o reconhecimento e a execução de testamentos estrangeiros

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DA EXECUÇÃO DE TESTAMENTOS ESTRANGEIROS NO BRASIL Leonardo Monçores Vieira 1 Da Eficácia ExecuEva dos Testamentos no Brasil 1.1 O testamento como negócio jurídico causa mor)s 1.2 Os procedimentos judiciais de escruQnio formal dos testamentos 2 Aspectos Gerais da Exequibilidade dos Testamentos Estrangeiros no Brasil 2.1 Contextualização da problemáEca 2.2 Formas de ingresso das declarações de úlEma vontade estrangeiras no Brasil I Do ingresso documental. Requisitos de eficácia do documento estrangeiro no Brasil II Do ingresso judicial. Requisitos de eficácia da sentença estrangeira no Brasil 3 Aspectos Materiais da Exequibilidade dos Testamentos Estrangeiros no Brasil. Lei aplicável. 4 Aspectos Formais da Exequibilidade dos Testamentos Estrangeiros no Brasil . Lei aplicável 4.1 Da instrumentalidade das formas testamentárias

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Page 1: O reconhecimento e a execução de testamentos estrangeiros

DA  EXECUÇÃO  DE  TESTAMENTOS  ESTRANGEIROS  NO  BRASIL  Leonardo  Monçores  Vieira  

1-­‐  Da  Eficácia  ExecuEva  dos  Testamentos  no  Brasil    1.1-­‐  O  testamento  como  negócio  jurídico  causa  mor)s    1.2-­‐  Os  procedimentos  judiciais  de  escruQnio  formal  dos  testamentos      

2-­‐  Aspectos  Gerais  da  Exequibilidade  dos  Testamentos  Estrangeiros  no  Brasil    2.1-­‐  Contextualização  da  problemáEca    2.2-­‐  Formas  de  ingresso  das  declarações  de  úlEma  vontade  estrangeiras  no  Brasil      I-­‐  Do  ingresso  documental.  Requisitos  de  eficácia  do  documento                estrangeiro  no  Brasil      II-­‐  Do  ingresso  judicial.  Requisitos  de  eficácia  da  sentença  estrangeira  no            Brasil  

3-­‐  Aspectos  Materiais  da  Exequibilidade  dos  Testamentos  Estrangeiros  no  Brasil.  Lei  aplicável.    4-­‐  Aspectos  Formais  da  Exequibilidade  dos  Testamentos  Estrangeiros  no  Brasil  .  Lei  aplicável  

 4.1-­‐  Da  instrumentalidade  das  formas  testamentárias  

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1-­‐  Da  Eficácia  ExecuEva  dos  Testamentos  no  Brasil      

1.1-­‐  O  testamento  como  negócio  jurídico  causa  mor)s  os  efeitos  do  testamento  somente  se  verificam  após  o  falecimento  do  testador.   Até   então,   restam   adormecidas   as   disposições   de   úlEma  vontade   nele   consubstanciadas,   podendo   inclusive   serem   por   outras  revogadas,   não   repercuEndo   na   esfera   jurídica   de   seus   beneficiários  enquanto  viver  o  testador.    1.2-­‐  Os  procedimentos  judiciais  de  escru8nio  formal  dos  testamentos  Contudo,  não  basta  o  falecimento  do  testador  para  que  esses  efeitos  se  verifiquem  na  exequibilidade  do  testamento,  ao  menos  no  que  diz  respeito  às  disposições  patrimoniais.  O  testamento  deve  ainda  passar  pelo  escruQnio  do  Poder  Judiciário,  momento  em  que  será  examinada  a  observância  das  normas  que  disciplinam  os  aspectos  formais  de  sua  instrumentalização.  

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1-­‐  Da  Eficácia  ExecuEva  dos  Testamentos  no  Brasil  

Procedimentos  especiais  de  jurisdição  voluntária  de:    -­‐  Registro  e  cumprimento  dos  testamentos  públicos  (Código  de  Processo  

Civil,  art.  1.128);  

-­‐  Abertura,  registro  e  cumprimento  dos  testamentos  cerrados  (Código  de  Processo  Civil,  arts.  1.125  a  1.127)  

-­‐  De  confirmação,  registro  e  cumprimento  dos  testamentos  parEculares,  especiais  e  codicilos  (arts  1.130  a  1.134  do  Código  de  Processo  Civil,  e  1.877  e  1.878  do  Código  Civil).  

