o pr o g r a m a erasmus paradigma p a r a o mercosul · 2019-06-10 · ca d e r n o s jurídi c os...

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7 O PROGRAMA ERASMUS: PARADIGMA PARA O MERCOSUL? ALINE PECORARI CRUZ 1 SUMÁRIO: 1. Introdução, 2. O Programa ERASMUS. 3. Objetivos do Progra- ma ERASMUS. 4. Distinção entre o Programa ERASMUS e Demais Progra- mas da União Europeia. 5. O MERCOSUL Educacional. 6. O MERCOSUL e a União Europeia. 7. Conclusões. 8. Referências Bibliográficas. Resumo: Considerado a maior iniciativa de intercâmbio estudantil do mundo, o programa ERASMUS incentiva a mobilidade de estudan- tes e docentes, propiciando a integração destes entre países euro- peus que sejam, obviamente, integrantes do referido programa. Os estudos realizados pelos alunos no exterior são reconhecidos pela sua universidade de origem, através de equivalência de cré- ditos, enquanto os professores têm a oportunidade de lecionar e participar do processo educacional em outras instituições, criando um intercâmbio que vai além do conhecimento teórico, atingindo o âmbito cultural e refletindo, positivamente, na economia, com a formação de profissionais polivalentes. Ao criar um espaço aberto para a educação, o programa ERASMUS fortalece a União Europeia e demonstra que iniciativas internacionais na área da educação po- dem conferir aos cidadãos europeus verdadeiras transformações culturais, políticas e sociais, contribuindo com o processo de de- mocratização do ensino e solidificação da cidadania. Palavras-chave: mobilidade acadêmica, equivalência de créditos, inter- câmbio, cooperação entre países, fortalecimento socioeconômico. Abstract: Considered the world’s largest student exchange in the world, the ERASMUS program encourages mobility for students and professors, providing integration among those European countries which are members of the ERASMUS program. Studies abroad are recognized by their home university, through the equivalence 1 Advogada. Aluna especial do Curso de Mestrado em Direito da UNIMEP. E-mail: [email protected]. 07 UNI2 cap7.indd 123 3/1/2011 18:16:42

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7O PrOgrama Erasmus:

Paradigma Para O mErcosul?

Aline PecorAri cruz1

SUMÁRIO: 1. Introdução, 2. O Programa ERASMUS. 3. Objetivos do Progra-ma ERASMUS. 4. Distinção entre o Programa ERASMUS e Demais Progra-mas da União Europeia. 5. O MERCOSUL Educacional. 6. O MERCOSUL e a União Europeia. 7. Conclusões. 8. Referências Bibliográficas.

resumo: Considerado a maior iniciativa de intercâmbio estudantil do mundo, o programa ERASMUS incentiva a mobilidade de estudan-tes e docentes, propiciando a integração destes entre países euro-peus que sejam, obviamente, integrantes do referido programa. Os estudos realizados pelos alunos no exterior são reconhecidos pela sua universidade de origem, através de equivalência de cré-ditos, enquanto os professores têm a oportunidade de lecionar e participar do processo educacional em outras instituições, criando um intercâmbio que vai além do conhecimento teórico, atingindo o âmbito cultural e refletindo, positivamente, na economia, com a formação de profissionais polivalentes. Ao criar um espaço aberto para a educação, o programa ERASMUS fortalece a União Europeia e demonstra que iniciativas internacionais na área da educação po-dem conferir aos cidadãos europeus verdadeiras transformações culturais, políticas e sociais, contribuindo com o processo de de-mocratização do ensino e solidificação da cidadania.

Palavras-chave: mobilidade acadêmica, equivalência de créditos, inter-câmbio, cooperação entre países, fortalecimento socioeconômico.

abstract: Considered the world’s largest student exchange in the world, the ERASMUS program encourages mobility for students and professors, providing integration among those European countries which are members of the ERASMUS program. Studies abroad are recognized by their home university, through the equivalence

1 Advogada. Aluna especial do Curso de Mestrado em Direito da UNIMEP. E-mail: [email protected].

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of credits, while professors have the opportunity to lecture and participate of the educational process in other institutions abroad, creating an exchange that goes beyond the theoretical knowledge, reaching cultural context and reflecting positively on the economy, with the formation of professional multipurpose. By creating an open space for education, ERASMUS strengthens the European Union and demonstrates that international initiatives in education may confer upon the citizens genuine cultural, social and politic changes, contributing to the democratization of education and consolidation of citizenship.

Key words: academic mobility, equity loan, exchange, cooperation between countries, socio-economic empowerment.

1. Introdução

O presente estudo tem como objetivo apresentar uma das ver-tentes do programa Sócrates,2 desenvolvido pela da União Europeia, desde março de 1987, com a finalidade de aprimorar o setor educa-cional através da cooperação entre os países membros do referido bloco econômico e demais países associados. Objetivando, inclusi-ve, e principalmente, um espaço aberto para a educação, o mesmo é composto por oito áreas de ação, razão pela qual, na presente oportunidade, será dado destaque à parte do projeto concernente ao ensino superior, chamado ERASMUS.

