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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO MESTRADO EM LETRAS NEOLATINAS A REPRESENTAÇÃO DO ETHOS DO ESPANHOL PENINSULAR EM FILMES DE ALMODÓVAR: IMAGENS DA MULHER ATRAVÉS DE PEDIDOS LUZIA DE CASSIA ALMEIDA PASSOS DA SILVA Rio de janeiro 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

MESTRADO EM LETRAS NEOLATINAS

A REPRESENTAÇÃO DO ETHOS DO ESPANHOL PENINSULAR EM FILMES DE

ALMODÓVAR: IMAGENS DA MULHER ATRAVÉS DE PEDIDOS

LUZIA DE CASSIA ALMEIDA PASSOS DA SILVA

Rio de janeiro

2011

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A REPRESENTAÇÃO DO ETHOS DO ESPANHOL PENINSULAR EM FILMES DE

ALMODÓVAR: IMAGENS DA MULHER ATRAVÉS DE PEDIDOS

Por

LUZIA DE CASSIA ALMEIDA PASSOS DA SILVA

Departamento de Letras Neolatinas

Dissertação de Mestrado apresentada ao

programa de pós-graduação em Letras

Neolatinas da Universidade Federal do Rio de

janeiro.

Orientador: Professora doutora Leticia Rebollo

Couto

Co-orientadora: Professora doutora Maria

Mercedes Riveiro Quintans Sebold

Faculdade de Letras, UFRJ

Rio de Janeiro

Julho/2011

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A REPRESENTAÇÃO DO ETHOS DO ESPANHOL PENINSULAR EM FILMES DE

ALMODÓVAR: IMAGENS DA MULHER ATRAVÉS DE PEDIDOS.

Luzia de Cassia Almeida Passos da Silva

Orientadora: Leticia Rebollo Couto

Co-orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos mínimos para a

obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, opção:

Língua Espanhola)

Aprovada por:

______________________________________________________________________

Presidente, Profª. Doutora Leticia Rebollo Couto

_____________________________________________________________________

Profº. Doutor Paulo Antônio Pinheiro Correa – UFF

_____________________________________________________________________

Profª. Doutora Maria do Carmo Leite de Oliveira – PUC-RJ

_____________________________________________________________________

Profª. Doutora Maria Zulma Moriondo Kulikowski – USP

Suplente

_____________________________________________________________________

Profª. Doutora Célia Regina dos Santos Lopes – UFRJ

Suplente

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Silva, Luzia de Cassia Almeida Passos.

A representação do ethos do espanhol peninsular em filmes de almodóvar:

imagens da mulher através de pedidos/ Luzia de Cassia Almeida Passsos da Silva –

Rio de Janeiro: UFRJ/FL, 2011.

144f.: 31 cm.

Orientadora: Leticia Rebollo Couto.

Co-orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

Dissertação (mestrado) – UFRJ/ FL/ Programa de Pós-Graduação em Letras

Neolatinas (Língua Espanhola), 2011.

Referências Bibliográficas: f. 120-126.

1. Pedidos. 2. Ethos. I. Couto, Leticia Rebollo. II. Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas. III.

Título.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me dado força e determinação para a conclusão deste trabalho;

A meu marido, Aime Júnior pela compreensão e pelo compaheirismo de sempre;

A minha família, que sempre esteve ao meu lado;

À professora doutora, Letícia Rebollo Couto pela orientação e pela confiança;

À professora doutora, Maria Mercedes Sebold pelo incentivo, pela força e pelas

sugestões que muito me ajudaram;

À professora doutora da PUC, Maria do Carmo Leite Oliveira pelas aulas brilhantes e

pelas dicas valiosas;

Aos meus amigos, que me apoiaram e não me deixaram desistir;

À UFRJ, que é a base da minha vida acadêmica.

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RESUMO

A REPRESENTAÇÃO DO ETHOS DO ESPANHOL PENINSULAR EM FILMES DE

ALMODÓVAR: IMAGENS DA MULHER ATRAVÉS DE PEDIDOS.

Luzia de Cassia Almeida Passos da Silva

Orientadora: Leticia Rebollo Couto

Co-orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras

Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos

mínimos para a obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos

Neolatinos, opção: Língua Espanhola)

Este trabalho tem como objetivo analisar as formulações de pedidos nas sequências

conversacionais das três personagens principais dos filmes: “Mujeres al borde de un ataque de

nervios” (1988), “Tacones lejanos” (1991) e “Volver” (2006). A partir das definições e

categorias propostas por Kerbrat-Orecchioni (2005, 2006), Bravo e Briz (2004), verificamos

como as escolhas por tipos de formulações de pedidos (imperativo, presente do indicativo,

enunciados interrogativos, frases nominais, futuro, condicional, presente do subjuntivo e

pretérito perfeito e imperfeito) ou por estratégias de atenuação ou intensificação (formas de

tratamento nominais, marcadores conversacionais, justificativas, modalizadores adverbiais e

microatos de fala) desses atos de fala são influenciadas por variáveis extralinguísticas como o

gênero (masculino e feminino), as relações funcionais (pessoais e transacionais) dos

interlocutores ou os tipos de pedidos, procurando encontrar pistas sobre o perfil comunicativo

feminino do espanhol peninsular representado nas três personagens. Observou-se que houve

uma frequência maior de formulações de pedidos diretos e sem estratégias de atenuação ou

intensificação, observou-se também que os pedidos atenuados ocorreram nos pedidos de ação

quando estes apresentam um alto custo para o interlocutor e nos pedidos de mudança de

comportamento, principalmente quando direcionados a mulheres, e nos pedidos intensificados

verificamos que os pedidos de ação e de mudança de comportamento também foram

intensificados, principalmente em relações pessoais de mais poder para menos poder (relações

assimétricas). Pode-se concluir que a sociedade espanhola peninsular tem uma tolerância pela

diretividade dos pedidos o que pode sugerir que seja uma sociedade voltada para o ethos de

confiança, e a atenuação ocorre para minimizar a força ilocutiva do ato quando este tem

grande possibilidade de rejeição e a intensificação ocorre para reforçar a imagem de

autonomia, principalmente nas relações assimétricas.

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RESUMEN

A REPRESENTAÇÃO DO ETHOS DO ESPANHOL PENINSULAR EM FILMES DE

ALMODÓVAR: IMAGENS DA MULHER ATRAVÉS DE PEDIDOS.

Luzia de Cassia Almeida Passos da Silva

Orientadora: Leticia Rebollo Couto

Co-orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

Resumen da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras

Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos

mínimos para a obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos

Neolatinos, opção: Língua Espanhola)

Este trabajo tiene como objetivo analizar las formulaciones de las peticiones en

secuencias conversacionales de los tres personajes de las películas: “Mujeres al borde de un

ataque de nervios” (1988), “Tacones lejanos” (1991) e “Volver” (2006). A partir de las

definiciones y categorías propuestas por Kerbrat-Orecchioni (2005-2006), Bravo y Briz

(2004), verificamos como las elecciones por tipos de formulaciones de peticiones (imperativo,

presente de indicativo, enunciados interrogativos, frases nominales, futuro, condicional,

presente de subjuntivo y pretérito perfecto y imperfecto) o por estratégias de atenuación o

intensificación (formas de tratamento nominales, marcadores conversacionales, justificativas,

modalizadores adverbiales y microactos de habla) de esos actos de habla se influencian por

variables extralinguísticas como el género (masculino y femenino), las relaciones funcionales

(personales y transacionales) de los interlocutores o los tipos de peticiones, buscando

encontrar rasgos sobre el perfil comunicativo femenino del español peninsular representado

en los tres personajes. Se observó que las formulaciones de peticiones directas y sin recursos

atenuadores o intensificadores fueron más frecuentes, se observó además que las peticiones

atenuadas ocurrieron en las peticiones de acción cuando estas apresentan un alto costo para el

interlocutor y en las peticiones de cambio de comportamiento, principalmente cuando

direccionadas a mujeres, y en las peticiones intensificadas verificamos que las peticiones de

acción y de cambio de comportamiento también se intensificaron, principalmente en

relaciones personales de más poder para menos poder (relaciones asimétricas). Se concluye

que en la sociedad española peninsular hay una tolerancia por la directividad de las peticiones

lo que la sugiere un ethos de confianza, y la atenuación ocurre para minimizar la fuerza

ilocutiva del acto cuando este apresenta gran posibilidad de rechazo y la intensificación ocurre

para reforzar la imagen de autonomía, principalmente en las relaciones asimétricas.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

1. POLIDEZ, PEDIDOS E ETHOS: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 Pedidos ...............................................................................................................................13

1.1.1 Os Atos de Fala: a questão da indiretividade ............................................................. 14

1.1.2 Atos de fala diretivos e Polidez ................................................................................... 22

1.1.3 Atenuação: construção da imagem polida ................................................................. 30

1.1.4 Intensificação: reforço da imagem de autonomia ..................................................... 34

1.2 Ethos do espanhol peninsular ............................................................................................. 38

1.2.1 O Ethos na sociedade espanhola peninsular ................................................................ 40

1.2.2 Ethos da mulher espanhola nos filmes de Almódovar ...............................................43

2. SEQUÊNCIAS CONVERSACIONAIS E DIÁLOGOS DRAMÁTICOS NO CINEMA:

METODOLOGIA

2.1 Considerações sobre o texto dramático e o discurso cinematográfico ............................ 55

2.2 Estratégias linguísticas de atenuação e intensificação ................................................... 59

3. AS FORMULAÇÕES DE PEDIDOS

3.1 Imperativo ....................................................................................................................... 65

3.2 Presente do indicativo ..................................................................................................... 81

3.3 Enunciados interrogativos ............................................................................................... 93

3.4 Frases nominais ............................................................................................................. 102

3.5 Outras formas verbais

3.5.1 Condicional, presente do subjuntivo e futuro simples e composto ............................ 110

3.5.2 Pretérito perfeito e imperfeito .................................................................................... 114

CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 117

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANEXOS

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INTRODUÇÃO

Esta dissertação tem como objetivo analisar as formulações de pedidos verificando

como as escolhas por tipos de formulações ou por diferentes estratégias linguísticas de

atenuação ou intensificação desses atos de fala são influenciadas por variáveis

extralinguísticas como o gênero (masculino e feminino), as relações funcionais (pessoais e

transacionais) dos interlocutores ou tipos de pedidos (pedidos de informação, pedidos de ação,

pedido de objeto e pedido de mudança de comportamento).

Segundo Kerbrat-Orecchioni (1994) as práticas discursivas resultam da interação entre

indivíduos, que é construída dialogicamente e é marcada subjetivamente seguindo formas e

graus variáveis. Por isso, quando escolhemos uma estratégia para formular um ato de fala, por

exemplo, não o fazemos aleatoriamente, pois a partir de nossas escolhas linguísticas podemos

dizer quem somos, sendo assim, a imagem que o locutor faz de si no discurso revela certa

identidade a partir das marcas de subjetividade. No entanto, há hábitos locucionais

influenciados por normas sociais partilhadas por membros de uma sociedade que para a autora

podem delinear um perfil comunicativo – ou ethos –dessa sociedade.

A construção do perfil comunicativo de uma sociedade pode ser determinada a partir

de formulações e estratégias de atos de fala?

Kerbrat-Orecchioni (1994) estabelece que os componentes do ethos podem ser

caracterizados na concepção das relações interpessoais como ethos de proximidade vs ethos

de distância, ethos de igualdade vs ethos de hierarquia e ethos de conflito vs ethos consensual.

A nossa hipótese é que a análise dos atos de pedidos e seus contextos de interação podem dar-

nos pistas do perfil comunicativo, isto é, do ethos feminino espanhol, que já foi descrito por

alguns estudiosos como Haverkate (2002), Hernández Flores (2002) e Bravo (2005) como

ethos de confiança, podendo haver uma tendência maior a formulações de pedidos, já que esse

tipo de ato tende a caracterizar as relações com maior aproximação interpessoal. Uma

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sociedade que valoriza a formulação de pedidos pode estar relacionada à construção de uma

imagem de afiliação e a um ethos de confiança, o que pode corroborar a tolerância da

sociedade espanhola peninsular pelo uso da diretividade nos pedidos. Faremos um repertório

de todas as formulações de pedidos nas sequências conversacionais das personagens

analisadas, verificando a frequência e a utilização de recursos estratégicos para atenuação ou

intensificação desses atos e a variação dessas formulações e estratégias em função das

relações interpessoais e tipos de pedidos.

Optou-se por fazer o estudo dos pedidos, por serem atos de fala que só trazem

benefícios a quem “manda” executar a ação, portanto trata-se de um ato que poderia ser

considerado potencialmente invasivo do território do outro. Sendo assim, os falantes

precisam ter mais cuidado ao selecionar uma formulação pragmaticamente apropriada para

alcançar seu objetivo.

As relações interpessoais influenciam nas escolhas das formulações de pedidos e

estratégias de atenuação e intensificação desses atos de fala?

Este trabalho poderá nos dar pistas de como a sociedade espanhola peninsular formula

os atos de pedidos de acordo com as diferentes relações interpessoais. Trata-se de um estudo

baseado em dados obtidos através das transcrições de sequências conversacionais de três

personagens dos filmes de Pedro Almódovar: “Mujeres al borde de un ataque de nervios”

(1988), “Tacones lejanos” (1991) e “Volver” (2006). Repertoriaremos as formulações de

pedidos das três personagens principais (Pepa, Rebeca e Raimunda), destacando as estratégias

mais frequentes nas sequências conversacionais ficcionais dessas três personagens,

verificando se as diferentes relações interpessoais de gênero (masculino e feminino) e

funcionais (pessoais e transacionais), e os tipos de pedidos (pedidos de ação, pedidos de

objeto e pedidos de mudança de comportamento) favorecem tais escolhas.

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Briz (2005) afirma que a atenuação é uma operação linguística de minimização do que

é dito e do ponto de vista e a intensificação reforça a verdade do que é expresso e para fazer

valer sua intenção de fala. A nossa hipótese, em relação às estratégias de atenuação e

intensificação, é que a atenuação ocorra para minimizar a força ilocutiva do pedido que tenha

um alto custo para o interlocutor, e a intensificação apareça para intensificar a força ilocutiva

do pedido, principalmente em relações de + poder para – poder, o que reforça a imagem de

autonomia do falante.

Esse trabalho tem como base duas perspectivas pragmáticas: pragmalinguística e

sociopragmática. A pragmalinguística se refere às estruturas linguísticas específicas que as

diferentes línguas utilizam na realização de um ato de fala determinado, nesse caso os

pedidos. Foi realizado um levantamento das formulações e das estratégias encontradas nas

diversas sequências conversacionais das personagens. A sociopragmática trata das regras

culturais que governam a eleição dessas formulações e estratégias de acordo com as relações

interpessoais. Dessa forma, pode-se afirmar que os falantes poderão adotar estratégias

linguísticas (atenuação e intensificação) coerentes com a relação interpessoal (mais próxima

ou distante, mais “à vontade” ou respeitosa com o território alheio etc) a fim de conseguir

uma eficácia pragmática (Briz, 2005).

A escolha por representações conversacionais cinematográficas como contexto para

análise da pesquisa deve-se ao fato de que tal atividade de fala, embora ficcional, representa

uma prática social cotidiana de comunicação, dialógica, emocional, com finalidade

interpessoal e que reconhece uma espontaneidade, o que possibilita analisar o comportamento

lingüístico de falantes de uma determinada cultura e a construção da imagem de uma

sociedade, como afirmam alguns autores como Quaglio (2010), Richardson (2010) e Metz

(2010).

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Segundo Maingueneau (1996) no texto dramático acontecem várias encenações de

atos de fala, de contratos de comunicação também determinados por componentes

psicossociocomunicacionais, porém ficcionais, o que ele chama de encenações fingidas.

Os seres que se encarregam de materializar o discurso dramático assumem posições

simbólicas de sujeitos comunicantes que acionam sujeitos enunciadores para atingir sujeitos

interpretantes, que construirão o ethos do sujeito comunicante a partir da voz que foi criada

em seu discurso (Maingueneau, 1996).

A escolha pela transcrição das sequências conversacionais das personagens Pepa,

Rebeca e Raimunda nos respectivos filmes “Mujeres al borde de un ataque de nervios”

(1988), “Tacones lejanos” (1991) e “Volver” (2006) como corpus para análise ocorreu porque

ainda que tais sequências conversacionais sejam consideradas ficccionais, há a recriação da

língua falada e a presença de uma representação da linguagem coloquial. Um filme ainda que

seja previamente escrito apresenta estruturas lingüísticas e discursivas próprias da interação

verbal cotidiana, sendo assim há fortes indícios de alocução como o uso de atos de fala que

Searle (1969) define como unidades básicas conversacionais.

A escolha por essas personagens específicas é porque elas assim como todas as

mulheres almodovarianas são mulheres emblemáticas, que representam a liberdade adquirida

pelos movimentos feministas, têm sua liberdade sexual, são independentes, mães solteiras, e

mesclam vários estereótipos que as tornam mulheres com personalidades complexas e que

representam um paradoxo, pois não são boas e não são más, sofrem, mas também são felizes.

Esta dissertação poderá contribuir para posteriores pesquisas sobre estudos da

linguagem e pragmática intercultural, e poderá contribuir também tanto para os profissionais

de língua espanhola formados ou em formação, porque ao ensinar, aprender ou traduzir uma

língua é importante deter-se no uso pragmático da linguagem e suas variações culturais.

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A seguir será apresentada a forma como está estruturada esta dissertação. O capítulo 1

se estrutura na fundamentação teórica da pesquisa, em que há um esboço dos conceitos

básicos sobre os atos de fala e a teoria da polidez, diálogo com alguns conceitos acerca dos

pedidos, apresentação do contexto conversacional preferido para análise e considerações

sobre ethos. O capítulo 2 é dedicado à exposição da metodologia de pesquisa, que consiste na

descrição do método de análise da pesquisa. O capítulo 3 é destinado à análise dos dados de

pesquisa. E para finalizar, a última sessão da conclusão está reservada para sintetizar

resultados e confirmar hipóteses.

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1. POLIDEZ, PEDIDOS E ETHOS: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 PEDIDOS

Considerando a classificação de Searle (1984), os pedidos pertencem à categoria de

atos de fala diretivos, nos quais se tenta fazer outrem fazer coisas. Os pedidos são atos de fala

em que o falante usa alguém para fazer algo que ele deseja (Yule, 1995: 54).1 Quando o

locutor realiza um pedido, ele espera que seu interlocutor o realize, tanto que se o ouvinte se

opõe a executar o que foi pedido poderá haver um “mal estar” na interação, portanto o sucesso

da ação dependerá de diversos fatores e não somente da simples produção de um enunciado

com uma intenção específica. Ao proferir um pedido, o falante poderá estar invadindo o

território do outro e suprimindo sua liberdade de ação, pois o outro se vê com a

responsabilidade de executar determinada ação, sendo assim o pedido é um potencial ato de

invasão de território. No entanto, segundo Blum-Kulka (1989) a classificação de Searle não é

aceita universalmente. Alguns autores criticaram os princípios desta classificação, enquanto

outros criticaram a afirmação mesma de que os atos de fala operam de acordo com princípios

pragmáticos universais, demonstrando em que medida os atos de fala variam entre diferentes

culturas e línguas.

Optamos por fazer o estudo desse ato de fala, para verificarmos quais estratégias para

sua formulação são utilizadas já que se trata de um ato de fala potencialmente invasivo ao

território do outro, e a partir disso obtermos pistas sobre o perfil comunicativo da sociedade

espanhola.

1 Requests are those kinds of speech acts that speakers use to get someone else to do something.

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1.1.1 Os atos de fala: a questão da indiretividade

Os atos de fala podem ser definidos como o próprio nome sugere como a ação do

falar, isto é, o fazer pelo simples fato de dizer. Os pedidos são atos de fala cujas formulações e

emprego dependem das relações sociais que estarão de acordo com as normas socioculturais

de uma sociedade, o que permite analisar situações representativas do funcionamento

sociopragmático dessa determinada sociedade. Apesar de autores mais modernos

denominarem “atos do discurso” ou “atos de linguagem”, definiremos nosso objeto de estudo

como “atos de fala” pertencente a corrente da filosofia da linguagem de Austin e Searle

(1984).

O filósofo da linguagem Austin lançou sua teoria sobre os atos de fala em que dá a um

ato um valor que determina seu significado. Embora essa teoria pareça sofrer influências dos

jogos de linguagem de Wittgenstein, cuja tese central é: “descrever o sentido de um

enunciado, é descrever o ato que eles permitem realizar” (Kerbrat-Orecchioni, 2005: 19),

Levinson (2007) diz que Austin pareceu ter desconhecido esse trabalho, podendo tratar a sua

teoria como autônoma.

Na teoria austiniana, encontra-se o questionamento à visão de linguagem que colocava

as condições de verdade ou falsidade como centrais para a compreensão da linguagem

(Levinson, 2007: 289). Dessa maneira Austin desarticula a questão do verdadeiro e do falso

atribuída aos enunciados chamados pelo filósofo de constativos, que descrevem, constatam

um certo tipo de ação que executada ou não no momento da enunciação da frase será julgada

como falsa ou verdadeira (como no exemplo: Eu abro a porta).

O grande marco da teoria de Austin foi a descoberta dos atos performativos, que

executam uma ação pelo simples ato da enunciação da frase, ou seja, dizer é fazer (Kerbrat-

Orecchioni, 2005: 20).

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Exemplo: Eu prometo vir

O falante pode não cumprir com o que ele promete, mas a partir do momento em que o

enunciado é formulado há a realização efetiva de um ato de fala, nesse caso o ato de prometer.

O enunciado não pode ser considerado falso ou verdadeiro, já que ele promete efetivamente,

mas pode ser considerado sincero ou insincero (feliz ou infeliz, terminologias usadas por

Austin) se o falante tiver a intenção de não cumprir. Com base nisso, Austin produziu uma

tipologia das condições que as sentenças perfomativas devem cumprir para serem “felizes” ou

“infelizes”, as quais ele chamou de “condições de felicidade”. As três principais categorias

das condições apropriadas para o êxito dos perfomativos são (apud Levinson, 2007: 291):

A. 1 Deve existir um procedimento convencional com um efeito convencional.

2 As circunstâncias e pessoas precisam ser apropriadas, conforme especificado no

procedimento.

B. 1 O procedimento precisa ser executado corretamente.

2 O procedimento precisa ser executado completamente.

C. 1 As pessoas precisam ter os pensamentos, sentimentos e intenções exigidos - como

especificado no procedimento.

2 Havendo condutas consequentes especificadas, elas devem ser requeridas pelas

partes.

Quando algumas dessas condições não são cumpridas, ocorrem, segundo o filósofo,

falhas (as ações pretendidas simplesmente deixam de dar certo) ou abusos (as ações são

executadas por completo, mas sem felicidade ou sinceridade).

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A teoria de Austin não se manteve linear, o que começa com o estudo das enunciações

perfomativas, termina com uma teoria geral que diz respeito a todos os tipos de enunciações

(Levinson, 2007: 293). Austin se deu conta que assim como se pode dizer “Eu lhe ordeno que

feche a porta” para realizar o ato de ordenar, pode-se também dizer “Feche a porta” para se ter

o mesmo ato, portanto, ele reconhece que todos os enunciados, inclusive os constativos, vêm

a ser considerados como dotados de uma força ilocutória (Kerbrat-Orecchioni, 2005). Desse

modo, a dicotomia entre perfomativos e constativos dá lugar a uma teoria geral dos atos de

fala, que mais tarde foi aprofundada por seu sucessor, Searle.

Austin caracteriza três tipos de atos:

a) Ato locutório: é o que se realiza pelo simples fato de dizer algo, isto é, produção de

uma expressão lingüística com significado;

b) Ato ilocutiva: é o que se realiza ao dizer algo (ordem, promessa, conselho etc);

c) Ato perlocutório: é o que causa efeito no destinatário por meio da enunciação.

A partir da elaboração de um ato ilocutório, espera-se um ato perlocutório, que muitas

vezes pode contrariar a expectativa do locutor. O enunciado “Você não pode fazer isso” pode

se transformar em atos ilocutórios de conselho, protesto etc e produzir um efeito perlocutório

que nem sempre é o esperado (deter a ação do destinatário, irritá-lo etc) (Levinson, 2007).

Austin e Searle afirmam que todos os enunciados além de significar o que quer que

signifiquem, executam ações específicas por terem forças específicas (Levinson, 2007: 299).

Searle chama essa força de ilocutiva. Segundo ele, para que um enunciado constitua uma

força ilocutória de um ato específico é necessário seguir algumas condições de adequação dos

atos na comunicação:

i) Condições de conteúdo proposicional: referem-se às características significativas da

proposição empregada para levar a cabo o ato de fala. Portanto, para que haja um pedido,

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deve haver algum comando direto ou indireto que leve o destinatário a realizar o que lhe foi

solicitado.

ii) Condições preparatórias: são preparatórias todas aquelas condições que devem

existir para que haja sentido no ato ilocutivo. Nos pedidos, há de se considerar que o que está

sendo solicitado é possível de se realizar e/ou que o ouvinte tenha condições físicas ou

psicológicas de executar a ação. Um falante ao pedir a seu ouvinte que feche a porta, é

necessário que a porta esteja aberta e que o ouvinte esteja com suas mãos livres para levar a

cabo a ação.

iii) Condições de sinceridade: estas condições se centram no que o falante sente ou

deve sentir ao realizar o ato ilocutivo. Para realizar um pedido, o falante deve realmente

desejar que seu ouvinte realize algo.

iv) Condições essenciais: são aquelas que caracterizam tipologicamente o ato

realizado. Para que um ato seja considerado um pedido, deve levar o ouvinte a realizar a ação

proposta por seu emissor.

Searle (1984) propõe cinco tipos básicos de ação que alguém pode executar ao falar,

ou seja, atos ilocutórios:

• Assertivos: Dizer a outrem como são as coisas;

• Diretivos: Tentar mandar outrem fazer coisas;

• Promissivos: Comprometer-se a fazer coisas;

• Expressivos: Expressar sentimentos e atitudes;

• Declarações: Provocar mudanças no mundo através de enunciações.

Kerbrat-Orecchioni (2005) afirma que um mesmo ato de fala pode se realizar de

diferentes maneiras, mas também, uma mesma estrutura linguística pode expressar valores

ilocutórios diferentes, segundo a autora, para identificar a força ilocutória de um ato, é preciso

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que intervenham simultaneamente diferentes fatores na interpretação dos enunciados, fatores

linguísticos e paralinguísticos, mas também fatores contextuais. Um mesmo ato de fala, como

os pedidos, pode ser realizado de forma direta ou indireta.

Há diversas incertezas no que convém admitir ser uma formulação direta de um

determinado ato de fala (Kerbrat-Orecchioni, 2005: 52). Austin (1975) considera como atos

de fala diretos os performativos explícitos, que denominam o ato realizado ao mesmo tempo

em que o realizam: “Ordeno que você saia”, esse enunciado deixa explícito que se trata de

uma ordem, e os casos das formas de frase (afirmativa, interrogativa, imperativa etc): “Parta”,

forma imperativa que marca a ordem. Mas, Kerbrat-Orecchioni (2005) questiona a

convencionalização da diretividade desses atos, pois considera o uso dos performativos

restrito, já que não há formulações específicas para todos os atos de fala e também considera

que as formas de frase podem ser polissêmicas e dependendo do contexto em que são

formuladas podem adquirir uma outra força ilocucionária. A autora ainda acrescenta outras

formas de enunciação direta à fórmula performativa e à forma de imperativa, no caso da

ordem, como nos exemplos abaixo dados por ela:

• Infinitivo prescritivo: “apagar a luz ao sair da sala”;

• Fórmulas elípticas: “Dois chopes na pressão”;

• Certas formas declarativas: “Quero que você feche a porta”, “Você deve ir embora”

etc.

A diretividade na enunciação embora possa demonstrar um alto grau de imposição e

de impolidez, está adequada em determinados contextos.

Nesse trabalho, será considerado como direto todo ato que apresente em sua forma a

força ilocucionária específica e como indireto todo ato que apresente uma força ilocucionária

sob aparência de outro ato.

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Sendo assim, podemos considerar como pedidos mais diretos, os formulados com as

seguintes categorias pragmalinguísticas como: imperativos e presentes do indicativo ou

subjuntivo.

(01) Pepa – Candela: “Candela/ tráeme algo de beber.”

(02) Pepa – Carlos: “Y de paso arreglas el teléfono.”

(03) Pepa – Iván: “Es urgente que hablemos de ello antes de irte de viaje.”

Já em relação ao ato de fala indireto, o consideraremos como o ato de linguagem que

possui um significado ambíguo no contexto e que é diferente de seu significado literal (Brown

e Levinson, 1987: 137), mas que só pode ser compreendido como um ato específico se estiver

contextualizado dentro do processo interativo.

Como observou Searle (1984), há diferentes tipos de realizações de atos de fala

indiretos, sendo assim convém mencionar os seguintes:

a) Atos indiretos convencionais: no enunciado “Você pode me passar o sal?”, os

interactantes já têm internalizado que se trata de um pedido, tanto que se a pergunta for

interpretada como tal pode-se considerar que o destinatário é um provocador ou que

não domina as regras da língua.

b) Atos indiretos não convencionais: já no enunciado “Está com pouco sal”, o

destinatário pode entender o enunciado como uma asserção (“para mim, está bom

assim”), sem ser acusado de trair a língua (poderia eventualmente levantar suspeita de

agir de má fé ao interpretar ao pé da letra o enunciado que lhe é endereçado). Nesse

caso o valor de solicitação aqui é não convencional.

Sendo assim, no ato de fala indireto convencional do exemplo citado em (a) há o

apagamento do conteúdo literal (pergunta) em proveito do conteúdo derivado (pedido) que se

torna prioritário, já no ato de fala indireto não convencional do exemplo citado em (b), o

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conteúdo derivado (pedido) não substitui totalmente o valor literal (constatação), mas sim se

acrescenta a ele sob a forma de uma derivação alusiva (Kerbrat-Orecchion, 2005: 56).

Para Kerbrat-Orecchioni (2005) essa noção de indiretividade pode variar de uma

cultura para outra. E a interpretação do ouvinte sobre o que o falante deseja comunicar em

muitas das vezes só poderá ser validada quando conjugada ao contexto que é reinterpretado na

conversa, sendo construído social e interacionalmente.

Portanto, para entender que o enunciado acima mencionado: “Você pode me passar o

sal?” não é uma pergunta, mas sim um pedido, o destinatário vai levar em consideração toda a

situação comunicativa para perceber que o valor de pergunta não é pertinente e dessa maneira

entender a verdadeira intenção de seu interlocutor.