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2-­‐  Aspectos  Gerais  da  Exequibilidade  dos  Testamentos  Estrangeiros  no  Brasil  

 2.1-­‐  Contextualização  da  problemáBca:    É   comum   que   os   ordenamentos   jurídicos   disciplinem   sua   competência  internacional,   fixando   jurisdição   exclusiva   para   proceder   ao   inventário   e   à  parElha  de  bens   localizados  em  seu  território   (Código  de  Processo  Civil,  art.  89,   II).   Não   há   regra   semelhante   para   a   feitura   de   testamentos,   razão   pela  qual   admite-­‐se   que   disposições   de   úlEma   vontade   instrumentalizadas   no  estrangeiro,   versem   sobre   bens   situados   no   interior   de   suas   fronteiras.   Em  hipóteses   tais,   testamentos   realizados   no   exterior   deverão   ingressar   no  processo   de   inventário,   subsEtuindo,   no   todo   ou   em   parte,   as   disposições  legais  acerca  da  sucessão.    Nesses  casos,  surge  o  quesEonamento  acerca  da  lei  a  ser  aplicada  quanto  ao  escruQnio   das   formas   testamentárias   e   dos   aspectos   materiais   das  disposições  de  úlEma  vontade.      

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2-­‐  Aspectos  Gerais  da  Exequibilidade  dos  Testamentos  Estrangeiros  no  Brasil  

2.2-­‐  Formas  de  ingresso  das  declarações  de  úlBma  vontade  estrangeiras  no  Brasil    I-­‐  Do  ingresso  documental.  Requisitos  de  eficácia  do  documento  estrangeiro  no  Brasil    a)  Legalização  (Manual  do  Serviço  Consular  e  Jurídico,  item  4.1.11):  Notarização  e  

consularização  (Manual  do  Serviço  Consular  e  Jurídico,  item  4.7.1).  Exceções:    •  Itália,  o  “Tratado  relaEvo  à  Cooperação  Judiciária  e  ao  Reconhecimento  e  Execução  de  

Sentenças  em  Matéria  Civil”,  promulgado  pelo  Decreto  nº  1.476,  de  02/05/1995  •  França,  o  “Acordo  de  Cooperação  em  Matéria  Civil”,  promulgado  pelo  Decreto  nº  3.598,  de  

12/09/2000  •  ArgenEna,  o  Acordo,  por  troca  de  notas,  sobre  “Simplificação  de  Legalizações  em  

Documentos  Públicos”,  de  16/10/2003,  publicado  no  D.O.U.  de  23/04/2004  •  Chile  e  Uruguai,  o  Protocolo  de  Cooperação  e  Assistência  Jurisdicional  em  Matéria  Civil,  

Comercial,  Trabalhista  e  AdministraEvas,  promulgado  pelo  Decreto  2.067,  de  12/11/96  •  Estados  Partes  do  Mercosul,  República  da  Bolívia  e  a  República  do  Chile,  o  Acordo  de  

Cooperação  e  Assistência  Jurisdicional  em  Matéria  Civil,  Comercial,  Trabalhista  e  AdministraEva,  promulgado  pelo  Decreto  n°  6.891,  de  02/07/2009  

     

     

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2-­‐  Aspectos  Gerais  da  Exequibilidade  dos  Testamentos  Estrangeiros  no  Brasil  

2.2-­‐  Formas  de  ingresso  das  declarações  de  úlBma  vontade  estrangeiras  no  Brasil    I-­‐  Do  ingresso  documental.  Requisitos  de  eficácia  do  documento  estrangeiro  no  Brasil  (...)  b)  Tradução  (Código  Civil,  art.  224)  por  tradutor  público  Juramentado(Código  de  Processo  Civil,  art.  157)  c)  Registro  de  Títulos  e  Documento  (Lei  6.015/73,  art.  129,  item  6º).  Exceção:  Enunciado  nº  259  da  Súmula  do  STF  

