poder contido nas

atitudes e palavras que ouve e percebe com o fato inexoraacutevel de que eacute ela quem estaacute com dor

e quem vai parirrdquo (BRASIL 2001 p18) Fato esse constatado no aumento de cesaacutereas e

reduccedilatildeo de partos normais na rede puacuteblica no Brasil No ano de 2005 a taxa de cesaacutereas que

era de 2870 aumentou para 3610 em 2010 e em contrapartida o nuacutemero de partos

normais que em 2005 era de 7130 reduziu para 63 20 em 2010 (BRASIL 2010)

No estado do Rio Grande do Sul (RS) foi constatado por Freitas et al (2005) que os

iacutendices elevados de cesaacuterea constituem um grave problema de sauacutede puacuteblica o que pode

acarretar o mau-uso da tecnologia meacutedica na atenccedilatildeo ao parto associado a fatores sociais

econocircmicos e culturais O percentual de cesarianas que foram analisadas de 1997 a 2003 foi

de 406 para 448 respectivamente No ano de 2008 no RS segundo dados do IBGE

15

(2009) o iacutendice de cesaacutereas foi de 537

No municiacutepio de Santa MariaRS segundo dados da Vigilacircncia Epidemioloacutegica da

Secretaria Municipal de Sauacutede (SMS) no primeiro semestre de 2011 635 dos partos o que

corresponde a 1167 foram cesaacutereos o que desvela um iacutendice muito aleacutem dos 15 previstos

pela OMS O Ministeacuterio da Sauacutede (MS) estabeleceu limite para partos cesaacutereos

considerando-os de alto risco para as unidades hospitalares ateacute 40 e para unidades de risco

habitual - ateacute 25 (BRASIL 2008c)

A portaria GM nordm 466 de 14062000 retificada em 30062000 propotildee o Pacto pela

Reduccedilatildeo das Taxas de Cesaacuterea a ser firmado entre os gestores estaduais e o gestor federal

estabelecendo a taxa de 25 como desejaacutevel para todos os estados ateacute 2007 (BRASIL 2008)

Finalizar uma gestaccedilatildeo mediante uma cesaacuterea sem causa meacutedica que a justifique

ainda que esta seja a pedido da gestante eacute uma conduta meacutedica que natildeo respeita os processos

fisioloacutegicos do trabalho de parto do parto e do nascimento Por esse motivo o procedimento

ciruacutergico realizado sem indicaccedilotildees deixa de ser um procedimento fisioloacutegico tornando-se um

procedimento de risco para a matildee e para o receacutem-nascido (SABATINO 2009)

Para a abrangecircncia do tema complexidade e repercussotildees na vida das mulheres o

objeto de estudo eacute o significado que a mulher atribui ao seu parto

A justificativa para a escolha desse objeto de estudo deve-se agrave vivecircncia de dar agrave luz a

dois filhos nascidos de parto normal Letiacutecia (15 anos) e Marcos (12 anos) e de ter participado

ativamente desse processo como protagonista

Vem ao encontro disso o fato de que no decorrer da vivecircncia de dezoito anos na

assistecircncia agrave sauacutede das mulheres em maternidades e unidades baacutesicas de sauacutede e no meu

ambiente de trabalho atual como enfermeira obstetra de um hospital de ensino percebo a

intensa fragilidade das parturientes ao se submeterem a todos os procedimentos e

intervenccedilotildees sem questionamentos ao que acontece com o seu corpo durante o parto

Paralelamente agraves atividades profissionais participo como integrante do Nuacutecleo de

Estudos sobre Mulheres Gecircnero e Poliacuteticas Puacuteblicas-NEMGeP do Departamento de

Enfermagem do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Santa Maria grupo

que me despertou para as questotildees de gecircnero na temaacutetica no processo da parturiccedilatildeo O Nuacutecleo

atua em accedilotildees direcionadas agraves mulheres com abordagens que ultrapassam a dimensatildeo

bioloacutegica pois considera que as questotildees de gecircnero (cidadania empoderamento controle

social e poliacuteticas puacuteblicas) constituem referenciais fundamentais no direcionamento de

atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres (LANDERDAHL et al 2011)

16

Consultando a literatura cientiacutefica percebeu-se a ausecircncia de estudos culturais com

mulheres fora do periacuteodo graviacutedico puerperal e em cenaacuterios que natildeo sejam em maternidades

eou hospital

Alinhando-se nos argumentos acima descritos este estudo fundamentou-se no

referencial teoacuterico metodoloacutegico da abordagem socioantropoloacutegica de Emily Martin que

propotildee uma anaacutelise do fenocircmeno do parto contrapondo a delimitaccedilatildeo deste ao campo da

reproduccedilatildeo mecanicista e biomeacutedica buscando entendecirc-lo como componente essencial das

mulheres no sentido de desnaturalizar verdades muito caras vinculadas agraves concepccedilotildees

modernas de natureza e cultura Dessa forma o presente estudo traz reflexotildees que poderatildeo

repercutir na assistecircncia de enfermagem prestada agrave mulher durante o periacuteodo da parturiccedilatildeo

uma vez que auxilia na compreensatildeo das necessidades de cuidado com as parturientes a partir

da percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto e o nascimento

Com base nessas consideraccedilotildees a questatildeo norteadora de pesquisa que impulsiona

este estudo estaacute embasada no seguinte questionamento qual a participaccedilatildeo da cultura nos

saberes e as praacuteticas das mulheres em relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeo

Para responder a esta questatildeo foi definido como objetivo compreender de que forma

a cultura influencia no processo de parturiccedilatildeo da mulher

17

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

Este capiacutetulo enfoca as poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e

nascimento no Brasil bem como discute sobre parto e cultura baseando-se sobretudo nos

estudos realizados pela antropoacuteloga Emily Martin

21 Poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e nascimento no Brasil

O movimento feminista tem desempenhado um papel fundamental como instigador de

programas e poliacuteticas para as mulheres no paiacutes e sido entendido como foacuterum de debate das

questotildees da sauacutede qualidade de vida e condiccedilatildeo de cidadania feminina

Em 1974 foi implantado pelo governo o Programa de Sauacutede Materno-Infantil-PSMI

(MS74) como recomendaccedilatildeo do Plano Decenal de Sauacutede para as Ameacutericas e resultante da III

Reuniatildeo Especial de Ministros de Sauacutede das Ameacutericas que se realizou em Santiago de Chile

em 1972 Enfatizou-se nessa recomendaccedilatildeo

Formular uma poliacutetica intersetorial de proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade e agrave infacircncia

[] O programa de sauacutede e atenccedilatildeo meacutedica deveraacute ter cobertura universal

eficiecircncia operativa e acessibilidade geograacutefica institucional e financeira []

Elaborar o programa como um todo contiacutenuo que incluam as diversas atividades de

proteccedilatildeo agrave famiacutelia e em especial agrave matildee e a crianccedila orientaccedilatildeo agrave vida familiar (com

ecircnfase agrave adolescecircncia) atenccedilatildeo agraves doenccedilas ginecoloacutegicas (incluindo as veneacutereas)

diagnoacutestico precoce do cacircncer ceacutervico-uterino e do cacircncer de mama outorgar as

famiacutelias (quando isto natildeo se oponha agraves poliacuteticas nacionais) informaccedilatildeo e serviccedilo

com relaccedilatildeo agrave fertilidade e agrave esterilidade atenccedilatildeo meacutedica integral durante a gestaccedilatildeo

(matildee e feto) atenccedilatildeo ao parto e no puerpeacuterio controle do receacutem-nascido e da

crianccedila durante todas as etapas da vida especificamente no primeiro ano de vida

(OPAS 1973 p39-42)

Com isso o governo brasileiro registrou o interesse em trabalhar com o diagnoacutestico

precoce e o tratamento das doenccedilas ginecoloacutegicas incluindo as doenccedilas sexualmente

transmissiacuteveis e o cacircncer Somente no ano de 1977 a preocupaccedilatildeo eacute dirigida com mais

especificidade agrave gestaccedilatildeo ao parto e ao puerpeacuterio (TYRREL CARVALHO 1995)

O Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em 1984 em conjunto com o Ministeacuterio da Previdecircncia e

a Assistecircncia Social o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e as Secretarias Estaduais de Sauacutede e com o

apoio do movimento de mulheres implantou o Programa de Atenccedilatildeo Integral agrave Sauacutede da

Mulher (PAISM)

18

Esse programa eacute considerado um marco na histoacuteria das poliacuteticas puacuteblicas voltadas para

a sauacutede feminina e ateacute hoje eacute inspiraccedilatildeo e referecircncia na luta pela equidade de gecircnero

divulgando a importacircncia de se estabelecer um programa especiacutefico dirigido agrave mulher e de se

enfatizar certas atividades prioritaacuterias que natildeo deve ser interpretado como uma subestimaccedilatildeo

aos demais serviccedilos que a rede baacutesica deve executar mas deve ser adotado sobretudo como

estrateacutegia de mudanccedila seletiva de recursos que permitam a operacionalizaccedilatildeo de conteuacutedos de

grande prioridade vinculados agrave populaccedilatildeo feminina em todas as fases de sua vida e que

vinham sendo ateacute entatildeo negligenciados (BRASIL l984)

Em 2004 o programa foi transformado na Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agrave

Sauacutede da Mulher (MS 2004) cujo objetivo especiacutefico trecircs indica para o dever de se promover

a atenccedilatildeo obsteacutetrica e neonatal qualificada e humanizada tendo como combate agrave violecircncia de

gecircnero enfatizando a importacircncia do empoderamento das mulheres para o exerciacutecio da

autonomia e protagonismo no parto

A Poliacutetica Nacional de Humanizaccedilatildeo (MS 2004) implementada no mesmo ano

enfoca tambeacutem o respeito agraves questotildees de gecircnero etnia raccedila orientaccedilatildeo sexual com a

construccedilatildeo de autonomia e protagonismo dos sujeitos e coletivos

A I Conferecircncia Nacional de Poliacuteticas para as mulheres realizada em julho de 2004

foi muito importante na afirmaccedilatildeo dos direitos da mulher Desse evento resultou o I Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres em que foram traccediladas 4 linhas de atuaccedilatildeo sendo

uma delas a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos das mulheres o que

contribui reduccedilatildeo da morbidade e mortalidade feminina no Brasil especialmente por causas

evitaacuteveis em todos os ciclos de vida e nos diversos grupos populacionais (BRASIL 2005)

Corroborando esta afirmativa o II Plano Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres

(2008) em seu eixo sobre a sauacutede das mulheres direitos sexuais e direitos reprodutivos

postula que natildeo deve haver discriminaccedilatildeo de qualquer espeacutecie contra as mulheres

resguardando-se as identidades condiccedilotildees socioeconocircmicas e as desigualdades de gecircnero

raccedilaetnia geraccedilatildeo e orientaccedilatildeo sexual e necessitam ser consideradas na formulaccedilatildeo na

implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo de estrateacutegias de intervenccedilatildeo governamentais

Desse modo particularizar a atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher significa apenas um passo no

sentido de aumentar a capacidade resolutiva dos serviccedilos de sauacutede uma vez que haacute o desafio

de dar uma resposta efetiva aos problemas de sauacutede deste grupo de sujeitos visto conforme

Resende e Montenegro (2003) que as trecircs principais causas de morte materna no Brasil satildeo a

toxemia a hemorragia e a infecccedilatildeo puerperal as quais poderiam na maior parte dos casos

serem prevenidas Esse dado justifica a preocupaccedilatildeo com tais cuidados

19

Um dos objetivos de desenvolvimento do milecircnio (IPEA 2007) eacute melhorar a sauacutede

materna (reduccedilatildeo de trecircs quartos da mortalidade materna entre 1990 e 2015) Entretanto essa

meta do milecircnio dificilmente seraacute alcanccedilada pois grandes desafios ainda persistem a

exemplo da reduccedilatildeo das altas taxas de cesariana e nascimentos preacute-termo e no parto vaginal as

rotinas improacuteprias tais como episiotomia de rotina e intervenccedilotildees dolorosas ao bem-estar

materno e do bebecirc (THE LANCET 2011)

Para enfrentar esses desafios foi instituiacutedo pelo MS em 2000 o Programa de

Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) cujo objetivo primordial eacute ldquoassegurar a

melhoria do acesso da cobertura e da qualidade do acompanhamento preacute-natal da assistecircncia

ao parto e puerpeacuterio agraves gestantes e ao receacutem-nascido na perspectiva dos direitos de

cidadaniardquo (BRASIL 2000 p5) O Programa considera que a humanizaccedilatildeo da assistecircncia

obsteacutetrica e neonatal eacute a primeira condiccedilatildeo para o adequado acompanhamento do parto e do

puerpeacuterio (BRASIL 2000b)

A implementaccedilatildeo das accedilotildees desse programa enfrenta ainda muitos entraves

identificados e categorizados em um estudo de revisatildeo sistemaacutetica de Busanello et al (2009)

Citam-se a dificuldade de acesso aos serviccedilos de sauacutede a falta de leitos a deficiecircncia de

recursos humanos financeiros e materiais a atenccedilatildeo centrada na praacutetica intervencionista

desconsiderando o protagonismo da mulher no momento do parto e o despreparo dos

profissionais de sauacutede para a atenccedilatildeo humanizada no processo de parturiccedilatildeo sendo esta

categoria destacada como importante desafio enfrentado para concretizaccedilatildeo do PHPN

Nesse sentido o Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento - MS tem

recomendado aos serviccedilos de sauacutede que ofereccedilam uma assistecircncia digna agrave mulher aos

familiares e ao receacutem-nascido envolvendo para tanto atitude eacutetica e solidaacuteria dos

profissionais de sauacutede organizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de modo a criar um ambiente acolhedor e a

implementaccedilatildeo de rotinas hospitalares que rompam com o tradicional isolamento imposto agrave

mulher Considera-se tambeacutem necessaacuterio adotar medidas e procedimentos sabidamente

beneacuteficos para o acompanhamento do parto e do nascimento evitando-se praacuteticas

intervencionistas desnecessaacuterias (BRASIL 2000b)

Seguindo essa loacutegica o Ministeacuterio da Sauacutede tem realizado um conjunto de accedilotildees

atraveacutes de portarias ministeriais com a finalidade de estimular e regularizar a assistecircncia

obsteacutetrica aleacutem de financiar a realizaccedilatildeo de cursos de especializaccedilatildeo em enfermagem

obsteacutetrica (BRASIL 2001)

Assegura-se pela legislaccedilatildeo do exerciacutecio profissional regulamentada pela lei n

749886 e o Decreto-Lei 9440687 o direito de a enfermeira obstetra realizar assistecircncia agrave

20

parturiente e ao parto normal identificaccedilatildeo das distocias obsteacutetricas e tomada de providecircncias

ateacute a chegada do meacutedico e a realizaccedilatildeo de episiotomia e episiorrafia e aplicaccedilatildeo de anestesia

local quando necessaacuteria

Outras atribuiccedilotildees realizadas pela enfermeira obsteacutetrica que vem ganhando espaccedilo no

cenaacuterio nacional satildeo as accedilotildees de incentivo ao parto normal e as accedilotildees no atendimento preacute-

natal no qual a enfermeira eacute responsaacutevel pela educaccedilatildeo em sauacutede para as mulheres e suas

famiacutelias consulta de preacute-natal agrave gestaccedilatildeo de baixo risco solicitaccedilatildeo de exames de rotina e

prescriccedilatildeo de tratamento conforme protocolo do serviccedilo e estabelecidos em programas de

sauacutede e coleta de exame citopatoloacutegico (BRASIL 2006b)

Concorrendo nessa orientaccedilatildeo a atuaccedilatildeo da enfermeira obstetra eacute reconhecida como

primordial no processo de humanizaccedilatildeo do parto tendo como objetivo a reduccedilatildeo dos altos

iacutendices de cesaacutereas praticadas e a alta medicalizaccedilatildeo decorrentes do intervencionismo por

parte dos meacutedicos obstetras (BRASIL 2001)

Buscando proporcionar conhecimento agrave sociedade e particularmente esclarecer os

profissionais de sauacutede a OMS elaborou em 1996 um conjunto de recomendaccedilotildees de boas

praacuteticas na assistecircncia ao parto normal Essas recomendaccedilotildees foram classificadas em quatro

categorias Categoria A - praacuteticas confirmadamente uacuteteis e que devem ser estimuladas

Categoria B - praacuteticas claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas

Categoria C - praacuteticas em relaccedilatildeo agraves quais natildeo existem evidecircncias suficientes para apoiar uma

recomendaccedilatildeo clara e que devem ser utilizadas com cautela ateacute que mais pesquisas

esclareccedilam a questatildeo e Categoria D - praacuteticas frequentemente utilizadas de modo inadequado

(OMS 1996) Dentre estas categorias destacam-se neste estudo as recomendaccedilotildees que foram

classificadas como praacuteticas uacuteteis e que devem ser estimuladas

Nessa direccedilatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede implantou medidas que visam impactar e

estimular a melhoria da assistecircncia obsteacutetrica no paiacutes e humanizar o parto e nascimento

(BRASIL 2001)

Para Martins (2005) humanizar a parturiccedilatildeo eacute estar com o outro e prestar um

atendimento focado em suas necessidades eacute lembrar que no momento do parto estaacute

ocorrendo a separaccedilatildeo de dois corpos que ateacute entatildeo viviam juntos um dentro do outro em

relaccedilatildeo de dependecircncia e de iacutentimo contato

Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede (2001) os profissionais de sauacutede devem ser

coadjuvantes dessa experiecircncia direcionando toda atenccedilatildeo agraves necessidades da mulher e

oportunizando-lhe o protagonismo e o controle da situaccedilatildeo na hora do nascimento

21

Os profissionais tambeacutem devem repassar para a mulher as opccedilotildees de escolha baseados

nas evidecircncias cientiacuteficas e nos seus direitos tendo a oportunidade de empregar seu

conhecimento a serviccedilo do bem-estar da mulher e do bebecirc sabendo reconhecer os momentos

criacuteticos em que suas intervenccedilotildees satildeo necessaacuterias

Igualmente seus deveres satildeo minimizar a dor acompanhar dar conforto esclarecer

orientar enfim ajudar a parir e a nascer Precisam lembrar que satildeo os primeiros a ter contato

com cada ser que nasce e portanto devem ter consciecircncia dessa responsabilidade (BRASIL

2001)

No Brasil o movimento pela humanizaccedilatildeo do parto eacute impulsionado por experiecircncia

em vaacuterios estados Em 1994 surgiu no Rio de Janeiro a primeira maternidade puacuteblica

autodefinida como ldquohumanizadardquo que recebeu o nome de Leila Diniz (DINIZ 2005) Outro

marco em termos de poliacuteticas puacuteblicas do parto e nascimento foi a criaccedilatildeo do Precircmio Galba

Arauacutejo para Maternidades Humanizadas instituiacutedo pela portaria nordm 2883 de 4 de junho de

1998 (BRASIL 1998)

Os criteacuterios para a concessatildeo deste precircmio satildeo baseados na adesatildeo agraves recomendaccedilotildees

da OMS tais como a presenccedila de acompanhantes no preacute-parto parto e poacutes-parto a assistecircncia

aos partos de baixo risco por enfermeiras obstetras e o controle das taxas de cesaacuterea

(BRASIL 2000b)

Concedido a niacutevel estadual e nacional o precircmio Galba de Arauacutejo tem provocado

mobilizaccedilatildeo nas instituiccedilotildees de Sauacutede que lutam em defesa dos direitos das mulheres e

crianccedilas e tem recebido a participaccedilatildeo de um nuacutemero crescente de serviccedilos a cada ediccedilatildeo

contribuindo para conferir legitimidade ao modelo humanizado (DINIZ 2005)

O Centro de Parto Normal-CPN foi outra iniciativa criada pela portaria nordm 985 de

agosto de 1999 que tem como finalidade o atendimento agrave mulher no periacuteodo graviacutedico-

puerperal tendo como uma das suas atribuiccedilotildees prestar atendimento humanizado e de

qualidade exclusivamente ao parto normal sem distoacutecia assistido por enfermeira obsteacutetrica

desenvolvendo atividades educativas e de humanizaccedilatildeo durante o preacute-natal visando agrave

preparaccedilatildeo das gestantes para o parto no CPN (BRASIL 1999)

A Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar (ANS) do Ministeacuterio da Sauacutede em janeiro

de 2008 atraveacutes da Resoluccedilatildeo Normativa nordm 167 reviu o Rol de Procedimentos e Eventos em

Sauacutede e ampliou as coberturas para as beneficiaacuterias de planos de sauacutede A partir de abril de

2008 deu-se a inclusatildeo na cobertura dos partos feitos por enfermeira obstetras e a presenccedila de

um acompanhante durante toda a estada da mulher no hospital desde o momento do parto ateacute

a sua alta (ANS 2008b)

22

Destaca-se tambeacutem que a partir do ano de 2005 a lei nordm 11108 passou a garantir agraves

parturientes o direito agrave presenccedila de acompanhante de sua preferecircncia durante o trabalho de

parto parto e poacutes-parto Outra iniciativa lanccedilada pela ANS na tentativa de estimular o

aumento de partos normais e modificar os altos iacutendices de cesarianas desnecessaacuterias na rede

privada foi a campanha em favor do parto normal intitulada Parto normal estaacute no meu

plano (ANS 2008a)

Em junho de 2008 foi divulgada a Resoluccedilatildeo RDC 36 da Agecircncia Nacional de

Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA) a qual preconiza que os serviccedilos de atendimento obsteacutetrico e

neonatal devem adotar medidas que incentivem o parto humanizado e a reduccedilatildeo dos iacutendices

de mortalidade materna e neonatal no paiacutes (BRASIL 2008b)

Tambeacutem devido a algumas maternidadeshospitais estarem fazendo uma cobranccedila

indevida para a presenccedila do acompanhante na sala de parto destinada a cobrir os gastos com a

limpeza e higienizaccedilatildeo das roupas ciruacutergicas e o uso de maacutescaras e toucas descartaacuteveis

utilizadas pelo acompanhante da gestante a ANS publicou em 02082011 a Resoluccedilatildeo

Normativa 262 (ANS 2011) Essa normativa define que as despesas a serem cobertas para o

acompanhante durante o preacute-parto parto e poacutes-parto imediato deve incluir taxas de

paramentaccedilatildeo acomodaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo pelo periacuteodo de 48h podendo se estender por ateacute

10 dias quando indicado pelo meacutedico assistente (DOU 2011)

Em junho de 2011 foi instituiacuteda a iniciativa da Rede Cegonha atraveacutes da portaria nordm

1459 de 24 de junho de 2011 no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede com o intuito de

fomentar a implementaccedilatildeo de novo modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher com foco na

atenccedilatildeo ao parto

Esta poliacutetica tendo como princiacutepios o respeito a proteccedilatildeo e a realizaccedilatildeo dos direitos

humanos o respeito agrave diversidade cultural eacutetnica e racial a promoccedilatildeo da equidade com o

enfoque de gecircnero a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos de mulheres

homens jovens e adolescentes a participaccedilatildeo e a mobilizaccedilatildeo com controle social e a

compatibilizaccedilatildeo com as atividades das redes de atenccedilatildeo agrave sauacutede materna e infantil em

desenvolvimento nos Estados (BRASIL 2011)

12 O parto e a cultura no processo da parturiccedilatildeo

Historicamente o parto jaacute foi vivenciado como um evento feminino no qual os

membros do grupo social da parturiente como a matildee familiares vizinhas auxiliavam-na

23

juntamente agrave parteira que tinha seus conhecimentos fundamentados na praacutetica e na

acumulaccedilatildeo de saberes passados tradicionalmente de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo (SANTOS 2002)

No entanto no seacuteculo XVIII na Europa o parto passou por um processo de

transformaccedilatildeo principalmente devido agrave influecircncia biomeacutedica masculina De um evento

feminino domiciliar e fisioloacutegico passa a ser patoloacutegico e institucionalizado dominado por

uma praacutetica intervencionista e hospitalocecircntrica da qual a mulher perdeu seu protagonismo

(SANTOS 2002)

A percepccedilatildeo da dor no parto eacute considerada como um dos motivos que influenciam a

mulher em sua preferecircncia pela cesaacuterea e estaacute profundamente arraigada no imaginaacuterio

popular como um evento associado agrave purgaccedilatildeo feminina Relaciona-se neste sentido agrave

citaccedilatildeo do Livro Biacuteblico de Gecircnesis que se refere agrave Eva como o primeiro ser humano que

pecou e acabou por corromper o resto da humanidade com sua transgressatildeo ouvindo de Deus

ldquoe tu mulher pariraacutes com dor os teus filhosrdquo (TEIXEIRA 2006)

A ideacuteia de que a mulher deve pagar no parto por seus pecados propagada pela

medicina e pela religiatildeo hegemocircnica contrapotildee-se agrave visatildeo do parto como um momento

prazeroso Esse sentido pode ser entendido como uma heresia e uma ameaccedila a um sistema de

crenccedilas que define o parto como um processo doloroso que faz mal agrave sauacutede e agrave sexualidade

feminina e que precisa ser controlado por aparatos meacutedicos (DINIZ 2011)

De acordo com Helman (2009) a dor e seus aspectos voluntaacuterios satildeo influenciados por

fatores sociais culturais e psicoloacutegicos que determinam se a dor privada seraacute traduzida e em

que tipo de comportamento quando for puacuteblica Isso estaacute muito imbricado ao significado

pessoal de que a mulher atribui agrave dor do parto ao contexto de vida em que estaacute inserida agraves

definiccedilotildees culturais da imagem corporal da estrutura e funccedilotildees do seu corpo

Ressalta-se nessa direccedilatildeo que a posiccedilatildeo das mulheres frente ao processo de

medicalizaccedilatildeo natildeo foi propriamente a de viacutetima As mulheres de classe mais alta natildeo mais

aceitavam sentir a dor do parto e natildeo desejavam correr mais riscos aleacutem de o ato de parir com

a assistecircncia de um meacutedico significar maior poder aquisitivo de seus maridos Com isso a

consolidaccedilatildeo do processo de medicalizaccedilatildeo e hospitalizaccedilatildeo do parto acontece em meados do

seacuteculo XX motivada por tais condiccedilotildees (VARGENS PROGIANTI 2004)

No Brasil o processo de institucionalizaccedilatildeo do parto isto eacute a ocorrecircncia dos partos

dentro de instituiccedilotildees hospitalares deu-se ao longo da deacutecada de 40 com o advento da

medicina preventiva cujo objetivo principal era reduzir a mortalidade infantil Somente mais

tarde a partir da deacutecada de 80 passou-se a justificar o processo de medicalizaccedilatildeo do parto

por meio da recorrecircncia das cesarianas para reduzir a mortalidade materna (BRASIL 2001)

24

Os meacutedicos natildeo acostumados ao acompanhamento de fenocircmenos fisioloacutegicos foram

instruiacutedos a intervir resolver casos complicados e ditar ordens O parto passou entatildeo a ser

visto como um ato ciruacutergico e a mulher parturiente sendo tratada como enferma foi

impedida de seguir seus instintos e de adotar a posiccedilatildeo mais cocircmoda e fisioloacutegica (BRASIL

2001)

Privada do direito baacutesico de escolha e autonomia no nascimento do proacuteprio filho deu-

se iniacutecio agrave era do parto medicalizado no qual a matildee deixa de ser a protagonista do processo

cedendo seu lugar agrave equipe meacutedica que passa a ser o centro da cena Diversas repercussotildees

advecircm desta mudanccedila As posiccedilotildees verticalizadas que ao longo dos milecircnios foram as mais

usadas pelas mulheres em todas as raccedilas e culturas passaram a ser negadas agraves parturientes

pelos meacutedicos (MACHADO 1995)

A posiccedilatildeo assumida pela parturiente e a sua livre movimentaccedilatildeo passaram a ser

praticamente negligenciadas por profissionais alinhados agrave praacutetica ocidental moderna na qual

a mulher em trabalho de parto manteacutem-se deitada horizontalmente ou em uma posiccedilatildeo semi

inclinada para conveniecircncia da equipe obsteacutetrica na aplicaccedilatildeo dos soros monitores e

anesteacutesicos Evidecircncias de estudos etnograacuteficos realizados atualmente mostram que as

mulheres que natildeo satildeo expostas a essas rotinas assumem posiccedilotildees verticais no trabalho de

parto e no parto (BALASKAS 2008)

Balaskas (2008) reforccedila ainda que um parto ativo eacute uma atitude mental de crenccedila na

natureza do processo do parto e o modo como a mulher segue a loacutegica de seus instintos e da

sua fisiologia eacute uma forma de manifestar que estaacute no controle do seu corpo durante o trabalho

de parto e nascimento e que natildeo eacute um mero objeto de intervenccedilatildeo da equipe obsteacutetrica Os

significados culturais dados aos fenocircmenos fisioloacutegicos psicoloacutegicos e sociais de uma

sociedade refletem o comportamento das pessoas e ateacute a forma de desenvolvimento poliacutetico

econocircmico de dada sociedade (HELMAN 2009)

13 Referencial teoacuterico de Emily Martin sobre o parto e cultura

Segundo a antropoacuteloga Emily Martin (2006) a metaacutefora do uacutetero como maacutequina teve

iniacutecio no decorrer dos seacuteculos XVII e XVIII nos hospitais franceses Esta metaacutefora compara

o uacutetero a uma bomba mecacircnica capaz de expelir o feto Importante assinalar que nesta eacutepoca

que o foacuterceps era instrumento utilizado por accedilougueiros barbeiros falidos cujo status social

25

era equivalente ao de um mecacircnico De acordo com Vieira (2002) as regulamentaccedilotildees para

partejar exigiam que esses homens fossem chamados pelas parteiras para manipular os

instrumentos

A partir do seacuteculo XIX a ideologia de produccedilatildeo das faacutebricas torna-se tatildeo abrangente

que ldquochegardquo aos corpos das mulheres os quais passam a ser vistos nos textos de obstetriacutecia

como faacutebricas para a produccedilatildeo de bebecircs Martin (2006) propotildee utilizar esta metaacutefora de

produccedilatildeo fabril para entender o processo de trabalho em que meacutedico e a mulher estatildeo

envolvidos

Nesta metaacutefora segundo a autora acrescenta-se a figura do meacutedico no papel de

supervisor ou ateacute dono da faacutebrica e a mulher no papel de trabalhadora cuja maacutequina (uacutetero)

produz o produto (bebecirc) O olhar a partir de metaacuteforas de acordo com a pesquisadora

permite comparar as mesmas formas de controle e poder que ocorrem no acircmbito da produccedilatildeo

industrial ou seja de controlar os movimentos dos trabalhadores conforme a produccedilatildeo da

progressatildeo em periacuteodos especiacuteficos de tempo da maacutequina (uacutetero) para avaliar e controlar se

as contraccedilotildees uterinas satildeo eficientes ou ineficientes (MARTIN 2006)

A autora supracitada questiona o papel de passividade da mulher em relaccedilatildeo agraves

contraccedilotildees uterinas que consideradas pela ciecircncia meacutedica involuntaacuterias e inclusive

responsaacuteveis totais pela realizaccedilatildeo do parto Rezende e Montenegro (2003) comenta que no

periacuteodo expulsivo as contraccedilotildees satildeo realizadas com a glote fechada e com esforccedilos

respiratoacuterios verdadeiros chamados ldquopuxosrdquo Em nenhum momento foi mencionado que eacute a

parturiente que faz esse esforccedilo Outro exemplo de exclusatildeo do papel mulher em seu processo

de parto eacute o foco no feto conforme a citaccedilatildeo de Rezende e Montenegro (2003 p177) ldquono seu

transcurso atraveacutes do canal parturitivo impulsionado pela contratilidade uterina o feto eacute

compelido a executar certo nuacutemero de movimentos que se denominam mecanismo do partordquo

Assim sendo a metaacutefora utilizada por Martin (2006) desvela uma perspectiva que apresenta

as mulheres gestantes como ldquomateacuteria-primardquo para a produccedilatildeo de um ldquoprodutordquo

Nessa direccedilatildeo torna-se imprescindiacutevel para a produccedilatildeo de bebecircs perfeitos a

intervenccedilatildeo da cesaacuterea exigindo um miacutenimo de trabalho do uacutetero e da mulher atribuindo a

esse procedimento a imagem de ldquouacutenica graccedila salvadorardquo do bebecirc Este posicionamento

segundo a autora ignora o que talvez seja extremamente significante para a mulher e para seu

bebecirc ter a oportunidade de vivenciar o nascimento do seu filho (a) atraveacutes do seu proacuteprio

esforccedilo experimentando o protagonismo no seu parto e no nascimento da crianccedila

O mecanismo do parto conforme Rezende eacute o estudo da mecacircnica do parto o que

vem ao encontro da metaacutefora do uacutetero como maacutequina

26

A cultura meacutedica segundo Martin (2006) seria um sistema cultural cujas ideais

sobressaem-se agrave cultura popular

A autora faz ainda referecircncia a textos em obstetriacutecia da Universidade Johns Hopkins

nos EUA que comprovam que causas externas podem interferir nas atividades uterinas e que

tais alteraccedilotildees emocionais da mulher quase natildeo satildeo levadas em consideraccedilatildeo na obstetriacutecia

tendo como consequecircncia o aval para intervenccedilotildees como amniotomias uso de ocitocina para

acelerar o trabalho de parto ou a utilizaccedilatildeo da cesariana considerando desnecessaacuterias as

contraccedilotildees (MARTIN 2006)

A participaccedilatildeo do meacutedico como promotor de uma cultura intervencionista foi

destacada em um estudo nacional realizado pela socioacuteloga americana Hopkins (2000) com

pueacuterperas de cliacutenicas privadas e puacuteblicas Segundo o estudo das mulheres que fizeram

cesariana trecircs em quatro das primiacuteparas do setor privado e oito em dez do setor puacuteblico

gostariam de ter tido partos vaginais Observou-se que o meacutedico obstetra promove os medos

nas gestantes em relaccedilatildeo ao parto e superestima a seguranccedila da cesariana em funccedilatildeo dos seus

interesses

Para Martin (2006) a alienaccedilatildeo e a condiccedilatildeo fragmentada constadas na linguagem e

de algumas mulheres satildeo descritas como uma autopercepccedilatildeo passiva sendo contrastadas com

discursos de mulheres que questionam se opotildeem rejeitam e reformulam suas formas de viver

e as maneiras como a sociedade poderia funcionar apresentando uma autopercepccedilatildeo que tenta

resistir agrave passividade

As mulheres que optam pelo parto domiciliar saem dessa passividade buscam outras

formas de serem ativas no seu parto e reivindicam seu espaccedilo no ato de parir questionando o

paradigma atual de assistecircncia ao parto preconizado nas instituiccedilotildees hospitalares (KRUNO

BONILHA 2004)

No estudo etnograacutefico realizado por Martin (2006) em Baltimore (EUA) encontra-se

a narrativa de uma mulher que resiste a essa maneira de fragmentaccedilatildeo exprimindo a sua

frustraccedilatildeo em relaccedilatildeo ao parto cesariano imposto pela conduta meacutedica A narradora conta

com raiva a sua experiecircncia com a cesariana por ter perdido a cena do nascimento devido agrave

limitaccedilatildeo e ao jejum impostos pela anestesia natildeo podendo realizar os primeiros cuidados do

seu bebecirc aleacutem da proibiccedilatildeo de se alimentar por horas e limitando-se a nutrientes para a

recuperaccedilatildeo mais eficaz da cirurgia

A necessidade de compreensatildeo do parto enquanto parte integrante da vida sexual

emocional e cultural da mulher eacute proposta por Odent (2000) como o entendimento das bases

fisioloacutegicas e a integraccedilatildeo entre diferentes momentos da vida Sua hipoacutetese eacute a de que o

27

cuidado com o modo como nascemos e com a vinculaccedilatildeo amorosa matildee-bebecirc pode propiciar a

construccedilatildeo de uma sociedade mais amorosa menos destrutiva e de mais respeito pelos seres

humanos e pela natureza Esse paradigma holiacutestico tambeacutem referendado por Floyd (2004)

que destaca como elemento fundamental no processo do parto o contato das mulheres consigo

mesmas como um estado especial de consciecircncia similar agraves relaccedilotildees entre os estados

orgaacutesticos agrave oraccedilatildeo e agraves emoccedilotildees miacutesticas Nesse momento as funccedilotildees intelectuais

neocorticais devem estar colocadas em segundo plano proporcionando a expressatildeo de

funccedilotildees cerebrais mais instintivas caracteriacutesticas do parto e do aleitamento

Segundo Martin (2006) os esforccedilos para oferecer este novo paradigma que devolve agrave

mulher o controle do seu corpo no parto satildeo extraordinaacuterios O que natildeo deve permanecer

ainda que subliminarmente eacute a ideologia dominante de nossa sociedade na qual as mulheres

ao darem a luz de maneira mais aproximada do parto natural satildeo consideradas desprovidas de

cultura e consequentemente inferiores por aproximarem-se da natureza ldquoprimitivardquo como se

andassem para traacutes no tempo e na evoluccedilatildeo

Historicamente esta divisatildeo da cultura e da natureza fomentada pelos escritores do

seacuteculo XIX surgiu a partir do desenvolvimento das sociedades ocidentais e da

industrializaccedilatildeo sendo organizada em torno de dois mundos a esfera privada dentro de casa

que eacute evidenciada pertencente agrave mulher onde ocorrem funccedilotildees ditas ldquonaturaisrdquo e a esfera

puacuteblica fora de casa na qual os homens estatildeo em maior evidecircncia e onde se produz ldquoculturardquo

a qual eacute considerada atividade superior evidenciada aos homens e vista como dominante

(MARTIN 2006)

Essa forma de pensar relega a mulher ao domiacutenio do natural do inferior e da

domesticidade considera-a mais simples animalesca e livre de autocensuras Compreende

que haacute uma iniquumlidade entre natureza e cultura e que ao ldquosubmeterrdquo a mulher a fenocircmenos

totalmente naturais como o parto normal estamos reafirmando a concepccedilatildeo da mulher como

um ser mais primitivo que pertence somente agrave natureza (MARTIN 2006)

Reflete-se por outro lado de acordo com Gama (2009) que o modelo de organizaccedilatildeo

dos serviccedilos puacuteblicos e privados apresenta variaccedilotildees que produzem diferentes tipos de

assistecircncia e de relaccedilatildeo entre os profissionais de sauacutede e as usuaacuterias dando forma agraves

experiecircncias distintas entre as mulheres pesquisadas

Ao empreender uma criacutetica assentada nas relaccedilotildees de gecircnero Gama (2009) verificou

que o modelo de assistecircncia ao parto permanece submetendo quem deve ser sujeito e reproduz

o projeto da medicalizaccedilatildeo Isso reduz o campo da assistecircncia e inviabiliza um lugar de poder

diferenciado das usuaacuterias sendo a cesariana utilizada como um procedimento de alta

28

rentabilidade para a medicina obsteacutetrica privada conforme a citaccedilatildeo da antropoacuteloga Emily

Martin

Se a cesariana torna-se uma fonte de honoraacuterios mais altos para os meacutedicos e contas

hospitalares mais altas que o parto vaginal eacute de se esperar que encontremos mais

cesarianas sendo realizadas em mulheres no alto da escala de classe e raccedila

(MARTIN 2006 p 235)

Tal constataccedilatildeo justifica a demanda dos altos iacutendices de cesaacuterea no Brasil com a forma

como se organizou a assistecircncia obsteacutetrica e a formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que

reproduzem no cotidiano esse sentido tecnoloacutegico do parto e do nascimento

Com a invasatildeo da tecnologia a mulher perdeu sua autonomia como protagonista uma

vez que no modelo intervencionista da atual assistecircncia obsteacutetrica ela tornou-se objeto da

accedilatildeo e vem perdendo o controle e a decisatildeo sobre o proacuteprio processo de parto e de

nascimento Essa realidade pode afetar profundamente as mulheres os bebecircs as famiacutelias e

produzir efeitos importantes e persistentes sobre a sociedade (DINIZ 2001)

Ratifica-se nas palavras de Dias (2008) que a perda do protagonismo da mulher no

cenaacuterio do parto reflete-se nos altos iacutendices de cesaacutereas nas uacuteltimas deacutecadas no Brasil Por

outro lado a mudanccedila no modelo de assistecircncia ao parto pode ser uma estrateacutegia promissora

para a reversatildeo desse quadro jaacute que os fatores associados agrave decisatildeo da cesariana independem

do desejo da mulher

A mudanccedila para outro modo de parir mais conectado com todas as forccedilas da vida e da

cultura das mulheres pode possibilitar a construccedilatildeo de um modelo humaniacutestico com vistas ao

holiacutestico e agrave expressatildeo de um tempo de uma cultura de um avanccedilo das praacuteticas obsteacutetricas

do parto com a convivecircncia de muacuteltiplos paradigmas da assistecircncia

29

2 CAMINHO METODOacuteLOGICO

21 Fundamentos metodoloacutegicos

A presente investigaccedilatildeo constitui-se como uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva

A pesquisa qualitativa abarca o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores

e atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees (MINAYO 2004) A

metodologia qualitativa pode possibilitar aleacutem de uma interpretaccedilatildeo com lentes ampliadas do

objeto de estudo uma inserccedilatildeo na cultura do ldquooutrordquo (GEERTZ 1989)

Para Leopardi (2001) e Minayo (2008) o estudo qualitativo compreende a descriccedilatildeo e

a anaacutelise da realidade de diferentes maneiras para representar as experiecircncias do fenocircmeno

vivenciadas pelos indiviacuteduos Haacute uma implicaccedilatildeo entre o conhecimento sobre o mundo e os

sujeitos que o constroem numa relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto Logo a

interpretaccedilatildeo do fenocircmeno atribuindo-lhe significados faz parte do processo de

conhecimento tanto do sujeito pesquisador quanto dos atores pesquisados Eacute comumente

utilizada por pesquisadores sociais preocupados com a atuaccedilatildeo praacutetica (GIL 2007)

A pesquisa descritiva trabalha sobre dados ou fatos colhidos da proacutepria realidade do

indiviacuteduo ou de grupos e comunidades mais complexas Busca conhecer as diversas situaccedilotildees

e relaccedilotildees que ocorrem na vida social poliacutetica econocircmica e cultural principalmente nas

ciecircncias humanas e sociais objetivando abordar dados e problemas relevantes cujo registro

natildeo consta de documentos (CERVO BERVIAN DA SILVA 2007)

22 Os cenaacuterios do estudo

Esta pesquisa foi prevista inicialmente para ser somente desenvolvida na Unidade

Sanitaacuteria Kennedy (USK) no municiacutepio de Santa Maria - RS pelo fato de ser campo de aulas

praacuteticas e de estaacutegio supervisionado para os alunos do Curso de Enfermagem da Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM) onde satildeo realizadas accedilotildees de promoccedilatildeo agrave sauacutedecidadania de

crianccedilas adolescentes mulheres e adultos A aacuterea de abrangecircncia da USK inclui dezoito vilas

30

compreendendo uma populaccedilatildeo de aproximadamente trinta mil habitantes Em relaccedilatildeo agrave

escolaridade os natildeo alfabetizados e os indiviacuteduos que possuem o primeiro grau incompleto

perfazem 83 da populaccedilatildeo A renda per capita de 58 das pessoas e ateacute um salaacuterio miacutenimo

e 27 recebem um a dois salaacuterios miacutenimos Esta regiatildeo ainda hoje caracteriza-se por um alto

iacutendice de desemprego criminalidade desnutriccedilatildeo doenccedilas infecto-contagiosas aleacutem da

precariedade de saneamento baacutesico e de habitaccedilatildeo (MONDARDO et al 1993)

Poreacutem devido a dificuldades de infra-estrutura na referida unidade foi solicitada

transferecircncia de campo da pesquisa para o Hospital Universitaacuterio de Santa Maria (HUSM)

atraveacutes de ementa ao Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM) (Anexo B) estipulando como os locais de coleta os serviccedilos de ginecologia e

obstetriacutecia do hospital

As dificuldades encontradas foram inerentes ao objeto da pesquisa aleacutem de problemas

teacutecnico-administrativos na USK Os problemas de natureza e objeto concernem aos criteacuterios

de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos dada a ausecircncia de mulheres encaixadas em tais criteacuterios

no grupo de planejamento familiar na USK

Os problemas teacutecnico-administrativos foram relativos agrave infra-estrutura da USK que

estava funcionando em um local menor durante os procedimentos de reforma no preacutedio da

instituiccedilatildeo

Outras estrateacutegias foram realizadas na busca por sujeitos como a visita nos dias e

horaacuterios da consulta puericultura visando encontrar mulheres dentro dos criteacuterios que

viessem acompanhando os seus filhos na consulta contudo a tentativa natildeo obteve sucesso

pois era o grande nuacutemero de mulheres dentro dos criteacuterios de exclusatildeo neste caso pueacuterperas

O HUSM entatildeo foi o outro cenaacuterio escolhido para a coleta de dados que justificou-se

pela diversidade de serviccedilos de atendimento oferecidos a mulheres e de profissionais do sexo

feminino que laacute trabalham principalmente da enfermagem o que foi bastante significativa

para o estudo Solicitou-se entatildeo a autorizaccedilatildeo ao Departamento de Ensino e Pesquisa

(DEPE) do HUSM para realizaccedilatildeo da pesquisa neste serviccedilo e autorizada pelo CEP da UFSM

atraveacutes de emenda (Anexo B) para a ampliaccedilatildeo do cenaacuterio e do periacuteodo de coleta de dados

O HUSM eacute um hospital-ensino fundado no ano de 1970 que serve como base de

atendimento primaacuterio dos bairros que o cercam para o atendimento secundaacuterio agrave populaccedilatildeo

de Santa Maria e para o atendimento terciaacuterio da regiatildeo centro e fronteira gauacutecha O hospital

constitui-se como centro de ensino pesquisa e extensatildeo no acircmbito das Ciecircncias da Sauacutede

aleacutem de centro de programaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de accedilotildees voltadas agrave sauacutede das comunidades

local e regional Tambeacutem presta serviccedilos assistenciais em todas as especialidades meacutedicas

31

bem como serve de treinamento para alunos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Medicina

Residecircncia Meacutedica e de graduaccedilatildeo em Enfermagem Farmaacutecia Fonoaudiologia e

Fisioterapia

Satildeo serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia do HUSM

a unidade de Internaccedilatildeo do Centro Obsteacutetrico situada no sub- solo do HUSM

provida de seis leitos de internaccedilatildeo para mulheres em trabalho de parto ou no poacutes-parto

quatro leitos de internaccedilatildeo poacutes-cesaacuterea trecircs leitos de observaccedilatildeo para o atendimento de

intercorrecircncias ginecoloacutegicas e agrave mulher viacutetima de violecircncia

a unidade de internaccedilatildeo Toco-ginecoloacutegica situada no 2ordm andar do HUSM

onde se atendem pueacuterperas gestantes de alto-risco e mulheres em tratamento ginecoloacutegico

Possui trinta e sete leitos dos quais onze satildeo destinados agrave cliacutenica ginecoloacutegica e vinte e seis agrave

obstetriacutecia

o ambulatoacuterio da ala II que eacute localizado no teacuterreo e atende consultas de preacute-

natal puerpeacuterio e ginecologia

Destaca-se que nas unidades referidas circula um grande nuacutemero de familiares do

sexo feminino que acompanham as gestantes pueacuterperas e as mulheres internadas para

tratamento ginecoloacutegico

23 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos

Os criteacuterios de inclusatildeo foram mulheres que jaacute tiveram filhos por via vaginal ou

cesariana que natildeo estavam gestando nem eram puerpeacuteras e cujos partos ocorreram a partir do

ano de 2004 tendo como marco referencial o Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e

Nascimento do Ministeacuterio da Sauacutede Este programa foi criado em 2000 pelo Ministeacuterio da

Sauacutede mas implantado em todos os municiacutepios do Rio Grande do Sul somente em 2004

Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo mulheres nuliacuteparas mulheres

gestantes e pueacuterperas uma vez que o processo de parturiccedilatildeo ocorrendo em periacuteodo proacuteximo

ou concomitante agrave entrevista poderia influenciar nas respostas devido mais a aspectos

fisioloacutegicos e emocionais relacionados agrave dor do parto do que por aspectos culturais

32

24 Caracterizaccedilatildeo das participantes

Este estudo foi realizado com oito mulheres em idade feacutertil com histoacuteria pregressa de

parto vaginal ou cesariano quatro mulheres foram captadas na USK e quatro no HUSM

Foram convidadas para entrevistas mulheres que buscavam o atendimento no programa de

planejamento familiar da USK mulheres que buscavam o atendimento no HUSM nos

serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia e mulheres que estavam no momento da entrevista nos

serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia do HUSM

Para finalizaccedilatildeo da coleta foi utilizado o criteacuterio de saturaccedilatildeo de dados por

reincidecircncia ou seja quando da repeticcedilatildeo dos dados a coleta foi entendida como satisfatoacuteria

e entatildeo suspensa (VIacuteCTORA KNAUTH HASSEN 2000)

As participantes do estudo foram identificadas pela letra M de mulher e um nuacutemero

escolhido por ordem de entrevista (M1-M8) sendo caracterizadas no que se refere aos

aspectos soacutecio-culturais de idade estado civil escolaridade regiatildeo de moradia nuacutemero de

filhos ocupaccedilatildeo e tipo de parto vivenciado conforme descrito abaixo

Mulher 1 - 34 anos 2ordf grau completo casada teacutecnica de enfermagem Com quatro

filhos nascidos de partos normais

Mulher 2 - 24 anos 1ordm grau completo diarista casada Com uma filha tem uma

cesaacuterea

Mulher 3 - 28 anos 2ordf grau completo teacutecnica de enfermagem solteira uniatildeo estaacutevel

Com um filho nascido de parto normal

Mulher 4 - 22 anos 2ordf grau incompleto solteira operadora de caixa de supermercado

Com um filho fez uma cesaacuterea

Mulher 5 - 32 anos 1ordm grau completo do lar casada Com um filho nascido de parto

normal e o outro fez uma cesaacuterea

Mulher 6 - 35 anos 3ordm grau completo enfermeira casada Com dois filhos fez duas

cesaacutereas

Mulher 7- 28 anos 1ordm grau completo empregada domeacutestica uniatildeo estaacutevel Tem quatro

filhos nascidos de partos normal

Mulher 8 - 27 anos 2ordf grau imcompleto dona de casa divorciada Com quatro filhos

fez quatro cesaacutereas

Todas estavam na faixa etaacuteria entre 22 e 35 anos Quanto ao estado civil seis satildeo

casadas uma divorciada e uma solteira poreacutem com uniatildeo estaacutevel no momento da entrevista

33

O niacutevel de escolaridade apresentou trecircs mulheres com ensino meacutedio completo uma

com incompleto trecircs com ensino fundamental completo e uma com curso superior

Todas as participantes satildeo moradoras da zona urbana do municiacutepio

Quanto ao nuacutemero de filhos o grupo em estudo tem uma meacutedia de 2 filhos sendo que

a menor e a maior prole foi de 1 e de 4 filhos respectivamente

Quanto agrave ocupaccedilatildeo das entrevistadas duas satildeo donas de casa duas teacutecnicas de

enfermagem uma enfermeira duas empregadas domeacutesticas e uma operadora de caixa de

supermercado

O tipo de parto de maior incidecircncia vivenciado pelas mulheres foi o parto normal

num total de dez e o total de cesaacutereas foram nove

25 Inserccedilatildeo em campo

Inicialmente na USK foram contatadas mulheres que participavam dos grupos de

planejamento familiar e que compareciam nos dias preacute-estabelecidos para a dispensa dos

meacutetodos anticoncepcionais No HUSM a busca de sujeitos estendeu-se agraves diferentes unidades

de atendimento gineco-obsteacutetrico mulheres acompanhantes e mulheres que trabalham nestas

unidades e que atendiam aos criteacuterios de inclusatildeo

Tanto na USK quanto no HUSM as mulheres foram selecionadas por meio de contato

direto com a pesquisadora na sala de espera das referidas unidades ou quando estavam

acompanhando a sua familiar durante a internaccedilatildeo no HUSM

Como havia entre as participantes funcionaacuterias do serviccedilo que atendiam aos criteacuterios

de inclusatildeo dos sujeitos estas profissionais foram convidadas e as entrevistas realizadas

durante o intervalo do horaacuterio de trabalho Algumas entrevistas foram realizadas no domiciacutelio

das participantes e outras na proacutepria unidade de sauacutede e unidades do HUSM em uma sala

reservada

26 Coleta de dados

Para a obtenccedilatildeo da coleta de dados utilizou-se como instrumento uma entrevista semi-

estruturada contendo questotildees fechadas para a caracterizaccedilatildeo do grupo em estudo e questotildees

abertas que possibilitaram o aprofundamento dos dados e a obtenccedilatildeo de respostas

34

relacionadas agrave vivecircncia das pessoas A coleta de dados foi entre janeiro e marccedilo de 2011 A

entrevista foi gravada em MP3 e posteriormente transcrita na iacutentegra pela pesquisadora de

forma literal A entrevista aberta eacute aquela em que o informante aborda livremente o tema

proposto com pergunta previamente formulada e que possibilita descrever sua vivecircncia de

forma retrospectiva sem repressatildeo de seu pensamento Propicia coletar material

extremamente rico para anaacutelise e contribui para o trabalho de pesquisa em andamento

(MINAYO 2000) Como estrateacutegia de compreensatildeo da realidade sua principal funccedilatildeo eacute

retratar as experiecircncias vivenciadas bem como as definiccedilotildees fornecidas por pessoas grupos

ou organizaccedilotildees (MINAYO 2000)

As entrevistas foram previamente agendadas por meio de contato pessoal sendo

marcados data local e horaacuterio que melhor conviessem agraves entrevistadas evitando interrupccedilotildees

constrangimentos de modo a lhes permitir sentir-se agrave vontade

27 Anaacutelise dos dados

Em posse dos dados coletados estes foram objeto da investigaccedilatildeo de acordo com a

anaacutelise temaacutetica de Minayo (2008) Tal anaacutelise consiste em descobrir os nuacutecleos de sentidos

que constituem uma comunicaccedilatildeo em que sua frequecircncia ou presenccedila revela algum

significado para o objeto analiacutetico Por conseguinte para analisar significados de um

determinado depoimento o surgimento de determinados temas denota estruturas de

relevacircncia valores de referecircncia e modelos de comportamento que podem estar ocultos no

discurso (MINAYO 2008)

Considera-se que a compreensatildeo e a interpretaccedilatildeo das entrevistas nas pesquisas

qualitativas natildeo se realizam em um soacute momento pois acontecem no decorrer da proacutepria coleta

e anaacutelise dos dados quando o pesquisador interage com os sujeitos do estudo na transcriccedilatildeo

das entrevistas e particularmente nas leituras e na organizaccedilatildeo das informaccedilotildees Poreacutem para

uma melhor sistematizaccedilatildeo e compreensatildeo deve-se seguir um percurso ordenado para que se

possa igualmente apreender o conjunto dos significados contidos nos depoimentos dos

entrevistados

Minayo (2008) descreve seguindo Bardin (1977) que essa ordenaccedilatildeo da anaacutelise

temaacutetica segue a sequecircncia de trecircs etapas quais sejam preacute-anaacutelise a exploraccedilatildeo do material e

o tratamento dos resultados obtidos e interpretaccedilatildeo

35

Neste estudo a etapa de preacute-anaacutelise compreendeu a interpretaccedilatildeo do material que se

deu a partir dos questionamentos do investigador Essa etapa consistiu em trecircs tempos o

primeiro chamado de leitura flutuante entendido como a leitura exaustiva das informaccedilotildees do

material de campo periacuteodo de impregnaccedilatildeo do conteuacutedo pelo investigador Jaacute o segundo

tempo foi a Constituiccedilatildeo do ldquoCorpusrdquo no qual se buscou verificar se o material coletado

abrangia regras de eficaacutecia qualitativa tais como exaustividade representatividade

homogeneidade e pertinecircncia Em relaccedilatildeo ao terceiro tempo este perpassou a Formulaccedilatildeo e a

Reformulaccedilatildeo de Hipoacuteteses e Objetivos que baseou-se no retorno a etapa exploratoacuteria de

revisatildeo das hipoacuteteses com intuito de corrigir erros de interpretaccedilatildeo e de ampliar o leque de

indagaccedilotildees para identificar o que surge de relevante para posterior construccedilatildeo de temas ou

categorias de anaacutelise

A segunda etapa da anaacutelise temaacutetica consistiu na Exploraccedilatildeo do Material que se

delineou basicamente nas categorias especiacuteficas que abrangeram elementos ou aspectos de

caracteriacutesticas comuns ou que se relacionavam entre si

A terceira etapa constituiu o Tratamento dos Resultados Obtidos e a Interpretaccedilatildeo

Nesse momento realizaram-se inferecircncias sendo realizada a articulaccedilatildeo entre as informaccedilotildees

aqui construiacutedas e os referenciais teoacutericos de estudos jaacute publicados respondendo agrave questatildeo da

pesquisa com base em seus objetivos

28 Questotildees eacuteticas

Para a realizaccedilatildeo de todas as atividades da pesquisa atentou-se para os criteacuterios eacuteticos

e os princiacutepios bioeacuteticos da voluntariedade da autonomia da beneficecircncia da natildeo-

maleficecircncia e da justiccedila que fundamentam a Resoluccedilatildeo nordm 19696 do Conselho Nacional de

Sauacutede o qual prescreve a eacutetica na pesquisa com seres humanos (BRASIL 1996)

O projeto foi registrado no Gabinete de Projetos do Centro de Ciecircncias da Sauacutede

sendo solicitada autorizaccedilatildeo para o desenvolvimento da pesquisa ao Secretaacuterio Municipal de

Sauacutede e a Direccedilatildeo de Ensino e Pesquisa do HUSM (DEPE) Em um segundo momento foi

encaminhado para a anaacutelise do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa com Seres Humanos da UFSM

(CEP) com a devida documentaccedilatildeo solicitada assinada pelo responsaacutevel legal da instituiccedilatildeo e

pela pesquisadora Apoacutes a aprovaccedilatildeo do CEP foi realizada a etapa de campo da pesquisa

36

Os sujeitos foram informados dos detalhes da pesquisa objetivos e produccedilatildeo de dados

Para tanto antes da realizaccedilatildeo da entrevista foi lido com os sujeitos o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apecircndice B) que concordando com este

optaram por assinaacute-lo O TCLE foi redigido em duas vias uma para a participante e outra

para a pesquisadora Da mesma forma foi redigido o Termo de Confidencialidade o qual

descreve o compromisso das pesquisadoras em relaccedilatildeo agraves informaccedilotildees que soacute poderatildeo ser

divulgadas de forma anocircnima e mantidas em Compact Disc (CD) por um periacuteodo de 5

(cinco) anos sob a sua inteira responsabilidade Apoacutes este periacuteodo ficou acordado que os

dados gravados seratildeo destruiacutedos Destaca-se que o compromisso em relaccedilatildeo agrave preservaccedilatildeo do

sigilo da identidade dos sujeitos durante todas as etapas da pesquisa mesmo com a

divulgaccedilatildeo dos seus resultados sob qualquer forma foi observado sendo utilizado o sistema

de identificaccedilatildeo alfanumeacuterico

Foram ressaltadas a liberdade da participaccedilatildeo espontacircnea e o direito de desistecircncia por

parte das participantes a qualquer momento da pesquisa a fim de se evitar riscos agrave dimensatildeo

fiacutesica moral intelectual social cultural ou espiritual em qualquer fase da pesquisa com a

garantia dos princiacutepios de beneficecircncia e natildeo-maleficecircncia No entanto foi exposto que o

momento da entrevista poderia trazer algumas lembranccedilas questionamentos eou conflitos agrave

dimensatildeo emocional pelo fato de que o sujeito iria refletir sobre o seu cotidiano e suas

vivecircncias Caso isto acontecesse poderia ser indicada uma consulta se assim a participante

desejasse com profissional qualificado do serviccedilo da aacuterea de sauacutede mental do Hospital

Universitaacuterio de Santa Maria previamente contatado

37

3 ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS DADOS

O parto institucionalizado vem sendo apresentado agraves mulheres como um periacuteodo

essencialmente meacutedico que traz consigo as referecircncias de um periacuteodo patoloacutegico e

medicalizado Em consequumlecircncia disso a abordagem sob a perspectiva bioloacutegica pode reduzi-

lo e suprimir a revelaccedilatildeo dos diferentes acircngulos e facetas do universo cultural e social da

parturiente Em virtude disso este estudo fundamentou-se em conceitos socioculturais e natildeo

apenas nos meacutedico-cientiacuteficos Salienta-se que natildeo se pretende abolir os conceitos

biomeacutedicos mas antes entendecirc-los como apenas uma dentre as vaacuterias formas de abordagem

do nascimento

Monticelli (1996) aborda essa questatildeo ao confirmar que a enfermagem quando age

contextualizada dentro desta perspectiva propicia o compartilhamento de saberes e praacuteticas

evitando posturas etnocecircntricas simplistas ou puramente biologicistas sobre o processo da

parturiccedilatildeo

Na sequecircncia deste capiacutetulo seratildeo abordados seis temas surgidos em decorrecircncia da

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados que surgiram das falas das mulheres entrevistadas percepccedilatildeo

das mulheres sobre o nascimento percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado a percepccedilatildeo

das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto conhecendo como se daacute a construccedilatildeo cultural

do processo parturitivo das mulheres resistecircncia das mulheres ao modelo biomeacutedico do parto

percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea

A partir desses temas estabelecer-se-aacute um diaacutelogo com o referencial teoacuterico buscando

alcanccedilar nesse movimento a compreensatildeo de como a cultura influecircncia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher

A Percepccedilatildeo das mulheres sobre o nascimento

Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo das mulheres sobre o nascimento foram relatadas tanto

experiecircncias positivas quanto negativas

A abordagem positiva relatada pelas entrevistadas retrata a responsabilidade por uma

nova vida e a emoccedilatildeo do nascimento conforme as falas das entrevistadas

Tem a parte fiacutesica e espiritual Eu vejo como uma forma de oportunidade da gente crescer e

dar esta oportunidade para este ser que estaacute vindo resgatar as coisas que a gente precisa e que ele

precisa tambeacutem (M1)

38

Eacute uma daacutediva que Deus deu para gente inexplicaacutevel assim apesar de tudo o que a gente

passa ateacute o nascimento da crianccedila Eacute maravilhoso (M2)

Eu acho que eacute uma vida nova que vem para gente compromisso de ter que guiar aquela

pessoa que taacute nascendo com amor com aquele sentimento de cuidar de matildee de ser responsaacutevel por

aquele ser pelas atitudes dele pelo crescimento dele (M3)

O que eu imaginava na hora era ganhar ver o rostinho deles a parte mais emocionante eacute ver

a hora que eles nascem (M8)

As falas das mulheres apontam para positividades da percepccedilatildeo do parto relacionada agrave

emoccedilatildeo da primeira vez de ver o bebecirc e ao contato fiacutesico nesse momento bem como ao

sentimento de responsabilidade pelo filho Essa abordagem transmite um senso de unidade

sobre a pessoa e sua experiecircncia fiacutesica com enfoque nos aspectos emocionais e espirituais do

nascimento Segundo Martin (2006 p 248) ldquoo parto positivo concentra-se na integraccedilatildeo

funcional de todas as partes da mulher - suas memoacuterias passadas esperanccedilas futuras sua

mente e seu corpordquo

Martin (2006) apresenta as metaacuteforas da danccedila e da jornada para descrever esta

integridade colocam a mulher em um papel claramente ativo A danccedila ao significar que

quando corpo e mente encontram-se alinhados danccedilam em sincronia e unidade e entregam-se

agrave nova vida que vem chegando A metaacutefora do parto como uma jornada torna-se uma

oportunidade para o crescimento psicoloacutegico da mulher que se inicia no primeiro trimestre e

culmina no trabalho de parto quando ela relaciona-se iacutentima e singularmente consigo mesma

tendo ao final uma experiecircncia de aprendizado totalmente sua

Foi destacada pelas entrevistadas a mudanccedila do status social e o compromisso com

este novo ser na sua vida denotando o compromisso e a responsabilidade de ser matildee A

mulher que daacute agrave luz com vivecircncias positivas apresenta atitudes que vatildeo dignificaacute-la e que

fortalecem o seu ldquoeu interiorrdquo (BALASKAS 2008)

Este momento faz parte de um ritual de transiccedilatildeo social presente em todas as

sociedades do status social de esposa para o de matildee com intuito de unir os aspectos

fisioloacutegicos aos aspectos sociais da vida de uma pessoa Dessa maneira existem muitas

crenccedilas e rituais do parto e puerpeacuterio no mundo ocidental que continuam ateacute que a matildee e a

crianccedila estejam estabelecidas com seguranccedila em suas posiccedilotildees sociais (HELMAN 2009)

Segundo Odent (2003) atribui-se importacircncia crucial agrave primeira hora apoacutes o parto para

o desenvolvimento da capacidade de amar Nessa fase em condiccedilotildees fisioloacutegicas a liberaccedilatildeo

de ocitocina conhecida como ldquohormocircnio do amorrdquo associada agrave prolactina ldquohormocircnio da

maternidaderdquo significa que se matildee e o bebecirc estiverem em contato pele a pele e olho no olho

39

as chances de se estabelecer apego interaccedilatildeo e amor estatildeo garantidas para ambos Isso eacute

ratificado por Odent (2003) ao referir-se que quando o meio cultural interfere com rotinas

que desestimulam esse apego entre a matildee e o bebecirc tais como o uso de sedativos agentes

anesteacutesicos e analgeacutesicos durante o parto influencia toda a capacidade de amar devido a natildeo

liberaccedilatildeo da ocitocina natural pelo organismo da mulher

Um aspecto negativo expresso pelas entrevistadas concernente agrave percepccedilatildeo do

nascimento refere-se ao desconhecimento sobre a fisiologia do parto o que as fez entender

este processo semelhante a um processo patoloacutegico e sujeito a vaacuterias intervenccedilotildees

desnecessaacuterias conforme os relatos

O primeiro eu natildeo tinha a orientaccedilatildeo que eu tenho agora ningueacutem me orientou Foi muito

doiacutedo e difiacutecil inclusive ateacute porque ele era bem grande e iam passar o foacuterceps Natildeo sei se chegaram a

colocar mas eu consegui e nasceu normal E me colocaram o soro com ocitocina () e eu disse ldquopara

quecircrdquo mas natildeo me explicaram (M1)

Jaacute tinha perdido o tampatildeo uns 3 dias antes de comeccedilar ldquoas dorrdquo entatildeo eu ficava preocupada

ldquoSeraacute que eu natildeo vou sentir dorrdquoldquo seraacute que eu natildeo vou saber quando vai ser a hora de ir ao

hospitalrdquo Me colocaram o soro para induzir () natildeo me explicaram nada Depois veio a anestesia

remeacutedios acho que para enjocirco () natildeo consegui ganhar normal (M2)

Achei que eu tinha que me esforccedilar mais em todos eles Por isso na hora de ganhar sempre

me dava um medo Aiacute eu natildeo sei se eu me trancava Botaram o soro para dor e eu ao inveacutes de fazer a

forccedila direito como se deve fazer eu me retrancava e comeccedilava a chorar (M7)

Eu acho o parto normal muito mais arriscado que a cesaacuterea Todos os meus foram cesaacuterea

No meu caso eu acho que foi por causa da dilataccedilatildeo Todas foram agendadas Os meus filhos quando

chegam no uacuteltimo mecircs natildeo querem ficar nascem antes A minha filha nasceu com 8 meses com muito

pouco peso e foi para UTI (M8)

Os sentimentos relatados pelas entrevistadas de natildeo saber como agir no parto

exprimem significativamente seu desconhecimento acerca do processo fisioloacutegico e refletem-

se em medo e inseguranccedila Uma vez que natildeo sabem o que estaacute acontecendo com seu corpo as

mulheres controlam-no menos demonstram fragilidade e tendem a ser tratadas como objeto

de controle da equipe meacutedica Desse modo aceitam passivamente as intervenccedilotildees meacutedicas

como necessidades normais e rotineiras no parto a exemplo dos relatos do uso de ocitocina

de foacuterceps e da indicaccedilatildeo de cesariana previamente agendada

Esse eacute o modelo de atendimento tecnocraacutetico de assistecircncia descrito pela antropoacuteloga

Davis Floyd (2004) que representa a corrente de pensamento convencional e dominante

norteadora da praacutetica da assistecircncia obsteacutetrica haacute vaacuterias deacutecadas na qual o profissional de

sauacutede manteacutem um distanciamento do paciente como forma de proteger a si mesmo das

reaccedilotildees emocionais frente agraves anguacutestias deste

40

A forma e a percepccedilatildeo de como as mulheres vivenciam a sua experiecircncia de parto satildeo

impregnadas pela realidade conforme modelo que se apresenta para a sociedade isto eacute com a

mensagem de que eacute imprescindiacutevel a utilizaccedilatildeo da tecnologia como garantia de um parto

seguro O que resulta disso eacute o que chamamos de uma ldquocascata de intervenccedilotildeesrdquo que ocorre

quando uma praacutetica obsteacutetrica desencadeia outras fazendo com que se altere o processo

natural do parto (BALASKAS 2008)

Destaca-se tambeacutem a desinformaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos riscos que advecircm da cesaacuterea

desnecessaacuteria para matildee e bebecirc A entrevistada M8 narra que as cesaacutereas foram realizadas

antes de sua gestaccedilatildeo estar a termo Sabe-se que a prematuridade iatrogecircnica ocasionada por

cesaacutereas sem indicaccedilatildeo estaacute associada ao aumento da taxa de nascimentos de receacutem nascidos

preacute-termo (MACDORMAN et al 2008) e ao aumento da mortalidade neonatal (VILLAR et

al 2007)

Concorda-se com Balaskas (2008) ao afirmar que as cicatrizes corporais deixadas

pelas intervenccedilotildees desnecessaacuterias no corpo da mulher transformam-se em uma vivecircncia de

sofrimento inseguranccedila e sobrepujam toda e qualquer vivecircncia positiva ocorrida no parto

Logo um momento que deveria ser natural repleto de lembranccedilas positivas e felizes para a

mulher constitui-se num evento traumatizante Nessa direccedilatildeo entende-se que se o

comportamento humano eacute influenciado diretamente pelo meio cultural pois humanos

comunicam-se e criam cultura a socializaccedilatildeo da naturalizaccedilatildeo do parto como evento rodeado

de tecnologia e risco bem como a recapitulaccedilatildeo das experiecircncias traumaacuteticas contadas pelas

mulheres reforccedilam-se na convivecircncia social (ODENT 2004)

Ademais as intervenccedilotildees desnecessaacuterias sobrepotildeem-se ao poder que a mulher tem de

parir e que atualmente ela mesma desconhece pois a histoacuteria repassada pela medicina nas

uacuteltimas deacutecadas na cultura ocidental transformou o parto em um evento essencialmente

meacutedico sendo a mulher apenas uma parte do cenaacuterio (SEIBERT 2005)

