o que se passa em caaguazú? - carlos freire da silva e tiago rangel côrtes

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74 revista do migrante Publicação do CEM - Ano XXVII, n° 74, Janeiro - Junho/2014 Ciudad del Este Ciudad del Este Ciudad del Este Perfil Perfil Perfil Confecções Confecções Confecções PARAGUAIOS PARAGUAIOS PARAGUAIOS - dossiê – - dossiê – - dossiê – Caaguazú Caaguazú Caaguazú Guaraní Guaraní Guaraní Associações Associações Associações Caacupé Caacupé Caacupé

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Este artigo parte da constatação de que muitos dos migrantes paraguaios que se inseriram em São Paulo a partir da década de 2000 são de Caaguazú, uma região em que a economia é predominantemente rural. Desse modo, busca-se, a partir da trajetória de um jovem migrante, compreender as razões que têm levado muitas pessoas desta região a migrarem para São Paulo em busca de novas oportunidades. Serão abordadas questões relativas ao monocultivo da soja, à concentração de terras e ao êxodo rural. Além disso, trataremos dos impactos da migração na economia local de Caaguazú. O trabalho de campo foi realizado em São Paulo, onde se deu o primeiro contato com o migrante em uma oficina de costura, e em Repatriación, sua cidade natal, para a qual ele retornou para lavrar a terra após o trabalho com a costura.

TRANSCRIPT

  • ISSN 0103-5576

    www.missaonspaz.org0103-5576

    Sumrio

    7474 revista do migrante

    Publicao do CEM - Ano XXVII, n 74, Janeiro - Junho/2014

    [email protected]

    ApresentaoDirceu Cutti

    Dossi Paraguaios

    IntroduoTiago Rangel Crtes

    Carlos Freire da Silva

    Paraguaios em So Paulo: uma histria e um retratoTiago Rangel Crtes

    Migrantes na costura em So Paulo:paraguaios, bolivianos e brasileiros na indstria de confeces

    Tiago Rangel CrtesCarlos Freire da Silva

    O que se passa em Caaguaz?Carlos Freire da SilvaTiago Rangel Crtes

    Ciudad del Este: do comrcio de fronteira ao centro de So PauloCarlos Freire da Silva

    Caacup: trajetrias de organizaes de paraguaios em So PauloPorfirio Leonor Ramrez

    Los migrantes paraguayos y la lengua guaranMiguel ngel Vern

    Ciudad del EsteCiudad del EsteCiudad del Este

    Perfil Perfil Perfil

    ConfecesConfecesConfeces

    PARAGUAIOS PARAGUAIOS PARAGUAIOS - dossi - dossi - dossi

    Caaguaz Caaguaz Caaguaz

    GuaranGuaranGuaran

    Associaes Associaes Associaes

    Caacup Caacup Caacup

  • SUMRIO

    Apresentao ............................................................................................ 05

    Dirceu Cutti

    Dossi Paraguaios

    Introduo ................................................................................................. 07

    Tiago Rangel CrtesCarlos Freire da Silva

    Paraguaios em So Paulo: uma histria e um retrato ......................... 13

    Tiago Rangel Crtes

    Migrantes na costura em So Paulo: paraguaios, bolivianos e brasileiros na indstria de confeces ....... 37

    Tiago Rangel CrtesCarlos Freire da Silva

    O que se passa em Caaguaz? ............................................................... 59

    Carlos Freire da SilvaTiago Rangel Crtes

    Ciudad del Este: do comrcio de fronteira ao centro de So Paulo .. 75

    Carlos Freire da Silva

    Caacup: trajetrias de organizaes de paraguaios em So Paulo ... 93

    Porfirio Leonor Ramrez

    Los migrantes paraguayos y la lengua guaran ................................... 109

    Miguel ngel Vern

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    Foto: Carlos Freire da SilvaRodoviria de Caaguaz, de onde partem muitos migrantes que rumam a So Paulo para trabalhar em oficinas de costura.

    O que se passa em Caaguaz?Carlos Freire da Silva *Tiago Rangel Crtes **

    Em uma oficina de costura na Vila Medeiros, zona norte de So Paulo, conhecemos Moiss1, de 23 anos. Ele havia chegado pouco menos de dois anos antes e trabalhava como overloquista. Decidiu migrar para a capital paulista depois de conversar com um vizinho que j estava na cidade e lhe falou como seria o trabalho. Por meio do vizinho conheceu o dono da oficina na qual iria morar e trabalhar. Depois de instalado em So Paulo, Moiss traria seu irmo mais novo para juntar-se a ele no ofcio. Naquela oficina de cerca de dez pessoas, todos eram vindos do Departamento de Caaguaz, no Paraguai, e mais especificamente do pequeno distrito de Repatriacin. Guiados por Moiss, visitamos vrias outras oficinas na Vila Medeiros e, medida que conversamos com os migrantes paraguaios era recorrente a origem do mesmo departamento situado bem no centro do pas.