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2-­‐  Aspectos  Gerais  da  Exequibilidade  dos  Testamentos  Estrangeiros  no  Brasil  

2.2-­‐  Formas  de  ingresso  das  declarações  de  úlBma  vontade  estrangeiras  no  Brasil    II-­‐  Do  ingresso  Judicial.      Não  obstante  seja  desnecessária  intervenção  judicial  estrangeira,  determinando  o  cumprimento  do  testamento  em  seu  território  realizado,  não  há  vedação  legal,  por  parte  do  direito  brasileiro,  à  providência,  mesmo  que  a  deixa  recaia  sobre  bens  aqui  situados.  Muito  pelo  contrário,  a  jurisdição  estrangeira  sobre  a  hipótese  é  reconhecida  pelo  nosso  ordenamento,  ao  se  estabelecer  competência  internacional  concorrente  quando  no  Brasil  Ever  de  se  cumprir  uma  obrigação  (Código  de  Processo  Civil,  art.  88,  II).  De  certo,  não  poderá  a  decisão  estrangeira  recair  sobre  o  inventário  e  parElha  dos  bens  localizados  no  Brasil,  sob  pena  de  violação  da  competência  internacional  exclusiva  da  autoridade  judiciária  brasileira  para  conhecer  e  julgar  esses  casos  (Código  de  Processo  Civil,  art.  89,  II).  Mas,  tratando-­‐se  de  decisão  estrangeira  que  se  limite  a  atestar  a  regularidade  formal  do  testamento,  à  semelhança  do  que  dispõe  o  direito  pátrio,  ao  regular  os  procedimentos  especiais  de  jurisdição  voluntária  voltados  ao  escruQnio  das  solenidades  testamentárias,  não  haveria  maiores  problemas,  bastando  que  fossem  homologadas  pelo  Superior  Tribunal  de  JusEça  (ConsEtuição  da  República,  art.  105,  I,  i)    

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2-­‐  Aspectos  Gerais  da  Exequibilidade  dos  Testamentos  Estrangeiros  no  Brasil  

2.2-­‐  Formas  de  ingresso  das  declarações  de  úlBma  vontade  estrangeiras  no  Brasil    II-­‐  Do  ingresso  Judicial.    (...)  Nesse  senEdo,  o  decidido  pelo  STF  nos  SE  2315/EU,  Relator  Ministro  THOMPSON  FLORES,  publicado  no  DJ  de  07/06/1977,  p.  3787;  SE  2316/EU,  Relator  Ministro  THOMPSON  FLORES,  publicado  no  DJ  de  06/06/1977,  p.  20;  e  SE  2738/EU,  Relator  Ministro  ANTÔNIO  NEDER,  publicado  no  DJ  de  19/02/1981,  p.  976,  do  qual  vale  transcrever  a  presente  passagem:  Já  ficou  quantum  saEs  demonstrado  nos  autos  que  a  requerente  deseja  recolher  uma  herança  de  pessoa  falecida  em  São  Paulo,  em  razão  das  disposições  testamentárias  confirmadas  pela  sentença  estrangeira  homologanda,  o  que  é  bastante  para  jusEficar,  senão  impor,  o  juízo  da  homologação,  segundo  a  lição  transcrita  do  notável  mestre  mineiro.  Por  outro  lado,  não  parece  razoável  que,  em  virtude  da  homologação  do  Supremo  Tribunal,  o  julgado  estrangeiro  possa  ter,  em  nosso  País,  maior  força  do  que  teria  uma  sentença  nacional  proferida  em  causa  idênEca.  (...)  Entre  nós,  o  juiz  só  nega  o  "cumpra-­‐se"  diante  de  vícios  extrínsecos  que  tornem  o  testamento  suspeito  de  nulidade  ou  de  falsidade,  mas  a  inexistência  de  tais  defeitos  extrínsecos  não  leva,  só  por  si,  à  plena  execução  da  vontade  do  testador.  (...)  Não  sendo  razoável  que  o  Supremo  Tribunal  atribua  ao  julgado  estrangeiro  efeito  mais  amplo  do  que  teria  em  nosso  País  uma  sentença  nacional  análoga,  opina  esta  Curadoria  pela  homologação,  desde  que  fique  ressalvado  ao  juízo  do  inventário  ou  às  vias  ordinárias  o  exame  pleno  de  eventuais  questões  sobre  a  validade  intrínseca  das  disposições  testamentárias”  

