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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS MESTRADO EM POLÍTICAS PÚBLICAS Reginaldo Canuto de Sousa O PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA DO PIAUÍ, NO PERÍODO DE 2003 A 2006 Teresina Julho - 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS MESTRADO EM POLÍTICAS PÚBLICAS

Reginaldo Canuto de Sousa

O PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA DO PIAUÍ, NO PERÍODO DE 2003 A 2006

Teresina Julho - 2008

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REGINALDO CANUTO DE SOUSA

O PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA POLÍTICA DE SEGURANÇA

PÚBLICA DO PIAUÍ, NO PERÍODO DE 2003 A 2006

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Políticas Públicas. Curso de Mestrado em Políticas Públicas. Centro de Ciências Humanas e Letras, Universidade Federal do Piauí.

Orientador: Prof(a). Dr(a). Maria D’Alva Macedo Ferreira

Teresina Julho - 2008

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Reginaldo Canuto de Sousa O PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA POLÍTICA DE SEGURANÇA

PÚBLICA DO PIAUÍ, NO PERÍODO DE 2003 A 2006

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Políticas Públicas. Curso de Mestrado em Políticas Públicas. Centro de Ciências Humanas e Letras, Universidade Federal do Piauí.

Área de concentração: Estado, Sociedade e Políticas Públicas

Aprovada em: _____ / _____ 2008

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________ Prof(a). Dr(a). Maria D’Alva Macedo Ferreira - UFPI

Orientador e Presidente

__________________________________________________ 2º Examinador

__________________________________________________ 3º Examinador

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AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal do Piauí e, particularmente, ao Mestrado em Políticas

Públicas, pela oportunidade da qualificação profissional.

À minha orientadora, Prof. Drª. Maria D´Alva Macedo Ferreira, pelas

contribuições valiosas e empenho nesta orientação.

À Coordenação do Mestrado em Políticas Públicas, pela eficiência no

desempenho de suas atividades e pela disposição constante em auxiliar.

À minha esposa, Maria do Socorro de Almeida de Morais Canuto,

companheira dedicada e fiel amiga de todas as horas, pelo apoio, e por nunca me

deixar desistir.

Aos meus pais, Manoel Canuto e Antônia Maria, pelo amor incondicional, e

pelo apoio que me impulsionou a seguir sem perder a fé.

Aos meus irmãos, Evaldino, Edmilson, Jacqueline, Adriana e Gina, à minha

sogra, Raimunda Almeida e meus queridos sobrinhos, Evaldino Jr., Evanildo,

Cássia, Mary e João Vitor, fontes inesgotáveis de alegria.

Ao Grande Arquiteto do Universo, pelo dom da vida e da perseverança.

E a todos aqueles que contribuíram para a realização deste trabalho.

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RESUMO

Esta dissertação apresenta os resultados da pesquisa que tinha o objetivo de

desenvolver um estudo sobre a Política de Segurança Pública do Piauí, no período

de 2003 a 2006, realizada na cidade de Teresina. Buscou-se, sobretudo, traçar uma

cartografia da Segurança Pública do Piauí, através da identificação e análise

explicativa da racionalidade que nortearam a tessitura dessas ações no interior do

sistema policial, considerando as estratégias utilizadas pelo poder público. A

investigação científica identifica as principais estratégias estatais de prevenção e

enfretamento da violência e da criminalidade em Teresina e a relação dessas ações

com os índices de criminalidade (homicídio) na Capital. Desta forma, faz-se o

questionamento se as ações implementadas na área de Segurança Pública do Piauí

se constituem em uma Política de Segurança Pública. Para tal intento a metodologia

se baseia em pesquisas exploratória, bibliográfica e documental (legislação), de

natureza hipotético-dedutiva, uma vez que se partiu da premissa de que o Piauí não

dispunha de uma Política de Segurança Pública para o Estado. Os dados são

coletados através de observações e entrevistas, numa perspectiva teórico-crítica que

proporciona compreender a ação estatal na prevenção e no enfrentamento da

violência e da criminalidade na capital do estado do Piauí – Teresina -, conforme os

autores pesquisados durante este trabalho. Após à análise dos dados constata-se

que a Segurança Pública estadual não possui um plano formal para o setor, nem tão

pouco é tratado como política pública e a taxa de homicídio cresceu, em Teresina.

Palavras-chaves: Políticas Públicas. Segurança Pública. Participação Social.

Polícia.

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ABSTRACT

This thesis aims to develop a study on the policy of Public Security of Piauí, in the

period 2003 to 2006, held in the city of Teresina. The aim was to, above all, draw a

map of Public Security of Piauí, through the identification and analysis explaining the

rationale that guided the tessitura of these actions within the police system,

considering the strategies used by the public. The research also identifies key

strategies for prevention and enfretamento state of violence and crime in Teresina

and the relationship of these actions with the rates of crime (murder) in the Capital.

Thus, it is the question whether actions implemented in the area of Public Security of

Piauí they constitute a policy on Public Security. For this purpose the methodology is

based on exploratory research, literature and public documents (legislation), a

hypothetical-deductive, since they started from the premise that the Piauí did not

have a policy for the State Public Security. The data are collected through interviews

and observations, in a theoretical and providing critical to understand the state action

in preventing and confronting the violence and crime in the capital of the state of

Piauí, Teresina, as the authors worked during the dissertation. After analyzing the

data it appears that the state Public Safety does not have a formal plan for the

industry, nor is treated as public policy and the rate of homicides rose in Teresina.

Keywords: Public Policy. Public Security. Social Participation. Police.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Sinóptico das Delegacias de Polícia da Capital........................Quadro 2 – Postos e Graduações Militares da PMPI....................................Quadro 3 – Concursos Públicos para a PMPI...............................................Quadro 4 – Óbitos por Tipo de Causa em Residentes em Teresina (2003-

2006).............................................................................................

90

96

105

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa de Teresina, com os Distritos Policiais................................

Figura 2: Quartel do Comando Geral da PMPI............................................... Figura 3: Organograma da PMPI..................................................................... Figura 4: Unidades Operacionais da PMPI.................................................... Figura 5: Área Metropolitana de Teresina......................................................

Figura 6: Modalidades de Policiamento Realizado em Teresina..................

Figura 7: Policiais Militares em Instrução.......................................................

92

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101

101

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Orçamento da Secretaria de Segurança Pública do Piauí (2003-2006)...................................................................................................

Tabela 2 - Orçamento da Polícia Militar do Piauí (2003-2006).........................Tabela 3 - Orçamento da PMPI.......................................................................... Tabela 4 - Recursos do FNSP Repassados aos Estados por Meio de

Convênios– 2003/2006......................................................................

113

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LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Orçamento realizado pela Secretaria de Segurança Pública do

Piauí no período de 2003 a 2006....................................................

Gráfico 2: Orçamento realizado pela Polícia Militar do Piauí no período de 2003 a 2006.................................................................................

Gráfico 3: Incidência de homicídios em Teresina no período de 2003 a 2006....................................................................................................

113

114

118

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LISTA DE SIGLAS

BO – Boletim de Ocorrência

BPM – Batalhão Policial Militar

CEGSP - Curso de Especialização em Gestão da Segurança Pública

CES – Centro de Ensino Superior

CIA – Companhia

CIA IND – Companhia Independente

CICO – Comissão de Investigação do Crime Organizado

CID – Classificação Internacional de Doenças

CIOp – Centro Integrado de Operações

COBOM – Centro de Operações de Bombeiros Militares

CONSEG – Conselhos Comunitários de Segurança

CONSEP – Conselho Estadual de Segurança Pública

COPOM – Centro de Operações Policiais Militares

CPC – Comando de Policiamento da Capital

CPI – Comando de Policiamento do Interior

DEIP – Diretoria de Ensino, Instrução e Pesquisa

DHPP – Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa

DO – Declaração de Óbito

DP – Delegacia de Polícia

FNSP – Fundo Nacional de Segurança Pública

GGI – Gabinete de Gestão Integrada

IESP – Instituto de Ensino de Segurança Pública

INFOCRIM – Sistema de Informações Criminais

LEP – Lei de Execução Penal

MJ – Ministério da Justiça

MS – Ministério da Saúde

PC – Polícia Civil

PEL - Pelotão

PIB – Produto Interno Bruto

PM – policial militar

PMPI – Polícia Militar do Piauí

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PMs – Policiais militares

PNSP – Plano Nacional de Segurança Pública

PPPs – Parcerias Público-privadas

RGS – Gestão de uma Relação Setorial

SENASP – Secretária Nacional de Segurança Pública

SIM – Sistema de Informações sobre Mortalidade

SINPOLJUSPI – Sindicato dos Policiais Civis, Penitenciários e Servidores da

Secretaria da Justiça e da Cidadania do Estado do Piauí

SSPDC – Secretária de Segurança Pública e Defesa da Cidadania

SUS – Sistema Único de Saúde

SUSP – Sistema Único de Segurança Pública

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 13

2 ESTADO, SOCIEDADE E SEGURANÇA.......................................................... 24

2.1 A ORIGEM DO ESTADO E A RELAÇÃO ENTRE ESTADO E

SOCIEDADE.................................................................................................

24

2.2 A ORIGEM DA SEGURANÇA PÚBLICA......................................................... 32

2.3 SEGURANÇA PÚBLICA E O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO.......... 39

2.4 PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA DE

SEGURANÇA PÚBLICA...................................................................................

45

3 POLÍTICAS PÚBLICAS E POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA............... 50

3.1 POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL................................................................ 50

3.2 PRESSUPOSTOS DA POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA...................... 60

3.3 NATUREZA DAS POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL......, 65

3.4 POLÍTICA DE SEGURANÇA COMO ESTRATÉGIA DE GERENCIAMENTO

DE CRISES (CAOS)........................................................................................

71

4 O NÓ GÓRDIO DA SEGURANÇA PÚBLICA DO PIAUÍ................................... 82

4.1 SISTEMA DE SEGURANÇA PÚBLICA DO PIAUÍ........................................... 82

4.2 ABORDAGEM SÓCIO-HISTÓRICA DAS POLÍCIAS DO ESTADO DO

PIAUÍ.................................................................................................................

85

4.2.1 A Polícia Judiciária Piauiense....................................................................... 86

4.2.2 Polícia Militar do Piauí................................................................................... 93

4.2.2.1 Estrutura Organizacional da PMPI............................................................. 97

4.2.2.2 Atividade Operacional da PMPI................................................................. 99

4.3 AÇÕES GOVERNAMENTAIS DA SEGURANÇA PÚBLICA DO

PIAUÍ.................................................................................................................

102

4.4 ORÇAMENTO DA SEGURANÇA PÚBLICA PIAUIENSE................................ 112

4.5 OS ÍNDICES DE CRIMINALIDADE EM TERESINA (2003-2006)................... 117

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 120

REFERÊNCIAS...................................................................................................... 125

APÊNDICES........................................................................................................... 132

ANEXOS................................................................................................................ 139

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1 INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, a questão da Segurança Pública passou a ser

considerada problema fundamental e principal desafio ao Estado de Direito no

Brasil. A Segurança ganhou enorme visibilidade pública e tornou-se presente nos

debates tanto de especialistas como do público em geral.

Os problemas relacionados com o crescimento das taxas de criminalidade, o

aumento da sensação de insegurança, sobretudo nos grandes centros urbanos, a

degradação do espaço público, as dificuldades relacionadas à reforma das

instituições da administração da justiça criminal, a violência policial, a ineficiência

preventiva das instituições de Segurança (as polícias), a superpopulação nos

presídios, rebeliões, fugas, degradação das condições de internação de jovens em

conflito com a lei, corrupção, aumento dos custos operacionais do sistema,

problemas relacionados à eficiência da investigação criminal e das perícias policiais

e morosidade judicial, entre tantos outros, representam desafios para o processo de

consolidação política da democracia no Brasil.

Desta forma, a redemocratização do Brasil, pós 1985, não significou a

democratização da Segurança Pública, já que o retorno ao Estado Democrático de

Direito não representou a automática hegemonia dos princípios democráticos e da

legalidade na operacionalização dos serviços policiais, refletidos em uma Segurança

Pública mais acessível à maior parcela da sociedade, que permitisse o acesso à

cidadania.

O crescimento da violência no Brasil tem levado especialistas a defenderem

uma nova concepção de Segurança Pública, mais democrática e participativa,

conforme reza os princípios constitucionais. Nessa perspectiva, a Segurança deixa

de ser um assunto exclusivamente policial, passando a envolver diversas áreas da

administração pública, nos três níveis de governo – Federal, Estadual e Municipal - e

a sociedade civil, conforme preceitua o próprio texto constitucional (Art. 144), enfim,

passa a ser direito e responsabilidade de todos.

A Segurança Pública do Brasil tem ainda a influência deixada pela doutrina de

Segurança Nacional, introduzida pelo Regime Militar (1964-85), que mesmo

passados 23 anos de democracia, continuam a prevalecer práticas autoritárias na

prestação do serviço policial à sociedade. Esse modelo de Segurança Pública não

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apresenta um conceito preciso de segurança, tampouco vislumbra a possibilidade de

participação da sociedade uma vez que, dada a natureza ditatorial do governo, não

apresenta nenhuma perspectiva democrática participativa, conforme se constata

pelas denúncias cotidianas nos meios de comunicação. A categoria Segurança

Pública parece ainda está em construção. Esta dificuldade repousa na circunstância

de que, em alguns momentos, a expressão pode ter significados diferentes, a

depender dos fenômenos social, político ou econômico a que ela esteja vinculada.

Portanto, a Política de Segurança Pública apresenta-se como uma política multi-

setorial, visto que, como sinônimo do bem estar social, ela está estreitamente

relacionada à efetivação por parte do Estado das demais políticas públicas que

possibilita à sociedade essa sensação de paz, tranqüilidade, enfim, segurança.

A perspectiva norteadora deste trabalho enfoca a Segurança Pública como

direito fundamental e condição exigível para o exercício pleno da cidadania, em que

o Estado, por intermédio da instituição policial, é o garantidor de Direitos Humanos.

Nesse sentido, Segurança Pública é um conceito em construção, porém, pode-se

afirmar que é um processo sistêmico, em que há o envolvimento de ações públicas e

comunitárias em torno da preservação da ordem pública, através da proteção aos

direitos do indivíduo e da coletividade (BENGOCHEA, 2004). A Segurança Pública,

portanto, não é apenas um tema da polícia, mas de interesse da sociedade em

geral, segundo o novo enfoque constitucional.

Segurança Pública é uma atividade pertinente aos órgãos estatais e à comunidade como um todo, realizada com o fito de proteger a cidadania, prevenindo e controlando manifestações da criminalidade e da violência, efetivas ou potenciais, garantindo o exercício pleno da cidadania nos limites da lei (BRASIL, 2002).

No esteio dessas questões, apresenta-se o tema que será o eixo central da

dissertação, a Política de Segurança Pública do Piauí, no período de 2003 a 2006.

Ao falar de Política de Segurança Pública no Brasil, é salutar abordar outros temas

correlatos, que motivam sua existência: a Segurança Pública e seus órgãos de

operacionalização (as polícias).

Segundo Soares (2006), o processo de implementação de uma Política de

Segurança Pública requer fundamentos em princípios democráticos. Portanto,

assegurar às cidadãs e aos cidadãos a garantia do espaço público requer de

qualquer gestor uma visão sistêmica da administração pública e uma compreensão

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precisa de fenômenos sociais complexos, como a violência e a criminalidade, com

ocorrência de natureza intraclasses e interclasses sociais.

Assim, não podemos deixar de focar as questões sociais de forma

estratégica. Não restam dúvidas de que as políticas públicas no Brasil são

ineficientes por serem de natureza mais reativa. É preciso inverter a lógica da

prevenção, da educação. No caso da Segurança Pública, aprendemos de vez que

segurança não se faz só com repressão, com cerceamento da liberdade, com o

toque de recolher. A opção por essas medidas evidencia ou uma má compreensão

do objeto de Segurança Pública, decorrendo daí uma política equivocada de

Segurança Pública, ou uma total incompetência das autoridades do setor em

planejar e executar uma Política de Segurança capaz de assegurar à sociedade a

tranqüilidade desejada por todos. No entanto, passados mais de 19 anos da

Constituição (1988) e mais de uma década e meia de eleições livres (1989),

observam-se poucos avanços em relação à democratização da Segurança Pública,

na perspectiva da gestão compartilhada desse setor, fatos que tornam ainda mais

complexa a construção de políticas públicas na área de segurança no Brasil.

Ao considerar o peso do “histórico autoritário” brasileiro sobre as instituições

estatais encarregadas de realizar o controle social (Polícia, Justiça e Sistema

Prisional), em uma perspectiva estatal, segundo Santos (2004), pode-se inferir que

houve pouco espaço para uma abordagem democrática da questão da Segurança

Pública no país. Se o início da vida republicana brasileira não significou a vigência

de uma ordem social democrática estável, as questões relativas à Segurança

Pública também não foram tratadas democraticamente (CARVALHO, 2007).

O conceito de controle social é um tema candente do estudo das Ciências

Sociais, tendo em vista, às vezes, determinados conceitos ou noções elaborados em

determinada tradição teórica são depois apropriados por outras tradições e

reconfigurados de forma tal, que o significado original se perde e novas e

inesperadas questões surgem sob a mesma denominação (ALVAREZ, 2004). Desta

forma, qualquer tentativa reducionista em relação ao complexo entendimento da

categoria controle social está fadada ao insucesso ou ao exercício acadêmico estéril.

A categoria controle social é trabalhada nesta dissertação sobre dois prismas:

um anterior a Constituição de 1988, em que o Estado é o principal ator social

responsável pelo controle social e manutenção da ordem e do status quo, através de

suas instituições (Polícia, Justiça e Sistema Prisional), e outra concepção de controle

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social estabelecida pós Constituição Federal de 1988, que tem como principal foco o

exercício da cidadania através de uma participação efetiva na discussão,

planejamento, elaboração, execução das políticas públicas, passando a ter como

principal ator a sociedade civil organizada (CARVALHO, 2007).

Nesse aspecto, a participação da sociedade civil é a principal ferramenta para

o controle das ações públicas, logo, transpor esse modelo para a Segurança Pública

é uma das questões a ser enfrentada pela democracia brasileira.

Considerando, desse modo essa nova conjuntura social e política por que

passa o Brasil, a partir da promulgação da Carta Magna cidadã, as instituições

estatais são obrigadas a se revestirem de uma roupagem nova, ornada com

mecanismos que possibilitem a sociedade uma participação no planejamento e

execução de suas atividades. Nesse esteio, Ferreira (1997) afirma:

Para que haja a participação efetiva da sociedade civil nas decisões, é necessário um reordenamento das Instituições Sociais. Para que de fato aconteça a descentralização do poder político e administrativo, é preciso abrir espaços à gestão e ao controle das políticas públicas, tornando-se esta medida um imperativo no momento atual e consistindo em uma efetiva partilha entre o Estado e a sociedade (FERREIRA, 1997, p. 177).

Essa nova ordem vai possibilitar, em atendimento à Lei Maior, uma co-

participação; Estado e Sociedade, Polícia e Comunidade, na promoção da ordem

pública, uma vez que Segurança Pública passa a ser de fato e de direito,

responsabilidade de todos. Portanto, é nessa conjuntura que a instituição Polícia

ganha uma nova missão, que é a de atuar como instrumento de mediação entre

Estado e Sociedade.

Toda essa reengenharia institucional reflete um modo de pensar diferente

sobre a participação social na gestão pública da Segurança, pelo menos a nível

Federal (Secretaria Nacional de Segurança Pública). O ato de participar não deve

ser mais concebido como algo mecânico, neutro ou ilusório (FERREIRA, 1997). Para

que haja a participação efetiva da sociedade civil nas decisões, é necessário um

reordenamento das Instituições sociais, dentre elas as que compõem o Sistema de

Segurança Pública.

O presente trabalho busca analisar a Política de Segurança Pública do Piauí,

tendo como referencial as estratégias desenvolvidas pelo Sistema de Segurança

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para conter o avanço da violência e da criminalidade em Teresina, através da

análise dos índices de homicídio nesta Capital, no período 2003 a 2006.

No esteio do estudo do tema Segurança Pública surgem categorias como

violência e criminalidade. O fenômeno crime corresponde às condutas anti-sociais

tipificadas pelo Código Penal brasileiro, enquanto a violência, segundo Soares

(2006), não se manifesta apenas através do crime, sendo este somente uma faceta

das práticas de violência existentes no Brasil, o qual tem todo um passado

construído culturalmente pelo uso da violência, nos espaços públicos e privados,

conforme se pode perceber em Santos (2004):

O fenômeno da violência difusa consiste em um processo social diverso do crime, anterior ao crime previsto no Código Penal. Durkheim considera o crime um fenômeno social normal, pois, em toda sociedade há crime. Desta forma, Durkheim considera o crime uma ruptura com a consciência coletiva, razão pela qual sofre punição pela lei penal. (SANTOS, 2004, p.3).

Portanto, a violência faz parte do processo social, contudo ela precede a

noção do crime que é uma construção jurídico-social posterior à sua própria

existência. A punição ao ato criminoso é uma resposta do Estado à conduta anti-

social do transgressor.

Entre os conflitos sociais atuais, crescem os fenômenos da violência e as

dificuldades das sociedades e dos Estados contemporâneos em enfrentá-los

(GIDDENS, 2001).

A presente dissertação trabalha a violência como um fenômeno social,

advinda de vários fatores: culturais, sociais, econômicos e históricos. As

manifestações da violência e da criminalidade no Brasil são diversificadas e

regionalizadas, demandando estratégias diferenciadas para o enfrentamento da

violência e da criminalidade, mesmo considerando o processo de globalização do

crime (SOARES, 2006).

As explicações para a violência e o crime não são simples e é necessário

evitar a armadilha das generalizações. Para Soares (2006) não existe o crime, no

singular, mas sim uma diversidade de práticas criminosas, associadas às dinâmicas

sociais muito diferentes. Por isso, não faz sentido imaginar que seria possível

identificar apenas uma causa para o universo heterogêneo da criminalidade e da

violência, várias são suas matrizes, como: o tráfico de drogas, tráfico de armas,

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roubos a banco, seqüestro, roubos de automóvel e cargas, latrocínio, homicídios,

etc.

A criminalidade é um reflexo, também, do agravamento da questão social,

que envolve comportamentos e relações construídas socialmente devendo, portanto,

ser analisada como um fenômeno social complexo advindo principalmente da

desigualdade social em que se encontram imerso milhões de brasileiros sem

perspectiva de emprego, moradia, saúde, educação, ou seja, sem o exercício da

cidadania, segundo pesquisas de Soares (2006) e Silva Filho (2003). Reduzir a

violência e a criminalidade apenas a caso de polícia é reprodução de mecanismos

perversos de dominação.

Em relação à motivação para pesquisar o presente tema, surgiu da

observação de mais de treze anos como profissional da área de Segurança Pública,

Oficial da Polícia Militar do Piauí (PMPI) desde o ano de 1995, bem como da

condição de professor do Curso de Bacharelado em Segurança Pública da

Universidade Estadual do Piauí, desde o ano de 2002 e estudioso da Segurança

Pública, e das inquietações acumuladas sobre o funcionamento do Sistema de

Segurança Pública do Piauí, que ainda não foram debatidas com a sociedade em

geral, como por exemplo: o porquê da continuidade de uma postura institucional,

que tem como proposta para a prevenção da violência e da criminalidade a

aquisição de viaturas, armamentos e aumento de efetivo, já que não se observa uma

diminuição proporcional dos índices de criminalidade em relação aos investimentos

realizados? Para obter resposta a esta questão complexa exigem-se profundas

reflexões sobre a Política de Segurança Pública do Piauí.

Desta forma, o percurso metodológico se baseou em pesquisas exploratória,

bibliográfica e documental (legislação), de natureza hipotético-dedutiva, uma vez

que se partiu da premissa de que o Piauí não dispunha de uma Política de

Segurança Pública para o Estado. Os dados foram levantados através de

observação e entrevista, numa perspectiva teórico-crítica, que proporcionou

compreender a ação estatal na prevenção e no enfrentamento da violência e da

criminalidade na Capital do Estado do Piauí, Teresina, conforme os autores

trabalhados no decorrer da dissertação. Através desta metodologia, procurou-se dar

significado aos dados quantitativos e qualitativos necessários ao estudo da Política

de Segurança Pública do Piauí. Após sistematizados, os dados foram submetidos a

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análise comparativa dos anos sob investigação, verificando, desta forma, a evolução

da criminalidade em Teresina.

A pesquisa também se utilizou de entrevistas dos três gestores da época, de

2003 a 2006, os quais subsidiaram algumas conclusões, principalmente a ausência

de uma política pública para Segurança Pública piauiense.

A Segurança Pública é um tema multidisciplinar, que não se esgota em si

mesmo, mas flui mediante o estudo de outros temas, como o controle social, a

participação, a descentralização, cidadania, direitos humanos, violência,

criminalidade, dentre outros.

Já a Política de Segurança Pública são as estratégias, diretrizes adotadas

pelo Estado para prevenir e enfrentar a violência e a criminalidade, em uma

perspectiva democrática, pós Constituição de 1988. Deve ter a participação ativa da

sociedade na gestão compartilhada da Segurança, como mecanismo de controle

social.

A Política federal de Segurança Pública – consubstanciada pelo Plano

Nacional de Segurança Pública – estabelece princípios norteadores que, na prática,

são planos e programas institucionais em níveis de macro e de micro atuação.

Dentre as diretrizes da Secretaria Nacional de Segurança Pública destacam-se: a

criação de Conselhos Comunitários de Segurança (CONSEG), implantação de

Gabinetes de Gestão Integrada (GGI), instituição de Conselhos de Direitos

Humanos, criação de Corregedorias e Ouvidorias, desenvolvimento da atividade de

inteligência e desenvolvimento da filosofia de Polícia Comunitária.

Porém, mesmo com as inovações expostas acima, a Segurança Pública

piauiense tem se estruturado através de um sistema composto pelas Polícias Civil,

Militar e Corpos de Bombeiro Militar, conforme estabelece os artigos 156 e 158 da

Constituição do Estado do Piauí. Todavia, com o advento da Constituição Federal

(1988), art. 144. “[...] a Segurança Pública é dever do Estado, direito e

responsabilidade de todos [...]” (BRASIL, 2008), e com a institucionalização do Plano

Nacional de Segurança Pública (2002), tomam corpo os Conselhos Comunitários de

Segurança, que, apesar de uma participação tímida da sociedade no Piauí,

representa um avanço se comparado ao modelo adotado no período de Ditadura

Militar.

O Sistema de Segurança Pública no Piauí tem se estruturado, na última

década, por ações na área policial, sejam preventivas, através do policiamento

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ostensivo realizado nas ruas das cidades do Piauí pela Polícia Militar, e as ações

repressivas ao crime por intermédio da Polícia Judiciária (Polícia Civil), que realiza a

investigação dos crimes, objetivando a punibilidade do transgressor da lei.

Numa perspectiva de gestão de política pública democrática a participação da

sociedade civil organizada tem sido cada vez mais presente nas políticas públicas,

através da gestão compartilhada. Na Segurança Pública, os Conselhos Comunitários

de Segurança têm se apresentado como mecanismo de aproximação entre a

sociedade e o aparelho estatal responsável pela Segurança Pública (as polícias),

mesmo considerando todas as limitações impostas pela herança autoritária

brasileira.

A Segurança Pública, nesse contexto, tem passado por uma mudança

importante de referencial. Tem deixado de ser vista como um problema de

responsabilidade restrita do Estado, passando a ser concebida como

responsabilidade de todos. O novo referencial tem apontado para uma nova visão da

Segurança como espaço de participação comunitária (pública, mas não apenas

estatal), afeta a outras áreas de governo (social e não apenas criminal), ligada a

uma abordagem que concilia diversos saberes (particularmente das Ciências

Humanas) e como problema de ordem regional e global.

A identificação das ações do Sistema de Segurança Pública do Piauí, da

cidade de Teresina, no período 2003 a 2006, possibilitou a discussão de um tema de

relevância para a sociedade atual, porque envolve a preservação da vida, maior

patrimônio da humanidade.

Inserido neste contexto, a presente pesquisa buscou identificar os caminhos

adotados pelo governo estadual, através do Sistema de Segurança Pública, no

período de 1° de janeiro de 2003 a 31 de dezembro de 2006, na cidade de Teresina,

ou seja, um mandato completo de governo do Estado do Piauí, que foi delimitado

objetivando analisar um lapso temporal do projeto político do governo elencado, na

área de Segurança Pública, que vai do seu desenho, implementação aos resultados

obtidos.

O estudo da Política de Segurança Pública requer um aprofundamento da

discussão sobre as Instituições Policiais e suas competências legais e sociais, haja

vista serem as instituições responsáveis pela operacionalização das citadas ações.

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Quanto às polícias, é importante entender sua relação com o Estado e a

sociedade. Uma das abordagens dominantes sobre o tema sugere que a polícia

deve ser tomada como um objeto histórico (COSTA, 2004).

Desse modo, associam-se inseparavelmente Estado e Polícia, sendo esta

instrumento para o exercício do poder daquele. Ainda segundo esta abordagem, o

Estado é um produto dessas mesmas condições históricas. Nesse sentido, é o

contexto social existente que determina a estrutura e o papel da Polícia.

Para conhecer o processo de implementação da Política de Segurança

Pública do Piauí, através da análise das suas ações em Teresina, foram

entrevistados os gestores da Segurança Pública do Piauí, no período de 2003 a

2006: dois Secretários de Segurança Pública do Piauí e um Comandante Geral da

Polícia Militar (PM), todos da época referenciada, bem como foram também

utilizadas entrevistas concedida pelo Secretário de Segurança Pública do período de

2006 (RIOS, 2008).

O objetivo das entrevistas foi também ouvir a fala institucional, através de

seus gestores, principalmente sobre as ações na área de Segurança Pública

efetivadas em Teresina, na prevenção e no enfrentamento da violência e da

criminalidade. As entrevistas serviram como base para reconstituição das ações

implementadas na área de Segurança Pública em Teresina.

Quanto aos objetivos desta investigação científica tem-se: Analisar se as

ações de Segurança Pública implementadas no Piauí, em Teresina, no período de

2003 a 2006, conseguiram reduzir os índices de criminalidade em Teresina, e se tais

ações se configuraram em um Plano de Segurança Pública para o Piauí; identificar

as principais estratégias adotadas pelo Sistema de Segurança Pública do Piauí, no

âmbito das Polícias Militar e Civil, na prevenção e no enfrentamento da violência e

da criminalidade, através da análise de suas principais ações na cidade de Teresina

(PI), no período de 2003 a 2006; discutir as estratégias de prevenção e

enfrentamento da criminalidade na cidade de Teresina (PI) e o papel da sociedade e

das polícias estaduais nesse contexto.

A presente dissertação foi estruturada em três capítulos: O primeiro capítulo,

denominado ESTADO, SOCIEDADE E SEGURANÇA, retoma a origem do Estado,

seu desenvolvimento e a relação Estado/Sociedade, objetivando contextualizar a

condição do Estado enquanto “garantidor” da Segurança Pública. Faz também uma

revisão histórica e conceitual sobre a gênese da Segurança Pública, no qual se faz

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uma leitura das funções assumidas pela polícia, através de uma análise teleológica,

que vai da época das perseguições aos escravos até a assunção da manutenção da

ordem pública, por meio da Constituição Federal do Brasil de 1988. Também se faz

uma abordagem sobre Segurança Pública e Estado Democrático de Direito,

finalizando o capitulo com um tópico sobre a participação social na construção da

Política de Segurança Pública.

No segundo capítulo, intitulado POLÍTICAS PÚBLICAS E POLÍTICAS DE

SEGURANÇA PÚBLICA, busca-se estabelecer um marco conceitual para a

categoria Políticas Públicas, considerando-se os vários conceitos e concepções

existentes, haja vista os estudiosos não serem uníssonos quanto à matéria. Aborda-

se também a importante relação entre as Políticas Públicas e as Políticas de

Segurança Pública, sendo esta entendida como ramo daquela. O Capítulo traz ainda

um tema importante para a construção da pesquisa ao buscar os principais modelos

de Políticas de Segurança Pública no Brasil e algumas experiências internacionais.

Tal estratégia metodológica se fundamenta pelo fato de levantarmos como hipótese

o fato de o Estado do Piauí ainda não ter uma Política de Segurança Pública

consolidada, fazendo-se necessário recorrer aos modelos existentes para análise da

prática piauiense.

O terceiro capítulo, O SISTEMA DE SEGURANÇA PÚBLICA DO PIAUÍ, faz a

análise de alguns programas de Segurança Pública implementados em Teresina-PI,

os quais foram destacados pelos próprios gestores da Segurança Pública, em

entrevistas, e são examinados os resultados alcançados na redução dos índices de

criminalidade, através da análise das estatísticas criminais (taxas de homicídios). É

também apresentado, de forma sucinta, o Sistema de Segurança Pública e a

estrutura de suas duas Polícias (Militar e Civil), que se faz necessário para a

compreensão do complexo Sistema de Segurança Pública do Piauí, bem como

seguidos de conclusão, referências e anexos.

Esta pesquisa é inédita, a nível de Universidade Federal do Piauí, e não

foram encontrados registros nas instituições policiais piauienses já citadas. Desta

forma, acredita-se contribuir no debate sobre a Segurança Pública e subsidiar

possíveis Políticas de Segurança Pública para o Piauí.

Em relação à Segurança Pública não há um modelo pronto e acabado, ou

seja, não há uma Política de Segurança Pública ideal aplicável para qualquer

situação, haja vista cada sociedade ter suas peculiaridades. Porém, é interessante o

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estudo de práticas que têm apresentado resultados promissores, bem como buscar

a socialização desse tema que ainda se encontra bastante restrito a poucos setores

da burocracia estatal. O estudo realizado, além dos objetivos formais elencados,

primou pela discussão da Segurança Pública em um viés democrático, considerando

a Segurança Pública como bem necessário a consecução da cidadania plena

(CARVALHO, 2007; SILVA FILHO, 2003; SOARES, 2006).

