o rei dos reality show 15

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“O rei dos reality shows” é um livro muito interessante para todos que querem conhecer mais sobre os bastidores do mundo das celebridades. Relata a trajetória de um homem negro da periferia de São Paulo que conseguiu chegar aos veículos de comunicação sem conhecer ninguém, sem assessoria de imprensa e que, usando sua inteligência e criatividade, conseguiu sair do anonimato e ser reconhecido em vários lugares do Brasil pelas suas matérias e pela criação de reality shows populares

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São Paulo - 2015

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Copyright © 2015 by Editora Baraúna SE Ltda.

Capa AF Capas

Diagramação Felippe Scagion

Revisão Mariana M. Benicá

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

________________________________________________________________V713r

Vieira, Pedro Paulo Mendes O rei dos reality shows / Pedro Paulo Mendes Vieira. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2015.

ISBN 978-85-437-0377-0

1. Vieira, Pedro Paulo Mendes. 2. Homens - Brasil - Biografia. I. Título.

15-23219 CDD: 920.71 CDU: 929-055.1________________________________________________________________28/05/2015 05/06/2015

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo – SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.

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Prefácio

Se você já ouviu falar em “busca pela fama” ou se in-teressa pelo mundo das celebridades, precisa ler a história do Pedro Paulo.

Nascido na  periferia da capital, ele descobriu que tem um “dom” e um “vício”.

O “dom” é sua lábia. Ele é aquele tipo de cara que, se você conversar por uns cinco minutos com ele e ele falar que um homem já pisou em Saturno, é capaz de você acreditar.

O “vício” é a mídia. Ele também é aquele tipo de cara que faz de tudo para que seu nome saia naquela no-tinha de rodapé do jornal. Tudo mesmo...

Esses dois lados de sua personalidade conseguiram levá-lo a muito mais do que 15 minutos de fama. Saiu em jornais, rádio e televisão. Já foi entrevistado por An-tônio Abujamra e já se sentou na cadeira mais famosa do Brasil, a de Jô Soares. Com isso, vieram festas de socialites e encontros com famosos.

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E foi bem no começo de sua “carreira” que o conheci, em janeiro de 2009. Como repórter do jornal Agora São Paulo, do grupo Folha, fiquei responsável pela produção do caderno especial de aniversário de 455 anos de São Paulo.

Ele me veio com a história de que namorava uma ri-caça, mas desistiu de tudo por amor à favela. Pimba! Para um jornal popular como o Agora, a história caiu como uma luva. Fui até a casa de Pedro Paulo, na favela Vila Praia, na zona sul, onde ele me contou tudo.

A reportagem, publicada na última página do cader-no especial, trazia o título “O paraíso é aqui”, e a linha--final foi a seguinte: “Um conto de fadas da vida real: paulistano pobretão namora ricaça e vive em mansão por quase um ano, mas sente saudades e volta para a favela”.

Foi um sucesso. O primeiro sucesso de Pedro Paulo na mídia, o que lhe rendeu o apelido de “ex-milionário”.

Sua escalada estava apenas começando. Deu entre-vista ao SuperPop, de Luciana Gimenez, acorrentou-se a um estádio na Copa de 2010 para torcer pelo hexa e fez um desfile de mendigos na praça da Sé (criativamente chamado de “Mendigo Fashion Chic”).

Daí, pulou para mais uma “sacada”: a dos reality shows pobretões. Pedro Paulo colocava um monte de fi-gurantes em uma gaiola, prometia um prêmio de R$ 100 para quem ficasse por mais tempo e chamava a mídia, que adorava cobrir os eventos. E assim continuou com suas paródias, como a “Ilha dos Caras” e o “Ramelão”.

Era tão cara de pau que chegava a ponto de ligar para apresentadores e artistas fingindo ser o diretor de determinado programa... Para indicar a si mesmo!!!

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Desde aquela primeira reportagem, Pedro Paulo e eu sempre mantivemos a amizade. Mas, apesar de ter ten-tado várias vezes, nunca mais conseguiu emplacar uma história no jornal Agora.

Se ele realmente é um ex-milionário? Não ponho a mão no fogo, mas prefiro acreditar que sim.