Essa canalização de interpretação se realiza por implicaturas conversacionais2

conceitualizadas por Grice (1989) baseadas em expectativas convencionalizadas que os

falantes usam para sinalizar suas intenções comunicativas e os ouvintes usam para inferir as

intenções conversacionais de seu interlocutor. Tais traços são denominados “pistas de

contextualização” que podem ser quaisquer traços de formas linguísticas, paralinguísticas ou

prosódicas que contribuem para assinalar as pressuposições contextuais (Gumperz apud

Telles Ribeiro, 1998).

Quais são as estratégias de indiretividade e seus fatores condicionantes nas

formulações de pedidos feitos por mulheres espanholas contemporâneas em filmes de

Almodóvar? Em nosso corpus consideraremos pedidos com tom indireto as categorias

pragmalinguísticas: frases nominais (exemplo 04), condicional (exemplo 05), enunciados

interrogativos e marcadores conversacionais (exemplo 06), pois essas categorias podem

modificar o pedido internamente ou externamente deixando-o menos coercitivo ou com

menos força ilocutiva, como descrito por Marquez Reiter (2002), a força ilocutiva do ato está

2 Interpretações dos significados das expressões e não dependem do significado convencional das palavras

emitidas, são analisadas a partir de princípios que regulam a conversação.

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implícita na enunciação do ato e o ouvinte a interpreta como pedido devido ao que já está

convencionalizado em sua língua.

(04) Pepa – taxista: “Castellana 31.”

(05) Raimunda – Sole: “Es que Paco viene esta noche a casa, quiere que hablemos, me gustaría estar

sola”

(06) Rebeca – Juiz: “Oiga ¿me da un cigarillo?”

Observam-se acima exemplos de pedidos indiretos. No exemplo 04 a formulação de

um pedido ritualizado em prestações de serviço em que há a omissão da forma verbal e há a

referência somente ao objeto que se deseja, no exemplo 05 a formulação do pedido está

centrada no desejo do falante e espera-se que ouvinte entenda esse desejo e o realize, no

exemplo 06 o pedido de objeto está na pergunta que dá ao ouvinte a liberdade para realizar ou

não. Para Searle (1984), a maior motivação para a existência das formas indiretas

convencionais para formular pedidos é a polidez.

1.1.2 Atos de fala diretivos e polidez

Uma das perguntas de nossa pesquisa é saber se as diferentes relações interpessoais

influenciam nas formulações dos pedidos. Para entender melhor esse assunto, teremos que

nos ater à teoria da polidez, que é um ramo da pragmática que busca descrever o

funcionamento dos atos de fala que estão relacionados a papéis sociais. As teorias fundadoras

da polidez surgem do princípio de cooperação de Grice (1989), que é um conjunto de

suposições mais amplas que guiam a conduta conversacional (Levinson, 2007), a partir de

então surgiram diversas teorias acerca da polidez, mas para Bravo (2004) sem dúvida a teoria

da polidez que maior influência exerceu nos estudos da área foi a apresentada por Brown e

Levinson em 1978. Esses autores propuseram uma teoria segundo a qual todo indivíduo tem

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duas faces (imagem social), uma imagem positiva e uma imagem negativa3. Os pedidos são

atos que ameaçam tanto a imagem negativa do receptor quanto a imagem positiva do emissor

nas sequências conversacionais, objeto de estudo deste trabalho. Para evitar ou minimizar tais

ameaças, os autores sugerem algumas estratégias, como a estratégia de polidez, que aparece

como um meio de conciliar o desejo mútuo de preservação das faces (Kerbrat-Orecchioni,

2005: 87). Brown e Levinson (1987) afirmam que essas estratégias podem ser utilizadas a

partir de representações linguísticas do tipo: indiretividade convencional, suavização da força

ilocucionária, ênfase no poder relativo do ouvinte etc.

No entanto, o que se deve considerar quando se fala em estratégias de polidez nos

pedidos é a avaliação do contexto no qual esses atos estão sendo empregados, pois um tipo de

estratégia pode não surtir efeito se for elaborada em contextos diferentes.

Nesse estudo, a polidez é vista como forma de “salvar a imagem”, imagem esta que é

baseada no conceito de face de Goffman (1967). Este conceitua face como uma imagem de si

próprio delineada em termos de atributos sociais aprovados (p. 306). Segundo o autor,

proteger a face é uma condição da troca comunicativa, em que o falante tem que salvar sua

própria imagem e proteger a de seu interlocutor, para evitar consequências desagradáveis na

interação, obtendo uma harmonia interpessoal.

Brown e Levinson tomam esta idéia de face, mas fazem prevalecer a figura do

indivíduo frente a do grupo social e o papel social do ouvinte frente a do falante (Bravo,

2004). Os autores consideram que a interação é uma troca entre agentes humanos e racionais,

isto é, cada indivíduo possui um modo de racionalização que lhe faz escolher os meios

adequados para atingir o que deseja.

3 Ver definição na pág. 27

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Segundo Brown e Levinson (1987), todo indivíduo possui duas faces: Face Negativa e

Face Positiva. Entende-se por face negativa o desejo de ter liberdade de ação e face positiva

o desejo de ter a imagem apreciada. Durante uma interação os falantes têm o desejo de

preservar ou construir uma face, e essa face é construída através de ações em relação ao outro,

no entanto esse desejo de face é frequentemente contrariado, já que segundo os autores a

maior parte dos atos de fala elaborados pelos falantes são potencialmente “ameaçadores de

face” conhecidos como FTAs (Face Threatening Acts, ou atos ameaçadores da face), sendo

assim, serão necessárias estratégias para minimizar o grau de ameaça desses atos, estratégias

estas que Brown e Levinson chamam de polidez. As estratégias de polidez surgem como

forma de resguardar a imagem pública e são caracterizadas como: polidez negativa, que

consiste em evitar a produção de um FTA ou em suavizar sua realização, buscando não

limitar a liberdade de ação do interlocutor e a polidez positiva, que consiste em atender os

desejos de face positiva do outro, buscando proteger a imagem do interlocutor.

Do ponto de vista dos autores, o nível de polidez que se emprega depende dos seguintes

fatores:

a) Distância social: grau de familiaridade entre os participantes. Eixo horizontal.

b) Poder: relação de poder entre os participantes. Eixo vertical.

c) Grau de imposição: teor de ameaça à imagem pública.

Apesar de todas as suas vantagens e contribuições aos estudos da linguagem, esta teoria

foi muito questionada, principalmente no que se diz respeito à universalidade. Blum-kulka

(1989) diz que os desejos de face não são universais, mas sim determinados culturalmente.

Arndt e Janney (1985) afirmam que a polidez não está ligada às variáveis sociais, mas às

emoções humanas. Já Kerbrat-Orecchioni (2005) diz que a polidez serve para fortalecer as

relações sociais e não somente para suavizar a ameaça à face como defendiam Brown e

Levinson (1987), dessa forma a autora francesa estabelece os atos valorizadores da face,

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conhecidos como FFAs (Face Flattering Acts, ou atos bajuladores da face) frente aos atos

ameaçadores de face, os FTAs. Sendo assim, todo ato de fala pode ser descrito como um

FTA ou um FFA. Segundo Bravo (2004), esta distinção parece ser útil para a descrição das

particularidades da polidez do espanhol peninsular, já que atos conhecidos como ameaçadores

podem aparecer como “valorizadores da imagem” nessa cultura. Para a autora, é de extrema

relevância o fator sociocultural para o estudo da cortesia:

“Em um corpus de fala natural, o tema, os papéis

sociais, a experiência anterior e o modo no qual os

participantes mesmos definem a situação comunicativa,

influenciam a interpretação dos „efeitos de cortesia‟. No

entanto, esta consideração não somente não exclui a

influência de fatores socioculturais, mas também que

são este tipo de considerações as que fazem

compreensível a interpretação de se determinados

comportamentos, são ou não, percebidos como

„corteses‟ „justamente nessa‟ situação comunicativa”.

(Bravo, 2004: 27)

Nesta dissertação, verificaremos se as diferentes situações extralinguísticas em que os

interlocutores estejam inseridos, como as diferenças de gêneros (masculinos e femininos) e as

diferentes relações funcionais (pessoais e transacionais) influenciam nas formulações de

pedidos considerados mais polidos ou menos polidos.

A partir de tais afirmações, não há como descartar a contextualização nas sequências

conversacionais. E, por isso, vamos traçar algumas considerações sobre este tema.

A noção de situação comunicativa ou contexto é vista nas teorias de Searle (1984) e de

Grice (1989) como um “conhecimento de mundo idealizado”, limitando-se ao conceito de

intencionalidade (coloca a intenção do falante como o critério definitivo do significado) e ao

fato de que o ouvinte é um indivíduo também idealizado, que existe como um ser passivo e

não como um participante com a possibilidade de guiar a interação (Martins, 2002). Já nos

estudos interacionistas, a visão de contexto é mais ampla, considerando-o não só como

“conhecimento de mundo” mas também como “situação”, ou seja, os fatores sócio-culturais

são efetivamente incorporados e o ouvinte passa a ter junto com o falante um papel primordial

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e ativo, sendo assim, o contexto é uma forma de práxis interacionalmente constituída

(Martins, 2002: 5).

De acordo com a teoria sócio-interacionista, o objeto de estudo deixa de ser as frases

descontextualizadas para dar lugar ao discurso atualizado em situações concretas de

comunicação, por isso o conceito de “enquadre”4 (Bateson, Goffman apud Martins, 2002) é

central à discussão de contexto. Goffman (1967) afirma que o significado das ações sociais é

definido em função dos enquadres, que governam e organizam os eventos sociais. Portanto,

numa interação os participantes formulam seus atos, avaliam as intenções dos falantes e

elaboram suas respostas de acordo com o enquadre. Sendo assim, o papel social que um

interlocutor desempenha no momento da interação pode determinar a maneira como ele vai

compor seu ato de fala e influenciar a reação do ouvinte, em uma determinada cultura.

Kerbrat-Orecchioni (2006) descreve contexto levando em consideração os seguintes

elementos:

• O quadro espacial: aspectos físicos do lugar onde se desenvolve a interação (loja,

restaurante, sala de aula etc) e função social e institucional (tribunal de justiça não

mais como edifício, mas como lugar de exercício da função judiciária);

• O quadro temporal: o momento da interação;

• objetivo da interação;

• os participantes: número, características individuais (idade, sexo profissão etc),

relação mútua (grau de conhecimento);

• diferentes tipos de receptores:

a) “reconhecidos”: fazem oficialmente parte do grupo conversacional.

4 Tradução do termo: “Frame” que foi introduzido por Bateson (apud Goffman, 1967) nas ciências sociais e

definido como conjunto de mensagens incluídas no mesmo e fornece instruções ao receptor sobre como entendê-

las. Posteriormente retomado por Goffman numa abordagem sociológica

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b) “espectadores”: são somente as testemunhas da troca, da qual estão, em

princípio excluídos;

• Os papéis interacionais: papel representado no momento da interação,

médico/paciente, professor/aluno etc. O conjunto de papéis interacionais define o

contrato de comunicação ao qual estão submetidos os participantes num tipo

determinado de interação, numa determinada cultura.

Sendo assim, pode-se dizer que é a partir do contexto que um falante de uma língua

atribui a uma situação interacional a qualidade de “polida”, “não polida”, ou a uma pessoa a

característica de “cordial”, “mal-educada” etc. Para Bravo (2004), uma grande parte da

comunicação interpessoal aparece estreitamente relacionada ao conhecimento dos falantes do

conjunto de conteúdos sócio-culturais que a integram. Com isso ela questiona a dualidade de

imagem social estabelecida por Brown e Levinson (1987), afirmando principalmente que a

imagem negativa não parece coincidir em todas as sociedades, justamente porque não está

configurada do mesmo modo e exemplifica com a descrição da sociedade espanhola

peninsular que prioriza a autoafirmação como forma de manter a individualidade e que é

respeitada entre os demais. Em conseqüência, Bravo (2005) estabelece dois novos conceitos

para caracterizar a imagem social: a imagem de autonomia, que é aquela a qual um integrante

de um grupo adquire um “contorno próprio”, ou seja, o indivíduo possui características

próprias que são necessariamente iguais a do grupo em que está, e imagem de afiliação, que

se plasma em comportamentos que tendem a ressaltar os aspectos que fazem uma pessoa

identificar-se com o grupo, ou seja, o indivíduo possui características que o inserem no grupo.

Se o desejo de autonomia deve ser concebido como a necessidade de liberdade de ação,

denominado por Brown e Levinson (1987), depende dos conteúdos socioculturais fixados em

determinadas sociedades ou grupos sociais.

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a) Premissas ligadas à autonomia: ver-se ou ser visto

Como um indivíduo que se autoestima, que reconhece o próprio valor, mostrando-

se capaz de exibir ou ratificar suas boas qualidades e originalidade. Esta

autoestima se relaciona com a necessidade de autoafirmação do indivíduo e faz

parte do ser social. A autoestima é merecedora do interesse, admiração e apreço,

dentro do grupo.

Como um membro competente da sociedade, não ser crítico, não ser indiferente,

não improvisar.

Como um indivíduo que não aceita facilmente que se questione seu valor.

b) Premissas ligadas à afiliação: ver-se ou ser visto

Como um indivíduo capaz de demonstrar afeto, tolerância, sinceridade através de

comportamentos próprios da intimidade familiar e da amizade.

Como um indivíduo que busca a confiança do outro.

Como um indivíduo que se importa com o apreço interpessoal, o qual conduz ao

consenso e à manutenção da coesão do grupo.

Levando em consideração que todo ato de fala pode ser descrito como FTA ou FFA,

Kerbrat-Orecchioni (2004) reconhece e caracteriza dois tipos de polidez, uma mitigadora,

motivada por um possível risco de ameaça ao interlocutor e que se dirige a evitá-las ou

repará-las; e uma valorizante, na que não existe possível risco de ameaça e seu uso é para

produzir atos polidos, portanto o uso da polidez está diretamente ligado à imagem do

interlocutor (Albelda Marco, 2004), no quadro abaixo há a descrição desses tipos de polidez

caracterizado por Kerbrat-Orecchioni (2004):

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Risco de ameaça à de autonomia polidez

imagem do ouvinte de afiliação mitigadora

POLIDEZ

Não ameaças à de autonomia polidez

Imagem do ouvinte de afiliação valorizante

Briz (2005) afirma que a atenuação tem uma função pragmática e age como uma

atividade estratégica, é uma operação lingüística de suavização do que é dito, da força

ilocutiva do ato. Ele afirma que cada cultura subjetiviza o uso de certos mecanismos

lingüísticos para atenuar a força ilocutiva de um ato. Portanto, pode-se dizer que algumas

formas de polidez podem estar internalizadas em cada língua ou cultura. Sendo assim, Briz

propõe dois tipos de polidez verbal na conversação: polidez codificada (convencionalizada),

que está regulada antes da interação, submetida a convenções socioculturais, e polidez

interpretada, que é avaliada no decorrer da interação de acordo com as reações dos

participantes. O autor propõe esses dois conceitos para demonstrar que não se pode tratar da

polidez como uma manifestação lingüística com fórmulas fixas. Há estratégias de polidez que

podem estar convencionalizadas ou não, com isso, um pedido com verbo em imperativo

(“tráeme un vaso de agua”) pode ser mais ou menos polido, mais ou menos impolido, mais ou

menos atenuado, depende da interpretação da situação, da mesma forma que uma forma

linguística possa associar-se convencionalmente a uma estratégia polida, mas que numa

determinada interação seja interpretada como impolida. Portanto, a atenuação da força

ilocutiva dos atos de fala e a função social destes, só podem ser medidas dialogicamente no

contexto conversacional (Briz, 2005: 73).

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A denominação do comportamento linguístico polido ou impolido nas interações

depende da interpretação, do contexto comunicativo, pois nem sempre o que está codificado

na língua como impolido poderá ser interpretado dessa forma.

A seguir descreveremos a atenuação e veremos que situações e que objetos de pedidos

podem favorecer o uso de recursos atenuadores.

1.1.3 Atenuação: construção da imagem polida

Segundo Briz (2005), a conversação é uma negociação, dar argumentos para chegar a

uma conclusão, para conseguir um acordo ou a uma “eficácia pragmática”. Para atingir essa

meta, o falante poderá empregar em seu discurso formas lingüísticas entendidas como

estratégias adequadas, efetivas e eficazes. As categorias pragmalinguísticas são formas

associadas a uma atividade estratégica e estão ligadas ao valor intencional, à força ilocutiva e

que podem algumas vezes regular as relações interpessoais e sociais dos participantes de uma

interação. A atenuação, como categoria pragmalinguistica, é uma operação lingüística

estratégica de minimização do que é dito e do ponto de vista, sendo assim, está vinculada à

atividade argumentativa e de negociação do acordo, que é o fim de toda conversação (Briz,

2005: 56). Assim como existem algumas categorias pragmalinguísticas específicas que

podem ser empregadas como recurso de atenuação, há também atos de fala preparatórios, que

surgem como “adornos” ou “envolturas sociais” (Van Dijk, 1980), que também podem sugerir

uma atenuação ou intensificação da força ilocutiva do ato global.

Nessa pesquisa, foram consideradas como categorias pragmalinguísticas estratégicas

para atenuação as seguintes formas:

1- Marcadores conversacionais: (ou „marcadores discursivos‟,„operadores

argumentativos‟, „articuladores textuais‟, não há consenso na literatura

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acerca da denominação, mas nesse trabalho utilizaremos o termo

marcador conversacional por se tratar de uma análise no âmbito

conversacional) é um rótulo amplo que recobre construções que atuam

tanto no plano textual, estabelecendo elos coesivos entre partes do

texto, como no plano interpessoal, mantendo a interação falante/ouvinte

e auxiliando no planejamento da fala (Marcuschi, 1989): “Anda/ suelta”

“Bueno anda Letal ya está”

2- Formas de tratamento nominal: constituem o conjunto de formas de

formas que os falantes possuem de uma variedade lingüística para se

dirigir ao destinatário e fazer referência a uma 3ª pessoa e a si mesmo

na mensagem Rigatuso (2011). Segundo a autora as formas nominais

segundo seriam as seguintes:

Termos de tratamento:

a) termos de parentesco: formas nominais utilizadas pelo emissor ao referir-se

as relações familiares (padre, madre, hijo, etc);

b) termos gerais: formas nominais empregadas para pessoas não familiares

(señor, señora, joven, caballero, etc.);

c) termos de ocupações: formas nominais relacionadas as profissões (doctor,

profesor, camarero, etc);

d) termos de amizade, cordialidade e afeto: formas nominais empregadas a

pessoas amigas e com expressão de afeto (amigo, cariño, querido, tesoro, etc.);

e) termos honoríficos: forma nominal para dirigir-se ao interlocutor de acordo

com o cargo, título, etc. (Va. Excelencia, Su Reverencia, etc).

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Nomes pessoais:

a) nome de batismo ou hipocorísticos: nome de batismo - se refere aos nomes

próprios das pessoas (Esperanza ,Catalina, Belén, etc.), aos diminutivos

(Carmencita, Pablito, etc.) ou alterações dos nomes (formas abreviadas), sejam

próprios ou comuns, que se usam de forma carinhosa ou familiar (Pepe, Gabi,

etc.).

3- Justificativas: asserção constatativa como causa do pedido.

4- Minimizadores: elementos, como o sufixo diminutivo, que se

apresentam para reduzir a ameaça que o ato constitui (Kerbrat-

Orecchioni, 2006:88).

5- Apreciação positiva.

Por se tratar de uma estratégia que tem como intenção principal: suavizar, atenuar a

força ilocutiva do ato, reparar, esconder a verdadeira intenção etc, pode-se dizer que a

atenuação tem uma função social, a de preservação da imagem, sendo assim, a atenuação

pode aparecer muitas das vezes como uma forma de estratégia de polidez, mas nem sempre

ela exerce essa função e pode funcionar como uma estratégia de negociação para o equilíbrio

da interação.

(07) Pepa – Candela: “Espera/ hija que no será tan urgente”

No exemplo acima, Pepa se dirige a Candela utilizando um recurso de atenuação para

conseguir “o acordo” com seu pedido, nesse caso há uma atividade de imagen, mas não uma

imagem de polidez.

Briz (2005) diz que os atenuadores estrategicamente polidos são evidentes em

situações pouco cooperativas em que há uma busca de equilibrio de imagens.

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(08) Pepa – Carlos: “¿te importa quedarte hasta que yo vuelva? Somos demasiadas mujeres para un

ático tan grande”

Nesse exemplo, Pepa tenta conseguir “o acordo” através de uso de atenuadores

(interrogação e justificativa) que se codificam como fórmulas de polidez, nesse caso o falante

não só quis buscar o equilibrio de ambas imagens, mas também intensificar sua imagen de

afiliação, já que não apresenta uma relação muito próxima com seu interlocutor. Para Briz

(2005) a eficácia linguística depende da eficacia social, e é aquí que surge a atividade

atenuadora estrategicamente polida.

Há termos ou expressões que podem ter um grau menor ou maior de atenuação em

cada língua, sendo assim, elementos como: marcadores conversacionais, justificativas, formas

de tratamento nominal etc podem ter uma escala maior de diminuição estratégica da força

ilocutiva. Tais escalas podem vir ordenadas a partir do conhecimento de mundo, dos

conhecimentos compartilhados coletivamente, por isso o excessivo uso de atenuadores na

interação coloquial espanhola entre amigos pode parecer estranho, já que a negociação é

muito mais direta (Briz, 2005: 72). Na sociedade espanhola, pode haver enunciados diretos

com tão pouca força ilocutiva, que seria incompreesível o uso de atenuadores. Briz aponta

que os fatores mais relevantes para a presença de maior atenuação na interação coloquial

espanhola são a presença de temas polêmicos e delicados que produzem conflitos individuais

e sociais, quando há a invasão da intimidade de alguém, quando há um pedido delicado ou

difícil para realizar, entre outros.

Assim como a atenuação, a intensificação é vista como uma estratégia linguística, mas

de reforço do que é dito. A seguir descreveremos a intensificação e veremos que situações e

objetos de pedidos podem favorecer o uso de estratégias intensificadoras.

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1.1.4 Intensificação: reforço da imagen de autonomia

A intensificação, assim como a atenuação, é uma categoria discursiva manifestada

através de elementos linguísticos, não é uma função social em si mesma, mas sim categoria

pragmalinguística, que pode ser empregada para conseguir um fim social (Albelda Marco,

2005). Entende-se a intensificação como categoría pragmática, relacionada com a atividade

retórica do falante, quem a emprega com um propósito determinado “reforçar a verdade do

que é expresso e para fazer valer sua intenção de fala” (Briz, 1998).

Segundo Albelda Marco (2005), uma das principais funções da polidez é manter e

estreitar relações sociais entre os interlocutores e ainda segundo a autora, na cultura espanhola

peninsular a frequência de meios lingüísticos que valorizam o tu é muito significativa. Sendo

assim, pode-se dizer que a intensificação da imagen do tu seria uma forma de reforçar as

relações sociais nessa cultura. Os atos corteses podem realizar-se mediantes estratégias

discursivas de atenuação e intensificação.

Para a autora em questão, a intensificação opera em distintos níveis da linguagem em

função da finalidade a que se oriente: Intensificação no nível da força ilocutiva, no nível

argumentativo e no nível das relações sociais (2005: 96):

A intensificação no nível ilocutivo: Aumenta a força ilocutiva do enunciado, o

que pode valorizar o que é dito de tal forma que reforça a implicação do falante

na comunicação.

A intensificação no nível argumentativo: Tipo de reforço do que é dito mediante

a argumentos, de modo que se intensificam ideias ou opiniões próprias ou do

outro interlocutor, como por exemplo, insistindo em algo, oferecendo diferentes

perspectivas de uma mesma ideia ou opinião etc.

A intensificação no nível das relações sociais: As estratégias de intensificação

são direcionadas a fazer mais fortes os laços sociais entre os interlocutores.

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Pode-se intensificar ou fortalecer a relação quando há um agradecimento por

algo, quando há elogios a alguém etc.

Na sociedade espanhola peninsular, como já foi afirmado por Bravo (2004), há uma

preferência pela imagem de autonomia, o que sugere que a presença da intensificação dos

enunciados no nível ilocutivo seja vista como algo esperado e valorizado e não como uma

ameaça. Para Bravo (2005), um dos conteúdos da autonomia é a autoafirmação, que se refere

ao desejo da pessoa por se distinguir do grupo e se ver frente a ele como alguém original e

consciente de suas qualidades sociais positivas, que lhe permitirão se destacar do grupo e

expresar suas opiniões persuasivamente e com força. De outro lado está a imagem de

afiliação que não pode ser vista como oposta à imagem de autonomia, pois aquela demonstra

a confiança, a proximidade, sendo assim, o reforço à imagem de autonomia também pode ser

um reforço à imagem de afiliação, e à intensificação dos enunciados no nível ilocutivo pode

representar a autoafirmação do falante a fim de fortalecer sua imagen de autonomia e também,

em alguns casos, fortalecer sua imagem de afiliação.

Nessa pesquisa, foram consideradas como categorias pragmalinguísticas estratégicas

para intensificação seguintes formas:

1- Marcadores conversacionais

2- Formas de tratamento nominal:

3- Justificativas

Esses três primeiros coincidem como categorias de atenuação parcialmente ou totalmante.

4- Modalizadores adverbiais.

5- Microatos: atos de fala preparatórios, que surgem como “adornos” ou

“envolturas sociais” (Van Dijk, 1980). Em nossa análise apareceram:

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a) Insulto: forma que opera uma predicação axiologicamente negativa

colocada de forma explícita sobre o alocutor por uma designação,

enunciada com a intenção de criar tensão sobre a face do alocutor,

recebida como tal por ele, e, realizadas dentro de condições de sucesso

apropriadas (Giaufret, 2011: 54)

b) Predicação negativa

c) Captação da benevolência

d) Ameaça: Kerbrat-Orecchioni (2006: 90) denomina como “agravantes”

cuja função é reforçar o ato de fala, em vez de abrandá-lo.

Um dos objetivos de nosso trabalho é repertoriar as estratégias de intensificação no

nível ilocutivo dos pedidos e a partir daí repertoriar o tipo de imagem que se deseja construir e

assim se ter pistas do funcionamento conversacional e do comportamento social da sociedade

espanhola peninsular, representrados nesses três filmes de Almodóvar, podendo assim nos dar

pistas sobre o funcionamento feminino do ethos espanhol.

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1.2 ETHOS DO ESPANHOL PENINSULAR

Segundo Kerbrat-Orecchioni (1994), as práticas discursivas resultam da

interação entre indivíduos, que é construída dialogicamente e é marcada subjetivamente

seguindo formas e graus variáveis. Por isso, quando escolhemos uma estratégia para formular

um ato de fala, por exemplo, não o fazemos aleatoriamente, pois a partir de nossas escolhas

linguísticas podemos dizer quem somos, sendo assim, a imagem que o locutor faz de si no

discurso revela certa identidade a partir das marcas de subjetividade. No entanto, há hábitos

locucionais ou formulações linguísticas influenciadas por normas sociais partilhadas por

membros de uma sociedade que para a autora podem delinear um perfil comunicativo – ou

ethos –dessa sociedade. Sendo assim, pode ser considerado um ethos “coletivo” em que as

pessoas o portam como uma referência involuntária, pois a imagem não seria objeto de

escolhas subjetivas, mas sociais.

Brown e Levinson (1987) definem ethos como o estilo interacional característico de

uma sociedade, e em algumas culturas pode ser amigável, afetuoso, em outras pode ser

formal, deferencial e em outras pode ser caracterizado como individualista, ostensivo e ainda

distante e até hostil. Kerbrat-Orecchioni (1994) afirma que o ethos é uma etiqueta para indicar

a qualidade da interação que categoriza um grupo, ou categorias sociais de pessoas, em

particular na sociedade. A autora afirma que para identificar o ethos de um grupo ou

sociedade seria preciso tentar agrupar fatores relevantes de diferentes níveis a fim de

descobrir o seu sistema. Brown e Levinson (1987) assinalam ser necessário correlacionar os

níveis de distância, e poder, o tipo de atenção à face e o tipo de estratégias de polidez, na

elaboração dos atos de fala. Segundo eles, em sociedades em que há um alto nível de poder,

distância e imposição, a polidez positiva é quase inexistente. Dessa maneira, pode-se

distinguir culturas de polidez positiva e culturas de polidez negativa.

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Na sociedade espanhola peninsular, segundo Placencia e García (2007), há uma

tendência a usar menos mitigadores e uma tolerância para diretividade, o que a faria ser

considerada impolida, se fosse levada em consideração a teoria da universalidade de polidez

assumida por Brown e Levinson (1987). Porém, muitos estudiosos do campo da pragmática

intercultural e da sociopragmática contradizem essa teoria e têm classificado a sociedade

espanhola peninsular como uma cultura de polidez positiva. Haverkate, Hernández Flores e

Bravo sugerem que isto é devido à composição sociocultural específica da face de autonomia

(representada pela autoafirmação) e a face de afiliação (representada pela confiança)

(Placencia e García, 2007).

São as estratégias nas elaborações dos atos de fala nas interações de diferentes

sociedades que podem caracterizar seu ethos. Há diferentes e específicas maneiras de

produzir atos de fala em cada sociedade, levando em consideração mais ênfase nas relações de

poder ou distância social.

Kerbrat-Orecchioni (1994), de acordo com que Brown e Levinson (1987) estabelecem,

afirma que os componentes do ethos estão:

1- na concepção das relações interpessoais:

– Ethos de proximidade versus distância:

Marcadores : comportamentos proxêmicos, frequência do contato ocular e corporal,

formas de tratamento, facilidade que se permite aceder a seu teritório privado

(convites, confidências etc)

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– Ethos igualitário versus hierárquico:

Marcadores: formas de tratamento (nominais, verbais e pronominais), forma

honoríficas, distribuição dos turnos de fala, realização dos atos do discurso, formas

de polidez ou cortesia, bem como outros «taxemas».

– Ethos de enfrentamento/conflito versus consensual:

Marcadores : realização dos desacordos e negações

Os diferentes marcadores, porém, nem sempre assinalam a mesma direção. Uma

sociedade pode apresentar o mesmo ethos que uma outra, mas podem apresentar

marcadores com dimensões diferentes.

2- na concepção da polidez:

– Noção de face: imagem social se refere à auto imagem que a pessoa quer

apresentar ante os outros na interação (caráter público e interpessoal)

– Polidez negativa (afiliação) e polidez positiva (autonomia).