2 A União Europeia possui um programa para a cooperação na área da educação chamado Sócrates, o qual está em vigor desde março de 1987. O referido programa apoia atividades em sete setores: ensino superior (ERASMUS), educação escolar, ou seja, voltado ano ensino pré-primário, primário e secundário (COMENDUS), promoção do ensino de línguas (LINGUA), educação aberta e a distância (EAD), educação de adultos, intercâmbio de informações e de experiências sobre políticas e sistemas de educação e medidas complementares. O Programa Sócrates busca, por meio de seus projetos, contribuir com o desenvolvimento de uma educação de qualidade através do incentivo da mobilidade de estudantes e docentes. A iniciativa está baseada em acordo de cooperação entre os vinte e sete Estados-membros da União Europeia (Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, França, Finlândia, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Romênia e Suécia), um país candidato (Turquia) e três países associados (Islândia, Liechtenstein e Noruega).

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7 – o Programa ERASMUS: Paradigma Para o MERCOSUL?

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O programa ERASMUS é considerado, atualmente, a maior ini-ciativa de intercâmbio estudantil do mundo, através do qual mais de dois milhões de estudantes já foram beneficiados.

Um de seus maiores triunfos consiste no fato de as universidades europeias serem convidadas a organizar a mobilidade de estudantes e docentes, propiciando a locomoção destes entre os países europeus, que sejam, obviamente, integrantes do programa ERASMUS.

Frise-se que o programa prevê a equivalência de créditos, fazen-do com que as universidades de origem aceitem o período de estudo despendido nas distintas instituições educacionais de ensino supe-rior de outros países, por meio do sistema ECTS (European Credit Transfer and Accumulation System for higher education). Permite, por conseguinte, além do evidente enriquecimento cultural, a possi-bilidade de estagiar em empresas estrangeiras, ou participar de cur-sos de línguas para incentivar o interesse pela cultura e pelo modo de vida em outros países da Europa.

Por fim, será ponderado se o programa ERASMUS é, ou não, um paradigma para o MERCOSUL, indagando-se a necessidade e a viabilidade de um programa que permita, no bloco latino-america-no, a formação de um espaço aberto para a educação na América do Sul.

Destaca-se que algumas atitudes quanto à melhoria no ensino superior no MERCOSUL vêm sendo tomadas. Contudo, apesar das inúmeras iniciativas e parcerias feitas entre os países da América do Sul e, eventualmente, com países europeus, até o presente momen-to, não há um programa que incentive a mobilidade na área da edu-cação, visando, principalmente, a equivalência de créditos.

Certo é, portanto, que o programa ERASMUS seria um grande avanço no MERCOSUL, propiciando, a exemplo da União Europeia, melhorias no âmbito educacional, cultural e socioeconômico.

Portanto, o presente artigo convida-nos a pensar em medidas, senão idênticas, mas semelhantes ao programa ERASMUS, que pos-sam viabilizar a mobilidade educacional no MERCOSUL.

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2. o programa EraSmuSO nome ERASMUS surgiu como uma homenagem ao filósofo,

teólogo e humanista erAsmo de rotterdAm (1467-1536).3

Ele foi um grande erudito em teologia, educação, retórica e es-tudos clássicos. Foi, do mesmo modo, um brilhante satírico, o qual vivia, frequentemente, em conflito com as autoridades e com os seus confrades reformadores. Estudou e ensinou em inúmeros paí-ses como França, Inglaterra, Itália, Suíça e Bélgica. Por estas razões, é possível considerá-lo um verdadeiro precursor do atual sistema ERASMUS, uma vez que aplicou à sua carreira a característica princi-pal do programa educacional em questão, ou seja, a mobilidade.4

Além disso, ERASMUS corresponde à abreviatura inglesa de European Community Action Scheme for the Mobility of University Students, ou seja, Plano de Ação da Comunidade Europeia para a Mobilidade de Estudantes Universitários.

Independentemente da história que circunda sua nomenclatu-ra, o fato é que o programa ERASMUS é considerado a maior inicia-tiva de intercâmbio estudantil do mundo, contando com a partici-pação de cerca de 90 das instituições europeias que se dedicam ao ensino superior. Consiste em um grande leque de medidas criadas para apoiar as atividades das instituições de ensino, com particular ênfase na promoção do conhecimento e compreensão de outras cul-turas, idiomas e métodos de ensino/aprendizagem, através da mobi-lidade de estudantes e docentes.

Atualmente, o programa envolve 2.000 (dois mil) estabeleci-mentos de ensino de 31 países, cobrindo 90% (noventa por cento) dos estabelecimentos do ensino superior europeu. Apesar de um início modesto, o programa tornou-se um êxi-to, contribuindo para alargar os horizontes de todos os par-ticipantes5.

3 UNIÃO EUROPEIA. THE ERASMUS PROGRAMME CELEBRATES ITS 20TH ANNIVERSARY. Disponível em: <http://www.fundacionprincipedeasturias.org/por/index.html>. Acesso em: 22 out. 2007.

4 QUEM FOI ERASMUS. Disponível em: <http://wralth.tripod.com/erasmus/id2.html>. Acesso em: 24 mar. 2007.

5 UNIÃO EUROPEIA. OS 20 ANOS DO PROGRAMA ERASMUS. Disponível em: <http://www.epp-ed.eu/policies/ppolicies/pt/20-education.asp>. Acesso em: 22 out. 2007.

