entre o antigo e o novo testamentos - david s. russell

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    E-book digitalizado com exclusividade para osite:

    www.bibliotecacrista.com.bre

    www.ebooksgospel.com.br

    Digitalizao e Reviso: Levita Digital26/10/2009

    Por gentileza e por considerao no alteremesta pgina.

    Aviso:Os e-books disponiveis em nossa pgina,

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    Caso voc tenha condies financeiraspara comprar, pedimos que abenoe oautor adquirindo a verso impressa.

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    Entre o Antigo e o Novo TestamentosO Perodo InterbblicoD.S.RussellAbba Press Editora e Divulgadora Cultural Ltda.

    Categoria: HistriaCd. 01.12101.0507.2

    2" Edio no BrasilMaio de 2007

    TraduoEliseu Pereira

    RevisoIrene PereiraMaria Isabel C. Dutra

    Coordenao EditorialOswaldo Paio

    ImpressoGrfica Sumago

    ISBN 978-85-85931-58-2E permitida a reproduo de partesdesse livro, desde que citada a fontee com a devida autorizao escrita dos editores.

    Abba PressR. Manuel Alonso Medina, 298 - CEP 04650-031 - SoPaulo / SP Tels./Fax (11) 5686-5058 / 5686-7046 /5523-9441

    Site: www.abbapress.com.brE-mail: [email protected]

    ContedoPrefcio

    PARTE UMO FUNDO CULTURALE LITERRIO

    http://www.abbapress.com.br/mailto:[email protected]://www.abbapress.com.br/mailto:[email protected]
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    1. Judasmo versus Helenismo1. Surgimento e Expanso do HelenismoA. Os Gregos e os RomanosB. A Septuaginta e a Literatura HelensticaC. A Cultura Grega na Palestina

    D. A Influncia Religiosa do Helenismo

    2. A reao contra o HelenismoA. O Partido Helenista em JerusalmB. A Vingana de AntocoC. Os Macabeus e a Revolta dos MacabeusD. A Casa de Hasmoneu

    E. Herodes e os Romanos

    2. O Povo do Livro1. A Religio da TorahA. Do templo TorahB. O Ponto de Levante da RevoltaC. A Santa Aliana

    2. A Torah e as seitasA. Os FariseusB. Os SaduceusC. Os EssniosD. Os ZelotesE. Os Pactuantes de Qumran

    3. Os Escritos Sagrados1. As Sagradas EscriturasA. O Cnon HebraicoB. As Escrituras na Disperso

    2. A Tradio OralA. Sua Origem e Desenvolvimento

    B. Sua Forma e Contedo3. Os "Livros No Includos"A. A Literatura No-CannicaB. O Ambiente dos Apocalpticos

    4. A Literatura Apcrifa

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    1. Os Livros Comumente Chamados "Apcrifos"A. Sua IdentidadeB. Seu Contedo e Gnero LiterrioC. Seu Valor Histrico e Religioso

    2. Os Outros Livros "Apcrifos" (ou Pseudepgrafos)A. Sua IdentidadeB. Na Comunidade de Qumran

    3. Os livros Apcrifos no CristianismoA. No Novo TestamentoB. Na Histria da Igreja

    PARTE DOISOs APOCALPTICOS

    5. A Mensagem e o Mtodo dos Apocalpticos1. A Tradio Apocalptica

    A. O Segredo OcultoB. A Linguagem do SimbolismoC. A Lenda de Esdras

    2. Os Apocalpticos e a ProfeciaA. A Unidade da HistriaB. As ltimas CoisasC. A Forma de Inspirao

    3. PseudonmiaA. Um Recurso LiterrioB. Extenso de PersonalidadeC. O Significado do "Nome"

    6. O Messias e o Filho do Homem

    1. O Pano de Fundo do Antigo Testamento

    2. O Messias Tradicional ou NacionalA. O Messias No IndispensvelB. O Messias LevticoC. O Messias DavdicoD. O Messias e os Rolos do Mar Morto

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    E. Jesus e o Messias

    3. O Messias Transcendente e o Filho do HomemA. O Filho do Homem ApocalpticoB. O Pano de Fundo do Oriente

    C. O Filho do Homem como MessiasD. Sofrimento e MorteE. Jesus e o Filho do Homem

    7. A Ressurreio e a Vida Aps a Morte1. A Ressurreio: Origem e DesenvolvimentoA. A preparao no Antigo Testamento

    B. Sua Origem HistricaC. Desenvolvimento SubseqentesD. A Ressurreio e o Reino Messinico

    2. A Natureza da SobrevivnciaA. Sheol, a Morada das AlmasB. Distines Morais no SheolC. Mudana Moral na Vida AlmD. A Alma Individual e o Julgamento Final

    3. A Crena na Ressurreio e a Natureza do Corpo daRessurreioA. A Ressurreio do Corpo e a Sobrevivncia daPersonalidadeB. A Ressurreio do Corpo e sua Relao com o Ambiente

    C. A Relao do Corpo "Espiritual" com o Corpo FsicoBibliografia SelecionadaLiteratura ApcrifaGovernantes e Principais Acontecimentos

    Dedicado a Marion, Helen e Douglas

    Prefcio

    Na maioria das Bblias, o perodo entre o

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    Antigo e o Novo Testamentos representado poruma nica pgina em branco o que, talvez, tenhaum significado simblico. O perodo "de Malaquiasa Mateus" por muito tempo tem permanecido vago

    e desconhecido para muitos leitores da Bblia.Vrios mistrios permanecem, mas nos ltimostempos, muita luz tem sido lanada sobre todoesse perodo. Os escritos de grande nmero deeruditos e algumas notveis descobertasarqueolgicas tm fornecido novos edeslumbrantes pontos de vista a respeito doassunto.

    No incio deste sculo, o Dr. R.H.Charlesescreveu com freqncia sobre o assunto, e apublicao, em 1914, de seu pequeno livroDesenvolvimento Religioso entre o Antigo e o NovoTestamento, incluiu um outro pblico de leitura

    nesse campo de estudo e auxiliou grandemente apreencher a lacuna no entendimento das pessoasem relao a esse assunto. Mas ningum poderiaprever que esse perodo ainda se tornaria um focode ateno, no apenas para os eruditos, mastambm para o "cidado comum". A descobertados pergaminhos do Mar Morto despertou aimaginao popular e atraiu a ateno de eruditosdo mundo inteiro. Esses escritos so de extremaimportncia, no somente pelos relatos quefornecem sobre as crenas e prticas dosPactuantes de Qumran, mas tambm pelo novointeresse e conhecimento que trazem a todo o

    perodo interbblico.Neste pequeno volume, fiz uma tentativa derevisar esses anos, luz dos recentes estudos edescobertas, e em particular para avaliar acontribuio religiosa desse grupo de homens, umtanto estranhos, conhecido como "os

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    apocalpticos". Muitas outras questes pertinentesa esse perodo interbblico poderiam ter sidotratadas, mas o propsito deste livro seletivo eno, exaustivo, indicando a participao que os

    apocalpticos tiveram no desenvolvimento religiosodo Judasmo e na preparao das mentes doshomens para a vinda do Cristianismo.

    Espero que este breve estudo estimule oapetite do leitor, levando-o a aprimorar estesestudos, ainda mais, com ajuda da bibliografiasugerida.

    DAVID S. RUSSELLCollege Rawdon, Leeds

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    Parte UmO PANODE FUNDO

    CULTURALE LITERRIO

    1

    Judasmo Versus Helenismo

    Os anos que se estendem de 200 a.C. a 100d.C, geralmente citados como "o perodointerbblico", so de fundamental importncia tantopara o Cristianismo como para o Judasmo rabnico,porque foi durante esses sculos que, num sentidomuito especial, o caminho foi sendo preparadopara o aparecimento dessas duas grandes crenasreligiosas. O propsito deste livro examinar,embora resumidamente, a cultura e a literaturadesses importantes anos e analisar o desen-volvimento de certas crenas religiosas, cujainfluncia foi sentida particularmente dentro daIgreja Crist em crescimento.

    Ao longo de todo esse perodo, os judeusestavam rodeados pela cultura e civilizao gregase, particularmente na Disperso, muitos tiveramque adotar a lngua grega ou como seu nicoidioma ou como alternativa sua prpria lngua, oaramaico. Era inevitvel que eles fosseminfluenciados, e profundamente, pelo ambiente

    helenstico em que viviam; o surpreendente quea reao deles a esse ambiente no foi tomarcante e que, apesar da presso trazida sobreeles, eles conseguiram manter sua distinta fjudaica.

    No perodo de 170 a.C. a 70 d.C, o

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    nacionalismo judaico desempenhou um papel maisimportante na resistncia ao avano do helenismo.Como veremos, esse nacionalismo no foimotivado apenas por objetivos polticos, mas

    tambm por ideais religiosos oriundos de umadevoo profunda por parte de muitos e arraigadosem firmes convices teolgicas. Porque oJudasmo, ao contrrio do Helenismo, representavano tanto um modo de vida, mas um movimentoreligioso nacional. O Dr F. C. Burkitt, escrevendosobre o Judasmo desses dois sculos e meio,descreve-o como "uma alternativa para acivilizao como se considerava ento". Ele no eraapenas uma alternativa, mas era a alternativa,pois, na convico de muitos, o judasmoconduziria afinal os homens para o Reino de Deus,cuja vinda precederia Nova Era determinada por

    Deus.1. SURGIMENTOE EXPANSODO HELENISMO

    A. Os Gregos e os RomanosA palavra "helenismo" comumente usada

    para descrever a civilizao dos trs sculos

    aproximadamente desde o tempo de Alexandre, oGrande (336-323 a.C.) durante os quais a influnciada cultura grega era sentida de Leste a Oeste. Erao forte desejo desse imperador fundar um impriomundial associado unidade da lngua, costume ecivilizao e, em suas grandes conquistas militares,

    ele se empenhou em concretizar tal idia. Aps suamorte, quando seu Imprio no Leste foi divididoentre os Selucidas na Sria e os Ptolomeus noEgito, o processo de helenizao continuourapidamente nos pases sobre os quais elesgovernaram.

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    Desde o incio, os judeus devem ter sentido oimpacto dessa cultura sobre seu estilo de vida eparticularmente sobre sua religio. A exceo deuma rea comparativamente pequena ao redor de

    Jerusalm, eles no constituam um Estado, pelocontrrio, uma Disperso, espalhados no apenaspor toda a Palestina, mas por todas as regies doImprio. Eles ficaram especialmente vulnerveis influncia do helenismo por intermdio dosnegcios e das trocas comerciais. A poltica deAlexandre e de seus sucessores era enviar oscolonos gregos no rastro de seus exrcitos eplant-los como comerciantes nas terrasconquistadas. Nessas terras, particularmente noleste, viviam muitos judeus que haviam sidoexilados da Palestina muitos anos antes, e outrosque, at mesmo antes do tempo de Alexandre,

    haviam emigrado e se instalado em cidades gregasno extremo oeste. Muitas comunidades judiaspodiam ser encontradas em lugares tais comoSria, Antioquia, Damasco, sia Menor, Macednia,Grcia, Chipre, Cirene e Roma. Onde quer que os judeus estivessem, sob o governo dos Selucidasou dos Ptolomeus, eles haviam desfrutado pormuito tempo das bnos da liberdade religiosasob uma poltica de tolerncia religiosa que, semdvida, os deixaria abertos influncia sutil dacultura helenstica. Os romanos, por sua vez,continuaram a estimular o desenvolvimento dessacultura, especialmente nas provncias orientais, e

    buscaram por esses meios realizar os sonhos deAlexandre, o Grande. Nesse sentido, no houve umverdadeiro rompimento entre o regime grego e oromano, ou, realmente, entre os anos antes deCristo e os anos depois de Cristo. A cultura e acivilizao helensticas foram caractersticas de

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    todo o perodo greco-romano e com esse amplofundo histrico e cultural que vamos estudar asreaes do povo judeu e sua f religiosa.

