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I ue nao MA/S NOS/TE Caminhos da Educação Infantil, planos de trabalho e seqüências de atividades. www.novaescola.org.br atar Para que as turmas de creche e pré-escola se desenvolvam plenamente, é preciso conhecer as características de cada faixa etária e garantir que algumas experiências essenciais façam parte do planejamento. Saiba como trabalhá-Ias e 'por que são tão importantes BEATRIZ SANTOMAURO, de Vitória, ES, e LUIZA ANDRADE [email protected] Colaboraram Bianca Bibiano; Denise Pellegrini, de Curitiba, PR; julía Browne, de Belo Horizonte, MG; Marina Simeoni, de Poços de Caldas, MG; Thais Gurgel, de Sobra I, CE; e Vilmar Oliveira, de São José dos Campos, SP MA/S NOS/TE No Ponto de Encontro comunidades sobre ' Educação Infantil. www.novaescola.org.br/ POntodeencontro ---

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Page 1: O que não pode faltar na educação infantil0001

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uenao MA/S NOS/TE

Caminhos da EducaçãoInfantil, planos de

trabalho e seqüênciasde atividades.www.novaescola.org.br

atarPara que as turmas de crechee pré-escola se desenvolvamplenamente, é preciso conheceras características de cada faixaetária e garantir que algumasexperiências essenciais façamparte do planejamento.Saiba como trabalhá-Ias e'por que são tão importantesBEATRIZ SANTOMAURO, de Vitória, ES,e LUIZA ANDRADE [email protected]

Colaboraram Bianca Bibiano; Denise Pellegrini, de Curitiba,

PR; julía Browne, de Belo Horizonte, MG; Marina Simeoni,

de Poços de Caldas, MG; Thais Gurgel,

de Sobra I, CE; e Vilmar Oliveira,

de São José dos Campos, SPMA/S NOS/TENo Ponto de Encontrocomunidades sobre 'Educação Infantil.www.novaescola.org.br/POntodeencontro---

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Até há pouco tempo, os pequenos dascreches passavam o dia alimentados

e limpos, cada um seguro em seu berço.E só. Já aos maiores, da pré-escola, erampropostas atividades, como colar bolinhasde papel em figuras mimeografadas. Hojejá não se admite uma Educação Infantilhesses moldes e o motivo é simples: exis-tem referências de práticas pedagógicasque respeitam as características das faixasetárias e, assim, promovem o desenvolvi-mento das turmas de até 6 anos.

"É comum encol1trarmos alguns mo-delos mais próximos do Ensino Funda-mental adaptados para as crianças meno-res ou outros, que ~ubestimam a inteli-gência e a capacidade delas", afirma Regi-na Scarpa, coordenadora pedagógica daFundação Victor Civita (FVq. Essa situ-ação deve - e pode - ser diferente. Paratanto, é necessário que a Educação Infan-til seja baseada em uma proposta pedagó-gica consistente. Além disso, quem lecio-na nesse nível de ensino precisa ter comoparte de sua rotina o planejamento e aavaliação das atividades. Tudo semprelevando em consideração a organizaçãodo tempo, do espaço e dos materiais emfunção das características da turma.

Muitas das condições para um traba-lho desse tipo são dadas pelos estudossobre o desenvolvimento infantil atual-

mente disponíveis (leia entrevista com apsicopedagoga Denise Argolo Estill no qua-dro da página 51 e com o psicólogo Lino deMacedo no da 55). Existem boas práticasque respeitam o modo de ser e de pensarespecífico de cada idade. "Forçar os bebêsa ficar sentados e quietos o tempo todo éinadequado, pois está provado que usaro corpo em movimento é'um dos meiosque eles têm de aprender", afirma CiseleOrtiz, coordenadora do Instituto AvisaLá, em São Paulo. Da mesma forma, pe-dir que uma classe de pré-escola apenaspinte ou complete uma figura pronta,por exemplo, não leva a nada. Hoje já sesabe que é preciso desenvolver as diversaslinguagens da criança para que se am-pliem suas capacidades cognitivas, e odesenho é uma delas.

Essesconhecimentos vêm sendo divul-gados desde que a Educação Infantil co-meçou a ganhar importância, com a Leide Diretrizes e Base? da Educação Nacio-nal, de 1996, que considérou essa etapado ensino parte da Educação Básica. Masfalta muito para que esses saberes sejamincorporados à rotina de todas as escolase, mais ainda, para que toda criança deaté 6 anos tenha garantida sua vaga.