O uso do recurso da aceleraccedilatildeo no parto com o uso do soro com ocitocina foi

percebido como forma negativa para as mulheres que o relataram O emprego de hormocircnios

sinteacuteticos no trabalho do parto como eacute o caso da ocitocina tende a cessar a fisiologia e as

etapas do parto (FIGUEREDO L 2010)

Ratificando essa informaccedilatildeo um estudo feito por Barros (2005) mostra que o aumento

de partos cesaacutereos estaacute relacionado agrave praacutetica da induccedilatildeo medicamentosa A falha de induccedilatildeo

provoca a indicaccedilatildeo de uma cesaacuterea que implica a utilizaccedilatildeo de anestesia medicaccedilotildees

antibioacuteticas profilaacuteticas medicaccedilatildeo para naacuteuseas medicaccedilatildeo para dor no poacutes-operatoacuterio e

utilizaccedilatildeo de outras drogas o que pode afetar drasticamente o comportamento materno pois o

41

que se verifica em estudos com outros mamiacuteferos eacute o natildeo-cuidado de seus bebecircs apoacutes uma

cesariana (ODENT 2004)

Eacute primordial durante a gestaccedilatildeo o preparo das mulheres para o parto apoiando suas

informaccedilotildees em praacuteticas baseadas em evidecircncias cientiacuteficas pois a grande maioria dos

procedimentos que os profissionais de sauacutede ainda utilizam no parto satildeo rotinas que estatildeo

caindo em desuso pois se mostraram mais danosas do que beneacuteficas Se as proacuteprias pacientes

souberem disso atraveacutes de atividades educativas no preacute-natal seraacute muito mais faacutecil reverter

esse quadro (DINIZ 2003)

Concorda-se nessa direccedilatildeo que a consulta preacute-natal tambeacutem eacute um espaccedilo importante

para mudanccedila de atitudes em relaccedilatildeo ao parto incentivada por profissionais que valorizam os

aspectos sociais e subjetivos da gestaccedilatildeo do parto e do nascimento (FREITAS 2005)

A Percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado

Nesta categoria as mulheres expressam a via de parto desejada A maior parte

manifestou o desejo pelo parto normal Apenas uma entrevistada manifestou preferecircncia pela

cesaacuterea e teve sua vontade atendida

Do primeiro eu natildeo pesquisei dos outros que eu comecei a ler sobre o assunto Eu queria ter

o parto em casa e mais informaccedilotildees do meacutedico Trabalhei ateacute a uacuteltima hora de internar Foi bom fiz a

respiraccedilatildeo direitinho e acabei ganhando no leito como eu pensei que queria que nascesse (M1)

Eu tinha conversado com meu esposo em casa e a gente queria parto normal mas natildeo deu

perdi o controle (M2)

Quando eu dizia que queria parto normal me diziam ldquopor que fazer parto normal por que

natildeo faz uma cesaacutereardquo Eu dizia ldquoeu quero parto normal pela recuperaccedilatildeo mais raacutepida para poder

voltar a estudarrdquo e eu achei bem melhor o parto normal do que ter feito uma cesaacuterea que daiacute eu ia

ficar dias sem poder voltar a estudar (M3)

Eu sempre quis cesaacuterea porque eu tinha medo de sentir dor ali na hora Eu vi o bebecirc assim

que o tiraram () Natildeo recebi orientaccedilatildeo sobre parto normal do meacutedico (M4)

A minha preferecircncia sempre foi o parto normal eu achei que ia ganhar normal deste uacuteltimo

mas natildeo deu fiquei frustrada (M5)

Por mim poderia ser parto vaginal tanto que do primeiro filho eu ia caminhar ateacute na veacutespera

para ver se evoluiacutea para parto normal mas natildeo evoluiu daiacute foi cesaacuterea e do outro foi cesaacuterea

tambeacutem Teve que ser programada (M6)

O parto normal foi desejado Se tivesse feito uma cesaacuterea seria o fim do mundo porque eu

demorei para aceitar a ideacuteia de que teria que fazer uma laqueadura por cesaacuterea Eu sempre dei a

preferecircncia para parto normal por causa de comentaacuterios e sobre ter infecccedilatildeo (M7)

42

Eu tinha na cabeccedila que o meu primeiro filho ia ser normal Parto normal a matildee ganha e jaacute

sai caminhando com a crianccedila no colo e cesaacuterea natildeo (M8)

Na fala das entrevistadas revelou-se o desejo pelo parto normal ou pela cesaacuterea

destacando o entendimento de que o parto normal tem a recuperaccedilatildeo mais raacutepida natildeo

interferindo na rotina e autonomia delas apresenta menos risco de infecccedilatildeo e a cesaacuterea

poderia proteger quanto agrave dor do parto Esses pontos justificaram em grande parte seu desejo

pelas vias de parto

Para Martin (2006) as mulheres que desejam o parto normal e conseguem passar por

essa experiecircncia consideram-no um processo que acontece naturalmente como algo que a

mulher realiza e natildeo simplesmente vecirc acontecer consigo

Estudos de natureza quantitativa e qualitativa da aacuterea da sauacutede em relaccedilatildeo agrave escolha

para o parto normal constataram que as expectativas das mulheres em relaccedilatildeo ao tipo de parto

justificaram-se pela recuperaccedilatildeo poacutes-parto mais raacutepida e por ser melhor para elas eou para os

bebecircs (OLIVEIRA 2002 MELCHIORI et al 2009 MANDARINO et al 2009)

A entrevistada que realizou a cesariana por desejo proacuteprio justificou sua escolha pelo

medo da dor do parto A forma como se percebe e se responde agrave dor pode ser influenciada

pela origem cultural e social Em outros grupos culturais a dor do parto natildeo eacute temida muito

diferentemente das mulheres de paiacuteses ocidentais que a temem e satildeo bastante propensas a

aceitar drogas analgeacutesicas ou anesteacutesicas (HELMAN 2009)

No Brasil o medo da dor eacute apontado como uma das causas da intervenccedilatildeo cesariana

requerida pelas mulheres e pode ser considerado assim um dos motivadores do aumento das

taxas dessa cirurgia no paiacutes (FAUacuteNDES CECATTI 1991 OLIVEIRA et al 2002)

Em um estudo feito por Almeida (2009) sobre a dor do parto normal a autora

evidenciou a ocorrecircncia de uma relaccedilatildeo de poder dos serviccedilos de obstetriacutecia sobre o corpo

feminino e a forma como estes serviccedilos gerenciam-se mantendo o processo da medicalizaccedilatildeo

o que se constitui um dos mecanismos de favorecimento da perpetuaccedilatildeo do parto cesaacutereo

com a finalidade de evitar a dor do parto normal

Entende-se tambeacutem que a dor do parto eacute em grande medida iatrogecircnica amplificada

pelo modelo assistencial que institui rotinas como a imobilizaccedilatildeo o uso abusivo de ocitocina

artificial a manobra de Kristeller a episiotomia e a episiorrafia praacuteticas no parto normal que

satildeo claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas com base em evidecircncias

cientiacuteficas e em recomendaccedilotildees da OMS (1996) e do Ministeacuterio da Sauacutede (BRASIL 2001)

43

Para tanto foi instituiacutedo pelo Ministeacuterio da Sauacutede (2000b) o Programa de

Humanizaccedilatildeo no Preacute-Natal e Nascimento cujo objetivo eacute melhorar a assistecircncia obsteacutetrica

provocada por praacuteticas e condutas inadequadas

Segundo Floyd (2004) o programa eacute traduzido como um modelo humanista de

assistecircncia tambeacutem referido por ela como modelo holiacutestico Os profissionais que atuam nessa

vertente simplesmente tecircm como desejo humanizar a tecnomedicina e apresentam maior

potencial para reformar o modelo tecnocraacutetico com mudanccedilas de atitudes e de paradigma

O modelo holiacutestico eacute o que abarca uma variedade mais rica de abordagem rompe

totalmente com o modelo dominante atual utiliza modalidades que satildeo menos prejudiciais

assiste as pessoas em seu contexto crecirc em outros modos de contexto que curam compreende

a dimensatildeo espiritual do cuidado da sauacutede e tambeacutem fortalece o desenvolvimento da vida de

cada pessoa (FLOYD 2004)

Neste sentido a escolha da via de parto torna-se importante uma vez que leva em

consideraccedilatildeo o contexto soacutecio cultural e assistencial em que a parturiente estaacute inserida e os

aspectos bioloacutegicos e psicoemocionais com intuito de promover um cuidado direcionado agraves

suas necessidades conforme recomendado nos estudos de Bezerra Cardoso (2005) e Budoacute et

al (2007) referentes a outros cenaacuterios da sauacutede Tal cuidado aproxima-se da humanizaccedilatildeo da

atenccedilatildeo no parto

De destaque nas falas das entrevistadas do presente estudo eacute o sentimento de

frustraccedilatildeo e perda de controle das que desejavam parto normal e tiveram de submeter-se agrave

cesaacuterea Situaccedilatildeo semelhante surgiu no relato das mulheres que Emily Martin (2006)

entrevistou em Baltimore (EUA) quando percebeu nos depoimentos que uma das reaccedilotildees

mais comuns especialmente quando a mulher planeja um parto vaginal e a cirurgia ocorre eacute a

perda de controle do seu parto

Por outro lado entre as entrevistadas que conseguiram realizar o parto normal

consoante seu desejo de via de parto o sentimento de aliacutevio foi constatado Para Balaskas

(2008) as sensaccedilotildees de aliacutevio realizaccedilatildeo gratidatildeo ecircxtase partem de uma grande variedade

de sensaccedilotildees que somente a experiecircncia do parto normal propicia

Uma das entrevistadas relata orientaccedilatildeo para cesariana a fim de submeter-se agrave

laqueadura tubaacuteria tendo seu desejo frustrado quanto agrave opccedilatildeo da via de parto uma vez que

desejava realizar parto normal Evidencia-se que natildeo houve o desejo de cesaacuterea no entanto a

necessidade da laqueadura

A constataccedilatildeo do desestiacutemulo ao parto normal feito pela equipe meacutedica mesmo

cientes de que essas mulheres tinham histoacuterias preacutevias de partos normais a fim de realizar

44

uma cesaacuterea concomitantemente agrave laqueadura tubaacuteria mostra o desrespeito agrave lei nordm 9263 que

trata do planejamento familiar que veda a esterilizaccedilatildeo ciruacutergica em mulher durante os

periacuteodos de parto ou aborto exceto nos casos de comprovada necessidade por cesarianas

sucessivas anteriores (BRASIL 2002)

As entrevistadas que se submeteram agrave cesaacuterea apresentaram percepccedilotildees de que algo

que foi feito com elas e natildeo de sua participaccedilatildeo como relatado nas seguintes frases ldquotiraram

o bebecircrdquo (M4) ldquopuncionaram-me umas 15 vezesrdquo (M6) ldquose a hemorragia natildeo parasse iam

tirar o meu uacuteterordquo (M8)

A sensaccedilatildeo de passividade e separaccedilatildeo entre o eu e o seu corpo surge em niacutevel

extremo quando as mulheres descrevem a cesariana Parte disso adveacutem pelo fato de ser uma

cirurgia em que um nuacutemero maior de pessoas toca manipula corta e costura seu corpo Outra

parte deve-se agrave anestesia peridural que produz insensibilidade da cintura para baixo e

intensifica-se pela colocaccedilatildeo de um pano sobre o peito da mulher de modo que ela natildeo

enxerga a metade inferior do seu corpo (MARTIN 2006)

Verificamos nas falas das entrevistadas que os laccedilos entre a matildee e o bebecirc podem estar

sendo desestimulados por priorizarem-se cuidados que poderiam ser postergados ldquoPrimeiro

foi realizado os cuidados com o bebecirc e me mostraram jaacute enrolado com as roupasrdquo (M6)

ldquoFicavam ali fazendo os cuidados com o bebecirc e me mostravam bem depoisrdquo (M8)

Esses cuidados aleacutem de estar interferindo na relaccedilatildeo amorosa matildee-bebecirc podem estar

ignorando a implementaccedilatildeo de praacuteticas simples como o clampeamento tardio do cordatildeo

umbilical o contato imediato pele-a-pele e o iniacutecio da amamentaccedilatildeo exclusiva que tem um

impacto a longo prazo na nutriccedilatildeo e na sauacutede da matildee e do bebecirc pois afetam o

desenvolvimento da crianccedila muito aleacutem do periacuteodo neonatal e do puerpeacuterio (BRASIL 2011)

A metaacutefora da produccedilatildeo no nascimento proposta pela antropoacuteloga Emily Martin

(2006) retrata a interrupccedilatildeo dos laccedilos afetivos entre matildees e bebecircs que sofreram cesarianas

devido ao controle sobre o corpo feminino exercido pela retirada do protagonismo da mulher

da cena do nascimento Fato esse semelhante agrave metaacutefora da produccedilatildeo industrial do natildeo-

envolvimento da trabalhadora com o produto do seu trabalho quando ela natildeo sente que foi

quem o produziu e quando o seu trabalho eacute estritamente organizado e controlado (MARTIN

2006)

Frequentemente quando se interfere na produccedilatildeo de um bebecirc segundo a metaacutefora da

produccedilatildeo industrial que ocorre quando natildeo eacute a mulher que daacute agrave luz e o bebecirc eacute extraiacutedo

cirurgicamente por um meacutedico a matildee sente-se desligada da crianccedila apoacutes seu nascimento

(MARTIN 2006)

45

Nesta direccedilatildeo um estudo realizado na Universidade da Cidade do Cabo Aacutefrica do Sul

mostrou que a separaccedilatildeo entre matildee e o bebecirc tem impactos negativos influenciando na

duraccedilatildeo do sono e na frequecircncia cardiacuteaca do bebecirc (BARAK 2011)

O modelo de atendimento biomeacutedico desestimula a implementaccedilatildeo de cuidados

comprovadamente eficazes e passa uma mensagem que matildee e bebecirc satildeo como uma diacuteade

conflitante natildeo sendo vistos como uma unidade integral (MARTIN 2006)

Outro elemento a ser salientado refere-se agrave percepccedilatildeo de ser matildee atraveacutes da vivecircncia

do trabalho de parto ou seja compreende-se o significado de ser matildee por meio da vivecircncia da

parturiccedilatildeo conforme fala da entrevistada Era meu primeiro filho decidi que para ser matildee

teria que ganhar de parto normal [] Se eacute para ser matildee vamos ser matildee mesmo (M3)

Como se pode notar a entrevistada destaca que o parto normal foi primordial para

sentir-se realmente matildee Importante nesse sentido a afirmaccedilatildeo de Monticelli (1996) de que o

parto eacute um ritual que marca profundamente o inconsciente feminino principalmente se for o

primeiro

A Percepccedilatildeo das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto

Nesta categoria foi significante a falta de autonomia da mulher na decisatildeo sobre a via

de parto Para compreensatildeo do parto como um evento na vida da mulher em relaccedilatildeo agrave decisatildeo

sobre o tipo de parto as mulheres opinaram

A cesaacuterea geralmente eacute o meacutedico que decide Eu sabia disso daiacute que nem todas satildeo iguais

porque a minha voacute teve 6 cesaacutereas e 6 normal e a minha matildee soacute fez cesaacuterea Entatildeo eu sabia que

podia acontecer comigo e realmente aconteceu O meacutedico disse que ia fazer uma cesaacuterea e fez

cesaacuterea disse que ela tinha tomado aacutegua no parto (M8)

Deveria ser da mulher mais do que do meacutedico jaacute que ela que estaacute sentindo e sabendo o que

estaacute acontecendo (M1)

A niacutevel de consultoacuterio (rede privada) eacute o meacutedico Natildeo daacute para escolher() Eu queria Por

mim poderia ser parto vaginal (M6)

Eu acho que deve ser a mulher mas eacute o meacutedico que decide Eles dizem que eacute protocolo que

isso que aquilo mas sabe-se que natildeo eacute assim Soacute que natildeo acontece isso neacuteEla natildeo tem o direito de

decidir se quer um parto normal ou uma cesaacuterea Eacute colocado para ela que ela vai ganhar de parto

normal por causa disso ou daquilo mas agraves vezes ela natildeo estaacute preparada de repente eacute o melhor para

o corpo mas natildeo o melhor para cabeccedila dela natildeo estaacute preparada para aquilo ali (M3)

Eacute o meacutedico que tem o poder de decisatildeo se vai ser parto vaginal ou cesaacuterea (M2)

46

Nessa categoria foi significativo o entendimento das mulheres sobre o poder de

decisatildeo que os meacutedicos tecircm em relaccedilatildeo ao tipo de parto Poreacutem elas discordam de que este

profissional determine a escolha de forma unilateral e apontam para inclusatildeo delas nessa

decisatildeo Esta perspectiva direciona-se para a autonomia e a participaccedilatildeo da mulher na decisatildeo

sobre a via de parto embora o que se constate eacute que o meacutedico determina qual a finalizaccedilatildeo da

gestaccedilatildeo

Entende-se que a questatildeo de avaliaccedilatildeo de risco e a indicaccedilatildeo de se realizar uma

cesaacuterea sejam de competecircncia meacutedica No entanto a mulher deve receber informaccedilotildees sobre

os riscos e benefiacutecios da intervenccedilatildeo a fim de exercer sua participaccedilatildeo ativa no processo Tal

questatildeo enfatiza o direito agrave informaccedilatildeo e agrave formaccedilatildeo de opiniatildeo das mulheres para que

tenham o direito de reivindicar aquilo que eacute beneacutefico para a sua sauacutede e a de seu bebecirc

Profissionais e mulheres podem ateacute tomar uma decisatildeo antecipada sobre o tipo de parto

poreacutem esse fato natildeo pode ser visto como uma simples questatildeo de preferecircncia como no caso

da cesaacuterea antecipada ou eletiva sem indicaccedilatildeo pois pode implicar em riscos e complicaccedilotildees

futuras para matildee e para o bebecirc (BRASIL 2001)

Para o Ministeacuterio da Sauacutede (2006a) um dos valores da Poliacutetica Nacional de

Humanizaccedilatildeo eacute o principio da autonomia de pensar os indiviacuteduos como sujeitos autocircnomos e

como protagonistas nos coletivos de que participam como co-responsaacuteveis pelo processo de

produccedilatildeo de sauacutede de si e do mundo em que vivem

Quando falamos da autonomia da mulher parturiente falamos de um processo em que

a cada momento se vai desconstruindo o leacutexico cientificoteacutecnico para que a mulher e a

famiacutelia possam ser chamadas ao centro de decisatildeo Mas para isso eacute importante oferecer toda a

informaccedilatildeo que ela necessita para se tornar um membro efetivo da equipe de sauacutede e como

tal ter pleno poder e capacidade de decidir da forma mais vantajosa para todos Esse eacute sem

duacutevida um processo de grande complexidade que em uma aplicaccedilatildeo absoluta incita os

profissionais de sauacutede a compreenderem que o respeito pela autonomia da mulher natildeo

constitui um dano na sua autonomia profissional mas antes um incremento pela qualidade

participaccedilatildeo e rigor eacutetico obtido atraveacutes desse processo (LEITAtildeO 2010)

Tal processo talvez seja difiacutecil de compreender para o profissional quando se alicerccedila

na cultura biomeacutedica ao redor de uma ideologia de progresso tecnoloacutegico que no contexto do

parto iniciou-se a partir da sua institucionalizaccedilatildeo com o advento da era industrial (FLOYD

2004)

47

A institucionalizaccedilatildeo do parto iniciou-se nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX quando

o mesmo passou a ser visto como um processo patoloacutegico que deveria ser controlado a fim de

evitar a morte materna e perinatal sendo entatildeo marcado por rotinas tais como episiotomias

cesaacutereas desnecessaacuterias utilizaccedilatildeo de foacuterceps profilaacutetico (PROGIANTI BARREIRA 2001)

Para Collaccedilo (2002) as instituiccedilotildees tecircm uma cultura proacutepria fundamentada no empirismo e

na tecnologia que se revelam nas rotinas e condutas intervencionistas do meacutedico O resultado

dessa conduta intervencionista eacute a discrepacircncia entre o que as mulheres desejam e o que eacute

realizado o que justificaria a mudanccedila do tipo de parto (HOPKINS 2000)

Um dos motivos alegados pelos meacutedicos para essa praacutetica seria a mudanccedila de perfil de

risco das gestantes Poreacutem um estudo realizado nos EUA que relacionou o aumento das taxas

de cesaacuterea com a mudanccedila de perfil do risco constatou que as chances de uma mulher ser

submetida a uma cesaacuterea na primeira gestaccedilatildeo sem pertencer a um grupo de risco subiu para

50 em 2005 comparado ao ano de 1996 (DECLERCQ et al 2005)

Essa desinformaccedilatildeo por parte das mulheres pode por fim a sua capacidade na decisatildeo

sobre o tipo de parto e ser atribuiacuteda agrave falta de conhecimento sobre seu corpo os processos

reprodutivos e a sexualidade (SANTOS 2008)

Segundo o relato da entrevistada M6 natildeo haacute o direito de escolha quanto ao tipo de

parto para a mulher que faz o preacute-natal na rede suplementar sendo sua autonomia geralmente

desrespeitada quando deseja um parto normal De acordo com Mccourt et al (2007) a

escolha do tipo de parto pela mulher eacute apontada na literatura meacutedica como um fator que tem

contribuiacutedo para o elevado iacutendice de cesarianas na atualidade

Destaca-se que nos serviccedilos de sauacutede suplementar no Brasil as taxas de cesaacuterea satildeo

as mais elevadas do mundo em torno de 797 (ANS 2001) A cesaacuterea daacute ao meacutedico o

maacuteximo de poder controle e conduccedilatildeo nesse processo e exige o miacutenimo de trabalho do uacutetero

e da mulher criando o ponto de vista de que este procedimento ciruacutergico fornece os melhores

bdquoprodutos‟ isto eacute produzem bebecircs perfeitos semelhantemente agrave metaacutefora de produccedilatildeo tal

como acontece nas induacutestrias (MARTIN 2006)

Logo deu-se iniacutecio a uma crenccedila de que cesaacuterea eacute protetora para o nascimento do

bebecirc Isso pode estar relacionado agrave noccedilatildeo de que partos normais satildeo traumaacuteticos para o feto

e entatildeo os profissionais ldquoaliam-serdquo ao bebecirc contra a destruiccedilatildeo em potencial causada pelo

corpo da matildee no trabalho de parto e no parto o que leva a ignorar aquilo que talvez seja o

mais importante para a mulher e para a crianccedila que eacute a natureza de suas experiecircncias no parto

e no nascimento (MARTIN 2006)

48

Aleacutem do mais na relaccedilatildeo meacutedico-parturiente fica evidente como satildeo encaradas as

questotildees relacionadas ao parto de forma diferente por cada um desses atores (ANS 2008a)

Entre os meacutedicos obstetras institui-se uma cultura proacute-cesaacuterea e como consequecircncia

parte deles natildeo se encontra motivada nem capacitada para o acompanhamento do parto

normal Em contrapartida as mulheres dentro dessa cultura tecircm dificuldade de fazer valer a

sua decisatildeo quanto ao tipo de parto por sentirem-se menos capacitadas a escolher devido agraves

questotildees teacutecnicas levantadas e sustentadas por eles (BRASIL 2001)

Estudos tecircm demonstrado que apenas 20 das usuaacuterias de convecircnio particular

conseguem dar agrave luz por parto normal sendo que a maioria das mulheres brasileiras deseja-o

(REBELO et al 2010 POTTER et al 2001 POTTER et al 2008)

Concorda-se portanto com a visatildeo de ANS (2008a) de que a criacutetica da exclusatildeo das

mulheres na decisatildeo da via de parto deve-se principalmente ao fato de que o modelo

biomeacutedico desconhece os significados que as mulheres datildeo agrave experiecircncia da gestaccedilatildeo e do

parto

Conhecendo como se daacute a construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres foram relatadas

tanto experiecircncias positivas quanto negativas dos partos das mulheres de seu conviacutevio

As mulheres que apresentam uma percepccedilatildeo positiva sobre parto normal apresentam

nas famiacutelias histoacuterias e relatos positivos do parto de suas familiares

A minha matildee teve 5 partos normais Todos em casa e a minha voacute era parteira Acho que a

influecircncia vem daiacute Queria que minha voacute tivesse viva para eu ter tido os meus filhos com ela A matildee

sempre foi positiva nunca disse que os partos foram uma coisa horriacutevel Ela sempre disse que era

uma coisa boa doiacutea claro mas ela sempre mostrou coisa boa Tenho uma irmatilde que ganhou um bebecirc

em casa natildeo deu tempo de ir para o hospital Foi raacutepido demais (M1)

Olha todas natildeo se queixaram As [familiares] que eu conversei disseram que parto normal eacute

a melhor forma por causa da recuperaccedilatildeo eacute melhor para ti cuidar do nenecirc sem depender de ningueacutem

A matildee sempre teve parto normal (M2)

Da minha matildee foi tranquumlilo O parto dela foi no mesmo hospital que eu tive ela caminhou

tudo como tinha que ser rompeu a bolsa em casa Ela me passou essa experiecircncia boa (M3)

Eu e a minha irmatilde nascemos de parto vaginal A minha voacute teve 5 filhos de parto vaginal A

minha sogra teve partos vaginais em casa Meu marido nasceu com 4kg Ela comentava como eacute que

tinha sido os nascimentos dos filhos dela de ser tudo tranquilo e das aventuras que ateacute na veacutespera

andava a cavalo e natildeo deu nada de complicaccedilatildeo e naquele tempo foi com parteiras A matildee dela era

parteira Os filhos nasceram com a avoacute (M6)

49

Durante a minha gravidez eu conversava mais sobre o parto com a minha matildee e eu a

acompanhei ela quando foi ganhar normal Eu vi como foi entatildeo eu sabia como tinha que ser quando

eu fosse ganhar que era bom A influecircncia da minha voacute e da minha matildee foi para parto normal mas

eu natildeo ganhei normal em nenhum (M8)

Na opiniatildeo dessas entrevistadas a transmissatildeo do conhecimento dos partos na famiacutelia

exerceu grande influecircncia na preferecircncia por parto normal focando a naturalidade e a

praticidade de encarar o parto normal

O processo de socializaccedilatildeo denominado ldquoprimaacuteriordquo para Berger e Luckmann (1976)

acontece na famiacutelia durante a infacircncia quando a realidade eacute apreendida atraveacutes da

consciecircncia individual e os papeacuteis sociais tornam-se seus quando identificados

Segundo Laraia (2003) a socializaccedilatildeo do indiviacuteduo eacute resultante do seu meio cultural e

a acumulaccedilatildeo de saberes e crenccedilas satildeo passadas de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Destaca-se isso

igualmente no estudo de Ressel et al (2011) relativo a cultura da sexualidade junto a

adolescentes e suas famiacutelias onde a socializaccedilatildeo dos saberes eacute um processo dinacircmico e

contiacutenuo ao longo da vida

Laraia (2003) defende que os valores que vatildeo compor a singularizaccedilatildeo de cada pessoa

na sociedade ocorrem por meio da socializaccedilatildeo atraveacutes dos relacionamentos das

representaccedilotildees pessoais sobre fenocircmenos fatos e eventos sociais

As entrevistadas M1 e M6 relatam a presenccedila de parteiras na assistecircncia ao parto Ateacute

a entrada da profissatildeo meacutedica sobre o processo do parto as mulheres em trabalho de parto

eram auxiliadas principalmente pelas matildees tias avoacutes eou parteiras Poreacutem com a perda da

importacircncia do papel das parteiras - pois ameaccedilavam o monopoacutelio do saber meacutedico - e sua

progressiva alocaccedilatildeo na marginalidade do contexto da obstetriacutecia seus saberes foram sendo

vistos sob suspeita

Em quase todas as culturas segundo Helman (2009) os principais provedores dos

cuidados primaacuterios de sauacutede satildeo as matildees e avoacutes e as parteiras ainda satildeo as responsaacuteveis pelos

cuidados obsteacutetricos em alguns paiacuteses

Percebem-se nas narrativas das entrevistadas as influecircncias positivas passadas por suas

matildees na vivecircncia da parturiccedilatildeo das mulheres da famiacutelia Elsen (2011) realizou uma anaacutelise de

quatro estudos sobre famiacutelias tendo como um dos destaques a valorizaccedilatildeo do conhecimento e

das praacuteticas do cuidado nesses ambientes familiares

Em contrapartida as entrevistadas que apresentam nos seus discursos experiecircncias

negativas mostram que no conviacutevio familiar e no ciacuterculo social proacuteximo este assunto ou natildeo

foi comentado ou foi discutido com teor negativo

50

A minha matildee nunca falou bdquocom noacutes‟ sobre isso Ela teve cesaacuterea da minha irmatilde mais nova de

sete anos e deu problemas de rim nela A minha recuperaccedilatildeo foi ruim porque demorei a recuperar

() Eu me sentia estranha e parece que minhas pernas estavam separadas do meu corpo por causa da

anestesia(M4)

Noacutes nunca conversamos sobre essas coisas laacute em casa nem com matildee e nem com irmatilde A

uacutenica coisa que me falavam eacute que sofria muito falavam que ia gritar de tanta dor que as contraccedilotildees

seriam fortes Eu sofri um pouquinho coloquei soro fiquei de barriga para cima o tempo todo ()

como se estivesse doente depois eu tive uma cesaacuterea que infeccionou os pontos Me senti um objeto

() (M5)

Minha matildee disse que eacute horriacutevel que natildeo era bom que nem cesaacuterea e nem parto normal Ela

sofreu muito Por isso na hora de ganhar assim sempre me dava um medo devido agraves histoacuterias

contadas por minha matildee (M7)

Vizinhos ateacute parentes comentavam que esqueceram uma tesoura dentro da paciente ou

esqueceram um pano Eu tenho medo de cesaacuterea Outro problema eacute aquele pano que separa a sua

cabeccedila do resto do seu corpo Disseram-me que teria de fazer uma cesaacuterea para fazer a laqueadura

na proacutexima gravidez Eu vou fazer um RX depois para ver se natildeo ficou nada laacute dentro (M7)

Aiacute vem a voacute vem a matildee conversar dizendo ldquotu natildeo faz escacircndalo natildeo gritardquo porque

realmente elas natildeo datildeo atenccedilatildeo E realmente eu vi isso Entatildeo eu sabia que natildeo era bom quando eu

fosse ganhar (M8)

Nas falas destas entrevistadas deflagra-se a ausecircncia de conversa sobre o assunto

Quando haacute diaacutelogo acerca do tema no seio familiar reveste-se de significados negativos

destacando a dor o sofrimento a anguacutestia o medo a solidatildeo e a alienaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao que

estaacute acontecendo com o seu corpo

Para Martin (2006) as mulheres podem ter essas sensaccedilotildees negativas de objetificaccedilatildeo

e fragmentaccedilatildeo tanto na cesaacuterea quanto no parto normal mas as que passam por uma cesaacuterea

descrevem essas sensaccedilotildees mais intensamente conforme destacado nas falas das entrevistadas

M4 e M5

Segundo a autora o medo e a ansiedade no parto normal satildeo gerados pela inconsciente

fragmentaccedilatildeo subliminar impliacutecita de como a mulher percebe esse fenocircmeno de como accedilotildees

que elas natildeo realizam como se o ldquoeurdquo e o ldquoseu corpordquo fossem separados entendendo que

corpo mente e estados emocionais natildeo podem ser trabalhados simultaneamente

O relato negativo foi constatado em estudos de autores da aacuterea da antropologia

mostrando que em diferentes sociedades as filhas educadas por matildees que influenciam

negativamente sofrem mais no momento do parto (LARAIA 2003) A dor do parto tambeacutem

foi apontada pela entrevistadas M5 Conforme Gualda (2004) a dor eacute um sintoma altamente

subjetivo que traz a crenccedila popular de vincular a maternidade ao sofrimento

51

A entrevistada M8 traz a questatildeo de agir conforme as regras que a equipe obsteacutetrica

impotildee de natildeo fazer escacircndalo sob pena de natildeo receber a devida atenccedilatildeo Os profissionais de

sauacutede eventualmente podem impor um comportamento que natildeo respeita o saber da parturiente

o que pode tornar difiacutecil a evoluccedilatildeo do trabalho de parto (BEZERRA CARDOSO 2006)

Outro fator de destaque de acordo com o relato da entrevistada M7 foi o medo

apresentado em relaccedilatildeo ao esquecimento dos instrumentos ciruacutergicos dentro do seu corpo

Para Leninger (1991) a descontinuidade dos acompanhamentos e tratamentos das

usuaacuterias(os) deve-se ao fato de natildeo compreenderem sua funccedilatildeo e seu funcionamento

A posiccedilatildeo supina que foi referida pela entrevistada M5 ldquofiquei de barriga para cima o

tempo todordquo eacute segundo a OMS (1996) uma praacutetica claramente prejudicial ou ineficaz que

deve ser eliminada de acordo com as evidecircncias cientiacuteficas Essa mensagem simboacutelica

transmite agrave parturiente que ela estaacute enferma e retira da mulher a liberdade de seguir seus

instintos conforme mencionado pela entrevistada

Etnoacutelogos confirmam que atraveacutes da anaacutelise de evidecircncias histoacutericas existem raccedilas e

tribos que natildeo recebem influecircncia do modelo biomeacutedico e as mulheres naturalmente assumem

posiccedilotildees verticais dos mais variados tipos e meios de apoio (BALASKAS 2008)

Outras formas de influecircncia relatadas pelas participantes foram revistas internet

meios de comunicaccedilatildeo em geral As entrevistadas atribuem grande importacircncia agraves

informaccedilotildees colhidas nessas fontes atraveacutes das quais tomam conhecimento sobre

determinados costumes e percepccedilotildees

Com as revistas eu me informava bastante sobre como que era o nascimento fotos do bebecirc

nascendo Assistia na TV o canal que mostrava partos as casas de parto onde as mulheres iam fazer

todo o preacute-natal e ganhavam na aacutegua na cama naqueles quartos que permaneciam durante o

trabalho de parto e ficavam ali mesmo na hora de ganhar com familiar junto crianccedilas adultos tudo

junto Eu achava muito interessante (M1)

Eu olhei muito no youtube parto normal Eu achei bem legal Assim eacute meio assustador mais

achei legal Ateacute ali minha decisatildeo era ganhar normal mas natildeo deu (M2)

Lia folders revistas da aacuterea sobre maternidade programas de TV que mostraram o

acompanhamento do parto no domiciacutelio na banheira mas eu tive duas cesaacutereas agendadas (M6)

A entrevistada M1 relata o atendimento oferecido em casa de parto ou centro de parto

normal onde as mulheres fazem todo o preacute-natal e datildeo agrave luz em posiccedilotildees e locais de sua

preferecircncia A ausecircncia desse tipo de estabelecimento em determinados municiacutepios do Brasil

inviabiliza o acesso aos benefiacutecios que esses serviccedilos oferecem Instituiacutedo no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede esses estabelecimentos propiciam agraves mulheres a assistecircncia ao parto

52

em sua plena universalidade e tecircm como uma de suas atribuiccedilotildees o preparo da gestante

atraveacutes do plano de parto e do desenvolvimento de atividades educativas (BRASIL 1999)

Nesse cenaacuterio o protagonismo de cada mulher na gestaccedilatildeo parto e puerpeacuterio eacute respeitado

levando em consideraccedilatildeo sua individualidade suas crenccedilas e sua cultura

A cultura eacute um todo complexo que inclui o conhecimento as crenccedilas a arte a moral a

lei os costumes e todos os outros haacutebitos e aptidotildees adquiridos pelo homem como membro da

sociedade e se faz dinacircmica pela recepccedilatildeo das influecircncias externas resultantes do contato de

um sistema cultural com outro transformaccedilatildeo que pode ser raacutepida e brusca (LARAIA 2003)

No fragmento da fala da entrevistada M6 pocircde-se identificar sua curiosidade pelo

periacuteodo graviacutedico e parto e o parto domiciacutelio e na banheira forma de nascimento que volta a

fazer parte dos centros urbanos na atualidade A influecircncia das mateacuterias veiculadas em uma

revista sobre as representaccedilotildees culturais sobre parto mostrou que a revista pode ser um meio

de divulgaccedilatildeo informal que deveria ser mais bem aproveitado para informar as mulheres sobre

seus direitos e as maneiras de reivindicaacute-los (ROSS BONILHA et al 2006)

Um estudo feito por Medeiros (2008) retrata que as mulheres que optam por um tipo

de parto fora do hospital relacionam sua escolha agraves experiecircncias vivenciadas desde o seu

proacuteprio nascimento ateacute o momento do parto de seus filhos Quando as mulheres preparam-se

para parir seguindo princiacutepios diferentes dos que a medicina define e trata a linguagem que

utilizam eacute de integridade com todas as suas partes inter-relacionadas por um sentimento de

realizaccedilatildeo de algo que seriam capazes de fazer podendo-se inferir que a experiecircncia do parto

confirma ou natildeo na mulher a sua capacidade de colocar uma crianccedila no mundo (MARTIN

2006)

As mulheres citam somente a figura meacutedica na consulta de preacute-natal e comentam

sobre a postura do profissional de sauacutede que realizou este acompanhamento Em geral natildeo

receberam nenhuma informaccedilatildeo sobre parto

O obstetra no preacute-natal natildeo falava nada sobre parto soacute media a barriga via como estava o

coraccedilatildeo do bebecirc e deu Isso que o primeiro foi particular e os outros tambeacutem foram assim (M1)

Quando eu comecei no preacute-natal eu comecei com meacutedico particular ele natildeo falou nada sobre

parto e me pediu todos aqueles exames (M3)

O meacutedico natildeo era muito de conversar soacute os exames ultrasonografia Natildeo falou sobre outras

formas de parto (M4)

A uacutenica coisa que o meacutedico falou eacute ldquotu taacute preparadardquo ldquotem certeza jaacute ta aqui neacute Agora eacute

soacute seguir adianterdquo mas natildeo me falaram sobre parto Fiz todos os exames quatro ultrassonografias

(M7)

53

Fiz todo o preacute-natal e o meacutedico natildeo me falou nada sobre parto (M5)

Nesses depoimentos detectou-se a ausecircncia de diaacutelogo e de orientaccedilatildeo sobre o parto

O acompanhamento preacute-natal das entrevistadas apontou para o enfoque bioloacutegico e tecnicista

na assistecircncia prestada limitando-se agrave avaliaccedilatildeo de batimentos cardiacuteacos fetais altura uterina

e solicitaccedilatildeo de exames e avaliaccedilatildeo

Tal atenccedilatildeo fragmenta o cuidado e o sujeito deste cuidado pois segundo Martin

(2006) desta forma as mulheres natildeo satildeo apenas fragmentadas em partes do corpo como

tambeacutem satildeo alienadas da proacutepria ciecircncia pelas praacuteticas da medicina cientiacutefica As praacuteticas

obsteacutetricas corroboram com esta alienaccedilatildeo internalizando valores culturais que transmitem

agraves gestantes a ideacuteia de que natildeo haacute necessidade de informaccedilotildees sobre os processos fisioloacutegicos

do parto (FLOYD 2009)

Como a medicina obsteacutetrica contemporacircnea estaacute determinada por pressupostos

filosoacuteficos essencialmente masculinos o parto normal que tem em seu acircmago fenocircmenos

femininos tais como a afetividade espiritualidade e as emoccedilotildees natildeo eacute compreendido pelos

profissionais que controlam o nascimento (JONES 2004)

Apesar do avanccedilo na luta por igualdade de direitos para as mulheres a

sobrevalorizaccedilatildeo do patriarcado nos hospitais eacute perpetuada por meacutedicos em sua maioria

homens que tecircm autoridade para reforccedilar rituais de parto (FLOYD 2009)

No entanto os profissionais de sauacutede que se inserem no cenaacuterio das poliacuteticas puacuteblicas

de sauacutede da mulher deveriam atualmente ter como prerrogativa a instrumentalizaccedilatildeo das

mulheres para que sejam efetivamente sujeitos de direito na sociedade sendo tambeacutem

protagonistas de suas proacuteprias vidas e de seu parto tomando suas escolhas de modo

informado conforme preconiza a Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agrave Sauacutede da Mulher -

PNAISM (BRASIL 2004)

A ausecircncia de informaccedilotildees sobre parto foi constatada na fala das entrevistadas o que

nos faz refletir sobre a atitude desses profissionais com as gestantes e relacionar esse quadro

com os altos iacutendices de cesaacuterea da atualidade entendendo que a ausecircncia de diaacutelogo e

informaccedilatildeo no preacute-natal incapacita a mulher agrave autonomia Em um estudo de revisatildeo

sistemaacutetica que avaliou as informaccedilotildees que as gestantes recebiam sobre a cesariana para

solicitaacute-la natildeo foi possiacutevel detectar os motivos que as levam a solicitar uma cesariana

(GAMBLE et al 2007)

A desinformaccedilatildeo sobre as etapas da parturiccedilatildeo foi apontada por Pereira (2011) como

fator cultural que conduz a uma etapa teacutecnica terceirizada definida quando o meacutedico assume

54

o comando e o conduz a partir de sua formaccedilatildeo teacutecnica especializada Para a autora as

mulheres consideram dessa forma um sofrimento desnecessaacuterio passar pelo trabalho de

parto porque desconhecem sua importacircncia para o organismo e para o bebecirc

Deve-se levar em conta a forma a interaccedilatildeo do cuidado entre as mulheres os

profissionais e principalmente o contexto desse cuidado que revela um desequiliacutebrio de poder

que favorece os meacutedicos (GAMBLE et al 2007)

Conforme Martin (2006) pode acontecer tambeacutem de as mulheres natildeo estarem

preocupadas com a falta de informaccedilatildeo uma vez que elas satildeo direcionadas por pressupostos

culturais da superioridade meacutedica Tais pressupostos estatildeo tatildeo arraigados em sua experiecircncia

habitual nos serviccedilos de sauacutede que as impede de perceber as contradiccedilotildees em sua proacutepria

atenccedilatildeo agrave sauacutede

Por outro lado em outra pesquisa com gestantes constatou-se a necessidade de uma

grande demanda por informaccedilotildees escuta cliacutenica e tambeacutem a utilizaccedilatildeo de materiais

educativos mais esclarecedores (HOTIMSKY et al 2002)

Essa demanda por informaccedilotildees vem sendo suprida por outros profissionais de sauacutede

segundo as entrevistadas deste estudo

A enfermeira do posto me ajudou bastante eu tomava sulfato ferroso e ia pegar com ela Me

orientou sobre as vacinas eu lembro que um pouco antes de ficar graacutevida eu tinha tomado vacina da

rubeacuteola Entatildeo assim ela me acompanhou bastante tambeacutem eu sempre conversava com ela sobre o

parto os exerciacutecios que era bom fazer Laacute na Casa de Sauacutede tambeacutem a enfermagem me ajudou

bastante tava o tempo todo junto me dizendo que ldquotinha que caminhar para tua dilataccedilatildeo aumentarrdquo

me explicavam onde o nenecirc bdquotava‟(M3)

O fisioterapeuta o dentista A fisioterapia influenciou para o parto vaginal o dentista era

homem entatildeo relatou a experiecircncia da esposa dele que tinha sido parto cesaacutereo (M6)

Eu fiz todo o planejamento com a enfermeira Ensinaram como seria para nascer e logo

depois o que eu teria que fazer que eacute amamentar o nenecirc cuidados com o nenecirc cuidados comigo

tambeacutem preventivo remeacutedio piacutelula amamentaccedilatildeo Ensinaram no posto que eu frequento (M8)

A participaccedilatildeo dos profissionais da enfermagem e da fisioterapia foi constatada em

atividades de educaccedilatildeo em sauacutede e no atendimento ao trabalho de parto

Um estudo feito por Gaiva (2003) que destaca o nascimento como um evento

pertencente agrave equipe de sauacutede destaca como necessaacuterio o engajamento dessas equipes para a

humanizaccedilatildeo do parto e do nascimento com enfoque na mulher na crianccedila e na famiacutelia

A realizaccedilatildeo de um trabalho multiprofissional e interdisciplinar durante o processo de

gestaccedilatildeo parto e nascimento incide na aprendizagem de compartilhamento de saberes e

55

praacuteticas promovendo um cuidado de qualidade para os atores envolvidos nesse processo

(CHRISTOFFEL 2003)

A Lei ndeg 749886 que dispotildee sobre a regulamentaccedilatildeo do exerciacutecio da enfermagem

referenda que o enfermeiro generalista tambeacutem estaacute habilitado a assistir agrave gestante parturiente

e pueacuterpera acompanhando a evoluccedilatildeo e do trabalho de parto e a execuccedilatildeo do parto sem

distoacutecia

Pelloso (2000) concluiu que as taxas de cesaacuterea reduziriam com a capacitaccedilatildeo dos

profissionais para o parto com a introduccedilatildeo da enfermeira obsteacutetrica no preacute-natal e na

realizaccedilatildeo do parto bem como com a inclusatildeo de accedilotildees de orientaccedilatildeo e informaccedilatildeo sobre os

riscos e os benefiacutecios do parto normal e da cesaacuterea agraves mulheres em atividades de grupo e

cursos de gestantes Embora o nuacutemero de enfermeiras obstetras atuando no Brasil ainda seja

muito baixo estima-se que o nuacutemero de partos assistidos por elas eacute bem superior agravequele

registrado no SUS (BRASIL 2001)

Essa assistecircncia tambeacutem eacute referendada pela portaria do MSGM nordm 2815 de 29 de

maio de 1998 em que se inclui na tabela do sistema de informaccedilotildees hospitalares do SUS o

procedimento ldquoparto normal sem distoacutecia realizado por enfermeira obstetrardquo (BRASIL 1998

p23)

A enfermeira obstetra na busca pelo cuidado integral e valorizando a mulher como

protagonista do processo de nascimento vem conquistando tambeacutem um espaccedilo no

atendimento a partos domiciliares aleacutem de seu papel nas instituiccedilotildees hospitalares (PETER

2005)

Questionamento e resistecircncia ao modelo biomeacutedico

Nessa categoria mostram-se os relatos de questionamento e resistecircncia ao

atendimento obsteacutetrico por parte de algumas mulheres revelando que estas natildeo tecircm

autonomia tanto na decisatildeo sobre o tipo de parto quanto na escolha por quem querem que lhes

acompanhe em seu parto

As participantes questionam as situaccedilotildees impostas pelos profissionais que representam

o modelo biomeacutedico Uma entrevistada que queria o parto normal apresentou-se encorajada a

protestar contra este modelo trocando de meacutedico quando natildeo teve a sua opiniatildeo respeitada

conforme na fala

56

() Outro fato que me deixou frustrada foi quando eu iniciei o preacute-natal eu disse que queria

parto normal o meacutedico ficou bravo e foi bem mal educado e perguntou o que eu estava fazendo laacute

entatildeo Fui embora natildeo fiz mais preacute- natal com ele fui para o SUS Eu me senti invadida (M3)

Outra entrevistada questiona a falta do acompanhante de sua preferecircncia no parto Eu

gostaria que o meu marido bdquotivesse‟ junto (M1) Em um estudo realizado por Prado Junior

(2008) constatou-se que a presenccedila de familiares no processo de nascimento eacute visto por 100

das entrevistadas como primordial Para Balaskas (2008) o sentimento relatado por homens

que jaacute acompanharam suas mulheres em trabalho de parto eacute o de plenitude em nenhum

momento o instinto de fecircmea fala tatildeo alto eacute o renascimento de uma nova mulher

Suas falas chamam a atenccedilatildeo tambeacutem para a importacircncia de a mulher poder exercer

mais liberdade e participaccedilatildeo ativa com a possibilidade de escolher se quer tomar banho ou

natildeo se quer ficar na aacutegua sentar na bola Tambeacutem eacute questionado por elas o uso da ocitocina e

a falta de respeito a sua privacidade pelo fato de estarem presentes pessoas assistindo ao seu

parto sem preacutevio pedido de autorizaccedilatildeo o que denota desrespeito a sua autonomia no

processo

Eu gostaria de ser mais orientada Entatildeo quanto mais natural pudesse ser para mim melhor

escolher se quer tomar banho ou natildeo se quer ficar na aacutegua sentar na bola Sou contra a ocitocina E

me colocaram o soro com ocitocina e eu disse ldquomas para quecirc colocar se eu jaacute to quase ganhando Soacute

para me dar uma dor mais forte e realmente deurdquo(M1) Tinha uns 7 ou 8 alunos que estavam laacute e que queriam assistir um parto pessoas que eu

nunca tinha visto olhando o meu parto Eu acho que tudo foi muito forccedilado Os alunos assistiram ao

meu parto ningueacutem me perguntou se eu queria que assistisse (M3)

A mulher em trabalho de parto precisa de privacidade para se sentir mais segura

Poreacutem em muitos locais de atendimento puacuteblico isso natildeo eacute devidamente cuidado sendo

negligenciada a cultura do sujeito que envolve seus valores percepccedilotildees necessidades e

medos (ODENT 2003)

A postura do profissional em natildeo aceitar a opiniatildeo das usuaacuterias eacute denominada por

antropoacutelogos como ldquopensamento etnocecircntricordquo ou ldquosistema fechado de cogniccedilatildeordquo O

etnocentrismo eacute um sistema acentuado por rituais que os representam e os sustentam

(FLOYD 2009) Sabem os etnocentristas da existecircncia de outro saber e crenccedilas mas estatildeo

absolutamente seguros de que seu modo de pensar eacute melhor e por isso ignoram ideacuteias

contraacuterias agraves deles e consideram esses diferentes modos de pensar uma ameaccedila A

entrevistada destaca esta postura

Acho que os meacutedicos satildeo muito apressados Deveriam deixar mais a natureza agir por conta

o bebecirc se encaixar no lugar certo deixar a matildee de forma mais natural possiacutevel (M1)

57

Um princiacutepio baacutesico do modelo de atendimento tecnocraacutetico que vem ao encontro da

forma de pensar e agir do pensamento etnocecircntrico eacute a autoridade e responsabilidade do

profissional e das instituiccedilotildees de sauacutede sobre a pessoa Nesse contexto eacute mais confortaacutevel

para a usuaacuteria abdicar de sua preferecircncia pessoal em favor da opiniatildeo meacutedica (FLOYD

2004)

Esse fato foi constatado nas entrevistas que apontavam para a resistecircncia ao modelo

biomeacutedico poreacutem atraveacutes de uma percepccedilatildeo passiva da realidade como a sensaccedilatildeo meio

vaga de que alguma coisa estaacute errada e cuja mudanccedila natildeo estaacute ao seu alcance ou natildeo depende

apenas de sua vontade e accedilatildeo A mulher parece natildeo estar ciente da fragmentaccedilatildeo subliminar

da atenccedilatildeo ao parto hospitalar como se o ldquoeurdquo e o ldquoseu corpordquo fossem separados e que

nascimento fosse parte de uma produccedilatildeo A taacutetica mais eficiente descrita por Martin quando

utiliza a analogia entre operaacuterios e mulheres dando agrave luz eacute a mulher tornar-se patratildeo de si

mesmo isto eacute dando agrave luz em seu domicilio onde elas satildeo donas da faacutebrica e podem ter total

controle sobre o processo de produccedilatildeo e sobre seu corpo (MARTIN 2006)

Percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea

Buscaram-se juntamente agraves mulheres do estudo indicaccedilotildees e motivaccedilotildees de acordo

com seu entendimento para a realizaccedilatildeo de cesariana A seguir eacute apresentada a ausecircncia de

dilataccedilatildeo a presenccedila ou natildeo de contraccedilotildees e as cesaacutereas eletivas como indicativos para a

ocorrecircncia do procedimento ciruacutergico

Eu induzi porque natildeo tinha dilataccedilatildeo eu soacute tinha contraccedilatildeo Eu natildeo tinha nenhum outro

problema () fiquei frustrada Eu queria parto normal soacute natildeo tive porque meu parto foi induzido

(M2)

Porque natildeo tinha dor natildeo tinha dilataccedilatildeo e tava muito em cima (M5)

Se tivesse entrado em trabalho de parto tudo bem daiacute ia ficar pro parto como natildeo tinha foi

para cesaacuterea (M6)

Fizeram uma junta meacutedica laacute no hospital e os meacutedicos falaram com a minha matildee pois eu era

bdquode menor‟ ela autorizou para fazer uma cesaacuterea antecipada porque eu jaacute bdquotava‟ em trabalho de

parto soacute que eu natildeo tinha dilataccedilatildeo () (M8)

Um dos motivos alegados pela entrevistada M6 foi ter sido submetida a uma cesaacuterea

eletiva por natildeo ter entrado em trabalho de parto tendo tambeacutem a falta de informaccedilatildeo apontada

sobre outras formas de nascimento

58

O descontentamento por natildeo ter vivenciado o parto normal foi narrado com frustraccedilatildeo

pela entrevistada M2 A induccedilatildeo do parto e a presenccedila de contraccedilotildees apontadas por ela como

fatores indicativos para realizaccedilatildeo de cesaacuterea estatildeo associadas ao aumento da taxa de

nascimento preacute-termo e de baixo peso

Na maioria das sociedades atuais o meio cultural propagado pelos profissionais

meacutedicos interfere nos processos fisioloacutegicos do nascimento O motivo para o aumento dos

iacutendices de cesaacutereas eacute verdadeiramente devido a uma falha universal e quase cultural no

entendimento das necessidades baacutesicas das mulheres (ODENT 2004)

Nessa direccedilatildeo as consequecircncias de risco aumentam tanto para a parturiente quanto

para o feto A taxa de internaccedilatildeo em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em um estudo feito

na Austraacutelia com gestantes de baixo risco demonstra que as chances de internaccedilatildeo em

mulheres que fizeram cesaacuterea eletiva sem entrar em trabalho de parto aumentam em 154

em gestaccedilotildees de 37 semanas 121 em gestaccedilotildees de 38 semanas e 51 para as mulheres

com 39 semanas gestacionais (TRACY et al 2007)

Os prejuiacutezos aos receacutem nascidos prematuros natildeo se apresentam somente no momento

do nascimento satildeo mais duradouros acompanham-nos na vida futura provocando problemas

de sauacutede e colocando-os em desvantagem em relaccedilatildeo aos que nasceram de parto vaginal

(TOMASHEK et al 2007 SWANY et al 2008)

Ao final da gestaccedilatildeo a mulher pode apresentar algumas vezes contraccedilotildees

permanecendo entretanto descoordenadas sem a dilataccedilatildeo da ceacutervice uterina o que se

denomina ldquofalso trabalho de partordquo Essa situaccedilatildeo pode levar o profissional de sauacutede a realizar

uma admissatildeo precoce da gestante na maternidade e com isso realizar intervenccedilotildees

desnecessaacuterias como por exemplo uma induccedilatildeo do parto sem indicaccedilatildeo ou uma cesariana

(BRASIL 2001)

Os partos induzidos e outros fatores como monitoramento fetal contiacutenuo e uso

frequente de anestesias peridurais satildeo aspectos da industrializaccedilatildeo do parto que tem como

consequumlecircncia a falta de entendimento da sua fisiologia (ODENT 2004)

Em um estudo na Escoacutecia constatou-se que 20 das pueacuterperas que se submeteram agrave

cesariana natildeo receberam orientaccedilatildeo sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea e 16 tinham

somente uma ideacuteia parcial da indicaccedilatildeo A forma e o momento inadequado de informar sobre

a indicaccedilatildeo da cirurgia podem acentuar a dificuldade de as mulheres entenderem e

compreenderem essas informaccedilotildees (HILLAN 1992) como se pocircde perceber na fala das

entrevistadas

59

E da segunda gravidez daiacute foi direto o agendamento da cesaacuterea mas eu natildeo tive outras

informaccedilotildees de outras formas de nascer ou em domiciacutelio ou em banheira Natildeo nada disso (M6)

() aiacute eles anteciparam a cesaacuterea Depois eu descobri que foi porque o meu marido faleceu

(M8)

Outra pesquisa mostra que a justificativa dada por 61 mulheres para a realizaccedilatildeo da

cesariana foi discordante da indicaccedilatildeo meacutedica em 475 dos casos Tenciona-se o fato de que

ignorar a indicaccedilatildeo de cesaacuterea pela mulher pode dificultar a conduccedilatildeo para um parto normal

posterior e as complicaccedilotildees advindas (OLIVEIRA et al 2002)

Uma das maiores preocupaccedilotildees associadas agrave cesariana aleacutem dos vaacuterios problemas

inerentes a um procedimento ciruacutergico eacute o seu impacto e risco na sauacutede reprodutiva futura da

mulher como predisposiccedilatildeo a inserccedilatildeo anormal da placenta em futuras gestaccedilotildees (LEE

DALTON 2008)

O maior risco de ruptura uterina hemorragia poacutes-parto e remoccedilatildeo manual de placenta

tambeacutem eacute relacionado a mulheres que jaacute se submeteram a uma cesariana preacutevia (TAYLOR et

al 2005)

Segundo o relato das entrevistadas natildeo foram apresentadas indicaccedilotildees para a cesaacuterea

condizentes ao que as evidecircncias cientiacuteficas preconizam na literatura da aacuterea Outro fato

apontado atraveacutes na fala das entrevistadas foi o agendamento preacutevio da cirurgia no preacute-natal

ldquoA cirurgia estava agendada jaacute no preacute-natalrdquo (M4) ldquoEstava agendada a cesaacuterea no preacute-natalrdquo

(M6)

Os inuacutemeros efeitos prejudiciais tanto para a mulher quanto para o fetoneonato da

cesaacuterea sem indicaccedilotildees satildeo comprovados pelo conhecimento cientiacutefico atual A siacutendrome da

anguacutestia respiratoacuteria do receacutem-nascido desponta com uma das principais causas de morbi-

mortalidade perinatal (MADAR 1999)

As pacientes submetidas a cesarianas agendadas sem indicaccedilotildees apresentam

morbidade e mortalidade maior quando comparadas a pacientes que realizaram o parto normal

(HALL 1999 LILFORD et al 1990)

A respeito do motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea um estudo constatou que a maioria das

mulheres demonstra certa passividade frente ao meacutedico na decisatildeo pelo parto ciruacutergico

(FIGUEIREDO N et al 2010)

Essa conduta relaciona-se com os elevados iacutendices de cesaacutereas desnecessaacuterias no

Brasil Buscando reverter esse quadro a Associaccedilatildeo Meacutedica Brasileira (AMB) e o Conselho

Federal de Medicina (CFM) em iniciativa conjunta elaboraram um protocolo sobre o tema

indicaccedilotildees de cesaacutereas intitulado Projeto Diretrizes (PD) Satildeo objetivos desse trabalho

60

conciliar informaccedilotildees sobre o tema no sentido de estimular a praacutetica da medicina baseada em

evidecircncias analisar individualmente as indicaccedilotildees de cesariana com base nas evidecircncias

cientiacuteficas da literatura promover uma diminuiccedilatildeo das taxas de cesariana (PROJETO

DIRETRIZES 2002)

Os desvios eacuteticos decorrentes dessa conduta natildeo levam em consideraccedilatildeo a sauacutede das

mulheres Haacute a necessidade constante de atualizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais meacutedicos

e demais consequumlecircncias possiacuteveis dessa atitude (HADDAD et al 2011)

Nesse contexto destaca-se um estudo realizado com docentes do Departamento

Materno- Infantil do Hospital Universitaacuterio de Satildeo Joseacute do Rio Preto que constatou a

valorizaccedilatildeo da cesaacuterea em detrimento ao parto vaginal concorrendo para a disseminaccedilatildeo da

cultura subjacente agrave desmobilizaccedilatildeo dos alunos e profissionais meacutedicos para a realizaccedilatildeo do

parto normal (MORAES GOLDENGERG 2001)

61

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao tentar traduzir sob a forma de pesquisa a compreensatildeo de como a cultura influencia

no processo de parturiccedilatildeo da mulher finalizo este estudo com o vislumbre de que o objeto

escolhido foi pleno de possibilidades para entender e sobretudo para ampliar as propostas e a

pesquisa nessa aacuterea de estudos Encerro este trabalho com a certeza de que foi uma etapa

necessaacuteria em minha vida profissional e muito importante para o meu crescimento pessoal e

acadecircmico

Como mencionado anteriormente a inquietaccedilatildeo frente agrave fragilidade das parturientes ao

se submeterem sem questionamentos a todos procedimentos e intervenccedilotildees da equipe

obsteacutetrica apresentou-se como uma das justificativas da realizaccedilatildeo deste trabalho atraveacutes da

questatildeo norteadora ldquoqual a participaccedilatildeo da cultura nos saberes e as praacuteticas das mulheres em

relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeordquo

Esse estudo abriu espaccedilo para que mulheres falassem de um periacuteodo em suas vidas

extremamente iacutentimo e especial permitindo-lhes ampliar a visatildeo acerca dos determinantes

socioculturais envolvidos nesse momento O estudo foi realizado fora do periacuteodo graviacutedico

puerperal justamente para tentar captar delas o que realmente ficou de significativo dessa

fase sem interferecircncia ou expectativas de quem estaacute passando pelo turbilhatildeo de emoccedilotildees que

acompanham o processo da parturiccedilatildeo

O desenvolvimento desta pesquisa possibilitou perceber que o parto enquanto um dos

momentos da vida da mulher de grande importacircncia nem sempre eacute compreendido e entendido

dessa maneira por elas

Da mesma forma observou-se que a vivecircncia das mulheres em seu processo de

parturiccedilatildeo eacute percebida de modo diferente por cada uma algumas vezes de forma positiva e

outras de forma negativa A forma da mulher vivenciar esse processo depende de fatores

individuais e principalmente de representaccedilotildees culturais da realidade social a que ela

pertence

A abordagem negativa do estudo referida por algumas mulheres manifestou o

desconhecimento sobre a fisiologia do parto estando intrinsecamente relacionado ao modelo

fragmentado em partes do corpo perpetuado pelas praacuteticas da medicina cientiacutefica dominantes

na sociedade

62

As mulheres natildeo estatildeo conscientes dessas circunstacircncias e reproduzem essa forma de

fragmentaccedilatildeo de que o uacutetero eacute um muacutesculo involuntaacuterio e de que o parto eacute um processo ao

qual tecircm de se submeter causando uma sensaccedilatildeo muito marcante de fragmentaccedilatildeo e

objetificaccedilatildeo nas mulheres que sofreram uma cesaacuterea conforme constatado no estudo

Por outro lado a abordagem positiva apontada por elas dignifica a responsabilidade

por uma nova vida e a emoccedilatildeo do nascimento entendendo-o como uma oportunidade de

crescimento psicoloacutegico e de resgate espirituais

Na percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado haacute divergecircncias de opiniatildeo em

relaccedilatildeo ao tipo de parto vivenciado por cada uma As mulheres que desejaram e vivenciaram

o parto normal relatam o evento como parte de uma jornada interior e exterior que envolve

sentimentos iacutentimos uma experiecircncia fiacutesica profunda e intensa de algo que elas satildeo capazes

de realizar compreendendo que o significado de ser matildee eacute ter a capacidade de passar pela

experiecircncia do trabalho de parto e do parto natural

Em contrapartida o significado da vivecircncia das mulheres que natildeo desejaram ou

realizaram a cesaacuterea assemelha-se ao processo de produccedilatildeo industrializada em nossa

sociedade em que as atividades satildeo realizadas e determinadas inteiramente pela figura do

meacutedico e dos hospitais e natildeo por elas Percebeu-se que o papel principal do parto que seria

da parturiente foi assumido por essas figuras que estatildeo no controle pois as mulheres natildeo se

sentiam prontas ou capazes de tomaacute-lo para si

Identificou-se que a via de parto desejada pela maioria das entrevistadas foi o parto

normal mas as que natildeo conseguiram realizar esse desejo foi devido agrave influecircncia e agraves

intervenccedilotildees recebidas do meacutedico Os argumentos que influenciaram o desestiacutemulo da

realizaccedilatildeo do parto normal foram a necessidade de realizaccedilatildeo de laqueadura tubaacuteria e a falta

de informaccedilatildeo sobre meacutetodos natildeo farmacoloacutegicos e farmacoloacutegicos para o aliacutevio da dor

Cabe ressaltar que as mulheres que desejaram o parto normal e conseguiram parir por

esta via sentiram seguranccedila e confianccedila na experiecircncia do trabalho de parto natildeo sendo

identificando nenhum sinal perceptiacutevel em suas palavras relacionado agrave incapacidade de fazecirc-

lo podendo assim vivenciaacute-lo ativamente Outros aspectos importantes a serem ressaltados

foram a rapidez da recuperaccedilatildeo e a volta agraves atividades diaacuterias o desejo de serem acolhidas

pelos profissionais nas suas demandas e o direito agrave informaccedilatildeo clara e eacutetica

Sobre o poder de decisatildeo do meacutedico quanto ao tipo de parto constataram-se

divergecircncias de opiniatildeo As entrevistadas afirmaram que o meacutedico tem o poder de decisatildeo

sobre a escolha do tipo de parto poreacutem algumas natildeo estatildeo de acordo com esta conduta

63

defendendo que a decisatildeo deveria levar em conta a opiniatildeo da mulher uma vez que eacute ela que

estaacute sentindo e passando pelo processo

Conforme expressam as entrevistadas elas aceitaram essa atitude por parte dos

profissionais mas sentiram que algo em relaccedilatildeo a isso poderia ter sido mudado Elas

incentivam a mudanccedila das atitudes que colocam a mulher em posiccedilatildeo desprivilegiada no

parto

Outro aspecto destacado no estudo foi como se daacute a construccedilatildeo cultural do processo

parturitivo das mulheres Pocircde-se constatar que o significado positivo evidenciado pelas

mulheres do conviacutevio das entrevistadas principalmente pela figura materna proporcionou um

parto enriquecedor agraves entrevistadas e exerceu influecircncia na preferecircncia por parto normal

Outras no entanto descrevem que se atribuiu significado negativo pelas mulheres do

conviacutevio o que provocou medo ansiedade e inseguranccedila agraves entrevistadas durante a

experiecircncia do seu parto

Assim confirma-se que o parto natildeo pode ser entendido e reduzido somente ao aspecto

bioloacutegico pois a partir da transmissatildeo de conhecimentos interrelacionais constatados nesta

pesquisa pode-se compreender que a cultura influencia no processo de parturiccedilatildeo das

mulheres E haacute que se considerar essa influecircncia quando se presta cuidado agraves parturientes

O conteuacutedo de revistas da internet dos meios de comunicaccedilatildeo em geral aleacutem das

informaccedilotildees repassadas por vizinhos constituem outro fator de notaacutevel influecircncia nesse

construto imaginaacuterio As experiecircncias relatadas denotam que essas formas de construccedilotildees

culturais servem para expansatildeo do conhecimento sobre o assunto Isso deixa claro que as

mulheres muitas vezes estatildeo conscientes de sua falta de autonomia e buscam visotildees

alternativas sobre como o seu parto poderia acontecer

As visotildees alternativas citadas por elas foram o nascimento em casa de parto e no

domiciacutelio formas de assistecircncia consideradas na atualidade como humanizadas por ativistas

do parto normal de todo o mundo e pelas organizaccedilotildees governamentais e natildeo governamentais

que trabalham em prol da humanizaccedilatildeo do parto e nascimento tendo como objetivo devolver

agrave mulher o protagonismo na sua gestaccedilatildeo parto e poacutes-parto

No relato das mulheres eacute citada somente a figura meacutedica na consulta de preacute-natal e

elas falam que esse profissional natildeo forneceu efetivamente nenhuma informaccedilatildeo sobre parto

Tal postura silenciosa por parte desse profissional pode estar influenciando a faacutecil aceitaccedilatildeo

de uma cesaacuterea desnecessaacuteria fato esse comprovado pelo tipo de parto de maior incidecircncia

das mulheres deste estudo

64

As atividades desenvolvidas durante as consultas de preacute-natal foram accedilotildees de cunho

puramente bioloacutegico tecnicista e fragmentado como constatado na forma reduzida de

assistecircncia prestada que se limita agrave solicitaccedilatildeo de exames e agrave avaliaccedilatildeo obsteacutetrica de

batimentos cardiacuteacos fetais e altura uterina

As mulheres citam o atendimento da enfermeira na vivecircncia do parto bem como na

gestaccedilatildeo o que deflagra sua importacircncia nesse processo pois tal profissatildeo se constitui como

uma das maiores estrateacutegias que visa melhorar a assistecircncia obsteacutetrica no Brasil e exerce um

papel relevante no que tange agrave humanizaccedilatildeo durante o processo de nascimento Da mesma

forma a fisioterapia tambeacutem foi citada como ponto de incentivo agrave escolha do parto normal

O significado de parto celebrado por algumas mulheres do estudo abrange o

questionamento e a resistecircncia aos pressupostos culturais subjacentes ao modelo biomeacutedico

atual discordando de praacuteticas que vivenciaram no parto consideradas desrespeitosas Ponto

comum em suas falas foi a auto-percepccedilatildeo de resistecircncia agrave passividade imposta pela praacutetica

meacutedica

Foi demonstrado pelas mulheres claro desagrado por algumas praacuteticas que retiram da

mulher a sua autonomia no processo da parturiccedilatildeo tais como coibiccedilatildeo do acompanhante no

trabalho de parto e no parto invasatildeo de privacidade com a entrada de pessoas estranhas para

assistir ao parto sem licenccedila da parturiente e a falta de autonomia na escolha da via de parto

normal

A privaccedilatildeo dessa escolha acarretou a praacutetica de cesaacutereas desnecessaacuterias na maioria

das mulheres deste estudo Um dos principais motivos para a realizaccedilatildeo das cesaacutereas foi

apontado como a falta de dilataccedilatildeo das gestantes simplesmente pelo fato de natildeo estarem em

trabalho de parto quando admitidas na maternidade

Confesso que ao teacutermino deste trabalho muitos pressupostos que faziam parte dos

meus questionamentos foram esmaecidos pois esperava encontrar mulheres alienadas agrave

medicalizaccedilatildeo e agrave patologizaccedilatildeo do processo da parturiccedilatildeo e foi surpreendente o depoimento

de algumas das entrevistadas que demonstraram estar buscando novas formas de

conhecimento e de vivecircncia deste momento tatildeo especial em suas vidas natildeo obstante estarem

inseridas em um modelo tecnicista de assistecircncia

As entrevistadas questionam as praacuteticas como se apresentam atualmente e isso natildeo

significa que refutem os proveitos tecnoloacutegicos quando necessaacuterios mas defendem a

passagem a outro tipo de cultura em que possam exercer mais liberdade e ter participaccedilatildeo

ativa no processo da parturiccedilatildeo

65

Alguns significados atribuiacutedos pelas mulheres quanto agrave preferecircncia pela cesaacuterea e a

percepccedilatildeo de que o parto normal eacute muito mais arriscado explicitam resquiacutecios do discurso

meacutedico dominante Tambeacutem se revelou no estudo que as pacientes natildeo receberam

informaccedilotildees acerca dos riscos advindos deste procedimento ciruacutergico sem indicaccedilotildees

