o potencial de portugal em águas subterrâneas resumo-comp subterraneas... · vi encontro de...

8
VI Encontro de Professores de Geociências da Associação para a Defesa e Divulgação do Património Geológico do Alentejo e Algarve O potencial de Portugal em águas subterrâneas, com destaque para o Aquífero de Moura-Ficalho 1. O CICLO DA ÁGUA Figura 1 – O ciclo da água. 2. A ÁGUA NA TERRA Figura 2 – Distribuição de água na Terra.

Upload: lethien

Post on 08-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

VI Encontro de Professores de Geociências da Associação para a Defesa e Divulgação do Património Geológico do Alentejo e Algarve

O potencial de Portugal em águas subterrâneas, com destaque para o Aquífero de

Moura-Ficalho

1. O CICLO DA ÁGUA

Figura 1 – O ciclo da água.

2. A ÁGUA NA TERRA

Figura 2 – Distribuição de água na Terra.

VI Encontro de Professores de Geociências da Associação para a Defesa e Divulgação do Património Geológico do Alentejo e Algarve

3 GEOLOGIA E HIDROGEOLOGIA DE PORTUGAL CONTINENTAL

A cartografia geológica de Portugal, incluindo a plataforma continental e ilhas, na escala 1/1.000.000 está disponível em formato digital e em papel (LNEG, 2010) [2]. Esta e outra informação cartográfica são disponibilizadas através do Geoportal do LNEG. A informação sobre os sistemas aquíferos encontra-se disponível no Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH). Na Figura 3 representa-se um extracto das folhas norte e sul do Mapa Geológico de Portugal Continental na escala 1/500.000 (Oliveira, et al., 1992) [5]. Por se tornar ilegível não se apresenta a respectiva legenda. Sobre esta base assinalam-se as unidades hidrogeológicas:

Figura 3 – Geologia e unidades hidrogeológicas de Portugal Continental

VI Encontro de Professores de Geociências da Associação para a Defesa e Divulgação do Património Geológico do Alentejo e Algarve

- Maciço antigo; - Orla ocidental; - Orla meridional; - Bacia do Tejo-Sado. Na Figura 4 são apresentados os principais sistemas aquíferos de Portugal continental de cada uma destas unidades hidrogeológicas.

Figura 4 – Sistemas aquíferos de Portugal Continental (Almeida, et al., 2000)[1].

3.1 MACIÇO ANTIGO

O maciço antigo é essencialmente constituído por rochas magmáticas e metamórficas, mais ou menos intensamente fracturadas. Trata-se essencialmente de granitos, xistos e grauvaques que originam aquíferos essencialmente do tipo fissurado. Com menor expressão espacial encontram-se rochas carbonatadas (mármores, calcários dolomíticos e dolomias) gabros e quartzitos. As rochas carbonatadas estão na origem de diversos sistemas aquíferos, com algumas características cársicas. Trata-se de: Escusa (A2), Monforte-Alter do Chão (A3), Estremoz-Cano (A4), Elvas-Vila Boim (A5), Viana do Alentejo-Alvito (A6) e Moura-Ficalho (A10). As rochas eruptivas básicas (essencialmente gabros), estão na origem do aquífero fissurado Gabros de Beja (A9). As rochas quartzíticas estão na origem do aquífero fissurado Luso (A12). Existem ainda aquíferos essencialmente do tipo poroso com origem em formações detríticas de cobertura, como é o caso do aquífero Elvas-Campo Maior (A11) e da Veiga de Chaves (A1).

Adaptado de: http://snirh.inag.pt/snirh/estudos_proj/aquiferos_PortugalCont/aquiferos.html

VI Encontro de Professores de Geociências da Associação para a Defesa e Divulgação do Património Geológico do Alentejo e Algarve

Além destes existem outros, não individualizados no SNIRH, mas que por vezes são localmente importantes, como sejam as aluviões e mantos de alteração adjacentes que, em particular nas regiões graníticas do norte, constituem sistemas hídricos subterrâneos em estreita relação com os cursos de água.

3.2 ORLA OCIDENTAL Na orla ocidental, os principais sistemas aquíferos relacionados com coberturas detríticas pouco coerentes, de natureza arenoargilosa e origem aluvionar, de cordões arenosos do litoral ou preenchimentos arenosos de depressões tectónicas, de idade plio-quaternária, são o Sistema Quaternário de Aveiro (O1), Aluviões do Mondego (O6), Paço (O23) e Caldas da Rainha-Nazaré (O33). Também com importante contribuição de coberturas arenosas plio-quaternárias, mas por vezes incluindo ainda formações detríticas do Miocénico, temos o sistema aquíferoLeirosa-Monte Real (O10) eVieira de Leiria-Marinha Grande (O12). Com origem em formações essencialmente detríticas do Cretácico, constituem-se o Sistema Cretácico de Aveiro (O2), Tentúgal (O5), Figueira da Foz-Gesteira (O7), Pousos-Caranguejeira (O14), Ourém (O15), Alpedriz (O19), Torres Vedras (O25) e Condeixa-Alfarelos (O31). Algumas depressões estão preenchidas por formações com idades que vão do Cretácico aoQuaternário e originam sistemas aquíferos como o Louriçal (O29) eViso-Queridas (O30).

