o que é vacina? resposta imune ao antígeno vacinal · 2013. 10. 22. · poliomielite •campanha...
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Introdução às Vacinas
Universidade Federal de PelotasCentro de Desenvolvimento Tecnológico
Núcleo de BiotecnologiaGraduação em Biotecnologia
Disciplina de Vacinologia e Engenharia de Vacinas
Quais são os principais conceitos envolvendo vacinologia?
O que é vacina?
Onde surgiram as vacinas e por que preciso saber disso?
O que é vacina?
• Vacina é uma preparação biológica que estimulaimunidade contra uma doença.
• As vacinas funcionam mimetizando o agentecausador de uma doença estimulando o sistemaimune a montar uma defesa contra eles.
Resposta imune ao antígeno vacinal
Resposta imune ao patógeno em um indivíduo vacinado
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Vacinação
• Método mais barato e eficaz para prevenção de doenças provocadas por microrganismos.
• Responsável pelo controle de diversas doenças infecciosas com histórico devastador.
• Maior responsável pela redução da mortalidade e crescimento populacional no mundo.
Edward Jenner inoculando o vírus cowpox (vaccinia) em
James Phipps.
Varíola
• Evidências clínicas de varíola na tumba deRamses V morto em 1145 AC. Há registrosmédicos sobre varíola na Índia e China, damesma época.
• Permaneceu como doença endêmica da Ásiapor pelo menos mil anos.
• A partir da idade média a varíola se estabeleceu a Europa, com epidemias periódicas. No séc. XVIII matava 400 mil europeus por ano.
• Foi introduzida às Américas no século XVI e ajudou a dizimar as populações locais.
Deusa Sitala
Variolação
Chineses secavam ao sol cascas das feridas de varíola e sopravam na narina com auxilio de um bambu.
Difundida entre diversas populações asiáticas.
Variolação na Europa
• Lady Mary Wortley Montagu era aesposa do embaixador britânico naTurquia, teve uma forma leve de varíolae havia perdido um irmão com adoença. Na Turquia inoculou seu filho ena volta à Inglaterra a filha.
• Após uma resistência inicial a prática seespalhou pelo continente, popularizadapela adesão da aristocracia e darealeza.
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Variolação
As técnicas diferiam: algodão com pó decrostas ou pus inserido no nariz, vestirroupas íntimas de doentes, incrustar crostasem arranhões, picar a pele com agulhascontaminadas, fazer um corte na pele ecolocar um fio de linha infectado ou umagota de pus.
• A variolação reduzia o risco de desenvolvimento de formasgraves de variola, mas nunca foi uma técnica segura.
• Se a preparação do inoculo não fosse bem executada ela provocava doença.
• A mortalidade por varíola em populações inoculadas com Variola minor era em torno de 2%. Quando usada feridas de doentes por Variola major era de 30%.
Variolação
Benjamin JestyDorset, Inglaterra
Durante uma epidemia devaríola em 1774, Jesty inoculoupústulas de vaccinia na mulher edois filhos. Todos sobreviveram.
Jesty e duas empregadas contraíram cowpox (variola
bovina/vaccinia).
Jenner investigou a crença, comum entreos camponeses, de que os trabalhadoresque lidavam com vacas doentes devido àvaríola das vacas, e que desenvolviampústulas semelhantes às dos animais, nãoeram contagiados com a varíola.
Em 14 de maio de 1796 Jennerretirou pus de uma bolhacausada por cowpox da mão deuma mulher e inoculou emambos os braços de JamesPhipps, que desenvolveu umainfecção local leve. Após umtempo, Jenner inoculou varíolano menino (variolação). Nenhumsinal de infecção ocorreu.
Jenner testou a hipótese em 23indivíduos e publicou o trabalho“Um Inquérito sobre as Causase os efeitos da Vacina daVaríola.” em 1798.
A vacinação enfrentou resistência...
• Grupos religiosos alertavam para o risco da degeneraçãoda raça humana pela contaminação com materialbovino: a vacalização ou minotaurização.
• Mas, em pouco tempo, a vacina conquistou a Inglaterra.Em 1799, era criado o primeiro instituto para vacinasem Londres e, em 1802, fundava-se a Sociedade RealJenneriana para a Extinção da Varíola.
“Deus não pode querer que sua obra seja maculada, permitindo que se inocule no homem a linfa de um ser inferior, como é a vaca.”
Papa Pio VII
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• Varíola humana foi erradicadapor vacinação em 9 dedezembro de 1979. É a primeirae única doença humanaerradicada.
• Há apenas duas reservas devaríola no mundo: Centers forDisease Control andPrevention (CDC) – USA e StateResearch Center of Virology andBiotechnology (VECTOR)em Koltsovo, Rússia.