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2 ESTADO, SOCIEDADE E SEGURANÇA

O objetivo maior, com este capítulo de abertura desta investigação científica

sobre “o processo de constituição da Política de Segurança Pública do Piauí, no

período de 2003 a 2006” é fazer uma abordagem, à luz da extensa literatura

existente nos campos da Política e da Sociologia, sobre a origem e finalidade do

Estado e sua relação com a sociedade, para nesse percurso investigativo,

entendermos de forma mais precisa, a origem, natureza e fundamentos da Política

de Segurança Pública.

Nesse sentido, o foco do debate, ora levantado, será a origem do Estado e

a relação entre Estado e sociedade e a origem da Segurança Pública, Segurança

Pública e o Estado Democrático de Direito, bem como a Participação Social na

Construção da Segurança Pública.

Assim, pode-se resumir o percurso discursivo neste capítulo em duas

relações básicas para a compreensão do trabalho em seu todo: Estado versus

sociedade e a sociedade como ator principal na construção da Política de

Segurança Pública.

2.1 A ORIGEM DO ESTADO E A RELAÇÃO ENTRE ESTADO E SOCIEDADE

Considerado na literatura clássica dos campos da política e da sociologia

como um dos maiores construtos humanos da modernidade, o Estado tem-se

apresentado como tema assaz polêmico e controverso quando matéria em teorias

políticas ou sociológicas. Portanto, pensar o Estado pressupõe analisar sua

evolução, entender seus diversos contextos, históricos, civilizacional e societal.

Nessa perspectiva será desenvolvida uma breve reflexão histórica do Estado e sua

formação social, mormente, sua natureza finalística de elemento assegurador das

condições básicas para um convívio social pacífico e harmônico

O Estado tem como principal função garantir a segurança para manutenção

da ordem, porém tal missão inevitavelmente limita a liberdade. Nesse contexto

Bauman (2003) faz uma reflexão sobre a relação liberdade versus segurança:

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A promoção da segurança sempre requer o sacrifício da liberdade, enquanto esta só pode ser ampliada à custa da segurança. Mas segurança sem liberdade equivale a escravidão (e, além disso, sem uma injeção de liberdade, acaba por ser afinal um tipo muito inseguro de segurança); e a liberdade sem segurança equivale a estar perdido e abandonado (e, no limite, sem uma injeção de segurança, acaba por ser uma liberdade muito pouco livre). [...] pois a segurança sacrificada em nome da liberdade tende a ser a segurança dos outros; e a liberdade sacrificada em nome da segurança tende a ser a liberdade dos outros (BAUMAN, 2003, p.24).

Bauman (2003, p.26), conceitua o termo liberdade como: “a capacidade de

fazer com que as coisas sejam realizadas do modo como queremos, sem que

ninguém seja capaz de resistir ao resultado, e muito menos desfazê-lo”.

Em toda a tradição da filosofia política, sempre que se pensou o Estado, o

que havia no âmago deste debate era uma preocupação com a ordem e segurança.

Como é, ou seria possível, manter o homem numa convivência em grupo

razoavelmente estável?

O homem é naturalmente levado ao conflito, apesar de possuir a razão, de

pensar e dominar uma comunicação mais sofisticada do que a comunicação primária

dos outros animais. O conflito gera discordâncias e diferenças, por isso é que as

sociedades humanas precisam de regulação. As sociedades primitivas não

precisavam de regulação, pois eram extremamente simples, dispunham de uma

comunicação precária e havia recursos naturais em abundância. Com a evolução

das sociedades humanas e a escassez dos bens ambientais, foi necessária a

regulação, que ocorre de forma proporcional ao grau de desenvolvimento de cada

sociedade.

Desta forma, o contrato social se apresenta como uma metáfora pela qual, na

tradição política ocidental, se pensa a natureza e o conteúdo das obrigações sociais

entre Estado e sociedade.

Resumidamente, a teoria do contrato social teve diversos expoentes e foi

rediscutida no século XIX. Hobbes, Locke e Rousseau, os três contratualistas mais

conhecidos, apresentam distinções em relação às movimentações para a

“assinatura” do pacto. O primeiro busca promover a segurança – deixa-se a

liberdade natural a fim de assegurar a proteção à vida, garantida pelo Estado. O

segundo vê no pacto social uma forma de garantir o estado original de tranqüilidade

perturbado pelo desenvolvimento da propriedade privada. O terceiro, por fim, busca

no pacto uma forma de preservar a comunidade. As críticas à teoria do contrato são

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grandes, em especial em seu caráter normativo e abstrato, mas suas marcas estão

no constitucionalismo e nas construções institucionais daí derivadas. Por este

instrumento se distribuem direitos e deveres entre os cidadãos e o Estado.

Esse pensamento é reforçado com as idéias de Bobbio (1997), quando

prega que mesmo em sua versão absolutista, o Estado sempre teve como alicerce

teórico as doutrinas contratualistas, que, em suma, embasavam o poder estatal em

um livre contrato ao pacto realizado pelos homens, que “a posteori”, dado o seu nível

de desenvolvimento, decidiram pela criação do Estado Moderno (BOBBIO, op.cit).

O contrato social é a teoria política que explicará a necessidade de criação do

Estado, e este tem suas raízes ficadas na normatização da sociedade através de

leis, que tipificam condutas sociais e anti-sociais. O contrato social se consubstancia

em um pacto realizado entre o Estado e a sociedade, mesmo de forma tácita.

Porque sem a aceitação da sociedade às normas do Estado dificilmente este ente

conseguiria impor a toda sociedade o modelo social ocidental hoje vigente, ou seja,

o Estado existe porque a sociedade, assim, o permite.

O pensamento político-jurídico moderno vai se caracterizar por uma

priorização da ordem jurídica em detrimento da liberdade (BAUMAN, 2003). Daí

porque Hobbes (1997, p.173) afirmou: “a liberdade dos súditos está apenas

naquelas coisas que, ao regular suas ações, o soberano permitiu”. Novamente esse

fenômeno vai acontecer na contemporaneidade, em momentos de crise, como após

o ataque das torres gêmeas do World Trade Center nos Estados Unidos da América,

em 2001, onde foram criadas leis limitando direitos (liberdade) em prol de uma

suposta maior segurança. Assim, parece razoável partir de uma definição (que sintetiza um debate na

literatura sociológica) para se examinar o Estado segundo Giddens:

Todos os Estados, tradicionais ou modernos, abarcam algumas características gerais. Um Estado existe onde há um aparato político (instituições governamentais, tais como corte, parlamento ou congresso, além de pessoal do serviço civil), governando sobre um dado território, cuja autoridade é sustentada sobre um sistema legal e por sua capacidade de usar a força para implementar suas políticas. (GIDDENS, 1994, p. 309).

Esse conceito de Giddens (1994) parece claramente apontar que o Estado é,

ao mesmo tempo, um organismo normativo, aparatos institucionais e uma instância

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sistêmica acatada em certa medida por aqueles que são governados, sem

prescindir, contudo, de um aparato repressivo que constranja seus governados a

acatar a autoridade daquelas normatizações, que no presente estudo sobre a

Política de Segurança Pública tem-se a polícia como responsável pela

operacionalização da Segurança Pública.

Na busca de alguns indicativos sócio-históricos para a atual configuração do

Estado de ordem, bem como a conjuntura que propiciou sua instalação, observa-se

a importância de dois fatos históricos que influenciaram o desenvolvimento do

Estado contemporâneo ocidental: a Revolução Industrial e a Revolução Francesa.

Tendo em vista o cotidiano de violência e de criminalidade nos centros urbanos

brasileiros e Teresina faz parte dessa conjuntura, se analisado com maior

profundidade, tem suas origens nas transformações implementadas por essas duas

revoluções.

Existe, porém, outra faceta da realidade – a Revolução Industrial significou o

triunfo da indústria capitalista e da classe minoritária detentora dos meios de

produção e do capital. Grandes massas de trabalhadores foram submetidas ao que

impunha o sistema – novas formas de relação de trabalho, longas e penosas

jornadas nas fábricas, salários de subsistência – a fim de satisfazer os interesses

econômicos dos empresários (ARRUDA, 1988).

Além disso, a vida nas cidades industriais também estava mudando – o

intenso êxodo rural culminou na explosão demográfica e na falta de infra-estrutura

capaz de comportar os excedentes populacionais. Miséria, epidemias, suicídios,

aumento da prostituição e da criminalidade eram retratos da situação da época.

Um dos fatos de maior relevância foi o surgimento do proletariado, classe

trabalhadora com importante papel histórico na sociedade capitalista, que vai ter

como conseqüência o inchaço das cidades sem qualquer infra-estrutura adequada

para receber a classe trabalhadora (ARRUDA, op.cit). Desta forma, algumas

questões sociais da “insegurança pública” têm suas raízes nesse período de

transformação social.

Os proletários sentiam-se explorados, e muitas vezes, sua revolta se refletia

na destruição das máquinas e equipamentos. Gradativamente, eles vão se

organizando e formando sindicatos com o objetivo de se defender dos proprietários

dos meios de produção e do próprio sistema capitalista vigente. Ao protestar e ao

buscar mudanças, a classe operária se inclinava ideologicamente ao socialismo.

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Para Canedo (1985), a introdução de novas organizações da vida social e a

profundidade das transformações, de certa forma, colocou a sociedade em

evidência, se considerado que esse novo modo de produção influenciou diretamente

o modo de vida dos habitantes das cidades. Em decorrência disso, a análise da crise

da Segurança Pública e da propositura de uma política para o setor carece da

consciência desse período histórico.

Aparentemente parece não haver ligação entre a Revolução Francesa e a

questão da Segurança Pública, porém esse fato histórico que inaugurou um novo

modelo de Estado afetou profundamente a estrutura social e consequentemente as

matrizes da violência e da criminalidade.

A Revolução Francesa significou a ruptura de um modelo político, o antigo

regime (absolutismo). Ao final do século XVIII, a monarquia absolutista da França

estava assegurando inúmeros privilégios à minoritária classe dominante, enquanto

deixava à margem de assistência uma população de 23 milhões de pessoas. Além

disso, o arcaico sistema vigente impedia a constituição da livre empresa, a

exploração eficiente da terra e abafava as iniciativas da burguesia. Obviamente, a

situação era contraditória e não iria se sustentar por muito tempo (DOWBOR, 1988).

Enfim, em 1789, com a mobilização das massas de trabalhadores pobres, a

burguesia tomou o poder. O seu objetivo, na realidade, não girava apenas em torno

da mudança da estrutura do Estado. Havia o claro desejo de abolir radicalmente a

antiga forma de sociedade, suas instituições e seus costumes, promovendo e

inovando aspectos da economia, da política, da religião e da vida cultural. Os velhos

privilégios de classe (clero e nobreza) foram destruídos e o empresariado passou a

ser incentivado e apoiado.

A Revolução Industrial marca o surgimento de uma nova era para o Estado, o

liberalismo econômico, baseado em novas formas de legitimidade, como o “Estado

civil”, descrito por Rousseau (1978). Para a doutrina liberal, cada um produz o que

sabe e troca com o outro o que não sabe fazer, e, sob esta perspectiva, torna-se

imperativo a regulamentação do Estado (Leis/Constituição).

Os ideais que estimularam a Revolução Francesa, transformaram a estrutura

do Estado. O iluminismo, a industrialização e a abertura de mercados em escala

internacional exigem novas funções, que se somam às antigas – Finanças e Justiça.

Gradativamente, o perfil do Estado vai-se modificando, aumentando seu tamanho, o

que resultou no surgimento de novas funções/competências, para atender as

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demandas na reforma agrária, educação, segurança pública, políticas de proteção

social e relações exteriores.

Sob a égide do liberalismo, no século XIX há um crescimento das estruturas

públicas. No final desse século, o mundo vê um agigantamento dos aparelhos de

Estado, principalmente, nos países mais desenvolvidos. Entretanto, o Estado, que

até então intervém apenas na economia, passa a adquirir novas responsabilidades

no setor social, fruto de pressões da sociedade organizada, que exige das elites

daqueles países, mudanças radicais em suas estruturas, a fim de abolir as práticas

tradicionais herdadas da ultrapassada aristocracia feudal (DOWBOR, 1988).

Há uma relação muito estreita entre o fortalecimento das capacidades

administrativas do Estado-nação e a consolidação da economia industrial e do

urbanismo. As transformações em curso na estrutura socioeconômica da Europa

ocidental levaram à formação de uma nova estrutura de classes sociais, com

supremacia econômica da classe burguesa, residente basicamente em aglomerados

urbanos. É exatamente no período de formação das grandes cidades européias do

século XVIII que a noção de ilegalidade passou a ser amplamente utilizado. A

atuação do Estado no provimento da Segurança, combinando dimensões

preventivas e repressivas, tornou-se possível, bem como foi considerada necessária

por boa parte da elite burguesa. Disseminou-se a percepção de que predominava

uma grande insegurança nas cidades, com oportunidades ilimitadas para furtos e

roubos pelas ruas desprotegidas. A rápida expansão da população urbanizada criou

condições para que as atividades criminais passassem a ser concebidas como uma

realidade específica, como problema público, merecedor da intervenção por parte de

um Estado em processo de consolidação (SAPORI, 2007).

Assim, a ascensão da burguesia como classe politicamente dominante trouxe

novos ingredientes a atribuição estatal de prover a ordem interna. Ela veio

acompanhada da noção de que a expansão da soberania do Estado significa que os

que a ele se submetem estão, de algum modo, cientes de sua vinculação a uma

comunidade política, bem como dos direitos e obrigações que tal associação

estabelece. Um Estado somente se torna soberano quando amplos segmentos de

sua população dominam uma série de conceitos relacionados à soberania, o que

implica incluir as classes sociais inferiores na mesma comunidade política composta

pelas classes superiores.

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A transição do Estado absolutista para o Estado-nação significou, portanto, a

ampliação do caráter público das instituições de Estado, principalmente aquelas

destinadas ao controle da criminalidade. O Estado absolutista era ainda, em boa

medida, permeado por elementos tradicionais, pautado pela noção de privilégios e

favoritismos que determinavam a atuação do aparato burocrático central. No Estado-

nação, por sua vez, o caráter público das instituições centrais é afirmado em sua

plenitude, de modo que o poder administrativo da autoridade central deve alcançar

toda a população. E isso foi viabilizado pela disseminação de alguns códigos morais

burgueses, especialmente as noções de cidadania e de direitos individuais

universais. Em suma, a sociedade burguesa completa o processo histórico de

transição do monopólio privado para o monopólio público da violência (DIAS NETO,

2005).

Nesse contexto, a demanda por ordem e segurança passou a compor o

espectro de ação de todas as classes sociais, de modo que as organizações estatais

incumbidas do controle social não podiam ser mais concebidas em termos dos

interesses exclusivos de um segmento da sociedade (CARVALHO, 2007).

O caráter público adquiridos pelas instituições de Estado nesse processo está

intimamente ligado à emergência e afirmação dos direitos civis. Estes são singulares

no que tange à separação entre domínio público e domínio privado no âmbito do

Estado-nação: na medida em que pressupõem a igualdade dos cidadãos perante a

lei, pressupõem também o seu direito à Justiça e a reivindicarem nessa instância

estatal a própria universalidade dos direitos. Os direitos civis estão também

intrinsecamente articulados à atividade de manutenção da ordem pelo Estado. Eles

garantem prerrogativas básicas aos cidadãos, como é o caso da presunção prévia

da inocência, perante a discricionariedade do Estado no controle de

comportamentos considerados desviantes.

É na institucionalização dos direitos civis da cidadania ao longo dos séculos

XVIII e XIX que se vai configurando o princípio de ordem sob a lei como parâmetro

definidor dos Estados modernos. Assim, o caminho em direção à soberania leva não

só a uma centralização nas mãos do governante, aumentando suas atribuições e

responsabilidades na manutenção da ordem que finalmente torna-se pública, mas

também a uma consciência generalizada de que o poder político depende de

capacidades coletivas e deve pautar-se por limitações formalmente estabelecidas,

de modo a preservar direitos individuais considerados inalienáveis.

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A justaposição de ambas as dimensões do Estado-nação não é tão simples e

natural como pode parecer a princípio. Ao contrário, há uma incongruência crônica

na tarefa de manter a ordem dentro dos limites da lei, o que acaba por afetar de

modo decisivo a atuação prática das agências públicas de controle social (SOARES,

2006).

Desta forma, a partir das análises precedentes, pode-se afirmar que a

construção da ordem pública como bem coletivo é inseparável da nova configuração

da estrutura de classes sociais que se institucionalizou nas sociedades ocidentais

durante o processo de substituição da economia feudal pela economia capitalista.

Nesse contexto, o termo Segurança cuja raiz está associada a poder, é a

mesma de cura, socorro, recurso, diz respeito à conquista e à manutenção do

necessário à existência da sociedade e de seus membros, bem como à realização

de seus respectivos fins. Segurança é a tranqüilidade que o Estado pode

proporcionar à sociedade (ROLIM, 2006). Portanto, os modelos políticos e

econômicos adotados pela humanidade, e por último o Capitalismo buscou suprir

esse princípio universal, o da Segurança em toda sua amplitude.

Para Giddens (2001) a transformação da ordem pública em bem coletivo é

inseparável do processo histórico de pacificação interna, experimentada pela

sociedade européia ao longo de oitos séculos, ou mesmo o processo civilizador que

mudou radicalmente a forma de agir e de pensar dos indivíduos nesse período. O

processo civilizador ocidental permite ao Estado uma gradual monopolização do uso

da violência pelas instituições de controle social: Polícia, Justiça e Sistema Prisional

(ELIAS, 1994). O processo civilizador para o presente trabalho se configura pela

soma de todas as revoluções e transformações históricas vivenciadas pela

humanidade, como: Revolução Francesa, Revolução Industrial e Independência dos

Estados Unidos, dentre outras revoluções, na medida em que o modelo sócio-

político atual pode ser visto como produto dessas transformações históricas.

Portanto, a importância da discussão do tema Estado para a análise da

questão da Segurança Pública também pode ser estabelecida pelas configurações

que o Estado assume, sendo democrático ou autoritário. Este fato influencia

diretamente no modelo de Segurança Pública adotado, se autoritário ou

democrático, ou seja, se fechado a gabinetes de poucos ou aberto à gestão

compartilhada da sociedade organizada, como no caso dos Conselhos Comunitários

de Segurança (CONSEG), respectivamente. Portanto, o modelo de Segurança

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utilizado pelo Estado no Regime Militar (1964-85) difere da atual configuração da

Política de Segurança Pública, principalmente a concepção federal.

O papel da Segurança Pública como mecanismo estatal de controle social

varia de Estado para Estado. Há os casos em que a sociedade civil desempenha

papel fundamental nesse controle social, e casos em que o controle social está

concentrado no aparato coercitivo estatal, onde há uma grande discricionariedade

da ação policial. Nessas situações, a autonomia policial implica lidar com o dilema

entre a lei e a ordem (COSTA, 2005).

O estudo da Segurança Pública está estreitamente relacionado à categoria

ordem pública, que segundo Lazzarini (1999) é composta por três elementos: a

Segurança Pública, a tranqüilidade pública e a salubridade pública. A tranqüilidade

se caracteriza pelo estado de paz social, enquanto a salubridade pública diz respeito

a saúde pública.

As noções de ordem pública e de direitos individuais universais estão

umbilicalmente conectadas. As sociedades ocidentais, ao mesmo tempo em que

afirmam o espaço do individual e do privado, reforçam a noção de que o espaço

público diz respeito a todos os membros da comunidade política. E a partir daí

caberá ao Estado, à autoridade central, garantir a ordem internamente não apenas

para viabilizar a vida coletiva, mas também para garantir os próprios direitos dos

indivíduos que compõem essa mesma coletividade (SAPORI, 2007).

Essa breve reflexão sobre o Estado buscou introduzir a discussão sobre a

questão da Segurança, onde o Estado assume o papel de garantidor da Segurança

Pública. Desta forma, o Estado organizará mecanismos formais de controle social,

como: Justiça, Polícia e Sistema Prisional.

2.2 A ORIGEM DA SEGURANÇA PÚBLICA

Num breve olhar sobre a história do país, é difícil discernir o que é parte de

uma política deliberada de segurança ou o que é decorrência de práticas sociais e

institucionais tradicionais, como o “mando” e o autoritarismo. Durante o período

colonial, por exemplo, os crimes que atentavam contra a vontade do soberano eram

considerados faltas morais ou religiosas. Resgatar a história da sociedade brasileira

e de suas instituições faz-se necessário para compreensão da realidade atual da

Segurança Pública.

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No período colonial brasileiro, as atribuições policiais e judiciais estavam

concentradas em poucos cargos da hierarquia da administração da justiça, havendo

considerável dispersão de mecanismos de vigilância e punição, muitos dos quais

eram religiosos e/ou privados. A administração colonial contava com ampla

participação dos senhores da terra, através da aplicação da “justiça” aos seus

agregados. As práticas de punição eram, em regra, o degredo (para pessoas de

maior condição) e o açoite (para os escravos). As práticas de investigação eram

baseadas na suspeita sistemática e as provas eram obtidas mediante tortura judicial

(HOLLOWAY, 1997). Essas práticas generalizaram-se quando o Santo Ofício

desembarcou em terras brasileiras.

O município era o centro das preocupações da administração da Justiça na

colônia portuguesa e base de toda a estrutura colonial. Nesse sentido, as cidades

eram símbolos do poder da metrópole e da igreja e nelas havia os locais para a

detenção e punição dos criminosos. As cidades foram construídas em decorrência

das necessidades imediatas da exploração econômica e, embora fossem o centro do

controle político, gozavam de ampla autonomia e independência (CARVALHO,

2007).

Depois de três séculos de vida colonial, vivendo à sombra das instituições e

da legislação portuguesa, o Brasil passou a ter uma Constituição, em 1824, um

Código Criminal, em 1830, e um Código de Processo Criminal, em 1832. A

legislação penal passou a entender o crime como infração à regra penal, para a qual

penalidades específicas foram prescritas. O sofrimento físico começou a ceder

espaço às punições tecnicamente frias, como o degredo ou a privação da liberdade.

As punições passaram a estar relacionadas à retribuição, à recomposição da

infração de uma lei anterior e o criminoso passou a ser visto como aquele que

rompeu um pacto social (FOUCAULT, 1987). A escravidão permanecia como

problema político, moral, econômico e social. O Sistema de Segurança brasileiro foi

construído conforme a evolução da estrutura social, porém fincado nas raízes do

Brasil Império, e até hoje há instituições do Sistema de Segurança Pública com

valores da citada época, como as Polícias Militares estaduais que continuam sendo

organizações militares, cultivando os mesmos “valores” daquele momento histórico,

em detrimento da sua missão constitucional.

Durante o Império, embora o Brasil tivesse um governo acentuadamente

centralizado, as províncias mantiveram-se isoladas e com autonomia em relação à

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aplicação da lei e ao uso das instituições judiciais. O espetáculo punitivo foi

praticado contra escravos, durante quase todo o século XIX. Embora muitos dos

castigos aplicados em escravos ainda permanecessem subordinados à esfera da

fazenda, portanto, à esfera privada, nas cidades os castigos se davam em praça

pública e eram executados por “funcionários públicos”. Os castigos atraíam enorme

atenção popular. O sistema punitivo do Brasil imperial manteve a pena de prisão

com trabalho forçado, com as multas e os suplícios públicos. Esse sistema perdeu

espaço na medida em que a crise do escravismo se acentuava. As reformas legais

liberais, ocorridas durante a década de 1870, apontavam nessa direção

(HOLLOWAY, 1997).

Na República, com a promulgação de uma nova Constituição, em 1891, e de

um novo Código Penal, um ano antes, o federalismo e a pena de prisão celular

tornaram-se regra. Os interesses dos plantadores de café fizeram-se representar

tanto na política como na administração da Justiça, e conseqüentemente no modelo

de Segurança adotado no Brasil. É claro que a economia agro-exportadora,

sustentada pelo latifúndio e pela empresa cafeeira, deu impulso ao desenvolvimento

das cidades (CARVALHO, 2007). As condições para isso foi o trabalho livre e a

importação de mão de obra européia, os imigrantes. Enquanto que a mão-de-obra

ex-escrava amontoava as favelas cariocas, sem emprego e sem moradia, prelúdio

do caos futuro da Segurança Pública, local onde o tráfico de drogas floresceria.

Os trabalhadores importados, assimilados pelo primeiro surto industrial,

organizaram-se em associações para reivindicar melhores condições de vida e

trabalho. Em virtude do acesso restrito à política, a negação do direito de voto aos

imigrantes, e as baixas concessões feitas pelos industriais à demanda dos

trabalhadores permitiram a ampliação da luta política no espaço da rua, na forma de

greves e manifestações. O Sistema de Segurança estatal se voltou para conter tais

manifestações à época. O espaço urbano, dividido entre bairros das elites e de

trabalhadores, funcionou como lente de aumento das novas tensões sociais e como

laboratório para inúmeras estratégias de controle e segregação. Polícia, prisões e

outras instituições, nesse sentido, receberam atenção especial das elites.

Mudanças importantes somente ocorreram com as Constituições de 1934, de

1937, de 1946, com o Código Penal de 1940 e com o Código do Processo Penal de

1941. Foram mudanças contraditórias, pois as instituições de controle social formal -

Polícia, Justiça e Sistema Prisional – não mudaram muito em relação à configuração

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legada pela Primeira República, embora, sob o Estado Novo, tenha havido uma

centralização e uma racionalização da administração pública sem precedentes na

história do país. Vários relatos indicam até mesmo uma degradação acelerada

dessas instituições durante o Estado Novo e, mais adiante, durante a Ditadura

Militar. Nos períodos de exceção, as violações de direitos, as prisões ilegais, a

violência policial, as condições iníquas de cárceres e instituições de repressão

tornaram-se moeda corrente. A falta de acesso à Justiça e a desigualdade na

distribuição de renda agravaram-se, sobretudo diante do adensamento populacional

nas principais capitais e em suas regiões metropolitanas (HOLLOWAY, 1997).

O período de 1945 a 1964, do ponto de vista constitucional, foi uma exceção

a essa regra. Mas não se sabe o quanto nossa primeira experiência democrática

promoveu mudanças no tratamento dispensado àqueles que estavam submetidos à

Justiça e à lei. Notícias veiculadas na imprensa sugerem que as garantias

constitucionais nada significavam para os detidos e investigados pela Polícia, nem

para os indivíduos que cumpriam pena ou que estavam em manicômios, e não

traziam ônus adicionais aos homens da lei. A tortura, a corrupção, as atividades de

justiceiros e as rebeliões em presídios parecem ter uma história mais longa e um

destino mais persistente do que imagina a credulidade democrática atual (SILVA

FILHO, 2003).

O processo de democratização do Brasil, iniciado em 1985, teve seu apogeu

com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, em 1988, a

chamada Constituição cidadã, que incorporou direitos civis, políticos e sociais. O

controle do uso da força pelo Estado, até a transição política (1985), era tão rarefeito

que qualquer referência aos instrumentos internacionais era meramente retórica,

haja vista a distância entre as práticas dos agentes do Estado e as exigências de

vários textos legais nacionais e internacionais. Desta forma, o controle interno

através das Corregedorias de Polícia e controle externo, pelas Ouvidorias, são

práticas recentes que tomaram força após a criação da Secretaria Nacional de

Segurança Pública (1995). O controle da atividade policial pela sociedade só é

possível em um Estado Democrático de Direito.

Os governos civis, além de terem promovido o ingresso do Brasil na

legalidade do sistema internacional de proteção dos Direitos Humanos, puseram em

prática iniciativas, mesmo algumas vezes intermitentes e interrompidas, de uma

nova abordagem oficial em relação aos direitos e garantias constitucionais e às

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violações dos Direitos Humanos. Apesar da nova configuração político-institucional,

baseada no reconhecimento e na garantia dos direitos fundamentais dos cidadãos,

isto é, da democracia formal, os institutos jurídicos tradicionais do direito brasileiro e

as práticas institucionais baseadas no Estado não sofreram mudança imediata; ao

contrário, durante os últimos anos de exercício democrático (1985-2006), subsistiram

práticas ilegais, corrupção, violência, promovidas pelos próprios agentes do Estado,

bem como toda uma cultura autoritária, dispersa na sociedade brasileira (SOARES,

2007). A criminalidade agravou-se, particularmente os homicídios que incidem sobre

os jovens, algumas vezes tendo como agentes os membros das próprias

corporações estatais responsáveis pela Segurança Pública (PAIXÃO, 1988).

A segurança passou a ocupar o segundo lugar nas preocupações dos cidadãos brasileiros, somente abaixo do desemprego. Os efeitos disso são preocupantes, pois assinalam o aumento dos gastos do poder público (viaturas, armas e equipamentos), da comunidade (dispositivos eletrônicos e condomínios fechados) e dos indivíduos (veículos blindados, seguros, armas) com segurança (SOARES, 2006).

Concomitantemente ao aumento da taxa de criminalidade e do conseqüente

aumento de sua percepção pública, as Políticas de Segurança Pública passaram a

ser alvo de discussões, debates e propostas (SOARES, 2006). A expectativa

generalizada era que essa onda pudesse ter interferido positivamente nas práticas

das instituições e, no limite, melhorado a prestação dos serviços de segurança à

população. Mas a realidade tem se mostrado, por enquanto, imune a essa tendência

(SOARES, op.cit).

O poder público tem insistido em considerar os crimes contra o patrimônio (e

os seqüestros) como prioridade, e parte importante dos recursos públicos de

segurança não é destinada às periferias. Sabe-se, no entanto, que essa estratégia

não tem resultados inequívocos, pois as taxas de crimes contra o patrimônio (furto,

roubo, furto e roubo de veículos) permanecem elevadas ou continuam em acentuada

elevação (SILVA FILHO, 2003).

Com o advento de uma nova ordem constitucional (1988) e da postura do

governo federal em atentar para sua responsabilidade com a Segurança Pública nos

Estados é institucionalizada a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP)

em 2001, órgão do Ministério da Justiça (MJ), tendo como missão coordenar o

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Sistema de Segurança Pública do Brasil, nessa perspectiva a SENASP conceitua a

Segurança Pública como:

A Segurança Pública é uma atividade pertinente aos órgãos estatais e à comunidade como um todo, realizada com o fito de proteger a cidadania, prevenindo e controlando manifestações da criminalidade e da violência, efetivas ou potenciais, garantindo o exercício pleno da cidadania nos limites da lei (BRASIL, 2008).

O conceito de Segurança Pública acompanhou as transformações sócio-

econômicas da história brasileira, passando por fases de exceção como a ditadura

Vargas (1937-45) e o Regime Militar (1964-85) até chegar ao processo de

redemocratização que se iniciou em 1985 e culminou com a promulgação da

Constituição cidadã de 1988. Desta forma, o entendimento sobre a Segurança

Pública se alargou bastante passando indubitavelmente pelo contexto, pela análise

social e política.

A Segurança Pública antes restrita apenas à competência estatal, através da

ação das polícias, agora (pós Constituição de 1988) se apresenta como sistema que

interliga Estado e sociedade com o objetivo comum, garantir o acesso ao gozo da

cidadania. O conceito da Segurança Pública não mais se limita apenas ao estado de

tranqüilidade, sem ocorrência de práticas de delito, mas como meio de garantia ao

exercício de direitos, como: o direito de ir e vir (direito de locomoção), direito de livre

manifestação e direito a ter direito.

Uma Política de Segurança Pública deve priorizar, segundo os princípios

constitucionais vigentes, a manutenção da ordem com respeito às leis e aos direitos

humanos e principalmente a participação social nos debates da Segurança Pública

(SOARES, 2006).

No Brasil essa mobilização social para a construção de um projeto de

exercício sócio-político começou no período do regime militar e se apresenta como

uma luta de sociedade civil para conquistar a democracia. Esse esforço dos

cidadãos e cidadãs brasileiros ganha uma organização e se apresenta como

instituições com o objetivo de promover uma estrutura cidadã de mobilização e

participação social, capazes de atuarem como verdadeiras expressões populares na

luta por educação, emprego, saúde, moradia, saneamento, enfim, políticas públicas.

Essa organicidade social é extremante fortalecida com o fim do Regime Militar

e o começo da construção, no Brasil, de um verdadeiro Estado Democrático de

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Direito. Assim, a luta travada pela sociedade civil ganha uma conotação de

vivificação da liberdade de expressão obrigando o Estado a proceder a uma

reconstrução nacional alicerçada na participação popular. A esse respeito, podemos

afirmar que a Constituição Federal de 1988 deve ser considerada a pedra

fundamental dessa nova construção. Não era à toa que Ulisses Guimarães a

denominava de Constituição cidadã.

Não obstante essas importantes transformações, uma realidade dura e cruel

ainda atormenta a sociedade brasileira, uma vez que várias são as matrizes da

criminalidade, e suas manifestações variam conforme as regiões do País e dos

Estados. O Brasil é tão diverso que nenhuma generalização se sustenta. Sua

multiplicidade também o torna refratário a soluções uniformes. A sociedade

brasileira, por sua complexidade, não admite simplificações nem camisas-de-força.

Em São Paulo, por exemplo, a maioria dos homicídios dolosos encerra conflitos

interpessoais, cujo desfecho seria menos grave não houvesse tamanha

disponibilidade de armas de fogo e o tráfico de drogas (SILVA FILHO, 2003).

No Nordeste, o assassinato a pagamento ainda prevalece, alimentando a

indústria da morte, cujo negócio envolve pistoleiros profissionais, que agem

individualmente ou se reúnem em “grupos de extermínio”, dos quais, com

freqüência, participam policiais (SOARES, 2006). À medida que prospera o “crime

organizado”, os mercadores da morte tendem a ser cooptados pelas redes

clandestinas que penetram nas instituições públicas, vinculando-se a interesses

políticos e econômicos específicos, aos quais nunca é alheia a lavagem de dinheiro,

principal mediação das dinâmicas que viabilizam e reproduzem a corrupção e as

mais diversas práticas ilícitas verdadeiramente lucrativas.