    * Pesquisador, doutor em Sociologia pela USP.** Mestre em Sociologia pela USP e Tcnico do Observatrio do Trabalho/DIEESE.

    caaguaz

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    Naquela semana que antecedia a pscoa de 2013, estvamos acompanhando uma srie de visitas s oficinas de costura com os agentes da Misso Paz Pastoral do Migrante, especialmente em regies que concentram muitos migrantes paraguaios; alm da j mencionada Vila da zona norte, tambm fomos aos bairros do Bom Retiro e da Luz e Vila Any, em Guarulhos. Ainda que no fosse o nico local de origem, chamava ateno a recorrncia com que Caaguaz era mencionada, sobretudo entre o perfil mais jovem e masculino no ofcio da costura que caracteriza o crescimento acentuado da migrao paraguaia desde meados dos anos 2000. De uma maneira ainda mais delimitada, especialmente a prpria cidade que d nome ao departamento e o pequeno distrito de Repatriacin, ou Repa como dizem, era bastante mencionado pelos jovens paraguaios.

    No h uma base estatstica que permita determinar a origem dos migrantes paraguaios residentes em So Paulo. Mas a pesquisa apontou que Caaguaz no uma regio de origem tradicional dos migrantes paraguaios em So Paulo. Quando se trata dos migrantes que esto h mais tempo na cidade, sobretudo antes dos anos 2000, a origem principal seria a regio de Assuno e os municpios vizinhos. Tanto entre aqueles que vieram nos anos 1970 e se engajaram em diversas profisses, como em relao aos primeiros que vieram trabalhar com costura ainda no incio dos anos 1980, a capital paraguaia e arredores eram as procedncias mais comuns. J o crescimento mais recente no parece ter se dado a partir de Assuno.

    O que se passa em Caaguaz? Esta questo foi se colocando medida que aprofundvamos a pesquisa. Tomando como hiptese a centralidade que a localidade tem assumindo na migrao paraguaia para So Paulo recentemente, procuramos discutir os motivos e as razes que tm levado muitas pessoas a migrarem deste departamento. Para tanto, reencontramos Moiss em janeiro de 2014 na zona rural de Repatriacin. Aps um perodo de intenso trabalho na costura, juntamente com o irmo, eles decidiram voltar para a casa dos pais e continuar trabalhando na lavoura. A partir da trajetria de Moiss, buscaremos descrever o processo em curso na localidade que tem feito com que tantos jovens da regio estejam se direcionando para So Paulo atualmente.

    Em um primeiro momento, procuramos fazer uma caracterizao geral de Caaguaz e Repatriacin atravs da trajetria de Moiss, do registro da viagem e de algumas referncias histricas. Em seguida, detalhamos o processo de evaso do campo de pequenos agricultores paraguaios e o avano do monocultivo da soja realizado por brasileiros em territrio paraguaio. A atuao dos chamados brasiguaios neste setor do agrobusiness no Paraguai algo bastante marcante na regio fronteiria dos departamentos de Alto Paran, Canindey e Amambay desde os anos 1970 (MENEZES, 1987; ALBUQUERQUE, 2005, 2009; SOUCHAUD, 2011). Atualmente, o departamento de Caaguaz e especialmente o municpio de Repatricin aparecem como uma fronteira de expanso da soja, o que tem alterado profundamente as formas de cultivo e

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    propriedade da terra na regio. Trata-se de um processo conflitivo entre atores muito desiguais que tem se intensificado nos ltimos anos, medida que avana a fronteira agrcola da soja transgnica2.

    Por fim, tratamos da dinmica de migrao que se expressa em vrias referncias urbanas na cidade de Caaguaz. As vrias casas de cmbio, empresas de remessas e agncias de viagens demonstram uma relao com a migrao estruturada e que parece ter um peso importante em termos sociais, econmicos e culturais para a regio. Procuramos discutir como a manuteno do vnculo com o local de origem fundamental para o sentido da experincia migratria, que se v presente na dinmica da cidade a partir dos investimentos daqueles que se encontram fora.