Rahima Banu, Bangladesh, 1975
Séculos XVI-XIX
• Surtos de doenças transmissíveis matavam milhões de pessoas.
– Pertussis: 1578 França.
– Febre amarela: séc. XVI e XVII Américas, 1793 Philadelphia (10%).
– Rubeola: 1740 Alemanha.
– Sarampo:
– Cólera: 1817 Pandemia por várias décadas. No final do séc. XIX matou >1 milhão de russos (Tchaikovski).
Louis Pasteur
• Estabeleceu por comprovação experimental ateoria dos germes, baseada em observaçõesprévias de Girolamo Fracastoro, AgostinoBassi (1835), e Lazzaro Spallanzani.
• Contribuiu para química, desenvolveu apasteurização, desenvolveu vacinas contraantrax, cólera aviária e raiva. Propôs o uso dapalavra VACINA em homenagem a Jenner.
As vacinas de Pasteur
• Charles Chamberland: Pasteurella multocida inativada apósum feriado em cultivo, que após inoculada em galinhas asprotegeu contra inoculação de uma cultura virulenta.
• O mesmo fenômeno foi observado com o antrax.
• Diferencial: produção do microrganismo atenuado‘artificialmente’, sem a necessidade de um organismo com adoença atenuada.
• Vacina contra raiva de Pasteur (Emile Roux): tecido nervoso decoelhos infectados (secado por 5-10 dias) utilizado parainocular um garoto mordido por cão raivoso em 1885.
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Oswaldo CruzMédico (1892), estagiou no Instituto Pasteur e resolveu aepidemia de peste bulbônica em Santos empregando soro.Para a produção do soro, o governo fundou em 1900 o InstitutoSoroterápico Brasileiro. “Limpou” o Rio de Janeiro.
Em 1904, Oswaldo Cruz convenceu o governoa instaurar a lei que torna obrigatória avacinação contra a varíola. Com o auxílio dapolícia a brigada de vacinação tem permissãopara entrar na casa das pessoas e vaciná-las áforça.
Dirigiu a campanha de erradicação da febre amarela em Belém do Pará e estudou as condições sanitárias do vale do rio Amazonas
Depois que Robert Koch diferenciouMycobacterium bovis de M.tuberculosis, o caminho para proteçãocontra tuberculose parecia óbvia:smallpox/cowpox. Mas o M. bovis é tãovirulento quanto o M. tuberculosis.
Calmette e Guérin observaram que subculturas de M. bovis em meioglicerina-bile-batata atenuava sua virulência.
Após 230 passagens durante 13 anos obtiveram uma cepa atenuadaque foi testada em humanos, protegendo contra tuberculose.
Bacilo Calmette-Guérin – BCG
BCG
• Nos primeiros anos o BCG não foi facilmente aceita,principalmente por um problema na segurança da vacina.
• A partir da II Guerra Mundial foi adotada pela Liga das Naçõese utilizada globalmente.
• BCG é eficaz contra meningite por TB, mas a proteção contra aTB pulmonar varia bastante (14-80%).
• USA e Holanda nunca adotaram a vacinação de rotina.Preferem um diagnóstico eficiente (PPD).
• OMS estima que 1,7 milhão de mortes por TB a cada ano.
Febre amarela e tríplice bacteriana
• 1936: criação da cepa 17D da febre amarela (flavivírus),originada por passagens de cérebro de ratos e embriõesde galinha. No ano seguinte a vacina é testada no Brasil.
• 1942: Vacina DPT ou tríplice bacteriana contra difteria(Corynebacterium diphteriae), coqueluche (Bordetellapertussis) e tétano (Clostridium tettani) – a primeira aimunizar contra mais de um microorganismo.
Poliomielite
• Pólio era um grande problema de saúde pública na primeira metade do século XX.
• Após tentativas frustradas (segurança e demora na comercialização) de desenvolvimento de vacina por diversos pesquisadores, Jonas Salk anunciou a obtenção de uma vacina contra Pólio.
• A vacina de Salk era 3 variantes de víruscultivados em células Vero e inativada porformalina.
• Via intramuscular.
Francis Field Trial
• Liderado por Thomas Francis em 1954.
• Começou com 4000 crianças numa escola elementar.
• 3 grupos:– 440 mil crianças receberam uma ou mais doses da vacina;
– 210 mil receberam placebo (meio);
– 1,2 milhão de crianças não receberam inoculação, servindo como controle para infecção por polio.
60–70% de proteção contra o PV1 >90% contra PV2 e PV3
94% contra o desenvolvimento de polio bulbar
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USA: 35 mil casos em 1954 para 5600 em 1957
Vacina de Sabin – A primeira via oral
• Albert (Saperstein) Sabin desenvolveu e testouentre 1955 e 1961 uma vacina com os 3 tipos depoliovírus vivos atenuados por alta passagempara uso oral.
