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Empregabilidade dinamiza procura de mestrados e pós-graduações em Tl A elevada procura de profissionais por parte das empresas continua a gerar dinâmica nos cursos de Tl, cuja tendência passa pela aproximação dos currículos às necessidades do mercado. Nos mestrados e pós-graduações pesa também cada vez mais a requalificação Fátima Caçador I Casa dos Bits O sector de tecnologias da infor- mação é o mais dinâmico nas contratações em Portugal, com taxas de empregabilidade próxi- mas dos 100%, contrariando o cenário de outras áreas em que o desemprego domina, principalmente entre os mais jovens. Este facto tem cada vez mais influência na hora de os estudantes do secundário escolherem um curso superior. Um estudo da consultora de recrutamento e selecção Hays Recruiting Experts indica que para 78% dos empregadores portugue- ses que operam na área de tecnologias de informação (TI) o mercado português tem escassez de profissionais qualificados. As empresas revelam maior dificuldade de contratar os recursos adequados, sobretudo devido à fuga de talento para o estrangeiro, à exigência dos requisitos associados a cada função e à insuficiência de profissionais que saem das universidades. Os números têm como base um inquérito realizado junto de 700 profissionais e de 70 líderes empresa- riais nacionais, citado pelo Expresso Em- prego. Esta é uma área considerada de ple- no emprego, mas as empresas aumentaram também as suas exigências, pelo que procu- ram profissionais com experiência e que possam integrar projectos de forma opera-

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Page 1: Empregabilidade dinamiza mestrados e pós-graduações Tl · 2016. 7. 11. · Empregabilidade dinamiza procura de mestrados e pós-graduações em Tl A elevada procura de profissionais

Empregabilidade dinamiza procurade mestrados e pós-graduações em TlA elevada procura de profissionais por parte das empresas continua a gerar dinâmica nos cursos de Tl, cuja tendênciapassa pela aproximação dos currículos às necessidades do mercado. Nos mestrados e pós-graduações pesa tambémcada vez mais a requalificação

Fátima Caçador I Casa dos Bits

O sector de tecnologias da infor-

mação é o mais dinâmico nas

contratações em Portugal, comtaxas de empregabilidade próxi-

mas dos 100%, contrariando o cenário de

outras áreas em que o desemprego domina,principalmente entre os mais jovens. Estefacto tem cada vez mais influência na horade os estudantes do secundário escolherem

um curso superior.Um estudo da consultora de recrutamento e

selecção Hays Recruiting Experts indica

que para 78% dos empregadores portugue-ses que operam na área de tecnologias de

informação (TI) o mercado português tem

escassez de profissionais qualificados. As

empresas revelam maior dificuldade de

contratar os recursos adequados, sobretudo

devido à fuga de talento para o estrangeiro,à exigência dos requisitos associados a cada

função e à insuficiência de profissionais quesaem das universidades. Os números têmcomo base um inquérito realizado junto de700 profissionais e de 70 líderes empresa-riais nacionais, citado pelo Expresso Em-

prego. Esta é uma área considerada de ple-no emprego, mas as empresas aumentaramtambém as suas exigências, pelo que procu-ram profissionais com experiência e quepossam integrar projectos de forma opera-

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cional, ou seja, que tenham capacidade paracomeçar a produzir logo que chegam à em-

presa. E este perfil é cada vez mais difícil deencontrar em Portugal.As universidades reconhecem que a elevadataxa de empregabilidade é um dos grandesaliciantes para a continuidade do cresci-mento da procura dos cursos de primeiro ci-clo (licenciaturas), mas também do segundociclo (mestrados) e de pós-graduações. Nes-tes ciclos complementares a procura é feita

por profissionais já empregados ou por for-mandos que procuram a requalificação das

suas competências, por terem dificuldadeem encontrar trabalho nas áreas de forma-

ção nucleares.

Miguel Mira da Silva, professor de Siste-mas de Informação no Departamento de

Engenharia Informática do Instituto Su-

perior Técnico (IST) em Lisboa e director

do INOV, reconhece este padrão de cres-cente interesse nas licenciaturas e nos mes-trados na área de informática, dinamizado

pela elevada procura dos alunos, muitas ve-zes ainda antes de estes terminam os cursos.