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2-­‐  Aspectos  Gerais  da  Exequibilidade  dos  Testamentos  Estrangeiros  no  Brasil  

2.2-­‐  Formas  de  ingresso  das  declarações  de  úlBma  vontade  estrangeiras  no  Brasil    II-­‐  Do  ingresso  Judicial.    (...)  Mais  recentemente,  o  entendimento  foi  aplicado  pelo  STJ  na  SE  5647,  Relator  Ministro  ARI  PARGENDLER,  publicado  no  DJe  de  16/05/2011  e  na  SEC  1304  /  US,  Relator  Ministro  GILSON  DIPP,  publicado  no  DJe  03/03/2008,  de  cuja  ementa  se  lê:  “Na  hipótese  dos  autos,  não  há  que  se  falar  em  ofensa  ao  art.  89  do  Código  de  Processo  Civil,  tampouco  ao  art.  12,  §  1º  da  Lei  de  Introdução  ao  Código  Civil,  posto  que  os  bens  situados  no  Brasil  Everam  a  sua  transmissão  ao  primeiro  requerente  prevista  no  testamento  deixado  por  Thomas  B.  Honsen  e  confirmada  pela  sentença  homologanda,  a  qual  tão  somente  raEficou  a  vontade  úlEma  do  testador,  bem  como  a  dos  ora  requeridos,  o  que  ficou  claramente  evidenciado  em  razão  da  não  impugnação  ao  decisum  alienígena”.  Mas  o  STJ,  ao  nosso  ver  logrando  em  grave  equívoco,  também  já  entendeu  que  tais  decisões  estrangeiras,  acerca  da  validade  de  testamentos,  viola  a  competência  internacional  exclusiva  da  autoridade  judiciária  brasileira:  SEC  1032/GB,  Rel.  Min.  Arnaldo  Esteves  Lima,  julgada  em  19/12/2007,  SEC  3532/EX,  Relator  Ministro  CASTRO  MEIRA,  publicada  no  DJe  de  01/08/2011.  

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2-­‐  Aspectos  Gerais  da  Exequibilidade  dos  Testamentos  Estrangeiros  no  Brasil  

2.2-­‐  Formas  de  ingresso  das  declarações  de  úlBma  vontade  estrangeiras  no  Brasil    II-­‐  Do  ingresso  Judicial.    (...)  Requisitos  de  eficácia  da  sentença  estrangeira  no  Brasil.  Lei  de  introdução  às  Normas  do  Direito  Brasileiro,  arts.  15  e  17  (juízo  de  delibação)  -­‐  Competência  da  autoridade  prolatora;  -­‐  Terem  sido  as  partes  citadas;    -­‐  Ter  a  decisão  passado  em  julgado  e  estar  revesEda  das  formalidades  

necessárias  para  a  execução  no  lugar  em  que  foi  proferida;    -­‐  estar  traduzida  por  intérprete  autorizado.    -­‐  Não  haver  ofensa  à  soberania  brasileira,  à  ordem  pública  e  aos  bons  

costumes  

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3-­‐  Aspectos  Materiais  da  Exequibilidade  dos  Testamentos  Estrangeiros  no  Brasil.    

No  âmbito  do  direito  internacional  privado,  são  diversas  as  soluções  que  podem  ser  dadas  a  problemas  dessa  natureza:    •  Assim,  fala-­‐se  em  lex  loci,  para  designar,  como  a  norma  

reguladora,  a  lei  do  local  onde  algo  se  encontra;      •  no  adágio  locus  regit  actum,  para  indicar  o  país  em  que  o  

ato  foi  praEcado;    •  em  lex  causae,  de  forma  a  dar  primazia  à  lei  que  rege  o  

processo;    •  em  lei  nacional,  respeitante  à  norma  vigente  no  país  de  

nacionalidade  de  alguém;    •  em  Lex  domicilii,  como  aquela  vigente  em  seu  domicílio,  

dentre  outras.  