    B. A Septuaginta e a Uteratura HelensticaDesde tempos remotos, houveassentamentos de judeus no Egito, e Alexandrialogo alcanou um honrado nome, particularmentecomo centro literrio. Foi aqui que a traduo Sep-tuaginta das Escrituras para a lngua grega foiapresentada para uso dos judeus de fala grega do

    Egito, que no mais conseguiam ler hebraico epara quem as tradues disponveis nos ofcios dassinagogas mostravam-se inadequadas. A traduoda 'Torah" ou Pentateuco aconteceu,provavelmente, durante o reinado de Ptolomeu II(285-247 a.C), com o nome "Septuaginta" sendo

    estendido para abranger tambm as outras partesdo Antigo Testamento. Na Carta de Aristia, quemais tarde acompanhou a Bblia grega, h umalenda de que a Septuaginta foi o resultado de umaordem real de Ptolomeu II, do Egito, que teriadelegado a tarefa da traduo a 72 "ancies". Emformas posteriores da histria, o nmero citado

    como 70. Esses homens levaram a cabo a obra detraduo em ambientes separados e produziramresultados precisamente semelhantes! Porm, provvel que a Septuaginta tenha vindo a existircomo um Targum1, assim como na Palestinapassou a existir um Targum1 para ajudar aqueles

    que no conseguiam entender as Escriturashebraicas. A influncia da Septuaginta sobre osjudeus da Disperso e mesmo sobre a jovem IgrejaCrist no pode ser superestimada. A exceo decertas notveis implicaes gregas aqui e ali, quepoderiam lembrar seus leitores de seu fundo

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    cultural, ela era quase desconsidervel como umveculo de helenizao. Mas como um instrumentode propagao de Judasmo durante a Disperso,sua contribuio foi de importncia inestimvel.

    Em Alexandria, tambm, foram escritosmuitos livros gentlicos e enviados para muitaspartes do mundo onde, sem dvida, foramestudados pelos mais instrudos dentre os judeus.No raro, esses livros continham acusaesdifamadoras contra a raa e a religio judaica queeram normalmente considerados supersticiosos eatestas. Os judeus, por sua vez, no tentavamdisfarar, em seus prprios escritos, o absolutodesprezo que unham pelos pagos. De fato, toda aliteratura judaico-helenstica, da poca daSeptuaginta at Josefo ao final do primeiro sculod.C, tinha como alvo a condenao da idolatria,

    principalmente atravs de ridicularizaes, e adefesa do Judasmo contra as intromisses de talinfluncia pag2. Muito dessa literatura conhecidapor ns apenas por fragmentos ou em refernciasem outras obras3, mas esses escritos que sobrevi-veram mostram muito claramente a mescla depensamento grego e judeu que predominava bemantes do comeo da era crist.

    Isso bem ilustrado em livros tais como osOrculos Sibilinos (Livro III) e Sabedoria deSalomo. Os Orculos Sibilinos foram escritosdurante a ltima metade do segundo sculo a.C,em Alexandria. So semelhantes Sibil grega que

    exerceu considervel influncia sobre opensamento pago, tanto antes como depois dessetempo. A Sibil pag era uma profetisa que, sobinspirao de um deus, podia dar sabedoria aoshomens e revelar-lhes a vontade divina. Havia umavariedade de tais orculos em diferentes pases, e

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    no Egito, em particular, eles passaram a gozar deum crescente interesse e significado.

    _______________________1A palavra "Targum" (no grego) significa uma traduo ou parfrase

    da Escrituras Hebraicas na lngua do povo. Nas regies de fala aramaica, aleitura das Escrituras na sinagoga era acompanhada por uma repetio oral(veja p. 63 ss). Acredita-se que esse costume reportava aos tempos deEsdras (cf. Ne 8.8). No segundo sculo d.C. os Targuns aramaicospassaram a existir na forma escrita.

    Os judeus de Alexandria viam nesse tipo deliteratura um excelente meio de propaganda. Pormeio de alteraes e acrscimos discretos, elesusaram a estrutura dos orculos pagos parapropagar a f no "nico Deus vivo e verdadeiro".

    De muito maior significado o livro Sabedoriade Salomo, escrito no primeiro sculo a.C. por um

    judeu de Alexandria que, ao apresentar sua f,demonstra que havia sido profundamenteinfluenciado, em seu pensamento, pela perspectivae filosofia do mundo grego gentio e que ele era,sem dvida, muito versado nesse campo. Porexemplo, essa influncia pode ser percebida aotratar da idia de "sabedoria" que ele personificade modo semelhante ao ensinamento esticoreferente ao conceito amplamente conhecido deLogos ou Verbo4. Neste ponto, de fato, trata-se deuma forte tentativa de reunir a piedade dojudasmo ortodoxo e a forma de pensamento gregoda poca. De acordo com outros escritos judaicos

    daquele tempo, ele incorpora uma forte polmicacontra os gentios e exalta a verdadeira religio queDeus revelou a seu servo Moiss.

    Um bom exemplo de Judasmo helensticopode ser encontrado no escritor judeu alexandrinoPhilo, que foi contemporneo de Jesus e de Paulo.

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    Ele era bem versado no apenas nas Escrituras emhebraico, como nos escritos judaico-helenistas, etambm em filosofia grega.

    _____________________2

    Este tambm era o tema de outros livros judeus, oriundos daPalestina, que no devido tempo foram traduzidos para o grego, efinalmente, acharam lugar na Septuaginta, como I Macabeus, Bel e oDrago, Judite, o Resto de Ester, Tobias e Susana (veja pp. 78 ss).

    3Ver R. H. Pfeiffer, History of New Testament Times, with aIntroduction to the Apocrypha (Histria dos Tempos do Novo Testamento,com uma Introduo aos Apcrifos), 1949, p. 200 ss.

    O objetivo de seus escritos era demonstrar arelao entre a religio das Escrituras e a verdadedas filosofias gregas. Ele fez uso livre da alegoria,prtica comum em Alexandria, e atravs delademonstrou, por exemplo, que Moiss estava emconsonncia com os filsofos gregos. A posio dePhilo no era aceita pelo Judasmo ortodoxo de

    seus dias, mas sua abordagem da religio e dafilosofia, e a relao entre elas, teve uma influnciaconsidervel no desenvolvimento da teologia cristnos anos que se seguiram.

    C. A. Cultura Grega na PalestinaO impacto do helenismo sobre o judasmo foi

    sentido at mesmo na prpria Palestina onde, namaior parte, os judeus passaram pela Disperso eviviam como membros de uma comunidade grega.Durante o perodo dos Selucidas, muitas cidadesda Palestina foram conquistadas pelo estilo de vidagrego e algumas novas cidades foram construdas

    em estilo grego. Essas comunidades, governadaspor um senado democrtico, semelhante ao Boulou Conselho Ateniense, eleito anualmente ecomposto de representantes do povo, trouxerampara os judeus uma perspectiva mentalcompletamente nova e uma, at ento

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    desconhecida, viso da cultura e civilizaohelenstica, muito do que, para o judeu fiel, pareciaser prejudicial e at mesmo subversivo f deIsrael. Mesmo em Jerusalm e seus arredores havia

    muitos que adotaram o estilo de vida grego desdeo incio do perodo da supremacia ptolomaica, emuitos mais sucumbiram sob a propagandaconcentrada dos Selucidas.

    ___________________4Para uma abordagem mais completa, ver p. 23 s.

    O Primeiro Livro de Macabeus lana luz sobrea situao daquele tempo nestes palavras: "Nestapoca saram tambm de Israel uns filhosperversos que seduziram a muitos outros dizendo:Vamos e faamos alianas com as naesckcunvizinhas, porque desde que ns nosseparamos deles, camos em infortnios sem

    conta. Semelhante linguagem pareceu-lhes boa, ehouve entre eles quem se apressasse a ir ter com orei, que concedeu a licena de adotarem oscostumes pagos. Edificaram em Jerusalm umginsio como os gentios, dissimularam os sinais dacircunciso, afastaram-se da aliana com Deus,para se unir aos estrangeiros e se escravizar aopecado" (1 Mac 1.12-15). Comentando sobre essapassagem, A.C. Purdy escreve: "Lendo nasentrelinhas, podemos inferir que o desafio para oJudasmo aqui no era o de uma religio rival, maso de uma cultura rival. Era o desafio dosecularismo. A religio dos judeus estava ainda

    para ser diretamente atacada, mas um helenismodefinido e agressivo havia surgido entre eles"5.Um fator importante de expanso dessa

    cultura rival foi indubitavelmente a formao deginsios que foram construdos no apenas emJerusalm, mas em muitas regies da Disperso, na

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    Palestina e arredores. "Eles expressavam", escreveo Dr. Edwin Bevan: "tendncias fundamentais damentalidade grega sua inclinao para a belezaharmoniosa da forma, o prazer do corpo, a

    franqueza imperturbvel com respeito ao mundonatural."6 A nfase grega na beleza, forma emovimento iriam abrir o horizonte esttico,desconhecido at ento para muitos judeus.

    _________________________________

    5Q H. C. MacGregor e A. C. Pwdy,Jewand Greek (O Judeu e oGrego), 1937, p. 30.

    Por essa razo, alguns dos ritos religiososjudaicos que pareciam inestticos para os gregos,passaram a ser negligenciados por certos judeus.Como a citao anterior de 1 Macabeus mostra, osatletas judeus, por exemplo, que iam normalmentecorrer nus na pista, passaram a ser

    "incircuncidados" por meio de uma leve operaocirrgica para evitar o escrnio da multido. Jogos e corridas no estdio e no hipdromo

    eram marcas distintas das cidades helenizadas eeram populares entre os jovens judeus, no menosdo que entre pessoas de outras tradies religiosase culturais. O teatro tambm desempenhou um

    papel importante na disseminao da culturagrega. Sabemos de judeus que escreveramtragdias em versos gregos, e cujas peas, comoxodo de um certo Ezequiel, foram, com certeza,apresentadas no teatro que Herodes construiuperto do Templo de Jerusalm. Os ritos e

    cerimnias religiosos, aos quais muitos dos jogos eapresentaes eram associados, tinham umainfluncia inevitvel sobre a populao judia etendiam a corromper as mentes dos jovens,acompanhadas, como eram muitas vezes, de umamedida de imoralidade e vcios. O helenismo com o

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    qual os judeus estavam em contato durante esseperodo, embora contivesse muito do que era bome bonito, tinha, na concepo popular, uma ntimaconexo com o 'tmulo de Dafne, e os caminhos

    dos soldados, guardies de bordis ecomerciantes7.

    _______________________6Jerusalem under the High Priests (Jerusalm sob a Liderana dos

    Sumos Sacerdotes), 1920, p. 35.

    D. A Influncia Religiosa do HelenismoE bvio, a partir do que se tem sido dito, quea influncia do helenismo no podia estarconfinada estritamente aos aspectos sociais ouliterrios ou culturais ou estticos; por sua prprianatureza, criou-se uma atmosfera definitivamenteespiritual que era, em muitos aspectos,completamente estranha perspectiva religiosados judeus. Os vrios festivais e cerimnias,associados a quase tudo na vida social grega,deixaria sua impresso na vida religiosa e noscostumes do povo.

