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nova Economia_Belo Horizonte_17 (2)_323-350_maio_agosto de 2007 O que conhecemos sobre o trabalho infantil? Ana Lúcia Kassouf Professora titular do Departamento de Economia, ESALQ/USP Resumo O interesse em pesquisas e análises econômi- cas sobre o trabalho infantil ressurge por vol- ta de 1995, principalmente graças à crescente ênfase na redução da pobreza e na acumula- ção de capital humano para se obter desen- volvimento, que faz com que o trabalho de crianças seja visto como um impedimento ao progresso econômico. As análises empíricas visando obter as causas, conseqüências e so- luções para o trabalho infantil estão agora sendo facilitadas pelo aumento da disponibili- dade de microdados e pelas facilidades com- putacionais disponíveis. A pobreza, a escola- ridade dos pais, o tamanho e a estrutura da família, o sexo do chefe, idade em que os pais começaram a trabalhar e o local de residência são os determinantes mais analisados e dos mais importantes para explicar a alocação do tempo da criança para o trabalho. As princi- pais conseqüências socioeconômicas do tra- balho de crianças e de adolescentes são sobre a educação, o salário e a saúde dos indivíduos. Este estudo tem como objetivo apresentar, de forma resumida, o que se conhece na literatu- ra econômica sobre trabalho infantil e indicar direções para futuros estudos. Abstract Interest in research and economic analysis related to child labor reappears in the literature around 1995, mainly due to a growing emphasis on the reduction of poverty and the accumulation of human capital to obtain economic development, which means that child labor is seen as an impediment to economic progress. Empirical analysis to find the causes, consequences and solutions for child labor are now being facilitated by the increase in the availability of high quality microdata and ease of obtaining computational data. Poverty, parents’ education, family composition, gender of the head of the household, age parents started working and the household location are the most analyzed and important determinants to explain the allocation of the child’s time to work. The most important social-economic consequences of child labor are related to the reduction in years of education, school performance, wages and health status. The objective of this study is to present a summary of what is known in the economic literature related to child labor and to indicate directions for future research. Palavras-chave trabalho infantil, causas, conseqüências. Classificação JEL J22. Key words child labor, causes, consequences. JEL Classification J22.

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nova Economia_Belo Horizonte_17 (2)_323-350_maio_agosto de 2007

O que conhecemos sobre o trabalho infantil?

Ana Lúcia KassoufProfessora titular do Departamento de Economia, ESALQ/USP

Resumo

O interesse em pesquisas e análises econômi-cas sobre o trabalho infantil ressurge por vol-ta de 1995, principalmente graças à crescenteênfase na redução da pobreza e na acumula-ção de capital humano para se obter desen-volvimento, que faz com que o trabalho decrianças seja visto como um impedimento aoprogresso econômico. As análises empíricasvisando obter as causas, conseqüências e so-luções para o trabalho infantil estão agorasendo facilitadas pelo aumento da disponibili-dade de microdados e pelas facilidades com-putacionais disponíveis. A pobreza, a escola-ridade dos pais, o tamanho e a estrutura dafamília, o sexo do chefe, idade em que os paiscomeçaram a trabalhar e o local de residênciasão os determinantes mais analisados e dosmais importantes para explicar a alocação dotempo da criança para o trabalho. As princi-pais conseqüências socioeconômicas do tra-balho de crianças e de adolescentes são sobrea educação, o salário e a saúde dos indivíduos.Este estudo tem como objetivo apresentar, deforma resumida, o que se conhece na literatu-ra econômica sobre trabalho infantil e indicardireções para futuros estudos.

Abstract

Interest in research and economic analysisrelated to child labor reappears in the literaturearound 1995, mainly due to a growingemphasis on the reduction of poverty and theaccumulation of human capital to obtaineconomic development, which means that childlabor is seen as an impediment to economicprogress. Empirical analysis to find the causes,consequences and solutions for child labor arenow being facilitated by the increase in theavailability of high quality microdata and easeof obtaining computational data. Poverty,parents’ education, family composition,gender of the head of the household, age parentsstarted working and the household location arethe most analyzed and important determinantsto explain the allocation of the child’s time towork. The most important social-economicconsequences of child labor are related to thereduction in years of education, schoolperformance, wages and health status.The objective of this study is to present asummary of what is known in the economicliterature related to child labor and to indicatedirections for future research.

Palavras-chave

trabalho infantil, causas,conseqüências.

Classificação JEL J22.

Key words

child labor, causes, consequences.

JEL Classification J22.

1_ Introdução

O tema trabalho infantil, assim como otratamento analítico dado, não são tãorecentes na literatura. Apesar de não terse iniciado na Revolução Industrial, mui-tos historiadores apontam para um agra-vamento da utilização de mão-de-obrainfantil nessa época. Já em 1861 o censoda Inglaterra mostrava que quase 37%dos meninos e 21% das meninas de 10 a14 anos trabalhavam. Pesquisa recentefeita por Tuttle (1999) mostra que crian-ças e jovens com menos de 18 anos re-presentavam mais de um terço dos traba-lhadores nas indústrias têxteis da Ingla-terra no início do século XIX e mais deum quarto nas minas de carvão. Apesarda excepcional intensidade do trabalhoinfantil na Inglaterra, outros países tam-bém apresentavam taxas altas de criançastrabalhando por volta de 1830 e 1840,como França, Bélgica e Estados Unidos.

Os primeiros relatos do trabalhoinfantil no Brasil ocorrem na época daescravidão, que perdurou por quase qua-tro séculos no País. Os filhos de escravosacompanhavam seus pais nas mais diver-sas atividades em que se empregava mão-de-obra escrava e exerciam tarefas queexigiam esforços muito superiores às su-as possibilidades físicas. O início do pro-cesso de industrialização, no final do sé-

culo XIX, não foi muito diferente de ou-tros países no tocante ao trabalho infan-til. Em 1890, do total de empregadosem estabelecimentos industriais de SãoPaulo, 15% era formado por crianças eadolescentes. Nesse mesmo ano, o De-partamento de Estatística e Arquivo doEstado de São Paulo registrava que umquarto da mão-de-obra empregada nosetor têxtil da capital paulista era formadapor crianças e adolescentes. Vinte anos de-pois, esse equivalente já era de 30%. Jáem 1919, segundo dados do Departa-mento Estadual do Trabalho, 37% do to-tal de trabalhadores do setor têxtil eramcrianças e jovens e, na capital paulista, es-se índice chegava a 40% (OrganizaçãoInternacional do Trabalho – OIT, 2001).

Basu (1999) destaca que a origemdos modelos matemáticos e de constru-ções teóricas relacionados à problemáti-ca do trabalho de crianças pode ser en-contrada em relatos de escritores comoKarl Marx, Alfred Marshall e Arthur Pi-gou, entre outros. Marx, em 1867, já des-crevia algumas das causas do trabalho in-fantil. Segundo ele, com o advento dasmáquinas, reduz-se a necessidade da forçamuscular, permitindo agora o emprego detrabalhadores fracos ou com desenvolvi-mento físico incompleto, mas com mem-bros mais flexíveis. Assim, emprega-se o

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trabalho das mulheres e das crianças. Marxobserva que o fato de a máquina reduzir otempo necessário de trabalho, faz com queo empregador, detendo os meios de pro-dução, acabe reduzindo o salário dos tra-balhadores e, conseqüentemente, o meiode sobrevivência das famílias. A reduçãodos salários acaba, muitas vezes, forçan-do o trabalhador homem adulto a inserirtoda a família no mercado de trabalhopara compensar a perda de renda. DizMarx que

[...] de poderoso meio de substituir traba-

lho e trabalhadores, a maquinaria trans-

formou-se imediatamente em meio de au-

mentar o número de assalariados, colocan-

do todos os membros da família do traba-

lhador, sem distinção do sexo e de idade,

sob o domínio direto do capital... (1968, li-

vro I, v. 2, p. 449).