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Por intermédio do programa ERASMUS as universidades euro-peias são convidadas a organizar a mobilidade de seus estudantes, através da cooperação mútua entre as mesmas, gerando, consequen-temente, condições para que os estudantes efetuem períodos de estudos, reconhecidos pela universidade de origem, em estabeleci-mentos de outros países.6

A União Europeia, apoiando e incentivando a circulação de es-tudantes, reconhece que todo o estudante cidadão de um dos países da União Europeia, pode estudar noutro país, tendo direito à igualdade de tratamento em relação aos cidadãos do país de acolhimento, com direito de residência e reconheci-mento acadêmico do período de estudos efetuado.7

Considerado um dos programas mais populares da União Euro-peia, os estudantes do ensino superior podem permanecer de 3 a 12 meses em outro país europeu para seguir um programa de estudos ou efetuar um estágio profissional.8

Ressalta-se que o programa ERASMUS encoraja, igualmente, a mobilidade de professores, estimando-se alcançar, por exemplo, o número de 21.000 docentes participantes dos intercâmbios ofereci-dos dentro do programa, no ano de 2007.9

Os números não param de crescer, bem como a credibilidade do programa perante os órgãos educacionais e, inclusive, perante a população europeia.

Graças a um financiamento suplementar, o número de partici-pantes no programa de educação e formação mais emblemático da União Europeia atingiu o seu nível recorde no ano passado, ou seja, em 2009. No referido período (2008-2009), quase 200.000 estudan-tes receberam apoio da União Europeia para estudar ou realizar um

6 PORTUGAL. DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA SOCIAL E DAS ORGANIZAÇÕES. PROGRAMA ERASMUS/SÓCRATES. Disponível em: <http://dpso.iscte.pt/coopera/erasmus.htm>. Acesso em: 16 mar. 2007.

7 PORTUGAL. UNIVERSIDADE NOVA LISBOA – FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS. PROGRAMA SOCRATES/ERASMUS. Disponível em: <http://www.fcsh.unl.pt/english/ erasmus.htm>. Acesso em: 19 mar. 2007.

8 Dados Programa ERASMUS. Disponível em: <http://ec.europa.eu/news/culture/100621_pt.htm>. Acesso em: 02 de set. 2010.

9 UNIÃO EUROPEIA. OS 20 ANOS DO PROGRAMA ERASMUS. Op. cit.

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estágio no exterior, representando um aumento de 8,7 % em relação ao período de financiamento anterior.10

O brusco aumento da taxa de participação, que coincide com um aumento de 12% do orçamento do programa ERASMUS, revela que os estudantes anseiam por tirar partido dos fundos efetivamente disponíveis. A bolsa média mensal, atribuída aos estudantes ERAS-MUS, subiu para 272 euros, o que significa dispor de mais dinheiro para as despesas de subsistência, destacando, portanto, o interesse da União Europeia e dos respectivos governos dos países partici-pantes do programa em investir de forma contínua na mobilidade estudantil.11

Novos países aderiram ao programa, reforçando a sua popula-ridade. Com o ingresso da Croácia e da Antiga República Jugoslava da Macedónia em 2009, mais de 4. 000 estabelecimentos do ensino superior de 33 países europeus participam atualmente do programa ERASMUS.12

3. objEtIvoS do programa EraSmuSAlém de sua proposta de mobilidade estudantil, o programa

ERASMUS busca promover um intercâmbio cultural e linguístico, propiciando, por conseguinte, grande enriquecimento pessoal, cul-tural, acadêmico e profissional, que advém, naturalmente, da expe-riência vivida pelos alunos e professores.13

Para muitos universitários europeus, o programa ERASMUS oferece a oportunidade de viver, pela primeira vez, em um país es-trangeiro. Por esta razão, se transformou em um fenômeno social e cultural, sendo extremamente popular entre os estudantes, tornan-do-se, inclusive, tema de filmes, como o filme francês “O Albergue Espanhol” (L´Auberge espagnole), no qual se relata a experiência de seis estudantes ERASMUS durante sua estadia em Barcelona (Espa-nha), oportunidade em que dividem um apartamento e têm a chan-

10 Dados Programa ERASMUS. Op. cit.11 Ibid.12 Ibid.13 PORTUGAL. ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS EMPRESARIAIS (ESCE).

PROGRAMA SÓCRATES/ERASMUS. Disponível em: <http://www.esce.ips.pt/content/index.php?action=detailfo& rec=1183>. Acesso em: 19 mar. 2007.

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ce de descobrir até que ponto a identidade europeia existe através da heterogeneidade.

Mais do que a experiência de aprendizagem direta que pro-porciona, o ERASMUS cria um espaço de abertura e tolerância e congrega pessoas de uma forma natural. Promove o diálogo intercultural e encoraja os jovens a pensarem em tempos eu-ropeus e na mobilidade não apenas enquanto estudantes, mas também depois de terem entrado no mercado de trabalho.14

Destarte, a importância do referido programa cresceu no mun-do acadêmico europeu, sendo reconhecido como um elemento im-portante para fomentar a coesão e o conhecimento entre a popu-lação jovem. Mediante isso, surge o termo “geração erasmus” para diferenciar os estudantes universitários que, através desta experiên-cia, fizeram laços de amizade, possuindo clara consciência da cida-dania europeia.15

Some academics have speculated that former ERASMUS students will prove to be a powerfull force in creating a pan-European identity. The political scientist Stefan Wolff, for example, has argued that “Give it, 15, 20 or 25 years, and Europe will be run by leaders with a completely different socialization from those of today”, referring to the so-called “ERASMUS generation”.16

Seu diferencial não consiste apenas no fato de o mesmo se apresentar como um pacto de colaboração entre as universidades dos países da União Europeia, mas, principalmente, pelo reconheci-mento dos cursos frequentados em outros países pela universidade do país de origem, fazendo com que o período concluído no exte-rior não seja perdido quanto aos aspectos profissionais.17

Em 2007, as possibilidades de financiamento do programa ERASMUS foram alargadas a fim de oferecer aos estudantes a opor-tunidade de efetuar um estágio profissional no exterior, em alguma empresa ou em outro tipo de organização. Cerca de 30.400 estu-

14 UNIÃO EUROPEIA. OS 20 ANOS DO PROGRAMA ERASMUS. Op. cit.15 ERASMUS PROGRAMME. Wikipedia, the free encyclopedia. Disponível em:

<http://en.wikipedia. org/wiki/ERASMUS_programme>. Acesso em: 16 mar. 2007.