Portanto a ausecircncia de informaccedilatildeo sobre parto que deveria ser repassada pelo meacutedico foi

uma constataccedilatildeo neste estudo

O trabalho configurou-se um exerciacutecio instigante na medida em que o encadeamento

reflexivo da anaacutelise a partir das contribuiccedilotildees teoacutericas advindas dos estudos culturais de

gecircnero e corpo foi apontando que esse profissional de sauacutede produz significado no modo

como o parto eacute vivenciado pelas mulheres

Respondo ao final destas consideraccedilotildees ao questionamento inicial do estudo

constatando que a cultura participa dos saberes e das praacuteticas das mulheres em relaccedilatildeo ao

processo da parturiccedilatildeo Poreacutem algumas mulheres estatildeo buscando reinterpretar esta cultura

por meio de novas formas de vivenciar e de burlar o sistema de sauacutede obsteacutetrico vigente que

oprime tira-lhes o poder e impotildee silecircncio sob a eacutegide da proteccedilatildeo

As mulheres querem ser respeitadas ter direito agrave privacidade em seu parto ser ouvidas

e informadas com transparecircncia e eacutetica ter espaccedilo para expressar suas escolhas e agir

conforme suas necessidades poder gritar escandalizar caso desejem querem ainda ter

assistecircncia de boa qualidade sem julgamentos e livre de praacuteticas rotineiras que as instituiccedilotildees

obsteacutetricas impotildeem sem nenhum benefiacutecio para a matildee e o bebecirc

Se essa eacute a forma para encontrar significado ao desejo das mulheres ela difere e

muito da ldquopessimizaccedilatildeordquo do parto que alguns grupos de profissionais reproduzem em uma

cesaacuterea desnecessaacuteria ou em um parto normal medicalizado para finalizar um comeccedilo de vida

Cabe a noacutes profissionais de sauacutede mulheres homens sairmos dessa zona de conforto

que a sociedade atual nos enquadrou e comeccedilarmos a entender que a mudanccedila de paradigmas

de assistecircncia em todo o processo da parturiccedilatildeo estaacute associada a cidadatildeos e cidadatildes

conscientes e sujeitos da sua proacutepria histoacuteria

A enfermagem tem uma responsabilidade muito grande em todo esse processo e natildeo

pode eximir-se dela pois somos uma categoria profissional juntamente com a medicina que

tem o respaldo na lei do exerciacutecio profissional na assistecircncia agrave parturiente e ao parto normal

Os enfermeiros tecircm a formaccedilatildeo de natildeo intervir no processo da parturiccedilatildeo isto eacute de deixar a

fisiologia agir e eacute isto que temos que buscar a reconstruccedilatildeo dessa cultura sem intervenccedilotildees no

parto normal das mulheres

66

Precisamos fazer valer esse direito legal para que como profissionais do cuidado que

somos possamos proporcionar o cuidado de oferecer como um direito agrave mulher o

protagonismo no seu parto

O reconhecimento da mulher como protagonista do seu parto eacute elemento primordial

para os profissionais poderem compreender os temores as alegrias e os prazeres da gestaccedilatildeo e

do parto e assumirem uma nova postura de atenccedilatildeo Assim encerro destacando que os

muacuteltiplos aspectos que permeiam a vivecircncia das mulheres precisam ser observados quando se

presta assistecircncia durante o processo da parturiccedilatildeo

67

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA N A M A dor do parto normal na perspectiva e vivecircncia de um grupo de

mulheres usuaacuterias do Sistema Uacutenico de Sauacutede Tese de doutorado Programa de Poacutes

Graduaccedilatildeo em Ciecircncias da Sauacutede - Convecircnio Rede Centro Oeste (UNB UFG UFMS)

Goiacircnia 2009

ANS AGEcircNCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR (Brasil) O modelo de atenccedilatildeo

obsteacutetrica no setor de Sauacutede Suplementar no Brasil cenaacuterios e perspectivas Agecircncia

Nacional de Sauacutede Suplementar ndash Rio de Janeiro ANS 2008a Disponiacutevel em

lthttpwwwansgovbrportaluploadnoticiasclippinglivro_parto_webpdfgt Acesso em 11

ago 2011

ANS Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar (Brasil) Rol de Procedimentos e Eventos em

Sauacutede RN 16708 Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar - Rio de Janeiro ANS 2008b

ANS AGEcircNCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR (Brasil) Atualiza o Rol de

Procedimentos e Eventos em Sauacutede previstos na RN nordm 211 de 11 de janeiro de 2010

Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar ndash Rio de Janeiro ANS 2011 Disponiacutevel em

lthttpwwwansgovbrimagesstoriesnoticiaspdfrn20262pdfgt Acesso em 30 nov

2011

BALASKAS J Parto Ativo guia praacutetico para o parto natural Traduccedilatildeo Adailton Salvatore

Meira 2 ed Satildeo Paulo Ground 2008

BARAK E M ALAN R H e NILS J B Should Neonates Sleep Alone Society of

Biological Psychiatry Revista Biological Psychiatry 2011

BARROS et al The challenge of reducing neonatal mortality in middle-income countries

findings from three Brazilian birth cohorts in 1982 1993 and 2004 Lancet v365 n9462

Mar 5-11 p847-54 2005

BARDIN L Anaacutelise de conteuacutedo 7 ed Portugal Ediccedilotildees 1977

BERGER P LUCKMANN T A Construccedilatildeo Social da Realidade Traduccedilatildeo de Floriano

de Souza Fernandes 3 ed Petroacutepolis Vozes 1976

68

BEZERRA M G A CARDOSO M V L M Fatores interferentes no comportamento de

parturientes enfoque na Etnoenfermagem Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v

58 n6 p698-702 novdez 2005

BEZERRA M G A CARDOSO M V L M Fatores culturais que interferem nas

experiecircncias das mulheres durante o trabalho de parto e parto Revista Latino-americana

Enfermagem maiojun 14(3)414-21 2006

BUSANELLO J COSTA K P PINHO E Humanizaccedilatildeo do Parto e do Nascimento os

desafios para a implementaccedilatildeo do programa do Ministeacuterio da Sauacutede CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 61 7 a 10 dez Fortaleza Cearaacute 2009

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Programa de Assistecircncia Integral agrave Sauacutede da Mulher bases

de accedilatildeo programaacutetica Brasiacutelia DF 1984

_____ Lei nordm 749886 Dispotildee sobre a regulamentaccedilatildeo do exerciacutecio da Enfermagem e daacute

outras providecircncias Disponiacutevel em

lthttpwwwabennacionalorgbrdownloadLeiPROFISSIONALpdf gt Acesso em 29 nov

2011

_____ Decreto n 9440687 Regulamenta a Lei nordm 7498 de 25 de junho de 1986 Dispotildee

sobre o exerciacutecio da enfermagem e da outras providecircncias Disponiacutevel em

lthttpportalcofengovbrsitenovonode4173gt Acesso em 29 nov 2011

_____ Presidecircncia da Repuacuteblica Lei nordm 11108 Altera a Lei no 8080 de 19 de setembro de

1990 para garantir agraves parturientes o direito agrave presenccedila de acompanhante durante o trabalho de

parto parto e poacutes-parto imediato no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS 2005b

Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-

20062005LeiL11108htmlgt Acesso em 25 nov 2011

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Resoluccedilatildeo nordm 196 sobre pesquisas envolvendo seres

humanos Brasiacutelia DF 1996

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 2815 de 29 de maio de 1998 - Institui o

procedimento do parto normal realizado por enfermeiro obstetra no Sistema Uacutenico de

Sauacutede Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF

seccedilatildeo 1 p47-8 1998b

69

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 2883 de 04 de junho de 1998 - Institui o Precircmio

Nacional Profordf Galba de Arauacutejo Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder

Executivo Brasiacutelia DF seccedilatildeo 1 p 24 de 0506 de 1998a Disponiacutevel em

lthttpdtr2001saudegovbrsasportariasport98GMGM-2883htmlgt Acesso em 29 nov

2011

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria nordm 985 GM Institui as Casas de Parto ou Centro de

Parto Normal no Sistema Uacutenico de Sauacutede Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do

Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 05 ago 1999

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 466 de 14 de junho de 2000 - Estabelecer como

competecircncia dos estados e do Distrito Federal a definiccedilatildeo de limite por hospital de

percentual maacuteximo de cesarianas em relaccedilatildeo ao nuacutemero total de partos realizados e

ainda a definiccedilatildeo de outras estrateacutegias para a obtenccedilatildeo de reduccedilatildeo destes procedimentos

no acircmbito do estado Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil 115-E Poder

Executivo Brasiacutelia DF 2000a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 569 570 571 572 GM Estabelece o Programa de

Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e do Nascimento Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do

Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 01 jun 2000b

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Parto Aborto e Puerpeacuterio Assistecircncia Humanizada agrave

Mulher Ministeacuterio da SauacutedeFEBRASGOABENFO Brasiacutelia DF 2001

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Assistecircncia em Planejamento familiar Manual Teacutecnico-4 ed

Brasiacutelia 2002

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo integral agrave sauacutede da mulher

princiacutepios e diretrizes Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees Programaacuteticas

Estrateacutegicas Brasiacutelia Editora do Ministeacuterio da Sauacutede 2004

_____ Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Conselho Nacional dos Direitos da

Mulher I Plano Nacional de Poliacuteticas Puacuteblicas para as Mulheres Brasiacutelia 2005a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Nuacutecleo Teacutecnico da Poliacutetica

Nacional de Humanizaccedilatildeo Humaniza SUS documento base para gestores e trabalhadores do

SUS Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Nuacutecleo Teacutecnico da Poliacutetica

Nacional de Humanizaccedilatildeo 3 ed Brasiacutelia Editora do Ministeacuterio da Sauacutede 2006a

70

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Preacute-natal e puerpeacuterio atenccedilatildeo qualificada e humanizada

Brasiacutelia DF 2006b

_____ Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Conselho Nacional dos Direitos da

Mulher II Plano Nacional de Poliacuteticas Puacuteblicas para as Mulheres Brasiacutelia 2008a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA) Resoluccedilatildeo

RDC nordm 36 de 03 de junho dispotildeem sobre Regulamento Teacutecnico para Funcionamento dos

Serviccedilos de Atenccedilatildeo Obsteacutetrica e Neonatal - Brasiacutelia - DF 2008b

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Instrutivo dos indicadores para a pactuaccedilatildeo unificada 2008

Brasiacutelia 2008c

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da

Mulher ndash PNDS 2006 dimensotildees do processo reprodutivo e da sauacutede da crianccedila Ministeacuterio

da Sauacutede Centro Brasileiro de Anaacutelise e Planejamento Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2009

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Estatiacutesticas de partos no Brasil Brasiacutelia DF 2010

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Aleacutem da sobrevivecircncia praacuteticas integradas de atenccedilatildeo ao

parto beneacuteficas para a nutriccedilatildeo e a sauacutede de matildees e crianccedilas Ministeacuterio da Sauacutede

Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Aacuterea Teacutecnica de Sauacutede da Crianccedila e Aleitamento Materno ndash

Brasiacutelia DF 2011

BUDOacute M L D et al A cultura permeando os sentimentos e as reaccedilotildees frente agrave dor Revista

da Escola de Enfermagem da USP Satildeo Paulo v41 n1 p 36-43 2007

BUSANELLO J COSTA K P PINHO E Humanizaccedilatildeo do Parto e do Nascimento os

desafios para a implementaccedilatildeo do programa do Ministeacuterio da Sauacutede CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 61 - 7 a 10 dez Fortaleza Cearaacute 2009

CERVO A BREVIAN P A A Metodologia Cientiacutefica Satildeo Paulo Mc Graw-Hill 1983

CHRISTOFFEL M M SANTOS R S Navegando no mar da neonatologia um mergulho

no mundo imaginal do receacutem-nascido da UTIN Rio de Janeiro Ed EEAN 2003

COLLACcedilO V S Parto vertical vivecircncia do casal na dimensatildeo cultural do processo de

parir Florianoacutepolis Cidade Futura 2002

71

DECLERCQ E MENACKER F MACDORMAN M Rise in no indicated risk primary

caesareans in the United States 1991-2001 cross sectional analysis BMJ v330 n7482 Jan

8 p71-2 2005

DIAS M A et al Trajetoacuteria das mulheres na definiccedilatildeo pelo parto cesaacutereo estudo de caso em

duas unidades do sistema de sauacutede suplementar do estado do Rio de Janeiro Ciecircncia e Sauacutede

Coletiva 13(5) 1521-1534 setout 2008

DINIZ C S G Direitos humanos das mulheres na gravidez e no parto Projeto Gecircnero

Violecircncia e Direitos Humanos - Novas Questotildees para o Campo da Sauacutede Coletivo Feminista

Sexualidade e Sauacutede Departamento de Medicina Preventiva Faculdade de Medicina USP 2

ed 2003

_____ Entre a teacutecnica e os direitos humanos possibilidades e limites da humanizaccedilatildeo da

assistecircncia ao parto Tese (Doutorado) Satildeo Paulo (SP) Faculdade de MedicinaUSP 2001

DOU DIAacuteRIO OFICIAL DA UNIAtildeO Seccedilatildeo 1 nordm 147 2 de agosto de 2011 p 34 Agecircncia

Nacional de Sauacutede Suplementar- ANS Resoluccedilatildeo normativa nordm 262 de 1ordm agosto de 2011

Disponiacutevel em

lthttpwwwingovbrimprensavisualizaindexjspjornal=1amppagina=34ampdata=02082011gt

Acesso em 02 ago 2011

ELSEN I SOUZA A I J MARCON SS Enfermagem agrave Famiacutelia dimensotildees e

perspectivas Maringaacute p 257-267 Eduem 2011

FAUacuteNDES A CECATTI J G A operaccedilatildeo cesaacuterea no Brasil Incidecircncia tendecircncias

causas consequecircncias e propostas de accedilatildeo Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro v7

n2 p150-173 jun 1991

FIGUEREDO L G M Consequecircncias causadas pela aplicaccedilatildeo de ocitocina na induccedilatildeo de

partos Superartigos (online) 2010 Disponiacutevel em httpwwwartigosetcbrconsequencias-

causadas-pela-aplicacao-de-ocitocina-na-inducao-de-partoshtml Acesso em 15 nov 2011

FIGUEREDO N S V et al Fatores culturais determinantes da escolha da via de parto por

gestantes HU Revista Juiz de Fora v 36 n 4 p 296-306 outdez 2010

FLOYD D R The technological model of birth J Am Folklore 100 p 479-495 1987

FLOYD D R JOHN St G Del medico al sanador Traduccedilatildeo de Lauren Showe e

colaboradores Buenos Aires Fund Creavida 2004

72

FLOYD D R Perspectivas antropoloacutegicas del parto y el nacimento Traduccedilatildeo de Jaqui

Zieler Magui Cadot e Graciela Cobe Buenos Aires Fund Creavida 2009

FOUCAULT M Microfiacutesica do Poder Traduccedilatildeo de Roberto Machado 10 ed Rio de

Janeiro Graal 1992

FREITAS P F et al Desigualdade social nas taxas de cesariana em primiacuteparas no Rio

Grande do Sul Revista de Sauacutede Puacuteblica 39 p 761-7 2005

GAIVA M A M TAVARES C M O Nascimento um evento pertencente agrave equipe de

sauacutede Texto amp Contexto Enfermagem outdez 12(4)569-75 2003

GAMA A S et al Representaccedilotildees e experiecircncias das mulheres sobre a assistecircncia ao parto

vaginal e cesaacuterea em maternidades puacuteblica e privada Cadernos de Sauacutede Puacuteblica

25(11)2480-2488 nov 2009

GAMBLE et al A critique of the literature on womens request for cesarean section Birth

v34 n4 Dec p331-40 2007

GEERTZ C A Interpretaccedilatildeo das Culturas Rio de Janeiro (RJ) Livros Teacutecnicos e

Cientiacuteficos 1989

GIL A C Como elaborar projetos de pesquisa 4 ed 9 reimpr Satildeo Paulo Atlas 2007

GUALDA DMR BERGAMASCO RB Enfermagem cultura e o processo sauacutede-

doenccedila Satildeo Paulo Iacutecone p221- 240 2004

HADDAD S El M T CECATTI J G Estrateacutegias dirigidas aos profissionais para a

reduccedilatildeo das cesaacutereas desnecessaacuterias no Brasil Revista Brasileira Ginecologia Obstetriacutecia

33(5) 252-62 2011

HALL M H BEWLEY S Maternal mortalityand mode of delivery Lancet 354776

1999

HELMAN G C Cultura Sauacutede e Doenccedila Traduccedilatildeo Ane Rose Bolner 5 ed Porto Alegre

Artes Meacutedicas 2009

73

HILLAN M Short-Term Morbidity Associated with Cesarean Delivery Birth v 19 Issue 4

pages 190ndash194 Dec 1992

HOPKINS K Are Brazilian Women Really Choosing to Delivery by Cesarean Soc Sci

Med 51(5)725-40 2000

HOTIMSKY SN et al O parto como eu vejo ou como eu o desejo Expectativas de

gestantes usuaacuterias do SUS acerca do parto e da assistecircncia obsteacutetrica Cadernos de sauacutede

puacuteblica setout 18(5)1303-1311 2002

IBGE Instituto Brasileiro Geografia e estatiacutesticas Cadernos de Informaccedilatildeo de Sauacutede

Ministeacuterio da Sauacutede 2009

IPEA Objetivos de desenvolvimento do milecircnio relatoacuterio nacional de acompanhamento

coordenaccedilatildeo Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada e Secretaria de Planejamento e

Investimentos Estrateacutegicos supervisatildeo Grupo Teacutecnico para o acompanhamento dos ODM

Brasiacutelia Ipea MP SPI 2007

JONES R Memoacuterias do homem de vidro reminiscecircncias de um obstetra humanista Porto

Alegre Ideacuteias a Granel 2004

PRADO JUNIOR P P Da concepccedilatildeo ao nascimento Praacuteticas Educativas na assistecircncia agrave

mulher no periacuteodo graviacutedico e puerperal Dissertaccedilatildeo de Mestrado Centro Universitaacuterio

Pliacuteneo Leite - Unipli Niteroacutei 2008

KRUNO R B BONILHA A L L Parto domiciliar na voz das mulheres uma perspectiva agrave

luz da humanizaccedilatildeo Rev Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) dez25(3)396-407 2004

LANDERDAHL M C et al Contribuiccedilotildees de um nuacutecleo de estudos na consolidaccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas para as mulheres REUFSM Revista de Enfermagem da UFSM - janabr

1(1)71-79 2011

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro (RJ) Jorge Zahar p 21-

40 2003

LEE Y Mi DALTON M E Cesarean delivery on maternal request the impact on mother

and newborn Clinics in Perinatology v35 n3 Sept p505-18 x 2008

74

LEININGER M Culture care diversity amp universality a theory of nursing New York

(US) National League for Nursing Press 1991

LEITAtildeO F J C Autonomia da mulher em trabalho de parto (Dissertaccedilatildeo) Mestrado em

Bioeacutetica Universidade de Lisboa Faculdade de medicina Departamento de Bioeacutetica 2010

LILFORD R J et al The relative risks of caesarean section (intrapartum and elective) and

vaginal delivery a detailed analysis to exclude the effects of medical disorders and other

acute pre-existing physiological disturbances Br J Obstet Gynaecol 97883-92 1990

MACDORMAN et al Infant and neonatal mortality for primary cesarean and vaginal births

to women with no indicated risk United States 1998-2001 birth cohorts Birth v33 n3

Sept p175-82 2006

MACHADO E G C Gestaccedilatildeo parto e maternidade uma visatildeo holiacutestica Belo Horizonte

Editora Aurora 1995

MADAR J RICHMOND S HEY E Surfactantdeficient respiratory distress after elective

delivery at bdquoterm‟ Acta Paediatr v 88 p 1244-8 1999

MANDARINO N R et al Aspectos relacionados agrave escolha do tipo de parto um estudo

comparativo entre uma maternidade puacuteblica e outra privada em Satildeo Luiacutes Maranhatildeo Brasil

Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 25(7) p 1587-1596 jul 2009

MARTIN E A mulher no corpo - uma anaacutelise cultural da reproduccedilatildeo Traduccedilatildeo Juacutelio

Bandeira Rio de Janeiro Garamond 2006

MARTINS C S RAMOS J G L A questatildeo das cesarianas Rev Brasileira Ginecologia

Obstetriacutecia v27 nordm 10 Rio de Janeiro 2005

MCCOURT et al Elective cesarean section and decision making a critical review of the

literature Birth v34 n1 mar p65-79 2007

MEDEIROS R M K SANTOS IMM SILVA L R A escolha pelo parto domiciliar

histoacuteria de vida de mulheres que vivenciaram esta experiecircncia Esc Anna Nery Rev

Enfermagem dez 12(4) 765-72 2008

MELCHIORI et al Preferecircncia de gestantes pelo parto normal ou cesariano Interaccedilatildeo

psicologia 13(1)13-23 janjun 2009

75

MINAYO M C de S (org) Pesquisa Social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis

Vozes 2000

_____ O Desafio do Conhecimento pesquisa qualitativa em sauacutede 8 ed Satildeo Paulo Ed

Hucitec-Abrasco 2004

_____ O Desafio do Conhecimento pesquisa qualitativa em sauacutede 11 ed Satildeo Paulo Ed

Hucitec-Abrasco 2008

MONTICELLI M O nascimento como rito de passagem uma abordagem cultural para o

cuidado de enfermagem agraves mulheres e receacutem-nascidos (Dissertaccedilatildeo) Mestrado em

Enfermagem UFSC Florianoacutepolis 1994

MONDARDO S Proposta de reestruturaccedilatildeo dos serviccedilos da Unidade de Atenccedilatildeo agrave

Sauacutede da Vila Kennedy Santa MariaRS UFSM Santa Maria 1993

MORAES M S GOLDENBERG P Cesaacutereas um perfil epidecircmico Cad Sauacutede Puacuteblica

Rio de Janeiro 17 (3)509-519 maiojun 2001

MORELL M G G MELLO A V A Declaraccedilatildeo de Nascido Vivo no Estado de Satildeo

Paulo alguns resultados Informe Demograacutefico SEADE 29201-331 1995

MURTA et al Could elective cesarean sections influence the birth weight of full-term

infants Satildeo Paulo Medical Journal v124 p313-315 2006

ODENT M A Cesariana Traduccedilatildeo de Maria de Faacutetima de Madureira Florianoacutepolis Saint

Germain 2004

_____ A cientificaccedilatildeo do Amor Traduccedilatildeo de Marcos de Noronha e Talia Gevaerd de Souza

Florianoacutepolis Saint Germain 2000

ODENT M O camponecircs e a parteira Uma alternativa agrave industrializaccedilatildeo da agricultura e do

parto Traduccedilatildeo de Sarah Bailey Satildeo Paulo Ground 2003

OLIVEIRA et al Tipo de parto expectativas das mulheres Revista Latino-Americana de

Enfermagem v10 n 5 p 667-674 setout 2002

76

ORGANIZACAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE (OMS) Maternidade Segura - assistecircncia ao

parto normal 2009 Disponiacutevel em

lthttpabenforedesindicalcombrarqsmateria56_apdfgt Acesso em 06 dez 2010

_____ Sauacutede Materna e Neonatal Unidade de Maternidade Segura Sauacutede Reprodutiva e da

Famiacutelia Assistecircncia ao parto normal Um guia praacutetico de sauacutede materna e neonatal

Unidade de Maternidade Segura Sauacutede Reprodutiva e da Famiacutelia Genebra A Sauacutede 1996

OPAS III Reunioacuten Especial de Ministros de Salud de las Ameacutericas Atas resumidas

Santiago de Chile 2ordf 9 de octubre de 1972 Doc Oficial nordm 123 sept 1973

PELLOSO S M PANONT K T SOUZA K M P Opccedilatildeo ou imposiccedilatildeo Motivos de

escolha da cesaacuterea Arq Ciecircnc Sauacutede UNIPAR 4(1) 3-8 2000

PEREIRA W R Poder Violecircncia e Dominaccedilatildeo Simboacutelicos nos Serviccedilos de Sauacutede

Ribeiratildeo Preto 175p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem de Ribeiratildeo Preto

Universidade de Satildeo Paulo 2000

PEREIRA R R FRANCO S C BALDIN N Representaccedilotildees sociais e decisotildees das

gestantes sobre a parturiccedilatildeo protagonismo das mulheres Sauacutede sociedade v20 n3 Satildeo

Paulo julysept 2011

PETER A P C O Cuidado Cultural no Processo de Ser e Viver da Mulher Receacutem-

Nascido e Famiacutelia que Vivenciam o Parto no Domiciacutelio e no Hospital com Ecircnfase no

Contexto Domiciliar abrindo novos caminhos para a enfermagem (Trabalho de Conclusatildeo

de Curso) Graduaccedilatildeo em Enfermagem ndash Universidade Federal de Santa Catarina

Florianoacutepolis 2005

POTTER J E et al Unwanted caesarean sections among public and private patients in

Brazil prospective study BMJ 323 1155-8 2001

_____ Womens autonomy and scheduled cesarean sections in Brazil a cautionary tale

Birth 35 33-40 2008

PROGIANTI JM BARREIRA I A A obstetriacutecia do saber feminino agrave medicalizaccedilatildeo da

eacutepoca medieval ao seacuteculo XX 9 91-7 Revista Enfermagem UERJ 2001

PROJETO DIRETRIZES Associaccedilatildeo Meacutedica Brasileira e Conselho Federal de Medicina

Cesarianas indicaccedilotildees 2002

77

RAMOS J G L et al Morte materna em hospital terciaacuterio do Rio Grande do Sul um estudo

de 20 anos Rev Bras Ginecol Obstet 25 (6) 431-6 2003

REBELO F et al High cesarean prevalence in a national population-based study in Brazil

the role of private practice Acta Obstet Gynecol Scand 89 903-8 2010

RESSEL L B Vivenciando a sexualidade na assistecircncia de enfermagem Um estudo na

perspectiva cultural Escola de Enfermagem Universidade de Satildeo Paulo 2003

RESSEL L B et al A influecircncia da famiacutelia na vivecircncia da sexualidade Revista Esc Anna

Nery (impr) abrjun 15 (2)245-250 2011

REZENDE J MONTENEGRO B AC Obstetricia Fundamental 9 ed Rio de Janeiro

Guanabara Koogan 2003

ROSS L L BONILHA A L de L ARMELLINI C J et al Representaccedilotildees culturais

sobre parto e nascimento SEMANA CIENTIacuteFICA DO HOSPITAL DE CLIacuteNICAS DE

PORTO ALEGRE 26 Revista do HCPA 26 (Supl 1) 1-267 2006

SABATINO H Resposta ao polecircmico artigo Cesariana a polecircmica das taxas escrito por

Raphael da Cacircmara Medeiros Parente (Meacutedico do Ministeacuterio da Sauacutede - HSE Doutor em

Ginecologia - UNIFESP Mestre em Epidemiologia - UERJ) e publicado no Jornal do

CREMERJ ndash p 8 e 9 maio de 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwamigasdopartoorgbr2007indexphpoption=com_contentamptask=viewampid=891

ampItemid=204gt Acesso em 06 dez 2010

SANTOS M L Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia ao Parto e Nascimento um modelo teoacuterico

(Dissertaccedilatildeo) Mestrado em Enfermagem Universidade Federal de Santa Catarina

Florianoacutepolis 2002

SCAVONE L Impacto das Tecnologias Meacutedicas na Famiacutelia Sauacutede em Debate nordm40

p48-73 set 1993

SEIBERT S L BARBOSA J L S SANTOS J M VARGENS O M C

Medicalizaccedilatildeo x humanizaccedilatildeo o cuidado ao parto na histoacuteria Revista de Enfermagem

UERJ 13245-51 2005

SILVA L R A Experiecircncia na Casa de Parto Mohri-Japatildeo Revista de pesquisa Cuidado eacute

fundamental online setdez 1 (2) 288-298 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwseeruniriobrindexphpcuidadofundamentalarticleview359367gt Acesso em

13 out2011

78

SWAMY et al Association of preterm birth with long-term survival reproduction and next-

generation preterm birth JAMA v299 n12 Mar 26 p1429-36 2008

TAYLOR et al Risk of complications in a second pregnancy following caesarean section in

the first pregnancy a population-based study Medical Journal of Australia v183 n10

Nov 21 p515-9 2005

TEDESCO P R et al Fatores Determinantes para as Expectativas de Primigestas acerca da

Via de Parto Rev Bras Ginecol Obstet v26 n10 Rio de Janeiro novdez 2004

TEIXEIRA Z N F PEREIRA R W Parto Hospitalar - experiecircncias de mulheres da

periferia de Cuiabaacute - MT Cad Sauacutede Puacuteblica v25 n 11 Rio de Janeiro 2006

TELINI D M T Z Cesaacutereas e partos normais em gestantes com baixo risco obsteacutetrico

caracteriacutesticas maternas e repercussotildees neonatais (Tese) Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas

Campinas Universidade Estadual de Campinas 2000

THE LANCET Sauacutede dos Brasileiros 2011 Disponiacutevel em

lthttpwwwabcorgbrIMGpdfdoc-574pdf gt Acesso em 28 out 2011

TOMASHEK et al Differences in mortality between late-preterm and term singleton infants

in the United States 1995-2002 Journal of Pediatrics v151 n5 nov p450-6 456 2007

TRACY S K et al Admission of term infants to neonatal intensive care a population-based

study Birth v34 n4 dec p301-7 2007

TYRREL M A R CARVALHO V Programas nacionais de sauacutede-materno infantil

impacto poliacutetico social e inserccedilatildeo da enfermagem RJ EEANUFRJ 1995

VARGENS O M C PROGIANTI J M O Processo de Desmedicalizaccedilatildeo da Assistecircncia agrave

Mulher no Ensino de Enfermagem Rev Enferm USP 38 46-50 2004

VIacuteCTORA C G KNAUTH D R HASSEN M N A Pesquisa qualitativa em sauacutede

uma introduccedilatildeo ao tema Porto Alegre Tomo Editorial 2000

VIEIRA E M A Medicalizaccedilatildeo do Corpo Feminino Rio de Janeiro RJ Ed Fiocruz

2002

VIGILAcircNCIA EPIDEMIOLOacuteGICA Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria (SMS)

Dados Epidemioloacutegicos do Nuacutemero de Partos no Municiacutepio de Santa Maria - RS 2011

79

VILLAR J et al Caesarean delivery rates and pregnancy outcomes the 2005 WHO global

survey on maternal and Perinatal health in Latin America Lancet 367(9525)1819-29 2006

_____ Maternal and neonatal individual risks and benefits associated with caesarean

delivery multicentre prospective study BMJ v335 n7628 Nov 17 p1025 2007

80

ANEXOS

81

Anexo A - Aprovaccedilatildeo Comitecirc de Egravetica e Pesquisa

82

Anexo B - Autorizaccedilatildeo Emenda do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

83

84

APEcircNDICES

85

Apecircndice A - Ofiacutecio agrave Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria

Da Enfermeira Lizandra Flores Pimenta

Para Secretario Municipal de Sauacutede

Assunto Solicitaccedilatildeo (faz)

Santa Maria janeiro de 2011

Sr Secretaacuterio

Venho por meio deste solicitar a permissatildeo de V Srordf para desenvolver a pesquisa

intitulada A influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a

enfermagem junto as mulheres que satildeo atendidas na Unidade Baacutesica (UBS) de Sauacutede

Kennedy

Cumpre-se informar que esta pesquisa eacute resultado da experiecircncia na aacuterea obsteacutetrica

que me fez perceber a necessidade de compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher sobre a via de parto a partir das concepccedilotildees modernas sobre natureza e

cultura atribuiacutedos a percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto Como esclarecimento cabe

ressaltar que conforme a metodologia que pretendemos desenvolver os sujeitos da pesquisa

seratildeo consultados e esclarecidos acerca dos objetivos nos comprometendo a respeitar os

preceitos da Resoluccedilatildeo nordm19696 quanto agrave pesquisa envolvendo seres humanos

Colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios

Desde jaacute agradecemos

Atenciosamente

________________________ _______________________________

Enfordf Lizandra Flores Pimenta Profordf Enfordf Drordf Lucia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI ndash 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

86

Apecircndice B - Ofiacutecio ao Departamento de Ensino e Pesquisa do HUSM

Da Enfa Lizandra Flores Pimenta

Para Departamento de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitaacuterio de Santa Maria

Assunto Solicitaccedilatildeo (faz)

Santa Maria maio de 2011

Senhor Diretora

Venho por meio deste solicitar a permissatildeo de VS para desenvolver a pesquisa

intitulada ldquoA influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a

enfermagemrdquo junto agraves mulheres que estatildeo no momento da entrevista nos serviccedilos de

ginecologia e obstetriacutecia do HUSM quais sejam Centro Obsteacutetrico Unidade Toco-

ginecoloacutegica e Ambulatoacuterio ala II

Cumpre-se informar que esta pesquisa eacute resultado da experiecircncia na aacuterea obsteacutetrica

que me fez perceber a necessidade de compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher sobre a via de parto a partir das concepccedilotildees modernas sobre natureza e

cultura atribuiacutedas agrave percepccedilatildeo das mulheres em relaccedilatildeo ao parto Como esclarecimento cabe

ressaltar que conforme a metodologia que pretendo desenvolver os sujeitos da pesquisa seratildeo

consultados e esclarecidos acerca dos objetivos sendo que me comprometo a respeitar os

preceitos da Resoluccedilatildeo nordm 19696 quanto agrave pesquisa envolvendo seres humanos

Sem mais agradeccedilo a atenccedilatildeo dispensada colocando-me agrave disposiccedilatildeo para os

esclarecimentos que forem necessaacuterios

Atenciosamente

________________________ _______________________________

Enfordf Lizandra Flores Pimenta Profa Enfa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI - 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

87

Apecircndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ENFERMAGEM

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Pesquisadoras responsaacuteveis Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

Enfa Mestranda Lizandra Flores Pimenta

InstituiccedilatildeoDepartamento Universidade Federal de Santa Maria - Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Enfermagem

Telefones para contato (55) 91376501

(55) 91429743

Locais da coleta de dados Unidade sanitaacuteria Kennedy e Hospital Universitaacuterio de Santa

Maria

Vocecirc estaacute sendo convidada para participar da pesquisa intitulada ldquoA influecircncia da

cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a enfermagemrdquo de autoria de

Lizandra Flores Pimenta mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Enfermagem da

UFSM sob a orientaccedilatildeo da Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel que tem por objetivo

compreender como a cultura influencia no parto da mulher

Mas antes de concordar em participar desta pesquisa eacute importante que vocecirc

compreenda todas as informaccedilotildees as quais dizem respeito a sua participaccedilatildeo nesta pesquisa

Sua participaccedilatildeo consistiraacute em responder agraves perguntas feitas por mim pesquisadora durante a

entrevista a qual teraacute como auxiacutelio um gravador de voz Apoacutes as suas informaccedilotildees gravadas

seratildeo transcritas por mim de maneira a resguardar a veracidade dos dados Posteriormente

essas informaccedilotildees seratildeo organizadas analisadas divulgadas e publicadas em revistas

cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede sendo a sua identidade preservada em todas as etapas

Eacute importante que vocecirc compreenda que eacute assegurado o anonimato e o caraacuteter privativo

das informaccedilotildees fornecidas exclusivamente para a pesquisa Vocecirc natildeo seraacute identificada em

nenhum momento mesmo quando os resultados desta pesquisa forem divulgados sob

qualquer forma pois seraacute adotada a letra bdquoM‟ (M1 M2 M3) inicial da palavra mulher para

esta finalidade Tambeacutem as informaccedilotildees seratildeo mantidas em um CD no armaacuterio da professora

88

pesquisadora no Departamento de EnfermagemUFSM por cinco anos Apoacutes este periacuteodo os

dados seratildeo destruiacutedos Os dados coletados depois de organizados e analisados deveratildeo ser

divulgados e publicados ficando a pesquisadora juntamente com a professora responsaacutevel por

apresentar o relatoacuterio da pesquisa para a instituiccedilatildeo na qual seraacute realizado este estudo

Comunico que a sua participaccedilatildeo na entrevista natildeo representaraacute a princiacutepio risco agraves

suas dimensotildees fiacutesica moral intelectual social cultural ou espiritual em qualquer fase da

pesquisa No entanto poderaacute gerar algum desconforto como lembranccedilas questionamentos

eou conflitos agrave dimensatildeo emocional pelo fato da pesquisadora realizar uma entrevista na qual

vocecirc iraacute refletir sobre o seu cotidiano e suas vivecircncias Contudo poderaacute haver um benefiacutecio

no que se refere agrave melhor qualidade das praacuteticas no cuidar em enfermagem Se houver

qualquer desconforto a entrevista poderaacute ser suspensa e se vocecirc achar necessaacuterio poderei

fazer um encaminhamento a um especialista da aacuterea da sauacutede mental

Ciente e de acordo com o que foi anteriormente exposto eu __________________

estou de acordo em participar desta pesquisa assinando este Consentimento em duas vias

ficando com a posse de uma delas

_________________________________

Assinatura do sujeito de pesquisa

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntaacuteria o Consentimento Livre e

Esclarecido deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a participaccedilatildeo neste estudo

dede2011

__________________________________

Assinatura da pesquisadora

RG 3046400473

Se vocecirc tiver alguma consideraccedilatildeo ou duacutevida sobre a eacutetica da pesquisa entre em contato com

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa - CEP- UFSM Av Roraima 1000 - Preacutedio da Reitoria ndash 7ordm

andar ndash Campus Universitaacuterio ndash 97105-900 ndash Santa Maria-RS - Tel (55) 32209362 ndash E-mail

comiteeticapesquisamailufsmbr

89

Apecircndice D - Termo de confidencialidade

Tiacutetulo do estudo ldquoA influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees

para a enfermagemrdquo

Pesquisadora responsaacutevel Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

Pesquisadora Enfa Mestranda Lizandra Flores Pimenta

InstituiccedilatildeoDepartamento Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM)

Telefone para contato (55) 91376501 (55) 91429743

Locais da coleta de dados Unidade sanitaacuteria Kennedy e Centro Obsteacutetrico Unidade Toco-

ginecoloacutegica e Ambulatoacuterio ala II do HUSM

Os pesquisadores do presente projeto comprometem-se a preservar a privacidade dos

indiviacuteduos cujos dados seratildeo coletados por meio de entrevista gravada em aacuteudio MP3 e

realizada na UBS Kennedy numa sala reservada localizada no Hospital Universitaacuterio de

Santa Maria na cidade de Santa MariaRS Concordam igualmente que estas informaccedilotildees

seratildeo utilizadas uacutenica e exclusivamente para a execuccedilatildeo do presente projeto As informaccedilotildees

somente poderatildeo ser divulgadas de forma anocircnima e seratildeo mantidas em Compact Disc (CD)

por um periacuteodo de 5 (cinco) anos sob a responsabilidade da Enfordf Lizandra Flores Pimenta

Apoacutes este periacuteodo os dados seratildeo destruiacutedos Este projeto de pesquisa foi revisado e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM em 04012011 com o nuacutemero do CAAE

03170243000-10

Santa Maria de de 2011

________________________ _______________________________

Enfa Lizandra Flores Pimenta Profa Enfa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI ndash 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

90

Apecircndice E - Roteiro da entrevista com as mulheres

1 Dados de identificaccedilatildeo

Idade

Estado civil

Grau de instruccedilatildeo

Profissatildeoocupaccedilatildeo

Local de trabalho caso esteja trabalhando se natildeo indicar trabalho anterior

Raccedila

Quantos filhos

2 Sobre o parto

1 De que forma o parto e nascimento satildeo percebidos por vocecirc

2 Fale a respeito de sua experiecircncia em relaccedilatildeo aos seus partos e de outras mulheres do teu

conviacutevio

3 Existe alguma coisa em relaccedilatildeo ao parto de seus filhos que vocecirc gostaria que tivesse sido

diferente Por quecirc

4 O que vocecirc aprendeu sobre parto com teus pais irmatildeos irmatildes e outras pessoas da tua

famiacutelia

5 O que vocecirc escutou ou aprendeu sobre parto com os profissionais de sauacutede nos hospitais

e nos postos de sauacutede

6 O que vocecirc escutou ou aprendeu sobre parto em jornais revistas televisatildeo e internet

7 De que forma estes aprendizados participaram da tua decisatildeo sobre o tipo de parto

Page 9: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição

LISTA DE APEcircNDICES

Apecircndice A - Ofiacutecio agrave Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria 85

Apecircndice B - Ofiacutecio ao Departamento de Ensino e Pesquisa do HUSM 86

Apecircndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 87

Apecircndice D - Termo de Confidencialidade 89

Apecircndice E - Roteiro da entrevista com as mulheres 90

SUMAacuteRIO

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS 12

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 17

11 Poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e nascimento no

Brasil

17

12 O parto e a cultura no processo da parturiccedilatildeo 22

13 Referencial teoacuterico de Emily Martin sobre o parto e cultura 24

2 CAMINHO METODOLOacuteGICO 29

21 Fundamentos metodoloacutegicos 29

22 Os cenaacuterios do estudo 29

23 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos 31

24 Caracterizaccedilatildeo das participantes 32

25 Inserccedilatildeo em campo 34

26 Coleta de dados 33

27 Anaacutelise dos dados 34

28 Questotildees eacuteticas 35

3 ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS DADOS 37

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 61

REFEREcircNCIAS 67

ANEXOS 80

APEcircNDICES 83

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS

A gravidez e o parto satildeo eventos sociais e culturais que integram a vivecircncia

reprodutiva de homens e mulheres uma experiecircncia uacutenica no universo de ambos que envolve

tambeacutem suas famiacutelias e consequentemente a comunidade (BRASIL 2001)

O parto inscreve-se nesse universo cultural por ser um fenocircmeno que perpassa todas as

sociedades e temposespaccedilos Esse sistema de crenccedilas herdadas eacute denominado ldquocultura do

nascimentordquo a qual informa os membros da sociedade sobre a natureza de todo o processo

parturitivo da mulher e influencia seu significado em relaccedilatildeo ao tipo de parto (HELMAN

2009)

O autor supracitado diz que a gestaccedilatildeo e o parto satildeo a transiccedilatildeo do status social de

ldquomulherrdquo para o de ldquomatildeerdquo e como em todas as transiccedilotildees sociais a pessoa deve ser protegida

de qualquer dano atraveacutes de determinados rituais e comportamentos

Conforme Floyd (2009) as formas de transmitir esses comportamentos agrave parturiente

satildeo chamadas de ldquorituais da obstetriacuteciardquo dentre eles estatildeo fazer a mulher reconhecer a

deficiecircncia de seu corpo (consciente ou inconscientemente) a fim de tornaacute-la dependente da

ciecircncia e da tecnologia induzindo-a a aceitar a superioridade das instituiccedilotildees e da Medicina

em controlar seus processos naturais suas crenccedilas e seus significados individuais

Segundo Floyd (2009) eacute mais provaacutevel que esse tipo de comportamento seja

transmitido na atmosfera impessoal de um hospital do que no ambiente familiar e domeacutestico

As condiccedilotildees de nascimento apresentam significativas distinccedilotildees quando comparadas

entre diferentes realidades Nos paiacuteses ocidentais segundo Floyd (1987) o parto eacute cercado de

aparatos tecnoloacutegicos meacutedicos e essa medicalizaccedilatildeo define-o como uma disfunccedilatildeo fisioloacutegica

Jaacute nos paiacuteses orientais como exemplo o Japatildeo eacute valorizado o parto vaginal desmedicalizado

que assim como a gestaccedilatildeo natildeo eacute considerado doenccedila (SILVA 2009)

De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) 70 a 80 das gestaccedilotildees

que ocorrem no mundo satildeo consideradas de baixo risco Eis a definiccedilatildeo de parto normal

adotada pela OMS

De iniacutecio espontacircneo baixo risco no iniacutecio do trabalho de parto permanecendo

assim durante todo o processo ateacute o nascimento O bebecirc nasce espontaneamente em

posiccedilatildeo cefaacutelica de veacutertice entre 37 e 42 semanas completas de gestaccedilatildeo Apoacutes o

nascimento matildee e filho estando em boas condiccedilotildees Entretanto como o trabalho de

parto e o parto de muitas gestantes de alto risco tecircm um curso normal vaacuterias

recomendaccedilotildees tambeacutem se aplicam agrave assistecircncia dessas mulheres (OMS 2009 p9)

13

Frente a isso deve existir sempre uma razatildeo vaacutelida para se interferir nesse processo

fisioloacutegico do parto tendo como recurso para tais casos a cesariana que se trata de uma

intervenccedilatildeo meacutedica destinada agrave extraccedilatildeo do feto por via abdominal

O parto cesaacutereo eacute uma intervenccedilatildeo usada em situaccedilotildees nas quais as condiccedilotildees da matildee

e do bebecirc natildeo favorecem o parto vaginal Entretanto sua indicaccedilatildeo incorreta estaacute associada a

uma maior ocorrecircncia de mortalidade e morbidade para as parturientes tais como

hemorragias infecccedilotildees puerperais embolia pulmonar riscos anesteacutesicos bem como outras

patologias Para os bebecircs os riscos relacionam-se a distuacuterbios respiratoacuterios icteriacutecia

fisioloacutegica prematuridade iatrogecircnica hipoglicemia e anoacutexia (RAMOS 2003 VILLAR

2006 TELINI 2000)

Nessa direccedilatildeo eacute observado em nosso paiacutes nos uacuteltimos anos o aumento de partos

cesaacutereos agendados com antecedecircncia cujas indicaccedilotildees meacutedicas natildeo o justificam (MORELL

MELO 1995) Em uma pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede realizada em 2006 quase

metade (462) de todas as cesarianas foi agendada com antecedecircncia (BRASIL 2009)

Essa conduta eacute culturalmente difundida pelos profissionais da sauacutede que detecircm o

poder de modular e influenciar as demandas sobre as necessidades de sauacutede da populaccedilatildeo

(TEIXEIRA 2006) Apresentando-se sob a maacutescara da razatildeo e da necessidade essa praacutetica

desnecessaacuteria acaba por natildeo ser percebida pela maioria das mulheres que encontram

dificuldades em resistir (PEREIRA 2000)

O Ministeacuterio da Sauacutede (2001) ressalta que a informaccedilatildeo e a formaccedilatildeo de opiniatildeo entre

as mulheres satildeo prioridade no Brasil a fim de que elas possam escolher o melhor para a sua

sauacutede e para a de seus filhos pois embora profissionais e mulheres faccedilam a opccedilatildeo antecipada

do tipo de parto esse fato natildeo pode ser visto como uma simples questatildeo de preferecircncia jaacute que

cesaacuterea natildeo eacute um ldquobem de consumordquo (ODENT 2004)

Outro modo de tornar atrativo e mais agradaacutevel aos olhos das mulheres esta praacutetica de

conveniecircncia eacute o conceito contraditoacuterio de cesariana centrada na famiacutelia em que se daacute aos

pais opccedilotildees quanto ao tipo de anesteacutesico e terapia indicados para a mulher (MARTIN 2006)

Scavone (1993) explica esta valorizaccedilatildeo pelas mulheres e pela populaccedilatildeo em geral como

uma garantia meacutedica para os pais em relaccedilatildeo agrave qualidade da sua prole e da fecundidade

Ao dar respostas aos problemas obsteacutetricos e neonatais que aumentam enormemente

os iacutendices de mortalidade materna durante a gestaccedilatildeo o parto e o puerpeacuterio a medicina criou

discursos de verdade Segundo Foucault (1992 p 179)

14

As relaccedilotildees de poder natildeo podem se dissociar se estabelecer nem funcionar sem

uma produccedilatildeo uma acumulaccedilatildeo uma circulaccedilatildeo e um funcionamento do discurso

Natildeo haacute possibilidade de exerciacutecio do poder sem uma certa economia dos discursos

de verdade que funcione dentro e a partir desta dupla exigecircncia

Essa hegemonia do discurso meacutedico sobressai-se desconsiderando durante o processo

parturitivo as crenccedilas e a cultura das mulheres Eacute apenas o meacutedico quem daacute a palavra final

para duacutevidas e inquietudes das mulheres pois considera seu discurso inquestionaacutevel e

legiacutetimo (VIEIRA 2002)

Dessa forma a mulher perde sua autonomia como protagonista no processo do

nascimento

Criou-se assim uma heteronomia desfigurando-se este ato ateacute entatildeo puramente

feminino - pois natildeo era mais a mulher quem dava agrave luz - para o meacutedico como dono

e senhor do parto numa inversatildeo de papeacuteis que bdquolegitima o poder e a relaccedilatildeo da

medicina com a famiacutelia‟ (PEREIRA 2000 p17)

Essa inversatildeo de papeacuteis no cenaacuterio do parto no qual o meacutedico deteacutem o poder sobre o

corpo da mulher pode estar justificando os altos iacutendices de cesaacutereas nas uacuteltimas deacutecadas

Outra repercussatildeo desta mudanccedila de paradigma em relaccedilatildeo ao processo do nascimento

eacute a de que o parto os cuidados puerperais e com o receacutem-nascido que antigamente

transcorriam no ambiente familiar e eram envolvidos em fortes viacutenculos atualmente

transcorrem em instituiccedilotildees hospitalares onde os viacutenculos transformaram-se em meros

contatos superficiais acentuando a perda da autonomia da mulher neste processo

(MONTICELLI 1994)

O contexto do nascimento na sociedade atual mostra que a mulher parturiente estaacute

cada vez mais distante da condiccedilatildeo de protagonista da cena do parto ldquototalmente insegura

submete-se a todas as ordens e orientaccedilotildees sem entender como combinar o poder contido nas

atitudes e palavras que ouve e percebe com o fato inexoraacutevel de que eacute ela quem estaacute com dor

e quem vai parirrdquo (BRASIL 2001 p18) Fato esse constatado no aumento de cesaacutereas e

reduccedilatildeo de partos normais na rede puacuteblica no Brasil No ano de 2005 a taxa de cesaacutereas que

era de 2870 aumentou para 3610 em 2010 e em contrapartida o nuacutemero de partos

normais que em 2005 era de 7130 reduziu para 63 20 em 2010 (BRASIL 2010)

No estado do Rio Grande do Sul (RS) foi constatado por Freitas et al (2005) que os

iacutendices elevados de cesaacuterea constituem um grave problema de sauacutede puacuteblica o que pode

acarretar o mau-uso da tecnologia meacutedica na atenccedilatildeo ao parto associado a fatores sociais

econocircmicos e culturais O percentual de cesarianas que foram analisadas de 1997 a 2003 foi

de 406 para 448 respectivamente No ano de 2008 no RS segundo dados do IBGE

15

(2009) o iacutendice de cesaacutereas foi de 537

No municiacutepio de Santa MariaRS segundo dados da Vigilacircncia Epidemioloacutegica da

Secretaria Municipal de Sauacutede (SMS) no primeiro semestre de 2011 635 dos partos o que

corresponde a 1167 foram cesaacutereos o que desvela um iacutendice muito aleacutem dos 15 previstos

pela OMS O Ministeacuterio da Sauacutede (MS) estabeleceu limite para partos cesaacutereos

considerando-os de alto risco para as unidades hospitalares ateacute 40 e para unidades de risco

habitual - ateacute 25 (BRASIL 2008c)

A portaria GM nordm 466 de 14062000 retificada em 30062000 propotildee o Pacto pela

Reduccedilatildeo das Taxas de Cesaacuterea a ser firmado entre os gestores estaduais e o gestor federal

estabelecendo a taxa de 25 como desejaacutevel para todos os estados ateacute 2007 (BRASIL 2008)

Finalizar uma gestaccedilatildeo mediante uma cesaacuterea sem causa meacutedica que a justifique

ainda que esta seja a pedido da gestante eacute uma conduta meacutedica que natildeo respeita os processos

fisioloacutegicos do trabalho de parto do parto e do nascimento Por esse motivo o procedimento

ciruacutergico realizado sem indicaccedilotildees deixa de ser um procedimento fisioloacutegico tornando-se um

procedimento de risco para a matildee e para o receacutem-nascido (SABATINO 2009)

Para a abrangecircncia do tema complexidade e repercussotildees na vida das mulheres o

objeto de estudo eacute o significado que a mulher atribui ao seu parto

A justificativa para a escolha desse objeto de estudo deve-se agrave vivecircncia de dar agrave luz a

dois filhos nascidos de parto normal Letiacutecia (15 anos) e Marcos (12 anos) e de ter participado

ativamente desse processo como protagonista

Vem ao encontro disso o fato de que no decorrer da vivecircncia de dezoito anos na

assistecircncia agrave sauacutede das mulheres em maternidades e unidades baacutesicas de sauacutede e no meu

ambiente de trabalho atual como enfermeira obstetra de um hospital de ensino percebo a

intensa fragilidade das parturientes ao se submeterem a todos os procedimentos e

intervenccedilotildees sem questionamentos ao que acontece com o seu corpo durante o parto

Paralelamente agraves atividades profissionais participo como integrante do Nuacutecleo de

Estudos sobre Mulheres Gecircnero e Poliacuteticas Puacuteblicas-NEMGeP do Departamento de

Enfermagem do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Santa Maria grupo

que me despertou para as questotildees de gecircnero na temaacutetica no processo da parturiccedilatildeo O Nuacutecleo

atua em accedilotildees direcionadas agraves mulheres com abordagens que ultrapassam a dimensatildeo

bioloacutegica pois considera que as questotildees de gecircnero (cidadania empoderamento controle

social e poliacuteticas puacuteblicas) constituem referenciais fundamentais no direcionamento de

atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres (LANDERDAHL et al 2011)

16

Consultando a literatura cientiacutefica percebeu-se a ausecircncia de estudos culturais com

mulheres fora do periacuteodo graviacutedico puerperal e em cenaacuterios que natildeo sejam em maternidades

eou hospital

Alinhando-se nos argumentos acima descritos este estudo fundamentou-se no

referencial teoacuterico metodoloacutegico da abordagem socioantropoloacutegica de Emily Martin que

propotildee uma anaacutelise do fenocircmeno do parto contrapondo a delimitaccedilatildeo deste ao campo da

reproduccedilatildeo mecanicista e biomeacutedica buscando entendecirc-lo como componente essencial das

mulheres no sentido de desnaturalizar verdades muito caras vinculadas agraves concepccedilotildees

modernas de natureza e cultura Dessa forma o presente estudo traz reflexotildees que poderatildeo

repercutir na assistecircncia de enfermagem prestada agrave mulher durante o periacuteodo da parturiccedilatildeo

uma vez que auxilia na compreensatildeo das necessidades de cuidado com as parturientes a partir

da percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto e o nascimento

Com base nessas consideraccedilotildees a questatildeo norteadora de pesquisa que impulsiona

este estudo estaacute embasada no seguinte questionamento qual a participaccedilatildeo da cultura nos

saberes e as praacuteticas das mulheres em relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeo

Para responder a esta questatildeo foi definido como objetivo compreender de que forma

a cultura influencia no processo de parturiccedilatildeo da mulher

17

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

Este capiacutetulo enfoca as poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e

nascimento no Brasil bem como discute sobre parto e cultura baseando-se sobretudo nos

estudos realizados pela antropoacuteloga Emily Martin

21 Poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e nascimento no Brasil

O movimento feminista tem desempenhado um papel fundamental como instigador de

programas e poliacuteticas para as mulheres no paiacutes e sido entendido como foacuterum de debate das

questotildees da sauacutede qualidade de vida e condiccedilatildeo de cidadania feminina

Em 1974 foi implantado pelo governo o Programa de Sauacutede Materno-Infantil-PSMI

(MS74) como recomendaccedilatildeo do Plano Decenal de Sauacutede para as Ameacutericas e resultante da III

Reuniatildeo Especial de Ministros de Sauacutede das Ameacutericas que se realizou em Santiago de Chile

em 1972 Enfatizou-se nessa recomendaccedilatildeo

Formular uma poliacutetica intersetorial de proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade e agrave infacircncia

[] O programa de sauacutede e atenccedilatildeo meacutedica deveraacute ter cobertura universal

eficiecircncia operativa e acessibilidade geograacutefica institucional e financeira []

Elaborar o programa como um todo contiacutenuo que incluam as diversas atividades de

proteccedilatildeo agrave famiacutelia e em especial agrave matildee e a crianccedila orientaccedilatildeo agrave vida familiar (com

ecircnfase agrave adolescecircncia) atenccedilatildeo agraves doenccedilas ginecoloacutegicas (incluindo as veneacutereas)

diagnoacutestico precoce do cacircncer ceacutervico-uterino e do cacircncer de mama outorgar as

famiacutelias (quando isto natildeo se oponha agraves poliacuteticas nacionais) informaccedilatildeo e serviccedilo

com relaccedilatildeo agrave fertilidade e agrave esterilidade atenccedilatildeo meacutedica integral durante a gestaccedilatildeo

(matildee e feto) atenccedilatildeo ao parto e no puerpeacuterio controle do receacutem-nascido e da

crianccedila durante todas as etapas da vida especificamente no primeiro ano de vida

(OPAS 1973 p39-42)

Com isso o governo brasileiro registrou o interesse em trabalhar com o diagnoacutestico

precoce e o tratamento das doenccedilas ginecoloacutegicas incluindo as doenccedilas sexualmente

transmissiacuteveis e o cacircncer Somente no ano de 1977 a preocupaccedilatildeo eacute dirigida com mais

especificidade agrave gestaccedilatildeo ao parto e ao puerpeacuterio (TYRREL CARVALHO 1995)

O Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em 1984 em conjunto com o Ministeacuterio da Previdecircncia e

a Assistecircncia Social o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e as Secretarias Estaduais de Sauacutede e com o

apoio do movimento de mulheres implantou o Programa de Atenccedilatildeo Integral agrave Sauacutede da

Mulher (PAISM)

18

Esse programa eacute considerado um marco na histoacuteria das poliacuteticas puacuteblicas voltadas para

a sauacutede feminina e ateacute hoje eacute inspiraccedilatildeo e referecircncia na luta pela equidade de gecircnero

divulgando a importacircncia de se estabelecer um programa especiacutefico dirigido agrave mulher e de se

enfatizar certas atividades prioritaacuterias que natildeo deve ser interpretado como uma subestimaccedilatildeo

aos demais serviccedilos que a rede baacutesica deve executar mas deve ser adotado sobretudo como

estrateacutegia de mudanccedila seletiva de recursos que permitam a operacionalizaccedilatildeo de conteuacutedos de

grande prioridade vinculados agrave populaccedilatildeo feminina em todas as fases de sua vida e que

vinham sendo ateacute entatildeo negligenciados (BRASIL l984)

Em 2004 o programa foi transformado na Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agrave

Sauacutede da Mulher (MS 2004) cujo objetivo especiacutefico trecircs indica para o dever de se promover

a atenccedilatildeo obsteacutetrica e neonatal qualificada e humanizada tendo como combate agrave violecircncia de

gecircnero enfatizando a importacircncia do empoderamento das mulheres para o exerciacutecio da

autonomia e protagonismo no parto

A Poliacutetica Nacional de Humanizaccedilatildeo (MS 2004) implementada no mesmo ano

enfoca tambeacutem o respeito agraves questotildees de gecircnero etnia raccedila orientaccedilatildeo sexual com a

construccedilatildeo de autonomia e protagonismo dos sujeitos e coletivos

A I Conferecircncia Nacional de Poliacuteticas para as mulheres realizada em julho de 2004

foi muito importante na afirmaccedilatildeo dos direitos da mulher Desse evento resultou o I Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres em que foram traccediladas 4 linhas de atuaccedilatildeo sendo

uma delas a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos das mulheres o que

contribui reduccedilatildeo da morbidade e mortalidade feminina no Brasil especialmente por causas

evitaacuteveis em todos os ciclos de vida e nos diversos grupos populacionais (BRASIL 2005)

Corroborando esta afirmativa o II Plano Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres

(2008) em seu eixo sobre a sauacutede das mulheres direitos sexuais e direitos reprodutivos

postula que natildeo deve haver discriminaccedilatildeo de qualquer espeacutecie contra as mulheres

resguardando-se as identidades condiccedilotildees socioeconocircmicas e as desigualdades de gecircnero

raccedilaetnia geraccedilatildeo e orientaccedilatildeo sexual e necessitam ser consideradas na formulaccedilatildeo na

implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo de estrateacutegias de intervenccedilatildeo governamentais

Desse modo particularizar a atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher significa apenas um passo no

sentido de aumentar a capacidade resolutiva dos serviccedilos de sauacutede uma vez que haacute o desafio

de dar uma resposta efetiva aos problemas de sauacutede deste grupo de sujeitos visto conforme

Resende e Montenegro (2003) que as trecircs principais causas de morte materna no Brasil satildeo a

toxemia a hemorragia e a infecccedilatildeo puerperal as quais poderiam na maior parte dos casos

serem prevenidas Esse dado justifica a preocupaccedilatildeo com tais cuidados

19

Um dos objetivos de desenvolvimento do milecircnio (IPEA 2007) eacute melhorar a sauacutede

materna (reduccedilatildeo de trecircs quartos da mortalidade materna entre 1990 e 2015) Entretanto essa

meta do milecircnio dificilmente seraacute alcanccedilada pois grandes desafios ainda persistem a

exemplo da reduccedilatildeo das altas taxas de cesariana e nascimentos preacute-termo e no parto vaginal as

rotinas improacuteprias tais como episiotomia de rotina e intervenccedilotildees dolorosas ao bem-estar

materno e do bebecirc (THE LANCET 2011)

Para enfrentar esses desafios foi instituiacutedo pelo MS em 2000 o Programa de

Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) cujo objetivo primordial eacute ldquoassegurar a

melhoria do acesso da cobertura e da qualidade do acompanhamento preacute-natal da assistecircncia

ao parto e puerpeacuterio agraves gestantes e ao receacutem-nascido na perspectiva dos direitos de

cidadaniardquo (BRASIL 2000 p5) O Programa considera que a humanizaccedilatildeo da assistecircncia

obsteacutetrica e neonatal eacute a primeira condiccedilatildeo para o adequado acompanhamento do parto e do

puerpeacuterio (BRASIL 2000b)

A implementaccedilatildeo das accedilotildees desse programa enfrenta ainda muitos entraves

identificados e categorizados em um estudo de revisatildeo sistemaacutetica de Busanello et al (2009)

Citam-se a dificuldade de acesso aos serviccedilos de sauacutede a falta de leitos a deficiecircncia de

recursos humanos financeiros e materiais a atenccedilatildeo centrada na praacutetica intervencionista

desconsiderando o protagonismo da mulher no momento do parto e o despreparo dos

profissionais de sauacutede para a atenccedilatildeo humanizada no processo de parturiccedilatildeo sendo esta

categoria destacada como importante desafio enfrentado para concretizaccedilatildeo do PHPN

Nesse sentido o Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento - MS tem

recomendado aos serviccedilos de sauacutede que ofereccedilam uma assistecircncia digna agrave mulher aos

familiares e ao receacutem-nascido envolvendo para tanto atitude eacutetica e solidaacuteria dos

profissionais de sauacutede organizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de modo a criar um ambiente acolhedor e a

implementaccedilatildeo de rotinas hospitalares que rompam com o tradicional isolamento imposto agrave

mulher Considera-se tambeacutem necessaacuterio adotar medidas e procedimentos sabidamente

beneacuteficos para o acompanhamento do parto e do nascimento evitando-se praacuteticas

intervencionistas desnecessaacuterias (BRASIL 2000b)

Seguindo essa loacutegica o Ministeacuterio da Sauacutede tem realizado um conjunto de accedilotildees

atraveacutes de portarias ministeriais com a finalidade de estimular e regularizar a assistecircncia

obsteacutetrica aleacutem de financiar a realizaccedilatildeo de cursos de especializaccedilatildeo em enfermagem

obsteacutetrica (BRASIL 2001)

Assegura-se pela legislaccedilatildeo do exerciacutecio profissional regulamentada pela lei n

749886 e o Decreto-Lei 9440687 o direito de a enfermeira obstetra realizar assistecircncia agrave

20

parturiente e ao parto normal identificaccedilatildeo das distocias obsteacutetricas e tomada de providecircncias

ateacute a chegada do meacutedico e a realizaccedilatildeo de episiotomia e episiorrafia e aplicaccedilatildeo de anestesia

local quando necessaacuteria

Outras atribuiccedilotildees realizadas pela enfermeira obsteacutetrica que vem ganhando espaccedilo no

cenaacuterio nacional satildeo as accedilotildees de incentivo ao parto normal e as accedilotildees no atendimento preacute-

natal no qual a enfermeira eacute responsaacutevel pela educaccedilatildeo em sauacutede para as mulheres e suas

famiacutelias consulta de preacute-natal agrave gestaccedilatildeo de baixo risco solicitaccedilatildeo de exames de rotina e

prescriccedilatildeo de tratamento conforme protocolo do serviccedilo e estabelecidos em programas de

sauacutede e coleta de exame citopatoloacutegico (BRASIL 2006b)

Concorrendo nessa orientaccedilatildeo a atuaccedilatildeo da enfermeira obstetra eacute reconhecida como

primordial no processo de humanizaccedilatildeo do parto tendo como objetivo a reduccedilatildeo dos altos

iacutendices de cesaacutereas praticadas e a alta medicalizaccedilatildeo decorrentes do intervencionismo por

parte dos meacutedicos obstetras (BRASIL 2001)

Buscando proporcionar conhecimento agrave sociedade e particularmente esclarecer os

profissionais de sauacutede a OMS elaborou em 1996 um conjunto de recomendaccedilotildees de boas

praacuteticas na assistecircncia ao parto normal Essas recomendaccedilotildees foram classificadas em quatro

categorias Categoria A - praacuteticas confirmadamente uacuteteis e que devem ser estimuladas

Categoria B - praacuteticas claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas

Categoria C - praacuteticas em relaccedilatildeo agraves quais natildeo existem evidecircncias suficientes para apoiar uma

recomendaccedilatildeo clara e que devem ser utilizadas com cautela ateacute que mais pesquisas

esclareccedilam a questatildeo e Categoria D - praacuteticas frequentemente utilizadas de modo inadequado

(OMS 1996) Dentre estas categorias destacam-se neste estudo as recomendaccedilotildees que foram

classificadas como praacuteticas uacuteteis e que devem ser estimuladas

Nessa direccedilatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede implantou medidas que visam impactar e

estimular a melhoria da assistecircncia obsteacutetrica no paiacutes e humanizar o parto e nascimento

(BRASIL 2001)

Para Martins (2005) humanizar a parturiccedilatildeo eacute estar com o outro e prestar um

atendimento focado em suas necessidades eacute lembrar que no momento do parto estaacute

ocorrendo a separaccedilatildeo de dois corpos que ateacute entatildeo viviam juntos um dentro do outro em

relaccedilatildeo de dependecircncia e de iacutentimo contato

Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede (2001) os profissionais de sauacutede devem ser

coadjuvantes dessa experiecircncia direcionando toda atenccedilatildeo agraves necessidades da mulher e

oportunizando-lhe o protagonismo e o controle da situaccedilatildeo na hora do nascimento

21

Os profissionais tambeacutem devem repassar para a mulher as opccedilotildees de escolha baseados

nas evidecircncias cientiacuteficas e nos seus direitos tendo a oportunidade de empregar seu

conhecimento a serviccedilo do bem-estar da mulher e do bebecirc sabendo reconhecer os momentos

criacuteticos em que suas intervenccedilotildees satildeo necessaacuterias

Igualmente seus deveres satildeo minimizar a dor acompanhar dar conforto esclarecer

orientar enfim ajudar a parir e a nascer Precisam lembrar que satildeo os primeiros a ter contato

com cada ser que nasce e portanto devem ter consciecircncia dessa responsabilidade (BRASIL

2001)

No Brasil o movimento pela humanizaccedilatildeo do parto eacute impulsionado por experiecircncia

em vaacuterios estados Em 1994 surgiu no Rio de Janeiro a primeira maternidade puacuteblica

autodefinida como ldquohumanizadardquo que recebeu o nome de Leila Diniz (DINIZ 2005) Outro

marco em termos de poliacuteticas puacuteblicas do parto e nascimento foi a criaccedilatildeo do Precircmio Galba

Arauacutejo para Maternidades Humanizadas instituiacutedo pela portaria nordm 2883 de 4 de junho de

1998 (BRASIL 1998)

Os criteacuterios para a concessatildeo deste precircmio satildeo baseados na adesatildeo agraves recomendaccedilotildees

da OMS tais como a presenccedila de acompanhantes no preacute-parto parto e poacutes-parto a assistecircncia

aos partos de baixo risco por enfermeiras obstetras e o controle das taxas de cesaacuterea

(BRASIL 2000b)

Concedido a niacutevel estadual e nacional o precircmio Galba de Arauacutejo tem provocado

mobilizaccedilatildeo nas instituiccedilotildees de Sauacutede que lutam em defesa dos direitos das mulheres e

crianccedilas e tem recebido a participaccedilatildeo de um nuacutemero crescente de serviccedilos a cada ediccedilatildeo

contribuindo para conferir legitimidade ao modelo humanizado (DINIZ 2005)

O Centro de Parto Normal-CPN foi outra iniciativa criada pela portaria nordm 985 de

agosto de 1999 que tem como finalidade o atendimento agrave mulher no periacuteodo graviacutedico-

puerperal tendo como uma das suas atribuiccedilotildees prestar atendimento humanizado e de

qualidade exclusivamente ao parto normal sem distoacutecia assistido por enfermeira obsteacutetrica

desenvolvendo atividades educativas e de humanizaccedilatildeo durante o preacute-natal visando agrave

preparaccedilatildeo das gestantes para o parto no CPN (BRASIL 1999)

A Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar (ANS) do Ministeacuterio da Sauacutede em janeiro

de 2008 atraveacutes da Resoluccedilatildeo Normativa nordm 167 reviu o Rol de Procedimentos e Eventos em

Sauacutede e ampliou as coberturas para as beneficiaacuterias de planos de sauacutede A partir de abril de

2008 deu-se a inclusatildeo na cobertura dos partos feitos por enfermeira obstetras e a presenccedila de

um acompanhante durante toda a estada da mulher no hospital desde o momento do parto ateacute

a sua alta (ANS 2008b)

22

Destaca-se tambeacutem que a partir do ano de 2005 a lei nordm 11108 passou a garantir agraves

parturientes o direito agrave presenccedila de acompanhante de sua preferecircncia durante o trabalho de

parto parto e poacutes-parto Outra iniciativa lanccedilada pela ANS na tentativa de estimular o

aumento de partos normais e modificar os altos iacutendices de cesarianas desnecessaacuterias na rede

privada foi a campanha em favor do parto normal intitulada Parto normal estaacute no meu

plano (ANS 2008a)