O Plano Nacional de Educação temcomo meta para o início de 2011 o aten-dimento de 50% dos pequenos de até 3

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São Paulo, SP IFabiana Bartholomeu, :Guarulhos, SP I

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I REPORTAGEM: SUGERIDA PELOSI LEITORES

Sara Alves de Souza,São Paulo, SPTeresa CristinaSerejo Pinto,São Luís, MAAdriana Santos Silva,Camaragibe, PEMaria AparecidaBraga de Campos,

anos e de 80% para afaixa de 4 a 6."Por en-quanto, não há planosde universalizar aEducação Infantil ouum grande aumentode vagas. O maior de-safio atualmente ébuscar a igualdade deestrutura e qualidadeoferecidas", diz RitaCoelho, coordenadora geral da EducaçãoInfantil do Ministério da Educação. Nes-se sentido, estão sendo preparados para2009 os Indicadores de Qualidade daEducação Infantil, documento para auto-avaliação de cada instituição, que traráreferências sobre o que é necessário seroferecido nesse nível.

NOVA ESCOLA conversou com 12 es-pecialistas e listou dez experiências a se-rem propostas diariamente para que as

. turmas de creche e pré-escola se desenvol-vam. Quatro delas - brincar, linguagemoral, movimento e arte - são indicadaspara as duas faixas etárias, porém comenfoques diferentes. O início do trabalhocom identidade e autonomia foi ressalta-do como fundamental com as classes deaté 3 anos e orienta as atividades pedagó-gicas e de cuidados. Leitura e escrita ga-nham destaque com os maiores. .,

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Brincar•.• Por que trabalhar Embora a brin-cadeira seja uma atividade livre e espon-tânea, ela não é natural, mas uma criaçãoda cultura. O aprendizado dela se dá pormeio das interações e do convívio com osoutros. Por isso, a importância de prevermuito tempo e espaço para ela. "Temos acapacidade de desenvolver a imaginação- e é essa habilidade que o brincar traz",diz Zilma de Oliveira, da Universidade deSão Paulo (USP).

• O que propor Uma das primeiras brin-cadeiras do bebê é imitar os adultos: eleobserva e reproduz gestos e caretas nomesmo momento em que acontecem.Com cerca de 2 anos, continua repetindoo que vê e também os gestos que guardana memória de situações anteriores, ten-tando encaixá-los no contexto que achaadequado. Tão importante quanto valo-rizar essas imitações é propor ações físicasque possibilitam sensações e desafios mo-

tores. "É pela experi-mentação que a

criança se de-

MAIS NOSITEQuer ganhar 5 livros?Participe do concurs~de 29/10 a 30/11.wWw.novaescola.org.brpara com as no-

vidades do espa-ço, sente cheirose percebe texturas, tamanhos e formas",explica Ana Paula Yasbek, coordenadorapedagógica da Escola Espaço da Vila, emSão Paulo.

Alguns brinquedos também fazem su-cesso nessa fase. Os mais adequados sãoos de peças de montar, encaixar, jogar eempilhar, além dos que fazem barulho. Épreciso ter cuidado com a segurança e sóusar objetos maiores do que o tamanhoda boca do bebê quando aberta.

Para um trabalho eficiente, uma boaestrutura é essencial. Isso inclui ter mate-rial suficiente para que todos consigamcompartilhar e um bom espaço de cria-ção. "Os ambientes devem ser convidati-vos e contextualizados com a história quese quer construir", diz Ana Pau Ia. Umaárea ao ar livre, mesmo que com poucasárvores, vira uma grande floresta. Umasala bem cuidada, rica em cores e comvariedade de brinquedos e estímulosigualmente possibilita momentos criati-vos, prazerosos e produtivos.

• Esta creche faz Em Vitória, capital ca-pixaba, a brincadeira é parte da rotinadiária da CMEI João Pedro de Aguiar. Assalas das turmas de 2 anos, por exemplo,são divididas em cantos. Num deles ficamos brinquedos de madeira para montar.Noutro, bichos de pelúcia e bonecas.Num terceiro, livros. Tudo ~m uma altu-ra que permita a todos pegar o que que-

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rem sem ajuda. Diariamente, a classepassa um bom tempo no pátio, em queurna área é forrada de areia e outra aco-moda brinquedos de plástico, como es-corregador e cavalinho de balanço. "Ali,os pequenos correm e encontram amigosde outras turmas para que tenham aoportunidade de viver novas situações",diz a coordenadora pedagógica WanusaLopes da Silva Zambon.