Marshall (1920), escrevendo em1980 sobre o crescimento da livre indús-tria e da empresa, descreve que jornadaslongas de trabalho de crianças já ocorri-am no século XVII, isto é, antes da Revo-lução Industrial. Entretanto, foi no iníciodo século XIX, principalmente nas in-dústrias têxteis, “onde a miséria e a enfer-midade física e moral causada pelo traba-lho excessivo em más condições atinge oapogeu”. Marshall também mostra a im-portância de se investir em capital huma-

no e o papel dos pais e da escola para for-mar jovens para um futuro melhor. Se-gundo ele,

There is no extravagance more pre-judicial to the growth of nationalwealth than that wasteful negligen-ce which allows genius that hap-pens to be born of lowly parentageto expend itself in lowly work. Nochange would conduce so much to arapid increase of material wealth asan improvement in our schools, andespecially those of the middle gra-des, provided it be combined withan extensive system of scholarships,which will enable the clever sonof a working man to rise graduallyfrom school to school till he hasthe best theoretical and practicaleducation which the age can give(Marshall, 1920, livro 4, cap. 6).

Pigou (1932) defendia a erradicaçãodo trabalho infantil, mas estava ciente deque impedir as crianças de trabalhar pode-ria levar algumas famílias pobres a níveisinferiores ao de subsistência. Ciente disso,ele associava a eliminação do trabalho in-fantil com políticas públicas de assistênciaàs famílias necessitadas. Segundo ele,

There is no defense for the policy ofgiving poor widows and incapablefathers permission to keep theirchildren out of school and take their

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earnings. Rather, the Committee onthe Employment of Children Actare wholly right when they declare:We feel, moreover, that the cases ofwidows and others, who are nowtoo often economically dependenton child labor, should be met, nolonger by the sacrifice of the futureto the present, but, rather, by morescientific, and possibly by more ge-nerous, methods of public assistan-ce (Pigou, 1932, parte 4, cap. 13).

Após o trabalho infantil ser larga-mente discutido entre escritores e pensa-dores do século XIX, o tema passa a sernegligenciado por economistas durantemuito tempo.1 O interesse em pesquisase análises econômicas sobre o assunto sóressurge por volta de 1995. Dado quevem ocorrendo um declínio da incidên-cia global de trabalho infantil por váriasdécadas, questiona-se então qual seria ofator responsável pelo aumento de inte-resse recente em pesquisas sobre o assun-to. Basu e Tzannatos (2003a) destacamcomo principal fator a crescente ênfasena redução da pobreza e na acumulaçãode capital humano para obter desenvol-vimento, que faz com que o trabalho in-fantil seja visto como um impedimentoao progresso econômico.

O recente interesse acadêmico co-incide com a elevação do número de po-

líticas nacionais e internacionais voltadaspara a redução do trabalho infantil. Asprincipais convenções internacionais en-globam: a das Nações Unidas para o Dire-ito das Crianças, em 1989, a Convenção182 da OIT para eliminação das pioresformas de trabalho infantil, em 1999, e aDeclaração do Milênio com ênfase na re-dução da pobreza e na educação universal,estabelecida em 2000.

No Brasil, a partir de dezembro de1998, com a aprovação da Emenda Cons-titucional número 20, a idade mínima de14 anos, que havia sido estabelecida naConstituição de 1988, passa para 16 anos,salvo na condição de aprendiz entre 14 e16 anos de idade. Ainda a respeito da le-gislação brasileira, estabeleceu-se a idademínima de 18 anos para aqueles envolvi-dos em trabalhos que possam causar da-nos à saúde e, especificamente, proíbequalquer produção ou trabalho de mani-pulação de material pornográfico, diver-timento (clubes noturnos, bares, cassi-nos, circo, apostas) e comércio nas ruas.Ademais, proíbe trabalhos em minas, es-tivagem, ou qualquer trabalho subterrâ-neo para aqueles abaixo de 21 anos.

As análises empíricas visando ob-ter as causas, conseqüências e soluçõespara o trabalho infantil estão agora sendofacilitadas pelo aumento da disponibilida-de de microdados e pelas facilidades com-

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1 O declínio do trabalhoinfantil, que ocorreu no finaldo século XIX nos paíseseuropeus e nos EstadosUnidos, é atribuído aodesenvolvimento econômico,ao aumento da riqueza, assimcomo à criação de leis, tantoregulamentando e/ouimpedindo o trabalho infantil,como tornando a educaçãobásica compulsória, o queacabou dificultando às criançasconciliarem trabalho e estudo.

putacionais disponíveis, tanto de hardware

como de software, que permitem analisar etestar proposições e políticas alternativasde intervenção. Isso resulta em maior en-tendimento dos mecanismos de alocaçãode tempo dentro do domicílio, suas inte-rações com as forças de mercado e o efei-to dessas interações no trabalho infantil.

No Brasil, a principal pesquisa uti-lizada para analisar o trabalho infantil é aPesquisa Nacional por Amostra de Do-micílios (PNAD). Outras trazem tam-bém informações importantes sobre otrabalho das crianças, como a PesquisaMensal de Emprego (PME), dados doSistema Nacional de Avaliação da Edu-cação Básica (SAEB), censo demográfi-co e outras.

Este estudo tem como objetivoapresentar, de forma resumida, o que seconhece na literatura econômica sobretrabalho infantil e indicar direções parafuturos estudos. Inicialmente, apresen-tam-se idéias e dados sobre o trabalho decrianças na época da Revolução Industri-al e como o tema ressurge nos anos 90.Em seguida, são apresentados alguns mo-delos teóricos e econométricos utilizadosmais recentemente para modelar o traba-lho infantil, assim como os fatores quelevam a criança a trabalhar e as conse-qüências do trabalho precoce. Para fina-

lizar, são apresentadas e discutidas algu-mas políticas públicas de combate ao tra-balho infantil.

2_ Dados e definiçõesdo trabalho infantil

Apesar de a incidência de trabalho infantilestar diminuindo, um grande número decrianças continua trabalhando e por umperíodo longo de horas. O Departamentode Estatística da Organização Internaci-onal do Trabalho estimou em 2000 que,mundialmente, existiam em torno de 211milhões de crianças entre cinco e 14 anostrabalhando. As maiores porcentagens eramobservadas na Ásia, na África e na AméricaLatina. Enquanto a Ásia tinha a maioriados trabalhadores infantis em termos ab-solutos, a África ocupava o primeiro lugarem termos relativos (Ilo, 2002).

No Brasil, dados da PNAD de2005 mostram que ainda existem quasetrês milhões de crianças e jovens de cincoa 15 anos trabalhando ou 7,8% do totalnessa faixa etária, apesar de ter havidoum declínio acentuado, principalmente,a partir da metade da década de 90.Em 1992, por exemplo, havia quase cin-co milhões e meio de crianças trabalhan-do, correspondendo a 14,6% da popula-ção entre cinco e 15 anos. Sabe-se que a

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proporção de meninos trabalhando émaior do que a de meninas, exceto noemprego doméstico, onde a maioria dostrabalhadores é mulher. Ademais, a por-centagem de trabalho infantil nas áreasrurais é bem mais elevada do que nas áre-as urbanas do Brasil.

As estatísticas sobre o trabalho in-fantil levantadas em diversos países de-vem ser analisadas com cuidado, já queos valores podem estar subestimados ousuperestimados. Os levantamentos de da-dos realizados, geralmente, contabilizamo trabalho efetuado por crianças na se-mana anterior à pesquisa. Entretanto, Le-vison et al. (2002) apontam que, se consi-derado o trabalho no ano, o número detrabalhadores infantis é bem maior. Issoocorre, segundo os autores, pelo fato deuma parte do trabalho de menores ser sa-zonal e intermitente.

Existe ainda o problema de não seconsiderar o trabalho dentro do domicí-lio, largamente realizado por meninas, oque pode ser a explicação para o fato dehaver maior porcentagem de meninostrabalhando. Em muitos países, como naÍndia, o trabalho realizado por meninasdentro do domicílio é tão árduo que atéas impede de estudar (Burra, 1997).