    A terra vermelha

    O departamento de Caaguaz se situa a meio caminho de distncia entre Assuno e Ciudad del Este e cortado pela estrada que liga as duas principais cidades do pas. De acordo com estimativas da Encuesta Permanente de Hogares, em 2011 o departamento teria pouco mais de 481 mil habitantes, cuja maioria da populao ocupada estaria no setor primrio da economia (51%) (DGEEC, 2011). Segundo o Atlas Censal del Paraguay, em 2002 mais de 68% da populao da regio vivia em rea rural (DGEEC, 2002). Em guarani, lngua oficial do Paraguai, o termo caaguaz significa mata grande, no toa a regio j foi considerada a capital da extrao de madeira no Paraguai, mas atualmente essa economia se encontra em declnio devido ao esgotamento do recurso. Os cultivos de algodo, erva mate, cana-de-acar, mandioca e, cada vez mais, a soja, alm da pecuria, so a base da economia local. A terra vermelha, altamente valorizada para agricultura, predomina na paisagem, parecida com as propriedades do solo do norte e oeste do estado do Paran e do oeste paulista, no Brasil.

    O pai de Moiss, originrio de Cordilheira, no oeste do Paraguai, chegou a Caaguaz no incio dos anos 1990. Mudara-se para a regio em busca de terra tendo em vista as colnias de assentamento rural promovidas pelo governo paraguaio. O pai de Moiss conheceu sua esposa em Repatriacin: Eu nasci em Repatriacin quando meu pai estava lutando pela terra 3. Moiss de uma famlia de seis irmos, trs homens e trs mulheres, sendo ele o primeiro entre os homens. A famlia foi cadastrada em programa de reassentamento, foram trs anos at conseguirem assegurar a propriedade de um lote de oito hectares na Colonia del Triunfo, pelo qual pagaram em prestaes. Repatriacin um distrito de Caaguaz que recebeu o nome justamente por causa das colnias de assentamento, inicialmente destinadas s famlias paraguaias repatriadas da Argentina, do Brasil e de outros pases na dcada de 1960. Quando o pai de Moiss chegou rea, seu lote na Colonia del Triunfo ainda era um bosque, com intensa mata.

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    At meados do sculo XX, a populao paraguaia era extremamente concentrada em Assuno e nas regies mais prximas capital, no departamento Central. No perodo da ditadura Stroessner, o governo iniciou a chamada Marcha ao Leste, promovendo incentivos para que a parte leste do pas fosse ocupada. De acordo com Jos Lindomar Albuquerque (2009), na perspectiva de reassentar camponeses ao leste foi criado o Instituto de Bienestar Rural (IBR), atualmente Instituto Nacional de Desarollo Rural y de la Tierra (INDERT), para implementao das colnias oficiais de reforma agrria. Ao mesmo tempo, o governo reformulou, em 1963, o estatuto agrrio do pas para permitir a venda de terras a estrangeiros na zona de fronteira. A Marcha ao Leste promovida pelo governo paraguaio teria se encontrado justamente com o movimento de expanso agrcola no Brasil a oeste:

    Dessa forma, os departamentos fronteirios de Alto Paran, Canindey, Amambay foram ocupados principalmente por colonos brasileiros, enquanto que os departamentos vizinhos de Caaguaz e Caazap foram colonizados por campesinos paraguaios, que se deslocaram dos departamentos centrais (ALBUQUERQUE, 2009, p. 141).

    No movimento ao leste, enquanto os departamentos que fazem fronteira com o Brasil teriam sido ocupados predominantemente a partir de empresas colonizadoras brasileiras que negociavam extensas reas de terra junto ao IBR e as revendiam para colonos brasileiros, em departamentos interioranos, como Caaguaz, no situados nas fronteiras, a ocupao deu-se principalmente por colonos paraguaios que adquiriam as terras diretamente do IBR. De acordo com Alfredo Mota Menezes, os colonos brasileiros chegaram regio de fronteira em condies vantajosas para ocuparem a terra, tanto em termos de crdito, quanto de tcnicas agrcolas, de forma que mesmo quando os lotes eram destinados aos paraguaios, eles acabavam sendo revendidos aos brasileiros (1987, p. 147-150).

    Nos departamentos do Alto Paran, Amambay e Canindey, as melhores terras agricultveis foram revendidas a baixo custo a migrantes brasileiros, que desde os anos 1960/1970 chegavam em massa no pas e com dinheiro para compr-las. Em alguns casos, as Companhias Colonizadoras vendiam as terras a prazo, permitindo que os brasileiros quitassem a dvida aps tomar posse da propriedade, sendo que apenas a renda proveniente da extrao da madeira dos lotes era suficiente para quitar o valor de todo terreno recm-comprado (PALAU, 2011; MENEZES, 1987). Eram reas de floresta densa que passaram por um rpido processo de desmatamento por conta da extrao da madeira e subsequente expanso da fronteira agrcola.