Linguagem oral• Por que trabalhar Quando o bebê seexpressa com gritos ou gestos, ele temuma intenção. "Mesmo os que têm poucovocabulário ou que ainda não falam comdesenvoltura estão participando da ativi-dade comunicativa de forma competentee correta", diz Maria Virgínia Gastaldi,Editora de Educação Infantil, da EditoraModerna. Para que a linguagem oral sedesenvolva, cabe ao professor reconhecera intenção comunicativa dos gestos e bal-bucios dos bebês, respondendo a eles, epromover a interação no grupo.

• O que propor Desde muito cedo, canti-gas de roda, parlendas e outras cançõessão meios riquíssimos de propiciar o con-tato e a brincadeira com as palavras e deestimular a atenção a sua sonoridade. "Oburburinho das conversas entre os pe-quenos, falando sozinhos ou com os ou- .tros, é riquíssimo, Não se admite mais a

idéia de manter a sala em silêncio, comaparência que está tudo 'sob controle"',diz Regina Scarpa, da FVC.

As rodas de conversa, feitas diariamen-te, são uma oportunidade de praticar afala, comentar preferências próprias etrocar informações sobre a família. Nessasituação, há a interação com os colegas eaprende-se a escutar, discutir regras e ar-gumentar, Quanto menor for a faixa etá-ria do grupo, mais necessária será a inter-ferência do educador como propositor edinamizador dos diálogos .

• Esta creche faz Todos os dias, a turmade 2 anos da EMEB Valderez Avelino deSouza, em São Bernardo do Campo, naGrande São Paulo, participa de rodas deconversa. Nessa fase, acontecem relatosde experiências pessoais no bate-papo,além da invenção de outros elementos.Foi o que aconteceu no dia em que umdos pequenos contou que tinha visto umtubarão. "Outro completou dizendo queaquilo tinha sido na praia e um terceirofalou que nadava como o bicho", conta acoordenadora pedagógica Pétria Ângelade Jesus Rodrigues Ruy dos Santos. A pro-fessora foi puxando o assunto e encami-nhando a conversa. Um garoto, que atéentão estava quieto, saiu-se com esta:"Meu pai pescou um tubarão. Ele eraenorme. Professora, quer ir pescar commeu pai?" Sabendo que é muito comumnessa fase mesclar informações reais comoutras tiradas da imaginação, ela, é claro,aceitou o convite. .,

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DeniseArgolo Esti 11

Psicóloga e psicopedagoga do In-fans - Unidade de Atendimento aoBebê, de São Paulo, fala sobre oque caracteriza o desenvolvimentodas crianças da creche.

o que distingue os três primei-ros anos de vida?Esse é o período sensório-motor,caracterizado pela inteligência prá-tica. O mundo é algo a experimen-tar e conhecer por meio dos órgãosdos sentidos e das ações corporais.

Como a criança aprende?Presa à experiência imediata, elanecessita da presença dos objetosconcretos. Seus esquemas de açãosão olhar, agarrar, ouvir, alcançarcom a boca ou sentir com a pele.

Quais os procedimentos parapotencializar o desenvolvimen-to nessa faixa etária?A primeira coisa a fazer é incenti-var o uso da ferramenta mais pode-rosa, que é o corpo. Por meio dele,a criança entra em contato comtexturas, temperaturas e gostos. Ou-tras ações são estimúlar a lingua-gem verbal - por meio de históriase músicas - e a imitação, entenden-do a necessidade de reproduzir ges-tos e falas e procurando valorizar aexpressão individual de cada um.

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Movimento.,. Por que trabalhar O movimento éa linguagem dos pequenos que ainda nãofalam e continua sendo a maneira de seexpressar daqueles que já se comunicam

~ com palavras. "O,pensamento é simultâ-neo ao movimento e, por isso, não sepede que eles fiquem sentados ou quietospor muito tempo. Evitar que se mexamé o mesmo que impedi-los de pensar",explica Maria Paula Zurawski, assessora'de Educação Infantil da Secretaria Muni-cipal de Educação de São Paulo. Portan-to, quanto mais o professor incentivar omovimento, maior será o aprendizado decada um sobre si mesmo e o desenvolvi-mento da capacidade de expressão.

