o pretérito em espanhol

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    O PRETRITOEM ESPANHOL

    LEANDRO SILVEIRA DE ARAUJO

    USOS E VALORES DO

    PERFECTO COMPUESTONAS REGIESDIALETAIS ARGENTINAS

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    O PRETRITOEMESPANHOL

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    CONSELHO EDITORIAL ACADMICO

    Responsvel pela publicao desta obra

    Alessandra Del R

    Anise de A. G. DOrange FerreiraCristina Martins Fargetti

    Renata Coelho MarchezanRosane de Andrade Berlinck

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    LEANDRO SILVEIRA DE ARAUJO

    O PRETRITOEMESPANHOL

    USOSEVALORESDOPERFECTOCOMPUESTONAS

    REGIESDIALETAISARGENTINAS

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    Editora afiliada:

    CIP BRASIL CATALOGAO NA FONTE

    SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

    A69pAraujo, Leandro Silveira de O pretrito em espanhol: usos e valores do perfecto compuestonas

    regies dialetais argentinas / Leandro Silveira de Araujo. So Paulo: CulturaAcadmica, 2013.

    Recurso digital

    Formato: ePDFModo de acesso: World Wide WebInclui bibliografiaISBN 978-85-7983-457-8 (recurso eletrnico)

    1. Lngua espanhola Estudo e ensino. 2. Lngua espanhola Instruoe estudo. 3. Livros eletrnicos. I. Ttulo.

    13-07317 CDD: 468 CDU: 811.134.2

    Este livro publicado pelo Programa de Publicaes Digitais da Pr-Reitoriade Ps-Graduao da Universidade Estadual Paulista Jlio de MesquitaFilho (UNESP)

    2013 Editora UNESP

    Cultura Acadmica

    Praa da S, 108

    01001-900 So Paulo SPTel.: (0xx11) 3242-7171Fax: (0xx11) [email protected]

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    A meus pais e irmos, pelo ritmo; professora Rosane,

    pela magistral regncia;

    aos amigos, pela letra;a Yahweh, por mais essa cano.

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    Compositor de destinosTambor de todos os ritmos

    Tempo tempo tempo tempoEntro num acordo contigoTempo tempo tempo tempo...

    Por seres to inventivoE pareceres contnuoTempo tempo tempo tempos um dos deuses mais lindosTempo tempo tempo tempo...

    Que sejas ainda mais vivoNo som do meu estribilhoTempo tempo tempo tempoOuve bem o que te digoTempo tempo tempo tempo...

    [...]

    E quando eu tiver sadoPara fora do teu crculoTempo tempo tempo tempoNo serei nem ters sidoTempo tempo tempo tempo...

    Portanto peo-te aquiloE te ofereo elogios

    Tempo tempo tempo tempoNas rimas do meu estiloTempo tempo tempo tempo...

    (Caetano Veloso, 1979)

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    Prefcio 11Introduo 13

    1 O homem e a lngua: uma coexistnciaem permanente construo

    19

    2 A dialetologia hispnica: o mbito espacialda variao lingustica

    35

    3 Temporalidade e aspectualidade:um olhar atento ao sistema da lngua espanhola

    75

    4 Opretrito perfecto compuestoe a Argentina:margeando o fenmeno

    121

    5 Os valores atribudos aopretrito perfectocompuestonas regies dialetais da Argentina

    207

    Consideraes finais

    245

    Referncias bibliogrficas 251

    SUMRIO

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    Rousseau (2008, p.143), em sua clssica obra Ensaio sobre a origemdas lnguas, j em 1759, atribua s causas fsicas mais gerais a diferenaentre as lnguas. So palavras do autor: As do sul devem ter sido vivas,sonoras, acentuadas, eloquentes e frequentemente obscuras, devido energia; as do norte devem ter sido surdas, rudes, articuladas, pene-trantes, montonas, claras, devido mais s palavras do que a uma boaconstruo. As lnguas modernas, cem vezes misturadas e refundidas,conservam ainda algo dessas diferenas.

    Passado muito tempo, venho apresentar este livro, O pretrito emespanhol: usos e valores do perfecto compuestonas regies dialetais

    argentinas, de Leandro Silveira Arajo, publicado no Programa deEdio de Textos de Docentes e Ps-Graduandos da Unesp. O livrotrata da diferena em um tpico que tem sido muito produtivo para acomparao entre lnguas: opretrito perfecto, ou pretrito perfeitocomposto, em portugus do Brasil (doravante PB), oupresent perfectno ingls, ou ainda,pass composno francs. Inicialmente, encerrandouma noo aspectual e temporal, nas diferentes lnguas, essa dupla

    marcao vem se modificando. Em francs, por exemplo, o passecomposperdeu sua noo aspectual e hoje mantm apenas a noode tempo passado. No PB, esse tempo verbal, embora em contextosrestritos, ainda mantm o valor de anterioridade em relao ao agora.

    PREFCIO

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    12 LEANDRO SILVEIRA DE ARAUJO

    Este livro traz uma verso da dissertao de mestrado defendidapelo autor e muitos so seus mritos e os de sua pesquisa. O primeiro

    deles de tratar esse tpico lingustico com rigor terico e metodo-lgico. Alm disso, seu estudo revela as subvariedades regionais doespanhol falado na Argentina ao adotar a classificao em sete regiesdialetais proposta por Fontanella de Weinberg (2004). digna demeno tambm sua iniciativa de organizar ele mesmo seu corpus,recolhendo entrevistas radiofnicas (disponveis na rede mundialde computadores) de uma grande cidade de cada regio dialetal daArgentina. Os nmeros vo alm do que se poderia esperar de umadissertao de mestrado: 33 entrevistas radiofnicas, mais de 57 milpalavras, sendo, em mdia, mais de oito mil a quantidade de palavrasprovenientes de cada regio.

    No posso deixar de mencionar que, mesmo quando trata deoferecer ao seu leitor dados dos quais poderia ter-se ocupado commenos rigor, o autor mantm seu cuidado. o que acontece quando,no Captulo 4, ao detalhar a elaborao do seu corpus, trata dos gnerosdiscursivos e a entrevista radiofnica, o gnero escolhido para comporo seu corpus. Uma seo com cara de captulo, sem dvida! O mesmoacontece na seo dedicada a tratar da aspectualidade lingustica e dalngua espanhola que rene importantes informaes sobre a noo deaspecto que poucas vezes vi descrita com tamanho cuidado.

    A obra traz uma importante contribuio para os estudos sobreopretrito perfectoao oferecer um detalhamento da forma e de sua

    distribuio nas regies da Argentina. Portanto, atende no s osinteressados pelos estudos descritivos do espanhol, mas tambm osprofessores de espanhol lngua estrangeira que encontraro amostrasde lngua em uso que podero usar para o tratamento da variao emsuas aulas.

    Mercedes SeboldProfessora de Lngua Espanhola da

    Faculdade de Letras da UFRJ

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    O livro folheado pelo leitor resulta de uma adaptao da disserta-o intitulada Os valores atribudos ao pretrito perfecto compuestonas regies dialetais da Argentina. Trabalhodefendido em 2012 noPrograma de Ps-Graduao em Lingustica e Lngua Portuguesada Faculdade de Cincias e Letras da Unesp, campus de Araraquara,sob orientao da professora Rosane de Andrade Berlinck e comfomento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico eTecnolgico (CNPq).

    O objetivo fundamental do estudo foi a anlise mais apurada darealizao dopretrito perfecto compuesto na Argentina, procurandodescrever seu comportamento e os valores que lhe so atribudosnas regies dialetais do pas. Isso se deve a que, apesar da existnciade uma bibliografia significativa que sistematize o uso dopretrito

    perfecto compuesto (PPC), verificamos uma tendncia descriode uso da forma verbal tal como ocorre em variedades peninsulares(Araujo, 2009). Quando mais atentas lngua espanhola falada naAmrica, essas descries tornam-se ainda mais breves e tendem a

    generalizar o valor do pretrito a todas as variedades lingusticas,como se seu uso fosse o mesmo ou estivesse muito prximo. Essa a postura assumida por Moreno de Alba (2000) e Cartagena (1999) para citarmos apenas dois autores.

    INTRODUO

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    Voltando-nos especificamente ao caso da Argentina, verificamosque as anlises doperfecto compuestoseguem duas tendncias. A pri-

    meira, degeneralizao, pode ser verificada nas seguintes asseveraes:[] apesar de que a segunda forma [PPC] tenda a desaparecer em be-nefcio da primeira [PPS], especialmente em falantes de algumas regieshispanoamericanas, como na Argentina. (Lamiquiz Ibaez, 1969, p.261,grifo nosso)(Lamiquiz Ibaez, 1969, p.261, traduo e grifo nossos)1

    [...] na Argentina h maior disparidade entre o uso das duas formas ver-

    bais. Neste pas, a forma he vistocorresponde a 4,7% das 235 ocorrnciasdo pretrito perfecto, e vicorresponde a 95, 3%. (Oliveira, 2007, p.63,sublinhados nossos)

    Como se observa, as informaes apresentadas sobre o PPC soassumidas como comuns a todo o territrio argentino. No obstante,faz-se necessrio destacar que ao menos o trabalho de Oliveira (2007)

    fundamenta sua concluso a partir da observao da variedade bonae-rense, somente.A segunda postura, de dicotomizao, defendida, entre outros, por

    Gutirrez Araus (2001) e Jara (2009). Nessa perspectiva, restringe-sefundamentalmente o uso da forma composta a dois blocos opositivos: oda variedade encontrada em Buenos Aires e o de uma variedade maisao norte do pas, passando-nos a impresso de que o uso dessa forma

    verbal demonstra somente dois comportamentos. Salientamos quetanto a postura degeneralizaocomo a dedicotomizaoinserem-se emum contexto de escassez de pesquisas dedicadas efetivamente descri-o dos valores atribudos ao PPChaja vista que grande parte delasrestringe-se a informaes impressionistas e pouco esclarecedoras.

    Diante da ausncia de uma descrio um pouco mais aprofundadado uso efetivo do PPC na Argentina, este estudo justifica-se por in-

    tentar avaliar com quais valores o emprego da forma composta d-se

    1 [...] a pesar de que la segunda forma [PPC] tienda a desaparecer en beneficio dela primera [PPS], especialmente en hablantes de algunas regiones hispanoameri-canas, como en Argentina.

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    nas diferentes regies dialetais do pas; esclarecendo, desse modo, asaparentes variaes no uso doperfecto compuestoe verificando at que

    ponto podem-se generalizar diatopicamente esses valores no pas emquesto. A fim de obter essas informaes, analisamos entrevistasradiofnicas (disponveis na rede mundial de computadores) de umagrande cidade de cada regio dialetal da Argentina, pois acreditamosque esse gnero discursivo pode nos fornecer uma situao propciapara o uso dessa forma verbal, alm, claro, de resgatar uma fala menosmonitorada. Toda a reflexo investigativa foi orientada por princpiosda Sociolingustica e da Dialetologia, alm de haver considerado con-ceitos sobregneros discursivos, temporalidade lingustica (tempus,aspecto, modo de ao), entre outros.