Há investimentos criminosos em roubos e furtos de carros e cargas, ambas as

modalidades exigindo articulações estreitas com estruturas de receptação, seja para

revenda, desmonte ou recuperação financiada. Roubos a bancos, residências,

ônibus e transeuntes, assim como os seqüestros, particularmente os “seqüestros-

relâmpago”, têm se tornado comuns e perigosos, em todo o país. Em função,

também nesse caso, da disponibilidade de armas, essas práticas, que por definição

visariam exclusivamente ao patrimônio, têm-se convertido, com assustadora

freqüência, em crimes contra a vida – a expansão dos “roubos seguidos de morte”

ou latrocínios constitui o triste retrato dessa tendência (SILVA FILHO, Op. Cit.).

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No Rio de Janeiro e, crescentemente, em todos os maiores estados

brasileiros – caminha para a mesma direção -, mesmo havendo uma combinação de

matrizes criminais, articulando e alimentando dinâmicas diversas, tem se destacado

o tráfico de armas e drogas, que cada vez mais se sobrepõe às outras modalidades

criminosas, as subordina ou a ela se associa, fortalecendo-as e delas se

beneficiando. Ainda há tempo para evitar que se repitam em todos os Estados as

tragédias que se banalizaram no Rio de Janeiro, mas para isso é imperioso

reconhecer que já há fortes indícios de que a matriz mais perigosa e insidiosa, que

cresce mais velozmente – instalando-se nas vilas, favelas e periferias, e adotando o

domínio territorial e a ameaça a comunidades como padrão -, a matriz mais apta a

recrutar jovens vulneráveis e a se reproduzir, estimulada pela crise social e pela

fragilidade da auto-estima, é o tráfico de drogas, conforme se constata pelas

freqüentes apreensões de entorpecentes ilícitos (drogas) pela polícia, noticiadas

cotidianamente pelos meios de comunicação.

Essa matriz da criminalidade tem assumido uma característica peculiar, ao

infiltrar-se e disseminar-se como estilo cultural e meio econômico de vida, com seu

mercado próprio e lamentavelmente promissor. Na favela, na vila ou no bairro não

assistido pelo poder público – onde falta calçamento, iluminação, escolas, quadra de

esportes, saneamento básico, etc – tem-se um terreno fértil para divulgação e

aspiração ao “estilo de vida” do crime, que se caracteriza pela oportunidade de

ascensão social através do acúmulo de bens de consumo do mundo Capitalista –

roupas, carros, casas, jóias, celulares, armas, dentre outros.

Toda essa estrutura organizada do crime exige, portanto, trabalho policial

investigatório no combate às redes atacadistas das drogas, ações policiais

ostensivas na contenção do varejo, mas, sobretudo, requer intervenção social

preventiva bem coordenada, territorialmente circunscrita e sintonizada à

multidimensionalidade dos problemas envolvidos, como se explicará adiante.

2.3 SEGURANÇA PÚBLICA E O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

Em 1985 chega ao fim o período da ditadura militar, passando-se a respirar

uma expectativa de dias melhores. É formada a Assembléia Nacional Constituinte,

que culminou com a Constituição Federal do Brasil de 1988, a qual trouxe inovações

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importantes na seara da Segurança Pública se comparada ao padrão tradicional1 de

Segurança Pública incorporado à Segurança Nacional da época de exceção, ao

estabelecer novas missões2 às instituições policiais, bem como os princípios da

gestão participativa na resolução dos problemas da violência, conforme se pode

vislumbrar pela dicção do texto constitucional em seu Art. 144:

Art. 144. A segurança pública dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I – polícia federal; II – polícia rodoviária federal; III – polícia ferroviária federal; IV – polícias civis; V – polícias militares e corpos de bombeiros militares. [...] § 5º. Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; [...] (BRASIL, 2008).

As inovações da Segurança Pública e prevenção do delito devem ser

compreendidas à luz dos processos de re-organização das competências estatais,

conforme já fora apresentado neste trabalho. A Segurança Pública dependerá

diretamente do modelo político adotado, podendo-se concluir que a competência das

instituições policiais na época da Ditadura Militar é totalmente diferente das atuais

atribuições policiais, as quais se tornam mais acessíveis à participação social.

Trata-se de uma nova dinâmica social que questiona posturas centralizadas e desafia a abertura para o novo, construído no cotidiano das ações humanas que envolvem o pensar, o criar, o fazer, o agir, o interagir, o confrontar-se e o indignar-se. Nesse cotidiano de movimentação ganha evidência a contribuição de todos os segmentos sociais, considerando as etnias, o gênero, as faixas etárias, a inserção social política, econômica e cultural, em um esforço de aumentar a qualidade e as possibilidades de vida para todos os cidadãos (SILVA, 1997, p. 209).

No contexto das políticas públicas de gestão participativa, observa-se a

1 O modelo tradicional da polícia brasileira caracteriza-se por uma ação meramente reativa (repressiva) ao problema da violência e da criminalidade, ou seja, a polícia só deve agir após o cometimento do delito e em casos de crimes considerados realmente “graves” pelo aparelho policial. A Polícia Comunitária é o contraponto a tal sistema, atua de modo preventivo (pró-ativo). 2 Até então, antes de 1988, a missão da Polícia era simplesmente açoitar escravos, no período imperial, e reprimir os movimentos sociais que contestavam o Regime Militar (1964-85). A polícia deteria todas as pessoas consideradas, pelos militares, como nocivos à Segurança Nacional, conforme a Lei de Segurança Nacional (Lei nº 7.170, de 14/12/83).

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necessidade da participação cada vez mais da sociedade nas discussões,

sugestões e gestão da coisa pública, em especial, na área da Segurança Pública

(BEATO, 2001).

Por outro lado, o modelo de prevenção, que se apresenta como novo, em

suas expressões mais avançadas, constitui reação ao método penal tradicional de

compreensão e tratamento dos conflitos sociais – endurecimento da pena e

conseqüente aumento do encarceramento - e acena para uma política integral de

proteção e implementação de direitos, na qual o Direito Penal opera como

componente “parcial e subsidiário” e não como solução final para todas as questões

da Segurança Pública (BARATA, 2000).

O modelo pode assim redirecionar o debate da segurança para além do

marco da penalidade, da alternativa entre maior ou menor intervenção penal, e

viabilizar novas possibilidades de gestão material dos problemas relacionados ao

crime e à insegurança dos cidadãos. A Segurança Pública, em uma perspectiva

democrática, deve atuar conjuntamente com outros setores governamentais, como:

assistência social, saúde, educação, saneamento básico, iluminação e esporte.

Em uma perspectiva democrática, espera-se do sistema penal a diminuição

da impunidade em toda sua amplitude danosa e que as penas de limitação da

liberdade sejam realmente de caráter ressocializador, e não meramente punitivas,

conforme prevê os princípios da Lei de Execuções Penais brasileira (LEP), Lei nº

7.210 de 11 de julho de 1984. Um conceito democrático de Justiça Penal tem suas

premissas, estruturas e práticas emancipadas da natureza estritamente punitiva e

amplia o seu leque de respostas às questões criminais, tendo em vista a natureza

heterogênea dos problemas e a necessidade de integrar a resposta penal aos

enfoques, métodos e objetivos de outros instrumentos de proteção de direitos

(PIRES, 2004). O Sistema de Justiça Penal complementa o Sistema de Segurança

Pública, os dois sistemas quando trabalham em harmonia possibilitam o acesso à

cidadania ao se garantir o respeito à norma e à dignidade humana quando no

cumprimento da pena restritiva de liberdade (LAZZARINI, 1999).

A ordem constitucional erigida a partir de 1988 elegeu entre seus objetivos

fundamentais a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, o

desenvolvimento nacional e a erradicação da pobreza e a redução das

desigualdades sociais.

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No caso brasileiro, as instituições foram construídas em via inversa, com o

Estado se tornando um ator que desprezava as liberdades individuais, ou então por

iniciativas favorecedoras de classes sociais detentoras do poder econômico e

político, contrariando o próprio princípio constitucional da igualdade jurídica e

negando o exercício pleno da cidadania para a maior parte da sociedade, ao estudar

o tema Carvalho (2007) constata que:

[...] o fenômeno da cidadania é complexo e historicamente definido. [...] O exercício de certos direitos, como a liberdade de pensamento e o voto, não gera automaticamente o gozo de outros, como a segurança e o emprego. O exercício do voto não garante a existência de governos atentos aos problemas básicos da população. Dito de outra maneira: a liberdade e a participação não levam automaticamente, ou rapidamente, à resolução de problemas sociais. Isto quer dizer que a cidadania inclui várias dimensões e que algumas podem estar presentes sem as outras. Uma cidadania plena, que combine liberdade, participação e igualdade para todos, é um ideal desenvolvido no Ocidente e talvez inatingível. Mas ele tem servido de parâmetro para o julgamento da qualidade da cidadania em cada país e em cada momento histórico. (CARVALHO, 2007, p.8).

A cidadania comporta várias dimensões, e a Segurança Pública em uma

perspectiva constitucional tem como missão garantir o acesso à cidadania, através

do respeito aos Direitos Humanos e conseqüentemente à dignidade humana. Desta

forma, o retorno à democracia não significou automaticamente o pleno exercício da

cidadania em suas múltiplas dimensões, bem como não significou o fim da violência

e da criminalidade e nem uma adequação instantânea a nova ordem constitucional.

Duas décadas de Ditadura Militar (1964-1985) moldaram uma Segurança Pública

voltada para repressão dos movimentos sociais e políticos.

As instituições são construídas socialmente e transformações em suas

estruturas demandam tempo e vontade política, é o caso das Polícias brasileiras que

até hoje buscam se encontrar na nova ordem constitucional (SAPORI, 2007).

A discussão do tema Segurança Pública tornou-se de fundamental

importância no contexto atual, principalmente enfocando a necessidade da

sociedade participar da gestão3 da Segurança Pública, considerando que o modelo

tradicional do Sistema de Segurança Pública se esvaiu em sua burocracia, a qual

3 Para Ferreira (2005, p.51): “Gestão é compreendida como a administração de serviços, programas, projetos, que se fundamentam em decisões e tomadas deliberadas de políticas governamentais.”.

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não consegue atender as demandas da sociedade e diminuir os índices de

criminalidade (SOARES, 2006).

É de bom alvitre o registro histórico e teleológico da evolução das instituições

Policiais e suas funções assumidas no decorrer da história, por significar a própria

evolução da Segurança Pública do Brasil, pois tal metodologia possibilita uma

melhor contextualização do objeto de estudo, que a Política de Segurança Pública

do Piauí (COSTA, 2004).

A utilização do termo Segurança Pública, como sinônimo de proteção à

sociedade, é bem recente, advindo da Constituição de 1988. Portanto, ainda se faz

necessário a busca desta identidade pelas instituições policiais atuais que têm seus

referenciais ainda arraigados a modelos repressivos imperiais, como a Polícia Militar

do Piauí que ainda utiliza o modelo militar do Exército brasileiro como forma de

administração, o qual é direcionado ao enfrentamento do inimigo em situação de

guerra e não para convívio pacífico com a sociedade, que é sua real função policial

(SOARES, op.cit).

A Segurança Pública, compreendida como política pública, ainda se encontra

em fase de construção, tendo em vista que o processo de redemocratização

brasileira é recente (1985), ou seja, como já fora comentado, ainda há resquícios da

Ditadura Militar nas práticas Institucionais das Polícias. Desta forma, a consolidação

da Segurança Pública, no víeis democrático, só advém da prática institucional e da

percepção social. Por exemplo, não basta a assinatura de convênios ou protocolos

de intenção com a SENASP se não houver vontade política dos gestores locais em

implementar as mudanças necessárias para adequação a um Estado Democrático

de Direito.

Percebe-se no discurso oficial uma forte tendência em garantir, formalmente,

a participação da sociedade na discussão da questão da Segurança Pública, mas na

prática há limitações quanto a essa gestão compartilhada da Segurança Pública.

Pode-se afirmar que a continuidade do centralismo dos gestores da Segurança

Pública do Piauí contraria a lógica da administração contemporânea em

descentralizar e gerir de forma compartilhada.

A segurança pública é um processo sistêmico e otimizado que envolve um conjunto de ações públicas e comunitárias, visando assegurar a proteção do indivíduo e da coletividade e a aplicação da justiça na punição, recuperação e tratamento dos que violam a lei, garantindo direitos e cidadania a todos (BENGOCHEA, 2004, p.120).

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Partindo da compreensão acima, a Segurança Pública é um processo

sistêmico porque envolve, num mesmo cenário, um conjunto de conhecimentos e

ferramentas de competência dos poderes constituídos e ao alcance da comunidade

organizada, interagindo e compartilhando visão, compromissos e objetivos comuns;

e otimizando porque depende de decisões rápidas e de resultados a curto prazo.

A racionalização dos arranjos institucionais, no âmbito federal e estadual, tem

consistido em integrar os esforços, principalmente, na formulação de estratégias de

dissuasão dos indivíduos à prática de crimes. Acresce-se a isso a preocupação em

dotar as referidas organizações de recursos materiais e profissionais que as

permitam alcançarem uma maior efetividade na consecução de suas competências

organizacionais.

O Sistema de Segurança Pública do Piauí 4 ainda é bastante hermético.

Estudá-lo é um desafio e uma tentativa de inserção da sociedade no debate da

Segurança Pública, que é “dever do Estado, direito e responsabilidade de todos”

(BRASIL, 2008).

A Segurança Pública brasileira, a nível federal, através do Plano Nacional de

Segurança Pública (2002), que será estudado mais detalhadamente a frente, reflete

o novo momento democrático, mesmo considerando os entraves e as resistências

das organizações policiais estaduais em se adequarem à nova ordem constitucional.

O Plano Nacional de Segurança Pública apresenta as seguintes diretrizes a serem adotadas pelos Estados: modernização tecnológica (sobretudo equipamentos de segurança, produção, organização e transmissão de dados); modernização gerencial (tentativa de modernizar os métodos arcaicos e irracionais das policias de gerir, introduzir a cultura do planejamento, da avaliação e do monitoramento corretivo institucional); modernização institucional (adequação ao novo modelo ético-disciplinar, qualquer esforço será em vão se os ditames constitucionais não forem respeitados); moralização (sem a transformação profunda das polícias, sem rigoroso filtro ético-disciplinar, qualquer esforço será comprometido, pois policiais corruptos sabotam o projeto citado) a participação comunitária (a sociedade deve participar em todas as fases de uma verdadeira Política de Segurança Pública, na perspectiva de uma Política Pública) (BRASIL, 2002, p.14).

No segundo capítulo desta dissertação, abordar-se-á mais detalhadamente

sobre a relação das Políticas Públicas e as Políticas de Segurança Pública, 4 O Sistema de Segurança Pública do Piauí, conforme o Art. 156 da Constituição estadual, compõe-se da Polícia Civil, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militares.

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demonstrando cada fase da implementação de uma Política de Segurança Pública e

exemplificando através de algumas práticas bem sucedidas.

2.4 PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA CONSTRUÇÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA

A eficácia do Estado na gestão de uma sociedade pluralista está altamente

relacionada à democratização de seus processos decisórios (SOARES, 2006).

Ao organizar-se em linha de continuidade com as esferas públicas e viabilizar

canais de comunicação política com os diversos setores da vida social, o Estado se

habilita enquanto mediador de conflitos, catalisador de recursos e articulador de

políticas voltadas à afirmação de direitos fundamentais, contribuindo assim para o

fortalecimento dos alicerces de uma sociedade civil autônoma e democrática.

A descentralização do poder decisório do Estado por meio da participação

direta dos cidadãos no planejamento da Segurança Público constitui um dos pilares

da nova prevenção. A transformação cultural necessária a uma nova política de

prevenção exige que o tema da Segurança Público deixe de ser simplificado sob a

forma de demanda por repressão estatal contra indivíduos e seja assumido em sua

complexidade causal, como questão política que requer o envolvimento do conjunto

das instituições sociais (DIAS NETO, 2006).

Nessa conjuntura, é fundamental a compreensão de um novo sentido para

Controle Social, que deve ser concebido doravante como a participação da

sociedade no acompanhamento e verificação das ações da gestão pública na

execução das políticas públicas, avaliando objetivos, processos e resultados

(FERREIRA, 1997).

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, adotou-se no Brasil

uma perspectiva de democracia representativa e participativa, incorporando a

participação da comunidade na gestão das políticas públicas (art. 194, VII; art. 198,

III; art. 204, II; art. 206, VI, art. 227, § 7º). Diversos mecanismos de participação da

comunidade na gestão das políticas públicas vêm sendo implementados no Brasil.

Orçamento participativo, plebiscito e iniciativa popular legislativa são alguns dos

mecanismos encontrados para efetiva prática desse espírito constitucional.

Entretanto, em relação à produção de uma Política de Segurança Pública,

deve-se considerar o fato de que o tecido social urbano constitui-se de inúmeras

realidades de insegurança e inúmeras expectativas de segurança, que

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correspondem à diversidade de interesses, experiências e posições que os

indivíduos assumem em suas vidas públicas e privadas.

As expectativas de segurança não são somente diversas, mas

freqüentemente conflitantes; a intervenção voltada a satisfazer a necessidade de

segurança de um grupo pode ser fator de insegurança para outro, por exemplo, a

ação policial desenvolvida pela Secretaria de Segurança Pública do Piauí

denominada de “Boa Noite Teresina”, que limita o horário de funcionamento de

bares, restaurantes e traileres, para alguns pais de adolescentes é uma medida

sensata, já para os comerciantes do ramo noturno uma medida injusta.

O potencial democrático desses chamados modelos de prevenção

comunitária está no surgimento de uma cultura de enfrentamento político dos

conflitos, capaz de viabilizar pactos de tolerância e convivência pacífica entre

distintas concepções de liberdade e bem-estar em um mesmo espaço territorial,

(ROLIM, 2006).

O próprio instrumento penal tem as suas condições de eficácia ampliadas

quando visto no contexto de uma ampla negociação política, ou seja, quando

utilizado para garantir a aplicabilidade de soluções negociadas, nas quais as

distintas partes foram ouvidas e tiveram seus interesses de alguma forma

contemplados. Nestes casos, o Sistema de Segurança Pública, especialmente a

polícia, entra como garantidor de um pacto previamente estabelecido, e como tal

tende a desfrutar de maior legitimidade e aceitação das diversas partes envolvidas.

Busca-se assim a negociação e não a imposição da ordem (SOARES, 2000).

Esta idéia participativa de segurança como pacto social urbano tem

amadurecido, na avaliação de Dias Neto (2005), na experiência belga de nova

prevenção, onde o termo “contratos de segurança” (contrats de sécurité), adotado

para designar as primeiras experiências de prevenção local, foi substituído pelo

termo “contratos de sociedade” (contrats de société).

Portanto, esta terminologia seria indício positivo de mudanças nos rumos do

modelo belga de Segurança Pública, de orientação defensiva direcionada à

“segregação preventiva” de riscos para uma orientação sociopolítica, voltada à

“inclusão mobilizadora” dos cidadãos, por meio da participação e da comunicação

política de base (DIAS NETO, 2005).

Experiências de organização comunitária para fins de prevenção criminal

revelam que o apelo à noção de comunidade pode ser expressão de solidariedade e

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identidade em torno de projetos comuns, mas pode assumir conotações

excludentes, ocultando manifestações de intolerância, que colidem com a

perspectiva de uma sociedade democrática e pluralista. A comunidade se converte

em “olhos e ouvidos” da polícia, reproduzindo os padrões seletivos de atuação do

sistema penal e fortalecendo a lógica repressiva da prevenção via exclusão.

Mais do que isso, a noção de participação comunitária não deve estar adstrita

à finalidade do controle social, da proteção do território, da tutela do risco criminal.

Iniciativas de prevenção abarcam muitas atividades não estritamente defensivas, tais

como realização de campanhas de informação sobre drogas, Aids, controle de

corrupção, violência doméstica ou incivilidades no trânsito; bem como organização

de eventos culturais e esportivos objetivando incrementar a qualidade de vida social

ou ações de recuperação de áreas públicas degradadas (DIAS NETO, op.cit).

Ações voltadas a recuperar espaços de convivência social e a fortalecer os

canais de comunicação de base têm propiciado alternativas pacíficas de

socialização, em áreas, nas quais a sociedade civil, negligenciada pelo Estado, é

constrangida a se submeter aos códigos paralelos de ordem, impostos verticalmente

por organizações vinculadas a atividades criminosas, muitas vezes ligadas ao

próprio Estado (SILVA FILHO, 2003).

Skogan (1990), chama também a atenção para iniciativas coletivas voltadas

ao exercício de influência política sobre instâncias públicas e privadas, objetivando

medidas de impacto na realidade local, tais como: introdução de procedimentos de

proteção ambiental pelos governos ou pelas indústrias, alteração de leis de

zoneamento e de utilização do solo urbano com o intuito de valorização econômica

da área, ações administrativas e legislativas de incentivo ao comércio local e à

geração de empregos ou, ainda, construção de escolas, hospitais, habitação popular

ou transporte público.

Há que diferenciar, portanto, entre o cenário desejável da sociedade civil,

organizada em rede para discutir os seus problemas, promover valores civis e

propiciar o uso pacífico e coletivo de espaços públicos; e o cenário arbitrário de uma

cidade privatizada pela imposição coativa de uma ordem de valores e da

segregação ou exclusão de indivíduos ou grupos com padrões de conduta tidos

como “desviantes” (SOARES, 2006).

A ambivalência do conceito de participação social em ações de prevenção

criminal domina a discussão em torno do “policiamento comunitário”. Em princípio

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estão todos de acordo com a filosofia que policiais e cidadãos devam aproximar-se

na busca de soluções conjuntas para os problemas; na prática, contudo, dentro da

filosofia da participação comunitária desenvolve-se um movimento sem contornos

definidos (SILVA FILHO, 2003).

Em algumas experiências, a idéia de participação restringe-se a esforços

cosméticos de relações públicas, no qual a polícia se vale de contatos com certas

organizações sociais locais, em geral aquelas mais receptivas, para legitimar suas

práticas e melhorar a sua imagem. Outras experiências refletem uma concepção de

participação restrita à idéia de organização de redes de vigilância entre vizinhos com

o intuito de converter os cidadãos em instrumentos do controle policial.

Mas o potencial inovador do conceito de participação, compatível com as

experiências mais inovadoras de policiamento comunitário, não está na constituição

de uma “sociedade de controle”, em que o cidadão atua como policial, mas na

possibilidade de democratização da atividade da polícia, para que o policial atue

como cidadão (SILVA FILHO, op.cit).

Por democratização entende-se não somente a existência de mecanismos de

prevenção e punição de abusos policiais (controle negativo), mas também a

existência de canais de participação social nos processos decisórios relacionados ao

exercício da função policial (controle positivo) (DIAS NETO, 2003).

As iniciativas mais consistentes de policiamento comunitário são aquelas que

souberam incorporar a metodologia do “policiamento orientado a resolução de

problemas”, é a metodologia policial voltada para solução de conflitos atinentes à

Segurança Pública e à comunidade, canalizando a participação dos cidadãos na

identificação, análise e planejamento de respostas aos problemas da área. A

associação entre os dois modelos viabiliza um conceito mais tangível de

comunidade e mais compatível com a realidade urbana contemporânea,

caracterizada pela diversidade de valores, ausência de vínculos territoriais, alta

mobilidade social e baixa participação política.

Comunidade torna-se conceito de sentido prático; comunidade é um grupo de

pessoas que dividem o interesse por um problema: a recuperação de uma praça, a

construção de um centro comunitário, a prevenção de atos de vandalismo na escola,

a alteração de uma lei ou a ineficiência de um determinado serviço público. A

expectativa é que a somatória de experiências bem-sucedidas de mobilização social

em torno de problemas possa, ao longo do tempo, contribuir para melhorar o

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relacionamento entre polícia e sociedade e fortalecer os níveis de organização da

sociedade (GOLDSTEIN, 1990).

O ideal de participação não corresponde ao cenário idílico de uma

“comunidade” sem conflitos, mas de uma sociedade capaz de dar dimensão política

aos seus conflitos e viabilizar a convivência democrática entre distintas expectativas

de autonomia em um mesmo espaço territorial.

A sociedade e o Estado vêm passando por várias transformações, como

demonstrado no decorrer deste capítulo, conseqüentemente os anseios sociais por

Segurança também se modificaram. O conceito de Segurança Pública se encontra

em construção devido a um passado recente de repressão social (1964-1985) e a

realidade democrática inaugurada com a Constituição de 1988. Assim, as Políticas

de Segurança Pública para a sociedade ainda carecem de muito debate e vontade

política para um amadurecimento compatível com a vontade social.

Desta forma, por Controle Social entende-se a participação da sociedade no

acompanhamento e verificação das ações da gestão pública na execução das

políticas públicas, avaliando objetivos, processos e resultados (FERREIRA, 1997).

Essa breve reflexão sobre o Estado buscou introduzir a discussão sobre a

questão da Segurança, onde o Estado assume o papel de garantidor da Segurança

Pública. Portanto, o Estado organizará mecanismos formais de controle social,

como: Justiça, Polícia e Sistema Prisional para consecução da ordem pública e a

própria manutenção do Sistema Capitalista, que é sua base político-econômica.

No capitulo seguinte desta dissertação buscar-se-á discutir a Segurança

Pública como Política Pública, como questão de interesse e alcance social, em uma

perspectiva de gestão democrática e participativa.

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3 POLÍTICAS PÚBLICAS E POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA

Este segundo capítulo tem como finalidade fazer uma abordagem em torno

das políticas públicas e Políticas de Segurança Pública. Para este fito, parte-se de

uma abordagem histórica das políticas públicas no Brasil. Apresentam-se também os

pressupostos da Política de Segurança Pública, bem como uma discussão em torno

da natureza das Políticas de Segurança Pública no Brasil, finalizando-se com uma

abordagem sobre a Política de Segurança como estratégia de gerenciamento de

crises.

3.1 POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL

O estudo das Políticas Públicas no Brasil requer uma discussão sobre a

herança das configurações do Estado brasileiro e suas repercussões nas políticas

públicas nacionais. A evolução das políticas públicas coincide com a própria

evolução social e política brasileira.

Em 1980, o Brasil era o oitavo produto interno bruto (PIB) industrial do mundo.

Depois dos sete grandes, o oitavo era o Brasil. Isto dá uma idéia da mudança de

perfil na sociedade e na economia em meio século. O que alguns países levaram

séculos para fazer, o Brasil fez em aproximadamente cinqüenta anos. Transformou-

se numa potência industrial média, com a maior parcela da população morando nas

cidades. Este é o perfil atual do Brasil. Para entender a conjuntura presente, é

necessário saber que Estado se tinha anteriormente e que heranças e traços foram

se fixando nesse percurso (SANTO-SÉ, 2005).

O Estado brasileiro nesse período (1920-1980) se caracterizou pelo caráter

desenvolvimentista, conservador, centralizador e autoritário (CARVALHO, 2007).

Não era um Estado de Bem-Estar Social 5 . O Estado era o promotor do

desenvolvimento e não o transformador das relações da sociedade. Um Estado

5 Estado de Bem-estar Social ou Estado-providência (em inglês: Welfare State) é um tipo de organização política e econômica que coloca o Estado (nação) como agente da promoção (protetor e defensor) social e organizador da economia. O Welfare State foi o mecanismo encontrado pelo Sistema Capitalista para que não se escotasse em si mesmo, ou seja, para competição capitalista tem de haver as condições mínimas de existência de parte da população; sem pessoas não há mão de obra, nem consumo, nem lucro, base do Capitalismo. (site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Estado-provid%C3%AAncia).

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conservador que logrou promover transformações fantásticas sem alterar a estrutura

de propriedade, por exemplo. Nesse período, o grande objetivo do Estado brasileiro

era consolidar o processo de industrialização. A grande tarefa era fazer do Brasil

uma grande potência. Desta forma, o objetivo maior era de ordem econômica:

construir uma potência intermediária no cenário mundial. O Estado desempenhava a

função de promover a acumulação privada na esfera produtiva (ARAÚJO, 2000). O

essencial das políticas públicas estava voltado para promover o crescimento

econômico, acelerando o processo de industrialização, o que era pretendido pelo

Estado brasileiro, sem a transformação das relações de propriedade na sociedade

brasileira.

O Estado brasileiro é, tradicionalmente, centralizador. A pouca ênfase no

bem-estar, ou seja, a tradição de assumir muito mais o objetivo do crescimento

econômico e muito menos o objetivo de proteção social ao conjunto da sociedade,

fez com que o Estado adquirisse uma postura de fazedor e não de regulador. Isso

ocorreu na ditadura Vargas (1937-1945) e, depois, na ditadura nos governos

militares (1964-1985). Assim, o formato autoritário é uma marca das políticas

públicas brasileira (SAPORI, 2007).

Em virtude do perfil autoritário brasileiro, o Estado não precisava se legitimar

perante a grande parcela da sociedade, ficando refém dos lobbies dos poderosos

nos gabinetes, principalmente, de Brasília, já que se concentravam na União as

decisões. E as lideranças populares, no período da ditadura, nem contestação

podiam fazer. Algumas estavam exiladas, outras foram mortas. Desta forma, a

tradição, o ranço da vertente autoritária, tornou-se um traço muito forte nas políticas

públicas do Brasil, e as políticas públicas eram muito mais políticas econômicas do

que sociais (SENTO-SÉ, 2005).

A política centralizadora se traduz pela tentativa de homogeneização da

sociedade, o que é impossível, em virtude da diversidade humana. A centralização

faz com que as propostas venham de cima para baixo, e essa é uma tradição das

políticas sociais no Brasil. A cultura centralizadora teve como conseqüência o

insulamento burocrático (isolamento), a dificuldade de promover a participação da

sociedade nos projetos de interesse público (ARAÚJO, 2000). Tal característica se

reflete bastante na área de Segurança Pública.

O processo de redemocratização vivido pelo Brasil, a partir do início dos anos

80, desencadeou, entre muitas outras coisas, uma reviravolta nos estudos até então

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realizados sobre as políticas públicas. Segundo Melo (1999), de uma preocupação

mais geral com o Estado e posteriormente com as políticas sociais, a partir dos anos

80 entram em cena diversos estudos sobre políticas setoriais que jamais haviam tido

projeção no debate sobre as políticas públicas. Esse redirecionamento nas

preocupações de estudiosos e especialistas é provocado, segundo o autor, por três

fenômenos: em primeiro lugar, ocorre uma mudança na agenda pública.

Durante os anos 70, tiveram relevância as questões relativas ao modelo de

desenvolvimento econômico, ao impacto redistributivo das ações governamentais,

ao processo de modernização conservadora empreendida pelo regime autoritário. A

redemocratização provocou a mudança na percepção do Estado em favor de uma

pesquisa mais sistemática e afinada com a agenda de reforma da Nova República.

Assim, passa a interessar o próprio modus operandi (maneira de atuação) do Estado

e abre-se o debate em torno da questão da descentralização, da participação, da

transparência, da relação público-privado. Além disso, a partir dos anos 80

consolida-se a idéia de que a democracia, além de um fim em si mesmo, é

igualmente condição essencial para a eficácia da ação do Estado (MELO, 1999).

Em segundo lugar, ampliou-se a análise de políticas públicas, a partir da

constatação de que, não obstante a vigência do processo de democratização,

continuava a imperar diversos obstáculos para a efetivação de ações

governamentais, em particular no campo das políticas sociais. Estudos se

desenvolveram para entender as condições e a capacidade do Estado de efetivar as

ações públicas.

Tal preocupação ocupou a agenda pública dos anos 80 e 90 e ganharam

relevância, então, as questões relativas ao desenho institucional. Assim, os estudos

se voltaram para a verificação da qualidade da intervenção pública, por meio do

acompanhamento dos níveis de eficiência de políticas e programas. Como

desdobramento dessas questões, coloca-se o desafio da análise das relações entre

a cultura política e o desenho institucional e, mais especificamente, do peso da

cultura política nos níveis de efetividade e eficácia, questões que ampliaram o

debate sobre a participação da sociedade civil, sua capacidade de organização e

participação política.

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Pode-se observar que, em um certo sentido, se antes o objeto do “encantamento” da imaginação social brasileira era a ação estatal, nos anos 90, esse objeto passa a ser representado, de forma paulatina e ainda embrionária, pela sociedade civil (MELO, 1999, p.82).

Embora existam poucos trabalhos que tenham buscado fazer um balanço

consistente das análises sobre as Políticas de Segurança Pública no Brasil, deve-se

lembrar que a produção dessa área, sobretudo a partir do início dos anos 80, pode

ser perfeitamente inserida nos marcos da análise sugerida acima por Melo (1999). À

medida que se altera a agenda política no Brasil, com o processo de

redemocratização, alguns trabalhos foram elaborados procurando pensar os

desafios da Segurança Pública em meio ao processo mesmo de recomposição da

República democrática brasileira. Não demorariam a surgir trabalhos e pesquisas

nessa seara: Soares (2000); Silva Filho (2003); Sento-Sé (2005) e Rolim (2006);

entre outros que passariam a analisar, por meio de levantamentos empíricos, os

obstáculos que se interpunham à efetiva implementação das políticas por parte do

Estado que, embora mantivesse traços de autoritarismo, passava a assumir um perfil

mais democrático.

Parte dessas análises apresenta as “contradições” entre o quadro institucional

recém-instalado, cada vez mais pautado pela democratização, e a persistência de

parâmetros político-administrativos que se interpunham na efetiva realização das

ações governamentais e também no efetivo exercício dos direitos dos cidadãos.

Mais recentemente, as análises de Políticas Públicas de Segurança têm se voltado

para a questão da reforma do Estado e, principalmente, para o debate sobre o papel

da sociedade civil no processo não só de criação de uma agenda para a área de

Segurança Pública, mas também como ator diretamente envolvido na

implementação de ações e políticas.

Assim, conceituar a categoria políticas públicas não é simples, mas no

contexto do estudo das Políticas de Segurança Pública se faz necessário adentrar

nesse campo de estudo, tão importante para concretização do Estado Democrático

de Direito. Os estudiosos da matéria optam por definições mínimas que permitam

adentrar nos temas centrais sem muito se fixar nos contornos (MULLER, 1990).