Além de problemas de subestima-ção, existe também o de superestimação,que ocorre ao se considerar como traba-

lhador aquele que exerce atividades poruma hora ou mais na semana. Com essadefinição, são consideradas economica-mente ativas muitas crianças que traba-lham ainda que um número reduzido dehoras por semana, o que acaba nivelandoo trabalho de risco exercido por menoresdurante longas jornadas, como o corte dacana-de-açúcar ou sisal, com uma sim-ples ordenha de leite ou coleta de ovos nafazenda por alguns minutos por dia. Di-ante disso, a OIT diferencia o trabalho demenores e denomina de “child laborer”todas as crianças com menos de 12 anosexercendo qualquer trabalho e todas asde 12 a 14 anos que trabalham em ativi-dades que não são de risco por 14 horasou mais na semana ou uma hora ou maisna semana quando a atividade é de risco.

Para exemplificar as sub e superes-timações mencionadas, utilizaremos os da-dos do Brasil da Pesquisa Nacional porAmostra de Domicílios (PNAD) de 2005.Considerando trabalho remunerado ounão, 2.934.724 crianças entre 5 e 15 anostrabalham uma hora ou mais na semanaanterior à pesquisa, não incluindo as cri-anças procurando emprego ou exercen-do atividades domésticas. Se considerar-mos apenas aquelas exercendo atividadespor 14 horas ou mais na semana, o nú-mero cai para 1.897.877. Se contabilizar-mos o número de crianças trabalhando

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por uma hora ou mais na semana emqualquer trabalho que tenha tido no anoanterior à pesquisa, o número de criançaspassa de 2.934.724 para 3.495.870. Se in-cluirmos as que trabalharam no ano e asprocurando emprego tem-se 3.625.490.Se definirmos o trabalho como aqueleexercido por mais de 13 horas por sema-na em atividades domésticas ou não, semdupla contagem, teríamos 4.713.439 me-nores, enquanto 18.059.327 trabalham ouexercem atividades domésticas por 1 ho-ra ou mais na semana (Tabela 1).

Diante do exposto, fica evidenteque não existe uma única definição detrabalho infantil. A maioria dos estudos,principalmente pela disponibilidade dedados, considera o trabalho de crianças

por uma hora ou mais na semana. Entre-tanto, em pesquisas mais específicas sãoutilizadas informações sobre o trabalhodoméstico ou a população economica-mente ativa de crianças, isto é, as traba-lhando e procurando emprego.

Outro ponto importante é a pró-pria definição de criança, que difere deum país para outro. Enquanto em algu-mas áreas a infância é relacionada à ida-de cronológica, em outras, fatores sociaise culturais também são considerados.Nos estudos sobre o trabalho infantil,geralmente, estabelece-se a faixa etáriaa ser analisada de acordo com a legisla-ção vigente no local de estudo, que tam-bém difere significativamente de um paíspara outro.

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Tabela 1_ Número e porcentagem de crianças trabalhando

Crianças de 5 a 15 anos Número %

Trabalhando 14 horas ou mais na semana 1.897.877 5,0

Trabalhando 1 hora ou mais na semana 2.934.724 7,8

Trabalhando 1 hora ou mais na semana em qualquer trabalhoque tenha tido no ano anterior à pesquisa 3.495.870 9,3

Trabalhando no ano e procurando emprego 3.625.490 9,6

Trabalhando ou exercendo atividades domésticas por 14 horasou mais na semana

4.713.439 12,5

Trabalhando ou exercendo atividades domésticas por 1 horaou mais na semana 18.059.327 48,0

Fonte: PNAD (2005).

A legislação brasileira é uma dasmais rígidas em relação à idade mínima deingresso no mercado de trabalho, equipa-rando-se aos Estados Unidos e à França.Na Inglaterra, por exemplo, a idade míni-ma é de 13 anos, na Bélgica e na maioriados países da América Latina é de 14 eem países como Suíça, Alemanha, Itália eChile a idade mínima é 15 anos (Ilo, 1998).

3_ Modelos teóricos explicativosdo trabalho infantil

Como descrito anteriormente, a origemdos modelos matemáticos e de constru-ções teóricas relacionados ao fato de a cri-ança trabalhar pode ser encontrada em re-latos de escritores como Karl Marx, AlfredMarshall, Arthur Pigou e outros. Nesta se-ção, objetivando mostrar o desenvolvimen-to de pesquisas sobre o trabalho infantil,serão apresentados alguns estudos mais re-centes que utilizaram modelos teóricos.

Rosenzweig (1981) emprega a teo-ria econômica básica de decisão familiarpara explicar a alocação de tempo entretrabalho, escolaridade e lazer de criançasna Índia. Essa teoria, proposta por GaryBecker, considera que o tempo é distri-buído entre trabalho, lazer e escola. Pres-supõe que a família deriva utilidade a par-tir do consumo de bens, de serviços e delazer, e que lazer é preferível ao trabalho.

Os indivíduos desejam o máximo de bensque podem obter. Entretanto, defrontam-se com restrições de tempo e de renda. Odesejo de consumir sempre mais bens eas restrições de tempo e renda criam regi-mes de trocas, uma vez que mais tempogasto em uma determinada tarefa signi-fica menos tempo despendido em outra.Então, a escolha de trabalhar ocorre, ape-sar de lazer ser preferível a trabalho, poislazer implica menos renda para consumirbens de mercado.

A escola é vista, nesse modelo, co-mo um investimento, com custos presen-tes e benefícios futuros. A troca, nessecaso, está relacionada à quantidade debens de consumo e benefícios a que sedeve renunciar no presente, uma vez quea criança não trabalha e tem custos comeducação (taxas escolares, uniforme, ma-terial, transporte, etc.), com relação ao ga-nho adicional obtido no futuro por termaior nível de instrução. Assim, o traba-lho infantil e o tempo na escola são de-terminados pela alocação do tempo dosmembros do domicílio em diversas ativi-dades e o desejo por benefícios futuros,educação e consumo corrente. Qualquerfato que altere os benefícios ou custos daeducação ou as restrições enfrentadas pelafamília poderá afetar a quantidade de edu-cação que a criança recebe e a quantidadede tempo gasta com trabalho.

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Trabalho infantil é uma atividadeque gera benefícios imediatos na forma derenda, mas também gera custos por não es-tudar e/ou por reduzir o tempo de lazer.2

Assim sendo, fatores que afetam os benefí-cios do trabalho (salário) ou os custos (re-tornos à educação) também afetarão a de-cisão com relação ao trabalho infantil.

Mais formalmente, no modelo deRosenzweig (1981) pressupõe-se que afamília maximiza uma função utilidade(U ) contínua, estritamente crescente, qua-se-côncava e diferenciável, a qual é fun-ção de bens comprados e consumidos(X ), do tempo de lazer da mãe (l mo ) e dopai (l fa ), do tempo de lazer da criança(l ch ), e do nível de escolaridade da criança(Sch ), ou seja

U = U(X, l mo, l fa, l ch, Sch ) (1)

Para simplificar a notação, conside-ra-se o caso de uma família com pai, mãe euma criança.3 Generalizações podem serobservadas em Rosenzweig (1981). Pres-supõe-se que o nível de escolaridade dacriança requer tempo (t sch ) e bens (X s ),como material escolar, taxas escolares,transporte, etc., tal como

Sch = s(t sch , X s ) (2)

A família também se defronta comuma restrição de renda total (F ) dada por:

F = V + Tmo Wmo + Tfa Wfa + Tch Wch =

= P x X + Wmo l mo + Wfa l fa +

+ P s X s + Wch (l ch + t sch )(3)

onde V é a renda não-salarial; Tmo , Tfa e Tch

são o tempo total disponível da mãe, pai ecriança; Wmo , Wfa e Wch são os salários damãe, pai e criança, e Px e Ps são os preçosde X e Xs .

Da restrição de renda total, é pos-sível se verificar que o rendimento total

da criança é Wch(Tch � l ch � t sch ). Os custosdiretos da escolaridade são Ps Xs e o custodo tempo de escolaridade é Wch t sch .