    Em Caaguaz, diferentemente do que ocorreu com os departamentos de fronteira, o reassentamento de colonos paraguaios parece ter sido mais efetivo,

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    dentro de um processo de migrao rural-rural no interior do prprio pas que se estendeu durante os anos 1990, como se v no caso do pai de Moiss. No apenas com a diferena da nacionalidade de quem foi assentado na terra como tambm na forma como ela foi ocupada, em lotes menores e com uma produo diversificada, como esclarece Moiss:

    No assentamento tem que pagar para que o ttulo seja teu. So oito hectares. Planta-se muitas coisas. Por exemplo, feijo para consumo, amendoim para consumo e milho. Depois planta mandioca para o consumo e para a venda, e algodo somente para a venda. Milho se vende, mas mais para o consumo. No se faz farinha porque tem uma fbrica grande na regio e se compra, mais barato e no se perde tempo.

    Alm dos gneros alimentcios que cultivam para consumo e venda, a famlia de Moiss cria galinhas e possui um pequeno rebanho de oito cabeas de gado. Os pequenos assentamentos com colonos paraguaios foram mais comuns em Caaguaz, embora a presena de agricultores brasileiros que cultivam soja na regio no seja uma novidade. Atualmente, a fronteira de expanso do monocultivo da soja chega com fora a departamentos do interior, como Caaguaz, o que tem colocado em confronto formas diferentes de propriedade da terra.

    A chegada da soja

    No trajeto entre o pequeno ncleo urbano do distrito de Repatriacin e a Colonia del Triunfo, cruza-se por inmeras pequenas propriedades de colonos paraguaios. De acordo com o Censo de 2002, o distrito teria apenas 2.177 habitantes em rea urbana, representando menos de 8% da populao do total de 29.503 pessoas (DGEEC, 2002). Na rea rural, as casas ficam prximas estrada de terra, conservam rvores ao seu redor para fazer sombra, so entrepostas pelas lavouras relativamente pequenas que apresentam uma diversidade de cultivos: mandioca, milho, algodo, amendoim, erva mate; a roa se dispe em quadras distintas ou em fileiras intercaladas. muito comum ver o gado pastando na frente das casas ou na beira da estrada, distantes um do outro e amarrados pelo cifre para no invadirem as lavouras, no se v grandes rebanhos.

    No caminho que Moiss percorre em pouco menos de uma hora de moto, esta paisagem s interrompida pelas imensas plantaes de soja. Enormes reas verdes que s tm como contraste o vermelho da estrada de terra e a diviso onde termina a soja e recomeam as pequenas propriedades dos colonos paraguaios. Segundo Moiss, os lotes dos colonos vizinhos s plantaes de soja acabam afetados quando so pulverizados os pesticidas, todas as galinhas do quintal morrem e os moradores tm que se ausentar de casa durante um

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    tempo ou se arriscam a serem contaminados pelos agrotxicos. Trata-se da fumigacin, termo em espanhol para a aplicao dos defensivos agrcolas que est se tornando sinnimo de conflito entre produtores de soja e camponeses. Muitos acabam vendendo seus lotes por conta disto. A marcha verde da plantao de soja se expande agregando as suas bordas. Os proprietrios frequentemente moram nas cidades ou em fazendas no necessariamente contguas s reas de plantao.

    A expanso da monocultura da soja no Paraguai se associa fortemente atuao de brasileiros. Historicamente, o sentido do fluxo de migrantes brasileiros para o Paraguai foi muito mais impactante na dinmica econmica e social do Paraguai do que o fluxo contrrio, de paraguaios para o Brasil. A expresso brasiguaio aponta justamente o peso desta migrao brasileira no pas, constituindo uma identidade hbrida entre migrantes e seus descendentes que assume diversas conotaes (ALBUQUERQUE, 2005). Segundo Palau (2011), os fluxos de brasileiros para o Paraguai ganharam centralidade a partir dos anos 1960, mas sobretudo a partir dos anos 1970, grandes contingentes chegaram ao pas. A Tabela 1, elaborada pelo autor, revela a importncia dos brasileiros como o principal grupo de migrantes no Paraguai: os dados do Censo mostram que, desde os anos 1970, o Brasil quem mais envia migrantes para o pas (mais de 40% do total nos Censos de 1972, 1982, 1992 e 2002).

    Tabela 1 - Nascidos em outros pases residentes no Paraguai entre 1972 e 2002

    Fonte: Censo Paraguai DGEECElaborado por Toms Palau, 2011, p. 50.