O conceito de Políticas Públicas é bastante abrangente, qualquer tentativa

reducionista está fadada ao insucesso, tendo em vista as várias correntes

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doutrinárias que discorrem sobre a matéria. Mas, foram relacionados à frente alguns

conceitos que nortearam o debate proposto por este trabalho científico.

Toda política pública é uma forma de regulação ou intervenção na sociedade. Articula diferentes sujeitos, que apresentam interesses e expectativas diversas. Constitui um conjunto de ações ou omissões do Estado decorrente de decisões e não decisões, constituída por jogos de interesses, tendo como limites e condicionamentos os processos econômicos, políticos e sociais. Isso significa que uma política pública se estrutura, se organiza e se concretiza a partir de interesses sociais organizados em torno de recursos que também são produzidos socialmente. Seu desenvolvimento se expressa por momentos articulados e, muitas vezes, concomitantes e interdependentes, que comportam seqüências de ações em forma de respostas, mais ou menos institucionalizadas, a situações consideradas problemáticas, materializadas mediante programas, projetos e serviços (SILVA, 2001, p.37).

Conforme o disposto acima, verifica-se que uma das características das

políticas públicas é a intervenção estatal, não de qualquer forma, mas se

coadunando com o anseio social. Nesse aspecto há um entrave a ser considerado

nas ações governamentais na área de Segurança Pública do Piauí como políticas

públicas, porque por diversas vezes essas ações atendem mais a interesses

políticos do que a interesses coletivos; tem-se o exemplo do Piauí, onde as decisões

dessa área se restringem à cúpula dos órgãos responsáveis pela Segurança Pública

no estado, ou seja, a sociedade civil fica às margens desse processo decisório, o

que descaracteriza uma política pública.

[...] toda política pública é um mecanismo de mudança social, orientada para promover o bem-estar de segmentos sociais, principalmente os mais destituídos, devendo ser um mecanismo de distribuição de renda e de eqüidade social. Vista como mecanismo que contém contradições, contrapõe-se à percepção da política pública como mero recurso de legitimação política ou de uma intervenção estatal subordinada tão somente à lógica da acumulação capitalista (SILVA, 2001, p. 37-38).

Contextualizando para a Segurança Pública a discussão acima desenvolvida,

verifica-se total adequação aos temas propostos, haja vista uma das questões que

mais preocupa a sociedade atual é a insegurança pública, gerada pela violência e

pela criminalidade. Nessa perspectiva, pensar a Segurança Pública como Política

Pública é fundamental para promoção do bem-estar social, pois visa a preservação

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da vida, e a Segurança Pública não pode ser tratada isolada da agenda social do

Estado.

Nesse aspecto, esta investigação científica considera a Segurança Pública

como Política Pública, devendo a sociedade ser partícipe em todas as fases do

citado processo (SANTOS, 2004; SAPORI, 2007; SENTO-SÉ, 2005; SOARES,

2006). Embora, se constate, ainda, no Piauí a não operacionalização da Segurança

Pública como política pública, conforme será demonstrado, na pesquisa, haja vista a

ausência de participação da sociedade na implementação das ações de Segurança

Pública e, também, pela falta de avaliação das ações referenciadas.

Já para Muller (1990) as políticas públicas representam um processo de

mediação social, na medida em que o objeto de cada política é o de tomar em

encargo os desajustamentos que podem intervir entre um setor e outros setores, ou

ainda entre um setor e a sociedade global. O citado autor entende que o objeto de

uma política pública é a gestão de uma relação setorial, que se notará com

abreviatura “RGS”.

Outro aspecto interessante a ser abordado é a necessidade de inserção do

município, enquanto importante ator social, no contexto das Políticas Públicas de

Segurança, em virtude de ser no município onde reside a sociedade, bem como o

município pode contribuir com recursos humanos e operacionais6 na proteção do

patrimônio público por meio da criação de Guardas Municipais. A partir de 1988, a

Constituição Federal, Art.144, §8º, autoriza a institucionalização de Guardas

Municipais. De acordo com o citado dispositivo legal: “§ 8º - Os Municípios poderão

constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e

instalações, conforme dispuser a lei” (BRASIL, 2008).

Na perspectiva inserida pela Constituição Federal de 1988 a Segurança

Pública é destacada como uma questão política, no sentido de perceber como o

Estado está organizado e a partir de então como ele organiza a sociedade. Nessa

visão mais abrangente de Segurança Pública ela deve ser entendida como política

pública.

Para Teixeira (2002), políticas públicas são as diretrizes, princípios

norteadores de ação do poder público; regras e procedimentos para as relações

entre poder público e sociedade, mediações entre atores da sociedade e do Estado

6 Recursos operacionais são aqueles os relacionados à consecução da atividade fim da Polícia, que é o policiamento, como: viatura, armamento, coletes a prova de bala e uniformes.

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de vontade e as ações desenvolvidas. Nem sempre, porém, há compatibilidade entre

as intervenções e declarações de vontade e as ações desenvolvidas. Devem ser

consideradas também as “não-ações”, as omissões, como forma de manifestação de

políticas, pois representam opções e orientações dos que ocupam cargos.

As “políticas públicas”, consideradas como mecanismos para a materialidade dos direitos básicos e fundamentais à condição de cidadão, ainda se encontram bastante fragilizadas. Não é possível afirmar sua existência efetiva, no atual contexto brasileiro de redução da ação do Estado e de verbas na área social, o que redunda na diminuição de oferta de serviços públicos nas áreas de educação, saúde, moradia dentre outras. Em lugar de uma política universal e com condições de atender o “cidadão de direitos”, o que temos visualizado é ainda programas e/ou projetos pontuais, voltados para o “pobre”, não demonstrando capacidade de superar os problemas mais cruciais vividos por ele (FERREIRA, 2003, p.20).

As políticas públicas ainda hoje não são acessíveis a toda a população,

negando, assim, o exercício pleno da cidadania (CARVALHO, 2003). As

comunidades mais carentes, como as da periferia de Teresina-PI, vivenciam as

agruras de políticas governamentais que priorizam pequenos segmentos da

sociedade, detentores do poder político7 e econômico, o que no caso da Segurança

Pública fica patente quando da “priorização” do policiamento ostensivo nas áreas

denominadas de “nobres”, através do aumento do efetivo de Policiais Militares na

zona leste de Teresina, principalmente no período de fim de ano (Natal e Reveillon).

A análise sobre a conquista desses espaços deve ser urgentemente

aprofundada, para que se possa ter a dimensão da forma como a sociedade civil

organizada é integrada ao processo de governo e à elaboração de Política de

Segurança Pública. Se de fato se constitui numa instância de democratização da

arena decisória ou se está se tornando um outro espaço de burocratização desta

mesma arena.

As políticas públicas traduzem, no seu processo de elaboração e

implementação, e, sobretudo, em seus resultados, formas de exercício do poder

político, envolvendo a distribuição e redistribuição de poder, o papel do conflito

social nos processos de decisão, a repartição de custos e benefícios sociais.

7 O poder político aqui trabalhado é a capacidade de uma elite política, composta por poucos, impor seus interesses político-econômicos para a maioria da população que reside em determinada área. Tal poder político é uma construção histórica das relações sociais (ADORNO, 1998).

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Como o poder é uma relação social que envolve vários atores com projetos e

interesses diferenciados e até contraditórios, há necessidade de mediações sociais e

institucionais, para que se possa obter um mínimo de consenso e, assim, as políticas

públicas possam ser legitimadas e obter eficácia.

Elaborar uma política pública significa definir quem decide o quê, quando,

com que conseqüências e para quem. São definições relacionadas com a natureza

do regime político em que se vive, com o grau de organização da sociedade civil e

com a cultura política vigente. Nesse sentido, cabe distinguir “Políticas Públicas” de

“Políticas Governamentais”. Nem sempre Políticas Governamentais são públicas,

embora sejam estatais. Para serem públicas, é preciso considerar a quem se

destinam os resultados ou benefícios, e se seu processo de elaboração é submetido

ao debate público. Por exemplo: o programa “Bolsa Escola” do governo Lula poderá

acabar, findado seu governo, enquanto a Política de Educação, que é uma Política

Pública, tem existência própria, ou seja, possui diretrizes.

Corroborando o que já foi pesquisado nesta dissertação, conforme será

melhor apresentado no próximo capítulo, verifica-se que a Segurança Pública do

Piauí tem se caracterizado diretamente pelas ações do gestor da Secretaria de

Segurança, ou seja, o fato de não haver a assunção da Segurança Pública como

política pública tem contribuído para centralização das decisões na autoridade do

Secretário de Segurança Pública do Piauí. Portanto, não havendo diretrizes

objetivas a serem desenvolvidas, nem documento formal e público que oriente os

caminhos da Segurança no Piauí, enquanto política de Estado, fruto de uma

discussão com a sociedade, a Segurança Pública só dependerá das ações

implementadas pelo Secretário de Segurança, fundamentadas em sua visão de

mundo e suas escolhas.

Assim, a presença cada vez mais ativa da sociedade civil nas questões de

interesse geral torna inevitável a abertura do debate sobre a Segurança Pública

como condição para democratização desse espaço público. As políticas públicas

tratam de recursos públicos diretamente ou através de renúncia fiscal (isenções), ou

regula relações que envolvem interesses públicos. Elas se realizam num campo

extremamente contraditório onde se entrecruzam interesses e visões de mundo

conflitantes, no qual os limites entre público e privado são de difícil demarcação. Daí

a necessidade do debate público, transparência, da sua elaboração em espaços

públicos e não apenas nos gabinetes governamentais.

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Os objetivos das políticas têm uma referência valorativa e exprimem as

opções e visões de mundo daqueles que controlam o poder, mesmo que, para sua

legitimação, necessitem contemplar certos interesses de segmentos sociais

dominados, dependendo assim da sua capacidade de organização e negociação.

A política pública é resultado de um demorado e intricado processo que

envolve interesses divergentes, confrontos e negociações entre várias instâncias

instituídas ou arenas e entre os atores que delas fazem parte. Rua (1998, p. 731)

opta por uma definição bastante sugestiva de políticas públicas: “proponho o

entendimento das políticas públicas como conjunto de decisões e ações destinadas

à resolução de problemas políticos”.

Em uma perspectiva democrática, quanto mais atores sociais ou institucionais

fizerem parte do curso político, mais amplo ele será, sendo a política pública o

resultado das relações estabelecidas entre eles. Logo, a política pública compreende

um conjunto de atores ou grupos de interesses que se mobilizam em torno de uma

política; instituições, cujas regras de procedimento impedem ou facilitam o acesso de

atores às arenas decisórias; processo de decisão, no qual os atores estabelecem

coalizões e fazem escolhas para a ação; e produtos do processo decisório ou

política resultante (MELO, 1999).

O Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP), do governo Lula, apresenta

uma seqüência lógica de ações, com as seguintes fases: diagnóstico,

implementação, avaliação e monitoramento da Segurança Pública a nível nacional e

regional. O PNSP representa a operacionalização da Política de Segurança Pública

Federal nos estados, conforme se verifica adiante:

Para que um programa se realize, é necessário que o processo transite entre os seguintes estágios: o diagnóstico das dinâmicas criminais e dos fatores de risco (seja de vitimização, seja de atração para o crime), local e geral, sensível às variações ditadas pelas circunstâncias e as conjunturas; a elaboração de um plano de ação, capaz de formular uma agenda, identificar prioridades e recursos, e estipular metas; sua implementação (que importa em tarefas de coordenação e de garantia de cumprimento de metas e cronogramas); sua avaliação (não só dos resultados, também do processo), seguida do monitoramento, que significa a correção de rumo ditada pela constatação dos erros. É conveniente implantar projetos piloto e observá-los, criticamente, como experimentos-demonstração (BRASIL, 2002, p. 13).

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A seqüência elencada é um referencial para nortear as ações federais e

estaduais na seara da Segurança Pública. Também há acordo em que, ao analisar

uma política, faz-se necessário examinar as agências formadoras de políticas, as

regras para tomada de decisão, as inter-relações entre as agências e os

formuladores, bem como os agentes externos que influenciam o seguimento das

decisões.

Gramsci (2004) destaca a política como centralidade para que o Estado seja

entendido, apreendido pelas classes subordinadas ou subalternas, ressaltando a

categoria de hegemonia, ou o domínio das normas e dos valores da classe

capitalista dominante legitimado pelo aparelho do Estado. Deste modo, a essência

das crises no capitalismo não é econômica, mas política e resultaria do fracasso do

consenso originado dos valores e normas dominantes e da possibilidade de

transformação construída na luta dos trabalhadores, baseada em uma contra-

hegemonia fundada em outros valores e normas contrárias àquelas criadas e

recriadas pelas classes conservadoras defensoras do status quo. Portanto, Estado e

Sociedade Civil não seriam instâncias separadas, mas imbricadas entre si.

Tem-se aqui uma primeira noção sobre política pública referindo-se às ações

sob a responsabilidade dos governos e do Estado, compreendendo a intermediação

de interesses organizados e instituídos de acordo com as instâncias decisórias e de

operacionalização de políticas.

Quanto à raiz etimológica, o termo política pública deriva do inglês "public

policy". A palavra "policy" se relaciona com iniciativas governamentais, diretrizes,

ações, planos e interesses sociais, enquanto a palavra "politics" refere-se à política

partidária, políticos, interesses partidários e interesses particulares. Isto é, políticas

públicas não se restringem à esfera governamental, às ações de governo,

contemplam, também, os interesses privados, partidários, políticos e sociais.

Como se verifica, trata-se de um processo complexo e dinâmico, envolvendo

componentes distintos e agentes que decidem sobre a adoção de diretrizes,

formulam planos visando ações direcionadas para o presente e futuro, cuja

responsabilidade é, predominantemente, de órgãos governamentais.

Para Sapori (2007), política pública é o conjunto de ações governamentais ou

de intervenção estatal, articuladas a interesses coletivos e voltadas para atender as

demandas sociais e a garantia do exercício do poder político, configurando um

compromisso público que visa dar conta de questões sociais e políticas em diversas

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áreas. É um processo político no qual se dá a negociação de atores institucionais e

sujeitos políticos diversos, em momentos e circunstâncias diferentes.

Desta forma, expressa a ação do Estado onde se verifica: a) a mediação de

interesses, o exercício do poder e a participação de diferentes sujeitos políticos; b)

destaca as relações entre Estado e os grupos representativos da sociedade civil; c)

orienta os recursos humanos e materiais na busca de determinados resultados, de

forma que não pode ser confundida como um ato isolado; d) apresenta uma

estrutura relativamente permanente que oferece referência para os atores e sujeitos

em seus processos de tomada de decisão; e) tem como um de seus postulados a

existência de convergência entre o conteúdo da política, os atores institucionais, os

sujeitos políticos e os mecanismos disponíveis para sua execução (SAPORI, 2007).

3.2 PRESSUPOSTOS DA POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA

A função do Estado de prover a Segurança Pública é recente, advém da

Constituição Federal de 1988. Antes, a polícia, órgão responsável pela

operacionalização da Política de Segurança Pública, tinha a competência de

repressão dos movimentos sociais, estudantes e políticos, no período de Ditadura

Militar (1964-85). Como já fora demonstrado no primeiro capítulo, o conceito de

Segurança Pública engloba, nessa nova perspectiva constitucional, uma relação

intensa entre Estado e sociedade na construção da cidadania, através da proteção

de direitos fundamentais, como o direito: à liberdade, à integridade física, à

propriedade, ao emprego e à própria vida, entre outros.

Na realidade, não há uma legislação nacional (federal) que regulamente como

deve ser estruturado um Plano de Segurança Pública para os Estados federados à

União, há apenas um conjunto de diretrizes consubstanciado pelo Plano Nacional de

Segurança Pública disponíveis aos Estados. É importante lembrar que a

competência do provimento da Segurança Pública é dos estados, a Constituição

apenas estabelece seus órgãos constituintes, as polícias, mas não seu controle e

regulamentação, que é de competência estadual.

O Governo Federal, a partir de 2000, idealizou e apresentou um Plano

Nacional de Segurança Pública, demonstrando, desta forma, a necessidade de

participar da Segurança Pública nos estados brasileiros. Esse ato significou

assunção da responsabilidade Federal sobre a prevenção e enfrentamento da

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violência e da criminalidade, não apenas com recursos financeiros, mas

assessoramento técnico e acompanhamento das Políticas de Segurança Pública.

A questão de um modelo de uma Política de Segurança Pública para os

estados é bastante complexa, haja vista que essa discussão surgiu a nível nacional

no final do segundo mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso (2001),

porém a União não dispõe de mecanismos legais para impor as diretrizes que

entende ser ideal aos estados, podendo apenas propor convênios. Assim, o Plano

traz em seu preâmbulo a seguinte proposta:

O objetivo do presente documento é submeter à apreciação da sociedade um projeto de segurança pública cuja meta é a redução daquelas modalidades da violência que se manifestam sob a forma da criminalidade. Esse gravíssimo problema é parte de uma constelação mais ampla de práticas, circunstâncias históricas, condições institucionais e relações sociais violentas. As interfaces e superposições com outras problemáticas são tantas e tão relevantes, que se torna imperioso tratá-las, definindo-as como pertinentes ao âmbito de abrangência do objeto principal. [...] Daí a conclusão: ou haverá segurança para todos, ou ninguém estará seguro, no Brasil. Segurança é um bem por excelência democrático, legitimamente desejado por todos os setores sociais, que constitui direito fundamental da cidadania, obrigação constitucional do Estado e responsabilidade de cada um de nós (BRASIL, 2002 p. 4 e 5).

Em meados de 2002 o Instituto Cidadania8 desenvolveu o “Projeto Segurança

Pública para o Brasil”, em atendimento à solicitação do Partido dos Trabalhadores,

que fazia parte do programa de governo do, então, candidato à Presidência da

República, Luiz Inácio Lula da Silva. Posteriormente foi convertido no “Plano

Nacional de Segurança Pública”, da Secretaria Nacional de Segurança Pública,

órgão do Ministério da Justiça.

O Plano Nacional de Segurança Pública, proposto pelo Governo Federal,

através do Ministério da Justiça, deu prioridade a uma série de ações estratégicas

para o enfrentamento da criminalidade, que serão expostas no decorrer deste

trabalho científico. A liberação de recursos federais revitalizou as instituições

policiais, não só quanto a equipamentos, mas, suscitou a necessidade da busca por

qualificação, treinamento e suscito as primeiras discussões sobre a Política de

Segurança Pública do Brasil. 8 O Instituto Cidadania é uma Organização não-governamental, que faz estudos nas áreas de Segurança Pública, violência, criminalidade e os diversos campos do saber que possibilitam o acesso à cidadania.

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O governo federal pode, através da SENASP, propor convênios com os

estados da federação para adoção de algumas de suas diretrizes, como

implementação de: Gabinetes de Gestão Integrada, Corregedorias de Polícia,

Ouvidoria de Polícia, Coordenadorias de Polícia Comunitária, Serviço de Inteligência

Integrado, Delegacias Especializadas de Defesa dos direitos das Mulheres,

Crianças, Idosos, Negros, Homossexuais, etc. Porém, há de se registrar a

dificuldade em implementar as intenções assinadas, haja vista a herança sócio-

cultural que assola a Segurança Pública brasileira.

No entanto, a partir do ano de 2004, o Plano Plurianual do Governo Federal

tem incluído as seguintes ações no programa relacionado à implantação do (Sistema

único de Segurança Pública (SUSP): a) Modernização organizacional das

instituições do Sistema de Segurança Pública (implantação da segurança cidadã); b)

Sistema integrado de formação e valorização profissional; Implantação e

modernização de estruturas físicas de unidades funcionais de Segurança Pública; c)

Implantação de projetos de prevenção da violência; d) Implantação do sistema

nacional de gestão do conhecimento e de informações criminais; e)

Reaparelhamento e modernização dos órgãos de Segurança; Intensificação da

repressão qualificada. As políticas de segurança pública nos estados, inclusive no Piauí, esbarram

no conservadorismo das instituições policiais, onde não se verificam grandes

transformações na estrutura dessas Agências, tornando-se difícil aplicar novas

filosofias em estruturas arcaicas (SILVA FILHO, 2003). Nessa perspectiva os

pesquisadores citam o caso da Polícia Comunitária, onde se tem “um vinho velho em

uma garrafa nova9” (SOARES, 2006). A reforma do pensamento se faz necessária,

em uma perspectiva democrática. As polícias, nessa ótica, mantêm intactas elites

organizacionais que se mostram saudosas do período áureo da instituição, anterior à

Constituição.

No Piauí, programas de treinamento de policiais têm sido empreendidos em

convênios com Universidades, sob a tutoria das Diretorias de Ensino das polícias, e

mesmo com essa observação limitadora, os convênios com Instituições de Ensino

9 A expressão “vinho velho em garrafa nova” é utilizada pelos críticos da filosofia de Polícia Comunitária, ao entenderem que a doutrina de Polícia Comunitária nada mais é que um modelo tradicional mascarado de novo, ou seja, na essência não apresenta transformações no Sistema de Segurança Pública.

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Superior são importantes passos para a implementação de mudanças futuras no

arranjo institucional da Segurança Pública.

Em relação ao ensino, vem se destacando os convênios celebrados entre a

Polícia Militar do Piauí e a Universidade Estadual do Piauí na formação da

Oficialidade da PMPI, através da Academia de Polícia Militar do Piauí, localizada em

Parnaíba-PI, e o Curso de Especialização em Gestão da Segurança Pública

(CEGSP), que qualifica os Capitães da PMPI, ministrado no Centro de Ensino

Superior (CES) da PMPI, em Teresina-PI.

Já em relação aos modelos apresentados pelos Estados de Minas Gerais e

São Paulo, de Política de Segurança Pública, servem apenas como referenciais

interessantes a serem estudados suas viabilidades para o Piauí, após a devida

adequação, haja vista não haver receita pronta e acabada para elaboração e

implementação de uma Política de Segurança Pública. A Segurança Pública deve

ser fruto de uma construção coletiva, não apenas de decisões isoladas nos

gabinetes das autoridades de Segurança. A discussão do tema é o primeiro passo,

ainda se faz necessário bastante estudo e reflexão sobre a Política de Segurança

adequada à necessidade de cada sociedade (SOARES, 2000).

Para mudar é preciso aplicar políticas públicas eficazes, eficientes 10 e

articuladas – com especial ênfase na prevenção -, intersetoriais e criativas, que

focalizem com prioridade os jovens vulneráveis e interceptem as dinâmicas

geradoras da violência, como o trafico de drogas (SENTO-SÉ, 2005).

Além das ações sociais integradas e consistentes, é urgente a implementação

– isso vale para todo o país – de Políticas de Segurança capazes de reformar

profundamente nossas instituições policiais (sob responsabilidade dos estados). Nos

municípios estas políticas deveriam criar ou reformar as Guardas Municipais. Tais

políticas deveriam substituir a tradicional fragmentação – em que as polícias

estaduais, federais e as Guardas Municipais não se comunicam entre si e não

cooperam – por um Sistema Único de Segurança Pública (o que implicaria a

integração sistêmica das instituições que atuam na área), moralizado, transparente,

gerencialmente moderno e comprometido, na prática, com a redução da

criminalidade e o respeito às leis e aos Direitos Humanos (SOARES, 2006).

10 Políticas de Segurança Pública eficazes e eficientes são aquelas pautadas em planejamento e utilização intensa da Atividade de Inteligência policial, que substitui o uso desnecessário da força (violência) pela tecnologia da informação.

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Deduz-se desse quadro e a ele se aduz o seguinte: enfrenta-se a insegurança

agindo-se, simultaneamente, no front social e no front policial – na perspectiva do

trabalho, este front é ocupado pela ação policial, cujo trabalho comunitário pode

cumprir papel de grande relevância juntamente com os Conselhos Comunitários de

Segurança (CONSEG).

O investimento no social faz parte de uma Política de Segurança Pública, a

disputa de crianças e adolescentes com o tráfico de drogas e a participação do

município nas discussões e implementações de tais políticas é fundamental. Durante

muito tempo achou-se que a Segurança Pública era responsabilidade exclusiva dos

estado, em virtude do texto constitucional, porém, com o amadurecimento das

instituições democráticas, percebeu-se a importância da União e dos municípios

para consecução da Segurança, pois é no município onde residem as pessoas.

Intervenção efetivamente capaz de prevenir a violência e a criminalidade é

aquela que se processa em duas frentes de “batalha”: uma preventiva - ação voltada

para a mudança de estruturas sociais injustas, cujos efeitos provavelmente

exerceriam algum impacto futuro desacelerador sobre as dinâmicas criminais - e

outra repressiva, através da ação policial para inibir a prática de delitos (SENTO-SÉ,

2005).

Sobre o modo de enfrentar o problema, competindo com o poder de atração

do tráfico e disputando, com efetivas chances de êxito, menino a menino, há toda

uma agenda a listar e executar. Os contornos gerais estão claros: o grupo mais

vulnerável é jovem e pobre, geralmente do sexo masculino, e representa o

contingente sob maior risco de dois pontos de vista: passivo e ativo, ou seja, quando

se diz “vulnerável”, refere-se, simultaneamente, à permeabilidade, à mensagem

sedutora do tráfico, que conduz esses jovens ao crime, e ao grau de exposição à

violência, que concentra, nessa faixa etária e social, os maiores índices de

vitimização letal (SOARES, 2006). Além disso, o que se diz sobre o tráfico de drogas

e armas, enquanto fonte de atração e risco para a juventude, é extensivo ao crime,

em geral, ou seja, qualquer que seja o recorte, conduzirá ao mesmo grupo de risco,

em sua dupla acepção.

Isso leva a concluir que uma Política de Segurança, cuja abordagem seja

preferencialmente preventiva, deve privilegiar esse público-alvo e tem de fazê-lo nas

dimensões material e simbólico-afetiva ou cultural-psicológica (SOARES, op. cit.).

Em síntese, tem de fazê-lo promovendo a integração ao mercado de trabalho e à

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inclusão social, em sentido estrito; tem de fazê-lo promovendo o acolhimento desses

jovens, isto é, reforçando-lhes a auto-estima e lhes proporcionando a imersão em

linguagens e valores, experiências identitárias e demarcações referenciais, que lhes

devolvam a esperança, a confiança no jogo da sociabilidade cidadã.

3.3 NATUREZA DAS POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL

A análise das políticas públicas tem como objeto o Estado em ação, os

“programas governamentais, particularmente suas condições de emergência, seus

mecanismos de operação e seus prováveis impactos sobre a ordem social e

econômica” (ARRETCHE, 2003, p.8). Uma das principais vertentes teóricas no

campo das políticas públicas é a chamada policy analysis. Ela utiliza alguns

conceitos, que são de fundamental importância para a compreensão das políticas

públicas e mesmo para a observação mais cuidadosa de determinados casos dentro

dessas políticas. Embora apresentados de forma independente, e em muitos casos

concretos tenham sido tratados como variáveis independentes, os conceitos de

polity, politics e policy permitem uma acurada observação de como se organizam as

políticas públicas, quando devidamente analisada a interdependência das esferas a

que se referem. Como sistematiza Frey (2000, p.216-7), polity refere-se à dimensão

institucional, ou seja, à “ordem do sistema político, delineada pelo sistema jurídico, e

à estrutura institucional do sistema político-administrativo”.

Já o conceito de politics envolve uma dimensão processual, ou seja, o

processo político, em geral conflituoso, quanto à imposição de objetivos, conteúdos

e decisões. E o conceito de policy refere-se à dimensão material, ou seja, aos

conteúdos concretos, à “configuração dos programas políticos, aos problemas

técnicos e ao conteúdo material das decisões políticas” (FREY, 2000, p.218). O

autor também sustenta que se é possível verificar que a polity possua uma

durabilidade temporal maior e, portanto, possa ter um certo nível de independência

em relação às demais dimensões, é praticamente impossível dissociar as

interferências recíprocas entre as esferas da politics e da policy.

Assim, considerando o contexto específico da segurança pública, pode-se

verificar que a dimensão do sistema jurídico-institucional mais amplo (polity) é

responsável, apenas em escala restrita, pelos contornos dos processos políticos e

das ações governamentais propriamente voltadas para essa área. Surpreende que,

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sob os diversos sistemas jurídico-políticos presentes nos contextos que aqui servem

de apoio, os processos e as ações tenham se revestido de formas, senão avessas,

ao menos incompatíveis com aquele quadro. De um lado, essa contradição remete à

questão do papel dos atores que definem a agenda das escolhas e decisões nessa

área, onde, talvez, muito mais que em qualquer outra estejam presentes, direta ou

indiretamente, os interesses das elites e também dos membros que integram as

agências que implementam as políticas.

Além disso, a questão da capacidade de intervenção e de influência no

debate e na definição das políticas, por parte dessas agências e dos membros que

as integram, remete a análise para a configuração dos aparatos institucionais na

área de segurança, no bojo do processo de constituição da própria burocracia

estatal; e, conseqüentemente para a verificação de seus níveis de diversificação e

eficiência, mas, sobretudo, para o grau de autonomização no seu funcionamento,

expresso nas práticas institucionais, na formulação de reformas calcadas nos

interesses funcionais; no provimento de recursos que consolidam essa autonomia e

ainda no grau de resistência que possam opor tais instituições a possíveis formas de

interferência “externa” nas suas atividades.

Importante considerar que há, no caso da Política Pública de Segurança,

alguns traços peculiares. Em primeiro lugar, é uma esfera na qual atuam de modo

marcante, instituições pertencentes aos poderes da República; há necessidade de

estreitas articulações “horizontais” entre os poderes Executivo e Judiciário (e em

menor escala o Legislativo), na própria viabilização das políticas públicas concebidas

para o setor. No entanto, cada um desses poderes e seus respectivos órgãos são

presididos por diferentes valores, interesses, orientações políticas e procedimentos

administrativos, que nem sempre operam na mesma direção das políticas

desejadas.

No curso do desenvolvimento histórico em que se formaram esses órgãos, o

processo de burocratização e de especialização nele contido, por certo aprofundou a

dimensão de um espírito de corpo peculiar a cada instituição integrante do sistema

de justiça criminal, que, em certa medida, contribui muitas vezes para o truncamento

do diálogo necessário para a articulação das políticas para o setor. Ao mesmo

tempo, na dimensão “vertical”, não são menores os desafios para que as análises

levem em consideração as diferentes atribuições das esferas do poder federal,

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estadual e municipal em relação ao setor de segurança pública bem como as

possibilidades de conflito, articulação e acomodação entre elas.

Interessa aqui considerar que os desafios não se referem apenas às

atribuições constitucionais que circunscrevem as ações de cada instituição a

domínios territoriais específicos, a determinados crimes, por exemplo, mas,

sobretudo, à questão das possibilidades de articulação de políticas nacionais,

formuladas e coordenadas a partir de negociações envolvendo os diferentes níveis

políticos.

O arranjo institucional da Segurança Pública do Brasil apresenta uma

peculiaridade que dificulta a implantação de um Sistema Único de Segurança

Pública. Considerando que a competência da gestão da Segurança Pública, a nível

constitucional, se concentra sob responsabilidade dos estados federados, tem-se

verificado a fragmentação da Política de Segurança Pública, haja vista que cada um

dos 27 (vinte e sete) estados tem duas Corporações distintas, a Polícia Civil e a

Polícia Militar; soma-se a isso a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal, a

nível nacional, perfazendo um total de 56 (cinqüenta e seis) instituições policiais no

Brasil, totalmente diferentes quanto à estrutura, formação profissional, vencimentos

e treinamento. Essa é uma dificuldade para implementação da Política Nacional de

Segurança Pública brasileira, que objetiva estabelecer diretrizes para os diversos

arranjos institucionais da Segurança Pública nos estados da Federação.

No geral, esses repasses são colocados na agenda das negociações políticas

que movimentam o Congresso Nacional, utilizando-se o Governo Federal dessa

capacidade de articulação para a aprovação de matérias outras de seu interesse.

Além disso, essas transferências não se enquadram em programas de longo prazo

que conformem uma diretriz para as políticas de segurança dos órgãos do executivo

que são responsáveis pelos setores específicos (SILVA FILHO, 2003).

Em relação a outras esferas públicas do poder, pode-se indicar como um

traço distintivo importante das políticas públicas na área da Segurança, sobretudo as

mais recentes, o fato de elas serem no Brasil mais autoritárias, mais revestidas por

decisões unilaterais (de cima para baixo) na sua concepção, desenho e

implementação. Ao mesmo tempo, é mais acentuada a ausência de processos de

avaliação de resultados dessas Políticas. Por exemplo, no programa “Boa Noite

Teresina” - que limita o funcionamento de bares, trailes, boite e similares – não há

registro, não fora divulgado nos meios de comunicações, nem há documentação que

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comprove a participação da sociedade na discussão da elencada estratégia de

redução da criminalidade e da violência na cidade de Teresina. Sua fundamentação

legal inicialmente fora uma portaria do Secretario de Segurança Pública do Piauí,

posteriormente convertida em lei municipal (Lei Complementar n°3.610, de

11/01/2007, Código de Postura do Município de Teresina). A estratégia utilizada

para contenção da violência e da criminalidade, nesse caso, não demonstra ter sido

construída democraticamente, mas através de decisão fundada nas concepções do

Secretário de Segurança Pública do Piauí (2005). Até a presente data não houve

uma avaliação cientifica do processo referenciado.

Nas décadas mais recentes, enquanto outras áreas fomentam o engajamento

de novos atores políticos, e inclusive redesenham as ações em função de uma

busca de eficácia, numa dinâmica gerencial de baixo para cima (gestão

compartilhada), as Políticas de Segurança são flagrantemente negociadas em

processos políticos de acesso restrito e que colocam como desafio para a análise

desse setor o contorno das resistências burocráticas e políticas presentes nas

agências governamentais estaduais. Assim, o processo decisório na Segurança

Pública piauiense ainda se concentra nas mãos de seus gestores, sendo a

sociedade convocada apenas para homologar (legitimar) as ações já em

andamento, fruto de decisões anteriores.