    E importante, nesta conexo, observar que o

    Helenismo era um sistema sincretista, sob cujasuperfcie o pensamento e as crenas de muitasantigas religies orientais continuaram a exerceruma forte influncia. No ramo srio do helenismo,por exemplo, o Zoroastrismo, religio do antigoImprio Persa, ainda estava bem vivo8. Em suaforma mais primitiva, de alguma forma oZoroastrismo ensinava um dualismo no qual haviauma interminvel batalha entre os poderes da luz,liderados pelo esprito bom Ahura-Mazda, e ospoderes das trevas, conduzidos pelo esprito mauAngra-Mainyu. Esse princpio dualista formuladoem uma doutrina de "duas eras" na qual a

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    "presente era" de impiedade contraposta "erafutura" de retido. Afinal, pelos bons ofcios deShaoshyant, o salvador, Ahura-Mazda lana Angra-Mainyu no abismo. O fim do mundo sobrevm; os

    mortos so ressuscitados e enfrentam o julga-mento. Todos os homens so sujeitados chamade um fogo purificador; por rim, todos so salvos esurge a nova era com um novo cu e uma novaterra.

    ______________________7G. H. C. Macgregor e A/C. Purdy, op. cit, p. 143.8Verp. 95,107 ss, 112,135.

    Ao lado desse ensino do Zoroastrismo, haviao antigo culto babilnico baseado nos luminarescelestes e especialmente nos sete planetas que,em suas voltas ao redor da terra, controlavam,acreditava-se, as vidas dos homens e as naes. A

    sobrevivncia desse culto bastantecompreensvel porque o Imprio Persa queAlexandre, o Grande, conquistara, tinha, por suavez, sucedido o antigo Imprio Babilnico e, noprocesso, havia incorporado muitos de seuscostumes e crenas e adotara o aramaico ou

    "caldeu" como o idioma oficial do governo. Assim,ali emergiu o sincretismo perso-babilnico, ou"mescla" de cultura, que ao longo do tempo coloriuprofundamente o helenismo srio.

    Por meio do helenismo srio, o impacto dessacultura seria sentido pelos judeus na Palestina.Realmente, muitos dos judeus tinham contato

    direto com o pensamento e a cultura perso-babilnica porque, desde o tempo do Cativeiro,eles tinham vivido lado a lado com iranianos (oupersas) na Mesopotmia.

    De vez em quando esses judeus babilnicosvoltavam Palestina, trazendo consigo uma

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    avaliao simpatizante de alguns aspectos dopensamento persa, particularmente aqueles queno eram necessariamente incompatveis com suaprpria religio hebraica. Sem dvida, muitos

    foram atrados a voltar Palestina no tempo dosMacabeus e seus sucessores, quando um estadojudeu forte comeava a surgir.

    A influncia do Zoroastrismo, e de fato, detoda a cultura perso-babilnica amplamenteilustrada nos escritos dos judeus apocalpticosdesse perodo e mesmo, embora em menosextenso, nas obras dos Judasmo farisaico. Eevidente tambm nos escritos dos Pactuantes deQumran, nos quais aparece, por exemplo, umaforma

    _________________9Compare o interesse nos corpos celestes demonstrados nos

    escritos como Jubileus e I Enoque 72-82.

    de dualismo, em muitos sentidos semelhante ao doZoroastrismo, que no pode ser explicadosimplesmente atravs da referncia religio doAntigo Testamento . Uma relao com aescatologia (isto , doutrina das "ltimas coisas")

    do Zoroastrismo indicada no prprio Antigo Testamento ; mas os judeus apocalpticos,incluindo o escritor do Livro de Daniel, so muitomais fortemente influenciados por ele. Toda aperspectiva deles governada pela convico deque aquela era presente maligna estava naiminncia de terminar e que a nova era se seguiria

    imediatamente . Essa viso dualstica do universocoloriu suas convices em relao esperanamessinica, por exemplo, que ao longo do tempoassumiu caractersticas transcendentais e tambmsua concepo da vida aps a morte. Neste ltimocaso, a influncia do Zoroastrismo evidente em

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    questes tais como a separao da alma do corpono momento da morte, o destino dos mortos nolapso de tempo entre a morte e a ressurreio, adoutrina da ressurreio e o ensino relativo ao Juzo

    Final. Outro campo no qual se percebeuprofundamente essa influncia, na doutrinaamplamente difundida sobre anjos e demnios e,em particular, a personalizao de espritos mauspara os quais no h paralelo no pensamento doAntigo Testamento. 16

    ________________________________10Verp. 50.11Compare particularmente o rolo intitulado 'The War of the Sons of

    Light and the Sons of Darkness" (A Guerra entre os Filhos da Luz e osFilhos de Trevas).

    12Por exemplo, Isaas 24-27; 65.17 ss.13Ver p. 94, 107 ss, 120 ss.14Ver p. 130 ss.

    15 Ver captulo 7.16Verp. 50,112.

    Ainda mais importante do que o helenismosrio foi o helenismo egpcio que tomou forma sobos Ptolomeus. As antigas tradies religiosas emsticas do Egito e da Babilnia entraram emcontato com a nova cincia e cultura gregas,

    produzindo um sistema de pensamento muito maisabstrato em forma do que o ramo srio dehelenismo. Muitos judeus, especialmente os daDisperso, foram grandemente influenciados pelotipo filosfico de religio que acompanhava essaforma particular da cultura grega.

    Este ponto bem ilustrado pelo autor deSabedoria de Salomo , cuja familiaridade com opensamento grego evidente, por exemplo, noensino referente "sabedoria". A idia de"sabedoria" bem familiar para os leitores doAntigo Testamento em livros como Provrbios, J e

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    Eclesiastes, mas em Sabedoria de Salomo ainfluncia da filosofia grega est mais claramentedemonstrada. "O ensino do autor referente sabedoria divina e humana", escreve B. M.

    Metzger, " uma explicao das idias primitivassobre esse tema expressadas no Livro deProvrbios, com uma distoro metafsicaemprestada da concepo estica do Logosuniversal, aquele mediador impessoal entre Deus ea criao." Tendo "criado o mundo a partir damatria informe" (11.17, cf. Gn 1.2), Deus envia criao uma alma que, para o escritor desse livro, nada menos que a prpria sabedoria. O esprito desabedoria vem de Deus (7.7, etc.) e "uma claraefluncia da glria do Todo-Poderoso" (7.25). Deuscriou todas as coisas por Sua palavra (9.1), mas asabedoria estava presente antes da criao (9.9).Desde ento, ela tem sido "o artfice" (7.22), orenovador (7.27), o ordenador (8.1) e o realizador (8.5)de todas as coisas.

    _____________________17 Ver tambm IV Macabeus que mostra um conhecimento ntimo da

    filosofia grega, especialmente 1.13 - 3.18, 5.22-26, 7.17-23.18An Introduction to the Apocrypha (Uma Introduo aos Apcrifos), 1957,

    p. 73.

    Em 7.22s ele faz uma tentativa de definirsabedoria e atribui nada menos que 21 qualidadesa ela; mesmo assim, ela permanece um enigma.

    A influncia do pensamento grego no livroSabedoria de Salomo tambm evidente em seuensino referente doutrina platnica sobre a

    preexistncia da alma, como em 8.19-20, em quelemos: "Eu era um menino vigoroso, dotado deuma alma excelente, ou antes, como era bom, euvim a um corpo intacto." Essa mesma ideia estapresente no escntor judeu Philo (morto em cercade 50 d.C.) e em livros tais como II Enoque (1-50

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    d.C.) onde aparecem estas palavras: "Sente-se eescreva para todos os filhos dos homens, porm,muitos deles nascem, e os lugares so preparadospara eles na eternidade; porque todas as almas so

    preparadas para a eternidade, antes da fundaodo mundo" (23.4-5).A maioria desses livros judeus

    (particularmente os de carter apocalptico)expressa a crena em uma ressurreio da mortena qual a alma ou o esprito reunido ao corpo,mas em alguns deles a influncia do pensamentoplatnico novamente evidente em passagens queexpressam a crena na imortalidade da alma. EmSabedoria de Salomo 3.1-5, por exemplo, lemos:"Mas as almas dos justos esto nas mos de Deus,e nenhum tormento os tocar. Aparentemente elesesto mortos aos olhos dos insensatos: seu desenlace

    julgado como uma desgraa. E sua morte como umadestruio, quando na verdade esto na paz! Se eles,aos olhos dos homens, suportaram uma correo, aesperana deles era portadora de imortalidade, e porterem sofrido um pouco, recebero grandes bens.Porque Deus, que os provou, achou-os dignos dele."Pelo menos dois outros livros expressam essa mesma

    crena.___________________19Cf. tambm 15.8,11, IV Mac 13.13, 21; 18.2320Ver p. 84,146 ss.

    Em I Enoque 91-104 (cerca de 164 a.C), oescritor refuta a viso dos saduceus de que no hnenhuma diferena entre a sorte dos justos e a dosmpios aps a morte (102.6-8,11) e afirma que,pelo contrrio, "toda bondade e alegria e glriaesto preparadas" para as almas dos justos(103.3). Eles vo viver e se regozijar e seus

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    espritos jamais perecero (103.4). Assim tambmno Livro de Jubileus, (c. 150 a.C.) o justo passaimediatamente da morte para a bem-aventuranada imortalidade "Seus ossos vo descansar na

    terra, e seus espritos tero muita alegria" (23.31).A influncia desses diferentes tipos dehelenismo no Judasmo durante esse perodo estclara; mas em suas doutrinas fundamentais, o Judasmo permaneceu fiel f de seus pais epreparou o caminho no apenas para sua prpriasobrevivncia, mas tambm para o nascimento dareligio crist.

    2. A REAO CONTRAO HELENISMO J se mencionou a poltica de tolerncia

    seguida tanto pelos Ptolomeus como pelosSelucidas, por meio da qual foi permitido ao

    Judasmo e ao Helenismo existirem lado a lado.Esses foram anos de grande perigo para a f judaica. Porque essa poltica visava umahelenizao por meio de uma infiltrao gradual deinfluncia grega e uma assimilao gradual doestilo de vida grego. Foi quando essa poltica depenetrao pacfica foi substituda por uma poltica

    de perseguio, notavelmente no reinado deAntoco IV (175-163 a.C), que irrompeu umaviolenta reao transformada, com o tempo, numdio ardente contra todo o estilo de vidahelenstico.

    A.O Partido Helenista em JerusalmMuito antes de Antoco IV assumir o trono,havia um forte partido helenista entre os judeus daPalestina, cujos lderes podiam ser encontradosprincipalmente entre a aristocracia rica esacerdotal que, por sua posio social, desfrutava

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    dos privilgios da corte real e bajulava os favoresdo rei.