A maximização da função utilida-de sujeita à restrição de renda total pro-duz um conjunto de equações de deman-da para as variáveis endógenas l mo, l fa, l ch,t sch, X, Xs em função das variáveis exóge-nas Wmo , Wfa , Wch , Px , Ps , isto é,

D = fD(Wmo , Wfa , Wch , Px , Ps , V ) (4)

onde D é lmo , lfa , lch , tsch , X , Xs.

Tomando como base as formas re-duzidas das equações de demanda, é possí-vel analisar o efeito de uma variável exóge-na sobre as endógenas. Por exemplo, umamudança no salário da criança Wch e no sa-lário da mãe Wmo sobre o tempo de traba-

lho da criança twch= Tch � l ch – t sch e sobre o

tempo de trabalho da mãe twmo = Tmo � l mo

podem ser decompostos nos efeitos preço(utilidade constante) e renda, tais como:

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2 Estas atividades nãoprecisam estar em conflito,dependendo do tempo gastocom cada uma delas.3 Alguns estudos consideramo número de crianças oufecundidade como decisõesendógenas – Harman (1970),Da Vanzo (1972), Rosenzweig(1981). Becker e Lewis (1973)discutem a existência de trocaentre qualidade e quantidadede crianças. Entretanto, nestemodelo, número de crianças éconsiderado exógeno,seguindo, por exemplo,Jensen e Nielsen (1997) eGrootaert e Patrinos (1998).

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( )(8)

Das equações (5) a (8), é possívelprever o sinal positivo para o primeiro ter-mo do lado direito dessas. Ademais, sabe-se que os primeiros termos das equações(6) e (7) devem ser iguais graças à condiçãode simetria. A simetria mostra que qual-quer mudança no salário da criança terá umefeito sobre o tempo de trabalho da mãeigual ao efeito de uma mudança no salárioda mãe sobre o tempo de trabalho da crian-ça, mantido constante o nível de utilidade.Rosenzweig (1981) afirma que

como conseqüência da interdependência (efei-

to salário cruzado) do comportamento da

oferta de trabalho dentro do domicílio, uma

mudança exógena nas condições do mercado

de trabalho de mulheres adultas pode ter efe-

itos importantes no emprego das crianças e

vice-versa, sem considerar o quanto crianças

e mulheres adultas são vistas pelos emprega-

dores como substitutas.

As equações de demanda na for-ma-reduzida também têm grande impor-tância pelo fato de políticas poderem serrecomendadas baseadas nas análises dasrelações entre variáveis. Como um exem-plo, é possível observar o efeito de umamudança no tempo de trabalho da criançana oferta de trabalho do pai (t wfa ), isto é,

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que significa que o efeito de uma restriçãoimposta à oferta de trabalho da criança so-bre o nível de oferta de trabalho dos pais te-rá o mesmo sinal dado pelo efeito do salárioda criança sobre a oferta de trabalho do pai,uma vez que �t wch /�Wch é positivo. Se aquantidade de tempo dedicada pela criançaao trabalho for pequena, então a equação,

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será uma boa aproximação do efeito salário(preço) com utilidade constante.

O tempo de trabalho da criançapode ser realocado para lazer, escola, ati-vidades domiciliares ou trabalho. A alo-cação do tempo das crianças pela famíliaé feita com base na capacidade de produ-ção da criança e dos pais no domicílio e

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no mercado de trabalho e no grau desubstituição da força de trabalho entre ascrianças e os seus pais. Enquanto as ativi-dades domiciliares realizadas pelas crian-ças podem permitir que mães ou irmãosmais velhos entrem no mercado de traba-lho, as atividades de mercado realizadaspelas crianças permitem a elas contribuí-rem para o aumento da renda familiar.

Os modelos de decisão familiartentam explicar simultaneamente as deci-sões de consumo e trabalho infantil e, àsvezes também, freqüência à escola e fecun-didade. As especificações são mantidasbastante simples para permitir generali-zação e testes empíricos. Esses modelossão caracterizados por uma decisão únicano domicílio, que só ocorre se existe umditador ou se todos os membros têm amesma função utilidade. Entretanto, háevidências de que esses modelos estãocada vez mais distantes da realidade, aqual mostra que, dentro do domicílio,não há um ditador, mas o que ocorre éuma barganha entre as pessoas, e o poderde barganha está relacionado com os re-cursos (salários) de cada indivíduo da famí-lia. Modelos envolvendo barganhas (mo-delos coletivos) foram então utilizadospara explicar o trabalho infantil e o bem-estar das crianças. Se a barganha ocorredentro da família, isto é, entre os pais e acriança, a função utilidade da família é re-

presentada por uma média ponderadadas utilidades, em que os pesos depen-dem da renda dos pais e das crianças.

Basu (1999) apresenta uma versãosimplificada do modelo coletivo envol-vendo trabalho infantil, em que a família écomposta por um adulto (pai ou mãe) euma criança, sendo esses os agentes 1 e 2,respectivamente. Pressupõe-se que existesomente um bem na economia, e x i é aquantidade consumida do bem x peloagente i. Se o preço da unidade do bem es-colhido for 1 e considerarmos que cadaagente na família se interessa pelo consu-mo de todos os membros da família, tem-se que a função utilidade da família é umamédia ponderada das utilidades de cadaagente 1 e 2, isto é u 1 e u 2 , sendo que opeso � que multiplica a utilidade do pai ouda mãe depende da renda dele ou dela e darenda da criança, denotadas, respectiva-mente, por y 1 e y 2. Em outras palavras,quem recebe mais ou menos peso na fun-ção utilidade da família é quem traz maisou menos renda para a família. Assim, oproblema de decisão da família é o de ma-ximizar a função utilidade dada por,

�( y 1, y 2 )u 1(x 1, x 2 ) +

+ [1 – �( y 1, y 2 )]u 2(x 1, x 2 )

sujeita a

x 1 + x 2 � y 1 + y 2

pressupondo-se que

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Moehling (2003) estima um mo-delo muito semelhante a esse, utilizan-do dados de uma pesquisa de orçamen-tos familiares de americanos vivendo naárea urbana no período 1917-1919. Elaobserva que os gastos com a criança sãomaiores na família quanto maior é a fra-ção de renda vinda dessa criança.

Recentemente, Basu e Van (1998)construíram um modelo com base emduas pressuposições: o axioma da luxúriae o axioma da substituição. No primeiro,considera-se que a pobreza é o que levaas famílias a colocarem seus filhos paratrabalhar. Em outras palavras, o tempoda criança, que não é alocado com o tra-balho (escola e lazer), é um bem de luxo,não podendo ser adquirido por pais combaixo nível de renda. Assim sendo, paiscom renda muito baixa não conseguemretirar os filhos do trabalho. Somentequando a renda aumenta, os pais retiramas crianças do trabalho. Implícita nessapressuposição é a visão altruísta dos pais,que colocam seus filhos para trabalharsomente se levados pela necessidade.

Considera-se, com base no axio-ma da substituição, que o trabalho doadulto e da criança são substitutos, sujei-

to a uma correção de adulto-equivalên-cia. Mais especificamente, significa queas crianças podem fazer o trabalho dosadultos e vice-versa. Havia uma crençade que as crianças tinham habilidades in-substituíveis, por exemplo, os chamados“nimble fingers”, que significa que somentecrianças com seus pequenos dedos eramcapazes de amarrar os nós adequadamen-te dos tapetes, ou que somente meninospequenos eram capazes de entrar e rastejarem pequenos túneis das minas. Entretanto,um estudo sobre tecnologia de produçãoenvolvendo crianças da Índia, realizadopor Levison et al. (1998), mostrou que osadultos são tão bons quanto as criançasna confecção manual de tapetes, dandosuporte assim ao axioma da substituição.

Para explicar o modelo de Basue Van (1998), Basu e Tzannatos (2003b)consideram, por simplicidade, que a eco-nomia consiste de N famílias e que cadafamília tem um adulto e m crianças. Aprodução ocorre utilizando-se somentetrabalho. Cada adulto oferta uma unida-de de trabalho, enquanto que a criançaoferta y (0 < y < 1) ao realizar um dia detrabalho em tempo integral, o que for-maliza o axioma da substituição. Consi-

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deram ainda que o salário de um dia detrabalho realizado por um adulto é w e oda criança é w

c, tal que, wc = yw.