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3-­‐  Aspectos  Materiais  da  Exequibilidade  dos  Testamentos  Estrangeiros  no  Brasil.    

Lei  de  Introdução  às  Normas  do  Direito  Brasileiro.    Elegeu  a  Lex  domicilii  para  regular:  -­‐  o  começo  e  o  fim  da  personalidade,  o  nome,  a  capacidade  e  os  

direitos  de  família  (LINDB,  art.  7º),    -­‐  o  regime  de  bens  (LINDB,  §  4º  do  art.  7º),    -­‐  a  sucessão  por  morte  ou  ausência  (LINDB,  art.  10º),  e  a  

capacidade  para  suceder  (LINDB,  §  2º  do  art.  10º).      Já  para  qualificar  os  bens  e  regular  as  relações  a  eles  concernentes,  elegeu  o  parâmetro  da  lex  loci  (LINDB,  art.  8º).    Na  regulamentação  das  obrigações,  elegeu  a  regra  locus  regit  actum  (LINDB,  art.  9º).  

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3-­‐  Aspectos  Materiais  da  Exequibilidade  dos  Testamentos  Estrangeiros  no  Brasil.    

Pontos  de  divergência  no  campo  Luso  Brasileiro  Espanhol:    •  segundo  o  direito  civil  Português,  são  incapazes  de  testar  os  menores  não  

emancipados  e  os  interditados  (Código  Civil  Português,  art.  2.189º).  Considerando  que  a  lei  portuguesa  considera  capazes  os  maiores  de  18  anos  (Código  Civil  Português,  art.  122º)  e  somente  permite  a  emancipação  pelo  casamento  (Código  Civil  Português,  art.  132º),  será  nulo  o  testamento  de  pessoa  domiciliada  em  terras  lusitanas  se  não  forem  observados  esses  preceitos.  

   •  Por  sua  vez,  o  direito  espanhol  prevê  capacidade  para  testar  aos  maiores  

de  15  anos  (Código  Civil  Espanhol,  art.  663,  1).  Quid  iures  se  testamento  formalizado  na  Espanha,  por  pessoa  nessa  idade,  Ever  de  ser  executado  no  Brasil?  Ao  nosso  senEr,  embora  respeitado  o  aspecto  material  da  capacidade  para  testar  segundo  a  Lex  domicilii,  parece-­‐nos  ofensiva  à  ordem  pública  interna  a  previsão  da  lei  espanhola.    

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3-­‐  Aspectos  Materiais  da  Exequibilidade  dos  Testamentos  Estrangeiros  no  Brasil.    

Pontos  de  divergência  no  campo  Luso  Brasileiro  Espanhol:  •  Outro  ponto  de  divergência  entre  os  sistemas  jurídicos  brasileiro  e  os  da  península  ibérica,  este  

referente  à  legiEmação  para  suceder,  é  o  que  determina  o  impedimento  do  sacerdote  que  tomou  a  confissão  do  testador  durante  sua  úlEma  enfermidade  (Código  Civil  Espanhol,  art.  752,  e  art.  2.194º  do  Código  Civil  Português),  bem  como  do  médico  que  a  tratou,  se  o  testador  veio  a  falecer  desta  molésEa  (Código  Civil  Português,  art.  2.194º).  Bastando  que  o  testador  seja  domiciliado  num  desses  países,  qualquer  deixa  a  estas  pessoas  será  Eda  por  inválida  no  Brasil.  

 •  Também  o  cálculo  da  legíEma  nesses  países  é  diverso  do  praEcado  no  Brasil.  Enquanto  o  direito  

pátrio  impõe  a  reserva  sobre  metade  do  patrimônio  do  de  cujus  (Código  Civil,  art.  1.846),  a  lei  portuguesa  prevê  hipóteses  em  que  esta  pode  chegar  a  dois  terços  desse  patrimônio.  É  o  que  se  verifica  quando  concorrem  à  herança  cônjuge  e  descendentes,  mais  de  um  descendente  (Código  Civil  Português,  art.  2.159º)  ou  cônjuge  e  ascendentes  (Código  Civil  Português,  art.  2.161º).  