«Mais de 50% dos finalistas de mestrado de

Informática no Técnico têm emprego antesde terminarem o curso e mais de 90% logodepois de terminarem o curso. Como rela-

ções externas do Departamento de Informá-

tica, estou constantemente a receber e-mailse telefonemas de empresas, algumas quasedesesperadas por não conseguirem contratar

profissionais de qualidade nesta área, mastambém em quantidade», refere.O Conselho Pedagógico da Escola de En-genharia da Universidade do Minho(CPEEUM) identifica ainda uma preocupa-ção gradual com a empregabilidade, devidoà crise económica. «Por esta área ser reco-nhecidamente um sector da indústria em

que existe falta de profissionais, e por o

mercado ser global, a procura destes cursos

é grande», indica este órgão da universida-

de, lembrando também que a procura é ele-

vada não só em Portugal mas também a ní-vel global.«A digitalização da informação e a desma-

terialização dos diferentes processos que re-

gulam o nosso dia-a-dia valorizam muito o

papel dos engenheiros informáticos, e exis-te mercado para estes licenciados, tanto

para os do primeiro como para os do segun-do ciclo, mas também para os que passampor processos de reciclagem da formaçãoacadémica», afirmam estes responsáveispela estratégia pedagógica da universidade.A procura de cursos de TIC por profissio-nais que pretendem reciclar a carreira ouadicionar mais-valias ao seu currículo é

igualmente identificada como uma tendên-cia por Francisco Cercas, director da Es-cola de Tecnologias e Arquitectura do

ISCTE-lUL, que aponta como exemplo os

cursos que integram tecnologia e gestão e

que permitem explorar novas opções de

carreira.

Embora a larga maioria das universidadescontactadas tenha afirmado haver uma cres-cente procura relativamente aos

vários

graus de ensino em TIC, Paula Morais,vice-reitora da Universidade Portucalen-

se, admite que há alguns factores que afec-

tam negativamente essa mesma procura: a

inexistência de disciplinas desta área no

ensino secundário, o que se traduz numdesconhecimento dos alunos relativamente

ao potencial das TIC e às saídas profissio-nais dos cursos desta área.

A vice-reitora diz ainda que existe um des-

conhecimento por parte dos psicólogos em

relação às novas profissões nesta área, e

que isso afecta as orientações dadas aos

alunos. A obrigatoriedade da MatemáticaA na prova de ingresso é também um fac-

tor dissuasor, já que a tendência de grande

parte dos alunos é optar pelo que é mais fá-

cil e menos trabalhoso.

REDEFINIR E ALINHAR CURRÍCULOSA redução do número de alunos que se

candidatam ao ensino superior, muitas ve-

zes por dificuldades económicas, e o efeito

Bolonha, que implica uma menor perma-nência na universidade para completaro primeiro ciclo, estão a ser contrabalança-dos por muitas universidades com a dife-

renciação curricular.

Nuno Magalhães Ribeiro, coordenador da

área científica de Informática da Faculda-de de Ciência e Tecnologia da UFP e pro-fessor associado da Universidade Fernan-do Pessoa, reconhece haver alguma estag-

nação da procura de formação pós-

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-graduada e de mestrado na sua universida-

de. «Este ano lectivo não nos foi possívelcolocar em funcionamento nenhum dos

nossos cursos de pós-graduação, já que o

número de candidatos em qualquer dos cur-

sos foi manifestamente insuficiente para

permitir a abertura de uma turma. Isto con-

duziu-nos a um processo de reflexão, atra-,vés do qual contamos introduzir alterações

nos cursos de pós-graduação que permitambaixar os respectivos custos sem prejudicara qualidade da formação», justifica.Mas o professor defende que a universida-

de deve continuar a trabalhar na diversifi-

cação e no aumento da oferta formativa de

cursos de especialização tecnológica

(CET) e pós-graduações orientadas para

especializações profissionais. O docente

acredita que as melhorias que estão a ser

introduzidas nos planos curriculares e a

aposta na ligação à saúde, fruto da constru-

ção do novo hospital-escola da UFP, pode-rão trazer uma nova dinâmica também a

esta área.