16 Ibid.17 Dados Programa ERASMUS. Op. cit.

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dantes aproveitaram essa oportunidade entre o ano de 2008 e 2009, promovendo um aumento superior a 50% em relação ao ano ante-rior. O número de docentes de estabelecimentos do ensino superior que se beneficiaram do apoio do programa aumentou para 36.400,18 reforçando que o ERASMUS é sucesso absoluto, e em constante as-censão.

4. dIStInção EntrE o programa EraSmuS E dEmaIS programaS da unIão EuropEIa

É imprescindível enfatizar duas características essenciais que distinguem o programa ERASMUS dos demais programas educacio-nais da União Europeia: primeiramente, destaca-se que, segundo es-tudos realizados, a participação no programa ERASMUS pode ser um triunfo extremamente importante no momento em que o universitá-rio ingressa no mercado de trabalho e inicia sua busca por emprego, posto que seu período de estudo no exterior é visto, pelos empre-gadores, como uma experiência valiosa, tornando-se um diferencial em seus respectivos currículos.19

Ademais, o ERASMUS pode ser considerado um elemento im-pulsionador de mudanças no ensino superior europeu, uma vez que contribui para sua renovação, especialmente ao permitir o câmbio de experiências educacionais e socioculturais entre alunos e docen-tes, inspirando, por exemplo, o desenvolvimento de outros proje-tos, como o processo de Bolonha,20,21 o qual define um conjunto de etapas direcionadas ao ensino superior europeu, no sentido de

18 Ibid.19 UNIÃO EUROPEIA. ERASMUS @ 20: a Comissão abre as comemorações

do aniversário do seu mais emblemático programa em matéria de educação. Communiqués de presse. Disponível em:http://europa.eu/rapid/pressReleasesAction.do?reference=IP/06/1698&format=HTML&aged=0&language=PT&guiLanguage=fr> Acesso em: 23 mar. 2007.

20 UNIÃO EUROPEIA. SITE DO MINISTÁRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR. O PROCESSO DE BOLONHA. Disponível em: <http://www.dges.mctes.pt/Bolonha/Bolonha/Processo+Bolonha/>. Acesso em: 30 out. 2007.

21 A Declaração de Bolonha tem como objectivo tornar inteligíveis e comparáveis as formações ministradas no ensino superior nos diversos países que a subscreveram.

Subscrita em 1999 por 29 estados europeus (hoje, 45 estados europeus já a subscreveram), visa a constituição, até 2010 do Espaço Europeu de Ensino

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construir, até ao final da presente década, um espaço europeu de ensino superior globalmente harmonizado.22

Estudos feitos pela Comissão Europeia indicam que as pers-pectivas de emprego são maiores para estudantes que tenham participado em mobilidade estudantil. Além disso, foi com-provado que muitos estudantes que se valeram do programa ERASMUS, particularmente aqueles que passaram por um lon-go período, ou seja, 1 (um) ano letivo completo, no estran-geiro, foram inseridos em empregos que exigem a utilização de competências nos domínios do multiculturalismo e línguas estrangeiras.23

O programa ERASMUS é, portanto, indubitavelmente, um fe-nômeno social, econômico, cultural e educacional. Além de impul-sionar outros programas educacionais na União Europeia, servindo como exemplo para o mundo, inclusive para o MERCOSUL, inova e impressiona a cada ano que passa.

5. o mErCoSuL EduCaCIonaL

A democratização política dos anos 80 não propiciou a demo-cratização social de modo a possibilitar maior participação e repre-sentação da população no exercício dos seus direitos sociais.

As condições sociais de vida das populações dos países indus-trializados têm piorado sensivelmente, caracterizando uma situação fortemente polarizada, com o aumento das desigual-dades em escala mundial, resultante da acentuada concen-tração regional e pessoal de riqueza e de conhecimento. As

Superior (EEES). Este espaço deverá ser caracterizado globalmente pelo seguinte: um sistema de graus acadêmicos comparável e compatível;

Dois ciclos de estudo de pré-doutoramento; Sistema de créditos; suplemento ao diploma. Pretende-se com isto promover a dimensão europeia do ensino superior, a mobilidade e a cooperação, em particular nos domínios da avaliação e da qualidade, e tornar assim o Espaço Europeu de Ensino Superior mais competitivo e coeso.

Os graus acadêmicos e diplomas obtidos são automaticamente reconhecidos em todos os estados aderentes, facilitando, desta forma, o reconhecimento das qualificações e a mobilidade das pessoas.

22 UNIÃO EUROPEIA. ERASMUS @ 20: a Comissão abre as comemorações do aniversário do seu mais emblemático programa em matéria de educação. Op. cit.