    Como se pode notar na tabela, na dcada de 2000, o Censo paraguaio identificou a reduo do nmero de brasileiros no Paraguai, que indicaria antes uma caracterstica do avano do cultivo de soja em sua lgica concentradora de terras. Estudo da OIM (Organizao Internacional para as Migraes), baseado no Censo de 2000 do Brasil, revelou que 50 mil brasileiros que viviam no Paraguai retornaram ao pas de origem. Para a OIM, este retorno advm da prpria intensificao do modelo do agronegcio, gerido por grandes empresas brasileiras mecanizadas e com altas tecnologias, que compeliram pequenos produtores. Foram pressionados a sarem das terras tanto as populaes paraguaias que produziam em minifndios, como os brasiguaios que haviam rumado ao Paraguai nos anos 1970, que retornam ao pas nos anos 2000 (OIM, 2011, p. 12).

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    O mesmo sentido indica a pesquisa de Jos Lindomar Albuquerque (2009). Recorrendo aos dados do Ministrio das Relaes Exteriores de 2002, o autor demonstra que dos 545.886 brasileiros que se encontravam em outros pases da Amrica do Sul, 459.147 estavam no Paraguai, isto significa que 84,1% dos brasileiros que viviam em outros pases sul-americanos estariam no Paraguai. Segundo Albuquerque, dois foram os fluxos que levaram brasileiros ao pas vizinho: o primeiro vindo do Rio Grande do Sul, que ocupou regies fronteirias nos estados do Paran, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul; outro vindo do nordeste do pas e de Minas Gerais, que foram trabalhar no desmatamento das fazendas e no plantio e colheita de menta e caf. Ambos seriam compostos principalmente por famlias de camponeses. Enquanto os nordestinos e mineiros se tornaram pees, arrendatrios e posseiros nessas frentes de expanso, os sulistas se constituram majoritariamente como colonos, pequenos e mdios proprietrios (ALBUQUERQUE, 2009, p. 139).

    Os imigrantes brasileiros, que conseguiram ascender socialmente ao longo das ltimas dcadas, controlam setores importantes da economia, da poltica e da cultura local em algumas cidades paraguaias (Santa Rita, Santa Rosa del Monday, Naranjal, San Alberto, etc.). A partir do final da dcada de 1970 e incio dos anos 1980, ampliam-se os processos de mecanizao e de concentrao da propriedade da terra nessa faixa de fronteira. Uma famlia de agricultores podia aumentar o plantio sem necessitar contratar mais mo de obra. Nesse contexto, aumentam as compras de terra aos camponeses paraguaios e aos pequenos produtores brasileiros. A pequena produo diversificada e de subsistncia (milho, mandioca, etc.) passa a ser substituda pelo plantio de soja. Nesse processo, comeam os deslocamentos de camponeses paraguaios e brasileiros para outras frentes agrcolas no interior do Paraguai e para as periferias das cidades de fronteira (ALBUQUERQUE, 2009, p.143).

    A expanso dos plantios de soja na atualidade para departamentos alm da fronteira onde existem muitas colnias camponesas teria ampliado as reas de contato e atrito entre brasileiros e paraguaios. A concentrao de terras nas regies tradicionalmente ocupadas por brasileiros na fronteira, alm da valorizao da soja no mercado internacional na ltima dcada, teriam impulsionado a maior disperso do cultivo para outros departamentos, aumentando sua presena em lugares como Caaguaz. A legislao restritiva compra de terras por membros de pases vizinhos fora de uma faixa de 50 km da fronteira, instituda em meados dos anos 2000, no impediu os investimentos na expanso de reas para o cultivo da soja (ALBUQUERQUE, 2005).

  • TRAVESSIA - Revista do Migrante - N 74 - Janeiro - Junho / 201466

    Um dos casos mais emblemticos deste conflito de terras no Paraguai, que envolve a migrao de brasileiros e a expanso do cultivo de soja ficou conhecido como o Massacre de Curuguaty4, em 15 de junho de 2012. No departamento de Canindey, durante um processo de reintegrao de posse de um agricultor brasileiro nacionalizado paraguaio conhecido como o rei da soja, dezessete pessoas foram mortas, sendo 6 policiais e 11 camponeses sem terra, os carperos como so conhecidos. O episdio, cuja responsabilidade nunca chegou a ser esclarecida, acabou com a deposio pela oposio do presidente eleito Fernando Lugo, em 2012, sob a justificativa de que ele no cumpriu com os deveres constitucionais no episdio. Convocadas novas eleies, assumiu o atual presidente Horcio Cartes em 2013, mais alinhado aos interesses dos agricultores de soja brasileiros. O conflito agrrio no Paraguai atualmente bastante intenso, acompanhando a chegada da soja em novas fronteiras, tambm distantes do limite entre Brasil e Paraguai.