    Alm disso, todo esse perodo foi marcado poramarga rivalidade entre duas grandes famlias, a

    Casa de Tobias e a Casa de Onias, que iriaminfluenciar profundamente o curso dos eventos nosanos futuros, particularmente em relao ao ofciodo Sumo Sacerdcio. Josefo conta como o SumoSacerdote Onias II, "um grande amante dodinheiro", recusou-se a pagar o imposto anual de20 talentos a Ptolomeu IV (221-203 a.C), depoisque Jos, filho de Tobias, havia sido indicadocoletor de impostos de todo o pas. Jos e sua casatornaram-se extremamente ricos e ganharam umaposio de poder considervel perante a nao. Eassim, naquele momento, as duas casas rivaisestavam representadas nos dois ofcios mais

    elevados do Estado.No tempo de Antoco, o Grande (223-187a.C), o controle da Palestina passou dos Ptolomeuspara os Selucidas e em seguida Jos e seusseguidores transferiram sua submisso quelemonarca, cujo governo estava terrivelmentedependente de dinheiro. Havia, em Jerusalm,homens prontos a levantar ou oferecer dinheiro emtroca de posies de poder. Um desses era Simo,da Casa de Tobias, que no reinado de Seleuco IV(187-175 a.C.) encorajou o ministro-chefe do rei ase apoderar do dinheiro sagrado do Templo e entotentou incriminar o Sumo Sacerdote, Onias III.

    Vrias revoltas eclodiram em Jerusalm e Onias IIIpartiu para a corte de Seleuco, a fim de pedir aajuda do rei para suprimir os distrbios.

    A rixa entre as duas casas rivais chegou a umponto crtico no reinado de Antoco IV (175-163a.C.) que sucedeu a seu irmo Seleuco. Os

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    helenistas em Jerusalm, e em particular no partidoaristocrtico, que eram abertamente favorveis Sria, viram na ascenso de Antoco umaoportunidade para atingir seus objetivos. O Sumo

    Sacerdote legtimo, Onias III, cuja lealdade era pr-Egito, era um obstculo s suas esperanas eassim, durante sua ausncia temporria do pas, ecom a concordncia do rei, seu irmo Jesus ouJosu (que mudou seu nome para a forma grega,Jason) foi designado Sumo Sacerdote em seu lugar,em troca de um suborno significativo para o rei (2Macabeus 4.7-10). Antoco, sem dvida, considerouessa indicao como um sbio movimento poltico.Concedeu permisso para remodelar Jerusalmsegundo as linhas helensticas (I Macabeus 1.11-15); um ginsio foi construdo em Jerusalm emuitos judeus se vestiam segundo a moda grega.

    Os judeus ortodoxos, e em particular osHasidim ou os Piedosos (antecessores dos Fariseus), ficaram furiosos com esses acontecimentos e coma expanso da influncia helenstica em geral. Paraeles, a indicao de um Sumo Sacerdote era umato de Deus, que nada rinha a ver com a aprovaoou desaprovao de um rei gentio. O nico consoloera que o novo Sumo Sacerdote, Jason, pelo menosera membro do partido ortodoxo. Porm, talsituao seria logo alterada, porque a essa altura,um Menelau, que no era membro da famlia doSumo Sacerdote, expulsou Jason do ofcio com aajuda de Tobias e a oferta ao rei de um suborno

    maior que o oferecido por seu rival (II Mac 4.23 ss)!Os seguidores de Menelau apoiavam abertamenteo estilo de vida grego e se colocaram contra opartido ortodoxo. A diviso entre essas duasfaces do povo aumentou e a luta irrompeu emJerusalm entre os partidos helenista e ortodoxo.

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    Encorajados por um rumor de que Antoco haviamorrido em uma campanha no Egito (170-169 a.C), Jason se apressou rumo a Jerusalm e expulsouMenelau (II Macabeus 5.5 ss).

    O cenrio j estava pronto para o incio daluta. O conflito que se seguiria no erasimplesmente uma questo de*"judeus contrasrios", mas de "judeus contra judeus"; porque, emoposio ao partido helenista em Jerusalm, avasta maioria dos judeus nos arredores do pasestava alinhada em oposio a qualquer poltica dehelenizao. Como o Dr. Oesterley observa:"Durante uma boa parte do segundo sculo a.C,'Jerusalm contra Jud' descreve corretamente oconflito interno judaico."

    O rumor referente morte de Antocomostrou-se falso e o rei voltou, determinado a fazer

    que a Palestina se submetesse a sua polticadeclarada de unificar o reino por meio da cultura eda religio helensticas. Sem dvida, suadeterminao foi fortalecida pelo medo docrescente poder de Roma e da conseqentenecessidade de consolidar o Imprio. A expulso deseu protegido, Menelau, do ofcio de SumoSacerdote era considerada uma afronta suadignidade real, por isso resolveu vingar-se dos judeus. Assim, ele atacou Jerusalm, expulsouJason e restabeleceu Menelau em seu ofcio. Seussoldados ficaram livres e massacraram muitosdentre o povo; o Templo foi profanado e os

    utenslios sagrados saqueados (I Mac 1.20-28).____________Ver pp. 49, 54 s.

    B. A Vingana de AntocoLogo tornou-se bvio que, embora ele tivesse

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    o apoio dos helenistas em Jerusalm, sua polticade helenizao era violentamente contrria maioria das pessoas que, alm disso, recusavam-sea reconhecer Menelau como Sumo Sacerdote.

    Assim, Antoco determinou exterminarcompletamente a religio judaica (168 a.C). Optoupor destruir as prprias caractersticas distintivasda f judaica (cf. I Macabeus 1.41 ss), assimconsideradas desde o tempo do Cativeiro. Todos ossacrifcios dos judeus foram proibidos; o rito dacircunciso teve que cessar, o Sbado e os dias defestas no podiam mais ser observados. Adesobedincia a qualquer desses mandamentosacarretaria a pena de morte. Alm disso, os livrosda Torah (ou Lei) foram desfigurados ou destrudos;os judeus, forados a comer carne de porco e aoferecer sacrifcios em altares idlatras erigidos por

    todo o pas. Ento, para coroar suas aes de inf-mia, Antoco erigiu um altar a Zeus do Olimpo comuma imagem do deus (provavelmente com ascaractersticas do prprio Antoco) sobre o altar deofertas queimadas no interior do trio do Templo (IMac 1.54). esse altar que o escritor do Livro deDaniel chama "a abominao desoladora" (Dn11.31).

    Esses eventos foram seguidos de severaperseguio na qual muitos foram condenados morte (I Mac 1.57-64). A esse perodo pertencemas histrias, em parte lendrias, contadas em IIMacabeus 6-7 sobre o martrio de Eleazar e os Sete

    Irmos. Muitos abandonaram as cidades esuperlotaram as aldeias onde eram perseguidospelos agentes do governo, cuja inteno eraextinguir a f judaica.

    _______________22A History of Israel(Uma Histria de Israel), vol. 2, 1934, p. 259.

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    C. Os Macabeus e a Revolta dos MacabeusLogo, a resistncia passiva abriu caminho

    agresso aberta. A fasca para a revolta veio davila de Modein, noroeste de Jerusalm, onde umsacerdote, Matarias, da Casa de Hasmon, vivia comseus cinco filhos (I Mac 2.1 ss). Quando um oficialsrio chegou a Modein para obrigar realizao desacrifcios pagos, Matarias no apenas se recusoua concordar, mas tambm matou um judeu

    apstata que prestava sacrifcios e ao mesmotempo matou o oficial srio. Esse foi o motivo paraMatatias e seus filhos fugirem para as montanhas,onde a eles se uniram muitos judeus zelosos (I Mac2.23-28). De particular importncia foi a adeso asuas fileiras dos Hasidim (I Macabeus 2.42 ss), para

    quem toda a cultura helenstica e a influnciaestrangeira eram anathema, porque a presenadeles "deu plena sano religiosa revolta." Elesno poderiam ser considerados um partido dentrodo Judasmo, mas formavam um grupo de opiniomuito poderoso. Eram oriundos, em maior parte,das classes mais pobres e dos distritos rurais, mas

    havia entre eles alguns homens proeminentes. Suaevidente devoo e zelo religioso viriam a ser vitaispara o futuro da nao. A atitude deles vividamente expressa no Livro de Daniel que, emsua forma presente, de algum modo, foi composto,no tempo de Antoco, por um dos Hasidim.

    A Revolta que se seguiu foi lideradasucessivamente por trs dos filhos de Matarias: Judas (165-160 a.C.) cognominado Macabeus("Martelador"?), Jonatas (160-143 a.C.) e Simo(142-134 a.C). Em suas campanhas obtiveramnotvel sucesso. No dia 25 de casleu (dezembro),

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    165 a.C, no mesmo dia em que o templo havia sidoprofanado trs

    ____________________23H. Wheeler Robinson, The History of Israel {A Histria de Israel),

    1938, p. 176.

    anos antes (I Mac 4.54), eles o purificaram e orededicaram, sob a liderana de Judas, e aadorao foi restabelecida (I Mac 4.36 ss; cf. II Mac10.1-7). Esse evento tem sido comemorado desdeento na Festa judaica de Hanukkah (Dedicao),s vezes conhecida como a Festa das Luzes. As

    lutas continuaram, mas em 162 a.C. Lisias, regentede Antoco V, ofereceu condies generosas ajudase concedeu perdo total aos rebeldes, e plenaliberdade religiosa (I Mac 6.58ss; II Mac 13.23s).Para convenc-los conciliao, ele ordenou queMenelau fosse condenado morte. Os Hasidim,cujos propsitos, por esse tempo, eram religiosos e

    no polticos, viram seus alvos atingidos eretiraram seu apoio aos Macabeus. Isso indicadopelo apoio que deram a Alkimus, a quem DemtrioI (sucessor de Antoco V), indicou como SumoSacerdote. Ele foi reconhecido pelos Hasidim comoum legtimo Sumo Sacerdote da linha de Aaro.

    Judas, porm, no ficou contente com apenas aliberdade religiosa, j que buscava a independnciapoltica. Depois de relativo sucesso inicial, osjudeus foram derrotados e o prprio Judas foi mortoem Elasa em 160 a.C. (I Macabeus 9.18s). Alkimusmorreu pouco tempo depois, e pelos prximos seteanos Jerusalm ficou sem Sumo Sacerdote.

    Jonatas sucedeu a seu irmo Judas como lder dos judeus nacionalistas com a ajuda de seu outroirmo, Simo. Foi um tempo de intriga no qualvrios rivais passaram a reivindicar o trono srio.Em 153 a.C. Demtrio I (162-150 a.C.) teve de lidarcom tal rival na pessoa de Alexandre Balas que

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    afirmava ser filho de Antoco IV.__________________

    24No sentido exato o nome "Macabeus" deveria ser aplicado apenasa Judas, mas em geral tambm usado em referncia a seus irmos.

    25Cf. Joo 10.22 onde se faz referncia "Festa da Dedicao".

    Ambos tentaram cortejar a amizade deJonatas, e no fim, Balas (150-145 a.C.) sobrepujouDemtrio designando-o Sumo Sacerdote em 152a.C. (I Macabeus 10.15-17). Deve-se observar que opartido ortodoxo no elegeu o Sumo Sacerdote,

    mas quando muito, simplesmente aceitou aindicao feita pelo rei. Mais tarde, Jonatas foiconfirmado no ofcio de Sumo Sacerdote por Trifon,que estava agindo em nome do filho mais novo deAlexandre Balas. Mas Trifon, suspeitando cada vezmais do poder de Jonatas, matou-o em 143 a.C. (IMacabeus 12.48; 13.23).