A família decide qual deve ser oseu consumo mínimo tolerável, denomi-nado de consumo de subsistência s. So-mente se os adultos trabalham tempo in-tegral e a renda familiar cai abaixo donível de consumo de subsistência é queas crianças são colocadas para trabalhar,refletindo o axioma da luxúria.

Na Figura 1, o salário dos adultosé representado no eixo vertical. Se essesalário é maior do que s, somente adultosofertam trabalho (N ). O segmento AB é

parte da oferta de trabalho, pressupondo-se, por simplicidade, ser perfeitamenteinelástica. No momento em que w cai abai-xo do nível s, os pais fazem as crianças tra-balhar para recuperar o nível mínimo derenda aceitável, aumentando a oferta detrabalho. O segmento BC pode ser umahipérbole retangular sob a pressuposiçãode que a família utiliza o trabalho infantilpara atingir exatamente o nível s. A entra-da das crianças no mercado de trabalhocontinua até que não haja mais trabalhoa ser ofertado (N +mN ), resultando naforma ABCF da curva de oferta.

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N

s

N + mN

oferta

demanda

E 2

E 1

trabalho

wA

B

C

F

Figura 1_ Efeito do consumo de subsistência no trabalho infantil

Fonte: Basu e Tzannatos (2003b).

Considerando uma curva de de-manda de trabalho negativamente incli-nada, obtém-se o ponto de equilíbrio E 1,no qual os salários são altos e não existetrabalho infantil e o ponto de equilíbrioE 2, no qual os salários são baixos e há al-ta incidência de trabalho infantil.

Observa-se, então, que os autoresgeram uma situação de equilíbrio múlti-plo em que a proibição do trabalho in-fantil pode mover uma economia de umequilíbrio com baixos salários em quecrianças trabalham, para outro equilíbriocom altos salários em que crianças nãotrabalham. Assim, de acordo com o mo-delo, a eliminação do trabalho infantilpoderia resultar em uma situação em quetodos se beneficiariam, com salários au-mentando a um ponto tal que famíliaspobres poderiam ter um aumento na ren-da após a eliminação do trabalho infantil.

Entretanto, Basu e Van (1998) en-fatizam que a intervenção legal para ba-nir o trabalho infantil não é sempre apro-priada. Em economias muito pobres, épossível que a demanda por trabalho sejatão baixa que a única intersecção da cur-va de demanda com a de oferta ocorra nosegmento CF. Nesse caso, eliminar o tra-balho infantil pode levar as crianças e se-us pais a uma condição de maior pobrezae com risco de inanição.

Ranjan (1999) desenvolve um mo-delo teórico para uma economia em de-senvolvimento, mostrando que o traba-lho infantil surge graças à pobreza e àsimperfeições no mercado de crédito. Oautor mostra que se a família pobre tives-se acesso ao crédito, na presença de altosretornos à educação, ela estaria propensaa colocar o filho na escola em vez de co-locá-lo no trabalho. Ademais, mostra quea proibição do trabalho infantil reduz obem-estar de famílias que tinham a inten-ção de fazer seus filhos trabalharem. Eledestaca que a proibição, que só pode serimposta ou cumprida no setor formal daeconomia, pode piorar a situação das crian-ças forçando-as a trabalhar no setor infor-mal, sob piores condições de trabalho.

Baland e Robinson (2000), assimcomo Basu e Van (1998), associam o tra-balho infantil a pobreza, mas mostramque é socialmente ineficiente quando utili-zado por pais como uma transferência derenda das crianças para eles ou quando háimperfeições no mercado de capitais.

Ranjan (2001) estuda a relação en-tre desigualdade da distribuição de rendae incidência de trabalho infantil na pre-sença de restrições de crédito. Uma desuas conclusões é que redistribuir rendados ricos para os pobres pode reduzir aincidência de trabalho infantil.

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O que conhecemos sobre o trabalho infantil?336

4_ Análises empíricas

4.1_ Modelos econométricos

A maioria dos estudos que tentou estimaros determinantes do trabalho infantil utili-zou modelos próbite, próbite bivariado oulógite multinomial. As estruturas dos mo-delos são apresentadas a seguir.

Chamarbagwala (2004) na Índia,Kassouf (2002) no Brasil, Jensen e Niel-sen (1997) em Zâmbia, entre outros, uti-lizaram modelos próbite. Nesse caso, avariável dependente assume valor 1 se acriança trabalha e 0 se não trabalha.

A decisão dos pais de colocar acriança na escola e/ou no trabalho resul-ta de uma decisão de alocação de tempoentre atividades que são interdependen-tes, competindo entre si com relação aotempo disponível da criança. Essa inter-dependência é levada em consideraçãoao se estimar o modelo próbite bivariado,em que duas equações, uma de trabalhodas crianças e outra de freqüência à esco-la, são estimadas, permitindo a existênciade correlação entre os erros. Alguns estu-dos que utilizaram esse método foram:Kim (2004) para o Camboja e Duryeae Kuenning (2003) e Emerson e Souza(2002b) para o Brasil.

Em muitos países é comum ob-servar crianças que estudam e trabalham

concomitantemente, assim como muitasnão estão inseridas no mercado de traba-lho e também não freqüentam a escola.4

Se as diferentes categorias em que a crian-ça está inserida – trabalha e estuda, só tra-balha, só estuda, não trabalha nem estu-da – são consideradas na análise, o mode-lo lógite multinomial é o mais comumenteutilizado nas análises empíricas (Nkamleue Gockowski, 2004; Chamarbagwala, 2004;Kassouf, 2002; Grootaert, 1998).

A principal característica do mode-lo lógite multinomial é a existência de umaúnica decisão entre duas ou mais alternati-vas. Lembre-se de que, no modelo próbitebivariado, tanto a decisão de trabalhar co-mo a de estudar ocorria entre duas alter-nativas. Na verdade, o modelo lógite mul-tinomial é uma generalização do modelológite, que não foi descrito anteriormente,mas é muito semelhante ao próbite, sóque a função de distribuição consideradaé a logística em vez de normal.

Outro modelo alternativo utilizadona literatura, mas com menor freqüência,é o modelo próbite seqüencial. Grootaerte Patrinos (1998) usaram o modelo se-qüencial para analisar dados da Costa doMarfim, da Colômbia, da Bolívia e das Fi-lipinas. Os autores pressupõem que ini-cialmente os pais decidem se a criança es-tuda ou não e então se vai para o mercado

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4 No Brasil, dados da PNADde 2003 mostram que 88,2%das crianças de 7 a 15 anossó estudam, 8,1% trabalhame estudam, 0,8% só trabalhame 2,9% não trabalhamnem estudam.

de trabalho ou não e então se vai exerceratividades não remuneradas ou não. Essemodelo, apesar de não ter a limitação im-posta pela independência das alternativasirrelevantes que ocorre no lógite multino-mial, exige pressuposições fortes quanto àseqüência de decisões, que nem semprerepresenta a realidade.

As estimativas dos parâmetros detodos os modelos apresentados são fei-tas pelo método de máxima verossimi-lhança. Como as estimações envolvemfunções não-lineares, o efeito marginalde uma variável explanatória sobre a va-

riável dependente não é o coeficiente ,como no modelo linear, e deve ser cal-culado para cada caso.

Alguns poucos estudos estimarama função de oferta de trabalho de crianças,tendo como variável dependente o núme-ro de horas de trabalho. Como muitas cri-anças não trabalham, estimar equaçõesde salário ou horas de trabalho somentepara crianças que trabalham, por míni-mos quadrados, leva a estimativas incon-sistentes devido a seletividade amostral.Ray (2000) e Bhalotra e Heady (2003) es-timam equações de horas de trabalho decrianças, utilizando o modelo tóbite, en-quanto Bhalotra (2004) utiliza o procedi-mento de Heckman.