    Finalmente, destacamos que os resultados deste estudo auxiliarona divulgao de contedos lingusticos sobre as variedades do es-panhol usado em parte do cone sul-americano regio que alvo degrande interesse poltico-econmico e por isso detentora de especialateno e, fundamentalmente, contribuiro para a descrio maisclara de uma construo lingustica que muitas vezes vista comodificultosa na aprendizagem de lngua espanhola por brasileiros.

    Por nossa parte, julgamos que essa dificuldade est especialmenterelacionada ao mau tratamento que o pretrito perfecto compuestovem recebendo em salas de aula e materiais didticos (Araujo, 2009;Ponte, 2010); o que, somado ao seu carter naturalmente varivel epolissmico com cujos valores os luso-falantes no esto familia-

    rizados cria a falsa impresso de uma forma verbal embaraosa,assistemtica e contraditria.

    Uma breve anlise de materiais didticos suficiente para nosindicar a restrio do tratamento do PPC a oraes desvinculadas aqualquer texto efetivamente enunciado e, portanto, sem nenhumarelao com o uso. Quando mais atentos, esses manuaisprescrevemsob a ordem binria: se usa ou no se usa um uso generalizado

    a muitos pases e a algumas situaes de interao discursiva. Porseu turno, observamos professores que, quando no reproduzem odiscurso prescritivo dos manuais, valem-se de um discurso pautadopor impresses de uso adquiridas na experincia com a lngua espa-

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    nhola. Em comum, todos os casos sonegam ao aluno a oportunidadede conhecer a lngua mediante a observao do uso natural que os

    falantes fazem dela marcado por questes sociais, dialetais, hist-ricas e discursivas. , dessa maneira, portanto, que se instaura diantedo estudante uma forma verbal cujo funcionamento to simplistacomo o que se l nos manuais e to antagnico quanto as impressesque tm os diferentes professores.

    Uma vez que nosso trabalho parte do respeito complexidadelingustica que o espanhol possui, nossa contribuio estar tambmpreocupada com a conduo do leitor observao da lngua em suasituao real de uso e, a partir dessa manifestao em interao comseu entorno sociodiscursivo, compreenso de como o falante se valedopretrito perfecto compuestopara expressar uma realidade especfica.Assim, graas anlise da prtica lingustica, conseguiremos inferir eentender os valores associados ao PPC e como seu uso determinadopelo entorno lingustico e extralingustico.

    Em relao organizao deste livro, antecipamos que o leitordever, de incio, deparar com o Captulo 1 intitulado O homem e alngua: uma coexistncia em permanente construo.Nesse espao,procuraremos compreender, a partir da observao da relao traadaentre o homem (sociedade) e lngua, conceitos como variao lingus-tica, mudana lingustica, varivel e variante, norma lingustica, entreoutros. No Captulo 2, intitulado A dialetologia hispnica: o mbitoespacial da variao lingustica, passaremos a avaliar, efetivamente,

    qual a relevncia do espaopara o estudo da lngua. Para tanto, iremosnos ater a uma reflexo sobre o termo dialeto, a uma apresentao dadisciplina Dialetologia e, finalmente, a um esboo das propostas dediviso dialetal hispano-americana nas quais verificaremos o encai-xamento da Argentina nos respectivos postulados e das propostasde diviso dialetal especficas Argentina.

    No Captulo 3, Temporalidade e aspectualidade: um olhar atento

    ao sistema da lngua espanhola, direcionaremos nossa ateno aoestudo e sistematizao das categorias verbais do tempuse aspectonaslnguas naturais, dedicando especial ateno ao sistema castelhano.Dessa maneira, sero apresentados os conceitos de tempo fsico, tempo

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    cronolgico, tempo lingustico, tempus, aspecto flexional, modo deao, bem como alguns modelos tericos que abordam cada uma dessas

    categorias. No Captulo 4, Opretrito perfecto compuestoe a Argen-tina: margeando o fenmeno, resgataremos a descrio de valoresatribudos ao PPC conforme os principais autores que se dedicaram aoassunto e apresentaremos nossos procedimentos metodolgicos, isto ,exporemos, justificaremos e descreveremos o processo de compilaodo corpus, relataremos os softwaresque estiveram presentes no pro-cesso de pesquisa e, finalmente, explicaremos os critrios de seleodas cidades representantes das variedades dialetais. Aproveitaremosesse momento para relatar o estado da arte dos estudos destinados ao

    pretrito perfecto, com especial ateno ao caso da Argentina.Por fim, com o Captulo 5, Os valores atribudos aopretrito per-

    fecto compuestonas regies dialetais da Argentina, visamos alcanar,de fato, os objetivos fundamentais traados para este trabalho. Emoutras palavras, observaremos o uso dopretrito perfecto compuestonos enunciados retirados do corpusde cada uma das regies dialetaisargentinas a fim de descrever quais valores se atribuem forma verbalnos respectivos espaos. As discusses suscitadas previamente sobretemporalidade e aspectualidade iro nos auxiliar na descrio dosvalores encontrados. Por sua vez, a apresentao do estado da arte daspesquisas do PPC podero, nesse momento, corroborar nossos dadose, ao mesmo tempo, ser (re)avaliadas pelo estudo que realizaremos. Porfim, cotejaremos os resultados obtidos com este trabalho aos postulados

    de diviso dialetgica da Argentina, a fim de identificarmos uma pro-posta que melhor se adapte ao comportamento da forma verbal no pas.

    Esperamos que com a concluso deste estudo possamos no scontribuir para a descrio da forma verbal na Argentina, mas tambmlanar as bases para futuros trabalhos que podero ampliar o cenrioinvestigativo que iniciamos.

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    Cambia lo superficialCambia tambin lo profundoCambia el modo de pensar

    Cambia todo en este mundo[...]Cambia el rumbo el caminante

    Aunque esto le cause daoY as como todo cambiaQue yo cambie no es extrao[...]Lo que cambi ayer

    Tendr que cambiar maanaAs como cambio yoEn esta tierra lejana[...]Cambia todo cambia

    (Mercedes Sosa, 1995)

    Sejam quais forem os interesses que possam impulsionar umaaproximao analtica da linguagem verbal, parece que sempre haverum implcito comum entre eles: as lnguas no existem sem as pes-soas que as falam (Calvet, 2002, p.12). De fato, na viabilizao da

    1O HOMEMEALNGUA:UMACOEXISTNCIAEMPERMANENTE

    CONSTRUO

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    expresso do pensamento individual e da comunicao em sociedadeque a lngua lana mo de uma imbricada relao com o homem; tanto

    assim que afirma Hjelmslev (1975, p.1):[...] a linguagem inseparvel do homem e segue-o em todos os seusatos. A linguagem o instrumento graas ao qual o homem modela o seupensamento, seus sentimentos, suas emoes [...]. O desenvolvimento dalinguagem est to inextricavelmente ligado ao da personalidade de cadaindivduo, da terra natal, da nao, da humanidade, da prpria vida, que possvel indagar-se se ela no passa de um simples reflexo ou se ela no

    tudo isso [...].

    A descrio do linguista dinamarqus mostra-nos como o homeme a linguagem traam uma relao simbitica, na qual a linguagemno uma ferramenta criada simplesmente para suprir a necessidadehumana de dar forma a seus pensamentos e de se comunicar com ooutro. Indo muito alm disso, a linguagem se instauraria de forma

    ativa em toda experincia vivenciada pelo sujeito, refletindo traosque compem as caractersticas de cada um de seus falantes. nessainterao vvida existente entre homem e linguagem que devemoscompreender o comportamento desse complexo organismo que alngua. Isso porque, uma vez inseparveis, homem e lngua passam apercorrer o mesmo trajeto de vida, apresentando reaes e comporta-mentos que seguem em uma mesma direo.

    Assim sendo, atentemo-nos cano Todo cambia (Sosa, 1995),cujo fragmento foi epigrafado no incio deste captulo. muito pro-vvel que, ao comp-la, Julio Numhauser no visualizava na lngua afigura do eu-lrico. No entanto, se dermos voz lngua, atribuindo-lhesupostamente as palavras de todo cambia, vislumbraremos a defesade um organismo vivo que, contra qualquer tentativa de inibio desua sobrevivncia, grita justificando seu comportamento. Assim, do

    mesmo modo que continuamente muda o indivduo (caminante) eseu entorno social (todo en ese mundo) no estranho que tambmmude quem o acompanha: a lngua. Em sntese, tal como o homemem convvio social, a lngua mostra-se tambm em um fazer perma-

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    nente que regido pelas necessidades lingusticas da comunidadeda qual me (Coseriu, 1979).

    inserida nessa relao viva que se pode compreender a concepode lngua como uma estrutura heterognea, isto , mltipla, varivele em constante construo. Isso porque a heterogeneidade lingusticanada mais do que uma resposta diversidade observvel nas inte-raes sociais. Concordando com esse posicionamento, Callou et al.(2006) tambm ressaltam a inevitvel concepo heterognea da lngua.Segundo os autores,

    Anomalia seria no haver diversidade, uma vez que uma lngua sedefine como lngua na medida em que seus usurios se comunicam atravsdela para conviverem socialmente, e os contatos sociais so, por sua vez,de natureza plural. A variao das lnguas resulta, principalmente, daflexibilidade inerente ao prprio cdigo lingustico e da multiplicidadede usurios que se servem. (ibidem, p.260)

    Em acrscimo, Mollica (2003b) explica-nos que, em sociedadescomplexas, como se verificam em pases lusfonos e hispano falantes,so muitos os indicadores sociais que operam na diversidade da lngua.Nessa direo, Chambers (2003) esboa-nos um cenrio de comonossas relaes sociais propiciam a formao da nossa(s) variedade(s)de uso da lngua. importante observarmos que no se trata de umaimposio lingustica estanque, mas sim de uma construo scio-

    -histrica com relativa mobilidade.

    A classe social a que pertencemos impe-nos algumas normas de com-portamento e as refora graas fora do exemplo das pessoas com que nosassociamos com maior proximidade. Os subelementos da classe social in-cluem educao, ocupao, tipo de residncia e desempenham um papel emdeterminar as pessoas com quem teremos contatos dirios e relacionamentosmais permanentes. [...] Em tudo isso, claro, h alguma latitude, e, em so-ciedades relativamente livres, alguma mobilidade.1(Chambers, 2003, p.7)

    1 The social class to which we belong imposes some norms of behavior on us andreinforces them by the strength of the example of the people with whom we associate

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    Como apresentado no incio de nossa discusso, tratar a lnguacomo um fato social praticamente um senso comum afinal, como

    conceb-la sem seus falantes? Esse pressuposto no diferente dentroda cincia que se ocupa especificamente da linguagem: a lingustica.Por outro lado, conforme explica-nos Crdova Abundis (2002),diferencia-se, nas muitas etapas da histria da lingustica, o modo deentender e proceder ao estudo da relao existente entre a sociedadee sua lngua.