    O xodo rural e a migrao transnacional

    De acordo com o socilogo paraguaio Toms Palau (2011), a populao do Paraguai se tornou majoritariamente urbana na passagem da dcada de 1980 para 1990. Os contingentes que saam do campo iam para as cidades em busca de oportunidades, especialmente Assuno e Ciudad del Este. Devido saturao da absoro da fora de trabalho que chegava s duas principais cidades do pas, a migrao transnacional se fortaleceu como alternativa. Antes de os paraguaios iniciarem suas empreitadas migratrias transnacionais, comum executarem internamente e em grande intensidade a mobilidade rural-rural, assim como a rural-urbana. Segundo Palau, estavam diretamente ligados forma como se organizava a produo agrria, a expanso de modo concentrador da distribuio de terras para a produo de soja e o xodo rural. Neste sentido, o autor conclui que a produo de soja transgnica em grandes latifndios seria o principal fator do aumento da migrao rural-urbana.

    No entanto, o xodo rural no foi acompanhado de uma urbanizao capaz de oferecer emprego na mesma medida. Em Caaguaz, a maioria da populao ainda vive em rea rural. A cidade que d nome ao departamento, e que serve de referncia como centro urbano para Repatriacin a 11 km de distncia, possui pouco menos de 50 mil habitantes (DGEEC, 2002). Trata-se de uma cidade de ruas largas, a maioria delas pavimentadas e muito arborizadas. Ao final da tarde, a populao local tem o hbito de colocar cadeiras nas caladas e ficar conversando enquanto circula de mo em mo a guampa com o Terer. Existem muitas serrarias na cidade, que fazem lembrar a importncia que a economia da madeira teve para a regio. Mas a cidade oferece poucas alternativas de trabalho para os jovens que comeam a se inserir no mercado de trabalho.

  • TRAVESSIA - Revista do Migrante - N 74 - Janeiro - Junho / 2014 67

    A primeira experincia migratria de Moiss ocorreu no interior do Paraguai, logo depois que ele terminou seus estudos e o servio militar obrigatrio aos 18 anos. O xodo rural no se d necessariamente por conta da perda de terras, mas tambm por conta da baixa renda na agricultura e a perspectiva de ganhos maiores na cidade, sobretudo para os mais jovens.

    Queria permanecer no campo, mas havia a possibilidade de estudar. J que tenho um parente em Assuno, eu liguei e disse que queria ir trabalhar. Trabalhar no campo no como trabalhar na cidade que ter dinheiro todo fim de semana e todo o fim de ms e s vezes quando necessita, no! Ento eu chamei e ele disse que havia a possibilidade de ficar na casa da tia em Assuno e procurar um trabalho.

    O primeiro emprego que teve foi como ajudante de remessas em uma fbrica

    de artigos txteis em 2009. A inteno de Moiss em Assuno era conseguir um trabalho para poder pagar o curso de farmacutico, o qual chegou a frequentar durante trs meses. Mas no conseguiu conciliar trabalho e estudo e acabou parando o curso. Depois, ele conseguiu outro trabalho melhor remunerado como ajudante de cozinha em um restaurante. Foi promovido a cozinheiro e permaneceu no emprego por dois anos. Enquanto trabalhava, fez um curso pblico de eletrnica bsica.

    No final de 2011, se desentendeu com o dono do restaurante e voltou para Repatriacin. Foi ento que Moiss percebeu o grande nmero de pessoas em Repa que estariam vindo trabalhar em So Paulo. No Paraguai, dado o grande nmero de conterrneos na Argentina, na Espanha e tambm no Brasil, a possibilidade de passar algum perodo da vida como migrante no exterior est bastante presente no horizonte de expectativas, sobretudo dos jovens que buscam insero no mercado de trabalho. Aps estabelecido contato com o dono de uma oficina de costura, Moiss cruzou a fronteira de carro, junto com o oficineiro. Moiss nunca regularizou sua situao no Brasil, no entanto a documentao nunca foi um problema para ele. Permaneceu dois anos at decidir voltar, quando, para ele, a desvalorizao do real deixou o cmbio desfavorvel.

    Atualmente, Moiss trabalha na lavoura, auxiliando seu pai; o irmo do meio trabalha em uma oficina mecnica em Caaguaz; o mais novo, que trabalhava com ele em So Paulo, conseguiu um emprego em uma fbrica brasileira de materiais esportivos em Ciudad del Este. Suas irms caulas tambm auxiliam no trabalho no campo. Depois de dois anos de trabalho intenso atrs de uma mquina de costura, o saldo financeiro da experincia migratria de Moiss foi de duas vacas, que conseguiu comprar por 1.250 reais; 750 reais revertidos para o pai investir na chcara e outros mil que economizou, o que totaliza trs mil reais de saldo acumulado em So Paulo.