A característica do modelo tóbite éa variável dependente ser censurada. Na

amostra censurada, algumas observaçõesda variável dependente, correspondentesa valores conhecidos das variáveis exóge-nas, não são observáveis. Nesse caso, osvalores dentro de certo intervalo são to-dos transformados em um único valor.Por exemplo, podemos ter dados de variá-veis exógenas de pessoas que não traba-lham e de pessoas que trabalham, porémsó observamos o número de horas de tra-balho de quem trabalha, atribuindo zeroaos demais valores.

Nos modelos de seleção amostral,em que o procedimento de Heckman éuma alternativa ao método de máximaverossimilhança, consideram-se duas equa-ções, uma equação de seletividade amos-tral (participação no mercado de traba-lho) e a equação sendo estimada (equa-ção de horas de trabalho). O problemaocorre quando consideramos a equaçãoque descreve o número desejado de ho-ras de trabalho, mas esse número só é ob-servado se o indivíduo trabalha, isto é, seo salário de mercado é maior do que o sa-lário reserva. Segundo Kennedy (2003),utilizar o modelo tóbite para estimaroferta de trabalho não é apropriado, poisnesse modelo a equação de seletividadeamostral é a mesma da equação sendo es-timada, com um limite fixo determinan-do quais observações entram na amostra.Na estimação do número de horas de tra-

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O que conhecemos sobre o trabalho infantil?338

balho, não existe um limite fixo já quea decisão de trabalhar está relacionadaao salário reserva, que é específico paracada indivíduo.

O método de Heckman consisteem estimar a primeira equação (modelopróbite de participação no mercado detrabalho) por máxima verossimilhança eobter as estimativas dos parâmetros. Paracada observação, estima-se a razão inver-sa de Mill e então se gera a regressão pormínimos quadrados de horas de trabalhoem função das variáveis exógenas e davariável razão inversa de Mill para obterestimativas consistentes dos parâmetros.

4.2_ Causas do trabalho infantil

Nos últimos dez anos, graças à disponibili-dade de microdados de pesquisas domici-liares levantadas em diversos países e deanálises econométricas voltadas ao tematrabalho infantil, economistas começam aentender melhor o que leva as crianças atrabalhar. A pobreza, a escolaridade dospais, o tamanho e a estrutura da família, osexo do chefe, idade em que os pais come-çaram a trabalhar, local de residência, entreoutros são os determinantes mais analisa-dos e dos mais importantes para explicar aalocação do tempo da criança para o traba-lho (ver Kassouf, 2001a, para um resumo

dos principais estudos empíricos sobre tra-balho infantil no Brasil).

Apesar de ser o mais esperado,pobreza é o determinante mais contro-verso dentro da literatura sobre trabalhoinfantil. Basu e Tzannatos (2003b) ressal-tam que filhos de advogados, médicos,professores e, em geral, da população declasse média alta não trabalham na infân-cia. Vários estudos mostram que o au-mento da renda familiar reduz a probabi-lidade de a criança trabalhar e aumenta ade ela estudar (Nagaraj, 2002; Edmonds,2001; Kassouf, 2002). Em nível mais ma-croeconômico, observa-se que as naçõesque se tornaram mais ricas apresentaramuma redução no trabalho infantil. Tantona China, como na Tailândia e na Índia, ocrescimento do produto interno brutofoi acompanhado pelo declínio do traba-lho infantil. Dados em painel, coletadosno Vietnam, mostram que, de 1993 a1998, houve um crescimento per capitado PIB de 6,5% ao ano, e o trabalho decrianças de 5 a 15 anos, nesse período, ca-iu 26%. Por outro lado, há estudos empí-ricos que falharam em encontrar uma re-lação entre renda e trabalho infantil (Ray,2000; Barros et al., 1994). Bhalotra e He-ady (2003), utilizando dados da área ruralde Gana e do Paquistão, mostraram quefamílias que são proprietárias de maiores

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áreas de terra onde trabalham tendem afazer seus filhos trabalharem mais. Comoa posse de áreas maiores de terras tipica-mente é associada a uma maior riqueza,os autores sugerem que maior nível depobreza não está relacionado ao aumen-to do trabalho infantil. A principal razãopara esse resultado é que indivíduos composse maior de terra têm oportunidadede usar de forma mais produtiva a mão-de-obra familiar. Portanto, não significaque pobreza não é um determinante dotrabalho infantil, mas, sim, que o traba-lho infantil responde a incentivos e opor-tunidades que surgem com as imperfei-ções no mercado de trabalho.

A maioria das pesquisas realizadasinclui a escolaridade dos pais nas equa-ções de trabalho das crianças, tratandomães e pais separadamente. Entretanto,há um número grande de estudos que in-clui somente o nível de escolaridade dochefe da família. Ao interpretar os coefi-cientes de educação dos pais, é impor-tante saber quais as variáveis incluídas naregressão. Em particular, se a renda dafamília não for controlada, qualquer efei-to da educação dos pais tenderá a incluiro efeito renda, uma vez que pais maiseducados tendem a ganhar mais e ser ma-is ricos. Se for observado que crianças depais mais educados são menos propen-

sos a trabalhar e a renda estiver mantidaconstante, então uma interpretação plau-sível para o efeito da educação é em ter-mos de aspiração para o futuro da crian-ça e grau de subjetividade para a prefe-rência na alocação do tempo.

Muitos estudos mostram um efeitonegativo da escolaridade dos pais sobre otrabalho das crianças, sendo o tamanhodo efeito da escolaridade da mãe superiorcom relação ao observado para a escolari-dade do pai. Entretanto, há uma variaçãoconsiderável em relação a esse resultado.Bhalotra e Heady (2003) encontram efeitonegativo somente para a escolaridade damãe sobre o trabalho de crianças da árearural de Gana, assim como Rosati e Tzan-natos (2000) no Vietnam e Cigno e Rosati(2002) na Índia. Tunali (1997) não en-contra efeito da escolaridade dos pais naTurquia, enquanto Kassouf (2002) obtémefeito negativo e altamente significativopara mãe e pai no Brasil.

A composição familiar é outro im-portante determinante do trabalho infan-til. Apesar de alguns autores – Harman(1970), Da Vanzo (1972) e Rosenzweig(1981) – considerarem-na como variávelendógena e parte da decisão familiar en-volvendo a troca entre “quantidade e qua-lidade”, muitos estudos incluem o núme-ro de irmãos mais novos e mais velhos

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O que conhecemos sobre o trabalho infantil?340

como variáveis exógenas na equação detrabalho das crianças. Muitas crianças tra-balham mais quanto maior é o número deirmãos, principalmente mais novos. Estu-do realizado nas Filipinas mostrou que apresença do irmão mais velho diminuía aprobabilidade de a criança trabalhar.5 Napesquisa realizada por Kassouf (2002),essa variável ou não apresentou signifi-cância estatística ou teve o mesmo com-portamento da variável irmãos mais no-vos, ou seja, de forma geral, o aumento dotamanho da família levou a um aumentoda participação das crianças na força detrabalho. Apesar de muitos estudos inclu-írem indicadores de composição familiarnas equações de trabalho de crianças,poucos consideram os efeitos da ordemde nascimento. Exceção a isso é o estudode Emerson e Souza (2002a) que, utili-zando a PNAD de 1998, estabelecemuma relação sistemática entre a ordem denascimento e a propensão de a criançatrabalhar ou estudar. O último a nascerteve menor probabilidade de trabalhardo que seu irmão mais velho, isto é, algu-mas crianças trabalham para permitir queoutras estudem. Esse fenômeno apareceamplamente em famílias moderadamen-te pobres, pois nas famílias ricas todasas crianças estarão na escola e fora do tra-balho e nas extremamente pobres o in-verso ocorrerá.