Em junho de 2008 foi divulgada a Resoluccedilatildeo RDC 36 da Agecircncia Nacional de

Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA) a qual preconiza que os serviccedilos de atendimento obsteacutetrico e

neonatal devem adotar medidas que incentivem o parto humanizado e a reduccedilatildeo dos iacutendices

de mortalidade materna e neonatal no paiacutes (BRASIL 2008b)

Tambeacutem devido a algumas maternidadeshospitais estarem fazendo uma cobranccedila

indevida para a presenccedila do acompanhante na sala de parto destinada a cobrir os gastos com a

limpeza e higienizaccedilatildeo das roupas ciruacutergicas e o uso de maacutescaras e toucas descartaacuteveis

utilizadas pelo acompanhante da gestante a ANS publicou em 02082011 a Resoluccedilatildeo

Normativa 262 (ANS 2011) Essa normativa define que as despesas a serem cobertas para o

acompanhante durante o preacute-parto parto e poacutes-parto imediato deve incluir taxas de

paramentaccedilatildeo acomodaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo pelo periacuteodo de 48h podendo se estender por ateacute

10 dias quando indicado pelo meacutedico assistente (DOU 2011)

Em junho de 2011 foi instituiacuteda a iniciativa da Rede Cegonha atraveacutes da portaria nordm

1459 de 24 de junho de 2011 no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede com o intuito de

fomentar a implementaccedilatildeo de novo modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher com foco na

atenccedilatildeo ao parto

Esta poliacutetica tendo como princiacutepios o respeito a proteccedilatildeo e a realizaccedilatildeo dos direitos

humanos o respeito agrave diversidade cultural eacutetnica e racial a promoccedilatildeo da equidade com o

enfoque de gecircnero a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos de mulheres

homens jovens e adolescentes a participaccedilatildeo e a mobilizaccedilatildeo com controle social e a

compatibilizaccedilatildeo com as atividades das redes de atenccedilatildeo agrave sauacutede materna e infantil em

desenvolvimento nos Estados (BRASIL 2011)

12 O parto e a cultura no processo da parturiccedilatildeo

Historicamente o parto jaacute foi vivenciado como um evento feminino no qual os

membros do grupo social da parturiente como a matildee familiares vizinhas auxiliavam-na

23

juntamente agrave parteira que tinha seus conhecimentos fundamentados na praacutetica e na

acumulaccedilatildeo de saberes passados tradicionalmente de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo (SANTOS 2002)

No entanto no seacuteculo XVIII na Europa o parto passou por um processo de

transformaccedilatildeo principalmente devido agrave influecircncia biomeacutedica masculina De um evento

feminino domiciliar e fisioloacutegico passa a ser patoloacutegico e institucionalizado dominado por

uma praacutetica intervencionista e hospitalocecircntrica da qual a mulher perdeu seu protagonismo

(SANTOS 2002)

A percepccedilatildeo da dor no parto eacute considerada como um dos motivos que influenciam a

mulher em sua preferecircncia pela cesaacuterea e estaacute profundamente arraigada no imaginaacuterio

popular como um evento associado agrave purgaccedilatildeo feminina Relaciona-se neste sentido agrave

citaccedilatildeo do Livro Biacuteblico de Gecircnesis que se refere agrave Eva como o primeiro ser humano que

pecou e acabou por corromper o resto da humanidade com sua transgressatildeo ouvindo de Deus

ldquoe tu mulher pariraacutes com dor os teus filhosrdquo (TEIXEIRA 2006)

A ideacuteia de que a mulher deve pagar no parto por seus pecados propagada pela

medicina e pela religiatildeo hegemocircnica contrapotildee-se agrave visatildeo do parto como um momento

prazeroso Esse sentido pode ser entendido como uma heresia e uma ameaccedila a um sistema de

crenccedilas que define o parto como um processo doloroso que faz mal agrave sauacutede e agrave sexualidade

feminina e que precisa ser controlado por aparatos meacutedicos (DINIZ 2011)

De acordo com Helman (2009) a dor e seus aspectos voluntaacuterios satildeo influenciados por

fatores sociais culturais e psicoloacutegicos que determinam se a dor privada seraacute traduzida e em

que tipo de comportamento quando for puacuteblica Isso estaacute muito imbricado ao significado

pessoal de que a mulher atribui agrave dor do parto ao contexto de vida em que estaacute inserida agraves

definiccedilotildees culturais da imagem corporal da estrutura e funccedilotildees do seu corpo

Ressalta-se nessa direccedilatildeo que a posiccedilatildeo das mulheres frente ao processo de

medicalizaccedilatildeo natildeo foi propriamente a de viacutetima As mulheres de classe mais alta natildeo mais

aceitavam sentir a dor do parto e natildeo desejavam correr mais riscos aleacutem de o ato de parir com

a assistecircncia de um meacutedico significar maior poder aquisitivo de seus maridos Com isso a

consolidaccedilatildeo do processo de medicalizaccedilatildeo e hospitalizaccedilatildeo do parto acontece em meados do

seacuteculo XX motivada por tais condiccedilotildees (VARGENS PROGIANTI 2004)

No Brasil o processo de institucionalizaccedilatildeo do parto isto eacute a ocorrecircncia dos partos

dentro de instituiccedilotildees hospitalares deu-se ao longo da deacutecada de 40 com o advento da

medicina preventiva cujo objetivo principal era reduzir a mortalidade infantil Somente mais

tarde a partir da deacutecada de 80 passou-se a justificar o processo de medicalizaccedilatildeo do parto

por meio da recorrecircncia das cesarianas para reduzir a mortalidade materna (BRASIL 2001)

24

Os meacutedicos natildeo acostumados ao acompanhamento de fenocircmenos fisioloacutegicos foram

instruiacutedos a intervir resolver casos complicados e ditar ordens O parto passou entatildeo a ser

visto como um ato ciruacutergico e a mulher parturiente sendo tratada como enferma foi

impedida de seguir seus instintos e de adotar a posiccedilatildeo mais cocircmoda e fisioloacutegica (BRASIL

2001)

Privada do direito baacutesico de escolha e autonomia no nascimento do proacuteprio filho deu-

se iniacutecio agrave era do parto medicalizado no qual a matildee deixa de ser a protagonista do processo

cedendo seu lugar agrave equipe meacutedica que passa a ser o centro da cena Diversas repercussotildees

advecircm desta mudanccedila As posiccedilotildees verticalizadas que ao longo dos milecircnios foram as mais

usadas pelas mulheres em todas as raccedilas e culturas passaram a ser negadas agraves parturientes

pelos meacutedicos (MACHADO 1995)

A posiccedilatildeo assumida pela parturiente e a sua livre movimentaccedilatildeo passaram a ser

praticamente negligenciadas por profissionais alinhados agrave praacutetica ocidental moderna na qual

a mulher em trabalho de parto manteacutem-se deitada horizontalmente ou em uma posiccedilatildeo semi

inclinada para conveniecircncia da equipe obsteacutetrica na aplicaccedilatildeo dos soros monitores e

anesteacutesicos Evidecircncias de estudos etnograacuteficos realizados atualmente mostram que as

mulheres que natildeo satildeo expostas a essas rotinas assumem posiccedilotildees verticais no trabalho de

parto e no parto (BALASKAS 2008)

Balaskas (2008) reforccedila ainda que um parto ativo eacute uma atitude mental de crenccedila na

natureza do processo do parto e o modo como a mulher segue a loacutegica de seus instintos e da

sua fisiologia eacute uma forma de manifestar que estaacute no controle do seu corpo durante o trabalho

de parto e nascimento e que natildeo eacute um mero objeto de intervenccedilatildeo da equipe obsteacutetrica Os

significados culturais dados aos fenocircmenos fisioloacutegicos psicoloacutegicos e sociais de uma

sociedade refletem o comportamento das pessoas e ateacute a forma de desenvolvimento poliacutetico

econocircmico de dada sociedade (HELMAN 2009)

13 Referencial teoacuterico de Emily Martin sobre o parto e cultura

Segundo a antropoacuteloga Emily Martin (2006) a metaacutefora do uacutetero como maacutequina teve

iniacutecio no decorrer dos seacuteculos XVII e XVIII nos hospitais franceses Esta metaacutefora compara

o uacutetero a uma bomba mecacircnica capaz de expelir o feto Importante assinalar que nesta eacutepoca

que o foacuterceps era instrumento utilizado por accedilougueiros barbeiros falidos cujo status social

25

era equivalente ao de um mecacircnico De acordo com Vieira (2002) as regulamentaccedilotildees para

partejar exigiam que esses homens fossem chamados pelas parteiras para manipular os

instrumentos

A partir do seacuteculo XIX a ideologia de produccedilatildeo das faacutebricas torna-se tatildeo abrangente

que ldquochegardquo aos corpos das mulheres os quais passam a ser vistos nos textos de obstetriacutecia

como faacutebricas para a produccedilatildeo de bebecircs Martin (2006) propotildee utilizar esta metaacutefora de

produccedilatildeo fabril para entender o processo de trabalho em que meacutedico e a mulher estatildeo

envolvidos

Nesta metaacutefora segundo a autora acrescenta-se a figura do meacutedico no papel de

supervisor ou ateacute dono da faacutebrica e a mulher no papel de trabalhadora cuja maacutequina (uacutetero)

produz o produto (bebecirc) O olhar a partir de metaacuteforas de acordo com a pesquisadora

permite comparar as mesmas formas de controle e poder que ocorrem no acircmbito da produccedilatildeo

industrial ou seja de controlar os movimentos dos trabalhadores conforme a produccedilatildeo da

progressatildeo em periacuteodos especiacuteficos de tempo da maacutequina (uacutetero) para avaliar e controlar se

as contraccedilotildees uterinas satildeo eficientes ou ineficientes (MARTIN 2006)

A autora supracitada questiona o papel de passividade da mulher em relaccedilatildeo agraves

contraccedilotildees uterinas que consideradas pela ciecircncia meacutedica involuntaacuterias e inclusive

responsaacuteveis totais pela realizaccedilatildeo do parto Rezende e Montenegro (2003) comenta que no

periacuteodo expulsivo as contraccedilotildees satildeo realizadas com a glote fechada e com esforccedilos

respiratoacuterios verdadeiros chamados ldquopuxosrdquo Em nenhum momento foi mencionado que eacute a

parturiente que faz esse esforccedilo Outro exemplo de exclusatildeo do papel mulher em seu processo

de parto eacute o foco no feto conforme a citaccedilatildeo de Rezende e Montenegro (2003 p177) ldquono seu

transcurso atraveacutes do canal parturitivo impulsionado pela contratilidade uterina o feto eacute

compelido a executar certo nuacutemero de movimentos que se denominam mecanismo do partordquo

Assim sendo a metaacutefora utilizada por Martin (2006) desvela uma perspectiva que apresenta

as mulheres gestantes como ldquomateacuteria-primardquo para a produccedilatildeo de um ldquoprodutordquo

Nessa direccedilatildeo torna-se imprescindiacutevel para a produccedilatildeo de bebecircs perfeitos a

intervenccedilatildeo da cesaacuterea exigindo um miacutenimo de trabalho do uacutetero e da mulher atribuindo a

esse procedimento a imagem de ldquouacutenica graccedila salvadorardquo do bebecirc Este posicionamento

segundo a autora ignora o que talvez seja extremamente significante para a mulher e para seu

bebecirc ter a oportunidade de vivenciar o nascimento do seu filho (a) atraveacutes do seu proacuteprio

esforccedilo experimentando o protagonismo no seu parto e no nascimento da crianccedila

O mecanismo do parto conforme Rezende eacute o estudo da mecacircnica do parto o que

vem ao encontro da metaacutefora do uacutetero como maacutequina

26

A cultura meacutedica segundo Martin (2006) seria um sistema cultural cujas ideais

sobressaem-se agrave cultura popular

A autora faz ainda referecircncia a textos em obstetriacutecia da Universidade Johns Hopkins

nos EUA que comprovam que causas externas podem interferir nas atividades uterinas e que

tais alteraccedilotildees emocionais da mulher quase natildeo satildeo levadas em consideraccedilatildeo na obstetriacutecia

tendo como consequecircncia o aval para intervenccedilotildees como amniotomias uso de ocitocina para

acelerar o trabalho de parto ou a utilizaccedilatildeo da cesariana considerando desnecessaacuterias as

contraccedilotildees (MARTIN 2006)

A participaccedilatildeo do meacutedico como promotor de uma cultura intervencionista foi

destacada em um estudo nacional realizado pela socioacuteloga americana Hopkins (2000) com

pueacuterperas de cliacutenicas privadas e puacuteblicas Segundo o estudo das mulheres que fizeram

cesariana trecircs em quatro das primiacuteparas do setor privado e oito em dez do setor puacuteblico

gostariam de ter tido partos vaginais Observou-se que o meacutedico obstetra promove os medos

nas gestantes em relaccedilatildeo ao parto e superestima a seguranccedila da cesariana em funccedilatildeo dos seus

interesses

Para Martin (2006) a alienaccedilatildeo e a condiccedilatildeo fragmentada constadas na linguagem e

de algumas mulheres satildeo descritas como uma autopercepccedilatildeo passiva sendo contrastadas com

discursos de mulheres que questionam se opotildeem rejeitam e reformulam suas formas de viver

e as maneiras como a sociedade poderia funcionar apresentando uma autopercepccedilatildeo que tenta

resistir agrave passividade

As mulheres que optam pelo parto domiciliar saem dessa passividade buscam outras

formas de serem ativas no seu parto e reivindicam seu espaccedilo no ato de parir questionando o

paradigma atual de assistecircncia ao parto preconizado nas instituiccedilotildees hospitalares (KRUNO

BONILHA 2004)

No estudo etnograacutefico realizado por Martin (2006) em Baltimore (EUA) encontra-se

a narrativa de uma mulher que resiste a essa maneira de fragmentaccedilatildeo exprimindo a sua

frustraccedilatildeo em relaccedilatildeo ao parto cesariano imposto pela conduta meacutedica A narradora conta

com raiva a sua experiecircncia com a cesariana por ter perdido a cena do nascimento devido agrave

limitaccedilatildeo e ao jejum impostos pela anestesia natildeo podendo realizar os primeiros cuidados do

seu bebecirc aleacutem da proibiccedilatildeo de se alimentar por horas e limitando-se a nutrientes para a

recuperaccedilatildeo mais eficaz da cirurgia

A necessidade de compreensatildeo do parto enquanto parte integrante da vida sexual

emocional e cultural da mulher eacute proposta por Odent (2000) como o entendimento das bases

fisioloacutegicas e a integraccedilatildeo entre diferentes momentos da vida Sua hipoacutetese eacute a de que o

27

cuidado com o modo como nascemos e com a vinculaccedilatildeo amorosa matildee-bebecirc pode propiciar a

construccedilatildeo de uma sociedade mais amorosa menos destrutiva e de mais respeito pelos seres

humanos e pela natureza Esse paradigma holiacutestico tambeacutem referendado por Floyd (2004)

que destaca como elemento fundamental no processo do parto o contato das mulheres consigo

mesmas como um estado especial de consciecircncia similar agraves relaccedilotildees entre os estados

orgaacutesticos agrave oraccedilatildeo e agraves emoccedilotildees miacutesticas Nesse momento as funccedilotildees intelectuais

neocorticais devem estar colocadas em segundo plano proporcionando a expressatildeo de

funccedilotildees cerebrais mais instintivas caracteriacutesticas do parto e do aleitamento

Segundo Martin (2006) os esforccedilos para oferecer este novo paradigma que devolve agrave

mulher o controle do seu corpo no parto satildeo extraordinaacuterios O que natildeo deve permanecer

ainda que subliminarmente eacute a ideologia dominante de nossa sociedade na qual as mulheres

ao darem a luz de maneira mais aproximada do parto natural satildeo consideradas desprovidas de

cultura e consequentemente inferiores por aproximarem-se da natureza ldquoprimitivardquo como se

andassem para traacutes no tempo e na evoluccedilatildeo

Historicamente esta divisatildeo da cultura e da natureza fomentada pelos escritores do

seacuteculo XIX surgiu a partir do desenvolvimento das sociedades ocidentais e da

industrializaccedilatildeo sendo organizada em torno de dois mundos a esfera privada dentro de casa

que eacute evidenciada pertencente agrave mulher onde ocorrem funccedilotildees ditas ldquonaturaisrdquo e a esfera

puacuteblica fora de casa na qual os homens estatildeo em maior evidecircncia e onde se produz ldquoculturardquo

a qual eacute considerada atividade superior evidenciada aos homens e vista como dominante

(MARTIN 2006)

Essa forma de pensar relega a mulher ao domiacutenio do natural do inferior e da

domesticidade considera-a mais simples animalesca e livre de autocensuras Compreende

que haacute uma iniquumlidade entre natureza e cultura e que ao ldquosubmeterrdquo a mulher a fenocircmenos

totalmente naturais como o parto normal estamos reafirmando a concepccedilatildeo da mulher como

um ser mais primitivo que pertence somente agrave natureza (MARTIN 2006)

Reflete-se por outro lado de acordo com Gama (2009) que o modelo de organizaccedilatildeo

dos serviccedilos puacuteblicos e privados apresenta variaccedilotildees que produzem diferentes tipos de

assistecircncia e de relaccedilatildeo entre os profissionais de sauacutede e as usuaacuterias dando forma agraves

experiecircncias distintas entre as mulheres pesquisadas

Ao empreender uma criacutetica assentada nas relaccedilotildees de gecircnero Gama (2009) verificou

que o modelo de assistecircncia ao parto permanece submetendo quem deve ser sujeito e reproduz

o projeto da medicalizaccedilatildeo Isso reduz o campo da assistecircncia e inviabiliza um lugar de poder

diferenciado das usuaacuterias sendo a cesariana utilizada como um procedimento de alta

28

rentabilidade para a medicina obsteacutetrica privada conforme a citaccedilatildeo da antropoacuteloga Emily

Martin

Se a cesariana torna-se uma fonte de honoraacuterios mais altos para os meacutedicos e contas

hospitalares mais altas que o parto vaginal eacute de se esperar que encontremos mais

cesarianas sendo realizadas em mulheres no alto da escala de classe e raccedila

(MARTIN 2006 p 235)

Tal constataccedilatildeo justifica a demanda dos altos iacutendices de cesaacuterea no Brasil com a forma

como se organizou a assistecircncia obsteacutetrica e a formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que

reproduzem no cotidiano esse sentido tecnoloacutegico do parto e do nascimento

Com a invasatildeo da tecnologia a mulher perdeu sua autonomia como protagonista uma

vez que no modelo intervencionista da atual assistecircncia obsteacutetrica ela tornou-se objeto da

accedilatildeo e vem perdendo o controle e a decisatildeo sobre o proacuteprio processo de parto e de

nascimento Essa realidade pode afetar profundamente as mulheres os bebecircs as famiacutelias e

produzir efeitos importantes e persistentes sobre a sociedade (DINIZ 2001)

Ratifica-se nas palavras de Dias (2008) que a perda do protagonismo da mulher no

cenaacuterio do parto reflete-se nos altos iacutendices de cesaacutereas nas uacuteltimas deacutecadas no Brasil Por

outro lado a mudanccedila no modelo de assistecircncia ao parto pode ser uma estrateacutegia promissora

para a reversatildeo desse quadro jaacute que os fatores associados agrave decisatildeo da cesariana independem

do desejo da mulher

A mudanccedila para outro modo de parir mais conectado com todas as forccedilas da vida e da

cultura das mulheres pode possibilitar a construccedilatildeo de um modelo humaniacutestico com vistas ao

holiacutestico e agrave expressatildeo de um tempo de uma cultura de um avanccedilo das praacuteticas obsteacutetricas

do parto com a convivecircncia de muacuteltiplos paradigmas da assistecircncia

29

2 CAMINHO METODOacuteLOGICO

21 Fundamentos metodoloacutegicos

A presente investigaccedilatildeo constitui-se como uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva

A pesquisa qualitativa abarca o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores

e atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees (MINAYO 2004) A

metodologia qualitativa pode possibilitar aleacutem de uma interpretaccedilatildeo com lentes ampliadas do

objeto de estudo uma inserccedilatildeo na cultura do ldquooutrordquo (GEERTZ 1989)

Para Leopardi (2001) e Minayo (2008) o estudo qualitativo compreende a descriccedilatildeo e

a anaacutelise da realidade de diferentes maneiras para representar as experiecircncias do fenocircmeno

vivenciadas pelos indiviacuteduos Haacute uma implicaccedilatildeo entre o conhecimento sobre o mundo e os

sujeitos que o constroem numa relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto Logo a

interpretaccedilatildeo do fenocircmeno atribuindo-lhe significados faz parte do processo de

conhecimento tanto do sujeito pesquisador quanto dos atores pesquisados Eacute comumente

utilizada por pesquisadores sociais preocupados com a atuaccedilatildeo praacutetica (GIL 2007)

A pesquisa descritiva trabalha sobre dados ou fatos colhidos da proacutepria realidade do

indiviacuteduo ou de grupos e comunidades mais complexas Busca conhecer as diversas situaccedilotildees

e relaccedilotildees que ocorrem na vida social poliacutetica econocircmica e cultural principalmente nas

ciecircncias humanas e sociais objetivando abordar dados e problemas relevantes cujo registro

natildeo consta de documentos (CERVO BERVIAN DA SILVA 2007)

22 Os cenaacuterios do estudo

Esta pesquisa foi prevista inicialmente para ser somente desenvolvida na Unidade

Sanitaacuteria Kennedy (USK) no municiacutepio de Santa Maria - RS pelo fato de ser campo de aulas

praacuteticas e de estaacutegio supervisionado para os alunos do Curso de Enfermagem da Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM) onde satildeo realizadas accedilotildees de promoccedilatildeo agrave sauacutedecidadania de

crianccedilas adolescentes mulheres e adultos A aacuterea de abrangecircncia da USK inclui dezoito vilas

30

compreendendo uma populaccedilatildeo de aproximadamente trinta mil habitantes Em relaccedilatildeo agrave

escolaridade os natildeo alfabetizados e os indiviacuteduos que possuem o primeiro grau incompleto

perfazem 83 da populaccedilatildeo A renda per capita de 58 das pessoas e ateacute um salaacuterio miacutenimo

e 27 recebem um a dois salaacuterios miacutenimos Esta regiatildeo ainda hoje caracteriza-se por um alto

iacutendice de desemprego criminalidade desnutriccedilatildeo doenccedilas infecto-contagiosas aleacutem da

precariedade de saneamento baacutesico e de habitaccedilatildeo (MONDARDO et al 1993)

Poreacutem devido a dificuldades de infra-estrutura na referida unidade foi solicitada

transferecircncia de campo da pesquisa para o Hospital Universitaacuterio de Santa Maria (HUSM)

atraveacutes de ementa ao Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM) (Anexo B) estipulando como os locais de coleta os serviccedilos de ginecologia e

obstetriacutecia do hospital

As dificuldades encontradas foram inerentes ao objeto da pesquisa aleacutem de problemas

teacutecnico-administrativos na USK Os problemas de natureza e objeto concernem aos criteacuterios

de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos dada a ausecircncia de mulheres encaixadas em tais criteacuterios

no grupo de planejamento familiar na USK

Os problemas teacutecnico-administrativos foram relativos agrave infra-estrutura da USK que

estava funcionando em um local menor durante os procedimentos de reforma no preacutedio da

instituiccedilatildeo

Outras estrateacutegias foram realizadas na busca por sujeitos como a visita nos dias e

horaacuterios da consulta puericultura visando encontrar mulheres dentro dos criteacuterios que

viessem acompanhando os seus filhos na consulta contudo a tentativa natildeo obteve sucesso

pois era o grande nuacutemero de mulheres dentro dos criteacuterios de exclusatildeo neste caso pueacuterperas

O HUSM entatildeo foi o outro cenaacuterio escolhido para a coleta de dados que justificou-se

pela diversidade de serviccedilos de atendimento oferecidos a mulheres e de profissionais do sexo

feminino que laacute trabalham principalmente da enfermagem o que foi bastante significativa

para o estudo Solicitou-se entatildeo a autorizaccedilatildeo ao Departamento de Ensino e Pesquisa

(DEPE) do HUSM para realizaccedilatildeo da pesquisa neste serviccedilo e autorizada pelo CEP da UFSM

atraveacutes de emenda (Anexo B) para a ampliaccedilatildeo do cenaacuterio e do periacuteodo de coleta de dados

O HUSM eacute um hospital-ensino fundado no ano de 1970 que serve como base de

atendimento primaacuterio dos bairros que o cercam para o atendimento secundaacuterio agrave populaccedilatildeo

de Santa Maria e para o atendimento terciaacuterio da regiatildeo centro e fronteira gauacutecha O hospital

constitui-se como centro de ensino pesquisa e extensatildeo no acircmbito das Ciecircncias da Sauacutede

aleacutem de centro de programaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de accedilotildees voltadas agrave sauacutede das comunidades

local e regional Tambeacutem presta serviccedilos assistenciais em todas as especialidades meacutedicas

31

bem como serve de treinamento para alunos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Medicina

Residecircncia Meacutedica e de graduaccedilatildeo em Enfermagem Farmaacutecia Fonoaudiologia e

Fisioterapia

Satildeo serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia do HUSM

a unidade de Internaccedilatildeo do Centro Obsteacutetrico situada no sub- solo do HUSM

provida de seis leitos de internaccedilatildeo para mulheres em trabalho de parto ou no poacutes-parto

quatro leitos de internaccedilatildeo poacutes-cesaacuterea trecircs leitos de observaccedilatildeo para o atendimento de

intercorrecircncias ginecoloacutegicas e agrave mulher viacutetima de violecircncia

a unidade de internaccedilatildeo Toco-ginecoloacutegica situada no 2ordm andar do HUSM

onde se atendem pueacuterperas gestantes de alto-risco e mulheres em tratamento ginecoloacutegico

Possui trinta e sete leitos dos quais onze satildeo destinados agrave cliacutenica ginecoloacutegica e vinte e seis agrave

obstetriacutecia

o ambulatoacuterio da ala II que eacute localizado no teacuterreo e atende consultas de preacute-

natal puerpeacuterio e ginecologia

Destaca-se que nas unidades referidas circula um grande nuacutemero de familiares do

sexo feminino que acompanham as gestantes pueacuterperas e as mulheres internadas para

tratamento ginecoloacutegico

23 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos

Os criteacuterios de inclusatildeo foram mulheres que jaacute tiveram filhos por via vaginal ou

cesariana que natildeo estavam gestando nem eram puerpeacuteras e cujos partos ocorreram a partir do

ano de 2004 tendo como marco referencial o Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e

Nascimento do Ministeacuterio da Sauacutede Este programa foi criado em 2000 pelo Ministeacuterio da

Sauacutede mas implantado em todos os municiacutepios do Rio Grande do Sul somente em 2004

Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo mulheres nuliacuteparas mulheres

gestantes e pueacuterperas uma vez que o processo de parturiccedilatildeo ocorrendo em periacuteodo proacuteximo

ou concomitante agrave entrevista poderia influenciar nas respostas devido mais a aspectos

fisioloacutegicos e emocionais relacionados agrave dor do parto do que por aspectos culturais

32

24 Caracterizaccedilatildeo das participantes

Este estudo foi realizado com oito mulheres em idade feacutertil com histoacuteria pregressa de

parto vaginal ou cesariano quatro mulheres foram captadas na USK e quatro no HUSM

Foram convidadas para entrevistas mulheres que buscavam o atendimento no programa de

planejamento familiar da USK mulheres que buscavam o atendimento no HUSM nos

serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia e mulheres que estavam no momento da entrevista nos

serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia do HUSM

Para finalizaccedilatildeo da coleta foi utilizado o criteacuterio de saturaccedilatildeo de dados por

reincidecircncia ou seja quando da repeticcedilatildeo dos dados a coleta foi entendida como satisfatoacuteria

e entatildeo suspensa (VIacuteCTORA KNAUTH HASSEN 2000)

As participantes do estudo foram identificadas pela letra M de mulher e um nuacutemero

escolhido por ordem de entrevista (M1-M8) sendo caracterizadas no que se refere aos

aspectos soacutecio-culturais de idade estado civil escolaridade regiatildeo de moradia nuacutemero de

filhos ocupaccedilatildeo e tipo de parto vivenciado conforme descrito abaixo

Mulher 1 - 34 anos 2ordf grau completo casada teacutecnica de enfermagem Com quatro

filhos nascidos de partos normais

Mulher 2 - 24 anos 1ordm grau completo diarista casada Com uma filha tem uma

cesaacuterea

Mulher 3 - 28 anos 2ordf grau completo teacutecnica de enfermagem solteira uniatildeo estaacutevel

Com um filho nascido de parto normal

Mulher 4 - 22 anos 2ordf grau incompleto solteira operadora de caixa de supermercado

Com um filho fez uma cesaacuterea

Mulher 5 - 32 anos 1ordm grau completo do lar casada Com um filho nascido de parto

normal e o outro fez uma cesaacuterea

Mulher 6 - 35 anos 3ordm grau completo enfermeira casada Com dois filhos fez duas

cesaacutereas

Mulher 7- 28 anos 1ordm grau completo empregada domeacutestica uniatildeo estaacutevel Tem quatro

filhos nascidos de partos normal

Mulher 8 - 27 anos 2ordf grau imcompleto dona de casa divorciada Com quatro filhos

fez quatro cesaacutereas

Todas estavam na faixa etaacuteria entre 22 e 35 anos Quanto ao estado civil seis satildeo

casadas uma divorciada e uma solteira poreacutem com uniatildeo estaacutevel no momento da entrevista

33

O niacutevel de escolaridade apresentou trecircs mulheres com ensino meacutedio completo uma

com incompleto trecircs com ensino fundamental completo e uma com curso superior

Todas as participantes satildeo moradoras da zona urbana do municiacutepio

Quanto ao nuacutemero de filhos o grupo em estudo tem uma meacutedia de 2 filhos sendo que

a menor e a maior prole foi de 1 e de 4 filhos respectivamente

Quanto agrave ocupaccedilatildeo das entrevistadas duas satildeo donas de casa duas teacutecnicas de

enfermagem uma enfermeira duas empregadas domeacutesticas e uma operadora de caixa de

supermercado

O tipo de parto de maior incidecircncia vivenciado pelas mulheres foi o parto normal

num total de dez e o total de cesaacutereas foram nove

25 Inserccedilatildeo em campo

Inicialmente na USK foram contatadas mulheres que participavam dos grupos de

planejamento familiar e que compareciam nos dias preacute-estabelecidos para a dispensa dos

meacutetodos anticoncepcionais No HUSM a busca de sujeitos estendeu-se agraves diferentes unidades

de atendimento gineco-obsteacutetrico mulheres acompanhantes e mulheres que trabalham nestas

unidades e que atendiam aos criteacuterios de inclusatildeo

Tanto na USK quanto no HUSM as mulheres foram selecionadas por meio de contato

direto com a pesquisadora na sala de espera das referidas unidades ou quando estavam

acompanhando a sua familiar durante a internaccedilatildeo no HUSM

Como havia entre as participantes funcionaacuterias do serviccedilo que atendiam aos criteacuterios

de inclusatildeo dos sujeitos estas profissionais foram convidadas e as entrevistas realizadas

durante o intervalo do horaacuterio de trabalho Algumas entrevistas foram realizadas no domiciacutelio

das participantes e outras na proacutepria unidade de sauacutede e unidades do HUSM em uma sala

reservada

26 Coleta de dados

Para a obtenccedilatildeo da coleta de dados utilizou-se como instrumento uma entrevista semi-

estruturada contendo questotildees fechadas para a caracterizaccedilatildeo do grupo em estudo e questotildees

abertas que possibilitaram o aprofundamento dos dados e a obtenccedilatildeo de respostas

34

relacionadas agrave vivecircncia das pessoas A coleta de dados foi entre janeiro e marccedilo de 2011 A

entrevista foi gravada em MP3 e posteriormente transcrita na iacutentegra pela pesquisadora de

forma literal A entrevista aberta eacute aquela em que o informante aborda livremente o tema

proposto com pergunta previamente formulada e que possibilita descrever sua vivecircncia de

forma retrospectiva sem repressatildeo de seu pensamento Propicia coletar material

extremamente rico para anaacutelise e contribui para o trabalho de pesquisa em andamento

(MINAYO 2000) Como estrateacutegia de compreensatildeo da realidade sua principal funccedilatildeo eacute

retratar as experiecircncias vivenciadas bem como as definiccedilotildees fornecidas por pessoas grupos

ou organizaccedilotildees (MINAYO 2000)

As entrevistas foram previamente agendadas por meio de contato pessoal sendo

marcados data local e horaacuterio que melhor conviessem agraves entrevistadas evitando interrupccedilotildees

constrangimentos de modo a lhes permitir sentir-se agrave vontade

27 Anaacutelise dos dados

Em posse dos dados coletados estes foram objeto da investigaccedilatildeo de acordo com a

anaacutelise temaacutetica de Minayo (2008) Tal anaacutelise consiste em descobrir os nuacutecleos de sentidos

que constituem uma comunicaccedilatildeo em que sua frequecircncia ou presenccedila revela algum

significado para o objeto analiacutetico Por conseguinte para analisar significados de um

determinado depoimento o surgimento de determinados temas denota estruturas de

relevacircncia valores de referecircncia e modelos de comportamento que podem estar ocultos no

discurso (MINAYO 2008)

Considera-se que a compreensatildeo e a interpretaccedilatildeo das entrevistas nas pesquisas

qualitativas natildeo se realizam em um soacute momento pois acontecem no decorrer da proacutepria coleta

e anaacutelise dos dados quando o pesquisador interage com os sujeitos do estudo na transcriccedilatildeo

das entrevistas e particularmente nas leituras e na organizaccedilatildeo das informaccedilotildees Poreacutem para

uma melhor sistematizaccedilatildeo e compreensatildeo deve-se seguir um percurso ordenado para que se

possa igualmente apreender o conjunto dos significados contidos nos depoimentos dos

entrevistados

Minayo (2008) descreve seguindo Bardin (1977) que essa ordenaccedilatildeo da anaacutelise

temaacutetica segue a sequecircncia de trecircs etapas quais sejam preacute-anaacutelise a exploraccedilatildeo do material e

o tratamento dos resultados obtidos e interpretaccedilatildeo

35

Neste estudo a etapa de preacute-anaacutelise compreendeu a interpretaccedilatildeo do material que se

deu a partir dos questionamentos do investigador Essa etapa consistiu em trecircs tempos o

primeiro chamado de leitura flutuante entendido como a leitura exaustiva das informaccedilotildees do

material de campo periacuteodo de impregnaccedilatildeo do conteuacutedo pelo investigador Jaacute o segundo

tempo foi a Constituiccedilatildeo do ldquoCorpusrdquo no qual se buscou verificar se o material coletado

abrangia regras de eficaacutecia qualitativa tais como exaustividade representatividade

homogeneidade e pertinecircncia Em relaccedilatildeo ao terceiro tempo este perpassou a Formulaccedilatildeo e a

Reformulaccedilatildeo de Hipoacuteteses e Objetivos que baseou-se no retorno a etapa exploratoacuteria de

revisatildeo das hipoacuteteses com intuito de corrigir erros de interpretaccedilatildeo e de ampliar o leque de

indagaccedilotildees para identificar o que surge de relevante para posterior construccedilatildeo de temas ou

categorias de anaacutelise

A segunda etapa da anaacutelise temaacutetica consistiu na Exploraccedilatildeo do Material que se

delineou basicamente nas categorias especiacuteficas que abrangeram elementos ou aspectos de

caracteriacutesticas comuns ou que se relacionavam entre si

A terceira etapa constituiu o Tratamento dos Resultados Obtidos e a Interpretaccedilatildeo

Nesse momento realizaram-se inferecircncias sendo realizada a articulaccedilatildeo entre as informaccedilotildees

aqui construiacutedas e os referenciais teoacutericos de estudos jaacute publicados respondendo agrave questatildeo da

pesquisa com base em seus objetivos

28 Questotildees eacuteticas

Para a realizaccedilatildeo de todas as atividades da pesquisa atentou-se para os criteacuterios eacuteticos

e os princiacutepios bioeacuteticos da voluntariedade da autonomia da beneficecircncia da natildeo-

maleficecircncia e da justiccedila que fundamentam a Resoluccedilatildeo nordm 19696 do Conselho Nacional de

Sauacutede o qual prescreve a eacutetica na pesquisa com seres humanos (BRASIL 1996)

O projeto foi registrado no Gabinete de Projetos do Centro de Ciecircncias da Sauacutede

sendo solicitada autorizaccedilatildeo para o desenvolvimento da pesquisa ao Secretaacuterio Municipal de

Sauacutede e a Direccedilatildeo de Ensino e Pesquisa do HUSM (DEPE) Em um segundo momento foi

encaminhado para a anaacutelise do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa com Seres Humanos da UFSM

(CEP) com a devida documentaccedilatildeo solicitada assinada pelo responsaacutevel legal da instituiccedilatildeo e

pela pesquisadora Apoacutes a aprovaccedilatildeo do CEP foi realizada a etapa de campo da pesquisa

36

Os sujeitos foram informados dos detalhes da pesquisa objetivos e produccedilatildeo de dados

Para tanto antes da realizaccedilatildeo da entrevista foi lido com os sujeitos o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apecircndice B) que concordando com este

optaram por assinaacute-lo O TCLE foi redigido em duas vias uma para a participante e outra

para a pesquisadora Da mesma forma foi redigido o Termo de Confidencialidade o qual

descreve o compromisso das pesquisadoras em relaccedilatildeo agraves informaccedilotildees que soacute poderatildeo ser

divulgadas de forma anocircnima e mantidas em Compact Disc (CD) por um periacuteodo de 5

(cinco) anos sob a sua inteira responsabilidade Apoacutes este periacuteodo ficou acordado que os

dados gravados seratildeo destruiacutedos Destaca-se que o compromisso em relaccedilatildeo agrave preservaccedilatildeo do

sigilo da identidade dos sujeitos durante todas as etapas da pesquisa mesmo com a

divulgaccedilatildeo dos seus resultados sob qualquer forma foi observado sendo utilizado o sistema

de identificaccedilatildeo alfanumeacuterico

Foram ressaltadas a liberdade da participaccedilatildeo espontacircnea e o direito de desistecircncia por

parte das participantes a qualquer momento da pesquisa a fim de se evitar riscos agrave dimensatildeo

fiacutesica moral intelectual social cultural ou espiritual em qualquer fase da pesquisa com a

garantia dos princiacutepios de beneficecircncia e natildeo-maleficecircncia No entanto foi exposto que o

momento da entrevista poderia trazer algumas lembranccedilas questionamentos eou conflitos agrave

dimensatildeo emocional pelo fato de que o sujeito iria refletir sobre o seu cotidiano e suas

vivecircncias Caso isto acontecesse poderia ser indicada uma consulta se assim a participante

desejasse com profissional qualificado do serviccedilo da aacuterea de sauacutede mental do Hospital

Universitaacuterio de Santa Maria previamente contatado

37

3 ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS DADOS

O parto institucionalizado vem sendo apresentado agraves mulheres como um periacuteodo

essencialmente meacutedico que traz consigo as referecircncias de um periacuteodo patoloacutegico e

medicalizado Em consequumlecircncia disso a abordagem sob a perspectiva bioloacutegica pode reduzi-

lo e suprimir a revelaccedilatildeo dos diferentes acircngulos e facetas do universo cultural e social da

parturiente Em virtude disso este estudo fundamentou-se em conceitos socioculturais e natildeo

apenas nos meacutedico-cientiacuteficos Salienta-se que natildeo se pretende abolir os conceitos

biomeacutedicos mas antes entendecirc-los como apenas uma dentre as vaacuterias formas de abordagem

do nascimento

Monticelli (1996) aborda essa questatildeo ao confirmar que a enfermagem quando age

contextualizada dentro desta perspectiva propicia o compartilhamento de saberes e praacuteticas

evitando posturas etnocecircntricas simplistas ou puramente biologicistas sobre o processo da

parturiccedilatildeo

Na sequecircncia deste capiacutetulo seratildeo abordados seis temas surgidos em decorrecircncia da

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados que surgiram das falas das mulheres entrevistadas percepccedilatildeo

das mulheres sobre o nascimento percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado a percepccedilatildeo

das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto conhecendo como se daacute a construccedilatildeo cultural

do processo parturitivo das mulheres resistecircncia das mulheres ao modelo biomeacutedico do parto

percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea

A partir desses temas estabelecer-se-aacute um diaacutelogo com o referencial teoacuterico buscando

alcanccedilar nesse movimento a compreensatildeo de como a cultura influecircncia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher

A Percepccedilatildeo das mulheres sobre o nascimento

Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo das mulheres sobre o nascimento foram relatadas tanto

experiecircncias positivas quanto negativas

A abordagem positiva relatada pelas entrevistadas retrata a responsabilidade por uma

nova vida e a emoccedilatildeo do nascimento conforme as falas das entrevistadas

Tem a parte fiacutesica e espiritual Eu vejo como uma forma de oportunidade da gente crescer e

dar esta oportunidade para este ser que estaacute vindo resgatar as coisas que a gente precisa e que ele

precisa tambeacutem (M1)

38

Eacute uma daacutediva que Deus deu para gente inexplicaacutevel assim apesar de tudo o que a gente

passa ateacute o nascimento da crianccedila Eacute maravilhoso (M2)

Eu acho que eacute uma vida nova que vem para gente compromisso de ter que guiar aquela

pessoa que taacute nascendo com amor com aquele sentimento de cuidar de matildee de ser responsaacutevel por

aquele ser pelas atitudes dele pelo crescimento dele (M3)

O que eu imaginava na hora era ganhar ver o rostinho deles a parte mais emocionante eacute ver

a hora que eles nascem (M8)

As falas das mulheres apontam para positividades da percepccedilatildeo do parto relacionada agrave

emoccedilatildeo da primeira vez de ver o bebecirc e ao contato fiacutesico nesse momento bem como ao

sentimento de responsabilidade pelo filho Essa abordagem transmite um senso de unidade

sobre a pessoa e sua experiecircncia fiacutesica com enfoque nos aspectos emocionais e espirituais do

nascimento Segundo Martin (2006 p 248) ldquoo parto positivo concentra-se na integraccedilatildeo

funcional de todas as partes da mulher - suas memoacuterias passadas esperanccedilas futuras sua

mente e seu corpordquo

Martin (2006) apresenta as metaacuteforas da danccedila e da jornada para descrever esta

integridade colocam a mulher em um papel claramente ativo A danccedila ao significar que

quando corpo e mente encontram-se alinhados danccedilam em sincronia e unidade e entregam-se

agrave nova vida que vem chegando A metaacutefora do parto como uma jornada torna-se uma

oportunidade para o crescimento psicoloacutegico da mulher que se inicia no primeiro trimestre e

culmina no trabalho de parto quando ela relaciona-se iacutentima e singularmente consigo mesma

tendo ao final uma experiecircncia de aprendizado totalmente sua

Foi destacada pelas entrevistadas a mudanccedila do status social e o compromisso com

este novo ser na sua vida denotando o compromisso e a responsabilidade de ser matildee A

mulher que daacute agrave luz com vivecircncias positivas apresenta atitudes que vatildeo dignificaacute-la e que

fortalecem o seu ldquoeu interiorrdquo (BALASKAS 2008)

Este momento faz parte de um ritual de transiccedilatildeo social presente em todas as

sociedades do status social de esposa para o de matildee com intuito de unir os aspectos

fisioloacutegicos aos aspectos sociais da vida de uma pessoa Dessa maneira existem muitas

crenccedilas e rituais do parto e puerpeacuterio no mundo ocidental que continuam ateacute que a matildee e a

crianccedila estejam estabelecidas com seguranccedila em suas posiccedilotildees sociais (HELMAN 2009)

Segundo Odent (2003) atribui-se importacircncia crucial agrave primeira hora apoacutes o parto para

o desenvolvimento da capacidade de amar Nessa fase em condiccedilotildees fisioloacutegicas a liberaccedilatildeo

de ocitocina conhecida como ldquohormocircnio do amorrdquo associada agrave prolactina ldquohormocircnio da

maternidaderdquo significa que se matildee e o bebecirc estiverem em contato pele a pele e olho no olho

39

as chances de se estabelecer apego interaccedilatildeo e amor estatildeo garantidas para ambos Isso eacute

ratificado por Odent (2003) ao referir-se que quando o meio cultural interfere com rotinas

que desestimulam esse apego entre a matildee e o bebecirc tais como o uso de sedativos agentes

anesteacutesicos e analgeacutesicos durante o parto influencia toda a capacidade de amar devido a natildeo

liberaccedilatildeo da ocitocina natural pelo organismo da mulher

Um aspecto negativo expresso pelas entrevistadas concernente agrave percepccedilatildeo do

nascimento refere-se ao desconhecimento sobre a fisiologia do parto o que as fez entender

este processo semelhante a um processo patoloacutegico e sujeito a vaacuterias intervenccedilotildees

desnecessaacuterias conforme os relatos

O primeiro eu natildeo tinha a orientaccedilatildeo que eu tenho agora ningueacutem me orientou Foi muito

doiacutedo e difiacutecil inclusive ateacute porque ele era bem grande e iam passar o foacuterceps Natildeo sei se chegaram a

colocar mas eu consegui e nasceu normal E me colocaram o soro com ocitocina () e eu disse ldquopara

quecircrdquo mas natildeo me explicaram (M1)

Jaacute tinha perdido o tampatildeo uns 3 dias antes de comeccedilar ldquoas dorrdquo entatildeo eu ficava preocupada

ldquoSeraacute que eu natildeo vou sentir dorrdquoldquo seraacute que eu natildeo vou saber quando vai ser a hora de ir ao

hospitalrdquo Me colocaram o soro para induzir () natildeo me explicaram nada Depois veio a anestesia

remeacutedios acho que para enjocirco () natildeo consegui ganhar normal (M2)

Achei que eu tinha que me esforccedilar mais em todos eles Por isso na hora de ganhar sempre

me dava um medo Aiacute eu natildeo sei se eu me trancava Botaram o soro para dor e eu ao inveacutes de fazer a

forccedila direito como se deve fazer eu me retrancava e comeccedilava a chorar (M7)

Eu acho o parto normal muito mais arriscado que a cesaacuterea Todos os meus foram cesaacuterea

No meu caso eu acho que foi por causa da dilataccedilatildeo Todas foram agendadas Os meus filhos quando

chegam no uacuteltimo mecircs natildeo querem ficar nascem antes A minha filha nasceu com 8 meses com muito

pouco peso e foi para UTI (M8)

Os sentimentos relatados pelas entrevistadas de natildeo saber como agir no parto

exprimem significativamente seu desconhecimento acerca do processo fisioloacutegico e refletem-

se em medo e inseguranccedila Uma vez que natildeo sabem o que estaacute acontecendo com seu corpo as

mulheres controlam-no menos demonstram fragilidade e tendem a ser tratadas como objeto

de controle da equipe meacutedica Desse modo aceitam passivamente as intervenccedilotildees meacutedicas

como necessidades normais e rotineiras no parto a exemplo dos relatos do uso de ocitocina

de foacuterceps e da indicaccedilatildeo de cesariana previamente agendada

Esse eacute o modelo de atendimento tecnocraacutetico de assistecircncia descrito pela antropoacuteloga

Davis Floyd (2004) que representa a corrente de pensamento convencional e dominante

norteadora da praacutetica da assistecircncia obsteacutetrica haacute vaacuterias deacutecadas na qual o profissional de

sauacutede manteacutem um distanciamento do paciente como forma de proteger a si mesmo das

reaccedilotildees emocionais frente agraves anguacutestias deste

40

A forma e a percepccedilatildeo de como as mulheres vivenciam a sua experiecircncia de parto satildeo

impregnadas pela realidade conforme modelo que se apresenta para a sociedade isto eacute com a

mensagem de que eacute imprescindiacutevel a utilizaccedilatildeo da tecnologia como garantia de um parto

seguro O que resulta disso eacute o que chamamos de uma ldquocascata de intervenccedilotildeesrdquo que ocorre

quando uma praacutetica obsteacutetrica desencadeia outras fazendo com que se altere o processo

natural do parto (BALASKAS 2008)

Destaca-se tambeacutem a desinformaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos riscos que advecircm da cesaacuterea

desnecessaacuteria para matildee e bebecirc A entrevistada M8 narra que as cesaacutereas foram realizadas

antes de sua gestaccedilatildeo estar a termo Sabe-se que a prematuridade iatrogecircnica ocasionada por

cesaacutereas sem indicaccedilatildeo estaacute associada ao aumento da taxa de nascimentos de receacutem nascidos

preacute-termo (MACDORMAN et al 2008) e ao aumento da mortalidade neonatal (VILLAR et

al 2007)

Concorda-se com Balaskas (2008) ao afirmar que as cicatrizes corporais deixadas

pelas intervenccedilotildees desnecessaacuterias no corpo da mulher transformam-se em uma vivecircncia de

sofrimento inseguranccedila e sobrepujam toda e qualquer vivecircncia positiva ocorrida no parto

Logo um momento que deveria ser natural repleto de lembranccedilas positivas e felizes para a

mulher constitui-se num evento traumatizante Nessa direccedilatildeo entende-se que se o

comportamento humano eacute influenciado diretamente pelo meio cultural pois humanos

comunicam-se e criam cultura a socializaccedilatildeo da naturalizaccedilatildeo do parto como evento rodeado

de tecnologia e risco bem como a recapitulaccedilatildeo das experiecircncias traumaacuteticas contadas pelas

mulheres reforccedilam-se na convivecircncia social (ODENT 2004)

Ademais as intervenccedilotildees desnecessaacuterias sobrepotildeem-se ao poder que a mulher tem de

parir e que atualmente ela mesma desconhece pois a histoacuteria repassada pela medicina nas

uacuteltimas deacutecadas na cultura ocidental transformou o parto em um evento essencialmente

meacutedico sendo a mulher apenas uma parte do cenaacuterio (SEIBERT 2005)

O uso do recurso da aceleraccedilatildeo no parto com o uso do soro com ocitocina foi

percebido como forma negativa para as mulheres que o relataram O emprego de hormocircnios

sinteacuteticos no trabalho do parto como eacute o caso da ocitocina tende a cessar a fisiologia e as

etapas do parto (FIGUEREDO L 2010)

Ratificando essa informaccedilatildeo um estudo feito por Barros (2005) mostra que o aumento

de partos cesaacutereos estaacute relacionado agrave praacutetica da induccedilatildeo medicamentosa A falha de induccedilatildeo

provoca a indicaccedilatildeo de uma cesaacuterea que implica a utilizaccedilatildeo de anestesia medicaccedilotildees

antibioacuteticas profilaacuteticas medicaccedilatildeo para naacuteuseas medicaccedilatildeo para dor no poacutes-operatoacuterio e

utilizaccedilatildeo de outras drogas o que pode afetar drasticamente o comportamento materno pois o

41

que se verifica em estudos com outros mamiacuteferos eacute o natildeo-cuidado de seus bebecircs apoacutes uma

cesariana (ODENT 2004)

Eacute primordial durante a gestaccedilatildeo o preparo das mulheres para o parto apoiando suas

informaccedilotildees em praacuteticas baseadas em evidecircncias cientiacuteficas pois a grande maioria dos

procedimentos que os profissionais de sauacutede ainda utilizam no parto satildeo rotinas que estatildeo

caindo em desuso pois se mostraram mais danosas do que beneacuteficas Se as proacuteprias pacientes

souberem disso atraveacutes de atividades educativas no preacute-natal seraacute muito mais faacutecil reverter

esse quadro (DINIZ 2003)

Concorda-se nessa direccedilatildeo que a consulta preacute-natal tambeacutem eacute um espaccedilo importante

para mudanccedila de atitudes em relaccedilatildeo ao parto incentivada por profissionais que valorizam os

aspectos sociais e subjetivos da gestaccedilatildeo do parto e do nascimento (FREITAS 2005)

A Percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado

Nesta categoria as mulheres expressam a via de parto desejada A maior parte

manifestou o desejo pelo parto normal Apenas uma entrevistada manifestou preferecircncia pela

cesaacuterea e teve sua vontade atendida

Do primeiro eu natildeo pesquisei dos outros que eu comecei a ler sobre o assunto Eu queria ter

o parto em casa e mais informaccedilotildees do meacutedico Trabalhei ateacute a uacuteltima hora de internar Foi bom fiz a

respiraccedilatildeo direitinho e acabei ganhando no leito como eu pensei que queria que nascesse (M1)

Eu tinha conversado com meu esposo em casa e a gente queria parto normal mas natildeo deu

perdi o controle (M2)

Quando eu dizia que queria parto normal me diziam ldquopor que fazer parto normal por que

natildeo faz uma cesaacutereardquo Eu dizia ldquoeu quero parto normal pela recuperaccedilatildeo mais raacutepida para poder

voltar a estudarrdquo e eu achei bem melhor o parto normal do que ter feito uma cesaacuterea que daiacute eu ia

ficar dias sem poder voltar a estudar (M3)

Eu sempre quis cesaacuterea porque eu tinha medo de sentir dor ali na hora Eu vi o bebecirc assim

que o tiraram () Natildeo recebi orientaccedilatildeo sobre parto normal do meacutedico (M4)

A minha preferecircncia sempre foi o parto normal eu achei que ia ganhar normal deste uacuteltimo

mas natildeo deu fiquei frustrada (M5)

Por mim poderia ser parto vaginal tanto que do primeiro filho eu ia caminhar ateacute na veacutespera

para ver se evoluiacutea para parto normal mas natildeo evoluiu daiacute foi cesaacuterea e do outro foi cesaacuterea

tambeacutem Teve que ser programada (M6)

O parto normal foi desejado Se tivesse feito uma cesaacuterea seria o fim do mundo porque eu

demorei para aceitar a ideacuteia de que teria que fazer uma laqueadura por cesaacuterea Eu sempre dei a

preferecircncia para parto normal por causa de comentaacuterios e sobre ter infecccedilatildeo (M7)

42

Eu tinha na cabeccedila que o meu primeiro filho ia ser normal Parto normal a matildee ganha e jaacute

sai caminhando com a crianccedila no colo e cesaacuterea natildeo (M8)

Na fala das entrevistadas revelou-se o desejo pelo parto normal ou pela cesaacuterea

destacando o entendimento de que o parto normal tem a recuperaccedilatildeo mais raacutepida natildeo

interferindo na rotina e autonomia delas apresenta menos risco de infecccedilatildeo e a cesaacuterea

poderia proteger quanto agrave dor do parto Esses pontos justificaram em grande parte seu desejo

pelas vias de parto

Para Martin (2006) as mulheres que desejam o parto normal e conseguem passar por

essa experiecircncia consideram-no um processo que acontece naturalmente como algo que a

mulher realiza e natildeo simplesmente vecirc acontecer consigo

Estudos de natureza quantitativa e qualitativa da aacuterea da sauacutede em relaccedilatildeo agrave escolha

para o parto normal constataram que as expectativas das mulheres em relaccedilatildeo ao tipo de parto

justificaram-se pela recuperaccedilatildeo poacutes-parto mais raacutepida e por ser melhor para elas eou para os

bebecircs (OLIVEIRA 2002 MELCHIORI et al 2009 MANDARINO et al 2009)

A entrevistada que realizou a cesariana por desejo proacuteprio justificou sua escolha pelo

medo da dor do parto A forma como se percebe e se responde agrave dor pode ser influenciada

pela origem cultural e social Em outros grupos culturais a dor do parto natildeo eacute temida muito

diferentemente das mulheres de paiacuteses ocidentais que a temem e satildeo bastante propensas a

aceitar drogas analgeacutesicas ou anesteacutesicas (HELMAN 2009)

No Brasil o medo da dor eacute apontado como uma das causas da intervenccedilatildeo cesariana

requerida pelas mulheres e pode ser considerado assim um dos motivadores do aumento das

taxas dessa cirurgia no paiacutes (FAUacuteNDES CECATTI 1991 OLIVEIRA et al 2002)

Em um estudo feito por Almeida (2009) sobre a dor do parto normal a autora

evidenciou a ocorrecircncia de uma relaccedilatildeo de poder dos serviccedilos de obstetriacutecia sobre o corpo

feminino e a forma como estes serviccedilos gerenciam-se mantendo o processo da medicalizaccedilatildeo

o que se constitui um dos mecanismos de favorecimento da perpetuaccedilatildeo do parto cesaacutereo

com a finalidade de evitar a dor do parto normal

Entende-se tambeacutem que a dor do parto eacute em grande medida iatrogecircnica amplificada

pelo modelo assistencial que institui rotinas como a imobilizaccedilatildeo o uso abusivo de ocitocina

artificial a manobra de Kristeller a episiotomia e a episiorrafia praacuteticas no parto normal que

satildeo claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas com base em evidecircncias

cientiacuteficas e em recomendaccedilotildees da OMS (1996) e do Ministeacuterio da Sauacutede (BRASIL 2001)

43

Para tanto foi instituiacutedo pelo Ministeacuterio da Sauacutede (2000b) o Programa de

Humanizaccedilatildeo no Preacute-Natal e Nascimento cujo objetivo eacute melhorar a assistecircncia obsteacutetrica

provocada por praacuteticas e condutas inadequadas

Segundo Floyd (2004) o programa eacute traduzido como um modelo humanista de

assistecircncia tambeacutem referido por ela como modelo holiacutestico Os profissionais que atuam nessa

vertente simplesmente tecircm como desejo humanizar a tecnomedicina e apresentam maior

potencial para reformar o modelo tecnocraacutetico com mudanccedilas de atitudes e de paradigma

O modelo holiacutestico eacute o que abarca uma variedade mais rica de abordagem rompe

totalmente com o modelo dominante atual utiliza modalidades que satildeo menos prejudiciais

assiste as pessoas em seu contexto crecirc em outros modos de contexto que curam compreende

a dimensatildeo espiritual do cuidado da sauacutede e tambeacutem fortalece o desenvolvimento da vida de

cada pessoa (FLOYD 2004)

Neste sentido a escolha da via de parto torna-se importante uma vez que leva em

consideraccedilatildeo o contexto soacutecio cultural e assistencial em que a parturiente estaacute inserida e os

aspectos bioloacutegicos e psicoemocionais com intuito de promover um cuidado direcionado agraves

suas necessidades conforme recomendado nos estudos de Bezerra Cardoso (2005) e Budoacute et

al (2007) referentes a outros cenaacuterios da sauacutede Tal cuidado aproxima-se da humanizaccedilatildeo da

atenccedilatildeo no parto

De destaque nas falas das entrevistadas do presente estudo eacute o sentimento de

frustraccedilatildeo e perda de controle das que desejavam parto normal e tiveram de submeter-se agrave

cesaacuterea Situaccedilatildeo semelhante surgiu no relato das mulheres que Emily Martin (2006)

entrevistou em Baltimore (EUA) quando percebeu nos depoimentos que uma das reaccedilotildees

mais comuns especialmente quando a mulher planeja um parto vaginal e a cirurgia ocorre eacute a

perda de controle do seu parto

Por outro lado entre as entrevistadas que conseguiram realizar o parto normal

consoante seu desejo de via de parto o sentimento de aliacutevio foi constatado Para Balaskas

(2008) as sensaccedilotildees de aliacutevio realizaccedilatildeo gratidatildeo ecircxtase partem de uma grande variedade

de sensaccedilotildees que somente a experiecircncia do parto normal propicia

Uma das entrevistadas relata orientaccedilatildeo para cesariana a fim de submeter-se agrave

laqueadura tubaacuteria tendo seu desejo frustrado quanto agrave opccedilatildeo da via de parto uma vez que

desejava realizar parto normal Evidencia-se que natildeo houve o desejo de cesaacuterea no entanto a

necessidade da laqueadura

A constataccedilatildeo do desestiacutemulo ao parto normal feito pela equipe meacutedica mesmo

cientes de que essas mulheres tinham histoacuterias preacutevias de partos normais a fim de realizar

44

uma cesaacuterea concomitantemente agrave laqueadura tubaacuteria mostra o desrespeito agrave lei nordm 9263 que

trata do planejamento familiar que veda a esterilizaccedilatildeo ciruacutergica em mulher durante os

periacuteodos de parto ou aborto exceto nos casos de comprovada necessidade por cesarianas

sucessivas anteriores (BRASIL 2002)

As entrevistadas que se submeteram agrave cesaacuterea apresentaram percepccedilotildees de que algo

que foi feito com elas e natildeo de sua participaccedilatildeo como relatado nas seguintes frases ldquotiraram

o bebecircrdquo (M4) ldquopuncionaram-me umas 15 vezesrdquo (M6) ldquose a hemorragia natildeo parasse iam

tirar o meu uacuteterordquo (M8)

A sensaccedilatildeo de passividade e separaccedilatildeo entre o eu e o seu corpo surge em niacutevel

extremo quando as mulheres descrevem a cesariana Parte disso adveacutem pelo fato de ser uma

cirurgia em que um nuacutemero maior de pessoas toca manipula corta e costura seu corpo Outra

parte deve-se agrave anestesia peridural que produz insensibilidade da cintura para baixo e

intensifica-se pela colocaccedilatildeo de um pano sobre o peito da mulher de modo que ela natildeo

enxerga a metade inferior do seu corpo (MARTIN 2006)

Verificamos nas falas das entrevistadas que os laccedilos entre a matildee e o bebecirc podem estar

sendo desestimulados por priorizarem-se cuidados que poderiam ser postergados ldquoPrimeiro

foi realizado os cuidados com o bebecirc e me mostraram jaacute enrolado com as roupasrdquo (M6)

ldquoFicavam ali fazendo os cuidados com o bebecirc e me mostravam bem depoisrdquo (M8)

Esses cuidados aleacutem de estar interferindo na relaccedilatildeo amorosa matildee-bebecirc podem estar

ignorando a implementaccedilatildeo de praacuteticas simples como o clampeamento tardio do cordatildeo

umbilical o contato imediato pele-a-pele e o iniacutecio da amamentaccedilatildeo exclusiva que tem um

impacto a longo prazo na nutriccedilatildeo e na sauacutede da matildee e do bebecirc pois afetam o

desenvolvimento da crianccedila muito aleacutem do periacuteodo neonatal e do puerpeacuterio (BRASIL 2011)

A metaacutefora da produccedilatildeo no nascimento proposta pela antropoacuteloga Emily Martin

(2006) retrata a interrupccedilatildeo dos laccedilos afetivos entre matildees e bebecircs que sofreram cesarianas

devido ao controle sobre o corpo feminino exercido pela retirada do protagonismo da mulher

da cena do nascimento Fato esse semelhante agrave metaacutefora da produccedilatildeo industrial do natildeo-

envolvimento da trabalhadora com o produto do seu trabalho quando ela natildeo sente que foi

quem o produziu e quando o seu trabalho eacute estritamente organizado e controlado (MARTIN

2006)

Frequentemente quando se interfere na produccedilatildeo de um bebecirc segundo a metaacutefora da

produccedilatildeo industrial que ocorre quando natildeo eacute a mulher que daacute agrave luz e o bebecirc eacute extraiacutedo

cirurgicamente por um meacutedico a matildee sente-se desligada da crianccedila apoacutes seu nascimento

(MARTIN 2006)

45

Nesta direccedilatildeo um estudo realizado na Universidade da Cidade do Cabo Aacutefrica do Sul

mostrou que a separaccedilatildeo entre matildee e o bebecirc tem impactos negativos influenciando na

duraccedilatildeo do sono e na frequecircncia cardiacuteaca do bebecirc (BARAK 2011)

O modelo de atendimento biomeacutedico desestimula a implementaccedilatildeo de cuidados

comprovadamente eficazes e passa uma mensagem que matildee e bebecirc satildeo como uma diacuteade

conflitante natildeo sendo vistos como uma unidade integral (MARTIN 2006)

Outro elemento a ser salientado refere-se agrave percepccedilatildeo de ser matildee atraveacutes da vivecircncia

do trabalho de parto ou seja compreende-se o significado de ser matildee por meio da vivecircncia da

parturiccedilatildeo conforme fala da entrevistada Era meu primeiro filho decidi que para ser matildee

teria que ganhar de parto normal [] Se eacute para ser matildee vamos ser matildee mesmo (M3)

Como se pode notar a entrevistada destaca que o parto normal foi primordial para

sentir-se realmente matildee Importante nesse sentido a afirmaccedilatildeo de Monticelli (1996) de que o

parto eacute um ritual que marca profundamente o inconsciente feminino principalmente se for o

primeiro

A Percepccedilatildeo das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto

Nesta categoria foi significante a falta de autonomia da mulher na decisatildeo sobre a via

de parto Para compreensatildeo do parto como um evento na vida da mulher em relaccedilatildeo agrave decisatildeo

sobre o tipo de parto as mulheres opinaram

A cesaacuterea geralmente eacute o meacutedico que decide Eu sabia disso daiacute que nem todas satildeo iguais

porque a minha voacute teve 6 cesaacutereas e 6 normal e a minha matildee soacute fez cesaacuterea Entatildeo eu sabia que

podia acontecer comigo e realmente aconteceu O meacutedico disse que ia fazer uma cesaacuterea e fez

cesaacuterea disse que ela tinha tomado aacutegua no parto (M8)

Deveria ser da mulher mais do que do meacutedico jaacute que ela que estaacute sentindo e sabendo o que

estaacute acontecendo (M1)

A niacutevel de consultoacuterio (rede privada) eacute o meacutedico Natildeo daacute para escolher() Eu queria Por

mim poderia ser parto vaginal (M6)

Eu acho que deve ser a mulher mas eacute o meacutedico que decide Eles dizem que eacute protocolo que

isso que aquilo mas sabe-se que natildeo eacute assim Soacute que natildeo acontece isso neacuteEla natildeo tem o direito de

decidir se quer um parto normal ou uma cesaacuterea Eacute colocado para ela que ela vai ganhar de parto

normal por causa disso ou daquilo mas agraves vezes ela natildeo estaacute preparada de repente eacute o melhor para

o corpo mas natildeo o melhor para cabeccedila dela natildeo estaacute preparada para aquilo ali (M3)

Eacute o meacutedico que tem o poder de decisatildeo se vai ser parto vaginal ou cesaacuterea (M2)

46

Nessa categoria foi significativo o entendimento das mulheres sobre o poder de

decisatildeo que os meacutedicos tecircm em relaccedilatildeo ao tipo de parto Poreacutem elas discordam de que este

profissional determine a escolha de forma unilateral e apontam para inclusatildeo delas nessa

decisatildeo Esta perspectiva direciona-se para a autonomia e a participaccedilatildeo da mulher na decisatildeo

sobre a via de parto embora o que se constate eacute que o meacutedico determina qual a finalizaccedilatildeo da

gestaccedilatildeo

Entende-se que a questatildeo de avaliaccedilatildeo de risco e a indicaccedilatildeo de se realizar uma

cesaacuterea sejam de competecircncia meacutedica No entanto a mulher deve receber informaccedilotildees sobre

os riscos e benefiacutecios da intervenccedilatildeo a fim de exercer sua participaccedilatildeo ativa no processo Tal

questatildeo enfatiza o direito agrave informaccedilatildeo e agrave formaccedilatildeo de opiniatildeo das mulheres para que

tenham o direito de reivindicar aquilo que eacute beneacutefico para a sua sauacutede e a de seu bebecirc

Profissionais e mulheres podem ateacute tomar uma decisatildeo antecipada sobre o tipo de parto

poreacutem esse fato natildeo pode ser visto como uma simples questatildeo de preferecircncia como no caso

da cesaacuterea antecipada ou eletiva sem indicaccedilatildeo pois pode implicar em riscos e complicaccedilotildees

futuras para matildee e para o bebecirc (BRASIL 2001)

Para o Ministeacuterio da Sauacutede (2006a) um dos valores da Poliacutetica Nacional de

Humanizaccedilatildeo eacute o principio da autonomia de pensar os indiviacuteduos como sujeitos autocircnomos e

como protagonistas nos coletivos de que participam como co-responsaacuteveis pelo processo de

produccedilatildeo de sauacutede de si e do mundo em que vivem

Quando falamos da autonomia da mulher parturiente falamos de um processo em que

a cada momento se vai desconstruindo o leacutexico cientificoteacutecnico para que a mulher e a

famiacutelia possam ser chamadas ao centro de decisatildeo Mas para isso eacute importante oferecer toda a

informaccedilatildeo que ela necessita para se tornar um membro efetivo da equipe de sauacutede e como

tal ter pleno poder e capacidade de decidir da forma mais vantajosa para todos Esse eacute sem

duacutevida um processo de grande complexidade que em uma aplicaccedilatildeo absoluta incita os

profissionais de sauacutede a compreenderem que o respeito pela autonomia da mulher natildeo

constitui um dano na sua autonomia profissional mas antes um incremento pela qualidade

participaccedilatildeo e rigor eacutetico obtido atraveacutes desse processo (LEITAtildeO 2010)

Tal processo talvez seja difiacutecil de compreender para o profissional quando se alicerccedila

na cultura biomeacutedica ao redor de uma ideologia de progresso tecnoloacutegico que no contexto do

parto iniciou-se a partir da sua institucionalizaccedilatildeo com o advento da era industrial (FLOYD

2004)

47

A institucionalizaccedilatildeo do parto iniciou-se nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX quando

o mesmo passou a ser visto como um processo patoloacutegico que deveria ser controlado a fim de

evitar a morte materna e perinatal sendo entatildeo marcado por rotinas tais como episiotomias

cesaacutereas desnecessaacuterias utilizaccedilatildeo de foacuterceps profilaacutetico (PROGIANTI BARREIRA 2001)

Para Collaccedilo (2002) as instituiccedilotildees tecircm uma cultura proacutepria fundamentada no empirismo e

na tecnologia que se revelam nas rotinas e condutas intervencionistas do meacutedico O resultado

dessa conduta intervencionista eacute a discrepacircncia entre o que as mulheres desejam e o que eacute

realizado o que justificaria a mudanccedila do tipo de parto (HOPKINS 2000)

Um dos motivos alegados pelos meacutedicos para essa praacutetica seria a mudanccedila de perfil de

risco das gestantes Poreacutem um estudo realizado nos EUA que relacionou o aumento das taxas

de cesaacuterea com a mudanccedila de perfil do risco constatou que as chances de uma mulher ser

submetida a uma cesaacuterea na primeira gestaccedilatildeo sem pertencer a um grupo de risco subiu para

50 em 2005 comparado ao ano de 1996 (DECLERCQ et al 2005)

Essa desinformaccedilatildeo por parte das mulheres pode por fim a sua capacidade na decisatildeo

sobre o tipo de parto e ser atribuiacuteda agrave falta de conhecimento sobre seu corpo os processos

reprodutivos e a sexualidade (SANTOS 2008)