    Nesse sentido, por mais contraditrio que possa parecer, ao deli-mitar as bases da cincia da linguagem, Ferdinand Saussure fomen-tou, talvez por questes metodolgicas, a criao de uma disciplinaque legasse ao segundo plano tudo que fosse exterior lngua. Dessemodo, excluiu-se, entre outros, o mbito histrico, social e cognitivoda linguagem. Segundo Chagas (2002, p.148),

    Saussure quis estabelecer a lingustica interna como uma disciplinacientfica, relegando para segundo plano a lingustica externa que se

    ocupa da relao existente entre a lngua e a histria, as instituies eestruturas da sociedade. A lingustica externa vista por ele como algosecundrio. O essencial seria, ento, estudar os elementos da lngua e comoeles se relacionam entre si.

    Ainda conforme o autor, algo semelhante se deu tambm no Ge-rativismo. Dentro dessa perspectiva, passa-se a pressupor um falante

    ideal para uma comunidade tambm ideal, ao passo que se exclui, porconseguinte, tudo que advm das interaes sociais. Weinreich et al.(2006) j haviam assinalado que os sucessores de Saussure continua-ram a postular mais e mais a sistematicidade na lngua, [ficando] aindamais profundamente comprometidos com uma concepo simplistado idioleto homogneo.

    most closely. The sub-elements of social class include education, occupation and typeof housing, all of which play a role in determining the people with whom we willhave daily contacts and more permanent relationships. [...] In all of this, of course,there is some latitude and, in relatively free societies, some mobility (Quando noindicada a autoria, a traduo sera sempre nossa).

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    Finalmente, com o desenvolvimento de anlises empricas queconsideravam em seus procedimentos metodolgicos o mbito social

    da linguagem, foi possvel consolidar uma disciplina que tratasse alngua em situao real de uso e apresentasse a relevncia de relacion-laa seu entorno Sociodiscursivo. Graas Sociolingustica, a variao e amudana lingusticas tornam-se os objetos centrais de estudo lingus-tico e passam a ser relacionadas a alguns dos aspectos que Saussuree Chomsky quiseram manter fora da anlise da lngua: a estrutura dasociedade e sua histria (Chagas, 2002, p.149). Assim, a heteroge-neidade lingustica deixa de ser uma questo marginal e secundriapara tornar-se um princpio geral e universal, passvel de ser descritae analisada cientificamente (Mollica, 2003a, p.10).

    Isso assim porque se pressupe tambm que o funcionamento deuma lngua no pode ser entendido no vcuo, isto , fatores sociais deordem extralingustica, tambm gerenciam seu funcionamento. Assimsendo, se quisermos explicar quais foras agem na lngua, podemose devemos incluir o modo como a lngua est inserida na sociedade(Chagas, 2002, p.149). Sintetizando esse pensamento, Lavandera(1984) afirma que a grande contribuio da Sociolingusticafoi com-provar que a linguagem uma manifestao da conduta humana aqual tenta organizar os indivduos em grupos sociais. Em suas palavras,

    A meta da descrio sociolingustica vai mais alm da descrio daforma do cdigo (gramatical estrutural) ou da anlise das intuies do

    falante nativo e sua capacidade para gerar um nmero infinito de oraes(gramatica gerativa). Aponta ao desenvolvimento de uma teoria da lin-guagem que define seu objeto de estudo como o recurso mais rico e maiscomplexo para a comunicao humana, acumulado e usado pela mentehumana a fim de conseguir as formas de organizao social e cultural queexistem nas sociedades humanas.2(Lavandera, 1984, p.156)

    2 La meta de la descripcin sociolingstica va ms all de la descripcin de la formadel cdigo (gramtica estructural) o del anlisis de las intuiciones del hablante nativoy su capacidad para generar un nmero infinito de oraciones (gramtica generativa).Apunta a desarrollar una teora del lenguaje que define su objeto de estudio comoel recurso ms rico y ms complejo para la comunicacin humana, acumulado y

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    Uma vez que a lngua, tal qual a sociedade, est em um eternofazimento, eventualmente se poderia pensar em um caos lin-

    gustico, isto , em uma heterogeneidade desordenada. No entanto, aSociolingustica mostra-nos que a lngua um sistema ordenadamenteheterogneo em que a escolha entre alternativas lingusticas acarretafunes sociais e estilsticas, trata-se, portanto, de um sistema quemuda acompanhando as mudanas na estrutura social (Weinreichet al., 2006, p.99). Por isso possvel pensarmos em um modelo deheterogeneidade ordenada, na qual uma varivel lingustica contro-lada no s por padres intrnsecos lngua, mas tambm por fatoresde carter extralingustico.

    A noo de varivel lingustica tambm muito cara a essadisciplina e deve nos auxiliar na compreenso de como a Sociolingus-tica trata a linguagem. Segundo Calvet (2002, p.103), temos [uma]varivel lingusticaquando duas formas diferentes permitem dizer amesma coisa, ou seja, quando dois significantes tm o mesmo signi-ficado e quando as diferenas que eles representam tm uma funooutra, estilstica ou social. Segundo Weinreich et al. (2006, p.97), asformas coexistentes compartilham algumas propriedades:

    (1) Oferecem meios alternativos de dizer a mesma coisa: ou seja,para cada enunciado emAexiste um enunciado correspondente em Bque oferece a mesma informao referencial ( sinnimo) e no pode serdiferenciado exceto em termos da significao global que marca o uso de

    Bem contraste comA.(2) Esto conjuntamente disponveis a todos os membros (adultos)

    da comunidade de fala. Alguns falantes podem ser incapazes de produzirenunciados emAe B com igual competncia por causa de algumas res-tries em seu conhecimento pessoal, prticas ou privilgios apropriadosao seu statussocial, mas todos os falantes geralmente tm a capacidadede interpretar enunciados em A e B e entender a significao da escolhade A ou B por algum outro falante.

    manejado por la mente humana para utilizarlo con el propsito de lograr las formasde organizacin social y cultural que existen en las sociedades humanas.

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    Observemos que, apesar da existncia de mais de uma forma cujoreferente o mesmo (varivel), o indivduo no faz uso livre e indeter-

    minado delas, mas aprende no contato sociodiscursivo com outrosfalantes de sua comunidade que as variantes lingusticas utilizadasdevem corresponder s expectativas sociais convencionais. Caso noatenda essas convenes, o falante pode at mesmo receber um tipode punioque lhe indica o uso desapropriado da lngua (Alkmim,2001, p.37).

    Beline (2007) reafirma a importncia de considerarmos a variaolingustica no mbito da comunidade de fala,3isso porque nesse con-texto que ela adquire um valor de uso e o indivduo, em interao comoutros falantes da mesma comunidade, pode encontrar os limites desua utilizao. Assim sendo, podemos concluir que nossa aquisio dalngua se d na convivncia, j que devido a essa interao com o outroque aprendemos quando devemos falar de um certo modo e quandodevemos falar de outro. Dessa maneira, vamos adquirindo natural-mente as competncias comunicativase sociolingusticas, com respeitoao uso apropriado da lngua (Alkmim, 2001, p.37, grifo nosso).

    Sobre o processo de construo de novas formas variantes, Labov(2008) acusa a existncia de uma grande quantidade de variaes que atodo instante surge no uso da lngua, mas que se extinguem to rpidoquanto aparecem. No obstante, o autor explica-nos que algumas des-sas variantes so mais recorrentes e, num segundo momento, podemser imitadas mais ou menos extensamente, e podem se difundir

    (ibidem, p.20).Por sua vez, esse processo de criao e difuso (ou apagamento) das

    formas variantes parece ser resultante da presso que sofre todo sistemalingustico por duas foras potencialmente conflitantes, cujas origensse do em sociedade. Trata-se de uma tendncia mais inovadora e umamais conservadora. Coseriu (1990) chama essas foras de universaislingusticos bsicos de criatividade e alteridade, respectivamente.

    3 Segundo Labov (2008, p.287), parece plausvel definir uma comunidade de falacomo um grupo de falantes que compartilham um conjunto de atitudes sociaisfrente lngua.

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    Enquanto a primeira se responsabilizaria pela variao e a renovaoda lngua, a segunda se ocuparia da uniformidade no idioma. Assim,

    na existncia das lnguas, a criatividade manifesta-se como renovaodas tradies e a alteridade como constncia, firmeza e amplitude dastradies idiomticas.4

    Uma vez que nenhuma alterao na lngua acontece no vcuo, masnum tempo e lugar especficos (Labov, 2008, p.20), percebemos queas variaes se relacionam com fatores de diferentes ordens, tais comoorigem geogrfica, idade, sexo, origem tnica, profisso, classe social,grau de instruo, situao de enunciao, entre outros. Classificandoesses parmetros, Beline (2007) explica-nos que eles podem ser obser-vados a partir de cinco eixos:

    1. Da variaodiatpica: verificada na comparao de modos defalar de diferentes lugares.

    2. Da variaodiafsica: verificada na comparao dos usos quecada indivduo faz da lngua de acordo com o grau de monito-ramento.

    3. Da variaodiastrtica:verificada na comparao de modos defalar das diferentes classes sociais.

    4. Da variaodiamsica: verificada na comparao entre as mo-dalidades falada e escrita da lngua.

    5. Da variao diacrnica: verificada na comparao das diferentesetapas da histria da lngua.

    Dando sequncia essa discusso, sabe-se que uma das possveisconsequncias da variao a mudana na lngua. Para alcanar esseestgio, as formas que em dado momento estavam em variao (quecompunham uma varivel lingustica) vo recebendo diferentes trata-mentos pela sociedade, e assim, paulatinamente, uma das formas vai

    4 La creatividad se manifiesta como renovacin de las tradiciones y la alteridad, como

    constancia, firmeza y amplitud de las tradiciones idiomticas (Coseriu, 1990, p.55).A partir deste momento, estabeleceremos o padro de traduzir para o portugustodas as citaes em lngua estrangeira menores de trs linhas e, por isso, inseridasno corpo do texto. Os originais sero expostos em nota de rodap. Assumimos aresponsabilidade por todas as tradues feitas dentro desse padro.