23 PORTUGAL. UNIVERSIDADE DE AVEIRO. ERASMUS. Disponível em: <http://www.ua.pt/gril/ PageText.aspx?id=4819>. Acesso em: 19 mar. 2007.

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consequências políticas, econômicas e sociais deste processo têm sido graves, principalmente no que concerne às possibi-lidades de exercício dos direitos de cidadania. Associam-se a isso a fragmentação do cotidiano e o pauperismo ético carac-terísticos de sociedades extremamente competitivas e indivi-dualistas como as atuais.24

O excessivo individualismo e os efeitos negativos da globaliza-ção na economia e na política provocam efeitos colaterais diretos nos cidadãos, rompendo seus laços, conferindo ainda mais riqueza aos habilidosos, e condenando os menos capacitados à miséria. A fragilização do Estado pode, contudo, ser contornada e, até mesmo, erradicada, com o fortalecimento do ensino, em todas as suas instân-cias, inclusive e especialmente, o ensino superior.

Um espaço aberto para a educação dentro do MERCOSUL po-deria produzir verdadeiros avanços no bloco econômico em si, e nos Estado-membros, de forma isolada. Ou seja, os índices não seriam somente satisfatórios em âmbito internacional, mas também em âm-bito nacional, dentro de cada país, de cada estado, de cada cidade.

Algumas atitudes quanto à melhoria do ensino superior dentro do MERCOSUL estão sendo tomadas, fato que demonstra uma preo-cupação concreta por parte dos Estados-membros quanto ao avan-ço do setor educacional. Um exemplo dessa inquietude é a criação do Setor Educacional do MERCOSUL (SEM), o qual surgiu a partir da assinatura do protocolo de intenções por parte dos Ministros da Educação dos Estados-membros. Tal iniciativa tornou, primeiramen-te, visível a importância dada à educação como meio viável para pos-sibilitar o desenvolvimento da integração econômica e cultural do MERCOSUL, bem como enfatizou a necessidade em alcançar esses objetivos, o que culminou com a criação do Comitê Coordenador Técnico do Sistema de Informação e Comunicação (SIC).25

24 morosini, Marília Costa (org.). Mercosul/Mercosur: políticas e ações universitárias. Campinas/Porto Alegre: Autores Associados/Editorada Universidade, 1998. Disponível em: <www.anped.rg.br/.../rbde10_resenhas_01_mercosul_-_mercosur_-_politicas_e_acoes_u.pdf>. Acesso em: 02 de set. 2010.

25 BRASIL. INEP. ESTRUTURA DE FUNCIONAMENTO. Site do MERCOSUL Educacional. Disponível em: <http://www.sic.inep.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=52&Itemid= 75&lahg=br>. Acesso em: 10 ma. 2007.

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A estrutura montada referente ao Setor Educacional do MER-COSUL, onde a RME (Reunião dos Ministros da Educação dos Países do MERCOSUL) é a instância máxima decisória do SEM, é a primei-ra responsável pela definição das políticas a serem implementadas na área educacional para apoiar o processo de integração regional. Posteriormente, o CCR (Comitê Coordenador Regional) segue como instância responsável por propor políticas de integração e coope-ração no âmbito da educação, assessorar a RME e coordenar o de-senvolvimento da atuação do SEM. Destaca-se, ainda, que no novo Plano de Ação, se considera fundamental a vinculação do mundo produtivo com a educação, especialmente quando se trata da for-mação profissional, a qual, diante da economia globalizada, exige que os jovens demonstrem, cada vez mais, capacidade e experiência ao ingressar no mercado de trabalho. Diante dessas informações, os Estados-membros dão destaque à Educação Tecnológica, como uma forma de ferramenta de desenvolvimento e integração dos povos.26

Tem-se, ainda, dentro do Plano Estratégico do SEM, três Co-missões Regionais Coordenadoras da Área (CRC), dividida por área de ensino (Educação Básica, Educação Tecnológica e Educação Su-perior), que tem a seu cargo a incumbência de assessorar o CCR na definição das estratégias de ação do SEM e de propor mecanismos para delinear os objetivos e linhas de ação, definidas no Plano de Ação do Setor.27

Para que haja a elaboração e implantação desses projetos, serão convocados Grupos Gestores de Projetos (GGP), constituídos como instâncias temporárias específicas convocadas ad hoc pelo CCR, vin-culados a CRC ou ao próprio CCR. A instância, à qual o GGP estará vinculado, será responsável pelo acompanhamento da gestão e da execução do projeto.28

O referido projeto educacional, mais especificamente quanto ao ensino superior, propõe que as atividades deverão ser desenvol-vidas em três blocos temáticos. O primeiro bloco temático refere-se ao reconhecimento de carreiras como mecanismo de homologação de títulos, fato que facilitará, consequentemente, a mobilidade na região, estimulando os processos de avaliação para elevar a quali-

26 Ibid.27 Ibid.28 Ibid.

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dade educativa, favorecendo a comparação entre os processos de formação para a qualidade acadêmica. Já o segundo bloco refere-se à mobilidade, posto que a criação de um espaço comum regional para a educação superior tem um dos seus pilares no desenvolvimento de programas de mobilidade. Desta forma, o projeto apresentado pelo MERCOSUL deverá envolver projetos e ações de gestão acadêmica e institucional, mobilidade estudantil, sistema de transferência de créditos e intercâmbio entre docentes e pesquisadores.29