Segundo o relato da entrevistada M6 natildeo haacute o direito de escolha quanto ao tipo de

parto para a mulher que faz o preacute-natal na rede suplementar sendo sua autonomia geralmente

desrespeitada quando deseja um parto normal De acordo com Mccourt et al (2007) a

escolha do tipo de parto pela mulher eacute apontada na literatura meacutedica como um fator que tem

contribuiacutedo para o elevado iacutendice de cesarianas na atualidade

Destaca-se que nos serviccedilos de sauacutede suplementar no Brasil as taxas de cesaacuterea satildeo

as mais elevadas do mundo em torno de 797 (ANS 2001) A cesaacuterea daacute ao meacutedico o

maacuteximo de poder controle e conduccedilatildeo nesse processo e exige o miacutenimo de trabalho do uacutetero

e da mulher criando o ponto de vista de que este procedimento ciruacutergico fornece os melhores

bdquoprodutos‟ isto eacute produzem bebecircs perfeitos semelhantemente agrave metaacutefora de produccedilatildeo tal

como acontece nas induacutestrias (MARTIN 2006)

Logo deu-se iniacutecio a uma crenccedila de que cesaacuterea eacute protetora para o nascimento do

bebecirc Isso pode estar relacionado agrave noccedilatildeo de que partos normais satildeo traumaacuteticos para o feto

e entatildeo os profissionais ldquoaliam-serdquo ao bebecirc contra a destruiccedilatildeo em potencial causada pelo

corpo da matildee no trabalho de parto e no parto o que leva a ignorar aquilo que talvez seja o

mais importante para a mulher e para a crianccedila que eacute a natureza de suas experiecircncias no parto

e no nascimento (MARTIN 2006)

48

Aleacutem do mais na relaccedilatildeo meacutedico-parturiente fica evidente como satildeo encaradas as

questotildees relacionadas ao parto de forma diferente por cada um desses atores (ANS 2008a)

Entre os meacutedicos obstetras institui-se uma cultura proacute-cesaacuterea e como consequecircncia

parte deles natildeo se encontra motivada nem capacitada para o acompanhamento do parto

normal Em contrapartida as mulheres dentro dessa cultura tecircm dificuldade de fazer valer a

sua decisatildeo quanto ao tipo de parto por sentirem-se menos capacitadas a escolher devido agraves

questotildees teacutecnicas levantadas e sustentadas por eles (BRASIL 2001)

Estudos tecircm demonstrado que apenas 20 das usuaacuterias de convecircnio particular

conseguem dar agrave luz por parto normal sendo que a maioria das mulheres brasileiras deseja-o

(REBELO et al 2010 POTTER et al 2001 POTTER et al 2008)

Concorda-se portanto com a visatildeo de ANS (2008a) de que a criacutetica da exclusatildeo das

mulheres na decisatildeo da via de parto deve-se principalmente ao fato de que o modelo

biomeacutedico desconhece os significados que as mulheres datildeo agrave experiecircncia da gestaccedilatildeo e do

parto

Conhecendo como se daacute a construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres foram relatadas

tanto experiecircncias positivas quanto negativas dos partos das mulheres de seu conviacutevio

As mulheres que apresentam uma percepccedilatildeo positiva sobre parto normal apresentam

nas famiacutelias histoacuterias e relatos positivos do parto de suas familiares

A minha matildee teve 5 partos normais Todos em casa e a minha voacute era parteira Acho que a

influecircncia vem daiacute Queria que minha voacute tivesse viva para eu ter tido os meus filhos com ela A matildee

sempre foi positiva nunca disse que os partos foram uma coisa horriacutevel Ela sempre disse que era

uma coisa boa doiacutea claro mas ela sempre mostrou coisa boa Tenho uma irmatilde que ganhou um bebecirc

em casa natildeo deu tempo de ir para o hospital Foi raacutepido demais (M1)

Olha todas natildeo se queixaram As [familiares] que eu conversei disseram que parto normal eacute

a melhor forma por causa da recuperaccedilatildeo eacute melhor para ti cuidar do nenecirc sem depender de ningueacutem

A matildee sempre teve parto normal (M2)

Da minha matildee foi tranquumlilo O parto dela foi no mesmo hospital que eu tive ela caminhou

tudo como tinha que ser rompeu a bolsa em casa Ela me passou essa experiecircncia boa (M3)

Eu e a minha irmatilde nascemos de parto vaginal A minha voacute teve 5 filhos de parto vaginal A

minha sogra teve partos vaginais em casa Meu marido nasceu com 4kg Ela comentava como eacute que

tinha sido os nascimentos dos filhos dela de ser tudo tranquilo e das aventuras que ateacute na veacutespera

andava a cavalo e natildeo deu nada de complicaccedilatildeo e naquele tempo foi com parteiras A matildee dela era

parteira Os filhos nasceram com a avoacute (M6)

49

Durante a minha gravidez eu conversava mais sobre o parto com a minha matildee e eu a

acompanhei ela quando foi ganhar normal Eu vi como foi entatildeo eu sabia como tinha que ser quando

eu fosse ganhar que era bom A influecircncia da minha voacute e da minha matildee foi para parto normal mas

eu natildeo ganhei normal em nenhum (M8)

Na opiniatildeo dessas entrevistadas a transmissatildeo do conhecimento dos partos na famiacutelia

exerceu grande influecircncia na preferecircncia por parto normal focando a naturalidade e a

praticidade de encarar o parto normal

O processo de socializaccedilatildeo denominado ldquoprimaacuteriordquo para Berger e Luckmann (1976)

acontece na famiacutelia durante a infacircncia quando a realidade eacute apreendida atraveacutes da

consciecircncia individual e os papeacuteis sociais tornam-se seus quando identificados

Segundo Laraia (2003) a socializaccedilatildeo do indiviacuteduo eacute resultante do seu meio cultural e

a acumulaccedilatildeo de saberes e crenccedilas satildeo passadas de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Destaca-se isso

igualmente no estudo de Ressel et al (2011) relativo a cultura da sexualidade junto a

adolescentes e suas famiacutelias onde a socializaccedilatildeo dos saberes eacute um processo dinacircmico e

contiacutenuo ao longo da vida

Laraia (2003) defende que os valores que vatildeo compor a singularizaccedilatildeo de cada pessoa

na sociedade ocorrem por meio da socializaccedilatildeo atraveacutes dos relacionamentos das

representaccedilotildees pessoais sobre fenocircmenos fatos e eventos sociais

As entrevistadas M1 e M6 relatam a presenccedila de parteiras na assistecircncia ao parto Ateacute

a entrada da profissatildeo meacutedica sobre o processo do parto as mulheres em trabalho de parto

eram auxiliadas principalmente pelas matildees tias avoacutes eou parteiras Poreacutem com a perda da

importacircncia do papel das parteiras - pois ameaccedilavam o monopoacutelio do saber meacutedico - e sua

progressiva alocaccedilatildeo na marginalidade do contexto da obstetriacutecia seus saberes foram sendo

vistos sob suspeita

Em quase todas as culturas segundo Helman (2009) os principais provedores dos

cuidados primaacuterios de sauacutede satildeo as matildees e avoacutes e as parteiras ainda satildeo as responsaacuteveis pelos

cuidados obsteacutetricos em alguns paiacuteses

Percebem-se nas narrativas das entrevistadas as influecircncias positivas passadas por suas

matildees na vivecircncia da parturiccedilatildeo das mulheres da famiacutelia Elsen (2011) realizou uma anaacutelise de

quatro estudos sobre famiacutelias tendo como um dos destaques a valorizaccedilatildeo do conhecimento e

das praacuteticas do cuidado nesses ambientes familiares

Em contrapartida as entrevistadas que apresentam nos seus discursos experiecircncias

negativas mostram que no conviacutevio familiar e no ciacuterculo social proacuteximo este assunto ou natildeo

foi comentado ou foi discutido com teor negativo

50

A minha matildee nunca falou bdquocom noacutes‟ sobre isso Ela teve cesaacuterea da minha irmatilde mais nova de

sete anos e deu problemas de rim nela A minha recuperaccedilatildeo foi ruim porque demorei a recuperar

() Eu me sentia estranha e parece que minhas pernas estavam separadas do meu corpo por causa da

anestesia(M4)

Noacutes nunca conversamos sobre essas coisas laacute em casa nem com matildee e nem com irmatilde A

uacutenica coisa que me falavam eacute que sofria muito falavam que ia gritar de tanta dor que as contraccedilotildees

seriam fortes Eu sofri um pouquinho coloquei soro fiquei de barriga para cima o tempo todo ()

como se estivesse doente depois eu tive uma cesaacuterea que infeccionou os pontos Me senti um objeto

() (M5)

Minha matildee disse que eacute horriacutevel que natildeo era bom que nem cesaacuterea e nem parto normal Ela

sofreu muito Por isso na hora de ganhar assim sempre me dava um medo devido agraves histoacuterias

contadas por minha matildee (M7)

Vizinhos ateacute parentes comentavam que esqueceram uma tesoura dentro da paciente ou

esqueceram um pano Eu tenho medo de cesaacuterea Outro problema eacute aquele pano que separa a sua

cabeccedila do resto do seu corpo Disseram-me que teria de fazer uma cesaacuterea para fazer a laqueadura

na proacutexima gravidez Eu vou fazer um RX depois para ver se natildeo ficou nada laacute dentro (M7)

Aiacute vem a voacute vem a matildee conversar dizendo ldquotu natildeo faz escacircndalo natildeo gritardquo porque

realmente elas natildeo datildeo atenccedilatildeo E realmente eu vi isso Entatildeo eu sabia que natildeo era bom quando eu

fosse ganhar (M8)

Nas falas destas entrevistadas deflagra-se a ausecircncia de conversa sobre o assunto

Quando haacute diaacutelogo acerca do tema no seio familiar reveste-se de significados negativos

destacando a dor o sofrimento a anguacutestia o medo a solidatildeo e a alienaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao que

estaacute acontecendo com o seu corpo

Para Martin (2006) as mulheres podem ter essas sensaccedilotildees negativas de objetificaccedilatildeo

e fragmentaccedilatildeo tanto na cesaacuterea quanto no parto normal mas as que passam por uma cesaacuterea

descrevem essas sensaccedilotildees mais intensamente conforme destacado nas falas das entrevistadas

M4 e M5

Segundo a autora o medo e a ansiedade no parto normal satildeo gerados pela inconsciente

fragmentaccedilatildeo subliminar impliacutecita de como a mulher percebe esse fenocircmeno de como accedilotildees

que elas natildeo realizam como se o ldquoeurdquo e o ldquoseu corpordquo fossem separados entendendo que

corpo mente e estados emocionais natildeo podem ser trabalhados simultaneamente

O relato negativo foi constatado em estudos de autores da aacuterea da antropologia

mostrando que em diferentes sociedades as filhas educadas por matildees que influenciam

negativamente sofrem mais no momento do parto (LARAIA 2003) A dor do parto tambeacutem

foi apontada pela entrevistadas M5 Conforme Gualda (2004) a dor eacute um sintoma altamente

subjetivo que traz a crenccedila popular de vincular a maternidade ao sofrimento

51

A entrevistada M8 traz a questatildeo de agir conforme as regras que a equipe obsteacutetrica

impotildee de natildeo fazer escacircndalo sob pena de natildeo receber a devida atenccedilatildeo Os profissionais de

sauacutede eventualmente podem impor um comportamento que natildeo respeita o saber da parturiente

o que pode tornar difiacutecil a evoluccedilatildeo do trabalho de parto (BEZERRA CARDOSO 2006)

Outro fator de destaque de acordo com o relato da entrevistada M7 foi o medo

apresentado em relaccedilatildeo ao esquecimento dos instrumentos ciruacutergicos dentro do seu corpo

Para Leninger (1991) a descontinuidade dos acompanhamentos e tratamentos das

usuaacuterias(os) deve-se ao fato de natildeo compreenderem sua funccedilatildeo e seu funcionamento

A posiccedilatildeo supina que foi referida pela entrevistada M5 ldquofiquei de barriga para cima o

tempo todordquo eacute segundo a OMS (1996) uma praacutetica claramente prejudicial ou ineficaz que

deve ser eliminada de acordo com as evidecircncias cientiacuteficas Essa mensagem simboacutelica

transmite agrave parturiente que ela estaacute enferma e retira da mulher a liberdade de seguir seus

instintos conforme mencionado pela entrevistada

Etnoacutelogos confirmam que atraveacutes da anaacutelise de evidecircncias histoacutericas existem raccedilas e

tribos que natildeo recebem influecircncia do modelo biomeacutedico e as mulheres naturalmente assumem

posiccedilotildees verticais dos mais variados tipos e meios de apoio (BALASKAS 2008)

Outras formas de influecircncia relatadas pelas participantes foram revistas internet

meios de comunicaccedilatildeo em geral As entrevistadas atribuem grande importacircncia agraves

informaccedilotildees colhidas nessas fontes atraveacutes das quais tomam conhecimento sobre

determinados costumes e percepccedilotildees

Com as revistas eu me informava bastante sobre como que era o nascimento fotos do bebecirc

nascendo Assistia na TV o canal que mostrava partos as casas de parto onde as mulheres iam fazer

todo o preacute-natal e ganhavam na aacutegua na cama naqueles quartos que permaneciam durante o

trabalho de parto e ficavam ali mesmo na hora de ganhar com familiar junto crianccedilas adultos tudo

junto Eu achava muito interessante (M1)

Eu olhei muito no youtube parto normal Eu achei bem legal Assim eacute meio assustador mais

achei legal Ateacute ali minha decisatildeo era ganhar normal mas natildeo deu (M2)

Lia folders revistas da aacuterea sobre maternidade programas de TV que mostraram o

acompanhamento do parto no domiciacutelio na banheira mas eu tive duas cesaacutereas agendadas (M6)

A entrevistada M1 relata o atendimento oferecido em casa de parto ou centro de parto

normal onde as mulheres fazem todo o preacute-natal e datildeo agrave luz em posiccedilotildees e locais de sua

preferecircncia A ausecircncia desse tipo de estabelecimento em determinados municiacutepios do Brasil

inviabiliza o acesso aos benefiacutecios que esses serviccedilos oferecem Instituiacutedo no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede esses estabelecimentos propiciam agraves mulheres a assistecircncia ao parto

52

em sua plena universalidade e tecircm como uma de suas atribuiccedilotildees o preparo da gestante

atraveacutes do plano de parto e do desenvolvimento de atividades educativas (BRASIL 1999)

Nesse cenaacuterio o protagonismo de cada mulher na gestaccedilatildeo parto e puerpeacuterio eacute respeitado

levando em consideraccedilatildeo sua individualidade suas crenccedilas e sua cultura

A cultura eacute um todo complexo que inclui o conhecimento as crenccedilas a arte a moral a

lei os costumes e todos os outros haacutebitos e aptidotildees adquiridos pelo homem como membro da

sociedade e se faz dinacircmica pela recepccedilatildeo das influecircncias externas resultantes do contato de

um sistema cultural com outro transformaccedilatildeo que pode ser raacutepida e brusca (LARAIA 2003)

No fragmento da fala da entrevistada M6 pocircde-se identificar sua curiosidade pelo

periacuteodo graviacutedico e parto e o parto domiciacutelio e na banheira forma de nascimento que volta a

fazer parte dos centros urbanos na atualidade A influecircncia das mateacuterias veiculadas em uma

revista sobre as representaccedilotildees culturais sobre parto mostrou que a revista pode ser um meio

de divulgaccedilatildeo informal que deveria ser mais bem aproveitado para informar as mulheres sobre

seus direitos e as maneiras de reivindicaacute-los (ROSS BONILHA et al 2006)

Um estudo feito por Medeiros (2008) retrata que as mulheres que optam por um tipo

de parto fora do hospital relacionam sua escolha agraves experiecircncias vivenciadas desde o seu

proacuteprio nascimento ateacute o momento do parto de seus filhos Quando as mulheres preparam-se

para parir seguindo princiacutepios diferentes dos que a medicina define e trata a linguagem que

utilizam eacute de integridade com todas as suas partes inter-relacionadas por um sentimento de

realizaccedilatildeo de algo que seriam capazes de fazer podendo-se inferir que a experiecircncia do parto

confirma ou natildeo na mulher a sua capacidade de colocar uma crianccedila no mundo (MARTIN

2006)

As mulheres citam somente a figura meacutedica na consulta de preacute-natal e comentam

sobre a postura do profissional de sauacutede que realizou este acompanhamento Em geral natildeo

receberam nenhuma informaccedilatildeo sobre parto

O obstetra no preacute-natal natildeo falava nada sobre parto soacute media a barriga via como estava o

coraccedilatildeo do bebecirc e deu Isso que o primeiro foi particular e os outros tambeacutem foram assim (M1)

Quando eu comecei no preacute-natal eu comecei com meacutedico particular ele natildeo falou nada sobre

parto e me pediu todos aqueles exames (M3)

O meacutedico natildeo era muito de conversar soacute os exames ultrasonografia Natildeo falou sobre outras

formas de parto (M4)

A uacutenica coisa que o meacutedico falou eacute ldquotu taacute preparadardquo ldquotem certeza jaacute ta aqui neacute Agora eacute

soacute seguir adianterdquo mas natildeo me falaram sobre parto Fiz todos os exames quatro ultrassonografias

(M7)

53

Fiz todo o preacute-natal e o meacutedico natildeo me falou nada sobre parto (M5)

Nesses depoimentos detectou-se a ausecircncia de diaacutelogo e de orientaccedilatildeo sobre o parto

O acompanhamento preacute-natal das entrevistadas apontou para o enfoque bioloacutegico e tecnicista

na assistecircncia prestada limitando-se agrave avaliaccedilatildeo de batimentos cardiacuteacos fetais altura uterina

e solicitaccedilatildeo de exames e avaliaccedilatildeo

Tal atenccedilatildeo fragmenta o cuidado e o sujeito deste cuidado pois segundo Martin

(2006) desta forma as mulheres natildeo satildeo apenas fragmentadas em partes do corpo como

tambeacutem satildeo alienadas da proacutepria ciecircncia pelas praacuteticas da medicina cientiacutefica As praacuteticas

obsteacutetricas corroboram com esta alienaccedilatildeo internalizando valores culturais que transmitem

agraves gestantes a ideacuteia de que natildeo haacute necessidade de informaccedilotildees sobre os processos fisioloacutegicos

do parto (FLOYD 2009)

Como a medicina obsteacutetrica contemporacircnea estaacute determinada por pressupostos

filosoacuteficos essencialmente masculinos o parto normal que tem em seu acircmago fenocircmenos

femininos tais como a afetividade espiritualidade e as emoccedilotildees natildeo eacute compreendido pelos

profissionais que controlam o nascimento (JONES 2004)

Apesar do avanccedilo na luta por igualdade de direitos para as mulheres a

sobrevalorizaccedilatildeo do patriarcado nos hospitais eacute perpetuada por meacutedicos em sua maioria

homens que tecircm autoridade para reforccedilar rituais de parto (FLOYD 2009)

No entanto os profissionais de sauacutede que se inserem no cenaacuterio das poliacuteticas puacuteblicas

de sauacutede da mulher deveriam atualmente ter como prerrogativa a instrumentalizaccedilatildeo das

mulheres para que sejam efetivamente sujeitos de direito na sociedade sendo tambeacutem

protagonistas de suas proacuteprias vidas e de seu parto tomando suas escolhas de modo

informado conforme preconiza a Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agrave Sauacutede da Mulher -

PNAISM (BRASIL 2004)

A ausecircncia de informaccedilotildees sobre parto foi constatada na fala das entrevistadas o que

nos faz refletir sobre a atitude desses profissionais com as gestantes e relacionar esse quadro

com os altos iacutendices de cesaacuterea da atualidade entendendo que a ausecircncia de diaacutelogo e

informaccedilatildeo no preacute-natal incapacita a mulher agrave autonomia Em um estudo de revisatildeo

sistemaacutetica que avaliou as informaccedilotildees que as gestantes recebiam sobre a cesariana para

solicitaacute-la natildeo foi possiacutevel detectar os motivos que as levam a solicitar uma cesariana

(GAMBLE et al 2007)

A desinformaccedilatildeo sobre as etapas da parturiccedilatildeo foi apontada por Pereira (2011) como

fator cultural que conduz a uma etapa teacutecnica terceirizada definida quando o meacutedico assume

54

o comando e o conduz a partir de sua formaccedilatildeo teacutecnica especializada Para a autora as

mulheres consideram dessa forma um sofrimento desnecessaacuterio passar pelo trabalho de

parto porque desconhecem sua importacircncia para o organismo e para o bebecirc

Deve-se levar em conta a forma a interaccedilatildeo do cuidado entre as mulheres os

profissionais e principalmente o contexto desse cuidado que revela um desequiliacutebrio de poder

que favorece os meacutedicos (GAMBLE et al 2007)

Conforme Martin (2006) pode acontecer tambeacutem de as mulheres natildeo estarem

preocupadas com a falta de informaccedilatildeo uma vez que elas satildeo direcionadas por pressupostos

culturais da superioridade meacutedica Tais pressupostos estatildeo tatildeo arraigados em sua experiecircncia

habitual nos serviccedilos de sauacutede que as impede de perceber as contradiccedilotildees em sua proacutepria

atenccedilatildeo agrave sauacutede

Por outro lado em outra pesquisa com gestantes constatou-se a necessidade de uma

grande demanda por informaccedilotildees escuta cliacutenica e tambeacutem a utilizaccedilatildeo de materiais

educativos mais esclarecedores (HOTIMSKY et al 2002)

Essa demanda por informaccedilotildees vem sendo suprida por outros profissionais de sauacutede

segundo as entrevistadas deste estudo

A enfermeira do posto me ajudou bastante eu tomava sulfato ferroso e ia pegar com ela Me

orientou sobre as vacinas eu lembro que um pouco antes de ficar graacutevida eu tinha tomado vacina da

rubeacuteola Entatildeo assim ela me acompanhou bastante tambeacutem eu sempre conversava com ela sobre o

parto os exerciacutecios que era bom fazer Laacute na Casa de Sauacutede tambeacutem a enfermagem me ajudou

bastante tava o tempo todo junto me dizendo que ldquotinha que caminhar para tua dilataccedilatildeo aumentarrdquo

me explicavam onde o nenecirc bdquotava‟(M3)

O fisioterapeuta o dentista A fisioterapia influenciou para o parto vaginal o dentista era

homem entatildeo relatou a experiecircncia da esposa dele que tinha sido parto cesaacutereo (M6)

Eu fiz todo o planejamento com a enfermeira Ensinaram como seria para nascer e logo

depois o que eu teria que fazer que eacute amamentar o nenecirc cuidados com o nenecirc cuidados comigo

tambeacutem preventivo remeacutedio piacutelula amamentaccedilatildeo Ensinaram no posto que eu frequento (M8)

A participaccedilatildeo dos profissionais da enfermagem e da fisioterapia foi constatada em

atividades de educaccedilatildeo em sauacutede e no atendimento ao trabalho de parto

Um estudo feito por Gaiva (2003) que destaca o nascimento como um evento

pertencente agrave equipe de sauacutede destaca como necessaacuterio o engajamento dessas equipes para a

humanizaccedilatildeo do parto e do nascimento com enfoque na mulher na crianccedila e na famiacutelia

A realizaccedilatildeo de um trabalho multiprofissional e interdisciplinar durante o processo de

gestaccedilatildeo parto e nascimento incide na aprendizagem de compartilhamento de saberes e

55

praacuteticas promovendo um cuidado de qualidade para os atores envolvidos nesse processo

(CHRISTOFFEL 2003)

A Lei ndeg 749886 que dispotildee sobre a regulamentaccedilatildeo do exerciacutecio da enfermagem

referenda que o enfermeiro generalista tambeacutem estaacute habilitado a assistir agrave gestante parturiente

e pueacuterpera acompanhando a evoluccedilatildeo e do trabalho de parto e a execuccedilatildeo do parto sem

distoacutecia

Pelloso (2000) concluiu que as taxas de cesaacuterea reduziriam com a capacitaccedilatildeo dos

profissionais para o parto com a introduccedilatildeo da enfermeira obsteacutetrica no preacute-natal e na

realizaccedilatildeo do parto bem como com a inclusatildeo de accedilotildees de orientaccedilatildeo e informaccedilatildeo sobre os

riscos e os benefiacutecios do parto normal e da cesaacuterea agraves mulheres em atividades de grupo e

cursos de gestantes Embora o nuacutemero de enfermeiras obstetras atuando no Brasil ainda seja

muito baixo estima-se que o nuacutemero de partos assistidos por elas eacute bem superior agravequele

registrado no SUS (BRASIL 2001)

Essa assistecircncia tambeacutem eacute referendada pela portaria do MSGM nordm 2815 de 29 de

maio de 1998 em que se inclui na tabela do sistema de informaccedilotildees hospitalares do SUS o

procedimento ldquoparto normal sem distoacutecia realizado por enfermeira obstetrardquo (BRASIL 1998

p23)

A enfermeira obstetra na busca pelo cuidado integral e valorizando a mulher como

protagonista do processo de nascimento vem conquistando tambeacutem um espaccedilo no

atendimento a partos domiciliares aleacutem de seu papel nas instituiccedilotildees hospitalares (PETER

2005)

Questionamento e resistecircncia ao modelo biomeacutedico

Nessa categoria mostram-se os relatos de questionamento e resistecircncia ao

atendimento obsteacutetrico por parte de algumas mulheres revelando que estas natildeo tecircm

autonomia tanto na decisatildeo sobre o tipo de parto quanto na escolha por quem querem que lhes

acompanhe em seu parto

As participantes questionam as situaccedilotildees impostas pelos profissionais que representam

o modelo biomeacutedico Uma entrevistada que queria o parto normal apresentou-se encorajada a

protestar contra este modelo trocando de meacutedico quando natildeo teve a sua opiniatildeo respeitada

conforme na fala

56

() Outro fato que me deixou frustrada foi quando eu iniciei o preacute-natal eu disse que queria

parto normal o meacutedico ficou bravo e foi bem mal educado e perguntou o que eu estava fazendo laacute

entatildeo Fui embora natildeo fiz mais preacute- natal com ele fui para o SUS Eu me senti invadida (M3)

Outra entrevistada questiona a falta do acompanhante de sua preferecircncia no parto Eu

gostaria que o meu marido bdquotivesse‟ junto (M1) Em um estudo realizado por Prado Junior

(2008) constatou-se que a presenccedila de familiares no processo de nascimento eacute visto por 100

das entrevistadas como primordial Para Balaskas (2008) o sentimento relatado por homens

que jaacute acompanharam suas mulheres em trabalho de parto eacute o de plenitude em nenhum

momento o instinto de fecircmea fala tatildeo alto eacute o renascimento de uma nova mulher

Suas falas chamam a atenccedilatildeo tambeacutem para a importacircncia de a mulher poder exercer

mais liberdade e participaccedilatildeo ativa com a possibilidade de escolher se quer tomar banho ou

natildeo se quer ficar na aacutegua sentar na bola Tambeacutem eacute questionado por elas o uso da ocitocina e

a falta de respeito a sua privacidade pelo fato de estarem presentes pessoas assistindo ao seu

parto sem preacutevio pedido de autorizaccedilatildeo o que denota desrespeito a sua autonomia no

processo

Eu gostaria de ser mais orientada Entatildeo quanto mais natural pudesse ser para mim melhor

escolher se quer tomar banho ou natildeo se quer ficar na aacutegua sentar na bola Sou contra a ocitocina E

me colocaram o soro com ocitocina e eu disse ldquomas para quecirc colocar se eu jaacute to quase ganhando Soacute

para me dar uma dor mais forte e realmente deurdquo(M1) Tinha uns 7 ou 8 alunos que estavam laacute e que queriam assistir um parto pessoas que eu

nunca tinha visto olhando o meu parto Eu acho que tudo foi muito forccedilado Os alunos assistiram ao

meu parto ningueacutem me perguntou se eu queria que assistisse (M3)

A mulher em trabalho de parto precisa de privacidade para se sentir mais segura

Poreacutem em muitos locais de atendimento puacuteblico isso natildeo eacute devidamente cuidado sendo

negligenciada a cultura do sujeito que envolve seus valores percepccedilotildees necessidades e

medos (ODENT 2003)

A postura do profissional em natildeo aceitar a opiniatildeo das usuaacuterias eacute denominada por

antropoacutelogos como ldquopensamento etnocecircntricordquo ou ldquosistema fechado de cogniccedilatildeordquo O

etnocentrismo eacute um sistema acentuado por rituais que os representam e os sustentam

(FLOYD 2009) Sabem os etnocentristas da existecircncia de outro saber e crenccedilas mas estatildeo

absolutamente seguros de que seu modo de pensar eacute melhor e por isso ignoram ideacuteias

contraacuterias agraves deles e consideram esses diferentes modos de pensar uma ameaccedila A

entrevistada destaca esta postura

Acho que os meacutedicos satildeo muito apressados Deveriam deixar mais a natureza agir por conta

o bebecirc se encaixar no lugar certo deixar a matildee de forma mais natural possiacutevel (M1)

57

Um princiacutepio baacutesico do modelo de atendimento tecnocraacutetico que vem ao encontro da

forma de pensar e agir do pensamento etnocecircntrico eacute a autoridade e responsabilidade do

profissional e das instituiccedilotildees de sauacutede sobre a pessoa Nesse contexto eacute mais confortaacutevel

para a usuaacuteria abdicar de sua preferecircncia pessoal em favor da opiniatildeo meacutedica (FLOYD

2004)

Esse fato foi constatado nas entrevistas que apontavam para a resistecircncia ao modelo

biomeacutedico poreacutem atraveacutes de uma percepccedilatildeo passiva da realidade como a sensaccedilatildeo meio

vaga de que alguma coisa estaacute errada e cuja mudanccedila natildeo estaacute ao seu alcance ou natildeo depende

apenas de sua vontade e accedilatildeo A mulher parece natildeo estar ciente da fragmentaccedilatildeo subliminar

da atenccedilatildeo ao parto hospitalar como se o ldquoeurdquo e o ldquoseu corpordquo fossem separados e que

nascimento fosse parte de uma produccedilatildeo A taacutetica mais eficiente descrita por Martin quando

utiliza a analogia entre operaacuterios e mulheres dando agrave luz eacute a mulher tornar-se patratildeo de si

mesmo isto eacute dando agrave luz em seu domicilio onde elas satildeo donas da faacutebrica e podem ter total

controle sobre o processo de produccedilatildeo e sobre seu corpo (MARTIN 2006)

Percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea

Buscaram-se juntamente agraves mulheres do estudo indicaccedilotildees e motivaccedilotildees de acordo

com seu entendimento para a realizaccedilatildeo de cesariana A seguir eacute apresentada a ausecircncia de

dilataccedilatildeo a presenccedila ou natildeo de contraccedilotildees e as cesaacutereas eletivas como indicativos para a

ocorrecircncia do procedimento ciruacutergico

Eu induzi porque natildeo tinha dilataccedilatildeo eu soacute tinha contraccedilatildeo Eu natildeo tinha nenhum outro

problema () fiquei frustrada Eu queria parto normal soacute natildeo tive porque meu parto foi induzido

(M2)

Porque natildeo tinha dor natildeo tinha dilataccedilatildeo e tava muito em cima (M5)

Se tivesse entrado em trabalho de parto tudo bem daiacute ia ficar pro parto como natildeo tinha foi

para cesaacuterea (M6)

Fizeram uma junta meacutedica laacute no hospital e os meacutedicos falaram com a minha matildee pois eu era

bdquode menor‟ ela autorizou para fazer uma cesaacuterea antecipada porque eu jaacute bdquotava‟ em trabalho de

parto soacute que eu natildeo tinha dilataccedilatildeo () (M8)

Um dos motivos alegados pela entrevistada M6 foi ter sido submetida a uma cesaacuterea

eletiva por natildeo ter entrado em trabalho de parto tendo tambeacutem a falta de informaccedilatildeo apontada

sobre outras formas de nascimento

58

O descontentamento por natildeo ter vivenciado o parto normal foi narrado com frustraccedilatildeo

pela entrevistada M2 A induccedilatildeo do parto e a presenccedila de contraccedilotildees apontadas por ela como

fatores indicativos para realizaccedilatildeo de cesaacuterea estatildeo associadas ao aumento da taxa de

nascimento preacute-termo e de baixo peso

Na maioria das sociedades atuais o meio cultural propagado pelos profissionais

meacutedicos interfere nos processos fisioloacutegicos do nascimento O motivo para o aumento dos

iacutendices de cesaacutereas eacute verdadeiramente devido a uma falha universal e quase cultural no

entendimento das necessidades baacutesicas das mulheres (ODENT 2004)

Nessa direccedilatildeo as consequecircncias de risco aumentam tanto para a parturiente quanto

para o feto A taxa de internaccedilatildeo em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em um estudo feito

na Austraacutelia com gestantes de baixo risco demonstra que as chances de internaccedilatildeo em

mulheres que fizeram cesaacuterea eletiva sem entrar em trabalho de parto aumentam em 154

em gestaccedilotildees de 37 semanas 121 em gestaccedilotildees de 38 semanas e 51 para as mulheres

com 39 semanas gestacionais (TRACY et al 2007)

Os prejuiacutezos aos receacutem nascidos prematuros natildeo se apresentam somente no momento

do nascimento satildeo mais duradouros acompanham-nos na vida futura provocando problemas

de sauacutede e colocando-os em desvantagem em relaccedilatildeo aos que nasceram de parto vaginal

(TOMASHEK et al 2007 SWANY et al 2008)

Ao final da gestaccedilatildeo a mulher pode apresentar algumas vezes contraccedilotildees

permanecendo entretanto descoordenadas sem a dilataccedilatildeo da ceacutervice uterina o que se

denomina ldquofalso trabalho de partordquo Essa situaccedilatildeo pode levar o profissional de sauacutede a realizar

uma admissatildeo precoce da gestante na maternidade e com isso realizar intervenccedilotildees

desnecessaacuterias como por exemplo uma induccedilatildeo do parto sem indicaccedilatildeo ou uma cesariana

(BRASIL 2001)

Os partos induzidos e outros fatores como monitoramento fetal contiacutenuo e uso

frequente de anestesias peridurais satildeo aspectos da industrializaccedilatildeo do parto que tem como

consequumlecircncia a falta de entendimento da sua fisiologia (ODENT 2004)

Em um estudo na Escoacutecia constatou-se que 20 das pueacuterperas que se submeteram agrave

cesariana natildeo receberam orientaccedilatildeo sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea e 16 tinham

somente uma ideacuteia parcial da indicaccedilatildeo A forma e o momento inadequado de informar sobre

a indicaccedilatildeo da cirurgia podem acentuar a dificuldade de as mulheres entenderem e

compreenderem essas informaccedilotildees (HILLAN 1992) como se pocircde perceber na fala das

entrevistadas

59

E da segunda gravidez daiacute foi direto o agendamento da cesaacuterea mas eu natildeo tive outras

informaccedilotildees de outras formas de nascer ou em domiciacutelio ou em banheira Natildeo nada disso (M6)

() aiacute eles anteciparam a cesaacuterea Depois eu descobri que foi porque o meu marido faleceu

(M8)

Outra pesquisa mostra que a justificativa dada por 61 mulheres para a realizaccedilatildeo da

cesariana foi discordante da indicaccedilatildeo meacutedica em 475 dos casos Tenciona-se o fato de que

ignorar a indicaccedilatildeo de cesaacuterea pela mulher pode dificultar a conduccedilatildeo para um parto normal

posterior e as complicaccedilotildees advindas (OLIVEIRA et al 2002)

Uma das maiores preocupaccedilotildees associadas agrave cesariana aleacutem dos vaacuterios problemas

inerentes a um procedimento ciruacutergico eacute o seu impacto e risco na sauacutede reprodutiva futura da

mulher como predisposiccedilatildeo a inserccedilatildeo anormal da placenta em futuras gestaccedilotildees (LEE

DALTON 2008)

O maior risco de ruptura uterina hemorragia poacutes-parto e remoccedilatildeo manual de placenta

tambeacutem eacute relacionado a mulheres que jaacute se submeteram a uma cesariana preacutevia (TAYLOR et

al 2005)

Segundo o relato das entrevistadas natildeo foram apresentadas indicaccedilotildees para a cesaacuterea

condizentes ao que as evidecircncias cientiacuteficas preconizam na literatura da aacuterea Outro fato

apontado atraveacutes na fala das entrevistadas foi o agendamento preacutevio da cirurgia no preacute-natal

ldquoA cirurgia estava agendada jaacute no preacute-natalrdquo (M4) ldquoEstava agendada a cesaacuterea no preacute-natalrdquo

(M6)

Os inuacutemeros efeitos prejudiciais tanto para a mulher quanto para o fetoneonato da

cesaacuterea sem indicaccedilotildees satildeo comprovados pelo conhecimento cientiacutefico atual A siacutendrome da

anguacutestia respiratoacuteria do receacutem-nascido desponta com uma das principais causas de morbi-

mortalidade perinatal (MADAR 1999)

As pacientes submetidas a cesarianas agendadas sem indicaccedilotildees apresentam

morbidade e mortalidade maior quando comparadas a pacientes que realizaram o parto normal

(HALL 1999 LILFORD et al 1990)

A respeito do motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea um estudo constatou que a maioria das

mulheres demonstra certa passividade frente ao meacutedico na decisatildeo pelo parto ciruacutergico

(FIGUEIREDO N et al 2010)

Essa conduta relaciona-se com os elevados iacutendices de cesaacutereas desnecessaacuterias no

Brasil Buscando reverter esse quadro a Associaccedilatildeo Meacutedica Brasileira (AMB) e o Conselho

Federal de Medicina (CFM) em iniciativa conjunta elaboraram um protocolo sobre o tema

indicaccedilotildees de cesaacutereas intitulado Projeto Diretrizes (PD) Satildeo objetivos desse trabalho

60

conciliar informaccedilotildees sobre o tema no sentido de estimular a praacutetica da medicina baseada em

evidecircncias analisar individualmente as indicaccedilotildees de cesariana com base nas evidecircncias

cientiacuteficas da literatura promover uma diminuiccedilatildeo das taxas de cesariana (PROJETO

DIRETRIZES 2002)

Os desvios eacuteticos decorrentes dessa conduta natildeo levam em consideraccedilatildeo a sauacutede das

mulheres Haacute a necessidade constante de atualizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais meacutedicos

e demais consequumlecircncias possiacuteveis dessa atitude (HADDAD et al 2011)

Nesse contexto destaca-se um estudo realizado com docentes do Departamento

Materno- Infantil do Hospital Universitaacuterio de Satildeo Joseacute do Rio Preto que constatou a

valorizaccedilatildeo da cesaacuterea em detrimento ao parto vaginal concorrendo para a disseminaccedilatildeo da

cultura subjacente agrave desmobilizaccedilatildeo dos alunos e profissionais meacutedicos para a realizaccedilatildeo do

parto normal (MORAES GOLDENGERG 2001)

61

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao tentar traduzir sob a forma de pesquisa a compreensatildeo de como a cultura influencia

no processo de parturiccedilatildeo da mulher finalizo este estudo com o vislumbre de que o objeto

escolhido foi pleno de possibilidades para entender e sobretudo para ampliar as propostas e a

pesquisa nessa aacuterea de estudos Encerro este trabalho com a certeza de que foi uma etapa

necessaacuteria em minha vida profissional e muito importante para o meu crescimento pessoal e

acadecircmico

Como mencionado anteriormente a inquietaccedilatildeo frente agrave fragilidade das parturientes ao

se submeterem sem questionamentos a todos procedimentos e intervenccedilotildees da equipe

obsteacutetrica apresentou-se como uma das justificativas da realizaccedilatildeo deste trabalho atraveacutes da

questatildeo norteadora ldquoqual a participaccedilatildeo da cultura nos saberes e as praacuteticas das mulheres em

relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeordquo

Esse estudo abriu espaccedilo para que mulheres falassem de um periacuteodo em suas vidas

extremamente iacutentimo e especial permitindo-lhes ampliar a visatildeo acerca dos determinantes

socioculturais envolvidos nesse momento O estudo foi realizado fora do periacuteodo graviacutedico

puerperal justamente para tentar captar delas o que realmente ficou de significativo dessa

fase sem interferecircncia ou expectativas de quem estaacute passando pelo turbilhatildeo de emoccedilotildees que

acompanham o processo da parturiccedilatildeo

O desenvolvimento desta pesquisa possibilitou perceber que o parto enquanto um dos

momentos da vida da mulher de grande importacircncia nem sempre eacute compreendido e entendido

dessa maneira por elas

Da mesma forma observou-se que a vivecircncia das mulheres em seu processo de

parturiccedilatildeo eacute percebida de modo diferente por cada uma algumas vezes de forma positiva e

outras de forma negativa A forma da mulher vivenciar esse processo depende de fatores

individuais e principalmente de representaccedilotildees culturais da realidade social a que ela

pertence

A abordagem negativa do estudo referida por algumas mulheres manifestou o

desconhecimento sobre a fisiologia do parto estando intrinsecamente relacionado ao modelo

fragmentado em partes do corpo perpetuado pelas praacuteticas da medicina cientiacutefica dominantes

na sociedade

62

As mulheres natildeo estatildeo conscientes dessas circunstacircncias e reproduzem essa forma de

fragmentaccedilatildeo de que o uacutetero eacute um muacutesculo involuntaacuterio e de que o parto eacute um processo ao

qual tecircm de se submeter causando uma sensaccedilatildeo muito marcante de fragmentaccedilatildeo e

objetificaccedilatildeo nas mulheres que sofreram uma cesaacuterea conforme constatado no estudo

Por outro lado a abordagem positiva apontada por elas dignifica a responsabilidade

por uma nova vida e a emoccedilatildeo do nascimento entendendo-o como uma oportunidade de

crescimento psicoloacutegico e de resgate espirituais

Na percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado haacute divergecircncias de opiniatildeo em

relaccedilatildeo ao tipo de parto vivenciado por cada uma As mulheres que desejaram e vivenciaram

o parto normal relatam o evento como parte de uma jornada interior e exterior que envolve

sentimentos iacutentimos uma experiecircncia fiacutesica profunda e intensa de algo que elas satildeo capazes

de realizar compreendendo que o significado de ser matildee eacute ter a capacidade de passar pela

experiecircncia do trabalho de parto e do parto natural

Em contrapartida o significado da vivecircncia das mulheres que natildeo desejaram ou

realizaram a cesaacuterea assemelha-se ao processo de produccedilatildeo industrializada em nossa

sociedade em que as atividades satildeo realizadas e determinadas inteiramente pela figura do

meacutedico e dos hospitais e natildeo por elas Percebeu-se que o papel principal do parto que seria

da parturiente foi assumido por essas figuras que estatildeo no controle pois as mulheres natildeo se

sentiam prontas ou capazes de tomaacute-lo para si

Identificou-se que a via de parto desejada pela maioria das entrevistadas foi o parto

normal mas as que natildeo conseguiram realizar esse desejo foi devido agrave influecircncia e agraves

intervenccedilotildees recebidas do meacutedico Os argumentos que influenciaram o desestiacutemulo da

realizaccedilatildeo do parto normal foram a necessidade de realizaccedilatildeo de laqueadura tubaacuteria e a falta

de informaccedilatildeo sobre meacutetodos natildeo farmacoloacutegicos e farmacoloacutegicos para o aliacutevio da dor

Cabe ressaltar que as mulheres que desejaram o parto normal e conseguiram parir por

esta via sentiram seguranccedila e confianccedila na experiecircncia do trabalho de parto natildeo sendo

identificando nenhum sinal perceptiacutevel em suas palavras relacionado agrave incapacidade de fazecirc-

lo podendo assim vivenciaacute-lo ativamente Outros aspectos importantes a serem ressaltados

foram a rapidez da recuperaccedilatildeo e a volta agraves atividades diaacuterias o desejo de serem acolhidas

pelos profissionais nas suas demandas e o direito agrave informaccedilatildeo clara e eacutetica

Sobre o poder de decisatildeo do meacutedico quanto ao tipo de parto constataram-se

divergecircncias de opiniatildeo As entrevistadas afirmaram que o meacutedico tem o poder de decisatildeo

sobre a escolha do tipo de parto poreacutem algumas natildeo estatildeo de acordo com esta conduta

63

defendendo que a decisatildeo deveria levar em conta a opiniatildeo da mulher uma vez que eacute ela que

estaacute sentindo e passando pelo processo

Conforme expressam as entrevistadas elas aceitaram essa atitude por parte dos

profissionais mas sentiram que algo em relaccedilatildeo a isso poderia ter sido mudado Elas

incentivam a mudanccedila das atitudes que colocam a mulher em posiccedilatildeo desprivilegiada no

parto

Outro aspecto destacado no estudo foi como se daacute a construccedilatildeo cultural do processo

parturitivo das mulheres Pocircde-se constatar que o significado positivo evidenciado pelas

mulheres do conviacutevio das entrevistadas principalmente pela figura materna proporcionou um

parto enriquecedor agraves entrevistadas e exerceu influecircncia na preferecircncia por parto normal

Outras no entanto descrevem que se atribuiu significado negativo pelas mulheres do

conviacutevio o que provocou medo ansiedade e inseguranccedila agraves entrevistadas durante a

experiecircncia do seu parto

Assim confirma-se que o parto natildeo pode ser entendido e reduzido somente ao aspecto

bioloacutegico pois a partir da transmissatildeo de conhecimentos interrelacionais constatados nesta

pesquisa pode-se compreender que a cultura influencia no processo de parturiccedilatildeo das

mulheres E haacute que se considerar essa influecircncia quando se presta cuidado agraves parturientes

O conteuacutedo de revistas da internet dos meios de comunicaccedilatildeo em geral aleacutem das

informaccedilotildees repassadas por vizinhos constituem outro fator de notaacutevel influecircncia nesse

construto imaginaacuterio As experiecircncias relatadas denotam que essas formas de construccedilotildees

culturais servem para expansatildeo do conhecimento sobre o assunto Isso deixa claro que as

mulheres muitas vezes estatildeo conscientes de sua falta de autonomia e buscam visotildees

alternativas sobre como o seu parto poderia acontecer

As visotildees alternativas citadas por elas foram o nascimento em casa de parto e no

domiciacutelio formas de assistecircncia consideradas na atualidade como humanizadas por ativistas

do parto normal de todo o mundo e pelas organizaccedilotildees governamentais e natildeo governamentais

que trabalham em prol da humanizaccedilatildeo do parto e nascimento tendo como objetivo devolver

agrave mulher o protagonismo na sua gestaccedilatildeo parto e poacutes-parto

No relato das mulheres eacute citada somente a figura meacutedica na consulta de preacute-natal e

elas falam que esse profissional natildeo forneceu efetivamente nenhuma informaccedilatildeo sobre parto

Tal postura silenciosa por parte desse profissional pode estar influenciando a faacutecil aceitaccedilatildeo

de uma cesaacuterea desnecessaacuteria fato esse comprovado pelo tipo de parto de maior incidecircncia

das mulheres deste estudo

64

As atividades desenvolvidas durante as consultas de preacute-natal foram accedilotildees de cunho

puramente bioloacutegico tecnicista e fragmentado como constatado na forma reduzida de

assistecircncia prestada que se limita agrave solicitaccedilatildeo de exames e agrave avaliaccedilatildeo obsteacutetrica de

batimentos cardiacuteacos fetais e altura uterina

As mulheres citam o atendimento da enfermeira na vivecircncia do parto bem como na

gestaccedilatildeo o que deflagra sua importacircncia nesse processo pois tal profissatildeo se constitui como

uma das maiores estrateacutegias que visa melhorar a assistecircncia obsteacutetrica no Brasil e exerce um

papel relevante no que tange agrave humanizaccedilatildeo durante o processo de nascimento Da mesma

forma a fisioterapia tambeacutem foi citada como ponto de incentivo agrave escolha do parto normal

O significado de parto celebrado por algumas mulheres do estudo abrange o

questionamento e a resistecircncia aos pressupostos culturais subjacentes ao modelo biomeacutedico

atual discordando de praacuteticas que vivenciaram no parto consideradas desrespeitosas Ponto

comum em suas falas foi a auto-percepccedilatildeo de resistecircncia agrave passividade imposta pela praacutetica

meacutedica

Foi demonstrado pelas mulheres claro desagrado por algumas praacuteticas que retiram da

mulher a sua autonomia no processo da parturiccedilatildeo tais como coibiccedilatildeo do acompanhante no

trabalho de parto e no parto invasatildeo de privacidade com a entrada de pessoas estranhas para

assistir ao parto sem licenccedila da parturiente e a falta de autonomia na escolha da via de parto

normal

A privaccedilatildeo dessa escolha acarretou a praacutetica de cesaacutereas desnecessaacuterias na maioria

das mulheres deste estudo Um dos principais motivos para a realizaccedilatildeo das cesaacutereas foi

apontado como a falta de dilataccedilatildeo das gestantes simplesmente pelo fato de natildeo estarem em

trabalho de parto quando admitidas na maternidade

Confesso que ao teacutermino deste trabalho muitos pressupostos que faziam parte dos

meus questionamentos foram esmaecidos pois esperava encontrar mulheres alienadas agrave

medicalizaccedilatildeo e agrave patologizaccedilatildeo do processo da parturiccedilatildeo e foi surpreendente o depoimento

de algumas das entrevistadas que demonstraram estar buscando novas formas de

conhecimento e de vivecircncia deste momento tatildeo especial em suas vidas natildeo obstante estarem

inseridas em um modelo tecnicista de assistecircncia

As entrevistadas questionam as praacuteticas como se apresentam atualmente e isso natildeo

significa que refutem os proveitos tecnoloacutegicos quando necessaacuterios mas defendem a

passagem a outro tipo de cultura em que possam exercer mais liberdade e ter participaccedilatildeo

ativa no processo da parturiccedilatildeo

65

Alguns significados atribuiacutedos pelas mulheres quanto agrave preferecircncia pela cesaacuterea e a

percepccedilatildeo de que o parto normal eacute muito mais arriscado explicitam resquiacutecios do discurso

meacutedico dominante Tambeacutem se revelou no estudo que as pacientes natildeo receberam

informaccedilotildees acerca dos riscos advindos deste procedimento ciruacutergico sem indicaccedilotildees

Portanto a ausecircncia de informaccedilatildeo sobre parto que deveria ser repassada pelo meacutedico foi

uma constataccedilatildeo neste estudo

O trabalho configurou-se um exerciacutecio instigante na medida em que o encadeamento

reflexivo da anaacutelise a partir das contribuiccedilotildees teoacutericas advindas dos estudos culturais de

gecircnero e corpo foi apontando que esse profissional de sauacutede produz significado no modo

como o parto eacute vivenciado pelas mulheres

Respondo ao final destas consideraccedilotildees ao questionamento inicial do estudo

constatando que a cultura participa dos saberes e das praacuteticas das mulheres em relaccedilatildeo ao

processo da parturiccedilatildeo Poreacutem algumas mulheres estatildeo buscando reinterpretar esta cultura

por meio de novas formas de vivenciar e de burlar o sistema de sauacutede obsteacutetrico vigente que

oprime tira-lhes o poder e impotildee silecircncio sob a eacutegide da proteccedilatildeo

As mulheres querem ser respeitadas ter direito agrave privacidade em seu parto ser ouvidas

e informadas com transparecircncia e eacutetica ter espaccedilo para expressar suas escolhas e agir

conforme suas necessidades poder gritar escandalizar caso desejem querem ainda ter

assistecircncia de boa qualidade sem julgamentos e livre de praacuteticas rotineiras que as instituiccedilotildees

obsteacutetricas impotildeem sem nenhum benefiacutecio para a matildee e o bebecirc

Se essa eacute a forma para encontrar significado ao desejo das mulheres ela difere e

muito da ldquopessimizaccedilatildeordquo do parto que alguns grupos de profissionais reproduzem em uma

cesaacuterea desnecessaacuteria ou em um parto normal medicalizado para finalizar um comeccedilo de vida

Cabe a noacutes profissionais de sauacutede mulheres homens sairmos dessa zona de conforto

que a sociedade atual nos enquadrou e comeccedilarmos a entender que a mudanccedila de paradigmas

de assistecircncia em todo o processo da parturiccedilatildeo estaacute associada a cidadatildeos e cidadatildes

conscientes e sujeitos da sua proacutepria histoacuteria

A enfermagem tem uma responsabilidade muito grande em todo esse processo e natildeo

pode eximir-se dela pois somos uma categoria profissional juntamente com a medicina que

tem o respaldo na lei do exerciacutecio profissional na assistecircncia agrave parturiente e ao parto normal

Os enfermeiros tecircm a formaccedilatildeo de natildeo intervir no processo da parturiccedilatildeo isto eacute de deixar a

fisiologia agir e eacute isto que temos que buscar a reconstruccedilatildeo dessa cultura sem intervenccedilotildees no

parto normal das mulheres

66

Precisamos fazer valer esse direito legal para que como profissionais do cuidado que

somos possamos proporcionar o cuidado de oferecer como um direito agrave mulher o

protagonismo no seu parto

O reconhecimento da mulher como protagonista do seu parto eacute elemento primordial

para os profissionais poderem compreender os temores as alegrias e os prazeres da gestaccedilatildeo e

do parto e assumirem uma nova postura de atenccedilatildeo Assim encerro destacando que os

muacuteltiplos aspectos que permeiam a vivecircncia das mulheres precisam ser observados quando se

presta assistecircncia durante o processo da parturiccedilatildeo

67

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA N A M A dor do parto normal na perspectiva e vivecircncia de um grupo de

mulheres usuaacuterias do Sistema Uacutenico de Sauacutede Tese de doutorado Programa de Poacutes

Graduaccedilatildeo em Ciecircncias da Sauacutede - Convecircnio Rede Centro Oeste (UNB UFG UFMS)

Goiacircnia 2009

ANS AGEcircNCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR (Brasil) O modelo de atenccedilatildeo

obsteacutetrica no setor de Sauacutede Suplementar no Brasil cenaacuterios e perspectivas Agecircncia

Nacional de Sauacutede Suplementar ndash Rio de Janeiro ANS 2008a Disponiacutevel em

lthttpwwwansgovbrportaluploadnoticiasclippinglivro_parto_webpdfgt Acesso em 11

ago 2011

ANS Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar (Brasil) Rol de Procedimentos e Eventos em

Sauacutede RN 16708 Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar - Rio de Janeiro ANS 2008b

ANS AGEcircNCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR (Brasil) Atualiza o Rol de

Procedimentos e Eventos em Sauacutede previstos na RN nordm 211 de 11 de janeiro de 2010

Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar ndash Rio de Janeiro ANS 2011 Disponiacutevel em

lthttpwwwansgovbrimagesstoriesnoticiaspdfrn20262pdfgt Acesso em 30 nov

2011

BALASKAS J Parto Ativo guia praacutetico para o parto natural Traduccedilatildeo Adailton Salvatore

Meira 2 ed Satildeo Paulo Ground 2008

BARAK E M ALAN R H e NILS J B Should Neonates Sleep Alone Society of

Biological Psychiatry Revista Biological Psychiatry 2011

BARROS et al The challenge of reducing neonatal mortality in middle-income countries

findings from three Brazilian birth cohorts in 1982 1993 and 2004 Lancet v365 n9462

Mar 5-11 p847-54 2005

BARDIN L Anaacutelise de conteuacutedo 7 ed Portugal Ediccedilotildees 1977

BERGER P LUCKMANN T A Construccedilatildeo Social da Realidade Traduccedilatildeo de Floriano

de Souza Fernandes 3 ed Petroacutepolis Vozes 1976

68

BEZERRA M G A CARDOSO M V L M Fatores interferentes no comportamento de

parturientes enfoque na Etnoenfermagem Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v

58 n6 p698-702 novdez 2005

BEZERRA M G A CARDOSO M V L M Fatores culturais que interferem nas

experiecircncias das mulheres durante o trabalho de parto e parto Revista Latino-americana

Enfermagem maiojun 14(3)414-21 2006

BUSANELLO J COSTA K P PINHO E Humanizaccedilatildeo do Parto e do Nascimento os

desafios para a implementaccedilatildeo do programa do Ministeacuterio da Sauacutede CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 61 7 a 10 dez Fortaleza Cearaacute 2009

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Programa de Assistecircncia Integral agrave Sauacutede da Mulher bases

de accedilatildeo programaacutetica Brasiacutelia DF 1984

_____ Lei nordm 749886 Dispotildee sobre a regulamentaccedilatildeo do exerciacutecio da Enfermagem e daacute

outras providecircncias Disponiacutevel em

lthttpwwwabennacionalorgbrdownloadLeiPROFISSIONALpdf gt Acesso em 29 nov

2011

_____ Decreto n 9440687 Regulamenta a Lei nordm 7498 de 25 de junho de 1986 Dispotildee

sobre o exerciacutecio da enfermagem e da outras providecircncias Disponiacutevel em

lthttpportalcofengovbrsitenovonode4173gt Acesso em 29 nov 2011

_____ Presidecircncia da Repuacuteblica Lei nordm 11108 Altera a Lei no 8080 de 19 de setembro de

1990 para garantir agraves parturientes o direito agrave presenccedila de acompanhante durante o trabalho de

parto parto e poacutes-parto imediato no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS 2005b

Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-

20062005LeiL11108htmlgt Acesso em 25 nov 2011

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Resoluccedilatildeo nordm 196 sobre pesquisas envolvendo seres

humanos Brasiacutelia DF 1996

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 2815 de 29 de maio de 1998 - Institui o

procedimento do parto normal realizado por enfermeiro obstetra no Sistema Uacutenico de

Sauacutede Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF

seccedilatildeo 1 p47-8 1998b

69

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 2883 de 04 de junho de 1998 - Institui o Precircmio

Nacional Profordf Galba de Arauacutejo Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder

Executivo Brasiacutelia DF seccedilatildeo 1 p 24 de 0506 de 1998a Disponiacutevel em

lthttpdtr2001saudegovbrsasportariasport98GMGM-2883htmlgt Acesso em 29 nov

2011

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria nordm 985 GM Institui as Casas de Parto ou Centro de

Parto Normal no Sistema Uacutenico de Sauacutede Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do

Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 05 ago 1999

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 466 de 14 de junho de 2000 - Estabelecer como

competecircncia dos estados e do Distrito Federal a definiccedilatildeo de limite por hospital de

percentual maacuteximo de cesarianas em relaccedilatildeo ao nuacutemero total de partos realizados e

ainda a definiccedilatildeo de outras estrateacutegias para a obtenccedilatildeo de reduccedilatildeo destes procedimentos

no acircmbito do estado Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil 115-E Poder

Executivo Brasiacutelia DF 2000a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 569 570 571 572 GM Estabelece o Programa de

Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e do Nascimento Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do

Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 01 jun 2000b

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Parto Aborto e Puerpeacuterio Assistecircncia Humanizada agrave

Mulher Ministeacuterio da SauacutedeFEBRASGOABENFO Brasiacutelia DF 2001

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Assistecircncia em Planejamento familiar Manual Teacutecnico-4 ed

Brasiacutelia 2002

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo integral agrave sauacutede da mulher

princiacutepios e diretrizes Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees Programaacuteticas

Estrateacutegicas Brasiacutelia Editora do Ministeacuterio da Sauacutede 2004

_____ Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Conselho Nacional dos Direitos da

Mulher I Plano Nacional de Poliacuteticas Puacuteblicas para as Mulheres Brasiacutelia 2005a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Nuacutecleo Teacutecnico da Poliacutetica

Nacional de Humanizaccedilatildeo Humaniza SUS documento base para gestores e trabalhadores do

SUS Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Nuacutecleo Teacutecnico da Poliacutetica

Nacional de Humanizaccedilatildeo 3 ed Brasiacutelia Editora do Ministeacuterio da Sauacutede 2006a

70

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Preacute-natal e puerpeacuterio atenccedilatildeo qualificada e humanizada

Brasiacutelia DF 2006b

_____ Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Conselho Nacional dos Direitos da

Mulher II Plano Nacional de Poliacuteticas Puacuteblicas para as Mulheres Brasiacutelia 2008a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA) Resoluccedilatildeo

RDC nordm 36 de 03 de junho dispotildeem sobre Regulamento Teacutecnico para Funcionamento dos

Serviccedilos de Atenccedilatildeo Obsteacutetrica e Neonatal - Brasiacutelia - DF 2008b

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Instrutivo dos indicadores para a pactuaccedilatildeo unificada 2008

Brasiacutelia 2008c

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da

Mulher ndash PNDS 2006 dimensotildees do processo reprodutivo e da sauacutede da crianccedila Ministeacuterio

da Sauacutede Centro Brasileiro de Anaacutelise e Planejamento Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2009

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Estatiacutesticas de partos no Brasil Brasiacutelia DF 2010

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Aleacutem da sobrevivecircncia praacuteticas integradas de atenccedilatildeo ao

parto beneacuteficas para a nutriccedilatildeo e a sauacutede de matildees e crianccedilas Ministeacuterio da Sauacutede

Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Aacuterea Teacutecnica de Sauacutede da Crianccedila e Aleitamento Materno ndash

Brasiacutelia DF 2011

BUDOacute M L D et al A cultura permeando os sentimentos e as reaccedilotildees frente agrave dor Revista

da Escola de Enfermagem da USP Satildeo Paulo v41 n1 p 36-43 2007

BUSANELLO J COSTA K P PINHO E Humanizaccedilatildeo do Parto e do Nascimento os

desafios para a implementaccedilatildeo do programa do Ministeacuterio da Sauacutede CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 61 - 7 a 10 dez Fortaleza Cearaacute 2009

CERVO A BREVIAN P A A Metodologia Cientiacutefica Satildeo Paulo Mc Graw-Hill 1983

CHRISTOFFEL M M SANTOS R S Navegando no mar da neonatologia um mergulho

no mundo imaginal do receacutem-nascido da UTIN Rio de Janeiro Ed EEAN 2003

COLLACcedilO V S Parto vertical vivecircncia do casal na dimensatildeo cultural do processo de

parir Florianoacutepolis Cidade Futura 2002

71

DECLERCQ E MENACKER F MACDORMAN M Rise in no indicated risk primary

caesareans in the United States 1991-2001 cross sectional analysis BMJ v330 n7482 Jan

8 p71-2 2005

DIAS M A et al Trajetoacuteria das mulheres na definiccedilatildeo pelo parto cesaacutereo estudo de caso em

duas unidades do sistema de sauacutede suplementar do estado do Rio de Janeiro Ciecircncia e Sauacutede

Coletiva 13(5) 1521-1534 setout 2008

DINIZ C S G Direitos humanos das mulheres na gravidez e no parto Projeto Gecircnero

Violecircncia e Direitos Humanos - Novas Questotildees para o Campo da Sauacutede Coletivo Feminista

Sexualidade e Sauacutede Departamento de Medicina Preventiva Faculdade de Medicina USP 2

ed 2003

_____ Entre a teacutecnica e os direitos humanos possibilidades e limites da humanizaccedilatildeo da

assistecircncia ao parto Tese (Doutorado) Satildeo Paulo (SP) Faculdade de MedicinaUSP 2001

DOU DIAacuteRIO OFICIAL DA UNIAtildeO Seccedilatildeo 1 nordm 147 2 de agosto de 2011 p 34 Agecircncia

Nacional de Sauacutede Suplementar- ANS Resoluccedilatildeo normativa nordm 262 de 1ordm agosto de 2011

Disponiacutevel em

lthttpwwwingovbrimprensavisualizaindexjspjornal=1amppagina=34ampdata=02082011gt

Acesso em 02 ago 2011

ELSEN I SOUZA A I J MARCON SS Enfermagem agrave Famiacutelia dimensotildees e

perspectivas Maringaacute p 257-267 Eduem 2011

FAUacuteNDES A CECATTI J G A operaccedilatildeo cesaacuterea no Brasil Incidecircncia tendecircncias

causas consequecircncias e propostas de accedilatildeo Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro v7

n2 p150-173 jun 1991

FIGUEREDO L G M Consequecircncias causadas pela aplicaccedilatildeo de ocitocina na induccedilatildeo de

partos Superartigos (online) 2010 Disponiacutevel em httpwwwartigosetcbrconsequencias-

causadas-pela-aplicacao-de-ocitocina-na-inducao-de-partoshtml Acesso em 15 nov 2011

FIGUEREDO N S V et al Fatores culturais determinantes da escolha da via de parto por

gestantes HU Revista Juiz de Fora v 36 n 4 p 296-306 outdez 2010

FLOYD D R The technological model of birth J Am Folklore 100 p 479-495 1987

FLOYD D R JOHN St G Del medico al sanador Traduccedilatildeo de Lauren Showe e

colaboradores Buenos Aires Fund Creavida 2004

72

FLOYD D R Perspectivas antropoloacutegicas del parto y el nacimento Traduccedilatildeo de Jaqui

Zieler Magui Cadot e Graciela Cobe Buenos Aires Fund Creavida 2009

FOUCAULT M Microfiacutesica do Poder Traduccedilatildeo de Roberto Machado 10 ed Rio de

Janeiro Graal 1992

FREITAS P F et al Desigualdade social nas taxas de cesariana em primiacuteparas no Rio

Grande do Sul Revista de Sauacutede Puacuteblica 39 p 761-7 2005

GAIVA M A M TAVARES C M O Nascimento um evento pertencente agrave equipe de

sauacutede Texto amp Contexto Enfermagem outdez 12(4)569-75 2003

GAMA A S et al Representaccedilotildees e experiecircncias das mulheres sobre a assistecircncia ao parto

vaginal e cesaacuterea em maternidades puacuteblica e privada Cadernos de Sauacutede Puacuteblica

25(11)2480-2488 nov 2009

GAMBLE et al A critique of the literature on womens request for cesarean section Birth

v34 n4 Dec p331-40 2007

GEERTZ C A Interpretaccedilatildeo das Culturas Rio de Janeiro (RJ) Livros Teacutecnicos e

Cientiacuteficos 1989

GIL A C Como elaborar projetos de pesquisa 4 ed 9 reimpr Satildeo Paulo Atlas 2007

GUALDA DMR BERGAMASCO RB Enfermagem cultura e o processo sauacutede-

doenccedila Satildeo Paulo Iacutecone p221- 240 2004

HADDAD S El M T CECATTI J G Estrateacutegias dirigidas aos profissionais para a

reduccedilatildeo das cesaacutereas desnecessaacuterias no Brasil Revista Brasileira Ginecologia Obstetriacutecia

33(5) 252-62 2011

HALL M H BEWLEY S Maternal mortalityand mode of delivery Lancet 354776

1999

HELMAN G C Cultura Sauacutede e Doenccedila Traduccedilatildeo Ane Rose Bolner 5 ed Porto Alegre

Artes Meacutedicas 2009

73

HILLAN M Short-Term Morbidity Associated with Cesarean Delivery Birth v 19 Issue 4

pages 190ndash194 Dec 1992

HOPKINS K Are Brazilian Women Really Choosing to Delivery by Cesarean Soc Sci

Med 51(5)725-40 2000

HOTIMSKY SN et al O parto como eu vejo ou como eu o desejo Expectativas de

gestantes usuaacuterias do SUS acerca do parto e da assistecircncia obsteacutetrica Cadernos de sauacutede

puacuteblica setout 18(5)1303-1311 2002

IBGE Instituto Brasileiro Geografia e estatiacutesticas Cadernos de Informaccedilatildeo de Sauacutede

Ministeacuterio da Sauacutede 2009

IPEA Objetivos de desenvolvimento do milecircnio relatoacuterio nacional de acompanhamento

coordenaccedilatildeo Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada e Secretaria de Planejamento e

Investimentos Estrateacutegicos supervisatildeo Grupo Teacutecnico para o acompanhamento dos ODM

Brasiacutelia Ipea MP SPI 2007

JONES R Memoacuterias do homem de vidro reminiscecircncias de um obstetra humanista Porto

Alegre Ideacuteias a Granel 2004

PRADO JUNIOR P P Da concepccedilatildeo ao nascimento Praacuteticas Educativas na assistecircncia agrave

mulher no periacuteodo graviacutedico e puerperal Dissertaccedilatildeo de Mestrado Centro Universitaacuterio

Pliacuteneo Leite - Unipli Niteroacutei 2008

KRUNO R B BONILHA A L L Parto domiciliar na voz das mulheres uma perspectiva agrave

luz da humanizaccedilatildeo Rev Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) dez25(3)396-407 2004

LANDERDAHL M C et al Contribuiccedilotildees de um nuacutecleo de estudos na consolidaccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas para as mulheres REUFSM Revista de Enfermagem da UFSM - janabr

1(1)71-79 2011

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro (RJ) Jorge Zahar p 21-

40 2003

LEE Y Mi DALTON M E Cesarean delivery on maternal request the impact on mother

and newborn Clinics in Perinatology v35 n3 Sept p505-18 x 2008

74

LEININGER M Culture care diversity amp universality a theory of nursing New York

(US) National League for Nursing Press 1991

LEITAtildeO F J C Autonomia da mulher em trabalho de parto (Dissertaccedilatildeo) Mestrado em

Bioeacutetica Universidade de Lisboa Faculdade de medicina Departamento de Bioeacutetica 2010

LILFORD R J et al The relative risks of caesarean section (intrapartum and elective) and

vaginal delivery a detailed analysis to exclude the effects of medical disorders and other

acute pre-existing physiological disturbances Br J Obstet Gynaecol 97883-92 1990

MACDORMAN et al Infant and neonatal mortality for primary cesarean and vaginal births

to women with no indicated risk United States 1998-2001 birth cohorts Birth v33 n3

Sept p175-82 2006

MACHADO E G C Gestaccedilatildeo parto e maternidade uma visatildeo holiacutestica Belo Horizonte

Editora Aurora 1995

MADAR J RICHMOND S HEY E Surfactantdeficient respiratory distress after elective

delivery at bdquoterm‟ Acta Paediatr v 88 p 1244-8 1999

MANDARINO N R et al Aspectos relacionados agrave escolha do tipo de parto um estudo

comparativo entre uma maternidade puacuteblica e outra privada em Satildeo Luiacutes Maranhatildeo Brasil

Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 25(7) p 1587-1596 jul 2009

MARTIN E A mulher no corpo - uma anaacutelise cultural da reproduccedilatildeo Traduccedilatildeo Juacutelio

Bandeira Rio de Janeiro Garamond 2006

MARTINS C S RAMOS J G L A questatildeo das cesarianas Rev Brasileira Ginecologia

Obstetriacutecia v27 nordm 10 Rio de Janeiro 2005

MCCOURT et al Elective cesarean section and decision making a critical review of the

literature Birth v34 n1 mar p65-79 2007

MEDEIROS R M K SANTOS IMM SILVA L R A escolha pelo parto domiciliar

histoacuteria de vida de mulheres que vivenciaram esta experiecircncia Esc Anna Nery Rev

Enfermagem dez 12(4) 765-72 2008

MELCHIORI et al Preferecircncia de gestantes pelo parto normal ou cesariano Interaccedilatildeo

psicologia 13(1)13-23 janjun 2009

75

MINAYO M C de S (org) Pesquisa Social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis

Vozes 2000

_____ O Desafio do Conhecimento pesquisa qualitativa em sauacutede 8 ed Satildeo Paulo Ed

Hucitec-Abrasco 2004

_____ O Desafio do Conhecimento pesquisa qualitativa em sauacutede 11 ed Satildeo Paulo Ed

Hucitec-Abrasco 2008

MONTICELLI M O nascimento como rito de passagem uma abordagem cultural para o

cuidado de enfermagem agraves mulheres e receacutem-nascidos (Dissertaccedilatildeo) Mestrado em

Enfermagem UFSC Florianoacutepolis 1994

MONDARDO S Proposta de reestruturaccedilatildeo dos serviccedilos da Unidade de Atenccedilatildeo agrave

Sauacutede da Vila Kennedy Santa MariaRS UFSM Santa Maria 1993

MORAES M S GOLDENBERG P Cesaacutereas um perfil epidecircmico Cad Sauacutede Puacuteblica

Rio de Janeiro 17 (3)509-519 maiojun 2001

MORELL M G G MELLO A V A Declaraccedilatildeo de Nascido Vivo no Estado de Satildeo

Paulo alguns resultados Informe Demograacutefico SEADE 29201-331 1995

MURTA et al Could elective cesarean sections influence the birth weight of full-term

infants Satildeo Paulo Medical Journal v124 p313-315 2006

ODENT M A Cesariana Traduccedilatildeo de Maria de Faacutetima de Madureira Florianoacutepolis Saint

Germain 2004

_____ A cientificaccedilatildeo do Amor Traduccedilatildeo de Marcos de Noronha e Talia Gevaerd de Souza

Florianoacutepolis Saint Germain 2000

ODENT M O camponecircs e a parteira Uma alternativa agrave industrializaccedilatildeo da agricultura e do

parto Traduccedilatildeo de Sarah Bailey Satildeo Paulo Ground 2003

OLIVEIRA et al Tipo de parto expectativas das mulheres Revista Latino-Americana de

Enfermagem v10 n 5 p 667-674 setout 2002

76

ORGANIZACAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE (OMS) Maternidade Segura - assistecircncia ao

parto normal 2009 Disponiacutevel em

lthttpabenforedesindicalcombrarqsmateria56_apdfgt Acesso em 06 dez 2010

_____ Sauacutede Materna e Neonatal Unidade de Maternidade Segura Sauacutede Reprodutiva e da

Famiacutelia Assistecircncia ao parto normal Um guia praacutetico de sauacutede materna e neonatal

Unidade de Maternidade Segura Sauacutede Reprodutiva e da Famiacutelia Genebra A Sauacutede 1996

OPAS III Reunioacuten Especial de Ministros de Salud de las Ameacutericas Atas resumidas

Santiago de Chile 2ordf 9 de octubre de 1972 Doc Oficial nordm 123 sept 1973

PELLOSO S M PANONT K T SOUZA K M P Opccedilatildeo ou imposiccedilatildeo Motivos de

escolha da cesaacuterea Arq Ciecircnc Sauacutede UNIPAR 4(1) 3-8 2000

PEREIRA W R Poder Violecircncia e Dominaccedilatildeo Simboacutelicos nos Serviccedilos de Sauacutede

Ribeiratildeo Preto 175p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem de Ribeiratildeo Preto

Universidade de Satildeo Paulo 2000

PEREIRA R R FRANCO S C BALDIN N Representaccedilotildees sociais e decisotildees das

gestantes sobre a parturiccedilatildeo protagonismo das mulheres Sauacutede sociedade v20 n3 Satildeo

Paulo julysept 2011

PETER A P C O Cuidado Cultural no Processo de Ser e Viver da Mulher Receacutem-

Nascido e Famiacutelia que Vivenciam o Parto no Domiciacutelio e no Hospital com Ecircnfase no

Contexto Domiciliar abrindo novos caminhos para a enfermagem (Trabalho de Conclusatildeo

de Curso) Graduaccedilatildeo em Enfermagem ndash Universidade Federal de Santa Catarina

Florianoacutepolis 2005

POTTER J E et al Unwanted caesarean sections among public and private patients in

Brazil prospective study BMJ 323 1155-8 2001

_____ Womens autonomy and scheduled cesarean sections in Brazil a cautionary tale

Birth 35 33-40 2008

PROGIANTI JM BARREIRA I A A obstetriacutecia do saber feminino agrave medicalizaccedilatildeo da

eacutepoca medieval ao seacuteculo XX 9 91-7 Revista Enfermagem UERJ 2001

PROJETO DIRETRIZES Associaccedilatildeo Meacutedica Brasileira e Conselho Federal de Medicina

Cesarianas indicaccedilotildees 2002

77

RAMOS J G L et al Morte materna em hospital terciaacuterio do Rio Grande do Sul um estudo

de 20 anos Rev Bras Ginecol Obstet 25 (6) 431-6 2003

REBELO F et al High cesarean prevalence in a national population-based study in Brazil

the role of private practice Acta Obstet Gynecol Scand 89 903-8 2010

RESSEL L B Vivenciando a sexualidade na assistecircncia de enfermagem Um estudo na

perspectiva cultural Escola de Enfermagem Universidade de Satildeo Paulo 2003

RESSEL L B et al A influecircncia da famiacutelia na vivecircncia da sexualidade Revista Esc Anna

Nery (impr) abrjun 15 (2)245-250 2011

REZENDE J MONTENEGRO B AC Obstetricia Fundamental 9 ed Rio de Janeiro

Guanabara Koogan 2003

ROSS L L BONILHA A L de L ARMELLINI C J et al Representaccedilotildees culturais

sobre parto e nascimento SEMANA CIENTIacuteFICA DO HOSPITAL DE CLIacuteNICAS DE

PORTO ALEGRE 26 Revista do HCPA 26 (Supl 1) 1-267 2006

SABATINO H Resposta ao polecircmico artigo Cesariana a polecircmica das taxas escrito por

Raphael da Cacircmara Medeiros Parente (Meacutedico do Ministeacuterio da Sauacutede - HSE Doutor em

Ginecologia - UNIFESP Mestre em Epidemiologia - UERJ) e publicado no Jornal do

CREMERJ ndash p 8 e 9 maio de 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwamigasdopartoorgbr2007indexphpoption=com_contentamptask=viewampid=891

ampItemid=204gt Acesso em 06 dez 2010

SANTOS M L Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia ao Parto e Nascimento um modelo teoacuterico

(Dissertaccedilatildeo) Mestrado em Enfermagem Universidade Federal de Santa Catarina

Florianoacutepolis 2002

SCAVONE L Impacto das Tecnologias Meacutedicas na Famiacutelia Sauacutede em Debate nordm40

p48-73 set 1993

SEIBERT S L BARBOSA J L S SANTOS J M VARGENS O M C

Medicalizaccedilatildeo x humanizaccedilatildeo o cuidado ao parto na histoacuteria Revista de Enfermagem

UERJ 13245-51 2005

SILVA L R A Experiecircncia na Casa de Parto Mohri-Japatildeo Revista de pesquisa Cuidado eacute

fundamental online setdez 1 (2) 288-298 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwseeruniriobrindexphpcuidadofundamentalarticleview359367gt Acesso em

13 out2011

78

SWAMY et al Association of preterm birth with long-term survival reproduction and next-

generation preterm birth JAMA v299 n12 Mar 26 p1429-36 2008

TAYLOR et al Risk of complications in a second pregnancy following caesarean section in

the first pregnancy a population-based study Medical Journal of Australia v183 n10

Nov 21 p515-9 2005

TEDESCO P R et al Fatores Determinantes para as Expectativas de Primigestas acerca da

Via de Parto Rev Bras Ginecol Obstet v26 n10 Rio de Janeiro novdez 2004

TEIXEIRA Z N F PEREIRA R W Parto Hospitalar - experiecircncias de mulheres da

periferia de Cuiabaacute - MT Cad Sauacutede Puacuteblica v25 n 11 Rio de Janeiro 2006

TELINI D M T Z Cesaacutereas e partos normais em gestantes com baixo risco obsteacutetrico

caracteriacutesticas maternas e repercussotildees neonatais (Tese) Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas

Campinas Universidade Estadual de Campinas 2000

THE LANCET Sauacutede dos Brasileiros 2011 Disponiacutevel em

lthttpwwwabcorgbrIMGpdfdoc-574pdf gt Acesso em 28 out 2011

TOMASHEK et al Differences in mortality between late-preterm and term singleton infants

in the United States 1995-2002 Journal of Pediatrics v151 n5 nov p450-6 456 2007

TRACY S K et al Admission of term infants to neonatal intensive care a population-based

study Birth v34 n4 dec p301-7 2007

TYRREL M A R CARVALHO V Programas nacionais de sauacutede-materno infantil

impacto poliacutetico social e inserccedilatildeo da enfermagem RJ EEANUFRJ 1995

VARGENS O M C PROGIANTI J M O Processo de Desmedicalizaccedilatildeo da Assistecircncia agrave

Mulher no Ensino de Enfermagem Rev Enferm USP 38 46-50 2004

VIacuteCTORA C G KNAUTH D R HASSEN M N A Pesquisa qualitativa em sauacutede

uma introduccedilatildeo ao tema Porto Alegre Tomo Editorial 2000

VIEIRA E M A Medicalizaccedilatildeo do Corpo Feminino Rio de Janeiro RJ Ed Fiocruz

2002

VIGILAcircNCIA EPIDEMIOLOacuteGICA Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria (SMS)

Dados Epidemioloacutegicos do Nuacutemero de Partos no Municiacutepio de Santa Maria - RS 2011

79

VILLAR J et al Caesarean delivery rates and pregnancy outcomes the 2005 WHO global

survey on maternal and Perinatal health in Latin America Lancet 367(9525)1819-29 2006

_____ Maternal and neonatal individual risks and benefits associated with caesarean

delivery multicentre prospective study BMJ v335 n7628 Nov 17 p1025 2007

80

ANEXOS

81

Anexo A - Aprovaccedilatildeo Comitecirc de Egravetica e Pesquisa

82

Anexo B - Autorizaccedilatildeo Emenda do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

83

84

APEcircNDICES

85

Apecircndice A - Ofiacutecio agrave Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria

Da Enfermeira Lizandra Flores Pimenta

Para Secretario Municipal de Sauacutede

Assunto Solicitaccedilatildeo (faz)

Santa Maria janeiro de 2011

Sr Secretaacuterio

Venho por meio deste solicitar a permissatildeo de V Srordf para desenvolver a pesquisa

intitulada A influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a

enfermagem junto as mulheres que satildeo atendidas na Unidade Baacutesica (UBS) de Sauacutede

Kennedy

Cumpre-se informar que esta pesquisa eacute resultado da experiecircncia na aacuterea obsteacutetrica

que me fez perceber a necessidade de compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher sobre a via de parto a partir das concepccedilotildees modernas sobre natureza e

cultura atribuiacutedos a percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto Como esclarecimento cabe

ressaltar que conforme a metodologia que pretendemos desenvolver os sujeitos da pesquisa

seratildeo consultados e esclarecidos acerca dos objetivos nos comprometendo a respeitar os

preceitos da Resoluccedilatildeo nordm19696 quanto agrave pesquisa envolvendo seres humanos

Colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios

Desde jaacute agradecemos

Atenciosamente

________________________ _______________________________

Enfordf Lizandra Flores Pimenta Profordf Enfordf Drordf Lucia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI ndash 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

86

Apecircndice B - Ofiacutecio ao Departamento de Ensino e Pesquisa do HUSM

Da Enfa Lizandra Flores Pimenta

Para Departamento de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitaacuterio de Santa Maria

Assunto Solicitaccedilatildeo (faz)

Santa Maria maio de 2011

Senhor Diretora

Venho por meio deste solicitar a permissatildeo de VS para desenvolver a pesquisa

intitulada ldquoA influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a

enfermagemrdquo junto agraves mulheres que estatildeo no momento da entrevista nos serviccedilos de

ginecologia e obstetriacutecia do HUSM quais sejam Centro Obsteacutetrico Unidade Toco-

ginecoloacutegica e Ambulatoacuterio ala II

Cumpre-se informar que esta pesquisa eacute resultado da experiecircncia na aacuterea obsteacutetrica

que me fez perceber a necessidade de compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher sobre a via de parto a partir das concepccedilotildees modernas sobre natureza e

cultura atribuiacutedas agrave percepccedilatildeo das mulheres em relaccedilatildeo ao parto Como esclarecimento cabe

ressaltar que conforme a metodologia que pretendo desenvolver os sujeitos da pesquisa seratildeo

consultados e esclarecidos acerca dos objetivos sendo que me comprometo a respeitar os

preceitos da Resoluccedilatildeo nordm 19696 quanto agrave pesquisa envolvendo seres humanos

Sem mais agradeccedilo a atenccedilatildeo dispensada colocando-me agrave disposiccedilatildeo para os

esclarecimentos que forem necessaacuterios

Atenciosamente

________________________ _______________________________

Enfordf Lizandra Flores Pimenta Profa Enfa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI - 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

87

Apecircndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ENFERMAGEM

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Pesquisadoras responsaacuteveis Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

Enfa Mestranda Lizandra Flores Pimenta

InstituiccedilatildeoDepartamento Universidade Federal de Santa Maria - Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Enfermagem

Telefones para contato (55) 91376501

(55) 91429743

Locais da coleta de dados Unidade sanitaacuteria Kennedy e Hospital Universitaacuterio de Santa

Maria

Vocecirc estaacute sendo convidada para participar da pesquisa intitulada ldquoA influecircncia da

cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a enfermagemrdquo de autoria de

Lizandra Flores Pimenta mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Enfermagem da

UFSM sob a orientaccedilatildeo da Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel que tem por objetivo

compreender como a cultura influencia no parto da mulher

Mas antes de concordar em participar desta pesquisa eacute importante que vocecirc

compreenda todas as informaccedilotildees as quais dizem respeito a sua participaccedilatildeo nesta pesquisa

Sua participaccedilatildeo consistiraacute em responder agraves perguntas feitas por mim pesquisadora durante a

entrevista a qual teraacute como auxiacutelio um gravador de voz Apoacutes as suas informaccedilotildees gravadas

seratildeo transcritas por mim de maneira a resguardar a veracidade dos dados Posteriormente

essas informaccedilotildees seratildeo organizadas analisadas divulgadas e publicadas em revistas

cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede sendo a sua identidade preservada em todas as etapas

Eacute importante que vocecirc compreenda que eacute assegurado o anonimato e o caraacuteter privativo

das informaccedilotildees fornecidas exclusivamente para a pesquisa Vocecirc natildeo seraacute identificada em

nenhum momento mesmo quando os resultados desta pesquisa forem divulgados sob

qualquer forma pois seraacute adotada a letra bdquoM‟ (M1 M2 M3) inicial da palavra mulher para

esta finalidade Tambeacutem as informaccedilotildees seratildeo mantidas em um CD no armaacuterio da professora

88

pesquisadora no Departamento de EnfermagemUFSM por cinco anos Apoacutes este periacuteodo os

dados seratildeo destruiacutedos Os dados coletados depois de organizados e analisados deveratildeo ser

divulgados e publicados ficando a pesquisadora juntamente com a professora responsaacutevel por

apresentar o relatoacuterio da pesquisa para a instituiccedilatildeo na qual seraacute realizado este estudo

Comunico que a sua participaccedilatildeo na entrevista natildeo representaraacute a princiacutepio risco agraves

suas dimensotildees fiacutesica moral intelectual social cultural ou espiritual em qualquer fase da

pesquisa No entanto poderaacute gerar algum desconforto como lembranccedilas questionamentos

eou conflitos agrave dimensatildeo emocional pelo fato da pesquisadora realizar uma entrevista na qual

vocecirc iraacute refletir sobre o seu cotidiano e suas vivecircncias Contudo poderaacute haver um benefiacutecio

no que se refere agrave melhor qualidade das praacuteticas no cuidar em enfermagem Se houver

qualquer desconforto a entrevista poderaacute ser suspensa e se vocecirc achar necessaacuterio poderei

fazer um encaminhamento a um especialista da aacuterea da sauacutede mental

Ciente e de acordo com o que foi anteriormente exposto eu __________________

estou de acordo em participar desta pesquisa assinando este Consentimento em duas vias

ficando com a posse de uma delas

_________________________________

Assinatura do sujeito de pesquisa

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntaacuteria o Consentimento Livre e

Esclarecido deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a participaccedilatildeo neste estudo

dede2011

__________________________________

Assinatura da pesquisadora

RG 3046400473

Se vocecirc tiver alguma consideraccedilatildeo ou duacutevida sobre a eacutetica da pesquisa entre em contato com

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa - CEP- UFSM Av Roraima 1000 - Preacutedio da Reitoria ndash 7ordm

andar ndash Campus Universitaacuterio ndash 97105-900 ndash Santa Maria-RS - Tel (55) 32209362 ndash E-mail

comiteeticapesquisamailufsmbr

89

Apecircndice D - Termo de confidencialidade

Tiacutetulo do estudo ldquoA influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees

para a enfermagemrdquo

Pesquisadora responsaacutevel Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

Pesquisadora Enfa Mestranda Lizandra Flores Pimenta

InstituiccedilatildeoDepartamento Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM)

Telefone para contato (55) 91376501 (55) 91429743

Locais da coleta de dados Unidade sanitaacuteria Kennedy e Centro Obsteacutetrico Unidade Toco-

ginecoloacutegica e Ambulatoacuterio ala II do HUSM

Os pesquisadores do presente projeto comprometem-se a preservar a privacidade dos

indiviacuteduos cujos dados seratildeo coletados por meio de entrevista gravada em aacuteudio MP3 e

realizada na UBS Kennedy numa sala reservada localizada no Hospital Universitaacuterio de

Santa Maria na cidade de Santa MariaRS Concordam igualmente que estas informaccedilotildees

seratildeo utilizadas uacutenica e exclusivamente para a execuccedilatildeo do presente projeto As informaccedilotildees

somente poderatildeo ser divulgadas de forma anocircnima e seratildeo mantidas em Compact Disc (CD)

por um periacuteodo de 5 (cinco) anos sob a responsabilidade da Enfordf Lizandra Flores Pimenta

Apoacutes este periacuteodo os dados seratildeo destruiacutedos Este projeto de pesquisa foi revisado e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM em 04012011 com o nuacutemero do CAAE

03170243000-10

Santa Maria de de 2011

________________________ _______________________________

Enfa Lizandra Flores Pimenta Profa Enfa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI ndash 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

90

Apecircndice E - Roteiro da entrevista com as mulheres

1 Dados de identificaccedilatildeo

Idade

Estado civil

Grau de instruccedilatildeo

Profissatildeoocupaccedilatildeo

Local de trabalho caso esteja trabalhando se natildeo indicar trabalho anterior

Raccedila

Quantos filhos

2 Sobre o parto

1 De que forma o parto e nascimento satildeo percebidos por vocecirc

2 Fale a respeito de sua experiecircncia em relaccedilatildeo aos seus partos e de outras mulheres do teu

conviacutevio

3 Existe alguma coisa em relaccedilatildeo ao parto de seus filhos que vocecirc gostaria que tivesse sido

diferente Por quecirc

4 O que vocecirc aprendeu sobre parto com teus pais irmatildeos irmatildes e outras pessoas da tua

famiacutelia

5 O que vocecirc escutou ou aprendeu sobre parto com os profissionais de sauacutede nos hospitais

e nos postos de sauacutede

6 O que vocecirc escutou ou aprendeu sobre parto em jornais revistas televisatildeo e internet

7 De que forma estes aprendizados participaram da tua decisatildeo sobre o tipo de parto

Page 10: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição

SUMAacuteRIO

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS 12

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 17

11 Poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e nascimento no

Brasil

17

12 O parto e a cultura no processo da parturiccedilatildeo 22

13 Referencial teoacuterico de Emily Martin sobre o parto e cultura 24

2 CAMINHO METODOLOacuteGICO 29

21 Fundamentos metodoloacutegicos 29

22 Os cenaacuterios do estudo 29

23 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos 31

24 Caracterizaccedilatildeo das participantes 32

25 Inserccedilatildeo em campo 34

26 Coleta de dados 33

27 Anaacutelise dos dados 34

28 Questotildees eacuteticas 35

3 ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS DADOS 37

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 61

REFEREcircNCIAS 67

ANEXOS 80

APEcircNDICES 83

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS

A gravidez e o parto satildeo eventos sociais e culturais que integram a vivecircncia

reprodutiva de homens e mulheres uma experiecircncia uacutenica no universo de ambos que envolve

tambeacutem suas famiacutelias e consequentemente a comunidade (BRASIL 2001)

O parto inscreve-se nesse universo cultural por ser um fenocircmeno que perpassa todas as

sociedades e temposespaccedilos Esse sistema de crenccedilas herdadas eacute denominado ldquocultura do

nascimentordquo a qual informa os membros da sociedade sobre a natureza de todo o processo

parturitivo da mulher e influencia seu significado em relaccedilatildeo ao tipo de parto (HELMAN

2009)

O autor supracitado diz que a gestaccedilatildeo e o parto satildeo a transiccedilatildeo do status social de

ldquomulherrdquo para o de ldquomatildeerdquo e como em todas as transiccedilotildees sociais a pessoa deve ser protegida

de qualquer dano atraveacutes de determinados rituais e comportamentos

Conforme Floyd (2009) as formas de transmitir esses comportamentos agrave parturiente

satildeo chamadas de ldquorituais da obstetriacuteciardquo dentre eles estatildeo fazer a mulher reconhecer a

deficiecircncia de seu corpo (consciente ou inconscientemente) a fim de tornaacute-la dependente da

ciecircncia e da tecnologia induzindo-a a aceitar a superioridade das instituiccedilotildees e da Medicina

em controlar seus processos naturais suas crenccedilas e seus significados individuais

Segundo Floyd (2009) eacute mais provaacutevel que esse tipo de comportamento seja

transmitido na atmosfera impessoal de um hospital do que no ambiente familiar e domeacutestico

As condiccedilotildees de nascimento apresentam significativas distinccedilotildees quando comparadas

entre diferentes realidades Nos paiacuteses ocidentais segundo Floyd (1987) o parto eacute cercado de

aparatos tecnoloacutegicos meacutedicos e essa medicalizaccedilatildeo define-o como uma disfunccedilatildeo fisioloacutegica

Jaacute nos paiacuteses orientais como exemplo o Japatildeo eacute valorizado o parto vaginal desmedicalizado

que assim como a gestaccedilatildeo natildeo eacute considerado doenccedila (SILVA 2009)

De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) 70 a 80 das gestaccedilotildees

que ocorrem no mundo satildeo consideradas de baixo risco Eis a definiccedilatildeo de parto normal

adotada pela OMS

De iniacutecio espontacircneo baixo risco no iniacutecio do trabalho de parto permanecendo

assim durante todo o processo ateacute o nascimento O bebecirc nasce espontaneamente em

posiccedilatildeo cefaacutelica de veacutertice entre 37 e 42 semanas completas de gestaccedilatildeo Apoacutes o

nascimento matildee e filho estando em boas condiccedilotildees Entretanto como o trabalho de

parto e o parto de muitas gestantes de alto risco tecircm um curso normal vaacuterias

recomendaccedilotildees tambeacutem se aplicam agrave assistecircncia dessas mulheres (OMS 2009 p9)

13

Frente a isso deve existir sempre uma razatildeo vaacutelida para se interferir nesse processo

fisioloacutegico do parto tendo como recurso para tais casos a cesariana que se trata de uma

intervenccedilatildeo meacutedica destinada agrave extraccedilatildeo do feto por via abdominal

O parto cesaacutereo eacute uma intervenccedilatildeo usada em situaccedilotildees nas quais as condiccedilotildees da matildee

e do bebecirc natildeo favorecem o parto vaginal Entretanto sua indicaccedilatildeo incorreta estaacute associada a

uma maior ocorrecircncia de mortalidade e morbidade para as parturientes tais como

hemorragias infecccedilotildees puerperais embolia pulmonar riscos anesteacutesicos bem como outras

patologias Para os bebecircs os riscos relacionam-se a distuacuterbios respiratoacuterios icteriacutecia

fisioloacutegica prematuridade iatrogecircnica hipoglicemia e anoacutexia (RAMOS 2003 VILLAR

2006 TELINI 2000)

Nessa direccedilatildeo eacute observado em nosso paiacutes nos uacuteltimos anos o aumento de partos

cesaacutereos agendados com antecedecircncia cujas indicaccedilotildees meacutedicas natildeo o justificam (MORELL

MELO 1995) Em uma pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede realizada em 2006 quase

metade (462) de todas as cesarianas foi agendada com antecedecircncia (BRASIL 2009)

Essa conduta eacute culturalmente difundida pelos profissionais da sauacutede que detecircm o

poder de modular e influenciar as demandas sobre as necessidades de sauacutede da populaccedilatildeo

(TEIXEIRA 2006) Apresentando-se sob a maacutescara da razatildeo e da necessidade essa praacutetica

desnecessaacuteria acaba por natildeo ser percebida pela maioria das mulheres que encontram

dificuldades em resistir (PEREIRA 2000)

O Ministeacuterio da Sauacutede (2001) ressalta que a informaccedilatildeo e a formaccedilatildeo de opiniatildeo entre

as mulheres satildeo prioridade no Brasil a fim de que elas possam escolher o melhor para a sua

sauacutede e para a de seus filhos pois embora profissionais e mulheres faccedilam a opccedilatildeo antecipada

do tipo de parto esse fato natildeo pode ser visto como uma simples questatildeo de preferecircncia jaacute que

cesaacuterea natildeo eacute um ldquobem de consumordquo (ODENT 2004)

Outro modo de tornar atrativo e mais agradaacutevel aos olhos das mulheres esta praacutetica de

conveniecircncia eacute o conceito contraditoacuterio de cesariana centrada na famiacutelia em que se daacute aos

pais opccedilotildees quanto ao tipo de anesteacutesico e terapia indicados para a mulher (MARTIN 2006)

Scavone (1993) explica esta valorizaccedilatildeo pelas mulheres e pela populaccedilatildeo em geral como

uma garantia meacutedica para os pais em relaccedilatildeo agrave qualidade da sua prole e da fecundidade

Ao dar respostas aos problemas obsteacutetricos e neonatais que aumentam enormemente

os iacutendices de mortalidade materna durante a gestaccedilatildeo o parto e o puerpeacuterio a medicina criou

discursos de verdade Segundo Foucault (1992 p 179)

14

As relaccedilotildees de poder natildeo podem se dissociar se estabelecer nem funcionar sem

uma produccedilatildeo uma acumulaccedilatildeo uma circulaccedilatildeo e um funcionamento do discurso

Natildeo haacute possibilidade de exerciacutecio do poder sem uma certa economia dos discursos

de verdade que funcione dentro e a partir desta dupla exigecircncia

Essa hegemonia do discurso meacutedico sobressai-se desconsiderando durante o processo

parturitivo as crenccedilas e a cultura das mulheres Eacute apenas o meacutedico quem daacute a palavra final

para duacutevidas e inquietudes das mulheres pois considera seu discurso inquestionaacutevel e

legiacutetimo (VIEIRA 2002)

Dessa forma a mulher perde sua autonomia como protagonista no processo do

nascimento

Criou-se assim uma heteronomia desfigurando-se este ato ateacute entatildeo puramente

feminino - pois natildeo era mais a mulher quem dava agrave luz - para o meacutedico como dono

e senhor do parto numa inversatildeo de papeacuteis que bdquolegitima o poder e a relaccedilatildeo da

medicina com a famiacutelia‟ (PEREIRA 2000 p17)

Essa inversatildeo de papeacuteis no cenaacuterio do parto no qual o meacutedico deteacutem o poder sobre o

corpo da mulher pode estar justificando os altos iacutendices de cesaacutereas nas uacuteltimas deacutecadas

Outra repercussatildeo desta mudanccedila de paradigma em relaccedilatildeo ao processo do nascimento

eacute a de que o parto os cuidados puerperais e com o receacutem-nascido que antigamente

transcorriam no ambiente familiar e eram envolvidos em fortes viacutenculos atualmente

transcorrem em instituiccedilotildees hospitalares onde os viacutenculos transformaram-se em meros

contatos superficiais acentuando a perda da autonomia da mulher neste processo

(MONTICELLI 1994)

O contexto do nascimento na sociedade atual mostra que a mulher parturiente estaacute

cada vez mais distante da condiccedilatildeo de protagonista da cena do parto ldquototalmente insegura

submete-se a todas as ordens e orientaccedilotildees sem entender como combinar o poder contido nas

atitudes e palavras que ouve e percebe com o fato inexoraacutevel de que eacute ela quem estaacute com dor

e quem vai parirrdquo (BRASIL 2001 p18) Fato esse constatado no aumento de cesaacutereas e

reduccedilatildeo de partos normais na rede puacuteblica no Brasil No ano de 2005 a taxa de cesaacutereas que

era de 2870 aumentou para 3610 em 2010 e em contrapartida o nuacutemero de partos

normais que em 2005 era de 7130 reduziu para 63 20 em 2010 (BRASIL 2010)

No estado do Rio Grande do Sul (RS) foi constatado por Freitas et al (2005) que os

iacutendices elevados de cesaacuterea constituem um grave problema de sauacutede puacuteblica o que pode

acarretar o mau-uso da tecnologia meacutedica na atenccedilatildeo ao parto associado a fatores sociais

econocircmicos e culturais O percentual de cesarianas que foram analisadas de 1997 a 2003 foi

de 406 para 448 respectivamente No ano de 2008 no RS segundo dados do IBGE

15

(2009) o iacutendice de cesaacutereas foi de 537

No municiacutepio de Santa MariaRS segundo dados da Vigilacircncia Epidemioloacutegica da

Secretaria Municipal de Sauacutede (SMS) no primeiro semestre de 2011 635 dos partos o que

corresponde a 1167 foram cesaacutereos o que desvela um iacutendice muito aleacutem dos 15 previstos

pela OMS O Ministeacuterio da Sauacutede (MS) estabeleceu limite para partos cesaacutereos

considerando-os de alto risco para as unidades hospitalares ateacute 40 e para unidades de risco

habitual - ateacute 25 (BRASIL 2008c)

A portaria GM nordm 466 de 14062000 retificada em 30062000 propotildee o Pacto pela

Reduccedilatildeo das Taxas de Cesaacuterea a ser firmado entre os gestores estaduais e o gestor federal

estabelecendo a taxa de 25 como desejaacutevel para todos os estados ateacute 2007 (BRASIL 2008)

Finalizar uma gestaccedilatildeo mediante uma cesaacuterea sem causa meacutedica que a justifique

ainda que esta seja a pedido da gestante eacute uma conduta meacutedica que natildeo respeita os processos

fisioloacutegicos do trabalho de parto do parto e do nascimento Por esse motivo o procedimento

ciruacutergico realizado sem indicaccedilotildees deixa de ser um procedimento fisioloacutegico tornando-se um

procedimento de risco para a matildee e para o receacutem-nascido (SABATINO 2009)

Para a abrangecircncia do tema complexidade e repercussotildees na vida das mulheres o

objeto de estudo eacute o significado que a mulher atribui ao seu parto

A justificativa para a escolha desse objeto de estudo deve-se agrave vivecircncia de dar agrave luz a

dois filhos nascidos de parto normal Letiacutecia (15 anos) e Marcos (12 anos) e de ter participado

ativamente desse processo como protagonista

Vem ao encontro disso o fato de que no decorrer da vivecircncia de dezoito anos na

assistecircncia agrave sauacutede das mulheres em maternidades e unidades baacutesicas de sauacutede e no meu

ambiente de trabalho atual como enfermeira obstetra de um hospital de ensino percebo a

intensa fragilidade das parturientes ao se submeterem a todos os procedimentos e

intervenccedilotildees sem questionamentos ao que acontece com o seu corpo durante o parto

Paralelamente agraves atividades profissionais participo como integrante do Nuacutecleo de

Estudos sobre Mulheres Gecircnero e Poliacuteticas Puacuteblicas-NEMGeP do Departamento de

Enfermagem do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Santa Maria grupo

que me despertou para as questotildees de gecircnero na temaacutetica no processo da parturiccedilatildeo O Nuacutecleo

atua em accedilotildees direcionadas agraves mulheres com abordagens que ultrapassam a dimensatildeo

bioloacutegica pois considera que as questotildees de gecircnero (cidadania empoderamento controle

social e poliacuteticas puacuteblicas) constituem referenciais fundamentais no direcionamento de

atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres (LANDERDAHL et al 2011)

16

Consultando a literatura cientiacutefica percebeu-se a ausecircncia de estudos culturais com

mulheres fora do periacuteodo graviacutedico puerperal e em cenaacuterios que natildeo sejam em maternidades

eou hospital

Alinhando-se nos argumentos acima descritos este estudo fundamentou-se no

referencial teoacuterico metodoloacutegico da abordagem socioantropoloacutegica de Emily Martin que

propotildee uma anaacutelise do fenocircmeno do parto contrapondo a delimitaccedilatildeo deste ao campo da

reproduccedilatildeo mecanicista e biomeacutedica buscando entendecirc-lo como componente essencial das

mulheres no sentido de desnaturalizar verdades muito caras vinculadas agraves concepccedilotildees

modernas de natureza e cultura Dessa forma o presente estudo traz reflexotildees que poderatildeo

repercutir na assistecircncia de enfermagem prestada agrave mulher durante o periacuteodo da parturiccedilatildeo

uma vez que auxilia na compreensatildeo das necessidades de cuidado com as parturientes a partir

da percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto e o nascimento

Com base nessas consideraccedilotildees a questatildeo norteadora de pesquisa que impulsiona

este estudo estaacute embasada no seguinte questionamento qual a participaccedilatildeo da cultura nos

saberes e as praacuteticas das mulheres em relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeo

Para responder a esta questatildeo foi definido como objetivo compreender de que forma

a cultura influencia no processo de parturiccedilatildeo da mulher

17

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

Este capiacutetulo enfoca as poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e

nascimento no Brasil bem como discute sobre parto e cultura baseando-se sobretudo nos

estudos realizados pela antropoacuteloga Emily Martin

21 Poliacuteticas puacuteblicas de atenccedilatildeo agrave sauacutede das mulheres e ao parto e nascimento no Brasil

O movimento feminista tem desempenhado um papel fundamental como instigador de

programas e poliacuteticas para as mulheres no paiacutes e sido entendido como foacuterum de debate das

questotildees da sauacutede qualidade de vida e condiccedilatildeo de cidadania feminina

Em 1974 foi implantado pelo governo o Programa de Sauacutede Materno-Infantil-PSMI

(MS74) como recomendaccedilatildeo do Plano Decenal de Sauacutede para as Ameacutericas e resultante da III

Reuniatildeo Especial de Ministros de Sauacutede das Ameacutericas que se realizou em Santiago de Chile

em 1972 Enfatizou-se nessa recomendaccedilatildeo

Formular uma poliacutetica intersetorial de proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade e agrave infacircncia

[] O programa de sauacutede e atenccedilatildeo meacutedica deveraacute ter cobertura universal

eficiecircncia operativa e acessibilidade geograacutefica institucional e financeira []

Elaborar o programa como um todo contiacutenuo que incluam as diversas atividades de

proteccedilatildeo agrave famiacutelia e em especial agrave matildee e a crianccedila orientaccedilatildeo agrave vida familiar (com

ecircnfase agrave adolescecircncia) atenccedilatildeo agraves doenccedilas ginecoloacutegicas (incluindo as veneacutereas)

diagnoacutestico precoce do cacircncer ceacutervico-uterino e do cacircncer de mama outorgar as

famiacutelias (quando isto natildeo se oponha agraves poliacuteticas nacionais) informaccedilatildeo e serviccedilo

com relaccedilatildeo agrave fertilidade e agrave esterilidade atenccedilatildeo meacutedica integral durante a gestaccedilatildeo

(matildee e feto) atenccedilatildeo ao parto e no puerpeacuterio controle do receacutem-nascido e da

crianccedila durante todas as etapas da vida especificamente no primeiro ano de vida

(OPAS 1973 p39-42)

Com isso o governo brasileiro registrou o interesse em trabalhar com o diagnoacutestico

precoce e o tratamento das doenccedilas ginecoloacutegicas incluindo as doenccedilas sexualmente

transmissiacuteveis e o cacircncer Somente no ano de 1977 a preocupaccedilatildeo eacute dirigida com mais

especificidade agrave gestaccedilatildeo ao parto e ao puerpeacuterio (TYRREL CARVALHO 1995)

O Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em 1984 em conjunto com o Ministeacuterio da Previdecircncia e

a Assistecircncia Social o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e as Secretarias Estaduais de Sauacutede e com o

apoio do movimento de mulheres implantou o Programa de Atenccedilatildeo Integral agrave Sauacutede da

Mulher (PAISM)

18

Esse programa eacute considerado um marco na histoacuteria das poliacuteticas puacuteblicas voltadas para

a sauacutede feminina e ateacute hoje eacute inspiraccedilatildeo e referecircncia na luta pela equidade de gecircnero

divulgando a importacircncia de se estabelecer um programa especiacutefico dirigido agrave mulher e de se

enfatizar certas atividades prioritaacuterias que natildeo deve ser interpretado como uma subestimaccedilatildeo

aos demais serviccedilos que a rede baacutesica deve executar mas deve ser adotado sobretudo como

estrateacutegia de mudanccedila seletiva de recursos que permitam a operacionalizaccedilatildeo de conteuacutedos de

grande prioridade vinculados agrave populaccedilatildeo feminina em todas as fases de sua vida e que

vinham sendo ateacute entatildeo negligenciados (BRASIL l984)

Em 2004 o programa foi transformado na Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agrave

Sauacutede da Mulher (MS 2004) cujo objetivo especiacutefico trecircs indica para o dever de se promover

a atenccedilatildeo obsteacutetrica e neonatal qualificada e humanizada tendo como combate agrave violecircncia de

gecircnero enfatizando a importacircncia do empoderamento das mulheres para o exerciacutecio da

autonomia e protagonismo no parto

A Poliacutetica Nacional de Humanizaccedilatildeo (MS 2004) implementada no mesmo ano

enfoca tambeacutem o respeito agraves questotildees de gecircnero etnia raccedila orientaccedilatildeo sexual com a

construccedilatildeo de autonomia e protagonismo dos sujeitos e coletivos

A I Conferecircncia Nacional de Poliacuteticas para as mulheres realizada em julho de 2004

foi muito importante na afirmaccedilatildeo dos direitos da mulher Desse evento resultou o I Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres em que foram traccediladas 4 linhas de atuaccedilatildeo sendo

uma delas a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos das mulheres o que

contribui reduccedilatildeo da morbidade e mortalidade feminina no Brasil especialmente por causas

evitaacuteveis em todos os ciclos de vida e nos diversos grupos populacionais (BRASIL 2005)

Corroborando esta afirmativa o II Plano Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres

(2008) em seu eixo sobre a sauacutede das mulheres direitos sexuais e direitos reprodutivos

postula que natildeo deve haver discriminaccedilatildeo de qualquer espeacutecie contra as mulheres

resguardando-se as identidades condiccedilotildees socioeconocircmicas e as desigualdades de gecircnero

raccedilaetnia geraccedilatildeo e orientaccedilatildeo sexual e necessitam ser consideradas na formulaccedilatildeo na

implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo de estrateacutegias de intervenccedilatildeo governamentais

Desse modo particularizar a atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher significa apenas um passo no

sentido de aumentar a capacidade resolutiva dos serviccedilos de sauacutede uma vez que haacute o desafio

de dar uma resposta efetiva aos problemas de sauacutede deste grupo de sujeitos visto conforme

Resende e Montenegro (2003) que as trecircs principais causas de morte materna no Brasil satildeo a

toxemia a hemorragia e a infecccedilatildeo puerperal as quais poderiam na maior parte dos casos

serem prevenidas Esse dado justifica a preocupaccedilatildeo com tais cuidados

19

Um dos objetivos de desenvolvimento do milecircnio (IPEA 2007) eacute melhorar a sauacutede

materna (reduccedilatildeo de trecircs quartos da mortalidade materna entre 1990 e 2015) Entretanto essa

meta do milecircnio dificilmente seraacute alcanccedilada pois grandes desafios ainda persistem a

exemplo da reduccedilatildeo das altas taxas de cesariana e nascimentos preacute-termo e no parto vaginal as

rotinas improacuteprias tais como episiotomia de rotina e intervenccedilotildees dolorosas ao bem-estar

materno e do bebecirc (THE LANCET 2011)

Para enfrentar esses desafios foi instituiacutedo pelo MS em 2000 o Programa de

Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) cujo objetivo primordial eacute ldquoassegurar a

melhoria do acesso da cobertura e da qualidade do acompanhamento preacute-natal da assistecircncia

ao parto e puerpeacuterio agraves gestantes e ao receacutem-nascido na perspectiva dos direitos de

cidadaniardquo (BRASIL 2000 p5) O Programa considera que a humanizaccedilatildeo da assistecircncia

obsteacutetrica e neonatal eacute a primeira condiccedilatildeo para o adequado acompanhamento do parto e do

puerpeacuterio (BRASIL 2000b)

A implementaccedilatildeo das accedilotildees desse programa enfrenta ainda muitos entraves

identificados e categorizados em um estudo de revisatildeo sistemaacutetica de Busanello et al (2009)

Citam-se a dificuldade de acesso aos serviccedilos de sauacutede a falta de leitos a deficiecircncia de

recursos humanos financeiros e materiais a atenccedilatildeo centrada na praacutetica intervencionista

desconsiderando o protagonismo da mulher no momento do parto e o despreparo dos

profissionais de sauacutede para a atenccedilatildeo humanizada no processo de parturiccedilatildeo sendo esta

categoria destacada como importante desafio enfrentado para concretizaccedilatildeo do PHPN

Nesse sentido o Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento - MS tem

recomendado aos serviccedilos de sauacutede que ofereccedilam uma assistecircncia digna agrave mulher aos

familiares e ao receacutem-nascido envolvendo para tanto atitude eacutetica e solidaacuteria dos

profissionais de sauacutede organizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de modo a criar um ambiente acolhedor e a

implementaccedilatildeo de rotinas hospitalares que rompam com o tradicional isolamento imposto agrave

mulher Considera-se tambeacutem necessaacuterio adotar medidas e procedimentos sabidamente

beneacuteficos para o acompanhamento do parto e do nascimento evitando-se praacuteticas

intervencionistas desnecessaacuterias (BRASIL 2000b)

Seguindo essa loacutegica o Ministeacuterio da Sauacutede tem realizado um conjunto de accedilotildees

atraveacutes de portarias ministeriais com a finalidade de estimular e regularizar a assistecircncia

obsteacutetrica aleacutem de financiar a realizaccedilatildeo de cursos de especializaccedilatildeo em enfermagem

obsteacutetrica (BRASIL 2001)

Assegura-se pela legislaccedilatildeo do exerciacutecio profissional regulamentada pela lei n

749886 e o Decreto-Lei 9440687 o direito de a enfermeira obstetra realizar assistecircncia agrave

20

parturiente e ao parto normal identificaccedilatildeo das distocias obsteacutetricas e tomada de providecircncias

ateacute a chegada do meacutedico e a realizaccedilatildeo de episiotomia e episiorrafia e aplicaccedilatildeo de anestesia

local quando necessaacuteria

Outras atribuiccedilotildees realizadas pela enfermeira obsteacutetrica que vem ganhando espaccedilo no

cenaacuterio nacional satildeo as accedilotildees de incentivo ao parto normal e as accedilotildees no atendimento preacute-

natal no qual a enfermeira eacute responsaacutevel pela educaccedilatildeo em sauacutede para as mulheres e suas

famiacutelias consulta de preacute-natal agrave gestaccedilatildeo de baixo risco solicitaccedilatildeo de exames de rotina e

prescriccedilatildeo de tratamento conforme protocolo do serviccedilo e estabelecidos em programas de

sauacutede e coleta de exame citopatoloacutegico (BRASIL 2006b)

Concorrendo nessa orientaccedilatildeo a atuaccedilatildeo da enfermeira obstetra eacute reconhecida como

primordial no processo de humanizaccedilatildeo do parto tendo como objetivo a reduccedilatildeo dos altos

iacutendices de cesaacutereas praticadas e a alta medicalizaccedilatildeo decorrentes do intervencionismo por

parte dos meacutedicos obstetras (BRASIL 2001)

Buscando proporcionar conhecimento agrave sociedade e particularmente esclarecer os

profissionais de sauacutede a OMS elaborou em 1996 um conjunto de recomendaccedilotildees de boas

praacuteticas na assistecircncia ao parto normal Essas recomendaccedilotildees foram classificadas em quatro

categorias Categoria A - praacuteticas confirmadamente uacuteteis e que devem ser estimuladas

Categoria B - praacuteticas claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas

Categoria C - praacuteticas em relaccedilatildeo agraves quais natildeo existem evidecircncias suficientes para apoiar uma

recomendaccedilatildeo clara e que devem ser utilizadas com cautela ateacute que mais pesquisas

esclareccedilam a questatildeo e Categoria D - praacuteticas frequentemente utilizadas de modo inadequado

(OMS 1996) Dentre estas categorias destacam-se neste estudo as recomendaccedilotildees que foram

classificadas como praacuteticas uacuteteis e que devem ser estimuladas

Nessa direccedilatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede implantou medidas que visam impactar e

estimular a melhoria da assistecircncia obsteacutetrica no paiacutes e humanizar o parto e nascimento

(BRASIL 2001)

Para Martins (2005) humanizar a parturiccedilatildeo eacute estar com o outro e prestar um

atendimento focado em suas necessidades eacute lembrar que no momento do parto estaacute

ocorrendo a separaccedilatildeo de dois corpos que ateacute entatildeo viviam juntos um dentro do outro em

relaccedilatildeo de dependecircncia e de iacutentimo contato

Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede (2001) os profissionais de sauacutede devem ser

coadjuvantes dessa experiecircncia direcionando toda atenccedilatildeo agraves necessidades da mulher e

oportunizando-lhe o protagonismo e o controle da situaccedilatildeo na hora do nascimento

21

Os profissionais tambeacutem devem repassar para a mulher as opccedilotildees de escolha baseados

nas evidecircncias cientiacuteficas e nos seus direitos tendo a oportunidade de empregar seu

conhecimento a serviccedilo do bem-estar da mulher e do bebecirc sabendo reconhecer os momentos

criacuteticos em que suas intervenccedilotildees satildeo necessaacuterias

Igualmente seus deveres satildeo minimizar a dor acompanhar dar conforto esclarecer

orientar enfim ajudar a parir e a nascer Precisam lembrar que satildeo os primeiros a ter contato

com cada ser que nasce e portanto devem ter consciecircncia dessa responsabilidade (BRASIL

2001)

No Brasil o movimento pela humanizaccedilatildeo do parto eacute impulsionado por experiecircncia

em vaacuterios estados Em 1994 surgiu no Rio de Janeiro a primeira maternidade puacuteblica

autodefinida como ldquohumanizadardquo que recebeu o nome de Leila Diniz (DINIZ 2005) Outro

marco em termos de poliacuteticas puacuteblicas do parto e nascimento foi a criaccedilatildeo do Precircmio Galba

Arauacutejo para Maternidades Humanizadas instituiacutedo pela portaria nordm 2883 de 4 de junho de

1998 (BRASIL 1998)

Os criteacuterios para a concessatildeo deste precircmio satildeo baseados na adesatildeo agraves recomendaccedilotildees

da OMS tais como a presenccedila de acompanhantes no preacute-parto parto e poacutes-parto a assistecircncia

aos partos de baixo risco por enfermeiras obstetras e o controle das taxas de cesaacuterea

(BRASIL 2000b)

Concedido a niacutevel estadual e nacional o precircmio Galba de Arauacutejo tem provocado

mobilizaccedilatildeo nas instituiccedilotildees de Sauacutede que lutam em defesa dos direitos das mulheres e

crianccedilas e tem recebido a participaccedilatildeo de um nuacutemero crescente de serviccedilos a cada ediccedilatildeo

contribuindo para conferir legitimidade ao modelo humanizado (DINIZ 2005)

O Centro de Parto Normal-CPN foi outra iniciativa criada pela portaria nordm 985 de

agosto de 1999 que tem como finalidade o atendimento agrave mulher no periacuteodo graviacutedico-

puerperal tendo como uma das suas atribuiccedilotildees prestar atendimento humanizado e de

qualidade exclusivamente ao parto normal sem distoacutecia assistido por enfermeira obsteacutetrica

desenvolvendo atividades educativas e de humanizaccedilatildeo durante o preacute-natal visando agrave

preparaccedilatildeo das gestantes para o parto no CPN (BRASIL 1999)

A Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar (ANS) do Ministeacuterio da Sauacutede em janeiro

de 2008 atraveacutes da Resoluccedilatildeo Normativa nordm 167 reviu o Rol de Procedimentos e Eventos em

Sauacutede e ampliou as coberturas para as beneficiaacuterias de planos de sauacutede A partir de abril de

2008 deu-se a inclusatildeo na cobertura dos partos feitos por enfermeira obstetras e a presenccedila de

um acompanhante durante toda a estada da mulher no hospital desde o momento do parto ateacute

a sua alta (ANS 2008b)

22

Destaca-se tambeacutem que a partir do ano de 2005 a lei nordm 11108 passou a garantir agraves

parturientes o direito agrave presenccedila de acompanhante de sua preferecircncia durante o trabalho de

parto parto e poacutes-parto Outra iniciativa lanccedilada pela ANS na tentativa de estimular o

aumento de partos normais e modificar os altos iacutendices de cesarianas desnecessaacuterias na rede

privada foi a campanha em favor do parto normal intitulada Parto normal estaacute no meu

plano (ANS 2008a)

Em junho de 2008 foi divulgada a Resoluccedilatildeo RDC 36 da Agecircncia Nacional de

Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA) a qual preconiza que os serviccedilos de atendimento obsteacutetrico e

neonatal devem adotar medidas que incentivem o parto humanizado e a reduccedilatildeo dos iacutendices

de mortalidade materna e neonatal no paiacutes (BRASIL 2008b)

Tambeacutem devido a algumas maternidadeshospitais estarem fazendo uma cobranccedila

indevida para a presenccedila do acompanhante na sala de parto destinada a cobrir os gastos com a

limpeza e higienizaccedilatildeo das roupas ciruacutergicas e o uso de maacutescaras e toucas descartaacuteveis

utilizadas pelo acompanhante da gestante a ANS publicou em 02082011 a Resoluccedilatildeo

Normativa 262 (ANS 2011) Essa normativa define que as despesas a serem cobertas para o

acompanhante durante o preacute-parto parto e poacutes-parto imediato deve incluir taxas de

paramentaccedilatildeo acomodaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo pelo periacuteodo de 48h podendo se estender por ateacute

10 dias quando indicado pelo meacutedico assistente (DOU 2011)

Em junho de 2011 foi instituiacuteda a iniciativa da Rede Cegonha atraveacutes da portaria nordm

1459 de 24 de junho de 2011 no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede com o intuito de

fomentar a implementaccedilatildeo de novo modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher com foco na

atenccedilatildeo ao parto

Esta poliacutetica tendo como princiacutepios o respeito a proteccedilatildeo e a realizaccedilatildeo dos direitos

humanos o respeito agrave diversidade cultural eacutetnica e racial a promoccedilatildeo da equidade com o

enfoque de gecircnero a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos de mulheres

homens jovens e adolescentes a participaccedilatildeo e a mobilizaccedilatildeo com controle social e a

compatibilizaccedilatildeo com as atividades das redes de atenccedilatildeo agrave sauacutede materna e infantil em

desenvolvimento nos Estados (BRASIL 2011)

12 O parto e a cultura no processo da parturiccedilatildeo

Historicamente o parto jaacute foi vivenciado como um evento feminino no qual os

membros do grupo social da parturiente como a matildee familiares vizinhas auxiliavam-na

23

juntamente agrave parteira que tinha seus conhecimentos fundamentados na praacutetica e na

acumulaccedilatildeo de saberes passados tradicionalmente de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo (SANTOS 2002)

No entanto no seacuteculo XVIII na Europa o parto passou por um processo de

transformaccedilatildeo principalmente devido agrave influecircncia biomeacutedica masculina De um evento

feminino domiciliar e fisioloacutegico passa a ser patoloacutegico e institucionalizado dominado por

uma praacutetica intervencionista e hospitalocecircntrica da qual a mulher perdeu seu protagonismo

(SANTOS 2002)

A percepccedilatildeo da dor no parto eacute considerada como um dos motivos que influenciam a

mulher em sua preferecircncia pela cesaacuterea e estaacute profundamente arraigada no imaginaacuterio

popular como um evento associado agrave purgaccedilatildeo feminina Relaciona-se neste sentido agrave

citaccedilatildeo do Livro Biacuteblico de Gecircnesis que se refere agrave Eva como o primeiro ser humano que

pecou e acabou por corromper o resto da humanidade com sua transgressatildeo ouvindo de Deus

ldquoe tu mulher pariraacutes com dor os teus filhosrdquo (TEIXEIRA 2006)

A ideacuteia de que a mulher deve pagar no parto por seus pecados propagada pela

medicina e pela religiatildeo hegemocircnica contrapotildee-se agrave visatildeo do parto como um momento

prazeroso Esse sentido pode ser entendido como uma heresia e uma ameaccedila a um sistema de

crenccedilas que define o parto como um processo doloroso que faz mal agrave sauacutede e agrave sexualidade

feminina e que precisa ser controlado por aparatos meacutedicos (DINIZ 2011)

De acordo com Helman (2009) a dor e seus aspectos voluntaacuterios satildeo influenciados por

fatores sociais culturais e psicoloacutegicos que determinam se a dor privada seraacute traduzida e em

que tipo de comportamento quando for puacuteblica Isso estaacute muito imbricado ao significado

pessoal de que a mulher atribui agrave dor do parto ao contexto de vida em que estaacute inserida agraves

definiccedilotildees culturais da imagem corporal da estrutura e funccedilotildees do seu corpo

Ressalta-se nessa direccedilatildeo que a posiccedilatildeo das mulheres frente ao processo de

medicalizaccedilatildeo natildeo foi propriamente a de viacutetima As mulheres de classe mais alta natildeo mais

aceitavam sentir a dor do parto e natildeo desejavam correr mais riscos aleacutem de o ato de parir com

a assistecircncia de um meacutedico significar maior poder aquisitivo de seus maridos Com isso a

consolidaccedilatildeo do processo de medicalizaccedilatildeo e hospitalizaccedilatildeo do parto acontece em meados do

seacuteculo XX motivada por tais condiccedilotildees (VARGENS PROGIANTI 2004)

No Brasil o processo de institucionalizaccedilatildeo do parto isto eacute a ocorrecircncia dos partos

dentro de instituiccedilotildees hospitalares deu-se ao longo da deacutecada de 40 com o advento da

medicina preventiva cujo objetivo principal era reduzir a mortalidade infantil Somente mais

tarde a partir da deacutecada de 80 passou-se a justificar o processo de medicalizaccedilatildeo do parto

por meio da recorrecircncia das cesarianas para reduzir a mortalidade materna (BRASIL 2001)

24

Os meacutedicos natildeo acostumados ao acompanhamento de fenocircmenos fisioloacutegicos foram

instruiacutedos a intervir resolver casos complicados e ditar ordens O parto passou entatildeo a ser

visto como um ato ciruacutergico e a mulher parturiente sendo tratada como enferma foi

impedida de seguir seus instintos e de adotar a posiccedilatildeo mais cocircmoda e fisioloacutegica (BRASIL

2001)

Privada do direito baacutesico de escolha e autonomia no nascimento do proacuteprio filho deu-

se iniacutecio agrave era do parto medicalizado no qual a matildee deixa de ser a protagonista do processo

cedendo seu lugar agrave equipe meacutedica que passa a ser o centro da cena Diversas repercussotildees

advecircm desta mudanccedila As posiccedilotildees verticalizadas que ao longo dos milecircnios foram as mais

usadas pelas mulheres em todas as raccedilas e culturas passaram a ser negadas agraves parturientes

pelos meacutedicos (MACHADO 1995)

A posiccedilatildeo assumida pela parturiente e a sua livre movimentaccedilatildeo passaram a ser

praticamente negligenciadas por profissionais alinhados agrave praacutetica ocidental moderna na qual

a mulher em trabalho de parto manteacutem-se deitada horizontalmente ou em uma posiccedilatildeo semi

inclinada para conveniecircncia da equipe obsteacutetrica na aplicaccedilatildeo dos soros monitores e

anesteacutesicos Evidecircncias de estudos etnograacuteficos realizados atualmente mostram que as

mulheres que natildeo satildeo expostas a essas rotinas assumem posiccedilotildees verticais no trabalho de

parto e no parto (BALASKAS 2008)

Balaskas (2008) reforccedila ainda que um parto ativo eacute uma atitude mental de crenccedila na

natureza do processo do parto e o modo como a mulher segue a loacutegica de seus instintos e da

sua fisiologia eacute uma forma de manifestar que estaacute no controle do seu corpo durante o trabalho

de parto e nascimento e que natildeo eacute um mero objeto de intervenccedilatildeo da equipe obsteacutetrica Os

significados culturais dados aos fenocircmenos fisioloacutegicos psicoloacutegicos e sociais de uma

sociedade refletem o comportamento das pessoas e ateacute a forma de desenvolvimento poliacutetico

econocircmico de dada sociedade (HELMAN 2009)

13 Referencial teoacuterico de Emily Martin sobre o parto e cultura

Segundo a antropoacuteloga Emily Martin (2006) a metaacutefora do uacutetero como maacutequina teve

iniacutecio no decorrer dos seacuteculos XVII e XVIII nos hospitais franceses Esta metaacutefora compara

o uacutetero a uma bomba mecacircnica capaz de expelir o feto Importante assinalar que nesta eacutepoca

que o foacuterceps era instrumento utilizado por accedilougueiros barbeiros falidos cujo status social

25

era equivalente ao de um mecacircnico De acordo com Vieira (2002) as regulamentaccedilotildees para

partejar exigiam que esses homens fossem chamados pelas parteiras para manipular os

instrumentos

A partir do seacuteculo XIX a ideologia de produccedilatildeo das faacutebricas torna-se tatildeo abrangente

que ldquochegardquo aos corpos das mulheres os quais passam a ser vistos nos textos de obstetriacutecia

como faacutebricas para a produccedilatildeo de bebecircs Martin (2006) propotildee utilizar esta metaacutefora de

produccedilatildeo fabril para entender o processo de trabalho em que meacutedico e a mulher estatildeo

envolvidos

Nesta metaacutefora segundo a autora acrescenta-se a figura do meacutedico no papel de

supervisor ou ateacute dono da faacutebrica e a mulher no papel de trabalhadora cuja maacutequina (uacutetero)

produz o produto (bebecirc) O olhar a partir de metaacuteforas de acordo com a pesquisadora

permite comparar as mesmas formas de controle e poder que ocorrem no acircmbito da produccedilatildeo

industrial ou seja de controlar os movimentos dos trabalhadores conforme a produccedilatildeo da

progressatildeo em periacuteodos especiacuteficos de tempo da maacutequina (uacutetero) para avaliar e controlar se

as contraccedilotildees uterinas satildeo eficientes ou ineficientes (MARTIN 2006)

A autora supracitada questiona o papel de passividade da mulher em relaccedilatildeo agraves

contraccedilotildees uterinas que consideradas pela ciecircncia meacutedica involuntaacuterias e inclusive

responsaacuteveis totais pela realizaccedilatildeo do parto Rezende e Montenegro (2003) comenta que no

periacuteodo expulsivo as contraccedilotildees satildeo realizadas com a glote fechada e com esforccedilos

respiratoacuterios verdadeiros chamados ldquopuxosrdquo Em nenhum momento foi mencionado que eacute a

parturiente que faz esse esforccedilo Outro exemplo de exclusatildeo do papel mulher em seu processo

de parto eacute o foco no feto conforme a citaccedilatildeo de Rezende e Montenegro (2003 p177) ldquono seu

transcurso atraveacutes do canal parturitivo impulsionado pela contratilidade uterina o feto eacute

compelido a executar certo nuacutemero de movimentos que se denominam mecanismo do partordquo

Assim sendo a metaacutefora utilizada por Martin (2006) desvela uma perspectiva que apresenta

as mulheres gestantes como ldquomateacuteria-primardquo para a produccedilatildeo de um ldquoprodutordquo

Nessa direccedilatildeo torna-se imprescindiacutevel para a produccedilatildeo de bebecircs perfeitos a

intervenccedilatildeo da cesaacuterea exigindo um miacutenimo de trabalho do uacutetero e da mulher atribuindo a

esse procedimento a imagem de ldquouacutenica graccedila salvadorardquo do bebecirc Este posicionamento

segundo a autora ignora o que talvez seja extremamente significante para a mulher e para seu

bebecirc ter a oportunidade de vivenciar o nascimento do seu filho (a) atraveacutes do seu proacuteprio

esforccedilo experimentando o protagonismo no seu parto e no nascimento da crianccedila

O mecanismo do parto conforme Rezende eacute o estudo da mecacircnica do parto o que

vem ao encontro da metaacutefora do uacutetero como maacutequina

26

A cultura meacutedica segundo Martin (2006) seria um sistema cultural cujas ideais

sobressaem-se agrave cultura popular

A autora faz ainda referecircncia a textos em obstetriacutecia da Universidade Johns Hopkins

nos EUA que comprovam que causas externas podem interferir nas atividades uterinas e que

tais alteraccedilotildees emocionais da mulher quase natildeo satildeo levadas em consideraccedilatildeo na obstetriacutecia

tendo como consequecircncia o aval para intervenccedilotildees como amniotomias uso de ocitocina para

acelerar o trabalho de parto ou a utilizaccedilatildeo da cesariana considerando desnecessaacuterias as

contraccedilotildees (MARTIN 2006)

A participaccedilatildeo do meacutedico como promotor de uma cultura intervencionista foi

destacada em um estudo nacional realizado pela socioacuteloga americana Hopkins (2000) com

pueacuterperas de cliacutenicas privadas e puacuteblicas Segundo o estudo das mulheres que fizeram

cesariana trecircs em quatro das primiacuteparas do setor privado e oito em dez do setor puacuteblico

gostariam de ter tido partos vaginais Observou-se que o meacutedico obstetra promove os medos

nas gestantes em relaccedilatildeo ao parto e superestima a seguranccedila da cesariana em funccedilatildeo dos seus

interesses

Para Martin (2006) a alienaccedilatildeo e a condiccedilatildeo fragmentada constadas na linguagem e

de algumas mulheres satildeo descritas como uma autopercepccedilatildeo passiva sendo contrastadas com

discursos de mulheres que questionam se opotildeem rejeitam e reformulam suas formas de viver

e as maneiras como a sociedade poderia funcionar apresentando uma autopercepccedilatildeo que tenta

resistir agrave passividade

As mulheres que optam pelo parto domiciliar saem dessa passividade buscam outras

formas de serem ativas no seu parto e reivindicam seu espaccedilo no ato de parir questionando o

paradigma atual de assistecircncia ao parto preconizado nas instituiccedilotildees hospitalares (KRUNO

BONILHA 2004)

No estudo etnograacutefico realizado por Martin (2006) em Baltimore (EUA) encontra-se

a narrativa de uma mulher que resiste a essa maneira de fragmentaccedilatildeo exprimindo a sua

frustraccedilatildeo em relaccedilatildeo ao parto cesariano imposto pela conduta meacutedica A narradora conta

com raiva a sua experiecircncia com a cesariana por ter perdido a cena do nascimento devido agrave

limitaccedilatildeo e ao jejum impostos pela anestesia natildeo podendo realizar os primeiros cuidados do

seu bebecirc aleacutem da proibiccedilatildeo de se alimentar por horas e limitando-se a nutrientes para a

recuperaccedilatildeo mais eficaz da cirurgia

A necessidade de compreensatildeo do parto enquanto parte integrante da vida sexual

emocional e cultural da mulher eacute proposta por Odent (2000) como o entendimento das bases

fisioloacutegicas e a integraccedilatildeo entre diferentes momentos da vida Sua hipoacutetese eacute a de que o

27

cuidado com o modo como nascemos e com a vinculaccedilatildeo amorosa matildee-bebecirc pode propiciar a

construccedilatildeo de uma sociedade mais amorosa menos destrutiva e de mais respeito pelos seres

humanos e pela natureza Esse paradigma holiacutestico tambeacutem referendado por Floyd (2004)

que destaca como elemento fundamental no processo do parto o contato das mulheres consigo

mesmas como um estado especial de consciecircncia similar agraves relaccedilotildees entre os estados

orgaacutesticos agrave oraccedilatildeo e agraves emoccedilotildees miacutesticas Nesse momento as funccedilotildees intelectuais

neocorticais devem estar colocadas em segundo plano proporcionando a expressatildeo de

funccedilotildees cerebrais mais instintivas caracteriacutesticas do parto e do aleitamento

Segundo Martin (2006) os esforccedilos para oferecer este novo paradigma que devolve agrave

mulher o controle do seu corpo no parto satildeo extraordinaacuterios O que natildeo deve permanecer

ainda que subliminarmente eacute a ideologia dominante de nossa sociedade na qual as mulheres

ao darem a luz de maneira mais aproximada do parto natural satildeo consideradas desprovidas de

cultura e consequentemente inferiores por aproximarem-se da natureza ldquoprimitivardquo como se

andassem para traacutes no tempo e na evoluccedilatildeo

Historicamente esta divisatildeo da cultura e da natureza fomentada pelos escritores do

seacuteculo XIX surgiu a partir do desenvolvimento das sociedades ocidentais e da

industrializaccedilatildeo sendo organizada em torno de dois mundos a esfera privada dentro de casa

que eacute evidenciada pertencente agrave mulher onde ocorrem funccedilotildees ditas ldquonaturaisrdquo e a esfera

puacuteblica fora de casa na qual os homens estatildeo em maior evidecircncia e onde se produz ldquoculturardquo

a qual eacute considerada atividade superior evidenciada aos homens e vista como dominante

(MARTIN 2006)

Essa forma de pensar relega a mulher ao domiacutenio do natural do inferior e da

domesticidade considera-a mais simples animalesca e livre de autocensuras Compreende

que haacute uma iniquumlidade entre natureza e cultura e que ao ldquosubmeterrdquo a mulher a fenocircmenos

totalmente naturais como o parto normal estamos reafirmando a concepccedilatildeo da mulher como

um ser mais primitivo que pertence somente agrave natureza (MARTIN 2006)

Reflete-se por outro lado de acordo com Gama (2009) que o modelo de organizaccedilatildeo

dos serviccedilos puacuteblicos e privados apresenta variaccedilotildees que produzem diferentes tipos de

assistecircncia e de relaccedilatildeo entre os profissionais de sauacutede e as usuaacuterias dando forma agraves

experiecircncias distintas entre as mulheres pesquisadas

Ao empreender uma criacutetica assentada nas relaccedilotildees de gecircnero Gama (2009) verificou

que o modelo de assistecircncia ao parto permanece submetendo quem deve ser sujeito e reproduz

o projeto da medicalizaccedilatildeo Isso reduz o campo da assistecircncia e inviabiliza um lugar de poder

diferenciado das usuaacuterias sendo a cesariana utilizada como um procedimento de alta

28

rentabilidade para a medicina obsteacutetrica privada conforme a citaccedilatildeo da antropoacuteloga Emily

Martin

Se a cesariana torna-se uma fonte de honoraacuterios mais altos para os meacutedicos e contas

hospitalares mais altas que o parto vaginal eacute de se esperar que encontremos mais

cesarianas sendo realizadas em mulheres no alto da escala de classe e raccedila

(MARTIN 2006 p 235)

Tal constataccedilatildeo justifica a demanda dos altos iacutendices de cesaacuterea no Brasil com a forma

como se organizou a assistecircncia obsteacutetrica e a formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que

reproduzem no cotidiano esse sentido tecnoloacutegico do parto e do nascimento

Com a invasatildeo da tecnologia a mulher perdeu sua autonomia como protagonista uma

vez que no modelo intervencionista da atual assistecircncia obsteacutetrica ela tornou-se objeto da

accedilatildeo e vem perdendo o controle e a decisatildeo sobre o proacuteprio processo de parto e de

nascimento Essa realidade pode afetar profundamente as mulheres os bebecircs as famiacutelias e

produzir efeitos importantes e persistentes sobre a sociedade (DINIZ 2001)

Ratifica-se nas palavras de Dias (2008) que a perda do protagonismo da mulher no

cenaacuterio do parto reflete-se nos altos iacutendices de cesaacutereas nas uacuteltimas deacutecadas no Brasil Por

outro lado a mudanccedila no modelo de assistecircncia ao parto pode ser uma estrateacutegia promissora

para a reversatildeo desse quadro jaacute que os fatores associados agrave decisatildeo da cesariana independem

do desejo da mulher

A mudanccedila para outro modo de parir mais conectado com todas as forccedilas da vida e da

cultura das mulheres pode possibilitar a construccedilatildeo de um modelo humaniacutestico com vistas ao

holiacutestico e agrave expressatildeo de um tempo de uma cultura de um avanccedilo das praacuteticas obsteacutetricas

do parto com a convivecircncia de muacuteltiplos paradigmas da assistecircncia

29

2 CAMINHO METODOacuteLOGICO

21 Fundamentos metodoloacutegicos

A presente investigaccedilatildeo constitui-se como uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva

A pesquisa qualitativa abarca o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores

e atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees (MINAYO 2004) A

metodologia qualitativa pode possibilitar aleacutem de uma interpretaccedilatildeo com lentes ampliadas do

objeto de estudo uma inserccedilatildeo na cultura do ldquooutrordquo (GEERTZ 1989)

Para Leopardi (2001) e Minayo (2008) o estudo qualitativo compreende a descriccedilatildeo e

a anaacutelise da realidade de diferentes maneiras para representar as experiecircncias do fenocircmeno

vivenciadas pelos indiviacuteduos Haacute uma implicaccedilatildeo entre o conhecimento sobre o mundo e os

sujeitos que o constroem numa relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto Logo a

interpretaccedilatildeo do fenocircmeno atribuindo-lhe significados faz parte do processo de

conhecimento tanto do sujeito pesquisador quanto dos atores pesquisados Eacute comumente

utilizada por pesquisadores sociais preocupados com a atuaccedilatildeo praacutetica (GIL 2007)

A pesquisa descritiva trabalha sobre dados ou fatos colhidos da proacutepria realidade do

indiviacuteduo ou de grupos e comunidades mais complexas Busca conhecer as diversas situaccedilotildees

e relaccedilotildees que ocorrem na vida social poliacutetica econocircmica e cultural principalmente nas

ciecircncias humanas e sociais objetivando abordar dados e problemas relevantes cujo registro

natildeo consta de documentos (CERVO BERVIAN DA SILVA 2007)