    Simo, que sucedeu a seu irmo Jonatas,comeou a solidificar sua posio. Em 142 a.C. eleganhou de Demtrio II (145-138 a.C.) imunidade deimpostos e os judeus proclamaram suaindependncia (I Mac 13.41). Em 141 a.C. deramum passo a mais. Um decreto em bronze foiapregoado no Templo conferindo-lhe o ofcio deSumo Sacerdote com direitos hereditrios: "Os judeus e os sacerdotes haviam consentido queSimo se tornasse seu chefe e sumo sacerdote,perpetuamente, at a vinda de um profeta fiel... eSimo aceitou. Prontificou-se a ser sumo pontfice,chefe do exrcito, governador dos judeus'* (I Mac

    14.41-47). O Sumo Sacerdote outrora hereditriona Casa de Onias e que havia sido usurpado desdea deposio de Onias III, agora voltava a serhereditrio na linha de Hasmoneu .

    Aqui, ento, ns vemos o surgimento de umestado judeu independente no qual o chefe civil e lder

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    militar era, ao mesmo tempo, o Sumo Sacerdote. Essaunio iria perdurar por toda a vida da Casa deHasmoneu. A Simo, porm, no seria permitido morrerem paz. Em 134 a.C. ele foi traioeiramente assas-sinado por seu genro Ptolomeu. Seu filho, Joo Hircano,agora assumia o Sumo Sacerdcio (I Macabeus 16.13-17).

    _______________26Para o significado deste nome, ver a seo seguinte.

    Os Macabeus, em nome do judasmo, haviamconquistado uma ressonante vitria, no apenassobre seus inimigos externos, mas tambm sobretoda a cultura que esses iriimigos estavamdeterminados a impor sobre eles. Mas seria falsoimaginar que a vitria decisiva havia sido ganha.

    D. A Casa de Hasmoneu

    A palavra Hasmoneu derivada do nome dafamlia de Mavatias e seus filhos que pertenciam Casa de Hasmon. Por este nome os Macabeus eramconhecidos mais tarde na literatura judaica, mas conveniente reservar a expresso "Macabeus" para Judas e seus dois irmos e usar o ttulo"Hasmoneu" para descrever seus descendentes, aotodo cinco, sob os quais os judeus experimentaramquase setenta anos de independncia (134-63 a.C).Por pouco tempo, durante o reinado de JooHircano (isto , Hircano I, 134-104 a.C.) a Judiatornou-se um estado vassalo, mas recuperou aindependncia em 129 a.C. com a aprovao do

    Senado de Roma. Hircano imediatamente comeoua estender seu territrio. No sul, por exemplo, eleanexou a Idumia, compelindo os habitantes a secircuncidarem; no norte, ele se apossou doterritrio de Samaria, destruindo o Templo rival doMonte Gerizim.

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    Esses atos de Hircano mostram que ele tinhaideais evidentemente religiosos, mas durante todoesse perodo havia um crescentedescontentamento, principalmente da

    ____________________27Para pontos de vista destes eventos sobre a esperanamessinica, ver p. 123 s.

    28Este Templo havia sido construdo provavelmente em algumapoca do IV sculo.

    parte dos Hasidim e dos judeus ortodoxos emgeral, contra os Macabeus e a Casa de Hasmoneu.Esses no apenas haviam tomado o SumoSacerdcio, mas estavam se tornando cada vezmais mundanos e irreligiosos. No tempo de JooHircano, o ramo crescente dentro do Judasmohavia-se materializado em dois partidos, cujosnomes agora emergem, pela primeira vez, como

    Fariseus e Saduceus. Primeiro, Hircano tomou opartido dos fariseus, mas quando um de seusmembros exigiu que ele renunciasse ao ofcio deSumo Sacerdote, ele rompeu com estes e uniuforas com o partido dos Saduceus.

    O Dr. Oesterley afirma que uma das principaisrazes por que os fariseus se opunham aos

    Hasmoneus era que eles falavam de si mesmoscomo reis, embora no fossem da linhagem deDavi, e ele indica que at Hircano assumiu esseofcio real. Se as coisas eram assim ou no, Josefoinforma que o sucessor de Hircano, Aristbulo I(103 a.C), foi o primeiro a assumir o ttulo de rei,

    embora isso no seja indicado em suas moedas.Esse fato, associado ao apoio do partido dosSaduceus, seu amor pela cultura grega e o fato deestar implicado no assassinato de sua me e deseu irmo Antgono, aumentou ainda mais oantagonismo dos fariseus.

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    Essas questes, porm, chegaram a um pontocrtico no tempo de seu sucessor, Alexandre Janeus(102-76 a.C). Desde o incio, ele irritouprofundamente os fariseus ao se casar com a viva

    de seu irmo Aristbulo, embora fosse contra a leium Sumo Sacerdote faz-lo. Alm disso, elenegligenciou seu ofcio espiritual e dedicou-secomo guerreiro a conquistar e a engrandecer a simesmo por meio da guerra.

    ________________29Ver p. 49 ss.30Op. Cit, p. 285 s.31Antiquities (Antiguidades) 13. 301; Bellum Judaicum 1. 70.

    Usava o ttulo de "rei", anunciando o fato emsuas moedas em caracteres tanto gregos comohebraicos, assim revelando sua ligao com oestilo de vida grego, demonstrando um passo frente na secularizao do Sumo Sacerdcio. Sua

    impopularidade entre o povo ilustrada por umincidente por ocasio da Festa dos Tabernculos.Com total desprezo pelas responsabilidades comseu ofcio de Sumo Sacerdote, ele propositalmenteescarneceu das exigncias rituais ao derramar agua da libao no cho e no sobre o altar. As

    pessoas ficaram to furiosas que bateram nele comos ramos de cidreira que haviam trazido para usarno ritual. Em um acesso de clera, ele deu ordens aseus soldados que mataram muitos dos judeusdentro do ptio do Templo. Mais tarde, a situaoficou to ruim que estourou a guerra civil de seisanos. Quando, afinal, a paz foi restabelecida,

    registra-se que ele levou oitocentos judeus quehaviam lutado contra ele, morte por crucificao.

    Durante o restante de seu reinado, os fariseuse os ortodoxos permaneceram em paz. Mas opartido dos fariseus estava se tornando topoderoso que Janeus, prximo ao final de sua vida,

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    viu nisso um grave perigo para a casa real. Assim,aconselhou sua esposa Alexandra, indicada rainhapor sua ordem, a entrar em acordo com elesdando-lhes mais autoridade no Estado. Quando

    Alexandra (75-67 a.C.) subiu ao trono aps a mortedo marido, ela agiu conforme ele havia orientado edesignou seu filho mais velho, Hircano II, comoSumo Sacerdote. Hircano era bem disposto com osfariseus e, por sua influncia, o poder delesaumentou consideravelmente em fora. Com fortepoder civil e religioso nas mos, eles puderamimpor, ao povo, suas prprias convices. Emparticular, eles tornaram as coisas muito difceispara seus oponentes saduceus, os quaisencontraram um defensor no filho mais novo deAlexandra, Aristbulo, que deixou claro que suainteno era o trono. Aps a morte de sua me,

    Aristbulo reuniu um exrcito e derrotou seu irmoperto de Jeric. Hircano foi forado a deixar o ofcioe Aristbulo (66-63 a.C.) tornou-se rei e SumoSacerdote, permanecendo no poder at 63 a.C.

    A histria dos Hasmoneus chegou ao fim porcausa de um Antipater, governador da Idumia,que encorajou Hircano, no exlio, a remover seuirmo do ofcio. Com ajuda de um governadorrabe, Aretas III, ele atacou Aristbulo em Jerusalm. Foi nesse momento que Roma decidiuinterferir nas questes da Palestina. Pompeuenviou seu general, Scaurus, para sufocar olevante e ele, mediante suborno, apoiou Aristbulo.

    No ano de 63 a.C, o prprio Pompeu, temendo osdesgnios de Aristbulo, atacou Jerusalm e aconquistou, entrando pessoalmente no Templo eno Santo dos Santos. Aristbulo foi levado cativopara Roma. Hircano foi confirmado no SumoSacerdcio e designado etnarca da Judia, ento

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    acrescentada provncia da Sria.

    E. Herodes e os RomanosEm 163 a.C, ento, os judeus perderam sua

    independncia quando Pompeu, mais uma vez, ossubmeteu ao "jugo dos pagos". Desse momentoem diante, o esprito do nacionalismo judeutransformou-se em revolta e continuou at a com-pleta destruio de Jerusalm e do Estado judeuem 70 d.C.

    Os anos que se seguiram a 63 a.C. realmente

    foram muito atribulados, e as complicaes nopodem ser mencionadas aqui a no serligeiramente. Antipater, cujo nome proeminentena histria dos judeus nos vinte anos seguintes, aprincpio deu forte apoio a Pompeu, mas em 48a.C; quando Pompeu foi derrubado, ele transferiu

    seu apoio para o rival, Csar. Como resultado,Csar concedeu muitos considerveis privilgiosaos judeus, no apenas na Judia, mas tambm naDisperso. Antipater foi nomeado governador da Judia, recebendo tambm a cidadania romana.Mas, apesar de todos os benefcios decorrentes desua amizade com Csar, Antipater era

    amargamente odiado pelos judeus, sem dvidajustamente por causa de sua dependncia de Romae por ser idumeu (isto , edomita) de nascimento.Esse dio se intensificou quando, depois da mortede Csar em 44 a.C, o procnsul Cassius entrou naSria e, com extrema severidade, imps pesados

    tributos ao povo. No ano seguinte, Antipater foienvenenado por seus inimigos.Quando Antnio subiu ao poder, aps a

    batalha de Filipos em 42 a.C, ele nomeou os doisfilhos de Antipater, Fasael e Herodes, tetrarcas sobo governo do etnarca Hircano II, a quem ele

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    confirmou no Sumo Sacerdcio. Mas logo surgiramsrios problemas. Antgono, filho de Aristbulo, oHasmoneu, ganhou o apoio de Partiano, queapoiava suas reivindicaes ao trono. Fasael e

    Hircano foram feitos prisioneiros; o primeirocometeu suicdio e o outro foi levado ao exlio.Porm, Herodes escapou e foi direto para Roma,onde assegurou uma entrevista com Antnio. Ali,para sua prpria surpresa, ele foi designado rei da Judia (40 a.C). Porm, ele ainda tinha queenfrentar Antgono, que havia tomado posse daJudia. Com ajuda dos romanos, ele derrotou seurival em 37 a.C, aps um cerco de trs meses aJerusalm. Antgono foi condenado morte e assimcomeou o reinado de Herodes, o Grande.

    Sob o governo de Herodes (37-4 a.C.) e deseus filhos, a poltica de helenizao propagou-se

    rapidamente. Ele queria, tanto quanto possvel, ser"tudo para todos os homens" - para os judeus, umjudeu, para os pagos, um pago. Seu casamentocom Mariane, a neta de Hircano, era uma indicaode seu desejo de agradar aos judeus como foi, porexemplo, a construo do novo Templo deJerusalm, iniciada no ano 20 a.C. Porm, mesmoassim, no foi possvel conciliar o povo com suaorigem idumia e com seus planos de helenizar oreino. Num aspecto importante, ele perdeu asimpatia de muitos de seus sditos judeus: nadinastia hasmoneana, o Sumo Sacerdote e o reieram a mesma pessoa; Herodes, sendo idumeu,

    no poderia ser o Sumo Sacerdote, e assim eleadotou a poltica de, tanto quanto possvel,degradar esse ofcio. Com isso em vista, elequebrou o princpio hereditrio no qual o sumosacerdcio estava baseado e aboliu o direitovitalcio desse ofcio. Depois disso, o Sumo

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    Sacerdote passou a ser designado por ele emantinha o ofcio enquanto agradasse ao rei.