  • TRAVESSIA - Revista do Migrante - N 74 - Janeiro - Junho / 201468

    Mandei dois mil reais para meu pai, o que equivale a quatro milhes de guaranis. Com dois milhes e meio, meu pai comprou duas vacas para mim; um milho e meio dei a ele para fazer seu trabalho na chcara e lhe ajudar. Mil reais (dois milhes de guaranis) sobraram para mim, para eu comprar minhas coisas.

    Segundo Hugo Oddone (2011), a questo da migrao parte constitutiva da economia do Paraguai, tanto em termos dos migrantes que o pas recebe, como dos migrantes que envia para o exterior. De acordo com as informaes apresentadas por Oddone, a participao dos estrangeiros bastante expressiva na composio da economia, no entanto, ela ocorreria com o aumento da pobreza e a promoo da desigualdade; por seu turno, os paraguaios migrantes no exterior tm um grande peso no ingresso de divisas atravs das remessas, mas esta contribuio apresenta um sentido bastante diferente:

    La emigracin ha pasado a contribuir con la economa en una medida mucho ms equitativa que la inmigracin, proveyndole de la tercera fuente importante de ingreso de divisas: las remesas en dinero de los emigrados que, adems, ayudan a las familias pobres del pas a atenuar su pobreza. Cerca del 60% de las personas mayores de 10 aos encuestadas y alrededor de 100.000 hogares del territorio nacional reciben remesas en un promedio de poco ms de US$ 150 (DGEEC, 2010), fruto del trabajo de sus familiares que viven en el exterior en condiciones precarias, en situacin de vulnerabilidad y sin respeto a derechos fundamentales fuera y dentro del pas, donde se les niega el derecho a voto (ODDONE, 2011, p. 80-81).

    A cidade de Caaguaz, a despeito da pouca diversidade econmica, apresenta uma infraestrutura notvel relacionada sua insero transnacional. H uma grande concentrao de casas de cmbio para peso, real, dlar e euro; h diversas empresas de remessas e agncias de viagem que oferecem, alm de passagens, orientao em relao a servios consulares para obteno de vistos e at mesmo crdito para viagem, em que se requer o ttulo da casa do trabalhador como garantia; tambm existem as lanhouses, indispensveis para manuteno de contato com os parentes no exterior. Toda esta economia urbana aponta a forte relao que se estabelece entre a cidade e os migrantes paraguaios que se encontram no exterior. O municpio de So Paulo certamente uma referncia importante, mas no nica, sendo bastante recorrente tambm a Argentina e a Espanha. Nota-se os investimentos imobilirios dos migrantes pelo contraste na cidade entre algumas casas, a depender bastante das peculiaridades da experincia migratria de cada um. Isto no quer dizer que todos que migram

  • TRAVESSIA - Revista do Migrante - N 74 - Janeiro - Junho / 2014 69

    tm experincias exitosas no exterior e que conseguem mudar substancialmente sua condio ao regressarem.

    Concluso

    A trajetria dos migrantes paraguaios vindos de Caaguaz coloca em contato dois temas que a princpio parecem incomunicveis: a expanso da soja promovida pelos brasiguaios e a migrao de jovens para o trabalho na costura em So Paulo. A fronteira de expanso da soja no Paraguai um tema bastante discutido no meio acadmico, constituindo um debate estruturado que conta com diversas publicaes a respeito. Do mesmo modo, a questo do xodo rural e a migrao paraguaia. J a relao do xodo rural em decorrncia das novas fronteiras de expanso da monocultura da soja com a migrao de jovens paraguaios para trabalhar na costura em So Paulo, nos parece algo novo neste debate.

    Em busca da terra vermelha, a marcha para leste promovida pelo governo ditatorial de Stroessner se encontrou com a expanso a oeste da fronteira agrcola brasileira, algo j bastante debatido e conhecido na discusso sobre os migrantes brasileiros se expandindo para alm dos limites da fronteira com o Paraguai. No entanto, o departamento de Caaguaz e, particularmente, o distrito de Repatriacin foram ocupados majoritariamente por colonos paraguaios em pequenas propriedades. A expanso do cultivo de soja sobre estas novas fronteiras coloca em confronto duas formas de propriedade. A prpria lgica concentradora de terras caracterstica do cultivo da soja projeta os produtores para novas reas, causando conflitos com pequenos produtores paraguaios que cultivam gneros variados.