1.2.1 Ethos da sociedade espanhola peninsular

Nos estudos sociopragmáticos pode-se observar que os falantes do espanhol peninsular

têm uma preferência pelo uso do imperativo nas elaborações de seus atos diretivos, o que

reduz a liberdade de ação de seu interlocutor, mas que no entanto representa uma sociedade

onde predomina a solidariedade e a confiança, sendo assim a teoria universal de Brown e

Levinson sobre os FTAs entra em contradição nesse tipo de sociedade, pois essa escolha de

estratégia na elaboração de atos de fala não representa uma ameaça à face ou uma manifestção

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de impolidez. Assim, um pedido direto é mais previsível em um contexto de proximidade

social, na interação interpessoal, em um contexto como o espanhol peninsular em que tal ato

de fala não seja visto como ameaçador (Briz, 2004, 73).

Por isso, as categorias de autonomia e afiliação desenvolvidas por Bravo (2004)

apresentaram grande relevância nesse tipo de estudo, pois essas categorias não incorporam

significados de como deve ser especificamente a imagem social, mas sim, como um indivíduo

deseja ver-se e ser visto diferente do grupo (autonomia) ou ver-se e ser visto parte do grupo

(afiliação), o que o converte em algo dependente de um contexto sociocultural.

Portanto, a imagem da sociedade espanhola é caracterizada por Bravo ( 2004) como:

Imagem de autonomia: necessidade de ter um contorno próprio frente ao

grupo (originalidade), auto estima, auto afirmação, necessidade de sentir-se

orgulhoso de suas próprias qualidades e competências.

Imagem de afiliação: necessidade de identificar-se com o grupo, confiança,

consideração, afeto.

Imagem de estima: característica da mentalidade hispânica, representação

do indivíduo como pessoa digna de estima pela sua posição hierárquica na

sociedade, noção de orgulho, el honor, auto afirmação e confiança.

Uma característica fundamental na imagem de afiliação é o valor da confiança,

Hernández Flores (2002) descreve o termo a partir das seguintes situações:

Falar com confiança: estilo comunicativo que supõe falar abertamente,

sem rodeios, com franqueza.

Ter confiança em alguém: tipo de relação afetiva que alude à proximidade.

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Fazer algo porque se tem confiança: atuar livremente, sem medo de

ofender o outro e sabendo que essa atitude será recebida com naturalidade.

Ser alguém de confiança: ser muito próximo do outro e conhecê-lo bem.

Segundo a autora, a confiança é uma característica da imagem afiliativa espanhola, e

que não se pode incluir na categoria de imagem positiva de Brown e Levinson (1987), pois a

afiliação supõe o desejo de buscar ou reafirmar a proximidade social entre as pessoas, e não o

desejo de ser aprovado socialmente, e ela ainda diz que o não ser polido, seria caracterizado

pelo abuso de confiança, que haveria em relações em que não há esse contrato social

(desconhecimento pessoal ou falta de proximidade entre os interlocutores) ou por pessoas que

usam a existência de uma relação de confiança para falar ou atuar com um grau tão acentuado

de franqueza que possa ofender os demais.

Portanto, segundo Albelda Marco (2004), na cultura espanhola peninsular o conflito

pode ser uma manifestação de confiança e de reforço dos laços sociais, inclusive pode reduzir

a possível distância existente ou igualar mais as relações hierárquicas, e não representa uma

ameaça à face e consequentemente um ato impolido como defendem Brown e Levinson, e ao

contrário do que estes afirmavam, em casos de estreita relação interpessoal, se um falante se

demostra ser muito polido com seu interlocutor, este último pode sentir-se ofendido ou

advertir uma falta de confiança.

Sendo assim, esse trabalho tem por objetivo observar se o ethos de confiança

(construção da imagem de afiliação) como tendência na sociedade espanhola favorece a

formulação de pedidos e se essas formulações apresentam estratégias mais/menos atenuadas

ou mais/menos intensificadas de acordo com as relações interpessoais. Analisaremos essas

formulações em diálogos dramáticos ficcionais representados das personagens dos filmes de

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Almodóvar, que como Quaglio (2010) afirma são uma mostra de interação que resulta em

sobreposições, interrupções, trocas de turnos semelhantes à conversação natural.

1.2.2 Ethos da mulher espanhola nos filmes de Almódovar

Pedro Almodóvar é um diretor e roteirista espanhol que se tornou conhecido em seu

país e internacionalmente por produzir filmes intensos e polêmicos. Nasceu em uma cidade

pequena chamada Cidade Real, em uma família humilde e cercado de mulheres, o que talvez

o tenha influenciado a escrever sobre o universo feminino de maneira tão peculiar que passou

a ser considerado um “diretor de mulheres” e se tornou um dos maiores cineastas do cinema

espanhol. A figura da mulher tem presença certa nos filmes de Almodóvar em papéis

principais ou secundários, elas estão presentes até mesmo em muitos dos títulos de seus

filmes direta ou indiretamente (“Mujeres al borde de un ataque de nervios”, “Tacones

lejanos”, “Hable con ella”, entre outros) e sempre apresentando seus dramas, conflitos,

tensões, paixões etc (Strauss, 2008).

Para criar este universo feminino, o diretor explora uma diversidade de gêneros

discursivos. Alguns críticos afirmam que seu estilo de narrativa se baseia em colagens e

combinações enigmáticas (semelhantes a um quebra-cabeças) e híbridas entre referências e

citações. Ao combinar motivos tradicionais da cultura espanhola com hábitos e gostos

transnacionais, Almodóvar utiliza uma explosão de cores e tipos de personagens que se

assemelha a uma carnavalização da vida. Se lembrarmos que o carnaval é o lócus

privilegiado da inversão, pode-se dizer que é essa inversão que possibilita que a mulher deixe

de ser coadjuvante e ocupe o centro da cena, seja para representar o fraco ou o forte, o que dá

ou o que toma, o que bate ou o que apanha (Mariano, 2009).

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Todos os filmes de Almodóvar desenvolvem narrativas sinuosas em que o amor e os

desejos se perdem e se aventuram com total liberdade nos emaranhados de uma imaginação

fértil (Strauss, 2008). Ao reproduzir os mecanismos do desejo (seu nascimento e a busca por

sua satisfação, seja o objeto do desejo o que for e custe o que custar consegui-lo), Almodóvar

aniquila a possibilidade de fixação de padrões e modelos do que a mulher (ou qualquer de

seus personagens) deveria ser para conviver em sociedade (Mariano, 2009). Segundo Evans

(1999), a mulher almodovariana representa a liberdade adquirida pelos movimentos

feministas. Em seus filmes, a mulher tem sua liberdade sexual, é independente, mãe solteira,

e se mesclam vários estereótipos que as tornam mulheres com personalidades complexas e

que representam um paradoxo, pois não são boas e não são más, sofrem, mas também são

felizes.

“O cinema de Almodóvar surge na década de 70,

momento em que os movimentos feministas, os

discursos emancipatórios e a sedimentação das

transformações do pós-guerra transformam a condição

feminina em tema definitivamente político. O cinema

começa a ser povoado pelo que muitos chamam de

"mulheres reais". Assim, ele inicia seu cinema

influenciado, sem dúvida, pelos movimentos feministas

da época, trazendo um perfil feminino mais realista para

as telas. É um conjunto de representações que retratam a

mulher em seu cotidiano vivido, com ênfase nos dramas

domésticos e com a inserção do imaginário que lhe é

próprio.”

(Ana Lucília Rodrigues5 em entrevista à revista eletrônica

Mulher de película6)

Os filmes de Almodóvar contribuíram para criar um clima favorável para a discussão

mais vívida das questões relacionadas a sexo e gênero, que Mills (2003) define como

comportamentos de homens e mulheres que negociam com certos parâmetros de

comportamentos aceitos socialmente. Até certo ponto, seus filmes são os equivalentes

irônicos dos manuais e guias sobre sexo que inundaram o mercado depois da morte de Franco,

5 Ana Lucilia Rodrigues é psicanalista e mestre em Psicologia pela Unimarco. É co-autora dos livros

Sexualidade Feminina/Masculina e Temas da Clínica Psicanalítica e autora do livro Pedro Almodóvar e a

feminilidade. Dedica-se ao estudo da sexualidade feminina e do cinema. 6 www.fafich.ufmg.br/mulherdepelicula/revista

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quando a representação e a discussão da sexualidade já não estavam mais condenadas a serem

um tabu (Evans, 1999).

A partir dessa sensibilidade de Almodóvar para descrever as mulheres em seus filmes,

escolhemos três de suas personagens para serem objeto de estudo desse trabalho: Pepa

(Mujeres al borde de un ataque de nervios), Rebeca (Tacones lejanos) e Raimunda (Volver).

- Universo de Pepa em “Mujeres al borde de un ataque de nervios”

“Mujeres al borde de un ataque de nervios” focaliza a vida de um determinado número

de mulheres que em sua maioria foram de certo modo impelidas a um colapso nervoso pelas

desastrosas relações com os homens, numa narrativa que, como em muitas comédias

românticas, gira em torno da denúncia das limitações conformistas do homem, e se concentra

nas personagens femininas que caracteristicamente demonstram iniciativa, força e

solidariedade face às traições masculinas em matéria de amor (Evans, 1999). Uma dessas

personagens femininas de maior destaque no filme é Pepa. A história é baseada e construída

na impossibilidade cômica de qualquer diálogo entre Pepa e seu amante e no que ela tinha a

dizer a todo tempo: anúncio de sua gravidez.

Pepa é uma mulher madura, independente e tem um comportamento muito

espontâneo. Há uma preferência de Almodóvar por escrever papéis de mulheres já maduras.

Para o diretor, as crises são muito mais interessantes de contar quando se trata de mulheres

mais velhas, pois nesse momento há uma forma de enfrentar a vida conscientemente que torna

tudo mais intenso (Strauss, 2008).

A aparência de Pepa é muito importante para compor a personalidade da personagem,

ela usa saltos altos e roupas justas que demonstram sua liberdade para escolher suas roupas

mesmo que isto a atrapalhe no seu dia a dia.

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“Para Pepa, os saltos são a melhor forma de assumir sua

angústia. Se Pepa se soltar, perderá toda sua coragem.

O exercício da elegância é uma disciplina, e aí reside

sua maior força. Quer dizer que os problemas ainda não

a dominaram”

(Pedro Almodóvar apud Strauss, 2008: 127).

Além disso, a vida que leva também compõe a personagem, ela tem um emprego bem

remunerado, usa roupas de grife, vive num apartamento elegante em um lugar privilegiado de

Madri, e segundo Evans (1999) essa aparência elitizada de Pepa mostra os componentes

fundamentais da nova sociedade de consumo dos anos 80 na Espanha. A aparência visual

extremamente colorida de Pepa tem o intuito de comemorar o fim das austeridades passadas, e

seu gosto pelo vermelho denuncia a intenção de Almodóvar de evocar os sentimentos

apaixonados de Pepa, já que na cultura espanhola o vermelho é a cor da paixão e da

vitalidade, e a personagem é intensa como a cor vermelha, pois durante o filme é abandonada

grávida, desmaia, chora, se desespera, procura seu ex-amante por toda a cidade, tenta

suicidar-se, mas decide criar a criança sozinha. Todas as ações de Pepa são motivadas pelo

desejo e pela paixão, a ponto de romper todos os limites do que é certo ou errado para se

render às exigências desse desejo e dessa paixão em busca da satisfação.

Como já foi dito anteriormente por Mariano (2009) a inversão possibilita que a mulher

ocupe o centro da cena, e um exemplo disso é Pepa. Ela é enganada por seu amante, mas

também engana a polícia; protege a amiga que foge dos terroristas e conta com a ajuda do

filho do amante para dar conta dos policiais; age racionalmente ao tentar resolver os

problemas que aparecem, mas queima a própria cama em um momento de descontrole. Pode-

se dizer que Pepa é uma personagem paradoxal e ambivalente assim como os homens

retratados no filme: o taxista proporciona um enfoque cômico por questionar as normas

rígidas da masculinidade, Carlos exteriormente doce e sensível é,entretanto, alguém em cuja

gagueira podem ser detectados sinais de desequilíbrio (Evans, 1999).

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Em oposição ao cenário masculino, Pepa é quem governa o ambiente feminino

existente no filme e é a responsável pela extinção do reino da autoridade patriarcal exercida

pelo homem, o que estimula e aproxima Carlos, filho de seu amante, Pepa possibilita a Carlos

o retorno a um princípio maternal e menos opressor, e ao mesmo tempo afasta Iván, que foge

de mulheres fortes e poderosas.

Pepa termina como uma mulher que recusa as ofertas de reconciliação de seu amante,

fazendo-a livre da escravidão do desejo, que a fez perder o controle e a razão tantas vezes.

- Universo de Rebeca em “Tacones lejanos”

As mulheres de Almodóvar fogem de alguns estereótipos que costumam caracterizar

as mulheres nos filmes hollywoodianos, a mulher almodovariana não é somente “mocinha” ou

somente “bandida”. Dessa forma, segundo Mariano (2009) Almodóvar trabalha com a

fragmentação e a mobilidade de identidades e da subjetividade humana, ressaltando suas

especificidades históricas e culturais, ao invés da representação monolítica e fria dos padrões

sexuais, culturais, morais e sociais (tal como moldados pela ideologia dominante). Suas

personagens mesclam várias características, construindo personalidades complexas, e Rebeca

é uma dessas mulheres com personalidade muito complexa, é uma das heroínas do filme, mas

segundo Almodóvar não pode ser considerada verdadeiramente boa, não é uma mulher

madura, mas é inteligente, ao confessar três vezes que matou o marido, Rebeca consegue se

tornar vítima, a culpabilidade se torna algo que ela mesma manipula, utilizando suas

confissões de acordo com os próprios interesses. Rebeca é ao mesmo tempo a origem e o fim

de sua própria moral. Isso lhe confere uma grande dimensão. Em sua primeira confissão,

Rebeca mostra que está completamente sozinha, que a objetiva da câmera de televisão é a

única com quem pode falar, e também é a verdade da informação, pois ela diz as coisas que

aconteceram, atinge o extremo desse tipo de discurso. Ao se confessar, pune-se a si mesma, e

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o espetáculo patético da autopunição chega até sua mãe, que também sente isso como

punição. Rebeca se confessa e ao mesmo acusa diretamente a mãe e o marido: utiliza sua

confissão para outro fim que não sua própria acusação (Almodóvar apud Strauss, 2008: 133).

Segundo Almodóvar (apud Strauss, 2008), seu caráter paradoxal é delineado ao

demonstrar-se tão maquiavélica e ao mesmo tempo tão vítima da vida que levou. A cena em

que o juiz diz a Rebeca que não pode acusar sua mãe por não existirem provas, ela afirma que

vai encontrá-las, e o faz com tanta determinação que sua personagem acaba por causar medo,

mas ao mesmo tempo causa compaixão por acreditar que sua conduta se justifica pela

ausência de afeto materno.

Almodóvar mostra isso na última cena em que Rebeca entrega o revólver à mãe para

que coloque as digitais, ela manipula uma parte da dor e da culpabilidade da mãe, mas

respeita sua decisão, mostrando a frieza de seu caráter. Entretanto, se absolve quando conta à

mãe sua lembrança de infância ligada ao barulho de seus saltos, que assinalavam que a mãe

tinha finalmente voltado para casa. Rebeca volta-se para cama, mas a mãe morrera enquanto

ela falava, sendo assim, não tiveram tempo para concretizar a relação, e Rebeca tem de fazer

metade de suas confidências a uma mulher morta, o que mostra que a mãe sempre a

abandonará (Almodóvar apud Strauss, 2008).

A difícil relação com a mãe é foco central da história do filme, Rebeca sempre foi

rejeitada pela mãe que sempre preferiu a carreira de atriz e cantora à filha, e essa ausência da

mãe a impediu de crescer até fisicamente. A fascinação pela mãe é tanta que Rebeca não se

comporta como filha em relação à própria mãe, mas como marido, e Almodóvar afirma que

nesse caso as relações familiares são muitas vezes perigosas, e podem até se tornar psicóticas.

Como já foi dito anteriormente, a aparência é muito importante para compor a

personagem, assim como Pepa, Rebeca é uma mulher com um emprego bem remunerado,

mas também uma rica herdeira, é bem vestida, só usa Chanel, que além de ser coerente com

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sua personagem de apresentadora de telejornais é um modo de lhe dar uma espécie de

uniforme, diz Almodóvar (Strauss, 2008: 57).

- Universo de Raimunda em “Volver”

Raimunda é uma mulher marcada por intensos problemas em sua vida familiar,

quando criança sofreu abuso sexual de seu pai, viveu anos sofrendo com a omissão da mãe

por esse ato, no futuro viu sua filha passar pelo mesmo problema, mas mesmo assim se

mantém forte, não absorve esses problemas para se fazer de vítima, e leva a sua vida com

alegria e leveza. Segundo Almodóvar a escolha da atriz certa é essencial para dar vida à

personagem, e Penélope Cruz tinha os 3 atributos essenciais para interpretar Raimunda: 1)

mesmo vestindo-se de maneira simples e popular, Penélope permanece linda; 2) irradia a

energia combativa de uma mulher que tem de lutar para defender a filha e a família; 3)

transmite uma grande vulnerabilidade. Era indispensável que ela tivesse ao mesmo tempo a

força e a vulnerabilidade de Raimunda que viveu uma infância terrível, uma juventude

abortada, e que lutou para superar todas essas provações (apud Strauss, 2008: 290).

Segundo Rodrigues (2009), Almodóvar traz um perfil feminino mais realista para as

telas. É um conjunto de representações que retratam a mulher em seu cotidiano vivido, com

ênfase nos dramas domésticos e com a inserção do imaginário que lhe é próprio, e Raimunda

representa bem isso.

“Volver” e a personagem principal Raimunda fogem ao ambiente sócio-econômico

adotado nos filmes anteriores. Em “Mujeres al borde de un ataque de nervios” e em “Tacones

lejanos” as sequências ocorrem em um ambiente totalmente urbano (Madri) e as mulheres

(Pepa e Rebeca) têm uma situação financeira bem confortável. Já em “Volver”, Almodóvar

mistura o ambiente entre o urbano e o provinciano (La Mancha), Raimunda trabalha em mais

de um emprego para poder sustentar a filha adolescente e o marido desempregado e não veste

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roupas de grife e nem apresenta uma aparência sofisticada. Brant (2009) afirma que nas obras

de Almodóvar é possível notar uma forte inspiração na cultura hispânica, desde a construção

das personagens até a composição dos cenários. Em “Volver” ele reconstrói, com todos os

tons de uma Espanha provinciana e folclórica, sua terra natal, La Mancha. Suas tradições são

recriadas, como no plano-sequência que abre o filme, quando um grupo de mulheres lava o

túmulo da família, ritual comum na região. Raimunda serve em seu restaurante as comidas

típicas da cidade. Na cozinha, pelos diálogos das mulheres, a impressão que se tem, é que

naquele ambiente elas se conhecem melhor.

E como afirma o próprio Almodóvar o universo de Raimunda é a cozinha. As

mulheres de “Volver” se conhecem de verdade quando se preparam para partilhar uma

refeição (apud Strauss, 2008). E isso se confirma na cena da cozinha, enquanto as mulheres

conversam, algumas revelações para o espectador, a alusão aos seios de Raimunda feita pela

mãe, é possível perceber que ela teve seios bem jovem, uma vez que a mãe lembra-se da

aparência que ela tinha mas não vê a filha desde os 14 anos. Pode-se então dizer que, na

época, a mãe ficava deslumbrada por ter uma filha tão bonita: era sua perolazinha, e queria

fazer dela uma atriz, maquiando-a e penteando-a. Na verdade transformava a filha numa

terrível tentação para os homens e, acima de tudo, para o pai, o que virou de cabeça para

baixo toda a historia da família (Almodóvar apud Strauss, 2008: 286).

O foco central dos três filmes está em três mulheres com realidades de vida

semelhantes em alguns aspectos, mas ao mesmo tempo diferentes em outros aspectos, porém

todas são mulheres emblemáticas e intensas, seja nas conflituosas relações com as mães ou

com os homens.

Pode-se dizer que o universo feminino é o tema preferido de Pedro Almodóvar, que

tenta desvendar constantemente esse universo em alguns de seus filmes.

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É importante esclarecer que a escolha dessas três personagens para análise se justifica

pelo fato de serem personagens icônicas e expressivas e por representarem diferentes papéis

sociais em suas interações cotidianas e transacionais, facilitando uma análise dos atos de fala

nas diversas relações interpessoais e assim como em toda troca comunicativa ocorrer a

construção de uma imagem social.

A estrutura parcialmente cômica do filme “Mujeres al borde de un ataque de nervios”

(1988) focaliza a vida de um determinado número de mulheres que em sua maioria foram de

certo modo impelidas a um colapso nervoso pelas desastrosas relações com os homens, numa

narrativa que gira em torno da denúncia das limitações conformistas do homem. O filme se

concentra nas personagens femininas que caracteristicamente demonstram iniciativa, força e

solidariedade face às traições masculinas em matéria de amor (Evans, 1999) e tem como

personagem principal, Pepa Marcos.

“Tacones lejanos” (1991) é um drama que envolve uma mulher (Rebeca) que sofre

com a ausência da mãe (Becky) que priorizou sua carreira como cantora e abandonou a filha

por quinze anos. Rebeca tenta superar essa falta casando-se com o ex-amante de sua mãe e

aproximando-se de um transformista que imita Becky. Todo o filme gira em torno das

atitudes de Rebeca, que embora seja uma mulher adulta, não amadureceu o suficiente devido

a ausência materna.

“Volver” (2006) demonstra as três gerações de mulheres de uma família que vivem

entre a dura realidade da vida, entre segredos e entre mentiras. Raimunda, personagem

principal, vive um drama marcado por questões familiares mal resolvidas, principalmente com

sua mãe. O filme é marcado pelas relações em família.

Esses filmes, depois de assistidos, buscou-se selecionar os dados, levando em

consideração a ocorrência dos pedidos, e a partir da seleção dos dados ocorreu a transcrição

das sequências conversacionais das personagens.

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Pepa, Rebeca e Raimunda são as personagens que protagonizam esses conflitos, e seus

discursos elaborados para as representações conversacionais dos filmes fornecerão as

informações para os recortes de análise deste trabalho.

Pepa é uma mulher de aproximadamente 40 anos, nível socioeconômico e de

escolaridade médio, trabalha em um estúdio de dublagem, vive sozinha num apartamento

elegante num dos lugares mais chiques da cidade de Madri e apresenta-se em papéis sociais

definidos como: amiga, amante, madrasta, dubladora, cliente.

Rebeca é uma mulher de 27 anos, nível socioeconômico e de escolaridade alto, é

jornalista e casou-se com o amante da mãe, artista famosa que a rejeitou durante toda a sua

infância, apresenta-se em papéis sociais definidos como: amiga, esposa, amante, filha.

Raimunda é uma mulher de aproximadamente 35 anos, nível socioeconômico e de

escolaridade baixo, nasceu em um povoado, teve uma filha muito jovem, fruto do estupro do

próprio pai, apresenta-se em papéis sociais definidos como: esposa, mãe, filha, irmã, amiga.

Elas são mulheres emblemáticas que representam a liberação feminina dos modelos

disponíveis nos manuais de feminilidade, segundo Almodóvar (Strauss, 2008).

Almodóvar constrói personagens de mulheres com personalidades contrastantes em que a

presença masculina muitas vezes ou é ameaçadora ou não faz falta nenhuma. Essas

personalidades desenham o comportamento linguístico das personagens nas interações, ao

formularem seus pedidos elas podem sugerir uma demonstração do que seria o

comportamento real dos falantes da sociedade que representam quando influenciados pela

diversidade contextual e pelas variedades de papéis sociais que desempenham no cotidiano,

podendo até servir de referência para identificar o ethos da mulher espanhola.

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2. SEQUENCIAS CONVERSACIONAIS E DIÁLOGOS DRAMÁTICOS NO

CINEMA: METODOLOGIA

Neste trabalho, os atos de pedido serão analisados em sequências conversacionais

ficcionais ou trocas como define Kerbrat-Orecchioni (2005):

Sendo a troca por definição, produzida por dois

locutores, cada um deles assumindo a responsabilidade

de pelo menos um ato, toda troca deve normalmente

comportar no mínimo dois atos.

(Kerbrat-Orecchioni, 2005, 76)

As sequências conversacionais são caracterizadas como ficcionais por se tratar de

sequências de personagens de filmes e serão divididas em situações cotidianas (pessoais) e

transacionais. Segundo Briz (1998), a conversação é uma modalidade discursiva que se

caracteriza por uma interlocução em presença (cara a cara), imediata, com trocas de turnos

não pré-determinados, dinâmica e cooperativa. Briz divide a conversação em dois tipos: a

pessoal e a transacional, segundo ele esses tipos de conversação têm finalidade interpessoal e

busca favorecer primordialmente a manutenção das relações pessoais, a relação entre as

pessoas. A conversação cotidiana ou pessoal é uma interação de mais solidariedade

(proximidade) entre amigos, vizinhos etc, está numa relação funcional pessoal que determina

uma simetria, a qual indica sua estreita relação com as interações de mais proximidade. Já a

conversação transacional é aquela em que existe uma negociação concreta, uma finalidade

precisa, por isso pode ser marcada por uma distância social. Dentro de uma relação funcional

transacional há a assimetria, isto é, os direitos e obrigações se apresentam de algum modo

determinados e mais estritamente submetidos às convenções sociais portanto, uma conversa

acadêmica entre professor e aluno teria um caráter mais transacional.

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Em nosso corpus consideraremos relações funcionais pessoais as relações entre

familiares, entre amigos e entre casais ao passo que as relações funcionais transacionais serão

as profissionais, as comerciais e as de autoridade (sequências conversacionais com juízes,

policiais, prestadores de serviços em geral).

2.1 Considerações sobre o texto dramático e o discurso cinematográfico

Muitos estudiosos e adoradores do cinema vêem o discurso cinematográfico como

uma forma de linguagem. Metz (apud Alves, 2006) afirma que a linguagem cinematográfica é

constituída por várias linguagens, inclusive a verbal.

Sendo assim, o uso do texto dramático para análises de comportamentos

sociolingüísticos de falantes de uma determinada cultura é possível, pois como defende Mello

(apud Alves, 2006):

“Esse tipo de discurso também é analisável – como

qualquer outro objeto construído com/pelo código

lingüístico – segundo as regras de linguagem e o

processo de comunicação, visto que ele é o produto de

sua enunciação, supõe um momento e um lugar

particular e é composto, incontestavelmente de emissor

– código – mensagem – receptor.”

Assim como nos textos líricos, mencionados por Iglesias Recuero (2002), o texto

dramático evoca a oralidade e apresenta uma imediatez comunicativa, há um destinatário cujo

emissor lhe dirige palavras que costumam ser elaboradas a partir de seu comportamento ou

por algum elemento do contexto de situação compartilhada, e que são emitidos com a

intenção de provocar uma reação nesse destinatário.

Essa imediatez comunicativa é característica das conversações informais cotidianas

que representam uma comunicação cara a cara, espontânea, privada, dialógica, altamente

emocional, fortemente ligada à situação e às ações (Iglesias Recuero, 2002: 12).

As personagens, no nível discursivo, segundo Maingueneau (1996), realizam dentro

do desenvolvimento da historia, várias encenações de atos de fala determinados por

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componentes psicossociocomunicacionais, porém ficcionais. Maingueneau define essas

enunciações como enunciações “fingidas”:

“Por um lado, as enunciações em cena apresentam-se

como proferidas espontaneamente pelos personagens,

por outro, são apenas a atualização de enunciados

escritos anteriormente.” (1996:161).

Segundo o mesmo autor, os seres ficcionais assumem posições simbólicas de sujeitos

comunicantes que acionam sujeitos enunciadores para atingir sujeitos interpretantes. Porém,

Maingueneau (1996) reafirma que isso ocorre de maneira “fingida”, reproduzida

simbolicamente, a fim de dar corpo às vozes do discurso.

O discurso das personagens, a maneira como se comportam linguisticamente transmite

ao espectador uma realidade, que o identifica com seres reais:

“A vocação realista da fala é condicionada pelo fato de

ser um elemento de identificação dos personagens da

mesma forma que a roupa, a cor da pele, ou o

comportamento em geral (e também uma peculiaridade

qualquer); há, portanto, uma adequação necessária entre

o que diz um personagem – e o modo como diz – e sua

situação social e histórica. Pois a fala é sentido, mas é

também tonalidade humana (...).”

(Martin, 1990: 176)

É através deste tipo de interação conversacional presente no texto cinematográfico,

isto é, através da alternância de turnos de fala entre um emissor e um destinatário, que

chamaremos de sequências conversacionais de filmes - e, portanto, ficcionais - que

observaremos o funcionamento dos pedidos.

Os filmes que compõem o corpus desta pesquisa são intitulados “Mujeres al borde de

un ataque de nervios”(1988), “Tacones lejanos” (1991) e “Volver” (2006) do diretor espanhol

Pedro Almodóvar. Os filmes “Mujeres al borde de un ataque de nervios”(1988) e

“Volver”(2006) encontram-se em cópias originais lançadas em DVDs (distribuídos

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respectivamente pela MGM home entertaiment e Videolar S/A) e “Tacones lejanos” (1991) é

uma cópia em VHS digitalizada para análise, pois não foi lançado em DVD no Brasil.

Tal análise será feita da seguinte maneira:

a) Buscar nas sequências conversacionais das personagens elementos que representem os

atos de pedido;

b) Separar essas sequências por gênero (masculino/feminino) e por relações funcionais

(pessoal/transacional) dos destinatários;

c) Verificar se as formulações de pedidos foram elaboradas sem estratégias de atenuação

ou intensificação, com atenuação ou com intensificação;

d) Verificar os tipos de estratégias utilizadas de acordo com as diferenças de gênero,

relação funcional e tipo de pedidos;

e) Verificar se a imagem que as personagens constroem de si mesmas com a formulação

dos pedidos confirma o ethos de confiança descrito para essa sociedade.

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2.2 Estratégias linguísticas de atenuação e intensificação

Briz (2005) afirma que os falantes podem adotar estratégias linguísticas (atenuação e

intensificação) coerentes com a relação interpessoal (mais próxima ou distante, mais “à

vontade” ou respeitosa com o território alheio etc) a fim de conseguir uma eficácia

pragmática. Sendo assim, a hipótese geral desse trabalho é que haverá variação nas

formulações dos pedidos de acordo com as diferentes relações interpessoais dos

interlocutores: gênero (masculino e feminino) e funcional (pessoal e transacional), e os tipos

de pedidos: pedidos de ação, pedidos de objeto e pedidos de mudança de comportamento.