Tal como na Universidade Fernando Pes-

soa, onde se aposta na área da saúde, o ali-nhamento entre as definições estratégicasdas associações profissionais e as necessi-

dades das empresas é uma arma usada para

que os currículos de mestrados e as pós-

-graduações se tornem mais apelativos.No IST essa definição começa logo no pri-meiro ciclo. Miguel Mira da Silva explica

que a licenciatura de Engenharia Informá-tica e de Computadores do IST foi reestru-

turada para estar alinhada com o currículoda ACM, a maior associação profissionalna área da informática a nível mundial, en-

quanto a licenciatura de Engenharia de Te-

lecomunicações e Informática sofreu re-

modelações para aumentar a sua atractivi-dade.

Neste ano, o IST está a introduzir também

um mestrado inovador, o mestrado em In-

formação e Sistemas Empresariais (MI-SE), que será leccionado a distância em

conjunto com a Universidade Aberta.Esta levará as competências de formaçãodo instituto a todo o país, numa lógica que

passa também pela requalificação de pro-fissionais e desempregados.A aproximação às necessidades do merca-

do faz igualmente parte das preocupaçõesda Faculdade de Ciências da Universi-dade de Lisboa. Neste estabelecimento de

ensino, a licenciatura em Engenharia In-formática articula-se com o mestrado na

mesma área. E o plano curricular inclui um

projecto que pode ser feito em empresas,assegurando uma estreita ligação com o

ambiente empresarial.«Esta organização promove uma aproxi-mação sistemática às necessidades dos

agentes mais qualificados do mercado e às

oportunidades em domínios considerados

estratégicos», afirma Luís Correia, presi-dente do Departamento de Informática.

No mesmo sentido, estas ligações são con-

sideradas bastante relevantes na Universi-dade de Aveiro, ao ponto de influenciarem

a definição dos currículos. «Temos umcontacto estreito com as empresas ao nívelde projectos e tentamos auscultar as suas

necessidades. Ainda em Abril realizámos

um seminário, comemorativo dos 40 anos

da UA e do DETI, e aproveitámos para ou-vir os nossos parceiros externos sobre as

necessidades dos novos currículos», expli-ca Arnaldo Martins, director do Depar-tamento de Electrónica, Telecomunica-

ções e Informática da Universidade de

Aveiro.

A diferenciação passa muitas vezes tam-bém pela introdução de novos mestrados e

pós-graduações. A Universidade do Minhocriou no ano passado o mestrado integradoem Engenharia e Gestão de Sistema de In-

formação, um curso que o Conselho Peda-

gógico garante ser único no país - o núme-

ro de candidatos aumentou 55% e o núme-

ro de candidatos em primeira opção,relativamente ao curso anterior, aumentou

135%. A racionalização dos planos de es-

tudo, a oferta de unidades curriculares ino-

vadoras e a organização de seminários

com empresas da área fazem também partedas preocupações constantes da universi-

dade, refere o Conselho.

Do lado do ISCTE-UTL, a inovação faz-se

pela exploração da ligação entre as teleco-

municações e a informática, assim como

pelo reforço das áreas temáticas de gestão,

pelas quais a escola é amplamente reco-nhecida. Existem ainda vários cursos foca-

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dos em segmentos específicos, como é o

caso do mestrado de Software de CódigoAberto, do mestrado de Sistemas de Apoioà Decisão, do mestrado de Gestão de Siste-

mas de Informação e do mestrado ou pós-graduação em Informática Aplicada. I

0 QUE PROCURAM AS EMPRESAS?Experiência parece ser uma palavra-chave no que concerne à procura de profissionais da área

de Tl. Segundo o estudo da consultora Hays Recruiting Experts, para 58% dos recrutadores os

profissionais disponíveis no mercado não têm experiência suficiente para os requisitos da

função. 0 estudo aponta ainda a possibilidade de os cursos superiores estarem desadequados

em relação às necessidades do mercado, um factor que 42% dos recrutadores consideram ter

um impacto fortemente negativo quando procuram recrutar os profissionais certos para um

determinado projecto.

Os programadores (42%), analistas-programadores (34%), consultores funcionais (16%),

bus/nessdei/e/opers{\A%), consultores de BI (14%), consultores de ERP (14%), gestores de

projectos (14%), administradores de sistemas (12%) e administradores de bases de dados

(1 0%) são os perfis de competências que vão absorver a maioria dos esforços de contrataçãodas empresas tecnológicas em 2013. Quanto ao perfil de hardskills, as empresas procuramsobretudo candidatos com conhecimentos em Java (42%), Java script (42%), HTMLS (38%),

PL/SQL (34%), jQuery (30%), lOS (26%), Android (26%), PHP (26%), ASP.NET (26%) eABAP

(24%). Mas valorizam também algumas sbftskills, como a proactividade (74%), a capacidadede trabalho (66%), a autonomia (58%), a apetência para trabalhar em equipa (52%),

a orientação para o cliente (46%) e para os objectivos (42%), entre outros factores.