A primeira etapa está em desenvolvimento com a recuperação de programas existentes na região, visando fortalecê-los e promover a criação de novos âmbitos de cooperação, expandindo a relação entre universidades e associações de ensino. Por fim, o terceiro, e úl-timo bloco temático, refere-se à cooperação interinstitucional, uma vez que os responsáveis pelo processo de integração regional em matéria de educação superior são as próprias instituições universitá-rias. Nesse sentido, considera-se de extrema importância a recupe-ração das experiências já desenvolvidas, para promover e estimular novas ações. Para tanto, necessário enfatizar as ações conjuntas de desenvolvimento de programas colaborativos de graduação e pós-graduação, em programas de pesquisas conjuntas, na criação de re-des de excelência e no trabalho conjunto com os outros níveis edu-cacionais, em matéria de formação docente.30

Ressalta-se, finalmente, que a ata da IV Reunião da Comissão Regional Coordenadora da Educação Superior (CRC-ES),31 realizada na cidade de Buenos Aires, Argentina, em 02 de abril de 2002, de-monstra os primeiros passos dados pelo MERCOSUL no sentido de investir no ensino superior, valendo-se de programas que propõem a mobilidade estudantil, como a União Europeia. O referido espaço foi utilizado para firmar um pacto entre os países participantes, no caso, Argentina, Brasil, Bolívia, Paraguai e Uruguai, os quais concor-daram em elaborar um memorando sobre o entendimento comum quanto à mobilidade, para que o mesmo seja levado até os Minis-tros para suas respectivas considerações, devendo, primeiramente,

29 Ibid30 Ibid.31 Tentou-se entrar em contato com as autoridades que participaram da IV

Reunião da Comissão Regional Coordenadora da Educação Superior, resultando infrutífera.

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cada delegação analisar a situação legal de seu país e as possíveis dificuldades que supostamente enfrentariam na aplicação efetiva do referido projeto. O referido documento ainda menciona um espaço comum entre América Latina, Caribe e União Europeia.32

Outra iniciativa dentro do espaço educacional latino-americano foi dada durante a XXXI Reunião com os Ministros da Educação do MERCOSUL, em Belo Horizonte, os quais aprovaram a criação de um grupo de alto nível com o objetivo de elaborar o projeto de um es-paço regional de educação superior do MERCOSUL. Ademais, outra definição importante deste encontro foi a ampliação do Mecanismo Experimental de Credenciamento (mexA) para cursos de graduação do Setor Educacional do MERCOSUL, com a inclusão do curso de Arquitetura, Enfermagem, Odontologia e Veterinária.33

O Mexa tem como objetivo promover o conhecimento mútuo e estimular a melhoria da qualidade da educação superior (gradua-ção). Implantado entre 2003 e 2006, o projeto envolve instituições de ensino superior da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. Inicialmente, em caráter experimental, o Mexa foi apli-cado aos cursos das áreas de Agronomia, Engenharia e Medicina, para promover o reconhecimento recíproco de títulos de graduação universitária nos países participantes, somente com fins acadêmicos e desde que atendidos critérios de qualidade acordados entre os países. Neste mecanismo, os diplomas das instituições participantes não são revalidados para fins de exercício profissional, o que apesar de ser diferente do ERASMUS, já demonstra um interesse em aperfei-çoar o ensino superior na América Latina.34

32 BRASIL. INEP. ACTA IV REUNIÓN COM. AD HOC/ APOYO DE LA UNIÓN EUROPEA AL PROGRAMA MOBILIDAD MERCOSUR EM ED. SUPERIOR. MERCOSUL Educacional. Disponível em: <http://www.sis.inep.gov.br/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=110&Itemid =32&lang=br>. Acesso em: 10 set. 2007.

33 BRASIL. INEP. ACTA DE LA IV REUNIÓN DE LA COMISIÓN REGIONAL COORDINADORA DE EDUCACIÓN SUPERIOR (CRE-ES). MERCOSUL Educacional. Disponível em: <http://www.sic. inep.gov.br/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=110&Itemid=32&lang=br>. Acesso em: 10 set. 2007.

34 Ibid.

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6. o mErCoSuL E a unIão EuropEIa

O sucesso do programa ERASMUS tem ultrapassado as frontei-ras, chamando a atenção e despertando o interesse de inúmeros paí-ses, inclusive, de distintos continentes.

Inspirados por esse sucesso, foi criada uma nova ramificação do programa ERASMUS, chamado ERASMUS MUNDUS.35

Com o objetivo de ter um alcance internacional, fora do bloco econômico europeu, a referida iniciativa educacional permitiu que, dos 1196 bolsistas selecionados para o período letivo de 2007/2008, 66 fossem brasileiros.36

Nesse sentido, a Comissão Europeia, por intermédio do pro-grama de cooperação regional entre União Europeia e a América Latina, ofereceu 495 bolsas aos latino-americanos interessados em estudar na Europa. As oportunidades foram destinadas a três con-sórcios universitários firmados entre instituições europeias, brasilei-ras, uruguaias e paraguaias. A relação dos projetos selecionados foi divulgada em maio de 2009.37

Para concorrer a um dos auxílios, os interessados deveriam estar vinculados a uma das universidades parceiras dos consórcios

35 Inspirado no sucesso do Erasmus, foi criado em 2004 o Erasmus Mundus, um programa de alcance internacional financiado pela UE, que concede bolsas de mestrado em instituições da Europa a cidadãos de países em desenvolvimento, assim como bolsas de estudo para europeus que desejam estudar nestes países. A proposta do projeto é permitir que estudantes formados e pesquisadores altamente qualificados de todo o mundo ampliem seus conhecimentos em um dos países do bloco. O Erasmus Mundus foi aprovado pelo Parlamento europeu e pelo Conselho da UE para uma duração de quatro anos. Mas sua continuidade já está garantida. A segunda fase do programa para os anos de 2009 a 2013 prevê o prosseguimento das atividades existentes e a ampliação do auxílio a todos os níveis do ensino superior. A ideia é melhorar as condições de financiamento aos estudantes europeus e abrir novas possibilidades de cooperação com instituições de ensino superior de países em desenvolvimento.