O Pedro Paulo é uma “figura”, o da frase “esse cara é uma figura”. É um personagem dele próprio. Um malandro. Um piadista. Um self-made man. Com erros e acertos, aos trancos e barrancos, virou um mes-tre em criar notícias e factoides. E assim foi subindo, até ser chamado de “celebridade da periferia” ou “o gênio dos reality shows”.

Mais do que tudo, Pedro Paulo é um extremo co-nhecedor dos mecanismos da fama. Seu livro narra não só a trajetória de sua vida, mas também os bastidores da mídia e das celebridades.

Jorge Soufen JuniorJornalista

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Minha história de busca ao sucesso e fama começa na infância, quando eu cantava uma música da época, chamada “Fuscão preto”, e todos da família admiravam minha forma de cantar e de, tão pequeno, não ter medo nem timidez. Aos seis anos fui atropelado, em uma rua próxima à minha casa, tentava atravessar a rua para com-prar um maço de cigarros para minha mãe no mercado. Ela era empregada doméstica e ficava em casa apenas aos finais de semana.

Eu era criado pelos meus avós maternos, seu Otavia-no e dona Francisca, numa casa na zona sul de São Paulo, ao lado de uma favela chamada Vila Praia, na mesma casa em que, anos mais tarde, seria palco do meu primeiro rea-lity show, o Ramelão, no qual confinei oito pessoas para disputar um prêmio de mil reais parcelados em dez vezes. Mas essa história vou contar mais para frente, pois que-ro que todos conheçam a minha trajetória até os reality shows e minhas experiências de vida adquiridas ao longo dos anos, pois criança, filho de mãe solteira, não conheci meu pai. A informação que tive dele é que havia morrido e não tinha me assumido.

Bom, quando se é criança, fazemos muitos questio-namentos, ainda mais sobre questões paternas. Fui cria-do pelo meu avô, seu Otaviano, e pela minha avó, dona Francisca, enquanto minha mãe trabalhava de emprega-da nas mansões do Morumbi, bairro nobre de São Paulo, próximo à nossa humilde residência. Como fui atropela-do quando pequeno, comecei a escola primária atrasado numa escola chamada Neyde Aparecida Sollito, no bairro Jardim das Palmas, mas desde pequeno no meio daquelas

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crianças eu sentia que era diferente. Fui muito hostiliza-do pelas outras crianças, pois era muito magro, fracote e, por ser negro, zombavam muito de mim. Mais tarde descobri, através da mídia, que aquilo que eles faziam co-migo na escola se chamava bullying.

Meu avô trabalhava com reciclagem na época, com-prando e vendendo papelão e ferro velho. Ele tinha uma Kombi velha e ia me buscar na escola com ela e, devido a isso, as crianças tiravam sarro, coisas de criança mesmo. Fiquei lá por pouco tempo, só até a segunda série, depois fui transferido para outra escola em um bairro próximo, a Mary Moraes, na superquadra Morumbi. Lá já foi di-ferente, entrei direto na turma da bagunça, era o líder da molecada. Éramos quatro amigos de infância insepará-veis que botávamos fogo na escola: eu, Ailton, Neném e Jean Cristhiano, um mineiro de Araxá praticante de Kung Fu. Foi com ele que despertei interesse pelas artes marciais e que, mais tarde, me transformaria num profes-sor de capoeira, um acrobata admirado e reconhecido em muitas rodas de capoeira da época. Não estudava muito, fui reprovado na quarta série por três vezes, minha mãe era chamada sempre à escola por “n” motivos, era uma criança bagunceira.

Entrando na adolescência, filho de mãe solteira, pas-sava por necessidades em casa, pois minha avó materna havia falecido, meu avô se casado de novo e ido embora. Vivíamos na casa só eu e minha mãe, doméstica, enfren-tando as dificuldades da vida. Cedo tive que largar os estudos, fui só até ao oitavo ano, pois tive que trabalhar para ajudar em casa. Meu primeiro serviço foi como lava-

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dor de pratos num restaurante, acreditem ou não, dentro de um ônibus chamado “Bus bar”, do falecido seu Jorge, um italiano muito bacana.