Nesse sentido, talvez seja interessante um exercício de reflexão, na questão

da reforma do Estado, sobre o conceito de insulamento das elites burocráticas11,

como forma de resistência às interferências políticas e resguardo das competências

técnicas de áreas específicas, no caso em estudo a Segurança Pública do Piauí. A

prevalência da racionalidade burocrática se sobreporia à racionalidade política

evitando o que se chamaria de “balcanização do Estado”. Como aponta Melo (1999),

esse insulamento seria garantido, entre outros fatores, pelo isolamento decisório e

pelo recrutamento meritocrático. Por exemplo, o processo decisório na Segurança

Pública piauiense se polariza entre questões políticas – interesses políticos - e

questões técnicas – questões relacionadas à atividade fim da Polícia, que é o

policiamento. Sendo que os Conselhos Comunitários de Segurança, estruturados

11 Insulamento das elites burocráticas se configura pela concentração das decisões nas mãos de poucos gestores da alta Administração Pública, ou seja, isolamento administrativo. Por exemplo, na Polícia Militar do Piauí as diretrizes administrativas e operacionais (atividade fim da Polícia, que é o policiamento) a serem adotadas se concentram na figura do Comandante Geral.

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nos bairros de Teresina, podem até sugerir diretrizes, mas a decisão final ficará

restrita ao Secretário de Segurança Pública e ao Comandante Geral da PMPI.

Segundo Silva Filho (2003), a centralização leva aos fracassos na

implementação de Políticas de Segurança Pública, haja vista o modelo de gestão

centralizada não buscar formas de cooperação, articulação que lhe dê respaldo e

legitimidade política da sociedade.

Portanto, a noção de política pública pressupõe a existência de uma esfera

de vida que não é privada ou puramente individual, e sim sustentada pelo que é

comum e público, Faoro (1997). E, sendo comum em termos da comunidade política,

cabe ao Estado a responsabilidade principal, se não exclusiva, por sua preservação.

O “público” compreende a dimensão da atividade humana que é percebida como

necessitando de intervenção, regularização social e/ou governamental. À medida,

portanto, que certos bens vão se coletivando, tornam-se necessariamente objeto de

políticas públicas. É no processo de supremacia institucional gradativa do Estado-

nação, enquanto provedor de bens coletivos que, paralelamente, vai se cristalizando

a expectativa social de que cabe aos governos resolver “problemas” utilizando-se do

aparato administrativo-democrático.

Para Melo (1999) ter uma política pública significa ter razões ou argumentos

que contenham não só a compreensão de um problema como também a sua

solução, no caso a violência e a criminalidade. Põe em questão o que é e deve ser

feito. Desse ponto de vista, espera-se que os políticos tenham políticas ou mesmo

que planejem e executem políticas (policy-makers).

Aspecto relevante da análise teórica de políticas públicas refere-se à

distinção conceitual entre o que é público e o que é privado, ou entre a esfera

pública e a esfera privada, segundo Faoro (1997). Relembremos que a construção

de bens coletivos e, portanto, públicos é um processo histórico. Não existem, a

priori, certos espaços da vida em sociedade que sejam intrinsecamente de interesse

público ou de interesse privado.

Assim, durante a década de 1980 a 1990, assiste-se a um revigoramento do

pensamento liberal, principalmente com a releitura das obras de Friedman (1984) e

de Hayek (1990), o que acaba por restabelecer a dicotomia público/privado. A

administração pública volta a ser pensada em termos menos intervencionistas,

privilegiando-se as soluções de mercado. Os pressupostos básicos do

neoliberalismo influenciaram em boa medida o direcionamento das políticas

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públicas, em especial as políticas sociais e econômicas. A Política do Bem-estar

Social (welfare state) é revisada, e observa-se um movimento intenso de

privatizações em empresas outrora administrativa pelo setor público.

Mais recentemente, a partir da experiência inglesa, as políticas públicas

passam a ser concebidas em termos de parceria, e não mais de oposição, entre o

público e o privado. As parcerias público-privadas (PPPs), nos termos brasileiros,

assumem importância crescente, constituindo-se em modelo que permite a

intervenção de atores privados nos processos de desenho e implementação de

políticas públicas (SAPORI, 2007).

Nesse modelo, uma empresa constrói e gerencia uma atividade pública,

prestando um serviço diretamente ao cidadão ou ao governo. Em troca, o poder

público remunera o parceiro privado mediante valores regulares, a partir de um

contrato de longo prazo que cobre os custos do investimento, além de incorporar um

prêmio pelos riscos assumidos e os custos de manutenção da infra-estrutura e do

serviço, garantindo ainda uma taxa de retorno atrativa.

Não se deve ignorar que a efetivação de políticas públicas nas sociedades

modernas não está sujeita apenas à dualidade Estado/mercado. A participação de

organizações voluntárias, sem fins lucrativos, como é o caso das organizações não-

governamentais, dos Conselhos Comunitários de Segurança 12 também se faz

presente. Nos anos recentes disseminou-se em muitos países ocidentais o conceito

de que responsabilidade social não é mais um atributo exclusivo do Estado, nem da

ação cívica dos cidadãos considerados individualmente.

A sociedade civil e o governo estão realizando cada vez mais parcerias entre

si e assumindo a co-responsabilidade pela esfera de alguns bens públicos. O

fundamental desse processo reside no reconhecimento de que é possível o

entendimento entre agentes com lógicas distintas de atuação, mas com objetivos

comuns, sem que haja a perda de identidade nem desvios de missões institucionais

específicas. Nessa perspectiva, as diferenças e conflitos entre as lógicas de Estado,

mercado e sociedade civil organizada, são dificuldades percebidas como incentivo à

formação de arranjos cooperativos entre as partes, de fundamental importância para

12 Os Conselhos Comunitários de Segurança são organizações não governamentais, que reúne a comunidade e o Poder Público (polícia) para discutir e analisar os problemas relacionados à Segurança Pública; propor soluções, dar encaminhamento e acompanhar seus desdobramentos. Os CONSEGs operacionalizam a doutrina de Polícia Comunitária, ao possibilitar a aproximação entre polícia e sociedade.

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a construção de uma Segurança cidadã13, como os Conselhos Comunitários de

Segurança.

No contexto do mercado globalizado, tem-se observado um crescimento da

Segurança Privada em detrimento da Segurança Pública, com a participação de

agentes públicos, fato presente também no Piauí. Por exemplo, em 2002, a

Segurança Privada movimentou US$ 86 bilhões no mundo, com o crescimento de

8% em relação ao ano anterior. A Europa e a América do Norte compõem 81% do

mercado mundial, sendo os segmentos de vigilância e de alarmes responsáveis por

90% do mercado de cada região. Tudo impulsionado pela indústria do medo e da

insegurança pública (SAPORI, 2007). É importante destacar que o sucesso da

Segurança Privada depende do fracasso da Segurança Pública, ou seja, os produtos

daquela são vendidos mediante o caos da Segurança Pública (LAZZARINI, 1999).

Fica o questionamento, a quem interessa o desmanche da Segurança Pública?

3.4 POLÍTICA DE SEGURANÇA COMO ESTRATÉGIA DE GERENCIAMENTO DE

CRISES (CAOS)

A compreensão do processo de deterioração da ordem pública na sociedade

brasileira atual deve incorporar outro aspecto, qual seja, o padrão de atuação

gerencial dos governos na provisão desse bem coletivo. Para tanto é imprescindível

considerarmos as instâncias federal, estadual e municipal de governo, sendo que

todos têm atribuições no que diz respeito ao controle da criminalidade e da violência.

Uma característica comum marca as políticas federal e estadual de

Segurança Pública na sociedade brasileira nos últimos 20 anos (1986-2006): a

prevalência do gerenciamento de crises. A ausência de uma racionalidade gerencial

mais sistemática nesse âmbito das políticas públicas é fator determinante da

13Segurança Cidadã - é a segurança pública integral, que promove os direitos humanos, transforma - com a participação efetiva do mundo acadêmico - pela educação em segurança cidadã, sistematiza o arcabouço do conhecimento dos vários atores do sistema de segurança, indo além do tradicional sistema policial. Garante o planejamento, a prevenção e a repressão qualificada de forma a propiciar uma sociedade livre, democrática, num ambiente multicultural, multirracial e multidisciplinar. A segurança cidadã estimula a adoção de tecnologias sociais que visam a resolução pacífica dos conflitos, o fortalecimento da família, a proteção às mulheres, aos idosos, às minorias, garante as políticas públicas de prevenção determinadas pelo governo, primando pela observância permanente da contribuição das universidades, através de seus estudos acadêmicos e científicos (BRASIL, 2007, p.14).

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ineficiência da atuação governamental, conseqüentemente, potencializa o fenômeno

da criminalidade (SOARES, 2006).

A criminalidade e a violência são questões que já fazem parte do debate

político brasileiro (ZALUAR, 1999). A temática da Segurança Pública afigurou-se

central no pleito eleitoral à presidência da República no ano de 2006, como já o

havia sido em 2002. Nas três eleições presidenciais anteriores a questão foi

abordada muito superficialmente. Assim, não é de se estranhar que somente nos

últimos sete anos o Governo Federal, através da Secretaria Nacional de Segurança

Pública, tenha se esforçado na elaboração e implementação de um plano nacional

para o setor (SILVA FILHO, 2003).

O primeiro Plano Nacional de Segurança Pública foi formulado em 2001, já

no final do segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, logo após a comoção

do caso do ônibus 174, no Rio de Janeiro, e teve como principal inovação a criação

do Fundo Nacional de Segurança Pública. Os governos estaduais passaram a

receber recursos para o financiamento de projetos específicos submetidos à

apreciação da SENASP, dentro das diretrizes, previamente, formuladas no

mencionado plano nacional, no caso piauiense possibilitou a aquisição de viaturas,

armamentos e equipamentos. Em 2003, por sua vez, o governo Lula apresentou um

documento, com objetivos mais claros que o plano anterior (2001), denominado

“Projeto de Segurança Pública para o Brasil”, o qual tem norteado suas ações desde

então e servido de suporte para os estados que ainda não têm seu próprio plano de

Segurança Pública, como o Piauí.

Já no âmbito estadual existem várias situações, de modo que a inserção do

tema na agenda política varia de acordo com a Unidade da Federação. Nos estados

do Rio de Janeiro e de São Paulo, por exemplo, os candidatos a governador

discutiam os desafios das políticas de segurança pública já na década de 1980,

enquanto na cidade de Minas Gerais, somente nas eleições de 2002, é que os

candidatos ao governo estadual manifestaram publicamente sua preocupação com o

fenômeno no Estado. Em relação ao Piauí, não houve um projeto específico no

primeiro governo Wellington Dias (2003-2006) para a área de Segurança Pública e

nem uma proposta devida para seu segundo mandato, o que há são arranjos

institucionais, conforme adiante se demonstrará.

Característica marcante dessa sucessão de políticas estaduais de

Segurança Pública foi o movimento pendular entre as intervenções meramente

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repressivas e as intervenções sociais, numa perspectiva preventiva, com atenção

especial ao sistema educacional (SAPORI, 2007).

Fatores diversos podem explicar tal omissão e/ou incompetência dos

governos democráticos em relação à Segurança Pública. A prioridade dada na

agenda política nacional ao retorno das forças armadas aos limites de sua

competência constitucional (defesa nacional) é um aspecto a ser considerado, ou

mesmo a inexistência de um paradigma alternativo que pudesse instrumentalizar

suas decisões (decision makers) para além da subordinação das agências de

Justiça Criminal às exigências do ideário dos direitos humanos cristalizados na nova

Constituição.

A Segurança Pública foi um dos únicos setores que ficou intacto à nova

ordem constitucional de 1988, em relação às suas Instituições (polícias), tendo em

vista que as bases legais e institucionais das polícias continuaram fincadas em um

passado autoritário, Regime Militar (1964-85). Parece tabu a discussão e a

realização de reformas no aparelho policial a nível constitucional, ficando a

sociedade brasileira à mercê de um modelo policial não compatível com um Estado

Democrático de Direito (SILVA FILHO, 2003).

Não é casual, portanto, que a intervenção pública na provisão desse bem

coletivo tenha se pautado, ao longo de todo esse período, pela improvisação e falta

de sistematicidade. Planejamento, monitoramento, avaliação de resultado, gasto

eficiente dos recursos financeiros não tem sido procedimentos usuais nas ações de

enfrentamento da criminalidade, seja no Executivo federal, seja no Executivo

estadual. Desse ponto de vista, a história das Políticas de Segurança Pública da

sociedade brasileira nas duas últimas décadas (1986-2006) se resume a uma série

de intervenções governamentais espasmódicas, e meramente reativas, voltadas

para solução imediata de crises que assolam periodicamente a ordem pública

brasileira (SILVA FILHO, 2003).

Há sinais de avanços qualitativos na cobertura jornalística do fenômeno

criminoso na sociedade brasileira desde a segunda metade da década de 1990.

Entretanto, há persistência de um viés sensacionalista na cobertura jornalística, que

faz do crime e da violência um espetáculo, com intuito essencialmente

mercadológico, e que tende a disseminar o sentimento de insegurança entre a

população, por fomentar indiretamente a glamourização da Política de Segurança

Pública de repressão (SOARES, 2006).

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Mesmo no âmbito acadêmico, a abordagem mais sistemática e científica do

tema é algo também recente. Conforme mostra Zaluar (1999), ele só adquiriu

relevância em nosso país no final da década de 1970. Mesmo assim, muitas das

análises engendradas naquele momento histórico e que perduraram por boa parte

da década de 1980, salvo algumas exceções, estavam impregnadas da hegemonia

teórica marxista. Isso determinou em boa medida a preponderância de abordagens

da Segurança Pública de cunho muito mais ideológico do que propriamente

científico. Denunciava-se muito mais o aparato repressivo do Estado enquanto

instrumento de dominação de classe do que propriamente procurava-se estudá-lo,

(SOARES, 2006).

A reflexão concentrou-se basicamente no funcionamento das organizações

que compõem o sistema, ou mesmo na dinâmica da criminalidade e da violência na

sociedade brasileira, ignorando a análise das políticas públicas.

A inserção mais ativa de outros setores da burocracia pública ou mesmo de

técnicos com formação em ciências humanas é muito incipiente e, ainda, capaz de

criar situações de conflito no interior do aparato burocrático. A experiência recente

da Política de Segurança Pública implementada pelo governo do Rio de Janeiro é

bastante ilustrativa das disputas acirradas em torno da competência e do saber

técnicos na área do controle da criminalidade. (SOARES, 2000).

A despeito da prevalência do gerenciamento de crises, é possível identificar

esforços isolados de gestão mais sistemática da Segurança Pública em alguns

estados, como São Paulo e Minas Gerais. A maioria dos estados brasileiros ainda se

comporta com base no improviso, em resposta às graves crises nesse setor, sem

planejamento sistemático e sem considerá-la como Política Pública. Desta forma, a

profissionalização do mencionado setor público não configura ainda uma tendência

nacional de racionalização dos procedimentos da gestão pública de Segurança,

como aconteceu com o setor da saúde nesse mesmo período, mas apontam para

possíveis avanços qualitativos (SAPORI, 2007).

Começando pela esfera federal, cabe destacar o caráter mais abrangente e

sistêmico do Plano Nacional de Segurança Pública apresentado em 2003, se

comparado ao plano produzido no final do último mandato do governo Fernando

Henrique Cardoso (2001). Nele se enfatiza uma postura pró-ativa por parte da

Secretaria Nacional de Segurança Pública, o que significa abdicar da posição de

mera agência distribuidora de recursos financeiros para os governos estaduais. O

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governo federal deixava claro a todos os interessados, que possuía diretrizes e

objetivos próprios no âmbito da Segurança Pública, e, que os recursos do Fundo

Nacional de Segurança Pública (FNSP) passariam a ser distribuídos mediante o

atendimento desses critérios. A novidade apresenta-se no início de 2003, entretanto

residia na cobrança mais rígida junto aos estados no sentido da construção de

políticas assentadas nas diretrizes do Plano Nacional de Segurança Pública.

O Plano Nacional de Segurança Pública em pauta tem como objetivo

aperfeiçoar o sistema de Segurança Pública brasileiro, por meio de propostas que

integrem Políticas de Segurança, políticas sociais e ações comunitárias, de forma a

reprimir e prevenir o crime e reduzir a impunidade, aumentando a segurança e a

tranqüilidade do cidadão brasileiro (BRASIL, 2003).

O referido Plano de Segurança também estabelece princípios e metas a

serem atingidos, respectivamente, como adiante se verifica:

Respeito aos Direitos Humanos e eficiência policial são compatíveis entre si e mutuamente necessárias, meta: promover a expansão do respeito às leis e aos Direitos Humanos; o Sistema de Justiça Criminal deve ser democrático e justo, isto é, orientado pela eqüidade, acessível a todos e refratário ao exercício violento e discriminatório do controle social, metas: contribuir para a democratização do Sistema de Justiça Criminal e controlar o crime organizado e eliminar o poder armado de criminosos que impõem sua tirania territorial a comunidades vulneráveis e a expandem sobre crescentes extensões de área publica; ação social preventiva e ação policial são complementares e devem combinar-se na Política de Segurança; metas: aplicar com rigor e equilíbrio as leis no sistema penitenciário, respeitando os direitos dos apenados e eliminando suas relações com o crime organizado e bloquear a dinâmica do recrutamento de crianças e adolescentes pelo tráfico; polícias são servidores públicos destinados a servir os cidadãos, protegendo direitos e liberdades, inibindo e reprimindo, portanto, suas violações, meta: reduzir a criminalidade e a insegurança pública; às Polícias compete fazer cumprir as leis, cumprindo-as, meta: ampliar a eficiência policial e reduzir a corrupção e a violência policiais; policiais são seres humanos, trabalhadores e cidadãos, titulares, portanto, dos direitos humanos e das prerrogativas constitucionais correspondentes às suas funções, metas: valorizar as polícias e os policiais, reformando-as e requalificando-os, respectivamente, levando-os a recuperar a confiança popular e reduzir o risco de vida a que estão submetidos (BRASIL, 2002, p. 35).

Sintetizando, o Plano Nacional de Segurança Pública apresenta como

princípios gerais:

A interdisciplinaridade, pluralismo organizacional e gerencial, legalidade, descentralização, imparcialidade, transparência das ações, participação comunitária, profissionalismo, atendimento das peculiaridades regionais e no estrito respeito aos Direitos Humanos (BRASIL, 2002, p. 35).

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Outro aspecto do PNSP é a forma abrangente com que aborda a questão da

Segurança Pública, com apresentação de uma variedade de propostas

contemplando os seguintes campos de ação: reforma do Sistema Policial, controle

interno e externo das polícias, prevenção da violência, controle do uso de armas de

fogo, reforma do Sistema Prisional, reformas da legislação penal, prevenção da

violência contra a mulher, negro, homossexuais, idosos e outras minorias sociais.

Ao tratar o tema com tal amplitude, reconhece a complexidade do assunto

Segurança Pública e estabelece que a ação policial ou aumento da pena, por si só,

não poderá impactar, a curto prazo, as taxas de criminalidade nos centros urbanos

brasileiros. Evita-se, por exemplo, a tendência daqueles que propugnam a reforma

das leis penais, no sentido de maior endurecimento do código criminal, da Lei de

Execução Penal ou mesmo do Estatuto da Criança e do Adolescente (diminuição da

maioridade penal), como o antídoto mais efetivo para conter a impunidade na

sociedade brasileira, segundo (SILVA FILHO, 2003).

Outro aspecto positivo do PNSP é que representou grande avanço no

debate nacional, ao reconhecer que os problemas mais graves da Segurança

Pública não estavam no arcabouço legal, e sim, na gestão dos arranjos institucionais

existentes (SOARES, 2006).

As ações governamentais do Piauí, na área de Segurança Pública, têm seu

maior referencial formal o Plano Nacional de Segurança Pública, tendo em vista ser

condição imposta pelos convênios da SENASP às Unidades Federativas para

liberação de recursos e insumos técnicos (cursos de qualificação dentro e fora do

Estado), porém, de forma à brasileira, ou seja, aceita; mas não cumpre totalmente o

acordado. No caso do Piauí, desde 2003, a maioria das viaturas adquiridas para as

polícias foi oriunda de recursos da SENASP, conforme informação, do ex-

comandante geral da PMPI, no período de 2003 a 2006 (BRASIL, 2002).

Porém, é importante registrar que a mera assinatura de convênios,

protocolos de intenção ou criação de órgão e leis não garante a efetivação de uma

Política de Segurança Pública, conforme se verifica no Piauí através de várias ações

como: Gabinete de Gestão Integrada – GGI (não foi implementado de fato, só existe

previsão legal); Polícia Comunitária (ainda não foi efetivada como Política de

Segurança Pública, apenas oferta de cursos); Direitos Humanos (continua sendo

desrespeitados pelos agentes públicos, as polícias ainda não incorporaram tal

princípio democrático a sua praxe cotidiana); Integração entre as duas polícias (não

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há projeto nesse sentido no Piauí); Corregedoria subordinada ao comando das

polícias (falta independência para investigar e julgar os casos denunciados), dentre

outras.

Há um aspecto da Política de Segurança no período do governo Lula que

merece uma apreciação mais crítica. Em relação ao financiamento e fiscalização da

Segurança Pública estadual, o Governo Federal faz uma proposta, depois convertida

em projeto, para área de Segurança Pública, qual seja, a criação do Sistema Único

de Segurança Pública. O Sistema é apresentado como uma inovação institucional e

parâmetro obrigatório da modernização das organizações policiais brasileiras, dado

seu ineditismo.

O Sistema Único de Segurança Pública tem como objetivo orientar a

aplicação dos recursos disponibilizados aos Estados, através do Fundo Nacional de

Segurança Pública, e fiscalizar se realmente os projetos aprovados pelo SUSP

melhoram a vida do cidadão. Esses objetivos constituem os principais pontos do

SUSP.

Pautada no Programa de Segurança Pública para o Brasil, a SENASP estipulou que a implantação do SUSP seria realizada pela dedicação às ações convergentes em sete eixos estratégicos: gestão do conhecimento; reorganização institucional; formação e valorização profissional; prevenção; estruturação da perícia; controle externo e participação social; e programas de redução da violência. Todas as ações empreendidas pela SENASP nos últimos quatro anos (2003 a 2006) estão incluídas nesses eixos estratégicos. No total, foram realizadas 51 ações que envolvem tanto as mudanças estruturais nas polícias e em outros órgãos que compõem o sistema de segurança pública brasileiro – cujos resultados serão alcançados em uma perspectiva de tempo mais ampla – quanto às ações de interferência em condições imediatas, associadas à violência e à criminalidade. Devido à situação da segurança pública no país, escolhemos essa estratégia, pois ela nos permite desenvolver mudanças estruturais necessárias e ações voltadas à intervenção imediata em problemas mais focalizados no tempo e no espaço (BRASIL, 2007, p.13).

Conforme se observa, o Sistema Único de Segurança Pública vem reforçar a

necessidade de articulação da Política de Segurança Pública com as instâncias

federal, estadual e municipal. Objetiva também implementar mudanças estruturais

nas Polícias para adequá-las a realidade constitucional brasileira. O SUSP

demonstra a vontade do Governo Federal, não apenas de proporcionar o

financiamento da Segurança Pública estadual e municipal, mas possibilitar

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mudanças estruturais no Sistema de Segurança que visem a prevenção e o

enfrentamento da violência e da criminalidade.

À primeira vista, a noção de SUSP sugere a perspectiva de se instituir na

Segurança Pública algo semelhante ao que foi feito na Saúde quando da

implantação do Sistema Único de Saúde (SUS). Este tem como principais

características a institucionalização de mecanismo de financiamentos para dar conta

dos gastos com a Saúde Pública, envolvendo percentuais específicos nos

orçamentos das diversas esferas do Executivo e mecanismos sofisticados de

repasses desses recursos entre elas. Além disso, fomenta a adoção de

procedimentos para a gestão compartilhada da Segurança Pública.

Contudo, a concepção do Sistema Único de Segurança Pública não

contempla um rearranjo institucional dessa magnitude, limitando-se a propor um

maior grau de integração entre as organizações policiais estaduais e destas com as

instituições federais, além do Ministério Público e do Judiciário. Em termos

institucionais, o SUSP consubstancia-se na implantação, pelos governos estaduais

de academias policiais unificadas, de órgãos de informação e inteligência unificados,

de Corregedorias de polícia única, de Ouvidorias de polícia autônomas e

independentes. No que diz respeito à integração das demais organizações do

sistema de Justiça Criminal, o modelo prescreve a formação do Gabinete de Gestão

Integrada de Segurança Pública.

Em relação ao Piauí, não há Academia de Polícia unificada, o serviço de

inteligência é disperso entre Polícia Civil e Polícia Militar, as Corregedorias não são

independentes, não há Ouvidoria, e em relação ao GGI apenas há previsão legal,

porém, de fato o Gabinete nunca deliberou nada.

O novo arranjo institucional proposto pela esfera federal, como se observa,

não pode ser comparado ao SUS. O Sistema de Segurança Pública propugnado é

bastante modesto, introduz idéias novas no cenário nacional, porém esbarra no

conservadorismo das corporações policiais estaduais e federais, tampouco resolve

um dos problemas centrais da área: a inexistência de recursos orçamentários e

financeiros vinculados.

Portanto, algumas poucas experiências estaduais podem ser mencionadas

como exemplos de Políticas de Segurança Pública que se destacaram pela

superação do modelo de gerenciamento de crises, mais particularmente nos últimos

10 anos. Como ilustração, podemos citar o caso do estado do Pará, que entre 1995

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e 2002 desenvolveu uma pioneira política de integração das Polícias Militar e Civil.

Em 1995 foi criado por lei o Sistema de Segurança Pública do Pará, tendo por órgão

máximo o Conselho Estadual de Segurança Pública (CONSEP), implantado em

1996. Trata-se de um órgão paritário, com poderes normativos, no qual a sociedade

civil se faz presente, bem como a Assembléia Legislativa e, de outro lado, os

comandos das corporações policiais, do Departamento Estadual de Trânsito, do

sistema penal e do Centro de Perícia. Ligada ao conselho, foi criada a Ouvidoria,

cujo titular é nomeado com mandato de dois anos. A partir de 1996 a Polícia Civil foi

gradativamente reduzindo a presença ostensiva, enquanto a Polícia Militar

implantava as zonas de policiamento de circunscrição comum e o comando das

duas polícias nas mesmas instalações das seccionais urbanas.

O sistema de telecomunicações foi unificado, incluindo os bombeiros e a

Defesa Civil. Uma rede intranet interligando as unidades policiais da Região

Metropolitana de Belém e 60% dos municípios do interior permitiu a implantação, a

partir de 1997, do boletim de ocorrências policiais (SAPORI, 2007).

Em maio de 1997 foi inaugurado o Centro Integrado de Operações – CIOp, o

primeiro a ser instalado no Brasil, reunindo o Centro de Operações Policiais

Militares – COPOM, o Centro de Operações de Bombeiros Militares – COBOM, e a

Central de Polícia Civil. A política de integração das polícias prosseguiu, e o passo

seguinte foi a implantação, em fins de 1999, do Instituto de Ensino de Segurança do

Pará – IESP, que transformou as academias da Polícia Militar, do Corpo de

Bombeiros e da Polícia Civil em unidades de ensino, numa estrutura de modelo

universitário. Também as corregedorias de Polícia Civil e Polícia Militar foram

reunidas e vinculadas diretamente ao CONSEP. Finalmente, já em 2002, foram

criados dois órgãos: o Centro Estratégico Integrado, reunindo as áreas de

inteligência das polícias e os sistemas integrados; e a Unidade Integrada de Saúde

Mental, para atender os policiais que tanto necessitam desse serviço.

Também o estado do Ceará iniciou, em 1997, uma série de reformas na área

de segurança pública com o objetivo publicamente assumido de moralizar o aparato

policial, então envolvido em graves denúncias de corrupção, e definir ações para a

integração das forças policiais estaduais. Houve, inicialmente, a constituição de novo

arranjo institucional com a criação da Secretaria de Segurança Pública e Defesa da

Cidadania (SSPDC), subordinando o comando das polícias ao secretário, e não mais

ao governador. Foi também instituída a Corregedoria Geral dos Órgãos de

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segurança pública, ou seja, uma corregedoria única para a Polícia Militar, a Polícia

Civil e o Corpo de Bombeiro Militar, vinculada operacionalmente à SSPDC.

Paralelamente às mudanças institucionais, o governo estadual implantou uma

política de integração das forças policiais cuja linha mestra persiste até o atual

governo. A base da integração foi e continua sendo o projeto do distrito modelo,

implantado em Fortaleza e que tem como características principais a integração das

circunscrições das áreas de atuação das companhias da Polícia Militar com as

delegacias da Polícia Civil e a implantação de um sistema integrado de

comunicações. Tal política continua em vigor, e o projeto dos distritos modelos foi

estendido à Região Metropolitana de Fortaleza (SILVA FILHO, 2003).

No estado do Rio de Janeiro, em fins da década de 1990, com a eleição do

governador Anthony Garotinho, introduziu-se uma nova perspectiva de intervenção

governamental na segurança pública. Embora tenha sido mantida por pouco tempo,

essa política incluía um plano de ação inédito na história daquele Estado, baseado

em quatro pontos: a) criação das Delegacias-legais; b) a criação dos centros de

referência; c) a implantação de um programa de qualificação profissional dos

policiais; d) a fundação do Instituto de Segurança Pública (SOARES, 2000).

Experiência também relevante de política de Segurança Pública ocorreu no

estado de São Paulo, tendo início na segunda metade da década de 1990, no

governo Covas, e estendendo-se até o governo de Alckmin, no ano de 2006. Sua

característica básica foi o esforço do aparato repressivo do Estado, destacando-se aí

a criação do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa – DHPP, visando

promover a integração com a Polícia Militar, a identificação e o aprisionamento de

homicidas contumazes, e os investimentos em inteligência e tecnologia da

informação, especialmente, no Sistema de Informações Criminais – INFOCRIM.

Além disso, o governo estadual incrementou o sistema prisional, de modo que a

população carcerária cresceu de forma linear e rapidamente, passando de 56 mil em

1994 para cerca de 140 mil em 2006, através de uma ação policial mais repressiva

no enfrentamento da criminalidade e a diminuição da impunidade pela justiça

criminal. Criaram-se também projetos com participação direta de entidades da

sociedade civil, quais sejam, o Disque Denúncia, em 2000, e o fórum Metropolitano

de Segurança Pública, em 2001. Aspecto singular da experiência paulista é a

participação intensa de diversos municípios na adoção de medidas visando ao

controle do consumo de bebidas alcoólicas, a denominada lei seca. A despeito das

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controvérsias, a política de segurança pública de São Paulo é apontada como um

dos fatores mais decisivos na queda de 37% da taxa de homicídios no estado entre

1999 e 2004 (ROLIM, 2006).

Importante ressaltar, ainda, que no contexto nacional de altos níveis de

impunidade, de ineficiência na gestão das políticas públicas, ineficácia do controle

da criminalidade, o cenário da Segurança Pública, na maioria dos estados, com

exceção das referências estaduais citadas, dentro das peculiaridades suscitadas,

permaneceu inerte nessas duas últimas décadas (1986-2006). Tome-se como

exemplo o estado do Piauí, onde pouquíssimas mudanças são observadas, até pela

falta de um projeto político definido para essa área.

O arranjo institucional da Justiça Criminal, por exemplo, adquiriu nova

conformação com a introdução de outros atores organizacionais, destacando-se aí a

criação dos Juizados Especiais Civis e Criminais e a proliferação das Guardas

Municipais. As Ouvidorias de polícia não estão implantadas em todos os estados

brasileiros, entre estes o Piauí, e padecem de uma série de limitações institucionais,

visto que não são dotadas de atribuições investigativas, o que enfraquece sua

capacidade de controle externo das polícias (COSTA, 2004).

Os Juizados Especiais Civis e Criminais constituem outra inovação

institucional que impactou a dinâmica da Justiça Criminal desde meados da década

de 1990, principalmente, na ampliação do acesso à Justiça para a resolução de

conflitos sociais anteriormente resolvidos pelo delegado de polícia. Não se deve

negligenciar também o fato de que tal modelo de Justiça, pautado pela oralidade e

agilidade, introduziu e institucionalizou a negociação no âmbito da Justiça Criminal,

criando uma alternativa ao excessivo formalismo característico do processo penal

em vigor na sociedade brasileira. (SAPORI, 2007).

Portanto, compreender a Segurança Pública como política pública é de

fundamental importância para democratização da Segurança e consolidação de um

Estado Democrático de Direito. Desenvolver uma Política de Segurança Pública para

o Piauí ainda se apresenta como desafio, mas questionar sua ausência ou a

ineficácia do Sistema de Segurança Pública é um importante passo para construção

de uma Segurança Pública cidadã.

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4 O NÓ GÓRDIO DA SEGURANÇA PÚBLICA DO PIAUÍ O objetivo maior deste capítulo de fecho do núcleo estrutural desta

dissertação é fazer uma análise descritiva e comparativa das ações governamentais

da Segurança Pública no Piauí. Para tal intento partiu-se de uma abordagem sobre a

estrutura organizacional do Sistema de Segurança Pública do Piauí, seguida de uma

abordagem sócio-histórica das polícias do estado do Piauí, quais sejam, Polícia

Militar e Polícia Civil. Para uma melhor fundamentação das análises, fez-se uma

abordagem descritiva do orçamento da Segurança Pública piauiense no período de

2003 a 2006, o qual se denominou “Orçamento da Segurança Pública piauiense”,

seguida de uma outra análise descritiva sobre os índices de criminalidade em

Teresina, também no referido período.

4.1 SISTEMA DE SEGURANÇA PÚBLICA DO PIAUÍ

O Sistema de Segurança Pública do Piauí compõe-se da Polícia Civil, Polícia

Militar e Corpo de Bombeiros Militares, e estão vinculados operacionalmente à

Secretaria de Segurança Pública do Piauí, conforme os artigos 156, 158 e 163 da

Constituição do estado do Piauí.