36 ERASMUS: 20 ANOS DE INTERCÂMBIO UNIVERSITÁRIO NA EUROPA. Disponível em: <http://www.dw-world.de/dw/article/0,,2810164,00.html>. Acesso em: 02 de set. de 2010.

37 União Europeia terá 495 bolsas para países do Mercosul. Disponível em: <http://www.universia.com.br/ mobilidade/materia.jsp?materia=17546>. Acesso em: 02 de set. 2010.

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escolhidos. As cooperações poderão envolver programas de gradua-ção, mestrado, doutorado, pós-doutorados e intercâmbio de docen-tes nas mais variadas áreas.

“Não haverá cotas pré-estabelecidas aos países latino-ameri-canos participantes. Os consórcios que vão definir como as bolsas serão distribuídas. Mas, considerando a excelência da educação brasileira, bem como a extensão do Brasil, estima-se que o País receba uma reserva maior de vagas”

A duração das bolsas foi determinada pelo período de 1 a 36 meses, segundo o projeto acadêmico na Europa. O período de estu-do na graduação corresponde a um ou dois semestres. O mesmo se repete com o programa de doutorado “sanduíche”. A estadia para os candidatos ao programa de doutorado integral é mais longa e pode durar de dois a três anos. Já o tempo da visita dos docentes oscila de um a quatro meses.

Os selecionados recebem auxílio mensal, seguro de saúde, pas-sagens áereas de ida e volta e isenção das taxas escolares. O valor da mensalidade para os bolsistas do programa de graduação é de £ 1 mil. O auxílio aumenta para £ 1.500 aos estudantes de doutorado “sanduíche” e integral. Já os pós-doutorandos ganham £ 1.800 e os docentes, £ 2.500. O início das atividades dos consórcios foi deter-minado para o segundo semestre de 2009.

Demonstrando, portanto uma vontade de estreitar relações no campo da mobilidade universitária, o MERCOSUL parece rumar sen-tido ao bloco europeu.

Referida iniciativa é louvável, mas se limita ao intercâmbio com países de outro continente, de forma que, o MERCOSUL deve fo-mentar essa idéia, direcionando seus esforço para o continente lati-no-americano.

O ministro da Educação, FernAndo HAddAd, por exemplo, em sessão plenária do Parlamento do MERCOSUL, realizada em 04/11/2008, que aconteceu em Montevidéu, sugeriu que os países do MERCOSUL adotem metas comuns para estimular os investimen-tos diretos em educação como resposta a crise financeira mundial. Explicou que a medida, no caso da América Latina, terá um impacto

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de estímulo econômico maior e em um prazo mais curto do que em outras regiões do planeta.38

O ministro relatou aos parlamentares algumas das iniciativas destinadas a ampliar a integração entre os países do bloco na área de educação. Entre elas, a obrigatoriedade da oferta do ensino da lín-gua espanhola em escolas brasileiras, a criação das escolas bilíngues de fronteira e a futura implantação da Universidade da Integração Latino-Americana (unilA), em Foz do Iguaçu (PR).

HAddAd anunciou ainda que em breve serão oferecidas bolsas para que alunos de graduação das universidades brasileiras possam cursar um ou dois semestres em universidades dos países vizinhos. A inspiração para essa proposta, segundo ele, vem do projeto ERASMUS, da União Europeia. Contudo, até o presente momento, o MERCOSUL não desenvolveu um projeto educacional que permita a mobilidade de alunos e docentes no continente latino-americano, objetivando, inclusive e principalmente, a equivalência de créditos.

Apesar de ser uma oportunidade única estar em um país distin-to, cursando um semestre da graduação, ou fazendo cursos de pós-graduação (lato sensu ou strictu sensu), é impossível negar que a chance de conseguir a equivalência desses créditos é extremamente tentadora. Tal fato se verifica uma vez que esses períodos de estudo no exterior, dentro do MERCOSUL, podem ter validade, única e ex-clusivamente acadêmica, não influenciando em nada no exercício da profissão. Um advogado, por exemplo, que deseje ou necessite trocar o Brasil por outro país latino-americano, como a Argentina, deve se resignar à invalidez de seu diploma que, para efeitos legais, não é reconhecido naquele país.

Um projeto como o ERAMUS teria condições de modificar esse quadro, estimulando a mobilidade de pessoas, e juntamente delas, seria possível provocar o deslocamento de capital e de conhecimen-to científico/educacional.

38 Ministro defende mais investimentos em educação no Mercosul. Disponível em: <http://www2. camara.gov.br/agencia/noticias/127987.html>. Acesso em 02 de set. 2010.