    A poltica de helenizao que Herodesempreendeu era devida, pelo menos em parte,

    prpria natureza de seu reino, que abrangia muitascidades gregas e inclua inmeros gregos entre oscidados. Ele tem sido chamado, s vezes, de"patrono do helenismo" e esse ttulo pode serplenamente justificado em muitos sentidos. Porexemplo, ele fez pouco uso do Sindrio judeu e emseu lugar estabeleceu um conselho real nos moldeshelensticos; substituiu a antiga aristocraciahereditria por uma nova aristocracia de servio eelevou essa nova classe de acordo com as prticashelensticas. Sua poltica de administrao, denatureza burocrtica fortemente centralizada,seguia tambm as linhas do helenismo. O

    historiador Josefo nos diz que "ele indicou jogossolenes a serem celebrados a cada cinco anos emhonra a Csar, e construiu um teatro em Jerusalm,como tambm um imenso anfiteatro na plancie"(Ant., 15.8.1, seo 267-69). Era um partidrioliberal dos Jogos Olmpicos e "foi declarado nasinscries do povo de Elis para ser um dosatdministradores permanentes destes jogos" (Ant,16.5.3, seo 149). Suas extensas operaes deconstruo provam a alegao de que eleencorajava o culto ao Imperador, porque todos osmuitos templos que construiu por toda a Palestinaeram dedicados a Csar. Os fariseus,

    particularmente, ficaram horrorizados quandosouberam que Herodes realmente havia permitidoque os pagos erigissem esttuas a ele, em seureino. Lemos sobre certos homens, sucessoreslegtimos dos antigos Maca-beus, que entraram emsanta aliana para impedi-lo, at mesmo sob risco

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    de morte, de perpetrar sua poltica de helenizao.Mesmo quando eram capturados e torturados

    e condenados morte, havia outros prontos atomar seus lugares.

    Em seguida morte de Herodes em 4 a.C,irromperam tumultos na Galileia, que desse tempoem diante ficou conhecida como bero donacionalismo judaico. Josefo nos diz que um certo Judas, o Galileu, associado a Zadoque, fariseu,rebelou-se contra Roma e fundou uma nova seitaem 6 d.C. Esse presumivelmente o partido quemais tarde veio a ser conhecido como Zelotes (emgrego) ou Cananeus (em aramaico) ou Sicaris (emlatim) e que passou a ser um espinho na carne dosromanos por muitos anos. Com matana, a rebeliona Galileia foi sufocada por Arquelau, filho deHerodes (4 a.C. 6 d.C.) que o sucedeu como

    governador da Judeia, apenas para ser banido anosmais tarde pelos romanos como resultado de umaapelao contra ele por judeus e samaritanos. Aexceo de um curto perodo de trs anos, nosquais o neto de Herodes, Agripa I (41-44 d.C),governou como rei da Judia, o pas foi dirigido poruma sucesso de procuradores romanos (6 d.C.-66). Durante todo esse perodo, o nacionalismo judeu foi crescendo em intensidade e encontrouuma expresso particularmente perigosa nasatividades dos Zelotes, que consideravam ogoverno estrangeiro dos romanos como umasituao intolervel. Essas atividades eram

    motivadas no apenas por propsitos polticos, mastambm por profundas convices religiosas,porque aparentemente os Zelotes consideravam asi mesmos como a verdadeira linha sucessria dosantigos Macabeus.

    interessante notar que pelo menos um dos

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    discpulos de Jesus pertenceu, ou havia pertencido,a esse partido. Ele chamado Simo, o Zelote(Lucas 6.15, Atos 1.13) ou Simo, o Cananeu(Mateus 10.4, Marcos 3.18). Tem sido discutido que

    outros tambm podem ter pertencido, como JudasIscariotes (do latim sicarius, "assassino"?), SimoBarjonas (do acadiano barjona "terrorista"?) eTiago e Joo, os "filhos do trovo" (Marcos 3.17).Em pelo menos uma ocasio, pensa-se que Pauloera um Zelote (Atos 21.38) e o prprio Jesus foiassociado aos lderes do movimento Zelote pelomestre Gamaliel (Atos 5.36,37). Jesus no era umZelote, mas, sem dvida, alguns de seus con-temporneos judeus e dos romanos oconsideravam como tal.

    Os Zelotes eram essencialmente homenszelosos para com Deus agentes de Sua ira

    contra os caminhos idlatras dos pagos. Elescriam que eram chamados por Deus para seengajarem em uma Guerra Santa contra o "poderdas trevas". Nesse particular, compartilharam ascrenas de muitos outros judeus patriticos,incluindo os Pactuantes de Qumran. De fato, a esserespeito, exceo dos colaboracionistassaduceus, no h, s vezes, uma linha clara dedemarcao entre uma seita e outra.

    _________________32Cf. O. Cullmann, The Slate in the New Testament (O Estado no

    Novo Testa-mento), 1956, p. 15 ss.

    Mesmo Josefo, que cuida em isolar os Zelotese imputar a eles a vergonha da Guerra dos Judeus,em pelo menos uma ocasio, associa os Zelotesaos Essnios, e, como temos visto, associa-os aosfariseus em sua origem. Seu patriotismo era, semdvida, mais obviamente expresso do que o dosoutros, e seu zelo por Deus os tornou bempreparados para empunhar a espada como um

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    instrumento de salvao apontado por Deus, mascomo oDrWR. Farmer diz: "Quando as coisasficaram claras, toda a nao foi chamada a umaluta de vida ou morte entre o povo de Deus e seus

    inimigos. Todos os judeus patriotas, quer fariseus,essnios ou zelotes, seriam chamados a dar todo oseu empenho na Guerra Santa." O mesmo escritor-observa que os Zelotes eram, sem dvida,considerados por muitos de seus compatriotascomo "extremamente zelosos" e "um tanto rpidosno gatilho", em comparao com os outros partidosdo pas. O que certo que eles contriburammuito para comear a guerra com Roma queassolou de 66 a 70 d.C. e terminou com adestruio de Jerusalm e de todo o Estado judeu.Apenas mais uma vez, em 132 d.C, houve umatentativa de lutar pela independncia do Judasmo

    em uma revolta liderada por Ben Kosebah,comumente chamado de Bar Kochba, ajudado peloinfluente Rabino Akiba. Trs anos mais tarde, arebelio foi esmagada e Jerusalm foi remodeladacomo cidade pag.

    A batalha entre o judasmo e o helenismohavia terminado e por todas as aparncias abatalha fora perdida. Mas, assim como o helenismono se pde resistir apenas

    ________________33Ver p. 54 ss.34Ver p. 37.35Maccabees, Zealots and josephus (Macabeus, Zelotes e Josefo),

    1956, p. 183.

    pela fora, assim tambm o judasmo nopde ser extinto pelo poder das armas. O Estado judeu caiu, mas o judasmo prevaleceu, porquequando a conquista foi negada e o acordo proibido,ao contrrio do cristianismo, que se expandiu parao mundo helenstico para "pensar melhor, viver

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    melhor e morrer melhor" os pagos, o judasmoescolheu para si o caminho da separao. Essepasso significativo foi dado por Jonatas ben Zakkaique, enquanto a batalha assolava a vida de

    Jerusalm, pouco antes de sua queda, partiu para acidade de Jamina no litoral da Palestina e fundouuma escola que iria marcar o incio de uma novaera para o povo judeu. Eles j no tinhamJerusalm; eles j no tinham o Templo; mas l em Jamina eles tinham o estudo da sagrada Lei deDeus, e isso para eles era mais do que a prpriavida. Por ela seus pais haviam lutado e morrido;por ela seus filhos iriam viver.

    2

    O Povo do Livro

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    A luta entre o judasmo e o helenismodescrita no ltimo captulo no pode ser explicadatendo como referncia o desejo dos judeus, seja de

    "liberdade poltica", seja de "liberdade religiosa".De fato, havia luta at mesmo quando elesdesfrutavam de liberdade poltica; e a "liberdadereligiosa", no sentido dos direitos de cada homemseguir os princpios de sua prpria conscincia, noera tolerada pelos judeus. "Durante todo esteperodo", escreve o Dr. T. W Manson, "os judeus

    estavam lutando, no por ideais modernos comoestes, mas pela sobrevivncia de 'Israel', onde'Israel' representa um todo orgnico complexo, queinclui a f monotestica, os cultos no Templo e nassinagogas, a lei e os costumes personificados naTorah, as instituies polticas que haviam surgido

    no perodo ps-exio, a reivindicao depropriedade da Terra Santa, e qualquer sonho doque pudesse ter sido um mundo governado porIsrael para substituir o governo dos imprios gent-licos".36

    A nova ordem das coisas contida nessesideais, pelos quais o judasmo estava disposto a

    lutar at a morte, j haviam encontrado expressoperto do incio do sculo III a.C. em algumaspalavras do Sumo Sacerdote Simo, o Justo. Notratado judaico Pirke Aboth 1.2 est escrito: "Eledizia: sobre trs coisas o mundo estfundamentado: na Torah, e no Servio (Templo), e

    em praticar o bem". Essas trs coisas representam"revelao, adorao e simpatia, isto , a palavrade Deus para o homem, a resposta do

    ______________36T. W. Manson, The Servant-Messiah (O Servo Messias), 1956, p.

    5.

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    homem para Deus, e o amor do homem para comseu semelhante",37 e so ao mesmo tempo a lei davida e o fundamento da nao e do estado deIsrael. Nos dias anteriores aos Macabeus, o Templo

    ainda era um bastio contra a onda do helenismo,mas, como podemos ver, o ponto de levante dasforas do judasmo tornou-se cada vez mais aTorah eterna e sagrada.

    1. A RELIGIODA TORAHO Dr. G. F. Moore define a palavra "Torah"

    como "o termo amplo para a revelao divina,escrita e oral baseados na qual os judeus possuamo padro e a norma singulares de sua religio".38 Apalavra significa "instruo" ou "ensino" e indica arevelao dada por Deus a Israel por meio de seuservo Moiss. A palavra freqentemente

    traduzida como "Lei", mas isso pode conduzir a umequvoco, porque seu significado est mais prximode "revelao" do que de "legislao". Mas, umavez que essa "revelao" encontra expressoescrita no Pentateuco, o nome 'Torah" aplicadocomumente aos "cinco livros de Moiss". Comovamos ver, o nome poderia ser aplicado no apenas ao

    registro escrito dessa revelao, mas tambm tradio no escrita que buscava explicitar o ensinoimplcito na Torah escrita.

    Ao longo de todo o perodo de Antoco IV (175-163 a.C.) a Vespasiano (d.C. 69-79) e Tito (d.C. 79-81),o nacionalismo judeu estava arraigado e fundamentadona Torah. Nessa palavra estavam os germes da revolta

    que iriam declarar morte ao helenismo e a tudo aquiloque a cultura estrangeira estava introduzindo na nao

    judaica. E assim, o Livro, o veculo e a____________________

    37 R, H. Charles, Apocr. And Pseud. (Apcrifos e Pseudnimos),1913, p. 691.

    38]udaism (Judasmo), vol. 2,1927, p. 263.

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    expresso da Torah, cada vez mais se tornouo sinal e o smbolo da f dos judeus.