22 Os cenaacuterios do estudo

Esta pesquisa foi prevista inicialmente para ser somente desenvolvida na Unidade

Sanitaacuteria Kennedy (USK) no municiacutepio de Santa Maria - RS pelo fato de ser campo de aulas

praacuteticas e de estaacutegio supervisionado para os alunos do Curso de Enfermagem da Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM) onde satildeo realizadas accedilotildees de promoccedilatildeo agrave sauacutedecidadania de

crianccedilas adolescentes mulheres e adultos A aacuterea de abrangecircncia da USK inclui dezoito vilas

30

compreendendo uma populaccedilatildeo de aproximadamente trinta mil habitantes Em relaccedilatildeo agrave

escolaridade os natildeo alfabetizados e os indiviacuteduos que possuem o primeiro grau incompleto

perfazem 83 da populaccedilatildeo A renda per capita de 58 das pessoas e ateacute um salaacuterio miacutenimo

e 27 recebem um a dois salaacuterios miacutenimos Esta regiatildeo ainda hoje caracteriza-se por um alto

iacutendice de desemprego criminalidade desnutriccedilatildeo doenccedilas infecto-contagiosas aleacutem da

precariedade de saneamento baacutesico e de habitaccedilatildeo (MONDARDO et al 1993)

Poreacutem devido a dificuldades de infra-estrutura na referida unidade foi solicitada

transferecircncia de campo da pesquisa para o Hospital Universitaacuterio de Santa Maria (HUSM)

atraveacutes de ementa ao Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM) (Anexo B) estipulando como os locais de coleta os serviccedilos de ginecologia e

obstetriacutecia do hospital

As dificuldades encontradas foram inerentes ao objeto da pesquisa aleacutem de problemas

teacutecnico-administrativos na USK Os problemas de natureza e objeto concernem aos criteacuterios

de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos dada a ausecircncia de mulheres encaixadas em tais criteacuterios

no grupo de planejamento familiar na USK

Os problemas teacutecnico-administrativos foram relativos agrave infra-estrutura da USK que

estava funcionando em um local menor durante os procedimentos de reforma no preacutedio da

instituiccedilatildeo

Outras estrateacutegias foram realizadas na busca por sujeitos como a visita nos dias e

horaacuterios da consulta puericultura visando encontrar mulheres dentro dos criteacuterios que

viessem acompanhando os seus filhos na consulta contudo a tentativa natildeo obteve sucesso

pois era o grande nuacutemero de mulheres dentro dos criteacuterios de exclusatildeo neste caso pueacuterperas

O HUSM entatildeo foi o outro cenaacuterio escolhido para a coleta de dados que justificou-se

pela diversidade de serviccedilos de atendimento oferecidos a mulheres e de profissionais do sexo

feminino que laacute trabalham principalmente da enfermagem o que foi bastante significativa

para o estudo Solicitou-se entatildeo a autorizaccedilatildeo ao Departamento de Ensino e Pesquisa

(DEPE) do HUSM para realizaccedilatildeo da pesquisa neste serviccedilo e autorizada pelo CEP da UFSM

atraveacutes de emenda (Anexo B) para a ampliaccedilatildeo do cenaacuterio e do periacuteodo de coleta de dados

O HUSM eacute um hospital-ensino fundado no ano de 1970 que serve como base de

atendimento primaacuterio dos bairros que o cercam para o atendimento secundaacuterio agrave populaccedilatildeo

de Santa Maria e para o atendimento terciaacuterio da regiatildeo centro e fronteira gauacutecha O hospital

constitui-se como centro de ensino pesquisa e extensatildeo no acircmbito das Ciecircncias da Sauacutede

aleacutem de centro de programaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de accedilotildees voltadas agrave sauacutede das comunidades

local e regional Tambeacutem presta serviccedilos assistenciais em todas as especialidades meacutedicas

31

bem como serve de treinamento para alunos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Medicina

Residecircncia Meacutedica e de graduaccedilatildeo em Enfermagem Farmaacutecia Fonoaudiologia e

Fisioterapia

Satildeo serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia do HUSM

a unidade de Internaccedilatildeo do Centro Obsteacutetrico situada no sub- solo do HUSM

provida de seis leitos de internaccedilatildeo para mulheres em trabalho de parto ou no poacutes-parto

quatro leitos de internaccedilatildeo poacutes-cesaacuterea trecircs leitos de observaccedilatildeo para o atendimento de

intercorrecircncias ginecoloacutegicas e agrave mulher viacutetima de violecircncia

a unidade de internaccedilatildeo Toco-ginecoloacutegica situada no 2ordm andar do HUSM

onde se atendem pueacuterperas gestantes de alto-risco e mulheres em tratamento ginecoloacutegico

Possui trinta e sete leitos dos quais onze satildeo destinados agrave cliacutenica ginecoloacutegica e vinte e seis agrave

obstetriacutecia

o ambulatoacuterio da ala II que eacute localizado no teacuterreo e atende consultas de preacute-

natal puerpeacuterio e ginecologia

Destaca-se que nas unidades referidas circula um grande nuacutemero de familiares do

sexo feminino que acompanham as gestantes pueacuterperas e as mulheres internadas para

tratamento ginecoloacutegico

23 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo dos sujeitos

Os criteacuterios de inclusatildeo foram mulheres que jaacute tiveram filhos por via vaginal ou

cesariana que natildeo estavam gestando nem eram puerpeacuteras e cujos partos ocorreram a partir do

ano de 2004 tendo como marco referencial o Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e

Nascimento do Ministeacuterio da Sauacutede Este programa foi criado em 2000 pelo Ministeacuterio da

Sauacutede mas implantado em todos os municiacutepios do Rio Grande do Sul somente em 2004

Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo mulheres nuliacuteparas mulheres

gestantes e pueacuterperas uma vez que o processo de parturiccedilatildeo ocorrendo em periacuteodo proacuteximo

ou concomitante agrave entrevista poderia influenciar nas respostas devido mais a aspectos

fisioloacutegicos e emocionais relacionados agrave dor do parto do que por aspectos culturais

32

24 Caracterizaccedilatildeo das participantes

Este estudo foi realizado com oito mulheres em idade feacutertil com histoacuteria pregressa de

parto vaginal ou cesariano quatro mulheres foram captadas na USK e quatro no HUSM

Foram convidadas para entrevistas mulheres que buscavam o atendimento no programa de

planejamento familiar da USK mulheres que buscavam o atendimento no HUSM nos

serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia e mulheres que estavam no momento da entrevista nos

serviccedilos de ginecologia e obstetriacutecia do HUSM

Para finalizaccedilatildeo da coleta foi utilizado o criteacuterio de saturaccedilatildeo de dados por

reincidecircncia ou seja quando da repeticcedilatildeo dos dados a coleta foi entendida como satisfatoacuteria

e entatildeo suspensa (VIacuteCTORA KNAUTH HASSEN 2000)

As participantes do estudo foram identificadas pela letra M de mulher e um nuacutemero

escolhido por ordem de entrevista (M1-M8) sendo caracterizadas no que se refere aos

aspectos soacutecio-culturais de idade estado civil escolaridade regiatildeo de moradia nuacutemero de

filhos ocupaccedilatildeo e tipo de parto vivenciado conforme descrito abaixo

Mulher 1 - 34 anos 2ordf grau completo casada teacutecnica de enfermagem Com quatro

filhos nascidos de partos normais

Mulher 2 - 24 anos 1ordm grau completo diarista casada Com uma filha tem uma

cesaacuterea

Mulher 3 - 28 anos 2ordf grau completo teacutecnica de enfermagem solteira uniatildeo estaacutevel

Com um filho nascido de parto normal

Mulher 4 - 22 anos 2ordf grau incompleto solteira operadora de caixa de supermercado

Com um filho fez uma cesaacuterea

Mulher 5 - 32 anos 1ordm grau completo do lar casada Com um filho nascido de parto

normal e o outro fez uma cesaacuterea

Mulher 6 - 35 anos 3ordm grau completo enfermeira casada Com dois filhos fez duas

cesaacutereas

Mulher 7- 28 anos 1ordm grau completo empregada domeacutestica uniatildeo estaacutevel Tem quatro

filhos nascidos de partos normal

Mulher 8 - 27 anos 2ordf grau imcompleto dona de casa divorciada Com quatro filhos

fez quatro cesaacutereas

Todas estavam na faixa etaacuteria entre 22 e 35 anos Quanto ao estado civil seis satildeo

casadas uma divorciada e uma solteira poreacutem com uniatildeo estaacutevel no momento da entrevista

33

O niacutevel de escolaridade apresentou trecircs mulheres com ensino meacutedio completo uma

com incompleto trecircs com ensino fundamental completo e uma com curso superior

Todas as participantes satildeo moradoras da zona urbana do municiacutepio

Quanto ao nuacutemero de filhos o grupo em estudo tem uma meacutedia de 2 filhos sendo que

a menor e a maior prole foi de 1 e de 4 filhos respectivamente

Quanto agrave ocupaccedilatildeo das entrevistadas duas satildeo donas de casa duas teacutecnicas de

enfermagem uma enfermeira duas empregadas domeacutesticas e uma operadora de caixa de

supermercado

O tipo de parto de maior incidecircncia vivenciado pelas mulheres foi o parto normal

num total de dez e o total de cesaacutereas foram nove

25 Inserccedilatildeo em campo

Inicialmente na USK foram contatadas mulheres que participavam dos grupos de

planejamento familiar e que compareciam nos dias preacute-estabelecidos para a dispensa dos

meacutetodos anticoncepcionais No HUSM a busca de sujeitos estendeu-se agraves diferentes unidades

de atendimento gineco-obsteacutetrico mulheres acompanhantes e mulheres que trabalham nestas

unidades e que atendiam aos criteacuterios de inclusatildeo

Tanto na USK quanto no HUSM as mulheres foram selecionadas por meio de contato

direto com a pesquisadora na sala de espera das referidas unidades ou quando estavam

acompanhando a sua familiar durante a internaccedilatildeo no HUSM

Como havia entre as participantes funcionaacuterias do serviccedilo que atendiam aos criteacuterios

de inclusatildeo dos sujeitos estas profissionais foram convidadas e as entrevistas realizadas

durante o intervalo do horaacuterio de trabalho Algumas entrevistas foram realizadas no domiciacutelio

das participantes e outras na proacutepria unidade de sauacutede e unidades do HUSM em uma sala

reservada

26 Coleta de dados

Para a obtenccedilatildeo da coleta de dados utilizou-se como instrumento uma entrevista semi-

estruturada contendo questotildees fechadas para a caracterizaccedilatildeo do grupo em estudo e questotildees

abertas que possibilitaram o aprofundamento dos dados e a obtenccedilatildeo de respostas

34

relacionadas agrave vivecircncia das pessoas A coleta de dados foi entre janeiro e marccedilo de 2011 A

entrevista foi gravada em MP3 e posteriormente transcrita na iacutentegra pela pesquisadora de

forma literal A entrevista aberta eacute aquela em que o informante aborda livremente o tema

proposto com pergunta previamente formulada e que possibilita descrever sua vivecircncia de

forma retrospectiva sem repressatildeo de seu pensamento Propicia coletar material

extremamente rico para anaacutelise e contribui para o trabalho de pesquisa em andamento

(MINAYO 2000) Como estrateacutegia de compreensatildeo da realidade sua principal funccedilatildeo eacute

retratar as experiecircncias vivenciadas bem como as definiccedilotildees fornecidas por pessoas grupos

ou organizaccedilotildees (MINAYO 2000)

As entrevistas foram previamente agendadas por meio de contato pessoal sendo

marcados data local e horaacuterio que melhor conviessem agraves entrevistadas evitando interrupccedilotildees

constrangimentos de modo a lhes permitir sentir-se agrave vontade

27 Anaacutelise dos dados

Em posse dos dados coletados estes foram objeto da investigaccedilatildeo de acordo com a

anaacutelise temaacutetica de Minayo (2008) Tal anaacutelise consiste em descobrir os nuacutecleos de sentidos

que constituem uma comunicaccedilatildeo em que sua frequecircncia ou presenccedila revela algum

significado para o objeto analiacutetico Por conseguinte para analisar significados de um

determinado depoimento o surgimento de determinados temas denota estruturas de

relevacircncia valores de referecircncia e modelos de comportamento que podem estar ocultos no

discurso (MINAYO 2008)

Considera-se que a compreensatildeo e a interpretaccedilatildeo das entrevistas nas pesquisas

qualitativas natildeo se realizam em um soacute momento pois acontecem no decorrer da proacutepria coleta

e anaacutelise dos dados quando o pesquisador interage com os sujeitos do estudo na transcriccedilatildeo

das entrevistas e particularmente nas leituras e na organizaccedilatildeo das informaccedilotildees Poreacutem para

uma melhor sistematizaccedilatildeo e compreensatildeo deve-se seguir um percurso ordenado para que se

possa igualmente apreender o conjunto dos significados contidos nos depoimentos dos

entrevistados

Minayo (2008) descreve seguindo Bardin (1977) que essa ordenaccedilatildeo da anaacutelise

temaacutetica segue a sequecircncia de trecircs etapas quais sejam preacute-anaacutelise a exploraccedilatildeo do material e

o tratamento dos resultados obtidos e interpretaccedilatildeo

35

Neste estudo a etapa de preacute-anaacutelise compreendeu a interpretaccedilatildeo do material que se

deu a partir dos questionamentos do investigador Essa etapa consistiu em trecircs tempos o

primeiro chamado de leitura flutuante entendido como a leitura exaustiva das informaccedilotildees do

material de campo periacuteodo de impregnaccedilatildeo do conteuacutedo pelo investigador Jaacute o segundo

tempo foi a Constituiccedilatildeo do ldquoCorpusrdquo no qual se buscou verificar se o material coletado

abrangia regras de eficaacutecia qualitativa tais como exaustividade representatividade

homogeneidade e pertinecircncia Em relaccedilatildeo ao terceiro tempo este perpassou a Formulaccedilatildeo e a

Reformulaccedilatildeo de Hipoacuteteses e Objetivos que baseou-se no retorno a etapa exploratoacuteria de

revisatildeo das hipoacuteteses com intuito de corrigir erros de interpretaccedilatildeo e de ampliar o leque de

indagaccedilotildees para identificar o que surge de relevante para posterior construccedilatildeo de temas ou

categorias de anaacutelise

A segunda etapa da anaacutelise temaacutetica consistiu na Exploraccedilatildeo do Material que se

delineou basicamente nas categorias especiacuteficas que abrangeram elementos ou aspectos de

caracteriacutesticas comuns ou que se relacionavam entre si

A terceira etapa constituiu o Tratamento dos Resultados Obtidos e a Interpretaccedilatildeo

Nesse momento realizaram-se inferecircncias sendo realizada a articulaccedilatildeo entre as informaccedilotildees

aqui construiacutedas e os referenciais teoacutericos de estudos jaacute publicados respondendo agrave questatildeo da

pesquisa com base em seus objetivos

28 Questotildees eacuteticas

Para a realizaccedilatildeo de todas as atividades da pesquisa atentou-se para os criteacuterios eacuteticos

e os princiacutepios bioeacuteticos da voluntariedade da autonomia da beneficecircncia da natildeo-

maleficecircncia e da justiccedila que fundamentam a Resoluccedilatildeo nordm 19696 do Conselho Nacional de

Sauacutede o qual prescreve a eacutetica na pesquisa com seres humanos (BRASIL 1996)

O projeto foi registrado no Gabinete de Projetos do Centro de Ciecircncias da Sauacutede

sendo solicitada autorizaccedilatildeo para o desenvolvimento da pesquisa ao Secretaacuterio Municipal de

Sauacutede e a Direccedilatildeo de Ensino e Pesquisa do HUSM (DEPE) Em um segundo momento foi

encaminhado para a anaacutelise do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa com Seres Humanos da UFSM

(CEP) com a devida documentaccedilatildeo solicitada assinada pelo responsaacutevel legal da instituiccedilatildeo e

pela pesquisadora Apoacutes a aprovaccedilatildeo do CEP foi realizada a etapa de campo da pesquisa

36

Os sujeitos foram informados dos detalhes da pesquisa objetivos e produccedilatildeo de dados

Para tanto antes da realizaccedilatildeo da entrevista foi lido com os sujeitos o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apecircndice B) que concordando com este

optaram por assinaacute-lo O TCLE foi redigido em duas vias uma para a participante e outra

para a pesquisadora Da mesma forma foi redigido o Termo de Confidencialidade o qual

descreve o compromisso das pesquisadoras em relaccedilatildeo agraves informaccedilotildees que soacute poderatildeo ser

divulgadas de forma anocircnima e mantidas em Compact Disc (CD) por um periacuteodo de 5

(cinco) anos sob a sua inteira responsabilidade Apoacutes este periacuteodo ficou acordado que os

dados gravados seratildeo destruiacutedos Destaca-se que o compromisso em relaccedilatildeo agrave preservaccedilatildeo do

sigilo da identidade dos sujeitos durante todas as etapas da pesquisa mesmo com a

divulgaccedilatildeo dos seus resultados sob qualquer forma foi observado sendo utilizado o sistema

de identificaccedilatildeo alfanumeacuterico

Foram ressaltadas a liberdade da participaccedilatildeo espontacircnea e o direito de desistecircncia por

parte das participantes a qualquer momento da pesquisa a fim de se evitar riscos agrave dimensatildeo

fiacutesica moral intelectual social cultural ou espiritual em qualquer fase da pesquisa com a

garantia dos princiacutepios de beneficecircncia e natildeo-maleficecircncia No entanto foi exposto que o

momento da entrevista poderia trazer algumas lembranccedilas questionamentos eou conflitos agrave

dimensatildeo emocional pelo fato de que o sujeito iria refletir sobre o seu cotidiano e suas

vivecircncias Caso isto acontecesse poderia ser indicada uma consulta se assim a participante

desejasse com profissional qualificado do serviccedilo da aacuterea de sauacutede mental do Hospital

Universitaacuterio de Santa Maria previamente contatado

37

3 ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS DADOS

O parto institucionalizado vem sendo apresentado agraves mulheres como um periacuteodo

essencialmente meacutedico que traz consigo as referecircncias de um periacuteodo patoloacutegico e

medicalizado Em consequumlecircncia disso a abordagem sob a perspectiva bioloacutegica pode reduzi-

lo e suprimir a revelaccedilatildeo dos diferentes acircngulos e facetas do universo cultural e social da

parturiente Em virtude disso este estudo fundamentou-se em conceitos socioculturais e natildeo

apenas nos meacutedico-cientiacuteficos Salienta-se que natildeo se pretende abolir os conceitos

biomeacutedicos mas antes entendecirc-los como apenas uma dentre as vaacuterias formas de abordagem

do nascimento

Monticelli (1996) aborda essa questatildeo ao confirmar que a enfermagem quando age

contextualizada dentro desta perspectiva propicia o compartilhamento de saberes e praacuteticas

evitando posturas etnocecircntricas simplistas ou puramente biologicistas sobre o processo da

parturiccedilatildeo

Na sequecircncia deste capiacutetulo seratildeo abordados seis temas surgidos em decorrecircncia da

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados que surgiram das falas das mulheres entrevistadas percepccedilatildeo

das mulheres sobre o nascimento percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado a percepccedilatildeo

das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto conhecendo como se daacute a construccedilatildeo cultural

do processo parturitivo das mulheres resistecircncia das mulheres ao modelo biomeacutedico do parto

percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea

A partir desses temas estabelecer-se-aacute um diaacutelogo com o referencial teoacuterico buscando

alcanccedilar nesse movimento a compreensatildeo de como a cultura influecircncia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher

A Percepccedilatildeo das mulheres sobre o nascimento

Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo das mulheres sobre o nascimento foram relatadas tanto

experiecircncias positivas quanto negativas

A abordagem positiva relatada pelas entrevistadas retrata a responsabilidade por uma

nova vida e a emoccedilatildeo do nascimento conforme as falas das entrevistadas

Tem a parte fiacutesica e espiritual Eu vejo como uma forma de oportunidade da gente crescer e

dar esta oportunidade para este ser que estaacute vindo resgatar as coisas que a gente precisa e que ele

precisa tambeacutem (M1)

38

Eacute uma daacutediva que Deus deu para gente inexplicaacutevel assim apesar de tudo o que a gente

passa ateacute o nascimento da crianccedila Eacute maravilhoso (M2)

Eu acho que eacute uma vida nova que vem para gente compromisso de ter que guiar aquela

pessoa que taacute nascendo com amor com aquele sentimento de cuidar de matildee de ser responsaacutevel por

aquele ser pelas atitudes dele pelo crescimento dele (M3)

O que eu imaginava na hora era ganhar ver o rostinho deles a parte mais emocionante eacute ver

a hora que eles nascem (M8)

As falas das mulheres apontam para positividades da percepccedilatildeo do parto relacionada agrave

emoccedilatildeo da primeira vez de ver o bebecirc e ao contato fiacutesico nesse momento bem como ao

sentimento de responsabilidade pelo filho Essa abordagem transmite um senso de unidade

sobre a pessoa e sua experiecircncia fiacutesica com enfoque nos aspectos emocionais e espirituais do

nascimento Segundo Martin (2006 p 248) ldquoo parto positivo concentra-se na integraccedilatildeo

funcional de todas as partes da mulher - suas memoacuterias passadas esperanccedilas futuras sua

mente e seu corpordquo

Martin (2006) apresenta as metaacuteforas da danccedila e da jornada para descrever esta

integridade colocam a mulher em um papel claramente ativo A danccedila ao significar que

quando corpo e mente encontram-se alinhados danccedilam em sincronia e unidade e entregam-se

agrave nova vida que vem chegando A metaacutefora do parto como uma jornada torna-se uma

oportunidade para o crescimento psicoloacutegico da mulher que se inicia no primeiro trimestre e

culmina no trabalho de parto quando ela relaciona-se iacutentima e singularmente consigo mesma

tendo ao final uma experiecircncia de aprendizado totalmente sua

Foi destacada pelas entrevistadas a mudanccedila do status social e o compromisso com

este novo ser na sua vida denotando o compromisso e a responsabilidade de ser matildee A

mulher que daacute agrave luz com vivecircncias positivas apresenta atitudes que vatildeo dignificaacute-la e que

fortalecem o seu ldquoeu interiorrdquo (BALASKAS 2008)

Este momento faz parte de um ritual de transiccedilatildeo social presente em todas as

sociedades do status social de esposa para o de matildee com intuito de unir os aspectos

fisioloacutegicos aos aspectos sociais da vida de uma pessoa Dessa maneira existem muitas

crenccedilas e rituais do parto e puerpeacuterio no mundo ocidental que continuam ateacute que a matildee e a

crianccedila estejam estabelecidas com seguranccedila em suas posiccedilotildees sociais (HELMAN 2009)

Segundo Odent (2003) atribui-se importacircncia crucial agrave primeira hora apoacutes o parto para

o desenvolvimento da capacidade de amar Nessa fase em condiccedilotildees fisioloacutegicas a liberaccedilatildeo

de ocitocina conhecida como ldquohormocircnio do amorrdquo associada agrave prolactina ldquohormocircnio da

maternidaderdquo significa que se matildee e o bebecirc estiverem em contato pele a pele e olho no olho

39

as chances de se estabelecer apego interaccedilatildeo e amor estatildeo garantidas para ambos Isso eacute

ratificado por Odent (2003) ao referir-se que quando o meio cultural interfere com rotinas

que desestimulam esse apego entre a matildee e o bebecirc tais como o uso de sedativos agentes

anesteacutesicos e analgeacutesicos durante o parto influencia toda a capacidade de amar devido a natildeo

liberaccedilatildeo da ocitocina natural pelo organismo da mulher

Um aspecto negativo expresso pelas entrevistadas concernente agrave percepccedilatildeo do

nascimento refere-se ao desconhecimento sobre a fisiologia do parto o que as fez entender

este processo semelhante a um processo patoloacutegico e sujeito a vaacuterias intervenccedilotildees

desnecessaacuterias conforme os relatos

O primeiro eu natildeo tinha a orientaccedilatildeo que eu tenho agora ningueacutem me orientou Foi muito

doiacutedo e difiacutecil inclusive ateacute porque ele era bem grande e iam passar o foacuterceps Natildeo sei se chegaram a

colocar mas eu consegui e nasceu normal E me colocaram o soro com ocitocina () e eu disse ldquopara

quecircrdquo mas natildeo me explicaram (M1)

Jaacute tinha perdido o tampatildeo uns 3 dias antes de comeccedilar ldquoas dorrdquo entatildeo eu ficava preocupada

ldquoSeraacute que eu natildeo vou sentir dorrdquoldquo seraacute que eu natildeo vou saber quando vai ser a hora de ir ao

hospitalrdquo Me colocaram o soro para induzir () natildeo me explicaram nada Depois veio a anestesia

remeacutedios acho que para enjocirco () natildeo consegui ganhar normal (M2)

Achei que eu tinha que me esforccedilar mais em todos eles Por isso na hora de ganhar sempre

me dava um medo Aiacute eu natildeo sei se eu me trancava Botaram o soro para dor e eu ao inveacutes de fazer a

forccedila direito como se deve fazer eu me retrancava e comeccedilava a chorar (M7)

Eu acho o parto normal muito mais arriscado que a cesaacuterea Todos os meus foram cesaacuterea

No meu caso eu acho que foi por causa da dilataccedilatildeo Todas foram agendadas Os meus filhos quando

chegam no uacuteltimo mecircs natildeo querem ficar nascem antes A minha filha nasceu com 8 meses com muito

pouco peso e foi para UTI (M8)

Os sentimentos relatados pelas entrevistadas de natildeo saber como agir no parto

exprimem significativamente seu desconhecimento acerca do processo fisioloacutegico e refletem-

se em medo e inseguranccedila Uma vez que natildeo sabem o que estaacute acontecendo com seu corpo as

mulheres controlam-no menos demonstram fragilidade e tendem a ser tratadas como objeto

de controle da equipe meacutedica Desse modo aceitam passivamente as intervenccedilotildees meacutedicas

como necessidades normais e rotineiras no parto a exemplo dos relatos do uso de ocitocina

de foacuterceps e da indicaccedilatildeo de cesariana previamente agendada

Esse eacute o modelo de atendimento tecnocraacutetico de assistecircncia descrito pela antropoacuteloga

Davis Floyd (2004) que representa a corrente de pensamento convencional e dominante

norteadora da praacutetica da assistecircncia obsteacutetrica haacute vaacuterias deacutecadas na qual o profissional de

sauacutede manteacutem um distanciamento do paciente como forma de proteger a si mesmo das

reaccedilotildees emocionais frente agraves anguacutestias deste

40

A forma e a percepccedilatildeo de como as mulheres vivenciam a sua experiecircncia de parto satildeo

impregnadas pela realidade conforme modelo que se apresenta para a sociedade isto eacute com a

mensagem de que eacute imprescindiacutevel a utilizaccedilatildeo da tecnologia como garantia de um parto

seguro O que resulta disso eacute o que chamamos de uma ldquocascata de intervenccedilotildeesrdquo que ocorre

quando uma praacutetica obsteacutetrica desencadeia outras fazendo com que se altere o processo

natural do parto (BALASKAS 2008)

Destaca-se tambeacutem a desinformaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos riscos que advecircm da cesaacuterea

desnecessaacuteria para matildee e bebecirc A entrevistada M8 narra que as cesaacutereas foram realizadas

antes de sua gestaccedilatildeo estar a termo Sabe-se que a prematuridade iatrogecircnica ocasionada por

cesaacutereas sem indicaccedilatildeo estaacute associada ao aumento da taxa de nascimentos de receacutem nascidos

preacute-termo (MACDORMAN et al 2008) e ao aumento da mortalidade neonatal (VILLAR et

al 2007)

Concorda-se com Balaskas (2008) ao afirmar que as cicatrizes corporais deixadas

pelas intervenccedilotildees desnecessaacuterias no corpo da mulher transformam-se em uma vivecircncia de

sofrimento inseguranccedila e sobrepujam toda e qualquer vivecircncia positiva ocorrida no parto

Logo um momento que deveria ser natural repleto de lembranccedilas positivas e felizes para a

mulher constitui-se num evento traumatizante Nessa direccedilatildeo entende-se que se o

comportamento humano eacute influenciado diretamente pelo meio cultural pois humanos

comunicam-se e criam cultura a socializaccedilatildeo da naturalizaccedilatildeo do parto como evento rodeado

de tecnologia e risco bem como a recapitulaccedilatildeo das experiecircncias traumaacuteticas contadas pelas

mulheres reforccedilam-se na convivecircncia social (ODENT 2004)

Ademais as intervenccedilotildees desnecessaacuterias sobrepotildeem-se ao poder que a mulher tem de

parir e que atualmente ela mesma desconhece pois a histoacuteria repassada pela medicina nas

uacuteltimas deacutecadas na cultura ocidental transformou o parto em um evento essencialmente

meacutedico sendo a mulher apenas uma parte do cenaacuterio (SEIBERT 2005)

O uso do recurso da aceleraccedilatildeo no parto com o uso do soro com ocitocina foi

percebido como forma negativa para as mulheres que o relataram O emprego de hormocircnios

sinteacuteticos no trabalho do parto como eacute o caso da ocitocina tende a cessar a fisiologia e as

etapas do parto (FIGUEREDO L 2010)

Ratificando essa informaccedilatildeo um estudo feito por Barros (2005) mostra que o aumento

de partos cesaacutereos estaacute relacionado agrave praacutetica da induccedilatildeo medicamentosa A falha de induccedilatildeo

provoca a indicaccedilatildeo de uma cesaacuterea que implica a utilizaccedilatildeo de anestesia medicaccedilotildees

antibioacuteticas profilaacuteticas medicaccedilatildeo para naacuteuseas medicaccedilatildeo para dor no poacutes-operatoacuterio e

utilizaccedilatildeo de outras drogas o que pode afetar drasticamente o comportamento materno pois o

41

que se verifica em estudos com outros mamiacuteferos eacute o natildeo-cuidado de seus bebecircs apoacutes uma

cesariana (ODENT 2004)

Eacute primordial durante a gestaccedilatildeo o preparo das mulheres para o parto apoiando suas

informaccedilotildees em praacuteticas baseadas em evidecircncias cientiacuteficas pois a grande maioria dos

procedimentos que os profissionais de sauacutede ainda utilizam no parto satildeo rotinas que estatildeo

caindo em desuso pois se mostraram mais danosas do que beneacuteficas Se as proacuteprias pacientes

souberem disso atraveacutes de atividades educativas no preacute-natal seraacute muito mais faacutecil reverter

esse quadro (DINIZ 2003)

Concorda-se nessa direccedilatildeo que a consulta preacute-natal tambeacutem eacute um espaccedilo importante

para mudanccedila de atitudes em relaccedilatildeo ao parto incentivada por profissionais que valorizam os

aspectos sociais e subjetivos da gestaccedilatildeo do parto e do nascimento (FREITAS 2005)

A Percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado

Nesta categoria as mulheres expressam a via de parto desejada A maior parte

manifestou o desejo pelo parto normal Apenas uma entrevistada manifestou preferecircncia pela

cesaacuterea e teve sua vontade atendida

Do primeiro eu natildeo pesquisei dos outros que eu comecei a ler sobre o assunto Eu queria ter

o parto em casa e mais informaccedilotildees do meacutedico Trabalhei ateacute a uacuteltima hora de internar Foi bom fiz a

respiraccedilatildeo direitinho e acabei ganhando no leito como eu pensei que queria que nascesse (M1)

Eu tinha conversado com meu esposo em casa e a gente queria parto normal mas natildeo deu

perdi o controle (M2)

Quando eu dizia que queria parto normal me diziam ldquopor que fazer parto normal por que

natildeo faz uma cesaacutereardquo Eu dizia ldquoeu quero parto normal pela recuperaccedilatildeo mais raacutepida para poder

voltar a estudarrdquo e eu achei bem melhor o parto normal do que ter feito uma cesaacuterea que daiacute eu ia

ficar dias sem poder voltar a estudar (M3)

Eu sempre quis cesaacuterea porque eu tinha medo de sentir dor ali na hora Eu vi o bebecirc assim

que o tiraram () Natildeo recebi orientaccedilatildeo sobre parto normal do meacutedico (M4)

A minha preferecircncia sempre foi o parto normal eu achei que ia ganhar normal deste uacuteltimo

mas natildeo deu fiquei frustrada (M5)

Por mim poderia ser parto vaginal tanto que do primeiro filho eu ia caminhar ateacute na veacutespera

para ver se evoluiacutea para parto normal mas natildeo evoluiu daiacute foi cesaacuterea e do outro foi cesaacuterea

tambeacutem Teve que ser programada (M6)

O parto normal foi desejado Se tivesse feito uma cesaacuterea seria o fim do mundo porque eu

demorei para aceitar a ideacuteia de que teria que fazer uma laqueadura por cesaacuterea Eu sempre dei a

preferecircncia para parto normal por causa de comentaacuterios e sobre ter infecccedilatildeo (M7)

42

Eu tinha na cabeccedila que o meu primeiro filho ia ser normal Parto normal a matildee ganha e jaacute

sai caminhando com a crianccedila no colo e cesaacuterea natildeo (M8)

Na fala das entrevistadas revelou-se o desejo pelo parto normal ou pela cesaacuterea

destacando o entendimento de que o parto normal tem a recuperaccedilatildeo mais raacutepida natildeo

interferindo na rotina e autonomia delas apresenta menos risco de infecccedilatildeo e a cesaacuterea

poderia proteger quanto agrave dor do parto Esses pontos justificaram em grande parte seu desejo

pelas vias de parto

Para Martin (2006) as mulheres que desejam o parto normal e conseguem passar por

essa experiecircncia consideram-no um processo que acontece naturalmente como algo que a

mulher realiza e natildeo simplesmente vecirc acontecer consigo

Estudos de natureza quantitativa e qualitativa da aacuterea da sauacutede em relaccedilatildeo agrave escolha

para o parto normal constataram que as expectativas das mulheres em relaccedilatildeo ao tipo de parto

justificaram-se pela recuperaccedilatildeo poacutes-parto mais raacutepida e por ser melhor para elas eou para os

bebecircs (OLIVEIRA 2002 MELCHIORI et al 2009 MANDARINO et al 2009)

A entrevistada que realizou a cesariana por desejo proacuteprio justificou sua escolha pelo

medo da dor do parto A forma como se percebe e se responde agrave dor pode ser influenciada

pela origem cultural e social Em outros grupos culturais a dor do parto natildeo eacute temida muito

diferentemente das mulheres de paiacuteses ocidentais que a temem e satildeo bastante propensas a

aceitar drogas analgeacutesicas ou anesteacutesicas (HELMAN 2009)

No Brasil o medo da dor eacute apontado como uma das causas da intervenccedilatildeo cesariana

requerida pelas mulheres e pode ser considerado assim um dos motivadores do aumento das

taxas dessa cirurgia no paiacutes (FAUacuteNDES CECATTI 1991 OLIVEIRA et al 2002)

Em um estudo feito por Almeida (2009) sobre a dor do parto normal a autora

evidenciou a ocorrecircncia de uma relaccedilatildeo de poder dos serviccedilos de obstetriacutecia sobre o corpo

feminino e a forma como estes serviccedilos gerenciam-se mantendo o processo da medicalizaccedilatildeo

o que se constitui um dos mecanismos de favorecimento da perpetuaccedilatildeo do parto cesaacutereo

com a finalidade de evitar a dor do parto normal

Entende-se tambeacutem que a dor do parto eacute em grande medida iatrogecircnica amplificada

pelo modelo assistencial que institui rotinas como a imobilizaccedilatildeo o uso abusivo de ocitocina

artificial a manobra de Kristeller a episiotomia e a episiorrafia praacuteticas no parto normal que

satildeo claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas com base em evidecircncias

cientiacuteficas e em recomendaccedilotildees da OMS (1996) e do Ministeacuterio da Sauacutede (BRASIL 2001)

43

Para tanto foi instituiacutedo pelo Ministeacuterio da Sauacutede (2000b) o Programa de

Humanizaccedilatildeo no Preacute-Natal e Nascimento cujo objetivo eacute melhorar a assistecircncia obsteacutetrica

provocada por praacuteticas e condutas inadequadas

Segundo Floyd (2004) o programa eacute traduzido como um modelo humanista de

assistecircncia tambeacutem referido por ela como modelo holiacutestico Os profissionais que atuam nessa

vertente simplesmente tecircm como desejo humanizar a tecnomedicina e apresentam maior

potencial para reformar o modelo tecnocraacutetico com mudanccedilas de atitudes e de paradigma

O modelo holiacutestico eacute o que abarca uma variedade mais rica de abordagem rompe

totalmente com o modelo dominante atual utiliza modalidades que satildeo menos prejudiciais

assiste as pessoas em seu contexto crecirc em outros modos de contexto que curam compreende

a dimensatildeo espiritual do cuidado da sauacutede e tambeacutem fortalece o desenvolvimento da vida de

cada pessoa (FLOYD 2004)

Neste sentido a escolha da via de parto torna-se importante uma vez que leva em

consideraccedilatildeo o contexto soacutecio cultural e assistencial em que a parturiente estaacute inserida e os

aspectos bioloacutegicos e psicoemocionais com intuito de promover um cuidado direcionado agraves

suas necessidades conforme recomendado nos estudos de Bezerra Cardoso (2005) e Budoacute et

al (2007) referentes a outros cenaacuterios da sauacutede Tal cuidado aproxima-se da humanizaccedilatildeo da

atenccedilatildeo no parto

De destaque nas falas das entrevistadas do presente estudo eacute o sentimento de

frustraccedilatildeo e perda de controle das que desejavam parto normal e tiveram de submeter-se agrave

cesaacuterea Situaccedilatildeo semelhante surgiu no relato das mulheres que Emily Martin (2006)

entrevistou em Baltimore (EUA) quando percebeu nos depoimentos que uma das reaccedilotildees

mais comuns especialmente quando a mulher planeja um parto vaginal e a cirurgia ocorre eacute a

perda de controle do seu parto

Por outro lado entre as entrevistadas que conseguiram realizar o parto normal

consoante seu desejo de via de parto o sentimento de aliacutevio foi constatado Para Balaskas

(2008) as sensaccedilotildees de aliacutevio realizaccedilatildeo gratidatildeo ecircxtase partem de uma grande variedade

de sensaccedilotildees que somente a experiecircncia do parto normal propicia

Uma das entrevistadas relata orientaccedilatildeo para cesariana a fim de submeter-se agrave

laqueadura tubaacuteria tendo seu desejo frustrado quanto agrave opccedilatildeo da via de parto uma vez que

desejava realizar parto normal Evidencia-se que natildeo houve o desejo de cesaacuterea no entanto a

necessidade da laqueadura

A constataccedilatildeo do desestiacutemulo ao parto normal feito pela equipe meacutedica mesmo

cientes de que essas mulheres tinham histoacuterias preacutevias de partos normais a fim de realizar

44

uma cesaacuterea concomitantemente agrave laqueadura tubaacuteria mostra o desrespeito agrave lei nordm 9263 que

trata do planejamento familiar que veda a esterilizaccedilatildeo ciruacutergica em mulher durante os

periacuteodos de parto ou aborto exceto nos casos de comprovada necessidade por cesarianas

sucessivas anteriores (BRASIL 2002)

As entrevistadas que se submeteram agrave cesaacuterea apresentaram percepccedilotildees de que algo

que foi feito com elas e natildeo de sua participaccedilatildeo como relatado nas seguintes frases ldquotiraram

o bebecircrdquo (M4) ldquopuncionaram-me umas 15 vezesrdquo (M6) ldquose a hemorragia natildeo parasse iam

tirar o meu uacuteterordquo (M8)

A sensaccedilatildeo de passividade e separaccedilatildeo entre o eu e o seu corpo surge em niacutevel

extremo quando as mulheres descrevem a cesariana Parte disso adveacutem pelo fato de ser uma

cirurgia em que um nuacutemero maior de pessoas toca manipula corta e costura seu corpo Outra

parte deve-se agrave anestesia peridural que produz insensibilidade da cintura para baixo e

intensifica-se pela colocaccedilatildeo de um pano sobre o peito da mulher de modo que ela natildeo

enxerga a metade inferior do seu corpo (MARTIN 2006)

Verificamos nas falas das entrevistadas que os laccedilos entre a matildee e o bebecirc podem estar

sendo desestimulados por priorizarem-se cuidados que poderiam ser postergados ldquoPrimeiro

foi realizado os cuidados com o bebecirc e me mostraram jaacute enrolado com as roupasrdquo (M6)

ldquoFicavam ali fazendo os cuidados com o bebecirc e me mostravam bem depoisrdquo (M8)

Esses cuidados aleacutem de estar interferindo na relaccedilatildeo amorosa matildee-bebecirc podem estar

ignorando a implementaccedilatildeo de praacuteticas simples como o clampeamento tardio do cordatildeo

umbilical o contato imediato pele-a-pele e o iniacutecio da amamentaccedilatildeo exclusiva que tem um

impacto a longo prazo na nutriccedilatildeo e na sauacutede da matildee e do bebecirc pois afetam o

desenvolvimento da crianccedila muito aleacutem do periacuteodo neonatal e do puerpeacuterio (BRASIL 2011)

A metaacutefora da produccedilatildeo no nascimento proposta pela antropoacuteloga Emily Martin

(2006) retrata a interrupccedilatildeo dos laccedilos afetivos entre matildees e bebecircs que sofreram cesarianas

devido ao controle sobre o corpo feminino exercido pela retirada do protagonismo da mulher

da cena do nascimento Fato esse semelhante agrave metaacutefora da produccedilatildeo industrial do natildeo-

envolvimento da trabalhadora com o produto do seu trabalho quando ela natildeo sente que foi

quem o produziu e quando o seu trabalho eacute estritamente organizado e controlado (MARTIN

2006)

Frequentemente quando se interfere na produccedilatildeo de um bebecirc segundo a metaacutefora da

produccedilatildeo industrial que ocorre quando natildeo eacute a mulher que daacute agrave luz e o bebecirc eacute extraiacutedo

cirurgicamente por um meacutedico a matildee sente-se desligada da crianccedila apoacutes seu nascimento

(MARTIN 2006)

45

Nesta direccedilatildeo um estudo realizado na Universidade da Cidade do Cabo Aacutefrica do Sul

mostrou que a separaccedilatildeo entre matildee e o bebecirc tem impactos negativos influenciando na

duraccedilatildeo do sono e na frequecircncia cardiacuteaca do bebecirc (BARAK 2011)

O modelo de atendimento biomeacutedico desestimula a implementaccedilatildeo de cuidados

comprovadamente eficazes e passa uma mensagem que matildee e bebecirc satildeo como uma diacuteade

conflitante natildeo sendo vistos como uma unidade integral (MARTIN 2006)

Outro elemento a ser salientado refere-se agrave percepccedilatildeo de ser matildee atraveacutes da vivecircncia

do trabalho de parto ou seja compreende-se o significado de ser matildee por meio da vivecircncia da

parturiccedilatildeo conforme fala da entrevistada Era meu primeiro filho decidi que para ser matildee

teria que ganhar de parto normal [] Se eacute para ser matildee vamos ser matildee mesmo (M3)

Como se pode notar a entrevistada destaca que o parto normal foi primordial para

sentir-se realmente matildee Importante nesse sentido a afirmaccedilatildeo de Monticelli (1996) de que o

parto eacute um ritual que marca profundamente o inconsciente feminino principalmente se for o

primeiro

A Percepccedilatildeo das mulheres na decisatildeo sobre o tipo de parto

Nesta categoria foi significante a falta de autonomia da mulher na decisatildeo sobre a via

de parto Para compreensatildeo do parto como um evento na vida da mulher em relaccedilatildeo agrave decisatildeo

sobre o tipo de parto as mulheres opinaram

A cesaacuterea geralmente eacute o meacutedico que decide Eu sabia disso daiacute que nem todas satildeo iguais

porque a minha voacute teve 6 cesaacutereas e 6 normal e a minha matildee soacute fez cesaacuterea Entatildeo eu sabia que

podia acontecer comigo e realmente aconteceu O meacutedico disse que ia fazer uma cesaacuterea e fez

cesaacuterea disse que ela tinha tomado aacutegua no parto (M8)

Deveria ser da mulher mais do que do meacutedico jaacute que ela que estaacute sentindo e sabendo o que

estaacute acontecendo (M1)

A niacutevel de consultoacuterio (rede privada) eacute o meacutedico Natildeo daacute para escolher() Eu queria Por

mim poderia ser parto vaginal (M6)

Eu acho que deve ser a mulher mas eacute o meacutedico que decide Eles dizem que eacute protocolo que

isso que aquilo mas sabe-se que natildeo eacute assim Soacute que natildeo acontece isso neacuteEla natildeo tem o direito de

decidir se quer um parto normal ou uma cesaacuterea Eacute colocado para ela que ela vai ganhar de parto

normal por causa disso ou daquilo mas agraves vezes ela natildeo estaacute preparada de repente eacute o melhor para

o corpo mas natildeo o melhor para cabeccedila dela natildeo estaacute preparada para aquilo ali (M3)

Eacute o meacutedico que tem o poder de decisatildeo se vai ser parto vaginal ou cesaacuterea (M2)

46

Nessa categoria foi significativo o entendimento das mulheres sobre o poder de

decisatildeo que os meacutedicos tecircm em relaccedilatildeo ao tipo de parto Poreacutem elas discordam de que este

profissional determine a escolha de forma unilateral e apontam para inclusatildeo delas nessa

decisatildeo Esta perspectiva direciona-se para a autonomia e a participaccedilatildeo da mulher na decisatildeo

sobre a via de parto embora o que se constate eacute que o meacutedico determina qual a finalizaccedilatildeo da

gestaccedilatildeo

Entende-se que a questatildeo de avaliaccedilatildeo de risco e a indicaccedilatildeo de se realizar uma

cesaacuterea sejam de competecircncia meacutedica No entanto a mulher deve receber informaccedilotildees sobre

os riscos e benefiacutecios da intervenccedilatildeo a fim de exercer sua participaccedilatildeo ativa no processo Tal

questatildeo enfatiza o direito agrave informaccedilatildeo e agrave formaccedilatildeo de opiniatildeo das mulheres para que

tenham o direito de reivindicar aquilo que eacute beneacutefico para a sua sauacutede e a de seu bebecirc

Profissionais e mulheres podem ateacute tomar uma decisatildeo antecipada sobre o tipo de parto

poreacutem esse fato natildeo pode ser visto como uma simples questatildeo de preferecircncia como no caso

da cesaacuterea antecipada ou eletiva sem indicaccedilatildeo pois pode implicar em riscos e complicaccedilotildees

futuras para matildee e para o bebecirc (BRASIL 2001)

Para o Ministeacuterio da Sauacutede (2006a) um dos valores da Poliacutetica Nacional de

Humanizaccedilatildeo eacute o principio da autonomia de pensar os indiviacuteduos como sujeitos autocircnomos e

como protagonistas nos coletivos de que participam como co-responsaacuteveis pelo processo de

produccedilatildeo de sauacutede de si e do mundo em que vivem

Quando falamos da autonomia da mulher parturiente falamos de um processo em que

a cada momento se vai desconstruindo o leacutexico cientificoteacutecnico para que a mulher e a

famiacutelia possam ser chamadas ao centro de decisatildeo Mas para isso eacute importante oferecer toda a

informaccedilatildeo que ela necessita para se tornar um membro efetivo da equipe de sauacutede e como

tal ter pleno poder e capacidade de decidir da forma mais vantajosa para todos Esse eacute sem

duacutevida um processo de grande complexidade que em uma aplicaccedilatildeo absoluta incita os

profissionais de sauacutede a compreenderem que o respeito pela autonomia da mulher natildeo

constitui um dano na sua autonomia profissional mas antes um incremento pela qualidade

participaccedilatildeo e rigor eacutetico obtido atraveacutes desse processo (LEITAtildeO 2010)

Tal processo talvez seja difiacutecil de compreender para o profissional quando se alicerccedila

na cultura biomeacutedica ao redor de uma ideologia de progresso tecnoloacutegico que no contexto do

parto iniciou-se a partir da sua institucionalizaccedilatildeo com o advento da era industrial (FLOYD

2004)

47

A institucionalizaccedilatildeo do parto iniciou-se nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX quando

o mesmo passou a ser visto como um processo patoloacutegico que deveria ser controlado a fim de

evitar a morte materna e perinatal sendo entatildeo marcado por rotinas tais como episiotomias

cesaacutereas desnecessaacuterias utilizaccedilatildeo de foacuterceps profilaacutetico (PROGIANTI BARREIRA 2001)

Para Collaccedilo (2002) as instituiccedilotildees tecircm uma cultura proacutepria fundamentada no empirismo e

na tecnologia que se revelam nas rotinas e condutas intervencionistas do meacutedico O resultado

dessa conduta intervencionista eacute a discrepacircncia entre o que as mulheres desejam e o que eacute

realizado o que justificaria a mudanccedila do tipo de parto (HOPKINS 2000)

Um dos motivos alegados pelos meacutedicos para essa praacutetica seria a mudanccedila de perfil de

risco das gestantes Poreacutem um estudo realizado nos EUA que relacionou o aumento das taxas

de cesaacuterea com a mudanccedila de perfil do risco constatou que as chances de uma mulher ser

submetida a uma cesaacuterea na primeira gestaccedilatildeo sem pertencer a um grupo de risco subiu para

50 em 2005 comparado ao ano de 1996 (DECLERCQ et al 2005)

Essa desinformaccedilatildeo por parte das mulheres pode por fim a sua capacidade na decisatildeo

sobre o tipo de parto e ser atribuiacuteda agrave falta de conhecimento sobre seu corpo os processos

reprodutivos e a sexualidade (SANTOS 2008)

Segundo o relato da entrevistada M6 natildeo haacute o direito de escolha quanto ao tipo de

parto para a mulher que faz o preacute-natal na rede suplementar sendo sua autonomia geralmente

desrespeitada quando deseja um parto normal De acordo com Mccourt et al (2007) a

escolha do tipo de parto pela mulher eacute apontada na literatura meacutedica como um fator que tem

contribuiacutedo para o elevado iacutendice de cesarianas na atualidade

Destaca-se que nos serviccedilos de sauacutede suplementar no Brasil as taxas de cesaacuterea satildeo

as mais elevadas do mundo em torno de 797 (ANS 2001) A cesaacuterea daacute ao meacutedico o

maacuteximo de poder controle e conduccedilatildeo nesse processo e exige o miacutenimo de trabalho do uacutetero

e da mulher criando o ponto de vista de que este procedimento ciruacutergico fornece os melhores

bdquoprodutos‟ isto eacute produzem bebecircs perfeitos semelhantemente agrave metaacutefora de produccedilatildeo tal

como acontece nas induacutestrias (MARTIN 2006)

Logo deu-se iniacutecio a uma crenccedila de que cesaacuterea eacute protetora para o nascimento do

bebecirc Isso pode estar relacionado agrave noccedilatildeo de que partos normais satildeo traumaacuteticos para o feto

e entatildeo os profissionais ldquoaliam-serdquo ao bebecirc contra a destruiccedilatildeo em potencial causada pelo

corpo da matildee no trabalho de parto e no parto o que leva a ignorar aquilo que talvez seja o

mais importante para a mulher e para a crianccedila que eacute a natureza de suas experiecircncias no parto

e no nascimento (MARTIN 2006)

48

Aleacutem do mais na relaccedilatildeo meacutedico-parturiente fica evidente como satildeo encaradas as

questotildees relacionadas ao parto de forma diferente por cada um desses atores (ANS 2008a)

Entre os meacutedicos obstetras institui-se uma cultura proacute-cesaacuterea e como consequecircncia

parte deles natildeo se encontra motivada nem capacitada para o acompanhamento do parto

normal Em contrapartida as mulheres dentro dessa cultura tecircm dificuldade de fazer valer a

sua decisatildeo quanto ao tipo de parto por sentirem-se menos capacitadas a escolher devido agraves

questotildees teacutecnicas levantadas e sustentadas por eles (BRASIL 2001)

Estudos tecircm demonstrado que apenas 20 das usuaacuterias de convecircnio particular

conseguem dar agrave luz por parto normal sendo que a maioria das mulheres brasileiras deseja-o

(REBELO et al 2010 POTTER et al 2001 POTTER et al 2008)

Concorda-se portanto com a visatildeo de ANS (2008a) de que a criacutetica da exclusatildeo das

mulheres na decisatildeo da via de parto deve-se principalmente ao fato de que o modelo

biomeacutedico desconhece os significados que as mulheres datildeo agrave experiecircncia da gestaccedilatildeo e do

parto

Conhecendo como se daacute a construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo cultural do processo parturitivo das mulheres foram relatadas

tanto experiecircncias positivas quanto negativas dos partos das mulheres de seu conviacutevio

As mulheres que apresentam uma percepccedilatildeo positiva sobre parto normal apresentam

nas famiacutelias histoacuterias e relatos positivos do parto de suas familiares

A minha matildee teve 5 partos normais Todos em casa e a minha voacute era parteira Acho que a

influecircncia vem daiacute Queria que minha voacute tivesse viva para eu ter tido os meus filhos com ela A matildee

sempre foi positiva nunca disse que os partos foram uma coisa horriacutevel Ela sempre disse que era

uma coisa boa doiacutea claro mas ela sempre mostrou coisa boa Tenho uma irmatilde que ganhou um bebecirc

em casa natildeo deu tempo de ir para o hospital Foi raacutepido demais (M1)

Olha todas natildeo se queixaram As [familiares] que eu conversei disseram que parto normal eacute

a melhor forma por causa da recuperaccedilatildeo eacute melhor para ti cuidar do nenecirc sem depender de ningueacutem

A matildee sempre teve parto normal (M2)

Da minha matildee foi tranquumlilo O parto dela foi no mesmo hospital que eu tive ela caminhou

tudo como tinha que ser rompeu a bolsa em casa Ela me passou essa experiecircncia boa (M3)

Eu e a minha irmatilde nascemos de parto vaginal A minha voacute teve 5 filhos de parto vaginal A

minha sogra teve partos vaginais em casa Meu marido nasceu com 4kg Ela comentava como eacute que

tinha sido os nascimentos dos filhos dela de ser tudo tranquilo e das aventuras que ateacute na veacutespera

andava a cavalo e natildeo deu nada de complicaccedilatildeo e naquele tempo foi com parteiras A matildee dela era

parteira Os filhos nasceram com a avoacute (M6)

49

Durante a minha gravidez eu conversava mais sobre o parto com a minha matildee e eu a

acompanhei ela quando foi ganhar normal Eu vi como foi entatildeo eu sabia como tinha que ser quando

eu fosse ganhar que era bom A influecircncia da minha voacute e da minha matildee foi para parto normal mas

eu natildeo ganhei normal em nenhum (M8)

Na opiniatildeo dessas entrevistadas a transmissatildeo do conhecimento dos partos na famiacutelia

exerceu grande influecircncia na preferecircncia por parto normal focando a naturalidade e a

praticidade de encarar o parto normal

O processo de socializaccedilatildeo denominado ldquoprimaacuteriordquo para Berger e Luckmann (1976)

acontece na famiacutelia durante a infacircncia quando a realidade eacute apreendida atraveacutes da

consciecircncia individual e os papeacuteis sociais tornam-se seus quando identificados

Segundo Laraia (2003) a socializaccedilatildeo do indiviacuteduo eacute resultante do seu meio cultural e

a acumulaccedilatildeo de saberes e crenccedilas satildeo passadas de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Destaca-se isso

igualmente no estudo de Ressel et al (2011) relativo a cultura da sexualidade junto a

adolescentes e suas famiacutelias onde a socializaccedilatildeo dos saberes eacute um processo dinacircmico e

contiacutenuo ao longo da vida

Laraia (2003) defende que os valores que vatildeo compor a singularizaccedilatildeo de cada pessoa

na sociedade ocorrem por meio da socializaccedilatildeo atraveacutes dos relacionamentos das

representaccedilotildees pessoais sobre fenocircmenos fatos e eventos sociais

As entrevistadas M1 e M6 relatam a presenccedila de parteiras na assistecircncia ao parto Ateacute

a entrada da profissatildeo meacutedica sobre o processo do parto as mulheres em trabalho de parto

eram auxiliadas principalmente pelas matildees tias avoacutes eou parteiras Poreacutem com a perda da

importacircncia do papel das parteiras - pois ameaccedilavam o monopoacutelio do saber meacutedico - e sua

progressiva alocaccedilatildeo na marginalidade do contexto da obstetriacutecia seus saberes foram sendo

vistos sob suspeita

Em quase todas as culturas segundo Helman (2009) os principais provedores dos

cuidados primaacuterios de sauacutede satildeo as matildees e avoacutes e as parteiras ainda satildeo as responsaacuteveis pelos

cuidados obsteacutetricos em alguns paiacuteses

Percebem-se nas narrativas das entrevistadas as influecircncias positivas passadas por suas

matildees na vivecircncia da parturiccedilatildeo das mulheres da famiacutelia Elsen (2011) realizou uma anaacutelise de

quatro estudos sobre famiacutelias tendo como um dos destaques a valorizaccedilatildeo do conhecimento e

das praacuteticas do cuidado nesses ambientes familiares

Em contrapartida as entrevistadas que apresentam nos seus discursos experiecircncias

negativas mostram que no conviacutevio familiar e no ciacuterculo social proacuteximo este assunto ou natildeo

foi comentado ou foi discutido com teor negativo

50

A minha matildee nunca falou bdquocom noacutes‟ sobre isso Ela teve cesaacuterea da minha irmatilde mais nova de

sete anos e deu problemas de rim nela A minha recuperaccedilatildeo foi ruim porque demorei a recuperar

() Eu me sentia estranha e parece que minhas pernas estavam separadas do meu corpo por causa da

anestesia(M4)

Noacutes nunca conversamos sobre essas coisas laacute em casa nem com matildee e nem com irmatilde A

uacutenica coisa que me falavam eacute que sofria muito falavam que ia gritar de tanta dor que as contraccedilotildees

seriam fortes Eu sofri um pouquinho coloquei soro fiquei de barriga para cima o tempo todo ()

como se estivesse doente depois eu tive uma cesaacuterea que infeccionou os pontos Me senti um objeto

() (M5)

Minha matildee disse que eacute horriacutevel que natildeo era bom que nem cesaacuterea e nem parto normal Ela

sofreu muito Por isso na hora de ganhar assim sempre me dava um medo devido agraves histoacuterias

contadas por minha matildee (M7)

Vizinhos ateacute parentes comentavam que esqueceram uma tesoura dentro da paciente ou

esqueceram um pano Eu tenho medo de cesaacuterea Outro problema eacute aquele pano que separa a sua

cabeccedila do resto do seu corpo Disseram-me que teria de fazer uma cesaacuterea para fazer a laqueadura

na proacutexima gravidez Eu vou fazer um RX depois para ver se natildeo ficou nada laacute dentro (M7)

Aiacute vem a voacute vem a matildee conversar dizendo ldquotu natildeo faz escacircndalo natildeo gritardquo porque

realmente elas natildeo datildeo atenccedilatildeo E realmente eu vi isso Entatildeo eu sabia que natildeo era bom quando eu

fosse ganhar (M8)

Nas falas destas entrevistadas deflagra-se a ausecircncia de conversa sobre o assunto

Quando haacute diaacutelogo acerca do tema no seio familiar reveste-se de significados negativos

destacando a dor o sofrimento a anguacutestia o medo a solidatildeo e a alienaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao que

estaacute acontecendo com o seu corpo

Para Martin (2006) as mulheres podem ter essas sensaccedilotildees negativas de objetificaccedilatildeo

e fragmentaccedilatildeo tanto na cesaacuterea quanto no parto normal mas as que passam por uma cesaacuterea

descrevem essas sensaccedilotildees mais intensamente conforme destacado nas falas das entrevistadas

M4 e M5

Segundo a autora o medo e a ansiedade no parto normal satildeo gerados pela inconsciente

fragmentaccedilatildeo subliminar impliacutecita de como a mulher percebe esse fenocircmeno de como accedilotildees

que elas natildeo realizam como se o ldquoeurdquo e o ldquoseu corpordquo fossem separados entendendo que

corpo mente e estados emocionais natildeo podem ser trabalhados simultaneamente

O relato negativo foi constatado em estudos de autores da aacuterea da antropologia

mostrando que em diferentes sociedades as filhas educadas por matildees que influenciam

negativamente sofrem mais no momento do parto (LARAIA 2003) A dor do parto tambeacutem

foi apontada pela entrevistadas M5 Conforme Gualda (2004) a dor eacute um sintoma altamente

subjetivo que traz a crenccedila popular de vincular a maternidade ao sofrimento

51

A entrevistada M8 traz a questatildeo de agir conforme as regras que a equipe obsteacutetrica

impotildee de natildeo fazer escacircndalo sob pena de natildeo receber a devida atenccedilatildeo Os profissionais de

sauacutede eventualmente podem impor um comportamento que natildeo respeita o saber da parturiente

o que pode tornar difiacutecil a evoluccedilatildeo do trabalho de parto (BEZERRA CARDOSO 2006)

Outro fator de destaque de acordo com o relato da entrevistada M7 foi o medo

apresentado em relaccedilatildeo ao esquecimento dos instrumentos ciruacutergicos dentro do seu corpo

Para Leninger (1991) a descontinuidade dos acompanhamentos e tratamentos das

usuaacuterias(os) deve-se ao fato de natildeo compreenderem sua funccedilatildeo e seu funcionamento

A posiccedilatildeo supina que foi referida pela entrevistada M5 ldquofiquei de barriga para cima o

tempo todordquo eacute segundo a OMS (1996) uma praacutetica claramente prejudicial ou ineficaz que

deve ser eliminada de acordo com as evidecircncias cientiacuteficas Essa mensagem simboacutelica

transmite agrave parturiente que ela estaacute enferma e retira da mulher a liberdade de seguir seus

instintos conforme mencionado pela entrevistada

Etnoacutelogos confirmam que atraveacutes da anaacutelise de evidecircncias histoacutericas existem raccedilas e

tribos que natildeo recebem influecircncia do modelo biomeacutedico e as mulheres naturalmente assumem

posiccedilotildees verticais dos mais variados tipos e meios de apoio (BALASKAS 2008)

Outras formas de influecircncia relatadas pelas participantes foram revistas internet

meios de comunicaccedilatildeo em geral As entrevistadas atribuem grande importacircncia agraves

informaccedilotildees colhidas nessas fontes atraveacutes das quais tomam conhecimento sobre

determinados costumes e percepccedilotildees

Com as revistas eu me informava bastante sobre como que era o nascimento fotos do bebecirc

nascendo Assistia na TV o canal que mostrava partos as casas de parto onde as mulheres iam fazer

todo o preacute-natal e ganhavam na aacutegua na cama naqueles quartos que permaneciam durante o

trabalho de parto e ficavam ali mesmo na hora de ganhar com familiar junto crianccedilas adultos tudo

junto Eu achava muito interessante (M1)

Eu olhei muito no youtube parto normal Eu achei bem legal Assim eacute meio assustador mais

achei legal Ateacute ali minha decisatildeo era ganhar normal mas natildeo deu (M2)

Lia folders revistas da aacuterea sobre maternidade programas de TV que mostraram o

acompanhamento do parto no domiciacutelio na banheira mas eu tive duas cesaacutereas agendadas (M6)

A entrevistada M1 relata o atendimento oferecido em casa de parto ou centro de parto

normal onde as mulheres fazem todo o preacute-natal e datildeo agrave luz em posiccedilotildees e locais de sua

preferecircncia A ausecircncia desse tipo de estabelecimento em determinados municiacutepios do Brasil

inviabiliza o acesso aos benefiacutecios que esses serviccedilos oferecem Instituiacutedo no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede esses estabelecimentos propiciam agraves mulheres a assistecircncia ao parto

52

em sua plena universalidade e tecircm como uma de suas atribuiccedilotildees o preparo da gestante

atraveacutes do plano de parto e do desenvolvimento de atividades educativas (BRASIL 1999)

Nesse cenaacuterio o protagonismo de cada mulher na gestaccedilatildeo parto e puerpeacuterio eacute respeitado

levando em consideraccedilatildeo sua individualidade suas crenccedilas e sua cultura

A cultura eacute um todo complexo que inclui o conhecimento as crenccedilas a arte a moral a

lei os costumes e todos os outros haacutebitos e aptidotildees adquiridos pelo homem como membro da

sociedade e se faz dinacircmica pela recepccedilatildeo das influecircncias externas resultantes do contato de

um sistema cultural com outro transformaccedilatildeo que pode ser raacutepida e brusca (LARAIA 2003)

No fragmento da fala da entrevistada M6 pocircde-se identificar sua curiosidade pelo

periacuteodo graviacutedico e parto e o parto domiciacutelio e na banheira forma de nascimento que volta a

fazer parte dos centros urbanos na atualidade A influecircncia das mateacuterias veiculadas em uma

revista sobre as representaccedilotildees culturais sobre parto mostrou que a revista pode ser um meio

de divulgaccedilatildeo informal que deveria ser mais bem aproveitado para informar as mulheres sobre

seus direitos e as maneiras de reivindicaacute-los (ROSS BONILHA et al 2006)

Um estudo feito por Medeiros (2008) retrata que as mulheres que optam por um tipo

de parto fora do hospital relacionam sua escolha agraves experiecircncias vivenciadas desde o seu

proacuteprio nascimento ateacute o momento do parto de seus filhos Quando as mulheres preparam-se

para parir seguindo princiacutepios diferentes dos que a medicina define e trata a linguagem que

utilizam eacute de integridade com todas as suas partes inter-relacionadas por um sentimento de

realizaccedilatildeo de algo que seriam capazes de fazer podendo-se inferir que a experiecircncia do parto

confirma ou natildeo na mulher a sua capacidade de colocar uma crianccedila no mundo (MARTIN

2006)

As mulheres citam somente a figura meacutedica na consulta de preacute-natal e comentam

sobre a postura do profissional de sauacutede que realizou este acompanhamento Em geral natildeo

receberam nenhuma informaccedilatildeo sobre parto

O obstetra no preacute-natal natildeo falava nada sobre parto soacute media a barriga via como estava o

coraccedilatildeo do bebecirc e deu Isso que o primeiro foi particular e os outros tambeacutem foram assim (M1)

Quando eu comecei no preacute-natal eu comecei com meacutedico particular ele natildeo falou nada sobre

parto e me pediu todos aqueles exames (M3)

O meacutedico natildeo era muito de conversar soacute os exames ultrasonografia Natildeo falou sobre outras

formas de parto (M4)

A uacutenica coisa que o meacutedico falou eacute ldquotu taacute preparadardquo ldquotem certeza jaacute ta aqui neacute Agora eacute

soacute seguir adianterdquo mas natildeo me falaram sobre parto Fiz todos os exames quatro ultrassonografias

(M7)

53

Fiz todo o preacute-natal e o meacutedico natildeo me falou nada sobre parto (M5)

Nesses depoimentos detectou-se a ausecircncia de diaacutelogo e de orientaccedilatildeo sobre o parto

O acompanhamento preacute-natal das entrevistadas apontou para o enfoque bioloacutegico e tecnicista

na assistecircncia prestada limitando-se agrave avaliaccedilatildeo de batimentos cardiacuteacos fetais altura uterina

e solicitaccedilatildeo de exames e avaliaccedilatildeo

Tal atenccedilatildeo fragmenta o cuidado e o sujeito deste cuidado pois segundo Martin

(2006) desta forma as mulheres natildeo satildeo apenas fragmentadas em partes do corpo como

tambeacutem satildeo alienadas da proacutepria ciecircncia pelas praacuteticas da medicina cientiacutefica As praacuteticas

obsteacutetricas corroboram com esta alienaccedilatildeo internalizando valores culturais que transmitem

agraves gestantes a ideacuteia de que natildeo haacute necessidade de informaccedilotildees sobre os processos fisioloacutegicos

do parto (FLOYD 2009)

Como a medicina obsteacutetrica contemporacircnea estaacute determinada por pressupostos

filosoacuteficos essencialmente masculinos o parto normal que tem em seu acircmago fenocircmenos

femininos tais como a afetividade espiritualidade e as emoccedilotildees natildeo eacute compreendido pelos

profissionais que controlam o nascimento (JONES 2004)

Apesar do avanccedilo na luta por igualdade de direitos para as mulheres a

sobrevalorizaccedilatildeo do patriarcado nos hospitais eacute perpetuada por meacutedicos em sua maioria

homens que tecircm autoridade para reforccedilar rituais de parto (FLOYD 2009)

No entanto os profissionais de sauacutede que se inserem no cenaacuterio das poliacuteticas puacuteblicas

de sauacutede da mulher deveriam atualmente ter como prerrogativa a instrumentalizaccedilatildeo das

mulheres para que sejam efetivamente sujeitos de direito na sociedade sendo tambeacutem

protagonistas de suas proacuteprias vidas e de seu parto tomando suas escolhas de modo

informado conforme preconiza a Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agrave Sauacutede da Mulher -

PNAISM (BRASIL 2004)

A ausecircncia de informaccedilotildees sobre parto foi constatada na fala das entrevistadas o que

nos faz refletir sobre a atitude desses profissionais com as gestantes e relacionar esse quadro

com os altos iacutendices de cesaacuterea da atualidade entendendo que a ausecircncia de diaacutelogo e

informaccedilatildeo no preacute-natal incapacita a mulher agrave autonomia Em um estudo de revisatildeo

sistemaacutetica que avaliou as informaccedilotildees que as gestantes recebiam sobre a cesariana para

solicitaacute-la natildeo foi possiacutevel detectar os motivos que as levam a solicitar uma cesariana

(GAMBLE et al 2007)

A desinformaccedilatildeo sobre as etapas da parturiccedilatildeo foi apontada por Pereira (2011) como

fator cultural que conduz a uma etapa teacutecnica terceirizada definida quando o meacutedico assume

54

o comando e o conduz a partir de sua formaccedilatildeo teacutecnica especializada Para a autora as

mulheres consideram dessa forma um sofrimento desnecessaacuterio passar pelo trabalho de

parto porque desconhecem sua importacircncia para o organismo e para o bebecirc

Deve-se levar em conta a forma a interaccedilatildeo do cuidado entre as mulheres os

profissionais e principalmente o contexto desse cuidado que revela um desequiliacutebrio de poder

que favorece os meacutedicos (GAMBLE et al 2007)

Conforme Martin (2006) pode acontecer tambeacutem de as mulheres natildeo estarem

preocupadas com a falta de informaccedilatildeo uma vez que elas satildeo direcionadas por pressupostos

culturais da superioridade meacutedica Tais pressupostos estatildeo tatildeo arraigados em sua experiecircncia

habitual nos serviccedilos de sauacutede que as impede de perceber as contradiccedilotildees em sua proacutepria

atenccedilatildeo agrave sauacutede

Por outro lado em outra pesquisa com gestantes constatou-se a necessidade de uma

grande demanda por informaccedilotildees escuta cliacutenica e tambeacutem a utilizaccedilatildeo de materiais

educativos mais esclarecedores (HOTIMSKY et al 2002)