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    ganhando maior espao em detrimento do gradual desuso de outra. nesse sentido que podemos pensar que toda mudana lingustica

    pressupe uma variao.Segundo Weinreich et al. (2006), uma mudana pode ser desperta-da tanto por fatores internos lngua tendo em vista a estrutura e ofuncionamento do idioma como por fatores que lhe so externos emrazo do contato com outras lnguas ou outras variedades. De modomais prtico, os autores explicam que

    [...] uma mudana lingustica comea quando um dos muitos traoscaractersticos da variao na fala se difunde atravs de um subgrupoespecfico da comunidade de fala. Este trao lingustico ento assumeuma certa significao social simbolizando os valores sociais associadosquele grupo. (Weinreich et al., 2006, p.124)

    Ainda segundo os autores, a mudana completa se daria quandoa variante inovadora deixasse de expressar qualquer valor social que

    antes possua para se tornar constante no uso da comunidade de fala.A seguir, resgataremos de Coseriu (1962) e de outros autores a noode norma lingustica a fim de avaliar em que medida ela pode auxiliarna compreenso de como a heterogeneidade se associa lngua.

    A norma lingustica

    Mgica (2007) explica que o estudo da norma lingustica envolveum campo bastante complexo por lidar com (1) muitos trabalhosque, a partir de diferentes perspectivas, dedicaram-se a discuti-la edefini-la de diferentes maneiras; (2) por tratar-se de um fenmeno dalinguagem que, como sabemos, muito complexa, j que est emconstante construo e, finalmente, (3) por ser um fenmeno relativo.

    Segundo Coseriu (1962, p.98), norma lingustica :

    [...] um sistema de realizaes obrigatrias, de imposies sociais e cul-turais, e que varia conforme a comunidade. Dentro da mesma comuni-

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    dade lingustica nacional e dentro do mesmo sistema funcional podem secomprovar vrias normas (linguagem familiar, linguagem popular, lngualiterria, linguagem elevada, linguagem vulgar, etecetera) [...].5

    Antes de nos atermos mais profundamente ao conceito, cabe-nosdestacar que no estamos pensando no sentido corrente de norma como algo estabelecido ou imposto segundo critrios de correo evalorao subjetiva (ibidem, p.90),6que impe um modelo de comose deve falar para se ter aprovao do grupo. A norma lingusticaaque nos referimos a aquela que contm o que no falar concreto

    repetio de modelos anteriores (ibidem, p.90),7isto , que eliminatudo aquilo que totalmente indito, variante individual, ocasionalou momentneo e conserva somente os aspectos comuns que secomprovam nos atos considerados (ibidem, p.90).8Dessa maneira,atribui-se norma lingustica aquilo que praticado por todos nacomunidade de fala.

    Nessa medida, pode-se pensar que as normas alteram-se conforme

    os limites e as ndoles da comunidade considerada (ibidem, p.92)9eque na passagem de uma para outra, h um momento no qual a norma incerta (ibidem, p.77).10Ainda conforme explica Coseriu (1962), atentativa de definir a norma de uma lngua deve nos levar constataode vrias normas sociais e regionais. As quais, por sua vez, nada maisso do que o reflexo da relao que guarda a linguagem com o homeme sua comunidade de fala.

    5 [...] un sistema de realizaciones obligadas, de imposiciones sociales y culturales,y vara segn la comunidad. Dentro de la misma comunidad lingstica nacionaly dentro del mismo sistema funcional pueden comprobarse varias normas (lenguajefamiliar, lenguaje popular, lengua literaria, lenguaje elevado, lenguaje vulgar,etctera) [...].

    6 [...] establecida o impuesta segn criterios de correccin y de valoracin subjetiva[...].

    7 [...] lo que en el hablar concreto es repeticin de modelos anteriores.8 [...] totalmente indito, variante individual, ocasional o momentneo, conservndose

    slo los aspectos comunes que se comprueban en los actos considerados [...]. 9 [...] segn los lmites y las ndoles de la comunidad considera. 10 [...] en el paso de una norma a otra, hay un momento en el que la norma es incierta [...].

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    Ao se colocar diante de situaes inusitadas, o indivduo pode al-terar a norma lingustica fazendo uso de possibilidades at ento no

    aceitas pela norma de uso de sua comunidade. No obstante, para quede fato ocorra uma modificao na norma imprescindvel que haja umacolhimento social do novo uso. Explicando-nos como uma mudanase d no nvel semntico, Coseriu (1962, p.107) diz que:

    [...] norma fundamental que o novo significado que uma palavra assumetenha estado presente, como secundrio, no emprego anterior da mesmapalavra. Ou seja, em dado momento, um determinado significado o

    normal e outros significados so laterais, latentes, possveis desde oponto de vista do sistema. Mas o mesmo ocorre com todas as demaismudanas lingusticas, alm de uma norma estabelecida, existem sempreas possibilidades do sistema.11

    Essa concepo de norma lingustica proposta por Coseriu (1962)origina-se do rearranjo da dicotomia saussuriana lngua vs. fala, a qual

    passa a ser redefinida como sistemavs. normavs. fala. Nesta trade,a fala continua na ordem do individual, mas o conceito de lngua modificado. Coseriu chama de lngua o sistema articulado com suasnormas, ou seja, com suas variantes lingusticas (Pietroforte, 2002,p.92). Dessa maneira, a noo delngua passa a envolver o sistema domnio de todos os falantes de uma mesma lngua e as normas variedades de domnio de grupos sociais e regionais.

    Na tentativa de descrever a norma com apoio da antropologia,Along (2011, p.145) caracteriza-a como uma noo varivel e relativapor se definir na heterogeneidade da sociedade:

    11 [...] es norma fundamental que el nuevo significado que una palabra asume haya

    estado presente, como secundario, en el empleo precedente de la misma palabra.Es decir que, en cada momento, un determinado significado es el normal y otrossignificados son laterales, latentes, posibles desde el punto de vista del sistema.Pero lo mismo ocurre con todos los dems cambios lingsticos, ms all de la normaestablecida, existen siempre las posibilidades del sistema [...].

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    Nesta concepo de sociedade [heterognea], as normas sociais ouregras do comportamento so variadase relativas. Variadasporque osagrupamentos constitutivos da sociedade tambm so variados, e rela-

    tivasporque os juzos de valor s tem significao em relao ao grupoou ao conjunto de referncia no qual se situam os indivduos. (ibidem,grifos nossos)

    Uma vez que se considera que todo o comportamento social regu-lado por normas, a norma lingustica ser entendida como o produtode uma hierarquizao das mltiplas formas variantes (ibidem, p.148)

    e como referncia para os usos concretos pelos quais o indivduo seapresenta em uma sociedade imediata (ibidem, p.149). importanteobservarmos que no se trata de considerar um comportamento certoe os demais errados; pois, sob essa ptica, o uso efetivo da linguagem,por mais diversificado que possa ser, responde, na verdade, s coeressociais e discursivas observveis.

    Concomitante a essa norma lingustica que apresentamos, h

    tambm aquela norma tida como padro ou exemplar. ConformeAlong (2011), essa norma apresenta um carter normativo, idealizadoe definido por juzos de valor. Ainda segundo a autora,

    Codificada e consagrada num aparato de referncia, essa norma socialmente dominante no sentido de se impor como o ideal a respeitarnas circunstncias que pedem um uso refletido ou monitorado da lngua,

    isto , nos usos oficiais, na imprensa escrita audiovisual, no sistema deensino e na administrao pblica. (Along, 2011, p.149)

    Along (2011) observa a existncia de trs caractersticas com-pondo a norma exemplar: (1) um discurso da norma que categorizao uso da lngua como certo, errado, bom, mau, puro, etc.; (2) umaparelho de referncia que apresenta exemplos de uso (gramticas,dicionrios, academias e outros rgos pblicos); e (3) a difuso ea imposio constantes graas ao papel hegemnico de referncialegtima em lugares estratgicos como a escola, a imprensa escrita,etc. (ibidem, p.160).

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    Segundo Bagno (2007), a norma padro tambm visa extinguir adiversidade lingustica e favorecer, por meio de seu uso, uma varie-

    dade homognea e idealmente compartilhada por todos. No entanto,origina-se um problema sociocultural quando se comea a tratar alngua apresentada pelas gramticas e dicionrios como uma verdadeeterna de uso, acreditando, por isso, na existncia de uma nica pos-sibilidade de uso da lngua: o da norma padro.

    Combatendo esse pensamento, Alkmim (2001) categrica aoafirmar que nenhuma lngua se apresenta como uma entidade ho-mognea e que, portanto, toda lngua deve ser representada por umconjunto de variedades. Desse modo, o que chamamos de lnguaespanhola, na prtica, envolve as diferentes maneiras de falar usadaspelos falantes argentinos, mexicanos, peruanos, equatorianos, colom-bianos, espanhis, chilenos, entre outros. Foi por isso que Weinreichet al. (2006, p.125) j observaram que

    A associao entre estrutura e homogeneidade uma iluso. A estru-

    tura lingustica inclui a diferenciao ordenada dos falantes e dos estilosatravs de regras que governam a variao na comunidade de fala; o do-mnio do falante nativo sobre a lngua inclui o controle destas estruturasheterogneas.

    Assim, a heterogeneidade lingustica no s ordenada, como vi-mos, mas tambm conta com o conhecimento e relativo desempenho

    por parte do falante, que sempre mais ou menos plurilngue em suaprpria lngua, haja vista que controla um leque de competncias quese estendem entre formas vernaculares e formas veiculares (Calvet,2002, p.114).

    Inserida nesse contexto, a escola tem o papel fundamental deromper com o mito da existncia, tanto na lngua materna como nalngua estrangeira, de uma nica forma certa de falar. Caber ainda

    a essa instituio a formao do conhecimento plurilingustico, queenvolve o reconhecimento das formas mais vernaculares e o ensinodas institucionalizadas como modelo.

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    A relevncia do espao na abordagemsocial da linguagem

    Caravedo (2004) mostra-nos que costumeiramente se deixou delado a observao do aspecto geogrfico da variao lingustica. Parao autor, a atitude de desprezo deve ser reavaliada porque a variao es-pacial tida como um dos aspectos mais evidentes da heterogeneidadena lngua. Nem mesmo dentro dos procedimentos da Sociolingusticao espao tomado como um fator condicionante da variao, massomente como um localizador dos fenmenos analisados.

    A evidncia com que se d a variao no mbito geogrfico pode seralcanadagrosso modopela maneira como os prprios falantes da lnguaa percebem. Nesse sentido, Caravedo (2004, p.1122) explica-nos que

    [...] os falantes de uma lngua tm uma percepo mais ampla do espao(seja do tipo suprarregional, nacional ou at mesmo transnacional), e quea variao diatpica aparece como imediatamente reconhecvel por todos.