    A.. Do Templo TorahO espao deste livro no permite contar ahistria de Esdras que, de acordo com o Talmude39,"fundou" a Torah muito depois de ela ter sidoesquecida e, apenas se pode fazer uma brevemeno aos soferins ou escribas que, de acordocom a tradio, continuaram o trabalho de Esdras,

    ensinando e interpretando a Torah para assucessivas geraes, reivindicando para ela umaposio de autoridade suprema no judasmo. Oensino deles, baseado em exegese simples daTorah, deu ensejo a novas tradies, para as quaisno havia nenhum precedente na antiga tradio

    ou na prpria Torah.*O papel exercido pelo ensino oral dosescribas foi muito significante no preparo daspessoas para os anos atribulados que se seguiriam,nos quais a influncia da cultura helensticacomeou a se fazer sentir muito profundamente.H razo para acreditar que os soferins

    organizaram reunies semanais no s emJerusalm, mas nas cidades e aldeias adjacentes,nas quais liam a Torah publicamente e explicavamseus ensinamentos. Seria um equvoco pensarnessas reunies em termos dos ofcios dassinagogas, que surgiram posteriormente e se

    espalharam rapidamente por toda a Jerusalm epelas regies da Disperso, mas sem dvida, elesprepararam o caminho para aqueles ofcios, e aossoferins e seus sucessores atribudo muito docrdito pelo desenvolvimento dessa instituio vitalpara o judasmo.

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    _________________39Ver p. 68, n. 3.40Ver tambm p. 64 ss.Na ocasio da morte de Simo, o Justo, cerca

    de 270 a.C, a influncia dos soferins declinou, mash evidncia de que aps essa data um conjuntode homens, principalmente leigos, continuou aaplicar-se reservadamente ao estudo da Torah.Esse perodo de ensino no autorizado continuouat cerca de 196 a.C, quando provavelmente foiencerrado pela organizao que mais tarde viria a

    ser conhecida como Sindrio, um tribunalcomposto de membros sacerdotes e leigos que sededicava regulamentao das questesreligiosas.

    Assim, muito tempo antes da Revolta dosMacabeus, as pessoas comuns haviam sidoinstrudas na f e haviam aprendido a aplicar areligio vida cotidiana na nova situao econdies que se formavam na Palestina. A Torahpassou a ser o centro da ateno, ocupando umlugar cada vez mais significativo na vidadevocional de muitos que, por causa dasdificuldades daqueles tempos ou por causa da

    disperso, longe de Jerusalm, no podiamoferecer sacrifcios no Templo Sagrado.Em algum momento, ento, entre a concluso

    da Torah em cerca da metade do sculo IV a.C. e aRevolta dos Macabeus em 167 a.C, ocorreu umatransferncia sutil de nfase, do Templo para aTorah, o que ainda seria de grande importnciapara a sobrevivncia do judasmo. Mas foi na erados macabeus que essa mudana foi mais notvel,porque nessa poca a Torah havia se tornado osmbolo visvel da f judaica. O triunfo da Revoltados Macabeus e o desenvolvimento das sinagogase das escolas, tanto em Jerusalm como na

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    Disperso, aumentou ainda mais a reputao da Torah. A Torah da Sinagoga no estava, emnenhum sentido, em oposio ao ritual do Templo,mas nutriu uma religio pessoal profunda algo

    que os ritos do Templo no eram capazes de fazer.E assim, chegou um momento em que o registroescrito pde tomar o lugar dos atos litrgicos nosafetos do povo. Isso explica por que, apesar dadestruio do Templo em 70 d.C, o Judasmoconseguiu sobreviver. O ritual do Templo havia sidosubstitudo pela reverncia para com a Torah; osacerdote havia sido substitudo pelo rabino; oTemplo fora suplementado pela sinagoga. Depoisdisso, o judasmo passou a ser, essencialmente, areligio do livro.

    B. O Ponto de Levante da Revolta

    A centralidade da Torah para o movimento donacionalismo judeu pode ser amplamente ilustrada,tanto no perodo dos Selucidas como no dosromanos: em cada um ela tornou-se o ponto delevante da revolta. Por exemplo, quando Matadas,no tempo de Antoco TV, desafiou o poder dossrios em Modein, ele clamou em alta voz ao povo:

    "Quem for fiel lei e permanecer firme na Aliana,saia e siga-me" (I Macabeus 2.27). Realmente muito significativo que, apesar de o Templo ter sidoprofanado apenas pouco tempo antes (I Macabeus1.54), no foi em defesa do Templo, mas da Torah,que as pessoas foram conclamadas. Um apelo ao

    Templo teria reunido uma parte do povo; mas umapelo Torah tinha mais chance de reunir todo opovo; e, mesmo que nem todos respondessem,todos estavam envolvidos, porque toda a naoreverenciava a Torah como revelao e vontadedeclarada de Deus. "Do primeiro ao ltimo",

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    escreve o Dr Travers Herford, "a batalha era entreo helenismo de um lado e a Torah do outro; e oresultado final que o helenismo foi derrotado e aTorah se manteve suprema, reconhecida por quase

    todos e jamais abertamente desafiada poralgum".41Os inimigos dos judeus foram rpidos em

    reconhecer a confiana que devotavam Torah e oentusiasmo com que se levantavam em suadefesa. E assim a Torah escrita tornou-se o foco doataque contra o judasmo. Concernente perseguio de Antoco IV, lemos: "Rasgavam equeimavam todos os livros da lei que achavam; emtoda a parte, a todo aquele, em poder do qual seachava um livro do Testamento, ou todo aqueleque mostrasse gosto pela lei, morreria por ordemdo rei." (I Macabeus 1.56, 57). Atacar a Torah

    significava atacar o prprio judasmo; defender aTorah era defender a f de seus pais.A Revolta dos Macabeus comeou, continuou

    e terminou, ento, em uma convocao para selevantar em defesa da Torah que era, para osjudeus, a prpria incorporao da religio deles. Odesafio do helenismo no era simplesmente umaquesto de poltica ou esttica ou moral ou cultura;era um golpe desferido contra as prprias razes daf judaica, que era fundamentada na Torahsagrada, e a ele se deveria resistir com todas asforas.

    Mas, como j temos visto, a Revolta dos

    Macabeus, embora alcanasse uma grande vitria,no resolveu a questo "judasmo versushelenismo" de uma vez por todas. A nao judaicaainda estava rodeada pela cultura helenstica edevia, de alguma forma, estabelecer suas relaescom seu ambiente. Durante o tempo dos

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    Hasmoneus, em particular o desenvolvimento dassinagogas e das escolas, em ambas as quais oensino era ministrado com base na Torah sagrada,ajudou grandemente a impedir a infiltrao do

    helenismo na vida da nao.__________________41Talmud and Apocrypha (Talmude e Apcrifos), 1933, p. 80.

    Mas com o advento de Roma, influnciashelenistas comearam a se firmar novamente deformas mais declaradas e tiveram que ser

    rechaadas. A batalha teve que ser enfrentada portoda parte novamente, e mais uma vez a Torah foio ponto de encontro da revolta. Josefo, porexemplo, escrevendo sobre os judeus que seopunham .poltica helenizante de Herodes, faladessa "constncia destemida que elesdemonstravam na defesa de suas leis" (Ant.,15.8.4, seo 291). Essas palavras podem serconsideradas como uma verdadeira descrio daatitude dos judeus para com os romanos duranteesse perodo e at a queda de Jerusalm em 70d.C.

    Repetidas vezes Josefo declarou que eles no

    somente estavam dispostos a lutar e a matar pelaTorah, mas tambm a sofrer e a morrer por suacausa.

    Tanto no caso dos Selucidas como no casodos romanos, os inimigos dos judeus foram rpidosem identificar o centro da lealdade deles, e entoataques e mais ataques eram lanados contra aTorah. E muito significativo que entre os trofus doTemplo, que Tito levou consigo em uma procissotriunfal em Roma, havia uma cpia da Torahjudaica, e que atrs da procisso eram carregadasimagens de Nik, a deusa grega da vitria. A Torah

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    considerada aqui como o smbolo supremo do Judasmo sobre a qual as foras do Helenismouminado, como se acreditava, havia prevalecido.

    C. A Santa AlianaEsse zelo que os judeus demonstravam pelaTorah ao longo de todo o perodo helenstico era,contudo, no simplesmente zelo por um Livro, maspela Aliana sobre a qual o Livro testemunhava,uma Aliana feita por Deus na qual ele haviaseparado a nao judaica para ser seu povo

    particular. Menosprezar a Torah era trair a Alianaque Deus havia feito com seus pais. Isso ajuda aexplicar a lealdade fantica que muitos judeusdemonstravam para com os ritos de sua f aolongo daqueles dias difceis.

    A circunciso, por exemplo, era um sinal

    visvel de que um homem era um membro daAliana (I Macabeus 1.48, etc), e assim, sujeitar-se "incircunciso" era negar completamente aAliana (I Macabeus 1.15). Comer carne de porcoera fazer o que a Torah proibia, e assim a isso sedevia resistir sob a penalidade de morte (cf. IMacabeus 1.62,63; II Macabeus 6.18, 7.1 para ver

    histrias de bravo herosmo). O Sbado sagradoera, igualmente, uma marca da Aliana que oHelenismo procurou profanar (ITMac 6.6); os judeusobservavam isso to rigorosamente, que muitosdeles preferiam a morte a levantar os braos,mesmo para se defender, no dia do Sbado (II

    Macabeus 6.11; I Macabeus 2.29-38). A Torah erainflexvel em sua proibio de idolatria de qualquertipo ou forma; da o dio amargo dos judeus porqualquer coisa que lembrasse o culto aoImperador; da tambm sua violenta oposioquelas construes em estilo grego, decoradas

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    com figuras idlatras de arrimais e homens; atmesmo os trofus que adornavam os teatros eramolhados por muitos como imagens, e ento, eramantema para os judeus, que adoravam um "Deus

    ciumento" que no toleraria nenhum rival ao seutrono.O lugar que a Torah ocupava e ainda ocupa,

    na vida do Judasmo, bem resumido nestaspalavras do Dr. H. Wheeler Robinson: "A Lei era aescritura do Judasmo, a fonte verdadeira de suafora durante muitos sculos. As instituies que alei prescrevia, em grande medida, acabaram em 70d.C; mas a Lei mostrou seu poder pela criao deum novo judasmo, capaz de resistir sem terra,cidade ou templo. Atravs da leitura da Lei,suplementada pelos escritos dos profetas, nassinagogas espalhadas da Disperso, o

    conhecimento de um Deus santo e de sua Alianacom Israel foi mantido vivo nos coraes detodos".42

    2. A TORAHEAS SEITASO Judasmo do perodo de que estamos

    tratando, era um sistema mais complexo, contendo

    dentro de si mesmo muitos partidos, grupos eseitas diferentes, cujos nomes e crenas distintasnem sempre ficaram registrados na histria. Josefodeclara que "os judeus tiveram, por um grandeperodo de tempo, trs seitas de filosofia" (umaexpresso mais enganosa) - os Fariseus, os

    Saduceus e os Essnios, aos quais ele acrescenta opartido fundado por Judas e Zadoque, mais tardechamado de "Zelotes" (cf. Ant. 18.1.1-6, seo 9-23). Indubitavelmente esses partidos foram muitoinfluentes dentro do Judasmo durante esseperodo, mas para manter a questo na devida

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    proporo, temos que nos lembrar de que eleseram uma minoria muito pequena na Palestina.Calcula-se que Fariseus, Saduceus e Essniosjuntos somariam apenas trinta mil - trinta e cinco

    mil de um total de quinhentos mil -seiscentos milno tempo de Jesus. Os Fariseus somariamaproximadamente cinco por cento da populaototal e os Saduceus e os Essnios juntos,aproximadamente dois por cento.43

    Alguns dos muitos grupos no Judasmo tinhammais afinidades com essas trs seitas principais doque com outras, mas uma exageradasimplificao do caso supor que, quando essasseitas foram denominadas, as nicas restanteseram as assim chamadas "Am ha-aretzou "povoda terra".