Essa demanda por informaccedilotildees vem sendo suprida por outros profissionais de sauacutede

segundo as entrevistadas deste estudo

A enfermeira do posto me ajudou bastante eu tomava sulfato ferroso e ia pegar com ela Me

orientou sobre as vacinas eu lembro que um pouco antes de ficar graacutevida eu tinha tomado vacina da

rubeacuteola Entatildeo assim ela me acompanhou bastante tambeacutem eu sempre conversava com ela sobre o

parto os exerciacutecios que era bom fazer Laacute na Casa de Sauacutede tambeacutem a enfermagem me ajudou

bastante tava o tempo todo junto me dizendo que ldquotinha que caminhar para tua dilataccedilatildeo aumentarrdquo

me explicavam onde o nenecirc bdquotava‟(M3)

O fisioterapeuta o dentista A fisioterapia influenciou para o parto vaginal o dentista era

homem entatildeo relatou a experiecircncia da esposa dele que tinha sido parto cesaacutereo (M6)

Eu fiz todo o planejamento com a enfermeira Ensinaram como seria para nascer e logo

depois o que eu teria que fazer que eacute amamentar o nenecirc cuidados com o nenecirc cuidados comigo

tambeacutem preventivo remeacutedio piacutelula amamentaccedilatildeo Ensinaram no posto que eu frequento (M8)

A participaccedilatildeo dos profissionais da enfermagem e da fisioterapia foi constatada em

atividades de educaccedilatildeo em sauacutede e no atendimento ao trabalho de parto

Um estudo feito por Gaiva (2003) que destaca o nascimento como um evento

pertencente agrave equipe de sauacutede destaca como necessaacuterio o engajamento dessas equipes para a

humanizaccedilatildeo do parto e do nascimento com enfoque na mulher na crianccedila e na famiacutelia

A realizaccedilatildeo de um trabalho multiprofissional e interdisciplinar durante o processo de

gestaccedilatildeo parto e nascimento incide na aprendizagem de compartilhamento de saberes e

55

praacuteticas promovendo um cuidado de qualidade para os atores envolvidos nesse processo

(CHRISTOFFEL 2003)

A Lei ndeg 749886 que dispotildee sobre a regulamentaccedilatildeo do exerciacutecio da enfermagem

referenda que o enfermeiro generalista tambeacutem estaacute habilitado a assistir agrave gestante parturiente

e pueacuterpera acompanhando a evoluccedilatildeo e do trabalho de parto e a execuccedilatildeo do parto sem

distoacutecia

Pelloso (2000) concluiu que as taxas de cesaacuterea reduziriam com a capacitaccedilatildeo dos

profissionais para o parto com a introduccedilatildeo da enfermeira obsteacutetrica no preacute-natal e na

realizaccedilatildeo do parto bem como com a inclusatildeo de accedilotildees de orientaccedilatildeo e informaccedilatildeo sobre os

riscos e os benefiacutecios do parto normal e da cesaacuterea agraves mulheres em atividades de grupo e

cursos de gestantes Embora o nuacutemero de enfermeiras obstetras atuando no Brasil ainda seja

muito baixo estima-se que o nuacutemero de partos assistidos por elas eacute bem superior agravequele

registrado no SUS (BRASIL 2001)

Essa assistecircncia tambeacutem eacute referendada pela portaria do MSGM nordm 2815 de 29 de

maio de 1998 em que se inclui na tabela do sistema de informaccedilotildees hospitalares do SUS o

procedimento ldquoparto normal sem distoacutecia realizado por enfermeira obstetrardquo (BRASIL 1998

p23)

A enfermeira obstetra na busca pelo cuidado integral e valorizando a mulher como

protagonista do processo de nascimento vem conquistando tambeacutem um espaccedilo no

atendimento a partos domiciliares aleacutem de seu papel nas instituiccedilotildees hospitalares (PETER

2005)

Questionamento e resistecircncia ao modelo biomeacutedico

Nessa categoria mostram-se os relatos de questionamento e resistecircncia ao

atendimento obsteacutetrico por parte de algumas mulheres revelando que estas natildeo tecircm

autonomia tanto na decisatildeo sobre o tipo de parto quanto na escolha por quem querem que lhes

acompanhe em seu parto

As participantes questionam as situaccedilotildees impostas pelos profissionais que representam

o modelo biomeacutedico Uma entrevistada que queria o parto normal apresentou-se encorajada a

protestar contra este modelo trocando de meacutedico quando natildeo teve a sua opiniatildeo respeitada

conforme na fala

56

() Outro fato que me deixou frustrada foi quando eu iniciei o preacute-natal eu disse que queria

parto normal o meacutedico ficou bravo e foi bem mal educado e perguntou o que eu estava fazendo laacute

entatildeo Fui embora natildeo fiz mais preacute- natal com ele fui para o SUS Eu me senti invadida (M3)

Outra entrevistada questiona a falta do acompanhante de sua preferecircncia no parto Eu

gostaria que o meu marido bdquotivesse‟ junto (M1) Em um estudo realizado por Prado Junior

(2008) constatou-se que a presenccedila de familiares no processo de nascimento eacute visto por 100

das entrevistadas como primordial Para Balaskas (2008) o sentimento relatado por homens

que jaacute acompanharam suas mulheres em trabalho de parto eacute o de plenitude em nenhum

momento o instinto de fecircmea fala tatildeo alto eacute o renascimento de uma nova mulher

Suas falas chamam a atenccedilatildeo tambeacutem para a importacircncia de a mulher poder exercer

mais liberdade e participaccedilatildeo ativa com a possibilidade de escolher se quer tomar banho ou

natildeo se quer ficar na aacutegua sentar na bola Tambeacutem eacute questionado por elas o uso da ocitocina e

a falta de respeito a sua privacidade pelo fato de estarem presentes pessoas assistindo ao seu

parto sem preacutevio pedido de autorizaccedilatildeo o que denota desrespeito a sua autonomia no

processo

Eu gostaria de ser mais orientada Entatildeo quanto mais natural pudesse ser para mim melhor

escolher se quer tomar banho ou natildeo se quer ficar na aacutegua sentar na bola Sou contra a ocitocina E

me colocaram o soro com ocitocina e eu disse ldquomas para quecirc colocar se eu jaacute to quase ganhando Soacute

para me dar uma dor mais forte e realmente deurdquo(M1) Tinha uns 7 ou 8 alunos que estavam laacute e que queriam assistir um parto pessoas que eu

nunca tinha visto olhando o meu parto Eu acho que tudo foi muito forccedilado Os alunos assistiram ao

meu parto ningueacutem me perguntou se eu queria que assistisse (M3)

A mulher em trabalho de parto precisa de privacidade para se sentir mais segura

Poreacutem em muitos locais de atendimento puacuteblico isso natildeo eacute devidamente cuidado sendo

negligenciada a cultura do sujeito que envolve seus valores percepccedilotildees necessidades e

medos (ODENT 2003)

A postura do profissional em natildeo aceitar a opiniatildeo das usuaacuterias eacute denominada por

antropoacutelogos como ldquopensamento etnocecircntricordquo ou ldquosistema fechado de cogniccedilatildeordquo O

etnocentrismo eacute um sistema acentuado por rituais que os representam e os sustentam

(FLOYD 2009) Sabem os etnocentristas da existecircncia de outro saber e crenccedilas mas estatildeo

absolutamente seguros de que seu modo de pensar eacute melhor e por isso ignoram ideacuteias

contraacuterias agraves deles e consideram esses diferentes modos de pensar uma ameaccedila A

entrevistada destaca esta postura

Acho que os meacutedicos satildeo muito apressados Deveriam deixar mais a natureza agir por conta

o bebecirc se encaixar no lugar certo deixar a matildee de forma mais natural possiacutevel (M1)

57

Um princiacutepio baacutesico do modelo de atendimento tecnocraacutetico que vem ao encontro da

forma de pensar e agir do pensamento etnocecircntrico eacute a autoridade e responsabilidade do

profissional e das instituiccedilotildees de sauacutede sobre a pessoa Nesse contexto eacute mais confortaacutevel

para a usuaacuteria abdicar de sua preferecircncia pessoal em favor da opiniatildeo meacutedica (FLOYD

2004)

Esse fato foi constatado nas entrevistas que apontavam para a resistecircncia ao modelo

biomeacutedico poreacutem atraveacutes de uma percepccedilatildeo passiva da realidade como a sensaccedilatildeo meio

vaga de que alguma coisa estaacute errada e cuja mudanccedila natildeo estaacute ao seu alcance ou natildeo depende

apenas de sua vontade e accedilatildeo A mulher parece natildeo estar ciente da fragmentaccedilatildeo subliminar

da atenccedilatildeo ao parto hospitalar como se o ldquoeurdquo e o ldquoseu corpordquo fossem separados e que

nascimento fosse parte de uma produccedilatildeo A taacutetica mais eficiente descrita por Martin quando

utiliza a analogia entre operaacuterios e mulheres dando agrave luz eacute a mulher tornar-se patratildeo de si

mesmo isto eacute dando agrave luz em seu domicilio onde elas satildeo donas da faacutebrica e podem ter total

controle sobre o processo de produccedilatildeo e sobre seu corpo (MARTIN 2006)

Percepccedilotildees das mulheres sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea

Buscaram-se juntamente agraves mulheres do estudo indicaccedilotildees e motivaccedilotildees de acordo

com seu entendimento para a realizaccedilatildeo de cesariana A seguir eacute apresentada a ausecircncia de

dilataccedilatildeo a presenccedila ou natildeo de contraccedilotildees e as cesaacutereas eletivas como indicativos para a

ocorrecircncia do procedimento ciruacutergico

Eu induzi porque natildeo tinha dilataccedilatildeo eu soacute tinha contraccedilatildeo Eu natildeo tinha nenhum outro

problema () fiquei frustrada Eu queria parto normal soacute natildeo tive porque meu parto foi induzido

(M2)

Porque natildeo tinha dor natildeo tinha dilataccedilatildeo e tava muito em cima (M5)

Se tivesse entrado em trabalho de parto tudo bem daiacute ia ficar pro parto como natildeo tinha foi

para cesaacuterea (M6)

Fizeram uma junta meacutedica laacute no hospital e os meacutedicos falaram com a minha matildee pois eu era

bdquode menor‟ ela autorizou para fazer uma cesaacuterea antecipada porque eu jaacute bdquotava‟ em trabalho de

parto soacute que eu natildeo tinha dilataccedilatildeo () (M8)

Um dos motivos alegados pela entrevistada M6 foi ter sido submetida a uma cesaacuterea

eletiva por natildeo ter entrado em trabalho de parto tendo tambeacutem a falta de informaccedilatildeo apontada

sobre outras formas de nascimento

58

O descontentamento por natildeo ter vivenciado o parto normal foi narrado com frustraccedilatildeo

pela entrevistada M2 A induccedilatildeo do parto e a presenccedila de contraccedilotildees apontadas por ela como

fatores indicativos para realizaccedilatildeo de cesaacuterea estatildeo associadas ao aumento da taxa de

nascimento preacute-termo e de baixo peso

Na maioria das sociedades atuais o meio cultural propagado pelos profissionais

meacutedicos interfere nos processos fisioloacutegicos do nascimento O motivo para o aumento dos

iacutendices de cesaacutereas eacute verdadeiramente devido a uma falha universal e quase cultural no

entendimento das necessidades baacutesicas das mulheres (ODENT 2004)

Nessa direccedilatildeo as consequecircncias de risco aumentam tanto para a parturiente quanto

para o feto A taxa de internaccedilatildeo em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em um estudo feito

na Austraacutelia com gestantes de baixo risco demonstra que as chances de internaccedilatildeo em

mulheres que fizeram cesaacuterea eletiva sem entrar em trabalho de parto aumentam em 154

em gestaccedilotildees de 37 semanas 121 em gestaccedilotildees de 38 semanas e 51 para as mulheres

com 39 semanas gestacionais (TRACY et al 2007)

Os prejuiacutezos aos receacutem nascidos prematuros natildeo se apresentam somente no momento

do nascimento satildeo mais duradouros acompanham-nos na vida futura provocando problemas

de sauacutede e colocando-os em desvantagem em relaccedilatildeo aos que nasceram de parto vaginal

(TOMASHEK et al 2007 SWANY et al 2008)

Ao final da gestaccedilatildeo a mulher pode apresentar algumas vezes contraccedilotildees

permanecendo entretanto descoordenadas sem a dilataccedilatildeo da ceacutervice uterina o que se

denomina ldquofalso trabalho de partordquo Essa situaccedilatildeo pode levar o profissional de sauacutede a realizar

uma admissatildeo precoce da gestante na maternidade e com isso realizar intervenccedilotildees

desnecessaacuterias como por exemplo uma induccedilatildeo do parto sem indicaccedilatildeo ou uma cesariana

(BRASIL 2001)

Os partos induzidos e outros fatores como monitoramento fetal contiacutenuo e uso

frequente de anestesias peridurais satildeo aspectos da industrializaccedilatildeo do parto que tem como

consequumlecircncia a falta de entendimento da sua fisiologia (ODENT 2004)

Em um estudo na Escoacutecia constatou-se que 20 das pueacuterperas que se submeteram agrave

cesariana natildeo receberam orientaccedilatildeo sobre o motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea e 16 tinham

somente uma ideacuteia parcial da indicaccedilatildeo A forma e o momento inadequado de informar sobre

a indicaccedilatildeo da cirurgia podem acentuar a dificuldade de as mulheres entenderem e

compreenderem essas informaccedilotildees (HILLAN 1992) como se pocircde perceber na fala das

entrevistadas

59

E da segunda gravidez daiacute foi direto o agendamento da cesaacuterea mas eu natildeo tive outras

informaccedilotildees de outras formas de nascer ou em domiciacutelio ou em banheira Natildeo nada disso (M6)

() aiacute eles anteciparam a cesaacuterea Depois eu descobri que foi porque o meu marido faleceu

(M8)

Outra pesquisa mostra que a justificativa dada por 61 mulheres para a realizaccedilatildeo da

cesariana foi discordante da indicaccedilatildeo meacutedica em 475 dos casos Tenciona-se o fato de que

ignorar a indicaccedilatildeo de cesaacuterea pela mulher pode dificultar a conduccedilatildeo para um parto normal

posterior e as complicaccedilotildees advindas (OLIVEIRA et al 2002)

Uma das maiores preocupaccedilotildees associadas agrave cesariana aleacutem dos vaacuterios problemas

inerentes a um procedimento ciruacutergico eacute o seu impacto e risco na sauacutede reprodutiva futura da

mulher como predisposiccedilatildeo a inserccedilatildeo anormal da placenta em futuras gestaccedilotildees (LEE

DALTON 2008)

O maior risco de ruptura uterina hemorragia poacutes-parto e remoccedilatildeo manual de placenta

tambeacutem eacute relacionado a mulheres que jaacute se submeteram a uma cesariana preacutevia (TAYLOR et

al 2005)

Segundo o relato das entrevistadas natildeo foram apresentadas indicaccedilotildees para a cesaacuterea

condizentes ao que as evidecircncias cientiacuteficas preconizam na literatura da aacuterea Outro fato

apontado atraveacutes na fala das entrevistadas foi o agendamento preacutevio da cirurgia no preacute-natal

ldquoA cirurgia estava agendada jaacute no preacute-natalrdquo (M4) ldquoEstava agendada a cesaacuterea no preacute-natalrdquo

(M6)

Os inuacutemeros efeitos prejudiciais tanto para a mulher quanto para o fetoneonato da

cesaacuterea sem indicaccedilotildees satildeo comprovados pelo conhecimento cientiacutefico atual A siacutendrome da

anguacutestia respiratoacuteria do receacutem-nascido desponta com uma das principais causas de morbi-

mortalidade perinatal (MADAR 1999)

As pacientes submetidas a cesarianas agendadas sem indicaccedilotildees apresentam

morbidade e mortalidade maior quando comparadas a pacientes que realizaram o parto normal

(HALL 1999 LILFORD et al 1990)

A respeito do motivo da indicaccedilatildeo da cesaacuterea um estudo constatou que a maioria das

mulheres demonstra certa passividade frente ao meacutedico na decisatildeo pelo parto ciruacutergico

(FIGUEIREDO N et al 2010)

Essa conduta relaciona-se com os elevados iacutendices de cesaacutereas desnecessaacuterias no

Brasil Buscando reverter esse quadro a Associaccedilatildeo Meacutedica Brasileira (AMB) e o Conselho

Federal de Medicina (CFM) em iniciativa conjunta elaboraram um protocolo sobre o tema

indicaccedilotildees de cesaacutereas intitulado Projeto Diretrizes (PD) Satildeo objetivos desse trabalho

60

conciliar informaccedilotildees sobre o tema no sentido de estimular a praacutetica da medicina baseada em

evidecircncias analisar individualmente as indicaccedilotildees de cesariana com base nas evidecircncias

cientiacuteficas da literatura promover uma diminuiccedilatildeo das taxas de cesariana (PROJETO

DIRETRIZES 2002)

Os desvios eacuteticos decorrentes dessa conduta natildeo levam em consideraccedilatildeo a sauacutede das

mulheres Haacute a necessidade constante de atualizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais meacutedicos

e demais consequumlecircncias possiacuteveis dessa atitude (HADDAD et al 2011)

Nesse contexto destaca-se um estudo realizado com docentes do Departamento

Materno- Infantil do Hospital Universitaacuterio de Satildeo Joseacute do Rio Preto que constatou a

valorizaccedilatildeo da cesaacuterea em detrimento ao parto vaginal concorrendo para a disseminaccedilatildeo da

cultura subjacente agrave desmobilizaccedilatildeo dos alunos e profissionais meacutedicos para a realizaccedilatildeo do

parto normal (MORAES GOLDENGERG 2001)

61

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao tentar traduzir sob a forma de pesquisa a compreensatildeo de como a cultura influencia

no processo de parturiccedilatildeo da mulher finalizo este estudo com o vislumbre de que o objeto

escolhido foi pleno de possibilidades para entender e sobretudo para ampliar as propostas e a

pesquisa nessa aacuterea de estudos Encerro este trabalho com a certeza de que foi uma etapa

necessaacuteria em minha vida profissional e muito importante para o meu crescimento pessoal e

acadecircmico

Como mencionado anteriormente a inquietaccedilatildeo frente agrave fragilidade das parturientes ao

se submeterem sem questionamentos a todos procedimentos e intervenccedilotildees da equipe

obsteacutetrica apresentou-se como uma das justificativas da realizaccedilatildeo deste trabalho atraveacutes da

questatildeo norteadora ldquoqual a participaccedilatildeo da cultura nos saberes e as praacuteticas das mulheres em

relaccedilatildeo ao processo da parturiccedilatildeordquo

Esse estudo abriu espaccedilo para que mulheres falassem de um periacuteodo em suas vidas

extremamente iacutentimo e especial permitindo-lhes ampliar a visatildeo acerca dos determinantes

socioculturais envolvidos nesse momento O estudo foi realizado fora do periacuteodo graviacutedico

puerperal justamente para tentar captar delas o que realmente ficou de significativo dessa

fase sem interferecircncia ou expectativas de quem estaacute passando pelo turbilhatildeo de emoccedilotildees que

acompanham o processo da parturiccedilatildeo

O desenvolvimento desta pesquisa possibilitou perceber que o parto enquanto um dos

momentos da vida da mulher de grande importacircncia nem sempre eacute compreendido e entendido

dessa maneira por elas

Da mesma forma observou-se que a vivecircncia das mulheres em seu processo de

parturiccedilatildeo eacute percebida de modo diferente por cada uma algumas vezes de forma positiva e

outras de forma negativa A forma da mulher vivenciar esse processo depende de fatores

individuais e principalmente de representaccedilotildees culturais da realidade social a que ela

pertence

A abordagem negativa do estudo referida por algumas mulheres manifestou o

desconhecimento sobre a fisiologia do parto estando intrinsecamente relacionado ao modelo

fragmentado em partes do corpo perpetuado pelas praacuteticas da medicina cientiacutefica dominantes

na sociedade

62

As mulheres natildeo estatildeo conscientes dessas circunstacircncias e reproduzem essa forma de

fragmentaccedilatildeo de que o uacutetero eacute um muacutesculo involuntaacuterio e de que o parto eacute um processo ao

qual tecircm de se submeter causando uma sensaccedilatildeo muito marcante de fragmentaccedilatildeo e

objetificaccedilatildeo nas mulheres que sofreram uma cesaacuterea conforme constatado no estudo

Por outro lado a abordagem positiva apontada por elas dignifica a responsabilidade

por uma nova vida e a emoccedilatildeo do nascimento entendendo-o como uma oportunidade de

crescimento psicoloacutegico e de resgate espirituais

Na percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto desejado haacute divergecircncias de opiniatildeo em

relaccedilatildeo ao tipo de parto vivenciado por cada uma As mulheres que desejaram e vivenciaram

o parto normal relatam o evento como parte de uma jornada interior e exterior que envolve

sentimentos iacutentimos uma experiecircncia fiacutesica profunda e intensa de algo que elas satildeo capazes

de realizar compreendendo que o significado de ser matildee eacute ter a capacidade de passar pela

experiecircncia do trabalho de parto e do parto natural

Em contrapartida o significado da vivecircncia das mulheres que natildeo desejaram ou

realizaram a cesaacuterea assemelha-se ao processo de produccedilatildeo industrializada em nossa

sociedade em que as atividades satildeo realizadas e determinadas inteiramente pela figura do

meacutedico e dos hospitais e natildeo por elas Percebeu-se que o papel principal do parto que seria

da parturiente foi assumido por essas figuras que estatildeo no controle pois as mulheres natildeo se

sentiam prontas ou capazes de tomaacute-lo para si

Identificou-se que a via de parto desejada pela maioria das entrevistadas foi o parto

normal mas as que natildeo conseguiram realizar esse desejo foi devido agrave influecircncia e agraves

intervenccedilotildees recebidas do meacutedico Os argumentos que influenciaram o desestiacutemulo da

realizaccedilatildeo do parto normal foram a necessidade de realizaccedilatildeo de laqueadura tubaacuteria e a falta

de informaccedilatildeo sobre meacutetodos natildeo farmacoloacutegicos e farmacoloacutegicos para o aliacutevio da dor

Cabe ressaltar que as mulheres que desejaram o parto normal e conseguiram parir por

esta via sentiram seguranccedila e confianccedila na experiecircncia do trabalho de parto natildeo sendo

identificando nenhum sinal perceptiacutevel em suas palavras relacionado agrave incapacidade de fazecirc-

lo podendo assim vivenciaacute-lo ativamente Outros aspectos importantes a serem ressaltados

foram a rapidez da recuperaccedilatildeo e a volta agraves atividades diaacuterias o desejo de serem acolhidas

pelos profissionais nas suas demandas e o direito agrave informaccedilatildeo clara e eacutetica

Sobre o poder de decisatildeo do meacutedico quanto ao tipo de parto constataram-se

divergecircncias de opiniatildeo As entrevistadas afirmaram que o meacutedico tem o poder de decisatildeo

sobre a escolha do tipo de parto poreacutem algumas natildeo estatildeo de acordo com esta conduta

63

defendendo que a decisatildeo deveria levar em conta a opiniatildeo da mulher uma vez que eacute ela que

estaacute sentindo e passando pelo processo

Conforme expressam as entrevistadas elas aceitaram essa atitude por parte dos

profissionais mas sentiram que algo em relaccedilatildeo a isso poderia ter sido mudado Elas

incentivam a mudanccedila das atitudes que colocam a mulher em posiccedilatildeo desprivilegiada no

parto

Outro aspecto destacado no estudo foi como se daacute a construccedilatildeo cultural do processo

parturitivo das mulheres Pocircde-se constatar que o significado positivo evidenciado pelas

mulheres do conviacutevio das entrevistadas principalmente pela figura materna proporcionou um

parto enriquecedor agraves entrevistadas e exerceu influecircncia na preferecircncia por parto normal

Outras no entanto descrevem que se atribuiu significado negativo pelas mulheres do

conviacutevio o que provocou medo ansiedade e inseguranccedila agraves entrevistadas durante a

experiecircncia do seu parto

Assim confirma-se que o parto natildeo pode ser entendido e reduzido somente ao aspecto

bioloacutegico pois a partir da transmissatildeo de conhecimentos interrelacionais constatados nesta

pesquisa pode-se compreender que a cultura influencia no processo de parturiccedilatildeo das

mulheres E haacute que se considerar essa influecircncia quando se presta cuidado agraves parturientes

O conteuacutedo de revistas da internet dos meios de comunicaccedilatildeo em geral aleacutem das

informaccedilotildees repassadas por vizinhos constituem outro fator de notaacutevel influecircncia nesse

construto imaginaacuterio As experiecircncias relatadas denotam que essas formas de construccedilotildees

culturais servem para expansatildeo do conhecimento sobre o assunto Isso deixa claro que as

mulheres muitas vezes estatildeo conscientes de sua falta de autonomia e buscam visotildees

alternativas sobre como o seu parto poderia acontecer

As visotildees alternativas citadas por elas foram o nascimento em casa de parto e no

domiciacutelio formas de assistecircncia consideradas na atualidade como humanizadas por ativistas

do parto normal de todo o mundo e pelas organizaccedilotildees governamentais e natildeo governamentais

que trabalham em prol da humanizaccedilatildeo do parto e nascimento tendo como objetivo devolver

agrave mulher o protagonismo na sua gestaccedilatildeo parto e poacutes-parto

No relato das mulheres eacute citada somente a figura meacutedica na consulta de preacute-natal e

elas falam que esse profissional natildeo forneceu efetivamente nenhuma informaccedilatildeo sobre parto

Tal postura silenciosa por parte desse profissional pode estar influenciando a faacutecil aceitaccedilatildeo

de uma cesaacuterea desnecessaacuteria fato esse comprovado pelo tipo de parto de maior incidecircncia

das mulheres deste estudo

64

As atividades desenvolvidas durante as consultas de preacute-natal foram accedilotildees de cunho

puramente bioloacutegico tecnicista e fragmentado como constatado na forma reduzida de

assistecircncia prestada que se limita agrave solicitaccedilatildeo de exames e agrave avaliaccedilatildeo obsteacutetrica de

batimentos cardiacuteacos fetais e altura uterina

As mulheres citam o atendimento da enfermeira na vivecircncia do parto bem como na

gestaccedilatildeo o que deflagra sua importacircncia nesse processo pois tal profissatildeo se constitui como

uma das maiores estrateacutegias que visa melhorar a assistecircncia obsteacutetrica no Brasil e exerce um

papel relevante no que tange agrave humanizaccedilatildeo durante o processo de nascimento Da mesma

forma a fisioterapia tambeacutem foi citada como ponto de incentivo agrave escolha do parto normal

O significado de parto celebrado por algumas mulheres do estudo abrange o

questionamento e a resistecircncia aos pressupostos culturais subjacentes ao modelo biomeacutedico

atual discordando de praacuteticas que vivenciaram no parto consideradas desrespeitosas Ponto

comum em suas falas foi a auto-percepccedilatildeo de resistecircncia agrave passividade imposta pela praacutetica

meacutedica

Foi demonstrado pelas mulheres claro desagrado por algumas praacuteticas que retiram da

mulher a sua autonomia no processo da parturiccedilatildeo tais como coibiccedilatildeo do acompanhante no

trabalho de parto e no parto invasatildeo de privacidade com a entrada de pessoas estranhas para

assistir ao parto sem licenccedila da parturiente e a falta de autonomia na escolha da via de parto

normal

A privaccedilatildeo dessa escolha acarretou a praacutetica de cesaacutereas desnecessaacuterias na maioria

das mulheres deste estudo Um dos principais motivos para a realizaccedilatildeo das cesaacutereas foi

apontado como a falta de dilataccedilatildeo das gestantes simplesmente pelo fato de natildeo estarem em

trabalho de parto quando admitidas na maternidade

Confesso que ao teacutermino deste trabalho muitos pressupostos que faziam parte dos

meus questionamentos foram esmaecidos pois esperava encontrar mulheres alienadas agrave

medicalizaccedilatildeo e agrave patologizaccedilatildeo do processo da parturiccedilatildeo e foi surpreendente o depoimento

de algumas das entrevistadas que demonstraram estar buscando novas formas de

conhecimento e de vivecircncia deste momento tatildeo especial em suas vidas natildeo obstante estarem

inseridas em um modelo tecnicista de assistecircncia

As entrevistadas questionam as praacuteticas como se apresentam atualmente e isso natildeo

significa que refutem os proveitos tecnoloacutegicos quando necessaacuterios mas defendem a

passagem a outro tipo de cultura em que possam exercer mais liberdade e ter participaccedilatildeo

ativa no processo da parturiccedilatildeo

65

Alguns significados atribuiacutedos pelas mulheres quanto agrave preferecircncia pela cesaacuterea e a

percepccedilatildeo de que o parto normal eacute muito mais arriscado explicitam resquiacutecios do discurso

meacutedico dominante Tambeacutem se revelou no estudo que as pacientes natildeo receberam

informaccedilotildees acerca dos riscos advindos deste procedimento ciruacutergico sem indicaccedilotildees

Portanto a ausecircncia de informaccedilatildeo sobre parto que deveria ser repassada pelo meacutedico foi

uma constataccedilatildeo neste estudo

O trabalho configurou-se um exerciacutecio instigante na medida em que o encadeamento

reflexivo da anaacutelise a partir das contribuiccedilotildees teoacutericas advindas dos estudos culturais de

gecircnero e corpo foi apontando que esse profissional de sauacutede produz significado no modo

como o parto eacute vivenciado pelas mulheres

Respondo ao final destas consideraccedilotildees ao questionamento inicial do estudo

constatando que a cultura participa dos saberes e das praacuteticas das mulheres em relaccedilatildeo ao

processo da parturiccedilatildeo Poreacutem algumas mulheres estatildeo buscando reinterpretar esta cultura

por meio de novas formas de vivenciar e de burlar o sistema de sauacutede obsteacutetrico vigente que

oprime tira-lhes o poder e impotildee silecircncio sob a eacutegide da proteccedilatildeo

As mulheres querem ser respeitadas ter direito agrave privacidade em seu parto ser ouvidas

e informadas com transparecircncia e eacutetica ter espaccedilo para expressar suas escolhas e agir

conforme suas necessidades poder gritar escandalizar caso desejem querem ainda ter

assistecircncia de boa qualidade sem julgamentos e livre de praacuteticas rotineiras que as instituiccedilotildees

obsteacutetricas impotildeem sem nenhum benefiacutecio para a matildee e o bebecirc

Se essa eacute a forma para encontrar significado ao desejo das mulheres ela difere e

muito da ldquopessimizaccedilatildeordquo do parto que alguns grupos de profissionais reproduzem em uma

cesaacuterea desnecessaacuteria ou em um parto normal medicalizado para finalizar um comeccedilo de vida

Cabe a noacutes profissionais de sauacutede mulheres homens sairmos dessa zona de conforto

que a sociedade atual nos enquadrou e comeccedilarmos a entender que a mudanccedila de paradigmas

de assistecircncia em todo o processo da parturiccedilatildeo estaacute associada a cidadatildeos e cidadatildes

conscientes e sujeitos da sua proacutepria histoacuteria

A enfermagem tem uma responsabilidade muito grande em todo esse processo e natildeo

pode eximir-se dela pois somos uma categoria profissional juntamente com a medicina que

tem o respaldo na lei do exerciacutecio profissional na assistecircncia agrave parturiente e ao parto normal

Os enfermeiros tecircm a formaccedilatildeo de natildeo intervir no processo da parturiccedilatildeo isto eacute de deixar a

fisiologia agir e eacute isto que temos que buscar a reconstruccedilatildeo dessa cultura sem intervenccedilotildees no

parto normal das mulheres

66

Precisamos fazer valer esse direito legal para que como profissionais do cuidado que

somos possamos proporcionar o cuidado de oferecer como um direito agrave mulher o

protagonismo no seu parto

O reconhecimento da mulher como protagonista do seu parto eacute elemento primordial

para os profissionais poderem compreender os temores as alegrias e os prazeres da gestaccedilatildeo e

do parto e assumirem uma nova postura de atenccedilatildeo Assim encerro destacando que os

muacuteltiplos aspectos que permeiam a vivecircncia das mulheres precisam ser observados quando se

presta assistecircncia durante o processo da parturiccedilatildeo

67

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA N A M A dor do parto normal na perspectiva e vivecircncia de um grupo de

mulheres usuaacuterias do Sistema Uacutenico de Sauacutede Tese de doutorado Programa de Poacutes

Graduaccedilatildeo em Ciecircncias da Sauacutede - Convecircnio Rede Centro Oeste (UNB UFG UFMS)

Goiacircnia 2009

ANS AGEcircNCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR (Brasil) O modelo de atenccedilatildeo

obsteacutetrica no setor de Sauacutede Suplementar no Brasil cenaacuterios e perspectivas Agecircncia

Nacional de Sauacutede Suplementar ndash Rio de Janeiro ANS 2008a Disponiacutevel em

lthttpwwwansgovbrportaluploadnoticiasclippinglivro_parto_webpdfgt Acesso em 11

ago 2011

ANS Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar (Brasil) Rol de Procedimentos e Eventos em

Sauacutede RN 16708 Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar - Rio de Janeiro ANS 2008b

ANS AGEcircNCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR (Brasil) Atualiza o Rol de

Procedimentos e Eventos em Sauacutede previstos na RN nordm 211 de 11 de janeiro de 2010

Agecircncia Nacional de Sauacutede Suplementar ndash Rio de Janeiro ANS 2011 Disponiacutevel em

lthttpwwwansgovbrimagesstoriesnoticiaspdfrn20262pdfgt Acesso em 30 nov

2011

BALASKAS J Parto Ativo guia praacutetico para o parto natural Traduccedilatildeo Adailton Salvatore

Meira 2 ed Satildeo Paulo Ground 2008

BARAK E M ALAN R H e NILS J B Should Neonates Sleep Alone Society of

Biological Psychiatry Revista Biological Psychiatry 2011

BARROS et al The challenge of reducing neonatal mortality in middle-income countries

findings from three Brazilian birth cohorts in 1982 1993 and 2004 Lancet v365 n9462

Mar 5-11 p847-54 2005

BARDIN L Anaacutelise de conteuacutedo 7 ed Portugal Ediccedilotildees 1977

BERGER P LUCKMANN T A Construccedilatildeo Social da Realidade Traduccedilatildeo de Floriano

de Souza Fernandes 3 ed Petroacutepolis Vozes 1976

68

BEZERRA M G A CARDOSO M V L M Fatores interferentes no comportamento de

parturientes enfoque na Etnoenfermagem Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v

58 n6 p698-702 novdez 2005

BEZERRA M G A CARDOSO M V L M Fatores culturais que interferem nas

experiecircncias das mulheres durante o trabalho de parto e parto Revista Latino-americana

Enfermagem maiojun 14(3)414-21 2006

BUSANELLO J COSTA K P PINHO E Humanizaccedilatildeo do Parto e do Nascimento os

desafios para a implementaccedilatildeo do programa do Ministeacuterio da Sauacutede CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 61 7 a 10 dez Fortaleza Cearaacute 2009

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Programa de Assistecircncia Integral agrave Sauacutede da Mulher bases

de accedilatildeo programaacutetica Brasiacutelia DF 1984

_____ Lei nordm 749886 Dispotildee sobre a regulamentaccedilatildeo do exerciacutecio da Enfermagem e daacute

outras providecircncias Disponiacutevel em

lthttpwwwabennacionalorgbrdownloadLeiPROFISSIONALpdf gt Acesso em 29 nov

2011

_____ Decreto n 9440687 Regulamenta a Lei nordm 7498 de 25 de junho de 1986 Dispotildee

sobre o exerciacutecio da enfermagem e da outras providecircncias Disponiacutevel em

lthttpportalcofengovbrsitenovonode4173gt Acesso em 29 nov 2011

_____ Presidecircncia da Repuacuteblica Lei nordm 11108 Altera a Lei no 8080 de 19 de setembro de

1990 para garantir agraves parturientes o direito agrave presenccedila de acompanhante durante o trabalho de

parto parto e poacutes-parto imediato no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS 2005b

Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-

20062005LeiL11108htmlgt Acesso em 25 nov 2011

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Resoluccedilatildeo nordm 196 sobre pesquisas envolvendo seres

humanos Brasiacutelia DF 1996

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 2815 de 29 de maio de 1998 - Institui o

procedimento do parto normal realizado por enfermeiro obstetra no Sistema Uacutenico de

Sauacutede Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF

seccedilatildeo 1 p47-8 1998b

69

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 2883 de 04 de junho de 1998 - Institui o Precircmio

Nacional Profordf Galba de Arauacutejo Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder

Executivo Brasiacutelia DF seccedilatildeo 1 p 24 de 0506 de 1998a Disponiacutevel em

lthttpdtr2001saudegovbrsasportariasport98GMGM-2883htmlgt Acesso em 29 nov

2011

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria nordm 985 GM Institui as Casas de Parto ou Centro de

Parto Normal no Sistema Uacutenico de Sauacutede Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do

Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 05 ago 1999

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 466 de 14 de junho de 2000 - Estabelecer como

competecircncia dos estados e do Distrito Federal a definiccedilatildeo de limite por hospital de

percentual maacuteximo de cesarianas em relaccedilatildeo ao nuacutemero total de partos realizados e

ainda a definiccedilatildeo de outras estrateacutegias para a obtenccedilatildeo de reduccedilatildeo destes procedimentos

no acircmbito do estado Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil 115-E Poder

Executivo Brasiacutelia DF 2000a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Portaria ndeg 569 570 571 572 GM Estabelece o Programa de

Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e do Nascimento Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do

Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 01 jun 2000b

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Parto Aborto e Puerpeacuterio Assistecircncia Humanizada agrave

Mulher Ministeacuterio da SauacutedeFEBRASGOABENFO Brasiacutelia DF 2001

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Assistecircncia em Planejamento familiar Manual Teacutecnico-4 ed

Brasiacutelia 2002

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo integral agrave sauacutede da mulher

princiacutepios e diretrizes Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees Programaacuteticas

Estrateacutegicas Brasiacutelia Editora do Ministeacuterio da Sauacutede 2004

_____ Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Conselho Nacional dos Direitos da

Mulher I Plano Nacional de Poliacuteticas Puacuteblicas para as Mulheres Brasiacutelia 2005a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Nuacutecleo Teacutecnico da Poliacutetica

Nacional de Humanizaccedilatildeo Humaniza SUS documento base para gestores e trabalhadores do

SUS Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Nuacutecleo Teacutecnico da Poliacutetica

Nacional de Humanizaccedilatildeo 3 ed Brasiacutelia Editora do Ministeacuterio da Sauacutede 2006a

70

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Preacute-natal e puerpeacuterio atenccedilatildeo qualificada e humanizada

Brasiacutelia DF 2006b

_____ Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Conselho Nacional dos Direitos da

Mulher II Plano Nacional de Poliacuteticas Puacuteblicas para as Mulheres Brasiacutelia 2008a

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA) Resoluccedilatildeo

RDC nordm 36 de 03 de junho dispotildeem sobre Regulamento Teacutecnico para Funcionamento dos

Serviccedilos de Atenccedilatildeo Obsteacutetrica e Neonatal - Brasiacutelia - DF 2008b

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Instrutivo dos indicadores para a pactuaccedilatildeo unificada 2008

Brasiacutelia 2008c

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da

Mulher ndash PNDS 2006 dimensotildees do processo reprodutivo e da sauacutede da crianccedila Ministeacuterio

da Sauacutede Centro Brasileiro de Anaacutelise e Planejamento Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2009

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Estatiacutesticas de partos no Brasil Brasiacutelia DF 2010

_____ Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Accedilotildees

Programaacuteticas e Estrateacutegicas Aleacutem da sobrevivecircncia praacuteticas integradas de atenccedilatildeo ao

parto beneacuteficas para a nutriccedilatildeo e a sauacutede de matildees e crianccedilas Ministeacuterio da Sauacutede

Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Aacuterea Teacutecnica de Sauacutede da Crianccedila e Aleitamento Materno ndash

Brasiacutelia DF 2011

BUDOacute M L D et al A cultura permeando os sentimentos e as reaccedilotildees frente agrave dor Revista

da Escola de Enfermagem da USP Satildeo Paulo v41 n1 p 36-43 2007

BUSANELLO J COSTA K P PINHO E Humanizaccedilatildeo do Parto e do Nascimento os

desafios para a implementaccedilatildeo do programa do Ministeacuterio da Sauacutede CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 61 - 7 a 10 dez Fortaleza Cearaacute 2009

CERVO A BREVIAN P A A Metodologia Cientiacutefica Satildeo Paulo Mc Graw-Hill 1983

CHRISTOFFEL M M SANTOS R S Navegando no mar da neonatologia um mergulho

no mundo imaginal do receacutem-nascido da UTIN Rio de Janeiro Ed EEAN 2003

COLLACcedilO V S Parto vertical vivecircncia do casal na dimensatildeo cultural do processo de

parir Florianoacutepolis Cidade Futura 2002

71

DECLERCQ E MENACKER F MACDORMAN M Rise in no indicated risk primary

caesareans in the United States 1991-2001 cross sectional analysis BMJ v330 n7482 Jan

8 p71-2 2005

DIAS M A et al Trajetoacuteria das mulheres na definiccedilatildeo pelo parto cesaacutereo estudo de caso em

duas unidades do sistema de sauacutede suplementar do estado do Rio de Janeiro Ciecircncia e Sauacutede

Coletiva 13(5) 1521-1534 setout 2008

DINIZ C S G Direitos humanos das mulheres na gravidez e no parto Projeto Gecircnero

Violecircncia e Direitos Humanos - Novas Questotildees para o Campo da Sauacutede Coletivo Feminista

Sexualidade e Sauacutede Departamento de Medicina Preventiva Faculdade de Medicina USP 2

ed 2003

_____ Entre a teacutecnica e os direitos humanos possibilidades e limites da humanizaccedilatildeo da

assistecircncia ao parto Tese (Doutorado) Satildeo Paulo (SP) Faculdade de MedicinaUSP 2001

DOU DIAacuteRIO OFICIAL DA UNIAtildeO Seccedilatildeo 1 nordm 147 2 de agosto de 2011 p 34 Agecircncia

Nacional de Sauacutede Suplementar- ANS Resoluccedilatildeo normativa nordm 262 de 1ordm agosto de 2011

Disponiacutevel em

lthttpwwwingovbrimprensavisualizaindexjspjornal=1amppagina=34ampdata=02082011gt

Acesso em 02 ago 2011

ELSEN I SOUZA A I J MARCON SS Enfermagem agrave Famiacutelia dimensotildees e

perspectivas Maringaacute p 257-267 Eduem 2011

FAUacuteNDES A CECATTI J G A operaccedilatildeo cesaacuterea no Brasil Incidecircncia tendecircncias

causas consequecircncias e propostas de accedilatildeo Cadernos de Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro v7

n2 p150-173 jun 1991

FIGUEREDO L G M Consequecircncias causadas pela aplicaccedilatildeo de ocitocina na induccedilatildeo de

partos Superartigos (online) 2010 Disponiacutevel em httpwwwartigosetcbrconsequencias-

causadas-pela-aplicacao-de-ocitocina-na-inducao-de-partoshtml Acesso em 15 nov 2011

FIGUEREDO N S V et al Fatores culturais determinantes da escolha da via de parto por

gestantes HU Revista Juiz de Fora v 36 n 4 p 296-306 outdez 2010

FLOYD D R The technological model of birth J Am Folklore 100 p 479-495 1987

FLOYD D R JOHN St G Del medico al sanador Traduccedilatildeo de Lauren Showe e

colaboradores Buenos Aires Fund Creavida 2004

72

FLOYD D R Perspectivas antropoloacutegicas del parto y el nacimento Traduccedilatildeo de Jaqui

Zieler Magui Cadot e Graciela Cobe Buenos Aires Fund Creavida 2009

FOUCAULT M Microfiacutesica do Poder Traduccedilatildeo de Roberto Machado 10 ed Rio de

Janeiro Graal 1992

FREITAS P F et al Desigualdade social nas taxas de cesariana em primiacuteparas no Rio

Grande do Sul Revista de Sauacutede Puacuteblica 39 p 761-7 2005

GAIVA M A M TAVARES C M O Nascimento um evento pertencente agrave equipe de

sauacutede Texto amp Contexto Enfermagem outdez 12(4)569-75 2003

GAMA A S et al Representaccedilotildees e experiecircncias das mulheres sobre a assistecircncia ao parto

vaginal e cesaacuterea em maternidades puacuteblica e privada Cadernos de Sauacutede Puacuteblica

25(11)2480-2488 nov 2009

GAMBLE et al A critique of the literature on womens request for cesarean section Birth

v34 n4 Dec p331-40 2007

GEERTZ C A Interpretaccedilatildeo das Culturas Rio de Janeiro (RJ) Livros Teacutecnicos e

Cientiacuteficos 1989

GIL A C Como elaborar projetos de pesquisa 4 ed 9 reimpr Satildeo Paulo Atlas 2007

GUALDA DMR BERGAMASCO RB Enfermagem cultura e o processo sauacutede-

doenccedila Satildeo Paulo Iacutecone p221- 240 2004

HADDAD S El M T CECATTI J G Estrateacutegias dirigidas aos profissionais para a

reduccedilatildeo das cesaacutereas desnecessaacuterias no Brasil Revista Brasileira Ginecologia Obstetriacutecia

33(5) 252-62 2011

HALL M H BEWLEY S Maternal mortalityand mode of delivery Lancet 354776

1999

HELMAN G C Cultura Sauacutede e Doenccedila Traduccedilatildeo Ane Rose Bolner 5 ed Porto Alegre

Artes Meacutedicas 2009

73

HILLAN M Short-Term Morbidity Associated with Cesarean Delivery Birth v 19 Issue 4

pages 190ndash194 Dec 1992

HOPKINS K Are Brazilian Women Really Choosing to Delivery by Cesarean Soc Sci

Med 51(5)725-40 2000

HOTIMSKY SN et al O parto como eu vejo ou como eu o desejo Expectativas de

gestantes usuaacuterias do SUS acerca do parto e da assistecircncia obsteacutetrica Cadernos de sauacutede

puacuteblica setout 18(5)1303-1311 2002

IBGE Instituto Brasileiro Geografia e estatiacutesticas Cadernos de Informaccedilatildeo de Sauacutede

Ministeacuterio da Sauacutede 2009

IPEA Objetivos de desenvolvimento do milecircnio relatoacuterio nacional de acompanhamento

coordenaccedilatildeo Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada e Secretaria de Planejamento e

Investimentos Estrateacutegicos supervisatildeo Grupo Teacutecnico para o acompanhamento dos ODM

Brasiacutelia Ipea MP SPI 2007

JONES R Memoacuterias do homem de vidro reminiscecircncias de um obstetra humanista Porto

Alegre Ideacuteias a Granel 2004

PRADO JUNIOR P P Da concepccedilatildeo ao nascimento Praacuteticas Educativas na assistecircncia agrave

mulher no periacuteodo graviacutedico e puerperal Dissertaccedilatildeo de Mestrado Centro Universitaacuterio

Pliacuteneo Leite - Unipli Niteroacutei 2008

KRUNO R B BONILHA A L L Parto domiciliar na voz das mulheres uma perspectiva agrave

luz da humanizaccedilatildeo Rev Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) dez25(3)396-407 2004

LANDERDAHL M C et al Contribuiccedilotildees de um nuacutecleo de estudos na consolidaccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas para as mulheres REUFSM Revista de Enfermagem da UFSM - janabr

1(1)71-79 2011

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro (RJ) Jorge Zahar p 21-

40 2003

LEE Y Mi DALTON M E Cesarean delivery on maternal request the impact on mother

and newborn Clinics in Perinatology v35 n3 Sept p505-18 x 2008

74

LEININGER M Culture care diversity amp universality a theory of nursing New York

(US) National League for Nursing Press 1991

LEITAtildeO F J C Autonomia da mulher em trabalho de parto (Dissertaccedilatildeo) Mestrado em

Bioeacutetica Universidade de Lisboa Faculdade de medicina Departamento de Bioeacutetica 2010

LILFORD R J et al The relative risks of caesarean section (intrapartum and elective) and

vaginal delivery a detailed analysis to exclude the effects of medical disorders and other

acute pre-existing physiological disturbances Br J Obstet Gynaecol 97883-92 1990

MACDORMAN et al Infant and neonatal mortality for primary cesarean and vaginal births

to women with no indicated risk United States 1998-2001 birth cohorts Birth v33 n3

Sept p175-82 2006

MACHADO E G C Gestaccedilatildeo parto e maternidade uma visatildeo holiacutestica Belo Horizonte

Editora Aurora 1995

MADAR J RICHMOND S HEY E Surfactantdeficient respiratory distress after elective

delivery at bdquoterm‟ Acta Paediatr v 88 p 1244-8 1999

MANDARINO N R et al Aspectos relacionados agrave escolha do tipo de parto um estudo

comparativo entre uma maternidade puacuteblica e outra privada em Satildeo Luiacutes Maranhatildeo Brasil

Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 25(7) p 1587-1596 jul 2009

MARTIN E A mulher no corpo - uma anaacutelise cultural da reproduccedilatildeo Traduccedilatildeo Juacutelio

Bandeira Rio de Janeiro Garamond 2006

MARTINS C S RAMOS J G L A questatildeo das cesarianas Rev Brasileira Ginecologia

Obstetriacutecia v27 nordm 10 Rio de Janeiro 2005

MCCOURT et al Elective cesarean section and decision making a critical review of the

literature Birth v34 n1 mar p65-79 2007

MEDEIROS R M K SANTOS IMM SILVA L R A escolha pelo parto domiciliar

histoacuteria de vida de mulheres que vivenciaram esta experiecircncia Esc Anna Nery Rev

Enfermagem dez 12(4) 765-72 2008

MELCHIORI et al Preferecircncia de gestantes pelo parto normal ou cesariano Interaccedilatildeo

psicologia 13(1)13-23 janjun 2009

75

MINAYO M C de S (org) Pesquisa Social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis

Vozes 2000

_____ O Desafio do Conhecimento pesquisa qualitativa em sauacutede 8 ed Satildeo Paulo Ed

Hucitec-Abrasco 2004

_____ O Desafio do Conhecimento pesquisa qualitativa em sauacutede 11 ed Satildeo Paulo Ed

Hucitec-Abrasco 2008

MONTICELLI M O nascimento como rito de passagem uma abordagem cultural para o

cuidado de enfermagem agraves mulheres e receacutem-nascidos (Dissertaccedilatildeo) Mestrado em

Enfermagem UFSC Florianoacutepolis 1994

MONDARDO S Proposta de reestruturaccedilatildeo dos serviccedilos da Unidade de Atenccedilatildeo agrave

Sauacutede da Vila Kennedy Santa MariaRS UFSM Santa Maria 1993

MORAES M S GOLDENBERG P Cesaacutereas um perfil epidecircmico Cad Sauacutede Puacuteblica

Rio de Janeiro 17 (3)509-519 maiojun 2001

MORELL M G G MELLO A V A Declaraccedilatildeo de Nascido Vivo no Estado de Satildeo

Paulo alguns resultados Informe Demograacutefico SEADE 29201-331 1995

MURTA et al Could elective cesarean sections influence the birth weight of full-term

infants Satildeo Paulo Medical Journal v124 p313-315 2006

ODENT M A Cesariana Traduccedilatildeo de Maria de Faacutetima de Madureira Florianoacutepolis Saint

Germain 2004

_____ A cientificaccedilatildeo do Amor Traduccedilatildeo de Marcos de Noronha e Talia Gevaerd de Souza

Florianoacutepolis Saint Germain 2000

ODENT M O camponecircs e a parteira Uma alternativa agrave industrializaccedilatildeo da agricultura e do

parto Traduccedilatildeo de Sarah Bailey Satildeo Paulo Ground 2003

OLIVEIRA et al Tipo de parto expectativas das mulheres Revista Latino-Americana de

Enfermagem v10 n 5 p 667-674 setout 2002

76

ORGANIZACAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE (OMS) Maternidade Segura - assistecircncia ao

parto normal 2009 Disponiacutevel em

lthttpabenforedesindicalcombrarqsmateria56_apdfgt Acesso em 06 dez 2010

_____ Sauacutede Materna e Neonatal Unidade de Maternidade Segura Sauacutede Reprodutiva e da

Famiacutelia Assistecircncia ao parto normal Um guia praacutetico de sauacutede materna e neonatal

Unidade de Maternidade Segura Sauacutede Reprodutiva e da Famiacutelia Genebra A Sauacutede 1996

OPAS III Reunioacuten Especial de Ministros de Salud de las Ameacutericas Atas resumidas

Santiago de Chile 2ordf 9 de octubre de 1972 Doc Oficial nordm 123 sept 1973

PELLOSO S M PANONT K T SOUZA K M P Opccedilatildeo ou imposiccedilatildeo Motivos de

escolha da cesaacuterea Arq Ciecircnc Sauacutede UNIPAR 4(1) 3-8 2000

PEREIRA W R Poder Violecircncia e Dominaccedilatildeo Simboacutelicos nos Serviccedilos de Sauacutede

Ribeiratildeo Preto 175p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem de Ribeiratildeo Preto

Universidade de Satildeo Paulo 2000

PEREIRA R R FRANCO S C BALDIN N Representaccedilotildees sociais e decisotildees das

gestantes sobre a parturiccedilatildeo protagonismo das mulheres Sauacutede sociedade v20 n3 Satildeo

Paulo julysept 2011

PETER A P C O Cuidado Cultural no Processo de Ser e Viver da Mulher Receacutem-

Nascido e Famiacutelia que Vivenciam o Parto no Domiciacutelio e no Hospital com Ecircnfase no

Contexto Domiciliar abrindo novos caminhos para a enfermagem (Trabalho de Conclusatildeo

de Curso) Graduaccedilatildeo em Enfermagem ndash Universidade Federal de Santa Catarina

Florianoacutepolis 2005

POTTER J E et al Unwanted caesarean sections among public and private patients in

Brazil prospective study BMJ 323 1155-8 2001

_____ Womens autonomy and scheduled cesarean sections in Brazil a cautionary tale

Birth 35 33-40 2008

PROGIANTI JM BARREIRA I A A obstetriacutecia do saber feminino agrave medicalizaccedilatildeo da

eacutepoca medieval ao seacuteculo XX 9 91-7 Revista Enfermagem UERJ 2001

PROJETO DIRETRIZES Associaccedilatildeo Meacutedica Brasileira e Conselho Federal de Medicina

Cesarianas indicaccedilotildees 2002

77

RAMOS J G L et al Morte materna em hospital terciaacuterio do Rio Grande do Sul um estudo

de 20 anos Rev Bras Ginecol Obstet 25 (6) 431-6 2003

REBELO F et al High cesarean prevalence in a national population-based study in Brazil

the role of private practice Acta Obstet Gynecol Scand 89 903-8 2010

RESSEL L B Vivenciando a sexualidade na assistecircncia de enfermagem Um estudo na

perspectiva cultural Escola de Enfermagem Universidade de Satildeo Paulo 2003

RESSEL L B et al A influecircncia da famiacutelia na vivecircncia da sexualidade Revista Esc Anna

Nery (impr) abrjun 15 (2)245-250 2011

REZENDE J MONTENEGRO B AC Obstetricia Fundamental 9 ed Rio de Janeiro

Guanabara Koogan 2003

ROSS L L BONILHA A L de L ARMELLINI C J et al Representaccedilotildees culturais

sobre parto e nascimento SEMANA CIENTIacuteFICA DO HOSPITAL DE CLIacuteNICAS DE

PORTO ALEGRE 26 Revista do HCPA 26 (Supl 1) 1-267 2006

SABATINO H Resposta ao polecircmico artigo Cesariana a polecircmica das taxas escrito por

Raphael da Cacircmara Medeiros Parente (Meacutedico do Ministeacuterio da Sauacutede - HSE Doutor em

Ginecologia - UNIFESP Mestre em Epidemiologia - UERJ) e publicado no Jornal do

CREMERJ ndash p 8 e 9 maio de 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwamigasdopartoorgbr2007indexphpoption=com_contentamptask=viewampid=891

ampItemid=204gt Acesso em 06 dez 2010

SANTOS M L Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia ao Parto e Nascimento um modelo teoacuterico

(Dissertaccedilatildeo) Mestrado em Enfermagem Universidade Federal de Santa Catarina

Florianoacutepolis 2002

SCAVONE L Impacto das Tecnologias Meacutedicas na Famiacutelia Sauacutede em Debate nordm40

p48-73 set 1993

SEIBERT S L BARBOSA J L S SANTOS J M VARGENS O M C

Medicalizaccedilatildeo x humanizaccedilatildeo o cuidado ao parto na histoacuteria Revista de Enfermagem

UERJ 13245-51 2005

SILVA L R A Experiecircncia na Casa de Parto Mohri-Japatildeo Revista de pesquisa Cuidado eacute

fundamental online setdez 1 (2) 288-298 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwseeruniriobrindexphpcuidadofundamentalarticleview359367gt Acesso em

13 out2011

78

SWAMY et al Association of preterm birth with long-term survival reproduction and next-

generation preterm birth JAMA v299 n12 Mar 26 p1429-36 2008

TAYLOR et al Risk of complications in a second pregnancy following caesarean section in

the first pregnancy a population-based study Medical Journal of Australia v183 n10

Nov 21 p515-9 2005

TEDESCO P R et al Fatores Determinantes para as Expectativas de Primigestas acerca da

Via de Parto Rev Bras Ginecol Obstet v26 n10 Rio de Janeiro novdez 2004

TEIXEIRA Z N F PEREIRA R W Parto Hospitalar - experiecircncias de mulheres da

periferia de Cuiabaacute - MT Cad Sauacutede Puacuteblica v25 n 11 Rio de Janeiro 2006

TELINI D M T Z Cesaacutereas e partos normais em gestantes com baixo risco obsteacutetrico

caracteriacutesticas maternas e repercussotildees neonatais (Tese) Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas

Campinas Universidade Estadual de Campinas 2000

THE LANCET Sauacutede dos Brasileiros 2011 Disponiacutevel em

lthttpwwwabcorgbrIMGpdfdoc-574pdf gt Acesso em 28 out 2011

TOMASHEK et al Differences in mortality between late-preterm and term singleton infants

in the United States 1995-2002 Journal of Pediatrics v151 n5 nov p450-6 456 2007

TRACY S K et al Admission of term infants to neonatal intensive care a population-based

study Birth v34 n4 dec p301-7 2007

TYRREL M A R CARVALHO V Programas nacionais de sauacutede-materno infantil

impacto poliacutetico social e inserccedilatildeo da enfermagem RJ EEANUFRJ 1995

VARGENS O M C PROGIANTI J M O Processo de Desmedicalizaccedilatildeo da Assistecircncia agrave

Mulher no Ensino de Enfermagem Rev Enferm USP 38 46-50 2004

VIacuteCTORA C G KNAUTH D R HASSEN M N A Pesquisa qualitativa em sauacutede

uma introduccedilatildeo ao tema Porto Alegre Tomo Editorial 2000

VIEIRA E M A Medicalizaccedilatildeo do Corpo Feminino Rio de Janeiro RJ Ed Fiocruz

2002

VIGILAcircNCIA EPIDEMIOLOacuteGICA Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria (SMS)

Dados Epidemioloacutegicos do Nuacutemero de Partos no Municiacutepio de Santa Maria - RS 2011

79

VILLAR J et al Caesarean delivery rates and pregnancy outcomes the 2005 WHO global

survey on maternal and Perinatal health in Latin America Lancet 367(9525)1819-29 2006

_____ Maternal and neonatal individual risks and benefits associated with caesarean

delivery multicentre prospective study BMJ v335 n7628 Nov 17 p1025 2007

80

ANEXOS

81

Anexo A - Aprovaccedilatildeo Comitecirc de Egravetica e Pesquisa

82

Anexo B - Autorizaccedilatildeo Emenda do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

83

84

APEcircNDICES

85

Apecircndice A - Ofiacutecio agrave Secretaria Municipal de Sauacutede de Santa Maria

Da Enfermeira Lizandra Flores Pimenta

Para Secretario Municipal de Sauacutede

Assunto Solicitaccedilatildeo (faz)

Santa Maria janeiro de 2011

Sr Secretaacuterio

Venho por meio deste solicitar a permissatildeo de V Srordf para desenvolver a pesquisa

intitulada A influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a

enfermagem junto as mulheres que satildeo atendidas na Unidade Baacutesica (UBS) de Sauacutede

Kennedy

Cumpre-se informar que esta pesquisa eacute resultado da experiecircncia na aacuterea obsteacutetrica

que me fez perceber a necessidade de compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher sobre a via de parto a partir das concepccedilotildees modernas sobre natureza e

cultura atribuiacutedos a percepccedilatildeo das mulheres sobre o parto Como esclarecimento cabe

ressaltar que conforme a metodologia que pretendemos desenvolver os sujeitos da pesquisa

seratildeo consultados e esclarecidos acerca dos objetivos nos comprometendo a respeitar os

preceitos da Resoluccedilatildeo nordm19696 quanto agrave pesquisa envolvendo seres humanos

Colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para esclarecimentos que se fizerem necessaacuterios

Desde jaacute agradecemos

Atenciosamente

________________________ _______________________________

Enfordf Lizandra Flores Pimenta Profordf Enfordf Drordf Lucia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI ndash 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

86

Apecircndice B - Ofiacutecio ao Departamento de Ensino e Pesquisa do HUSM

Da Enfa Lizandra Flores Pimenta

Para Departamento de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitaacuterio de Santa Maria

Assunto Solicitaccedilatildeo (faz)

Santa Maria maio de 2011

Senhor Diretora

Venho por meio deste solicitar a permissatildeo de VS para desenvolver a pesquisa

intitulada ldquoA influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a

enfermagemrdquo junto agraves mulheres que estatildeo no momento da entrevista nos serviccedilos de

ginecologia e obstetriacutecia do HUSM quais sejam Centro Obsteacutetrico Unidade Toco-

ginecoloacutegica e Ambulatoacuterio ala II

Cumpre-se informar que esta pesquisa eacute resultado da experiecircncia na aacuterea obsteacutetrica

que me fez perceber a necessidade de compreender como a cultura influencia no processo de

parturiccedilatildeo da mulher sobre a via de parto a partir das concepccedilotildees modernas sobre natureza e

cultura atribuiacutedas agrave percepccedilatildeo das mulheres em relaccedilatildeo ao parto Como esclarecimento cabe

ressaltar que conforme a metodologia que pretendo desenvolver os sujeitos da pesquisa seratildeo

consultados e esclarecidos acerca dos objetivos sendo que me comprometo a respeitar os

preceitos da Resoluccedilatildeo nordm 19696 quanto agrave pesquisa envolvendo seres humanos

Sem mais agradeccedilo a atenccedilatildeo dispensada colocando-me agrave disposiccedilatildeo para os

esclarecimentos que forem necessaacuterios

Atenciosamente

________________________ _______________________________

Enfordf Lizandra Flores Pimenta Profa Enfa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI - 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

87

Apecircndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ENFERMAGEM

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Pesquisadoras responsaacuteveis Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

Enfa Mestranda Lizandra Flores Pimenta

InstituiccedilatildeoDepartamento Universidade Federal de Santa Maria - Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Enfermagem

Telefones para contato (55) 91376501

(55) 91429743

Locais da coleta de dados Unidade sanitaacuteria Kennedy e Hospital Universitaacuterio de Santa

Maria

Vocecirc estaacute sendo convidada para participar da pesquisa intitulada ldquoA influecircncia da

cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees para a enfermagemrdquo de autoria de

Lizandra Flores Pimenta mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Enfermagem da

UFSM sob a orientaccedilatildeo da Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel que tem por objetivo

compreender como a cultura influencia no parto da mulher

Mas antes de concordar em participar desta pesquisa eacute importante que vocecirc

compreenda todas as informaccedilotildees as quais dizem respeito a sua participaccedilatildeo nesta pesquisa

Sua participaccedilatildeo consistiraacute em responder agraves perguntas feitas por mim pesquisadora durante a

entrevista a qual teraacute como auxiacutelio um gravador de voz Apoacutes as suas informaccedilotildees gravadas

seratildeo transcritas por mim de maneira a resguardar a veracidade dos dados Posteriormente

essas informaccedilotildees seratildeo organizadas analisadas divulgadas e publicadas em revistas

cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede sendo a sua identidade preservada em todas as etapas

Eacute importante que vocecirc compreenda que eacute assegurado o anonimato e o caraacuteter privativo

das informaccedilotildees fornecidas exclusivamente para a pesquisa Vocecirc natildeo seraacute identificada em

nenhum momento mesmo quando os resultados desta pesquisa forem divulgados sob

qualquer forma pois seraacute adotada a letra bdquoM‟ (M1 M2 M3) inicial da palavra mulher para

esta finalidade Tambeacutem as informaccedilotildees seratildeo mantidas em um CD no armaacuterio da professora

88

pesquisadora no Departamento de EnfermagemUFSM por cinco anos Apoacutes este periacuteodo os

dados seratildeo destruiacutedos Os dados coletados depois de organizados e analisados deveratildeo ser

divulgados e publicados ficando a pesquisadora juntamente com a professora responsaacutevel por

apresentar o relatoacuterio da pesquisa para a instituiccedilatildeo na qual seraacute realizado este estudo

Comunico que a sua participaccedilatildeo na entrevista natildeo representaraacute a princiacutepio risco agraves

suas dimensotildees fiacutesica moral intelectual social cultural ou espiritual em qualquer fase da

pesquisa No entanto poderaacute gerar algum desconforto como lembranccedilas questionamentos

eou conflitos agrave dimensatildeo emocional pelo fato da pesquisadora realizar uma entrevista na qual

vocecirc iraacute refletir sobre o seu cotidiano e suas vivecircncias Contudo poderaacute haver um benefiacutecio

no que se refere agrave melhor qualidade das praacuteticas no cuidar em enfermagem Se houver

qualquer desconforto a entrevista poderaacute ser suspensa e se vocecirc achar necessaacuterio poderei

fazer um encaminhamento a um especialista da aacuterea da sauacutede mental

Ciente e de acordo com o que foi anteriormente exposto eu __________________

estou de acordo em participar desta pesquisa assinando este Consentimento em duas vias

ficando com a posse de uma delas

_________________________________

Assinatura do sujeito de pesquisa

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntaacuteria o Consentimento Livre e

Esclarecido deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a participaccedilatildeo neste estudo

dede2011

__________________________________

Assinatura da pesquisadora

RG 3046400473

Se vocecirc tiver alguma consideraccedilatildeo ou duacutevida sobre a eacutetica da pesquisa entre em contato com

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa - CEP- UFSM Av Roraima 1000 - Preacutedio da Reitoria ndash 7ordm

andar ndash Campus Universitaacuterio ndash 97105-900 ndash Santa Maria-RS - Tel (55) 32209362 ndash E-mail

comiteeticapesquisamailufsmbr

89

Apecircndice D - Termo de confidencialidade

Tiacutetulo do estudo ldquoA influecircncia da cultura no processo da parturiccedilatildeo Contribuiccedilotildees

para a enfermagemrdquo

Pesquisadora responsaacutevel Profa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

Pesquisadora Enfa Mestranda Lizandra Flores Pimenta

InstituiccedilatildeoDepartamento Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM)

Telefone para contato (55) 91376501 (55) 91429743

Locais da coleta de dados Unidade sanitaacuteria Kennedy e Centro Obsteacutetrico Unidade Toco-

ginecoloacutegica e Ambulatoacuterio ala II do HUSM

Os pesquisadores do presente projeto comprometem-se a preservar a privacidade dos

indiviacuteduos cujos dados seratildeo coletados por meio de entrevista gravada em aacuteudio MP3 e

realizada na UBS Kennedy numa sala reservada localizada no Hospital Universitaacuterio de

Santa Maria na cidade de Santa MariaRS Concordam igualmente que estas informaccedilotildees

seratildeo utilizadas uacutenica e exclusivamente para a execuccedilatildeo do presente projeto As informaccedilotildees

somente poderatildeo ser divulgadas de forma anocircnima e seratildeo mantidas em Compact Disc (CD)

por um periacuteodo de 5 (cinco) anos sob a responsabilidade da Enfordf Lizandra Flores Pimenta

Apoacutes este periacuteodo os dados seratildeo destruiacutedos Este projeto de pesquisa foi revisado e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFSM em 04012011 com o nuacutemero do CAAE

03170243000-10

Santa Maria de de 2011

________________________ _______________________________

Enfa Lizandra Flores Pimenta Profa Enfa Dra Luacutecia Beatriz Ressel

CI- 3046400473 CI ndash 705587136

COREnRS nordm 57215 COREnRS nordm 279225

90

Apecircndice E - Roteiro da entrevista com as mulheres

1 Dados de identificaccedilatildeo

Idade

Estado civil

Grau de instruccedilatildeo

Profissatildeoocupaccedilatildeo

Local de trabalho caso esteja trabalhando se natildeo indicar trabalho anterior

Raccedila

Quantos filhos

2 Sobre o parto

1 De que forma o parto e nascimento satildeo percebidos por vocecirc

2 Fale a respeito de sua experiecircncia em relaccedilatildeo aos seus partos e de outras mulheres do teu

conviacutevio

3 Existe alguma coisa em relaccedilatildeo ao parto de seus filhos que vocecirc gostaria que tivesse sido

diferente Por quecirc

4 O que vocecirc aprendeu sobre parto com teus pais irmatildeos irmatildes e outras pessoas da tua

famiacutelia

5 O que vocecirc escutou ou aprendeu sobre parto com os profissionais de sauacutede nos hospitais

e nos postos de sauacutede

6 O que vocecirc escutou ou aprendeu sobre parto em jornais revistas televisatildeo e internet

7 De que forma estes aprendizados participaram da tua decisatildeo sobre o tipo de parto

Page 11: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 12: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 13: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 14: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 15: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 16: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 17: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 18: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 19: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 20: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 21: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 22: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 23: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 24: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 25: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 26: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 27: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 28: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 29: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 30: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 31: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 32: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 33: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 34: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 35: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 36: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 37: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 38: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 39: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 40: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 41: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 42: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 43: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 44: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 45: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 46: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 47: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 48: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 49: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 50: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 51: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 52: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 53: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 54: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 55: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 56: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 57: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 58: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 59: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 60: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 61: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 62: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 63: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 64: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 65: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 66: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 67: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 68: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 69: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 70: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 71: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 72: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 73: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 74: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 75: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 76: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 77: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 78: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 79: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 80: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 81: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 82: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 83: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 84: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 85: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 86: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 87: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 88: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição
Page 89: CULTURA NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: CONTRIBUIÇÕES …coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/...que ocorrem no mundo são consideradas de baixo risco. Eis a definição