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• O que propor O bebê precisa participarde atividades que ampliem o repertóriocorporal para que percorra um caminhode gradativo controle dos movimentosaté conseguir se levantar e andar. Aospoucos, ele passa a ter consciência doslimites do corpo e da conseqüência deseus movimentos. São situações indicadaspara o amadurecimento motor passarpor obstáculos como túneis, correr e brin-car no escorregador.

Os espaços da creche devem ser desa-fiadores e, ao mesmo tempo, seguros. Sãoambientes propícios para as atividadesdesse tipo tanto o pátio como a sala. Ali,são colocados bancos ou caixas que sir-vam de apoio para os que estão começan-do a andar e ficam distribuídos brinque-dos de equilíbrio. Enquanto a turma se

mexe para lá e para cá, não se perde. umlance. Um educador atento sabe quandoum suspiro revela cansaço ou uma caretademonstra algum desagrado.

• Esta creche faz Brincar, dormir, mamar,almoçar e dançar acompanhando o rit-mo da música. A turma de 1 ano da CEICidade de Genebra, em São Paulo, nãopára quieta. "Logo que acordam, os bebêstomam mamadeira e saem dos colchone-tes quando querem. Como não há berços, .eles têm liberdade para se movimentar",diz a professora Anali Pereira dos Reis.No solário, com brinquedos de plástico eespaço para correr, eles escorregam, sebalançam na gangorra e andam no cava-linho. Mesmo tão novinhos, já são cra-ques no sobe-e-desce e no equilíbrio. Fazpouco tempo que aprenderam a andar,mas já entram nos carrinhos de plásticoe saem dele sem ajuda e se divertem pas-sando por dentro de bambolês, dandocambalhotas e rolando nos colchões.

Arte• Por que trabalhar A música e as artesvisuais são dois meios de os pequenosentrarem em contato com o que aindanão conhecem. Nessa fase, as linguagensse misturam e um mesmo objeto, comoum giz de cera, pode ser usado para dese-

. nhar ou batucar. "Aqueles que têm opor-tunidade de participar de atividades nes-sas áreas certamente desenvolvem mais acapacidade cognitiva", diz Silvana Augus-to, formadora do Instituto Avisa Lá.

• O que propor Quanto mais variadas asexperiências apresentadas, maior a garan-tia de qualidade no desenvolvimento dogrupo. 'Escutar sons, como os produzidospor batidas em várias partes do própriocorpo e pela manipulação de objetos, ou-vir canções de roda, parlendas, músicasinstrumentais ou as consideradas "deadulto" faz a diferença nessa fase. Alémde ouvir e repetir um repertório já conhe-cido, a turma deve ser orientada a impro-

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visar e criar canções, brincar com a voz,imitar sons de animais e confeccionarinstrumentos. "A música contribui paraum desenvolvimento pleno e harmônico,já que incide diretamente na sensibilida-de, na expressão e na reflexão", afirmaTeca Alencar de Brito, co-autora do Refe-rencial Curricular Nacional para a Edu-cação Infantil.

Da mesma maneira, o ideal são ativi-dades de artes visuais diversificadas. Umaboa prática inclui desenhos - e não o pre-

.enchimento de modelos prontos -, pin-turas ou esculturas usando diversos ma-teriais e possibilitar o;contato com novosrecursos visuais para ampliar as referên-cias artísticas. As produções da classe fi-cam à disposição para que sejam observa-das e comentadas e para que cada umreconheça o que é de sua autoria.

• Esta creche faz No EMI ]osefina CipreRusso, em São Caetano do Sul, na GrandeSão Paulo, artes visuais e música fazem.parte do cotidiano dos pequenos de 3anos. Eles criam instrumentos com ma-teriais reciclados e acompanham as mú-sicas dançando e cantando. No dia-a-dia,eles desenham com giz, lápis, guache eaquarela, fazem esculturas e mexem commassinha e tintas comestíveis. Assim, aturma sente cheiros e texturas e apreciacores diferentes. "As tintas são caseiras edá para limpá-Ias facilmente. Colocar naboca ou deixar cair na roupa não é pro-blema", diz a diretora, Eliane Migliorini.