Abaixo há uma mostra das situações que empregamos para exemplificar os três tipos de

pedido (seguindo o modelo de Orozco, 2010).

Pedido de Situação

Ação Há convidados para o jantar e a comida não está pronta.

Como você pede ajuda a seus filhos que estão vendo a

televisão?

Objeto Um colega de trabalho comprou um filme que você deseja

assistir. Como lhe pediria emprestado?

Mudança de comportamento Um amigo de trabalho lhe diz diante dos demais

companheiros que você fez o trabalho mal feito e você não

gostou. Como lhe pediria para que isso não volte a

ocorrer?

O grau de distância ou proximidade e as relações de simetria ou assimetria entre os

intelocutores poderão ser determinantes para as escolhas de tais estratégias nas formulações

de pedidos. Segundo Orozco (2010), nos estudos sobre polidez se encontram diversos dados

recorrentes das diferenças baseadas nos gêneros, e que essa evidência empírica tem

contribuído para fazer generalizações sobre a incidência da variável sexo ou gênero na

atuação linguística, assim como a posição social do indivíduo, o que pode dizer que as

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relações de mais poder ou menos poder, mais distância ou mais proximidade também

influencie na atuação linguística do falante, sendo assim, espera-se que nas relações pessoais

haja uma relação mais simétrica e próxima, assim como nas relações transacionais haja uma

assimetria e/ou distância.

A seguir, veremos a análise das formulações de pedidos com influência das variáveis

linguísticas e extralinguísticas mencionadas.

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3 AS FORMULAÇÕES DE PEDIDOS:

Neste capítulo faremos uma análise das formulações dos pedidos das três personagens

Pepa, Rebeca e Raimunda. Veremos se estas formulações foram elaboradas com ou sem

estratégias de atenuação ou intensificação e se o uso desses recursos estratégicos está

condicionado a variáveis extralinguísticas como as diferenças de gênero e de relações

funcionais.

As formulações de pedidos que constituem o eixo da nossa análise foram estabelecidas a

partir dos tipos de processos verbais selecionados pelos falantes na formulação dos pedidos e

não necessariamente pelo objeto do pedido.

Essas formulações foram categorizadas segundo a sua natureza verbal ou nominal em 09

tipos de formulações: imperativo (“Candela, tráeme algo de beber”), presente do indicativo

(“Bueno, pues ahora lo hablamos”), enunciados interrogativos (¿Tú sabes arreglar um

telefono?), frases nominais (“Ni una palabra”), Condicional (“El puerco me vendría muy

bien”), futuro simples ou composto (“Te voy a pagar como a cualquier cliente”), presente do

subjuntivo (“Es urgente que hablemos”), pretérito perfeito (“trabajé toda la tarde”) e pretérito

imperfeito (“Necesitaba una furgoneta”).

Verificamos em nossa análise que se uma personagem pede algo a outra (“¿Me pones con

este número, por favor?” ), embora tenha elaborado um pedido ou um tipo de pedido, este

pode realizar-se com uma ou mais formulações, como se pode ver nos exemplos:

(01) Pepa-recepcionista:“¿Me pones con este número, por favor?”

(02) Pepa-recepcionista :“No importa, márcamelo.”

(03) Pepa-recepcionista: “O me lo marcas tú, o llamo desde la calle. Me están esperando en el

estudio, tú verás”

Os exemplos acima representam o mesmo pedido (pedido de ação de Pepa para a

recepcionista a fim de que ela complete uma chamada telefônica), entretanto nesta pesquisa

são analisados como três formulações diferentes:

1- Enunciado interrogativo (exemplo 01);

2- Imperativo (exemplo 02);

3- Presente do indicativo (exemplo 03).

A partir deste repertório de formulações de pedidos, puderam-se verificar quais foram as

formulações pragmalinguísticas mais freqüentes (ver tabela 1), se elas foram formuladas com

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recursos de atenuação ou intensificação e se essas estratégias estão condicionadas às

diferenças de gênero e de relação funcional.

Tabela 1: Total de 184 ocorrências das formulações de pedidos, classificados em função de categorias

pragmalinguísticas verbais ou nominais

FORMULAÇÕES PRAGMALINGUISTICAS DE PEDIDOS

1. IMPERATIVO 113 (62%)

2. PRESENTE DO INDICATIVO 27 (14%)

3. ENUNCIADOS INTERROGATIVOS 21 (11%)

4. FRASES NOMINAIS 11 (6%)

5. FUTURO SIMPLES OU COMPOSTO 05 (2%)

6. CONDICIONAL 04 (3%)

7. PRESENTE DO SUBJUNTIVO 01 (1%)

8. PRETÉRITO PERFEITO 01 (0,5%)

9. PRETÉRITO IMPERFEITO 01 (0,5%)

TOTAL 184 (100%)

Como se pode observar na tabela 1, as formas mais frequentes para formulações de

pedidos foram com o imperativo seguido de presente do indicativo, enunciados interrogativos

e formas nominais, e as formas menos frequentes foram as formas condicionais, as formas em

futuro e presente do subjuntivo que foram agrupadas por apresentarem um valor de

posterioridade ou probabilidade e as formas em pretérito que também foram analisadas juntas

por representarem uma anterioridade de tempo verbal. Orozco (2010) agrupa essas formas

mais frequentes como formas que não apresentam uma desfocalização do centro dêitico

temporal, e as formas menos frequentes são formas verbais desfocalizadas, que se utilizam

principalmente em pedidos indiretos convencionalizados por apresentarem uma

desfocalização do centro dêitico de tempo. Segundo Haverkate (1994, apud Orozco, 2010), as

formulações que se afastam do centro dêitico criam uma distância metafórica e tem um efeito

atenuador.

Em nossa análise verificamos que algumas formulações de pedidos apareceram atenuadas,

intensificadas, ou sem atenuação ou intensificação. Na tabela 2 pode-se visualizar como foi

distribuído o total de formulações de pedidos com esses recursos de atenuação, intensificação

e sem nenhuma dessas estratégias.

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Tabela 2: Total de 184 formulações de pedidos classificados estratégias de atenuação, intensificação e sem

estratégias de atenuação e intensificação.

ESTRATÉGIAS FORMULAÇÕES DE PEDIDOS

ATENUAÇÃO 65 (35%)

INTENSIFICAÇÃO 26 (14%)

ZERO 93 (51%)

TOTAL 184 (100%)

Vemos que houve formulações mais frequentes de pedidos sem estratégias atenuadoras

ou intensificadoras, o que pode estar relacionado com a grande ocorrência de formulações de

pedidos em relação pessoal (que veremos a seguir), já que esse tipo de relação pode muitas

vezes está favorecido pela relação de mais proximidade. Observamos também, a presença de

formulações de pedidos atenuados e intensificados, ou seja, para formular um pedido foi

necessário utilizar “reforços” como a atenuação e a intensificação, sendo assim, quais teriam

sido as estratégias de atenuação e intensificação mais frequentes nessas formulações e que

situações favorecem essas formulações atenuadas ou intensificadas? É o que tentaremos

responder na análise de nossos dados.

Ao analisar as sequências conversacionais das personagens Pepa, Rebeca e Raimunda,

levantamos um total de 184 formulações de pedidos direcionados a mulheres e a homens (ver

tabela 3) em relações funcionais pessoais e transacionais (ver tabela 4).

Tabela 3: Total de 184 formulações de pedidos classificados por personagem e por sexo (Homens – pedidos

dirigidos a personagens homens; Mulheres – pedidos dirigidos a personagens mulheres).

PERSONAGEM

GÊNERO PEPA REBECA RAIMUNDA TOTAL

HOMENS 35 19 20 74 (40%)

MULHERES 34 12 64 110 (60%)

TOTAL 69 (37%) 31 (17%) 84 (46%) 184 (100%)

Podemos notar na tabela 3 que houve maior frequência de formulações de pedidos

direcionados a mulheres que a homens, mas esta frequência está relacionada ao quantitativo

de sequências conversacionais que foi maior com mulheres que com homens, no entanto

podemos perceber uma diferença de comportamento entre as três personagens a partir do total

de formulações de pedidos de cada uma. Raimunda foi a personagem que mais formulou

pedidos, ela é a representação de uma mulher de nível econômico mais baixo, trabalha em

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mais de um emprego para sustentar a filha e o marido que se encontra desempregado. Pepa

aparece em seguida com um quantitativo intermediário de formulações de pedidos, ela

representa uma mulher independente, de classe média alta, mas que foi rejeitada pelo amante

e passa mais da metade do filme buscando por ele. Rebeca é a personagem que apresenta a

menor freqüência de formulações de pedidos, ela é uma mulher mimada, porém a mais

independente de todas, tem um nível social alto, que herdou de seu marido e de sua mãe.

Tabela 4: Total de 184 formulações de pedidos classificados por personagem e por relação funcional (pessoal e

transacional).

PERSONAGEM

REL. FUNC.

PEPA REBECA RAIMUNDA TOTAL

PESSOAL 51 28 72 151(82%)

TRANSACIONAL 18 03 12 33 (18%)

TOTAL 69 (37%) 31 (17%) 84 (46%) 184 (100%)

Na tabela 4 notamos uma maior frequência de formulações de pedidos em relações

pessoais que em relações transacionais, isso talvez se explique pela preferência pelo registro

coloquial esperado nos filmes de Almódovar, observa-se que a frequência das formulações

permanece a mesma para as três personagens, assim como nas relações com homens e

mulheres.

Neste trabalho procuraremos, apesar dos três diferentes perfis individuais, caracterizar o

que estes pedidos têm em comum com relação a sua formulação, que estão dirigidos e às

estratégias de atenuação e intensificação usadas, que podem ser relevantes para demonstrar o

ethos do espanhol peninsular de mais confiança descrito por Kerbrat-Orecchioni (2005, 2006),

Albela Marco (2005) e Haverkate (2004), bem como a relação do ethos feminino do espanhol

com elementos masculinos e femininos, e em relações funcionais pessoais e transacionais, ou

seja, como uma mulher contemporânea (retratada em filmes de Almódovar) se relaciona com

homens e com mulheres, em relações pessoais e relações transacionais através dos pedidos?

A seguir procuraremos sistematizar de maneira quantitativa e qualitativa o contexto de

uso das formulações de pedidos em cada categoria verbal ou nominal, começando pelo

imperativo.

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3.1 IMPERATIVO:

Como já foi assinalado por inúmeros estudos, a sociedade espanhola tem preferência

pelo uso do imperativo na elaboração de seus atos diretivos. Segundo Placencia e García

(2007), há uma tolerância para o uso do imperativo e uma tendência a usar menos

mitigadores, pois se deseja reforçar a imagem de autonomia. A seguir faremos uma análise

do imperativo nas formulações de pedidos, verificando se houve formulações atenuadas,

intensificadas ou sem nenhum recurso estratégico.

Temos ao todo um total de 113 ocorrências de formulações de pedidos com Imperativo,

ou seja, 62% do total dos pedidos. Desse total, 70% foram formulados com polaridade

positiva e 30% com polaridade negativa; verificamos que esses tipos de formulação podem

estar relacionados aos tipos de pedidos, o imperativo afirmativo se utiliza para pedir objetos

(exemplo 04) e para uma ação (exemplo 05) e o imperativo negativo para mudança de

comportamento do interlocutor (exemplo 06):

(04) Raimunda – Paula: “Anda, cariño, dame un vaso de água.”

(05) Raimunda – Paula: “Paula, cuelga ese teléfono ahora mismo.”

(06)Pepa – Candela: “Candela, no seas borde, que están en mi casa.”

Um total de 13% foram formulados com usted, ou seja, com mais distância interpessoal, e

85% foram formulados com tú e 2% com o plural vosotros, ou seja, 87% dos casos são de

menos distância interpessoal, como se vê na tabela 5.

Tabela 5: Total 113 de formulações de pedidos com Imperativos

FORMAS DE TRATAMENTO IMPERATIVO AFIRMATIVO IMPERATIVO NEGATIVO TOTAL

TÚ 72 25 96(85%)

USTED 07 07 15(13%)

VOSOTROS - 02 02(2%)

TOTAL 79(70%) 34(30%) 113(100%)

Vemos que do total de formulações de pedidos em imperativo, a grande maioria das

ocorrências se deram com interlocutores que apresentam menor distância interpessoal, isso

pode se explicar pela coloquialidade prevista nos filmes de Almódovar.

Tabela 6: Total de 113 Formulações de pedidos com Imperativos encontrados em nosso corpus

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FORMAS DE

TRATAMENTO

IMPERATIVO AFIRMATIVO IMPERATIVO NEGATIVO TOTAL

Déjame (5)

Vete (5)

Dame (4)

Dime (4)

Dile (4)

Deja de (3)

Ponte (3)

Suéltame (3)

Ven (3)

Cierra (2)

Échame (2)

Sírveles (1)

Tranquilízate (1)

Suelta (1)

Diles (1)

Tómate (1)

No seas (4)

No le digas (2)

No te quedes (1)

No me preguntes (1)

No lo cojas (1)

No dejes (1)

No me mires (1)

No te atraques (1)

No me mientas (1)

No me llames (1)

No insistas (1)

No empieces (1)

No me confundas (1)

No te rías (1)

Tú no sabes nada (1)

No te canses (1)

No te compliques (1)

No digas (1)

No me vengas (1)

No puedes (1)

No empieces (1)

97(85%)

USTED

Vaya (1) Búsquelas (1)

Perdone (1) Quédese(1)

Llévenos (1)

Dígale (1)

Siga (1)

No me grite (1)

No se preocupe (1)

No le haga caso(1)

No se acerque (1)

No le diga (1)

No le diga (1)

No pierda (1)

14(13%)

VOSOTROS

-

No cojáis (1)

No abráis (1)

02(2%)

TOTAL 79(70%) 34(30%) 113(100%)

As formulações de pedidos com imperativo direcionadas a interlocutores mais próximos

tú e vosotros ocorreram com todos os tipos de pedidos: ação, objeto e mudança de

comportamento (sendo que nas sequências dirigidas a vosotros houve somente a utilização do

imperativo como ação, recomendação), o que sugere que a proximidade da relação favoreça

esses tipos de formulações devido a confiança, proximidade entre os participantes da

interação. Já nas sequências direcionadas a interlocutores com mais distância representada

pela forma de tratamento usted, observamos o uso imperativo relacionado a ação e a mudança

de comportamento, o que pode demonstrar que a distância interpessoal não intimida a

formulação de um pedido com imperativo, ratificando alguns estudos sobre a sociedade

espanhola, de que é voltada para a relação de confiança.

As variáveis extralingüísticas selecionadas para nossa análise foram: gênero dos

interlocutores (masculino e feminino) e relações funcionais (pessoal e transacional),

Léete (1)

Tráeme (1)

Llámame (1)

Espera (1)

Procura (1)

Prepárate (1)

Entra (1)

Siéntate (1)

Márcamelo (1)

Dale (1)

Disimula (1)

Quita (1)

Vuelve (1)

Enseñame (1)

Cógelo (1)

Acompañame (1)

Cuelga (1)

Sé (1)

Sube (1)

Échale (1)

Asómate (1)

Ayúdame (1)

Mírame (1)

Descansa (1)

Dinos (1)

Cómete (1)

Traémelos (1)

Pasa (1)

Quedátela (1)

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buscaremos estabelecer se estas variáveis favorecem ou não as escolhas por determinadas

formulações de pedidos.

Tabela 7: Total de 113 formulações de pedidos com imperativo divididos por gênero.

GÊNERO DO

INTERLOCUTOR

PEDIDOS COM IMPERATIVO PEDIDOS SEM IMPERATIVO TOTAL DOS PEDIDOS

HOMEM 44 (60%) 30 (40%) 74 (100%)

MULHER 69 (62%) 41 (38%) 110 (100%)

TOTAL 113 71 184

Tabela 8: Total de 113 formulações de pedidos com imperativo divididos por relação funcional.

RELAÇÃO

FUNCIONAL

PEDIDOS COM IMPERATIVO PEDIDOS SEM IMPERATIVO TOTAL DOS PEDIDOS

PESSOAL 98 (65%) 53 (35%) 151 (100%)

TRANSACIONAL 15 (45%) 18 (55%) 33 (100%)

TOTAL 113 71 184

Como se observa na tabela 7, de um total de 74 formulações de pedidos direcionadas a

homens, 44 (60%) foram com imperativo e de um total de 110 formulações de pedidos

direcionados a mulheres, 69 (62%) foram com imperativo, o que demonstra que a diferença

de gênero não influencia na formulação de pedidos com imperativo. Já na tabela 8, observa-

se que de um total 151 formulações de pedidos em relação pessoal, 98 (65%) se formula com

imperativo e de um total de 33 formulações em relação transacional, 15 (46%) foram

elaboradas com imperativo, o que pode demonstrar que as relações pessoais favorecem o uso

desse tipo de formulação.

Em nossa análise verificamos também se essas formulações de pedidos com imperativo

apareceram atenuadas, intensificadas, ou sem atenuação ou intensificação. A seguir podemos

visualizar como foi distribuído o total de formulações de pedidos com imperativo com esses

recursos de atenuação, intensificação e sem nenhuma dessas estratégias, divididos por gênero

e relação funcional.

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Tabela 9: Total de 113 formulações de pedidos classificados por estratégias de atenuação, intensificação e sem

estratégias de atenuação e intensificação.

ESTRATÉGIAS TOTAL DOS PEDIDOS TOTAL DOS PEDIDOS COM IMPERATIVOS

ZERO 93 (51%) 59 (52%)

ATENUAÇÃO 65 (35%) 40 (35%)

INTENSIFICAÇÃO 26 (14%) 14 (13%)

TOTAL DOS PEDIDOS 184 (100%) 113 (100%)

Verificamos na tabela 09 que de um total de 184 pedidos, 113 (62%) foram com

imperativos, desse total de 113 formulações de pedidos com imperativo, 59 (52%) foram sem

estratégias de atenuação ou intensificação, 40 (35%) foram atenuados e 14 (13%) foram com

estratégias de intensificação.

Como já mencionamos anteriormente, na sociedade espanhola existe uma preferência pelo

uso do imperativo, pois como já disse Haverkate (2004) a sociedade espanhola é uma

sociedade voltada para a confiança, a solidariedade, a redução da liberdade de ação do

interlocutor inerente na ilocução do imperativo demonstraria essa confiança por parte do

falante, fortalecendo os laços sociais, sendo assim o uso do imperativo sem a utilização de

recursos estratégicos de atenuação ou intensificação seria suficiente para conseguir o que se

deseja, já para as formulações que apresentaram atenuações, a explicação pode estar no tipo

de pedido que talvez ofereça uma ameaça à imagem do falante, havendo assim a necessidade

de uma atenuação.

3.1.1 IMPERATIVOS SEM ATENUAÇÃO OU INTENSIFICAÇÃO:

De um total de 113 formulações de pedidos com imperativo, encontramos 59

formuladas sem estratégias de atenuação ou intensificação. A seguir analisaremos as

formulações dos pedidos com imperativo sem esses recursos citados, divididos por variáveis

extralingüísticas como gênero e relação funcional.

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Tabela 10: Total de 59 formulações de pedidos sem estratégias de atenuação e intensificação divididas por

gênero.

GÊNERO DO

INTERLOCUTOR

ESTRATÉGIA: ZERO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM IMPERATIVO

HOMEM 28(64%) 16 (36%) 44 (100%)

MULHER 31(45%) 38 (55%) 69 (100%)

TOTAL 59 54 113

Verificamos que nas relações com homens, as formulações de pedidos com

imperativos sem estratégias de atenuação ou intensificação foram proporcionalmente maior

que nas relações com mulheres. Vimos que do total de 28 das formulações direcionadas a

homens, 23 deles se tratam de pedidos de ação e 05 de pedidos de mudança de

comportamento (ver quadro 13 dos anexos), o que pode sugerir que esses tipos de pedido

favoreçam, esse tipo de formulação quando dirigidos a homens ou que o interlocutor

masculino talvez favoreça a relação de confiança ou que para esse tipo de interlocutor haja a

necessidade de preservar a imagem de afiliação. Já nas 31 formulações de pedidos

direcionados a mulheres, 24 foram de pedidos de ação, 05 de pedidos de mudança de

comportamento e 02 de pedidos de objeto (ver quadro 01 dos anexos), o que reforça a

hipótese de que esse tipo de pedido favoreça esse tipo de formulação.

Podemos confirmar tal hipótese nas sequências de Pepa com Carlos e o taxista, em que

Carlos é filho de seu amante e ela deseja aproximar-se dele e o taxista é um admirador de seu

trabalho e sempre lhe presta serviço, nesses casos, Pepa precisa preservar sua imagem de

afiliação.

(07) Pepa – taxista: “No le diga a su novia que me ha visto llorar.”

(08) Rebeca – Eduardo “No puedes hacerlo ahora que está resuelto”

(09) Pepa – Carlos: “No me mientas tú también.”

Nos exemplos (07) e (08) observa-se as formulações de pedido de ação direcionados

a homens e no exemplo (09) formulação de pedido de mudança de comportamento.

(10) Raimunda – Paula: “Dale un beso”

(11) Rebeca –Becky: “No digas tonterías, no fuiste la única”

(12) Raimunda – Sole: “Dame un vaso de água”

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Já nas formulações direcionadas a mulheres, observa-se exemplo (10) como pedido de

ação, o exemplo (11) como pedido de mudança de comportamento e o exemplo (12) como

pedido de objeto.

A seguir veremos como ocorreram as formulações de pedidos com imperativo sem

estratégias de atenuação ou intensificação nas relações funcionais pessoais e transacionais.

Tabela 11: Total de 59 formulações de pedidos sem estratégias de atenuação e intensificação divididas por

relação funcional.

RELAÇÃO

FUNCIONAL

ESTRATÉGIA:

ZERO

OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM IMPERATIVO

PESSOAL 49 (50%) 49 (50%) 98 (100%)

TRANSACIONAL 10 (66%) 05 (34%) 15 (100%)

TOTAL 59 54 113

Nas formulações de pedidos com imperativo direcionadas as relações funcionais,

verificamos que houve uma frequência proporcionalmente maior de imperativos sem

atenuação ou intensificação nas relações transacionais de que as pessoais. De todas as

formulações de pedidos nas relações transacionais, 09 foram elaboradas como pedidos de

ação e apenas 01 como pedido de mudança de comportamento, o que pode demonstrar que

mesmo em relações que representem uma assimetria ou distância interpessoal há uma

tolerância para o uso do imperativo não atenuado ou intensificado nesse tipo de pedido, o que

pode confirmar que a sociedade espanhola é uma sociedade voltada para a confiança, a

solidariedade. Nas relações pessoais verificamos que os pedidos de ação ocorreram em maior

frequência com esse tipo de formulação, de um total de 49 de formulações de pedidos, 37

ocorreram como pedidos de ação, 10 ocorreram como pedidos de mudança de

comportamento e 02 como pedidos de objeto.

3.1.2 IMPERATIVOS COM ATENUAÇÃO

Segundo Briz (2005: 56), a atenuação é uma operação lingüística estratégica de

minimização do que é dito e do ponto de vista, sendo assim, está vinculada à atividade

argumentativa e de negociação do acordo, que é o fim de toda conversação. Portanto, pode-se

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dizer que a atenuação seria um “reforço” na formulação do pedido com imperativo para

conseguir o que se deseja, já que somente a ilocução do imperativo não seria suficiente.

Levantamos de um total de 40 formulações de pedidos com imperativo para homens,

33% foi atenuado e no total de 69 pedidos com imperativo para mulheres, 38% foi atenuado,

como se vê na tabela 12.

Tabela 12: Total de 40 formulações de pedidos com estratégias de atenuação, divididas por gênero.

GÊNERO DO

INTERLOCUTOR

ESTRATÉGIA: ATENUAÇÃO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM IMPERATIVO

HOMEM 14 (33%) 30 (67%) 44 (100%)

MULHER 26 (38%) 43 (62%) 69 (100%)

TOTAL 40 72 113

Nas formulações de pedidos com imperativo atenuado aparece nas relações com

mulheres uma maior frequência dessas estratégias, que proporcionalmente com homens.

Vimos que esse tipo de formulação apareceu nos pedidos de ação e mudança de

comportamento (ver quadros 2 e 14 em anexos). Esse resultado sugere duas hipóteses: 1) o

interlocutor feminino pode favorecer o uso de formulações de pedidos com imperativo

atenuado ou 2) o tipo de pedido (nesses casos, pedido de ação e de mudança de

comportamento) direcionado a mulheres favorece esse tipo de formulação.

Tabela 13:Total de 40 formulações de pedidos com estratégias de atenuação, divididas por relação funcional.

RELAÇÃO

FUNCIONAL

ESTRATÉGIA:

ATENUAÇÃO

OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM IMPERATIVO

PESSOAL 35 (35%) 63 (65%) 98 (100%)

TRANSACIONAL 05 (34%) 10 (66%) 15 (100%)

TOTAL 40 73 113

No que diz respeito às relações funcionais, verificamos que houve uma pequena

diferença, na relação pessoal ocorreu uma frequência proporcionalmente maior de imperativos

com atenuação que nas relações transacionais. A maior frequência das formulações foi

elaborada para os pedidos de ação com maior possibilidade de rejeição (26 formulações no

total), a segunda maior frequência foram pedidos de mudança de comportamento (12

formulações no total), que pode ameaçar a imagem do falante, seguido de pedido de objeto

(02 formulações no total). Nas relações transacionais, o índice de frequência foi o mesmo,

com exceção para o pedido de objeto que não ocorreu nesse tipo de relação. Tal resultado

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pode sugerir que tanto numa relação assimétrica e distante, quanto numa relação simétrica e

próxima, esses tipos de pedido podem ameaçar à imagem do falante (ver quadros 2 e 14 em

anexos).

(13) Pepa – taxista: “Por favor, aunque no les persiga, llévenos al aeropuerto. Que tenemos que llegar.”

(14) Raimunda – cineasta: “Anda, vete a tomarte algo, que estoy trabajando”

(15) Pepa – Carlos: “Y aunque yo pueda ser tu madrasta no me llames de usted.”

No (13) há um exemplo de formulação como pedido de ação, trata-se de uma situação

em que o pedido tem grande possibilidade de rejeição, portanto a atenuação pode funcionar

como uma forma de diminuir a força ilocutiva e deixá-lo mais persuasivo. O mesmo ocorre

no exemplo (14) em que pedido de mudança de comportamento pode ameaçar a imagem do

falante, já que se trata de uma relação distante. No exemplo (15), além de não desejar que sua

imagem seja ameaçada, há a necessidade de aproximação, de aumentar a confiança.

- Mais de uma atenuação por pedido:

Do total de 113 formulações de pedidos com imperativo, houve a ocorrência de 41

formulações de pedidos atenuadas, sendo que nessas 40 formulações, observamos ao todo 55

estratégias de atenuação, o que quer dizer que há formulações com estratégias de atenuações

sobrepostas, ou seja, o mesmo pedido é realizado com mais de uma estratégia de atenuação,

em 12 formulações listadas a seguir 7:

a) Duas estratégias de atenuação por pedido:

(16) Pepa – Candela: “Espera hija que no será tan urgente.”

(17) Pepa – taxista: “Por favor, aunque no les persiga llévenos al aeropuerto. Que tenemos que llegar.”

(18) Pepa – taxista: “Vaya deprisita que tenemos que llegar antes de ellos.”

(19) Raimunda – Paula: “Anda, cariño dame un vaso de água.”

(20) Raimunda – Sole: “Quedatela, yo voy a hacer unos recalces y cuando termine vuelvo cuando pueda

¿eh?

(21) Raimunda – Paula: “Anda, no seas perezosa chiquitita que yo te ayudo”

(22) Raimunda – cineasta: “Anda, vete a tomarte algo que estoy trabajando”

7 Vemos que nos exemplos há 12 formulações de pedidos com imperativo, todas elas apresentam mais de uma estratégia

de atenuação, isto é, 16 estratégias a mais que as já presentes nas formulações (40+16=56).

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(23) Rebeca – Letal: “Oye, ven a ayudarme a bajar, no ves que tengo tacones y me puedo romper

un tobillo.”

(24) Raimunda – Paco: “Ay Paco déjame.”

(25) Raimunda – Paco: “Ay Paco no seas pesado.”

b) Três ou mais estratégias de atenuação por pedido:

(26) Raimunda – Paco: “Ay Paco, déjame estoy molida y mañana tengo que madrugar.”

(27) Pepa – Lucía: “Por favor señora, no me grite que acabo de sufrir un desmayo.”

Observamos que o aumento do uso de estratégias de atenuação em uma formulação de

pedido pode estar relacionado com o tipo de pedido e a situação em que o pedido será

formulado. Esse tipo de formulação de pedido ocorreu em situação de conflito e quando o

custo do pedido é alto. O exemplo (26) é o que apresenta maior carga de atenuação (4 no

total), o excesso de atenuação pode estar no tipo de pedido: rejeição ao marido, o que pode

gerar um conflito na relação, a atenuação surge como forma de evitar ou minimizar esse

conflito. No exemplo (27) Pepa elabora um pedido com o uso do imperativo, e utiliza três

recursos de atenuação: marcador conversacional (por favor), forma de tratamento nominal

(señora) e justificativa (que acabo de sufrir un desmayo), o que torna o pedido com uma

carga muito grande de atenuação. Tal atitude pode ser justificada pelo tipo de pedido: pedido

de ação a um interlocutor que apresenta uma relação antagônica com o falante (conflito), o

que pode demonstrar que em relações desse tipo haja a necessidade do falante em diminuir a

força ilocutiva de seu ato e preservar sua imagem de afiliação para conseguir seu objetivo. O

mesmo ocorre nos exemplos (23), (24) e (25). Já nos demais exemplos, a alta frequência das

atenuações pode estar relacionada com o custo do pedido. No exemplo (20), Raimunda

deseja que sua irmã cuide de sua filha enquanto esteja fora, e isso atrapalharia a rotina de sua

irmã que vive sozinha, sendo assim, o pedido pode apresentar uma grande possibilidade de

rejeição e seria necessário aumentar seu nível de persuasão.

- Tipos de estratégias de atenuação nos pedidos:

Consideramos como elementos atenuadores para a análise desse tipo de formulação de

pedido os seguintes recursos: a justificativa, a forma de tratamento nominal, o marcador

conversacional e os modalizadores adverbiais.