Praticamente todos os estudos queincluíram como variável exógena o sexodo responsável pela família concluíramque crianças de família chefiada por mu-lher têm maior probabilidade de traba-lhar. Suportam essa hipótese os estudosde Patrinos e Psacharapoulos (1994) parao Paraguai, Grootaert (1998) para a Cos-ta do Marfim e Bhalotra e Heady (2003)para o Paquistão. No Brasil, quase 30%das famílias têm esse perfil. Barros, Fox eMendonça (1997), com base na PNADde 1984, analisaram dados das RegiõesMetropolitanas de Recife, São Paulo ePorto Alegre para identificar os efeitosque as famílias nas quais a mãe é chefeexercem sobre o bem-estar das crianças(porcentagem freqüentando escola e nãotrabalhando), isolando o efeito da pobre-za. O fato de haver aumento do trabalhoinfantil nas famílias chefiadas por mulhe-res, pode estar mostrando um grau devulnerabilidade da família que não estásendo captado pela renda, podendo estarrelacionado à habilidade de emprestar di-nheiro, a de lidar com crises e a de per-cepção quanto à disponibilidade de dife-rentes alternativas de trabalho, entre ou-tros fatores.

A área rural abriga uma porcenta-gem maior de trabalhadores infantis. Ainclusão de uma variável binária repre-sentando as áreas urbana e rural do país

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5 De Graff et al. citado porGrootaert e Kanbur (1995).

tende a ser significativa nas equações departicipação da criança no trabalho, mes-mo mantendo a renda da família e outrosfatores constantes. Esse fato sugere queo nível de pobreza das famílias da zonarural não é o único fator que leva as cri-anças a trabalhar. Razões adicionais in-cluem a infra-estrutura escolar mais fracae menor taxa de inovação tecnológica naárea rural que podem desencorajar a fre-qüência escolar, além da maior facilida-de de a criança ser absorvida em ativi-dades informais e a prevalência de traba-lhos agrícolas familiares e que exigemmenor qualificação.

O efeito da idade da criança sobrea probabilidade de ela trabalhar é semprepositivo ou não significativo. O términodo ensino compulsório e a maior ofertade trabalho disponível às crianças maio-res contribuem para o aumento do traba-lho numa faixa etária mais avançada.

Outro importante determinante dotrabalho infantil, discutido na literaturacomo associado ao ciclo da pobreza, é aentrada precoce dos pais no mercado detrabalho. Há estudos mostrando que cri-anças de pais que foram trabalhadores nainfância têm maior probabilidade de tra-balhar, levando ao fenômeno denomina-do de “dynastic poverty traps”. Wahba(2002), utilizando dados do Egito, mos-tra que a probabilidade de a criança tra-

balhar aumenta em 10% quando a mãetrabalhou na infância e em 5% quando opai trabalhou. Emerson e Souza (2003)chegam a conclusão parecida, analisan-do dados do Brasil, e atribuem o fenô-meno às normas sociais, isto é, pais quetrabalharam quando crianças enxergamcom mais naturalidade o trabalho infantile são mais propensos a colocar os filhospara trabalhar.

Finalmente, podemos citar outrosdeterminantes do trabalho infantil, tam-bém importantes, mas não tão utilizadosna literatura existente, como salário, idadee ocupação dos pais, tamanho da proprie-dade agrícola onde as crianças trabalham,custos relacionados à escola, medidas dequalidade do estabelecimento de ensinoonde a criança está inserida, além de me-didas que reflitam a infra-estrutura da co-munidade, como disponibilidade de trans-porte público, rodovias, eletrificação, etc.

4.3_ Conseqüências do trabalho infantil

Apesar de haver extensa literatura sobre osdeterminantes do trabalho infantil, além demuitas iniciativas e recomendações visan-do combatê-lo, há poucos estudos anali-sando as conseqüências socioeconômicasdo trabalho de crianças e adolescentes. Osprincipais danos, apontados em discussõessobre o tema, são sobre a educação, o salá-rio e a saúde dos indivíduos.

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O que conhecemos sobre o trabalho infantil?342

Alguns pesquisadores, na reali-dade, admitem a possibilidade de o tra-balho permitir que as crianças estudem,uma vez que serão capazes de cobrir oscustos de sua educação, o que seria im-possível para uma família de baixa renda(Myers, 1989). Outros defendem que otrabalho exercido pela criança pode ele-var seu nível de capital humano, por meiodo aprendizado adquirido com esse tra-balho (French, 2002). Entretanto, a maio-ria da literatura parece concordar com avisão de que o trabalho exercido durantea infância impede a aquisição de educa-ção e capital humano. No estudo realiza-do por Kassouf (1999), Ilahi et al. (2000)e por Emerson e Souza (2003), todos uti-lizando dados da PNAD para o Brasil, fi-ca claro que, quanto mais jovem o indiví-duo começa a trabalhar, menor é o seusalário na fase adulta da vida e essa redu-ção é atribuída, em grande parte, a perdados anos de escolaridade em razão dotrabalho na infância.

Como em muitos países há umnúmero expressivo de crianças e ado-lescentes que trabalham e estudam, tor-na-se primordial que se analise não sóse o trabalho é responsável pela baixafreqüência das crianças na escola, mastambém se o trabalho infantil reduz odesempenho escolar. Bezerra, Kassouf e

Kuenning (2007) utilizaram os dados doSistema Nacional de Avaliação da Edu-cação Básica (SAEB) de 2003, que possuiinformações de testes padrões de línguaportuguesa e de matemática aplicadosaos alunos da 4ª e 8ª série do ensino fun-damental e da 3ª série do ensino médio,em escolas públicas e privadas do Brasil econcluiu que o trabalho infantil, princi-palmente fora do domicílio e durantelongas horas, reduz o desempenho esco-lar em até 20%.

Heady (2003), em estudo realizadoem Gana, revelou que o trabalho pratica-do por crianças tinha um efeito negativosobre a aprendizagem em áreas chaves,como leitura e matemática. Gunnarsson,Orazem e Sánchez (2004) realizaram umapesquisa em onze países da América La-tina e concluíram que os estudantes quetrabalhavam obtinham 7,5% menos pon-tos nos testes de matemática e 7% menosnos testes de idioma do que os alunosque somente estudavam.

Cavalieri (2000) analisou como te-ria sido o desempenho escolar de crian-ças de 10 a 14 anos que trabalhavam, ca-so tivessem sido efetivamente proibidasde trabalhar. Para tal, utilizou uma amos-tra retirada da PME de 1984 a 1993, sele-cionando crianças que eram filhos, quena primeira entrevista estudavam, não

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trabalhavam nem procuravam emprego,nem haviam trabalhado anteriormente.Dessa amostra escolheu dois grupos, umcomposto por crianças que começaram atrabalhar em um dos três meses consecu-tivos, continuaram trabalhando nos me-ses em que foram entrevistadas nessemesmo ano, e permaneceram trabalhan-do no ano seguinte, i. e., na quinta entre-vista (tratamento); e outro constituídopor crianças que não trabalharam em ne-nhum dos períodos (controle). A proba-bilidade de aprovação foi estimada emfunção da idade, sexo, escolaridade, re-gião de residência, composição familiar,renda, sexo, condição e atividade do che-fe, e educação dos pais. Construiu-se, en-tão, um grupo de controle mediante oprocedimento matching, uma vez que éimpossível observar crianças que traba-lham na condição de não-trabalho. Os re-sultados mostraram que o trabalho pos-sui efeito negativo sobre o desempenhoescolar das crianças.

Todos os estudos citados acimatentam minimizar ou eliminar os proble-mas de endogeneidade que pode ocorrerentre as variáveis de desempenho escolare trabalho infantil. Os autores mencio-nam a dificuldade em se determinar overdadeiro impacto do trabalho precocesobre a performance escolar, visto que

fatores que encorajam o trabalho são pa-recidos com aqueles que desestimulama freqüência à escola. Assim, será que éo fato de a criança trabalhar que reduzseu desempenho escolar ou é a baixaqualidade das escolas e a desmotivaçãodo aluno pelo baixo desempenho nosestudos que faz com que ele/ela entre nomercado de trabalho?

A baixa escolaridade e o pior de-sempenho escolar, causados pelo traba-lho infantil, têm o efeito de limitar asoportunidades de emprego a postos quenão exigem qualificação e que dão baixaremuneração, mantendo o jovem dentrode um ciclo repetitivo de pobreza já ex-perimentado pelos pais.