As rochas de natureza carbonatada do Jurássico constituem aquíferos de tipo cársico como sejam o Cársico da Bairrada (O3), Ançã-Cantanhede (O4), Verride (O8), Penela-Tomar (O9), Sicó-Alvaiázere (O11), Maceira (O18), Maciço Calcário Estremenho (O20), Cesareda (O24), Ota-Alenquer (O26), Pisões-Atrozela (O28) e Sines (O32). Apenas no caso do aquífero Pisões-Atrozela, estão incluídos calcários do Cretácico inferior, além dos calcários margosos do Jurássico superior.

3.3 ORLA MERIDIONAL Na orla meso-cenozóica meridional as fácies carbonatadas são muito frequentes em formações do Jurássico, do Cretácico e do Miocénico. Assim, como seria de esperar, constituem-se aquíferos do tipo cársico em diversas formações com estas idades. Contudo as formações do Jurássico constituem alguns dos aquíferos mais importantes desta região, como é o caso do sistema aquífero Querença-Silves (M5). Além deste, constituem-se outros, de importância variável, como seja o caso dos sistemas aquíferos cársicos: Covões (M1), Almádena-Odeáxere (M2), S. Brás de Alportel (M8), Almansil-Medronhal (M9), Chão de Cevada-Quinta João de Ourém (M11), Peral-Moncarapacho (M13), Malhão (M14), S. Bartolomeu (M16),

Também na orla meridional existem sistemas multi-aquífero mistos, por envolverem aquíferos do tipo cársico-fissurado e do tipo poroso, que se constituem em formações do Jurássico, Cretácico e Miocénico. Estão nesta situação os sistemas aquíferos: MexilhoeiraGrande-Portimão (M3), Ferragudo-Albufeira (M4), Albufeira-Ribeira de Quarteira (M6), Quarteira (M7), Campina de Faro (M12), Luz-Tavira (M15) e S. João da Venda-Quelfes (M10).

Ainda na orla meridional, está reconhecido no SNIRH um aquífero freático, pouco profundo, poroso e homogéneo, instalado num cordão dunar entre Vila Real de Santo António e a praia Verde. Trata-se do sistema aquífero Monte Gordo (M17).

3.4 BACIA DO TEJO-SADO A unidade hidrogeológica Bacia do Tejo-Sado é constituída por depósitos sedimentares cenozóicos de enchimento das bacias sedimentares do Tejo-Sado e da bacia de Alvalade. Nesta unidade hidrogeológica constituem-se quatro sistemas aquíferos. Destaca-se o sistema aquífero Bacia do Tejo-Sado/Margem esquerda (T3), por se tratar do mais importante de toda a Península Ibérica. Além deste, são considerados o Aluviões do Tejo (T7), Bacia do Tejo-Sado/Margem Direita (T1), e Bacia de Alvalade (T6). O sistema aquífero Aluviões do Tejo envolve todas as formações aluvionares (aluviões e terraços fluviais), apenas até Alverca, uma vez que a qualidade da água se torna excessivamente mineralizada a jusante desta povoação. Os restantes constituem-se em depósitos sedimentares mio-pliocénicos de preenchimento de bacias sedimentares (do Tejo-Sado e de Alvalade). Em todos estes sistemas a circulação do tipo porosa é predominante, apesar de existirem algumas formações de fácies carbonatadas

VI Encontro de Professores de Geociências da Associação para a Defesa e Divulgação do Património Geológico do Alentejo e Algarve

que chegam, inclusivamente, a apresentar indícios de carsificação, em especial na margem esquerda do Tejo. Todos estes aquíferos são, ou pelo menos foram no passado, utilizados como fonte de abastecimento público de água.

4 A ÁGUA SUBTERRÂNEA COMO FONTE DE ENERGIA

Figura 5 – Esquema de funcionamento das bombas de calor geotérmicas em circuito aberto.

O aquífero menos profundo do sistema da Bacia do Tejo-Sado/Margem esquerda, apresenta

elevadas potencialidades de utilização com bombas geotérmicas em circuito aberto.

5 A ÁGUA NA REGIÃO DE BEJA-MOURA

Figura 6 – O sistema de Alqueva e os aquíferos principais.