Art. 156 – A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I – Polícia Civil; II – Polícia Militar; III – Corpo de Bombeiros Militar. [...] Art. 158 – A segurança pública, organizada sob a forma de sistema, será coordenada, supervisionada e controlada pela Secretaria de Estado correspondente, órgão encarregado da prestação dos serviços de polícia em geral, no território do Estado. [...] Art. 163 – A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar estão vinculados, operacionalmente, ao sistema de segurança pública do Estado, devendo seguir as políticas e diretrizes baixadas pela autoridade competente, na execução das atribuições que lhes são próprias (PIAUÍ, 2005).

O Sistema Nacional de Segurança pública também engloba as instituições

policiais federais, como a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal, conforme o

artigo 144 da Constituição Federal. Porém, o presente estudo tem como enfoque as

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instituições estaduais de segurança, ao considerar a conjuntura estadual, não

desconsiderando a importâncias das instituições federais para construção da Política

de Segurança Pública do Piauí, mas por questões metodológicas e práticas adotou-

se este caminho.

No contexto constitucional vigente tem-se a introdução de um novo ator social

ao Sistema de Segurança Pública: a sociedade, que agora é co-partícipe da

segurança, haja vista o que prevê a Constituição Federal: “Art. 144 segurança

pública ser dever do estado, direito e responsabilidade de todos” (BRASIL, 2008).

Desta forma, a discussão da Segurança Pública não deve prescindir da participação

social, sendo esta parte legítima para questionar e sugerir política para área

mencionada.

O estudo da política de segurança pública carece da contextualização social e

institucional dos órgãos que compõem o Sistema de Segurança Pública do Piauí.

Nessa perspectiva, faz-se necessário a delimitação de suas funções, competências,

sua estrutura operacional e suas principais ações desenvolvidas em Teresina, no

período de 2003 a 2006.

Analisar a Política de Segurança Pública, ou sua ausência, implica

indubitavelmente tentar compreender o funcionamento das instituições responsáveis

pela operacionalização dessa importante função estatal, no caso específico do Piauí,

as Polícias Civil e Militar. Adentrar no mundo específico das polícias estaduais não é

missão fácil, assim, entender seu modus operandi, modo de atuação, pode ajudar a

montar o mosaico da (In)segurança Pública em Teresina.

Primeiramente, é preciso distinguir Segurança Pública de Polícia. Não são

expressões sinônimas como muitos acreditam, apesar de muito tempo e até hoje,

para alguns segmentos da sociedade, têm o mesmo significado. A Polícia integra, é

uma parte, mas não exaure as ações e missões afetas à Segurança Pública (SILVA

FILHO, 2003). O passo seguinte é relembrar que o estado, do qual as duas fazem

parte, foi fruto da ação social tendente a viabilizar a vida em sociedade. Assim, a

Polícia está (ou deve estar) a serviço da sociedade. A arma dada ao policial é para

proteger o cidadão e não para ser usada contra ele (COSTA, 2005).

Já a Secretaria de Segurança Pública do Piauí foi instalada em 09/05/1842,

com a denominação de Secretaria de Polícia, embora sua nomenclatura somente

tenha sido regulamentada pelo Decreto n° 1898, de 21/02/1857.

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Porém, até a presente data, a Secretaria de Segurança Pública do Piauí não

dispõe de um quadro de servidores próprios e nem estrutura física, atualmente sua

sede é em um prédio particular alugado para o estado, situado na rua Tersandro

Paz, nº 3150, no bairro Piçarra. Na realidade, a Polícia Civil se sobrepõe à

Secretaria de Segurança Pública, e o Secretário de Segurança Pública do Piauí, de

fato, exerce a chefia apenas nessa polícia e não nas duas Instituições Policiais.

Desta forma, as funções previstas na Secretaria de Segurança Pública são

exercidas por policiais civis, pois não há um quadro específico da Secretaria de

Segurança Pública. O titular da pasta exerce suas competências quase que

exclusivamente sobre a Polícia Civil.

O Comandante Geral da PM tem status e prerrogativas de secretário de

estado, sendo subordinado ao Secretário de Segurança apenas operacionalmente, o

que dificulta ainda mais a tentativa de formatação de um plano único de segurança

pública para o Piauí, de acordo com o Art. 163 da Constituição Estadual do Piauí.

O Departamento de Polícia Civil do Piauí teve suas diretrizes traçadas pelo

Decreto-lei n° 772, de 09/03/1944, tendo sido reorganizado pelo Decreto-lei n° 1263,

de 02/08/1946.

A Secretaria do Interior, Justiça e Segurança Pública foi criada pela Lei n°

1095, de 06/12/1954, em substituição ao Departamento de Polícia Civil. Em 1971,

passou a ser denominada Secretaria de Segurança e, em 1974, como Secretaria de

Justiça e Segurança Pública, sendo, em seguida, desmembrada para as atuais

denominações Secretaria da Segurança Pública do Estado do Piauí e Secretaria da

Justiça e da Cidadania do Estado do Piauí. O Piauí, no período de 2003 a 2006, teve

quatro Secretários de Segurança Pública.14

14 Foram Secretários de Segurança do Piauí: Herbert de Maratoã Castelo Branco, Valter do Rego Alencar (maio a julho/1959), Osmar dos Santos Rocha, Aluísio Soares Ribeiro, Djalma Martins Veloso (1962), Manfredi Mendes de Cerqueira, Wilson de Andrade Brandão, Santiago Vasques Filho, Macário Galdino de Oliveira, Coronel Raimundo Nonato Lopes, Sebastião da Rocha Leal (fevereiro/1964 a maio/1970), Raimundo Barbosa Marques (1971/3), Cel José Rodrigues Alves (1978 a 1979), João Clímaco D´Almeida, José Eduardo Pereira (1983), Juarez Piauhyense de Freitas Tapety (1983/5), Cel Antônio Carlos de Sena Falcão (1986), Cel Reinaldo Mendes de Oliveira (1988), Cel Adail Jales de Carvalho, Guilherme Xavier de Oliveira Neto (1989/90), Raimundo Nonato Leite Barbosa, Ismar Aguiar Marques (1991), Francisco Antônio Alencar, Cel José Regino Pires Melo, Juarez Piauhyense de Freitas Tapety (1995/1998), Carlos Alberto de Melo Lobo (janeiro/1999 a dezembro/2001), Antônio José Raimundo de Morais (dezembro/2001 a dezembro/2002), Airton Franco Filho (janeiro/2003 – 2004), Menandro Pedro (2004-2005), Robert Rios Magalhães (2005-2006), Raimundo Nonato Leite Barbosa (2006-dezembro/2006) e Robert Rios Magalhães (janeiro/2007 até os dias atuais).

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4.2 ABORDAGEM SÓCIO-HISTÓRICA DAS POLÍCIAS DO ESTADO DO PIAUÍ

Na esteira dessa discussão, o presente tópico objetiva contextualizar as

instituições policiais no bojo das ações de Segurança Pública efetivadas em

Teresina-PI, no período de 2003 a 2006. Inicialmente será desenvolvida uma revisão

sócio-histórica das polícias piauienses, enfocando sua origem, estrutura e diretrizes

como órgão estatal.

As atividades policiais são realizadas no âmbito estadual por duas Instituições

Policiais, a Polícia Militar e a Polícia Civil, que têm atribuições e estruturas

organizacionais distintas, definidas nos parágrafos 4°, 5° e 6° do artigo 144 da

Constituição Federal do Brasil. O Brasil possui ainda algumas características particulares em relação a suas

polícias. Embora o controle formal das polícias estaduais seja formalmente do

Exército, no caso das polícias militares, do ponto de vista prático, elas encontram-se

subordinados à autoridade do Governador dos Estados, o que sem dúvida nenhuma

contribui para a diferenciação existente entre as Polícias estaduais (SILVA FILHO,

2003). Outra característica é a multiplicidade de funções que cabe a elas

desempenharem: tratam do policiamento ostensivo, das atividades de bombeiro,

elucidação de delitos, feituras de perícia, cuidam de florestas, de trânsito urbano e

rodoviário, policiamento de prisões, além de se constituírem em forças auxiliares do

Exército, atuando efetivamente como Guardas Nacionais.

Por outro lado, em relação à Polícia Civil, têm-se discutido que tão grave

quanto à militarização da PM, tem sido a “advogadização15” da Polícia Civil. A

carreira de delegado de polícia, no Brasil, tem sido uma prerrogativa dos portadores

de diploma de Direito. Faoro (1997) explica que a cultura “bacharelesca”,

principalmente, a do Direito, tem suas origens na tradição provinciana lusitana.

A atividade fim da Polícia Civil possui natureza investigativa (policial) e não

processual (jurídica), desta forma, configura-se ledo engano a tentativa de

transformar a atividade da Polícia Civil em carreira jurídica, pois o delegado de 15 Objetivando melhoria salarial a Polícia Civil do Piauí irá desenvolver suas carreiras policiais com base no Judiciário, por exemplo: concurso com exigência de diploma de Direito para o cargo de delegado de Polícia, acompanhamento do concurso da PC pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e legislação estadual que considera o cargo de Delegado de Polícia como carreira jurídica.

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Polícia não faz acusações ou defesas, e sim investiga fatos, produz provas,

verificando a materialidade (se o fato ocorreu ou não) e autoria do delito.

O fluxo de processamento da Justiça Criminal inicia-se com o atendimento da

ocorrência pela Polícia Militar, que comunica à Polícia Civil, sendo lavrado registro

policial, o boletim de ocorrência (BO). Registrada a ocorrência, a Polícia Civil dá

início ao inquérito policial, em que será averiguada a materialidade e autoria dos

crimes, a indicação de testemunhas, e a tomada de depoimentos. Terminado o

inquérito policial, ele é encaminhado ao Ministério Público que avaliará se ele está

pronto ou não, para preparar a denúncia que será remetida à Justiça Criminal, onde

tudo começa novamente. Conforme se pode verificar, é extremamente complexo e

muitas vezes moroso o fluxo da Justiça Criminal no Brasil. Isto dá origem a uma

série de acusações entre as organizações que compõem o sistema, e talvez

explique um pouco de o porquê a justiça brasileira ser tardia, frequentemente incerta

e, às vezes, injusta, pois termina selecionando discriminatoriamente sua clientela

(SOARES, 2006).

Na verdade, a Polícia brasileira executa, através do inquérito policial, um ritual

semelhante ao que é exercido pela Justiça através das varas criminais, com o

delegado ocupando a posição de uma espécie de juiz de instrução.Talvez daí a

necessidade de um policial mais versado em direito do que em investigação policial

(SILVA FILHO, 2003).

Dado este enorme poder de que dispõe o policial é ele, e não o juiz, quem

julga se alguém ingressa ou não no sistema - que alguns identificam a origem de

alguns dos males endêmicos de nossas organizações policiais, tais como a

corrupção e a tortura. Elas seriam decorrentes da deformação da atividade policial,

que passa a exercer atividades típicas da instrução criminal, e não mais de polícia

(SILVA FILHO, op.cit). 4.2.1 A Polícia Judiciária Piauiense

A Polícia Civil do Estado do Piauí (PC) surgiu quando da criação das

Chefaturas de Polícia, por força do Decreto de 03/12/1841 e do Regulamento de

02/02/1842, mantidas pela Constituição de 18/07/1835. Seus titulares eram

chamados de Chefe de Polícia ou Secretário de Polícia (art. 51, da Constituição de

27/05/1891). Porém, somente no governo Imperial de 22/04/1843, é que foi

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confirmada a nomeação do Dr. Manoel Joaquim Baía – Juiz da Vara Cível e dos

Feitos da Fazenda, da Comarca de Oeiras - PI, para exercer interinamente o cargo

de Chefe de Polícia da Província, designado pela Portaria da Presidência da

Província, de 09/05/1842.

A nomeação de um Juiz de Direito para o cargo de Chefe de Polícia da

Província do Piauí ratifica o pensamento anteriormente comentado nesta

dissertação, segundo a qual houve no início da formação das instituições brasileiras,

período imperial, uma confusão entre as funções de judicatura e a atividade policial

(HOLLOWAY,1997).

Faoro (1997) faz uma importante reflexão sobre a influência da cultura

bacharelesca, principalmente, a do direito, na própria invenção do Brasil como

Nação e na consolidação do mito do conhecimento jurídico como referência para

solução dos problemas da segurança pública, reduzindo o problema da violência à

questão meramente de endurecimento da pena, em momentos de crise.

As causas da violência e da criminalidade não são preocupações no modelo

jurídico-criminal apontado, o destaque é a PENA. O encarceramento do infrator é

apresentado como solução imediata, mas não duradoura. Ressalte-se que nos

momentos de crise – práticas de delitos com requintes de crueldade por motivo fútil -

há sempre uma sugestão para reformular a legislação (endurecimento da pena),

como a redução da maioridade penal.

Desta forma, a Segurança Pública brasileira tem ficado à mercê de soluções

propostas em momentos de comoção social, péssima conselheira. Assim, a

Segurança Pública deve ser tratada como política de Estado e não moeda política

(SOARES, 2006). O bom desempenho da política de segurança pública depende

das ações políticas e sociais conjuntas e articuladas entre si.

A situação descrita acima enseja a formulação da seguinte equação:

Crise/Violência = Aumento da PENA+ Sistema Prisional Inoperante CAOS

O modelo acima esquematizado corresponde à Política de Segurança Pública

baseada no “CAOS”, tão bem conhecido pelo Brasil. O Estado, em seus três níveis

de poder, na maioria das vezes só age ou propõe ações em momentos de crise, o

que é temerário, haja vista a pressão de vários grupos e o “clamor público” que são

maus conselheiros.

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Uma política de segurança pública deve ser fruto de discussões com os vários

setores da sociedade e oriunda de pesquisas científicas comprometidas com

interesse público e bem-estar social (SOARES, 2006).

No início do século XX, havia na Capital do Piauí um corpo de polícia de

natureza civil responsável pelo policiamento nas ruas, popularmente conhecido

como Inspetores de Quarteirão, era a Guarda Civil, a qual foi organizada pelo

Decreto n° 1708, de 02/03/1937 e, após sua extinção em 1970, período de ditadura

militar, seus policiais foram incorporados à Polícia Civil do Estado do Piauí.

A Polícia Civil do Estado do Piauí (PC), dirigida por delegado de Polícia de

Carreira, é uma instituição permanente do Poder Executivo, está estruturada em

carreiras, cuja função é auxiliar a função jurisdicional do estado. Possui como

atribuições exercer, ressalvadas a competência da União (Polícia Federal), as

funções de polícia judiciária estadual, ou seja, apurar as infrações penais, exceto as

militares, conforme dispõe o art. 144, parágrafo 4° e da legislação estadual, Lei

Complementar n° 01 de 26/06/90 (Estatuto dos Policiais Civis do Piauí).

A atividade policial brasileira se apresenta com dois ciclos de polícia

incompletos16, um judiciário ou investigativo de competência da Polícia Civil e outro

de polícia ostensiva ou preventiva, de competência da Polícia Militar do Piauí.

Lazzarini (1999) e Silva Filho (2003) destacam a necessidade de um ciclo

completo de polícia, objetivando a maximização dos recursos humanos e materiais

da segurança pública, principalmente o interesse coletivo.

A Polícia Civil piauiense se estrutura nas seguintes categorias funcionais:

Delegado de Polícia, Escrivão de Polícia, Agente de Polícia, Perito Criminal, Perito

Médico-legal, Perito Odonto-legal e Perito Papiloscopista Policial.

A unidade básica operacional e administrativa da PC é a delegacia de polícia

ou simplesmente DP, que tem como responsável o delegado de polícia, servidor

mais graduado, também dirigem os diversos órgãos da PC. Os delegados são

autoridades policiais, encarregadas de presidir o inquérito policial e chefiar as

investigações criminais.

O delegado de polícia – na condição de autoridade policial – é o responsável

pela condução do Inquérito Policial, peça inquisitorial e informativa, que tem como 16 Para Lazzarini (1999) o Brasil deveria ter um ciclo completo de polícia, ou seja, ambas as polícias, PM e PC, deveriam executar as atividades de polícia ostensiva (preventiva) e polícia judiciária (investigação) cumulativamente. O modelo brasileiro é o ciclo de polícia incompleto: uma polícia é administrativa (PM) e a outra exerce as atividades de polícia judiciária (PC).

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função primordial identificar a materialidade do delito – se de fato ocorreu o crime - e

sua autoria – quem foi o autor. O Inquérito Policial é de suma importância para

formação da culpa do acusado e também é utilizado pelo Membro do Ministério

Público (Promotor de Justiça) para oferecimento ou não de denúncia em juízo contra

o réu.

Na expressão exemplar de um delegado de polícia, o inquérito policial é “um procedimento do Estado contra tudo e contra todos para apurar a verdade dos fatos”. Assim, o inquérito policial é um procedimento no qual quem detém a iniciativa é um Estado imaginário, todo poderoso, onipresente e onisciente, sempre em sua busca incansável da verdade, representado pela autoridade policial, que, embora sendo um funcionário do Executivo, tem uma delegação do Judiciário e a ele está subordinado quando da realização de investigações (LIMA, 2004, p.52).

O Inqueríto Policial é um dos pontos de entrave para aceitação da proposta

de unificação das polícias, haja vista sê-lo a peça inauguratória do processo criminal,

que poderá gerar uma sentença condenatória cerceadora da liberdade humana, ou

seja, é instrumento de Poder para formulação da convicção do Juiz competente e da

própria culpa do réu. Desta forma, qualquer proposta de unificação das Polícias

passa pela “perda” do monopólio desse instrumento de poder, fato que as

associações de delegados de polícia combatem com veemência (SILVA FILHO,

2003).

Por outro lado, o modelo de hierarquia e disciplina adotado na PMPI como

“pilares” da instituição, com seus postos, uniformes e estrelas é também um

empecilho para a unificação das Polícias, principalmente, pelos oficiais de maior

patente, que temem a perda de “poder”, da autoridade do “mando”.

Em terceiro lugar os governos estaduais se queixam da impossibilidade de

pagarem vencimentos iguais para as duas Polícias. Na maioria dos estados

brasileiros os polícias civis têm melhores vencimentos que os policiais militares, com

destaque para os delegados de polícia por serem bacharéis em Direito,

consolidando a herança provincial brasileira da supervalorização do saber juríco em

detrimentos de outros saberes (FAORO, 1997).

É de bom alvitre esclarecer que as informações presentes neste capítulo são

imprescindíveis (importantes) para a compreensão do Sistema de Segurança pública

do Piauí, haja vista abordar seus diversos vieses que compõem a complexidade do

tema. A análise da política de segurança pública implementada em Teresina passa

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indubitavelmente pelas polícias civil e militar, as quais são responsáveis pela

operacionalização da mencionada política.

Na estrutura da PC, agentes e escrivães de polícia auxiliam diretamente o

delegado de polícia nas investigações e consequentemente na feitura do inquérito

policial. Os três profissionais elencados formam a espinha dorsal da delegacia de

polícia, base orgânica da PC.

O médico-legista e o perito criminal são técnicos importantes na elucidação

dos crimes, possibilitando a conclusão de inquerítos policiais com as provas

necessárias para responsabilização dos infratores, diminuindo assim o sentimento

de impunidade que também é fator estimulante à criminalidade (SILVA FILHO,

2003).

A PC do Piauí tem previsão legal para 2.475 (dois mil quatrocentos e setenta

e cinco) policiais civis. Porém, de fato, só conta em seus quadros com 1.600

policiais. Na cidade de Teresina há 16 (dezesseis) delegacias de polícia. Observa-se

um déficit do efetivo previsto para o existente, o que, segundo seus gestores,

compromete a qualidade do serviço prestado à sociedade.

Delegacia de Polícia (DP) CIRCUNSCRIÇÃO

1° Distrito Policial Centro comercial de Teresina

2° Distrito Policial Bairro Primavera

3° Distrito Policial Bairro vermelha

4° Distrito Policial Bairro Parque Piauí

5° Distrito Policial Bairro São João

6° Distrito Policial Bairro Piçarra

7° Distrito Policial Bairro Parque Alvorada

8°Distrito Policial Dirceu Arcoverde l

9° Distrito Policial Bairro Mocambinho

10° Distrito Policial Bairro Bela Vista

11° Distrito Policial Bairro Piçarreira

12° Distrito Policial Bairro Planalto Ininga

13° Distrito Policial Bairro Vila da Paz

21° Distrito Policial Bairro Jardim Europa

22° Distrito Policial Parque Wall Ferraz

23° Distrito Policial Vila Irmã Dulce

Quadro 1 - Sinóptico das Delegacias de Polícia da Capital Fonte: Secretaria de Segurança Pública do Piauí, 2008.

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As delegacias de polícia são as unidades operacionais e administrativas da

PC, espaços que representam o estado na busca da restauração da Ordem Pública,

quando da ocorrência do crime. O devido encaminhamento da ocorrência na

delegacia fará toda a diferença entre seu resultado e o grau de satisfação do

cidadão. A delegacia ainda se apresenta como um local estranho ao Estado

Democrático de Direito e aos Direitos Humanos, visto que esses espaços, muitas

vezes, estão alheios às leis e às normas do estado, bem como reproduzem práticas

desumanas, contrariando, assim, os Tratados Internacionais de Direitos Humanos

assinados pelo Brasil (SOARES, 2006).

É oportuno observar que a distribuição espacial das delegacias de polícia em

Teresina representa a visão organizacional do estado em relação à prestação de

serviço de Segurança Pública para o cidadão, e as áreas onde se localizam as

delegacias, provavelmente, são as mais carentes por segurança pública, no

entendimento das autoridades.

A qualificação para o exercício da atividade policial é feita na Academia de

Polícia Civil, localizada no bairro Saci, onde os aspirantes a policiais são submetidos

a cursos de formação profissional, de 03 (três) a 06 (seis) meses de duração, além

do teste psicotécnico, como etapas do concurso público, indispensável ao ingresso

na carreira, nos termos da Lei Complementar n° 37, de 09 de março de 2004.

A função de polícia judiciária – PC - é de fundamental importância para

consolidação do sistema de defesa social do Estado Democrático de Direito, pois

atua diretamente na identificação do autor do crime e responsabilização criminal do

mesmo, contribuindo assim para a redução do sentimento de impunidade brasileira

que, segundo Filho (2003), é um dos fatores do aumento da criminalidade.

A delegacia de polícia da PC é a unidade de atendimento ao público externo –

o cidadão – quando um crime acontece ou um fato que necessite da intervenção do

estado, mesmo não se constituindo um crime.

O efetivo policial que trabalha em cada delegacia de Teresina é, em média, de

20 (vinte) policiais civis, para cumprir uma escala de 24 horas de serviço por 72

horas de folga, ou seja, 05 policiais por dia em cada delegacia, conforme previsão

legal do Estatuto dos Policiais Civis. O número de policiais ainda representa um

obstáculo para implementação da Política de Segurança Pública do Piauí, haja vista

a ausência de policiais civis em muitas cidades do interior do estado, a qual é

suprida por Policiais Militares, conforme informação do delegado Airton Franco.

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--------------------------------------------------------------- DELEGACIAS DA CAPITAL

---------------------------------------------------------------

Figura 1: Mapa de Teresina, com os Distritos Policiais

Fonte: Secretaria de Segurança Pública do Piauí, 2008.

Do modo como se encontram estruturadas, operacionalmente, as polícias

piauienses podem apontar os fatores que contribuem para a situação atual da

segurança pública, como: as condições precárias das maiorias das delegacias da

Capital, a falta de meios materiais (papel, tinta para impressora, computadores,

cadeiras, mesas, etc) e o acúmulo de presos provisórios nas delegacias, que

deveriam estar em presídios aguardando o julgamento e não superlotando as DP –

de acordo com a Lei de Execuções Penais (LEP) -, conforme informação do

delegado Menandro Pedro (ex-secretário de segurança, abr. 2008).

Os recursos humanos e materiais são essenciais para a construção de uma

Política de Segurança Pública eficaz e eficiente, pois sem meios não há como se

pensar em qualidade na Segurança Pública e, conseqüentemente, em resultados

positivos na redução da criminalidade e da violência (ROLIM, 2006).

Em relação à assunção da atividade de Polícia Judiciária em pequenas

cidades do interior do Piauí por membros da Polícia Militar, este fato tem gerado

debates e ações judiciais sob o argumento da ilegalidade (inconstitucionalidade) de

tal substituição, conforme entendimento do Sindicato dos Policiais Civis,

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Penitenciários e Servidores da Secretaria da Justiça e da Cidadania do Estado do

Piauí (SINPOLJUSPI). Porém, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Piauí

estes policiais militares (PMs) estão, gradativamente, sendo substituídos por

delegados, bacharéis em Direito, concursados, haja vista o estado não dispor dos

meios financeiros para fazer a substituição de todos os PMs que respondem pelas

citadas delegacias.

Segundo Silva Filho (2003), um dos grandes obstáculos para a

implementação da Política de Segurança Pública estadual é o antagonismo presente

nas duas instituições responsáveis pela operacionalização da citada política, Polícia

Civil e Polícia Militar. Estas têm linguagem operacional (sistema de comunicação via

rádio), regulamentos disciplinares e vencimentos, dentre outros aspectos, bastante

diferenciados, o que torna difícil a implementação de uma única política para

diferentes arranjos institucionais.

Um outro aspecto importante para a conclusão dessa breve reflexão sobre a

polícia civil é o baixo grau de resolução dos delitos, no qual se tem a materialidade,

mas muitas vezes, escassez de provas concretas e legais nos autos do Inquérito

Policial. Isto possibilita o “desmanche” do trabalho policial na fase do processo

criminal, culminando com a soltura de criminosos nocivos à sociedade e o aumento

no sentimento de impunidade. Há de se utilizar inteligência e não força bruta na

consecução da Segurança Pública (SILVA FILHO, 2003).

4.2.2 Polícia Militar do Piauí

GUARDIÃ DA SOCIEDADE PIAUIENSEGUARDIÃ DA SOCIEDADE PIAUIENSE Figura 2: Quartel do Comando Geral da PMPI. Fonte: PMPI, 2008.

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A Polícia Militar do Piauí é responsável pela preservação da ordem pública,

através do policiamento ostensivo. Seus componentes utilizam a farda como

estratégia para a prevenção do crime, através da ostensividade, característica da

corporação, sendo definida até hoje como “força auxiliar e reserva do Exército”

(BRASIL, 2008).

A Resolução n° 13, de 25/06/1835, de autoria do Barão da Parnaíba,

Presidente da Província do Piauí, criou a Polícia Militar do Piauí com a função

precípua de preservação da ordem pública. A corporação, ao longo da sua história,

recebeu várias denominações: Companhia de Polícia do Estado, Guarda

Republicana, Corpo de Segurança Pública, Força Policial, Batalhão de Infantaria de

Polícia, Brigada Militar, Força Policial do Estado, Corpo de Polícia, até receber, em

razão de dispositivo da Constituição Federal, a atual denominação.

A PMPI participou efetivamente do cenário de conflitos internos e externos em

que o Brasil e o Piauí se envolveram, dentre os quais podem ser citados: Guerra do

Paraguai (1864-70), Revolução Constitucionalista de São Paulo (1932), Cangaço,

Golpe Militar/civil de 1964, Guerra dos Balaios (1830-41) e combate à Coluna

Prestes (1925-27), estas duas últimas constituíram-se as que mais abalaram o Piauí.

Os valores fundamentais expressos nos regulamentos da PMPI do Piauí são

a hierarquia e a disciplina, que dizem respeito ao “acatamento da seqüência de

autoridade” e das leis que fundamentam a organização policial, bem como o

patriotismo, o civismo e o culto às tradições, o espírito de corpo, a fé na missão, o

amor à profissão e o aperfeiçoamento técnico na tarefa prioritária de manutenção da

ordem pública, segundo o Estatuto dos Policiais Militares do Piauí:

§1º - A hierarquia policial-militar é a ordenação de autoridade em níveis diferentes, dentro da estrutura da Polícia Militar. A ordenação se faz por posto e graduação; [...] O respeito à hierarquia é substanciado no espírito de acatamento à seqüência de autoridade. § 2º - Disciplina é a rigorosa observância e o acatamento integral das leis, regulamentos, normas e disposições que fundamentam o organismo policial-militar e coordenam seu funcionamento regular e harmônico, traduzido-se pelo perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes desse organismo. [...] Art. 13 - Círculos hierárquicos são âmbitos de convivência entre os policiais militares da mesma categoria e têm a finalidade de desenvolver o espírito de camaradagem em ambiente de estima e confiança, sem prejuízo do respeito mútuo (PIAUÍ, 2006, p.16).

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A hierarquia e a disciplina são “valores” bastante fortes dentro da instituição

Polícia Militar do Piauí, na realidade são as bases da administração da Corporação.

A pesquisa constatou, também, um sentimento interno de identificação com o caráter

militar da PMPI, que supera sua competência constitucional policial, ou seja, o PM

se vê mais como militar do que policial, devendo primar mais pelos regulamentos

militares do que pela própria Constituição Federal.

O Exército brasileiro é uma instituição militar, com suas ações voltadas para a

Segurança Nacional, enquanto a Polícia Militar do Piauí tem como competência

constitucional a preservação da ordem pública entre os cidadãos, através da

implementação da Segurança Pública. O Exército adestra o militar para eliminar o

inimigo, em estado de guerra, diferentemente da Polícia Militar que deve zelar pela

segurança do cidadão. Como se pode verificar, as competências do Exército e da

PMPI são bastante distintas, portanto exige formação, treinamento e doutrina na

perspectiva da atividade a ser desenvolvida por cada Instituição.

A PMPI possui previsão legal para um efetivo de 9.888 policiais militares,

porém possui apenas 5.728 PMs, dos quais boa parte encontra-se à disposição de

órgãos estatais e de outros poderes (Legislativo e Judiciário), e anualmente muitos

policiais vão para a reserva (aposentadoria). Observa-se que não houve nas

décadas de 1980 e 1990 um planejamento, a nível de Política Pública, para

recomposição do quadro de policiais militares, conforme o aumento populacional do

Piauí.

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CÍRCULO DOS OFICIAIS POSTOS FUNÇÕES

Superiores

Coronel (Cel) Tenente Coronel (Ten Cel) Major (Maj)*

Oficiais que devem atuar a nível político-estratégico; estão habilitados para exercerem as funções de comando, chefia e direção.

Intermediários

Capitão (Cap)**

Oficiais de comando e controle; exercem o comando de Subunidade (Companhia PM), representam o principal elo de comunicação entre oficiais superiores e subalternos. Encontram-se a nível de planejamento e execução.

Subalterno Primeiro Tenente (1° Ten) Segundo Tenente (2° Ten)

Oficiais responsáveis pela execução do policiamento ostensivo; estão diretamente na tropa, nas ruas e comandando as praças.

Subtenentes e Sargentos

Subtenente (Subten) Primeiro Sargento (1° Sgt)*** Segundo Sargento (2° Sgt)*** Terceiro Sargento (3° Sgt)***

Os Subtenentes e Sargentos auxiliam e complementam as atividades dos oficiais, operacionalmente e administrativamente.

Cabos e

Soldado

Cabos (Cb) Soldado (Sd)

São os profissionais que fazem diuturnamente o policiamento ostensivo nas ruas.

Quadro 2 - Postos e Graduações Militares da PMPI

Nota: quadro elaborado conforme a lei n° 3.808 (Estatuto dos Policiais Militares do Piauí). * Os Majores da PMPI constantemente assumem as funções inerentes ao posto de Tenente Coronel, como comandante de batalhão. ** Os Capitães estão sendo utilizados na operacionalidade nas funções dos Tenentes, principalmente em virtude da escassez de efetivo. *** Os Subtenentes e Sargentos estão sendo utilizados como Cabo e Soldado pelo mesmo motivo anterior, escassez de efetivo.

A Polícia Militar do Piauí estrutura-se segundo o modelo do Exército

brasileiro, com dois “círculos hierárquicos” – oficiais e praças -, dentro dos quais se

dispõem os postos (do oficialato) e graduações (das praças), num total de 12 graus

de hierarquia.

O Sistema de Segurança Publica é tão hermético que a maior parte da

população não conhece e nem entende a estrutura funcional da polícia militar, e não

há interesse por parte das autoridades em desconstruir essa cultura. Parece óbvio,

mas se faz necessário esclarecer como se estrutura a polícia responsável pelo

policiamento ostensivo nas ruas (ROLIM, 2006). Como a sociedade vai se relacionar

com uma instituição alheia às percepções sociais vigentes?

A extrema burocratização e centralização dos processos decisórios na PMPI,

resultam em perdas de eficácia, não só para as ações de polícia no dia-a-dia, mas

também para os instrumentos formais de controle interno (SOARES, 2000). Outro

problema é o fosso decorrente da existência de duas carreiras estanques – a do

oficialato e a das praças -, resultando numa coesão institucional muito precária, não

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obstante as contínuas e explícitas ritualizações da unidade e da identidade de todos

no pertencimento à Corporação.

Um dos pontos principais de inadequação do modelo de polícia militarizada

brasileira são os valores cultuados por essas corporações, que na realidade são

reproduções de épocas passadas, momentos de exceção, do centralismo e

conservadorismo extremo que engessa a capacidade de pensar das pessoas, que

impossibilitam as transformações necessárias para adequação à realidade

democrática atual (CARVALHO, 2007).

Embora a Polícia Militar do Piauí esteja operacionalmente subordinada à

Secretaria de Segurança Pública do Piauí, conforme prescreve a Constituição do

Piauí, já mencionada, na verdade o comando da PMPI mantém sua relação

institucional diretamente com o Governador do Estado, representando, assim, um

poder paralelo ao Secretário de Segurança Pública do Piauí.

A manutenção de duas estruturas independentes enfraquece a cadeia de

comando e fragiliza a autoridade do Secretário de Segurança Pública do Piauí, haja

vista persistir uma estrutura de poder paralelo na Segurança, conseqüência da total

independência, administrativa e operacional, do comando da Polícia Militar em

relação à Secretaria de Segurança Pública.