•  O  mesmo  se  verifica  no  direito  ibérico,  o  qual  determina  a  reserva  de  dois  terços  da  herança  em  favor  dos  filhos  ou  descendentes  do  de  cujus  (Código  Civil  Espanhol,  art.  808).  Nesse  senEdo,  devem  ser  reduzidas  as  disposições  da  deixa  formalizada  por  pessoa  domiciliada  naqueles  países  que,  em  tais  termos,  forem  inoficiosas.  

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4-­‐  Aspectos  Formais  da  Exequibilidade  dos  Testamentos  Estrangeiros  no  Brasil.  

Diferentemente  da  normaEzação  do  direito  internacional  privado  vigente  na  Espanha  e  em  Portugal  (Código  Civil  Português,  art.  65º  e  art.  11  do  Código  Civil  Espanhol),  o  brasileiro  não  disciplinou  que  norma  deve  ser  observada  para  se  conferir  regularidade  aos  testamentos  instrumentalizados  no  exterior.    Qual  direito  aplicar?  A   Convenção   de   Haya   sobre   Formas   se   Testamento,   de   1960   admiEu   a  validade  da  deixa  se  observada,  em  sua  forma  (art.  9º):    -­‐  a  lei  vigente  no  local  em  que  o  ato  foi  instrumentalizado;    -­‐  a  lei  nacional  do  de  cujus;    -­‐  a  lei  do  domicílio  do  seu  domicilio  ou  de  sua  residência  habitual;    -­‐  a  lei  aplicável  no  lugar  onde  se  situam  os  imóveis.    

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4-­‐  Aspectos  Formais  da  Exequibilidade  dos  Testamentos  Estrangeiros  no  Brasil.  

(...)  A  Convenção  RelaEva  à  Lei  Uniforme  Sobre  a  Forma  de  um  Testamento  Internacional,  concluída  em  1973,  na  cidade  de  Washington,  determinou  que  um  testamento  terá  validade,  independentemente  do  lugar  em  que  foi  feito,  da  localização  dos  bens  e  da  nacionalidade,  domicílio  ou  residência  do  testador,  se  elaborado  de  acordo  com  suas  normas  (art.  1º).      A  tendência  mais  moderna,  portanto,  é  que  procura  sempre  salvaguardar  as  disposições  de  vontade  do  testador.  

 

Page 17: O reconhecimento e a execução de testamentos estrangeiros

4-­‐  Aspectos  Formais  da  Exequibilidade  dos  Testamentos  Estrangeiros  no  Brasil.  

(...)  Mas   na   ausência   de   norma   específica,   é   comum   a   invocação   do   princípio  locus  regit  actum  para  dirimir  esse  Epo  de  conflito.      Norma   costumeira:   o   adágio   locus   regit   actum   ,   como   solução   aplicável   ao  caso  em  tela,   vigeu  no  direito  brasileiro,  em  termos  de  direito  posiEvo,  por  quase   três   séculos   e   meio   (desde   as   Ordenações   Filipinas,   de   1595,   até   a  revogação   da   anEga   Lei   de   Introdução   ao   Código   Civil,   em   1942).   Dessa  maneira,  defende-­‐se  sua  subsistência  entre  nós  como  costume.    -­‐  RE   47163,   Relator   Ministro   HAHNEMANN   GUIMARÃES,   julgado   em  

16/04/1962  -­‐  RE  58152,  Relator  Ministro  VICTOR  NUNES,  julgado  em  10/05/1965  -­‐  RE  68157,  Relator  Ministro  LUIZ  GALLOTTI,  julgado  em  18/04/1972  

 

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4-­‐  Aspectos  Formais  da  Exequibilidade  dos  Testamentos  Estrangeiros  no  Brasil.  

Pontos  de  divergência  no  campo  Luso  Brasileiro  Espanhol:  •  Testamento  hológrafo  instrumentalizado  em  Portugal.  Haja  vista  

não  haver  previsão  dessa  forma  de  disposição  de  úlEma  vontade  no  direito  português  (Código  Civil  Português,  art.  2.204º),  mesmo  que  a  lei  brasileira  a  permita,  não  poderia  ser  confirmado  por  nossos  tribunais.    