Logo depois fui trabalhar em um lavarápido como lavador de carros para ajudar em casa e pagar minhas au-las de capoeira. Sempre estava envolvido com a arte e o esporte, que me ajudariam muito no decorrer da vida, pois lá desenvolvi mais o canto, a timidez foi embora, me transformou em um artista e me deu base.

Aos 18 anos de idade, em 1994, fui formado pro-fessor de capoeira na associação de capoeira Itambé da Bahia, do mestre Azambuja, um grande mestre de ca-poeira que tinha dezenas de formados na época. A arte da capoeira também acabou me levando para o teatro e para algumas figurações de TV, a filmes, produções nacionais nas quais precisavam de capoeiristas para as figurações, época boa da minha vida.

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Em seguida, consegui dar aula em uma academia na Cidade Jardim, em São Paulo, e permaneci dando aulas lá por dois anos. Um dos donos era Elaine Garavello, filha de um empresário famoso de automóveis. Enfim, tudo certo, foi nesta academia que conheci a mãe do meu filho, minha primeira companheira, com quem vivi por quase nove anos. Terminei o relacionamento de uma for-ma muito turbulenta e complicada, mas também pessoal. Não fui o único a terminar um relacionamento assim, minha vida nunca foi fácil, tive que trabalhar de seguran-ça de boate, vendedor de rosas no farol, manobrista, fren-tista, fiz de tudo um pouco. A vida foi me moldando. Aí vocês me perguntam, onde entra a paixão deste homem por reality shows?

Tudo começou em 1999. Eu, como todo homem ou mulher em busca do sucesso, já cantava, fazia letras de música e não conseguia espaço nenhum nos veículos de comunicação. A única vez que tinham me dado uma oportunidade foi no SBT, no então Programa do Rati-nho, onde faziam testes para calouros. Eu fui, fiquei o

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dia todo na fila para tentar uma chance, passei no teste, fui avaliado, gostaram de me ver cantando. Para mim foi uma grande coisa, eu havia passado no teste e iria can-tar em rede nacional para milhões de pessoas assistirem. Mal sabia eu que ali seria a grande decepção da minha vida, pois, no dia, eu, nervoso, errei a música, pois entrei fazendo acrobacias, e fui humilhado pelo apresentador que, além de me esnobar, ainda, quando eu saí do palco, fez um barulho de descarga de privada, como se eu fosse realmente uma merda. Meu trabalho, minha música, o que eu tentei demonstrar. Eu sabia que eu era muito mais que aquilo. Fiquei traumatizado e por anos adormeci este sonho de sucesso dentro de mim.

Tentei, sim, mostrar algumas canções para cantores de sucesso na época. Corri atrás de Netinho de Paula, que ainda era integrante do Negritude Junior, Salgadi-nho do Katinguelê etc. Nessas minhas tentativas de ter meu trabalho reconhecido encontrei um compositor de nome famoso no meio do samba, que me prometeu parceria em minhas músicas, e então eu iria conseguir ser reconhecido pelo meu trabalho junto à mídia. Tudo mentira! Ele enganava vários compositores com essa promessa de parceria e tirava grana deles como fez co-migo e, como na época eu trabalhava de motoboy, ainda me fazia de empregado, prestando serviços particulares dele para cima e para baixo. Mas foi rápido perceber a farsa: na primeira vez que não pude atender aos seus pedidos, a parceria acabou.

É assim que muitos enganam pessoas que buscam o sucesso, com promessas falsas, mas é vivendo e apren-

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dendo. Através deste cara conheci um maestro, que, por pena de me ver sendo enganado, me ajudou a gravar quatro de minhas músicas em estúdio. O nome dele é Chico Uchoa, grande músico e instrumentista. De certa forma, aquilo me realizou, mas não deu em nada. Mas eu, mesmo assim, não desistia do meu sonho adorme-cido de conquistar o sucesso. Os anos foram passando, estava casado com uma mulher que já tinha uma filha e tivemos o nosso filho. Ou seja, a responsabilidade era grande, aos 22 anos de idade tinha que trabalhar e dei-xar um pouco de sonhar, mas nada como o tempo e o destino para colocar as pessoas nos lugares certos, na hora certa. O Brasil é um país de grandes oportunida-des, mas que só aparecem para poucos.