Identidadee autonomia

• Por que trabalhar O bebê nasce emuma situação de total dependência e,pouco a pouco, necessita se tornar autô-nomo. "Enquanto adquirem condiçõespara realizar ações, as crianças começama saber das conseqüências de suas esco-lhas", explica Beatriz Ferraz, coordenado-ra pedagógica do Centro de Educação eDocumentação para Ação Comunitária,em São Paulo. Autonomia e identidade

se desenvolvem simultaneamente e, mes-mo num ambiente coletivo, é preciso daratenção individualizada às crianças.

• O que propor As melhores experiênciassão as pautadas pelo relacionamento comos outros e pela demonstração de prefe-rências. "Se a criança não tem opção, co-mo vai decidir?", diz Cisele, do Avisa Lá.É essencial oferecer possibilidades - nahora da brincadeira ou da merenda, porexemplo - para que os pequenos sejamincentivados a se conhecer melhor e aoptar. Ao servir os alimentos sem mistu-rá-los, o educador permite a cada umidentificar aquilo de que mais gosta. Ofe-recer a colher para que todos comamsozinhos também é primordial. Por meioda observação, uns aprendem com os ou-tros. Mesmo que no começo façam sujei-ra e demorem para se alimentar, aos pou-cos adquirem a destreza do movimento.

A organização do ambiente em cantosde atividades é outro meio de favorecero exercício de escolha, já que cada umdefine onde brincar, com quem e porquanto tempo. Para ajudar na construçãoda identidade, cabe ao educador chamarcada um pelo nome e ressaltar a observa-ção dos aspectos físicos individuais. "Co-locar grandes espelhos nas salas, ter fotosde cada um junto dos cabides em quependuram as mochilas, identificar as pas-tas com o nome e um desenho, por exem-plo, são ótimas maneiras de estimular aatenção para as próprias características efazê-los perceber a diferença e semelhan-ça em relação aos colegas", diz Cisele.

• Esta creche faz Na turma de 2 anos daCEI ]acyra Pimentel Gomes, em Sobral,a 248 quilômetros de Fortaleza, cadacriança vê o nome escrito, reconhece aprópria foto e aprecia imagens da famílianas paredes da sala. A coordenadora pe-dagógica Carlinda Maria Lopes Barbosadiz: "Cada um entende que é diferente doamigo por ser identificado de outra ma-neira". Para reforçar esse aprendizado,explica-se que existem objetos que sãocompartilhados e outros individuais, co-mo a mochila e as roupas. •.

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Educação Infantil- Pré-escola

Brincar _•.• Por que trabalhar Essa é uma fasede ampliação do universo de informa-ções: a mamãe é vendedora, o papai émotorista, o herói preferido voa, o livrode histórias fala de uma princesa bonitae corajosa. O meio de processar e assimi-lar tantos assuntos - enfim, entender omundo - é brincar de faz-de-conta. "Acomplexidade da fantasia criada dependedas experiências já vividas. Por isso, é fun-damental oferecer ambientes ricos empossibilidades", afirma Zilma, da USP.

I

• O que propor As crianças ainda se di-vertem com os brinquedos de encaixarou no parque, mas na pré-escola ganhamdestaque os jogos de regras - que exigemcumprimento de normas, concentração eraciocínio - e, principalmente, os simbó-licos, em que se assumem papéis. Elas seapropriam dos elementos da realidade edão a eles novos significados. Por meio da .fantasia, aprendem sobre cultura. Ao darbronca em uma boneca; por exemplo, ospequenos usam frases ouvidas de diálo-gos dos adultos, da TV e, em especial, delivros, de histórias. A literatura traz ele-mentos ausentes do cotidiano.

A meninada vai se tornando capaz deinteragir com as brinca-deiras por um tempomaior e considerar queos outros podem parti-cipar também. "No faz-

. de-conta, acontece algo

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íntimo que não se deve atropelar. O pro-fessor contribui com um gesto, uma pa-lavra ou um brinquedo, mas a turma élivre para aceitar ou não", explica Zilma.

Uma boa estratégia para enriquecer obrincar ~ atrair a garotada para espaçosdiferenciados, corno o canto da-casinha,do salão de maquiagem, da mecânica ouda biblioteca. O cenário, por si só, avisa aproposta da brincadeira e pressupõe pa-péis. Depois, com o tempo, o grupo mes-mo produzirá outros.