    Os indivduos desenvolvem, em geral, uma percepo muito refinada doprprio e do distante [...].12

    por isso que, mesmo dentro de um territrio nacional, as regiesgeogrficas adquirem um valor simblico, que no determinadosomente pelas caractersticas geogrficas, climticas, vegetais, entreoutras, que possui o espao, mas tambm por uma conceptualizao

    estereotipada dos habitantes locais (Caravedo, 2004).Para o autor, o espao pode ser visto tambm a partir da perspec-

    tiva social, uma vez que remete principalmente a uma sociedade (oua vrias) que habitam dentro de determinados limites geogrficos.13Desse modo, ele no ser somente um mero instrumento de localiza-

    12 [...] los hablantes de una lengua tienen una percepcin ms amplia del espacio (sea

    de tipo suprarregional, nacional o incluso transnacional), y que la variacin diatpicaaparece como inmediatamente reconocible por todos. Los individuos desarrollan engeneral una percepcin muy refinada de lo propio y de lo ajeno [...].

    13 [...] remite principalmente a una sociedad (o a varias) que habitan dentro de deter-minados lmites geogrficos.

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    o de fenmenos, mas se entender como uma varivel dependentedo social.14

    Nesse sentido, na observao da variao diatpica, a mobilidadedos habitantes e a capacidade de se relacionar com membros de outrosespaos so comportamentos que devem ser considerados atentamente,pois viabilizaro a transformao interna dos espaos. Sobre as con-sequncias advindas desse contato inter-regional, Camacho (2001,p.58, grifo nosso) afirma:

    Como verdadeiro que o domnio de uma lngua deriva do grau decontato do falante com outros membros da comunidade, tambm ver-dadeiro que quanto maior o intercmbio entre os falantes de uma lngua,tanto maior a semelhana entre seus atos verbais. Dessa tendncia paraa maior semelhana entre os atos verbais dos membros de uma mesmacomunidade resulta a variao geogrfica.

    Uma vez que o espao pode ser tambm considerado um fator social

    que opera na heterogeneidade das lnguas, passemos a observ-lo maiscuidadosamente no captulo que segue. Com esse fim, conheceremoscomo ele tem sido considerado na lingustica e como podemos utiliz-lopara a compreenso dopretrito perfecto compuesto.

    14 [...] se entender como una variable dependiente de lo social [...].

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    El dialecto es lo que uno es, el registro eslo que uno hace

    (Leonor Acua)

    Com essas palavras em epgrafe a catedrtica da Universidad deBuenos Aires levava a cabo o 14 Congresso Brasileiro de Professores deEspanhol, na cidade de Niteri, estado do Rio de Janeiro. Provenientede uma discusso sobre o ensino da heterogeneidade lingustica do

    espanhol, o fragmento citado apresenta-nos a preocupao da con-ferencista em assinalar como proceder ao estudo da lngua tendo emvista uma escala de especificao que vai desde um nvel de observaomais genrico e abstrato encontrado, por exemplo, no conceito delngua histrica ,1avanando, de maneira mais especfica, pelo nveldo dialetoe, finalmente, culminando no registro, isto , no uso efetivoe individual que fazemos da linguagem.

    Desse modo, parece que, para Leonor Acua, o mbito dialetal,apesar de mais especfico, ainda envolve algum tipo de abstrao que

    1 Ver definio dada por Coseriu (1982) para lngua histricanos pargrafos seguintes.

    2A DIALETOLOGIAHISPNICA:OMBITOESPACIALDAVARIAO

    LINGUSTICA

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    permite identificar e associar um enunciador a uma comunidade de fala.Por sua vez, essa identificao partiria do registro, isto , do uso que

    cada um faz da lngua e no qual se verificam traos lingusticos compar-tilhados por uma variedade espacial de dada lngua histrica. A com-preenso do dialetal deveria partir, portanto, da observao do registro.

    De encontro s palavras de Leonor Acua, Lope Blanch (1998)no comenta se o mbito dialetal envolve algum grau de abstrao,mas verifica nele um alto grau de concretude, isso porque se tratariado prprio uso efetivo que cada falante faz da lngua (sistema). Tanto assim que equipara o conceito de dialeto ao conceito de fala (registro)e, em seguida, diferencia-os de lngua:

    [...] dialeto ou fala a maneira pela qual o indivduo ou a sociedade realiza fazem uso real (d)o sistema. Ou seja que a lngua, o sistema lingusticoabstrato, materializa-se e vive atravs de seus dialetos. Todo ato de fala, decomunicao lingustica, ser um fato dialetal.2(Lope Blanch, 1998, p.45)

    Apesar de um tanto particulares, ambas as posturas compartilhama definio de dialeto a partir do confronto do termo com o conceito delngua. Esse procedimento, recorrente dentro dos estudos dialetolgi-cos, tambm realizado por Coseriu (1982) em seu clssico trabalhoSentido y tareas de la dialectologia.Nessa obra, observa-se que umalngua histrica no um modo de falar nico, mas sim uma famliahistrica de modos de falar afins e interdependentes (ibidem, p.12);3

    por sua vez, os dialetos so membros desta famlia ou constituemfamlias menores dentro da famlia maior (ibidem, p.12).4Em poucaspalavras, a ideia de lngua histrica parece pressupor fundamental-mente a existncia de uma lngua comum que recobre um conjunto

    2 [...] dialecto o habla es la manera en que el individuo o la sociedad realiza hacenuso real (d)el sistema. Es decir que la lengua, el sistema lingstico en abstracto,se materializa y vive a travs de sus dialectos. Todo acto de habla, de comunicacin

    lingstica, ser un hecho dialectal. 3 [Una lengua histrica] no es un modo de hablar nico, sino una familia histrica

    de modos de hablar afines e interdependientes. 4 [...] los dialectos son miembros de esta familia o constituyen familias menores dentro

    de la familia mayor.

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    de dialetos que, como concretizao da lngua histrica, mostra-nosalguns dos traos previstos no sistema abstrato maior. Tanto assim

    que Weinreich et al. (2006, p.100) comentam que a lngua pode servista como um diassistema composto de dialetos-membros.Coseriu (1982) lembra-nos ainda que uma lngua histrica realiza-

    -se somente por meio de suas variedades tidas como microssistemasautossuficientes e que, portanto, no falamos o espanhol ou oportugus,5mas fazemos uso de uma parte especfica dessas lnguas,isto , de suas variedades. H de observar, no entanto, que a variedadegeogrfica tambm chamada de variedade horizontal no anica variao que ocorre nas lnguas histricas, isso porque, comoobservam, entre outros, Chambers e Trudgill (1994), Coseriu (1982),Ferreira e Cardoso (1994), junto s variaes espaciais (diatpicas),observam-se diferenas de nvelsociocultural (diastrticas), de gera-es (diacrnicas), de estilo6(diafsicas), entre outras. Atentos a essesdiferentes mbitos de variao, Chambers e Trudgill (1994, p.82)concluem que todos os dialetos so tanto espaciais quanto sociais,posto que todos os falantes tm um entorno social da mesma maneiraque uma localizao espacial.7

    Visando, no entanto, melhor apurar a percepo de que tanto osaspectos socioculturais como os espaciais podem confluir no termodialeto, Coseriu (1982, p.24) alerta-nos que os dialetos espaciais[...] so geralmente sistemas completos sob o ponto de vista fnico,gramatical e lxico,8possuindo, inclusive, variaes sociais e estils-

    ticas prprias. diante dessa relativa complexidade verificvel nasvariedades espaciais que o autor categoricamente atribui a observa-o das diferenas geogrficas ao termo dialeto, sendo as variaes

    5 Entendidos como lnguas histricas que envolvem todos os usos feitos nos dife-rentes continentes em que se verificam suas presenas.

    6 Isto , de tipos de modalidade expressiva, cujas orientaes so dadas pelas cir-

    cunstncias nas quais se encontram o falante.7 Todos los dialectos son tanto espaciales como sociales, puesto que todos los hablantes

    tienen un entorno social igual que una localizacin espacial. 8 [...] los dialectos espaciales [...] suelen ser sistemas completos desde el punto de

    vista fnico, gramatical y lxico [...].

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    estilsticas e sociais compreendidas dentro desse microssistema.Nesse sentido, o dialeto passa a ser entendido, segundo Coseriu

    (1982, p.20), como uma lngua funcional, pois, dentro de umalngua histrica, um sistema autossuficiente mnimo,9no qual osfatos lingusticos funcionam precisamente em oposies funcio-nais internas.10Do mesmo modo, ns, orientados pelo referencialapregoado pela disciplina, conceberemos dialeto como um sistemafuncional de carter mais concreto que, por sua vez, se encaixa emum sistema maior e mais abstrato que a prpria lngua histrica.Assumindo essa postura, afastamo-nos da concepo de dialetofrequentemente difundida pelo senso comum, segundo a qual seatribui uma carga negativa ao termo, tratando-o como uma alusoa uma lngua menor, que, de to desprestigiada socialmente, sequerdesfrutaria do statusde lngua histrica.

    Ainda sobre a ateno dada variao geogrfica nos estudos dodialeto, Caravedo (1998) explica-nos que a relao existente entrelngua e espao pode ser compreendida de maneira abrangente (lato)ou especfica (stricto). A primeira mostra-nos que as lnguas, graasa seu carter social, esto localizadas em espaos determinados taisquais seus falantes, de modo que no h forma de se referir ma-nifestao social de uma lngua se no for em relao a seu assenta-mento geogrfico (Caravedo, 1998, p.78).11Por outro lado, em umaperspectiva mais restrita (stricto), a partir da anlise de fenmenoslingusticos especficos, podemos averiguar que o espacial pode se

    converter em um fator de variao da mesma maneira que o social(ibidem).12 inserido nessa perspectiva que se associa, por exemplo,o fone fricativo dental surdo [], nos grafemas z e c das pala-vras zapatoe cebolla, a variedades peninsulares do espanhol e

    9 [...] dentro de una lengua histrica, es un sistema autosuficiente mnimo.10 [...] los hechos lingsticos [...] funcionan precisamente en oposiciones funcionales

    internas [...]. 11 No hay forma de referirse a la manifestacin social de una lengua sino respecto de

    su asentamiento geogrfico. 12 [...] lo espacial puede convertirse en un factor de variacin de la misma manera que

    lo social.

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    o fone fricativo alveolar [s], nos mesmos contextos fonolgicos, avariedades americanas. Em outras palavras, sob uma perspectiva

    restrita, determina-se o fone variante da varivel [

    ] e [s] conformea observao da variedade espacial.13

    Assim, a partir da compreenso favorecida pela anlise abran-gente (lato) de que os espaos em que se manifestam as lnguas soentendidos como espaos geossociais, isto , que se desenvolvem ementornos scio-historicamente determinados , podemos entenderporque, em uma perspectiva mais restrita (stritus), as lnguas podemvariar tendo como fatores condicionantes, alm de outros, o espacial,como diferenas de zonas ou regies, ou o social, como diferenasde grupo (ibidem, p.79).14 importante enfatizar que a percepoestrita s pode ser compreendida se estiver pressuposta a ideia deespao geossocial; isso se deve a que as relaes espaciais observadasno sentido restrito no so concebidas como relaes determinantespor si mesmas, mas como relaes condicionadas poltica, social eculturalmente (Coseriu, 1977, p.106).15

    Uma das evidncias de que o social media a relao entre o es-pao e a lngua pode ser encontrada no modo como se difundem osfenmenos lingusticos no espao. Assim, conforme conferimos naasseverao que segue, a relao de interao lingustica instauradaentre indivduos constitui uma condio inicialmente satisfatriapara que se propague uma forma lingustica por diferentes zonas.