• Uma dose da OPV protege 50% e após 3 doses aproteção é >95%.
• A imunidade no trato gastrointestinal é maiorque a induzida por IPV. OPV é mais barata, defácil administração mas não indicada paraimunocomprometidos e gestantes.
• Locais com pólio X sem pólio.
Campanhas nacionais de vacinação
• 1980: Brasil cria as campanhas de vacinação (diasnacionais de vacinação – iniciativa copiada nomundo todo) contra a poliomielite que faz com queos casos caiam de 1290 para 125.
1986: Criado o Zé Gotinha.
Poliomielite
• Campanha para erradicação iniciada em 1988.
• Ultimo caso de pólio no Brasil em 1989.
– Paraibano Deivson Rodrigues Gonçalves (24 anos).
• Afeganistão, Índia, Nigéria e Paquistão são os únicos países com casos de poliomielite atualmente.
BCG, hepatite B
(recombinante),Tetravalente
(difteria, tétano,pertussis,
H. influenza B),VOPolio,
VORotavírushumano,
pneumococo e meningococo,
febre amarela, tríplice viral
(sarampo, caxumba e rubéola),
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Objetivos da Vacinação
• Ambicioso:
– Erradicar as doenças infecciosas.
• Real:
– Proteger indivíduos contra determinada infecção;
– Bloquear a transmissão;
– Prevenção dos sintomas e sinais;
Imunidade de rebanho
• Sinônimos:
– Herd immunity.
– Imunidade de grupo.
– Efeito rebanho.
• Vacinação protege não apenas o indivíduo, mas toda a comunidade
Dinâmica da infecção natural
Imunidade de rebanho Imunidade de rebanho falha
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Tipos de vacinas
• Convencionais
– Vivas, replicantes ou atenuadas;
– Inativadas ou mortas;
– Subunidade;
– Toxóide;
• Recombinantes
– Subunidade recombinante;
– DNA;
– Vetorizada;
Vacinas vivas
• Sofrem atenuação da virulência;– Normalmente por alta passagem em cultura celular, ovos
embrionados ou animais;
Tuberculose (BCG), Varíola (vaccinia), Poliomielite (Sabin), Sarampo, Rubéola, Caxumba, Febre amarela
-Resposta imune potente, semelhanteà infecção.-Resposta duradoura.Fáceis administração.-Baixo custo.
-Mutações secundárias podem revertervirulência.-Perigosa em imunocomprometidos.-Precisam permanecer vivas até ainoculação.
Vacinas mortas
• Microrganismo é crescido e morto (bacterinas);
– Normalmente por formaldeído ou calor.
Poliomielite (salk), raiva, coqueluche, febre tifóide,leptospirose e cólera
-São seguras, pois organismo mortonão reverte virulência.-Estáveis, facilita transporte.-São baratas.
-Resposta imune é limitada:Uso de adjuvantes e multiplas doses.
Vacina de subunidade
• Composta por uma porção isolada do microrganismo;
– Proteína, carboidrato ou estrutura isolada.
Meningite (vacina conjugada Haemophilus influenzae tipo B)Pneumonia por Pneumococco e Meningococo
-São as mais seguras, pois omicrorganismo não está na vacina.-Ideal para gestantes eimunocomprometidos.
-Exigem multiplas doses e adjuvantes.-É de difícil produção e custo elevado.
Toxóides
• Toxina inativada.– Normalmente por formaldeído ou calor. Mesmo princípio
das vacinas de subunidade.
Tétano, Difteria, Botulismo e Cólera
-São seguras e estáveis.-Normalmente são bastante eficazesna proteção contra a toxina nativa.
-Exigem múltiplas doses e adjuvantes.
Vacinas recombinantes disponíveis:
Para humanos: Hepatite B, HPV
Para animais: Raiva, Leucemia felina (canarypox virus), Doença de Marek e Doença de Newcastle (herpesvírus de peru), Cinomose, Leishmaniose...
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Componentes de uma vacina
• Vacinas produzidas em ovos embrionados normalmente carregam proteínas do ovo.
• Formaldeído;
• Adjuvantes diversos (hidróxido de alumínio, células inteiras, preparações lipídicas etc);
• Estabilizadores: glutamato monossódico;
• Resquícios de meio de cultura, principalmente BSA;
• Timerosal;
Imunógeno
• Imunógeno X antígeno X hapteno
• Requerimentos:
– Ser estranho;
– Alto peso molecular;
– Complexidade química;
– Degradabilidade;
Outras moléculasLipídeosCarboidratosProteínas