O Sistema Único de Segurança Pública tem como diretriz a existência de

apenas um comando na Segurança Pública estadual, através do Secretário de

Segurança Pública, devendo todos os projetos encaminhados à SENASP serem

encaminhados pelo Secretário de Segurança Pública do Piauí. Tal medida objetiva

também possibilita uma maior integração das Instituições policiais, por meio de

ações unificadas. 4.2.2.1 Estrutura Organizacional da PMPI

O Comandante Geral17 da Polícia Militar do Piauí é o gestor responsável pela

instituição, cargo inerente ao posto de Coronel PM e de livre escolha do Governador

do Estado do Piauí, na condição de Chefe e Comandante. O Comando Geral da PM

17 É o gestor maior da Polícia Militar do Piauí, tem autonomia financeira, porém depende dos recursos repassados pelo tesouro estadual e federal (FNSP), é subordinado político-administrativo apenas ao Governador do estado do Piauí, possui foro privilegiado junto ao Tribunal de Justiça do Piauí, como secretário de Estado, conforme prevê o art. 163 da Constituição do Estado do Piauí.

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é assessorado por órgãos de: Assistência, Diretoria, Comando, Chefia e

Coordenação.

A estrutura burocrática da PMPI tem como fundamentação a hierarquia para a

assunção de função, as quais são atreladas aos postos/graduações. Por exemplo:

um soldado, mesmo sendo doutor em pedagogia, jamais poderá ministrar instruções

(aulas) para coronéis, porque o coronel é seu superior hierárquico. Essa é a lógica

do “mundo militar”.18

Para a consecução de sua função constitucional a PMPI desenvolve

atividades administrativas, intra-caserna19, como suporte para o desenvolvimento

das atividades operacionais, que no presente estudo será sinônimo de policiamento

ostensivo e suas variações.

GUARDIÃ DA SOCIEDADE PIAUIENSEGUARDIÃ DA SOCIEDADE PIAUIENSE

COMANDO-GERALASSIST./AJ. ORDEM

ASS. JURÍDICA

ASSESSORIAS

COMISSÕES

AJUDÂNCIA-GERAL

EMG

PM-1 PM-2 PM-3 PM-4 PM-5

DAL DIP DF DS DEIPDP

APM CFAPCESCASCSM APROV ALMOX HPM S.O

CPICPC

1º BPM 5º BPM 6º BPM 8º BPM 9º BPM BPTran BPGda

EPMont CIPAMA 1ª CIPMCODAM

4ª CIPMV. IR. DULCE

2º BPM 3º BPM 4º BPM 7º BPM

SUB-CHEFIA

CORREGEDORIA

3 ª CIPM CODIPI

2ª CIPM PROMORAR

GTAP 7ª CIPMS. R. NONATO

6ª CIPM URUÇUÍ

CEFCPD

ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

BOPE

5ª CIPMPAULISTANA

8ª CIPMOEIRAS

PM-6

CGCDH

CIPRV

PROERD

NÚCLEO DE CONTROLE DE GESTÃO

Figura 3: Organograma da PMPI Fonte: PMPI

A parte administrativa encontra-se dividida em seis grandes diretorias,

compondo o Estado-maior Geral da PMPI e estão ligadas diretamente ao

Subcomando, as quais são; PM/1; PM/2; PM/3; PM/4; PM/5 e PM/6. A PM/1 é

responsável pelo setor de recursos humanos da PMPI e controle de efetivo. 18 Internamente os militares da PMPI acreditam na existência de dois espaços de socialização, o “mundo civil”, onde existem leis, a Constituição Federal do Brasil, direitos e deveres e o “mundo militar” estagnado nos habitus da caserna, onde só existe “os pilares da hierarquia e disciplina”. 19 Caserna pode assumir vários significados, como: “mundo militar”, militarismo, tudo que se refere à identidade militar.

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A PM/2 realiza o serviço de inteligência da PMPI, qualquer ação policial deve

preceder a um planejamento minucioso, e nesse caso, é importante a autoridade

policial militar se munir do máximo de informações sobre a prática ou atos

preparatórios do crime para êxito na manutenção da ordem.

A PM/3 organiza e desenvolve as diretrizes do ensino na PMPI, responde,

juntamente, com a Diretoria de Ensino, Instrução e Pesquisa (DEIP) pela formação

dos policiais militares do Piauí. Desde o ano de 2001 a base curricular dos cursos

de formação dos policiais militares do Piauí tem sido fornecida pela Secretaria

Nacional de Segurança Pública.

O controle e distribuição dos armamentos e munições são de competência da

PM/4, bem como material carga da PMPI, que vai de uma simples cadeira à viatura.

Ressalte-se o fato de que apenas após o advento do FNSP é que a PMPI pôde

adquirir armamentos mais modernos e de maior calibre para fazer frente à ousadia

do crime organizado20.

A PM/5 é responsável pela assessoria de comunicação, devendo se

pronunciar nos meios de comunicação escrito, televisionado e eletrônico, em nome

do comando da corporação, nos mais diversos casos que envolvam a PMPI.

A ausência de planejamento na PMPI ensejou a criação da PM/6, através da

Lei n° 5.468, de 18/07/05, que tem como função precípua traçar as diretrizes do

planejamento e organização orçamentária necessárias ao cumprimento das missões

da PMPI. Encontra-se em fase de adequação à estrutura existente, conforme

informação colhida na pesquisa de campo, no Quartel do Comando Geral da PMPI.

4.2.2.2 Atividade Operacional da PM-PI

Antes de adentrar no tema proposto, faz-se necessário explicar que a

atividade operacional são as ações de policiamento ostensivo, para PMPI, e de

investigação policial, para a polícia civil, ou seja, o termo se refere à atividade fim de

cada corporação policial.

Em relação à operacionalidade a Polícia Militar do Piauí é organizada em dois

grandes Comandos: Comando de Policiamento da Capital (CPC) e Comando de

20 Caracteriza-se como crime organizado a estrutura do crime que atua como uma empresa, com setores: jurídico, contábil, de inteligência e principalmente de tráfico de influência junto às autoridades constituídas do Estado.

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Policiamento do Interior (CPI). As Unidades Operacionais de Policiamento da Capital

são subordinadas ao CPC e as responsáveis pelo policiamento ostensivo no interior

do Piauí são ao CPI. Suas unidades são classificadas em: Batalhões Policiais

Militares (BPM), Companhias Independentes (Cia Ind), Companhias (Cia) e Pelotões

(Pel.).

GUARDIÃ DA SOCIEDADE PIAUIENSEGUARDIÃ DA SOCIEDADE PIAUIENSE

OCEANOATLÂNTICO

2º BPMPARNAÍBA

TERESINA

3º BPMFLORIANO

7º BPMCORRENTE

TOCANTINS

4º BPMPICOS

CEARÁ

PERNAMBUCO

BAHIA

MARANHÃO

VISÃO GERAL

Área

252.378 Km²

População

2.843.428 hab.

ÁREA OPERACIONAL

Figura 4: Unidades Operacionais da PMPI Fonte: PMPI

A Capital dispõe de cinco Unidades Policiais Militares, a nível de Batalhão

Policial Militar (BPM): 1° BPM (bairro Ilhotas); 5° BPM (Ininga); 6° BPM (Saci) 8°

BPM (Dirceu Arcoverde) e 9° BPM (Mocambinho), as quais são responsáveis pela

execução do policiamento ostensivo em Teresina. O Comando Geral da PMPI se

localiza na avenida Higino Cunha, bairro Ilhotas, sede da corporação.

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GUARDIÃ DA SOCIEDADE PIAUIENSEGUARDIÃ DA SOCIEDADE PIAUIENSE

3.2.1 – NA CAPITALÁrea: 1.756 km2

População: 775.477 hab

ÁREA OPERACIONAL

Figura 5: Área Metropolitana de Teresina Fonte: PMPI, 2008.

A própria escolha de Teresina, como estudo de caso, para pesquisar a

segurança pública piauiense, deveu-se ao fato de que na Capital está concentrada a

maioria do aparato policial, o que possibilitará uma melhor análise do objeto de

estudo, ou seja, a política de segurança pública do Piauí.

GUARDIÃ DA SOCIEDADE PIAUIENSEGUARDIÃ DA SOCIEDADE PIAUIENSE

POLICIAMENTO OSTENSIVO POLICIAMENTO OSTENSIVO -- MODALIDADESMODALIDADESPoliciamento a pé Bike-patrulhamento

Motocicletas Motorizado

Figura 6: Modalidades de Policiamento Realizado em Teresina

Fonte: PMPI, 2008.

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As modalidades de policiamento realizadas em Teresina, segundo o

Comando de Policiamento da Capital (CPC) da PMPI, informação anexa, são:

Policiamento Ostensivo Geral a pé e motorizado; motopatrulhamento;

bikepatrulhamento; policiamento montado; policiamento tático (aéreo e terrestre);

policiamento com cães e policiamento de guarda.

4.3 AÇÕES GOVERNAMENTAIS DA SEGURANÇA PÚBLICA DO PIAUÍ

Este é um diagnóstico sintético sobre a situação da Segurança Pública do

Piauí, no período de 2003 a 2006, o qual aponta algumas conclusões que foram

observadas na elaboração desta pesquisa.

Pode-se afirmar, lato sensu, que há duas grandes estratégias de utilização

das polícias no Brasil, que caracterizam as ações governamentais na área de

Segurança Pública, uma das quais baseada no uso da força policial para contenção

dos conflitos. Nesse caso, a possibilidade do uso da força não é apenas o traço

diferenciador das instituições policiais, mas também sua razão de ser (COSTA,

2004). A segunda estratégia de atuação baseia-se no poder da ação preventiva

policial, e que o emprego da força policial é apenas uma das possibilidades

disponíveis. Nessa perspectiva, essa estratégia de emprego operacional busca

outras formas de relação entre polícia e sociedade, como a filosofia de polícia

comunitária (SOARES, 2000).

Segundo Soares (2007), a existência de duas polícias dificulta a integração

para implementação de uma única Política de Segurança Pública, tendo em vista

que são duas instituições policiais com valores, formação, socialização diferenciada

e modus operandi21 distintos. Normalmente, as polícias trabalham de forma isolada,

com fraca coordenação e controle. Objetivando suprir esse problema a SENASP,

através do Sistema Único de Segurança Pública, propõe a integração das polícias,

por meio da formação, treinamento, sistema de comunicação e informação

integrado.

Como não houve um plano formal de Segurança Pública para o Piauí, no

período estudado (2003-2006), buscou-se investigar quais as principais ações 21 Modus operandi é uma expressão em latim que significa "modo de operação". É alguém ou algo que usa o mesmo jeito e aplicação em todas as coisas que realiza, faz tudo do mesmo jeito de uma mesma forma, de maneira que se identifique por quem foi feito aquele determinado trabalho. site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Modus_operandi. Acessado em 12/04/08.

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implementadas na área de Segurança Pública a partir das informações obtidas junto

aos gestores da época.

Todas as ações foram importantes também, mas a parte do Ensino nós queremos aqui creditar como carro-chefe do comando, porque você só muda ações, se você mudar a mente, se mudar as ideais. [...] Nós totalizamos mais de 3200 Policiais Militares formados, qualificados, aperfeiçoados, especializados durante nosso comando. O concurso público também na nossa corporação, nós tivemos a oportunidade de proporcionar a realização de dois concursos públicos, dentre eles o maior da história da Polícia Militar do Piauí para 500 Policiais Militares,[...] As ações mais importantes foram voltadas para os nossos recursos humanos, não só na parte de concurso, mais também na formação, aperfeiçoamento, como também as ações propriamente ditas para a Segurança, para prevenção da violência e da criminalidade em nosso Estado (coronel Edvaldo Marques, ex-comandante geral da PMPI, mar. 2008).

Nesse depoimento fica evidenciado a preocupação do gestor com o aspecto

quantitativo e qualitativo dos recursos humanos, que, conforme discussão já

realizada nesse estudo, tem-se apresentado como um nó górdio 22 para a

implementação de uma Política de Segurança Pública no Piauí. Também se

observou a priorização do aumento de efetivo, marca de todas as falas dos

entrevistados.

Percebo que a Secretaria de Segurança avançou a partir de 2003, principalmente em três pontos. O primeiro ponto foi a questão da informática.[...] a Secretaria de Segurança, a Polícia Civil e a Polícia Militar, a questão da informática era quase nula [...]Outro avanço, principalmente na área judiciária, foi concurso público para que novos delegados bacharéis em direito pudessem assumir.[...] E o terceiro ponto, pelo menos em minha gestão, não sei se já mudou. O fato é que antes na Secretaria eram arrecadadas taxas na Secretaria, no âmbito da Polícia Civil, em cada distrito, essas taxas arrecadadas em espécie, montavam um dinheiro, de certo modo importante, que só ali em torno da Secretaria dava em torno de R$ 6.000,00 e 120.000,00 reais, mensalmente. Cobrada em forma de diversas taxas à população sofrida, e eu não achava isso correto (delegado Airton Franco, ex-secretário de segurança pública, abr. 2008).

22 O nó górdio foi um nó cuja história remonta ao século VIII a.C. Dizia a lenda que o rei da Frígia morreu sem deixar herdeiro e que, ao ser consultado, o Oráculo anunciou que o próximo rei chegaria à cidade num carro de bois. A profecia foi cumprida por um camponês, de nome Górdio, que foi coroado. Para não esquecer de seu passado humilde ele colocou a carroça, com a qual ganhou a coroa, no templo de Zeus, e a amarrou com um nó a uma coluna, nó este impossível de desatar. site: http://pt.wikipedia.org/wiki/N%C3%B3_g%C3%B3rdio, acessado em 15.06.08.

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Esse depoimento também denota uma preocupação do gestor com a

problemática dos recursos humanos além de uma preocupação com a questão da

informatização dos órgãos de Segurança e a moralidade no serviço público.

Então nós pegamos aqueles locais que haviam mesmo problema, pegava uma delegacia móvel junto com a Polícia Militar e ali ia resolver o problema daquela comunidade. Às vezes o problema da comunidade não era falta de polícia, era falta de iluminação, falta de colégio, falta de emprego, infra-estrutura, moradia, por isso eu chamava aquelas outras autoridades. Às vezes não tinha nada a ver com segurança pública. O problema é que Teresina cresceu demais desordenadamente. Tem favelas que não tem condição da Polícia Militar entrar nem de carro, nem de moto, tem local que a polícia nem chega lá. Nós fizemos a integração entre todos os comandantes e a comunidade. Os moradores quando estão precisando de segurança eles até agridem. Agrediram a mim com palavras, ao comandante geral (delegado Menandro Pedro, ex-secretário de segurança pública, abr. 2008).

O delegado Menandro Pedro ressalva a participação social como destaque de

sua gestão frente à Secretaria de Segurança do Piauí (2003-2004). Outro aspecto

relevante identificado pelo elencado gestor é a questão social e a necessidade de

políticas pública na periferia. Desta forma, verifica-se que a ordem pública não é

composta apenas pela Segurança Pública (ação policial), mas também pela

salubridade pública (saúde) e tranqüilidade pública (estado de paz) (LAZZARINI ,

1999).

Além dos aspectos já mencionados, os depoimentos dos gestores, os quais

geriram a Segurança Pública estadual, no período de 2003 a 2006, indicam a falta

de continuidade das ações na Segurança Pública piauiense ao afirmarem

prioridades diferenciadas e a própria fala, textualmente, constata a inexistência de

um Plano estadual de Segurança Pública.

Em relação à Polícia Militar do Piauí, que foi gerida por apenas um

Comandante Geral, no período de 2003 a 2006, o qual informou sobre a relação da

PMPI com a Secretaria de Segurança Pública: “(...) que os recursos federais são

canalizados para a secretaria de segurança pública, a qual faz a aplicação desses

recursos disponibilizando para a Polícia Militar e Polícia Civil e para o Corpo de

Bombeiros (...)”. Portanto, a SENASP tenta integrar o comando da Segurança

Pública estadual ao centralizar o repasse dos recursos financeiros, materiais e

recebimento de projetos apenas da encaminhado pelo secretário de Segurança

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Pública do Piauí.

No caso da PMPI, foi elaborada uma comissão designada pelo então

candidato à Governador do Estado do Piauí – Wellington Dias –, em outubro de

2002, para produzir um documento diagnosticando a situação da PMPI, tendo o

coronel Edvaldo Marques Lopes como presidente, fato que não ocorreu na

Secretaria de Segurança Pública.

Quanto às principais ações desenvolvidas em seu comando, o coronel

Edivaldo Marques respondeu: “que o diagnóstico elaborado, antes de assumir o

comando, serviu como base para a feitura de um plano de comando na PMPI, (...)

sendo sua prioridade não apenas uma área, mas várias áreas da Instituição.”.

O coronel Edvaldo Marques (ex-comandante geral da PMPI, mar. 2008),

quando perguntado sobre sua principal ação como gestor da Polícia Militar do Piauí,

no período de 2003 a 2006, respondeu que: “Todas as ações foram importantes

também, mas a parte do Ensino nós queremos aqui creditar como carro-chefe do

comando, porque você só muda ações, se você mudando a mente, você mudando

as ideais. [...]”

Indubitavelmente, um dos pontos candentes de atenção maior por parte dos

gestores da Política de Segurança Pública no Piauí diz respeito ao aspecto

quantitativo e qualitativo dos recursos humanos. Nesse sentido, a realização de

concursos públicos nesse setor foi, talvez, a ação de maior destaque no período sob

investigação:

GUARDIÃ DA SOCIEDADE PIAUIENSEGUARDIÃ DA SOCIEDADE PIAUIENSE

CONCURSOS REALIZADOS

500TOTAL

600654CORRENTE

600654PICOS

600654FLORIANO

600654PARNAÍBA

26026234TERESINA

VAGASFEMMASCLOCAL

SOLDADO PM (2003/2004)

Quadro 3 – Concursos Público para a PMPI Fonte: PMPI, 2008.

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106

Os dados acima representam um importante passo em direção à

descentralização da Segurança Pública para o interior do Estado, onde há carência

de policiais e estrutura física (delegacias e quartéis). Porque, segundo informação do

coronel Edvaldo Marques Lopes (ex-comandante geral da PMPI, mar. 2008), nos

anos anteriores à sua gestão era realizado concurso público para PMPI sem

distinção de onde iria servir o candidato após o curso de formação; sendo que a

maioria dos policiais, lotados nas unidades das cidades do interior do Piauí,

conseguia retornar para a Capital, muitos dos quais através de pedidos políticos, fato

que dificultou a interiorização da Segurança Pública do Piauí.

Porém, o edital do concurso citado previu as vagas para as cidades acima

referenciadas, o que possibilitou a interiorização da prestação de serviço de

Segurança Pública.

O comandante geral da PMPI destacou, também, a atualização da legislação

aplicada à PMPI, a qual em sua maioria não fora recepcionada pela Constituição

Federal do Brasil, bem como foram instituídas unidades operacionais e legalizadas

outras, como o 8º Batalhão de Polícia Militar, localizado no bairro Dirceu, e o 9º

BPM, no Mocambinho, através de lei específica.

Em relação à atividade fim da Polícia Militar do Piauí, tem-se como principal

competência a execução do policiamento ostensivo nas vias públicas. A formação

dos policiais, segundo a SENASP, é um dos mecanismos para adequação das

instituições policiais ao Estado Democrático de Direito. Porém, o ensino na Polícia

Militar do Piauí – formação dos novos Policiais Militares - mesmo adotados,

formalmente, os parâmetros indicados pela SENASP, observou-se, através da

pesquisa de campo, uma reprodução da tradição militar brasileira, contrariando as

diretrizes de ensino indicadas pela SENASP, ressaltando mais o caráter militar que o

policial, missão da Polícia Militar do Piauí, conforme preceitua a Constituição

Federal.

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107

GUARDIÃ DA SOCIEDADE PIAUIENSEGUARDIÃ DA SOCIEDADE PIAUIENSE

POLICIAIS MILITARES EM INSTRUÇÃO

Figura 7: Policiais Militares em Instrução Fonte: PMPI, 2008.

Quanto à formação e treinamento dos policiais estaduais, a Secretaria

Nacional de Segurança Pública idealizou e vem implementando uma Matriz

Curricular Nacional para os cursos de formação policial, conforme se verifica abaixo:

A formação das profissionais da Segurança Pública é instrumento fundamental para a qualificação dos padrões de atuação das polícias brasileiras, conforme foi definido nas diretrizes estabelecidas pelo “Plano Nacional de Segurança Pública”. A Coordenação de Ensino da SENASP propõe um conjunto de ações visando a qualificação das profissionais da Segurança Pública. Estas ações serão operacionalizadas por meio das Instituições de Ensino de Segurança Pública das unidades federativas, e posteriormente, pela Escola Superior de Segurança Pública (ESSP) mediante uma política pública implementada pela SENASP (BRASIL, 2003, p. 06).

A Matriz Curricular, de abrangência nacional, visa criar condições para que

nos diversos contextos formativos, sejam debatidos e implementados mecanismos

que garantam para os profissionais de Segurança Pública a discussão das formas

de assegurar o acesso aos novos saberes necessários ao desempenho de uma

Segurança Pública cidadã (BRASIL, 2003).

O coronel Edvaldo Marques destacou também o ensino na Polícia Militar do

Piauí como ação de seu comando, ao informar que:

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108

[...] foram realizados vários cursos de formação e qualificação nas diversas áreas de atuação da PMPI. [...] Também foram realizados dois grandes concursos, o maior da história da polícia militar com 500 vagas para soldado [...](coronel Edvaldo Marques, ex-comandante geral da PMPI, mar. 2008).

O ex-comandante geral lembrou da construção e recuperação de alguns

quartéis do interior e capital do Piauí, como forma de valorização profissional do PM.

Outra ação ressalvada da PMPI foi o programa de Polícia comunitária, que

também é uma diretriz do Plano Nacional de Segurança Pública. Tal estratégia tem

se concentrado na PMPI, apesar de Policiais Civis também participarem da

formação, mas se constata que de uma turma de 50 multiplicadores da filosofia de

Polícia Comunitária, 68% dos alunos são PMs, 30% são comunitários e apenas 2%

são policiais civis, conforme se verificou in loco, quando da pesquisa de campo no

Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP). A lei complementar nº

52, de 23/08/05, criou a Coordenadoria de Polícia Comunitária e Cidadania na

estrutura da PMPI que tem concentrado suas ações na formação de policiais e

lideranças comunitárias.

A Coordenadoria de Polícia Comunitária também vem implementando alguns

projetos pilotos de natureza preventiva para crianças e adolescentes, em situação

de risco, na periferia de Teresina – nos bairros São Francisco Norte, Mocambinho e

Pedra Mole - como o Pelotão Mirim, onde são repassadas noções de ordem unida e

cidadania aos participantes.

Verificou-se ainda, na pesquisa de campo, no Centro de Formação e

Aperfeiçoamento de Praças da PMPI, onde é ministrado o curso de multiplicador da

filosofia de Polícia Comunitária para policiais militares, em média, com mais de dez

anos de serviço, que há uma distância considerável da teoria à prática da Polícia

Comunitária23, principalmente em relação aos gestores da Segurança Pública do

Piauí, pelo fato de não priorizarem o programa elencado.

Assim, em relação à Polícia Comunitária, que tem como objetivo estreitar a

relação entre Polícia e sociedade, observa-se um discurso midiático por parte das

autoridades constituídas, porém, não é incorporado às diretrizes das ações policiais.

Constatou-se, através das observações de campo e pela falta de indicação nas 23 A teoria de Polícia Comunitária estabelece o estreitamento da relação entre Polícia e sociedade, porém, através das observações de campo e da ausência de indicação dos gestores da Segurança Pública de metas e diretrizes para implantação da Polícia Comunitária no Estado do Piauí, pode-se concluir uma utilização mais a nível de marketing do que prática.

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109

entrevistas concedidas pelos gestores da Segurança Pública do Piauí (2003-2006),

a ausência de metas e diretrizes claras para implantação da Polícia Comunitária no

Estado do Piauí. Desta forma, pode-se concluir que a Polícia Comunitária no Piauí é

mais utilizada a nível de marketing do que prática cotidiana na Segurança Pública.

A própria construção sócio-político-cultural brasileira aponta para as raízes

desse “ranço”, conforme exposto no primeiro capítulo deste trabalho. O que é a

Polícia Comunitária de fato? É “simplesmente” tratar a pessoa humana como

cidadão. Entende-se, portanto, esse fato como um dos elementos básicos do nó

górdio da Segurança Pública piauiense, democratizar esse serviço público é o

grande desafio do Sistema de Segurança Pública estadual.

Quando em entrevista ao site oficial da Secretaria de Segurança Pública do

Piauí (www.ssp.pi.gov.br), o secretário de Segurança Pública Robert Rios destacou

a Operação “Boa Noite Teresina” que se consubstanciou inicialmente pela

Resolução n° 12.000-001 GS/2005 do Secretário de Segurança e posteriormente foi

convertida em Lei Municipal (Lei Complementa n° 3.610, de 11/01/07, Código de

Postura do Município de Teresina), ambas as normas anexas. A citada ação

consiste na regulamentação do horário de funcionamento dos bares, restaurantes,

churrascarias, trailers, casas de show e similares.

§ 2° No caso de prestadores de serviço de bares, restaurantes, churrascarias, traileres, casas de show e similares, terão suas atividades noturnas encerradas de domingo a quinta-feira, às 2h (duas horas), e na sexta-feira, no sábado e na véspera de um feriado, funcionarão até às 3 (três horas) [...] (TERESINA, 2007).

Contudo, os índices de criminalidade não retrocederam o esperado, sendo

observado apenas uma adequação no horário de atuação dos criminosos, as taxas

de homicídios continuaram crescendo, conforme Quadro 4. Novamente surge a

questão já abordada sobre Segurança versus Liberdade, onde, por exemplo, às

vezes, é mais fácil delegar ao Estado a autoridade de controlar os filhos do que

impor limites.

A Secretária Nacional de Segurança Pública apresenta no Plano Nacional de

Segurança alguns mecanismos de controle e democratização da Segurança Publica,

como: a constituição de Gabinete de Gestão Integrada; de Ouvidorias e

Corregedorias de Polícia.

O Piauí instituiu o GGI através do Decreto nº 11.843, de 10/08/05, no âmbito

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da Secretaria da Segurança Pública, com a finalidade de coordenar o Sistema da

Segurança Único de Segurança Pública e tendo como membros efetivos os

representantes dos Órgãos e Entidades a seguir:

[...] I – Secretaria de Segurança Pública – Coordenação; II – Polícia Civil do Piauí; III – Polícia Militar do Piauí; IV – Corpo de Bombeiros Militares do Piauí; V – Secretaria de Justiça e Direitos Humanos; VI – Defensoria Pública do Estado do Piauí; VII – Superintendência Regional da Polícia Federal no Piauí; VIII - Superintendência Regional da Polícia Rodoviária Federal no Piauí; IX – Forças Armadas; X – Tribunal de Justiça do Piauí; XI – Procuradoria Geral de Justiça; XII – Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP – Mediador (PIAUÍ, 2006).

O Gabinete de Gestão Integrada é um esforço federal para a democratização

da Segurança Pública, ao estabelecer um conjunto de órgãos designados para

elaborar as diretrizes da Política de Segurança Pública estadual, ou seja, a

responsabilidade não seria apenas do Secretário de Segurança, mas de todos os

membros. Contudo, o GGI ainda não atuou para os fins que foi criado.

Em relação ao GGI o coronel Edvaldo Marques (ex-comandante geral da

PMPI, mar. 2008), à época, enfatizou a importância de tal órgão: “O GGI deveria ser

um dos órgãos mais importante para a segurança pública não só do Estado, mas do

país (...)” e acrescentou “trabalhei muito para criar o GGI no nosso Estado, naquela

época o gestor não dava a importância devida ao gabinete.”. Os Secretários de

Segurança Pública do Piauí também destacaram a importância do GGI, mas

relataram as dificuldades de convocação e realização das sessões deliberativas,

ficando o GGI apenas como uma boa idéia.

Já em relação à Corregedoria de Polícia tem-se o exemplo emblemático da

PMPI, que inicialmente seguiu a orientação da SENASP, através da Lei n° 5.403, de

14/07/04 e instituiu a Corregedoria da Polícia Militar do Piauí concedendo amplo

poder disciplinar ao Corregedor, mas a Lei Complementar n° 93, de 05/11/07,

revogou os elencados poderes: “Art. 4º Ficam revogados os incisos I, II, III e IX do

art. 2º, art. 3º e inciso X do art. 5º, da Lei nº 5.403, de 14 de julho de 2004”. Assim,

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retornou-se a situação anterior, colaborando com a tese da resistência dos Estados

em incorporar as diretrizes do Plano Nacional de Segurança Pública, ou seja, de que

adianta um Corregedor sem poder disciplinar?

Sobre o Plano Estadual de Segurança Pública, o coronel Edvaldo Lopes

destacou que:

[...] em meu comando houve 04 gestores: delegado Ayrton Franco, delegado Menandro Pedro, delegado Robert Rios e delegado Raimundo Leite. [...] não vi, não conheci um projeto para a segurança e sim as experiências de cada um que eram realmente colocadas ali de forma até empírica para se fazer um trabalho. (coronel Edvaldo Marques, ex-comandante geral da PMPI, mar. 2008).

Os ex-secretários de Segurança Pública reconheceram que não houve um

plano para a Segurança Pública piauiense, a nível de política pública.

O Secretário de Segurança Pública Robert Rios Magalhães (2005-2006) até

se comprometeu em elaborar um Plano de Segurança Pública para compor o

programa de campanha do segundo mandato do Governador Wellington Dias,

conforme entrevista concedida no site oficial da Secretaria de Segurança Pública do

Piauí, em anexo.

Em relação à participação da sociedade em um projeto para Segurança

Pública do Piauí, o coronel Edvaldo Marques ressalva que:

Um plano para a Segurança Pública para o Estado deveria comportar não só a Polícia Militar, mas a Polícia Civil, o Corpo de Bombeiros e a sociedade piauiense como integrantes desse projeto de segurança visando minimizar a violência e a criminalidade do Piauí (coronel Edvaldo Marques, ex-comandante geral da PMPI, mar. 2008).

Todos os gestores concordaram sobre a relevância da participação da

sociedade na construção de um Projeto de Segurança Pública para o Piauí, porém

não indicaram o porquê da não construção de tal parceria em suas respectivas

gestões.

Já em relação à existência de um Plano de Segurança Pública para o Piauí

todos afirmaram que não houve o elencado projeto para a Segurança Pública

estadual, conforme se vê adiante:

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Destaco que no período de meu comando houve vários gestores [...] Não vi, não conheci um projeto para a segurança e sim as experiências de cada um que era realmente colocadas ali, de forma até empírica para se fazer um trabalho [...] Infelizmente não vi formalizado, no meu comando, nenhum Plano de Segurança Pública, à nível estadual. Nós trabalhos a boa vontade e a determinação dos nossos gestores, mas sem um Plano, sem diretrizes específicas através de documento (coronel Edvaldo Marques, ex-comandante geral da PMPI, mar. 2008). [...] Naquele momento inicial não recebi do Governador uma diretriz. Ele estava tomando conta do governo, vinha da área parlamentar, não tinha experiência na gestão públicas. Então eu não tive [...] (delegado Airton Franco, ex-secretário de segurança pública, abr. 2008). [...] Tinha a política de estar na comunidade resolvendo os problemas dela. No Buenos Aires eu tinha uma reunião com a comunidade daquele bairro, eram 13 comunidades, eles me passavam os problemas [...] (delegado Menandro Pedro, ex-secretário de segurança pública, abr. 2008).

Em suma, as estratégias adotadas pela Secretaria de Segurança Pública do Piauí (Polícia Civil) e pela Polícia Militar do Piauí, no ínterim de 2003 a 2006, apresentam-se como práticas reiteradas das corporações policiais, onde a PMPI realiza o policiamento ostensivo – fardado, objetivando inibir ação delituosa - à pé e motorizado, atendendo aos chamadas do 190 conforme sua capacidade operacional de atendimento.

A Polícia Civil tem agido, principalmente, no registro e investigação de crimes, que muitas vezes, não se chega à autoria do delito, haja vista a ação da Polícia Judiciária ainda se basear em métodos arcaicos de investigação24. Contudo, há um grupo especial de inteligência, Comissão de Investigação do Crime Organizado (CICO), que tem como função investigar os crimes de maior complexidade do Piauí, porém sua amplitude de atuação é muito aquém das necessidades piauiense.

4.4 ORÇAMENTO DA SEGURANÇA PÚBLICA PIAUIENSE

Os dados orçamentários demonstram o grau de prioridade que o estado adota

para determinado setor público, desta forma a análise dos investimentos na área da

Segurança Pública pode indicar e ter relação com os índices de criminalidade.

24 Métodos arcaicos de investigação consistem no uso da força (violência) para produção de provas, as quais nascem de forma ilegal, ou seja, não geram direito algum e comprometem o futuro processo penal.

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113

Tabela 1 - Orçamento da Secretaria de Segurança Pública do Piauí (2003-2006)

ANO Orçamento Previsto

Orçamento Realizado

Orçamento Geral Previsto do

Estado

Orçamento Geral Executado do

Estado

% Investido na

Secretaria de

Segurança 2003 43.418.282,00 57.686.516,00 1.970.807.167,00 2.032.677.578,00 2,83%

2004 57.689.664,00 68.892.885,17 2.290.645.500,00 2.413.218.179,00 2,85%

2005 49.747.647,00 66.608.529,90 2.497.940.688,00 2.589.528.889,00 2,57%

2006 54.729.934,00 69.523.477,35 2.608.292.484,00 3.294.565.862,00 2,11%

Fonte: Secretaria de Planejamento do Piauí, 2008.

Gráfico 1: Orçamento realizado pela Secretaria de Segurança Pública do Piauí no

período de 2003 a 2006. Fonte: SEPLAN, 2008.

Os dados do orçamento acima indicam que, gradativamente, o estado do

Piauí diminuiu o investimento na área de Segurança Pública, conforme se verifica

através das percentagens do orçamento da Secretaria de Segurança Pública e da

PMPI nos anos de 2003 a 2006. Por exemplo: no ano de 2003 o estado do Piauí

repassou 2,83% do orçamento geral executado para a Secretaria de Segurança

Pública, enquanto que em 2006 este percentual fora reduzido para 2,11%.