    [...] as formas no viajam por si s, mas se introduzem no acervode um indivduo atravs da fala de outro indivduo mediante contatosque no implicam uma continuidade de reas, porque os indivduos se

    13 Esse o caso tambm da distribuio do pronome pessoal no espanhol e noportugus. Se pensamos novamente no espanhol, o pronome pessoal de segundapessoal do plural vosotros est limitado espacialmente a variedades do espanholpeninsular.

    14 [...] las lenguas pueden variar teniendo como factores condicionantes, adems deotros, el espacial, como diferencias de zonas o regiones, o el social, como diferenciasde grupo [...].

    15 [...] no se conciben como relaciones por s determinantes, sino como relacionescondicionadas poltica, social y culturalmente.

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    trasladam de uma rea a outra com todos seus hbitos lingusticos, etambm atravs de contatos indiretos.16(ibidem, p.157)

    No obstante, outros fatores podem se somar relao intersujei-tos quando o assunto a difuso espacial de fenmenos lingusticos;esse o caso, por exemplo, da avaliao que se tem do outro e de suavariedade. Assim, regies de maior importncia social, poltica e eco-nmica tendem a ser alvo de maior prestgio, favorecendo, por isso, adisseminao dos traos lingusticos que lhes so caractersticos. Poroutro lado, regies menos relevantes no contexto socioeconmico deum povo tendem a ter seu comportamento lingustico marcado porum estigma que inibe a veiculao de suas caractersticas lingusticasa outras reas.17Tanto assim que Coseriu (1977, p.106) afirma queos centros de irradiao [...] no so os centros geomtricos dos ter-ritrios estudados, mas os centros polticos, administrativos, culturaise religiosos, os centros comerciais e de comunicao.18

    Uma breve reviso do que j tratamos neste captulo mostra-nos

    que, implcita ou explicitamente, dialeto caracteriza-se pela subordi-nao de um sistema lingustico a outro sistema maior, compreendidocomo a prpria lngua histrica. Essa caracterstica pode tambm serobservada na definio dada por Dubois (1978) para o termo. Segundoo autor, dialeto uma forma de lngua que tem o seu prprio sistemalxico, sinttico e fontico, e que usada num ambiente mais restritoque a prpria lngua (Dubois, 1978, p.184, grifo nosso).

    16 [...] las formas no viajan de por s, sino que se introducen en el acervo de unindividuo a travs del habla de otro individuo mediante contactos que no implicanuna continuidad de reas, porque los individuos se trasladan de un rea a otra contodos sus hbitos lingsticos, y tambin a travs de contactos indirectos.

    17 No podemos, no entanto, cair no equvoco de pensar que somente o prestgiodetermina padres lingusticos, tanto assim que Labov (2008) mostra-nos quenem sempre a variedade de maior prestgio a responsvel pela propagao de

    novos traos lingusticos. Segundo o autor, classes econmicas mais baixas eestigmatizadas, por exemplo, podem ser agentes nesse processo tambm.

    18 [...] los centros de irradiacin [...] no son los centros geomtricos de los territoriosestudiados, sino, los centros polticos, administrativos, culturales y religiosos, loscentros comerciales y de comunicacin [...].

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    Observemos que ao dizer mais restrito o autor insere o microssis-tema dialetal no macrossistema da lngua qual se subordina. nesse

    sentido que Montes Giraldo (1987) afirma que o carter dialetal de umsistema lingustico decorre fundamentalmente de sua subordinao aum sistema maior. O autor tambm nos explica que se trata de umasubordinao normativa e funcional que se pode dar em diferentes n-veis. Assim, se pensarmos nos diferentes nveis de variao idiomtica,teramos, entre lngua e registro, trs nveis dialetais:

    1. nvel do superdialeto: rene, em um conjunto mais ou menosextenso, variedades que compartilham alguns traos ou normas.

    2. nvel do dialeto: variedade includa dentro de um superdialeto.3. nvel do subdialeto: diviso do dialeto.

    No obstante, Montes Giraldo (1987, p.60) adverte-nos de que estadiviso sempre subjetiva ou, ainda, dependente das necessidades do ob-jeto de estudo19e que caber a cada pesquisador determinar as divisesque convm estabelecer para o procedimento do fenmeno estudado.

    Finalmente, o estudo etimolgico do termo dialeto feito por Co-seriu (1982)20mostra-nos que desde o grego clssico atribuem-se palavra trs significados: modo de falar, subordinao a uma lnguahistrica e delimitao no espao. No obstante, o autor faz-nosa ressalva de que desde ento o terceiro valor j era mais recorrente erestrito aos domnios da dialetologia. A fim de melhor conhecermosessa disciplina e suas ocupaes, seguimos, nos pargrafos adiante,

    uma explorao epistemolgica.Com esse fim, verificamos, em Cardoso (2010), que o interesse

    pelo estudo sistemtico dos usos lingusticos e a preocupao com aobservao das variedades geogrficas sempre estiveram presentesna histria dos povos, seja por simples constatao, seja como uminstrumento poltico ou, ainda, como um mecanismo de descrio daslnguas. No entanto, somente a partir do sculo XIX que esses estu-

    19 [...] esta divisin es siempre subjetiva o, ms bien, dependiente de las necesidadesdel objeto de estudio.

    20 E que tambm pode ser verificado em Houaiss (2000).

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    dos sistematizam-se, demonstrando objetivos prprios e metodologiadefinida por meio da dialetologia disciplina que assumiu a tarefa

    de descrever comparativamente os diferentes sistemas ou dialetos emque uma lngua se diversifica no espao, e de estabelecer os limites(Dubois, 1978, p.185).

    Coseriu (1982) diz haver dois interesses fundamentais para a disci-plina. Enquanto o primeiro visa ao estudo da distribuio espacial daslnguas, ou seja, da variedade diatpica e das relaes interdialetais, osegundo fundamenta-se em comparaes lxico-gramaticais (gram-tica comparada) entre as variedades. Percebamos que com o primeiroobjetivo a disciplina busca estabelecer a extenso das variedades espa-ciais e, por conseguinte, os limites da realizao dos fatos lingusticosobservados. Por sua vez, o segundo interesse da dialetologia conduz observao e ao registro de fenmenos lingusticos espacialmentecomparveis.21Tambm definindo os interesses maiores da disciplina,Cardoso (2010, p.25) destaca dois objetivos: a) o reconhecimentodas diferenas ou das igualdades que a lngua reflete e b) o estabe-lecimento das relaes entre as diversas manifestaes lingusticasdocumentadas nos diferentes espaos e realidades prefixadas.

    Em sntese, tanto para Coseriu (1982) como para Cardoso (2010),esto no mago da disciplina a descrio da diversidade espacial e ocotejamento da realidade lingustica nas diferentes zonas. So essascaractersticas que fazem da dialetologia a cincia da variao espa-cial, da delimitao dos espaos, do reconhecimento de reas dialetais,

    contribuindo para uma viso de dialeto que extirpe preconceitos e sejadesprovida de estigmatizao (Cardoso, 2010, p.45).

    Ainda conforme a autora, os dados levantados por uma abordagemdialetolgica devem possibilitar, acima de tudo, a afirmao de quedado fenmeno lingustico verificvel, ou no, em uma regio dialetalobservada, sem, contudo, ter o compromisso primordial de definir sua

    21 O autor alerta-nos que para no correr o risco de interpretaes equivocadas nocotejamento diatpico de fenmenos lingusticos, deve-se manter o controle dasvariveis sociais e estilsticas em uma abordagem como a prevista por essa tarefada dialetologia.

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    natureza variao estvel ou mudana em curso , de quantificar seuuso [...] ou de quantificar os fatos segundo o tipo de usurio, levando

    em conta variveis sociais [...] (ibidem, p.92). Em outras palavras,enfatiza-se mais uma vez o interesse essencialmente comparativolxico-gramatical vinculado disciplina desde seus primrdios.

    Como, no entanto, se presume das palavras da autora, apesar deno ser a inteno primeira da disciplina, o aprofundamento no estudoda natureza do fenmeno pode tambm ocorrer dentro da pesquisadialetolgica, isso porque h o pressuposto de que:

    O espao geogrfico evidencia a particularidade de cada terra, exibindoa variedade que a lngua assume de uma regio para outra, como formade responder diversidade cultural, natureza da formao demogrficada rea, prpria base lingustica preexistente e interferncia de outraslnguas que se tenham feito presentes naquele espao no curso de suahistria. (ibidem, p.15)

    Dessa maneira, mais que a identificao, descrio e localizao dosdiferentes usos de uma lngua, visamos a uma abordagem dialetolgicaque no se desaperceba completamente da interferncia que tm osdemais fatores extralingusticos na lngua uma vez que o falante visto como um ser geograficamente situado, mas socialmente com-prometido (ibidem, p.63), sendo agente, portanto, da constituiohistrica de sua comunidade e de seu idioma.

    O estudo atento dos objetivos e procedimentos da dialetologia deveainda trazer tona a caracterstica interdisciplinar que possui. Nessesentido, Coseriu (1982) observa na dialetologia uma aproximao dagramtica isto , do estudo das relaes internas de um sistema. Noentanto, a abordagem gramatical dentro da dialetologia s ter sentido medida que fundamente e viabilize o cotejamento das variedadesdialetais, mostrando peculiaridades e semelhanas entre os dialetos.

    Por outro lado, considerando que os dialetos so acervos preciososonde se encontram estados da evoluo22lingustica (Montes Giraldo,

    22 [...] los dialectos son acervos preciosos en donde se encuentran estadios de la evolucin [...].

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    1987, p.81), Cardoso (2010) observa tambm a relao existente entrea dialetologia e a lingustica histrica. Para tanto, parte da possibilidade

    de relacionar a realidade lingustica atual com uma anterior a partir daobservao de um conjunto de mudanas e transformaes que ocor-rem de modo prprio em cada um dos dialetos. Aparentemente, estpressuposta nessa relao o fato de que os grupos mais prximos aocentro so os que geralmente se mostram mais mveis (Chambers;Trudgill, 1994, p.212)23e inovadores, ao passo que os que se encon-tram mais prximos a qualquer dos extremos tendem a ser os maisestveis e conservadores (ibidem, p.212).24

    Uma terceira disciplina que recorrentemente se associa dialetolo-gia a sociolingustica; isso se deve a que os dialetos so, em essncia,espaos geossociais. Dessa maneira, os microssistemas inseridos nalngua histrica tornam-se constructos sociais que se orientam pelasnecessidades de seus falantes e que se espalham no espao fsico con-forme se espalham seus usurios. tendo em vista esse vnculo queBustos Gisbert (2004, p.47) afirma:

    [...] a dialetologia no pode prescindir da utilizao de parmetros socio-lingusticos se quer descrever de forma adequada a variao geogrfica,tanto no que tangencia a seleo de informantes, como a interpretaodas fronteiras dialetais ou dos prprios processos de variao e mudanalingustica.25

    De alguma maneira, a aproximao sociolingustica deveu-se aoaprimoramento da geografia lingustica,26considerada um mtodo dadialetologia (Cardoso, 2010; Coseriu, 1977; Dubois, 1978):

    23 [...] los grupos ms cercanos al centro son los que generalmente resultan ser msmviles.