Em 2006 me separei, após nove anos de casado e, em 2007, num encontro de casais de uma igreja, conheci uma mulher de uma condição social bem superior à mi-nha. Morava em um condomínio de luxo em Alphaville, em São Paulo. Condomínio esse que, meses mais tarde, seria minha casa, onde morei por um ano e meio. Foi este relacionamento diferente e com uma mulher rica que, depois de terminar, em 2008, de forma amigável, tive a grande ideia de levar para a mídia, para o sensacionalis-mo, para ficar conhecido em programas de TV e começar minha carreira rumo ao sucesso. E não é que deu certo, pessoal? Procurei primeiro um jornal de grande credibi-lidade na cidade de São Paulo, o jornal Agora, e contei minha história de morador de Alphaville, de mansão, que voltou a morar ao lado da favela, numa casa de dois cômodos, ou seja, me transformei no exmilionário. Não

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demorou muito, foi um pulo para programas sensacio-nalistas, como o A tarde é sua, da apresentadora Sônia Abrão, levarem imediatamente minha história para a TV. Em seguida, Luciana Gimenez também fez da minha his-tória um circo de horrores, mas era o que eu mais queria: ser conhecido, chegar ao sucesso. Saí nos jornais, fiz pro-gramas em rede nacional. Mas aquela história de exmilio-nário ia cansar todo mundo; já tinha escutado até mesmo no Domingo Espetacular da Rede Record de Televisão.

E agora, o que fazer? Eu tinha feito um funk, pois era o ritmo que estava na moda na época, chamei a mú-sica de “Melô do exmilionário”, que chegou até a ter milhares de acessos no Youtube. Cantei em programas como Casos de família no SBT, participei de um pro-grama na Band, chamado Toda sexta, com Adriane Ga-listeu, cantando, mas ele não foi para o ar, para minha infelicidade cancelaram o programa. Fiquei muito triste na época, mas uma coisa que eu estava aprendendo era como chegar aos grandes veículos de comunicação. Eu era o meu próprio assessor de imprensa e fazia este tra-balho, modéstia à parte, muito bem, por sinal, já tinha ido a vários programas de TV com o gancho da histó-ria do exmilionário e começava a ir a outros programas também, participando de temas diferentes do meu, até porque eu sempre fui muito comunicativo. Fui convida-do a participar do antigo programa da Márcia, na Band, como convidado especial no meio de celebridades.

As coisas, devagar, estavam acontecendo, mesmo com críticas, inveja e pessoas me desmotivando, tiran-do sarro. Elas me faziam ficar mais motivado ainda para

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chegar ao sucesso, a TV estava se tornando um sonho real para mim, mas ainda me faltava uma proposta, um personagem, algo a mais, e a grande oportunidade fixa até então não havia aparecido. Eu ainda estava perdido, não sabia o que fazer, nem o que realmente daria certo.

De repente, numas das minhas ligações em emis-soras de TV, fui convidado a participar de um teste em um programa humorístico da Record, o Show do Tom, no qual eu iria participar de um quadro chamado Ridí-culos, uma sátira do programa Ídolos de novos talentos da música. Fui, era mais uma chance de aparecer em rede nacional, topei na hora. Chegando à emissora, me colo-caram uma roupa ridícula de bicheiro e me perguntaram se eu poderia cair no buraco, era uma forma de mostrar para o povo o candidato que não foi aprovado. Por ironia ou não, aquilo me fez lembrar o Programa do Ratinho de anos atrás, onde fui humilhado e vaiado, mas tudo bem. Aceitei, fui lá, cantei, o pessoal da plateia até gostou, mas acabei caindo no buraco, conforme o combinado. Hu-milhante demais, mas tive que repetir ainda a cena, gra-vei a queda duas vezes. Mas aquela queda não foi à toa, me despertou. Pensei assim: “sou melhor que isso, posso, sim, conquistar espaços sem ser humilhado em público”. O apresentador, Tom Cavalcante, se mostrou muito ar-rogante comigo, recebi um simbólico cachê de 70 reais, mas a humilhação não tem preço.

Depois deste dia fatídico, ainda tive que passar por outra humilhação: ver o povo comentando, depois de o programa ir ao ar, os tiradores de sarro de plantão: “olha só o idiota que caiu no buraco” e tal, mas foi deste dia que veio a ideia: “vou