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Tabela 14: Total de 56 estratégias de atenuação classificados e por formulação pragmalinguistica

ATENUAÇÃO TOTAL

JUSTIFICATIVA 20 (36%)

FORMA DE TRATAMENTO NOMINAL 19 (34%)

MARCADOR CONVERSACIONAL 16 (28%)

MODALIZADOR ADVERBIAL 01 (2%)

TOTAL 56 (100%)

A justificativa foi a estratégia mais frequente para as formulações de pedidos com

imperativo com 20 ocorrências. Ela pode ser vista como uma estratégia de atenuação

“preparatória”, isto é, prepara o “ambiente” para elaboração do ato (anteposta à formulação de

pedido), ou pode ser também uma necessidade de explicar o pedido (posposta a formulação de

pedido) ao interlocutor pela formulação do pedido. Verificamos que do total de 20

ocorrências, 18 ocorreram com justificativas pospostas à formulação de pedidos com

imperativo e o pedido de ação favoreceu esse uso, vimos ainda que quase todas foram

introduzidas por que, es que.

(28) Pepa – Carlos: “Ven, acompañame. Es que éste no funciona y estoy esperando una llamada de tu

padre.”

(29) Raimunda – Paula: “Vete a cambiar que te va a coger una pulmonía”

O fato da maioria das justificativas virem pospostas, parece corroborar a imagem de

“diretividade” na imagem do ethos do espanhol peninsular, pois há a elaboração do

imperativo antes da atenuação.

As formas de tratamento nominal foram a segunda estratégias de atenuação com

maior número de frequência nas sequências conversacionais analisadas das três personagens

com 19 ocorrências. Em nossa análise apareceram as seguintes formas de tratamento nominal:

para referir-se as relações familiares (mamá, hija); para referir-se a pessoas não familiares

(señora); para referir-se a pessoas amigas e com expressão de afeto (cariño,chiquitita, mujer)

e nomes pessoais (Paco, Sole etc).

(30) Rebeca – Becky: “Mamá, deja de montármelas.”

(31) Pepa – Candela: “Candela, tráeme algo de beber.”

(32) Raimunda – Sole: “Sole, no empieces voy a ver quien es...

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Verificamos que do total de 19 ocorrências dessas estratégias, 15 ocorreram antes da

formulação do pedido, o sugere que a forma de tratamento nominal pode funcionar como um

“amortecedor” para a formulação de um pedido, a fim de minimizar sua força ilocutiva, como

listado nos exemplos (30), (31) e (32). Três estratégias ocorreram pospostas ao pedido.

(33) Raimunda – Paula: “Anda, no seas perezosa chiquitita que yo te ayudo.”

(34) Raimunda – Inés: “Anda, traémelos a casa ¡cariño!”

(35) Raimunda – Agustina: “Siéntate mujer.”

Todas as formulações nos exemplos acima ocorreram como formas carinhosas de

tratamento para reforçar os pedidos.

Outra categoria com grande ocorrência foi o marcador conversacional com 16

ocorrências. Encontramos em nosso corpus os seguintes marcadores conversacionais: por

favor, oye, por Dios, anda, pues, venga, que apareceram antepostos ao pedido, talvez como

forma preparatória para o pedido, , ¿eh? e ¿vale?, os dois únicos que apareceram pospostos ao

pedido, talvez como forma de reiterá-lo, já que está em forma interrogativa.

(36) Pepa – taxista: “Por favor, aunque no les persiga llévenos al aeropuerto. Que tenemos que llegar.”

(37) Raimunda – Emilio: “Venga dime cuánto tengo que pagar del alquiler del mes y te lo mando.”

(38) Raimunda – Sole: “Quedatela, yo voy a hacer unos recalces y cuando termine vuelvo cuando pueda

¿eh?

Nos exemplos (36) e (37), observa-se as estratégias antepostas ao pedido como forma

de preparatória, no exemplo (38) a estratégia aparece posposta ao pedido como forma de

reforçar o pedido.

O modalizador adverbial foi uma estratégia que apareceu somente uma única vez,

trata-se da sequência conversacional entre Pepa e o taxista que por coincidência, sempre lhe

presta serviço, a relação é marcada pela distância social e pela assimetria, o que justifica o uso

da forma de tratamento usted entendida na forma imperativa vaya.

(39) Pepa – taxista: “Vaya deprisita que tenemos que llegar antes de ellos.”

O uso do diminutivo de base adverbial atenuou o pedido em situação transacional,

apareceu como forma de “amortecer” a força ilocutiva do imperativo.

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3.1.3 IMPERATIVOS COM INTENSIFICAÇÃO:

Segundo Briz ( apud Albelda Marco, 2005:95), a intensificação é uma categoría

pragmática, relacionada com a atividade retórica do falante, que a emprega com um propósito

determinado “reforçar a verdade do que é expresso e para fazer valer sua intenção de fala”.

Verificamos que a intensificação como estratégia apareceu em menor frequência que a

atenuação, nas tabelas a seguir veremos como ocorreram esas formulações a partir das

variáveis extralingüísticas de gênero e relação funcional.

Tabela 15: Total de 14 formulações de pedidos com estratégias de intensificação divididas por gênero.

GÊNERO DO

INTERLOCUTOR

ESTRATÉGIA: INTENSIFICAÇÃO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM IMPERATIVO

HOMEM 02 (5%) 42 (95%) 44 (100%)

MULHER 12 (17%) 56 (83%) 69 (100%)

TOTAL 14 99 113

A intensificação foi a estratégia que apareceu em menor frequência em ambos os

casos, porém nas relações com mulheres foi proporcionalmente maior que nas relações com

homens, verificamos que o pedido de ação e de mudança de comportamento favoreceram

esse tipo de formulação, além da relação de poder, pois a maioria das intensificações ocorreu

em sequências de mãe e filha (Raimunda e Paula) o que pode sugerir que a intensificação

pode aparecer como um marcador da posição social do falante (interlocutor com + poder para

interlocutor com – poder), além disso, o interlocutor feminino pode representar também uma

ameaça maior à imagen de autonomia do falante, havendo a necessidade de intensificar o

pedido em determinadas situações.

(40) Pepa – Lucía: “Váyase a la mierda usted también, pero digale que me llame”

No exemplo (40), quando Pepa é agredida verbalmente por Lucía, ela intensifica seu

pedido com um insulto, demonstrando que não há preocupação de sua parte em atenuar o tom

de seu ato apesar da distância interpessoal entre ambas, o que pode demonstrar o desejo em

reforçar a imagem de autonomia.

(41) Pepa – Candela: “Candela no seas borde están en mi casa.”

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No exemplo (41), o pedido é intensificado com uma forma de tratamento nominal

(Candela), porém o que determina a intensificação é o microato observado nessa sequência

(recriminação, ou seja, a oralização negativa explícita). Nesse exemplo, a intensificação

aparece para demonstrar o grande descontentamento com a atitude do outro e reforçar o

desejo na mudança desse comportamento.

Tabela 16:Total de 14 formulações de pedidos com estratégias intensificação divididas por relação funcional.

RELAÇÃO

FUNCIONAL

ESTRATÉGIA: INTENSIFICAÇÃO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM IMPERATIVO

PESSOAL 14 (14%) 84(86%) 98 (100%)

TRANSACIONAL 00 (0%) 15 (100%) 15 (100%)

TOTAL 14 96 113

Verificamos em nossa análise que no pedidos com imperativo as estratégias de

intensificação apareceram somente nas relações funcionais pessoais, o que pode significar que

em relações que podem representar assimetria ou maior distancia interpessoal, esse tipo de

formulação não seria adequado.

- Mais de uma estratégia de atenuação por pedido:

Observamos que do total de 113 formulações de pedidos com imperativo, houve a

ocorrência de 14 formulações intensificadas, sendo que nessas 14 formulações, apareceram 17

estratégias de intensificação, o que quer dizer que há formulações com estratégias

sobrepostas, ou seja, com mais de uma estratégia de intensificação, como se pode ver nos

exemplo abaixo:

(42) Pepa – Candela: “Candela no seas borde están en mi casa.”

(43) Raimunda – Paula: “Paula, vete arreglando que en media hora empezará a llegar la gente.”

(44) Raimunda – Paula: “Paula, cuelga ese teléfono ahora mismo.”

Vemos que nos exemplos acima há 03 formulações de pedidos com imperativos, todas

elas apresentam mais de uma estratégia de intensificação, isto é, 03 estratégias a mais do que

as já presentes nas formulações. Todas as sobreposições de estratégias intensificadas

ocorreram em relação filial, isto é, com alto grau de intimidade em que o falante exerce sobre

seu interlocutor uma relação de poder.

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- Tipos de estratégias de intensificação nos pedidos:

Encontramos em nossa análise algumas categorias de natureza verbal e nominal que

representam esses recursos estratégicos, são elas: justificativa, forma de tratamento nominal,

marcador conversacional, insulto e recriminação. Os exemplos dessas categorías serão

mostrados a seguir.

Tabela 17: Total de 17 estratégias de intensificação classificados por formulação pragmalinguistica

INTENSIFICAÇÃO TOTAL

FORMA DE TRATAMENTO NOMINAL 08(42%)

MARCADOR CONVERSACIONAL 05(37%)

INSULTO 02(11%)

JUSTIFICATIVA 01(5%)

APRECIAÇÃO NEGATIVA 01(5%)

TOTAL 17(100%)

As formas de tratamento nominal foram as estratégias de intensificação com maior

número de frequência nas sequências conversacionais analisadas das três personagens com 08

ocorrências. Em nossa análise, apareceu somente a seguinte forma de tratamento nominal:

nomes pessoais (Paula, Sole, Candela). Do total de 08 ocorreências, 06 ocorreram antepostas

e 02, pospostas.

(45) Raimunda – Paula: “Paula, cuelga ese teléfono ahora mismo”

(46) Raimunda – Paula: “Sí, vuelve a tu habitación, Paula”

No exemplo (45), observa-se a estratégia anteposta. A entoação do nome antes do

pedido já intensifica a força ilocutiva do pedido. As formulações pospostas, como no

exemplo (46), também reforça o pedido.

Os marcadores conversacionais foram a segunda forma mais utilizada para

intensificação, entre elas estão: anda e ¿eh?.

(47) Pepa – Candela: “Anda, entra, que he estado fuera toda la noche.”

(48) Raimunda – Paula: “Sé cariñosa con la tía ¿eh?

A forma anda ocorreu anteposta em todas as formulações, o que sugeres a intenção de

abertura do pedido e a forma ¿eh? ocorreu posposta como forma de reiterar o pedido.

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A justificativa teve uma única ocorrência na sequência conversacional de Raimunda

com Paula, como tentativa de reforçar o pedido. A estratégia aparece posposta ao pedido de

ação, introduzida pelo elemento “que”.

(49) Raimunda – Paula: “Paula/ vete arreglando que en media hora empezará a llegar la gente”

O insulto e a apreciação negativa ocorreram em uma única formulação cada uma.

(50) Pepa – Lucía: “Váyase a la mierda usted también, pero digale que me llame”

(51) Pepa – Candela: “Candela no seas borde están en mi casa.”

O insulto aparece anteposto ao pedido, pois se trata de uma resposta ao insulto formulada

anteriormente pelo destinatário, o que pode marcar um reforço na imagem de autonomia do

falante como visto no exemplo (50). A apreciação negativa, exemplo (51), representa a

oralização negativa explícita marcada pela relação de + poder.

Em síntese:

As formulações de pedidos mais frequentes no espanhol peninsular ocorreram com

o imperativo.

As formulações de pedidos com imperativos sem estratégias de atenuação ou

intensificação foram as mais frequentes, confirmando a tolerância da sociedade

espanhola pelo uso do imperativo, demonstrando que é uma sociedade voltada

para a confiança. Esse tipo de formulação apareceu com mais frequência nas

relações com homens com pedidos de ação e nas relações transacionais também

com pedidos de ação, o que demonstra que os pedidos de ação para homens

favoreçam esse tipo de formulação, assim como, a assimetria das relações

transacionais não interfere na elaboração do imperativo como pedido.

As formulações atenuadas foram a segunda mais frequente e apareceram em tipos

de pedidos que podem apresentar mais ameaça à imagem (mudança de

comportamento e pedidos de ação). Nas relações com mulheres ocorreram em

maior frequência, talvez pelos tipos de pedidos direcionados a elas: pedidos de

ação e de mudança de comportamento, ou porque esse tipo de interlocutor seja

mais ameaçador. Nas relações funcionais, não houve considerável diferença nas

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relações pessoais e transacionais, a maioria dos tipos de pedidos apresentava

grande possibilidade de rejeição ou um custo alto. Observamos que nos pedidos

que possam gerar conflitos ou que apresentem um alto custo, houve a necessidade

de aumentar as estratégias de atenuação, portanto, um mesmo pedido apresentou

mais de uma estratégia para aumentar seu tom persuasivo. As estratégias de

atenuação mais frequentes foram a justificativa posposta à formulação de pedido e

as formas de tratamento nominal anteposta à formulação de pedido. A terceira

estratégia mais frequente foi o marcador conversacional: por favor, oye, por Dios,

anda, pues, venga, que apareceram antepostos ao pedido, talvez como forma

preparatória para o pedido, , ¿eh? e ¿vale?, os dois únicos que apareceram

pospostos ao pedido, talvez como forma de reiterá-lo, já que está em forma

interrogativa. O modalizador adverbial ocorreu uma única vez em forma de

diminutivo que atenuou o pedido em situação transacional e apareceu como forma

de “amortecer” a força ilocutiva do imperativo.

Nas formulações intensificadas, a maior frequência foi direcionada a mulheres

(11%) que com homens (3%), nos casos com homens trata-se de relação de casal

com pedidos de mudança de comportamento. Todas as ocorrências dessas

estratégias foram nas relações pessoais, o que pode demonstrar que a

intensificação esteja relacionada com a aproximação interpessoal, sendo assim nas

relações assimétricas como as transacionais não sejam adequadas, por apresentar

um certo grau de distância interpessoal. A estratégia de intensificação mais

frequente foi a forma de tratamento nominal, 08 ocorreram anteposta, pois a

entoação do nome antes do pedido já intensifica a força ilocutiva do pedido, e 02

formulações pospostas como forma de reforçar o pedido. A segunda estratégia

mais freqüente foi o marcador conversacional, a forma anda ocorreu anteposta em

todas as formulações, o que sugere a intenção de abertura do pedido e a forma

¿eh? ocorreu posposta como forma de reiterar o pedido. A justificativa ocorreu

uma única vez, a estratégia aparece posposta ao pedido de ação, introduzida pelo

elemento que. O insulto e a apreciação negativa também apareceram uma única

vez cada um. O insulto aparece anteposto ao pedido, o que pode marcar um

reforço na imagem de autonomia do falante e a apreciação negativa representa a

oralização negativa explícita marcada pela relação de + poder.

A seguir analisaremos os pedidos formulados com o presente do indicativo.

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3.2 PRESENTE DO INDICATIVO:

O presente do indicativo foi a segunda categoria mais frequente em nossa análise,

temos ao todo um total de 27 ocorrências de formulações de pedidos com presente do

indicativo, ou seja, 15% do total dos pedidos. Desse total 97% foram formulados com

polaridade positiva e 3% com polaridade negativa; 12% foram formulados com usted, isto é,

com mais distância interpessoal e 27% foram formulados com tu, isto é, com menos distância

interpessoal, e 58% com a 1ª pessoa singular e plural yo/nosotros como se vê na tabela 18.

Tabela 18: Total de 26 formulações de pedidos com presente do indicativo

FORMAS DE TRATAMENTO PRESENTE AFIRMATIVO PRESENTE NEGATIVO TOTAL

TÚ 06 01 07(30%)

USTED 03 - 03(11%)

YO/NOSOTROS 17 - 17(59%)

TOTAL 26 (96%) 01 (4%) 27(100%)

Tabela 19: Formulações de pedidos com presente do indicativo encontrados em nosso corpus

FORMAS DE

TRATAMENTO

PRESENTE AFIRMATIVO

PRESENTE NEGATIVO

TOTAL

O me lo marcas tú (1)

Te callas (1)

Ahora sólo puedes escucharme (1)

Arreglas el telefono (1)

Me los vendes a mí (1)

Si tú te vas (1)

Tú no puedes moverte (1)

07

USTED Me pone (2)

Me da (1)

03

YO/

NOSOTROS

Tengo que hablar con... (3)

Necesito un... (2)

Tengo que verte (1)

Ahora lo hablamos (1)

Luego preparamos el equipaje (1)

Conduzco yo (1)

Quiero que me cortes (1)

Que te dejo la Paula (1)

Tengo un montón de ropa por planchar (1)

Mañana te los doy (1)

Vengo a alquilarlo (1)

Quiero alquilarlo (1)

Tengo un montón por planchar (1)

Tengo que planchar la ropa (1)

17

TOTAL 26 01 27

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As formulações de pedidos com presente do indicativo afirmativo ocorreram quase que

em sua totalidade, talvez porque a maioria das formulações tenha como tipo de pedido uma

ação (Arreglas el telefono) ou demonstre a necessidade do falante pela ação do interlocutor a seu

favor , pedido de objeto (Quiero que me cortes), enquanto que as formulações com o presente do

indicativo negativo ocorreu uma única vez. Nas formulações em que o falante se coloca na

ação, isto é, em primeira pessoa foram dominantes em relação às formulações com tú e usted,

o que pode aumentar a força ilocutiva do pedido, já que o falante demonstra sua necessidade

pela ação do outro e coloca seu interlocutor numa situação de obrigação da execução do ato,

sendo assim essa forma pode representar uma diretividade. A seguir analisaremos os

contextos favorecedores e inibidores desse repertório de formulações com presente do

indicativo, considerando os procedimentos de atenuação e intensificação, tendo como fatores

de variação o gênero e a relação funcional dos interlocutores.

Tabela 20: Total de 27 formulações de pedidos com presente do indicativo divididos por gênero.

GÊNERO TOTAL DOS PEDIDOS COM

PRESENTE

PEDIDOS SEM PRESENTE TOTAL DOS PEDIDOS

HOMEM 10 (14%) 64 (86%) 74 (100%)

MULHER 17 (16%) 93 (84%) 110 (100%)

TOTAL 27 157 184

Tabela 21: Total de 27 formulações de pedidos com presente do indicativo divididos por relação funcional.

RELAÇÃO

FUNCIONAL

TOTAL DOS PEDIDOS

COM PRESENTE

PEDIDOS SEM PRESENTE TOTAL DOS PEDIDOS

PESSOAL 22 (15%) 129 (85%) 151 (100%)

TRANSACIONAL 05 (15%) 28 (85%) 33 (100%)

TOTAL 27 157 184

Como se observa na tabela 20, de um total de 74 formulações de pedidos direcionadas a

homens, 10 (14%) foram com presente do indicativo e de um total de 110 formulações de

pedidos direcionados a mulheres, 17 (16%) foram com presente do indicativo, o que

demonstra que a diferença de gênero não influencia na formulação de pedidos com presente

do indicativo, assim como nas relações funcionais, pois como visto na tabela 21, de um total

151 formulações de pedidos em relação pessoal, 21 (15%) se formula com presente do

indicativo e de um total de 33 formulações em relação transacional, 05 (15%) foram

elaboradas com presente do indicativo.

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Em nossa análise verificamos também se essas formulações de pedidos com presente do

indicativo apareceram atenuadas, intensificadas, ou sem atenuação ou intensificação. A

seguir podemos visualizar como foi distribuído o total de formulações de pedidos com

presente do indicativo com esses recursos de atenuação, intensificação e sem nenhuma dessas

estratégias.

Tabela 22: Total de 27 formulações de pedidos classificados por estratégias de atenuação, intensificação e sem

estratégias de atenuação e intensificação.

ESTRATÉGIAS TOTAL DOS PEDIDOS TOTAL DOS PEDIDOS COM PRESENTE

ZERO 93 (51%) 13 (50%)

ATENUAÇÃO 65 (35%) 09 (31%)

INTENSIFICAÇÃO 26 (14%) 05 (19%)

TOTAL DOS PEDIDOS 184 (100%) 27 (100%)

Verificamos na tabela 22 que de um total de 184 pedidos, 27 (15%) foram com

presente do indicativo, desse total de 27 formulações de pedidos com presente do indicativo,

13 (50%) foram sem estratégias de atenuação ou intensificação, 09 (31%) foram atenuados e

05 (19%) foram com estratégias de intensificação. Como vimos anteriormente o presente do

indicativo sugere uma diretividade nas formulações de pedidos, e a sociedade espanhola

aceita bem os atos mais diretos, pois é uma sociedade voltada para a confiança, o que talvez

explique o uso desse tipo de formulação sem estratégias de atenuação ou intensificação como

maior frequência nas formulações de pedidos com presente do indicativo.

3.2.1 PRESENTE DO INDICATIVO SEM ATENUAÇÃO OU INTENSIFICAÇÃO:

De um total de 27 formulações de pedidos com presente do indicativo, encontramos 13

formulações elaboradas sem estratégias de atenuação ou intensificação. A seguir analisaremos

as formulações dos pedidos com presente do indicativo sem recursos de atenuação ou

intensificação, divididos por gênero e relação funcional.

Tabela 23: Total de 13 formulações de pedidos com presente do indicativo sem estratégias de atenuação e

intensificação divididas por gênero.

GÊNERO DO

INTERLOCUTOR

ESTRATÉGIA: ZERO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM PRESENTE

HOMEM 07 (70%) 03(30%) 10 (100%)

MULHER 06 (38%) 11 (63%) 17 (100%)

TOTAL 13 14 27

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Verificamos que nas relações com homens, as formulações de pedidos com presente

do indicativo sem estratégias de atenuação ou intensificação foram proporcionalmente maior

que nas relações com mulheres. Do total de 07 pedidos sem estratégias direcionados a

homens, 05 foram de pedido de objeto e do total de 06 pedidos sem estratégias direcionados

a mulheres, 03 foram também de pedidos de objeto (ver quadros 04 e 15 em anexos), o que

pode demonstrar que esse tipo de pedido favoreça esse tipo de formulação em ambos os

gêneros, embora nas relações com mulheres não tenham aparecido em grande frequência.

Tabela 24: Total de 13 formulações de pedidos com presente do indicativo sem estratégias de atenuação e

intensificação divididas por relação funcional.

RELAÇÃO

FUNCIONAL

ESTRATÉGIA: ZERO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM PRESENTE

PESSOAL 09 (45%) 12(55%) 21 (100%)

TRANSACIONAL 04 (67%) 02 (33%) 06 (100%)

TOTAL 13 14 27

Já nas relações funcionais, verificamos que esse tipo de formulação para pedido

ocorreu proporcionalmente em maior frequência nas relações transacionais. Observamos que

esse tipo de formulação apareceu com mais frequência nas relações de prestação de serviço

(vendedor/cliente) com pedidos de objeto. Esse tipo de relação favorece esse tipo de pedido,

sendo assim, as relações transacionais de prestação de serviço podem favorecer a elaboração

dos pedidos de objeto com presente do indicativo.

3.2.2 PRESENTE DO INDICATIVO COM ATENUAÇÃO

Como já foi afirmado por Briz (2005: 56), a atenuação é uma operação lingüística

estratégica de minimização do que é dito e do ponto de vista. O que pode determinar o uso

desse tipo de estratégia é o contexto comunicativo em que há a formulação do ato de fala.

De um total de 27 formulações com presente do indicativo, levantamos de um total de

08 formulações de pedidos com presente do indicativo atenuados, 10% para homens e 44%

para mulheres, como se vê na tabela 25.

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Tabela 25: Total de 09 formulações de pedidos com estratégias de atenuação, divididas por gênero.

GÊNERO ESTRATÉGIA: ATENUAÇÃO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM PRESENTE

HOMEM 01 (10%) 09(90%) 10 (100%)

MULHER 08 (44%) 09 (56%) 17 (100%)

TOTAL 09 18 27

Verificamos que nas formulações com presente do indicativo, os pedidos atenuados

direcionados a mulheres foram mais frequente, a maioria deles foi pedido de ação com alto

custo, ou seja, com grande possibilidade de rejeição (ver exemplos abaixo e quadro 5 em

anexos), o que pode sugerir que com esse tipo de pedido, as formulações precisam ser

elaboradas com “reforços” de atenuações.

(52) Pepa – Lucía: “Perdone que la moleste, es que tengo que hablar urgentemente con él.”

(53) Raimunda – Sole: “Que te dejo la Paula es que tengo que ir al hospital, Agustina está (( )) tiene

câncer”

(54) Raimunda – Regina: “Yo necesito como un kilo y médio tengo que hacer comida para treinta”

No exemplo (52), Pepa elabora um pedido a Lucía com grande possibilidade rejeição,

dessa maneira, usa como estratégia um microato (pedido de desculpas) para atenuar o ato,

Kerbrat-Orecchioni (2006) denomina esse tipo de estratégia como “desarmadores”, pelos

quais se antecipa uma possível reação negativa do destinatário do ato, e se tenta neutralizá-lo.

Nos exemplos (53) e (54) observa-se o uso de recursos de atenuação, nesses casos a

justificativa, surge como “desarmadores” para minimizar a possibilidade de rejeição dos

pedidos. Como já foi comentado o pedido é um ato elaborado para benefício do próprio

falante, sendo assim o maior objetivo do falante quando elabora esse tipo de ato é evitar

possíveis rejeições, para isso precisa reforçar sua imagem de afiliação.

Tabela 26:Total de 09 formulações de pedidos com estratégias de atenuação, divididas por relação funcional.

RELAÇÃO

FUNCIONAL

ESTRATÉGIA: ATENUAÇÃO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM PRESENTE

PESSOAL 08 (35%) 13(65%) 21 (100%)

TRANSACIONAL 01 (17%) 05 (83%) 06 (100%)

TOTAL 09 18 27

Verificamos que nas relações funcionais, as formulações atenuadas aparecem em maior

frequência nas relações pessoais. Assim como as formulações direcionadas a mulheres, as

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formulações direcionadas a interlocutores na relação de mais proximidade e simetria foram de

pedidos de ação, que apresentam grande possibilidade de rejeição, o que também pode

justificar a grande frequência de atenuações nesse tipo de relação.

- Tipos de estratégias de atenuação nos pedidos:

Encontramos em nossa análise algumas categorias de natureza verbal e nominal que

representam esses recursos estratégicos, são elas: justificativa, forma de tratamento nominal,

marcador conversacional, pedidos de desculpas e elogio. Não encontramos nenhum pedido

com presente do indicativo com mais de uma estratégia de atenuação.

Tabela 27: Total de 09 estratégias de atenuação classificados por formulação pragmalinguistica

ATENUAÇÃO TOTAL

MARCADOR CONVERSACIONAL 03(38%)

JUSTIFICATIVA 02(26%)

FORMA DE TRATAMENTO NOMINAL 02(12%)

PEDIDO DE DESCULPAS 01(12%)

APRECIAÇÃO POSITIVA 01(12%)

TOTAL 09(100%)

O marcador conversacional (38%) foi a estratégia de maior destaque nas

formulações de pedidos com presente do indicativo atenuado, encontramos em nosso corpus

os seguintes marcadores: bueno e mira. Todas essas estratégias ocorreram pospostas ao

pedido, funcionando como elementos preparatórios. Abaixo mostraremos um exemplo de

formulação com marcador conversacional.

(55) Raimunda _ Regina: “Bueno, mañana te los doy ¡ayúdame mujer!”

(56) Raimunda _ Regina: “Mira, en el camino te lo explico en el momento necesitamos meter (( )) en la

furgoneta.”

Nos exemplos acima, observa-se que o falante utiliza um marcador conversacional

para introduzir o pedido, talvez como forma de reduzir a força do ato.

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A justificativa foi a segunda estratégia preferida para as formulações de pedidos com

presente do indicativo com 25%. Ela apareceu posposta em todos esses tipos de formulações,

como um “reforço” no pedido para deixá-lo menos recusável.

(57) Raimunda – Sole: “Que te dejo la Paula es que tengo que ir al hospital, Agustina está (( )) tiene

câncer”

Observa-se que a justificativa aparece para minimizar o alto custo do pedido, já que

Raimunda deseja que sua irmã fique com sua filha enquanto está fora.

A única forma de tratamento nominal foi representada pelo nome pessoal (Sole), que

aparece anteposto ao pedido, como forma de preparar o pedido.

(58) Raimunda – Sole: “Sole, tengo un montón de ropa por planchar”

O pedido de desculpas e o apreciação positiva foram estratégias que apareceram

antepostas ao pedido, como forma de preparação para a formulação do ato.

(59) Corretor – Pepa: “¿Y el ático como le va?”

Pepa – corretor: “Oh que maravilloso, pero vengo a alquilarlo.”

(60) Pepa – Lucía: “Perdone que la moleste, es que tengo que hablar urgentemente con él.”

No exemplo (59), o elogio funciona para qualificar o objeto que não se deseja mais. No

exemplo (60), trata-se de uma relação antagônica, que pode gerar algum tipo de conflito, o

pedido de desculpas anteposto funciona como minimizador do grau de imposição do pedido.

A seguir veremos a análise das formulações de pedidos com presente do indicativo com

estratégias de intensificação.

3.2.3 PRESENTE DO INDICATIVO COM INTENSIFICAÇÃO:

Verificamos que a intensificação como estratégia apareceu quase em igual frequência

que a atenuação, num total de 05 formulações de pedidos com presente do indicativo

intensificado, a seguir veremos como ocorreram essas formulações a partir das variáveis

extralinguísticas de gênero e relação funcional, como se vê nas tabelas abaixo.

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Tabela 28: Total de 05 formulações de pedidos com estratégias de intensificação, divididas por gênero.

GÊNERO DO INTERLOCUTOR ESTRATÉGIA: INTENSIFICAÇÃO OUTRAS PEDIDOS COM PRESENTE

HOMEM 02 (20%) 08(80%) 10 (100%)

MULHER 03 (19%) 14 (81%) 17 (100%)

TOTAL 05 22 27

Tabela 29: Total de 05 formulações de pedidos com estratégias de intensificação, divididas por relação

funcional.

RELAÇÃO FUNCIONAL ESTRATÉGIA: INTENSIFICAÇÃO OUTRAS PEDIDOS COM PRESENTE

PESSOAL 04 (20%) 17(80%) 21 (100%)

TRANSACIONAL 01 (17%) 05 (83%) 06 (100%)

TOTAL 05 21 27

Verificamos que as formulações com intensificações foram equilibradas nas relações

com mulheres e com homens e também nas relações funcionais pessoais e transacionais. Nas

relações com mulheres houve maior frequência dos pedidos de mudança de

comportamento e nas relações com homens que os pedidos de ação foram os mais

frequentes. Já nas relações funcionais, houve maior frequência de pedidos de mudança de

comportamento e pedidos de ação em ambas as relações (pessoal e transacional). Os

pedidos de mudança de comportamento foram intensificados em todos os casos como

forma de ameaça e recriminação para reforçar a posição de + poder e os pedidos de ação

foram intensificados como forma de aumentar a necessidade do pedido, a fim de deixá-lo

menos recusável.