    24 [...] los que se encuentran ms cerca de cualquiera de los extremos tienden a ser loms estables y conservadores.

    25 [...] la dialectologa no puede prescindir de la utilizacin de parmetros sociolin-gsticos si quiere describir de forma adecuada la variacin geogrfica, tanto en loque atae a la seleccin de informantes, como a la interpretacin de las fronterasdialectales o de los propios procesos de variacin y cambio lingstico.

    26 Tambm conhecida por geolingustica.

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    [...] a geografia lingustica designa exclusivamente um mtodo dialeto-lgico e comparativo [...] que pressupe um registro em mapas especiaisde um nmero relativamente elevado de formas lingusticas (fnicas,

    lxicas ou gramaticais) [...], considera a distribuio das formas no espaogeogrfico correspondente lngua [...].27(Coseriu, 1977, p.103)

    Antes, porm, de observar mais atentamente os procedimentos isoglossa e atlas lingusticos adotados pela geografia lingustica paraestabelecer a distribuio espacial das formas lingusticas, compete--nos melhor avaliar como esse mtodo se estrutura e em que medida

    estabelece laos com a dialetologia e com a sociolingustica. Com essefim, Hernndez Campoy (1999, p.71) lembra-nos que a geolingus-tica envolve um estudo multidisciplinar que integra a anlise dalinguagem em seu contexto geogrfico, alm do social e cultural,28fundamentando-se, por isso, em princpios da dialetologia, e da so-ciolingustica. Dessa maneira,

    [...] se considerar quem fala com quem, quando, como, o que e com quefim um questionamento importante na pesquisa sociolingustica, domesmo modo, considerar onde se leva a cabo essa operao, a partir deum macro nvel, onde se localiza fisicamente uma comunidade lingus-tica, sua interao com outras, e, por sua vez, sua inter-relao com ocomportamento de outras comunidades em outros ncleos de povoaes de grande importncia para os estudos geolingusticos.29(ibidem, p.71)

    27 [...] la geografa lingstica designa exclusivamente un mtodo dialectolgico ycomparativo [...] que presupone un registro en mapas especiales de un nmero rela-tivamente elevado de formas lingsticas (fnicas, lxicas o gramaticales) [...], tieneen cuenta la distribucin de las formas en el espacio geogrfico correspondiente a lalengua [...].

    28 [...] del lenguaje en su contexto geogrfico, adems del social y cultural [...]. 29 [...] si considerar quin habla con quin, cundo, cmo, qu y con qu fin resulta

    un planteamiento importante en la investigacin sociolingstica, del mismo modo,considerar dnde se lleva a cabo esa operacin desde un macronivel, dnde se localizafsicamente una comunidad lingstica, su interaccin con otras y, a la vez, su inte-rrelacin con el comportamiento de otras comunidades en otros ncleos de poblacinresulta de gran importancia para los estudios geolingsticos.

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    Em outras palavras, a geografia lingustica recupera e se orienta,de alguma maneira, pela preocupao com o carter social da lin-

    guagem, buscando estabelecer um vnculo entre o espao e o social.Assim, apesar de centrada na variao diatpica, atenta-se tambm aocontrole de outras variveis que interferem no uso da lngua idade,gnero, escolarizao, etc. sem a busca obcecante da quantificao,mas tomando-as de forma exemplificativa e no exaustiva, de modo acomplementar os prprios dados reais (Cardoso, 2010, p.67).

    Uma vez que a ateno dada pela geolingustica aos traos extra-lingusticos de ordem social firmou a aproximao da dialetologia sociolingustica, o que antes via a dimenso espacial de forma maisesttica limitada representao cartogrfica da distribuio geo-grfica das formas lingusticas (Hernndez Campoy, 1999, p.78),30a partir do sculo XX, com o avano da geolingustica, passa areconhecer a importncia de considerar mais atentamente as variveissociais na anlise da variedade espacial, atribuindo, por consequncia,uma maior dinamicidade variao horizontal. Dessa maneira, a geo-grafia lingustica corrige os erros da teorizao desligada da realidadee oferece um quadro muito mais vvido e verdadeiro da vida efetivada linguagem (Montes Giraldo, 1987).

    Voltando-nos aos procedimentos mais adotados pela geolingus-tica e, portanto, pela dialetologia no cumprimento de suas tarefas,encontramos nas isoglossas31a base para a delimitao territorial dosdialetos, isso porque se trata de linhas virtuais que marcam o limite,

    tambm virtual, de formas e expresses lingusticas (Ferreira; Car-doso, 1994, p.12) ou, ainda, que sinalizam, na representao grfica,a rea ou domnio de vigncia de uma determinada norma (MontesGiraldo, 1987, p.55). Tanto assim que Lzaro Carreter (1968, p.140)define dialeto a partir da delimitao de isoglossas ao asseverar que pordialeto entende-se uma modalidade adotada por uma lngua em certo

    30 [...] a la representacin cartogrfica de la distribucin geogrfica de las formaslingsticas [...].

    31 Segundo Chambers e Trudgill (1994), isoglossasignifica literalmente lngua igual(iso= igual;glossa= lngua).

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    territrio, dentro do qual est limitada por uma srie de isoglossas. Aabundncia destas determina uma maior individualidade do dialeto.32

    Ou seja, o feixe de isoglossas que define o dialeto corresponde a umconjunto de caractersticas que correm juntas, somando-se e mostrandouma relativa homogeneidade dentro de uma comunidade lingustica.Quando em contraste com isoglossas de mesma ordem, torna possveldelinear contrastes e semelhanas entre espaos geogrficos. Chamberse Trudgill (1994) explicam-nos, ainda, que a cada isoglossa corres-ponde um nico trao lingustico e que haveria sete tipos de isoglossas,sendo a primeira classificada como mais superficial/concreta enquantoa stima, mais profunda/abstrata:

    1. isoglossas lxicas;2. isoglossas de pronncia;3. isoglossas fonticas;4. isoglossas fonmicas;5. isoglossas morfolgicas;6. isoglossas sintticas;7. isoglossas semnticas.33

    A elaborao dos mapas lingusticos, segundo procedimento me-todolgico muito caro dialetologia, orienta-se pelas j conhecidasisoglossas. Diferentemente dos atlas geogrficos, os lingusticos noapresentam mapas de vrios territrios, mas um conjunto de mapasque aborda individualmente a manifestao de muitos aspectos lingus-

    ticos (isoglossas) em um mesmo espao. Dessa maneira, viabiliza-se acontemplao clara e evidente da interao dos fenmenos lingusticose da variao horizontal da lngua.

    Sobre os mapas lingusticos, Coseriu (1977, p.144) diz nos pos-sibilitarem a reflexo sobre o funcionamento da linguagem como

    32 [...] modalidad adoptada por una lengua en cierto territorio, dentro del cual est

    limitada por una serie de isoglosas. La abundancia de stas determina una mayorindividualidad del dialecto.

    33 Tendo em vista nosso objetivo de estudar os valores atribudos ao PPC nas dife-rentes regies dialetais argentinas, este estudo levar em conta, fundamentalmente,a isoglossa semntica, tida como mais abstrata.

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    meio de intercomunicao social, isso porque nos revelam a relaoexistente entre o comportamento histrico da lngua e fatores de

    ordem geopoltica:Os mapas lingusticos [...] permitem comprovar que as inovaes

    nas lnguas procedem de certos centros e que sua difuso se detm emcertos limites constitudos por rios, montanhas, fronteiras polticas,administrativas ou eclesisticas (assim, as zonas ilhadas, laterais,distantes dos centros de inovao, conservam, geralmente, formaslingusticas mais antigas). Isso , na distribuio espacial dos fatos lin-

    gusticos, reflete-se, de algum modo, sua cronologia relativa.34(Coseriu,1977, p.114)

    Dessa maneira, por meio da observao dos fenmenos nos atlaslingusticos, podem-se induzir, entre outros, quais so os centrosde inovao e os de resistncia em um territrio, quais mecanismosviabilizam a difuso de uma inovao, at onde alcana o raio de di-

    fuso lingustica de dado centro, quais sos os limites e obstculos napropagao de um trao lingustico (Coseriu, 1977).Por fim, retomando a classificao dos atlas lingusticos feita por

    Cardoso (2010), sabemos que, conforme o fenmeno observado, osatlas podem apresentar cartasonomasiolgica, isto , que fornecemum conjunto de formas que identificam um mesmo conceito sele-cionado, ou cartassemasiolgicas, ou seja, que renem diferentes

    conceitos para uma nica forma salientamos, de antemo, que oestudo dos valores atribudos forma dopretrito perfecto compuestoenvolve esse ltimo tipo de cartas. Por sua vez, tendo em vista oespao avaliado nos estudos, os atlas podem ser classificados como(a) regionais, (b) nacionais, (c) continentais e (d) de grupos lingus-

    34 Los mapas lingusticos [...] permiten comprobar que las innovaciones en las lenguas

    proceden de ciertos centros y que su difusin se detiene en ciertos lmites constituidospor ros, montaas, fronteras polticas, administrativas o eclesisticas (as, las zonasaisladas y laterales, alejadas de los centros de innovacin, suelen conservar formaslingsticas ms antiguas). Es decir, que en la distribucin espacial de los hechoslingsticos, se refleja de algn modo su cronologa relativa.

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    ticos, sendo os trs primeiros definidos pelos respectivos espaosgeopolticos que recobrem e o quarto, pela identificao lingustica

    que tm os falantes de determinadas lnguas; alcanando, portanto,um domnio que vai alm das fronteiras polticas e assumindo umaconformao espacial prpria.35Atentando-nos aos objetivos destelivro, encontramos nossa anlise dentro do mbito apresentado pelosatlas nacionais e regionais.

    Para concluirmos, uma abordagem dialetolgica como a que bus-camos apresentar deve nos conduzir a uma viso de lngua dinmica;no mais como um organismo autnomo, cuja vida independe dosfalantes, mas como um sistema histrico e social regido pelas neces-sidades sociodiscursivas de seus usurios. Partindo desse princpio,entenderemos que as formas no viajam por si s, mas trafegam peladimenso espacial graas aos contatos traados entre indivduos sejade modo direto ou indireto, como pelos meios de comunicao quelevam uma variedade de maior prestgio s reas mais longnquas deuma comunidade lingustica.