• Esta pré-escola faz Na CMEI PatríciaGalvão, em Guarulhos, na Grande SãoPaulo, o brincar é encarado como umasituação cotidiana e um direito das crian-ças. Em todas as salas ficam fantoches,fantasias e cenários para as atividadessimbólicas, bastante apreciadas. Quandoenjoam, os pequenos vão à brinquedote-ca e os trocam por outros. Não são rarasas vezes em que a turma de 4 anos se em-polga com um livro lido em sala, correpara o canto em que ficam as fantasias eassume o papel dos personagens. Segun-'do a diretora Djenane Martins Oliveira,para garantir e melhorar as possibilida-des de experimentação lúdica, os peque-nos têm acesso diário a brinquedos devariados materiais, como tecido, plástico,madeira e espuma. Há também aquelesque não parecem, mas são brinquedostambém, como pedrinhas, grama e areia."Sempre temos à disposição das criançascaixas de papelão, que elas usam paraproduzir objetos que são incluídos nasatividades por elas mesmas;'

linguagem oral• Por que trabalhar No início da pré-es-cola, coloca-se um importante desafio emlinguagem oral: não apenas falar, masantecipar e planejar o que se quer dizer."Para que isso aconteça, ou seja, para quea oralidade seja usada cada vez mais e demelhor forma, é preciso trabalhá-Ia dia-riamente com base em diferentes temas,contextos e interlocutores", diz MariaVirgínia, da Editora Moderna.

• Oque propor A escola deve oferecer umambiente que estimule a.comunicaçãoverbal- não apenas em sala mas tambémno refeitório, no pátio, na brinquedoteca,nos corredores. Para conversar, ali estãoamigos, educadores, merendeiros, portei-ros e diretores. Oportunidades tão distin-tas tornam as situações de fala mais ricas,elaboradas e complexas.

Os momentos são divididos em doistipos: formais e informais. Os informaissão, por exemplo, as rodas de conversa.Nelas, o professor faz uma proposição,por exemplo, a respeito de uma notíciada comunidade ou de algo que será feitodepois, como uma receita culinária. Nes-se momento, cada um ouve o que os ou-tros têm a dizer, coloca sua opinião einicia os próprios relatos.

Situações formais são aquelas em queas crianças se dirigem a outros interlocu-tores que não os próprios colegas de clas-se, como outra turma, para quem vãocontar uma história, ou um adulto a ser

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entrevistado. Assim, ao longo de toda apré-escola, são desenvolvidas e aperfeiço-adas competências como a de recontarhistórias e elaborar pergurttas.fíêclarnarpoesias e relatar acontecimentos do pró-prio cotidiano ou de outras pessoas. Deacordo com Maria Virgínia, "o resultadoé que os pequenos aprendem linguageme com a linguagem".

Essa competência também é potencia-lizada por meio das brincadeiras com aspalavras presentes na tradição oral, nostextos poéticos e nas parlendas, por exem-plo - que já contribuem para o aumentodo repertório verbal desde a creche.

• Esta pré-escola faz São diversas as ex-periências de desenvolvimento da lin-guagem oral na UMEI Mangueiras, emBelo Horizonte. Lá, as rodas de conversasobre o planejamento do dia abrem asatividades, mas outros temas tambémfazem parte do bate-papo. Na sala ou nopátio, elas recontam histórias e apresen-tam músicas e dramatizações. "Os maisvelhos ajudam no desenvolvimento dalin~agem dos menores durante ativida-des corporais. Eles criam canções e gritosde guerra e os pequenos se juntam a eles,cantando também", conta a vice-diretora,Mônica Freitas Moi de Andrade. .,

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Lino de Macedo·

Professor do Instituto de Psicologiada USP fala sobre o desenvolvi-mento dos 4 aos 6 anos.

II·IIIIIIIIIII

Como se caracteriza o pensa-mento da criança pré-escolar?Ele é principalmente substitutivo eimitativo. Substitutivo porque eladescobre que objetos, pessoas eações podem ser trocados ou evo-cados por outros. Imitativo porqueela entra no universo da ficção:imagina e faz correspondências.