2,83% 2,85%

2,57%2,11%

0,00%0,50%1,00%1,50%2,00%2,50%3,00%

Orçamento realizado

2003200420052006

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Tabela 2 - Orçamento da Polícia Militar do Piauí (2003-2006)

ANO Orçamento Previsto

Orçamento Realizado

Orçamento Geral Previsto do Estado

Orçamento Geral Executado do

Estado

% Investid

o na PMPI

2003 101.425.000,00 128.782.714,00 1.970.807.167,00 2.032.677.578,00 6,33%

2004* 118.856.520,00 129.123.098,06 2.290.645.500,00 2.413.218.179,00 5,35%

2005 111.278.869,00 98.004.925,05 2.497.940.688,00 2.589.528.889,00 3,78%

2006 119.544.864,00 98.054.896,76 2.608.292.484,00 3.294.565.862,00 2,97%

Fonte: Secretaria de Planejamento do Piauí, 2008. * A partir de meados de 2004 o orçamento do Corpo de Bombeiros foi desvinculado da PMPI

Gráfico 2: Orçamento realizado pela Polícia Militar do Piauí no período de 2003 a 2006.

Fonte: SEPLAN, 2008.

Já em relação à PMPI, em 2003 foram destinados 6,33% do orçamento geral

do estado do Piauí para a citada instituição policial, que possui aproximadamente

6.000 (seis) Policiais Militares na ativa. Os números mostram uma redução de mais

de 50% do orçamento reservado a PMPI, em relação ao período estudado, que em

2006 caiu para 2,97% do orçamento geral do estado. Portando, não se faz política

pública sem recursos, essa é um das dificuldades para implementação de Política de

Segurança Pública para o Piauí.

Os dados permitem ainda algumas conclusões: que apesar de a Polícia Militar

ter um efetivo aproximadamente quatro vezes superior ao efetivo da Polícia Civil –

entenda-se Secretaria de Segurança Pública – seu orçamento não chega ao dobro

daquela; que no caso do Sistema de Segurança Pública do Piauí houve uma

diminuição sistemática dos orçamentos executados, contrariando a lógica do

aumento da arrecadação estadual e que a soma dos orçamentos executados pela

6,33%5,35%

3,78%2,97%

0,00%

2,00%

4,00%

6,00%

8,00%

Orçamento realizado

2003200420052006

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Secretaria de Segurança Pública e pela PMPI, juntas, representam um valor de

5,08% do orçamento geral executado do estado do Piauí, com relação ao ano de

2006.

Em relação ao Fundo Nacional de Segurança Pública, verifica-se um ritmo

de diminuição nos recursos Federais para o Piauí, no período de 2003 a 2005,

porém no ano de 2006 houve um aumento de mais de 50% em relação ao ano

anterior. Desta forma, quanto mais a União diminui o repasse dos recursos desse

fundo para as Unidades da Federação, menor é a capacidade de modelar as

políticas estaduais de Segurança Pública segundo as diretrizes federais.

Tendo em vista a carência de investimento estadual na Segurança Pública,

que tem a maioria de seu orçamento para custeio e pessoal, conforme tabela nº 03,

a Segurança Pública piauiense tem se tornado cada vez mais dependente dos

recursos repassados pelo Governo Federal, através do Fundo Nacional de

Segurança Pública, para investimento no referido setor.

É importante destacar que não há política pública sem previsão de recursos

para sua implementação, e com a Segurança Pública não é diferente, por exemplo,

nos anos estudados (2003-2006), 90% das viaturas foram adquiridas por meios de

convênios com a SENASP.

Tabela 3 - Orçamento da PMPI

GRUPO 2003 2004 2005 2006

PESSOAL 118.441.878,95 100.652.047.02

(até setembro)

73.247.579,55

(Ativos) 69.495.692,41

CUSTEIO 8.324.882,09 9.307.770,58 13.923.798,50 9.350.499,22

INVESTIMENTO 249.381,43 399.980,25 720.626,04 755.436,54

TOTAL 127.016.142,47 110.359.797,85 87.892.004,09 79.601.628,17

Fonte: Segundo dados fornecidos pelo coronel PM Edvaldo Marques, 2008.

É interessante ressalvar, que a dotação orçamentária estadual prevista para

a Segurança Pública do Piauí tem sido utilizada, quase que exclusivamente, para

pagamento da folha de pessoal e custeio da máquina, de acordo com o entrevistado

nº 01. Portanto, os recursos do FNSP assumem grande importância no contexto

estadual, pois possibilitam a compra de viaturas, armamentos, coletes balísticos,

reforma de quartéis e delegacias de polícia, conforme se verifica adiante.

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Tabela 4 - Recursos do FNSP Repassados aos Estados por Meio de Convênios – 2003/2006

Estados 2003 2004 2005 2006

São Paulo 39.348.000,00 41.194.042,48 30.209.134,22 38.157.531.22

Rio de Janeiro 38.737.018,92 20.688.378,19 22.922.583,10 6.642.573,23

Minas Gerais 30.023.529,76 19.096.341,32 9.381.555,49 7.117.409,69

Bahia 10.523.286,08 11.196.849,56 7.724.631,45 6.216.175,03

Ceará 9.216.681,80 5.754.174,51 5.420.258,80 2.422.595,12

Maranhão 5.051.500,00 5.468.636,60 3.684.473,68 3.562.057,72

Piauí 5.726.676,00 3.870.391,98 3.331.759,63 6.907.917.08

Rio Grande do Norte 8.000.000,00 12.259.478,72 10.486.094,00 708.086,48

Fonte: Secretaria Nacional de Segurança Pública/Ministério da Justiça, 2008.

Desta forma, observa-se que os recursos federais do FNSP representam a

maior parte dos investimentos da Segurança Pública do Piauí. Por exemplo, em

2006 o investimento do tesouro estadual com a PMPI foi de R$ 755.436,54, enquanto

o FNSP disponibilizou R$ 6.907.917.08 para a Segurança Pública estadual, ou seja,

um valor expressivo em relação ao investimento estadual.

Como já fora exposto, o estado do Piauí, desde o início dos repasses do

Fundo Nacional de Segurança Pública (2001), tem necessitado cada vez mais

desses insumos financeiros para a manutenção da sua máquina administrativa e

investimento no citado setor público. A diminuição dos elencados recursos,

atualmente, poderia comprometer a prestação de serviço da Segurança Pública,

pois, novamente, não há política pública sem recursos. Portanto, é de fundamental

importância os meios materiais e recursos humanos (policiais) motivados para a

realização de uma Segurança Pública cidadã (SOARES, 2006).

Assim, o seguinte tópico objetiva identificar a relação entre as principais

ações da Segurança Pública realizadas na prevenção e no enfrentamento da

violência e da criminalidade na cidade de Teresina com os índices de criminalidade

em Teresina, especificadamente, a taxa de homicídio. A análise da taxa de

homicídio em Teresina pode fornecer subsídios para a compreensão da Segurança

Pública do Piauí.

4.5 OS ÍNDICES DE CRIMINALIDADE EM TERESINA (2003-2006)

O índice de criminalidade foi mensurado através da taxa de homicídio na

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cidade de Teresina. Dentre as várias opções de dados criminais, o homicídio é o que

possui uma base de dado mais confiável, não desconhecendo as outras práticas

criminais que assolam a sociedade piauiense, mas é o homicídio o ato criminal que

mais aflige a sociedade, causa medo e reforça o sentimento de insegurança pública

no imaginário coletivo (ROLIM, 2006).

As taxas de homicídios se basearam nas informações sistematizadas através

do Sistema de Informações de Mortalidade, do Ministério da Saúde (MS). O Sistema

de Informação sobre Mortalidade é uma base de dados desenvolvida e

implementada pelo MS desde 1975, que consolida os dados das declarações de

óbito (DO) com preenchimento legal obrigatório e em modelo único para todo o país.

Num dos campos da DO são descritas, obrigatoriamente por um médico, a causa e

as condições da morte, conforme a Classificação Internacional de Doenças (CID).

Essa classificação é posteriormente conferida por técnicos especializados e lançada

na estatística oficial. (COSTA, 2005).

De imediato, a grande vantagem do SIM é o fato de ser uma base estatística

universal, uma vez que a classificação utilizada é a mesma, tanto nacional como

municipal, o que permite uma comparabilidade única. Além disso, trata-se da base

com maior série histórica disponível para a análise dos homicídios no Brasil, e

conseqüentemente no Piauí e em Teresina.

Portanto, quando se compara os dados sobre homicídios coletados pela

Polícia Militar, Polícia Civil do Piauí, SINPOLJUSPI e pelo SIM, encontram-se quatro

curvas distintas. As diferenças existentes entre as curvas das organizações policiais

decorrem do fato dessas organizações mensurarem fenômenos distintos.

Assim, uma ocorrência caracterizada como tentativa de homicídio pela Polícia

Militar do Piauí, que atendeu primeiro a ocorrência policial, pode, com o tempo, vir a

se transformar em homicídio consumado, conseqüência da morte posterior da

vítima, fato que apenas será registrado pela Polícia Civil quando estiver realizando o

Inquérito Policial.

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2003 2004 2005 2006 Tipo de Óbito N º % Nº % Nº % Nº %

Causas Não Violentas 3.164 87,02 3.059 87,50 3.230 87,63 3.316 87,03

Acidente 256 7,04 228 6,52 234 6,35 225 5,91

Suicídio 37 1,02 54 1,54 32 0,87 38 1,00

Homicídio 179 4,92 155 4,43 190 5,15 231 6,05

Total 3.636 100 3.496 100 3.686 100 3.810 100

Quadro 4 – Óbitos por Tipo de Causa em Residentes em Teresina (2003-2006). FONTE: FMS/CAE/GERIS/NUINSA/SIM OBS: Excluídos Óbitos Fetais

Gráfico 3: Incidência de homicídios em Teresina no período de 2003 a 2006.

Fonte: FMS/CAE/GERIS/NUINSA/SIM.

Os números dos homicídios em Teresina no período pesquisado, 2003-2006, demonstram um crescimento da violência, conforme se verifica: em 2003, ocorreram 179 homicídios na Capital, enquanto que em 2006, foram registrados 231 homicídios em Teresina, um aumento de 29% dos homicídios do período sob análise. Outro aspecto a ser considerado sobre o tema são os recursos gastos (investidos) na área de Segurança Pública no período elencado, e qual a relação do custo/benefício em relação à Segurança Pública do Piauí. Nesse aspecto, há dois vieses a serem analisados, o orçamento estadual da Segurança Pública, que diminuiu gradativamente de 9,16% para 5,08% do orçamento geral do estado, e o investimento federal (FNSP), que aumentou de R$ 3.331.759,63 (2005) para R$ 6.907.917.08 (2006), ou seja, um acréscimo de mais de 100%.

Homicídios

179155

190

231

0

50

100

150

200

250

2003 2004 2005 2006

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Porém, os investimentos federais têm maior representatividade para a Segurança Pública do Piauí, pois são utilizados diretamente na aquisição de viaturas, armamento, munição, cursos de qualificação, equipamentos e estruturas físicas, do que o orçamento estadual, que é quase em sua totalidade para pagamento de pessoal e custeio da máquina. Portanto, o discurso utilizado pelas autoridades de Segurança Pública do Piauí tem suas bases na necessidade de aquisição de mais recursos financeiros, como estratégia para a prevenção da violência e da criminalidade, conforme se constata pela fala do delegado Menandro Pedro:

O investimento do estado para Segurança Publica é só para o pagamento do pessoal e manter a estrutura. Mais dinheiro para comprar viatura, para construir quartel, para educação, para academia não existe, o estado não tem. [...] (delegado Menandro Pedro, ex-secretário de segurança pública, abr. 2008)

Porém, o caso sob análise desautoriza tal lógica, haja vista não ter ocorrido a diminuição dos índices de criminalidade proporcionalmente ao aumento de verbas para a Segurança Pública, pelo contrário, ocorreu o aumento de 29% da criminalidade em Teresina, tendo como referências os anos de 2003 a 2006. Portanto, a partir dos dados analisados, a presente pesquisa constatou que o Sistema de Segurança Pública estadual não possui um plano formal para o setor, nem tampouco é tratado como política pública, conforme os entrevistados. Desta forma, o volume de recursos torna-se inócuo quando não se tem planejamento, diretrizes definidas e objetivos a serem alcançados (SOARES, 2006).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não obstante as limitações da investigação que se conclui, pode-se afirmar

que a construção de uma Segurança Pública cidadã, isto é, uma Política de

Segurança Pública feita de forma conjunta por Estado e sociedade, como ordena a

atual Constituição, começa a principiar no Brasil uma vez que inúmeros são os

debates em torno desse projeto político e de forma acentuada tal discussão ganha, a

cada dia, maior espaço nas agendas governamentais e acadêmicas, embora os

conflitos e divergências em torno do planejamento, elaboração, execução e

avaliação de uma Política de Segurança Pública para o Brasil ainda sejam gritantes.

Se a constatação de fracassos das Políticas de Segurança Pública na

sociedade brasileira é relativamente consensual entre os estudiosos do tema, o

mesmo não se dá quando se discutem as alternativas possíveis para se reverter o

quadro de criminalidade aguda e impunidade crônica. Ainda persiste a postura, por

exemplo, de segmentos políticos e intelectuais que insistem na necessidade de

reformas profundas na estrutura social brasileira para se poder combater a

deterioração da ordem pública (SOARES, 2000).

Reformas institucionais que atinjam o arcabouço legal e o sistema

organizacional da Justiça Criminal constituem outra vertente desse debate.

Apregoam-se mudanças no Código Penal, no Código de Processo Penal, na Lei de

Execução Penal, no Estatuto da Criança e do Adolescente como condição sine qua

non para o incremento da operacionalidade do Sistema de Justiça Criminal,

envolvendo geralmente maior rigor da punição. Não bastasse a modernização do

arcabouço legal, é recorrente no debate político e acadêmico a proposição de

reformas estruturais nas organizações policiais e no sistema prisional. Muitos

consideram imprescindível a modernização do sistema policial, o que pode incluir

desde a normatização em nível federal das estruturas orgânicas das forças policiais,

passando pela municipalização das polícias, até a unificação das polícias combinada

à desmilitarização compulsória das Polícias Militares.

Tanto os que apregoam mudanças na estrutura social brasileira quanto os

que insistem numa imprescindível modernização das estruturas legais e

organizacionais da Segurança Pública tendem a minimizar o potencial de mudanças

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no âmbito da gerência da própria Política de Segurança Pública para reduzir as

taxas de criminalidade.

Política de Segurança Pública efetiva seria aquela capaz de atuar sobre as

causas mais profundas do fenômeno da violência e da criminalidade. Na medida em

que se acredita que a reversão dos indicadores de criminalidade depende

umbilicalmente de intervenções nas causas do fenômeno, haveria muito pouco o

que fazer na gestão cotidiana do fenômeno (SOARES, 2003).

É possível, contudo, utilizar os referenciais dessa abordagem teórica para

esboçar os parâmetros mais gerais de uma Política de Segurança Pública. Esta

deve combinar ações que diminuam a disponibilidade de alvos, aumentem a

proteção e vigilância dos mesmos, e reduzam a possibilidade de que surjam novos

atores sociais motivados para o crime. A incapacitação do ator motivado é, pois,

uma das estratégias de inibição do crime.

Nesse sentido, é possível combinar ações públicas de natureza preventiva

com presteza de resultados, de modo que as políticas de prevenção social possam

ser eficientes mesmo não atuando sobre as causas estruturais da motivação dos

indivíduos. Isso significa agir sobre as dinâmicas imediatamente geradoras do

fenômeno. A prevenção pode ser rápida, ágil e eficaz (SOARES, 2006).

No entanto, as Políticas de Segurança Pública adotadas no Brasil, em sua

maioria, se resumem, na realidade, a velha retórica de “mais efetivo, mais viaturas e

mais armamentos”, conforme se pode observar a partir dos depoimentos dos

entrevistados nesta pesquisa.

No Piauí, essa realidade não é diferente, embora a SENASP em sua Política

de Segurança Pública destaque a importância da formação policial como mecanismo

de ruptura da reprodução de práticas violentas e como meio de construção de

valores democráticos e respeitadores dos Direitos Humanos. No Piauí, é utilizada a

matriz nacional para formação de profissionais de Segurança Pública da SENASP,

porém, persiste a continuidade de práticas autoritárias dentro e fora das unidades de

formação policial militar, conforme fora observado na pesquisa de campo e discutido

ao longo do percurso deste trabalho. Apresenta-se uma questão, como o Policial

Militar respeitará e garantirá os direitos dos cidadãos se sua dignidade não é

respeitada, sendo considerado como cidadão de segunda categoria?

Embora inicialmente se pretendesse uma análise de todo o Sistema de

Segurança Pública do Piauí, após acatar as observações dos entrevistados, optou-

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se pela delimitação sócio-espacial em Teresina, pela própria complexidade da

configuração do Estado do Piauí e ser a Capital o “laboratório” das mencionadas

ações governamentais na área de Segurança Pública.

Para fundamentação dessa investigação, o crime de homicídio foi a base

investigativa, tendo em vista ser o referencial mais confiável, sendo seus dados

disponibilizado pelo Ministério da Saúde. Os números de homicídios em Teresina, no

período 2003 a 2006, fornecidos pela Secretaria de Segurança Pública do Piauí,

pela Polícia Militar do Piauí e pelo SINPOLJUSPI diferem bastante, haja vista

usarem metodologias diferenciadas, o que comprometem o grau de confiabilidade

das informações levantadas.

Embora tenha sido verificado a não existência de um Plano Estadual de

Segurança Pública para o Piauí, constata-se que existem ações implementadas na

área da Segurança Pública do Piauí que se fundamentam nas diretrizes da Política

Nacional de Segurança Pública, como: implantação de cursos de qualificação e

“reciclagem” de policiais no CFAP, criação da Corregedoria de Polícia da PMPI,

implementação da Coordenadoria de Gerenciamento de Crise, oferta de Cursos de

Polícia Comunitária para policiais e para comunidade geral e celebração de

convênios com a Universidade Federal para oferta do Curso de Especialização em

Segurança Pública.

Em virtude da literatura consultada e da realidade da Segurança Pública

piauiense é possível algumas conclusões: há necessidade de estruturação de um

setor de inteligência policial único; há necessidade do retorno dos PMs à disposição

dos poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), que cuidam da segurança de

autoridades e guarda de prédios públicos, para a atividade fim da PM (policiamento

ostensivo); construção de uma doutrina única que regulamente os diversos

procedimentos policiais a serem adotados no atendimento de ocorrências; fim da

custódia de presos da Justiça pela Polícia Civil, por atrapalhar a atividade de

investigação da PC, independência administrativa das polícias para policiar, haja

vista o excesso de interferência política nas atividades policiais, o que

constantemente gera o desvio da atividade fim da Segurança Pública; elaboração de

um novo arranjo institucional para as policias, onde fosse assegurada a participação

da sociedade na gestão da Segurança Pública.

A Segurança Pública necessita das transformações elencadas, haja vista que

as ações na mencionada área muitas vezes têm se voltado para dar respostas à

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opinião pública, a qual tem ocorrido, quase sempre, de forma imprecisa e não

satisfatória, uma vez que tais respostas envolvem interesses políticos, verificando-se

a denominada política do “caos”, a qual tem sido a base de atuação da Segurança

Pública piauiense.

A análise dos indicadores selecionados permite concluir que no Piauí não

houve um plano formal de Segurança Pública que se pudesse consubstanciar uma

Política de Segurança Pública. O que se observou foi uma reprodução de práticas

policiais das duas instituições – PC e PM - responsáveis pela manutenção da ordem

e repressão às condutas criminosas. Percebeu-se ainda o caráter de

descontinuidade das ações de governo na área da Segurança Pública, não só pelo

fato já mencionado de não haver uma Plano de Segurança Pública, mas também

pelo fato da Segurança Pública do Piauí não ser pensada como política pública.

Quanto aos resultados alcançados pelas ações implementadas na Segurança

Pública do Piauí, no período de 2003 a 2006, em relação à criminalidade em

Teresina, tem-se um paradoxo; ocorreu o aumento dos investimentos na Segurança

Pública, a nível federal, no ano de 2006, que teve um acréscimo de mais de 100%

em relação ao ano anterior (2005), porém, a taxa de criminalidade (homicídio) se

elevou de 179 (2003) para 231 (2006) homicídios em Teresina, ou seja, um aumento

de 29%, no período estudado.

Os dados levantados pela pesquisa permitem concluir que apenas

investimento, sem seguir a orientação de uma Política Pública planejada, não

assegura a diminuição dos índices de criminalidade. Portanto, a retórica de mais

recursos sem planejamento está fadada ao insucesso, conforme os resultados

obtidos nesta investigação e a vasta bibliografia consultada.

Desta forma, constatam-se apenas ações pontuais e já tradicionais das duas

polícias, que não caracterizam uma política pública, tendo em vista não haver

diagnóstico da situação da Segurança Pública piauiense, não se utiliza o

planejamento antes das operações policiais, não há o acompanhamento dessas

ações e principalmente não existe preocupação em avaliar os resultados das ações

realizadas.

Em relação às estratégias do Sistema de Segurança Pública estadual,

identificou-se a ação preventiva, através do policiamento ostensivo realizado pela

Polícia Militar nas ruas das cidades piauienses, e a ação repressiva, através da

investigação policial realizada pela Polícia Civil, que, na realidade, são reproduções

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de práticas já consolidadas no âmbito das duas corporações policiais.

A avaliação do trabalho policial talvez seja um dos pontos críticos de todo o

Sistema de Segurança Pública, haja vista o risco de se chegar a “verdades”

incômodas que desestimulem os gestores em realizar avaliações científicas nesse

setor.

Os estudos desenvolvidos por esta dissertação indicam pontos para um novo

modelo de gerenciamento da Segurança Pública piauiense, não mais pautado pelo

gerenciamento de crises, mas, um novo arranjo institucional que possua previsão de

dotação orçamentária específica para a Segurança Pública, como ocorre na área da

Saúde e na Educação, existência de um plano estadual de Segurança Pública e

gerência intensa dos projetos formulados, através do monitoramento e da avalia da

mencionada Política.

Portanto, a partir dos resultados obtidos através desta investigação científica,

pode-se afirmar que uma Política de Segurança Pública cidadã deve ser rigorosa no

enfrentamento da impunidade e humanista na valorização da participação

comunitária nas questões da Segurança Pública e na inserção de jovens pobres das

periferias urbanas ao mercado de trabalho.

Desse modo, não obstante as limitações dessa pesquisa, acredita-se na

contribuição para o debate sobre a Segurança Pública do Piauí ao se levantar

questões sobre a eficiência e eficácia da citada área de prestação de serviço

público, tomando-se como referência a análise das ações de Segurança Pública

implementadas em Teresina, no período de 2003 a 2006, através desta investigação

científica. Esta dissertação não objetivou esgotar o tema, até pela sua

complexidade, mas trazer à baila uma discussão atual e importante para

consolidação de um Estado Democrático de Direito, que é a Política de Segurança

Pública.

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ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social ou Princípios do Direito Político. Trad. Lourdes Santos Machado. 2. ed. São Paulo: abril Cultura, 1978.

RUA, Maria das Graças. As políticas públicas e a juventude dos anos 90. In: Jovens acontecendo na trilha das políticas públicas. 2 v. Brasília: CNPD, 1998.

SAPORI, Luís Flávio. Segurança Pública no Brasil: desafios e perspectivas. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007.

SANTOS, José Vicente Tavares dos. Violência e Dilemas do Controle Social nas Sociedades da “Modernidade Tardia”. In: São Paulo em Perspectiva, Vol. 18, n.1, 2004.

SENTO-SÉ. João Trajano (Org.). Prevenção da Violência: o papel das cidades. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.

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SILVA, Maria do Rosário de Fátima. A revitalização do local como espaço de constituição de uma nova noção de cidadania. In. BAPTISTA, Dulce. (Org) Cidadania e Subjetividade: novos contornos e múltiplos sujeitos. São Paulo: Editora Imaginário, 1997.

SILVA, Maria Ozanira da Silva e (org.). Avaliação de políticas e programas sociais: teoria e prática. São Paulo: Veras Editora, 2001.

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_______. Segurança tem saída. Rio de Janeiro. Sextante. 2006.

_______. Meu Casaco de General. Quinhentos dias no front da segurança pública do Rio de Janeiro. São Paulo: Cia das Letras, 2000.

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SKOLNICK, J. H e BAYLEY, D. H. Nova polícia: inovações na polícia de seis cidades norte-americanas. Tradução de Geraldo Gerson de Souza, São Paulo: EDUSP, 2001. (Série Polícia e sociedade, 2).

TEIXEIRA, Elenaldo Celso. O papel político das Associações. Serviço Social e Sociedade. São Paulo, v. 72, 2002.

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WEBER, Max. Ciência e política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1999.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO APLICADO AO CORONEL EDVALDO MARQUES LOPES

Entrevista concedida pelo Sr. Cel RR PMPI Edvaldo Marques Lopes, Ex-cmt Geral da PMPI

Senhor Coronel, objetivando desenvolver uma pesquisa sobre a política de

segurança pública do Piauí, através do estudo de caso de Teresina-PI, no período

de 2003 a 2006. Tal pesquisa está sendo desenvolvida no mestrado em Políticas

Públicas da UFPI, sob orientação da Profª Drª Maria D´Alva Macedo Ferreira. Desta

forma, para consecução da presente investigação científica se faz necessária a sua

importante colaboração, por meio das questões abaixo especificadas:

Normas da entrevista e divulgação do material colhido:

01. O entrevistado tomará conhecimento, antes da entrevista, de um roteiro das

perguntas que serão feitas, porém, poderão ser acrescidas outras, caso o

entrevistado consinta;

02. O entrevistado responderá apenas as questões que desejar fazê-lo. O

entrevistador se compromete em não fazer nenhuma pergunta de cunho

pessoal ou vexatória, sendo respeitada à dignidade da pessoa humana em

toda sua plenitude;

03. A entrevista será utilizada e divulgada apenas se autorizada, por escrito, pelo

entrevistado;

04. É também assegurado ao entrevistado tomar conhecimento do resultado final

da pesquisa, quando de sua divulgação.

ROTEIRO DA ENTREVISTA

01. Qual sua formação profissional?

02. Qual o período que V.Sª. comandou a Polícia Militar do Piauí?

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03. Qual a relação de subordinação/coordenação entre a PMPI e a Secretaria de

Segurança Pública no contexto do sistema estadual de segurança?

04. O senhor acreditar ser importante essa “independência” da PMPI em relação

à Secretaria de Segurança Pública para a sociedade piauiense? Haja vista a

orientação da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) no

sentido de unificação do comando da segurança pública nos Estados;

05. Qual foi a sua principal ação a frente da PMPI?

06. Em relação à atuação do Gabinete de Gestão Integrada (GGI) como V.Sª

avalia tal órgão?

07. Como o Sr. avalia uma política de segurança pública eficaz? Qual seria um

modelo ideal para o Piauí?

08. Qual a importância do poder político para consolidação de uma política de

segurança pública no Piauí?

09. Qual deve ser a participação da sociedade em um projeto de segurança

pública?

10. O Piauí, no período de seu comando, tinha uma política de segurança

pública, com metas claras/objetivas a serem atingidas?

11. O que falta para construção de um Plano Estadual de Segurança Pública

para o Piauí?

12. No período de seu comando, qual foi o principal obstáculo enfrentado por V.

S.ª?

13. No seu entendimento, qual seria o papel do comandante da PMPI?

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APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO APLICADO AO DELEGADO FRANCISCO AIRTON FRANCO FILHO

Entrevista concedida pelo Sr. Francisco Ayrton Franco Filho, Ex-Secretário de Segurança Pública do Piauí (2003 a março/2004)

Senhor Delegado, objetivando desenvolver uma pesquisa sobre a política de

segurança pública do Piauí, através do estudo de caso de Teresina-PI, no período

de 2003 a 2006. Tal pesquisa está sendo desenvolvida no mestrado em Políticas

Públicas da UFPI, sob orientação da Profª Drª Maria D´Alva Macedo Ferreira. Desta

forma, para consecução da presente investigação científica se faz necessária a sua

importante colaboração, por meio das questões abaixo especificadas:

Normas da entrevista e divulgação do material colhido:

1. O entrevistado tomará conhecimento, antes da entrevista, de um roteiro

das perguntas que serão feitas, porém, poderão ser acrescidas outras,

caso o entrevistado consinta;

2. O entrevistado responderá apenas as questões que desejar fazê-lo. O

entrevistador se compromete em não fazer nenhuma pergunta de cunho

pessoal ou vexatória, sendo respeitada à dignidade da pessoa humana

em toda sua plenitude;

3. A entrevista será utilizada e divulgada apenas se autorizada, por escrito,

pelo entrevistado;

4. É também assegurado ao entrevistado tomar conhecimento do resultado

final da pesquisa, quando de sua divulgação.

ROTEIRO DA ENTREVISTA

1. Qual sua formação profissional?

2. Qual o período que V.Sª. foi Secretário de Segurança Pública do Piauí?

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3. Qual a relação entre a Secretaria de Segurança Pública e a Polícia Militar

do Piauí no contexto do sistema estadual de segurança pública?

4. Qual foi sua principal ação a frente da Secretaria de Segurança Pública do

Piauí?

5. Em relação à atuação do Gabinete de Gestão Integrada (GGI) como V.Sª

avalia tal órgão?

6. Como o Sr. avalia uma política de segurança pública eficaz? Qual seria

um modelo ideal para o Piauí?

7. Qual a importância do poder político para consolidação de uma política de

segurança pública no Piauí?

8. Qual deve ser a participação da sociedade em um projeto de segurança

pública?

9. O Piauí, no período que V.Sª era secretário, tinha uma política de

segurança pública, com metas claras/objetivas a serem atingidas?

10. O que falta para construção de um Plano Estadual de Segurança Pública

para o Piauí?

11. Qual foi o principal obstáculo enfrentado por V. S.ª a frente da secretaria

de segurança pública do Piauí?

12. Qual a diferença existente entre ser superintendente da PF no Rio Grande

do Norte e assumir a secretaria de segurança pública do Piauí?

13. Como V.Sª avalia as práticas e os saberes das Polícias Civil e Militar do

Piauí?

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APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO APLICADO AO DELEGADO MENANDRO PEDRO DA LUZ

Entrevista concedida pelo Delegado Menandro Pedro da Luz, Ex-Secretário de Segurança Pública do Piauí

Senhor Delegado, objetivando desenvolver uma pesquisa sobre a política de

segurança pública do Piauí, através do estudo de caso de Teresina-PI, no período

de 2003 a 2006. Tal pesquisa está sendo desenvolvida no mestrado em Políticas

Públicas da UFPI, sob orientação da Profª Drª Maria D´Alva Macedo Ferreira. Desta

forma, para consecução da presente investigação científica se faz necessária a sua

importante colaboração, por meio das questões abaixo especificadas:

Normas da entrevista e divulgação do material colhido:

1. O entrevistado tomará conhecimento, antes da entrevista, de um roteiro

das perguntas que serão feitas, porém, poderão ser acrescidas outras,

caso o entrevistado consinta;

2. O entrevistado responderá apenas as questões que desejar fazê-lo. O

entrevistador se compromete em não fazer nenhuma pergunta de cunho

pessoal ou vexatória, sendo respeitada à dignidade da pessoa humana

em toda sua plenitude;

3. A entrevista será utilizada e divulgada apenas se autorizada, por escrito,

pelo entrevistado;

4. É também assegurado ao entrevistado tomar conhecimento do resultado

final da pesquisa, quando de sua divulgação.

ROTEIRO DA ENTREVISTA

1. Qual sua formação profissional?

2. Qual o período que V.Sª. foi Secretário de Segurança Pública do Piauí?

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3. Qual a relação entre a Secretaria de Segurança Pública e a Polícia Militar

do Piauí no contexto do sistema estadual de segurança pública?

4. Qual foi a sua principal ação a frente da Secretaria de Segurança Pública

do Piauí?

5. Em relação à atuação do Gabinete de Gestão Integrada (GGI) como V.Sª

avalia tal órgão?

6. Como o Sr. avalia uma política de segurança pública eficaz? Qual seria

um modelo ideal para o Piauí?

7. Qual a importância do poder político para consolidação de uma política de

segurança pública no Piauí?

8. Qual deve ser a participação da sociedade em um projeto de segurança

pública?

9. O Piauí, no período que V.Sª era secretário, tinha uma política de

segurança pública, com metas claras/objetivas a serem atingidas?

10. O que falta para construção de um Plano Estadual de Segurança Pública

para o Piauí?

11. Qual foi o principal obstáculo enfrentado por V. S.ª a frente da secretaria

de segurança pública do Piauí?

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ANEXOS

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ANEXOS

ANEXO A – OFÍCIO CPC Nº 051/2008 ANEXO B – OFÍCIO S/N – CHEFE DO CENTRO DE PROCESSAMENTO DE DADOS DA PMPI ANEXO C – ÓBITOS POR CAUSAS VIOLENTAS DE RESIDENTES OCORRIDOS EM TERESINA NO PERÍODO – 2003 A 2006 ANEXO D – ÓBITOS POR TIPO DE CAUSA EM RESIDENTES DE TERESINA NO PERÍODO – 2003 A 2006 ANEXO E – ÓBITOS POR HOMICÍCIO DE RESIDENTES OCORRIDOS EM TERESINA NO PERÍODO – 2003 A 2006 ANEXO F – ÓBITOS POR HOMICÍDIO DE RESIDENTES OCORRIDOS EM TERESINA NO PERÍODO – 2003 A 2006 (FREQÜÊNCIA, TIPO DE AGRESSÃO POR ANO DE OCORRÊNCIA) ANEXO G – ENTREVISTA CONCEDIDA PELO DELEGADO ROBERT RIOS AO SITE http//www.ssp.pi.gov.br/ver_notphp?id=112

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