Outra conseqüência do trabalhorealizado na infância é a de piorar o esta-do de saúde da pessoa, tanto na fase inici-al da vida, quanto na fase adulta. Os efei-tos maléficos do trabalho infantil sobrea saúde foram constatados em alguns es-tudos, apesar de a literatura que abrangeesse tópico ser bastante escassa pela fal-ta de dados.

Forastieri (1997) coloca que os lo-cais de trabalho, equipamentos, móveis,utensílios e métodos não são projetadospara utilização por crianças, mas, sim,por adultos. Portanto, pode haver pro-blemas ergonômicos, fadiga e maior ris-

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co de acidentes. O autor argumenta queas crianças não estão cientes do perigoenvolvido em algumas atividades e, emcaso de acidentes, geralmente não sabemcomo reagir. Por causa das diferenças fí-sicas, biológicas e anatômicas das crian-ças, quando comparadas aos adultos, elassão menos tolerantes a calor, barulho,produtos químicos, radiações, etc., isto é,menos tolerantes a ocupações de risco,que podem trazer problemas de saúde edanos irreversíveis.

Kassouf et al. (2001b), utilizandodados do Brasil, mostram que, quantomais cedo o indivíduo começa a traba-lhar, pior é o seu estado de saúde em umafase adulta da vida, mesmo controlando arenda, a escolaridade e outros fatores.O’Donnell et al. (2003), ao analisaremo trabalho rural de crianças vietnamitas,concluem que as atividades realizadas du-rante a infância aumentam o risco de do-enças em uma fase posterior da vida.

5_ Implicações de políticas parareduzir o trabalho infantil

Partindo da pressuposição de que os paissão altruístas, qualquer política que melhoreo funcionamento do mercado, de formaa aumentar a renda dos trabalhadores adul-tos e a diminuir o desemprego, é sempre

desejável para reduzir o trabalho infantil.Espera-se que os pais tendo renda suficienteretirarão os filhos do trabalho, colocando-os na escola. Entretanto, existe o risco de opai, com o aumento da renda, aumentar seupatrimônio, comprando mais terra ou abrin-do seu próprio negócio, o que poderia atéelevar o trabalho infantil, resultante da cria-ção de um ambiente de produção que em-prega crianças com mais facilidade.

Políticas que têm sido largamenteanalisadas e elogiadas pela eficiência ematingir o objetivo de reduzir o trabalhoinfantil e aumentar a freqüência escolarsão as que premiam as famílias pobresque colocam os filhos na escola e não oscolocam no trabalho ou os retiram dele.O programa Bolsa-Escola e Programa deErradicação do Trabalho Infantil (PETI)no Brasil,6 Progresa ou Oportunidad no Mé-xico, Red de Protección Social na Nicarágua,Food for Education em Bangladesh, Mid-day

Meal Schemes na Índia, School Construction eBack to School na Indonésia, são algunsexemplos de programas discutidos e ana-lisados na literatura empírica.

Ravaillon e Wodon (2000) anali-sam o programa Food for Education na árearural de Bangladesh e concluem que obenefício recebido pelas famílias resul-tou em elevação significativa da freqüên-cia escolar, mas a redução do trabalhoinfantil não foi tão expressiva.

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6 Em 2003 o ProgramaBolsa-Escola foi incorporadoao Programa Bolsa-Família.

Ferro e Kassouf (2005) avalia-ram o impacto dos programas de Bolsa-Escola sobre o trabalho infantil no Bra-sil, utilizando os microdados da PNAD2001, e concluíram que o programa é efi-ciente na redução do número de horasmensais de trabalho das crianças, mas osresultados não foram conclusivos em re-lação à decisão da família de inserir suascrianças no mercado de trabalho.

Bourguignon et al. (2002) propõema utilização de um método de microssi-mulação para avaliar, ex-ante, os impac-tos do Bolsa-Escola federal tanto na es-colha ocupacional das crianças quanto napobreza e desigualdade correntes. Os au-tores estimaram um modelo lógite mul-tinomial para as decisões ocupacionais(estudar e trabalhar, só estudar, só traba-lhar, não estudar nem trabalhar), utilizan-do os dados da PNAD de 1999. Com osparâmetros obtidos, fizeram simulaçõesque possibilitaram prever a escolha ocu-pacional das crianças sob diferentes hi-póteses, relacionadas basicamente ao va-lor das transferências, e o nível de ren-da domiciliar crítico para a seleção docandidato. Os resultados mostram que aresposta para a educação é considerável,porém, a proporção de crianças que es-colheria trabalhar e estudar não cairia.7

Cardoso e Souza (2003) utilizaramos microdados do Censo 2000 para ava-

liar, ex-post, o impacto das transferênciasde renda vinculadas à educação na inci-dência de trabalho infantil e no engaja-mento escolar entre os indivíduos de 10 a15 anos. Concluem que os programas derenda mínima e Bolsa-Escola têm algumimpacto na escolaridade e que esse im-pacto é positivo e significativo, contudonão inibem o trabalho das crianças.

Ao contrário das análises positivase quase que unânimes com relação às po-líticas de incentivos à freqüência escolare à redução ou eliminação do trabalho in-fantil, as políticas coercivas que punemo empregador ou impõem sanções co-merciais ao país que produz mercadoriasutilizando trabalho infantil são bastantespolêmicas quanto a sua eficácia. Há estu-dos mostrando que as sanções comerciaisaos produtos de exportação que utili-zam trabalho infantil, mais prejudicam acriança do que a ajudam. Primeiramente,porque podem ser usadas como medidasprotecionistas pelos países industrializadose também porque podem exacerbar a po-breza nas famílias ao banir o trabalho decrianças que buscam obter renda para so-breviver. Estudo realizado pelo UNICEF(1995) mostra que grande parte das me-ninas que foram demitidas do trabalhonas indústrias de exportação de tapetesno Nepal acabou se prostituindo.

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7 Os autores argumentamque essa proporção deveaté apresentar um aumentomarginal.

Sabe-se hoje que não existe umaúnica política para eliminar o trabalho in-fantil e a sua persistência por dois séculosé uma evidência clara de que não há umasolução fácil. Entretanto, hoje temosmaior e melhor entendimento das causase conseqüências do trabalho infantil, oque nos permite avaliar e sugerir políticaspara reduzi-lo ou erradicá-lo com maiorsegurança. Não há dúvidas de que o tra-balho que envolve risco às crianças deveser banido, assim como os investimentosna qualidade e disponibilidade de esco-las devem ser incentivados, associan-do-os aos programas de transferência derenda às famílias pobres.

6_ Recomendações para futuraspesquisas

Apesar dos avanços em pesquisas obser-vados, ainda é preciso investir no levanta-mento e na qualidade dos dados a ser anali-sados, com ênfase para a obtenção de da-dos em painel, de dados de crianças de rua,de atividades ilícitas e de informações maisprecisas quanto à alocação do tempo dascrianças. Ademais, os dados devem ser co-letados de forma a permitir um delinea-mento experimental com grupos controlee tratamento para possibilitar uma avalia-ção mais correta dos programas sociais.

A maioria das pesquisas trata otrabalho de crianças como homogêneo.No entanto, diferenças de gênero, entreatividades nas áreas rural e urbana, de ris-co ou não, tempo integral ou parcial, noramo agrícola, comercial, industrial, etc.devem ser analisadas separadamente, jáque suas peculiaridades exigem políticasde combate diferenciadas. Além disso, osdiversos fatores envolvidos com a deci-são de alocação do tempo da criança parao trabalho precisam ser diferenciados. Asabordagens para se tratar de aspectosculturais e de tradição familiar são distin-tas das de aspectos econômicos, envol-vendo pobreza e das de aspectos sociais,envolvendo baixo nível educacional dospais e falta de visão de longo prazo, porexemplo. Quase a totalidade dos estudosaborda o lado da oferta do trabalho in-fantil, mas é preciso analisar também olado da demanda. Entender as razões pe-las quais as crianças são contratadas e seusefeitos na estrutura e no lucro das empre-sas e nos salários e nível de emprego dotrabalhador adulto é primordial.

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E-mail de contato da autora:

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Artigo recebido em outubro de 2006;

aprovado em abril de 2007.