- Tipos de estratégias de intensificação nos pedidos:

Encontramos em nossa análise algumas categorias de natureza verbal e nominal que

representam esses recursos estratégicos, são elas: forma de tratamento nominal, marcador

conversacional, modalizador adverbial, apelo e ameaça. De um total de 05 formulações de

pedidos com presente do indicativo intensificados, encontramos 09 estratégias de

intensificação, o que demonstra que há formulações com mais de uma estratégia de

intensificação, isto é, 04 estratégias sobrepostas.

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- Mais de uma estratégia por pedido:

a) Duas estratégias de intensificação:

(61) Pepa – Iván: “Ivan tengo que hablar urgentemente contigo de algo.”

Observa-se no exemplo (61) que a segunda intensificação (urgentemente) aparece para

intensificar a necessidade da execução do pedido que Pepa faz a Iván num periodo de ruptura

de relação dos dois.

b) Três ou mais estratégias de intensificação:

(62) Pepa – Candela: “Oye/ te callas o te doy dos bofetadas ¿eh?/ Venga

Observa-se no exemplo acima a ocorrência de 04 estratégias de intensificação no mesmo

pedido. Trata-se de uma relação entre amigas, no qual a personagem Pepa mais velha e

experiente exerce o papel de protetora para Candela, e a ameça como estratégia de

intensificação reforça o pedido de mudança de comportamento, a fim de evitar a suspeita

sobre Candela, já que se trata de um momento de extrema tensão em que os policiais

procuram por terroristas.

Tabela 30: Total de 09 estratégias de intensificação classificados por formulação pragmalinguistica

INTENSIFICAÇÃO TOTAL

MARCADOR CONVERSACIONAL 03(34%)

MODALIZADOR ADVERBIAL 02(22%)

AMEAÇA 02(22%)

FORMA DE TRATAMENTO NOMINAL 01(11%)

CAPTAÇÃO DA BENEVOLÊNCIA 01(11%)

TOTAL 09(100%)

Os marcadores conversacionais foram as estratégias de intensificação com maior

número de frequência nas sequências conversacionais analisadas de Pepa 33% de ocorrências,

entre elas estão: ¿eh?, venga, apareceram pospostos ao pedido reiterando o seu grau de

imposição, e oye, que apareceu anteposto ao pedido e sua entoação aumentou também o grau

de imposição do pedido.

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(63) Pepa – Candela: “Oye, te callas o te doy dos bofetadas ¿eh? Venga”

Os modalizadores adverbiais foram a segunda forma mais utilizada para

intensificação Em nossa análise apareceu somente a seguinte forma de modalizador adverbial:

urgentemente.

(64) Pepa – Iván: “Tengo que verte urgentemente para hablar de una cosa contigo.”

(65) Pepa – Lucía: “Perdone que la moleste, es que tengo que hablar urgentemente con él.”

As estratégias apareceram pospostas ao pedido como forma de intensificar a

necessidade do pedido e deixá-lo menos recusável.

A forma de tratamento nominal teve uma única ocorrência na sequência

conversacional de Pepa com Iván no inicio do pedido.

(66) Pepa – Iván: “Ivan, tengo que hablar urgentemente contigo de algo.”

A forma de tratamento nominal aparece anteposta ao pedido como forma de chamar a

atenção para o pedido.

O captação da benevolência e a ameaça surgiram em menor frequência. A ameaça

apareceu na sequência de Pepa e Candela e Pepa e recepcionista, e o apelo na sequencia de

Raimunda e Regina.

(67) Pepa – Candela: “Oye, te callas o te doy dos bofetadas ¿eh? Venga.”

(68) Pepa – recepcionista: “O me lo marcas tú, o llamo desde la calle. Me están

esperando en el estudio, tú verás.”

(69) Raimunda _ Regina: “Bueno, mañana te los doy ¡ayúdame mujer!”

Nos exemplos (67) e (68), a ameaça aparece posposta ao pedido. Trata-se da relação

entre Pepa e Candela, que é uma relação simétrica, mas que se assume quase assimétrica por

ser maternal e entre Pepa e a recepcionista, relação assumidamente assimétrica, ambas

representam relações de + poder para – poder, e a ameaça como estratégia de intensificação

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marca essa relação. No exemplo (69), o apelo aparece posposto como forma de intensificar a

necessidade do pedido.

Em síntese:

O presente do indicativo foi o segundo tipo de formulação mais frequente.

Nas formulações de pedidos com presente do indicativo sem estratégias de atenuação

ou intensificação, a maior frequência foi direcionada a homens, a maioria dos pedidos

foi para os pedidos de objeto, o que pode demonstrar que esse tipo de pedido favoreça

a elaboração desse tipo de pedido quando dirigidos a homens. Já nas relações

funcionais, verificamos que esse tipo de formulação para pedido ocorreu

proporcionalmente em maior frequência nas relações transacionais, o que sugere que a

assimetria que pode estar presente nas relações transacionais, principalmente de

prestação de serviço, pode favorecer o uso desse tipo de formulação em pedidos de

objeto.

Verificamos que nas formulações com presente do indicativo, os pedidos atenuados

direcionados a mulheres foram mais frequente, a maioria deles foi pedido de ação que

apresentam um alto custo, o que pode sugerir que com esse tipo de pedido direcionado

a mulheres, as formulações precisam ser elaboradas com “reforços” de atenuações. Já

nas relações funcionais, as formulações atenuadas aparecem em maior frequência nas

relações pessoais, que apresentaram pedidos de ação também com grande

possibilidade de rejeição, o que também pode justificar a grande frequência de

atenuações nesse tipo de relação e com esse tipo de pedido. As estratégias mais

frequentes foram os marcadores conversacionais que ocorreram pospostos ao pedido

como elementos preparatórios, seguido das justificativas que pospostas como forma de

minimizar o alto custo do pedido, as estratégias menos frequentes foram as formas de

tratamento nominal que apareceram antepostas como elementos preparatórios, o

pedido de desculpas e a apreciação positva que ocorreram antepostos como

minimizadores do grau de imposição dos pedidos.

Verificamos que as formulações com intensificações foram em 03 casos dirigidas a

mulheres e em 02 casos a homens (em ambos trata-se de relação de casal

intensificando o pedido de mudança de comportamento: cantada). Dos 05 casos 04 se

dão em relações funcionais pessoais e apenas 01 em transacional: neste caso a mulher

recepcionista / telefonista com quem Pepa trabalha há anos e com quem já estabeleceu

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uma relação de confiança, tanto pelos anos de convivência, quanto pelo fato de ambas

serem mulheres, ou pelo tipo de pedido de ação solicitado (assunto com homens,

confidencial, esfera do privado), o que assinalaria mais uma vez que a intensificação

está relacionada com o ethos de confiança. Os pedidos de mudança de

comportamento foram intensificados em todos os casos como forma de ameaça e

recriminação para reforçar a posição de + poder e os pedidos de ação foram

intensificados como forma de aumentar a necessidade do pedido, a fim de deixá-lo

menos recusável. As estratégias mais frequentes foram os marcadores conversacionais

que apareceram antepostos e pospostos ao pedido reiterando o seu grau de imposição,

seguidos dos modalizadores adverbiais que apareceram pospostas ao pedido como

forma de intensificar a necessidade do pedido e deixá-lo menos recusável, a forma de

tratamento nominal que aparece anteposta ao pedido como forma de chamar a atenção

para o pedido e a ameaça para marcar a relação de poder e o apelo que aparece

posposto como forma de intensificar a necessidade do pedido.

3.3 ENUNCIADOS INTERROGATIVOS:

A partir de diversos estudos sobre atos de fala verificaram-se que os enunciados

interrogativos podem ser considerados formulações indiretas, pois há o apagamento do

conteúdo literal (pergunta) em proveito do conteúdo derivado (pedido) que se torna prioritário

(Kerbrat-Orecchion, 2005: 56), dessa forma os colocam como formulações menos impositivas,

preferidas em situações que se desejam preservar a imagem, pois oferece ao interlocutor a

opotunidade de executar ou não a ação. Em nossa análise verificaremos em quais contextos

são mais frequentes e se realmente são utilizados como formulações com efeito atenuador.

Temos ao todo um total de 21 ocorrências de formulações de pedidos com enunciados

interrogativos, ou seja, 11% do total dos pedidos. Desse total 16 (81%) foram formulados

com polaridade positiva e 05 (19%) com polaridade negativa; 04 (19%) foram formulados

com usted, 13(62%) foram formulados com tú e 01 (5%) com vosotros, e 03 (14%) com a

primeira pessoa, como se vê na Tabela 31.

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Tabela 31: Total de 21 formulações de pedidos com enunciados interrogativos

FORMAS DE TRATAMENTO INTERROGATIVO AFIRMATIVO INTERROGATIVO NEGATIVO TOTAL

TÚ 10 03 13(62%)

USTED 02 02 04(19%)

YO 03 - 03(14%)

VOSOTROS 01 - 01(5%)

TOTAL 16 (77%) 05 (23%) 21(100%)

Tabela 32: 21 Formulações de pedidos com enunciados interrogativos encontrados em nosso corpus

FORMAS DE

TRATAMENTO

ENUNCIADOS INTERROGATIVOS AFIRMATIVOS

ENUNCIADOS INT. NEGATIVOS

TOTAL

¿Me pones con este número? (1)

¿Me pones dos kilos más? (1)

¿Tú sabes arreglar un teléfono? (1)

¿Nos puedes traer unos calmantes de la cocina? (1)

¿Me subes la cremallera? (1)

¿Te importa quedarte hasta que yo vuelva? (1)

¿ Te importa que se quede esta noche contigo? (1)

¿Y dulces? (1)

¿Me las puedes vender? (1)

¿Podrías prestarme cien euros? (1)

¿Por qué no la acercas? (1)

¿No te has traído unas

morcillas y unos tortillos? (1)

¿No has traído nada? (1)

13(62%)

USTED

¿Tiene fuego? (1)

¿Me da un cigarillo? (1)

¿No tendrá un colirio por

casualidad? (1)

¿Por qué no se sienta aquí y me

interroga cómodamente? (1)

04(19%)

YO ¿Puedo sentarme? (1)

¿Puedo fumar? (1)

¿Puedo hacer una llamada? (1)

-

03(14%)

VOSOTROS ¿Me podéis ayudar con esto? (1)

- 01(5%)

TOTAL 16 (77%) 05 (23%) 21 (100%)

As formulações de pedidos com enunciados interrogativos afirmativos ocorreram com

mais frequência que nos negativos, porém em ambos os casos tais formulações oferecem a

oportunidade ao interlocutor em rejeitar ou não a execução do pedido (exemplo 70) assim

como as formulações dirigidas a interlocutores com mais proximidade foram dominantes em

relação às formulações com interlocutores de relação mais distante. Nas formulações

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elaboradas em primeira pessoa o pedido aparece como um pedido de permissão para a

execução do ato, o que aumenta ainda mais o efeito atenuador do pedido (exemplo 71).

(70) Pepa – Carlos: ¿Nos puedes traer unos calmantes de la cocina?

(71) Pepa – Paulina: ¿Puedo sentarme?

A seguir analisaremos os contextos favorecedores e inibidores desse repertório de

formulações com enunciados interrogativos, considerando os procedimentos de atenuação e

intensificação, tendo como fatores de variação o gênero (masculino e feminino) e a relação

funcional (pessoal e transacional) dos interlocutores.

Tabela 33: Total de 21 formulações de pedidos com enunciados interrogativos divididos por gênero.

GÊNERO PEDIDOS COM INTERROGATIVOS SEM INTERROGATIVOS TOTAL DOS PEDIDOS

HOMEM 10 (14%) 64 (86%) 74 (100%)

MULHER 11 (10%) 99 (90%) 110 (100%)

TOTAL 21 163 184

Tabela 34: Total de 21 formulações de pedidos com enunciados interrogativos divididos por relação funcional.

RELAÇÃO FUNCIONAL PEDIDOS COM INTERROGATIVOS SEM INTERROGATIVOS TOTAL DOS PEDIDOS

PESSOAL 12 (8%) 139 (92%) 151 (100%)

TRANSACIONAL 09 (27%) 24 (73%) 33 (100%)

TOTAL 21 163 184

Como se observa na tabela 33, de um total de 74 formulações de pedidos direcionadas a

homens, 10 (14%) foram com enunciados interrogativos e de um total de 110 formulações de

pedidos direcionados a mulheres, 11 (10%) foram com enunciados interrogativos, apesar de

os pedidos com esse tipo de formulação terem sido um pouco mais frequente quando

direcionados a homens, a diferença não foi muito grande o que demonstra que o gênero não

influencia na formulação de pedidos com enunciados interrogativos. Em ambos, os tipos de

pedidos foram para pedidos de ação e pedidos de objeto, não encontramos nenhuma

formulação para pedido de mudança de comportamento com enunciados interrogativos. Já na

tabela 34, observa-se que de um total de 151 formulações de pedidos em relação pessoal, 12

(8%) se formula com enunciados interrogativos e de um total de 33 formulações em relação

transacional, 09 (27%) foram elaboradas com enunciados interrogativos, o que pode

demonstrar que as relações transacionais favorecem o uso desse tipo de formulação, talvez

pelo efeito atenuador que esse tipo de formulação pode apresentar. Observamos que nesse

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tipo de relação houve maior frequência para os pedidos de objeto e pedidos de permissão

para fazer algo.

(72) Raimunda – verdureiro: “¿Me pones dos kilos más?”

(73) Pepa – corretor: “¿Puedo hacer una llamada?

Observa-se no caso (72) um exemplo de pedido de objeto em que o tom interrogativo

proporciona ao destinatário liberdade de escolha o que minimiza o grau de imposição do ato.

No exemplo (73) há um pedido de permissão para executar uma ação.

Em nossa análise verificamos também se essas formulações de pedidos com enunciados

interrogativos apareceram atenuadas, intensificadas, ou sem atenuação ou intensificação. A

seguir podemos visualizar como foi distribuído o total de formulações de pedidos com

enunciados interrogativos com esses recursos de atenuação, intensificação e sem nenhuma

dessas estratégias, divididos por gênero e relação funcional.

Tabela 35: Total de 21 formulações de pedidos classificados por estratégias de atenuação, intensificação e sem

estratégias de atenuação e intensificação.

ESTRATÉGIAS TOTAL DOS PEDIDOS TOTAL DOS PEDIDOS COM ENUNCIADOS INTERROGATIVOS

ZERO 93 (51%) 08 (38%)

ATENUAÇÃO 65 (35%) 13 (62%)

INTENSIFICAÇÃO 26 (14%) -

TOTAL DOS PEDIDOS 184 (100%) 21 (100%)

Verificamos na tabela 35 que de um total de 184 pedidos, 21(11%) foram com

enunciados interrogativos, desse total de 21 formulações de pedidos com enunciados

interrogativos, 08 (38%) foram sem estratégias de atenuação ou intensificação e 13 (62%)

foram com estratégias de atenuação. Formulações desse tipo podem apresentar um efeito

atenuador por apresentarem uma indiretividade, vimos na tabela acima que os pedidos com

enunciados interrogativos foram formulados em maior frequência com estratégias de

atenuação, isso talvez se explique pelo tipo de pedido que foi elaborado, um pedido com um

grande grau de imposição ou com grande possibilidade de rejeição pode necessitar de cargas

maiorias de atenuação para serem aceitos e executados.

A seguir veremos como essas formulações ocorreram sem estratégias de atenuação ou

intensificação de acordo com variáveis extralinguísticas de gênero e relação funcional.

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3.3.1 ENUNCIADOS INTERROGATIVOS SEM ATENUAÇÃO OU

INTENSIFICAÇÃO:

Verificamos que os enunciados interrogativos apareceram como a terceira forma mais

frequente para formulações de pedidos, de um total de 21 formulações de pedidos com

enunciados interrogativos, encontramos 08 formuladas sem estratégias de atenuação ou

intensificação. A seguir analisaremos as formulações dos pedidos com enunciados

interrogativos sem esses recursos citados, divididos por variáveis extralingüísticas como

gênero e relação funcional.

Tabela 36: Total de 08 formulações de pedidos com enunciados interrogativos sem estratégias de atenuação e

intensificação divididas por gênero.

GÊNERO DO INTERLOCUTOR ESTRATÉGIA: ZERO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM INTERROGATIVOS

HOMEM 07 (70%) 03 (30%) 10 (100%)

MULHER 01 (9%) 10 (91%) 11 (100%)

TOTAL 08 13 21

Tabela 37: Total de 08 formulações de pedidos com enunciados interrogativos sem estratégias de atenuação e

intensificação divididas por relação funcional.

RELAÇÃO FUNCIONAL ESTRATÉGIA: ZERO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM INTERROGATIVOS

PESSOAL 03 (25%) 09 (75%) 12 (100%)

TRANSACIONAL 05 (56%) 04 (44%) 09 (100%)

TOTAL 08 13 21

Verificamos que nas relações com homens, as formulações de pedidos com

enunciados interrogativos sem estratégias de atenuação ou intensificação foram

proporcionalmente maior que nas relações com mulheres, assim como nas relações funcionais

transacionais, talvez o tom indireto desse tipo de formulação tenha sido adequado para as

situações em que ocorreram, eles foram formulados com maior frequência para pedidos de

ação nas formulações direcionadas a homens nas sequências conversacionais entre Pepa e

Carlos (filho de seu amante com quem ainda não tinha proximidade) e para pedidos de

objeto em relações transacionais, isto é, situação de maior distância interpessoal e assimetria,

o que pode justificar o uso de formulação mais indireta, favorecendo assim a imagem de

afiliação do falante no momento da execução do pedido.

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3.3.2 ENUNCIADOS INTERROGATIVOS COM ATENUAÇÃO

Levantamos de um total de 44 formulações de pedidos com imperativo para homens,

36% foi atenuado e no total de 69 pedidos com enunciados interrogativos para mulheres, 42%

foi atenuado, como se vê na tabela 38.

Tabela 38: Total de 13 formulações de pedidos com enunciados interrogativos com estratégias de atenuação,

divididas por gênero.

GÊNERO ESTRATÉGIA: ATENUAÇÃO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM INTERROGATIVOS

HOMEM 03 (30%) 07 (70%) 10 (100%)

MULHER 10 (91%) 01 (9%) 11 (100%)

TOTAL 13 08 21

Nas formulações de pedidos com enunciados interrogativos atenuados aparecem nas

relações com mulheres uma maior frequência dessas estratégias, que proporcionalmente com

homens. A maior frequência desse tipo de formulação ocorreu para os pedidos de objeto,

talvez o conteúdo do pedido para interlocutores do mesmo sexo estimule o uso de mais

recursos para deixá-lo menos recusável.

(74) Raimunda – Regina: “Tengo que hacer comida para treinta personas, oye ¿podrías prestarme cien

euros?”

Observa-se na formulação do pedido de Raimunda a Regina, exemplo (74) o uso de

uma justificativa antecedente ao pedido, o que atenua o seu tom, assim como a escolha pela

pergunta como estratégia para o pedido, o que oferece liberdade de escolha por parte do

ouvinte, dessa maneira o falante transfere para o seu interlocutor a responsabilidade para a

decisão, podendo diminuir a possibilidade de rejeição e diminuir o risco a sua imagem, já que

o pedido de Raimunda é um pedido com grande possibilidade de rejeição já que inclui

dinheiro.

Tabela 39: Total de 13 formulações de pedidos com enunciados interrogativos com estratégias de atenuação,

divididas por relação funcional.

RELAÇÃO FUNCIONAL ESTRATÉGIA: ATENUAÇÃO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM IINTERROGATIVOS

PESSOAL 09 (75%) 03 (25%) 12

TRANSACIONAL 04 (44%) 05 (56%) 09

TOTAL 13 08 21

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No que diz respeito às relações funcionais, observa-se que nas relações pessoais esse

tipo de formulação foi proporcionalmente maior que nas relações transacionais, e os pedidos

de objeto foram mais frequentes, o que pode significar que na simetria das relações os

pedidos podem ter maior chance de rejeição, o que pode requerer um reforço para diminuir a

possibilidade de recusa do pedido.

- Mais de uma atenuação por pedido:

Verificamos que no total de 13 formulações de pedidos com enunciados interrogativos

apareceu o total de 15 estratégias de atenuação, o que demonstra que houve formulações com

mais de uma estratégia de atenuação.

a) Duas estratégias de atenuação no mesmo pedido:

(75) Raimunda – Regina: “Tengo que hacer comida para treinta personas, oye ¿podrías prestarme cien

euros?”

(76) Raimunda – Regina: “Oye ¿me podéis ayudar con esto? Lo colocaría yo/ pero no puedo sola.”

Nos exemplos (75) e (76) vemos que as estratégias de atenuação foram reforçadas por

outros dois mais recursos atenuadores. No exemplo (75), a formulação do pedido foi

atenuado pela justificativa anteposta ao pedido e ainda um marcador conversacional, o

excesso de atenuação presente nessa formulação pode ser explicado pelo tipo de pedido

(pedido de objeto: dinheiro), que pode prejudicar a imagem do falante e ainda pode apresentar

grande possibilidade de rejeição. No exemplo (76), o pedido é formulado com um marcador

conversacional anteposto e recebe o reforço de uma justificativa posposta, talvez como forma

de deixar o pedido menos recusável.

- Tipos de estratégias de atenuação nos pedidos:

Consideramos como elementos atenuadores para a análise desse tipo de formulação de

pedido os seguintes recursos: a justificativa, a forma de tratamento nominal, o marcador

conversacional.

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Tabela 40: Total de 15 estratégias de atenuação classificados por personagem e por formulação

pragmalinguistica

Encontramos em nossa análise algumas categorias de natureza verbal e nominal que

representam esses recursos estratégicos, são elas: justificativa, forma de tratamento nominal e

marcador conversacional.

Os marcadores conversacionais apareceram com maior frequência, entre eles

destacamos: oye, oiga, que apareceram antepostos ao pedido como elementos preparatórios e

por favor, que apareceu posposto ao pedido a fim de minimizar a força ilocutiva do ato.

Abaixo mostraremos um exemplo de formulação com marcador conversacional.

(77) Raimunda – Regina: “Oye ¿me podéis ayudar con esto?”

(78) Pepa - recepcionista: “¿Me pones con este número, por favor?”

Vemos no exemplo (77) que o marcador conversacional anteposto serviu para preparar

o pedido e no exemplo (78) aparece posposto para atenuar o tom do ato.

A justificativa foi a segunda estratégia preferida para as formulações de pedidos com

enunciados interrogativos.

(79) Raimunda – Regina: “Tengo que hacer comida para treinta personas, oye ¿podrías prestarme cien

euros?”

(80) Pepa – Paulina: “¿Puedo fumar? Es que tengo unas ganas”

Observa-se no exemplo (79) um caso de justificativa anteposta ao pedido, que aparece

como “desarmador”, já que se trata de um pedido com alto custo. No exemplo (80), a

justificativa aparece posposta ao pedido de permissão como forma de dar uma satisfação ao

destinatário.

ATENUAÇÃO TOTAL

MARCADOR CONVERSACIONAL 08(53%)

JUSTIFICATIVA 06(40%)

FORMA DE TRATAMENTO NOMINAL 01(7%)

TOTAL 15(100%)

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A forma de tratamento nominal foi a terceira a estratégia de atenuação, no entanto

apresentou somente uma ocorrência: nomes pessoais (Sole).

(81) Raimunda – Sole: “Sole ¿te importa que se quede esta noche contigo?”

Esse tipo de estratégia geralmente aparece anteposto ao pedido como forma

preparatória à formulação do ato.

A seguir analisaremos as formulações de pedidos com frases nominais.

Em síntese:

As formulações de pedidos com enunciados interrogativos foram a terceira mais

freqüentes.

Verificamos que nas relações com homens, as formulações de pedidos com

enunciados interrogativos sem estratégias de atenuação ou intensificação foram

proporcionalmente maior que nas relações com mulheres, assim como nas

relações funcionais transacionais, talvez o tom indireto desse tipo de formulação

tenha sido adequado para as situações em que ocorreram, eles foram formulados

com maior frequência para pedidos de ação e para pedidos de objeto em

relações transacionais, isto é, situação de maior distância interpessoal e assimetria,

o que pode justificar o uso de formulação mais indireta, favorecendo assim a

imagem de afiliação do falante no momento da execução do pedido.

Nas formulações de pedidos com enunciados interrogativos atenuados aparecem

nas relações com mulheres uma maior frequência dessas estratégias, que

proporcionalmente com homens. A maior frequência desse tipo de formulação

ocorreu para os pedidos de objeto, talvez o conteúdo do pedido para

interlocutores do mesmo sexo estimule o uso de mais recursos para deixá-lo

menos recusável.

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3.4 FRASES NOMINAIS

Verificamos em nosso corpus poucos casos de frases nominais, um total de 10

ocorrências de formulações de pedidos com frases nominais, ou seja, 5% do total dos pedidos,

se trata de situações ritualizadas, em que os interlocutores têm claro, apesar da omissão da

forma verbal, qual é o objetivo do pedido. A seguir na tabela 41 apresentaremos o repertório

dessas formulações.

Tabela 41: Total de 10 Formulações de pedidos com frases nominais encontrados em nosso corpus

PEDIDOS COM FORMAS NOMINAIS

Ya está (1)

Por Dios (1)

Ni una palabra(1)

Castellana 31 (1)

Todos para dentro (1)

Tú dentro (1)

Que no (1)

Mejor mañana (1)

Un pico (1)

Una pala (1)

As variáveis extralingüísticas selecionadas para nossa análise foram: gênero dos

interlocutores (masculino e feminino) e relações funcionais (pessoal e transacional),

buscaremos estabelecer se estas variáveis favorecem ou não as escolhas por determinadas

formulações de pedidos.

Tabela 42: Total de 10 formulações de pedidos com frases nominais divididos por gênero.

GÊNERO PEDIDOS COM FRASES NOMINAIS PEDIDOS SEM FRASES NOMINAIS TOTAL DOS PEDIDOS

HOMEM 07 (9%) 67 (91%) 74 (100%)

MULHER 03 (3%) 107 (97%) 110 (100%)

TOTAL 10 174 184

Tabela 43: Total de 10 formulações de pedidos com frases nominais divididos por relação funcional.

RELAÇÃO FUNCIONAL PEDIDOS COM FRASES NOMINAIS SEM FRASES NOMINAIS TOTAL DOS PEDIDOS

PESSOAL 07 (5%) 144 (95%) 151 (100%)

TRANSACIONAL 03 (9%) 30 (91%) 33 (100%)

TOTAL 113 71 184

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Como se observa na tabela 42, de um total de 74 formulações de pedidos direcionadas a

homens, 07 (9%) foram com frases nominais e de um total de 110 formulações de pedidos

direcionados a mulheres, 03 (3%) foram com frases nominais, o que demonstra que a

diferença de gênero pode exercer influência na formulação de pedidos com frases nominais.

Os tipos de pedidos que influenciaram esse tipo de formulação foram os de mudança de

comportamento, que foram elaborados com tom de recriminação, pode-se dizer que pedidos

de mudança de comportamento com tom de recriminação direcionados a homens favoreça

esse tipo de formulação. Já na tabela 43, observa-se que de um total 151 formulações de

pedidos em relação pessoal, 07 (5%) se formula com frases nominais e de um total de 33

formulações em relação transacional, 03 (9%) foram elaboradas com frases nominais, o que

pode demonstrar que as relações transacionais favorecem o uso desse tipo de formulação com

pedido de objeto, pois se trata de situações ritualizadas dentro da relação de prestação de

serviço em que os interlocutores têm claro essa troca comunicativa.

Em nossa análise verificamos também se essas formulações de pedidos com frases

nominais apareceram atenuadas, intensificadas, ou sem atenuação ou intensificação. A seguir

podemos visualizar como foi distribuído o total de formulações de pedidos com frases

nominais com esses recursos de atenuação, intensificação e sem nenhuma dessas estratégias.

Tabela 44: Total de 10 formulações de pedidos classificados por estratégias de atenuação, intensificação e sem

estratégias de atenuação e intensificação.

ESTRATÉGIAS TOTAL DOS PEDIDOS TOTAL DOS PEDIDOS COM FRASES NOMINAIS

ZERO 93 (51%) 03 (30%)

ATENUAÇÃO 65 (35%) 02 (20%)

INTENSIFICAÇÃO 26 (14%) 05 (50%)

TOTAL DOS PEDIDOS 184 (100%) 10 (100%)

Verificamos na tabela 44 que de um total de 184 pedidos, 10 (5%) foram com frases

nominais, desse total de 10 formulações de pedidos com frases nominais, 03 (30%) foram

sem estratégias de atenuação ou intensificação, 02 (20%) foram atenuados e 05 (50%) foram

com estratégias de intensificação. A estratégia de intensificação em um pedido de mudança

de comportamento pode reforçar ainda mais o tom recriminador do ato, o que pode ter

favorecido a maior incidência desse tipo de estratégia com esse tipo de formulação.

A seguir verificaremos como ocorreram as formulações dos pedidos com frases

nominais sem estratégias de atenuação ou intensificação.

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3.4.1 FRASES NOMINAIS SEM ATENUAÇÃO OU INTENSIFICAÇÃO:

Em nossa análise observamos que esse tipo de formulação foi a quarta de maior

frequência. Verificaremos a seguir como foi a influência do gênero e das relações funcionais

interpessoais nas formulações desses pedidos.

Tabela 45: Total de 03 formulações de pedidos sem estratégias de atenuação e intensificação divididas por

gênero.

GÊNERO DO INTERLOCUTOR ESTRATÉGIA: ZERO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM FRASES NOMINAIS

HOMEM 03 (43%) 04 (57%) 07 (100%)

MULHER 00 (0%) 03 (100%) 03 (100%)

TOTAL 03 07 10

Tabela 46: Total de 10 formulações de pedidos sem estratégias de atenuação e intensificação divididas por

relação funcional.

RELAÇÃO FUNCIONAL ESTRATÉGIA: ZERO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM FRASES NOMINAIS

PESSOAL 00 (0%) 07 (100%) 07 (100%)

TRANSACIONAL 03 (100%) - 03 (100%)

TOTAL 03 07 10

Verificamos que nas relações com homens, as formulações de pedidos com frases

nominais sem estratégias de atenuação ou intensificação foram mais frequentes que com

mulheres e todas (100%) ocorreram em relações transacionais, já que nesse tipo de relação

(prestação de serviço) o pedido pode ser feito com referência somente ao objeto que o falante

deseja e que o ouvinte detém.