•  Testamento  aeronáuEco  assinado  na  Espanha.  Idem  (Código  Civil  Espanhol,  art.  677).    

 

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4-­‐  Aspectos  Formais  da  Exequibilidade  dos  Testamentos  Estrangeiros  no  Brasil.  

A  despeito  da  forma,  é  quanto  às  solenidades  do  testamento  que  mais  deve   se  preocupar  o  magistrado  na  presidência  do  procedimento  de  aprovação   do   testamento.   Se   é   relaEvamente   simples   concluir   pelos  Epos   de   testamento   de   facção   autorizada   num   país,   é   de   grande  complexidade   verificar   se   suas   formalidades   foram   observadas,  impondo-­‐se  o  estudo  mais  aprofundado  do  direito  aplicável  à  espécie.  •  Na   Itália,   como   na   Alemanha,   na   Suíça,   na   França,   na   Áustria,   na  

ESPANHA,   na  ArgenEna,   e  em  alguns  estados  dos  Estados  Unidos  da   América,   por   exemplo,   não   se   exigem   testemunhas   para   o  testamento   parEcular.   E   não   havendo   testemunhas   do   ato,  despicienda   será   também   a   sua   leitura.   Contudo,   uma   vez  formalizado   num   desses   países,   o   testamento   parEcular,   mesmo  sem  observar  importantes  solenidades,  a  eles  impostas  pelo  direito  brasileiro,  deverão  se  considerar  válidos.  

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4-­‐  Aspectos  Formais  da  Exequibilidade  dos  Testamentos  Estrangeiros  no  Brasil.  

(...)  Resta   ultrapassada,   no   Supremo   Tribunal   Federal,   a   ideia   de   que   a  questão   referente   à   inexistência   de   testemunhas   do   testamento  hológrafo  realizado  no  exterior  determina  sua  inexequibilidade  no  Brasil  (RE   47163,   Relator   Ministro   HAHNEMANN   GUIMARÃES,   julgado   em  16/04/1962  e  o  RE  58152,  Relator  Ministro  VICTOR  NUNES,   julgado  em  10/05/1965).    Segundo  os  mais  recentes  julgados,  a  questão  cinge-­‐se  às  solenidades  a  serem  observadas  para  a  perfeição  formal  do  testamento,  aplicando-­‐se-­‐lhe   o   adágio   lócus   regit   actum   (RE   68157,   Relator   Ministro   LUIZ  G A L L O T T I ,   j u l g a d o   e m   1 8 / 0 4 / 1 9 7 2 ;   T J R J ,   A p .  0085795-­‐20.2010.8.19.0001,   Relator   Desembargador   ANDRÉ   RIBEIRO,  julgado  em  06/06/2012).  

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4.1-­‐  Da  instrumentalidade  das  formas  do  testamento.    "A  nulidade  dos  atos  jurídicos  de  intercâmbio  ou  inter  vivos  é,  praEcamente,  reparável:  fazem-­‐se  outros,  com  as  formalidades  legais,  ou  se  intentam  ações  que  compensem  o  prejuízo,  como  a  ação  de  in  rem  verso.  Não  se  dá  o  mesmo  com  as  declarações  de  úlEma  vontade:  nulas,  por  defeito  de   forma,  ou  por  outro   moEvo,   não   podem   ser   renovadas,   pois   morreu   quem   as   fez.   Razão  maior   para   se   evitar,   no   zelo   do   respeito   à   forma,   o   sacri�cio   do  fundo"   (PONTES   DE   MIRANDA,   Francisco   Cavalcante.   Tratado   de   Direito  Privado,  t.  LVIII,  2ª  ed.,  Rio  de  Janeiro:  Borsoi,  1969,  §  5.849,  p.  283)  