    O argumento central desenvolvido se refere ao impacto da monocultura da soja na desterritorializao da populao que vivia na regio. Trata-se de um processo de xodo rural em curso que no encontra uma urbanizao correspondente em termos de oportunidades de emprego nas cidades, colocando a migrao transnacional como um recurso recorrente. Ao descrever o municpio de Caaguaz, buscou-se justamente evidenciar a importncia das trajetrias de migrantes que enviam remessas para a regio. No toa que em diminuta cidade, com economia basicamente agrria, haja tantas e tantas empresas de cmbio, agncias de viagem e lanhouses.

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    Departamentos do Paraguai e suas capitais

    Elaborado por: Sylvain Souchaud (2011, p. 148)

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    Notas

    1 - De acordo com o procedimento adotado para todas as pessoas citadas, o nome fictcio.

    2 - A exportao da soja tem sido uma das bases para o crescimento econmico recente do Paraguai. Juntamente com a influncia econmica, os brasileiros tambm exercem grande peso na poltica paraguaia. O link traz um vdeo que apresenta o Paraguai para brasileiros segundo a viso do Canal Agro Paraguay. . Acesso em: 20 set. 2014.

    3 - Algumas das falas apresentadas foram ditas em portunhol ou mesmo espanhol. Optou-se por traduzir para o portugus.

    4 - Para mais informaes, ver: ; . Acesso em: 20 set. 2014.

    Referncias

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    SOUCHAUD, Sylvain. A viso do Paraguai no Brasil. In: Contexto internacional, vol. 33, n. 1, janeiro/junho, 2011.

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    RESUMOEste artigo parte da constatao de que muitos dos migrantes paraguaios que se inseriram em So Paulo a partir da dcada de 2000 so de Caaguaz, uma regio em que a economia predominantemente rural. Desse modo, busca-se, a partir da trajetria de um jovem migrante, compreender as razes que tm levado muitas pessoas desta regio a migrarem para So Paulo em busca de novas oportunidades. Sero abordadas questes relativas ao monocultivo da soja, concentrao de terras e ao xodo rural. Alm disso, trataremos dos impactos da migrao na economia local de Caaguaz. O trabalho de campo foi realizado em So Paulo, onde se deu o primeiro contato com o migrante em uma oficina de costura, e em Repatriacin, sua cidade natal, para a qual ele retornou para lavrar a terra aps o trabalho com a costura.

    Palavras-chave: monocultivo da soja; Caaguaz; xodo rural.

    ABSTRACTThis paper stems from the observation that many of the Paraguayan migrants who were inserted into So Paulo from the 2000s are from Caaguaz, a region where the economy is predominantly rural. Thus, from the trajectory of a young migrant, we seek to understand the reasons which have led many people from this region to migrate to So Paulo in search of new opportunities. Issues related to the monoculture of soybean, the concentration of land and the rural exodus will be addressed. In addition, we will discuss the impacts of migration on the local economy of Caaguaz. Fieldwork was conducted in So Paulo, where we made the first contact with the migrant in a sewing workshop, and Repatriacin, his hometown, to which he returned for work in the rural area.

    Keywords: soybean monoculture; Caaguaz; rural exodus.

  • ISSN 0103-5576

    www.missaonspaz.org0103-5576

    Sumrio

    7474 revista do migrante

    Publicao do CEM - Ano XXVII, n 74, Janeiro - Junho/2014

    [email protected]

    ApresentaoDirceu Cutti

    Dossi Paraguaios

    IntroduoTiago Rangel Crtes

    Carlos Freire da Silva

    Paraguaios em So Paulo: uma histria e um retratoTiago Rangel Crtes

    Migrantes na costura em So Paulo:paraguaios, bolivianos e brasileiros na indstria de confeces

    Tiago Rangel CrtesCarlos Freire da Silva

    O que se passa em Caaguaz?Carlos Freire da SilvaTiago Rangel Crtes

    Ciudad del Este: do comrcio de fronteira ao centro de So PauloCarlos Freire da Silva

    Caacup: trajetrias de organizaes de paraguaios em So PauloPorfirio Leonor Ramrez

    Los migrantes paraguayos y la lengua guaranMiguel ngel Vern

    Ciudad del EsteCiudad del EsteCiudad del Este

    Perfil Perfil Perfil

    ConfecesConfecesConfeces

    PARAGUAIOS PARAGUAIOS PARAGUAIOS - dossi - dossi - dossi

    Caaguaz Caaguaz Caaguaz

    GuaranGuaranGuaran

    Associaes Associaes Associaes

    Caacup Caacup Caacup