Moura-

Ficalho Bacia de Alvalade

Viana-Alvito

Gabros de Beja

VI Encontro de Professores de Geociências da Associação para a Defesa e Divulgação do Património Geológico do Alentejo e Algarve

6 RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS E HIDROMINERAIS DA REGIÃO ENTRE MOURA E FICALHO

Numa região de baixa precipitação média anual (500 a 550 mm/ano), só uma conjugação de

factores geológicos, estruturais e geomorfológicos, permite a constituição de aquíferos, cuja

importância para o abastecimento público e particular, dos concelhos de Moura e Serpa, é

inegável. Teremos oportunidade de visitar uma dessas origens subterrâneas de abastecimento

público (furos do Gargalão)

O escoamento hídrico subterrâneo desta região é dominado pela existência de um aquífero de

tipo cársico-fissurado que se desenvolve entre Vila Verde de Ficalho e Moura (Aquífero Moura-

Ficalho). Foram identificados outros aquíferos, de menores dimensões, em parte recarregados

por este (Figura 1):

- Aquífero Moura-Brenhas;

- Aquífero dos Calcários de Moura;

- Aquífero da Ribeira de Toutalga.

O conjunto dos aquíferos referidos constitui o Sistema Aquífero Moura-Ficalho.

O Aquífero Moura-Brenhas tem uma constituição litológica muito semelhante ao principal,

predominando os calcários dolomíticos, e constitui uma dobra anticlinal a oeste de Moura. É

recarregado por infiltração de água da Ribeira de Brenhas, depois de esta ser alimentada pela

nascente das Enfermarias, que é uma das descargas naturais do aquífero principal.

O Aquífero dos Calcários de Moura é constituído pela cobertura cenozóica da zona de Moura e

é recarregado subterraneamente pelo Aquífero Moura-Ficalho. Trata-se essencialmente de

calcários e calcarenitos, mais ou menos argilosos.

O Aquífero da Ribeira da Toutalga é um aquífero confinado, situado provavelmente na base da

cobertura cenozóica da zona de confluência das Ribeiras da Toutalga e de S. Pedro, e é

recarregado por infiltração de águas destas duas ribeiras. O segundo destes cursos de água é

alimentado durante a estiagem exclusivamente a partir da nascente do Gargalão, outra das

principais descargas naturais do Aquífero Moura-Ficalho.

Saliente-se ainda a existência de ocorrências hidrominerais na zona, nomeadamente a

concessão Pisões-Moura e a concessão Santa Comba e Três Bicas, além de uma possibilidade

de revelação futura de uma nova concessão hidromineral com tradição popular conhecida por

Banhos da Ferradura (Costa et al., 2005).

O Aquífero Moura-Ficalho é, como se pode constar no mapa do Sistema Aquífero da Figura 3,

o mais extenso da região, com uma área total da ordem de 177 Km2, da qual apenas 77 Km2

correspondem a rochas carbonatadas. O suporte físico do aquífero é constituído por rochas

carbonatadas do soco hercínico:

- Dolomitos do Câmbrico inferior ("Dolomias de Ficalho");

VI Encontro de Professores de Geociências da Associação para a Defesa e Divulgação do Património Geológico do Alentejo e Algarve

- Mármores calcíticos e calcários dolomíticos, por vezes com intercalações de metavulcanitos,

do Ordovícico médio ("Complexo vulcano-sedimentar Ficalho-Moura").

Figura 1– Sistema aquífero de Moura-Ficalho, inventário hidrogeológico, rede de monitorização e sentidos de fluxo.

VI Encontro de Professores de Geociências da Associação para a Defesa e Divulgação do Património Geológico do Alentejo e Algarve

No aquífero Moura-Ficalho o fluxo subterrâneo faz-se genericamente de SE para NW. As zonas

principais de recarga abrangem um conjunto de relevos alinhados segundo três eixos

principais:

- Serra da Preguiça-Serra Alta;

- Serra de Ficalho-Serra da Adiça-Álamo-Abelheira-Machados;

- Calvos-Savos-Malpique-Atalaia Gorda.

De acordo com o modelo matemático de escoamento subterrâneo do aquífero principal

(Costa, 2008), este aquífero encontra-se com défice de recarga. Esta condição estará na

origem de falhas de abastecimento registadas no furo mais antigo do Gargalão e da construção

de um novo furo em 2009. Este capta a água entre os 30 e 58 metros de profundidade,

enquanto o furo antigo tinha apenas 18 metros e captava a água a partir do cerca de 10

metros de profundidade.

Nas condições actuais do sistema de Gargalão não existe perigo de falta de água para o

abastecimento público mas, nas primeiras chuvas, a água captada pode tornar-se turva, por

influência da Ribeira de S. Pedro em relação ao aquífero, afectando a qualidade da água de

abastecimento.

Moura, 2 de Março de 2012

Augusto Costa