(82) Raimunda – vendedor: “¡Ah!/ y un pico”

(83) Raimunda – vendedor: “Y una pala”

(84) Pepa – taxista: “Castellana 31.”

Nos exemplos acima, observa-se que as formulações representam pedidos ritualizados

em prestação de serviço, não há a necessidade de utilizar uma forma verbal para demonstrar a

ação do pedido, sendo assim, pode-se dizer que em relações transacionais esse tipo de

formulação já está ritualizado.

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3.4.2 FRASES NOMINAIS COM ATENUAÇÃO

Como mencionamos, as frases nominais apresentam a ilocução do pedido elíptica em

seu contexto, sendo assim a atenuação reduziria muito a força ilocutiva desse ato. A seguir

verificaremos que contextos tendem a favorecer a utilização da atenuação como estratégia.

Tabela 47: Total de 02 formulações de pedidos com estratégias de atenuação, divididas por gênero.

GÊNERO DO INTERLOCUTOR ESTRATÉGIA:ATENUAÇÃO OUTRAS PEDIDOS COM FRASES NOMINAIS

HOMEM 02 (29%) 05 (71%) 07 (100%)

MULHER 00 (0%) 03 (100%) 03 (100%)

TOTAL 02 08 10

Tabela 48: Total de 02 formulações de pedidos com estratégias de atenuação, divididas por gênero.

RELAÇÃO FUNCIONAL ESTRATÉGIA ATENUAÇÃO OUTRAS PEDIDOS COM FRASES NOMINAIS

PESSOAL 02 (29%) 05 (71%) 07 (100%)

TRANSACIONAL 00 (0%) 03 (100%) 03 (100%)

TOTAL 02 184 10

Verificamos que todas as formulações de pedidos com frases nominais atenuados

ocorreram direcionadas a homens e em relações pessoais para pedido de mudança de

comportamento. Se trata da sequência entre Rebeca e Letal, seu amigo travesti que a

molesta sexualmente.

(85) Rebeca – Letal: “ Bueno anda Letal ya está...”

O constrangimento da situação inesperada com um amigo pode ter influenciado o uso

de diversos recursos atenuadores, já que se trata de uma recriminação.

- Tipos de estratégias de atenuação nos pedidos:

Tabela 49: Total de 03 estratégias de atenuação classificados por formulação pragmalinguistica

ATENUAÇÃO TOTAL

MARCADOR CONVERSACIONAL 02(67%)

FORMA DE TRATAMENTO NOMINAL 01(33%)

TOTAL 03(100%)

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Verificamos que no total de 10 formulações de pedidos com frases nominais apareceu o total

de 03 estratégias de atenuação, todas nas formulações da personagem Rebeca. Encontramos

em nossa análise algumas categorias de natureza nominal que representam esses recursos

estratégicos, são elas: forma de tratamento nominal e marcador conversacional.

Os marcadores conversacionais apareceram com maior frequência, entre eles

destacamos: anda e Bueno. Abaixo mostraremos um exemplo de formulação com marcador

conversacional.

(86) Rebeca – Letal: “ Bueno anda Letal ya está.”

Todos ocorreram antepostos ao pedido como forma de preparar o pedido, já que se

trata de uma recriminação que aumenta a força ilocutiva do ato.

A forma de tratamento nominal foi a segunda estratégia de atenuação, no entanto

apresentou somente uma ocorrência: nomes pessoais (Letal).

(87) Rebeca – Letal: “Letal ya está”.

Assim como os marcadores conversacionais, as formas de tratamento nominais

também aparecem como preparatório para minimizar a força ilocutiva do pedido.

A seguir analisaremos os pedidos com frases nominais com recursos estratégicos de

intensificação.

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3.4.3 FRASES NOMINAIS COM INTENSIFICAÇÃO

Como mencionamos, as frases nominais apresentam a ilocução do pedido elíptica em

seu contexto, a intensificação apareceria como forma de “reforçar” a ilocução desse ato. A

seguir verificaremos que contextos tendem a favorecer a utilização da intensificação como

estratégia.

Tabela 50: Total de 05 formulações de pedidos com estratégias de atenuação, divididas por gênero.

GÊNERO DO INTERLOCUTOR ESTRATÉGIA: INTENSIFICAÇÃO OUTRAS PEDIDOS COM FRASES NOMINAIS

HOMEM 02 (29%) 05 (71%) 07 (100%)

MULHER 03 (100%) - 03 (100%)

TOTAL 05 05 10

Tabela 51: Total de 05 formulações de pedidos com estratégias de atenuação, divididas por gênero.

RELAÇÃO FUNCIONAL ESTRATÉGIA: INTENSIFICAÇÃO OUTRAS PEDIDOS COM FRASES NOMINAIS

PESSOAL 05 (71%) 02 (29%) 07 (100%)

TRANSACIONAL - 03 (100%) 03 (100%)

TOTAL 05 05 10

Verificamos que houve uma maior frequência dessa formulação direcionadas a

mulheres e todas em relações pessoais. Observamos que em todas as sequências

conversacionais com mulheres a intensificação aparece com tom de recriminação nos pedidos

de mudança de comportamento, a intensificação reforça a força ilocutiva do pedido e

relações com proximidade com mulheres pode favorecer a elaboração de pedidos de mudança

de comportamento quando formulados com frases nominais talvez para reforçar a imagem de

autonomia.

(88) Pepa – Candela: “Tú dentro, venga”.

(89) Raimunda – Regina: “Pero esto, ni una palabra ¿eh?”

Os enunciados nominais dentro e ni una palabra, assumem o valor de intensificações

reforçam a força ilocutiva das formulações e assumem um valor de recriminação.

Nas formulações direcionadas a homens a intensificação assume também um tom de

recriminação, mas também de apelo, o que sugere que em situações de pedidos de mudança

de comportamento direcionados a homens, a recriminação talvez precise ser mais apelativa.

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(90) Rebeca – Eduardo “Oye que no, que no insistas”

(91) Raimunda – Emilio: “Emilio, por Dios”

No pedido elaborado na sequência conversacional (90) Eduardo, amante de Rebeca

insiste em ter relações sexuais com ela, e ela recrimina sua atitude. No exemplo (91) o pedido

é intensificado pelo apelo e pela forma de tratamento nominal (Emilio), que reforça a força

ilocutiva do ato.

- Tipos de estratégias de intensificação nos pedidos:

Tabela 52: Total de 05 estratégias de intensificação classificados por personagem e por formulação

pragmalinguistica

ATENUAÇÃO TOTAL

MARCADOR CONVERSACIONAL 03(60%)

FORMA DE TRATAMENTO NOMINAL 01(20%)

CAPTAÇÃO DA BENEVOLÊNCIA 01(20%)

TOTAL 05(100%)

Verificamos que no total de 10 formulações de pedidos com frases nominais apareceu

o total de 05 estratégias de atenuação. Encontramos em nossa análise algumas categorias de

natureza nominal que representam esses recursos estratégicos, são elas: forma de tratamento

nominal, marcador conversacional e o apelo.

Os marcadores conversacionais apareceram com maior frequência, entre eles

destacamos: oye, anteposto ao pedido como estratégia para aumentar a força ilocutiva do ato,

venga e ¿eh? que apareceram pospostos ao pedido também para a força ilocutiva do pedido.

Abaixo mostraremos um exemplo de formulação com marcador conversacional.

(92) Raimunda – Regina: “Pero esto, ni una palabra ¿eh?”

(93) Pepa – Candela: “Tú dentro, venga”

(94) Rebeca – Eduardo “Oye que no, que no insistas”

Observa-se que o marcador conversacional anteposto, intensifica mais o pedido, pois

sinaliza com antecedência ao ouvinte a recriminação.

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A forma de tratamento nominal e a captação da benevolência foram a segunda

estratégia de intensificação, no entanto apresentaram somente uma ocorrência cada um.

(95) Raimunda – Emilio: “Emilio, por Dios”

A forma de tratamento nominal apareceu anteposta ao pedido, a entoação da forma de

tratamento nominal demonstra o tom do pedido e a sua anteposição com tom intensificado

sinaliza ao ouvinte o tom do pedido, o que aumenta sua força ilocutiva.

Em síntese:

Verificamos que nas relações com homens, as formulações de pedidos com

frases nominais sem estratégias de atenuação ou intensificação foram mais

frequentes que com mulheres e todas (100%) ocorreram em relações

transacionais, em pedidos de objeto, já que nesse tipo de relação (prestação de

serviço) o pedido pode ser ritualizado, feito com referência somente ao objeto

que o falante deseja e que o ouvinte detém.

Nos pedidos com frases nominais atenuados, verificamos que todas as

formulações ocorreram direcionadas a homens e em relações pessoais. Trata-

se de uma situação constrangedora de pedido de mudança de comportamento

em que a atenuação aparece para reduzir a força ilocutiva do ato. As

estratégias de atenuação mais freqüente foram os marcadores conversacionais

que ocorreram antepostos ao pedido como forma de prepará-lo, já que se trata

de uma recriminação que aumenta a força ilocutiva do ato e as formas de

tratamento nominais que também aparecem como preparatório para minimizar

a força ilocutiva do pedido.

Nos pedidos com estratégias de intensificação houve uma maior frequência

dessa formulação direcionadas a mulheres em pedidos de mudança de

comportamento, todas em relações pessoais, o que reforça o ethos de

confiança. Observamos que em todas as sequências conversacionais com

mulheres a intensificação aparece com tom de apreciação negativa, o que

reforça a imagem de autonomia. As estratégias de intensificação que

ocorreram foram os marcadores conversacionais que apareceram com maior

frequência para aumentar a força ilocutiva do pedido e a forma de tratamento

Page 106: A REPRESENTAÇÃO DO ETHOS DO ESPANHOL … · enunciados interrogativos, frases nominais, futuro, condicional, presente do subjuntivo e pretérito perfeito e imperfeito) ou por estratégias

nominal que apareceu anteposta ao pedido, sua anteposição com tom

intensificado sinaliza ao ouvinte o tom do pedido, o que aumenta sua força

ilocutiva.

3.5 OUTROS TEMPOS VERBAIS

Verificamos em nosso corpus um total de 12 formulações de pedidos com outras

formas verbais (condicional, futuro composto e presente do subjuntivo, pretérito perfeito e

imperfeito). Por apresentarem uma baixa frequência de formulações, realizamos uma análise

qualitativa dos dados, no entanto seguem abaixo informações quantitativas de como

sucederam essas formulações com recursos de atenuação e intensificação, tendo como fatores

de variação o gênero e a relação funcional dos interlocutores.

Tabela 53: Total de 12 formulações de pedidos com outras formas verbais, divididas por gênero.

GÊNERO PEDIDOS COM OUTROS PEDIDOS SEM OUTROS TOTAL DOS PEDIDOS

HOMEM 02 (3%) 72 (97%) 74 (100%)

MULHER 10 (9%) 100 (91%) 110 (100%)

TOTAL 12 172 184

Tabela 54: Total de 12 formulações de pedidos com outras formas verbais, divididas por relações funcionais.

RELAÇÃO FUNCIONAL PEDIDOS COM OUTROS PEDIDOS SEM OUTROS TOTAL DOS PEDIDOS

PESSOAL 11 (7%) 140 (93%) 151 (100%)

TRANSACIONAL 01 (3%) 32 (97%) 33 (100%)

TOTAL 12 172 184

Tabela 55: Total de 12 formulações de pedidos classificados por estratégias de atenuação, intensificação e sem

estratégias de atenuação e intensificação.

ESTRATÉGIAS TOTAL DOS PEDIDOS TOTAL DOS PEDIDOS COM OUTROS

ZERO 93 (51%) 08 (66%)

ATENUAÇÃO 65 (35%) 02 (17%)

INTENSIFICAÇÃO 26 (14%) 02 (17%)

TOTAL DOS PEDIDOS 184 (100%) 12 (100%)

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A seguir seguem as análises qualitativas dessas outras formas verbais, que serão

analisadas em dois grupos diferentes. Agrupamos na análise as formas condicionais por

apresentarem um valor de posterioridade ou probabilidade, e as formas em pretérito por

representarem uma anterioridade de tempo verbal.

3.5.1 CONDICIONAL, FUTURO COMPOSTO E PRESENTE DO SUBJUNTIVO

Optamos pela análise dessas três categorias em conjunto, porque elas têm um valor de

posterioridade ou probabilidade, sendo de considerável relevância que sejam analisadas

juntas. Verificamos em nosso corpus um total de 10 ocorrências de formulações de pedidos

com condicional, presente do subjuntivo e futuro simples e composto, ou seja, juntas elas

representam 6% do total dos pedidos. A seguir na tabela 49 apresentaremos o repertório

dessas formulações.

Tabela 56: Total de 10 formulações de pedidos com condicional, futuro composto e presente do subjuntivo

FORMAS DE TRATAMENTO IMPERATIVO AFIRMATIVO IMPERATIVO NEGATIVO TOTAL

YO 05 (45%) - 05(45%)

NOSOTROS 05 (55%) - 05(55%)

TOTAL 10 (100%) - 10(100%)

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Tabela 57: Total de10 Formulações de pedidos condicional, futuro e composto e presente do subjuntivo com

encontrados em nosso corpus

FORMAS DE

TRATAMENTO

ENUNCIADOS AFIRMATIVOS ENUNCIADOS NEGATIVOS TOTAL

YO Me gustaría... (3)

El puerco me vendría muy bien (1)

Te voy a pagar como cualquier cliente (1)

- 05(45%)

NOSOTROS Es urgente que hablemos (1)

Vamos a arreglarnos (1)

Vamos a regar... (1)

... y a darle una vuelta (1)

Vamos a quitar (1)

- 05(55%)

TOTAL 10 (100%) - 10(100%)

Todas as formulações de pedidos com condicional, futuro composto e presente do

subjuntivo ocorreram com enunciados afirmativos e todas em primeira pessoa tanto singular

quanto plural. Vemos que a maioria das formulações com primeira pessoa do singular foram

para pedido de objeto, em que o falante demonstra o desejo da execução da ação em

benefício dele próprio, nesse caso houve uma preferência pelo uso da condicional, já as

formulações em primeira pessoa plural foram para pedido de ação, o falante se coloca junto

com o ouvinte na execução da ação, nesse caso houve uma preferência pelo uso da futuro

composto. A seguir faremos uma análise qualitativa dessas formulações demonstrando os

contextos favorecedores e inibidores desse repertório de formulações com condicional,

presente do subjuntivo e futuro composto, considerando os procedimentos de atenuação e

intensificação, tendo como fatores de variação o gênero e a relação funcional dos

interlocutores.

Nas formulações com condicional que encontramos há uma demonstração por parte do

falante em deixar claro seu desejo com a elaboração do enunciado, de acordo com Orozco

(2010), independente da forma verbal empregada o falante realiza o pedido priorizando a sua

demanda e não levando em consideração a habilidade do ouvinte. Sendo assim, esse tipo de

formulação pode ameaçar a imagem de afiliação do falante, já que está centrada no falante, o

que pode explicar sua baixa frequência nas formulações de pedido.

(96) Raimunda – Regina: “El puerco me vendría muy bien, te la compro”

(97) Raimunda – Sole: “Es que Paco viene esta noche a casa, quiere que hablemos, me gustaría estar sola”

(98) Rebeca – Becky: “Si no te importa me gustaría verte y abrazarte y decirte que te quiero, es que todavía

estamos a tiempo te adoro como siempre, tu pequeña Rebeca”

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(99) Rebeca – Becky: “Nadie te está culpando y me gustaría que te limitaras a hablar con el señor juez, es

él que te está interrogando no yo.”

Vemos que todas as formulações com condicional foram direcionadas a mulheres em

relações funcionais pessoais, a relação simétrica e próxima pode favorecer esse tipo de

formulação, assim como o tipo de pedido. No exemplo (96), vemos um pedido de objeto em

que Raimunda demonstra que o objeto é muito importante para ela, nos exemplos (97) e (98),

que são pedidos de ação, as formulações apareceram atenuadas com justificativas antepostas

e pospostas, o que diminui o grau de imposição do ato, talvez porque esse tipo de pedido em

determinadas situações podem apresentar grande possibilidade de rejeição ou ainda podem

apresentar uma ameaça muito grande à imagem de afiliação do falante. No exemplo (99), há

um pedido de mudança de comportamento em que Rebeca demonstra que não deseja que

Becky lhe dirija a palavra, essa recriminação é intensificada com a justificativa posposta que

reforça o desejo do pedido.

Nas formulações com futuro composto encontramos em 03 casos (de 04 no total), em

que o falante se coloca junto ao ouvinte na execução da ação, o que pode diminuir o grau de

imposição do pedido.

(100) Pepa – Candela: “Vamos a regar un poco y a darle una vuelta a los animales, luego preparamos el

equipaje.”

(101) Pepa – Candela: “Vamos a regar un poco y a darle una vuelta a los animales, luego preparamos el

equipaje.”

(102) Raimunda – Paula: “Ahora vamos a arreglarnos ¿qué ganamos quedandonos aquí?”

(103) Raimunda – Regina: “No, pero te voy a pagar como cualquier cliente”

Nas formulações com futuro composto, verificamos que assim como nas condicionais,

todas elas foram direcionadas a mulheres em relações funcionais pessoais, o que sugere que

relações simétricas e próximas favorecem esse tipo de formulação em pedidos de ação. Nos

exemplos (100), (101) e (102), o falante executa a ação do pedido junto com seu destinatário,

o que pode preservar sua imagem de afiliação. No exemplo (103), o uso do futuro composto

aparece no pedido objeto como forma de compromisso com o destinatário, a fim de deixar o

pedido menos recusável, já que o seu custo é alto.

Verificamos que a formulação com presente do subjuntivo pode aparecer como forma

menos impositiva de pedido, sendo assim o falante pode utilizar uma estratégia de

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intensificação para aumentar a força ilocutiva a fim de demonstrar no enunciado sua

necessidade e urgência do pedido.

(104) Pepa – Iván: “Iván, es urgente que hablemos de ello antes de irte de viaje.”

No exemplo (104), trata-se de uma relação simétrica e próxima de casal, porém

conflituosa, a formulação de pedido de ação poderia adquirir um tom menos impositivo com

a utilização do presente do subjuntivo, mas poderia frustrar o objetivo do falante em ter seu

desejo atendido, sendo assim Pepa o intensifica com a forma de tratamento nominal (Iván).

A seguir analisaremos as formulações de pedidos com pretéritos.

3.5.2 PRETÉRITOS

Levantamos dados de formulações de pedidos tanto com pretérito perfeito quanto

imperfeito, porém analisaremos estes casos em conjunto por considerar que essas categorias

representam uma anterioridade de tempo verbal. Verificamos em nosso corpus um total de 02

ocorrências de formulações de pedidos com pretéritos, 1% do total dos pedidos. A seguir na

tabela 46 apresentaremos o repertório dessas formulações.

Tabela 58: Total de 02 formulações de pedidos com pretéritos

FORMAS DE TRATAMENTO IMPERATIVO AFIRMATIVO IMPERATIVO NEGATIVO TOTAL

YO 02 (100%) - 02(100%)

TOTAL 02 (100%) - 02(100%)

Tabela 59: Total de 02 Formulações de pedidos com pretéritos encontrados em nosso corpus

FORMAS DE

TRATAMENTO

ENUNCIADOS AFIRMATIVOS

ENUNCIADOS NEGATIVOS

TOTAL

YO Trabajé toda la tarde (1)

Necesitaba una furgoneta (1)

- 02(100%)

TOTAL 02 (100%) - 02(100%)

Todas as formulações de pedidos com pretéritos ocorreram com enunciados afirmativos

e em primeira pessoa, a ação foi centralizada no falante, o que diminui o tom impositivo do

ato, Chodowroska-Pilch (1998, apud Orozco, 2010) diz que estas estruturas têm um alto grau

de codificação para marcar a polidez, sendo assim, o uso desse tipo de formulação pode

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caracterizar a preservação da imagem de afiliação. A seguir analisaremos os contextos

favorecedores e inibidores desse repertório de formulações com pretéritos, tendo como fatores

de variação o gênero e a relação funcional dos interlocutores.

(105) Raimunda – vendedor: “Necesitaba una furgoneta de alquiler.”

(106) Raimunda – Sole: “Sole, tengo un montón de ropa por planchar y trabajé toda la tarde en el aeropuerto.”

No exemplo (105), trata-se de uma sequência conversacional direcionada a homem em

relação transacional, ou seja, relação assimétrica e distante, levando em consideração o que

foi afirmado por Chodowroska-Pilch (1998, apud Orozco, 2010) sobre a codificação desse

tipo de formulação para marcar a polidez, pode-se dizer que esse tipo de relação favoreça a

elaboração do pedido de objeto dessa maneira como forma de preservar a imagem de

afiliação. Já no exemplo (106), há o uso do pretérito em forma de justificativa, como um

pedido de ação para a não continuidade da interação, ou seja, esse tipo de formulação ocorreu

como forma atenuada para uma rejeição ao ouvinte.

Em síntese:

Vemos que todas as formulações com condicional foram em relação simétrica

e próxima e todas direcionadas a mulheres com pedido de objeto e pedidos de

ação atenuados com justificativas antepostas e pospostas, o que diminui o grau

de imposição do ato, talvez porque esse tipo de pedido em determinadas

situações podem apresentar grande possibilidade de rejeição ou ainda podem

apresentar uma ameaça muito grande à imagem de afiliação do falante.

Nas formulações com futuro composto, verificamos que assim como nas

condicionais, todas elas foram direcionadas a mulheres em relações funcionais

pessoais, o que sugere que relações simétricas e próximas favoreçam esse tipo

de formulação em pedidos de ação, verificamos também que com esse tipo de

formulação o falante executa a ação do pedido junto com o ouvinte, o que pode

preservar sua imagem de afiliação.

Na formulação com presente do subjuntivo, verifica-se a preferência por uma

formulação menos impositiva, para preservar a imagem de afiliação do falante,

pois se trata de uma relação simétrica e próxima, porém conflituosa e uma

formulação de pedido de ação com um tom mais impositivo poderia frustrar o

objetivo do falante em ter seu desejo atendido.

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Todas as formulações de pedidos com pretéritos foram direcionadas a homem

e mulher em relações pessoais e transacionais e ocorreram com enunciados

afirmativos e em primeira pessoa, a ação foi centralizada no falante, o que

diminui o tom impositivo do ato, Chodowroska-Pilch (1998, apud Orozco,

2010) diz que estas estruturas têm um alto grau de codificação para marcar a

polidez, sendo assim, o uso desse tipo de formulação pode caracterizar a

preservação da imagem de afiliação.

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CONCLUSÃO

O resultado da análise nos dá pistas importantes sobre as formulações de pedidos em

espanhol, especificamente o espanhol peninsular, observamos que nos pedidos há uma

tendência muito grande em elaborá-los com o uso da forma verbal em imperativo, o que

confirma estudos anteriores que dizem que a sociedade espanhola peninsular tende a ser mais

direta como forma de reforçar seus laços sociais, construindo um ethos de confiança,

observamos também que houve maior utilização de recursos atenuadores nos pedidos de ação

quando estes apresentam um alto custo para o interlocutor e nos pedidos de mudança de

comportamento, principalmente quando direcionados a mulheres o que pode sugerir que

interlocutores do mesmo sexo favoreçam um maior esforço de preservação de face com a

minimização da força ilocutiva do ato com esse tipo de pedido. Nas relações transacionais

houve maior frequência de pedidos de objeto, o que já se esperava pela situação de prestação

de serviço que geralmente existe nesse tipo de relação, as formulações mais frequentes para

esse tipo de pedido foram as mais indiretas, pois algumas atenuam o grau de imposição do

pedido e outras já estão ritualizadas nesse tipo de relação. No que diz respeito às

intensificações, verificamos que os pedidos de ação e de mudança de comportamento também

foram intensificados, principalmente em relações pessoais de mais poder para menos poder

(relações assimétricas), o que demonstra que nesse tipo de relação a intensificação do pedido

surge para reforçar a força ilocutiva do ato e marcar as relações de poder e a imagem de

autonomia. Tais atitudes podem confirmar que cada sociedade demonstra seu ethos através

de seu comportamento linguístico e de como estabelece suas relações interpessoais, que pode

ser representado pela formulação de atos de fala. A maneira como se produz esses atos dentro

de determinados contextos comunicativos é muito relevante para afirmar o ethos de uma

sociedade.

Neste trabalho tivemos as seguintes hipóteses:

Os atos de pedidos e seus contextos de interação podem dar-nos pistas do perfil

comunicativo, isto é, do ethos feminino espanhol, que acreditamos ser o ethos de

confiança, já que esse tipo de ato tende a caracterizar as relações com maior

aproximação interpessoal.

A preferência da sociedade espanhola peninsular pela diretividade nas formulações de

pedidos, o que reforça a hipótese do ethos de confiança.

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A atenuação ocorre para minimizar a força ilocutiva do pedido que tenha um alto

custo para o interlocutor, e a intensificação aparece para intensificar a força ilocutiva

do pedido, principalmente em relações de + poder para – poder, o que reforça a

imagem de autonomia do falante.

A partir desse estudo podemos ter pistas de que na sociedade espanhola peninsular há

uma tolerância pela diretividade corroborando alguns estudos que afirmam que o ethos da

sociedade espanhola peninsular é voltado para a valorização da imagem de afiliação, há uma

preferência por um ethos de proximidade, o que seria uma demonstração de confiança e de

fortalecimento dos laços de amizade e familiaridade, preservando assim esse tipo de imagem.

Verifica-se ainda nesse trabalho a contrariedade de conceitos estabelecidos por alguns

teóricos, principalmente aos conceitos de Brown e Levinson sobre face positiva e negativa

defendida pelos autores, pois essas categorias não incorporam significados de como deve ser

especificamente a imagem social. Verificamos que um indivíduo deseja ver-se e ser visto

como parte do grupo (afiliação), o que o converte em algo dependente de um contexto

sociocultural.

Apesar de todas as análises serem feitas a partir de discursos ficcionais, pode-se

considerar tais resultados pertinentes, pois embora sejam encenações há elementos que

remetem a um discurso voltado para a realidade das práticas lingüísticas quotidianas (Quaglio,

2009). Segundo Richardson (2010) os diálogos audiovisuais são mediados e

representacionais , sendo que para Iglesias Recuero (2002) o texto dramático evoca a

oralidade e apresenta uma imediatez comunicativa, há um destinatário cujo emissor lhe dirige

palavras que costumam ser elaboradas a partir de seu comportamento ou por algum elemento

do contexto de situação compartilhada, e que são emitidos com a intenção de provocar uma

reação nesse destinatário. E ainda, segundo Maingueneau (1996) os seres ficcionais assumem

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posições simbólicas de sujeitos comunicantes que acionam sujeitos enunciadores para atingir

sujeitos interpretantes.

Dessa maneira acreditamos que essa pesquisa poderá colaborar para os trabalhos

voltados aos estudos da linguagem e aos estudos interculturais, pois demonstra a manifestação

de um perfil comunicativo de personagens fílmicos que podem dar pistas sobre o perfil

comunicativo da sociedade espanhola peninsular a partir da elaboração de determinados atos

de fala e a preferência por alguns recursos estratégicos.

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ANEXOS:

110 PEDIDOS dirigidos a mulheres:

Relação

funcional

Imperativo Presente Interrogativo Frase nominal Futuro Condicional Pretérito perfeito

Pessoal 67 16 08 03 05 04 01

Transacional 02 01 03

TOTAL 69 17 11 03 05 04 01

IMPERATIVO: 69 pedidos

Relação funcional pessoal:

(1) Pepa – Candela: “Pues ahora me lo cuentas/ vete preparando el café.”

(2) Pepa – Candela: “Candela sírveles un poco de café.”

(3) Pepa – Candela: “Tranquilízate Candela/ ven/ paca.”

(4) Pepa – Candela: “Tranquilízate Candela/ ven/ paca.”

(5) Pepa – Candela: “Sí/ pues léete las instrucciones/ hija.”

(6) Pepa – Candela: “Candela/ tráeme algo de beber.”

(7) Pepa – Candela: “Candela/ no seas borde// están en mi casa.”

(8) Pepa – Candela: “Candela/ deja de comportarte como una niña frente a los señores policías.”

(9) Pepa – Candela: “Salgo en este momento// llámame después.”

(10) Pepa – Candela: “Espera/ hija que no será tan urgente.”

(11) Pepa – Candela: “Procura no perderlo de nuevo/ no tengo zapatos de tu número.”

(12) Pepa – Candela: “Sí/// prepárate que nos vamos de viaje.”

(13) Pepa – Candela: “Anda entra// Que he estado fuera toda la noche.”

(14) Pepa – Lucía: “Deja de apuntarme.”

(15) Pepa – Lucía: “Por favor señora/ no me grite que acabo de sufrir un desmayo.”

(16) Pepa – Lucía: “Oye/ te callas o te doy dos bofetadas ¿eh?/ Venga/ ¡disimula!”

(17) Pepa – Lucía: “Váyase a la mierda usted también, pero digale que me llame”

(18) Rebeca –Becky: “Ven vamos a quitarnos del medio.”

(19) Rebeca –Becky: “enséñame tú.”

(20) Rebeca –Becky: “No digas tonterías/ no fuiste la única”

(21) Rebeca – Becky: “Mamá/ deja de montármelas/...

(22) Rebeca –Becky: ... deja de montarmelas”

(23) Rebeca –Becky: “Mamá/ ya estoy en la calle/ perdoname por la escena de ayer”

(24) Rebeca –Becky: “No seas morbosa/ mamá”

(25) Rebeca –Becky: “sí no te preocupes mamá te lo contaré todo/...

(26) Rebeca –Becky: ... no te canses”

(27) Raimunda – Paula: “Dale un beso”

(28) Raimunda – Paula: “vete a cambiar que te va a coger una pulmonía”

(29) Raimunda – Paula: “No lo cojas/ será una de tus amigas...

(30) Raimunda – Paula: ... cójalo... (00:20:15)

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(31) Raimunda – Paula:... y dile que no puedes hablar/ que no son horas de llamar”

(32) Raimunda – Paula: “Dile que estoy ocupada”

(33) Raimunda – Paula: “si te pregunta algo de Paco/ tú no sabes nada”

(34) Raimunda – Paula: “Sube tú/ que yo tengo prisa...

(35) Raimunda – Paula: ... dale eso a tu tia”

(36) Raimunda – Paula: “Anda/ cariño/ dame un vaso de água”

(37) Raimunda – Paula: “anda/ no seas perezosa chiquitita que yo te ayudo” (38) Raimunda – Paula: “Échale piedras al jarrón/ que cae/ Paula”

(39) Raimunda – Paula: “Sí/// vuelve a tu habitación/ Paula”

(40) Raimunda – Paula: “Paula/ vete arreglando que en media hora empezará a llegar la gente”

(41) Raimunda – Paula: “Paula/ cuelga ese teléfono ahora mismo”

(42) Raimunda – Paula: “Sé cariñosa con la tía ¿eh?...