CURSOS COM MELHOR TAXA DE EMPREGABIUDADETendo como base o índice de licenciados inscritos nos centros de emprego e o total de

diplomados de um determinado curso, a Agência de Avaliação e Acredrtação do Ensino

Superior (A3ES) aponta os cursos com melhor taxa de empregabilidade em Portugal.1 . Engenharia Informática (Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências e Tecnologia)

2. Ciências de Engenharia - Engenharia Informática ede Computadores (Universidade

Técnica de Lisboa, Instituto Superior Técnico)

3. Informática (Universidade Portucalense)

4. Ciências de Engenharia, Orientação em Engenharia Informática e Computação

(Universidade do Porto, Faculdade de Engenharia)

5. Estudos Básicos de Ciências Farmacêuticas (Universidade de Lisboa, Faculdade de.

Farmácia)

6. Ciências de Engenharia, Orientação em Eng.a Electrotécnica e de Computadores

(Universidade do Porto, Faculdade de Engenharia)

7. Medicina (Universidade de Lisboa, Faculdade de Medicina)

8. Medicina Dentária (Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz)

9. Ciências Farmacêuticas (Universidade do Porto, Faculdade de Farmácia)

SOLUÇÕES QUE PASSAM PELO EMPREENDEDORISMOMesmo com uma taxa de empregabilidade elevada nas áreas de Tl, as universidades

continuam a centrar parte dos seus esforços na dinamização do empreendedorismo,

introduzindo disciplinas complementares na área de gestão e promovendo estruturas de apoio

ao desenvolvimento de projectos e empresas. E as tecnologias continuam a centralizar grande

parte dos bons exemplos que saem destes ninhos de startups.

Sapo, Bitßox, TalkDesk, Mobicomp, Eurotux e Wintouch são alguns dos casos de empresas que

já conseguiram reconhecimento no mercado nacional e internacional e que saíram

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directamente dos laboratórios das universidades.

Para dinamizar este espírito, o ISCTE-lUL conta com um centro de apoio aos empreendedores

e ao financiamento desse tipo de actividades, o AUDAX, que tem como ambição potenciar o

ensino em tomo do empreendedorismo e da gestão das empresas familiares, abarcando as

actividades de apoio à elaboração de planos de negócio, ao planeamento estratégico e ao

acesso a fontes de financiamento. O AUDAX envolve mais de 1 00 associados oriundos do

ISCTE, da Faculdade de Ciências ou externos, com competências muito diversas, de gestão,

mas também tecnológicas, jurídicas, de designou outras, correspondendo à diversidade de

solicitações que os diferentes tipos de empreendedores e entrepreneurs colocam. O ISCTE é

ainda parceiro do MIT Portugal no projecto Building Global Innovators, que já vai na quarta

edição. Este programa é focado em startupse empresas de base tecnológica, e conta com

apoios financeiros que vão.até 1 milhão de euros, tendo já lançado nomes como Musikki,

Veniam, wi-Go e Multivision.

No IST, o primeiro impulso passa pela integração no currículo de uma disciplina de gestão

obrigatória e de outra disciplina de empreendedorismo, que é opcional. Mas os alunos podemfazer muitas outras disciplinas de gestão como opções, refere Miguel Mira da Silva, professor

de Sistemas de Informação no Departamento de Engenharia Informática.

Os cursos de informática têm oferecido uma disciplina chamada Portefólios, em que os alunos

realizam actividades extracurriculares, como organizar eventos ou prestar serviços para a

sociedade. Neste âmbito, tem sido criada uma série de núcleos e grupos de estudantes, como

por exemplo o LAGE2, o NEIIST ou o NEERCI. No próximo ano, a licenciatura em Telecomu-

nicações e Informática vai ainda oferecer uma disciplina sobre o papel do engenheiroinforrmático nas empresas. Na Universidade de Aveiro, grande parte da dinâmica provém da

Unidade de Transferência de Tecnologia (UATEC), dirigida por José Paulo Rainho.

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