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De que maneira o faz-de-contadesenvolve as linguagens?No faz-de-conta, a criança realizaum esforço de tradução. Ela não évelha, mas representa esse papel nojogo simbólico. Também não é umbicho, mas pode imitá-lo. Esse fin-gimento aumenta o repertório dasdiversas linguagens, como o dese-nho, a fala, a música e a dança .

Como aproveitar a capacidadede representação?A criança descobre simbolicamen-te a importância do adulto em suavida e as diferenças entre ambos.Isso ocorre, por exemplo, quandoela faz de conta que é mãe e repre-ende o filho. Cabe ao professor,portanto, possibilitar que ela en-tenda essa assimetria e, ainda queintuitivamente, o valor do adulto.

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Movimento•.• Por que trabalhar Na pré-escola, acriança já tem desenvoltura para se co-municar verbalmente. Mesmo assim, omovimento ainda é um meio de expres-sar o que ela quer. Por isso, eles continu-am a ser valorizados na pré-escola. Nessafase, ela se torna mais ciente de si, conhe-ce mais o corpo e ganha competênciapara atuar no mundo. "Por isso, é preciso

. evitar a tendência de deixar atividadesdesse tipo de lado com turmas a partirdos 4 anos", diz Maria Paula, da SecretariaMunicipal de Educação de São Paulo .

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.0 que propor Atividades como danças,jogos esportivos e teatro aumentam e fa-zem evoluir as possibilidades com o cor-po. Ações como segurar o talher e o lápise usar a tesoura se aprimoram, mas nãoadianta promover "treinos". "Ashabilida-des se consolidam apenas diante das ne-cessidades reais", explica Maria Paula:.

Em especial entre os maiores, de 5 e 6anos, a capacidade de planejar as ações demovimento se amplia. Por isso, ativida-des ao ar livre, no parque, se tornam mais

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Arte• Por que trabalhar As experiências de-senvolvidas em música e artes plásticas,de acordo com Silvana, do Avisa Lá, têmpapel primordial na formação do pensa-mento simbólico. "Ambas exercem forteinfluência no desenvolvimento da cria-tividade e da imaginação:' Nessa fase, asduas linguagens já são trabalhadas deforma separada.

• O que propor É essencial ampliar o re-pertório de canções, promover o contatocom instrumentos variadós e explorar ossons da natureza e dos feitos com o cor-po, além do silêncio. O bom projeto é oque permite conhecer e criar.

Em artes visuais, é importante apre-sentar obras de pintores famosos - paraampliar o repertório e trazer riqueza aotrabalho dos pequenos -, mas não comopretexto para propor cópias. Nessa fase,

ricas. Para se divertir num escorregador,as crianças conseguem observar os de-graus onde pisar e calcular o que fazerpara chegar ao topo e depois deslizar.

• Esta pré-escola faz A professora MagdaCarvalho Aranda, da CEI Maria do Rosá-rio Bastos, em Poços de Caldas, a 465 qui-lômetros de Belo Horizonte, propõe jo-gos corporais para as crianças de 5 anos.Em um deles, elas batem palmas, levamas mãos aos pés e também à cabeça. Apósuma seqüência simples, a turma combinamovimentos mais elaborados; como le-vantar a mão esquerda e se manter ape-nas sobre o pé direito, favorecendo' oequilíbrio. A mesma atividade pode setornar mais divertida se acompanhada demúsica com ritmos cada vez mais rápidos.Outra brincadeira qu~ os pequenos cur-tem é a da maria-fumaça. "Conforme oritmo de um chocalho acelera, o corpoentra no embalo, com movimentos debraços e pernas", explica Magda.

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o ideal é desenvolver cada vez mais o de-senho e a pintura, em atividades diárias.Não é necessário usar grande variedadede materiais.

• Esta pré-escola faz Nas salas de pré-escola do CMEI Dr. Arnaldo Carnasciali,em Curitiba, sempre há nas paredes umapintura, gravura ou fotografia para am-pliar o repertório dos pequenos. Duranteum projeto sobre identidade, as turmasfizeram retratos. Olhando no espelho,cada um pr:oduziu o seu, usando lã e bar-bante para compor os cabelos, por exem-plo. Todos desenharam também o amigo,aprimorando a percepção sobre o outro.