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4.1-­‐  Da  instrumentalidade  das  formas  do  testamento.  (...)  O  sistema  de  nulidades  testamentárias  apenas  não  poderá  ser  miEgado  diante  da  existência   de   fato   concreto,   passível   de   ensejar   dúvida   acerca   da   própria  faculdade  que   tem  o   testador  de   livremente  dispor   acerca  de   seus  bens.  Nesse  senEdo,   REsp   147959/SP,   Relator   Ministro   SÁLVIO   DE   FIGUEIREDO   TEIXEIRA,  publicado  no  DJ  de  19/03/2001,  p.  111;  AgRg  no  Ag  570748/SC,  Relator  Ministro  CASTRO  FILHO,  publicado  no  DJ  de  04/06/2007,  p.  340;  REsp  1001674/SC,  Relator  Ministro  PAULO  DE  TARSO  SANSEVERINO,  publicado  no  DJe  de  15/10/2010;  REsp  753261/SP,  Relator  MINISTRO  PAULO  DE  TARSO  SANSEVERINO,  publicado  no  DJe  de   05/04/2011.   REsp   302767/PR,   Relator   Ministro   CESAR   ASFOR   ROCHA,  publicado  no  DJ  de  24/09/2001,  p.  313.    STF,   AI   24156,   Relator   Ministro   AFRÂNIO   COSTA,   Julgado   em     03/07/1961:  “Testamento:  A  vontade  do  testador  deve  ser  observada,  somente  se  jusEficando  a  anulação  do  testamento  quando  formalidades  substanciosas  preteridas  podem  por  em  dúvida  a  validade  do  mesmo  testamento”  

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4.1-­‐  Da  instrumentalidade  das  formas  do  testamento.  (...)  Desde  que  atestada  inequivocamente  a  autoria  do  testamento,  reconhece-­‐se  sua  validade:      -­‐  mesmo   que   o   testamento   parEcular   tenha   sido   digitado   por   uma   das  

testemunhas   (REsp   701917/SP,   Relator   Ministro   LUIS   FELIPE   SALOMÃO,  publicado  no  DJe  de  01/03/2010);    

-­‐  sem   embargos   de   não   ter   sido   o   testamento   lido   na   presença   das  testemunhas   (REsp   828616/MG,   Relator   Ministro   CASTRO   FILHO,  publicado  no  DJ  de  23/10/2006,  p.  313);    

-­‐  não   obstante   tenha   sido   o   testamento   parEcular   escrito   por   terceira  pessoa,   sob   ditado   do   testador   (REsp   89995/RS,   Relator   Ministro  WALDEMAR   ZVEITER,   publicado   no   DJ   de   26/05/1997,   p.   22530   e   REsp  21026/RJ,   Relator   Ministro   EDUARDO   RIBEIRO,   publicado   no   DJ   de  30/05/1994,  p.  13480);    

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4.1-­‐  Da  instrumentalidade  das  formas  do  testamento.  (...)  -­‐  Ainda   que   a   leitura   do   testamento   não   tenha   sido   feita   a   um   só   tempo  

perante  as   testemunhas   (REsp  1422/RS,  Relator  Ministro  GUEIROS  LEITE,  publicado  no  DJ  de  04/03/1991,  p.  1983);    

-­‐  mesmo  que  o  testamento  público  tenha  sido  lavrado  pelo  tabelião,  sob  a  égide  do  Código  Beviláqua,  a  parEr  de  minuta  apresentada  pelo  testador  (RE  56359/  RS,  Relator  Ministro  ALIOMAR  BALEEIRO,  publicado  no  DJ  de  01/12/1967);    

-­‐  embora  a  pessoa  que  assinou  a  rogo  do  testador  não  tenha  acompanhado  a  leitura  do  testamento  (RE  70540/GB,  Relator    Ministro  AMARAL  SANTOS,  publicado  no  DJ  de  03/09/1971,  p.  4607).  

-­‐  embora   o   testador   não   tenha   assinado   o   termo   de   aprovação   do  testamento   cerrado   (REsp   223799/SP,   Relator  Ministro   RUY  ROSADO  DE  AGUIAR,  publicado  no  DJ  de  17/12/1999,  p.  379).  

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DA  EXECUÇÃO  DE  TESTAMENTOS  ESTRANGEIROS  NO  BRASIL    

 MUITO  OBRIGADO