    O prestgio atribudo a uma variedade ser, portanto, um fatorbastante relevante no transporte de fenmenos lingusticos, sen-do esse agente oriundo de diferentes motivos extralingusticos, taiscomo econmicos, polticos, administrativos, culturais, religiosos,entre outros. Nesse sentido, a variedade detentora de maior prestgioir formar um centro de irradiao, o qual no ser necessariamentenico, haja vista que mais de uma localidade pode apresentar dada

    forma prestigiada.Tal como ressalvam Chambers e Trudgill (1994), os efeitos de

    uma variedade prestigiada sobre as variedades que a circunscrevempodem ser diferenciados conforme a distncia guardada entre o centroe as demais zonas perifricas. Dessa maneira, quanto mais prximoao centro, maior a tendncia inovao, ao passo que quanto mais

    35 Cardoso (2010, p.76) salienta-nos ainda que os atlas regionais no interferemna realizao de atlas nacionais, mas funcionam como instrumentos queaprofundam o conhecimento de cada regio, atingindo grau de informao e depormenorizao que estudos de natureza mais ampla, como os que caracterizamos atlas nacionais, no chegam a alcanar.

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    distante, mais estabilidade e conservadorismo se encontram nasvariedades. Em poucas palavras, espera-se encontrar formas mais

    antigas em zonas mais afastadas do centro lingustico. Finalmente,tal como nos adverte Coseriu (1977), no podemos nos prenderunicamente observao da heterogeneidade da lngua, isto , doscomportamentos lingusticos que variam entre os subsistemas, mastambm fundamental nos atermos aos traos que se repetem entreos dialetos de uma lngua histrica.

    A fim de direcionarmos nossas atenes aos objetivos deste estu-do, esboaremos, a seguir, um rpido panorama de como a falsa ideiade homogeneidade lingustica foi se constituindo na sociedade hisp-nica e como a Argentina se colocou diante dessa uniformizao. Emseguida, comprovaremos, a partir da dialetologia hispano-americana,que a concepo de lngua como um fato homogneo insustentvel eque, portanto, deve ser corrigida, por exemplo, a partir da observaoe do cotejamento do uso lingustico em diferentes zonas onde a lnguaespanhola falada. Ao procedermos desse modo, esperamos percebera inquestionvel existncia de subsistemas funcionais do espanhol(dialetos) que, uma vez possuidores de caractersticas particulares,constituem, juntos, uma lngua transnacional heterognea.

    Alm de combater a viso da lngua espanhola como um fato ho-mogneo, a apresentao das regies dialetais dever tambm fundaras bases que possibilitaro um confronto, mais adiante, dos usos do

    pretrito perfecto compuestonas regies dialetais argentinas. Assim,

    aliado discusso sobre a dialetologia e sua concepo de dialeto, oestudo das propostas de diviso dialetal poder nos auxiliar no es-tudo do PPC medida que nos favorea o traado de uma isoglossaque possa, eventualmente, corroborar ou reavaliar os postulados dediviso dialetal do espanhol na Argentina.

    Assim sendo, passemos discusso sobre a construo da fal-sa ideia de norma homognea do espanhol e como a dialetologia

    hispano-americana se ope a esse cenrio, preocupando-nos, fun-damentalmente, com o tratamento dado Argentina.

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    A viso homognea do espanhol e a dialetologiahispano-americana: o caso da Argentina

    Como lngua de uma sociedade complexa e diversificada cultu-ralmente, o espanhol concebeu uma norma padro que envolveu ostraos lingusticos julgados mais aceitos e prestigiados socialmente.Atribuiu-se a essa norma exemplar a funo de se instaurar sobre asvariedades sociais e dialetais, inerentes a tamanha heterogeneidadesociocultural, viabilizando, desse modo, um sistema homogneo paraa grande comunidade de fala castelhana.

    Mesmo sem ter como ambio fundamental a concepo de umanorma padro do espanhol, coube figura de Elio Antonio de Nebrija respeitado fillogo espanhol do siglo de oro36dar os primeiros passosna construo dessa norma e, consequentemente, de um falso imagi-nrio de lngua homognea. Assim que, em 1492, Nebrija elabora aprimeira gramtica da lngua espanhola, e trs anos depois, o primeirodicionrio da lngua. Sculos mais tarde, no ano 1713, organiza-seuma instituio pblica cuja responsabilidade fosse a manuteno ea promoo da lngua espanhola. Criou-se, ento, a Real AcademiaEspaola (RAE), cujos propsitos, conforme se leem ainda hoje noprprio site da instituio, visavam

    [...] fixar as vozes e vocbulos da lngua castelhana na sua maior proprie-dade, elegncia e pureza. Representou-se tal finalidade com um emblema

    formado por um crisol no fogo com a legenda limpa, fixa e d esplendor,obediente ao propsito enunciado de combater tudo que altere a elegncia,pureza do idioma, e de o fixar no estado de plenitude alcanado no sculode XVI.37(RAE, s. p.)

    36 Por Siglo de Oro(Sculo de Ouro) entendemos o perodo que vai do Renascimento(sculo XVI) ao Barroco (sculo XVII) espanhol e no qual as letras, as artes, apoltica, etc, conheceram seu mximo esplendor e seu maior desenvolvimento

    no pas (en el que las letras, las artes, la poltica, etc, han conocido su mximoesplendor y su mayor desarrollo) (Bennassar, 2004, p.6).

    37 [...] fijar las voces y vocablos de la lengua castellana en su mayor propiedad,elegancia y pureza. Se represent tal finalidad con un emblema formado por uncrisol en el fuego con la leyenda Limpia, fija y da esplendor, obediente al propsito

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    Um olhar mais cauteloso sobre o lema limpia, fija y da esplendorpode nos levar a pensar que com o surgimento da RAE se previa, inutil-

    mente, eliminar (limpar), a custa de fogo (crisol), tudo aquilo que fossediferente do ideal institudo de lngua, fixar ad aeternumessa norma elhe atribuir um prestgio (esplendor) que ofuscasse toda variao queinevitavelmente ocorreria em paralelo norma exemplar. Notemosque tal intento seguia exatamente na contramo do comportamentonatural da linguagem que, como vimos, heterognea e em contnuafeitura, portanto histrica.

    Uma postura contempornea, por sua vez, no nega a relevncia deuma norma padro para as interaes oficiais entre os muitos pases defala castelhana, nem que seu ensino seja um meio de tambm promo-ver a ascenso social dos cidados e a integrao entre as naes. Noentanto, no se deve associar a essa norma a falsa ideia de uma lnguahomognea, desprovida de variedades espaciais, sociais, temporaise estilsticas. nesse sentido que Snchez Lobato (2004, p.1652)explica-nos que uma normatizao do espanhol deve considerar aestratificao lingustica da complexa sociedade hispnica38e permitiras diferenas apontadas para transmitir e expressar todo o acervocultural dos povos hispanofalantes (ibidem, p.1652).39

    Segundo o mesmo autor, a formao de uma norma padro maisprxima da realidade lingustica de cada comunidade hispnica temsido alcanada graas nivelao da lngua a partir da identidadelngua-nao. Nesse sentido, Callou et al. (2006, p.261) afirmam que,

    na Amrica Latina,

    Cada pas, cada cidade possui sua prpria norma culta, sua prprialinguagem comum, que no coincide totalmente com a norma literria,ideal, que funcionaria apenas como ponto de referncia e como foraunificadora e conservadora.

    enunciado de combatir cuanto alterara la elegancia y pureza del idioma, y de fijarloen el estado de plenitud alcanzado en el siglo XVI.

    38 [...] la estratificacin lingstica de la compleja sociedad hispana [...].39 [...] las diferencias apuntadas para transmitir y expresar todo el acervo cultural de

    los pueblos hispanohablantes.

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    Caso nos dediquemos a observar o papel que tm os meios de co-municao na promoo da lngua espanhola, perceberemos que esses

    meios viabilizam uma intercomunicao lingustica e cultural entre ospovos de fala hispnica. Essa interao, por sua vez, evidencia o quantoh de semelhana e o quanto h de particularidades no que correspondeao comportamento, entre outros, lingustico, social, poltico, cultural,da vasta comunidade hispnica.

    Por seu turno, Borrego Nieto (2004) questiona a criao de umanorma padro distante daquilo que o falante reconhece como sualngua, e em seu lugar defende uma postura de adequao mais na-tural. Isso porque, conforme nos demonstra o autor, frequentementeo falante de espanhol se v na necessidade de se locomover entre umeixo de maior diversidade lingustica no qual se localiza a variedadevernacular e dialetal que adquiriu e um eixo de maior unidade lin-gustica no qual se opta por um uso comum do castelhano, isto ,sem traos considerados unicamente dialetais. Dessa forma, o falanteno se orientaria mais por uma nica norma padro idealizada e pan--hispnica, mas, procurando se aproximar da variedade do outro,desfavorece o uso daquilo que caracterizado como dialetal. Uma vezque acolhemos essa atitude de convergncia em direo cooperaocom o outro, podemos aceitar facilmente a existncia de mais de umanorma lingustica para o espanhol.

    Conduzindo a discusso para o contexto argentino, os dados apre-sentados por Rojas Mayer (2001) mostram que os argentinos possuem

    uma preferncia pela norma ditada pela Academia Argentina de Le-tras, deixando, para segundo plano, a norma padro promovida pelaRAE. Segundo essa autora, a preocupao com uma norma nacionalcomea com a gerao de 37 (1837), cuja ideologia previa a constituiode uma identidade legitimamente argentina. essa a poca em quetem lugar o conflito lingustico-cultural entre o espanhol peninsular eas diferentes modalidades hispano-americanas, em que a Argentina

    defende os usos de sua comunidade e questiona a autoridade da Es-panha sobre o idioma (ibidem, s. p.).40A ideologia nacionalista da

    40 Es la poca en que tiene lugar el conflicto lingstico-cultural entre el espaol penin-

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    poca era to forte que motivou a marcao das diferenas lingusticasentre o pas e a pennsula.

    Foi no sculo XX, no entanto, que a norma padro argentina comeaa se instituir concretamente, considerando sempre a situao multi-lngue e dialetal proveniente da forte imigrao presente no pas. apartir de 1930, com a diminuio do nmero de imigrantes espanhis,que se define o sentimento de uma norma padro local diferente danorma padro hispnica. Desde ento, o falante argentino acrescentaseu orgulho de se considerar dono da palavra surgida ou adaptada aseu contexto (Rojas Mayer, 2001, s. p.).41

    O forte desejo de manter a autonomia da nao continua se re-fletindo ainda hoje na lngua. No ent