A experimentação musical inclui a ex-ploração de estilos diferentes, como can-tigas de roda, músicas clássicas e cançõesdo folclore brasileiro. "Essas situaçõesampliam o repertório, favorecem acon-centração e permitem o desenvolvimen-to de habilidades como o ritmo", diz adiretora, Vanessa de Sousa Martinez.

Leitura e escrita• Por que trabalhar É um adulto leitorque mostra às crianças o significado daescrita que está nos livros. Ao escutaruma história, as turmas entram na narra-tiva e compartilham as sensações dospersonagens. "É hora de ampliar o reper-tório e dar maior organização ao pensa-

mento", diz Débora Rana, coordenadorapedagógica de Educação Infantil da Esco-la Projeto Vida, na capital paulista ..

• O que propor Durante as rodas de his-tórias, o grupo é capaz de escolher os li-vros prediletos, acompanhar a obra de umautor, opinar e fazer relatos. Quantomaior a vari~dade de gêneros, melhor:contos, poesias, parlendas, quadrinhas,gibis, lendas, fábulas, bilhetes, crônicas,textos informativos e instrucionais.

A leitura diária de diferentes gênerospelo professor aumenta cada vez mais acuriosidade e o conhecimento sobre a lin-guagem escrita. "Aos 4 anos, já é possívelrecontar textos e aos 5 produzir as pró-prias histórias, ditando o texto a um escri-ba", afirma Débora.

• Esta pré-escola faz Na Creche Con~e-niada Lírios do Campo, em São José dosCampos, a 97 quilômetros de São Paulo,a pré-escola tem acesso a textos de diferen-tes gêneros, desenvolve atividades de re-conto de histórias, leva livros para casanos fins de semana, cria poesias e é esti-mulada a escrever. Mesmo durante asbrincadeiras, surgem oportunidades deenriquecer a escrita. "Quando inaugura-mos o canto do cabeleireiro, visitamos umsalão de beleza. Depois, foi produzido umtexto sobre o encontro com os profissio-nais e elaborada uma tabela de preços",relata a coordenadora pedagógica AnaLúcia Rodrigues da Silva Ferreira. C;

QUER SABER MAIS ?I----,ContatosCEI Cidade de Genebra, R. Cachoeiraporaquê, 100, 05576-600, São Paulo, Sp, tel.(11) 3781-1290CEI jacyra Pimentel Gomes, R. RioNegro, s/no, 62100.000, Sobral, CE,tel. (88) 3614-4352CEI Maria do Rosário Bastos, R.Coronel Virgílio Silva, 1675, 37701-103,Poços de Caldas, MG, tel. (35) 3697-2172CMEI Dr. Arnaldo Carnasclall.R. SãoJosé dos Pinhais, 900, 81920-250, Curitiba,PR, tel. (41) 3289-4241CMEI João Pedro de Aguiar, R.JuliaLacorte Pena, s/no, 290.90-210, Vitória, ES,tel. (27) 3337-3316CMEI Patrícia Galvão, R. 113, s/no,07085-330, Guarulhos, Sp' tel. (11)2456-7844Creche Conveniada lírios do Campo,R.João Gomes da Silva, 121, 12248-674,São José dos Campos, Sp' tel. (12)3929-6741EMEB Valderez Avelino de Souza,R. Lázaro Zamenhof, 110,09861-670,São Bernardo do Campo, Sp'tel. (11) 4351-4600EMI joseflna Cipre Russo,R. Pernambuco, 100, '09520-170, SãoCaetano do Sul, Sp' tel. (11) 4224-1170UMEI Mangueiras, R. Coroa de Freitas,328,30666-230, Belo Horizonte, MG,tel. (31) 3277-9189

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BibliografiaA Formação do Símbolo na Criança,jean Piaget, 376 págs., Ed. LTC,tel. (21) 3970-9450, 83 reaisBem-Vindo, Mundo! Criança, Culturae Formação de Educadores, SilviaPereira de Carvalho e outros, 208 págs.,Ed. Peirópolis, tel. (11) 3816-0699, 40 reaisEducação Infantil: Fundamentos eMétodos, Zilma de Oliveira, 258 págs.,Ed. Cortez, tel. (11) 3611-9616, 36 reaisHenri Wallon: Uma ConcepçãoDialética do Desenvolvimentotnfanttt, Izabel Galvão, 136 págs.,Ed. Vozes, tel. (11) 2081-7944,20 reais

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