(43) Raimunda – Paula: ... no te rías en su cara”

(44) Raimunda – Paula: “Anda/ ponte bien...

(45) Raimunda – Paula: ... cierra esa pierna/ coño”

(46) Raimunda – Sole: “No empieces a dar la prisa”

(47) Raimunda – Sole: “Pues/ diles que me acaban de operarla vesícola/ cualquier cosa/ mira iré cuanto

antes/ pero hoy me es remotamente imposible”

(48) Raimunda – Sole: “Ven/ tómate un ansieldítico/ yo me voy a tomar otro también/ y mañana por la

mañana te vas/ ¿vale?”

(49) Raimunda – Sole: “quedatela/ yo voy a hacer unos recalces y cuando termine vuelvo cuando pueda/

¿eh?

(50) Raimunda – Sole: “dame un vaso de água”

(51) Raimunda – Sole: “Sole/ asómate”

(52) Raimunda – Sole: “Sole/ no empieces// voy a ver quien es/... (53) Raimunda – Sole e Paula:... quiten el plato y los cubiertos de mamá” (54) Raimunda – Sole: “Sole/ mírame/// ¿hay más cosas que yo debería saber?”

(55) Raimunda – Regina: “ponte algo cómodo/ te espero en la terraza”

(56) Raimunda – Regina: “Descansa un rato/ que echo la tierra” (57) Raimunda – Regina: “tú eres la experta en transporte/ dime donde”

(58) Raimunda – Regina: “De aquí no veo/ ¿eh?/ dinos tu”

(59) Raimunda – Inés: “cómete dos/ tres/ cuatro/ pero...

(60) Raimunda Inés: ... no te atraques/ que te conozco...

(61) Raimunda – Inés: ... anda/ traémelos a casa/ ¡cariño!”

(62) Raimunda – Agustina: “Dime en qué hospital estás que yo me paso ahí hoy mismo”

(63) Raimunda – Agustina: “Dile a tu hermana que no me gusta la televisión”

(64) Raimunda – Agustina: “Pasa...

(65) Raimunda – Agustina: ... no te quedes ahí”

(66) Raimunda – Agustina: “pero no me preguntes disparates”

(67) Raimunda – Agustina: “Siéntate/ mujer”

Relação funcional transacional:

(68) Pepa – Paulina: “No se preocupe la entretendré sólo unos minutos.”

(69) Pepa - recepcionista: “¿Me pones con este número, por favor?”

Recepcionista- Pepa: “No tienes derecho a hacer esto”

Pepa – recepcionista: “No importa, márcamelo.”

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Quadro 1:

Formulações sem estratégias de atenuação ou intensificação:

A: pessoal

1- Pepa – Candela: “Pues ahora me lo cuentas/ vete preparando el café.”

14- Pepa – Lucía: “Deja de apuntarme.”

18- Rebeca –Becky: “Ven vamos a quitarnos del medio.”

19- Rebeca –Becky: “enséñame tú.”

20- Rebeca –Becky: “No digas tonterías/ no fuiste la única”

22- Rebeca –Becky: ... deja de montarmelas”

26- Rebeca –Becky: ... no te canses”

27- Raimunda – Paula: “Dale un beso”

28- Raimunda – Paula: “vete a cambiar que te va a coger una pulmonía” (00:20:15)

29- Raimunda – Paula: “No lo cojas/ será una de tus amigas...

30- Raimunda – Paula: ... cójalo...

31- Raimunda – Paula:... y dile que no puedes hablar/ que no son horas de llamar”

32- Raimunda – Paula: “Dile que estoy ocupada”

33- Raimunda – Paula: “si te pregunta algo de Paco/ tú no sabes nada”

34- Raimunda – Paula: “Sube tú/ que yo tengo prisa...

35- Raimunda – Paula: ... dale eso a tu tia”

43- Raimunda – Paula: ... no te rías en su cara”

46- Raimunda – Sole: “No empieces a dar la prisa”

50- Raimunda – Sole: “dame un vaso de água”

53- Raimunda – Sole e Paula:... quiten el plato y los cubiertos de mamá” 55- Raimunda – Regina: “ponte algo cómodo/ te espero en la terraza”

56- Raimunda – Regina: “Descansa un rato/ que echo la tierra” 57-Raimunda – Regina: “tú eres la experta en transporte/ dime donde”

59- Raimunda – Inés: “cómete dos/ tres/ cuatro/ pero...

60- Raimunda Inés: ... no te atraques/ que te conozco...

62- Raimunda – Agustina: “Dime en qué hospital estás que yo me paso ahí hoy mismo”

63- Raimunda – Agustina: “Dile a tu hermana que no me gusta la televisión”

64- Raimunda – Agustina: “Pasa...

65- Raimunda – Agustina: ... no te quedes ahí”

66- Raimunda – Agustina: “pero no me preguntes disparates”

............................................................................................................................................... ...........

B: transacional

69- Pepa – recepcionista: “No importa, márcamelo.”

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Quadro 2:

Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:

ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO

Formas de tratamento

nominais

A: pessoal

1- “Candela”

2- “Candela”

5- “Hija”

6- “Candela”

10- “hija”

21- “mamá”

23- “mamá”

24 - “Mamá”

25- “mamá”

36- “cariño dame un vaso de

água”

37-“anda/ no seas perezosa

chiquitita que yo te ayudo”

50-“ Sole/ asómate”

60-“anda/ traémelos a

casa/¡cariño!”

66- “Siéntate/Mujer”

7- “Candela”

8- “Candela”

38- “Échale piedras al jarrón/

que cae/ Paula”

39-“vuelve a tu habitación

Paula”

40- “Paula vete arreglando que

en media hora empezará a llegar

la gente “

41 – “Paula/ cuelga ese teléfono

ahora mismo”

51-“ Sole/ no empieces// voy a

ver quien es/...”

53-“ Sole/ mírame”

B: transacional

15-“señora”

Justificativas

A: pessoal

9- “Salgo en este momento”

10- “que no será tan urgente”

11- “no tengo zapatos de tu número”

12- “que nos vamos de viaje”

13- “Que he estado fuera toda la

noche”

15- “que acabo de sufrir un

desmayo”

28- ““vete a cambiar que te va a

coger una pulmonía”

34- “Sube tú/ que yo tengo prisa...”

49- “quedatela yo voy a hacer unos

recalces y cuando termine vuelvo

cuando pueda”

56-“ tú eres la experta en transporte/

dime donde”

40- “Paula/ vete arreglando que

en media hora empezará a llegar

la gente”

B: transacional 68- “la entretendré sólo unos

minutos”

Marcadores 15- “Por favor”

34- “Anda traémelos a casa/¡cariño”

13- “Anda”

42- Sé cariñosa con la tía¿eh?...

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conversacionais

A: pessoal

36- “Anda dame un vaso de água”

37- “Anda no seas perezosa

chiquitita que yo te ayudo”

47- “Pues diles que me acaban de

operarla vesícola/ cualquier cosa/

mira iré cuanto antes/ pero hoy me es

remotamente imposible”

48- “Ven”/ tómate un ansieldítico/

yo me voy a tomar otro también/ y

mañana por la mañana te vas/

¿vale?”

49- quedatela/ yo voy a hacer unos

recalces y cuando termine vuelvo

cuando pueda/¿eh?

44-“ Anda ponte bien...”

Quadro 3:

Atenuadores ou intensificadores Pragmáticos (microatos):

ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO

Insulto

A: pessoal

17- “Váyase a la mierda usted

también”

45- “coño”

Recriminação

A: pessoal

7- “no seas borde”

PRESENTE DO INDICATIVO: 17 pedidos

relação funcional pessoal:

(04) Pepa – Candela: “Oye/ te callas o te doy dos bofetadas ¿eh?/ Venga/

(05) Pepa – Candela: “Bueno/ pues ahora lo hablamos.” (06) Pepa – Candela: “Tú no puedes moverte de aqui.”

(07) Pepa – Lucía: “Perdone que la moleste/Es que tengo que hablar urgentemente con él.” (08) Pepa – Candela: “Vamos a regar un poco y a darle una vuelta a los animales/ luego

preparamos el equipaje.” (09) Rebeca – Becky: “Ahora sólo puedes escucharme”

(10) Raimunda – Sole: “Conduzco yo”

(11) Raimunda – Sole: “quiero que me cortes el pelo”

(12) Raimunda – Sole: “Que te dejo la Paula es que tengo que ir al hospital/ Agustina está (( ))/ tiene

câncer” (1:11:38)

(13) Raimunda – Sole: “Sole/ tengo un (( )) de ropa por planchar y trabajé toda la tarde en el

aeropuerto” (00:20:15)

(14) Raimunda _ Regina: “necesito un favor tuyo esta noche”

(15) Raimunda _ Regina: “bueno/ mañana te los doy/ ¡ayuudame mujer!”

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(16) Raimunda _ Regina: “Mira/ en el camino te lo explico/ en el momento necesitamos meter (( )) en

la furgoneta” (1:20:31)

(17) Raimunda _ Regina: “yo necesito como un kilo y médio tengo que hacer comida para treinta”

(18) Raimunda – Inés: “me los vende a mí/ que me vienen muy bien”

(19) Raimunda – Sole: Sole/ tengo que planchar la ropa/ llaámame después.

relação funcional transacional:

(20) Pepa - recepcionista: “O me lo marcas tú, o llamo desde la calle. Me están esperando en el

estudio, tú verás” Recepcionista/ Pepa: “Uy sí, sí, sí, perdón, perdón. Servidora está aquí para eso. El café puede

esperar”

Quadro 4:

Formulações sem estratégias de atenuação ou intensificação:

Quadro 5:

Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:

ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO

Marcadores

conversacionais

A: pessoal

3- “Bueno”

12- “bueno/ mañana te los doy/

¡ayuudame mujer!”

13- “Mira/ en el camino te lo explico/ en

el momento necesitamos meter (( )) en la

furgoneta”

1-“Oye”/

1-“¿eh?”

1-venga

Advérbio de modo

A: pessoal

4- “urgentemente”

Justificativa

A: pessoal

9- “Que te dejo la Paula es que tengo que

ir al hospital/ Agustina está (( ))/ tiene

câncer”

14- “yo necesito como un kilo y médio

tengo que hacer comida para treinta”

Forma de

tratamento nominal

4- “Sole/ tengo un (( )) de ropa por

planchar”

16- Sole/ tengo que planchar la ropa/

A: pessoal

1- Pepa – Candela: “Tú no puedes moverte de aqui.”

5- Pepa – Candela: “Vamos a regar un poco y a darle una vuelta a los animales/

luego preparamos el equipaje.” 6- Rebeca – Becky: “Ahora sólo puedes escucharme”

7- Raimunda – Sole: “Conduzco yo”

8- Raimunda – Sole: “quiero que me cortes el pelo”

12- Raimunda _ Regina: “necesito un favor tuyo esta noche”

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A: pessoal llaámame después

Quadro 6:

Atenuadores ou intensificadores Pragmáticos (microatos):

ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO

Ameaça

A: pessoal

1- “o te doy dos bofetadas”

B: transacional 6- “tu verás”

Pedido de desculpas

A: pessoal

5- “Perdone que la moleste”

ENUNCIADOS INTERROGATIVOS: 11 pedidos

Relação funcional pessoal:

(1) Raimunda – Sole: “Oye/ ¿Por qué no la acercas?”

(2) Raimunda – Sole: “Sole/¿ te importa que se quede esta noche contigo?”

(3) Raimunda – Inés: “oye/ ¿no te has traído unas morcillas y unos tortillos?”

(4) Raimunda – Inés: “oye/ ¿y dulces?...

(5) Raimunda – Inés:...oye/ ¿no has traído nada?”

(6) Raimunda – Inés : “¿me las puedes vender? / te las pago mañana”

(7) Raimunda – Regina: “tengo que hacer comida para treinta personas// oye/ ¿podrías prestarme

cien euros?”

(8) Raimunda – Regina: “oye/ ¿me podéis ayudar con esto? Lo colocaría yo/ pero no puedo sola”

relação funcional transacional:

(09) Pepa – Paulina: “¿Puedo sentarme?”

(10) Pepa – Paulina: “¿Puedo fumar? Es que tengo unas ganas”

(11) Pepa - recepcionista: “¿Me pones con este número, por favor?”

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Quadro 7:

Formulações sem estratégias de atenuação ou intensificação:

B: transacional

9- Pepa – Paulina: “¿Puedo sentarme?”

Quadro 8:

Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:

ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO

Justificativa

A: pessoal

6- 6- te las pago mañana”

7- 7- “tengo que hacer comida para

treinta personas// oye/ ¿podrías

prestarme cien euros?”

8- 8- “oye/ ¿me podéis ayudar con

esto? Lo colocaría yo/ pero no puedo

sola”

Marcador conversacional

A: pessoal

1- “Oye/ ¿Por qué no la acercas?”

3- “oye/ ¿no te has traído unas

morcillas y unos tortillos?”

4- “oye/ ¿y dulces?...

5-oye/ ¿no has traído nada?”

7- oye/ ¿podrías prestarme cien

euros?”

9- 8- “oye/ ¿me podéis ayudar con

esto? Lo colocaría yo/ pero no puedo

sola”

Forma nominal

A: pessoal

2- “Sole/¿ te importa que se quede esta

noche contigo?”

Quadro 9:

Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:

ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO

Justificativa

B: transacional

10- “Es que tengo unas ganas”

Marcador

conversacional

11-“Por favor”

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B: transacional

FRASES NOMINAIS: 03 pedidos

Relação funcional pessoal:

(1) Pepa – Candela: “¡Todos para dentro!/ ¡para dentro/ venga!”

(2) Pepa – Candela: “Tú dentro/ venga.”

(3) Raimunda – Regina: “pero esto/ ni una palabra ¿eh?” (1:20:31)

Quadro 10:

Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:

ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO

Marcadores

conversacionais

A: pessoal

3- “pero esto/ ni una palabra ¿eh?”

1-“venga”

1- “Todos para dentro”

1- “ para dentro”

2- “venga”

FUTURO: 04 pedidos

Relação funcional pessoal

(1) Pepa – Candela: “Vamos a regar un poco y a darle una vuelta a los animales/luego preparamos el

equipaje.”

(2) Pepa – Candela: “Vamos a regar un poco y a darle una vuelta a los animales/ luego preparamos el

equipaje.”

(3) Raimunda – Paula: “ahora vamos a arreglarnos/ ¿qué ganamos quedandonos aquí?”

(4) Raimunda – Regina: “No/ pero te voy a pagar como cualquier cliente”

CONDICIONAL: 04 pedidos

Relação funcional pessoal

(1) Raimunda – Sole: “es que Paco viene esta noche a casa/ quiere que hablemos/ me gustaría estar

sola”

(2) Raimunda – Regina: “el puerco me vendría muy bien/ te la compro”

(3) Rebeca – Becky: “si no te importa me gustaría verte/ y abrazarte y decirte que te quiero/ es que

todavía estamos a tiempo/ te adoro como siempre/ tu pequeña Rebeca”

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(4) Rebeca – Becky: “Nadie te está culpando/ y me gustaría que te limitaras a hablar con el señor juez/

es él que te está interrogando no yo”

Quadro 11:

Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:

ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO

Justificativa

A: pessoal

1- “es que Paco viene esta noche a casa/

quiere que hablemos/ me gustaría estar

sola”

PRETÉRITO PERFEITO: 01 pedido

Relação funcional pessoal

(1) Raimunda – Sole: “Sole/ tengo un montón de ropa por planchar y trabajé toda la tarde en el

aeropuerto”

Quadro 12:

Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:

ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO

Forma de tratamento nominal

A: pessoal

1- Sole

74 PEDIDOS dirigidos a homens:

Relação

funcional

Imperativo Presente Interrogativo Frase nominal Presente

subj.

Pretérito

imperfeito

Pessoal 31 05 04 05 01

Transacional 13 05 06 03 01

TOTAL 44 10 10 08 01 01

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IMPERATIVO: 44 pedidos

Relação funcional pessoal:

(1) Pepa – Iván: “Déjame un recado en el contestador diciéndome donde y cuando// Ahora mismo

me voy a la calle buscarte/ Adiós.”

(2) Pepa – Iván: “Déjame dicho en el contestador donde y cuándo/ adiós.”

(3) Iván – Pepa: “Pepa/ ¿te encuentras bien?”

Pepa – Iván: “Quita.”

(4) Pepa – Carlos: “Échame una mano.”

(5) Pepa – Carlos: “No dejes que se asome a la terraza.”

(6) Pepa – Carlos: “Dile// que no espero nada de él/ que lo único que me queda suyo es esta maleta/ y

voy a deshacerme de ella ahora mismo// no/ mejor que no le digas nada/no cojáis el teléfono/ y no

abráis la puerta.”

(7) Pepa – Carlos: “Dile// que no espero nada de él/ que lo único que me queda suyo es esta maleta/ y

voy a deshacerme de ella ahora mismo// no/ mejor que no le digas nada/no cojáis el teléfono/ y no

abráis la puerta.”

(8) Pepa – Carlos: “Dile// que no espero nada de él/ que lo único que me queda suyo es esta maleta/ y

voy a deshacerme de ella ahora mismo// no/ mejor que no le digas nada/no cojáis el teléfono/ y no

abráis la puerta.”

(9) Pepa – Carlos: “Dile// que no espero nada de él/ que lo único que me queda suyo es esta maleta/ y

voy a deshacerme de ella ahora mismo// no/ mejor que no le digas nada/no cojáis el teléfono/ y no

abráis la puerta.”

(10) Pepa – Carlos: “No me mientas tú también.”

(11) Pepa – Carlos: “Y aunque yo pueda ser tu madrasta no me llames de usted.”

(12) Pepa – Carlos: “Ven, acompañame/// Es que éste no funciona y estoy esperando una llamada de

tu padre.”

(13) Pepa – Carlos: “Ven, acompañame/// Es que éste no funciona y estoy esperando una llamada de

tu padre.”

(14) Rebeca – Letal: “De verdad/ no te compliques la vida conmigo”

(15) Rebeca – Letal: “no/ anda/ suelta/ el vestido...

(16) Rebeca – Letal: ...anda suéltame...

(17) Rebeca – Letal:... suéltame”

(18) Rebeca – Letal: “Anda sueltame...

(19) Rebeca – Letal:... oye/ ven a ayudarme a bajar/ no ves que tengo tacones y me puedo

romper un tobillo”

(20) Rebeca – Eduardo: “Dame una tragada”

(21) Rebeca – Eduardo “No me vengas con casarse”

(22) Rebeca – Eduardo “No puedes hacerlo ahora que está resuelto”

(23) Rebeca – Eduardo “Oye que no/ que no insistas”

(24) Rebeca – Eduardo “Letal/ por Dios no me confundas más”

(25) Rebeca – Eduardo “Ponte la barba// como voy a follar con el ... de coco que tengo”

Page 133: A REPRESENTAÇÃO DO ETHOS DO ESPANHOL … · enunciados interrogativos, frases nominais, futuro, condicional, presente do subjuntivo e pretérito perfeito e imperfeito) ou por estratégias

(26) Raimunda – Paco: “Ay Paco/ déjame”

(27) Raimunda – Paco: “Ay Paco/ no seas pesado”

(28) Raimunda – Paco: “Ay Paco/ déjame estoy molida/ y mañana tengo que madrugar”

(29) Raimunda – Emilio: “tú dame las llaves/ ya ((me las arreglaré))”

(30) Raimunda – Emilio: “Venga dime/ cuánto tengo que pagar del alquiler del mes/ y te lo mando/

pero...

(31) Raimunda – Emilio:... dame unos dias”

relação funcional transacional:

(32) Pepa – taxista: “Siga a ese taxi.”

(33) Pepa – taxista: “Lo que quiero es que no pierda de vista aquel taxi.” (00:21:40)

(34) Pepa – taxista: “No le diga a su novia que me ha visto llorar.”

(35) Pepa – taxista: “Vaya deprisita que tenemos que llegar antes de ellos.”

(36) Raimunda – cineasta: “échame una mano”

(37) Raimunda – cineasta: “Ayúdame”

(38) Raimunda – cineasta: “¡Quédese ahí...

(39) Raimunda – cineasta: ... no se acerque!”

(40) Raimunda – cineasta: “no me mires así que me pones nerviosa”

(41) Raimunda – cineasta: “Anda/ vete a tomarte algo/ que estoy trabajando”

(42) Pepa – taxista: “Por favor/ aunque no les persiga/ llévenos al aeropuerto/ Que tenemos que

llegar.”

(43) Pepa – policial: “No le haga caso/ la pobre no rige.”

(44) Rebeca – Juiz: “Búsquelas”

Quadro 13:

Formulações sem estratégias de atenuação ou intensificação:

A: pessoal

1- Pepa – Iván: “Déjame un recado en el contestador diciéndome donde y cuando// Ahora mismo me voy a la

calle buscarte/ Adiós.”

2- Pepa – Iván: “Déjame dicho en el contestador donde y cuándo/ adiós.”

3- Pepa – Iván: “Quita.”

4- Pepa – Carlos: “Échame una mano.”

5- Pepa – Carlos: “No dejes que se asome a la terraza.”

6- Pepa – Carlos: “Dile// que no espero nada de él/ que lo único que me queda suyo es esta maleta/ y voy a

deshacerme de ella ahora mismo// no/ mejor que no le digas nada/no cojáis el teléfono/ y no abráis la puerta.”

7- Pepa – Carlos: “Dile// que no espero nada de él/ que lo único que me queda suyo es esta maleta/ y voy a

deshacerme de ella ahora mismo// no/ mejor que no le digas nada/no cojáis el teléfono/ y no abráis la puerta.”

8- Pepa – Carlos: “Dile// que no espero nada de él/ que lo único que me queda suyo es esta maleta/ y voy a

deshacerme de ella ahora mismo// no/ mejor que no le digas nada/no cojáis el teléfono/ y no abráis la puerta.”

9- Pepa – Carlos: “Dile// que no espero nada de él/ que lo único que me queda suyo es esta maleta/ y voy a

deshacerme de ella ahora mismo// no/ mejor que no le digas nada/no cojáis el teléfono/ y no abráis la puerta.”

10- Pepa – Carlos: “No me mientas tú también.”

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14- Rebeca – Letal: “De verdad/ no te compliques la vida conmigo”

17- Rebeca – Letal:... suéltame”

19- Rebeca – Letal:... ven a ayudarme a bajar/ no ves que tengo tacones y me puedo romper un

tobillo”

20- Rebeca – Eduardo: “Dame una tragada”

21- Rebeca – Eduardo “No me vengas con casarse”

22- Rebeca – Eduardo “No puedes hacerlo ahora que está resuelto”

29- Raimunda – Emilio: “tú dame las llaves/ ya ((me las arreglaré))”

30- Raimunda – Emilio: “dime/ cuánto tengo que pagar del alquiler del mes/ y te lo mando/ pero...

31- Raimunda – Emilio:... dame unos dias”

..............................................................................................................................................................

B: transacional

32- Pepa – taxista: “Siga a ese taxi.”

33- Pepa – taxista: “Lo que quiero es que no pierda de vista aquel taxi.”

34- Pepa – taxista: “No le diga a su novia que me ha visto llorar.”

36- Raimunda – cineasta: “échame una mano”

37- Raimunda – cineasta: “Ayúdame”

38- Raimunda – cineasta: “¡Quédese ahí...

39- Raimunda – cineasta: ... no se acerque

43- Pepa – policial: “No le haga caso/ la pobre no rige.”

44- Rebeca – Juiz: “Búsquelas”

Quadro 14:

Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:

ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO

Justificativa

A: pessoal

11- “aunque yo pueda ser tu

madrasta”

12 “Es que éste no funciona y

estoy esperando una llamada de

tu padre.”

25- “Ponte la barba// como voy

a follar con el ... de coco que

tengo”

28- “Ay Paco/ déjame estoy

molida/ y mañana tengo que

madrugar”

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B: transacional 41- “Anda/ vete a tomarte algo/

que estoy trabajando”

42- “que tenemos que llegar

ante de ellos”

Marcador conversacional

A: pessoal

19-“oye/ ven a ayudame a

bajar

23- “Oye que no/ que no

insistas”

24- “Letal/ por Dios no me

confundas más”

26- “Ay Paco/ déjame”

27- “Ay Paco/ no seas pesado”

28- “Ay Paco/ déjame estoy

molida/ y mañana tengo que

madrugar”

30- “Venga dime/ cuánto tengo

que pagar del alquiler del mes/ y

te lo mando/ pero...

15- “no/ anda/ suelta/ el

vestido...

16- ...anda suéltame...

B: transacional 41- “Anda/ vete a tomarte algo/

que estoy trabajando”

42-“por favor”

Advérbio de modo

B: transacional

35- “deprisita”

Forma de tratamento

nominal

A: pessoal

24- “Letal/ por Dios no me

confundas más”

26- “Ay Paco/ déjame”

27- “Ay Paco/ no seas pesado”

28- “Ay Paco/ déjame estoy

molida/ y mañana tengo que

madrugar”

PRESENTE DO INDICATIVO: 10 pedidos

relação funcional pessoal:

(1) Pepa – Iván: “Tengo que verte urgentemente para hablar de una cosa contigo.”

(2) Pepa – Iván: “Ivan/ tengo que hablar urgentemente contigo de algo.”

(3) Pepa – Carlos: “Y de paso arreglas el telefono.”

(4) Pepa – Carlos: “¿Por qué no me llama?// tengo que hablar con él.”

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(5) Raimunda – Emilio: “Si me das cinco minutos/ te lo explico”

relação funcional transacional:

(6) Corretor – Pepa: “¿Y el ático como Le va?”

Pepa – corretor: “Oh que maravilloso, pero vengo a alquilarlo.

(7) Pepa – corretor: “Qué bien porque también quiero alquilar otro para mí”

(8) Raimunda – vendedor: “Me da ocho metros de cuerda para tender de

plástico/ y cinta para Embalar”

(9) Raimunda – verdureiro: “Me pone ocho kilos”

(10) Raimunda – verdureiro: “Me pone dos kilos”

Quadro 15:

Formulações sem estratégias de atenuação ou intensificação:

Quadro 16:

Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:

ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO

Advérbio de modo

A: pessoal

1-“urgentemente”

2- “urgentemente”

Forma tratamento nominal

A: pessoal

2- “Iván”

A: pessoal

2- Pepa – Carlos: “Y de paso arreglas el telefono.”

3- Pepa – Carlos: “¿Por qué no me llama?// tengo que hablar con él.”

4- Raimunda – Emilio: “Si me das cinco minutos/ te lo explico”

................................................................................................................................................ ............

B: transacional

8- Pepa – corretor: “Qué bien porque también quiero alquilar otro para mí”

9- Raimunda – vendedor: “Me da ocho metros de cuerda para tender de plástico/ y cinta para Embalar”

10- Raimunda – verdureiro: “Me pone ocho kilos”

11- Raimunda – verdureiro: “Me pone dos kilos”

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Elogio

B: transacional

6- Oh que maravilloso

ENUNCIADOS INTERROGATIVOS: 10 pedidos

relação funcional pessoal:

(1) Pepa – Carlos: “¿Tú sabes arreglar un teléfono?”

(2) Pepa – Carlos: “¿Nos puedes traer unos calmantes de la cocina?”

(3) Pepa – Carlos: “¿Me subes la cremallera?”

(4) Pepa – Carlos: “¿Te importa quedarte hasta que yo vuelva? Somos demasiadas mujeres

para un ático tan grande.”

relação funcional transacional:

(5) Pepa – taxista: “¿No tendrá un colirio por casualidad?”

(6) Pepa – policial: “¿Por qué no se sienta aquí y me interroga cómodamente? Es que me va a dar

tortícolis.”

(7) Pepa – corretor: “¿Puedo hacer una llamada?

(8) Raimunda – verdureiro: “¿Me pones dos kilos más?”

(9) Rebeca – Juiz: “¿Tiene fuego?”

(10) Rebeca – Juiz: “Oiga ¿me da un cigarillo?”

Quadro 17:

Formulações sem estratégias de atenuação ou intensificação:

A: pessoal

1- Pepa – Carlos: “¿Tú sabes arreglar un teléfono?”

2- Pepa – Carlos: “¿Nos puedes traer unos calmantes de la cocina?”

3- Pepa – Carlos: “¿Me subes la cremallera?”

............................................................................................................

B: transacional

5- Pepa – taxista: “¿No tendrá un colirio por casualidad?”

7- Pepa – corretor: “¿Puedo hacer una llamada?

8- Raimunda – verdureiro: “¿Me pones dos kilos más?”

9- Rebeca – Juiz: “¿Tiene fuego?”

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Quadro 18:

Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:

ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO

Justificativa

A: pessoal

4- “Somos demasiadas mujeres

para un ático tan grande.”

Quadro 19:

Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:

ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO

Justificativa

B: transacional

6- Es que me va a dar

tortícolis.”

Marcador conversacional

B: transacional

10- “Oiga ¿me da un

cigarillo?”

FRASES NOMINAIS: 08 pedidos

Relação funcional pessoal (1) Rebeca – Letal: “ Bueno anda Letal ya está...

(2) Rebeca – Eduardo “Oye que no/ que no insistas”

(3) Raimunda – Emilio: “Emilio/ por Dios”

(4) Rebeca – Letal: “Ahora no/ estoy ocupada/ mejor mañana”

Relação funcional transacional

(5) Pepa – taxista: “Castellana 31.”

(6) Raimunda – vendedor: “¡Ah!/ y un pico...

(7) Raimunda – vendedor:... y una pala”

Quadro 20:

Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:

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ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO

Marcador conversacional

A: pessoal

1- “ Bueno anda Letal ya está

1- “ Bueno anda Letal ya está

3- “Oye que no/ que no insistas”

Forma de tratamento

nominal

A: pessoal

1- “ Bueno anda Letal ya está

4- “Emilio/ por Dios”

Justificativa

B: transacional

5- “Ahora no/ estoy ocupada mejor

mañana”

QUADRO 21:

Atenuadores ou intensificadores microatos:

ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO

Apelo

A: pessoal

4- “Emilio/ por Dios”

PRESENTE DO SUBJUNTIVO: 01 pedido

Relação funcional pessoal

(1) Pepa – Iván: “Es urgente que hablemos de ello antes de irte de viaje.”

PRETÉRITO IMPERFEITO: 01 pedido

Relação funcional transacional

(1) Raimunda – vendedor: “necesitaba una furgoneta de alquiler”