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7. ConCLuSõES

Considerar o programa ERASMUS um paradigma para MERCO-SUL é algo complexo, não sendo possível nos limitarmos somente a uma resposta afirmativa ou negativa. A postura prudente, diante da referida indagação, feita no início deste artigo, é vislumbrarmos os pontos positivos de um programa de mobilidade educacional, reconhecendo, simultaneamente, as nossas limitações, para que seja possível pensar em um projeto real, plausível, e que tenha imediata aplicabilidade. Apesar das boas intenções que recheiam os inúmeros instrumentos jurídicos internacionais, é necessário irmos além da técnica, a fim de buscar soluções concretas, as quais possibilitem pensar em um programa ERASMUS no MERCOSUL. Pensar como fa-remos isso é tão importante quanto idealizar o que faremos.

Como enfatizado anteriormente, a iniciativa educacional euro-peia tem se revelado mais que um programa econômico e mone-tário: tem demonstrado sua capacidade de desenvolver o aspecto social dos Estados-membros da União Europeia.

Comprovou-se, com isso, que o êxito do referido bloco eco-nômico não depende tão somente da economia, mas é igualmente fruto do vertiginoso investimento feito na educação, a qual é consi-derada a peça-chave no contexto europeu.

Destarte, é possível concluir que a implantação de um projeto como o programa ERASMUS na América Latina poderia, primeira-mente, proporcionar o avanço educacional de forma significativa, conquistado a partir do intercâmbio de alunos e professores das universidades latino-americanas. Tal iniciativa permitiria o enrique-cimento dos alunos e docentes, beneficiando, por sua vez, as uni-versidades, através da mobilidade e do cambio de materiais, e infor-mações.

O avanço no ensino superior se refletiria, a exemplo da União Europeia, de forma positiva na economia e no cenário sociocultural do MERCOSUL.

Destaca-se que o sucesso de programas educacionais (em espe-cial, quanto ao ensino superior) depende também da união dos Es-tados-membros, fato que promoveria uma maior integração entre os mesmos. O MERCOSUL poderia usufruir dessa conexão de maneira

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positiva, partilhando problemas e soluções em comum, alavancando o progresso geral do bloco, e igualmente, de cada país, em seu con-texto individual.

A implantação de um projeto educacional que permite a mo-bilidade iria proporcionar o contato com outras culturas, línguas, promovendo o enriquecimento cultural, seguido de uma maior in-tegração. Seria possível vislumbrarmos profissionais que, dentro de suas respectivas carreiras, pudessem atuar em outros países, provo-cando a sua internacionalização. Ademais, seria possível criar uma identidade latino-americana, aproximando a população desses res-pectivos Estados-membros, através da conscientização das distintas realidades.

Consequentemente, as negociações resultariam mais fáceis, ha-vendo um canal direto entre os Estados-membros, agora, mais aces-síveis, não somente pelo progresso dos instrumentos jurídicos, mas pelas pontes criadas entre esses países, representadas de forma pe-las universidades, que possibilitariam o livre acesso de um ponto ao outro da América Latina pelos docentes e estudantes.

Não há duvidas, portanto, de que um dos atores capazes de de-sempenhar um importante papel no processo de desenvolvimento econômico e social sustentável, aperfeiçoando a inserção dos países periféricos no sistema internacional estratificado são as entidades de ensino superior.

Formadoras de recursos humanos de alto nível e principais responsáveis pela produção de conhecimento, as universida-des são indispensáveis para que os Estados-membros desse mercado comum saiam do patamar de países periféricos para se inserirem de modo ativo no mercado mundial, construindo uma integração cidadã.39

Por outro lado, esta realidade nos parece, ainda, um pouco distante, uma vez que um projeto de tamanha proporção exige, igualmente, um vertiginoso investimento de capital. A União Euro-peia coloca a educação como uma de suas prioridades em todos os governos de seus países membros, investindo milhões de euros

39 morosini, Marília Costa (org.). Mercosul/Mercosur: políticas e ações universitárias. Campinas/Porto Alegre: Autores Associados/Editorada Universidade, 1998. Op. cit.

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em projetos como o ERASMUS. Os Estados-membros do MERCO-SUL, no entanto, não priorizam a educação com mesma veemência, e tampouco possuem o potencial econômico da União Europeia. Ademais, os problemas socioeconômicos enfrentados pela América Latina são bem distintos dos problemas enfrentados pelo continente europeu.

A questão geográfica pode ser, outrossim, um obstáculo, posto que os países do MERCOSUL estão separados por distâncias supe-riores às distancias entre os países europeus, dificultando a mobili-dade.

O MERCOSUL, se preocupou, a princípio, em ressaltar a inten-ção em lograr a integração econômica, mas não discriminou instru-mentos jurídicos que a viabilizem o progressos efetivos na área da educação, restando ao mesmo atuar de modo mais político do que jurídico.

É necessário, por fim, que o MERCOSUL não feche os olhos para tamanha descoberta, utilizando como modelo projetos educa-cionais como o ERASMUS, a fim de buscar soluções similares, ainda que dentro da sua realidade, respeitando seus limites, fazendo aqui-lo que está ao seu alcance.

A necessidade do MERCOSUL de se unir nas suas bases educa-cionais é inquestionável, principalmente se quiser prosperar e man-ter-se “vivo” nos próximos anos. Porém, como fazê-lo é um desafio posto diante de todos os políticos, pesquisadores e educadores de toda a comunidade latino-americana.

8. rEfErênCIaS bIbLIográfICaS

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Enviado em: 09/2010Aprovado em: 09/2010

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