    _______________42

    Religious Ideas of the Old Testament(Idias Religiosas do AntigoTestamento), 1913, p. 128.

    A descoberta da literatura dos Pactuantes doQumran, prximo da costa do Mar Morto, ajudou aesclarecer melhor essa situao. Tm sido feitastentativas de identificar essa comunidade com uma

    ou outra das principais seitas e, o que bempossvel, a Seita de Qumran poderia muito bemrepresentar um grupo influente dentro da naoem muitos aspectos diferentes daqueles partidoscujos nomes nos so familiares. Para citar aspalavras de R. H. Pfeiffer: "O Judasmo no perodoem que est sendo considerado era to vivo, to

    progressivo, to agitado por controvrsias, que sobseu espaoso telhado as vises mais contrastantespuderam ser mantidas".44

    Contudo, todos esses grupos ou seitas,aparentemente, tm uma coisa em comum: todoseles prestavam submisso Torah. E

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    completamente errneo destacar, digamos, osfariseus e denomin-los "o partido da Torah" ouatribuir a eles os escritos vagos desse perodo queexaltam "a Lei de Deus". A Torah era o grande

    fundamento do Judasmo e o alicerce de suanacionalidade. Porm, no se deve dizer que todosos partidos concordavam com o significado da Torah ou com sua interpretao. De fato, haviaopinies muito divergentes sobre esse assunto, deforma que, considerando que a lealdade deles Torah era um lao de unio, sua concepo delaera uma causa constante de diviso entre eles.

    A. Os FariseusDe acordo com Josefo {Ant., 13.5.9, seo

    171-3), os fariseus j existiam no tempo de Jonatas(160-143 a.C), mas em outro lugar (Ant., 13.10.5-7,

    seo 288-99) ele afirma que eles somencionados pela primeira vez na histria emconflito com Joo Hircano45 (134-104 a.C).

    _____________________________

    1Cf. T. W Manson, op. cit, p. 112Op. cit, p. 53.

    Eles exerceram uma grande influncia por umperodo de cerca de trs sculos e fizeram mais doque qualquer outro partido para determinar aforma de Judasmo nos anos seguintes. Suaascendncia espiritual pode ser traada at osHasidim que, ao apoiarem os Macabeus, haviamdado sano religiosa proposta de liberdadedestes. Eles no constituam um partido poltico,

    mas essencialmente uma seita religiosa, originadosem grande parte da classe mdia da sociedade,que gradativamente passou a ocupar uma forteposio religiosa e social na comunidade.

    Vrias explicaes tm sido cogitadas para onome fariseu, tais como, "expositor" (das

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    escrituras, no interesse da lei oral) ou "separatista"(das coisas impuras ou no sentido de "expelido",isto , do Sindrio). O Dr. T. W Manson afirma46 quea palavra significa "persa" e era aplicada a eles por

    seus oponentes que, nesse sentido, chamava-os deinovadores em teologia. Mais tarde, o nome passoua ser considerado como "uma construoetimolgica" e era associado raiz hebraica quesignifica "separar" sendo entendida como"separatista". certamente verdade que, emboraos fariseus fossem firmes defensores da "tradio",para eles ela no era coisa morta e, sem dvida emalgumas de suas doutrinas (como por exemplo, oreino messinico, a vida eterna, a crena namultiplicidade de demnios e anjos, etc), elesforam influenciados pelo pensamento persa.

    Ao longo de todo esse perodo, porm, eles se

    levantaram como um bastio contra a invaso dohelenismo, demonstrando serem os defensoresvalentes da religio da Torah. Mas era justamentea interpretao que

    _______________45Ou Janaeus no Talmude.

    eles faziam da Torah que os distinguiam da

    maioria de seus oponentes, os saduceus. Osfariseus criam que a lei oral devia ser consideradacomo de igual autoridade que a Torah escrita (cf.Ant, 13.10.6, seo 297), ao passo que ossaduceus consideravam a autoridade sagrada da Torah escrita como completamente acima e

    separada das novas tradies e observncias.47

    Ao ensinar e interpretar a Torah, escrita eoraL e ao aplic-la vida do dia a dia, eles"democratizaram a religio", tornando-a pessoal eoperativa na experincia das pessoas comuns. Oprincipal instrumento para propagao da Torah

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    era a sinagoga que se tornou uma instituio maispoderosa dentro de Judasmo, no apenas em Jerusalm mas tambm por todas as regies daDisperso. A leitura da Torah acompanhada de

    uma traduo interpretativa no vernculo tornou-se uma caracterstica distintiva dos ofcios dassinagogas.

    Nestes, os escribas, muitos dos quais erammembros do partido dos fariseus, tinham um papelimportante a desempenhar. Os Evangelhosoferecem alguma indicao da posio que assinagogas passaram a ocupar como fortalezas dareligio da Torah mesmo antes do tempo de Jesus.

    Mas est claro, pelos registros, que ofarisasmo era, no fundo, de carter legalista, e queo legalismo pode facilmente conduzir aoformalismo, e o formalismo ao externalismo e

    irrealidade, defeitos que se revelaram no decursodo tempo em pelo menos algumas fases dofarisasmo.48 Mas, apesar disso, os fariseus criaramum esprito de verdadeira piedade e devoo queafetou profundamente as vidas das pessoas, edesenvolveram um

    ________________46Op. cit. pp 19 s.47Ver captulo 3.

    individualismo religioso que deu uma novarelevncia Torah de Deus.

    B. Os SaduceusSe os fariseus, como um todo, pertenciam

    classe mdia, os saduceus eram representadospela rica aristocracia e particularmente pelopoderoso sacerdcio em Jerusalm. Provavelmentea maioria dos saduceus era de sacerdotes, maseles no devem ser identificados com todo o corpodo sacerdcio. Eles contavam em suas fileiras com

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    comerciantes ricos, funcionrios do governo eoutros. Em sua origem, ento, eles no eram umpartido religioso, embora fosse nisso que elespretendessem tornar-se; em vez disso eles eram

    um grupo de pessoas compartilhando uma posiosocial comum e unidos informalmente apenas poruma determinao comum de manter o regimeexistente. Na verdade, o Dr T. W Manson afirmaque o nome se origina na palavra grega syndikoi,que na histria ateniense significa aqueles quedefendem as leis existentes contra a inovao.49

    Alm disso, em assuntos religiosos eles adotaram aposio de um grupo distintamente conservador. OSumo Sacerdote e seu crculo eram membros dopartido dos saduceus quase at 70 d.C, emboraalguns anos antes os fariseus, e mais tarde oszelotes, tivessem obtido controle do Templo. Sua

    influncia havia sido determinada por sua posiono estado, e quando essa posio foi perdida, ainfluncia deles cessou.

    Como os fariseus, eles acreditavam nasupremacia da Torah, mas ao contrrio daqueles,os saduceus se recusavam a reconhecer aautoridade vinculante da lei oral. Eles tinham, verdade, tradies e costumes de seus

    _________________48Cf. Mateus 9.14; 15.10-20; 16.6; 23passim [N.T.: do latim aqui e

    acol]; Marcos 12.38-40; Lucas 11.37-54; 16.14 ss; 18.10 ss; 20.46 s. etc.prprios rituais e leis, mas como a origem dessesno datava de Moiss, no eram considerados nomesmo nvel que a Torah. Alm disso, elesacreditavam que principalmente no Templo queas palavras da Torah podiam ser obedecidas, e queas ordenanas provenientes dos sacerdotes,investidos em sua prpria autoridade, eram umguia suficiente para as pessoas cumprirem. Comefeito, ainda apoiando a autoridade da Torah

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    escrita contra a autoridade da tradio oraL ossaduceus consideravam-na pouco mais que umarelquia do passado.

    Se para os fariseus a Torah era o centro de

    sua f, para os saduceus era a circunfernciadentro da qual podiam ser nutridas convices eprticas estranhas ao judasmo. Da a habilidadedeles para inserir dentro de seu sistema muitasinfluncias helensticas que eram odiosas a seuscompanheiros judeus.

    C. OsEssniosO nome Essnio provavelmente deriva de

    uma palavra aramaica que significa "santo" ou"piedoso" e corresponde ao hebraico hasid.Relativamente pouco se sabe sobre os essnios,mas o historiador romano Plnio fala sobre um povo

    com esse nome que formava uma comunidadeasceta firmemente unida, que vivia perto da costaocidental do Mar Morto. Josefo e Philo ofereceminformaes adicionais de que havia cerca dequatro mil essnios que, em sua maior parte, viviaem aldeias, embora alguns deles vivessem emcidades. Esses ltimos eram, sem dvida,

    considerados por seus irmos como membrosassociados da comunidade que vivia em regiesdesrticas, sob uma disciplina mais rgida. O nomeessnio

    _________________49Op cit.,pp. 15 s.

    provavelmente abrange vrios grupos cujasconvices e prticas, embora talvez no fossemidnticas, ainda eram semelhantes.

    O que significante para o nosso propsito o fato registrado de que os essnios dedicavammuito tempo ao estudo e interpretao da Torah e

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    de outros livros sagrados, com os quais elestomavam o maior cuidado possvel. Josefo nos falaque eles estudavam intensivamente as Escrituras eindica que certo nmero deles era capaz de

    predizer o futuro atravs da leitura dos livrossagrados. Philo se refere ao mtodo deles deestudo em grupo e afirma que um membro dogrupo lia uma passagem em voz alta para os outrose um irmo mais experiente, ento, ia explicando osignificado. E bvio que a Torah escrita e seuestudo formavam a base da vida comum deles eera a inspirao de seu movimento. Em suaperspectiva religiosa, eles tinham muito em comumcom os fariseus, mas em alguns aspectos, pelomenos, pareciam ser bem mais rgidos do queaqueles na interpretao da Torah.

    D. Os Zelotes J observamos anteriormente que Josefotraou a origem dos zelotes at o ano 6 d.C; masna realidade suas razes vo muito alm do perodopr-romano, porque eles podem, justificavelmente,ser considerados como verdadeiros filhosespirituais dos macabeus. O Dr. R. H. Pfeiffer

    coloca a situao resumidamente nestas palavras:"Como os fariseus so os herdeiros dos Hasidim,assim os zelotes so os herdeiros dos Macabeus".50

    Eles so descritos por Josefo como bandidos,ladres e coisa semelhante, mas bem podemigualmente ser descritos como patriotas, de acordo

    com o ponto de vista do escritor; e Josefo era umtanto parcial! Entretanto, errneo consider-lossimplesmente como um grupo poltico radicaldentro do estado, que provocava conflitos com osromanos. Sem dvida, os zelotes atraram para simuitos do populacho de seus dias com tendncia a

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    "gangsters", mas eles eram essencialmente umacompanhia de patriotas judeus motivados porprofundas convices religiosas. E interessantenotar que Josefo descreve os sucessivos lderes do

    movimento dos zelotes pela palavra "sofista", quebem pode indicar que dentro do partido havia umprograma planejado de ensino que ia alm dointeresse meramente poltico que Josefo insinua.

    Na verdade, sabemos que a oposio dosessnios a Roma estava arraigada em seu zelopara com a Torah. Foi esse zelo e nosimplesmente o "amor ao pas" que gerou seupatriotismo e fanatismo, o que